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1 ANTECENTES HISTÓRICOS O Mali é um dos países do conti- nente africano situados na região do Sahel, uma faixa semiárida loca- lizada entre o deserto do Saara e as terras mais férteis ao Sul, sendo um dos países mais pobres do mundo, com um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) extremamente baixo (0,407, em 2013). 2 Assim como qua- se todos os países africanos, o Mali também sofreu com a colonização europeia no continente. Tendo sido colônia francesa por um longo perío- do, alcançou sua independência ape- nas no ano de 1960. A partir daí sua história foi marcada por uma série de conflitos, incluindo guerras civis. O pequeno desenvolvimento e falta de infraestrutura básica para a popula- ção, formada basicamente por nôma- des e agricultores, potencializaram os conflitos. Com a independência, em 22 de se- tembro de 1960, instaurou-se um governo com orientação socialista, alinhado à União Soviética (URSS), sob a presidência de Modibo Keïta cuja política de reforma agrária ia contra os grupos nômades que repre- sentavam grande parte da população do Mali. Os tuaregues eram uma des- sas populações nômades, em grande número no país, e eram considerados inúteis e improdutivos ao olhar do Presidente e de setores interessados em sua sedentarização. 3 Ao mesmo tempo que seus hábitos culturais eram cada vez menos respeitados, crescia o sentimento dos tauregues pela formação de um Estado autôno- mo, chamado “Azawad”. 4 As atitudes do governo em relação aos tuaregues fizeram com que eles entendessem “essa política como uma nova forma de colonização”. 5 Assim, em 1962, o desejo por auto- nomia se concretizou na primeira rebelião tuaregue, violentamente contida pelas forças estatais. Em dois anos, o governo reprimiu os rebeldes e submeteu a população nômade a uma rígida administração militar, o que resultou num grande fluxo de pessoas buscando por refúgio em paí- ses vizinhos. 6 O presidente do Mali foi deposto em 1968 por um golpe militar, assu- mindo o governo o tenente Moussa Traoré. 7 Sob seu regime, a população foi severamente oprimida e seguiram as repressões aos tuaregues, que se sentiam excluídos dentro de seu pró- prio país. 8 Nessa mesma época a região norte do Mali foi acometida por uma forte seca, sendo necessário que o país re- corresse a ajuda humanitária interna- cional. No entanto, o grupo tuaregue passou a alegar que os recursos utili- zados para abastecer o norte do país não os contemplava. Somado ao des- vio de suprimentos que eram envia- MALI: CONFLITO COMPLEXO E MULTIFACETADO Bianca Vince Lauria Juliana de Moura Fraquetto Lucas Lima da Cruz Marina Biagioni Marquezi 1

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V. 2, n. 6 - Dezembro de 2015

ANTECENTES HISTÓRICOS

O Mali é um dos países do conti-nente africano situados na região do Sahel, uma faixa semiárida loca-lizada entre o deserto do Saara e as terras mais férteis ao Sul, sendo um dos países mais pobres do mundo, com um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) extremamente baixo (0,407, em 2013).2 Assim como qua-se todos os países africanos, o Mali também sofreu com a colonização europeia no continente. Tendo sido colônia francesa por um longo perío-do, alcançou sua independência ape-nas no ano de 1960. A partir daí sua história foi marcada por uma série de conflitos, incluindo guerras civis. O pequeno desenvolvimento e falta de infraestrutura básica para a popula-ção, formada basicamente por nôma-des e agricultores, potencializaram os conflitos.

Com a independência, em 22 de se-

tembro de 1960, instaurou-se um governo com orientação socialista, alinhado à União Soviética (URSS), sob a presidência de Modibo Keïta cuja política de reforma agrária ia contra os grupos nômades que repre-sentavam grande parte da população do Mali. Os tuaregues eram uma des-sas populações nômades, em grande número no país, e eram considerados inúteis e improdutivos ao olhar do Presidente e de setores interessados em sua sedentarização.3 Ao mesmo tempo que seus hábitos culturais eram cada vez menos respeitados, crescia o sentimento dos tauregues pela formação de um Estado autôno-mo, chamado “Azawad”.4

As atitudes do governo em relação aos tuaregues fizeram com que eles entendessem “essa política como uma nova forma de colonização”.5 Assim, em 1962, o desejo por auto-nomia se concretizou na primeira rebelião tuaregue, violentamente

contida pelas forças estatais. Em dois anos, o governo reprimiu os rebeldes e submeteu a população nômade a uma rígida administração militar, o que resultou num grande fluxo de pessoas buscando por refúgio em paí-ses vizinhos.6

