conceitos sobre polimeros

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CONCEITOS SOBRE POLÍMEROS 1. O que são polímeros? Como estes materiais se distinguem de outros (metais e cerâmicas) em termos de propriedades, ligações químicas, estrutura, processamento e comportamento? Os materiais poliméricos são macromoléculas formadas pela reunião de unidades fundamentais (os “meros”) repetidamente que dão origem a longas cadeias. O tamanho das cadeias formadas principalmente por átomos de carbono, ou seja, a massa molecular é o aspecto principal que confere à este grupo de materiais uma série de características à eles associadas. Materiais poliméricos apresentam usualmente baixa densidade, pequena resistência à temperatura, baixas condutividades elétrica e térmica, etc. Polímeros são sintetizadas por reações de polimerização a partir de dos reagentes monômeros. Vários polímeros se tornam fluidos viscosos a temperaturas elevadas (100-300°C) e são ainda processados através de procedimentos termomecânicos que permitem a fabricação de peças em grande quantidade e diversidade. Materiais metálicos são aqueles que, em geral, apresentam altas condutividades térmica e elétrica, grande ductilidade, entre outras propriedades. Os metais são formados por átomos dotados de grande número elétrons suficientemente livres para se movimentarem a partir de baixos potenciais elétricos ou térmicos. Quando, em metais puros, são adicionados outros elementos, tem-se a formação das ligas. Assim, tem-se ligas de alumínio, de titânio, de magnésio, etc. O aço é formado pela introdução até 0,6% em peso de carbono no ferro. Os metais são produzidos basicamente através de fundição (vazamento do material líquido em moldes) e através de processos termomecânicos (forjamento, laminação, trefilação, etc.). Já, materiais cerâmicos são geralmente carbonatos, óxidos, cloretos, fluoretos, carbetos, entre outros que apresentam propriedades como alta dureza, baixa ductilidade, baixas condutividades térmica e elétrica e elevada resistência à temperatura. Os materiais cerâmicos são usualmente formados pela associação de íons positivos (cátions) como íons negativos (ânions). Exemplos de cerâmicas incluem o cloreto de sódio, óxido de alumínio (ou alumina), óxido de silício (ou sílica), etc. Como apresentam em geral elevadas temperaturas de fusão, os materiais cerâmicos são usualmente produzidos via sinterização de pós.

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Page 1: Conceitos Sobre Polimeros

CONCEITOS SOBRE POLÍMEROS

1. O que são polímeros? Como estes materiais se distinguem de outros (metais e cerâmicas)

em termos de propriedades, ligações químicas, estrutura, processamento e comportamento?

Os materiais poliméricos são macromoléculas formadas pela reunião de unidades fundamentais (os

“meros”) repetidamente que dão origem a longas cadeias. O tamanho das cadeias formadas principalmente

por átomos de carbono, ou seja, a massa molecular é o aspecto principal que confere à este grupo de

materiais uma série de características à eles associadas. Materiais poliméricos apresentam usualmente

baixa densidade, pequena resistência à temperatura, baixas condutividades elétrica e térmica, etc.

Polímeros são sintetizadas por reações de polimerização a partir de dos reagentes monômeros. Vários

polímeros se tornam fluidos viscosos a temperaturas elevadas (100-300°C) e são ainda processados

através de procedimentos termomecânicos que permitem a fabricação de peças em grande quantidade e

diversidade.

Materiais metálicos são aqueles que, em geral, apresentam altas condutividades térmica e elétrica, grande

ductilidade, entre outras propriedades. Os metais são formados por átomos dotados de grande número

elétrons suficientemente livres para se movimentarem a partir de baixos potenciais elétricos ou térmicos.

Quando, em metais puros, são adicionados outros elementos, tem-se a formação das ligas. Assim, tem-se

ligas de alumínio, de titânio, de magnésio, etc. O aço é formado pela introdução até 0,6% em peso de

carbono no ferro. Os metais são produzidos basicamente através de fundição (vazamento do material

líquido em moldes) e através de processos termomecânicos (forjamento, laminação, trefilação, etc.).

Já, materiais cerâmicos são geralmente carbonatos, óxidos, cloretos, fluoretos, carbetos, entre outros que

apresentam propriedades como alta dureza, baixa ductilidade, baixas condutividades térmica e elétrica e

elevada resistência à temperatura. Os materiais cerâmicos são usualmente formados pela associação de

íons positivos (cátions) como íons negativos (ânions). Exemplos de cerâmicas incluem o cloreto de sódio,

óxido de alumínio (ou alumina), óxido de silício (ou sílica), etc. Como apresentam em geral elevadas

temperaturas de fusão, os materiais cerâmicos são usualmente produzidos via sinterização de pós.

