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Comunicações Individuais Eixo Temático 8 Impressos, Intelectuais e História da Educação

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Comunicações Individuais

Eixo Temático 8

Impressos, Intelectuais e História da Educação

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SUMÁRIO NOTAS ESCOLARES EM JORNAIS DE FRONTEIRA: ELEMENTOS PARA UM ESTUDO DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO MATO-GROSSENSE ..........................................................................................................................................509 ADRIANA APARECIDA PINTO.............................................................................................................................509 A ATUAÇÃO DE DOM JOÃO FRANCISCO BRAGA NO CONTEXTO EDUCACIONAL PARANAENSE (1907 – 1935) ..509 ADRIANA SALVATERRA PASQUINI .....................................................................................................................509 ESTRATÉGIAS EDUCATIVAS DA IMPRENSA PERIÓDICA ESPÍRITA NO BRASIL OITOCENTISTA (1869-1882) ........510 ALESSANDRO SANTOS DA ROCHA .....................................................................................................................510 ANDANÇAS DE CLIO: INTELECTUAIS, INTERCÂMBIOS E CIRCULAÇÃO DE LIVROS..............................................510 ALEXANDRA LIMA DA SILVA..............................................................................................................................510 A REFORMA UNIVERSITÁRIA, A REESTRUTURAÇÃO DA USP E A COMPOSIÇÃO DO QUADRO DOCENTE DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO (1969-1974): CONFLITOS, CONSENSOS E ARRANJOS INTELECTUAIS......................511 ALEXSANDRO DO NASCIMENTO SANTOS...........................................................................................................511 A SOCIABILIDADE E O ASSOCIATIVISMO ESTUDANTIL NOS PRIMÓRDIOS DA UNIVERSIDADE DE MINAS GERAIS (1911 - 1931)....................................................................................................................................................511 ALICE CONCEIÇÃO CHRISTÓFARO......................................................................................................................511 A EDUCAÇÃO PRIMÁRIA RURAL NOS JORNAIS DO MUNICÍPIO DE DOURADOS, SUL DE MATO GROSSO(1955-1970)................................................................................................................................................................512 ALINE DO NASCIMENTO CAVALCANTE ..............................................................................................................512 AMERICAN JOURNAL OF EDUCATION 1855-1856 UM DISPOSITIVO PARA A FORMAÇÃO DOCENTE.................513 ALINE MACHADO DOS SANTOS .........................................................................................................................513 AS IDEIAS MODERNISTAS DA REVISTA JOAQUIM E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO PARANÁ (1946-1948) .......................................................................................................................................513 AMANDA GARCIA DOS SANTOS.........................................................................................................................513 ANNA CAROLINA BRANDALISE ..........................................................................................................................513 A EMERGÊNCIA DA INFÂNCIA NAS IDEIAS DE CARLOS DIAS FERNANADES: EDUCAR, HIGIENIZAR E MORALIZAR A INFÂNCIA PROLETÁRIA ....................................................................................................................................514 AMANDA SOUSA GALVÍNCIO ............................................................................................................................514 INTELECTUAIS, INSTITUTO HISTÓRICO GEOGRÁFICO PARAIBANO (IHGP) E OS APONTAMENTOS PARA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NA PARAHYBA: “A MARCHA DA INSTRUÇÃO ENTRE NÓS” (1910)............................................514 AMANDA SOUSA GALVÍNCIO ............................................................................................................................514 JEAN CARLO DE CARVALHO COSTA....................................................................................................................514 ERNESTO DE SOUZA CAMPOS EM VIAGEM: CONCEPÇÕES E MODELOS UNIVERSITÁRIOS (1920-1938) ............515 ANA BEATRIZ FELTRAN MAIA............................................................................................................................515 ESCOLAS NORMAIS NO PARANÁ E A IMPRENSA PARANAENSE NA DÉCADA DE 1920. .....................................515 ANA PAULA PUPO CORREIA ..............................................................................................................................515 “UNIÃO SEM CONFUSÃO, DISTINÇÃO SEM SEPARAÇÃO”: O CAMINHO PARA SE FORMAR IDEIAS. UM ESTUDO DO COMPÊNDIO LIÇÕES DE PHILOSOPHIA ELEMENTAR RACIONAL E MORAL DE JOSÉ SORIANO DE SOUZA ....516 ANDERSON SANTOS..........................................................................................................................................516 ANGELA MARIA MELO SÁ BARROS ....................................................................................................................516 AS MEMÓRIAS DE PROFESSORAS MUNICIPAIS SOBRE A GESTÃO DE PAULO FREIRE NA SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE SÃO PAULO.........................................................................................................................517 ANDRÉ DE FREITAS DUTRA................................................................................................................................517

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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AUTOR E EDITOR: PUBLICAÇÕES DE RAUL RODRIGUES GOMES EM PROL DA EDUCAÇÃO E DA CULTURA NO PARANÁ (1914-1967). ......................................................................................................................................517 ANNA CAROLINA BRANDALISE .......................................................................................................................... 517 REPRESENTAÇÕES DE MATO GROSSO NOS LIVROS DIDÁTICOS DE ROCHA POMBO (1889-1930) .....................518 APARECIDO BORGES DA SILVA .......................................................................................................................... 518 A AMBIÊNCIA INTELECTUAL E A CAUSA DA INSTRUÇÃO NAS DÉCADAS FINAIS DO SÉCULO XIX NO RIO DE JANEIRO...........................................................................................................................................................518 BEATRIZ RIETMANN DA COSTA E CUNHA .......................................................................................................... 518 DIÁLOGOS ENTRE BRASIL E ARGENTINA: A TRAJETÓRIA INTELECTUAL DE LUIS REISSIG E SUAS APROXIMAÇÕES JUNTO AOS PROJETOS EDUCACIONAIS DOS ESCOLANOVISTAS (1940-1960)....................................................519 BRÁULIO SILVA CHAVES....................................................................................................................................519 INSTRUÇÃO PÚBLICA E POSITIVISMO: DISCUSSÃO PARLAMENTAR DO PROJETO PARA A CRIAÇÃO DE UM INSTITUTO POLITÉCNICO EM SÃO PAULO (1892) .............................................................................................519 BRUNO BONTEMPI JUNIOR............................................................................................................................... 519 OMAIR GUILHERME TIZZOT FILHO .................................................................................................................... 519 EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: REPRESENTAÇÕES DO BOM TRABALHADOR NO LIVRO “EDUQUEMOS” DE ARTHUR PORCHAT DE ASSIS (1915) ...............................................................................................................................520 BRUNO BORTOLOTO DO CARMO ...................................................................................................................... 520 POR UMA ESCRITA IDEALISTA: ANÁLISES SOBRE AS CONCEPÇÕES FILOSÓFICAS E EDUCACIONAIS DE JOSÉ FRANCISCO DA ROCHA POMBO (1882-1917). ..................................................................................................521 CAMILA FLÁVIA FERNANDES ROBERTO ............................................................................................................. 521 INTELECTUAIS E IMPRENSA: CONCEPÇÕES ACERCA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA NO INÍCIO DA DÉCADA DE 1960 CARLA MICHELE RAMOS ...................................................................................................................................521 À MARGEM DO CAMPO: O COMPORTAMENTO PÚBLICO DOS INTELECTUAIS PARANAENSES (1890-1960)......522 CARLOS EDUARDO VIEIRA.................................................................................................................................522 AÇÃO MUNICIPAL NA “REPÚBLICA MINEIRA”: PATRIOTISMO E EDUCAÇÃO NA IMPRENSA DE RIO POMBA, MINAS GERAIS, 1917 A 1930............................................................................................................................522 CARLOS HENRIQUE DE CARVALHO.................................................................................................................... 522 CORPO E EDUCAÇÃO DURANTE A DÉCADA DE 1920: UMA ANÁLISE A PARTIR DE MÁRIO PINTO SERVA..........523 CARLOS HEROLD JUNIOR ..................................................................................................................................523 O PROJETO CULTURAL DO METODISMO AMERICANO NO BRASIL: CIRCULAÇÃO E ATUAÇÃO DE MISSIONÁRIOS NA IMPRENSA PERIÓDICA E NA EDUCAÇÃO ESCOLAR (1867-1930)..................................................................524 CHRISTIANE GRACE GUIMARÃES DA SILVA........................................................................................................524 O PORVIR: UM JORNAL ESTUDANTIL DO ATHENEU SERGIPENSE (1932)...........................................................524 CIBELE DE SOUZA RODRIGUES .......................................................................................................................... 524 A LIGA BRAZILEIRA CONTRA O ANALPHABETISMO: COMBATE À IGNORÂNCIA PARA O FRANCO PROGRESSO 525 CÍNTIA BORGES DE ALMEIDA ............................................................................................................................ 525 O PROFESSOR E O ESCRITOR NOS CADERNOS DE ARQUIVO DE JÚLIO CÉSAR DE MELLO E SOUZA: UMA ANÁLISE A PARTIR DO ACERVO PESSOAL DE JULIO CESAR DE MELLO E SOUZA..............................................................525 CLAUDIANA DOS REIS DE SOUSA MORAIS .........................................................................................................525 “A NEW VOICE FOR EDUCATION”: ESTÉTICA FOTOGRÁFICA E NARRATIVAS SOBRE A EDUCAÇÃO NA REVISTA NORTE-AMERICANA LIFE (1936-1940)..............................................................................................................526 CLÁUDIO DE SÁ MACHADO JÚNIOR .................................................................................................................. 526

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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação

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FOTOGRAFIAS ESCOLARES NA IMPRENSA DE VARIEDADES: AS DIMENSÕES DO VISÍVEL NAS REPRESENTAÇÕES DIAGRAMADAS DOS PERIÓDICOS CARETA E REVISTA DO GLOBO (1930-1937) ................................................527 CLÁUDIO DE SÁ MACHADO JÚNIOR...................................................................................................................527 PELA FORMAÇÃO DO SELF MADE MAN: O LICEU DE ARTES E OFÍCIOS DO SERRO COMO ATUALIZAÇÃO DE UM PROJETO CIVILIZATÓRIO. .................................................................................................................................527 CLÁUDIO HENRIQUE PESSOA BRANDÃO............................................................................................................527 OS NEGROS NOS LIVROS ESCOLARES: UMA ANÁLISE DO “RESUMO DA HISTORIA DO BRASIL (1834)” .............528 CRISTINA CARLA SACRAMENTO.........................................................................................................................528 INSTRUIR E MORALIZAR: A IMPRENSA DE SÃO JOÃO DEL-REI COMO DISPOSITIVO EDUCATIVO (1900-1920) ..528 CYRO LUIZ DOS SANTOS BOSCO ........................................................................................................................528 UMA ESCOLA PARA A POBREZA: O PROFESSOR NEGRO GEMINIANO ALVES DA COSTA E A ESCOLA PARA POBRES EM FEIRA DE SANTANA (1919- 1940)..................................................................................................529 DAIANE SILVA OLIVEIRA....................................................................................................................................529 POR QUE LER? A PRESENÇA DE DISCURSOS RELIGIOSOS NOS ROMANCES PARA MENINAS E MOÇAS..............530 DAISE SILVA DOS SANTOS .................................................................................................................................530 MARIANNA BORGES BARBOSA DE CARVALHO...................................................................................................530 JOSÉ DA SILVA LISBOA, JOSÉ BONIFÁCIO E MARTIN FRANCISCO: DISCUSSÕES SOBRE EDUCAÇÃO NO IMPÉRIO DO BRASIL........................................................................................................................................................530 DALVIT GREINER DE PAULA...............................................................................................................................530 VERA LÚCIA NOGUEIRA ....................................................................................................................................530 UM QUÊ DE PERMANÊNCIA DO CAPITAL-IMPERIALISMO NO DISCURSO DOS EDUCADORES DO SÉCULO XX: O CASO DE PASCHOAL LEMME E PAULO FREIRE..................................................................................................531 DANIEL LUIZ POIO ROBERTI...............................................................................................................................531 ENSINAR A LER É BOM, MAS NÃO SERÁ AINDA TUDO: LOURENÇO FILHO E A EDUCAÇÃO DE ADOLESCENTES E ADULTOS NO BRASIL NOS ANOS DE 1940 ........................................................................................................531 DEANE MONTEIRO VIEIRA COSTA .....................................................................................................................531 JOSÉ SCARAMELLI: UM PROFESSOR NA IMPLEMENTAÇÃO E DIVULGAÇÃO DE UMA DIDÁTICA E METODOLOGIA DA EDUCAÇÃO NOVA PARA A INSTRUÇÃO BRASILEIRA NA PRIMEIRA REPÚBLICA...........................................532 DÉBORA ALFARO SÃO MARTINHO DA SILVA......................................................................................................532 O BANDEIRISMO PAULISTA E A DIFUSÃO DA EDUCAÇAO NOVA NA PRIMEIRA REPÚBLICA BRASILIERA ..........533 DÉBORA ALFARO SÃO MARTINHO DA SILVA......................................................................................................533 A INFLUÊNCIA DA PEDAGOGIA NOVA NO PENSAMENTO DE RUBEM ALVES ....................................................533 DENISE CAMARGO GOMIDE..............................................................................................................................533 AS REPRESENTAÇÕES SOBRE O MAGISTÉRIO NA REVISTA EDUCAÇÃO DE SÃO PAULO (1929 – 1945) ..............534 DISLANE ZERBINATTI MORAES ..........................................................................................................................534 ARTE E EDUCAÇÃO: AS IDEIAS DOS INTELECTUAIS VINCULADOS À UNESCO (1954) .........................................534 DULCE REGINA BAGGIO OSINSKI .......................................................................................................................534 MODERNIZAÇÃO, EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DOCENTE: DISCURSOS (E AÇÕES) ACERCA DO RURAL EM SANTA CATARINA NOS ANOS 1940 E 1950 ..................................................................................................................535 ELAINE APARECIDA TEIXEIRA PEREIRA...............................................................................................................535 MARIA DAS DORES DAROS................................................................................................................................535 REPRESENTAÇÕES DA MULHER PROFESSORA NA REVISTA DE EDUCAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO (1934-1937) ..536 ELDA ALVARENGA ............................................................................................................................................536 RAFAELLE FLAIMAN LAUFF WESTPHAL..............................................................................................................536

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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DOUTORES DA VIDA OU MESTRES DO LATIM? TRÊS PROFESSORES MESTIÇOS NO IMPERIAL COLÉGIO DE PEDRO II (1838 – 1865). ...............................................................................................................................................536 ELISABETH MONTEIRO DA SILVA....................................................................................................................... 536 AS PROPOSTAS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA EM CIRCULAÇÃO NA REVISTA NOVA ESCOLA (1997 A 2006) ....537 ELISANGELA ALVES DOS REIS SILVA................................................................................................................... 537 ELAINE RODRIGUES .......................................................................................................................................... 537 A PRESENÇA DO DISCURSO BIOPOLÍTICO NAS PÁGINAS DO JORNAL GAZETA DE MINAS: UMA ANÁLISE DO "CODIGO DE POSTURAS MUNICIPAES DE OLIVEIRA/MG" (1937) .....................................................................537 FABIANA APARECIDA OLÍVIA............................................................................................................................. 537 JOSÉ VERÍSSIMO, UM CLÁSSICO BRASILEIRO: A ANTOLOGIA ESCOLAR COMO CANONIZAÇÃO LITERÁRIA E FORMAÇÃO DE LEITORES.................................................................................................................................538 FELIPE TAVARES DE MORAES ............................................................................................................................ 538 AS REPRESENTAÇÕES SOBRE O MAGISTÉRIO RURAL NA REVISTA EDUCAÇÃO DE SÃO PAULO (1929-1945) .....539 FERNANDO HENRIQUE TISQUE DOS SANTOS.....................................................................................................539 DISLANE ZERBINATTI MORAES.......................................................................................................................... 539 CONFISSÕES DE UM VELHO INTELECTUAL: LEITURA BOURDIEUSIANA DE “UM ESCRITOR NO PURGATÓRIO” .539 FERNANDO JORGE DOS SANTOS FARIAS............................................................................................................ 539 A ÁFRICA NO LIVRO DIDÁTICO: REPRESENTAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DO CONTINENTE AFRICANO NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA..................................................................................................................................540 FLÁVIA CÂNDIDA DO NASCIMENTO DE SOUZA..................................................................................................540 A IMAGEM DA INFÂNCIA NA PAULICÉIA DA PRIMEIRA REPÚBLICA: UM ESTUDO DO IMPRESSO ÁLBUM DAS MENINAS (1898 – 1901) DE ANÁLIA FRANCO...................................................................................................540 FLORIZA GARCIA CHAGAS .................................................................................................................................540 NARRATIVAS JUVENIS EM IMPRESSOS ESCOLARES: UM ESTUDO DOS PERIÓDICOS "O JULINHO" E "O CLARIM" NA PORTO ALEGRE DOS ANOS 1690 ................................................................................................................541 GIOVANNI BIAZZETTO DA SILVA PRÉVIDI........................................................................................................... 541 ROQUE SPENCER MACIEL DE BARROS: A SIGNIFICAÇÃO EDUCATIVA DO ROMANTISMO BRASILEIRO PARA A INDEPENDÊNCIA NACIONAL.............................................................................................................................542 GIZELI FERMINO COELHO..................................................................................................................................542 RAQUEL DOS SANTOS QUADROS ...................................................................................................................... 542 CULTURA JURÍDICA E CULTURA POLÍTICA NOS JORNAIS ACADÊMICOS DA FACULDADE DE DIREITO DE SÃO PAULO (1850-1889)..........................................................................................................................................542 GUSTAVO DOS SANTOS ....................................................................................................................................542 O AVANÇO DA ESCOLARIZAÇÃO E A PRESENÇA/AUSÊNCIA MASCULINA NO MAGISTÉRIO INFANTIL EM IMPRESSOS CAMPINENSES (1919-1937)...........................................................................................................543 HELIO SANTANA GARCIA SOTO ......................................................................................................................... 543 A ESCOLA PRIMÁRIA: REVISTA PEDAGÓGICA DOS INSPETORES ESCOLARES DO DISTRITO FEDERAL (1916-1939) HELOISA HELENA MEIRELLES DOS SANTOS........................................................................................................543 CULTURA, RAÇA E EDUCAÇÃO EM MANUEL GAMIO E GILBERTO FREYRE: CONVERGÊNCIAS E DISTINÇÕES ENTRE PENSAMENTOS DA NAÇÃO NO MÉXICO E NO BRASIL NO INÍCIO DO SÉCULO XX.............................................544 HENRIQUE JOSÉ ALVES RODRIGUES .................................................................................................................. 544 A INSPEÇÃO MÉDICA ESCOLAR NO RIO DE JANEIRO E O MODELO DE ESCOLAS HOSPITAIS CRIADO POR OSCAR CLARK (1916-1939) ..........................................................................................................................................545 HENRIQUE MENDONÇA DA SILVA ..................................................................................................................... 545

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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação

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A HIGIENE ESCOLAR NO DISCURSO DE INTELECTUAIS PARAIBANOS NA PRIMEIRA REPÚBLICA: OS IMPRESSOS COMO VEÍCULOS DE DIVULGAÇÃO DE IDEIAS EDUCACIONAIS .........................................................................545 INGRID KARLA CRUZ BISERRA............................................................................................................................545 JEAN CARLO DE CARVALHO COSTA....................................................................................................................545 TEXTOS, CIRCULAÇÃO DE IDÉIAS E EDUCAÇÃO OPERÁRIA NO BRASIL: ANÁLISE DA DIFUSÃO DO ENSINO RACIONALISTA EM VEÍCULOS DA IMPRENSA ANARQUISTA (1900 A 1920).......................................................546 ISABEL APARECIDA BILHÃO...............................................................................................................................546 O PRAGAMTISMO DE JONH DEWEY PRESENTE NO MANUAL DE FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO: OS GRANDES PROBLEMAS DA PEDAGOGIA MODERNA DO INTELECTUAL THEOBALDO MIRANDA SANTOS - 1942. ...............547 JAQUELINE DE ANDRADE CALIXTO ....................................................................................................................547 A ESCOLA UNITÁRIA DE GRAMSCI: EMANCIPAÇÃO E FORMAÇÃO DE INTELECTUAIS .......................................547 JARBAS MAURICIO GOMES ...............................................................................................................................547 AS CALDEIRAS ESTÃO APAGADAS: IMAGENS E REMINISCÊNCIAS DE UMA EDUCADORA PARANAENSE NO VELHO MUNDO ...........................................................................................................................................................548 JOÃO PAULO DE SOUZA DA SILVA .....................................................................................................................548 O BOLETIM DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO E CULTURA, COMO INSTRUMENTO NAS LUTAS DE REPRESENTAÇÕES DE MODERNIDADE .............................................................................................................548 JOÃO PAULO DE SOUZA DA SILVA .....................................................................................................................548 "A PRIMEIRA COISA QUE SE DEVE LER DEPOIS DAS ESCRIPTURAS": EDUCAÇÃO POR MEIO DE O JORNAL BAPTISTA (1901-1902) .....................................................................................................................................549 JONATHAN DOUGLAS PEREIRA .........................................................................................................................549 PROFESSOR AGENOR: AS MEMÓRIAS DE UM PROFESSOR E SACERDOTE DAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS AFRO-BRASILEIRAS ....................................................................................................................................................549 JORGE GARCIA BASSO.......................................................................................................................................549 A UNIÃO CATÓLICA MILITAR E A EDUCAÇÃO ...................................................................................................550 JOSÉ ANTONIO SEPULVEDA...............................................................................................................................550 A PEDAGOGIA COMO CIÊNCIA E ARTE DA EDUCAÇÃO E O COMPÊNDIO DE PEDAGOGIA DE 1874 ...................551 JOSÉ CARLOS SOUZA ARAUJO ...........................................................................................................................551 EDUCAÇÃO E SOCIALISMO: NOTAS SOBRE CHARLES FOURIER, SAINT SIMON E PIERRE-JOSEPH PROUDHON ..551 JOSÉ DAMIRO DE MORAES................................................................................................................................551 ENTRE A MEDICINA E A EDUCAÇÃO, A CRIANÇA ESCOLAR E OS SEUS DESVIOS COMPORTAMENTAIS E INTELECTUAIS COM BASE EM "HYGIENE MENTAL E EDUCAÇÃO" (1927)..........................................................552 JULIANA DA ROCHA E SILVA..............................................................................................................................552 ANTONIO BASILIO NOVAES THOMAZ DE MENEZES............................................................................................552 OS PERIÓDICOS “ÓRGÃO DOS ALUNOS” NO SUL DE MATO GROSSO NA ERA VARGAS ....................................552 KÊNIA HILDA MOREIRA.....................................................................................................................................552 MONTEIRO LOBATO E A EDUCAÇÃO: DA CRÍTICA À PRODUÇÃO DE UMA NOVA LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA ......................................................................................................................................................553 LAÍS PACIFICO MARTINELI.................................................................................................................................553 A CIRCULAÇÃO DO FOLHETO FONTE DA VERDADE OU CAMINHO PARA A VIRTUDE NAS AULAS DE PRIMEIRAS LETRAS DA PROVÍNCIA DE SERGIPE (1833-1835)..............................................................................................554 LEYLA MENEZES DE SANTANA...........................................................................................................................554 SIMONE SILVEIRA AMORIM ..............................................................................................................................554 GILTON KENNEDY SOUZA FRAGA ......................................................................................................................554

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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A RELAÇÃO ENTRE A EDUCAÇÃO E AS CIÊNCIAS SOCIAIS NAS DISCUSSÕES DO INTELECTUAL BRASILEIRO JOÃO ROBERTO MOREIRA (1912-1967) .....................................................................................................................554 LEZIANY SILVEIRA DANIEL .................................................................................................................................554 A ESCOLA PRIMÁRIA NA REVISTA MÉDICA DO PARANÁ NOS ANOS 1930 ........................................................555 LIANE MARIA BERTUCCI....................................................................................................................................555 O PROJETO TAVARES LYRA E A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA: HIGIENISMO NO BRASIL NA PRIMEIRA DÉCADA DO SÉCULO XX ...................................................................................................................................555 LIGIANE APARECIDA DA SILVA........................................................................................................................... 555 O DEBATE E A REPERCUSSÃO DA REFORMA DA INSTRUÇÃO PÚBLICA DE 1920 NA IMPRENSA PAULISTA: ANÁLISE MATERIAL, POLÍTICA E EDITORIAL .....................................................................................................556 LOUISA CAMPBELL MATHIESON........................................................................................................................ 556 "LEITURAS MORAES E CÍVICAS": CIVILIZANDO A INFÂNCIA POR MEIO DOS LIVROS DE LEITURA .....................557 LÚCIA DE FÁTIMA PEDROSA DOS SANTOS .........................................................................................................557 A ESCOLA NOVA NO AMAZONAS NA DÉCADA DE 1930....................................................................................557 LUCIA REGINA DE AZEVEDO NICIDA .................................................................................................................. 557 MARCOS ANDRÉ FERREIRA ESTÁCIO ................................................................................................................. 557 PAPEL E TINTA: “O ESTADINHO” E A FORMAÇÃO DE EDUCABILIDADES INFANTIS NO PERÍODO DE REDEMOCRATIZAÇÃO DO PAÍS (1985 – 1987)..................................................................................................558 LUCIANA MARA ESPÍNDOLA SANTOS ................................................................................................................ 558 THOMAZ GALHARDO: O PROFESSOR DE INSTRUÇÃO PRIMÁRIA COMO INTELECTUAL DA NOVA “GERAÇÃO” DE AUTORES DE LIVROS DIDÁTICOS NO FINAL DO SÉCULO XIX.............................................................................558 LUCILENE REZENDE ALCANFOR ......................................................................................................................... 558 KRITERION: UM ESPAÇO DE CONSTRUÇÃO E PRODUÇÃO EDUCACIONAL (1947-1961) ....................................559 LUCIMAR LACERDA MACHADO ......................................................................................................................... 559 TESSITURAS DO ENSINO PÚBLICO: A UNIDADE EM PRIMITIVO MOACYR (1910 – 1930)...................................559 LUIZ ANTONIO DE OLIVEIRA.............................................................................................................................. 559 MARIA CRISTINA GOMES MACHADO................................................................................................................. 559 LAVRADORES, SALOIOS E ESTUDANTES NO LIMIAR DA MODERNIDADE CAPITALISTA EM PORTUGAL: O MODERNO E O ARCAICO NAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS VEICULADAS NA IMPRENSA LOCAL.........................560 LUIZ CARLOS BARREIRA ....................................................................................................................................560 LEIGOS E CATÓLICOS EM DISPUTA PELA ESCOLA NOVA NO BRASIL DA DÉCADA DE 1930 ................................561 MACIONIRO CELESTE FILHO.............................................................................................................................. 561 “A EDUCAÇÃO EIS O ÚNICO MEIO DE REGENERAR UM POVO”: A ATUAÇÃO DO PROFESSOR E INTELECTUAL BORGES DA FONSECA NO JORNAL ABELHA PERNAMBUCANA (1829-1830) .....................................................561 MAÍRA LEWTCHUK ESPINDOLA......................................................................................................................... 561 A EDUCAÇÃO CATÓLICA PASSIONISTA IMPRESSA NA REVISTA “O CALVÁRIO” (1922 – 1933) ..........................562 MARA FRANCIELI MOTIN ..................................................................................................................................562 O CONCEITO DE CIVILIZAÇÃO NA INSTRUÇÃO DA INFÂNCIA NO MARANHÃO IMPERIAL E NA EDUCAÇÃO KANTIANA: UMA APROXIMAÇÃO A PARTIR DA OBRA SOBRE A PEDAGOGIA...................................................563 MARA RACHEL SOUZA SOARES DE QUADROS....................................................................................................563 IRAN DE MARIA LEITÃO NUNES......................................................................................................................... 563 JOSÉ OLYMPIO E A EDIÇÃO DE UMA COLEÇÃO PARA MENINA E MOÇA (1934 – 1960).....................................563 MÁRCIA CABRAL DA SILVA................................................................................................................................ 563

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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação

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MULHERES PIONEIRAS NA ADVOCACIA E NO ENSINO JURÍDICO NO BRASIL E EM PORTUGAL, NOS SÉCULOS XIX E XX .................................................................................................................................................................564 MARCIA TEREZINHA JERÔNIMO OLIVEIRA CRUZ................................................................................................564 POR TRÁS DA “ARTE MAIOR DA GRAVURA”: O DISCURSO VEICULADO NOS MANUAIS DE GRAVURA ARTÍSTICA DE ORLANDO DASILVA (1976 - 1990) ...............................................................................................................564 MARCOS EDUARDO GUIMARÃES ......................................................................................................................564 IMPRENSA ESCOLAR NO PARANÁ: DISCURSO NACIONALISTA ESTADONOVISTA E CULTURA CÍVICO-ESCOLAR 565 MARCUS LEVY BENCOSTTA ...............................................................................................................................565 CIDADANIA E CIVISMO NA REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS NO PERÍODO DE INFLUÊNCIA DE ANÍSIO TEIXEIRA (1952-1971)...........................................................................................................................566 MARIA AUGUSTA MARTIARENA DE OLIVEIRA....................................................................................................566 JEAN CLAUDE NAHOUM E SUA ATUAÇÃO EM IMPRESSOS SOBRE SEXUALIDADE.............................................566 MARIA CAROLINA BARCELLOS...........................................................................................................................566 UM “EMBAIXADOR INTELECTUAL DO BRASIL”: O PENSAMENTO DE CÂNDIDO DE MELLO LEITÃO SOBRE A EDUCAÇÃO SECUNDÁRIA E O ENSINO DE HISTÓRIA NATURAL NOS ANOS 1920-30..........................................567 MARIA CRISTINA FERREIRA DOS SANTOS...........................................................................................................567 DEONTOLOGIA JURÍDICA E A FORMAÇÃO DA PRÁTICA SOCIAL DO ADVOGADO: A CONTRIBUIÇÃO DO INTELECTUAL CARVALHO NETO PARA FORMAÇÃO DE UMA CULTURA JURÍDICA NO BRASIL ...........................567 MARIA DO SOCORRO LIMA ...............................................................................................................................567 ESCOLA NOVA EM MANUAIS DIDÁTICOS DE ALFREDO MIGUEL AGUAYO (SANTA CATARINA 1942-1949)........568 MARIA FERNANDA BATISTA FARACO WERNECK DE PAULA................................................................................568 GLADYS MARY GHIZONI TEIVE ..........................................................................................................................568 JESUÍTAS, EDUCAÇÃO E CIÊNCIA: UM DEBATE POLÍTICO E HISTORIOGRÁFICO.................................................569 MARIA JURACI MAIA CAVALCANTE ...................................................................................................................569 SOBRE LIVROS E LEITURAS: CONTRIBUIÇÕES À HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DA MULHER NA PARAHYBA DO NORTE (1915-1916) .....................................................................................................................................................569 MARIA LÚCIA DA SILVA NUNES .........................................................................................................................569 DÉBIA SUÊNIA DA SILVA SOUSA ........................................................................................................................569 HAQUEL MYRIAM DE LIMA COSTA PALHARI ......................................................................................................569 A TRADUÇÃO CULTURAL DE LIBERALISMO, LIBERDADE E CULTURA (1970), DE J.DEWEY, SOB O REGIME DA COLEÇÃO AUTORAL CULTURA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO (1969-1971), DE ANÍSIO TEIXEIRA............................570 MARIA RITA DE ALMEIDA TOLEDO ....................................................................................................................570 PROPOSIÇÕES PARA A DIFUSÃO DO ENSINO TÉCNICO NAS PÁGINAS DO THE AMERICAN JOURNAL OF EDUCATION E NA REVISTA O NOVO MUNDO (1855-1881) ...............................................................................571 MARIA ZELIA MAIA DE SOUZA...........................................................................................................................571 A EDUCAÇÃO DA CRIANÇA PELA ÓTICA DOS JORNAIS MATO-GROSSENSES (1910-1930) .................................571 MARIJANE SILVEIRA DA SILVA ...........................................................................................................................571 "PREPARAR CABEÇAS INTELIGENTES": A EDUCAÇÃO INTELECTUAL SEGUNDO ARTHUR PORCHAT DE ASSIS....572 MARINA TUCUNDUVA BITTENCOURT PORTO VIEIRA.........................................................................................572 AS CONTRIBUIÇÕES DA HISTÓRIA DE INTELECTUAIS PARA A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO ...................................572 MARIO BORGES NETTO.....................................................................................................................................572 MARCO AURÉLIO GOMES DE OLIVEIRA .............................................................................................................572 JOSÉ VERÍSSIMO (BRASIL) E JOSÉ INGENIEROS (ARGENTINA): CONTRIBUIÇÕES PARA O PENSAMENTO EM EDUCAÇÃO NA AMÉRICA LATINA.....................................................................................................................573 MARLUCY DO SOCORRO ARAGÃO DE SOUSA.....................................................................................................573

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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A IMPRENSA PERIÓDICA PAULISTA COMO DISPOSITIVO DE CONFIGURAÇÃO DO CAMPO DOS SABERES PEDAGÓGICOS : A FORMAÇÃO DE NOVOS LEITORES NA EMERGÊNCIA DE UMA NOVA PROFISSÃO DOCENTE 574 MARTA MARIA CHAGAS DE CARVALHO............................................................................................................. 574 MARIA RITA DE ALMEIDA TOLEDO.................................................................................................................... 574 CONCEPÇÃO DE PROFESSOR NA REVISTA DO ENSINO DA PARAÍBA.................................................................574 MELÂNIA MENDONÇA RODRIGUES................................................................................................................... 574 CONTRIBUIÇÕES PARA A HISTORIOGRAFIA DA EDUCAÇÃO DA PARAÍBA: UMA LEITURA SOBRE A INFÂNCIA NA REVISTA DO ENSINO (1932-1934) ....................................................................................................................575 MERYGLAUCIA SILVA AZEVEDO......................................................................................................................... 575 AS PRIMEIRAS LEITURAS DO ESCRITOR ERICO VERÍSSIMO (1910-1920) ...........................................................575 MICHELE RIBEIRO DE CARVALHO ...................................................................................................................... 575 RASTROS E VESTÍGIOS DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL BRASILEIRA ATRAVÉS DAS PRODUÇÕES BIBLIOGRÁFICAS DE HELOÍSA MARINHO E NAZIRA FÉRES ABI-SÁBER ..............................................................576 MICHELE VAROTTO........................................................................................................................................... 576 SÉRIE PUIGGARI-BARRETO: LEITURA QUE CIVILIZA, DIVERTE E MORALIZA ......................................................577 MILENA DOMINGOS BELO ................................................................................................................................ 577 POR UMA HISTÓRIA DAS TIPOGRAFIAS BRASILEIRAS: NOTAS ACERCA DA PRODUÇÃO DA COLEÇÃO FOLHETOS EVANGÉLICOS (1860-1938) ..............................................................................................................................577 MIRIANNE SANTOS DE ALMEIDA....................................................................................................................... 577 CIVILIDADE E EDUCAÇÃO FEMININA NO SÉCULO XIX: O JORNAL DAS SENHORAS............................................578 MÔNICA VASCONCELO .....................................................................................................................................578 EDUCAÇÃO NA DITADURA: ESTADO DA ARTE (1970-2014) ..............................................................................578 NADIA GAIOFATTO GONÇALVES........................................................................................................................ 578 MÉDICAS PIONEIRAS: A ATUAÇÃO NA “PROTEÇÃO E ASSISTÊNCIA ÀS MÃES E À INFÂNCIA” (1922 E 1931).....579 NAILDA MARINHO DA COSTA BONATO ............................................................................................................. 579 HISTÓRIA INTELECTUAL E HISTÓRIA CULTURAL: ALGUMAS APROXIMAÇÕES...................................................579 NÉVIO DE CAMPOS........................................................................................................................................... 579 JOSÉ FELICIANO DE OLIVEIRA: A DEFESA DO ENSINO INTEGRAL ......................................................................580 OMAIR GUILHERME TIZZOT FILHO .................................................................................................................... 580 ALCEU AMOROSO LIMA (1893-1983) E A PEDAGOGIA CATÓLICA NO BRASIL: ELEMENTOS MODERNIZADORES NO LIVRO “HUMANISMO PEDAGÓGICO” (1944)..............................................................................................581 ORIOMAR SKALINSKI JUNIOR ............................................................................................................................ 581 A REDE DE INTELECTUAIS NA BASE DA ESCOLA MODERNA..............................................................................581 PATRICIA APARECIDA BIOTO CAVALCANTI.........................................................................................................581 LAÇOS FAMILIARES, INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NO OLHAR DE JOÃO DOS SANTOS..............................................582 PATRÍCIA HELENA CARVALHO HOLANDA........................................................................................................... 582 A EDUCAÇÃO NO DEBATE EUGÊNICO BRASILEIRO (1917-1933)........................................................................582 PAULO RICARDO BONFIM.................................................................................................................................582 ESCRITORAS EM CIRCULAÇÃO: TRADUÇÕES DA CONDESSA DE SÉGUR E LOUISA MAY ALCOTT NO BRASIL......583 PRISCILA KAUFMANN CORRÊA.......................................................................................................................... 583 O MANUAL “A NOVA METODOLOGIA DA ARITMÉTICA”: ITINERÁRIOS DE UMA TRADUÇÃO ...........................584 RAFAELA SILVA RABELO....................................................................................................................................584

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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação

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A MATERIALIDADE DA REVISTA DE EDUCAÇÃO: REPRESENTAÇÕES DA REFORMA DE ENSINO NO ESPÍRITO SANTO (1934-1937)..........................................................................................................................................584 RAFAELLE FLAIMAN LAUFF WESTPHAL..............................................................................................................584 INTELECTUAIS, POLÍTICA E EDUCAÇÃO: A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE REGIONAL DO NORDESTE (1952-1966) .....................................................................................................................................................585 RAMON DE ALCÂNTARA ALEIXO........................................................................................................................585 BERTHA LUTZ: A IMPORTÂNCIA DOS IMPRESSOS PARA A DIVULGAÇÃO DAS IDEIAS DA FEDERAÇÃO BRASILEIRA PELO PROGRESSO FEMININO...........................................................................................................................585 RAQUEL DOS SANTOS QUADROS.......................................................................................................................585 GIZELI FERMINO COELHO..................................................................................................................................585 TENTATIVAS DE CONTROLE DOS LIVROS NAS ESCOLAS: REPRESENTAÇÕES DOS “BONS” E “ADEQUADOS” .....586 RAQUEL MENEZES PACHECO.............................................................................................................................586 DE CHOCOLAT: IDENTIDADE NEGRA, TEATRO E EDUCAÇÃO NO RIO DE JANEIRO DA PRIMEIRA REPÚBLICA ....586 REBECA NATACHA DE OLIVEIRA PINTO..............................................................................................................586 O MODELO FEMININO NA REVISTA FON-FON! (1907-1958): A PEDAGOGIA DA MATERNIDADE NO ESTADO-NOVO...............................................................................................................................................................587 RENATA FRANQUI.............................................................................................................................................587 MARCILIA ROSA PERIOTTO................................................................................................................................587 AUTORES, LIVROS, TRADUÇÕES, IMPRESSOS: ESTRATÉGIAS DE CIRCULAÇAO E MEDIAÇÃO DE CONHECIMENTOS EM MINAS GERAIS NO SÉCULO XIX..................................................................................................................588 RITA CRISTINA LIMA LAGES...............................................................................................................................588 SÍNTESE: UM PERIÓDICO PEDAGÓGICO PARA PROFESSORES PRIMÁRIOS (1968-1979)....................................588 ROSA MARIA SOUZA BRAGA .............................................................................................................................588 LIBERDADE COMO MISSÃO: A "EDUCAÇÃO" DE ESCRAVOS E LIBERTOS NA CORTE IMPERIAL (1870-1888)......589 ROSANE DOS SANTOS TORRES ..........................................................................................................................589 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO E IMPRENSA PEDAGÓGICA COMO FONTE E OBJETO DE ENSINO: PRIMEIRAS ELABORAÇÕES .................................................................................................................................................589 ROSANY JOICY MELO ........................................................................................................................................589 ELAINE RODRIGUES ..........................................................................................................................................589 ASSOCIAÇÃO DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS: ESTRÁTEGIAS DE ATUAÇÃO NO CAMPO EDUCACIONAL PARANAENSE (1956-1970) ...............................................................................................................................590 ROSSANO SILVA................................................................................................................................................590 ANÁLISE DE GÊNERO EM IMAGENS DA OBRA “RUTE E ALBERTO” DE CECÍLIA MEIRELES..................................590 SAMARA ELISANA NICARETA.............................................................................................................................590 PELA PADRONIZAÇÃO DAS ESTATÍSTICAS EDUCACIONAIS BRASILEIRAS: TEIXEIRA DE FREITAS ENTRE A RACIONALIDADE E A SUBJETIVIDADE...............................................................................................................591 SANDRA MARIA CALDEIRA-MACHADO..............................................................................................................591 MORALIZAR CRIANÇAS ATRAVÉS DA LEITURA: O TICO-TICO E SUA CIRCULAÇÃO EM SERGIPE.........................592 SOLYANE SILVEIRA LIMA ...................................................................................................................................592 ELIANE NATALINE DOS SANTOS.........................................................................................................................592 ESTRATÉGIA DE DIVULGAÇÃO DO CAMPO EDUCACIONAL: A REVISTA DO ENSINO EM MINAS GERAIS (1886-1889)................................................................................................................................................................592 STELA CABRAL DE ANDRADE.............................................................................................................................592 O ENSINO DE GREGO E A FORMAÇÃO DO INDIVÍDUO IDEAL: UMA ANÁLISE SOB A ÓTICA BATISTA (1930-1945) TACIANA BRASIL DOS SANTOS...........................................................................................................................593

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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COMPOSIÇÃO DE SI: ASPECTOS BIOGRÁFICOS DO PHILOSOPHE NORTE-AMERICANO BENJAMIN FRANKLIN...593 TÂMARA REGINA REIS SALES ............................................................................................................................ 593 ESTER FRAGA VILAS-BÔAS CARVALHO DO NASCIMENTO................................................................................... 593 A FENOMENOLOGIA NAS CONCEPÇÕES PEDAGÓGICAS DE JOÃO PAULO MEDINA E VITOR MARINHO DE OLIVEIRA NA EDUCAÇÃO FÍSICA DOS ANOS 1980 ............................................................................................594 TELMA ADRIANA PACIFICO MARTINELI ............................................................................................................. 594 REPRESENTAÇÕES CONTRASTANTES SOBRE O ENSINO DE EDUCAÇÃO FÍSICA DIFUNDIDAS PELA REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE E PELA REVISTA STADIUM (1979-1986): DIRETIVIDADE, ESPORTE E SENSO CRÍTICO............................................................................................................................................................594 THIAGO PELEGRINI ........................................................................................................................................... 594 ANUÁRIO COLUNAS/IPA: UM ESTUDO SOBRE A MATERIALIDADE E OS DISCURSOS PRESENTES EM UM PERIÓDICO ESTUDANTIL (1937-1954)...............................................................................................................595 VALESKA ALESSANDRA DE LIMA........................................................................................................................ 595 PARA SER ÚTIL À REPÚBLICA E À IGREJA: LUIS ANTÓNIO VERNEY E O PROGRAMA DE REFORMA DOS MÉTODOS EM PORTUGAL (SÉCULO XVIII) .........................................................................................................................596 VANESSA CAMPOS MARIANO RUCKSTADTER ....................................................................................................596 CÉZAR DE ALENCAR ARNAUT DE TOLEDO.......................................................................................................... 596 TENENTE ALFREDO DANTAS E MANOEL ALMEIDA BARRETO: PENSAMENTO E EDUCAÇÃO EM CAMPINA GRANDE/PB (1919-1942) .................................................................................................................................596 VIVIAN GALDINO DE ANDRADE......................................................................................................................... 596 A PRODUÇÃO SOBRE LEITURA E LITERATURA INFANTIL DE LEONARDO ARROYO, NO JORNAL FOLHA DE S. PAULO (1960-1968)..........................................................................................................................................597 VIVIANNY BESSÃO DE ASSIS .............................................................................................................................. 597 “METHODO PENIDO”: O DESAFIO DA ALFABETIZAÇÃO EM MINAS GERAIS NO INÍCIO DA REPÚBLICA.............597 WENCESLAU GONÇALVES NETO........................................................................................................................ 597

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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação

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NOTAS ESCOLARES EM JORNAIS DE FRONTEIRA: ELEMENTOS PARA UM ESTUDO DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO MATO-GROSSENSE

ADRIANA APARECIDA PINTO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Resumo: O presente trabalho parte das reflexões desenvolvidas por ocasião da pesquisa de doutoramento, buscando evidenciar as possibilidades e potencialidades da imprensa periódica de circulação geral como fonte potencial para estudos em história da educação. No exercício prático de localização e mapeamento das fontes que interessavam a esta pesquisa (21 jornais que estiveram em circulação em Mato Grosso entre os anos de 1880 a 1910), chamou atenção a existência de títulos publicados em outras localidades da Província, para além de Cuiabá, centro de interesse e articulação política e econômica da época, os quais revelaram determinados modos de ver, produzir e representar a sociedade, cujos reflexos se apresentavam fortemente no campo educacional. Essa movimentação indicou a circulação de ideias e efervescência dos debates no campo educacional, semelhante ao que ocorria em outras localidades do território brasileiro, contrapondo-se a uma representação corrente de que a região central do Brasil era povoada por "onças e jibóias em meio aos transeuntes". A abordagem em tela objetiva evidenciar em que medida os jornais em circulação na região central do País, especificamente em São Luis de Cáceres e Corumbá, cidades localizadas na região de fronteira com a Bolívia, nos anos finais do período imperial, deram tratamento a temas relacionados à instrução/educação, bem como as formas de abordagens registradas em suas páginas. São Luiz de Cáceres era considerada, à época, localidade estratégica para a defesa e incremento da fronteira sudoeste de Mato Grosso em função da facilidade de comunicação entre Vila Bela da Santíssima Trindade e Cuiabá e com a capitania de São Paulo pelo Rio Paraguai, destacando-se, na primeira metade do século XIX como a maior da província de Mato Grosso em termos de área e produção. Já Corumbá, importante cidade portuária, congregava os aspectos econômicos e culturais visto que, também pela via dos jornais, alimentava o ideário da modernidade dos países europeus através das notícias que faziam circular sobre o além-mar. Ainda que não fossem produzidos e editados exclusivamente naquelas localidades, os jornais O Atalaia, Iniciador, Corumbaense, O Brazil, contribuíram para dar visibilidade as ações realizadas em direção à criação e organização de escolas, divulgação de concursos para professores, ao lado da divulgação de listas de exames finais, com menções laudatórias em caso de membros de famílias tradicionais da localidade, agregando, por fim, temas e textos de opinião acerca da situação educacional de Mato Grosso, em relação a outras unidades da federação, ao lado da situação de países da Europa e Américas. Face ao exposto, justifica-se a necessidade de fomentar estudos em história da educação, acerca da imprensa periódica mato-grossense, afinal, seja especializada em ensino ou de circulação geral, a imprensa é fonte fértil para auxiliar à escrita de uma história da educação brasileira.

A ATUAÇÃO DE DOM JOÃO FRANCISCO BRAGA NO CONTEXTO EDUCACIONAL PARANAENSE (1907 – 1935)

ADRIANA SALVATERRA PASQUINI Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Resumo: Esta pesquisa foi desenvolvida com o propósito de analisar a atuação de Dom João Francisco Braga (1868-1937), terceiro Bispo e primeiro Arcebispo de Curitiba, na estruturação do campo religioso católico no estado do Paraná, bem como, o reflexo desta atuação no contexto educacional nas primeiras décadas do século XX. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica documental na área da História da Educação. Partimos do pressuposto de que, a referida discussão carece da consideração do percurso realizado pela Igreja Católica, bem como, das demandas impostas pela estrutura social do período analisado. Questionamos: Qual foi o âmbito de atuação de Dom João Francisco Braga? Quais foram os instrumentos utilizados pelo então, Arcebispo de Curitiba para a regionalização do catolicismo no estado do Paraná? Nascido em 24 de agosto de 1868 na cidade de Pelotas/Rio Grande do Sul em uma tradicional família gaúcha, Dom João Francisco Braga deu início aos estudos em um externato sediado no Seminário de Porto Alegre. Na mocidade acompanhou seu pai, o diplomata Manoel Vieira Braga, na cidade alemã de Hamburgo, onde concluiu o curso de Humanidades e retornou ao Brasil. No ano de 1895, com vinte e oito anos de idade, iniciou sua formação sacerdotal junto aos padres Lazaristas, no Seminário de Mariana/Minas Gerais. Após a conclusão dos cursos de Filosofia e Teologia foi ordenado sacerdote a 17 de abril de 1900. O então padre, João Francisco Braga, permaneceu alguns meses no Rio de Janeiro na companhia de Dom Joaquim Arcoverde (, Arcebispo do Rio de Janeiro, de onde foi transferido para Porto Alegre, para atuar como secretário do bispado e como reitor da Capela do Espírito Santo. Em março de 1902, o Pe. João Francisco Braga, foi escolhido pelo Papa Leão XIII (1810/1903), para ser o primeiro bispo de Petrópolis, permanecendo cinco anos á frente da referida diocese. No ano de 1907, a Santa Sé nomeou Dom João para dirigir a diocese de

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Curitiba/Pr, permanecendo por mais de vinte e oito anos. A atuação de Dom João Francisco Braga na Arquidiocese de Curitiba caracterizou-se por uma participação ativa em diferentes frentes: imprensa, educação, acolhida de congregações e ordens religiosas, edificação de igrejas, e outros. A análise das fontes possibilitou a constatação de que o apostolado de Dom João Francisco Braga imprimiu ao estado do Paraná o posicionamento de um líder religioso que possibilitou a interiorização do Catolicismo e a estruturação educacional das mais diversas ordens religiosas no estado do Paraná.

ESTRATÉGIAS EDUCATIVAS DA IMPRENSA PERIÓDICA ESPÍRITA NO BRASIL OITOCENTISTA (1869-1882)

ALESSANDRO SANTOS DA ROCHA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

A análise apresenta as estratégias educativas publicadas pela imprensa espírita na segunda metade do século XIX. O espiritismo foi consolidado num período singular para a conformação do ideário modernizador que conclamava aos homens para a transformação social mediante ao progresso. Deste modo foram analisadas as ideias presentes na imprensa espírita brasileira iniciada em 1869 com a publicação do Jornal O Écho d’Além Túmulo: monitor do Espiritismo no Brasil (1869-1870). Também foram analisados os periódicos, Revista Espírita: publicação mensal de estudos psicológicos feita sob os auspícios de alguns espíritas (1875), e Revista da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade (1881-1882). O objetivo da análise foi abordar as estratégicas pedagógicas que favoreceram a inserção da Doutrina Espírita em território brasileiro por meio da palavra escrita. O percurso metodológico foi pautado pela pesquisa bibliográfica e documental, que permitiu percorrer a transposição da doutrina nascida na França para o cenário brasileiro. Durante a análise identificamos a figura de Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869), considerado o criador do Espiritismo e que após codificar as mensagens vindas dos além, passou a atender pelo pseudônimo de Alan Kardec. Os princípios kardecistas sugeriam que os homens deveriam ouvir aos desencarnados, assim, seguir a voz que vinha do além era a forma das almas avançarem rumo ao progresso moral. A veracidade destas ideias ficava por conta daquilo que Kardec estabelecia como princípio científico da doutrina, ou seja, a comprovação da manifestação espiritual por meio de comunicações mediúnicas. As ideias de Kardec viajaram o mundo e aportaram em países como o Brasil, onde encontrou terreno fecundo ao aliar-se com o discurso modernizador que sugeria uma nova ciência, capaz de dar respostas ao cenário político conturbado do país. Os homens que se empenharam na publicação da imprensa espírita brasileira compartilhavam de ideias intelectualizadas vindas do Velho Mundo. Dentre tais sujeitos podemos destacar: Olimpio Teles de Menezes (1825-1893), idealizador d’O Écho d’Além Túmulo; Antonio da Silva Neto (1836-1905), redator da Revista Espírita; Francisco Raimundo Ewerton Quadros (1841-1919), Francisco Leite de Bittencourt Sampaio (1834-1895) e Antonio Elias da Silva (1848-1903), fundadores da Revista da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade. Todos eles foram responsáveis por trabalhar a favor de estratégias de divulgação do Espiritismo, as quais eram concordantes com o contexto do Brasil oitocentista. Nos textos que escrevera fica evidente a preocupação em recompor a necessidade de uma ciência que fizessem os homens evoluir tanto em vida, quanto no pós-morte. Sendo assim, a pesquisa aponta que a Doutrina Espírita utilizou de conceitos como o de ciência, progresso e evolução para disseminar princípios formativos e pedagógicos consoantes com o contexto histórico vivenciado pelo Brasil na segunda metade do século XIX.

ANDANÇAS DE CLIO: INTELECTUAIS, INTERCÂMBIOS E CIRCULAÇÃO DE LIVROS

ALEXANDRA LIMA DA SILVA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Investigar os sentidos das viagens realizadas por intelectuais que se dedicaram à escrita de livros didáticos de História é o horizonte do presente trabalho. Objetiva analisar a importância das viagens no que se refere à circulação de livros e ideias referentes ao ensino de História do Brasil, sobretudo entre finais do século XIX até metade do século XX. Nomes como Eduardo Prado (1860-1901), João Ribeiro (1860-1934), Júlio Afrânio Peixoto (1876-1947), Sílvio Romero (1851-1914), Maria Guilhermina Loureiro de Andrade (1869-1913), Hélio Viana (1908-1972), Pedro Calmon (1902-1985), foram alguns dos que se dedicaram à escrita da história e realizaram viagens para o exterior. Dentre aqueles que viajaram pelos estados do Brasil e escreveram sobre a História do país, destaco as experiências de Joaquim Osório Duque- Estrada (1870-1927), que em 1909 publicou o livro Norte do Brasil: impressões de viagem ou ainda, Julia Lopes de Almeida (1862-1934), autora que em 1918 viajou pelo Brasil e escreveu o livro Jornadas no meu país. Assim, interrogo: qual o lugar dos viajantes que se dedicaram à escrita e

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ao ensino de História? Quais os impactos das viagens nas escritas de tais autores/professores? Qual a importância das viagens para tais intelectuais? Se por um lado, é possível identificar elementos que os unem, tais como a viagem e a escrita da história, quais as especificidades de tais experiências? Quais destes viajantes foram também, professores? Quais se dedicaram ao ensino de História? Tais viagens foram momentos formadores? Possibilitaram intercâmbios? O significava viajar para dentro e para fora do país? Há relação entre viagem e mercado editorial? Os estudos no campo da História da educação vêm contribuindo significativamente para pensar a importância das viagens no âmbito da formação docente, a circulação de modelos pedagógicos, a difusão de livros e teorias educacionais, enfim, o intercâmbio, a troca, de saberes práticas pedagógicas. Tais estudos cada vez mais, trazem à tona experiências enquanto viajantes de sujeitos plurais: professores, diretores de escola, inspetores de ensino, historiadores, diplomatas, políticos envolvidos com projetos educacionais. Nesse sentido, o italiano Carlo Ginzburg (2004) auxilia no entendimento da ideia de circularidade cultural, atentando para o fato de que ninguém é uma ilha, onde os debates e a circulação em âmbito nacional e internacional são importantes para o diálogo e a formação. Em suma, trilhar as viagens dos intelectuais que se dedicaram à escrita de manuais didáticos de história pode auxiliar no entendimento dos conflitos e competições do mercado editorial no período, com especial atenção à expansão do público escolar e às diferentes ações dos editores no sentido de ampliar a circulação de livros, dentro e fora do país.

A REFORMA UNIVERSITÁRIA, A REESTRUTURAÇÃO DA USP E A COMPOSIÇÃO DO QUADRO DOCENTE DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

(1969-1974): CONFLITOS, CONSENSOS E ARRANJOS INTELECTUAIS

ALEXSANDRO DO NASCIMENTO SANTOS Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Nesta comunicação apresentamos resultados parciais de nossa pesquisa de doutorado em desenvolvimento cujo objetivo é compreender os processos de consolidação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP), no contexto da Reforma Universitária de 1969, a partir da análise das inclusões, exclusões, filiações, aproximações, alianças, distanciamentos e embates entre os homens e mulheres que compartilharam este momento específico da história da USP. Do ponto de vista metodológico, na esteira dos estudos de René Remond e Jean-François Sirinelli, adotamos os pressupostos da História dos Intelectuais de inspiração francesa. Tendo em vista a especificidade e particularidade da atuação institucional intrauniversitária, também utilizaremos as categorias apresentadas por Pierre Bourdieu em seus estudos sobre a organização, estrutura e funcionamento do campo acadêmico. As fontes privilegiadas na pesquisa são: os documentos institucionais disponíveis nos arquivos da Faculdade de Educação e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, textos que circularam na imprensa à época (sobretudo nos periódicos O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo), documentos produzidos pelo Conselho Nacional de Educação e que ordenaram as diretrizes para os cursos de Pedagogia no final da década de 1960 e depoimentos orais de professoras e professores que, no período, compartilharam a vida institucional na Faculdade. Em nossa investigação, identificamos que, ainda que não possamos desconsiderar os impactos específicos da ditadura civil militar na gestão, no aparelhamento e no funcionamento das universidades públicas no período, os processos de composição do corpo docente da Faculdade de Educação da USP no momento de sua autonomização mesclaram estratégias singulares ao campo acadêmico, dentre as quais ressaltamos: as regras de sucessão do antigo sistema de cátedras (abolido pela Reforma), a negociação de empréstimo de docentes da Rede Estadual de Ensino (que atuavam como auxiliares de ensino e, posteriormente, como docentes) e diferentes formas de indicação nominal de novos professores por parte dos docentes já pertencentes e destacados na instituição. A combinação dessas três estratégias teria estruturado um sistema de controle da reprodução do corpo docente específico e particular à própria dinâmica da Faculdade recém-instituída, responsável por acolher e contextualizar as relações de conflito, consenso e arranjo coletivo dos intelectuais da instituição.

