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CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO UNISAL - CAMPUS MARIA AUXILIADORA Nadir Gonçalves de Lima Kneipp CONCEPÇÕES DE PROFESSORES SOBRE AVALIAÇÃO EM UMA ESCOLA MILITAR: limites e possibilidades em ensino por competências Americana 2016

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO

UNISAL - CAMPUS MARIA AUXILIADORA

Nadir Gonçalves de Lima Kneipp

CONCEPÇÕES DE PROFESSORES SOBRE AVALIAÇÃO EM UMA

ESCOLA MILITAR: limites e possibilidades em ensino por competências

Americana

2016

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Nadir Gonçalves de Lima Kneipp

CONCEPÇÕES DE PROFESSORES SOBRE AVALIAÇÃO EM UMA

ESCOLA MILITAR: limites e possibilidades em ensino por competências

Dissertação apresentada como exigência parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação à Comissão Julgadora do Centro Universitário Salesiano de São Paulo. Orientadora: Profa. Dra. Fabiana Rodrigues de Sousa.

Americana

2016

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Kneipp, Nadir Gonçalves de Lima.

K43c Concepções de professores em uma escola militar: limites

e possibilidades em ensino por competências/ Nadir

Gonçalves de Lima Kneipp.– Americana: Centro Universitário

Salesiano de São Paulo, 2016.

133 f.

Dissertação (Mestrado em Educação). UNISAL – SP.

Orientadora: Fabiana Rodrigues de Sousa.

Inclui bibliografia.

1. Educação militar. 2. Professores – Avaliação. 3.

Educação baseada na competência. I. Título.

CDD 373.222

Catalogação elaborada por Lissandra Pinhatelli de Britto – CRB-8/7539 Bibliotecária UNISAL – Americana

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Nadir Gonçalves de Lima Kneipp

CONCEPÇÕES DE PROFESSORES SOBRE AVALIAÇÃO EM UMA ESCOLA MILITAR: limites e possibilidades em ensino por competências.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu do Centro Universitário Salesiano de São Paulo, como parte dos requisitos para a obtenção título de Mestre em Educação – área de concentração: Educação Sociocomunitária. Linha de Pesquisa: A intervenção educativa sociocomunitária: linguagem, intersubjetividade e práxis. Orientadora: Profa. Dra. Fabiana Rodrigues de Sousa.

Dissertação defendida e aprovada em 10. 03. 2016, pela comissão julgadora:

_______________________________________________________

Profa. Dra. Deise Becker Kirsch

Instituto Federal do Paraná - IFPR

_______________________________________________________

Prof. Dr. Severino Antônio Moreira Barbosa

Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL

_______________________________________________________

Profa. Dra. Fabiana Rodrigues de Sousa

Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL

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Ao menino grande e ao menino pequeno, por

auxiliarem no trilhar desse caminho. Pela

compreensão das ausências e pelo carinho

dedicado nos momentos difíceis. Aos dois,

meu amor e minha eterna gratidão.

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AGRADECIMENTOS

Lei do destino: que todos se aprendam. (Hölderlin)

Agradeço primeiramente, a DEUS e à Mãe Santíssima, pelo dom da vida.

Aos Professores, sujeitos de minha pesquisa, que partilharam comigo suas

experiências, sonhos, frustrações, coragem, persistência, angústias, anseios e

esperanças.

Ao meu marido e ao meu filho, por compreenderem minha ausência e facilitarem

minha vida, pelo cuidado, carinho e amor a mim dedicados.

À Professora Maria Luisa Bissoto, que me iniciou nos caminhos da educação,

com seu olhar pragmático e a dinamicidade com que pensa educação.

Ao Professor Severino que tanto modificou meu olhar sobre educação, com

reflexões tão profundas que contrastam com sua leveza de ser. Com ele conheci a

terceira margem do rio.

À Professora Valéria com quem aprendi ouvir e ver a beleza da Educação

Popular. Quanto desprendimento nas suas falas e ações!

À minha querida Professora e Orientadora Fabiana, que me mostrou um Paulo

Freire que eu não conhecia. Que me guiou nessa caminhada com ensinamentos

valiosos e ditos de maneira tão próxima e simples, me deixando mais leve e segura

após cada encontro de orientação.

Aos demais professores do PPGE – UNISAL que nos encontros dos grupos de

pesquisas tanto contribuíram para o desenho da minha pesquisa.

Aos professores Severino e Deise por aceitarem fazer parte da banca.

Aos meus amigos de turma do Mestrado que com suas convivências

oportunizaram ensinamentos valorosos.

Aos meus companheiros de percurso: Ana Claudia, Lúcia e Wildison, por nossos

momentos privilegiados de convívio e com quem mais estreitamente cumprimos a lei do

destino.

À Escola Preparatória de Cadetes do Exército por possibilitar a realização da

pesquisa.

Ao amigo e chefe Ubaldo pela paciência e compreensão que teve comigo ao

longo dessa caminhada.

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Não há transição que não implique um ponto de partida, um

processo e um ponto de chegada. Todo amanhã se cria num

ontem, através de um hoje. De modo que nosso futuro baseia-se

no passado e se corporifica no presente. Temos que saber o que

fomos e o que somos, para saber o que seremos. (PAULO

FREIRE, 1979).

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RESUMO

O presente trabalho busca identificar as concepções dos professores sobre avaliação

em uma escola militar do Exército Brasileiro, frente ao processo de mudança de um

currículo por objetivos para um currículo por competências. O ensino por objetivo tem

seus pressupostos na pedagogia tecnicista, abordada aqui como produto dos Acordos

MEC-USAID entre o Brasil e os Estados Unidos, nas décadas de 60 e 70. O Exército

Brasileiro ciente das transformações econômicas, políticas e sociais da

contemporaneidade percebeu a necessidade de adequação do seu sistema de ensino e

adotou o ensino por competências, voltado para um currículo por competências

profissionais, no entanto, sua avaliação permanece sendo classificatória, meritocrática e

hierárquica. Com a intenção de promover reflexão sobre o tema e encontrar uma

melhor solução para esse impasse, buscamos nas falas dos professores da Instituição,

os limites e possibilidades nessa transição. Entrevistamos cinco professores da

Instituição, que possui um quadro de professores bastante diversificado, com

professores civis e militares de diferentes escolas de formação. Entrevistamos um

professor de cada quadro. Da análise e interpretação, emergiram cinco categorias:

pertencimento e não pertencimento ao grupo de professores da EsPCEx; medo de

cometer injustiça; as amarras das normas; as especificidades do ensino militar e função

da avaliação: processo e produto. Os professores, que pertencem a vários grupos

sendo do Exército Brasileiro até das próprias disciplinas, procuram minimizar a sua

subjetividade nos processos avaliativos, buscando dar condições iguais para os alunos

com receio de comprometer sua carreira, porque reconhecem a influência da

classificação na vida do militar e compreendem que classificação é institucional, que

padroniza os procedimentos avaliativos. Demonstram abertura em aliar a necessidade

institucional de uma avaliação somativa com a prática de uma avaliação formativa.

Sugerem práticas avaliativas processuais e coletivas como forma de diminuir o receio

no momento de avaliar e comentam estratégias para avaliar o processo ensino

aprendizagem, além de repensarem as normas da avaliação com o objetivo de romper

com algumas de suas amarras.

PALAVRAS-CHAVE: Educação militar. Concepção de professores. Avaliação. Ensino por competências.

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ABSTRACT

The purpose of this research is to identify the perceptions of teachers about assessment

at a Brazilian Army‟s military school. This is due to the changing process from an

objective-based curriculum to a competence-based curriculum. Objective-based

teaching has its roots in the technicist pedagogy, which is here considered as the result

of the MEC-USAID cooperation treaty between Brazil and the United States in the sixties

and seventies. The Brazilian Army, aware of the social, political and economic changes,

realized they had to adapt their education system and adopted the competence

approach angled towards a professional competence-based curriculum. However, their

assessment system remained the same, a system based on ranking, meritocracy and

hierarchy. With the main goal of promoting reflection on the theme and finding a better

solution to the impasse, we search the teachers‟ speeches for limits and possibilities in

this transition. With this purpose in mind, we carried out episodic interviews with five

teachers who work in the institution. The school has a very diverse teaching team which

includes military teachers from different staff training military schools and also civilian

teachers. We have interviewed one teacher of each career among civilian and military

teachers. As a result of analysis and interpretation, five categories emerged: belonging

and not belonging to the EsPCEx teaching team; fear of being unfair; the normative

moorings; the specificities of military teaching and the purpose of assessment: process

and product. It has been brought to our attention that teachers belong to different

groups, from the Brazilian Army to their own disciplines. They also try to minimize their

subjectivity within the assessment processes, on an attempt to give the same conditions

to the students and not compromise the career of a future officer because they

understand how much the class-ranking system influences the military life, they

understand it is institutional and rules the assessment procedures. However, they

pursue more procedural and collective assessment ways.

KEYWORDS: Military education. Teachers‟ perceptions. Assessment. Competence approach.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1 - Mapa conceitual sobre a categoria pertencimento e não

pertencimento ao grupo de professores da EsPCEx......................

117

Ilustração 2 - Mapa conceitual sobre a categoria Medo de cometer injustiça....... 118

Ilustração 3 - Mapa conceitual sobre a categoria Especificidades do ensino

militar.........................................................................................

119

Ilustração 4 - Mapa conceitual sobre a categoria As amarras das normas ......... 120

Ilustração 5 - Mapa conceitual sobre a categoria Função da avaliação:

processo e produto.........................................................................

121

Ilustração 6 - Mapa conceitual sobre as contribuições da pesquisa.................... 122

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AA – Avaliação de Acompanhamento

AC – Avaliação de Controle

AD – Avaliação Diagnóstica

AF- Avaliação Formativa

AFA – Avaliação Formativa Alternativa

AMAN – Academia Militar das Agulhas Negras

AR- Avaliação de Recuperação

AS- Avaliação Somativa

CP – Competência Principal

DECEx- Departamento de Educação e Cultura do Exército

DESMil – Diretoria de Ensino Superior Militar

EB – Exército Brasileiro

EC – Elemento de Competência

EME – Estado Maior do Exército

END – Estratégia Nacional de Defesa

EsPCEx – Escola Preparatória de Cadetes do Exército

FRAD - Ficha de Registro de Atividade Discente

IGTAEx – Instruções Gerais de Tiro com o Armamento do Exército

IREC – Instrução Reguladora de Ensino por Competências: Currículo e

Avaliação

GCC – Grupo para Construção Curricular

NAA – Normas de Avaliação da Aprendizagem

NCC – Normas para Construção de Currículo

NDACA – Normas para o Desenvolvimento e Avaliação de Conteúdos Atitudinais

NFC – Nota Final de Curso

NIAA – Normas Internas de Avaliação da Aprendizagem

NIDACA – Normas Internas para o Desenvolvimento e Avaliação de Conteúdos

Atitudinais

OTT – Oficial Técnico Temporário

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PLADIS – Plano de Disciplina

PLANID- Plano de Integração de Disciplina

PPB – Programa Padrão Básico

PTTC – Prestador de Tarefa por Tempo Certo

QCO – Quadro Complementar de Oficiais

QEM – Quadro de Engenheiros Militares

QGAEs – Quadro Geral de Atividades Escolares

R-1 – Reserva Remunerada

UC – Unidade de Competência

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................... 14

2 CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO, EDUCAÇÃO MILITAR E

ENSINOTECNICISTA...........................................................................................

.............

24

2.1 CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO........................................................................ 24

2.2 EDUCAÇÃO MILITAR ........................................................................................ 26

2.3 ACORDO MEC-USAID......................................................................................... 30

2.4 ENSINO TECNICISTA ......................................................................................... 36

3 ENSINO POR COMPETÊNCIAS, CURRÍCULO E AVALIAÇÃO........................ 42

3.1 ENSINO POR COMPETÊNCIAS.......................................................................... 42

3.2 ABORDAGENS METODOLÓGICAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE

COMPETÊNCIAS ................................................................................................

48

3.2.1 ABORDAGEM CONDUTIVISTA E O ENSINO MILITAR...................................... 48

3.2.2 ABORDAGEM FUNCIONAL E O ENSINO MILITAR............................................ 50

3.2.3 ABORDAGEM CONSTRUTIVISTA E O ENSINO MILITAR................................. 52

3.2.4 RELAÇÃO ENTRE AS ABORDAGENS METODOLÓGICAS, O ENSINO

MILITAR E A TRANSITIVIDADE DA CONSCIÊNCIA.........................................

55

3.3 CURRÍCULO........................................................................................................ 57

3.4 AVALIAÇÕES OU EXAMES?.............................................................................. 62

3.4.1 NORMAS, INSTRUÇÕES E MODALIDADES DE AVALIAÇÃO NO EB.............. 64

4 PERCURSO METODOLÓGICO.......................................................................... 74

4.1 CONTEXTO DA PESQUISA................................................................................. 74

4.2 CARACTERIZAÇÃO DOS DOCENTES DA EsPCEx........................................... 75

4.3 CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DOS SUJEITOS.................................................. 76

4.4 MODALIDADE DA PESQUISA............................................................................. 77

4.5 PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS............................................................. 80

4.5.1 ELABORAÇÃO DO ROTEIRO DA ENTREVISTA................................................ 82

4.6 SUJEITOS DA PESQUISA................................................................................... 85

4.7 FORMAS DE TRABALHAR OS DADOS.............................................................. 86

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5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS.................................................... 88

5.1 EMERSÃO DAS CATEGORIAS........................................................................... 89

5.2 PERTENCIMENTO E NÃO PERTENCIMENTO AO GRUPO DE

PROFESSORES DA EsPCEx..............................................................................

90

5.3 MEDO DE COMETER INJUSTIÇA...................................................................... 93

5.4 AS ESPECIFICIDADES DO ENSINO MILITAR .................................................. 96

5.5 AS AMARRAS DAS NORMAS............................................................................. 99

5.6 FUNÇÃO DA AVALIAÇÃO: PROCESSO E PRODUTO ...................................... 104

6 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 114

REFERÊNCIAS.................................................................................................... 124

APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO....... 134

APÊNDICE B - ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE ENTREVISTA.................. 136

APÊNDICE C - MAPA CONCEITUAL DAS CATEGORIAS DE ANÁLISE........... 137

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1 INTRODUÇÃO

A pesquisa foi realizada na Escola Preparatória de Cadetes do Exército

(EsPCEx), Instituição de ensino superior militar vinculada ao Exército Brasileiro,

doravante EB, situada em Campinas – SP, onde os alunos iniciam a carreira de oficial

militar combatente do EB, por um ano. Para dar continuidade ao curso, seguem para a

Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em Resende – RJ, onde permanecem

em formação por mais quatro anos. A EsPCEx até o ano de 2011 tinha um currículo

baseado nos objetivos instrucionais, com predomínio de uma abordagem tecnicista. A

partir de 2012, orientada pelo Processo de Transformação do Exército adotou a

metodologia do ensino por competências, regulada pela Portaria Nº 125 – DECEx, de

23 de setembro de 2014, que aprova as Instruções Reguladoras do Ensino por

Competências: Currículo e Avaliação – 2ª Edição (IREC – EB60-IR-05.008). Essas e

outras normas regulam um modelo de currículo por competências na formação dos

oficiais da linha de ensino militar bélica, com interesse prioritário pelas práticas

educativas que visam à formação de um novo profissional, crítico e preparado para

atuar em ambientes complexos e incertos.

A educação militar apresenta especificidades e distinções que lhe conferem um

modo singular de formação. A educação militar brasileira tem um caráter autárquico,

com autonomia para regular suas normas de ensino por uma legislação específica,

segundo o prescrito na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Tais

especificidades são descritas na Lei Nº 9.786, de 8 de fevereiro de 1999, a Lei do

Ensino no Exército. A legislação de ensino permite uma autonomia na atuação e nas

decisões da política educacional, mas as influências das transformações ocorrentes na

conjuntura internacional e nacional repercutem na forma e na maneira de compatibilizar

a educação militar a esses novos padrões e tendências educacionais.

O EB adotou um currículo por objetivos, na década de 1970, que estava

associado às propostas pedagógicas bastante ligadas à memorização de conteúdos e

ao estímulo-resposta no desenvolvimento da aprendizagem, concepções influenciadas

pela realidade econômica, política e social do período histórico. A formação de um

militar exibia uma organização racional dos meios de ensino, com conhecimentos

específicos e técnicas da profissão militar, em uma perspectiva tecnicista, apontada

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nessa pesquisa, como legado dos acordos MEC-USAID, por sua influência e seus

reflexos na educação militar.

O EB tem suas escolas como bases formadoras e acompanha as mudanças do

campo educacional do mundo contemporâneo. Percebe os avanços tecnológicos, a

instabilidade nas relações sócio-culturais e o redirecionamento de conceitos, em que o

antigo e o novo convivem como parâmetros estabelecidos e necessidades de novos

paradigmas. Sendo essa articulação, de forma integrada, um desafio para conciliar o

conhecimento acadêmico com as situações profissionais, considerando a singularidade

da Instituição e de seus personagens.

Diante da realidade dos sujeitos contemporâneos na perspectiva da construção

do conhecimento, a Instituição vislumbrou a oportunidade de adotar um modelo de

ensino que possibilitasse a preparação do profissional para o desempenho de

atividades cada vez mais complexas, com compreensão e o respeito às múltiplas faces

de um conceito mais amplo de educação e cultura.

A Estratégia Nacional de Defesa (END),juntamente com o Processo de

Transformação do Exército, embasa a Nova Sistemática de Formação do Oficial de

Carreira do Exército Brasileiro da Linha de Ensino Militar Bélico, que comporta a Diretriz

para o Projeto de Implantação do Ensino por Competências no Exército Brasileiro.

O ensino por competências no âmbito do EB foi implantado pela Portaria Nº 152

– EME, de 16 de novembro de 2010, que aprova a Diretriz para a Implantação da Nova

Sistemática de Formação do Oficial de Carreira do Exército Brasileiro da Linha de

Ensino Militar Bélico, que segue a Portaria Nº 788 - do Comandante do Exército, de 26

de agosto de 2010, que, por sua vez, altera a Sistemática de Formação do Oficial de

Carreira do Exército Brasileiro da Linha de Ensino Militar Bélico. Essa legislação tem

amplo amparo no Processo de Transformação do Exército que está abrigado na

Estratégia Nacional de Defesa.

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A Diretriz de Implantação do Processo de Transformação do Exército [...] tem por finalidade orientar [...] e promover a transformação do Exército, trazendo-o de uma concepção ligada à área industrial para a era do conhecimento [...] implantar uma mentalidade de inovação. [...] propõe medidas para aprimorar o sistema de educação e cultura do Exército, tendo esse sistema “como o embrião e fomentador do processo de transformação”. (BRASIL, 2010a, p 50-51).

Vimos nesse desejo relativo de mudança proposto pelo EB, e na adoção de um

currículo por competências, um momento apropriado para discutir as formas de

avaliação concebidas pela EsPCEx. A avaliação na perspectiva do ensino por

competências implica ênfase nos parâmetros de julgamento dos resultados da

aprendizagem, com múltiplos instrumentos e ferramentas de avaliação de natureza

quantitativa e qualitativa, centrados em situações reais e complexas.

Entendemos que as concepções dos professores sobre avaliação somativa e

avaliação formativa vão auxiliar no processo de transformação do EB, com

contribuições que vão apontar possibilidades e dificuldades na transição, de forma

integrada, do currículo por objetivos instrucionais para um currículo por competências.

Buscamos com essa pesquisa identificar e compreender as concepções dos

professores sobre avaliações formativa e somativa, com vistas a contribuir para uma

futura construção coletiva acerca do conceito de avaliação na Escola Preparatória de

Cadetes do Exército.

A pesquisa está disposta em cinco capítulos. No capítulo Concepções de

Educação, Educação Militar e Ensino Tecnicista, abordamos diferentes concepções de

educação, as especificidades da educação militar e o seu caráter predominantemente

técnico.

A administração da violência pelo militar é uma especificidade que exige

habilidades intelectuais complexas, prática e experiência. Enfatizamos a cultura

organizacional de uma instituição total e seus mecanismos que visam à formação de

um tipo “de sensibilidade e visão de mundo próprias do soldado, a partir de uma

característica fundamental da profissão militar: a possibilidade de confronto com o

inimigo e a necessidade de manter-se firme diante da ameaça de morte”.

(MAGALHÃES, 2010b, p.2).

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O Acordo MEC-USAID foi um acordo de ajuda bilateral assinado entre o Brasil e

os Estados Unidos da América, na década de 1960, referenciado como precursor da

pedagogia tecnicista no Brasil. Nessa perspectiva, a educação atua na transmissão do

conhecimento, habilidades, valores e ética, com ação diretiva e de controle cultural e

social.

No segundo capítulo denominado Ensino por competências, currículo e

avaliação, tratamos da adoção do ensino por competências pela Escola Preparatória de

Cadetes do Exército, preconizada pelo Processo de Transformação do Exército.

Abordamos os aspectos institucionais da sua implantação, como a necessidade de

adequação dos modelos educacionais às suas especificidades, a criação de um

currículo por competências e suas reflexões sobre a avaliação. Relacionamos o modelo

adotado pela Instituição com a pedagogia das competências, descrevendo as

abordagens metodológicas para seu desenvolvimento, relacionando-as com ensino

militar e com a transitividade da consciência de Paulo Freire. Ainda discutimos sobre as

modalidades de avaliação, suas funções no processo ensino-aprendizagem, bem como

a descrição de suas normas e regulamentações.

As três abordagens de metodologia para o desenvolvimento de competências,

apresentadas por Mertens (1996), diferenciam-se pelo conceito de competência

utilizado, pela maneira como são identificadas as competências e pelos referenciais e

metodologias que são adotados. São elas: o condutivismo ou behaviorismo, a

abordagem funcional e o construtivismo.

Sobre sistema de avaliação, Menga Ludke (1986) aponta-nos a perspectiva

sociológica da avaliação, refletida nas suas práticas avaliativas, ou seja, uma sociedade

revela no seu sistema de avaliação os valores que cultua. Partindo desse pressuposto,

o EB valoriza a avaliação no seu mais nítido caráter tradicional, sendo a avaliação base

para a classificação e hierarquização do militar.

Sobre as modalidades de avaliação, dialogamos com Hoffmann (2008), que

propõe a avaliação mediadora, com o propósito de acompanhamento da evolução do

aluno, dos processos avaliativos e como replanejamento das ações educativas.

Fernandes (2006) aborda a avaliação formativa nas perspectivas francófonas e

anglo-saxônicas, tecendo distinções entre elas. Para a perspectiva francófona, a

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regulação da aprendizagem é feita pelo aluno, por processos cognitivos e

metacognitivos, atribuindo responsabilidade e autonomia aos alunos. A investigação

anglo-saxônica tem o feedback como conceito chave, que atua como comunicação e

interação entre os sujeitos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. O autor

apresenta a Avaliação Formativa Alternativa (AFA), que conjuga as características das

duas tradições teóricas. Sugere um feedback de qualidade e com coerência curricular,

que atue nos processos cognitivos e metacognitivos dos alunos.

Tanto as Normas para Avaliação da Aprendizagem (NAA) como as Normas

Internas para Avaliação da Aprendizagem (NIAA), documentos que regulam a

avaliação, apresentam modalidades de avaliação que, aproximadas à fala de Luckesi

(2003), se assemelham a exames e avaliações. As avaliações somativas apresentam

as características do exame, e as avaliações formativas e diagnósticas têm similitude

com as avaliações da aprendizagem defendidas pelo autor. A identificação dos reflexos

desse paradoxo na concepção de avaliação dos professores da EsPCEx são os

objetivos dessa pesquisa tratados no terceiro capítulo.

O percurso metodológico descrito no terceiro capítulo contempla o contexto da

pesquisa, sua modalidade e seu procedimento metodológico, a descrição dos sujeitos

da pesquisa e as formas de coletar e trabalhar com dados. A EsPCEx possui um

quadro diversificado de professores civis e militares com formação profissional

diferenciada, constituído por oficiais da reserva remunerada - R1, os Prestadores de

Tarefa por Tempo Certo (PTTC), por oficiais combatentes da Academia Militar das

Agulhas Negras (AMAN), por oficiais do Quadro de Engenheiros Militares(QEM), por

Oficiais do Quadro Complementar de Oficiais (QCO), por Oficiais Técnicos Temporários

(OTT) e por professores civis.Diante de um quadro com professores de diversas

formações acadêmica e militar, optamos por selecionar os sujeitos da pesquisa de

maneira intencional, de modo a contemplar cada quadro com um representante, não

com a intenção de fazer comparações entre eles, mas de obter representatividade do

grupo.

As concepções foram levantadas por meio de entrevistas episódicas realizadas

com cinco professores voluntários de um universo de trinta e oito. Essa modalidade de

entrevista “permite apresentações relativas ao contexto na forma de uma narrativa, uma

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vez que estas se aproximam mais das experiências e de seus contextos gerativos do

que outras formas de apresentação” (FLICK, 2009, p. 172). Outra fonte de informação

para a pesquisa foi a análise documental sobre as normas, instruções reguladoras,

diretrizes e manuais institucionais do EB como instrumento de coleta de informações

complementares.

O presente trabalho está pautado na abordagem qualitativa de pesquisa.

Segundo Uwe Flick (2009), a pesquisa qualitativa é a mais adequada para as

aplicações nas Ciências Sociais, como a Educação, pois visa à descrição dos

processos na produção de situações e de ambientes, bem como a ordem social

existente, configurando-se, portanto, como abordagem pertinente em investigações que

visam à identificação das concepções dos professores sobre avaliação.

Após a gravação da entrevista, fizemos a sua transcrição integral, com

minimização dos vícios naturais da linguagem oral presentes nas falas dos

entrevistados.

A análise dos dados consiste na busca pela interpretação das falas dos

professores com o desenvolvimento de um sistema de codificação para organizar os

dados em unidades significativas, com o objetivo de responder à questão da pesquisa:

quais as concepções dos professores sobre avaliação formativa e somativa e em que

isso contribui para o processo de mudança curricular?

No quarto capítulo apresentamos as análise e interpretação dos dados. Para a

identificação das unidades significativas, fizemos várias leituras das cinco entrevistas,

procurando apreender os significados atribuídos pelos professores a partir de suas

vivências de práticas avaliativas relatadas nos seus depoimentos. Bogdan e Biklen

(1994) recomendam uma leitura concentrada e contínua, com anotação das categorias

à medida que vão surgindo.

Após várias leituras das transcrições, fomos sublinhando o que consideramos

serem unidades significativas e atribuindo-lhes números, a fim de identificá-las. As

unidades foram se repetindo em praticamente todas as entrevistas e se emoldurando

em categorias, quase simultaneamente. As unidades significativas não ficaram restritas

a determinadas perguntas das entrevistas. Percebemos sua repetição ao longo das

falas.

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Identificamos e organizamos cinco categorias emergentes em relação aos

processos avaliativos. Optamos por apresentá-las na ordem crescente de relevância

para a pesquisa em questão, a saber:

1) pertencimento e não pertencimento ao grupo de professores da EsPCEx;

2) medo de cometer injustiça;

3) as especificidades do ensino militar;

4) as amarras das normas;

5) função da avaliação: processo e produto.

Notamos que as categorias são estreitamente relacionadas com o contexto da

pesquisa. Por exemplo: a categoria pertencimento e não pertencimento ao grupo de

professores reflete a diversidade do grupo de professores, o caráter tecnicista marcado

pelo ensino por objetivos. O medo de cometer injustiça nos processos avaliativos e de

ensino-aprendizagem está ligado ao fato de a classificação, que é uma especificidade

do ensino militar, ter peso excessivo na vida do aluno. Por isso, a Instituição cria

normas e orientações para padronizar os processos e procedimentos avaliativos, dando

ênfase nas formas de avaliação como produto.

Na categoria pertencimento e não pertencimento ao grupo de professores da

EsPCEx,agrupamos os depoimentos dos professores que justificam serem suas

respostas pessoais; que não podem falar pelo grupo; que existem vários grupos na

Instituição.

Na categoria medo de cometer injustiça, agrupamos as unidades significativas

dos depoimentos dos professores, que mostram que, no momento de eles fazerem

avaliação, procuram reduzir sua subjetividade; demonstram preocupação em não

cometerem injustiça na avaliação; buscam fornecer iguais condições para todos os

alunos; evitam práticas avaliativas que supunham ter graus de subjetividade.

Cremos que os professores expressam essas preocupações pelo fato de a

avaliação ter grande influência na vida do militar. No EB, a avaliação dos aspectos

cognitivos, dos valorativos e dos psicomotores compõe a nota final de ano, que ao

longo do curso vai servir de base para classificá-los e hierarquizá-los.

As especificidades do ensino militar constituem uma categoria na qual

agrupamos os depoimentos dos professores que elencam especificidades como atirar e

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marchar; a necessidade de preparo físico adequado; o culto de valores morais, éticos e

cívicos e classificação meritocrática e hierárquica. Esta última é considerada pelos

professores como a mais significativa das especificidades do ensino, não encontrando

parâmetros no ensino civil, pois a classificação determina várias escolhas na vida

profissional do militar, como a escolha da Arma, Quadros e Serviço1. Também define os

locais onde o militar vai servir, os cursos que poderá fazer, a velocidade da progressão

profissional, entre outras.

Na categoria as amarras das normas, classificamos as falas dos professores que

expressam contrariedade e descontentamento com a rigidez dos processos de

montagem, aplicação e correção das avaliações; com a pouca participação dos

professores nos processos, como a quantidade de avaliações; os períodos em que

devem ser feitas; a falta de autonomia para a confecção de itens das provas; os prazos

para a montagem das provas; as exigências contidas nas normas quanto aos tipos de

itens e quantidades de provas regidas pela carga horária da disciplina. Contudo, o

descontentamento e a contrariedade não os impedem de cumprir as regras e normas.

As orientações prescritas nessas normas constituem-se amarras, um engessamento

para os professores que têm dificuldades em aceitá-las sem expressarem um

posicionamento.

A categoria função da avaliação: processo e produto é considerada a mais

relevante para o contexto da pesquisa, porque entendemos que na metodologia do

ensino por competências a avaliação é processual e formativa, e como processo gera

um produto, que proporciona reflexões sobre o próprio processo. Agrupamos nessa

categoria as falas em que os professores descrevem suas concepções sobre a

avaliação e suas práticas avaliativas. Notamos contradições nas falas dos professores

sobre as funções da avaliação, pois descrevem práticas avaliativas processuais e

formativas, porém sinalizam serem avaliação somente as provas que fazem nos finais

dos semestres ou dos cursos. Hoffmann (1991) afirma que essas contradições estão

relacionadas com as concepções que os professores construíram desde sua vida

discente até sua formação profissional.

1 O EB tem divisões na carreira como Arma que corresponde Infantaria, Cavalaria, Engenharia, Artilharia

e Comunicação; o Quadro tem o Material Bélico e Serviço de Intendência.

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Relatam entender o caráter institucional que tem a avaliação classificatória, ou

seja, avaliação como produto, mas sugerem avaliações coletivas com maior

participação dos alunos. Consideramos que essa falta de clareza sobre as concepções

de avaliação que os professores apresentam reflete o momento de transição na

educação militar em que o EB se encontra. Por um lado, a necessidade institucional de

uma avaliação com função de produto, classificatória, e, por outro lado, a busca por

práticas avaliativas de continuidade, coletivas e com participação ativa do aluno.

Nas considerações descrevemos a devolutiva das análises e interpretações para

os sujeitos participantes da pesquisa, acrescentamos as sugestões e justificativas feitas

por eles, tecemos considerações sobre os resultados da pesquisa e indicamos novas

possibilidades de estudo sobre o tema.

Para a devolutiva, elaboramos um mapa conceitual das categorias e suas

interpretações (Apêndice C). A devolutiva foi feita individualmente, por impossibilidades

logísticas de ser em grupo. Os professores concordaram com nossas análises e

interpretações sobre as categorias que elencamos e propuseram outras justificativas

para suas concepções. Para alguns, existe a dificuldade institucional de práticas

avaliativas formativas: pelo número elevado de alunos em sala e por não gerarem

notas, sendo assim desconsideradas pelos discentes, que visam classificação.

