challenger - arthur carvalho

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O que você pensaria de uma mulher adúltera, mais velha, mãe e que é paga para se envolver com um aluno do último ano do colegial? Mas espere, antes de julgar, saiba que ela poderia ser qualquer uma das mulheres que você conhece, quem sabe até mesmo você. O que você faria, motivado pelo senso de dever, para cuidar de sua família ou para viver uma paixão, senão proibida, certamente desaconselhada? Essa é a parte mais incrível de Challenger, além de sua verdade ao nos expor o quanto somos recobertos por camadas de julgamentos que se desfazem ao menor sinal de que seremos os réus, ao invés do juiz. Uma história que une erotismo, amor, as inseguranças de um adolescente descobrindo o prazer e os laços fortes que unem duas pessoas que se amam. Challenger vai te desafiar, de uma forma ousada e impensada. Até onde você está disposto?

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Coordenação Editorial: Eleonora DucerisierRevisão: Dan Baldassari e Jorge MontenegroCapa, diagramação e Projeto Gráfico: Eleonora Ducerisier

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)Carvalho, Arthur

Challenger / Arthur Carvalho. -- 1. ed. -- Araraquara, SP : Editora 42, 2014.

1. Ficção brasileira 2. Histórias eróticas

I. Título.

ISBN 978-85-68077-08-5

14-13005 CDD-869.93

Índices para catálogo sistemático:

1. Ficção : Literatura brasileira 869.93

[2014]

Editora 42Araraquara - SP

www.editora42.com

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Challenger (desafiador): Nome do ônibus espacial americano, que explodiu logo após a de-colagem em 28 de janeiro de 1986, matando os sete tripulantes, inclusive o primeiro civil a parti-cipar de um programa espacial... Uma professora.

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A ansiedade me levou logo cedo ao colégio. Fui direto à sala do Lúcio, que já me esperava:

— Bom dia. Pronta para iniciar? — ele tomava café em um copo descartável.

Dirigiu-se a mim, trazendo em suas mãos a pasta com as infor-mações que mudariam a minha vida pelos próximos meses daquele ano incógnito e entregou-me.

Minhas mãos estavam geladas e eu podia sentir o coração ba-tendo na garganta. Respirei fundo, deixando o ar escapar dos pul-mões e soltando o elástico da lateral da pasta.

Abro a pasta, meus olhos correm por aquela fotografia presa por um clip. Eu já sabia que se tratava de um garoto, mas não de um menino. Atônita, foi inevitável o comentário:

—Victor Ribeiro?— Ah?! Esperava outra pessoa? — Ele perguntou tomando mais

um gole do café que fumegava.— É claro que não, mas... — Eu realmente não sabia o que dizer.

Tentei: — Ele é um menino, Lúcio.Enquanto me recuperava da ligeira queda de pressão, várias

coisas passaram pela minha cabeça: Victor era o garoto que mais aparentava ser um menino dentre todos os que seriam meus alunos naquela turma de terceiro ano. E eu sempre tive uma aversão a garotos e a homens mais jovens. Estava confusa, sentindo-me suja, cruel, enquanto reparava naquele rosto imberbe, cabelos cas-tanhos bagunçados, olhar infantil e sorriso tímido. Com seus 18 anos, mas aparentando, sei lá, ter 13. Eu só pensava no que estava por me envolver. Melhor dizendo, com o menino que estava para me envolver...

— Mas é claro que é! Você queria o quê, Fernanda? Todos eles são meninos. — Lúcio sorria com ares de deboche enquanto falava. Repentinamente parou de sorrir e sentou-se: — Nesta pasta estão

P r ó l o g o

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todas as informações que você precisa saber sobre ele. — Terminou o café e jogou o copo na lixeira. Continuou:

— Contém desde o gosto musical a referências de saúde. Além de claro, os valores das suas “horas-aulas”. Fique à vontade para ler, decorar e já ir ensaiando a abordagem. Qualquer dúvida, volte a me procurar.

