comunicado à escola

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CARTA ABERTA Como sempre, a nossa Faculdade pulsa ao ritmo da sociedade: se lá fora se vive uma agitada campanha eleitoral que vai durar meses, há logo quem pense que a Faculdade deve apanhar a onda. E foi assim que a recente "carta aberta" e o pedido de intervenção do Tribunal de Contas na Faculdade, patrocinados por alguns colegas, inauguraram precoce e disfuncionalmente a campanha para as eleições a realizar na Escola só no final do ano. Para quê a pressa? Porquê tanta crispação? Estranha-se, lamenta-se, mas pode perceber-se o porquê. Há quatro anos a democracia chegou verdadeiramente à Faculdade e, com ela, o império da lei. Graças a uma e a outro, a Faculdade mudou e mudou mais no último ano do que na última década. Naturalmente, espera-se —mas, porventura, também haverá quem receie— que até às próximas eleições a mudança prossiga o seu curso normal. O balanço só deverá ser feito no final do mandato dos órgãos, mas como há colegas que fervilham de impaciência, atente-se naquilo que, no cumprimento do Programa de Reforma apresentado à Escola, foi realizado ao longo do último ano: — o Código dos Contratos Públicos passou finalmente a ser observado em todos os contratos que a Faculdade celebra; — de acordo com um processo de distribuição de serviço docente rigoroso e transparente, e apesar de enorme resistência, passaram a ser observados os limites de horário de trabalho dos docentes, designadamente o limite máximo de horário dos Assistentes convidados a tempo parcial; — depois dos sucessivos e rotundos falhanços de anos anteriores, pela primeira vez a Faculdade deliberou e submeteu às instâncias competentes, no tempo devido, a proposta de acreditação dos novos cursos de mestrado e de doutoramento; — pela primeira vez a Faculdade acolheu os novos alunos numa cerimónia própria, com a presença de representantes dos vários órgãos, e comemorou a abertura do ano lectivo com uma programação cultural digna de uma escola universitária;

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Comunicado à Escola

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  • CARTA ABERTA

    Como sempre, a nossa Faculdade pulsa ao ritmo da sociedade: se l fora se vive uma

    agitada campanha eleitoral que vai durar meses, h logo quem pense que a Faculdade deve

    apanhar a onda. E foi assim que a recente "carta aberta" e o pedido de interveno do

    Tribunal de Contas na Faculdade, patrocinados por alguns colegas, inauguraram precoce e

    disfuncionalmente a campanha para as eleies a realizar na Escola s no final do ano.

    Para qu a pressa? Porqu tanta crispao? Estranha-se, lamenta-se, mas pode

    perceber-se o porqu.

    H quatro anos a democracia chegou verdadeiramente Faculdade e, com ela, o

    imprio da lei. Graas a uma e a outro, a Faculdade mudou e mudou mais no ltimo ano do

    que na ltima dcada. Naturalmente, espera-se mas, porventura, tambm haver quem

    receie que at s prximas eleies a mudana prossiga o seu curso normal.

    O balano s dever ser feito no final do mandato dos rgos, mas como h colegas

    que fervilham de impacincia, atente-se naquilo que, no cumprimento do Programa de

    Reforma apresentado Escola, foi realizado ao longo do ltimo ano:

    o Cdigo dos Contratos Pblicos passou finalmente a ser observado em todos os

    contratos que a Faculdade celebra;

    de acordo com um processo de distribuio de servio docente rigoroso e

    transparente, e apesar de enorme resistncia, passaram a ser observados os limites de

    horrio de trabalho dos docentes, designadamente o limite mximo de horrio dos

    Assistentes convidados a tempo parcial;

    depois dos sucessivos e rotundos falhanos de anos anteriores, pela primeira vez a

    Faculdade deliberou e submeteu s instncias competentes, no tempo devido, a proposta de

    acreditao dos novos cursos de mestrado e de doutoramento;

    pela primeira vez a Faculdade acolheu os novos alunos numa cerimnia prpria,

    com a presena de representantes dos vrios rgos, e comemorou a abertura do ano lectivo

    com uma programao cultural digna de uma escola universitria;

