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COMUNICAÇÕES APRESENTADAS NOS SEMINÁRIOS DO GABINETE DE ESTUDOS DA

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

ORGANIZAÇÃOArlete Matola . Johane Zonjo . Sérgio Padeiro

GABINETE DE ESTUDOS

DA

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

2012

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Comunicações dos Semináriosda Presidência da RepúblicaArlete MatolaArlete Matola, Johane Zonjo e Sérgio PadeiroGabinete de Estudos da Presidência da RepúblicaArlete Matola e Johane ZonjoMarlene MagaiaJerónimo NhamunzeElídio Tembe, Ezidório Armando Ribeiro, Eulálio Lucas Monteiro, Fernando Timane, Armando Munguambe Gabinete de Imprensa da Presidência da RepúblicaLuís JussaPACTO Imagem, Lda.7595/RLINLD/20121.500 exemplaresMaputo, Novembro de 2012

Título:

Coordenação:

Organização:

Editor:

Revisão:

Coordenação da edição de som e fotografias:

Edição de vídeo:

Fotografias:

Gravação:

Design Gráfico:

Produção:

Número de Registo:

Tiragem:

Local e data da publicação:

O Gabinete de Estudos agradece:

Aos participantes dos debates

Ao Gabinete de Imprensa da Presidência da República

Ao Gabinete do Protocolo do Estado

À Direcção de Administração e Finanças da Presidência da República

Ficha Técnica

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Índice

SOBRE OS AUTORES DAS COMUNICAÇÕES DA COLECTÂNEA............................................................................6

NOTA DO EDITOR................................................................10.

A INICIATIVA PRIVADA COMO UM DOS INSTRUMENTOS DINAMIZADORES DA ECONOMIA DO NOSSO PAÍSSua Excelência, Armando Emílio Guebuza...................................................14

O PAPEL DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE FACE AOS DESAFIOS DO SECTOR

Aurélio Amândio Zilhão....................................................................................21

OPORTUNIDADES DE INVESTIMENTO EM MOÇAMBIQUE:

DESAFIOS PARA O EMPRESARIADO NACIONAL

Adriano Afonso Maleiane...................................................................................35

POR UM PENSAMENTO ENGAJADO

Severino Elias Ngoenha.....................................................................................61

COMENTÁRIOS E “ADENDA” AO TRIPLO CONTRATO DE SEVERINO NGOENHA José Paulino Castiano.................................................................................96

A INDÚSTRIA DE HIDROCARBONETOS EM MOÇAMBIQUE: CAMINHOS A PERCORRER PELOS MOÇAMBICANOS

Nelson Ocuane.............................................................................108

A INDÚSTRIA DE HIDROCARBONETOS EM MOÇAMBIQUE: CAMINHOS A PERCORRER PELOS MOÇAMBICANOS(Comentário ao texto de Nelson Ocuane) Daúd Jamal.................................................................................................151

OS DESAFIOS DO SISTEMA DE ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA EM MOÇAMBIQUE

Filipe Sebastião Sitoi.......................................................................................155

OS DESAFIOS DO SISTEMA DE ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA EM MOÇAMBIQUE

(Comentário ao texto de Filipe Sebastião Sitoi)

Tomás Luís Timbana..................................................................................................197

O DEBATE COMO UM DOS INSTRUMENTOS DA CONSTRUÇÃO DE UMA VISÃO COMUM DO NOSSO PAÍS

Sua Excelência, Armando Emílio Guebuza..............................................209

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Comunicações dos SemináriosComunicações dos SemináriosC da Presidência da República

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Gabinete de Estudos Gabinete de Estudos G da Presidência da República

SOBRE OS AUTORES DAS COMUNICAÇÕES DA COLECTÂNEA

Aurélio Amândio Zilhão: É Licenciado em Medicina pela Universidade Eduardo Mondlane, e possui o Grau de Especialista em Medicina Interna. Trabalhou no Gabinete de Estudos e, posteriormente, na Secção de Nutrição ao nível do Ministério da Saúde (MISAU). Foi Director Provincial de Saúde de Tete, cargo que exerceu em regime de acumulação com a de Director do Hospital Provincial de Tete. De 1984 até 1994, foi docente na Universidade Eduardo Mondlane (UEM), onde exerceu vários cargos de direcção ao nível da Faculdade de Medicina daquela instituição universitária de ensino superior. Foi ainda Director do Hospital Central do Maputo, Deputado da Assembleia da República e de 1995 a 1999 assumiu o cargo de Ministro da Saúde da República de Moçambique. Actualmente é Director do Instituto Superior de Ciências de Saúde (ISCISA) e Bastonário da Ordem dos Médicos.

Adriano Afonso Maleiane: É Mestrado (Msc) em Economia Financeira pela Universidade de Londres (SOAS), Licenciado em Economia pela Universidade Eduardo Mondlane e Diplomado em Contabilidade pelo Instituto Comercial de Maputo. Está ligado à actividade bancária e financeira há mais de 38 anos. No Banco de Moçambique exerceu várias funções, nomeadamente: Governador do Banco de Moçambique durante 15 anos e nessa qualidade dirigiu reformas no quadro de desenvolvimento do sistema bancário. Vice-Governador, Administrador e Director. Como técnico bancário foi analista principal de crédito à Indústria, Transportes e Comunicações e Construção. A sua experiência bancária inclui bancos de retalho, Banco Comercial de Angola e Casa Bancária de Moçambique ambos integrados no Banco de Moçambique, em 1978. É Docente da cadeira de Sistema Financeiro na Faculdade de Economia da Universidade Eduardo Mondlane. Leccionou ainda as cadeiras de Contabilidade Geral, de Custos, Bancária e de Seguros, no Instituto Comercial de Maputo. Tem publicações de natureza económica e financeira na colectânea STAFF PAPER do Banco de Moçambique. É Membro da Associação Moçambicana de Economistas e do Instituto de Auditores Internos de Moçambique. Presentemente é Presidente da Comissão Executiva do Banco Nacional de Investimento (BNI).

Severino Elias Ngoenha: É Doutorado em Filosofia pela Universidade Gregoriana de Roma. É responsável pela Pós-Graduação na Universidade São Tomás de Moçambique desde 2010. É Professor Convidado em várias

universidades, sendo de destacar a Universidade Roma III; Universidade de Bologna; Universidade Eduardo Mondlane; Instituto Superior de Relações Internacionais em Maputo. É representante da Universidade de Lausanne pela Suíça Francesa na Escola Doutoral em Ciências da Educação, desde 2005 e responsável do programa de Mestrado em Educação e do Laboratório de Ciências da Educação na Universidade de Lausanne e Professor Associado na mesma universidade. Foi responsável pela introdução da filosofia, o que corresponde a elaboração dos curricula, formação e acompanhamento dos professores, elaboração dos materiais didácticos e do ensino. É ainda investigador sénior do Fundo de Investigação Científica Suíço, do Programa Europeu em Ciências Sociais (Comenius) da DDC (Cooperação Suíça) e pelo Banco Mundial. Produziu várias publicações sendo de destacar A Longa Marcha por uma “Educação para Todos” em Moçambique; Machel: Ícone da Primeira República e O Barómetro da Educação em Moçambique.

José Paulino Castiano: É Doutorado em Filosofia com especialidade em Educação pela Universidade de Hamburgo na Alemanha. Actualmente ocupa o cargo de Pró-Reitor para a Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão na Universidade Pedagógica e lecciona Pensamento e Filosofia Africana; Filosofia da Pós-Modernidade e Filosofia da Educação. Director do Centro de Pós-Graduação, Director do Instituto de Investigação Social e Educação (ISOED) e membro não-executivo da Comissão Nacional de Avaliação da Qualidade no Ensino Superior (CNAQUE). Docente em mestrados e licenciaturas nas Universidades Pedagógicas e Universidade Eduardo Mondlane. Participou em diversos eventos científicos e de consultoria. Possui várias publicações sendo de destacar a obra O Barómetro da Educação em Moçambique. Estudo-Piloto sobre a Educação Básica, em co-autoria com Severino E. Ngoenha & Manuel Guro Zianja, bem como Pensamento Engajado: Ensaios sobre Filosofia Africana, Cultura Política e Educação, com Severino Ngoenha.

Nelson Ocuane: É Licenciado em Geologia pela Universidade Eduardo Mondlane e Pós-Graduado em Administração e Gestão de Empresas pelo ISCTE de Lisboa e A Politécnica de Moçambique. É Certificado em Gas and Oil Management & Business Administration pela CWC de Londres e pela Microsoft da Noruega em Administração e Gestão de Redes Informáticas. Tem 14 anos de experiência no sector de petróleo e gás. De 2005 a 2007 foi Administrador do Pelouro de Pesquisa e membro do Conselho de Administração do Instituto Nacional de Petróleo. Desde 2007 é Presidente do Conselho de Administração da Empresa Nacional de Hidrocarbonetos. Para além da Gestão e Administração de Empresas do ramo petrolífero, tem uma vasta experiência como geocentista na pesquisa de

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Comunicações dos SemináriosComunicações dos SemináriosC da Presidência da República

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Gabinete de Estudos Gabinete de Estudos G da Presidência da República

petróleo e gás, cálculo de reservas, avaliação de bacias sedimentares e prospectos. Participou na preparação, lançamento e avaliação de concursos internacionais para a concessão das áreas de pesquisa, na negociação de contratos de pesquisa e produção de hidrocarbonetos, bem como na negociação de financiamento.

Daud Jamal: É Licenciado em Geologia pela Universidade Eduardo Mondlane e Doutorado em Geologia pela Universidade de Cape Town. É docente do Departamento de Geologia na UEM desde 1992, na área de Geodinâmica Interna. Foi membro de Conselho Académico da Universidade Eduardo Mondlane e Director-Adjunto para Docência da Faculdade de Ciências desta Universidade. As suas áreas de interesse abarcam geodinâmica interna, metalogenia e ensino de geociências. Para além das actividades de docência e pesquisa, actualmente exerce o cargo de Presidente da Associação Geológica Mineira de Moçambique, a qual representa no Comité de Coordenação da Iniciativa de Transparência da Industria Extractiva.

Filipe Sebastião Sitoe: É jurista, advogado, consultor jurídico sénior e docente universitário da Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane. Colabora com outras instituições do ensino superior

(A Politécnica e o ISCTEM). É membro do Conselho Superior da Magistratura Judicial desde 2011 e actualmente é Vice-Presidente da Terceira Secção do Conselho Jurisdicional da Ordem dos Advogados de Moçambique. As suas áreas de interesse incluem o Direito Público e Privado e, na qualidade de assessor e advogado tem lidado com muitos assuntos na área da reforma legal, do direito administrativo, civil, criminal e laboral. Em 2007, foi contratado pela UTREL (Unidade Técnica da Reforma Legal) para elaboração do Plano Estratégico do IPAJ (Instituto do Patrocínio para a Assistência Jurídica). Como docente universitário na Faculdade de Direito da UEM, desempenhou a função de Chefe de Departamento de Ciências Jurídico Económicas (2007 a 2011). Foi Coordenador Adjunto do Centro de Práticas Jurídicas. Como advogado, é membro da I.B.A. (International Bar Association); da União dos Advogados da Língua Portuguesa; e da Lawyers Association Annual Conference da SADC.

Tomás Luís Timbana É Mestre em Ciências Jurídicas e Doutorando em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane (UEM). É docente universitário na Faculdade de Direito da UEM e advogado inscrito na Ordem dos Advogados de Moçambique, onde é Presidente do Conselho Jurisdicional. É formador convidado do Centro de Formação Jurídica e Judiciária e membro do respectivo Conselho Pedagógico. É sócio coordenador do escritório de advogados Gabinete Legal Moçambique e sócio internacional da PLMJ

International Legal Network, uma rede de escritórios de advogados com sede em Lisboa. Foi Director Adjunto para Investigação e Extensão da Faculdade de Direito da UEM e membro do Conselho Académico da mesma universidade. Tem trabalhado em consultoria e assessoria jurídica e participou em inúmeras comissões de revisão da demais legislação no País. Possui uma vasta experiência em contencioso civil, comercial, laboral e administrativo e ultimamente tem se dedicado ao estudo e investigação em recursos naturais e energia. Possui dezenas de artigos publicados em revistas nacionais e estrangeiras e é autor de três obras nas áreas do direito processual civil e direito de trabalho, nomeadamente: A Rescisão Unilateral do Contrato de Trabalho com Justa Causa (2006); A Revisão do Processo Civil (2007); e Lições de Processo Civil I (2010).

