conceito de cidade

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 GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 24, pp. 109 - 123, 2008 OBSERVAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE CIDADE E URBANO Sandra Lencioni* *Professora Doutora do Departamento de Geografia da FFLCH/USP. E-mail: [email protected] RESUMO: Rigor e método são imprescindíveis na pesquisa e exigem o exercício permanente de se fazer opções. Quando precisamos conceituar um fato, um fenômeno ou um processo muitas dúvidas surgem. Esse texto apresenta algumas observações gerais sobre os conceitos que auxiliam na discussão sobre os conceitos de cidade e urbano. Na medida em que os conceitos se expressam por meio da linguagem, discute primeiramente, as palavras cidade e urbano na língua portuguesa. Em seguida, indaga sobre a questão de desde quando podemos falar em urbano no Brasil desta- cando que essa resposta se situa na interpretação que se assume acerca do desenvolvimento brasileiro. Como conclusão afirma que os conceitos e teorias são imanentes uns aos outros. PALAVRAS-CHAVE: Conceito; Cidade; Urbano; Palavras. ABSTRACT: Rigor and method are indispensable in the research and require the permanent exercise of doing options. When we needed to consider a fact, a phenomenon or a process many questions arise. This paper presents some general observations on the concepts that give support to the discussion of the city and urban concepts. Insofar as the concepts are expressed through the language, it discusses firstly the words city and urban in the portuguese language. Afterwards, it investigates on the subject of from when we can speak in urban in Brazil detaching that that answer locates in the interpretation that is assumed concerning the Brazilian development. As conclusion affirms that the concepts and theories are immanent each other. KEY WORDS: Concept; City; Urban; Words. Introdução Pesquisar significa rigor nas escolhas e subsistir imerso com diligência minuciosa no exercício de opções. Esse viver traz angústias, pois o risco de opções equivocadas é uma realidade que não deixa traços indeléveis e exige correção de caminhos e rotas. Descrer das certezas para ir ao encontro de novas certezas fazem parte do percurso do conhecimento. Nesse percurso, enfrentar dificuldades, negar falsos problemas e superar equívocos requer coragem, mas exige também, certa dose de prudência. De certa maneira, a prática de pesquisa se confunde com o exercício de opções. Significa, também, a necessidade de se separar partes da totalidade para se proceder à análise e, posteriormente, à elaboração da reconstituição da síntese construída pelo intelecto. Esse exercício pode conduzir a dilemas; ou seja, pode

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GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 24, pp. 109 - 123, 2008

OBSERVAÇÕES SOBRE O CONCEI TO D E CI DAD E E URBANO

Sandra Lencioni*

*Professora Doutora do Departamento de Geografia da FFLCH/USP. E-mail: [email protected]

RESUMO:Rigor e método são imprescindíveis na pesquisa e exigem o exercício permanente de se fazer

opções. Quando precisamos conceituar um fato, um fenômeno ou um processo muitas dúvidassurgem. Esse texto apresenta algumas observações gerais sobre os conceitos que auxiliam nadiscussão sobre os conceitos de cidade e urbano. Na medida em que os conceitos se expressampor meio da linguagem, discute primeiramente, as palavras cidade e urbano na língua portuguesa.Em seguida, indaga sobre a questão de desde quando podemos falar em urbano no Brasil desta-cando que essa resposta se situa na interpretação que se assume acerca do desenvolvimentobrasileiro. Como conclusão afirma que os conceitos e teorias são imanentes uns aos outros.PALAVRAS-CHAVE:Conceito; Cidade; Urbano; Palavras.

ABSTRACT:Rigor and method are indispensable in the research and require the permanent exercise of doingoptions. When we needed to consider a fact, a phenomenon or a process many questions arise.This paper presents some general observations on the concepts that give support to the discussionof the city and urban concepts. Insofar as the concepts are expressed through the language, it

discusses firstly the words city and urban in the portuguese language. Afterwards, it investigateson the subject of from when we can speak in urban in Brazil detaching that that answer locates inthe interpretation that is assumed concerning the Brazilian development. As conclusion affirms thatthe concepts and theories are immanent each other.KEY WORDS:Concept; City; Urban; Words.

I ntrodução

Pesquisar significa rigor nas escolhas esubsistir imerso com diligência minuciosa noexercício de opções. Esse viver traz angústias,

pois o risco de opções equivocadas é umarealidade que não deixa traços indeléveis eexige correção de caminhos e rotas. Descrer dascertezas para ir ao encontro de novas certezasfazem parte do percurso do conhecimento.Nesse percurso, enfrentar dificuldades, negar

falsos problemas e superar equívocos requercoragem, mas exige também, certa dose deprudência.

De certa maneira, a prática de pesquisa

se confunde com o exercício de opções. Significa,também, a necessidade de se separar partesda totalidade para se proceder à análise e,posteriormente, à elaboração da reconstituiçãoda síntese construída pelo intelecto. Esseexercício pode conduzir a dilemas; ou seja, pode

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vir acompanhado de insatisfação em relação aoque se está selecionando para a análise e deinsegurança no momento de tecer relaçõesentre as partes decompostas na análise. Essainsat i s fação, longe de comprometer oavanço do conhecimento, é motivadora doseu desenvolvimento, pois é ela que noscoloca desafios, já que as respostas que setem não parecem satisfatórias. Assim, osdilemas são para o conhecimento como oritmo de um coração batendo é para a vida.Sem esse ritmo o coração perde o sopro davida, tanto quanto o conhecimento, sem osd i lemas, perde a capac idade de cr iarcaminhos que impuls iona ao seudesenvolvimento.

Opções e d i lemas, superação deobstácu los , desvendamento do fa l so ,negação de equívocos, para que ocorramnovos encontros e certezas são imanentesà const rução do conhec imento . Sãoagudamente percebidos e vividos quando setrata de conceituar um objeto, um fato, umprocesso ou um fenômeno.

A d iscussão sobre o conce i to decidade e urbano situa-se nesse anfiteatroonde se digladiam muitas dúvidas e poucascertezas. Afinal, o que é a cidade, o que é ourbano? E, o que vem a ser a cidade e ourbano no Brasil? Pode a cidade ser igual aurbano? Se não, o que d i ferenc ia osconceitos de cidade e urbano?