2. Quais são as diferenças entre polímeros termoplásticos e termorrígidos (termofixos) em termos

do comportamento desses materiais frente à temperatura, tipos de ligações químicas

intermoleculares, processamento e reciclagem? Como se comportam polímeros termoplásticos e

termorrígidos frente a ação de um solvente?

Polímeros denominados termoplásticos podem ser amolecidos, o que permite a deformação desses a

partir da aplicação de pressão. Quando resfriados, tais polímeros retomam a sua rigidez inicial. O

comportamento desse tipo de polímero viabiliza a produção em larga escala de artefatos através de meios

como a extrusão e a moldagem por injeção. Outro importante aspecto desses polímeros é que eles podem

ser reciclados a partir de rejeitos e refugos, já que são facilmente remodelados através da aplicação

combinada de pressão e temperatura. Exemplos desse tipo de polímero são o polietileno, polipropileno,

PMMA [poli(metacrilato de metila)], politetrafluoretileno (Teflon®), Nylon®, etc.

Por outro lado, polímeros termorrígidos são aqueles que não amolecem com o aumento da

temperatura e por isso, uma vez produzidos, não podem ser re-deformados ou re-processados. Para esse

tipo de polímero, uma elevação contínua da temperatura leva à degradação do material (queima) antes de

que qualquer alteração mais dramática nas propriedades mecânicas ocorra. Sendo assim, tais materiais são

de difícil reciclagem e após terem adquirido sua forma final, apenas etapas de processamento via usinagem

Page 2: Conceitos Sobre Polimeros

são possíveis. Exemplos desse tipo de material englobam as borrachas vulcanizadas, os hidrogéis, as

resinas epoxidícas e fenólicas, entre outras. Polímeros termoplástico são caracterizados por possuir

ligações química fracas (van der Waals) entre as cadeias que assim podem ser facilmente rompidas com a

introdução de energia. Dessa forma, quando tais materiais são aquecidos, as ligações de van der Waals são

quebradas, permitindo que haja uma maior facilidade para a movimentação de cadeias poliméricas umas

em relação às outras. A capacidade das cadeias de fluir com a aplicação de temperatura garante à esses

materiais suas características fundamentais de fácil re-processabilidade.

Por outro lado, polímeros termorrígidos apresentam cadeias conectadas entre si por ramificações ou

braços compartilhados. Assim, ligações químicas primárias (covalentes) são responsáveis pelas ligações

cruzadas entre cadeias, as quais só são rompidas com a introdução de elevadas quantidades de energia

que usualmente levam também ao rompimento das ligações constituidoras das cadeias poliméricas (com a

conseqüente degradação - queima - do polímero). Assim sendo, percebe-se que o tipo de ligação entre

cadeias, nesse caso, é responsável pelo comportamento característico dos termorrígidos de não serem

facilmente conformados e reprocessados através apenas da ação conjunta de pressão e temperatura.

O comportamento dos polímeros frente a ação de solventes também pode ser explicado pelo tipo de

interação entre cadeias existente. Assim, para polímeros termoplásticos, a solubilização do polímero por um

determinado solvente é possível quando as interações entre as moléculas do solvente e as cadeias

poliméricas apresentam uma magnitude superior à magnitude de interações entre as cadeias poliméricas.

Nesse caso, as moléculas de solvente são capazes de romper as ligações fracas (van der Waals) que unem

as cadeias poliméricas e substituí-las por ligações um pouco mais fortes (mas ainda do tipo van der Waals)

solvente-polímero. Com a redução do grau de interação entre cadeias do polímero submetido à ação de um

solvente efetivo, essas ganham maior liberdade de se moverem umas em relação às outras levando à

desintegração e solubilização do material (Figura 1).

Já no caso de polímeros termorrígidos, as ligações entre cadeias são primárias, de alta energia e que

não são passíveis de rompimento pela ação de solventes. Assim, polímeros termorrígidos são normalmente

insolúveis. A introdução de fluidos quimicamente compatíveis com polímeros termorrígidos levam ao

chamado “inchamento” desses, já que o fluido se insere entre as cadeias poliméricas sem, no entanto,

romper qualquer ligação cruzada. O grau de inchamento do polímero termorrígido é conseqüência do nível

de afinidade química entre reticulado e fluido e também da densidade de ligações cruzadas no polímero.

Polímeros com alta densidade de ligações cruzadas apresentam inchamento em menor intensidade (Figura

1).

Figura 1. Interação de reticulados e cadeias lineares poliméricas com solventes

Page 3: Conceitos Sobre Polimeros

3. O que são copolímeros? Mostre as diferenças entre copolímero aleatório e copolímero alternado.

Descreva copolímeros em bloco e copolímeros enxertados. Qual a motivação para a produção de

copolímeros em substituição aos correspondentes homopolímeros?

