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COMUNICAÇÃO INTERNA PARTIDÁRIA: OS PARTIDOS POLÍTICOS E O USO SOCIAL DA INTERNET. Bárbara Lima 1 RESUMO: O painel a ser apresentado visa analisar como os quatro maiores partidos políticos brasileiros PT (Partido dos Trabalhadores), PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), PMDB (Partido do Movimento Democrático do Brasil) e DEM (Democratas) vêm utilizando a internet e as novas tecnologias digitais de comunicação para, além de promover uma interação entre esfera política e civil, promover dentro de suas estruturas espaço para produção e difusão de materiais informativos que intensifiquem a comunicação intrapartidária, a fim de aproximar os diretórios e os filiados – até mesmo fora do período eleitoral. Eles buscariam, dessa maneira, usar os meios de comunicação digital como importantes elementos de dinamização da estrutura interna, aproximando seus filiados e simpatizantes e promovendo uma maior visibilidade partidária por meio da comunicação política. PALAVRAS-CHAVE: partidos, internet, comunicação política. INTRODUÇÃO. A comunicação e o surgimento das novas tecnologias digitais de comunicação, ainda são um tema novo e incipiente nos estudos de ciência política. Porém, o seu desenvolvimento e amplo uso enquanto lócus da comunicação política vem suscitando diversos debates acerca do seu papel e de sua importância na sociedade, e principalmente, o seu impacto nas democracias representativas. De acordo com BRAGA; FRANÇA e NICOLÁS (2008), muitas discussões se pautam sobre esses novos canais de interação que por todas as suas valências podem modificar substancialmente a forma como as pessoas se relacionam em diferentes dimensões da sua vida social. O uso da internet pode, por meio de diferentes atores instituições, propiciar a criação de um “Sistema Político Virtual”, capaz de dinamizar as instituições mais tradicionais, promovendo a participação e a competição ao invés de criar um novo modelo de democracia. 1 Mestranda do Programa de Pós- Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos

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COMUNICAÇÃO INTERNA PARTIDÁRIA: OS PARTIDOS POLÍTICOS E O USO SOCIAL DA INTERNET.

Bárbara Lima1

RESUMO: O painel a ser apresentado visa analisar como os quatro maiores partidos políticos brasileiros PT (Partido dos Trabalhadores), PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), PMDB (Partido do Movimento Democrático do Brasil) e DEM (Democratas) vêm utilizando a internet e as novas tecnologias digitais de comunicação para, além de promover uma interação entre esfera política e civil, promover dentro de suas estruturas espaço para produção e difusão de materiais informativos que intensifiquem a comunicação intrapartidária, a fim de aproximar os diretórios e os filiados – até mesmo fora do período eleitoral. Eles buscariam, dessa maneira, usar os meios de comunicação digital como importantes elementos de dinamização da estrutura interna, aproximando seus filiados e simpatizantes e promovendo uma maior visibilidade partidária por meio da comunicação política. PALAVRAS-CHAVE : partidos, internet, comunicação política.

INTRODUÇÃO.

A comunicação e o surgimento das novas tecnologias digitais de

comunicação, ainda são um tema novo e incipiente nos estudos de ciência

política. Porém, o seu desenvolvimento e amplo uso enquanto lócus da

comunicação política vem suscitando diversos debates acerca do seu papel e

de sua importância na sociedade, e principalmente, o seu impacto nas

democracias representativas. De acordo com BRAGA; FRANÇA e NICOLÁS

(2008), muitas discussões se pautam sobre esses novos canais de interação

que por todas as suas valências podem modificar substancialmente a forma

como as pessoas se relacionam em diferentes dimensões da sua vida social. O

uso da internet pode, por meio de diferentes atores instituições, propiciar a

criação de um “Sistema Político Virtual”, capaz de dinamizar as instituições

mais tradicionais, promovendo a participação e a competição ao invés de criar

um novo modelo de democracia.

1 Mestranda do Programa de Pós- Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos

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Para CASTELLS (1996) as tecnologias de informação e comunicação

são particularmente sensíveis aos efeitos dos usos sociais da tecnologia, que

por sua vez é a condição necessária (mas nem sempre suficiente) para a

criação de uma nova organização social baseada em rede e difusão de

informações. Sob essa perspectiva, o autor explana que a informação,

conhecimento e a comunicação podem ser entendidos como elementos

centrais na estrutura de uma organização.

É nesse sentido que as políticas de comunicação são de suma

importância para um partido político; por meio dessas é capaz de difundir

ideologias, elencar qualidades individuais de candidatos em período de

campanha, disponibilizar informações e promover ações (como militância on-

line) que o promovam tanto dentro da estrutura partidária quanto para a esfera

pública independente das mídias tradicionais (ROMELLE, 2003).