Fechei a pasta.Era melhor voltar a ler aquilo quando estivesse mais calma. E

sozinha.Saí do colégio e fui para o estacionamento. E foi lá mesmo, den-

tro do carro, que resolvi ler tudo o que me havia sido entregue.

CChegando em casa, Anderson já me esperava para o almoço:— E então? — perguntou-me, com os olhos entristecidos.— Está acertado. Já soube que será o... —, antes que eu pensasse

em continuar, ele me interrompeu:— Não, não. Por favor, não quero saber o nome! — gritou.Fiquei sem saber o que dizer:— Você acha melhor assim? — Perguntei com medo da resposta.Ele balançou a cabeça, concordando. O olhar melancólico havia

mudado e podia perceber o ódio que parecia estar espumando. Achei melhor relatar tudo e não deixar prolongar a conversa:

— Você precisa procurar o Lúcio ainda hoje para acertar a sua... —, e mais uma vez, Anderson me interrompeu:

— Minha reunião para acertarmos os termos da demissão está marcada para esta tarde, já sei.

Estava furioso.— Isso é tão errado. Vamos voltar atrás? — Eu tentei uma última vez.— Fernanda... — Ele hesitou, respirando fundo e passando a mão

com impaciência pelos cabelos — Já conversamos demais sobre isso. Estamos cientes da nossa situação e deixamos claro sobre o que deveríamos fazer. Não torne as coisas ainda mais difíceis.

Eu ainda nutria um fio de esperança em me desfazer do acordo. Se Anderson demonstrasse qualquer ponta de arrependimento, eu voltaria atrás e desistiria de tudo. Mas ele ajuntou:

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— Aceite, mas nunca me diga quem é ele. O pessoal do Programa, acredite, conseguiu me convencer de que você era importante para isso. E esse será o preço que pagaremos por termos sido sem-pre verdadeiros um com o outro.

Nesse momento, minha filha veio até mim e me abraçou, en-cerrando o assunto. Não consegui conter as lágrimas.

CAs semanas se seguiram. Era sempre o mesmo ritual quando

me preparava para as aulas com a turma do Victor: roupas que evidenciassem curvas, sem serem vulgares. Nada de mostrar pele demais, cabelos presos; vez ou outra, quando a roupa era muito comportada, o toque de sensualidade ficava por conta dos cabelos soltos, modelados em cachos.

Outro artifício era a provocação: uma posição mais ousada na mesa enquanto fizesse a chamada ou anotasse alguma coisa. Ou-tras vezes, durante explicações, usar contato físico para chamar atenção: um toque no braço, no ombro... Uma esbarrada de quadril enquanto andasse por entre as carteiras. Em alguns momentos, nem era necessário contato físico: bastava parar ao lado de sua carteira e deixar que o meu perfume — ou o próprio feromônio — cumprisse seu papel de despertar outros sentidos.

Deu certo. Em pouco tempo eu notava o desejo de Victor por mim.Mas quando saía da sala de aula, me sentia horrível. Era como se

meu corpo estivesse envolto em sujeira. Estava errado fazer aquilo. Era errado comigo, era errado com o Anderson. E era errado com o Victor também.

Mas me lembrava do dinheiro. Era preciso continuar.Foi então que, por uma artimanha do destino, fui chamada à

sala do Lúcio numa manhã após a aula:— Pois é, o pai pulou fora. Acho que teve uma crise de cons-

ciência. Não quer mesmo que o filho se envolva nisso.— Ele ao menos explicou o porquê da desistência?— Não. E nem vamos ficar insistindo. Ainda mais depois das

grosserias que me disse. Ele teme pela sua imagem diante do filho, caso o mesmo venha a descobrir.

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— Mas... E agora, Lúcio? Eu já tinha iniciado o processo de aproximação, já estava dando certo e... E quanto ao Anderson? Ele foi demitido em vão?

— Calma. Sem estresse! Com relação ao Anderson, não houve perda, apenas troca de turmas. Já quanto a você, por que a sur-presa? Não foi você mesma que, quando soube quem era, havia demonstrado quase repulsa? Sinta-se mais feliz por não ter de continuar.