Antes de avançar com essasconsiderações é importante deixar claropara que serve um conceito. Todo conceitoserve para se compreender a essência dosobjetos, dos fenômenos, das leis e, nessesentido, se constitui num instrumento deconhecimento e pesquisa. Na primeira partedesse texto fazemos algumas observações

acerca do uso dos conceitos. Na segunda,enfocamos os termos cidade e urbano, comopalavras e, na terceira, discutimos o conceitode cidade e urbano tendo como referência arealidade brasileira.

1. Sete observações sobre conceitos

As observações a seguir sãoapresentadas de forma simples. O número seteé uma escolha e bem poderia ser umaquantidade maior, bem como cada observaçãopoderia se objeto de ampla discussão. Mas nãoé o caso; o sentido dessas observações éapenas de alertar para o que julgamosfundamental na construção de conceitos.

Primeira observação: a   construção de 

conceitos é um exercício do pensamento sobre o real e esse real existe independentemente de 

pensarmos sobre ele ou de termos conceitos acerca dos objetos do real .1

Essa observação diz claramente que nãohá uma relação de dependência entre aexistência de um objeto e a existência de umconceito a cerca desse objeto. E que os objetosexistem independentemente de termos umconceito sobre ele. Mais, precisamente, osfenômenos, os fatos, as coisas, os lugares osobjetos, os processos, as leis, enfim, tudo queé objeto do conhecimento se coloca na esfera 

do pensam ento sobre o r eal e a existência do realindepende de pensarmos ou não sobre ele.

Buscando tornar claro que os objetosexistem independentemente de termos umconceito sobre ele, examinemos o conceito denúmero 4. Esse conceito nem sempre existiu,mas isso não quer dizer que não se contasse eque as coisas não eram enumeradas. Vejamoso seguinte exemplo. Em tempos remotos,quando se perguntava a um homem quantoscavalos ele possuía, ele respondia ter um cavalomarron, um outro marron com manchas brancasno dorso, outro preto e outro malhado de cinzae preto. Ele contava os cavalos a seu jeito, àsua maneira.

O fato de que nos primórdios da

civilização os homens não tivessem o conceitode número e por isso não podiam contar emtermos numéricos, não quer dizer que nãotivessem a prática de contar. A construção doconceito de número percorreu um longo caminhona história da humanidade, enquanto um

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exercício do pensamento sobre o real, o qualexiste independentemente de pesarmos sobreele.

Segunda observação : o conceito é uma 

form a de reflexo dos objetos.

O conceito não se confunde com o real,ele é um reflexo do real, uma representação doreal. Como ele é reflexo do real e umarepresentação desse, ele existe a posteriori  dosobjetos que representa. Já os objetos do mundoreal existem independentemente dos conceitos.

Mantendo o mesmo exemplo, o conceitode número 4 é uma abstração e r e f l e t e    aquantidade de cavalos que aquele homempossuía.

Terceira observação: os conceitos são ao 

mesmo t empo objetivos e subjetivos .

Os conceitos são objetivos pelo seuconteúdo, pois estão relacionados ao real,referidos ao real. Por isso, quanto maisconhecemos o real temos mais condições deformular um conceito.

Mas os conceitos são, além de objetivos,subjetivos porque existem no nosso

pensamento, na nossa consciência. O fato dese situarem na consciência é que faz com queos conceitos possuam uma realidade subjetiva.

Quarta observação:  não há identidade entr e o conceito e o real ao qual ele se refere, porque 

nenhum conceito é capaz de conter toda a r iqueza do real.

Quando conceituamos, por exemplo, rua,pensamos a rua não com todos os predicadosque ela possa ter: sinuosa, pavimentada, largaou estreita. Pensamos de maneira muito menosrica, pensamos de um modo empobrecido pertode qualquer rua que possamos descrever.

Qualquer conceito reflete aquilo que éessencial, os aspectos essenciais, as relaçõesessenciais, enfim, a essência do objeto, dofenômeno ou do processo. Portanto, aconstrução de um conceito exige um exercíciode captura do que é essencial para sua

formulação e, nesse sentido, reflete certo graude generalização. Assim, o conceito é sempreuma simplificação do real e ao mesmo tempouma generalização deste.

Para se construir essa generalização éimprescindível pesquisar uma grandequantidade de objetos, compará-los e, ainda,examinar os aspectos particulares e singularesque esses objetos apresentam. Esse é o pontode partida de qualquer conceituação. Dizendode uma outra forma, verificar semelhanças,diferenças e peculiaridades do objeto naformulação do conceito. Por exemplo, o conceito

de rua, ao qual já nos referimos, não nos remetea nenhuma rua em particular, a indicar que umconceito guarda certa independência em relaçãoàquilo que ele representa, dado o grau degeneralização que ele requer.

Isso não significa dizer que o particulare o singular não são considerados. Pelocontrário, a essência do objeto se fazrepresentar no conceito e portanto, também sefaz presente no particular e no singular, comtoda a riqueza que o particular e o singularpossuem.

Quinta observação : o conceito existe em 

movimento.

O conceito se modifica, se altera e serenova. Para indicar que o conceito temmovimento e evolui, alguns autores usam maiso termo ‘noção’ do que o próprio termo

 ‘conceito’, a indicar sua fluidez. O conceito temmovimento e por isso, um conceito construídonuma determinada época pode se alterar. Namedida em que o conceito é um reflexo do reale esse real está em permanente mudança, élógico que ele também se modifique.

Alguns conceitos podem, inclusive,derivar de outros conceitos. Esse é o caso do

conceito atual de metrópole, que tem relaçãocom o conceito de metrópole da antiguidadeclássica, mas que é diferente desse. Qualquerconceito tem, portanto, sua história. Conceitosnovos são também formulados. Um exemplo éo conceito de informática. Esse conceito está

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vinculado ao ramo do conhecimento dedicadoao tratamento da informação mediante o usode computadores e demais dispositivos deprocessamento de dados e teve sua origem nosanos 60 do século XX, quando se iniciou odesenvolvimento de computadores. Osconceitos são, portanto, concebidos erenovados.

Sexta observação: o conceito se encontra sempre , em nexo , em re l ação com ou t ros  

conceitos.

Nenhum conceito é independente de

outros conceitos. Seja ele oriundo de outroconceito ou um inteiramente novo, guardasempre estreita relação com outros conceitos.O conceito de número 4, por exemplo, guardarelação com todos os outros números, tantoquanto o conceito de rua guarda relação com ode estrada, praça, caminho, cidade, etc.