Cremos que, por um lado, existe a necessidade institucional que impõe, em

certos momentos do curso, uma avaliação classificatória, meritocrática e hierárquica.

Por outro, não podemos excluir a possibilidade de práticas avaliativas processuais, com

maior aproximação entre professores e alunos, com diálogos entre os sujeitos

envolvidos, que lhes permitam conhecer e compreender os critérios de avaliação, com

vistas a diminuir a angústia e as incertezas dos momentos de classificação.

Consideramos como contribuições da pesquisa: as elucidações das concepções

dos professores sobre as formas de avaliação nesse contexto de mudança; a

sinalização de abertura, por parte dos professores, em aliar uma necessidade

institucional de uma avaliação somativa a uma importância da avaliação formativa no

processo de ensino-aprendizagem; a sugestão de avaliações coletivas e a possibilidade

de repensar as normas, adequando-as à nova sistemática de ensino. Diante do

exposto, sugerimos a criação de espaços no EB para discussão sobre avaliações

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coletivas e processuais. Quando e como criar esses espaços? Ainda não temos

respostas.

Ao final de 2016 teremos a primeira turma de militares formados pelo ensino por

competência. Cremos que ainda não podemos analisar plenamente os resultados

desse processo, uma vez que só ouvimos as concepções dos professores.

Necessitamos ainda investigar as concepções dos alunos e de outros profissionais da

Instituição.

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2 CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO, EDUCAÇÃO MILITAR E ENSINO TECNICISTA

Hoje é preciso recriar a educação para que desperte não apenas a inteligência, mas também a sensibilidade. (SEVERINO ANTÔNIO, 2002, p. 42)

Nesse capítulo abordaremos diferentes concepções de educação,

apresentaremos a educação militar e sua singularidade e apontaremos a influência dos

Acordos MEC – USAID na educação nacional e seus reflexos no ensino militar.

2.1 CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO

Para Brandão (1995, p.10), “a educação é, como outras, uma fração do modo de

vida dos grupos sociais que criam e recriam, entre tantas outras invenções de sua

cultura, em sua sociedade”. Ainda para o autor, a educação tem como ponto forte a

criação de tipos de ser humano, por meio da passagem, de uns para os outros, dos

saberes que os constituem e os legitimam. Assim:

[...] tudo o que é importante para a comunidade, e existe como algum tipo de saber, existe também como algum modo de ensinar. Mesmo onde ainda não criaram a escola, ou nos intervalos dos lugares onde ela existe, cada tipo de grupo humano cria e desenvolve situações, recursos e métodos empregados para ensinar às crianças, aos adolescentes, e também aos jovens e mesmo aos adultos, o saber, a crença e os gestos que os tornarão um dia modelo de homem ou de mulher que o imaginário de cada sociedade - ou mesmo de cada grupo mais específico, dentro dela - idealiza, projeta e procura realizar. (BRANDÃO, 1995, p. 22).

Mas a educação também pode deseducar, quando é imposta pelo dominador,

quando se faz como depósito e posterior resgate, como educação bancária, quando

não vislumbra a transformação dos sujeitos. Na concepção de educação bancária,

apresentada por Paulo Freire (1987), o educador é o sujeito com suas narrações e

dissertações, e os educandos, objetos pacientes.

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A narração, de que o educador é o sujeito, conduz aos educandos à memorização mecânica do conteúdo narrado. Mais ainda, a narração os transforma em “vasilhas”, em recipientes a serem “enchidos” pelo educador. Quanto mais vá “enchendo” os recipientes com seus “depósitos”, tanto melhor educador será. Quando mais se deixem docilmente “encher”, tanto melhores educando serão. Desta maneira, a educação se torna um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador o depositante. Em lugar de comunicar-se, o educador faz “comunicados” e depósitos que os educandos, meras incidências, recebem pacientemente, memorizam e repetem. Eis aí a concepção “bancária” da educação, em que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos, guardá-los e arquivá-los. [...] Educador e educandos se arquivam na medida em que, nesta distorcida visão de educação, não há criatividade, não há transformação, não há saber. Só existe saber na invenção, na reinvenção, na busca inquieta, impaciente, permanente, que os homens fazem do mundo, com o mundo e com os outros. Busca esperançosa também.(FREIRE, 1987, p. 58).

Sociedades diferentes têm concepções diversas sobre educação. Brandão

apresenta esta ideia na carta de um chefe indígena norte-americano para os

governantes da Virgínia e Maryland.

[...] Mas aqueles que são sábios reconhecem que diferentes nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores não ficarão ofendidos ao saber que a vossa idéia de educação não é a mesma que a nossa. [...] Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando eles voltaram para nós, eles eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportar o frio e a fome. Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam a nossa língua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não serviam como guerreiros, como caçadores ou como conselheiros. (BRANDÃO, 1995, p. 8-9).

Assim, para Brandão (1995, p.11), não há uma única educação, um único lugar

onde ocorra a educação, “quando são necessários guerreiros ou burocratas, a

educação é um dos meios de que os homens lançam mão para criar guerreiros ou

burocratas”, e como ser humano inconcluso, educa-se o tempo todo. Para Freire (2003,

p.21), assertivamente “não é possível ser gente sem, desta ou daquela forma, se achar

entranhado numa certa prática educativa. E entranhado não em termos provisórios,

mas em termos de vida inteira. O ser humano jamais para de educar-se”.

Entendemos que não há uma única educação; que não é só no ambiente escolar

que ela ocorre; que nunca paramos de nos educar e que podemos recriá-la. Nesse

sentido dialogamos com os conceitos de educação, que por um lado se complementam

na busca da humanização do homem e por outro lado se anulam, quando não possuem

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função social de transformação dos sujeitos envolvidos e/ou quando servem a uma

ideologia.

2.2 EDUCAÇÃO MILITAR

Por sua vez, a educação militar – foco do presente estudo – também apresenta

especificidades e distinções. Para a formação de um militar, existe o currículo real

composto por disciplinas, treinamentos e quadro de atividades escolares; e o currículo

percebido pelos sujeitos, composto pela cultura militar, entendida aqui como

compreensão de outros modos de vida, entendimento dos valores e maneiras de ser,

ou até subcultura, fenômeno complexo e criado por alguns teóricos. Segundo Dulce

Whitaker (2003).

[...] o conceito de subcultura, que é uma subdivisão da cultura em diferentes modos de vida, que tem relação com regiões do país, com diferentes classes sociais e grupos profissionais. Quando a cultura é acomodada, moldada, e quando até a própria língua, o jargão, é adaptado para satisfazer as necessidades do grupo, criam-se culturas juvenis e culturas políticas, por exemplo, que são subculturas dentro de um modelo maior, que é o modelo da cultura global. Então, nessas subculturas, encontram-se maneiras específicas de ser, modos específicos de falar, valores que são próprios ou daquela região, ou daquela classe social, ou daquele grupo de idade. A cultura na sociedade de classes acaba subdividindo-se em subculturas, fenômeno bastante complexo, pleno de contradições. (WHITAKER, 2003, p. 21).

Para Magalhães (2010a) trata-se da cultura organizacional da Instituição militar:

Cultura organizacional da Instituição militar: um sistema de valores expressos através de artefatos, mitos, rituais, hábitos e crenças comuns aos membros de uma organização, estruturado dinamicamente a partir do jogo dos atores, vinculando-se, de algum modo, à cultura nacional e local. (MAGALHÃES, 2010a, p. 7).

Samuel Huntington (1996, p.26) descreve especificidades da profissão militar,

como a vocação para o oficialato, sendo “um tipo especial de vocação como a

especialização, responsabilidade e corporatividade”, que a distingue de outras

profissões, como advocacia e medicina. A especialização mais específica do oficialato é

a administração da violência, que não se faz com talento e treino, pois não é o ato de

violência, mas com habilidades intelectuais complexas, prática e experiência.

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A administração da violência não é uma qualidade que possa ser adquirida pelo simples aprendizado de técnicas existentes. É adquirida num processo contínuo de desenvolvimento, sendo imprescindível que o oficial compreenda esse desenvolvimento e tenha consciência de seus rumos e tendências. [...] As habilidades e os hábitos mentais que o oficial requer de seu campo profissional, só através das avenidas mais largas do aprendizado fora de sua profissão é que, em grande parte, podem ser adquiridos. O fato de lidar constantemente com seres humanos, a exemplo do advogado e do médico, exige dele que tenha uma compreensão mais profunda das atitudes e motivações humanas. (HUNTINGTON, 1996, p. 32)

A especialização na administração da violência confere ao oficialato uma

responsabilidade social muito maior que a de outros especialistas, entretanto, esta

atividade carece de validação da sociedade, que outorga ao oficial sua segurança

militar. “A habilidade do oficial é a administração da violência; sua responsabilidade é a

segurança militar de seu cliente, a sociedade”. (HUNTINGTON, 1996, p. 33).

Ao oficial cumpre possuir destreza intelectual, cujo domínio exige estudo intenso. Mas, como o advogado e o médico, ele não é, em princípio, um homem de gabinete; tem que tratar constantemente com pessoas. O teste de sua competência profissional é a aplicação de conhecimentos técnicos num contexto humano. [...] O comportamento com relação à sociedade é guiado pela consciência de que suas habilitações só podem ser utilizadas para fins aprovados pela sociedade através de seu agente político que é o Estado. (HUNTINGTON, 1996, p. 33-34).

O caráter corporativo do oficialato está presente nas funções exclusivas de

segurança delegadas pelo Estado e nas singularidades de suas ações, que são

realizadas com base em controles e normas, o que confere ao militar um caráter de

grupo social autônomo, com convívio social restrito entre eles. A isto, Huntington (1996)

define como estrutura corporativa.

A estrutura corporativa do corpo de oficiais inclui não apenas a burocracia oficial, mas também sociedades, associações, escolas, publicações, costumes e tradições. O mundo profissional do oficial tende a abranger uma proporção singularmente alta de suas atividades. Via de regra, ele vive e trabalha longe do restante da sociedade, física e socialmente, é provável que ele tenha menos contato não-profissionais do que a maioria de outros profissionais. A linha que o separa do leigo ou do civil é simbolizada de público pelo uniforme e pelas insígnias do posto. (HUNTINGTON, 1996, p. 34-35).

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Suzana Magalhães (2010b) apresenta um modelo formativo do profissional

militar, a “pedagogia do guerreiro” presente nos currículos formal e oculto, que são

constituídos por experiências de aprendizagens dos docentes e discentes pretendidas e

não percebidas, respectivamente, que funcionam nas escolas militares e nos espaços

educativos das Instituições militares.

O modelo formativo militar, que pode ser expresso através de “pedagogia do guerreiro”, visa à formação de um tipo de sensibilidade e visão de mundo próprias do soldado, a partir de uma característica fundamental da profissão militar: a possibilidade de confronto com o inimigo e a necessidade de manter-se firme diante da ameaça de morte. Este paradigma se caracteriza por um tipo específico de socialização profissional que não encontra paralelo no mundo civil. (MAGALHÃES, 2010b, p. 2).

Por que tanto posicionamento sobre cultura e/ou cultura organizacional, quando

o foco é educação em uma escola militar? Por entendermos educação como processo

de formação do sujeito incompleto e a cultura como o “exoesqueleto” dessa formação,

“a cultura é produto da ação dos homens. Os homens a produzem e são produzidos por

ela” (WHITAKER, 2003, p. 18). O caráter específico da educação militar, evidenciado na

“cultura militar” e no âmbito de suas práticas educativas, se recusa à descaracterização

de sua identidade, como pontua Magalhães (2010b) quanto à crise da bildung2.

[...] como a educação moderna tem realçado somente os imperativos do processo de formação intelectual e física dos educandos e de sua adequação ao mercado de trabalho, não há mais a intenção de comunicar os conhecimentos e os valores acumulados, o que favorece a descaracterização da identidade original das instituições.(MAGALHÃES, 2010b, p. 8).

Para Huntington (1996, p.27), “a educação profissional consiste,

consequentemente de duas fases: uma que comunica um amplo e liberal lastro cultural

e outra que transmite as habilidades e os conhecimentos especializados da

profissão”.Entendemos que a educação militar apresenta essas duas fases, e que são

correlatas, porém a abrangência deste estudo é sobre a parte integrante de

conhecimentos específicos e técnicas da profissão militar, que serão introduzidos a

seguir.

2 O termo bildung tem origem alemã e significa genericamente cultura. No contexto é usado como processo de formação da cultura organizacional.

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O Exército Brasileiro, junto à Marinha do Brasil e à Força Aérea Brasileira,

integra as Forças Armadas brasileiras, sendo uma instituição nacional, permanente e

regular, organizada com base na hierarquia e na disciplina, sob comando supremo do

Presidente da República, e destinado à defesa da Pátria, garantia dos poderes

constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem (BRASIL, 1988,

art. 142).

A educação militar brasileira, no que concerne ao Exército Brasileiro, doravante

denominado EB, tem um caráter autárquico, com autonomia para regular suas normas

de ensino, por uma legislação específica, segundo o prescrito na Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional. Tais especificidades são descritas na Lei Nº 9.786, de 8

de fevereiro de 1999.

Art. 1º É instituído o Sistema de Ensino do Exército, de características próprias, com a finalidade de qualificar recursos humanos para a ocupação de cargos e para o desempenho de funções previstas, na paz e na guerra, em sua organização. Parágrafo único. A qualificação é constituída pelos atos seqüentes de capacitação, com conhecimentos e práticas, e de habilitação, com certificação e diplomação específicas. (BRASIL, 1999, p.2). Art. 2ºO Sistema de Ensino do Exército compreende as atividades de educação, de instrução e de pesquisa, realizadas nos estabelecimentos de ensino, institutos de pesquisa e outras organizações militares com tais incumbências, e participa do desenvolvimento de atividades culturais. (BRASIL, 1999, p.2).

§ 1º Integram também o Sistema de Ensino do Exército os cursos, estágios e outras atividades de interesse do Exército, realizados por seu efetivo em organizações estranhas à sua estrutura, militares ou civis, nacionais ou estrangeiras. (BRASIL, 1999, p.2).

§ 2º O Exército Brasileiro vale-se, ainda, de cursos, de estágios e de graduações, realizados fora do seu sistema de ensino, para a qualificação de seus quadros, segundo legislação pertinente.(BRASIL, 1999, p.2).

Esta autonomia legalizada que reveste a educação militar não a isenta de sofrer

influências das transformações ocorrentes na conjuntura internacional e nacional que

atuam nas decisões da política educacional militar, das estratégias que repercutiram na

forma e na maneira de compatibilizar a educação militar a esses novos padrões e

tendências educacionais. Influências e mudanças já relatadas por Luchetti (2006) no

estudo feito sobre o ensino militar.

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Modernização, ou atualização, como um processo, como já foi visto, acompanha a existência das Forças Armadas no Brasil desde as primeiras formações militares. Da época Colonial, posteriormente a Imperial, e atualmente, a República, as Forças Armadas, num processo contínuo, aspiram pela adequação da sua formação humana, instrumental e organizacional aos tempos modernos. As mudanças ocorridas, tanto na rede de ensino quanto na estrutura, foram, aos poucos, sendo conquistadas por meio de reformas e contra-reformas, num movimento contínuo e conflituoso. (LUCHETTI, 2006, p. 102).

Ainda para Luchetti (2006), a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial

como aliado dos Estados Unidos da América proporcionou o início de um período da

influência estadunidense na doutrina militar brasileira. Associamos essas influências

aos Acordos MEC-USAID assinados entre o Brasil e os Estados Unidos da América,

que orientaram a reforma educacional brasileira.

2.3OACORDO MEC-USAID

Esta pesquisa não tem como foco a história da educação militar no Brasil, mas

pontua um episódio na década de 1960, o acordo MEC-USAID, por sua influência na

educação militar. Com a ascensão hegemônica estadunidense e seus reflexos na

sociedade brasileira, consideram-se os pressupostos desse acordo como as primeiras

orientações para a atuação da educação de um modo geral e como capacitação

profissional, com conteúdo pragmático e utilitário, visando o mercado de trabalho, como

elencam as metas da Aliança para o Progresso, descritas por Arapiraca (1979).

[...] e) reformar, estender e melhorar o ensino superior de tal modo que proporção muitíssimo mais alta de jovens possa nele ingressar. Dessa forma se conseguirá substancial aumento das matrículas nas universidades, a qual é atualmente de cêrca de 500 mil alunos; [...]. (ARAPIRACA, 1979, p. 196). [...] i) reorientar a estrutura, conteúdo e métodos de educação em todos os níveis, a fim de adaptá-lo melhor aos progressos no domínio do saber, da ciência e da tecnologia, às necessidades culturais dos países latino-americanos e às exigências de seu desenvolvimento social econômico” [...].(ARAPIRACA, 1979, p. 197).

O Acordo MEC-USAID foi um acordo de ajuda bilateral assinado entre o Brasil e

os EUA, na década de 1960, referenciado como precursor da pedagogia tecnicista no

Brasil. Como sua influência parece estar presente ainda hoje no ensino militar, vê-se

necessário um melhor detalhamento desse acordo. José Oliveira Arapiraca (1979),

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Márcio Moreira Alves (1968) e Otaíza de Oliveira Romanelli (1986) são indicações na

literatura como obras referenciais sobre o Acordo. São com esses autores e suas obras

que iremos dissertar, sem excluir posicionamentos e contrapontos de relevância

considerados pela pesquisadora.

Para Saviani (2013, p.369), o modelo econômico vigente naquela época, que era

guiado pelo desenvolvimento com segurança, a presença de empresas internacionais

no país e a demanda de mão de obra qualificada favoreceram a adoção da pedagogia

tecnicista, com “ideias relacionadas à organização racional do trabalho

(taylorismo,fordismo), ao enfoque sistêmico e controle comportamental, [...]”.Romanelli

(1986) elenca de forma sintética os objetivos práticos da Agency for International

Development – AID, que expressam a intenção da pedagogia tecnicista como estratégia

para o desenvolvimento econômico.

1) Estabelecer uma relação de eficácia entre recursos aplicados e produtividade do sistema escolar; 2) atuar sobre o processo escolar em nível de microsistema, no sentido de se “melhorarem” conteúdos, métodos e técnicas de ensino; 3) atuar diretamente sobre as instituições escolares, no sentido de conseguir delas uma “função mais eficaz para o desenvolvimento”;4) modernizar os meios de comunicação de massas, com vistas à “melhoria da informação nos domínios da educação extra-escolar”; 5) reforçar o ensino superior, “com vista ao desenvolvimento nacional”. (ROMANELLI, 1986, p. 210).Grifo nosso.

O acordo MEC-USAID foi um programa de ajuda bilateral ocorrido entre a USAID

- United States Agency for International Development - e o MEC – Ministério da

Educação e Cultura - como operacionalização no Brasil do plano decenal da educação,

preconizado pela Aliança para o Progresso, programa criado em agosto de 1961, na

Conferência de Punta del Este, pelo governo Kennedy. “O primeiro acordo relativo ao

ensino superior foi assinado a 30 de junho de1966” (ALVES, 1968, p. 33), cujo objetivo

era assessorar a modernização da administração universitária brasileira. Para alguns

autores, foram firmados vários acordos. Segundo Fabiana Pina (2011, p. 10) “ao longo

de quatro anos foram firmados doze Acordos, a maioria deles relacionados à educação

no Brasil”. Otaízia Romanelli (1986, p. 186) não quantifica, mas indica que um

agravamento da crise no sistema educacional brasileiro foi a justificativa para a

assinatura de “uma série de convênios entre o MEC e seus órgãos e a Agency for

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International Developmend(AID) - para assistência técnica e cooperação financeira

dessa Agência à organização do sistema educacional brasileiro”.

Para Arapiraca (1979), o apoio dado pela USAID ao Sistema Educacional

Brasileiro tinha como objetivo a obtenção de lucros nos investimentos feitos no Brasil,

como a preparação de mão de obra especializada, formada pelas escolas técnicas para

atender à demanda do novo modelo econômico vigente.

Os valores do capital, coerentemente embutidos nas propostas de ajuda, começaram a ser repetidos dentro do aparelho escolar, dando foros de eficácia neutral a uma nova racionalidade pedagógica. Impunha-se, explicitamente, uma nova eficiência de ensino correspondente àquela observada no processo de produção industrial. (ARAPIRACA, 1979, p. 152).

A cooperação técnica compreendia, além de financiamento de projetos, o auxílio

de especialistas estadunidenses em educação no aperfeiçoamento do ensino primário

no Brasil e a ida de técnicos brasileiros em educação para os Estados Unidos da

América, para capacitação e posterior implantação do modelo de educação no Brasil.

Sua influência na modernização do ensino no Brasil é notada, principalmente, na

educação básica, com a criação de escolas polivalentes, consideradas pelo autor como

prematuras e estranhas à nossa realidade cultural. O modelo teórico de Escola

Polivalente tem sua filosofia expressa na pedagogia do aprender a fazer, que, para

Saviani (2013), é a pedagogia liberal tecnicista. Arapiraca (1979) descreve esse

modelo.

Como resultado concreto (no campo específico do nosso problema de estudo – a educação), todo o sistema de ensino primário e médio brasileiro foi radicalmente transformado: unificou-se o ensino primário com o ginásio e profissionalizou-se o colégio. Modificou-se estruturalmente a lei básica de normalização de ensino. E mais especificamente, criou-se um novo tipo de escola, modelada nos EUA, denominada Escola Polivante. (ARAPIRACA, 1979,p.153).

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Arapiraca (1979) alerta para o fato de que os técnicos brasileiros que

promoveram a reforma na educação do Brasil participaram dos cursos de capacitação,

cujo conteúdo referente ao modelo de educação estadunidense incluía: estudos de

bases filosóficas dos programas nas escolas, administração da educação pública,

sistema educacional, formação de professores, papel da educação na transmissão dos

valores básicos de uma cultura específica, como base para examinar as práticas

educacionais.

[...] a veemência dessa denúncia fica mais contundente a partir da constatação do fato de que os técnicos responsáveis pela implementação da Reforma não foram buscar nos EUA orientação técnica simplesmente; eles foram ser submetidos a processos de internalização de valores culturais, para “serem melhor qualificados para adaptarem suas experiências adquiridas nos EUA ao seu ambiente de trabalho no Brasil ” (ARAPIRACA, 1979,p. 166-167). Grifos do autor.

Alves (1968, p.27) diz que o Brasil importou uma ideologia coma assinatura dos

acordos. “Um planejamento não pode deixar de ter uma ideologia. Assim, a importação

de um planejamento ideológico, não apenas condiciona, como determina esse

futuro”.Esta ação determinante da ideologia é discutida por Dulce Whitaker (2003, p.22)

na abordagem dos conceitos antagônicos, cultura e ideologia. Para a autora o conceito

de ideologia, quando elaborado por Marx e Engels, “tinha a intenção de desmistificar a

democracia burguesa, ou seja, mostrar o caráter de opressão que existe dentro da

estratificação de classes sociais”.

O conceito de ideologia era aplicável à sociedade capitalista e não havia nele nenhuma boa vontade para com aqueles que tinham que ser desmascarados, assim, a classe dominante impunha sua visão de mundo sobre os dominados que incorporavam-na. (WHITAKER, 2003, p. 16).

Para Arapiraca (1979), tratava-se de uma ajuda ligada, que foi realizada com um

grupo de pessoas as quais foram denominadas clube, com interesses diversos e

intenção de manutenção do quadro social vigente. Guardadas as devidas diferenças,

Saviani (2013) também faz menção a um grupo de empresários e sua relação com os

acordos firmados nesse período.

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Assim como os empresários ligados ao IPES3 operavam em articulações com

seus colegas americanos e contavam com sua colaboração financeira, também no planejamento e na execução orçamentária da educação se estreitou a relação com os Estados Unidos, celebrando-se acordos de financiamentos da educação brasileira com a intermediação da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). (SAVIANI, 2013, p. 345).

Segundo Arapiraca (1979, p. 196), as mudanças no ensino superior foram objeto

do Plano Decenal de Educação da Aliança para o Progresso, e constavam como uma

das metas “fomentar o ensino no campo das ciências e da pesquisa científica e

tecnológica, a intensificar o aperfeiçoamento de cientistas e professores de ciências”.

Para Alves (1968, p.22), o fato de o governo da época ter declarado, em 1967, o

fim dos acordos MEC-USAID que tratavam do planejamento da Educação Superior

tratava-se de meia verdade, pois encerrava a fase de planejamento, mas a partir daí

começou sua execução, fato reforçado com o anúncio dos planos de reforma da

universidade brasileira, “estes planos são o resultado concreto dos estudos norte-

americanos a respeito do nosso ensino superior”. As reformas já eram reivindicações de

professores e estudantes, antes do estudo e planejamento realizados pelos técnicos da

USAID, com claras intenções de se libertar do domínio estadunidense.

Há muitos anos a juventude brasileira reclama a reforma da sua Universidade. Há muitos anos os mais lúcidos pedagogos exigem que a estrutura do ensino primário, médio e superior seja no Brasil transformada de alto a baixo, para que atenda a duas exigências nacionais: oferecimento de possibilidades educacionais às grandes massas e adaptação do que se ensina às necessidades do desenvolvimento do País. [...] Falando claro: estudantes e professôres querem criar gerações capazes de se desenvolverem independentemente dos Estados Unidos. (ALVES, 1968, p. 22).

Entre os vários acordos assinados e seus respectivos aditivos, um deles reforçou

o ensino tecnicista na educação brasileira. Criada pelo Decreto Presidencial nº 59.355,

de 4 de outubro de 1966, a Comissão do Livro Técnico e do Livro Didático (COLTED)

tinha a responsabilidade de coordenar e executar um programa de livros técnicos e de

livros didáticos que atendessem aos três níveis de ensino no Brasil. Com adoção de

livros didáticos, de capacitação para professores na condução das aulas e no uso

3 Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais, fundado em 29 de novembro de 1961 por um grupo de

empresários do Rio de Janeiro e São Paulo, articulados com empresários multinacionais e com a Escola Superior de Guerra (ESG), via Generais Heitor de Almeida Herrera e Golbery do Couto e Silva. (SAVIANI, 2013 p. 342).

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adequado de técnicas de ensino, além de perda da autonomia do professor e do

controle das atividades educativas por meio dos conteúdos programáticos indexados

nos livros didáticos, características da perspectiva tecnicista.

Considerando-se ser o livro destinado ao ensino instrumento básico para o progresso sócio-econômico, de fundamental importância para o desenvolvimento do país; considerando- se a necessidade de suprir-se a população estudantil brasileira de livros adequados, tanto em quantidade como em qualidade; [...]. (ALVES, 1968, p. 95).

[...] Difundir entre os três níveis de ensino os meios de aperfeiçoar técnicas didáticas, pelo melhor uso dos livros e dos materiais didáticos e científicos. (ALVES, 1968, p. 96)

[...] Assegurar a orientação adequada dos professôres quanto ao emprego eficaz, nas salas de aula e nas bibliotecas, dos livros didáticos produzidos e distribuídos por êste programa. Com esta finalidade, o Ministério realizará programas educacionais, recomendados pela COLTED, tais como seminários, cursos práticos, programas cinematográficos e de televisão, para o maior número possível de professôres. Uma razoável parcela dos recursos, proporcionada por êste programa, deverá ser obrigatoriamente utilizada para tal fim,nos três níveis de ensino. (ALVES, 1968, p. 97).

Fabiana Pina (2011), em uma análise historiográfica sobre os Acordos MEC-

USAID, inclui o Relatório do Professor Rudolph P. Acton e o IPES - Instituto de

Pesquisa e Estudos Sociais – como estudos relevantes e contundentes para a reforma

universitária. O professor estadunidense Rudolph Acton, em 1965, realizou um estudo

sistematizado da situação das universidades brasileiras, que ficou conhecido como

Relatório Acton, cujo título era “Rumo à reformulação estrutural da universidade

brasileira”. “O Instituto entra em nossos estudos como mais um dos fatores que

contribuíram para as mudanças propostas pelo governo, assim como as propostas do

Acordo MEC-USAID e do professor Atcon” (PINA, 2011, p.73).

Para a autora, esses estudos propunham que a universidade brasileira

proporcionasse uma formação humanística e técnica que acompanhasse o

desenvolvimento econômico no contexto histórico.

Acordo MEC-USAID e o estudo do professor norte-americano; Rudolph Atcon sobre os problemas da Universidade brasileira. Todavia, não pudemos deixar de citar, mais uma vez, que o governo adotou medidas que contribuíam para conter o movimento estudantil contrário ao seu regime. Por outro lado, as políticas educacionais após 1964, ajustavam-se aos fins definidos pela política global: aceleração do desenvolvimento econômico. Desta forma, pudemos perceber que era objetivo do governo adequar a Universidade às novas

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exigências e que ela era considerada por esses governantes como um fator determinante para o desenvolvimento econômico. O governo e os intelectuais envolvidos tinham clareza de que o objetivo não seria alcançado apenas com a eficiência de uma educação humanística. A educação técnica era indispensável para o desenvolvimento econômico do país, o que não exclui a importância da educação humanística. Dessa maneira, equivaleriam em importância, para os objetivos visados, a educação humanitária e a técnica. (PINA, 2011, p. 76).Grifo da autora.

Pina (2011, p.62) menciona que “críticas recorrentes neste contexto foram feitas

no sentido de que o relatório e, principalmente o acordo MEC-USAID, levariam a

universidade a existir como um curso técnico, local para a formação de profissionais, e

não formador de pesquisadores”, mas não concorda com esse posicionamento,

evidenciado no trecho a seguir.

A consideração apresentada a seguir ajuda a demonstrar um dos requisitos que nos levaram a observar que o ensino técnico não era o objetivo único e final proposto pelo professor: “Nesta unidade universitária devem encontrar-se todas as matérias básicas do conhecimento humano que não sejam matérias estritamente dirigidas à preparação profissional”(ATCON, 1966, p. 15. Grifo da autora). Entre outros objetivos, além dos já citados, estava: “Educação e Treinamento não especializado, em humanidades, ciências naturais, sociais, para o desenvolvimento básico do conhecimento humano”. (ATCON, 1966, p. 9 apud PINA, 2011, p.63).

Concordamos com Luckesi (1994), que a filosofia de educação adotada por um

país tem nela expressa em si mesma sua concepção de educação, de sociedade, e

reflete-as em suas práticas pedagógicas. “A Filosofia fornece à educação uma reflexão

sobre a sociedade na qual está situada, sobre o educando, o educador e para onde

esses elementos podem caminhar” (LUCKESI, 1994, p. 32).

2.4 ENSINO TECNICISTA

Entendemos que a pedagogia tecnicista apresenta os pressupostos da

neutralidade científica, eficiência e racionalidade técnica. A organização racional dos

meios de ensino está em primeiro plano, os sujeitos da educação têm papel secundário

no processo. Nessa perspectiva, a educação atua na transmissão do conhecimento,

habilidades, valores e ética, com ação diretiva e de controle cultural e social; a escola é

o ambiente de sua propagação, e a aprendizagem é condicionada a estímulos e

respostas, ou seja, a educação como produção de recursos humanos.

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Para dissertar sobre o ensino tecnicista no âmbito do EB, escolhemos como

referência o Manual Técnico T21-250 – Manual do Instrutor, 3ª edição, de 1997,

aprovado pela Portaria Nº 092 – EME – de 26 de setembro de 1997, por entendermos

que tal documento contém as orientações para instruções e aulas executadas nas

instituições de ensino do EB. Apesar de ser direcionado ao instrutor4, é uma orientação

que todos os docentes das Instituições de Ensino do EB devem seguir como esclarece

o referido manual.

Este manual tem por finalidade orientar aqueles que ministram sessões de instrução ou de aula no âmbito do Ministério do Exército e, para isso, considera que todos os oficiais, subtenentes e sargentos, como especialistas em assuntos militares, devem possuir os conhecimentos específicos de sua profissão e estar capacitados a ajudar na aprendizagem desses conhecimentos por seus instruendos. No amplo conceito da palavra instrutor incluem-se os professores militares e civis dos Quadros do Magistério Militar e Complementar de Oficiais (Magistério). (BRASIL, 1997, p. 7).