A SOCIABILIDADE E O ASSOCIATIVISMO ESTUDANTIL NOS PRIMÓRDIOS DA UNIVERSIDADE DE MINAS GERAIS (1911 - 1931)

ALICE CONCEIÇÃO CHRISTÓFARO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O Ensino Superior tem sido objeto de inúmeras pesquisas na História da Educação. Grande parte desses estudos tem como temas a constituição dos cursos e das instituições, os sujeitos, os espaços de circulação e de formação,

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os intelectuais, dentre outros. Entretanto, as discussões sobre esse nível de ensino estiveram presentes nos debates sobre educação. O recorte temporal deste trabalho se inicia em 1911, quando foram criadas a Faculdade Livre de Medicina, a Escola de Odontologia e a Escola de Engenharia da Universidade de Minas Gerais ou UMG. Nesse momento, as ações de associativismo estudantil são intensificadas com o surgimento de grêmios, centros acadêmicos e inserção gradativa dos estudantes na imprensa. O ponto de chegada é o ano de 1931, quando o Estatuto das Universidades, ou Decreto nº 19.851 de 11 de abril de 1931, reorganizou a estrutura da “Vida Social Acadêmica”. Tal decreto modificou o associativismo da UMG tornando-o institucionalmente controlado. As informações levantadas sobre as associações sugerem que os grupos de alunos formavam redes de sociabilidades que se constituíam por amizades, trabalho conjunto, proximidade pelos cursos, discussão sobre política, sociedade, cotidiano e a educação superior no período e ainda, as disputas. Como fontes, serão consultadas as publicações de cunho acadêmico – jornais acadêmicos e semanários, tais como o Semanário Humorístico Acadêmico “A Caveira” e a Revista da UMG – e ainda periódicos que tiveram a participação de estudantes, ou seja, o Jornal Estado de Minas e o Jornal Diário da Tarde. A análise do conjunto de documentos selecionados aponta para uma possível conexão entre a produção escrita pelos alunos em publicações (estudantis ou não) com a formação de grupos mais ou menos definidos nos quais participavam muitos estudantes dos cursos superiores, além dos quadros das diretorias dos centros acadêmicos e das associações estudantis. As formas de sociabilidade entre os estudantes podem ter conduzido à criação de um “viveiro associativo”, que de acordo com Jean-François Sirinelli, corresponde a um espaço de vivência conjunta e que nas elites possibilita a fermentação de idéias e a mediação cultural. Tal perspectiva de análise alarga os horizontes de compreensão das sociabilidades entre as elites intelectuais. Por isso, observar alguns jovens que na década de 1910 eram alunos, mas década de 1920 assumiram lugares nas cadeiras da Congregação da UMG como professores, possibilitará indagar se a elaboração das idéias e iniciativas para a criação da UMG circulou entre esses sujeitos durante seu processo de formação e se suas sociabilidades conectadas pelo associativismo estudantil colaboraram para a criação da UMG.

A EDUCAÇÃO PRIMÁRIA RURAL NOS JORNAIS DO MUNICÍPIO DE DOURADOS, SUL DE MATO GROSSO(1955-1970)

ALINE DO NASCIMENTO CAVALCANTE Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este trabalho tem o objetivo de analisar como os jornais que circularam em Dourados, município situado no Sul de Mato Grosso, entre as décadas de 1950 a 1970, representavam a escola primária rural em suas páginas, com o intuito de melhor compreender, por meio de suas notícias e artigos a educação rural primária nesse município. Para tanto, os jornais escolhidos para análise são: O Progresso, o Douradense, e o Candango, os quais se encontram disponíveis no Centro de Documentação Regional da Universidade Federal da Grande Dourados. O recorte temporal entre as décadas de 1950 a 1970, justifica-se, inicialmente, por corresponder a um período de expansão das escolas primárias rurais, no município de Dourados, desencadeada, sobretudo, pela instalação da Colônia Agrícola de Dourados, mais especificamente na década de 1940, devido ao projeto de Getúlio Vargas de Marcha para o Oeste, que intensificou um desenvolvimento demográfico e também favoreceu a expansão do ensino primário nessa localidade. A década de 1970 por sinalizar um período de mudanças nas condições de funcionamento das escolas primárias rurais do município de Dourados, devido, principalmente, a implantação de cursos de magistério rural na localidade, em uma parceria estado e município. Esta pesquisa orienta-se na perspectiva da Nova História Cultural. Aliado a um referencial teórico voltado para a História, História da Educação, entre outros. A investigação está sendo realizada por meio da pesquisa documental, mediante a coleta dos dados dos jornais do município arquivados no Centro de Documentação Regional da Universidade Federal da Grande Dourados. Ao analisar jornais das décadas de 1950 a 1970 é possível encontrar matérias em que a pauta das discussões é o ensino primário rural. Tais matérias vinculavam, sobretudo, a situação da educação rural primária no município de Dourados. Acredita-se que isso ocorria, principalmente, para chamar atenção das autoridades governamentais e educacionais da localidade e do estado de Mato Grosso sobre a situação dessa modalidade de escola. A análise dessas fontes permitiu constatar que a situação do ensino primário rural veiculado pelos jornais do município de Dourados, era bastante precária, sobretudo, pela estrutura física, condições materiais dos estabelecimentos escolares rurais e pela formação dos professores que nelas atuavam sem nenhum tipo de habilitação e em condições mínimas escolaridade. Assim, espera-se que esse trabalho que utiliza da imprensa de circulação geral, como fonte de pesquisa possa contribuir para a escrita de uma história da educação no meio rural do Sul de Mato Grosso.

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AMERICAN JOURNAL OF EDUCATION 1855-1856 UM DISPOSITIVO PARA A FORMAÇÃO DOCENTE

ALINE MACHADO DOS SANTOS Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Os periódicos sempre foram grandes utensílios para a modelagem social ao cumprir funções na construção de projetos de nação. Entre a circulação de assuntos públicos e movimento da opinião coletiva os impressos foram importantes para o crescimento do corpo social. Para os norte-americanos de acordo com a historiografia os periódicos foram dispositivos decisivos para firmar uma sociedade democrática e livre. Nos Estados Unidos da América a tradição jornalística explorou diversos campos, entre eles, o da educação. Uma das principais expressões do uso dos impressos no campo das experiências educacionais no século XIX foi o American Journal of Education. Esta revista foi organizada com o intuito de abordar diversas questões educativas, tendo passado por diferentes mudanças na sua organização, edição, circulação e no próprio título. O American Journal of Education conduzido por Henry Barnard procurou funcionar como um grande disseminador de informações educacionais a partir de determinados estados norte americanos e de outros países da América e da Europa. Preocupando-se organizar uma revista de divulgação de normas educacionais, dos debates pedagógicos, de materiais escolares, de biografia de homens ilustres, entre outros temas referentes à educação, Barnard ambicionava compor em sua obra uma biblioteca com o desígnio de polir e ilustrar os docentes. Deste modo a revista teria se constituído como fonte referente às questões da história da educação no século XIX, tornando-se importante local de registro sobre a educação de determinadas partes dos EUA e da Europa. Justificados por um impulso maior de refletir a intercessão entre a história da educação brasileira e o restante da América e para isso contemplar as representações da educação norte-americana em diferentes fontes se faz preciso. A relevância deste estudo condiz ao lembrarmos-nos das menções do American Journal of Education nos pareceres de Ruy Barbosa, que se remete a revista as discussões trazidas por ele, mas especificamente a sua edição de 1880. Amparados nesses pressupostos e utilizando o periódico em sua primeira edição (1855-1856), como objeto de pesquisa, buscamos analisar os pontos que fizeram o “American Journal of Education” se legitimar como um dispositivo que procurou atingir e instruir o professorado americano em escala nacional. Desenvolvemos uma pesquisa documental e também bibliográfica que identificou o uso das biografias contidas no “American Journal of Education” como uma das estratégias de formação docente entendida pelo editor como fundamental para a instrução do corpo docente norte-americano.

AS IDEIAS MODERNISTAS DA REVISTA JOAQUIM E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO PARANÁ (1946-

1948)

AMANDA GARCIA DOS SANTOS ANNA CAROLINA BRANDALISE

Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Esta comunicação analisa as contribuições da revista literária e artística Joaquim, publicada na cidade de Curitiba durante os anos de 1946 a 1948. Inserida no contexto da modernidade artística literária paranaense foi idealizada pelo renomado escritor curitibano Dalton Trevisan, com a colaboração de outros importantes artistas, tais como, o muralista e ilustrador Poty Lazzarotto, o gravurista Guido Viaro e o educador Erasmo Pilotto. Considerada singular e polêmica, ela foi compreendida como um marco cultural no cenário paranaense portadora de mensagens modernistas que contribuíram para a transmissão de valores educacionais que contestavam a forma de arte presente no ambiente artístico da primeira metade do século XX. Para além do palco cultural curitibano, a revista Joaquim também envolveu a cena artístico-literário nacional, contando com a contribuição de Renina Katz, Carlos Drummond Andrade, Carlos Drummond Andrade, Candido Portinari, Emiliano Di Cavalcanti, Vinicius de Morais, e Sérgio Milliet. Esta revista se autocompreendia como divulgadora de ideias modernistas e de renovação ao criticar ostensivamente o movimento artístico Paranista. Por meio de suas gravuras e textos, a mesma recebeu destaque no cenário literário nacional. Ao problematizar esta fonte seguimos as recomendações dos historiadores Peter Burke e Jacques Le Goff que os documentos impressos devem ser analisados como portadores de discursos que incorporam ideias próprias de seu tempo. Também, sem prejuízo à análise historiográfica, consideramos importante a discussão proposta por Pierre Bourdieu no que tange ao “habitus”, relacionado, em especial, ao campo artístico, para compreender o envolvimento dos colaboradores desta revista curitibana. A relevância de nossa análise destaca sua produção e circulação na tentativa de explicar como foi propagada a mensagem educativa dos artistas naquele período neste tipo de publicação. Desta forma, faremos

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um breve relato da tecnologia gráfica disponível naquele período, a mesma que permitiu que as gravuras realizadas por artistas pudessem compor o impresso. Por fim, entendemos que a contribuição para os estudos em história da educação resultante de nossas interpretações do discurso artístico-literário presente nesta fonte reside no conceito de modernidade e moderno que esses artistas pretendiam com a publicação deste impresso, o conteúdo que pregava a contestação e a renovação da cena literário-artística, transmissor e portador de elementos formadores de significados, sentidos e mensagens históricas, artísticas e educacionais.

A EMERGÊNCIA DA INFÂNCIA NAS IDEIAS DE CARLOS DIAS FERNANADES: EDUCAR, HIGIENIZAR E MORALIZAR A INFÂNCIA

PROLETÁRIA

AMANDA SOUSA GALVÍNCIO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

A ação educativa pensada para as crianças proletárias no Brasil, em especial, nas primeiras décadas republicanas, chamava atenção para atuação pedagógica do Estado, o qual deveria assumir o papel de civilizador do povo. Intelectuais que tiveram os seus nomes alçados pela historiografia contemporânea a um protagonismo na cena nacional como Rui Barbosa e José Veríssimo, mas, também, aqueles que não tiveram esse privilégio e atuaram de modo mais discreto em contextos locais como o jornalista Carlos D. Fernandes, se preocuparam demasiadamente com as questões que envolviam a educação, a higienização e moralização para vida cidadã e para o trabalho das crianças proletárias. O objetivo principal deste trabalho é compreender a história da infância – das instituições, dos discursos científicos e das representações sociais as quais se debruçaram sobre essa etapa da vida – a partir da ação política do intelectual Carlos Dias Fernandes na Parahyba do Norte. Para compreender a infância, nesse período, daremos ênfase às produções recentes que não tratam mais o tema de modo generalizante, como se a categoria pudesse englobar todas as experiências infantis, mas, o faremos mediante o entendimento de infâncias. Isso significa que, ao levar em consideração o pertencimento da classe social, etária, étnica e de gênero desses sujeitos, é preciso exemplificar qual infância estamos tratando, neste caso, nos voltamos para a particularidade da infância pobre nos discursos de Carlos D. Fernandes. Nossa abordagem teórica e metodológica está baseada na intersecção da História dos intelectuais e História da educação, cuja preocupação visa compreender a trajetória desses sujeitos, buscando evidenciar suas redes de sociabilidade e os micro-climas que envolviam suas inserções políticas e intelectuais no campo educacional de uma época. A hermenêutica histórica nos auxiliou a interpretar as fontes impressas, compreendo-as como uma produção cultural que foi produzida em um tempo distanciado do nosso, mas, que, ainda, pode ser percebida na tradição resquícios das ideias e das ações desses sujeitos no tempo presente. Para tanto, as fontes nas quais nos debruçamos são parte do conjunto de textos jornalísticos e conferências produzidas por Carlos Dias Fernandes: a primeira é um opúsculo editado, em 1924, sob o título de Infância Proletária e o segundo é um artigo publicado no jornal, A União, no ano de 1925, intitulado de Puericultura e hygiene infantil. Por fim, é possível considerar que, a partir do exercício de interpretar a ação e as ideias desses sujeitos em suas redes de sociabilidade, a infância pobre foi um repertório de ação política mobilizada pelos intelectuais enquanto preocupação educacional fulcral para modernização da nação brasileira e civilização do seu povo.

INTELECTUAIS, INSTITUTO HISTÓRICO GEOGRÁFICO PARAIBANO (IHGP) E OS APONTAMENTOS PARA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NA

PARAHYBA: “A MARCHA DA INSTRUÇÃO ENTRE NÓS” (1910)

AMANDA SOUSA GALVÍNCIO JEAN CARLO DE CARVALHO COSTA

Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este trabalho é desdobramento das atividades de pesquisas desenvolvidas na graduação em pedagogia, envolvendo os projetos de Prolicen e Pibic/2014, tendo como principal objetivo efetuar um levantamento dos sujeitos - que participaram como políticos e professores engajados nos debates políticos sobre a identidade nacional e local - circunscrita em torno da fundação dos Institutos Históricos Geográficos, em especial o IHGP. Devido a crescente especialização do campo da História da Educação, no Brasil e em outros países, podemos observar que se ampliaram os estudos que enfocam a participação dos sujeitos, sejam eles políticos, intelectuais ou professores, os quais se envolveram efetivamente nos debates em torno da educação no país. Nesse sentido,

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os trabalhos que se debruçam sobre o intercruzamento da História da Educação e História dos Intelectuais tem se dedicado em compreender, especialmente, as implicações no cenário político, a relação entre o contexto local, nacional e internacional e os espaços de sociabilidade. Portanto, neste artigo, o objetivo é apresentar um recorte de nossa pesquisa, centrando no debate educacional em torno da construção de uma história da educação no âmbito dos Institutos Históricos Geográficos, repertório partilhado entre os intelectuais no Brasil desde século XIX, em especial, os que estavam diretamente ligados a referida instituição. A investigação se debruça sobre os participantes no Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba, a partir da coleta, organização e leitura das Revistas publicadas pelo IHGP, entre os anos de 1905 e 1929. Essa nos levou à atuação do intelectual paraibano Irineu Ferreira Pinto. Esse sujeito nasceu no ano de 1881, frequentou o Liceu paraibano, colaborou na imprensa local, publicando crônicas, sonetos e trovas. Tornou-se funcionário público, admitido na secretaria do estado e sócio-fundador do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, onde exerceu o cargo de bibliotecário e secretário até a sua morte, em 1918. Para tanto, utilizamos como fonte principal o seu artigo publicado na Revista do IHGP, intitulado: “A Intrucção Publica na Parahyba apontamentos para a sua historia”, volume 2, no ano de 1910. Por fim, como conclusões parciais de nossas investigações, inferimos que o IHGP foi um importante espaço de sociabilidade intelectual no estado, buscando efetivar o projeto de paraibanidade, ressaltado na escrita de Irineu Pinto, o qual, por um lado, enaltecia os feitos educacionais no estado sob a iniciativa dos seus governantes, mas, por outro, indicava melhorias na educação ofertada na Paraíba.

ERNESTO DE SOUZA CAMPOS EM VIAGEM: CONCEPÇÕES E MODELOS UNIVERSITÁRIOS (1920-1938)

ANA BEATRIZ FELTRAN MAIA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Ernesto de Souza Campos, engenheiro, catedrático da Faculdade de Medicina de São Paulo, entusiasta e defensor da causa universitária brasileira, viajou entre os anos 1920 e 1934 por diversos países, primeiramente como professor visitante e em seguida a convite do governo estadual paulista e do Ministério da Educação como conselheiro com a missão de visitar e analisar os modelos e concepções das “eminentes” universidades da Europa, Estados Unidos, Canadá, África do Sul e Japão, com o intuito recolher e expor subsídios teóricos e técnicos para a elucidação da questão da formação das instituições universitárias brasileiras. Dessas viagens resultou, entre outras publicações, o livro "Estudos sobre o problema universitário", de 1938, que apresenta parte dos relatórios das visitas às universidades estrangeiras e os primeiros planos e estudos urbanísticos sobre as cidades universitárias da Universidade de São Paulo e da Universidade do Brasil, que foram desenvolvidos com base nos estudos feitos a partir das viagens, durante sua participação como presidente das comissões técnicas das obras entre os anos 1935 e 1937. Por meio da análise histórica do livro como fonte que registrou não só as viagens, mas os objetivos destas e as principais informações sobre as universidades visitadas, consideradas passíveis de serem divulgadas e defendidas por Souza Campos como subsídios para a questão universitária, pretende-se traçar quais foram os objetivos institucionais dessas viagens, assim como identificar e analisar quais concepções universitárias foram propagadas por Souza Campos e utilizadas pelos governos paulista e federal como modelos a serem apropriados e concretizados nos projetos de ambas cidades universitárias. Como embasamento teórico-metodológico para a análise, empregamos as noções de representação e apropriação desenvolvidos por Roger Chartier, que permitem investigar a circulação das concepções acerca de projetos universitários por meio das viagens ao exterior de Souza Campos, assim como compreender as formas de apropriação dessas concepções, que estão representadas no livro, em especial nos projetos das cidades universitárias. Como embasamento teórico sobre a questão dos modelos universitários, utilizamos o artigo Os modelos de universidade na Europa do século XIX, de Fernando Catroga. Para a compreensão da relação entre espaço e a materialização do discurso educacional, usamos o texto Currículo, espaço e subjetividade: a arquitetura como programa, de Escolano e Vinão Frago.

ESCOLAS NORMAIS NO PARANÁ E A IMPRENSA PARANAENSE NA DÉCADA DE 1920.

ANA PAULA PUPO CORREIA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Neste trabalho pretende-se analisar os diversos discursos apresentados na imprensa sobre a construção dos edifícios escolares para a implantação das Escolas Normais no Paraná. Estas fontes dão instrumentos fundamentais para compreender a repercussão destes acontecimentos na sociedade paranaense na década de

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1920. Um dos objetivos desta análise será por um lado a recuperação da divulgação de um projeto pedagógico e, por outro, o resgate da crítica da situação do ensino no Paraná. Esses periódicos reservaram espaços para as discussões sobre os acontecimentos relacionados à arquitetura, com destaque na construção das Escolas Normais de Curitiba, Ponta Grossa e Paranaguá, marcado pelo investimento na formação dos professores no Paraná no período em destaque. Outro objetivo evidenciará as publicações de jornais e revistas que criticaram, enalteceram, comentaram ou aqueles que denunciaram a real necessidade com a construção das Escolas Normais entre o período de 1922 até 1927. A Escola Normal deu suporte para os acontecimentos políticos através das celebrações escolares, que aconteciam por meio da participação dos alunos em solenidade cívicas, das exposições escolares abertas ao público, das formaturas e das inaugurações dos prédios. Todas essas ações foram estratégias encontradas para dar identidade e divulgar a escola e as políticas governamentais pela imprensa paranaense. Para a análise deste estudo uma das referências são os estudos de Maria Helena Capelato, que considera os sujeitos que escrevem neste meio de comunicação, envolvidos com os ideários de sua época. Outro referencial teórico utilizado, cujas obras contribuíram para abrir o campo da investigação será os trabalhos de Carlos Eduardo Vieira, sobre a educação na imprensa paranaense. Os artigos escolhidos para essa análise foram veiculados nos periódicos “Diário da Tarde”, na “Gazeta do Povo” e na “Ilustração Paranaense”, publicados em Curitiba, O “Diário dos Campos” e “O Progresso”, publicados na cidade de Ponta Grossa e a revista “Itiberê”, em Paranaguá. Estes veículos são necessários para o historiador, pois evidenciam uma realidade por vezes diferente daqueles confirmados nos relatórios oficiais. O intuito destas reflexões é de contrapor as divulgações governamentais, uma vez que nessa época os debates nos periódicos eram formadores de opiniões. Além disso, as três cidades aqui destacadas foram importantes centros econômicos e políticos do Estado nos anos de 1920, tem-se, portanto, nessas três cidades paranaenses uma imprensa ativa e de diferentes opiniões.

“UNIÃO SEM CONFUSÃO, DISTINÇÃO SEM SEPARAÇÃO”: O CAMINHO PARA SE FORMAR IDEIAS. UM ESTUDO DO COMPÊNDIO LIÇÕES DE

PHILOSOPHIA ELEMENTAR RACIONAL E MORAL DE JOSÉ SORIANO DE SOUZA

ANDERSON SANTOS ANGELA MARIA MELO SÁ BARROS

Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

A pesquisa aqui apresentada faz parte de nossa dissertação de mestrado em andamento no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Tiradentes. No presente trabalho, buscamos apresentar algumas considerações acerca do compêndio de filosofia, Lições de Philosophia Elementar Racional e Moral, de José Soriano de Souza. Para atingirmos o objetivo proposto no presente trabalho nos utilizamos dos aportes teórico-metodológicos da História das Disciplinas Escolares e História dos Manuais Escolares, tendo como base André Chervel (1990), Ivor Goodson (1997), Allain Choppin (2009), Antonio Batista e Ana Maria Galvão (2009). No Brasil em meados do século XIX as questões religiosas vieram a desenvolver o interesse pela chamada filosofia da igreja, da qual se destacou como “filósofo católico” José Soriano de Souza (1833-1895). Egresso do Lyceu Provincial da Parahyba do Norte, José Soriano de Souza se tornou lente catedrática da Faculdade de Direito de Olinda, criada por Decreto Imperial, em 11 de agosto de 1827. Formou-se em Medicina, pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (1860) e, em 1866 recebeu o título de Honoris Causa ao concluir o curso de Filosofia na Universidade de Louvain, na Bélgica. Em 1871 na cidade do Recife o compêndio Lições de Philosophia Elementar Racional e Moral aqui analisado foi editado e adotado como manual de ensino de filosofia da instituição a qual, o autor ocupou a cadeira da disciplina de Filosofia. Em sua obra, demonstrou como objetivo que a máxima necessidade do seu tempo era restaurar a metafísica cristã fundada por São Thomaz de Aquino ao argumentar sobre as duas luzes do espírito humano, a fé e a razão. Seu compêndio traz em suas entrelinhas, como base principal, referências às obras de Liberatore, Sanseverino e Kleutgen, filósofos europeus com significativa relevância para o movimento restaurador da filosofia Aquinense. A utilização destes, do próprio S. Thomaz de Aquino, bem como de outros autores defensores da escolástica Aquinense, fez do ilustre intelectual paraibano um ardoroso defensor da neoescolástica e principal vulto do pensamento tomista no Brasil nos oitocentos. Tendo em vista que seu manual de ensino foi utilizado para as lições de uma disciplina específica, neste caso, a Filosofia Elementar Racional e Moral, buscamos mediante o próprio posicionamento do autor e, a partir do que está explicito em sua obra estabelecer as bases de formação de ideias, assim caracterizada por José Soriano, sob quais aspectos e, sobretudo, sob qual metodologia.

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AS MEMÓRIAS DE PROFESSORAS MUNICIPAIS SOBRE A GESTÃO DE PAULO FREIRE NA SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE SÃO

PAULO

ANDRÉ DE FREITAS DUTRA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este trabalho apresenta os resultados da pesquisa de história oral de vida realizada com professoras da rede municipal de ensino de São Paulo que presenciaram o período em que Paulo Freire foi secretário de educação desse município. Paulo Freire, principal teórico brasileiro no campo da educação, escreveu uma série de livros sobre a importância da educação no desenvolvimento da democracia no Brasil. Além de sua produção teórica, Freire desempenhou o papel de gestor público em alguns momentos de sua trajetória. Ficou a frente de alguns programas de alfabetização de adultos de governos do nordeste do Brasil e também participou da equipe do MEC que pretendia promover o Programa de Alfabetização de Adultos durante o governo João Goulart. Em 1964, com o golpe civil-militar, foi obrigado a deixar o país. Em 1989, já de volta ao país, participou do governo de Luiza Erundina na prefeitura de São Paulo, quando assumiu o cargo de Secretario Municipal de Educação da maior cidade do país. Mesmo deixando o governo em 1991, pouco mais de um ano antes de seu término, sua gestão foi marcada em prol da luta pela construção de uma escola popular e democrática. A busca pelo diálogo com professores, alunos e comunidade foi uma das marcas da gestão. Entre ações importantes dessa gestão destaca-se a criação do Estatuto do Magistério Municipal que garantiu uma série de direitos aos professores, o restabelecimento dos Conselhos de Escola, a organização dos Ciclos de Aprendizagem nas escolas de ensino fundamental, a ampliação de vagas para a Educação de Adultos, entre outras ações. Durante a pesquisa, foram entrevistadas nove professoras, utilizando-se a metodologia da História Oral na modalidade de vida. As professoras apresentaram relatos autobiográficos destacando o período em que Freire foi secretário de educação em São Paulo. Assim, apresentaram visões amplas sobre os eventos ligados à reconstrução democrática que marcaram a sociedade brasileira naquele período. No que tange ao campo educacional, a pesquisa apresenta algumas reflexões acerca da imagem de Paulo Freire, também apresenta aspectos sobre a memória docente, como também as entrevistadas abordaram temas como participação da comunidade na escola, a relação dos professores e o governo, o funcionamento dos conselhos de escola, entre outros. A pesquisa também reflete sobre os impactos de políticas públicas sobre a população a partir da ótica das professoras. A análise das entrevistas aponta que a gestão de Paulo Freire na Secretaria Municipal de Educação marcou profundamente os professores pela conduta dialógica estabelecida por sua atuação e de seus subordinados.

AUTOR E EDITOR: PUBLICAÇÕES DE RAUL RODRIGUES GOMES EM PROL DA EDUCAÇÃO E DA CULTURA NO PARANÁ (1914-1967).

ANNA CAROLINA BRANDALISE Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este artigo analisa uma das estratégias empreendidas por Raul Rodrigues Gomes que foi o uso da imprensa para induzir e mobilizar autoridades e a população em geral com ideias a favor da educação e da cultura do Paraná. Posicionando-se à frente de ideias modernizadoras da Educação, foi o único paranaense a assinar o Manifesto dos Pioneiros pela Educação Nova (1932). Raul Gomes nasceu em Piraquara, PR (1889) e marcou presença na cena cultural e educacional paranaense desde cerca de 1910 a 1975, ano de sua morte. Teve diversas profissões e dentre elas, destacou-se no campo do ensino e do jornalismo. Neste aspecto, publicou inúmeros artigos em jornais paranaenses de grande circulação, como Gazeta do Povo, Diário da Tarde, O Dia, bem como em jornais de circulação nacional, como Folha da Manhã e O Globo. Além disso, editou e publicou diversos livros de sua autoria e de outros agentes de seu espaço social, a exemplo de Missão, e não Profissão e Casa de Zinco, tendo inclusive criado uma editora denominada Grupo Editorial Renascimento do Paraná - GERPA que intentava descobrir e publicar escritores paranaenses. Na História e Historiografia da Educação o impresso tem uma função privilegiada motivada por uma característica combinada que pode se manifestar simultaneamente como fonte e objeto. Beneficiado pelo conceito da nova historiografia sucedida pela Escola de Annales, o impresso foi utilizado nesse sentido em razão de que, à época e devido ao implemento de tecnologias de impressão, configurou-se como um meio eficaz de propagação de ideias e de circulação de discursos e também oferece uma visada da experiência cotidiana daquele período. Deste modo, pretende-se sedimentar a hipótese que aponta Raul Rodrigues Gomes como um intelectual atuante no Paraná a partir do conceito de Antonio Gramsci que considera o intelectual como organizador e interventor da cultura, bem como de Pierre Bourdieu, o qual reputa intelectual como o agente intermediador da transformação social, operacionalizado pelo habitus por meio de capitais trabalhados

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em determinado campo. Raul Rodrigues Gomes defendeu publica e insistentemente suas ideias quanto à necessidade de “desanalfabetização”, da valorização da profissão de professor e da criação de aparelhos educacionais, a exemplo da campanha a favor da federalização da Universidade do Paraná e da criação da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, o que evidencia em seus discursos uma ideia de modernização. Dentre outras razões, verifica-se um interesse na pesquisa em torno da figura de Raul Rodrigues Gomes devido à sua personalidade crítica e debatedora que contribuiu para executar os planos de um grupo específico interessado no desenvolvimento da educação e da cultura paranaense das primeiras décadas ao terceiro quarto do século XX.

REPRESENTAÇÕES DE MATO GROSSO NOS LIVROS DIDÁTICOS DE ROCHA POMBO (1889-1930)

APARECIDO BORGES DA SILVA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O presente trabalho visa socializar resultados de pesquisa de Mestrado sobre as representações de Mato Grosso nos livros didáticos de História do Brasil produzidos durante a Primeira República (1889-1930). Trata-se de um estudo que se aproxima das perspectivas teórico-metodológicas lançadas pela História Cultural, tendo como subsídios teóricos de análise as noções de representação e apropriação propostas por Roger Chartier e o conceito de imaginário desenvolvido por Bronislaw Baczko. As fontes utilizadas foram os registros de entrada e saída de material no almoxarifado da Diretoria Geral da Instrução Pública e as atas do Conselho Superior da Instrução Pública, órgão responsável pela autorização ou veto dos livros adotados nas escolas públicas do estado de Mato Grosso. Soma-se, ainda, como referencial documental da pesquisa, os livros didáticos Nossa Pátria e História do Brasil para o ensino secundário, ambos de autoria de Rocha Pombo, amplamente utilizados nas escolas públicas brasileiras durante o período cotejado. O autor era um republicano convicto e sua escrita evidencia claramente isso. Nas linhas dos livros didáticos analisados, deixou transparecer o sentimento de nacionalismo ufanista, típico das elites litorâneas; uma visão construída a partir da apropriação dos discursos dos viajantes estrangeiros, de intelectuais e dirigentes oficiais brasileiros daquele momento histórico (1889-1930). A pesquisa permitiu constatar que nestas obras, assim como em diversos outros livros didáticos produzidos nos grandes centros brasileiros, Mato Grosso foi frequentemente apresentado como lugar distante e de difícil acesso, povoado por uma esparsa população, violenta e pouco civilizada, sendo, por vezes, exibido como mero coadjuvante do processo de construção da unidade nacional e da formação do sentimento patriótico. Essas representações, que faziam parte do imaginário social das populações que habitavam o exterior ou o litoral brasileiro, objetivavam que a juventude estudantil acreditasse na existência de um Mato Grosso selvagem e longe de qualquer coisa que lembrasse a civilização. O resultado foi a construção de uma imagem negativa do estado e dos costumes e tradições das populações que habitavam seu território, principalmente no entorno de Cuiabá. Tais representações, que tinham por base o imaginário coletivo litorâneo, afrontavam as elites cuiabanas que, como consequência, passaram a construir suas próprias representações, que contestavam as do litoral: uma verdadeira luta de representações.

A AMBIÊNCIA INTELECTUAL E A CAUSA DA INSTRUÇÃO NAS DÉCADAS FINAIS DO SÉCULO XIX NO RIO DE JANEIRO

BEATRIZ RIETMANN DA COSTA E CUNHA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Objetiva-se nesse trabalho, apresentar um pequeno estudo acerca da ambiência intelectual nas últimas décadas do século XIX, no Rio de Janeiro, cuja intelectualidade teve, entre outras, a causa da instrução como bandeira de luta e pensou as condições para promovê-la. Para tanto, analisamos algumas visões da historiografia sobre o tema que tornem pensáveis as articulações entre a intelectualidade, a instrução e os projetos de construção de uma nova ordem civilizatória, ao fim do século. Igualmente focalizamos aspectos daquele campo intelectual e político, a fim de compreender sua intervenção no debate da sociedade brasileira do período. Com a subida, em 1871, do Gabinete conservador de Rio Branco, o mais longo da história do Império, teve início um amplo programa de reformas, já presentes na agenda liberal, a fim de modernizar a ordem imperial, tentativa que se mostraria insuficiente, apesar das alterações visíveis no país, acirrando a crise política do Império. O tema da instrução, ao fim do XIX, encontra-se imbricado com o da cidadania, sendo esta, no período, uma categoria fluida e ambígua, envolvendo lutas e conflitos, dadas as circunstâncias históricas presentes. A partir da lei Rio Branco, que emancipava os filhos das escravas nascidos após sua publicação, tomaram vulto os debates em torno da questão da escravidão, nos quais a instrução e a educação populares alcançaram uma amplitude e uma dimensão

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social até então não percebidas no século XIX brasileiro, denotando a importância destinada à educação escolar como elemento civilizador da sociedade. A centralidade do Rio de Janeiro e sua intensa politização, primeiro Corte Imperial e, depois, Capital Federal, atraía talentos intelectuais da província, que confluíam para a cidade, onde se concentrava a maior parte dos empregos da burocracia estatal, notadamente no ensino, promovendo a tessitura de uma rede necessária de relações pessoais para a obtenção de boas colocações. Acreditamos que se pode refutar a historiografia que imputa a esses intelectuais, do último quartel do século XIX, a pecha de alienados, indiferentes ou ainda, imitadores acríticos de teorias ou doutrinas estrangeiras, desconhecendo a produção desses intelectuais militantes, participando da imprensa ou da política. Em realidade, tudo indica precisamente o contrário, e que o sentido dessa ambiência intelectual e suas manifestações, traduziu-se num pensamento engajado, interessado nos destinos da nação, em que os intelectuais se viam como agentes e condição sine-qua-non das mudanças. Através da formação de redes de sociabilidades, esse campo intelectual pôde configurar uma ação coletiva visando intervir no debate político, cuja produção intelectual contestou as instituições, práticas e valores da sociedade brasileira ao fim do século.

DIÁLOGOS ENTRE BRASIL E ARGENTINA: A TRAJETÓRIA INTELECTUAL DE LUIS REISSIG E SUAS APROXIMAÇÕES JUNTO AOS PROJETOS

EDUCACIONAIS DOS ESCOLANOVISTAS (1940-1960)

BRÁULIO SILVA CHAVES Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O trabalho tem como objetivo abordar a trajetória do educador e escritor argentino Luis Reissig (1897-1972), a partir de sua influência junto ao movimento dos intelectuais da educação no Brasil, notadamente os chamados escolanovistas. O intelectual argentino propôs um projeto de educação nacional não apenas para a Argentina, mas para a América Latina, além de ter atuado nos mais importantes fóruns de discussão sobre o assunto. Foi editor da revista La Educación, vinculada à Organização dos Estados Americanos (OEA) e autor de várias obras que abordaram papel da educação, como, entre outras, Educación para la vida nacional, Problemas educativos de América Latina, Educación y desarrollo económico e La era tecnológica y la educación, que foi publicada em português, em 1959. Nesse mesmo ano, é publicado o Manifesto dos Educadores: Mais uma vez convocados, em que Reissig é citado. Um dos pressupostos do intelectual argentino é o do ensino como mola mestra do desenvolvimento, no conjunto de um ideário que realiza uma valorização da educação, a partir da ciência, da técnica e da tecnologia. Para analisar suas ideias, faço uso do aporte teórico e das discussões da história e da historiografia sobre os intelectuais. Assim, parto da concepção do intelectual como um sujeito que se insere na cena pública, a partir de uma autoridade que lhe é conferida, de falar à sociedade, de propor o debate público de temas que interessam a nação e de suscitar a polêmica, além da sua capacidade de fazer circular suas idéias em contextos e espaços distintos. É por esses caminhos que diversos autores apontam, como Christophe Charle, Jean-François Sirinelli, Jean M. Goulemot e Carlos Altamirano. A hipótese que levanto no trabalho é a de que, diante das adversidades históricas brasileiras em relação aos modelos vindos de fora – americano e europeu (sobretudo francês) –, os escolanovistas foram buscar nos vizinhos argentinos possibilidades de apropriação e adequação de um projeto nacional de educação para o Brasil e pra a América Latina. Tais ideias se enlaçavam aqui e lá, na tentativa de universalizar o ensino público, gratuito e oferecido pelo Estado e de efetivar uma educação popular em nível nacional. De forma sui generis, olharam para a Argentina, por meio das obras de Reissig, como forma de trazer um intelectual para reforçar seus argumentos dentro do amplo debate que acontecia no Brasil. Intelectuais brasileiros, como Anísio Teixeira, dialogaram com Luis Reissig e trouxeram suas ideias como parte das estratégias dentro da arena em que estavam inseridos, o que contribuiria para a legitimidade dos discursos diante das demandas advindas do desenvolvimentismo industrialista, mas também respondia à luta entre diversos setores para fazer valer seus projetos educacionais para o Brasil.

INSTRUÇÃO PÚBLICA E POSITIVISMO: DISCUSSÃO PARLAMENTAR DO PROJETO PARA A CRIAÇÃO DE UM INSTITUTO POLITÉCNICO EM SÃO

PAULO (1892)

BRUNO BONTEMPI JUNIOR OMAIR GUILHERME TIZZOT FILHO

Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

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Em 1892, na Câmara dos Deputados do Estado de São Paulo entrou em discussão o projeto n.9, de autoria do deputado e engenheiro civil Antônio Francisco de Paula Souza (1843-1917), que propunha a criação de uma “escola superior de matemáticas”, sob a denominação de Instituto Politécnico. Composição híbrida de escola preparatória e de cursos especiais de engenharia civil, engenharia mecânica, arquitetura, química aplicada às indústrias, agricultura e ciências matemáticas e naturais, essa instituição é reconhecida como embrião da Escola Politécnica de São Paulo (1893), por sua vez consagrada à formação técnica do engenheiro em diferentes modalidades. Naquele recinto legislativo, o consenso generalizado entre os deputados paulistas sobre a insuficiência do ensino preparatório ao superior, notadamente quanto ao caráter prático, levou Paula Souza a defender em plenário o seu caráter de “escola preparatória” para os cursos superiores de engenharia. Paula Souza, sobretudo quando da 3a discussão do projeto, respondeu principalmente às criticas do professor, normalista e membro da comissão de instrução pública, deputado Gabriel Prestes, para quem o analfabetismo de 80% da população do estado requereria prioritariamente a generalização de escolas primárias e a criação de escolas normais. O projeto, afirmava, era “puramente profissional”, não obedecendo a um desejável plano de ensino integral que fornecesse ao povo uma benéfica “influência científica e social”. Para Prestes, como seria frequentada apenas pelos “favorecidos da fortuna”, não pelos proletários, a instituição só faria aumentar o abismo entre essa classe e a dos “abastados”, cujos membros poderiam adquirir meios suficientes para vencer a luta econômica e se apropriar dos melhores postos de trabalho. As objeções de Gabriel Prestes, reconhecido seguidor das ideias de Comte, desencadearam no debate parlamentar uma interessante discussão à luz das interpretações que os deputados faziam da doutrina positivista, a respeito de temas como a existência de classes e do proletariado no Brasil, a fertilidade das universidades para o progresso da humanidade e a prioridade dos gastos do Estado segundo os níveis de ensino. Utilizando a noção de repertório, de C. Tilly, e, particularmente para o caso brasileiro, de seu emprego por Angela Alonso em Ideias em movimento (2002), pretende-se investigar que temas e interpretações do positivismo foram levados ao debate, de que maneira foram politicamente apropriados para a defesa de diferentes posições quanto à instrução pública, particularmente em uma situação na qual se defrontaram partidários da educação superior e do ensino primário e normal.

EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: REPRESENTAÇÕES DO BOM TRABALHADOR NO LIVRO “EDUQUEMOS” DE ARTHUR PORCHAT DE

ASSIS (1915)

BRUNO BORTOLOTO DO CARMO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

"Dentro de uma sociedade que almejava a civilização e a modernidade, Arthur Porchat de Assis escreveu em 1915 o livro “Eduquemos”, que usaremos como objeto de estudo para compreender suas representações do bom operário, do bom trabalhador. Para Assis, as crianças já entre a escola maternal e primária apresentam tendências tecnológicas, não raro vendo-as com sua imaginação edificando palácios ou perfurando túneis (p.74). Desde cedo a criança apresentaria comportamentos ligados à ciência e a indústria e, caberia ao bom mentor ou mestre perceber e desenvolver tais dons e direcioná-los. E quem mais necessitaria desses direcionamentos? O proletariado era aquele que mais sofria da insuficiência da educação, “a Família desorganizada”, constituída por perfeito abandono moral. A casa do operario é, infelizmente, um fóco de perdição: a creança ao deixar apenas o sabor do leito materno começa a sentir o cheiro provocador do álcool. Se entra o pae bebado pela porta, ella salta pela janella para a calaçaria das ruas. Por desviar as creanças d’isto é que devemos preparar o lar. Se a Familia é mal organizada, prepare-se a infância, porque d’ella mais tarde há de sahir a Familia. A essa perfeição de nivel moral, que o nosso povo tanto almeja e quer, havemos de chegar um dia, levando já ao operariado o ensino de que é precisada a infancia". (P.81-82) Os bons costumes são a base de um bom trabalhador, em vista de uma teórica inserção dessas classes trabalhadoras em um mundo civilizado. Além disso, o ensino profissional haveria de suavizar a miséria pois um ofício “[...]se não são armas de riqueza, são pelo menos obstaculos á esmola e á indigencia publica” (p.81). A educação profissional não só beneficiaria o aluno ou futuro trabalhador: dessa metodização do ensino, lucraria também seu futuro patrão. Sem tal preparação, qualquer despreparo por parte do operário levantaria justas queixas dos patrões que, embora necessitando do “auxilio produtor das classes laboriosas”, estaria ele obtendo em troca um serviço pouco compensador (p. 81). Sabendo que as representações do social não são discursos neutros e delas surgem estratégias e práticas, da forma como nos ensina Chartier (1990), propomos aqui investigar de quem e para quem Arthur Porchat de Assis escrevia ao propor tal modelo de educação profissional, legitimador de um projeto reformador. Além disso, qual sociedade Assis lia ao estabelecer relações de moralidade no seio familiar como definidoras para o projeto de ensino de um futuro bom trabalhador?

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POR UMA ESCRITA IDEALISTA: ANÁLISES SOBRE AS CONCEPÇÕES FILOSÓFICAS E EDUCACIONAIS DE JOSÉ FRANCISCO DA ROCHA

POMBO (1882-1917).

CAMILA FLÁVIA FERNANDES ROBERTO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O presente trabalho é uma proposta de pesquisa que investigará a formação do pensamento educacional do intelectual José Francisco da Rocha Pombo em três períodos de sua vida. Ao deparar com as análises feitas sobre a obra de Rocha Pombo durante e após o seu tempo, vislumbramos uma série de contrariedades que não conseguem traduzir a sua formação literária, filosófica ou científica e as repercussões no campo educacional sem algumas grandes lacunas. Tais pesquisas – por vezes cerceadas pela exigência de uma limitação diante do objeto de pesquisa, e, quanto a isso, nada mais que pertinente – consolidam uma história intelectual cercada de lugares comuns, como arquétipos na crítica a sua métrica positivista ou a fixação por uma educação moralizante. A exaltação da figura heroica do historiador, limita a compreensão das suas potencialidades, ao destinar a ele o papel salvador do nacionalismo, da educação ou da moralidade no campo educacional. Ambas as escritas, delimitam a proposta de investigação sobre a formação da sua construção do conhecimento. Em um primeiro momento serão analisadas as características filosóficas do intelectual, no período de 1882 a 1888. Buscando observar a formação da escrita de seu primeiro ensaio filosófico-literário, A Supremacia do Ideal, de 1882 e as suas bases filosóficas e literárias para a escrita do seu romance filosófico Petrucello, de 1888. No segundo período de investigação serão analisados a constituição do conhecimento historiográfico do intelectual, seu projeto educacional e suas fontes de pesquisa entre os anos de 1888 a 1900. Como delimitação, serão observadas as intencionalidades e constituições das obras: O Paraná no Centenário e História da América, todos com data de publicação em 1900. A definição da escrita educacional e necessariamente historiográfica de Rocha Pombo, foram marcadas inicialmente por essas três obras. Para análise de sua trajetória serão consideradas fontes secundárias como os jornais do período, nos quais participou com artigos e apoio editorial. Em um terceiro momento da pesquisa serão considerados os embasamentos filosóficos-históricos do intelectual através das análises das obras No hospício (1905) e no compêndio de dez volumes História da Brasil (1905-1917). Da mesma maneira que nos dois primeiros momentos da pesquisa, a busca será a formação do pensamento de Rocha Pombo. A base documental da pesquisa estará alicerçada nas obras de Rocha Pombo, bem como nas suas publicações em jornais e revistas do seu período. Juntamente com biografias, artigos e trabalhos científicos produzidos sobre a sua obra literária e científica. Os acervos das Biblioteca Pública do Paraná e do Arquivo Público do Paraná serão utilizados como meio de pesquisa além de acervos online da revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, dos séculos XIX ao XXI e do Arquivo Nacional.

INTELECTUAIS E IMPRENSA: CONCEPÇÕES ACERCA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA NO INÍCIO DA DÉCADA DE 1960

CARLA MICHELE RAMOS Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

A União Nacional dos Estudantes (UNE), entidade de representação nacional dos estudantes brasileiros, deu início em março de 1962 à reedição da revista Movimento. A publicação deste periódico foi interrompida em 1964 em seu décimo segundo número devido à instalação do regime político militar no país, que passou a denominar as ações da UNE como subversivas e contrárias à ordem nacional. A revista Movimento já tinha sido editada algumas vezes por ocasiões específicas como, por exemplo, em julho e setembro de 1961 com os seguintes títulos Unidade e Reforma e A UNE e o Golpe, respectivamente. Mas, segundo os relatos da organização estudantil, constante na Edição n.1 de 02/1962 do Movimento, essas edições possuíam um caráter eventual relatando os principais acontecimentos estudantis e se diferenciavam desta nova forma editorial, agora planejada e sistematizada e com circulação para todo o Brasil. Entre as novas diretrizes assumidas pela revista no ano de 1962 estava a sua veiculação para um público geral, fato que demonstra a intencionalidade dos mantenedores em conquistar, por meio de seus debates teóricos, diferentes sujeitos históricos capazes de tomar para si a consciência da importância das alianças entre os que se encontravam em condições subdesenvolvidas e alienadas. Uma das propostas do periódico foi à difusão de concepções assumidas pela UNE enquanto órgão de representação estudantil e a missão de ser o canal oficial da disseminação do pensamento intelectual progressista brasileiro. Esse artigo tem como objetivo analisar criticamente as concepções de diferentes intelectuais, colaboradores da revista Movimento, acerca do contexto educacional brasileiro nos anos iniciais da década de 1960. As principais fontes utilizadas são textos publicados no periódico citado, presentes nas edições

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do ano de 1962, além de documentos institucionais da UNE, bem como teses publicadas por pensadores desta época autodenominados intelectuais progressistas. O referencial teórico-metodológico adotado neste estudo é o materialismo histórico, pois, acredita-se que o entendimento dos intelectuais sobre a realidade da educação brasileira em dado momento é um desdobramento das contradições provenientes das condições materiais de uma determinada sociedade. Entre os resultados obtidos verificou-se que a ideologia nacional-desenvolvimentista esteve presente nas percepções da intelectualidade brasileira no que diz respeito à situação educacional do país durante um período de intensa agitação política e social.

À MARGEM DO CAMPO: O COMPORTAMENTO PÚBLICO DOS INTELECTUAIS PARANAENSES (1890-1960)

CARLOS EDUARDO VIEIRA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O objetivo da presente exposição é analisar o comportamento publico de diferentes gerações de intelectuais paranaenses, do final do século XIX aos anos de 1960 do século XX, considerando suas redes institucionais de sociabilidade e, sobretudo, suas crenças e ações públicas. Apoiados em um conjunto diversificado de fontes, desenvolvemos a análise prosopográfica de diferentes gerações de intelectuais, enfatizando as suas trajetórias, com destaque para a análise das instituições, dos impressos e dos eventos educacionais nos quais eles atuaram. Esses espaços foram entendidos na pesquisa como lugares estratégicos de enunciação da intelectualidade que visava difundir ideias e, sobretudo, intervir diretamente na cena pública, conformando instituições, políticas e pedagogias. Entre os intelectuais identificados pela pesquisa destacamos: Dario Vellozo e Rocha Pombo, nos anos finais do século XIX; Lysímaco Ferreira da Costa, Nilo Cairo e Victor Ferreira do Amaral, no primeiro quartel do século XX; Erasmo Pilotto, Anete Macedo e Liguarú Espírito Santo, entre os anos de 1930 e 1960; Pórcia Guimarães e Eny Caldeira, nos anos de 1950 e 1960. Ao longo desta pesquisa, que abrange cerca de setenta anos de história intelectual, visamos evidenciar os aspectos que singularizaram os agentes em seus diferentes contextos, bem como destacamos aqueles elementos que podem servir como chave heurística para uma compreensão abrangente da ação política dos intelectuais. Em outros termos, buscamos compreender a tensão relacional entre indivíduo e grupo social, de maneira a destacarmos, tanto as singularidades dos agentes, como o que era comum na prática social dos intelectuais envolvidos na formação do campo educacional, no período circunscrito pela pesquisa. Nesse sentido, demonstraremos, por um lado, alguns índices de mudanças no transcorrer do período, tais como: o processo de formação e certificação dos intelectuais; as teorias educacionais sustentadas; a legislação educacional pretendida; e os meios de difusão das suas ideias. Por outro, enfatizaremos, também, continuidades no comportamento da intelectualidade que, sinteticamente, compreendem quatro aspectos principais: a) envolvimento na produção da identidade social do intelectual; b) engajamento político, propiciado pelo sentimento de missão ou de dever social; c) elaboração e veiculação do discurso que estabelece a relação entre educação e modernidade; d) assunção da centralidade do Estado como agente político para a efetivação do projeto moderno de reforma social.

AÇÃO MUNICIPAL NA “REPÚBLICA MINEIRA”: PATRIOTISMO E EDUCAÇÃO NA IMPRENSA DE RIO POMBA, MINAS GERAIS, 1917 A

1930.

CARLOS HENRIQUE DE CARVALHO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Esta comunicação tratará das iniciativas das Câmaras Municipais do organização da instrução pública em Minas Gerais, para efeito deste trabalho abordaremos a cidade de Rio Pomba – MG, situada na Zona da Mata, no período compreendido entre 1917 a 1930. A opção por este município decorre em razão dele ser uma das cidades que compõe o projeto, Descentralização do Ensino e Ação Municipal na Educação Brasileira: Análise de alguns Municípios de Minas Gerais no Início da República (financiado pelo CNPq e FAPEMIG). Nossa hipótese é que o município se constituiu numa “instância pedagógica”, ou seja, observa-se uma forte ação das Câmaras Municipais no campo educacional, por meio das atividades político-administrativas, as quais possibilitaram, no período em tela, a aprovação de uma legislação descentralizadora da gestão do ensino e a extensão da responsabilidade para com a instrução primária aos seus limites, levando à regulamentação local dessa obrigação. As fontes que subsidiaram a pesquisa, em Rio Pomba, foram os artigos dos jornais locais. São eles: Boa Nova, Nova Era, A Tribuna, Nova Senda e A Lei. Nesses artigos eram frequente as discussões a cerca da

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necessidade de instrução e a importância da ação municipal em prol da construção de escolas, contratação de professores, aprovação até mesmo de currículos. Além desses aspectos, nota-se ainda a preocupação em difundir, na escola primária, os princípios de patriotismo, trabalho, cidadania, etc. Como conclusões, podemos asseverar que, sob a ótica e perspectiva dos legisladores municipais de então, ações encaminhadas no campo educacional, se projetaram no sentido de educar, instruir, regenerar, moralizar, civilizar, isto é, tornar o povo útil às atividades econômicas, bem com contribuir para o “progresso” do município. Neste sentido, os articulistas dos jornais de Rio Pomba e, principalmente, os membros da Câmara Municipal, propunham iniciativas visando superar a situação de precariedade da economia local. Portanto, compreender o significado das ações dos municípios é, por exemplo, entender o sentido que os grupos escolares tiveram nessas cidades (mesmo sendo eles de iniciativa estadual), como escolas da “República para a República”, que pudessem contribuir para o “processo civilizatório” das populações locais, pois sua “missão” era criar/recriar novos sujeitos para o contexto social urbano, principalmente no âmbito da escola primária, portadora de novos conteúdos, métodos de ensino e práticas pedagógicas. Desta forma, as legislações criadas nesses cidades – como foi o caso de Rio Pomba – emergiram num momento de intensa busca de novos modelos de organização administrativa, pedagógica e metodológica no campo educacional, com o objetivo de reorientar e intervir na sociedade, a partir da educação, como forma de transmitir outros princípios à sociedade, com o intuito de educar o homem, ou melhor, transformá-lo num “novo homem” para construir uma nova sociedade.

CORPO E EDUCAÇÃO DURANTE A DÉCADA DE 1920: UMA ANÁLISE A PARTIR DE MÁRIO PINTO SERVA

CARLOS HEROLD JUNIOR Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Inserindo-se em um conjunto de pesquisas que investiga a construção de ideias, práticas e instituições voltadas à educação corporal e à educação física escolar no início do século XX, este trabalho tem como base a atuação de Mário Pinto Serva (1881-1962). Como jornalista e integrante da Liga de Defesa Nacional, com seus artigos ele participou, ativamente, das lutas políticas da sociedade brasileira nas décadas de 1920 e 1930. Neste estudo, objetivamos verificar de que forma a educação corporal pode ser pensada a partir das reflexões de Pinto Serva, sobretudo, considerando a grande atenção que ele dava às problemáticas educacionais. Utilizamos como fontes primárias os artigos reunidos nas obras O Enigma Brasileiro (19--), Virilisação da Raça (1923), Problemas Brasileiros (1929), Renascença Nacional (1930), A renovação mental do Brasil (1925) e Educação Nacional (1924). Metodologicamente, procedemos às reflexões tendo como base as orientações que encontramos nas considerações de Quentin Skinner (2014), que apoiam os cuidados necessários ao historiador para pensar a história intelectual e/ou dos intelectuais. O estudo divide-se em três partes: na primeira, apresentamos um panorama dos debates concernentes à educação corporal, inserindo-os no contexto social e político da década de 1920, no qual viveu e atuou Mário Pinto Serva. Na segunda, são estudadas as plataformas políticas defendidas pelo jornalista. Na terceira parte, destacamos que, nas lutas políticas entabuladas por Pinto Serva, a inquietação relativa à educação corporal se mostra como ponto importante na articulação das ideias do jornalista. Feitas as análises, observamos que Mário Pinto Serva elabora e torna público um pensamento que se pautava na defesa do voto secreto, na crítica à república tal qual ele via existir na década de 1920, na crítica às influências da igreja católica na sociedade brasileira e numa tenaz luta contra o analfabetismo. Não apenas na luta para espraiar a cultura letrada no país, mas em todas as outras problemáticas que ocuparam Mário Pinto Serva, a educação foi assumida como condição incontornável para superação de problemas diagnosticados como urgentes na sociedade brasileira nas primeiras décadas do século XX. Dentro dessa inquietação educacional, a atenção à saúde, ao fortalecimento corporal, bem como, o elogio à beleza corpórea, são traços assumidos como necessários a uma educação que pudesse levar o país a ter uma nova “raça” e contornar mazelas sociais, culturais, políticas e econômicas. Desse modo, Mário Pinto Serva é assumido como um ponto de partida de grande valor para pensarmos o conjunto de discussões que aconteceram no período sobre o papel das práticas corporais na educação da sociedade brasileira.

