concílio vaticano ii e os presbíteros no brasil ... · trento. joão xxiii estava convencido da...
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FORMAÇÃO PERMANENTE – LESTE II
Belo Horizonte – MG - 25 -28 de Agosto de 2014
Concílio Vaticano II e os Presbíteros no Brasil: testemunho de fé e de esperança
Pe. Jésus Benedito dos Santos ([email protected])
1
15º. Encontro
Nacional dos
Presbíteros
2
A primeira Encíclica do
Papa Francisco (LUMEN
FIDEI) veio completar a
doutrina do papa Bento XVI
sobre a trilogia fé,
esperança (SPE SALVI) e
caridade (DEUS CARITAS
EST ). Trata-se de um texto
escrito a quatro mãos
- Depois de 20 anos,
aproximadamente, o Vaticano II
tornou-se objeto de história.
- No final dos anos 80, o
Instituto de Ciências Religiosas
de Bolonha deu início a um
vasto projeto de história do
Concílio Vaticano II.
Um pouco de história
- Publicação de 5 volumes,
traduzidos em várias línguas, sob a
responsabilidade do prof. Giuseppe
Alberigo (Bolonha, 1995-2001).
- Primeiros 20 anos depois do
Concílio: publicação de crônicas,
monografias e obras coletivas
dedicadas ao estudo dos
documentos conciliares.
Um pouco de história
Segunda metade dos anos 80: estudo sobre o Concílio sob o ponto de vista e com os métodos da história. - Grande congresso sobre os 20 anos do Vaticano II, realizado em Roma, em 1986, sob a coordenação da Escola Francesa de Roma: ponto de partida.
Um pouco de história
Dois são os critérios de interpretação que guiam o estudo do Concílio Vaticano II: o concílio como “evento” e o concílio como “ruptura”.
- 1º Congresso Internacional: estudiosos franceses e italianos contexto histórico, eclesial e científico. - 1985 (21/11 a 8/12): Sínodo Extraordinário dos Bispos, por ocasião dos 20 anos de encerramento do Vaticano II.
Um pouco de história
- Conclusões do Sínodo: despertou muitas discussões – processo de recepção do Vaticano II. - Livro-entrevista do cardeal J. Ratzinger: Rapporto sulla fede (1985).
- J. Ratzinger: exortava a Igreja a “redescobrir o verdadeiro Vaticano II”, a “voltar aos textos autênticos do Concílio”, contra os defensores de um suposto “espírito do Concílio” origem de todas as crises do período pós-conciliar.
Um pouco de história
- Tratava-se de voltar à “letra” dos textos conciliares, interpretados à luz da grande tradição da Igreja. - Sínodo: fez suas as exortações de J. Ratzinger. - Relatio Finalis: rejeição de uma “leitura parcial e seletiva do Concílio, bem como uma interpretação superficial da sua doutrina num sentido ou noutro”.
Enquanto isso, a história da Igreja contemporânea conhecia um novo impulso, graças sobretudo a atividade de duas instituições ligadas à memória de dois papas do Concílio: o Instituto Internacional Paulo VI (Brescia), 1979 e o Instituto para as Ciências Religiosas de Bolonha, 1953.
Um pouco de história
Depois do Concílio: a escola de Bolonha se mostrou fiel ao programa de reforma concebido segundo a ideia de um “novo Pentecostes” da Igreja, cara ao papa João XXIII. - Essa convicção foi expressa num Memorandum per il sinodo straordinario (fevereiro de 1985), destinado a contrastar com a vontade de restauração atribuída a João Paulo II e ao cardeal Ratzinger. - No discurso à Cúria Romana, aos 22 de dezembro de 2005, Bento XVI fez uma distinção entre duas interpretações do Concílio: a) Hermenêutica da descontinuidade: errônea b) Hermenêutica da reforma, da renovação na continuidade: justa e fecunda.
João XXIII pedia pelo
surgimento de homens sábios,
que fossem capazes de
iluminar com a luz de Cristo as
descobertas do mundo
moderno. Ser um presbítero
de fé, esperança e amor, à luz
Concílio Vaticano II, é
procurar ser um homem sábio,
capaz de colocar o mundo
moderno frente ao Evangelho
de Cristo.
