conhecimento e cidadania - tecnologia social e agricultura familiar

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CONHECIMENTO E CIDADANIA 4 TECNOLOGIA SOCIAL E AGRICULTURA FAMILIAR INSTITUTO DE TECNOLOGIA SOCIAL OUTUBRO 2007 ts4_agricultura_miolofinal 12/12/07 12:46 PM Page 1

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CONHECIMENTO E CIDADANIA 4TECNOLOGIA SOCIAL

E AGRICULTURA FAMILIAR

INSTITUTO DE TECNOLOGIA SOCIAL OUTUBRO 2007

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SUM

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Apresentação

Introdução

Tecnologia Social e agricultura familiar: semear diferentes saberes

Relatos de experiências1. Concrab: o desafio do trabalho coletivo

2. Pedagogia da alternância: a educação a partir do campo 3. Agricultores na pesquisa

Considerações finais

Referências bibliográficas

Anexos

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APRESENTAÇÃO

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Nada é mais gratificante, nada nos traz mais realização humana do que lidar com aterra. Plantar a semente, vê-la germinar, crescer, florescer, transformar-se em ali-

mento ou nas plantas que enfeitam nosso ambiente, nas fibras de que são feitos os teci-dos que nos vestem, ou ainda nas flores com que presenteamos alguém revelando nossoamor. O ofício da terra é feito da essência da fé, da esperança de que aquilo que planta-mos irá medrar e no futuro nos retornará com os insumos que tornam a vida perene.

Tudo o que temos vem da terra. Pode ser pela extração mineral, por exemplo, masprincipalmente pela infinita diversidade de coisas que a vida é capaz de produzir e re-produzir na terra. Respeitar a natureza, buscar formas de utilização dos recursos natu-rais que mantenham a capacidade do solo de continuar gerando vida e da água de saciarnossa sede e irrigar nossas plantações, são maneiras de reafirmarmos nosso vínculocom a terra e, assim, redescobrirmos os fundamentos de nossa existência coletiva. Poisharmonizar a cultura e a natureza por meio de práticas sustentáveis – de produção, dis-tribuição e consumo – significa acreditar que nossos filhos e netos e as sucessivas gera-ções devem ter o direito de viver com qualidade, assim como aqueles que nos precede-ram. E também de reviver o mistério da vida que brota da terra.

Meu avô Slongo morreu por causa de conflitos de terra no Rio Grande do Sul, quan-do minha mãe ainda era criança. Nestes anos todos, visitei acampamentos, assenta-mentos, convivi com os sem-terra, com os agentes da Pastoral da Terra, com aquelesque vi sendo despejados... Quantos são, na história do Brasil, os que morreram na lutapela terra... Não é possível falar de Tecnologia Social no campo da agricultura sem noslembrarmos de Margarida Maíra Alves, Chico Mendes, Pe. Josimo Tavares, e de todosaqueles que entregaram suas vidas para que a Mãe Terra continuasse dando-nos vidapor meio da agricultura. Não se pode esquecer desses heróis que lutam pela terra, queplantam, colhem, armazenam e transformam os produtos da agricultura em alimen-tos. Dos agricultores e agricultoras, dos pesquisadores e pesquisadoras, dos que culti-vam a sabedoria de “cuidar da terra”, dos que optam por produzir o alimento saudável,orgânico. Não podemos esquecer dos que alimentam a humanidade.

No entanto, uma das grandes contradições que vivemos em nosso país é o fato desermos um dos maiores exportadores de produtos agrícolas do mundo e, ao mesmo

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tempo, ainda não termos solucionado o problema da fome. Este quadro se explica his-toricamente por uma ênfase econômica na monocultura exportadora, por um lado, epela exclusão sistêmica de parcelas importantes de nossa população, por exemplo osagricultores familiares, por outro.

Na base desta perversa combinação de carência e abundância encontra-se uma con-cepção de desenvolvimento centrada apenas no crescimento econômico, que tem naexpansão do capital o seu foco principal. Investe-se fortemente em agricultura comoum grande negócio gerador de divisas, relegando-se a um segundo plano o sentido mi-lenar que esta atividade tem, o de garantir a qualidade e a diversidade alimentar e nutri-cional dos membros de uma sociedade, além de garantir a milhões de pessoas o direitode produzir o sustento de suas famílias como resultado de seu próprio trabalho.

No Brasil, hoje, a construção de uma realidade em que haja alimento farto e acessí-vel a todas as pessoas, com diversidade e qualidade, passa pelo apoio à agricultura fami-liar. São as famílias no campo que produzem em suas terras cerca de 70% dos alimentosque consumimos. Do ponto de vista da economia, movimentam em torno de 10% doPIB nacional, mostrando que a visão tradicional de ser apenas uma produção de subsis-tência, cujo papel seria só o de conter o êxodo rural, já não dá conta da realidade. Alémdisso, a agricultura familiar está intimamente relacionada com outros setores da eco-nomia, como a indústria agrícola, e gera 70% do emprego rural.

Todos esses dados conduzem à convicção de que realmente “cabe à agricultura fami-liar exercer um papel central no novo projeto de desenvolvimento do país por meio dageração de trabalho e renda, bem como no estímulo à dinamização das economias lo-cais, o que contribui para assegurar um desenvolvimento equilibrado entre municípiose regiões” (Condraf/MDA, 2006, p. 18).

De modo que o problema deve ser colocado em termos de um desenvolvimento hu-mano e econômico sustentável e não, como às vezes se quer, reduzido a uma questão dequantidade de alimentos produzidos. O problema se torna ainda mais grave quandopensamos nas futuras gerações. Acumularam-se décadas de predomínio de um mode-lo de agricultura baseado no monocultivo e no uso de tecnologias e insumos fabricadose comercializados por grandes conglomerados multinacionais. Em relação ao aspectosocial, esta lógica de produção tende a gerar dependência e, em muitos casos, o endivi-

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damento do pequeno agricultor em relação aos “pacotes tecnológicos”, além de umainserção menos qualificada de seus produtos no mercado. Do ponto de vista ambiental,tende a esgotar os solos e destruir ecossistemas, seja pela devastação de matas em no-me da “expansão da fronteira agrícola”, seja pelo uso de agrotóxicos que contaminamrios e lençóis freáticos, colocando em risco as fontes de água potável perenes.

Tendo em vista todo esse quadro, muitas pessoas e organizações têm enfrentadoum mesmo desafio: o de colocar o conhecimento a serviço não apenas de um aumentona produtividade, mas sim do desenvolvimento sistêmico do setor agrário, tendo emvista a população envolvida. O processo de aprimoramento tecnológico pode, sem dú-vida, ter uma base nos laboratórios de pesquisa, mas seu fundamento principal deve sera própria terra, lugar onde diferentes saberes se encontram para aprender e “dialogar”com a natureza e inventar a partir dela e com ela.

Neste caderno, o Instituto de Tecnologia Social (ITS) recolhe e apresenta algumasexperiências de Tecnologia Social em agricultura familiar. Esperamos contribuir parapromover reflexões e boas práticas em todos os níveis da cadeia econômica que vai daprodução agrícola até a mesa de cada um de nós.

Para concluir, trazemos a visão que a Dr.ª Albanita Viana de Oliveira, que foi diretorado CNPq, inscreve no livro Inovação nas tradições da agricultura familiar (Lima &Wilkinson, 2002): “A ciência e tecnologia aplicada à agricultura familiar traz resultadosque surpreendem: alguns dizem respeito à fixação do homem do campo e à criação de umgrande número de postos de trabalho; outros à capacitação profissional e ao associativis-mo que qualifica o homem por sua atividade; e outros ainda a geração de renda e mesmoa novos produtos que poderiam integrar a pauta de exportação, como conservas e lico-res. O apoio da CT&I à agricultura familiar significa: uma ação eficaz de combate às de-sigualdades regionais, exaltando a contribuição e a vocação de cada região; a perspectivade um novo tempo, em que a cidadania e o empreendedorismo representam a possibili-dade de uma vida com dignidade para cada produtor e sua família”.

Boa leitura!Irma Passoni, gerente-executiva do ITS

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INTRODUÇÃO

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9Este Caderno foi concebido como uminstrumento para ampliar o debate

sobre a Tecnologia Social e sua presençana agricultura familiar. As razões de fun-do que levam a escolher esses temas são arelevância que tanto uma quanto outrapodem representar em temas de especialinteresse para a sociedade brasileira, emparticular, a segurança alimentar e a sus-tentabilidade do uso que fazemos dos re-cursos naturais. Os temas são sem dúvidabastante complexos, mas, sem pretenderabarcar sua imensa diversidade, alguns deseus pontos serão delineados no decorrerdos capítulos que se seguem.

Sempre se falou que o Brasil seria nofuturo o “celeiro do planeta”. Quer dizer,que nosso vasto território e nossa capaci-dade de produzir iriam representar umagarantia de fornecimento de alimentos emgrande quantidade para o mundo. O mes-mo se diz sobre a água. A de que o país, comas maiores reservas naturais de água doce,teria garantido um recurso que num futu-ro não muito distante representará um dosbens mais disputados pelas nações, já quemuitas delas enfrentarão dificuldades emobter água potável para suas populações.

Esse projeto de abundância e generosi-

dade contrasta com uma realidade atualem que muita gente ainda não tem acesso àalimentação adequada. Por adequada en-tende-se uma alimentação que satisfaça asnecessidades alimentares e nutricionaisdas pessoas. Novamente, o mesmo valepara a água. Com tantas reservas naturais,é preciso ainda um enorme investimentopara que o direito à água potável – este bemfundamental da vida – e ao esgotamentoadequado dos dejetos se torne universal.

São apenas amostras de um campo dequestões bastante complexas e desafia-doras. O grande desafio, no entanto, é ode indicar caminhos que possam ser pos-tos em prática imediatamente e que re-presentem possibilidades concretas detransformação, no sentido de se buscaruma sociedade mais justa e igualitária,em que os direitos básicos dos cidadãossejam assegurados, e práticas que tornema agricultura sustentável ambiental eeconomicamente. Neste contexto, voltarnossa atenção para a agricultura familiaré particularmente interessante, por duasrazões básicas.

A primeira é que a agricultura familiarinclui as tradições milenares de povos quetiveram um desenvolvimento cultural

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em moldes bastante diferentes daqueleque herdamos da tradição ocidental.Nestes casos, o desenvolvimento tecno-lógico costuma traduzir-se não tanto emum aumento da capacidade de exploraros recursos naturais, mas muito mais nu-ma sofisticação do conhecimento sistê-mico sobre o meio e numa capacidade deconviver sem destruir.

A segunda razão é o fato de que há dé-cadas constroem-se, no campo da agri-cultura familiar, modelos alternativos,que recuperam conhecimentos tradicio-nais e também desenvolvem novas técni-cas, métodos e produtos. Além disso, aagricultura familiar tende a ser mais in-clusiva na distribuição dos ganhos, geramais empregos e está muito ligada à mi-croindústria rural, o que dinamiza e di-versifica a cadeia produtiva.

É importante frisar, no entanto, quenão se trata de nenhuma forma de sectaris-mo. Se por um lado há agricultores familia-res que veiculam práticas nada sustentá-veis, há setores da chamada agriculturapatronal que desenvolvem experiênciasimportantes, como no caso das empresasde agricultura orgânica, por exemplo. O fa-to é que as soluções que reduzam a desi-gualdade e a fome, com sustentabilidade,passam por uma transformação em toda anossa agricultura. As práticas não susten-táveis afetam a todos, assim como as injus-tiças sociais trazem reflexos, ainda que demaneira desigual, na vida de todos.

A produção deste CadernoEste Caderno começou a ser gestado du-rante as atividades da I Semana Nacionalde Ciência e Tecnologia, em particular naoficina “Tecnologia Social e agricultura fa-miliar: semeando diferentes saberes”,

promovida nos dias 19, 20 e 21 de outubrode 2004, em Brasília (DF), pelo Institutode Tecnologia Social (ITS), em parceriacom a Secretaria da Ciência e Tecnologiapara Inclusão Social do Ministério daCiência e Tecnologia (Secis/MCT), e a Se-cretaria de Agricultura Familiar do Minis-tério do Desenvolvimento Agrário (SAF/MDA). Nesta oficina, estiveram presentes26 representantes de organizações não-governamentais, associações comunitá-rias, poder público, universidades e insti-tutos de pesquisa.

O encontro foi realizado em função deum objetivo preciso. A partir de experiên-cias concretas, foi promovido um debatecom a intenção de se chegar a uma formu-lação coletiva do conceito de TecnologiaSocial. Outros dois encontros temáticosaconteceram, envolvendo a educação e odesenvolvimento local participativo. Aofinal do processo, houve um último en-contro para consolidar as discussões.

Na primeira sessão do encontro, PedroChristoffoli, representante da área deProdução da Confederação das Coopera-tivas de Reforma Agrária do Brasil (Con-crab), apresentou a primeira experiênciasobre o trabalho desenvolvido na palestra“Articulação e organização no SistemaCooperativista dos Assentados”. A se-gunda sessão teve como tema “Pedagogiada Alternância: instrumento para a pro-moção do desenvolvimento da agricultu-ra familiar”, apresentado por Leônidasdos Santos Martins, presidente da Asso-ciação Regional das Casas FamiliaresRurais (Arcafar/PA), representante daUnião Nacional das Escolas FamíliasAgrícolas do Brasil (Unefab). Com o tema“Inovações nas tradições da agriculturafamiliar: O enfoque da Agroecologia”, aterceira sessão contou com o relato de

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Eros Marion Mussoi (Epagri – Santa Ca-tarina/Univ. Federal de Santa Catarina eDater/SAF/MDA, que tratou da “Rela-ção da Pesquisa com Assistência Técnicae Extensão Rural”, e José Antonio Costa-beber (Emater/RS), que falou sobre os“Princípios da Agroecologia”. Ainda naterceira sessão, Paulo Petersen, da Asses-soria e Serviços a Projetos em AgriculturaAlternativa (AS-PTA) apresentou a expe-riência de sua organização. Na quarta ses-são, com o tema “Quem ensina, quemaprende? Aprendizagens e desafios da as-sistência técnica e extensão rural”, foramrealizados trabalhos em grupos.

