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Conferência de Paris de 2007 Medidas de combate ao recrutamento de crianças-soldado Vinicius Tavares Diretor Samantha Rodrigues Diretora Assistente Letícia do Carmo Diretora Assistente

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Conferência de Paris de 2007

Medidas de combate ao recrutamento de crianças-soldado

Vinicius Tavares Diretor

Samantha Rodrigues

Diretora Assistente

Letícia do Carmo Diretora Assistente

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SUMÁRIO

1 APRESENTAÇÃO DA EQUIPE ......................................................................................... 3

2 APRESENTAÇÃO DO TEMA ............................................................................................ 4

2.1 A evolução da guerra e seus combatentes ........................................................................ 4

2.2 As crianças-soldado da era moderna ................................................................................ 5

2.2.1 Crianças envolvidas em conflitos ..................................................................................... 5

2.2.2 Os governos que utilizam crianças soldados ................................................................... 5

2.3 Os esforços da sociedade internacional ............................................................................ 6

2.4 O recrutamento de crianças-soldado por grupos paramilitares .................................... 7

2.4.1 O que são grupos paramilitares ....................................................................................... 7

2.4.2 Como os Estados lidam com os grupos paramilitares ..................................................... 9

2.4.4 Como os grupos paramilitares recrutam crianças ........................................................ 11

2.4.5 Contagem, denúncia e retirada de crianças do jugo de grupos paramilitares ............. 12

2.5 A definição do conceito de maioridade ........................................................................... 14

2.5.1 A Questão da Maioridade ............................................................................................... 15

2.6 O programa DDR e suas fraquezas ................................................................................ 17

2.6.1 Conceito .......................................................................................................................... 18

2.6.2 Principais Objetivos do DDR ......................................................................................... 19

2.6.3 Estrutura do DDR ........................................................................................................... 20

2.6.3.1 Precedentes .................................................................................................................. 20

2.6.3.2 Duração do Programa ................................................................................................. 20

2.6.3.3 Fases do Programa ...................................................................................................... 20

2.6.3.4 Início do Programa ...................................................................................................... 21

2.6.3.5 Princípios básicos ........................................................................................................ 22

2.6.3.6 Presença internacional ................................................................................................ 22

2.6.3.7 Tipos de DDR ............................................................................................................... 22

2.6.3.8 Organismos gerenciadores e financiadores ................................................................ 23

2.6.3.9 Grupos mais vulneráveis ............................................................................................. 23

3 POSIÇÃO DOS ATORES .................................................................................................. 24

4 QUESTÕES RELEVANTES NAS DISCUSSÕES ........................................................... 24

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REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 26

ANEXOS ................................................................................................................................. 28

TABELA DE DEMANDA DAS REPRESENTAÇÕES ..................................................... 34

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1 APRESENTAÇÃO DA EQUIPE

―Olá, delegados!

É com imenso prazer que daremos início aos trabalhos do MINIONU 15 ANOS! Meu

nome é Vinícius Tavares e serei o diretor de nosso comitê. Minha história com o MINIONU

começa em 2007, quando participei pela primeira vez como delegado. Desde então, o MINI,

carinhosamente chamado por seus íntimos, é parte da minha vida acadêmica. Conheci vários

bons amigos e aprendi bastante. Nesta reedição do comitê, espero que todos possam ter um

momento maravilhoso, tal como tivemos há três anos atrás. Contamos com o empenho e

alegria de todos os delegados!‖

Diretores-assistentes:

―Olá, delegados! Chamo-me Samantha e sejam muito bem-vindos a CPAR (2007)!

Sou graduanda do curso de Relações Internacionais e, na data da realização do evento, estarei

cursando o 7º período. Diferente de vocês, eu não tive a oportunidade de participar de

simulações durante o meu ensino médio. Foi logo no meu primeiro semestre da faculdade que

me encantei completamente pelo MINIONU, e é incrível como, hoje – 3 anos depois – sinto o

mesmo entusiasmo e empolgação como da primeira vez! Espero sinceramente que os

senhores tirem o maior proveito possível dessa oportunidade tão enriquecedora para a vida

pessoal, acadêmica e profissional de vocês. Que vossa participação no MINIONU 15 ANOS

seja inesquecível!

―Olá, senhores delegados! Meu nome é Letícia do Carmo, tenho 20 anos e durante o

MINIONU 15 ANOS estarei cursando o 6º período de Relações Internacionais na PUC

Minas. Meu primeiro contato com simulações foi no 13º MINIONU, como voluntária de

comitê, e uma participação foi o suficiente para me fazer encantada por esse projeto. Essa será

minha segunda participação como diretora assistente e espero que ela seja uma experiência

tão incrível e enriquecedora quanto as anteriores, além de que debates produtivos sejam

realizados em outubro. Estarei sempre à disposição dos senhores para auxiliá-los caso

qualquer dúvida surja durante a preparação para as discussões.‖

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2 APRESENTAÇÃO DO TEMA

2.1 A evolução da guerra e seus combatentes

Os rebeldes me pediram para entrar em seu exército, mas eu disse não. Então

eles mataram meu irmãozinho. Eu mudei de ideia.1

A humanidade tem um estranho hábito de não conseguir viver em paz. Desde seus

primórdios, disputas por comida, território, riquezas e poder têm sido recorrentes em nossa

história. De fato, podemos falar que nosso desenvolvimento atual deve-se, em larga medida,

às guerras travadas no passado (SINGER, 2006. p.3).

Mesmo assim, algumas regras pautaram os conflitos. Uma delas, e que é encontrada

desde o início dos conflitos entre humanos, é a diferenciação entre combatentes e não-

combatentes e os direitos e benefícios que cada grupo teria. Nesse sentido, uma espécie de

imunidade seria garantida aos não-combatentes, em especial, a alguns subgrupos desses:

crianças, idosos e mulheres. Nesse sentido, atingir civis deliberadamente tem sido

considerado um excesso de força e que, dessa maneira, não deveria ser empregado (SINGER,

2006. p. 4).

Contudo, nos conflitos atuais, fala-se que as regras da guerra têm sido suavizadas e,

com isso, os conflitos têm ganhado uma característica mais mórbida. Assim, os civis, antes

protegidos dos conflitos, passaram a serem os alvos principais desses. Exemplo claro são as

duas Grandes Guerras. Na Primeira Guerra Mundial, pouco mais de 10% das casualidades

envolviam civis. Na segunda, a taxa passou a mais de 50%. Atualmente, os conflitos étnicos

têm por objetivo principal eliminar aqueles que possuem características físicas diferentes;

assim, praticamente todos os mortos são civis. Somados os mortos dos conflitos no continente

africano, aproximadamente 92% das mortes são de civis. Conforme afirma o professor

Michael Klare, da universidade de Hampshire:

―As casualidades de civis em conflitos recentes nos força a repensar o

próprio conceito de guerra. No passado, ‗guerra‘ significava uma série de

encontros entre dois exércitos regulares com o propósito de conquistar

outros territórios, ou algum tipo de riqueza ou poder. Atualmente, os

1 Menino de sete anos forçado a lutar.

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conflitos são da seguinte maneira: a maioria ocorre dentro das fronteiras de

um determinado Estado, e envolve ataques realizados por grupos

paramilitares e forças não estatais que tem por objetivo roubar algum grupo,

ou promover a limpeza étnica de um grupo rival‖ (KLARE apud SINGER,

2006).2

2.2 As crianças-soldado da era moderna

Muito embora a Conferência da Cidade do Cabo tenha sido realizada em 1997 e tenha

feito recomendações para os países, nem todos vêm seguindo aquilo que se comprometeram,

qual seja: defender os direitos das crianças. Nesse sentido, vários conflitos tem a participação

ativa de crianças, inclusive conflitos que são empreendidos entre dois países, e não apenas

grupos paramilitares.

2.2.1 Crianças envolvidas em conflitos

As crianças estavam ativamente envolvidas em conflitos armados nas forças

governamentais ou grupos armados não-estatais em 19 países ou territórios entre abril de

2004 e outubro de 2007. Estes foram: Afeganistão, no Burundi, República Centro-Africano,

Chade, Colômbia, Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Índia, Indonésia,

Iraque, Israel e território palestino ocupado, Mianmar, Nepal, Filipinas, Somália, Sri Lanka,

Sudão, Tailândia e Uganda (CHILD SOLDIERS, 2007).

