conceitos elementares e correntes teóricas das relações internacionais

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Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais MÓDULO I - CONCEITOS ELEMENTARES E CORRENTES TEÓRICAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS Site: Instituto Legislativo Brasileiro - ILB Curso: Relações Internacionais: Teoria e História - Turma 05 Livro: Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Impresso por: Michel Olimpio da Silva Data: segunda, 1 Jun 2015, 23:14

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Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais

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    Conceitos Elementares e CorrentesTericas das Relaes Internacionais

    MDULO I - CONCEITOS ELEMENTARES E CORRENTES TERICASDAS RELAES INTERNACIONAIS

    Site: Instituto Legislativo Brasileiro - ILB

    Curso: Relaes Internacionais: Teoria e Histria - Turma 05

    Livro: Conceitos Elementares e Correntes Tericas das Relaes Internacionais

    Impresso por: Michel Olimpio da Silva

    Data: segunda, 1 Jun 2015, 23:14

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    SumrioMdulo I - Conceitos Elementares e Correntes Tericas das Relaes Internacionais

    Unidade 1 - As Relaes Internacionais no Mundo Contemporneo: Dilemas e Perspectivas

    Pg. 2 - As Relaes Internacionais no mundo contemporneoPg. 3 - O Processo de Globalizao

    Pg. 4 - Dilemas da GlobalizaoPg. 5 - Meio Ambiente, Direitos Humanos, Conflitos Internacionacionais

    Pg. 6 - Importncia do conhecimento de Relaes InternacionaisPg. 7 - As Relaes Internacionais e a Constituio Brasileira

    Pg. 8 - O Poder Legislativo e as Relaes InternacionaisPg. 9 - O Estudo das Relaes Internacionais

    Pg. 10 - Relaes Internacionais como disciplina independente

    Unidade 2 - Conceitos Fundamentais

    Pg. 2 - Conceitos FundamentaisPg. 3 - Sociedade InternacionalPg. 4 - Sociedade Internacional

    Pg. 5 - Ator InternacionalPg. 6 - Sistema Internacional

    Pg. 7 - Foras ProfundasPg. 8 - PotnciaPg. 9 - PotnciaPg. 10 - Potncia

    Pg. 11 - HegemoniaPg. 12 - HegemoniaPg. 13 - Hegemonia

    Unidade 3 - Correntes tericas das Relaes Internacionais

    Pg. 2 - Teorias de Relaes InternacionaisPg. 3 - A fase idealistaPg. 4 - A fase idealistaPg. 5 - A fase idealistaPg. 6 - A fase realista

    Pg. 7 - Behavioristas e ps-behavioristasPg. 8 - Realismo, Pluralismo e Globalismo

    Pg. 9 - PluralismoPg. 10 - Globalismo

    Pg. 11 - Outras correntes tericasPg. 12 - Idealismo x Realismo

    Pg. 13 - Tradicionalistas x CientficosPg. 14 - A Teoria Sistmica das Relaes InternacionaisPg. 15 - A Teoria Sistmica das Relaes Internacionais

    Pg. 16 - Realistas x PluralistasPg. 17 - Mudanas na Teoria das Relaes Internacionais

    Unidade 4 - O Realismo

    Pg. 2 - O RealismoPg. 3 - O RealismoPg. 4 - O RealismoPg. 5 - O Realismo

    Pg. 6 - O conflito e a questo da seguranaPg. 7 - Crticas ao Realismo

    Pg. 8 - O NeorrealismoPg. 9 - O Neorrealismo

    Pg. 10 - Os ltimos Grandes DebatesPg. 11 - Neorrealistas X Globalistas

    Pg. 12 - Neorrealistas X Neoliberais e a Teoria da InterdependnciaPg. 13 - Neorrealistas X Neoliberais e a Teoria da InterdependnciaPg. 14 - Neorrealistas x Neoliberais e a Teoria da Interdependncia

    Pg. 15 - Concluso

    Unidade 5 - Sociedade Internacional: Aspectos Gerais

    Pg. 2 - Sociedade Internacional: Evoluo Histrica e ConceitoPg. 3 - Sociedade Internacional: Evoluo Histrica e ConceitoPg. 4 - Sociedade Internacional: Evoluo Histrica e Conceito

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    Pg. 5 - Sociedade Internacional: Evoluo Histrica e ConceitoPg. 6 - Sociedade Internacional: Evoluo Histrica e ConceitoPg. 7 - Sociedade Internacional: Evoluo Histrica e ConceitoPg. 8 - Sociedade Internacional: Evoluo Histrica e ConceitoPg. 9 - Sociedade Internacional: Evoluo Histrica e ConceitoPg. 10 - Sociedade Internacional: Evoluo Histrica e ConceitoPg. 11 - Sociedade Internacional: Evoluo Histrica e Conceito

    Pg. 12 - Concluso do Mdulo I

    Exerccios de Fixao - Mdulo I

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    Mdulo I - Conceitos Elementares e Correntes Tericas dasRelaes Internacionais

    Unidade1AsRelaesInternacionaisnoMundoContemporneo:DilemasePerspectivasUnidade2ConceitosFundamentaisUnidade3CorrentesTericasdasRelaesInternacionaisUnidade4ORealismo

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    Unidade 1 - As Relaes Internacionais no MundoContemporneo: Dilemas e Perspectivas

    AofinaldestaUnidadeinicial,oalunodeverestaraptoa:

    identificarosprincipaispontosdaagendaderelaesinternacionaiscontemporneasestabeleceroconceitoeascaractersticasdaGlobalizaoestabeleceraimportnciadasrelaesinternacionaisparaoBrasilassinalaraevoluohistricaeaimportnciadeRelaesInternacionaiscomodisciplinaacadmica.

    EmumcursodeeducaoadistnciapormeiodaInternet,oestudantetemumpapelcentralnoestabelecimentodeumarelaodequalidadecomocontedoproposto.Portanto,procureorganizarse

    parateromelhoraproveitamentopossveldocurso.

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    Pg. 2 - As Relaes Internacionais no mundo contemporneo

    Antesdeiniciarosestudosdestaunidade,assistaaoprimeirovdeoeducacionaldasrie:ConexoMundo("AldeiaGlobalMundoDigital"),disponvelnapgina

    doILB.

    ConexoMundoumasriede20programassobrerelaesinternacionaisqueofereceinformaesnecessriascompreensodosnovosprocessosdeintercmbioentreasnaes.Osprogramasenfocamtodaahistriadasrelaesentreospovos,ostratadosepolticasparaanovaordeminternacionaleprocuramdesvendarconceitoscomoodeglobalizao,blocos

    econmicosetc.

    As ltimas dcadas do sculo XX forammarcadas pela intensificao das relaes entre os povos, de umamaneira comonuncaexperimentadaanteriormente.Cadavezmais,asdistnciasestomenores,tempoeespaoperdemosignificadoquetinhamparanossospais eavs, easpessoasdediferentes locaisdoglobo tomamconscinciadeque amenordistnciaentredoispontosumatecla.

    O sculo XXI chegou trazendo grandes conquistas: omundo estmenor, globalizado, interligado fsica e eletronicamentepodese tomar caf emLondres e almoar emWashington as fronteirasperdemsua importncia o sistema internacionalvsecadavezmaisintegradoatecnologiaalcanamilhesdepessoas,enohlimiteaoconhecimentohumano.Oltimosculodosegundomilniopresenciouumaevoluotecnolgicainimaginvel!

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    Pg. 3 - O Processo de Globalizao

    O termoglobalizaopode ser entendido como fenmeno de acelerao e intensificao demecanismos,processoseatividades,comvistapromoodeumainterdependnciaglobale, em ltima escala, integrao econmica e poltica em mbito mundial. Tratase deconceito revolucionrio, envolvendo aspectos sociais, econmicos, culturais e polticos.Registrese,ademais,queessaapenasumadasvriasconceituaesdofenmeno,oqualnorecente,masseacelerouapartirdasegundametadedosculoXX.

    Umdosaspectosmaisimportantesdaglobalizaoenvolveaideiacrescentedomundosemfronteiras. Issoperceptvel em termos como aldeiaglobal e economiaglobal. Poucoslugares do mundo esto a mais de dez dias de viagem, e a comunicao atravs das

    fronteiraspraticamenteinstantnea.

    Emnossos dias, comas economias interligadas, blocos se formam, comconsequncias queultrapassamosbenefcioseconmicos,poisasconquistassociaisepolticasdeummembrodoblocologodeverochegaraosterritriosdetodososoutros.Princpioscomoademocraciaeaprevalnciadosdireitoshumanospodemserdefendidoseargudosemtrocade benefcios econmicos. Citese, por exemplo, o caso de pases comoGrcia, Portugal e Espanha, que, para seremaceitosnaentoComunidadeEuropeia,tiveramquepromoverimportantesmudanaseconmicas,sociaisepolticas.OmesmoseaplicaTurquia,queaspiraatornarsepartedamodernaEuropa.NocasodoMercadoComumdoSul (MERCOSUL),hachamada"clusulademocrtica",aqualestabelecequeapenaspases sob regimesdemocrticospodemparticipardobloco.EssaclusulaevitaasalternativasautoritriasemalgunspasesdoMercosul,emmomentosdecriseinstitucional.

    Assim,oatualprocessodeglobalizaoenvolveaintegraoeconmicamundialemdiversosnveis,comareduodasdistncias em virtude do desenvolvimento demecanismos de produo e distribuio de bens em escala global, e dofortalecimentodosmeiosdecomunicao.Nessecontexto,novosatores,comoasorganizaesnogovernamentais,asempresastransnacionais,aopiniopblicaeamdia,ganhamdestaqueaoinfluenciaremacondutadosEstados.

    UmaleituraessencialsobreotemaoartigodePauloRobertodeAlmeida,

    ContraaAntiglobalizao.

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    Pg. 4 - Dilemas da Globalizao

    Entretanto, a globalizao tambm marcada por problemas em escala mundial. Nesse sentido, h a criminalidade, queultrapassaasfronteirasdosEstados,comorganizaescriminosasexercendosuasatividadesilcitasnombitointernacional.Crimescomoonarcotrfico,o trficodearmas,o trficodepessoasedeanimaiseapirataria, todosesseshmuitonosoproblemasexclusivosdeumououtropas,masquestesglobaisquedevemserencaradassistemicamente.Eabasedocrime organizado a lavagem de dinheiro, quemovimenta cerca de um trilho de dlares por ano nomundo, ou 4% doProdutoInternoBruto(PIB)mundial,segundoaOrganizaodasNaesUnidas(ONU).

    Assim, ao lado das grandes conquistas, h novos e grandes desafios: parte significativa da populao mundial aindapermanecenosculoXIX.Naes ricas e prsperas convivemcomEstadosque comportammilhes demiserveis. Algunslocais do globo ainda no saram da Idade Mdia! Novas e antigas doenas afligem milhes. Citese, ainda, a partesignificativa da raa humana que sofre com a fome, a pobreza, as guerras. A sociedade internacional presencia criseseconmicas,polticas,culturaisesociais.Eodestinodahumanidadepermaneceumagrandeincgnita.

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    Pg. 5 - Meio Ambiente, Direitos Humanos, Conflitos InternacionacionaisOutro importante tema de relaes internacionais neste mundo globalizado envolveosproblemasambientais.Cadavezmaisahumanidadetomaconscinciadequeomeioambiente no pode ser tratado como assunto interno dos Estados e que os danosambientais ultrapassam as fronteiras. A terra um corpo nico e seus recursos sopatrimnio de todos os seres humanos e das futuras geraes. Da que os malescausadosaomeioambienteafetamtodaahumanidade.

    Convm registrar que, paraRelaes Internacionaiscomo disciplina acadmicaou rea do conhecimento,empregaremos iniciaismaisculas, enquanto que,quando nos referirmos aoobjeto de estudo, usaremosotermoemminsculas.