São as três experiências apresentadasna oficina que trazemos aqui, após pes-quisa de atualização feita em publicaçõese na internet, além de entrevistas com re-presentantes das organizações.

n “Assessoria e apoio à formação de em-preendimentos coletivos”, conduzidapela Confederação das Cooperativas daReforma Agrária do Brasil (Concrab); n “Pedagogia da Alternância em Casas Fa-miliares Rurais e Escolas Famílias Agríco-las”, conduzidas pela Associação Regio-nal das Casas Familiares Rurais do Estadodo Pará (Arcafar/PA) e União Nacionaldas Escolas Famílias Agrícolas (Unefab);n experiências de apoio aos agricultores-experimentadores, conduzida pela As-sessoria e Serviços a Projetos em Agri-cultura Alternativa (AS-PTA).

Mas antes de entrarmos nas expe-riências mesmas, uma breve discussão,no capítulo “Tecnologia Social e agricul-tura familiar: semear diferentes saberes”,permitirá adentrar um pouco as relaçõesconceituais entre essas duas áreas tão inti-mamente integradas.

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TECNOLOGIA SOCIAL E AGRICULTURA FAMILIAR:

SEMEAR DIFERENTES SABERES

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familiar sem mencionar a forma social-mente perversa mediante a qual se legi-timou o acesso à propriedade da terra noBrasil. Diferentemente de outros países,no que diz respeito às terras não ocupa-das ou de expansão da fronteira agrícola,desde 1850, com a Lei de Terras, prefe-riu-se legalizar a propriedade da terra delatifúndios grilados do que reconhecer odireito de propriedade daqueles querealmente ocuparam a terra e nela traba-lharam. A ocupação e o trabalho dos agri-cultores familiares pobres, longe de fun-damentar direitos de propriedade, foramconsideradas como atividades crimino-sas. As “posses documentais”, ao contrá-rio, mesmo falsas, geraram direitos depropriedade. Não bastasse isso, a violên-cia no campo, as atividades ilegais deocupação latifundista e o modelo de de-senvolvimento predominante expulsa-ram e continuam expulsando milhões deagricultores familiares de suas terras eatividades. E os que ficaram se encon-tram pressionados por enormes restri-ções e dificuldades para sobreviveremnos atuais mercados.

Frente a esse quadro de exclusão, recen-temente foram iniciadas e desenvolvidaspolíticas de agricultura familiar significati-vas, dentre as quais ressalta-se o ProgramaNacional de Fortalecimento da Agricultu-ra Familiar (Pronaf), que foram precedidaspor articulação e mobilização dos movi-mentos sociais. Essas políticas pela pri-meira vez significam o reconhecimentodos agricultores familiares, na sua enormediversidade, como sujeitos sociais de polí-ticas públicas e de suas atividades econô-micas, organizativas e culturais. Os estu-dos e pesquisas realizados nesse contexto,como o revelador estudo da FAO/Incra,Novo Retrato da Agricultura Familiar: OBrasil Redescoberto, têm mostrado umacara da agricultura familiar bem diferentedaquela imagem convencional de uma ati-vidade atrasada, contrária ao desenvolvi-mento e ao progresso. A agricultura fami-liar já adquiriu hoje um reconhecimento euma importância destacada, principal-mente, graças ao seu dinamismo, ao pesoeconômico das suas atividades e ao contin-gente populacional envolvido.

Ademais, toda vez que se discutem te-mas tão atuais como a segurança alimentar,o desenvolvimento sustentável, a geração

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de trabalho e renda, os Arranjos ProdutivosLocais (APLs), as cadeias produtivas deagroindústrias, a economia solidária, semesquecer da migração e da urbanização,surge do interior desses debates a enormevaloração da agricultura familiar como ati-vidade de grande contribuição para solu-ções nesse amplo leque de questões.

No âmbito da ciência, tecnologia einovação (CT&I), como não podia deixarde ser, os agricultores familiares tambémsofreram o impacto das políticas tradicio-nais para agricultura. Essas políticas, aoprivilegiar a modernização e a monocul-tura, sem cuidar do seu processo exclu-dente, contribuíram para a substituiçãode trabalhadores pela mecanização inten-siva, assim como para a perda das terras ea migração forçada dos agricultores fami-liares, que foram pilhados nas “regras dojogo” dos mercados, do encarecimento daprodução, e assim por diante.

Recentemente assistimos ao (re)surgi-mento de visões diferenciadas, inseridasno bojo das políticas para o setor, para pen-sar a CT&I para a agricultura familiar. Astecnologias sociais possuem importânciasignificativa para responder às necessida-des de inovação dessas populações e pos-suem um conjunto de características que asfazem especialmente atrativas e adequa-das neste campo. Situadas no interior daampla gama de atividades de CT&I, as tec-nologias sociais possuem a característicaímpar de proximidade e estreita relaçãocom as demandas e necessidades de melho-ria de qualidade de vida da população brasi-leira. As tecnologias sociais fundamentam-se em pesquisas, conhecimentos popularesou científicos e tecnológicos, e solucionamos mais variados problemas do povo brasi-leiro (desde alimentação e saúde, sanea-mento e habitação, até atividades produti-

vas, de desenvolvimento e defesa do meioambiente, passando por áreas como as tec-nologias assistivas para a autonomia daspessoas com deficiência, o resgate deconhecimentos de povos indígenas nomanejo da floresta, entre outros).

Dessa forma, tendo como ponto de par-tida as demandas de melhoria de qualidadede vida, as tecnologias sociais possuem co-mo ponto de chegada respostas concretas aelas. Constituem, portanto, uma ponte,construída pelo conhecimento e suas apli-cações, uma ligação prática, real e concretaentre os problemas sociais e suas soluções.

As tecnologias sociais podem ser des-critas como técnicas, procedimentos, me-todologias e processos; produtos, disposi-tivos, equipamentos; serviços; inovaçõessociais, organizacionais e de gestão, de-senvolvidas e/ou aplicadas na interaçãocom a população, que representam solu-ções para inclusão social e melhoria dascondições de vida.

As tecnologias sociais não enfatizam aruptura entre o conhecimento popular e oconhecimento científico, pelo contrário,se destacam pela integração e são fontesde interação entre os saberes.

Elas são produzidas pelos mais variadosatores sociais. Numerosas organizações dasociedade civil, como as associações civissem fins lucrativos, desenvolvem, há déca-das, estudos e pesquisas nos mais diversoscampos do conhecimento, que fundamen-tam e geram experiências, programas e pro-jetos, técnicas, produtos, dispositivos emecanismos aplicados na resolução dedemandas e necessidades da população, se-ja no campo, seja na cidade. Assim, elabo-ram inovações e novos conhecimentos.

De forma semelhante, essa situaçãoacontece em outras categorias de atoressociais, relevantes produtores de tecnolo-

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gias sociais, como os poderes públicos, aextensão universitária, os movimentossociais, a responsabilidade social dasempresas, as populações tradicionaise/ou comunidades locais de povos indí-genas, quilombolas, ribeirinhos, caiça-ras, extrativistas, pescadores, agriculto-res familiares e catadores. Esses atoressociais desenvolvem conhecimentos,metodologias, produtos e serviços que,pelas suas características, se enquadramdentro do âmbito científico e tecnológico.

Pela sua origem, as tecnologias sociaisvinculam-se com a mais recente orienta-ção para as políticas de C&T, conhecidacomo Ciência, Tecnologia e Sociedade(CTS) e recomendada pela Organizaçãodos Estados Iberoamericanos (OEI),orientação da qual o Brasil vem partici-pando ativamente. Essa corrente consta-tou que, freqüentemente, não funciona,na prática, a suposta neutralidade da polí-tica científico-tecnológica que trabalhavacom o seguinte fluxo: a ciência se faz naacademia, a aplicação tecnológica na em-presa e, como resultado seguro, líquido ecerto, toda a sociedade se beneficiaria des-se processo. Ou seja, nem sempre aquiloque deveria ser o fim último da ciência e datecnologia acontece. Ao contrário, o quecostuma acontecer é uma apropriação par-cial, e até perversa, dos benefícios, supos-tamente extensivos a toda a sociedade,que os avanços científicos e tecnológicoshaveriam de proporcionar.

Ao mesmo tempo, comprovou-se quea ciência e a tecnologia se desenvolvendode forma isolada, sem a devida participa-ção social e cidadã da população, inserem-se na chamada sociedade do risco, pelasameaças das alterações ecológicas, dos pe-rigos e desastres que podem ocasionar. Poresse motivo, intensificam-se as recomen-

dações para a orientação das políticas cien-tífico-tecnológicas, manifestando a con-veniência da ampliação da participaçãocidadã nos fóruns que decidem os desti-nos dos investimentos em ciência e tecno-logia, assim como as campanhas pela de-mocratização e popularização da ciência eda chamada alfabetização científica.

Precursores desse movimento, quepostula uma relação mais direta entreproblemas e necessidades da população edesenvolvimento tecnológico, foram aschamadas tecnologias apropriadas e tec-nologias alternativas. As tecnologias so-ciais encontram, pela sua origem, refe-rência nessas orientações e movimentos.Ao mesmo tempo nos encontramos hojediante de uma realidade de produção detecnologias sociais e uma base organizati-va de seus atores sociais já amadurecidasno Brasil.

Amadurecidas, em primeiro lugar,pela já ampla e diversificada produção detecnologias sociais que se verifica no país,dentre as quais destacam-se as que se de-senvolvem na área da agricultura familiar.Este fato demonstra-se pela recente ini-ciativa de poderes públicos, assim comode diversas instituições, de criar departa-mentos e estruturas administrativas paracuidar das tecnologias sociais. Já são váriosos “bancos”, “catálogos de boas práticas” e“acervos” em fundações, universidades eentidades, de âmbito público ou privado,que visam a recolher a produção de tecno-logias sociais, promover premiações, cer-tificações e distinções.

Em segundo lugar, justamente porqueessa produção já é relevante no país, tam-bém se torna digno de reconhecimento omovimento, a organização e a luta da socie-dade civil organizada para que se desenvol-va e regulamente, sempre em colaboração

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logias, tal como foram pensados para agrande monocultura e para os sofisticadose intensivos complexos agroindustriais.Elas precisam de propriedades que seencontram nas características metodológi-cas da tecnologia social, que se resumemem doze pontos:

1. compromisso coma transformação social; 2. criação de um espaço de descoberta de demandas e necessidades sociais;3. relevância e eficácia social;4. sustentabilidade socioambiental e econômica;5. inovação;6. organização e sistematização;7. acessibilidade e apropriação das tecnologias;8. um processo pedagógico para todos os envolvidos;9. diálogo entre diferentes saberes;10. difusão e ação educativa;11. processos participativos de planeja-mento, acompanhamento e avaliação;12. construção cidadã do processo democrático.

Desse modo, atualmente, os avanços datecnologia social na área da agriculturafamiliar adquirem uma dimensão que podeser qualificada como estratégica, pelo seupotencial em relação ao desenvolvimento.

O ser humano e a terraO desenvolvimento da agricultura acom-panha o próprio desenvolvimento das so-ciedades. A atividade é uma das mais anti-gas e remete ao momento em que gruposhumanos começam a se fixar, formando asprimeiras culturas sedentárias. Ao buscarconhecer o que a natureza oferece e tam-

com o poder público, esse setor da C&Tconstituído pelas tecnologias sociais.

Com efeito, desde o começo dos anos1990 até hoje, as mais diversas entidades dasociedade civil vêm se reunindo, articulan-do-se e organizando-se em fóruns, redes eespaços de atuação que colocam a necessi-dade de que se regulamente e se adote umapolítica pública para orientar, organizar epotencializar as tecnologias sociais. A pró-pria criação da Secretaria da Ciência eTecnologia para Inclusão Social (Secis), noâmbito do Ministério de Ciência e Tec-nologia (MCT), responde à reivindicação,por parte do conjunto da sociedade brasi-leira, de que o sistema de CT&I continueavançando na sua missão preponderantede solução dos problemas da população.

Dentro da agricultura familiar, muitasinstituições, recentes e tradicionais, estãodesenvolvendo pesquisas, tecnologias eexperiências com a finalidade de resolvernecessidades de inovação da agriculturafamiliar, que contêm significativas dimen-sões de tecnologia social, como a atenção àdiversidade e heterogeneidade de situaçõese necessidades dos agricultores familiares, aparticipação dos mesmos nos processos depesquisa e desenvolvimento, a educação e odiálogo entre os saberes populares e osconhecimentos técnicos. Dentre as insti-tuições de excelência do país, cabe mencio-nar, por exemplo, as publicações, peloCNPq, de Inovação nas Tradições da Agri-cultura Familiar (2002) e, pela Embrapa,Agricultura Familiar na Dinâmica daPesquisa Agropecuária (2006), que consti-tuem referências no país.

Nota-se uma renovada sensibilidadepara pensar a CT&I para a agricultura fami-liar. Ela não pode mais ser concebida dentrodaqueles moldes, altamente mecanizadose capitalizados, de transferência de tecno-

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bém os seus limites, nasce o vínculo com oterritório, e isso está no cerne do processosegundo o qual o fazer agricultura amadu-receu suas práticas ao longo dos séculos.Homens e mulheres, para tirar seu sustentoda terra e garantir uma sobrevida mais segu-ra, menos sujeita às variações de oferta dealimento e insumos ao longo do ano, foramaprendendo a conhecer o solo, o clima, asplantas e os animais. Percebemos o quantoa observação e a prática são fundamentaispara a produção das tecnologias que hojeentendemos como de “domínio popular”,mas que foram inovações criadas, testadas edifundidas por sucessivas gerações. Não hátecnologia no campo da agricultura que nãotenha se consolidado a partir da experimen-tação dos agricultores através dos tempos,sendo a resultante de um complexo proces-so socioeconômico. Sobre isso, o antropó-logo Claude Lévi-Strauss afirma:

Foi no neolítico que se confirmou o domínio

do homem sobre as grandes artes da civiliza-

ção: cerâmica, tecelagem, agricultura e domes-

ticação de animais. (...) Cada uma dessas técni-

cas supõe séculos de observação ativa e metó-

dica, hipóteses ousadas e controladas, a fim de

rejeitá-las ou confirmá-las através de expe-

riências incansavelmente repetidas.