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O PROJETO CULTURAL DO METODISMO AMERICANO NO BRASIL: CIRCULAÇÃO E ATUAÇÃO DE MISSIONÁRIOS NA IMPRENSA

PERIÓDICA E NA EDUCAÇÃO ESCOLAR (1867-1930)

CHRISTIANE GRACE GUIMARÃES DA SILVA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Esta pesquisa, inserida da linha de pesquisa Escola e Cultura: História e Historiografia da Educação, circunscrita ao Grupo de Pesquisa História dos Intelectuais e Instituições da Educação Brasileira, se propõe a examinar as relações entre o metodismo e o campo da educação, tendo como referências algumas iniciativas institucionais datadas desde o final do século XIX e início do XX. Parte do pressuposto que lideranças religiosas, provindas dos EUA, tornaram-se protagonistas na expansão do metodismo, a partir da tríade “evangelizar/civilizar/educar”. O trabalho pretende mapear, identificar e analisar a circulação destes sujeitos, desde suas origens nos Estados Unidos da América até a inserção deste grupo no Brasil e investigar a atuação dessas missões em terras brasileiras, notadamente na imprensa periódica. Para entender as conexões que ligaram esses metodistas ao Brasil, algumas iniciativas foram identificadas e constituirão objetos de análise, a saber: a série de conferências proferidas pelos missionários (anuais e distritais), a criação do jornal O Expositor Christão (1886), inicialmente chamado de Methodista Cathólico e a instalação de instituições educacionais metodistas circunscritas ao movimento missionário, no período entre a chegada do Reverendo Junius E. Newman, que inaugura a Missão Newman em 1867, até 1930, quando oficializa-se a autonomia institucional da igreja à sede americana que de Igreja Metodista Episcopal do Sul passa a se chamar Igreja Metodista do Brasil. Na análise articulada desse projeto cultural e religioso de base estadunidense no Brasil, a imprensa periódica adquire relevância no processo da pesquisa, tornando-se uma fonte importante de informações sobre a presença e atuação dos missionários metodistas no país. Neste caso, será identificado e analisado inicialmente, na perspectiva da Nova História Cultural, a qual tem considerado os usos da escrita como uma fonte bastante significativa para compreender como comunidades ou indivíduos constroem suas representações de mundo e as investem de significado por meio de roteiros específicos de caracterização, o jornal O Expositor Christão. Entender a relação entre esses sujeitos, intelectuais conformadores de um projeto metodista, protagonistas de um processo que envolve estratégias embasadas em publicações periódicas, em conferências de organização e divulgação das atividades metodistas e do estabelecimento de instituições educacionais, conhecer de que maneira contribuíram para o projeto missionário metodista e como atuaram na divulgação desse projeto cultural por meio de um cotejamento com as fontes descritas neste resumo, é o objetivo desta pesquisa.

O PORVIR: UM JORNAL ESTUDANTIL DO ATHENEU SERGIPENSE (1932)

CIBELE DE SOUZA RODRIGUES Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O PORVIR: UM JORNAL ESTUDANTIL DO ATHENEU SERGIPENSE (1932) RESUMO O artigo procura tecer considerações a respeito de cinco exemplares do jornal estudantil “O Porvir”, datados do ano de 1932. Esse impresso de caráter literário e recreativo tem sua primeira edição publicada no ano de 1874 e, segundo dados levantados ele configura-se como primeiro impresso pertencente ao órgão dos estudantes do Atheneu Sergipense, instituição de relevância no Ensino Secundário em Sergipe, idealizada e criada por Manuel Luiz Azevedo de Araújo, através do Regulamento Orgânico da Instrução Pública de 24 de outubro de 1870, onde ofereceria dois cursos: o de Humanidades com duração de 4 anos e o Normal com duração de 2 anos. O interesse em analisar os números do ano de 1932, no presente estudo, justifica-se por tratar-se de um período que engloba o movimento da Escola Nova no Brasil. Momento de agitação de ideias e grandes transformações econômicas, sociais e educacionais. A Edição de 1932 do “O Porvir” fora encontrada em meio a levantamentos de dados relevantes para elaboração do meu projeto de mestrado que tem como objeto de estudo o referido jornal em sua primeira edição, 1874. Objetivando identificar e analisar os temas abordados nesse impresso, a fim de obter uma aproximação dos escritos estudantis que circulavam no ano de 1932, foi possível levantar questões como: Quem eram os alunos que estavam envolvidos nas produções? Como eram os elementos físicos presentes nesse periódico? Quais temas eram abordados nesse jornal estudantil e quais apareciam com mais frequência? Como eram abordados os temas educacionais no jornal? Destaca-se que o jornal estudantil constitui parte de um conjunto de práticas que permite levar à compreensão das questões educacionais de uma determinada época, bem como, subsidiar novas perspectivas de ideais defendidas por alunos, que viam na imprensa a possibilidade de serem ouvidos pela sociedade. Nesse sentido, um contributo ao estudo da Cultura Escolar, que por sua vez, assume um caráter de objeto histórico no âmbito da História da Educação. Procurou-se na primeira parte do estudo, levantar algumas considerações a respeito do trabalho com impresso estudantil e o papel que ele assume

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como fonte e objeto de pesquisa na História da Educação, bem como, pontuar traços da história da instituição a que se originou o “O Porvir”. Na segunda parte, buscou-se mostrar o jornal em seu conteúdo, trazendo sucintas análises a respeito de alguns escritos encontrados no impresso. Portanto, pretendeu-se analisar os artigos e matérias que circularam nesse impresso, a fim de observar a forma como um jornal estudantil pode nos levar à compreensão das questões educacionais de uma determinada época.

A LIGA BRAZILEIRA CONTRA O ANALPHABETISMO: COMBATE À IGNORÂNCIA PARA O FRANCO PROGRESSO

CÍNTIA BORGES DE ALMEIDA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O presente trabalho aborda os principais aspectos preconizados pela Liga Brazileira contra o analphabetismo entre os anos de 1915 e 1920, visando compreender o modo que a campanha interferiu na propagação do discurso em defesa da obrigatoriedade do ensino primário através dos jornais cariocas. Para isso, analisa os jornais O Imparcial e O Paíz como fonte que possibilita entender as alocuções em torno da instrução enquanto as “justas aspirações do povo brasileiro” contra a ignorância e, capazes de provocar uma ação contra esse terrível problema social. A campanha a favor da instrução primária recorria aos jornais para disseminar suas ideias, apresentar as decisões alcançadas nas sessões realizadas, conseguir novas adesões e representações e ainda, intensificar sua propaganda “enviando circulares a todas as municipalidades conclamando mais comunicação e convocando aos patrícios o franco progresso” a partir da instrução popular. A Liga apresentava-se como necessária para a propagação da causa. Para o Secretário Geral Major Raimundo Seidl as duas maneiras de agir a favor da importância de ensino relacionavam-se com o convencimento popular, principalmente dos “pobres”, e a parceria dos poderes públicos. Afora do engajamento da sociedade e o apoio dos poderes públicos municipais, estaduais e federal, a imprensa também será destacada como valiosa e fundamental para se alcançar o êxito da campanha. Assim, conforme é reforçada em inúmeras notícias publicadas nos próprios jornais cariocas, a imprensa é tida pela Liga como a melhor estratégia para a disseminação das ações e lemas de combate ao analphabetismo defendidos pela campanha. Dentre os propósitos do estudo, busca-se reconstruir a trajetória da Liga a partir de seus membros e dos discursos por eles proferidos, bem como por seus espaços de relações, redes de sociabilidade, suas interações, campos de circulação, que devem ser pensados através de sua “complexidade” (MORIN, 2006). Recorre-se a análise de jornais cariocas enquanto local de comunicação social e produção de conhecimento (SIRINELLI, 1996), a fim de compreender comportamentos e refletir acerca de uma identidade coletiva a partir da existência de formas de associação (SIMMEL, 1983). O Imparcial e O Paiz possibilitam observar a recomposição de um cenário favorável pela expansão da escolarização, a promoção de debates e, também, a identificação de uma articulação entre os interesses da Liga Brazileira contra o analphabetismo e os articulistas dos jornais pesquisados.

O PROFESSOR E O ESCRITOR NOS CADERNOS DE ARQUIVO DE JÚLIO CÉSAR DE MELLO E SOUZA: UMA ANÁLISE A PARTIR DO ACERVO

PESSOAL DE JULIO CESAR DE MELLO E SOUZA

CLAUDIANA DOS REIS DE SOUSA MORAIS Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Esta pesquisa resulta do trabalho de organização do acervo do professor e escritor Júlio César de Mello e Souza, conhecido pelo pseudônimo "Malba Tahan". Trata-se de um acervo composto por 56 cadernos de arquivo, 57 cadernos de viajem, 50 cadernos de recortes e mais uma centena de pastas com originais, tradução, imagens e documentações diversas, como correspondência, impressos e certidões. Esta comunicação propõe-se a avaliar a documentação reunida nos 56 cadernos de arquivo reunidos pelo próprio Malba Tahan. Entre os aproximadamente 4.000 documentos da série dos cadernos de arquivo estão: correspondências, fotografias, cartões de visitas e contato, artigos, recortes e notícias de jornal, bilhetes, cartões postais, cartões de matrícula, boletins, poemas, periódicos, contos, entrevistas, convites, anotações, listas diversas, telegramas, dentre outros. Este acervo encontra-se no Centro de Memória da Faculdade de Educação da Unicamp e sua organização está sendo desenvolvida a partir de um projeto de iniciação científica. Júlio César de Mello e Souza, com o nome de Malba Tahan, escreveu mais de 55 livros, entre eles "O homem que calculava", "Maktu" e "Lendas do oásis", além disso escreveu muitos romances, além de focar também no ensino da matemática, com a qual construiu carreira. Foi em sua homenagem que a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro decretou o dia da matemática e

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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o dia escolhido foi 06 de maio, data do seu nascimento. Júlio César de Mello e Souza, o “Malba Tahan” divulgou a cultura oriental no Brasil e na América do Sul e por um decreto especial ao Ministério da Justiça, Getúlio Vargas autorizou em 1954, a presença do pseudônimo Malba Tahan na sua carteira de identidade. A partir de então ele passou a assumir o falso nome em todas as suas obras. O objetivo deste trabalho é a partir dos 56 cadernos de arquivo classificar a documentação e fazer o inventário deles para posteriormente entender como o material reunido expressa as atividades de professor e escritor do Júlio César de Mello e Souza. Tendo em vista que o acervo de Malba Tahan foi ainda pouco explorado, este projeto parte dos estudos que já foram produzidos acerca dele. Dentre estes estudos encontram-se artigos, dissertações e teses, no entanto a problemática está em distinguir a documentação proveniente do exercício da docência e da atividade do escritor e a metodologia a ser utilizada está baseada num levantamento de referencial teórico acerca da história cultural dos intelectuais para assim compreender a atuação de Júlio César de Mello e Souza como professor e escritor. Conclui-se a comunicação com a apresentação dos critérios para a classificação de documentação.

“A NEW VOICE FOR EDUCATION”: ESTÉTICA FOTOGRÁFICA E NARRATIVAS SOBRE A EDUCAÇÃO NA REVISTA NORTE-AMERICANA

LIFE (1936-1940)

CLÁUDIO DE SÁ MACHADO JÚNIOR Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Em edição do final da década de 1930, o editorial da revista norte-americana Life, uma das mais populares publicações periódicas dos Estados Unidos, apresentou-se aos seus leitores como sendo “uma nova voz para a educação” (25/12/1939, p. 54), rememorando os três anos da inauguração e circulação do seu novo projeto. Além da educação, denominou-se também como uma nova voz para a arte, para a moda, para o entretenimento, para a ciência e para o que denominou como acontecimentos mundiais, especificamente aqueles vinculados à guerra. O contexto histórico caracterizou-se no plano político-econômico por uma série de programas decorrentes da política do New Deal, implementadas durante o governo do presidente Franklin Roosevelt, em um movimento de recuperação pós-crise de 1929 – refletindo, inclusive, na construção de novas escolas. Nestes termos, e de interesse significativo para os estudos da história da educação, cabe perguntar: o que a Life tinha a dizer sobre a educação? Em primeiro lugar, trata-se de uma sinestesia, de uma relação de planos sensoriais diferentes, visto que a maior forma de expressão deste discurso ocorreu através da imagem, e particularmente pela fotografia. Foi pelo fotográfico, situado entre a arte e o documento (ROUILLÉ, 2009), que a Life destacou-se como uma revista de referência internacional, seguindo as tendências de outras revistas populares que tinham no conteúdo visual um dos seus principais atrativos – como a francesa Vu (FRIZOT, 2009) e a alemã Berliner Illustrirte Zeitung. No Brasil, revistas como a Careta e O Cruzeiro, no Rio de Janeiro, A Cigarra, em São Paulo e a Revista do Globo, em Porto Alegre, seguiam uma proposta editorial similar, dadas suas respectivas particularidades. O objetivo do presente trabalho consiste em analisar a tipologia fotográfica que constitui a temática da educação, publicada nas páginas da revista Life, verificando suas opções estéticas e sua proposta narrativa, assim como a visibilidade atribuída a práticas educacionais, instituições de ensino e grupos sociais escolarizados. Em diálogo com a historiografia da educação, reflete-se sobre a construção de um discurso visual que se pretende como novo, em suposta oposição a um velho que se deseja esquecer (RICOEUR, 2007). Como desdobramentos de pesquisa, em uma perspectiva comparada entre Estados Unidos e Brasil, pode-se inferir algumas considerações sobre a construção do discurso fotográfico, com temáticas referentes à educação em revistas de variedades, verificando-se, a partir de estudos de caso, similaridades e diferenças. Por fim, faz-se uma breve reflexão sobre as contribuições da pesquisa para um entendimento mais amplo da história da educação pela imprensa de massa, abordagem ainda pouco explorada pela historiografia da área, apesar do significativo potencial semântico de suas fontes.

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FOTOGRAFIAS ESCOLARES NA IMPRENSA DE VARIEDADES: AS DIMENSÕES DO VISÍVEL NAS REPRESENTAÇÕES DIAGRAMADAS DOS

PERIÓDICOS CARETA E REVISTA DO GLOBO (1930-1937)

CLÁUDIO DE SÁ MACHADO JÚNIOR Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Nas primeiras décadas do século XX, com o desenvolvimento da indústria gráfica no âmbito da imprensa voltada para o consumo de massa, verificou-se a ascensão de publicações periódicas especializadas no entretenimento e na informação direcionada a segmentos sociais. Estas publicações diferenciavam-se da imprensa diária, tanto do ponto de vista semântico, dada sua periodicidade semanal ou quinzenal, quanto de sua materialidade, utilizando-se de papeis e técnicas específicas para a impressão de conteúdos visuais. Esta ascensão marca também o relacionamento efetivo que seria estabelecido entre a fotografia e a imprensa, constituindo-se em um dos principais atrativos deste segmento editorial. A historiografia concernente à história visual pela imprensa indica, a partir dos anos 1920, múltiplas tipologias fotográficas constituintes do conteúdo destas revistas, chegando a se destacar o anseio de segmentos consumidores que desejavam “ver, mais do que ler” (ROUILLÉ, 2009, p. 128). As revistas ilustradas, apesar da incipiência fotojornalística da década de 1930, estavam marcadas pelas temáticas de efemeridades da vida social, servindo em sua grande maioria como vitrine ou espelho para a reprodução de determinados comportamentos culturais. De interesse da história da educação, verifica-se a existência de uma tipologia específica, constituída por fotografias escolares, que direcionavam o olhar para uma outra narrativa visual da educação brasileira, ressignificada desta vez pelo suporte de circulação e consumo. Nestes termos, o presente trabalho analisa as dimensões do visível (MENESES, 2005) em duas revistas de variedades que se destacaram na imprensa de massa durante o primeiro Governo Vargas (1930-1937): o periódico fluminense Careta e a sul-rio-grandense Revista do Globo. Verificam-se as performances fotográficas de grupos sociais, de instituições escolares e representativas de práticas educativas, tendo como pressupostos teóricos a construção do fotográfico (DUBOIS, 1993) e a encenação social pela fotografia (SOULAGES, 2010). Remete-se ainda à lógica da escolarização transmutada em produto visual, que, norteada pela demanda de mercado, sintetizou as relações de poder sobre o que deve ou não ser visto. Sobressaem-se os campos de interação, as instituições sociais e os meios técnicos de transmissão (THOMPSON, 2011), que em diálogo com a historiografia da educação sobre o referido período, contribuem para um maior entendimento da sociedade. O trabalho reconsidera a denominada imprensa de massa e seu conteúdo fotográfico como potencial fonte para os estudos em história da educação, refletindo sobre uma perspectiva que não se restringe à imprensa escolar, mas se direciona ao consumo de amplo alcance. Este conteúdo fotográfico, em específico, compõe-se por narrativas e imagens filtradas e delimitadas por hierarquias sociais, materializadas em processos de edição e de diagramação, e, por sua vez, marcadas por distintos usos e funções sociais.

PELA FORMAÇÃO DO SELF MADE MAN: O LICEU DE ARTES E OFÍCIOS DO SERRO COMO ATUALIZAÇÃO DE UM PROJETO CIVILIZATÓRIO.

CLÁUDIO HENRIQUE PESSOA BRANDÃO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

A presente comunicação é um resultado parcial de uma pesquisa sobre o Liceu de Artes e Ofícios do Serro, cidade localizada na região centro-norte de Minas Gerais. O Serro foi berço de um dos principais nomes do liberalismo brasileiro, Teófilo Ottoni. Os valores que foram defendidos por esse sujeito, claramente inspirados nas ideias de Thomas Jefferson - como a iniciativa individual, o federalismo, a colonização, a liberdade - balizaram seus projetos políticos e empresariais. A Colônia do Mucuri, projeto idealizado por Ottoni, visou a integração do nordeste mineiro ao desenvolvimento nacional. Atraindo trabalhadores de diversas nacionalidades, Ottoni visava formar não uma classe de proletários, mas uma classe de trabalhadores autônomos, proprietários de seus próprios meios de produção; nas suas palavras, não lhe interessava proletários, mas sócios. Otoni pensava em um projeto civilizatório que teria como célula fundamental da sociedade o self made man. Por diversos motivos a Colônia do Mucurí acabou encampada. No mesmo local surgiu o arraial de Filadélfia, batizada por esse serrano em homenagem à cidade homônima nos Estados Unidos. Os projetos políticos de Ottoni, que podemos caracterizar como um "liberalismo republicano mineiro" - o que na prática se constituía mais como um monarquismo parlamentarista -, inspiraram uma geração de políticos do norte mineiro, principalmente das cidades de Diamantina e do Serro, que passaram a atuaram em várias instâncias políticas a partir de 1860. Um desses políticos foi o médico e educador diamantinense João da Matta Machado Júnior. Matta Machado se engajou para a realização de vários projetos idealizados por Ottoni, como a navegação a vapor e estradas de

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ferro. Além dos projetos mais voltados para a infraestrutura de comunicação que integrasse o norte de minas à nação, esse diamantinense se engajou na formação escolarizada do trabalhador nacional, diferentemente de Ottoni que apostou mais no imigrante para a formação de uma classe trabalhadora livre. Matta Machado em 1879, enquanto deputado provincial, apresentou na Assembleia Legislativa de Minas Gerais o projeto para a criação do Liceu de Artes e Ofícios do Serro, voltado para a formação de trabalhadores para atuar tanto no ambiente urbano e no rural, quanto nas obras de construção das estradas de ferro. Uma dimensão que aproxima o conceito de formação do trabalhador desses dois norte mineiro é justamente o objetivo da formação do self made man. Objetivamos nesse artigo demonstrar que o Liceu de Artes e Ofícios do Serro, portanto, foi idealizado como uma atualização do projeto civilizatório de Otoni; tendo como baliza os valores identificados nos EUA, essa escola objetivou a formação de uma classe trabalhadora cujo valor da liberdade era um elemento basilar. As fontes analisadas foram os relatórios redigidos por Ottoni sobre seus projetos, jornais e anais da assembleia que tiveram como tema o Liceu e o norte mineiro.

OS NEGROS NOS LIVROS ESCOLARES: UMA ANÁLISE DO “RESUMO DA HISTORIA DO BRASIL (1834)”

CRISTINA CARLA SACRAMENTO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este trabalho pretende analisar os discursos sobre os negros veiculados no livro Resumo da Historia do Brasil de autoria de Henrique Luiz de Niemeyer Bellegarde (1802-1839) publicado em 1834. O autor, segundo registra o Diccionario Bibliographico Brazileiro (1883), foi militar, engenheiro, geógrafo, bacharel em letras e sócio do IHGB (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro). O referido Instituto, criado em 1838, no Rio de Janeiro, então capital do Império, tinha por função arquivar ou publicar os documentos necessários para a História e a Geografia do Brasil, com vistas a consolidar o Estado Nacional. O que implica dizer que, ao analisar a presença de negros neste livro didático, o presente trabalho reflete, também, sobre os modos pelos quais um discurso que, inicialmente, foi construído para oficializar a história do país se transformou, ao longo do tempo, em um saber a ser transmitido em instituições escolares. É importante destacar que Henrique Bellegarde, é considerado um dos precursores da publicação de livros didáticos de História do Brasil, sendo responsável pela tradução do Resumé de l’histoire du Brésil, de Ferdinand Denis, em 1831. De acordo com Circe Bittencourt (2008), em finais da década de 1850, duas décadas depois da publicação do livro em exame, a produção desses livros já era significativa, tendo em vista o crescente interesse das editoras, decorrente, dentre outros fatores, da obrigatoriedade do ensino de História do Brasil no Colégio Pedro II, nesse mesmo período. Na seleção do livro de Henrique Bellegarde como objeto de análise, considerou-se o fato de a obra ter sido publicada e difundida no século XIX, quando o ensino de História tinha como um dos seus principais objetivos o de propagar o sentimento nacionalista/patriótico à população brasileira. Ao mesmo tempo, é fundamental ter em vista que neste período os negros ainda se encontravam submetidos ao sistema escravocrata, ao passo que a Câmara dos Deputados constituiu-se num espaço onde eram debatidos e aprovados dispositivos legais favoráveis à libertação dos escravos. Exemplar, nesse sentido, é o fato de, especificamente no âmbito legislativo, ter início no ano de 1831 o processo de regulamentação da libertação dos escravos, através da lei de 7 de novembro, que declarou livres todos os escravos que fossem importados no país. Esse processo terminou no ano de 1888, quando foi promulgada a Lei Áurea, que declarou extinta a escravidão no Brasil. Na análise do livro de Bellergade, em suas relações com o debate parlamentar, pretende-se recorrer às contribuições de Michel Foucault (1926-1984) relativas à análise do discurso e, particularmente, às suas elaborações sobre dispositivo que, pode ser entendido como é uma rede estabelecida entre discursos, instituições, leis e proposições morais com funções estratégicas, visando atender a uma demanda social (FOUCAULT, 2011).

INSTRUIR E MORALIZAR: A IMPRENSA DE SÃO JOÃO DEL-REI COMO DISPOSITIVO EDUCATIVO (1900-1920)

CYRO LUIZ DOS SANTOS BOSCO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este trabalho tem como proposta investigar os discursos educacionais presentes nos jornais produzidos pela imprensa de São João del-Rei entre os anos 1900 e 1920. No período em tela foram produzidos diversos jornais, os quais, até sofrerem o impacto de novos meios de comunicação, como o cinema e o rádio, exerceram verdadeiro monopólio cultural fazendo com que os impressos tenham se constituído em importante meio de comunicação. Neste sentido, os jornais de São João del-Rei compreendem um corpus documental que contribui

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para a investigação histórica referente à circulação de discursos educacionais nos anos iniciais do século XX. A análise articula-se a partir de uma perspectiva que apreende os impressos como meio de comunicação educativo. Ainda que não possuam um caráter explicitamente educacional, os jornais pesquisados adotam uma posição notoriamente instrutiva, no sentido de oferecer modos e procedimentos de hábitos e condutas para a vida social. Para além de apenas registrar acontecimentos, os impressos jornalísticos, por intermédio de seus discursos ordenam e produzem saberes, de maneira a intervir nas relações de poder e na ordenação da sociedade. Desse modo, a imprensa local assume um caráter de dispositivo educativo que atua fora da escola. Para tanto, utilizam-se as ferramentas de análise de Michel Foucault para o estudo das construções discursivas, uma vez que, os discursos educacionais se relacionam a questões relevantes no pensamento dos dirigentes e intelectuais brasileiros do início do regime republicano. Os problemas da saúde, da higiene e das raças aparecem articulados às questões econômicas e políticas do período em estudo. Dessa forma, os discursos da saúde – bons hábitos, postura adequada, higiene – abordados pela “Biopolítica” de Foucault se acoplam com os discursos da moral e se fazem presentes nas páginas dos impressos produzidos em São João del-Rei. Outra indicação metodológica se relaciona à micro-história, especificamente, a dois marcos conceituais elaborados por Carlo Ginzburg: o “paradigma indiciário” e a atitude de “estranhamento”. Estes conceitos permitem investigar os indícios a partir dos quais é possível analisar a imprensa local para além de seu caráter informativo, isto é, construir um estudo que percebe os impressos jornalísticos enquanto dispositivos educacionais. Este trabalho considera que a análise da imprensa local contribui para problematizar como, por meio da vinculação entre imprensa e meio social, as questões educativas e as propostas de instrução da população circularam por amplos setores da sociedade.

UMA ESCOLA PARA A POBREZA: O PROFESSOR NEGRO GEMINIANO ALVES DA COSTA E A ESCOLA PARA POBRES EM FEIRA DE SANTANA

(1919- 1940).

DAIANE SILVA OLIVEIRA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

UMA ESCOLA PARA A POBREZA: O PROFESSOR NEGRO GEMINIANO ALVES DA COSTA E A ESCOLA PARA POBRES EM FEIRA DE SANTANA (1919- 1940). Palavras chaves: letramento – pobreza – Feira de Santana, Bahia. Este texto discute as propostas a instrução pública em Feira de Santana, Bahia de 1919 a 1940, a partir da Escola para Pobres em Feira de Santana que se fez efetivada a partir de 1919 pelo Professor negro Geminiano Alves da Costa, a Sociedade Monte Pio dos Artistas Feirenses, mantido pela Associação São Vicente de Paula e com ajuda da Prefeitura de Feira de Santana, Bahia. O objeto que aqui se amarra é pesquisado como um modelo de letramento diferenciado a partir em Feira de Santana, primeiro por se tratar de um ineditismo das aulas noturnas para adultos em Feira de Santana, mesmo que a alfabetização de adultos não fosse novidade na Bahia desde o período de 1870; depois pelo destaque social do modelo de escola que se efetivou, uma escola voltada para pobres. A centralidade da proposta está em identificar a implementação das aulas públicas para pobres em Feira de Santana, tomando a referida Escola e seu primeiro professor e cofundador Geminiano Alves da Costa, professor negro do início do século XX em Feira de Santana, que ofertava aulas particulares para meninos e posteriormente lecionou como professor municipal da 2ª cadeira do sexo masculino de Feira de Santana e pesquisar de que forma as escolhas sociais e políticas desse Professor interferiu na dinâmica de letramento do processo de instrução dessa cidade, bem como nas relações de sociabilidade, já que conseguiu implantar uma Escola noturna para adultos pobres em um prédio na principal avenida da cidade de Feira de Santana, Bahia. Com destaque especial para discussão da pobreza enquanto preocupação social para o evento da referida escola, proponho pensar a noção de pobreza enquanto categoria social para este período do início do século XX como evidencia SILVA (2011) quando identifica os/as pequenos/as lavradores/as, quitandeiras e carregadores que participavam das trocas comerciais ocorridas nas segundas-feiras. Porém, além das atividades na feira ou em torno dela, os trabalhadores do município, homens e mulheres, estabeleciam outras relações de trabalho, relacionadas a lavoura. A partir dessa discussão do que é entendido como pobreza na primeira metade do século XX, pensar a instituição de uma escola voltada para essa categoria social a partir das intenções de um professor negro que já exercia ações sociais através da Irmandade negra da qual fazia parte, a Irmandade de São Benedito e dos vicentinos que já sustentavam em sua trajetória concepções de inclusão social pra a instrução.

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POR QUE LER? A PRESENÇA DE DISCURSOS RELIGIOSOS NOS ROMANCES PARA MENINAS E MOÇAS

DAISE SILVA DOS SANTOS MARIANNA BORGES BARBOSA DE CARVALHO

Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O presente trabalho tem por finalidade analisar historicamente a presença de discursos religiosos no livro Natalin: o Mistério de Kerjonc, lançado em 1947, pela Livraria José Olympio Editora. A obra integrava a Coleção Menina e Moça editada pela livraria entre 1934 e 1960. Tratava-se de traduções para o português dos romances da famosa Bibliothèque de Suzette, publicados na França no período de 1919 a 1965. Ressalta-se o prestígio da livraria-editora devia-se ao tino comercial de seu proprietário, José Olympio Pereira Filho, e as boas relações pessoais que esse mantinha com autores, críticos e intelectuais de grande influência política, configurando uma “rede de sociabilidade”. A formação desses grupos e a sociabilidade dos mesmos podem ser pensadas a partir da convivência com os pares, de uma organização em torno de uma sensibilidade ideológica, afinidades, bem como interesses comuns (SIRINELLI, 1996, p.248). Nessa direção, analisa-se um romance que compõe a coleção buscando-se compreender as intenções das prescrições de bom comportamento moral para um público específico, meninas e moças entre 10 e 17 anos das camadas média e alta da população. A publicação de tais romances contou com o apoio de intelectuais católicos como Alceu Amoroso Lima (Tristão de Ataíde) e Padre Álvaro Negromonte. O livro analisado é um dos que contam com as recomendações desses religiosos. Para Evelyn Almeida, a inserção desses intelectuais católicos deve ser pensada como uma estratégia, uma tática para a difusão dos seus ideais, “restaurando a moral católica e recristianizando a nação” (ALMEIDA, p.22, 2012). Sobre sua história, o romance tem como pano de fundo a própria França, só que em um período mais recuado de tempo, século XVI, e é protagonizado pelo Cavaleiro Mederico de Brenne, que adquiriu uma má reputação desde que se tornou suspeito de um roubo, e a inusitada responsabilidade de ser guardião de uma menina de 6 anos, Luisa. Este encargo vem pelo parentesco do Sr. Brenne com a mãe da criança, eram primos, e pouco antes de morrer, a mulher implorou que ele se encarregasse do cuidado da órfã. Há outra personagem infantil no livro, Bathilde, uma menina de 10 anos, e ao longo da narrativa é possível perceber um contraste entre a personalidade das duas meninas. Enquanto Luisa é representada como um anjo e caracterizada como meiga e carinhosa, Bathilde é aventureira e por vezes referida como demônio. Tais apontamentos permitem pensar acerca do discurso que o livro intenta-se transmitir, bem como nas possíveis modalidades da apropriação dos textos, o processo pelo qual leitores dão sentidos aos textos a partir dos modos de uso e de seus interesses (CHARTIER, 2002, p.255). A intenção moralizante pode ser percebida pela presença de temas religiosos no livro em momentos que vão além da representação das personagens segundo a oposição anjo-demônio. Podemos notar também as menções religiosas como forma de prescrever comportamentos que não seriam próximos ao ideal feminino.

JOSÉ DA SILVA LISBOA, JOSÉ BONIFÁCIO E MARTIN FRANCISCO: DISCUSSÕES SOBRE EDUCAÇÃO NO IMPÉRIO DO BRASIL

DALVIT GREINER DE PAULA VERA LÚCIA NOGUEIRA

Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O objetivo desta comunicação é destacar e refletir sobre alguns dos principais elementos do debate intelectual acerca da educação brasileira durante a transição do Reino ao Império do Brasil (1815-1827) tentando identificar princípios e valores do Liberalismo aplicados à legislação da instrução pública. O marco temporal proposto visa entender o debate sobre educação a partir da assunção do Brasil à condição de reino autônomo, mas não independente, até a publicação da nossa primeira lei educacional em 15 de outubro de 1827, já como país soberano. Para isso, propomos uma análise comparativa entre o pensamento de José da Silva Lisboa, o visconde de Cairu, deputado constituinte pela Província da Bahia e dos irmãos Andrada: Martin Francisco e José Bonifácio, deputados constituintes pela Província de São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente. As principais fontes utilizadas na pesquisa são os jornais e panfletos que vão nos colocar no centro do debate proposto tanto à sociedade quanto ao parlamento, bem como os Anais da Assembleia Constituinte de 1823. Assim, como documento central e ponto de partida para nossa análise, “A Memória de Martin Francisco sobre a reforma dos estudos na Capitania de São Paulo”, publicada na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos em 1945, documento que nos remete explicitamente ao tema e em seu todo dedicado a educação, também foi apresentado à Assembleia Constituinte de 1823 como proposta educacional para todo o país, porém desaparecido com o fechamento da assembleia. No seu entorno e dialogando com a mesma as obras Constituição Moral e Deveres do

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Cidadão, de José da Silva Lisboa e Projetos para o Brasil, de José Bonifácio. A primeira publicada em 1827 pretensamente um complemento moral à Constituição política outorgada em 1824 e a segunda uma coletânea de textos do Patriarca da Independência em que apresenta suas propostas para a construção da nação. Para a análise e interpretação dos dados, nos inspiramos nos conceitos da História Política e da História Cultural - numa visão horizontal e vertical – como sugeridos por Chartier, bem como do método quantitativo proposto por Peter Burke e Régine Robin aplicado à atividade panfletária, jornalística e parlamentar dessa elite intelectual e política imperial. Nessa fase percebeu-se claramente os conceitos caros ao Liberalismo, principalmente os de liberdade e felicidade, bem como a necessidade de um sistema educacional que mobilizasse o Estado na construção e instrução da nação. Assim, apesar de concepções diferentes, e com viés político antagônico, terminam por enxergar a necessidade da educação para a nova nação, porém com finalidades diversas.

UM QUÊ DE PERMANÊNCIA DO CAPITAL-IMPERIALISMO NO DISCURSO DOS EDUCADORES DO SÉCULO XX: O CASO DE PASCHOAL

LEMME E PAULO FREIRE

DANIEL LUIZ POIO ROBERTI Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

As análises desenvolvidas pela historiadora Virginia Fontes nos levam a crer que o conceito de capital-imperialismo não apenas explica as relações econômicas pelos seus próprios fins, mas ele também pode ser entendido como um processo que atinge todas as dimensões humanas. Fontes, a partir de Marx, acredita que o capitalismo deveria ser compreendido como uma forma datada na história com a função de organizar as relações sociais, sobrepondo o “econômico como sua dimensão central, como se fosse o móvel e o fulcro da existência humana.” A análise que fazemos em torno deste trabalho leva em conta a questão do capital-imperialismo e a sua relação com a educação, considerando sempre a imbricação entre superestrutura e estrutura. Propusemo-nos pesquisar o sentido de permanência histórica das discussões que envolvem a subalternização e a dependência do Brasil em relação às questões educacionais no sistema-mundo moderno colonial. Com o intuito de realizar tal pesquisa, selecionamos previamente os educadores brasileiros do século XX que mais se aproximavam de um pensamento crítico sobre a influência dos países centrais do capital-imperialismo em relação aos assuntos relativos à educação brasileira. Entre os educadores, alguns nomes que apareceram em um primeiro momento foram Paschoal Lemme, Florestan Fernandes, Paulo Freire e Dumerval Trigueiro. Neste primeiro passo da pesquisa, em que nomeamos de alinhamento dos teóricos da educação, não levamos em conta o tempo, ou seja, o quando eles escreveram, mas como eles justificavam os problemas educacionais brasileiros. A partir da análise dos ensaios e da historiografia desses educadores, reduzimos a nossa amostra de pesquisa a dois intelectuais. Os autores escolhidos escreveram sobre a falta de pioneirismo brasileiro para resolver os seus próprios dilemas educacionais. Optamos pelos educadores Paschoal Lemme e Paulo Freire para realizarmos a pesquisa, porque estes autores escolheram se dedicar a fazer críticas “por fora do sistema” do discurso educacional até então vigente. Esses dois personagens da história da educação brasileira não fizeram parte do “grupo de frente” que liderou as principais diretrizes das políticas públicas nacionais.* *Paulo Freire ao longo da sua vida profissional teve participações esporádicas e de curta duração dentro do sistema político oficial do Brasil. Ele chefiou o Programa Nacional de Alfabetização por menos de um ano na década de 60 e foi secretário de educação na cidade de são Paulo no mandato da prefeita Luiza Erundina. Paschoal Lemme participou da administração pública da educação na época de Fernando de Azevedo (1927-1930) e de Anísio Teixeira (1931-1935). Mas, ambos intelectuais nunca tiveram oportunidades de promover mudanças na direção da política educacional do nosso país.

ENSINAR A LER É BOM, MAS NÃO SERÁ AINDA TUDO: LOURENÇO FILHO E A EDUCAÇÃO DE ADOLESCENTES E ADULTOS NO BRASIL NOS

ANOS DE 1940

DEANE MONTEIRO VIEIRA COSTA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este trabalho é resultado de pesquisa que teve por finalidade investigar, numa perspectiva histórica, a direção geral exercida pelo professor Manoel Bergström Lourenço Filho, da primeira iniciativa governamental de educação de adolescentes e adultos nas áreas rurais e urbanas no Brasil, a partir de 1947, intitulada de

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA). Tratava-se de um período de redemocratização do Brasil, com o fim do Estado Novo e da existência de uma nova Constituição promulgada que retomava as bases da democracia liberal proposta pela Constituição de 1934. Dessa forma, de 1947 a 1950 o movimento de ensino supletivo, por meio da CEAA, foi planejado por Lourenço Filho e seus assistentes técnicos, com a finalidade de atender a dois objetivos centrais: o de estender a ação da escola primária a vários milhões de brasileiros, de ambos os sexos, adolescentes e adultos, que não sabiam ler e o de influir na conjuntura cultural do país, de tal modo que os problemas de educação popular passassem a ser percebidos em toda a extensão e gravidade, inclusive nos grandes grupos de analfabetos da população ativa. Ao adotarmos o pensamento de Bakhtin (2006), percebemos que a vida de Lourenço Filho não pode ser analisada isoladamente; ela deve ser compreendida tanto em seu fundamento geral (como homem de seu tempo e espaço) quanto em suas peculiaridades individuais (mundo interior). Nessa abordagem, a função da palavra-enunciado não serve para caracterizar o personagem, e sim para provocar o diálogo entre as vozes que ecoam em um homem situado temporal e espacialmente, com as múltiplas vozes que representavam o seu contexto histórico, político, social e econômico “vivido”. O envolvimento direto de Lourenço Filho na condução teórico-prática da CEAA fez com que, em 1950, no decorrer da Campanha com colaboração de outros especialistas, fosse publicado o livro Fundamentos e metodologia do ensino supletivo. Assim, é nosso objetivo compreender: quais concepções de educação e de alfabetização de adolescentes e adultos podemos encontrar nessa produção? Por que para Lourenço Filho ensinar a ler é bom, mas não é tudo? Partindo também das ideias de Norbert Elias (1994), recorremos ao conceito de processo civilizador, para compreender o modelo de sociedade democrática proposta pela CEAA, que contava com um projeto que vinculou educação, saúde e civilização como um processo que deveria ser seguido com vistas a interagir e abrandar os hábitos sociais existentes dos analfabetos tidos como “males sociais”.

JOSÉ SCARAMELLI: UM PROFESSOR NA IMPLEMENTAÇÃO E DIVULGAÇÃO DE UMA DIDÁTICA E METODOLOGIA DA EDUCAÇÃO NOVA PARA A INSTRUÇÃO BRASILEIRA NA PRIMEIRA REPÚBLICA

DÉBORA ALFARO SÃO MARTINHO DA SILVA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este trabalho tem por tema o estudo do movimento das ideias pedagógicas em circulação na Primeira República brasileira, período caracterizado por Nagle, em sua obra Educação e sociedade na Primeira República, como o início do desenvolvimento de uma nova compreensão acerca da educação, para os quais se voltam esforços a fim de se reformar e remodelar os sistemas escolares segundo o movimento internacional representado pelo ideário da Educação Nova. Para isso, são analisadas as obras do educador e intelectual José Scaramelli, destinadas à formação do magistério nacional e à infância brasileira no período referido. José Scaramelli, professor diplomado pela Escola Normal Secundária de São Paulo – vanguarda dos institutos de formação docente pelas produções teóricas e iniciativas práticas pedagógicas que desenvolve e irradia –, pertencente ao escol do magistério nacional, que situado no âmbito da ação (como professor, diretor de escolas e partícipe do bandeirismo paulista) e da informação (atuando como escritor de manuais pedagógicos e livros de leitura) procura difundir e operacionalizar o modelo didático e metodológico da Educação Nova, propondo um modelo de Escola Nova com características brasileiras como solução aos impasses da escola pública do país no período delimitado. Em seus impressos procura, como manifesto no prefácio de uma de suas obras: esboçar a essência da doutrina escolanovista expressa nas obras de John Dewey, Ovide Decroly, Adolph Ferrerier, Lombardo-Radice e Demolins, entre outros autores representantes desta orientação, tendo em vistas suas contribuições, teórico-práticas, no cotidiano escolar. Declara que, não copiou e nem traduziu autores. Da mesma forma que, não foi fiel aos mestres, mas os leu e procurou assimilar suas concepções, utilizando-as como ponto de partida para elaborar seu trabalho que tem em vista às escolas, professores e crianças de seu país, enfim, a realidade educacional brasileira; pois, habituado a pensar por si mesmo, não saberia “rezar pelas cartilhas alheias”. Procura-se compreender como os princípios do Movimento Internacional da Educação Nova foram interpretados, adaptados e traduzidos à realidade educacional da época por este educador, investigando-se se a proposição do novo modelo pedagógico elaborado por José Scaramelli para a escola brasileira resultaria em algo inovador ou se constituiria em uma reprodução dos sistemas de pensamento de autores estrangeiros? Como categorias de análise, foram tomados os conceitos de didática e metodologia presentes no conjunto de sua obra produzida na década de 1920 e no início de 1930. Como guias metodológicos para a análise dos resultados foram consideradas as categorias indicadas por Saviani como essenciais para a realização de um trabalho dentro de uma perspectiva histórico-educacional, constituído por: perspectiva de longa duração; olhar analítico-sintético no trato com as fontes, articulação do singular e do universal e a atualidade da pesquisa histórica.

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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação

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O BANDEIRISMO PAULISTA E A DIFUSÃO DA EDUCAÇAO NOVA NA PRIMEIRA REPÚBLICA BRASILIERA

DÉBORA ALFARO SÃO MARTINHO DA SILVA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Erigido como signo da modernidade, cientificidade, do progresso e da nova ordem instituída o sistema de ensino da província de São Paulo será alçado, na Primeira República brasileira, como um referencial de educação, para o qual será atraída a atenção de autoridades políticas de outros Estados empenhados no ideal republicano de reforma da educação popular. Encantados com os significativos índices de expansão do ensino público alcançado e a organização pedagógica e administrativa implementada em suas reformas educacionais, tais autoridades acorrerem aos dirigentes paulistas a fim de solicitar-lhes professores para superintenderem ações em diversos níveis de seus sistemas de ensino. Este fenômeno ficou conhecido como bandeirismo paulista. Comissionados em outros Estados, estes professores, além de reformar administrativamente seus aparelhos escolares, disseminavam e implementavam os preceitos dos hodiernos métodos e processos de ensino. Dentre eles, a de uma nova orientação pedagógica que, segundo Nagle, em sua obra Educação e sociedade na Primeira República, começava a adentrar o país, vindo a se firmar-se na década seguinte, de 1930: a Educação Nova. Assim, este trabalho tem por objetivo apreender o movimento das ideias pedagógicas em circulação na Primeira República brasileira, buscando compreender como os fundamentos teórico-práticos, propalados por teóricos impulsionadores do Movimento Internacional da Educação Nova, foram interpretados, traduzidos ao contexto escolar nacional e divulgados por quatro educadores partícipe do bandeirismo paulista: Orestes Guimarães, Carlos da Silveira, Cesar Prieto Martinez e José Scaramelli em suas ações e produções bibliográficas no momento histórico de “preparação do terreno” para a consolidação do ideário escolanovista no Brasil. Para isso serão analisados documentos oficiais (regulamentos, relatórios de governo, leis e decretos promulgados) e impressos (manuais de ensino, livros de leitura, artigos em periódicos, conferências e congressos educacionais) elaborados por estes educadores no referido período. Investiga-se se haveria uma unidade de pensamento acerca da concepção de Educação Nova difundida pelos educadores estudados, de modo a promover uma unificação e nacionalização do sistema de ensino brasileiro. Como guias metodológicos foram consideradas as categorias indicadas por Saviani para se trabalhar em uma perspectiva Histórico-cultural, constituindo-se por: caráter concreto do conhecimento histórico-educacional, perspectiva de longa duração; olhar analítico-sintético no trato com as fontes; articulação do singular e do universal e atualidade da pesquisa histórica. Espera-se com isso, trazer à tona registros fundamentais e novas questões para a compreensão e a reconstituição da História da Escola Pública Brasileira.

A INFLUÊNCIA DA PEDAGOGIA NOVA NO PENSAMENTO DE RUBEM ALVES

DENISE CAMARGO GOMIDE Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O presente estudo tem como objetivo apontar os resultados obtidos no desenvolvimento de uma pesquisa histórico-biográfica, que culminou na dissertação de Mestrado: Rubem Alves e o pensamento educacional–liberal: aproximações. O foco principal da pesquisa foi vivenciar uma reorganização do discurso liberal na educação através do estudo do pensamento pedagógico de Rubem Alves (1933-2014) que é fortemente marcado pelos pressupostos teóricos do liberal-escolanovismo. A análise da aproximação do pensamento pedagógico Alves com as propostas escolanovistas nos permitiu inferir que seu discurso, além de constituir-se uma tentativa de reorganização do discurso liberal, aponta para o discurso de transformação da escola como forma de mudar a sociedade. Partindo-se da hipótese de que não há concepção pedagógica neutra, isenta de influências e confluências, objetivou-se identificar os pontos convergentes do discurso alvesiano na sua relação com a tradição liberal-escolanovista. A pesquisa se apoiou na metodologia histórico-educacional, a partir do estudo do desenvolvimento do pensamento educacional liberal e no levantamento bibliográfico da produção pedagógica de Rubem Alves, seguido da análise documental do levantamento. Além das fontes escritas, enriqueceram o processo de investigação os relatos de história oral. A partir de uma concepção marxista, buscou-se uma análise crítica das profundas transformações da tradição liberal na sua articulação original, a fim de fundamentar teoricamente a hipótese inicial de que o pensamento de Rubem Alves é, na sua matriz teórica, uma dessas reorganizações do pensamento liberal. A reconstituição histórica do pensamento educacional liberal nos permitiu evidenciar que a Pedagogia Nova foi se transformando e se adaptando aos desenvolvimentos da sociedade burguesa brasileira e, nessa perspectiva, a concepção pedagógica de Rubem Alves constitui-se numa reorganização do discurso educacional liberal na medida em que se articula em torno dos interesses da

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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pedagogia burguesa de inspiração liberal e cultiva os ideais principais do escolanovismo como o respeito à individualidade da criança, cultivo à infância, incentivo à criatividade, busca da liberdade individual e subjetiva. Foi possível também observar em Alves uma ênfase marcante na psicologização do ensino, na questão dos métodos e no deslocamento do eixo da escola para a criança, que passa a ser vista como o centro do processo de ensino-aprendizagem. Na concepção educacional de Alves, pudemos evidenciar um direcionamento para a educação dos sentidos, onde o intelecto é apenas uma parte da totalidade que compõe o ser humano, e esse modo de perceber o seu pensamento nos permitiu inferir que a sua construção teórica, no que diz respeito aos assuntos educacionais, se encontra fundamentada nos princípios norteadores do liberal-escolanovismo.

AS REPRESENTAÇÕES SOBRE O MAGISTÉRIO NA REVISTA EDUCAÇÃO DE SÃO PAULO (1929 – 1945)

DISLANE ZERBINATTI MORAES Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O objetivo do trabalho é compreender as representações sobre o magistério rural de Sud Mennucci e de outros autores que publicaram textos sobre educação rural na Revista Educação entre os anos de 1929 e 1945. A revista foi editada entre 1927 e 1961. Inicialmente era uma iniciativa conjunta da Diretoria Geral da Instrução Pública e a Sociedade de Educação de São Paulo. Entre 1941 a 1943 a revista não é publicada pela alegação de falta de verba, então é assumida pela Imprensa Oficial que tinha Sud Mennucci como diretor. Mennucci inflamou o debate educacional do período ao propor uma formação diferenciada para os professores que atuariam nas escolas rurais, ficando conhecido como “pai do ruralismo pedagógico”. Como Diretor Geral da Instrução Pública de São Paulo editou uma polêmica reforma de ensino em 1932 que pretendia reorganizar o ensino rural. Por outro Decreto tentou criar a Escola Normal Rural de Piracicaba, mas não obteve sucesso. O corpus documental da pesquisa é composto por 6 textos de autoria de Sud Mennucci e 31 textos de autoria de inspetores escolares, diretores de escolas e de Escolas Normais, educadores que alcançaram destaque na administração do ensino e estudiosos estrangeiros. Entendemos, assim como Denice Catani (2003), que a imprensa educacional possuiu um papel importante na construção do campo educacional, desempenhando papel estratégico na construção da hierarquia social do campo e como espaço de discussão sobre de diversos temas relacionados à profissão docente. Nosso referencial teórico consiste na leitura de François Dosse (2009), que entende a biografia intelectual como uma entrada para a reflexão historiográfica a partir da singularidade da vida de um indivíduo. Pierre Bourdieu (1998), a partir de suas análises sobre o capital cultural tem nos ajudado a pensar de que forma Sud Mennucci utilizou diferentes saberes e competências para ocupar posições privilegiadas no sistema educacional. Roger Chartier (1990, 1991) tem permitido pensarmos nas representações como estruturas de pensamento que tornam o mundo legível e orientam as ações dos indivíduos. Sud Mennucci e alguns autores exaltavam a imagem da profissão como “vocação”. De outro lado, Mennucci destacava que os professores deveriam possuir uma formação que os permitissem construir um modelo de ensino que preparasse o aluno da escola rural para o trabalho agrícola. Não havia um consenso sobre a criação dos cursos Normais Rurais. Alguns autores sugeriam a inclusão de discussões que envolvessem os estudos sobre a sociologia e a psicologia rural na cadeira de Didática das Normais existentes ou o oferecimento de um curso, ao final da formação, sobre didática e ensino rural. Há uma representação ambígua entre a formação como “vocação” e outra organizada a partir de princípios científicos.

ARTE E EDUCAÇÃO: AS IDEIAS DOS INTELECTUAIS VINCULADOS À UNESCO (1954)

DULCE REGINA BAGGIO OSINSKI Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este artigo analisa as políticas da Unesco em promoção da educação pela arte e as ideias de intelectuais a ela vinculados, expressas na no livro “Art et Education”, editado em 1954. A iniciativa faz parte de um movimento, iniciado em final do século XIX e que se intensificou ao longo da primeira metade do século XX, reunindo intelectuais interessados na defesa da liberdade de expressão da criança no papel da parte no desenvolvimento infantil. Nessa perspectiva, a arte teria a função de contribuir para preservar a visão de mundo intuitiva das crianças, favorecendo, por outro lado, seu desenvolvimento intelectual, emocional e criativo. Após a Segunda Guerra Mundial, especialmente com a criação da Unesco, em 1945, tomou força a ideia da arte infantil como elemento potencial de promoção do entendimento entre os povos. A obra foi concebida a partir de um estágio de estudos em forma de curso de verão intitulado “As artes plásticas no ensino geral”, realizado em 1951 na

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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação

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Universidade de Bristol, no Reino Unido, e contou com a colaboração de textos assinados por artistas, críticos de arte e educadores de diversos países interessados nas interfaces entre educação e arte, tais como Henri Matisse, Pierre Duquet, Walter Battiss, Arno Stern, Edwing Ziegfeld, Herbert Read, Jean Piaget, Richard Ott, Thomas Munro w Viktor Lowenfeld, entre outros. Esses intelectuais, oriundos de diferentes recantos do planeta, eram em sua maioria profissionais atuantes em instituições educacionais e culturais de países como África do Sul, Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Egito, França, Japão, Estados Unidos, Holanda, Israel, Itália, Noruega, México, Nova Zelândia, Reino Unido e Suécia. O projeto também contou com o apoio institucional dos governos dos países envolvidos. Entre os assuntos tratados, incluem-se as relações entre a expressão artística infantil e os diversos estágios da infância, a educação artística e seus aspectos administrativos, a formação dos professores de arte, os aspectos sociais da educação em arte e sua inserção no contexto internacional. Essa diversidade denota a preocupação não só com os aspectos teóricos, mas também com a instrumentalização dos educadores para a operacionalização das ideias discutidas. A fonte principal de análise é a própria publicação, que apresenta, além dos textos, imagens de crianças em situação de prática artística e também dos trabalhos por ela realizados. Além dela, foram utilizados documentos produzidos pela da Unesco, tais como relatórios e atas, além de publicações do período. História da educação em arte; Unesco; arte infantil.

MODERNIZAÇÃO, EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DOCENTE: DISCURSOS (E AÇÕES) ACERCA DO RURAL EM SANTA CATARINA NOS ANOS 1940 E

1950

ELAINE APARECIDA TEIXEIRA PEREIRA MARIA DAS DORES DAROS

Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O trabalho objetiva compreender aspectos relacionados à formação de professores por meio do mapeamento e da análise de discursos produzidos nas décadas de 1940 e 1950. Tendo como foco a realidade do estado de Santa Catarina, ao mesmo tempo em que se relaciona esta realidade a contextos e debates mais amplos, buscou-se mapear as questões presentes nos discursos sobre a formação docente no período demarcado, em especial, os que se referem à preparação dos professores para o meio rural, devido à constatação da importância que este tema adquiriu nos debates educacionais de então. Circunscrito na abordagem da história intelectual, a análise apoia-se em autores como Quentin Skinner e Pierre Bourdieu, além de Carlos Eduardo Vieira, que sugerem uma atenção especial ao lugar de onde falam os agentes sociais, a suas intenções ao escrever, bem como aos embates relacionados aos discursos produzidos. No âmbito desta pesquisa, os discursos intelectuais são caracterizados como sociais e políticos, produto das formulações de agentes ligados ao campo educacional, em situações de interlocução e na atuação na esfera pública. Gestados devido ao arcabouço teórico, ideológico e linguístico disponível em seu contexto de produção, são transversalizados por questões, debates, embates aí postos, e estão ligados a projetos e a programas de ação. O corpus documental que embasou a análise é formado por livros e periódicos educacionais, assim como por publicações oficiais, relatórios, leis e decretos, circulares, regulamentos e programas de ensino, nos quais foram compilados discursos que contribuíssem para a reflexão acerca de algumas questões: o que dizem os discursos sobre a formação de professores, em especial, os que abordam a preparação dos docentes a atuarem/atuantes no meio rural, produzidos nas décadas de 1940 e 1950? Quais questões explicitam, quais intenções possuem, quais ações e projetos estão a eles relacionados? Como um dos focos do debate, adquire tom acusador a má qualidade da educação rural, com destaque para as escolas primárias e os cursos de formação de professores. Estes agentes, aclamados como ímpares na modernização do meio rural, tinham a função de contribuir para a permanência da população em seu próprio ambiente, onde seria educada de acordo com padrões "universais" de comportamento, num processo em que o “moderno” deveria suplantar o “rústico” e o “arcaico” que ainda se fizesse presente. Tendo acesso a uma formação de qualidade e estando verdadeiramente integrados à escola e ao seu meio social, os docentes dos meios rurais poderiam exercer a função de partícipes na construção de uma nova educação para um Brasil em vias de modernizar-se. Uma relação entre o tripé educação, modernização e formação docente, é, portanto, constatada nos discursos acessados e que serviram de fontes ao presente trabalho.

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REPRESENTAÇÕES DA MULHER PROFESSORA NA REVISTA DE EDUCAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO (1934-1937)

ELDA ALVARENGA RAFAELLE FLAIMAN LAUFF WESTPHAL

Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

REPRESENTAÇÕES DA MULHER PROFESSORA NA REVISTA DE EDUCAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO (1934-1937) Objetiva identificar as representações da mulher professora no Estado do Espírito Santo, por meio do discurso difundido pela Revista de Educação. Esse impresso foi publicado pelo Serviço de Cooperação e Extensão Cultural (SCEC) do Departamento de Ensino Público do Espírito Santo, entre 1934 e 1937, na cidade de Vitória. Para tanto, analisa os textos que circularam no periódico que de alguma forma indicam representações da mulher professora na época. Contribuíram para essas análises os conceitos de representações e materialidade difundidos por Reger Chartier (1990,1991). Ao considerar o gênero uma construção social que representa e reproduz relações de poder, pode-se dizer que as representações de homens e de mulheres e nesse caso específico, de mulheres professoras, variam, dependendo da cultura, do ambiente social, enfim, da sociedade em que as pessoas estão inseridas. Ao articular pressupostos teóricos de pesquisadores/as do gênero e da profissão docente, Silva (2002) aponta que o mundo do trabalho se organiza não apenas pela economia e pela cultura, mas também pela posição ocupada por homens e mulheres em uma determinada sociedade. A análise das imagens e textos selecionados aponta que dos vinte e três autores de fora do estado que publicaram na revista, seis eram mulheres: quatro professoras, uma diretora de grupo escolar e uma deputada estadual. Dentre os vinte e um autores que tiveram seus artigos veiculados mais de uma vez no impresso, uma mulher professora teve dois artigos. Dos cento e nove artigos publicados em todas as revistas, vinte e nove foram de mulheres educadoras, ou seja, em torno de vinte e seis por cento (26%). Observa-se a tendência à reafirmação de representações das mulheres como as responsáveis pela educação das novas gerações, tanto aos filhos como os alunos/as assim como o caráter maternal da mulher, muitas vezes associado ao trabalho das professoras. Nesse sentido, as professoras deveriam amar seus alunos de maneira sensível, o que os tornariam grandes "pedagogistas", ao invés de compiladores de manuais (PIMENTEL, 1934). A implementação do bandeirantismo escolar, um dos ramos do escotismo voltado para as meninas, só poderia ser chefiado por professoras diplomadas pela escola de bandeirantismo ou com "aptidões" para o cargo, conforme o decreto federal de 19.398 de 11 de novembro de 1930, com o objetivo de formar o caráter das moças, desenvolver-lhes o espírito de família e civismo, constituir a mulher "perfeita", "capaz", "dignificadora do lar", habilitando-a nas ocupações domésticas.

DOUTORES DA VIDA OU MESTRES DO LATIM? TRÊS PROFESSORES MESTIÇOS NO IMPERIAL COLÉGIO DE PEDRO II (1838 – 1865).