    NoltimoquarteldosculoXX,aproteoaomeioambientepassouaserumadasgrandespreocupaesda comunidadeinternacional, no s na esfera de governo, mas tambm entre todos os habitantes do planeta. A Conferncia do Rio deJaneirode1992exerceuessasalutarinfluncia,emultiplicaramsenasltimasdcadasostratadossobretodososaspectosambientais,tantoassimquesecalculaemmaisdemilostratadosinternacionaisassinadossobreotema.

    Tambmaproteoaosdireitoshumanosumassuntoemvoga,sobretudoquandonotciasdeviolaesaessesdireitosnoschegam de todas as partes do planeta. No moderno sistema internacional, agresses contra uma pessoa devem serconsideradascrimescontratodaaraahumana.OintensotrabalhodascortesinternacionaisdedireitoshumanosnaEuropaenocontinenteamericanorefletemessanovarealidade.

    Ademais, medida que nos aproximamos uns dos outros, surgem tambm os conflitos, outro componente marcante daagendainternacionaldesdesempre.Enoextremodosconflitos,temosaguerra,sobsuasdiferentesformas.Nessesentido,o sculo XX foi marcado por uma grande quantidade de guerras por todo o globo, inclusive com dois conflitos queenvolverampraticamentetodaasociedadeinternacional.

    Defato,umadasgrandescertezasdosculoXXIqueneleaindapresenciaremosofenmenodaguerra.Entretanto,algunscogitammesmoqueaguerra,nestesculo,nosermaisentrepases,masentrecivilizaes(HUNTINGTON,1998).

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    Pg. 6 - Importncia do conhecimento de Relaes Internacionais

    Eis,portanto,ograndeparadoxoglobal:aoladodegrandesconquistas,grandesdesafios!Enessecontextoquesepercebeanecessidadedeconhecimentodasrelaesinternacionais.Atualmente,quemnoestiverinformadosobreoqueocorrenomundopoderversebastantelimitado,pessoaleprofissionalmente.

    Hoje,asociedadeinternacionalestto interligada,to integradaemumprocessodeglobalizao,quesituaesocorridasnaChinapodemafetarans,brasileiros,dooutro ladodoplaneta.Daqueoproblemadooutropassaa ser tambmumproblemanosso,eobemestarde cadahomempassaa significarobemestarde todaahumanidade.Nessecontexto, sevocnopartedasoluo,partedoproblema!

    AssistaaulaproferidapeloProfessorDoutorJoanisvalBritoGonalves,porocasiodecursopresencialministradonoILB.

    Aumenteosomdeseuequipamentoebonsestudos!

    Durao:5min29

    Casonoconsigavisualizar:1)seuacessoaoYoutubepodeestarbloqueado

    2)podeprecisaratualizaroFlashPlayer(http://get.adobe.com/br/flashplayer/)

    OBrasileasRelaesInternacionacionais

    Como quinto maior pas do globo em populao e dimenso territorial, e estando entre as maioreseconomiasdoplaneta,comcondiesepretensesdesetornarumagrandepotncia,oBrasilnopodesefurtar a ter um papel de destaque nas relaes internacionais. As transformaes e acontecimentos nomundo globalizado faro cada vez mais parte de nosso dia a dia, em uma tendncia praticamenteirreversvel.Estamosestrategicamentelocalizados,temosfronteirascompraticamentetodosospasessulamericanos,ecomoAtlntico,principalviaparaaEuropaeafrica.Ademais,somosumanaotidacomopacficaerespeitadoradodireito internacional e com incontestveis atributos de liderana regional. Finalmente, no devemos desconsiderar nossasmaiores riquezas: os recursosnaturais e umpovomultitnico, empreendedor e, nosdizeres deGilberto Freyre, comsuaspeculiarescaractersticasantropofgicas.

    Poucosignificativadiantedesuaspotencialidadesaatuaobrasileiranocenriointernacional.Apenasnasltimasdcadasdo sculo XX que oBrasil comeou a se fazermais presente. Isso coincide como surgimento e o desenvolvimento dosprimeiroscursosdeRelaesInternacionaisnoPasecomoaumentodointeressenasquestesinternacionaisporpartedediversossetoresdanossasociedade.

    prementeanecessidadedequeosbrasileiros tenhamalgumconhecimentodeRelaes Internacionais.NaAdministraoPblica, essa demanda mais evidente. No Poder Legislativo, fundamental que aqueles que assessoram os legisladores

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    conheamasprincipaislinhasdapolticainternacionaltobemquantoconhecemapolticainternabrasileira.Afinal,polticainterna e poltica externa esto estreitamente relacionadas: as aes daquela afetaro e sero afetadas por esta e viceversa.

    UmstiointeressanteparaoestudanteeoprofissionaldeRelaesInternacionaisoInforel,que

    traz cobertura atualizada das questes gerais da rea e tambm de defesa nacional, alm de

    artigoscomanlisesinteressantes.

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    Pg. 7 - As Relaes Internacionais e a Constituio BrasileiraA importncia das relaes internacionais tambmpode ser percebida namaneira como o tema tratado naConstituioFederal.ACartaMagna,jemseuTtuloI,referenteaosPrincpiosFundamentais,estabelece,noart.4,osprincpiosqueregemasrelaesinternacionaisdoBrasil:

    independncianacionalprevalnciadosdireitoshumanosautodeterminaodospovosnointervenoigualdadeentreosEstadosdefesadapazsoluopacficadosconflitosrepdioaoterrorismoeaoracismocooperaoentreospovosparaoprogressodahumanidadeconcessodeasilopoltico.

    Ainda no que concerne Lei Maior, tambm os direitos e garantias fundamentais esto intimamente relacionados sexperinciasvivenciadaspelacomunidadedasnaesao longodesuahistria.FoigraassrevoluesempasescomoaInglaterra,aFrana,osEUAeaRssia,edifusodessesprincpiosparaalmdesuasfronteiras,queomundomoldouumaculturadedireitosfundamentaisquehojesoinquestionveisemtodooplaneta.Eaviolaoaessesdireitosgerarepulsadacomunidadeinternacional.AConstituiode1988inovouaoelencar,deformasistemtica,osprincpiosqueregemnossasrelaesinternacionais.Paramaioraprofundamento,sugerimosaleituradoartigo'Osprincpiosdasrelaesinternacionaiseos25anosdaConstituioFederal',doProfessorAlexandrePereiradaSilva,disponvelnaBibliotecadestecurso,em'Textoscomplementares'.Vereshchetin (1996),por exemplo, vnoque chamade fatordireitoshumanosumdosprincipaismeiosde retomadadeuma cultura mnima de proteo internacional no psGuerra. O relacionamento entre Estado e indivduo, quetradicionalmente foi objeto de preocupao de leis internas, no mais pode ser considerado uma questo puramentedomsticadospases.AConstituiodaRssiade1993,porexemplo,trouxecomoprincpioaincorporaodasnormasinternacionaisaosistemajurdico internoeaprevalnciadosacordos internacionaisdosquaisaFederaoRussafaaparte,casoestesestabeleamregrasquedifiramdaquelasestipuladasemleiinterna.Issotemsemostradoumatendnciaconstitucionalemvriospases.Quandonohdispositivoslegaisexpressos,ascortesconstitucionaistmdadoorumodainterpretao.Na dcada de 1990, as cortes constitucionais da Hungria e da Polnia, por exemplo, decidiram que a Constituio e asnormas internas deveriam ser interpretadas de tal forma que as normas internacionais geralmente aceitas tivessem foraefetiva.

    H,portanto,emtodooplaneta,sinaisdeumacrescenteinterdependnciaatmesmonocampojurdico,eoTribunalPenalInternacionalnadamaisqueumaexpressoeconsequnciadisso.

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    Pg. 8 - O Poder Legislativo e as Relaes Internacionais

    As relaes internacionais do Brasil passam efetivamente pelo Poder Legislativo. Em nosso sistema jurdicopoltico,quaisquer tratados que o Brasil celebre com outras naes ou com organizaes internacionais devem necessariamentepassarpeloavaldoCongressoNacionalantesdeseremratificados.

    Oart.49daConstituioFederalde1988claroaoestabelecer,logonosdoisprimeirosincisos,ascompetnciasexclusivasdoCongressoNacional:

    Art.49.dacompetnciaexclusivadoCongressoNacional:

    Iresolverdefinitivamentesobretratados,acordosouatosinternacionaisqueacarretemencargosoucompromissosgravososaopatrimnionacional

    IIautorizaroPresidentedaRepblicaadeclararguerra,acelebrarapaz,apermitirqueforasestrangeirastransitempeloterritrionacionalounelepermaneamtemporariamente,

    ressalvadososcasosprevistosemleicomplementar

    (...)

    E o Senado Federal, por sua vez, tem atribuiesmais especficas, pois a Casa Legislativa que avalia e aprova nossosembaixadores, autoridadesmximasdasmissesdiplomticasbrasileiras, designadospara representar o Pas noExterior.Compete tambmaoSenadoautorizarasoperaesexternasdenatureza financeiradosEstados,doDistritoFederaledosMunicpios.Cada Casa Legislativa possui comisses encarregadas dos temas de relaes exteriores e defesa nacional. No SenadoFederal,porexemplo,aComissodeRelaesExterioreseDefesaNacional(CRE),compostapor19membrostitularese19suplentes,competenteparatratardasquestesqueenvolvamasrelaesinternacionaisdoPas.AlegislaobrasileiraevidenciaaimportnciadoPoderLegislativonosdestinosdasrelaesinternacionais.EquantomaisoBrasil busque integrarse na comunidade das naes e ocupar o seu devido papel de destaque,mais importante se faz oconhecimento,naesferadoLegislativo,dosprincipaistemasdarea.

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    Pg. 9 - O Estudo das Relaes Internacionais

    Antes de concluirmos a primeira Unidade, convm apresentar algumas consideraes gerais sobre o estudo das relaesinternacionaiscomodisciplina,asreasdeatuaodoprofissionaldareaearealidadebrasileira.OestudodeRelaes InternacionaisenvolveconhecimentosgeraisdeDireito,Economia,Administrao,Histria, Filosofia,Sociologia,Antropologia,Estatsticae,sobretudo,dequestesinternacionaiscontemporneas.Ointeresseportemasderelaes internacionaisaumentoumaisaindaapsosatentadosterroristasde11desetembrode2001.Aoassistirmosquelesdramticosacontecimentosemtemporeal,algunsvusforamretirados,eaospoucostomamosconscincia de que as distncias fsicas se estreitavam ao mesmo tempo em que as distncias culturais e sociaisaumentavam. O terrorismo passa tambm a ser uma questo global, que afeta pases nos hemisfrios Norte e Sul, noOcidenteenoOriente.No campoprofissional, as relaes internacionais soaplicveis emdiversasreas.NoBrasil, h profissionais dessa reaatuandoemvriossetoresdaAdministraoPblicaedainiciativaprivada.Em termos de carreira, uma das mais conhecidas a diplomacia. O diplomata olegtimo representante do Governo e da nao junto a outros povos e organizaesinternacionais.ParasetornarumdiplomatanoBrasil,necessriooingressonacarreirapormeio de concurso pblico, promovido pelo Instituto Rio Branco (IRBr) doMinistriodas Relaes Exteriores. Aprovado no concurso, e, submetido a um perodo detreinamentonoIRBr,odiplomatainiciaumacarreiracomoTerceiroSecretrio,podendochegaraEmbaixador.

    Palcio do ItamaratyFonte:www.inforel.org

    Noserviopblico,almdaChancelaria,oprofissionalde relaes internacionais temdiantesialternativasde trabalhonosvrios rgosdaAdministraoFederal, Estadual eMunicipal.Afinal, semprehuma assessoria internacional emcada ministrio, secretaria, autarquia e empresas pblicas. E o perfil do internacionalista se destaca. Constatase apresenadeprofissionaisderelaesinternacionaisnasprincipaiscarreirasdeEstado.Nainiciativaprivada,outrolequedealternativasseabreaosquepossuemformaonarea.Almdasgrandescorporaesmultinacionaisetransnacionais,asempresasbrasileirasdemdioegrandeportejpercebemanecessidadedeatuarememuma economia globalizada. Assim, em um mundo cada vez mais integrado econmica e financeiramente, as empresasprecisam de profissionais que as auxiliem a se integrarem e a permanecerem no sistema internacional. Aquelas quedesconsideramessapercepofrequentementeacabamporsucumbir.Almdisso,hapossibilidadedetrabalhonascentenasdeOrganizaesInternacionaiseOrganizaesNoGovernamentaisqueatuamnoglobo:ONU,OEA,OIT,OMC,OPEP,UNESCO,FAO,Greenpeace,WWFeoutras.BrasliatemrepresentaodamaiorpartedosorganismosinternacionaisdosquaisoBrasilmembroe,comisso,omercadodoprofissionalderelaesinternacionaisseamplianacapitalfederal.