O Manual Técnico referente ao período do recorte do estudo - Manual Técnico

T21-250– Manual do Instrutor, 1ª edição de 1975, aprovado pela Portaria Nº41 – EME,

de 28 de fevereiro de 1973, tinha como finalidade e objetivo as instruções militares para

os soldados, sendo destinado somente para uso dos instrutores militares.

Este manual destina-se a auxiliar os instrutores do Exército. Todos os oficiais e sargentos, na condição de especialistas em assuntos militares, devem possuir conhecimentos específicos de sua profissão. Além disso, devem saber utilizar os métodos e processos de ensino mais adequados ao desenvolvimento das habilidades, dos conhecimentos e das atitudes próprias do soldado. (BRASIL, 1975, p. 1).

Os princípios do processo ensino-aprendizagem presentes no atual Manual do

Instrutor consideram uma aula/instrução bem sucedida quando o instruendo executou

com perícia as tarefas que aprendeu. Os princípios também devem orientar o instrutor

na escolha “judiciosa” das técnicas de instrução. Optamos por citar parte deles, a saber:

4 No âmbito do EB, o instrutor é um militar que ministra uma instrução.

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A prontidão é o momento em que o instruendo está apto a aprender“. O instrutor deve estar bem ciente das características dos instruendos bem como dos objetivos a atingir, para fazer a adequação da técnica de instrução, do tempo e dos meios auxiliares [...].(BRASIL, 1997,p.37). Grifo nosso.

Segundo Mager (1976), um objetivo é a descrição de um desempenho a ser

alcançado pelos estudantes e descreve um resultado pretendido pelo ensino. Eles

devem ser claramente formulados, para que possam ser avaliados e forneçam aos

estudantes condições de organização e de esforços para alcançá-los. Para Ferraz e

Belhot (2010, p. 423),“um objetivo instrucional é uma descrição clara sobre o

desempenho e a competência que os educadores gostariam que seus educandos

demonstrassem antes de serem considerados conhecedores de determinados

assuntos”. Esse objetivo está ligado a um resultado diretamente relacionado ao

conteúdo e à forma como ele deverá ser aplicado. Percebemos que esses

pressupostos dos objetivos instrucionais orientam o Manual do Instrutor.

Deve incentivar o instruendo de modo que fique motivado para aprender. Para tanto, deve esclarecer o objetivo a atingir, valorizar esse objetivo e relacioná-lo com os interesses e aptidões do instruendo para possibilitar o que possa ser alcançado, obtendo-se melhor resposta. (BRASIL, 1997, p.37).

Maria Lúcia de Arruda Aranha (2006, p. 317) comenta que a educação tecnicista

tinha como ideais a racionalidade, organização, objetividade, eficiência e produtividade,

com estabelecimento de metas e objetivos instrucionais a serem atingidos. Nessa

perspectiva, o “professor é um técnico que, assessorado por outros técnicos e

intermediado por recursos técnicos, transmite um conhecimento técnico e objetivo”.

Para a autora, o behaviorismo também está nos pressupostos da orientação tecnicista

da educação. “Método que privilegia os procedimentos que levam em conta

exteriorização do comportamento, o único considerado capaz de ser submetido a

controle e experimentação objetivos” (ARANHA, 2006, p. 257). Esse método

fundamenta-senos seguintes princípios, constantes do Manual do Instrutor, a saber:

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Por meio da percepção o instruendo incorpora novas experiências que irão reorganizar os seus conhecimentos e o seu comportamento. O instrutor deve estar atento ao fato de que as percepções são relativas, reagindo de forma diferente a cada estímulo apresentado. A focalização perceptiva é a atenção, que pode ser definida como a capacidade seletiva da percepção. Considerando que na instrução ou no ensino voltado para o desempenho a atuação do instruendo é permanente, o instrutor deve manter o seu interesse, encorajando-o na execução das tarefas e recompensando-o pelos acertos, em vez de reprová-lo quando falha. Deve preocupar-se em ressaltar os pontos positivos, dando às faltas um tratamento que venha a possibilitar sua correção.[...] Todo instruendo precisa conhecer os resultados obtidos na tentativa de aprender. O instrutor deve fornecer respostas que esclareçam sobre o desempenho do instruendo, o que provoca o chamado processo de realimentação. Este processo é absolutamente essencial e útil, uma vez que aumenta o sucesso em qualquer etapa da aprendizagem. Pode estar presente sob as formas de elogio, quando o instruendo acerta, e correção do erro, de forma construtiva e objetiva, sem qualquer idéia de punição. (BRASIL, 1997, p.38).

O behaviorismo foi aplicado e ampliado pelo psicólogo estadunidense Burrhus

Frederic Skinner nas experiências baseadas na teoria do reforço (positivo e negativo), e

reforçado com a taxonomia dos objetivos educacionais de Bloom; Engelhart; Furst;et al,

(1973). Na resenha feita pela editora, consta que “não se trata de um livro comum de

leitura informativa, mas de um manual de consulta obrigatória, de vez que se organiza

como um esquema teórico de referência para exercícios de atividades básicas do

professor e demais especialistas em educação [...] anverso da capa da1ªedição, ou

seja, mais um manual, atestando que estávamos na era dos manuais.

Paulo Freire (1967) estabelece uma relação entre os estados de consciência do

ser no mundo e a sociedade brasileira. Para Freire (1967, p.58-59), na consciência

intransitiva ou mágica, o homem tem seus interesses e preocupações voltados para as

formas vegetativas de vida, “sua esfera de apreensão da realidade é limitada à

dimensão biológica”, não age na dimensão histórica, mas “o homem, qualquer que seja

o seu estado, é um ser aberto”. A transitividade ingênua permeabiliza o homem,

ampliando seu poder de captação e de respostas aos problemas de seu contexto,

porém de forma simplificada; seus interesses e anseios vão além da esfera vital, mas

não se aprofunda na investigação da realidade e aceita explicações fabulosas. No

nosso entendimento, a intencionalidade do ensino por objetivos não ultrapassa a

concepção de consciência transitiva ingênua de Paulo Freire, dada sua superficialidade

na relação educador/educando e sua fragilidade do diálogo.

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Os objetivos educacionais de Bloom e seus colaboradores alcançaram muito

sucesso no meio acadêmico porque se propuseram a clarificar e homogeneizar o

entendimento sobre os objetivos. Segundo Conklin (2005 apud FERRAZ; BELHOT,

2010).

Um dos motivos pelo qual a taxonomia proposta por Bloom et al. tornou-se tão importante e trouxe significativas contribuições à área acadêmica foi o fato de que antes dos anos 50 um dos grandes problemas na literatura educacional era a falta de consenso com relação a determinadas palavras usualmente relacionadas à definição dos objetivos instrucionais como, por exemplo, o verbo conhecer era utilizado com o sentido de ter consciência, saber da existência ou para expressar domínio de um determinado assunto. [...] A taxonomia trouxe a possibilidade de padronização da linguagem no meio acadêmico e, com isso, também novas discussões ao redor dos assuntos relacionados à definição de objetivos instrucionais. Neste contexto, instrumentos de aprendizagem puderam ser trabalhados de forma mais integrada e estruturada, inclusive considerando os avanços tecnológicos que podiam prover novas e diferentes ferramentas para facilitar o processo de ensino e aprendizagem. (FERRAZ; BELHOT, 2010, p. 423).

Percebemos no Manual do Instrutor que a taxonomia foi utilizada como

metodologia de ensino e modos de relacionamento entre instrutor e instruendo, porém

de forma fragmentada e estanque, como por exemplo: o objetivo de “determinar as

possibilidades do inimigo que afetam a missão de uma Unidade defensiva” (BRASIL,

1997, p. 44). O objetivo indicado está relacionado com o nível de análise, mas se

encerra em si mesmo.

Os objetivos do domínio cognitivo enfatizam a recordação ou a reprodução de algo que presumivelmente foi aprendido. Envolvem também a resolução de alguma tarefa intelectual para a qual o indivíduo tem que determinar o problema essencial e, então, reordená-lo ou combiná-lo com idéias, métodos ou procedimentos já aprendidos. Eles variam desde a simples evocação até maneiras altamente originais e criadoras de combinar e sintetizar novas idéias. (BRASIL, 1997, p. 43)

Comparando com a metodologia do ensino por competências, as ações

solicitadas exibem maior complexidade e mobilizam recursos cognitivos, afetivos,

psicomotores e valorativos. Como se pode conferir no trecho do padrão de

desempenho abaixo.

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Executar os exercícios de Tiro de Instrução Básico (TIB) e Avançado (TIA) de fuzil previstos na IGTAEx

5, sanando os possíveis incidentes de tiro, aplicando

os corretos fundamentos de tiro, seguindo as normas de segurança antes, durante e depois da execução do tiro, para que o aluno consiga ter condições de aplicar o armamento com eficácia em operações militares.(BRASIL, 2015a, p. 2).

Bloom et al (1973, p.11) tinham como seus principais interesses as mudanças de

comportamento dos indivíduos resultantes de experiências educacionais, e que não

tinham intenção de classificar metodologias de ensino, modos de relacionamentos entre

professores e alunos ou tipos de materiais de ensino empregados, “não estamos

buscando classificar uma matéria específica de ensino ou conteúdos. Estamos

classificando o comportamento esperado – modos em que os alunos devem agir,

pensar ou sentir como resultado de sua participação em alguma unidade de ensino”.

Dessa forma, admitem que os reais comportamentos podem variar em nível e em

qualidade entre os alunos.

5IG 80-01: Instruções Gerais de Tiro com o Armamento do Exército (IGTAEx). Brasília, 2003.

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3 ENSINO POR COMPETÊNCIAS, CURRÍCULO E AVALIAÇÃO

Educar a capacidade de perceber e tecer relações. De interpretar linhas e entrelinhas, os sentidos lógicos e os polissêmicos. (SEVERINO ANTÔNIO, 2002, p. 42).

Neste capítulo, descreveremos os caminhos da implantação da sistemática de

ensino por competências, adotada pelo EB, elencaremos as abordagens metodológicas

para o desenvolvimento das competências e discorreremos sobre a construção

curricular da EsPCEx e as modalidades de avaliação.

3.1 ENSINO POR COMPETÊNCIAS

O ensino por competências no âmbito do Exército Brasileiro foi implantado pela

Portaria Nº 152 - EME, de 16 de novembro de 2010, que aprova a Diretriz para a

Implantação da Nova Sistemática de Formação do Oficial de Carreira do Exército

Brasileiro da Linha de Ensino Militar Bélico, que segue a Portaria Nº 788 - do

Comandante do Exército, de 26 de agosto de 2010, que altera a sistemática de

formação do oficial de carreira do Exército Brasileiro da Linha de Ensino Militar Bélico.

Essa legislação tem amplo amparo no Processo de Transformação do Exército que está

abrigado na Estratégia Nacional de Defesa.

A Diretriz de Implantação do Processo de Transformação do Exército, aprovada

pela Portaria Nº 75 – EME, de 10 de junho de 2010, alterada pela Portaria Nº 133, de

28 de fevereiro de 2012, que tem por finalidade orientar o planejamento das atividades

relacionadas ao processo de transformação do Exército Brasileiro, tem, dentre outros,

os objetivos de “promover a transformação do Exército, trazendo-o de uma concepção

ligada à era industrial para a era do conhecimento; reforçar junto à sociedade brasileira

a percepção da relevância e da imprescindibilidade do Exército para a Nação e

implantar uma mentalidade de inovação” (BRASIL, 2010a, p. 50). Ainda propõe

medidas para aprimorar o sistema de educação e cultura do Exército, tendo esse

sistema “como o embrião e fomentador do processo de transformação” (p. 51).

O Processo de Transformação do Exército é composto por seis eixos: Ciência e

Tecnologia, Doutrina, Educação e Cultura, Engenharia, Gestão, Recursos Humanos,

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Logística, Preparo e Emprego e Orçamento e Finanças, denominados de vetores da

transformação. Transformação é entendida como:

Processo de desenvolvimento e implementação de novos conceitos e capacidades operacionais conjuntas, modificando o preparo, o emprego, as mentes, os equipamentos e as organizações, para atender as demandas operacionais de um ambiente sob evolução continuada. (BRASIL, 2010b, p. 43).

O documento destaca a importância de se mudarem concepções para atingir a

transformação, “para que esse potencial de mudança se concretize e chegue ao nível

de transformação, teremos que alterar concepções, algumas delas profundamente

arraigadas em nossa cultura institucional”, (BRASIL, 2010b, p. 28). Tal constatação

reforça nosso entendimento sobre a relação que fazemos da concepção de

transformação defendida por Paulo Freire, quando da passagem da consciência

ingênua para a consciência crítica6, e a mudança de ensino por objetivos para ensino

por competências. Se por um lado essa diretriz provoca reflexões sobre o processo de

transformação, por outro lado se mostra resistente às mudanças na área educacional,

como se pode constatar. Notamos aqui uma contradição.

[...] o EB tem sido capaz de preservar seus valores fundamentais graças aos comprometimentos gerados em nossas Escolas, em relação aos nossos companheiros, à Instituição e seus princípios, resultando um Exército disciplinado e coeso. Repousa aí nosso mais rico patrimônio, capaz de manter o entusiasmo e a devoção individual e coletiva, a despeito das precariedades permanentemente enfrentadas. Trata-se, portando, de um bem que não pode, sob nenhuma hipótese, ser colocado em risco por qualquer empreendimento de transformação. Excelente. (BRASIL, 2010b, p. 33.). Grifo nosso.

O Exército Brasileiro é uma instituição que zela pelas suas bases formadoras

que são as suas escolas de formação. Acompanha as exigências do campo

educacional impostas pelo mundo contemporâneo e compreende sua transitoriedade. A

instituição percebe avanços na área tecnológica, a instabilidade relacional e o

redirecionamento de conceitos, âmbitos sócio-profissionais em que o antigo e o novo

convivem como parâmetros estabelecidos e necessidade de novos paradigmas. O

6 Paulo Freire diz que a passagem da consciência transitiva ingênua para a consciência crítica não se dá

de maneira contínua como na passagem de consciência intransitiva ou mágica para a consciência transitiva ingênua. Para essa passagem é preciso ter intencionalidade, para ser efetivada necessita de um trabalho pedagógico crítico, com base no diálogo e atuação consciente dos sujeitos envolvidos no processo.

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desafio está na articulação, de forma integrada, do conhecimento acadêmico com as

situações práticas de vida dos profissionais, considerando as especificidades da

instituição e de seus personagens. Foi com esse novo olhar para a realidade dos

sujeitos contemporâneos na perspectiva da construção do conhecimento que se

considerou o momento oportuno de se trabalhar com um modelo de ensino que

possibilitasse a preparação do profissional para o exercício de atividades cada vez mais

complexas, com compreensão e respeito às múltiplas faces de um conceito mais amplo

de educação e cultura. Nota-se essa disposição para abertura nas palavras do

Comandante do Exército – General Enzo Martins Peri:

Há que se olhar para frente. Renovar o antigo que habita em cada soldado

profissional é um necessário ato de coragem. Sem desprezar o permanente,

desfazer-se do provisório; sem perder os valores que conformam e dão

credibilidade à nossa Instituição, abrir as clarabóias para o arejamento e

preparar-se para vencer a guerra do futuro – com tudo que ela terá de „nunca

visto‟. É este o desafio que concito todos a enfrentar. (BRASIL, 2011, p. 2).

A Nova Sistemática de Formação do Oficial de Carreira do Exército Brasileiro da

Linha de Ensino Militar tem por finalidade normatizar o Curso de Formação e

Graduação do Oficial de Carreira da Linha de Ensino Militar Bélico do Exército

Brasileiro, como consta nos artigos 1º, 2º e 3º, complementada no artigo 12º.

Art. 1º Estas Normas têm por finalidade regular o Curso de Formação e Graduação do Oficial de Carreira da Linha de Ensino Militar Bélico do Exército Brasileiro. Art. 2º O Curso de Formação e Graduação do Oficial de Carreira da Linha de Ensino Militar Bélico do Exército Brasileiro é um curso de nível superior, de formação, da linha do ensino militar bélico, conduzido ao longo de cinco anos, do seguinte modo: I –1º ano: nas instalações da Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), em Campinas, SP; e II –do 2º ao5º ano: nas instalações da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em Resende, RJ. Art. 3º O Curso de Formação e Graduação do Oficial de Carreira da Linha de Ensino Militar Bélico do Exército Brasileiro é destinado a: I –formar o Aspirante – a Oficial da Linha de Ensino Militar Bélico, habilitando-o a ocupação dos cargos de tenente e capitão não aperfeiçoado, previstos nos quadros de organização, em tempo de guerra ou de paz. II – graduar o bacharel em Ciências Militares; III – iniciar a formação do chefe militar; IV – assegurar o preparo cognitivo, atitudinal e valoral necessários ao oficial;

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V – desenvolver e fortalecer a personalidade, a formação patriótica e humanística, uma sadia mentalidade de disciplina consciente e a vocação para a carreira militar; e VI – desenvolver habilidades técnicas e padrões comportamentais inerentes ao Combatente. (BRASIL, 2013, p. 6) Art.12º Os documentos de ensino estabelecerão o conjunto de conhecimentos relativos à esfera militar, inseridos nas áreas de estudo abrangidas pelas Ciências Militares, necessárias à formação do oficial de carreira da Linha de Ensino Militar Bélico do Exército Brasileiro. Parágrafo único. Os documentos de ensino deverão conter as competências a serem alcançadas, os assuntos, as cargas horárias previstas e as práticas didáticas exigidas, tudo em consonância com a sistemática do Ensino por Competências. (BRASIL, 2013, p. 9).

O ensino por competências adotado no Exército Brasileiro é regulado pela

Portaria Nº 125 – DECEx, de 23 de setembro de 2014, que aprova as Instruções

Reguladoras do Ensino por Competências: Currículo e Avaliação – 2 ª Edição ( IREC –

EB60-IR-05.008). Esta Instrução Reguladora tem por finalidades:

I - apresentar os conceitos básicos relacionados ao ensino por competências, por meio do glossário presente nesta publicação; II - estabelecer as diretrizes relacionadas à metodologia para construção curricular, que englobam tanto os trabalhos de elaboração como de revisão curricular; e III - estabelecer as diretrizes relacionadas à avaliação da aprendizagem baseada na abordagem do ensino por competências. (BRASIL, 2014a, p. 4).

A construção curricular é orientada por um documento, a Norma para Construção

de Currículos – NCC - EB60-N-06.003, 2ª edição, aprovada pela Portaria Nº 127 –

DECEx, de 24 de setembro de 2014, que descreve as etapas da elaboração do

currículo e coordena desde a formação do Grupo de Construção Curricular – GCC,

até a elaboração de documentos, como o Mapa Funcional, que descreve a atividade

laboral e serve de base para a elaboração do Perfil Profissiográfico e dos Documentos

de Currículo. A saber: Plano de Integração de Disciplinas – PLANID, o Plano de

Disciplina – PLADIS e o Quadro Geral de Atividades Escolares- QGAE. Esta norma

também complementa as Instruções Reguladoras de Ensino por Competências:

Currículo e Avaliação.

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Os conceitos básicos elencados nas Instruções Reguladoras são competência,

currículo e avaliação. Um conceito de competência foi elaborado pelo Exército

Brasileiro, justificado pela ausência de um conceito que correspondesse às

especificidades da instituição. A competência no ensino militar é definida como:

Competência é a ação de mobilizar recursos diversos, integrando-os para decidir e atuar em uma família de situações. Os recursos mobilizados pelas competências incluem: conteúdos de aprendizagem; capacidades cognitivas; capacidades físicas e motoras; capacidades morais; habilidades, atitudes e

valores. (BRASIL, 2014a, p.4)

A dificuldade encontrada pela instituição no consenso sobre competência é

percebida pela literatura a respeito. Os significados e noções são polissêmicos, vão do

âmbito do trabalho à pedagogia das competências. No campo profissional, área em que

foi criada, a competência pode ser entendida como conjuntos de conhecimentos,

qualidades, capacidades e aptidões que habilitam o sujeito para a discussão, a consulta

e a decisão de tudo a que concerne a um ofício, supondo conhecimentos teóricos,

fundamentados, acompanhados das qualidades e da capacidade de permitir executar

as decisões sugeridas (ROPÉ;TANGUY, 1997). Marise Nogueira Ramos (2006)

esclarece que a distinção da definição de competência entre a educação básica e a

educação profissional refere-se a uma adequação à modalidade educacional, pois na

perspectiva do construtivismo piagetiano as competências são ações e operações

mentais de ordem superior, estando, portanto, as competências básicas consolidadas

no estágio adulto. Araujo (2001) também referencia a orientação piagetiana na

construção do conhecimento.

Este estreitamento com o mundo do trabalho tem causado desconforto em

muitos educadores, que vêem na educação por competência uma versão atualizada da

pedagogia tecnicista, como se pode constatar na tese de Marcos Freisleben Zorzal:

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[...] é no discurso ideológico da competência, tão largamente difundido pelo ideário empresarial e pedagógico liberal em relação ao mundo do trabalho e da educação, [...]. Entendemos que as atividades do trabalho e da educação formal foram e estão sendo estrategicamente apropriados e manipulados pelo discurso neoliberal, [...]. (ZORZAL, 2006, p. 7). Grifo do autor. [...] Esta impostura reedita a apologia consagrada ao ensino em outros períodos do século passado, afirmando-o como fundamental à resolução das urgências sociais e, sobretudo, dos mercados, resgatando assim momentos já muito bem conhecidos da história, e da filosofia e sociologia da educação, como o advento da escola profissionalizante, do pragmatismo escolanovista ou do otimismo pedagógico, da posterior teoria do capital humano e do ensino tecnicista que a acompanhou (ZORZAL, 2006, p. 10). Grifo do autor.

Lucília Regina de Souza Machado (1998) sugere cuidados nessa ligação de

noção de competências entre mundos do trabalho e da educação, indagando se as

instituições educacionais possuem práticas educativas capazes de criar condições para

a construção de um novo “saber-ser”, que sintetiza as possibilidades de combinações

de saberes efetivos na realização de uma atividade, ou seja, uma implicação subjetiva.

A dimensão da implicação subjetiva passa a ser, assim, o fundamento da competência, operacionalmente traduzidas em comportamentos e valores. Mas os ingredientes do modo de ser, como não são formalizáveis, transparentes e compiláveis, são, antes, difíceis de objetivação, classificação e hierarquização. Não são, portanto, simples de tradução curricular. Fazem parte, na verdade, do chamado “currículo não escrito”. (MACHADO, 1998, p. 92.) Grifo nosso.

No caso em estudo, o mundo do trabalho e o da educação é o mesmo mundo,

ou seja, o EB prepara os seus “trabalhadores” nas suas escolas de formação. Quanto

aos ingredientes do modo de ser, são estrategicamente organizados em ações

didáticas pedagógicas, classificados e hierarquizados no processo de formação do

militar, que conta com análise e avaliação das competências cognitivas, afetivas e

psicomotoras.

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3.2 ABORDAGENS METODOLÓGICAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE

COMPETÊNCIAS

Mertens (1996 apud ARAUJO, 2001) apresenta três abordagens de metodologia

para o desenvolvimento de competências, que dependem dos enfoques adotados para

a formação de competências e “podem ser diferenciados a partir do conceito de

competência que utilizam; de como buscam identificar as competências e das

metodologias e referenciais sobre os quais se estruturam.” (p. 102).

Ramos (2001) também utiliza essas abordagens para descrever o

desenvolvimento das competências, quando trata da reforma educacional brasileira e

sua tendência para atender ao mercado de trabalho.

[...] os conhecimentos passam a ser definidos em termos da identificação com a ação que deve ser realizada pelo aluno assim como as bases sociopsicológicas do funcionalismo, do condutivismo e do construtivismo, o modelo de competências tem sido o principal referencial, pode-se dizer mesmo o núcleo duro, na reforma da educação brasileira, o que nos leva a considerar a possibilidade muito forte de que a formação esteja seguindo a lógica do mercado, exigindo resultados e eficiência que sejam demonstrados a partir de tarefas bem precisas e de desempenhos traduzidos por ações específicas, mas que limitam a capacidade criativa a um rol de atividades predeterminadas. (RAMOS, 2001, p.92).

Por entendermos que o ensino por competências adotado pelo EB está

relacionado à educação profissional, optamos por estabelecer uma discussão entre as

abordagens metodológicas das competências laborais e as metodologias de ensino,

antiga e atual.

3.2.1 Abordagem condutivista e o ensino militar

A abordagem condutivista para o desenvolvimento de competências, quanto ao

conceito, trata da capacidade profissional de um indivíduo, do que ele pode fazer,

independentemente da situação ou contexto. São características comportamentais, daí

Araujo (2001) denominá-la de behaviorismo. As competências são identificadas por

meio de observações de comportamentos desejáveis, que são utilizados como padrão.

Podemos constatar essas observações comportamentais no Programa Padrão Básico

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(PPB) de formação básica do combatente do EB, um programa com base nos objetivos

da aprendizagem.

O Programa Padrão Básico de formação básica do combatente do EB baseia-se

no princípio metodológico orientado para o desempenho. Tem como objetivos parciais:

a criação de hábitos; a formação de caráter militar; a obtenção de padrão de

procedimento; a aquisição de conhecimento; o desenvolvimento de habilidades

técnicas; a obtenção de reflexos na execução de técnicas individuais de combate e

competências (BRASIL, 2009).Como podemos verificar em Araujo (2001, p.105) “a

análise condutivista procura, portanto, chegar a uma descrição das tarefas

desenvolvidas nas ocupações, identificando as habilidades, os conhecimentos, as

atitudes e as responsabilidades profissionais, que estão relacionadas com o

desempenho adequado”. Para Araujo (2001), a abordagem condutivista tem no

behaviorismo seu suporte teórico e em Skinner, a sua prática.

Para Skinner, teórico condutivista que teve e ainda tem forte influência nas práticas educacionais e, particularmente, na educação profissional, o comportamento pode ser controlado através da manipulação dos estímulos discriminatórios e de reforços e o processo de ensinar ou exercitar deve consistir, então, em moldar o comportamento humano, reforçando quaisquer mudanças na direção desejada e extinguindo, pelo não reforço quaisquer mudanças na direção indesejada. (ARAUJO, 2001, p. 107).

Tyler (1975, p. 5) descreve que os objetivos educacionais “representam os tipos

de mudança de comportamento que uma instituição educacional se esforça para

suscitar nos seus alunos”. Entendemos que o ensino por objetivos, metodologia

adotada pelo EB antes da mudança para o ensino por competências, se assemelha aos

de Tyler e estava embasado na linha metodológica do condutivismo, pois a prática

educativa era programada em torno dos objetivos educacionais. Compreendemos que o

ensino no EB está em processo de transição, e, como tal, essas mudanças ainda estão

se consolidando nas práticas, embora, para a instituição, já tenham se consolidado.

Parafraseando Paulo Freire (1967, p. 47),” a fase de trânsito é um elo entre o antigo

que se esvazia e o novo que se consubstancia”.

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3.2.2 Abordagem funcional e o ensino militar

Para Araujo (2001, p.115), a abordagem funcional para o desenvolvimento de

competências “objetiva o aumento do vínculo entre formação escolar e profissional no

atendimento das demandas das empresas, consideradas como responsáveis pela

definição das qualificações desejadas”. No caso do EB, suas escolas de formação

“formam” seus próprios “funcionários”, que percebem e atuam na realidade. Esta

abordagem funcional está baseada na função que cada trabalhador tem na empresa,

ou seja, nas funções de Segundo Tenente até Capitão não aperfeiçoado, no estudo em

questão.

A identificação das competências, para Araujo (2001), segundo essa abordagem,

deve ser feita a partir da relação entre objetivos produtivos colocados como problemas

e as possíveis soluções para os mesmos, decompondo funções produtivas em

unidades de competências e estas, em elementos de competências.

A identificação das competências no âmbito do EB, elaboradas no mapa

funcional, se deu no estudo de um problema e a relação com sua solução, a partir da

pergunta: Para que formo? Foram elencadas cinco competências principais, e sua

solução está relacionada com a unidade de competência, que seria a função básica a

ser realizada pelo profissional. No EB as unidades de competências foram identificadas

com base na pergunta: O que é necessário para atingir a competência principal? O

elemento de competência, que é a capacidade do trabalhador de realizar ações, é

identificado com a pergunta: Que ações são necessárias para atingir a unidade de

competência?

Nesta abordagem, é considerado trabalhador competente aquele que consegue

cumprir exitosamente os objetivos definidos pela empresa e produzir os resultados

esperados. Mas a competência do trabalhador só é reconhecida quando relacionada ao

contexto em que foi referenciada a norma, no caso do estudo, quando referenciado no

mapa funcional. Araujo (2001) descreve como as competências nessa abordagem

seriam definidas.

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As competências são definidas, assim, na relação entre os resultados esperados e as habilidades, conhecimentos relevantes e atitudes dos trabalhadores. Através da análise funcional, desagregam-se sucessivamente as funções produtivas complexas até que se encontrem suas formas simples, realizáveis por uma pessoa, consideradas como os elementos de competência e necessárias para que se alcance o propósito principal. Os elementos de competência devem expressar o “ser capaz de” e se estruturar em subconjuntos de elementos de competência denominados unidades de competência, que devem poder ser aprendidos, avaliados e certificados. (ARAUJO, 2001, p.116).

“A partir desse processo de identificação das competências, são construídos os

mapas funcionais, que são a representação gráfica do sistema de produção e sobre o

qual se estruturam os programas formativos” (ARAUJO, 2001, p.117), o que evidencia a

semelhança nas ações adotadas pelo EB na sua metodologia de ensino por

competências. A abordagem funcional é entendida como uma aproximação da

abordagem condutivista por Hyland (1994 apud ARAUJO, 2001) e por Ramos (2001),

guardadas as devidas diferenças.

A abordagem funcional se aproxima da pedagogia condutitvista, quando recomenda a implementação de um sistema de treinamento orientado para alcançar a maior eficiência possível na satisfação das necessidades e demanda da indústria e do mundo do trabalho em geral (HYLAND, 1994 apud ARAUJO, 2001, p. 119-120).

Ramos (2001) apresenta essa similitude quando aborda que as competências

profissionais, que envolvem ações e operações mentais superiores quando são

transcritas para os perfis profissiográficos, se aproximam da concepção condutivista.

[...] quando traduzidas em perfis profissionais, elas acabam descrevendo, na verdade, as atividades requeridas pela natureza do trabalho, aproximando-se mais daquilo que, na análise funcional, denomina-se de elementos de competência. Esses são a descrição de uma realização que deve ser conduzida por uma pessoa no âmbito de sua ocupação. Portanto, referem-se a uma ação, a um comportamento ou a um resultado que o trabalhador deve demonstrar e não aos aspectos cognitivos que orientam a realização das atividades. Em síntese, a tentativa de objetivar competências acaba aproximando-as, mais uma vez, do condutivismo. (RAMOS, 2001, p. s/n).

Essa aproximação entre as concepções funcional e condutivista foi também

percebida por profissionais do EB, durante o processo de construção curricular, mais

especificamente na elaboração dos perfis profissiográficos de cada Arma, Quadro e

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Serviço. Muitos alegavam que já trabalhavam competências, se referindo ao ensino por

objetivos.

3.2.3 Abordagem construtivista e o ensino militar

A abordagem construtivista da competência apresentada por Araujo (2001) tem

base nas concepções de Bertrand Schwartz, pedagogo francês que se propõe a

desenvolver o pensamento complexo7, de Edgar Morin, “que relacione a formação com

o trabalho, o saber com o ser, o homem com seu contexto e as capacidades humanas

com as funções a realizar” (ARAUJO, 2001, p. 123).