  • a Faculdade tem, finalmente, um servio de comunicao que visa a promoo de

    uma imagem de excelncia, colocou em funcionamento o novo site, iniciou a distribuio de

    uma newsletter, cria materiais promocionais dos nossos cursos e vai publicitar a abertura de

    um portal de emprego;

    dentro da programao estabelecida, esto prestes a nascer, com instalaes

    dignas no terceiro piso, o Centro de Arbitragem e o Gabinete de Consultoria Jurdica;

    foi criado o apoio investigao, com ajuda traduo, divulgao corrente de

    oportunidades e criao de uma linha editorial para publicao da nossa produo cientfica;

    a Revista da Faculdade, parada h anos, foi totalmente reestruturada para o

    cumprimento de standards internacionais e ganha um novo flego em 2015;

    foi decidida a atribuio de prmios aos melhores alunos da licenciatura e do

    mestrado;

    o Gabinete de Responsabilidade Social , finalmente, uma estrutura funcional de

    apoio aos alunos mais carenciados ou com dificuldades, que ajuda de forma transparente e

    monitorizada no pagamento faseado de propinas e atribui bolsas, integralmente financiadas

    pela Faculdade, com o objectivo especfico de apoiar os alunos que no so abrangidos pela

    Aco Social da Universidade;

    todos os postos de trabalho mais exigente que permaneciam vagos tm sido

    preenchidos por trabalhadores licenciados, altamente qualificados, motivados, capazes de

    responder s solicitaes complexas de uma instituio universitria moderna, e vo ser

    ocupados todos os restantes lugares ainda em aberto;

    finalmente, estas realizaes e este desempenho foram prosseguidos com a

    simultnea obteno do resultado financeiro positivo mais elevado dos ltimos anos.

    Ainda que num contexto de constrangimentos oramentais sem precedentes, bastou

    ter um rumo definido, um programa adequado, uma gesto profissionalizada e a motivao

    e competncia dos colaboradores envolvidos para mudar profundamente, para bem melhor,

  • a face e o funcionamento da Faculdade. Comparar anos e anos de imobilismo com um ano

    de gesto reformadora, apenas um, um exerccio quase confrangedor.

    Naturalmente, tudo isto mexe com hbitos estabelecidos. Compreendem-se e

    aceitam-se as resistncias: os longos anos rotineiros de prticas anquilosadas tornavam-nas

    previsveis e inevitveis. Mas a mudana deve continuar e vai continuar. a nossa

    responsabilidade para com a sociedade e para com os milhares de estudantes que procuram

    a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

    25.03.2015

    Pela Lista B,

    Jorge Reis Novais

  • COMUNICADO

    Como todas as grandes instituies, a centenria Faculdade de Direito questiona o

    presente e fixa objectivos estratgicos para o futuro. inegvel que, tal como noutras

    Escolas da Universidade de Lisboa, estamos a passar por um perodo de transformao,

    em que o esforo de internacionalizao e de qualificao do corpo docente e no docente

    traz novos desafios e, frequentemente, discordncias.

    Na sequncia da Carta Aberta assinada por alguns docentes da Faculdade, venho apelar ao

    dilogo construtivo entre os vrios sectores da Escola, nomeadamente nos rgos

    prprios, e com base em informao materialmente sustentada, contribuindo para o

    esclarecimento e a participao de todos.

    Estou certo que, colocando o interesse institucional no cerne do debate, aqueles que tm

    um objectivo comum nunca deixaro de o alcanar, com esprito de compromisso, num

    contexto histrico em que, cada vez mais, o rigor e a exigncia na gesto so factores

    decisivos para o sucesso das instituies universitrias.