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    Pg. 10 - Relaes Internacionais como disciplina independente

    Ato incio do sculoXX, as relaes internacionais noeramestudadas comodisciplina independente.Oestudodo temaestavasempresobomantodeoutrascincias,comooDireito,aEconomia,aSociologiaeaCinciaPoltica. medida que a sociedade internacional tornavase mais complexa e as relaes entre os Estados mais diversificadas,relaes estas que envolviam conflito e cooperao, e que muitas vezes culminavam em situaes que interferiamdiretamentenocotidianodaspessoasenapoltica internadasnaes,percebeuseacrescentenecessidadedeteoriasqueexplicassem a conduta dos atores em um cenrio internacional. Essas teorias e seu estudo deveriam constituir uma novareadoconhecimento,independenteecomautonomiaparagerarsuasprpriaspercepesdarealidade.DaoaparecimentodasprimeirasctedrasdeRelaesInternacionaispelomundo.Os cursosdeRelaes Internacionais surgiramnaprimeirametadedo sculoXX,nasprincipais universidades europeias enorteamericanas. Foram constitudos com o objetivo de produzir conhecimento que explicasse como se desenvolviam asrelaesentreosEstados.Naquelecontexto,asperguntasque impulsionariamoestudoestavam intimamenterelacionadasao grande trauma da Primeira Guerra Mundial (19141918), conflito sem precedentes at ento, que envolvera diversasnaesdogloboecausarapesadasperdas,sobretudonoterritrioeuropeu.Assim,ostemascentraiseram:

    Oquehaviaconduzidoomundoaumasituaodeconflitotodrstica?OquelevaosEstadosguerra?

    possvelseevitaroconflitoentreospovos?Comoagemosatoresinternacionaisequaisforasqueinterferemnacondutadessesentes?

    Claroque, nodecorrer do sculoXX, o estudodeRelaes Internacionais diversificavase medidaqueos laos entre ospovostornavamsemaiscomplexosenovostemas,comocooperao,desenvolvimento,integrao,paz,direitoshumanoseglobalizao, vinham baila. Atualmente, a disciplina ampla e alcana as mais diferentes reas de estudo, e evolui medidaque tambmevolui a complexidadeda sociedade internacional.De fato,hojeh cursosdeRelaes Internacionaisnasprincipaisuniversidadesdomundoeprofissionaisdareaatuandonosmaisvariadossegmentosdossetorespblicoeprivado.OprimeirocursodeRelaesInternacionaisnoBrasilfoi institudonaUniversidadedeBraslia,nadcadade1970,fazendodacapitaldaRepblicaoreferencialbrasileiroemestudosinternacionais.Atmeadosdadcadade1990,haviaapenasdoiscursosdeRelaesInternacionaisnoBrasilnaUniversidadedeBrasliaenaUniversidadeEstciodeS(RiodeJaneiro).Hoje,sodezenasdeinstituiesqueoferecemagraduaoemRelaesInternacionaisportodooPas.Tratase,portanto,de carreira de grata expanso. Mesmo assim, a contribuio brasileira para as relaes internacionais ainda muitoincipiente,sobretudoparaumpasquetempotencialparasetornarumagrandepotnciaentreseuspares.

    Feitas essas primeiras consideraes acerca do tema de nosso curso, realize as atividades propostas e, em seguida,passemossteoriaseaosprincipaisconceitosutilizadospelosprofissionaiseestudiososdasRelaesInternacionais.

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    Unidade 2 - Conceitos Fundamentais

    Aofinaldestaunidade,oalunodeversercapazdeidentificaredefinirosseguintes conceitosfundamentaisderelaesinternacionais:SociedadeInternacionalAtoresForasProfundasSistemaInternacionalPotnciaHegemonia.

    Lembresesempredosobjetivosestabelecidos,quedevemservirdeguiasparaoestudodocontedoeparaaautoavaliaodocursista.Tenhaumbomaproveitamento!

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    Pg. 2 - Conceitos FundamentaisEssencial para o desenvolvimento de nosso curso a compreenso de conceitos fundamentais deRelaes Internacionais.Nessesentido,seriacomplicado tentar iniciarqualqueranlisedeRelaesInternacionaissemasnoesdessesconceitos.Dentreelesressaltamos:

    SociedadeInternacional

    Atores

    ForasProfundas

    SistemaInternacional

    Potncia

    Hegemonia.

    Antesdeiniciaroestudodestaunidade,sugerimosqueassistaatentamenteaosdoisvdeosseguintesdoConexoMundo,

    ConceitosFundamentaisdeRelaesInternacionais,disponveisnostiodoILB.

    Aseguir,vamosprocuraridentificaroselementosmaisimportantesdessesconceitos.SociedadeInternacionalUmdosprimeirosaspectoscomoqualsedeparaaquelequeiniciaoestudodeRelaesInternacionaisreferesetemticaqueenvolveaSociedadeInternacional.ComodefinirSociedadeInternacional?Quaisoselementosconstitutivosdesseconceito?

    AideiadeSociedadeInternacionaltermocunhadoporHugoGrcionosculoXVIIpermitedirecionar a ateno para a atuao padronizada dos Estados. Apesar da ausncia de umaautoridade central no cenrio internacional, os Estados exibempadres de atuaoque estosujeitosa,econstitudospor,restriesdediversasnaturezashistricas,sistmicas,legaisemorais,entreoutras.

    Numprimeiromomento,podemos relacionarSociedade Internacionalevoluohistricadasrelaesentreosgrupos,povose,maistarde,Estadosnaesorganizadosemmbitoespacial

    determinado.PodemosidentificaraevoluodaSociedadeInternacionalapartirdasrelaesentreosgruposprimitivosdaAntiguidade, passando pelos reinos e imprios e chegando Idade Contempornea, com a ascenso do Estado nacional esoberano nos sculos XVIII e XIX e o seu declnio, no sculo XX, frente a um sistema cada vez mais globalizado einterdependente.

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    Pg. 3 - Sociedade InternacionalPodemos falar em Sociedade Internacional antes mesmo da formao dos Estados nacionais, que s se deu, nos moldescomoosconcebemoshoje(compostosdepovo,territrioesoberania),hdoissculos.Mesmoquenohouvesseconscinciadospovosaesserespeito,nohcomonegaraexistnciadefatodeumaSociedadeInternacionalnaAntiguidade.Afinal,a partir do momento em que surgem os primeiros grupos independentes e diferenciados, exercendo relaes polticas,culturais ou comerciais entre si, temse uma Sociedade Internacional embrionria. Das tribos passaramse aos reinos, scidadesestados e aos imprios, e estes, vistos em um contexto macro e nas relaes entre si, formavam a SociedadeInternacionaldomundoantigo.ClaroqueoprimeiromodelodeSociedadeInternacional,inseridoemumSistemaInternacionaldaAntiguidade,refletiamaisum conjunto de sociedades regionais localizadas, muitas vezes sem qualquer contato entre si e at sem conscincia daexistnciaumasdasoutras.EraumapocaemqueasforasnaturaislimitavamacomunicaoentreOrienteeOcidente,eaSociedadeInternacionaldosistemagregomantinhapoucocontatocomaSociedadeInternacionaldoextremoorientenaqualoimpriodinsticochinseraoprincipalator.Somente com as grandes navegaes e o expansionismo europeu pelo planeta que se estrutura uma SociedadeInternacional global. Assim, desde o sculo XVI, o mundo vaise tornando cada vez mais integrado, seja pela fora daeconomia edo comrcio, sejapela forados canhes edas conquistas coloniais europeias. PaulKennedy, emsuaobra jclssicaAscensoeQuedadasGrandesPotncias,analisa,comclareza,comooextremooestedocontinenteeuroasitico,conhecidocomoEuropa,comumadiversidadedepovosereinosautnomosemarcadoporconflitosregionaisefratricidas,consegueexpandirsepelomundoe,empoucomaisdedoissculos,tornarseocentrodeumasociedadeglobal,subjugandoforastradicionaiscomoaChinaeoImprioOtomano.

    O termo internacional foi utilizado pela primeira vez em 1780, pelo filsofo ingls JeremiasBentham, em sua obra Princpios de Moral e Legislao. Essa a poca do apogeu dos Estadosnacionais,comoinciododeclniodoabsolutismonocontinenteeuropeu.Eraumperodoemqueaideia de nao ainda estava muito ligada figura do soberano. A Sociedade Internacionalrepresentava, para os europeus, a Cristandade, com seus paradigmas e princpios seculares. OEstadosoberanoeraoprincipalatorinternacional.FoicomaRevoluoFrancesaqueoconceitodenaodeixoudetercarterpuramentesimblicoe

    passoua relacionarsediretamentequestodasoberania.Estapassoua residiressencialmentenanao,ondeosditotornousecidadoeasrelaesentreosEstados,atentosimbolizadoseconduzidospelosmonarcas,estenderamsesrelaesentreospovos.OsculoXXesclareceessanovaperspectiva:asrelaesentrenaesnosonecessariamenterelaesentreosEstados,muitopelocontrrio.

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    Pg. 4 - Sociedade Internacional

    NohdvidadequeessaSociedadeInternacionaldinmicaetemsuaevoluodiretamenterelacionadaevoluodosgrupos,povos,reinos,Estados,Impriosenaes,enfim,detodososatoresqueacompemouacompuseramedasforasqueinfluenciamasuaatuao.Qual,ento,oconceitodesociedadeinternacional?

    Arespostaparaessaperguntapercebidademaneiradiferenciadapelos tericosdasRelaes Internacionais,quepodemserreunidosemtrsgrandesgrupos(CERVERA,1991).

    Paraostericosdoprimeirogrupo,simplesmenteimpossveldefinirSociedadeInternacional.Limitamse,assim,aoestudodoscomponentesdaSociedadeInternacionaleevoluodasrelaesentreeles.OstericosdosegundogrupodedicamseaanalisaraSociedadeInternacionalemcontraposioaoutrosgrupossociais.Poressa tica, a pergunta que se busca responder Como a Sociedade Internacional? irrelevante, portanto, para essesautores, a formulao de um conceito terico para Sociedade Internacional. De qualquer maneira, eles no deixam deapresentar sua definio de Sociedade Internacional, mas apenas para instrumentalizar suas explicaes, como veremosadiante.Oterceirogrupo,majoritrio,afirmanosserpossvel,mastambmnecessrio,procederdefiniodotermoSociedadeInternacional,paraquesepossatratarcommaispropriedadeoestudodosfenmenosinternacionaisedasrelaesquesedesenvolvememseumeio.Umavezque concordamos comessapercepo, apresentaremosnosso conceitodeSociedadeInternacional.Antes,porm,vejamosalgunsconceitosdeautoresrenomados.Colliard(1978)afirmaqueSociedadeInternacionaloconjuntodesereshumanosquevivemsobreaterra.Percebemosuma definio genrica e abrangente, que pe completamente de lado as estruturas em que os seres humanos estoagrupados,comoasnaesouosEstadosnacionais.Paraoautor,oconceitodeSociedadeInternacionalconfundesecomode humanidade. Chegase a percebermesmouma concepo idealista, pois aSociedade Internacional teria emprimeiroplanooindivduo,independentementedesuasorigensedogrupooupovoaquepertence.

    HedleyBull(2002),combaseemumaanlisesistmica,definiuSociedadeInternacionalcomoumgrupodecomunidadespolticasindependentesquenoformamumsistemasimples.