O presidente do Mali foi deposto em 1968 por um golpe militar, assu-mindo o governo o tenente Moussa Traoré.7 Sob seu regime, a população foi severamente oprimida e seguiram as repressões aos tuaregues, que se sentiam excluídos dentro de seu pró-prio país.8

Nessa mesma época a região norte do Mali foi acometida por uma forte seca, sendo necessário que o país re-corresse a ajuda humanitária interna-cional. No entanto, o grupo tuaregue passou a alegar que os recursos utili-zados para abastecer o norte do país não os contemplava. Somado ao des-vio de suprimentos que eram envia-

MALI: CONFLITO COMPLEXO E MULTIFACETADO

Bianca Vince Lauria

Juliana de Moura Fraquetto

Lucas Lima da Cruz

Marina Biagioni Marquezi1

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dos, os tauregues alegavam que parte deles eram destinados a construções privadas na capital do país, Bamako.9

Os tuaregues não eram articulados politicamente, nem possuíam uma ideologia comum, sendo apenas mo-vidos pela insatisfação em relação a forma como eram tratados. A recor-rente marginalização dessa popula-ção resultou na segunda rebelião que contou com a participação de tuare-gues do norte do Mali, da Argélia e da Líbia.10 Após um período de conflito armado e a derrubada do presidente Traoré do poder, em 1992 foi firmado um acordo de paz mediado pela Argé-lia chamado de “Pacto Nacional” que determinou maior autonomia para o norte do Mali, além de investimentos na infraestrutura da região.11

Os anos que se seguiram foram de instabilidade política no país, com tentativas de golpe e eleições mul-tipartidárias com resultados contes-tados. Em 2002, Amadou Toumani Touré, que havia substituido Traoré após o golpe de 1992, foi eleito pre-sidente, tendo governado até 2012.

Em 2006, uma terceira rebelião foi iniciada decorrente da insatisfação dos tuaregues em relação às medidas definidas pelo “Pacto Nacional” que ainda não haviam sido implementa-das. Novamente a Argélia interveio no conflito interno e conseguiu o fim da rebelião em 2009, comemorado com uma cerimônia de paz na qual os tuaregues entregaram suas armas.12

No entanto, em outubro de 2011 surgiu o Movimento Nacional pela Libertação de Azawad (MNLA) que, em janeiro de 2012, iniciou ataques no norte do país, acusando o gover-no de não ter cumprido promessas em relação à população tuaregue e de fazer provocações militares. Teve iní-cio, então, a quarta rebelião tuaregue. A violência no Mali escalou rapida-mente nos primeiros meses de 2012, em virtude de confrontos entre os rebeldes e as forças governamentais.13

Para complicar ainda mais a situação no país, por meio de uma transmis-são na madrugada do dia 22 de mar-ço de 2012, um grupo de soldados que se descreviam como o Comitê

Nacional para a Restauração da De-mocracia e Estado de Direito (CN-DRE) anunciou um golpe, acusando o presidente Amadou Touré de não conduzir adequadamente a política durante o conflito com os tauregues. O CNDRE declarou a suspensão da Constituição, anunciou um toque de recolher e fechou as fronteiras.14

Em 29 de março, líderes da Comu-nidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) se reu-niram na Costa do Marfim e ameaça-ram o CNDRE com amplas sanções caso esse não deixasse o poder em 72 horas. Os líderes da junta militar ig-noraram as exigências da CEDEAO para sair do poder e continuaram de-mandado uma transição do governo para um regime civil e a restauração do direito constitucional no país.15

Após quase um mês, os insurgentes tuaregues, que já haviam tomado o controle das regiões de Gao, Ki-dal e Timbuktu, no norte do país, declaram a independência de Aza-wad. Para garantir a manutenção da “independência”, o MNLA fez uma aliança com o grupo islâmico radi-cal Ansar Dine. No entanto, o Ansar Dine tinha objetivos próprios e di-versos aos do MNLA. O grupo tinha ligações com o braço da Al Qaeda no norte da África (AQIM) e buscava a imposição da Sharia (lei islâmica) no país e logo se voltou contra o MNLA e tomou o controle de parte da região norte do Mali. Dessa forma, o restan-te do ano de 2012 foi marcado por uma intensa onda de violência. Na capital Bamako, a junta militar não teve sucesso em garantir um gover-no civil transitório e com a queda de Muammar al-Qaddafi na Líbia, em 2011, o fluxo de armas sem con-trole daquele país para o Mali fez com que a situação se deteriorasse ainda mais.16