(1989, p. 29)

Neste aprimoramento constante dossistemas agrícolas, desenvolvem-se tec-nologias apropriadas a cada local. Obser-vação e experiência permitiram às socie-dades existir até mesmo em ambienteshostis. Lévi-Strauss nos fala dos aimarás,“agrônomos e botânicos”, moradores doplanalto boliviano, que desenvolveram acultura do gênero Solanum (do qual fazparte a “batata inglesa”, que de inglesanão tem nada...) “em razão de seu estabe-

lecimento a uma altitude superior a 4 milmetros, onde o milho não atinge a matu-ridade”. Foram também os aimarás, “há-beis experimentadores em matéria deconservação de produtos alimentares”,os criadores de técnicas de desidrataçãoque seriam imitadas pelo exército estadu-nidense durante a Segunda Guerra Mun-dial e que possibilitaram a redução “a umvolume de caixa de sapatos as rações depurê de batatas suficientes para cem refei-ções” (Idem, p. 60).

Os diferentes grupos humanos desen-volveram modos próprios de fazer agri-cultura, inseridos e adaptados aos seusambientes. As técnicas de cultivo, os ins-trumentos utilizados, as práticas de sele-ção das sementes, o monitoramento dasculturas em função das características to-pográficas e climáticas locais, enfim, paratudo o que está relacionado com a produ-ção agrícola e pecuária foram-se matu-rando soluções, afinando cada vez mais apercepção às características ambientais,regionais e locais.

A agricultura é, portanto, uma das ba-ses de constituição das culturas, e está li-gada inclusive aos rituais religiosos, ta-manha sua importância na sobrevivênciados povos e na sua relação com a natureza.De fato, onde quer que a agricultura tenhaexistido, desenvolveram-se rituais deagradecimento e festas comemorativasrealizados antes da semeadura, no perío-do das colheitas e até mesmo durante oprocesso de crescimento das plantas.

Assim compreendido, pode-se esta-belecer um contraste entre o fazer agri-cultura, em seu sentido tradicional, e omodo de produção do chamado agrone-gócio, que data de poucos séculos. Nesteúltimo caso, não se trata do processo emque uma cultura germina e floresce en-

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quanto se constrói a intimidade das so-ciedades com o meio ambiente, mas simde buscar a exploração mais rápida e efi-caz possível de um território, em funçãodo lucro do proprietário das terras e donegócio. É claro que também o agronegó-cio se desenvolve dentro de um contextocultural, mas não necessariamente a par-tir de um vínculo com a terra e com umacomunidade cuja segurança alimentar épreciso garantir.

Esta oposição entre cultura e negóciono campo da agricultura é sem dúvida es-quemática e poderia dar origem a mal-entendidos que convém eliminar desdejá. Se é natural enxergarmos a monocul-tura exportadora como representante do“agro-negócio” por excelência no Brasil,e os cultivos de populações tradicionais –indígenas, ribeirinhas, caipiras etc. – co-mo a configuração cabal da “agri-cultu-ra”, é porque ambas funcionam por lógi-cas opostas. Mas isso não significa que aspopulações tradicionais não possamproduzir com vistas ao mercado. Tam-pouco que não se deva exigir que umaagricultura voltada exclusivamente aolucro não se estruture de modo sustentá-vel e respeitoso com relação aos recursosnaturais e humanos.

Historicamente, a percepção de que aagricultura realizada por populações tradi-cionais estaria associada apenas à subsis-tência não se sustenta. Para citar apenasum exemplo, estudos mostram que oabastecimento de alimentos e lenha noRio de Janeiro do século XIX era feito, emsua maior parte, por grupos quilombolasdo Vale do Ribeira (Gomes, 1996).

Portanto, o que diferencia o fazer agri-cultura do agronegócio não é propria-mente a inserção no mercado, mas sim asrelações sociais e ambientais decorrentes

do modo de produção agrícola. A produ-ção agropecuária em larga escala pressu-põe a total transformação do ambiente,devastando áreas de florestas e utilizandoo solo até a exaustão, de modo que se tor-na necessária a utilização de grande quan-tidade de insumos químicos, como ferti-lizantes e pesticidas. Uma prática nadasustentável, uma vez que recursos flores-tais e hídricos, fundamentais para o equi-líbrio socioambiental do planeta, são sis-tematicamente destruídos.

Os agricultores, consumidores, agen-tes governamentais etc. terão de efetuarsuas escolhas quanto a quais práticas,métodos e relações humanas deverão serestimulados no campo da agricultura pa-ra que se criem soluções duradouras aosproblemas de hoje, sem esgotar as possi-bilidades do amanhã. A agricultura sus-tentável que se busca construir insere-se,portanto, no universo de uma cultura daterra, em que a saúde das pessoas e da na-tureza é finalidade e pressuposto, e ja-mais uma limitação.

O diálogo entre saberes científicos epopulares/tradicionais tem um grandepapel a exercer na busca dessas soluções.Trata-se de um campo bastante propíciopara o desenvolvimento e a difusão detecnologias sustentáveis econômica eambientalmente, que representem ele-mentos propulsores de transformaçõessociais sistêmicas, construídas, aplicadase difundidas de modo democrático e par-ticipativo. Estas são as características fun-damentais da Tecnologia Social, o quemostra a sua afinidade intrínseca com asformas sustentáveis de agricultura.

Não por acaso, a agricultura familiartem sido um dos setores mais férteis emtecnologias sociais. Seja nas técnicas emétodos de cultivo e trato da terra, seja na

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infra-estrutura (como o fornecimento deágua onde há escassez), ou ainda em mo-dos de organização do trabalho, da produ-ção, comercialização e distribuição, mui-tas inovações são produzidas – com basenesse encontro entre saberes antigos e no-vos, desenvolvidos pelos próprios agri-cultores, por pesquisadores de universi-dade ou incorporados de outras fontes – ecomeçam a se difundir e a transformar arealidade nos campos, e também nas ci-dades, brasileiras.

Fome e desenvolvimento As culturas tradicionais, durante muitasdécadas, foram consideradas o motivo doatraso econômico, devido aos seus modosde produção e comercialização que não seenquadravam nos moldes capitalistas.Até bem recentemente, não se pensavaem projetos de desenvolvimento de ór-gãos governamentais destinados a essaspopulações. O que se queria era substituirtanto o minifúndio quanto o latifúndioimprodutivo por uma classe média ruralde tipo empresarial focada, especialmen-te, na produção das chamadas commodi-ties para o mercado internacional.

Um argumento freqüente em defesadesse projeto de transformação da estru-tura agrária brasileira é o de que seria pre-ciso adotar métodos produtivos que in-tensificassem a produção de alimentos,como único meio de fazer com que estaseja suficiente para a população, acaban-do-se com a fome. Entende-se que só umaagricultura empresarial, estruturada nosmoldes do que se chamou de “revoluçãoverde”, com uso de pesticidas e adubosquímicos, fortemente mecanizada e ocu-pando vastas áreas de monocultura seriacapaz dar conta dessa missão.

Na base desse argumento, vigora umaconcepção de desenvolvimento forte-mente influenciada pelo pensamento doeconomista britânico Thomas Malthus(1766–1834), que justifica o modelo pro-dutivista defendido pelo agronegócio.Trata-se da concepção de que a populaçãocresce em progressão geométrica, muitomais rapidamente que a produção de ali-mentos, que cresceria em progressão arit-mética, levando à necessidade de controleda natalidade e de aumento da capacidadede produção da agricultura. Caso ambasas medidas não fossem adotadas, correr-se-ia o risco de uma crise mundial deabastecimento.

Para o grupo que se apóia em teoriasherdeiras do pensamento malthusiano, ofoco do problema da fome está na capaci-dade produtiva, deixando-se de lado ouem segundo plano a possibilidade deacesso da população à produção agrícola.O problema, portanto, não estaria na de-sigualdade social gerada pela forma comoorganizamos nossa sociedade e, sendo as-sim, para que resolvêssemos o problemasocial da “fome” bastaria produzir mais eem maior escala. O economista indianoAmartya Sen (2000), contudo, provouque o problema da fome no mundo nãotem relação com a escassez de alimentosou uma produção insuficiente, mas comuma má distribuição de renda, que fazcom que as populações pobres fiquemimpedidas de ter acesso aos alimentos.Acrescenta-se o fato de que a grande mo-nocultura tende a afastar as àreas produ-toras das áreas consumidoras, ao con-trário da microprodução de alimentos,por exemplo, em cinturões verdes e hor-tas urbanas.

Isso significa, em outras palavras, queo caminho para acabar com a fome de mo-

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do perene passa por um desenvolvimentosistêmico, com distribuição de renda e,com igual importância, tendo em vista omundo de hoje, com distribuição do cha-mado capital intelectual. Assim, um mo-delo de setor agrícola que seja concentra-dor e pouco diversificado não trarásolução para a fome, ao contrário, será ummodelo gerador exclusão e de privaçõespara importantes parcelas da população.

A agricultura familiar e o seu peso socioeconômico no BrasilDiferente do que se acreditava, os dadosmostram o peso que a agricultura familiartem hoje na economia brasileira. É este se-tor que produz os excedentes que vão pa-rar nas mesas de milhões de brasileiros e éresponsável por cerca de 60% de todo ali-mento consumido no país. Em termoseconômicos, corresponde a em torno de10% do PIB brasileiro, de acordo com le-vantamento realizado pelo Ministério doDesenvolvimento Agrário (MDA) juntocom a Fundação Instituto de PesquisasEconômicas (Fipe). O PIB do setor cres-ceu R$ 13,4 bilhões no ano passado, umincremento de 9,37% em relação a 2002.

Esta foi a primeira vez que o governo fe-deral mediu o impacto econômico da ativi-dade praticada exclusivamente por agri-cultores familiares. A agricultura familiar éestratégica para o desenvolvimento dopaís, seja pela oportunidade de gerar em-prego e renda, seja por sua importância naoferta de alimentos. Atualmente, o setorresponde por 84% da mandioca, 67% dofeijão, 58% dos suínos e frangos, 49% domilho e 31% do arroz produzidos no Brasile por 32% das exportações de soja, 25% decafé e 49% de milho (Em questão, 2004).

A agricultura familiar vem obtendo re-

sultados significativos principalmente apartir de 1995, quando, quando foi criado oPrograma Nacional de Fortalecimento daAgricultura Familiar (Pronaf). Os recursosvoltados para o setor passaram de R$ 200milhões naquele ano para R$ 10 bilhões nasafra 2006/2007. Já o Plano Safra daAgricultura Familiar 2007/2008 prevê R$12 bilhões em investimentos, possibilitan-do que aproximadamente 2,2 milhões defamílias tenham acesso ao crédito rural doPronaf. Uma novidade no Plano é a insti-tuição do Pronaf-ECO, que estimula a ade-são dos agricultores familiares a tecnolo-gias ambientalmente sustentáveis.

Outra conquista importante – em ou-tras razões para que se mantenha o ritmode crescimento atual – foi a promulgaçãoda Lei de Agricultura Familiar, em 2006,formando um amparo legal antes inexis-tente para a área, definindo diretrizes epolíticas diferenciadas, como a prática dejuros mais baixos em relação aos do agro-negócio. O setor engloba aproximada-mente 4,1 milhões de famílias agriculto-ras, entre pescadores e extrativistas,comunidades quilombolas, ribeirinhas eindígenas e corresponde a 77% das ocupa-ções produtivas e empregos no campo.

Agricultura sustentávelA agroecologia e seus conceitos são frutosdas contradições geradas pelos passos lar-gos rumo à destruição ambiental promo-vidos pelos sistemas agroindustriais quehoje são hegemônicos no mundo. Os im-pactos ambientais gerados pela atividadeagrícola são antigos. Temos registros his-tóricos dos desequilíbrios causados peloprocesso de experimentação das diferen-tes sociedades humanas (Perlin, 1992).No caso da sociedade brasileira, podemos

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citar o conhecimento da relação entre ci-clo hidrológico e floresta que levou D.Pedro II a ser o responsável pelo maior re-florestamento de que se tem notícia nomundo de hoje: a floresta da Tijuca nomunicípio do Rio de Janeiro. O refloresta-mento foi feito devido à necessidade degarantir o abastecimento de água para a ci-dade, que havia sido comprometido pelaforma de desenvolvimento da atividadeagropecuária na época.

Muito tempo se passou desde o mo-mento que o ser humano plantou a pri-meira semente e colheu os seus frutos atéos dias de hoje, quando fazemos uma agri-cultura em escala industrial. Para issomuitas técnicas foram testadas e aprimo-radas, e nesse processo percebeu-se quealgumas tecnologias causavam mais da-nos ao meio ambiente que outras. Foramestes danos ambientais causados pelaagricultura convencional – termo que ca-racteriza a agricultura realizada com baseno uso de pesticidas, adubos químicos,mecanização e melhoramento genético –que conduziram à reflexão e construção daparte sobre agricultura da Agenda 21 – do-cumento elaborado durante a Conferênciadas Nações Unidas sobre Meio Ambientee Desenvolvimento (Rio’92), que se pro-põe a ser um instrumento de construçãoda sustentabilidade do planeta – e do trata-do sobre agricultura sustentável assinadodurante o Fórum Internacional de ONGs(1992). Neste fórum definiu-se que

a Agricultura Sustentável é um sistema de or-

ganização socioeconômica e técnica do espaço

rural fundado numa visão eqüitativa e partici-

pativa do desenvolvimento, e que entende o

meio ambiente e os recursos naturais como ba-

se da atividade econômica. A agricultura é sus-

tentável quando é ecologicamente equilibrada,

AALLGGUUNNSS CCOONNCCEEIITTOOSS EE DDEEFFIINNIIÇÇÕÕEESSAgricultura sustentável é o resultado dos métodos alterna-tivos que utilizam a agricultura orgânica, a permacultura, abiodinâmica, o controle biológico e o natural, visando odesenvolvimento de uma agricultura com o menor prejuízopossível ao meio ambiente e a saúde humana.

n AGRICULTURA NATURALMokiti Okada (1882-1955), fundador da religião que originoua Igreja Messiânica, propôs, em 1935, um sistema de produ-ção agrícola que tomasse a natureza como modelo: surgiu,daí, a corrente chamada agricultura natural. Este modo deconceber a prática agrícola tem como fim a responsabilida-de total pelo abastecimento de alimentos por meio do usocorreto das forças e da energia da natureza, possibilitando-se obter uma produção suficiente, sem a necessidade douso de agroquímicos. O sistema privilegia a força intrínsecado solo, cuja qualidade é fator primordial para a obtençãode boas colheitas. Segundo esse princípio, a fertilização dosolo consiste na vivificação de sua força original.

