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  • 21/5/2014 ConJur - LIVRO ABERTO: Os livros da vida do criminalista Antonio Srgio Pitombo

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    LIVRO ABERTO

    23 de fevereiro de 2011, 11:33h

    Por Ludmila Santos

    Para o criminalista Antonio Srgio de

    Moraes Pitombo , no so as pessoas que

    procuram os livros, mas os livros que

    procuram as pessoas. Assduo frequentador

    de sebos do centro de So Paulo, ele costuma

    ser achado por ttulos diversos quando

    namora sem pressa as estantes. "s vezes,

    compro um livro num sebo sem qualquer

    pretenso ou um interesse imediato. Depois

    de trs meses, aquilo passa a ser essencial

    por alguma razo."

    Sua relao com os livros, e com os sebos, comeou desde pequeno, na

    biblioteca de literatura brasileira da famlia, iniciada por seu bisav. Ao

    passar de pai para filho, esse esplio foi crescendo, at que Pitombo o herdou

    de seu pai, o processualista penal Srgio Marcos de Moraes Pitombo, que

    morreu em maro de 2003. Mesmo com a biblioteca, o criminalista no abre

    mo de ir aos sebos, os quais visita pelo menos a cada 15 dias. Percorrer os

    corredores cheios de livros antigos, muitas vezes organizados em prateleiras

    desalinhadas e abarrotadas, como desbravar novos mundos. "Essa busca

    muito interessante, pois voc acaba aprendendo outras coisas fora de sua

    rea, ou mesmo descobrindo autores que voc nunca ouviu falar."

    Foi nos sebos que Pitombo pode pesquisar ttulos da literatura jurdica do

    imprio, material importante para o livro que est escrevendo no momento.

    "No Brasil, infelizmente, ningum d muita bola para a literatura jurdica do

    imprio, porm, h autores muito interessantes. Para quem gosta e trabalha

    com Direito Penal, importante conhecer o pensamento desses autores."

    O criminalista cita o jurista brasileiro Dias de Toledo e o jurisconsulto

    portugus Silva Ferro, mas destaca os ttulos Primeiras linhas sobre o

    processo criminal de primeira instncia e Classes dos Crimes, de Joaquim

    Caetano Pereira de Sousa. "Ns tnhamos autores muito criativos, que no

    eram to vinculados ao pensamento estrangeiro. Existia uma preocupao

    com o Direito nacional. Isso muito importante para entender alguns

    institutos nossos."

    Compreenso humana

    A sua relao com os livros no limitada ao mundo do Direito. Pitombo

    avalia que h obras e autores essenciais, no necessariamente jurdicos,

    para que o advogado consiga convencer por meio da argumentao, como

    LIVRO ABERTO

    LIVRO ABERTO: Os livros da vida da

    defensora pblica Cristina Guelfi

    LIVRO ABERTO

    LIVRO ABERTO: Os livros da vida do

    professor Jos Garcez Ghirardi, da

    FGV

    LIVRO ABERTO

    LIVRO ABERTO: Os livros da vida do

    juiz Carlos Henrique Abro

    LIVRO ABERTO

    LIVRO ABERTO: Os livros da vida do

    juiz federal Ricardo Nascimento

    LIVRO ABERTO

    LIVRO ABERTO: Os livros da vida de

    Vladimir Passos de Freitas

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    Os livros da vida do criminalista AntonioPitombo

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    os sermes de Padre Antonio Vieira, importante defensor dos direitos

    humanos dos povos indgenas, no sculo XVII, e Nova Floresta, do padre

    Manuel Bernardes. Pitombo tambm costuma iniciar suas peties com

    frases de autores como Cames e Fernando Pessoa que ilustram o caso e

    chamam a ateno do juiz.

