conflito, resistência e philía no héracles furioso, de eurípides1

27
Esta obra está bajo licencia 2.5 de Creative Commons Argentina. Atribución-No comercial-Sin obras derivadas 2.5 Documento disponible para su consulta y descarga en Memoria Académica, repositorio institucional de la Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación (FaHCE) de la Universidad Nacional de La Plata. Gestionado por Bibhuma, biblioteca de la FaHCE. Para más información consulte los sitios: http://www.memoria.fahce.unlp.edu.ar http://www.bibhuma.fahce.unlp.edu.ar Rosa, Edvanda Bonavina da Conflito, resistência e philía no Héracles furioso, de Eurípides 6º Coloquio Internacional. Agón: Competencia y Cooperación. De la antigua Grecia a la Actualidad 19 al 22 de junio de 2012 CITA SUGERIDA: Rosa, E. B. (2012) Conflito, resistência e philía no Héracles furioso, de Eurípides [en línea]. 6º Coloquio Internacional, 19 al 22 de junio de 2012, La Plata, Argentina. Agón: Competencia y Cooperación. De la antigua Grecia a la Actualidad. Homenaje a Ana María González de Tobia. En Memoria Académica. Disponible en: http://www.memoria.fahce.unlp.edu.ar/trab_eventos/ev.4015/ev.4015.pdf

Upload: vanhanh

Post on 01-Feb-2017

246 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

  • Esta obra est bajo licencia 2.5 de Creative Commons Argentina.Atribucin-No comercial-Sin obras derivadas 2.5

    Documento disponible para su consulta y descarga en Memoria Acadmica, repositorioinstitucional de la Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educacin (FaHCE) de laUniversidad Nacional de La Plata. Gestionado por Bibhuma, biblioteca de la FaHCE.

    Para ms informacin consulte los sitios:http://www.memoria.fahce.unlp.edu.ar http://www.bibhuma.fahce.unlp.edu.ar

    Rosa, Edvanda Bonavina da

    Conflito, resistncia e phila noHracles furioso, de Eurpides

    6 Coloquio Internacional. Agn: Competencia yCooperacin. De la antigua Grecia a la Actualidad

    19 al 22 de junio de 2012

    CITA SUGERIDA:Rosa, E. B. (2012) Conflito, resistncia e phila no Hracles furioso, de Eurpides [enlnea]. 6 Coloquio Internacional, 19 al 22 de junio de 2012, La Plata, Argentina. Agn:Competencia y Cooperacin. De la antigua Grecia a la Actualidad. Homenaje a AnaMara Gonzlez de Tobia. En Memoria Acadmica. Disponible en:http://www.memoria.fahce.unlp.edu.ar/trab_eventos/ev.4015/ev.4015.pdf

    http://www.memoria.fahce.unlp.edu.ar/http://www.bibhuma.fahce.unlp.edu.ar/http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.5/ar/

  • CONFLITO, RESISTNCIA E PHILA

    NO HRACLES FURIOSO, DE EURPIDES1

    EDVANDA BONAVINA DA ROSA

    Universidade Estadual Paulista

    (Brasil)

    RESUMO:Na pea Hracles furioso, de Eurpides, o heroi submetido ao teste

    supremo: vencer a si mesmo, aceitando continuar vivo depois de cometer

    um erro irremedivel. A ao dramtica tem dupla motivao, humana e

    divina. O conflito humano requer resistncia dos familiares e amigos de

    Hracles e a oposio de Lico um elemento fundamental para a ao. No

    confronto posterior, entre Hracles e a deusa Hera, a vitria cabe

    divindade, motivadora do desastre, mas confirma-se a heroicidade de

    Hracles, que resiste ao desejo de aniquilamento aps ao assassnio dos

    filhos. Seu amigo, o rei Teseu, fornece-lhe o amparo necessrio para

    demov-lo de seu intento de aniquilao e fortalece-o para a resistncia. A

    valorizao da phila constitui um elemento importante na estruturao do

    sentido desse texto euripidiano.

    ABSTRACT

    In Heracles Mainomenos, by Euripides, the hero is submited to the ultimate

    test: win himself, accepting stay alive after committing an irremediable

    error. The dramatic action has dual motivation, human and divine. The 1 A primeira verso deste trabalho foi apresentada no durante o Sexto Coloquio Internacional ": Competencia y Cooperacin. De la Grecia Antigua a la Actualidad." Agradecemos s professoras Mara Cecilia SCHAMUN e Graciela N. HAMAM a oportunidade de publicar estas reflexes.

    ACTAS DEL VI COLOQUIO INTERNACIONAL COMPETENCIA Y COOPERACION DE LA ANTIGUA GRECIA A LA ACTUALIDADHomenaje a Ana Mara Gonzalez de Tobia

    La Plata, FAHCE-UNLP, 19 al 22 de junio de 2012sitio web: http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar - ISSN:2250-7388

    146

    http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar

  • human conflict requires resilience of families and friends of Heracles and

    the opposition of Lico is a key element to the action. In the subsequent

    clash between Heracles and the goddess Hera, victory lies with the deity,

    motivating the disaster, but confirms the heroics of Heracles, that resists

    the urge to annihilation after the murder of children. His friend, King

    Theseus, provides him the support needed to dissuade him from his

    purpose of annihilation and strengthens him for endurance. The valuation

    of philia is an important element in shaping the sense of this euripidean

    text.

    RESUMEN

    En la pieza Heracles Furioso, de Eurpides, el hroe se somete a la prueba

    definitiva: vencerse a s mismo, aceptar seguir con vida despus de

    cometer un error irremediable. La accin dramtica tiene doble

    motivacin, humana y divina. El conflicto humano requiere capacidad de

    resistencia de la familia y amigos de Heracles y la oposicin de Lico es un

    elemento clave para la accin. En el enfrentamiento posterior entre

    Heracles y la diosa Hera, la victoria corresponde a la deidad, motivando a

    la catstrofe, pero se confirma la heroicidad de Heracles, que se resiste a la

    tentacin de aniquilacin tras el asesinato de sus nios. Su amigo, el rey

    Teseo, le proporciona el apoyo necesario para disuadirle de su propsito

    de aniquilamiento y fortalece al hroe decado para la resistencia. La

    valoracin de philia es un elemento importante en la constitucin de la

    significacin del texto de Eurpides.

    PALAVRAS-CHAVE:

    Hracles-Conflito-Resistncia-Phila.

    ACTAS DEL VI COLOQUIO INTERNACIONAL COMPETENCIA Y COOPERACION DE LA ANTIGUA GRECIA A LA ACTUALIDADHomenaje a Ana Mara Gonzalez de Tobia

    La Plata, FAHCE-UNLP, 19 al 22 de junio de 2012sitio web: http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar - ISSN:2250-7388

    147

    http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar

  • KEYWORDS:

    Heracles-Conflict-Resilience-Phila.

    PALABRAS CLAVE:

    Heracles-Conflicto-Resistencia-Phila.

    , .

    Quem deseja ter riqueza ou poder mais do que bons amigos insensato.2

    Com tais palavras, Hracles se despede da cena na pea Hracles Furioso (v.

    1425-6), de Eurpides, aps ter sido rudemente posto prova, tendo-se

    involuntariamente tornado o assassino de seus prprios filhos e de sua esposa.

    Os versos anteriores a esses sintetizam seu infortnio:

    , .["depois de arruinar

    minha casa com atos desprezveis, destrudo seguirei Teseu, como um barco a reboque"]

    (vv. 1453-4)

    nessa situao de completo infortnio que Hracles recebe amparo de seu

    amigo Teseu, rei de Atenas, e valoriza a amizade acima da riqueza e do poder.