    JuanCarlosPereira(2001)apresenta uma definiomais precisa e completa: um mbito espacial e global em que sedesenvolve um amplo conjunto de relaes entre grupos humanos diferenciados, territorialmente ou geograficamenteorganizados e com poder de deciso. O autor acredita que a Sociedade Internacional estaria evoluindo para umaComunidadeInternacional.

    Rafael Calduch Cervera (1991) define Sociedade Internacional como aquela sociedade global (macrossociedade) quecompreendeosgruposcomumpodersocialautnomo,entreosquaissedestacamosEstados,quemantmentresirelaesrecprocas,intensas,duradourasedesiguaissobreasquaisassentadacertaordemcomum.

    Porfim,cabeapresentarnossaprpriaconceituaodeSociedadeInternacional,quebaseadanacorrentehistoriogrfica,pelaqualbuscamosreunirelementosqueconsideramosessenciaisparaacompreensodotermoedesuaevoluodesdeaAntiguidade.A nosso ver, Sociedade Internacional pode ser definida comoo conjunto de entes que interagem de maneira sistmicaem uma esfera internacional sob a influncia de foras profundas.

    Desmembremos esse conceito para melhor compreenso.

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    Pg. 5 - Ator InternacionalAprimeirapartedenossoconceitodeSociedadeInternacionaltratadeumconjuntodeentes.EssesentesnadamaissodoqueosAtoresinternacionais.Atorinternacionaltodaautoridade,organizao,grupooupessoaquerepresentaoupodevira representar um papel de destaque na Sociedade Internacional. A percepo desses atores varia conforme o tempo e acorrente terica que os identifica, mas podemos destacar aqueles que, na atualidade, podem ser considerados os maisimportantes: os Estados nacionais, os atores governamentais interestatais (as organizaes internacionais), os atores nogovernamentaisinterestatais(i.e.,organizaesnogovernamentaiseempresasmultietransnacionais,entreoutros)eosindivduos.No so todas as pessoas, grupos ou organizaes que podem ser identificados como Ator Internacional. Para nossaclassificao, necessrio que a atuao desses entes tenha destaque em escala global. Por exemplo, uma associaoestabelecida dentro de determinado pas e voltada em suas atividades e interesses prioritariamente ao mbito internodaquelepasnoumAtorinternacional.No obstante, qualquer grupo, organizao ou indivduo pode vir a tornarse Ator internacional. Grandes empresastransnacionais de hoje foram, no passado, pequenas organizaes comerciais, algumas de natureza familiar, que atuavamexclusivamenteno interiordeseupasdeorigem,nosendopocaAtores internacionais.medidaqueessasempresascresceram,expandiramseparaalmdasfronteirasdeseusEstadosdeorigemecomearamaatuareinfluirnaSociedadeInternacional,tornaramseAtoresinternacionais.

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    Pg. 6 - Sistema InternacionalO segundo aspecto de nosso conceito de Sociedade Internacional referese atuao sistmica na esfera internacional.Adotamos uma abordagem sistmica, em que o aspecto relacional importante. Sistema pode ser conceituado comoconjuntode elementos e instituies entre os quais se possa encontrar alguma relao ou, ainda, conjunto ordenadodemeiosdeaooude ideias,tendenteaumresultado.Aabordagemsistmicaemrelaes internacionaisvoconjuntodeinterrelaesentreosAtores internacionaiscomosujeitoapadresenormasenfim,aforasprofundas,queremetemaoconjuntomaisamplo,osistemainternacionalcomoumtodo.As primeiras consideraes a respeito do modelo sistmico para explicar as Relaes Internacionais tomaram por baserefernciasdaBiologiaedaQumica.Nessesentido,podeseassociaranoodesistemaaocorpohumano,noqualvriossubsistemascirculatrio,nervosoetc.socompostosdergosqueserelacionamedependemunsdosoutros.Aideiadesistema, portanto, est relacionada a um ordenamento nas relaes entre componentes e interdependncia entre essescomponentes.

    RaymondAron, em sua obra clssicaPaz eGuerra entre asNaes, recorreu ao conceito de sistemapara evocar a dinmica das relaes internacionais. Assim, a Sociedade Internacional temcaractersticassuficientementeestveisparaquepossamosperceblacomoumsistemaondeosAtoresconduzemsuasrelaesdentrodecertospadres.

    Cabe aqui, tambm, apresentar um conceito de Sistema Internacional, de acordo com Frederic S.PearsoneJ.MartinRochester(2000,p.641):

    SistemaInternacional.Conjuntoderelaesemmbitomundialnasreaspoltica,econmica,socialetecnolgica,emtornodoqualocorremasrelaesinternacionaisemumdadomomento.

    H ainda autores que separam as noes de Sociedade Internacional e de Sistema Internacional para identificar certosperodoshistricos.Porexemplo,SociedadeInternacionalteriacomosubstratoaideiadeconcertoeharmoniainternacional,quealgunsdefendemcorresponder,porexemplo,Europadops1815.Emcontrapartida,SistemaInternacionaltraduziriaaexistncia de vrios polos de poder que interagem entre si e no necessariamente se harmonizam no todo, o que algunsautoresdefendemcorresponderaomundops1945.

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    Pg. 7 - Foras ProfundasFinalmente,deacordocomanossaconcepodeSociedadeInternacional,oterceiroelementofundamentalsoasforasprofundas.AideiadeforasprofundasoriginasedacorrentehistoriogrficadasRelaesInternacionaiscujosprincipaisexpoentes foramPierreRenouvineJeanBaptisteDuroselle.Deacordocomesseshistoriadores,as forasprofundasnadamaisseriamquedeterminadosfatoresqueinfluenciariamasaesdascoletividades.Ascondiesgeogrficas,osmovimentosdemogrficos,os interesseseconmicose financeiros,ostraosdamentalidadecoletiva,asgrandescorrentessentimentaistodasessasforasprofundasformaramoquadrodasrelaesentreosgruposhumanose,emgrandeparte, lhesdeterminaramocarter.OhomemdeEstado,nassuasdecisesounosseusprojetos,nopodenegligencilassofrelhesainflunciaeobrigadoaconstataroslimitesqueelasimpemsuaao.Todavia,quando ele possui quer dons intelectuais, quer firmeza de carter, quer temperamento que o levam a transpor aqueleslimites,podetentarmodificarojogodesemelhantesforaseutilizlasparaseusprpriosfins.

    Juan Carlos Pereira denomina tais foras profundas de fatores condicionantes (PEREIRA, 2001, p. 44). Identifica algunsdessesfatores:fatorgeogrfico,fatordemogrfico,fatoreconmico,fatortecnolgico,fatorideolgico/sistemadevalores,fatorpolticojurdicoefatormilitarestratgico.Portanto, a Sociedade Internacional composta de entes Estados, organizaes internacionais, organizaes nogovernamentais,empresastransnacionais, indivduos,entreoutrosqueso influenciadospelasforasprofundasfatoresgeogrficos, demogrficos,migratrios, polticos, econmicos e financeiros, ideolgicos, religiosos, tecnolgicos etc. emsuasaessistmicasnaesferainternacional.

    UmaleituracomplementarrecomendadaadotextosobreRioBrancoeasForasProfundas,de

    ArnoWehling:

    VisodeRioBrancoohomemdeestadoeosfundamentosdesuapoltica.

    AlmdoclssicoHistoiredesRlationsInternationales,obramestradahistoriografiafrancesadasrelaesinternacionais,caberiadestacardoislivrosdeRenouvineDurosellejtraduzidosparaoportugus:IntroduoHistriadasRelaesInternacionaispublicadaem1967pelaDifusoEuropeiadoLivro,deSoPauloeTodoImprioPerecerumdosltimosgrandestrabalhosdeDuroselle,lanadonoBrasilem2000.

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    Pg. 8 - PotnciaAlmdosconceitosjtratados,cabem,nestecursointrodutrio,algumasobservaesaindaquesemaprofundamentoarespeito de outros conceitos essenciais para viabilizar nosso entendimento dos temas tratados no decorrer das prximasunidades.Passemosaeles.

    PotnciaOSistemaInternacionalcompostoporumadiversidadedeatores.Nessecontexto,oEstadoocupapapeldedestaque,masexistemdiferenasmarcantes entre os Estados na esfera internacional e o grau de influncia (poder) que eles exercem.Assim,importanteparaacompreensodasrelaesinternacionaisaideiadePotnciaedasdiferentesgradaesdessaclassificao.HinmerasdefiniesparaPotncia.Segundo Martin Wight (2002), Potncia um Estado moderno e soberano em seu aspecto externo, e quase pode serdefinidocomoalealdademximaemdefesadaqualoshomenshojeirolutar.RafaelCalduchCervera(1991),porsuavez,citaoconceitodePotnciaInternacionalsegundoC.M.Smouts,ouseja,comoaqueleEstadomaisoumenospoderososegundosuacapacidadedecontrolarasregrasdojogoemumoumaismbitoschavesdadisputainternacionalesegundosuahabilidadederelacionartaismbitosparaalcanarumavantagem.Ao tratar da capacidade dos Estados de influenciarem a Sociedade Internacional, Martin Wight relaciona PotnciasDominantes,GrandesPotncias,PotnciasMundiaisePotnciasMenores.PotnciasDominantesePotnciasMundiaisseriamsubdivisesdogneroGrandePotncia,umavezqueambasascategoriassereferemaEstadoscominteressesglobaisecapacidadedeinflunciasignificativanoSistemaInternacional.Emltimaanlise,adiferenciaopoderiaserrestringidaaGrandesPotnciasePotnciasMenores.Wight define Potncia Dominante como aquela capaz de medir foras contra todos osrivaisjuntos.Ecitaexemplosaolongodossculos,comoAtenas,pocadasGuerrasdoPeloponeso,oImprioRomano,aEspanhadeCarlosVedeFilipeII,aFranadeLusXIV,aGrBretanhanosculoXIXeosEUAnosculoXX.Outro termo muito utilizado e cujas caractersticas vo alm da Potncia Dominante,conformedefinidaporWight,odeSuperpotncia.Essetermo,cunhadocomoadventodaGuerraFria,designavaexclusivamenteURSSeEUA.Essespases,emvirtudedesuascapacidadesnuclearescompoderdedestruioglobal,inmerasvezesassociadasaopoderiomilitarconvencionaleinflunciapolticoideolgicamundial,tinhamstatusniconacomunidadedasnaes.Gounelle(1992)indicaquatrocaractersticasdasSuperpotncias:

    tmcapacidadedeinterviremqualquerpartedoglobo

    dispemdeamploarsenal,capazdecausardanosdiferenciadosdosarmamentosconvencionaisecompostotantodearmasnuclearesquantodeoutrosmeiosdedestruioemmassa

    assumemalideranadeumaalianamilitar(osEUAdaOTANeaURSSdoPactodeVarsvia)

    pretendemoferecerummodelouniversaldesociedade.

    ConvmlembrarqueaideiadeSuperpotnciaultrapassaemmuitoopoderioexclusivamentemilitar.Defato,acapacidadededestruiomassivadoplanetaoelemento central do conceitodeSuperpotncia,masoaspectode lideranadeumbloco de naes e de pretenses de estabelecimento de uma sociedade universal em seus moldes polticoeconmicoideolgicosociaisnopodeserdesconsiderado.