A profissionalização do marketing e da comunicação dos partidos é

análoga a crescente necessidade de tornar tudo mais visível, rápido e

acessível, nesse sentido a internet promove uma renovação, dinamizando a

circulação de discursos e ideologias (CHAIA, 2006).

Para o ciberotimista GROSSMAN (1995) em “The Eletronic Republic”, a

internet é um meio rápido e viabilizador de promover a participação e o diálogo

entre esfera civil e política, segundo o autor, ao apertar de um botão as

pessoas seriam capazes de dizer aos seus governantes e dirigentes o que eles

necessitam e quais são suas prioridades. Para outros autores como NORRIS

(2001), ainda há pouca evidência de que os sites na internet promovam de

forma concreta e efetiva a participação de membros comuns e/ou cidadãos em

debates e deliberações políticas.

Deve-se salientar nesse ponto a relevância de sempre ponderar os

aspectos positivos e negativos que o uso social da internet pode oferece tanto

para quem fornece a informação política quanto para quem a recebe. Sob o

ponto de vista estrutural e organizativo, a presença de websites e ferramentas

digitais de comunicação não garante a existência efetiva de interação

(IASULAITS, 2011), para tanto, o foco da pesquisa foi de analisar o uso e os

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efeitos que os mesmos podem oferecer para os partidos políticos, sejam eles

positivos ou negativos.

A forma como o partido se estrutura acerca das novas tecnologias de

comunicação, pode mostrar mudanças características de sua organização

(MARTINS, 2009 p. 2); dependendo da estruturação do website e das

ferramentas que são disponibilizadas podem-se analisar as intenções e

mudanças na identidade do partido, mesmo que essas estejam implícitas. Por

exemplo, aqueles que têm maior interesse em buscar filiados disponibilizarão

meios e contatos a fim de facilitar o recrutamento, assim como ferramentas

mais atrativas visualmente para usuários.

Para PEDERSEN e SAGLIE (2005), o uso das novas tecnologias digitais

dos partidos pode mostrar que de fato e a maneira que, essas podem afetar as

questões internas do partido, principalmente no que tange as disputas. O

conteúdo informacional disponibilizado é reflexo de tudo o que acontece no

partido enquanto organização. É a adaptação do material off line para as

ferramentas on line.

Sob um olhar sócio-político esse espaço virtual pode ser um meio de

engajamento e militância, onde há espaço para informar, debater e difundir

opiniões (MARQUES, 2005 p.4), valorizando o discurso e agregando usuários

que compartilhem de interesses (CREMONESE, 2001, p.6). Sendo assim

contemplaremos o ponto de vista organizacional, procurando elencar outras

questões relevantes sobre os efeitos da internet sobre o partido.

Em seu livro “Modelos de Partidos” Angelo Panebianco (2005),

considera que o ramo de estudo dos partidos políticos enquanto organização

ainda é um ramo atrofiado na Ciência Política por alguns motivos; o primeiro a

ser destacado é o “preconceito ideológico” que ele define como o ato de

investigar um objeto baseado na suposta função que esse deveria cumprir sem

considerar suas características concretas; “preconceito sociológico” definido

pelo ato de considerar os partidos como meras manifestações do plano político

visto em parte de uma face política pautada em interesses sociais específicos

de alguns grupos; “preconceito teleológico” julgar os partidos em função de

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seus objetivos genéricos. Sob essa ótica, podemos entender que o autor

estuda os partidos como organizações complexas que lidam com diferentes

dilemas organizativos.

Partindo desse pressuposto, PANEBIANCO (2005, p.68) afirma que a

organização é um sistema de comunicação que funciona como tal se, e na

medida em que existem canais pelos quais circulam informações, logo, um dos

recursos cruciais de poder dentro de um partido é dado pelo controle dos

canais de comunicação- aquele que possui a capacidade de distribuir,

manipular, suprimir ou retardar informações é também capaz de controlar uma

área fundamental dentro da organização, um recurso decisivo nas relações de

poder interna.

Esses recursos de poder permitem que os agentes manipulem o sistema

de comunicação. Entretanto, o autor considera a comunicação intrapartidária

como uma área de fragilidade estrutural dentro do partido enquanto

organização, as denominadas “zonas de incerteza” – âmbitos de

imprevisibilidade organizativa, o controle dessas zonas é o principal recurso do

poder organizativo, se não forem controladas podem ameaçar a coesão e a

dinâmica interna do partido. Dentre elas estão: 1) competência; 2) gestão das

relações com o ambiente; 3) comunicação interna; 4) regras formais; 5)

financiamento da organização e 6) recrutamento. Interessa-nos para a

pesquisa o item três, “Comunicação interna”.

