concepÇÕes educacionais e currÍculo

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MDULO DE:

CONCEPES EDUCACIONAIS E CURRCULO

AUTORIA:

Msc. MARIA DA RESSURREIO COQUEIRO BORGES

Copyright 2008, ESAB Escola Superior Aberta do BrasilCopyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

Mdulo de: CONCEPES EDUCACIONAIS E CURRCULO Autora: Msc. MARIA DA RESSURREIO COQUEIRO BORGES.

Primeira edio: 2008

Todos os direitos desta edio reservados ESAB ESCOLA SUPERIOR ABERTA DO BRASIL LTDA http://www.esab.edu.br Av. Santa Leopoldina, n 840/07 Bairro Itaparica Vila Velha, ES CEP: 29102-040

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PRESENTAO

APRESENTAO Caros (as) alunos e alunas, Sou a tutora de cada um e de cada uma de vocs. Vamos ler, refletir e considerar proposies sobre um currculo vivo, real e capaz de promover mudanas significativas na mente, no corao e no espao educacional onde atuam. Pensar em uma profisso significativa esboar um projeto de vida. Agora, mais do que descobrir a vocao, fazer dela um instrumento de construo e interveno no mundo. adaptar-se ao mundo de maneira crtica, saber que a educao no a soluo para tudo, mas a porta para caminhos infinitos. Temos que ter a conscincia que sonhos no devolvem o que h mais de 500 anos vem sendo tirado da gente, mas temos a certeza de que a dignidade, tica, igualdade no devem apenas ser escritas em versos e sonhos, mas devem ser realidades concretas, construdas com sangue e suor. Ser educador acima de tudo acreditar, lutar para fazer acontecer. Vamos construir uma educao melhor, conhecendo o que um currculo, sua organizao, seu funcionamento e adotando aes prticas e viabilizadoras de mudanas positivas. Obrigada por acreditarem! Obrigada por estarem aqui! Prof. Marizinha Coqueiro Borges.

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BJETIVOS

Compreender o sentido e o significado dos princpios polticos e pedaggicos na elaborao do currculo a partir do conhecimento da estrutura e o funcionamento da Educao Bsica Brasileira; Definir um quadro de referncia terica sobre currculo, numa perspectiva crtica e transformadora. Possibilitar a aquisio de conhecimentos sobre um currculo que seja transformador da realidade e que atenda s diversidades scioculturais dos educandos, garantindo a formao integral de cidados participativos e aptos a contribuir para o desenvolvimento da sociedade. Compreender o currculo escolar como espao de reconstruo educacional e de especializao do conhecimento pedaggico e refletir sobre a necessidade da construo de prticas pedaggicas especficas a partir do conhecimento de currculo vivo, real; .

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MENTA

Conceituao, funes, elementos componentes. Currculo e desenvolvimento social.: Concepes e etapas. Implementao e avaliao de currculo. Adequao curricular nas vertentes da temporalidade e contexto social. Agentes da ao curricular. Currculo oculto. Elaborao de programas curriculares. Reconstruo do conhecimento experincia e mundo - Parmetros mnimos necessrios PCNS. Concepes de educao e seus autores.

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UMRIO

UNIDADE 1 ........................................................................................................... 8 Analisar As Tendncias Atuais Dos Estudos Sobre O Currculo. .................... 8 UNIDADE 2 ......................................................................................................... 12 Analisar As Tendncias Atuais Sobre Os Estudos Sobre O Currculo. .......... 12 UNIDADE 3 ......................................................................................................... 15 Analisar As Tendncias Atuais Sobre Os Estudos Sobre O Currculo. .......... 15 UNIDADE 4 ......................................................................................................... 19 Trajetria Dos Estudos Sobre O Currculo ...................................................... 19 UNIDADE 5 ......................................................................................................... 23 O Currculo Segundo Dewey E Tyler ............................................................... 23 UNIDADE 6 ......................................................................................................... 31 Discutindo a Pedagogia do Oprimido versus a Pedagogia dos Contedos, segundo Tomaz Tadeu Da Silva. ..................................................................... 31 UNIDADE 7 ......................................................................................................... 36 Discutindo a Pedagogia do Oprimido versus a Pedagogia dos Contedos, segundo Tomaz Tadeu Da Silva. ..................................................................... 36 UNIDADE 8 ......................................................................................................... 40 Diferenciar o Currculo Oculto, como Ao do Cotidiano da Escola, do Currculo Proposto no Planejamento Curricular Estabelecido Institucionalmente. ........................................................................................... 40 UNIDADE 9 ......................................................................................................... 44 O Currculo Multiculturalista e a Educao ...................................................... 44 UNIDADE10 ........................................................................................................ 47 Currculo Cientfico ........................................................................................... 47 UNIDADE 11 ....................................................................................................... 515 Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

Currculo Cientfico ........................................................................................... 51 UNIDADE 12 ....................................................................................................... 55 Breve Biografia Do Educador Paulo Freire ...................................................... 55 UNIDADE 13 ....................................................................................................... 59 Algumas Reflexes Sobre A Educao, segundo Paulo Freire. ..................... 59 UNIDADE 14 ....................................................................................................... 66 Algumas Reflexes sobre a Educao, segundo Paulo Freire. ...................... 66 UNIDADE 15 ....................................................................................................... 71 As Concepes Educacionais e suas Implicaes na Relao Pedaggica .. 71 UNIDADE 16 ....................................................................................................... 75 Os Pilares da Educao, Segundo Declarao da UNESCO De 2002. ......... 75 UNIDADE 17 ....................................................................................................... 80 As Concepes Educacionais e suas implicaes na Relao Pedaggicas.80 UNIDADE18 ........................................................................................................ 85 As Concepes Educacionais e suas implicaes na Relao Pedaggica .. 85 UNIDADE 19 ....................................................................................................... 90 As Concepes Educacionais e suas Implicaes na Relao Pedaggica .. 90 UNIDADE 20 ....................................................................................................... 95 Reflexo sobre as Concepes de Educao: Crtica e Ingnua. .................. 95 UNIDADE 21 ....................................................................................................... 99 Reflexo Sobre as Concepes de Educao: Crtica E Ingnua. ................. 99 UNIDADE 22 ..................................................................................................... 104 Conhecimentos Necessrios ao Educador do Futuro ................................... 104 UNIDADE 23 ..................................................................................................... 110 Conhecimentos Necessrios ao Educador do Futuro ................................... 110 UNIDADE 24 ..................................................................................................... 116 UNIDADE 25 ..................................................................................................... 1226 Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

Avaliao e Multidimensionalidade do Olhar. ................................................ 122 UNIDADE 26 ..................................................................................................... 129 Reflexes sobre Avaliao no Espao Escolar ............................................. 129 UNIDADE 27 ..................................................................................................... 134 Usar a Avaliao de Forma Democrtica de Forma a Contribuir para o Sucesso do Aluno e da Prtica do Professor. ............................................... 134 UNIDADE 28 ..................................................................................................... 137 A Avaliao na Construo de uma Proposta Curricular .............................. 137 UNIDADE 29 ..................................................................................................... 140 O Livro Didtico .............................................................................................. 140 UNIDADE 30 ..................................................................................................... 146 Identificar o Conceito e Utilizao do Portflio como mais um Instrumento de Avaliao Desmistificada. .............................................................................. 146 GLOSSRIO ..................................................................................................... 151 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 152

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Objetivo: Conceituar currculo numa perspectiva terica crtica. O professor deve se sentir parte de um coletivo docente, capacitar-se, ir alm das suas limitaes e ajudar a construir um currculo ativo, crtico e transformador.( Marizinha Coqueiro Borges).

Analisar As Tendncias Atuais Dos Estudos Sobre O Currculo.

Introduo Teoria Do Currculo Para adentrar no estudo do currculo faz-se necessrio revisitar a concepo de currculo de forma geral, as relaes do currculo com o processo de ensino e aprendizagem, com a sociedade e com a escola de modo especfico. Nesse sentido, vamos discutir as ideias apresentadas por Moreira e Silva (1994), no texto Sociologia e teoria crtica: uma introduo (p. 7-30).

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currculo h muito tempo deixou de ser apenas uma rea meramente tcnica, voltada

para questes relativas a procedimentos, tcnicas, mtodos. J se pode falar agora em uma tradio crtica do currculo, guiada por questes sociolgicas, polticas, epistemolgicas. Embora questes relativas ao "como" do currculo continuem importantes, elas s adquirem sentido dentro de uma perspectiva que as considere em sua relao com questes que perguntem pelo "por que" das formas de organizao do conhecimento escolar. Nessa perspectiva, o currculo considerado um artefato social e cultural. Isso significa que ele colocado na moldura mais ampla de suas determinaes sociais, de sua histria, de8 Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

sua produo contextual. O currculo no um elemento inocente e neutro de transmisso desinteressada do conhecimento social. O currculo est implicado em relaes de poder, o currculo transmite vises sociais particulares e interessadas, o currculo produz identidades individuais e sociais particulares. O currculo no um elemento transcendente e atemporal ele tem uma histria, vinculada s formas especficas e contingentes de organizao da sociedade e da educao. Emergncia e desenvolvimento da sociologia e da teoria crtica do currculo Os autores focalizam, neste texto, a emergncia de uma abordagem sociolgica e crtica do currculo, tanto nos Estados Unidos, onde o campo se originou e desenvolveu como na Inglaterra, onde pela primeira vez se elegeu o currculo como foco central da Sociologia da Educao. As origens do campo nos Estados Unidos Mesmo antes de se constituir em objeto de estudo de uma especializao do conhecimento pedaggico, o currculo sempre foi alvo da ateno de todos os que buscavam entender e organizar o processo educativo escolar. No entanto, foi somente no final do sculo XIX e no incio deste, nos Estados Unidos, que um significativo nmero de educadores comeou a tratar mais sistematicamente de problemas e questes curriculares; dando incio a uma srie de estudos e iniciativas que, em curto espao de tempo, configuraram o surgimento de um novo campo. Diferentes verses desse surgimento podem ser encontradas na literatura especializada (Cremin, 1975; Seguei 1966; Franklin, 1974; Pinar & Grumet, 198 I). Comum a todas elas, destaca-se, por parte dos superintendentes de sistemas escolares americanos e dos tericos considerados como precursores do novo campo, a preocupao com os processos de racionalizao, sistematizao e controle da escola e do currculo. Em outras palavras, o propsito mais amplo desses especialistas parece ter sido planejar "cientificamente" as