    Devido funo da amizade na estruturao do sentido dessa pea, a phila ser

    analisada conjuntamente com as situaes de conflito e resistncia.3

    Os feitos de Hracles que destruram sua famlia e o arruinaram fazem dessa

    pea uma das mais trgicas de Eurpides. Assim como M. H. Urea Prieto, F. R.

    Adrados, B. R. Rees e outros estudiosos do gnero trgico, tambm

    2 A traduo dos versos gregos da pea Hracles Furioso de nossa autoria em todos os casos.3 Outro elemento bsico desta pea a loucura, que analisamos no trabalho Hracles furioso, de Eurpides. O retorno do heri e sua loucura (2012, p. 743-61).

    ACTAS DEL VI COLOQUIO INTERNACIONAL COMPETENCIA Y COOPERACION DE LA ANTIGUA GRECIA A LA ACTUALIDADHomenaje a Ana Mara Gonzalez de Tobia

    La Plata, FAHCE-UNLP, 19 al 22 de junio de 2012sitio web: http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar - ISSN:2250-7388

    148

    http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar

  • consideramos que o acontecimento pattico o cerne da tragdia grega. A

    Potica de Aristteles a base para nossa reflexo acerca do pattico, obra na

    qual o autor expe a estrutura do mthos trgico, constitudo pela peripcia,

    reconhecimento e pelo pthos, assim definido:

    ,

    . ["o pthos uma ao destrutiva ou dolorosa, como as mortes

    postas s claras e dores e ferimentos em excesso e outras situaes

    semelhantes."] (1452b 9-13)4

    O pthos o elemento adequado para que o poeta possa suscitar as emoes

    prprias da tragdia. Ao apresentar as situaes que despertam o terror e a

    piedade, Aristteles enfatiza as relaes de phila:

    , , .

    "Mas quando as aes destrutivas acontecem nas relaes familiares - como por exemplo o irmo que mata ou esteja em vias de matar o irmo, ou um filho o pai, ou a me um filho, ou um filho a me, ou quando acontecem outras coisas que tais eis os casos que devem ser buscados." (1453b 16-22) 5

    Nessa passagem, como os exemplos apresentados por Aristteles se referem

    a irmos, pais e filhos ou filhos e pais, a expresso refere-se s

    relaes familiares. Em conseqncia, para o filsofo, a situao trgica por

    excelncia a que ocorre entre aqueles que so ligados por laos de parentesco.

    Assim sendo, os poetas so forados a recorrer s famlias nas quais tais atos

    dolorosos tiverem ocorrido (Potica,1454a 12-13).

    No contexto da Potica, a phila refere-se preferentemente s relaes entre

    aqueles que esto ligados por laos de sangue. Contudo, os pthe que envolvem

    relaes entre phloi sem relaes de parentesco no foram excludos das

    4 A traduo das citaes da Potica so de nossa autoria, salvo indicao em contrrio.5 Traduo nossa.

    ACTAS DEL VI COLOQUIO INTERNACIONAL COMPETENCIA Y COOPERACION DE LA ANTIGUA GRECIA A LA ACTUALIDADHomenaje a Ana Mara Gonzalez de Tobia

    La Plata, FAHCE-UNLP, 19 al 22 de junio de 2012sitio web: http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar - ISSN:2250-7388

    149

    http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar

  • tragdias conhecidas pelos gregos, como a que vemos desenrolar-se entre

    Hcuba e Polimestor, na pea Hcuba, de Eurpides.

    No podemos nos aprofundar na anlise do conceito de phila, mas algumas

    ponderaes se fazem necessrias, para nortear nossas reflexes. Tomaremos

    como ponto de partida as definies de dicionrio, encontradas em Chantraine

    e Liddell.6 A traduo usual para phila amizade, mas essa traduo no d

    conta da amplitude de sentido desse termo grego. Na atualidade, a amizade

    entendida como um relao afetiva entre as pessoas, que exclui os laos de

    consaguineidade ou parentesco. Dessa maneira, dificilmente se compreenderia

    hoje que os amigos de um pai podem ser sua esposa ou filhos, ao contrrio do

    que era usual na cultura grega. Para Chantraine (1977, p. 1204), o termo phlos,

    amigo, no exprime uma relao sentimental, mas a pertena a um grupo social

    e cita Benveniste, para quem a palavra tambm se aplica s pessoas envolvidas

    por laos de hospitalidade. O feminino, phle, traduzido por amiga e segundo

    Liddell pode referir-se esposa ou amante, enquanto a forma neutra do

    substantivo t phlon, e o plural neutro t phla, objeto de amor, especialmente

    pessoa querida. O adjetivo phlos, em Homero, exerce a funo de um possessivo,

    significando meu, teu, seu, etc., e geralmente seguido por palavras como ,

    , , para exprimir posse inalienvel (Chantraine, 1977, p. 1204). Esse

    adjetivo pode ter sentido passivo ou ativo, sendo este mais raro, tendo

    principalmente uso potico. Em sentido passivo, o adjetivo phlos e usado para

    pessoas ou coisas e significa amado, querido e caro, enquanto o sentido ativo que

    ama, amvel, benvolo. Chantraine ainda esclarece que o sentido afetivo do

    adjetivo phlos secundrio, embora muito antigo e j presente no grego

    micnico. Segundo ele, como o emprego da palavra estendeu-se aos prximos

    que viviam na casa do senhor, como esposa, filhos e demais parentes, a palavra

    6 http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=fi%2Flos&la=greek#lexicon

    ACTAS DEL VI COLOQUIO INTERNACIONAL COMPETENCIA Y COOPERACION DE LA ANTIGUA GRECIA A LA ACTUALIDADHomenaje a Ana Mara Gonzalez de Tobia

    La Plata, FAHCE-UNLP, 19 al 22 de junio de 2012sitio web: http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar - ISSN:2250-7388

    150

    http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar

  • passou a conter a idia de afeio e amizade, e da phlos passou a significar

    tambm caro, amado, benvolo.

    Dos inmeros derivados de vamos citar apenas os que esto

    implicados na pea sob anlise, como phila, phlios, t philik, phltron, e o verbo

    denominativo, phil. A palavra phila pode ser traduzida basicamente por

    amizade, inclinao, amor; o adjetivo phlios significa amigvel, amado, caro. O

    adjetivo philiks, que diz respeito amizade, amigvel, amigo, na forma do

    substantivo neutro plural, t philik, significa provas ou marcas de amizade ou

    simplesmente amizade, como veremos posteriormente. O substantivo neutro

    phltron indica meio para se fazer amado, beberagem, encantamento e o verbo phil

    tem como sentido bsico prezar, amar.

    Aristteles, na tica a Nicmaco, nos captulos VIII e IX apresenta elementos

    importantes para a anlise e compreenso da phila, segundo a tica grega. Em

    vrias passagens desses captulos, o autor apresenta tipos de relao que podem

    ser consideradas como pertencentes a esse universo semntico. Asssim sendo,

    possvel ver que fazem parte desse grupo tanto as relaes entre jovens amantes

    (1156b 2), quanto outros tipos de relacionamento, tais como entre amigos de

    longa data (1156b 12), entre cidades umas com as outras (1156a 26), contatos

    polticos e de negcios (1157a 28), entre companheiros de viagem ou entre

    soldados (1158b 28), entre membros de uma confraria religiosa (1160a 19), entre

    membros de uma mesma tribo (1161b 14). Alm disso, pode-se ver que o

    relacionamento entre pais e filhos, que atualmente no includo no mbito da

    amizade, pertence na cultura grega ao campo da phila (1158b 20).