Os copolímeros são polímeros constituídos de diferentes unidades de repetição. Polímeros que

apresentam apenas uma unidade de repetição podem ser chamados de homopolímeros. A produção de

copolímeros é geralmente motivada pelo objetivo de se alterar propriedades e comportamento dos

polímeros. Assim, o comportamento de certos polímeros frente a temperatura (temperatura de

amolecimento, por exemplo) ou à presença de solventes (grau de solubilização) pode ser radicalmente

alterada com a introdução de determinadas unidades de repetição em homopolímeros. Os copolímeros são

divididos em uma série de classes dependendo da forma em que as diferentes unidades de repetição são

distribuídas nas cadeias poliméricas (Figura 2). Copolímeros estatísticos apresentam uma distribuição de

unidades de repetição reguladas pelas quantidades relativas de cada monômero usadas na síntese assim

como a reatividade (facilidade de reagir) de cada um deles em relação a si mesmos e ao outro (Figura 2).

Um exemplo de copolímero estatístico é o poli(metil metacrilato-co-hidroxi etil metacrilato) que é formado

por unidades de repetição características do poli(metacrilato de metila) e do poli(hidroxi etil metacrilato).

Dentre os copolímeros estatísticos pode-se distinguir dois subtipos: (a) copolímero aleatório, onde os

diferentes meros se dispõe sem padrão definido, e (b) copolímero alternando, onde os diferentes meros se

alternam ao longo da cadeia polimérica. Copolímeros em bloco são aqueles formados pela reunião de

grandes seqüências contínuas de homopolímeros (Figura 2). Copolímeros graftizados  apresentam grandes

seqüências de homopolímeros inseridas (ou graftizadas) na cadeia básica de um outro homopolímero.

Percebe-se que nesse caso, o copolímero produzido pode ser considerado um tipo especial de polímero

ramificado.

Figura 2. Tipos de Copolímeros.

4. O que é taticidade de polímeros vinílicos? Demonstre por meio de desenhos as diferentes

configurações do polipropileno atático, sindiotático e isotático. Diferencie configuração de

conformação de cadeias poliméricas. Qual é a influência da taticidade nas propriedades e

comportamento dos polímeros?

Page 4: Conceitos Sobre Polimeros

Os polímeros vinílicos são derivados de monômeros vinílicos, cuja estrutura está mostrada abaixo.

Tais polímeros formam uma subclasse muito importante dentro de materiais poliméricos e são empregados

em um grande número de aplicações. O tipo de grupamento vinílico determina as características específicas

de cada polímero.

R = radical vinílico

A maneira com que os grupamentos vinílicos são dispostos nas cadeias também é muito importante

na determinação de características fundamentais dos polímeros e gera polímeros estereo-isômeros. Assim,

a polimerização de um mesmo monômero pode dar origem a polímeros com configurações diferentes, onde

grupamentos periféricos às cadeias principais são distribuídos de forma diferentes. A forma de distribuição

de grupamentos químicos ao longo de uma cadeia define a taticidade do polímero. Polímeros atáticos

apresentam os grupamentos periféricos (por exemplo, grupos vinílicos) distribuídos aleatoriamente pelas

cadeias, enquanto em polímeros sindiotáticos, os grupamentos periféricos se dispõem alternadamente de

um lado e do outro da cadeia. Já, polímeros isotáticos apresentam grupamentos periféricos situados em

apenas um lado da cadeia polimérica. A Figura 3 mostra os diferentes tipos de isômeros para um polímero

vinílico. Como exemplo da influência do tipo de isômero nas propriedades de polímeros, pode-se citar o

polipropileno isotático que é usualmente translúcido e usado na confecção de recipientes. Por outro lado, o

polipropileno atático é transparente e possui propriedades mecânicas semelhantes às de um fluido muito

viscoso. Quanto mais regular é o polímero, em termos de distribuição de grupamentos periféricos, mais

propenso à cristalização o material fica. Assim, em polímeros isotáticos e sindiotáticos, as cadeias

poliméricas têm maior habilidade de se empacotarem na forma de cristais. A configuração de cadeias

poliméricas diz respeito a forma de organização de grupamentos químicos ao longo das cadeias, enquanto

conformação está relacionada com a forma que uma cadeia pode apresentar no espaço. Em geral, diz-se

que uma mudança de configuração exige o rompimento de ligações químicas, enquanto mudanças de

conformação podem ser realizadas sem a necessidade de quebra de ligações primárias.