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atividades pedaggicas e control-Ias de modo a evitar que o comportamento e o pensamento do aluno se desviassem de metas e padres pr-definidos. A fim de melhor entender como tais intenes informaram o desenvolvimento da nova especializao, apresentaremos uma breve descrio do contexto sciohistrico no qual ela emergiu. O contexto americano na virada do sculo Aps a Guerra Civil, a economia americana passou a ser dominada pelo capital industrial, sendo o sistema de competio livre, ento prevalente, substitudo pelos monoplios. Para a produo em larga escala foi necessrio aumentar as instalaes e o nmero de empregados. O processo de produo tornou-se socializado e mais complexo, enquanto procedimentos administrativos sofisticaram-se e assumiram um cunho cientfico. As primeiras tendncias O campo do currculo tem sido associado, tanto em suas origens como em seu posterior desenvolvimento, s categorias de controle social e eficincia social, consideradas teis para desvelar os interesses subjacentes teoria e prtica emergentes. Todavia, no se deve entender o novo campo como monoltico, j que outras intenes e outros interesses podem ser identificados, tanto em suas manifestaes iniciais como nos estgios subsequentes. Segundo Kliebard (1974), duas grandes tendncias podem ser observadas nos primeiros estudos e propostas: uma volta-se para a elaborao de um currculo que valorizasse os interesses do aluno e a outra, para a construo cientfica de um currculo que desenvolvesse os aspectos da personalidade adulta. ento considerada "desejvel". A primeira delas representada pelos trabalhos de Dewey j e Kilpatrick e a segunda pelo pensamento de Bobbitt. A primeira contribuiu para o desenvolvimento do que no Brasil se chamou de escolanovismo e a segunda constituiu a semente do que aqui se denominou de tecnicismo.10 Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

Pode-se dizer que as duas, em seus momentos iniciais, representaram diferentes respostas s transformaes sociais, polticas e econmicas por que passava o pas e que, ainda que de formas diversas, procuraram adaptar a escola e o currculo ordem capitalista que se consolidava. As duas tendncias, juntamente com vestgios e revalorizaes de uma perspectiva mais tradicional de escola e de currculo, dominaram o pensamento curricular dos anos vinte ao final da dcada de sessenta e incio da dcada seguinte.

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Objetivo: Conceituar currculo numa perspectiva terica crtica. Analisar As Tendncias Atuais Sobre Os Estudos Sobre O Currculo.

Currculo E Ideologia Desde o incio da teorizao crtica em educao, "ideologia" tem sido um dos conceitos centrais a orientar a anlise da escolarizao, em geral, e a do currculo, em particular. O ensaio de Louis Althusser (1983), "A Ideologia e os Aparelhos Ideolgicos de Estado" marca, naturalmente, o incio da preocupao com a questo da ideologia em educao. Aquele ensaio rompia com a noo liberal e tradicional da educao como desinteressadamente envolvida com a transmisso de conhecimento e lanava as bases para toda a teorizao que se seguiria. Fundamentalmente, Althusser argumentava que a educao constituiria um dos principais dispositivos atravs do qual a classe dominante transmitiria suas ideias sobre o mundo social, garantindo assim a reproduo da estrutura social existente. Essas ideias seriam diferencialmente transmitidas, na escola, s crianas das diferentes classes: uma viso de mundo apropriada aos que estavam destinados a dominar, a outra aos que se destinavam s posies sociais subordinadas. Essa transmisso diferencial seria garantida pelo fato de que as crianas das diferentes classes sociais saem da escola em diferentes pontos da carreira escolar: os que saem antes "aprenderiam" as atitudes e valores prprios das classes subalternas, os que fossem at o fim seriam socializados no modo de ver o mundo prprio das classes dominantes. Alm disso, Althusser era explcito a respeito dos mecanismos pelos quais essas diferenciadas12 Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

vises de mundo eram transmitidas. De forma geral, essa transmisso da ideologia estaria centralmente a cargo daquelas matrias escolares mais propcias ao "ensino" de ideias sociais e polticas: Histria, Educao Moral, Estudos Sociais, mas estariam presentes, tambm, embora de forma mais sutil, em matrias aparentemente menos sujeitas contaminao ideolgica, como Matemtica e Cincias. Embora tenha sido um marco importante e continue sendo uma referncia central na teorizao crtica em educao, o ensaio de Althusser e seus pressupostos foram objeto de crtica e refinamento nos anos que se seguiram sua publicao. Por um lado, houve uma srie de contestaes conceituais prpria noo de ideologia formulada por Althusser. Por outro, inmeros estudos empricos sobre o funcionamento da escola e da sala de aula ajudaram a aumentar consideravelmente a nossa compreenso do papel da ideologia no processo educacional, uma compreenso que nos levou bastante alm do esboo de Althusser. Em primeiro lugar, o refinamento conceitual foi na direo de afastar a ideia de ver a ideologia como falsa conscincia ou como um conjunto de ideias falsas sobre a sociedade. verdade que o ensaio de Althusser no se baseava nessa noo (e sua segunda parte, raramente referida, apresentava, de fato, uma noo extremamente sofisticada de ideologia, ainda no superada), mas o escasso tratamento dado ao conceito na primeira parte do ensaio podia legar a essa compreenso. A compreenso do conceito de ideologia como conscincia falsa levava facilmente sua formulao como uma questo epistemolgica centrada na dicotomia falso/verdadeiro que a despia de todas as suas conotaes polticas. Naturalmente, difcil resumir as inmeras interpretaes ligadas ao conceito de ideologia numas poucas proposies, mas certamente uma coisa relativamente clara na literatura educacional o vnculo que a noo de ideologia tem com poder e interesse. Essa perspectiva permite que escapemos aos impasses colocados pelo equacionamento de ideologia como conhecimento falso e no ideologia como conhecimento verdadeiro,13 Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

permitindo tambm que nos afastemos da noo representacional de conhecimento e linguagem implcita naquele equacionamento. A ideologia, nessa perspectiva, est relacionada s divises que organizam a sociedade e s relaes de poder que sustentam essas divises. O que caracteriza a ideologia no a falsidade ou verdade das ideias que veicula, mas o fato de que essas ideias so interessadas, transmitem uma viso do mundo social vinculada aos interesses dos grupos situados em uma posio de vantagem na organizao social. A ideologia essencial na luta desses grupos pela manuteno das vantagens que Ihe advm dessa posio privilegiada. menos importante saber se as ideias envolvidas na ideologia so falsas ou verdadeiras e, mais importante saber que vantagens relativas e que relaes de poder elas justificam ou legitimam. A pergunta correta no saber se as ideias veiculadas pela ideologia correspondem realidade ou no, mas saber a quem beneficiam o que implica ao outro ponto conceitual importante: o conceito de ideologia e a relao de poder.

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Objetivo: Conceituar currculo numa perspectiva terica crtica. Analisar As Tendncias Atuais Sobre Os Estudos Sobre O Currculo. Continuando Nossas Reflexes Sobre A Teoria Do Currculo

Currculo E Cultura Se ideologia e currculo no podem ser vistos separados na teorizao educacional crtica, cultura e currculo constituem um par inseparvel j na teoria educacional tradicional. Nessa viso, que a educao e, em particular, o currculo, seno uma forma institucionalizada de transmitir a cultura de uma sociedade. A teorizao crtica, de certa forma, continua essa tradio. A educao e o currculo so vistos como profundamente envolvidos com o processo cultural. Entretanto, h diferenas importantes a serem enfatizadas. De forma geral, a educao e o currculo esto, sim, envolvidos com esse processo, mas ele visto, ao contrrio do pensamento convencional, como fundamentalmente poltico. Na tradio crtica, a cultura no vista como um conjunto inerte e esttico de valores e conhecimentos a serem transmitidos de forma no problemtica a uma nova gerao, nem ela existe de forma unitria e homognea. Em vez disso, o currculo e a educao esto profundamente envolvidos em uma poltica cultural, o que significa que so tanto campos de produo ativa de cultura quanto campos contestados. Em contraste com o pensamento convencional sobre a relao entre currculo e cultura, a tradio crtica v o currculo como terreno de produo e criao simblica, cultural. A15 Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

educao e o currculo no atuam, nessa viso, apenas como correias transmissoras de uma cultura produzida em outro local, por outros agentes, mas so partes integrantes e ativas de um processo de produo e criao de sentidos, de significaes, de sujeitos. O currculo pode ser movimentado por intenes oficiais de transmisso de uma cultura oficial, mas o resultado nunca ser o intencionado porque, precisamente, essa transmisso se d em um contexto cultural de significao ativa dos materiais recebidos. A cultura e o cultural, nesse sentido, no esto tanto naquilo que se transmite quanto naquilo que se faz com o que se transmite. Obviamente, a viso tradicional da relao entre cultura e educao/currculo no v o campo cultural como um terreno contestado. Na concepo crtica, no existe uma cultura da sociedade, unitria, homognea e universalmente aceita e praticada e, por isso, digna de ser transmitida s futuras geraes atravs do currculo. Em vez disso, a cultura vista menos como uma coisa e mais como um campo e terreno de luta. Nessa viso, a cultura o terreno em que se enfrentam diferentes e conflitantes concepes de vida social, aquilo pelo qual se luta e no aquilo que recebemos. Assim, nessa perspectiva, a ideia de cultura inseparvel da de grupos e classes sociais. Em uma sociedade dividida, a cultura o terreno por excelncia onde se d a luta pela manuteno ou superao das divises sociais. O currculo educacional, por sua vez, o terreno privilegiado de manifestao desse conflito. O currculo, ento, no visto, tal como na viso tradicional, como um local de transmisso de uma cultura incontestada e unitria, mas como um campo em que se tentar impor tanto a definio particular de cultura da classe ou grupo dominante quanto o contedo dessa cultura (BOURDIEU, 1979). Aquilo que na viso tradicional visto como o processo de continuidade cultural da sociedade como um todo, visto aqui como processo de reproduo cultural e social das divises dessa sociedade.