Os acordos de paz puseram fim aos conflitos internos na Indonésia em 2005 e no

Nepal, em 2006. Como resultado, o uso de crianças em hostilidades em ambas às situações,

cessou, embora as crianças-soldado associadas ao Partido Comunista do Nepal (maoísta) não

tenham sido formalmente desmobilizados (CHILD SOLDIERS, 2007).

2.2.2 Os governos que utilizam crianças soldados

2 Tradução nossa.

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O número de governos que usam crianças em conflitos armados diminuiu apenas

marginalmente - de 10 no período 2001-2004 para nove em 2004-2007.

Em Mianmar, os meninos com idade inferior a 18 anos continuaram a ser recrutados à

força para o exército e foram usados em combate ativo, bem como outros papéis, como o

apoio logístico. As crianças também fizeram parte direta das hostilidades nas forças armadas

do governo no Chade, República Democrática do Congo, Somália, Sudão e Uganda. Além

disso, houve relatos de que as forças armadas iemenitas usaram crianças em combates contra

uma milícia no início de 2007. As forças de defesa israelenses usaram crianças palestinianas

como escudos humanos em várias ocasiões. Um número de menores de 18 anos foi enviado

para o Iraque pelas forças armadas britânicas entre 2003 e 2005, embora a maioria tenha sido

retirada do teatro de guerra dentro de uma semana após a sua chegada (CHILD SOLDIERS,

2007).

Pelo menos 14 governos também recrutaram e, em alguns casos, utilizaram em

hostilidades, crianças em forças auxiliares, grupos de defesa civil ou de milícias e grupos

armados. Estes incluíram o Chade, Colômbia, Costa do Marfim, República Democrática do

Congo, Índia, Irã, Líbia, Myanmar, Peru, Filipinas, Sri Lanka, Sudão, Uganda e Zimbabwe.

No Burundi, Colômbia, República Democrática do Congo , Índia, Indonésia, Israel, Nepal e

Uganda crianças também foram usadas como espiões, mensageiros ou informantes (CHILD

SOLDIERS, 2007).

2.3 Os esforços da sociedade internacional

A Conferência da Cidade do Cabo, realizada em 1997, definiu alguns parâmetros para

a prevenção do recrutamento infantil, bem como as formas de se reintegrar as crianças que

foram utilizadas em conflitos. Os chamados princípios da Cidade do Cabo deverão ser o guia

dos debates, uma vez que a Conferência de Paris terá por objetivo adotar novos princípios,

além de pensar em formas de punir aqueles atores que se comprometeram a combater este

recrutamento e nada ou pouco fizeram para cumprí-lo.

Os princípios são de três tipos, a saber: prevenção do recrutamento infantil;

desmobilização de crianças soldado; e reintegração das crianças vítimas de conflitos.

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O documento aprovado na Conferência da Cidade do Cabo em 1997 lidava com três

grandes frentes: a prevenção; desmobilização e reintegração.

Na área da prevenção as definições básicas seriam a respeito da idade mínima de

recrutamento militar — 18 anos — bem como a criminalização de países que convoquem

menores de dezoito anos para seus exércitos. Além disso, delegou-se ao Tribunal Penal

Internacional (TPI) a criação de uma instância de arbitragem que possa lidar com esta

questão.3

Na desmobilização ficou definido que seria uma prioridade para todos os países

manter o conflito armado fora da realidade infantil, e que deveriam ser empreendidos esforços

conjuntos para que nenhuma criança seja vítima do recrutamento ilegal.

No que diz respeito à reintegração das crianças que por algum motivo fossem

cooptadas por grupos armados, oficiais ou não, o maior mecanismo adotado seria o DDR4.

Além disso, ficou evidente a importância de um ambiente familiar para a reabilitação das

crianças.

2.4 O recrutamento de crianças-soldado por grupos paramilitares

2.4.1 O que são grupos paramilitares

Grupos, ou forças, paramilitares (conhecidos também como: grupos armados não-

estatais e grupos armados de oposição) são associações civis que contam com estrutura

organizacional semelhante à militar e atuam em conjunto com um dos entes (estatais ou não-

estatais) em conflito, defendendo um ou mais objetivos ideológicos – políticos, partidários,

religiosos etc. Devido a esses fins podem se rotular sob os princípios de ―libertação‖;

―resistência‖; ―liberdade‖; ―terrorismo‖.

A existência deles pode ser permitida ou não pela Constituição dos Estados. Existem,

mesmo, aqueles patrocinados por governos para assessorar os grupos armados regulares.

Podem ser divididos conforme considerações como posição política; ideologia;

lideranças; composição estrutural; força bélica; domínio territorial; aliados; patrocinadores;

condução estratégica e tática; oponentes e capacidade de negociação.

3 Para maiores informações, ver Anexo NUMERO

4 Para maiores informações, ver próxima sessão.

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Movimentos de Libertação Nacional: se definem como defensores da população na luta contra

dominação colonial, ocupação internacional e regimes opressores, atuando na defesa da

autodeterminação, de forma que, há um aspecto de legitimidade em suas ações, já que esses

movimentos possuem personalidade jurídica internacional reconhecida. São exemplos: a

Organização para Libertação da Palestina, a Organização Popular do Sudoeste Africano, na

Namíbia, o Congresso Nacional Africano, na África do Sul e a Frente Nacional para

Libertação do Vietnã do Sul, atuante durante a Guerra do Vietnã.

Forças Armadas dissidentes ou faccionais: sob um comando central, controlam uma

parte de um território para impedir operações militares ou a implementação das decisões do 2º

Protocolo Adicional das Convenções de Genebra, de 1949, ―que incluem proteção específica

para crianças, incluindo proibição de recrutamento ou participação em hostilidades de

crianças menores de 15 anos‖ (WITHERS, 2007, p.3). São, normalmente, envolvidos em

conflitos de grandes proporções. Pode-se citar: a Frente de Libertação Islâmica Moro, nas

Filipinas.

Grupos guerrilheiros: usualmente, agem sob preceitos marxistas, baseando seu curso

de ação na situação de classes, tendo por objetivo alterar a norma vigente ou instituir

programas de governo socialistas radicais, como o Partido Maoísta Comunista do Nepal. Nos

últimos anos, tem havido a tendência a se envolverem com movimentos de tráfico de drogas,

animais, armas e pessoas. Nesse ultimo caso, tem-se como exemplo as FARC (Forças

Armadas Revolucionárias da Colômbia).

Movimentos separatistas ou autonomistas: baseados em divergências étnicas, na busca

por autonomia (e transição) política nacional e territorial. São os de natureza mais prática e

facilmente identificável, como os grupos chechenos de insurgência.

Outros grupos armados organizados: envolvidos em conflitos de pequenas proporções e baixa

intensidade. Comumente, não possuem um comando central, não conseguindo, portanto ter

expressivo controle sobre áreas territoriais.

Grupos terroristas: de conceituação complexa e problemática devido à agregação de

valor pejorativo e, possivelmente, preconceituoso. Está presente em classificações dos

Departamentos de Estado dos Estados Unidos e de Estados da União Européia, embora não

exista consenso, quanto a uma definição legal para ―terrorismo‖; podendo ser aplicado a

grupos internos ou internacionais.

Devido a um crescimento em importância de conflitos transnacionais (aqueles que não

se dão apenas entre Estados), o recrutamento de crianças-soldado por grupos paramilitares

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tem-se tornado um tema mais reconhecido e debatido na agenda internacional desde o início

da década de 1990.

O Estatuto de Roma da Corte Internacional de Justiça (1998), determinou que o uso

de crianças abaixo de 15 anos em conflitos armados é crime de guerra. O Protocolo Opcional

(ou Facultativo, variando conforme a tradução) da Convenção dos Direitos da Criança, de

2002, tornou, para seus signatários, 18 anos a idade mínima para serviço militar. Porém, nem

todos os países que haviam assinado o Estatuto de Roma ratificaram esse Protocolo, tornando

mais difícil a tomada de medidas em âmbito internacional, principalmente no que concernem

os grupos paramilitares.

Embora seja difícil comprovar e estimar de forma exata, uma vez que tais grupos não

liberam informações sobre seus contingentes, há evidências, conforme listagem do

Representante Especial do Secretário Geral da ONU para o assunto, de uso corrente de

crianças como soldados por grupos não-estatais nos países apresentados no Anexo A.

2.4.2 Como os Estados lidam com os grupos paramilitares

Embora o Estado possa estabelecer acordos legais (como negociações de cessar-fogo)

com tais grupos, sua possibilidade é mínima, devido à própria natureza dessas forças.