Page 5: Conceitos Sobre Polimeros

Figura 3. Estéreo-isomeria de polímeros vinílicos.

5. Como se processam as reações de poliadição? Quais são as etapas desse tipo de reação? O que

são radicais livres? Como eles podem ser criados? Cite exemplos de polímeros processados via

reações de poliadição.

Pode-se também classificar os materiais poliméricos quanto ao tipo de química envolvida na síntese

do material. Nesse tipo de classificação dois grandes grupos se destacam: polímeros obtidos via

polimerização por condensação (policondensação) e polímeros produzidos via reações de adição

(poliadição). Em polimerizações realizadas através de reações de poliadição, nenhuma molécula pequena é

eliminada como produto das reações e a polimerização é caracterizada principalmente pela abertura ou

quebra de ligações duplas entre átomos de carbono (-C=C-). Assim, quando uma ligação dupla é desfeita,

há a formação de elétrons livres (radicais livres) associados aos átomos de carbono que podem ser usados

na formação de novas ligações com outras moléculas dos reagentes (monômeros), levando assim à

produção de cadeias polimérica. Ligações duplas entre átomos de carbono são bifuncionais, já que quando

abertas, permitem a ligação com dois outros átomos. Um exemplo típico desse tipo de polimerização por

adição envolve a produção do polipropileno a partir do monômero propileno. A polimerização se inicia

geralmente através do uso de agentes capazes de formar radicais livres. Esses agentes iniciadores de

polimerização se decompõem com a introdução de energia, seja esta na forma de calor como na forma de

luz. Os peróxidos são típicos agentes iniciadores de polimerização por adição.

Decomposição do peróxido de benzoíla

( o sinal "." representa a presença de um elétron livre)

Os radicais livres formados a partir da decomposição dos agentes iniciadores da polimerização são

capazes de abstrair um elétron confinado à ligação dupla do monômero, rompendo esta ligação e dando

origem a formação de um elétron livre no átomo de carbono não atacado pelo agente iniciador decomposto:

Page 6: Conceitos Sobre Polimeros

A reação entre o radical livre no final da cadeia em crescimento com outros monômeros permite a

propagação da polimerização e aumento da massa molar das cadeias:

A repetição desse processo com n monômeros leva a formação de cadeias poliméricas com n

unidades de repetição:

O término da polimerização pode ocorrer pela combinação de radicais livres presentes nos finais de

duas cadeias em crescimento, ou por disproporcionação, quando um átomo de hidrogênio de uma cadeia é

abstraído por uma cadeia em crescimento.

Combinação

Desproporcionamento

Exemplos de polímeros sintetizados por reações de poliadição: Polietileno, Polipropileno, Poliestireno,

Poli(cloreto de vinila) (PVC), Poli(ácido acrílico), Poli(acrilonitrila), Poli(butadieno), Borracha sintética.

6. Como se processam as reações de policondensação? Quais são as características básicas desse

tipo de reação? Cite exemplos de polímeros processados via reações de policondensação.

As reações de condensação se notabilizam pela eliminação de uma pequena molécula (geralmente

água) durante o processamento da reação. Uma reação de condensação típica é a de esterificação, onde

um álcool reage com um ácido orgânico, gerando um éster conjuntamente com a eliminação de uma

Page 7: Conceitos Sobre Polimeros

molécula de água. Nesse tipo de reação, os grupos químicos responsáveis pela reação são o grupo

hidroxila (OH) no álcool e o grupo ácido carboxílico (HO-C=O). Tais grupos são chamados de grupos

funcionais por participarem diretamente da reação. Em reações de polimerização (produção de polímeros)

por policondensação, há a necessidade que o número de grupos funcionais em cada mero seja superior a

um para permitir a formação de cadeias, ao invés de moléculas de pequena massa molar. Assim, meros

com dois grupos funcionais, por exemplo, podem se ligar a dois distintos meros que por sua vez poderão se

ligar a outros meros, dando origem, dessa forma, a macromoléculas. É usual se usar o termo

“funcionalidade” para definir o número possível de ligações químicas que um mero pode fazer com outros.