ELISABETH MONTEIRO DA SILVA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Enquanto nos Estados Unidos no século XIX a cor servia como elemento hierarquizante e definidor da cidadania, no Brasil Imperial a mestiçagem carregava o estigma da degeneração e inferioridade intelectual e moral, uma raça “viciada no sangue e no espírito” Gobineau (1855). Como escreveu o padre André João Antonil (1649-1716) o Brasil era “o inferno dos negros, o purgatório dos brancos, e o paraíso dos mulatos”. Trata-se de um debate no qual algumas matrizes interpretativas passaram a fornecer a base que colaborou para forjar a concepção e definição de quem era o mestiço e quais as características intelectuais e morais definidoras de sua personalidade e caráter. Considerando-se este debate no campo da instrução, objetivamos destacar a presença e trajetória de três professores no Imperial Colégio de Pedro II, a saber: Antonio de Castro Lopes, Antonio José de Souza e Lucindo Pereira dos Passos. Além da condição de mestiços, esses sujeitos apresentam algumas similaridades, dentre elas a profissão: os três eram médicos formados pela Faculdade Nacional de Medicina da Côrte em anos muito próximos: 1843, 1848 e 1851, respectivamente, e também foram professores de Latim no Imperial Colégio de Pedro II. A presença desses sujeitos nesta instituição de ensino permite inferir que a condição da cor não era elemento de impedimento à entrada e permanência aos mestiços seja na condição de professor, aluno ou funcionário. Buscou-se compreender o contexto social e os diferentes campos de atuação desses professores, como também os círculos de sociabilidade formados para além da instituição de ensino. Com a intenção de investigar o pertencimento institucional e trajetórias desses professores, nos orientamos por questões como: Quais eram os espaços sociais frequentados pelos mestiços selecionados? Como atuavam no ensino, política, medicina e jornalismo, por exemplo? Como esses atores lidaram com o estigma da mestiçagem marcado por definições derivadas de estudos estrangeiros que circularam na sociedade brasileira da época? Que posições alcançaram no meio acadêmico e social? Para essa investigação, analisamos fontes manuscritas - livros de

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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação

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nomeação de professores, ofícios, relatórios do reitor do Colégio Pedro II e avisos do Ministério do Império, entre 1838 e 1865, localizadas no Núcleo de Documentação e Memória do Colégio Pedro II (NUDOM), nos Arquivo Nacional e Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. Nesta investigação foi possível perceber que o estatuto da “cor” não foi obstáculo para o ingresso desses atores no círculo do magistério secundário do século XIX, impregnado por valores importados das sociedades ditas desenvolvidas, os quais destinavam a esses sujeitos a exclusão e o impedimento a qualquer lugar social que não fosse àquele destinado a sua condição social.

AS PROPOSTAS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA EM CIRCULAÇÃO NA REVISTA NOVA ESCOLA (1997 A 2006)

ELISANGELA ALVES DOS REIS SILVA ELAINE RODRIGUES

Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

A presente narrativa tem como objetivo destacar o fazer educacional e as propostas para o Ensino de História em circulação na Revista Nova Escola, um impresso pedagógico, produzido pela Editora Abril que por meio de convênio com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação é oficialmente distribuído às escolas brasileiras com mais de 50 alunos. A análise delimita o recorte temporal de 1997 a 2006, em que no marco inicial, houve a divulgação prévia dos PCN’s, concomitante ao período em que o impresso se posiciona como “A Revista do Ensino do 1º grau” e de encerramento o ano de 2006, período em ocorre a implantação do ensino fundamental de 9 anos pela Lei 11.274/20061 no ano de 2006 e a última mudança nos dísticos da revista, posicionando-se como “A Revista de quem Educa”. Foram selecionadas, como fonte as reportagens da seção História dispostas em 23 exemplares, que catalogadas, agrupadas e sistematizadas por temas recorrentes compilaram na apresentação dos conhecimentos/conteúdos compreendidos pela seção História da Revista Nova Escola como socialmente válidos e merecem veiculação.O texto destaca o lugar social de produção do impresso, as propostas veiculadas por este e suas aproximações com o PCN de História. Compreende-se a imprensa pedagógica como veiculadora de determinados interesses, portanto, o conteúdo em circulação na Revista Nova Escola não é despretensioso ou imparcial. A metodologia de caráter qualitativa reconhece a “terra alheia” que se pretende adentrar, mapeia, sistematiza e analisa as informações, a partir dos aportes teóricos Michel de Certeau (1982), Roger Chartier (2002), Jaques Le Goff (2003), balizadores que sustentaram os procedimentos teórico-metodológicos utilizados nesse estudo, Fernandes (2008), Biccas (2008) e Catani & Bastos (1996, 2002) contribuíram para o entendimento do que tange à historiografia especializada no trabalho com impressos pedagógicos e Goodson (1995), Popkewitz (2000) Bittencourt (2005, 2007), Schmidt (2007) e Cainelli (2010) no que trata o conceito de currículo e as especificidades das abordagens metodológicas para o Ensino de História, a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Os resultados apontam que os autores que assinam as propostas para o Ensino de História não falam da academia, salvo, quatro deles, que estão ligados a uma linha de pesquisa e tem currículo lattes, assim como não tem formação de graduação ou pós graduação na área de Educação, História ou Ensino de História, são jornalistas de ofício, que redigem reportagens em revistas de diferentes segmentos do Grupo Abril. Denotam ainda, que algumas propostas veiculadas, caracterizam-se como uma estratégia de divulgação, expansão e implantação dos saberes históricos defendidos pelo currículo oficial; outras reafirmam os saberes históricos já implantados, no entanto, sem referências, conceitualizações e argumentos.

A PRESENÇA DO DISCURSO BIOPOLÍTICO NAS PÁGINAS DO JORNAL GAZETA DE MINAS: UMA ANÁLISE DO "CODIGO DE POSTURAS

MUNICIPAES DE OLIVEIRA/MG" (1937)

FABIANA APARECIDA OLÍVIA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este trabalho, fruto de uma dissertação de mestrado ainda em andamento, tem por objetivo investigar a presença do discurso biopolítico nas páginas do jornal Gazeta de Minas, especificamente no que se refere à publicação do "Codigo de Posturas Municipaes de Oliveira" em 1937. Nota-se com clareza como as propostas educativas voltadas para os cuidados com a saúde e a higiene do indivíduo e da população aparecem nesta publicação. Dentre as fontes analisadas, estão as Leis e Decretos do Estado de Minas Gerais de 1927 (volumes I, II e III); o Regulamento dos mendigos de 1900; o jornal Gazeta de Minas; e um conjunto diverso de obras científicas e acadêmicas sobre o tema. O principal referencial teórico-metodológico utilizado foi Michel Foucault, sobretudo no que diz respeito à análise dos dispositivos como a legislação e seu discurso biopolítico. O jornal Gazeta de

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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Minas foi fundado na cidade de Oliveira – MG em 1887 pelo português Antônio Fernal. Nos primeiros anos de circulação, o jornal chamou-se Gazeta de Oliveira. Em 1º de janeiro de 1899, dada a sua larga circulação, o jornal passou a denominar-se Gazeta de Minas, adotando ali, o nome que até hoje traz em seu frontispício. Tal periódico se coloca como o mais antigo jornal do estado ainda em circulação. Entre outras curiosidades históricas chegou a noticiar a assinatura da Lei Áurea, a Proclamação da República e a Primeira Guerra Mundial. Ao longo dos anos este veículo de comunicação cresceu, chegando a ser considerado um dos maiores jornais de Minas em formato e tiragem. Suas edições traziam notícias tanto da cidade de Oliveira como também notícias do Brasil e do mundo. A partir da década de 20 o jornal ganha uma feição mais política, seguindo uma linha editorial bastante direcionada, principalmente a favor de Arthur Bernardes. A publicação do "Codigo de Posturas Municipaes de Oliveira", como um suplemento do jornal, evidencia a tentativa de educar o indivíduo e a população, mesmo que fora do âmbito escolar, por meio de normas de comportamento. Os temas privilegiados no documento são referentes à higiene domiciliar, alimentação pública, moléstias epidêmicas, além de abordar o comportamento dos comerciantes, mendigos e infratores. Desta forma, percebe-se que o "Codigo de Posturas Municipaes de Oliveira" ajuda a compreender a formação dos discursos biopolíticos na década de 30, em Minas, que, permeados por relações de poder, tentavam utilizar o jornal como um dispositivo educativo, ou seja, um meio para educar a população e transformar os habitantes em uma população forte, saudável, moralizada e apta para o trabalho.

JOSÉ VERÍSSIMO, UM CLÁSSICO BRASILEIRO: A ANTOLOGIA ESCOLAR COMO CANONIZAÇÃO LITERÁRIA E FORMAÇÃO DE LEITORES.

FELIPE TAVARES DE MORAES Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Analisa-se neste trabalho a antologia escolar “José Veríssimo – Crítica”, seleção e estudo crítico de Olívio Montenegro, editado pela Editora Agir, na coleção “Nossos Clássicos” (1958), como uma forma de recepção e seleção dos estudos literários da extensa obra histórica, etnográfica e literária de José Veríssimo. A antologia assume ainda as funções de dispositivo escolar de formação de leitores, uma vez que representa a seleção de textos e comentários que pretendem introduzir e contextualizar a obra do autor; bem como de mecanismo de sua canonização como um ‘clássico’ da Literatura Brasileira, enquanto crítico literário. Consideramos esta antologia escolar sob três perspectivas: como uma “relação tensa de intercâmbio e confrontação” entre História e Literatura, consistindo na recepção e seleção de um autor e sua obra que registra um processo histórico, ao mesmo tempo, que esse processo de recepção e seleção produz processo histórico, tal qual assinalado por Nicolau Sevcenko; suas condições sociais de leitura como produto de leitores autorizados, que operam leituras consagradas, situadas em determinada tradição letrada, segundo orientação de Pierre Bourdieu; e a sua constituição como discurso literário, de acordo com Mikhail Bakhtin, que enfeixa a modulação dialógica de diversas vozes sociais condensados nas diversas linguagens do romance – no caso, da antologia, na seleção (por Olívio Montenegro) e recepção (por diversos autores) da obra literária de José Veríssimo. Argumenta-se que esta antologia escolar, como seleção e recepção da obra literária de Veríssimo, registra o processo de canonização escolar como crítico literário e, a partir disso, produz o processo de formação de leitores, reverberando a leitura consagrada de determinada tradição letrada, como discurso literário de modulação dialógica entre seleção (realizada por um autor) e recepção (comentários e análises por vários autores). Além disso, adianta uma chave de leitura sobre a obra de José Veríssimo, que ficou consagrada nos trabalhos de João Alexandre Barbosa: a divisão entre provincial (obras produzidas no Pará) e nacional (obras produzidas no Rio de Janeiro) – a segunda fase consagra o intelectual maduro, como crítico e historiador da literatura, obscurecendo o formidável etnógrafo e historiador da realidade amazônica. Portanto, essa antologia escolar antecipa uma consagrada chave de leitura sobre a obra de José Veríssimo: a transformação em clássico brasileiro na consagração do crítico literário. Do mesmo modo, transforma essa chave de leitura em um elemento de formação de leitores que procura assentar uma formação erudita na retomada de determinados cânones da literatura considerados clássicos brasileiros.

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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação

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AS REPRESENTAÇÕES SOBRE O MAGISTÉRIO RURAL NA REVISTA EDUCAÇÃO DE SÃO PAULO (1929-1945)

FERNANDO HENRIQUE TISQUE DOS SANTOS DISLANE ZERBINATTI MORAES

Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O objetivo do trabalho é compreender as representações sobre o magistério rural de Sud Mennucci e de outros autores que publicaram textos sobre educação rural na Revista Educação entre os anos de 1929 e 1945. A revista foi editada entre 1927 e 1961. Inicialmente era uma iniciativa conjunta da Diretoria Geral da Instrução Pública e a Sociedade de Educação de São Paulo. Entre 1941 a 1943 a revista não é publicada pela alegação de falta de verba, então é assumida pela Imprensa Oficial que tinha Sud Mennucci como diretor. Mennucci inflamou o debate educacional do período ao propor uma formação diferenciada para os professores que atuariam nas escolas rurais, ficando conhecido como “pai do ruralismo pedagógico”. Como Diretor Geral da Instrução Pública de São Paulo editou uma polêmica reforma de ensino em 1932 que pretendia reorganizar o ensino rural. Por outro Decreto tentou criar a Escola Normal Rural de Piracicaba, mas não obteve sucesso. O corpus documental da pesquisa é composto por 6 textos de autoria de Sud Mennucci e 31 textos de autoria de inspetores escolares, diretores de escolas e de Escolas Normais, educadores que alcançaram destaque na administração do ensino e estudiosos estrangeiros. Entendemos, assim como Denice Catani (2003), que a imprensa educacional possuiu um papel importante na construção do campo educacional, desempenhando papel estratégico na construção da hierarquia social do campo e como espaço de discussão sobre de diversos temas relacionados à profissão docente. Nosso referencial teórico consiste na leitura de François Dosse (2009), que entende a biografia intelectual como uma entrada para a reflexão historiográfica a partir da singularidade da vida de um indivíduo. Pierre Bourdieu (1998), a partir de suas análises sobre o capital cultural tem nos ajudado a pensar de que forma Sud Mennucci utilizou diferentes saberes e competências para ocupar posições privilegiadas no sistema educacional. Roger Chartier (1990, 1991) tem permitido pensarmos nas representações como estruturas de pensamento que tornam o mundo legível e orientam as ações dos indivíduos. Sud Mennucci e alguns autores exaltavam a imagem da profissão como “vocação”. De outro lado, Mennucci destacava que os professores deveriam possuir uma formação que os permitissem construir um modelo de ensino que preparasse o aluno da escola rural para o trabalho agrícola. Não havia um consenso sobre a criação dos cursos Normais Rurais. Alguns autores sugeriam a inclusão de discussões que envolvessem os estudos sobre a sociologia e a psicologia rural na cadeira de Didática das Normais existentes ou o oferecimento de um curso, ao final da formação, sobre didática e ensino rural. Há uma representação ambígua entre a formação como “vocação” e outra que seria organizada a partir de princípios científicos.

CONFISSÕES DE UM VELHO INTELECTUAL: LEITURA BOURDIEUSIANA DE “UM ESCRITOR NO PURGATÓRIO”

FERNANDO JORGE DOS SANTOS FARIAS Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Em 1976, três anos antes da morte do homem das letras amazônicas - Dalcídio Jurandir, Antônio Torres, Haroldo Maranhão e Pedro Galvão foram ao Rio de Janeiro, e realizaram a entrevista “Um escritor no purgatório”, com o escritor nortista, considerado, por grande parte da crítica (relevo expressivo a figura de Benedito Nunes), como um dos mais expressivos intelectuais da Amazônia. O teor da entrevista realizada, de cunho essencialmente avaliativo/memorialístico, de uma vida dedicada às letras e ao registro da educação na Amazônia, abriu possibilidades para se pensar alguns conceitos advindos da reflexão teórico-prática de Pierre Bourdieu (1990; 1996; 2004; 2005, dentre outras obras), a citar capital cultural, capital simbólico, campo intelectual, habitus. Assim, a comunicação intentou empreender uma leitura dos principais conceitos bourdieusianos, possíveis de serem observados/debatidos ao se voltar atentamente à mencionada entrevista. Em termos metodológicos, pensou-se ser interessante a abordagem espelhada ao paradigma indiciário, proposto por Carlo Ginzburg (1989; 2007) e às formulações de Paul Ricouer (2007), do primeiro subtraindo-se seus ensinamentos acerca dos indícios, das pistas; do segundo, as consideráveis formulações relacionadas à história, memória e esquecimento. Ao se tentar fazer uso do trajeto metodológico proposto pelo historiador italiano, buscou-se empreender um estudo intensivo da entrevista, à luz dos principais conceitos bourdieusianos, em uma tentativa de reconstrução do vivido por Dalcídio, articulando o relato particular do escritor nortista (micro-história), ao discurso/disposição vigente a época. Os entendimentos do filósofo francês, por sua vez, orientaram para a necessidade de captar o passado pela interpretação do tempo, espaço e acontecimentos escoados, reelaborados na entrevista (narrativa) rememorativa do escritor paraense. Dentre as conclusões oriundas da leitura da comunicação proferida pelo

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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escritor nortista, destaca-se, guardada as devidas diferenças, o percurso do “trânsfuga da Amazônia paraense”, consideravelmente similar àquele vivenciado/refletido pelo sociólogo francês, Pierre Bourdieu, o que estabiliza o debate de conceitos pertinentes a agentes que, mesmo nascendo em condições desfavoráveis, operaram a partir dos “espaços de possíveis”, e, assim, conseguiram certa posição e produção considerável no campo intelectual. A entrevista surge, consideravelmente, como fonte pertinente para o registro e leitura da vida do intelectual amazônida, acrescentando, com efeito, ao debate relacionado à história dos intelectuais brasileiros que, direta ou indiretamente, somaram para as configurações da educação nacional. Por fim, é necessário pontuar que a investigação, acentuadamente memorialística, buscou contribuir aos estudos que lutam pela valorização e uso de “vestígios”, em uma tentativa de se (re) conhecer vidas e ações que devotaram considerável tempo de si para a concepção e realização da educação brasileira.

A ÁFRICA NO LIVRO DIDÁTICO: REPRESENTAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DO CONTINENTE AFRICANO NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA

FLÁVIA CÂNDIDA DO NASCIMENTO DE SOUZA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

A África no livro didático: representações sobre a história do continente africano no livro didático de história Desde sua institucionalização, no final do século XIX, o ensino de história no Brasil sempre esteve ligado à história oficial, utilizada como um dos mecanismos para a formação de uma identidade nacional dentro dos interesses do império e, logo em seguida, da república. Por ser sempre fundada na história oficial, essa história ensinada correspondeu, na maior parte do tempo, à história dos vencedores, portanto à história do branco, europeu e católico. Essa história ensinada começou a ser questionada pelos diversos movimentos sociais ligados ao movimento negro a partir da década de 60 do século passado e nos anos 80, com a ampliação das discussões sobre o ensino de história, esses questionamentos ganharam força. A sanção da Lei nº 10.639 em 2003 e a publicação das Diretrizes Nacionais para o Ensino de História e Cultura Afrobrasileira e Africana em 2004 são vem ao encontro dos anseios e questionamento tanto dos profissionais de educação quanto da sociedade brasileira em geral. Após mais de uma década de vigência da lei que obriga todas as instituições de educação básica no país a abordarem, entre outros assuntos, temas relacionados à história do continente africano e diante da comprovação a partir de pesquisas recentes, de que o espaço destinado à história da África tem sido lenta mas gradualmente ampliados nos livros didáticos utilizados nas escolas públicas de todo o país, o presente trabalho busca analisar de que forma essa história da África tem sido apresentada. Este trabalho corresponde a uma parte de um estudo mais amplo sobre o ensino de história da África no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo – IFES, que fará parte de uma dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ensino na Educação Básica do Centro Universitário Norte do Espírito Santo – CEUNES da Universidade Federal do Espírito Santo – UFES. Procuramos investigar os livros didáticos utilizados em algumas turmas do ensino médio deste instituto no PNLEM 2015-2017 em busca das representações sobre a história da África e dos povos africanos apresentadas por estes livros. Direcionam este trabalho principalmente o princípio defendido por Marc Ferro, de que a história ensinada corresponde a uma representação da história oficial que busca legitimar as relações de dominação existente dentro de cada sociedade, o conceito de representação de Roger Chartier, bem como a tese de que a história oficial corresponde à história do progresso e dos vencedores, defendida por Walter Benjamin.

A IMAGEM DA INFÂNCIA NA PAULICÉIA DA PRIMEIRA REPÚBLICA: UM ESTUDO DO IMPRESSO ÁLBUM DAS MENINAS (1898 – 1901) DE

ANÁLIA FRANCO.

FLORIZA GARCIA CHAGAS Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

As alterações no panorama da Paulicéia à época da Primeira República (1875-1930) na economia, o adensamento demográfico, o desenvolvimento dos meios de comunicação, mudanças culturais e nas funções urbanas aumentam o anseio por fortalecer e manter os pilares do poder, o que leva os dirigentes republicanos a pensarem em meios adequados para assegurar e reproduzir sua hegemonia, um dos quais seria o nível de instrução da população. Começam então, a desenvolver meios e instituições para realizar essa instrução, bem como procuram os métodos de ensino mais apropriados. É neste panorama que encontramos Anália Emília Franco, educadora e ativista no cenário político, social e educacional da cidade de São Paulo. O presente estudo

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tem por objeto e fonte investigativa a revista Álbum das Meninas: revista literária e educativa dedicada às jovens brasileiras publicada em São Paulo entre 1898 e 1901, impresso idealizado e produzido por Anália Emília Franco como meio de divulgação do seu ideário sobre a educação e a sociedade. Sua atuação foi marcada por uma convicta preocupação social, levando-a a posicionamentos políticos em um período em que havia pouco espaço para a mulher na vida pública, destaca-se o amparo, a proteção e a educação de mulheres e crianças. O presente texto tem por objetivo identificar as imagens de infância contidas na revista, relacionando as concepções pedagógicas às políticas de inovação educacional do período. O estudo a partir do aporte teórico-metodológico da história cultural ancora-se nos conceitos de materialidade de Roger Chartier (1994) e de estratégia de Michel de Certeau (1994). Almeja-se a compreensão do impresso como objeto cultural, o que implica em estudar e interrogar o impresso, que preserva indícios de práticas sociais de produção e de usos e como objeto de estudo, além de interrogá-lo como veículo de discursos pedagógicos e de indicações inscritas nos saberes promovidos por eles, mas também como produto das pedagogias compreendidas como sistema de regras que regulam os próprios processos de produção, superando a noção estreita de materialidade. Compreende-se ainda o impresso como produto de estratégias determinadas, que o remete às práticas cujo exercício pressupõe um lugar de poder. O estudo permitiu a dar a ver o contexto em que foram produzidas as relações de poder que determinaram seu contorno, bem como as marcas de produção, as relações com as políticas educacionais republicanas e o ideal de educação e sociedade desta educadora.

NARRATIVAS JUVENIS EM IMPRESSOS ESCOLARES: UM ESTUDO DOS PERIÓDICOS "O JULINHO" E "O CLARIM" NA PORTO ALEGRE DOS

ANOS 1690

GIOVANNI BIAZZETTO DA SILVA PRÉVIDI Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O trabalho investiga dois periódicos escolares, “O Julinho” e “O Clarim, produzidos respectivamente pelos alunos do Colégio Estadual Júlio de Castilhos (instituição pública) e do Colégio Farroupilha (instituição privada), duas tradicionais instituições de ensino, localizadas em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, fundadas em fins do século XIX. O recorte temporal situa-se na década 60 do século XX. Tal definição está pautada pela existência de uma maior amostragem dos dois objetos de pesquisa neste período. A pesquisa realiza uma análise de discursos através dos textos publicados por jovens escreventes nos impressos estudados. Investiga-se a partir de uma materialidade e de uma discursividade, que se apresenta nos escritos, tendo atenção aos indícios deixados por estes jovens. Busca-se expressar representações de histórias construídas por sujeitos históricos que foram jovens atuantes nas instituições de ensino que estudaram, participando do processo de produção de periódicos estudantis, integrando os Grêmios Estudantis de suas escolas. O estudo desenvolve uma análise comparativa dos dois periódicos citados a fim de investigar possíveis semelhanças e discordâncias nas narrativas juvenis presentes nos impressos, visto que os jovens produtores dos periódicos escrevem a partir de lugares diferentes, contemplando tanto a rede pública do ensino quanto a rede privada. Destaca-se assim a importância do lugar onde os escritos são produzidos para esta pesquisa que realiza uma análise comparativa das narrativas juvenis nestes dois artefatos. A pesquisa investiga os assuntos e temáticas abordados nestes impressos, tendo como proposta compreender as concepções e posicionamentos presentes nos textos pesquisados, problematizando o que estes jovens “diziam”, como e para quem escreviam, bem como os possíveis silêncios que podem ser percebidos. A pesquisa se insere no domínio da História da Educação pautada pelas perspectivas do campo da História Cultural, que estabelecem assim os marcos teóricos. Alguns referenciais nortearam este trabalho como Roger Chartier, inspiração para a análise da materialidade e do suporte dos periódicos bem como nas discussões da História Cultural a qual complementam Peter Burke e Sandra Pesavento; Viñao Frago para problematizar a História da Educação; e Maria Helena Câmara Bastos, Tania Regina de Luca e Maria Teresa Santos Cunha com questões referenciais para o trabalho com periódicos. No que se refere a metodologia a inspiração parte de Paul Ricoeur. A pesquisa ainda está em construção, porém é possível perceber alguns resultados iniciais através das primeiras aproximações. Percebe-se, por exemplo, que o periódico "O Julinho" apresenta textos carregados de um conteúdo mais politizado e engajado nas questões políticas do período de sua produção do que os textos de "O Clarim". Também percebe-se que os dois periódicos apresentam sessões para discutir assuntos classificados como sendo do universo feminino. São aproximações e distanciamentos.

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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ROQUE SPENCER MACIEL DE BARROS: A SIGNIFICAÇÃO EDUCATIVA DO ROMANTISMO BRASILEIRO PARA A INDEPENDÊNCIA NACIONAL

GIZELI FERMINO COELHO RAQUEL DOS SANTOS QUADROS

Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este estudo discute o pensamento de Roque Spencer Maciel de Barros (1927-1999) exposto na obra “A Significação Educativa do Romantismo Brasileiro: Gonçalves Magalhães”, publicada em 1973. Tem por objetivo primordial apresentar a evolução das ideias educacionais disseminadas pelo romantismo no Brasil, trazendo a lume a construção da nacionalidade e a inspiração para a independência nacional. Estas ideias instruíram nos homens o antilusitanismo, bem como o sentimento de liberdade, e o cultivo de uma herança cultural própria. Trata-se de um estudo bibliográfico, que utilizar-se á como fonte primária os escritos de Barros, mais precisamente a obra “A Significação Educativa do Romantismo Brasileiro: Gonçalves Magalhães” e como literaturas de apoio, autores que contribuem para a elucidação das questões formuladas no período a ser estudado. Consiste em uma pesquisa que fundamenta-se na análise histórica, eixo teórico metodológico que tem como ponto de partida os embates humanos realizados em favor da produção e da reconstrução das condições de vida. Neste caso, a luta travada contra as forças conservadoras representadas pelo domínio português. Dessa forma, as questões que se concentram neste trabalho, são essencialmente a relevância da intelectualidade brasileira na construção de um projeto de nação, e a luta pela unidade nacional que, buscava-se caracterizar no final do período colonial e que, continuou ao longo do Império. Roque Spencer Maciel de Barros, ao estudar o romantismo brasileiro como fenômeno constitutivo e constituinte da nacionalidade e como luz inspiradora da independência, faz uma antropologia cultural centrada em Gonçalves de Magalhães (1811-1882) - considerado o introdutor oficial do romantismo no Brasil. Além disso, Barros alude que, o romantismo se ajusta as necessidades mais profundas do país nascente, servindo-lhe de apoio, primeiro para a organização político social, e, á medida em que, vai tomando força, passa a elaborar o próprio modo de existência do homem nacional, norteado pelo germe da civilização depositado em teu seio pela Literatura Europeia. Neste sentido, o romantismo estrutura-se como projeto brasileiro, á medida que dá á nação uma nova dimensão espiritual, e, busca balizar os caminhos da cultura, da filosofia e da política. A literatura busca contribuir para a grandeza da nação, esboçando a paisagem física e humana do território brasileiro, criando uma visão autônoma que fosse expressão própria do Brasil, de modo a expurgar o os valores do romantismo clássico e Classicista que significava a dominação portuguesa.

CULTURA JURÍDICA E CULTURA POLÍTICA NOS JORNAIS ACADÊMICOS DA FACULDADE DE DIREITO DE SÃO PAULO (1850-1889).

GUSTAVO DOS SANTOS Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Esta comunicação tem como objetivo desvelar como os acadêmicos, pelo processo de formação jurídica, interferia politicamente nos projetos de Brasil (1850-1889). Para tanto, fez-se necessário identificar como se configurou a formação de uma cultura jurídica e política, pela análise dos jornais acadêmicos Çá Irá (Órgão do Centro Abolicionista de São Paulo) e O Constitucional (Órgão do Clube Constitucional Acadêmico) que circulavam na Faculdade de Direito de São Paulo. Assim, nosso estudo trata da relação entre cultura jurídica e política na formação dos bacharéis da Academia de Direito de São Paulo, no período de 1850 a 1889. O ano de 1850 refere-se ao período de consolidação do Império e do Estado Nacional; a integração das oligarquias no jogo político; a legitimidade do Estado nacional e intensas transformações jurídicas, tais quais: extinção do tráfico de negros (1850); a lei de terras (1850); reforma do código comercial (1850); mudanças dos estatutos das academias (1854 e 1879); dentre outros. O ano de 1889 configura-se outro regime – a República Brasileira. Com a criação das Faculdades de Direito, São Paulo foi modificada com a intensificação de suas atividades culturais, pois estes se dedicaram à produção de jornais e revistas, introduzindo uma imprensa acadêmica dotada de artigos sobre literatura, política e direito, colocando em evidência a irreverência estudantil. Assim, esse período está enxertado de transformações sociais e políticas do Brasil, além de ser um período de busca de um ideário de modernização e consolidação do país em que a Faculdade de Direito de São Paulo funcionava como um local de produção e discussão jurídica e política da nação. Dessa forma, buscamos responder: Como se configura a relação entre cultura jurídica e política no processo de formação dos bacharéis, pelos jornais acadêmicos? Para tanto, trazemos como procedimento metodológico de pesquisa a operação histórica de analise de fontes escritas que podem nos dizer sobre a formação desses bacharéis além, de textos como o livro de Plínio Barreto (1922) “Cultura Jurídica no Brasil”, Mozart Linhares da Silva (2009) “O Império dos Bacharéis”, Carlos Guilherme Mota (2010) “Os juristas na formação do estado-Nação Brasileiro”, Sérgio Adorno (1988) “Aprendizes do Poder”, dentre outros. Esse

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exercício histórico-metodológico contribui para história da educação brasileira, uma vez que essa instituição além de ser formadora de homens públicos e políticos faz parte de um estratégia pós-independência de capacitação de homens para assumir cargos públicos no Império.

O AVANÇO DA ESCOLARIZAÇÃO E A PRESENÇA/AUSÊNCIA MASCULINA NO MAGISTÉRIO INFANTIL EM IMPRESSOS

CAMPINENSES (1919-1937)

HELIO SANTANA GARCIA SOTO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Realizamos neste trabalho uma cartografia das possíveis representações acerca dos homens professores durante as décadas 1920 e 1930 em Campina Grande. Objetivamos discutir a presença/ausência masculina no magistério infantil em face do avanço da escolarização, feminização do magistério e da instauração dos grupos escolares, questionando em que medida esses aspectos se relacionaram na constituição de experiências modernizadoras do espaço escolar e das subjetividades docentes relacionadas a este modelo de ensino. Entre as transformações que colaboraram para mudanças das práticas educativas nas primeiras décadas do século XX, encontravam-se as teorias aplicadas a pedagogia, a expansão gradativa da co-educação e a transição da educação escolar baseada no modelo das cadeiras isoladas de ensino/casa-escola para os grupos escolares, que colocaram os/as professores/as e os/as alunos/as em contato com outras práticas de gênero no âmbito escolar. A partir dessas mudanças, verificamos que algumas gradações foram criadas para a atuação profissional masculina na escola, sendo mais comum vê-los durante as primeiras décadas do século XX entre os segmentos posteriores ao ensino primário ou nos cargos administrativos, de coordenação, inspeção e direção. O primeiro Grupo Escolar de Campina Grande, o Solon de Lucena, fora inaugurado em 1924, no entanto, até sua materialização houve um intenso investimento discursivo político e pedagógico acerca da sua importância. A necessidade de expandir a escola graduada em Campina Grande fez emergir falas que visavam desqualificar a atuação do mestre-escola e o espaço escolar da casa-escola. Logo, algumas tentativas de adequação ao modelo grupo escolar, tão propalado como mais moderno, foram colocadas em prática pelos mestres-escolas que ainda atuavam na cidade. Destacamos as experiências dos professores Alfredo Dantas e Mauro Luna, que construíram escolas ensejando a modernização do ensino. Tanto o Instituto Olavo Bilac (1921-1932), fundado pelo Mauro Luna, bem como o Instituto Pedagógico (1919-1943) por Alfredo Dantas, tiveram intensa participação na produção, circulação e recepção de ideias que expressaram mudanças no processo educativo, publicadas em impressos campinenses, notadamente por impressos produzidos pelos próprios institutos: O Clarão, do primeiro e a Revista Evolução, o Jornal Evolução e o Folheto Flâmula, do segundo. Portanto, investigamos nestas fontes impressas as experiências docentes, a fim de perscrutar em que medida a modernização do espaço escolar como fenômeno ligado a expansão da cidade (in)visibilizou e (in)dizibilizou a atuação masculina no magistério, sobretudo no ensino primário, criando outras espacialidades para estes no ensino formal.

A ESCOLA PRIMÁRIA: REVISTA PEDAGÓGICA DOS INSPETORES ESCOLARES DO DISTRITO FEDERAL (1916-1939)

HELOISA HELENA MEIRELLES DOS SANTOS Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Analisar a revista pedagógica A Escola Primária, publicada a partir de 1916, com circulação até 1939, é o objetivo deste artigo. O periódico pedagógico pertencia à Sociedade Anonyma A Escola Primaria, com capital social de três mil contos de réis dividido por dezenove sócios, educadores. Os maiores acionistas nesta empreitada foram Esther Pedreira de Mello, inspetora escolar do 2º distrito da Prefeitura do Distrito Federal, única mulher na empreitada, e o Dr. Raul de Almeida Faria, promotor público no Paraná, escritor e jornalista. Dentre os acionistas com maior número de ações subscritas destacam-se Alfredo Cesário de Faria Alvim, Afrânio Peixoto, Venerando

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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Graça, Dr. Heitor de Mello e Domingos Magarino de Souza Leão. A revista era endereçada a professores, ao preço de 7 mil réis a assinatura para a cidade do Rio de Janeiro, e 10 mil réis, a assinatura fora do espaço geográfico da cidade. Tinha o endereço da redação à rua da Quitanda, 72, o mesmo da livraria-editora. O periódico teve periodicidade mensal, e circulação identificada no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Pará e Santa Catarina.Foram colaboradores articulistas Coelho Neto, Afrânio Peixoto, Pedro Lessa, Dr. Luiz Gastão de Escragnole Dória, Dr. Oscar Clark, Jonathas Serrano, Frota Pessoa, Eulina Nazareth, Orminda Isabel Marques, Joaquim José de Campos da Costa Medeiros de Albuquerque, Francisco Cabritta, dentre outros. No entanto nem todos os artigos publicados têm autoria e alguns, em todas as edicações, têm autores identificados apenas por letras maiúsculas, provavelmente indicações de seus nomes. Os autores são, todos, ainda quem nem sempre identificados, intelectuais, homens e mulheres, que trazem, no texto educativo, de leituras pedagógicas e sugestões didáticas e bibliográficas, seus ideais de civilidade do povo, através dos professores.O periódico dirigido pelos inspetores escolares do Distrito Federal vinculava o discurso impresso de uma representação que a historiografia define como cívico-pedagógica. A língua e a História pátria constituíam o discurso da intelectualidade para a constituição de um povo instruído e civilizado aos moldes europeus. A revista era dividida em três espaços distintos. No espaço inicial, os artigos, expressos no sumário, que tinham destaque na publicação vindo logo abaixo do título, expresso em letras maiores; o segundo espaço, denominado “A Escola”, titulado no alto da página em negrito e letra maior e de tipo diferenciado, com sugestões de atividades que podiam ser feitas pelos professores e o terceiro espaço, denominado “Lições” com inúmeros exercícios para séries distantes e até para alunos da Escola Normal ou Liceus. Tomando por fonte e objeto o periódico A Escola Primária, e como interlocutores Nóvoa (1993), Catani (1996) e Bastos (1997), a investigação pretende minimizar lacuna historiográfica da educação sobre o estudo dos periódicos pedagógicos na primeira república brasileira e o papel dos intelectuais na consolidação deste regime.

CULTURA, RAÇA E EDUCAÇÃO EM MANUEL GAMIO E GILBERTO FREYRE: CONVERGÊNCIAS E DISTINÇÕES ENTRE PENSAMENTOS DA

NAÇÃO NO MÉXICO E NO BRASIL NO INÍCIO DO SÉCULO XX

HENRIQUE JOSÉ ALVES RODRIGUES Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O artigo constitui-se em registro de uma pesquisa acerca da interface entre as categorias cultura, raça, nação e educação no pensamento de Manuel Gamio e de Gilberto Freyre. Vivendo em sociedades cujas narrativas da nação eram marcadas pelo racialismo do século XIX, os dois pensadores elaboraram narrativas que se notabilizaram como expoentes da “virada culturalista” no pensamento acerca da identidade nacional em seus respectivos países. O livro Forjando Pátria, publicado em 1916 por Gamio, e Casa-Grande & Senzala, publicado em 1933 por Freyre, são exemplos de obras que foram elaboradas como respostas às inflexões históricas pelas quais atravessavam a sociedade do México, a partir de 1910, e a do Brasil, a partir de 1930. Os objetivos do trabalho são: 1- Analisar os pontos de convergência e de distinção das duas narrativas da nação em foco; 2 Identificar os papéis atribuídos às raças, particularmente as subalternas, na elaboração das narrativas da nação efetuadas pelos dois pensadores; 3- Por fim, analisar a relevância atribuída por Gamio e por Freyre à educação/escolarização em suas narrativas de construção da nação. Tendo como procedimento metodológico a análise do discurso expresso nas obras dos dois pensadores na primeira metade do século XX, efetuou-se como procedimento complementar uma pesquisa bibliográfica acerca dos estudos acadêmicos sobre o pensamento de ambos na atualidade. Como forma de tensionar a categoria da nação que circula nas obras dos autores, utilizou-se como ferramentas conceituais as categorias de raça e identidade racial dos estudos pós-coloniais, que na atualidade procuram reelaborar a temática da raça fora dos parâmetros racialistas do século XIX e em sintonia com as demandas contemporâneas das minorias raciais da América Latina. Uma das conclusões do trabalho é a constatação que Gamio e Freyre moveram-se por uma lógica compensatória, cujo princípio é o equilíbrio social: no caso de Gamio, a defesa da mexicanização dos indígenas por um lado e da captura dos traços culturais indígenas para forjar uma identidade nacional mexicana por outro; no caso do autor brasileiro, uma defesa da integração cultural dos negros, tendo como contrapartida a apropriação de seus traços culturais para inventar uma identidade nacional brasileira. No plano da divergência entre ambos, podemos afirmar que o autor mexicano postulou uma primazia do futuro na construção da nação, pois o mesmo interpretou o passado colonial mexicano como tempo de interdição, sendo a construção da nação uma promessa ainda ser “forjada”; Freyre postulou uma primazia do passado, pois vislumbrava o passado colonial como tempo de construção da nação brasileira. Quanto ao papel que atribuem à educação: uma obsessão pela escolarização, principalmente dos indígenas, em Gamio; no caso de Freyre, uma reiterada menção a processos educacionais difusos na sociabilidade cotidiana e uma intrigante ausência de menção à escolarização como instrumento relevante na produção da nação.

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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação

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A INSPEÇÃO MÉDICA ESCOLAR NO RIO DE JANEIRO E O MODELO DE ESCOLAS HOSPITAIS CRIADO POR OSCAR CLARK (1916-1939)

HENRIQUE MENDONÇA DA SILVA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

A criação de escolas hospitais silvestres no estado do Rio de Janeiro, guarda ligações com o médico Oscar Castello Branco Clark; intelectual médico que encarou de uma maneira muito própria a tarefa de modernizar, reformar, civilizar a sociedade brasileira. Fez parte de uma geração de intelectuais que atuaram em espaços educacionais do país, em um momento de alterações pedagógicas e políticas que deixaram marcas em nosso pensamento social.Voltou-se para um grupo de questões ligadas à relação entre corpos doentes e saudáveis para explicar a impossibilidade do crescimento do Brasil como nação. O problema constrangedor do nosso estado de civilização e norteador da construção do seu discurso e ação médico-social era a doença. Um conjunto delas circulava entre as populações pobres, urbanas e rurais, tais como tuberculose, sífilis, ancilostomose e malária, que sugavam toda a vitalidade física e entregavam os brasileiros à morte. Clark chegava a dizer, baseado em investigações hematológicas de populares no município do Rio de Janeiro, “que o sangue dos países tropicais são mais pobres que os seus tesouros[sic]”(CLARK, 1940, p.200). Para ele, o grau de civilização de um povo era medido pelo índice da mortalidade entre zero e 50 anos (Clark, 1943). Identificado o problema-base, duas consequências foram sentidas pelo intelectual médico: 1) a mortalidade, que pelo seu grande número depunha contra o nosso progresso, tornava-se, particularmente, uma tragédia quando se percebia que a morte atingia principalmente as crianças em seus primeiros anos de vida, fazendo-o ponderar: “quase não vale a pena ter filhos no Brasil” (CLARK, 1940, p. 35); e 2) A forma de alcançar estas mudanças, era pela alteração do estado de saúde de nossas populações e isto passava fundamentalmente pelo nosso sistema educacional, desdobrando-se em práticas e instituições que resguardariam o brasileiro da doença, torná-lo-iam robusto,ensinar-lhe-iam um oficio e, por fim, fariam dele porta voz desta nova pedagogia da saúde e do trabalho em família, alterando os seus hábitos, a precariedade moral e a conduta anti-higiênica, influenciando positivamente toda a sociedade. Clark manejou uma série de ideias médico-sociais e pedagógicas a partir de sua atuação na inspeção médica escolar. tencionou implementar no sistema de educação do Distrito Federal um projeto médico-social eugênico baseado na educação formal (alfabetização), nos cuidados com o corpo e no ensino vocacional que se espalhariam pelo estado Rio de Janeiro por meio da criação de escolas-hospitais em regiões de montanha e marinas do interior (rurais) afastadas das zonas urbanas, consideradas perniciosas à saúde. Escrevia ser o seu modelo “o tipo ideal de escola ao ar livre regida pelos sagrados princípios da fisiologia e da medicina preventiva onde se inscreve sem dúvida a melhor pedagogia.”(CLARK, 1943, p. 9)

A HIGIENE ESCOLAR NO DISCURSO DE INTELECTUAIS PARAIBANOS NA PRIMEIRA REPÚBLICA: OS IMPRESSOS COMO VEÍCULOS DE

DIVULGAÇÃO DE IDEIAS EDUCACIONAIS

INGRID KARLA CRUZ BISERRA JEAN CARLO DE CARVALHO COSTA

Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

As ideias higienistas perpassam fortemente as discussões presentes na Primeira República brasileira. Seja como matéria informativa, anúncio, denúncia, ou normas de conduta, a temática aparece nos discursos de intelectuais que engajados no debate público em torno da educação, escreveram e publicaram sobre o tema nos meios que dispunham para tal. Na Paraíba, especialmente na Primeira República, vários intelectuais imbuídos dos preceitos modernos e guiados pelos ideais higienistas debateram diversas questões em torno desse tema, tornando alguns de seus elementos normas oficiais, a exemplo da reforma de 1917, sancionada pelo presidente de estado Camillo de Hollanda e elaborada por um grupo de intelectuais engajados em redes de sociabilidade. Nessa perspectiva, nosso objetivo é analisar as ideias higienistas no discurso de intelectuais paraibanos nas primeiras décadas da

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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república. Utilizamos como fonte os jornais Diário do Estado, A União e O Educador, e os impressos produzidos por esses personagens, como o Boletim da Sociedade dos Professores Primários (1919). Esse corpus documental constitui-se num espaço de discussão de ideias de um dado período, e principalmente nos estudos em educação, em suportes que informam, instruem e educam, o que nos ajuda a pensar sobre diversos elementos envoltos no processo educativo. Em tais veículos os professores primários e secundários, tomados em nossa pesquisa como intelectuais, discutiram sobre temas como a higiene escolar, a educação física, a ginástica, a educação moral e cívica, a inspeção médica escolar, entre outros assuntos imersos no rol de discussões do período. A periodização justifica-se por nesse período ter havido uma maior abertura na discussão e efetivação de ações voltadas para a educação no estado da Paraíba, em que foi possível observar um intenso debate em torno das questões educativas, principalmente sobre os novos ditames pedagógicos propugnados pelo ideário escolanovista que se formava e se operacionalizava nos vários grupos escolares criados a partir de 1916 no estado. Como alguns aportes teóricos utilizados, citamos: Sirinelli (2003), Vieira (2006) e Costa (2012) para dialogar sobre o conceito e a atuação dos intelectuais no debate público a partir da noção de sociabilidade; Morel (2005), Vieira (2007) e Luca (2010) para pensar as ideias de impressos e educação; finalmente, Buriti; Freire; Lourenço (2012) e Gondra (2011) para discutir a importância e os principais elementos do discurso higienista na educação escolar. De modo geral, os elementos apontados nas fontes são uma derivação de várias iniciativas preocupadas por inserir o país na modernidade sob os ideais de higiene, beleza, progresso e civilidade. Rever as discussões de intelectuais nesses espaços nos ajuda na ampliação do entendimento do complexo processo de escolarização brasileira e, em particular, o lugar ocupado por intelectuais paraibanos nesse cenário.

TEXTOS, CIRCULAÇÃO DE IDÉIAS E EDUCAÇÃO OPERÁRIA NO BRASIL: ANÁLISE DA DIFUSÃO DO ENSINO RACIONALISTA EM VEÍCULOS DA

IMPRENSA ANARQUISTA (1900 A 1920)

ISABEL APARECIDA BILHÃO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

A apresentação tem como objetivo analisar a difusão do ideário racionalista na constituição de escolas inspiradas nas concepções educacionais do pedagogo Catalão Francisco Ferrer y Guardia (1859-1909), voltadas à educação dos trabalhadores e de seus filhos, organizadas por grupos de militantes anarquistas em atuação no interior do mundo do trabalho brasileiro, durante as primeiras décadas do século XX. Naquele contexto de profundas transformações sociais e políticas, observa-se que a República, instituída em 1889, estabeleceu-se a partir dos princípios federativos, do liberalismo econômico e de uma noção meramente formal da representatividade política, proibindo o voto aos analfabetos e negando direitos políticos aos estrangeiros, importante parcela do operariado daquele momento, medidas que fizeram com que apenas uma parte muito restrita da população tivesse acesso, por exemplo, ao direito político elementar do voto. Nessa conjuntura, a educação operária passou a ser vista como um importante campo de batalhas ideológicas. A comunicação pretende enfocar a criação das escolas modernas nas cidades de Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo, discutindo-se os conceitos de educação racionalista para o operariado e de anarquismo defendidos por seus divulgadores, bem como os principais conflitos por eles travados com os grupos oponentes, especialmente com membros do clero católico. Observando-se que o período foi marcado pelo aperfeiçoamento dos sistemas de transporte e comunicação, bem como pela expansão da imprensa, permitindo a circulação de pessoas e de textos e contribuindo para a difusão das mais variadas concepções e para o reconhecimento mútuo de grupos com interesses semelhantes em distintos locais do planeta, a análise terá como base documental textos encontrados em veículos da imprensa periódica anarquista brasileira, como por exemplo, os jornais A Luta, A Plebe, A Lanterna e A Voz do Trabalhador e também do Boletín de La Escuela Moderna, editado pela Publicaciones de La Escuela Moderna, de Barcelona, que nesse período alcançava importante circulação nos meios sindicais do país. Nesses textos, buscar-se-á identificar as principais concepções de formação de homem e trabalhador que orientavam os educadores racionalistas, relacionando-as às formas de circulação de ideias do período. examinando-se ainda suas estratégias argumentativas e os mecanismos de legitimação de seus postulados, bem como as vias de difusão dos discursos e as redes de solidariedades em que estavam envolvidos.

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O PRAGAMTISMO DE JONH DEWEY PRESENTE NO MANUAL DE FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO: OS GRANDES PROBLEMAS DA PEDAGOGIA MODERNA DO INTELECTUAL THEOBALDO MIRANDA SANTOS - 1942.

JAQUELINE DE ANDRADE CALIXTO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Neste trabalho nos propomos a fazer um estudo que envolve a concepção pragmatista atribuída ao filosofo John Dewey (1859 – 1952), expressa no Compendio de Filosofia da Educação: Os grandes problemas da Pedagogia Moderna de 1946, escrito por Theobaldo Miranda Santos pela Editora Boffoni. O plano geral deste trabalho objetiva uma pequena análise histórica do nosso autor de destaque John Dewey, justificando seu trajeto como co-divulgador da Filosofia Pragmática. John Dewey, o filosofo norte americano se destacou por todo o campo do conhecimento, como da política, filosofia e educação. Divulgou sua visão de uma sociedade comprometida com a democracia onde os indivíduos pudessem ter participação, otimismo pelo progresso. Realçaremos também o que Santos (1942) no compendio, atribui ao filosofo norte-americano uma crítica explicita titulando-o como o “famoso professor de Columbia”. Por mais de uma vez, durante as leituras que realizamos Santos (1942) insiste em posicionar Dewey no rol dos intelectuais famosos da Universidade de Columbia. Para a realização desta pesquisa nos ancoramos no referencial teórico e metodológico da Historia da Educação e Filosofia da Educação brasileira, na qual contribuirá como possibilidades de intensificar os debates e reflexões sobre o estudo das concepções aqui destacadas. Este estudo limita-se apenas ao Compêndio de Filosofia da Educação, de 1946, devida a extensa a produção literária de Santos, no que tange aos Manuais de Filosofia da Educação. O manual foi reeditado por onze vezes durante o período de 1947 a 1969, em formato de coleções por outras editoras da época (SILVA, 2013) por isso a opção pelo Manual de 1946. Mencionaremos neste trabalho, o capítulo de número dois item D, intitulado a Educação, onde o autor retrata vários conceitos de Educação, tais como: Cristã, Individualista, Culturalista dentre outros. Nosso foco também se estende ao capítulo cinco item B, discutindo os Fins da Educação. Limitamos-nos a esses dois itens que tratam sobre a concepção Pragmatista no qual Theobaldo M. Santos se refere a Dewey por muitas vezes. Nossa intenção é de apresentar ainda que de forma sintetizada o assunto em pauta, porém evidenciando a presença de Dewey como coautor da concepção Pragmatista de Educação no Manual de Filosofia da Educação. Acrescenta-se á análise informações sobre o contexto em que o manual foi produzido e apresentado. Trata-se de um estudo que buscou discutir o diálogo entre a concepção Pragmatista e a concepção católica defendida pelo intelectual Theobaldo Miranda Santos no Compêndio de Filosofia da Educação ora analisado.

A ESCOLA UNITÁRIA DE GRAMSCI: EMANCIPAÇÃO E FORMAÇÃO DE INTELECTUAIS

JARBAS MAURICIO GOMES Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O presente trabalho é uma análise das ideias de Gramsci sobre a escola e a formação dos intelectuais e tem como fonte os Cadernos do Cárcere redigidos entre 1929 e 1937, sobretudo, o Caderno 12. O tema não é novo, mas é pertinente na medida em que suas ideias são empregadas com frequência no debate educacional brasileiro como fundamento de propostas e políticas educacionais voltadas à integração da formação profissional ao ensino médio. Essa prática tem origem no uso da concepção de trabalho como princípio educativo e em equívocos teóricos que imputam à Gramsci a defesa da politecnia. O objetivo desse trabalho é demonstrar que a defesa da profissionalização pela integração do ensino profissional ao ensino médio não encontra respaldo em Gramsci. Não se trata de desqualificar estas políticas educacionais, mas defender teoricamente a posição de que não é coerente usar as ideias de Gramsci na fundamentação dessas políticas, pois ele se contrapôs a elas. Contrário à profissionalização de crianças e adolescentes, Gramsci defendeu uma educação emancipatória, desinteressada do mundo da produção capitalista, na qual o futuro dos escolares não fosse hipotecado pela profissionalização precoce. Para Gramsci, criar políticas educacionais com base em uma previsão de futuro é uma ação metafísica, um determinismo mecanicista que tolhe as possibilidades reais do adolescente ao prever que ele ingressará no mercado de trabalho imediatamente ao fim do ensino médio, previsão que diz respeito somente às novas gerações de subalternos. Para ele, era pela luta política contra a criação de escolas destinadas à profissionalização de crianças e adolescentes que se impedia a sua multiplicação e a criação de uma hierarquia de escolas profissionais. Gramsci defendeu, em uma época caracterizada pelo industrialismo e pela especulação financeira do capital, a criação de um tipo único de escola que, unitária do primário à escola média, não comprometida com a empregabilidade do jovem, conduziria as crianças e os adolescentes até os umbrais da

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escolha profissional, formando-os como pessoas capazes de pensar, estudar, de exercer a direção política, cultural e econômica da sociedade. Uma educação escolar capaz de formar o ser humano integralmente, desenvolvendo suas habilidades intelectuais e manuais, de modo desinteressado ao mundo da produção. Essa escola unitária criaria as condições necessárias para que as futuras gerações, por volta dos 17 ou 18 anos, possam avançar conscientemente em direção à sua formação profissional: na Universidade, tornando-se profissionais liberais, cientistas, professores ou ao escolher a profissionalização em escolas técnicas e tecnológicas, tornando-se por ambos os caminhos os profissionais necessários à organização política e econômica de cada momento histórico, os intelectuais orgânicos do seu tempo.

AS CALDEIRAS ESTÃO APAGADAS: IMAGENS E REMINISCÊNCIAS DE UMA EDUCADORA PARANAENSE NO VELHO MUNDO

JOÃO PAULO DE SOUZA DA SILVA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O presente trabalho busca analisar o material imagético deixado pela professora Eny Caldeira, referente sua viagem de estudos à Europa entre os anos de 1949 e 1952. Na análise em pauta focamos como a sua viagem de estudos pode ter impactado suas escolhas pedagógicas posteriores e serviram para a constituição de um “habitus” e de um capital simbólico, frente aos educadores paranaenses, mas também, procuramos avaliar sensações, desejos e impressões de uma educadora frente ao mundo novo que descortinava frente aos seus olhos. Educadora com formação distintiva para seu contexto, Caldeira após formar-se pedagoga na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras do Paraná e realizar especializações na Universidade de São Paulo, efetuou uma viagem de estudos, no período do recorte estabelecido, quando esteve na Universitá per Stranieri (Perugia-Itália), Escola Decroly (Bruxelas-Bélgica), Instituto Jean Jacques Rousseau (Genebra-Suíça) e Universidade de Paris, viagem que lhe garantiu distinção e prestigio no cenário educacional paranaense após seu retorno ao Brasil, quando volta à Curitiba para ser diretora do Instituto de Educação do Paraná, por um convite do então governador Bento Munhoz da Rocha Netto . Entendemos que a fotografia como vestígio do real tende a apresentar significativas possibilidades interpretativas em razão das múltiplas leituras possíveis das imagens. Assim, optamos como referenciais metodológicos atuar num espaço entre as informações para reconstrução do passado e possíveis sentimentos de uma jovem educadora na primeira metade do século passado em sua passagem pelo Velho Mundo, trabalhando no limiar entre história e memória, entendendo que os pontos de vista são diferentes, mas as suposições constituem a história igualmente, seja qual for nosso ponto de vista. Foram empregadas como fontes para o desenvolvimento da pesquisa o quadro “As Caldeiras estão apagadas”, do pintor italiano Guido Viaro presenteado à educadora Eny Caldeira antes de sua partida à Europa, além dos cartões postais e fotos remetidos à sua família durante o período que esteve no Velho Mundo. Tomamos como referenciais metodológicos as concepções da teoria praxiológica de Pierre Bourdieu, as discussões acerca de memória e história de Michael Pollak e Ecléa Bosi, os trabalhos de Roger Chartier, além das discussões acerca de imagens de Roland Barthes, Rudolf Arnheim, Etienne Saiman e Alberto Mangel e do uso de material fotográfico como fontes para pesquisa em História de Boris Kossoy, Annateresa Fabris e Maria Franco Ciavatta.

O BOLETIM DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO E CULTURA, COMO INSTRUMENTO NAS LUTAS DE REPRESENTAÇÕES DE MODERNIDADE

JOÃO PAULO DE SOUZA DA SILVA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

A análise da circulação de ideias pedagógicas por meio da imprensa especializada permite aos que se dedicam ao estudo da História da Educação interessantes observações sobre as lutas por representações de determinados ideários, no sentido de buscar estabelecer determinadas práticas no espaço escolar. O presente trabalho busca apresentar as representações e apropriações apresentadas à comunidade educacional paranaense por meio do Boletim da Secretaria de Educação e Cultura do Paraná (1952-1955). Entendemos que o Boletim foi empregado como estratégia de estabelecer representações de modernidade condizentes com as pretensões da administração estadual, exercida à época pelo político e intelectual Bento Munhoz da Rocha Netto, o qual trouxe a postos estratégicos do máquina pública um grande de número de intelectuais e especialistas, com o intuito de estabelecer uma identidade moderna paranaense. Conjuntamente à preocupação com os novos métodos educacionais costuma estar também a necessidade de preparar os professores para aplicarem estes métodos de ensino. Havia a preocupação latente com a adoção de metodologias de ensino, que pudessem oferecer aos alunos das camadas populares conhecimentos para além daqueles os quais vinham se pautando as atividades de

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ensino. A revista em análise insere-se no bojo de transformações que ocorriam também no campo econômico, social, cultural e político. De certo modo, a finalidade da revista é atender ao “desejo de modernidade” do meio educacional com a publicação de uma revista pedagógica. Na análise em pauta focamos como o órgão de divulgação das ações da Secretaria de Educação e Cultura, no período em análise, tentou estabelecer representações de modernidade educacional, como o emprego da psicologia como fundamento para ações educacionais, a divulgação de experiências no ensino rural, e o ideário montessoriano como modelo para educação pré-primária, a partir de textos de educadores locais, dentre os quais destacamos a personagem Eny Caldeira, então diretora do Instituto de Educação do Paraná. Foram empregadas como fontes para o desenvolvimento da pesquisa os exemplares da referida publicação, outras publicações da imprensa local, documentos oficiais da Secretaria de Estado da Educação e do Instituto de Educação do Paraná. Tomamos como referenciais metodológicos as concepções de intelectual a partir das ideias de Carlos Eduardo Vieira e Helenice Rodrigues da Silva, a teoria praxiológica de Pierre Bourdieu, os trabalhos acerca de apropriações e representações de Roger Chartier, além das discussões acerca do uso da imprensa como fontes para pesquisa em História da Educação, de Maria Helena Rolim Capelato, Antonio Nóvoa e Denice Catani.