Sendo essa uma área de fragilidade cabe a essa pesquisa analisar se; o

desenvolvimento e o uso das novas tecnologias de comunicação vêm

contribuindo no controle e na estabilização da comunicação intrapartidária; se

há o interesse do partido enquanto organização política estrutura-la a fim de

aproximar-se não somente da esfera pública, mas também aproximar seus

diversos dirigentes e filiados, promovendo uma dinamização interna. E se esse

interesse pauta uma preocupação em manter o partido coeso, explorando

todas as possibilidades que as tecnologias de comunicação fornecem, seja por

meio dos websites ou de canais alternativos (como as redes sociais), e qual a

efetividade do uso desses recursos no que tange à estrutura organizativa dos

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partidos. E ainda, entender se há uma preocupação dos partidos em

disponibilizar e manter os fluxos informacionais e quais as possibilidades de

interação fornecidas pelos mesmos.

WEB PARTIDOS NO BRASIL.

Os websites são o espaço aberto em que se pode ter contato com as

diferentes faces da organização, por meio desse é possível acessar

informações institucionais (história, programa partidário, estatuto, posição

política), militância (diferentes núcleos que atendem as minorias do partido:

juventude, mulher e entre outros) e notícias cotidianas relacionadas à ação do

partido na política nacional.

De acordo com BLANCHARD (2006), os websites dos partidos políticos

e de movimentos associativos, revelam que a internet constitui hoje, uma das

ferramentas de comunicação a disposição de diferentes atores políticos,

institucionais ou não, para divulgar ideias, opiniões e promover a adesão ao

partido. São, portanto, um meio complementar de comunicação e deliberação,

com o principal objetivo de promover uma comunicação mais direta e atrativa

com eleitores, dirigentes e filiados.

Para essa pesquisa foram selecionados os quatro maiores partidos em

expressão política do país, PT, PMDB, PSDB e DEM, a fim de analisar se

essas grandes organizações políticas são capazes de conciliar as práticas

políticas tradicionais com o desenvolvimento e uso das novas tecnologias de

comunicação. A análise foi realizada a partir dos diretórios municipais dos

referentes partidos na cidade de São Carlos, interior do Estado de São Paulo,

com o intuito de constatar como esses estabelecem seus fluxos informacionais

e comunicacionais com os demais diretórios (sejam eles, municipais, estaduais

ou federais) e também com os filiados dentro da cidade.

Segundo MARGOLIS, GIBSON e WARD (2003) os websites de partidos

apresentam cinco funções básicas: 1) veicular informação; 2) atuar como

instrumento de campanhas; 3) gerar recursos; 4) networking; 5) promover o

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engajamento dos usuários nos processos políticos. Entende-se, portanto, que

os websites são instrumentos de feedback com grande potencial de

recrutamento, debate e interatividade.

Convém, portanto, analisar o conteúdo dos websites, sistematizando em

categorias as ferramentas digitais disponíveis, avaliar qual é a direção dos

fluxos informacionais (de cima para baixo ou de baixo para cima), a existência

de fluxos laterais de comunicação (links e canais alternativos), avaliar

características necessárias que garantam qualidade de experiência ao acessar

o website; a) aparência; b) acessibilidade; c) navegabilidade; d) frequência de

atualização; e ) responsividade (GIBSON e WARD 2000).

A análise foi dividida em quatro partes; primeiramente foi realizada uma

análise exploratória da interface de cada website elencando todas as

ferramentas disponíveis na página inicial e os fluxos laterais (links e canais

alternativos de comunicação), assim como uma análise qualitativa. Em seguida

foram elaboradas tabelas de categorias qualitativas, baseadas no modelo de

análise de BRAGA, FRANÇA e NICOLÁS (2008), que foram analisadas de

acordo com a pesquisa exploratória e as tabelas elaboradas.

DESCRIÇÃO DOS WEBSITES

O site do PSDB, além de todo arcabouço necessário para se conhecer a

história do partido, como textos, artigos e entrevistas, possui também diversos

dispositivos de interatividade. A começar por um feed de notícias que é

atualizado diariamente de acordo com a demanda, a rádio PSDB que transmite

oralmente as mesmas, um canal de vídeos informativos sobre os últimos

acontecimentos internos e externos, galeria de fotos, o site de relacionamento

Facebook e o microblog Twitter, nos quais se também postam informações

diárias e que ainda permite trocas rápidas de informação.

O partido ainda conta com uma área restrita aos seus filiados (“espaço do

filiado”), newsletter que é aberto a todos os visitantes do site e Blogs, em sua

maioria de atualização diária, com textos e opiniões sobre o partido e os

governos em vigência.