    Lisboa, 24 de Maro de 2015

    O Director,

    Prof. Doutor Jorge Duarte Pinheiro

  • Carta aberta Faculdade

    A Faculdade de Direito de Lisboa est confrontada com uma contnua degradao do ambiente material, acadmico e humano. Em especial, sublinham-se os acontecimentos seguintes, em geral de todos conhecidos:

    1 Sem prejuzo de se reconhecer a necessidade de estimular a vida cultural na

    Faculdade e de uma receo ativa aos novos estudantes, no pode deixar de se considerar manifestamente excessivos os cerca de 100.000,00 gastos em iniciativas extra-acadmicas e isso quando faltam verbas para estudantes carenciados, para livros, para investigao e para apoio aos docentes.

    2 Foram atribudas bolsas de investigao a pessoal administrativo e de apoio, totalmente alheio pesquisa cientfica e escolhido na base de critrios no-transparentes.

    3 Faltam esquemas de apoio efetivo aos alunos que tenham dificuldades em pagar as propinas.

    4 Foi ultrapassado qualquer prazo til para a acreditao dos novos cursos de mestrado e de doutoramento, laboriosamente preparados sem que, dos rgos competentes, tenha transparecido qualquer diligncia ou, sequer, posio pblica de descontentamento ou de protesto.

    5 No surgem iniciativas oficiais tendentes a ultrapassar a injusta e inconveniente contratao de jovens docentes a 50% do salrio.

    6 Foram iniciadas e anunciam-se ainda outras obras seguramente dispendiosas, sem que sejam dadas explicaes Escola sobre a sua necessidade e as alternativas eventualmente consideradas, nem ponderado o seu efeito negativo sobre as verbas disponveis para o ensino e a educao.

    7 Mantm-se a ausncia de fixao de critrios claros para os doutoramentos.

    8 Verificam-se ingerncias na competncia prpria do Conselho Cientfico e dos Grupos.

    9 Continuam a verificar-se atrasos na marcao das provas de doutoramento e de mestrado, com danos para todos os candidatos envolvidos e para os muitos anos de trabalho que isso representa e isso sem prejuzo para os recentes esforos individuais tendentes sua recuperao.

    10 Mantm-se e agrava-se a inadequao dos computadores dos docentes e faltam computadores nas salas de aula.

  • 2

    11 Intensifica-se um desnecessrio peso burocrtico sobre as funes docentes, com prejuzo para as tarefas cientficas e pedaggicas.

    12 Procede-se a uma gesto do pessoal administrativo, que est a alterar o perfil humano da Escola, com a dispensa ou subalternizao de excelentes funcionrios no docentes e o aparecimento de novas caras que nunca foram apresentadas aos docentes e que parecem viver num universo fechado paralelo.

    13. Foram dispensados, sem informao Escola, os jovens deficientes que h vrios anos prestavam colaborao Faculdade com agrado geral.

    14 Verifica-se que a biblioteca continua sem poder funcionar em horrio noturno e nos fins-de-semana, com prejuzo para os estudantes-trabalhadores e os prprios investigadores, no obstante serem conhecidas as necessidades indispensveis concretizao desse funcionamento.

    15 Mantm-se a falta de coordenao cientfica e de apoio, tendentes a dignificar o mestrado profissionalizante.

    16 Procedeu-se, j h semanas, ao fecho do PBX, sem consulta aos docentes e sem explicaes; ora o PBX era, de facto, um secretariado de apoio a todos os docentes, cuja falta profundamente sentida e contribui para um maior isolamento de todos e para a reduo dos espaos de convvio e troca de opinies.

    17 A supresso de dedicadas telefonistas, com profundo conhecimento do corpo docente e com capacidade para dar uma resposta satisfatria a quem se dirija aos docentes ou mesmo nas relaes entre eles , de todo, incompreensvel.

    18 Ainda que se aceite e considere uma boa prtica que os titulares de rgos de gesto chamem docentes para os apoiarem e isto apesar da existncia do Conselho Acadmico, compreende-se mal a confuso ostensiva que surge entre os titulares dos rgos e esses auxiliares.

    19 No se tomam medidas de tutela e de adequao dos assistentes que tm prazos curtos para a entrega de dissertaes de doutoramento; nem sequer se toca no problema.