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    Pg. 9 - Potncia

    Atualmente,comocolapsodaURSS,restou,noplaneta,apenasumaSuperpotncia:osEUA.AlgunsautoresvislumbramapossibilidadedeaChinaviraocupar,nasegundametadedosculoXXI,olugardaURSS.Entretanto,aindanohquesefalarnaChinacomoSuperpotncia,umavezqueesta,almdenodispordearsenaisnuclearescapazesdefazerfrenteaopoderio de Estados como EUA e Rssia, no tem pretenses nem condies de projetar um modelo sciopolticoculturalideolgico seu para omundo. ARssia, por sua vez, apesar de dispor de arsenais nucleares com capacidade dedestruiomassivadoplaneta,nopodeserchamadadeSuperpotncia,exatamenteporquetambmnotemcondiesdeaspirar a qualquer pretenso hegemnica no sistema internacional, como fazia a URSS. Assim, os EUA, considerados osvencedoresdaGuerraFria,sohojeonicoEstadocomascaractersticasbsicasdasuperpotncia,e,defato,essanaotemsetornadotopoderosaquejsecunhaoconceitodeHiperpotncia,algosemprecedentesnaHistria.A Hiperpotncia dispe de um aparato blico superior ao das demais Potncias juntas. Esse aparato no se resume aoacervo das armas de destruio emmassa, mas inclui armamento convencional significativo e capacidade de operaomilitaremmaisdeumteatronoglobo.Ademais, tratasedeumaEconomiadepesodiantedosistema,sua influncianapoltica internacional marcante e, ainda, consegue projetar seumodelo sciocultural e poltico para outras regies doplaneta.Assim,osEUAnoencontram,noinciodosculoXXI,adversriosmilitaresaltura,esoaGrandePotnciaeconmicaealideranamundial.Dopontodevistaeconmico,porexemplo,apenasacoalizodasgrandeseconomiaseuropeiaspodefazer frenteaosEUA,omesmosepodendodizerdaseconomiasasiticas.Aprojeodepoderdosnorteamericanosnomundo no encontra precedentes, e alguns analistas j comeam a analisar a poltica externa estadunidense como umapolticadeimprio.Dequalquermaneira,oconceitodeHiperpotnciaaindaencontraseemdesenvolvimento.OconceitodeWightparaPotnciaDominantetemgrandeproximidadecomaideiadehegemon,ouseja,umapotnciatopoderosaqueserianecessriaumacoalizodetodasasdemaisnaesparacontla.Aconcepodehegemonultrapassaaesferaexclusivamentepolticomilitar,demodoqueoEstadoquedetmessettulo influenciaaSociedadeInternacionalem esferas diversas, como a cultura, a estrutura social interna, a Economia e at oDireito. Alm disso, essa influnciadohegemonnoocorrenecessariamentedemaneira impositiva.De fato, a hegemonia, comoveremosa seguir, envolveum misto de coero e consenso. Finalmente, convm lembrar que o hegemon continua influenciando a SociedadeInternacionalmesmoapsperderessestatus.

    Interessante observar que a hegemonia dos EUAhoje mantidamais por outrosmeios o que alguns autores chamamdesoftpower(podersuave),comoapresenamarcantenacompilaoedivulgaodenotciasediverses,naproduodebensdeconsumo,nasinmerasformasdeculturapopularesuaidentificaocomaliberdadepolticaedemercado,doquepropriamentepormeiodohardpower(podermilitar).

    Alm da potncia hegemnica, h outros atores estatais com capacidade significativa de influncia na SociedadeInternacional. Esses so asGrandes Potncias, as quais, inclusive, disputamahegemonia entre si e aspiram tornarse apotncia dominante, chegando, muitas vezes, a alcanar esse objetivo. De fato, as relaes internacionais seriam umgrande tabuleiro onde essas Potncias disputariam poder em um jogo de influncia. Como exemplos atuais de GrandesPotnciasteramosChina,Frana,Rssia,Alemanha,JapoeGrBretanha.As potncias menores constituem a maioria. Seu grau de influncia no sistema varia significativamente. Nesse grupo,poderiam ser relacionadas desde as PotnciasMundiaismenores comoEspanha e ndia at as Potncias Regionais ArgentinaeEgito,porexemplo.ValedestacarqueumaPotnciaMenorhojepodeviratornarseumaGrandePotnciaeataPotnciaDominante.OsEUAsoumbomexemplodisso.

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    Pg. 10 - Potncia

    MaxGounelle (1992) comenta que, medida que dispe de capacidade de influenciar demaneira significativa os outrosentes da Sociedade Internacional em prol de seus interesses particulares, um Estado pode ser classificado comoMicroestado,PotnciaLocal,PotnciaMdia,GrandePotnciaouSuperpotncia.

    Osmicroestadossoaquelaspequenassoberaniasquepersistememnossosdiaseque,emsuamaioria,tiveramorigemnaformao histrica dos Estados nacionais europeus ou no processo de descolonizao. Encontramse constantemente sobamplograudedependnciafrenteaumaPotnciaeintegramseagruposdeEstadosorganizadosnoseiodeorganizaesinternacionais. Conviria exemplificar nessa categoria pases como o Principado de Mnaco e a Repblica de SanMarino,diversosEstadosarquiplagosnoPacficoouatalgumasRepblicasdaAmricaCentraleCaribe.Apesardeminimamenteinfluentes na Sociedade Internacional, esses entes ganham fora quando se associam e se fazem representar emorganismosinternacionaisondetenhampoderdevotoigualaodeoutrosEstados.As Potncias Locais so asmais numerosas. Participantes das atividades comuns da vida internacional, esses entes tmcomo objetivos principais sua prpria sobrevivncia e a defesa de sua soberania territorial. Demaneira geral, no tmgrandespretensesinternacionaisdeprojeodepodereacabamtambmassociadossGrandesPotnciasouaPotnciasRegionais.Comoexemplosparaessacategoria,temospasescomoBolvia,Paraguai,Camboja,AlbniaeMoambique.SoclassificadoscomoPotnciaRegionalouPotnciaMdiaaquelesEstadosaptosarepresentaremcertopapeldedestaqueemgrandesreasgeopolticas.Egito,Sria,Nigria,Brasil,ArgentinaeIrsoexemplosdePotnciasRegionaisouMdias.Essespasesexerceminflunciaemvirtudedesuasaptidesdelideranasobcertoslimitesgeogrficos,fundadasemseuspotenciaismateriaisoudemogrficos,suaenvergaduraideolgicasouseupesomilitar,econmicoeatsocial.Gounelle, no entanto, diferencia Potncias Regionais de Potncias Mdias ao afirmar que estas ltimas tm ambiesmundiais restritas s suas prprias capacidades. Tais pretenses poderiam ser limitadas a domnios especficos (nuclear,cultural, econmico, diplomtico). A Frana, a Alemanha, a China e o Japo estariam nessa categoria. De fato, o queGounellerelacionacomoPotnciasMdiasseriaoquesecostumachamarmaisapropriadamentedeGrandesPotncias,ouseja, Potncias com interesses globais e capacidade de influenciar a Sociedade Internacional em diferentes domnios. AochamarPotncias comoChinaeGrBretanhadePotnciasMdias,Gounelle o faz comparandoas sSuperpotncias poca,URSSeEUA.

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    Pg. 11 - Hegemonia

    TomamoscomobaseparaoconceitodeHegemoniaaobraInternational Relations: the Key Concepts, de MartinGriffithseTerryOCallaghan(London:Routledge,2002).

    Hegemonia,emgrego,significaliderana.Emsentidoamplo,portanto,emRelaesInternacionais,ohegemonolderouoEstadolderdeumgrupodenaes.Paraqueosconceitosdehegemoniaedehegemonsejamaplicveis,presumesequehajaumacertaordemnaSociedadeInternacional. Da que, apesar de ser o Estadomais poderoso no cenrio internacional, ohegemon s pode exercer sualiderana(hegemonia)sehouverrelaesdepoderentreentesemummeiointernacional.

    Hegemoniaconsiste,ento,noexercciodeumalideranaoucomandoemumasociedade,combaseemrecursosdepoder.Esses recursos fundamentamse em dois aspectos: coero e consenso. Assim, toda relao de poder tem por base osgrausdecoeroeconsensoexercidosporumenteoumaisdeumsobreosdemais.medidaquealteradaessarelao,mudatambmaliderananogrupo.

    Paraoexercciodahegemonia,ohegemondevetercapacidadedeatuarnasesferasdeconsensoecoero.Umarelaoquesebaseieapenasnacoeropormeiode recursosde foramilitaroueconmicanopodeserverdadeiramentehegemnica,damesmamaneiraqueimpossvelalideranadacomunidadeinternacionalcomfulcroapenasnoconsensodosdemaisatores.As relaes internacionais tm sido marcadas pela disputa, por parte das Potncias, da hegemonia na SociedadeInternacional.Essahegemonia,almdepoltica,podesermilitar,econmica,culturalou ideolgica.Podeser regionalouglobal. Um Estado que seja a Potncia hegemnica em uma dessas reas muito provavelmente o ser na maioria dasoutras.claroquetallideranapodeterdiferentesgradaesequeumagrandePotnciaeconmicaemnossosdiaspodenoteromesmopoderdeinflunciaculturalouatmilitarnocenriointernacional.ASociedadeInternacionalsersempremarcadaporumhegemon,cujointeressemanterostatusquodosistema,diantede outras Potncias que no pouparo esforos para se tornar o hegemon. De acordo com a teoria da estabilidadehegemnica, ohegemon tem que ter capacidade de garantir a ordem do sistema, ordem que deve ser percebida pelosdemais entes da comunidade como positiva a seus interesses. Para isso, ohegemon deveria dispor de alguns atributos:lideranaemumsetoreconmicoou tecnolgicoepoderpolticobaseadonopodermilitar.Podemosacrescentaraessesatributosacapacidadedeobterconsensosobresualiderana.

    Noacumuledvidas.Procuresanlaslogoqueapaream.

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    Pg. 12 - Hegemonia

    Para Robert Gilpin, a estabilidade internacional depende da existncia de uma hegemonia, que tenha tanto capacidadequantovontadedefornecerbenspblicosinternacionais,comolei,ordememoedaestvel.ConformedidticaexplicaodeGriffiths(2004,p.2627):

    (...)osmercadosnopodemcresceremproduoedistribuiodebenseserviossenohouverumEstadoqueforneacertosprrequisitos.Pordefinio,osmercadosdependemdatransferncia,pormeiodeummecanismodepreoeficiente,debenseserviosquepossamsercompradosevendidosentreosprincipaisagentesparticularesquepermutamdireitosdeposse.MasosmercadosdependemdoEstadoparalhesdar,porcoero,regulamentos,taxasecertosbenspblicosqueelessozinhosno podem gerar. Isto inclui uma infraestrutura legal de direitos e leis de propriedade para fazercontratos,umainfraestruturacoercivaqueassegureaobedincialei,almdeummeiodepermutaestvel (dinheiro) que assegure um padro de avaliao dos bens e servios. Dentro das fronteirasterritoriais do Estado, os governos fornecem tais bens. claro que, internacionalmente, no existeEstadonomundocapazdemultiplicarsuaprovisoemescalaglobal.BaseandosenaobradeCharlesKindlebergerenaanlisedeE.H.CarrsobreopapeldaGrBretanhanaeconomia internacionalnosculoXIX,Gilpinargumentaqueaestabilidadeealiberalizaodapermutainternacionaldependemda existncia de uma hegemonia, que tenha tanto capacidade quanto vontade de fornecer benspblicosinternacionais,comolei,ordemeumamoedaestvelparaocomrciofinanceiro.

    Emtermosgerais,essaaTeoriadaEstabilidadeHegemnica.

    umateoriaimportanteevoltaremosaelanaUnidade4,aotratarmosdodebatetericotravado

    entreneorrealistaseneoliberais.

    As Potncias hegemnicas so as Grandes Potncias na concepo de Wight, e ohegemon nada mais que a PotnciaDominante. A hegemonia polticoideolgica no planeta, por exemplo, era disputada pelas Superpotncias no contexto daGuerraFria,masaURSSdificilmentepoderiasercaracterizadacomoameaahegemoniaeconmicadosEUA.

    Deveseesclarecer,todavia,que,duranteamaiorpartedaGuerraFria,imaginavasequeaUnioSoviticasetornariaumagrandepotnciaeconmica.Issoespecialmentevlidoparaosanos30:enquantoaseconomiasocidentaisagonizavamporcausadacrisede1929,aeconomiasoviticacresciaataxasespantosamentealtas.

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    Pg. 13 - Hegemonia

    ComplementandoosestudossobreoconceitodeHegemonia,atenteparaestaauladoProfessorJoanisval.

    Durao: 2min55Casonoconsigavisualizar:

    1)seuacessoaoYoutubepodeestarbloqueado

    2)podeprecisaratualizaroFlashPlayer(http://get.adobe.com/br/flashplayer/)

    Essasobservaesintrodutriassosuficientesefundamentaisparaacompreensodasunidadesseguinteseparaadiscussodostemastratadosnestecurso.