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Outro site pesquisado foi o do PMDB, que também apresentou links

básicos com os dados do partido, história, estatuto, artigos, publicações e entre

outros. Há um setor chamado “PMDB interatividade”, o qual disponibiliza

fóruns, enquetes, espaço para a expressão de opiniões (via e-mail) e o contato

de todos os níveis de governo em vigência do partido, todos dispositivos que

buscam aproximar o filiado.

O site ainda apresenta outros dispositivos, como TV PMDB, rádio PMDB,

todos os links de acesso a blogs dos diretórios estaduais, jingles de campanha

e link para filiação on line. Nesse caso, os perfis nas redes sociais ainda estão

em construção, e, portanto não disponibilizam ainda, acesso a informações.

Somente o microblog Twitter está em uso e atualização diária.

A página ainda disponibiliza o informativo mensal do partido para

download no formato PDF, o que permite que o filiado possa ter contato com o

material no mesmo dia em que esse foi publicado, sem necessidade de esperar

dias pela mala direta.

O PT, historicamente, possui várias tentativas de comunicação interna por

informativos de mala direta. Após várias tentativas de criar uma imprensa

própria, o partido passou a investir no projeto de potencialização da sua

comunicação interna eletrônica. O partido informatizou o antigo jornal Linha

Aberta (newsletter) e aos poucos desenvolveu a página oficial do partido. O

passo seguinte foi a criação de uma rede intranet, exclusiva aos membros do

partido, por meio de senhas e acessível de qualquer ponto com internet

(Ribeiro, 2008, p. 132).

Atualmente o site conta como novos dispositivos interativos, como a

Rádio PT, a TV PT, que disponibiliza vídeos de caráter noticioso, institucional e

histórico, galeria de fotos, blogs indicados, feed de notícias atualizado

diariamente, webmail, “fale conosco”, comunidade para fóruns de debate no

site de relacionamento Orkut e o microblog Twitter, esse último, dispositivo

extensamente utilizado pela candidata Dilma Rousseff no período eleitoral de

2010.

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O quarto site analisado foi o do partido Democratas (DEM), o qual

apresentou maior uso de recursos complementares de comunicação digital.

Além de apresentar uma estrutura básica que disponibiliza acesso desde a

história a ideologia do partido, o site apresenta uma lista de recursos digitais.

A começar por um feed de notícias atualizada diariamente, às vezes mais

de uma vez ao dia, “Fale Conosco” que permite contato via e-mail com o

diretório nacional, um dispositivo de notícias via mensagem no celular, no qual

o filiado se cadastra e passa a receber as atualizações diárias do partido. Na

parte de interatividade, disponibiliza enquetes, rádio, canal de vídeos, blog, o

microblog Twitter, o site de relacionamento Facebook, canal de vídeos no site

Youtube e galeria de fotos no site de hospedagem Flickr, todos atualizados

pelo menos, uma vez na semana. O site ainda disponibiliza um link para

filiação on line.

Posterior a essa análise preliminar, todos os dispositivos encontrados nos

websites foram categorizados a fim de facilitar a análise qualitativa e a

compreensão dos dados obtidos. Os dispositivos foram categorizados de duas

maneiras: em categorias por características semelhantes de funcionamento

dentro dos meios de comunicação e em subcategorias divididos por nível de

interatividade, isto é, analisando se o dispositivo fornece a possibilidade de o

indivíduo ser além de receptor, emissor de informações por meio do

conhecimento básico das ferramentas digitais (ROTHBERG, 2011, p. 4).

Essas categorizações foram criadas a fim de estabelecer níveis de

interatividade que os dispositivos analisados fornecem. Para CASTELLS (2000,

p.4), a comunicação individual de massas permite o crescimento da autonomia

dos sujeitos à medida que eles atuem simultaneamente como emissores e

receptores, equilibrando suas funções dentro da estrutura de comunicação na

qual esteja inserido. O termo interatividade ressalta a participação ativa do

beneficiário de um fluxo informacional, onde os monólogos são substituídos por

diálogos (LEVY, 1999, p.79 apud IASULAITS, 2011).

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Sob essa perspectiva, as descrições das subcategorias têm a intenção

de deixar mais claros os termos do que foi considerado como dispositivo de

interatividade.

• Dispositivo Ativo

Esse dispositivo foi categorizado como aqueles que priorizam a participação

dos usuários permitindo uma troca informacional de duas vias, ou seja, permite

que o indivíduo seja o emissor e receptor da informação;

• Dispositivo Passivo

Esse dispositivo foi categorizado como aquele que deixa o indivíduo na

condição de passividade da informação, ou seja, é todo e qualquer dispositivo

que somente forneça e informação e não oferte a oportunidade de feedback;

• Dispositivo Semi- ativo

Esse dispositivo foi categorizado como todo e qualquer dispositivo que permite

ao individuo um feedback parcial a respeito da informação que recebe, ou seja,

em sua maioria as respostas e comentários em relação a determinadas

informações são: pré estabelecidas e /ou moderadas pelo gestor do website.