"A PRIMEIRA COISA QUE SE DEVE LER DEPOIS DAS ESCRIPTURAS": EDUCAÇÃO POR MEIO DE O JORNAL BAPTISTA (1901-1902)

JONATHAN DOUGLAS PEREIRA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O protestantismo de várias vertentes que aportou no Brasil, principalmente, a partir da segunda metade do século XIX, utilizou-se de diferentes mecanismos para atingir seus objetivos. Dentre esses objetivos, um poderia ser identificado como fundamental: catequizar as nações que não conheciam as “verdades do Evangelho” e se encontravam, segundo os próprios protestantes, em profundo atraso. Uma de suas principais ferramentas para alcançar tal objetivo pautou-se na produção de impressos: catecismos, panfletos, revistas, livros e jornais periódicos. Neste artigo, pretendo tecer algumas considerações sobre o periódico protestante O Jornal Baptista, idealizado por missionários norte-americanos no início do século XX. Entendo que essa modalidade de impresso pode ter funcionado como um agente pedagógico criador de hábitos, práticas e valores, sendo um instrumento utilizado pelos missionários para doutrinar os fiéis. Como órgão oficial e como principal representante, isto é, meio de divulgação do pensamento dos batistas, o periódico parece cumprir a função de uma instituição autorizada a construir tanto a identidade do grupo (um órgão oficial), quanto a dar direção/instrução (morais, éticas, religiosas, políticas) àqueles que o liam, sendo assim, de alguma forma, autorizado a conduzir suas práticas. Isso parece deixar entrever que o jornal se insere na lista de instrumentos ou instituições que constroem representações, as quais tem um valor formativo-pedagógico. Pretendo, para o desenvolvimento desse trabalho, articular três categorias de análise: a materialidade específica do periódico, por meio da qual busco apresentar e descrever sua disposição tipográfica, marcas e dispositivos editoriais; a dimensão pedagógica da imprensa periódica, buscando discorrer sobre as condições de possibilidade da função pedagógica do periódico e os discursos veiculados pelo jornal, privilegiando sua dimensão civilizatória. Considero, portanto, que a problematização levantada pode contribuir para a História da Educação, no que diz respeito à observação das práticas desse grupo social que, na história, buscou construir sua própria identidade e sua forma de enxergar o mundo. Tomo como base teórica para essa abordagem as discussões de Roger Chartier, dialogando, principalmente, com sua formulação do conceito de representações coletivas, como também dialogar com Norbert Elias, Raquel Discini de Campos, José Carlos Souza Araújo e Maria L. G. Pallares-Burke. Sem pretensões de construir uma história que abarque a totalidade do objeto em estudo, proponho uma investigação sob o recorte dos primeiros dois anos de publicação do referido periódico, 1901 e 1902, período em que os missionários americanos deram início e corpo às edições.

PROFESSOR AGENOR: AS MEMÓRIAS DE UM PROFESSOR E SACERDOTE DAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS AFRO-BRASILEIRAS

JORGE GARCIA BASSO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

A proposta do texto é apresentar resultados parciais de pesquisa referentes ao estudo da trajetória de Agenor Miranda Rocha (1907-2004) - professor e sacerdote das tradições religiosas afro-brasileiras, por meio dos registros de suas memórias, como parte do corpus documental de minha pesquisa de doutoramento. Nascido em Luanda - Angola, seu Pai, Antônio Rocha era funcionário diplomático em Angola, sua mãe, Zulmira Miranda Rocha

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foi atriz, cantora e fadista, festejada em revistas e jornais da época. Foi criado na Bahia e, em 1926, se radicou no Rio de Janeiro, se consolidando num cânone da memória das tradições religiosas de matriz africana no Brasil. Na década de 1930, abandona o curso de medicina e ingressa como professor de gramática e literatura portuguesa no Colégio Pedro II. Estuda piano, se interessa pelo canto lírico e frequenta aulas com Elena Teodorini, tornando-se amigo de Bidu Saião e Cecília Meireles. O Professor Agenor, como era conhecido por todos, além da sua atuação como docente, exerceu também as funções sacerdotais de Oluô - sacerdote adivinho do oráculo de Ifá ou de búzios, e Olossãe - o sacerdote de Ossãe que detêm o conhecimento das folhas e seus derivados mágicos e medicinais das tradições religiosas Nagô-Kêtu, subgrupo nagô proveniente da região de Kêtu, cidade do atual Benin. O termo refere-se especialmente ao rito Nagô-Kêtu ou simplesmente Kêtu, importante nação do candomblé. O estudo explora momentos e aspectos das duas faces desse personagem: o percurso do professor de gramática e literatura portuguesa do Colégio Pedro II, no mundo prestigiado da cultura letrada e da educação escolarizada, entre as décadas de 1930 e 1960; e o universo cultural do sacerdote das tradições religiosas afro-brasileiras, desprestigiados e perseguidos pelo poder oficial de seu tempo. A trajetória de Agenor Miranda Rocha registra a circularidade de conhecimentos e sobrevivências culturais africanas, que transbordaram os limites das comunidades negras de origem étnica. Por meio de sua experiência de vida, se pode investigar como esses conhecimentos e tradições de origens africanas influenciaram e se dinamizaram na sociedade e na cultura brasileira, ao longo do século XX. A pesquisa investiga numa perspectiva historiográfica o itinerário desse professor e sacerdote em torno da sua formação, suas ideias e ações, bem como a rede de sociabilidade a que pertenceu. A sua intervenção na cena pública brasileira que estiveram relacionadas à instrução, educação, formação do homem brasileiro e a organização da cultura.

A UNIÃO CATÓLICA MILITAR E A EDUCAÇÃO

JOSÉ ANTONIO SEPULVEDA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Em fevereiro de 1929, saiu publicado como encarte da Revista A Defesa Nacional o primeiro número de uma publicação do órgão da União Católica Militar (UCM). Seu diretor era Jorge Pinheiro (Colégio Militar) e subdiretor o 1º tenente Floriano de Menezes. O Centurião, órgão da UCM, era destinado a difundir a instrução religiosa e cívica entre os soldados do Exército, da Marinha e de todas as Corporações Militares do país. Segundo o editorial do jornal, a religião era essencial para os militares, pois era fundamentada em boas obras, assim o Centurião convocava todos os Católicos a serem assinantes e propagadores do jornal, que se propõe a ser a alma da UCM. Este texto tem como objetivo analisar a proposta de educação contida na mencionada publicação. Este é um trabalho de análise documental que se baseou quase que exclusivamente em fontes primárias, e teve como referência teórica o conceito de campo de Pierre Bourdieu. Campo é um espaço de disputa de agentes e de instituições pelo monopólio interno da violência simbólica legítima e pela propriedade do capital típico do campo. É dessa forma que é possível se falar do campo militar e do campo educacional. Cada campo possui diferentes graus de autonomia frente ao mundo social e estabelece regras próprias que produzem arenas de disputa interna que não necessariamente reproduzem as disputas do mundo social. Os campos têm diferentes graus de autonomia, isto é, graus com que o capital e as regras de disputa por sua posse estão mais ou menos definidos como próprios. É justamente na tensão referente à autonomização dos campos militar e educacional que este texto se desenvolve. A ideia central aqui defendida é a de que o conceito de regeneração moral, fruto do Positivismo desenvolvido no Brasil à época da Proclamação da República, se difundiu dentro do campo militar e teve a UCM como principal veículo dessa difusão. O Centurião, principal fonte empírica do presente trabalho, que à sua época amparava a análise que o campo militar fazia do campo educacional, sustentava a argumentação aqui pretendida, a saber, a de que o campo militar se aproximou do campo educacional por um entendimento de que seria através da educação que haveria a regeneração moral da sociedade. Em síntese, para se conseguir a tal regeneração moral, foi concebida dentro do campo militar uma proposta de ação sobre o campo educacional que tinha como objetivo reconstruir os valores tradicionais do povo brasileiro: puros e simples, marcados pela fé cristã e o culto ao trabalho, além de amor à pátria e aos símbolos nacionais.

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A PEDAGOGIA COMO CIÊNCIA E ARTE DA EDUCAÇÃO E O COMPÊNDIO DE PEDAGOGIA DE 1874

JOSÉ CARLOS SOUZA ARAUJO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O objeto desta é o Compêndio de Pedagogia organizado para uso dos candidatos ao magistério, cuja autoria é de Braulio Jayme Muniz Cordeiro, publicado no Rio de Janeiro em 1874 por A. A. Cruz Castanho Editor, o qual se encontra entre os primeiros a compor a história da educação brasileira em relação à formação docente. Apresenta-se ele no rol dos denominados manuais pedagógicos, comuns desde a segunda metade do século XIX em contexto europeu. São eles livros escolares, aqui assumidos como fontes primárias, dos quais o Compêndio é uma expressão singular dentre outras que constituirão a formação docente em décadas seguintes, inclusive do século XX. Tendo em vista sua singularidade, cabe expressar algumas indagações problematizadoras: Qual é a compreensão que se têm de Pedagogia, Educação e Metodologia? Em termos de concepção educacional e pedagógica, o que o informa do ponto de vista antropológico, ético e político? Por que as finalidades da Educação estão centradas nas dimensões física, moral, intelectual, religiosa e nacional? Quais são os marcos estabelecidos em torno da formação do professor? Metodologicamente, trata-se de prover de estrutura, perpassando pelos níveis de conhecimento - descrição, explicação e interpretação -, o referido Compêndio, tendo em vista algumas unidades lógico-metodológicas, tais como a contextualização, a abstração, a categorização, a análise, a correlação, a conceituação, a associação, a ampliação, a generalização, a sistematização entre outras, que potencializam os níveis de conhecimento. Em termos de contextualização, por exemplo, trata-se de inserir o Compêndio de 1874 desde a sua orientação católica, a qual também demarcou a formação docente. Nesse sentido, o referido Compêndio, não obstante se configure como singular, compartilha das relações políticas, religiosas, culturais, escolares etc, bem como expressa comprometimento com a constituição da Pedagogia como ciência - e como prática e arte da educação -, resultante de um movimento que se intensificou na Europa desde as últimas décadas do século XIX. Desse movimento que se explicitou através de revistas, dicionários, associações, conferências e debates sobre problemas educativos, os manuais pedagógicos fizeram parte e ofereceram os moldes didáticos à formação docente. Compreende-se, em suma, que o manual pedagógico em apreço é singular em relação à totalidade social, mas, contextualmente, ancora o processo constituinte da escolarização primária, da qual a formação do professor paulatinamente se tornou protagonista. Tal formação mobilizou concepções de variada ordem, tais como a antropológica, a ética, a política, a religiosa, a cívica, a didática, a metodológica, a psicológica, que se expressaram através das dimensões intra-escolares e extra-escolares, as quais envolveram arraigadamente a escola, a sociedade e o Estado, ou simplesmente a cultura.

EDUCAÇÃO E SOCIALISMO: NOTAS SOBRE CHARLES FOURIER, SAINT SIMON E PIERRE-JOSEPH PROUDHON

JOSÉ DAMIRO DE MORAES Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este trabalho é parte de uma pesquisa que tem como objetivo estudar os conceitos de educação integral no pensamento de intelectuais socialistas e anarquistas do século XIX. Nesta comunicação apresentaremos: Claude-Henri de Rouvroy ou conde de Saint-Simon (1760-1825), François Marie Charles Fourier (1772-1837) e Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865). Saint-Simon defendeu que a educação deveria unir corpo e espírito e aliar teoria e prática, trabalho manual e reflexão intelectual. Em suas reflexões, a educação é entendida como prática das relações sociais, com isso, critica a escola de sua época que para ele estava distanciada do mundo real. Por sua vez, Fourier, em sua proposta de organização social harmônica e descentralizadas denominadas de Falanstérios, considerou a formação integral como fundamento para o sucesso do seu intento. Nesta direção, acreditava que a educação integrasse teoria e prática, em outras palavras, trabalho manual e intelectual. Neste sentido, defendeu uma educação baseada na liberdade das paixões, na descoberta e das experiências como verdadeiras escolhas dos indivíduos em suas aprendizagem e atividades futuras. No aspecto de uma formação que unisse o manual e o intelectual, Pierre-Joseph Proudhon defendeu que a educação, assim como a sociedade, deveria ter como ponto de partida o trabalho. Pois, para esse anarquista, o eixo educacional estaria apoiado no trabalho, entendido como início e chegada do processo pedagógico. Com isso, julgava que no ensino politécnico o aluno receberia uma preparação teórica e prática, que envolveria tanto a produção agrícola como industrial. O pensamento de Proudhon, de Saint-Simon e de Charles Fourier, consideraram que no processo educacional a parte literária estaria diretamente vinculada com a científica, unindo teoria e prática. Podemos aventar que as contribuições desses socialistas foram importante nas reflexões educacionais e na defesa de uma educação comprometida com a transformação social. Os autores escolhidos para essa comunicação influenciaram as concepções e ações do

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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movimento operário do século XIX tanto no campo organizacional como nas propostas educacionais. Vamos encontrar nas reuniões da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) ou Primeira Internacional, entre 1864-1872, temas como o da educação, que receberam influência direta desses intelectuais pesquisados. Esses conceitos apreciados e discutidos nos congressos da AIT marcaram de forma indelével o pensamento socialista e sua divisão em correntes distintas (inicialmente em corrente marxista e corrente proudhoniana e posteriormente, em marxistas e bakuninistas). O desenvolvimento da pesquisa converge para o estudo documental que será tratado em uma perspectiva dialética que busca compreender esses intelectuais em seu tempo. Os documentos estudados são os produzidos por estes três socialistas, além de outros elaborados por comentadores e pesquisadores que ajudam a compreender suas trajetórias, propostas e contradições.

ENTRE A MEDICINA E A EDUCAÇÃO, A CRIANÇA ESCOLAR E OS SEUS DESVIOS COMPORTAMENTAIS E INTELECTUAIS COM BASE EM

"HYGIENE MENTAL E EDUCAÇÃO" (1927)

JULIANA DA ROCHA E SILVA ANTONIO BASILIO NOVAES THOMAZ DE MENEZES

Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Neste trabalho, analisamos a obra “Hygiene Mental e Educação”, datada de 1927, para descobrirmos os desvios comportamentais e intelectuais que afligiam a infância escolar brasileira do início do século XX. Escrita por Luiz Antonio dos Santos Lima, médico e educador potiguar, como requisito para a conclusão do curso de Medicina na Faculdade do Rio de Janeiro, essa tese de doutoramento constitui o legado do referido pensador para a área educacional, especialmente no âmbito da historiografia norte-rio-grandense. Nela, Luiz Antonio dos Santos Lima, ao propor algumas medidas de higienização a serem implementadas no ambiente escolar, tendo como foco as crianças que apresentassem algum tipo de desvio comportamental e/ou intelectual, enriquece o discurso de higiene defendido na transição dos séculos XIX e XX, no Brasil. São esses desvios de caráter mental – e as suas respectivas medidas de higiene – que a nossa pesquisa documental-bibliográfica almeja investigar. Para isso, analisamos o contexto sócio-educacional existente no país no período, pois foi o momento em que o quadro de doenças, incivilidade e indolência apresentado pela população passou a incomodar a intelectualidade brasileira. Assim, entenderemos como os desvios mentais foram considerados perigosos para o desenvolvimento da nação, fazendo das práticas de intervenção médica a solução para os diversos problemas sociais brasileiros e dando às medidas de higiene mental um caráter abalizador para a manutenção da saúde do espírito de cada indivíduo. Além disso, veremos os motivos pelos quais os olhares do saber médico-científico se voltaram para a infância e por que a tiveram como período de vida fundamental para ser alvo das medidas corretivas. O nosso aporte teórico se dará a partir da perspectiva da análise do discurso de Michel Foucault e da relação do discurso e poder que vai estar presente no conceito de prática. Nessa medida, o quadro de análise a ser articulado terá as noções do biopoder e da normalização, presentes na sociedade brasileira do início do século XX. Com isso, analisaremos os desvios mentais das crianças em idade escolar como inerentes ao discurso de higiene mental, seguidos da necessidade de correção e tratamento defendida por Luiz Antonio dos Santos Lima. Discurso esse que tinha o controle, a vigilância e a correção dos desvios mentais como a solução para os problemas socias que afligiam o país. Como conclusão, percebemos que Luiz Antonio categoriza as crianças de acordo com o nível da anormalidade mental que possam apresentar e, para cada desvio, propõe um tratamento, uma correção. Ele defende a Higiene Mental como ciência aplicada, que visa ao equilíbrio psíquico e à preservação das psiconeuroses com o objetivo de melhorar comportamento e o intelecto das crianças escolares. A proposta de higienização das mentes, pensada por Luiz Antonio dos Santos Lima, era um instrumento disciplinar de manutenção da ordem social.

OS PERIÓDICOS “ÓRGÃO DOS ALUNOS” NO SUL DE MATO GROSSO NA ERA VARGAS

KÊNIA HILDA MOREIRA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este texto objetiva analisar três jornais, conhecidos como “imprensa estudantil”, que circularam no sul de Mato Grosso durante a Era Vargas, em busca de reconstruir o campo educacional nesse tempo e espaço. A pesquisa é parte do projeto em execução “O Estado Novo e a educação em Mato Grosso (1937-1945)”, financiado pelo CNPq. Os jornais “órgão dos alunos”, assim denominados por serem produzidos por estudantes, são os seguintes:

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A Vida Escolar – orgão dos estudantes de Campo Grande (1934 a 1936); Ecos Juvenis – orgão das alunas do Colégio N. S. Auxiliadora (1936 a 1939); e Vida Escolar – orgão dos alunos do Internato Osvaldo Cruz (1937). São periódicos vinculados e controlados por escolas. No caso do primeiro jornal, estava sob a responsabilidade do diretor do Colégio Visconde de Taunay, mas não se vinculava a uma escola específica, como os demais. Tais fontes foram localizadas no Centro de Documentação Regional (CDR) da Universidade Federal da Grande Dourados, nesse sentido, utiliza-se para a análise todos os exemplares disponíveis de cada jornal no CDR. A análise procura responder sobre a concepção de educação ideal na Era Vargas nos distintos períodos, atenta aos conflitos de interesses perceptíveis nas narrativas dos jornais selecionados e às aberturas para as “vozes” dos alunos. Considera-se, para tanto, o caráter formativo desses periódicos e não apenas de divulgador de ideias. Observa-se ainda que, por terem sido produzidos em instituições escolares, a análise de um “órgão dos alunos” permite evidenciar vestígios de práticas escolares. Como referencial teórico metodológico, baseia-se na Nova História Cultural, com ênfase para autores que tratam da imprensa pedagógica (BICAS, 2008; CATANI; SOUSA, 1999; NÓVOA, 1997; dentre outros). Como considerações finais, destaca-se que a leitura dos referidos jornais permitiu evidenciar a predominância do discurso varguista com ênfase para a importância do “uso da nossa língua que é tesouro”, com páginas de aulas de língua portuguesa e constantes manifestações de contentamento com o governo, que conseguiu a “harmonia nacional” e trouxe progresso a Mato Grosso e à cidade de Campo Grande, a partir da “marcha para oeste”. Permite evidenciar ainda a valorização da Igreja Católica como maior e mais perfeita escola; a preocupação com a definição dos papeis que cada um desempenha na instituição escolar; a sugestão dos filmes educativos que deviam ser assistidos pelos alunos; a importância do uso de novos meios e métodos por parte do professor no processo de ensino-aprendizagem; e a importância de tais jornais escolares, que permitem o controle do crescimento da “mocidade cheia de ideias”, sob a vigilância de “orientadores experimentados”.

MONTEIRO LOBATO E A EDUCAÇÃO: DA CRÍTICA À PRODUÇÃO DE UMA NOVA LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA

LAÍS PACIFICO MARTINELI Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Esse estudo investiga a perspectiva de Monteiro Lobato (1882-1948) acerca da produção literária para as crianças existente no Brasil nos anos iniciais da República, que o levaram a criar uma literatura infantil com um novo teor pedagógico consoante aos ideais escolanovistas. Indagamos qual era posição de Monteiro Lobato acerca dos livros infantis de seu período e como ele superou a antiga forma de produzir livros para crianças, tendo por base os pressupostos escolanovistas. Para tanto, o trabalho foi dividido em duas partes. A primeira analisa os livros para leitura infantil produzidos no início da Primeira República, e se o teor pedagógico desses livros condizia com o projeto educacional do período. Além disso, analisamos quais seriam as principais razões pelo qual o autor Monteiro Lobato se opôs aos textos infantis do seu período. No segundo momento, debruçamo-nos sobre a literatura infantil de Monteiro Lobato, iniciando pela investigação dos momentos em que o autor conheceu os pressupostos teóricos da Escola Nova. Em seguida, identificamos os novos elementos empreendidos pelo autor na produção de sua literatura infantil a luz do ideário escolanovista, para superar a antiga forma de produzir literatura infantil criticada por ele. O estudo nos revelou que o autor elaborou sua obra infantil tendo por base um novo tratamento oferecido a criança introduzida no Brasil por meio da corrente escolanovista de educação. Lobato opôs-se a antiga forma de produzir textos infantis de seu período, pois esses textos retratavam uma criança que tinham as características de um adulto em tamanho reduzido. Tendo isso em vista, elaborou uma literatura infantil com um novo teor pedagógico, em consonância com os ideais escolanovistas, e com uma nova concepção de infância. O autor posicionou a criança em lugar central em suas histórias, ofereceu a elas a possibilidade de tomar suas próprias decisões e mais liberdade para expressar seus interesses e impulsos infantis. Ele reconheceu que a criança tem certas singularidades e, por isso, para elaborar textos que pudessem ser denominados como literatura infantil, seria necessário atender as singularidades infantis. Portanto, para produzir literatura infantil e para seduzir as crianças para a leitura de seus livros era imprescindível utilizar recursos inerentes à infância, como a ludicidade, a fantasia e a imaginação. Lobato orientou-se por esses critérios para escrever suas histórias infantis e para criar um projeto pedagógico – o Sítio do Picapau Amarelo - em que a criança, o professor, o ambiente de aprendizado e os conteúdos de ensino eram condizentes com os pressupostos da corrente pedagógica escolanovista de educação.

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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A CIRCULAÇÃO DO FOLHETO FONTE DA VERDADE OU CAMINHO PARA A VIRTUDE NAS AULAS DE PRIMEIRAS LETRAS DA PROVÍNCIA

DE SERGIPE (1833-1835)

LEYLA MENEZES DE SANTANA SIMONE SILVEIRA AMORIM

GILTON KENNEDY SOUZA FRAGA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Esse estudo objetiva analisar a circulação do folheto Fonte da Verdade ou Caminho para a Virtude (TEIXEIRA, 1841) na Província de Sergipe no período de 1833-183. Esse impresso se caracteriza como um catecismo e fora adotado pelo Presidente José Joaquim Geminiano de Morais Navarro como recurso didático a ser utilizado nas aulas de primeiras letras pelos professores primários. O marco espacial da investigação é a Província de Sergipe, perpassando o período de 1833 a 1835. As principais fontes são: o Folheto Fonte da Verdade ou Caminho para a Virtude; as correspondências emitidas por professores primários no ano de 1835 e que foram endereçadas ao Presidente da Província ou ao Secretário de Governo e que trazem como conteúdo comum à suspensão do já citado folheto; e o Relatório do Presidente Manoel Ribeiro da Silva Lisboa do ano de 1835. Na triangulação dessas fontes explora-se também a legislação educacional da época: a Lei Imperial de 15 de outubro de 1827 e a Lei Provincial de 05 de Março de 1835, que tratam sobre a instrução pública. Nesse estudo a lei configura-se como a materialização do discurso político da época e compreendê-la não significa necessariamente entender a realidade prática, mas sim o que se pensava sobre determinado tema, nesse caso, a respeito da instrução primária oitocentista, especificamente no tocante ao conteúdo a ser ministrado nas aulas de primeiras letras. A principal problemática dessa investigação diz respeito às motivações que levaram o Presidente da Província de Sergipe a proibir o uso em sala de aula do impresso. Desse modo, foram analisadas 19 (dezenove) correspondências que foram emitidas por 16 (dezesseis) professores e 03 (três) professoras de primeiras letras. Recorre-se as orientações elaboradas por Ginzburg (1989), através do método indiciário, pois a investigação encontra-se centrado nos resíduos. O conceito de circularidade é explorado a partir das ideias do historiador cultural Darnton (2010), buscando compreender as razões pelas quais este folheto foi proibido e as práticas de leitura que o envolve. A intenção ao analisar o folheto Fonte da Verdade ou Caminho para a Virtude foi revelar a partir do esquema de estágios de circularidade proposto por Darnton, os elementos que compõem o folheto. De certo que algumas dessas fases do estágio, por indisponibilidade de informações, ficaram sem explicações, porém isso não inibiu a análise quanto ao processo de transmissão do texto, pelo menos no recorte territorial proposto pela pesquisa, que é a Província de Sergipe.

A RELAÇÃO ENTRE A EDUCAÇÃO E AS CIÊNCIAS SOCIAIS NAS DISCUSSÕES DO INTELECTUAL BRASILEIRO JOÃO ROBERTO MOREIRA

(1912-1967)

LEZIANY SILVEIRA DANIEL Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O Intelectual brasileiro João Roberto Moreira (1912-1967), educador atuante em órgãos como o Instituto Nacional de Estudos Pedagógico (INEP) e o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE) teve sua trajetória marcada pela crescente especialização na relação entre educação e ciências sociais. Essas discussões integravam um movimento de constituição do próprio campo educacional no Brasil, que procurou dar maior estatuto científico aos estudos relacionados à educação, a partir dos conhecimentos produzidos no interior das ciências sociais. Para tanto, a análise desta relação permitiu-nos discutir alguns aspectos relacionados ao processo de construção de determinados entendimentos acerca das Ciências Sociais e de sua contribuição para os estudos na área da educação. No nosso entendimento, Moreira participou de dois momentos: nas décadas de 20 e 30 do século XX, quando houve a aproximação entre a educação e as ciência sociais, inserida num projeto mais amplo de busca de estatuto científico para os estudos superiores em educação; e nas décadas de 50 e 60 do século XX, quando houve novamente esta reaproximação da educação e das ciências sociais, com a necessidade de constituição de uma base mais científica para as propostas de intervenção nos sistemas educacionais, mediante planejamento educacional (Brandão et all, 1996). No primeiro período indicado, Moreira iniciava sua atuação no campo educacional, partindo de pesquisas diletantes e baseadas em especulações teóricas. Particularmente, no Estado de Santa Catarina, quando atuava como professor e diretor do Curso Normal do Instituto de Educação de Florianópolis, Moreira produziu e publicou seus primeiros estudos sobre esta temática (DANIEL, 2003, 2009). Já

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naquele momento refletia acerca do papel da educação, do valor da ciência para o homem e do estatuto científico da Pedagogia. Já na segunda fase, décadas de 1950 e 1960, os termos Ciências Fontes da Educação e Pedagogia Científica são substituídos, mais fortemente, no discurso de Moreira, pela preocupação em torno da maior aproximação entre a Educação e as Ciências Sociais. Podemos perceber, assim, que embora com a mesma preocupação, a nomenclatura e os conceitos utilizados sofreram mudanças. Nesta fase, atuando junto ao CBPE e aos organismos internacionais, como a UNESCO, em especial, a Sociologia e agora a Antropologia, foram tratadas por Moreira como importantes áreas em diálogo com a educação, num processo em que os conhecimentos mais seguros deveriam agora vir, segundo intelectuais como Anísio Teixeira, de pesquisas mais fortemente baseadas em dados empíricos, necessidade esta considerada fundamental para o estabelecimento de um melhor e mais seguro planejamento, pois este era “tido como o instrumento por meio do qual seria possível organizar o processo de mudança que redundaria no desenvolvimento” (XAVIER, 2000, p.53).

A ESCOLA PRIMÁRIA NA REVISTA MÉDICA DO PARANÁ NOS ANOS 1930

LIANE MARIA BERTUCCI Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

No Brasil a década de 1930 foi um período de implantação, pelo governo federal, de diretrizes para a educação e a saúde baseadas em propostas que, em vários aspectos, eram debatidas nos anos anteriores (destaque para o movimento sanitarista, de ampla repercussão nacional) e traduzidas em medidas consideradas parciais, como a organização do Departamento Nacional de Saúde Pública em 1920, ou em reformas pontuais ou regionais, como da Escola Normal de Fortaleza por Lourenço Filho, em 1922, e do sistema educacional mineiro por Francisco Campos, em 1926 (baseadas em ideias escolanovistas). A criação pelo governo Getúlio Vargas do Ministério da Educação e Saúde Pública em 1930, mesmo com as limitações de seus primeiros anos de existência, foi saudada por muitos como a possibilidade efetiva de uma transformação nacional nestas duas áreas, entendidas como cruciais para o futuro do país. O texto A escola primária na Revista Médica do Paraná nos anos 1930 pretende evidenciar como este periódico científico foi um espaço utilizado por seu diretor e redatores para fazer circular entre os leitores (a maioria médicos ou profissionais de áreas afins) propostas relacionadas à saúde na e pela escola primária, em um período que o tema educação e saúde ganhou progressiva relevância em medidas do governo federal, medidas estas que pretendiam atingir todo o Brasil. A Revista Médica do Paraná foi criada em dezembro de 1931, como órgão da Sociedade Médica dos Hospitais do Paraná que, em poucos anos, fundida com duas outras instituições, originou a Associação Médica do Paraná. Mesmo organizada com o propósito de contribuir com o “progresso do meio científico do Estado”, a Revista Médica do Paraná publicou, desde seus primeiros números, artigos que abordavam temas que podem ser denominados médico-sociais. Entre estes artigos, que por vezes reproduziam palestras, comunicações realizadas em congressos e até preleções radiofônicas, estavam os que tematizavam a escola primária como espaço privilegiado para o desenvolvimento de uma “consciência sanitária” nos brasileiros (como escreveu o médico Milton de Macedo Munhoz, em 1932). Do espaço da cantina à ação do médico na escola, da verminose ao curso de educação sanitária para os professores, artigos publicados na revista retratavam tanto a circulação (R. Chartier) de ideias sobre a instituição de ensino primário como espaço de formação do brasileiro saudável, quanto divulgavam propostas médicas que pretendiam transformar costumes (E.P. Thompson) através da escola primária.

O PROJETO TAVARES LYRA E A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA: HIGIENISMO NO BRASIL NA PRIMEIRA DÉCADA DO SÉCULO XX

LIGIANE APARECIDA DA SILVA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O PROJETO TAVARES LYRA E A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA: HIGIENISMO NO BRASIL NA PRIMEIRA DÉCADA DO SÉCULO XX Este trabalho se propõe a analisar a importância da educação física na perspectiva dos parlamentares e intelectuais envolvidos com o Projeto Tavares Lyra entre os anos de 1907 e 1908 no Brasil. O referido projeto, elaborado pelo então Ministro de Estado da Justiça e Negócios Interiores, Augusto Tavares de Lyra (1872-1958), foi apresentado à Câmara dos Deputados e debatido no decorrer do período citado, mas a despeito da intensa polêmica que suscitou não chegou à efetivação, sendo arquivado posteriormente. A fonte é parte de uma coletânea denominada Documentos Parlamentares – Instrução Pública, publicada pelo Jornal do Comércio em 1918, e atualmente se encontra disponível na biblioteca do Arquivo Nacional. A proposta do projeto era promover o desenvolvimento e a difusão do ensino público brasileiro em todos os seus níveis –

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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primário, secundário e superior –, embora o cerne das discussões tenha sido o papel da União em relação à instrução primária mediante as prerrogativas descentralizadoras da Constituição de 1891. Não obstante, entre as páginas 47 a 56 há um texto redigido especialmente sobre a educação física e sua importância para a formação das novas gerações de cidadãos republicanos cujo conteúdo nos leva a inferir que o Projeto Tavares Lyra foi elaborado em consonância com os preceitos higienistas amplamente difundidos na época. Ao defender as vantagens dos jogos e exercícios físicos para o desenvolvimento corporal e preservação da saúde mental das crianças, compreendemos que o Ministro da Justiça, juntamente com a Comissão de Instrução instituída, como homens de seu tempo, estavam preocupados com a formação para o trabalho, para a guerra e todos os demais desafios inerentes à vida citadina que, paulatinamente, torna-se o modelo a ser seguido com o desenvolvimento do comércio e da indústria nascente. Além disso, a escola passa a ser chamada a repensar seus métodos de ensino e conteúdos necessários ao tipo de sujeito que se pretendia forjar, priorizando ensinamentos morais e preceitos de higiene, asseio, convivência, respeito, amor à pátria, amor ao trabalho e obediência. Diante desse contexto, nos propomos a estudar a contribuição dessa fonte pouco conhecida pelos historiadores da educação do Brasil para o avanço nas pesquisas sobre higienismo, partindo do princípio de que os projetos de reforma não são criados de forma alijada do contexto que os engendrou. Antes, representam esforços humanos na tentativa de solucionar problemas que se apresentam na vida concreta dos homens. Para tanto, discorreremos sobre o modo como a educação física é apresentada no Projeto Tavares Lyra para, a seguir, discutirmos o higienismo no Brasil no decorrer da Primeira República e, por fim, estabelecermos um diálogo entre os intelectuais envolvidos com o projeto e seus pares pertencentes ao movimento higienista da época.

O DEBATE E A REPERCUSSÃO DA REFORMA DA INSTRUÇÃO PÚBLICA DE 1920 NA IMPRENSA PAULISTA: ANÁLISE MATERIAL, POLÍTICA E

EDITORIAL

LOUISA CAMPBELL MATHIESON Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Esta comunicação é um recorte de um projeto de pesquisa maior, cujo objetivo geral é analisar o debate e a repercussão que houve na imprensa paulista sobre a Reforma da Instrução Pública de São Paulo de 1920, estruturada por Antonio de Sampaio Doria. Foram escolhidos como fonte documental jornais paulistas que circulavam à época da Reforma – Correio Paulistano, O Estado de S. Paulo, A Platéa, A Gazeta e Jornal do Commercio – e que publicaram diversos artigos sobre o tema em questão, principalmente entre os meses de novembro e dezembro de 1920. Apresentar-se-á, nesta comunicação individual, um debate que compõe os objetivos específicos da pesquisa, que é analisar a estrutura material, política, editorial e pessoal dos jornais com base no tema pautado em todos eles: constitucionalidade do projeto de reforma de ensino proposto por Sampaio Doria. Essa reflexão se dá a partir do entendimento de que, por a imprensa ser instrumento de manipulação de interesse e intervenção na vida social (CAPELATO; PRADO, 1980), é fundamental avaliar as estratégias de publicação e fazer uma análise que vá além da análise do conteúdo em si publicado nos diferentes jornais, problematizando também as estratégias textuais e editorais dos jornais ao abordarem determinadas pautas sobre a Reforma. Desse modo, ao analisar a imprensa como fonte ou objeto de pesquisa, é preciso concebê-la, como destaca Maria Helena Rolim Capelato (1988, p. 12) em seu estudo, “como agente da história que ela também registra e comenta”. Observou-se, numa análise inicial das fontes, que, quando um dos jornais agenda um assunto de relevância, outro jornal busca rebatê-lo. Assim, é possível notar intensa discussão entre os próprios jornais e não tanto com o público leitor. Para análise, têm-se como referencial teórico-metodológico as noções de: a) agendamento (McCOMBS, 1972), a qual trabalha com a ideia que, se os meios de comunicação não conseguem impor aos receptores o que pensar, conseguem, por outro lado, a médio e longo prazo, influenciar sobre o que pensar e falar (HOHLFELDT, 1997, p. 44); b) campo (BOURDIEU, 2010; 2007; 2004), que leva a refletir sobre a construção dos espaços simbólicos, nos quais aparecem disputas internas entre os agentes, que buscam legitimar e validar suas representações, proporcionando uma análise relacional das práticas e dominações de grupo; c) elite (HEIZ, 2006; CHARLE, 1993), entendida como um grupo que, por gozar de posições de poder, se sente no dever, a partir de seus valores, de conduzir a sociedade.

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"LEITURAS MORAES E CÍVICAS": CIVILIZANDO A INFÂNCIA POR MEIO DOS LIVROS DE LEITURA

LÚCIA DE FÁTIMA PEDROSA DOS SANTOS Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

“Leituras Moraes e Cívicas”: civilizando a infância brasileira por meio dos livros de leitura Este texto trata das contribuições de Arnaldo de Oliveira Barreto para o ensino primário paulista na passagem do século XIX para o século XX. Formado em 1891 pela Escola Normal de São Paulo, lecionou na Escola Modelo do Carmo em 1894 e atuou como diretor de escolas para filhos de operários da Estrada de Ferro Central do Brasil, do Ginásio de Campinas e da Escola Normal de São Paulo e como redator chefe da“Revista de Ensino”. Intelectual e iminente educador paulista, Arnaldo de Oliveira Barreto se destacou como autor de cartilhas e Livros de Leitura divulgando novas ideias a respeito do ensino da leitura em São Paulo e posteriormente também a outros estados. Dedicou-se também para a escrita de artigos sobre o ensino da leitura, com publicações na Revista de Ensino. Foi o idealizador e responsável pela organização e direção da coleção “Biblioteca infantil” da Companhia Editora Melhoramentos/SP, no período de 1915 a 1925. Seu trabalho contribuiu para uma inovação no aspecto gráfico dos livros dirigidos à infância, preocupando-se com a qualidade do projeto editorial. Para este trabalho elegeu-se o livro Leituras Moraes e Cívicas de 1896 elaborado por este autor, escolhido dentre suas outras obras, por suspeitar que este livro é portador de novos valores que contribuíram para uma conformação de infância nesta sociedade republicana. Neste sentido pretende-se que a análise deste livro possibilite a investigação das representações de infância e de criança retratadas em suas páginas. Este livro foi tomado como fonte e objeto de pesquisa deste trabalho por entender que o mesmo é uma ferramenta possuidora e difusora de ideias, valores, como familiares, cívicos e projetos individuais e coletivos. A pesquisa ancora-se nos estudos da História Cultural (Chartier, 1990), tomando como referência os conceitos de representação e materialidade. Além de adotar para a análise o que este autor definiu como “protocolo de leitura”. Desta forma a partir da análise dos seus conteúdos, das imagens, dos textos pretende-se identificar o que nos contam a respeito do mundo infantil, seus comportamentos, pensamentos e atitudes. As ideias, as concepções, os valores, as imagens e textos impressos serão pistas que podem indicar a conformação da infância brasileira no período republicano, especificamente de 1890 a 1930. Palavras- chave: livros de leitura, Arnaldo de Oliveira Barreto, História da Infância.

A ESCOLA NOVA NO AMAZONAS NA DÉCADA DE 1930

LUCIA REGINA DE AZEVEDO NICIDA MARCOS ANDRÉ FERREIRA ESTÁCIO

Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

A ascensão de Getúlio Vargas ao poder em 1930 fez surgir novas tendências políticas no panorama nacional, e, no campo educacional, observa-se uma postura de direcionamento do centro para a periferia, com a instalação de uma organização centralizadora, materializada pela criação do Ministério da Educação e Saúde Pública. Assim, a política educacional nacional passou a ser dirigida, em grande parte, pelos educadores defensores do estado getulista, e enquanto estratégia de atuação promoveu-se a difusão de ideias educacionais por intermédio da Associação Brasileira de Educação (ABE), de suas Conferências e Congressos. O presente estudo objetivou analisar a difusão dos ideais escolanovistas, no estado do Amazonas, na década de 1930, a partir dos artigos publicados pela Revista de Educação da Sociedade Amazonense de Professores (SAP). A metodologia adotada neste estudo foi de natureza qualitativa e o tipo de pesquisa a documental, sendo os exemplares da Revista de Educação da SAP, publicados entre os anos de 1932 a 1940, o objeto de estudo, pois se compreende que a análise de periódicos em muito tem a nos revelar a respeito da dinâmica de uma determinada sociedade, e nos possibilita uma aproximação com o pensamento coletivo, os quais nos trazem informações muitas vezes omitidas nos registros e fontes tradicionais. Obteve-se que embora a proposta de divulgação e propagação dos ideais da escola nova difundidos pela Revista de Educação da Sociedade Amazonense de Professores, no estado do Amazonas, apontasse para a criação de condições múltiplas e diversas de ensino e aprendizagem e nesse sentido estivesse associada a uma ação pedagógica que possibilitasse ao aluno a busca do conhecimento com maior autonomia, identificou-se que em verdade, muitas vezes, esse vir a ser pedagógico necessitava de tempo para a sua compreensão e assimilação. A partir da análise dos conteúdos dos artigos apresentados na Revista de Educação da SAP, foi possível concluir que um grupo de professores e admiradores da cidade de Manaus aderiu e se incorporou na luta em defesa dos ideais escolanovistas defendidos pelos pioneiros da educação nova, por intermédio de ações que visavam propagar e implantar os fundamentos que favorecessem o embasamento teórico dos professores. Identificou-se ainda, que as propostas de mudanças encontraram resistências, principalmente, pela instabilidade do número de sócios e contribuintes da Sociedade Amazonense de Professores

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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ao longo do período estudado. E o processo de enfrentamento se deu por meio de movimentos intensos para superação dos frequentes obstáculos, sendo adotadas diferentes estratégias, tais como palestras, encontros coletivos e individuais de convencimento, eventos culturais, entre outros, além de uma postura assistencialista, como forma de atrair o professorado do Amazonas para a defesa e adoção dos novos ideais educacionais.

PAPEL E TINTA: “O ESTADINHO” E A FORMAÇÃO DE EDUCABILIDADES INFANTIS NO PERÍODO DE REDEMOCRATIZAÇÃO DO PAÍS (1985 –

1987)

LUCIANA MARA ESPÍNDOLA SANTOS Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Um dos jornais mais antigos e tradicionais de Santa Catarina, cuja circulação deu-se até os anos 2009, publicou quando estava em sua fase áurea, seguindo a tendência de alguns dos grandes jornais de circulação nacional como a Folha de São Paulo, a Gazeta e outros, um suplemento destinado a crianças, de nome “O Estadinho”. Filho do jornal “O Estado”, tal material tinha tiragem semanal e apresentava-se recheado com histórias em quadrinhos, passatempos, charadas, desenhos, fotos de crianças e matérias diversas, inclusive contando com a colaboração de seus leitores em algumas seções do jornal. Aos domingos ele chegava às mãos e aos olhos dos pequenos e pequenas catarinenses. Com sua primeira edição em 21 de Maio de 1972, o suplemento circulou por mais de 15 anos e embora não se saiba exatamente quando tenha parado de rodar, indícios apontam seu final para os últimos anos da década de 1980, entre 1988 e 1989. O presente estudo está ancorado na perspectiva da História Cultural, que respalda nossa mirada sobre esses materiais ditos “ordinários”, sendo assim, buscamos olhar para os jornais com recorte nos anos de 1985 a 1987, justificados no período de redemocratização do país. O intuito foi compreender de que modo ou quais modos, “O Estadinho” promoveu em suas páginas, jeitos de ser, viver e mostrar a infância, bem como, por meio de suas matérias e reportagens fez circular ideias sobre as educabilidades infantis, atuando nos gostos, nos corpos, nas atitudes e nas sensibilidades de seus leitores mirins, familiarizados com o mundo das letras ou em vias de alfabetização. O corpus documental do estudo constituiu-se de 46 suplementos, editados de 1985 a 1987, que tomaram folego ao serem cotejados com outros materiais impressos sobre o período da redemocratização, em especial, as matérias veiculadas pelo próprio jornal “O Estado”. Realizou-se também uma análise acerca da materialidade do citado impresso, em uma abordagem que procurou mesclar tanto dados quantitativos, como: números de edições, números de páginas, números de seções, quanto qualitativos, sobre os temas e conteúdos publicizados. As bases conceituais serviram-se das noções de circulação de Roger Chartier e Robert Darton, de ressonância de Stephen Greenblatt e de educabilidade de Paulo Freire, na tentativa de perceber em que medida os ideais de redemocratização puderam ou não ser destacados no jornal infantil, que embora criado em meio a um regime militar, no período aqui analisado, pode apresentar ecos do seu tempo.

THOMAZ GALHARDO: O PROFESSOR DE INSTRUÇÃO PRIMÁRIA COMO INTELECTUAL DA NOVA “GERAÇÃO” DE AUTORES DE LIVROS

DIDÁTICOS NO FINAL DO SÉCULO XIX

LUCILENE REZENDE ALCANFOR Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O presente trabalho se propõe a apresentar resultados parciais de pesquisa sobre a trajetória do professor Thomaz Paulo do Bom Sucesso Galhardo, em sua atuação como parte da nova “geração” de autores de livros didáticos que começou a se constituir a partir dos anos 1880. Thomaz Galhardo, como é conhecido, exerceu várias funções no magistério público paulista nas últimas décadas do século XIX. Lecionou por mais de quinze anos no ensino primário, assumiu vários cargos administrativos e de chefia dentro da secretaria de Instrução Pública e foi autor de consagrados livros didáticos de alfabetização e leitura para as séries iniciais. Apesar das funções públicas administrativas, diretamente ligadas à elaboração de leis e regulamentações de um programa educacional em construção, o que mais se destaca em sua trajetória é o sucesso editorial de seus manuais escolares, elaborados a partir de sua experiência com a educação elementar. Suas publicações compõem uma série graduada de livros de alfabetização e leitura -denominada Na escola e no lar - formada pela trilogia: “Cartilha da Infância”, “Segundo livro de leitura para a infância” e “Terceiro livro de leitura para a infância”, obras publicadas entre as duas últimas décadas do século XIX e início do XX, de grande repercussão e circulação

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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação

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nacional, com uma extensa longevidade editorial. Entendemos que os livros didáticos de “longa duração” sustentaram projetos político educacionais, projetos que legitimaram a constituição da mentalidade de várias gerações, perpetuando um modelo pedagógico que saiu vencedor no embate social entre diversos intelectuais da educação. Portanto, entender o papel intelectual presente no ofício do professor, do homem da gestão pública e do escritor de livros escolares pressupõe analisar suas pertenças sociais, compreendendo a produção do conjunto de sua obra dentro de um contexto social de formação amplo e permeado de influências culturais. Para tanto é preciso compreender: Quais os vetores de mediação permitiram a entrada de Thomaz Galhardo para uma elite cultural educacional paulista nos auspícios da República? Quais as pertenças sociais foram compartilhadas pelo grupo de intelectuais a que Thomaz Galhardo estava engajado? Qual o poder de influência de seu grupo de pertencimento? Quem são os mediadores culturais que viabilizaram a circulação de sua produção didática? As questões propostas neste trabalho são pensadas na perspectiva da história dos intelectuais, compreendendo sua formação, ideias e ações, assim como a rede de sociabilidade desse professor e sua intervenção na cena pública paulista e na organização da cultura.

KRITERION: UM ESPAÇO DE CONSTRUÇÃO E PRODUÇÃO EDUCACIONAL (1947-1961)

LUCIMAR LACERDA MACHADO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O objeto de estudo desse trabalho é o periódico Kriterion, criado em 1947 por um grupo de professores da Faculdade de Filosofia de Minas Gerais (UMG). Ainda em circulação até os nossos dias, a revista caracteriza-se como uma das mais longevas publicações periódicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A partir do levantamento e análise dos artigos da revista identificou-se um interessante espaço de produção intelectual ainda pouco explorado nas pesquisas no campo da História da Educação. Na análise recortou-se o período de 1947 a 1961, tomando como baliza a data de criação da revista e o momento de aprovação da Lei 4024/61, ano em que se institui a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira. A revista foi tratada como fonte, o que nos permitiu ater-nos à materialidade e aos aspectos relacionados aos usos e às estratégias editorias que caracterizam o periódico como um produto cultural específico. Segundo BARREIRA (2004); CAPELATO (1980); CATANI e BASTOS (1997) os impressos ganham relevância como fontes documentais e constituem importantes referências para as pesquisas que envolvem este campo de estudo, contribuindo para novas leituras e possibilidades para a escrita da história. Neste sentido, o objetivo do trabalho foi a catalogação dos artigos publicados identificando-os às temáticas que emergiram com maior e menor intensidade na produção intelectual de um grupo de professores, intelectuais e políticos que atuou nos diferentes espaços da vida pública mineira, produzindo reflexões e opiniões sobre os diversos assuntos. Ao eleger o periódico como fonte, cuidou-se de considerar as características próprias da imprensa como fonte. Ater-se às circunstancias e condições de sua produção, o público ao qual se destina, a sua circulação, a sua proximidade em relação ao acontecimento, o caráter fugaz e polêmico da matéria jornalística, a vontade de intervir na realidade. Pode-se concluir que no período analisado a revista cobriu vasto campo da produção acadêmica: história, literatura, filosofia, educação, dentre outros. A natureza dos temas em discussão reflete a complexidade do contexto cultural, a quantidade e a qualidade das reflexões, a ação e a organização dos grupos sociais, bem como a intensidade dos conflitos. Portanto, a revista se apresenta como um campo privilegiado da produção intelectual, sobretudo de circulação de ideias compostas pela pluralidade acadêmica: professores, acadêmicos, cientistas políticos, homens públicos. Pode-se concluir que, no período analisado a revista caracterizou-se como um espaço de circulação e de construção de ideias, contribuindo para configurar um ambiente privilegiado de manifestação de diferentes posicionamentos da intelectualidade mineira durante a década de 1950.

TESSITURAS DO ENSINO PÚBLICO: A UNIDADE EM PRIMITIVO MOACYR (1910 – 1930)

LUIZ ANTONIO DE OLIVEIRA MARIA CRISTINA GOMES MACHADO

Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O texto analisa a obra de Primitivo Moacyr (1867-1942), com base nos livros “O ensino público no Congresso Nacional. Breve notícia”, “A Instrução e as Províncias”, “A Instrução e a República”, e artigos publicados no Jornal do Comércio nos anos de 1929 e 1930, subsidiado pelo entendimento de que o autor articula um discurso em prol de um projeto mais amplo que os recortes e leitura supostamente positivista. Há na organização das

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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publicações uma proposição sobre a instrução que se descobre no movimento das tendências, posturas, projetos e críticas que destacou na organização que produziu do material que publicou sobre a história da instrução brasileira. O tema exigiu considerar outras fontes produzidas pela área de História da Educação, bem como produzidas no período estudado. Tais publicações auxiliaram nos estudos do momento histórico, bem como de alguns contemporâneos de Moacyr. Assim, constituiu-se o corpus documental da pesquisa, revelando, com base nos semanários e mensários publicados na capital, como Moacyr transitava por grupos políticos, intelectuais, seus espaços e instituições. Dadas as condições específicas da realidade brasileira do período, tomou-se como referenciais teórico-metodológicos os conceitos de patrimonialismo (FAORO 2011), modernização autoritária (FAUSTO, 2001) e conservadora (FERNANDES; 2006; (GRAMSCI, 1991; PÉCAUT, 1990). Moacyr foi influenciado pelo pensamento jurídico de Rudolf Von Jhering (1818-1892), e nas primeiras décadas do século XX, travou contato com as ideias de Bertrand Russel (1872-1970), dos quais concluímos ter assumido posicionamentos a respeito das questões educacionais. Dos dois autores, decorre a fundamentação da instrução como espaço de construção da autonomia dos indivíduos, no qual o professor e os conteúdos assumem uma centralidade numa atribuição peculiar da condição moralizadora, cívica e civilizadora da educação no interior do processo de formação da intelectualidade como condição da cidadania republicana. Alcançou-se como resultado a identificação de que há uma intenção e uma consistência em sua obra, qual seja, a defesa da federalização do ensino primário, como observamos nas publicações de 1916, 1942 e 1944. A primeira seção, “Um caminho de lutas e escolhas”, reporta-se a espaços e tempos de construção da pessoa, do profissional, do cidadão, e pesquisador Primitivo Moacyr. O que permitiu uma compreensão mais ampla do autor a partir dos espaços de sua ação. No segundo percurso, “Instrução primária na “selva selvaggia” de Primitivo Moacyr”, indica-se como Moacyr demonstra o processo de adiamento do investimento em instrução primária na arena do Congresso Nacional mediante a realidade do patronato. Na terceira parte, “Federalização do ensino: uma proposta de Moacyr”, aborda-se como nos textos entre os anos 1917 a 1929, Moacyr sustenta que a constituição das inteligências, da uniformidade de caráter e bondade (condições da nacionalidade republicana) reclamava uma unidade de desígnio; pautada na

LAVRADORES, SALOIOS E ESTUDANTES NO LIMIAR DA MODERNIDADE CAPITALISTA EM PORTUGAL: O MODERNO E O

ARCAICO NAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS VEICULADAS NA IMPRENSA LOCAL

LUIZ CARLOS BARREIRA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este trabalho apresenta resultados parciais de uma pesquisa histórica que investiga processos de formação do ser social, destacadamente das assim denominadas “classes populares” (trabalhadores rurais e urbanos), tendo por referência o campo disciplinar da história social, sem desconsiderar, entretanto, as importantes contribuições da nova história cultural. No campo da história social, o qual vem sendo redesenhado desde a década de 1920, principalmente pelas historiografias francesa e inglesa (Marc Bloch, Edward Palmer Thompson e Raymond Williams, entre outros), a imprensa é investigada como prática social e momento de constituição e instituição de diferentes modos de viver e pensar. No campo da nova história cultural, as contribuições de Roger Chartier, particularmente as que destacam a importância dos dispositivos materiais da produção textual na produção de sentidos, não podem ser ignoradas. Tal pesquisa focaliza a circulação de periódicos portugueses na Baixada Santista, no início do século XX, tendo em vista verificar se esses periódicos davam a conhecer experiências então tomadas como revolucionárias ou inovadoras no que diz respeito aos processos de formação do ser social, especialmente no campo da educação escolar, mas sem desconsiderar iniciativas não-formais. Objetiva, ainda, identificar os diferentes modos de viver e pensar das classes sociais constitutivas da sociedade portuguesa no alvorecer da modernidade capitalista, bem como identificar, compreender e problematizar as finalidades então atribuídas à educação escolar, no confronto com outras formas históricas de educação. Dentre os periódicos que circularam na Baixada Santista nos tempos históricos considerados na pesquisa, destacamos, neste trabalho, Ilustração Portugueza, especialmente os primeiros números da série que começou a ser publicada em 1906. Trata-se de uma “revista semanal dos acontecimentos da vida [social, política, artística, literária, esportiva, doméstica, cotidiana] portugueza”, pertencente à mesma empresa responsável pela impressão do jornal O Século. Quase todas as matérias, nela, publicadas são fartamente ilustradas com fotografias, charges e outros desenhos. Neste trabalho, destaque será dado aos processos de formação do lavrador, na região do Minho, e dos saloios (netos dos mouros), nos arrabaldes de Lisboa, às vésperas da proclamação da República, contrastando tais processos com os de formação das elites condutoras da nação, protagonizados pelos estudantes portugueses

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em Coimbra e em Paris. Evidenciar-se-ão, assim, traços dos modos de viver coimbrão (estudantes) e daqueles que vivem à margem da “civilização” (lavradores e saloios).