    Uma definio abrangente e apta a expressar as diversas facetas do conceito

    de phila apresentada por Xenofonte, nas Memorveis, no momento em que

    Scrates diz a Critbulo:

    ACTAS DEL VI COLOQUIO INTERNACIONAL COMPETENCIA Y COOPERACION DE LA ANTIGUA GRECIA A LA ACTUALIDADHomenaje a Ana Mara Gonzalez de Tobia

    La Plata, FAHCE-UNLP, 19 al 22 de junio de 2012sitio web: http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar - ISSN:2250-7388

    151

    http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar

  • : ... (2.6.21)

    "Os homens possuem, por natureza, tendncias para a amizade; porque precisam uns dos outros, sentem compaixo, ajudam-se trabalhando em conjunto e, conscientes dessa situao, mostram-se agradecidos uns aos outros." (Pinheiro, 2009: 146)

    Por meio dessa definio socrtica referida por Xenofonte depreendem-se

    alguns componentes bsicos da noo grega de amizade. O primeiro deles que

    a amizade, t philik, compreendida como um lao no obrigatrio e to

    espontneo que considerada como prpria da natureza humana (phsei).

    Outro aspecto da amizade que consta dessa definio diz respeito amechana

    da raa humana, pois as diferentes situaes da vida, com seus desafios s vezes

    superiores fora de cada um, fazem com que os homens sozinhos no possam

    enfrentar suas dificuldades e, desse modo, precisam uns dos outros (dontai

    alllois). Na sequncia, pode-se verificar que no s a necessidade que leva os

    homens a buscarem a proximidade uns dos outros, mas tambm por serem

    dotados de emoes, sentem compaixo diante das necessidades alheias

    (eleousin). A emoo tende a expressar-se por meio dos comportamentos e das

    aes e, na compaixo, que uma emoo positiva, a ao de benevolncia,

    que significa o /querer-fazer/ o bem. Assim, movidos pela compaixo e agindo

    com benevolncia, os homens prestam auxlio (phelousi) de forma recproca, de

    forma cooperativa, expressa por meio do verbo sunergdz, trabalhar

    conjuntamente (synergontes). Encerra-se esse trecho do texto de Xenofonte com

    a referncia a um elemento da cultura grega fundamental nas interaes

    cooperativas, a noo de gratido, chris. Faz parte do conceito de phila o

    reconhecimento do valor dos servios prestados e do auxlio recebido, e a honra

    assenta no recebimento de demonstrao visvel de agradecimento. Por essa

    razo, necessrio demonstrar reconhecimento e gratido tanto por meio de

    ACTAS DEL VI COLOQUIO INTERNACIONAL COMPETENCIA Y COOPERACION DE LA ANTIGUA GRECIA A LA ACTUALIDADHomenaje a Ana Mara Gonzalez de Tobia

    La Plata, FAHCE-UNLP, 19 al 22 de junio de 2012sitio web: http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar - ISSN:2250-7388

    152

    http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar

  • palavras de elogio, quanto estar investida em objetos dados como retorno

    (amoib) ou manifestar-se como auxlio nos momentos de dificuldade, ou apora.

    Na definio socrtica que acabamos de analisar, nenhuma referncia feita

    aos laos de parentesco. No entanto, Aristteles a eles se refere no s na tica a

    Nicmaco, mas enfatiza-os na Potica. Tambm a exposio de Chantraine

    permite entender que, na cultura grega, as relaes familiares integram a noo

    de phila. Konstan (2005: 03), reflete sobre a dificuldade de se definir phila,

    mostrando que a amizade no um conceito uniforme nas diferentes culturas.

    Esse autor expe o que considera a essncia da amizade, que a existncia de

    um vnculo mutuamente ntimo, leal, amoroso entre duas ou mais pessoas.

    Outro elemento de no menos importncia para Konstan o fato de que a

    amizade no se origina da associao a um grupo marcado pela solidariedade

    de nascimento, como a famlia, a tribo ou outros laos semelhantes. Entre os

    gregos, os laos da phila no comportavam, necessariamente, como expe

    Chantraine, a intimidade ou o vnculo amoroso, como acontece, por exemplo,

    nas relaes entre o senhor e seus subordinados, contudo, inclua as relaes

    familiares. Confirma-se, desse modo, que na Grcia o conceito de amizade

    mais abrangente que a atual concepo.

    Mas a reflexo acerca da phila ficaria incompleta sem que fosse abordada

    outra noo, complementar e oposta, que decorre dos sentimentos e

    comportamentos competitivos e agressivos do ser humano. Na continuao da

    definio socrtica transmitida por Xenofonte na obra Memorveis, l-se, sobre a

    tendncia humana ao confronto e disputa, a seguinte afirmao:

    ( ) : : : , . (2.6.21)

    ACTAS DEL VI COLOQUIO INTERNACIONAL COMPETENCIA Y COOPERACION DE LA ANTIGUA GRECIA A LA ACTUALIDADHomenaje a Ana Mara Gonzalez de Tobia

    La Plata, FAHCE-UNLP, 19 al 22 de junio de 2012sitio web: http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar - ISSN:2250-7388

    153

    http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar

  • "Mas (os homens) possuem tambm tendncias para a guerra, porque, quando consideram que as mesmas coisas so belas e agradveis, lutam por causa delas e, como divergem nas opinies, opem-se uns aos outros; a discrdia e a ira so tambm sentimentos blicos, a obsesso pelo lucro hostil e a inveja conduz ao dio." (Pinheiro, 2009: 146).

    Nessa citao, referente tendncia para a guerra (t polemik), salientam-se

    quatro elementos relacionados a essa tendncia: 1) a existncia de um objeto,

    expresso por meio do neutro plural: t aut, que, por no ser especificado, tanto

    pode ser um objeto em si, como tambm uma situao de privilgio, o poder,

    etc., ou at mesmo uma pessoa;7 2) tal objeto desejado por dois sujeitos, que o

    valorizam como belo e agradvel (kal ka heda); 3) o desejo de cada um pelo

    mesmo objeto leva-os competio e disputa por sua posse (hypr toton

    mkhontai), e isso explica sua divergncia e confronto (enantiontai) e 4)

    Algumas paixes surgem em consequncia dessa tendncia beligerante dos

    homens, sendo que o autor refere as mais decisivas para as desavenas

    humanas: a discrdia (ris); a ira (org), o desejo excessivo de lucro (to

    pleonekten rs), a inveja (phthnos) e o dio, expresso nessa passagem pelo

    adjetivo mistn, aquilo que apto a suscitar tal sentimento.

    A palavra , coisas referentes guerra, pertence ao grupo derivado

    do verbo pelemdz, agitar, sacudir, tremer (Chantraine, 1977: 875-6). De tal verbo,

    com vocalismo radical em o, provm plemos, combate; guerra, bem como outros

    derivados, tais como polmios, que diz respeito guerra, inimigo, hostil; o adjetivo

    polemiks, referente guerra, hbil em fazer guerra e os verbos polemdz e polem,

    fazer guerra, combater.

    A lngua grega possui um outro conjunto de palavras para expressar a

    hostilidade e a inimizade, relacionado ao substantivo neutro khtos, hostilidade,

    dio (Chantraine, 1977: 371). A esse conjunto pertence o adjetivo echtrs, odiado,

    7 Baseamo-nos aqui na teoria semitica greimasiana, a qual considera que tudo o que alvo do desejo do sujeito, tanto os objetos quanto posio social, e mesmo pessoas, uma vez que se encontra como o alvo visado pelo sujeito, considerado objeto.