“O solo que deixaremos para nossos filhos depende de nós.”

Informações retiradas do site da Fundação Mokiti Okada:www.fmo.org.br/cpmo/agricultura.asp.

n AGRICULTURA BIODINÂMICAA agricultura biodinâmica teve seu início num ciclo de oitopalestras feitas na década de 1920, na Polônia, pelo filóso-fo Rudolf Steiner, criador da Antroposofia. De acordo comesta corrente, a saúde do solo, das plantas e dos animaisdepende da sua conexão com as forças de origem cósmi-ca da natureza. Para restabelecer o elo de ligação entre asformas de matéria e de energia presentes no ambiente nat-ural, é preciso considerar a propriedade agrícola como umorganismo, um ser indivisível. Através do equilíbrio entre asvárias atividades (lavouras, criação de animais, uso dereservas naturais), busca-se alcançar maior independên-cia possível de energia e de materiais externos à fazenda.Este é o princípio chamado de “auto-sustentabilidade”, quevale tanto para a agricultura biodinâmica como as outrascorrentes da agroecologia.

Informações obtidas nos sites: www.biodinamica.org.br www.planetaorganico.com.br/agribiodin.htm. n

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economicamente viável, socialmente justa,

culturalmente apropriada e orientada por um

enfoque científico holístico.

Na década de 1970 deu-se o nome deagroecologia à ciência que estuda as basescientíficas da agricultura alternativa.Podemos então dizer que a agroecologia éa ciência que propicia a base científica daagricultura sustentável. Mas a práticaagroecológica é tão antiga quanto a agri-cultura. Antecede e está na base da agricul-tura sustentável e da agroecologia: a agri-cultura orgânica, a agricultura natural, aagricultura biodinâmica, a permacultura ea agricultura tradicional, que fazem partedo que chamamos de agricultura alterna-tiva. Todas essas agriculturas expressamem si um entendimento da relação ser hu-mano–natureza.

A agroecologia pressupõe a dependên-cia estrutural entre homem e ambiente,partindo do diagnóstico de que os proble-mas que enfrentamos atualmente têmmúltiplas causas. Em outras palavras, tra-ta-se de uma abordagem sistêmica, quetem mais impactos sobre a produção doque a ausência de agrotóxicos, por exem-plo: trata-se de sustentabilidade ambientale social, de manutenção da diversidade e daheterogeneidade dos sistemas ecológicos.A agroecologia também nos provoca a re-pensar nosso modo de compor o preço dosprodutos, na medida em que propõe in-cluir a dimensão da degradação ambiental,a sustentabilidade do ponto de vista sociale ambiental, e não somente econômica co-mo tradicionalmente fazemos.

Outro ponto importante é que a agroe-cologia demanda a constituição de umabase renovada de conhecimentos e tecno-logias. A recusa do modelo químico-gené-tico-mecânico não significa, no entanto,

n AGRICULTURA ORGÂNICA E BIOLÓGICA A partir de observações feitas no início do século em rela-ção ao tipo de agricultura praticada pelos camponesesindianos, deu-se início a estas duas correntes – agricultu-ra orgânica e agricultura biológica –, que podem ser anali-sadas conjuntamente, posto que sua base está na compos-tagem e adubação orgânica. Neste modo de fazer agricul-tura, a fertilidade dos solos deve ser construída a partir deum amplo suprimento de matéria orgânica e, sobretudo,com a manutenção de elevados níveis de húmus (matériaorgânica já decomposta e estabilizada) no solo. A basecientífica desta corrente se assenta nas seguintes práti-cas: rotação de culturas, manejo e fertilização do solo. Assim como as correntes natural e biodinâmica, o princípiogerador da estabilidade e saúde das plantas encontra-seno manejo da matéria orgânica como prática geradora deboa fertilidade e estruturação do solo. Também como nasoutras correntes agroecológicas, o solo é considerado um“organismo complexo”, repleto de seres vivos (minhocas,bactérias, fungos, formigas, cupins etc.) e de substânciasminerais em constante interação e interdependência. Issosignifica que, ao se manejar um aspecto (adubação, porexemplo), faz-se necessário considerar todos os outros(diversidade biológica, qualidade das águas subterrâneas,suscetibilidade à erosão etc.) de forma conjunta. Este é oprincípio da “visão sistêmica” da agricultura (também cha-mado “holismo”), o qual prescreve que a propriedade agrí-cola deva ser considerada em todas as suas dimensões(produtiva, ecológica, social, econômica etc.).

Informações obtidas no site: www.planetaorganico.com.br

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que tais conhecimentos e tecnologias de-vam ser “simples”, mas sim que devam es-tar de acordo com os princípios agroecoló-gicos e – importante ponto de contato coma discussão sobre Tecnologia Social – quedevam ser socialmente apropriados ouapropriáveis. A exemplo do que ocorreucom a pesquisa e a Assistência Técnica eExtensão Rural (Ater) nos anos 70, reco-nhece-se no Estado um ator fundamentalpara induzir o processo de construção des-ta nova base de conhecimentos. Naquelemomento, e em parte até hoje, a Ater teveeminentemente um papel de difundir pa-cotes tecnológicos, com resultados efeti-vos. Para a construção da agricultura sus-tentável, a Ater deverá apresentar um novoperfil, o que implica exigências profissio-nais de formação acadêmica e institucionaldiferentes das atuais. Esse novo perfil de-verá integrar pesquisa, Ater e sociedade.

No campo da agricultura sustentável,pode-se pensar o aumento da renda, fru-to da certificação, por exemplo, comouma estratégia de convencimento de ummaior número de agricultores familiarespara adoção de práticas agroecológicas,mas não como um fim em si mesmo, afi-nal, faz parte de uma intervenção multi-dimensional. A idéia é que o alimentosaudável não esteja disponível apenas aquem tem poder aquisitivo maior, mas namesa da população como um todo. Daí anecessidade de a agricultura familiar dia-logar com os espaços urbanos e suas orga-nizações, como por exemplo associaçõesde consumidores, até como forma de dis-putar espaço com o agronegócio.

No entanto, a nova mentalidade que osnovos caminhos exigem só poderão serconstruídos e difundidos de modo consis-tente com uma mudança na formação dosagricultores, agrônomos, técnicos etc. Daí

nPERMACULTURA A permacultura, também chamada de “agricultura perma-nente”, começou por volta de 1975, na Austrália, com asidéias de Bill Mollison e David Holmgren sobre um mododiferente de se pensar a disposição das espécies vegetais,mais próximo dos ecossistemas naturais. Viajando para osEstados Unidos, Bill e outros pioneiros difundiram suas teo-rias até conseguirem a construção de um Centro Rural deEducação, primeira instituição oficial da permaculturanaquele país. Nesta corrente, procura-se praticar uma agricultura daforma mais integrada possível com o ambiente natural, imi-tando a composição espacial das plantas encontradas nasmatas e florestas naturais. Envolve plantas semipermanen-tes (mandioca, bananeira etc.) e permanentes (árvores fru-tíferas, madeireiras etc.), incluindo a atividade produtiva deanimais. Trata-se, pois, de um sistema “agrosilvopastoril”,ou seja, que busca integrar lavouras com espécies flores-tais e pastagens e outros espaços para os animais, conside-rando os aspectos paisagísticos e energéticos na elabora-ção e manutenção destes policultivos (diversas culturasconvivendo no mesmo espaço). Os princípios éticos da per-macultura são: cuidar da terra, cuidar uns dos outros e com-partilhar os excedentes.

Mais informações site da Rede Permear: www.permear.org.br.

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a necessidade de escolas e cursos universi-tários fundamentados na agroecologia. Háhoje em diferentes pontos do país cursostécnicos em Agroecologia, frutos de par-cerias entre governo, universidades e mo-vimentos sociais. Outra experiência dignade nota – e que será apresentada nesteCaderno no capítulo seguinte – é a dasEscolas Famílias Agrícolas e a pedagogiada alternância, que dá uma nova formaçãoaos filhos e filhas de agricultores, de ma-neira integrada com suas vidas e seu modopróprio de construir o pensamento.

Agricultura urbanaOutro ponto importante que tem mere-cido atenção em todo o mundo é a agricul-tura urbana. Essa prática tem sido resgata-da tanto em países da África Oriental eMeridional, como forma de superar as di-ficuldades econômicas enfrentadas, co-mo em áreas metropolitanas do ReinoUnido e na Rússia. De acordo com relató-rio elaborado pelo Programa das NaçõesUnidas para o Desenvolvimento (Pnud),as famílias mais pobres do mundo gastamaté 90% de sua renda com alimentos e elasencontram na agricultura urbana umaoportunidade para uma melhor nutriçãoe também economia de recursos.

Ainda de acordo com o Pnud, a ativida-de também gera empregos. Na cidade deCalcutá, na Índia, 20 mil pessoas conse-guem trabalho e renda cultivando produ-tos nas áreas próximas dos lixões. Em al-gumas cidades, chega a até 2/3 a presençade famílias dedicadas à atividade, sendoque cerca de 1/3 destas têm na agriculturaurbana o seu único meio de subsistência.

No Brasil, a importância da atividade pa-ra assegurar a soberania alimentar de pes-soas de baixa renda também chama a aten-

ção do poder público em seus diferentes ní-veis. Hoje, o Ministério do Desenvolvi-mento Social e Combate à Fome (MDS)apóia financeiramente ações comunitáriasneste campo, com R$ 10 milhões anuais,elaborando parcerias com estados, municí-pios e ONGs. Estão sendo executados 130convênios de agricultura urbana e periur-bana, dentre eles 30 projetos de beneficia-mento e comercialização, outros quatroprojetos na área de segurança alimentar emacampamentos e 96 na linha de produção,especificamente em hortas comunitárias,plantas medicinais, mudas e viveiros e tam-bém criação de pequenos animais.

Além dos claros benefícios no que dizrespeito à soberania alimentar, a agricul-tura urbana também traz resultados sig-nificativos em áreas correlatas, como saú-de. A produção de plantas medicinais eseus derivados, como infusões e extratos,facilitam o acesso à saúde pelos mais po-bres. Outro dado é que somente 2% dosresíduos produzidos nas cidades latino-americanas são tratados adequadamentee milhares de metros cúbicos de águas re-siduais são desperdiçados ou necessitamde tratamento a um custo muito elevado.Na agricultura urbana, elas podem sertransformadas em excelentes fontes deadubo, água para irrigação e até mesmocomplemento alimentar para animais.

Neste capítulo, foram delineadas algu-mas questões que têm participado do deba-te em torno da construção de uma agricul-tura sustentável, tanto em nível nacionalcomo internacional. A seguir, vamos apre-sentar um pouco mais detidamente três ex-periências de agricultura familiar que, vis-tas à luz da Tecnologia Social, representamcontribuições bastante importantes, quetêm inspirado e podem inspirar ainda maisoutras iniciativas.

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Neste capítulo, serão apresentadas ex-periências com fortes características

de Tecnologia Social no campo da agri-cultura familiar, no Brasil. Os temas aquidestacados são a organização e a educa-ção/formação de agricultores. Eviden-temente, não se pretende dar conta daenorme gama de aspectos, questões e de-safios, interdisciplinares e bastante com-plexos, implicados na atividade agrícola,mesmo que observados apenas do pontode vista da TS e no segmento familiar.

A escolha por abordar esses temas jus-tifica-se, primeiramente, pela riquezainerente à agricultura familiar, que alémde ser uma atividade milenar, com práti-cas construídas por sucessivas gerações eessencialmente integradas ao meio am-biente e às culturas, tem sido um dos cam-pos de maior experimentação e inovaçãoem Tecnologia Social. Assim, foi precisoabster-se de tratar de temas como méto-dos e técnicas de cultivo sustentáveis –sistemas agroflorestais, como o Café comFloresta, as mandalas, entre outras –, sis-temas de manejo, as tecnologias de infra-estrutura agrária – como as cisternas, usa-das tanto para o consumo de água quantopara a agricultura –, sistemas consorcia-

dos de agricultura e pecuária, microin-dústrias rurais – como as minifábricas decastanha de caju –, projetos extrativistas –Babaçu Livre, por exemplo –, apenas paracitar os temas mais evidentes.

Em segundo lugar, a escolha é conse-qüência do próprio processo de confecçãodo caderno. As experiências foram sele-cionadas durante o processo de pesquisarealizada pelo ITS sobre iniciativas de or-ganizações da sociedade civil voltadas àinclusão social que envolvessem produ-ção e aplicação de conhecimento nas áreasde educação, agricultura familiar e desen-volvimento local participativo. Naquelemomento, como foi dito anteriormente,o principal objetivo era construir coleti-vamente o conceito de TS.

Assim, o que se lerá a seguir é apenasuma pequena amostra, que poderá, entre-tanto, auxiliar no debate pelo fortaleci-mento de uma agricultura sustentável einclusiva no território brasileiro, que sejacapaz de proporcionar um incremento naeconomia rural com distribuição de rendae benefícios.

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1. CONCRAB: O DESAFIO DO TRABALHO COLETIVO 1

A história da Confederação das Coope-rativas de Reforma Agrária do Brasil(Concrab/MST) está relacionada ao de-senvolvimento da organização dos assen-tados. Foi a partir dessa organização que oMovimento dos Trabalhadores RuraisSem-Terra (MST) passou a assumir, nassuas discussões, os assentamentos comofoco de ações. Outro fator importante é oreconhecimento da necessidade de umapolítica cooperativista dentro do MST(Fabrini, 2002).