A própria legislação do país é um fator que pode impedir o combate a esses grupos.

Conforme visto, em alguns países permanece legal recrutar crianças abaixo de 18 anos para as

Forças Armadas. A lista de países que, de alguma maneira (como voluntários, cadetes,

aprendizes, com a permissão dos pais, de forma obrigatória ou em tempos de guerra),

possuem menores de 18 anos em seus quadros militares é longa e pode ser vista no Anexo B.

Deve ficar claro que, legalmente, um Estado pode tentar proibir e penalizar o

recrutamento de menores por outros grupos armados, mas tais medidas são mais complicadas

de serem postas em prática para os não-signatários do Protocolo Opcional, o principal

instrumento legal internacional sobre crianças-soldado. Nesses Estados, os grupos

paramilitares só podem ser penalizados se recrutarem crianças abaixo de 15 anos.

Alguns Estados, com ou sem grupos paramilitares em seus territórios, se engajam no

tema de forma mais intensa que outros essencialmente ao ratificar o Protocolo Opcional e

mudar as normas vigentes em suas Forças Armadas visando garantir mais respeito às crianças.

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Nessa situação, podem ser citados: Eslováquia, Eslovênia, Suíça, Espanha, Jordânia, Japão,

Iraque, Camboja (único Estado do Sudeste Asiático a ratificar o Protocolo Opcional) e outros,

que mudaram suas regras sobre o recrutamento a partir 2001 até o último Relatório Global no

assunto.

Outros países, por negligência ou falta de oportunidades e recursos, não são bem-

sucedidos nas medidas para evitar o recrutamento e a utilização de crianças-soldado pelas

forças não-estatais. Nessa posição está, entre outros: a Colômbia, que alega respeitar os

mecanismos internacionais no que se refere ao recrutamento legal em suas Forças Armadas,

não tendo muito a fazer para evitar o uso de crianças pelas FARC principalmente, uma vez

que, essa não é uma organização que responda às solicitações e medidas do Estado

colombiano. Outro caso é o da República Democrática do Congo, cujo líder rebelde, Thomas

Lubanga, está no banco dos réus do Tribunal Penal Internacional por ser conivente com o

recrutamento de menores de 15 anos (WAR CHILD, 2007, p.11).

No outro extremo, estão os Estados que optam por não seguir qualquer norma

internacional sobre o tema, como a Guiana, onde a idade mínima para entrar no contingente

operacional é de 14 anos; e o Paraguai, que ainda não possui sequer uma idade mínima

estabelecida. Há, ainda, aqueles que não emitem informações oficiais sobre sua legislação no

assunto, como a Somália – o que dificulta sobremaneira o reconhecimento da existência e

situação das crianças-soldado, seja nas Forças legais, seja em grupos armados não-oficiais.

Um caso emblemático é dos Estados Unidos. A maior potência militar do mundo não

aceitou assinar o Protocolo Opcional de 2002, mantendo possível a presença de crianças entre

15 e 18 anos nas suas Forças Armadas, o que gerou, e ainda gera, polêmicas e acusações de

incoerência.

A estrutura irregular e o comportamento imprevisível dos grupos armados não-estatais

significa que o relacionamento com eles não é fácil, uma vez que suas atitudes têm impacto

direto na proteção e na segurança das crianças.

Infere-se, logo, que a ausência de Estado ativo, em suas responsabilidades de prover

um ambiente seguro e saudável para as crianças, pode agravar a situação de recrutamento das

crianças-soldado.

As crianças se envolvem em conflitos pelos mais variados motivos. Pobreza,

discriminação, ausência de esperança de um futuro melhor e promissor, falta de uma base

educacional, baixo acesso a recursos de saúde e, mesmo, à alimentação. A maioria dos

menores provém de famílias desmembradas e que vivem à margem da sociedade, como

crianças abandonadas, órfãs, prostituídas, escravas ou refugiadas.

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2.4.4 Como os grupos paramilitares recrutam crianças

Diversas são as maneiras através das quais os grupos paramilitares recrutam crianças

para seus quadros. As crianças podem ser forçadas a integrarem o grupo devido a ameaças à

sua vida e à vida de seus familiares. Ou mesmo, podem ser esperadas fora de suas escolas,

pegas na ruas ou sequestradas de muitas outras formas. Algumas vezes, uma cidade sitiada

por um grupo rebelde pode obrigar a cessão de uma determinada quantidade das crianças da

comunidade. A pressão e a violência é tanta que recusar não é uma opção, pois, quase sempre,

significa morte.

Outro meio de conseguir crianças para o contingente é através da própria vontade

delas. O alistamento voluntário se dá devido à falta de perspectivas para o futuro; a um

histórico de abusos e de assassinatos na família; ou, à existência de um conflito prévio.

As crianças, muitas vezes, não sabem o que estão fazendo ao certo. Elas recebem

promessas de salário, alimentação, roupas, educação, proteção, status, poder, respeito e de

uma vida digna. Entretanto, são regularmente expostas ao frio, fome, doenças, coerção e

violência. Há, ainda, aquelas (principalmente as meninas) expostas a abusos sexuais. Eles,

além de pegarem em armas, são transformados em trabalhadores, cozinheiros, mensageiros e

espiões.

Após o ingresso num grupo paramilitar, as crianças, sob efeitos de drogas (para que se

tornem insensíveis), se tornam assassinos cruéis em prol de causas que nem entendem ou

reconhecem. Elas são obrigadas a cometer abusos entre si, violações e assassinatos a civis e

soldado inimigos. Outras, são obrigadas a matar membros de suas próprias famílias; decapitar

e amputar vítimas; queimar civis vivos. Para encorajá-los, a tortura é utilizada barbaramente.

Essa brutalidade fica marcada para toda a vida, não só fisicamente (deficiências

permanentes, amputações), mas psicologicamente (traumas, síndrome do pânico, fobias etc.)

como denunciam a Anistia Internacional e o Human Rights Watch, organizações muito

importantes na luta contra tal situação.

Ao contrário do que esperavam os menores, a participação num grupo armado destrói

ainda mais suas vidas: os mantém sem instrução escolar; impede acesso aos serviços básicos

de saúde; aumenta a pobreza, a desnutrição e as doenças. Além de testemunharem atrocidades

e crimes de guerra, os menores são, quase sempre, separados de suas famílias e casas de

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forma brutal e irreversível. São, ainda, as maiores vítimas de minas terrestres nos campos de

batalha.

Crianças são usadas como soldados porque são mais obedientes, fazem menos

perguntas, aprendem rápido, agregam menos custo de ―manutenção‖, e, o que é pior, se

envolvem emocionalmente, favorecendo a dedicação à ―nova família‖. As novas gerações de

armas leves permite seu uso por crianças sem perda de eficiência. Seu recrutamento também é

favorecido pois, imagina-se que, lutando contra um oponente que não utilize crianças-

soldado, esse se sensibilizará e evitará matá-las – tornando-se, assim, um alvo fácil, muitas

vezes para as próprias crianças.

2.4.5 Contagem, denúncia e retirada de crianças do jugo de grupos paramilitares

Grupos paramilitares normalmente negam a existência de crianças em seus quadros,

mesmo quando existem evidências do contrário. Justificativas para o uso também são dadas,

como: o não-impedimento jurídico das crianças se voluntariarem; a incerteza corrente quanto

à idade do recruta; condições de saúde, proteção e alimentação melhores do que as que o

Estado oferta; o fato de as crianças estarem apenas acompanhando membros de suas famílias;

e outras.

A compreensão dos motivos que levam um grupo paramilitar a utilizar crianças-

soldado, embora não seja fácil, ou mesmo rápida e definitiva, é útil para desenvolver

mecanismos efetivos de proteção e recuperação delas, e pode se dar através do trabalho de

campo de agências estatais ou de organizações não-governamentais (ONGs) nacionais e

internacionais. A aproximação e o engajamento inclui o diálogo, intermediações, campanhas

de conscientização e negociações, de forma direta ou não, a depender das circunstâncias,

necessidades e possibilidades da situação em particular. Resoluções devem ser tomadas para

que as próprias crianças possam falar e ser ouvidas.