    ACTAS DEL VI COLOQUIO INTERNACIONAL COMPETENCIA Y COOPERACION DE LA ANTIGUA GRECIA A LA ACTUALIDADHomenaje a Ana Mara Gonzalez de Tobia

    La Plata, FAHCE-UNLP, 19 al 22 de junio de 2012sitio web: http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar - ISSN:2250-7388

    154

    http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar

  • odioso que, substantivado, ho ekhthrs, significa inimigo pessoal, mas, na guerra,

    pode designar os inimigos da ptria, tanto quanto polmioi. H ainda o

    substantivo feminino khtra, equivalente a khtos. Os verbos desse grupo so

    ekhthar, ter inimizade, odiar; apkhthomai, tornar-se odioso; ekhthran, odiar,

    considerar inimigo e ekhthre, ser inimigo.

    Em sntese, o oposto da phila a inimizade e a propenso guerra, t

    polemik e khthra. Na inimizade predominam os sentimentos negativos, que

    tm como fundamento a malevolncia, que o desejo de causar dano ao

    oponente, visando sua derrota ou sua destruio; as relaes entre inimigos so

    conflituosas e tendem ao aniquilamento. Em contrapartida phila, faz parte da

    inimizade a ingratido ou o no reconhecimento dos benefcios recebidos, bem

    como a desconsiderao das necessidades do outro, a traio e atos nocivos que

    causam a morte.

    Por essa razo, na Potica Aristteles enfatiza que o pthos apropriado ao

    gnero trgico aquele que decorre de mortes ou outras aes dolorosas que

    acontecem entre indivduos unidos pela phila, pois isso subverte as

    expectativas referentes aos laos de amizade, convertendo o phlos em inimigo.

    Como em toda tragdia grega, a ao em Hracles furioso se desenrola em dois

    planos, o das relaes humanas, que envolve os homens entre si, e o divino, que

    coloca os mortais em contato com o transcendente.

    No plano da interao com o divino, a ao envolve a deusa Hera e Hracles,

    situando-se nessa relao o primeiro ncleo de conflito, que sobredetermina as

    outras relaes do heroi. Alm de Hera, que atua como mentora da queda

    trgica, agem como suas representantes as divindade ris e Lissa, a

    personificao da loucura. Zeus constantemente mencionado e invocado, mas

    no intervm no plano de vingana de sua ciumenta esposa, como costuma

    acontecer entre os deuses. Apenas aps a execuo do intento da deusa

    ACTAS DEL VI COLOQUIO INTERNACIONAL COMPETENCIA Y COOPERACION DE LA ANTIGUA GRECIA A LA ACTUALIDADHomenaje a Ana Mara Gonzalez de Tobia

    La Plata, FAHCE-UNLP, 19 al 22 de junio de 2012sitio web: http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar - ISSN:2250-7388

    155

    http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar

  • enciumada que se d a interveno de Atena, para fazer cessar a loucura de

    Hracles. No plano humano, os ncleos de interao so mais complexos. Em

    primeiro lugar, temos um ncleo que podemos designar de coletivo, que se

    refere s relaes entre o heroi e Grcia como um todo e com a cidade de Tebas,

    envolvendo todos os helenos e os cidados tebanos, sendo que, dentre esses,

    destaca-se o coro. O outro ncleo o familiar, que envolve Hracles e os seus:

    seu pai, sua esposa e seus trs filhos e tambm seus servos, presentes no

    momento em que se manifesta sua loucura. Por ltimo, h as relaes pessois,

    que envolvem Hracles e seus oponentes, Euristeu e Lico ou Hracles e seu

    amigo, Teseu.

    Na pea, o primeiro ncleo de conflito surge no mbito das relaes

    humanas, graas ganncia e violncia de Lico, um estrangeiro que matou o rei

    e apoderou-se do trono. A ausncia de Hracles coincide com a instaurao do

    caos na cidade de Tebas, devido unio de foras de cidados contrrios

    ordem, sob a liderana de Lico, que governa a cidade pela fora, ba. Quando

    ordena aos que o acompanham que busquem lenha para atear fogo em torno do

    altar onde se refugiam os familiares de Hracles, Lico assim fala aos ancios do

    coro:

    , , , , , , .

    "Mas vocs, ancios, que so contra meus propsitos, lamentaro no sos filhos de Hracles, mas tambm o destinoda casa, quando sofrer represlia, e lembraroque vocs so escravos do meu governo." (vv. 247-51)

    A situao de stsis na cidade afeta os cidados e atinge tambm a famlia de

    Hracles. Creonte, o antigo rei morto por Lico era pai de Mgara, esposa de

    ACTAS DEL VI COLOQUIO INTERNACIONAL COMPETENCIA Y COOPERACION DE LA ANTIGUA GRECIA A LA ACTUALIDADHomenaje a Ana Mara Gonzalez de Tobia

    La Plata, FAHCE-UNLP, 19 al 22 de junio de 2012sitio web: http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar - ISSN:2250-7388

    156

    http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar

  • Hracles e o tirano teme a futura revanche das crianas. Por essa razo,

    pretende mat-los, juntamente com a me e Anfitrio, aproveitando-se da

    ausncia do pai, que os poderia defender. tambm pelo emprego da fora que

    o novo soberano pretende pr fim famlia real (vv. 550-5).

    Definem-se logo no incio os dois primeiros ncleos de conflito, um dos quais

    se estabelece entre os cidados, divididos contra e a favor do usurpador, uma

    vez que a cidade est presa da stsis, o tumulto popular causado pela

    insurreio contra a autoridade constituda, representada pelo rei morto,

    Creonte. Esses cidados apiam o poder de Lico, esperando obter vantagens,

    mas os ancios do coro, fiis ao antigo rei a seu genro, Hracles, discordam

    deles.

    Lico chamado de rchon (v. 38); desptes (v. 274); nax (v. 541); kkiste

    basiln, o mais vil dos reis (v. 182) e tirano (v. 567). Ele prprio denomina seu

    governo de tirania (v. 251). No incio da implantao da tirania na Grcia, esse

    sistema significava apenas um governo exercido por um soberano que no

    havia herdado o trono por consanguineidade. Posteriormente o termo adquiriu

    a conotao negativa que tem atualmente. O governo de Lico pode ser definido

    como uma tirania entendida em sentido negativo: ele teve acesso ao poder por

    meio do assassnio do rei legtimo; seu poder apia-se em cidados de classes

    desprivilegiadas que esperam obter vantagens; governa pela fora (v. 555) e

    ameaa seus governados com destruio (251). Por essa razo, o governo de

    Lico tem todas as caractersticas que Aristteles atribui tirania, na tica a

    Nicmaco, quando analisa aspectos da phila referentes ao governo da cidade.

    Diz o filsofo que na monarquia, o rei tem em vista a vantagem de seus sditos,

    enquanto na tirania o governante visa apenas sua prpria vantagem.

    Lico age pela violncia em Tebas. Tendo matado o rei, mantm seu poder por

    meio da fora. Mostra-se ainda mais propenso dominao, pois planeja a

    ACTAS DEL VI COLOQUIO INTERNACIONAL COMPETENCIA Y COOPERACION DE LA ANTIGUA GRECIA A LA ACTUALIDADHomenaje a Ana Mara Gonzalez de Tobia

    La Plata, FAHCE-UNLP, 19 al 22 de junio de 2012sitio web: http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar - ISSN:2250-7388

    157

    http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar

  • morte de todos os membros da famlia de Hracles. Com temor de suas

    ameaas, Anfitrio, Mgara e seus trs filhos ainda crianas esto reunidos em

    torno do altar de Zeus Salvador, em busca de proteo.