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Essa perspectiva da cultura como um campo contestado e ativo tem implicaes importantes para a teoria curricular crtica. Se combinarmos essa viso com aquela que questiona a linguagem e o conhecimento como representao e reflexo da "realidade", somos obrigados a rejeitar a viso convencional do currculo que o v como um veculo de transmisso do conhecimento como uma "coisa", como um conjunto de informaes e materiais inertes. Nesse entendimento, o currculo no o veculo de algo a ser transmitido e passivamente absorvido, mas o terreno em que ativamente se criar e produzir cultura. O currculo , assim, um terreno de produo e de poltica cultural, no qual os materiais existentes funcionam como matria-prima de criao, recriao e, sobretudo, de contestao e transgresso. Currculo e poder Se existe uma noo central teorizao educacional e curricular crtica a de poder. a viso de que a educao e o currculo esto profundamente implicados em relaes de poder que d teorizao educacional crtica seu carter fundamentalmente poltico. Isso no quer dizer que a conceituao daquilo que constitui o poder, no contexto da educao e do currculo, seja uma questo facilmente resolvida. Para no entrar em longas e interminveis discusses conceituais sobre o poder, suficiente afirmar aqui que o poder se manifesta em relaes de poder, isto , em relaes sociais em que certos indivduos ou grupos esto submetidos vontade e ao arbtrio de outros. Na viso crtica, o poder se manifesta atravs das linhas divisrias que separam os diferentes grupos sociais em termos de classe, etnia, gnero etc. Essas divises constituem tanto a origem quanto o resultado de relaes de poder. nessa perspectiva que o currculo est centralmente envolvido em relaes de poder. Como vimos acima, quando discutimos os conceitos de ideologia e cultura, o conhecimento corporificado no currculo tanto o resultado de relaes de poder quanto seu constituidor.17 Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

Por um lado, o currculo, enquanto definio "oficial" daquilo que conta como conhecimento vlido e importante, expressa os interesses dos grupos e classes colocados em vantagem em relaes de poder. Desta forma, o currculo expresso das relaes sociais de poder. Por outro lado, apesar de seu aspecto contestado, o currculo, ao expressar essas relaes de poder, ao se apresentar, no seu aspecto "oficial" como representao dos interesses do poder, constitui identidades individuais e sociais que ajudam a reforar as relaes de poder existentes, fazendo com que os grupos subjugados continuem subjugados. O currculo est, assim, no centro de relaes de poder. Seu aspecto contestado no demonstrao de que o poder no existe, mas apenas de que o poder no se realiza exatamente conforme suas intenes. Reconhecer que o currculo est atravessado por relaes de poder no significa ter identificado essas relaes. Grande parte da tarefa da anlise educacional crtica consiste precisamente em efetuar essa identificao. exatamente porque o poder no se manifesta de forma to cristalina e identificvel que essa anlise importante. No caso do currculo, cabe perguntar: que foras fazem com que o currculo oficial seja hegemnico e que foras fazem com que esse currculo aja para produzir identidades sociais que ajudam a prolongar as relaes de poder existentes?

Leitura de : SILVA, Tomaz Tadeu da. Documento de identidade uma introduo s teorias do currculo. 2. ed.. Belo Horizonte: Autntica, 2001 GOODSON, IVOR F. Currculo: Teoria e histria. Petrpolis: Vozes, 1995.

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Objetivo: Identificar o processo de construo dos estudos do currculo, a partir das discusses sobre as teorias pedaggicas. Trajetria Dos Estudos Sobre O Currculo Nascem Os "Estudos Sobre Currculo": As Teorias Tradicionais Segundo Tomaz Tadeu da Silva (2005), a existncia de teorias sobre o currculo est identificada com a emergncia do campo do currculo como um campo profissional especializado, de estudos e pesquisas sobre o currculo. As professoras e os professores de todas as pocas e lugares sempre estiveram envolvidos, de uma forma ou outra, com o currculo, antes mesmo que o surgimento de uma palavra especializada como "currculo" pudesse designar aquela parte de suas atividades que hoje conhecemos como "currculo". A emergncia do currculo como campo de estudos est estreitamente ligada a processos, tais como a formao de um corpo de especialistas sobre currculo, a formao de disciplinas e departamentos universitrios sobre currculo, a institucionalizao de setores

especializados sobre currculo na burocracia educacional do estado e o surgimento de revistas acadmicas especializadas sobre currculo. De certa forma, todas as teorias pedaggicas e educacionais so tambm teorias sobre o currculo. As diferentes filosofias educacionais e as diferentes pedagogias, em diferentes pocas, bem antes da institucionalizao do estudo do currculo como campo especializado, no deixaram de fazer especulaes sobre o currculo, mesmo que no utilizassem o termo. Mas as teorias educacionais e pedaggicas no so, estritamente falando, teorias sobre o currculo. H antecedentes, na Histria da Educao ocidental moderna, institucionalizada, de preocupaes com a organizao da atividade educacional e at mesmo de uma ateno consciente questo do que ensinar.19 Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

A Didactica Magna, de Joo Ams Comenius, um desses exemplos. A prpria emergncia da palavra currculum, no sentido que modernamente atribumos ao termo, est ligada a preocupaes de organizao e mtodo, como ressaltam as pesquisas de David Hamilton. O termo currculum, entretanto, no sentido que hoje lhe damos, s passou a ser utilizada em pases europeus como Frana, Alemanha, Espanha, Portugal muito recentemente, sob influncia da literatura educacional americana. precisamente nessa literatura que o termo surge para designar um campo especializado de estudos. Foram talvez as condies associadas com a institucionalizao da educao de massas que permitiram que o campo de estudos do currculo surgisse nos Estados Unidos, como um campo profissional especializado. Esto entre essas condies: a formao de uma burocracia estatal encarregada dos negcios ligados educao; o estabelecimento da educao como um objeto prprio de estudo cientfico; a extenso da educao escolarizada em nveis cada vez mais altos a segmentos cada vez maiores da populao; as preocupaes com a manuteno de uma identidade nacional, como resultado das sucessivas ondas de imigrao; o processo de crescente industrializao e urbanizao. nesse contexto que Bobbitt escreve, em 1918, o livro que iria ser considerado o marco no estabelecimento do currculo como um campo especializado de estudos: The currculum. O livro de Bobbitt escrito num momento crucial da histria da educao estadunidense, num momento em que diferentes foras econmicas, polticas e culturais procuravam moldar os objetivos e as formas da educao de massas de acordo com suas diferentes e particulares vises. nesse momento que se busca responder questes cruciais sobre as finalidades e os contornos da escolarizao de massas. Quais os objetivos da educao escolarizada: formar o trabalhador especializado ou proporcionar uma educao geral, acadmica, populao?

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O que se deve ensinar: as habilidades bsicas de escrever, ler e contar; as disciplinas acadmicas humansticas; as disciplinas cientficas; as habilidades prticas necessrias para as ocupaes profissionais? Quais as fontes principais do conhecimento a ser ensinado: o conhecimento acadmico; as disciplinas cientficas; os saberes profissionais do mundo ocupacional adulto? O que deve estar no centro do ensino: os saberes "objetivos" do conhecimento organizado ou as percepes e as experincias "subjetivas" das crianas e dos jovens? Em termos sociais, quais devem ser as finalidades da educao: ajustar as crianas e os jovens sociedade tal como ela existe ou prepar-Ios para transform-Ia; a preparao para a economia ou a preparao para a democracia? As respostas de Bobbitt eram claramente conservadoras, embora sua interveno buscasse transformar radicalmente o sistema educacional. Bobbitt propunha que a escola funcionasse da mesma forma que qualquer outra empresa comercial ou industrial. Tal como uma indstria, Bobbit queria que o sistema educacional fosse capaz de especificar precisamente que resultados pretendiam obter, que pudesse estabelecer mtodos para obtIos de forma precisa e formas de mensurao que permitissem saber com preciso se eles foram realmente alcanados. O sistema educacional deveria comear por estabelecer de forma precisa quais so seus objetivos. Esses objetivos, por sua vez, deveriam se basear num exame daquelas habilidades necessrias para exercer com eficincia as ocupaes profissionais da vida adulta. O modelo de Bobbitt estava claramente voltado para a economia. Sua palavra-chave era "eficincia". O sistema educacional deveria ser to eficiente quanto qualquer outra empresa econmica. Bobbitt queria transferir para a escola o modelo de organizao proposto por Frederick Taylor. Na proposta de Bobbitt, a educao deveria funcionar de acordo com os princpios da administrao cientfica propostos por Taylor.

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SACRISTN, J. Gimeno. O currculo. Uma reflexo sobre a prtica. 3 ed., Porto Alegre: Artmed, 2000.

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Objetivo: Traar a linha de estudos do currculo e os tericos responsveis pelos estudos. O Currculo Segundo Dewey E Tyler

Buscando ampliar a discusso sobre o currculo, vamos incluir as ideias de Dewey, bem como a relao entre as duas vertentes debatidas na poca: a vertente estadunidense e a vertente progressista. A orientao dada por Bobbitt iria constituir uma das vertentes dominantes da educao estadunidense no restante do sculo XX. Mas ela iria concorrer com vertentes consideradas mais progressistas como a liderada por John Dewey. Para Dewey, a construo da democracia era mais importante que o funcionamento da economia. Contrariando Bobbit, ele achava importante levar em considerao no planejamento curricular, os interesses e as experincias das crianas e jovens. Na perspectiva de Bobbitt, a questo do currculo se transforma numa questo de organizao. O currculo simplesmente uma mecnica. A atividade supostamente cientfica do especialista em currculo no passa de uma atividade burocrtica. No por acaso que o conceito central, nessa perspectiva, "desenvolvimento curricular", um conceito que iria dominar a literatura estadunidense sobre currculo at os anos 80. Numa perspectiva que considera que as finalidades da educao esto dadas pelas exigncias profissionais da vida adulta, o currculo se resume a uma questo de desenvolvimento, a uma questo tcnica.

