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Comunicação Digital / Cibercultura Prof. Dr. Andre Stangl https://ambientedigitalpuc.wordpress.com/

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Comunicação Digital / Cibercultura

Prof. Dr. Andre Stangl

https://ambientedigitalpuc.wordpress.com/

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Teoria ator-rede (TAR) > Actor–network theory (ANT)

andre stangl [email protected]

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Bruno Latour

seguindo seus ratros...

1973 -Abidjan, Africa

1975 -doutorado -laboratório Guillemin, EUA

1977 -csi, o Centro de Sociologia e de Inovação.Franca -estudos de campos industriais c Callon

1978 - Stengers

1979 -vida de laboratorio, publicacao - Shirley Strum, primatas

- c/ callon Unscrewing the great Leviathan, (tar)

1984 - Irréductions

1987 - Science in Action

1991 - jamais fomos modernos

1999 - Esperanca de Pandora - politicas da natureza

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“Para Bruno Latour, a modernidade deve ser compreendida através de um duplo processo de mediação (produção de híbridos) e de purificação (negação deste hibridismo).

Um processo que coloca os modernos como seres estranhos, desenvolvendo modos de existência específicos em diversas áreas (direito, religião, técnica, subjetividade).

A modernidade não para de produzir associações entre humanos e não humanos, mas, ao mesmo tempo, purifica esta relação separando sujeito do objeto, natureza da sociedade, técnica do social.

Para o sociólogo francês, a modernidade nada mais é do que a “proliferação dos híbridos cuja existência – e mesmo a possibilidade – ela nega”.” (LEMOS, p. 39, 2015)

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“É frequente ouvirmos críticas às novas tecnologias. A questão do determinismo tecnológico vem sempre à baila para estancar as esperanças ingênuas no uso humano dos mais diversos artefatos. Por outro lado, é também frequente ouvirmos elogios, mostrando o caráter emancipador que os dispositivos e redes técnicas trouxeram e ainda trazem para a humanidade. Ambas as perspectivas, tomadas de forma exclusiva, estão equivocadas. “ (LEMOS, p. 30, 2015)

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"No caso da tecnologia e das mídias de comunicação, podemos dizer que esta dinâmica da purificação só é possível através de uma visão instrumental e essencialista da técnica que deixa os humanos ora em posição de senhores e mestres das ações (perspectiva esta que podemos chamar de sociodeterminista), ora como vítimas dos malefícios causados pela força externa, independente e autônoma, da técnica (o tecnodeterminismo). (LEMOS, p. 39 e 40, 2015)

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Por um lado ou por outro, as mediações que podem nos instruir melhor sobre o que realmente acontece nas associações entre humanos e não humanos são apagadas em prol das essências, aplicadas como grandes quadros teóricos (frames) que podem tudo explicar." (LEMOS, p. 40, 2015)

"Não há in-formação, apenas trans-formação."(LATOUR, 2012a, p. 216)

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Se tomarmos o mapa das mediações, podemos prescindir de visões essencialistas e/ou instrumentalizantes dos dispositivos midiáticos e poderemos ver mais tranquilamente as redes sociotécnicas que se formam e analisar, por fim, o social que então se apresenta.

Isso parece ser mais interessante para os estudos de comunicação do que partir de visões generalizantes que vão, independentemente do fato observado, dizer sempre a mesma coisa." (LEMOS, 2015, p. 44)

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“Não se pretende, ao afirmar que as redes sociotécnicas compõem o real com híbridos de humanos e não humanos, definir o que seja a realidade, o humano e o não humano de antemão e uma vez por todas. Muito pelo contrário. Tudo vai ser definido nas associações e nas descrições.” (LEMOS, p.82, 2016)

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Gaia Latour

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[…] por que se utiliza a ideia de modernidade, de frente de modernização, de contraste entre o moderno e o pré-moderno, antes mesmo de se ter aplicado aos que se dizem civilizadores os próprios métodos de pesquisa aplicados aos “outros” – os quais se pretende senão civilizar completamente, pelo menos modernizar em certo grau? (LATOUR, 2012b, p. 7).