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Comunicações dos SemináriosComunicações dos SemináriosC da Presidência da República

“[…] Precisamos de mais debates [..]. Somente o problema que existe é que as coisas vão andando. Não podemos esperar pelos debates para fazer as coisas, mas devemos sempre tanto quanto possível compatibilizar os debates com a realização daquilo que representa o melhoramento da vida dos moçambicanos. O segundo aspecto é que sente-se que há uma forte componente patriótica neste processo […] e oxalá que esta componente patriótica continue a ser muito forte e seja cada vez mas racionalizada também – é importante porque o patriotismo sem racionalização leva a extremos e a fanatismos perigosos. Mas o patriotismo está lá, então é um nosso recurso. Vamos de forma racional, encontrar soluções para que todos os moçambicanos, o Povo Moçambicano todo ele, possa beneficiar. [...]” – Armando Guebuza1

Este número da colectânea contempla um conjunto de textos que abarcam diferentes áreas de actividade da vida nacional. As comunicações que se apresentam, são fruto de acesos debates que têm tido lugar na Presidência da República, onde moçambicanos representando diferentes sensibilidades aprendem todos uns com os outros, enriquecendo as discussões e contribuições apresentadas nas diferentes ocasiões na condição de activos participantes. Foi no espírito aqui descrito que o académico, escritor e poeta moçambicano Filimone Meigos caracterizou o espaço do debate na Presidência da República como “um braço das Presidências Abertas e Inclusivas” que contribui para “a construção permanente da nossa condição de mulheres e homens moçambicanos”.

Os artigos constantes nesse número, alguns acompanhados de comentários, conectam-se entre si na procura de respostas aos desafios que se impõem ao sistema de governação desta jovem pátria moçambicana. Essas respostas, surgem aqui como propostas para a contínua melhoria das políticas públicas nacionais, apelando para um

melhor desempenho tanto por parte do Executivo quanto dos actores do Sector Privado e da Sociedade Civil.

Assim, a colectânea abre com o artigo de Aurélio Zilhão, intitulado O papel dos profissionais de saúde face aos desafios do sector que se debruça sobre os desafios que se colocam aos profissionais de saúde bem como ao Estado Moçambicano. Trata-se de uma reflexão orientada para a melhoria das políticas institucionais no sector da saúde. Na realidade, perante o aumento da população mundial no geral e a moçambicana em particular, com o infalível processo de migrações, a diversidade cultural que caracteriza o mundo, a complexidade tecnológica, a rápida propagação de epidemias e o surgimento de novas doenças, desafia-nos a assumir uma atitude de mudanças, nomeadamente a quebra de rotinas, a redefinição do papel da família, da comunidade e da sociedade no sector da saúde. Nesse quadro atrás traçado, impõe-se ao sector da saúde a necessidade de continuar a reflectir e assumir uma atitude proactiva em torno do papel dos profissionais deste sector nesta nova conjuntura.

Desse modo, Aurélio Zilhão apresenta o pensamento da classe médica e dos trabalhadores de saúde em relação à forma como é que no momento actual são prestados os cuidados da saúde em Moçambique. A comunicação analisa (i) a extensão dos cuidados de saúde para uma maior cobertura à populacional; (ii) a formação do pessoal de saúde, dos médicos e dos especialistas; (iii) a preocupação pela retenção dos médicos e médicos especialistas no Sistema Nacional de Saúde; (iv) a situação do pessoal paramédico; bem como os aspectos da (v) eficiência, humanização e credibilidade do Sistema Nacional de Saúde.

A segunda comunicação é uma reflexão em torno das oportunidades de investimento em Moçambique nos últimos anos. A apetência pela exploração dos recursos naturais existentes em Moçambique, tem sido o chamariz para a vinda massiva de investidores estrangeiros, o que em si já constitui um desafio. Por isso, a questão da participação do empresariado nacional neste movimento tornou-se num tema que se encontra no centro dos grandes debates em torno do crescimento e desenvolvimento nacionais. Em Oportunidades de investimento em Moçambique: Desafios para o Empresariado Nacional, Adriano Maleiane

1Comentário do Presidente Armando Guebuza por ocasião do encerramento do Seminário sobre A Participação dos Nacionais na Indústria de Hidrocarbonetos em Moçambique organizado pelo Gabinete de Estudos da Presidência da República e que teve lugar no dia 25 de Julho de 2012.

Nota do Editor

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Comunicações dos SemináriosComunicações dos SemináriosC da Presidência da República

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Gabinete de Estudos Gabinete de Estudos G da Presidência da República

procura responder a seguintes questões: i) como avaliar a prontidão dos moçambicanos para esses novos desafios; ii) que oportunidades existem; iii) como está estruturado o empresariado nacional para a sua participação efectiva neste movimento de investidores estrangeiros; iv) qual a adequação necessária dos organismos do Estado e das instituições financeiras para apoiarem a participação do empresário nacional; e, finalmente, v) que passos podem ser tomados para a materialização deste desígnio nacional.

O artigo seguinte é de Severino Ngoenha e convida-nos a uma viagem pelo mundo da filosofia, numa análise que assenta nos desafios de Moçambique na consolidação do nacionalismo num contexto pluralista. Através do texto Por um Pensamento Engajado, Severino Ngoenha argumenta que a questão filosófica que se coloca na actualidade moçambicana é a de como fazer com que a democracia não se transforme num jogo de elites, de modo a que a maioria da população possa, de facto, participar com conhecimento de causa, não só através de um boletim de voto de cinco em cinco anos. Nesse sentido, Ngoenha defende que a «tarefa» da filosofia é não esquecer que a nível interno ainda não somos capazes de ser cabalmente responsáveis pela nossa liberdade. Ela, a filosofia, incumbe-nos de descobrir e inventar espaços de liberdade concretos, dar material e instrumentos teóricos aos políticos nacionais. Desse modo, Ngoenha propõe um triplo contrato para Moçambique: um contracto cultural, social e político. O debate lançado por Severino Ngoenha não se esgota no seu texto, pois José Paulino Castiano apresenta de seguida uma reflexão onde comenta a ideia do triplo contrato defendida por Ngoenha e acrescenta-lhe novos elementos a que chama de “adenda” ao triplo contrato, ou seja, que ele chama de contrato de gerações.

Da filosofia passamos para os recursos minerais. Com efeito, as importantes descobertas de gás em Moçambique colocam enormes desafios no exercício da soberania nacional e no redimensionamento dos desafios que se colocam ao desenvolvimento nacional. A actividade económica de pesquisa e extracção de hidrocarbonetos é uma das que mais gera reflexos nas indústrias de bens e serviços com benefícios para o mercado interno e internacional. Por isso, afigura-se numa verdadeira

indústria-alavanca que impulsiona a produtividade no próprio sector e em outros sectores nos quais os nacionais devem abraçar as várias oportunidades e assumirem o desafio de resposta em relação a demanda de bens e serviços que este tipo de indústria exige. Nesta óptica, o artigo A Indústria de Hidrocarbonetos em Moçambique: Caminhos a percorrer pelos Moçambicanos da autoria de Nelson Ocuane procura explorar a possível ligação entre as receitas geradas pela indústria dos hidrocarbonetos e o desenvolvimento no plano humano e social. A análise permite sustentar que as receitas geradas pela indústria poderão contribuir significativamente para o desenvolvimento social, através da criação de um Fundo Soberano bem como através do investimento em projectos em áreas que se interligam com o desenvolvimento económico, como, por exemplo, a educação. A comunicação de Ocuane é acompanhada de um comentário da autoria de Daud Jamal.

A colectânea encerra as discussões com o tema sobre a justiça. A construção e consolidação de um Estado de Direito Democrático reside em última instância numa administração da justiça célere e próxima ao cidadão. É nessa ordem que a comunicação Os Desafios da Administração da Justiça em Moçambique de Filipe Sitoi procura reflectir sobre os desafios do sistema de justiça em Moçambique e perceber a ratio da administração do sistema judicial em Moçambique, focalizando em quatro aspectos: (i) os desafios e/ou obstáculos actuais da administração da justiça; (ii) o papel dos seus principais actores; (iii) os avanços obtidos na reforma legal e prisional em curso; (iv) a questão da garantia do acesso a justiça por parte da população. A discussão sobre a administração da justiça em Moçambique fica completa nesta colectânea com o comentário de Tomás Timbana sobre a comunicação de Filipe Sitoi.

Desejamos ao nosso estimado leitor uma boa leitura!

Maputo, Novembro de 2012

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A INICIATIVA PRIVADA COMO UM DOS INSTRUMENTOS DINAMIZADORES DA ECONOMIA

DO NOSSO PAÍS

Comunicação apresentada por Sua Excelência, Armando Emílio Guebuza, Presidente da República

de Moçambique, por ocasião da abertura do Ciclo dos Seminários do ano de 2012 organizados pelo Gabinete de

Estudos da Presidência da República

Senhores Membros do Conselho de Ministros,

Distintos Painelistas,

Caros Convidados,

Minhas Senhoras e meus Senhores,

É com bastante prazer e muita satisfação que nos dirigimos a todos os convidados para como sempre, proceder à abertura do ciclo de seminários 2012 neste espaço e num ambiente que nos permite congregar e partilhar ideias e pontos de vista num único objectivo de construir um Moçambique cada vez melhor para todos. Por isso, quereremos saudar a todos os presentes e desejar que o ano que ora inicia seja de muito trabalho e repleto de sucessos para todos os Moçambicanos do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico.

O tema deste seminário, “Oportunidades de Investimento em Moçambique: Desafios para o Empresariado Nacional”, não podia ser mais actual, numa altura em que a nossa Pérola do Indico tornou-se num destino apetecível para os investidores, sobretudo para as áreas de hidrocarbonetos, Silvicultura, Turismo, Infraestruturas e outras.

E, é por isso que o Governo está, a par doutras tarefas prioritárias nacionais, a dinamizar a actividade económica no País, através da formulação e reformulação das suas políticas com vista à consolidação do empresariado nacional e para responder à demanda da implantação dos vários projectos de desenvolvimento em curso no País.

Qualquer que seja o ângulo de análise, temos de convir que o ambiente para o desenvolvimento empresarial é melhor hoje no nosso País.

Devemos a esse respeito dar crédito às transformações estruturais e à melhoria progressiva da estabilidade macro-

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Comunicações dos SemináriosComunicações dos SemináriosC da Presidência da República

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Gabinete de Estudos Gabinete de Estudos G da Presidência da República

económica; mas também é justo realçarmos a tenacidade, o empenho e o espírito de iniciativa de muitos dos nossos empresários que contra todas as vicissitudes conseguiram manter as suas empresas em produção.

É amplamente partilhada a análise de que a globalização, enquanto expressão da dinâmica crescente da economia mundial coloca cada vez mais as economias nacionais perante pressões exógenas inescapáveis. Por isso, aos nossos empresários e ao Estado, impõe-se a necessidade de enfrentar com determinação, o repto lançado por esta dinâmica crescente da economia global, visando uma inserção vantajosa na mesma. Com efeito, a economia moçambicana não pode alhear-se das rápidas e profundas transformações que caracterizam a fase actual da economia mundial.

É neste contexto que o Governo assume o objectivo da inserção activa na dinâmica da economia mundial, desejavelmente no quadro de uma globalização regulada e integradora, assente num princípio de equilíbrio de oportunidades e ameaças. Na concretização deste desiderato a actuação do nosso Governo orienta-se pela busca de parcerias com o sector privado, no quadro de uma nova era de cooperação entre os sectores públicos e privados, em particular com o empresariado nacional, no sentido da redução das ameaças e da potenciação das oportunidades.

Com efeito, um grande desafio a enfrentar pelo país é o da logística e que envolve a todos nós, nomeadamente, o Estado e o Sector Privado, bem como o da superação qualitativa e estrutural da nossa economia, acompanhada de um crescimento económico robusto e alicerçado nos valores patrióticos. O Executivo aqui é chamado a continuar a desempenhar um papel de relevo conjugando os seus esforços com as demais forças vivas do nosso País.

Assim, para além da persistência numa actuação determinada de garantia permanente da estabilidade macro-económica, outro traço distintivo do regime económico que se deseja para Moçambique é o enfoque micro-económico, centrado no lado da oferta e virado nomeadamente, para a melhoria dos factores de competitividade das empresas e da nossa economia no seu todo.

Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s, a valorização de parcerias com as associações, a aposta na formação profissional, nas tecnologias de informação e comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos modelos de gestão fazem parte do leque de medidas visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, qualidade, mudança, abertura, de gosto pela aprendizagem permanente e, sobretudo, de valorização das capacidades nacionais. Estas valências transversais ou factores dinâmicos de competitividade contribuirão para o alargamento da base produtiva, bem como para o reforço da competitividade do país, no quadro da sua participação na economia global.

Queremos um sector privado que realize investimentos rentáveis para si e para a economia nacional e que seja capaz de cumprir as suas obrigações fiscais. Passo importante foi já dado ao nível local, no quadro da metodologia participativa utilizada na gestão dos 7 milhões, que mobilizaram de forma significativa as capacidades nacionais e potenciaram o objectivo da apropriação e da participação na economia nas zonas rurais do nosso país.