O Concílio proposto por
João XXIII não tinha tanto
a missão de discutir a
Igreja, mas discutir os
problemas do mundo e,
através da "luz dos povos"
que é Cristo, iluminar
"todos os homens,
anunciando o Evangelho a
toda a criatura"
João XXIII pedia pelo surgimento
de sábios, que fossem
audaciosos e fortes o bastante
para que humanizassem "as
novas descobertas dos homens".
Por isso, na formação teológica
dos presbíteros, os padres
conciliares deram a Santo Tomás
de Aquino a primazia dos
estudos. Uma posição nunca
antes dada ao Doutor Angelicus,
nem mesmo no Concílio de
Trento.
João XXIII estava convencido da
necessidade de recristianizar o mundo,
dando a todos os corações a Palavra de
Deus. João XXIII dedicava a oração de
seu rosário a qualquer um, cristão ou
não cristão, e em especial, às crianças.
Mariano, entregou aos pés da Virgem de
Loreto os trabalhos do Concílio,
suplicando à Mãe de Deus as graças
necessárias para "entrar na sala
conciliar da Basílica de São Pedro como
entraram no Cenáculo os Apóstolos e os
primeiros discípulos de Jesus: um só
coração, uma pulsação única de amor a
Cristo e pelas almas, um propósito
único de viver e de nos imolarmos pela
salvação de cada pessoa e dos povos."
O Compêndio do Concílio Vaticano
II é semelhante a uma Suma
Teológica para nossos dias. Sobre
tudo se falou e com todos se
procurou dialogar. Dedes a
presença dos padres conciliares,
peritos e observadores não
católicos, a Assembleia Conciliar
foi um Pentecostes com
eclesiologias diversas, línguas e
grupos distintos, diferenças e
riquezas milenares
Estamos diante de um Concílio marcadamente eclesiológico-pastoral, que é um convite à constante conversão, no vigor do Espírito Santo
O Vaticano II abre de
par em par as portas
da Igreja para o
mundo todo,
abraçando a ordem de
Jesus: “Vão pelo
mundo todo, anuncie
o Evangelho”
Os objetivos do Concílio Vat. II se resumem em, em última análise, num só intento: tornar a Igreja do século XX mais apta para anunciar o Evangelho à humanidade do mesmo século XX
A instituição torna inevitáveis as
tensões
Entre a sacralização e anomia
(esterilidade) – Karl Rhner – Inverno
Eclesial – Weber disse da
buroclatização: “noite polar de
escuridão gelada”
Vaticano II – Volta às raízes
O Vat. II foi uma explosão de liberdade e um reconhecimento oficial da necessidade de mudança e atualização da Igreja – Volta às fontes
Nos tempos anteriores ao Vat.
II, a teologia falou de uma
volta às fontes. Daí a volta à
teologia dos Padres da Igreja,
e sobretudo, à Escritura.
Vaticano II – Volta às raízes
Seus protagonistas encontraram muitas vezes fortes resistências. Mas o clima os dinamismos suscitado por esse enorme e múltiplo esforço, foram os que tornaram possível o Concílio Vaticano II
A Gaudium et Spes assinala o
outro polo: A volta à fonte não pode
ser uma repetição arqueológica,
mas um translado atualizado, trazer
para o presente o que ali está
descoberto e rememorando.
Vaticano II – Volta às raízes
Depois da revolução cultural convoca toda Igreja a uma tarefa tão difícil como exaltante: mostrar que a Igreja é solidária com o mundo, com o mundo atual, compartilhando “suas alegrias e esperanças, suas tristezas e angústias” (GS 1).
Cinco décadas já se passaram do
término do Vat. II. Como evento do
Espírito Santo para a vida da Igreja, ele
constitui um marco fundamental do
processo de passagem de época. Os
tempos hoje são diferentes. O clima
cultural de recepção já se revelou
outro. No processo de recepção já
falam as vozes das Igrejas da periferia,
do Terceiro mundo e da diversidade
cultural – Diante disto, alguns falam de
um novo Concílio (Vat. III)
Sinto, ainda, mais intensamente, o dever de indicar o concílio como a grande graça que beneficiou a Igreja do sec. XX, nele se encontra a bússola segura para nos orientar no caminho do século que começa” (João Paulo II, Novo Millennio Ineunte, 57)
Para onde aponta a bússola?
A preocupação marcante do
Vaticano II foi nos indicar
caminhos para evangelizar o
mundo de hoje.
Como anunciar o Evangelho na
nova época?