A ação de ONGs funciona através da pressão sobre governos, e em menor proporção

sobre os próprios grupos não-estatais, para que haja maior respeito aos Direitos Humanos. As

denúncias geram publicidade e agregam organismos (governamentais, diplomáticos, civis) à

pressão para a mudança da situação. Algumas dessas organizações já obtiveram êxitos, como

a iniciativa Coalizão Contra Uso de Crianças-Soldado, no Paraguai, que colheu promessas do

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governo de estabelecer a idade de recrutamento para 18 anos e endurecer a vigilância sobre os

grupos paramilitares; e a aproximação da UNICEF com a AUC (Autodefesas Unidas da

Colômbia) e o ELN (Exército de Libertação Nacional), que gerou promessas de redução e

suspensão do alistamento de menores, ainda que não cumpridas.

Na relação com um grupo não-estatal deve-se considerar o apoio (ou oposição) da

sociedade civil a suas ações, o domínio sobre áreas territoriais, o impacto gerado na sociedade

e a permissividade da Constituição local. Analisá-los em vários aspectos é útil, uma vez que,

o grupo mais forte política e militarmente pode não ter relevância em outros âmbitos.

Ademais, o grupo mais ideologicamente débil pode ser o maior agressor dos Direitos

Humanos. O Secretário Geral da ONU resume de forma sensata a situação:

―[...] no mundo atual, as partes em conflito não conseguem operar como

ilhas isoladas em si próprias. A viabilidade e o sucesso de seus projetos

militares e políticos depende das redes de cooperação e aceitação que as

ligam ao resto do mundo, à sua vizinhança e à comunidade internacional.

Existem, consequentemente, fatores poderosos que podem influenciar as

partes em conflito: a força da opinião pública nacional e internacional; o

desejo por aceitação e legitimidade nos níveis nacional e internacional;

responsabilidade e representação quanto à Corte Internacional de Justiça e

tribunais ad hoc; restrições quanto ao envio de provisões externas de armas,

financiamentos e trafico ilegal de recursos naturais; a crescente força e

vigilância das sociedades civis; e exposição midiática.‖ (tradução livre).

(UNITED NATIONS GENERAL ASSEMBLY, 2005, para. 77).

Contudo, assegurar a responsabilidade de uma força não-estatal frente a violações dos

Direitos Humanos é complexo, pois tais mecanismos foram desenvolvidos para lidar apenas

com atores estatais. Outro ponto crucial é o fato de que muitas dessas forças são ativas não em

conflitos interestatais, mas em lutas intra-estatais, o que minimiza a aplicação de Leis

Humanitárias Internacionais, principalmente porque, esses grupos não são signatários delas.

Há, entretanto, nos princípios da Convenção de Genebra, mecanismos que permitem

os Estados signatários levarem a julgamento internacional qualquer grupo não-estatal

(independente da nacionalidade ou cidadania dos seus membros) que deve ser avaliado,

principalmente, conforme o comando responsável: se os principais violadores são

identificáveis; o exercício de controle territorial: se há área(s) de domínio do grupo.

Sob responsabilidade do Tribunal Penal Internacional, eles são, então, julgados

segundo: i) crimes de guerra: desrespeitos às Leis Humanitárias, como o recrutamento

forçado de crianças; ii) crimes contra a humanidade: violações de grandes proporções dos

Direitos Humanos, como torturas e crimes bárbaros, destruição sistemática de propriedades de

uma comunidade e ataques a indefesos (principalmente, deficientes, idosos e crianças); iii)

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genocídio: assassinato sistemático baseado em critérios étnicos, essencialmente; iv) crimes de

agressão: sem conceituação concreta, próximos ao conceito do senso-comum de

―terrorismo‖.

Além desses mecanismos, outros podem ser criados, como o Acordo Compreensivo

em Respeito aos Direitos Humanos e Lei Humanitária Internacional (CARHRIHL, na sigla

em inglês), de 1998, sob o qual as partes em conflito concordam em respeitar os Direitos

Humanos, sendo auxiliados por um terceiro ator, imparcial, que pode ser a ONU, uma ONG,

os representantes de uma religião ou outro país. Sob esse preceito, o governo norueguês

mediou conflitos na região de Aceh, Filipinas.

Por fim, é importante acrescentar que fatores exógenos alteram as formas de relação

entre ONGs, Estados e grupos paramilitares, como, por exemplo, a ―Guerra ao Terror‖ que

devido a taxações ideologizadas (e, logo, muitas vezes errôneas) de muitos grupos atrapalhou

negociações com os mesmos.

2.5 A definição do conceito de maioridade

"Nós nos sentíamos diferentes pelo modo como as outras crianças nos olhavam; parecia que

não havíamos nascido neste lugar. Eles nos viam como se tivéssemos vindo de outras terras.”

15 anos, Menino de Uganda

“Eu disse aos adultos: „Eu não quero entrar no exército. Eu vim para estudar. ‟ Eles

disseram, 'Não se preocupe. Juntar-se ao exército e ir para a escola é a mesma coisa. ‟ "

- Aung Kyaw, recrutado aos doze anos.

Segundo o Global Report (2008, p. 411),

Criança: Uma criança é qualquer pessoa com menos de 18 anos de idade. Isto

é consistente com a Convenção sobre os Direitos da Criança (artigo 1º), a carta Africana

sobre os Direitos e Bem-Estar da Criança (artigo 2). A Coalizão também se refere a "menores

de 18 anos" neste relatório, em geral, quando se referem às crianças com idades entre 15 e 18.

Criança soldado: Enquanto não há definição precisa, a Coligação considera uma

criança soldado como qualquer pessoa com idade inferior a 18 anos que é membro ou está

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ligado às forças armadas do governo ou à qualquer força regular ou irregular. Crianças

soldado executam uma variedade de tarefas incluindo: a participação nos combates, colocação

de minas e explosivos, espionagem, agindo como chamariz, correios ou guardas; formação,

broca ou outras preparações, logística e funções de apoio, carregadores, cozinha e trabalho

doméstico. As crianças soldado também podem ser submetidas à escravidão sexual ou outras

formas de abuso sexual.

2.5.1 A Questão da Maioridade

De acordo com a Convenção sobre os Direitos das Crianças (1989), uma criança é

definida como toda e qualquer pessoa com menos de dezoito anos de idade, a menos que as

leis estabelecidas pelo país legalizem a idade adulta mais cedo (Artigo 1). Por falta de

maturidade física e intelectual, necessitam de cuidados e proteção especial (Artigo 4). Os

governos devem fazer de tudo para proteger crianças afetadas pela guerra. Crianças menores

de quinze anos não devem ser forçadas ou recrutadas para participar em hostilidades ou entrar

nas forças armadas (Artigo 38) 5.

Porém, ao analisar a situação das crianças soldado, percebe-se que a realidade é outra.

Muitas dessas crianças entram em contato com conflitos e hostilidades muito novas. Segundo

a Human Rights Watch, a idade média dessas crianças é de 13 a 17 anos, mas algumas são tão

novas que sequer sabem a sua idade. Um menino de Serra Leoa, que acreditava ter 7 ou 8

anos, relatou ―Nós só lutávamos. Nós não sabíamos a nossa idade‖ 6. Jo Becker, responsável

pela Human Rights Watch, acredita que por serem mais vulneráveis e facilmente intimidadas,

as crianças se tornam soldados muito obedientes.

O recrutamento nem sempre é a única opção. Algumas crianças se juntam aos grupos

armados voluntariamente por não possuírem recursos para se sustentar ou sustentar a sua

família. Outras delas vêem nos grupos armados, uma chance maior de sobrevivência.

Contrariando princípios básicos de Direitos Humanos para a Proteção das Crianças, as

forças militares governamentais vêem as crianças soldado como adversários de guerra e não

como vítimas de tortura e maus-tratos, que demandam ajuda e assistência para se

reintegrarem. Algumas crianças são detidas por fazerem parte, por deserção ou por outros

5 Mais tarde, em 2003, o protocolo opcional, ratificado por 120 estados, estabeleceu a idade mínima para a

participação nos conflitos e recrutamento obrigatório em 18 anos. 6 ―Child Soldiers,‖ Radio Netherlands, January 21 2000,

www2.rnw.nl/rnw/en/features/humanrights/childsoldiers.html.

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crimes militares, praticados enquanto estavam nos grupos armados. Em alguns casos, as

forças militares negligenciam suas obrigações assistenciais na recuperação das crianças

soldado e utilizam-se das crianças capturadas para serviços de espionagem e informações,

expondo-as a riscos de represálias. Mesmo assim, essa prática é adotada por grupos armados

no Burundi, Colômbia, República Democrática do Congo, Índia, Indonésia, Israel, Nepal e

Uganda (CHILD SOLDIERS, 2007).