A Reforma do Sector Público, ao introduzir elementos de eficácia, eficiência, racionalidade, transparência e maior segurança, visa contribuir para a criação de um ambiente

dos factores de competitividade das empresas e da nossa

cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, qualidade, mudança, abertura, de gosto pela aprendizagem permanente e, sobretudo, de valorização das capacidades

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visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação,

visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, qualidade, mudança, abertura, de gosto pela aprendizagem permanente e, sobretudo, de valorização das capacidades

nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, qualidade, mudança, abertura, de gosto pela aprendizagem permanente e, sobretudo, de valorização das capacidades

visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma

visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, qualidade, mudança, abertura, de gosto pela aprendizagem permanente e, sobretudo, de valorização das capacidades

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comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos modelos de gestão fazem parte do leque de medidas visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar

comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos modelos de gestão fazem parte do leque de medidas visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a

permanente e, sobretudo, de valorização das capacidades nacionais. Estas valências transversais ou factores dinâmicos de competitividade contribuirão para o alargamento da base

permanente e, sobretudo, de valorização das capacidades permanente e, sobretudo, de valorização das capacidades permanente e, sobretudo, de valorização das capacidades nacionais. Estas valências transversais ou factores dinâmicos permanente e, sobretudo, de valorização das capacidades permanente e, sobretudo, de valorização das capacidades permanente e, sobretudo, de valorização das capacidades permanente e, sobretudo, de valorização das capacidades permanente e, sobretudo, de valorização das capacidades nacionais. Estas valências transversais ou factores dinâmicos permanente e, sobretudo, de valorização das capacidades nacionais. Estas valências transversais ou factores dinâmicos permanente e, sobretudo, de valorização das capacidades nacionais. Estas valências transversais ou factores dinâmicos de competitividade contribuirão para o alargamento da base

permanente e, sobretudo, de valorização das capacidades nacionais. Estas valências transversais ou factores dinâmicos nacionais. Estas valências transversais ou factores dinâmicos nacionais. Estas valências transversais ou factores dinâmicos nacionais. Estas valências transversais ou factores dinâmicos de competitividade contribuirão para o alargamento da base

qualidade, mudança, abertura, de gosto pela aprendizagem qualidade, mudança, abertura, de gosto pela aprendizagem permanente e, sobretudo, de valorização das capacidades permanente e, sobretudo, de valorização das capacidades permanente e, sobretudo, de valorização das capacidades permanente e, sobretudo, de valorização das capacidades nacionais. Estas valências transversais ou factores dinâmicos

o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação,

Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s, a valorização de parcerias com as associações, a aposta na formação profissional, nas tecnologias de informação e comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos modelos de gestão fazem parte do leque de medidas visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a

formação profissional, nas tecnologias de informação e formação profissional, nas tecnologias de informação e comunicação, o apoio financeiro através da mobilização comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos modelos de gestão fazem parte do leque de medidas visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar modelos de gestão fazem parte do leque de medidas visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a

Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s, a valorização de parcerias com as associações, a aposta na formação profissional, nas tecnologias de informação e a valorização de parcerias com as associações, a aposta na formação profissional, nas tecnologias de informação e formação profissional, nas tecnologias de informação e comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos modelos de gestão fazem parte do leque de medidas

Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s, a valorização de parcerias com as associações, a aposta na formação profissional, nas tecnologias de informação e a valorização de parcerias com as associações, a aposta na formação profissional, nas tecnologias de informação e formação profissional, nas tecnologias de informação e formação profissional, nas tecnologias de informação e comunicação, o apoio financeiro através da mobilização

a valorização de parcerias com as associações, a aposta na formação profissional, nas tecnologias de informação e a valorização de parcerias com as associações, a aposta na formação profissional, nas tecnologias de informação e a valorização de parcerias com as associações, a aposta na formação profissional, nas tecnologias de informação e formação profissional, nas tecnologias de informação e formação profissional, nas tecnologias de informação e comunicação, o apoio financeiro através da mobilização formação profissional, nas tecnologias de informação e comunicação, o apoio financeiro através da mobilização comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos

a valorização de parcerias com as associações, a aposta na formação profissional, nas tecnologias de informação e formação profissional, nas tecnologias de informação e formação profissional, nas tecnologias de informação e comunicação, o apoio financeiro através da mobilização comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos

a valorização de parcerias com as associações, a aposta na formação profissional, nas tecnologias de informação e a valorização de parcerias com as associações, a aposta na formação profissional, nas tecnologias de informação e formação profissional, nas tecnologias de informação e comunicação, o apoio financeiro através da mobilização formação profissional, nas tecnologias de informação e comunicação, o apoio financeiro através da mobilização comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos

a valorização de parcerias com as associações, a aposta na formação profissional, nas tecnologias de informação e comunicação, o apoio financeiro através da mobilização comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos

a valorização de parcerias com as associações, a aposta na formação profissional, nas tecnologias de informação e comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos modelos de gestão fazem parte do leque de medidas visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar

de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos modelos de gestão fazem parte do leque de medidas visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar modelos de gestão fazem parte do leque de medidas visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar modelos de gestão fazem parte do leque de medidas visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar

de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos modelos de gestão fazem parte do leque de medidas de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos modelos de gestão fazem parte do leque de medidas visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar modelos de gestão fazem parte do leque de medidas visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar

de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos modelos de gestão fazem parte do leque de medidas modelos de gestão fazem parte do leque de medidas modelos de gestão fazem parte do leque de medidas modelos de gestão fazem parte do leque de medidas de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos modelos de gestão fazem parte do leque de medidas visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar

comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos modelos de gestão fazem parte do leque de medidas visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a

modelos de gestão fazem parte do leque de medidas modelos de gestão fazem parte do leque de medidas modelos de gestão fazem parte do leque de medidas modelos de gestão fazem parte do leque de medidas visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a

modelos de gestão fazem parte do leque de medidas modelos de gestão fazem parte do leque de medidas visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma

modelos de gestão fazem parte do leque de medidas visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar

nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, qualidade, mudança, abertura, de gosto pela aprendizagem cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, nossa economia, pressupõe igualmente o incentivo de uma cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação, cultura de iniciativa, cooperação, gestão do risco, inovação,

visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar o défice qualitativo e estrutural que ainda caracteriza a visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar visando o reforço do empresariado nacional. Mas colmatar

economia no seu todo.

Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s, a valorização de parcerias com as associações, a aposta na formação profissional, nas tecnologias de informação e comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos

Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s,

comunicação, o apoio financeiro através da mobilização

Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s, Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s,

comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos

a valorização de parcerias com as associações, a aposta na formação profissional, nas tecnologias de informação e comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos

Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s, a valorização de parcerias com as associações, a aposta na formação profissional, nas tecnologias de informação e a valorização de parcerias com as associações, a aposta na formação profissional, nas tecnologias de informação e

Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s, Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s, a valorização de parcerias com as associações, a aposta na Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s, Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s, Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s,

comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos

economia no seu todo.

Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s, Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s, Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s, a valorização de parcerias com as associações, a aposta na formação profissional, nas tecnologias de informação e a valorização de parcerias com as associações, a aposta na formação profissional, nas tecnologias de informação e formação profissional, nas tecnologias de informação e

Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s, a valorização de parcerias com as associações, a aposta na Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s, a valorização de parcerias com as associações, a aposta na formação profissional, nas tecnologias de informação e a valorização de parcerias com as associações, a aposta na formação profissional, nas tecnologias de informação e comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos

formação profissional, nas tecnologias de informação e comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos

formação profissional, nas tecnologias de informação e comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos comunicação, o apoio financeiro através da mobilização

Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s, a valorização de parcerias com as associações, a aposta na formação profissional, nas tecnologias de informação e

Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s, a valorização de parcerias com as associações, a aposta na formação profissional, nas tecnologias de informação e comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos comunicação, o apoio financeiro através da mobilização comunicação, o apoio financeiro através da mobilização formação profissional, nas tecnologias de informação e formação profissional, nas tecnologias de informação e formação profissional, nas tecnologias de informação e formação profissional, nas tecnologias de informação e comunicação, o apoio financeiro através da mobilização comunicação, o apoio financeiro através da mobilização formação profissional, nas tecnologias de informação e comunicação, o apoio financeiro através da mobilização formação profissional, nas tecnologias de informação e formação profissional, nas tecnologias de informação e a valorização de parcerias com as associações, a aposta na formação profissional, nas tecnologias de informação e formação profissional, nas tecnologias de informação e formação profissional, nas tecnologias de informação e a valorização de parcerias com as associações, a aposta na formação profissional, nas tecnologias de informação e a valorização de parcerias com as associações, a aposta na a valorização de parcerias com as associações, a aposta na Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s, a valorização de parcerias com as associações, a aposta na a valorização de parcerias com as associações, a aposta na a valorização de parcerias com as associações, a aposta na a valorização de parcerias com as associações, a aposta na formação profissional, nas tecnologias de informação e a valorização de parcerias com as associações, a aposta na a valorização de parcerias com as associações, a aposta na a valorização de parcerias com as associações, a aposta na a valorização de parcerias com as associações, a aposta na Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s, a valorização de parcerias com as associações, a aposta na Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s, a valorização de parcerias com as associações, a aposta na Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s, Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s, Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s, Deste modo, o apoio às empresas, em particular às PME’s,

comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos

formação profissional, nas tecnologias de informação e comunicação, o apoio financeiro através da mobilização comunicação, o apoio financeiro através da mobilização de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos de linhas de crédito, o incentivo da qualidade e de novos

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Comunicações dos SemináriosComunicações dos SemináriosC da Presidência da República

institucional favorável à iniciativa e investimento privados incluindo o investimento directo estrangeiro.

A terminar, gostaria de desafiar os nossos Empresários e as Associações Empresariais no sentido de, para com base na parceria inteligente existente com o Governo, continuarmos a atacar as grandes questões do sector produtivo nacional.

Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar um debate aberto e produtivo.

Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete de Estudos do ano 2012.O nosso muito obrigado!

parceria inteligente existente com o Governo, continuarmos a atacar as grandes questões do sector produtivo nacional.

O nosso muito obrigado!O nosso muito obrigado!

Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete de Estudos do ano 2012.O nosso muito obrigado!

Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete de Estudos do ano 2012.O nosso muito obrigado!

Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar um debate aberto e produtivo.

Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete de Estudos do ano 2012.O nosso muito obrigado!

Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete de Estudos do ano 2012.O nosso muito obrigado!O nosso muito obrigado!O nosso muito obrigado!

Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar

Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete

Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar um debate aberto e produtivo.um debate aberto e produtivo.

Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete

Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar um debate aberto e produtivo.um debate aberto e produtivo.

Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete

um debate aberto e produtivo.

Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete

Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar um debate aberto e produtivo.um debate aberto e produtivo.um debate aberto e produtivo.

Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete

um debate aberto e produtivo.

Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete

um debate aberto e produtivo.

Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete de Estudos do ano 2012.O nosso muito obrigado!de Estudos do ano 2012.O nosso muito obrigado!O nosso muito obrigado!

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O nosso muito obrigado!O nosso muito obrigado!

Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete de Estudos do ano 2012.de Estudos do ano 2012.de Estudos do ano 2012.de Estudos do ano 2012.O nosso muito obrigado!O nosso muito obrigado!O nosso muito obrigado!O nosso muito obrigado!de Estudos do ano 2012.O nosso muito obrigado!O nosso muito obrigado!O nosso muito obrigado!O nosso muito obrigado!O nosso muito obrigado!O nosso muito obrigado!O nosso muito obrigado!O nosso muito obrigado!O nosso muito obrigado!O nosso muito obrigado!O nosso muito obrigado!O nosso muito obrigado!O nosso muito obrigado!

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Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete de Estudos do ano 2012.

parceria inteligente existente com o Governo, continuarmos a atacar as grandes questões do sector produtivo nacional. a atacar as grandes questões do sector produtivo nacional. a atacar as grandes questões do sector produtivo nacional. a atacar as grandes questões do sector produtivo nacional.

Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete

a atacar as grandes questões do sector produtivo nacional. a atacar as grandes questões do sector produtivo nacional. a atacar as grandes questões do sector produtivo nacional.

Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete

Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar

a atacar as grandes questões do sector produtivo nacional.

Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar

Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete

a atacar as grandes questões do sector produtivo nacional.

Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar um debate aberto e produtivo.um debate aberto e produtivo.Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar um debate aberto e produtivo.Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar um debate aberto e produtivo.Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar um debate aberto e produtivo.

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um debate aberto e produtivo.

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Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete

Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar Este seminário dá-nos mais uma oportunidade para orientar

Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários do Gabinete

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O PAPEL DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE FACE AOS DESAFIOS DO SECTOR

Por: Aurélio Amândio Zilhão

Senhor Presidente da República,Senhores Ministros,Senhores Assessores do Gabinete da Presidência da República,Senhores convidados,Caros colegas,Minhas Senhoras e meus Senhores,

A Ordem dos Médicos de Moçambique (OrMM) sente-se muito honrada pelo privilégio de poder expôr a Vossas Excelências o pensamento da classe médica e dos trabalhadores de saúde em relação à forma como no momento actual são prestados os cuidados da saúde no nosso País.

Fá-lo com mandato conferido pela Lei nº 3/2006 que cria a Ordem dos Médicos e a responsabiliza pela qualidade do acto médico que é oferecido a população, não só através da idoneidade técnica de quem realiza como pela forma e qualidade como é prestada.

Hoje, sente-se na realidade,• Que há uma certa insatisfação popular na forma como as

populações são atendidas;• Que o Serviço Nacional de Saúde não responde ainda às

necessidades globais de todo o País;• Que há falta de medicamentos e equipamentos;• Que as unidades sanitárias lutam com falta de recursos

humanos;• Que o pessoal da saúde está desmobilizado e desmotivado

procurando assim actividades paralelas ou saindo mesmo do Sistema Nacional de Saúde para resolver os seus problemas de sustentabilidade pessoal.