O Concílio responde com duas palavras-chave: Aggionamento (atualização, renovação e rejuvenescimento da Igreja) e diálogo consigo mesma e com o mundo (comunhão e participação)
O Vaticano II foi um concílio
pastoral-eclesiológico. Ele nos
oferece duas constituições
sobre a Igreja. A primeira é
dogmática e se denomina Lumen
Gentium (Luz dos povos), que
nos apresenta ensinamentos
sobre o que a Igreja é e sua
missão. A segunda é pastoral e
chama Gaudium et Spes (Alegria
e Esperança), que nos fala a
respeito da Igreja no mundo de
hoje
Toda a renovação das estruturas
eclesiais no que tem de reformável
deve evidentemente ser feita para
atender às exigências de situações
históricas concretas, mas não
perdendo de vista a própria natureza
da Igreja. A revisão que hoje se deve
levar a cabo em nossa situação
continental há de ser inspirada e
orientada pelas ideias muito
sublinhadas no concílio: a da
comunhão e a da catolicidade (Cf LG
13) – Medellin, p.152-153
A)Teologia do
Vaticano II
B)O Sínodo dos bispos
e a colegialidade
C)Espírito do Concílio:
sua força simbólica
D)Recepção na
América Latina
A teologia depois do Concílio já não é a
mesma. Enterrou-se definitivamente a
neoescolástica que reinava nas Escolas
teológicas onde se formava o clero católico.
Ruiu esse sistema bem estruturado, rigoroso
e extremamente formal, ensinado em Latim,
que apresentava um conjunto completo de
perguntas e respostas fechadas, gerando
uma sensação de totalidade, de segurança,
de clareza, de rigor. As últimas gerações
formadas nessa Escola estão
desaparecendo, deixando atrás de si uma
quase total ignorância do que tenha sido
essa pirâmide teológica que enfrentou
impávida o embate de séculos.
Contexto teológico do Vat. II: a) Articulação entre fé e razão; b) Zelo pela escritura e dogmática; c) Surgimento da doutrina social da Igreja
Ganhou-se em atualidade, em variedade
de temas e de abordagem, em diálogo
com as ciências modernas, em alcance
existencial, em repercussão pastoral e
força querigmática. Uma primeira
geração pós-conciliar mergulhou nas
águas novas dessa teologia e produziu
profunda renovação na pregação, na
catequese, no ensino da teologia, na
pastoral. Como o tema mais importante
do Concílio foi a eclesiologia, começou-
se por aí. Paulo VI no início da Segunda
Sessão tinha confiado especialmente
aos Padres conciliares a tarefa de
responder à pergunta sobre a
consciência da Igreja, no fundo, sobre o
que ela diz de si mesma.
O Concílio não apresentou novidade
doutrinal. O eixo estava em aplicar a
doutrina plasmada há séculos pela
Igreja à luz da Palavra revelada e
assegurada pela Tradição
apostólica e o Magistério, de
maneira a torná-la viva e eficaz:
“Um concílio conscientemente
pastoral procura perceber as
relações entre os valores eternos da
verdade cristã e sua inserção na
realidade dinâmica, hoje
extremamente mutável, da vida
humana tal qual é” (Introdução
Geral do Vat. II)
“A Igreja está no meio
da vida contemporânea
para iluminá-la,
sustentá-la, consolá-la”
Contexto teológico de hoje - Este contexto está marcado por um estado de espírito de produção teológica renovada, inserida no contexto histórico, eclesial e filosófico da era contemporânea, iniciando um processo de busca de superação dos impasses presentes na relação entre cristianismo e modernidade, religião e ateísmo, fé e razão – consumismo, totalitarismo político, guerras, positivismos científico, filosofias de vida, surgimento da consciência dos direitos humanos
A principal instituição eclesiástica
pós-conciliar, o Sínodo, como
expressão da colegialidade, ficou a
meio caminho. Exprimiu já um sinal de
comunhão dos bispos com a Sé
romana, mas se restringiu a um
simples papel consultivo. Os seus
resultados permanecem em nível de
confidencialidade e terminam num
documento de autoria pessoal do
Papa com a liberdade de trabalhar, a
seu modo, as sugestões recebidas.
Com isso, desaparece a colegialidade
no sentido mais pleno e de novo
predomina o polo central.
As conferências
episcopais precederam e
sucederam às direções
conciliares. Já existiam
antes do Concílio, mas
assumem depois dele um
caráter de
universalidade. É o lado
positivo de continuação
do Concílio.