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Tabela 5. Categorias e Sub- Categorias

PT PSDB PMDB DEM

Artigos Semi- ativo Semi- ativo Semi-ativo Semi- ativo

Blogs

Semi- ativo

Semi- ativo

Canal de Vídeos Semi- ativo Semi- ativo Semi-ativo Semi- ativo

Documentos Oficiais Passivo Passivo Passivo Passivo

Entrevistas

Passivo Passivo Passivo

Feed de Notícias Passivo Passivo Passivo Passivo

Filiação on line

Passivo Passivo Passivo

Fóruns Estáticos

Semi-ativo

Fóruns Interativos Ativo Ativo Ativo Ativo

Fotos Passivo Passivo Passivo Passivo

Intranet Ativo Ativo

Jornais Passivo Passivo Passivo Passivo

Newsletter Passivo Passivo

Passivo

Fluxos Laterais Semi- ativo Semi- ativo Semi-ativo Semi- ativo

Rádio Ativo Ativo Ativo Ativo

Revistas Passivo Passivo Passivo

Webmail (para filiados) Semi- ativo Semi- ativo

Fontes: elaboração própria a partir dos sites oficiais dos partidos (www.pt.org.br; www.psdb.org.br; www.pmdb.org.br; www.dem.org.br.). Acessado pela última vez em: 09/08/2012

A tabela contém duas informações importantes para a análise feita

durante a pesquisa. A quantidade e a interatividade das ferramentas digitais de

comunicação.

A diversidade de dispositivos nos mostra que há uma preocupação dos

partidos, junto a suas secretarias de comunicação, em disponibilizar conteúdo

diversificado que não se prenda somente às resoluções políticas, mas também

sobre a construção do partido e o que esse tem feito para o cenário político

nacional em tempo real, aproximando o partido enquanto instituição formal

(PANEBIANCO, 2005) da esfera civil.

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Em relação à interatividade, podemos analisar que apesar da quantidade

de ferramentas que são fornecidas, poucas permitem que o indivíduo se

coloque na posição de emissor da informação. Isso nos mostra que também há

uma preocupação do partido em filtrar e controlar as informações que são

disponibilizadas, esse controle, porém apresenta aspectos divergentes.

O termo interatividade pressupõe a participação ativa do usuário nas

trocas informacionais (LÉVY, 1999), ou seja, pressupõe que nesse ambiente

digital sejam superadas as formas de monologais, controles e mediações.

Portanto, a interatividade é uma particularidade da rede que possibilita ao

indivíduo afetar e ser afetado por outros em um meio de comunicação de via

dupla (IASULAITS, 2008, p. 51).

Nesse caso, pode-se analisar que apesar da preocupação em

modernizar os dispositivos digitais de comunicação, há sobre isso a

preocupação em moderar e controlar os fluxos informacionais de comunicação.

Por um lado, podemos perceber que os partidos conseguem de fato

manipular as ferramentas digitais de comunicação dentro dos seus sites

oficiais, o que de acordo com a teoria de Panebianco (2005, p. 68), mostra que

o partido tem nas mãos o recurso decisivo nas relações de poder.

O sistema de comunicação, porém, não pode ser controlado por uma

elite restrita, uma vez que existem canais informais de comunicação entre os

membros do partido, que ocorrem continuamente fora dos canais oficiais, sem

a possibilidade de controle (Panebianco, 2005, p. 70), como no caso das redes

sociais, que serão analisadas a seguir.

RELAÇÕES INTRAPARTIDÁRIAS E REDES SOCIAIS.

O termo Redes Sociais (network) é derivado das relações interpessoais,

de uma rede de conexões informais que existe desde os princípios das

formações sociais. Essas podem ser definidas de algumas maneiras: um

sistema de nodos e elos, uma estrutura sem fronteiras e uma comunidade não

geográfica. Entre todas essas variações, de maneira geral, as redes sociais

podem ser definidas como um sistema representativo que surge a partir de um

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conjunto de participantes autônomos, que unem ideias e recursos em torno de

valores e interesses compartilhados (MARTELETO, 2001).

Para KERBAUY e ASSUMPÇÃO (2011), a análise das redes sociais é

recurso metodológico que permite identificar as relações, seus efeitos e

influências na composição da organização e como essas podem recriar uma

rede organizacional dentro da estrutura partidária. Essas consistem em laços

sociais que ligam atores a pontos específicos e comuns, orientados pela lógica

da interatividade.

A diferença entre as instituições formais e as redes sociais, é que essas

não pressupõem um centro hierárquico e uma organização vertical, são

definidas por elos quantitativos e qualitativos de seus membros a partir de uma

lógica associativa, que não inclui relações de poder e/ou dependência de

associações internas (COLONOMOS apud MARTELETO 1995).

