concurso ammp

69
/home/website/convert/temp/convert_html/577c84e11a28abe054babdf4/document.doc MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1a VARA CRIMINAL DA COMARCA DE GOVERNADOR VALADARES - MG AUTOS DE PROCESSO N. 0105.12.000204-0 RECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO RECORRIDO: KMC O MINISTÉRIO PÚBLICO DE MINAS GERAIS, por meio de seu órgão de execução signatário, no uso de suas atribuições, vem, sempre mui respeitosamente, requerer a juntada das RAZÕES anexas aos autos em epígrafe, com posterior remessa do recurso ao Egrégio Tribunal de Justiça. Termos em que Pede deferimento. Comarca, 30 de agosto de 2013. PROMOTOR DE JUSTIÇA

Upload: jefferson-bastos-de-oliveira

Post on 14-Jul-2016

238 views

Category:

Documents


5 download

DESCRIPTION

prova AMMP

TRANSCRIPT

Page 1: CONCURSO AMMP

/tt/file_convert/577c84e11a28abe054babdf4/document.doc

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1a VARA

CRIMINAL DA COMARCA DE GOVERNADOR VALADARES - MG

AUTOS DE PROCESSO N. 0105.12.000204-0

RECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO

RECORRIDO: KMC

O MINISTÉRIO PÚBLICO DE MINAS GERAIS, por meio de seu

órgão de execução signatário, no uso de suas atribuições, vem, sempre mui

respeitosamente, requerer a juntada das RAZÕES anexas aos autos em epígrafe, com

posterior remessa do recurso ao Egrégio Tribunal de Justiça.

Termos em que

Pede deferimento.

Comarca, 30 de agosto de 2013.

PROMOTOR DE JUSTIÇA

Page 2: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

COMARCA DE GOVERNADOR VALADARES – MG

AUTOS DE PROCESSO N. 0105.12.000204-0

RECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO

RECORRIDO: KMC

RAZÕES RECURSAIS

EGRÉGIO TRIBUNAL

COLENDA CÂMARA

DOUTA PROCURADORIA

I - RELATÓRIO

Trata o presente feito de Ação Penal movida contra o Recorrido, o

qual foi absolvido em sessão do Plenário do Júri.

Adota-se o completo relatório formulado pelo Juiz de Direito e

fornecido aos jurados.

Após a sentença, o Ministério Público recorreu.

É o breve.

II - DOS PRESSUPOSTOS RECURSAIS

O recurso deve ser conhecido.

Presentes os pressupostos subjetivos de sua admissibilidade, uma vez

que o Ministério Público sucumbente é parte legítima e interessada na interposição dos

recursos.

2

Page 3: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Presentes ainda os pressupostos objetivos de admissibilidade.

Em primeiro lugar, trata-se de decisão contra a qual há recurso

previsto em lei, sendo recorrível.

No tocante à adequação dos recursos à decisão recorrida, verifica-se

que, no caso, trata-se mesmo de hipóteses de recurso de apelação.

Também houve a interposição em tempo hábil.

Por fim, inexiste fato extintivo ou impeditivo do conhecimento do

recurso.

III - PRELIMINARMENTE

III.1 - Da suspeição dos jurados – nulidade absoluta

Após o julgamento do caso em tela, houve, na sociedade, um forte

clamor de injustiça levado ao conhecimento do Ministério Público.

Diversas pessoas, que preferiram não se identificar, por temerem

represálias, dirigiram-se à Promotoria de Justiça, afirmando que alguns jurados

poderiam ter sido, de alguma forma, coagidos, antes da sessão do júri.

Por esta razão, decidiu-se ouvir os jurados, obtendo-se a confirmação

das notícias acima.

Infelizmente, tal constatação é lamentável e macula por completo o

trabalho realizado, pois, comprovadamente, fruto de uma fraude.

In casu, a nulidade apontada influiu substancialmente na apuração da

verdade real e na decisão da causa (art. 566, CPP, a contrario senso).

A jurada GERALDINA SILVA narrou que foi procurada, em sua

própria residência, pela genitora do acusado KMC, a Sra. Marly Messias, confira:

Que foi convocada para prestar serviços à esta Justiça como jurada, tendo participado do Júri do acusado Kevin; que conhecia a mãe do acusado Kevin, eis que freqüentavam a mesma igreja (…) que Marli tomou conhecimento que a declarante compôs a lista dos jurados sorteados para o

3

Page 4: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

julgamento de seu filho Kevin, tendo procurado a declarante em sua residência; (…) que não soube como Marli tomou conhecimento de sua convocação (…) que Marli sofreu muito durante todo esse período, e chegou emagrecer cerca de 10 quilos (…) que Marli compareceu ao julgamento…

Ficou evidente o comprometimento pessoal da jurada, a qual

acompanhou todo o sofrimento da genitora do acusado, narrando sobre o estado físico e

emocional desta.

É perceptível, também, que houve um monitoramento sobre os dados

pessoais dos jurados, pois, não é comum que a família do acusado a eles tivesse acesso,

assunto privativo ao bojo do processo sobre o qual se decretou SEGREDO DE

JUSTIÇA.

A respeito, transcreve-se a decisão de fl. 241, verbis:

Vistos em correição.

Diante da gravidade dos fatos narrados no APF, que demandam uma investigação e instrução complexa, entendo por bem decretar decreto segredo de justiça nestes autos, devendo se comunicar esta decisão à autoridade policial.

Aguarde-se remessa do inquérito policial.

Cumpra-se.

Governador Valadares, 09 de fevereiro de 2012.

Por este viés, houve intencional comunicação dos dados pessoais dos

jurados à família do acusado, a qual se encarregou de, alguma forma, comprometer a

imparcialidade do Conselho de Sentença.

Essa situação ficou muito clara através das declarações do jurado

HUDSON SABINO DE OLIVEIRA, componente do Conselho de Sentença:

… foi convocado para ser jurado no julgamento KMC, autos 105.12.000204-0; que recebeu o mandado de intimação em um dia, sendo que no subseqüente, já foi procurado por um policial militar na Escola Imaculada da Conceição, local de seu trabalho; que o policial possuía uma filha que estuda no colégio, salvo engano, chamada Sara ou Samara, cursando a

4

Page 5: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

sétima série; que tal policial disse o nome do declarante na portaria, sendo que os demais funcionários o chamaram; que o declarante se dirigiu à portaria da escola, onde se encontrou com esse policial, que, pelo que se lembra, chamava-se Simão; que tal pessoa se identificou como policial e sabia que o declarante era jurado em um processo em que outro policial seria julgado, não tendo dito o nome deste último; que tal pessoa que abordou o declarante esclareceu que “nós estamos procurando todos os vinte cinco jurados para pedir ajuda em favor do acusado, por isso que estou aqui, para pedir que você olhe com carinho a situação do policial acusado, pois ele é inocente e está sendo acusado injustamente; eu conheço a família do acusado e todos são pessoas boas”; que achou estranho ser procurado em seu local de trabalho, não achando correto os nomes dos jurados ficarem disponíveis para qualquer um no processo… (g. n.).

Por sua vez, o jurado ANDERSON CORDEIRO CARDOSO, embora

não tenha sido sorteado para o Conselho de Sentença, esclareceu:

… que fez parte do corpo de jurados a ser sorteado no julgamento do júri referente ao processo n. 105.12.000.204-0, que teve como acusado KMC (…) que é amigo do jurado Hudson e estava sentado ao lado deste antes do sorteio dos jurados, ocasião em que Hudson apontou para algumas pessoas que estavam com camisetas com fotos do acusado estampada e relatou que havia sido procurado por tais pessoas, as quais foram lhe falar da boa índole do acusado, dizendo ser pessoa boa e de família…

O princípio essencial das decisões do Tribunal do Júri é assegurar a

imparcialidade do corpo de jurados para que decidam em conformidade com a sua

consciência e com os ditames de Justiça.

Desse modo, os juízes leigos, quanto à suspeição e impedimentos,

estão submetidos às mesmas normas pertinentes ao juiz togado.

Assim já decidiu esse egrégio Sodalício:

Júri. Homicídio. Preliminar de nulidade. Participação de jurado suspeito. Art. 254, II, do CPP. Imparcialidade comprometida. Evidente influência no resultado da votação. Nulidade reconhecida. Recurso provido. (Apelação Criminal

5

Page 6: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

1.0003.02.006102-8/001, Relator(a): Des.(a) Reynaldo Ximenes Carneiro , 2ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 15/12/2005, publicação da súmula em 07/02/2006)

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - HOMICÍDIO - TRIBUNAL DO JÚRI - PRELIMINAR DE NULIDADE - PARTICIPAÇÃO DE JURADA IMPEDIDA - ART. 448, III, DO CPP - IMPARCIALIDADE COMPROMETIDA - NULIDADE RECONHECIDA. - É incontroverso que as causas de impedimento ou de suspeição dos juízes togados são aplicáveis aos jurados, juízes leigos, que igualmente decidem "de fato", nas deliberações do Júri. - Deve ser reconhecida a nulidade absoluta da sessão do Tribunal do Júri em virtude da atuação, como jurada, da sogra do douto defensor do acusado que atuou em plenário. (Apelação Criminal 1.0273.06.000708-8/001, Relator(a): Des.(a) Silas Vieira , 1ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 14/02/2012, publicação da súmula em 02/03/2012)

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - JÚRI - IRRESIGNAÇÃO MINISTERIAL - PROCESSO PENAL - PARTICIPAÇÃO DE JURADA IMPEDIDA - ART. 564, I, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL - IMPARCIALIDADE DO CONSELHO DE SENTENÇA COMPROMETIDA - SUBMISSÃO A NOVO JULGAMENTO - NECESSIDADE. É incontroverso que as causas de impedimento ou de suspeição dos juízes togados são aplicáveis aos jurados, juízes leigos que compõem o Conselho de Sentença. Assim, deve ser reconhecida a nulidade da sessão do Tribunal do Júri em virtude da atuação, como jurada, de amiga íntima do réu, nos termos do art. 564, I, do Código de Processo Penal. (Apelação Criminal 1.0569.11.002975-2/002, Relator(a): Des.(a) Rubens Gabriel Soares , 6ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 06/08/2013, publicação da súmula em 12/08/2013)

Portanto, constata-se que a nulidade é patente, vez que a jurada

GERALDINA SILVA jamais poderia ter participado do julgamento em questão, tendo

em vista ser amiga da família do réu há anos, de modo que a sua imparcialidade estava

visivelmente afetada. O mesmo ocorreu com o jurado HUDSON, veladamente, coagido

6

Page 7: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

a dar "maior atenção" à Defesa, em razão da "boa índole" do réu, conforme

"recomendação" do policial que o visitou em seu ambiente de trabalho.

O vício presente constitui nulidade de natureza absoluta, pois é o

interesse maior do Estado em proferir um julgamento justo que foi afetado, isto é,

abalou-se cabalmente a confiabilidade do juiz natural da causa.

Fica, desse modo, afastada a alegação de preclusão, considerando que

o vício é insanável, pois viola princípios constitucionais.

Neste sentido o entendimento de NUCCI:

... Quando a falha ofender o disposto em lei de maneira grave, gera-se a nulidade absoluta, impossível de ser convalidada, exigindo-se o refazimento do ato. Para esta situação, não há preclusão, podendo-se alegar o vício em qualquer momento, inclusive após o trânsito em julgado, ao menos de decisão condenatória. Há interesse público no reconhecimento dessa espécie de nulidade, pois concernente à lisura do devido processo legal. (...).(in Tribunal do Júri, Guilherme de Souza Nucci, Editora Revista dos Tribunais, 2008, p. 479-480).