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Tal como na indstria, fundamental, na educao, de acordo com Bobbitt, que se estabeleam padres. O estabelecimento de padres to importante na educao quanto, digamos, numa usina de fabricao de aos, pois, de acordo com Bobbitt, "a educao, tal como a usina de fabricao de ao, um processo de moldagem". O exemplo dado pelo prprio Bobbitt esclarecedor. Numa oitava srie, ilustra ele, algumas crianas realizam adies "a um ritmo de 35 combinaes por minuto", enquanto outras, "ao lado, adicionam a um ritmo mdio de 105 combinaes por minuto". Para Bobbitt, o estabelecimento de um padro permitiria acabar com essa variao. Nas ltimas dcadas, diz ele, os educadores vieram a "perceber que possvel estabelecer padres definitivos para os vrios produtos educacionais. A capacidade para adicionar a uma velocidade de 65 combinaes por minuto (...) uma especificao to definida quanto a que se pode estabelecer para qualquer aspecto do trabalho da fbrica de aos. A organizao e o desenvolvimento do currculo devem buscar responder, de acordo Com Tyler, quatro questes bsicas: Que objetivos educacionais deve a escola procurar atingir? Que experincias educacionais podem ser oferecidas que tenham probabilidade de alcanar esses propsitos? Como organizar eficientemente essas experincias educacionais? Como podemos ter certeza de que esses objetivos esto sendo alcanados?" As quatro perguntas de Tyler correspondem diviso tradicional da atividade educacional: "currculo" (1), "ensino e instruo" (2 e 3) e "avaliao" (4). interessante observar que tanto os modelos mais tecnocrticos, como os de Bobbitt e Tyler, quanto os modelos mais progressistas de currculo, como o de Dewey, que emergiram no incio do sculo XX, nos Estados Unidos, constituam, de certa forma, uma reao ao currculo clssico, humanista, que havia dominado a educao secundria desde sua24 Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

institucionalizao. Como se sabe, esse currculo era herdeiro do currculo das chamadas "artes liberais" que, vindo da Antiguidade Clssica, se estabelecera na educao universitria da Idade Mdia e do Renascimento, na forma dos chamados trivium (gramtica, retrica, dialtica) e quadrivium (astronomia, geometria, msica, aritmtica). Obviamente, o currculo clssico humanista tinha implicitamente uma "teoria" do currculo. Basicamente, nesse modelo, o objetivo era introduzir os estudantes ao repertrio das grandes obras literrias e artsticas da herana clssica grega e latina, incluindo o domnio das respectivas lnguas. Supostamente, essas obras encarnavam as melhores realizaes e os mais altos ideais do esprito humano. O conhecimento dessas obras no estava separado do objetivo de formar um homem (sim, o macho da espcie) que encarnasse esses ideais. Cada um dos modelos curriculares contemporneos, o tecnocrtico e o progressista atacam o modelo humanista por um flanco. O tecnocrtico destacava a abstrao e a suposta inutilidade - para a vida moderna e para as atividades laborais das habilidades e conhecimentos cultivados pelo currculo clssico. O latim e o grego - e suas respectivas literaturas - pouco serviam como preparao para o trabalho da vida profissional contempornea. No se aceitava, aqui, nem mesmo os argumentos que no sculo XIX tinham sido desenvolvidos pela perspectiva do "exerccio mental", segundo a qual a aprendizagem de matrias como o latim, por exemplo, servia para exercitar os "msculos mentais", de uma forma que podiam se aplicar a outros contedos. O modelo progressista, sobretudo aquele "centrado na criana", atacava o currculo clssico por seu distanciamento dos interesses e das experincias das crianas e dos jovens. Por estar centrado nas matrias clssicas, o currculo humanista simplesmente desconsiderava a psicologia infantil. Ambas as contestaes s puderam surgir, obviamente, no contexto da ampliao da escolarizao de massas, sobretudo da escolarizao secundria que era o foco do currculo25 Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

clssico humanista. O currculo clssico s pde sobreviver no contexto de uma escolarizao secundria de acesso restrito classe dominante. A democratizao da escolarizao secundria significou tambm o fim do currculo humanista clssico. Os modelos mais tradicionais de currculo, tanto os tcnicos quanto os progressistas de base psicolgica, por sua vez, s iriam ser definitivamente contestados, nos Estados Unidos, a partir dos anos 70, com o chamado movimento de reconceitualizao do currculo.

Faa a leitura do texto indicado abaixo, e responda o que solicitado. As mudanas curriculares e a prtica pedaggica - a Formao de professores ps LDB.Dbora Barreiros Universidade do Estado do Rio de Janeiro Doutoranda do Programa de Ps-Graduao em Educao Onde no houver adico, haver paixo. Onde o melhor que h nos seres humanos no estiver totalmente anestesiado, ali estar um professor. E um aluno. E ali germinar entre ambos um processo educativo que encontrar sua fonte na paixo pela vida, na f que responde ao desvelamento dos mistrios do conhecimento com reverncia e zelo (Maria Clara Bingemer).

Todos ns, professores, ouvimos o quanto essencial uma slida formao inicial e continuada, almejamos melhores condies de trabalho e lutamos por um plano de carreira com melhor remunerao. Quantos de ns conseguimos? Se no conseguimos, deixamos26 Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

de trabalhar? Claro que no! O compromisso com a aprendizagem no nos deixa abandonar o barco, que mesmo quase submerso ganha fora a cada conquista de nossos alunos. Os estmulos e a valorizao podem ser escassos, mas o comprometimento com a prtica pedaggica nos faz articular novos saberes, novas exigncias e todos os aspectos legais da rea. Ento, o que significa ser professor? Ser professor significa ser capaz de ressignificar o seu conhecimento e a sua experincia em cada contexto pedaggico em que se insere. Em outras palavras, implica abertura e reflexo sobre as aes educativas, o que envolve a elaborao de novos processos de formao, pois estabelece novas habilidades e saberes para esse novo profissional. E que formao exigida desse novo profissional? Este estudo tem como objetivo analisar alguns aspectos da formao inicial e continuada de professores no Brasil. Por se tratar de uma rea ampla e complexa, ser dividida em quatro momentos: 1) Formao de professores ps-LDB; 2) Competncias e habilidades do professor: o que dizem as Diretrizes curriculares para a formao inicial de professores para a educao bsica; 3) Educao a Distncia: uma estratgia de formao docente; e 4) Educao inclusiva e a formao de professores.

"As mudanas curriculares e a prtica Pedaggica"Primeiramente cabe destacar que, a partir da dcada de 1980, com os debates e os movimentos sociais, foi intensificado o processo de formao docente, que culminou com a promulgao da Constituio Federal de 1988 e com a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB), n 9394/96. Nesse quadro referencial, esta lei estabelece, em seu Art. 62, que a formao de docentes para atuar na educao bsica far-se- em nvel superior, em curso de licenciatura, de graduao plena, em universidades e institutos superiores de educao [...]. Entretanto, a formao de todos os professores em nvel superior passou a ser considerada uma utopia para o quadro brasileiro, utopia que no poderia ser alcanada de maneira to rpida. Em decorrncia, com a publicao do Decreto n. 3276/99, foi institudo que os cursos normais superiores passariam tambm a ser responsveis pela27 Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

formao dos docentes da educao bsica. Outro marco o Parecer CNE/CEB n 03/2003, que aponta uma contradio na LDB e dispe que os professores da educao infantil e da primeira etapa do fundamental precisam apenas do curso normal em nvel de ensino mdio para exercer o magistrio. O diploma, porm, continua sendo exigido para os que do aulas para alunos da 5 8 srie e para o ensino mdio. Tais aes ocorreram de modo a ampliar os espaos de formao e mostrar, ao Banco Mundial e a outros rgos financiadores da educao brasileira, resultados notrios sobre a ampliao dos nmeros de professores qualificados, considerando que, como registra o relatrio da Comisso Internacional sobre a Educao para o sculo XXI, organizada pela UNESCO (1999, p. 1) para melhorar a qualidade da educao essencial melhorar o recrutamento, a formao, o estatuto social e as condies de trabalho dos professores, de modo que os professores possam responder ao que deles se espera. Apesar de toda mudana ocorrida nos ltimos anos no que se referem formao dos professores, alguns dados divulgados recentemente pela Agncia Brasil apontam para uma questo crucial sobre a rea, principalmente nas escolas das reas rurais (que so quase metade das mais de 200 mil escolas pblicas brasileiras), cujo percentual de professores sem a formao exigida pela lei ainda alarmante: apenas 21% dos profissionais que do aula de 1 a 4 srie nas escolas rurais tm graduao, enquanto na cidade esse nmero aumenta para 56,4% (Agncia Brasil, 2007, p. 1). Os dados do Censo 2006 tambm ajudam a pensar em que ponto est a formao de professores exigida no pas. Resumidamente, no perodo de 1995 a 2002, o Ministrio da Educao formulou e implementou um conjunto de polticas relacionado formao continuada, com foco nas sries iniciais do ensino fundamental. No perodo de 1995 e 1999, foram elaborados parmetros curriculares, diretrizes e referenciais para formao de professores. A partir de 2001, a poltica focalizou as diretrizes curriculares para a formao inicial de professores para a educao bsica em nvel superior (AGUIAR, 2004), que implicava pensar no currculo dos cursos de formao de professores da educao bsica com um diferencial, visto que exige um projeto amplo para ser compartilhado por todos os futuros docentes da licenciatura, no apenas direcionado aos cursos de Pedagogia.28 Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

Essa reestruturao influencia diretamente as escolas, a sociedade e os professores; todos passam a recriar alternativas de ao poltico-pedaggica, da educao infantil ao ensino mdio. Atualmente, o MEC desenvolve os seguintes programas para formao continuada de professores das redes pblicas de educao: Rede Nacional de Formao Continuada de Professores de Educao Bsica, cujo objetivo contribuir para a melhoria da formao dos professores e dos alunos, num trabalho conjunto com as universidades, centros de pesquisa e desenvolvimento da educao; Pr-Letramento - Mobilizao pela Qualidade da Educao, programa na modalidade a distncia que busca a melhoria da qualidade de aprendizagem da leitura/escrita e matemtica nas sries iniciais do ensino fundamental; Pr-Licenciatura, programa de formao inicial dos professores que no possuem a habilitao legal necessria. desenvolvido em parceria com as Secretarias de Educao Bsica, de Educao a Distncia e de Educao Superior do MEC, junto s instituies de ensino superior (IES) pblicas, comunitrias e confessionais; Proinfantil,curso de nvel mdio, a distncia, na modalidade Normal. Destina-se aos professores da educao infantil em exerccio nas creches e pr-escolas das redes pblicas; Programa tica e cidadania. Construindo valores na escola e na sociedade, fundamentalmente desenvolvido nas reas de educao infantil e educao fundamental, trabalha prticas pedaggicas que conduzam consagrao da liberdade, da convivncia social, da solidariedade humana e da promoo e incluso social; Programa de Incentivo Formao Continuada de Professores do Ensino Mdio, que tem por objetivo cadastrar instituies de ensino superior, pblicas e privadas sem fins lucrativos para realizao de cursos de formao continuada para professores em exerccio nas redes estaduais. Um conjunto de aes de melhoria da qualidade do ensino,29 Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

com a oferta de cursos de formao continuada para professores nas reas de Qumica, Fsica, Biologia, Matemtica, Histria, Geografia e Lngua Portuguesa e Lngua Espanhola. Todos esses programas visam auxiliar os estados e municpios a cumprir a legislao vigente para o exerccio da profisso docente. Entretanto, como demonstram os dados, estamos ainda distantes da realidade almejada. Nessa perspectiva, deixo algumas perguntas: como promover a formao do professor dentro das competncias e habilidades exigidas para o profissional do sculo XXI? Se a formao pedaggica relevante para o exerccio docente, que expectativas o profissional tem sobre sua natureza e formas de operacionalizao? O que tem maior destaque na formao, a teoria ou a prtica? (Publicado em 30 de outubro de 2007)