À medida que os bispos, que
estiveram no Concílio e que
beberam lá o espírito, a vivência
e a prática colegiais, foram
saindo de cena, seja pela morte,
seja pela renúncia, substitui-os
uma nova geração que não fez tal
experiência. Estes facilmente se
adaptam a uma visão de Igreja
menos colegial e mais
diretamente centrada no polo
romano e na autonomia de cada
bispo. Assim a colegialidade
modifica sua forma de atuação.
No espírito colegial, agilizaram-se
conselhos presbiterais, pastorais e
órgãos semelhantes nas igrejas
particulares. Algumas ensaiaram a
experiência da Assembleia do
Povo de Deus com maior liberdade
e agilidade canônica em lugar dos
Sínodos diocesanos, previstos e
armados de legislação própria.
Talvez desponte aí uma luz nova
para a maior participação dos
leigos e das leigas na vida interna
da Igreja particular até o nível das
decisões fundamentais.
O Vaticano II continua marcando
a vida eclesial e para além dela
por meio da teologia de seus
documentos, pelas instituições
que diretamente criou, pelo
espírito que gerou, pelos
contínuos resgates possíveis de
sua riqueza, pelas reações
favoráveis ou opostas que ainda
provoca, pela força simbólica que
significa.
“A força do Concílio é incoercível. Pode-se travar ligeiramente o seu ímpeto, mas não se pode bloqueá-lo. É mais um ponto de partida que um ponto de chegada” – Canonista Le Monde
O Concílio Vaticano é mais que
os documentos, do que o
evento histórico encerrado. É
um espírito, é um novo símbolo
da Igreja católica. Cria um
imaginário eclesial que
adquire força própria e
autônoma até mesmo em
confronto com alguns textos
conciliares. O imaginário
seleciona e configura uma
representação da realidade
em questão.
O imaginário tridentino primou pela
afirmação da identidade católica em
oposição às Igrejas nascidas da
Reforma e aos princípios e práticas da
modernidade. Destarte a Igreja católica
provocou dentro de si maior coesão
interna em torno de três elementos
visíveis: o batismo, a confissão externa
do conjunto da fé cristã e a obediência
à hierarquia e, de modo especial, ao
Romano Pontífice. A Reforma introduzia
elementos diferentes em sua
identidade: sola fide (a fé fiducial), sola
gratia (a graça atribuída pelos méritos
de Cristo) e sola scriptura (a Escritura
lida pelo fiel sob a ação do Espírito).
O Concílio Vaticano II entra no processo
de dissolução desse imaginário já em
andamento, de modo lento, gradual e
progressivo, por obra de fatores que
penetravam a Igreja, sobretudo dos
movimentos bíblico, litúrgico, da Ação
Católica, social, querigmático,
missionário, artístico, catequético e de
uma teologia renovada. O Concílio
Vaticano II entrou na onda de tais
movimentos, assumindo-os em seus
documentos, seja no teor teórico
quanto no prático-histórico. Assim ele
começou a construir outro imaginário
teológico-pastoral.
Resultados:
a) Após anos as novidades e experiências
foram substituídos por um processo de
triagem e enquadramento de algumas
experiências selecionadas e sancionadas
pela burocracia eclesiástica.
b) As celebrações litúrgicas ganharam em
vida, em participação, em beleza, em
espontaneidade e em criatividade.
c) O fiel médio adquiriu uma autonomia
interior diante de normas e preceitos
eclesiásticos
d) A formação do clero passou por vários
estágios.
e) Mais consistentes parecem as
transformações da Vida Consagrada por
força do espírito do Concílio. As vidas
religiosas ativas despojaram-se de sua
veste monacal.
a) Já é um lugar comum entre teólogos da
América Latina dizer que Medellín foi a
recepção original do Concílio Vaticano
II.
b) A recepção latino-americana do
Vaticano II conflitou com uma recepção
dita católica, mas que excluía a
dimensão de libertação.
c) A teologia chamou-se da libertação, as
estruturas eclesiais foram as
comunidades de base, as práticas
pastorais se desenvolveram no campo
da leitura militante da Escritura com os
círculos bíblicos e nas pastorais
sociais, no interior de movimentos de
luta e reivindicação populares.