Apesar de não se referirem as Redes Sociais digitais, as análises das

autoras podem ser utilizadas como ponto de partida para análise e

conceituação dessa pesquisa, devido às similaridades descritivas e funcionais

das redes sociais estabelecidas de maneira interpessoal e no ambiente digital.

Em termos digitais, as redes sociais são teias de relacionamentos

estabelecidas entre indivíduos com interesses comuns no mesmo ambiente,

feitas para que os usuários possam criar comunidade on line a fim de

compartilhar informações e interesses semelhantes (CREMONESE, 2011, p.

6).

O uso de redes sociais nos mostra que, atualmente, a internet é uma

das principais ferramentas da comunicação política. Além de ser um meio de

divulgar ideias e opiniões, é também uma maneira de adquirir mais adeptos.

Sob essa ótica, é também um meio de engajamento e militância, que rompe

com o modelo tradicional de jornais. Pois nesse ambiente, há espaço para

produção e difusão de materiais que visam, além de informar, influenciar

opiniões (MARQUES, 2005 p.4).

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Entre suas principais valências, estão a possibilidade de uma

comunicação instantânea e direta com os perfis sociais dos partidos, políticos,

movimentos sociais e instituições, sem filtros, capazes de gerar novos

instrumentos de mobilização e recursos políticos.

Durante a campanha presidencial norte- americana de Barack Obama

em 2008, o mundo conheceu e passou a explorar os potenciais políticos das

redes sociais, o uso da internet durante essa campanha foi pragmático e

ilustrativo (IASULAITS, 2011).

A partir disso, a pesquisa analisou como os quatro partidos selecionados

utilizam as redes sociais, se é feita uma constante atualização e manutenção

dos perfis oficiais, se os mesmos são disponibilizados e visíveis na internet e

há uma responsividade do partido em relação a aqueles que procuram o

contato.

De acordo com Rothberg (2011) um dos principais potenciais do uso da

internet é de, libertar o individuo da condição de receptor passivo da

informação e conferir-lhe a possibilidade de expressão e produção de conteúdo

por meio do domínio de ferramentas digitais simples Nos termos utilizados por

Castell (200, p.4), a comunicação individual de massas, permite o crescimento

da autonomia dos sujeitos à medida que eles atuem simultaneamente como

emissores e receptores.

Para tais constatações foi elaborada uma tabela para apresentar quais

redes sociais são utilizadas pelos partidos pesquisados.

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Tabela 6. Os Partidos e as Redes Sociais Utilizadas .

Redes Sociais

PT PSDB PMDB DEM

Facebook Sim Sim Sim Sim

Flickr Não Não Sim Não

Orkut Sim Não Sim Não

Sound Cloud Sim Não Não Não

Twitter Sim Sim Sim Sim

YouTube Sim Sim Sim Sim

Fonte: elaboração própria.

A partir dessa tabela, podemos analisar que algumas redes sociais são

mais recorrentes em relação às outras. De forma unânime, Facebook, Twitter e

Youtube são utilizados pelos quatro partidos, enquanto o Sound Cloud é

encontrado apenas do site do PT e o Flickr somente no site do PMDB.

Posterior a essa análise foi realizada outra análise, a fim de constatar

quais redes sociais estão ativas e em pleno funcionamento, isto é, se são

utilizadas e atualizadas com frequência.

Constatou-se que em todos os casos o Facebook é utilizado diariamente

e várias vezes ao dia por todos os partidos, compartilhando notícias, fotos,

vídeos.

O Orkut é um caso especifico dentro dessa análise, apesar de estar

disponíveis nos sites do PT e PMDB, ambos os perfis estão em desuso e sem

atualizações há meses.

O Flickr do PMDB está ativo e é atualizado após grandes eventos do

partido, como congressos, assembleias entre outros.

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O Twitter dentre todas as redes sociais analisadas o que é utilizado com

maior frequência, às atualizações são por vezes minuto a minuto em todos os

casos e o conteúdo é vasto desde compartilhamento de informações do

diretório nacional a postagens de outros diretórios, lideranças políticas e

celebridades simpatizantes a ideologia do partido.

E por fim o Youtube, dentre os dispositivos esse é o que apresenta mais

heterogeneidade de conteúdo. Os vídeos são atualizados diariamente com

mensagens oficiais do partido, propagandas políticas, discursos de lideranças e

até mesmo algumas críticas aos partidos oposicionistas.