    Os ancios do coro, oponentes do poder do usurpador, consideram Lico

    mpio (andrs ansion, v. 255; dussebs anr, v. 760); perverso (kkistos e

    pankkistos, v. 182; 257; 731); um homem dado hbris (v. 261, 740); o destruidor

    de Tebas (gn tnde diolsas, v. 264) e um inimigo (anr echths, vv. 732-3). Pelo

    mal que tem causado cidade e aos cidados e por suas ameaas, o coro nutre

    por ele sentimentos negativos, apropriados para os inimigos, atribuindo-lhe os

    eptetos desonrosos acima mencionados e desejando que ele se afaste do pas (v.

    261). Mgara tambm o considera um inimigo (polmioi, v. 459) e Hracles,

    quando toma conhecimento de sua inteno de aniquilar sua famlia, e tomado

    de desejo de causar-lhe dano, com requintes de crueldade para o padro da

    cultura grega:

    , ...

    "Agora o trabalho para minhas mos:primeiro vou pr abaixo o palciodo novo rei; depois arrancarei a sacrlega cabeae a atirarei como presa aos ces." (vv. 566-68)

    Na estrutura da narrativa, Lico constitui, portanto, a figura do inimigo (v.

    459) e suscita reaes e aes reservadas a inimigos, culminando com sua morte

    no interior do palcio, vtima de dolo (v. 754). Aps a morte do tirano, o Coro

    avalia seus atos e atribui ao seu fim o estatuto de justia contra seus excessos (v.

    740).

    Em oposio ao odioso Lico, Hracles evocado como um grande benfeitor

    da cidade de Tebas, da Hlade e da terra toda: libertou Tebas do domnio dos

    ACTAS DEL VI COLOQUIO INTERNACIONAL COMPETENCIA Y COOPERACION DE LA ANTIGUA GRECIA A LA ACTUALIDADHomenaje a Ana Mara Gonzalez de Tobia

    La Plata, FAHCE-UNLP, 19 al 22 de junio de 2012sitio web: http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar - ISSN:2250-7388

    158

    http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar

  • mnias (v. 220); purificou os mares e a terra (vv. 225-6), garantiu vida tranquila

    aos mortais, exterminando monstros (vv. 696-701); um benfeitor dos mortais

    (euergtes, v. 877; v. 1252; vv. 1309-10). Por todas as suas lutas, tornou-se um

    heri que muito suportou (poll tls, v. 1250). considerado ilustre (ho kleins, v.

    12 e 1414); grande (mgas, v. 443 e 735); nobre (esthln, v. 1335); o melhor dos

    homens (andr riston, v. 183) e ele prprio a si mesmo refere como o vitorioso

    (ho kallnikos, v. 580-2). Por essa razo, amado por sua esposa: deu a ela ilustre

    leito (v. 68), carssimo para ela ( fltat , v. 490; fltat andrn, v. 531), que o

    considera o maior dos heris (riston photn, v. 150) e esperana de salvao e, por

    isso, a ele clama, mesmo em sua ausncia (vv. 490-3). Seu pai tambm o estima,

    considerando-o ilustre (v. 12) e luz para sua vida (v. 532); e num agn cerrado

    defende sua reputao, quando injustamente acusado por Lico (vv. 170-235).

    Em vrias ocasies, manifesta seu descontentamento contra Zeus, pois

    considera que o deus no se digna a atender as necessidades daquele que

    demonstrou ser seu filho. Dessa forma, quer por sua origem divina, por ser

    filho de Zeus (ho Dis kgonos, v. 876), quer por seus feitos hericos, Hracles a

    figura do homem superior e digno de admirao. O Coro, como se ele fosse

    uma divindade, canta pans diante de seu palcio (vv. 696-700)

    O primeiro mdulo narrativo da pea se estrutura a partir de dois

    movimentos que se contrapem e complementam: a ao de Lico, com suas

    ameaas, suscita como sua contraparte a resistncia da famlia de Hracles.

    Com a ausncia do heroi, a situao da famlia de , apora, carncia

    total, assim exposta por Anfitrio:

    , , : .

    "Mantemos sob guarda estes assentos, carentes de tudo:alimentos, bebidas e roupas, colocando no cho limpo

    ACTAS DEL VI COLOQUIO INTERNACIONAL COMPETENCIA Y COOPERACION DE LA ANTIGUA GRECIA A LA ACTUALIDADHomenaje a Ana Mara Gonzalez de Tobia

    La Plata, FAHCE-UNLP, 19 al 22 de junio de 2012sitio web: http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar - ISSN:2250-7388

    159

    http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar

  • nossos corpos, pois trancados fora de casa,estamos aqui sentados, com carncia de salvao." (vv. 51-4)

    Entretanto, apesar da carncia, ainda lhes restam foras para a resistncia,

    que se efetiva pelo emprego da astcia, que tem como suporte elps, a esperana.

    Na situao de completo abandono em que se encontram, sofrendo pela falta de

    amigos que os defendam (v. 430), a esperana do retorno de Hracles constitui

    sua fora e motiva-os a continuar tentando opor-se s decises do tirano. A

    artimanha encontrada por Mgara manter o nimo dos filhos "inventando

    histrias" acerca do regresso do pai (vv. 76-7), enquanto Anfitrio encontrou no

    prolongamento do tempo um meio para esperar a chegada de seu filho,

    aguardado como nico defensor possvel. Esse estado de penria e abandono

    evidencia a importncia de amigos fiis e torna premente a necessidade do

    retorno do heroi. Por essa razo, tanto Anfitrio quanto Mgara anseiam pela

    chegada de Hracles e reiteram a importncia da phila nos momentos de

    dificuldade.

    "Dos amigos, uns no vejo como amigos confiveis,enquanto os verdadeiros esto impossibilitados de ajudar.Esse o resultado da adversidade para os homens." (vv. 55-7)

    A afirmao de que h amigos verdadeiros que no podem vir em socorro,

    pode conter uma aluso ao coro, que em vrias ocasies manifesta seu apoio

    famlia, mas mostra-se incapaz de ajud-los por causa de sua velhice (vv. 436-

    41). No entanto, a referncia parece aludir a Hracles, ansiosamente aguardado

    por todos. O conflito com Lico e sua ameaa de matar a todos contribui para a

    construo da figura de Hracles como o verdadeiro phlos para sua famlia, seu

    nico salvador. Dessa maneira, enfatiza-se a tragicidade da mudana de fortuna

    do heroi que, de salvador ir tornar-se o destruidor de sua famlia.

    ACTAS DEL VI COLOQUIO INTERNACIONAL COMPETENCIA Y COOPERACION DE LA ANTIGUA GRECIA A LA ACTUALIDADHomenaje a Ana Mara Gonzalez de Tobia

    La Plata, FAHCE-UNLP, 19 al 22 de junio de 2012sitio web: http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar - ISSN:2250-7388

    160

    http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar

  • Com a chegada de Hracles, a primeira situao de confronto encontra

    soluo, por meio do dolo e da fora, pois o inimigo, que planejava matar os

    que o aguardavam dentro do palcio, encontrou a morte s mos do heroi. Mas,

    assim que o conflito humano superado, um confronto maior aguarda

    Hracles, uma guerra em que o oponente no pode ser vencido, por se tratar de

    uma deusa, enciumada pela origem divina do heroi, filho de Zeus.

    A periculosidade da filiao divina de Hracles representada

    figurativamente no texto pelo cime da esposa divina trada. Diz Hracles

    acerca do cime de Hera:

    (...) .

    "Que dance a ilustre esposa de Zeus(...) que, por causa de uma mulher,com cime do leito de Zeus aniquilouo inocente benfeitor da Hlade." (v. 1303 e vv. 1308-10)

    A perseguio divina teve incio quando Hracles era ainda muito pequeno e

    foi ameaado de morte por Hera, que colocou serpentes em seus cueiros (v.