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Objetivo: Analisar as concepes de currculo na perspectiva problematizadora de Paulo Freire e os modelos tradicionais de currculos. Discutindo a Pedagogia do Oprimido versus a Pedagogia dos Contedos, segundo Tomaz Tadeu Da Silva. Vamos discutir as ideias de Paulo Freire, mas quando adentramos na teoria do currculo, fazse necessrio rever o tema na perspectiva do Tomaz Tadeu da Silva, que em seu livro Documentos de identidade: uma introduo s teorias do currculo, discutindo alguns autores sobre este tema, busca em Paulo Freire uma anlise comparativa dos currculos. Da, trazer para o estudo trechos do texto Pedagogia do Oprimido versus Pedagogia dos Contedos (2005 p. 57-63). Parece evidente que Paulo Freire no desenvolveu uma teorizao especifica sobre currculo. Em sua obra, entretanto, como ocorre com outras teorias pedaggicas, ele discute questes que esto relacionadas com aquelas que comumente esto associadas com teorias mais propriamente curriculares. Pode-se dizer que seu esforo de teorizao consiste, ao menos em parte, em responder questo curricular fundamental: "o que ensinar?". Em sua preocupao com a questo epistemolgica fundamental ("o que significa conhecer?"), Paulo Freire desenvolveu uma obra que tem implicaes importantes para a teorizao sobre o currculo. Alm disso, conhecida sua influncia sobre as teorizaes de autores e autoras mais diretamente ligados ao desenvolvimento de perspectivas mais propriamente curriculares. Nesse texto, Silva (2005) se volta para os dois livros de Paulo Freire: Educao como prtica da liberdade (1967) e Pedagogia do Oprimido (1970). Na verdade, o livro Pedagogia do Oprimido, que ele considera como melhor representante do pensamento, pelo qual ele iria se tornar internacionalmente conhecido e reconhecido, Educao como prtica da liberdade est ainda31 Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

muito ligado ao pensamento da chamada "ideologia do desenvolvimento" que caracterizava o pensamento de esquerda da poca. Em seu primeiro livro, a palavra-chave , precisamente, "desenvolvimento". No segundo, a centralidade do conceito de "desenvolvimento" deslocada pelo de "revoluo". Alm disso, os elementos propriamente pedaggicos do pensamento de Freire esto a pouco desenvolvidos: metade do livro dedicada a uma anlise da formao social brasileira. Pedagogia do Oprimido, por outro lado, difere, em aspectos fundamentais, das outras teorizaes que iriam constituir as bases de uma teoria educacional crtica (Althusser, Bourdieu e Passeron, Bowles e Gintis). Em primeiro lugar, diferentemente daquelas teorizaes, sua anlise deve muito mais filosofia do que sociologia e economia poltica. verdade que a anlise que Freire faz da formao social brasileira na primeira parte de Educao como prtica da liberdade profundamente histrica e sociolgica. J a anlise que Freire faz do processo de dominao em Pedagogia do Oprimido est baseada numa dialtica hegeliana das relaes entre senhor e servo, ampliada e modificada pela leitura do "primeiro Marx", do marxismo humanista de Erich Fromm, da fenomenologia existencialista e crist e de crticos do processo de dominao colonial (Memmi, Fanon). O foco est, aqui, muito menos na dominao como um reflexo das relaes econmicas e muito mais na dinmica prpria do processo de dominao. Em segundo lugar, as crticas sociolgicas da educao tomam como base a estrutura e o funcionamento da educao institucionalizada nos pases desenvolvidos. Est implcita na anlise de Freire, por sua vez, uma crtica escola tradicional, mas sua preocupao est voltada para o desenvolvimento da educao de adultos em pases subordinados na ordem mundial. Na verdade, em Pedagogia do Oprimido, Freire adia a transformao da educao formal para depois da revoluo. Pode-se dizer ainda que os conceitos humanistas utilizados por Freire32 Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

em sua anlise esto claramente ausentes de anlises mais estruturalistas da educao. No se pode imaginar Althusser ou Bourdieu e Passeron falando, como faz Freire em Pedagogia do Oprimido e em livros posteriores, de "amor", "f nos homens", "esperana" ou "humildade". Finalmente, a teorizao de Freire claramente pedaggica, na medida em que ele no se limita a analisar como so a educao e a pedagogia existentes, mas apresenta uma teoria bastante elaborada de como elas devem ser. Essas diferenas refletem-se inclusive nos ttulos dos respectivos livros: enquanto o de Freire ressalta o termo "pedagogia", o livro de Bowles e Gintis, por exemplo, sugere uma anlise da escola na sociedade capitalista estadunidense, e o de Baudelot e Establet propese, claramente, a analisar a "escola capitalista na Frana". A crtica de Freire ao currculo existente est sintetizada no conceito de "educao bancria". A educao bancria expressa uma viso epistemolgica que concebe o conhecimento como sendo constitudo de informaes e de fatos a serem simplesmente transferidos do professor para o aluno. O conhecimento se confunde com um ato de depsito - bancrio. Nessa concepo, o conhecimento algo que existe fora e independentemente das pessoas envolvidas no ato pedaggico. Refletindo aqui a crtica mais cientificista ligada "ideologia do

desenvolvimento", bem como as crticas escola tradicional feitas pelos idelogos da "Escola Nova", Freire ataca o carter verbalista, narrativo, dissertativo do currculo tradicional. Na sua nfase excessiva num verbalismo vazio, oco, o conhecimento expresso no currculo tradicional est profundamente desligado da situao existencial das pessoas envolvidas no ato de conhecer. Na concepo bancria da educao, o educador exerce sempre um papel ativo, enquanto o educando est limitado a uma recepo passiva.

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Atravs do conceito de "educao problematizadora", Freire busca desenvolver uma concepo que possa se constituir numa alternativa concepo bancria que ele critica. Na base dessa "educao problematizadora" est uma compreenso radicalmente diferente do que significa "conhecer". Aqui, a perspectiva de Freire claramente fenomenolgica. Para ele, conhecimento sempre conhecimento de alguma coisa. Isso significa que no existe uma separao entre o ato de conhecer e aquilo que se conhece. Utilizando o conceito fenomenolgico de inteno, o conhecimento, para Freire, sempre intencionado, isto , est sempre dirigido para alguma coisa. Conhecer envolve intercomunicao,

intersubjetividade. essa intersubjetividade do conhecimento que permite a Freire conceber o ato pedaggico como um ato dialgico. Na educao bancria torna-se desnecessrio o dilogo, na medida em que apenas o educador exerce algum papel ativo relativo ao conhecimento. Se conhecer uma questo de depsito e acumulao de informaes e fatos, o educando concebido em termos de falta, de carncia, de ignorncia, relativamente queles fatos e quelas informaes. O currculo e a pedagogia se resumem ao papel de preenchimento daquela carncia. Em vez do dilogo, h aqui uma comunicao unilateral. Na perspectiva da educao problematizadora, ao invs disso, todos os sujeitos esto ativamente envolvidos no ato de conhecimento. O mundo - o objeto a ser conhecido no simplesmente "comunicado"; o ato pedaggico no consiste em simplesmente "comunicar o mundo". Em vez disso, educador e educandos criam, dialogicamente, um conhecimento do mundo. sobre essas bases que Freire vai desenvolver seu famoso "mtodo". Ele no se limita a criticar o currculo implcito no conceito de "educao bancria". Freire fornece, j em Pedagogia do Oprimido, instrues detalhadas de como desenvolver um currculo que seja a expresso de sua concepo de "educao problematizadora".

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curioso observar que Freire utiliza, neste livro, expresses e conceitos bastante tradicionais, tais como "contedos" e "contedos programticos", para falar sobre currculo. Ele est bem consciente, entretanto, da necessidade do desenvolvimento de um currculo que esteja de acordo com sua concepo de educao e pedagogia. A diferena relativamente s perspectivas tradicionais de currculo est na forma como se constroem esses "contedos programticos".