O Movimento, buscando melhorar aprodução agropecuária nos assentamen-tos, fez uma profunda avaliação de toda suapolítica de estímulo à cooperação agrícola.Como conseqüência desse processo de ava-liação, foi criado o Sistema Cooperativistados Assentados (SCA), que corresponde aoSetor de Produção e Comercialização doMST. Os objetivos do SCA são:

n a melhoria da articulação entre as diver-sas formas de cooperação;n a elaboração e aplicação de políticas dedesenvolvimento; n a formação e capacitação dos assentadosorganizadores da cooperação; n elaboração de programas de capacitaçãoem diversas áreas; n elevação da produção agropecuária emelhoramento da produtividade do tra-balho nos assentamentos.

O objetivo final é obter melhorias sig-nificativas nas condições de vida das fa-mílias assentadas.

O SCA articula diversos tipos de orga-nizações dos assentados, desde GruposColetivos, Associações, Cooperativas deProdução Agropecuária (CPA) e Coope-rativas de Prestação de Serviços (CPS). Aonível estadual existem as CooperativasCentrais dos Assentados (CCA). E, no ní-vel nacional, foi criada a Concrab, em 15 demaio de 1992, para articular as demandas eas potencialidades regionais, otimizandoesforços e recursos, com vistas ao desen-volvimento socioeconômico das famíliasassentadas. Cabe à Concrab, portanto, ar-ticular os diversos atores que fazem partedo SCA.

Para a promoção da produção agroeco-lógica foram estruturados centros de pes-quisa em parceria com ONGs e institui-ções públicas. Nesses centros, grupos deagricultores-pesquisadores e técnicos-pesquisadores puderam desenvolver ex-perimentos dentro dos assentamentos,acompanhados pelos agricultores, sujei-tos e beneficiários diretos das pesquisas.

Conforme definição de Fabrini,

A Confederação [Concrab], organização das

cooperativas na terceira instância, tem a fun-

ção de coordenação geral das políticas e plane-

jamento do desenvolvimento das atividades

das cooperativas. Cabe ainda organizar a for-

mação técnica (administrativa, financeira e

agronômica) de caráter nacional, desenvolver

estudos e estratégias de mercado, cuidar das

relações internacionais relacionadas às coope-

rativas (exportação, por exemplo) e articulação

com outras confederações.

(Fabrini, 2002)

1. Este relato baseia-se, em grande parte, no depoimento de Pedro Christoffoli, que representou a Confederação dasCooperativas de Reforma Agrária do Brasil (Concrab/MST) no encontro “Tecnologia Social e Agricultura Familiar: seme-ando diferentes saberes”, realizado em 2004, em Brasília. A apresentação de Christoffoli recebeu o título “Articulação eOrganização de assentados no Sistema Cooperativista dos Assentados”.

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A Concrab hoje conta com 96 associa-ções e cooperativas de base em nove esta-dos: Rio Grande do Sul, Santa Catarina,Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Bahia,Pernambuco, Espírito Santo e Ceará.Tanto as cooperativas formais, com per-sonalidade jurídica própria, quanto as in-formais, não inscritas juridicamente, sãoapoiadas pela Confederação.

Ela desenvolve um trabalho específicovoltado à educação, tendo como priorida-des o cooperativismo e a agroecologia.Assim, promovem diversos cursos paraos agricultores assentados e seus filhos, afim de promover o acesso à escola e o estí-mulo às formas associativas de organiza-ção da produção, juntamente com a pes-quisa e o estudo para a contribuição dodesenvolvimento dos assentados.

O foco na educação é fundamental seconsiderarmos os exemplos das coopera-tivas mais bem-sucedidas da Concrab,que estão localizadas na região Sul – nagrande Porto Alegre e também em SantaCatarina, nas cidades de Abelardo Luz eDionísio Cerqueira. Em outra cidade ca-tarinense, São Miguel do Oeste, encon-tra-se a Cooperoeste, maior cooperativada Concrab, com aproximadamente 500famílias e que controla não somente aprodução como também a comercializa-ção dos produtos.

Boa parte do sucesso destas cooperati-vas deve-se ao fato de a maioria das famí-lias já ter uma cultura de cooperação, algodesenvolvido em gerações anteriores. Otrabalho de educação da Concrab vai nes-te sentido, garantindo o presente e tam-bém orientando para o futuro.

A Concrab definiu princípios (ver qua-dro) para garantir sua coesão e a passagementre os níveis de organização, desde o localaté o nacional. A produção e a cooperação

agrícola são organizadas por meio de planosde produção, que definem as estratégiaseconômicas das famílias e as formas de coo-peração da produção a serem adotadas.

Nos assentamentos, a organização co-meça pelos núcleos de base. Esses núcleossão um espaço para discutir os problemasdo assentamento, a organização da produ-ção, a luta dos trabalhadores e o avanço dacooperação. O núcleo não deve ser enten-dido apenas como uma estrutura formal,mas tem como meta garantir a gestão de-mocrática do assentamento e da coopera-tiva. Na verdade, o núcleo é um espaço deconstrução da democracia participativa edo poder popular: ele analisa as demandas,elabora e aprofunda as propostas, partici-pa na elaboração e implementação da es-tratégia e elege os seus representantes paraa coordenação do assentamento e conse-lho da cooperativa.

A partir da organização de grupos deassentados ao nível local, novos agrupa-mentos formam coletivos mais abrangen-tes, até chegar ao nível estadual. A uniãodas centrais estaduais forma a Concrab,que promove a articulação nacional dascooperativas .

Conforme definem Scopinho eMartins:

O SCA procura mobilizar e organizar os assen-

tados para desenvolver a economia com base

em outros valores que não apenas a busca de lu-

cro, perseguindo objetivos políticos e sociais

através da organização de base, da defesa da au-

tonomia de organização e de representação e, o

mais importante, da criação de mecanismos

institucionais que possibilitem aos trabalhado-

res se apropriarem dos instrumentos de produ-

ção e de gestão das cooperativas. A formação de

Núcleos de Base de Famílias (instância básica

para a gestão do assentamento) é a estratégia

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utilizada para implementar e desenvolver uma

proposta de organização econômica e social no

território conquistado. Tal proposta, procuran-

do articular o campo e a cidade, deve estar fun-

damentada na diversificação da produção rural,

no fortalecimento dos mercados populares lo-

cais e regionais, no desenvolvimento de uma

matriz tecnológica, agroecológica e conserva-

cionista e na formação de valores humanos de

justiça e eqüidade social. O papel do SCA é, es-

sencialmente, formativo e politizador, no sen-

tido de construir a idéia de que o mais impor-

tante não é o tipo formal de cooperativa, mas a

adesão consciente aos princípios e ao método

da cooperação autogestionária.

(2003, p. 126-7)

Dentre as dificuldades enfrentadas noprocesso de fortalecimento das coopera-tivas, cabe destacar os seguintes:

n dificuldades econômicas relacionadas àausência de políticas de crédito, subsí-dios e comercialização para a pequenaprodução agropecuária (Scopinho e Mar-tins, 2003). n as cooperativas e iniciativas associati-vistas também têm enfrentado dificulda-des para se inserir num mercado estrutu-rado em torno da satisfação dos interessesligados à exportação e às grandes empre-sas multinacionais voltadas ao setor dealimentos.n os modos de cooperação e de organiza-ção coletivas propostos pelo movimentomuitas vezes mostram-se incompatíveiscom a cultura tradicional camponesa, oque gera dificuldades na implantação decooperativas (Fabrini, 2002; Scopinho eMartins, 2003; Miranda, 1999).n dificuldades no relacionamento com oEstado e com os bancos oficiais (Miranda,2003, p. 75).

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n cooperação social, econômica e no trabalho entre os assentados;

n preocupação com a estrutura física dos assentamentos (organização espacial);

n valorização das histórias de lutas do MST mantidas através das místicas e trabalhos coletivos;

n exemplos de conduta e motivação para os acampados e assentados;

n preservação da natureza (do meio ambiente);

n desenvolvimento de novas técnicas para os produtos e processos;

n formação e qualificação técnica para os assentados e seus familiares (filhos);

n estímulo à cooperação e as formas associativas de organização da produção;

n pesquisa e estudo para a contribuição ao desenvolvimento dos assentados.

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Concrab e TSPodemos considerar a experiência daConcrab portadora de TS em suas váriasimplicações. O próprio movimento doqual ela faz parte, o MST, tem como fun-damento a transformação social. Os nú-cleos de base nos assentamentos consti-tuem-se em espaços de descoberta dasdemandas e necessidades sociais. Inicia-tivas como o apoio a projetos de agroflo-resta e a busca de novos espaços no merca-do indicam a busca de sustentabilidadesocioambiental e econômica.

Os centros de pesquisa, nos quaisatuam grupos de agricultores-pesquisa-dores e técnicos-pesquisadores, promo-vem a troca e conseqüente multiplicação desaberes, propiciando diálogo entre saberes,além de acessibilidade e apropriação de tec-nologias. Os experimentos desenvolvidosnesses centros podem ser capazes de pro-piciar inovações com grande potencial pa-ra gerar transformações sociais e, conse-qüentemente, melhoria na qualidade devida de todos os envolvidos.

Considerando que a discussão dos pro-blemas e a busca de soluções começa pelaorganização nas bases, ou seja, nos assen-tamentos, podemos entender que a orga-nização política da Concrab estrutura-sede modo a permitir processos participati-vos de planejamento, acompanhamento eavaliação na elaboração dos projetos nas di-versas áreas em que atua. Outro ponto im-portante no contexto da Concrab é o inter-câmbio. Não raro as associações que estãopróximas organizam visitas entre si e tam-bém reuniões regionais para que sejam dis-cutidas as experiências dos cooperados.Além disso, a Confederação realiza doisencontros por ano para que as associaçõesde todo o país possam conhecer a realidadedas cooperativas que estão mais distantes.

O processo pedagógico está presentenão só nos centros de pesquisa, onde agri-cultores e técnicos compartilham saberese aprendem uns com os outros e com asexperiências. Está na estrutura da organi-zação, uma vez que todos aprendem pormeio da organização e da atuação política,exercendo a cidadania e construindo oprocesso democrático. Como afirmaMiranda,

ao longo de sua trajetória, os assentados ad-

quiriram uma grande habilidade de negociação

em decorrência de suas lutas e de seus conta-

tos com os setores públicos. Estão mais dis-

postos a experimentar novos caminhos como

cooperativas e associações, por exemplo.

(2003, p.75.)

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Hoje, mais de 30 países utilizam a peda-gogia da alternância das Casas FamiliaresRurais. Como conseqüência dessa expan-são, em 1975 foi criada a Associação In-ternacional dos Movimentos Familiaresde Formação por Alternância (AIMFR).

Inovações para superar obstáculosSegundo Martins (s/d), vários problemaseducacionais encontrados nas escolas nomeio rural dão origem à necessidade deuma proposta educacional específica parao campo. Alguns desses problemas são osseguintes:

n a escola desvinculada da realidade local;n a falta de recursos para atividades bási-cas do campo;n a necessidade de os alunos ficarem napropriedade com sua família para traba-lhar e terem dificuldades de acompanharo calendário tradicional das escolas;n a desvalorização da escola multisseriadae a falta de vagas nas escolas agrotécnicas;n a formação não voltada para as especifi-cidades do campo também se reflete embaixos índices de produtividade pelo usode técnicas inadequadas à realidade de ca-da região.

O que se tem observado no meio rural,onde se pratica a agricultura familiar, éuma formação escolar que não prepara oaluno nem para o mercado de trabalhonem para o exercício da cidadania. Os fi-lhos vão para a escola e não têm tempo pa-ra ajudar nos trabalhos da roça, deixando

2. PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA:

A EDUCAÇÃO A PARTIR DO CAMPO2

A pedagogia da alternância é uma alterna-tiva para a educação no meio rural, já queo ensino nesse contexto, como regra, nãocontempla as especificidades e as necessi-dades da população. Quem coloca emprática esse modo de ensino-aprendizadosão as Casas Familiares Rurais, que sãopessoas jurídicas próprias, vinculadas aassociações formadas pelos atores envol-vidos no projeto pedagógico.

O sistema Casa Familiar Rural, noBrasil, e as Associações Regionais das CasasFamiliares Rurais (Arcafar) tiveram seu iní-cio no estado de Pernambuco, em 1984. Já oSistema Familiar Rural na AmazôniaBrasileira teve seu início no estado do Pará,em 1994. A rede Arcafar na região é consti-tuída pela Arcafar/Norte, Arcafar/PA,Arcafar/MA e Arcafar/AM. Essa rede semantém com o apoio de ONGs, subsídiosestatais e municipais e poucos recursos deempresas. Além do trabalho “idealista” deseus participantes (Martins, s/d).

O Movimento das Casas FamiliaresRurais, no entanto, nasceu na França, em1935, a partir da necessidade de criação deuma escola que correspondesse às neces-sidades e aos problemas reais vivenciadosno campo. Durante a década de 1950, a ex-periência começa a chamar atenção e seexpande para outros países da Europa.

2. Este relato baseia-se, em grande parte, no depoimento de Leônidas dos Santos Martins, presidente da AssociaçãoRegional das Casas Familiares Rurais do Estado do Pará (Arcafar/PA) e representante da União Nacional das EscolasFamílias Agrícolas do Brasil (Unefab) durante o encontro “Tecnologia Social e Agricultura Familiar: semeando diferentessaberes”, realizado em 2004, em Brasília. A apresentação de Martins teve o título “Pegagogia da Alternância nas CasasFamiliares Rurais”.

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de aprender com os pais, como acontecianas gerações anteriores. Muitas vezes ospais se queixam que os filhos, quando con-cluem o terceiro ano do ensino médio (an-tigo segundo grau), não estão capacitadospara o trabalho na lavoura e nem para qual-quer outro ofício. E, muitas vezes, aindasaem sabendo ler e escrever muito mal.