Essa gama de redes sociais e a frequência com que são atualizadas nos

mostra que apesar de ainda serem ferramentas novas de comunicação, vêm

sendo amplamente utilizadas pelos partidos mostrando que o desenvolvimento

da internet poderá propiciar uma nova era no que se diz respeito a partidos e

participação política modificando algumas características tradicionais das

estruturas partidárias (FERBER et al, 2007), mostrando que os partidos

enquanto organizações podem se adaptar ao desenvolvimento do ambiente

externo (MARTINS, 2009, p.9).

Para fins analíticos, foi realizada uma análise comparativa de todos os

websites fim de determinar qual possui canais mais ativos, qual está mais

preocupado em disponibilizar ferramentas interativas e qual utiliza melhor as

redes sociais.

Numericamente comparando o número de dispositivos ativos nos quatro

websites não varia (ficando entre dois e três dispositivos por site), porém a

análise especifica de cada website observou-se que dentre os quatro, o DEM é

o que mais apresenta dispositivos de interatividade e em diferentes tipos. Por

exemplo, é o único site que disponibiliza receber mensagens via mensagem de

texto no celular e que permite a fala de terceiros seja publicada no site por

meio da “Tribuna Cidadã”. Esses elementos de dinamização tornam o site mais

atraente para os indivíduos interessados em participação política, pois permite

mesmo que de maneira filtrada que esses exerçam a sua participação

opinativa.

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Apesar de utilizar anúncios “Nós queremos a sua opinião”, o site do

PMDB não tem um espaço aberto no website que mostre a todos os que

acessam quais foram as opiniões fornecidas (mesmo filtradas), restringindo a

opinião do internauta a uma mensagem fechada ao partido, o que mina esse

caráter democrático da propaganda tornando-a pouca atrativa.

A veiculação de falas cidadãs nos websites dos partidos por intermédio

de dispositivos como chats e fóruns de discussão, mostra uma evolução da

comunicação partidária, pautada principalmente por uma diversificação

(moderada) de seus atores e cadeias de mediação (NEVEU apud

BLANCHARD, 2006).

Enquanto o PT e o PSDB restringem, majoritariamente, os seus

dispositivos ao envio de informações. Vale ressaltar que mesmo que o fluxo de

informação seja intenso e diário nem sempre os excessos são positivos, é

preciso também explorar o caráter interativo dos mesmos, utilizando a

interatividade em sua essência.

Em termos de websites, podemos afirmar que o DEM é o que mais se

preocupa em estabelecer um feedback e permitir a participação efetiva de

quem frequenta o website.

No quesito “Redes Sociais” o PT e o PMDB são os que mais utilizam e

possuem redes sociais diferenciadas, Sound Cloud e Flickr, respectivamente. A

utilização do Sound Cloud é muito positiva para o partido, pois, permite

compilações no áudio, ou seja, permite que o indivíduo saia da condição de

passividade e contribua de alguma maneira, seja por meio de comentário ou

por ajustes nas gravações.

Para o PMDB, o uso do Flickr também é positivo, essa rede de

armazenamento de fotos não limita a quantidade de postagens, é possível que

ele hospede quantas fotos quiser nessa rede social sem deixar o website site

“pesado” (difícil de navegar) ou visualmente poluído. O website ainda

apresenta uma pop-up com um convite às redes sociais, ou seja, ao acessa-lo

o primeiro contato é com o endereço das redes sociais (recentemente o partido

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lançou uma rede social própria que não consta na análise, pois foi lançada

posterior a realização da mesma). É nesse sentido que o site do PMDB se

mostra mais preocupado em atrair os internautas para as redes sociais,

conciliando a atração com efetividade de uso.

Dentre todos os sites, o que se pode considerar o pior é o do PSDB, o

excesso de ícones e de informações deixa o website visualmente confuso e

atrapalha a navegação (se a velocidade da internet for baixa, fica quase

impossível) e é o que apresenta o menor número de redes sociais. Nesse

sentido, apesar dos esforços do partido, observados ao longo da pesquisa,

ainda há muitos detalhes a serem melhorados no website oficial.

De modo geral, o site do DEM é o que está visualmente atrativo e com

mais dispositivos interativos que visam aproximar o partido dos internautas.

Não apelando para o excesso de informação ou mensagens de ataque a outros

partidos, nota-se um esforço do partido em voltar-se para a população de modo

geral e não somente para os filiados e simpatizantes.

Apesar de todas essas valências, foi constatado que ao mesmo tempo

em que são inovadoras e eficazes, as redes sociais também são perecíveis,

fato constatadas diante da quantidade de redes sociais inativas (principalmente

no caso dos perfis do Orkut) e desatualizadas.

A discussão sobre o uso e a efetividade das redes sociais como agente

de mobilização dentro da estrutura partidária ainda é muito incipiente. Mas a

partir da proposta dessa pesquisa, pode-se analisar que são amplamente

utilizadas pelos partidos ao longo do ano e principalmente em período eleitoral.