Sétima observ ação:  o conceito não existe 

sem uma definição .

Para que exista um conceito é necessáriodefini-lo e, para isso, é necessário palavras e aforma de linguagem. No entanto, atribuiridentidade entre a palavra e o conceito seconstitui um equívoco. Uma grave incorreção,pois se uma palavra pode ter vários significados,um conceito, em tese, não. O conceito deatmosfera, por exemplo, diz respeito à camadade gases que envolve um planeta e que é retidapela atração gravitacional. Esse é a definiçãode atmosfera, tendo um único significado.

Tanto no exemplo dado sobre oconceito de atmosfera, como no caso doconceito de célula, dentre tantos exemplosque poderíamos dar, esses conceitos nãovariam e nem mudam de significados. Naschamadas c iênc ias duras a fo rça dosconce i tos se s i tua no âmbi to da

exper imentação e demonst ração. Mas,d izendo respeito às c iências humanas asustentação de uma idéia ou da definiçãode um conceito não provém, basicamente,de experiências e demonstrações, mas deargumentações convincentes.

À essa diferença entre as chamadasciências duras e as ciências humanas se juntaa observação de que os conceitos relativos àsciências humanas tem variações e essasvariações estão relacionadas às distintasreferências teóricas nas quais os conceitos estãorelacionados. O conceito de cidade e urbano,objeto desse texto, varia segundo asreferências teóricas; ou seja, apresentamdefinições diferentes segundo diferentesteorias. Por isso, se exige acurada clareza nosconceitos utilizados nas ciências humanas,

 just if icat iva dos sent idos empregados e das

escolhas feitas, bem como coerência entre oconceito empregado e o referencial teórico deanálise Essa coerência é fundamental, pois nãose pode mesclar conceitos de referênciasteórico-metodológicas distintas porque se tornapraticamente impossível desvendar o real.Impossível porque o conceito é um instrumentoe como qualquer instrumento tem que seradequado à função que deve desempenhar.

Exemplificando, o conceito de totalidade,como uma totalidade fechada e sistêmica, épróprio da lógica formal e do positivismo, sendoavesso ao conceito de totalidade na dialética.Pensar ou ter a intenção de util izar o

materialismo dialético na pesquisa e ao mesmotempo empregar o conceito de totalidadefechada e centrar esforços na análise de causase efeitos se constitui num erro que pode resultarem graves conseqüências, já que fragiliza aargumentação pela inconsistência queapresenta. Num equívoco porque a totalidadedialética busca superar os impasses dasanálises que enfocam as causas e os efeitos(já que causas podem ser efeitos e efeitos,causas) incorporando a lei de ação recíprocaque não é considerada na lógica formal.

Como dissemos no início dessa

observação, os conceitos só existem a partir deuma definição e, portanto, não dispensam alinguagem. Essa observação justifica o quevamos discutir a seguir. Antes de tratarmosespecificamente do conceito de cidade e urbanovamos examinar os sentidos dessas palavrasna língua portuguesa, como um ponto de

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partida, pois as palavras, como vimos, seconstituem na base sensorial dos conceitos.

2. As Palavras: cidade e urbano

Por meio da fala os homens expressamsuas idéias e os diferentes sentidos da palavracidade e urbano na língua portuguesa podemnos auxiliar na compreensão do conceito decidade e urbano no Brasil. De antemãogostaríamos de lembrar que nossa intenção édiscutir os conceitos de cidade e urbano tendocomo referência a realidade brasileira.Observamos, ainda, que as considerações feitasa seguir são auxiliares aos objetivos desse textoe não se situam no âmbito da lingüística, quepoderia ser esperado. Acreditamos que mesmouma abordagem simples e despretensiosadessas palavras pode nos auxiliar na discussãosobre os conceitos de cidade e urbano tendocomo referência o Brasil.

Gramaticalmente a palavra cidade é umsubstantivo, ou seja, uma palavra que servepara nomear um objeto determinado e possuivárias acepções na língua portuguesa. Podesignificar “aglomeração humana de certa

importância, localizada numa área geográficacircunscrita e que tem numerosas casas,próximas entre si, destinadas à moradia e/ou aatividades culturais, mercantis, industriais,financeiras e a outras não relacionadas com aexploração direta do solo”.2

Além desse sentido o dicionário Houaissregistra, também, derivações por metonímia dapalavra cidade, ou seja, decorrentes de outrossentidos que transcendem ao sentido semânticonormal da palavra cidade. 3 Vejamos algunsexemplos de metonímia. Na frase: A cidade 

apresenta-se segregada , o sentido é de que apopulação da cidade se encontra segregada.

Já na frase: A cidade refor mulou seu IPTU , apalavra cidade assume o sentido de governo ede ente da administração pública. Na frase: A

cidade baixa de Salvador passou por grandes tr ansformações, enquanto a cidade alta se mantém 

a mesma  , o sentido diz respeito às partes

distintas de uma mesma cidade. Na frase: Eu vou à cidade , o sentido é de núcleo original ouprincipal de uma cidade onde se concentram asmais importantes atividades administrativas,comerciais e financeiras. Todos esses exemplosmostram outros sentidos derivados que apalavra cidade pode ter.

Quanto à palavra urbano, essa palavraé um adjetivo e serve, assim, para caracterizaros seres ou os objetos nomeados pelosubstantivo; ou seja, serve para caracterizar oque foi nomeado. (Cunha, 1992: p.114 e 151).Quando dissemos t r a n s p o r t e u r b a n o   e

policiamento urbano , a palavra urbano qualificao tipo de transporte e o tipo de policiamento.

Quando, porém, o adjetivo quecaracteriza o substantivo se torna o termoprincipal, ele deixa de ser um adjetivo e passaa ser uma substantivação do adjetivo. É nessacondição, de substantivação do adjetivo, que apalavra urbano será aqui tratada. O exemplo aseguir pode ajudar a esclarecer.

Comparemos as seguintes frases: O 

tr ansport e urbano é caótico com a frase: O urbano é caótico . Na primeira frase, a palavra urbanoqualifica o transporte, sendo, portanto, um

adjetivo. Porém, na segunda frase a palavraurbano não qualifica nada, não sendo, assim,um adjetivo. Ao contrário, a palavra urbano éque recebe qualificação, a de caótico. Na fraseO urbano é caótico  a palavra urbano se constituicomo uma substantivação do adjetivo e é nessacondição que será considerada na discussão. 4

Em relação à palavra cidade asmetonímias não serão levadas em conta, tantoquanto na palavra urbano a condição deadjetivo não foi considerado. O que importa paraa discussão do conceito de cidade e urbano é osentido semântico normal da palavra cidade ea condição de substantivação do adjetivo napalavra urbano.