Temos que ter cuidado para não fazer uma
Igreja de acordo com a nossa visão, mas a
Igreja de Jesus. No Brasil tivemos muitos
filtros sobre o Concílio Vaticano II. É
importante ver o texto no original e não nas
suas releituras. Podemos destacar quatro
fases:
a) Entusiasmo e otimismo – até os anos
1970
b) Esperança frustrada – Os progressistas
lamentam a inércia e falam do “inverno da
Igreja” . Os conservadores denunciam a
dissolução da identidade Católica - 1970-
1990 –
c) As discussões eclesiológicas caem no
vazio – Vão morrendo quem fez parte do
Vat. II – 1990 – Recentramento da Igreja
d) As potencialidades do Vat. II ainda não se
esgotaram – Início do novo Milênio
O Vat. II promoveu uma nova
autocompreensão da Igreja. A
eclesiologia clássica nasceu
jurídica, para defender o poder
eclesiástico na disputa entre o
Papa Bonifácio VIII e o rei
francês Filipe, o Belo (1294-
1303) – Bula Unam Sanctam.
Depois se desenvolveu no
período pós-tridentino, como
apologética antiprotestante e
antimoderna, na defesa da
Vera Ecclesia
Para superar de vez a abordagem jurídica, o
Vat. II situa a Igreja, na Lumen Gentium, no
seu devido lugar:
a) Primeiro coloca os grandes princípios
norteadores: o cristocentrismo, a
dimensão sacramental e a dimensão
missionária dessa Igreja (LG 1)
b) Segundo, explicita a relação da Igreja com
o mistério trinitário desenvolvendo uma
reflexão fundamental da Igreja como
mistério no contexto da vontade salvífica
de Deus (LG 1)
A eclesiologia deixa o âmbito imediato do direito para situar-se dentro da teologia – No horizonte do mistério
trinitário, fora das relações imediata do poder
Concílio Vaticano II foi um Evento
a) De renovação e reforma
contínua da Igreja, pela ação
do Espírito Santo, com a força
do Evangelho
b) Releitura paradigmática das
fontes bíblicas e patrísticas
c) Discernimento programático
de uma “nova evangelização’
para todos os sujeitos e
agendas eclesiais
d) Expressão eficaz da Koinonia
eclesial
Os reformadores afirmam uma Igreja
“invisível”, da Palavra, contra uma Igreja
“visível”, dos sacramentos, que é a Igreja
Católica. Com Belarmino, a Igreja Católica
tende a se afirmar seguindo a eclesiologia de
“sociedade perfeita”, que não deve nada ao
Estado secular e laico – A Igreja Católica inicia
um processo de “duplicação” de serviços na
sociedade (Escolas, hospitais, partidos
católicos), para fazer frente à evolução do
mundo moderno e assim se firmar como única
tábua de salvação – Sociedade perfeita foi a
eclesiologia dominante até 1940 – Sendo
ultrapassa pela encíclica Mystici Corporis
Christi, de Pio XII (1943)
À apologética antiprotestante acrescenta-se, no novo contexto, a apologética antimoderna, anti-racionalista do
século XIX
a) Igreja da Palavra de Deus – O Vat. II se
alimentou da Palavra de Deus e elaborou a
constituição dogmática: Dei Verbum – Deus se
comunica ao mundo por sua palavra
Somos convidados a acolher a Palavra de Deus,
respondendo sim, na fé.
b) Igreja Eucarística – Sacrossanctum Concilium –
Encontramos nesta constituição os princípios
gerais da reforma e da liturgia – Sobre a eucaristia
e demais sacramentos
DAp (18): “Conhecer a Jesus Cristo pela fé é nossa alegria; segui-lo é uma graça e transmitir esse tesouro aos outros é uma tarefa que o Senhor nos confiou ao nos chamar e nos escolher”
O Concílio Vaticano II, seguindo as
orientações de João XXIII, vai
assumir uma Igreja aberta ao mundo
contemporâneo, aos cristãos não-
católicos e ao mundo dos pobres –
Foi, sobretudo, com a constituição
Gaudium et Spes que o Vat. II
operou a passagem de uma Igreja
mais voltada sobre si para uma
Igreja voltada para o mundo como
lugar próprio de sua missão – Padre
Congar – A terra prometida do
Concílio
A Igreja passa do confronto ao diálogo crítico com o mundo e busca se atualizar e se adaptar aos novos tempos.