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INTERVENÇÃO INTERNACIONAL

Além das já citadas intervenções da vizinha Argélia, em janeiro de 2013 o governo do Mali pediu ajuda à França, que concordou em intervir no conflito. Em poucos dias tropas francesas retomaram o controle das principais cidades no norte do país, embora as hostilidades ainda conti-nuassem no restante do território.17

Até mesmo os separatistas tuaregues do MNLA concordaram em ajudar as tropas francesas para livrar o norte do país da forte imposição das leis islâmicas por parte do Ansar Dine.18

O medo da ameaça representada por grupos armados islâmicos ligados à Al-Qaeda levaram a esforços diplo-máticos consideráveis para resolver a crise e estabilizar o Mali. Os fran-ceses lideram os assuntos militares, a União Europeia assumiu a reforma do setor de segurança e as Nações Unidas assumiram o compromisso de estabilizar a política e implantar o Es-tado de Direito no Mali desdobrando uma operação de manutenção da paz. Enquanto isso, a União Africana e a CEDEAO assumiram a liderança no apoio às negociações entre tuaregues armados e o governo do Mali.19

Entre os anos de 2012 e 2015, cinco resoluções referentes ao conflito no Mali foram aprovadas pelo Conse-lho de Segurança da Organização (CSNU). A Resolução 2085, de 20 de dezembro de 2012, que se baseou nas resoluções anteriores do mesmo ano (Resoluções 2056 e 2071), buscou reforçar a importância da unidade e integridade territorial do Mali. A resolução repudiou os grupos rebel-des armados e os grupos extremistas que cometiam atos de violência con-tra civis (principalmente, crianças e mulheres), condenou os mais di-versos abusos aos direitos humanos cometidos no norte do Mali e desta-

cou a necessidade de trabalhar para o estabelecimento da governança democrática e da ordem constitu-cional do país. A Resolução deter-minou medidas para a reconstrução das capacidades das forças de defesa e de segurança do país, das regiões devastadas pelos conflitos, das insti-tuições, a redução da influência dos grupos armados, extremistas e dos considerados terroristas, e a redução do impacto das ações militares sobre a população civil do Mali.20

Em 24 de setembro de 2012, o go-verno malinês solicitou ajuda de uma força militar internacional das Na-ções Unidas para recuperar o controle do Azawade. Em 20 de dezembro, o CSNU autorizou o envio de uma força militar conjunta africana -African-led International Support Mission in Mali (AFISMA). A França deveria liderar a missão europeia que daria treinamen-to e apoio logístico para a intervenção

executada pela CEDEAO.21

Na sequência, em 25 de abril de 2013, foi criada pelo CSNU (Resolução 2100) a Missão das Nações Unidas de Estabilização Multidimensional no Mali (MINUSMA), incorporan-do e substituindo em julho daquele ano a AFISMA. A missão buscou dar maior apoio ao processo político no Mali, além de colocar em prática as diversas medidas relacionadas com a segurança no país.22

Em junho de 2015, o mandato da MINUSMA foi extendido por mais um ano.23 A Missão comporta 11.240 militares, cerca de 40 observadores militares e 1.440 policiais que su-pervisionam o acordo de cessar-fogo obtido no país e apoiam a implemen-tação do Acordo de Paz e Reconcilia-ção no Mali.24

A Resolução, que prevê um acordo

Mapa do conflito38

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de paz e a manutenção territorial do Mali, autorizou a MINUSMA a utili-zar todos os meios necessários, den-tro de suas possibilidades, para que o cessar-fogo seja cumprido, os civis e os direitos humanos sejam protegidos, assim como para garantir a segurança dos funcionários da ONU. Outros ob-jetivos da Missão se referem à assistên-cia humanitária adequada e a preser-vação do patrimônio cultural do país.25

DESDOBRAMENTOS RECENTES

Embora a situação política no Mali estivesse estabilizada em 2014, os ataques realizados por vários grupos armados pró e contra o governo no norte do país persistiram e levaram a uma acentuada deterioração da se-gurança nas regiões de Gao, Kidal e Timbuktu. Ao longo daquele ano, os grupos armados jihadistas e outros movimentos árabes juntamente com alguns grupos armados tuaregues, to-dos buscando autonomia, aumenta-

ram drasticamente os ataques a mili-tares malineses, às forças de paz, aos prestadores de ajuda humanitária, e aos civis (até mesmo aos tuaregues).26

A Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQIM) assassinou várias pessoas que ajudaram o exército francês no Mali, especialmente membros MNLA. Atualmente, três grupos estão envolvidos na insurreição no norte do Mali: a AQIM; o Movimen-to para a Unidade e a Jihad na África Ocidental (MUJAO); e o Ansar Dine que é liderado por um tuaregue (Iyad Ag Ghaly).27

Pouco progresso ocorreu na busca de uma solução negociada. Durante muitos debates entre 2014 e 2015, a coalizão de grupos armados que foi formada, chamada Coordenação dos Movimentos de Azawad (CMA), se recusou a aceitar qualquer tipo de re-solução, alegando que as outras par-tes não cumpririam suas demandas

por autonomia política e militar.28 O aumento da violência parecia invia-bilizar cada vez mais um acordo de paz mediado pela ONU.

Finalmente, em 20 de junho de 2015, os rebeldes do norte do Mali, repre-sentados pela CMA concordaram em assinar o acordo de paz e reconcilia-ção.29 Nove dias depois, a MINUS-MA teve seu mandato estendido pelo CSNU para acompanhar e a super-visionar os acordos de cessar-fogo e apoiar a implementação do Acordo de Paz e Reconciliação do Mali.30

No entanto, muitas questões perma-necem para serem resolvidas e há desconfianças em relação aos líderes de todas as partes envolvidas no con-flito. Grupos novos e antigas milícias que se reconstituíram preencheram lacunas deixadas pelas esgotadas for-ças armadas do país e geram antago-nismos entre os povos do norte. A maioria da população é contra qual-

Treinamento da Guarda Nacional do Mali conduzido pela Polícia da ONU (UNPOL)

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quer concessão aos rebeldes, que eles culpam pelo colapso do país.

Dois anos depois de sua eleição (com aprovação de quase 80% dos eleito-res), o presidente Ibrahim Boubacar Keita se torna cada vez mais impopu-lar. Enquanto isso, os líderes da CMA não conseguem conter grupos que se sentem traídos e que estão determi-nados a continuar a luta armada por sua própria conta em busca de seus objetivos.31 A situação ganha ainda mais complexidade com a quantida-de de grupos formados após a disper-são causada pela intervenção militar francesa e de coalizões que se for-maram entre rebeldes32, juntamente com a porosidade cada vez maior das fronteiras com os países vizinhos.

Outro fator que influencia o conflito é a força que tem tido o Estado Islâ-mico (EI) no cenário internacional, incitando outros grupos jihadistas. O ataque realizado no dia 20 de no-vembro de 2015, num hotel da capi-tal Bamako, foi reivindicado tanto pelo grupo Al-Mourabitoun (braço do AQIM) quanto pela Frente de Li-bertação de Macina (afiliada ao gru-po Ansar Dine), o que pode indicar o desejo de ambos de se afirmarem como grupos com boa capacidade operacional.33

CONCLUSÕES

A situação no Mali segue sob uma atmosfera de desconfiança e pre-caução. Após o ataque terrorista em Bamako, as eleições regionais e mu-nicipais foram adiadas, e com elas a urgência de se reforçar a governança e a capacidade administrativa das re-giões do norte do país.

A “agitação jihadista” e a preocupa-ção internacional dela resultante,

intensificada após os últimos ataques terroristas, fazem com que o ter-rorismo seja um dos focos a serem combatidos num momento delicado de pacificação do Mali. A operação francesa Barkhane, realizada desde 2014, lidera os esforços internacio-nais countra o terrorismo na região em cooperação com o grupo Sahel 534, composto por Chade, Maurita-nia, Mali, Niger e Burkina Faso. Uma semana após os ataques em Paris, o grupo anunciou a criação de uma brigada conjunta e concordaram em estabelecer um comitê para melhor coordenar as ações contra terroris-mo. A brigada ainda aguarda por recursos financeiros para se tornar operacional, mas é esperado que ga-nhe força por meio do recém-lança-do Fundo Fiduciário de Emergência para a África, da União Europeia.35