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[…] nenhuma continuidade de um curso de ação pode acontecer sem uma repetição inventiva que fornecesse ao ator social as capacidades reflexivas, as fontes de inovação, e até mesmo as sociologias e ontologias cujo desdobramento ultrapassava em muito as capacidades do etnólogo. O pesquisado sempre sabe mais do que o pesquisador (LATOUR, 2012b, p. 12-13)

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[…] o que caracteriza os seres humanos não é a emergência do social, mas o desvio, a tradução, a inflexão de todos os cursos de ação em dispositivos técnicos cada vez mais complicados (mas não necessariamente mais complexos) (LATOUR, 2012b, p. 17).

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O pós-modernismo é um sintoma e não uma nova solução. Vive sob a Constituição moderna, mas não acredita mais nas garantias que esta oferece. Sente que há algo errado com a crítica, mas não sabe fazer nada além de prolongar a crítica sem, no entanto, acreditar em seus fundamentos (Lyotard). Ao invés de passar para o estudo empírico das redes, que dá sentido ao trabalho de purificação que denuncia, o pós-modernismo rejeita qualquer trabalho empírico como sendo ilusório e enganador (LATOUR, 1994, p. 30).

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O modo em rede é um modo de análise que não é suficiente. A análise ator-rede é ideal para destrinchar as associações, mas há uma enorme falha, em particular, a de não entender a variedade das conexões. [...] O ator-rede é um dos modos, uma das formas de preparar o terreno. Mas ele deixa escapar essa coisa muito importante, seja no direito, seja no terreno religioso: as pessoas que estão nessas práticas fazem muito bem a distinção entre ciência, religião, direito. A análise em termos de redes não é capaz de captá-las. Ela funciona muito bem como ferramenta para delinear associações, mas é insuficiente para caracterizar os modos de existência (LEMOS, 2013, p. 276)

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[…] o principal interesse em Jamais fomos modernos, versão negativa de um argumento para o qual apresento hoje a versão positiva (AIME), é que ele iniciou uma colaboração muito mais estreita com os antropólogos, os verdadeiros, sobre o pluralismo ontológico dos coletivos. Não se trata, com Philippe Descola, com Eduardo Viveiros de Castro, Marylin Strathern, de comparar as culturas com o plano de fundo da natureza, mas de contrastar cada vez mais energicamente as ontologias das quais apenas uma, a nossa, utiliza o esquema do mononaturalismo e do multiculturalismo. De serva da filosofia, a antropologia passa a ser, se não sua amante, pelo menos sua colega: ao passar a ser local ou regional, a ontologia tornou-se proporcionalmente mais profunda (LATOUR, 2012b, p. 26).

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Cartografia de controvérsias

Just look at controversies and tell what you see

Segundo Bruno Latour, um novo problema se coloca a todos, pesquisadores, usuários, financiadores, simples cidadãos, estudantes ou jornalistas: como implantar as versões divergentes dos mesmos assuntos científicos e técnicos que, sobre todos os tópicos de interesse, requerem a nossa atenção e deliberação?

Como, em outras palavras, reencontrar uma objetividade que não repousa mais em uma admiração silenciosa, mas em uma gama de opiniões conflitantes sobre as versões contraditórias dos mesmos problemas? Como podemos relacionar essas versões a fim de obteruma opinião? Essa é a questão do que eu chamo de mapeamento, (ou cartografia) das controvérsias científicas e técnicas.

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Segundo André Lemos, a Cartografa de Controvérsias nos ajuda a desenhar um quadro onde podem ser representadas as diversas posiçõessobre algum tema polêmico, desmembrando o papel dos actantes humanos e dos não humanos. E, quem sabe, assim, ajuda a organizar objetivamente a busca por um consenso, ainda que temporário. A objetividade desse consenso então se daria na atenção distribuída entre os diversos coletivos, cabendo à Cartografa de Controvérsias ilustrar as mediações mostrando as transformações e os deslocamentos.