Em reações de polimerização por condensação, a funcionalidade de um determinado mero é igual ao

número de grupos funcionais deste. Para reagentes monofuncionais, o produto de uma reação de

condensação é uma molécula pequena. Já, para reagentes bi ou polifuncionais a ligação entre dois meros

gera moléculas que ainda apresentam grupos funcionais não reagidos que podem ser usados na conecção

com outros meros. Um exemplo típico de preparação de polímeros via condensação é a produção do poli

(etileno tereftalato) (PET), comumente usado na fabricação de recipientes plásticos. Nesse caso, álcoois

bifuncionais (etileno glicol) reagem com ácidos bifuncionais (ácido tereftálico) dando origem a ligações do

tipo éster, características dos polímeros poliéster como o PET:

PET

Percebe-se que no polímero acima, a seqüência entre colchetes se repete indefinidamente como uma

função do número de moléculas reagidas. Essa seqüência é usualmente chamada de unidade de repetição

e é uma característica básica de cada polímero. O número de unidades de repetição n é denominada de

grau de polimerização e ultimamente define a massa molar (ou peso molecular) da cadeia polimérica. Outro

tipo muito comum de reação de condensação envolvida na produção de polímeros é aquela que engloba a

reação de grupos amino (-NH2) com grupos ácido carboxílico (HO-C=O). Nesse tipo de reação, um átomo

de hidrogênio do grupo amino reage com o grupo hidroxila do ácido carboxílico, resultando na eliminação de

uma molécula de água e formação de uma ligação do tipo amida (-NH-C=O-). Mais uma vez, a formação de

macromoléculas a partir de reações de condensação como as explicitadas acima depende da presença de

no mínimo dois grupos funcionais em cada reagente. Assim, como exemplo, a preparação de poliamidas

denominadas comercialmente de Nylons, são produzidas a partir de reações entre diamina (hexametileno

diamina) com ácidos (ácido adípico)

Page 8: Conceitos Sobre Polimeros

Nylon® (6,6)

Exemplos de polímeros processados via policondensação: Poliésteres, Poliamidas, Poliuretanos,

Polisiloxanos.

7. O que são as seguintes entidades: distribuição de massa molar, massa molar numérica média,

massa molar ponderal média e índice de polidispersidade? Alguns métodos usados para determinar

as massas molares médias.

O caráter macromolecular dos polímeros é sem dúvida a característica marcante dessa classe de

material e aquela que define basicamente a origem das propriedades que estes materiais possuem. O efeito

do tamanho da molécula nas propriedades pode ser facilmente exemplificado, tomando-se como base os

hidrocarbonetos simples. Nesse exemplo, percebe-se que o metano (CH4), menor hidrocarboneto, é um

gás. Hidrocarbonetos com um número progressivamente maior de átomos de carbono têm pontos de

ebulição progressivamente menores. Hidrocarbonetos com mais de 10 átomos de carbono são sólidos à

temperatura ambiente, mas apresentam uma consistência cremosa, similar à de uma cera. Essa baixa

resistência mecânica se deve ao fato de que as ligações entre moléculas são fracas (ligações secundárias)

e, dessa forma, são facilmente rompidas com a aplicação de tensões. As propriedades dos hidrocarbonetos

só começam a diferir dessas últimas citadas quando o comprimento das moléculas começa a ser grande o

suficiente para que fenômenos de entrelaçamento entre cadeias tenham início. Tais fenômenos geram a

necessidade de energias extra para vencer barreiras de desentrelaçamento das cadeias. Assim sendo, o

polietileno (hidrocarboneto com tamanho de cadeia muito grande) apresenta resistência mecânica e

plasticidade bem superiores à dos hidrocarbonetos de baixa massa molar. Com exceção de alguns

polímeros naturais, a grande maioria dos polímeros não apresentam cadeias com o mesmo comprimento

(ou seja, mesma massa molar) e sim uma distribuição de tamanhos de cadeia dentro de um mesmo

material. Essa distribuição de massa molar molar é decorrente dos processos de polimerização que, como a

maioria das reações químicas, são governados pelas probabilidades de interação entre duas entidades

químicas. Alguns dos fenômenos químicos responsáveis pela distribuição de massa molar em polímeros

são: probabilidade de iniciadores de polimerização serem consumidos por moléculas de solventes ou

impurezas; probabilidade de iniciadores de reação se recombinarem após a fragmentação inicial;

probabilidade de duas cadeias poliméricas em crescimento se combinarem para formar uma única cadeias,

etc.

Cálculo de massas molares médias

Page 9: Conceitos Sobre Polimeros

Como conseqüência do fato de que polímeros geralmente apresentam uma distribuição de tamanhos

de cadeias poliméricas, tem-se a necessidade de se calcular um valor médio que represente o sistema,

além de maneiras de se expressar a variabilidade desta média.

Define-se a massa molar média numérica (Mn) como sendo:

onde ni = Ni = número de cadeias de um determinado tamanho, M i é a massa molar de uma determinada

cadeia i e nt é o número total de cadeias.

Outro tipo de média usada é a massa molar média por peso (Mw):

onde, wi é a quantidade em gramas de material com massa molar igual a Mi.