Para que não haja retrocessos em relação ao acordo de paz firmado, a preocupação estratégica é o desarma-mento e a desmobilização dos grupos rebeldes armados, questão que é di-ficultada pela alta corrupção dos res-ponsáveis pelo controle das redes de

tráfico que atuam no país, dentre ou-tras. De acordo com os pesquisadores do Instituto de Estudos sobre Segu-rança da União Europeia, Taynja Ab-del-Baghy e José Luengo-Cabrera,

desmilitarização e descrimina-lização continuam sendo requi-sitos básicos para se prosseguir com os processos de paz e re-conciliação. Em sua ausência, as muito aguardadas disposições sobre descentralização política e assistência ao desenvolvimento do norte não podem ser efetiva-mente implementadas.36

Apesar da presença da missão de paz da ONU (MINUSMA), de duas mis-sões de gerenciamento de crises da União Europeia, EUTM (desde 2003) e EUCAP Sahel Mali (desde 2014)37, da presença de forças especiais da França e dos Estados Unidos para combater o terrorismo, as forças de segurança e defesa ainda dependem de auxilio externo para lidar com os problemas nessa área. Politicamente, o Mali ainda caminha a passos cur-sos para garantir a governabilidade, a paz e a estabilidade no país e, con-sequentemente, na região do Sahel.

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Cerimônia fúnebre de peacekeepers da MINUSMA

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2 RANKING IDH Global 2013. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Disponível em: <http://www.pnud.org.br/atlas/ranking/Ranking-IDH-Global-2013.aspx> Acesso em: 25 Set. 2015.

3 BENJAMINSEN, Tor. Does supply-induced scarcity drive violent conflicts in the African Sahel? The case of the Tuareg Rebellion in northern Mali. Journal of Peace Research, v.45, n.6, 2008.

4 KEITA, Kalifa. Conflict and conflict resolution in the Sahel: the tuareg insurgency in Mali. Strategic Sudies Institute, 1998. Disponível em <http://www.strategicstudiesinstitute.army.mil/pdffiles/pub200. pdf> Acesso em 27 Dez. 2015.

5 ARAÚJO, Rafaela. Conflito no Mali, agosto de 2013. Disponível em: <http://kilombagem.org/conflito-no-mali/>. Acesso em: 23 Set. 2015.

6 KEITA, op. cit.

7 MALI: A timeline of northern conflict. IRIN Humanitarian News and Analysis, Dakar, Senegal, 05 Abr. 2012. Disponível em: <http://www.irinnews.org/report/95252/mali-a-timeline-of-northern-conflict> Acesso em: 27 Set. 2015.

8 ARAÚJO, op. cit.

9 DUARTE, Geraldine Rosas. O Conflito no Mali: origens e dimensão internacional. Disponível em: <https://pucminasconjuntura.wordpress.com/2013/03/01/o-conflito-no-mali-origens-e-dimensao-internacional/> Acesso em: 24 Set. 2015.

10 ARAÚJO, op. cit.

11 MALI: …, op. cit.

12 Idem

13 DUARTE, op. cit.

14 ARGÉLIA prende cinco sequestradores de refinaria. BBC Brasil, 20 Jan. 2015. Disponível em <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/01/130120_argelia_prisao_mdb.shtml> Acesso em: 24 Set. 2015.

15 CEDEAO ECOWAS, Emergency mini-summit of ecowas heads of state and government on the situation in Mali. Disponível em <http://news.ecowas.int/presseshow.php?nb=092&lang=en&annee= 2012> Acesso em: 24 Set. 2015.

16 DUARTE, op. cit.

17 ENTENDA os interesses da França no Mali. BBC Brasil, 16 Jan. 2013. Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/01/130116_mali_franca_bg.shtml. Acesso em: 27 set. 2015.

18 TUAREG rebels ready to help French forces in Mali. Al Arabiya News, 14 Jan. 2014. Disponível em: <http://english.alarabiya.net/articles/2013/01/14/260337.html> Acesso em: 24 Set. 2015.

19 SUPPORTING political process and helping stabilize Mali. Organização das Nações Unidas - MINUSMA: United Nations Multidimensional Integrated Stabilization Mission in Mali. Disponível em: <http://www.un.org/en/peacekeeping/missions/minusma/>. Acesso em: 24 out. 2015.

20 UN. CS. Resolução 2085. New York, 20 Dec. 2012. Disponível em: <http://www.un.org/en/ga/search/ view_doc.asp?symbol=S/RES/2085(2012)>. Acesso em: 27 Set. 2015.

21 ENTENDA ..., op. cit.

22 APOIO ao processo político e ajuda para a estabilização do Mali. MINUSMA: United Nations Multidimensional Integrated Stabilization Mission in Mali. Disponível em: <http://www.un.org/en/ peacekeeping/missions/minusma/>. Acesso em: 24 out. 2015.