B. Schwartz (1976) propõe uma educação que promova uma adaptação ativa dos indivíduos aos ambientes profissionais, sociais e culturais para que, assim, possam melhor cumprir os seus papeis na sociedade. Acredita que tal proposta favoreceria ao desenvolvimento amplo da individualidade humana e ao equilíbrio social. (ARAUJO, 2001, p.123). A premissa básica da pedagogia construtivista voltada para a construção de competências é a reflexão sobre problemas e disfunções presentes nos processos de trabalho, direcionando o processo de ensino-aprendizagem para a correção e inovações necessárias aos mesmos. (ARAUJO, 2001, p.124).

Ramos (2001, p. 98) sinaliza que “a pedagogia das competências em sua versão

contemporânea aporta-se predominantemente no construtivismo piagetiano”, ideia

corroborada por Araujo (2001, p. 22),“o referencial construtivista expressaria a

orientação piagetiana que explica a construção do conhecimento pelo sujeito como

processo ativo a partir das informações que provêm do meio”.

Entendemos que o conceito de construtivismo é polissêmico, portanto optamos

por apresentar um conceito amplo. Pelo fato de o conceito básico do construtivismo

definir a construção do conhecimento pelo sujeito e suas relações com o meio, optamos

por apresentar o conceito descrito por Aranha (2006). A autora aborda o construtivismo

do ponto de vista antropológico e epistemológico.

7 Para Edgar Morin (apud ARAUJO, 2001), o pensamento complexo é um pensamento que relaciona. Em

oposição ao modo de pensar tradicional, que divide o campo dos conhecimentos em disciplinas entrincheiradas e classificadas, o pensamento complexo é apresentado como um modo de religação e

contextualização dos objetos do conhecimento.

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Do ponto de vista antropológico [...] o ser humano tem uma existência histórico-social que determina a maneira de se situar no mundo, por meio de um processo dinâmico que se expressa de modos diferentes no decorrer do tempo. A história é entendida como experiência da pessoa ou do grupo de modo que, ao surgirem fatores novos, as antigas estruturas lógicas se desfazem, para em seguida alcançar nova equilibração.[...] o ser humano se faz e se refaz pela interação social e por sua ação sobre o mundo. Do ponto de vista epistemológico [...] o conhecimento resulta de uma construção contínua, entremeada pela invenção e descoberta. (ARANHA, 2006, p. 275).

No Processo de Transformação do Exército, projeto que propôs o ensino por

competências, foram feitos estudos e reflexões sobre a situação do EB no âmbito da

Nação, nas suas disfunções, e apontando necessidade de correção e inovações, ou

seja, a identificação e reflexão dos problemas vividos pela instituição levaram à

necessidade de transformação. A saber:

Foram colhidos subsídios em um amplo conjunto de fontes: militares da ativa e da reserva, oficiais de nações amigas, civis e especialistas em diversos setores. Experiências anteriores foram estudadas, no Brasil e no exterior, colhidas em muitas horas de estudo, pesquisas, palestras, brainstorm, painéis, debates e seminários. Contou ainda com a contribuição espontânea de um grande número de oficiais de várias Organizações Militares - OM, da ativa e da reserva remunerada. (BRASI, 2010b, p. 2) A economia mundial adquiriu dinâmica sem precedentes, com o apoio das inovações tecnológicas, principalmente na área da informática, ao mesmo tempo em que demonstrou ter incorporado novos elementos de incerteza e instabilidade. A evolução tecnológica, em andamento, impulsionada pelos avanços nas áreas espaciais, nuclear, da biotecnologia, nanotecnologia e robótica, provoca a aceleração dessa dinâmica e o acesso facilitado à tecnologia fez com que as ameaças à paz e à segurança internacionais adquirissem caráter mais contundente. [...] Diante desse quadro, a questão que naturalmente sobrevém está em sabermos se o Exército está em condições de desenvolver as capacidades necessárias para que o País possa fazer valer suas decisões, respaldar a política exterior e atuar de maneira afirmativa em áreas de interesse estratégico. (BRASIL, 2010b, p. 5)

A utilização do construtivismo como forma de identificação de competências é

visto por Ramos (2001) como uma maneira de analisar as disfunções existentes para a

realização de um trabalho e de criar uma espécie de motivação para a aprendizagem,

que leva a superar o distanciamento entre o existente e o requerido. O construtivismo

representa "uma combinação de conhecimentos, [...] experiências e comportamentos

que se exercem em determinado contexto"; significaria a representação do chamado

trio de saberes: saber, saber-fazer e saber-ser que, quando bem combinados, dão

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como resultado "o ser capaz de" (RAMOS, 2001, p. 96). Para Araujo(2001, p. 123),“é o

trabalho entendido como espaço de interação social que promove, impulsiona e gera

aprendizagem para o fazer,no interior do qual se forma e transforma o ser”.

A identificação das competências na abordagem construtivista é vista por Araujo

(2001) como uma necessidade interna da instituição, detectada a partir do

conhecimento não sistematizado que o trabalhador tem do seu trabalho, com

levantamento de hipóteses e problematizações dos saberes necessários para o

desempenho adequado de uma função. Só após a sistematização dessas informações,

podem-se elencar as competências e constituir normas para o programa de formação.

Não mais como “seres „vazios‟ a quem o mundo „encha de conteúdos; não pode

basear-se numa consciência espacializada, mecanicistamente compartimentada, [...] e

na consciência intencionada ao mundo” (FREIRE, 1987, p. 67).

Lucília Regina de Souza Machado (1998), em seu “modelo de competências”,

propõe pressupostos que, no nosso entender, está dentro da abordagem construtivista.

A autora apresenta as ideias básicas desse modelo.

a) A competência é um atributo que só pode ser apreciado se inseparável da ação desenvolvida dentro de uma dada situação; b) A competência tem a ver com a consciência dos indivíduos sobre suas responsabilidades pessoais quanto ao seu desempenho profissional; c) O “saber-ser” do indivíduo - sua subjetividade - é a base sobre a qual se apoiaria os demais saberes: o “saber-aprender”, o “saber-fazer” e o “saber-conviver”; d) O saber é uma qualidade atribuída ao sujeito, não se refere ao que foi condensado por conteúdos específicos; e) O decisivo na avaliação da competência é a mobilização do sujeito, a dinâmica que caracteriza seu modo de intervenção, o modo como articula a dimensão conceitual de saberes implicados na sua atividade (MACHADO, 1998, p. 83).

Entendemos que a característica mais marcante da abordagem construtivista é o

protagonismo dos trabalhadores, no caso em estudo, dos militares que confeccionaram

o modelo de ensino por competências no EB, dos professores e dos alunos que

desenvolvem esse modelo, com a intencionalidade em uma educação

problematizadora, que “identifica-se com o próprio da consciência que é sempre ser

consciência de, não apenas quando se intenciona a objetos, mas também quando se

volta sobre si mesma [...]”, (FREIRE, 1987, p. 67). Mas, como alerta Paulo Freire, a

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consciência transitiva ingênua não se transforma em consciência crítica

automaticamente, é preciso passar por um processo de conscientização.

Se uma comunidade sofre mudanças [...], a consciência se promove e se transforma em transitiva. Num primeiro momento é ingênua. Em geral parte é mágica. Este passo é automático, mas o passo para a consciência crítica não. Somente se dá com um processo educativo de conscientização. Este passo exige um trabalho de promoção e critização. (FREIRE, 1979, p. 21).

3.2.4 Relação entre as abordagens metodológicas, o ensino militar e a

transitividade da consciência

Relacionando as abordagens sobre o desenvolvimento de competências,

condutivista, funcional e construtivista, com a passagem do ensino por objetivos para o

ensino por competências no EB, é possível fazermos um paralelo com a transição de

uma consciência ingênua para uma consciência crítica descrita nas obras de Paulo

Freire, Educação como prática de liberdade, Educação e mudança, Pedagogia do

oprimido e ao questionamento da educação bancária com vista a implementar uma

educação problematizadora. Vemos esta possibilidade pela especificidade da instituição

Exército Brasileiro e de seu modelo de competências, que cremos ter pressupostos na

abordagem funcional, como já foi descrito, e na abordagem construtivista, também já

abordada.

Entendemos que com a adoção do ensino por competências em substituição ao

ensino por objetivos, o EB tenta passar de uma situação de educação para o homem-

objeto para a educação do homem-sujeito. Mas, como Paulo Freire (1967) trata em seu

livro A educação como prática da liberdade, não há como passar de consciência

transitiva ingênua para a consciência crítica sem uma intencionalidade. Por isso, como

já mencionado, ouvimos8 durante as reuniões de apresentação da metodologia do

ensino por competências, que eles, os professores, já faziam isso, que não era nada

novo. Tal discurso não é uma inverdade, realmente já faziam, mas não tinham a

8A pesquisadora, como adjunta à Seção de Acompanhamento Pedagógico da EsPCEx, durante as

reuniões pedagógicas com os professores da Escola sobre a implantação do ensino por competências, ouvia de muitos professores que eles já trabalhavam de acordo com essa metodologia, identificavam

suas ações nesse contexto.

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consciência da intencionalidade, talvez o fizessem intuitivamente, como condição

ontológica de ser.

Entendemos que a visão da criação de linha de ensino que possibilitasse

autonomia, criatividade, flexibilidade a um soldado diante do novo só é possível com a

consciência de ser sujeito no mundo. Como ser soldado e ter autonomia?

É por isso que no início da implantação houve vários protestos dos cadetes da

AMAN, se referindo ao ensino por competências como ensino de Atenas, e ao sistema

de ensino por objetivos como a escola de Esparta. Paulo Freire faz menção a essas

duas escolas, sendo a existência do diálogo a diferença entre elas.

Esparta não se compara a Atenas, e Toynbee adverte-nos da inexistência do diálogo naquela e da disponibilidade permanente da segunda à discussão e ao debate das idéias. A primeira, “fechada”. A segunda, “aberta”. A primeira, rígida. A segunda, plástica, inclinada ao novo (FREIRE, 1967, p. 42).

Instituições totais como as Forças Armadas realizam o processo de socialização

secundária por que passam seus novos integrantes. Esse processo tem como objetivo

a mortificação do eu, em que a individualidade é desconstruída para se formar o senso

de coletividade “necessário” para a formação do combatente. Notamos contradição com

um ensino que promove a busca por um ser autônomo; de um sentido de agência do

sujeito no processo educacional, com a mortificação do eu presente em processos nas

instituições totais.

Guiliana Franco Leal (2013) trata dessa contradição existente em um estudo na

Academia da Força Aérea, onde aponta situação semelhante. Cremos ser possível

essa situação ser translocada para a pesquisa em questão. Pois, tal como a Força

Aérea, o EB também tem um programa de liderança que proporciona aos cadetes dos

últimos anos o exercício de liderança, com gradual grau de autonomia.

O ensino por competências foi “pensado” como alternativa à solução às

incertezas vindouras. A guerra de quarta geração requer um combatente com formação

diferente do que anteriormente havia.

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A condução das guerras de quarta geração e, por conseguinte, dos conflitos assimétricos, parece impor novas exigências que vão muito além da forma como as forças militares combatem, seja na técnica ou na logística, mas sim como elas se comportam no pré e pós-batalha dentro de um teatro de operações. O impacto não se resume à ação bélica em si, mas também se dá sob a vertente cultural, se fazendo sentir nas fases de abordagem, invasão e ocupação, até a pacificação, interagindo com sociedades e organizações – governamentais ou não – possuindo culturas e códigos sociais bastante diversos. Na conjuntura desta nova modalidade de conflitos armados, trata-se de resolver situações sociais e culturais complexas em um ambiente hostil, as quais requerem uma preparação e métodos de execução diferentes dos que tradicionalmente têm sido empregados. (BRASIL, 2010, p. 22)

Pensamos que, como uma sociedade em uma fase de transição, com mudanças

apontando no horizonte sob o céu da noite de ontem, o Exército Brasileiro implanta em

suas escolas de formação o ensino por competências, mas ainda com o alongamento

do ensino por objetivos e adentramento do ensino por competências, conforme dito por

Freire (1967, p. 48), “é que o momento do trânsito pertence muito mais ao amanhã, ao

novo tempo que anuncia, do que ao velho. E que ele tem algo nele que não é dele,

enquanto não pode ser do amanhã”.

3.3 CURRÍCULO

Para Tomaz Tadeu da Silva (2014, p. 22), os primeiros trabalhos sobre o que

entendemos por currículo surgiram nos Estados Unidos, com o livro de Bobbitt The

curriculum, em 1918, momento em que o país buscava respostas para “questões

cruciais sobre a finalidade e contornos da escolarização de massa”. Bobbitt (1918 apud

SILVA 2014) propunha que a escola funcionasse como uma empresa e, como tal, o

sistema educacional fosse capaz de “especificar, precisamente, que resultados

pretendia obter, que pudesse estabelecer métodos para obtê-los de forma precisa e

formas de mensurar que permitissem saber com precisão se eles foram realmente

alcançados”. O sistema educacional deveria começar por estabelecer de forma precisa

quais são seus objetivos. O modelo de currículo de Bobbitt constituiu base para a

elaboração dos princípios básicos de currículo de Ralph Tyler (1975).

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A base racional aqui desenvolvida começa por identificar quatro questões fundamentais que devem ser respondidas quando se desenvolve qualquer currículo e plano de ensino. Ei-las aqui: 1. Que objetivos educacionais deve a escola procurar atingir? 2. Que experiências educacionais podem ser oferecidas que tenham a

probabilidade de alcançar esses propósitos? 3. Como organizar eficientemente essas experiências educacionais? 4. Como podemos ter certeza de que esses objetivos estão sendo

alcançados? (TYLER,1975, p.1).

Concordamos com Silva (2014, p. 25), que as respostas para as questões

fundamentais de Tyler constituem o currículo por objetivos, que na pesquisa em

questão corresponde ao “ensino por objetivos”. “As quatro perguntas de Tyler

correspondem à divisão tradicional da atividade educacional: “currículo (1), “ensino e

instrução” (2 e 3) e “avaliação” (4). Porém, entendemos que Tyler (1975, p. 3)

contempla essas questões na caracterização dos objetivos educacionais, ou seja, na

primeira questão, “[...] esses objetivos educacionais tornam-se os critérios pelos quais

são selecionados materiais, se esboça no conteúdo, se desenvolvem procedimentos de

ensino e se preparam testes e exames”.

Na documentação curricular da Escola Preparatória de Cadetes do Exército, que

é definida pela IREC, o Art. 4º define currículo e o Art. 5º regula e conceitua a

documentação curricular. No Artigo 4º “currículo é um conjunto de experiências de

ensino espontâneas ou intencionais que permeiam os contextos educativos”, (BRASIL,

2014a, p.5). O termo “experiências de ensino espontâneas” é entendido pelo EB e

descrito em suas normas como realidade plural do currículo, ou seja, existem vários

tipos de currículos presentes na prática educacional, como o currículo prescrito em que

constam diretrizes, normas e determinações dos órgãos gestores do ensino; o currículo

percebido pelos docentes que é o currículo prescrito e interpretado pelos docentes a

partir de suas concepções de ensino-aprendizagem, compreensões pessoais dos

conteúdos, das normas disciplinares e das suas percepções sobre as práticas de

ensino; o currículo em ação, como o percebido pelos discentes com interações e trocas

entre eles e os docentes; o currículo oculto é aquele em ação acrescido de resultados

não intencionais do currículo prescrito, e o currículo avaliado que é o retrato do

currículo obtido após sua aplicação.

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Currículo oculto entendido com ações não explicitadas nos planos e propostas,

mas presentes em toda a relação entre sujeitos, como seres de relação e não de

contatos, “o homem está no mundo e com o mundo. Se apenas estivesse no mundo

não haveria transcendência, nem se objetivaria a si mesmo. Mas como pode objetivar-

se, pode também distinguir entre um eu e um- não –eu” (FREIRE, 1979, p.15).

Para Moreira e Candau, (2007):

Trata-se do chamado currículo oculto, que envolve, dominantemente, atitudes e valores transmitidos, subliminarmente, pelas relações sociais e pelas rotinas do cotidiano escolar. Fazem parte do currículo oculto, assim, rituais e práticas, relações hierárquicas, regras e procedimentos, modos de organizar o espaço e o tempo na escola, modos de distribuir os alunos por grupamentos e turmas, mensagens implícitas nas falas dos (as) professores (as) e nos livros didáticos. (MOREIRA; CANDAU, 2007, p. 18). Grifo dos autores.

Na história do currículo, Alice Ribeiro Casimiro Lopes (2008) situa três grandes

matrizes do pensamento educacional clássico sobre organização curricular: currículo

por competências, currículo centrado nas disciplinas de referência e currículo centrado

nas disciplinas ou matérias escolares. Destaca também as preocupações com a

integração curricular, segundo finalidades sociais e princípios teóricos distintos. “Na

organização curricular por competências, a integração se desenvolve no contexto de

aplicação de um saber-fazer”(LOPES, 2008, p. 65).

Na primeira matriz (competency curriculum), a concepção de objetivos comportamentais, desenvolvida por Mager e Popham a partir dos trabalhos de Tyler, é substituída pela idéia de competência, concebida não apenas como um dos conteúdos formativos – junto com valores, visões de mundo, saberes –, mas como um princípio de organização curricular. Com base nesse entendimento, afirma-se a sintonia entre o currículo por competências e as teorias curriculares da eficiência social. (LOPES, 2008, p. 63)

Considerando suas dimensões, aspectos históricos, culturais, políticos,

filosóficos e religiosos que provêm da sociedade e educação brasileira, de tradições

educativas específicas do ensino militar, o conceito de currículo que mais se aproxima

do EB é o de Sacristán (1995).

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O currículo tem que ser entendido como a cultura real que surge de uma série de processos, mais que como um objeto delimitado e estático que se pode planejar e depois implantar; aquilo que é, na realidade, a cultura nas salas de aula, fica configurado em uma série de processos: as decisões prévias acerca do que se vai fazer no ensino, as tarefas acadêmicas reais que são desenvolvidas, a forma como a vida interna das salas de aula e os conteúdos de ensino se vinculam com o mundo exterior, as relações grupais, o uso e o aproveitamento de materiais, as práticas de avaliação etc. (SACRISTÁN, 1995, p.86-87).

O artigo 5º da IREC regula e conceitua a documentação curricular dos cursos e

estágios, como a legislação de normatização; o Perfil Profissiográfico, que determina as

características profissionais, descreve a atividade laboral e com base no mapa funcional

discrimina as competências a serem desenvolvidas pelos concludentes dos cursos; o

Plano de Disciplina (PLADIS), que enfoca as atividades pedagógicas no âmbito de uma

disciplina, estabelece os conteúdos e assuntos, procedimentos didáticos, padrões de

desempenho, objetivos de ensino e cargas horárias; o Plano Integrado de Disciplinas –

PLANID, documento de planejamento pedagógico que engloba as atividades

pedagógicas no âmbito de um conjunto de disciplinas e o Quadro Geral de Atividades

Escolares (QGAEs) que compõe a estrutura e organização das atividades escolares do

curso.

As Normas para Construção de Currículo (NCC) e a IREC se complementam na

orientação para elaboração da documentação curricular. Os artigos 4º, 5º e 6º da NCC

descrevem as etapas para elaboração do mapa funcional, com as competências

principais, unidades de competências e elementos de competências.

Art. 5º Na estrutura do mapa funcional, as competências inerentes a um curso ou estágio aparecem decompostas em: I -competências principais (CP) -macro competências que englobam e determinam as unidades de competências (UC) e os elementos de competências (EC). São a expressão das atribuições fundamentais a serem desempenhadas pelo concludente do curso ou estágio; II -unidades de competências (UC) -competências de caráter intermediário, determinadas pela decomposição das CP e que determinam, por sua vez, os EC; e III -elementos de competências (EC) -micro competências que desencadeiam a elaboração do Plano Integrado de Disciplinas (PLANID) e do Plano de Disciplinas (PLADIS). São ações elaboradas pela decomposição das UC. (BRASIL, 2014b, p. 7).

As etapas de elaboração do Perfil Profissiográfico estão descritas nos artigos 7º

ao 14º da NCC. Os artigos 15º e 16º versam sobre a determinação das disciplinas do

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curso. A interdisciplinaridade e a construção de módulos de ensino são discutidas nos

artigos 17º ao 19º. No artigo 20º é discriminada a natureza das disciplinas, como

Disciplinas de Fundamentação e Disciplinas de Instrumentalização, com maior

detalhamento nos incisos do artigo.

§ 1º As Disciplinas de Fundamentação destinam-se ao esclarecimento dos aspectos fundamentais e da natureza da instituição, bem como da atividade profissional militar. Em virtude das características supracitadas, os conteúdos destas disciplinas não possuem ligação com as atividades laborais, descritas por intermédio do EC. Por conta deste fato, os referidos conteúdos serão estabelecidos com base nas UC e/ou nas CP. § 2º As Disciplinas de Instrumentalização destinam-se ao desenvolvimento de valores, atitudes, capacidades cognitivas, morais, físicas e motoras. Neste caso, os conteúdos são estabelecidos com base no eixo transversal. § 3º Os Estb Ens estabelecerão, por ocasião da escolha das disciplinas, as que consideram de natureza de fundamentação e de natureza de instrumentalização. (BRASIL, 2014b, p.10).

As disciplinas ditas acadêmicas, como Cálculo I, Cibernética I, Física Aplicada,

História do Brasil, Língua Espanhola I, Língua Inglesa I, Língua Portuguesa e Química

Aplicada I são classificadas na sua maioria como Disciplinas de Instrumentalização. As

disciplinas profissionais, e comumente denominadas de Instruções Militares, a saber,

Introdução às Técnicas Militares, Técnicas Militares I e II, Treinamento Físico Militar I, II

e III são disciplinas que compreendem orientações técnicas descritas na sua maioria

por Manuais de Instrução. Este estudo tem seu foco no ensino por competências

desenvolvido nas disciplinas acadêmicas, por entendermos que as disciplinas

profissionais são ministradas por instrutores que não possuem, na sua grande maioria,

formação pedagógica.

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3.4 AVALIAÇÕES OU EXAMES?

Para Cipriano Luckesi (2003, p. 11), ainda praticamos exames ao invés de

avaliação, “na escola brasileira, pública ou particular, do ensino fundamental, médio ou

superior, praticamos exames escolares, ao invés de avaliação da aprendizagem”. O

autor relata que, apesar de historicamente mudar-se a denominação de exame para

avaliação das práticas escolares, as ações cultivam a “cultura do exame” em todos os

níveis, desde a educação básica até as práticas avaliativas nacionais, como o Exame

Nacional de Curso e o Exame Nacional do Ensino Médio. Relata ainda que esses

modelos de avaliação ranqueiam as instituições e os alunos, que a tradição dos

exames escolares foi sistematizada em nossa educação, no ensino praticado pelos

jesuítas, passando por Comênio, nos séculos XVI e XVII, que passados quatrocentos

anos ainda gerimos nossas práticas pedagógicas com base no modelo burguês de

educação. Luckesi (2003) faz também uma comparação entre as características do

exame e da avaliação.

Os exames escolares [...] tem por objetivo julgar e, consequentemente, aprovar ou reprovar o estudante [...] são pontuais, na medida em que o estudante deve saber responder às questões, aqui e agora, no momento das provas ou dos testes; [...] são classificatórios. Todo exame classifica, minimamente, em aprovado ou reprovado; no máximo, estabelece uma escala de valores, [...] são seletivos, na medida em que excluem os que “não sabem” [...] são estáticos, enquanto classificam o estudante num determinado nível de aprendizagem [...] são antidemocráticos. Na medida em que os exames excluem educandos [...] dão fundamento a uma prática pedagógica autoritária. Com os exames, o sistema de ensino e o educador têm em suas mãos um instrumento de poder [...] (LUCKESI, 2003, p. 11-13). Grifos do autor. A avaliação da aprendizagem [...] tem por objetivo diagnosticar a situação de aprendizagem do educando, tendo em vista subsidiar a tomada de decisões para melhoria da qualidade do desempenho; é diagnóstica e processual, ao admitir que, aqui e agora, este educando não possui um determinado conhecimento ou habilidade, mas, depois, se ele for cuidado, poderá apresentar o conhecimento ou a habilidade esperada. [...] é dinâmica, ou seja, não classifica o educando em um determinado nível de aprendizagem, mas diagnostica a situação para melhorá-la a partir de novas decisões pedagógicas; [...] é inclusiva, na medida em que não seleciona os educandos melhores dos piores, [...] decorrente do fato de ser inclusiva é democrática, devido incluir todos. A prática avaliativa da escola está a serviço de todos, [...] e, por isso exige uma prática pedagógica dialógica entre educadores e educandos, tendo em vista estabelecer uma aliança negociada, um pacto de trabalho construtivo entre todos os sujeitos da prática educativa. (LUCKESI, 2003, p. 13-14). Grifos do autor.

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Nessa comparação feita por Luckesi (2003), conseguimos tecer relações com as

práticas avaliativas previstas no EB e com as lições de Paulo Freire, em Pedagogia do

oprimido. Como já foi apresentado anteriormente, o EB possui normas e orientações

para práticas educacionais que regulam o ensino, como NAA, NIAA e a IREC. Sobre

sistema de avaliação, Menga Ludke (1986, p.44) aponta-nos a perspectiva sociológica

da avaliação, refletida nas suas práticas avaliativas, “ela reflete diretamente os valores

pregados pelo grupo social ao qual a educação serve. Se quisermos saber o que

determinada sociedade valoriza, basta observarmos seu sistema de avaliação”.

Para De Landsheere (1976) a avaliação apresenta três papéis, o prognóstico, o

de apreciação e o diagnóstico, que podemos relacioná-los como as modalidades de

diagnósticas, formativas e somativas presentes nas normas sobre avaliação do EB. O

papel prognóstico da avaliação por De Landsheere (1976, p. 15) é representado pela

pergunta “será o aluno provido de qualidades intelectuais e caracteriais9 dos

conhecimentos necessários para abordar uma matéria nova ou um novo ciclo de

estudos superiores? [...]”, o que se aproxima da avaliação diagnóstica preconizada pelo

EB, “que tem por objetivo diagnosticar os níveis em que se encontram os discentes em

relação às capacidades a serem trabalhadas e à aprendizagem dos conteúdos

(BRASIL, 2014, p.6).” Comparando o papel de apreciação ou de inventário com a

avaliação somativa presente nas normas do EB, a similitude está nos momentos de

controle de aquisição, de posição relativa em relação ao grupo e a sua progressão. A

saber:

Um papel de apreciação: a) controle das aquisições; b)avaliação do progresso, no caso de se comparar o aluno asi mesmo; c) situação do aluno num momento dado: Na sua turma ou grupo de trabalho? No conjunto das turmas paralelas duma mesma escola? Em conjuntos mais vastos: cidade, concelho

10, província, nação?

Não se trata forçosamente de proceder a um exame ou um concurso, mas de fazer o apuramento, de determinar a posição relativa. (DE LANDSHEERE, 1976, p.15). Avaliação somativa é a modalidade de avaliação que visa verificar os resultados da aprendizagem dos conteúdos e competências trabalhadas, sendo feita ao

9Qualidades caracteriais são referentes ao caráter, significado em português de Portugal.

10Concelho corresponde divisão administrativa imediatamente inferior à categoria de distrito.

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final de uma disciplina, módulo e/ou curso, expressando o rendimento do discente por intermédio de um código que pode ser numérico ou conceitual. (BRASIL, 2014c, p. 7).

A avaliação no papel de diagnóstico, segundo as indagações de De Landsheere

(1976, p. 15), “porque é que não se obteve uma aprendizagem perfeita? Quais as

matérias ou técnicas que o estudante domina insuficientemente, quais os processos

mentais em causa?”, faz-se semelhante à avaliação formativa no EB, com ênfase no

processo, “que realiza o acompanhamento do processo ensino-aprendizagem, visando

a caracterizar como os discentes desenvolveram a aprendizagem” (BRASIL, 2014c, p.

7). Notamos nessa comparação conceitos diferentes para ações semelhantes.

3.4.1 Normas, instruções e modalidades de avaliação no EB

As Normas para Avaliação da Aprendizagem – NAA, 2ª edição, (NAA- EB60- N-

06.004) foram aprovadas pela Portaria Nº 144 – DECEx, de 27 de novembro de 2014,

com abrangência em todo o EB e têm como finalidade:

Art. 1º Estas Normas destinam-se aos cursos e estágios gerais das Linhas de Ensino Militar Bélico, Complementar e de Saúde, e têm as seguintes finalidades: I - completar e detalhar as Instruções Reguladoras do Ensino por Competências – 2ª Edição (IREC – EB60-IR-05.008); e II - estabelecer as regras, metodologias e ferramentas relacionadas à avaliação da aprendizagem (BRASIL. NAA, 2014c, p. 6).

O estabelecimento de regras, de metodologia e de ferramentas relacionadas à

avaliação da aprendizagem é detalhado por normas internas de cada estabelecimento

de ensino, as Normas Internas de Avaliação da Aprendizagem – NIAA. Tanto a NAA

como a NIAA apresentam modalidades de avaliação que, aproximadas da fala de

Luckesi (2003), se assemelham a exames e avaliações. As avaliações somativas

apresentam as características do exame, e as avaliações formativas e diagnósticas têm

similitude com as avaliações da aprendizagem defendida pelo autor. A NAA apresenta

modalidades de avaliação para todo o EB, a saber:

Art. 2º Existem três modalidades de avaliação da aprendizagem: diagnóstica, formativa e somativa. [...]

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Art. 3º A avaliação diagnóstica (AD) é a modalidade de avaliação que tem por objetivo diagnosticar os níveis em que se encontram os discentes em relação às capacidades a serem trabalhadas e à aprendizagem dos conteúdos. § 1º A AD deve gerar ações imediatas, como: indicações de leitura, estudos dirigidos, programas educacionais informatizados de estágios intensivos e de aconselhamento; acompanhamento individual, médico ou físico; identificação de discentes que necessitem de tratamento ou de orientações pedagógicas específicas. [...] Art. 4º A avaliação formativa (AF) é a modalidade de avaliação que realiza o acompanhamento do processo ensino-aprendizagem, visando a caracterizar como os discentes desenvolvem a aprendizagem ao longo de uma disciplina ou módulo. Parágrafo único. A AF: [...] II - não resulta em ações de certificação, com o intuito de aprovação e/ou promoção dos discentes e, por conseguinte, não deverá receber atribuição de grau que entre no cômputo da nota do discente; III - é contínua, e descreve como está se processando a aprendizagem, propiciando mudanças de rumos para o discente e para o docente quando o resultado esperado não for atingido; IV - visa ao aperfeiçoamento da aprendizagem do discente. Por isso, deve gerar ações para incrementar as aprendizagens e a correção dos erros que foram cometidos pelo discente; V - implica: a) em retroalimentação, na qual docente e discente dialogam sobre as observações realizadas durante o processo ensino-aprendizagem; e b) na necessidade de propor uma diversidade de atividades que levem o discente à superação de suas dificuldades. VI - deve ter caráter construtivo, visando orientar o docente/discente a atingir os objetivos educacionais propostos em qualquer momento do processo de aprendizagem; VII - deve estimular o discente a prosseguir nos seus esforços, refletir sobre sua aprendizagem e monitorar o seu próprio desenvolvimento; e VIII - coleta informações que poderão ser utilizadas nos trabalhos dos conselhos de ensino (C Ens). (BRASIL, 2014c, p. 6 - 8) Grifos nossos

As modalidades de avaliação presentes na NAA compreendem avaliações que

acontecem ao longo do processo ensino-aprendizagem, como a avaliação diagnóstica

(AD) e a avaliação formativa (AF), e apresentam as características apontadas por

Luckesi (2003) como: diagnosticar níveis; gerações corretivas; são processuais; não

resultam em classificação; não são pontuais; são dinâmicas e dialógicas. Mas, também,

apresentam a denominada avaliação somativa (AS), os “exames” que ocorrem ao final

de cada curso, disciplina ou módulo. Essas avaliações são classificadas em Avaliação

de Controle (AC), Avaliação de Acompanhamento (AA) e Avaliação de Recuperação

(AR), todas com características de exame descrito por Luckesi (2003), destacadas,

abaixo, por grifos da pesquisadora.