Como o mesmo acerto, GRINOVER, FERNANDES e GOMES

FILHO:

Já a ofensa às garantias constitucionais implicará sempre nulidade de natureza absoluta, pois a obediência às regras do “devido processo” constitui requisito essencial para a correção da prestação jurisdicional.

(…)

Nessa dimensão garantidora das normas constitucionais-processuais, não sobra espaço para a mera irregularidade sem sanção ou nulidade relativa. A atipicidade constitucional, no quadro das garantias, importa sempre uma violação a preceitos maiores, relativos à observância dos direitos fundamentais e a normas de ordem pública.

(…)

Sendo a norma constitucional-processual norma de garantia, estabelecida no interesse público, o tão processual inconstitucional, quando não juridicamente inexistente, será sempre absolutamente nulo, devendo a nulidade ser decretada de ofício, independentemente de provocação da parte interessada.

7

Page 8: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

É que as garantias constitucionais-processuais, mesmo quando aparentemente postas em benefício da parte, visam em primeiro lugar ao interesse público na condução do processo segundo as regras do devido processo legal. (GRINOVER, Ada Pellegrini; FERNANDES, Antônio Scarance e GOMES FILHO, Antonio Magalhães. As nulidade no processo penal. 7 ed. RT: São Paulo, 2001, ps. 22, 24 e 25.)

Diante desse quadro, imponderável a existência da “soberania dos

veredictos”. A soberania ou independência viu-se comprometida, em completa

derrocada, desde seu nascedouro. Aqueles que dela se investiriam, os cidadãos, foram

moralmente corrompidos, proferindo uma decisão absolutamente nula.

Embora absurda a ideia, mas, apenas para argumentar, dos mesmos

instrumentos ou armas _ para se falar em paridade de armas _ não se valeu o Ministério

Público, seja diretamente pelo Promotor de Justiça, seja por intermédio de terceira

pessoa. Imponderável supor que as partes concitassem os jurados a darem maior atenção

à suas teses, antes mesmo de iniciada a sessão do júri. Se tal quadro fosse existente, a

instituição do júri estaria fadada ao insucesso.

Como já dito, os jurados são passíveis das mesmas incompatibilidades

aplicadas aos juízes togados, pois, julgando estes com maior liberdade e sem

fundamentar o seu voto, podem mais livremente ceder aos sentimentos de amizade,

interesse, paixão e ódio, por motivos que se reputam em ordem a afetar a imparcialidade

e a independência dos juízes profissionais.

No tocante ao jurado HUDSON, uma observação é de suma

importância, pois, ao receber, em seu ambiente de trabalho um policial militar, o qual

foi a sua procura exclusivamente para “referendar” a boa conduta do acusado, viu-se

certamente intimidado, viciando por completo sua livre manifestação de vontade.

Por sua vez, a jurada GERALDINA estava sem plena liberdade para

julgar, pois, antes, durante e após o julgamento defrontou-se e defronta-se

semanalmente com a mãe do acusado em razão de freqüentarem a mesma “igreja”,

sendo o vínculo entre elas extremamente aproximado com a visita e pleito de ajuda

ocorridos antes da sessão do júri.

8

Page 9: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Como sabido, a liberdade na manifestação de vontade constitui

elemento de existência do ato jurídico, uma vez comprovada sua corrupção ou vício,

torna-o inexistente, sendo imperativo de justiça a decretação de nulidade da votação do

júri.

O tribunal do júri, por conseguinte, como instituição democrática que é, está forçosamente vinculado aos princípios e garantias inerentes ao Estado Constitucional de Direito, porque, do contrário, sua concepção não faria sentido algum nesse contexto. Justamente por isso, são-lhe inteiramente aplicáveis os princípios fundamentais que regem o direito e o processo penal democrático, a exemplo do princípio da legalidade, do devido processo legal, da imparcialidade, do duplo grau de jurisdição etc. (QUEIROZ, Paulo. Limite da soberania dos veredictos. Disponível em <http://pauloqueiroz.net/limites-da-soberania-dos-veredictos/>. Acesso em 14 ago. 2013.)

Consigne-se, outrossim, que o conhecimento dos fatos foi dentro do

prazo recursal, não havendo que se falar em preclusão.

Neste sentido, o seguinte julgado:

"Se o conhecimento de que o jurado estava legalmente impedido for posterior à decisão do Júri, mas dentro do prazo de recurso, anula-se o julgamento para que o apelante enfrente novo Conselho de Sentença" (RT 560/377).

Caberia aos jurados declararem os fatos impeditivos,

independentemente de arguição das partes, pois se aplica o disposto nos arts. 252, 254 e

448, § 2º do Código de Processo Penal.

O jurado é obrigado a declinar motivos pelos quais pode se considerar

como suspeito para decidir com imparcialidade. Os jurados que foram visitados por

pessoas ligadas ao réu, sendo na ocasião pedido apoio a este, não podem omitir esse

fato, quando lhes é perguntado se há motivos para se considerar suspeito.

Conforme art. 472, CPP, os jurados prometem julgar a causa com

imparcialidade. Todavia, nas circunstâncias acima, como assegurar a prevalência de

tão caro princípio e postura?

9

Page 10: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Pondere-se, ainda, que, nos julgamentos de pedido de desaforamento,

as decisões são unânimes para se declinar a competência a outra comarca em casos

semelhantes ao presente em que há dúvida sobre a imparcialidade do júri (art. 427,

CPP), isto é, quando os jurados são previamente abordados por pessoas ligadas ao

acusado, confira:

Para conduzir ao desaforamento e à eleição da Comarca onde deverá realizar-se o julgamento, basta um juízo de probabilidade, a cargo do Tribunal de Justiça, sobre a expectativa da parcialidade do júri, não se exigindo certeza dessa previsão (S.T.F. - HC 66.215-3-CE, Rel. Min. Octávio Gallotti, D.J.U. de 01/07/88, pág. 16.901)

DESAFORAMENTO CRIMINAL - HOMICÍDIO E TENTATIVA DE HOMICÍDIO - DÚVIDA ACERCA DA IMPARCIALIDADE DO JÚRI - CONSTRANGIMENTO DE PARTE DO CORPO DE JURADOS -PROVA INEQUÍVOCA - PEDIDO DO MINISTÉRIO PÚBLICO CORROBORADO PELO JUIZ OFICIANTE NO FEITO - PROCEDÊNCIA. O desaforamento é medida de exceção ao princípio geral da competência em razão do lugar, motivo pelo qual o seu deferimento está condicionado à pré-existência de uma ou mais das hipóteses previstas no atual art. 427 do Código de Processo Penal após as modificações efetuadas pela novel Lei 11.689, de 9 de junho de 2008. É mister reconhecer-se procedente o pedido de desaforamento criminal quando recai sobre o júri dúvida fundada acerca da sua imparcialidade. A manifestação clara e segura do juiz singular quanto à necessidade de desaforamento do feito é elemento de fundamental importância. Pedido procedente. (Desaforamento Julgamento 1.0000.08.476706-0/000, Relator(a): Des.(a) Alexandre Victor de Carvalho , 5ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 02/09/2008, publicação da súmula em 15/09/2008)

DESAFORAMENTO. ARTIGO 427 DO CPP. HOMICÍDIO QUALIFICADO. DÚVIDA FUNDADA SOBRE A IMPARCIALIDADE DOS JURADOS. EXISTÊNCIA DE ELEMENTOS QUE AUTORIZAM A MEDIDA EXCEPCIONAL. MANIFESTAÇÃO FAVORÁVEL DO JUÍZO 'A QUO'. PEDIDO DEFERIDO.- O desaforamento é medida de exceção ao princípio geral da competência em razão do lugar, motivo pelo qual o seu

10

Page 11: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

deferimento está condicionado à pré-existência de uma ou mais das hipóteses previstas no atual artigo 427 do Código de Processo Penal. - A dúvida fundada sobre a imparcialidade dos jurados autoriza o desaforamento do julgamento de réu pronunciado pela prática do crime de homicídio qualificado, principalmente quando o Juiz local se mostra favorável à medida excepcional. Precedentes do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça (Desaforamento Julgamento 1.0000.10.054103-6/000, Relator(a): Des.(a) Renato Martins Jacob , 2ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 03/03/2011, publicação da súmula em 25/03/2011)

Desse acórdão, extrai-se o seguinte trecho esclarecedor:

Resta comprovado, em análise às declarações transcritas, que o pai do acusado vem tentado influenciar o Corpo de Jurados a absolver seu filho das acusações de homicídio qualificado que lhe são imputadas.

Ainda que não haja relatos de que o pai do acusado tenha proferido ameaças, certo é que sua investida causou intenso temor nos jurados… (g. n.).

A hipótese tratada no acórdão transcrito assemelha-se ao caso

presente, a coação é velada, camuflada, escamoteada por relacionamentos sociais que

seriam insuspeitos, casa inexistisse a acusação.

Inarredável, destarte, a anulação do julgamento com base no artigo

564, I do C. P. Penal.

III.2 - Proibição de leitura de documento juntado no prazo do art.

479, CPP

Ficou registrada em ata, a proibição de leitura e uso dos documentos

juntados pelo Ministério Público, no que pese ter este observado a estrita dicção do art.

479, CPP. Veja o inteiro teor da r. decisão:

11

Page 12: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Quanto à quarta nulidade alegada pela Defesa, referente aos documentos juntados pelo Ministério Público às f. 1115/1142, peço vênia ao Eminente Órgão de Execução do Ministério Público atuante nesta sessão, para acolher a pretensão da defesa, e proibir que sejam citados os documentos constantes às f. 1115/1142 destes autos. Verifico que tais documentos foram protocolizados no dia 04 de junho de 2013, já no findar do expediente, sendo que a sua juntada só se deu no dia 05 de junho de 2013, ou seja, não respeitado o prazo de três dias úteis estabelecido no art. 479 do CPP. Se o Ministério Público desejasse utilizar os referidos documentos deveria ter tomado o cuidado para que estes fossem juntados aos autos no dia 04 de junho e não no dia 05 de junho. Assim, acolho a quarta nulidade sustenta pela Defesa e proíbo que o Ministério Público ou mesmo a Defesa faça referência neste julgamento aos documentos supramencionados.

Em contrariedade a este posicionamento adotado pelo MM. Juiz

Presidente, o Ministério Público deixou registrado em ata:

… quanto à juntada de documentos por outro Promotor de Justiça, também inexiste nulidade haja vista que o referido Promotor é substituto legal do Promotor que está em plenário, bem como os documentos foram protocolizados em tempo hábil, tendo a Defesa ciência desses documentos…

Dessarte, a prevalecer o entendimento do nobre Magistrado, estar-se-

ia transferindo ao órgão do Ministério Público a atividade administrativa de autuar os

documentos devidamente protocolizados nas serventias do Poder Judiciário.

Do Promotor de Justiça não é exigível que administre a juntada de

documentos ou que proceda à intimação da parte contrária, tal proceder lhe é estranho,

afastando-se, em muito, de suas atribuições previstas na Constituição Federal e em

legislação extravagante.

Como já salientado pelo eg. Tribunal de Justiça do Pará, a efetivação

da ciência dos documentos à parte contrária depende de procedência cartorária. E

continua esse egrégio Sodalício:

Outrossim, descabe a alegação de cerceamento do direito de defesa por falta de tempo para analisar a documentação, eis

12

Page 13: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

que a norma em tela exige apenas a ciência da parte interessada, sem lhe assinar prazo para a realização de qualquer providência. A intenção do legislador se limitou a evitar que a parte fosse surpreendida, já em plenário, pela presença do material por si desconhecido (Ap. 2004301186-1, 1a

C., rel. João José da Silva Maroja, 28.04.05, v.u., RT 837/419). (g. n.)