É pois, perante estas constatações gerais que a OrMM, que tem um mandato do Estado de garantir uma assistência médica de qualidade às populações, aceitou com muito júbilo e fundamentalmente o sentido de alta responsabilidade, esta oportunidade de expor à Vossas Excelências algumas ideias para debate.

Queria aqui reafirmar que a saúde de uma comunidade depende de uma multiplicidade de factores, e não propriamente aqueles que estão ligados ao Ministério da Saúde (MISAU), dos quais poderia citar os principais:

• Uma habitação condigna;• Um abastecimento de água potável;• Uma alimentação diversificada;• Uma educação e um combate ao analfabetismo;• Um acesso a informação;• Saneamento do meio, entre outros.

Dr. Aurélio Zilhão no uso da palavra

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Comunicações dos SemináriosComunicações dos SemináriosC da Presidência da República

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Gabinete de Estudos Gabinete de Estudos G da Presidência da República

Senhor Presidente,Senhores convidados,

Sem estas condições básicas e essenciais na vida de qualquer cidadão, nenhum programa de saúde, por melhor e mais sofisticado que ele seja, vai resultar numa melhoria dos indicadores de saúde:

• Vamos continuar a ter uma esperança de vida baixa: cerca de 52,9 anos actualmente;

• Vamos continuar a ter uma mortalidade materna das piores do mundo (500 mortos por complicações de parto em 100.000 partos);

• Vão continuar a morrer mais recém-nascidos e crianças até os 5 anos. A mortalidade infantil é pior nas zonas rurais onde se morre por Malária, Tuberculose, Cólera, HIV/SIDA, diarreias, e outras doenças infecto-contagiosas e até parasitárias que estão erradicadas nos países desenvolvidos;

• Vamos continuar a estar colados e colocados na cauda dos países sub-desenvolvidos, segundo o Índice de Desenvolvimento Humano de 2011.

O MISAU não pode fazer milagres! É preciso que todos e cada um faça os esforços possíveis no mesmo sentido. Mas, Senhor Presidente, com aquilo que temos, com o desenvolvimento económico que hoje registamos, o crescimento de 8% ao ano, o aumento do P.I.B Nacional, pensamos que é possível fazer mais e melhor. É possível gerir melhor os nossos recursos e canalizar melhor os bons resultados da nossa economia.

É preciso que o Orçamento Geral do Estado (O.G.E.) reflicta as prioridades do País, definidas no Plano Quinquenal do Governo e no Compromisso de Abuja, no caso da saúde. Se a prioridade é a Saúde, Educação, Habitação, Estradas, Agricultura, então que se canalizem mais recursos para estas áreas. Não podemos desperdiçar Orçamentos do Estado em despesas que não

reflictam as reais prioridades do País. Devemos fazer sacrifícios sim, para que a Educação e a Saúde sejam aspectos importantes no desenvolvimento deste País.

Senhor Presidente,Senhores Ministros,Senhores convidados,

Vamos então expôr para debate aquilo que podemos propôr para uma melhor assistência sanitária no nosso País:

Primeiro ponto: Extensão dos Cuidados de Saúde para uma maior cobertura populacional

Como todos sabem, o Serviço Nacional de Saúde (S.N.S.) só cobre 70% da população do nosso país, temos outros 40% que não tem acesso a nenhum tratamento de saúde. Também sabemos que a cobertura sanitária do País se deve fazer com atenção primária de saúde, através dos Centros e Postos de Saúde, Maternidades e Hospitais Rurais nos Distritos. Neste primeiro nível de atenção de saúde, grande parte daquilo que são as preocupações em termos de saúde da população poderão ser alcançadas através de:

• Educação para a saúde;• Saneamento do meio – latrinas, lixo;• Abastecimento de água potável;• Campanhas de vacinação;• Protecção a mãe e à criança – maternidade;• Vigilância epidemiológica constante; e• Tratamento das principais doenças como Tuberculose,

Cólera, Malária e Sida.

Para este nível, estão previstos médicos generalistas e/ou especialistas em Saúde Familiar e Comunitária. O Hospital

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Comunicações dos SemináriosComunicações dos SemináriosC da Presidência da República

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Gabinete de Estudos Gabinete de Estudos G da Presidência da República

Rural, que é a unidade sanitária de referência para os Centros de Saúde, dispõe dos cuidados essenciais de Cirurgia com uma cobertura de mais de 80% dos casos Cirúrgicos e Trauma, Maternidade, Pediatria e Medicina Interna.

O Governo decidiu no processo de descentralização que os Postos, Centros de Saúde e Maternidades periféricas, estariam sob tutela das Autarquias, dos Governos Distritais e de grandes empresas. O papel social das grandes empresas no nosso País no desenvolvimento da saúde, é um aspecto que deve merecer uma reflexão. Ao MISAU caberia o apoio técnico, o fornecimento do Pessoal de Saúde, regras de funcionamento da Unidade Sanitária e, fundamentalmente, a fiscalização. Os orçamentos são agora descentralizados, há mais recursos financeiros locais e também uma maior iniciativa local. Então, porque não avançar com estas alternativas para a extensão dos cuidados de Saúde?

Se as populações exigem uma maternidade ou um Centro de Saúde em determinadas localidades, devem-se organizar, mobilizar recursos e construir. O MISAU tem o plano de extensão de cuidados de saúde diversificados e diferenciados e os governos locais devem naturalmente articularem-se com o MISAU. Este, o MISAU, fornece-lhes os projectos, as especificidades do equipamento, as regras, os programas e até a formação do pessoal que vão necessitar mas, cujo salário deve ser pago pela Autarquia ou Governo Distrital ou Empresa. Os medicamentos e consumíveis devem continuar a ser da responsabilidade dos órgãos centrais do Estado, o MISAU.

Quanto ao funcionamento dos Hospitais mais diferenciados, Rurais, Provinciais e Centrais, o Estado não deve abdicar da sua responsabilidade.

Segundo Ponto: Formação do Pessoal de Saúde

Foi publicado pela Direcção dos Recursos Humanos do MISAU, um documento importante e interessante: o Observatório dos

Recursos Humanos, que deve ser do conhecimento de todos e sobretudo daqueles sectores que planificam a formação de trabalhadores de saúde de todas as áreas e a todos os níveis.

Segundo este observatório, temos 18.625 trabalhadores de saúde em todas categorias e de todos os níveis para uma população de 22.000.000 de habitantes. Na prática, isto quer dizer que existe menos que um trabalhador de saúde para mais de 1.000 habitantes, o que é impressionante! Mas, nós temos capacidade de formar e bem, profissionais para saúde desde o nível local ao central. Temos Escolas de formação, temos docentes, temos locais de formação que são os Hospitais e temos os alunos! O que não temos é o respectivo financiamento, e sobretudo para pagar salários! Se há vontade política de fazer, então que se canalizem recursos! Esta é uma questão decisiva.

A formação de pessoal é estratégica e decisiva em qualquer situação. Ao se construir Unidades Sanitárias devem-se prever os quadros necessários para o seu funcionamento. É preciso dinamizar a proposta há muito apresentada e aprovada de se criar uma rede de Instituições de Formação espalhadas por todo País! É preciso que as orientações e informações emanadas pelo MISAU cheguem até as localidades mais recônditas do País e as Escolas são o melhor meio de difusão.

O MISAU tem capacidade para fazer chegar as suas mensagens até às localidades mais afastadas, onde estava uma extensão do MISAU – os Agentes Polivalentes Elementares.

Os Agentes Polivalentes Elementares tinham um papel importantíssimo na mobilização das populações, na garantia do saneamento do meio, nas medidas higiénicas e na promoção da saúde. A questão central que se põe é se vamos continuar a formar esses Agentes polivalentes elementares?

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Tinha-se decidido que, em todas as Capitais Distritais, fosse criada uma Escola de Formação de Ciências de Saúde anexada ao respectivo Hospital Rural. Em todas as Capitais Provinciais, um Instituto de Ciências de Saúde, também ligado aos respectivos Hospitais que já existem. Finalmente, em Maputo, ao Instituto de Ciências de Saúde caberia Valências de Especialização.

Pelo Ministério da Educação foi criado o Instituto Superior de Ciências de Saúde (ISCISA) que forma quadros superiores nas diversas áreas de Saúde, vértice da pirâmide laboral da força de trabalho no Distrito. Para que esta Escola funcione e possa formar a força de trabalho necessária é preciso que se canalizem recursos financeiros. A formação é um investimento mais caro de um país. Sem esta formação intensiva de trabalhadores de saúde de nível Elementar, Básico, Médio e Superior não é possível sustentar-se o Serviço Nacional de Saúde. A extensão do ISCISA às províncias é uma necessidade estratégica e um vector para que profissionais do ramo possam progredir na sua carreira e não abandonem o Serviço Nacional de Saúde, como acontece actualmente. Trabalhadores do ramo da saúde vão fazer outros cursos sem relação com a saúde: Direito, Geografia, etc., o que não quer dizer que não sejam importantes para o País, mas significa uma diminuição da mão-de-obra para os sectores para onde foram formados.

Terceiro ponto: Formação do Médico

O País tem 1 médico para 35.000 habitantes. A OrMM realizou um Seminário Nacional em 27 de Outubro com a participação da Sociedade Civil, Universidades e Escolas de Medicina, para debate sobre este tema da “Formação Médica e o Exercício da Medicina no nosso País”. Foram conclusões deste Seminário:

1. É necessário planificar as necessidades de formação em função das necessidades de Saúde das populações sem no entanto descurar aspectos ligados à qualidade de formação.

2. Necessidade de reforma do ensino médico que deverá passar pela redefinição de critérios de ingresso, perfil do médico a ser formado, duração do curso e a forma específica de culminação.

3. Na formação médica é necessário dar um enfoque particular aos aspectos Éticos e Deontológicos.

4. É preciso criar critérios para abertura de novas Escolas. Hoje em dia vemos escolas de medicina que funcionam em quintais das casas… Devemos cuidar das infra-estruturas, docentes e campos de estágios.

5. De forma contundente, há necessidade de fiscalização do acto Médico pela OrMM como forma de garantia de qualidade dos cuidados prestados à população.

6. Aproveitamos esta ocasião, para saudar a decisão tomada pelo Governo, de retorno na nossa maior Universidade, ao anterior currículo, para uma formação de qualidade e que responda ao perfil do médico que queremos para este nosso País.

É preciso formar mais médicos com qualidade, com conhecimento e com espírito de liderança.

Senhor Presidente,

O Médico é a última esperança de um cidadão. Por isso, deve ser competente e capaz de resolver qualquer situação e se possível salvar a vida. Aqui, não há lugar para meios médicos, ou então estaremos a enganarmo-nos a nós próprios. O Médico é o vértice da pirâmide e tem, por isso, uma enorme responsabilidade social no nosso País. A formação de um médico deve ser cuidada e exigente.

Quarto ponto: Formação de Especialistas

Para se garantir a qualidade do acto médico, contamos com os especialistas. Desde 1980 foram criados programas de

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especialização, mas pela escassez de formação de médicos, pela necessidade de os colocar em lugares estratégicos nos distritos, contribuindo para o seu desenvolvimento, não se foram formados especialistas ao ritmo que desejaríamos. Basta dizer que nos 35 anos de Independência, apenas formamos 250 especialistas.

Actualmente, já se graduam nas Escolas de Medicina cerca de 100 médicos/ano e em termos perspectivos a partir do próximo ano chegarão aos 150 Médicos/ano. Portanto, é hora de alterar este paradigma. Com este número de médicos é possível iniciar-se uma formação de especialistas em grande escala. No País, no ano 2011 que está a findar, existem 317 especialistas nas diversas áreas. A previsão total até ao ano 2025 – portanto daqui a 15 anos – é de 1226 especialistas. Em 35 anos formamos pouco mais de 250 especialistas, em 15 anos queremos formar 1226 especialistas. Como fazer para atingir esta cifra? Há necessidade que esta formação comece a ser periférica, isto é, em outros Hospitais do País e não só no Hospital Central do Maputo mas também na Beira, em Nampula, em Quelimane e alguns outros Hospitais Provinciais que reúnam condições para o efeito.

Para que esta formação se torne efectiva, é necessário canalizar recursos financeiros e tomadas algumas decisões políticas, como a de permitir que alguns médicos possam entrar directamente para a especialização sem a obrigatoriedade de 2 anos de prática clínica no Distrito. Estarão assim criadas as condições mínimas para a formação de especialistas, responsabilidades repartidas pela OrMM, que através dos Colégios de Especialidades, responde pela planificação, organização e creditação dos especialistas e pelo MISAU que responde pela criação de condições de funcionamento dos Hospitais do Serviço Nacional de Saúde.

Foi já aprovado pelo Governo, o Regulamento da Pós-Graduação e existe uma Comissão Nacional Conjunta da Pós-Graduação que é órgão executivo na formação de especialistas. Só a formação de especialistas permitirá um salto qualitativo

no Sistema Nacional de Saúde e quiçá também sinónimo de prestígio do nosso País. É preciso lançarmo-nos com coragem, mas sobretudo, com cometimento num programa ambicioso de formação de especialistas.