23 SECURITY Council, Adopting Resolution 2227 (2015), Extends Mandate of Multidimensional Mission in Mali until 30 June 2016, Adding Military Observers to Monitor Ceasefire. United Nations, 29 Jun. 2015. Disponível em: <http://www.un.org/press/en/2015/sc11950.doc.htm>. Acesso em: 27 set. 2015. UN. CS. Resolution 2227. New York, 29 Jun. 2015. Disponível em: <http://www.un.org/en/ga/ search/view_doc.asp?symbol=S/RES/2227(2015)&referer=http://www.un.org/en/sc/documents/resolutions/2015.shtml&Lang=S>. Acesso em: 27 set. 2015.

24 Idem

25 Idem

26 HUMAN RIGHTS WATCH. World report 2015: Mali. Disponível em: <https://www.hrw.org/world-report/2015/country-chapters/mali> Acesso em: 25 Set. 2015.

27 MALI jihadists return after France mission. The Guardian, 11 Mar. 2014. Disponível em: <http://www.theguardian.com/world/2014/mar/11/mali-jihadists-return-after-france-mission> Acesso em: 25 Set. 2015.

28 HÖIJE, Katarina. Mali conflitct: south is south, north is north, never the twain shall meet? The Guardian,19 Mar. 2015.Disponível em: <http://www.theguardian.com/global-development/2015/mar/ 19/mali-conflict-south-north-divide-algiers-peace-talks> Acesso em: 25 Set. 2015.

29 BENSIMON, Cyril. Mali’s separatist war ends at last. The Guardian, 30 Jun. 2015. Disponível em: <http://www.theguardian.com/world/2015/jun/30/mali-separatist-war-ends-touareg-azawad-rebels> Acesso em: 25 Set. 2015.

30 Conselho de Segurança da ONU estende mandato da missão no Mali. ONU Brasil, 30 Jun. 2015. Disponível em: <http://nacoesunidas.org/conselho-de-seguranca-da-onu-estende-mandato-da-missao-no-mali/> Acesso em: 25 Set. 2015.

31 BENSIMON, op. cit.

32 ZENN, Jacob. The Sahel’s Militant ‘Melting Pot’: Hamadou Kouffa’s Macina Liberation Front (FLM). Terrorism Monitor, vol. 13, issue 22, 13 nov. 2015. Disponível em: <http://www.jamestown.org/ programs/tm/single/?tx_ttnews%5Btt_news%5D=44593&cHash=8b46b953b2373675d248929a39f8264b#.VpGDAvkrLDc>. Acesso em: 17 dez. 2015.

33 ABDEL-BAGHY, Taynja. LUENGO-CABRERA, José. Mali: an endangered peace. Issue Alert. Paris: European Union Institute for Security Studies, dez 2015.

34 G-5 de Sahel, ou Grupo dos Cinco de Sahel, é o grupo formado pelo Mali, Chade, Mauritania, Burquina Faso e Níger, com o intuito de reforçar a cooperação na região em matéria de desenvolvimento e segurança. O grupo foi estabelecido em 16 de fevereiro de 2014. Disponível em: <http://unterm.un.org/dgaacs/unterm.nsf/8fa942046ff7 601c85256983007ca4d8/54ac6cee85094df885257cfd004fd189?OpenDocument>. Acesso em: 28 Jan. 2016.

35 ABDEL-BAGHY, LUENGO-CABRERA, op. Cit.

36 Idem, tradução nossa.

37 A UE mantém ainda operação similar no Niger (EUCAT SAHEL Niger) desde 2012. EU, EEAS, Ongoing missions and operations, October 2015, Disponível em: <http://www.eeas.europa.eu/ csdp/missions-and-operations/> Acesso em: 21 Jan. 2016.

38 Mapa original disponível em https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Northern_Mali_conflict.svg, com alteração da legenda realizada pelos autores.

1 Bianca Vince Lauria, Juliana de Moura Fraquetto, Lucas Lima da Cruz e Marina Biagioni Marquezi Discentes do Curso de Relações Internacionais da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) - Campus de Marília e membros do Observatório de Conflitos Internacionais (OCI).

Série Conflitos Internacionais é editada pelo Observatório de Conflitos Internacionais da Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC) da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (UNESP) - Campus de Marília – SP

Editor: Prof. Dr. Sérgio L. C. AguilarLayout: Paula Schwambach MoizesISSN: 2359-5809Comentários para: [email protected]ível em: www.marilia.unesp.br/#oci

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