A medida adotada pelo Juiz Presidente padece de nulidade, pois,

embora reconheça que os documentos foram protocolizados tempestivamente (04 de

junho de 2013), de forma bizarra, assinala que o prazo se viu inobservado, pois os

documentos somente foram autuados, efetivamente, no dia seguinte.

Ora, como já se assinalou, tal providência é exclusivamente cartorária,

sendo injusto transferir tal ônus às partes.

Ademais, não ocioso rememorar que, por força do art. 3o do CPP,

aplica-se, por analogia, ao processo penal, o art. 172, § 3o do Código de Processo Civil,

o qual prevê:

Art. 172. Os atos processuais realizar-se-ão em dias úteis, das 6 (seis) às 20 (vinte) horas. (Redação dada pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)

(…)

§ 3o Quando o ato tiver que ser praticado em determinado prazo, por meio de petição, esta deverá ser apresentada no protocolo, dentro do horário de expediente, nos termos da lei de organização judiciária local. (Incluído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)

Como cediço, os atos normativos depositados na eg. Corregedoria-

Geral de Justiça de Minas Gerais disciplinam que o horário de funcionamento ao

público externo na Comarca de Governador Valadares é de 12h às 18h.

É o que prescreve o art. 313 da Lei Complementar Estadual n. 59/01 e

o art. 55 do Provimento nº 161/CGJ/2006 da Corregedoria-Geral de Justiça do Estado

de Minas Gerais.

13

Page 14: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Ademais, para espancar qualquer dúvida, ainda que seja para afirmar o

público e notório, junta-se ao presente recurso certidão da Diretoria do Foro da

Comarca de Governador Valadares, certificando o horário de 12h às 18h para

atendimento ao público externo.

Diante do cenário vislumbrado, indeclinável reconhecer a nulidade da

decisão do Juiz Presidente, pois dela redundou cerceamento à acusação, ferindo o

devido processo legal, criou desigualdade entre as partes, fulminando o princípio

da paridade de armas.

Colhe-se o mesmo entendimento do acórdão abaixo transcrito:

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - PROCESSUAL PENAL - JÚRI - AMIZADE ÍNTIMA ENTRE JURADA E UM DOS ADVOGADOS DA PARTE NÃO ARROLADA COMO CAUSA DE SUSPEIÇÃO OU IMPEDIMENTO - QUESTÃO TRAZIA À BAILA APENAS EM SEDE RECURSAL - PRECLUSÃO - DESENTRANHAMENTO DE DOCUMENTO JUNTADO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO NO PRAZO DO ARTIGO 479 DO CPP - CERCEAMENTO DE ACUSAÇÃO CARACTERIZADO. - A amizade do Juiz - seja ele togado ou do povo - com o advogado da parte não está arrolada no Código de Processo Penal como causa de impedimento ou suspeição, conforme se depreende do disposto nos artigos 252 e 254 do Código de Processo Penal. Assim a suposta amizade de uma jurada com um dos advogados encarregados da defesa do réu não constitui causa de anulação do julgamento, máxime quando não houve alegação oportuna de suspeição ou impedimento. - Caracteriza cerceamento de acusação o desentranhamento de documento juntado pelo Ministério Público no prazo previsto no artigo 479, do CPP, por não ter sido facultado à defesa deles ter ciência no tríduo que antecede o julgamento. (TJMG. Apelação Criminal 1.0514.07.022898-6/002, Relator(a): Des.(a) Beatriz Pinheiro Caires , 2ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 08/11/2012, publicação da súmula em 19/11/2012)

Pela pertinência e correta abordagem ao tema, valiosos pontos do

acórdão acima merecem destaque:

Com efeito, desde que a juntada de documentos tenha sido efetivada no prazo de 03 dias, nos termos do dispositivo legal já

14

Page 15: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

citado, a circunstância de não ter sido possível cientificar a defesa de tal juntada no tríduo antecedente ao julgamento popular, não acarreta o desentranhamento da prova.

Ocorre que, ao contrário do que anteriormente previa o artigo 475 do Código de Processo Penal, que determinava fosse cientificada a parte contrária da juntada de documentos com antecedência mínima de 03 dias do julgamento pelo Tribunal do Júri, certo é que, após as mudanças trazidas pela Lei 11.689/2.008, o dispositivo legal correspondente (artigo 479, CPP) determina, tão somente, a juntada de documentos 03 dias antes do julgamento, dando-se ciência à parte contrária. Assim, pela letra da lei, apenas a juntada de documentos deveria respeitar o tríduo. (g. n.).

É bem verdade que a moderna orientação doutrinária é no sentido de que a interpretação meramente literal do novo dispositivo legal deve ser rechaçada, dele se inferindo que a parte deva ser cientificada da juntada de documentos três dias antes da realização do julgamento popular.

Entretanto, ainda que, interpretando-se o artigo 479 do CPP, se conclua que a parte deva ser também cientificada da juntada dos documentos com antecedência de 03 dias do julgamento pelo Júri, certo é que não se pode ignorar que o Representante do Ministério Público efetivamente cumpriu o que determina o referido dispositivo legal.

Desse modo, entendendo o Juiz que a parte deveria ter ciência, três dias antes da realização do Júri, dos documentos juntados pelo Ministério Público, deveria ter adiado o Julgamento Popular e não determinado o desentranhamento das peças juntadas, pois, do contrário, mesmo em casos em que o Ministério Público - ou a outra parte - procedesse à juntada de documentos com semanas de antecedência, o Juiz poderia desentranha-los, se, por qualquer motivo, não fosse dada ciência à parte no tríduo antecedente à realização da sessão do Júri, o que se mostra inconcebível. (g. n.)

Assim agindo, o douto Magistrado terminou por retirar do Ministério Público uma faculdade que a lei lhe outorga - e também à outra parte -, qual seja, a de juntar documentos 03 dias antes da realização do julgamento.

Resulta incontroverso, portanto, o cerceamento sofrido pela acusação, que não pode submeter todas as provas coletadas ao conhecimento dos jurados.

15

Page 16: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Ao impulso de tais razões, dou provimento ao recurso, para anular o julgamento popular, determinando que a outro seja submetido o réu

Não é outro o entendimento da Suprema Corte:

EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. PROCEDIMENTO DO JÚRI. JUNTADA DE DOCUMENTOS PARA LEITURA REQUERIDA TRÊS DIAS ANTES DA DATA EM QUE A SESSÃO SE REALIZARIA. INDEFERIMENTO. ART. 475 [atual 479] DO CPP. INTELIGÊNCIA. CERCEAMENTO À AMPLA DEFESA E AO CONTRADITÓRIO. NULIDADE ABSOLUTA. PREJUÍZO EVIDENTE. ORDEM CONCEDIDA. 1. O pedido da defesa para juntada de documentos, cuja leitura pretendia realizar em plenário, não poderia ter sido indeferido, pois foi protocolizado exatos três dias antes da data do julgamento. Artigo 475 do Código de Processo Penal. Impossibilidade de interpretação extensiva para prejudicar o réu. 2. O prejuízo causado pelo indeferimento ofende o próprio interesse público, pois conduziu à prolação de um veredicto sem que todas as provas existentes fossem submetidas ao conhecimento dos jurados. Garantias do contraditório e da ampla defesa violadas. 3. Tratando-se de nulidade absoluta, não há de se falar em preclusão pelo mero fato de a irregularidade não ter sido argüida logo após o pregão, como determina o art. 571 do Código de Processo Penal. 4. Ordem concedida, para que novo julgamento seja realizado pelo Tribunal Popular, garantida a leitura dos documentos cuja juntada foi indeferida pelo ato impugnado. Impossibilidade de reformatio in pejus. (HC 92958, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, julgado em 01/04/2008, DJe-078 DIVULG 30-04-2008 PUBLIC 02-05-2008 EMENT VOL-02317-03 PP-00587)

Do mesmo modo, destacamos alguns trechos relevantes do voto do

Ministro Joaquim Barbosa, o qual tratou da natureza absoluta da nulidade, verbis:

Discorrendo sobre o tema, ADA PELLEBRINI GRINOVER, ANTONIO SACARANCE FERNANDES e ANTONIO MAGALHÃES GOMES FILHO destacam que nem sempre é possível cobrar das partes a prova cabal deste dano, razão pela qual sua demonstração deve ser feita através de simples

16

Page 17: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

procedimento lógico (As Nulidades no Processo Penal. 8o ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004, p. 33):

“(…)

As nulidade absolutas não exigem demonstração do prejuízo, porque nelas o mesmo é evidente (…)

Pense-se, por exemplo, na falta de citação (art. 564, III, e, primeira parte, do CPP); se o réu não é chamado ao processo, não comparece, não apresenta defesa, não produz provas, etc. claro está o prejuízo ao contraditório, sendo ociosa qualquer tentativa de demonstração; o mesmo se diga com relação à deficiência na formulação de quesitos no procedimento d Júri (art. 564, parágrafo único, primeira parte, do CPP); se uma questão não é submetida à apreciação dos jurados, manifesto é o prejuízo para o julgamento.

(…)”

(…)

Como se pode perceber, o que aconteceu na ação penal de origem não foi uma mera inobservância de forma de um ato processual. O ato impugnado não foi praticado em error in procedendo, mas sim em error in judicando. Impediu-se a juntada de documentos para leitura em plenário, com base em uma intempestividade que não ocorreu. Assim, em alguma medida, é inegável que houve o alegado cerceamento à defesa do paciente, principalmente no que tange à sua participação na formação da prova (princípio do contraditório).

(…)

Assim, não importa o efeito que a leitura dos referidos documentos causaria nos jurados durante aquela sessão de julgamento. A defesa tinha, independentemente da relevância do seu conteúdo, o direito de ler aqueles documentos em plenário e, assim, tentar influenciar na decisão final dos jurados.…

(…)

Portanto, ofende o interesse público uma decisão que foi prolatada sem que todas as provas existentes fossem submetidas ao conhecimento do órgão julgador.

(…)

Ora, com todas as vênias, não cabe a qualquer órgão, senão ao próprio Tribunal Popular, realizar tal juízo de valor sobre as provas em comento. Não é, portanto, desse “valor” que o presente hábeas corpus deve cuidar, mas sim do direito ou não

17

Page 18: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

de a defesa apresentar todas as provas, lícitas e tempestivamente colhidas, à apreciação do órgão julgador. E aí, não há a menor dúvida da existência e importância deste seu direito no Estado Democrático de Direito.

Como o caso é de nulidade absoluta, a irregularidade não foi convalidada pelo só fato de não ter sido argüida logo após o pregão da sessão de julgamento, como determina o art. 571, V, do Código de Processo Penal, para as hipótese de nulidades relativas.

Do exposto, eu concedo a ordem, para que novo julgamento seja realizado pelo Tribunal do Júri da Comarca de Sumaré, com a possibilidade de leitura dos documentos cuja juntada foi requerida através de petição por cópia… (g. n.)

O Ministério Público não pode ser penalizado por ter cumprido a lei, a

Sociedade não pode ser punida com uma decisão injusta, proferida à revelia da

totalidade de elementos cognitivos disponíveis.

As ponderações acima são sérias e exigem a atenção devida. Cabe ao

Poder Judiciário realinhar as partes, decretando a nulidade para que, em novo Júri,

possa o colendo Conselho de Sentença ter acesso à totalidade das provas e proferir um

veredicto justo.