Dos 120 estados que ratificaram o Protocolo Opcional, quase dois terços se

comprometeram em suas declarações, a estabelecer a idade mínima de alistamento obrigatório

e voluntário para 18 anos ou mais. Desde 2004 alguns países mudaram a idade mínima de

alistamento voluntário para 18 anos. Entre eles estão Chile, Itália, Maldivas, Jordânia, Serra

Leoa, Eslovênia e Coréia do Sul. No entanto, alguns estados vêem a necessidade de

alistamento acima dos direitos das crianças e continuam a instruir jovens de 16 e 17 anos para

o alistamento voluntário. As forças armadas da Nova Zelândia, Reino Unido e Austrália se

mostram resistentes à diminuição da idade voluntária, alegando a dificuldade da

disponibilidade de recrutas acima dos 18 anos.

Ao se voluntariarem, os jovens devem apresentar, além do consentimento dos pais ou

responsáveis, um registro de nascimento que comprove às autoridades, a idade superior aos

18 anos. Registros de nascimento são um direito de todas as crianças e é a primeira de muitas

medidas essenciais que o Estado deve tomar para tentar construir uma estrutura de proteção

em torno delas. Durante a guerra, ou em países com níveis acentuados de pobreza7 os

registros de nascimento prevalecem baixos. Exemplos desta situação acontecem em países

como Bangladesh, Botsuana, Etiópia, Guatemala, Guiné, Índia, Quênia e Zâmbia. No

Paraguai, a falta de procedimentos de registro de nascimento tem facilitado o recrutamento

forçado de crianças a partir dos 12 anos de idade (CHILD SOLDIERS, 2007).

Para tratar das crianças e das ações cometidas contra as mesmas durante hostilidades,

foram criadas as Comissões da Verdade. Além de cuidar destes assuntos, as Comissões da

Verdade também focam nas causas e consequências dos abusos sofridos pelas crianças

soldado, em alguns casos chegam a recomendar reformas e medidas sócio-econômicas

destinadas a reparar os danos.

―A Comissão de Verdade e Reconciliação de Serra Leoa foi, no entanto, a primeira

com um mandato explícito que prestava "atenção especial" para as experiências das

7 Precisamente aqueles países onde as crianças correm maior risco de recrutamento e utilização pelas

forças armadas.

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crianças durante o conflito e, a primeira na qual as crianças participaram. Seu

relatório final, divulgado em outubro de 2004, testemunhou a legião de falhas

jurídicas, institucionais e políticas e dirigiu um holofote sobre onde os esforços de

reforma que deveriam ser focados.‖ (COALITION TO STOP THE USE OF CHILD

SOLDIERS, 2008, p. 34).

Porém, deve-se ter plena consciência de que alguns esforços devem ser feitos para que

as preocupações sejam abordadas e para que sejam asseguradas as vozes das crianças soldado.

A responsabilização das crianças-soldado permanece um assunto muito controverso.

Embora o Tribunal Penal Internacional (TPI) não tenha jurisdição sobre menores de 18 anos e

outros tribunais internacionais optaram por não aplicá-la, ―a pergunta que permanece é se as

crianças devem geralmente ser isentos de prestar contas pelas violações dos direitos humanos

cometidas na sua qualidade de membros de uma força armada ou grupo‖ (COALITION TO

STOP THE USE OF CHILD SOLDIERS, 2008, p. 36). A Comissão da Verdade da Serra

Leoa tratou todas as crianças igualmente, como vítimas de guerra, mas também examinou a

"dupla identidade" das crianças soldado, como vítimas e agressores. A Comissão alegou que

seu objetivo não era explorar a culpa das crianças, mas compreender o porquê das violações

das regras, quais seus motivos e suas capacidades de entenderem suas ações (CHILD

SOLDIERS, 2007).

Proteger os direitos das crianças soldado em processos de justiça e melhorar suas

chances de reintegração exigem a questão da responsabilidade criminal. ―Uma clara distinção

deve ser traçada entre a exploração da prestação de contas e a busca da agenda de segurança

nacional, que ignoram os padrões de justiça juvenil e os melhores interesses da criança‖

(COALITION TO STOP THE USE OF CHILD SOLDIERS, 2008, p.38). O quadro para a

discussão de responsabilidade e medidas cabíveis já existe nas normas internacionais em

matéria de justiça juvenil, com sua ênfase sobre os objetivos de reabilitação e de justiça

restaurativa. Além disso, a experiência de ex-crianças soldado, incluindo aqueles que

participaram como vítimas, autores ou ambos, nos processos de justiça judicial, extrajudicial

ou tradicional, deve informar os debates. Os pontos de vista das vítimas também devem ser

levados em conta.

2.6 O programa DDR e suas fraquezas

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2.6.1 Conceito

Todos os processos relacionados com conflitos armados precisam passar por um

estágio final, no qual uma vez que os acordos de paz tenham sido assinados, os combatentes

entregam armas e são reintegrados à vida civil. Esse estágio complexo é conhecido como

DDR, sigla que significa Desarmamento, Desmobilização e Reintegração. Por vezes

também é referido como DDRRR, quando adicionados os conceitos de Repatriamento e

Reabilitação.

Para que seja bem sucedido, o DDR não pode significar despolitização,

marginalização, subordinação ou humilhação. Pelo contrário, deve ser um processo que

dignifique as pessoas assistidas, uma vez que elas entregam suas armas voluntariamente,

resultado de negociações e acordo.

O DDR constitui um processo em si mesmo. Não é possível proceder apenas uma

parte dele (desarmamento, por exemplo), se esse não é acompanhado de um planejamento

adequado com relação aos componentes e às fases do Programa. Além disso, o DDR faz parte

de um contexto maior de compromissos negociados no processo pacificador (justiça, reforma

do sistema político, transformações nas Forças Armadas, eleições,etc.). O DDR deve ser

sempre resultado de um acordo político consensual, não podendo ser resultado de imposição,

apesar de ser passível de ser induzido através de incentivos.

O DDR para ex-combatentes é um processo complexo que envolve fatores políticos,

militares, humanitários, socioeconômicos e de segurança. O estabelecimento desse Programa

tende a ocorrer em contextos de pós-conflito e a importância dos fatores envolvidos devem

ser considerados. Assim, alguns fatores geralmente associados com o Programa são fraqueza

institucional, transição política, fragilidade democrática, problemas de segurança, destruição

de infra-estrutura e dependência econômica internacional.

Independente do caso, o Programa DDR representa uma oportunidade de construção

de um ambiente seguro, constituindo um dos mais importantes fatores para o alcance de

estabilidade e construção da paz, uma vez que tende a ocorrer em momento crucial como a

transição entre o conflito armado e seu fim. Por paz entende-se não apenas o fim da violência

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direta — paz negativa, mas também o tratamento profundo das causas que originaram o

conflito armado (paz positiva).8

Além disso, a própria natureza desses programas pode transformar antigos

combatentes em participantes ativos no desenvolvimento social e econômico do local onde se

encontram.

2.6.2 Principais Objetivos do DDR

Contribuir para aperfeiçoamento da segurança e estabilidade política do país. Por essa

razão, o DDR deve ser iniciado assim que possível depois da assinatura de acordos de paz.

Restabelecer as condições que permitam a reintegração de participantes armados ou

facções em conflito.

Contribuir para a reconciliação nacional. Para atender a população civil, além dos antigos

combatentes, ferramentas como as medidas de Justiça de Transição9 têm sido tomadas.

Disponibilizar recursos humanos e financeiros, para reconstrução e desenvolvimento pós-

guerra.

Segundo o PNUD , Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o

Programa DDR é um fator primordial na reabilitação e estratégia de desenvolvimento em

contextos de pós-guerra. Assim, deve ser integrado a uma estrutura muito maior de

recuperação, coordenado a outros tipos de medidas, a saber:

Lidar com violações de direitos humanos;

Reconstruir e reformar as forças de segurança;

Contribuir para a segurança pública;

Dar suporte para o bom andamento das eleições, garantir independência judicial e

promoção da lei;

Promover a paz e iniciativas de reconciliação, tanto em nível local quanto em nível

nacional;

Atender as demandas de refugiados10

e deslocados internos11

e grupos vulneráveis;

8 Fim do conflito e da violência diretos, mas sem alcançar o motivo causador da violência. Adaptado de Peter

Singer, 2006. 9 Conjunto de abordagens, mecanismos (judiciais e não judiciais) e estratégias para enfrentar o legado de

violência em massa do passado, para atribuir responsabilidades, para exigir a efetividade do direito à memória e

à verdade, para fortalecer as instituições com valores democráticos e garantir a não repetição das atrocidades

(Conforme documento produzido pelo Conselho de Segurança da ONU - UN Security Council- The rule of law

and transitional justice in conflict and post-conflict societies. Report Secretary-General , S/2004/616.