    "Lembro-me de um estudo sobre organizao criminosa que fiz. Abordei a

    construo da ideia de mito e a questo da Comisso dos Estados Unidos, nos

    anos 60, mitificar completamente a mfia italiana. Na poca, me veio frase

    de Fernando Pessoa: 'O mito o nada que tudo'. So trechos de grandes

    autores que dizem muita coisa."

    O que no quer dizer, segundo Pitombo, que o Direito Penal tenha de apelar

    apenas para a emoo. "No sou um criminalista romntico, que considera

    que as peties tm de ser predominantemente emotivas. Sou um tcnico",

    deixa claro. Segundo ele, hoje em dia os processos esto mais complicados, o

    que demanda conhecimento tcnico. " preciso contra-argumentar, tratar

    da tipicidade, tratar da teoria do injusto, da questo do bem jurdico de uma

    forma tcnica. Levar essa profisso apenas com o discurso improvisado,

    genrico, acabou. preciso estudar."

    Um dos estudos necessrios para os advogados, segundo

    o criminalista, o da compreenso da natureza humana.

    Nesse sentido, ele destaca o jornalista e cronista Nelson

    Rodrigues. Se para muitos ele era tido como um tarado,

    para Pitombo, o autor, por meio de sua obra realista, faz

    uma crtica da sociedade e das suas instituies.

    "O que eu acho mais interessante em Nelson Rodrigues

    a sua capacidade de compreender a natureza do homem

    do jeito que ela . O advogado no pode ser um cndido, ele no est aqui

    para julgar, mas para entender e compreender as pessoas."

    Livro da infncia

    Por ter se envolvido no mundo dos livros desde pequeno,

    Pitombo no se lembra de seu primeiro livro. Porm,

    guarda recordaes importantes da leitura que fez de As

    Fbulas de La Fontaine, aquele que foi presente do pai,

    comprado em um sebo. O escritor francs resgatou

    fbulas do grego Esopo, mas tambm criou suas prprias,

    dentre elas "A cigarra e a formiga" e "A raposa e as uvas".

    "Quando voc novo, costuma ler livros recm-editados.

    Foi por isso que gostei tanto daquele livro, pois foi o primeiro livro

    proveniente de sebo que eu li, dado por meu pai."

    Essa relao com os sebos foi fortalecida durante a juventude,

    principalmente na poca da faculdade, quando cursou Direito na

    Universidade de So Paulo. "A faculdade foi uma decepo, na medida em

    que no havia cobrana por parte dos professores. Precisei encontrar outro

    caminho." Em algumas disciplinas, Pitombo trocava o horrio das aulas

    pelas idas aos sebos, atrs de ttulos que, hoje, considera fundamentais para

    a formao de seu prprio pensamento, muitos deles indicados por nomes

    importantes do Direito, como Fbio Konder Comparato, um "sujeito que te

    ensina a pensar", segundo Pitombo.

    "Ele tem frases nicas, como 'o bom advogado no aquele que sabe

    responder, mas aquele que sabe fazer perguntas'." Foi por meio de

    Comparato que Pitombo conheceu outra personalidade jurdica, o italiano

  • 21/5/2014 ConJur - LIVRO ABERTO: Os livros da vida do criminalista Antonio Srgio Pitombo

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    Tullio Ascarelli. Da rea penal, destaca como mestres Miguel Reale Jnior,

    Ricardo Antunes Andreucci, alm de seu pai. "Meu pai era um professor que

    tratava o ensino como um profissional. O curso dele tinha comeo meio e

    fim e quem no estudava, no passava."

    Literatura

    A vantagem dos ttulos literrios que eles permitem ao

    leitor compreender sua prpria realidade por meio da

    histria documentada nos livros. Um bom exemplo disso,

    segundo Pitombo, O Caso Dreyfus: Ilha do Diabo,

    Guantnamo e o Pesadelo da Histria, do escritor

    americano Louis Begley. O ttulo faz um paralelo entre o

    antissemitismo do caso Dreyfus em que um oficial

    francs de origem judaica foi condenado por espionagem

    e o tratamento dado pelo governo dos Estados Unidos aos prisioneiros de

    Guantnamo, em Cuba. "Se voc no tem o mnimo de conhecimento sobre a

    Histria, no entende o que est acontecendo hoje. Podemos traar

    paralelos muito interessantes do Brasil que se repetem."