    ArtigointeressanteparaconcluirosestudosdestaUnidadeotextodeJooMarquesdeAlmeida,sobreHegemoniaAmericanaeMultilateralismo.

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    Unidade 3 - Correntes tericas das Relaes Internacionais

    Aofinaldaunidade,oalunodeversercapazde:

    indicarecaracterizarasprincipaiscorrentestericasdasRelaesInternacionaisnoSculoXX

    identificarosprincipaisdebatestericosdadisciplina

    Esperamosquevoctenhaexcelenteaproveitamentoemseusestudos!

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    Pg. 2 - Teorias de Relaes Internacionais

    Oobjetomaterialdequalquercinciasedefinepelaparceladerealidadequesepretendeconhecermedianteaformaodeteoriaseautilizaodeummtodocientfico(CERVERA,1991).AteorizaosobreasRelaesInternacionaissurgiuquandosebuscouexplicaraexistnciaeascondutasdosentesinternacionais.naGrciaAntiga,comaobradeTucdides,HistriadaGuerradoPeloponeso,quesetemaprimeiramanifestaoembrionriadeumateoriadeRelaesInternacionais.Halgoqueascinciasnaturaiseascinciassociais,conformeKarlPopper,certamentetmemcomum:anecessidadedateoriaparasedesenvolverem.NaspalavrasdeTomassini(1989,p.55):

    "A cincia exige algo mais do que fatos e descries de fatos. Exige uma explicao de por que ocorreram, que efeitoscausaramealgumaspredies(ou,nocasodascinciassociais,conjecturas)sobreseucomportamentoprovvelnofuturo,umamescla de causalidade, teleologia e prospeco.No campo das cincias sociais, como emoutras cincias, a teoria chamada a ministrar essas explicaes, pondo ordem ao mundo heterogneo e muitas vezes incompreensvel dos fatosisolados,eaarriscaralgumaspredies."

    ATeoriadoEquilbriodePoder

    Comeamos por essa teoria por uma razo simples: para muitos estudiosos dapoltica internacional, a Teoria do Equilbrio de Poder, tambm conhecida comoTeoriadoBalanodePoder,oquemaisprximoexistedeumateoriapolticadasrelaes internacionais. Arnold Toynbee, conhecido historiador, chegou mesmo adizerquetalteoriaconstituaumaleidaHistria.Na era moderna, com o surgimento e desenvolvimento do Estadonao,multiplicaramse tambmas teorizaesa respeitodas relaes internacionais. EmumcontextodeanarquiainternacionaledeconflitoentreosEstados,asprticasdosagentesedosatoresnaSociedadeInternacionallevaramformulaodeumateoriaquepodeserconsideradaaprecursoradaanliseconvencionalrealistadasrelaesinternacionais,aTeoriadoEquilbriodePoder.

    ATeoriadoEquilbriodePoderpercebeocenrio internacionalemumasituaodeequilbrio,noqualopoderdistribudoentreosdiversosEstados.QuandoumEstadocomea a se destacar e a buscar aumentar seu poder frente aos demais, h umaperturbao no equilbrio, e fazse necessria uma coalizo das Potncias para

    conteroEstadopretensiosoerestauraraordem.Assim,pressupondooEstadocomoumatorracional,ateoriadefendequeobalanoouoequilbriodepoderaescolhaprefervele,portanto,atendnciadosistemainternacional.ATeoriaorientouasrelaesinternacionaisnosquatrosculoscompreendidosentreaGuerradosTrintaAnos(16181648)eaPrimeiraGuerraMundial (19141918). Foi til para justificar as condutas dos Estados e aes de governantes emum contexto anrquico econflituoso,comoservistonasUnidades2e3domduloseguintedestenossocurso.Algunsautoresdistinguementreoequilbriodepoder comoumapoltica (esforodeliberadoparaprevenir predominncia,hegemonia)ecomoumpadrodapolticainternacional(emqueainteraoentreosEstadostendealimitaroufrearabuscaporhegemoniae,comoresultado,resultanumequilbriogeral).

    Como fimdaPrimeiraGuerraMundialeasconsequentesmudanasnocenrio internacionalenoequilbriode foras,emvirtudedostraumascausadospeloconflitoedodesenvolvimentododiscursopacifistajuntoopiniopblicainternacional,aTeoriadoEquilbriodePoder foiquestionada.Soboargumentodequeessadoutrinanopoderiaperduraremumsistemaemqueaguerradeveria ser evitadaaqualquer custo, o imediatopsguerra foimarcadopornovas concepes sobreasrelaesinternacionais,baseadasemumanovacorrenteterica,aqualsefundamentavanoDireitoInternacional,nasoluopacfica das controvrsias e na busca de uma estrutura supranacional que garantisse a paz: o Idealismo das RelaesInternacionais.Foi, portanto, na primeira metade do sculo XX que os primeiros tericos de Relaes Internacionais comearam adesenvolversuasexplicaessobreotemaemumcontextodedisciplinaautnoma.Claroque,emvirtudedeumobjetodeestudo to complexo, diversas foramas correntes tericas institudasnasltimasdcadas.Comono este um cursodeteoria,pretendemosapresentarapenasaslinhasgeraisdascorrentesmaisreconhecidas.

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    Pg. 3 - A fase idealistaOIdealismo,comoficouconhecidaaprimeiragrandecorrentetericadeRelaesInternacionais,surgeemumcontextodofinal de um conflito muito marcante, a Primeira Guerra Mundial, e reflete a crescente preocupao daqueles que entocomeavamateorizarsobreasrelaesinternacionais:

    ComosepoderiabuscarapaznaSociedadeInternacional,oumelhor,comoevitaroconflito,sobretudoblico,entreosEstados?

    No que se refere ao contexto internacional, lembra Arenal (1984), o clima nunca poderia ter sido mais favorvel aoIdealismo.AGrandeGuerrahaviademonstradoafragilidadedatradicionaldiplomaciaeuropeiacomomeioparaasseguraraordemeapazinternacional.Asenormesperdashumanasemateriaisproduzidaspeloconflitoforamresponsveis,tambm,peloadventodeumaopiniocomumuniversalsegundoaqualaguerradeveriasererradicadacomoinstrumentodepolticadosEstados.Pregavase,ademais,oestabelecimentodeummodelodeseguranacoletivacapazdeevitarnovascontendas.

    Assim, sob os auspcios do discurso idealista e moralizante do presidente estadunidense Woodrow Wilson, foi criada aSociedade(ouLiga)dasNaes(SDN),comoobjetivodeseraorganizaocentraldeumsistemadeseguranacoletivaeum frum em que os Estados pudessem resolver suas contendas de maneira pacfica. A SDN, portanto, contribua paraacentuarootimismofrenteaofuturodaSociedadeInternacionaleestabeleciaosfundamentosdeumsistemadirigidoparapreservarapaz.Nessecontexto,ateoriainternacionaldominanteseorientavapeloscaminhosdoIdealismo,dosprojetosdeorganizaointernacional,doestabelecimentodemecanismostendentessoluopacficaedepropostasdedesarmamento.Importncia significativa foi dada pelos idealistas ao Direito Internacional e s instituies jurdiconormativas quegarantissemaordemnasrelaesentreosEstados:ganhavaforaoinstitucionalismonasrelaesinternacionais.

    Anarquiainternacionalnosignificadesordem,mas,sim,ausnciadeumgovernocentral

    superioraosEstados(quesosoberanosesprestamcontasasimesmoseaoutrosAtoresdo

    sistema).Anarquia,portanto,ausnciadegoverno.

    OIdealismopartiadoprincpiodequeasrelaesinternacionaisencontramseemestadodenatureza,ouseja,deanarquiainternacional. As naes devem buscar, destarte, superar essa anarquia e estabelecer um contrato social em mbitointernacional queordeneas relaesentreospovos.OsEstados, acreditavamos idealistas, deveriamportarsedeacordocomosmesmosprincpiosmoraisqueguiamacondutado indivduo.ParaestimularouobrigaressesEstadosaseguir taisprincpios, seria fundamental que se institucionalizasse, em escala mundial, o interesse comum de todos os povos emalcanar a paz e a prosperidade. O estudo de Relaes Internacionais, como disciplina autnoma, mostrouse como umacinciadapaz.

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    Pg. 4 - A fase idealistaO Realismo e o Idealismo encerram, na verdade, duas vises de mundo opostas, em que o ponto de partida a dicotomia anarquia xordem. Apesar de Tucdides, comHistria da Guerra do Peloponeso, antes mesmo de surgirem os conceitos de soberania e a tese doestado de natureza, j ter iniciado a moldar uma concepo anrquica do mundo, com Thomas Hobbes, emLeviat, e, em seguida,com John Locke,emO Estadode Guerra(Captulo III da obraSegundo Tratado do Governo Civil), em que se explora, pela primeiravez, o estado de natureza anrquico a respeito das relaes internacionais.

    Segundo Lijphart (1982), as noes de soberania e de anarquia internacional inspiraram trs teorias interligadas: adogovernomundial,adoequilbriodepoder(oubalanodopoder)eadaseguranacoletiva.Segundoateoriadogovernomundial,dadoqueaanarquiaresponsvelpelatensointernacional,necessriocelebrarumcontratosocialinternacionalparainstituirumgovernomundialsoberanoenico,paraprfimanarquia.A teoriadoequilbriodepoder, ao contrrio, defendequea lutapelopoderentreosEstados soberanos tendeagerarumequilbrio,oqualnoalimentaumatensoperptua,mascriaumaordeminternacional.Paraateoriadaseguranacoletiva,omelhorseriaqueosEstadosseempenhassememtomarmedidascoletivascontratodoagressor,oqueacabariaatenuandoaanarquiainternacional.TodasessasteoriasaceitamatesedequeaanarquiareinaentreosEstadossoberanos.SegundoInisL.Claude,citadoporLijphart,essastrsteoriascorrespondemaestgiossucessivosdeumaprogressoemdireoaumacentralizaocadavezmaisrepletadeautoridadeepoder(nosentidobalanodepoder>seguranacoletiva>governomundial).Omundonuncapassoudosegundoestgio,oqualfoi,naverdade,ofocodamaiorpartedosautoresidealistas.

    Historicamente,nodesenvolvimentodosistemadeEstadosdaEuropa,soberanianormalmenteassociadaaostrabalhosdeJeanBodineThomasHobbes,nosquaissignificavaodireitodeexercerpoderirrestrito.Todavia,ahistriadosistemadeEstadosmodernos,dosculoXVIIemdiante,uma

    tentativadesedistanciardarigidezdessaconcepooriginalembuscadaideiadeigualdadeformal.

    Para as Relaes Internacionais, particularmente importante a viso construda por Hugo Grcio sobre a sociedadeinternacional a partir da teoria do contrato. Grcio, considerado o pai do Direito Internacional, defendeu ser o direito umconjuntodenormasditadaspelarazoesugeridaspeloappetitussocietatis.AbasedadoutrinadeGrcioasolidariedade,oupotencial solidariedade,entreosEstadosemrelaoaplicaoda lei internacional,eprocuraestabelecerumaordemmundial restringindo os direitos dos Estados de irempara a guerra pormotivaes polticas e promover a ideia de que aforaspodeserlegitimamenteusadaemnomedosobjetivoseanseiosdacomunidadeinternacionalcomoumtodo.

    Grcio,comoseobserva,apresentaumahipteseinversadoequilbriodepoder.Paraele,existeumfundamentocomumde normas morais e jurdicas, e o mundo uma sociedade composta de Estados onde reina um consenso normativosuficientementeamploeintimidadorparaqueanoodeestadodenaturezaedeanarquiainternacionalnosejaaplicvel.A tese de Grcio parte da noo de anarquia, mas a minimiza para efeitos de teorizao, desconsiderando a relaonecessriaentreanarquiaeguerra,relaoestareduzidaamerahiptese(enoaumdadooupremissa,comofazemosrealistas).