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Art. 5º A avaliação somativa (AS) é a modalidade de avaliação que visa verificar os resultados da aprendizagem dos conteúdos e competências trabalhadas, sendo feita ao final de uma disciplina, módulo e/ou curso, expressando o rendimento do discente por intermédio de um código que pode ser numérico ou conceitual. [...] § 3º As AS podem ser classificadas da seguinte maneira: I - avaliação de controle (AC): realizada ao término de um bloco de aprendizagens afins, consideradas relevantes, no âmbito de uma disciplina específica; II - avaliação de acompanhamento (AA): realizada ao longo de uma disciplina específica; III - avaliação de recuperação (AR): aplicada após a AC nos discentes que apresentarem resultados de aprendizagem considerados insatisfatórios; [...].(BRASIL, 2014c, p. 6 - 8). Grifo nosso.

A Escola Preparatória de Cadetes do Exército, instituição pesquisada, propaga

nas suas NIAA as modalidades de avaliação educacional adotadas, com descrição de

seus objetivos e instrumentos. A avaliação diagnóstica (AD) e a avaliação formativa

(AF) foram suprimidas da citação por serem semelhantes às previstas nas NAA. Já a

avaliação somativa (AS), que é composta pela avaliação de controle (AC) e pela

avaliação de acompanhamento (AA), apresenta particularidades do estabelecimento de

ensino, como seu caráter classificatório, e o fornecimento de subsídios - notas e

conceitos - que acompanharão o cadete ao longo do curso e comporão a Nota de Final

de Curso (NFC) juntamente com a Nota de Competência Atitudinal, que não faz parte

do objeto de pesquisa. O cálculo destas notas gerará um conceito que classificará o

militar. Essa classificação é hierárquica e meritocrática, oportuniza e conduz a escolha

da especialidade militar - a escolha da Arma -, as localidades onde o militar vai

trabalhar/servir, os cursos que poderá fazer e a progressão funcional.

A EsPCEx adota as modalidades de avaliação abaixo. a.Avaliação Diagnóstica (AD) [...] b.Avaliação Formativa (AF) [...] c.Avaliação Somativa (AS) − Destina-se a verificar de forma quantitativa e qualitativa o nível em que os objetivos de ensino foram alcançados durante o curso. No caso da EsPCEx, os seus resultados são expressos por notas e tem por finalidades: 1)verificar o alcance de objetivos que envolvam habilidades com maior nível de complexidade; 2) fornecer subsídios para a habilitação a prosseguimento para a AMAN; 3) conceder diplomas e certificados; e 4) selecionar ou classificar os discentes.

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[...] A Avaliação de Controle (AC) é realizada ao término de cada semestre no âmbito de uma disciplina especifica. A AC será elaborada em conformidade com os conteúdos/assuntos previstos no PLADIS para serem avaliados, em consonância com o padrão de desempenho. A AC poderá utilizar as seguintes ferramentas de avaliação: prova formal, ensaio, projeto de pesquisa, relatório de pesquisa, situação-problema e fichamento cruzado; A Avaliação de Acompanhamento (AA) é realizada ao longo de uma disciplina específica. Recomenda-se que uma AA seja aplicada após a execução de, no mínimo, 20 tempos de aula/instrução, referentes à carga horária total prevista no PLADIS de uma disciplina. [...] (BRASIL, 2015b, p.17-18). Grifos nossos.

A avaliação de controle (AC) tem seu planejamento, montagem e correção

previstos e padronizados pelas NIAA, restando ao professor pouca flexibilidade na

confecção da prova. Já a avaliação de acompanhamento (AA), apesar de conter

recomendações nas NIAA, permite maior autonomia ao professor sobre os critérios

técnicos de montagem e de aplicação. A avaliação de recuperação (AR) é realizada

pelos discentes que não obtiverem nota final nas disciplinas igual ou superior a 5,000

(três casas decimais). Apesar de as NIAA terem como base as NAA, notamos uma

incoerência quanto ao objeto de avaliação. No artigo 5º nas NAA consta que a

avaliação visa verificar os resultados da aprendizagem dos conteúdos e competências

trabalhados, e nas NIAA a avaliação somativa destina-se a verificar de forma

quantitativa e qualitativa o nível em que os objetivos de ensino foram alcançados

durante o curso.

Quanto às lições de Paulo Freire, a “cultura do exame” de que fala Luckesi

(2003, p. 13) tem como consequência a reprovação, a exclusão, a reprodução do

conhecimento de forma mecânica oriunda de uma educação bancária, a prática

pedagógica autoritária, “com os exames, o sistema de ensino e o educador têm em

suas mãos um instrumento de poder, cuja autoridade pode ser exacerbada em

autoritarismo”, notamos a sombra do opressor no educador, que para Freire (1987, p.

58) “aliena a ignorância, se mantém em posições fixas, invariáveis. Será sempre o que

sabe, enquanto os educandos serão sempre os que não sabem. A rigidez destas

posições nega a educação e o conhecimento como processos de busca”.

Esta confusão conceitual de avaliação que percebemos nas normas orientadoras

do EB também se faz presente na literatura sobre o tema. Luckesi (2003) diz se tratar

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de um equívoco causado pelo termo “avaliação da aprendizagem”, cunhado por Ralph

Tyler, em 1930, que caracterizava o ato de diagnosticar o andamento da aprendizagem

do educando, visando à eficiência. A partir daí, vários procedimentos que visavam à

verificação da aprendizagem, os exames, passaram a ser denominados de avaliação.

Ralph Tyler (1975, p. 99-100) considera a avaliação como componente

importante no desenvolvimento curricular, capaz de determinar se os objetivos

educacionais traduzidos em mudanças de comportamento nos seres humanos foram

alcançados. “A avaliação é um processo mediante o qual se determina o grau em que

essas mudanças de comportamento estão realmente ocorrendo”. O autor também

propõe que sejam feitas essas constatações em diferentes momentos do processo de

ensino-aprendizagem. Uma no início para se verificar o estágio de desenvolvimento

comportamental dos estudantes, outra para posterior comparação e constatação de

mudança de comportamento, e uma terceira no final do programa de ensino, “a fim de

obterem novos dados quanto à permanência ou impermanência das aprendizagens que

possam ter sido adquiridas durante o tempo que esses jovens passaram na escola”.

Notamos semelhanças dessa ação com as avaliações institucionais realizadas ao final

dos cursos, como, por exemplo, o ENADE.

Tyler (1975, p. 100-101) reconhece que os testes de “lápis e papel” oferecem

evidências sobre várias mudanças de comportamento nos estudantes, “muitas pessoas

consideram a avaliação como sinônimo de testes com lápis e papel”, mas que não são

únicos. Para o autor a observação de situações de relações sociais dos estudantes; o

uso de entrevistas; de questionários; de redações; de pinturas; os hábitos alimentares e

outros são procedimentos avaliativos, ou seja, “qualquer meio de obter dados sobre as

espécies de comportamento representadas pelos objetivos educacionais da escola ou

faculdade é um procedimento apropriado de avaliação”. Apesar de propor diversos

momentos e modos de avaliar, Tyler (1975, p. 104) trata a avaliação como respostas a

estímulos impostos, “devemos encontrar situações que não só permitam a expressão

do comportamento, mas também o encorajem ou evoquem”.

A distinção entre avaliação somativa e formativa foi elaborada por Scriven, que,

segundo Débora Alfaia da Cunha (2010), adotou o critério de decisão como elemento

fundamental para a melhoria das práticas avaliativas e administrativas, ou seja, a

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somativa ao final do processo, como produto, e a formativa durante o processo de

ensino-aprendizagem.

[...] criando a famosa distinção entre avaliação somativa, realizada ao final de um percurso para aferir seu resultado, como a proposta por Tyler, e a formativa, que se realiza ao longo do processo e utiliza as informações avaliativas para a tomada de decisão. Sendo limitado ao aspecto somativo, como ocorre na perspectiva criterial, a avaliação é estática e finalista, se interessando pelos resultados e produtos de um processo que controla de fora, e por isso que supervisiona. Quando formativa, a avaliação assume um caráter dinâmico e solidário ao processo de ensino-aprendizagem como um todo, atribuindo valor não apenas aos resultados, mas a todas as etapas da dinâmica educativa. (CUNHA, 2010, p. 112).

Para Hoffmann (1998, p.18), os professores, ao realizarem o acompanhamento

do desenvolvimento dos alunos e buscarem superar as suas dificuldades, estão

praticando a ação de avaliar de forma efetiva na sua prática educativa, “um processo

interativo, através do qual educandos e educadores aprendem sobre si mesmo e sobre

a realidade escolar no ato próprio da avaliação”. Consideramos que essa forma de

avaliação configura-se como possibilidade de superação da contradição entre o

educador e os educandos, conforme proposta por Freire na educação

problematizadora. Em outro momento, Jussara Hoffmann (2008, p.129) fala da

concepção mediadora do processo avaliativo, que tem como pressupostos o

acompanhamento da evolução dos alunos; o replanejamento de ações educativas que

favoreçam melhores oportunidades significativas de aprendizagem; a elevação da

potencialidade cognitiva dos alunos e a proposta de desafios adequados.

A autora menciona a confusão existente sobre a avaliação formativa entendida

em seus primórdios no Brasil, e sua relação com avaliação mediadora, “é preciso dizer

que a perspectiva mediadora tem por fundamentos princípios da avaliação contínua,

formativa”. A saber.

Quando surgiram no Brasil os primeiros estudos em avaliação formativa, uma falsa crença se desenvolveu: que ao se observar os alunos todo o dia, continuadamente, ao longo do processo ou, com a aplicação de tarefas parciais e não de provas finais, estar-se-ia praticando a avaliação formativa - um sério equívoco que persiste. [...] A denominação formativa vem muitas vezes atrelada a processos que são, na verdade, classificatórios e somativos (caráter terminal/sentencioso). (HOFFMANN, 2008, p. 102)

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Jussara Hoffmann (1998, p. 15) também fala em equívoco e contradições dos

professores com o “fenômeno avaliação”. Considera-o indefinido e resultado das

concepções e representações que os sujeitos envolvidos têm sobre o tema, “a

concepção de avaliação que marca a trajetória de alunos e educadores, até então, é a

que define essa ação como julgamento de valor dos resultados alcançados”.

Nos equívocos e contradições que se estabelecem em torno dessa prática, a decorrência é a dicotomia educação e avaliação. A parafernália de mitos e representações contribui para essa dicotomia. Os educadores percebem a ação de educar e a ação de avaliar como dois momentos distintos e não relacionados. E exercem essas ações, de forma diferenciada. (HOFFMANN, 1998, p. 16)

Domingues Fernandes (2008) atribui a essa pouca clareza do tema a escassez

de trabalhos sobre a “avaliação do que os alunos sabem”, que é justificada pelo

pesquisador português por, pelo menos, quatro razões. Para o autor uma das

dificuldades é a complexidade do tema e uma rede diversificada de atributos.

De facto, numa teoria da chamada avaliação dos alunos, é preciso ter em conta teorias curriculares e das aprendizagens e outros contributos que vão desde as perspectivas sociológicas, psicológicas, antropológicas e filosóficas, até às que se relacionam com a comunicação, a ética e a política. (FERNANDES, 2008, p.349).

Esses “edifícios teóricos” são acrescidos por novos constructos, “cada um deles

com um contributo mais importante do que o anterior, tornando as coisas praticamente

insustentáveis” (FERNANDES, 2008 p. 350), porém não impedem que o pesquisador

formule juízos do que é essencial, acessório e inútil. Outra razão está relacionada com

o fato de que nessa área a teoria se consolida na prática, porém de maneira implícita.

[...] a teoria se vai construindo através da interacção11

com as práticas e com as realidades educativas, da construção e reconstrução de investigações empíricas, das análises e das integrações e relações que se vão descobrindo e interpretando. Neste sentido, a teoria vai surgindo implícita e naturalmente através da integração e do discernimento que vamos sendo capazes de fazer e que nos permite consolidar ou rejeitar certas análises e procedimentos práticos. Nestas condições, a construção teórica é entendida como algo que surge

11

Grafia portuguesa antes do acordo ortográfico.

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naturalmente, não se sentindo necessidade de a preparar deliberadamente, de a racionalizar ou de a tornar explícita.(FERNANDES, 2008, p. 350).

Fernandes (2008, p. 350) acredita que a terceira razão está relacionada com as

“perspectivas epistemológicas, filosóficas e ou mesmo ideológicas” dos pesquisadores.

A visão particular de cada pesquisador sobre o tema pode dificultar a construção de

uma teoria sobre avaliação.

[...] alguns poderão sustentar que a teoria não é, de forma alguma, uma prioridade, pois, qualquer que ela seja, terá um impacto nulo, ou muito limitado, no desenvolvimento das práticas. [...] que se pode fazer boa avaliação formativa ou somativas em o apoio de qualquer teoria. [...] considerar que não fará sentido construir uma teoria da avaliação na área das aprendizagens sem uma teoria mais geral da avaliação em educação. [...] dirão que, qualquer teoria da avaliação para as aprendizagens, das aprendizagens ou de ambas, será mais um elemento de controlo e de manipulação dos professores e dos alunos, limitando assim a sua livre iniciativa, a sua autonomia e o seu espaço de liberdade pedagógica. (FERNANDES, 2008, p. 350).

E finalmente o autor relaciona a escassez de trabalhos para a construção teórica

da avaliação às políticas educacionais de muitos países, que “dão maior relevância às

avaliações externas e pouca atenção às avaliações que ocorrem dentro da sala de

aula”. É mais atrativo investir em teorias de avaliação para as aprendizagens, em

elaboração de modelos teóricos de interpretação de dados, ou seja, na avaliação como

sinônima de medição da aprendizagem.

Domingues Fernandes (2006a, p. 22) propõe clarificar o conceito de avaliação

formativa, por entender que a avaliação proposta por Scriven não serve para atender

aos novos pressupostos teóricos de avaliação como processo, “a avaliação formativa,

tal como era entendida nos anos 60 e 70 do século XX [...], pouco tem a ver com a

avaliação formativa dos dias de hoje [...]”. Entendendo a avaliação como uma

construção social complexa, o autor traz contribuições das perspectivas francófonas e

anglo-saxônicas para a elaboração de um conceito atual de avaliação formativa.

Segundo Fernandes (2006a, p. 27), na investigação francófona a avaliação

formativa é vista como um processo de regulação da aprendizagem e desloca para os

alunos a função de controle da aprendizagem, por meio dos processos cognitivos e

metacognitivos, que geram autonomia e responsabilidade. Para os professores resta

saberem como é que os alunos aprendem e promoverem uma regulação interativa que

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facilite esses processos, “nesta perspectiva, interessa, sobretudo estudar como é que

os alunos aprendem, a partir das teorias que se conhecem, para que se utilize uma

avaliação formativa que os ajude a regular, por si só, a aprendizagem”.

Para os investigadores anglo-saxônicos, o feedback é o conceito chave da

avaliação formativa. Como conceito central, atua como comunicação e interação entre

os professores e os alunos no desenvolvimento da aprendizagem prevista no currículo.

Em um processo eminentemente pedagógico, confere ao professor um protagonismo

maior na orientação e controle nas melhorias das aprendizagens,

[...] nesta perspectiva, parece haver uma relação explícita entre a avaliação formativa e um referencial curricular bem determinado em que os professores assumem claramente o controlo de uma diversidade de incumbências tais como a identificação de domínios do currículo, a selecção de uma variedade de tarefas para propor aos alunos, a selecção de estratégias de avaliação e planificação do ensino em geral. (FERNANDES, 2006a, p. 28).

A avaliação formativa alternativa – AFA –, elaborada por Fernandes (2006a, p.

31), apresenta características das avaliações formativas nas perspectivas teóricas

francófonas e anglo-saxônicas, consideradas como fortes tradições teóricas no domínio

da avaliação. O autor elenca como características relevantes e condições inerentes da

avaliação: avaliação com feedback inteligente, diversificado, bem distribuído e de

qualidade elevada; que o feedback atue nos processos cognitivos e metacognitivos dos

alunos; que os alunos utilizem o feedback para regularem e controlarem sua

aprendizagem para melhorarem sua autoestima e motivação; a centralidade da

interação e comunicação entre professores e alunos, estabelecendo pontes entre o que

é importante aprender e o mundo complexo dos alunos; a proposição de tarefas que

ativam processos complexos do pensamento; a relação entre didática e avaliação na

seleção de tarefa como regulação dos processos de aprendizagem; responsabilidade e

compartilhamento dos alunos pela aprendizagem e a cultura positiva de sucesso,

“baseada no princípio de que todos os alunos podem aprender”.

Para Hoffmann (2008, p.129), a avaliação é uma leitura do outro, é preciso saber

ler os “sujeitos, seus textos e contextos, o que nos remete à leitura de nós mesmos,

construindo e reconstruindo sentidos nessa interlocução”.

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4 PERCURSO METODOLÓGICO

Religar. Contextualizar. Conviver com múltiplas fontes de informação, simultaneamente. Aprender a buscar informações necessárias. Discernir e escolher. Abandonar o irrelevante. Esquecer o inócuo. Problematizar criadoramente, sem recusar o fardo da complexidade dos questionamentos. (SEVERINOANTÔNIO, 2002, p. 42).

Nesse capítulo apresentamos a trajetória da pesquisa, o seu contexto, a

modalidade de pesquisa, o procedimento metodológico utilizado, os critérios para a

seleção dos sujeitos, a descrição de cada quadro dos professores que participaram da

pesquisa e orientações para coleta e o trabalho com os dados.

4.1 CONTEXTO DA PESQUISA

A pesquisa foi realizada na Escola Preparatória de Cadetes do Exército -

EsPCEx, instituição de ensino superior militar vinculada ao Exército Brasileiro – EB,

situada em Campinas – SP, que recebe jovens iniciantes para a carreira de oficial

militar combatente do EB e prepara-os, durante um ano, para a continuidade do curso

na Academia Militar das Agulhas Negras – AMAN, Resende – RJ, por mais quatro anos.

A EsPCEx, até 2011, tinha um currículo baseado nos objetivos instrucionais, com

predomínio de uma abordagem tecnicista. A partir de 2012, orientada pelo Processo de

Transformação do Exército, adotou a metodologia do ensino por competências,

regulada pela Portaria Nº 125 - DECEx, de 23 de setembro de 2014, que aprova as

Instruções Reguladoras do Ensino por Competências: Currículo e Avaliação – 2ª Edição

(IREC – EB60-IR-05.008). Essas normas regulam um modelo de currículo por

competências na formação dos oficiais da linha de ensino militar bélica, com interesse

prioritário pelas práticas educativas que visam à formação de um novo profissional, que

seja também um cidadão crítico, preparado para tomar decisões e atuar em ambientes

complexos e incertos.

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4.2 CARACTERIZAÇÃO DOS DOCENTES DA EsPCEx

A EsPCEx possui um quadro de professores civis e militares com formação

profissional diversificada, constituído por oficiais da reserva remunerada12 - R1,

PTTC13,por oficiais combatentes da AMAN14, por oficiais do Quadro de Engenheiros

Militares – QEM15, por oficiais do Quadro Complementar de Oficiais – QCO16, por

oficiais temporários – OTT17 e por professores civis.

Os oficiais PTTC são militares que, após o término de tempo de serviço, cerca de

trinta anos em qualquer arma, quadro ou serviço, voltam para trabalhar no EB por um

tempo determinado. São os Prestadores de Tarefa por Tempo Certo, que exercem a

função do magistério militar, sem necessariamente ter formação acadêmica na área de

atuação, bastando ter créditos da referida área na graduação militar ou formação

acadêmica civil. Este quadro de professores tem representantes em todas as disciplinas

acadêmicas da EsPCEx.

Os oficiais combatentes são militares bacharéis em Ciências Militares, formados

por quatro anos na Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende – Rio de

Janeiro, que possuem graduação civil na área técnica ou do magistério. O período em

que compreendeu este estudo não tivemos oficiais combatentes na função de professor

na EsPCEx.

Os oficiais do Quadro de Engenheiros Militares podem lecionar as disciplinas

exatas, como Física, Química e Matemática. São militares com graduação em

Engenharia pelo Instituto Militar de Engenharia, na cidade do Rio de Janeiro – RJ, e

possuem graduação técnica na área de atuação, mas sem formação didático-

pedagógica.

Os militares do Quadro Complementar de Oficiais – QCO da área do magistério

possuem formação acadêmica civil, em licenciaturas, em muitos casos com vasta

experiência de docência. São selecionados pelo EB por meio de um concurso de

seleção nacional. Têm formação militar em uma instituição militar no período de um

12

Reserva remunerada do militar equivale à aposentadoria do meio civil. 13

PTTC é a sigla de Prestador de Tarefa por Tempo Certo. 14

AMAN é a sigla de Academia Militar das Agulhas Negras. 15

QEM é a sigla do Quadro de Engenheiros Militares. 16

QCO é a sigla de Quadro Complementar de Oficiais. 17

OTT é a sigla de Oficiais Técnicos Temporários.

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ano. Como os demais militares acima citados, são oficiais de carreira, por fazerem parte

do quadro permanente.

Os oficiais técnicos temporários – OTT, assim como os QCO, têm formação

acadêmica civil na área de licenciaturas, mas são contratados em caráter temporário.

Têm formação militar em uma instituição militar por 45 dias. Atualmente podem

permanecer no EB por até oito anos, com o contrato renovado ano a ano. A

pesquisadora foi oficial temporário por quatro anos, como professora de Biologia em um

colégio militar.

Os professores civis, categoria profissional atual da pesquisadora, têm formação

acadêmica na área de licenciaturas. Como os QCO, são selecionados por um concurso

nacional e geralmente têm experiência de docência. Não passam por nenhuma

formação militar para a admissão na função. Na EsPCEx, há vários professores civis

que foram oficiais temporários.

4.3 CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DOS SUJEITOS

Diante de um quadro com professores de diversas formações, seja acadêmica,

seja militar, optamos por selecionar os sujeitos da pesquisa de maneira intencional, de

modo a contemplar cada quadro com um representante, não com a intenção de fazer

comparações entre eles, mas de obter representatividade do grupo. Em um total de

trinta e oito professores da EsPCEx, selecionamos cinco professores para responder a

entrevista. Queríamos que cada quadro de professores fosse representado e com isso

teríamos uma amostra do grupo de professores da escola. Para Fraser e Gondim,

(2004) o critério para a escolha dos participantes da pesquisa não é numérico e, sim,

representativo do objeto de estudo para compreensão dos diferentes pontos de vista.

Em pesquisas qualitativas, o fundamental é que a seleção seja feita de forma que consiga ampliar a compreensão do tema e explorar as variadas representações sobre determinado objeto de estudo. O critério mais importante a ser considerado neste processo de escolha não é numérico, já que a finalidade não é apenas quantificar opiniões e sim explorar e compreender os diferentes pontos de vista que se encontram demarcados em um contexto (FRASER; GONDIM, 2004, p. 147).

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Convidamos de maneira informal e individual até três professores de cada

quadro para participar da pesquisa, com exposição de motivos do convite e dos

objetivos do estudo. Informamos aos convidados a modalidade da pesquisa, o critério

para a seleção dos sujeitos e que o procedimento utilizado para coleta de dados seria a

entrevista. Em relação ao grupo de professores civis, convidamos somente aqueles que

não tinham sido oficiais temporários, a fim de caracterizar bem o grupo. Alguns

aceitaram o convite prontamente, outros pediram para pensar. Após alguns dias,

retornamos junto aos professores que não tinham respondido para sabermos de seus

posicionamentos. Recebemos o aceite da maioria dos professores consultados, no

entanto, optamos por compor o quadro de sujeitos da pesquisa com aqueles

professores que prontamente atenderam ao convite para participar da pesquisa.

Não se pode esquecer também que o esclarecimento dos critérios de escolha dos participantes a serem entrevistados é muito importante, visto que a aleatoriedade na abordagem qualitativa não é considerada a melhor opção. O que importa não é quantos foram entrevistados, mas se os entrevistados foram capazes de trazer conteúdos significativos para a compreensão do tema em questão (FRASER; GONDIM, 2004, p. 147).

4.4 MODALIDADE DA PESQUISA

O presente trabalho está pautado na abordagem qualitativa de pesquisa.

Segundo Uwe Flick (2009), a pesquisa qualitativa é a mais adequada para as

aplicações nas ciências sociais, como a Educação, pois visa à descrição dos processos

na produção de situações e de ambientes, bem como a ordem social existente,

configurando-se, portanto, como abordagem pertinente em investigações que visam a

identificar a concepção dos professores sobre avaliação.

Para Bogdan e Biklen (1994, p.16), a expressão investigação qualitativa é um

termo genérico utilizado para agrupar “diversas estratégias de investigação que

partilham determinadas características”, no entanto, nem todos os estudos com

abordagem qualitativa tratam essas características com a mesma eloquência, podendo

até ser desprovidos de algumas. Contudo, os estudos que utilizam a observação

participante e a entrevista em profundidade são bons exemplos dessa abordagem. O

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termo investigação qualitativa usado pelos autores portugueses é equivalente à

pesquisa qualitativa, que considera o ambiente natural como fonte direta de dados.

Os investigadores qualitativos frequentam os locais de estudo porque se preocupam com o contexto. Entendem que as ações podem ser melhor compreendidas quando são observadas no seu ambiente habitual de ocorrência. Os locais têm de ser entendidos no contexto da história das instituições a que pertencem (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 48).

O investigador é o instrumento principal na compreensão dos “comportamentos a

partir da perspectiva dos sujeitos”. Entendemos que o estudo em questão contempla

esta característica, pois tem como objetivo identificar e compreender as concepções

dos professores sobre avaliação formativa e avaliação somativa. Quanto ao uso de

“entrevista em profundidade”, elegemos a entrevista episódica referenciada por Flick

(2009) como método de coletas de dados.

[...] a entrevista episódica permite apresentações relativas ao contexto na forma de uma narrativa, uma vez que estas se aproximam mais das experiências e de seus contextos gerativos do que outras formas de apresentação. [...] na entrevista episódica dá-se uma atenção especial a situação ou a episódios nos quais o entrevistado tenha tido experiências que pareçam ser relevantes à questão do estudo (FLICK, 2009, p 172).

A segunda característica elencada por Bogdan e Biklen (1994, p.48) é que “a

investigação qualitativa é descritiva. Os dados recolhidos são em forma de palavras ou

imagens e não de números”, tendo a palavra escrita papel fundamental tanto no registro

como na disseminação dos resultados.

Na sua busca de conhecimento, os investigadores qualitativos não reduzem as muitas páginas contendo narrativas e outros dados a símbolos numéricos. Tentam analisar os dados em toda a sua riqueza, respeitando, tanto quanto o possível, a forma em que estes foram registrados ou transcritos (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 48).

A adoção de entrevista episódica possibilita essa descrição, porque traz a

experiência do sujeito com o tema ou sobre o tema, como referenciam alguns autores,

que a avaliação praticada é a avaliação vivenciada. Essa modalidade de entrevista

apresenta pressupostos teóricos que contemplam as duas situações, conhecimento

semântico sobre avaliação e a sua relação com o tema.

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Para os mesmos autores, “os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo

processo do que simplesmente pelo resultado ou produtos”, (2013, p.49). Optamos por

não predeterminar as categorias ou unidades significativas, esperando que elas

emergissem do contexto, com a leitura do ambiente e para evitar que ficássemos

míopes para outros indícios durante o processo de recolha dos dados, com

argumentação do surgimento das categorias pelas falas.

De acordo com Bogdan e Biklen (1994, p. 49), “as estratégias qualitativas

patentearam o modo como as expectativas se traduzem nas atividades, procedimentos

e interações diárias”. A indução é a forma usada para analisar os dados e não a

confirmação ou refutação de hipóteses, “um investigador qualitativo que planeie

elaborar uma teoria sobre o seu objeto de estudo, a direção desta só se começa a

estabelecer após a recolha dos dados e o passar de tempo com os sujeitos” (p. 50), e o

significado é vital para a abordagem qualitativa. Os pesquisadores qualitativos

procuram apreender as perspectivas dos participantes, estabelecendo um diálogo entre

os pesquisadores e os sujeitos, com toda subjetividade. “Ao apreender as perspectivas

dos participantes, a investigação qualitativa, faz luz sobre a dinâmica interna das

situações, dinâmica esta que é frequentemente invisível para o observador externo”

(1994, p.51).

Na busca das concepções dos professores sobre avaliação e no

desenvolvimento de categorias, pretendemos compartilhar as nossas interpretações

com os respectivos sujeitos, na intenção de minimizar o efeito do observador, em

virtude dessa pesquisadora trabalhar no local da pesquisa. “O processo de condução

de investigação qualitativa reflete uma espécie de diálogo entre os investigadores e os

respetivos18 sujeitos, dados estes não serem abordados por aqueles de uma forma

neutra” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p.51). Se houver alguma controvérsia, esta será

relatada e fundamentada, sendo o diálogo o fio condutor do processo de pesquisa.

Diante do exposto, o desenvolvimento da pesquisa previu uma etapa de

devolutiva dos dados, isto é, a pesquisadora organizou um mapa conceitual com as

concepções sobre avaliação formativa e somativa a partir da análise dos dados obtidos

18

O termo é grafado em vocábulo de Portugal.

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nas entrevistas e, posteriormente, discutiu com os participantes, a fim de refletir com

eles sobre as interpretações tecidas pela pesquisadora no processo de análise de

dados.

As concepções dos professores sobre avaliação formativa e somativa e a

mudança do ensino por objetivos para o ensino por competências na EsPCEx supõem

experiências vividas pelo grupo de professores, tanto nas suas práticas avaliativas

como no processo de mudança. Por isso, entendemos que a entrevista, como um

método que proporciona a narrativa, seja mais adequada à pesquisa qualitativa.

4.5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Optamos pela entrevista episódica como principal método de recolha dos dados

por entendermos que concepções são construções sociais da realidade, que essa

modalidade de entrevista “permite apresentações relativas ao contexto na forma de

uma narrativa, uma vez que estas se aproximam mais das experiências e de seus

contextos gerativos do que outras formas de apresentação” (FLICK, 2009, p. 172).

Visando a descrição episódica das práticas avaliativas dos professores da EsPCEx e

também do conhecimento semântico sobre avaliação formativa e somativa, utilizamos a

entrevista episódica como método de coleta de informações, por concordamos com

Flick (2009,p. 172), que “ o ponto de partida da entrevista episódica é a suposição de

que as experiências de um sujeito sobre determinado domínio sejam armazenadas e

lembradas nas formas de conhecimento narrativo-episódico e semântico”. Ratificando,

assim, a assertiva de Larossa-Bondía (2002, p. 21) ao afirmar que “a experiência é o

que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca”.

Ao utilizarmos a entrevista episódica, queríamos ouvir dos professores suas

experiências em avaliação, compreender a forma que pensam avaliação na EsPCEx,

no contexto da mudança de um currículo por objetivos para um currículo por

competências, como tão bem se posicionam Bogdan eBiklen (1994) sobre a pesquisa

qualitativa em educação.

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Mudança é uma coisa séria porque o objetivo é sempre o de melhorar a vidas das pessoas. Mas, é igualmente complicada porque as crenças, os estilos de vida e o comportamento podem estar em conflito. Os indivíduos que tentam modificar a educação, quer seja numa sala de aula ou em todo o sistema educativo, raramente sabem o que pensam as pessoas envolvidas no processo. Consequentemente, são incapazes de antecipar com precisão a forma como os participantes irão reagir. Caso desejamos que a mudança seja efetiva, temos que compreender a forma como os indivíduos envolvidos entendem a sua situação, pois são eles que terão que viver com as mudanças. (BODGAN; BIKLEN, 1994, p. 265).