A comparação entre esses dois tipos de média fornece informações quanto à forma da  distribuição de

massas molares. O Índice de Polidispersidade é definido como sendo a razão entre Mw e Mn (IP = Mw/Mn).

Quanto maior for esse índice, mais ampla será a distribuição de tamanhos de cadeias.  

A massa molar de polímeros define uma série de propriedades e características deste tipo de

material, incluindo a temperatura de transição vítrea. Além disso, polímeros com massa molar mais baixa,

por possuir maior mobilidade, cristalizam-se a temperaturas mais baixas do que aqueles dotados de

maiores massas molares. Polímeros com baixa massa molar ainda são mais fáceis de serem dissolvidos e,

quando em solução, alteram em menor grau a viscosidade dessas. Por fim, polímeros com maiores massas

molares apresentam módulo de elasticidade usualmente com valores superiores aos de correspondentes

amostras com mais baixas massas molares.

8. O que é a estrutura amorfa (ou vítrea) de polímeros? Como acontece o processo de transição

vítrea de polímeros (diagrama temperatura vs. volume)? O que é a temperatura de transição vítrea

(Tg)? Como Tg varia com a velocidade de resfriamento, massa molar e estrutura química?

Page 10: Conceitos Sobre Polimeros

O arranjo de átomos em cristais é a forma de organização da matéria de mínima energia, sendo

assim o estado mais estável e para qual todo processo de transformação tende. No entanto, a cristalização,

apesar de reduzir a energia total do sistema, muitas vezes não é atingida em tempos reais. Processos de

cristalização são muitas vezes restringidos por fenômenos governados pela cinética. Em polímeros, tal

situação é muito freqüente, o que se contrapõe ao resto dos materiais que apresentam a cristalização como

fenômeno mais comum. Restrições à cristalização em polímeros são resultado da dificuldade das

macromoléculas de se adaptarem a sítios regularmente distribuídos no espaço. Macromoléculas

apresentam normalmente pequena mobilidade em comparação à átomos e pequenas moléculas, o que

dificulta a sua acomodação rápida à posições energeticamente mais favoráveis. Como conseqüência

dessas condições cinéticas não favoráveis à cristalização, esses materiais acabam por se consolidar em

sólidos não-cristalinos, ou amorfos (ou vítreos), onde apenas as distâncias entre os primeiros vizinhos dos

átomos ou moléculas são fixas, enquanto à longas distâncias não há repetitividade da estrutura espacial. A

experiência típica usada na descrição do processo de vitrificação de materiais mostra a variação do volume

em função da temperatura durante o resfriamento de amostras fundidas (Figura 4). Analisando-se a Figura

4, percebe-se que são dois os caminhos para a solidificação do material fundido (líquido). No primeiro, o

líquido, durante o resfriamento, apresenta uma grande mudança de volume na temperatura de fusão

(temperatura constante), caracterizando a ocorrência da cristalização. No entanto, não acontecendo a

cristalização na temperatura de fusão, o volume do líquido super-resfriado decresce com uma variação

volumétrica semelhante ao do líquido acima da temperatura de fusão. Tal variação volumétrica é

profundamente alterada quando o líquido super-resfriado atinge Tg (temperatura de transição vítrea),

quando então, a variação volumétrica passa a assumir valores similares à do material cristalino. Em Tg, a

qual varia em função da velocidade de resfriamento, o líquido super-resfriado se transforma em sólido

(vidro). A dependência da temperatura de transição vítrea com a velocidade de resfriamento pode ser

explicada através do conceito de tempo de relaxação molecular, o qual é caracterizado como sendo o

tempo necessário à adaptação da estrutura quando há uma variação de temperatura. Velocidades de

resfriamento baixas significam maior oportunidade de ocorrência de relaxação estrutural, tornando a

temperatura na qual os átomos ficam congelados (Tg), mais baixa. Como já foi dito, o estado amorfo é

energeticamente metaestável e o processo de cristalização se processará caso as condições cinéticas

sejam proporcionadas. Em temperaturas bem abaixo de Tg, a mobilidade das cadeias é muito pequena e o

estado amorfo fica congelado praticamente indefinidamente. Em temperaturas acima de Tg, as cadeias

poliméricas podem adquirir suficiente mobilidade para dar início ao processo de cristalização. Da mesma

maneira, o resfriamento lento a partir de uma amostra fundida pode propiciar tempo suficiente para

macromoléculas se acomodarem em sítios cristalinos.

Page 11: Conceitos Sobre Polimeros

Figura 4. Diagrama temperatura versus volume representando processos de solidificação e formação de

vidros.

A temperatura de transição vítrea é um dos mais importantes parâmetros usados no planejamento de

processos e produtos poliméricos. Ela permite prever o comportamento de um determinado material numa

temperatura, assim como designa indiretamente certas propriedades do material como propriedades

mecânicas, resistência à temperatura, etc.