Quinto ponto: Retenção dos Médicos e Médicos Especialistas no Serviço Nacional de Saúde

Porque razão os médicos abandonam o Serviço Nacional de Saúde?No período de 2005 a 2011 abandonaram o Serviço Nacional de Saúde 170 médicos. Claramente, começa a perceber-se que neste momento a nata de médicos é a que está a abandonar o Sistema, os médicos especialistas. Faço-me perceber, grandes hospitais começam a surgir nas capitais provinciais e como elas não têm capacidade de formação elas contratam especialistas já formados pelo Estado no Serviço Nacional de Saúde. Os médicos abandonam o Serviço Nacional de Saúde:

1. Primeiro são os interesses económicos. Ganham mais e quanto mais trabalham mais ganham;

2. Têm melhores condições de trabalho e com meios necessários para exercer uma medicina de qualidade;

3. Têm maior liberdade na tomada de decisões e tem menor responsabilidade social.

E afinal, o que é que oferece o Serviço Nacional de Saúde? O Serviço Nacional de Saúde oferece:

• Uma aprendizagem contínua, normalmente mal reconhecida pelo público;

• Satisfação profissional, mas com um baixo salário;• Auto-confiança, mais muito trabalho, muitas situações de

urgência, com precárias condições de trabalho;• Muitas insuficiências, sem equipamento de diagnóstico e

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tratamento e por vezes até, com falta de medicamentos básicos, para a sua concretização.

O que propomos para reter os médicos no Serviço Nacional de Saúde?

1. A aprovação do Estatuto do Médico é um imperativo a que toda a classe médica se encontra empenhada. Será um dispositivo marco de dignificação da classe e nele estão contidos os direitos e deveres dos médicos, as carreiras profissionais, os contratos laborais e a grelha salarial para cada nível.

Senhor Presidente,

Gostaríamos o seu empenho pessoal na aprovação deste instrumento de grande importância.2. É preciso garantir um salário confortável a tempo completo.

Não é coisa nova. Existem outras categorias profissionais com salários bem mais altos que os nossos.

3. Pagamento dos Serviços de urgências, sobretudo nocturnas e horas extraordinárias. Quem trabalha mais, deve receber mais!

4. Participação em fóruns científicos e cursos de refrescamento.

Já sabemos que o fenómeno de saída de médicos é um fenómeno global. Não se pode travar ou impedir. Temos é que ter a capacidade de ir formando, com maior velocidade, e ir substituindo e com qualidade desejada.

Sexto ponto: Em relação ao Pessoal Paramédico

Este pessoal é decisivo para o funcionamento das unidades sanitárias no Sistema Nacional de Saúde. Se formos ao Observatório dos Recursos Humanos do MISAU, podemos ver que dos 1200 médicos existem, existem 16.000 profissionais de saúde. Se compararmos o número destes profissionais com os existentes nos Países da região, Moçambique fica muito aquém dos rácios recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Sem este pessoal de saúde bem preparado, motivado, com salário condigno e hierarquizado, não é possível pôr a funcionar o Serviço Nacional de Saúde. É preciso dar, como dissemos, um grande impulso a esta formação.

Os Planos da extensão de rede Sanitária devem estar perfeitamente articulados com todos os outros planos estratégicos de formação de pessoal, equipamento, consumíveis, medicamentos e transportes. O MISAU através do Departamento de Planificação, D.R.H. e Assistência Médica tem toda a capacidade de definir planos estratégicos ajustados.

Sétimo ponto: Eficiência e Humanização

O Sistema Nacional de Saúde em Moçambique conta com um exército de mais de 35.000 pessoas com comandos operacionais a nível central, provincial, distrital e local. Cada um sabe as suas tarefas e como realizá-las com experiência, sentido de responsabilidade e regras. Não basta dar ordens, é preciso mobilizá-los e compensá-los. Uma das formas de os compensar é:

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• Respeitar e valorizar o seu trabalho;• O Estado deve compensar os trabalhadores da Saúde,

apoiando-os nos benefícios que o próprio Estado concede, como terra, habitação ou apoio na educação dos filhos;

• Dando incentivos e pagamento de Serviços de Urgência, ou premiando-os como melhores trabalhadores;

• Equiparando salários dos trabalhadores de saúde às outras profissões bem remuneradas;

• Apoiá-los e incentivá-los na formação contínua através de cursos de requalificação ou promoção com bolsas de estudo;

• Visitas mais frequentes das autoridades às unidades sanitárias do Serviço Nacional de Saúde, procurando apreciar o trabalho que é realizado e atendendo às suas preocupações.

Humanização – a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de Produção de Saúde ou seja, a população que são os usuários, os trabalhadores e os gestores é o elemento fundamental para humanização. Com a humanização do Serviço Nacional de Saúde devemos esperar:

• Redução do tempo de espera;• Atendimento acolhedor e resolutivo;• Atenção com responsabilização e vínculo;• Valorização do trabalho da Saúde e sua dignificação; e• Gestão participativa.

A comunicação é um factor imprescindível para a humanização assim como as condições técnicas e materiais com pessoal de Saúde motivados.

Oitavo ponto: A credibilidade do Sistema Nacional de Saúde

A credibilidade de um serviço público de tão transcendente importância como é tratar da nossa saúde, só se alcança quando o serviço é de qualidade, quando se realiza com profissionalismo, com o mínimo de condições aceitáveis, com entrega total e com humanismo! Não é fácil, mas devemos lutar!Muito Obrigado!

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OPORTUNIDADES DE INVESTIMENTO EM MOÇAMBIQUE:

DESAFIOS PARA O EMPRESARIADO NACIONAL

Por: Adriano Afonso Maleiane

RESUMO DA APRESENTAÇÃO

Nos últimos anos Moçambique têm sido destino quase obrigatório de grandes investidores nas diversas áreas da nossa economia. Este interesse é também consequência das reformas em curso que melhoram o ambiente de negócios contribuindo para a mudança da percepção do Mundo sobre o nosso país. A confirmar este sentimento o Global Peace Index de 2010 classificava Moçambique como o 3º país mais estável em África e 47º no Mundo. Por outro lado, no período entre 1995-2009 teve a segunda taxa média mais alta de crescimento do PIB dos países da África Subsahariana não produtores de petróleo, apenas superado pelo Ruanda; um crescimento assinalável do PIB per capita que de 362 USD em 2006 passou para cerca de 530 USD em 2011 e uma inflação média de 9,43% no mesmo período.

A boa localização geográfica facilita o comércio externo dos países sem acesso directo ao mar e os vastos recursos hídricos e minerais, a abundante força de trabalho e uma população de 23 milhões enquadrada numa região com 250 milhões de habitantes têm contribuído positivamente para esta preferência dos investidores estrangeiros pelo nosso país. O nível de participação do empresariado nacional neste movimento de investimento estrangeiro constitui a questão base do tema e para a sua abordagem estruturei a apresentação para responder às seguintes questões: i) como avaliar a prontidão dos moçambicanos para os desafios; ii) que oportunidades existem; iii) como está estruturado o empresariado nacional para a sua participação efectiva neste movimento de investidores estrangeiros; iv) a adequação dos organismos do Estado e das instituições financeiras para apoiarem a participação do empresário nacional; e v) passos a seguir.

A apresentação problematiza as palavras-chave do tema OPORTUNIDADES – INVESTIMENTO – EMPRESARIADO NACIONAL para reduzir a dispersão sobre o que se pretende discutir e tornar assim os debates mais focalizados. Na verdade, às vezes quando usamos o termo oportunidade de investimento queremos dizer que alguém de direito, o Governo ou o investidor estrangeiro, nos forneça a lista do que existe no país e sobre um projecto específico, normalmente grande projecto, para estudarmos as oportunidades de fornecer serviços complementares, ou seja, uma forma reactiva de estar no mundo de negócio. A outra ideia é de que a oportunidade de investimento é algo que se procura tendo em conta o custo de oportunidade, significando que só aplicamos o nosso capital onde o rendimento esperado é superior ao de um investimento alternativo com risco semelhante. Esta é a abordagem dos empreendedores.

Em Moçambique temos concentrado os nossos debates em torno da primeira abordagem, a da lista de projectos que alguém deve disponibilizar e criticar a falta de vontade do investidor de

Dr. Adriano Maleiane a proferir a sua intervenção

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mega projecto de nos incluir na sua estratégia de investimento! Nesta apresentação estão arrolados alguns projectos que constituem oportunidades de investimento nas áreas de energia, minas, indústria, comércio, agro-negócios e infra-estruturas. No tocante ao investimento, definido nesta apresentação como o uso de capital para criar mais dinheiro, sendo o capital físico representado por terra arável, recursos minerais e outros que os estudos revelam existirem em quantidade e qualidade consideráveis. São sugeridas algumas ideias de como usá-los para comparticipação do empresariado nacional no financiamento dos projectos de desenvolvimento, tendo em conta a reduzida poupança financeira e escassez do crédito bancário de longo prazo. Define-se neste trabalho como empresária a pessoa que toma riscos de começar um negócio para o qual possui domínio técnico-profissional, pois é esse conhecimento que é determinante na avaliação do risco do projecto a submeter a financiamento de instituições financeiras.

Sobre as principais questões a responder na apresentação avanço as seguintes ideias e sugestões:

i) Como avaliar a prontidão dos moçambicanos para os desafios – proponho seis princípios para avaliação da prontidão dos nacionais para a sua participação efectiva na economia e cada um com a respectiva quantificação para permitir o seu acompanhamento dinâmico, a saber: patriotismo, autoconfiança, confiança, solidariedade, participação e transparência. É o nível de exposição do agente económico nacional a cada princípio que determina o seu grau de prontidão para os desafios de desenvolvimento económico.

ii) Que oportunidades existem – as oportunidades de negócios são enormes em países em desenvolvimento como Moçambique. Áreas que lidam com dinheiro, transporte e comida constituem oportunidades natas e inesgotáveis, os empresários precisam apenas de escolher o seu nicho de

mercado tendo em conta a grande concorrência existente nestas áreas. Por exemplo, no dinheiro o negócio vai desde mutuante individual até ao banco mais sofisticado, acontecendo o mesmo nos transportes desde a tracção animal até avião supersónico e na comida a sua venda na rua até ao hotel de 7 estrelas e mesmo assim continuamos tendo a procura não satisfeita. Nesta apresentação estão arrolados projectos nas áreas de energia, recursos naturais e agricultura, cuja dimensão justifica o debate sobre estratégias de participação do empresariado nacional.

iii) Como está estruturado o empresariado nacional para a sua participação neste movimento de investidores estrangeiros – a este respeito e de acordo com o censo das empresas, em 2004 existiam 28.870 unidades de produção de bens e serviços de todas áreas das actividades económicas, 85.4% destas eram empresas em nome individual, 11,3% sociedades por quotas e apenas 0,9% sociedades anónimas. O facto de a maioria das unidades económicas pertencerem a pessoas físicas parece respeitar o princípio de que um bom empresário deve saber combinar o risco e o know-how do negócio, mas também revela pouca cultura de associativismo o que dificulta a mobilização de fundos para a participação do empresariado nacional em projectos de grande vulto.

iv) A adequação dos organismos do Estado e das instituições financeiras para apoiarem a participação do empresário nacional – os indicadores de competitividade internacional são trazidos para debate por resumirem melhor a percepção que a comunidade internacional tem sobre o país neste domínio. O sector financeiro é também discutido tendo em conta a sua importância no financiamento à economia, sobretudo para avaliar a sua relevância no apoio ao empresariado nacional. Aspectos de política fiscal e de compras do Estado são também abordados na perspectiva de se saber o que o Governo pode fazer mais para estimular o crescimento do empresariado nacional, dentro da necessária transparência

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e o facto de ser o maior empregador e cliente no mercado nacional.

v) Passos a seguir – neste ponto conclui-se que os problemas do empresariado nacional podem ser resumidos no seguinte: 1) A assimetria de informação sobre as oportunidades de negócios existentes nas diversas áreas de economia; 2) Não existência de mecanismo que motive o investidor estrangeiro a formar parcerias com empresários nacionais; 3) Falta de financiamento ajustado às oportunidades que o país oferece; e 4) Fraca mobilização da sociedade para a criação e gestão de fundos especializados para permitir a sua participação nos esquemas de financiamento à economia. Para cada um destes pontos são apresentadas sugestões de solução.

Notas prévias:

Recebi o convite para partilhar com os participantes o que penso sobre os desafios dos nacionais no desenvolvimento económico e como devia ser estimulada a sua participação nas várias oportunidades de negócios existentes no país. Quando li os termos de referência do tema confesso que tive um misto de reacção: a primeira foi de satisfação por me ter sido dada a tarefa de apresentar as bases para sustentar um debate sobre um tema tão actual na nossa economia; e a segunda, a de receio de os meus argumentos não serem suficientemente convincentes para motivar o debate. Pela oportunidade dada gostaria de agradecer ao Gabinete de Estudos da Presidência da República pelo convite e de uma forma especial a si, Sua Excelência o Presidente da República, pois a vossa presença estimula os debates e os próprios oradores, pois exemplos destes não abundam em muitos países do nosso continente.