Uma segunda consideração diz respeitoà etimologia das palavras cidade e urbano nalíngua portuguesa, que ao indicar o tempo deseu primeiro uso, sugere que ela está

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relacionada a um fato ou fenômeno que seapresenta, nos auxiliando a situar no tempo oque a palavra busca representar. Por exemplo,o uso da palavra chester   para indicar umaespécie de galináceo, só surgiu em portuguêsquando a engenharia genética criou esse tipode ave. A etimologia nos permite, assim,relacionar, historicamente, a palavra ao que elase refere.

O dicionário da língua portuguesa elatina, de 1712 registra vários sentidos para apalavra cidade. No entanto, nenhum para apalavra urbano, o que significa dizer que a idéia

de urbano não existia até então. Nessedicionário as acepções da palavra cidade sãoas seguintes: a) de multidão de casasdistribuídas em ruas e praças, cercadas demuros e habitadas por homens que vivem emsociedade e subordinação; b) de cabeça de umreino ou de uma província. Esse dicionário doséculo XVI apresenta também, as acepções dapalavra cidade acrescidas de adjetivos: cidadefronteira, cidade mercantil... Todos os verbetessão em português e em latim e é importanteregistrar que quando apresenta o sentido de

 “c once rnente à cid ade”, o co rr espond en teapresentado em latim é Urbanus, a, um.

Segundo o dicionário Etimológico NovaFronteira da Língua Portuguesa, de autoria deCunha (1982), a data provável do vocábulo

 ‘cidade’ data do século XIII, sendo originária dapalavra latina civitas-âtis . Embora esse dicionárionão registre a palavra urbano, apresenta ovocábulo urbe , que tem o sentido de cidade ese origina da palavra latina ubs, urbis, indicandoo século XX como datação para o uso da palavraurbe   na língua portuguesa. Curioso é que apalavra suburbano  e a palavra urbanidade  sãousadas na língua portuguesa desde o séculoXVI e que a palavra urbanista  tenha antecedidoà palavra urbanismo, já que a primeira,urbanista , é de 1874, enquanto que urbanismo é do século XX. (Cunha, 1982, p. 182 e 804)

Esse pequeno arrazoado acerca daspalavras cidade e urbano na língua portuguesapermite notar que a palavra cidade antecede,

em muito, a palavra urbano, a indicar que a idéiade cidade precede, historicamente, à idéia deurbano. Esse é o ponto a reter.

Todas essas considerações sobre aspalavras cidade e urbano apenas situam oescopo de muitas discussões possíveis.Registramos o sentido dessas palavras porque,como linguagem, elas constituem a basesensorial dos conceitos.

3. O conceito cidade e urbano tendocomo refe rência a realidade brasileira

A discussão do conceito de cidade nosconduz a pensar na discussão de um objeto queevoca várias idéias. Pensamos, por exemplo, nacidade grega, na cidade comercial da IdadeMédia que fazia parte da liga Hanseática, nacidade colonial brasileira e porque não, na SãoPaulo de hoje. Já ao refletirmos sobre o conceitode urbano, esse é visto mais como um fenômenodo que como objeto. Isso é comum aosadjetivos que assumem o sentido gramatical desubstantivos, precedidos, em geral, de artigo,como é o caso de: o rural, o agrário, o informal,o social, o espacial ...

Tanto a cidade, como objeto, como ourbano, como fenômeno, se situam no âmbitodas reflexões sobre o espaço e a sociedade,pois são produtos dessa relação; maisprecisamente, são produzidos por relaçõessociais determinadas historicamente. É nessadeterminação que a discussão a seguir secoloca, tendo como pano de fundo, mas nãocomo central, a produção da cidade e do urbanono Brasil.

3.1 O conceito de cidade

Inicialmente queremos chamar atençãopara o seguinte afirmação: a idéia de cidade éclara para todos, diferentemente da idéia deurbano. No entanto, o conceito de cidade éobscuro. Como um conceito pode açambarcardesde cidades pequenas, de 2.000 habitantes,até cidades que abrigam milhões e milhões de

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habitantes? Como pode se referir a um objetoque se apresenta com características bemdistintas e, que por isso, exige, frequentemente,o complemento de um adjetivo, a exemplo de:cidade de fronteira, cidade grega, cidadecolonial, cidade medieval, cidade portuária,cidade turística, cidade mineradora, cidadeindustrial? Como pode se colocar como conceito,o que implica em ser reflexo de um objeto -segunda observação - quando esse objeto seapresenta múltiplo e variável?

Pereira (2001), a partir de umaperspectiva sociológica, pergunta por que a

palavra cidade teria atravessado séculos semalterações, muito embora se refira a um objetoem perpétua mudança. A resposta inspira-seem Norberto Elias, reside no fato de que, muitasvezes, por não conseguirmos expressar omovimento e as mudanças constantes,mantemos a palavra e acrescentamos uma outrapara precisar o que estamos tratando. Esse é ofato: por não conseguirmos expressar astransformações constantes de algo tão mutável,temos mantido a palavra cidade e acrescentadoa ela adjetivos. É isso que permite compreendera presença de tantas adjetivações para falarde suas características, funções, partes e

transformações: cidade satélite, cidadehorizontal, cidade verticalizada, cidade mundial,cidade moderna, cidade administrativa, cidadeinteriorana, cidade informal e tantos maisadjetivos que possamos agregar.

As angústias na discussão sobre oconceito de cidade diminuem quando lembramosque embora o conceito seja um reflexo do real,ele é infinitamente mais pobre que o real -primeira observação - e que não há identidadeentre o conceito e o real -quarta observação –Convém recordar que o conceito deve refletiraquilo que é essencial, os aspectos essenciais,as relações essenciais, enfim, a essência doobjeto. Nesse sentido, repetindo o quedissemos no início desse texto, a construção deum conceito exige sempre um exercício decaptura do que é essencial ao objeto que émotivo da reflexão.