Do mesmo modo que os projetos, oumelhor, os “pacotes” desenvolvimentistasinstitucionais nunca estiveram preparadospara atender a produção agrícola familiar, o“pacote” educacional institucional mos-tra-se muito desvinculado da realidadecultural do meio rural. Certamente, é mui-to difícil o aprendizado por meio de códi-gos e representações que não fazem partedo universo cultural do aluno. Martins re-sume esta problemática da seguinte forma:

Pensar numa proposta Educacional em oposi-

ção à educação convencional foi uma necessida-

de frente à realidade rural brasileira. Os fatores

que contribuíram para o surgimento das Casas

Familiares Rurais no Brasil tiveram relação dire-

ta com a economia agrícola baseada na produção

de subsistência, a falta de conhecimento de téc-

nicas alternativas para a preservação ambiental,

o rápido processo de desmatamento, o uso do

fogo de modo indevido, preparo adequado do

solo, uso intensivo de agrotóxicos, baixo uso de

práticas conservacionistas nas áreas de cultivos,

a monocultura, êxodo rural, evasão escolar pela

falta de respostas das escolas existentes às reais

necessidades dos jovens camponeses e pela fal-

ta de escola básica do campo.

(s/d, p. 3-4)

Assim sendo, o modelo de educaçãodas Casas Familiares Rurais tem comoobjetivo promover uma educação, forma-ção e profissionalização alternativa eficaze concreta mais apropriada à realidade do

campo. Desse modo, podem ser criadasalternativas de trabalho e renda, sob pers-pectiva da economia solidária, e o jovempassa a ser incentivado a permanecer nasua própria região.

O projeto pedagógico é resultado daação de diversos atores que devem atuarem parceria, entre eles o monitor/educa-dor, o aluno, a família, a comunidade, pro-fissionais e instituições locais. São desta-cados dois eixos principais que dão basepara o projeto de formação proposto: a pe-dagogia da alternância e a Associação dasFamílias.

Pedagogia da alternânciaA pedagogia da alternância caracteriza-sepor alternar a formação do aluno entremomentos no ambiente escolar e momen-tos no ambiente familiar/comunitário. Aproposta é desenvolver um processo deensino-aprendizagem contínuo em que oaluno percorre o trajeto propriedade–es-cola–propriedade da seguinte forma:

n em um primeiro momento, na proprie-dade, o aluno se volta para a observação,pesquisa e descrição da realidade sociopro-fissional do contexto no qual se encontra;n em um segundo momento, o aluno vaià escola, onde socializa, analisa, reflete,sistematiza, conceitualiza e interpretaos conteúdos identificados na etapa an-terior;n em um terceiro momento, o aluno vol-ta para a propriedade, dessa vez com osconteúdos trabalhados de forma a quepossa aplicar, experimentar e transformara realidade socioprofissional, e assim no-vos conteúdos surgem e novas questõessão colocadas, podendo ser novamentetrabalhados no contexto escolar.

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Existe uma série de instrumentos es-pecialmente elaborados para trabalharem regime de alternância, tais como: pla-no de estudo com temas geradores esco-lhidos a partir de um diagnóstico da reali-dade local, caderno de pesquisa e cadernode acompanhamento, entre outros.

De maneira geral, a pedagogia da alter-nância trabalha com a experiência concre-ta do aluno, e a integração entre os diver-sos atores envolvidos é um aspectofundamental para o funcionamento daproposta. Conhecimento empírico e tro-cas de conhecimento com atores do siste-ma tradicional de educação e com mem-bros da família e da comunidade na qualvive o aluno complementam-se na for-mação cidadã de atores que estarão maisbem preparados para compreender e mo-dificar a realidade.

A respeito desse sistema educacional,nos diz Passador (2000):

O envolvimento da comunidade é primordial

para a consecução dos objetivos do Projeto, cu-

ja implantação só acontece a partir da demanda

da própria comunidade. A partir daí, começa a

se desenvolver o senso de responsabilidade

pelas escolas, a busca por soluções para os pro-

blemas da região, a valorização do agricultor

como cidadão e como profissional. Conse-

qüentemente, o Projeto acaba despertando a

iniciativa e a participação comunitária, além de

uma atuação conjunta por parte dos órgãos

executores e parceiros do Projeto. E ainda, cria

projetos de desenvolvimento regional oriun-

dos das aspirações da população local e dos en-

sinamentos da Casa Familiar Rural.

As Casas têm evoluído de acordo com a matu-

ridade política das comunidades. Nas cidades

em que as lideranças constituídas e os agricul-

tores compreendem suas atribuições junto ao

Projeto, este se torna a mola propulsora da agri-

cultura no município ou na região. (p. 2)

AASS CCAASSAASS FFAAMMIILLIIAARREESS RRUURRAAIISS TTÊÊMM CCOOMMOO PPRRIINNCCÍÍPPIIOOSS::

n promoção do desenvolvimento local sustentável e solidário;

n pedagogia da cooperação;

n valorização da cultura e dos valores do campo;

n promoção da cidadania;

n economia solidária;

n formação integral do jovem: social, profissional e pessoal.

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A Associação das Famílias tem comofunção gerir a Casa Familiar Rural admi-nistrativa, financeira e juridicamente.Além disso, tem como responsabilidadeparticipar da formação e complementá-lade modo coerente a partir do que é ensina-do na escola.

Desafios e conquistasAs principais dificuldades encontra-

das são:

n falta de reconhecimento e regulamen-tação da pedagogia da alternância, em ní-vel federal (Martins, s/d);n falta de apoio financeiro para funciona-mento do modelo;n ausência de formação acadêmica dosmonitores/educadores especificamenteem pedagogia da alternância;n instalações inadequadas;n falta de equipamentos e materiais didá-tico-pedagógicos (Martins, s/d).

Para solucionar esses problemas, asCasas Familiares Rurais têm buscado au-mentar suas parcerias com o poder públi-co e constituir parcerias com universida-des para criação de projetos de curso deformação específicos para os monito-res/educadores da alternância. Em rela-ção aos recursos, hoje existem linhas decrédito do Programa Nacional de Fortale-cimento da Agricultura Familiar (Pronaf)destinadas aos jovens, com valores de atéR$ 6 mil. Contudo, os trâmites burocráti-cos para se obter o financiamento aindasão um fator que impede que esses inves-timentos se concretizem. Dados da Arca-far/PA apontam que, no ano de 2005, dos5 mil pedidos de financiamento, somente300 se efetivaram. Ainda de acordo com a

entidade, a falta de recursos faz com que87% dos alunos que voltam ao convíviofamiliar não consigam executar o projetoprofissional que desenvolveram.

Uma amostra do sucesso do modelodas Casas Familiares Rurais é o fato de que,em média, somente cinco a 6% dos edu-candos desistem do curso. Martins (s/d)aponta alguns resultados obtidos até ago-ra, tais como formação de lideranças, di-versificação da propriedade, geração detrabalho e renda no campo, inclusão social,resgate da cidadania, qulidade de vida, vidadigna e felicidade, continuidade dos jo-vens no campo e um projeto profissionalde vida. O autor ainda afirma:

As Casas Familiares Rurais apresentam resul-

tados excelentes de custo/benefício, sendo

muito favoráveis aos interesses da administra-

ção pública, pois garantem qualidade no ensi-

no e com um custo menor em relação aos obti-

dos com a educação nas escolas tradicionais.

(Martins, s/d)

As ações que resultam de seus princí-pios desencadearam um processo detransformação social que já está aconte-cendo. Trata-se de uma experiência fun-dada em processo participativo de plane-jamento, acompanhamento e avaliaçãoque envolve uma ampla complexidade deatores, promovendo um rico diálogo en-tre saberes no qual todos aprendem.Certamente um modo de ensinar e for-mar cidadãos inovador que considera osaber como um processo de constanteprodução coletiva.

Como define Maria Aparecida deSouza Ramos, professora de Pedagogia naUniversidade Católica de Brasília, asEscolas Famílias Agrícolas formam “umaassociação de famílias, pessoas e institui-

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3. Dados de 2004, apresentados pelo professor João Batista Queiroz.4. Este relato baseia-se, em grande parte, no depoimento que Paulo Petersen, da Assessoria e Serviços a Projetos emAgricultura Alternativa (AS-PTA), apresentou durante o encontro “Tecnologia Social e Agricultura Familiar: semeando dife-rentes saberes”, realizado em 2004, em Brasília. A apresentação de Petersen recebeu o título “Agricultores na pesquisa”.

ções que se unem para promover um de-senvolvimento sustentável e solidário nocampo”. A professora chama a nossa aten-ção para a força do conhecimento cons-truído a partir da realidade concreta. Esteconhecimento adquire um outro signifi-cado, mais ainda quando tem como objeti-vo a formação integral e passa a fazer partedo projeto de vida pessoal, contribuindopara o desenvolvimento do meio social,econômico, humano, político.

Toda esta experiência permite a cons-trução de novos referenciais de como a so-ciedade pode se organizar. São fortes con-tribuições para gerar mudança e isto seconfirma nestes dados sobre a importânciadessas escolas para que os jovens tenham aopção de permanecer no meio rural: 65%dos egressos permanecem em meios ruraise 35% migram para meios urbanos3.

A Escola Família Agrícola valoriza acultura local, o que colabora para a per-manência do agricultor no campo e abre aperspectiva de profissionalização dosseus filhos. Nesse processo, a apropriaçãoda metodologia científica torna-se possí-vel, aproximando o universo acadêmico eo saber do agricultor. Torna-se claro que oacesso ao conhecimento e a possibilidadede sair da exclusão caminham lado a lado.

O que é sempre importante sublinharnestes processos é que, de modo algum, orespeito à identidade local significa isolaros educandos nos limites de seus interesses.Ao contrário, trata-se de provocá-lo atransgredir estes limites, seja por meio depesquisa, seja por meio do encontro compessoas diferentes.

3. AGRICULTORES NA PESQUISA4

A Assessoria e Serviços a Projetos emAgricultura Alternativa (AS-PTA) foifundada no ano de 1984 e tem por objeti-vo a promoção do desenvolvimento daagricultura brasileira com base nos prin-cípios da agroecologia e no fortalecimen-to da agricultura familiar. Trabalha comtrês projetos de desenvolvimento local,no qual se articulam vários objetivos pormeio da constituição de redes sociais lo-cais de experimentação e de disseminaçãode inovações. Um deles é realizado noCentro-Sul do Paraná e no Contestado,em Santa Catarina; o outro, também rela-cionado à agricultura familiar, é desen-volvido na região do agreste paraibano.Um terceiro programa trata da agricultu-ra urbana e é feito na periferia do Rio deJaneiro. Em âmbito maior, a AS-PTA in-tegra ativamente redes regionais e nacio-nais de promoção da agroecologia, como aArticulação no Semi-Árido Brasileiro, asJornadas Paranaenses de Agroecologia e aArticulação Nacional de Agroecologia.

A organização constituiu-se comouma associação sem fins lucrativos compersonalidade jurídica própria, desde1990, e conta com o apoio de muitas insti-tuições, em um arco que abrange desde opoder público e até as agências de coope-ração internacional.

A metodologia de formação de agri-cultores-experimentadores é um dos ei-xos da organização, um processo funda-mental para que seja possível a troca deexperiências entre produtores familiares.

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A partir do conhecimento empírico e co-tidiano destes agricultores-experimen-tadores, realizam-se em conjunto a inves-tigação dos problemas e a pesquisa nomeio ambiente, visando à elaboração desoluções satisfatórias. Posteriormente,tal conhecimento é trabalhado com ou-tros agricultores, de modo que se propiciauma rica troca de experiências. Essa redede conhecimentos é, então, incorporadaaos projetos da AS-PTA, passando a fazerparte da estratégia de formação dos agri-cultores-experimentadores.

Um diagnóstico participativo busca,considerando a cultura e o imaginário dogrupo, compreender as opções técnicas eeconômicas a serem discutidas. Dessamaneira, o próprio agricultor pode cons-truir meios de aperfeiçoar o conhecimen-to existente e gerar novos conhecimen-tos. Essa metodologia é desenvolvida pelaAS-PTA desde sua fundação. A atuaçãoda organização se dá em nível nacional,assim como a abrangência de aplicação dametodologia.

A formação de agricultores-experi-mentadores tem o intuito de demonstrarque o produtor agrícola pode também serum pesquisador e, conseqüentemente,produzir e difundir conhecimentos. Aconstrução de soluções técnicas é um pro-cesso coletivo que envolve todos os agri-cultores interessados em um determina-do tema, juntamente com os técnicos deapoio. A metodologia se estrutura em seisgrandes eixos centrais:

nexperimentação dos agricultores e orga-nização gremial no âmbito nacional;n experimentação dos agricultores e enti-dades socioeconômicas; n experimentação dos agricultores e co-munidades;

n experimentação dos agricultores e mer-cado/comercialização; n experimentação dos agricultores e ges-tão de recursos naturais; n experimentação dos agricultores epesquisa do setor público.

O problema-objeto está na criação dealternativas às pesquisas geradas conven-cionalmente, para promover a solução dosmuitos problemas enfrentados e identifi-cados pelos agricultores em suas proprie-dades. É preciso conhecer a realidade localde cada grupo de agricultores e, para tanto,deve haver uma aproximação entre os ato-res envolvidos. Assim, são estabelecidasas necessidades e as dificuldades específi-cas enfrentadas, com possíveis soluçõesou minimizações dos problemas.

O objetivo, portanto, é construir pro-postas individuais de forma coletiva e com-partilhada, a fim de que o agricultor possadesenvolver suas próprias técnicas sem aintervenção de instituições públicas ouprivadas. Entre os atores envolvidos estãoos agentes comunitários, técnicos e pes-quisadores da AS-PTA. Os agricultores-experimentadores aparecem como identi-ficadores de problemas e fatores limitantese são também detectores de soluções. Elesse mobilizam para a mudança, a fim de seadaptarem melhor ao entorno, que se en-contra em constante mutação.