III.3 - Do contraditório e paridade de armas

Lado outro, se isto não bastasse, a Defesa juntou declarações

extrajudiciais, em DVD e pen drive, dos pais e do irmão do acusado KMC, malferindo

os princípios do contraditório e da paridade de armas.

Nas declarações prestadas, não houve a participação do juiz, dos

jurados e do Ministério Público, impedindo, especialmente a este, exercer o

contraditório, desequilibrando a igualdade entre as partes.

Além do mais, burlou-se a fase processual estatuída no art. 422, CPP,

oportunidade em que as partes requerem diligências e arrolam suas testemunhas para

serem inquiridas em plenário.

18

Page 19: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Some-se a tudo que o nobre Juiz presidente não advertiu os jurados _

tal fato não consta da ata _ do conteúdo unilateral dos depoimentos dos familiares do

acusado, de modo que os julgadores pudessem atribuir o correto valor àquelas

declarações.

Inclusive, o Ministro JORGE MUSSI (Relator), no habeas corpus nº

196.780 - RS (2011/0026838-8), em memorável acórdão do Superior Tribunal de

Justiça, destacou em seu voto:

Tratando-se de DVD, onde contidos depoimentos, inviável a apresentação em Plenário de Júri, porque, em realidade, traduz-se em prova oral, não sujeita ao crivo do contraditório. Ademais, querendo, deveria a defesa arrolar tempestivamente testemunhas para serem ouvidas quando do julgamento popular. Assim, no entanto, não ocorrendo, descabe tomar-se declarações em DVD para apresentação na data do julgamento. Note-se que as pessoas ouvidas pela defesa fazem considerações de cunho subjetivo atrelada à acusação que recai sobre o réu

(…)

A razão para que o art. 422 do CPP determine o prévio arrolamento de testemunhas reside no fato de evitar surpresa às partes, possibilitando a defesa ou a acusação, diante da oitiva de determinadas pessoas, solicitar a oitiva de outras testemunhas que contrariem os depoimentos prestados por aquelas, não podendo qualquer das partes ser surpreendida com a oitiva de pessoas não previamente arroladas para a sessão plenária (sejam elas vítimas ou testemunhas).

Orientação diversa não se encontra no repertório jurisprudencial desta

Corte (STJ):

HC 61001 / RS

(...)

Relator (a) Ministro GILSON DIPP (...)

CRIMINAL. HC. ROUBO QUALIFICADO. NULIDADE. FASE DO ART. 499 DO CPP. INDEFERIMENTO DA REALIZAÇAO DE PERÍCIA. CERCEAMENTO DE DEFESA NAO EVIDENCIADO. APRESENTAÇAO DE TESTEMUNHO EXTEMPORÂNEO. NULIDADE CAUSADA

19

Page 20: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

PELA DEFESA. ART. 565 CPP. AFRONTA AO ART. 231 E ART. 400 DO CPP. NAO APLICAÇAO. PROVA TESTEMUNHAL SOB A FORMA DE DOCUMENTO. DESÍDIA DA DEFESA. PRECLUSAO CONSUMADA. INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZOS À BUSCA DA VERDADE REAL. CONDENAÇAO BASEADA EM PROVAS FRÁGEIS. AUSÊNCIA DE INDÍCIOS DE AUTORIA. FALTA DE FUNDAMENTOS PARA A CONDENAÇAO. IMPROPRIEDADE. ANÁLISE INVIÁVEL EM SEDE DE HABEAS CORPUS. ORDEM DENEGADA.

(…)

O patrono do acusado não pode, tentando burlar o devido processo legal, juntar aos autos tal declaração, sob forma de prova documental , pois estando o feito na fase do art. 499 do CPP, encontrava-se configurada a preclusão da pretensão de oitiva de testemunha, pela desídia da defesa.

A preliminar, ora sustentada, possui caráter absoluto, podendo ser

alegada em qualquer tempo, eis que afronta o equilíbrio/igualdade entre as partes,

desmoronando o princípio do devido processo legal (art. 5º, LIV, CF).

O processo deve ser justo a fim de que as decisões obtidas ao final

atendam aos reclamos da sociedade e tragam a pacificação social, um dos escopos da

Justiça.

Na atual conjuntura, os membros do Conselho de Sentença foram

influenciados por depoimentos colhidos à revelia do contraditório (art. 5º, LV, CF).

Portanto, o veredicto encontra-se irremediavelmente viciado, sendo imperativa a

cassação por nulidade absoluta.

IV - DO MÉRITO

IV.1 - Materialidade

A materialidade está estampada nas perícias de fls. 43/50, 76/86, 117-

8, 129-46, 169, 220-7, 316, 318, 319-20, 387-8.

20

Page 21: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Certa esta, cabível, então, a análise da autoria do crime e sua

configuração.

IV.2 - Autoria

A prova oral colhida no bojo dos autos é firme em ratificar a autoria

do Recorrido.

Coube ao acusado KMC dirigir o veículo que perseguia as vítimas e

efetuar disparos de arma de fogo.

Como apurado, o policial KMC atuava no patrulhamento do bairro

Santa Terezinha, onde a maioria das vítimas e testemunhas residia. O Recorrente

entendia que tais pessoas eram criminosos, cujas vidas lhe eram desprezíveis.

Na noite dos fatos, o Recorrido foi a uma festa denominada "Na

Pegada", estando acompanhado da testemunha PEDRO HENRIQUE RIBEIRO

MARTINS e do corréu WSB. No local, encontrou-se com o policial SSP.

Durante a festa, fizeram uso de bebida alcoólica, sendo que KMC

passou a menosprezar alguns participantes do evento, afirmando que eram traficantes, e

a intimidá-los, pois trazia na cintura uma pistola .380.

Assim, buscando evitar um embate com o policial KMC, o qual

apresentava bastante agressividade, as vítimas e seus companheiros decidiram deixar a

festa.

Em um primeiro veículo, o Fiat Pálio, cor cinza, placa HNI 2749,

embarcaram a vítima OTÁVIO GARCIA DE OLIVEIRA, que ocupava a direção,

SERLON ARAÚJO SANTOS, no banco do carona, e, atrás, estavam WESLEY

OLIVEIRA DOS SANTOS, JÉSSICA SOARES EUGÊNIA, LILIAN BONFIM

CAMPOS e ADELSON MARCELINO DE OLIVEIRA.

Os demais colegas das vítimas foram no carro Pálio Weekend, nele

estando RODRIGO, vulgo "DIGÃO" e ELDER LUIZ NOGUEIRA.

As testemunhas narram que logo após a saída do Pálio cinza, dirigido

por OTÁVIO, os autores do fato (KMC, SILAS e WSB) e a testemunha PEDRO

21

Page 22: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

partiram atrás, “cantando pneu”, em um Gol, cor azul escuro, placa MSL 0690. Em

seguida, veio o carro de RODRIGO com a testemunha ELDER.

Nesse trajeto, após realizarem uma curva, KMC e WSB iniciaram os

disparos de arma de fogo que vitimaram os ocupantes do Pálio cinza.

O veículo das vítimas quedou-se à beira da estrada, o que levou

RODRIGO a estacionar o seu carro, sendo o socorro acionado por terceiros.

Por sua vez, KMC evadiu-se para sua residência, onde se ocupou em

ocultar as armas e cartuchos utilizados no delito, fato devidamente comprovado com a

apreensão da pistola .40 do policial civil WSB e dos cartuchos de .380 nesta casa.

Posteriormente, a arma de KMC (.380) também foi identificada, pois

este a havia utilizada em outro delito de tentativa de homicídio, sendo que a perícia

esclareceu tratar-se da mesma arma empregada neste processo.

Eis, acima, um breve relato dos fatos comprovados nos autos.

Passa-se, doravante, a destacar os elementos de prova que confirmam

a narrativa sustentada.

Inicialmente, colhe-se do BO de fl. 22-v:

As testemunhas foram unânimes em afirmar que os militares soldado Keven e Silas foram os autores dos disparos. O Soldado Keven possui um veículo VW Gol, cor azul, placa MSL 0690…

O BO de fl. 34, igualmente, grafou que:

…o envolvido Pedro, ouviu o sd. KMC dizendo: “olha eles ali”; “olha eles ali”, fazendo isso em menção ao carro Pálio cinza que se encontrava na mesma via alguns metros à frente. O sd. KMC acelerou o carro e ao posicioná-lo ao lado do Pálio cinza iniciou uma série de disparos em direção àquele veículo…

Assim, restou consignado no APF, quando o condutor

WASHINGTON SOARES FERNANDES, fl. 02, afirmou:

…Que o depoente ainda estava no local do crime, quando lá chegou os policiais militares Kevin e Silas, cada um em uma

22

Page 23: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

motocicleta, no que foram apontados pelos ocupantes do mencionado veículo como os autores do crime…

ELDER LUIZ NOGUEIRA, fl. 03-A, narrou:

Que nesta festa encontrou com os militares Silas e Kevin que estavam à paisana; que logo que teve contato com Kevin o mesmo se referiu ao depoente dizendo que o mesmo era traficante de drogas, repassando tal informação para seu colega também policial de nome Silas (…) que durante todo o momento Kevin ostentava uma arma de fogo exibindo de forma a intimidar as pessoas que estavam no recinto, dentre elas seu amigo de nome Wesley; que presenciou Kevin retirar a arma da cintura, qual seja uma pistola “quadrada”, cromada; que Kevin chegou a intimidar o depoente perguntando que “se ele já tomou um tiro de borracha calibre 12 certamente agüentaria tomar um tiro com a citada pistola”;que em seguida o depoente disse a Kevin que se fosse policial efetuaria dois disparos para o alto “para dar comédia”, sugerindo inclusive que Kevin assim procedesse, que neste instante Kevin disse para o depoente que naquela data, um pouco mais tarde, ele ouviria alguns disparos da citada arma de fogo (…) que diante das provocações de Kevin o depoente achou por bem deixarem a festa antes do final (…) que assim que resolveram deixar o local percebeu que Silas e Kevin saíram logo atrás seguindo o depoente e seus colegas; (…) que o depoente percebeu que logo após que o veículo Pálio deixou o local presenciou Silas e Kevin que já se encontravam dentro de um veículo Gol Bola de cor azul escuro seguindo o veículo Pálio; que Kevin era o motorista do veículo Gol, sendo Silas o único passageiro, podendo afirmar que o veículo pertence a Kevin pois já o viu dirigindo tal veículo por diversas vezes; que inclusive Kevin saiu arrancando o carro “cantando pneu” para alcançar o veículo Pálio; que deseja esclarecer que o policial Kevin possui atrito com algumas pessoas residente no bairro Santa Terezinha dentre ela a pessoa de nome Serlon, “Delsinho” e Wesley; que todos os três elementos anteriormente citados estavam dentro do Pálio que estava sendo seguido por Silas e Kevin; que em seguida entrou em um veículo Pálio Weekend de “Digão” e saiu em direção ao Pálio e ao Gol que era conduzido por Kevin; que neste momento o depoente ligou para Serlon combinando de encontrarem no Posto Século XXI, bem como para informar aos passageiros do veículo Pálio que Kevin e Silas estavam o seguindo; que ao se aproximarem da rotatória situada na entrada do bairro Vila império, bem próximo de uma curva existente naquele local, já bem próximo ao viaduto, não mais viu o Gol conduzido por Kevin nem mesmo o

