confissão direta a deus

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CONFISSÃO DIRETA A DEUS? Muitas vezes hoje ouvimos a objeção: Por que confessar os pecados ao padre? Por que não confessar diretamente a Deus? Não é o padre homem fraco igual a todos? Onde o homem quiser acertar “suas contas” sozinho com Deus, facilment e pode iludir-se, confessando-se não a Deus, mas a si mesmo, ao deus que ele cria para si mesmo; é enganar-se a si mesmo. Experimentemos comungar diretamente com Deus! Muitos fiéis, que hoje se aproximam da confissão (ou também deixam de aproximar-se), pensam talvez que confessar-se ao padre seja confessar-se a Cristo, pedir perdão a Deus, mas esquecem geralmente o alcance da função mediadora da Igreja. É através da mediação da Igreja que o cristão pecador se encontra, no sacramento da penitência, com Deus em misteriosa atualidade com o evento da morte e ressurreição de Cristo. Em outras palavras, a Igreja exercita ao mesmo tempo função mediadora descendente de oferta do dom da graça e do amor de Deus aos homens e função mediadora ascendente de culto dos homens a Deus. Por isso, a absolvição do padre no sacramento é a palavra eficaz do perdão de Deus e da Igreja (“Deus Pai de misericórdia que reconciliou o mundo co nsigo... te conceda pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz. Eu te absolvo...” – conforme a fórmula da absolvição). A reconciliação com Deus no sacramento da penitência significa a readmissão na sua amizade, operada pelo dom gratuito do Espírito que concede ao pecador o perdão dos pecados e o sustenta em seu esforço de conversão e, mediante a palavra eficaz da absolvição, o eleva e introduz na ordem da salvação. A reconciliação do cristão com a Igreja significa remoção daquela separação da Igreja que o pecado do cristão leva consigo. Não no sentido de separação visível e total porque, em virtude do caráter batismal o cristão pecador continua a pertencer realmente à Igreja, mas, como separação, interna e invisível, da caridade salvífica eclesial que é o dom do Espírito à Igreja. Então, a reconciliação com a Igreja, diretamente significada pelo gesto externo da absolvição por parte do sacerdote, significa remoção desta separação invisível e interna e sua readmissão eficaz no seio da Igreja, apto a sentar-se novamente à mesa eucarística. O sacerdote representa não só Deus (age in persona Christi), mas também a comunidade (age in persona Ecclesiae). Seu sacerdócio hierárquico está a serviço do sacerdócio comum dos batizados. Em nome de Deus e da comunidade eclesial acolhe e profere a palavra da paz. Por isso pode-se dizer: Sim, essencialmente eu confesso meus pecados a Deus; mas é a Mãe Igreja, a Igreja toda inteira que me revela o rosto do Pai que perdoa, e eu não posso acolhê-lo senão por esta Igreja. Pe. Pedro Alberto Kunrath/PUCRS. Prática mais do que moderna - Dom Aloísio Roque Oppermann* Quem diria? Confessar-se é psicologicamente atualíssimo. Na práxis católica podemos não só fazer uso do “divã”, para descarregar as nossas culpas e angústias, como oportuniza a psicologia. Muito tempo antes de Freud, o sacramento da penitência sempre já foi uma catarse. Mas não só isso. Além dos recursos da ciência, e do alívio das angústias, a confissão pode ser uma cura da alma, que a ciência não pode conceder. Pela graça do Divino Espírito Santo a Penitência pode restituir a vida em Cristo. Sabemos muito bem que trazemos os tesouros divinos em vasos de argila” (2Cor 4,7). Esta vida nova de filhos de Deus pode ser perdida pelo pecado. Então o médico divino de nossas almas e de nossos corpos, o Cristo Senhor, através da Igreja, realiza sua obra de cura e salvação, em quem quer se converter. Quem se aproxima do sacramento da confissão, obtém da misericórdia divina, o perdão repito, o perdão e não só o alívio da ofensa praticada contra Deus. E é reconciliado também com sua comunidade cristã. Trata-se de conversão. “Vou me levantar e encontrar meu pai” (Lc 15, 18). Todos deveríamos ser “santos e irrepreensíveis” (Ef 5, 27). Mas a realidade é outra. Estamos sujeitos a escorregões, e até a quedas lamentáveis. E isso nos rouba o dom de Deus. O apóstolo S. João até diz que quem afirma que não tem pecado é um mentiroso. Por isso, essa segunda conversão é necessária, e até diria, ininterrupta. O coração contrito é uma graça do Espírito Santo, que nos leva à purificação. Portanto, não é só uma obra humana. É uma resposta ao amor misericordioso do Pai. Santo Ambrósio diz que na Igreja “existem a água e as lagrimas: a água do Batismo e as lágrimas da penitência”. O que hoje causa uma grande perplexidade é o abandono, ou o adiamento a perder de vista, dessa riqueza que Cristo nos deixou. Amplia-se cada vez mais o apelo aos recursos humanos da psicologia o que é um bem e se esquece cada vez mais a declaração dos pecados ao sacerdote, para obter o perdão divino. Será que não estamos, mesmo cheios de angústias e de medos, morrendo à míngua ao lado da fonte de paz e da autoestima? *Dom Aloísio Roque Oppermann scj, arcebispo de Uberaba (MG)

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  • CONFISSO DIRETA A DEUS?