A cidade, não importando sua dimensãoou característica, é um produto social que seinsere no âmbito da “relação do homem com omeio” – referente mais clássico da geografia.Isso não significa dizer, todavia, queestabelecida essa relação tenhamos cidades.Não importando as variações entre cidades,quer espaciais ou temporais há uma idéiacomum a todas elas, que é a de aglomeração.Não é à toa, então, que a idéia de aglomeraçãose faz presente na definição da palavra cidade.

Mas, aglomeração do que? De homens ede habitações, diriam uns. Estar-se-ia, então,

trazendo para a reflexão as tendas armadasnos desertos, as feiras de mercados de escravos,os assentamentos dos sem terra ao longo dasestradas.... e tanto as outras formas errantesde agrupamentos? Não. É Ratzel que chama aatenção para a questão da sedentarização,indicando que à cidade corresponde, sim, a idéiade aglomeração, mas a de aglomeração durável.(Derruaux, 1964, p. 561).

O conteúdo do conceito de cidade jáind ica, por tanto , do is termos para suadef in i ção: o de ag lomeração e o desedentar i smo. Mas e les se apresentam

ainda insuficientes, pois um simples exemplomostra a necessidade de se buscar novoselementos para a apreensão da essência doconteúdo do objeto a se conceituar, pois seassim não o fosse estaríamos considerandomuitas aldeias dos índios do Brasil comocidades.

Pereira (2001) ao discutir a palavracidade lembra que essa palavra definida noDic ionár io Auré l io re lac iona a idé ia depopulação que hab i ta a c idade à depopulação não agrícola. (Pereira, 2001 p.261-284 ). Mas, adverte que a idéia decidade relacionada à idéia de população não

agrícola é inconsistente, pois existem muitascidades com uma porcentagem significativade população ded icada às at iv idadesagrícolas, como é o caso de muitas cidadesbrasileiras onde moram os trabalhadores docampo, os chamados bóias-frias.

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Nos idos dos anos 60 do século XX, MaxDerruaux considerava que embora possa havercasos de cidades com população voltada paraas atividades agrícolas, a exemplo de váriasaglomerações mediterrâneas, como Mesina,Palermo ou Murcia, essas apresentam aspectospróprios das cidades, como mercado (local detrocas) e administração pública. E, para reforçarsua argumentação, acrescenta que uma fábricacom algumas casas ao seu redor, onde aatividade é distante de ser agrícola, nem porisso constitui uma cidade.

Portanto, o fato da aglomeração

sedentária conter população voltada para asatividades do campo não compromete o sentidode cidade que pode estar presente noaglomerado. E, indica, mais uma vez, que umadefinição da palavra originária de um dicionárionão se confunde com o seu conceito científico,pois é usual nos dicionários a definição de cidadeestar relacionada estritamente a umapopulação não agrícola.

Uma segunda observação de Pereira(2001) diz respeito ao tamanho da aglomeraçãoque “parece ocorrer como sedução eobscurecimento maior quando se fala de

grandes concentrações demográficas, porquenessa maneira de falar se desconsidera que otamanho da população não desvenda fenômenonenhum e muito menos o “gigantismo” de suacomplexidade social”. (Pereira: 2001, p. 269).Outros autores, dentre os quais Pierre George,Max Derruaux e Manuel Castells, tambémdesconsideram o tamanho da população nadefinição de cidade. Castells reporta-seexplicitamente à Pierre George dizendo que essegeógrafo mostrou as contradições insuperáveisde se definir o urbano pelo empirismoestatístico. (Castells, 2000, p. 40).

Qualquer critério de tamanho da

população na conceituação de cidade nosparece pouco frutífero. A relação entre otamanho do aglomerado não se desvincula dotempo histórico e dos lugares e não tem sentidoem si mesmo como definidor de cidade. Sedefiníssemos como condição para se conceituar

cidade a população de 2.000 habitantes, essenúmero poderia definir cidades emdeterminados lugares e num momentodeterminado, mas em outro lugar e tempo, não.Ou seja, poderia expressar aglomerações emrelação à população total de um país ou nação,mas poderia não expressar a idéia deaglomerado em outros lugares. Umaaglomeração de 2.000 habitantes na Holandanão tem o mesmo sentido que na Índia ou naChina, países com mais de 1 bilhão dehabitantes.

Na conceituação de cidade, excluindo-

se, por tanto , a idé ia que nega aincorporação da população voltada às lidesdo campo, bem como a de tamanho dapopulação, mantém-se as idé ias deag lomerado, sedentar i smo, mercado eadmin is t ração púb l i ca, que parecemconst i tu i r re ferênc ias impor tantes naconceituação de cidade. A essas idéias éfundamental recuperar a observação Pereira(2001) quando diz claramente que muitasdas dificuldades na compreensão do que vema ser c idade decorre do fato de la serenfocada de uma perspectiva a-histórica.Menciona que a cidade depende de formas

políticas e sociais e que essas são produtode determinações sociais. São essas forçasque a caracter i zam e que lhe dãoind iv idua l idade. Esse autor compara apalavra cidade com a palavra poço parailustrar que enquanto a cidade apresenta-se agudamente variada, segundo lugares eo momento h is tór i co , o poço – grandeburaco, gera lmente c i rcu lar e murado,cavado na terra a fim de atingir um lençolde água subterrâneo5 - não se altera nemao longo da histór ia e nem segundo oslugares.

Isso posto, a discussão sobre o conceitode cidade, para fugir do perigo de maisobscurecer do que esclarecer, requer um situarna história. No caso desse trabalho, requer aincorporação da perspectiva histórica no examedo conceito de cidade referido a uma sociedadee a um território específico: o Brasil.

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Recuperando elementos da essência doconteúdo do conceito: aglomeração,sedentarismo, mercado e administração pública,vamos, a seguir, enfatizar a referência duasidéias: a de aglomeração e a de sedentarismo.

Tanto a idéia de aglomeração e desedentarismo acompanha duas palavras:povoado e povoação que têm o mesmo sentidono Brasil.6 São sinônimos, mas são muitodiferentes segundo as regiões do país, emboraguardem alguns traços comuns, apresentadosa seguir. Povoado e povoação se caracterizam,segundo do Dicionário Houaiss:

a) pela presença de habitaçõesmodestas - quer construídas de tábuas, barrote,tijolo ou, até mesmo, palhoças;

b) por uma população reduzida;

c) pelo predomínio de uma só rua oucaminho, podendo apresentar, no entanto, duasou mais ruas e até um esboço de largo, comcapelinha ou igrejinha;

d) pela presença de poucas casas decomércio: vendas, armarinhos e artigosdomésticos;

e) por vida modorrenta e tranqüila;

f) por uma vida vibrante nos dias defestas, feiras, eleições....