Saí da sala de Lúcio ainda tentando me acertar com tudo. Eu estava tão perturbada em dar conta do que havia sido incumbida que não considerei o alívio de estar fora desse Programa. Eu estava livre para voltar à minha vida.

Esperei pelo Anderson no portão do colégio, louca para contar a novidade. Assim que o vi se aproximando, corri ao seu encon-tro e praticamente pulei no seu colo, como uma garotinha feliz e apaixonada. Dei-lhe um beijo e ele estava surpreso e sem entender a minha atitude:

— Uau! Mas porque isso tudo?! — Perguntou-me, sorrindo muito.— Estamos livres! Estou fora do Programa. — Sussurrei em seu

ouvido.Ele me abraçou e me beijou, compartilhando a alegria pela

ótima notícia. Enquanto isso, os alunos já nos rodeavam, aos gritos, histéricos com a cena.

C

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Q u a r t a - f e i r a

Manhã chuvosa e fria. Daria tudo para ficar em casa e dormir mais um pouco. Bem mais. Meu sono ainda duraria umas três horas se não fosse a motivação: era aula dela.

Ainda que o tempo estivesse frio e úmido, eu sentia o calor emanando, lá da última carteira, quando a via entrar na sala. Sem-pre com aquele sorriso arrebatador. — Está frio, são 7 e pouco da manhã, ninguém te falou que já basta para não precisar se mostrar tão feliz?

“Não!” é o que parece que a vejo responder quando joga o ca-belo de lado antes de deixar o material em sua mesa. Eu não movi os lábios, mas ela me ouviu, tenho certeza. É quando então aquele sorriso vem em minha direção e o “bom dia” é para mim.

De tão encantado, perco a voz (e a chance) de responder.Seu casaco está com os ombros marcados por alguns respingos

de chuva. Ela se veste de forma parecida às mulheres londrinas. Deve ser porque o tempo hoje esteja exatamente lembrando aquela cidade. E eu amo Londres.

Lentamente, ela começa a tirar o casaco.Impossível, me ouviu. Eu não falei nada.Pendura-o no encosto da cadeira e abre o diário de classe, en-

quanto, ainda de pé, inicia um assunto com a garota da primeira carteira. Sorri mais uma vez.

Sinto como que se ela estivesse me dando permissão. Estou bobo. Minha imobilidade dura a chamada inteira. Sou o último da lista, ela está olhando pra mim:

— Não está ouvindo, Victor?— Hã? Presente.— Tudo bem?— Está sim. — Respondo rapidamente.Não, eu não estou bem. É isso que eu quero dizer.Como posso estar bem, olhando para você, querida professora,

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fazendo a chamada nesta posição tão oferecida, com um dos joe-lhos apoiados na cadeira, o cotovelo esquerdo na mesa, usando o braço direito para escrever e, por que diabos, ela está com essa bunda deliciosa tão empinada?

Como posso estar bem com seu cabelo roçando o diário de classe, quando na verdade, estou me imaginando deitado exata-mente onde ele está agora, sendo tocado pelos seus cabelos? Posso senti-los roçando no meu peito.

E tem mais: pare de sorrir. Será que você continuaria com este sorriso enquanto eu te pegasse por trás, exatamente nesta posi-ção que está agora? Não vê que está me matando de desejo? Vou morrendo um pouco por não ter essa chance. E não vivi nem duas horas deste dia.

— Não está me ouvindo, Victor?Durante esta minha viajada, só fui perceber quando ela já es-

tava parada do meu lado, fazendo esta pergunta.O quê? Pensei tão alto assim? O que foi que eu disse? Aliás, até

onde eu disse?A loucura está tomando conta de mim.— Não, não. Nada não, professora.— Está bem mesmo? Está distante. Está se sentindo mal?— Tudo bem. É só sono, professora.Ela se virou, continuando a falar. Mas agora, toda a turma estava

convidada a participar do acontecimento:— Porque eu não entendo como vocês conseguem dar essas

viajadas na matéria. E dormir, então? Não pode, gente. Não nas aulas. O fim do ano está chegando e com ele todas as provas e...