Outra fonte de informação para a pesquisa foi a análise documental sobre as

normas, instruções reguladoras, diretrizes e manuais institucionais do EB como

instrumento de coleta complementar de informações. Para Flick (2009, p. 231),

podemos “utilizar a análise de documentos como uma estratégia complementar para

outros métodos como a entrevista”. Contudo, o uso de documento como dados é mais

que mera análise de textos, os documentos não são somente representações de fatos,

eles possuem intencionalidade. Devemos fazer uma análise no sentido de sua

complexidade, como: em que condições foram produzidos; com qual missão e objetivos

e para quem e por quem foram escritos.

Para Flick (2009, p.176), a entrevista episódica apresenta alguns problemas,

como a dificuldade com a narração de alguns entrevistados e a limitação de sua

aplicação na análise do conhecimento cotidiano de determinados objetos e situações.

Contudo, nela, o pesquisador “dispõe de mais opções para intervir e para conduzir o

curso da entrevista por meio de uma série de perguntas-chaves relativas aos conteúdos

narrados e à definição das situações”.

Bogdan e Biklen (1994, p. 137-138) também apontam cuidados que precisam ser

considerados ao adotarmos a entrevista enquanto procedimento de pesquisa, tais como

a “necessidade de ouvir cuidadosamente”, “o processo de entrevista requer

flexibilidade”, “seu papel, enquanto investigador, não consiste em modificar pontos de

vista, mas antes em compreender pontos de vistas dos sujeitos e as razões que os

levaram a assumi-los”.

Para Lüdke e André (1986, p.35), independentemente do tipo, as entrevistas

exigem uma série de cuidados e respeito pelo entrevistado. “Esse respeito envolve

desde o local e horário marcados e cumpridos de acordo com sua conveniência até a

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perfeita garantia do sigilo e anonimato”. Com a intenção de resguardar a identidade dos

participantes, decidimos dar-lhes nomes fictícios, considerando seus gêneros.

Conscientes desses fatos, tomamos cuidados em sua confecção e sua aplicação,

seguindo as orientações das autoras, acima citadas, e promovendo adequações ao

nosso contexto. A entrevista episódica apresenta um guia ou roteiro que o pesquisador

deve utilizar para orientação das perguntas. Flick (2002) sugere a construção desse

guia em sete fases, as quais elencamos abaixo.

4.5.1 Elaboração do roteiro da entrevista

Construímos um roteiro para a elaboração da entrevista (Consultar Apêndice A)

seguindo as orientações de Flick (2002). A primeira fase foi a preparação da entrevista,

que consistiu na elaboração do guia com perguntas sobre a biografia avaliativa do

sujeito, seguida de perguntas relativas à parte específica da entrevista, as concepções

sobre avaliação formativa e somativa e, por fim, as possibilidades e os limites de sua

adoção na EsPCEx.

A segunda fase compreendeu a introdução da lógica da entrevista, com a

explicação para o entrevistado do caráter da entrevista e verificação do seu

entendimento. “A primeira parte da pesquisa concreta é a instrução do entrevistado.

Para fazer com que a entrevista funcione é importante explicar o caráter das perguntas

para o entrevistado e familiarizá-lo com esta prática” (FLICK, 2002, p. 119). No caso em

estudo, iniciamos cada entrevista com um diálogo entre a pesquisadora e o

entrevistado, sem gravação, com esclarecimento dos objetivos da pesquisa a ser

realizada. Feito isso, começamos a gravação da entrevista em áudio, mediante

consentimento dos participantes, com repetição das orientações sobre a dinâmica da

entrevista e com o consentimento verbal dos entrevistados. O termo de consentimento

livre e esclarecido foi assinado posteriormente.

Realizamos a primeira entrevista com um professor civil, e esta serviu de

reguladora para as demais entrevistas. Ao final desta entrevista foi realizada a

transcrição e a validação do instrumento de coleta de dados, considerado como

produtivo e capaz de responder aos objetivos propostos, com pequenas alterações,

como a sugestão do professor que incluíssemos uma pergunta referente à avaliação

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somativa. Também foi questionado por vários entrevistados a referência ao grupo social

da EsPCEx. Quando perguntados sobre o significado de avaliação pelo grupo social da

Escola, muitos entrevistados disseram que só podiam responder por eles e não pelo

grupo. Quanto a esse questionamento, decidimos por mantê-lo, por entendermos que a

pergunta propiciava dados relevantes para a pesquisa, como a percepção de ausência

de grupo.

Para a coleta de dados do estudo em questão, realizamos cinco entrevistas

episódicas, uma com cada sujeito da pesquisa. Todas foram realizadas nas instalações

da EsPCEx, em local reservado, com exceção de uma que, por desejo do entrevistado,

foi em local aberto, inclusive com público, mas, como houve muitas interrupções,

consultamos o entrevistado sobre a possibilidade de mudança do local, que

compreendeu a situação, e prosseguimos com a entrevista no mesmo local das demais.

Na terceira fase da construção do roteiro, as perguntas devem investigar as

concepções do entrevistado sobre o tema da pesquisa e sua biografia em relação ao

mesmo, sempre sugerindo o relato de um episódio significativo sobre o tema. Para Flick

(2002, p.118-119), este é o princípio da entrevista episódica, “perguntar ao entrevistado

que relembre uma situação específica e que a conte”. Que situação ele relembra e

seleciona a fim de responder ao convite, e não a situação fixada pelo entrevistador.

A próxima fase trata-se de identificar o papel que o tema da pesquisa tem no

cotidiano do sujeito. No estudo em questão, perguntamos sobre a importância da

avaliação na EsPCEx e que papel desempenhava a avaliação na prática docente do

entrevistado. Segundo Flick (2002, p. 121), “estas perguntas ajudam o entrevistado a

refletir no sentido geral e relevante do tema a partir de diferentes aspectos de sua vida

cotidiana”.

A quinta fase enfatiza as partes centrais do tema, “se concentra nos aspectos-

chave do tema, como definido pela questão central da pesquisa” (FLICK, 2002, p. 121).

Em nosso roteiro, as perguntas foram sobre as concepções dos entrevistados em

relação à avaliação formativa e à avaliação somativa, suas descrições, se eram

realizadas e em que momento eram realizadas e ainda se tinham interesse em realizar,

na EsPCEx, alguma prática avaliativa diversificada.

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Esta fase da entrevista tem como finalidade elaborar a relação pessoal do entrevistado como tema central. As questões [...] abrem as portas das experiências pessoais do entrevistado. Uma tarefa importante do entrevistador e responder com inquirições mais aprofundadas as respostas e as narrativas do entrevistado, a fim de tornar a entrevista tão substancial e profunda quanto possível (FLICK, 2002, p. 121-122).

Na sexta fase deve-se perguntar sobre tópicos gerais relevantes sobre o tema.

Fizemos perguntas sobre atribuição de responsabilidades sobre avaliação; que

mudanças na avaliação eram esperadas por ele, diante do contexto do ensino por

competências, e quais práticas avaliativas eram mais adequadas para essa modalidade

de ensino. Para Flick (2002, p. 123), esta parte da entrevista deve obter respostas que

indiquem um conhecimento do sujeito sobre o assunto, bem como as discrepâncias e

contradições em relação às respostas anteriores, “as aplicações desta entrevista

demonstraram que em muitos casos discrepâncias e contradições podem emergir entre

a argumentação mais geral dessa fase e as experiências e práticas pessoais relatadas

anteriormente”.

Finalmente, a última fase de elaboração do roteiro, que tem como objetivo a

avaliação da entrevista pelo entrevistado, sugestões e esclarecimentos, de maneira

mais informal. Terminamos nosso roteiro com perguntas sobre a entrevista, se faltou

mencionar algum aspecto sobre o tema avaliação, se o entrevistado se sentiu

constrangido ao responder alguma pergunta, ou se formularia alguma pergunta de

maneira diferente. Como já mencionamos, na primeira entrevista, que elegemos como

teste, o professor entrevistado trouxe contribuições para reelaboração do roteiro, com

inclusões pertinentes.

Flick (2002) indica, ainda, duas fases da entrevista episódica que dizem respeito

à documentação e à interpretação dos dados coletados nas entrevistas. A

documentação contém informações contextuais sobre a entrevista e o entrevistado,

como a data, o local, a duração da entrevista, entre outros dados. Sobre o entrevistado,

sugere sua idade, seu gênero, sua profissão, se tem filhos e quantos. Fizemos alguns

ajustes no que se refere à documentação do entrevistado, visando uma melhor

adequação aos objetivos da pesquisa, como há quanto tempo trabalha na instituição,

quanto tempo tem na profissão atual. Após a gravação da entrevista, fizemos a sua

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transcrição integral, com minimização dos vícios naturais da linguagem oral presentes

nas falas dos entrevistados.

Para o autor, mais importantes são as impressões que o entrevistador tem sobre

o contexto e a situação da entrevista e do entrevistado. No estudo em questão, poucas

foram as observações das entrevistas e dos entrevistados. Notamos que os professores

mostraram-se muito à vontade para falar sobre o assunto. Ouvimos um professor dizer

ser novato no magistério e que seguia as ordens dos superiores hierárquicos, de outro

que, se perguntado, em outro dia, as mesmas coisas, responderia de forma diferente,

tal volatilidade a sua.

4.6 SUJEITOS DA PESQUISA

Pensamos no grupo de professores da EsPCEx, nosso grupo, como se fosse um

tecido formado por vários fios. Cada fio com suas especificidades, suas propriedades,

suas particularidades, que compõe um todo. Porém, o todo não representa cada um

deles, pois, como fios de um tecido, não podem se manifestar plenamente. No entanto,

quando juntos, “emergem características que não se faziam presentes nas partes

isoladas” (ANTÔNIO, 2009, p. 83). Esta interdependência é exemplificada por Severino

Antônio (2009, p. 83) com a analogia de Morin sobre a tessitura de uma tapeçaria

contemporânea.

Consideremos uma tapeçaria contemporânea. Comporta fios de linho, de seda, de algodão, de lã, com cores variadas. Para conhecer essa tapeçaria, seria interessante conhecer as leis e os princípios respeitantes a cada uma destes tipos de fio. No entanto, a soma dos conhecimentos sobre cada um destes tipos de fio que entram na tapeçaria é insuficiente, não apenas para conhecer esta realidade nova que o tecido (quer dizer as qualidades e as propriedades próprias para esta textura), mas, além disso, é incapaz de nos ajudar a conhecer a sua forma e sua configuração. (MORIN, s/d,apud ANTÔNIO, 2009, p. 83).

Como percebemos, as falas dos professores da EsPCEx formando um tecido, a

exemplo da tapeçaria contemporânea de Morin,nos levam à necessidade de apresentar

suas características, suas propriedades. “O tapete, como tecido, é mais que a soma dos

fios. No entanto, os fios podem tecer outras tramas possíveis: nesse sentido, o tapete é

menor do que os fios. A terceira etapa da complexidade é o reconhecimento de que,

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assim, o todo é maior e é menor do que as partes, ao mesmo tempo”. (ANTÔNIO, 2009,

p. 83). Vamos fazer a descrição seguindo a ficha de informação contextual de cada

entrevistado.

A professora Zilda tem trinta e nove anos de idade, é formada há dezessete

anos, leciona na EsPCEx desde de 2004, como professora civil. A entrevista foi

realizada em 19 de fevereiro de 2015, na Sala Anexo da Seção de Língua Portuguesa.

O professor Luiz Henrique tem sessenta e três anos de idade, desde 1970

trabalha no EB como professor militar, e na EsPCEx desde 1986. A entrevista foi

realizada no dia 27 de fevereiro de 2015, em dois locais. O primeiro da sua Seção de

Ensino e, após várias interrupções, mudamos para a Sala Anexo da Seção de Língua

Portuguesa.

O professor José tem 48 anos de idade, desde 1998 trabalha no EB como

professor militar. A entrevista foi realizada no dia 02 de março de 2015, na Sala da

Oficina Pedagógica.

A professora Fátima tem 31 anos, tem onze anos de formação profissional.

Trabalha no EB desde 2011, como professora militar. A entrevista foi realizada no dia

03 de março de 2015, na Sala Anexo da Seção de Língua Portuguesa.

O professor Herval tem 41 anos de idade, tem 22 anos de formação profissional.

Trabalho no EB como professor militar desde 2007. A entrevista foi realizada em 16 de

março de 2015, na Sala Anexo da Seção de Língua Portuguesa.

4.7FORMAS DE TRABALHAR OS DADOS

A análise dos dados consiste na busca pela interpretação das falas dos

professores com o desenvolvimento de um sistema de codificação para organizar os

dados em unidades significativas com o objetivo de responder à questão da pesquisa.

Para Lüdke e André (1986, p. 48), “o primeiro passo na análise é a construção de

um conjunto de categorias descritivas. O referencial teórico do estudo fornece

geralmente a base inicial de conceitos a partir dos quais é feita a primeira classificação”.

Temos, como principais referenciais teóricos metodológicos, os autores Robert Bogdan,

Sari Biklen e Uwe Flick.

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Para a análise dos dados, seguimos as orientações de Bogdan eBiklen (1994, p.

221), que descrevem o processo de categorização por meio de metáfora, com a qual

comparam o desenvolvimento das categorias com a separação de brinquedos

espalhados em um ginásio. “Passeia-se pelo ginásio, olhando para os brinquedos,

pegando neles e examinando-os [...]. Pode organizá-los por tamanhos, cores, país de

origem, data de fabrico, fabricante material de que são feitos.”

[...] à medida que vai lendo os dados, repetem-se ou destacam-se certas palavras, frases, padrões de comportamento, formas dos sujeitos pensarem e acontecimentos. O desenvolvimento de um sistema de codificação envolve vários passos: percorre os seus dados na procura de regularidades e padrões bem como de tópicos presentes nos dados e, em seguida, escreve palavras e frases que representam estes mesmos tópicos e padrões. Estas palavras são categorias de codificação (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 221).

Os autores salientam que a escolha dos esquemas deve ser orientada pelo

objetivo da classificação, que para nós é a questão da pesquisa. No próximo capítulo

detalharemos a interpretação dos dados.

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5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

E, como já escrevemos antes e escreveremos mais tarde, despertar e desenvolver o sentimento de autoria e de diálogo, complementares e inseparáveis. Reconhecer as próprias palavras e reconhecer-se nelas. Reconhecer as palavras do outro. Respeitar sua voz. Conviver dialogicamente. Admirar a diversidade. Reeducar os afetos, na reverência pela vida. (SEVERINO ANTÔNIO, 2002, p. 42).

A análise e interpretação apresentadas neste capítulo foram elaboradas a partir

das falas dos professores da EsPCEx e suas concepções sobre avaliação, que foram

documentadas em entrevistas. Após suas transcrições, foram analisadas e

interpretadas com a intenção de identificar as unidades de significados que, segundo

Uwe Flick, “são palavras isoladas, sequências curtas de palavras” (FLICK, 2009, p.

278), que dão ideia de que forma o sujeito pensa, de acontecimentos, de padrões de

comportamento. São dados que permitem compreender os significados que o sujeito

tem sobre o tema. A identificação dessas unidades se deu após várias leituras das

transcrições, tendo como foco a questão da pesquisa, que é a intenção de identificar as

concepções dos professores da EsPCEx sobre avaliação e suas possíveis

contribuições, desafios, limites e possibilidades, para a implantação do ensino por

competências.

Para a escolha das entrevistas a serem transcritas foi utilizado o critério

cronológico de realização. A primeira entrevista, como já dito anteriormente, foi usada

como teste e regulação para as demais. Percebemos que nossas intervenções

afetavam a fala do entrevistado e, portanto, decidimos interferir minimamente nas

demais, fazendo-as, geralmente, quando o entrevistado solicitava. Mesmo sendo

membro do grupo de professores da EsPCEx, procuramos conduzir as entrevistas com

suspensão dos conhecimentos pré-estabelecidos, procurando com que as concepções

se mostrassem para nós.

Acreditamos que o fato de trabalharmos no mesmo ambiente proporcionou para

os entrevistados uma situação mais confortável, pois, por vezes, relataram o nosso

conhecimento sobre o fenômeno estudado. Buscamos “romper com a verticalidade e o

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dualismo implicados na relação „pesquisador-pesquisado‟”. [...] Procuramos reconhecer

os participantes da “pesquisa como sujeitos capazes de produzir cultura e

conhecimento com os outros no mundo”, como dizem Oliveira et al (2014, p. 122).

Segundo esses autores, “não se deve tomar o ser humano como objeto de

investigação, mas sim seu pensamento-linguagem referido à realidade, sua percepção

da realidade, sua visão de mundo, em que se encontram envolvidos seus temas

geradores”(FREIRE, 1978 apud OLIVEIRA et al 2014, p. 122).

5.1 EMERSÃO DAS CATEGORIAS

Bogdan e Biklen(1994) consideram crucial para a análise dos dados o

levantamento de famílias de categorias de codificação. Com base nessa referência,

cremos que a família de codificação “códigos de definição de situação” é a que mais se

encaixa no nosso estudo, inclusive pelo exemplo dado pelos autores, “percepções do

Professor acerca do seu trabalho”.

Neste tipo de código o objetivo é o de organizar conjuntos de dados que descrevam a forma como os sujeitos definem a situação ou tópicos particulares. Está interessado na visão que os sujeitos têm do mundo e na forma com se vêem a si próprios em relação à situação ou tópico em causa. O que é que eles esperam atingir? Como definem aquilo que fazem? O que é importante para eles? Têm determinadas convicções que influenciam a forma como definem a sua participação (religiosa, política, de classe social, feministas, movimento pela vida)? [...] (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 223).

As unidades significativas não se mostram diretamente nas falas, elas são

percebidas e interpretadas pela interrogação sobre o tema. Para a identificação das

unidades significativas, fizemos várias leituras das entrevistas, procurando apreender

os significados atribuídos pelos professores a partir de suas vivências de práticas

avaliativas na EsPCEx. Bogdan e Biklen (1994) recomendam uma leitura concentrada e

sem interrupções, indicam ainda que devemos anotar as categorias à medida que vão

surgindo.

Após várias leituras, fomos sublinhando nos depoimentos transcritos o que

consideramos unidades significativas e atribuindo-lhes números distintos. As unidades

foram se repetindo em praticamente todas as entrevistas e se emoldurando em

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categorias, quase simultaneamente. As unidades significativas não ficaram restritas às

determinadas perguntas das entrevistas, percebemos sua repetição ao longo das falas.

As categorias emergentes nas concepções dos professores da EsPCEX sobre

avaliação foram construídas com base nas unidades de significados identificadas. São

elas:

1) pertencimento e não pertencimento ao grupo de professores da EsPCEx;

2) medo de cometer injustiça;

3) as especificidades do ensino militar;

4) as amarras das normas;

5) função da avaliação:processo e produto.

Para a análise e interpretação dos dados, optamos por iniciar a abordagem das

categorias de menor relevância para as de maior relevância para a questão da

pesquisa. Contudo, percebemos que as categorias estão intimamente relacionadas,

que apresentam uma interdependência em relação ao contexto da pesquisa, pois o

pertencimento ou não pertencimento ao grupo de professores está relacionado com a

diversidade na formação profissional dos docentes da EsPCEx e com o predomínio da

pedagogia tecnicista do ensino por objetivos; que o medo de cometer injustiça está

intrinsecamente atrelado à classificação dos alunos; que se trata de uma especificidade

do ensino militar; que, para conduzi-la, são propostas normas de avaliação rígidas e

com ênfase na função da avaliação como produto.

5.2 PERTENCIMENTO E NÃO PERTENCIMENTO AO GRUPO DE PROFESSORES

DA EsPCEx.

Essa categoria surgiu das falas dos professores quando perguntamos qual era o

significado de avaliação para o grupo social de professores da Escola. Quando fizemos

esta pergunta, tínhamos a intenção de identificar a percepção de grupo dos docentes

sobre avaliação. Na primeira entrevista, que foi tomada como reguladora das demais, o

professor sugeriu que tirássemos esta pergunta, pois, segundo o mesmo, tratava-se de

uma pergunta dirigida ao grupo e não a uma pessoa específica. Como mencionado

anteriormente, optamos por deixá-la, porque cremos que a avaliação, no contexto da

pesquisa, é uma construção coletiva, pois um conteúdo é ensinado por vários

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professores e avaliado de uma forma única. Esse contexto exige um consenso entre os

professores na maneira de ensinar e de avaliar. Apesar de responderem que significado

tem a avaliação para o grupo, vamos abordar, nessa categoria, somente a ideia de

pertencimento a um grupo. A análise das respostas sobre o significado de avaliação

para o grupo será discutida adiante.

Referem-se como grupo de professores no âmbito da disciplina; como grupo da

Divisão de Ensino; como grupo da EsPCEx, e até mesmo à Instituição Exército

Brasileiro.A professora Zilda responde por si, mas indica a existência de um grupo na

disciplina:

Respondendo mais por mim do que pelo grupo, mas assim, acreditando que eles concordariam, nosso contexto é bem particular, essa classificação que a gente tem que gerenciar aqui [...]. (ZILDA)

O professor Herval verbaliza a existência do grupo da disciplina e seu

pertencimento a ele.

Eu vou falar, particularmente, pelo meu universo, o grupo social “professores de [...]. Nós entendemos a avaliação como uma forma que nós temos de acompanhar o aprendizado do nosso aluno [...]. (HERVAL)

Deixando claro seu posicionamento, o professor José diz o significado de

avaliação para o grupo da EsPCEx:

Não a minha ótica, essa pergunta é direcionada ao grupo, a avaliação tem um significado que eu acredito que é de classificação, esse é o significado principal dela para o grupo da Escola de Cadetes. (JOSÈ).

Já o professor Luiz Henrique indica a presença de vários grupos, desde a

Instituição Exército Brasileiro até um subgrupo dentro do grupo de professores. No

entanto, se identifica como parte do grande grupo da Escola e também da Instituição

Exército:

Primeiro eu queria entender o que significa o grupo social. Analisando grupo social a Instituição Exército ou a Escola como grande grupo. Eu acho que avaliar, a primeira noção que nos temos é bastante tradicional de avaliar. É colocar coluna por um, [...]. Eu acho que grande parte compactua com essa ideia geral da Escola, mas temos outros grupos que tem noções diferentes, o próprio aluno, o grupo dos professores, dentro do grupo dos professores o subgrupo de professores. De qualquer maneira na Instituição é como eu imagino. (LUIZ HENRIQUE).

Na resposta da professora Fátima, percebemos seu pertencimento ao grupo de

professores da Divisão de Ensino.

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Você fala de uma maneira geral? Ou especificamente para a Divisão de Ensino? [...] A ideia imediata é verificação da aprendizagem, para o professor, imediatamente. Mas, especificamente para a Escola, considerando que não foge dos nossos objetivos ou que a gente tem em mente é o fato de que o aluno é classificado de acordo com a nota que ele recebe, [...]. (FÁTIMA).

O sentimento de pertencimento a um grupo está presente nas falas dos

professores,mas percebemos em suas falas que a ideia de pertencimento ao grupo de

docentes, como um todo da EsPCEx, não está clara para eles, pois mencionam o

pertencimento a vários grupos dentro da Instituição. Embora lecionem na mesma

escola, não percebemos uma identidade profissional como corpo docente.

Pensamos que essa falta de clareza no pertencimento ao grupo de docentes da

EsPCEx está relacionada com a diversidade na formação profissional dos professores.

Os militares PTTC e os QEM, na sua maioria, não têm formação pedagógica, como

relata o Professor Herval “não sou professor, estou professor”. Apesar de não

possuírem formação acadêmica sobre a didática e a pedagogia, Kirsch (2013) nos

incita a pensar no conhecimento de ensino gerado pela prática docente e nas três

dimensões da identidade docente: pessoal, profissional e institucional. Abordaremos a

dimensão institucional por sua relação com a formação de identidade docente da

Escola Preparatória de Cadetes do Exército.

A dimensão institucional relaciona-se diretamente, ao meio de trabalho, ao ambiente educativo, que influencia no desenvolvimento do professor. Podemos citar um exemplo a instituição que adota claramente, além de estampar em documento, a tendência pedagógica tecnicista como forma de educação escolar. Um professor iniciante que ingressa nessa escola e desenvolve seu trabalho tranquilamente, automaticamente está absorvendo uma maneira de educar e de aprender a ser professor a partir de uma determinada concepção educacional e é influenciado diretamente pelas regras da instituição.(KIRSCH, 2013, p. 52).

Corroboramos com o entendimento de Kirsch (2013, p. 52) sobre a influência da

instituição na criação da identidade docente. Cremos que o predomínio da

característica tecnicista do ensino militar até então, onde os professores são técnicos,

assessorados por outros técnicos e os meios instrucionais são objetivos e prioritários,

comprometeu a percepção dessa identidade. A justificativa da Professora Zilda para a

eliminação da pergunta sobre o grupo de docentes ilustra, para nós, esse contexto.

[...] porque eu tive que responder pelo grupo e eu acho que eu nunca participei de uma reunião que a gente formalizasse nossa opinião sobre avaliação. Respondi por mim, [...]. (ZILDA).

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Pensamos que, por um lado, essa conduta se caracteriza como um limite19 para

a transição de um ensino por objetivos para o ensino por competências, pois o

momento requer discussões e diálogos entre os sujeitos envolvidos no processo, que

são mais eficazes na pertinência de um grupo. Por outro lado, a diversidade de

formação dos docentes traz muitas contribuições para a formação do oficial. Que, uma

vez identificado esse limite, possamos refletir sobre nossas competências interpessoais.

5.3 MEDO DE COMETER INJUSTIÇA

Com a categoria medo de cometer injustiça, nós procuramos agrupar os

depoimentos dos professores que mostram que, no momento de eles fazerem

avaliação, eles procuram reduzir sua subjetividade; demonstram preocupação em não

cometer injustiça na avaliação; buscam fornecer iguais condições para todos os alunos;

evitam práticas avaliativas que supõem ter graus de subjetividade. Por exemplo, vemos

na fala da Professora Zilda sua preocupação em fornecer condições para todos.

[...] vou trabalhando com os que escrevem menos para que eles atinjam a mesma competência daqueles que escrevem um pouco melhor [...]. (ZILDA).

Em outras situações, percebemos essa mesma preocupação na fala da

professora, além de ressaltar a seriedade do processo avaliativo por parte dos

professores e da instituição.

[...] tem que ser uma coisa séria, a gente vê que as instâncias superiores, elas querem que seja um processo sério, que ninguém tenha mais nota do que merece ou menos nota do que merece.(ZILDA). [...] para esses que escrevem mal terem as mesmas chances daqueles que escrevem bem na avaliação somativa [...]. (ZILDA).

No depoimento do Professor Luiz Henrique, a preocupação em minimizar a

subjetividade e o medo de cometer injustiça se fazem presentes, como podemos ver

19

Esse termo é utilizado, aqui, não como algo instransponível, mas no sentido de situação-limite como

abordado na obra freireana. Situação-limite consiste em um problema que desafia o ser humano, exigindo dele uma resposta, uma superação.

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nos seus depoimentos. Indica também que a presença de mais avaliadores reduz as

possibilidades de injustiça.

[...] primeiro a gente sente sempre inseguro quando vai avaliar alguém, como não sou diferente dos outros, também me sinto inseguro, para saber se os conceitos, os princípios que a gente está adotando são os melhores princípios. Eu acho que as melhores avaliações que fizemos foram aquelas que usamos mais de uma pessoa para avaliar. Quando em grupo, quando temos mais que um avaliador, a possibilidade de um entendimento melhor ou de injustiça, a gente minimiza um pouco essa possibilidade [...]. (LUIZ HENRIQUE). [...] acho que é essa nossa luta inglória, nem sempre a gente consegue analisar com perfeição [...]. (LUIZ HENRIQUE). [...] a gente busca tratar a avaliação no sentido de tirar grandes distorções [...]. (LUIZ HENRIQUE).

Para o Professor José, a classificação justifica e orienta a necessidade de buscar

as mesmas oportunidades para todos, de mudar as estratégias didáticas, e interfere na

escolha da modalidade de avaliação.

[...] como é classificatório, aí sim, o patamar do salto é o mesmo para todos [...]. (JOSÉ). [...] No nosso caso como é classificatório, você tenta dar às mesmas oportunidades a todos. Às vezes, aquele que não entendeu bem o conteúdo, que ele entenda. A gente tenta formular outras estratégias mais adiante e oportunas e “reexplicar” aquilo que não ficou bem entendido.[...]. (JOSÉ).

[...] E também através, já com menos frequência em função do nosso tipo/modelo de ensino, seria na apresentação de trabalho. Os trabalhos que a gente faz, na grande maioria, são todos formativos, não tem nenhum trabalho somativo. [...]. (JOSÉ).

A Professora Fátima também relata a preocupação com a forma mais justa de

avaliar, de evitar o uso de instrumentos avaliativos com maior grau de subjetividade na

correção. Para ela, essa preocupação com a classificação é mais importante que a

aprendizagem.

[...] como a classificação vai definir toda a vida de cada aluno, acho que é uma preocupação bem grande dos envolvidos que essa avaliação possa ser mais justa possível, de acordo com o que se pretende com essa avaliação. Então, eu acho que ela é importante, é fundamental porque vai definir a carreira inteira da pessoa. A gente sabe que está lidando com vidas. Qual a arma que o cadete vai escolher; quais as unidades que ele vai servir; quais os cursos que ele vai fazer. Vai definir os lugares onde ele vai morar, as pessoas que ele vai conhecer [...]. (FÁTIMA).

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[...] porque a gente não pode deixar uma avaliação meramente subjetiva. Que quando faz esse tipo de avaliação, que é ver como um aluno sai bem, muito bem ou mal, é muito complicado, exige muito do professor. [...] considerando o peso que a avaliação tem na formação do indivíduo, na vida do indivíduo, dos futuros oficiais, a gente tem que fazer isso com muito cuidado. Porque eu tenho uma percepção, outro professor tem outra percepção. Objetividade cem por cento a gente não vai conseguir, mas vai tentar o mais próximo daquilo que é o objetivo para não prejudicar ninguém. (FÁTIMA).

A preocupação presente no depoimento do Professor Herval é sobre a

necessidade de elaboração de uma prova justa, com avaliação dos principais tópicos

trabalhados em sala de aula.

A gente procura em todas as avaliações que nós elaboramos, tanto as bimestrais como as semestrais, nós procuramos fazer uma prova bastante justa e que abranja os principais tópicos ministrados em sala de aula. [...] A avaliação, embora sempre ela vá ser para nós um instrumento classificatório. Ela tem que ser feita com muita atenção. Nós temos que usar muita justiça na hora que nós elaboramos uma avaliação. Eu não posso, por exemplo, deixar de ensinar um tópico e chegar na prova e cobrar esse tópico, não seria justo. (HERVAL). [...] porque a gente tem que ter um mapa da turma. Eu acho importante, até para ficar coerente com a questão da justiça do instrumento de avaliação [...]. (HERVAL).

Cremos que os professores externam essas preocupações em virtude do caráter

que a avaliação tem na vida do militar. No EB a avaliação dos aspectos cognitivos,

valorativos e psicomotores vai compor uma nota final de anodos alunos, e que, ao

longo do curso, vai servir de base para classificá-los e hierarquizá-los.Esta classificação

vai determinar escolhas na vida profissional do militar, como a escolha das Armas,

Quadro e Serviço20. Essa escolha está ligada à vocação do militar, mas também

determinará os locais onde o militar vai servir e os cursos que poderá fazer. A

classificação não cessa com a graduação, ela acompanha o militar durante seu

percurso profissional, nos cursos de pós-graduação e também em sua promoção,que,

no meio civil, equivale à progressão funcional. Diante do exposto, os professores evitam

nas suas práticas avaliativas formais situações que possam parecer injustas, que

possam interferir na carreira e na vida do militar. Demonstram insegurança e

20

O EB tem divisões na carreira como Arma que corresponde Infantaria, Cavalaria, Engenharia, Artilharia

e Comunicação; o Quadro tem o Material Bélico e Serviço de Intendência.

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preocupação na escolha dos instrumentos de avaliação, no grau de subjetividade

presente na correção e nos critérios adotados para a avaliação.

Pensamos que a preocupação dos professores de cometer injustiça na avaliação

não é um obstáculo para o processo de transição em que se encontra a EsPCEx.