    Nesse sentido, Pitombo tambm cita Mau, Empresrio do Imprio, biografia

    de Irineu Evangelista de Sousa, baro e visconde de Mau, escrita pelo

    jornalista e amigo Jorge Caldeira. "O ttulo mostra todo o esforo do imprio

    em perseguir o Mau, enquanto ele tinha crdito e era respeitado fora do

    pas. algo que no difcil de ver ainda hoje."

    indiscutvel a importncia das artes na vida de Pitombo. Em seu escritrio,

    em So Paulo, h quadros e gravuras nas paredes, bustos e esculturas por

    todos os cmodos e muitas estantes com diversos tipos de livros. "Minha

    vida assim, em todos os lugares tem um pouco de tudo, mas a gente sempre

    tem os preferidos." A literatura argentina de Jorge Lus Borges uma das que

    mais aprecia, tanto que uma de suas ltimas aquisies foi Atlas, o ltimo

    livro publicado pelo argentino. A obra, ilustrada com fotos de Mara

    Kodama, que acompanhou Borges na poca, mostra os lugares pelos quais o

    autor passou e conta histrias baseadas em mitos mundiais. J entre os

    brasileiros, Pitombo destaca Machado de Assis e Guimares Rosa.

    Livro jurdico

    Para Pitombo, bons livros jurdicos so aqueles bem

    objetivos, rgidos em relao pesquisa e com a

    capacidade de apresentar uma estrutura narrativa

    simples, que facilite a compreenso, principalmente

    quando se trata de um assunto difcil.

    Nessa linha, destaca Teoria Geral dos Ttulos de Crdito, de

    Tullio Ascarelli, e a tese Da Ao Civil, de Jos Igncio Botelho de Mesquita,

    que, segundo Pitombo, tem a capacidade de "escrever pouco e dizer tudo".

    Msica e cinema

    Por falta de hbito, Pitombo no v muita televiso, a no ser quando passa

    um bom filme ou um jogo do Corinthians. O criminalista prefere preencher

    seu dia com msica. Considera seu gosto ecltico, mas tem predileo por

    msica barroca e MPB.

    "No tem nada mais gostoso do que ouvir uma boa msica de manh,

    quando estamos fazendo algum esporte ou mesmo ao ler um livro."

    Um dos ltimos filmes que assistiu foi You Don't Know Jack, dirigido por

  • 21/5/2014 ConJur - LIVRO ABERTO: Os livros da vida do criminalista Antonio Srgio Pitombo

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    Barry Levinson e estrelado por Al Pacino. O filme conta a

    histria de Jack Kevorkian, o Dr. Morte, mdico que ficou

    famoso por ter dado assistncia a 130 suicdios. "O

    cinema muito rico para a advocacia criminal. H

    interpretaes que so inesquecveis, e o Al Pacino um

    ator fora da curva."

    Topo da

    pgina

    Ludmila Santos reprter da revista Consultor Jurdico.

    Revista Consultor Jurdico , 23 de fevereiro de 2011, 11:33h

    Anurio da Justia Brasil 2013. Compre j seu exemplar!

    COMENTRIOS DE LEITORES

    1 comentrio

    Leitor1 (Outros)

    23 de fevereiro de 2011, 21:44h

    Muito boa entrevista. Por sinal, ainda hoje so muito atuais os textos

    do professor Srgio Marcos de Moraes Pitombo, grande processualista

    penal e pai do entrevistdo.

    Comentrios encerrados em 03/03/2011.

    A seo de comentrios de cada texto encerrada 7 dias aps a data da sua

    publicao.

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