Ela continuou com aquela conversa trivial que todo professor tem, com cobrança de matéria e exigência de boas notas. Só que ela se esqueceu de um pequeno detalhe: não se pode falar de coisa séria relacionada a estudo e sair pela sala com aquele andar provocador. Aquele par de pernas que eu daria tudo para que me envolvessem. Pode me apertar. Eu deixaria você abusar muito de mim.

E ao completar o discurso, ela se vira para o quadro e começa a passar a matéria. Foi anotando, fazendo uma linha de pensa-mento e acabou tendo que se inclinar para escrever na parte mais baixa da lousa.

Agora, Fernanda estava lá, reclinada a escrever, com a bunda

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virada na minha direção. Usava uma saia até os joelhos que não me deixava ver nada além de alguns poucos centímetros da sua coxa. Mas, em compensação, a silhueta daquela bunda deliciosa estava ali, perfeitamente desenhada e toda para mim.

Deus! Ela está de sacanagem comigo! Só pode.

Isso deve ser algum joguinho. Algo que as mulheres mais experientes devem fazer porque sabem demais sobre nós, por-que enxergam nossa “babação” por elas e ficam se fazendo de ingênuas, fazendo tipo “só estou passando matéria no quadro, se você está pensando em sexo, o pervertido é você”. Coitadinha. Ainda sim, safada e gostosa. No final das contas, ela é mesmo uma vítima dos meus pensamentos. O pervertido sou eu.

Aliás, esse comportamento é o tipo de coisa que reparo desde sempre entre as professoras. Sim, eu me esqueci de contar: já fui apaixonado platonicamente por outra professora. Muito mais gostosa que esta, mas parava aí. Talita era extremamente previ-sível: sempre literatura, poemas (que ela provavelmente repetia por anos seguidos) e, por isso, não se notava empolgação nas suas aulas. Sempre aquele olhar distante acompanhado da mesma entonação de voz. E os mesmos decotes, as mesmas blusas curtas que deixavam centímetros da pele do abdômem de fora. Ora as costas, ora a barriga, ora a lingerie. Uma loucura!

Era impossível não ter uma dúvida e chamá-la na sua carteira para desfrutar de um toque de sua pele. Ou usar a velha tática de combinar com o colega de trás para chamá-la, pedir uma explicação e se virar também para aproveitar da ajuda. Ela ficava toda feliz, achando que estávamos muito interessados na sua ma-téria. E estávamos: era uma delícia a visão daqueles peitos. E uma loucura lembrar.

Mas como devem ter percebido: era. Passado. Lá se foram dois anos dos estratagemas usados com essa professora gostosa. Continua gostosa. Continuamos com a combinação de chamá-la na carteira, mas agora eu só me presto ao papel do “aluno com dúvida” e ajudo os colegas a terem uma alegria a mais na aula.

Tudo isso mudou porque, no início deste ano, entrou em cena Fernanda. De óculos, camisas fechadas, calça comprida, sapatos quase sempre fechados e cabelos quase sempre presos. Às vezes

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usa os cabelos soltos, outras vezes ela aparece usando saia, mas até os joelhos. No dia que aparece um pouquinho de pele do braço, da perna, do colo, já fico empolgado. Essa coisa de brincar de “es-conde e mostra” dá muito certo.

Porém, mesmo que esteja coberta de tecido, as roupas não conseguem esconder as curvas dela. A calça comprida, sempre mais justa, revela um bumbum durinho e coxas firmes. Ela não deve ser dessas que dedicam horas do dia à academia, mas deve malhar. A camisa sempre impecável. As meninas da sala sempre elogiam o fato dela quase nunca repetir roupas. Nunca vi a barriga dela, embora uma blusa mais justa sempre sugira que não tem nada sobrando. Deve ser por isso, por não ficar se exibindo, que as meninas a acham legal. E tenho certeza que é isso que me deixa a cada dia mais louco.