Alguns dos fatores que influenciam a definição de Tg para um determinado polímero são listados a seguir.

(1) Massa Molar (peso molecular). A massa molar dos polímeros, i.e. o tamanho das cadeias, afeta

decisivamente a temperatura de transição vítrea, visto que cadeias menores apresentam maior mobilidade

que cadeias maiores.

(2) Volume livre presente nos polímeros. O volume livre em polímeros é o espaço não ocupado pelas

moléculas. Quanto maior o volume livre presente em um polímero menor será a temperatura de transição

vítrea, já que maior será a facilidade das cadeias de se deslocarem umas em relação às outras.

(3) Tipo de força atrativa entre as cadeias poliméricas. As transições que ocorrem durante a

temperatura de transição vítrea é resultado da habilidade das cadeias de se deslocarem com a quantidade

de energia fornecida nessa específica faixa de temperatura. Quanto maior a magnitude das ligações entre

cadeias, maior será a quantidade de energia necessária a permitir que as cadeias se tornem livres para

efetuar as transições. Dessa forma, polímeros que apresentam ligações mais fortes entre cadeias, possuem

temperaturas de transição vítrea maiores.

(4) Mobilidade intrínseca das cadeias poliméricas. A arquitetura química das cadeias poliméricas

contribui decisivamente para a definição do comportamento dessas frente a introdução de energia e as

correspondentes transições. Grupos químicos, inseridos nas cadeias poliméricas principais, cujas ligações

com o resto da cadeia apresentem reduzidas energias para movimentos de rotação, proporcionam

temperaturas de transição vítrea menores. Quanto menor a energia necessária para rotação de ligações,

maior facilidade as cadeias apresentarão de se desentrelaçar e mover umas em relação às outras.

9. Como é a estrutura cristalina de polímeros. O que são lamelas e esferulitas? Como as cadeias

poliméricas se distribuem dentro das lamelas? O que são moléculas de ligação e como elas afetam

as propriedades do sistema? Porque não se encontram polímeros 100% cristalinos?

Page 12: Conceitos Sobre Polimeros

O estado cristalino, onde átomos ou moléculas estão arranjados regularmente no espaço, é aquele de

menor energia e, dessa forma, aquele para o qual todo sistema tende. No caso de polímeros, a natureza

macromolecular do material restringe muitas vezes os processos de cristalização, já que cadeias

poliméricas apresentam normalmente uma mobilidade restrita que dificulta a adequação dessas em sítios

pré-estabelecidos espacialmente. Embora difícil, a cristalização em polímeros pode ocorrer. Para que seja

viável, vários fatores estruturais devem ser considerados e obedecidos. Em primeiro lugar, a arquitetura

química das cadeias poliméricas deve ser regular, ou seja, os grupos químicos devem se distribuir

espacialmente de forma mais regular possível para permitir um empacotamento mais perfeito das cadeias.

Polímeros como o polietileno e poli(tetrafluoretileno) apresentam uma arquitetura química muito simples

(todo carbono ligado respectivamente à átomos de hidrogênio e flúor) o que favorece a obtenção de altos

níveis de cristalização. A viabilidade de cristalização está muito associada à estereoisomeria de polímeros:

uma configuração regular das cadeias é apenas obtida para isômeros como sindiotáticos e isotático.

Polímeros atáticos, nos quais os grupos químicos laterais se distribuem aleatoriamente de um lado e do

outro das cadeias, são usualmente amorfos. Já, polímeros sindiotáticos e isotáticos possuem uma

distribuição mais organizada de grupos laterais que viabilizam processos de cristalização. Um segundo

requisito essencial para viabilizar a cristalização de polímeros é a presença de forças intermoleculares

(entre cadeias) muito elevadas. Nesse caso, a magnitude das forças deve ser elevada o suficiente para

superar a natural desorganização das cadeias poliméricas e assim forçar o empacotamento regular dessas.