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Objetivo: Analisar as concepes de currculo na perspectiva problematizadora de Paulo Freire e os modelos tradicionais de currculos. Discutindo a Pedagogia do Oprimido versus a Pedagogia dos Contedos, segundo Tomaz Tadeu Da Silva. Vamos nesta unidade continuar com as reflexes sobre a percepo de Tomaz Tadeu da Silva sobre currculo. Pode-se comparar, nesse aspecto, o mtodo sugerido por Paulo Freire, com os mtodos seguidos por modelos mais tradicionais, como o de Tyler, por exemplo. Tyler sugeria estudos sobre os aprendizes e sobre a vida ocupacional adulta bem como a opinio dos especialistas das diferentes disciplinas como fontes para o desenvolvimento de objetivos educacionais, tudo isso filtrado pela filosofia e pela psicologia educacionais. Na perspectiva de Freire, a prpria experincia dos educandos que se torna a fonte primria de busca dos "temas significativos" ou "temas geradores" que vo constituir o "contedo programtico" do currculo dos programas de educao de adultos. Freire no nega o papel dos especialistas que, interdisciplinarmente, devem organizar esses temas em unidades programticas, mas o "contedo" sempre resultado de uma pesquisa no universo experiencial dos prprios educandos, os quais so tambm ativamente envolvidos nessa pesquisa. Contrariamente representao que comumente se faz, Paulo Freire concede uma importncia central, em seu "mtodo", ao papel tanto dos especialistas nas diversas disciplinas, aos quais cabe, ao final, elaborar os "temas significativos" e fazer o que ele chama de "codificao", quanto dos educadores diretamente envolvidos nas atividades pedaggicas. Ao menos em Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire acredita que o "contedo programtico da educao no uma doao ou imposio, mas a devoluo organizada,36 Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

sistematizada e acrescentada ao povo daqueles elementos que este lhe entregou em forma desestruturada". O que ele destaca a participao dos educandos nas vrias etapas da construo deste "currculo programtico". Numa operao visivelmente curricular, ele fala em escolha do "contedo programtico", que deve ser feita em conjunto pelo educador e pelos educandos. Esse contedo programtico deve ser buscado, conjuntamente, naquela realidade, naquele mundo que, segundo Freire, constitui o objeto do conhecimento intersubjetivo. Na concepo de cultura, como criao e produo humana, no se faz uma distino entre cultura erudita e cultura popular, entre alta e baixa cultura. Ela no definida por qualquer critrio esttico ou filosfico. A cultura simplesmente o resultado de qualquer trabalho humano. O desenvolvimento dessa noo de cultura tem importantes implicaes curriculares. Embora Freire no desenvolva esse tema, o currculo tradicional, humanista, clssico, que denominou de educao de grupos dominantes por um longo tempo, est baseado precisamente numa definio da cultura como o conjunto das obras de "excelncia" produzidas no campo das artes visuais, da literatura, da msica, do teatro. Mesmo que implicitamente, essa crtica do conceito de cultura permite a Paulo Freire desenvolver uma perspectiva curricular que, antecipando-se influncia posterior dos Estudos Culturais, apaga as fronteiras entre cultura erudita e cultura popular. Essa ampliao do que constitui cultura permite que se veja a chamada "cultura popular" como um conhecimento que legitimamente deve fazer parte do currculo. Se Paulo Freire se antecipou, de certa forma, definio cultural do currculo que iria caracterizar depois a influncia dos estudos culturais sobre os estudos curriculares, pode-se dizer tambm que ele inicia o que se poderia chamar no presente contexto, de uma pedagogia ps-colonialista ou, quem sabe, de uma perspectiva ps-colonialista sobre currculo.37 Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

Como se sabe, a perspectiva ps-colonialista, desenvolvida, sobretudo nos estudos literrios, busca problematizar as relaes de poder entre os pases que, na situao anterior, eram colonizadores e aqueles que eram colonizados. Essa perspectiva procura privilegiar a perspectiva epistemolgica dos povos dominados, sobretudo da forma como se manifesta em sua literatura. Ao se concentrar na perspectiva de grupos dominados em pases da Amrica Latina e, mais tarde, nos pases que se tornavam independentes do domnio portugus, Paulo Freire antecipa, na pedagogia e no currculo, alguns dos temas que iriam, depois, se tornar centrais teoria ps-colonialista. A perspectiva de Freire era, j em Pedagogia do Oprimido, claramente ps-colonialista, sobretudo em sua insistncia no posicionamento epistemologicamente privilegiado dos grupos dominados: por estarem em posio dominada na estrutura que divide a sociedade entre dominantes e dominados, esses grupos tinham um conhecimento da dominao que os grupos dominantes no podiam ter. Numa era em que o tema do "multiculturalismo" ganha tanta centralidade, essa dimenso da obra de Paulo Freire pode talvez servir de inspirao para o desenvolvimento de um currculo ps-colonialista que responda s novas condies de dominao que caracterizam a "nova ordem mundial". O predomnio de Paulo Freire no campo educacional brasileiro seria contestado, no incio dos anos 80, pela chamada "pedagogia histrico-crtica" ou "pedagogia crtico-social dos contedos", desenvolvida por Demerval Saviani. Tal como Freire, Saviani no pretendia estar elaborando propriamente uma teoria do currculo, mas sua teorizao focaliza questes que pertencem legitimamente ao campo dos estudos curriculares. Em oposio a Paulo Freire, Saviani faz uma ntida separao entre educao e poltica. Para ele, uma prtica educacional que no consiga se distinguir da poltica perde sua especificidade. A educao torna-se poltica apenas na medida em que ela permite que as38 Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

classes subordinadas se apropriem do conhecimento que ela transmite como um instrumento cultural que ser utilizado na luta poltica mais ampla. Assim, para Saviani, a tarefa de uma pedagogia crtica consiste em transmitir aqueles conhecimentos universais que so considerados como patrimnio da humanidade e no dos grupos sociais que deles se apropriaram. Saviani critica tanto as pedagogias ativas mais liberais quanto a pedagogia libertadora freireana por enfatizarem no a aquisio do conhecimento, mas os mtodos de sua aquisio. H, na teorizao de Saviani, uma evidente ligao entre conhecimento e poder. Essa ligao limita-se, entretanto, a enfatizar o papel do conhecimento do poder das classes subordinadas. Nesse sentido a pedagogia de Saviani aparece como a nica, dentre as pedagogias crticas, a deixar de ver qualquer conexo intrnseca entre conhecimento e poder.

Assista O FILME: ESCRITORES DA LIBERDADE ( 2007).Histria inspiradora envolvendo adolescentes criados no meio da violncia e a professora que oferece o que eles mais precisam: uma voz prpria. Diante da corrupo , violncia e tenso racial, a professora luta para que a sala de aula faa diferena na vida dos estudantes. PERGUNTAS:1- O que fez a professora cativar a ateno dos alunos? 2- O que fez os alunos comearem a buscar a paz e no mais a violncia? Por qu?

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Objetivo: Identificar o currculo oculto nas prticas pedaggicas dos profissionais da educao.. Diferenciar o Currculo Oculto, como Ao do Cotidiano da Escola, do Currculo Proposto no Planejamento Curricular Estabelecido Institucionalmente. Currculo Oculto Caros alunos! Discutir concepo de currculo passa pela questo de ler e ver nas entrelinhas, da ser preciso revisitar o conceito e as teorias sobre o currculo oculto. Vale perguntar, como forma de desocultar o currculo oculto: Quais questes uma teoria do currculo buscaria responder? Currculo oculto conceito e teorias. Currculo oculto O currculo oculto constitudo por todos aqueles aspectos do ambiente escolar que, sem fazer parte do currculo oficial, explcito, contribuem, de forma implcita para aprendizagens sociais relevantes (...) o que se aprende no currculo oculto so fundamentalmente atitudes, comportamentos, valores e orientaes..." (SILVA, 2001, p 78).

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A primeira pessoa a utilizar a expresso currculo oculto, foi Philip Jackson, um educador americano, em seu livro Life in Classrroms (1968) para referir-se s caractersticas estruturais da sala de aula que contribuam para o processo de socializao. Mas, a origem da noo de currculo oculto, anterior, pois temos em 1938 John Dewey referindo-se a uma aprendizagem colateral de atitudes que ocorre de modo simultneo ao currculo explcito. Logo a ideia de que o currculo escolar concretizado de duas maneiras, a explcita e formal, e a implcita e informal. Segundo Giroux, todas as discusses em torno do papel implcito e explcito da escolarizao chegam a diferentes concluses, mas todos concordam que as escolas no ensinam os alunos apenas a ler, escrever, calcular, entre outros contedos, mas que elas so tambm agentes de socializao e sendo um espao social, tem um duplo currculo, o explcito e formal, e o oculto e informal.

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O currculo oculto geralmente associado s mensagens de natureza afetiva, como atitudes e valores, porm no possvel separar os efeitos destas mensagens das de natureza cognitiva. Assim, o currculo oculto est junto com as normas de comportamento social como as de concepes de conhecimentos, que so ligadas s experincias didticas. Ele est oculto para o estudante, no qual h uma inteno oculta, que conhecida por quem a ocultou (o professor, o sistema, etc.). Isto , o currculo oculto pode estar sendo utilizado na relao pedaggica sem que o professor perceba. Ele utiliza a sua experincia para transmitir o contedo da disciplina e esta experincia uma forma de currculo oculto. As teorias do currculo oculto sabido que embora no constitua propriamente uma teoria, a noo de "currculo oculto" exerceu uma forte e estranha atrao em quase todas as perspectivas crticas iniciais sobre currculo. A noo de currculo oculto estava implcita, por exemplo, na anlise que Bowles e Gintis fizeram da escola capitalista americana. Aqui, atravs do "principio da correspondncia", eram as relaes sociais na escola, mais do que seu contedo explcito, que eram responsveis pela socializao de crianas e jovens nas normas e atitudes necessrias para uma boa adaptao s exigncias do trabalho capitalista. Mesmo que no diretamente relacionada escola, a noo de ideologia desenvolvida por Althusser na segunda parte de seu famoso ensaio, A ideologia e os aparelhos ideolgicos de estado, apontavam de certa forma, para uma noo que tinha caractersticas similares s que eram atribudas ao "currculo oculto". Como lembramos, Althusser fornecia uma definio de ideologia que destacava sua dimenso prtica e material. A ideologia, nessa definio expressava-se mais atravs de rituais, gestos e prticas corporais do que atravs de manifestaes verbais. "Aprendia-se" a42 Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

ideologia atravs dessas prticas: uma definio que se aproxima bastante da definio de currculo oculto. Na teorizao de Bernstein, por exemplo, atravs da estrutura do currculo e da pedagogia que se aprendem os cdigos de classe. Mas claro que o conceito de currculo oculto se estendeu para muito alm desses exemplos, sendo utilizado por praticamente toda perspectiva crtica de currculo em seu perodo inicial. Mas, o importante desse estudo saber o que fazer com um currculo oculto quando o encontramos. A teorizao crtica, conhecer, discutir e analisar o currculo oculto implica na possibilidade de termos conscincia de algo que est oculto e desocult-lo, tornando-o mais eficaz e com possibilidade de mudanas. Consultar; http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20070514064926AAvRosq.

Atividade Dissertativa O currculo apresenta no seu escopo ideologias e crenas. De que forma ele possvel de ser aplicado dentro de sala de aula? Apresente por escrito , em no mximo 25 linhas o perfil do educador com proposta demistificadora do currculo.