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    Pg. 5 - A fase idealistaA teoria e a prticadas relaes internacionais desdea PrimeiraGuerraMundial, principalmente comoPactoda LigadasNaes (o Pacto de Paris), a Carta da Organizao das Naes Unidas (ONU) e a Carta do Tribunal Internacional deNuremberg,derivamdafrmulagrociana,queconcebeasociedadeinternacionaldeformaordenada,frutodaanalogiacomaalegoriadasociedadedomsticausadapelostericosdocontratosocialdossculosXVIIeXVIII.Edward Hallett Carr, autor do clssico Vinte Anos de Crise: 19191939, cuja primeira edio foi lanada logo aps odesencadeamento da Segunda Guerra Mundial, em 1939, analisa a dicotomia entre uma perspectiva utpica e a prticarealista dos Estados e ilustra bem a maneira como os idealistas viam as relaes internacionais e os argumentos queutilizavamaotrataremdasinteraesentreospovos:

    O aspecto teleolgico da cincia da poltica internacional tem estado evidente desde o princpio. Surgiu de uma grande edesastrosaguerraeoobjetivomestrequeinspirouospioneirosdanovacinciafoiodeevitararecidivadessadoenadocorpointernacional.Odesejopassionaldeevitaraguerradeterminoutodoocursoedireoiniciaisdoestudo.Comooutrascincias na infncia, a cincia poltica internacional tem sidomarcada e francamente utpica. Ela se encontra no estgioinicial, no qual o desejo prevalece sobre o pensamento, a generalizao sobre a observao, e poucas tentativas soefetuadas de uma anlise crtica dos fatos existentes e dosmeios disponveis. Neste estgio, a ateno est concentradaquaseexclusivamentenofimaseralcanado.

    Carr cita, ainda,odiscursodoPresidenteWilsonque refletiaopensamento idealistageral eque continhaa respostadeWilson: se no funcionar, teremos que fazlo funcionar!, quando indagado se aquele modelo moralizante e pacifistafuncionariaeesclarece:

    "Oadvogadodeumplanoparaumaforadepolciainternacional,ouparaaseguranacoletiva,oudealgumoutroprojetoparaumaordeminternacional,geralmenterespondecrtica,nocomumargumentodestinadoamostrarcomoeporqueelepensaqueseuplanofuncionaria,massim,oucomumadeclaraodequeeletemqueserpostoafuncionarporqueasconsequnciasdesuaausnciadefuncionamentoseriamdesastrosas,oucomademandaporalgumapanaceiaalternativa."

    ApsaPrimeiraGuerraMundial,aLigadasNaesfoiumesforoespecficodapolticainternacionaldesubstituiroprincpiodoequilbriodepoderpeloprincpioda segurana coletiva.Talprincpio,que sustentoua criaodaquelaOrganizao, foielaboradopararemoveranecessidadedeequilbriooubalano.Paraosrealistas,essasuaremoonoperodoentreguerrasteriasido justamenteacausadaSegundaGuerraMundial.Comoresultado,osistema internacionalps1945deixoudeserexplicado em termos do princpio idealista da segurana coletiva, e noes de bipolaridade emultipolaridade, tpicas dasanlisesdebalanodepoder,osubstituram.Chegousemesmo,nosperodosmaisquentesdaGuerraFria,emsefalardebalanodeterror.

    Parareforareilustrarosconceitosacima,assistaaovdeo.

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    Pg. 6 - A fase realistaA dcada de 1930, entretanto, caracterizada por uma crescente instabilidade internacional, consequncia de comoespolticas, econmicas e ideolgicas, internas e internacionais, e pelo fracasso do sistema da Sociedade das Naes e dapoltica de apaziguamento das democracias europeias, marca a decadncia da perspectiva idealista para a teoria dasRelaes Internacionais. Nesse perodo, temse o debate entre o Idealismo e uma nova corrente que ganhava fora, oRealismoPoltico.

    Osacontecimentosinternacionaisnovamenteforamessenciaisparaamudananoaporteterico.ORealismorepresentou,emumprimeiromomento,areaodosespecialistassinsuficinciastericaseprticasdosidealistas,nocontextode

    convulsesinternacionaisdosanostrintaedaprpriaSegundaGuerraMundial.Paraosrealistas,oapeloopiniopblicaerazohumanista,preconizadapelosidealistas,mostrouseincapazdepreveniraguerra,fazendosenecessrioretomaras

    ideiasdesegurananacionaledeforamilitarcomosuportesdadiplomacia.Apenaspormeiodeumpoderefetivo,acreditavam,osEstadospoderiamassegurarapazinternacionaleasoluopacficadascontrovrsias.Carrassinalavaqueosignificadoltimodacriseinternacionalera"ocolapsodatotalestruturadoutopismobaseadonoconceitodeharmoniade

    interesses".

    ApragmticanovageraodeestudiososdopsSegundaGuerraMundialbaseavasenopensamentoclssicomaquiavlicoehobbesianoevianadefesadosinteressesnacionais,emrelaoapoder,ograndeeixodacondutadosEstadossoberanosnomeio internacional. O Realismo encontroumaior respaldo nos EUA. Desse pas, a doutrina realista difundiuse pelo globo,tornandoseacorrentetericamaisrelevanteparaexplicarasRelaesInternacionais.

    Abordaremosessacorrentecommaisdetalhesaseguiretambmemunidadeprpria.

    Atualmente,cercade90%daproduoacadmicadosEUAemRelaesInternacionaistmporfundamentoacorrenterealista.

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    Pg. 7 - Behavioristas e ps-behavioristasA terceira fase da Teoria das Relaes Internacionais desenvolveuse tambm nos EUA como resposta aos excessos doRealismo. Tratase de uma aproximao com a vertente behaviorista da Sociologia. Essa corrente ficou conhecida comobehavioristaoucientfica.ParaArenal(1984,p.82):

    No incio dos anos cinquenta, alguns especialistas norteamericanos em poltica de segurananacional repensamos postulados do realismo poltico, combase no carter impreciso e intuitivodosmesmosparaaanlisedarealidadeinternacional,ebuscamumenfoquedecartercientficocapaz de dar resposta complexidade das Relaes Internacionais. O impacto dos mtodos depesquisa e os modelos das cincias fsiconaturais so notados com fora nas pesquisas quecomeam a pr emmarcha. A partir desse momento, uma onda de cientificismo, que trata dedesenvolver uma cincia das Relaes Internacionais, com base na aplicao de mtodosquantitativomatemticos, invade as Relaes Internacionais, impondose o que se denominouperspectivabehavioristaouconducista.

    Para os behavioristas, o objetivo das Relaes Internacionais o comportamento dos atores. O estudo desse objeto deve

    atentarparaparmetrosqueenvolvamfasescomoacoletaeaelaboraodedados,otratamentoquantitativodessesdados

    e,finalmente,aproduodemodelosdentrodorigorcientficodascinciasexatas.Paraosbehavioristas,osestudosdevem

    estar sempre voltados para os casos concretos, a partir dos quais uma linguagem cientfica das cincias sociais deve ser

    elaboradacombaseemdadosempricos,rejeitandoseanlisesprovenientesdoDireito,daHistriaoudaFilosofia.Entreos

    vriosenfoquesdacorrentebehaviorista,convmdestacaraTeoriadaTomadadeDecises,aTeoriaSistmicadasRelaes

    InternacionaiseaTeoriadosJogos.OsautorescientficosmaisrenomadossoMortonKaplan,DavidSingereG.T.Allison.

    O desenvolvimento da corrente cientfica gerou um grande debate nos anos sessenta entre os tradicionalistas filosficointuitivos(idealistaserealistas)eoscientficos(behavioristas).

    Finalmente,Arenalidentificaumaquartafase,motivadapeloqueDavidEaston(1969)chamoudenovarevoluodacinciapoltica, e que se convencionou chamar de psbehaviorismo. Essa nova revoluo terseia produzido devido a umaprofunda insatisfaocomapesquisapolticaeosensinamentosbehavioristas,sobretudoporquereremconverteroestudoda poltica em uma cincia segundo o modelo fsiconatural. As bandeiras levantadas pelos psbehavioristas so ao erelevncia.Onovomovimento,semabandonaroenfoquecientficodobehaviorismo,dirigesuaatenocondutahumanaenquanto tal e aos problemas reais do mundo, s motivaes e aos valores subjacentes a toda conduta. Buscase umapesquisacomnfaseaocasoconcreto,dandoatenoaumobjetodeanlisequediferedosobjetosdascinciasexatas.Opsbehaviorismoconstituiu,portanto,asntesedodebateentreasconcepestradicionalistaseascientficas.

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    Pg. 8 - Realismo, Pluralismo e Globalismo

    Atualmente,adoutrinareconhecetrsgrandescorrentestericasdasRelaesInternacionais:oRealismo,oPluralismoeoGlobalismo.Sotambmchamadosdeparadigmastericos,dadoqueasvariadasteoriasqueexistemnadisciplinapodemserencaixadasemumadessastrscorrentes.ORealismotrabalhamaiscomosconceitosdepodereequilbriodepoder,oGlobalismo com dependncia, e o Pluralismo, por sua vez, com os conceitos de processo de tomada de deciso etransnacionalismo.

    Vamosabordlasbrevementeaseguir.

    Assistindo ao vdeo abaixo, ainda com o Professor Joanisval, um dos conteudistas deste curso, voc ter umaviso introdutria dosurgimento do Realismo.

    Durao: 5min25Caso no consiga visualizar:

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    RealismoORealismotemalgumasproposiesbsicas.Primeiro,oEstadooatorprincipalnomeiointernacional,eoestudodasrelaesinternacionaisfocaessaunidadepoltica.Atores no estatais, como as empresas multinacionais, so menos relevantes para a anlise, e as organizaesinternacionais, como a ONU ou a OTAN, no possuem existncia autnoma ou independente, porque so compostas deEstados, as verdadeiras unidades soberanas, independentes e autnomas, que determinam o comportamento dessasorganizaesinternacionais.OConselhodeSeguranadaONU,porexemplo,queeraumaformadegernciadopodernavisorealista,foiparalisado,duranteaGuerraFria,pelovetoosinteressesdepoderdaURSSedosEUAiamemsentidosopostose,porconsequncia,

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    impediam a organizao de funcionar. No psGuerra Fria, apesar da superao das rivalidades dentro do Conselho, aOrganizao ainda no funcionava automaticamente, dependendo, em cada circunstncia, do interesse dos Estados paraatuar.Realistascitam,porexemplo,ocontrasteentreaaorpidanaGuerradoGolfoeainrciadiantedacriseiugoslava.Segundo, os Estados so atores unitrios. So unitrios porque quaisquer diferenas de viso entre os lderes polticos ouburocraciasdentrodoEstadoso,nofinaldascontas,resolvidas,paraqueoEstadofaleumasvoz.Terceiro, os Estados so atores racionais. Isso porque, dados certos objetivos, trabalham com alternativas viveis paraalcanlos,luzdesuascapacidades,pormeiodeumaanlisedecustobenefcio.Osrealistasreconhecemaexistnciadeproblemas como faltaou rudode informao, incerteza,prjulgamentoeerrosdepercepo,mas, contudo,pressupemqueostomadoresdedecisonomedemesforosparaalcanaramelhordecisopossvel.

    Finalmente,paraosrealistas,asegurananacionalaquestodemaior importnciaparaaagendadepolticaexteriordequalquer Estado. Questes polticas e militares dominam a agenda e so chamadas de alta poltica (high politics). OsEstadosatuamparamaximizaro interessenacional. Emoutraspalavras, osEstados tentammaximizaraprobabilidadedeatingiremqualquerobjetivoquetenhamestabelecido,oqueincluipreocupaesdealtapolticarelativassobrevivnciadoEstado(segurana)assimcomoosobjetivosdebaixapolticaligadosaessecampo,comocomrcio,finanas,cmbioebemestar.