"A Cartografa de Controvérsias é o lugar e o tempo da observação, onde se elaboram as associações e o “social” aparece antes de se congelar ou se estabilizar em caixas-pretas. A visibilidade da rede se dá nas controvérsias. […] É pelas controvérsias que vemos o social em sua tensão formadora, em seu “magma”, como prefere Venturini (Lemos, 2013c, p. 55)."

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O trabalho de refazer as associações, ilustrando suas posições na rede derelações que confguram uma controvérsia, também é uma forma de buscar estabilizações. Mas sem almejar ser o juiz da controvérsia, sem apresentar soluções, apenas indicando as direções possíveis.

A controvérsia é o momento ideal para revelar a circulação da agência, a mediação, as traduções entre actantes, a constituição de intermediários, as relações de força, os embates antes de suas estabilizações como caixas-pretas (Lemos, 2013c, p. 106).

Com isso conseguimos rastrear se há algum tipo de agenciamento ou infuência mais determinante de algum actante, mas sr durante as controvérsias conseguimos perceber a rigidez das caixas-pretas. No entanto, no calor do debate, muitas vezes elas se desestabilizam, deixando sua função de intermediária, quase invisível, e assumindo a posição de mediadora, ou seja, assumindo sua ação.

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Na Cartografa de Controvérsias, os pesquisadores não precisam tentar ser imparciais, pois, em muitos casos, eles são também actantes na rede que compõe o debate cartografado. Como diz Lemos: “O que se entende por objetividade nada mais é do que o conjunto mais ou menos estável de olhares sobre um determinado objeto ou fato ‘social’” (Lemos, 2013c, p. 111). Assim, a Cartografa de Controvérsias não deve se limitar à perspectiva conceitual do pesquisador (seu campo, domínio ou área), ou mesmo a uma posição espacial (global ou local), o que poderia impedir osdiversos actantes de aparecer e sustentar suas posições na intricada redede recomposição e recombinação desenhada na Cartografa de Controvérsias (Venturini, 2010, 2012).

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Para Michel Callon, existem quatro características nas controvérsias ligadas às tecnologias:

1. A controvérsia é sobre um objeto técnico, mas não se reduz ao objeto pura e simplesmente técnico, já que esse não existe. Todo objeto é social e deve ser visto pelas suas relações;

2. As soluções são sempre múltiplas e sem direção dada de antemão, já que envolvem a negociação entre diversos actantes que são eles mesmos redes, eventos, híbridos;

3. Os grupos implicados têm interesses variados, cosmovisões que entram em conflito e que revelam forças e hierarquias diferenciadas;

4. As forças tendem a se equilibrar nas negociações ao longo da controvérsia, esfriando-a, criando pontualizações ou caixas-pretas.

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Bibliografia

LATOUR, Bruno. Jamais Fomos Modernos. Rio de Janeiro: Editora 34, 1994.

LATOUR, Bruno. Reagregando o social: uma introdução à teoria do Ator-Rede. Salvador: Edufba, 2012a.

LATOUR, Bruno. Biografia de uma investigação: a propósito de um livro sobre modos de existência. São Paulo: Editora 34, 2012b.

LATOUR, Bruno. Investigación sobre los modos de existencia. Una antropología de los modernos. Buenos Aires: Paidós, 2013.

LEMOS, Andre. A Comunicação das coisas: teoria ator-rede e cibercultura. São Paulo: Annablume, 2013.

LEMOS, André. A crítica da crítica essencialista da cibercultura. Matrizes, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 29-52, jan./jun. 2015.

LEMOS, André. Contra a crítica abstrata. Tréplica a Francisco Rüdiger. Matrizes, São Paulo, V.10 - No 1 jan./abr. 2016.