LEIGOS E CATÓLICOS EM DISPUTA PELA ESCOLA NOVA NO BRASIL DA DÉCADA DE 1930

MACIONIRO CELESTE FILHO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

As ideias da Escola Nova foram apresentadas desde os anos 1920 como imprescindíveis para a renovação da educação brasileira e, consequentemente, como propícias para a reformulação da sociedade que se buscava criar, mais adequada a um país moderno. A visão do final do século XIX de que era a escola que formava a sociedade ganhou novo fôlego com os debates sobre a Escola Nova na década de 1930. Sinteticamente, a Escola Nova garantiria a superação do país arcaico, com o surgimento de uma sociedade nova, apta para levar o Brasil à modernidade. Contudo, se isto gradativamente se tornava um consenso entre a intelectualidade brasileira, o que se entendia então por Escola Nova? As concepções eram muito divergentes. Havia Escola Nova para todos os gostos. Conforme a concepção política e ideológica em questão, a Escola Nova ganhava contornos bem diferentes. Definir o que era a Escola Nova transformou-se em disputa privilegiada entre a intelectualidade brasileira nos anos 1930. Escola Nova e modernidade eram concebidas como duas faces da mesma moeda. Dependendo de qual modernidade se almejava, se pressupunha uma Escola Nova especificamente adequada a formar os sujeitos modernos para esta ou aquela nova sociedade. Entre os intelectuais em disputa pela Escola Nova, dois grupos distintos ganharam nitidez: o dos intelectuais com uma postura leiga face à sociedade e o dos intelectuais ligados à Igreja Católica. Este trabalho apresentará o movimento dos leigos e dos católicos no embate de convencimento intelectual dos profissionais que deveriam implantar os preceitos da Escola Nova no Brasil. A discussão sobre a Escola Nova foi contemporânea à modernização da produção de livros no Brasil e da expansão das bibliotecas escolares destinadas à formação docente. Duas obras de formação pedagógica, de 1932, são exemplares das divergências políticas em disputa. No atual trabalho, será apresentada a concepção de Escola Nova leiga através da contextualização e análise do livro Escola Moderna, de Maria dos Reis Campos. Esta autora afirma que o livro nasceu como resultado de sua estadia, no início de 1930, nos Estados Unidos. Esta viagem foi proporcionada a um grupo de professores ligados à Associação Brasileira de Educação, com o propósito de estudo do “método de projetos”, em voga então naquele país. Para entender a concepção católica, será tratado o livro A Escola Nova, de Jonathas Serrano. Este autor era então professor catedrático do Colégio Pedro II e ex-diretor da Escola Normal do Distrito Federal. A obra de Jonathas Serrano se apresenta como intervenção contrária ao “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”, que antecede em poucos meses ao lançamento do livro, ao qual o autor recusou-se a assinar, devido ao caráter leigo dado à educação neste manifesto. Qual Escola Nova criaria o país moderno? Pretende-se expor aqui as concepções de modernidade divergentes no Brasil na década de 1930.

“A EDUCAÇÃO EIS O ÚNICO MEIO DE REGENERAR UM POVO”: A ATUAÇÃO DO PROFESSOR E INTELECTUAL BORGES DA FONSECA NO

JORNAL ABELHA PERNAMBUCANA (1829-1830)

MAÍRA LEWTCHUK ESPINDOLA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Compreender como os intelectuais, que foram professores de primeiras letras, atuaram na imprensa brasileira é um fenômeno pertinente para a história da educação no Brasil. De algumas décadas para cá, ocorreu uma intensificação desses estudos na historiografia da educação brasileira, esses relacionam os intelectuais, a imprensa e a instrução como eixo principal para o entendimento do papel da educação na sociedade brasileira em diversas épocas históricas. Este artigo, fruto de uma pesquisa doutoral em andamento, tem como objetivo principal interpretar as ações, principalmente as voltadas para a instrução, do intelectual paraibano Antônio Borges de Fonseca durante sua atuação como redator do jornal Abelha Pernambucana. O recorte histórico adotado é de 1829, data de fundação do jornal, a 1830, quando Borges da Fonseca fechou a tipografia no Pernambuco. A hermenêutica norteia a análise das fontes, pois na pesquisa histórica o significado proveniente da apreciação dos documentos é sempre aberto a revisões e depende de variáveis como o contexto em que foi produzido e o lugar do pesquisador. Há uma crescente produção de pesquisas na história que se utilizam da imprensa como fonte documental, as principais fontes utilizadas neste artigo são os jornais Abelha

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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Pernambucana produzidos pelo sujeito em questão e o jornal Cruzeiro, contemporâneo e de oposição ao primeiro. A imprensa tinha um papel central para os grupos de intelectuais do século XIX e início do século XX, os periódicos eram um espaço de divulgação de ideias e de embates políticos e sociais. A utilização dos jornais como fontes de pesquisas pode contribuir para que o pesquisador perceba a movimentação de ideias do período, além do cotidiano dos projetos políticos e educacionais, os quais eram alvo de disputa na sociedade. Havia, portanto, uma consciência da importância da imprensa pelos intelectuais como local de desenvolvimento tanto da cultura quanto da educação, e por isso uma instituição indispensável para a nação. Borges da Fonseca defendeu a imprensa e a instrução como fulcrais para a formação do cidadão. Para o intelectual sua escrita no jornal poderia ser comparada a sua atuação como professor de primeiras letras, dessa forma tanto a imprensa, quanto a instrução, seriam as responsáveis pela difusão das luzes na sociedade brasileira e as únicas formas de regeneração do povo. Por fim, as discussões do período revelam um movimento de ideias, as quais passaram por diversos proponentes, em que a instrução pública foi percebida como um importante instrumento de civilização do povo. As instituições, como a imprensa, procuravam disseminar um ideal de cidadão e de nação, ligado à noção de civilização. E tinham como pano de fundo, a instrução, a qual atravessou todas essas questões.

A EDUCAÇÃO CATÓLICA PASSIONISTA IMPRESSA NA REVISTA “O CALVÁRIO” (1922 – 1933)

MARA FRANCIELI MOTIN Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O presente trabalho tem como objeto a revista católica “O Calvário”, dirigida pelos padres Passionistas, que teve circulação no início da década de 1920 até a década de 1960. A revista foi utilizada pelas Irmãs Passionistas em suas práticas educativas no município de Colombo, no Paraná. O primeiro momento em que estas religiosas estiveram presentes nesta cidade, a frente do Colégio Santo Antonio, foi entre os anos de 1927 a 1933. Desta forma, delimita-se a análise deste impresso católico, para este trabalho, desde a sua primeira edição, em 1922, até o ano em que as Irmãs Passionistas coordenaram o Colégio, em sua primeira fase, em 1933. A circulação da revista “O Calvário”, no recorte temporal estabelecido, insere-se no movimento de renovação educacional e acompanha as discussões que se instauraram em torno do campo doutrinário da pedagogia. O uso da imprensa pelos educadores e intelectuais que gravitavam em torno do campo educacional com seus projetos de intervenção na sociedade já vem sendo largamente apontado na historiografia. Inserida nesse cenário, a revista “O Calvário”, fez circular na sociedade brasileira saberes e práticas educativas da congregação Passionista, com expressivo acento na cultura católica e italiana. Nesse contexto, a problemática que se apresenta passa pelas seguintes questões: Quais saberes a revista fez circular? Quais estratégias foram utilizadas através da revista “O Calvário” para a construção de uma educação conformada com os ideais Passionistas? Desta forma, objetiva-se analisar a revista “O Calvário” em seus aspectos estruturais, elencando as matérias veiculadas nesse impresso, que estão relacionadas à formação do seu leitor, no sentido moral e instrucional, aproximando-as das discussões educacionais do período. A revista é analisada como instrumento do campo religioso católico, apoiada em Bourdieu (2005), considerando as práticas e representações que se constituíram em torno de sua produção, a partir do Chartier (1990) e do Certeau (1994). Para pensar a imprensa periódica educacional como fonte e como instrumento de veiculação de projetos educativos utilizados por diferentes grupos na sociedade brasileira, o diálogo com Nóvoa (2002) e Carvalho (2005) foi fundamental. Analisada como documentos/ monumentos, conforme sinaliza Le Goff (2003), a metodologia utilizada destaca as reportagens de caráter instrucional veiculadas pela revista, analisando-a à luz das discussões em torno do campo educacional e das modernidades pedagógicas. Ao apreender os discursos de um sistema singular de ensino, empreendido pelas irmãs Passionistas, com suas práticas específicas, este trabalho pretende contribuir com o campo da História da Educação situando-as no quadro mais amplo da educação brasileira.

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O CONCEITO DE CIVILIZAÇÃO NA INSTRUÇÃO DA INFÂNCIA NO MARANHÃO IMPERIAL E NA EDUCAÇÃO KANTIANA: UMA APROXIMAÇÃO A PARTIR DA OBRA SOBRE A PEDAGOGIA

MARA RACHEL SOUZA SOARES DE QUADROS IRAN DE MARIA LEITÃO NUNES

Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este artigo tem como objetivo estabelecer uma aproximação do conceito de civilização na proposta de educação desenvolvida por Imannuel Kant (1724-1804) em sua obra Sobre a Pedagogia (2012) e nos discursos oficiais em defesa de melhorias e difusão da instrução da infância no Maranhão Imperial, tendo como referência Elias (1990; 1993) e Gondra (2004). A obra kantiana em destaque, ainda é pouco explorada na academia em nosso País, conforme Oliveira (2004), possivelmente pelo argumento de que seus últimos escritos são resultados de um período de senilidade do autor, além do grande destaque das obras anteriores a 1780. E, para uma maior compreensão do esboço de educação pensado por Kant, fez-se necessário dialogar em alguns momentos com outros ensaios elaborados por ele, tais como: Resposta à pergunta: o que é o Esclarecimento? (1783) e Ideia de uma História Universal com um Propósito Cosmopolita (1784). A concepção de educação proposta por esse filósofo envolve quatro elementos: disciplina, cultura, civilização e moralidade, na qual a disciplina deve retirar o indivíduo da condição de selvagem; a cultura ou instrução desenvolve várias aptidões; a civilidade possibilita a aquisição de determinadas maneiras e habilidades aceitas socialmente, e por fim, a moralidade visa à formação do caráter do homem. No presente estudo nos deteremos no aspecto da civilidade como um estágio a ser alcançado por meio da educação. De acordo com Elias (1990; 1993), o conceito de civilização refere-se a uma variedade de fatos, tais como tipos de maneiras e costumes, ademais, é visto como contraconceito à barbárie e constitui mais que um estado, um processo; e, segundo, Gondra (2004), a civilização é entendida como poderoso instrumento para sanar os males das nações, cabendo à escola trazer a cura para uma sociedade marcada pela incivilidade e desordem. Assim, no período imperial brasileiro, a instrução elementar foi construída para garantir a concretização dos ideais civilizatórios. Nesse contexto, intensos foram os debates nas Assembleias Legislativas Provinciais, destacadamente no Maranhão, acerca da importância de sua implantação, bem como a ampliação do acesso às camadas populares. Cabia às escolas produzir a infância civilizada, trazendo luz à ignorância e desordem àqueles desprovidos de conhecimentos elementares; convergindo assim, para a concepção de educação proposta por esse filósofo prussiano, visto que em ambas as acepções, a civilização é vista como uma cultura que possibilita um ajustamento do homem à sociedade, e assim, educação e civilização são tidas como sinônimos. O presente estudo inicia trazendo as considerações desse filósofo iluminista acerca da educação. Apresenta os estágios da educação em Kant e finaliza com a constatação de que a ideia de civilização é presente e de grande relevância tanto na proposta de educação kantiana como nos discursos proferidos à educação/instrução na Assembleia Provincial do Maranhão.

JOSÉ OLYMPIO E A EDIÇÃO DE UMA COLEÇÃO PARA MENINA E MOÇA (1934 – 1960)

MÁRCIA CABRAL DA SILVA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este estudo traz um recorte de uma pesquisa mais ampla, por meio da qual se examinam representações de gênero e de leitura na Coleção Menina e Moça publicada pela Livraria José Olympio Editora. Constituía-se de romances traduzidos da Bibliothèque de Suzette editada por Gautier & Languereau no contexto francês, cujos livros destinaram-se às crianças no período de 1919 a 1965. A emergência dessa biblioteca relaciona-se de modo específico ao jornal La Semaine de Suzette. Jornal semanal ilustrado destinado às meninas francesas de classe média, cujo padrão de comportamento estava regulado pelo o que era considerado, então, boas maneiras e civilidade. Sabe-se que, ao longo da história editorial, os tipógrafos, os impressores, os editores esmeraram-se em uma verdadeira arquitetura da edição em coleções (Olivero, 1999; Mollier, 2008). No Brasil, os anos de 1920 e de 1930 acompanharam essa tendência. No caso do objeto específico examinado, almeja-se responder às seguintes perguntas: quais estratégias foram acionadas para produzir e fazer circular uma coleção destinada à educação de meninas e de moças no contexto brasileiro no período examinado? Que especificidade a coleção apresentava para esse segmento social no âmbito das demais publicações da editora? De fato, em meio às publicações examinadas nos catálogos da editora de 1946 e de 1949, destaca-se uma única coleção voltada a esse público leitor: a Coleção Menina e Moça, lançada no Brasil em 1934 pela livraria editora. Conforme indica Hallewell (1985), José Olympio muda-se de São Paulo para o Rio de Janeiro e, em 1934, transfere as instalações da editora para a Capital Federal. Ali, o editor expande os negócios editoriais em proporções que merecem

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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destaque, Na ocasião, o mercado para essa literatura estava crescendo rapidamente. Alguns dados são esclarecedores: o editor, em 1933, lançara apenas oito livros; em 1934, publicou trinta e dois; em 1935, cinquenta e nove e, em 1936, foram lançadas sessenta e seis novas edições da José Olympio, o que permite considerá-lo um dos mais proeminentes editores nacionais no campo de edições literárias e livros não didáticos no período examinado. Desse conjunto, como observado, anuncia-se uma coleção voltada para a categoria social denominada menina e moça. Em diálogo com pressupostos teóricos e metodológicos no campo da História Editorial tanto quanto da História da Leitura, pretende-se problematizar a arquitetura desta coleção, com especial ênfase em seus aspectos materiais. Ao lado disso, ao se consultar fontes documentais como os catálogos mencionados, identificaram-se elementos como preços dos volumes, propagandas elogiosas, assim como estratégias editoriais para fazer circular amplamente a coleção. Espera-se, pois, indicar elementos adicionais para a História da Educação por intermédio do exame da produção e da circulação de um tipo de impresso que educou meninas e moças no período assinalado.

MULHERES PIONEIRAS NA ADVOCACIA E NO ENSINO JURÍDICO NO BRASIL E EM PORTUGAL, NOS SÉCULOS XIX E XX

MARCIA TEREZINHA JERÔNIMO OLIVEIRA CRUZ Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este trabalho reúne a história de vida de três mulheres pioneiras que atuaram em diferentes espaços e temporalidades no campo do Direito, no Brasil e em Portugal, cujas trajetórias estiveram ligadas ao direito penal. Trata-se da carioca Myrthes Gomes de Campos, bacharel pela Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro e da portuguesa Regina da Glória de Magalhães Quintanilha, formada pela Universidade de Coimbra, primeiras mulheres a realizarem atuação forense em seus países, mediante a advocacia no Tribunal do Júri. A primeira, no Rio de Janeiro, no final do século XIX e a segunda, no início do século XX, em Boa Hora, norte de Portugal. Também apresenta o percurso da sergipana Juçara Fernandes Leal, única mulher a atuar na Faculdade de Direito de Sergipe e integrante da Congregação com especialização no Institut de Criminologie et Sciences Pénales da Universidade de Toulouse, França, na década de 1960. A primeira professora de Direito Penal do estado de Sergipe. O estudo problematiza a formação feminina no âmbito do ensino superior, em especial, as práticas relacionadas à formação jurídica e a consequente atuação profissional. O texto destaca a origem familiar, o percurso acadêmico, assim como as tensões e embates junto à imprensa, no interior de instituições de classe e de ensino superior para que essas mulheres pudessem operar em um campo marcadamente masculino. Apresenta, de modo complementar, o processo de feminização nos cursos jurídicos da Universidade de Coimbra e da Faculdade de Direito de Sergipe, nas décadas de 1950 a 1970, assim como representações acerca das acadêmicas do curso de Direito da Universidade de Toulouse. A investigação tomou por base os pressupostos da História Cultural e utilizou fontes bibliográficas que trouxeram à baila as contribuições de autores como: Pierre Bourdieu, Roger Chartier, Michele Perrot, Rachel Sohiet e Joaquim Ferreira Gomes. Também lançou mão de fontes periódicas, por intermédio de exemplares da Revista Illustração Portugueza e da Revista da Faculdade de Direito de Sergipe. Fez uso de relatos orais. O estudo foi organizado em quatro partes. Na apresentação são enfocadas as principais categorias discutidas no texto, a exemplo de: campo, capitais (simbólico, social e cultural) e representações. Na segunda parte, o foco do trabalho volta-se para o cenário político-educacional no qual as pioneiras realizaram sua formação e iniciaram sua atuação profissional e docente. Em um terceiro momento, as trajetórias individuais de Myrthes Campos, Regina Quintanilha e Juçara Leal são narradas, com ênfase na vinculação de cada uma ao direito penal. As considerações finais realizam uma síntese do exposto.

POR TRÁS DA “ARTE MAIOR DA GRAVURA”: O DISCURSO VEICULADO NOS MANUAIS DE GRAVURA ARTÍSTICA DE ORLANDO DASILVA (1976

- 1990)

MARCOS EDUARDO GUIMARÃES Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este trabalho pretende analisar dois livros escritos pelo artista e professor Orlando Dasilva (Porto, 1923 - Rio de Janeiro, 2012): A Arte Maior da Gravura (1976) e De Colecionismo Graphica (1990), enquanto componentes materiais de uma história da educação em arte e, mais especificamente, de uma história dos manuais de gravura. Tenta-se observar o discurso veiculado nos impressos de Dasilva, considerando-o como um intelectual no conceito de Gramsci, isto é, como um partícipe ativo de mudanças sociais. De origem portuguesa, Orlando

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Dasilva desembarcou no Brasil em 1932, estabelecendo-se no Rio de Janeiro, local em que iniciou seus primeiros estudos em arte em desenho. Dez anos depois Dasilva inscreveu-se no Liceu de Artes e Ofícios, iniciando o aprendizado de gravura artística com Carlos Oswald. Sua carreira como professor se iniciou em 1952 no Liceu de Artes e Ofícios, substituindo seu próprio mestre, tendo também lecionado na Escolinha de Arte do Brasil e ministrado diversos cursos, inclusive em Curitiba, local onde atuou de maneira bastante sistemática, tomando parte na organização das Mostras Anuais de Gravura, das Feiras de Gravura e, através da Fundação Cultural de Curitiba, lançou múltiplos livros como: Poty, o artista gráfico (1980), De colecionismo Graphica (1990), Viaro, uma permanente descoberta (1992) e Guido Viaro: Alma e Corpo do Desenho (1997). Ainda em Curitiba ele também foi colunista do Jornal do Estado e Almanaque, suplemento do Estado do Paraná. No contexto dos manuais de gravura, Dasilva se destacou por propor em 1967 um manual que discutia algumas noções de gravura artística e do ofício de colecionador desta arte, intitulado “Decolecionismo – Noções”. A publicação destacava-se pela escassez de textos de cunho técnico de gravura no contexto em que foi escrito e, principalmente, por preencher uma lacuna aproximando potenciais colecionadores, marchands e galeristas, da linguagem da gravura artística que passava a consolidar-se nos principais concursos de arte da época. Em 1976 Dasilva foi convidado a aprofundar as questões técnicas do manual de 1967, lançou-se “A arte maior da gravura” o qual anexava também a obra gráfica de Marcelo Grassmann. Em 1990, o professor artista teve oportunidade de revisitar e republicar o Decolecionismo, mantendo sua característica principal de discutir a cerca da coleção de gravura artística, assunto que se mantinha fora dos principais manuais da linguagem publicados no Brasil até então. Para almejar os objetivos da pesquisa, como fontes foram eleitos os próprios escritos de Dasilva, além de artigos publicados nos jornais diários no período lançamento de seus livros. Como aporte teórico para a compreensão dos manuais contamos com a contribuição de Chartier, que contribui no sentido de nortear procedimentos metodológicos para se pensar a análise dos livros em sua materialidade.

IMPRENSA ESCOLAR NO PARANÁ: DISCURSO NACIONALISTA ESTADONOVISTA E CULTURA CÍVICO-ESCOLAR

MARCUS LEVY BENCOSTTA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

A ordem política adotada pelo Estado Novo (1937-1945) foi marcada por contextos de profunda importância para a investigação histórica na construção de interpretações da cultura política brasileira e sua relação com a educação daquele período. A proposta desta comunicação é analisar as condições de inteligibilidade da dimensão discursiva inserida no rol dos dispositivos narrativos da cultura cívico-escolar varguista presente na imprensa escolar paranaense, durante os anos de 1939-1942, enfatizando o papel que ela teve na formação de ideologemas nacionalistas. A fonte a ser privilegiada será os jornais escolares que foram publicados pela Diretoria Geral de Instrução do Paraná para que as escolas primárias, secundárias, públicas e privadas, divulgassem suas atividades cotidianas, além de notícias de cunho nacionalista, primeiramente centralizada na figura do ditador Getúlio Vargas, e depois na de alguns heróis valorizados pelo Estado Novo. Destacamos ainda que o conjunto de instituições educacionais que participaram desta imprensa soma 131 jornais, divididos do seguinte modo: 88 deles vinculados aos grupos escolares (15 da capital e 73 do interior do Paraná) e 43 às escolas secundárias (27 da capital e 16 do interior do Paraná). Ao escolher como objeto de pesquisa a imprensa escolar, tomo como importante a adoção do significado desse tipo de imprensa, o que o fez muito bem Antonio Nóvoa que a definiu como reveladora de múltiplas facetas dos processos educativos, numa perspectiva interna ao sistema de ensino (cursos, programas, currículos, etc), mas também no que diz respeito ao papel desempenhado pelas famílias e pelas diversas instâncias de socialização das crianças e dos jovens. Nesse sentido esta imprensa constitui numa das melhores ilustrações de extraordinária diversidade que atravessa o campo educativo. Ao pesquisar a imprensa pedagógica não pretendo construir uma história linear com um início e uma conclusão marcados por módulos contínuos, regulares e evolutivos, tão menos, entendê-la como portadora de verdades absolutas Os discursos construídos pelos impressos pedagógicos são, evidentemente, possuidores de linhas ideológicas que procuram transmitir posicionamentos que deverão ser analisados e confrontados de acordo com a realidade história em questão. Outra possibilidade teórica que adoto é a contribuição fornecida pelos estudos em Análise do Discurso. A posposta deste projeto é analisar a natureza do discurso da imprensa pedagógica educacional, a fim de depreender a ordem do discurso que é distinta da ordem da língua e da ordem das coisas. Ao fazê-lo, acreditamos que a formação de valores e a construção de uma memória pedagógica serão vistos como mecanismos históricos que se realizam principalmente através dos funcionamentos discursivos. Destramar este processo presente nos mecanismos enunciativos da documentação da imprensa escolar é, portanto, uma das tarefas desta pesquisa.

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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CIDADANIA E CIVISMO NA REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS NO PERÍODO DE INFLUÊNCIA DE ANÍSIO TEIXEIRA

(1952-1971)

MARIA AUGUSTA MARTIARENA DE OLIVEIRA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

A Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, criada em 1944, junto ao Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, por iniciativa do ministro Gustavo Capanema, no governo de Getúlio Vargas, consiste em profícua fonte de pesquisa para os historiadores da Educação, os quais se dedicam ao estudo de impressos educacionais. Nesse sentido, tendo em vista a relevância da referida publicação, optou-se por analisar a temática da cidadania e do civismo nas páginas da referida revista. A seleção do tema se deu em função de que, atualmente, a formação cidadã consta como preocupação existente em várias políticas públicas educacionais, bem como nos projetos políticos-pedagógicos de diversas instituições de ensino. Dessa forma, como a Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos consiste em publicação amplamente divulgada entre os educadores, o objetivo deste estudo é analisar como o conceito de cidadania modificou-se historicamente, conforme o período em que foi abordado. Com relação ao recorte temporal, Rothen (2005) divide a história do funcionamento da revista em determinados períodos. A seleção do período de influência de Anísio Teixeira refere-se à importância desse educador em âmbito nacional, ao mesmo tempo em que abrange o final do período nacional desenvolvimentista e o início da Ditadura Militar. Como pressupostos teórico-metodológicos, utiliza-se a análise documental, em especial os estudos sobre a imprensa pedagógica como fonte de pesquisa em História da Educação. Destaca-se que o presente estudo pauta-se na Nova História Cultural em interlocução com a metodologia histórico-crítica. Embora o período de influência de Anísio Teixeira não conte com artigo acadêmico sobre o tema da cidadania ou do civismo, a Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos realizou quatro publicações sobre a referida temática: um texto na seção Revistas e Jornais, dois textos da seção Legislação e uma resenha. O texto da Seção de Jornais e Revista, intitulado “Educação moral e civica na escola secundaria”, de autoria de Sólon Borges dos Reis, foi publicado no Correio Paulistano, no ano de 1955. Os dois textos da seção Legislação referem-se ao Educação moral e cívica - parecer n. 136/64 e o Decreto-Lei n.º 869/69. Já a resenha, trata-se do livro “Educação para uma civilização em mudança”, de Kilpatrick, resenhado por Lourenço Filho. Dentre as publicações, a maior parte concentra-se na década de 1960, em período posterior ao golpe militar. Com base na leitura dos textos, percebe-se que existe uma forte influência do autoritarismo governamental, com a publicação da legislação, ao mesmo tempo em que a influência de Anísio Teixeira apresenta-se na seleção de um livro de Kilpatrick, cujo tema é a formação cidadã na democracia. Trata-se, portanto, de uma forma de resistência ao regime vigente.

JEAN CLAUDE NAHOUM E SUA ATUAÇÃO EM IMPRESSOS SOBRE SEXUALIDADE

MARIA CAROLINA BARCELLOS Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este trabalho tem como proposição fazer o esboço da participação do médico e professor Jean Claude Nahoum (Paris, 1926 – Rio de Janeiro, 1989) em publicações que tratavam sobre sexualidade e as implicações do gênero no cotidiano dos profissionais de saúde. Apesar da posição de destaque em sua área de atuação original (graduado pela antiga Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, em 1952), Jean Claude Nahoum cursou filosofia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, concluindo seu curso em 1986. Em 1988, recebeu o título de mestre em História no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais pela UFRJ. Além da atuação como ginecologista, obstetra e professor universitário (na UNIRIO e outras instituições), Nahoum ampliou suas pesquisas no campo da saúde através do cruzamento dos dados da medicina tradicional com os estudos que empreendia fora da clínica. Divulgou suas impressões através de ensaios, artigos e editoriais que tratavam sobre a sexualidade em sua dimensão histórico-sociológica. Destarte, ele propunha aos colegas de sua geração uma atitude reflexiva não somente no cotidiano de seus consultórios, mas na própria evolução das pesquisas da área médica. Sua profícua atividade como intelectual na década de 1980 ficou registrada em periódicos como a revista Sexus (Um Estudo multidisciplinar da Sexualidade Humana – Editora Científica), Femina (criada por Nahoum em 1972, pela Eleá Ciência Editorial) e no volume A construção da sexualidade feminina: A relação entre ideologias, ciências e práticas. No Brasil, o campo dos estudos relacionados à sexualidade era bastante incipiente na época em quem as publicações foram feitas, e os efeitos acadêmicos desses estudos pouco avançaram desde então. Mesmo nos programas de pós-graduação em áreas como a psicologia, a sociologia (e até dentro da própria medicina) não existe um espaço obrigatório de discussão sistematizada sobre a dimensão psicossocial da

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sexualidade. Manteremos nosso foco na pesquisa documental e bibliográfica, e tomaremos como referenciais teóricos como Michel Foucault e Judith Butler. É importante ressaltar que os escritos de Jean Claude Nahoum não estavam limitados a questões feministas, saúde no sentido estrito ou na ponte entre essas duas extremidades. Sua fala buscava matéria-prima na atuação do pesquisador, nos desafios do profissional de saúde mas sobretudo nas suas convicções como docente. Por isso, a análise dos textos será relacionada não somente pelo seu caráter descritivo dentro do campo da medicina, mas como dispositivo de natureza educativa.

UM “EMBAIXADOR INTELECTUAL DO BRASIL”: O PENSAMENTO DE CÂNDIDO DE MELLO LEITÃO SOBRE A EDUCAÇÃO SECUNDÁRIA E O

ENSINO DE HISTÓRIA NATURAL NOS ANOS 1920-30

MARIA CRISTINA FERREIRA DOS SANTOS Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O intuito deste estudo é examinar o pensamento do professor e cientista Cândido Firmino de Mello Leitão Junior (1886-1948) sobre a educação secundária e o ensino de História Natural nos anos 1920-30 e refletir sobre as representações em disputa no campo educacional nesse período. Com esteio na acepção ampla e sociocultural de intelectual de Jean-François Sirinelli (2003), compreendemos que escritores e professores se inscrevem como intelectuais. Na análise documental o presente estudo toma, como principais fontes, textos de cunho pedagógico de autoria deste intelectual, publicados em impressos nos anos 1920-1930. A hipótese de trabalho é que a análise das ideias de Mello Leitão nos aproxime das principais questões em debate acerca do ensino secundário e das propostas de mudanças veiculadas na época. Formado pela Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro em 1908, Candido de Mello Leitão foi professor de História Natural e Biologia no ensino normal e secundário e de Zoologia no ensino superior, na Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária, no Museu Nacional e na Faculdade Nacional de Filosofia. Autor de vários livros e artigos em revistas pedagógicas e científicas, ele circulou em redes de sociabilidade nacionais e internacionais nos campos educacional e científico e participou de comissões representando instituições brasileiras, como membro da Missão Cultural a Montevidéu em 1931 e delegado do Brasil em Congressos de Zoologia na Europa na década de 1930. Este intelectual estreitou laços com pesquisadores e instituições nacionais e internacionais e foi membro de diversas associações educacionais e científicas. Diretor e membro do Conselho Diretor da Associação Brasileira de Educação (ABE) nos anos 1920 a 1940, ele participou de Conferências e Congressos Nacionais de Educação, ministrou conferências e cursos promovidos pela ABE e produziu textos para a imprensa e revistas pedagógicas, como Schola e Educação. O pensamento de Mello Leitão nos anos 1920-30 alinhou-se à pedagogia da Escola Nova, defendendo a “educação para a vida”, com ênfase em um ensino novo, científico e de caráter nacionalista. Ele defendeu métodos ativos e a inclusão de conhecimentos biológicos na educação secundária, tecendo críticas à reforma educacional de 1931. Em um cenário de desenvolvimento brasileiro alicerçado na ciência e na educação, este intelectual apostou no papel civilizador da escola e foi um dos protagonistas na definição de políticas educacionais e científicas no país.

DEONTOLOGIA JURÍDICA E A FORMAÇÃO DA PRÁTICA SOCIAL DO ADVOGADO: A CONTRIBUIÇÃO DO INTELECTUAL CARVALHO NETO

PARA FORMAÇÃO DE UMA CULTURA JURÍDICA NO BRASIL

MARIA DO SOCORRO LIMA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este artigo pretende apresentar reflexão sobre a formação da cultura jurídica brasileira, na primeira metade do século XX, ao analisar alguns escritos do intelectual sergipano Antônio Manoel de Carvalho Neto que, na sua contribuição para a constituição de um habitus jurídico, participou, pari passu da produção de livros que tinham como objetivo orientar a formação dos advogados, indicar caminhos para suas práticas sociais no exercício da profissão. Elegi para esta análise, textos que celebraram a publicação do livro Advogados: como aprendemos, como sofremos, como vivemos (1946), pela editora Saraiva: matéria publicada pelo Diário de Sergipe (1946), manifestação da Academia Brasileira de Letras, publicada no Jornal do Comércio – Rio de Janeiro (1946), o discurso do advogado sergipano Manoel Ribeiro (1946), o discurso do autor, prefácio e alguns capítulos do livro. Este estudo se localiza na história da educação, ao analisar a formação da prática jurídica na primeira metade do século XX, por meio de publicações que tinham o intuito de ensinar os advogados a se constituírem como

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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profissionais. Este trabalho se vincula a uma pesquisa de doutoramento e está ancorado nas orientações teórico-metodológicas da História Cultural e História da Educação. Na primeira metade do século XX, a formação dos profissionais do Direito se configurou, entre outras perspectivas, a partir de publicações coletivas de intelectuais, cujo escopo se constituiu na formação de uma cultura jurídica, traduzida no conceito de deontologia do direito, com vistas à produção de um tipo de comportamento que se constituía em exemplo de ordenamento social, baseado em preceitos, como a ética; conceito forte no discurso apresentado por diversos advogados que conduziam, em certa medida, a mobilização do pensamento jurídico brasileiro. O advogado haveria de ser reconhecido como exemplo de comportamento, por meio da interpretação da Lei, compreensão da justiça e constituição da cultura jurídica, refletida em intelectuais como Rui Barbosa, Gilberto Freyre, no Brasil, e outros produtores do pensamento jurídico, como Hanz Kelsen, com a sua “teoria pura do Direito”. Tomamos esses autores do Direito, na primeira metade do século XX, cujo pensamento inscreve o intelectual Carvalho Neto, na direção desse discurso. Carvalho Neto, discípulo de Kelsen, via no Direito a razão máxima para se conceber uma sociedade educada, equilibrada e justa. Assim, publicou um livro que classifico como manual de aprendizagem para a formação do advogado, tendo sido indicado como leitura significativa capaz de moldar o conhecimento e as práticas sociais dos profissionais do Direito e, com isso, contribuir para a constituição de uma cultura jurídica.

ESCOLA NOVA EM MANUAIS DIDÁTICOS DE ALFREDO MIGUEL AGUAYO (SANTA CATARINA 1942-1949)

MARIA FERNANDA BATISTA FARACO WERNECK DE PAULA GLADYS MARY GHIZONI TEIVE

Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

A educação escolarizada configura-se como um campo privilegiado em que circulam ideários pedagógicos que prometem transformar a sociedade e a vida por meio de instituições de ensino. Neste sentido, a problematização do movimento pela Escola Nova, que toma corpo no segundo quartel do século XX, torna-se ferramenta fundamental para compreendermos a oposição discursiva entre o “novo” e o “velho” em diferentes momentos da história, a fim de não reduzirmos, no presente, as práticas de ensino/aprendizagem a mimetismos do passado ou a ilusões de total renovação das culturas escolares. Há, neste tempo/espaço de permanências e mudanças configuradas pelo movimento escolanovista brasileiro, muitos enunciados a serem ainda refletidos. Sendo assim, esta pesquisa propõe a análise de representações de práticas escolanovistas a partir de dois manuais didáticos de autoria de Alfredo Miguel Aguayo: Didática da Escola Nova e Pedagogia Científica. Ancorado no campo da manualística (ESCOLANO) esse estudo dialoga com Chartier e De Certeau para compor uma leitura histórica dos dois livros elencados. Cumpre salientar que os textos de Aguayo em análise, produzidos com o intuito de tornar científico o cotidiano do professorado primário, salvaguardam finalidades e destinatários particulares e constituem-se representações de leituras/reflexões de um professor/escritor inserido num lugar em que dizer Escola Nova era muito mais do que propor uma nova escola. Desta maneira, ao cotejar as representações de práticas para Escola Nova presentes em seus manuais com textos escritos por docentes do ensino primário catarinense - em processos de formação continuada na década de 1940 - e outros documentos do Departamento de Educação de Santa Catarina é possível apreender a reverberação e a recorrência de algumas ideias que configuraram a renovação pedagógica para o período. Por meio da problematização destas produções discursivas foi possível perceber que a(s) Escola(s) Nova(s) não aponta(m) para uma única direção, não conjuga(m) um único fim, não projeta(m) objetivo(s) comum(s) a toda uma sociedade. Os vestígios do tempo aqui selecionados contêm palavras legitimadas e/ou interditadas que tecem um patchwork de saberes e poderes bastante complexo. Portanto, esta pesquisa em andamento, pretende dar a conhecer fragmentos daquilo que foi considerado antigo e atual sem tomá-los como simples códigos comunicativos que se opõem. Porque acredita que refletir, com os olhos do presente, algumas das sínteses que positivaram o “novo” e negativaram o “velho”, tornando-os antagônicos e incompatíveis numa temporalidade, pode ampliar os debates contemporâneos sobre os modelos de escolarização e suas práticas ao considerar que palavras não são só palavras, elas são encarnações de sentidos que produzem escolas na mesma medida em que são produzidas pela/para/nas/com as escolas.

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JESUÍTAS, EDUCAÇÃO E CIÊNCIA: UM DEBATE POLÍTICO E HISTORIOGRÁFICO

MARIA JURACI MAIA CAVALCANTE Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Aborda a contribuição dos Jesuítas em relação aos estudos científicos, sabendo-se que a razão e a fé os guiava em suas missões de cunho civilizatório e religioso, em meio a debates e disputas acirradas entre o pensamento racionalista e religioso. Tem apoio na historiografia selecionada e afeta ao tema em destaque, caso dos de estudos de Bangert (1985), Leitão & Franco (2012), Freyre (1977) e vários outros, que indicam a aproximação dos referidos missionários com estudos filosóficos e científicos, a qual é incitada a partir, tanto do contato com o Novo Mundo e o Oriente, quanto com o ambiente intelectual e iluminista europeu, nos séculos XVII e XVIII. Encontra evidências de uma ação dos intelectuais jesuítas portugueses, no século XX, na Europa e no Brasil, em resposta a inúmeras perseguições vividas pela Irmandade, que os coloca em defesa do papel da Companhia de Jesus para a Ciência e a Educação no mundo moderno, consubstanciada em obras como A Formação Intelectual do Jesuíta (1917), de Francisco Rodrigues, Os Jesuítas e o Ensino das Matemáticas em Portugal, de Domingos Maurício Gomes dos Santos (1935) e História da Companhia de Jesus no Brasil (1938). A historiografia consultada aponta para o vínculo entre esta atitude e a predominância de uma visão chamada de “pombalina”, a respeito do significado da ação dos jesuítas para a história de Portugal e de suas colônias, que é retomada pelo republicanismo português e brasileiro, com o intuito de vincular aqueles a uma explicação política do atraso português e brasileiro, em termos econômicos e culturais mais gerais. Disso decorreria a proliferação de publicações representantes das duas posições, que compõem hoje uma farta literatura, que oras ataca, oras defende os Jesuítas, em seu protagonismo histórico, e constitui em si mesma um fenômeno histórico a ser estudado. Defende que esta tarefa para que seja possível é preciso um redimensionamento da citada querela, a luz do distanciamento ideológico e temporal exigido pela metodologia dos estudos históricos, por meio de critérios de rigor, tão necessário para que um abalizado entendimento histórico seja alcançado. Para tanto, recomenda o confronto de relatos, o cruzamento de fontes historiográficas e documentais, sabendo que a ação cultural dos jesuítas é matéria que interessa em demasia ao campo da nossa História Educacional, seja em Portugal, seja no Brasil, para ficar circunscrita ao tempo colonial e à expulsão pombalina. Conclui que o delineamento do contorno da civilidade católica e ação educativo-cultural dos Jesuítas, foi sendo alvo de retrospectivas, no século XX, através de debates de natureza política e ideológica, entre republicanos e religiosos, no interior daquela Ordem e de instituições republicanas, o que favoreceu em demasia a criação, circulação e recepção de estudos históricos de intelectuais jesuítas, em periódicos importantes, como é o caso da Revista Brotéria, porta-voz e difusora da ação educativa e científica dos Jesuítas.

SOBRE LIVROS E LEITURAS: CONTRIBUIÇÕES À HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DA MULHER NA PARAHYBA DO NORTE (1915-1916)

MARIA LÚCIA DA SILVA NUNES DÉBIA SUÊNIA DA SILVA SOUSA

HAQUEL MYRIAM DE LIMA COSTA PALHARI Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Esta produção emana da pesquisa Quando as mulheres escrevem textos sobre educação, junto ao grupo de estudos e pesquisas HISTEDBR/PB, que objetiva identificar textos escritos por mulheres paraibanas nas primeiras décadas do século XX e analisar os seus conteúdos. Embora o foco tenha sido preferencialmente a escrita de autoria feminina, a investigação abrange, também, o contexto em que esta é produzida. Assim tem-se coletado e analisado textos que, embora não tenham sido produzidos por mulheres, a elas se referem, quando opinam, expõem e analisam assuntos ligados ao universo feminino. Nesta ocasião, a partir da perspectiva historiográfica ensejada pelos pressupostos da nova história cultural, mas especificamente nas reflexões de Chartier referentes às práticas, às representações e à leitura, numa pesquisa histórico-bibliográfica, objetiva-se analisar as ideias sobre leituras permitidas e leituras proibidas ou nocivas às mulheres, veiculadas pelo Jornal A Imprensa, em textos de autoria masculina. O referido projeto é perpassado pelo conceito de gênero compreendido como relacional, dessa forma é importante observar como as temáticas que compõem os universos femininos e masculinos se relacionam, se implicam e se influenciam. Com essa compreensão, utiliza-se como fonte, neste artigo, seis textos publicados no jornal A Imprensa, três em 2015 e três em 2016, intitulados: “Grave perigo”, “O gênio da esposa”, “Culto à mulher”, “Elegância? Não, sugidade”, “Aceitamos a luva!”, “As moças” e “Leituras perigosas – romances”. A Imprensa, jornal pertencente à Diocese da Paraíba, nasceu em maio de 1897 e,

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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marcado por algumas interrupções oriundas de censura e dificuldades financeiras, teve seu último número publicado na semana encerrada a 1º de janeiro de 1968. De grande alcance no estado, tinha como objetivo central veicular o ideário da igreja católica, divulgando e orientando modos de ser à mulher e ao homem paraibanos, de forma que seus comportamentos fossem sustentáculos à família cristã e, consequentemente, a uma sociedade que respeitasse os preceitos do catolicismo. Os textos analisados possibilitam dizer que a leitura é colocada como prática de grande perigo à formação da mulher cristã, uma vez que os livros, revistas e jornais em circulação no recorte definido apresentavam conteúdos voltados à moda, à vaidade, aos novos costumes, às novas formas de relacionamento homem /mulher. Cabia aos pais, observarem e controlarem os materiais de leitura a que suas filhas tinham acesso, evitando que seus perfis de pureza e submissão fossem maculados. A educação proposta pelo jornal A Imprensa para a mulher paraibana enfatiza a manutenção de papeis definidos para homens e mulheres, sendo que cabe àqueles o poder e a posição pública, e a estas a obediência, a castidade e o mundo privado. Almeja-se que as discussões apresentadas contribuam para os estudos e o conhecimento sobre a história da educação das mulheres na Paraíba.

A TRADUÇÃO CULTURAL DE LIBERALISMO, LIBERDADE E CULTURA (1970), DE J.DEWEY, SOB O REGIME DA COLEÇÃO AUTORAL CULTURA,

SOCIEDADE E EDUCAÇÃO (1969-1971), DE ANÍSIO TEIXEIRA

MARIA RITA DE ALMEIDA TOLEDO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Essa comunicação problematiza a tradução de Dewey, “Liberalismo, Liberdade e Cultura” (1970), editada na coleção Cultura, Sociedade e Educação (CCSE), dirigida por Anísio Teixeira, entre 1969 e 1971. Toma-se a tradução de Dewey como produto das práticas do lugar de poder (Certeau) de editores, editoras, cujas estratégias (Certeau) rementem às representações de leitores (Chartier), à seleção dos saberes, dos autores e dos textos que põem em circulação. Tal perspectiva permite constituir e descrever uma geografia cultural configurada por essas estratégias editoriais que delimitam fronteiras entre campos de saberes; operam a inclusão e a exclusão de autores e obras nos territórios delimitados; prescrevem a localização de títulos em diferentes campos de conhecimento; e situam o seu público no espaço de leitura que desenham (Chartier). Nesse sentido, é possível descrever essa geografia por meio de uma topografia: a constituição de um campo (simbólico, econômico, político) em que se constituem lugares de emissão, circulação e recepção do que foi produzido, na qual o texto de Dewey pode ser localizada. Esses lugares, nem sempre contínuos ou sem acidentes, são organizados segundo regimes discursivos que classificam, definem e distribuem saberes, segundo sua localização. Os catálogos das editoras – mapas dessa geografia cultural - são a síntese provisória das práticas que lhe dão origem, mas também são depositários das permanências ou contingências com as quais lidam editores no processo de construção dessa geografia. Essa questão eleva o editor à figura principal da análise empreendida. Toma-se, para tanto, as práticas da Companhia Editora Nacional, e seus editores. Essa editora paulista foi uma das maiores editoras do Brasil entre as décadas de 1930 e 1980. Como lugar de poder, foi capaz de produzir uma geografia cultural para o mercado de livros no Brasil, no período citado. Privilegia-se, para fins de análise da ação da Editora, as estratégias de editar as coleções autorais constitutivas do território da Educação. As coleções autorais permitem entrever as apropriações (Certeau) que foram feitas desse gênero editorial, por intelectuais de marcada inserção institucional que, ao tornarem-se editores, puderam materializar planos políticos de intervenção na geografia cultural da edição, associando seus nomes aos conteúdos das coleções; e, por conseguinte, fizeram circular suas representações da cultura, da educação, do leitor e das leituras necessárias a sua formação. Optou-se, ainda, por tomar as traduções de Dewey inseridas em coleções, no caso, a da CCSE como importante prática de intervenção cultural. As traduções são tomadas como traduções culturais (Burke). A subordinação da tradução à topografia cultural constituída pela coleção autoral admite a investigação dos discursos sobre sua circulação e apropriação engendrados pelo regime de legibilidade e intencionalidade da função autoral disposta em seu plano editorial (Hansen & Carvalho).

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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação

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PROPOSIÇÕES PARA A DIFUSÃO DO ENSINO TÉCNICO NAS PÁGINAS DO THE AMERICAN JOURNAL OF EDUCATION E NA REVISTA O NOVO

MUNDO (1855-1881)

MARIA ZELIA MAIA DE SOUZA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O objetivo deste estudo, em andamento, consiste em destacar o modo pelo qual o ensino técnico foi debatido em artigos e relatórios de viagens publicados nas revistas The American Journal of Education e O Novo Mundo: Periódico Ilustrado do Progresso da Edade. O primeiro circulou nos Estados Unidos entre os anos de 1855 a 1881, sob a direção do educador Henry Barnard (1811-1900). O segundo, também publicado nos Estados Unidos durante os anos de 1870 a 1879, sob a direção do brasileiro José Carlos Rodrigues (1844-1923), sendo destinado aos leitores do Brasil. No The American Journal of Education analisei o relatório da viagem de Barnard à países europeus publicado em 1871. Na revista O Novo Mundo considerei artigos de André Rebouças (1838-1898) que continham proposições voltadas para ensino técnico brasileiro e relatos de sua viagem à Europa e aos Estados Unidos. Dentre outras preocupações, esses viajantes buscavam novos ensinamentos inspiradores para a organização dessa modalidade de ensino em seus países de origem. Nesse sentido, indagamos: qual a concepção teórico-metodológica que deveria orientar esse tipo de formação? A quem se destinava? A escola de ensino técnico deveria ser pública ou privada? Para responder estas questões o diálogo com a historiografia da educação contemporânea foi importante pois vem demonstrando que as chamadas "viagens pedagógicas" ocorreram com alguma regularidade no século XIX e com efeitos nas experiências de educação escolar do Brasil. A análise está ancorada nesses estudos e na noção de comunidade imaginada, segundo Benedict Anderson (1983). Com esse entendimento, foi possível perceber as regularidades, peculiaridades e as relações entre o que se defendia para essa modalidade de ensino entre duas realidades, ou seja, os Estados Unidos e o Brasil do século XIX. Neles a educação técnica encontrava-se em fase de organização e tinha a intenção de proporcionar a união entre educação e trabalho, isto é, instrução para a vida prática. Essa combinação promoveria o aperfeiçoamento intelectual, moral e físico dos alunos. Segundo seus idealizadores os estabelecimentos de ensino técnico existentes localizavam-se nos grandes centros. Nesse sentido, esperava-se tivessem resultados imediatos. Esse debate foi polêmico: nos Estados Unidos, no período considerado, o ensino técnico “fora negligenciado", assegurava Barnard (1871). Tratando-se do Brasil essa modalidade de ensino ocorreu de forma bastante heterogênea: ora partindo de associações civis (religiosas e/ou filantrópicas), ora das esferas estatais ou ainda da iniciativa de ambas. Observou-se indícios, em ambos os países, de que o ensino técnico-profissional tinha como público as camadas da população economicamente menos favorecidas e que esse debate assinalava preocupações com o desenvolvimento das indústrias e as formas de acesso ao mercado de trabalho na dinâmica do capitalismo.

A EDUCAÇÃO DA CRIANÇA PELA ÓTICA DOS JORNAIS MATO-GROSSENSES (1910-1930)

MARIJANE SILVEIRA DA SILVA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

A presente pesquisa analisa as representações de educação da criança materializadas e veiculadas pelos jornais mato-grossenses durante as décadas iniciais do século XX. Esse período é marcado pelo projeto de disseminação da escola primária republicana, momento em que esta instituição assume um importante papel na formação do caráter e no desenvolvimento de virtudes morais, de sentimentos patrióticos e de disciplina da criança. O uso do jornal como fonte principal justifica-se pelo fato de ter se constituído como um dos principais instrumentos utilizados para compreender a sociedade de uma determinada época. Assim como Capelato e Prado, entendo que a imprensa periódica não especializada cumpria um papel fundamental enquanto poderoso instrumento de manipulação de interesses e de intervenção na vida social. Nesse sentido, algumas questões norteiam esta reflexão: Quais os conteúdos abordados nos jornais concernentes à educação da criança? Quais os discursos propagados pela imprensa no tocante à escolarização da infância em Mato Grosso e o papel da escola primária? Trata-se de uma pesquisa documental, desenvolvida por meio de procedimentos de localização, reunião, seleção e ordenação de artigos sobre a educação da criança, publicados nos jornais editados em Mato Grosso no período em questão. A localização das fontes ocorreu nos acervos das seguintes instituições: Arquivo Público de Mato Grosso (APMT), no Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional (NDIHR), na Casa Barão de Melgaço (CBM) e na Biblioteca Nacional (BN). Este estudo ancora-se nos pressupostos da História Cultural, com suporte de

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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alguns autores, como Peter Burke (1991, 2005) e Pesavento (2005); no conceito de representação, com referencial teórico de Roger Chatier (1990; 2002) e em outros estudiosos que contribuem com reflexões acerca da temática da escola primária no período denominado Primeira República: Schueler e Magaldi (2009), Carvalho (2003); e acerca das fontes históricas e da imprensa: Pinsky (2006). De Luca (2006), De Luca e Martins (2006), Catani e Bastos (1997), Capelato e Prado (1980), Capelato (1988) Schelbauer e Araújo (2007), Schueler e Teixeira (2008), entre tantos outros. A imprensa periódica mato-grossense veiculava discursos propagados pela escola pública primária republicana, como o patriotismo, o civilismo, símbolos patrióticos (presente nas festividades realizadas em datas cívicas), entre outros. Apesar dessas mensagens serem dirigidas à um público específico, interno à escola, percebe-se que pelos jornais ampliava-se esse processo para além dos muros escolares, alcançando toda a sociedade.

"PREPARAR CABEÇAS INTELIGENTES": A EDUCAÇÃO INTELECTUAL SEGUNDO ARTHUR PORCHAT DE ASSIS

MARINA TUCUNDUVA BITTENCOURT PORTO VIEIRA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Arthur Porchat de Assis escreveu o livro “Eduquemos”, publicado em novembro de 1915. Bacharel em Direito, estudos feitos apontam que fazia parte de um grupo com ideias próprias e que marcou presença na educação santista. O livro de Porchat de Assis mostra suas concepções em secções intituladas: Educação Física, Educação Intelectual, Educação Moral, Educação Cívica e Educação Profissional. Esta comunicação irá se deter em suas concepções acerca da Educação Intelectual e mostrar como estas refletem a apropriação de autores contemporâneos a ele, especialmente Claparède, e que, antes mesmo de as ideias de Dewey conseguirem penetração na educação brasileira, as representações de escola ativa estiveram presentes no país. A indicação de leituras e outras referências feitas pelo autor mostram que ele buscava suas ideias em periódicos franceses e abominava a educação norte-americana. Salientava que o doutor se faz sozinho, por esforço próprio, apenas “auxiliado pelos bons auspícios do mestre” e nem sempre “são aqueles que vieram empanturrados de saber da escola” mas os que trouxeram “para a vida post-escolar uma cabeça intelligente, feita de um espírito bem formado”. Aqui o autor faz uma crítica à escola tradicional, enciclopédica, preocupada em transmitir conhecimentos. Porchat de Assis nos traz concepções construtivistas ao afirmar que o aprendizado “deve ser sempre gradativo e progressivo” e que “não pode ser completado no curto espaço de quatro ou cinco annos escolares”. Sugere que a escola limite-se ao seu papel de “simples preparadora de cabeças intelligentes, assim impondo-se a sua tarefa de reduzir ao mínimo os seus programmas de ensino”. Porchat de Assis, como Claparède, acredita que a inteligência é a capacidade de usar o pensamento para resolver novos problemas. Ele acreditava que há uma construção de conhecimento gradual, pelo aluno, com ajuda do professor e para ele a programação de ensino não deveria ser feita por ano letivo, mas em uma sequencia tal que o aluno passasse para a etapa seguinte apenas quando completasse a anterior. Os programas de ensino seriam apenas “guias escolares”, sujeitos a modificações e adequações ao desenvolvimento e características da criança “(...) o programma será feito para o alumno e não, como na generalidade dos casos, será feito o alumno para o programma”. A respeito dos métodos de ensino, diz que, à luz da psicologia experimental, devem ser escolhidos os mais práticos e positivos possíveis. “A criança não quer saber de theorias, não entende nada de theorias.”As crianças “querem ver para crer”. Os métodos intuitivo e experimental, segundo ele, são os apropriados, especialmente nas escolas primárias elementares.

AS CONTRIBUIÇÕES DA HISTÓRIA DE INTELECTUAIS PARA A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

MARIO BORGES NETTO MARCO AURÉLIO GOMES DE OLIVEIRA

Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Temos como objetivo para esse texto responder os questionamentos: por que estudar História de Intelectuais? Quais as suas contribuições para área da História da Educação? Ao responder esses questionamentos visamos apresentar argumentos sobre a vitalidade e atualidade do debate sobre os intelectuais. Entendemos que vivemos num contexto de desvalorização da política enquanto elemento mediador de intervenção na vida social, no qual os homens perderam as referências ideológicas e as esperanças nas possibilidades de intervenção na realidade. Nesse contexto, em que as entidades coletivas de representação de classe secundarizam a sua função formativa de novo quadros e abrem mão do contato direto com a massa, os intelectuais se destacam, pois exercem, ainda que de maneira individual, a sua função de construir o consenso, de conquistar mentes e corações em prol de

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uma finalidade política. Historicamente os intelectuais são reconhecidos como sujeitos capazes de interpretar e interferir na realidade, características essas que deixaram de ser evidenciadas e passaram a ser negligenciadas por aqueles que teorizam suas ações. No quadro teórico, em tempos de hegemonia dos referenciais da Nova História, em que as pesquisas acadêmicas sobre História de Intelectuais valorizam ora a História de vida do intelectual, ora a rede de relacionamentos que permitiu a produção de suas ideias, é comum nessas pesquisas a reconfiguração das características dos intelectuais, agora modelada a partir da dissociação entre ciência e política. Esse referencial teórico, muitas vezes sustentado na Sociologia Compreensiva de Max Weber, caracteriza a função do intelectual enquanto ação eminentemente teórica. Diante disso, faz-se necessário entender o intelectual enquanto sujeito histórico-social e retomar como central nas pesquisas o que é próprio da sua atividade, qual seja, a intervenção na realidade. Desse modo a categoria práxis ganharia centralidade nesses estudos, pois nos permitiria analisar o intelectual no processo de interação com a sua materialidade, entendido enquanto resposta às lutas reais travadas pelos homens de seu tempo na produção da sua existência. Portanto, devemos privilegiar como objeto nas pesquisas a unidade entre conjunto teórico (a obra) e ação política, a práxis do intelectual, pois a pesquisa sobre os intelectuais deve possuir como objetivo principal recuperar o intelectual e suas ideias na relação com as suas ações políticas no interior da luta de classes. Em síntese, entender o intelectual a partir da sua práxis, nos permite contribuir com a História da Educação evidenciando a dimensão humana da construção da História. Disso podemos entender que a vida social não é construída por decretos, senão pela ação humana no interior do jogo da luta de classes, e que o intelectual não pode ser compreendido somente pelo modo como ele pensa o mundo, mas em conjunto com o modo como ele intervém na sua realidade.

JOSÉ VERÍSSIMO (BRASIL) E JOSÉ INGENIEROS (ARGENTINA): CONTRIBUIÇÕES PARA O PENSAMENTO EM EDUCAÇÃO NA AMÉRICA

LATINA.

MARLUCY DO SOCORRO ARAGÃO DE SOUSA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

José Veríssimo (Brasil) e José Ingenieros (Argentina): contribuições para o pensamento em educação na América Latina. Resumo: Trata-se de um estudo comparado do pensamento educacional presente nas obras do brasileiro José Veríssimo (1857-1916) e do argentino José Ingenieros (1877-1921), na perspectiva de identificar suas contribuições para os processos de independência e formação das respectivas nações na América Latina. A escolha por apresentar o pensamento de José Veríssimo e José Ingenieros deve-se ao lugar de importância que estes intelectuais assumiram em seus territórios nacionais no final do século XIX e inicio do século XX. Atentamos para o fato de que tanto Veríssimo quanto Ingenieros pertenciam a uma elite política e intelectual em seus países e exerciam profissões importantes, como jornalismo e medicina, além de serem destaque em cargos públicos e no magistério, isto é, ocupavam uma posição privilegiada na sociedade, a qual lhes permitiu atuarem como formadores de opinião, pelo menos entre seus pares. Particularmente, José Veríssimo nasceu no extremo norte do Brasil, estado do Pará, viveu num contexto sociopolítico da segunda metade do século XIX, momento em que grande parte das produções intelectuais eram marcadas pela intenção de entender o Brasil por meio de concepções europeias. Dedicou-se ao estudo da Crítica Literária e refletiu sobre a educação, colocando-a como instrumental necessário para a elevação da população mestiça do país à condição de civilizada. Especificamente, José Ingenieros nasceu em Palermo, na Itália, mas migrou para a Argentina ainda criança, tornando-se cidadão argentino. Foi professor, médico, sociólogo e franco-maçon argentino. Está entre os intelectuais representativos do pensamento argentino no final do século XIX. Sua influência vai da vertente positivista e evolucionista, passando por uma linhagem modernista, romântico e espiritualista até o marxismo reformista e a ala revolucionária. Metodologicamente, trata-se de um estudo comparado das ideias de educação de José Veríssimo e José Ingenieros, no qual tomamos como corpus as obras Educação Nacional (1906) e Forças Morais (obra póstuma) respectivamente, entretanto, recorreu-se a um conjunto de teorias afins, entre as teorias está a História Cultural e História Intelectual (Memória coletiva, Utencilagens mentais). Resultados do estudo revelam características emancipacionistas nas obras destes intelectuais, fortemente relacionadas ao processo de constituição dos Estados-nação latino-americano e à construção de um ideário de educação nacional. Constatou-se que estes compreendem a educação como um instrumental imprescindível para a superação da colonização e, portanto, de consolidação da independência política, econômica e cultura do continente.