    1266-8). Em seguida, em sua juventude submeteu-o ao domnio de Euristeu e,

    sob suas ordens, teve que enfrentar perigos sem conta (vv. 1269-77). Nesse

    perodo de perseguio, valeu-lhe a phila de Zeus, que impedia qualquer ao

    destruidora de Hera (vv. 827-9). A realizao dos trabalhos impostos por Hera

    serviu como teste e confirmao da fora prodigiosa do semideus, filho de uma

    mortal e de Zeus (vv. 803-6). Esses trabalhos lhe possibilitaram tornar-se o

    benfeitor de toda a Hlade e, com isso, adquirir uma glria digna de louvor,

    que o tornou o heroi de belas vitrias, kallnikos (v. 582; 961; 1046). No texto

    euripidiano, o coroamento de seus grandes feitos foi sua viagem ao Hades,

    ACTAS DEL VI COLOQUIO INTERNACIONAL COMPETENCIA Y COOPERACION DE LA ANTIGUA GRECIA A LA ACTUALIDADHomenaje a Ana Mara Gonzalez de Tobia

    La Plata, FAHCE-UNLP, 19 al 22 de junio de 2012sitio web: http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar - ISSN:2250-7388

    161

    http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar

  • onde aprisionou Crbero e, ao mesmo tempo, libertou Teseu do mundo dos

    mortos.

    Embora possamos admitir que a aventura no Hades tenha um significado

    inicitico que pode ter tornado Hracles apto a controlar o mundo dos mortos,

    por ter-se assenhoreado de seu porteiro,8 o que o torna quase um deus,

    consideramos que o principal motivo da vingana de Hera mais amplo do que

    essa nica faanha. ris se refere clera de Hera (vv. 840-1) e necessidade de

    punio do heroi, aludindo a sua grandiosidade (vv. 841-2). Contudo, essa

    grandiosidade no resulta unicamente de sua viagem ao Hades, do qual

    retornou vitorioso, mas iniciou-se com sua filiao divina, desenvolveu-se com

    a realizao dos trabalhos sob as ordens de Euristeu, concluindo com sua

    vitria sob o mundo dos mortos. graas a esse percurso vitorioso que ele, um

    mortal, representa uma ameaa s prerrogativas divinas:

    , : , , .

    "... para que, fazendo atravessar a passagem do Aquerontea bela coroa de filhos pelo assassnio com as prprias mos...descubra a extenso da clera de Hera contra elee conhea a minha. Ou os deuses no sero nada e a raa humana grandiosa, se ele no for punido." (vv. 838-42)

    Dessa forma, o plano de destruio do heroi idealizado pela deusa vingativa

    tem as caractersticas de um sacrifcio de reparao de dano. Como a ofensa

    iniciou-se com a gerao de um filho mortal por Zeus, a reparao dever

    tambm dar-se pelo derramamento de sangue familiar, que ter como

    consequncia o aniquilamento desse ramo da descendncia de Zeus. Assim o

    coro se refere morte das crianas:

    8 Ver a esse respeito o interessante texto de E.M. GRIFFITHS. Euripides' Herakles and the pursuit of immortality. Mnemosyne, Fourth Series, Vol. 55, Fasc. 6. BRILL, 2002, pp. 641-656.

    ACTAS DEL VI COLOQUIO INTERNACIONAL COMPETENCIA Y COOPERACION DE LA ANTIGUA GRECIA A LA ACTUALIDADHomenaje a Ana Mara Gonzalez de Tobia

    La Plata, FAHCE-UNLP, 19 al 22 de junio de 2012sitio web: http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar - ISSN:2250-7388

    162

    http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar

  • , .

    " Zeus! Em breve sua raa sem filhosa Vingana injusta, cheia de fria implacvel,dissipar com males." (vv. 886-8)

    O meio idealizado por Hera para a destruio do heroi torn-lo culpado

    pelo derramamento do sangue dos prprios filhos:

    , . ["Hera quer prend-

    lo ao sangue familiar pelo assassnio dos filhos; o mesmo quero eu."] (vv. 831-2)

    O resultado da execuo do intento de Hera a transformao do estatuto do

    heroi, que passa de salvador a agente da destruio de seus filhos e de sua

    esposa. Essa ao destrutiva possvel graas perverso de seu raciocnio,

    pois s assim ele mata os seus sem ter conscincia de sua ao nociva contra

    eles. Assim ris sintetiza o transtorno mental que tomar conta de seu

    raciocnio, levando-o a assassinar os que mais ama:

    , , ,

    "atire sobre este homem a loucura, a perturbaoda mente assassina dos filhos pe em movimento, solta a amarra do assassnio,para que, fazendo atravessar a passagem do Aquerontea bela coroa de filhos pelo assassnio com as prprias mos..." (vv. 835-9)

    Dessa maneira, pelas maquinaes de Hera (v. 855) e pela ao direta de

    Lissa, sua emissria, a divindade que a personificao da loucura, Hracles

    perde o domnio de suas faculdades mentais. Lissa encontra terreno propcio

    para sua atuao no sentimento negativo de dio subjacente relao entre

    Hracles e Euristeu, por ns analisado no trabalho Hracles furioso, de Eurpides.

    ACTAS DEL VI COLOQUIO INTERNACIONAL COMPETENCIA Y COOPERACION DE LA ANTIGUA GRECIA A LA ACTUALIDADHomenaje a Ana Mara Gonzalez de Tobia

    La Plata, FAHCE-UNLP, 19 al 22 de junio de 2012sitio web: http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar - ISSN:2250-7388

    163

    http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar

  • O retorno do heroi e sua loucura (Rosa, 2012, p. 743-61). O dio contra Euristeu,

    que era tido como inimigo, possibilitou a transformao sensorial e passional de

    Hracles que, vendo nas crianas diante de si os filhos de seu odiado inimigo,

    teve seus sentimentos de benevolncia transformados em malevolncia,

    induzindo-o a matar seus prprios filhos, julgando que matava os filhos do

    inimigo (vv. 865-6; vv. 969-71; vv. 982; 988-9). Quando recobra a razo, ao saber

    que matou filhos e esposa, por estar dominado pela loucura (v. 1131 ss.), o pai e

    esposo em desespero vislumbra apenas uma sada digna de sua desgraa: a

    morte. Diz ele: :

    ; "Ai de mim! Por que poupar minha vida se me

    tornei o assassino dos filhos to amados?" (vv. 1146-7). E, logo em seguida

    afirma: ;

    ; ["Por que devo ficar vivo? Que lucro terei j que tenho agora uma

    vida intil, mpia?"] (vv. 1301-2)

    A transformao passional do heroi que acompanha as diferentes etapas da

    narrativa deste texto parte do primeiro estgio, marcado pela alegria do

    retorno, passa ao dio contra o usurpador Lico e seus seguidores, e, em

    seguida, tem-se o dio contra Euristeu, vivenciado s avessas na cena de morte

    dos filhos. Aps a anagnrisis, ou reconhecimento do dano causado

    involuntariamente aos que ama, a constituio passional do heroi transforma-se

    em um estado depressivo, no qual o lan vital tende para a auto-destruio.

    Tem-se um percurso que segue as etapas que evoluem de vida > no-vida >

    morte, sendo que o heroi chega a lanar hipteses de maneiras possveis de pr

    fim prpria vida, que poderia ser lanar-se de um penhasco, atingir o fgado

    com um punhal ou atear fogo em si mesmo como forma de afastar de si a

    infmia (vv. 1148-52). Cumpre-se assim o desgnio de Hera, realizando-se seu

    intento de destruio do heroi.