Independente da metodologia de ensino, a preocupação com uma avaliação justa e

coerente com o processo ensino-aprendizagem é uma postura profissional esperada

em todo educador comprometido com a ética e a moral.

5.4 AS ESPECIFICIDADES DO ENSINO MILITAR

O ensino militar apresenta algumas especificidades e tem poucos parâmetros

com o ensino civil. Atividades como atirar e marchar, ter uma preparação física rigorosa,

cultuar, fortemente, valores cívicos e morais, ter um sistema de avaliação classificatório,

meritocrático e hierárquico são as principais especificidades do ensino militar.

Percebemos que os professores compreendem essas especificidades e agrupamos as

falas que evidenciam essas concepções. No entanto, nos relatos dos docentes

militares, essas percepções são mais efusivas, que consideramos estar relacionadas ao

processo de formação profissional desses docentes e de suas prerrogativas às quais

estão submetidos.

O sistema classificatório de avaliação dos alunos, que promove a hierarquia e a

meritocracia, é, notoriamente, o mais citado nos depoimentos dos docentes. A

classificação dos alunos por meio da avaliação é a especificidade mais percebida na

fala da Professora Zilda. Também evidenciamos a percepção do desenvolvimento das

competências atitudinais.

Aqui na Escola, respondendo como membro, membro que compreende a importância da classificação nesse contexto específico, militar [...]. (ZILDA). [...] mesmo que eles precisem de números, que o Exército precise de números, que não fosse tão, tantos números decimais para compor a classificação, [...]. (ZILDA).

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[...] eu explico que não vai ter nota, mas vai ter um comentário positivo na FRAD

21 deles, e aí eles ficam animados porque vão receber elogios na FRAD,

mesmo aqueles com insatisfatório, se eles vão melhorando a reescrita, com bom, muito bom ou ótimo, eles recebem um comentário melhor ainda, porque eles tiveram que fazer e refazer, fazer fora da aula, fazer na aula, entregar e esse processo é bem produtivo. [...].(ZILDA).

Percebemos que o Professor Luiz Henrique contempla em seu depoimento todas

as especificidades elencadas do ensino militar, com maior ênfase nos valores éticos e

morais e da cultura organizacional, por vezes sobrepondo-os às competências

cognitivas.

[...] a primeira noção que nós temos é bastante tradicional do que é avaliar. É colocar coluna por um, isto é, colocar os mais competentes na frente e os menos competentes para trás. Como se fosse possível apenas traçar o melhor e o pior, mas de qualquer maneira, olhando a instituição Escola é, realmente, hierarquizar. Quem vai ter mais mérito, quem vai ter mais possibilidades na carreira. [...]. (LUIZ HENRIQUE). [...] dentro de uma instituição que, quer queira, quer não, tem que dizer: você tem mais mérito ou você tem menos mérito. Infelizmente é assim que funciona, [...]. (LUIZ HENRIQUE). [...] avaliação aqui na Escola é bem mais complexa porque ela inclui aspectos cognitivos, afetivos, motores e não se avalia apenas o intelecto, a capacidade intelectual de respostas às questões, mas a relação com a moral, a relação com a ética e também a relação com o próprio corpo. A importância é você buscar um cidadão [...], mas buscar um cidadão que pode não ter o melhor intelecto, mas que tenha valores compatíveis com aquilo que a Instituição espera, de acordo com que o Estado, porque nós somos agentes do Estado. O Estado espera do seu agente, do seu representante ou de dos seus representantes, conduta moral e ética perfeita. Eu diria que a importância é buscar a junção entre o intelecto, cognitivo, o afetivo e o motor [...]. [...] eu diria que busca-se um cidadão mais equilibrado, com mais ênfase no aspecto moral, [...] associar uma disciplina aos valores é o que gente mais tenta fazer. (LUIZ HENRIQUE).

21

A sigla FRAD significa Ficha de Registro de Avaliação do Discente. Trata-se de um documento interno

para registro das avaliações da área atitudinal no EB.

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[...] se eu exijo confiança, tenho que acreditar que o aluno, se eu exijo que a profissão seja uma profissão de confiança, que as pessoas sejam honestas [...] Eu acho que, conforme eu imagino, por mais que a gente entenda que a nossa formação profissional exija conhecimentos muito claros e diferenciais da sociedade, como atirar, com fazer ordem unida, como fazer educação física. Eu acho que o nosso grande mote, nossa grande referência, tem que ser a formação de valores. Então, eu não sei se é esse o foco da questão, mas eu diria que a respeito da avaliação formativa, são aquelas que eu trabalho no sentido de dar exemplos de como é a vida militar, de como é o comportamento esperado na Instituição, e também quando eu constato que ele, pelo menos, demonstra externamente, porque não posso ler o que tem dentro da alma dele, que ele demonstra externamente que está aceitando as regras da casa. Ele está agindo de acordo com que se espera de um militar, daquele protótipo que a gente monta do que é ser militar. (LUIZ HENRIQUE). [...] porque eu acredito que a sociedade exige um profissional militar que tenha valores, que tenha atributos, que sejam sãos, porque ninguém espera que seu filho ao ser entregue numa sociedade militar, eles voltem, entre aspas, pior do que ele entrou. E esses jovens vão estar nas mãos dos nossos jovens oficiais. Então, a gente precisa acelerar o processo, não que a sociedade tenha se desvirtuado, não é isso, é que a gente vê tanta inversão de valor, tem necessidade de acelerar um pouquinho o processo de passar valor, de transmitir valores, de dar exemplos de valores [...].(LUIZ HENRIQUE). [...] é claro que a gente vai avaliar o que é fundamental, que são os valores. Eu acredito que seja este o aspecto principal da profissão. (LUIZ HENRIQUE).

Para os professores Luiz Henrique, Fátima e José, a classificação dos alunos a

partir das notas é uma necessidade institucional. Ainda para o Professor José, a

classificação está atrelada ao mecanismo de promoção funcional e à transferência do

militar.

Eu acho que tem uma preocupação muito grande, mas uma preocupação com a classificação do aluno, acho que essa daí vem antes do que ele está aprendendo. (FÁTIMA). Para a Instituição, ela importa no aspecto de que um dos objetivos a serem atingidos é classificar os alunos, colocá-los do mais antigo ao mais moderno, ela tem objetivo, esse enfoque que eu acho que é muito forte.(JOSÉ). [...] avaliação somativa a gente poderia considerar, principalmente porque é forte esse vínculo aqui na Escola, é aquela que vai classificar o aluno, ela tem primeiro, esse vínculo que é de classificação, [...]. (JOSÉ).

Não só pela nossa situação, que é uma situação de classificação, que ela vai ter que cumprir um papel futuro, de botar em fila todo mundo. (JOSÉ). Porque nosso modelo de ensino é muito peculiar, não é um modelo que possa ser comparado com um sistema de ensino externo. [...]. (JOSÉ). Porque a promoção se dá por antiguidade também, talvez tivesse que criar outra forma de promover as pessoas, ou até mesmo de movimentar, para poder mudar a sistemática de avaliação. Teria que ter um reflexo sobre o funcionamento da própria Força, eu acredito nesse sentido [...]. (JOSÉ).

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A classificação como especificidade também é relatada pelo Professor Herval,

que lhe atribui um efeito, que é desenvolver a responsabilidade nos alunos.

[...]. Sem abrir mão, no nosso caso particular aqui na Escola de Cadetes, do sistema classificatório. [...]. (HERVAL). Eles ao tomarem consciência que a avaliação é um instrumento que vai refletir diretamente na carreira deles, em um futuro muito breve, isso ajuda a eles adquirem mais responsabilidade. [...]. (HERVAL). [...] tenho que separá-los no grau de conhecimento, no grau relativo, que é o nosso sistema. (HERVAL).

Percebemos que, dentre as características do ensino militar nas escolas de

formação, como as elencadas na categoria especificidades do ensino militar, a

classificação dos alunos está presente nas concepções de todo o grupo. Alguns

possuem uma maior compreensão dessa especificidade na carreira militar, talvez pelo

fato de a classificação fazer parte de suas vidas, que é uma das características mais

marcante e institucional do EB.

A avaliação que classifica os militares dentro da carreira profissional gera

também a hierarquia, um dos pilares da Instituição. O EB é uma instituição centenária

que cultua valores tradicionais. A nova sistemática de ensino por competências não

descarta a avaliação classificatória, continua descrevendo-a como um produto. Nesse

momento de transição, de mudança e permanência, temos a permanência da

classificação.

5.5 AS AMARRAS DAS NORMAS

Na categoria as amarras das normas, classificamos os depoimentos em que

percebemos que os professores indicam contrariedade e descontentamento com a

pouca flexibilidade dos processos de montagem, aplicação e correção das avaliações, o

não gerenciamento dos processos por parte deles, a falta de autonomia para a

confecção de itens das provas, os prazos para a montagem das provas, as exigências

contidas nas normas quanto aos tipos de itens, quantidades de provas regidas pela

carga horária da disciplina. Mesmo contrariados, não concordando com as normas, eles

fazem o que tem que ser feito.

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No EB tem muitas instruções reguladoras, normas e manuais instrucionais, que

descrevem as orientações para o ensino militar. As instruções reguladoras e normas

foram descritas no capítulo dois, como as Instruções Reguladoras de Ensino por

Competências: currículo e avaliação (IREC), que têm por finalidade “[...] apresentar os

conceitos básicos relacionados ao ensino por competências [...] estabelecer diretrizes

relacionadas à metodologia para construção curricular [...] e à avaliação da

aprendizagem [...]” (BRASIL, 2013, p. 5) e as Normas para Construção Curricular

(NCC), que têm como finalidade “estabelecer as etapas relacionadas à construção

curricular” (BRASIL, 2014b, p. 6). As Normas de Avaliação da Aprendizagem (NAA) têm

por finalidade “estabelecer as regras, as metodologias e ferramentas relacionadas à

avaliação da aprendizagem” (BRASIL, 2015c, p. 6), as Normas para Desenvolvimento e

Avaliação dos Conteúdos Atitudinais (NDACA), que têm por finalidade “estabelecer as

diretrizes e padronizar ações para desenvolvimento e avaliação dos conteúdos

atitudinais” (BRASIL, 2014d, p.7).

Todas as normas, acima citadas, destinam-se a orientar e regular a construção

das Normas Internas de Avaliação da Aprendizagem (NIAA) e das Normas Internas

para Desenvolvimento e Avaliação dos Conteúdos Atitudinais (NIDACA), de cada

estabelecimento de ensino. Na EsPCEx, como uma instituição que inicia a formação do

militar combatente, essas normas são mais rígidas, com pouca flexibilidade na sua

condução.

No seu depoimento, a Professora Zilda expressa seu descontentamento com a

rigidez das normas, referindo-se a elas como amarras. Sente também a falta de

autonomia no gerenciamento do ensino.

[...] a gente tem que gerenciar aqui, essa classificação com três dígitos depois da vírgula, que para mim é bem particular, acho que avaliação no primeiro momento aqui para nós, seria uma amarra, um caminho único, é um pouco tenso, é um processo tenso aqui na Escola. Mas, é claro que o professor na sua disciplina, ele tem suas convicções e tenta não passar para os alunos toda essa tensão que existe no processo de avaliação, na criação das provas, aplicação, na correção e tudo, mas acho que é um tipo de prisão, um tipo de amarra, [...]. [...] avaliação aqui na Escola, friamente analisando é somar os pontos lá e ter aquela nota com três dígitos depois da vírgula [...]. (ZILDA). [...] a gente monta a prova somativa daquele semestre que é montada com bastante antecedência, [...] algumas coisas que eu tinha planejado não vão coincidir com a avaliação, vão estar um pouco fora do objetivo da avaliação. E

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aí eu tenho que repensar algumas coisas que eu tinha planejado, cancelar outras, inserir outras [...].(ZILDA). [...] eu não tinha que dar a mesma prova, avaliar da mesma maneira, [...]. E aqui não, você tem uma equipe que combina se todo mundo concorda se aquilo vai cair na prova. Muitas vezes vai cair na prova uma coisa que eu não acho muito importante, e aí eu vou lá e dou uma aula daquilo, meio contrariada. Às vezes, alguma coisa que eu acho que tem que cair na prova e não cai [...]. (ZILDA). Aqui, a gente tem que seguir as regras da documentação da Escola, não é só na minha prática, mas na prática de todos, tem a regularidade com a carga horária, na minha disciplina [...] tem uma avaliação intermediária no meio do semestre ou mais para o final [...]. (ZILDA). [...] Não que seja proibida pela sistemática da avaliação, de acordo com as AA

22, eu acho que se a gente fizesse uma proposta para a Seção de Avaliação,

de fazer uma prova oral, a gente teria que registrar, de alguma maneira, [...]. (ZILDA). [...] mesmo com toda a documentação que rege a parte teórica, mesmo que a gente, às vezes, se sinta amarrado às essas regras técnicas [...]. (ZILDA). A Seção Técnica

23, a qualidade das questões, a clareza dos enunciados, o

problema do gabarito, tudo bem, existe um controle superior [...]. (ZILDA). [...] uma coisa que sempre me incomodou foi você criar práticas novas na sala de aula e no momento que você cria um exercício que gere uma nota somativa, você não encontra na documentação técnica, um termo, uma categoria para aquele exercício. E aí ele não pode ser usado, porque não existe uma categoria para ele, então, primeiro vem as categorias e depois vem o exercício em si. Então, eu queria mais liberdade nesse sentido. No momento que eu criasse um exercício novo, totalmente diferente, e ele não entrasse em nenhuma das categorias da documentação, que ele fosse colocado, ou que, simplesmente, não fosse obrigatório você seguir as categorias. (ZILDA). [...] que você não ficasse amarrada às categorias que o documento rege. Que você tem que encontrar um nome para o exercício que você criou. [...] uma avaliação mais adequada, em minha opinião, não seria essa com três dígitos depois da vírgula, [...]. (ZILDA). [...] o que me incomoda é essa correção minuciosa, que gera essa nota com tantos dígitos, [...]. (ZILDA).

Percebemos que a Professora Zilda se sente amarrada pelas normas, cerceada

na sua criação de instrumentos didáticos e na sua prática pedagógica pela rigidez

contida nas diversas normas presentes no ensino militar. A classificação rigorosa pela

nota de ano com até três dígitos está prevista nas Normas Internas de Avaliação da

22

AA são avaliações somativas, denominadas avaliações de acompanhamento, realizadas ao longo de

uma disciplina específica. As AA compõem as AC. 23

Seção Técnica é a denominação do setor responsável pela análise, confecção e aplicação de provas. Na EsPCEx esse departamento é denominado Subseção de Avaliação da Aprendizagem.

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Aprendizagem– NIAA, além da orientação na construção dos itens da prova e os

critérios para a correção.

O Professor Luiz Henrique também faz referência às normas, porém suas falas

são mais sutis em relação às normas dos processos cognitivos. Ele estabelece relação

com a avaliação dos conteúdos atitudinais, que está descrita nas NIDACA.

É evidente que a gente pode ter um leque de possibilidades, quer dizer, dentro daquelas possibilidades que a gente imagina a pessoa optou por uma linha. Nem sempre, porque a avaliação acaba que fechando esse leque. (LUIZ HENRIQUE). [...] Nós já fizemos algumas experiências na Escola, até experiências multidisciplinares, onde nós tínhamos claro, parâmetros, até porque a Escola “meio” que exige essa flexibilidade relativa. [...].(LUIZ HENRIQUE). [...] E não prevalecia a ideia se o fato de você ser mais antigo ou mais moderno, na realidade, a soma dessas opiniões é que estava valendo. Então, nós tínhamos essa experiência de ter folhas, de ter croqui, de ter orientação de como avaliar [...]. (LUIZ HENRIQUE). [...] minha primeira preocupação com avaliação, realmente, é tentar dar um exemplo de como seria um oficial. Porque a gente muitas vezes quer avaliar, mas não oferece parâmetros. Então, acho que toda vez que falo em avaliação eu tenho que passar, pelo menos, alguns parâmetros. [...]. (LUIZ HENRIQUE). [...] É claro, eu tento se possível, até porque a gente tem essa obrigação formal de montar um painel do aluno, de passar para os demais colegas, de trocar informações com os demais colegas, e também trocar informações com o próprio aluno. [...] Não registrar é um problema, eu sempre registro algumas coisas eu esqueço, mas de qualquer maneira tenho tentado registrar para que a gente possa montar um painel [...]. (LUIZ HENRIQUE). A somativa é avaliação entre aspas, a que vale grau, não é isto? Aqui na Escola a gente avalia, aqui o somativo virou sinônimo de tem grau, vale nota ou não vale nota. [...](LUIZ HENRIQUE). Primeiro por imposição e segundo porque na vida da gente, nós estamos de certa maneira, sempre avaliando. (LUIZ HENRIQUE). [...] Eu diria que aqui na Escola existe a preocupação de que todos os integrantes da Escola, os mais velhos, pelo menos, sejam avaliadores. Isto pelo menos foi demonstrado nas reuniões que participei. (LUIZ HENRIQUE).

Percebemos os sentimentos de restrição e de controle presentes também nas

falas do Professor José. O sentimento de regulação gerado pela imposição de normas

pela Instituição é externado no seu discurso.

Ele evolui cinquenta por cento, porque tinha um conceito anterior que melhorou em alguns aspectos e ele adquiriu um pouco mais de conhecimento. Por isso

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que eu acho cada evolução não é um padrão só, isso é minha concepção, mas não é o que de fato a gente realiza no contexto. Porque o objetivo é classificatório. (JOSÉ). [...] e finalmente teria as provas formais, daí já tem um ritual, uma ritualística toda, concentra todo mundo e por aí vai. (JOSÉ). [...] Realizamos. O porquê está atrelado à própria Instituição, essa avaliação somativa é obrigatória, você tem que fazer para classificar o aluno, [...]. (JOSÉ). Então, seria algo que não poderia deixar de ser feito, uma avaliação somativa em si. Não só pela nossa situação, que é uma situação de classificação, que ela vai ter que cumprir um papel futuro, de botar em fila todo mundo. [...]. (JOSÉ). [...] porque quem elabora o plano de disciplina é o professor, apesar de ele passar por uma aprovação do escalão superior, mas esse plano tem sua origem no professor. Ele tem muito mais intervenção ao que diz respeito à forma, do que ao conteúdo propriamente dito pelo escalão superior. Este, quando interfere, normalmente é na forma e não no conteúdo, mas também há um impositivo que influencia a avaliação propriamente dita que seria a própria Instituição. Eu já diria que seria um gerenciamento do ensino em si. Porque o professor cria uma expectativa de aula [...] Você vai ter [...] tempos de aula, mas pela natureza do ensino que nós temos, muitas vezes, você não tem aqueles [...] tempos. [...] aí a gente tem que ter muita sensibilidade na escolha do que vai ser colocado. Porque, muitas vezes, em função de você ter que fazer com um mês de antecedência, você tem que projetar um futuro, que pode não acontecer. [...]. (JOSÉ). [...] é tentar uma integração maior entre as disciplinas afins. Não vou dizer que tenha todas as disciplinas, mas uma integração assim, não apenas por colocar uma ligação para cumprir uma determinação, mas pegar aquilo que de fato, realmente, tenha contexto numa e na outra. [...] (JOSÉ). [...] o outro é a questão da classificação, a necessidade da classificação. Como ela é um fator, uma condição, vamos dizer assim, que não tem negociação, pelo menos por enquanto, ela cria na gente um propósito, você tem que classificar. [...]. (JOSÉ).

A Professora Fátima relata situações de descontentamento com as regras de

montagem e correção dos itens da prova presentes nas normas de avaliação, indicando

discrepância nos pesos dos escores.

Já aconteceu da gente querer fazer um exercício de um tipo e não ter como fazer, porque a norma não permitia. O sistema de gaivota

24 é uma coisa que

dificulta o peso do conteúdo, para gente. [...]. (FÁTIMA).

24 Termo usado para se referir à contagem de escores.

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A mudança que eu espero é a maneira de colocar pesos nos escores, na pontuação de cada item. Especificamente na minha disciplina, às vezes eu faço uma redação, como é uma redação simples que ele tem que fazer, porque ele está no nível básico, não tem como ficar enchendo de coisas e colocar muitos pontos. Às vezes, eu preciso cobrar um vocabulário muito grande. Então, a quantidade de ponto do vocabulário, não tem como avaliar o conjunto, tem que dar ponto para cada palavra que foi escrita. E isso acaba tendo uma quantidade de pontuação muito maior do que uma redação. Os exercícios ficam equiparados, só que o peso da redação tinha que ser maior, porque a elaboração, o raciocínio que o aluno precisou para fazer a redação é muito maior do que lembrar a grafia e ortografia das palavras, [...]. (FÁTIMA).

O Professor Herval não fez referência às normas em seus depoimentos.

Notamos que, para o Professor José, a restrição mais significativa é o fato de

que as práticas avaliativas somativas estão atreladas à classificação. Percebemos, na

sua fala, contrariedade em relação à precocidade na construção das avaliações, fato

também percebido na fala da Professora Zilda.

As orientações prescritas nas normas constituem-se amarras, um engessamento

para os professores que têm dificuldades em aceitá-las sem um posicionamento. Essa

sensação de engessamento é mais perceptível pelos professores civis que pelos

professores militares. Cremos que esta distinção se dá pela formação profissional.

Por um lado, as normas sobre avaliação no EB têm a função de padronizar

ações e procedimentos em seus estabelecimentos de ensino. Por outro lado, essas

normas são particularizadas por normas internas, que atendem as especificidades de

cada estabelecimento, constituindo espaços para uma adequação mais ajustada para

as necessidades educacionais da EsPCEx.

5.6 FUNÇÃO DA AVALIAÇÃO: PROCESSO E PRODUTO

Entendemos que essa categoria é a mais relevante para o contexto da pesquisa,

uma vez que indica as concepções de avaliação dos professores. Avaliação com

função de processo e como função de produto não são dicotômicas, nem excludentes.

Segundo Luckesi (2005, p.20), “um processo obrigatoriamente chega a um produto e

um produto não existe, de modo algum, sem um processo que o gere. Nenhum

resultado nos chega ex-abrupto, sempre há um processo que o produz”. Ideia também

compartilhada pelas autoras Valderez Marina do Rosário Lima e Marlene Correro Grillo

quanto às funções da avaliação, “instâncias distintas do mesmo processo e, portanto,

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devem coexistir. Ambas são coerentes entre si em termo de objetivo geral - fornecer

informações sobre a aprendizagem do aluno e auxiliar na reorientação do processo”

(LIMA; GRILLO, 2008, p. 25).

Entendemos que a avaliação com função de processo é o que classificamos, na

pesquisa, como formativa, pois propicia feedback sobre o processo ensino-

aprendizagem tanto para o professor como para o aluno. Indica o que precisa ser

reorientado, onde estão as lacunas e as fragilidades no processo, possibilita reflexão

sobre as possíveis causas e orienta a tomada de decisões. A avaliação com função de

produto, que para nós, na pesquisa, denominamos de avaliação somativa, ocorre ao

final de uma etapa, de um semestre, de um curso, e tem função de validar um

processo. No entanto, também fornece informações sobre o processo, como o grau em

que os resultados foram ou não alcançados.

Agrupamos nessa categoria os depoimentos que consideramos apresentar

indicações das funções da avaliação. Notamos contradições nas falas dos professores

sobre avaliação e/ou exame, até mesmo na fala de um mesmo professor. Essas

contradições estão presentes no cotidiano do universo escolar e são relatadas na

literatura sobre o tema, como bem esclarece Hoffmann (1991, p. 13) quando diz que

estão relacionadas com as concepções que os professores têm de avaliação, que vão

desde sua história de vida como aluno até sua formação profissional e que “é

necessária a tomada de consciência dessas influências para que nossa prática

avaliativa não reproduza, inconscientemente, a arbitrariedade e o autoritarismo que

contestamos pelo discurso”. Pensamos que essas contradições retratam o processo de

mudança no ensino em que se encontra a EsPCEx.

A Professora Zilda apresenta em seus depoimentos concepções sobre avaliação

como processo, que embora se traduza em nota, indica dados sobre um processo

contínuo. Uma avaliação que considera o aluno como sujeito no processo.

[...] eu vejo a avaliação realmente como um processo de formação, andei lendo alguns textos, eu vejo que o conceito é sempre detectar um problema para melhorar, mais para frente, e não simplesmente avaliar, dar uma nota e não existe o mais para frente, acabou, a partir daí é outra coisa. Avaliou, virou a página, acho que não deveria ser isto. O significado de avaliação é percurso, um caminho e sempre deve ter o depois, sempre deve ter um complemento depois da avaliação. (ZILDA).

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[...] faço com eles um processo de escrita, durante bem uns dois meses, praticamente trabalho com escrita e reescrita. Vou trabalhando com os que escrevem menos [...] e depois quando chega na hora da avaliação somativa, eu vejo notas ótimas refletindo todo aquele trabalho formativo que foi feito na aula. (ZILDA).

Apesar de praticar avaliação como processo, a Professora Zilda tem parte da sua

atividade docente focada na avaliação como produto, uma adequação ao sistema de

ensino no EB.

Na minha prática docente atual, eu tenho que confessar que penso em avaliação o tempo todo. Por quê? A gente começa o semestre com alguns planos, começa a desenvolver algumas atividades em sala de aula e depois que a gente monta a prova somativa daquele semestre, que é montada com bastante antecedência, eu percebo que algumas coisas que eu tinha planejado não vão coincidir com a avaliação, vão estar um pouco fora do objetivo da avaliação. Aí eu tenho que repensar algumas coisas que eu tinha planejado, cancelar outras, inserir outras. Na minha prática docente, sinto me adaptando, correndo atrás do prejuízo, diferente de outras experiências que eu tive antes de entrar aqui [...]. (ZILDA).

Percebemos nos seus depoimentos uma avaliação com função de processo com

objetivo de gerar um produto, com ações e reflexões sobre o processo, com objetivos

claros para os alunos e feedback em tempo hábil, guiado pelos resultados definidos.

Não percebemos contradições em seus depoimentos.

[...] avaliação formativa pode ser qualquer exercício em sala de aula, mesmo que o aluno não saiba, mas você planejou aquilo como avaliação formativa e porque dependendo do que eles produzirem você vai ficar mais tranquila, sabendo que eles têm condições de irem bem na avaliação ou você vai ficar preocupada e vai mudar suas práticas. [...]. (ZILDA). [...] eu venho fazendo no segundo semestre, já há alguns anos. Eu começo o semestre com o trabalho de escrita e reescrita, porque na avaliação do segundo semestre eles, geralmente, vão produzir um pequeno texto sobre a rotina deles aqui na Escola. Eu começo logo no início do semestre e trabalho todo o vocabulário, eles fazem um primeiro texto, e quando dou o feedback deste primeiro texto eu já coloco para eles, na lousa, um calendário de escrita e reescrita e as várias etapas de ótimo, bom, regular, ruim e insatisfatório, para que eles, que na primeira versão não conseguiram, eu mostro para eles a maneira que eu quero que eles melhorem de regular para bom, para ótimo até chegar nessa avaliação do final do semestre. Então, eles vão enxergando a quantidade de reescrita que eles têm que fazer, uns fazem duas vezes, outros fazem três, outros fazem quatro. E aqueles que vão reescrevendo, eles ficam esperando o momento que eu vou devolver com aquele ótimo, muito bom, “Olha você atingiu os objetivos” [...]. (ZILDA).

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[...] uma avaliação mais adequada é esse processo de portfólio, que é interessante, mas uma avaliação mais adequada também, em minha opinião, não seria essa de três dígitos depois da vírgula [...]. (ZILDA).

O Professor José apresenta alguns depoimentos com concepções de avaliação

como produto, porém como fonte de informações sobre o processo e com função de

validar um processo.

Eu associo avaliação como se fosse uma medida do quanto o aluno avançou em termo de conhecimento e também uma medida de quanto foi eficaz a forma como você tratou determinado assunto, como você tentou ensinar determinado conteúdo, ela tem esses dois indicadores. (JOSÉ). [...] ela sempre traz para o professor um retorno, tanto da eficiência do modelo que você está adotando para poder ensinar, como as atividades que você faz em sala de aula. Como também a própria relação que você tem com turma, ela dá um feedback disso. Se você está se comunicando bem ou não. E para o aluno em si, seria também um parâmetro de que ele avançou em relação ao que ele era antes. [...] o mais importante é que o aluno avance em relação ao que ele era antes. É isso que acho que é mais importante, ou seja, a evolução, por isso que eu falo que tem duas conotações. Um aluno que evolui 50% não quer dizer que ele tirou 50% da nota, no meu ponto de vista. Ele evolui 50% porque ele tinha um conceito anterior que melhorou em alguns aspectos e ele adquiriu um pouco mais de conhecimento. [...]. (JOSÉ). A avaliação somativa a gente poderia considerar, [...] ela tem primeiro esse vínculo que é de classificação, mas também eu diria que ela dá uma informação, pelo menos inicial, não diria que é perene isso, pois o aluno pode rever através de um reestudo daquilo e adquirir o conhecimento que não foi demonstrado ali naquela hora, mas é uma forma do aluno ter um feedback também para ele mesmo, nesse sentido. (JOSÉ). [...] a avaliação somativa permeia qualquer meio de ensino propriamente dito, porque ela tem objetivo de registro. Seria algo que não poderia deixar de ser feito, uma avaliação somativa em si. [...] você teria que ter um registro legal, vamos dizer assim, do que aquela pessoa demonstrou, pelo menos, naquele momento de avaliação, de conhecimento. Para que venha validar, talvez até o curso ou aquilo que ela está fazendo, seja um curso de idiomas que fosse, tem que ter uma forma de validar isso, então, a função da avaliação somativa seria esta, você tem que validar o seu curso, nesse sentido. (JOSÉ).

Em outros depoimentos, descreve práticas avaliativas que realiza em sala com

função de processo, ou seja, com suas características, como dar retorno tanto para o

professor como para o aluno; evidenciar desvios; oportunizar correções de rumo.

Percebemos nos depoimentos do Professor José as duas funções da avaliação

coexistindo de maneira coerente e necessária.

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[...] eu pegaria num contexto não só de avaliação formal, mas as formativas que a gente faz. Você tem um feedback da sala de aula, porque muitas vezes a gente explica, fala, resolve o exercício, levanta se há dúvidas, muitas vezes o aluno não manifesta por diversos motivos, ou acha que entendeu. Através da formativa a gente tem oportunidade de verificar de fato se aquilo ocorreu ou não e intervir antes. [...] eu acho que um dos papéis é esse, você voltar ao conteúdo que não foi assimilado de uma forma adequada e você poder revê-lo e tentar fazer com que ele progrida. (JOSÉ). Os momentos que eu faço, normalmente é assim, eu gosto de usar a avaliação formativa. Então, como é feito? É através de um exercício, de várias formas, já usei vários modelos, um é exercício feito em papel onde a correção é feita por troca, um aluno corrige do outro, ele dá a nota baseada no que a gente comenta da resolução. Também tem o exercício que a gente pede para ele desenvolver na lousa, que é uma forma da gente verificar como ele desenvolve e fazer alguns apontamentos [...]. (JOSÉ). Eu entendo que avaliação formativa vem da própria palavra, ela tem a ver com a formação do sujeito, ou seja, é quando você vai dar oportunidade de você colocar ele num momento em que vai demonstrar seu conhecimento, mas ao mesmo tempo você começa a evidenciar alguns desvios no que diz respeito ao aprendizado de determinado conteúdo. Ela tem um caráter bastante interessante, porque é ela que vai oportunizar você intervir naquele aprendizado propriamente dito, ou reformular a formar de explicar, ou fazer as mudanças. (JOSÉ). Outro momento também que faço uma coisa mais instantânea, a duração é um pouco mais curta, é fazer o uso da pergunta. Às vezes a gente explica um conteúdo e você pergunta para um aluno, ou pede para ele explicar aquilo eu você acabou de falar, ou pede um exemplo sobre um determinado assunto que você fez. Isso é uma forma de avaliação formativa. .(JOSÉ). Porque ela permite um retorno para o professor no que diz respeito à didática, ao que ele vai ensinar dali para frente, ou ao que foi aprendido, como ele vai resgatar aquele conhecimento que não ficou muito bem entendido e também porque é um retorno para o aluno, como uma preparação para a prova formal. (JOSÉ).