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Garantir real desenvolvimento humano.

2.6.3 Estrutura do DDR

2.6.3.1 Precedentes

Em todos os contextos onde os Programas DDR estão sendo executados existem

precedentes de processos similares. Experiências prévias trazem consigo uma série de lições,

seja por já ter ocorrido algumas fases do Programa ou pela presença de um programa piloto.

2.6.3.2 Duração do Programa

Em geral, o Programa DDR tem duração média de três anos e meio. Se considerado

por fases, o tempo ideal para a fase de desarmamento e desmobilização é de poucos meses e o

tempo ideal para a fase de reabilitação e reintegração é de dois anos.

2.6.3.3 Fases do Programa

Desarmamento e Desmobilização: é a primeira fase do programa e é condição

essencial para a fase de reabilitação e reintegração. Em um período de poucos dias, os

combatentes são reunidos em locais específicos para que possam entregar suas armas, serem

identificados, receberem certificado de desmobilização e serem inscritos para a participação

10

A Convenção de Refugiados de 1951, que estabeleceu o ACNUR, determina que um refugiado é alguém que

―temendo ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou

opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não

quer valer-se da proteção desse país‖ 11

IDPs: Internally Displaced People -Os deslocados internos, pessoas deslocadas dentro de seu próprio país,

muitas vezes são erroneamente chamadas de refugiadas. Ao contrário dos refugiados, os deslocados internos

(IPDs em seu acrônimo inglês) não atravessaram uma fronteira internacional para encontrar segurança mas

permaneceram em seu país natal. Mesmo se fugiram por razões semelhantes às dos refugiados (conflito armado,

violência generalizada, violações de direitos humanos), legalmente os deslocados internos permanecem sob a

proteção de seu próprio governo, ainda que este governo possa ser a causa da fuga. Como cidadãos, elas mantêm

todos os seus direitos e são protegidos pelo direito dos direitos humanos e o direito internacional humanitário

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nas próximas fases do Programa. Em alguns casos mais raros, quando não relativo à DDRs

convencionais, a entrega das armas é voluntária e individual, não resultante de acordo que

envolva todos os membros de grupos armados. Nesses casos o governo pode iniciar um

programa de desarmamento forçado. Na República Centro-Africana, República Democrática

do Congo e Somália, a entrega voluntária de armamento foi um programa piloto para o

subseqüente início de um DDR normalizado. Quanto ao recolhimento das armas, na maioria

das vezes elas ficam sob custódia das Forças Armadas ou da polícia e em alguns países como

na Costa do Marfim, as armas são destruídas em cerimônias públicas preenchidas por

simbolismo. No caso de coleta voluntária, governos tendem a dar incentivos para a entrega de

armamentos, como ajuda para retorno ao mercado de trabalho. Programas educacionais e

micro-crédito. Com relação a desmobilização, em várias ocasiões o número de combatentes a

ser desmobilizado é desconhecido, por falta de planejamento, exagero do número de

combatentes para obtenção de maior lucro. Também há o fenômeno nos ―combatentes

fantasmas‖, indivíduos que não eram combatentes, mas que se inscrevem no Programa pelo

interesse nos benefícios oferecidos.

Reabilitação e Reintegração: essa fase pode ser subdividida em duas, apesar de que

em vários países ocorre combinada. Após a desmobilização, os combatentes ficam sem sua

fonte normal de renda e meio de sobrevivência. Como parte de grupos vulneráveis, indivíduos

desmobilizados não possuem as ferramentas necessárias para se reintegrarem à vida social e

econômica. Durante a fase de reabilitação os ex-combatentes e suas famílias recebem meios

necessários para viver de maneira digna, tendo suas necessidades básicas cobertas. Isso

significa o retorno à suas comunidades nos primeiros meses depois da entrega das armas. Em

alguns países, eles recebem uma ajuda financeira inicial, kit de sobrevivência e meio de

transporte. A fase seguinte é a reintegração, que tem por objetivo tentar prover os ex-

combatentes com meios sustentáveis de sobrevivência, bem como assistência médica, social,

econômica, educacional e ocupacional.

2.6.3.4 Início do Programa

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De maneira geral, os Programas DDR são compromissos feito por partes conflitantes

durante a assinatura de acordos de paz ou através de acordos feitos logo após a assinatura de

acordos. Entretanto, leva vários meses até que eles sejam realmente implementados (em

média, um ano) tanto pela falta de planejamento necessário, quanto pelo fato de que os

organismos encarregados de administrar o programa e o mínimo financiamento ainda não

existem.

2.6.3.5 Princípios básicos

É evidente que a desmobilização e reintegração de ex-combatentes são em si mesmos

objetivos principais a serem alcançados. Entretanto, em alguns casos, outros princípios

básicos são estabelecidos, com os quais é necessário estar comprometido com o resultado do

processo: a redução de gastos militares, a reforma das forças armadas e o recolhimento de

armamento leve. Além disso, alguns programas dão maior ênfase na desmobilização de ex-

combatentes enquanto em outros países de contextos diferentes, a reintegração recebe maior

destaque, a fim de estimular o processo de transição e reconciliação.

2.6.3.6 Presença internacional

Em alguns países como o Haiti, Sudão, Serra Leoa e Libéria, ocorre a presença de

missões de paz da Organização das Nações Unidas. Além disso, há também cooperação com

agências da ONU. Entre elas está a PNUD, UNICEF, WFO (World Food Programme), OIT

(Organização Internacional do Trabalho), OIM (Organização Internacional de Migração).

2.6.3.7 Tipos de DDR

De acordo com os elementos reunidos e considerados em um DDR, ele passa a possuir

um nível maior ou menor de complexidade. Um programa menos complexo seria um que foca

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em apenas um grupo armado que chegou a um acordo com o governo de um país.Alguns

exemplos de fatores que tornam o programa mais complexo: aumento do número de grupos

armados envolvidos, aumento do número de beneficiário, divergências internas nos grupos

entre os comandantes e os comandados, presença de crianças-soldado, etc. É imprescindível

que no planejamento inicial todos os elementos que irão intervir ou influenciar no processo

sejam considerados. Incluindo questões logísticas, institucionais, culturais, políticas, sociais,

psicológicas, militares, de gênero e de natureza interna e externa.

2.6.3.8 Organismos gerenciadores e financiadores

Na grande maioria dos casos, opta-se pela criação de uma Comissão Nacional para o

DDR (National DDR Comission – NDDRC) com o componente militar predominante, tanto

porque a Comissão é coordenada pelo Ministério da Defesa, quanto por haver uma

Subcomissão da mesa natureza. Outras características principais desses organismos são o

apoio internacional que eles recebem de diversos órgãos (UNDP, Banco Mundial), o

estabelecimento de vários escritórios regionais e o arranjo em diversos departamentos para a

melhor distribuição de tarefas e responsabilidades: desarmamento e desmobilização, crianças-

soldado e grupos vulneráveis, informação e conscientização, monitoramento e avaliação,

reabilitação e reintegração, etc. O Banco Mundial é o organismo que concentra o maior

investimento em Programas DDR (acima de $200 mi), seguido pela União Européia ( $10

mi). O Japão é o país que mais colabora (acima de $200 mi) e alguns outros países

contribuem com valores entre $50 e $200mi, como Estados Unidos, Holanda, Canadá e Reino

Unido.

2.6.3.9 Grupos mais vulneráveis

Durante o processo de desmobilização de ex-combatentes, é importante diferenciar

grupos que, por natureza , possuem necessidades diversas e demandam tipos diferenciados de

intervenção.Alguns deles são crianças-soldado, mulheres e soldados desabilitados. Um dos

fatores que alteram o curso do Programa é quando um requisito para a aceitação de indivíduos

em um Programa DDR é a posse de arma, quesito que pode excluir vários grupos. Esse dado é

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preocupante particularmente para os grupos mais vulneráveis, especialmente no que diz

respeito à fase de reabilitação.