    ACTAS DEL VI COLOQUIO INTERNACIONAL COMPETENCIA Y COOPERACION DE LA ANTIGUA GRECIA A LA ACTUALIDADHomenaje a Ana Mara Gonzalez de Tobia

    La Plata, FAHCE-UNLP, 19 al 22 de junio de 2012sitio web: http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar - ISSN:2250-7388

    164

    http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar

  • neste momento de desolao e rebaixamento que a phila se faz presente

    como meio de salvao do heroi, por intermdio de Teseu. Dominado por sua

    inteno de morte, Hracles v aproximar-se seu amigo, o rei de Atenas e sente

    que ter que pr de lado seu intento, pelo menos momentaneamente. Diz

    Hracles ao v-lo:

    . ["Mas interrompo minhas intenes fatais pois

    est vindo para c Teseu, meu parente e amigo."] (vv. 1153-4)

    A chegada de Teseu faz com que a incerteza se apodere do heroi em

    desespero. Sua maior preocupao agora com o aspecto religioso da ao que

    realizou, temendo a mcula que a viso de um assassino impe aos que

    contemplam o sangue derramado e o responsvel por ele. Assim expressa sua

    ansiedade:

    , . , ; ...

    "Serei visto e a mcula do assassnio dos filhoschegar aos olhos de meu hspede mais querido.Ai de mim, o que devo fazer?" (vv. 1155-7)

    Hracles decide ocultar sob o manto sua cabea, com a firme resoluo de

    no ser causa de poluo para o amigo inocente (vv. 1159-62). Teseu, contudo,

    ao ser informado de todo o infortnio que se abateu sobre o amigo, d mostras

    seguras de sua amizade. Insiste para que Hracles desvele sua cabea e mostre

    seu rosto ao amigo (v. 1215); assegura-lhe que no lhe importa enfrentar a

    dificuldade ao seu lado, pois outrora partilharam a felicidade (vv. 1120-1) e,

    alm de tudo, recorda seu dbito com o amigo pois foi ele quem o trouxe de

    volta luz (1121). Diante da insistncia de Hracles que teima em querer

    poup-lo da mcula de sangue, Teseu d prova mxima de amizade, negando

    ACTAS DEL VI COLOQUIO INTERNACIONAL COMPETENCIA Y COOPERACION DE LA ANTIGUA GRECIA A LA ACTUALIDADHomenaje a Ana Mara Gonzalez de Tobia

    La Plata, FAHCE-UNLP, 19 al 22 de junio de 2012sitio web: http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar - ISSN:2250-7388

    165

    http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar

  • que o alstor9 de um amigo possa atingir outro amigo (v. 1234). Teseu, em sua

    tentativa de convencimento do amigo, aprofunda ainda mais sua argumentao

    a respeito do aspecto religioso do contgio pela mcula do crime. Para instigar

    o amigo a descobrir sua cabea, exibindo-a luz do Sol, Teseu expe uma

    concepo religiosa inovadora, negando que um mortal possa macular a

    divindade. Aps uma argumentao cerrada, Teseu recorre como ltimo trunfo

    noo de gratido, mostrando que sua ajuda tem o carter de retribuio de

    benefcio recebido: :

    . ["Estou-lhe retribuindo o favor de minha salvao, pois

    agora que voc precisa de amigos."] (vv. 1336-7)

    Teseu complementa sua retribuio no s oferecendo sua ajuda no

    momento oportuno, mas oferecendo uma nova ptria ao heroi decado,

    prometendo-lhe a purificao de sua mcula e a partilha de terras e bens, dando

    mostras de uma amizade sem restries de carter moral ou material (v. 1322-

    5). Diante da demonstrao de amizade irrestrita, Hracles refaz seus

    propsitos e aceita a oferta do amigo, dando mostras de sua deciso de

    continuar vivendo, apesar do erro irreparvel que sabe ter cometido. Continuar

    vivo aps o erro o sinal de um novo tipo de herosmo proposto por Eurpides,

    um herosmo muito prximo daquele que solicitado a todo aquele que comete

    um dano e tem que ir em frente, aceitando-se como um ser limitado e passvel

    de erro:

    , : , .

    "Avalio se, apesar de estar em desgraa,

    9 O alstor a divindade vingadora, punidora do crime. Representa o poder de vingana do sangue derramado. Para Chantraine (1968, p. 54), o termo tem carter religioso e se aplica a um criminoso, porque ele atrai o demnio da vingana ou porque ele prprio assimilado a um mau demnio.

    ACTAS DEL VI COLOQUIO INTERNACIONAL COMPETENCIA Y COOPERACION DE LA ANTIGUA GRECIA A LA ACTUALIDADHomenaje a Ana Mara Gonzalez de Tobia

    La Plata, FAHCE-UNLP, 19 al 22 de junio de 2012sitio web: http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar - ISSN:2250-7388

    166

    http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar

  • no serei acusado de covardia por abandonar a luz,pois quem no suporta as desgraas,no seria capaz de fazer frente s armas do inimigo." (vv. 1347-50)

    Por fim, convencido, decide continuar vivo e aceitar tudo o que lhe

    oferecido: : ,

    . ["Suportarei a vida: irei para sua cidade e sinto gratido por seus

    inmeros presentes."] (v. 1351-2)

    Para concluir

    Nesta pea, a ao se desenrola por meio de microaes que pertencem a dois

    universos semnticos, um marcado pelos laos da phila e o outro que se impe

    por meio do confronto. As aes de Hera, Lico e Euristeu pertencem ao campo

    da inimizade, t polemik, e caracterizam-se como desafios capacidade de ao

    e resistncia de Hracles e tambm de seus familiares. Palavras que servem

    para caracterizar as relaes conflituosas so empregadas no contexto dessas

    interaes, tais como polmioi, inimigos (v. 202; 459; 1263-4), ekhthrs, inimigo (v.

    733), khthran patrian, hostilidade paterna (v. 983), hbris, desmedida (v. 708), ba,

    violncia (v. 215; vv. 551-5), drn kaks, causar o mal (vv. 727-8), strate, fazer

    guerra contra (v. 825), agn, combate, (v. 1189; vv.1311-2). Alm disso, h tambm

    a referncia constante morte, como uma forma de destruio do inimigo,

    como o caso das ameaas de morte de Lico, a prpria morte de Lico e a morte

    dos filhos de Hracles pelo prprio pai, transformado em inimigo dos seus pelo

    desejo de Hera, que queria a aniquilao do heri.

    Em contraposio, so inmeros os empregos da terminologia da phila, para

    caracterizar tanto a falta de amigos, quanto o auxlio deles advindo.

    abundantemente empregado o substantivo masculino phlos, amigo (v. 57-9; 267;

    276-7; 430; 513; 533; 551; 559-61; 628; 846; 1154; 1215; 1235; 1252; 1337; 1398; 1404;

    1426). Encontra-se no texto um emprego do adjetivo phl, amada (v. 445), como

    ACTAS DEL VI COLOQUIO INTERNACIONAL COMPETENCIA Y COOPERACION DE LA ANTIGUA GRECIA A LA ACTUALIDADHomenaje a Ana Mara Gonzalez de Tobia

    La Plata, FAHCE-UNLP, 19 al 22 de junio de 2012sitio web: http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar - ISSN:2250-7388

    167

    http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar

  • atributo da esposa de Hracles e um emprego do termo phila, amizade (vv. 1199-

    12), usado na expresso philan homphylon, amizade consangunea, para designar

    o lao de amizade e parentesco existente entre Hracles e Teseu. Encontra-se

    tambm uma ocorrncia do adjetivo neutro phlon, amvel, cara, numa expresso

    impessoal: " cara para mim a juventude" (v. 637). O superlativo phltatos, pessoa

    muito cara, empregado em relao a Hracles (v. 514; 531; 1112) e a seus filhos

    (1147). O adjetivo phlios, amado, caro, usado para o canto (v. 752) e para o par

    formado por Hracles e Teseu (v. 1403). Alm desses termos, h ainda um

    emprego do verbo phil, amar, referente ao amor que todo homem sente por

    seus filhos (vv. 633-4) e o substantivo em que a raiz phil- est presente como

    primeiro termo da composio, philotknon, amor aos filhos (v. 636).