    20 No se corrigem as assimetrias da avaliao nem se reduzem os tempos mortos para o ensino.

    21 Permite-se que os horrios sejam elaborados sem respeito pelas regras acadmicas, sujeitando os interessados a procedimentos de alterao inapropriados e incmodos, e que os calendrios das provas sejam comunicados aos docentes sem antecedncia razovel.

    22 Permite-se que se crie, junto dos visados, a ideia de que esto a ser utilizados esquemas administrativos menos transparentes de vigilncia aos docentes, sem qualquer dilogo com estes.

  • 3

    23 Continua a valorizar-se exclusivamente a lecionao em base horria, ignorando tarefas fundamentais de avaliao, de investigao e de divulgao, que contribuem decisivamente para o prestgio da Faculdade.

    24 No se descortina nenhum plano coerente para defender os estudantes e os docentes, para dignificar o ensino e a investigao, para captar fundos e para promover uma adequada subida de nvel cientfico e pedaggico.

    25 No se vislumbra uma divulgao eficaz das atividades da Faculdade e de marketing, apesar de estar detetada de h muito a debilidade em que esta situao coloca a nossa Escola.

    26 No se tem conhecimento de iniciativas junto das escolas secundrias no sentido de estimular as vocaes jurdicas e a apetncia pela nossa Faculdade.

    27 No foi elaborado qualquer planeamento a mdio prazo da Faculdade, nem h notcia de reunio dos rgos de apoio previstos nos Estatutos.

    28 Todos os dias se v crescer o desnimo entre os mais jovens docentes que se sentem abandonados e os mais antigos que se sentem marginalizados e alvo de vrias desconsideraes.

    A chegada ao poder dos atuais dirigentes da Faculdade foi sentida, mesmo por parte de quem apoiou outras solues, como uma possibilidade de trilhar caminhos novos, desempoeirados e libertos de molduras burocrticas e virados para a pedagogia, a investigao, o ensino e o convvio amigo.

    Com mgoa, os professores signatrios, todos com vnculo,verificam que no s tal no sucedeu como, ainda, se multiplicam os factos e os incidentes, acima exemplificados. Alertam a comunidade acadmica docentes, estudantes e funcionrios e pedem, aos rgos competentes, um esforo srio, franco e alargado no sentido da sua correo.

    Lisboa, 5 de maro de 2015.

  • Subscritores

    A presente carta aberta, para evitar dvidas ou presses, destina-se a ser subscrita,

    apenas, por professores catedrticos e associados. Tem, desde j, o apoio dos professores

    de seguida indicados.

    Ana Paula Valle-Frias Madureira Piedade Dourado

    Antnio Manuel da Rocha e Menezes Cordeiro

    Antnio Pedro Pereira Nina Barbas Homem

    Augusto Manuel Gomes da Silva Dias

    Drio Manuel Lentz de Moura Vicente

    Eduardo Augusto Alves Vera-Cruz Pinto

    Eduardo Manuel Hintze Paz Ferreira

    Eduardo Santos Jnior

    Fernando Jos Borges Correia Arajo

    Isabel Maria Banond Almeida

    Jos Alberto Coelho Vieira

    Jos Alberto Rebelo Reis Lamego

    Jos Artur Anes Duarte Nogueira

    Jos Lus Bonifcio Ramos

    Lus Domingos Silva Morais

    Lus Manuel Teles Menezes Leito

    Lus Pedro Rocha Lima Pinheiro

    Manuel Janurio Costa Gomes

    Maria do Rosrio Palma Ramalho

    Maria Fernanda Santos Martins Palma Pereira

    Maria Paula Reis Vaz Freire

    Miguel Fernando Pessanha Teixeira de Sousa

    Nazar Saldanha Pvoas Costa Cabral

    Paula Mota Costa e Silva

    Paulo Manuel Mello Sousa Mendes

    Pedro Cabral Crte-Real de Albuquerque

    Pedro Nuno Tavares Romano Soares Martinez

    Comunicado a EscolaComunicado DirectorInformao n. 7-2015Carta aberta FaculdadeLista de subscritores (1)