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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A IMPRENSA PERIÓDICA PAULISTA COMO DISPOSITIVO DE CONFIGURAÇÃO DO CAMPO DOS SABERES PEDAGÓGICOS : A

FORMAÇÃO DE NOVOS LEITORES NA EMERGÊNCIA DE UMA NOVA PROFISSÃO DOCENTE

MARTA MARIA CHAGAS DE CARVALHO MARIA RITA DE ALMEIDA TOLEDO

Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Esta comunicação analisa a imprensa periódica paulista como dispositivo de configuração do campo dos saberes pedagógicos. Ela põe em cena a questão da formação de novos leitores e sua relação com emergência de uma nova profissão docente. Integrando investigações mais amplas que contam com apoio de bolsas de pesquisa do CNPq, ela analisa um conjunto de publicações periódicas especializadas em educação que circularam em São Paulo, entre 1893 e 1927. À luz das proposições de Roger Chartier e Michel de Certeau, a comunicação pretende analisá-las como dispositivos de estratégias editoriais de conformação das práticas de professores das escolas primárias; e, também, como estratégias de constituição de um público leitor, identificado por sua profissão, por seus valores e práticas. Seu objetivo é identificar, caracterizar e comparar modalidades de uso do impresso, tomando-as como índices de posições no campo doutrinário constituído pelos saberes pedagógicos que circularam no período. Pretende reconstituir, assim, um campo de disputas, situando, nele, os autores e editores das publicações analisadas que, na posição de professores, diretores de escola, inspetores, ou mesmo altos funcionários técnico- administrativos, estiveram de algum modo envolvidos na institucionalização e gestão da escola paulista, nas primeiras décadas republicanas. São analisados também as prescrições veiculadas na materialidade desses impressos sobre práticas de leitura e formação e as novas representações da identidade do fazer docente veiculadas nesses impressos. Os usos dos impressos como estratégias de construção e ordenação do campo educacional estavam articulados às transformações da cultura letrada da cidade de São Paulo. No decorrer do período analisado pode-se, com Cruz e Martins, destacar que o periódicos de gêneros vários ganham, em todo o Estado de São Paulo, espaço crescente na produção das tipografias, transformando-se em um dos principais produtos da cultura impressa. A partir do final do século XIX, o periodismo emerge como importante meio de renovação da cultura letrada, tornando-se lugar fundamental de discussão e articulação de concepções, assim como suporte de difusão de representações e práticas culturais em disputa. Os periódicos se multiplicam em modalidades diversas (revistas, hebdomadários, magazines, entre outras), mobilizando toda uma maquinaria de dispositivos tipográficos e textuais, que materializam as representações do público destinatário, para quem se faz esses impressos. Para esta comunicação, são analisados os modelos pedagógicos instaurados pelas publicações Eschola Pública(1893-1897); Revista do Ensino órgão da Associação Beneficente dos Professores Públicos do Estado, (1902-1903); e Revista Escolar (1925-1927), editada por iniciativa da Diretoria Geral da Instrução Pública de São Paulo. Palavras-Chave:

CONCEPÇÃO DE PROFESSOR NA REVISTA DO ENSINO DA PARAÍBA

MELÂNIA MENDONÇA RODRIGUES Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

No âmbito da imprensa pedagógica paraibana, a Revista do Ensino da Paraíba, periódico da Diretoria de Ensino Primário do Estado, editado pela Imprensa Oficial durante dez anos (1932 a 1942), constitui um importante veículo de formação dos professores e o mais destacado canal de disseminação do ideário escolanovista no Estado. Da pesquisa desenvolvida nos últimos três anos, voltada à digitalização das 18 edições e ao estudo crítico-analítico da Revista, o presente artigo recolhe as concepções acerca do professor primário, disseminadas nos 11 números editados nos dois primeiros anos de circulação do periódico (1932-1934), sob a direção do professor José Baptista de Mello, Diretor do Ensino Primário da Paraíba e principal articulador do movimento da Escola Nova na Paraíba. A substituição desse professor pelo Monsenhor Pedro Anisio, ocorrida em 1936, após um ano de interrupção na circulação da Revista, justifica a delimitação do corpus da análise aqui apresentada. Tendo em conta a filiação do criador e diretor do periódico ao ideário da Escola Nova, bem como o fato de que o editorial do seu número inaugural apresenta a Revista como meio de veiculação, junto aos professores, das ideias, dos processos pedagógicos e dos métodos modernos de educação, a abordagem do objeto proposto norteou-se, mais especificamente, pelas compreensões expressas já no Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, quais sejam: o magistério como uma função pública e o professor como um profissional, detentor de uma boa formação e de remuneração equivalente. Subjacentes a esses norteamentos, a análise está pautada no fato de o

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movimento da Escola Nova no Brasil haver representado a emergência do liberalismo educacional e a defesa da escola pública laica, contrapondo-se, portanto, à hegemonia do pensamento católico na educação brasileira, sustentáculo da escola privada. Assim referenciado, o exame dos onze números da Revista do Ensino ensejou algumas constatações, em síntese: em todos os números, pelo menos um artigo refere-se ao professor ou ao seu papel na educação; de forma explícita ou subliminar, a concepção de professor adotada diverge radicalmente daquela preconizada pelos escolanovistas, identificando-se, contraditoriamente, à disseminada pela pedagogia católica tradicional. Desse modo, em lugar de um profissional, caracterizado pela competência para aplicar os novos métodos de ensino, o professor é definido por características como abnegação, bondade, dedicação, entusiasmo, honradez, civismo e, principalmente, como um ser virtuoso e vocacionado, cuja “nobre missão” é, substituindo os pais, amparar os alunos, neles desenvolvendo o caráter do futuro homem. Trata-se, pois, de uma afinidade de pensamento que permite cogitar-se a hipótese de não se ter verificado, na Paraíba, mesmo no início da década de 1930, um ruptura dos escolanovistas com o pensamento católico, como em outros Estados do país.

CONTRIBUIÇÕES PARA A HISTORIOGRAFIA DA EDUCAÇÃO DA PARAÍBA: UMA LEITURA SOBRE A INFÂNCIA NA REVISTA DO ENSINO

(1932-1934)

MERYGLAUCIA SILVA AZEVEDO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Nas três últimas décadas a impressa vem se inserindo como fonte e objeto nas pesquisas no campo da História da Educação, tornando-se assim, um terreno fértil de estudos, por possibilitar a compreensão de aspectos importantes que estruturam o campo educacional, bem como, a concepção de sociedade e Estado. Nesse sentido, pesquisadores (FURTADO e PINTO, 2011; FARIA, 2009; BICCAS 2008; BASTOS e LEMOS, 2007; SOUZA, 2001; BRITES, 2000; CATANI, 1996, entre outros) vêm se interessando, cada vez mais, em realizar estudos utilizando-se de documentos impressos, a exemplo, a imprensa pedagógica. Sabendo da importância das atuais pesquisas sobre a imprensa periódica para a compreensão dos processos históricos vividos e sobre a educação na contemporaneidade, o artigo pretende colaborar com a historiografia da educação da Paraíba, em diálogo com a produção brasileira relacionada ao tema de pesquisa, e tem por objetivo apresentar as primeiras leituras e aproximações acerca dos sentidos atribuídos aos enunciados sobre a infância. A fonte da investigação é a Revista do Ensino, periódico que circulou no estado da Paraíba durante dez anos (1932-1942), os quais compreendem do número 1 até o número 18, sendo a primeira publicação no ano de 1932 e a última no ano de 1942. O periódico será lido como um artefato cultural representativo de um tempo histórico particular, por isso, o recorte temporal entre os anos de 1932-1934. Para realizar a leitura da fonte foram considerados os artigos de opinião, bem como, os discursos proferidos por políticos e intelectuais, caracterizados como discurso médico, discurso moral e discurso psicológico, os quais vão compor as categorias de análise dos discursos sobre a infância. No que concerne à divisão deste artigo, inicialmente será realizada uma breve discussão sobre as pesquisas tendo o impresso educacional como fonte, na área da História da Educação; no segundo tópico será feita uma descrição concisa das características de produção, organização e circulação dos 18 exemplares da Revista do Ensino da Paraíba, considerando os aspectos da materialidade do periódico, como formato, capa, total de páginas, periodicidade, temas, entre outros; no terceiro, será realizada uma análise das temáticas do periódico para atender ao objetivo de compreender e apresentar as primeiras aproximações dos significados atribuídos às características dos enunciados sobre a infância no impresso educacional paraibano (1932-1934); por fim, serão feitas as considerações finais.

AS PRIMEIRAS LEITURAS DO ESCRITOR ERICO VERÍSSIMO (1910-1920)

MICHELE RIBEIRO DE CARVALHO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Para pesquisar sobre as primeiras leituras do escritor utilizaremos como fonte documental os dois volumes da autobiografia Solo de Clarineta – Memórias, publicados em 1973 e 1976, de Erico Lopes Veríssimo, autor brasileiro, nascido na pequena cidade de Cruz Alta, no interior do estado do Rio Grande do Sul, no ano de 1905. O autor de romances como Clarissa e O Tempo e o Vento, era de família tradicional na cidade, e contava, no casarão dos Veríssimo, com uma rica biblioteca de posse de seu pai, homem conhecido na cidade por seus gostos refinados. Por isso, o contato com os livros, e com os impressos de forma geral, começou ainda muito cedo. Tanto, que ao ser matriculado na escola da cidade já sabia ler com desenvoltura. Entendemos que os processos que envolvem o ato de ler são muito estudados atualmente. Contudo, para os limites desta pesquisa, propomos

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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um olhar mais próximo das emoções despertadas por tais leituras, buscando os primeiros livros mencionados pelo autor em seu texto autobiográfico, ou seja, tanto os que despertaram seu interesse e curiosidade, quanto os que lia por imposição do ambiente escolar; pois, compreendemos que a capacidade de ler depende das relações que cada leitor conseguir estabelecer entre o seu conhecimento linguístico e o seu conhecimento do mundo, assim como, a capacidade que a literatura tem de confirmar a humanidade do homem. Se, por um lado, Erico lia os livros presentes na biblioteca paterna, aqueles instigantes, cheios de aventura e ação; por outro lado, lia os livros adotados pela escola, os que chamava de “aborrecidos”, tamanha a diferença em relação à literatura de “capa e espada”, os folhetins cheios de aventuras amorosas, moralizantes e educativas, a que estava acostumado a ler durante horas no quintal do casarão. Para tal pesquisa, utilizaremos a metodologia de revisão bibliográfica, e, como referencial teórico, trabalhos desenvolvidos por autores ligados à Escola dos Annales e à Nova História Cultural, entre eles Roger Chartier (1996); Pierre Félix Bourdieu (2001); Jacques Le Goff (1989); e Robert Darnton (2010); como também Antonio Candido de Mello e Souza (1972); e o próprio Erico Veríssimo em sua romance autobiográfico (2005). Com este estudo, buscamos compreender aspectos da trajetória do leitor, ainda que através do filtro da memória do escritor, com reinterpretação constante, e a importância de tais leituras para o escritor literário, a ponto de o influenciarem. Por último, tentaremos reconstituir as primeiras leituras do pequeno Veríssimo e as emoções despertadas por elas.

RASTROS E VESTÍGIOS DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL BRASILEIRA ATRAVÉS DAS PRODUÇÕES BIBLIOGRÁFICAS DE HELOÍSA

MARINHO E NAZIRA FÉRES ABI-SÁBER

MICHELE VAROTTO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O presente trabalho centra-se na compreensão da História da Educação das Crianças menores de 06 anos no Brasil, tendo como objetivo apreender as propostas para a educação pré-escolar no país entre as décadas de 1950 e 1970. Para a elaboração do referido estudo, no entanto, utiliza-se como fontes de pesquisa as produções bibliográficas de duas educadoras e pesquisadoras brasileiras que se dedicaram a estudar esse nível educacional: Heloísa Marinho e Nazira Féres Abi-Sáber. A escolha dessas duas educadoras, por sua vez, ocorreu devido à atividade e engajamento das mesmas no campo pré-escolar brasileiro, uma vez que estiveram imersas nos debates educacionais de sua época, destacando-se tanto em cunho nacional quanto internacional, com pesquisas, estudos e propostas que visavam subsidiar o trabalho nas instituições pré-escolares, ao que se refere à: organização da estrutura, didática, materiais; e mais ainda, em trazer discussões sobre o desenvolvimento infantil a fim de contribuir para a formação docente. Aspectos estes que ficam nítidos ao se deparar com as suas amplas produções bibliográficas (as quais datam de 1952 a 1979) destinadas à educação das crianças pequenas e no ancoramento direto dessas às agências governamentais brasileiras, dentre as quais se destacam: o Departamento Nacional da Criança (DNCr); Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP); Programa de Assistência Brasileiro-Americana ao Ensino Elementar (PABAEE) e com o Centro de Estudos e Pesquisas Helena Antipoff da Sociedade Pestalozzi do Brasil; além da participação das educadoras nas conferências organizadas pela Organização Mundial de Educação Pré-Escolar (OMEP). A pesquisa corresponde a uma investigação de caráter teórico-bibliográfico tendo como princípios norteadores as propostas de Certeau (2008) e Depaepe (2005) no que se refere ao papel do historiador em analisar e compreender seu objeto de estudo com base no espaço e momento em que o mesmo se encontra, de modo a desmistifica-lo e a recria-lo a partir da análise e compreensão de seu contexto mais amplo. Com o presente estudo pôde-se constatar que as obras de Heloísa Marinho e Nazira Féres Abi-Sáber foram guiadas por um mesmo objetivo: o de atender a formação integral da criança, em seus aspectos: físico, mental, moral, cívico, espiritual, estético, artístico, social e emocional; e ainda suprir as questões relacionadas à assistência das crianças carentes e abandonadas, bem como auxiliar as mães. Portanto, por meio da análise dessas obras podem-se encontrar rastros e vestígios sobre a forma com que a pré-escola foi se moldando na educação brasileira, o que possibilita lançar luzes para compreensões mais amplas a respeito deste nível educacional.

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SÉRIE PUIGGARI-BARRETO: LEITURA QUE CIVILIZA, DIVERTE E MORALIZA

MILENA DOMINGOS BELO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Em fins do século XIX e início do século XX é possível identificar o aumento do número de intelectuais interessados em planejar e promover um significativo processo de regeneração social do país. Para tanto a escola fora eleita como instituição poderosa, capaz de viabilizá-lo. A esta instituição foi atribuída a responsabilidade de formar os futuros cidadãos, ou seja, as crianças, concebidas como o futuro da nação. O projeto para a escola pública primária previa a renovação dos métodos, dos processos de ensino, dos programas e da organização didático-pedagógica, visando a modernização da escola e a consequente civilização dos indivíduos. Em consequência cresceu a produção de livros de leitura, para uso nas escolas, que para além de sua função de contribuir para o desenvolvimento da leitura eram imbuídos da responsabilidade pela “missão civilizadora” dos alunos, ou seja, deveriam cooperar na efetivação da função estabelecida para a instituição escolar: formar o cidadão republicano de modo que este pudesse ser ordeiro, disciplinado, saudável, higiênico e patriota. Deste modo, os Livros de Leitura da Série Puiggari-Barreto, utilizados em escolas primárias no Brasil, principalmente em São Paulo, constituem o objeto principal deste trabalho que pretendeu investigar as representações acerca de um ideal de infância brasileira, bem como a centralidade conferida à escola como instituição responsável pela socialização das crianças. Para tanto fundamentou-se nos aportes da história da infância no mundo ocidental (Ariès, 2011; Heywood, 2004; Narodwski, 2001) e, mais especificamente da história da infância no Brasil (Freitas, 2001; Veiga, 2010; Kuhlmann Jr., 2000) que demonstram a produção da noção da infância pelos discursos e práticas vigentes em determinada sociedade e período histórico, ressaltando a relação existente entre o processo de escolarização e a produção da concepção de infância nas sociedades modernas. A ideia difundida de que lugar de criança é na escola implica a concepção de infância e de criança enquanto indivíduo que precisa ser civilizado. A análise dos Livros de Leitura da Série Puiggari-Barreto, possibilitou concluir que esta Série fora elaborada de acordo com as concepções pedagógicas e políticas de inovação educacional, que atribuíam à escola a missão de civilizar e educar conforme os ideais do progresso. Preocupava-se em oferecer às crianças suporte para o ensino aprazível da leitura corrente, ao mesmo tempo em que ofertavam em suas Lições diversas prescrições de normas de conduta, de civismo e patriotismo. A sua configuração permitia às crianças uma imersão no universo escolar, com as suas diferentes manifestações como comemorações, rotinas, exames e prêmios. Por meio de seus livros, Romão Puiggari e Arnaldo de Oliveira Barreto dão vida a um projeto de escolarização da civilidade, que, através do uso de histórias e ilustrações pretendia divertir e ao mesmo tempo disciplinar condutas.

POR UMA HISTÓRIA DAS TIPOGRAFIAS BRASILEIRAS: NOTAS ACERCA DA PRODUÇÃO DA COLEÇÃO FOLHETOS EVANGÉLICOS (1860-1938)

MIRIANNE SANTOS DE ALMEIDA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O presente texto versa sobre a produção de impressos no cenário brasileiro oitocentista e em meados do século XX, precisamente entre os anos de 1860 a 1938, com o objetivo de mapear as tipografias, seus respectivos locais de publicação e as estratégias editoriais de difusão de saberes e práticas educacionais e religiosas. O cerne de análise é a Coleção Folhetos Evangélicos, conjunto de 644 títulos que pertenceu ao Reverendo Vicente Themudo Lessa e, atualmente, constitui o acervo do Centro de Documentação e História Reverendo Vicente Themudo Lessa, localizado na 1ª Igreja Presbiteriana Independente, na cidade de São Paulo. O recorte temporal corresponde ao ano de publicação do título mais antigo e do mais recente, respectivamente. A maioria dos títulos da referida coleção foi produzida por tipografias brasileiras, responsáveis pela editoração de 414 impressos. A concentração de títulos produzidos no Brasil, somada a investigação desencadeada no projeto de pesquisa “Brasil, Portugal e Inglaterra: circulação de impressos protestantes e outros impressos educacionais”, que investiga as estratégias editoriais de difusão e conformação de saberes e práticas religiosas e pedagógicas, justificam o enfoque deste texto. Nesse prisma, há que se desvendar, quando se fala em história da imprensa, o contexto de produção do impresso: quem produzia? Como e onde funcionava essa organização? À qual denominação, religiosa ou comercial, pertencia? O que publicava? Percorrer esse caminho, do ponto de vista metodológico, acrescenta ao ofício do pesquisador as similitudes de um detetive, sujeito de olhar atento aos pormenores, buscando pistas que não estão aparentes nos impressos e interrogando as fontes a todo instante. Destarte, o amparo metodológico está pautado em Ginzburg (1989) no que concerne ao método indiciário. O referencial teórico segue os estudos empreendidos por Robert Darnton (1990, 2010) e Roger Chartier (1990, 1998, 2002), os quais discorrem acerca da produção e circulação de impressos apontando-os como objetos

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culturais, instrumentos para difundir saberes e práticas em dados contextos sociais. As pesquisas desenvolvidas acerca da produção, circulação e usos de impressos vêm constituindo relevante área de investigação para o campo da História da Educação, posto que apontam caminhos para a compreensão de práticas culturais que circularam em diferentes contextos sociais, sobretudo, quando os impressos imperaram como principal ferramenta de disseminação cultural. Os resultados permitem delinear o Brasil como palco da produção de diferentes tipologias de impressos e inferir o aumento da produção, no período de 1860 à 1938, em diferentes regiões brasileiras.

CIVILIDADE E EDUCAÇÃO FEMININA NO SÉCULO XIX: O JORNAL DAS SENHORAS

MÔNICA VASCONCELO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este estudo se define por analisar as contribuições do Jornal das Senhoras sobre a educação feminina no século XIX, órgão de imprensa publicado na província do Rio de Janeiro nos anos de 1852 a 1855. Com a entrada progressiva das relações capitalistas, em contraposição à predominância do trabalho escravo e da agricultura, ocorreram transformações no campo educacional, político e econômico que passaram, lentamente, a dar uma nova conformação à sociedade. Nesse contexto, a imprensa emerge imperiosa e robustecida de ideais liberais cogitando oferecer educação à mulher que, encerrada nas teias do patriarcado, via no casamento a oportunidade de ser valorizada socialmente. O periódico preparava as moças para a vida conjugal e a maternidade, ensinando-as a se comportar em público e no interior do lar, pois o objetivo era de regenerar a sociedade por meio de uma educação moralizante, sobretudo onde o respeito ao marido e as regras sociais era a questão principal a ser apreendida. Assim, em consonância com a idéia de progresso debatida naquele século, a educação promulgada no Jornal das Senhoras empenhou-se na campanha em prol da inserção das mulheres no magistério, um lugar antes proibido à sua participação, mas que promoveu o desbravamento dos limites do patriarcado rumo o acesso mais consentâneo aos espaços públicos, abrindo às mulheres novos caminhos de atuação possibilitando o combate das velhas formas de dominação e que não mais se justificavam historicamente. Os interesses femininos emergentes iam de encontro à ideia de progresso incorporada e bem desenvolvida no continente europeu, mas que no Brasil se deparava com a resistência conservadora oriunda de uma sociedade aristocrática e escravocrata. Essa causa encontrou ressonância na imprensa, principalmente na segunda fase do jornalismo brasileiro (1880) caracterizada pelo aumento do número de periódicos direcionados a educação feminina. A modernidade decorrente do desenvolvimento social e econômico conformaria o ideal de sociedade burguesa, o qual inclui no início do século XIX a educação informal às mulheres, porém atualizada no final desse período com a Escola Normal. As fontes recorrentes na análise encontram-se dispostas no Jornal das Senhoras, e formalizam a importância da imprensa do século XIX para a História da Educação. Desse modo busca-se demonstrar o modelo de educação feminina no século XIX, enfatizando a atuação da imprensa no processo de modernização e, em específico o ambicionado projeto de desenvolvimento material proposto pelo periódico em questão.

EDUCAÇÃO NA DITADURA: ESTADO DA ARTE (1970-2014)

NADIA GAIOFATTO GONÇALVES Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este trabalho é parte de uma pesquisa que tem por objetivo analisar como a educação na ditadura foi abordada em periódicos acadêmicos de Educação e de História, a partir dos anos de 1970. Identificando tendências, divergências, consensos, movimentos na produção acadêmica, busca-se evidenciar o tom que as pesquisas vêm promovendo no debate a respeito da educação na ditadura, a fim de compreender com mais clareza suas perspectivas, limitações e contribuições, e as lutas de representações que a perpassam. O início dos anos de 1970, que demarca no Brasil o momento de criação e consolidação de Programas de Pós-Graduação e de periódicos acadêmicos, é a referência temporal inicial para os periódicos investigados nesta pesquisa, que abrange as publicações até o ano de 2014, cinquentenário do golpe militar, e por isso, contexto de muita discussão e diversas publicações sobre o tema. Embora assuma-se na pesquisa a perspectiva de ditadura civil-militar, derivada de novas problematizações historiográficas feitas para aquele período, não se impõe este olhar à produção identificada, pois observar como problematizações sobre o tema foram se configurando ao longo do tempo é um dos propósitos da pesquisa. Quanto à fonte, foram pesquisados periódicos acadêmicos nacionais, constantes no Qualis – CAPES 2013, com classificação mínima entre A1 e B3, das áreas de Educação e História, ou seja, todos os periódicos que constavam nestas duas áreas, nesta classificação, foram pré-selecionados,

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excluindo-se os estrangeiros e aqueles cujo objeto era muito distinto do da pesquisa, resultando em oitenta e sete títulos. Em cada um deles, busca-se o acesso à integralidade de seus números, identificando-se os artigos que tratem do tema, com base no título, nas palavras-chave e no resumo, a partir do critério de que o trabalho deverá ter foco específico em algum aspecto da educação na ditadura. Em uma segunda etapa, os artigos selecionados são lidos, identificando-se elementos como periódico, ano de publicação, instituição de vínculo dos autores, conceitos ou referenciais teóricos, fontes, temas (por exemplo, reforma universitária; lei 5.692/71; formação de professores; saberes e práticas docentes; disciplinas escolares; movimentos estudantis; entre outros), entre outros. A seleção está quase completa e a análise em andamento, mas devido ao recorte final proposto, somente poderá ser concluída em dezembro. Como principais referenciais, destacam-se os conceitos de campo e habitus de Pierre Bourdieu, em especial suas problematizações relativas ao campo científico, e representações e luta de representações de Roger Chartier. Como recorte para a apresentação deste trabalho em especial, pretende-se apresentar o quadro geral dos artigos identificados, com ênfase nos temas abordados pelos autores, averiguando o movimento ocorrido ao longo do período analisado.

MÉDICAS PIONEIRAS: A ATUAÇÃO NA “PROTEÇÃO E ASSISTÊNCIA ÀS MÃES E À INFÂNCIA” (1922 E 1931)

NAILDA MARINHO DA COSTA BONATO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O trabalho se insere em projeto de pesquisa institucional que tem entre seus objetivos buscar trajetórias (Bourdieu) de mulheres pioneiras que cursaram e lutaram pelo ensino superior, assim como pelo exercício da profissão e reconhecimento social e político; seja para reforçar aquelas mulheres já “conhecidas” ou para fazer emergir aquelas ainda “anônimas” (Louro, 2011). Na perspectiva de gênero (Scott), da história das mulheres (Perrot) e do movimento feminista, a pesquisa tem como recorte temporal o último quartel do século XIX até a década de 1960 do século XX. Para isso, documentos dos acervos do Arquivo Nacional e da hemeroteca da Biblioteca Nacional, entre outros, foram consultados. A investigação vem constatando que ainda no século XIX havia por parte de alguns setores e sujeitos sociais um incentivo para que as mulheres cursassem medicina, entre outros motivos como medida protetiva às mães e às crianças de uma sociedade que se queria civilizada (Elias) e moderna. Entendidas como feministas e/ou intelectuais em suas trajetórias mulheres formadas ou mesmo ainda estudantes de medicina, participaram de forma propositiva de entidades e eventos feministas, discutindo temas como ensino, educação, proteção às mulheres e à infância. Considerando o exposto, trataremos da atuação das médicas nas seções de “Educação e Proteção às Mães e a Infância” existentes na estrutura dos eventos feministas organizados pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, entidade presidida por Bertha Lutz. Na Primeira Conferência pelo Progresso Feminino e no II Congresso Internacional Feminista, ocorridos no Rio de Janeiro em 1922 e 1931, respectivamente, os trabalhos apresentados foram encomendados a colaboradores e também por inscrição em forma de theses nas diversas seções. Como exemplo, na Conferência de 1922, se entre os seus colaboradores estava o médico higienista Carlos Arthur Moncorvo Filho, que na seção de “Proteção à Infância”, apresentou “um programa de proteção à Infância”, na mesma Seção discutindo o tema estava a professora primária e estudante de medicina Carlota Pereira de Queiroz (1892-1982), da delegação paulista, que fez “várias sugestões” contribuindo para as recomendações finais. No II Congresso destaca-se a these intitulada “Higiene e maternidade” de Francisca Praguer Fróes (1872-1931), formada em medicina em 1893, como representante da União Universitária Feminina da Bahia. A tese foi defendida por outra médica – Hermelinda Paes também da delegação baiana. No evento, como medida protetiva às crianças era propagada a “necessária educação das mães.”

HISTÓRIA INTELECTUAL E HISTÓRIA CULTURAL: ALGUMAS APROXIMAÇÕES

NÉVIO DE CAMPOS Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O objetivo deste texto é discutir algumas aproximações entre História Intelectual e Histórica Cultural, tomando como eixo norteador os conceitos de representação e de apropriação de Roger Chartier. Assim, esta narrativa perscruta como objeto central discutir o problema da História Intelectual, tomando as ideias de Roger Chartier para elucidar essa reflexão. Em outras palavras, este percurso analítico busca reconstituir o processo de nascimento do intelectual e as transformações de seu comportamento ao longo do século XX; Problematizar o surgimento da História Intelectual, enfatizando seus problemas de ordem teórica e metodológica; Dialogar com

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as principais historiografias que elegeram a História Intelectual como domínio ou abordagem de investigação; Discutir as contribuições da História Cultural para ampliação do repertório analítico da História Intelectual. Desse modo, esta narrativa faz um debate sobre o nascimento e a transformação da função do intelectual entre o final do século XIX e o século XX, a História Intelectual como um novo campo da historiografia, a articulação entre História Intelectual e História Política e a relação entre História Intelectual e História Cultural. A abordagem metodológica delimita-se a partir da análise da bibliografia existente que trata do nascimento da ideia de intelectual no contexto francês do final do século XIX e sua consequente circulação e apropriação em outras experiências societárias do Ocidente, da constituição da História Intelectual no âmbito do movimento historiográfico do último quartel do século XX, da História Cultural e de sua possibilidade de interlocução com a História Intelectual, assim à luz de leitura das obras de Chartier que discutem especificamente a respeito da História Intelectual e dos conceitos de representação e apropriação. A proposição desta discussão justifica-se pelo pressuposto de que as ideias tendem a circular de um lugar a outro sem seu contexto de produção, indicando que os leitores ou intérpretes mobilizam um conjunto de saberes para se apropriar de pensamentos e teorias, resultado de campos intelectuais distintos e modos diferentes de percepção e de apreciação. Portanto, os conceitos de representação e de apropriação podem ampliar o repertório de análise da História Intelectual à medida que possibilitam problematizar a recepção das ideias pedagógicas e das ideias educativas nos mais variados ambientes culturais, desde os círculos acadêmicos de maior proporção (academias, universidades, imprensa) até espaços com menor visibilidade intelectual (práticas pedagógicas e escolares).

JOSÉ FELICIANO DE OLIVEIRA: A DEFESA DO ENSINO INTEGRAL

OMAIR GUILHERME TIZZOT FILHO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

José Feliciano de Oliveira: a defesa do ensino integral O texto se propõe a analisar a defesa do conceito de ensino integral elaborada pelo então professor da Escola Normal de São Paulo, o positivista José Feliciano de Oliveira, presente nos textos "O Ensino Notas Esparsas" de julho de 1907 e "Ensino Integral" de junho de 1910. Para Feliciano, uma sequência de reformas governamentais fez com que o ensino se transformasse em um arremedo desconexo de disciplinas ministradas por diferentes mestres, o que impossibilitava um real aprendizado, uma vez que os conteúdos eram trabalhados com superficialidade, fadados a terem um caráter temporário e disperso. As consequências da fragmentação originadas pela ação reformista são denunciadas por Feliciano por provocarem a perda da profundidade no ato de educar, uma vez que ele entendia que o conceito de enciclopedismo, originado na civilização francesa, não era aplicado adequadamente em São Paulo. O enciclopedismo no ensino deveria ser o aprendizado consistente do conjunto de conhecimentos obtidos pelo homem, com real aplicação para a vida humana. Moldado para as aparências, voltado ao cumprimento de formalidades pontuais como o atendimento aos pontos de exame, o ensino não era próprio para o preparo dos alunos de uma forma mais ampla para os desafios da vida, dada a organização escolar orientada para uma excessiva especialização dos conteúdos ministrados por diferentes mestres. Para a reversão de um quadro que Feliciano enfaticamente criticava, o ensino integral deveria se constituir em uma alternativa para que houvesse uma educação sólida, universal, integrada e competente, que proporcionasse ao ser humano a possibilidade de evolução. O lugar do autor dos textos em questão era o de um erudito positivista que reunia os papéis de intelectual e professor, e que expressava o desapontamento com as reformas que presenciara tomado pela convicção de que se vivia um tempo de decadência na instrução pública paulista, após os áureos primeiros tempos republicanos, no qual a atuação política de nomes como Bernardino de Campos, Cezario Mota e Gabriel Prestes promoveu grande progresso. As reformas subsequentes a esse período provocaram uma dispersão do ensino, o que implicou na decadência do aprendizado, mergulhado na superficialidade. Seguidor do pensamento evolucionista de Auguste Comte, Feliciano se preocupava com o caráter de permanência e incorporação à vida do conteúdo que era ensinado para que houvesse o progresso humano. A educação integral deveria contemplar três fases: física e moral, estética e intelectual, de acordo com a idade do educando, sendo que os alunos aprenderiam com um mestre somente. A insatisfação de Feliciano se dirigia também aos professores medíocres que não tinham interesse em um aprofundamento intelectual e permaneciam sempre a repetir fórmulas para ensinar imitadas sem reflexão. Palavras chave: José Feliciano de Oliveira, Positivismo, Ensino Integral.

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ALCEU AMOROSO LIMA (1893-1983) E A PEDAGOGIA CATÓLICA NO BRASIL: ELEMENTOS MODERNIZADORES NO LIVRO “HUMANISMO

PEDAGÓGICO” (1944).

ORIOMAR SKALINSKI JUNIOR Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Alceu Amoroso Lima (1893-1983), também conhecido pelo pseudônimo Tristão de Athayde, foi um dos mais importantes intelectuais católicos brasileiros do século XX. O objetivo deste trabalho é discutir os elementos modernizadores da pedagogia católica no Brasil, na década de 1930 e primeira metade da década de 1940, a partir do livro Humanismo Pedagógico: estudos de filosofia da educação, publicado por Amoroso Lima em 1944. A obra é uma fonte valiosa para as pesquisas em História da Educação, especialmente, para os estudiosos da pedagogia católica, na medida em que foi, juntamente com Debates Pedagógicos (1931), um dos dois livros nos quais o autor se dedicou exclusivamente ao debate da educação e da prática pedagógica. Humanismo Pedagógico é uma obra que reúne artigos escritos originalmente para periódicos e conferências pronunciadas por Amoroso Lima entre os anos de 1931 e 1943. O livro possui um Prefácio, escrito pelo próprio autor, e é dividido em 5 partes que agrupam um total de 22 textos. O presente trabalho avalia o campo educacional a partir das complexas relações que estabelece com a totalidade social e tem caráter bibliográfico e documental. Como ferramentas conceituais para a análise da fonte selecionada, são empregadas categorias cunhadas por Antonio Gramsci, notadamente, as de bloco histórico, de sociedade civil, de sociedade política e de hegemonia. A partir da articulação entre elas é destacado o papel dos intelectuais na organização da cultura, conforme os termos gramscianos. Como liderança intelectual à frente do Centro D. Vital, da revista A Ordem e da Ação Católica Brasileira (ACB), Alceu Amoroso Lima cumpriu um importante papel no campo educacional. Sua influência junto ao Ministério da Educação e Saúde Pública, ao longo da Era Vargas, bem como sua produção teórica e seus debates com os reformadores da educação, tiveram implicações importantes na construção das políticas governamentais para a educação e na renovação das técnicas e métodos da tradicional prática pedagógica católica. No livro Humanismo Pedagógico são encontrados elementos modernizadores da pedagogia católica, tais como: a abertura ao diálogo com as técnicas pedagógicas escolanovistas; a diferenciação entre princípios (valores) e meios (técnicas) na prática educativa, com a exaltação de que os meios deveriam ser renovados pelas conquistas das ciências auxiliares da educação; o incentivo à criação de instituições católicas ligadas ao campo educacional, com intensa participação do laicato; o projeto de viabilização de uma universidade católica, a fim de interferir diretamente no ensino superior. A educação cristã foi apontada por Amoroso Lima como um verdadeiro bem social, capaz de garantir a formação integral (física, intelectual, moral/espiritual) dos indivíduos, conferir unidade à nação e, efetivamente, contribuir para o avanço do país nos diferentes âmbitos das sociedades civil e política.

A REDE DE INTELECTUAIS NA BASE DA ESCOLA MODERNA

PATRICIA APARECIDA BIOTO CAVALCANTI Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Os estudos acerca do processo de constituição da escola moderna indicam uma base de intelectuais em sua constituição. Entre eles pode-se citar Comenius, com sua Didática Magna, Charles Hoole, com sua A New Discovery of the old art of teaching scholle, a Ratio Studiorum, da Companhia de Jesus, e o Professor Regia, de Peter Ramus. A Didática comeniana, a nova arte de ensinar de Hoole e a Ratio, dos Jesuítas, propuseram elementos fundantes de dispositivos constitutivos da escolar moderna, entre eles: uma relação pedagógica entre professor e aluno, métodos de ensino, organização de conhecimentos, disciplinas escolares, uso de livros-texto e livros didáticos e seriação. Igualmente, a obra de Ramus introduziu a versão mais remota do que pode-se chamar de currículo. E mais, Ramus reformulou os princípios das artes do discurso em um esquema para ser ensinado. Ele fez a ponte do conhecimento para ensino. Ao mesmo tempo, pensou no professor, no aluno, nos livros-texto e nas disciplinas. A par das contribuições destas obras para a configuração da escola moderna é possível ver nelas autores que se ligam, influências intelectuais, enfim, uma rede de intelectuais na base da escola moderna. Considerando inicialmente Ramus. Ramus, em suas viagens pela Holanda, Suiça, Alemanha e Basiléia travou contato e difundiu suas ideias entre pensadores e educadores conhecidos neste contexto e período, influenciando-os e a seus futuros seguidores. A saber: Sturm, Melanchton, o mestre impressor Hervagius, o líder protestante Zwuinglio, o gramático Felix Platter, filho de Thomas Platter, ainda no período em o pai Platter estava vivo e em atividade, o retórico Fregius e o educador e gramático inglês Roger Ascham (estes últimos convertidos completamente ao ramismo). Influenciou, ainda, Alsted, que por sua vez foi lido por Piscator. Alsted e Piscator foram professores de Comenius na Universidade Calvinista de Herborn. Roger Acham, por sua vez,

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forneceu as bases para a reforma das escolas de gramática inglesa, ponto fundamental da proposta de Charles Hoole. Hoole que era da segunda geração de comenianos da Inglaterra. Quanto a Companhia de Jesus, a referencia a Sturm é uma constante em seu tratado pedagógico. O objetivo deste texto é tecer considerações que confirmem a existência da rede de intelectuais acima indicada e a caracterizem como tal, usando, neste ultimo ponto, dos argumentos de Randal Collins (1998). Considerando como foco de analise os trabalhos de Comenius, Hoole, Ramus e da Companhia de Jesus citados, procurar-se-á construir argumentos que dêem conta de demonstrar a influencia que estes autores exerceram entre si, coadunando com o processo de configuração da escola moderna. Serão buscadas evidencias, ainda, no contexto intertextual, educacional, religioso e político da entrada da modernidade. Esta é uma pesquisa de base bibliográfica, sendo utilizadas, também, fontes primárias e secundárias.

LAÇOS FAMILIARES, INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NO OLHAR DE JOÃO DOS SANTOS

PATRÍCIA HELENA CARVALHO HOLANDA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O presente trabalho enfoca o percurso intelectual do médico, psicólogo e pedagogo português, João dos Santos (1913-1978), para entender sua contribuição para o entendimento do conceito moderno de infância, no âmbito da família e escola, associado à problemática posta por ARIÈS (1978), no campo da história social. Parte de estudos biobibliográficos sobre o referido intelectual português, caso de Branco (2010), onde emerge uma abordagem original do processo de subjetivação da criança, com base na relação com a mãe, em seguida com o pai e outros membros do circulo familiar, até se alargar na altura da frequência escolar, graças às relações de amizade, com as outras crianças, parentes e pessoas próximas da família, onde destaca o “apoio da família alargada”, na constituição da subjetividade da criança e do seu mundo subjetivo em movimento. Evidencia que o psiquiatra foi o introdutor da saúde mental infantil moderna em Portugal, e faz parte da segunda geração dos psicanalistas, ligados a Freud, sendo considerado hoje um dos introdutores da Psicanálise e um dos fundadores do Grupo de Estudos Português de Psicanálise; isto porque, no exílio em Paris, durante o regime salazarista, terá convivido com psicanalistas franceses importantes e se aproximado dos estudos de Piaget (1896-1980) e Wallon (1879-1963). Baseado na Teoria Psicanalítica e em suas investigações em Psicologia Genética, elegeu como sua preocupação central compreender o funcionamento mental da criança, a origem de suas perturbações, bem como a revelação dos sintomas e seus significados. Conclui que Santos defende que o lugar da Psicanálise não se restringe apenas ao consultório dos analistas e a coloca a serviço da educação, na escola, inclusive na sala de aula, em prol de uma compreensão mais abrangente do desenvolvimento infantil, à medida que concebeu ensinamentos originais inovadores de formação de pais e professores. Embora suas ideias, como psicanalista, sejam pouco conhecidas na América do Sul, há um ano do seu centenário, quando sua obra foi alvo de estudos e comemorações em Portugal, soube desenvolver um enfoque interdisciplinar, associado com a Psiquiatria e a Psicanálise. Consideramos que divulgar o pensamento de João dos Santos é uma contribuição teórica importante para a história das ideias psicopedagógicas do século XX, em perspectiva comparada Brasil-Portugal, bem como para pensarmos os dilemas postos no tempo presente para a relação família-escola, diante dos mecanismos de socialização e profissionalização, que estão inscritos nas transformações econômicas, políticas, sociais, culturais e tecnológicas em curso, que causam, por um lado grande impacto no ordenamento simbólico dos diversos agentes e instituições educativas, nas sociedades do conhecimento e da comunicação acelerada da atualidade; por outro, alteram as relações de autoridade entre pais e filhos, professores e alunos.

A EDUCAÇÃO NO DEBATE EUGÊNICO BRASILEIRO (1917-1933)

PAULO RICARDO BONFIM Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

A comunicação discutirá, a partir da história social, o processo de apropriação e difusão da Eugenia por parte da intelectualidade brasileira, nas primeiras décadas do século vinte, especificamente no que tange às propostas relacionadas à educação. Serão apresentados os resultados de pesquisa sobre um amplo e representativo conjunto documental acerca da constituição do movimento eugênico brasileiro, abrangendo o período entre 1917 e 1933, evidenciando as tensões e composições, divergências e aproximações presentes entre os interlocutores desse debate. O momento em tela foi marcado por grande efervescência social, com exacerbado apelo nacionalista, descontentamento de setores diversos da sociedade e flagrante acirramento das tensões entre capital e trabalho, singularizado, ainda, pelo empenho, de parte dos intelectuais brasileiros, em buscar explicações para o “atraso brasileiro”, tendo no horizonte o “progresso” anunciado pelos países de capitalismo

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industrial, promessa teatralizada nos palcos das Exposições Internacionais. Nesse contexto, a Eugenia atraiu a atenção de diversos atores sociais, dentre médicos, educadores, juristas e políticos, mobilizados pelas expectativas de revigoramento da população brasileira, para uns uma questão racial, para outros uma questão de educação e saneamento. No âmbito desse debate, marcadamente polissêmico, analisamos como a educação foi aquilatada por eugenistas de orientações diversas e que lugar ocupou entre as propostas eugênicas discutidas no período. Dentre as fontes analisadas, destacam-se: os exemplares do Boletim de Eugenia, periódico criado e dirigido pelo eugenista Renato Ferraz Kehl, entre 1929 e 1933; o livro Annaes de Eugenia, reunindo as atividades e publicações da efêmera Sociedade Eugênica de São Paulo, editado em 1919; e o primeiro e único volume, dos três planejados, com as Actas e Trabalhos do Congresso Brasileiro de Eugenia, realizado em 1929. Oportunamente, recorreu-se à imprensa diária, especialmente aos jornais paulistas e fluminenses do período, tendo em vista a ampla repercussão, em suas páginas, dos temas e autores ligados à Eugenia; obras especializadas de eugenistas e legislação relativa à temática complementaram nosso estudo. Ao analisar o lastro documental reunido, em busca das propostas eugênicas no campo da educação, optou-se, metodologicamente, pelo cotejo crítico das fontes selecionadas, procedimento que favoreceu a problematização do Boletim de Eugenía, periódico de grande relevância às pesquisas acerca do movimento eugênico brasileiro, explorando seus limites e potencialidades como conjunto documental. A pesquisa visou, ainda, contribuir com o campo de estudo da história da educação brasileira, pela investigação da importância atribuída à educação, em suas diversas acepções, em meio às perspectivas em debate no âmbito do movimento eugênico no país.

ESCRITORAS EM CIRCULAÇÃO: TRADUÇÕES DA CONDESSA DE SÉGUR E LOUISA MAY ALCOTT NO BRASIL

PRISCILA KAUFMANN CORRÊA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O presente trabalho se propõe a estudar as traduções de duas escritoras de literatura infantojuvenil que tiveram (e têm) larga aceitação ao redor de todo o mundo. Os livros da Condessa de Ségur e de Louisa May Alcott, duas escritoras do século XIX, conquistaram leitores por todo o mundo, ganhando traduções e adaptações em diversas línguas, bem como versões para o cinema, quadrinhos e animes (animações japonesas). No Brasil ganharam traduções a partir do século XX, havendo também edições portuguesas que aqui circularam desde o século XIX. Até mesmo ao longo do XXI ainda são encontradas adaptações de seus livros, mostrando que se tornaram "clássicos" da literatura infantojuvenil e compondo coleções de diferentes editoras por décadas. Com este estudo busca-se entender quais seriam os elementos que tornam estes livros tão atraentes para as novas gerações ao longo do tempo. Além serem interessantes para o mercado editorial, que aposta no sucesso de livros clássicos, tais publicações continuam dialogando com os leitores mirins e jovens, trazendo personagens travessas e rebeldes que são orientandas pelos adultos para adquirirem uma postura mais adequada. Tais personagens se inspiram na infância das próprias escritoras, que se mostravam crianças e adolescentes que fugiam dos padrões de conduta convencionais. Como meninas e mulheres, a Condessa de Ségur e Louisa May Alcott questionavam seus papéis na sociedade e passaram a levar suas concepções acerca da infância para seus romances. Os livros aqui analisados são a "Trilogia de Fleurville", da Condessa de Ségur, composta por As Meninas exemplares, Os desastres de Sofia e As Férias, enquanto de Louisa May Alcott serão Mulherzinhas e Boas Esposas, muitas vezes publicados em conjunto. As publicações foram localizadas, em sua maioria, no acervo da Biblioteca Pública Municipal Monteiro Lobato, na cidade de São Paulo (SP). Outros livros foram encontrados nas demais bibliotecas públicas da mesma cidade, bem como nas bibliotecas da Universidade Estadual de Campinas (SP) e na Biblioteca Pública Dr. Mário Correa Lousada, em Valinhos (SP). A variedade de publicações e sua presença em diferentes bibliotecas indica que os romances das escritoras continuam tendo seu espaço entre as preferências infantis e juvenis. As traduções e adaptações em língua portuguesa serão analisadas neste estudo, identificando em que medida correspondem aos textos originais. Assim, busca-se avaliar se as passagens presentes no texto traduzido assemelham às do texto original, permitindo entrever em que medida os tradutores conservaram aspectos de caráter educativo nas suas versões. As opiniões e experiências das escritoras tiveram um determinado significado no período de publicação de suas obras e que poderiam ganhar novas conotações ao longo do tempo. Caberá a este trabalho identificar se os valores idealizados pelas autoras foram mantidos em traduções posteriores.

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O MANUAL “A NOVA METODOLOGIA DA ARITMÉTICA”: ITINERÁRIOS DE UMA TRADUÇÃO

RAFAELA SILVA RABELO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O presente trabalho tem como foco o manual A nova metodologia da aritmética de Edward Lee Thorndike. O referido objeto é parte da pesquisa de doutorado que está em desenvolvimento e tem como tema a circulação e apropriações das ideias de John Dewey e Edward Thorndike na educação matemática brasileira entre as décadas de 1930 e 1960. O manual A nova metodologia da aritmética foi publicado originalmente em 1921 nos Estados Unidos pela editora Rand McNally & Company e em 1936 foi traduzido e publicado no Brasil pela Livraria do Globo. Com o objetivo de elucidar os processos de circulação do referido manual que culminam em sua tradução e publicação no Brasil em 1936, três elementos ganham destaque na investigação: a tradutora do manual, Anadyr Coelho; a editora responsável pela publicação, Livraria do Globo; e os primeiros indícios de circulação do livro, seja na imprensa escrita ou nos programas de ensino. Enquanto aportes teóricos que embasam a discussão no que concerne a lugar de produção, relações editoriais, circulação e apropriação de textos, indústria editorial no Brasil e bibliotecas escolares figuram autores tais como Michel de Certeau, Roger Chartier, Laurence Hallewell e Diana Vidal. A discussão apresentada leva em consideração que um texto remete às suas próprias condições de produção, como defende Chartier, e o mesmo é produzido atendendo a determinadas necessidades, visando certo público. Foram consultadas diversas fontes, dentre elas impressos disponíveis na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional; livro inventário da Biblioteca do Instituto de Educação do Rio de Janeiro; programas de ensino do Instituto de Educação do Rio de Janeiro e de São Paulo e acervo “Paulo Bourroul”. Ainda, foi realizada revisão bibliográfica de textos que tratam da Livraria do Globo na primeira metade do século XX e que auxiliam a estabelecer o lugar que a editora ocupa no cenário editorial na época em que publica a tradução do manual de Thorndike. Dentre as conclusões iniciais, é possível afirmar que o manual circulava no meio acadêmico em sua edição original em inglês antes de ser traduzido em 1936 e que a sua recepção no Brasil deve ser analisada tendo em vista sua própria recepção nos Estados Unidos. No que se refere à edição brasileira, percebe-se que a estrutura geral do texto em relação à edição em inglês é mantida com poucas interferências do tradutor. O livro é o volume 12 da coleção “manuais globo”, na seção denominada “ciências psicológicas e lexicológicas”, o que dá indícios de sua apropriação e do público pretendido. Apesar de ter sido publicado em 1936, vestígios apontam para a circulação do manual até pelo menos a década de 1960.

A MATERIALIDADE DA REVISTA DE EDUCAÇÃO: REPRESENTAÇÕES DA REFORMA DE ENSINO NO ESPÍRITO SANTO (1934-1937)

RAFAELLE FLAIMAN LAUFF WESTPHAL Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Analisa como a Revista de Educação (REES) foi constituída como estratégia editorial de intervenção cultural, dentro de uma ampla política de reforma da cultura e da escola, na gestão de João Punaro Bley, no Espírito Santo, por meio do estudo de sua materialidade (CHARTIER, 1991). Além desse conceito, mobilizaram-se os pressupostos teóricos de representação (CHARTIER, 1990) e estratégia (CERTEAU, 2004). Deste modo, o impresso foi tomado como objeto material que guarda as marcas das práticas culturais que o colocaram em circulação, considerando suas condições de produção, distribuição e utilização, entre os anos de 1934 e 1937. Esse impresso possuía o objetivo, conforme os editores, de vulgarizar os processos e métodos de ensino considerados mais modernos ao professorado capixaba. Procurou-se dar a ver as estratégias locais para a reforma do ensino e como os responsáveis por ela se faziam reconhecer. Foram considerados como os dispositivos tipográficos adotados na sua produção e que constituíram sua forma, produziram as representações da reforma educacional e como buscavam legitimar uma importância da Revista de Educação na política cultural desenvolvida no Governo Bley, bem como os critérios que selecionaram autores e artigos, saberes e informações. Para organizar e visualizar esses dados foram produzidos quadros, tabelas e gráficos. Propôs-se uma possível periodização da REES – para determinar o seu ritmo de produção – a fim de apresentar os artifícios que foram utilizados e as modificações ocorridas no projeto da revista, assim como a movimentação dos atores envolvidos nesse projeto. Foi um periódico editado pela equipe que ocupava a Secretaria de Interior e Justiça, a qual posteriormente tornou-se Secretaria da Educação e Saúde Pública. A Imprensa Oficial imprimiu grande parte dos exemplares. A política educacional de Bley foi apresentada nos artigos sempre de forma positiva, exaltando atitudes modernizadoras para o Espírito Santo. A análise dos elementos – capa, sumário, artigos, propagandas – revelou que o periódico pode ser encarado como uma estratégia de afirmação dessas políticas, além de inculcar teorias de renovação educacional para as práticas dos professores capixabas. Servia ainda como um compêndio didático. O periódico

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concentrou-se nos problemas locais, privilegiando textos de autores capixabas e difundindo uma identidade espírito-santense por meio de seus atributos gráficos. Punaro Bley foi constituído como o agente principal do movimento de renovação educacional no Espírito Santo.

INTELECTUAIS, POLÍTICA E EDUCAÇÃO: A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE REGIONAL DO NORDESTE (1952-1966)

RAMON DE ALCÂNTARA ALEIXO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O presente estudo objetiva problematizar as tramas de institucionalização da Universidade Regional do Nordeste (sediada na cidade de Campina Grande – PB), mediante as articulações entre intelectuais e políticos aglutinados em torno da Fundação para o Desenvolvimento da Ciência e da Técnica (FUNDACT) e da Superintendência para o Desenvolvimento da Região Nordeste (SUDENE). Para tanto, propomos nos apropriar dos Pareceres enviados à Câmara Municipal de Campina Grande, solicitando a municipalização das Escolas de Ensino Superior existentes na cidade ao longo da primeira metade da década de 1960 (Faculdade de Filosofia, Faculdade de Serviço Social, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Faculdade de Administração). Objetivamos deslindar as tramas do político, problematizando esses projetos, bem como os estudos que subsidiam a solicitação da criação de uma Universidade Regional do Nordeste, sediada na cidade de Campina Grande. Partindo dessa premissa, fundamentamos nossas análises sob a ótica da chamada “Nova História Política”, de inspiração francesa, mediante as discussões de Rémond (1996) e Sirinelli (1996). Acreditamos que as revisitações que têm operado no campo do político constituem terreno profícuo com vistas a sedimentarmos o presente estudo. Na interface com a “Nova História Política”, a História dos Intelectuais, mediante as categorias de “redes”, “espaços de sociabilidade” e “geração” subsidia a operacionalização da investigação em andamento. As fontes erigidas para análise se constituem de jornais (Jornal de Campina, Formação e Diário da Borborema), bem como dos Pareceres, Projetos de Lei e mensagens encaminhadas ao executivo e legislativo de Campina Grande. Procuramos tratar essa massa documental através da apropriação do método Prosopográfico, objetivando perscrutar as características comuns (permanentes ou transitórias) de um determinado grupo social em dado período histórico. A Prosopografia se mostra, assim, terreno profícuo na investigação das características comuns do passado de um grupo de atores através do estudo coletivo de suas vidas. Os resultados preliminares apontam para as múltiplas articulações em torno do político, suscitando problematizações mais acuradas no que versa à atuação de intelectuais e políticos nas tramas de configuração da Universidade Regional do Nordeste. Nesse contexto, perquirir suas redes, evidenciando os diversos projetos educacionais na senda da perspectiva desenvolvimentista, em sua vertente regional, pode se demonstrar profícuo na apreensão das dinâmicas que instituem as relações entre política, intelectuais e educação.

BERTHA LUTZ: A IMPORTÂNCIA DOS IMPRESSOS PARA A DIVULGAÇÃO DAS IDEIAS DA FEDERAÇÃO BRASILEIRA PELO

PROGRESSO FEMININO

RAQUEL DOS SANTOS QUADROS GIZELI FERMINO COELHO

Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O problema que move esta investigação tem foco central na importância dos impressos como fontes para pesquisas. Ao optar por um impresso deve-se analisá-lo de muitas formas em relação à materialidade, ao tamanho, ao número de páginas, à notícia de capa, às caricaturas, à forma de papel, das tintas e dos textos, à iconografia, às letras comprimidas e às manchetes. Nesta esteira cita-se como exemplo de impressos, jornais, revistas, folhas, pasquins, gazetas, como importantes fontes de pesquisas. Destaca-se para elaboração desse artigo os jornais, em especial o Jornal “Correio da Manhã”, em que a Federação Brasileira Pelo Progresso Feminino organizou um suplemento dominical em que se discutia o progresso da mulher e do feminismo, em geral, e o Jornal “Diário Carioca” que publicou com destaque as iniciativas de Bertha e de suas colaboradoras para a propagação feminista. O jornal foi considerado importante instrumento de divulgação das ideias da Federação Brasileira do Progresso feminino na década de 1930. Bertha Lutz, intelectual que lutou por uma educação laica e igualitária, com ênfase na defesa dos direitos femininos, como presidente da Federação, fez uso desse meio para construir a identidade feminista no Brasil. O momento histórico de sua atuação foi marcado pelo cunho nacionalista e centralizador do período conhecido como Era Vargas. O período examinado corresponde a

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década de 1930. Procura-se apresentar a importância dessa fonte histórica para a investigação nas pesquisas. Toma-se como princípio a compreensão de que fontes para pesquisas históricas são produções humanas, as quais emergiram em um determinado espaço e tempo, por sujeitos historicamente estabelecidos num dado contexto social. O trabalho demonstrará duas faces das fontes: por um lado, algumas produções foram construídas sem intencionalidade o que muitas vezes retrata o ambiente no qual foram encontradas; por outro, alguns documentos foram produzidos com certa intencionalidade no campo político, social e cultural. Cabe ao historiador/pesquisador dialogar com as fontes e o com o cenário que as constituíram. Com efeito, os mencionados objetos somente irão adquirir o estatuto de fonte diante do historiador que, ao formular o seu problema de pesquisa, delimitará aqueles elementos a partir dos quais serão buscadas as respostas às questões levantadas. Em consequência, aqueles objetos em que real ou potencialmente estariam inscritas as respostas buscadas erigir-se-ão em fontes a partir das quais o conhecimento histórico referido poderá ser produzido.