As palavras-chave deste debate são oportunidade – investimento – empresariado nacional e, por isso, vou iniciar a minha apresentação sugerindo uma definição para cada uma, para reduzir a dispersão e concentrar os debates no essencial.

Para uns, oportunidade significa que alguém de direito, geralmente o Governo ou o investidor estrangeiro de preferência mega projecto, deve fornecer uma lista do que existe no país para os investidores nacionais poderem orientar os seus capitais ou ainda para estudarem o tipo de serviços complementares a oferecer aos mega-projectos. Esta, eu chamo abordagem reactiva que significa que se não nos fornecerem a lista não fazemos nada porque não há oportunidade. Para outros, a oportunidade é algo que se procura tendo em conta o custo de oportunidade de investir, ou seja, investe-se se o rendimento esperado for superior ao investimento alternativo com risco semelhante. Esta é a abordagem que partilho que traduz o que é efectivamente um empreendedor. Investimento é o uso do capital para criar mais dinheiro. Que capital para que investimento? Há uma tendência dos moçambicanos dizerem que não temos capital e, por isso, devemos esperar pela generosidade do investidor estrangeiro mas esquecem-se que têm mais de 36 milhões de hectares de terra arável e abundante força de trabalho que melhor negociados podem servir para a realização da sua quota-parte nos empreendimentos em que o estrangeiro traz o know-how e capital financeiro. Outro aspecto importante a reter é que nem todo aquele que abre empresa é empresário. Para sê-lo precisa de reunir pelo menos duas coisas: i) tomar riscos de começar um negócio; e ii) possuir domínio técnico-profissional do negócio em que se envolve. Para testar a primeira questão fiz uma pequena experiência numa aula sobre a gestão de carteira de títulos que consistia em cada aluno indicar como alocaria 100,00MT se o mercado oferecer dois produtos, um depósito a prazo de um ano, sem risco, numa instituição financeira, à taxa de 15% ao ano; e uma acção de uma empresa que garante um dividendo de 35% ao ano, mas com um risco de 15%. Os dois produtos não são tributados. A resposta foi interessante: 90% dos alunos preferiram compor a sua carteira de seguinte maneira: 90% em depósito a prazo e 10% em acções enquanto os restantes 10% optaram por colocar 80% em acções e 20% em depósito a prazo. Neste exemplo, apenas 10% do universo dos estudantes reúne a primeira condição para se ser empresário, pois está disposto a arriscar o seu capital para investir em acções que pela sua natureza tem risco associado mas apresenta vantagens de ter uma expectativa de rendibilidade maior.

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Quando alguém aceita o risco e coloca pelo menos 51% do capital social de uma sociedade é considerado empresário nacional. Para esta apresentação arrumei as minhas ideias em forma de questionamento como se segue:

A - Porque a relevância do tema em 2012?B - Como avaliar a preparação dos moçambicanos para os

desafios?C - Que oportunidades existem?D - Como está estruturado o empresariado nacional?E - Será que temos instituições públicas e financeiras adequadas

para os desafios?F - Temos soluções?

A - PORQUE A RELEVÂNCIA DO TEMA EM 2012?

As vezes temos de usar a metáfora de espelho para avaliar a nossa percepção sobre o crescimento e desenvolvimento do país. Quando todos os dias nos vemos no espelho a sensação que temos é de que não estamos a envelhecer. É o que acontece com alguém que nunca saiu da sua zona de origem, pois acha sempre que as coisas são as mesmas, as pessoas que deviam fazer acontecer as coisas não estão a fazer o suficiente e por isso o país está parado. Diferente percepção terá se optar por se fotografar e periodicamente comparar as suas fotografias tiradas em momentos diferentes e aí nota que está a envelhecer e chega mesmo a duvidar que a foto seja sua. É o que acontece quando sai da zona e volta volvido algum tempo, meses ou ano, e nota que a zona já não é a mesma, mudou para melhor. Moçambique tem vindo nos últimos anos a fazer reformas em todos os sectores económicos e sociais e os resultados começaram a ser motivo de debates porque os investidores estrangeiros têm tirado fotografias e notam que existem muitas oportunidades de investimentos. A confirmar este sentimento o Global Peace Index de 2010 classificava Moçambique como o 3º país mais estável em África e 47º no Mundo. Por outro lado,

no período entre 1995-2009 teve a segunda taxa média mais alta de crescimento do PIB dos países da África Subsahariana não produtores de petróleo, apenas superado pelo Ruanda, conforme mostra o gráfico abaixo; um crescimento assinalável do PIB per capita que de 362 USD em 2006 passou para cerca de 530 USD em 2011; e uma inflação média de 9,43% no mesmo período. Estes são indicadores que fazem com que 2012 seja considerado um ano de arranque da nossa economia tendo em conta as grandes descobertas de recursos naturais no norte do país que nos próximos 10 anos farão daquela parte do nosso território um grande contribuinte no PIB. Podemos resumir as seguintes razões para a relevância do tema em 2012:

• Estabilidade política• Boa gestão macroeconómica• Reformas institucionais• Fluxo constante de investimentos internacionais• Integração progressiva aos mercados regionais• Grande apoio da comunidade internacional

Libia

Guiné

-Bissa u

Burundi

RCA

DRC

Eritreia

SerraLeoa

Comores

Côted’lvoire

Seychelles

Togo

Suazilândia

Lesoto

Áfricado

Sul

Madagascar

Guiné

Niger

Zambia

Nam

ibia

Senegal

Maurícias

STP

Benim

Gâm

bia

Mali

Gana

Botswana

Malaw

iTanzânia

BurkinaFaso

Etiópia

Cabo

Verde

Uganda

Moçam

bique

Ruanda

10

9

8

7

6

5

4

3

2

1

0

Media dos não produtores de petrólio

MEDINDO OS RESULTADOS

A TAXA DE REAL DE CRESCIMENTO DO PIB DE MOÇAMBIQUE FOI A

SEGUNDA MAIS ALTA DOS PAISES DA AFRICA SUBSAHARIANA

EXCLUINDO OS PRODUTORES DE PETROLEO.

Taxa do crescimento real do PIB: 1995 - 2009 Average

Perc

enta

gem

Font: International Monetary fund

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As reformas macroeconómicas e a gestão prudente das finanças públicas estão a contribuir para a melhoria dos indicadores económicos do país, como se pode constatar no quadro abaixo:

Os nossos desafios:

Necessidade de crescimento do PIBApesar de os indicadores acima reflectirem uma melhoria significativa ainda estão aquém das possibilidades de Moçambique. Para entendermos a dimensão dos desafios do país para o desenvolvimento económico deixo alguns dados sobre o PIB de alguns continentes, agrupamentos económicos e países:

PIB: Dados comparativos (em triliões de dólares)- África: 1.18 -SADC: 0.60- Europa: 16,40 - China: 4.90 - EUA: 14.20-Moçambique: 0.01Fonte: AfDBstaffpaper 127 -2011

Gestão de desastres Naturais:O nosso país é propenso às calamidades naturais, por isso a política de desenvolvimento deve tomar em consideração esta realidade. Por exemplo, os dados indicam que no período estudado 57% de eventos relacionaram-se com inundações e epidemias seguido de ciclones com 19%, o que torna o país altamente vulnerável, como se pode constatar no quadro abaixo:

Competitividade:Na área de competitividade da nossa economia, dos 12 pilares de sua avaliação no total de 139 países avaliados, Moçambique tinha um bom desempenho no desenvolvimento institucional e na inovação e esteve pior no ensino superior e formação e na saúde e ensino primário. Estes indicadores mostram-nos o longo caminho a percorrer para criamos as condições que nos coloquem no caminho certo para a melhoria da competitividade.

MEDINDO OS RESULTADOS

Fonte:INE

INDEX 2006 2007 2008 2009 2010 2011

PIB nominal(US$ Millions)

7,296 7,868 9,728 10,468 9.893 11.700

PIB per capita(US$)

362 422 473 453 458 530

Importações(US$ Millions)

2,869 3,050 3,765 3,764 3,240 3,948

Exportações(US$ Millions)

2,412 2,412 2,688 2,147 2,243 2,402

Inflação media anual 13.2 8.2 10.3 6.1 9.3 9.5

Taxa de CambioMT/USD(Media-oficial)

24.98 25.56 24.17 29.19 32.58 27.10

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B – COMO AVALIAR A PRONTIDÃO DOS MOÇAMBICANOS PARA OS DESAFIOS?

Não havendo nenhum critério padrão para a avaliação da prontidão dos moçambicanos proponho seis indicadores: Patriotismo, autoconfiança, confiança, solidariedade, participação e transparência.

Para medirmos o patriotismo relacionamos o saldo da conta de transacções correntes com o PIB. Quando o rácio for negativo significa que o país depende de produtos e serviços importados. Serve também de indicador da receptividade do público sobre as campanhas tipo Made in Moçambique. O patriotismo aqui não se confunde com nacionalismo exacerbado, xenófobo e fundamentalista. Trata-se apenas de estimular a produção de produtos com qualidade a preços concorrenciais para alterar a preferência dos moçambicanos. Os dados indicam que neste indicador não tivemos progresso de 2009 a 2010.

Autoconfiança: quando não dominamos a tecnologia ou processo de produção fica difícil aumentar a nossa auto-estima. A este propósito, Joseph ki-Zerbo no seu livro “Para Quando África?” escreve que estudar história, antropologia, teologia e outras ciências sociais é importante mas para darmos o salto precisamos de apostar também nas engenharias, tecnologia

e gestão de negócios. Por exemplo, 50% dos estudantes matriculados nas universidades da China, Coreia do Sul e Taiwan estudam matemática, engenharia, tecnologia e gestão de negócios enquanto em África apenas 20% o faz. Este indicador relaciona o número de estudantes no ensino técnico profissional (incluindo universidades) com o número de população economicamente activa. No período em análise o indicador tem vindo a melhorar o que significa que estamos a criar capital humano capaz de enfrentar os desafios de desenvolvimento e deste modo, aumentar a nossa auto-estima e reduzir a dependência de mão-de-obra externa.

Confiança: exprime a relação entre o crédito à economia (CE) e o PIB. Se for positiva e tendencialmente crescente, sugere uma maior confiança do Governo no sector privado. É preciso que o Estado não se endivide junto à banca para que esta canalize mais fundos para o sector privado, contribuindo desta forma para o desenvolvimento económico. Em países como África do Sul este rácio era de 1,45 em 2008 contra cerca de 0,33 em 2010 em Moçambique que apesar de ainda baixo tende a melhor no tempo.

Solidariedade: mede o nível de transferências fiscais para as famílias. Para Moçambique, este indicador é importante devido à sua vulnerabilidade às calamidades naturais conforme atrás referido. Mas a transferência só não chega. É necessário que os funcionários públicos, que são os verdadeiros agentes do Estado, sejam verdadeiros combatentes contra a doença nacional chamada INVEJA que está minando o desenvolvimento. Os agentes do Estado devem ser os primeiros a ficarem satisfeitos com o sucesso dos moçambicanos, agilizando os processos para o início de actividade e acarinhando toda a iniciativa visando a criação de emprego. Procedendo desta forma, o efeito imitação vai se fazer repercutir no sector privado e desta maneira, reforçaremos a solidariedade nacional. Registamos no período indicado uma melhoria, apesar de tímida, o que mostra que estamos no bom caminho mas precisamos de nos empenhar mais.

OS DESAFIOSCOMPETITIVIDADE INTERNACIONAL POSICIONAMENTO DO PAÍS

(139 paises)

INSTITUIÇÕES 99 INFRAESTRUCTURAS 119 AMBIENTE MACROECONÓMICO 104 SAÚDE E ENSINO PRIMÁRIO 133 ENSINO SUPERIOR E FORMAÇÃO 134 EFICIÊNCIA DE MERCADOS DE BENS 112 DESENVOLVIMENO DO MERCADO FINANCEIRO 118 ABERTURA A TECNOLOGIA 118 EFICIÊNCIA DO MERCADO DE TRABALHO 116 TAMANHO DO MERCADO 113 SOFISTICAÇÃO DE NEGÓCIOS 110 INOVAÇÃO 88

CLASSIFICAÇÃO GERAL DE MOÇAMBIQUE 3,3 (RAS 4.3 Namibia 4.1 Mauricias 4.3)

Fonte: AfDB Africa Competitiveness Report 2007 - 2011

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Participação: O papel da Bolsa de Valores é importante na medida em que ajuda os investidores a mobilizarem fundos alternativos ao crédito bancário. Este rácio relaciona a capitalização bolsista com o PIB. Quanto maior for, melhor porque reflecte a participação dos agentes económicos no mercado de capitais. Na África do Sul era em 2008 de 1.78 e 0.096 em Moçambique, em 2011. O debate no país centra-se mais no crédito bancário e não nas diversas formas de mobilizar os fundos. Os bancos comerciais são intermediários financeiros que recebem fundos daqueles (aforradores) que têm em excesso e não estão dispostos a aplicar directamente em investimento real e preferem colocá-los nas instituições de crédito, em troca de juro da data de vencimento do depósito. As instituições de crédito ganham o direito de emprestá-los àqueles (mutuários) que têm projectos viáveis mas não têm fundos para investir, pagando por isso um juro. Normalmente os aforradores são avessos ao risco e não estão dispostos a colocar os seus fundos a prazos elevados enquanto os mutuários aceitam o risco e estão dispostos a negociarem planos de amortização mais longos. Nota-se aqui que há um desbalanço de fundos e poucos bancos estarão disponíveis para financiar o capital inicial de uma empresa por questões prudenciais e também de não possuir fundos ajustados a este tipo de empréstimo. O esforço da Bolsa de Valores para aumentar a literacia dos moçambicanos sobre a importância do mercado de capitais como alternativa ao crédito bancário é importante e a tendência deste indicador é revelador desse esforço.