E que de fato, promovem uma comunicação mais rápida e direta entre usuários

(eleitores, militantes, filiados, simpatizantes), permitem o compartilhamento e o

acesso à informação de forma muito mais rápida e eficiente e às vezes até de

forma indireta com todos que utilizam a ferramenta.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Apesar de toda a efervescência acerca dos estudos de internet enquanto

parte da comunicação política e de seus usos para a comunicação com a

esfera civil e a formação de opinião pública, ainda se tem pouco material

empírico que aborde os dilemas da comunicação interna e das relações

intrapartidárias.

Essa pesquisa propôs contemplar essa área pouco explorada na ciência

política sob uma perspectiva organizativa, pressupondo que a comunicação

interna é uma “zona de incerteza” do partido (PANEBIANCO, 2005, p 65). E se

os canais internos de comunicação são pouco eficientes na transmissão de

informações (PEDERSEN e SAGLIE, 2005).

De acordo com NORRIS (2003) há um potencial democratizante nos

websites que mantém um diálogo significativo e que exerce uma forte

correlação entre o desenvolvimento dos meios digitais de comunicação e a

participação política.

A internet provê um amplo espaço e uma vasta gama de dispositivos

que permitem a produção e a difusão de materiais diversificados, não limitando

o partido a reproduzir somente aquilo que é distribuído de forma física (mala

direta, panfletos, revistas).

Por meio do uso social da internet os partidos são capazes de se

aproximar dos filiados, promovendo uma comunicação consensual e sem

arestas, ou seja, é possível se comunicar com os filiados sem o filtro das

mídias tradicionais (BLANCHARD, 2006, p15).

Ao longo da pesquisa constatou-se que dentro dos websites oficiais do

partido existe uma dedicação no desenvolvimento, divulgação e controle das

novas tecnologias de comunicação enquanto elemento de comunicação

interna. Ou seja, torna-se mais fácil e acessível tanto para o Diretório Nacional

quanto para o filiado, disponibilizar e ter acesso a informações relevantes sobre

o partido enquanto organização. Não é mais preciso esperar por uma mala

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direta ou por uma convenção municipal para acessar as resoluções do Diretório

Nacional, enquanto elemento de estabilização e coesão, as novas tecnologias

de comunicação se provaram úteis para os partidos.

Devido a essa gama de valências, que se observou que há sim uma

preocupação em, além de disponibilizar, promover essas ferramentas,

mantendo-as ativas, atualizadas, e em grande quantidade nos websites oficiais.

Explorando todas as suas potencialidades, as atualizações e mudanças que

foram acompanhadas ao longo da pesquisa nos websites oficiais denotam que

há toda uma estrutura dentro do partido responsável em manter o website

atualizado, dinâmico e atrativo para o público em geral.

No caso das redes sociais, pode-se perceber que elas são amplamente

utilizadas e mais acessadas que as ferramentas estáticas dos websites. A

rapidez nas trocas informacionais, o dinamismo e a capacidade multimídia que

essas possuem são por vezes mais atrativas e mais acessíveis, uma vez que

não é necessário acessar o site para se ter contato com as mesmas.

Um ponto negativo a ser destacado, é que a mesma rapidez que as

torna mais atrativas é a mesma rapidez que pode deixa-las ultrapassadas, fato

constatado a partir da rede social Orkut, que foi observada a presença em dois

partidos e em ambos estava abandonada.

No que de diz respeito à efetividade, para o envio de informações,

divulgação de material e opinião do partido, todas as ferramentas se mostraram

efetivas. Presentes em grande número e de variadas formas, a maioria dessas

ferramentas transmitem diferentes tipos de material com qualidade e rapidez,

mas que não permitem o feedback do receptor.

Os níveis de interatividade das ferramentas e o uso das redes sociais

demonstraram que apesar de todo o arcabouço tecnológico e do discurso de

potencialidades democratizantes e a promessa de aproximar os indivíduos da

instituição, o controle desses dispositivos mostra que os quatro maiores

partidos políticos brasileiros estão se profissionalizando e explorando as

potencialidades da internet pautadas na lógica do controle e da mediação.

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A quantidade de dispositivos passivos nos mostra que existe uma

preocupação dos partidos a respeito do feedback que os mesmos possam

receber, mensagens oposicionistas, questionamentos sobre a ação do partido,

críticas de cunho ideológico, em suma evitar qualquer informação ou

mensagem atrelada a algo que não corresponda com a construção da imagem

institucional desse partido.

É a partir da análise do controle é possível concluir que a comunicação

interna partidária é atualmente bastante controlada e profissionalizada, dentro

do partido político. Capaz de, promover e controlar os fluxos informacionais de

forma efetiva.

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