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Objetivo: Analisar a concepo de currculo multiculturalista O Currculo Multiculturalista e a Educao

No mundo atual, deparamo-nos com uma nova ordem mundial - rapidez nas comunicaes devido sofisticao da tecnologia acessa a informaes, etc. O pblico escolar mudou. As necessidades sociais e culturais so outras. A globalizao ocupou o espao do bairro, da cidade, da regio, do pas, da nao. Segundo Lucola Licnio C. P. Santos, no plano cultural, a globalizao da cultura, viabilizada pelo desenvolvimento espantoso dos diferentes meios de comunicao, ao mesmo tempo em que cria grupos de identidades to importantes para o consumo, ameaa a afirmao cultural de diferentes segmentos sociais (1997, p.30). Utilizamos o texto e imagem de Fernandes & Mota (2007) para refletir sobre as ideias do currculo multicultural, quando eles perguntam:

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"Que coisa estranha, brincar de matar ndio, de matar gente. A educao brasileira no promove a tolerncia como deveria. Os autores defendem o multiculturalismo como atitude de resistncia e propem como alternativa a um sistema curricular ultrapassado

Foto: monumento em homenagem ao ndio incendiado

O que um currculo multiculturalista Santos (2004) nos conta que um currculo multiculturalista implica em questes como diferena e identidade. Todavia, sua essncia visceralmente ambgua: de um lado, o multiculturalismo tem como origem as reivindicaes dos grupos dominados e por outro lado, visto como uma soluo para os problemas colocados sociedade dominante. Aqui, tomamos o multiculturalismo como um discurso que, ao transcender os campos da Antropologia, ganha o discurso da poltica, lanando o foco reivindicaes que antes eram45 Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

legadas ao descaso. E, repetindo Santos (2004, p. 90), o multiculturalismo nos faz lembrar que a igualdade no pode ser obtida simplesmente atravs da igualdade de acesso ao currculo hegemnico, imprescindvel alterar o cnon curricular, para refletir sobre as formas pelas quais a diferena produzida por relaes sociais de assimetria. Neste sentido, o discurso sobre o multiculturalismo crtico, entende que a diversidade no pode ser um fim em si mesma: ela deve estar entrelaada justia social. Neste caso, o multiculturalismo se apia em uma ideologia que entende a diversidade numa perspectiva de mobilizao poltica. A aceitao passiva de se acrescentar pontos de dada cultura em um discurso homogeneizador, pacfico, no se coaduna com os interesses do multiculturalismo crtico. Antes, uma atitude multiculturalista crtica rejeita a apropriao de seu discurso: luta por seu espao de representao; querendo participar de dilogos interculturais, partindo-se do princpio de que toda e qualquer cultura apresenta pontos fortes e fracos, e nenhuma est em posio de superioridade em relao outra. Por isso, um currculo multicultural deve atender algumas expectativas: preocupar-se em desfazer preconceitos e esteretipos; privilegiar a diversidade cultural, com a aceitao do diferente e do diverso, como base das relaes sociais democrticas, em detrimento homogeneizao gestada lgica do capital excludente; promover contatos interculturais; difundir e conhecer saberes diversos, em contrapartida queles validados pelo cnon da cultura dominante. (consultar em http://www.ichs.ufop.br/perspectivas/anais/GT0507.htm),

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Objetivo: Analisar o currculo numa perspectiva ps-moderna. Currculo Cientfico O sculo XX marcado por uma revoluo intelectual e conceitual, uma mudana de entendimento ampla e difundida, que leva busca de novas maneiras de pensar e agir em todos os campos de empreendimento humano. Willian Doll, educador perceptivo, aplicou essa estrutura de mudana teoria do currculo. Ps-modernismo significa coisas diferentes para pessoas diferentes afirma Willian Doll, e nem todos concordam com essa descrio. Existe um contraste fundamental entre os sistemas abertos e fechados da estrutura ps-moderna emergente. Doll apresenta sua viso de uma utopia de currculo em que ningum dono da verdade e todos tm o direito de ser compreendidos. Caracteriza o currculo imaginado de quatro Rs: Rico, Recursivo, Relacional e Rigoroso de carter aberto e experimental. Como povo, temos a Cincia como uma das obsesses dominantes. O paradigma moderno foi construdo sobre o pensamento intelectual, social e educacional norte-americano durante sete ou oito dcadas deste sculo. Tornou a Amrica-do-norte uma regio lder entre as reas industriais do mundo, realizou sonhos de uma vida mais folgada substituindo o trabalho pesado por mquinas, seus mtodos na rea intelectual dominaram reas da Filosofia, Psicologia e teoria educacional. A Cincia spenceriana uma adaptao do empirismo de Isaac Newton e do racionalismo de Ren Descartes- tornou-se para as Cincias Sociais, ento, para a educao e o currculo, um paradigma.

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O paradigma sobre o currculo e seus mtodos histrico _ produto de uma mentalidade especfica ocidental, orientada segundo o Iluminismo_ desenvolvido nos ltimos 300 ou 400 anos (Toulmin, 1990). Para entendermos o novo paradigma e as implicaes do currculo, preciso entender e fazer algumas distines entre o modernismo e o ps-modernismo. Avaliando o primeiro se tem uma compreenso melhor do ltimo. MODERNISMO E PS-MODERNISMO. Segundo Stephen Toulmin, o ps-modernismo um movimento novo demais para definir a si mesmo e muito variado e dicotmico. O pensamento ps-moderno invadiu as Artes, Humanidades, Literatura, Administrao, Matemtica, Filosofia, Cincia, as Cincias Sociais e a Teologia. O paradigma ps-moderno eventualmente se desenvolver sobre a Cincia, outro aspecto destacado por Toulmim. Uma Cincia contempornea imbuda de criatividade e indeterminismo, aberta e transformativa. O ps-modernismo apresenta uma natureza ecltica: Conforme Jencks (1987) diz, O pluralismo o ismo da nossa poca... [Ns precisamos] escolher e combinar as tradies seletivamente... eleger aqueles aspectos do passado e do presente que parecem mais relevantes para a tarefa em questo.(pgina 7) O ps-moderno presta ateno ao passado para, numa viso do futur, o trazer esses cdigos aos remanescentes. A estrutura psmoderna estrutural e simultaneamente, paradoxal, dialtica e desafiadora, Jencks diz ser uma mistura de princpios modernistas como histria, verdade e consistncia..48 Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

Planejar um currculo que tanto acomode quanto estenda um dos desafios educacionais do modo ps-moderno. PARADIGMA MODERNO: UMA VISO FECHADA. Utilizando a cincia, especialmente a Fsica e a Astronomia, como estrutura organizadora, possvel categorizar a histria do pensamente ocidental em trs metaparadigmas: prmoderno, moderno e ps - moderno. Nesta estrutura o pr-moderno abrange o perodo de tempo desde a histria ocidental registrada at as revolues cientfica e industrial dos sculos XVII e XVIII. Os gregos desenvolveram uma epistemologia, uma Metafsica e uma Cosmologia em que qualidades como bom/mau, em cima/embaixo, claro/escuro podiam ser concebidas e definidas somente em termos da unio destes opostos. A realidade e a existncia pessoal consistiam na luta ou equilbrio entre estes opostos. Durante os sculos XVI e XVII, esta cosmologia chegou ao fim, esta foi lentamente substituda por uma nova cosmologia matemtica e mecanicista, Newton desenvolveu no final do sculo XVII esta nova cosmologia. Visionrios sociais do sculo XVIII, como Pierre Laplace, Augusto Comte e outros viram nascer uma nova era uma era industrial, tecnocrtica. Eles acreditavam que a riqueza agora seria criada no pela guerra, e sim pela produo industrial. Em certo nvel este paradigma moderno representava uma viso aberta no uma viso fechada. A contnua melhoria material das vidas de todas as pessoas era vistos nas vises do iluminismo e Industrial como objetivo alcanveis. A parte mais importante desta viso, o determinismo causa efeito matematicamente mensurado, dependia de um universo fechado, liberalmente desenvolvido.

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COLL, Csar; POZO, Juan Igncio et al. Os contedos na Reforma: Ensino e aprendizagem de conceitos, procedimentos e atitudes. Porto Alegre: Artes Mdicas, 2000.

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11Transforma o material bruto no produto para qual ele melhor se adapta. Aplicado educao isso significa: educar o indivduo de acordo com suas capacidades. -Bobbitt, The Elimination of Waste in Education, 1912, pg. 269. As nossas escolas so em certo sentido nas quais os produtos brutos (as crianas) so moldados e transformados em produtos que satistifaam s vrias demandas da vida. - Cubberley, Public School Administration, 1916, pgina 338.

Objetivo: Analisar o currculo numa perspectiva ps-moderna. Currculo Cientfico

Estas citaes refletem quo completamente e o pensamento do industrialismo permeava o pensamento social e o currculo escolar. No obstante, a virada do sculo realmente mostrou uma mudana de nfase - do professor (epitomizado na Amrica rural do sculo XIX por Mark Hopkins sentado na extremidade de um tronco de rvore para o currculo, especialmente o currculo cientifico). O currculo tornou-se uma preocupao nacional (Kliebard, 1986, pgina 2), poderamos inclusive dizer uma obsesso nacional; e o currculo cientifico estava baseado na eficincia e na padronizao. Franklin Bobbitt (1918) via o currculo como centrando-se nos dficits ou nas deficincias dos indivduos (pgina 45) - que culturais, quer pessoais , quer sociais. Uma vez que nem sempre era possvel chegar a um acordo sobre quais eram as caractersticas do melhor