Transparência: é medida pela relação entre os impostos fiscais e o PIB. Sobre a qualidade do imposto, escreveu Adam Smith (Riqueza das Nações, pág.485) que os contribuintes devem pagar imposto para a manutenção do Estado, proporcionalmente aos rendimentos que auferem sob sua protecção (regime proporcional vs progressivo). O cartão de contribuinte confere ao portador, com impostos regularizados, o direito de exigir melhor qualidade de serviço público. Moçambique, como muitos países, adoptou o regime progressivo porque acredita que garante equidade na repartição do rendimento nacional. Alguns tratadistas dizem que este regime é uma incorporação na lei da inveja popular

porque penaliza aqueles que ganham mais mas são estes que menos precisam dos serviços do Estado e os que mais precisam do Estado ficam isentos de imposto. O correcto seria um regime proporcional que fixa uma taxa única para todos os rendimentos sem isenções, garantindo desta forma a igualdade de tratamento do contribuinte perante a lei. Neste regime quem ganha mais paga mais em termos absolutos mas não é discriminado com taxas gravosas. Em países como o nosso o proporcional apresentaria várias vantagens: é simples, fácil de colectar, transparente, menos propenso à corrupção pois o contribuinte pode facilmente fazer a autoliquidação, não precisa de técnicos qualificados para a formação dos agentes passivos. Se por exemplo a alíquota for 10% bastará montar uma campanha em todo o país informando que de tudo que se ganhar, comprar, vender e receber deve-se tirar 10% para o imposto. É mais fácil para um camponês saber que se a sua colheita for de 50 Kg de milho, 5 Kg devem ser entregues ao Governo a título de imposto.

Também neste indicador registamos alguns avanços mas precisamos de usar melhor o cartão de contribuinte para tratarmos assuntos no Aparelho de Estado em vez de apenas Bilhete de Identidade. Por exemplo, uma Secretária de um Ministro deve saber que se dois cidadãos solicitarem uma audiência com o Ministro, um apresentar um cartão de contribuinte em dia e outro um BI, o de cartão deve ter prioridade porque está a pagar o salário da Secretária enquanto o outro é recebido porque é

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cidadão nacional e nessa qualidade tem esse direito. Os políticos antes de iniciarem um comício deviam exibir o seu cartão de contribuinte para ter o direito de criticar os serviços do Estado. Agindo desta maneira poderíamos massificar o pagamento do imposto e alargar a base tributária.

C - QUE OPORTUNIDADES EXISTEM?

Como uma economia em desenvolvimento acelerado, Moçambique é rico em oportunidades de investimento, oferecendo incentivos fiscais e benefícios, assim agrupados:

Acordos de promoção e protecção aos investimentos com os seguintes países:África do Sul, Alemanha, Argélia, Bélgica, China, Cuba, Dinamarca, Egipto, EUA, EUA (OPIC), Finlândia, França, Indonésia, Itália, Ilhas Maurícias, Países Baixos, Portugal, Suécia, Reino Unido, Vietname, Índia, Suíça e Zimbabwe. (22)

Acordos destinados a evitar a dupla tributação e evasão fiscal:Portugal, Botswana, Índia, Ilhas Maurícias, Emiratos Árabes Unidos, Macau, Itália e África do Sul. (8)

INVESTIMENTOS EM:

Infra-estruturaIsenção de direitos aduaneiros e de IVA sobre bens de capital na classe “K” da pauta aduaneira, incluindo peças e acessórios; 80% de redução do IRPC nos primeiros cinco anos fiscais; Redução de 60% do IRPC, do 6 º ao 10 º ano fiscal;Redução de 25% do IRPC, do 11 º ao 15 º ano fiscal.

AgriculturaIsenção de direitos aduaneiros e de IVA sobre bens de capital na classe “K” da pauta aduaneira, incluindo peças e acessórios; Redução do IRPC em 80% até 31/12/2015; a partir de 2016 até 2025, redução do IRPC em 50%.

IndústriaIsenção aduaneira na importação de matérias-primas para processos de produção industrial; Investimentos na montagem de veículos, equipamentos electrónicos, tecnologia da informação e comunicação são isentos de direitos aduaneiros na importação de materiais para processos de produção industrial.

EnergiaLinha de transmissão CESUL: Fase 1 (HMNK + HCB North) – 1325 MW + 1325MW• Linha 400 kV (AC)•1 sistema bipolar 500 kV DC de Cataxa até MaputoFase 2 - 2650 MW• Sistema bipolar HDVC 500 kV

HidroeléctricasCabora Bassa Norte 1200 MW; Mphanda Nkuwa 1500 MW; Mphanda Nkuwa II 750 MW

Drª. Albertina Fruquia Fumane moderadora do Seminário sobre os desafios ao empresariado nacional nacional

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TermoeléctricasMoatize Fase I 300 MW; Benga 600 MW; Ressano Garcia 350 MW; Chókwè 44 MW

MineraisCarvão, Titânio, Tântalo, Ouro, Fluoreto, gás natural, ilmenita, Zarcão, Rutilo.Existem reservas comprovadas de pedras preciosas e semi-preciosas, cobre, fósforo (A Vale está investindo US$ 3 bilhões em exploração em Nacala) e existem reservas de urânio ainda por explorar. Minas de Revugo (Nippon Steel JP), Centro-Oeste (IN), Bosco (KR) e Ncondezi (UK / MZ) estão em fase de investigação avançada e espera-se começar a explorar em breve.

TransportesPorto de Nacala, Aeroporto de Nacala, Corredor de Nacala, Ponte de Tete, Reabilitação da linha da Beira, Reabilitação do Porto da Beira, Terminal de Carvão da Beira, Rede de transporte público de Maputo, Ponte da Catembe mais a Estrada da Ponta de Ouro e Circular de Maputo (todos estes no valor estimado de 6.2 biliões de dólares americanos).

Zonas Económicas Especiais

NacalaO Porto de Nacala é terceiro maior porto de águas profundas na costa leste da África. É o final do Corredor de Desenvolvimento de Nacala (CDN). Está a 500 km em linha directa até a Tanzania, 1800 Km a sul da África, e cerca de 620 Km com o Malawi.

DondoCerca de 20 Km do Porto da Beira, 700 hectares a serem

desenvolvidos como plataforma logística do país. Há interesse de várias indústrias (cimento, tractores, veículos, etc.).

Beluluane700 hectares da Zona de Processamento de Exportação localizada a 16 Km de Maputo, 75 Km de Ressano Garcia, fronteira entre Moçambique e RSA. Actualmente, Moçambique oferece isenções e incentivos fiscais para a criação de empresas

Óleo e GásA avaliação mais recente apresentada pelo Consórcio Anadarko registou os maiores números até ao momento no complexo área 1 onde os recursos de gás são estimados em 30 triliões de pés cúbicos. Continuam avaliações e tudo aponta para um aumento significativo daquelas quantidades. Na província de Inhambane, Pande e Temane já venderam em 2010 107,2 MGj contra 106,8 MGj em 2009.

AgriculturaA agricultura é tida como a base de desenvolvimento mas a sua exploração tem em África sido objecto de diversas resoluções e os resultados têm sido pobres. Num dos seminários em que participei em Abuja na Nigéria em 1984, um agricultor

Participantes do seminário sobre os desafios ao empresariado nacional nacional

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fez duras críticas aos Governos por na sua maioria privilegiar a fixação de preços de produtos agrícolas quando não tem capacidade de fixar o preço de insumos e dava o seguinte exemplo: o seu frango em Dezembro de 1983 custava 16 nairas e em Janeiro passou a custar 32 nairas apenas porque o Governo tinha aderido ao programa de ajustamento estrutural apoiado pelas instituições de BrettonWoods (FMI e WB) e para piorar o cenário, o Governo não deu subsídio de compensação pelo preço artificial que vigorava antes do programa de ajustamento. Outro aspecto importante que referiu é o facto de os mecanismos de financiamento ao sector de agricultura não contemplarem a destronca e todo o trabalho preliminar para uma exploração agrícola comercial com o fundamento de que é de alto risco. Fez também uma comparação entre explorar uma empresa de transporte aéreo e agrícola. Na primeira a pista de aterragem pertence normalmente ao Estado e o investidor paga pelo seu uso mas na agricultura os custos com a destronca e infra-estruturas básicas correm por conta do agricultor porque o Estado não entra e os bancos também não financiam pelas razões acima indicadas e termina desafiando os Governos a responderem a seguinte questão porque, segundo o mesmo, no dia em que os governos tiverem uma resposta correcta encontrarão as formas mais adequadas para desenvolver a agricultura:“PORQUÊ É QUE NÃO HÁ PROLIFERAÇÃO DE UNIDADES AGRÍCOLAS COMERCIAIS TAL COMO ACONTECE NO COMÉRCIO EM QUE O GOVERNO NÃO PRECISA DE ESTIMULAR O SURGIMENTO DE BARRACAS NO CAMPO E NAS CIDADES?”(Pergunta de um agricultor num seminário na Nigéria 1984).

Em Moçambique existem muitos estudos que apontam zonas potencialmente agrícolas sendo de destacar a zona norte para culturas diversas e o centro para as grandes plantações de chá e copra. Investimentos em produtos de altas taxas de retorno podem ser nos seguintes produtos: Cana-de-açúcar, Arroz, Castanha de Cajú, Frutas tropicais, Trigo, Mandioca. O país gastou em média, nos últimos 6 anos, 192 milhões de dólares por ano importando cereais e se tomarmos em consideração as

projecções que apontam que a procura global de arroz e trigo até 2015 rondará os 100 biliões de dólares. O nosso país pode definir políticas que estimulem os investidores para a produção destes dois cereais sem, no entanto, esquecer os principais produtos alimentares, milho e mandioca.

Potencial inexplorado36 milhões de hectares de terras aráveis (apenas cerca de 14% cultivada); 3.3 milhões de hectares de terras irrigáveis, com aproximadamente 50.000 hectares (0.13%) actualmente irrigada; 70% da área total coberta por florestas de espécies diferentes (sendo 49% com valor comercial); 9 milhões de hectares de parques nacionais e reservas; agro-ecologia adequada para a produção de alimentos, rações, fibras e biometria.

D- COMO ESTÁ ESTRUTURADO O EMPRESARIADO NACIONAL?

Nos debates a questão de empresariado nacional é sempre colocado nos termos referidos nas notas prévias e para se ter um ideia como está estruturado, consultei a estatística produzida pelo Instituto Nacional de Estatística INE – Censo das Empresas, CEMPRE2004 que me forneceu dados curiosos, pois confirmei o que suspeitava de que a aversão ao associativismo é o maior problema do empresariado nacional pois prefere produção familiar do que se envolver com outros para ganhar em escala. Baseado nessa publicação temos os seguintes dados:

Em todos os sectores da economia— 28.870 Unidades de produção de bens e serviços— 85.4% Empresas em nome individual, — 11,3% Sociedades por quotas — 0,9% Sociedades anónimas.— 2,4% Outras formas de organização— 64 Associações económicas (CTA)

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Sector agrícola (produção)— 1,7% Empresas e empregam apenas 3,2% .— 81,2% Empresas do tipo familiar — 2,6% Sociedades anónimas— 14,5% Outras formas de organização— 70% da população economicamente activa vive no campo

RESUMINDO OS PROBLEMAS

- Assimetria de informação – o empresariado nacional não usa ou não conhece o canal de comunicação existente sobre as oportunidades de negócios.

- A legislação económica é bastante tímida quanto á preferência pelo empresariado nacional. Dec.15/2010 e Lei 15/2011 (PPP).

- Os mecanismos de financiamento existentes não estão ajustados às oportunidades em termos de volume de poupança, taxas de juro e prazos de reembolso.

- Existem muitas associações de carácter social, mas poucas sociedades anónimas.

E - SERÁ QUE TEMOS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E FINANCEIRAS ADEQUADAS PARA OS DESAFIOS?

Como atrás referido, as nossas instituições públicas e privadas experimentaram nestes últimos anos um desenvolvimento assinalável com uma classificação independente a apontar que no conjunto de 12 pilares de avaliação, o país avançou muito na reforma de instituições e na inovação com o uso das tecnologias de informação e comunicação, mas é ainda frágil no tocante aos restantes 9 pilares destacando-se entre eles o ensino superior e a saúde e ensino primário que temos pior classificação e que no conjunto ficamos com a pontuação de 3.3 contra 4.3 de Maurícias e RAS e 4.1 da Namíbia. Quando se analisam as instituições financeiras nota-se que os fundos que mobilizam estão desajustados em termos de volume e prazos para financiar o desenvolvimento. Não existem fundos especializados e a Bolsa de Valores ainda não é uma alternativa ao crédito bancário.