    A guerra responsiva dos EUA contra o Afeganisto, aps os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, e sua guerrapreventiva contra o Iraque, em 2003, evidenciam o conflito alta poltica x baixa poltica, pois, durante os quatro anos doGovernoBush,osdemocratasocriticaramconstantementeporterabandonadoasquestesdeeconomiadomsticaemnomeda segurana nacional. At mesmo o direito interno foi suspenso nos EUA: vm sendo negados a vrios suspeitos,estrangeiros e nacionais, direitos garantidos constitucionalmente, em ampla afronta ao princpio do devido processo legal(dueprocessoflaw),conquistademaisdedoissculosdasociedadenorteamericana.

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    Pg. 9 - Pluralismo

    Assistaaulaintrodutria,gravadanocursopresencialnoILB,sobrePluralismo.Vamosl!

    Durao:6min24

    Caso no consiga visualizar:

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    Osanosde1980e1990deramforacorrentetericaconhecidacomoPluralismo,queveioparadesafiarasproposiesdoRealismo.Nessacorrentenormalmenteseenquadramosneoliberais.

    OPluralismobaseadoemquatroproposiesbsicas.

    Primeiro, atores no estatais so importantes na poltica internacional. Organizaes internacionais, por exemplo, podemtornarse, em algumas questes, atores independentes, ao contrrio do que defendem os realistas. Elas somais do quesimples fruns em que Estados competem e cooperam uns com os outros. O corpo de funcionrios de uma organizaointernacional pode reter um grau expressivo de poder ao determinar os termos de uma agenda, assim como ao fornecerinformaessobreemquais representantesdeEstadobaseiamsuasdemandas (comoacontececomoFMIemrelaoaospases que pedem emprstimos alm de suas cotas, e, por consequncia, precisam seguir o receiturio do consenso deWashington).

    Similarmente, organizaes no governamentais, como aWWF, e corporaesmultinacionais, como a Petrobras, a IBM, aSony, a General Motors, a Exxon, o Citicorp, entre vrias outras, tambm desempenham papis importantes na polticamundial.Atualmente,lembramospluralistas,atmesmonareacomercialasONGstmsidochamadasaatuar.Para os pluralistas, tambm no se poderia negar o impacto de atores no estatais, como grupos terroristas (como a AlQaeda),comerciantesdearmasdamfiarussa,movimentosguerrilheiros,comoasFARCcolombianasetc.

    Segundo, para os pluralistas, o Estado no um ator unitrio. O Estado composto de indivduos, grupos de interesse eburocraciasquecompetementresi.Apesardeasdecisesseremnoticiadascomodecisesdetalpas,geralmentemaiscorreto se falar em deciso feita por uma coalizo governamental particular, uma agncia burocrtica do Executivo ou

  • 01/06/2015 ConceitosElementareseCorrentesTericasdasRelaesInternacionais

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    mesmoumnicoindivduo.AdecisonotomadaporumaentidadeabstratachamadaBrasil,ChinaouEUA,masporumacombinaodeatoresportrsdadefiniodapolticaexterna.

    Diferentesorganizaespodemapresentarperspectivasdistintasemdeterminadaquestodepolticaexterna.Competio,formao de coalizes e compromissos eventualmente resultaro numadeciso que ser anunciada comouma deciso dopas.Essadecisoestatalpodeseroresultadodelobbieslevadoaefeitoporatoresnogovernamentais(comoolobbydosfazendeirosnorteamericanoscontraofimdossubsdiosagrcolas,dasempresasmultinacionais,degruposdeinteresse,oumesmo de um ente amorfo, a opinio pblica). Assim, para os pluralistas, o Estado no pode ser visto como um atorunitrio,umavezquetalrtuloperderiadevistaamultiplicidadedeatoresqueformamecompemaentidadechamadadeEstadonao.Terceiro, os pluralistas desafiam a suposio realista de que o Estado um ator racional. Dada a viso pluralista efragmentadadoEstado,pressupese,aocontrrio,ochoquedeinteresses,abarganhaeanecessidadedecompromissoquenemsemprelevamaumprocessodetomadadedecisoracional.Por fim,paraospluralistas,aagendadapoltica internacionalextensa.Emboraasegurananacionalseja importante,ospluralistas tambmse preocupam comumnmero variado de questes econmicas, sociais, energticas e ecolgicas quetmsurgidocomoaumentoda interdependnciaentreospaseseassociedadesnossculosXXeXXI.Algunspluralistas,por exemplo, enfatizam o comrcio e as questes monetrias e energticas, as quais estariam no topo da agendainternacional.OutrosdedicamsesoluodoproblemademogrficoedafomenoTerceiroMundo.Outros,ainda,focamapoluio e a degradao do meio ambiente. Nesse sentido, os pluralistas rejeitam a dicotomia entre alta poltica (highpolitics)ebaixapoltica(lowpolitics)dosrealistas.

  • 01/06/2015 ConceitosElementareseCorrentesTericasdasRelaesInternacionais

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    Pg. 10 - Globalismo

    ParaintroduziroconceitodeGlobalismo,assistaaovdeoe,emseguida,leiaatentamenteotextoquesesegue!

    Durao: 3min25

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    Historicamente, o Globalismo se relaciona com o surgimento do Terceiro Mundo na poltica mundial. Nesse sentido,representaumavisoignoradaedesprestigiadadarealidadeinternacional.Paraeles,ahierarquia,comoumacaractersticachave,maisimportantedoqueaanarquia,dadaadesigualdadenadistribuiodopoderdentrodosistema.Vimosqueos realistasorganizamseusestudosemtornodaquestobsicadecomoaestabilidadepodesermantidanummacroambienteanrquico.Ospluralistasseperguntamcomomudanaspacficaspodemserpromovidasnummundoquecrescentemente interdependente poltica,militar, social e economicamente.Os globalistas, por sua vez, se concentramnaquesto de por que tantos pases do Terceiro Mundo na Amrica Latina, na frica e na sia no tm conseguido sedesenvolver.Paramuitosglobalistas,maisligadoslinhamarxista,essaquestofazpartedeumcampomaiordeanlise:odesenvolvimentodocapitalismonomundo.Osglobalistassoguiadosporquatroproposies.Primeiro,necessrioentenderocontextoglobalemqueEstadoseoutrosatoresinteragem.Osglobalistasargumentamquepara explicar o comportamento em qualquer nvel de anlise o individual, o burocrtico, o societrio e o estatal , necessrio,antes,entenderaestruturageraldosistemaglobalnoqualessescomportamentossemanifestam.Assimcomoosrealistas,globalistasacreditamqueopontodepartidadaanliseosistemainternacional.Numaextensomaislarga,ocomportamentodeatoresindividuaisexplicadoporumsistemaquefornecelimitaeseoportunidades.Segundo, os globalistas realam a importncia da anlise histrica na compreenso do sistema internacional. Apenasrastreandoaevoluohistricadosistemapossvelentendersuaestruturaatual.Ofatorhistricochaveeacaractersticadefinidora do sistema como um todo o capitalismo. At mesmo os Estados socialistas precisam operar dentro dessesistemaeconmico,queconstantementerestringesuasopes.Terceiro,osglobalistasassumemqueexistemmecanismosdedominaoqueimpedemqueoTerceiroMundosedesenvolva

  • 01/06/2015 ConceitosElementareseCorrentesTericasdasRelaesInternacionais

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    equecontribuemparaodesenvolvimentodesigualaoredordoplaneta.AcompreensodessesmecanismosrequeroexamedasrelaesdedependnciaentreospasesindustrializadosdoNorte(AmricadoNorteeEuropa)eosvizinhospobresdoHemisfrioSul(AmricaLatina,fricaesia).Finalmente,osglobalistasdefendemqueos fatoreseconmicossoabsolutamentecrticosparaseexplicaraevoluoeofuncionamentodosistemacapitalistamundialea relegaodoTerceiroMundoparaumaposiosubordinada.Aeconomiafuncionacomoumaespciedealtapolticaparaosglobalistas.

    Parafinsdidticos,podemostraaroseguintequadro,querelacionaostrsparadigmasdasRelacesInternacionais:

    Realismo Pluralismo Globalismo

    Unidadesanalticas

    Estado como principalunidadedeanlise.

    Estadoeatoresnoestatais,comoorganizaesburocrticas,elites,sociedades,indivduo,gruposdeindivduos,organizaesinternacionais,corporaesmultinacionais,organizaesnogovernamentais.

    Estado,classes,elites,sociedadeseatoresnoestataiscomooperadoresdosistemacapitalista.

    Concepodeator Estadounitrioeracional. Estadonounitrioenoracional:

    desagregadoemcomponentes,algunsdosquaiscomatuaotransnacional.

    Estadonounitrioeracional,vistosobaperspectivahistricadodesenvolvimentodocapitalismo.

    Dinmicacomportamental

    Estadocomomaximizadordeseus prprios interesses napolticaexterna.

    Conflito,barganha,formaodecoalizesecompromissosnosprocessostransnacionaisedetomadadedecisoempolticaexterna,nonecessariamentelevandoaresultadostimos.

    PolticaexternacomopadresracionaisdedominaodentroeentreEstadosesociedades.

    Agenda Segurana nacional comoquestomaisimportante.

    Agendamltipla,comquestesscioeconmicastooumaisimportantesdoquequestesdesegurananacional.

    Questeseconmicascomomaisimportantes.

  • 01/06/2015 ConceitosElementareseCorrentesTericasdasRelaesInternacionais

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    Pg. 11 - Outras correntes tericas

    Registrese, outrossim, que as correntes citadas nesta unidade so asmais difundidas e tradicionais. No obstante, nestecontextodepsmodernidade,ganhamforaperspectivasdevanguarda,comdestaqueparaoConstrutivismo.Porm, fogeaoescopodestecursoaanlisedessasoutrascorrentes.Passemos,portanto,aosprincipaisdebatesquemarcaramaTeoriadasRelaesInternacionaisnosculoXX.OSGRANDESDEBATESTERICOS

    IdealismoXRealismo

    Odebateentrerealistase idealistas iniciousenadcadade1930.Noobstante,conformeacentuaArenal(1984), tratasede um debate que est presente, commaior oumenor fora, em toda a histria da teoria internacional, inclusive tendorecobrado foracomnovasperspectivasemnossosdias.DeacordocomJohnHerz(1951,p.8),o Idealismoum tipodepensamentopolticoquenoconheceosproblemasquesurgemdodilemadaseguranaepoder,ouqueofazsomentedeumaformasuperficial.ORealismo,porsuavez,aocontrrio,considerafatoresdeseguranaepoderinerentessociedadehumana.

    ArenalrelacionaascaractersticasessenciaisdoIdealismoedoRealismonaTabela1:

    TABELA1:IDEALISMOXREALISMO

    IDEALISMO REALISMO

    1)Crenanoprogresso:diantedasuposiodequeanaturezahumanapodesercompreendidanocomoimutvel,mascomopotencialidadequeseatualizaprogressivamenteaolongodaHistria.

    1)Pessimismoantropolgico:negaapossibilidadedeevoluoparaumasociedademaishumanista.ApolticadepodersemprefoieserocernedasRelaesInternacionais.

    2)Visonodeterministadomundo:afnoprogressocareceriadesentidosenofosseacompanhadadeumasimilarcrenanaeficciadamudanapormeiodaaohumana.

    2)Visodeterministadoprocessohistrico:aordeminternacionaldificilmentepodesermodificadapelaaohumana.possvelcompreenderoprocessohistrico,masnoalterlo.

    3)Racionalismo:consideraqueumaordempolticaracionalepossvelnaSociedadeInternacionaleque,comoosindivduossomoraiseracionais,damesmamaneiraosEstadossocapazesdecomportaremsedeformaracionalemoralemsuasrelaes.aracionalidadequeconduzaoprogresso.

    3)DistinoentreoscdigosdecondutamoraldoindivduoedoEstado:aticapblicadiferentedaticanavidaprivada.OhomemdeEstado,enquantodefensordacomunidadenacional,noestlimitadoemsuaatuaopelasnormasticasemoraisqueregemosparticulares.DaoconceitoderazodeEstado,emvirtudedoqualcondutasinaceitveisemmbitointernodoEstadoseriamplenamenteaceitveisnapolticainternacional.

    4)Harmonianaturaldeinteresses:osEstadosteriaminteressesmaiscomplementaresqueanta