Dessas características cabe comentar amenção ao aspecto de que os povoados e aspovoações tem: o de vida morrenta e tranqüila.Essas características, no entanto, não seaplicam aos povoados das zonas degarimpagem. Ao contrário, nessas zonas ospovoados são locais bastante turbulentos.

Podemos afirmar, seguramente, quemuitos povoados no Brasil deram origem àscidades. Mas cabe refletir um pouco sobre a

questão: da onde surgiram os povoados? Muitosdeles se originaram de locais fortificados epostos militares, de aldeias e aldeamentosindígenas, de arraiais, de corrutelas, deengenhos e usinas, de fazendas e bairros rurais,de patrimônios e núcleos coloniais, de pousos

de viajantes, de núcleos de pescadores, deestabelecimentos industriais, de seringais, devendas de beira de estradas, de ancoradourosás margens dos rios, de pontos de passagensem cursos d’ água, de estações ferroviárias ede postos de parada rodoviária, dentre tantasorigens7 (AZEVEDO, 1957, p. 36).

As condições de aglomeraçãosedentária, acrescida da função de troca e dade administração pública é que fizeram com quealguns povoados se desenvolvessem comocidades. Alguns, porém, já se instituem comocidades, não porque fossem maiores ou

diferentes dos povoados que haviam, masporque foram concebidos como sede do podermetropolitano, sede do poder lusitano. Esse éo caso de São Vicente, fundado como Vila,portanto, como representação do poderlusitano, em 1532. Esse aspecto, o de local depoder, é fundamental na conceituação de cidadeno Brasil. Sozinho, define uma cidade,independente dos outros elementosmencionados.

Ao falarmos em cidade no Brasil estamosnos referindo a um aglomerado sedentário quese caracteriza pela presença de mercado (troca)e que possui uma administração pública.Lembrando as sete observações sobre osconceitos, vemos, claramente, que o conceitode cidade no Brasil é posterior à própriaconstituição da cidade (primeira observação),que esse conceito busca refletir o real (segundaobservação) sendo ao mesmo tempo objetivoe subjetivo; ou seja, relativo a um conteúdo doreal, mas também subjetivo, porque serelaciona ao pensamento sobre ele (terceiraobservação). Ainda, o conceito de cidade éinfinitamente mais pobre que o real ao qual elese refere (quarta observação) e existe emmovimento (quinta observação), ou seja, sealtera segundo referências e segundo o tempohistórico. E, podemos perceber também que oconceito de cidade se relaciona a outrosconceitos (sexta observação) e só existe se fordefinido enquanto tal (sétima observação)

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3.2 . O conceito de urbano

Hoje vivemos num mundo novo onde asredes e os fluxos tecem conexões entre oslugares e alteram a idéia de próximo e distante.Esse é um dos aspectos do mundo atual queindica o desenvolvimento de uma sociedadepós-industrial, ou seja, de uma sociedade que

 “nasce da industria lização e a sucede”, comodiz Léfèbvre e que ele denomina de sociedadeurbana e, de maneira sintética, de urbano.(Léfèbvre, 1999, p. 16 e 28). Foi no idos de 1970que Léfèbvre fez essa consideração, indicandoque o urbano de então não se constituía numa

realidade acabada, mas num processo de vir aser que se apresentava, ainda, naqueles anos,de forma virtual, devendo, no entanto, seapresentar como real no futuro. (Léfèbvre,1999,p. 15).

Léfèbvre situa, assim, o urbano noâmbito da industrialização, mas não consideraque o urbano seja um subproduto daindustrialização. As justificativas relativas anecessidade de superar esse reducionismo -que coloca o urbano como derivação de umprocesso deixando pouca margem para seperceber o seu próprio conteúdo - são objeto

de atenção preciosa de Martins (1999) quesalienta que nessa redução se restringe,também, as dimensões do urbano, tornandoimpossível compreender o que ele é em simesmo e, assim, tornando extremamente difícila compreensão de que o urbano é um lugar deenfrentamentos e confrontações, uma unidadede contradições. (Martins, 1999, p. 10).

Como Léfèbvre, diversos autores nadiscussão sobre o urbano fazem a relação entreurbano e industrialização, por assim dizer, entreurbano e sociedade industrial capitalista, unscaindo no reducionismo criticado por Léfèbvre,outros, não. O que importa é que a idéia de

urbano aparece, na maioria das vezes, vinculadaà de capital industrial e à de sociedadecapitalista industrial. Castells é um dos autoresque compartilha dessa visão. Citamos apenasesse autor ao lado de Léfèbvre porque sãoesses dois autores paradigmáticos nessa

discussão, desde os anos 1970. Emborabastante distintos, ambos olham o mundo apartir da perspectiva na qual se inserem, a dacultura ocidental e da sociedade européia.

A perspectiva de Léfèbvre e Castellsrelaciona diretamente o conceito de urbano àsociedade capitalista industrial. E é esseparadigma que vamos tomar, o da sociedadecapitalista industrial para pensar o urbano noBrasil. Portanto, o ponto de vista adotadositua-se nessas referências: Léfèbvre eCastells. Poderia, no entanto, não o ser. Trata-se de uma opção.

Para alguns autores a sociedadecapitalista industrial no Brasil emerge nomomento em que a reprodução ampliada docapital passa a ser comandada pela atividadeindustrial. Segundo Tavares (1972) e Melo(1984), dentre outros, só a partir dessemomento é que podemos falar emindustrialização, muito embora a atividadeindustrial já existisse. Só a partir dessemomento, quando a reprodução ampliada docapital passa a ser comandada pela atividadeindustrial, é que há uma emancipação do capitalindustrial da atividade primário-exportadora,precisamente, da cafeicultura. A partir de entãoo capital industrial passa a gerar seu própriocrescimento industrial. Dessa forma, para essesautores, só em 1930 é que estão constituídasplenamente as bases de uma sociedadeindustrial.

Essa abordagem nos conduz a situar ourbano a partir dos anos 30 do século XX, jáque a premissa desses autores se funda noconceito de urbano relacionado à sociedadecapitalista industrial.