23

Page 24: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

veículo Pálio, e instantes seguintes ouviu diversos disparos de arma de fogo nas proximidades do local; que em seguida após os disparos e ao passar da rotatória verificou que o Pálio havia subido num barranco e o veículo Gol estava deixando o local em alta velocidade; que diante dos fatos pediu para “Digão” parar o carro pois as pessoas que estavam no interior do Pálio eram seus amigos; que, então, ao aproximar do Pálio verificou que seu amigo Wesley de apenas treze anos havia tomado um tiro na cabeça, bem como seu amigo Otávio que dirigia o Pálio tinha sido atingido com dois tiros na cabeça (…) após a chegada da polícia militar percebeu que Silas estava chegando no local com um capacete na cabeça, aparentando estar armado, momento em que o depoente imediatamente apontou para os policiais militares que estava no local afirmando que Silas seria o autor dos disparos, vindo Kevin logo em seguida a chegar no local em uma motocicleta de cor preta, parecendo ser uma de 300 cilindradas, no que também o apontou para os militares como sendo também responsável pelos disparos juntamente com Silas (…) que os policiais não recolheram as armas de Silas e Kevin; que Kevin estava portando uma pistola cromada e não chegou a ver qual arma Silas usava (…) que também esclarece que Kevin estava visivelmente embriagado e todos faziam uso de bebida alcoólica no entanto somente Kevin estava alterado, mexendo com algumas mulheres que estavam no local…

A testemunha PEDRO HENRIQUE RIBEIRO MARTINS, que estava

no interior do veículo de KMC no momento dos disparos, ouvida às fls. 05-6, afirmou o

seguinte:

“(...) Que durante o percurso o carro em que estavam sendo conduzido por Kevin estavam a uma distância aproximada de cem metros do Pálio prata; Que após passar pela rotatória bem como pelo viaduto, Kevin ultrapassou o Pálio prata, momento em que os veículos ficaram lado a lado; Que neste exato momento o depoente presenciou Kevin sacar uma pistola cromada e desferir vários tiros em direção ao veículo Pálio prata; Que o depoente pode precisar que os disparos foram efetuados de forma sequencial, não havendo interrupção em momento algum; Que no mesmo momento em que Kevin efetuava os disparos o mesmo com uma das mãos guiava o citado veículo; Que ao lado no banco do passageiro estava o militar Silas; Que o depoente apenas presenciou o primeiro disparo ser efetuado por Kevin, o qual esticou seu braço

24

Page 25: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

acionando a arma de fogo bem próximo a face do policial Silas (...)”. (g. n.)

Bom destacar que a testemunha prestou o mesmo depoimento a

policiais militares, o qual foi gravado, cuja mídia encontra-se juntada aos autos.

A observação acima consta do Auto de Apreensão lavrado à fl. 24,

informando ter sido apreendida: “uma mídia de DVD-R, marca Multilaser, com

gravação das imagens da testemunha, Pedro Henrique, narrando os fatos”.

O policial ADAIR, a respeito do tema, esclareceu às fls. 1257:

… a testemunha estava temerosa de ser envolvida e ser presa pelo fato; que a testemunha disse que sabia onde estavam as armas, dizendo que estavam na casa de KMC; que o depoente entrou em contato com seu superior, que havia pedido que buscasse a testemunha, e se deslocou para a casa de KMC, sendo que lá esperou que seus superiores chegassem; que quando eles chegaram foi procedida uma busca na casa de KMC (…) tendo sido encontrada uma Pistola Ponto quarenta, com o emblema da Polícia Civil…

No mesmo sentido, é o depoimento do policial CLÁUDIO DOS REIS

SILVA, fl. 1259:

… que seu parceiro de trabalho, Policial Cabo Adair, no dia dos fatos ligou para o depoente e disse que precisariam trabalhar em um fato que havia ocorrido (…) que seu colega Cabo Adair no caminho disse ao depoente que havia ocorrido um homicídio em que KMC era acusado, e que o depoente e ele deveriam encontrar uma testemunha de nome Pedro (…) que Pedro então disse: “vocês me ajudam?”, sendo que o depoente disse: “ajudar em quê?; que logo depois Pedro disse que havia algumas armas na casa de KMC; que com o depoente Pedro não chegou a comentar anda sobre os fatos ocorridos no dia anterior; que logo após Pedro ter dito onde estavam as armas o colega do depoente, Cabo Adair, ligou par seus superiores, que acionaram toda a equipe e se dirigiram para a casa de KMC…

A testemunha WESLEY PENA DA SILVA, ouvida às fl. 07, narrou:

25

Page 26: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

“(...) Que durante a festa o depoente presenciou quando de um lado Kevin conversava com Elder e com Hilander, não ouvindo sobre o que falavam, mas viu o momento em que Kevin sacou da cintura uma arma de fogo, sendo uma pistola ‘quadrada’ e cromada; Que ouviu Elder falar para Kevin que se ele fosse policial daria dois tiros para o alto pois não lhe daria problema; Que percebendo que Kevin estava procurando confusão, acharam por bem sair da festa antes do seu final; (...) Que seguiram direto pela estrada de acesso ao bairro Penha e quando estavam já no final da tal estrada, já próximo ao ponto que dá acesso ao bairro Vila Império, perdeu de vista o veículo Gol de cor azul que Kevin dirigia e ouviu diversos disparos de arma de fogo, e ao aproximar-se um pouco viu que o veículo Pálio dirigido por Otávio tinha subido em um barranco e estava parado, sendo que viu o veículo Gol de cor azul conduzido por Kevin abandonado o local em alta velocidade (...)”. (sic)

Não foi outra a versão apresentada por SERLON ARAUJO SANTOS,

ouvido às fls. 08-9:

“(...) Logo que chegou na festa foi informado por seus colegas que Kevin teria exibido uma pistola cromada para seus colegas Elder, Hilander e o menor Wesley que veio a falecer; Que o depoente e seus colegas vendo que tinha criado um clima estranho no local decidiram deixar a festa; (...) Que estavam já no final da estrada de acesso ao bairro Penha, quando passaram por debaixo do viaduto ouviu um disparo e perguntou a Delcinho o que estava acontecendo no que ele lhe respondeu que eram tiros que estavam sendo disparados por um outro veículo contra o veículo em que estavam; Que o veículo que os seguia ficou lado a lado com o veículo em que estavam quando ouviu diversos disparos; Que a pessoa de Otávio que conduzia o veículo foi atingido foi atingido na cabeça e caiu em cima do volante vindo a subir o carro no meio fio; Que o depoente viu um veículo de cor escura abandonando o local, acreditando o depoente tratar-se de um veículo Gol bola; (...) após os disparos iniciais o veículo Gol que estava sendo ocupado por Kevin e Silas ultrapassou o veículo Pálio, oportunidade em que continuou a escutar os disparos vindo da lateral do carro, de modo que os disparos somente poderiam estar sendo efetuados por pessoas que estivessem ocupando o veículo Gol, vez que no momento dos fatos não havia mais nenhum veículo ou pessoa nas proximidade (...)”. (sic)

26

Page 27: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

ADELSON MARCELINO DE OLIVEIRA, fls. 10/11, igualmente

sustentou:

“(...) Que presenciou Kevin ostentando uma arma de fogo (pistola cromada) no interior da festa, inclusive viu Kelvin apontando a citada pistola para a cara do menor Wesley; (...) Que Kelvin estava intimidando as pessoas que estavam no recinto, dentre eles o menor Wesley; (...) Que por esse motivo o declarante, juntamente com seus amigos saíram com o objetivo de deixar o local; Que neste momento verificou que Silas e Kevin saíram atrás do depoente e seus amigos; (...) Que neste momento o depoente viu Silas e Kevin entrando em um carro Gol azul; Que em seguida, o carro em que estavam Kevin e Silas parou na frente do carro em que o depoente estava; Que assim que o veículo Gol parou na frente do Palio, Otávio que era motorista do Palio saiu do local indo em direção ao centro da cidade; Que logo em seguida os militares Kevin e Silas começaram a seguir o carro que o depoente estava; (...) ao chegarem próximo de uma rotatória que fica nas proximidades da Av. JK, ao subirem um pequeno morro, escutou vários disparos de arma de fogo provenientes do carro que estava sendo ocupado por Silas e Kevin, o qual estava bem próximo (‘colado’) no veículo Palio; Que após os disparos o depoente viu o veículo Gol ocupado por Kevin e Silas ultrapassando o veículo Palio e fugindo em direção à Av. JK; (...) Que os tiros foram dados de dentro do carro, de forma que os estojos das munições não caíssem na rua; Que no momento dos tiros o depoente viu que os mesmos estavam vindo de dentro do veículo Gol que estava sendo ocupado por Silas e Kevin, contudo não sabe precisar com exatidão quem foi a pessoa responsável por todos disparos que atingiram o veículo Palio e seus ocupantes; (...) Que deseja esclarecer que Kevin estava muito embriagado na festa ‘NA PEGADA’, inclusive tentando arrumar brigas com seus amigos (...)”. (sic)

A vítima JÉSSICA SOARES EUGENIA, ouvida às fls. 106-7

declarou:

“(...) QUE, assim que viu KMC, a informante avisou às demais vítimas, que o mesmo se encontrava na festa, pois KMC, como Policial Militar, trabalha no bairro onde a informante e os demais residem, sendo que KMC sempre que encontra com os meninos na rua, agridem os mesmos; (...) QUE, KMC logo foi

27

Page 28: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

atrás da informante e dos demais, sendo que quando estavam andando, KMC, apontou uma arma de fogo no rosto de WESLEY OLIVEIRA SANTOS (...) QUE, assim que SERLON desligou o telefone começaram os disparos; (...) QUE, somente escutou o barulho do veículo de KMC evadir do local, mas não sabe informar quem estava dentro do referido veículo; (...) QUE, a informante acredita que o único motivo que KMC teria para cometer tal crime é devido o mesmo não gostar das vítimas, por residirem no bairro Santa Terezinha”. (sic)

LILIAN BOMFIM CAMPOS, ouvida às fls. 114-5 declarou:

“(...) QUE, pode perceber que KMC estava armado, pois sempre o mesmo levava a mão na cintura, mas não sabe informar qual arma seria; (...) QUE, quando se aproximaram do bairro Castanheiras, SERLON recebeu uma ligação da de um conhecido, informando que KMC estava seguindo o veículo onde eles estavam; QUE, logo que SERLON desligou o telefone, a informante escutou vários barulhos de disparos de arma de fogo (...)”. (sic)

LEANDRO COELHO DA COSTA, ouvido às fls. 123-4,

complementou a versão ora sustentada:

“(...) QUE, assim que o depoente e as demais vítimas chegaram na festa, KMC começou a ‘implicar’ com as mesmas; QUE, o motivo de KMC não gostar das vítimas, é devido às mesmas residirem no bairro Santa Terezinha, sendo que KMC trabalha como Policial Militar naquela área; (...) DISSE, que em dado momento da festa, KMC, apontou sua arma de fogo, sendo uma pistola, calibre .380, cromada, na cabeça da vítima WESLEY OLIVEIRA SANTOS; (...) QUE, assim que OTÁVIO e as demais vítimas estavam dentro do carro, se preparando para saírem, o depoente viu, o veículo Gol, de cor azul, ocupado por KMC, que estava como motorista e ao seu lado a pessoa de SILAS, sendo que KMC parou com o carro em frente ao veículo de OTAVIO; (...) QUE, assim que OTAVIO saiu com o veículo do local da festa, KMC saiu também com o seu carro atrás (...)”. (sic)

O Histórico da Ocorrência, constante da fl. 34, noticiou que:

“(...) Por volta das 04:00 horas da manhã do dia 05 de fevereiro 2012 – domingo, se encontravam posicionados da seguinte