    Muitas vezes hoje ouvimos a objeo: Por que confessar os pecados ao padre? Por que no confessar diretamente a Deus? No o padre homem fraco igual a todos?

    Onde o homem quiser acertar suas contas sozinho com Deus, facilmente pode iludir-se, confessando-se no a Deus, mas a si mesmo, ao deus que ele cria para si mesmo; enganar-se a si mesmo. Experimentemos

    comungar diretamente com Deus!

    Muitos fiis, que hoje se aproximam da confisso (ou tambm deixam de aproximar-se), pensam talvez que

    confessar-se ao padre seja confessar-se a Cristo, pedir perdo a Deus, mas esquecem geralmente o alcance da

    funo mediadora da Igreja. atravs da mediao da Igreja que o cristo pecador se encontra, no sacramento da

    penitncia, com Deus em misteriosa atualidade com o evento da morte e ressurreio de Cristo. Em outras palavras,

    a Igreja exercita ao mesmo tempo funo mediadora descendente de oferta do dom da graa e do amor de Deus aos

    homens e funo mediadora ascendente de culto dos homens a Deus. Por isso, a absolvio do padre no sacramento

    a palavra eficaz do perdo de Deus e da Igreja (Deus Pai de misericrdia que reconciliou o mundo consigo... te conceda pelo ministrio da Igreja, o perdo e a paz. Eu te absolvo... conforme a frmula da absolvio).

    A reconciliao com Deus no sacramento da penitncia significa a readmisso na sua amizade, operada

    pelo dom gratuito do Esprito que concede ao pecador o perdo dos pecados e o sustenta em seu esforo de

    converso e, mediante a palavra eficaz da absolvio, o eleva e introduz na ordem da salvao.

    A reconciliao do cristo com a Igreja significa remoo daquela separao da Igreja que o pecado do

    cristo leva consigo. No no sentido de separao visvel e total porque, em virtude do carter batismal o cristo

    pecador continua a pertencer realmente Igreja, mas, como separao, interna e invisvel, da caridade salvfica

    eclesial que o dom do Esprito Igreja. Ento, a reconciliao com a Igreja, diretamente significada pelo gesto

    externo da absolvio por parte do sacerdote, significa remoo desta separao invisvel e interna e sua

    readmisso eficaz no seio da Igreja, apto a sentar-se novamente mesa eucarstica.

    O sacerdote representa no s Deus (age in persona Christi), mas tambm a comunidade (age in persona

    Ecclesiae). Seu sacerdcio hierrquico est a servio do sacerdcio comum dos batizados. Em nome de Deus e da

    comunidade eclesial acolhe e profere a palavra da paz.

    Por isso pode-se dizer: Sim, essencialmente eu confesso meus pecados a Deus; mas a Me Igreja, a Igreja

    toda inteira que me revela o rosto do Pai que perdoa, e eu no posso acolh-lo seno por esta Igreja.

    Pe. Pedro Alberto Kunrath/PUCRS.

    Prtica mais do que moderna - Dom Alosio Roque Oppermann*

    Quem diria? Confessar-se psicologicamente atualssimo. Na prxis catlica podemos no s fazer uso do

    div, para descarregar as nossas culpas e angstias, como oportuniza a psicologia. Muito tempo antes de Freud, o sacramento da penitncia sempre j foi uma catarse. Mas no s isso. Alm dos recursos da cincia, e do alvio

    das angstias, a confisso pode ser uma cura da alma, que a cincia no pode conceder. Pela graa do Divino

    Esprito Santo a Penitncia pode restituir a vida em Cristo. Sabemos muito bem que trazemos os tesouros divinos

    em vasos de argila (2Cor 4,7). Esta vida nova de filhos de Deus pode ser perdida pelo pecado. Ento o mdico divino de nossas almas e de nossos corpos, o Cristo Senhor, atravs da Igreja, realiza sua obra de cura e salvao,

    em quem quer se converter. Quem se aproxima do sacramento da confisso, obtm da misericrdia divina, o perdo

    repito, o perdo e no s o alvio da ofensa praticada contra Deus. E reconciliado tambm com sua comunidade crist. Trata-se de converso. Vou me levantar e encontrar meu pai (Lc 15, 18).

    Todos deveramos ser santos e irrepreensveis (Ef 5, 27). Mas a realidade outra. Estamos sujeitos a escorreges, e at a quedas lamentveis. E isso nos rouba o dom de Deus. O apstolo S. Joo at diz que quem

    afirma que no tem pecado um mentiroso. Por isso, essa segunda converso necessria, e at diria, ininterrupta.

    O corao contrito uma graa do Esprito Santo, que nos leva purificao. Portanto, no s uma obra humana.

    uma resposta ao amor misericordioso do Pai. Santo Ambrsio diz que na Igreja existem a gua e as lagrimas: a gua do Batismo e as lgrimas da penitncia. O que hoje causa uma grande perplexidade o abandono, ou o adiamento a perder de vista, dessa riqueza que Cristo nos deixou. Amplia-se cada vez mais o apelo aos recursos

    humanos da psicologia o que um bem e se esquece cada vez mais a declarao dos pecados ao sacerdote, para obter o perdo divino. Ser que no estamos, mesmo cheios de angstias e de medos, morrendo mngua ao lado

    da fonte de paz e da autoestima?

    *Dom Alosio Roque Oppermann scj, arcebispo de Uberaba (MG)