Para operar o deslocamento o
Vat II parte de uma nova
abordagem do mundo. O
mundo é visto agora não
apenas como lugar da
negatividade, “mistério da
iniquidade”, mas como história
e lugar da autocomunicação
de Deus – Sinais dos tempos
Tudo isso sinaliza a busca de uma nova relação com a sociedade, como formas históricas de entrada da Igreja para o “todo social” – Paulo VI: “A igreja é servidora da
humanidade”
A compreensão da Igreja como Povo de Deus, dos
primeiros séculos, perde seu vigor a partir do
século IV, coincidindo com a oficialização do
cristianismo como religião do Império. No
Vaticano II, há uma retomada dessa expressão
para uma definição ideal de Igreja: “Igreja Povo de
Deus”. Tal expressão expressa melhor a
autoconsciência de Igreja, ajudando a superar a
visão jurídica, clericalista e triunfalista que vinha
da Idade Média. A expressão Povo de Deus é uma
oportunidade necessária para recuperar a real
identidade da Igreja. O Concílio Vaticano II já
mostrara sua intenção de mudar a face da Igreja
nas constituições anteriores, na Dei Verbum, no
que tange a revelação, e na Sacrosanctum
Concilium, no que tange a liturgia.
Com a opção pela categoria Povo de Deus os padres conciliares sinalizaram o desejo de mudança de uma eclesiologia jurisdicista, clericalista e triunfalista para uma eclesiologia, comunhão e sacramento de salvação para toda humanidade (Lumen Gentium, 9).
A Igreja povo de Deus que nasce do
Vaticano II é uma Igreja de irmãos com
três realidades comuns a todos:
a) Vocação à santidade – Todos são
chamados à santidade
b) Missão: Pelo batismo e pela crisma
somos feitos discípulos missionários
de Jesus, a serviço da construção do
Reino de Deus
c) Dignidade: na Igreja, todos temos a
mesma dignidade, somos todos
irmãos, filhos e filhas de Deus
O Vaticano II nos oferece 16 documentos, entre os quais, duas constituições sobre a Igreja. A primeira, dogmática – Lumen Gentium (Luz dos povos), nos apresenta ensinamentos sobre o ser da Igreja e sua missão. A segunda, pastoral – Gaudium et Epes (Alegria e esperança), nos fala da Igreja no mundo de hoje
Segundo Y. Congar, a eclesiologia
clássica era um “hierarcologia”. O
Vat. II opera a inversão, falando do
Povo de Deus e depois da hierarquia
(LG). Assim, a categoria Povo de
Deus se tornou chave eclesiológica
do Vat. II. Pensando uma Igreja
como acontecimento salvífico de
Deus em Cristo, acolhida na fé, abre-
se o caminho para um Teologia da
Igreja.
No centro dessa nova eclesiologia estão aqueles bens do Reino aos quais todos somos chamados: a graça da fé e o chamado à
santidade, à comunhão de vida com Deus, em Cristo, pelo Espírito, e à missão no mundo
A eclesiologia do “Corpo Místico”
constitui um notável avanço em
relação à eclesiologia jurídica
clássica. Já garante a igualdade de
todos os fieis, mas no plano do
mistério. No mistério de Cristo todos
somos iguais – Esse passo exige a
passagem da teologia do laicaito
para a teologia da Igreja Povo de
Deus – sem o dualismo: a Igreja para
o clero e o mundo para os leigos
Este modo de ser Igreja está em sintonia com a eclesiologia do Concílio Vaticano II, no qual, a ação do Espírito Santo convoca todo batizado a ser sujeito na Igreja conforme a diversidade de vocações,
carismas e ministério.
O Vat. II convida a passagem de compreensão de
uma Igreja “universalista” para uma Igreja local
ou particular que tem sua origem na virada
gregoriana do séc. XI. Gregório reivindicava para
a Igreja uma liberdade e autonomia soberana e
ilimitada, no interesse da “glória de Deus” – Só a
Igreja romana foi fundada por Deus. Só o bispo de
Roma tem o direito de ser chamado de universal –
Esta eclesiologia foi reforçada ao longo dos
século culminando no Vat. I (1869-1870), sobre o
primado da infabilidade papal – Contexto de
movimento de restauração do séc. XIX – A Igreja
Universal só existe, mas a partir das Igreja
particulares (LG 23)
A Eclesiologia gregoriana transforma a Igreja em Estado do Papa. A linguagem da Igreja passa a ser a linguagem do direito – a canonística
das decretais – A eclesiologia passa a ser a doutrina do poder eclesiástico
O Vat. II retoma a eclesiologia
eucarística e comunial do
primeiro milênio e valoriza o
episcopado dentro da Igreja local
e particular. A Igreja é sempre
acontecimento da fé que se toma
corpo em dado tempo e lugar. É
acontecimento da palavra no
mundo. Nisto há a superação de
uma eclesiologia jurídica,
centralizadora, por uma
eclesiologia “Povo de Deus”
Mas imediatamente a eclesiologia provocou
uma profunda transformação na cristologia,
em sempre crescente valorização do Jesus
palestinense, diferentemente de uma
dogmática centrada na união hipostática.