28

Page 29: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

forma no veículo do SD KMC: Motorista – SD KMC, Carona – SD Silas, Atrás do Motorista – Detetive WSB e Atrás do Carona, o envolvido Pedro. Assim que passaram pelo viaduto sob a linha férrea, próximo a Avenida JK, o evolvido Pedro ouviu o SD KMC dizendo: ‘Olha eles ali’; ‘Olha eles ali’, fazendo isso em menção ao carro Palio cinza que se encontrava na mesma via alguns metros a frente. O SD KMC acelerou o carro e ao posicioná-lo ao lado do Palio cinza iniciou uma serie de disparos em direção aquele veículo, sendo que o SD PM Silas estava encostado contra o banco do carona para não ser atingido pelos disparos; Que viu que o Detetive WSB portava uma pistola preta, mas não viu se ele também disparou, pois o envolvido se abaixou no interior do veículo; Logo após, os quatro foram a residência do Soldado KMC e este escondeu as armas e os estojos deflagrados no telhado da residência dele; Que o envolvido Pedro retornou ao local dos fatos em uma motocicleta com o Soldado PM Silas, quando chegaram o SD Silas foi abordado pelos Policiais Militares. O celular do envolvido Pedro foi apreendido e relacionado no campo apropriado neste BO. Em posse das informações relatadas, este relator e outros militares de deslocaram ate a residência do SD PM KMC, que franqueou a entrada dos Policiais Militares. No local foram encontrados vários estojos deflagrados de vários calibres no telhado da residência, sendo que esse material foi recolhido pelo Perito da Polícia Civil que esteve no local. Em ato contínuo, o paio do SD PM KMC, Sr. Ducler Costa, autorizou a entrada da Polícia Militar na residência dele que é conjugada com residência do Soldado KMC, local onde foram encontrados os materiais (armas: pistola .40 da carga da Polícia Civil de Minas Gerais, revólver .38 e garrucha e munição) (...)”. (sic)

A apuração demonstrou também que duas armas foram utilizadas no

delito, sendo uma de calibre .40, de propriedade do corréu WSB (fato por ele mesmo

admitido) e outra calibre .380, de uso do Recorrido KMC.

O laudo abaixo transcrito evidenciou o uso da pistola .40:

Laudo n.º 12709/2012/STBIAM/DL/IC (pág. 632)

DOS EXAMES:

“Designados pela Diretoria deste Instituto de Criminalística, os Peritos Criminais, signatários do presente laudo procederam aos

29

Page 30: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

exames necessários passando a expor o que constataram, à época”:

MATERIAL ENVIADO A EXAMES

“Uma pistola semi-automática da marca IMBEL, calibre .40, número de série EKAS 31805, modelo MD5LX, pertencente a PCMG, relacionada no laudo 373/2012/STRC – Governador Valadares; três projéteis com blindagens, sendo dois com características compatíveis as do calibre .40 e um com características compatíveis as do calibre .380, pertencentes ao laudo 372/2012/STRC – Governador Valadares; dois projéteis com blindagens, massas de 10.99g e 11.56g, calibre .40, cinco projéteis com blindagens com massas de 6.07g, 6.08g, 6.13g, 6.14g e 6.15g, respectivamente, e um projétil de chumbo com massa de 6.42g, todos com características compatíveis as do calibre .380, sendo os valores das massas aproximados e todos os projéteis apresentando deformações acidentais e raiamentos.

DA EFICIÊNCIA

Vide laudo 373/2012/STRC – Governador Valadares.

DA MICROCOMPARAÇÃO BALÍSTICA:

Os projéteis incriminados enviados a exames foram microcomparados com padrões colhidos da arma em pauta, logrando os signatários encontrar analogias nas deformações secundárias (estritamentos laterias finos), o que permite afirmar que todos os projéteis de calibre .40 (quatro no total) foram propelidos através do cano da arma examinada, e constatando que os projéteis restantes (calibre .380) não foram propelidos pelo cano da pistola em questão devido a divergência de calibres.

Acompanha o laudo o material examinado em invólucro lacrado n.º 0167154.

Sobre o emprego da pistola. 380 no crime, utilizada por KMC, o fato

restou plenamente comprovado através do laudo de balística juntado aos autos às fls.

1081-2, demonstrando que o Recorrido utilizou a arma em dois episódios distintos:

“Nº. Laudo: 11744/2013/STBIAM/DL/IC. Nº PCnets: 812887; 1423195 e 399275. Nº REDS: não consta. EXAME DE: Balísticos. REFERÊNCIA: processos nº010511005478-7(3ªVC)/010518689-6(2ªvc)/010512000204-0(1ªVC). Unidade Requisitante: 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil/Governador Valadares. Investigado(s): KMC e outros.

30

Page 31: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Vítima(s): Diego Costa Monteiro/Frederick Ferreira da Silva/Otavio Garcia de Oliveira e outros. Data dos exames: a partir de 07/03/2013. Destino do Laudo: Ao Requisitante. DOS EXAMES: Designados pela Diretoria deste Instituto de Criminalística os Peritos Criminais signatários do presente laudo procederam aos exames necessários passando a expor o que constataram, à época: MATERIAL ENVIADO A EXAMES: 1) PCNET 812887: Doze estojos percutidos e deflagrados de calibre .380Auto da marca CBC e um projétil com blindagem, calibre .380Auto, massa aproximada de 6.16g, apresentando profundas deformações acidentais e raiamentos; 2) PCNET 1423195: a) Um projétil com blindagem, características compatíveis ao calibre .380Auto, descrito e analisado no laudo 371/2012/STRC-Governador Valadares; b) Três estojos percutidos e deflagrados de calibre .380Auto da marca CBC; c) Um fragmento de blindagem com massa de 0.02g, sem elementos técnicos para determinar o calibre, bem como exame de microcomparação balística; d) Quatro projéteis com blindagens, calibre .40, apresentando profundas deformações acidentais e raiamentos; e) Sete projéteis com características compatíveis ao calibre .380Auto, sendo seis com blindagens e um de chumbo, todos apresentando profundas deformações acidentais e raiamentos; 3) PCNET 1423195: um revólver da marca ROSSI, calibre .38, montagem 4879, descrito e analisado no laudo 373/2012/STRC-Governador Valadares; 4) PCNET 399275: Um projétil com blindagem, massa de 7.42g, características compatíveis ao calibre .38, apresentando profundas deformações acidentais e raiamentos. DA EFICIÊNCIA: Com a arma em questão foram efetuados disparos, verificando os examinadores que esta podia ser utilizada e vir a ofender a integridade física de alguém. DA MICROCOMPARAÇÃO BALÍSTICA: Entre materiais descritos no item 1 com os matérias descritos no item 2: 1. Os estojos incriminados dos itens ‘1’ e ‘2’ foram microcomparados entre si, logrando os signatários encontrar analogias nas deformações produzidas pelo percussor e placa de obturação, o que permite afirmar que estes foram percutidos pelo percussor de uma mesma arma; 2. Os projéteis incriminados dos itens ‘1’ e ‘2’ (calibre .380Auto) foram microcomparados entre si, constatando os signatários que três projéteis do item ‘2’ apresentaram analogias nas deformações secundárias (estriamentos laterais finos), o que permite afirmar que estes foram propelidos através do cano de uma mesma arma que propeliu o projétil do item ‘1’; 3. Os projéteis restantes não apresentaram elementos técnicos suficientes para um parecer conclusivo. Entre materiais descritos no item 3 com os

31

Page 32: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

matérias descritos no item 4: O projétil incriminado, descrito no item ‘4’ enviado a exames foi microcomparado com padrões colhidos da arma em pauta, descrita no item ‘3’, constatando os signatários que este não foi propelido pelo cano da arma, devido a divergência quanto ao número de raias, ou seja, projétil cinco raias e revólver seis raias. Acompanha o laudo o material examinado em invólucros lacrados nº0843786 (PCNET 812887) nº0843788 (PCNET 1423195) e nº0674461 (PCNET 399275). Belo Horizonte, 22 de março de 2013”. (sic)

Inclusive, valiosas as ponderações autoridade policial CLERISTON

LOPES DE AMORIM, às fls. 1079/1080:

“(...) Meritíssimo Juiz, Valho-me deste para encaminhas à Vossa Excelência LAUDO PERICIAL DE MICRO COMPARAÇÃO BALÍSTICA, conforme os fatos que serão abaixou descritos. No dia 05 de fevereiro de 2012, conforme Inquérito Policial nº 213/2012, PCnet º 1423195, Processo 010512000204-0, o suspeito KMC foi preso em flagrante delito, juntamente com outro policial militar, acusados de terem cometido dois (02) homicídios consumados e quatro (04) homicídios tentados. Posteriormente, no decorrer das investigações, também foi preso preventivamente, o Policial Civil WSB, tendo sido todos os três (03) policiais indiciados pelos referidos crimes. Mais adiante, verificou-se que o indiciado SSP foi absolvido durante julgamento realizado pelo Júri Popular. Durante as investigações apurou-se que duas (02) pistolas teriam sido utilizadas para a consecução do delito, tendo em vista terem sido arrecadados projetis de calibre .40 e calibre .380. No entanto, apenas uma pistola de carga da Polícia Civil, calibre .40, foi arrecadada, a qual tinha sido depositada para o referido policial civil. O exame de micro comparação balística feito à época revelou que todos os projetis de calibre .40 arrecadados no local tinha sido propelidos pela pistola .40, originária da Polícia Civil, de carga do Policial Civil WSB. Pois bem. Até então, considerando que não se tinham informações acerca da localização da arma de fogo de calibre .380 utilizada nos referidos crimes, não foi possível realizar qualquer exame pericial com vistas à identificação de um ‘padrão’, ou seja, da arma utilizada para propelir aqueles projetis utilizados no crime. No entanto, considerando que o suspeito KMC figura como único investigado no Inquérito Policial de PCnet nº 812887/2011, Processo nº 0054787-35.2011, tendo como vítima de homicídio tentado DIEGO COSTA MONTEIRO e, considerando ainda que, no decorrer

32

Page 33: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

das investigações, surgiram informações de que a arma utilizada neste crime teria sido a mesma usada no fato que culminou em sua prisão no dia 05 de fevereiro de 2012, a Autoridade subscritora requisitou perícia de MICRO COMPARAÇÃO BALÍSTICA entre os projetis e cartuchos arrecadados em ambos os fatos, conforme Laudo em anexo, tendo o resultado sido POSITIVO. Desta feita, conclui-se, de forma inequívoca, que os projetis e cartuchos de calibre .380 arrecadados em ambos os fatos foram propelidos pela mesma arma de fogo, sendo o Policial Militar KMC o único investigado que concomitantemente figura nas duas investigações. Ante ao exposto, remeto à Vossa Excelência cópia do referido Laudo Pericial para que adote as medidas que entender cabíveis. Governador Valadares, 03 de junho de 2013”. (sic)

Como visto, o acusado KMC utilizou a pistola .380 em dois

momentos (em uma tentativa de homicídio contra DIEGO COSTA MONTEIRO e no

presente caso), ficando afastada a possibilidade do corréu SSP ter sido um dos

atiradores. Essa afirmativa vem corroborada pelas informações prestadas pelo Comando

da Polícia Militar, quando afirma que os réus militares não tinham arma de carga da PM

consigo:

“ Em atenção ao Ofício acima referenciado, comunico a Vossa Excelência que nos registros de armas e munições do Sistema PMMG, não consta nenhuma arma ou munição da carga da PMMG ou particular que estavam registradas em nome dos militares acima mencionados”. (fl. 295 ofício n.º 073/2012 fazendo referência ao ofício s/n.º de 06/03/2013 – Autos n.º 105.12.000204-0)

O auto de apreensão de fl. 87 materializou a apreensão dos projéteis:

“2.0 UNIDADE de OUTROS OBJETOS (DISCRIMINAR NO HISTÓRICO); Duas ogivas jaquetadas calibre .40, recolhidas pelo perito no interior do veículo Fiat/Palio Fire, placa HNI-2749, conforme Laudo de Levantamento de Local nº305/2012, acondicionadas em invólucro plástico lacrado nº0279562.;

6.0 UNIDADE de OUTROS OBJETOS PESSOAIS (DISCRIMINAR NO HISTÓRICO; Seis ogivas jaquetadas calibre .380, recolhidas pelo perito no interior do veículo Fiat/Palio Fire, placa HNI-2749, conforme Laudo de

33

Page 34: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Levantamento de Local nº305/2012, acondicionadas em invólucro plástico lacrado nº0279562.;”. (sic)

O mesmo se diz a respeito do auto de apreensão de fl. 162:

“3.0 UNIDADE de OUTROS OBJETOS PESSOAIS (DEISCRIMINAR NO HISTO; Três cartuchos deflagrados, calibre .380, recolhidos na casa de KMC, em cumprimento a Mandato de Busca e Apreensão, expedido pelo MM Juiz de Direito, Dr. Roberto Apolinário de Castro.;”.(sic)

Igualmente, os laudos periciais abaixo citados deixam patente a

constatação do uso das armas no crime em tela:

Laudo n.º 372/2012 à fl.316

“Tratavam-se de :

Um projétil encamisado, peso 6,1g, com base fechada, características semelhantes às dos projéteis tipo “Hollow point” e de ter sido propelido por arma de fogo, apresentando deformações normais e acidentais, tendo calibre compatível com os dos projéteis nominais .380”.