Crianças-soldado: Pouca atenção tem sido dirigida à desmobilização de crianças-soldado,

apesar da experiência brutal e do trauma que o envolvimento direto com um conflito armado

acarreta, como afirmado pelo próprio Secretário Geral das Nações Unidas. O início de

Programas DDR para crianças-soldado está geralmente subordinado a projetos liderados pelo

UNICEF. Existe um trabalho de reconciliação a ser feito com a comunidade e famílias que

receberão essas crianças, por meio de comitês de reintegração, agências de recuperação

familiares, campanhas de conscientização das famílias para a prevenção de novos

recrutamentos, de importância equivalente à desmobilização em si.

3 POSIÇÃO DOS ATORES

Devido ao grande número de representações que tomarão parte em nossa Conferência,

optamos por disponibilizar dossiês contendo as informações acerca do posicionamento de

cada ator por meio de nosso blog. Em cada Dossiê, poderão ser encontradas informações mais

específicas sobre cada representação, tais como suas ações internacionais quanto ao uso de

crianças-soldado, sua legislação acerca do assunto, quais tratados internacionais ratificou, etc.

Diversos dossiês já foram publicados, confira nosso blog periodicamente para mais

informações: http://minionu15anoscpar2007.wordpress.com/

4 QUESTÕES RELEVANTES NAS DISCUSSÕES

Para que o comitê possa ser considerado bem sucedido, e para que a luta para garantir os

direitos básicos das crianças possa continuar, algumas questões devem ser respondidas. São

elas:

1. Quais ações os países devem adotar internamente para que possam impedir que

crianças sejam alistadas?

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2. Deve ser criada algum tipo de legislação/norma internacional que lide com essa

questão?

3. Deve existir alguma coordenação internacional entre os Estados, as agências

internacionais e as ONGs?

4. Alguma punição deve ser aplicada caso algum Estado não esteja em conformidade

com os acordos desta conferência?

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REFERÊNCIAS

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the involvement of children in armed conflict. Chateau de Bossey: 2006.

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ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO. Dicionário de Direitos

Humanos. Brasília, 2006. Disponível em: <http://www.esmpu.gov.br/dicionario/tiki-

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HUMAN RIGHTS WATCH. Background Briefing: Child Soldiers and the Child Labor

Convention. HRW Press Release, 15 jun. 1999. Disponível em:

<http://www.hrw.org/legacy/backgrounder/crp/labor615.htm>. Acesso em: 24 mai. 2011.

HUMAN RIGHTS WATCH. Testimonies from "My Gun Was As Tall as Me": Child

Soldiers in Burma. HRW News, 15 out. 2002.

http://www.hrw.org/en/news/2002/10/15/testimonies-my-gun-was-tall-me-child-soldiers-

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GILLIS, Melissa. Disarmament: A Basic Guide. New York: United Nations, 2009.

KUPER, Jenny. Children in armed conflicts: the Law and its uses. London: Sage

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RAMIREZ, Ivan Dario. Medellín: as crianças invisíveis do conflito social e armado. In:

DOWDNEY, Luke. Nem GUERRA nem PAZ: Comparações internacionais de crianças e

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<http://www.coav.org.br/publique/media/NemguerraNempaz.pdf>. Acesso em: 24 mai. 2011.

SOUTHEAST ASIA COALITION TO STOP THE USE OF CHILD SOLDIERS. Regional

Workshop on Enhancing Civil Society’s Engagement with Non-State Armed Groups in

Child Soldiers Advocacy. Quezon City, 2006. Disponível em: <http://www.child-

soldiers.org/childsoldiers/Philippines_NSA_report_2005.pdf>. Acesso em: 24 mai. 2011.

SINGER, Peter W. Children at war. Berkeley: University of California Press, 2006.

UNICEF. Fact Sheet: A summary of the rights under the Convention on the Rights of

the Child, [20--]. Disponível em: <http://www.unicef.org/crc/files/Rights_overview.pdf>.

Acesso em: 27 mai. 2011.

UNITED NATIONS GENERAL ASSEMBLY. Children and armed conflict - Report of

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WAR CHILD. Child Soldiers – The shadow of their existence. Netherlands:

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<http://reliefweb.int/sites/reliefweb.int/files/resources/2AE1161A29A21AF28525735D006A

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WITHERS, Lucia. Child-soldiers: how to engage in dialogue with non state armed groups. In:

Swiss Human Rights Book: Realizing the rights of the child. Zurich: Rüffer & rub, 2007.

Disponível em: < http://www.swisshumanrightsbook.com/SHRB/shrb_02.html>. Acesso em:

27 mai. 2011.

WORLD FOOD PROGRAMME. Fighting hunger worldwide. UNWFP website, 2011.

Disponível em: <www.wfp.org>. Acesso em: 13 mai. 2011.

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ANEXOS

ANEXO A – Lista de grupos não estatais que empregam crianças soldado

Lista divulgada pelo Representante Especial do Secretário Geral da ONU Sobre

Crianças-Soldado de grupos não-estatais que fazem uso corrente de crianças como soldados:

● Afeganistão: grupos armados faccionais.

● Burundi: Conselho Nacional pela Defesa da Democracia/Forças pela Defesa da Democracia

(CNDD/FDD); Partido da Libertação do Povo Hutu/Forças Nacionais de Libertação

(PALIPEHUTU/FNL).

● Colômbia: Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC); Forças Armadas Revolucionárias da

Colômbia (FARC); Exército de Libertação Nacional (ELN).

● Costa do Marfim: Movimento pela Paz e Justiça (MPJ); Movimento Popular Marfinense pelo

Grande Oeste (MPIGO); Movimento Patriota da Costa do Marfim (MPCI).

● Filipinas: Exército de Renovação Popular (NPA); Frente de Libertação Islâmica Moro

(MILF); Frente de Libertação Nacional Moro (MNLF); Abu Sayyaf.

● Irlanda do Norte: grupos paramilitares.

● Libéria: Liberianos Unidos por Reconciliação e Democracia (LURD), Movimento por

Democracia na Libéria (MODEL).

● Myanmar: União Nacional da Birmânia (KNU); Exército de Libertação Nacional Birmanesa

(KNLA).

● Nepal: Partido Maoísta Comunista do Nepal (CPN-M).

● República Democrática do Congo: União Congolesa pela Democracia-Goma (RCD/G);

Movimento Nacional de Libertação do Congo (MLC); União Congolesa pela Democracia-

Kisangani/Movimento de Libertação (RCD-K/ML); União Congolesa pela Democracia

Nacioanl (RCD-N); milícias de Hema e de Lendu/Ngiti; Forças Armadas Populares

Congolesas (FAPC); Mai-Mai; Mudundu-40; Forças de Masunzu; ex-Forças Armadas

Ruandesas (ex-FAR); Interahamwe.

● Rússia (região da Chechênia): grupos chechenos de insurgência.

● Somália: Governo Nacional Transitório; Aliance do Vale de Juba; Conselho de Restauração e

Reconciliação Somali; Exército de Resistência Rahanwein (RRA).

● Sri Lanka: Grupo de Libertação Tigre Tâmeis (LTTE).

● Sudão: Movimento/Exército de Libertação do Povo Sudanês (SPLM/A).

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● Uganda: Forças de Defesa do Povo de Uganda (UPDF); Unidades de Defesa Locais (LDUs),

aliadas ao UPDF; Exército de Resistência do Senhor (LRA).

Fonte: UNITED NATIONS General Assembly Security Council. Children and armed conflict - Report of

the Secretary-GeneralUN; New York, 2003.