Surgirá excelente série de Cristologias, na
Europa, nos EUA, na América Latina. Na
compreensão da Trindade vai prevalecer a
intuição rahneriana de que a Trindade
imanente, das relações entre as pessoas
divinas, é a Trindade econômica, de sua
presença na história da salvação. A teologia
sacramental se enriquece da compreensão
da liturgia como celebração do Mistério
pascal, do significado profundo do símbolo,
do princípio de inteligibilidade dos ritos e
sinais, do incentivo à participação dos fiéis.
O Vaticano II impulsiona com
sua eclesiologia a teologia ecumênica, a do
diálogo inter-religioso e com os não crentes.
Sendo o Concílio fruto de
compromisso das
tendências divergentes de
cunho tridentino-Vaticano I e
da nova teologia emergente,
não foi difícil a setores
tradicionais resgatar dos
documentos do Concílio
elementos teológicos
tradicionais, sobretudo no
campo da eclesiologia.
Segundo Hans U. Baltasar, “ao
assumir batizar crianças, ‘o
cristianismo tomou a decisão
mais cheia de consequências
da história da Igreja’, pois,
então, idosos, adultos, jovens
e crianças, homens e
mulheres, ricos e pobres,
letrados e ignorantes, santos e
pecadores... todos, sem
distinção, consolidam a Igreja
como Povo de Deus”.
Com a categoria Povo de
Deus, o sonho é de
mudar a imagem de
Igreja piramidal e
tradicional de Igreja
para outra de forma
circular, em que todos
participam ativamente.
Uma Igreja povo de Deus é uma Igreja
comunhão e participação, realizando
concretamente, na história, a Igreja de
Jesus Cristo. Uma Igreja assim é a
Igreja dos Sonhos, a Igreja do futuro.
Segundo Karl Rahner: “A Igreja do
futuro será uma Igreja que constituirá
de baixo para cima, por meio de
comunidades de base de livre iniciativa
e associação. Temos de fazer todo o
possível pra não impedir esse
desenvolvimento, mas antes promovê-lo
e orientá-lo corretamente”.
a) A data simbólica de 1968 preparada por
grandes movimentações estudantis em
todos os lugares – crítica a toda instituição
estabelecida, todo sistema de autoridade, à
sociedade tradicional, aos sistemas de
pensamento
b) Sínodo de 1985 que, na redação final
menciona uma vez só a categoria Povo de
Deus, propondo a eclesiologia de comunhão,
entendendo que está é a ideia central e
fundamental dos documentos do Concílio –
Tal conceito é simpático e oportuno, mas
“Povo” tem a vantagem de ser um conceito
bíblico, tanto do AT quanto do NT, e tem
forte influência simbólica na vida coletiva
das comunidades
A missionariedade tão fortemente repisada no
Documento de Aparecida, torna-se para a Igreja
no Brasil uma estrela que conduz a vida da Igreja.
Ela existe para evangelizar. A evangelização exige
uma conversão pastoral. Conversão nos modos,
nos meios, nas estruturas: “Espero que todas as
comunidades se esforcem por atuar os meios
necessários para avançar no caminho duma
conversão pastoral e missionária, que não pode
deixar as coisas como estão. Neste momento, não
nos serve uma ‘simples administração’.
Constituamo-nos em ‘estado permanente de
missão’, em todas as regiões da terra” (EG 25)
A Igreja no Brasil, com o Concílio Vaticano II,
recebeu um novo impulso. As conferências
episcopais tornaram-se decisivas para a ação
evangelizadora. A convite de João XXIII, os bispos
brasileiros apresentaram o seu primeiro plano
pastoral e, “desde daquele início, cresceu uma
verdadeira tradição pastoral no Brasil, que fez com
que a Igreja não fosse um transatlântico à deriva,
mas tivesse sempre uma bússola” (Papa Francisco,
encontro com o episcopado brasileiro – JMJ).
Além da tradição pastoral, a Igreja do
Brasil buscou, na sua vida e ação,
tornar-se a Igreja do Concílio Vaticano II.