    Do campo semntico da amizade, encontra-se no texto o termo amoib,

    retribuio, como forma de benefcio prestado como gratido por um benefcio

    recebido (v. 1169; vv. 1336-7).

    Ainda em relao aos comportamentos referentes amizade ou ao seu

    oposto, a inimizade, o texto apresenta a crtica falta de reconhecimento dos

    benefcios recebidos e amizade interesseira, que s recebe os dons e no quer

    o compromisso de auxiliar quando o amigo est necessitado (vv. 1223-5). O

    dever de prestar socorro aos da famlia - pais, filhos, esposa - valorizado

    positivamente como um aspecto da justia (vv. 583-4) e Hracles no se furta a

    esse dever (v. 632 ss.).

    Complementando a elaborao da viso grega sobre as relaes amigveis ou

    conflituosas, o texto comporta a mxima da moralidade popular, referente ao

    comportamento que se destina aos amigos e aos inimigos, que Anfitrio atribui

    a Hracles: , , :

    ' . [" de sua ndole, filho, ser amigo dos amigos e odiar os

    inimigos; mas no v se precipitar."] (vv. 585-6).

    ACTAS DEL VI COLOQUIO INTERNACIONAL COMPETENCIA Y COOPERACION DE LA ANTIGUA GRECIA A LA ACTUALIDADHomenaje a Ana Mara Gonzalez de Tobia

    La Plata, FAHCE-UNLP, 19 al 22 de junio de 2012sitio web: http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar - ISSN:2250-7388

    168

    http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar

  • E Anfitrio demonstra aprovar essa atitude, quando diz ser prazeroso ver

    um inimigo morrer como punio por suas aes malignas (vv. 732-3).

    Contudo, a nfase do texto recai sobre o valor da amizade. A argumentao de

    Teseu instiga Hracles a aceitar o inaceitvel, a profunda dor de ter causado dano para

    seus mais queridos. Aristteles mostra que a essncia da phila fazer o bem aos

    amigos. Esse o dever que Hracles toma para si, mas fracassa.

    No lhe dado o direito de escolha para evitar o erro. No entanto, a presena

    de Teseu o faz rememorar o histrico herico de suas aes passadas, fazendo-o

    admitir que tambm realizou outras aes, positivas e benficas. Como por

    exemplo, a salvao de seu amigo Teseu, tirando-o do Hades. No contexto da

    phila, juntamente com a disposio para fazer bem a quem se quer bem,

    desinteressadamente, est inclusa a prtica da retribuio de um bem recebido.

    a essa prtica da retribuio do benefcio recebido que Teseu recorre como

    argumento para tirar o heri de sua depresso e demov-lo do desejo de morte.

    Dessa forma, Eurpides prope um novo olhar sobre o herosmo, mostrando-

    nos um heri mais humanizado, que precisa ficar em p aps a queda

    propondo um herosmo do cotidiano, j que muitas vezes temos que seguir em

    frente, em p, mesmo sendo confrontados com limitaes que no desejaramos

    ter. E isso se faz, nessa pea, por meio da mo amiga que se estende. Hracles

    deixa de ser o heri problemtico para ser um heri exemplar.

    BIBLIOGRAFIA

    ARISTTELES (1991) Potica. Traduo de Eudoro de Souza. Coleo Os

    Pensadores, vol. II. 4 ed. So Paulo: Nova Cultural.

    BOND, G. W. (1988) Euripides. Heracles. With Introduction and commentary.

    Oxford: Clarendon Press.

    ACTAS DEL VI COLOQUIO INTERNACIONAL COMPETENCIA Y COOPERACION DE LA ANTIGUA GRECIA A LA ACTUALIDADHomenaje a Ana Mara Gonzalez de Tobia

    La Plata, FAHCE-UNLP, 19 al 22 de junio de 2012sitio web: http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar - ISSN:2250-7388

    169

    http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar

  • CHANTRAINE, P. (1977) Dictionnaire tymologique de la langue grecque.

    Histoire des mots. Paris: Klincksieck.

    FRANCISCATO, C. R. (2003) Eurpides. Hracles. Introduo, traduo e notas.

    So Paulo: Palas Athena.

    KONSTAN, D. (2005) A amizade no mundo clssico. So Paulo: Odysseus.

    LIDDELL,H.G. & R. SCOTT (1961) A Greek-English lexicon. A new edition

    revised by H.S. JONES & R. McKENZIE. Oxford: Clarendon Press.

    MURRAY, Gilbert (1913) Euripidis Fabulae, vol. 2.. Oxford. Clarendon Press,

    Oxford. URL:

    http://www.perseus.tufts.edu/hopper/collection?

    collection=Perseus:collection:Greco-Roman

    OATES, Whitney J. and O'NEILL, Jr., Eugene (1938) Euripides. The Complete

    Greek Drama, edited by andin two volumes. 1. Heracles, translated by E. P.

    Coleridge. New York. Random House. URL:

    http://www.perseus.tufts.edu/hopper/collection?

    collection=Perseus:collection:Greco-Roman

    PINHEIRO, A. E. (2009) Xenofonte. Memorveis. Traduo do grego, introduo e

    notas. Coleao autores gregos e latinos. Srie textos. Coimbra: FTC.

    REES, B.R. (1972) Pthos in the Poetics of Aristotle. Greece and Rome 19, p. 1-11.

    RODRGUEZ ADRADOS, F. (1966) "El heroe trgico y el filosofo platnico". en

    RODRGUEZ ADRADOS, F. Estudios sobre la tragedia griega. Madrid:

    Taurus. Cuadernos de la Fundacin Pastor, p. 11-35.

    ROSA, E. B. (2012) Hracles furioso, de Eurpides. Anais do XIII Seminrio de

    Pesquisa do Programa de Ps-Graduao em Estudos Literrios: Relaes

    Intersemiticas e I Seminrio Internacional de Semitica. Araraquara:

    Universidade Estadual Paulista. p. 743-61. URL:

    ACTAS DEL VI COLOQUIO INTERNACIONAL COMPETENCIA Y COOPERACION DE LA ANTIGUA GRECIA A LA ACTUALIDADHomenaje a Ana Mara Gonzalez de Tobia

    La Plata, FAHCE-UNLP, 19 al 22 de junio de 2012sitio web: http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar - ISSN:2250-7388

    170

    http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar

  • http://www.fclar.unesp.br/Home/Pos-Graduacao/StrictoSensu/Estudos

    Literarios/anais---seminario_pos--2012.pdf

    SOUZA, Eudoro (1991) Aristteles. Potica. Coleo Os Pensadores, vol. II. 4 ed.

    So Paulo: Nova Cultural.

    UREA PRIETO, M.H. (1966) Estudo acerca da esperana na obra de Eurpides.

    Dissertao para Doutoramento em Folologia Clssica, apresentada

    Universidade de Lisboa. Coimbra: Imprensa de Coimbra.

    ACTAS DEL VI COLOQUIO INTERNACIONAL COMPETENCIA Y COOPERACION DE LA ANTIGUA GRECIA A LA ACTUALIDADHomenaje a Ana Mara Gonzalez de Tobia

    La Plata, FAHCE-UNLP, 19 al 22 de junio de 2012sitio web: http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar - ISSN:2250-7388

    171

    http://coloquiointernacionalceh.fahce.unlp.edu.ar