TENTATIVAS DE CONTROLE DOS LIVROS NAS ESCOLAS: REPRESENTAÇÕES DOS “BONS” E “ADEQUADOS”

RAQUEL MENEZES PACHECO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este trabalho é parte da pesquisa desenvolvida no mestrado e se desenvolve na interlocução entre os campos de pesquisa da história da educação e da história do livro e da leitura. O livro era objeto de extrema importância para a instrução e por essa razão, buscava-se controlar a circulação deles nas escolas. Pretendemos apontar características de livros que eram considerados “bons” e “adequados” para a educação e instrução do ensino elementar, na província de Minas Gerais, entre os anos de 1827 e 1854. As primeiras leis relativas à educação e instrução da primeira metade do século XIX, quais sejam, a Lei Imperial de 1827 e posteriormente a Lei Mineira de 1835, não determinaram quais seriam as regras que os livros e outros impressos deveriam seguir para serem aprovados por seus pareceristas que eram nomeados pelo governo da província. Quando não existiam livros considerados bons o suficiente para servir às escolas das províncias, por vários motivos, aconteciam alguns “concursos” que instigavam a composição e impressão de novos livros, por “nobres cidadãos” que pudessem cumprir alguns critérios. Esses “critérios” que, nas primeiras décadas do século XIX, ainda não haviam sido padronizados por nenhuma instituição julgadora, faziam parte de representações, que por vezes entravam em conflito, do que seriam os livros adequados para as aulas. As instituições específicas de julgamento dos livros que definiriam quais seriam os livros autorizados a serem utilizados nas escolas, foram criadas posteriormente, na segunda metade do século XIX. Durante a primeira metade dos Oitocentos os livros eram, em grande parte das vezes, julgados por pareceristas nomeados pelo presidente da província, sendo eles encarregados de elencar alguns motivos que culminariam na adoção de certos livros para as aulas. Alguns desses pareceres sobre livros foram publicados em jornais ou revistas dedicadas ou não, à instrução, como por exemplo, os periódicos O Universal (1825-1842) e Jornal da Sociedade Promotora da Instrucção Publica (1832-1834), ambos publicados em Ouro Preto. Esses jornais foram utilizados como fontes para a nossa pesquisa, mas além deles, buscamos também pedidos de pareceres sobre algumas obras, bem como os próprios pareceres, escritos em correspondências com os presidentes da província mineira. Como suporte teórico-metodológico elegemos alguns conceitos trabalhados por Roger Chartier, principalmente, relativo à “representação”. Por meio da pesquisa realizada, percebemos que os livros que eram considerados “bons” e “adequados” para a educação elementar eram aqueles que traziam bons conteúdos, consistentes do ponto de vista científico e que também tinham utilidade prática para as ou um caráter formador. Eles também deveriam enfatizar o conteúdo a respeito da moral e da religiosidade, deveriam ser organizados, claros, breves... Os critérios de exigência só crescem com o passar dos anos.

DE CHOCOLAT: IDENTIDADE NEGRA, TEATRO E EDUCAÇÃO NO RIO DE JANEIRO DA PRIMEIRA REPÚBLICA

REBECA NATACHA DE OLIVEIRA PINTO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Nesta pesquisa, busquei perceber como a trajetória de João Cândido Ferreira (1887-1957), o ator negro que ganhou a alcunha de De Chocolat, dialoga com as múltiplas possibilidades de formação e instrução na capital federal nas primeiras décadas do século XX. Através das experiências e escolhas de vida deste autor de peças de teatro de revista, intentei apreender como os negros, sujeitos de uma ação educativa, elaboraram variadas estratégias e ações para viabilizar o acesso ao mundo das letras, construindo suas próprias representações sobre

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o letramento, e conferindo a educação uma vasta gama de sentidos. Nesse universo, a proposta desta pesquisa tem como direção a ampliação dos estudos sobre as possibilidades de práticas educativas vivenciadas pelos negros na cidade do Rio de janeiro, entre elas o teatro, no intuito de compreender como a educação foi um espaço de intensas negociações sociais na Primeira República. Iolanda de Oliveira salienta que a discussão do problema das relações entre nação, raça, educação e cidadania, esteve presente em grande parte dos países americanos no final do século XIX e início do XX, fundamentada em discursos e pesquisas científicas, que visavam garantir a continuidade das restrições de direitos aos descendentes de escravos libertos. Minha proposta é pensar a atuação do ator e escritor, nos termos da concepção de intelectual, gestada pelo historiador François Sirinelli, na medida em que compreendemos a sua inserção no campo das lutas dos negros no processo de abolição e no pós-abolição. Cabe ressaltar que não buscamos estudar o indivíduo isolado, examinado em si mesmo. Defendo a hipótese de que os estudos biográficos constituem importante brecha para compreensão dos diferentes espaços de participação política conquistados pelos negros na Primeira República. A partir do conceito de configuração social, de Norbert Elias (ELIAS, 1994), e também dos estudos chamados de micro-históricos, como os de Giovanni Levi (LEVI, 1996), Carlo Ginzburg (GINZBURG, 2006) e Natalie Davis (DAVIS, 1987), apresenta-se a possibilidade de pensar no indivíduo em sua fluida e complexa produção histórica. Ao considerarmos as diferentes vivências de Cândido Ferreira no universo do entretenimento carioca, apreendemos a percepção que Edward P. Thompson intenta, ao nos incentivar olhar para a sociedade na sua multifacetada rede de relações. Nesta conjuntura, insere-se, a meu ver, a trajetória de De Chocolat. Este, afirmou uma identidade negra, frente ao debate acerca das diferentes teorias raciais na sociedade brasileira. Para além disso, abordou em suas peças teatrais o contexto do negro na sociedade brasileira, revelando-nos as possibilidades de um posicionamento dentro da organização político-social do Brasil dos anos 1920.

O MODELO FEMININO NA REVISTA FON-FON! (1907-1958): A PEDAGOGIA DA MATERNIDADE NO ESTADO-NOVO

RENATA FRANQUI MARCILIA ROSA PERIOTTO

Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

A revista Fon-Fon! surgiu no mercado editorial do Rio de Janeiro no ano de 1907, trazendo ares de renovação à imprensa periódica que circulava no período. O periódico buscava retratar a vida privada da sociedade brasileira no início do século XX, sobretudo em relação à classe alta, também chamada de boa sociedade. Por meio de um conteúdo permeado de humor e, não raro, por uma ácida critica social, a revista assumiu um papel significativo na formação da opinião pública, servindo como espaço privilegiado para o debate e produção ideológica no período sob, a perspectiva da classe burguesa. A partir do entendimento de que a imprensa configura-se como fonte histórica para os estudos de História da Educação, a revista Fon-Fon!, que circulou semanalmente na então capital da república brasileira, será tomada como objeto de análise. O período delimitado para o estudo compreende os anos iniciais do Estado Novo, entre 1937 e 1939, e objetiva evidenciar a forma de o periódico dirigir-se ao seu público-alvo: a mulher da elite carioca. No período histórico do Golpe do Estado Novo o Brasil encontrava-se envolto a tensões sociais e políticas e, nesse contexto, o papel da mulher passou a ser visto como essencial para a consolidação deste novo modelo de Estado. A ela era incumbida a função de governar o âmbito doméstico e portar-se como promotora dos costumes morais em apoio à instituição familiar, corroborando o poder político da classe dominante. A veiculação de conteúdos que envolviam a política, moda, culinária, conselhos às mães e às donas de casa, charges, anúncios publicitários, entre outros, dava o tom da sociedade que se pretendia construir, tendo como inspiração o modelo europeu, especialmente parisiense, de comportamento e cultura, visto como sofisticado e mais adequado à elite social e política. Assim, parte-se do princípio de que a imprensa feminina constitui um importante artefato pedagógico-cultural na educação das mulheres, uma vez que, por meio de sua leitura, são difundidas visões de mundo, modelos de feminino e ensinamentos maternos, influindo diretamente na formação subjetiva das mulheres. Vale lembrar que a ação político-educativa presente no periódico alinhava-se à proposta educacional empreendida pelo Ministério da Educação no período, sob a tutela do ministro Gustavo Capanema. A análise da revista, de cunho bibliográfico, será realizada a partir de uma organização textual que pressupõe um breve levantamento dos aspectos essenciais da história da educação feminina no início do século XX no contexto brasileiro, seguida do exame da influência da imprensa no processo formativo do pensamento social, com destaque à educação das mulheres. Por fim, far-se-á a apreciação de diversos conteúdos veiculados pela Fon-Fon! no recorte histórico ora delimitado, de modo a evidenciar e ilustrar tais assertivas.

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AUTORES, LIVROS, TRADUÇÕES, IMPRESSOS: ESTRATÉGIAS DE CIRCULAÇAO E MEDIAÇÃO DE CONHECIMENTOS EM MINAS GERAIS

NO SÉCULO XIX

RITA CRISTINA LIMA LAGES Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O objetivo do trabalho é tratar da circulação e apropriação dos autores estrangeiros a partir as citações feitas nos relatórios dos presidentes da Província de Minas Gerais, ao longo do século XIX. O texto apresenta resultados de uma pesquisa sobre as experiências dos países estrangeiros, consideradas bem sucedidas, que serviram como parâmetros para os dirigentes políticos e educacionais na elaboração de propostas para o ensino público da Província de Minas Gerais no período compreendido entre a Independência, em 1822, e a Proclamação da República, em 1889. A principal base empírica do trabalho são as análises dos Relatórios de Presidentes de Província do Estado de Minas Gerais, produzidos ao longo do século XIX. Outros documentos, sobretudo as publicações da imprensa periódica, aportam elementos enriquecedores para análises. Interessa-nos identificar e analisar como os autores estrangeiros e suas ideias compuseram, e em que compuseram, as sensibilidades dos homens daquele tempo — presidentes de província e demais autores dos relatórios da instrução pública — para se pensar projetos de educação para a província mineira. Conforme orientações teórico-metodológicas mobilizadas, esses sujeitos que promoveram a circulação de conteúdos de obras de autores estrangeiros em Minas Gerais devem ser considerados como mediadores culturais, tomando, para isso, as concepções desenvolvidas por Serge Gruzinski. Ao termos como ponto de partida citações de trechos de obras identificadas nos relatórios ou referências feitas a autores estrangeiros, pretendemos promover uma aproximação dos sentidos para tal mobilização; ou seja, investigar que importância é atribuída ao pensamento daquele autor para se pensar a organização do campo educacional em Minas Gerais naquele período. Nesse sentido, para uma melhor elucidação de tais questões, mostrou-se pertinente a realização de breves sínteses de algumas obras citadas, bem como do pensamento e atuações de alguns autores — principalmente no campo da educação em seus respectivos países. A localização dos autores, nos relatórios produzidos sobre a instrução pública, permitiu vislumbrar a existência de uma complexa rede de circulação e mediação de conhecimentos envolvendo autores estrangeiros e brasileiros, tradutores, bem como os diferentes suportes de leituras: as obras propriamente ditas, traduções, publicações nas imprensas periódicas internacionais e nacionais; além da diversidade de meios e estratégias — eventos, exposições internacionais, comércio livreiro, etc. — que as faziam circular e chegar às mãos daqueles que escreveram os relatórios, para lhes dizer dos “modos de fazer” dos países estrangeiros.

SÍNTESE: UM PERIÓDICO PEDAGÓGICO PARA PROFESSORES PRIMÁRIOS (1968-1979)

ROSA MARIA SOUZA BRAGA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

SÍNTESE: UM PERIÓDICO PEDAGÓGICO PARA PROFESSORES PRIMÁRIOS (1968-1979) Analisar o jornal Síntese como um periódico pedagógico, destinado a professores primários, especialmente os fluminenses, a partir da identificação do tabloide, seu público-alvo, suas finalidades e sua representatividade, é o objetivo deste artigo. Com essa finalidade, o texto trabalha com as seguintes questões: 1) que jornal era esse? 2) a professores primários era destinado? 3) o periódico era lido pelos professores primários? O jornal a ser investigado foi fundado em 1968, ano de severas restrições à imprensa em função do regime militar, pela professora Anaíta Cardoso Custódio - então presidente da União dos Professores Primários Estaduais (UPPE). Entre o período de fundação, que data de julho de 1968, até a dezembro de 1979, circulou com a informação de que era o Órgão Oficial da União dos Professos Primários Estaduais. O periódico foi elaborado e distribuído pela União dos Professores Primários Estaduais (UPPE). A categorização do jornal Síntese como um periódico pedagógico é fundamentada pela concepção de Catani e Bastos (1997), que sinalizam tratar-se de jornais, boletins, revistas, magazines, feita por professores e para professores, para alunos por seus pares ou professores, feita pelo Estado ou outras instituições como sindicatos, partidos políticos, associações de classe e Igreja. Nesse sentido, esses impressos podem ser analisados como documentos de vastas dimensões que permitem um testemunho vivo dos métodos e concepções pedagógicas de uma época e da ideologia moral, política e social de um grupo profissional, como sinalizam as autoras. Em função disso, permitem emergir “vozes” que não são possíveis de serem ouvidas em outros espaços sociais, como no âmbito acadêmico ou as obras literárias (NÓVOA, 1997). Assim, a análise trabalha com a ideia da expressividade da escritura jornalística, pois, muitas vezes, ela não é demasiadamente peneirada, possibilitando expor situações não detectadas, como, por exemplo, em outros tipos

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de documentos, tais como documentos oficiais. Acredita-se, nesse viés, que o periódico seja uma possibilidade em se investigar questões voltadas para os professores primários durante o período do governo militar, em uma materialidade que escapava à censura do regime ditatorial. Em consonância com essas concepções, a contribuição para o campo da História da Educação está circunscrita entre o ineditismo do estudo e a possibilidade de se investigar materiais produzidos para professores primários, no final da década de 1960 e a de 1970, tendo como pano de fundo o cerceamento de ideias imposto pelo regime militar.

LIBERDADE COMO MISSÃO: A "EDUCAÇÃO" DE ESCRAVOS E LIBERTOS NA CORTE IMPERIAL (1870-1888)

ROSANE DOS SANTOS TORRES Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O presente trabalho integra um projeto de pesquisa que tem como tema a educação dos negros no contexto histórico que compreende as lutas e disputas pelo fim da escravidão no Brasil. Seu objetivo é trazer alguns apontamentos acerca de discursos e iniciativas promovidos por integrantes do movimento abolicionista relativos à instrução de escravos e libertos, especialmente as medidas levadas a cabo na Corte imperial entre os anos de 1870 e 1888. Entre os discursos sobre as necessidades apontadas por representantes do movimento abolicionista como fundamentais para a transformação social que se iniciaria com o fim da escravidão encontra-se, com frequência, a questão da reforma agrária. A demanda fundiária foi, desde o início, um tema importante no programa abolicionista para a Nação, e isso tanto nos anos que precederam a abolição quanto naqueles imediatamente posteriores ao término oficial da utilização da mão de obra escrava no Brasil. O tema da “democracia rural” tornou-se, portanto, desde o início da década de 1880, principalmente a partir da publicação do panfleto “Abolição imediata e sem indenização”, de André Rebouças, um dos eixos da luta abolicionista. Isso porque “o fim do monopólio da terra” foi visto como uma consequência necessária e lógica do fim da escravidão. Contudo, para além da questão fundiária, a educação e a instrução dos ex-escravos constituiu outro tema recorrente nas discussões sobre o “progresso” da Nação e nos ideais defendidos por abolicionistas. Na realidade, vários integrantes do movimento, intelectuais como Rui Barbosa, Joaquim Nabuco e João Clapp – conhecidos representantes nacionais do movimento abolicionista –, defenderam a causa da inclusão dos escravos e dos libertos no mundo letrado. E já durante o chamado período “emancipacionista” dos anos de 1860 e 1870, intelectuais e representantes públicos discutiram as relações diretas e urgentes que se colocavam entre a emancipação e a escolarização da população brasileira, uma vez que no centro deste debate estava o processo de extensão dos direitos de cidadania aos ex-escravos. Levando em conta esse contexto, busca-se, nesse texto, discutir duas grandes questões. A primeira trata do processo de inclusão/exclusão dos negros no mundo legalmente letrado. A segunda aborda algumas iniciativas relacionadas ao movimento abolicionista, entre os anos 1870 e 1880, e seus projetos sociais para a pós-abolição. Com isso, pretende-se identificar e analisar algumas iniciativas de construção de escolas e de formação dos escravos e libertos como parte integrante de um programa que pensava a situação do negro para além do fim do trabalho escravo.

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO E IMPRENSA PEDAGÓGICA COMO FONTE E OBJETO DE ENSINO: PRIMEIRAS ELABORAÇÕES

ROSANY JOICY MELO ELAINE RODRIGUES

Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Para o desenvolvimento deste trabalho, elegeu-se como objetivo, apresentar alguns apontamentos iniciais acerca do que se compreende como História da Educação e a Imprensa Pedagógica como fonte e objeto de estudo. A contribuição para tal estudo se deu por meio de discussões e textos estudados ao longo da disciplina de História da Educação no Brasil, disciplina esta, ministrada pelos professores Doutores Célio Juvenal Costa e Elaine Rodrigues, pelo Programa de Pós Graduação em Educação (PPE), na Universidade Estadual de Maringá. Atualmente a importância da imprensa pedagógica ou não, trabalhada pela historiografia geral ou da educação, abre possibilidade à reconstrução da História. A imprensa utilizada como fonte anuncia discursos e expressões de diferentes protagonistas, possibilitando inferir características e problemas de uma dada época. A disciplina possibilitou compreender que o trabalho do historiador é um momento de reflexão e não um produto acabado, mais do que isso, entende-se que todo conhecimento histórico é construído a partir de vestígios, estes, se apresentam de variadas formas. Nos últimos anos, pode-se considerar que se ampliou significativamente o campo de produção em História da Educação, devido à criação de grupos de pesquisa e associações de

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pesquisadores, regionais ou estaduais e nacionais. Sobre esses grupos e associações, um exemplo é a Associação Sul-rio-grandense de Pesquisadores em História da Educação, desde 1995; o Grupo História, Sociedade e Educação no Brasil/HISTEDBR, desde 1991; GT História da Educação da Associação Nacional de Pesquisa e Pós Graduação em Educação/ANPED; Sociedade Brasileira de História da Educação, desde 1999. Também se destaca o aumento dos congressos nacionais e internacionais; o aumento da participação de pesquisadores brasileiros em encontros internacionais sobre História da Educação e que aqui se faz apenas uma exemplificação do crescimento nessa área e que nesse aspecto, historiadores brasileiros passaram a ter então, maior preocupação teórica com os usos das fontes na pesquisa, o que se discutirá a seguir. Entende-se, que a história quer seja como disciplina e campo de pesquisas, mais do que isso, campo de produção de conhecimentos, se nutre de teorias explicativas e de fontes, ou seja, de pistas, vestígios, indícios, até mesmo fragmentos que auxiliam a compreender as ações humanas no tempo e no espaço. Considera-se que o trabalho do historiador que se utiliza da imprensa pedagógica como fonte ou objeto, abre a possibilidade de questionamentos que direcionam de maneira diferenciada o olhar do pesquisador, o que é significativo para uma escrita da história da educação que contribua para pertinentes e inovadoras reflexões.

ASSOCIAÇÃO DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS: ESTRÁTEGIAS DE ATUAÇÃO NO CAMPO EDUCACIONAL PARANAENSE (1956-1970)

ROSSANO SILVA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O presente trabalho tem por objetivo investigar as ações da Associação de Estudos Pedagógicos - AEP (1956-1970) no campo educacional paranaense. Criada pelo intelectual e educador Erasmo Pilotto (Rebouças, PR, 1910 – Curitiba, PR, 1992), considerado pela história da educação no Paraná como um dos principais articuladores das ideias do Movimento pela Escola Nova no Estado, a AEP tinha por principal objetivo a formação metodológica de professores, a discussão de estratégias para melhoria das Escolas Isoladas e a reflexão sobre as políticas públicas de educação. A atuação da associação se deu através de pesquisas e publicações, como a do periódico Revista de Pedagogia (1957-1966) e da publicação de dezesseis livros, dos quais onze eram de autoria de Pilotto. A análise das obras Pilotto publicadas pela AEP demonstraram seu diálogo com as concepções educacionais do pedagogo suíço Robert Dottrens (Genebra, 1893 – Troinex 1984), especialmente na utilização de seu sistema de Cartas de Aprendizagem, além de debater a adaptação dos métodos educacionais a serem aplicados nas Escolas Isoladas e os princípios da Educação Integral. Para além dos objetivos de servir como um órgão se assessoria educacional para o Estado a AEP se constitui como uma estratégia de permanência de Pilotto no campo educacional após seu período como Secretário da Educação e Cultura do Estado do Paraná (1949-1951). Nesse sentido a associação foi uma forma de continuidade das atividades do intelectual na formação de professores e na gestão educacional. Para realizar essa investigação utilizamos como aporte teórico as contribuições de Carlos E. Vieira (2007) sobre história intelectual e a ação destes agentes na esfera pública, e os conceitos de campo, capital, habitus e trajetória de Pierre Bourdieu (1996 e 2006), com o objetivo de analisar o lugar ocupado por Pilotto no campo educacional e político paranaense e seu diálogo com o contexto brasileiro. As fontes utilizadas nessa investigação são as obras publicadas por Pilotto na AEP e em outros momentos de sua trajetória, as obras de Dottres pertencentes a sua biblioteca particular e o periódico Revista de Pedagogia. O aporte teórico e as fontes indicadas nos permitiram analisar como a AEP interagiu no campo educacional paranaense e a entender seu lugar na trajetória intelectual de Erasmo Pilotto, contribuindo com os estudos de história da educação e de história intelectual a compreender a relação entre um agente e suas interações no espaço social e como essas ações auxiliam na configuração de um campo.

ANÁLISE DE GÊNERO EM IMAGENS DA OBRA “RUTE E ALBERTO” DE CECÍLIA MEIRELES

SAMARA ELISANA NICARETA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Atualmente existem inúmeros trabalhos que versam sobre a participação de Cecília Meireles no cenário escolanovista, que analisam sua contribuição, e discursos no âmbito da educação e do ensino. Signatária do Manifesto dos Pioneiros, entre inúmeros outros educadores, sendo partícipe e interlocutora do movimento da educação nova. Adquire relevância no campo acadêmico tanto na área das letras por ser autora aclamada de poesias que transcenderam o tempo e tornaram-se marco literário, tanto quanto no âmbito da história do ensino, pois dedicou-se a escrita de literatura escolar. Sabemos que entre as inúmeras formas de literatura

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escolar, não dissonante dos livros didáticos utilizados no cotidiano escolar, encontramos os livros de leitura, que acompanham o processo de alfabetização e servem tanto como aporte quanto para o aprofundamento das questões escolares. Detentores de paradigmas políticos, incidentes de ideologias e ideários, a literatura escolar forma e conforma um determinado projeto de nação, sociedade, civilização, sobre o qual se depositam modelos a serem seguidos. Professora formada pela escola normal do Rio de Janeiro, Cecília Meireles veio a publicar “Rute e Alberto resolveram ser turistas”, em 1938, no qual continha muito mais que a matéria do programa de ciências sociais para o terceiro ano elementar. Presente um ideário, uma forma de ver, ser e reproduzir a sociedade. Este livro de leitura apresenta inúmeras imagens que forjam uma consciência de gênero em torno de uma deliberada formação. Ao confrontarmos as imagens com os enunciados propostos por Roland Barthes: studium e punctum. Compreendendo o studium como uma significação mais geral determinando um ideário cultural, um estudo do cotidiano em geral, composto por cenários, sujeitos, ações e comportamentos. Os cenários presentes na obra abrangem tanto o espaço privado quanto o público, as representações de situações típicas do cotidiano. O punctum enquanto uma “pequena mancha”, como algo secundarizado, mas marcadamente presente, algo para se lembrar ou destacar. Nas imagens, o punctum, revela a incidência de uma divisão entre o feminino e o masculino, partindo de um ideário próprio para a infância, com questões de gênero determinadas a partir do binário, coisas de meninos e coisas de meninas, público e privado, força e delicadeza. Mesmo tendo a autora uma forte presença no movimento escolanovista, as imagens selecionadas trazem marcas ligadas ao gênero, a figura feminina é secundarizada, nem a mãe como administradora do lar não está presente. A presença masculina urge como provedor do lar, orientando seu filho nos afazeres escolares. Existe um forte apelo a escolarização do menino e uma presença marcante do uso de impressos, jornais e livros como suportes de comunicação e instrução. As questões da mulher, do feminino, do embate entre movimentos sociais do período são subalternos, foram perdidas nos traços e profundidades da imagem.

PELA PADRONIZAÇÃO DAS ESTATÍSTICAS EDUCACIONAIS BRASILEIRAS: TEIXEIRA DE FREITAS ENTRE A RACIONALIDADE E A

SUBJETIVIDADE

SANDRA MARIA CALDEIRA-MACHADO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Até a década de 1930, as estatísticas educacionais brasileiras não gozavam de um padrão nacional e, por isso, foram harmonizadas a partir dos indicativos do Convênio inter-administrativo de estatísticas educacionais e conexas realizado em 20 de dezembro de 1931, idealizado e promovido por Mário Augusto Teixeira de Freitas que conduzia a Diretoria de Informações, Estatísticas e Divulgação do recém criado Ministério da Educação e Saúde Pública. O objetivo da reflexão é analisar de que modo o discurso do intelectual (SIRINELLI, 2003) Teixeira de Freitas, durante a assinatura do Convênio, remete a noções como modernidade e identidade nacional no que diz respeito às estatísticas do ensino. Intenta-se compreender, a partir do discurso e dos termos do acordo, quais são os elementos simbólicos referentes ao imaginário (BACZKO, 1984) e às representações (CHARTIER, 1990) no momento em que a formação da nação e da identidade é chave para a formulação de um discurso sobre a modernidade (BERMAN, 1986). Do mesmo modo e, ao mesmo tempo, o discurso efetuado pelo estatístico cria e reforça a sua própria auto imagem como alguém que, a despeito das dificuldades, produz importantes avanços na seara das estatísticas educacionais. Naquele contexto predominava um discurso sobre as possibilidades de (re)ordenamento social do país calcado na ciência e na técnica o que significava uma direção ao progresso e à modernidade, afastando-se dos saberes bacharelescos e subjetivos. Teixeira de Freitas tem formação em Direito, mas ingressa numa carreira técnica valorizada como símbolo do progresso. Nesse sentido, ele está em duas pontas antagônicas, assim, consideramos importante analisar como estas questões aparecem em seu discurso de 1931. As fontes constituem-se essencialmente do discurso pronunciado na assinatura do convênio e os termos referentes ao mencionado acordo. Observamos que se sobressai em suas reflexões um acento a valores como modernidade, progresso e identidade nacional com forte apelo simbólico, cujos aspectos subjetivos contrastam com a racionalidade proposta no próprio acordo das estatísticas da escola brasileira. Seu discurso simbolizava uma conquista da organização racional e, portanto, moderna sobre os modos subjetivos. Entretanto, destacamos a ausência de elementos técnicos para tratar de um assunto que é essencialmente técnico. Ao contrário, Freitas recorre a uma interpretação com elementos emotivos demonstrando, uma vez, como a estatística é forjada também a partir de uma subjetividade interpretativa.

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MORALIZAR CRIANÇAS ATRAVÉS DA LEITURA: O TICO-TICO E SUA CIRCULAÇÃO EM SERGIPE

SOLYANE SILVEIRA LIMA ELIANE NATALINE DOS SANTOS

Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este trabalho apresenta como objeto de investigação os impressos voltados para a infância, mais especificamente, a revista infantil O Tico-tico, e sua circulação em Sergipe, durante a Primeira República. O objetivo é discutir a proposta educativa e moralizadora presente nesse tipo de fonte, tendo em vista a intencionalidade de quem a produziu, bem como, analisar os aspectos que possibilitaram a sua circulação no Estado. O embasamento teórico-metodológico da pesquisa está ancorado na História Cultural, tendência historiográfica que ao tomar a literatura como objeto, produziu estratégias metodológicas voltadas para a análise dos mecanismos de produção, circulação e recepção do escrito, expressos nas representações e na materialidade da obra, bem como, na sua significação e nas práticas sociais de apropriação. A revista O Tico-Tico, foi uma das produções mais emblemáticas no que tange a imprensa para o público infantil, com circulação ininterrupta de 1905 a 1962. Esse impresso se colocou ao lado da escola e da família no esforço de difundir valores morais, de matriz cívico-nacionalista, entre as crianças corroborando com a construção de cidadãos idealizados para o futuro do país. Como referência teórica de análise sobre a formação civilizatória e patriótica contida nos impressos utilizar-se-á os estudos sobre o processo civilizador desenvolvido por Norbert Elias, buscando dar visibilidade à natureza dos laços de interdependência. Elias (1993,1994) em sua teorização se propõe exatamente a investigar sobre as mudanças no comportamento humano, de maneira não planejada ou deliberada racionalmente e rumo a uma direção bastante específica - a civilização. Portanto, a proposta de educação e moralização se apresenta como elementos fundamentais para o desenvolvimento da civilização da criança na perspectiva da auto coerção, refinamento de atitudes, apaziguamento, abrandamento das pulsões e racionalização dos hábitos. Afinal no caso da literatura infantil os textos geralmente se pretendem formadores de gestos, comportamentos e condutas. Nesse caso, optar por periódicos como objeto de estudo da educação permite aos pesquisadores ter acesso aos dispositivos discursivos que configuram determinados campos do saber. A análise desses materiais têm permitido rehistoricizar a escola e apreender como os indivíduos produzem seu mundo social e cultural, na intersecção das estratégias do impresso, que visam impor uma ordem (de sentido, dos usos, da autoridade), porém sem anular a liberdade dos leitores.

ESTRATÉGIA DE DIVULGAÇÃO DO CAMPO EDUCACIONAL: A REVISTA DO ENSINO EM MINAS GERAIS (1886-1889)

STELA CABRAL DE ANDRADE Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O objetivo deste trabalho é debater o processo de consolidação do campo educacional mineiro utilizando como fonte de análise a imprensa periódica pedagógica que se encontrava em formação no final do século XIX. Para isso, analisamos o periódico Revista do Ensino editado e posto a circular a partir da então capital de Minas Gerais, a cidade de Ouro Preto. A primeira publicação da Revista, datada de 1886, foi especialmente destinada a debater as questões relacionadas à educação em terras mineiras. Não por acaso a referida publicação apresentava características que a aproximavam da publicação de mesmo nome produzida no governo de Afonso Pena a partir de 1892 e que é considerada uma das mais importantes publicações pedagógicas de Minas Gerais. O impresso mineiro de 1886 contou com a colaboração de diversos membros do Conselho diretor da instrução pública mineira e brasileira, tendo sido produzido e dirigido pelo professor e diretor do Liceu Mineiro, Alcides Catão da Rocha Medrado e se destinava exclusivamente às causas da instrução pública, sobretudo a educação primária. Pretende- neste recorte, discutir as relações de sociabilidade entre os membros do corpo de redação da Revista do Ensino, mapeando o envolvimento destes indivíduos com as questões políticas, sociais e culturais do momento de circulação do impresso, evidenciando os temas apresentados pelo periódico ao longo do período de irculação, buscando perceber quais aspectos permearam a criação e a circulação de uma publicação especialmente destinada à causa primária, em um cenário tumultuado como o último quartel dos século XIX, em Minas Gerais, sobretudo em Ouro Preto, que já se via às voltas, entre outras questões, com as discussões a cerca da construção de uma nova capital mineira. O cenário que se configurava no período de circulação deste impresso pedagógico compunha-se de uma diversidade de discursos sobre educação e uma multiplicidade de projetos debatidos por intelectuais, professores, políticos e estudantes de Ouro Preto. Entre esses projetos, destaca-se o envolvimento de alguns desses homens com o movimento abolicionista e a propaganda republicana. Alguns dos membros deste impresso foram também protagonistas destes acontecimentos, além de

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terem irculado nas principais instituições de ensino da Província. Para a análise da Revista do Ensino, tomada na condição de impresso pedagógico, utilizamos os referenciais teóricos de especialistas na temática, entre eles Carvalho(2003), Nóvoa (1997), Bastos (1997), Biccas (2001, 2006 e 2008), Caspard(1997) entre outros.

O ENSINO DE GREGO E A FORMAÇÃO DO INDIVÍDUO IDEAL: UMA ANÁLISE SOB A ÓTICA BATISTA (1930-1945)

TACIANA BRASIL DOS SANTOS Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

A partir da segunda metade do século XIX, chegavam ao Brasil os primeiros missionários protestantes. Impulsionados pela lógica do chamado “destino manifesto”, esses homens e mulheres pretendiam implantar em nosso país não apenas uma nova religiosidade, mas também uma nova ordem social, baseada em valores liberais e capitalistas. Para levar seus objetivos adiante, os missionários investiram principalmente na difusão de literatura e na educação escolar. Esse era um ponto em comum entre todas as denominações do chamado “protestantismo histórico”, que se inseriram no Brasil. Assim, em todo o país, foram criadas editoras protestantes, publicando livros e periódicos que atendiam seus objetivos. Também foram criadas instituições escolares, com destaque para o trabalho de alfabetização e formação de quadros que prosseguissem o trabalho social e religioso – ou seja, formação de professores e ministros. Este trabalho tem por objetivo discutir acerca de um livro específico, intitulado Introdução ao Estudo do Novo Testamento Grego. Este livro foi publicado pela Casa Publicadora Baptista, ligada à igreja batista. Escrito por um missionário americano, esse livro seria utilizado como material didático para o ensino de grego koiné aos alunos brasileiros dos cursos de formação de ministros ofertados pelos colégios batistas de todo o país. Analisando a referida publicação, foi possível perceber que as sugestões de exercícios e traduções apresentadas pelo autor continham representações acerca do indivíduo ideal, de acordo com os princípios da denominação. Compreendemos que tal prática se constituía como uma estratégia de formação e conformação dos alunos brasileiros, com o objetivo de torna-los sucessores adequados no trabalho que vinha sendo realizado pelos missionários norte-americanos. Sendo assim, este trabalho se orientará em prol da identificação dessas representações, e de como elas se relacionavam com o cenário político-social brasileiro naquele momento. Como recorte temporal para esta pesquisa, consideraremos o período compreendido entre os anos de 1930, quando o livro foi editado pela primeira vez, e o final da Era Vargas, devido às alterações sociais e políticas que lhe são decorrentes. Como fontes para a realização deste trabalho, serão consultados impressos batistas, como o livro Introdução ao Estudo do Novo Testamento Grego, além do periódico nacional da denominação, O Jornal Batista. Outros periódicos de ampla circulação na sociedade à época também serão consultados, como fontes complementares.

COMPOSIÇÃO DE SI: ASPECTOS BIOGRÁFICOS DO PHILOSOPHE NORTE-AMERICANO BENJAMIN FRANKLIN

TÂMARA REGINA REIS SALES ESTER FRAGA VILAS-BÔAS CARVALHO DO NASCIMENTO

Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Nascido em 17 de janeiro de 1706, em Boston, Nova Inglaterra, Benjamin Franklin foi considerado gênio, inventor, poeta, diplomata, político, economista e, nesta investigação, um philosophe. De acordo com o historiador americano Robert Darnton (2005, p. 18-19), os philosophes “[...] eram homens de letras. Só raramente desenvolveram ideias não sonhadas pelas gerações anteriores. [...] O philosophe era um novo tipo social, que hoje conhecemos como intelectual”. As ideias dos philosophes do século XVIII eram, segundo Robert Darnton (2005), idées-forces, como liberdade, felicidade e leis naturais. Essas ideias, de acordo com o autor, “pertenciam ao acervo comum de conceitos acessíveis às classes instruídas de todos os lugares” (DARNTON, 2005, p. 22). Estas foram almejadas pelos intelectuais, particularmente os norte-americanos e, posteriormente, passaram a caracterizar a cultura norte-americana. Pensar tal cultura é pensar em práticas estabelecidas e apreendidas socialmente. Acentua as diferenças entre os homens, as características que são próprias a cada grupo social. Desta forma, é importante conhecer a trajetória de Benjamin Franklin no contexto norte-americano do século XVIII, a fim de compreender e interpretar de que forma este homem contribuiu para a população norte-americana. Benjamin Franklin perpassou por diversos estágios de uma tipografia, tais como auxiliar de tipógrafo, tipógrafo, editor e escritor. Entre muitos dos seus feitos, estabeleceu a Universidade da Pensilvânia e fundou um hospital na Filadélfia. Em 1732, Franklin publicou o primeiro volume do seu livro Almanaque do Bom Homem Ricardo, o qual escrevia sob o pseudônimo de Richard Saunders. Com publicação até 1757, esta obra foi

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bastante difundida no território norte-americano ainda no século XVIII, bem como no Brasil, com circulação no período da segunda metade do século XIX. De acordo com Robert Darnton (2005, p. 21), “os philosophes [...] brilhavam na conversa inteligente, na escrita de cartas, nos boletins manuscritos, no jornalismo e em todas as formas do mundo impresso”. Desta forma, o objetivo deste artigo é realizar um levantamento biográfico do norte-americano Benjamin Franklin, buscando, através dos seus feitos particulares e públicos, da sua influência na sociedade e dos documentos escritos deixados, evidenciá-lo como philosophe. Como metodologia, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, e como referencial teórico, utilizou-se a categoria de philosophe, evidenciada nos estudos de Robert Darnton (2005).

A FENOMENOLOGIA NAS CONCEPÇÕES PEDAGÓGICAS DE JOÃO PAULO MEDINA E VITOR MARINHO DE OLIVEIRA NA EDUCAÇÃO

FÍSICA DOS ANOS 1980

TELMA ADRIANA PACIFICO MARTINELI Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este artigo apresenta a síntese das análises das raízes filosóficas das concepções pedagógicas da educação física nos anos de 1980. Tomou como referência os livros de João Paulo Medina “A Educação Física cuida do corpo e ... ‘mente’”, publicado em 1983 e “O brasileiro e seu corpo”, de 1987 e os de Vitor Marinho de Oliveira, “O que é educação física”, de 1983 e “Educação Física humanística” de 1985, fundamentalmente. A análise centrou-se no período histórico da produção dos livros, em seus fundamentos teóricos e nas bases pedagógicas subjacentes às concepções. As obras analisadas foram produzidas no continuum da crise econômica de 1970 e em seus desdobramentos na década de 1980, momento de queda das Ditaduras Militares na América latina e de transição político e social à democracia no Brasil. Nesse contexto, asseverou-se a crítica ao positivismo e ao tecnicismo em um sentido mais amplo e a busca por novos fundamentos teórico-metodológicos, que se refletiram na educação e na educação física. A fenomenologia, elaborada originariamente por Edmund Husserl (1859-1938) no fim do século XIX e começo do século XX, na crise do subjetivismo e do irracionalismo, como crítica à ciência positivista, continuada pelos autores Maurice Merleau-Ponty (1908-1961), Martin Heidegger (1889-1976) e Soren Kierkegaard (1813-1855), é recuperada neste contexto e passa a ganhar espaço como método de descrição e análise da consciência nesse período. Os estudos de Medina e de Oliveira supracitados têm grande repercussão nos anos de 1980 e se alicerçam em seus pressupostos e nas concepções pedagógicas de Paulo Freire (1921-1997) e Carl Rogers (1902-1987), respectivamente; estabelecem a crítica à concepção tecnicista, a dicotomia entre o objeto e o sujeito, aos procedimentos técnicos no ensino e a defesa de uma perspectiva humanística. Em linhas gerais, a educação física deveria entrar em crise e passar por uma revolução cultural; as atividades pedagógicas deveriam: dar um sentido mais humano à cultura física para que a meta do ser humano enquanto um “ser-no-mundo” seja alcançada; pautar-se na percepção do corpo; centrar-se no aluno, na experiência e na liberdade. Concluímos que estas produções tinham um sentido de crítica ao tecnicismo e fundamentou-se na fenomenologia, e não de a totalidade das relações sociais capitalistas. Os autores apontaram que a superação da crise da educação física e para justificar sua legitimidade na educação aconteceria a partir de uma pedagogia humanística fenomenológica. Estas bases alicerçaram as concepções pedagógicas sistematizadas das décadas de 1990, de cunho culturalista, subjetivista e não-diretivo.

REPRESENTAÇÕES CONTRASTANTES SOBRE O ENSINO DE EDUCAÇÃO FÍSICA DIFUNDIDAS PELA REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE E PELA REVISTA STADIUM (1979-1986): DIRETIVIDADE,

ESPORTE E SENSO CRÍTICO

THIAGO PELEGRINI Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

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As revistas científicas são fontes de pesquisa que se tornaram referenciais, espraiaram teorias e práticas de pesquisa e formação em diversos campos de estudo. Especificamente no campo da Educação Física no Brasil e na Argentina distinguiram-se por seus elementos identitários e sua representatividade histórica, a Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE) e a Revista Stadium. Ambas caracterizaram-se pela projeção de um leitor especializado, atuante na área de Educação Física, sobretudo professores e alunos. O exame intercruzado desses impressos é capaz de expor encaminhamentos, expectativas, concordâncias e conflitos envoltos na validação de saberes sobre a disciplina nessas territorialidades distintas. Diante disso, o objetivo central desse trabalho foi analisar e comparar as representações sobre o ensino de Educação Física, seus métodos e práticas pedagógicas, veiculadas por esses impressos entre os anos de 1979 e 1986. Em especial, centrou-se a análise sobre os textos que defendiam um posicionamento, demonstravam uma tomada de posição e ou destoavam do conteúdo que convencionalmente circulava no interior das revistas. Para alcançar o êxito nessa empreita foi realizada uma pesquisa documental que teve como aporte teórico para orientar a análise das fontes impressas o conceito de representação de Roger Chartier e seguiu como perspectiva histórica as teorizações da História Cultural e da História Comparada. Os textos das revistas foram esmiuçados com o propósito de apresentar indícios e efeitos de realidade suficientes para a construção de uma narrativa histórica que admitisse tecer uma comparação entre os dois periódicos. Como resultado encontrou-se nas duas revistas, textos que defendiam o uso de métodos não-diretivos, que versavam sobre a inserção do esporte como modelo pedagógico e proposituras que ambicionavam modificar os contornos conservadores dados a disciplina. Frisa-se que nos dois impressos teorias educativas diversas, por vezes contraditórias, foram utilizadas para sustentar as prescrições para o ensino da Educação Física. Uma diferença significativa foi o modo como às revistas divulgaram essas discussões. A Stadium desde os primeiros números analisados exibiu textos contestatórios com intensidades desiguais. A RBCE apresentou inicialmente textos mais conservadores que posteriormente foram substituídos por artigos com uma posição crítica mais nítida. Como consideração final sublinha-se a existência de uma diversidade de posicionamentos entre as revistas que se remeteu a disparidade entre critérios, orientações teóricas e preocupações formativas que compunham o amálgama de representações que municiaram as discussões no campo da Educação Física no Brasil e na Argentina. Implicadas nesse processo as disputas por autoridade e reconhecimento ressaltaram dissonâncias e rupturas na constituição de modelos pedagógicos e objetos de ensino voltados à escolarização da disciplina nos dois países.

ANUÁRIO COLUNAS/IPA: UM ESTUDO SOBRE A MATERIALIDADE E OS DISCURSOS PRESENTES EM UM PERIÓDICO ESTUDANTIL (1937-1954)

VALESKA ALESSANDRA DE LIMA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este trabalho é produto da pesquisa Escritos de alunos: memórias de culturas juvenis (1940-1960) FACED/UFRGS, que toma como objeto de investigação os periódicos produzidos por alunos de diferentes instituições escolares de Porto Alegre/RS. O estudo investiga o periódico Colunas, produzido pelo Instituto Porto Alegre (IPA), entre os anos de 1937 e 1954. Esta é uma instituição de ensino fundada pela Igreja Metodista Episcopal do Sul dos Estados Unidos, durante a chamada expansão educacional Metodista no Rio Grande do Sul. Estas missões pretendiam ampliar as obras da Igreja pelo Estado ao longo das duas primeiras décadas do século XX. Deste modo, em 1923, os missionários fundaram o Porto Alegre College, que posteriormente passou a se chamar Instituto Porto Alegre (IPA), um colégio exclusivamente para meninos. Entende-se a importância da imprensa educacional como documento para a História da Educação, no sentido de possibilitar uma melhor compreensão das realidades educativas e também promover um maior conhecimento dos aspectos sociais e culturais que atravessam as vivências estudantis. A imprensa é, segundo Bastos (1997, p. 49), “uma espécie de observatório” que constitui um testemunho vivo de toda uma época, seus enunciados discursivos oportunizam perspectivas para a compreensão do passado/presente educacional. Portanto, nessa interface com a História da Educação, entende-se que os periódicos são uma das formas de escrever e publicar desses alunos, constituem-se em importante veículo educativo para seus escreventes/leitores e mostram um pouco da história das instituições educativas. Como produto da cultura escolar, traduzem facetas do cotidiano, evidenciam saberes e práticas que circulavam naquelas comunidades, revelando um pouco das representações das culturas juvenis presentes no cotidiano escolar. A pesquisa identifica-se com os pressupostos teóricos da História Cultural, se inscreve no campo da imprensa escolar, das práticas de leitura e escrita e da História das Instituições, tendo como referenciais as concepções da cultura escrita enquanto uma produção discursiva de um determinado tempo e lugar. Neste sentido, Roger Chartier, Pierre Nora e Antonio Viñao Frago são alguns dos autores que dialogam com a pesquisa. Aqui interessa analisar os suportes, as materialidades e os significados dos discursos difundidos pelo periódico, nos processos de subjetivação provocados pelos textos. Embora o anuário fosse organizado por uma equipe de professores e alunos do IPA, percebe-se que os editores mimetizavam o formato estético e discursivo

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dos yearbooks de colégios e universidades Metodistas norte-americanos. Por fim, cabe destacar que a contribuição deste estudo para a História da Educação ocorre principalmente por abordar aspectos das escritas juvenis que por tanto tempo foram esquecidas pela historiografia oficial da educação, portanto, busca-se aqui, de certo modo, valorizar as produções escritas destes sujeitos.

PARA SER ÚTIL À REPÚBLICA E À IGREJA: LUIS ANTÓNIO VERNEY E O PROGRAMA DE REFORMA DOS MÉTODOS EM PORTUGAL (SÉCULO

XVIII)

VANESSA CAMPOS MARIANO RUCKSTADTER CÉZAR DE ALENCAR ARNAUT DE TOLEDO

Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O objetivo deste texto é analisar o programa de reforma dos métodos de ensino em Portugal no século XVIII a partir dos interlocutores do pensador iluminista católico Luis António Verney (1713-1792). Para tanto, é analisado o título de sua principal obra, que aparece na folha de rosto da primeira edição: Verdadeiro Método de Estudar: para ser útil à República, e à Igreja. A partir da análise das palavras que compõem o título, bem como a relação do título com o contexto, é possível dimensionar os principais debates sobre ciência e métodos de estudos no século XVIII. A análise também possibilita relacionar os possíveis interlocutores diretos e indiretos de Luis António Verney na construção de seu projeto de reformas. O programa de reformas proposto por Verney se encontra reunido em dezesseis epístolas, publicadas sob o pseudônimo de Barbadinho de uma Congregação da Itália, em 1746. Na pesquisa, foram consideradas algumas questões. No que se refere a este trabalho, pode-se indagar: Verney pode ser considerado o primeiro a sistematizar uma crítica à organização do ensino e a propor um novo método em Portugal? Em que medida suas ideias são originais? Qual o mérito da obra? Para tanto, após a apresentação da obra e do autor, partimos para a análise do título do conjunto epistolar para discutir a proposta do autor em seu contexto, o século XVIII, sobretudo em relação à questão dos métodos, o princípio da utilidade do ensino e a questão religiosa, que permeiam seu pensamento. Para Verney, o progresso da nação portuguesa seria corolário da reforma na educação em todos os seus níveis. Seu projeto modernizador para o reino português estava centrado na proposta de uma reforma dos métodos de ensino. Fazia parte dessa proposta de reformas inserir Portugal entre as nações mais desenvolvidas. Para que tal intento se efetivasse era necessário formar homens que fossem úteis, sobretudo na burocracia estatal. No que se refere à Igreja, vale destacar a especificidade do iluminismo no sul da Europa, de modo geral, e em Portugal, especificamente. Esta pesquisa utilizou a expressão iluminismo católico para designar a especificidade do movimento das luzes em Portugal, não como uma tentativa modesta comparada ao modelo francês, tampouco na tentativa de uniformizar o movimento. Verney dialogou de modo direto e indireto com os intelectuais do século XVIII em um momento de intensa circulação das ideias iluministas e da discussão acerca da renovação dos métodos de ensino. A discussão do tema possibilita analisar aspectos da própria história da educação brasileira, uma vez que Verney é sempre apontado como uma das principais bases das reformas promovidas pelo Marquês de Pombal (1699-1782), que teve consequências na organização da educação em todo o reino português, inclusive no Brasil.

TENENTE ALFREDO DANTAS E MANOEL ALMEIDA BARRETO: PENSAMENTO E EDUCAÇÃO EM CAMPINA GRANDE/PB (1919-1942)

VIVIAN GALDINO DE ANDRADE Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este artigo busca discutir a participação de Alfredo Dantas e Manoel Almeida Barreto na elaboração de uma finalidade educacional para as escolas campinenses durante as décadas de 1920 a 1940. Estes educadores/intelectuais eram professores do Instituto Pedagógico, escola precursora de uma educação profissional na cidade de Campina Grande/PB. O pensamento educacional produzido por estes professores circulava nos impressos pedagógicos produzidos pela instituição escolar na qual atuavam, e eram denominados como Revista Evolução (1931-1932) e Jornal Comercio de Campina (1932). O primeiro tinha um público mais professoral e juvenil, trazendo questões pedagógicas anunciadas por docentes, médicos e inspetores, mas também poemas, charadas e demais artigos de temas variados de autoria dos próprios alunos. Já o segundo tinha no próprio nome o seu programa de discussão, ligado às questões comerciais que influenciavam a sociedade campinense. Este jornal ainda demonstrava o apoio e a propaganda do ensino, visando instruir o povo em assuntos comerciais, industriais, cultura dos campos e obras sociais, como pontos que davam ensejo à produção

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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação

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de ideias no cenário nacional, afinal vivia-se uma época em que a indústria e a educação profissional se uniam para impulsionar o mercado de trabalho brasileiro. Estes gêneros jornalísticos formavam a opinião pública em Campina Grande, trazendo ideias, prescrições e normatizações que corroboravam com o projeto de modernização que vivenciava a cidade á época. Temáticas que envolviam a Associação de Professores, a civilização, a higiene e a educação do novo cidadão para a pátria eram algumas das questões debatidas nesta imprensa, que remonta a discussão de uma regulação de condutas que conferiu um ritmo específico de sociabilidade para a cidade de Campina Grande nas primeiras décadas do século XX. Tidos como “heróis da educação”, estes educadores buscavam suprir as necessidades de Campina Grande, enfatizando em seus escritos temas outros que eram reconhecidos como de interesse na cidade. Como protagonistas na produção de um esboço de educação para Campina Grande estes educadores são aqui pensados como partícipes de uma “intelligentsia campinense”. A prática social desses intelectuais, associada aos processos de produção, veiculação e recepção dos discursos sobre a relação entre educação e modernidade em Campina Grande nos oferece indícios do pensamento educacional que circulava na cidade durante o período estudado, sobre o que se tinha e se produzia a respeito da educação. Orientados pelos pressupostos da História dos Intelectuais e também pela Nova História Cultural foi que utilizamos as fontes de autoria jornalística e institucional para pensar os sentidos compartilhados no interior dos discursos, tentando associar o tema da educação como partícipe de um processo de modernização da cidade de Campina Grande, associada a construção de uma sociedade ordenada, asseada e laboriosa.

A PRODUÇÃO SOBRE LEITURA E LITERATURA INFANTIL DE LEONARDO ARROYO, NO JORNAL FOLHA DE S. PAULO (1960-1968)

VIVIANNY BESSÃO DE ASSIS Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Neste texto, apresentam-se resultados parciais de pesquisa de doutorado em Educação (Bolsa CAPES). Com os objetivos de contribuir para a compreensão da história da literatura infantil no Brasil e compreender o lugar ocupado pelo escritor, jornalista e historiador Leonardo Arroyo (1918-1986) nessa história, apresentam-se considerações sobre a sua produção escrita, especificamente os artigos publicados no jornal Folha de S. Paulo, da capital paulista, entre os anos de 1960 a 1968, quando foi diretor da seção “Página Literária” desse jornal. Mediante abordagem histórica, centrada em pesquisa documental e bibliográfica, desenvolvida por meio da utilização de procedimentos de localização, recuperação, reunião, seleção e ordenação de fontes documentais, vem-se elaborando instrumento de pesquisa contendo as referências de textos de e sobre Leonardo Arroyo. Desse conjunto, destaca-se a produção escrita de Arroyo publicada na forma de artigos no jornal paulistano Folha de S. Paulo, os quais tratam, dentre outros, da leitura e literatura infantil, no Brasil. A análise dessas referências tem propiciado constatar que Arroyo atuou como jornalista e redator em vários jornais do país e, nessa área, contribuiu com uma produção bibliográfica importante na constituição de um discurso sobre a leitura e a literatura infantil. A análise desses artigos permite compreender alguns dos aspectos que Arroyo considera estar envolvidos com a produção de textos literários para crianças, publicados, principalmente, a partir da segunda metade do século XX, no Brasil, tais como: a falta de acesso da criança ao livro de literatura; a desatenção do mercado editorial para com esse público de leitores; os altos custos do mercado brasileiro com a impressão de livros; a preocupação com as histórias em quadrinhos, consideradas nocivas para o desenvolvimento infantil; o descaso com a memória do escritor José Bento Monteiro Lobato e o papel do professor em relação à formação de leitura das crianças em idade escolar. Em decorrência da importância dos artigos de Arroyo e, também, de seu interesse sobre o esse assunto, alguns de seus artigos foram, posteriormente, publicados sob a forma de capítulos dos livros O Tempo e o modo: literatura infantil e outras notas (1963) e Agravos do tempo (1976), fazendo com que suas discussões sobre a leitura e a literatura infantil se legitimassem como saber/conhecimento nessa área, bem como o seu discurso se tornasse o de um especialista sobre esse tema, no Brasil.

“METHODO PENIDO”: O DESAFIO DA ALFABETIZAÇÃO EM MINAS GERAIS NO INÍCIO DA REPÚBLICA

WENCESLAU GONÇALVES NETO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

No final do século XIX já fora diagnosticado um grande desafio no âmbito da educação brasileira: o analfabetismo, com índice acima dos 80% da população. Nos primeiros anos do governo republicano em Minas Gerais, estado que ostentava percentuais semelhantes de aliteracia, observa-se uma preocupação significativa

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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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por parte da administração estadual em torno da instrução pública, tentando superar não apenas o analfabetismo, mas criar uma estrutura abrangente para o progresso da educação, o que aparece expresso na Constituição estadual (1891), na Lei n. 41, de 3 de agosto de 1892 (“Dá nova organização à instrucção publica do Estado de Minas”) e no Decreto Lei n. 655, de 17 de outubro de 1893 (“Promulga o regulamento das escolas e instrução primária”). Por essa via são implantadas, entre outras medidas, inspetorias ambulantes, regulamentados os diferentes níveis de ensino, criadas escolas, fundo escolar e um Conselho Superior que passa a acompanhar o estado da educação. Mas também foram estimuladas outras práticas, como a publicação do “Methodo Penido”, de autoria do bacharel e professor Agostinho Maximo Nogueira Penido, que o desenvolvera em sua escola na cidade de Ouro Preto. O método foi publicado em 1891, como prêmio por parte do governo estadual e largamente distribuído entre as escolas mineiras ao longo da década de 1890. No entanto, apesar de adotado por vários anos, não se tem notícia de qualquer exemplar remanescente desse método e nem de estudos sobre seu autor. Nesta pesquisa, foram analisados registros nos relatórios dos inspetores sobre a utilização do método nas instituições escolares, em que se atesta sua eficácia, depoimentos de professores nesses relatórios e num opúsculo produzido pelo autor e manifestações na imprensa que retratam sua difusão. Também se buscou recuperar a trajetória de Agostinho Penido em Ouro Preto onde, além da docência, exerceu o cargo de Intendente Municipal. Além disso, foram encontradas muitas correspondências à Secretaria do Interior solicitando exemplares do método e indicações de despacho de centenas do mesmo para diversas regiões do estado. Referências ao desenvolvimento e utilização do método, inclusive com doação do autor ao município, também foram encontradas nas atas da Intendência e da Câmara Municipal de Ouro Preto. Foram utilizadas fontes encontradas no Arquivo Público Mineiro e no Arquivo Municipal de Ouro Preto, incluindo a imprensa do período. Para além da descrição do processo e de seu contexto histórico, percebe-se que a importância da alfabetização estava em pauta na sociedade mineira do início da República e que intelectuais da educação participaram do processo de busca de alternativas para seu enfrentamento e superação. A identificação desse método sinaliza que outras iniciativas podem ter sido implementadas no estado e no País, merecendo um olhar mais atento dos historiadores da educação sobre essa questão.