Dois projéteis encamisados, de pesos 11,6 g (onze gramas e seis decigramas) e 11,5g (onze gramas e seis decigramas), com características de terem sido propelidos por arma de fogo, apresentando deformações normais e acidentais, tendo calibre compatível com os dos projéteis nominais .40”.

Laudo n.º 371/2012, fl.318

“Tratava-se de um projétil encamisado, peso de 6,1g, com base fechada, características semelhantes às dos projéteis tipo “Holow point” e de ter sido propelido por arma de fogo, apresentando deformações normais e acidentais, tendo calibre compatível com os dos projéteis nominais .380”.

Laudo n.º 373/2012, fls.319/320:

2 – DOS EXAMES

DA(S) ARMA(S)

“1 – Uma pistola, marca Imbel, calibre .40, modelo GC MD5 LX, numeração de série EKA 31805, acabamento oxidado,

34

Page 35: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

capacidade para 16 + 1 cartuchos, placas de coronha em baquelite preto, comprimento do cano 127 mm, sistema de carregamento do tipo retrocarga (pente carregador), alma do cano raiada, percussão intrínseca indireta e central, funcionamento por repetição semi automática, mobilidade de uso portátil, individual e curta”.

DA EFICIÊNCIA

“A(s) munições enviadas e as 3(três) arma(s) analisada(s) apresentava(m)-se em estado normal de uso e funcionamento, verificando a examinadora que a(s) mesma (s), na época dos exames, poderia(m) ser utilizada(s) com eficiência e vir a ferir a integridade física de alguém. Com exceção de um dos cartuchos 36 que não deflagrou, sendo ineficiente na hora dos exames.

Laudo n.º 307/2012, fl.387

“Procedida a vistoria, o Perito encontrou no interior do veículo, localizado no porta-objetos da porta direita, um fragmento metálico semelhante a fragmento de blindagem de projétil de arma de fogo, não sendo possível determinar de qual calibre. Nenhum outro objeto de interesse criminalístico foi encontrado”.

Sobre o ingresso do Recorrido na festa, portando arma de fogo, além

das transcrições acima, veja o depoimento de JULIANA MARIA DA SILVA, ouvida às

fls. 89/90:

“(...) QUE, assim que OTAVIO chegou na festa, com seus colegas, KMC se aproximou dos mesmos e apontou uma arma de fogo, para a vítima, WESLEY OLIVEIRA DOS SANTOS e começou a jogar bebida alcoólica nas vítimas; (...) QUE, quando KMC chegou na festa, não autorizou que seu veículo fosse revistado e nem mesmo as pessoas que estavam dentro do seu carro (...)”. (sic)

Inclusive, WSB, ouvido às fls. 93-5, confirmou que KMC portava

uma pistola .380:

“(...) QUE, o declarante informa que PEDRO e KMC possuem uma relação de amizade maior e com mais afinidade do que a que o declarante possui com PEDRO; (...) QUE, o declarante levou consigo a pistola, calibre .40, carga da Polícia Civil e sabe

35

Page 36: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

dizer que KMC estava armado com uma pistola, calibre .380, cor prata (...) QUE, em todas as oportunidades que o declarante saiu com KMC, pode observar que este sempre portava esta pistola, calibre .380 (...)”. (sic)

SSP, ouvido às fls. 148/151, confirmou a autoria do acusado KMC:

“(...) QUE pode observar que KMC estava armado com uma pistola 380, cromada, em decorrência do volume em sua cintura; (...) QUE por volta das 04 h da manhã, KMC o chamou para ir embora, juntamente com as pessoas de PEDRO e WSB (policial civil); QUE os quatro entraram no veículo do KMC, um GOL, cor azul, sendo que KMC estava na direção, o declarante ficou no banco dianteiro do carona, PEDRO estaria atrás de KMC, no banco traseiro e WSB estaria atrás do declarante; QUE saíram da festa e pegaram a via principal do Distrito Industrial, sendo que ao chegarem próximo ao aeroporto, na parte asfaltada, KMC acelerou o veículo e passou a perseguir um Fiat Palio; QUE em nenhum momento, KMC disse que estaria perseguindo o referido veículo; QUE foi nessa oportunidade que o declarante viu o Fiat Palio pela primeira vez; QUE KMC permaneceu em perseguição ao veículo até quase chegar na rotatória da avenida JK, próximo ao bar Marrecão, quando colocou seu carro lado a lado com o Fiat Palio, ambos ainda em movimento, quando pode perceber que KMC pegou sua arma e começou a disparar em direção ao Fiat Palio; QUE neste momento, antes de dar o primeiro tiro, ouviu KMC dizer: ‘É agora!’; QUE o declarante acredita que a arma estava entre as pernas de KMC; QUE logo quando KMC disse: ‘É agora!’, o declarante ouviu uma outra pistola sendo engatilhada, tendo os disparos das duas armas sido feitos quase que simultaneamente; QUE o policial civil WSB teria também disparado vários tiros em direção ao veículo Fiat Palio, imediatamente puxou a poltrona para trás; QUE KMC estava com a arma apontada mais ou menos na direção de seu rosto, a uma distância aproximada de dois palmos e meio; QUE WSB no mesmo momento, colocou a arma por cima de sua cabeça e começou a atirar; QUE não sabe informar o que PEDRO teria feito no momento dos disparos; QUE informa que KMC chegou a atingir cerca de 120 km/h para alcançar o veículo Fiat Palio; QUE quando dos disparos, o veículo em que estavam, um Gol, cor azul, estava mais ou menos há cerca de 70/80 km/h; QUE KMC não parou o veículo para poder atirar, sendo os disparos ainda feitos com o carro em trânsito; QUE após os disparos, o declarante observou que

36

Page 37: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

algumas cápsulas caíram atrás dele, entre ele e o banco; QUE também após os disparos, não foi dito nenhuma palavra entre os ocupantes do veículo; (...) QUE informa que KMC estava na direção do veículo, o declarante estava no banco carona dianteiro, que o policial civil WSB estaria logo atrás do motorista KMC e que PEDRO estaria atrás do declarante (...)”. (sic)

Quando da fase judicial, as provas mantiveram-se incólumes, sendo

indiscutível a autoria do crime por parte de KMC.

A vítima Adelson Marcelino de Oliveira declarou à fl.446:

“(...) que na festa KMC ficou mandando um menino jogar uma garrafa nos amigos do declarante; que não viu SSP (...) que o declarante presenciou KMC com uma arma na cintura, tendo inclusive sacado da arma por uma vez (...) que KMC disse que não iria atirar ali na festa e que o declarante e seus colegas iriam ver o que ele iria fazer lá fora; que essa conversa com KMC ocorre próximo à hora em que o declarante foi embora; que o declarante foi embora no interior de um Pálio de cor prata, que era pilotado por Otávio; que no banco dianteiro do carona estava Serlon (...) que antes do declarante adentrar no veículo Pálio pôde perceber que um veículo Gol de cor azul escura estava estacionado mais à frente e nele estavam KMC, SSP e WSB (...) que depois de percorrerem certa distância o declarante notou que o veículo Gol de cor azul, acima citado, estava seguindo o carro em que o declarante estava (...) que haviam passado sob um viaduto que sustenta a linha de trem, quando do veículo gol de cor azul escura passara a ser realizados disparos; que o carro gol acelerou, ficando lado a lado com o veículo Pálio em que o declarante estava, ocasião que foram efetuados mais disparos de arma de fogo; que alguns disparos atingiram Otávio e o carro desgovernou, subindo no meio fio e parando”.

A vítima Serlon Araújo Santos narrou em fl.451:

“que viu um veículo de cor escura ultrapassar o veículo Pálio, depois que o Pálio bateu; que não sabe que marca é esse veículo de cor escura; que acha que esse veículo pode ser um Gol ou um Corsa (...) que tem certeza que o veículo que passou era de onde provinham os disparos contra o Pálio; que na hora dos disparos o declarante se abaixou (...)”.

37

Page 38: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

A testemunha Elder Luiz Nogueira declarou em fl.455:

“que na festa o depoente conversou com KMC, momento em que presenciou o mesmo sacando uma arma e exibindo-a ao depoente; que KMC na ocasião disse que o depoente já havia tomado um tiro de borracha e que agüentaria também um tiro “da quadrada”; que a aram de KMC era uma pistola (...) que nessa ocasião o depoente e seus colegas estavam decidindo quem iria no carro de Otávio, foi quando viu KMC e SSP, no gol azul de duas portas, passando por ali e estacionando um pouco à frente; que KMC estava na direção do veículo e SSP no banco do carona (...) que pode afirmar que saiu da festa primeiro o carro de Otávio, logo após o carro de KMC e em seguida o carro em que estava o depoente; que só havia três carros na estrada; que nas retas mantinha contato visual com os carros de Otávio e KMC; que quando se aproximaram de um viaduto, que se localiza em uma curva, perdeu de vista os veículo de Otávio e KMC; que quando os veículos viraram a curva do viaduto o depoente passou a ouviu disparos de arma de fogo; que o veículo em que estava o depoente também fez a curca, oportunidade em que já viu o carro de Otávio parado sobre a calçada e o carro de KMC deixando o local; que neste momento não havia outros veículo próximos; que o declarante ainda pôde presenciar os últimos disparos efetuados do carro de KMC; que o depoente viu as faíscas que os disparos provocavam e também viu que os disparos saíam da janela dianteira do carro, do lado do carona (...)”.

A testemunha Wesley Pena da Silva, ouvida à fl.464, afirmou:

“(...) que o depoente presenciou o momento em que KMC falou para um menor que estava na festa arremessar uma garrafa vazia em direção ao depoente e seus amigos Elder, Railander, Serlon, Delsinho, Leandro, Otávio e Weslwy, porém o menor não arremessou a garrafa (...) que KMC estava em um veículo Gol de duas portas (...) que o carro de KMC saiu logo atrás do carro de Otávio e o carro do amigo de “Digão” saiu logo após a saída do carro de KMC; que quando trafegavam conseguia ver os carros de Otávio e KMC; que quando perdeu a visão dos carros ouviu os disparos; que perdeu a visão porque os carros entraram em uma curva; que chegou a ver o carro de Otávio subindo o barranco e o carro de KMC saindo em disparada (...)”.