A preocupação dos agricultores-expe-rimentadores é encontrar soluções paraseus problemas e os de suas comunida-des, com tecnologias que possam difun-dir o máximo possível. Isso define doispontos centrais na metodologia. O pri-meiro é que os problemas e necessidadessão a base para definição dos conteúdosdos experimentos, de modo que os temasa serem investigados são definidos local-

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AA AASS--PPTTAA TTEEMM CCOOMMOO PPRRIINNCCÍÍPPIIOOSS::n diagnóstico participativo;

n experimentação participativa;

n as soluções agroecológicas são específicas para cadaprodutor (conforme sua realidade socioeconômica);

n o produtor é um pesquisador e difusor de seus conheci-mentos, o chamado agricultor-experimentador;

n analisar as variadas formas que os agricultores lidam com os problemas identificados, avaliando estas alterna-tivas com vistas às futuras experimentações para outros agricultores.

mente, assim como as prioridades de exe-cução e os critérios de avaliação e divulga-ção. O segundo diz respeito ao especialinteresse em fazer circular o conheci-mento produzido – comunicar resulta-dos, experiências, dificuldades e meto-dologias. Membros de diferentes regiõesrealizam intercâmbios com o intuito decompartilhar conhecimentos e reflexões,além de difundir soluções tecnológicaspara outros contextos.

A definição do que é prioritário é umadas dificuldades enfrentadas, pois há di-ferenças de interesses, por exemplo, emrelação aos aspectos econômicos, a gestãoda força de trabalho ou a diversificação decultivos. A diminuição dos custos de pro-dução dos agricultores é o mais impor-tante incremento na produtividade físicadas lavouras. Por isso, a substituição deprodutos agrotóxicos por naturais para ocombate às pragas e o controle da fertili-dade do solo é um ponto conflitante, oque faz da questão algo que mobiliza osagricultores-experimentadores.

Na manutenção de formas diversifica-das para fortalecer a experimentação dosagricultores, é imprescindível que o pro-cesso seja passível de ser adaptado a gru-pos de outras localidades. Para que isso seefetive, são realizadas parcerias com orga-nizações de produtores, universidades,setores público e privado, institutos depesquisas, entre outros.

Um importante instrumento para adifusão de informações geradas a partirdas experiências dos agricultores-experi-mentadores é a Agroecologia em Rede,um banco de dados que agrega pesquisas evários contatos de pessoas e instituiçõesvinculadas à questão da Agroecologia noBrasil. O banco contém também dadossobre as experiências desenvolvidas.

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facilmente. Para isso, se faz necessário dotar

agricultores de conhecimentos de tal forma

que um entenda o idioma do outro, para sua

própria capacidade de experimentar.

(p. 33)

O reforço das capacidades dos agricul-tores-experimentadores é apresentadopor quatro linhas complementares à ex-periência:

1. apoio ao processo, no qual está embutidaa necessidade básica do aumento da capa-cidade e da dinâmica de trabalho dos agri-cultores-experimentadores, a fim de quecompartilhem conhecimentos entre si;2. aumento da capacidade dos agriculto-res-experimentadores com rigor: a partirdas falhas metodológicas encontradas,tentar corrigi-las para melhorar a qualida-de dos resultados obtidos, para oferecerrespostas válidas a um âmbito desejáveldo espaço geográfico;3. estímulo às interações entre pesquisado-res e agricultores-experimentadores: en-volvimento dos agricultores no processode criação e difusão de alternativas tecno-lógicas para melhorar os papéis e as fun-ções de cada um; 4. sustentabilidade: assegurar a continui-dade de um processo promissor para queo desenvolvimento agrícola seja fortale-cido e reconhecido para o desenvolvi-mento sustentável.

Outro desafio para a entidade foi sairdo âmbito rural e trabalhar a questão daagricultura urbana. A AS-PTA desenvol-ve um programa junto a 40 comunidadesda periferia do Rio de Janeiro, com parce-rias locais e priorizando o plantio em espa-ços limitados como quintais domésticos.O apoio acontece principalmente no cam-

Com isso, torna-se possível estimularainda mais as interações entre pessoasque praticam agricultura fundamentadana Agroecologia, com base no conheci-mento gerado por eles mesmos.

Outro modo de divulgação das expe-riências é a atuação da AS-PTA no sentidode se integrar em redes regionais e nacio-nais de promoção da Agroecologia, auxi-liando na articulação de movimentos daagricultura familiar, agro-extrativistas,povos indígenas, ONGs, pesquisadores,professores universitários e de escolasagrícolas e extensionistas. Esse intercâm-bio é fundamental não somente para inten-sificar a troca de informações, mas tambémpara que se fortaleça o papel de todos osatores envolvidos na formulação de políti-cas públicas para a agricultura brasileira.

Há uma diversidade de publicaçõesque debatem as experiências e as refle-xões sobre a metodologia, inclusive umasérie chamada “Agricultores na pesqui-sa”. Segundo Edwards (1993) a realizaçãode projetos de implementação de tecno-logias em conjunto com os agricultoresgera mais segurança na introdução de no-vas tecnologias. Hocdé (1999) sintetiza:

Os A/E [agricultores-experimentadores] são

melhores conhecedores do local. Nenhuma

pesquisa, por melhor que seja, poderá conhecer

tão profundamente o local. A pesquisa sobre

sistemas de produção pode facilitar o resgate

dos conhecimentos. Por outro lado, ninguém

pode representar e defender melhor os interes-

ses dos agricultores do que eles próprios. Da

mesma maneira, nenhum A/E pode substituir

a função dos pesquisadores. As vantagens

comparativas dos diferentes atores são cada vez

mais claras. O encontro entre esses dois mun-

dos é imprescindível. O diálogo é mais factível

quando os dois conseguem se comunicar mais

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po metodológico, com a realização de reu-niões, seminários e intercâmbios entre osdiversos participantes da experiência.

Ao contrário do meio rural, onde a im-portância da agricultura está relacionada àprópria tradição das famílias, uma dasprincipais metas do programa é fazer comque as organizações locais compreendamo papel que a atividade tem para os diver-sos aspectos da comunidade. Não somen-te para a segurança alimentar, como tam-bém para a saúde dos moradores que,além de consumirem produtos saudáveisque não faziam parte do seu dia-a-dia,aprendem a manejar os alimentos, plan-tas e ervas para uso medicinal.

Uma tecnologia de produção e difusão de conhecimentoDe modo semelhante ao que acontece napedagogia da alternância, os projetos im-plementados pela AS-PTA implicam me-todologias que permitem aos agricultoresdesenvolver instrumentos de investiga-ção e busca de soluções para questõesidentificadas na realidade cotidiana.Trata-se de um processo participativo noqual todos atuam nas etapas de planeja-mento, acompanhamento e avaliação dasexperiências.

O diálogo de saberes que se faz entretodos os atores envolvidos cria uma novarelação entre técnicos tradicionais da ex-tensão rural e agricultores. O processopedagógico não se faz na “transmissão”,mas na construção conjunta de conheci-mento e na criação de práticas, muitas ve-zes inovadoras, adequadas às necessida-des locais. Esse é um fator de relevância eeficácia social. A agricultura familiarocorre em um universo de inúmeros gru-

pos distintos entre si e que possuem espe-cificidades relativas aos modos de organi-zação social e de relação com o ambiente.A experiência institucional mostra quesoluções construídas de fora por técnicosque desconhecem a realidade desses dife-rentes grupos produtores de agriculturafamiliar, são quase sempre ineficazes.

A produção de conhecimento, junta-mente com o domínio de metodologias ea apropriação das tecnologias, permitemaior independência em relação aoEstado e às instituições privadas e geraum novo posicionamento nas estruturasde poder. Dentro desse processo, a apro-ximação do setor acadêmico junto aosagricultores é crucial para a construção ci-dadã do processo democrático.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Este Caderno, como já mencionado,trouxe algumas experiências de Tec-

nologia Social em agricultura familiar,apresentadas primeiramente na oficina“Tecnologia Social e agricultura familiar:semeando diferentes saberes”, organiza-da pelo ITS, em Brasília, em 2004. A im-portância dessas experiências decorre dofato de serem baseadas em forte organi-zação e educação, aspectos cruciais dastecnologias sociais. No entanto, o papelda TS e sua contribuição para a agricultu-ra familiar são muito mais amplos e di-versos, merecendo que outras experiên-cias sejam também estudadas, divulga-das e reaplicadas.

A boa notícia no Brasil para a agricul-tura familiar, e também para as tecnolo-gias sociais desenvolvidas nessa área, es-tá, inicialmente, no reconhecimentopúblico da sua importância. Que os agri-cultores familiares possam constituir-secomo sujeitos de políticas públicas, dadaa nossa história de exclusão e negligênciapara com esse setor, é por si só um aconte-cimento digno de menção. Por outra par-

te, não apenas o crescimento das políticasdos recursos voltados à agricultura fami-liar, mas também sua articulação com ou-tras políticas e sua diversificação – comose observa, por exemplo, nas diferenteslinhas do Pronaf 1 – constituem avançospromissores. Tais políticas têm obtidogrande destaque e são referências noMercosul: “O Brasil é o país que melhordesenvolveu um conjunto de políticasagrícolas específicas para a agricultura fa-miliar. (...) As políticas públicas e agríco-las brasileiras servem de referência às or-ganizações argentinas que trabalhamcom a agricultura familiar, bem como asdo Uruguai e do Paraguai” (Nunes, 2007).

Com efeito, as inovações tecnológicaspara a agricultura familiar adquiremenorme importância, sobretudo pelos re-sultados socioeconômicos que vêm pro-porcionando, mas não podem ser conce-bidas de forma isolada ou autônoma,devendo integrar-se não apenas entre si,mas também, como um aspecto relevan-te, com outras políticas, dentre as quaisdestacam-se as de segurança alimentar e

1. Pronaf Alimentos, Pronaf Mulher, Pronaf Jovem Rural, Pronaf Turismo Rural, Pronaf Agroecologia, Pronaf Máquinas eEquipamentos, Pronaf Semi-Árido, Pronaf Pesca, Pronaf Florestal e Pronaf Pecuária Familiar.

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Ao mesmo tempo, o diálogo entre sa-beres, e o envolvimento dos próprios su-jeitos torna-se fundamental. Vários sãoos atores que participam deste processode gerar conhecimento, desde o agricul-tor até o cientista. Um desafio que se apre-senta às instituições brasileiras está em seampliar os contatos, intercâmbios eaprendizado mútuo entre esses atores.

Um passo importante é a construçãode novos critérios de julgamento e avalia-ção, que reconheçam a produção de co-nhecimento de ONGs, Escolas FamíliasAgrícolas/Casas Familiares Rurais, en-fim, das comunidades não-cientificas e,também, que levem em conta o processo enão somente os resultados.

No desenvolvimento de conceitos co-mo o de agroecologia e na prática da agri-cultura sustentável, grandes parcerias sedesenvolveram com comunidades tradi-cionais como forma de resgatar as práticasadotadas no fazer agricultura. As comu-nidades também foram muito procura-das por seus bancos de sementes crioulas,por exemplo. A valorização do saber cam-ponês é um instrumental importante nodesenvolvimento da agricultura susten-tável e das bases da agroecologia. É impor-tante reconhecer que há outro modo depesquisar com características própriasonde tanto a concepção quanto a pauta dapesquisa são participativas.

Deve-se destacar o quanto os órgãosresponsáveis pela Assistência Técnica eExtensão Rural (Ater) podem contribuirpara que esse diálogo se fortaleça. Feliz-mente, as bases para a construção de umanova Ater, exercida por profissionais emsintonia com um referencial de desenvol-vimento que considere aspectos sociais,culturais, econômicos e ambientais, já es-tão presentes na Política Nacional de

desenvolvimento local, os ArranjosProdutivos Locais (APLs) e os projetosagroindustriais em pequena escala, a eco-nomia solidária.

Ao mesmo tempo, as formas de de-senvolvimento desse campo tecnológicodevem diferenciar-se das políticas tradi-cionais de CT&I para a agricultura fami-liar. “Dificilmente políticas tradicionaisde promoção e difusão tecnológica pode-rão responder de forma adequada ao mo-saico de situações que compõe a agricul-tura familiar e, ao buscar abrangência,ainda correm o risco de comprometer asustentabilidade daquela parcela que estáem condições de ser viável no contextoatual.” (Buainain, Souza Filho e Silveira,2002, p. 80)

Dessa forma, as políticas participati-vas e educativas representam o cerne daquestão e as principais instituições deCT&I do Brasil realizam projetos e expe-riências e se organizam administrativa-mente para dar conta dessa visão (Silva eRocha, 2007). Nesse campo, a capacidadeda tecnologia social ganha relevo precisa-mente pela proximidade em relação aosproblemas dos agricultores familiares,assim como a importância dada aos as-pectos metodológicos participativos eeducativos.

Por outro lado, dada a enorme diver-sidade da agricultura familiar, as políti-cas de C&T não podem senão ser igual-mente diversas e adaptar-se a cadarealidade concreta. Isso significa que nãoapenas as pesquisas devem estar vincula-das às necessidades decorrentes dessavariedade ambiental e socioeconômica,mas também as instituições de assessoriae de desenvolvimento de inovações, co-mo a extensão universitária, devem serfortalecidas.

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Assistência Técnica e Extensão Rural(2004). Lemos nesta Política que

os serviços públicos de Ater (realizados por

entidades estatais e não estatais) devem ser

executados mediante o uso de metodologias

participativas, devendo seus agentes desem-

penhar um papel educativo, atuando como

animadores e facilitadores de processos de de-

senvolvimento rural sustentável. Ao mesmo

tempo, as ações de Ater devem privilegiar o

potencial endógeno das comunidades e terri-

tórios, resgatar e interagir com os conheci-

mentos dos agricultores familiares e demais

povos que vivem e trabalham no campo em re-

gime de economia familiar, e estimular o uso

sustentável dos recursos locais. Ao contrário

da prática extensionista convencional, estru-

turada para transferir pacotes tecnológicos, a

nova Ater pública deve atuar partindo do co-

nhecimento e análise dos agroecossistemas e

dos ecossistemas aquáticos, adotando um en-

foque holístico e integrador de estratégias de

desenvolvimento, além de uma abordagem

sistêmica capaz de privilegiar a busca de eqüi-

dade e inclusão social, bem como a adoção de

bases tecnológicas que aproximem os proces-

sos produtivos das dinâmicas ecológicas.