ANEXO B – Tabela I

Relação de países que possuem menores de 18 anos em seus quadros militares:

Alemanha Cabo Verde Filipinas Malásia República Dominicana

Armênia Camarões França Malta Rússia

Austrália Canadá Guiana México San Marino

Aústria Cazaquistão Guiné-Bissau Nova Zelândia São Tomé e Príncipe

Azeirbaijão Chade Haiti Omã Sérvia

Bahrein China Hungria Países Baixos Seychelles

Bangladesh Chipre Índia Papua Nova-Guiné Tanzânia

Barbados Cingapura Irã Paquistão Tonga

Belarus Coréia do Norte Irlanda Paraguai Trinidad e Tobago

Bélgica Cuba Israel Peru Turcomenistão

Bolívia Egito Jamaica Polônia Vietnã

Brasil El Salvador Líbano Quênia Zâmbia

Brunei Equador Líbia Quirquistão Zimbábue

Burundi Estados Unidos Luxemburgo Reino Unido

ANEXO C – Tabela 2

Tabela que relaciona a legislação dos países quanto à permissão de menores de 18 anos nas

Forças Armadas com a presença efetiva ou não de crianças-soldado em seu território:

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Países cujas

legislações permitem

menores de 18 anos

nas Forças Armadas

Países cujas legislações não

permitem menores de 18 anos nas

Forças Armadas

Países com presença de

crianças-soldado (como

voluntários cadetes

aprendizes com a

permissão dos pais de

forma obrigatória ou em

tempos de guerra; nas

Forças Armadas milícias

ou grupos paramilitares)

Alemanha

Austrália

Áustria

Bélgica

Bolívia

Brasil

Burundi

Canadá

Chade

China

Coréia do Norte

Cuba

Egito

Equador

Estados Unidos

Federação Russa

Filipinas

França

Irã

Irlanda do Norte

Israel

México

Nova Zelândia

Países Baixos

Paquistão

Paraguai

Peru

Polônia

Quênia

Reino Unido

Afeganistão

África do Sul

Angola

Colômbia

Congo

Costa do Marfim

Geórgia

Haiti

Iêmen

Iraque

Libéria

Myanmar

Nepal

Nigéria

Noruega

República Centro-Africana

República Democrática do Congo

Ruanda

Serra Leoa

Sri Lanka

Sudão

Tailândia

Turquia

Uganda

Venezuela

Países sem presença de

crianças-soldado

Tanzânia Arábia Saudita

Argentina

Chile

Coréia do Sul

Croácia

Dinamarca

Espanha

Etiópia

Gana

Grécia

Indonésia

Itália

Portugal

Qatar

República Tcheca

Senegal

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Suécia

Suíça

Timor-Leste

Uruguai

Uzbequistão

Exceções:

*Países cujas legislação e presença de crianças-soldado não são conhecidos: Costa Rica

*Países cuja legislação não é conhecida mas que possui crianças-soldado: Somália

ANEXO D – Os princípios da Declaração da Cidade do Cabo

1. Prevenção

1. Dezoito anos seria a idade mínima para o recrutamento militar.

2. Os governos devem adotar e ratificar o Protocolo Adicional da Convenção do Direito das

Crianças.

3. O recrutamento de pessoas menores de 18 anos deve ser considerado um crime e aqueles

que o fizerem devem ser julgados.

4. O Tribunal Penal Internacional deve criar uma instância de arbitragem que lide com o tema

das crianças soldado.

5. Mesmo aqueles atores em conflito devem se comprometer a não recrutar pessoas menores

de 18 anos.

6. Documentação acompanhamento e defesa de direitos são fundamentais para eliminar o

recrutamento de crianças e de informar os programas para este fim. Os esforços

comunitários para prevenir o recrutamento infantil deve portanto ser desenvolvidos e

apoiados.

7. Todos os esforços devem ser empreendidos para que as crianças possam viver com suas

famílias ou em um ambiente familiar.

8. A educação deve ser garantida para todas as crianças em especial àquelas em zonas de

conflitos e em contexto de refugiados. Esta educação deve ser integral e completa.

9. Medidas especiais de proteção devem ser tomadas para prevenir o recrutamento infantil em

campos de refugiados.

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10. A sociedade internacional deve reconhecer que qualquer criança que se torne refugiada por

conta de algum conflito ou que esteja escapando do conflito deve ser responsabilidade

para toda a sociedade internacional cabendo à ela adotar medidas para que esta criança

seja cuidada e bem tratada.

11. Nenhuma arma deve ser vendida para atores que permitem ou apoiem o recrutamento de

crianças como soldados.

2. Desmobilização

1. Todas as pessoas menores de dezoito anos devem ser excluídas de conflitos armados;

2. A necessidade de retirar dos conflitos as crianças deve ser uma prioridade desde o início de

qualquer conflito;

3. Nos conflitos em que crianças participaram como soldados os acordos de paz devem

explicitar este fato;

4. O processo de desmobilização deve começar o mais rápido possível e deve preservar a

dignidade das crianças;

5. A prioridade maior do processo de desmobilização deve ser na saúde e no tratamento destas

crianças;

6. Cuidados devem ser tomados na ocasião de crianças que conseguirem escapar de conflitos;

7. As crianças que conseguirem escapar de exércitos não devem ser consideradas desertoras;

8. As crianças devem retornar a seus países de origem assim que sua segurança for garantida

naquele país;

9. Os direitos das crianças devem ser garantidos e respeitados pela mídia estudantes e demais

pessoas;

3. Reintegração

1. A reunificação familiar é o fator mais eficaz para a reintegração social das crianças;

2. Os programas de reintegração devem ser feitos juntos à comunidade da criança levando em

conta os valores e as peculiaridades das mesmas;

3. Deve-se aprimorar e apoiar a capacidade da família e a comunidade em reintegrar esta

criança;

4. Programas educacionais devem ser empreendidos para que todas as crianças reintegradas

possam ter oportunidades de sair do contexto das hostilidades;

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5. Os programas devem ser monitorados para que sejam garantidos os direitos das crianças. Tal

monitoramento deve contar com o apoio de professores líderes religiosos e políticos;

6. Os programas devem ser monitorados e avaliados para que seu sucesso seja sempre

garantido;

ANEXO E – Questões controversas

● Alguns Programas DDR falham e incitam novas hostilidades graças à pouco rigor

conceitual. Nesse caso o Programa se baseia em um conceito errôneo que aborda o

Programa como sinônimo de rendição e derrota.

● Geralmente mulheres são excluídas dos Programas DDR.

● Muitos programas são planejados sem saber o exato número de beneficiários.

● Há uma falta de controle e monitoramento sobre o destino das armas coletadas.

● Em vários casos esse tipo de programa atende exclusivamente os participantes

armados o que um grande problema uma vez que ele exclui a população civil como

um todo como beneficiários do Programa DDR.

● A diversidade dos participantes é um dos fatores que adicionam maior complexidade

ao tratamento de Programas DDR vigentes principalmente quando vários deles estão

presentes no mesmo país. Existem programas exclusivos para forças armadas

milíciasguerrilhas e grupos paramilitares que possuem características específicas.

● A maioria dos processos inseridos nos Programas têm sofrido atrasos na

implementação e têm tido dificuldades na identificação dos combatentes e também

problemas econômicos para financiamento.

● Algumas lideranças que participaram do DDR mantêm as armas para seus próprios

interesses e continuam a controlar o tráfico de drogas.

● Vários grupos armados falharam em mencionar a presença de menores em suas tropas

excluindo-os do processo do DDR. Planos paralelos foram estabelecidos para esses

menores (meninos e meninas) que não constam como combatentes assim como

familiares e dependentes que são geralmente excluídos de qualquer benefício.

● Limitação e má administração de verba

● Más condições sanitárias nos quartéis gerando casos sérios de má nutrição.

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TABELA DE DEMANDA DAS REPRESENTAÇÕES

Na tabela a seguir cada representação do comitê é classificada quanto ao nível de

demanda que será exigido do delegado, numa escala de 1 a 3. Notem que não se trata de

uma classificação de importância ou nível de dificuldade, mas do quanto cada

representação será demandada a participar dos debates neste comitê. Esperamos que

essa relação sirva para auxiliar as delegações na alocação de seus membros, priorizando a

participação de delegados mais experientes nos comitês em que a representação do colégio for

mais demandada.

Legenda

Representações frequentemente demandadas a tomar parte nas discussões

Representações medianamente demandadas a tomar parte nas discussões

Representações pontualmente demandadas a tomar parte nas discussões

REPRESENTAÇÃO DEMANDA

1. Afeganistão

2. África do Sul

3. Alemanha

4. Áustria

5. Bélgica

6. Brasil

7. Bulgária

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8. Burundi

9. Camboja

10. Canadá

11. China

12. Colômbia

13. Congo

14. Congo Brazzaville

15. Costa do Marfim

16. Dinamarca

17. Espanha

18. Estônia

19. Finlândia

20. França

21. Gana

22. Grécia

23. Haiti

24. Holanda

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25. Hungria

26. Indonésia

27. Irlanda

28. Itália

29. Japão

30. Libéria

31. Mali

32. Nepal

33. Noruega

34. Nigér

35. Peru

36. Polônia

37. Portugal

38. Qatar

39. Reino Unido

40. República Tcheca

41. Romênia

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42. Rússia

43. Serra-Leoa

44. Somália

45. Sri-Lanka

46. Sudão

47. Suécia

48. Suíça

49. Timor-Leste

50. Uganda

51. Primal Times