A participação das diversas
conferências latino-americanas e
caribenha e a tentativa de expressar na
cotidianidade as conclusões e
ensinamentos dessas conferências
foram visibilizando um rosto próprio.
Uma Igreja-comunidade, comunidade de
comunidades, tem caracterizado a busca
da Igreja do Brasil. Apesar de todas as
buscas e reflexões, discussões e
tentativas, a Igreja no Brasil não
encontrou um modo para enfrentar a
realidade urbana na sua evangelização.
Vale lembrar, neste sentido, o
esquecimento das periferias.
Seguindo as orientações de Aparecida, os bispos do
Brasil encontraram um modo significativo de
colocar diante dos olhos a sua ação evangelizadora:
“Evangelizar, a partir de Jesus Cristo e na força do
Espírito Santo, como Igreja discípula, missionária e
profética, alimentada da Palavra de Deus e pela
Eucaristia, à luz da evangélica opção preferencial
pelos pobres, para que todos tenham vida (Jo
10,10), rumo ao Reino definitivo (CNBB, 94 –
Objetivo geral)
A renúncia de Bento XVI é muito mais
do que um gesto pessoal e pontual,
pois desmistificou a figura do papado
e sinalizou o imperativo do perfil do
primado, essencialmente um bispo de
Roma, com o múnus de ser primus
inter pares, mais pastoral do que
jurídico.
A Igreja do Brasil vem dando passos significativos na recepção do Vat.
II.
a) Consciência da pobreza numa sociedade injusta e desigual –
Caminhar na direção do pobre significa recuperar o profetismo -
relação entre fé e cultura e fé e sociedade - Medellin (1968) –
Percurso Popular
b) Uma Igreja mais participativa e fraterna – CEBS e a Teologia da
Libertação - na qual a comunhão é o modo fundamental de relação
na Igreja, sendo a participação o modo pedagógico para se chegar
a ser sujeito na Igreja – Igreja Missionária
c) Nova consciência eclesial a partir da Igreja Local – Importância da
Colegialidade
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De um lado, o espírito do Vaticano II, em busca
de novas experiências, de responder melhor à
contemporaneidade dos problemas, prossegue
seu caminho. Há inúmeros sinais que
apontamos. O Concílio Vaticano II capitalizou
um acúmulo de forças inovadoras de pelo
menos dois séculos.
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A Igreja no Brasil, nessas cinco décadas pós-concílio,
viveu um grande momento. Como na LG, 8, podemos
dizer que a Igreja no Brasil avança peregrina ente as
perseguições do mundo e as consolações de Deus.
A imagem que nesses anos foi se delineando é de uma
Igreja Povo de Deus, pobre e servidora, missionária e
profética, em comunhão com a tradição e a grande
igreja, mas em ruptura com modelos e práticas da
cristandade.
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O Concílio Vaticano II foi um
acontecimento extraordinário e frutuoso
na bimilenar História da Igreja. O fato
marcou profundamente o coração de
cada homem e mulher de boa vontade, e,
sobretudo, fincou no mais íntimo de nós
cristãos uma absoluta confiança.
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Segundo o Vaticano II, o papel da
igreja é estar no mundo e com ele
dialogar simultaneamente
anunciando Jesus Cristo e os
valores do Reino de Deus presentes
no Evangelho por Ele proclamado.
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O papa Paulo VI em 1966, assim escreve: “A tarefa do Concílio
Ecumênico não está completamente terminada com a promulgação de
seus documentos”. Em 1965 perguntava: “Findo o concílio, volta tudo ao
que era antes? As aparências e os hábitos responderão que sim. O
espírito do Concílio responderá que não. Alguma coisa, e não pequena,
deverá ser, também para nós- antes, sobretudo para nós – nova. As
mudanças de tantas coisas exteriores? Sim, mas não é a estas que ora
aludimos. Aludimos ao modo de considerar a Igreja, modo que o
concílio cumulou tanto de pensamentos, de temas teológicos,
espirituais e práticos, de deveres e de confortos, a ponto de exigir de
nós um novo fervor, um novo amor, como que um novo espírito”.
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a)Quais as implicâncias eclesiológicas do
Concílio Vaticano II para a evangelização no
mundo de hoje?
b)Como anunciar o Evangelho na nova época?
c) Qual a nossa consciência de Igreja e como a
conduzimos em nosso ministério presbiteral?
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