Já para Martins (1979) aindustrialização brasileira não se situa apenasnas oscilações da cafeicultura, ou seja, seudesenvolvimento não está somenterelacionado às crises do setor exportadorcafeeiro, que fazem fluir os investimentos paraoutros setores econômicos, inclusive oindustrial, ou relacionada às fases de auge dacafeicultura, que induz à diversificação dos

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investimentos em outras esferas da atividadeeconômica e, mais uma vez, no setor industrial.Para Martins (1979) a gênese daindustrialização brasileira está relacionada àdinâmica do complexo cafeeiro que faz com quea industrialização se desenvolva nos interstíciosda cafeicultura, idéia mais ampla do que a deoscilação da economia cafeeira. Dinâmica essaque teve a capacidade de gerar um processodinâmico de acumulação capitalista, até mesmonão assentado em relações sociais de produçãocapitalista.

A partir dessa última compreensão da

acumulação capitalista e da constituição dasociedade capitalista industrial no Brasilpodemos deslocar o momento em que podemosfalar de urbano no Brasil para os fins do séculoXIX.

Interpretações diferentes, periodizaçãodivergente. Isso quer dizer que segundo asinterpretações que se tem e os parâmetros quese adota podemos nos referir ao conceito deurbano de diferentes maneiras. No exemplodado, as interpretações de Tavares (1972) eMelo (1984) nos conduzem para um período,enquanto a de Martins (1979) para outro. E isso,tendo como referência a relação entre o conceitode urbano e sociedade capitalista. Se areferência se altera e outras interpretações sãolevadas em conta, por exemplo, que nãorelacionam o urbano à sociedade capitalista,podemos situar o urbano em outros períodos.

Mantendo-se a referência em Léfèbvree Castells, a essência do fenômeno urbanoreside na idéia de capital. Portanto, nessareferência não há nenhum equívoco em seconceituar o urbano em relação à indústria e aocapital, mas advertimos, há um grande equívocose não se procurar desvendar asparticularidades históricas dessa relação, por

assim dizer, da relação entre urbano e capital.Vale a pena acompanhar o raciocínio de

Martins (1979) sobre a gênese daindustrialização brasileira, que está relacionadaao complexo cafeeiro. Esse complexo, é bomlembrar, apresentou capacidade de gerar um

processo de acumulação capitalista industrialporque o capital cafeeiro não se constituiu comoum simples capital mercantil, dada asmetamorfoses pelas quais se transfigurava: oracomo capital industrial, ora como estoque de umcomerciante, ora como renda do Estado, oracomo recurso financeiro de um banqueiro, oracomo em investimento para a construção deestradas de ferro ....

O capital cafeeiro se desenvolveuconstituindo um complexo de relações queconduziu a um grande desenvolvimentoeconômico. E, curiosamente, ele se desenvolveu

assentado em relações não capitalistas deprodução – o colonato -, que ao permitircombinar a produção da mercadoria café com aprodução dos meios de vida do trabalhadorencontrou a chave de ouro para a acumulaçãode riqueza. Já não se fazia mais necessáriodisponibil izar recursos para a compra deescravos indispensáveis à fazenda de café. Otrabalho era livre e os subsídios relativos àimigração garantiam mão de obra abundante,num contexto em que a terra já não era maislivre (desde 1850) e era monopólio de poucos.

A produção de subsistência do colono,

que era fundamental para sua reprodução,livrava o fazendeiro de dispêndios maiorescom o colono e esse via nessa possibilidadede produção, um trabalho para si mesmo.No entanto, esse trabalho se constituía,também, numa exploração, muito embora apartir dele o colono pudesse auferir algumexcedente que podia ser vendido nomercado.

O que se fazia necessário era aconstrução de estradas de ferro para garantiro escoamento da produção que adentrava oterritório paulista e para isso era imprescindívelo desenvolvimento de serrarias e de

metalúrgicas para os dormentes e trilhos dostrens. Do mesmo modo era essencial oaparelhamento do porto de Santos, odesenvolvimento de instituição voltada para omercado de ações do café e o desenvolvimentodos negócios financeiros e jurídicos.

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Igualmente, era imprescindível aindustrialização de bens de consumo parasatisfazer as necessidades de reprodução doscolonos, que não eram garantidas pelo própriotrabalho excedente, bem como da população quevivia nas cidades. Ao mesmo tempo eraindispensável a produção dos instrumentosnecessários ao trabalho nos cafezais e roças(instrumentos, equipamentos e maquinas), bemcomo a produção de máquinas debeneficiamento de café.. Também era imperiosoo desenvolvimento da capacidade energética,quer para as atividades produtivas, quer paraas cidades que se desenvolviam.

As cidades materializavam as condiçõesgerais da produção cafeeira, garantindo ocomércio e os serviços necessários, o queredundou no desenvolvimento de uma extensarede urbana no interior paulista. Rede urbanaque se fez obrigatória porque a principal parcelado capital da fazenda de café era produzida naformação de fazendas de café estendendo oscafezais pelo território adentro quenecessitavam de cidades para prover ascondições gerais da cafeicultura. Enquanto issoa cidade de São Paulo se metamorfoseava,passando de simples vila a cidade em acelerado

crescimento com chaminés de fábricas epopulação operária.

As plantações de café conformaram umcomplexo econômico, denominado de complexocafeeiro. E é no seu interior que situamos acapacidade de geração de um processo dinâmicode acumulação capitalista, que induziu àindustrialização e à constituição do urbano. Essaé uma interpretação que conduz à compreensãode que, podemos falar em urbano no Brasil apartir da constituição do complexo cafeeiro quese mostra, nitidamente visível, a partir de 1870.Essa compreensão não considera o urbanocomo um subproduto da industrialização, mascomo produto de determinadas relações sociaise de determinados condicionantes próprios docomplexo do cafeeiro. Desloca-se, assim, arelação industrialização e urbano. Afrouxa-seessa relação face às particularidades dasociedade brasileira.

Relembrando o que dissemos em relaçãoà palavra urbano, de que essa palavra não seconstitua em termo da língua portuguesa noséculo XIX, isso não compromete em nada ainterpretação da constituição do urbano noBrasil porque, como dissemos, o conceito existea poster io r i   dos objetos ou fenômenos querepresentam (segunda observação).