Polímeros nos quais forças de hidrogênio ou mesmo fortes ligações dipolo são possíveis entre as cadeias,

apresentam maior possibilidade de cristalização. Exemplo desse tipo de polímero é o Nylon (poliamida), o

qual, devido a presença de ligações de hidrogênio entre grupos amino e carbonila, se apresenta

normalmente na forma semi-cristalina. Vários modelos foram propostos para explicar a formação de cristais

em polímero. Um dos modelos mais simples é o denominado de micélio franjiado. Nesse modelo, as

cadeias poliméricas vagueiam pelo volume do material adotando a conformação de equilíbrio. Em certas

regiões do material, no entanto, o modelo prevê que cadeias poliméricas se tornam paralelas, como

resultado dos fatores já descritos. O alinhamento das cadeias possibilita a adequação dessas em estruturas

mais compactas, ou seja cristalinas. Apesar de simples, esse modelo prevê satisfatoriamente uma série de

fenômenos envolvidos em polímeros semi-cristalinos. Entre esses fenômenos, se destaca o fato de que

polímeros semi-cristalinos, ou aqueles dotados de potencialidade para a cristalização, apresentam níveis

maiores de cristalização quando estirados. A deformação uniaxial de polímeros força o alinhamento das

cadeias com o conseqüente desenvolvimento do processo de cristalização. Esse fenômeno é usado para a

produção de fibras poliméricas com elevada rigidez e resistência mecânica. Nesse caso, as fibras são

produzidas a partir da extrusão de misturas fundidas ou soluções por pequenas orifícios. A passagem

dessas misturas pelas matrizes força a orientação das cadeias, propiciando alto graus de cristalização. O

alinhamento de cadeias ainda permite que as ligações entre átomos de carbono (C-C) fiquem orientadas no

sentido do comprimento da fibra. Tensões aplicadas nessa direção serão sustentadas diretamente pelas

ligações de alta energia C-C e em menor proporção por forças secundárias entre as cadeias. No entanto, o

modelo de micélio franjiado não consegue explicar resultados obtidos pela técnica de difração de raios-x.

Outro modelo muito popular usado para descrever a morfologia de cristais em polímeros propõe a formação

de cristais lamelares (lamelas) de dimensões aproximadas de 10 µm x 10 µm x 0,01 µm, como forma de

explicar os resultados experimentais. Esses cristais lamelares seriam formados por cadeias poliméricas que

atravessariam a menor dimensão das lamelas (espessura) em um caminho de ida e volta. Cada cadeias

Page 13: Conceitos Sobre Polimeros

polimérica não fica restrita a participação em apenas uma lamela e muitas vezes participa de mais de uma

dessas (Figura 5). As cadeias poliméricas que participam da estrutura de mais de uma lamela são

chamadas de moléculas de ligação. Essas moléculas e ainda as porções de entrada e saída das moléculas

das lamelas são consideradas defeitos da estrutura cristalina e representam partes amorfas desses

materiais. Tal fato salienta e comprova resultados experimentais que mostram ser impossível a produção de

materiais poliméricos 100% cristalinos. As lamelas, por sua vez, se distribuem de forma radial em entidades

maiores denominadas de esferulitas (Figura 5). A presença dessas estruturas com dimensões

micrométricas é suficiente para espalhar a luz visível. Esse fato é responsável pela aparência

esbranquiçada ou translúcida de polímeros semicristalinos como o polietileno e o poli(terafluoretileno)

(Teflon).

Figura 5. Estrutura cristalina de polímeros.

10. Lista com 10 polímeros usados comercialmente: estrutura química e aplicações e a classificação

mais típica do polímero (termoplástico ou termorrígido, amorfo ou semicristalino, produzido por

reações de poliadição ou policondensação).

Polímero Aplicações Estrutura

Polipropileno (PP)

Polímero semicristalino,

termoplástico, poliadição

Recipientes, filmes,

peças para indústria

automotiva,

brinquedos, utensílios

domésticos, etc.

Poliestireno (PS)

Polímero amorfo,

termoplástico, poliadição.

Recipientes

(transparentes),

copos, isopor, etc.

Poli(cloreto de vinila)

(PVC)

Polímero amorfo,

termoplástico, poliadição.

Filmes (embalagens),

tubos, etc.

Page 14: Conceitos Sobre Polimeros

Poli(metacrilato de metila)

(PMMA)

Polímero amorfo,

termoplástico, poliadição.

Copos, recipientes,

janelas, lentes,

biomaterais, etc.

Poli(tetrafluoretileno)

Teflon®

Polímero semicristalino,

termoplástico, poliadição.

Recobrimentos,

peças, fitas, etc.

Poli(etileno tereftalato)

PET

Polímero semicristalino,

termoplástico, policondesação.

Garrafas, copos,

fibras (tecidos)

Poliamidas

Nylon®

Polímero semicristalino,

termoplástico,

policondensação.

Fibras, biomateriais,

etc.

Resina epoxídica

Polímero amorfo, termorrígido,

policondensação.

Matriz para

compósitos, adesivos

Resina de fenol-formaldeído

Polímero amorfo, termorrígido,

policondensação.

Adesivos, peças

automotivas, etc.

Poliuretanos

Polímero amorfo, termorrígido,

poliadição.

Biomateriais,

elastômeros