O Professor Herval apresenta em suas falas concepções sobre avaliação com

função de produto, predominantemente. Um produto que traz informações pontuais do

processo para o professor, “dá um mapa da turma”, mesmo que esse produto sofra

influência de outros parâmetros. E para o aluno acende uma “luz de emergência”.

Nós entendemos a avaliação como uma forma que temos de acompanhar o aprendizado do nosso aluno. [...] seria mais para avaliar o desenvolvimento do aluno. [...]. (HERVAL).

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O significado de avaliação é um pouquinho complexo para gente responder. A gente poderia dizer assim: Que avaliação serve para nós como um instrumento do acompanhamento do desenvolvimento do aluno. [...] só que a avaliação tem outros parâmetros envolvidos, como por exemplo: no dia que a pessoa fez a avaliação, como foi a véspera do dia do nosso aluno? Será que ele teve um dia cansativo? Ele dormiu bem? Ele tirou serviço pegando o horário da madrugada? Tudo isso interpretamos que são parâmetros que possam influenciar no resultado da avaliação que nós temos. [...]. Avaliação está diretamente relacionada com o que estou ensinando em sala de aula. (HERVAL) O aluno entende que em determinado momento haverá uma avaliação, haverá uma cobrança, isso o impulsiona para se preparar também para esse dia da avaliação. Faz com que o aluno saia da sua zona de conforto e comece a nos procurar para tirar dúvidas. [...]. (HERVAL) [...] São os alunos que se deparam com uma dificuldade, enfrentam a dificuldade, nos procuram. Nós acabamos sendo, aqueles facilitadores de conhecimento [...]. (HERVAL) Embora ela seja um instrumento que gera uma cobrança, ela também tem outro aspecto positivo, que é o de incutir uma responsabilidade no jovem. (HERVAL) [...] alguns alunos chegam aqui imaturos, como é normal da idade, e começam a tomar consciência que existe a avaliação em um dado instante, começa a correr atrás, como nós dizemos, eles amadurecem. [...]. (HERVAL) [...] a avaliação, digamos assim, boa parte, encerra um instrumento para a gente medir o conhecimento do aluno e também para que a gente possa colocá-los em uma ordem classificatória. [...]. (HERVAL) [...] eu gosto de fazer avaliação somativa no meio do caminho. Primeiro, eu acho que fica uma coisa mais justa, é como se eu ligasse uma lâmpada de emergência para o aluno. (HERVAL) [...] a gente entendeu que a avaliação por ligar uma luz de emergência para ele, já o obrigou a se planejar, já o obrigou a se preparar. (HERVAL)

Apesar de conceber avaliação como produto e fortemente associá-la à

classificação, o Professor Herval realiza práticas avaliativas com função de processo.

Porém, a avaliação formativa talvez não seja planejada de forma tão clara quanto a

avaliação somativa, porque quando perguntamos se ele realizava avaliações

formativas, disse que não fazia, mas dá exemplo de práticas de avaliações como

processo.

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[...] tem a explicação teórica, chega o momento dos exercícios. E principalmente, até a primeira avaliação de acompanhamento, eu os boto para trabalhar individualmente. Por quê? Eu quero conhecer o meu aluno, eu quero conhecer a dificuldade, E é nessa hora que surgem as dúvidas [...]. Agora no momento da dúvida, o atendimento é particularizado, Eu chego e falo com um, vou à mesa do outro e vejo, peço para um perguntar, resolvo no quadro, levo ao quadro comigo aqueles que estão em dúvidas, peço para que ele faça um exemplo. Pego um pedaço de gráfico para ele analisar, mando construir um pedaço de gráfico, [...] Quando eu vou aplicar a prova, as avaliações minhas, somativas, é como se nós já tivéssemos na cabeça o mapa da turma. Eu tenho um mapa, eu tenho um terço que está com dificuldade. Esse terço com dificuldade é que me preocupa, é nele que eu vou focar mais, sem esquecer os dois terços. (HERVAL) [...] seria legal, por exemplo, a gente fazer de início algumas avaliações como os alunos, Até testes surpresa, mas não valendo nota, quebrar o paradigma, nesse momento, da nota. Eu poderia fazer o seguinte, a cada semana, duas questõezinhas ali, de surpresa para o cara ir fazendo na hora, para ver se ele está acompanhando ou não e corrigindo, mas para isso eu preciso de tempo para corrigir, eu preciso de tempo para elaborar. [...] (HERVAL) A avaliação, de certa forma, me ajuda a ter um mapa do aluno, Eu vejo, por exemplo, problemas cognitivos, muitas vezes vão aparecer para mim na hora que ele vai escrever, na hora que ele tenta expressar suas ideias, na hora que ele tenta interligar suas ideias [...]. Seria legal se eu pudesse antes do propriamente dito, fizesse uma mais simples, que não valesse nota, mas como um teste surpresa. (HERVAL)

Percebemos que o Professor Luiz Henrique apresenta, em seus depoimentos,

concepções de avaliação como produto gerado de um processo. Notamos também em

suas falas a concepção de avaliação como um todo, composta pelos processos do

conhecimento cognitivo, atitudinal e psicomotor, principalmente no que diz respeito à

formação do militar.

Avaliar é verificar se a pessoa pode escrever, sempre a pessoa pode realizar, mas pode realizar de um jeito efetivo. Avaliar é constatar que a pessoa encontre um jeito para resolver um problema [...]. A gente imagina possibilidades, a partir de certo desafio e a gente espera que o aluno, em princípio, que ele acerte uma dessas possibilidades. Se ele não jogar com essas possibilidades, a gente tem que repensar a possibilidade que ele colocou, para ver se a possibilidade que ele colocou também tem uma validade. É claro que sempre depende muito do enfoque que eu estou tendo, mas eu acho que avaliar é verificar se o aluno é capaz de dar uma resposta a um problema. (LUIZ HENRIQUE). [...] temos que ter parâmetros, para que o aluno caiba dentro desses parâmetros, mas de qualquer maneira, as avaliações mais significativas são aquelas que fizemos em grupos. [...]. (LUIZ HENRIQUE).

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[...] nós tínhamos grupos de pelo menos três professores, em cada momento, conversando, discutindo, ouvindo alunos e esperando algumas respostas e talvez avaliando outras respostas que estava valendo aquilo que esperávamos, mas que poderiam, também, ser possíveis. (LUIZ HENRIQUE). É evidente que a gente tem que ter noção que ao assumirmos uma aula, uma cátedra, a gente também está de certa maneira, sendo e muito avaliado. [...] Eu, normalmente, busco no processo é uma interação entre professor e o grupo de alunos. Eu diria que a primeira coisa que busco na sala de aula é a confiança, é que os alunos acreditem que nós estamos ali, todos juntos, para trabalharmos um processo educacional, que leve todos, eles e nós também, ao melhor desempenho daquilo que nós pretendemos no futuro, No nosso caso é ser militar. (LUIZ HENRIQUE). [...] a avaliação no toque diário com o aluno, porque acho que essa é mais significativa até do que a avaliação que a gente faz, quando tem uma prova e você diz: você é dez, você é oito [...]. (LUIZ HENRIQUE). É aquela confusão que eu volto a insistir, eu não consigo enxergar avaliação só dentro de um prisma. Ao mesmo tempo em que estou buscando conceituar, dar uma nota, hierarquizar [...]. Para ser sincero, eu nem sei muito bem onde começa uma e onde termina a outra e vice-versa, onde termina, onde começa. Na realidade eu acho que toda avaliação que a gente faz, tem muito tanto da formação, como da ideia de hierarquizar. [...]. (LUIZ HENRIQUE).

Percebemos nas falas da Professora Fátima concepções de avaliação como

produto. No entanto, descreve práticas avaliativas com função de processo, com certo

distanciamento entre as funções da avaliação.

A ideia imediata é verificação da aprendizagem, para o professor [...]. (FÁTIMA). Do meu ponto de vista de educadora, avaliação para mim é toda vez que eu consigo não exatamente mensurar, mas chegar numa ideia do que o aluno aprendeu com aquilo. É claro que a gente nunca vai ter a ideia exata, pelo menos eu acredito nisso, mas o que o aluno tira daquilo, o que ele leva, como ele consegue externar aquilo que aprendeu.[...]. (FÁTIMA). [...] o momento que você descobre que o aluno aprendeu o que você ensinou. Para mim é o que significa mais. [...] é um texto que ele escrevia mal e ele conseguiu reescrever, e nem está valendo ponto, mas ele se empenhou naquilo, ou o momento em que o aluno fala “Ah”, ou que o aluno faz uma pergunta. Porque eu acredito que o quando você consegue chegar ao nível da pergunta é quando aquilo tem significado para você e tem interesse em saber alguma coisa a mais. [...]. (FÁTIMA). [...] Eu procuro fazer coisas diferentes para testar o conhecimento, [...].Essa minha avaliação, essa verificação que faço durante as aulas, ela ocorre sempre na medida do possível. Como nossas aulas estão todas pensadas, entre os professores da disciplina, ela está pensada com exercícios, tem essa verificação a todo o momento. Isso que mais ajuda a gente no processo de avaliação em sala da aula. (FÁTIMA).

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A formativa é mais frequente. Como eu falei os exercícios que eles fazem na sala de aula é uma avaliação imediata daquilo que ele acabou de aprender. Praticamente em todas as aulas a gente está corrigindo exercícios e está de certa forma, avaliando. (FÁTIMA).

Com que intenção o EB propõe uma metodologia de ensino que tem a finalidade

de desenvolver autonomia, flexibilidade e criatividade no oficial combatente? Que esse

militar seja também um cidadão crítico, preparado para tomar decisões e atuar em

ambientes complexos e incertos. Uma metodologia que propõe um processo de

avaliação com diálogos, com maior participação dos sujeitos envolvidos na sua

construção e com ênfase nos parâmetros de julgamento dos resultados da

aprendizagem, com múltiplos instrumentos e ferramentas de avaliação de natureza

quantitativae qualitativa, centrados em situações reais e complexas. No entanto, possui

uma necessidade institucional de um sistema de avaliação classificatória e

meritocrática.

Quais as concepções dos professores sobre esse momento de transição? Quais

são suas dúvidas e incertezas? Quais os limites e possibilidades vistos por eles?

Entendemos que o EB passa por um momento de mudança, de transitividade,

com a necessidade de um sistema de ensino que atenda à contemporaneidade, com

inovações metodológicas e tecnológicas, porém sem perder a identidade militar. Esse

momento é percebido pelos professores com incertezas e dúvidas, como algo

complicado, complexo, desconhecido. Contudo, apresentam sensibilidade e abertura

para as incertezas do momento, como podemos perceber nas suas falas sobre a

avaliação mais adequada para a nova sistemática de ensino da EsPCEx.

Uma avaliação mais adequada é esse processo de portfólio, que é interessante [...] não seria essa com três dígitos depois da vírgula [...] o que me incomoda é essa correção minuciosa, que gera nota com tantos dígitos, isso seria mais adequado, mas a gente sabe que choca com o sistema, a gente tem que achar um meio termo. (ZILDA).

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É super complicado avaliar competências, é claro que a gente vai avaliar o que é fundamental, que são os valores. [...] De qualquer maneira, nesse aspecto nós estamos buscando algumas soluções, a avaliação tem que caminhar junto com a formação, tenho que formar e avaliar, tem que caminhar juntos esses dois aspectos. Eu acredito que com relação aos valores nós estamos bem encaminhados. Com relação às competências profissionais [...] acredito que seja mais fácil no dia a dia, mais difícil no sentido que se espera do militar em uma ação real. Eu acho que dá para se avaliar alguns aspectos da sua formação aqui dentro, mas não se consegue ver esse aspecto empregado numa situação real, no contexto de uma favela, na pacificação de uma favela, ou numa ação de controle de trânsito. Nós temos oportunidades de avaliar se a instrução é individual, se a instrução em grupo está dando resultado, mas não temos como avaliar a aplicação prática dessas competências. A prática que digo é junto da sociedade. (LUIZ HENRIQUE). É difícil dizer que existe uma modalidade específica. Porque quando a gente pensa em ensino por competências, eu não acredito que exista uma forma só de avaliar. Você fazer só uma forma, fazer só prova formal. Eu acho que teria que ter diversificação nas formas de avaliar para um ensino por competência. Porque você permitiria que fosse demonstrado aquele conhecimento em diversas maneiras, [...]. (JOSÉ). É um pouquinho complicado para responder isso. A questão do ensino por competência tem várias vertentes. [...]. Eu acho muito legal quando se cria situações-problema, eu acho que é um estímulo para o aluno se sentir desafiado. (HERVAL) Eu não tenho uma ideia definida. Aquilo que eu penso hoje, ainda é uma coisa muito rasa, falta conhecimento. Mas a gente tem avançado em colocar o aluno em situações e avaliar como ele se sai na situação, mas para responder diretamente aquilo, o tradicional. [...] Eu acho que a gente tem sempre que estar procurando melhorar. A avaliação formativa é satisfatória, mas a somativa deve ser repensada. Eu não tenho uma resposta fechada, porque eu ainda estou repensando de que maneira colocar essa situação, porque a gente não pode deixar uma avaliação meramente subjetiva. [...]. (FÁTIMA).

Cremos que um conceito coletivo de avaliação na concepção dos professores da

EsPCEx está em construção, face à transitividade do momento. Por um lado, pela

permanência de uma necessidade da Instituição, ainda existe uma avaliação como

produto, que mensura; que verifica; que conceitua; que hierarquiza; que mapeia; que

mede e que classifica. Por outro lado, apesar das dúvidas, do desconhecimento, da

falta de definição, diante de um processo de mudança, notamos que os professores

buscam romper com essas concepções, com práticas avaliativas de continuidade, mais

processual, voltadas para a participação do aluno, com possibilidades de reflexão

nessas ações.

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6. CONSIDERAÇÕES

Mais do que qualquer outro momento histórico, é necessária esta compreensão do conhecimento, da aprendizagem e da reflexão como redes. Como texto, tecido de muitas vozes, em diálogos da criação. Ensinar e aprender: trabalho de descoberta e de construção, pessoal e coletiva, [...]. (SEVERINO ANTÔNIO, 2002, p. 42-43).

Neste capítulo, apresentamos a problemática da pesquisa, descrevemos a etapa

devolutiva para os professores, tecendo considerações sobre os resultados obtidos,

apontamos contribuições da pesquisa e sugerimos possibilidades para futuras

investigações sobre avaliação e educação militares.

A EsPCEx passa por um momento histórico, a adoção pelo EB, em 2012, da

Nova Sistemática de Formação do Oficial de Carreira da Linha de Ensino Militar Bélico

do Exército Brasileiro, que alterou a sistemática de ensino, passando de um currículo

por objetivos para um currículo por competências. A avaliação preconizada por essa

metodologia tem intenção formativa, o aluno é sujeito ativo no processo, está baseada

no diálogo entre os envolvidos e é processual, diferentemente de uma avaliação

classificatória e meritocrática, mais centrada em aspectos técnicos, como a que é

institucionalizada no EB.

Diante desse impasse, vivendo-o como membro que sou da Instituição, surge a

necessidade de rediscutir a avaliação. Resolvemos investigar as concepções de

avaliação dos professores, sujeitos envolvidos no processo de transição, porque

entendemos que em educação os professores, os alunos, os currículos, a metodologia

e a avaliação fazem parte do processo de ensino-aprendizagem.

Conforme prevê a modalidade de pesquisa qualitativa, nós planejamos uma

devolutiva das interpretações sobre as concepções de avaliação para os sujeitos da

pesquisa, por meio de apresentação de um mapa conceitual (Apêndice C) das

categorias elencadas e suas justificativas. Propusemos fazê-la com o grupo de

professores reunidos, com a finalidade de promover diálogos entre os sujeitos da

pesquisa e destes com a pesquisadora. Vimos nesse momento uma possibilidade de

uma reflexão em grupo sobre o tema. No entanto, não foi possível fazê-la em conjunto,

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por motivos variados, como férias escolares, início do período letivo e impedimentos

funcionais, como troca de comando da EsPCEx e a chegada de novos alunos.

A devolutiva foi feita individualmente e somente com quatro professores, um dos

sujeitos estava impossibilitado de participar em tempo hábil para o fechamento da

pesquisa. Entramos em contato com ele, via email, e enviamos o mapa conceitual sobre

as categorias elencadas.

Apresentamos as interpretações por meio das categorias e de suas explicações

e justificativas e solicitamos que os sujeitos se posicionassem acerca das

interpretações. Todos concordaram com a leitura feita de suas falas, com as categorias

e suas justificativas feitas por nós e acrescentaram outras maneiras de interpretações

das concepções, além de indicarem alguns limites e possibilidades.

Confeccionamos mapas conceituais para cada categoria, com os dados

principais, com nossas análises e interpretações, com nossas conclusões, limites e

possibilidades e com as sugestões e justificativas dos sujeitos da pesquisa, após a

devolutiva.

Explicamos a adoção da sequência das categorias por grau de relevância em

relação à avaliação, do menor para o maior e a intrínseca relação entre elas,

interpretação corroborada por todos eles. Julgamos que a categoria pertencimento e

não pertencimento ao grupo de professores da EsPCEx era a menos relevante em

relação às concepções de avaliação dos professores. Seguida dessa categoria,

apresentamos a medo de cometer injustiça, que para nós é justificada pela

classificação, uma das especificidades do ensino militar. Dada a influência que a

classificação tem na vida do militar, o sistema de ensino elabora normas para orientar o

processo de avaliação, que para nós representa a categoria as amarras das normas.

Essas normas buscam corrigir/inibir algumas distorções no processo e dão ênfase na

avaliação como produto.

Na categoria de pertencimento e não pertencimento ao grupo de professores da

EsPCEx, houve unanimidade sobre o fato de não se sentirem membros do grupo de

docentes da EsPCEx. Julgamos que este fato está relacionado com a, ainda, tão

próxima tendência tecnicista do ensino militar e com a diversidade do grupo quanto à

formação profissional, isto é, temos professores militares PTTC, QEM, QCO, OTT e

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professores civis. No entanto, entendemos que essa diversidade é enriquecedora e

benéfica para a formação do futuro militar. Os professores concordaram com as nossas

interpretações e sugeriram outras, como o fato de haver na EsPCEx, no grupo de

docente, militares em variados graus de hierarquia, ou seja, coronéis, capitães,

tenentes e professores civis, o que inibe, funcionalmente, uma maior aproximação entre

os círculos hierárquicos.

Nas Forças Armadas existem os círculos de convivência, fruto da percepção do

currículo oculto, como o círculo dos Oficiais Superiores, constituído por militares com

posto a partir de major para cima, o círculo dos Oficiais Intermediários, tendo os

capitães como membros, e os tenentes compondo o círculo dos Oficiais Subalternos.

Essa segmentação não é tão perceptível pelos professores civis, que transitam mais

livremente entre esses círculos. Apontaram também o fato de o grupo de professores

ser formado por pessoas com diferentes funções e atribuições, como os cargos de

chefia, por exemplo, o que dificulta o entrosamento entre eles. Sugeriram como

melhoria uma maior coordenação da Divisão de Ensino no planejamento e organização

de reuniões pedagógicas. Confeccionamos um mapa conceitual que sintetiza nossas

considerações sobre essa categoria.

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Ilustração 1 – Mapa conceitual sobre a categoria pertencimento e não pertencimento ao grupo de

professores da EsPCEx

Fonte: A pesquisadora.

Todos concordaram com a interpretação da categoria medo de cometer injustiça

ou distorções, como foi abordado por alguns. Afirmam que esse receio está presente

em suas ações pedagógicas e didáticas e que procuram dar as mesmas condições

para os alunos ou, ainda, que temem pela opção de ferramentas avaliativas com graus

de subjetividade, em função da percepção de uma avaliação que visa a classificar e

hierarquizar os alunos. Por um lado, entendemos que o ensino por competências

requer ferramentas e instrumentos de avaliação que propiciem participação ativa do

aluno e que a preocupação excessiva com essa isenção venha a restringir algumas

práticas avaliativas formativas, que são mais coerentes com a metodologia de ensino

adotada. Por outro lado, independente do método de avaliação adotado, entendemos

que tem que haver coerência entre o processo ensino-aprendizagem e a avaliação. O

mapa conceitual abaixo resume nossas considerações sobre essa categoria.

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Ilustração 2 – Mapa Conceitual sobre a categoria Medo de cometer injustiças

Fonte: A pesquisadora.

A classificação foi considerada a especificidade com maior expressão dentro da

categoria denominada as especificidades do ensino militar. Os professores consideram-

na carro-chefe da Instituição. Alertaram para a necessidade institucional da

classificação, como um mecanismo de afunilamento das promoções, ou seja, não se

pode promover todos ao mesmo tempo, e que nem todos tem a mesma possibilidade

de progressão funcional, que não tem lugar na estrutura organizacional para que todos

alcancem o posto final da carreira. Essa situação, entre os professores militares, parece

não incomodar muito, como podemos notar nestes depoimentos: “a gente tem um

sistema de classificação, eu também fui moldado em um sistema de classificação”, “a

gente tem que saber lidar com essa classificação”, “a classificação é uma necessidade

institucional”, talvez porque também estão submetidos a ela. No entanto, alegam que

no ensino por competências a avaliação atrelada à classificação gera uma “situação

ambígua”, “um conflito”, que no “ensino por competência, a avaliação é qualitativa, e a

classificação na EsPCEx é quantitativa”. Pensamos que essas reflexões iniciais sobre o

tema demonstram, por um lado, a tomada de consciência dessa situação, algo que

passou a ser percebido por eles, mas por outro lado, a mudança no sentido de buscar

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uma avaliação como processo não é percebida da mesma forma por todos, talvez por

desconhecerem como se faz. Confeccionamos um mapa conceitual para ilustrar nossas

considerações sobre essa categoria.

Ilustração 3 – Mapa conceitual sobre a categoria As especificidades do ensino militar

Fonte: A pesquisadora.

Sobre categoria as amarras das normas, apresentamos a análise e a

interpretação feitas por nós, em que percebemos seus descontentamentos,

contrariedades com a rigidez das normas que orientam o processo de avaliação na

EsPCEx. Eles concordaram com essa leitura, mas, para alguns, o engessamento do

processo está ligado à influência que a avaliação classificatória tem na vida do aluno,

que as normas internas ainda atendem ao ensino por objetivos. Outros vislumbram a

possibilidade de flexibilidade, principalmente nas normas internas, com ajustes

adequados na sua elaboração e com mais discussões sobre a inclusão de práticas

avaliativas de caráter mais formativo. Justificam também que essas normas são

necessárias para padronizar o processo de avaliação na EsPCEx. Pensamos que essa

padronização, quando excessiva, compromete a compreensão da função da avaliação

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como processo. Essa percepção também está presente nas falas: “ainda está

enraizada porque temos rituais em nossas cabeças, fazendo-nos enxergar como

momentos pontuais de avaliação”. O mapa conceitual abaixo sintetiza nossas

considerações a respeito dessa categoria.

Ilustração 4 – Mapa conceitual sobre a categoria As amarras das normas

Fonte: A pesquisadora.

Julgamos ser a categoria denominada a função da avaliação: processo e produto

mais relevante em relação à concepção dos professores sobre avaliação, por

entendermos que as concepções regem nossas ações. Entretanto, como diz Paulo

Freire, somos seres condenados a aprender sempre, podemos mudar nossas

concepções quando refletimos sobre nossas ações.

Apresentamos para os professores nossas interpretações sobre essa categoria

de análise. Dissemos que percebemos em suas falas a falta de clareza sobre as

funções da avaliação. Funções de avaliação como processo ocorrem quando realizam

ações de acompanhamento do processo ensino-aprendizagem, quando estimulam

atividades com maior participação do aluno; quando fornecem informações sobre as

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etapas do processo; quando orientam na correção de rumos. E atuam como produto

quando fornecem dados sobre o processo, sem a reflexão sobre o processo.

Os professores participantes da pesquisa concordaram com nossa interpretação

e elencaram outras justificativas para as suas concepções. Para alguns, existe a

dificuldade institucional na prática de uma avaliação formativa, por não gerar nota, não

ser importante para o sistema e nem para os alunos; que existe um número elevado de

alunos, no mínimo cem, dificultando um acompanhamento pessoal; que eles têm uma

amostra estatística e, que devido a isso, percebem os extremos, ou seja, os alunos com

muita dificuldade e os que não apresentam dificuldades. Sentem que as estratégias de

envolvimento do aluno no processo não são bem vistas pelos próprios alunos, que

ainda querem a aula dada. Em função da classificação, os alunos estão preocupados

com as notas e com a classificação, com direcionamento dos seus esforços nesse

sentido; que não visam o desenvolvimento de competências; que não conseguem ver a

ligação entre o ensino e a carreira em curto prazo; que ainda não enxergam o fato de

que estão em um curso de formação profissional. Elaboramos o mapa conceitual abaixo

sobre essas considerações.

Ilustração 5 – Mapa conceitual sobre a categoria Função da avaliação: processo e produto

Fonte: A pesquisadora.

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Pensamos que, diante de um sistema que necessita e impõe uma classificação

ao final de um período, ou em certos momentos de um curso, não podemos excluir a

possibilidade de uma prática avaliativa processual, com maior aproximação entre os

professores e os alunos, com diálogos entre os envolvidos, que permita conhecer e

compreender os critérios de avaliação, diminuindo a angústia e as incertezas dos

momentos de classificação.

Esta pesquisa trouxe algumas contribuições, elucidando as concepções dos

professores sobre as formas de avaliação nesse contexto de mudança. Os professores

sinalizaram abertura na direção de aliar a necessidade de uma avaliação somativa, por

parte do EB, e a importância da avaliação formativa para o processo ensino-

aprendizagem. Sugeriram práticas avaliativas coletivas como forma de minimizar o peso

que recai sobre eles, diante do receio de cometer injustiças no momento de avaliar,

comentaram estratégias que utilizam para avaliar o processo de ensino-aprendizagem e

levantaram a necessidade de repensar as normas, para romper com algumas de suas

amarras.

Ilustração 6 – Mapa conceitual sobre as contribuições da pesquisa

Fonte: A pesquisadora.

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Em dezembro de 2016, conclui o curso de Ciências Militares a primeira turma de

cadetes formados pelo ensino por competência, com a trajetória iniciada na EsPCEx em

2012, e os quatro anos seguintes na AMAN. Consideramos que ainda não podemos

analisar plenamente os frutos desse processo de mudança, uma vez que só ouvimos as

concepções dos professores, restando ainda investigar o que pensam os alunos e

outros profissionais da Instituição.

A educação no EB não passa por avaliações externas como o ENADE, porém

possui uma avaliação institucional. No primeiro ano como Aspirante, posto ao qual o

cadete ascende ao concluir a AMAN, exercendo função na tropa, ou seja, seu primeiro

posto de trabalho, seus superiores hierárquicos elaboram um relatório sobre o

desempenho profissional desse militar recém-formado. Esse relatório é enviado para a

AMAN como um feedback do curso.

Diante dos dados suscitados ao longo desta investigação, consideramos

importante criar espaços no EB para discussão sobre formas de avaliação mais

coletivas e processuais. Que momentos são esses? Como criar tais espaços? Ainda

não temos respostas para esses questionamentos, mas esperamos que os resultados

dessa pesquisa possam estimular novos estudos, de forma a ampliar nossos

conhecimentos e a gerar novos modos de pensar e fazer a avaliação. Retomando a

epígrafe deste capítulo, bem como os depoimentos dos participantes dessa pesquisa,

acreditamos que essa nova forma de conceber a avaliação será tecida por “muitas

vozes, em diálogos de criação”.

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APÊNDICE A – Termo de consentimento livre e esclarecido

Caro (a) Professor (a)

Eu, Nadir Gonçalves de Lima Kneipp, aluna regularmente matriculada no Programa de

Pós-graduação Stricto Sensu, Mestrado em Educação do Centro Universitário

Salesiano de São Paulo – Unidade de - Americana, e professora na Escola Preparatória

de Cadetes do Exército, gostaria de convidá-lo(a) a participar do trabalho investigativo a

ser por mim desenvolvido como parte da minha pesquisa de Mestrado, sob a orientação

da Profa. Dra. Fabiana Rodrigues de Sousa, cujo objetivo é levantar concepções dos

professores sobre avaliação na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, seus

limites e suas possibilidades em ensino por competências.

A pesquisa possui uma abordagem qualitativa e sua a participação nessa investigação

se restringirá a entrevista previamente agendada, que tratará da reflexão sobre as

concepções de avaliação e suas práticas avaliativas. Espera-se, no âmbito da

proposição de práticas avaliativas, identificar suas as dificuldades e as possibilidades

no contexto de mudança de um currículo por objetivos para um currículo por

competências. A investigação ocorrerá ao longo de 01(um) ano, a começar no primeiro

semestre de 2015, sendo a entrevista é semi-estruturada, na modalidade entrevista

episódica, que será gravada com seu consentimento e depois transcrita.

Gostaria de deixar bem claro que sua participação nessa investigação é voluntária. Se

qualquer decidir não participar ou quiser desistir de participar, em qualquer momento da

referida investigação, tem absoluta liberdade de fazê-lo. Nenhuma restrição lhe será

imposta.

As atividades desenvolvidas nessa investigação, bem como os resultados alcançados

com a mesma, poderão ser eventualmente publicadas, mas será mantido o mais

rigoroso sigilo, através da omissão total de quaisquer informações que permitam

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identificar os participantes ou a instituição; salvo expressa concordância por parte de

todos os envolvidos, quanto ao contrário.

A investigadora também se compromete a apresentar uma devolutiva quanto à

investigação desenvolvida aos professores efetivamente participantes, ao término

desta, disponibilizá-la à instituição escolar e; seguir rigorosa conduta ética.

A participação nessa investigação não envolve nenhum benefício material ou

econômico para nenhuma das partes: os prováveis benefícios advirão da contribuição

para o desenvolvimento profissional e da produção de conhecimento, que favoreceram

o avançar de questões relacionadas à esfera educacional.

Se tiver qualquer pergunta em relação ao programa, por favor, entre em contato com

Nadir Gonçalves de Lima Kneipp, no número (19) 2222-1098, celular (19) 983842737,

ou pelo [email protected]

Atenciosamente.

Nome:_________________________________________________________________

Data:____________

Assinatura:_____________________________________________________________

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APÊNDICE B – Roteiro de entrevista

1) O que significa avaliação para o grupo social da Escola de Cadetes?

2) Para você, qual o significado de avaliação? O que você associa à palavra avaliação?

3) Qual foi sua experiência mais significativa a respeito de avaliação? Poderia, por

favor, falar-me desta situação?

4) Para você, qual a importância da avaliação aqui na escola?

5) Se você examinar sua prática docente atual, que papel desempenha a avaliação?

Poderia, por favor, contar-me uma situação que seja um exemplo disso?

6) Na sua prática docente quando ocorre a avaliação? Poderia, por favor, dar-me

exemplos?

7) O que você entende por avaliação formativa? Poderia, por favor, descrever uma

prática de avaliação formativa?

8) Você realiza avaliação formativa? Por quê?

9)Existe alguma prática avaliativa que você deseja realizar aqui na escola? Poderia, por

favor, falar sobre isso?

10) Em sua opinião, quem são os responsáveis pela avaliação atualmente?

11)Que mudanças você espera na avaliação aqui da escola? Poderia, por favor,

exemplificar?

13) Em sua opinião, qual tipo de avaliação é mais adequada com a nova sistemática de

ensino da Escola?

14)O que não apareceu na entrevista que lhe teria dado uma oportunidade de

mencionar seu ponto de vista sobre o tema avaliação? Poderia, por favor, mencionar?

14) Houve alguma pergunta que você não gostou de responder ou que você formularia

de modo diferente?

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APÊNDICE C – Mapa Conceitual das categorias