De forma sintética podemos dizer que asposições de Maria Conceição Tavares (1972) eJoão Manoel Cardoso de Melo (1979), de umlado, e, de outros, de José de Souza Martins(1979) nos inspiram a conceituar o urbano no

Brasil de forma diferente. Tendo como referênciaos primeiros, o urbano se constitui no Brasil apartir dos anos 1930, enquanto que ainterpretação de Martins nos conduz a situá-loa partir de 1870.

Pode ter sido alongada essa discussão,mas o sentido foi de mostrar que os conceitosexistem em relação a um corpo teórico e que oentendimento de quando se constitui asociedade industrial capitalista no Brasil é queconduz à compreensão de quando podemos falarem urbano no Brasil. Claro, lembrando maisuma vez, fundada na premissa da existência da

relação entre urbano e industrialização.O que se procurou com essa discussão

é mostrar que os conceitos se fundam em teoriase que segundo essas os conceitos se alteram.Como dissemos na Introdução, a pesquisa exige,permanentemente, escolhas e pesquisarsignifica viver opções.

Assim posto, embora tenhamos cidadesno Brasil desde a colônia, a constituição dourbano, a partir das referências examinadas, lheé posterior. Está se considerando que éimanente ao conceito de urbano, o deindustrialização moderna e o de sociedade

industrial.Fizemos uma escolha, de relacionar o

conceito de urbano à sociedade industrialcapitalista no Brasil e chegamos a duasperiodizações. Poderíamos ter assumido outrocaminho, como o apontado por Remy e Voye

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(1976) que entendem que o urbano estárelacionado ao processo de urbanização que seconstitui como um processo de transformaçãoestrutural específico da sociedade capitalista eque impulsiona essa sociedade para adiante,quer em suas contradições, quer em suasexplicitações. (Remy, Voye, 1976, p. 82). Essacompreensão não vincula, portanto, o urbano àsociedade capitalista industrial. Se tomarmoscomo referência essa compreensão de urbano,por certo podemos falar em urbano no Brasildesde os primórdios da colonização já que essanasce sob a égide da sociedade capitalista, nasua fase mercantil, que se expande pelos quatrocantos do mundo, por “mares nunca antesnavegados”.

O conceito de urbano se relaciona a umprocesso histórico e dependendo da referênciateórica falaremos de urbano desde osprimórdios da colonização brasileira ou segundooutros períodos.

Considerações Finais

Essas observações sobre os conceitosde cidade e urbano tiveram o objetivo não sóde discutir esses conceitos, mas sobretudo dealertar para o fato de que os conceitos seconstituem ele elementos fundamentais para ainterpretação da realidade. Por meio delesbuscamos compreender o real. Longe de seremúnicos e verdades, os conceitos devem servistos em sua com as referências teóricas.

No caso do conceito de cidade, tendocomo referência o contexto brasileiro, podemos,como vimos, considerar a população dedicadaao trabalho no campo, não aprisionando oconceito ao se considerar apenas como cidadesas aglomerações sedentárias que secaracterizam pela presença de população

voltada exclusivamente para as atividadesurbanas.

Relativo ao conceito de urbano vimosque segundo o entendimento de urbanopodemos falar em urbano no Brasil a partirde vários marcos históricos.

O que é importante no conhecimentoé a coerência com as referências assumidas.Ser ia um erro grosseiro expr imir que ourbano se relaciona à sociedade capitalistaindustrial e, ao mesmo tempo, discutir ourbano no século XVIII ao se falar dascidades da mineração: Ouro Preto, Marianae Sabará, por exemplo. Como também seriafalta grave falar em urbano no Brasil no final

do século XIX se a compreensão do urbanose assenta na idéia de sociedade capitalistaindustr ia l entendida como sendo aquelasociedade cujo fundamento da reproduçãoampliada do capital se encontra na atividadeindustrial.

Conceitos e teorias são, portanto,imanentes uns aos outros. Essa é a idéiafundamental desse texto que busca, pormeio da discussão sobre os conceitos decidade e urbano contribuir para a discussãosobre o que é cidade e o que é urbano noBrasi l . Longe de respostas simples e de

certezas esse texto buscou transmitir a idéiade que as certezas fáceis e os modelosexp l i cat ivos usados sem a re f lexãonecessár ia não têm nenhum poder dedesvendar os processos que examinamos.Em geral, não desvendam nada ficando nareprodução de idéias e de pressupostosentendidos como fé.

O caminho do conhecimento exigerigor e método. Muitas certezas se tornamincertezas durante o percurso, enquantoque out ras encont ram so luções; o queimporta é que por meio da consistênciateórica e conceitual é possível contribuir

para a compreensão do real.

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Notas

Bibliografia

1 Sobre a origem dos povoados no Brasil o texto deAroldo de Azevedo, de 1957, intitulado Embriões de Cidades é referência obrigatória.

2 Definição presente no Dicionário Houaiss.

3 Em Portugal, povoado significa aldeia, lugarejo oupequena localidade com pessoas, enquanto quepovoação se refere a lugar povoado, que podese referir a pequenos agregados rurais e até àsmaiores aglomerações.

4 Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa,

referido nesse texto simplesmente comoDicionário Houaiss.

5 Além das derivações por metonímia, o dicionárioregistra regionalismo, a exemplo da palavraurbano ser usada no Estado de São Paulo com osentido de soldado de polícia. Mas, não nosateremos a discussão de regionalismos relativosàs palavras em exame. O dicionário Houaissregistra também, a etimologia da palavra cidadee da palavra urbano, que será a posteriori.

6 No caso da palavra urbano se apresentar comoadjetivo, que busca caracterizar os seres ouobjetos, os sentidos que podemos encontrarpara a palavra urbano são os de qualificar oque é dotado de urbanidade ou o que é afável,civilizado ou cortês. Esse é o caso da seguintefrase: Hoje em dia os costumes urbanos estão 

corrompidos. Mas, também a palavra urbanopode estar referida ao que é relativo oupertencente à cidade, ou, ainda, ao que éprópr io à cidade, como na expressãos a n e a m e n t o u r b a n o  . E, pode, também,

expressar o caráter de cidade, como na frase:Ontem houve um grande confl i to urbano.

7 Em função dos objetivos que se quer, que é dediscutir o conceito de cidade e urbano, trataremosda relação entre o conceito e o objeto. A idéia deobjeto assume os sentidos de fato, fenômeno eprocesso em função da fluência do texto, já quepara a discussão em pauta o assolamento dasdiferenças não compromete o que se intenta.

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Trabalho enviado em agosto de 2008

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