Essa versão é a mantida na sessão do júri, fl. 1250-1:

38

Page 39: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

… que no momento em que a vítima Otávio tirou seu carro e o estacionou fora da festa, e enquanto decidam quem iria embora no carro do Otávio, o réu KMC pegou o carro e estacionou na frente do carro de Otávio; que logo depois Otávio e outras pessoas saíram do local, tendo KMC e SSP ido embora logo atrás; que esclarece que KMC estava dirigindo o carro e SSP estava no banco do carona, na frente; que logo após Otávio sair com seu carro e KMC também, “Digão” chegou no local e convidou o declarante e Elder para irem embora com ele, em seu veículo; que foi muito rápido quando o declarante e Elder saíram na companhia de “Digão”, logo atrás dos outros veículos; que Elder foi logo ligando para Serlon, porém não ouviu o que Elder disse a Serlon; que no momento em que estavam saindo e antes de Elder ligar para Serlon, Elder não recebeu nenhuma ligação; que o carro que o réu KMC estava dirigindo tinha os vidros escuros e duas portas; que o carro era um Gol, verde escuro puxando para azulado (…) que quando estavam na reta do Aeroporto, conseguia visualizar os carros do KMC e de Otávio que estavam mais à frente, esclarecendo também que tinha visualização desses carros na reta do bairro Castanheira; que quando viraram debaixo do viaduto, ao saírem da curva avistaram o veículo de Otávio já batido; que ao passarem pelo carro que havia sido atingido pelos tiros o depoente comentou “nossa, não pode ser o carro do Otávio”, avistando o carro do réu KMC mais à frente em alta velocidade…

A testemunha Leandro Coelho da Costa sustentou à fl.467:

“Que somente viu a arma de KMC, eis que o mesmo tirou a mesma para fora para mostrar para Elder e outra pessoa (...) Que perguntaram para o depoente se a arma de KMC era uma 380 e o depoente, sem saber ao certo,“chutou” que era uma 380; que o depoente nunca foi preso; que o depoente não tinha o hábito de freqüentar o bairro Santa Terezinha (...)”.

O acusado SSP afirmou em fl.530/534:

“que KMC estava armado no interior da festa, sendo que ele estava com uma Pistola Cromada 380 (...) que alguns metros à frente KMC ficou na traseira do Pálio e acabou emparelhando seu veículo Gol com o Pálio; que quando os veículos estavam emparelhados KMC tirou a sua arma, que estava em cima do colo do mesmo, e apontou em direção à janela do lado direito do carona; que o interrogado puxou o banco do carona e foi para trás; que o interrogado ouviu o detetive WSB, que

39

Page 40: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

estava atrás, engatilhar a sua arma; que pôde perceber que o detetive WSB pôs o corpo para frente e colocou sua arma na janela ao lado, por cima da cabeça do interrogado, e efetuou disparos também; que não pôde perceber quantos disparos KMC efetuou , mas foram vários; que o detetive WSB também efetuou vários disparos, não sabendo quantos (...) que KMC tem dois irmãos influentes na Polícia Militar, que são o capitão Fernando e o Tenente-Coronel Ducler (...)”.

Questão muito sensível tratada no bojo dos autos consistiu na

influência que o acusado possuía no meio policial, o que instigou outros colegas de

farda a ameaçarem e coagirem as testemunhas e os jurados (preliminar ventilada).

A testemunha Nilza Maria Penha declarou em fl.547:

“(...) o militar segurou o Wesley pelo pescoço ameaçando-o sobre o depoimento que iria dar na justiça em virtude do fato que envolveria o Sd KMC que estava sendo acusado de ser o autor dos assassinatos ocorrido no bairro Santa Rita (...)”.

A testemunha Elder Luiz Nogueira, ouvido em fl.549, afirmou:

“(...) que logo após o Sd Villarino começou a seduzir o declarante prometendo a este que tentaria não rebocar a motocicleta caso ele mudasse o depoimento na justiça, pois era melhor ele ser apenado com falso testemunho do que ser vítima de homicídio; que os militares inclusive falavam ao declarante que os irmão de KMC eram “forte”, que um era Major o outro Capitão (...) o Cabo Pena ameaçou o declarante proferindo as seguintes palavras “lava a boca para falar do KMC” “se eu te pegar de madrugada na rua eu vou te matar, desgraçado, filho da puta” (...)”.

A vítima Wesley Pena da Silva, ouvido á fl.551, disse:

“(...) que o Sd Alan, na companhia de outros militares, não sabendo o nome e o dia, abordou o declarante que estava junto com seu colega Elder “inchado” na Rua Mato Grosso de frente a sorveteria da Maria e começou a ameaçá-lo orientando ao declarante a mudar o depoimento na justiça no sentido de falar que no dia do ocorrido o declarante estava “noiado” e que não sabia de nada e estava falando de mais (...)”.

40

Page 41: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Tal depoimento foi ratificado no plenário do júri à fl. 1250:

… que o depoente foi procurado por policiais militares sendo abordado e agredido, tendo esses lhe dito para o que o depoente mudasse o seu depoimento; que o depoente procurou o Batalhão da Polícia Militar para fazer denúncia sobre a agressão que havia sofrido…

A testemunha Thárcio Rabelo declarou à fl.718:

“(...) que estava no Postinho, posto de gasolina que fica na rua Pedro Lessa no bairro de Lourdes, e estava sentado em uma mesa, na loja de conveniência; quando chegaram uns policiais militares, e foram abordar algumas pessoas que estavam na mesa e que se lembra do Cabo Pena ter abordado Wesley, e dizendo ao mesmo que seus cinco minutos de fama se acabaram, e que Wesley disse: “a fama de seus amigos policiais que cometeram o homicídio é que acabou”; que neste momento Cb Penna começou a agredir Wesley, com socos e tapas na cara lhe cuspindo na cara; que ao ver isso disse ao policial que era parente de policial também e que não poderiam fazer a mesma coisa com este depoente, ou seja cuspir e lhe dar tapa na cara; que estava atrás deste depoente o policial de nome Vilarino e este lhe algemou colocando suas mãos para trás e o Cb Pena soltou Wesley e começou a dar socos neste depoente levando o para um canto da parede; que neste canto estava Elder também sendo agredido Cb Dias da Rotam; que após estas agressões falaram que iriam lhe prender por desacato e o levaram para Delegacia (...)”.

A testemunha Raine Cristina de Carvalho Pereira, ouvida à fl.734, afirmou:

“Perguntado como se deram os fatos constantes na Portaria, respondeu que estava no postinho situado na rua Pedro Lessa, que é um ponto de encontro dos jovens no bairro de Lourdes que em dado momento chegaram duas viaturas policiais e os policiais chegaram para realizar a abordagem e um policial chamado Pena, chegou dizendo ao um indivíduo de nome Wesley, que seus cinco minutos de fama teriam acabado; e logo em seguida Penna, o pegou pelo pescoço e lhe deu um tapa no rosto e lhe cuspiu a cara, e ainda deus mais socos em Wesley; depois um outro policial de nome Vilarino estava agredindo um outro rapaz e da outra viatura um policial com nome Dias,

41

Page 42: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

estava agredindo um outro rapaz mais gordo que é conhecido como inchado (...)”. (sic)

A testemunha Thárcio Rabelo, em fls. 718-9, disse:

“que foi abordado por policiais militares no dia em que estava no posto Ipiranga e que Cb. Penna abordou Wesley e disse ao mesmo “cinco minutos de fama acabaram”, e que Wesley teria dito que a fama de seus amigos policiais que cometeram o homicídio, que neste momento Cb. Penna agrediu Wesley com socos e tapas que ao ver isto disse que era parente de policial e que não poderiam fazer isto com ele, neste momento Sd. Vilarino lhe algemou colocando suas mãos para traz e o Cb. Penna começou a lhe dar socos o levando para um canto da parede e que neste canto estava Elder sendo agredido pelo Cb. Dias da Rotam”. (sic).

A testemunha Leandro Coelho da Costa, em fls.730-1, declarou:

“disse que estava no posto de gasolina na loja de conveniência quando chegaram os policiais para realizar abordagem as pessoas que estavam no local; que o policial de nome Penna disse ao Wesley que seus minutos de fama tinham acabado em seguida agrediu com um tapa e uma cuspida na cara e levantou Wesley pelo pescoço dando mais socos resaltando que Wesley tentou falar para que o policial não fizesse aquilo, sendo respondido pelo policial que poderia denunciá-lo; que depois os policiais Penna e Vilarino agrediram uma outra pessoa e nome Thárcio com socos e algemaram e levaram-no preso; disse também que os policiais da Rotam principalmente o policial Dias agrediu Elder com socos e tapas rasgando seu boné”. (sic).

A testemunha Tayla Suelen Santos Araújo disse às fls. 732-3:

“que estava no posto de combustível na loja de conveniência quando chegou uma viatura policial para realizar uma abordagem e que o policial Cb. Penna disse ao Wesley que seus cinco minutos de fama tinham acabado, em seguida agrediu com tapas no rosto e cuspiu em sua cara, depois Cb. Penna e Sd. Vilarino agrediu com socos Thárcio; disse também que os militares da Rotam pegaram Elder e agrediu com socos mais precisamente Cb. Dias”. (sic).

42

Page 43: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

A testemunha Raine Cristina de Carvalho Pereira, ouvida às 734-5,

informou:

“disse que estava na loja de conveniência quando chegaram os policiais para realizar abordagem sendo que o policial chamado pena disse ao indivíduo de nome Wesley, que seus cinco minutos de fama tinham acabado em seguida agrediu com tapa no rosto, cuspindo na sua cara e dando mais socos, disse que o Sd. Vilarino estava agredindo um outro rapaz. Que o policial de nome Dias estava agredindo um rapaz gordo conhecido como “inchado”. (sic).

O relatório da polícia militar concluiu em fl. 848:

“(...) sendo que ficou evidenciado a existência de crime militar praticado pelos investigados: CB PM Marcelino Costa Penna, CB PM Valdemilson Dias Ferreira e SD PM Wadson Vilarino Lora, onde as testemunhas confirmaram que os investigados praticaram o crime de injúria real art.217 ou o art.209 §6º lesão levíssima do COM, devido ao fato de não ter gerado marcas, e por fim não foi comprovado o crime de ameaça”. (sic).

Como evidenciado, a decisão absolutória não encontra amparo

nenhum nos autos.

A versão do acusado, somente apresentada em plenário, foi adrede

preparada, o qual, em um discurso que verberou em tom de leitura, contribuindo para

um resultado distante da realidade processual. Todavia, pondere-se que os jurados

estavam coagidos (preliminar acima: os vinte cinco jurados foram procurados _

depoimento de HUDSON _, embora, de forma compreensível e por motivos óbvios,

nem todos assumiram a coação), com o plenário do júri repleto de policiais militares,

fato intimidatório.

Por tais razões, cabe a reforma da decisão por ser manifestamente

contrária à prova dos autos.

V - DO PEDIDO

Assim, diante do exposto requer-se o conhecimento do recurso para,

preliminarmente, anular o julgamento e, alternativamente, no mérito, cassar o veredicto

43

Page 44: CONCURSO AMMP

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

impugnado, por ser manifestamente contrário à prova dos autos, remetendo o apelado a

novo julgamento pelo Tribunal do Júri.

Comarca, 30 de agosto de 2013.

PROMOTOR DE JUSTIÇA

44