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trabalho, ou sobre o que constitu a eficincia social (1918 pgina 51), Bobbitt considerou importante ir ao prprio local de trabalho e medir isso em termos cientficos. Jean Piaget e Noam Chomsky tambm desenvolveram estudos diagnsticos das capacidades de linguagem. Embora eles discordassem sobre as origens das capacidades de linguagem, ambos deixaram de lado os dficits de desempenho para focar os poderes potenciais - a competncia: poderes que podiam tanto transformar quanto ser transformados, poderes que podiam gerar outros poderes num ciclo evolutivo interminvel. Ao retratar o currculo escolar como envolto no manto da cincia modernista, no estou negando a observao de Hebert Kliebard (1986) de que o currculo norte-americano, ecltico em natureza, originou-se de um compromisso no muito metdico entre ideologias opostas (pgina 29). Pelo contrrio, estou dizendo que essas ideologias tiveram um efeito maior no nvel da retrica e do discurso do que no nvel da atividade de sala de aula, e que mesmo nessas ideologias concorrentes havia uma obedincia geral aos princpios da cincia modernista. A predeterminao dos objetos, a seleo e organizao das experincias para refletir esses objetivos, seguidas por avaliaes para determinar se os objetos foram atingidos, parecem enfatizar primeiramente a escolha dos objetivos. Tyler fala sobre uma filosofia educacional aceitvel (pgina 13), que deve agir como uma peneira na seleo de objetivos, para que no sejam escolhidos objetivos inadequados. AS IDEIAS MODERNISTAS. Sobre currculo adotaram a verso fechada que significa atravs do foco o conhecimento transmitido, transferido. A transmisso estrutura o nosso processo de ensino-aprendizagem. Ns definimos o bom ensino que resulta numa boa aprendizagem. A qualidade humana no modelada ao igualarmos os sistemas vivos aos sistemas abertos ser humano significa ir alm das estruturas biolgicas e termodinmicas. A intencionalidade52 Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

segundo o autor uma parte importante do ser humano e parte da intencionalidade o desejo e a ao relativos ao fechamento, resolues definies. Portanto, a abertura humana contm seu prprio paradoxo. a interao complexa entre abertura e fechamento em vrios nveis. (consciente, biolgico, molecular) essenciais para haver transformaes. Neste caso s h transformao se houver interao do indivduo com o meio ou o objeto de transformao. Segundo o autor o discurso passado e recente sobre o currculo no prestou ateno complexidade do pensamento humano e adotou o paradigma comportamentalista que J.B Watson (1913) colocou No reconhece nenhuma linha divisria entre o homem e o animal. (pg 158) Assim as atividades complexas desenvolvidas pelo homem e a capacidades que eles possuem acima e alm dos animais foram desprezadas ou negligenciadas. Esta viso contribuiu para um conceito curricular em que o treinamento em atividades pr-escolhidas substituiu o desenvolvimento da capacidade transformativa. Aquelas capacidades que nas palavras de Jerome Bruner (1973) nos permite ir alm da informao dada. (cap.13) So essas capacidades (intencionalidades, autoorganizao, comunicao) que os educadores e curricularistas admitem que atualmente precisem ser desenvolvidas e que caracterizam a qualidade do ser humano. O ps-modernismo prope uma viso social, pessoal e intelectual bem diferente, ao mesmo tempo o ps-modernismo busca uma integrao ecltica, mas local, do sujeito/objeto, mente/corpo, currculo/pessoa,

professor/aluno, ns/outros. No entanto, esta integrao um processo vivo negociada, no pr-ordenada e criada e nem descoberta. Entretanto, ela depende em parte de ns e nossas aes, somos responsveis pelo futuro dos outros e nosso, portanto devemos adotar uma viso aberta para termos uma perspectiva cosmolgica e ecolgica.

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Antes de dar continuidade aos seus estudos fundamental que voc acesse sua sala de aula, no site da ESAB, e faa a Atividade 1, no link Atividades.

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Objetivo: Conhecer o educador Paulo Freire e suas contribuies para a educao. Breve Biografia Do Educador Paulo Freire Sabemos que no possvel falar de educao sem ter em mente as ideias do grande educador brasileiro, e mundialmente aclamado, Paulo Freire. Portanto, faz-se necessrio conhecer um pouquinho de sua trajetria histrica: quem foi e o que fez.

Paulo Reglus Neves Freire educador brasileiro que se destacou por seu trabalho na rea da educao popular, voltada tanto para a escolarizao como para a formao da conscincia. considerado um dos pensadores mais notveis na histria da pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado Pedagogia Crtica. Nascido em 19 de setembro de 1921 de pais de classe mdia no Recife, Brasil, Paulo Freire conheceu a pobreza e a fome durante a depresso de 1929, uma experincia que o levaria a se preocupar com os pobres e o ajudaria a construir seu mtodo particular de ensino .

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Freire entrou para a Universidade do Recife em 1943, para cursar a Faculdade de Direito, mas tambm se dedicou aos estudos de filosofia da linguagem. Apesar disso, ele nunca exerceu a profisso e preferiu trabalhar como professor, numa escola do antigo segundo grau ensinando a lngua portuguesa. Em 1944, ele se casou com Elza Maia Costa de Oliveira, uma colega de trabalho. Os dois trabalharam juntos pelo resto de suas vidas e tiveram cinco filhos. Em 1946, Freire foi indicado Diretor do Departamento de Educao e Cultura do Servio Social no Estado de Pernambuco. Trabalhando inicialmente com analfabetos pobres, Freire comeou a se envolver com um movimento no ortodoxo chamado Teologia da Libertao. Uma vez que era necessrio que o pobre soubesse ler e escrever para que tivesse o direito de votar nas eleies presidenciais. Em 1961, ele foi indicado para diretor do Departamento de Extenses Culturais da Universidade do Recife, e em 1962 ele teve sua primeira oportunidade para uma aplicao significante de suas teorias, quando ele ensinou 300 cortadores de cana a ler e a escrever em apenas 45 dias. Em resposta a esse experimento, o Governo Brasileiro aprovou a criao de centenas de crculos de cultura ao redor do pas. Em 1964, o golpe militar extinguiu este esforo. Freire foi encarcerado como traidor por 70 dias. Em seguida ele passou por um breve exlio na Bolvia, trabalhou no Chile por cinco anos para o Movimento de Reforma Agrria da Democracia Crist e para a Organizao de Agricultura e Alimentos da Organizao das Naes Unidas. Em 1967, Freire publicou seu primeiro livro, Educao como prtica da liberdade. O livro foi bem recebido, e Freire foi convidado a ser professor visitante da Universidade de Harvard em 1969. No ano anterior, ele escrevera seu mais famoso livro, Pedagogia do Oprimido, o qual foi traduzido para vrios idomas como o espanhol, o ingls em 1970, e at o Hebraico em 1981. Por ocasio da crise poltica entre a ditadura militar que governava o Brasil e o socialista-cristo Paulo Freire, o livro no foi publicado no Brasil at 1974, quando o General Geisel tomou o controle do Brasil e iniciou um processo de liberalizao cultural.56 Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

Depois de um ano em Cambridge, Freire se mudou para Geneva, Sua, para trabalhar como consultor educacional para o Conselho Mundial de Igrejas. Durante este tempo Freire atuou como consultor em reforma educacional em colnias portuguesas na frica, particularmente Guinea Bissau e Moambique. Em 1979, ele j podia retornar ao Brasil, mas s voltou em 1980. Freire se filiou ao Partido dos Trabalhadores na cidade de So Paulo e atuou como supervisor para o programa do partido para alfabetizao de adultos de 1980 at 1986. Quando o PT foi bem sucedido nas eleies municipais de 1988, Freire foi indicado Secretrio de Educao para So Paulo. Em 1986, sua esposa Elza morreu e Freire casou com Maria Arajo Freire, que tambm seguiu seu programa educacional. Em 1991, o Instituto Paulo Freire foi fundado em So Paulo para estender e elaborar suas teorias sobre educao popular. O instituto mantm os arquivos de Paulo Freire. Freire morreu de ataque cardaco em 2 de maio de 1997 s 6h53 no Hospital Albert Einstein, em So Paulo, devido a complicaes na operao de desobstruo de artrias.

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Paulo Freire http://www.youtube.com/watch?v=fBXFV4Jx6Y8&feature=related http://www.youtube.com/watch?v=YzURD6CgVs4 www.paulofreire.org (INSTITUTO PAULO FREIRE) www.paulofreire.ufpb.br (BIBLIOTECA PAULO FREIRE) www.pucsp.br/paulofreire (CTEDRA PAULO FREIRE)

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Objetivo: Discutir as concepes de educao a partir dos saberes necessrios ao educador, na perspectiva de Paulo Freire. Algumas Reflexes Sobre A Educao, segundo Paulo Freire. A Pedagogia da Autonomia Paulo Freire Eu gostaria de ser lembrado como algum que amou as gentes, a natureza, os rios, os mares, a terra. Sabemos que o educador democrtico trabalha com os educandos, a rigorosidade metdica com que devem se aproximar dos objetos cognoscveis. Ensinar no se esgota no tratamento do objeto ou do contedo, todavia se alonga produo de condies em que aprender criticamente possvel, exigindo a presena de educadores e educandos criativos, investigadores e inquietos, rigorosamente curiosos, humildes e persistentes. Nas condies de verdadeira aprendizagem os educandos e educadores vo se transformando em reais sujeitos da construo e reconstruo do saber ensinado. No h ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. E cabe ao professor continuar pesquisando para que seu ensino seja propcio ao debate e a novos questionamentos. A pesquisa se faz importante tambm, pois nela se cria o estmulo e o respeito capacidade criadora do educando. Assim, o professor de jovens e adultos, muito mais que de outras modalidades, tem necessidade de buscar sempre novas e melhores formas de educar. Nessa perspectiva, inclumos aqui o resumo do livro Pedagogia da Autonomia, com a finalidade de suscitar o esprito de pesquisador e, consequentemente de professor reflexivo.59 Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

O livro uma obra que apresenta propostas de prticas pedaggicas necessrias educao como forma de construir a autonomia dos educandos, valorizando e respeitando sua cultura e seu acervo de conhecimentos empricos junto sua individualidade. uma reunio de experincias transformadas em pensamentos que buscam a integrao do ser humano e a investigao de novos mtodos, valorizando a curiosidade dos educandos e educadores, condenando a rigidez tica que se volta aos interesses capitalistas e neoliberais, que deixam margem do processo de socializao os menos favorecidos. Como eixo norteador de sua prtica pedaggica, Freire defende que "formar" muito mais que formar o ser humano em suas destrezas, atentando para a necessidade de formao tica dos educadores, conscientizando-os sobre a importncia de estimular os educandos a uma reflexo crtica da realidade em que est inserido. Enfatiza alguns aspectos primordiais, porm nem sempre adotados pela sociedade atual, como: simplicidade, humanismo, bom senso (tica em geral) e esperana, j que na sua viso o capitalismo leva a sociedade a