(MDA, 2004, p. 6)

Para concluir, nunca é demais enfatizaro papel que o Estado e a consolidação depolíticas públicas efetivas e duradourastêm na inclusão social e na garantia de umdesenvolvimento sólido e sustentável.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXOS

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ANEXO 1Presidência da RepúblicaCasa CivilSubchefia para Assuntos Jurídicos LEI Nº 11.326, DE 24 DE JULHO DE 2006.Estabelece as diretrizes para a formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar eEmpreendimentos Familiares Rurais. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saberque o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Esta Lei estabelece os conceitos, princípios e instrumentos destinados à formu-lação das políticas públicas direcionadas à Agricultura Familiar e EmpreendimentosFamiliares Rurais.Art. 2º A formulação, gestão e execução da Política Nacional da Agricultura Familiar eEmpreendimentos Familiares Rurais serão articuladas, em todas as fases de sua formu-lação e implementação, com a política agrícola, na forma da lei, e com as políticas volta-das para a reforma agrária.Art. 3º Para os efeitos desta Lei, considera-se agricultor familiar e empreendedor fami-liar rural aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo, simultaneamente, aosseguintes requisitos:I não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais; II utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas atividades econô-micas do seu estabelecimento ou empreendimento;III tenha renda familiar predominantemente originada de atividades econômicas vin-culadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento;IV dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família.

§ 1º O disposto no inciso I do caput deste artigo não se aplica quando se tratar de condo-mínio rural ou outras formas coletivas de propriedade, desde que a fração ideal por pro-prietário não ultrapasse 4 (quatro) módulos fiscais.

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§ 2º São também beneficiários desta Lei:I silvicultores que atendam simultaneamente a todos os requisitos de que trata o caputdeste artigo, cultivem florestas nativas ou exóticas e que promovam o manejo susten-tável daqueles ambientes;II aqüicultores que atendam simultaneamente a todos os requisitos de que trata o caputdeste artigo e explorem reservatórios hídricos com superfície total de até 2ha (dois hecta-res) ou ocupem até 500m? (quinhentos metros cúbicos) de água, quando a exploração seefetivar em tanques-rede;III extrativistas que atendam simultaneamente aos requisitos previstos nos incisos II,III e IV do caput deste artigo e exerçam essa atividade artesanalmente no meio rural,excluídos os garimpeiros e faiscadores;IV pescadores que atendam simultaneamente aos requisitos previstos nos incisos I, II,III e IV do caput deste artigo e exerçam a atividade pesqueira artesanalmente.

Art. 4º A Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos FamiliaresRurais observará, dentre outros, os seguintes princípios:I descentralização;II - sustentabilidade ambiental, social e econômica;III eqüidade na aplicação das políticas, respeitando os aspectos de gênero, geração e etnia;IV participação dos agricultores familiares na formulação e implementação da políticanacional da agricultura familiar e empreendimentos familiares rurais.

Art. 5º Para atingir seus objetivos, a Política Nacional da Agricultura Familiar eEmpreendimentos Familiares Rurais promoverá o planejamento e a execução dasações, de forma a compatibilizar as seguintes áreas:I crédito e fundo de aval; II infra-estrutura e serviços;III assistência técnica e extensão rural;IV pesquisa;

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V comercialização;VI seguro; VII habitação;VIII legislação sanitária, previdenciária, comercial e tributária;IX cooperativismo e associativismo;X educação, capacitação e profissionalização;XI negócios e serviços rurais não agrícolas; XII agroindustrialização.

Art. 6º O Poder Executivo regulamentará esta Lei, no que for necessário à sua aplicação.

Art. 7º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.Brasília, 24 de julho de 2006; 185o da Independência e 118o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Guilherme CasselEste texto não substitui o publicado no D.O.U. de 25.7.2006

ANEXO 2Declaração de QuitoA Agricultura Urbana nas Cidades do Século XXIAs cidades reunidas em Quito, Equador, entre 16 e 20 de abril de 2000, por ocasião doSeminário-Oficina “A Agricultura Urbana nas Cidades do Século XXI”, concordamem emitir a seguinte: “DECLARAÇÃO DE QUITO”

CONSIDERANDO que Nossas cidades enfrentam graves problemas de pobreza, insegurança alimentar edegradação ambiental.

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Recentemente, e de modo crescente, vêm sendo desenvolvidas diversas experiênciascom Agricultura Urbana na América Latina e Caribe, destinadas à auto-produção, com oobjetivo de aumentar o consumo de alimentos, gerar renda e emprego para a populaçãovulnerável das cidades, e promover a segurança alimentar e a qualidade ambiental.

Essas experiências apresentam limitações, porém sua tendência é no sentido de sua con-solidação e sustentabilidade; e merecem maior apoio se considerados os impactos que ger-am na qualidade de vida de todas as faixas da população de nossas cidades.

RECONHECENDO que As experiências de Agricultura Urbana nas cidades da América Latina e do Caribe apre-sentam limitações que porém não impedem o reconhecimento de suas importantescontribuições para aumentar a eqüidade, melhorar a saúde e reforçar a segurança ali-mentar nas cidades.

Essas experiências mostram que é possível o uso de recursos locais e tecnologias pró-prias para reduzir os custos das economias urbanas e assegurar avanços nos níveis dequalidade de vida da população.

A coordenação entre os atores locais e nacionais é um fator decisivo para impulsio-nar o desenvolvimento da Agricultura Urbana.

É necessário que se executem programas de capacitação para os técnicos dos gover-nos locais e para os próprios agricultores urbanos, de modo a elevar a eficiência daAgricultura Urbana.

É necessário divulgar e intercambiar essas experiências por toda a Região, de modoa aumentar a efetividade dos esforços e reduzir os custos desses programas.

PROPICIANDO queAs cidades reconheçam a importância da contribuição da Agricultura Urbana nas estraté-gias para o desenvolvimento social, geração de emprego e renda, elevação da autoestima,melhoramento ambiental e especialmente para a segurança alimentar, e a incluam entreos objetivos principais do desenvolvimento municipal, de modo claro e articulado.

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Os governos locais se comprometam decididamente com o desenvolvimento daAgricultura Urbana, mobilizando os recursos locais existentes, institucionalizando-ae promovendo sua ampliação em nível nacional e definindo as contrapartidas munici-pais para a execução das práticas da Agricultura Urbana.

Os técnicos e as comunidades sejam capacitados e os gestores locais motivados, pormeio do intercâmbio sobre as experiências municipais, regionais, nacionais e interna-cionais relacionadas com as políticas locais vinculadas à Agricultura Urbana, e que seestabeleçam critérios e indicadores que permitam sistematizar as experiências e facili-tem a tomada de decisões.

Nos processos de planejamento territorial das cidades, considere-se a AgriculturaUrbana como um elemento multifuncional no uso do solo e na proteção ambiental.

A Agricultura Urbana seja promovida não só para o autoconsumo, mas também parasua inserção nos mercados, através da pesquisa, da certificação sanitária e orgânica dosprodutos, do apoio à pequena agroindústria, e da sensibilização dos consumidores porparte dos patrocinadores.

Se desenvolvam políticas e instrumentos creditícios e financeiros para aAgricultura Urbana, com ênfase especial para os produtores mais vulneráveis, acom-panhados de programas de assistência técnica.

Sejam inplementadas linhas de pesquisas, difusão, sensibilização e capacitação defontes alternativas e uso eficiente da água, e regulamentado o uso sanitário das águasresiduais de origem doméstica.

Sejam pesquisadas e regulamentadas as técnicas de aproveitamento dos resíduossólidos na Agricultura Urbana, capacitando os agricultores urbanos nas técnicas dareutilização e reciclagem de seus resíduos; educando a comunidade na seleção na fonte(educação formal e informal); e propiciando uma normatização, no nível dos governoslocais e nacionais, que promova e regule a classificação e o uso dos resíduos sólidos.

RECOMENDANDO queSejam propiciados novos, mais amplos e mais freqüentes encontros e intercâmbios en-

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tre nossas cidades e desenvolvidas vinculações com outras cidades em nossos países,para tratar de políticas municipais de Agricultura e Segurança Alimentar Urbana.

Sejam feitos o acompanhamento e a avaliação das experiências já existentes e deoutras que possam surgir na região.

EXORTANDO Os governos locais a promoverem a Agricultura Urbana em suas cidades, a desenvolverempolíticas de estímulo, como as de caráter fiscal, e a reconhecerem as atividades deAgricultura Urbana em seus processos de planejamento territorial.

Os governos estaduais e nacionais a considerarem a Agricultura Urbana em seusprogramas de luta contra a pobreza, de segurança alimentar, de promoção do desenvol-vimento local e de melhoramento do meio ambiente e da saúde.

Os organismos de cooperação técnica e financeira a concederem à Agricultura Urbana aimportância e a especificidade que ela tem na promoção do desenvolvimento sustentável.

O Programa de Gestão Urbana para a América Latina e o Caribe, o IDRC , a FAO, a OPSe o IPES a continuarem apoiando as experiências de Agricultura Urbana na Região.

REAFIRMAMOSNosso compromisso de melhorar a gestão de nossas cidades com a promoção de experiên-cias com Agricultura Urbana, constituindo o Grupo de Trabalho “Cidades e AgriculturaUrbana na América Latina e no Caribe”, com o propósito de reproduzir e melhorar as polí-ticas e ações municipais em Agricultura Urbana desenvolvidas nas cidades da AméricaLatina e do Caribe para fortalecer a segurança alimentar urbana, enfrentar a pobreza urba-na, melhorar o meio ambiente urbano e a saúde, e desenvolver uma governabilidade maisparticipativa e menos excludente, assim como proteger a biodiversidade urbana com oapoio do Programa de Gestão Urbana para a América Latina e o Caribe - PGU-ALC.

Nossa decisão de produzir e divulgar ferramentas metodológicas, guias e mecanis-mos que recolham a experiência regional e que fundamentem principalmente a formu-lação e a execução de: planejamento urbano, zoneamento territorial, reutilização de

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águas e de resíduos sólidos orgânicos, concessão de créditos para a agricultura urbana, eapoio para o processamento e comercialização dos produtos, ao menos uma vez por ano.

Nossa vontade de apoiar conjuntamente a execução de uma Consulta Urbana sobreAgricultura Urbana, com o apoio do Programa de Gestão Urbana para América Latina e oCaribe, do IDRC e do IPES.

CONVIDAMOS aTodos os atores públicos e privados das cidades da América Latina e do Caribe a se com-prometerem com o apoio à Agricultura Urbana, sua prática e promoção.

Todas as cidades da América Latina e do Caribe a se integrarem ao Grupo de Trabalhosobre Agricultura Urbana e a fazer sua esta Declaração.

Quito, 20 de abril de 2000

Assinado pelas Municipalidades

de (em dezembro de 2000):

Argentina: Arroyo Ceibal, Camilo Aldao, Carcaraña, Charnoudi, Corral de Bustos,Cruz Alta,General

Roca, Guadalupe Norte, Justinano Posse, Lanteri, Las Garzas, Leones, Marcos Juárez, Monte Maíz,Villa

Eiolea,Villa María

Bolívia: Santa Cruz

Brasil: Brasília, Curacá, Maranguape, Teresina, Fortaleza

Colômbia: El Carmen Viboral

Cuba: Havana

República Dominicana: Santiago de los Caballeros

Equador: Cuenca, Manta, Otavalo, Pedro Moncayo, Pimampiro, Quito

Honduras: Puerto Cortés

México: Texcoco

Perú: Cajamarca, Villa El Salvador (Lima), Villa María del Triunfo (Lima)

Uruguai: Montevideo

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EXPEDIENTE

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Projeto de Comunicação do Instituto de Tecnologia Social apoiado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia – Secretaria da Ciência e Tecnologia para a Inclusão Social

MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIAMinistro da Ciência e Tecnologia Dr. Sérgio Machado Rezende

SECRETARIA DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA PARA A INCLUSÃO SOCIALSecretário da Ciência e Tecnologia para a Inclusão Social Joe Carlo Viana Valle

INSTITUTO DE TECNOLOGIA SOCIALCONSELHO DELIBERATIVOPresidente Marisa Gazoti Cavalcante de LimaPrimeiro vice-presidente Roberto Vilela de Moura SilvaSegunda vice-presidente Maria Lúcia Barros ArrudaMembros Laércio Gomes Lage, Moysés Aron Pluciennik, Pascoalina J. Sinhoretto e Roberto DolciConselho Fiscal Alfredo de Souza, José Maria de Sousa Ventura e Sandra MagalhãesSuplente do Conselho Fiscal Marli Aparecida de Godoy LimaGerente executiva Irma Rossetto Passoni

EQUIPE DE PROJETOSCoordenador de projetos Jesus Carlos Delgado GarciaEquipe Beatriz Mecelis Rangel, Flávia Torregrosa Hong, Gerson José da Silva Guimarães, Marcelo Elias de Oliveira, Philip Hiroshi Ueno e Sandra Regina da Fonseca FelizattoSecretaria Edilene Luciana Oliveira e Maria Aparecida de Souza

BIBLIOTECAEstagiário Edison Luis dos Santos

CONHECIMENTO E CIDADANIA 3 TECNOLOGIA SOCIAL E AGRICULTURA FAMILIARAutores Irma Rossetto Passoni (coordenação geral), Maurício Ayer (coordenação editorial), Jesus Carlos Delgado Garcia, Cyra Malta Olegário da Costa e Glauco Faria (pesquisa e relatoria), Beatriz Mecelis Rangel, Gerson José da Silva Guimarães e Philip Hiroshi UenoProjeto gráfico e diagramação Lia AssumpçãoIlustrações Ohi

ITS Rua Rego Freitas, 454, cj. 73 | República | cep: 01220-010 | São Paulo | SPtel/fax: (11) 3151 6499 | e-mail: [email protected] www.itsbrasil.org.br

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