Outra coisa: eu e os caras nunca combinamos de chamá-la na carteira. Não que já não tenha rolado interesse, mas é que não precisa: ela vem.

Fernanda nunca deu uma aula sentada à sua mesa. Está sem-pre passeando entre as filas de carteira enquanto explica a matéria. Domina e gosta tanto do que está ensinado, que só usa o material da apostila quando quer que marquemos algo importante ou faça-mos exercícios. Ela conversa com os alunos, perguntando despre-tensiosamente como estão. Fala bobeira, mas com o limite que a sua posição permite. Não é dessas que tentam ser coleguinhas, mas demonstra interesse pelo que falamos. Explica a matéria e nos usa como exemplo. Sabe o nome de todos. E foi assim que conquistou a admiração de praticamente toda a sala, garotos e garotas. Ela sabe que tem a atenção de todos. E para mim, parece se deliciar com isso.

E quando ela para do meu lado? Tenho certeza que está escri-to na minha testa alguma palavra que a deixe ainda mais certa do meu interesse. Desvio olhar. Impossível, ela me “lê”. Seu perfume é um aroma fresco como de alguém que acabou de sair do banho. Penso nela fora da sala de aula e consigo sentir. Está registrado na minha memória olfativa.

Poderia ficar horas descrevendo o que vejo, imagino e sei dela. Isso é tentador. Essa coisa toda é meio que um jogo de poder. E o poder anda junto com o medo, com a vontade, com a audácia. E eu queria tocá-la, senti-la. Ela está tão perto e ao mesmo tempo tão distante das minhas possibilidades.

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Ainda estou na sala de aula, divagando sobre ela. É quando sou chamado de volta à realidade. Olho para mim, estou extrema-mente excitado e isso está claro pelo volume na minha bermuda. Cruzo as pernas, numa sensação que mistura dor, prazer e certa vergonha, principalmente porque me dei conta de que ela está olhando para mim.

Eu nunca mais venho para o colégio de bermuda quando tiver aulas com ela. Só calça jeans. Estaria numa situação mais fácil de ser contornada caso estivesse numa porcaria de uma calça jeans.

— É o que estou pensando, cara? — Mateus, que senta do meu lado, também notou. Ele continua:

— Pede para sair de sala!— Ficou louco? Não me movo até o sinal do fim da aula tocar.Era trágico, cômico. Mais cômico. E assim, começamos a rir da

situação. E, claro, Fernanda não perdeu a chance de nos repreender pela desatenção.

— Desculpa professora, não vai acontecer novamente.Com esse “novamente” eu me referia à questão da conversa

paralela atrapalhando a aula. Quanto a estar excitado — espero que ela não tenha notado —, já não poderia garantir que não aconte-ceria mais. Sei lá quantas vezes isso já tinha ocorrido durante as aulas dela.

“É claro que não vai”. Foi o que entendi quando seus olhos castanhos, com aquelas sobrancelhas arqueadas, supostamente me desprezaram. Foi um pequeno balde de água fria.

Melhor voltar para a aula dela, prestar atenção na matéria, por-que senão sobram dúvida para estudar depois. E em casa eu não estudo mesmo. E a próxima semana já é a semana de provas. So-mente provas, nada de aulas.

Espere aí... Esta é a última semana de aula!Semana que vem é semana de prova. E a semana seguinte tam-

bém. E a semana que seguir à próxima, não mais a encontrarei, já que há uma separação das turmas por áreas específicas dos vestibulares.

Senti uma apunhalada da realidade. Seria brincar com a sorte acreditar que iria encontrá-la novamente, já que ela é professora da área de Humanas e eu, aluno de Exatas. Acabou-se a minha saga de ficar observando-a e as minhas “viagens” enquanto ela dá aula.

Estará tudo acabado.

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E como não há situação ruim que ainda não possa piorar, não haverá mais aula alguma dentro de pouco tempo. Este é meu último ano na escola. Perderei por completo o contato com ela.

Fui tomado pelo desespero.Preciso pensar e agir. Rápido.O sinal tocou.A chance de hoje se perdeu.

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