F - TEMOS SOLUÇÕES?

Sobre a assimetria de informação: a estrutura existente de diálogo entre o Governo e a CTA precisa apenas de ser melhor explorada usando mais os pelouros como veículos privilegiados de troca de informação sobre as oportunidades de investimento nas respectivas áreas para estes disseminarem-na pelos seus restantes órgãos.

Como reforçar a preferência pelo empresariado nacional? Estudar-se a hipótese de se ligar os benefícios aduaneiros e fiscais concedidos aos investidores estrangeiros à quota-parte do capital por estes cedido e financiado ao empresariado nacional; institucionalização de uma percentagem mínima obrigatória (2.5 a 5%) para ser cedida às comunidades da zona de influência do projecto sob forma de acções preferenciais; os requisitos de qualificações dos concorrentes a concursos promovidos pelo Estado referidos nos artigos 23 a 26 do Dec.15/2010 carecem de uma revisão para se promover o

Participantes do seminário sobre os desafios ao empresariado nacional

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empresariado nacional. Por exemplo, a exigência de balanço do último ano, de facturação mínima dos últimos 3 anos ou margem de preferência condicionada à prova da incorporação de factores nacionais só ajudam a subalternizar o empresariado nacional perante seu concorrente estrangeiro. No Doing Business o acesso ao crédito tem sido referido como a causa primeira dos empresários em todos os inquéritos. Os agentes económicos estão a dizer que não é fácil obter crédito e quando se obtêm, as taxas de juro e os custos operacionais são elevados reduzindo a competitividade dos produtos nacionais. Nos próximos 5 anos as necessidades de investimentos para áreas de energia, transportes e recursos minerais, avaliadas muito por baixo, rondam os 37 biliões assim distribuídos: energia 12.2bio, transportes e comunicações 6.2bio, recursos minerais 16bio, com possibilidades destes últimos atingirem cerca de 50bio com novas descobertas. Seriam necessários 3.3bio para a participação moçambicana nos 30% de auto financiamento sobre os 37bio e assumindo uma posição de 30% no capital social das empresas promotoras dos respectivos projectos.

Os bancos comerciais a operar no país em conjunto não têm capacidade financeira para fazer face a esta potencial procura de crédito. Só os promotores podem, atribuindo acções preferenciais e financiando o remanescente a ser pago por entrega de uma percentagem negociada dos dividendos que a parte moçambicana tiver direito. As empresas públicas, no âmbito da solidariedade atrás referida devem priorizar as empresas nacionais na contratação e subcontratação de serviços e constituição de joint-ventures.

USO E APROVEITAMENTO DA TERRA

A terra é propriedade do Estado. Há necessidade de se estudar a melhor forma da sua gestão; por exemplo: classificando-a para fins agrícolas familiar e empresarial e ainda em infra-estruturada e não infra-estruturada; concessioná-la em regime de leasing para fins comerciais e infra-estrurada aplicando taxas comerciais; concentrar a actividade do Ministério da Agricultura no

controlo da aplicação da Lei de Terras, sanidade animal, vegetal e investigação aplicada. Na investigação aplicada, estudar-se a hipótese de se reintroduzirem as casas agrárias com a função de multiplicação de sementes melhoradas e transmissão de técnicas de produção; enquadramento dos extensionistas em actividades produtivas, gestão das casas agrárias e de serviços veterinários; ligar os actuais institutos de investigação à Universidade Eduardo Mondlane para reforçarem a qualidade de ensino; ligar os centros de pesquisas, do tipo EMBRAPA (empresa brasileira de pesquisa agrária), às actividades produtivas.

PRODUÇÃO AGRÍCOLA

Foco: agricultura comercial com incidência na pequena e média empresa e grandes empresas, estas com a função de ajudarem a integração do sector familiar no mercado; o Estado deve seleccionar as culturas a priorizar para concentrar recursos e esforços de programação em regiões agro-ecológicas estudadas; estudar-se a viabilidade de se criar Zonas Francas Agrícolas para

Participantes do seminário sobre os desafios ao empresariado nacional

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melhor enquadramento de grandes investimentos nestas áreas. Podem ser os actuais corredores de desenvolvimento agrário.

MERCADO

Principais operadores: compradores e vendedores são as agro-indústrias, a indústria turística e o comércio interno, em particular o comércio de grandes superfícies, e externo. Estudar a forma de impor uma taxa mínima de comercialização de produtos nacionais para a concessão de licença de exploração de comércio de grandes superfícies. Os FACILITADORES no mercado devem ser as associações económicas. É preciso que elas sejam de facto mobilizadoras dos seus associados para produzir com qualidade e oportunidade para deste modo assegurar o mercado interno e externo. Estimular a introdução da figura de contrato nas transacções envolvendo seus associados e os compradores, servindo a associação como elo de ligação e seleccionador de produtores honestos e dedicados. O papel do Estado deve ser um fornecedor de informação sobre a evolução dos preços dos produtos agrícolas nos mercados internos e externos.

FINANCIAMENTO

Estando provado que as instituições financeiras internas não têm capacidade financeira para financiar tão elevado volume de recursos financeiros necessários para financiar o desenvolvimento, recomenda-se:

• A criação de um Banco de Desenvolvimento que seria o gestor de fundos de desenvolvimento e contribuir para acelerar a implantação dos serviços financeiros nos distritos ainda não cobertos pelo sector bancário privado e avançar para as sedes dos postos administrativos à medida que o sector privado cobrir os distritos. O Banco de Desenvolvimento garantiria igualdade de oportunidades para o acesso aos fundos de desenvolvimento pelos restantes operadores financeiros nacionais a operar no país.

• A criação de Fundo Soberano com recursos provenientes de exploração de recursos minerais não renováveis, em que uma percentagem seria colocada neste fundo a ser gerido pelo Banco de Desenvolvimento ou cedidos por empréstimo obrigacionista de longo prazo para garantir o financiamento de projectos de desenvolvimento à taxas de juro compatíveis com os retornos esperados.

• Mobilização da sociedade para a criação de fundos especializados (fundo de infra-estruturas, de capital de risco e outros).

• Revisão da Lei da actividade Seguradora para a cobertura dos seguintes riscos: risco soberano do orçamento nacional; seguro de calamidades para a infra-estrutura; seguro de calamidades para investimentos em habitação e empresas afectadas pelos desastres naturais; seguro baseado em índices, principalmente para agricultores rurais de culturas de rendimento); e micro-seguros para pessoas com bens de subsistência (para a produção familiar e pequenas unidades rurais e urbanas).

Os desafios são enormes, por isso:“TEMOS QUE CORRER ENQUANTO OUTROS ANDAM»Presidente Benjamim Mkapa no prefácio do Plano Estratégico Indicativo de Desenvolvimento Regional, citando o falecido presidente Julius Nyerere da Tanzania

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Participantes do seminário sobre os desafios ao empresariado nacional

POR UM PENSAMENTO ENGAJADO

Por: Severino Elias Ngoenha

As análises sobre as votações moçambicanas de 1995 foram unânimes em afirmar que nós fomos votar pelo fim da guerra. A adesão massiva das populações às eleições da primeira legislatura da segunda República foram interpretadas em uníssono como sendo uma acção popular orientada para sancionar e legitimar o fim do conflito bélico. Se aceitarmos este facto como postulado de base da nossa análise, temos que admitir, a priori, que a primeira legislatura cumpriu com o mandato que lhe foi confiado. Durante os cinco anos que se seguiram às eleições, os deputados da Frelimo e da Renamo respeitaram o mandato que lhes tinha sido confiado pelos eleitores. O Governo governou e a oposição tentou fazer oposição no respeito pelos papéis democráticos que lhes tinham sido confiados, sem nunca exceder nas suas prerrogativas, mas, sobretudo, respeitando a necessidade de prosseguir o conflito que os opunha em termos políticos e no respeito de um certo número de regras ditadas pelos acordos de paz e pela nova constituição.

Nesse mesmo período, o processo democrático e de reconciliação foi acrescido e alimentado pelas primeiras tentativas de criação do que comummente se tem chamado de sociedade civil: nasceram novas formações políticas, mas sobretudo organizações cívicas e sociais; as igrejas começaram a participar em actividades de carácter cívico, educativo, sanitário; nasceram organizações de jovens e de mulheres; surgiram universidades privadas, imprensa independente e liberdade de opinião. A isto se deve juntar o crescimento económico (PNB), o restabelecimento da rede económica e comercial, o lançamento do processo de desminagem, a reconstrução da rede de comunicações, a luta contra o que se chamou de pobreza absoluta.

Zaid Aly a intervir no seminario sobre os desafios ao empresariado nacional

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Uma vez mais, se fizermos fé naquilo que segundo os analistas políticos era o mandato do povo, a primeira legislatura da segunda República cumpriu quase integralmente com o mandato que lhe foi confiado. Contudo, dois problemas cruciais surgiram durante a legislatura e merecem uma atenção especial da nossa parte: um económico e outro político (a organização dos poderes públicos).

No decorrer da legislatura nasceram nas diferentes comunidades moçambicanas novas exigências e problemas, ligados ao processo da transformação em curso. Isto não anula em nada o a priori positivo da primeira legislatura, mas os actores políticos e a qualidade de uma legislatura não se podem limitar ao cumprimento linear e lato do mandato popular, por mais importante e substancial que a paz possa ser. A legislatura e os actores políticos devem também ser julgados pela sua capacidade de interpretarem as necessidades «movediças» das populações que, por sua vez, dependem de mutações sócio-económicas e mesmo epocais e históricas que bruscamente invadiram a vida das populações.

Neste contexto de aceleração histórico-temporal, aquilo que no meio dos anos noventa era o único objectivo das populações – a

paz ou pelo menos em nome da qual se mobilizaram para votar – sofreu uma metamorfose enorme, ligada à dramática mudança da estrutura económica do país.

No decorrer da primeira legislatura, o elemento paz, sem nunca perder a sua importância e primordialidade, foi rapidamente igualado e mesmo ultrapassado pelos imperativos económicos ligados às mudanças radicais que se operaram na gestão do país e na sua organização social. O período da primeira legislatura foi marcado pela inversão da tendência económica de natureza distributiva e planificada e de toda a dimensão social que a acompanhava, para uma orientação individualista, concorrencial e toda a dimensão de violência social e de competitividade que a caracteriza. Isso trouxe consigo uma mudança radical, não só na organização económica, mas também na estrutura social e relacional entre os cidadãos.

O período da primeira legislatura coincide com o incremento dos investimentos estrangeiros, sob a forma de empréstimos, com as consequentes imposições de políticas por parte dos organismos internacionais e países estrangeiros. O país acumulou dívidas colossais e foi obrigado a proceder à privatização de infra-estruturas que, até então, tinham simbolizado parte da identidade nacional (basta pensar na indústria do cajú). Não faço um juízo de valor. Constato simplesmente que o povo não só não era consultado na transformação radical da sociedade e na privatização dos espaços de importância vital e simbólica. O que sob o ponto de vista político me parece problemático é que o povo não tinha nenhum mecanismo de participação, nem sob a forma de referendo, nem pressionando os seus eleitos a defenderem os seus interesses e a sua visão da sociedade.

A este défice jurídico e constitucional deve-se acrescentar as dificuldades nacionais em termos de comunicação (televisão, rádio, jornais), o nível de analfabetismo elevado e, ainda mais importante, a discrepância entre as concepções político-culturais das populações e o tipo de democracia estabelecido.

Professor Doutor Severino Ngoenha a fazer a sua intervenção

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A questão filosófica que se põe é a seguinte: como fazer com que a democracia não se transforme num jogo de elites, que a maioria da população possa, de facto, participar com conhecimento de causa, não só através de um boletim de voto de cinco em cinco anos, como uma assinatura de cheque em branco para as elites políticas que se sentem legitimadas a fazer privatizações que vão em detrimento do povo que nelas depositou confiança?

Se quisermos ser mais explicativos podemos dizer que três níveis de problemas manifestaram-se no desenrolar-se mesmo da primeira legislatura: o papel do novo estado moçambicano na nova sociedade moçambicana, a questão da representatividade e a soberania nacional face à comunidade internacional.

O Papel do Novo Estado Moçambicano na Nova Sociedade Moçambicana

É de uma evidência a la palisse que a natureza do Estado moçambicano da segunda República é radicalmente diferente da natureza do Estado da primeira República. Na primeira República, os fautores e os executores da política estatal conheciam exactamente o lugar de cada um e o que tinham que fazer. Podemos dizer que o Estado moçambicano, pela sua natureza libertária e socialista era, não direi providencialista, mas distributiva. O papel de cada funcionário do aparelho do Estado, desde o ministro até ao servente de uma escola primária, era estar ao serviço do que se acreditava ser o interesse dos moçambicanos. O Estado moçambicano era implacável contra tudo que, de longe ou de perto, se parecia com a corrupção, desvio de bens públicos, tentativa de enriquecimento pessoal, acumulação individual, etc..

Os valores moçambicanos eram contar com as próprias forças, o amor pelo trabalho, o direito à escola, à educação, à saúde; era o facto de que éramos socialmente responsáveis uns pelos outros; era a luta contra todas formas de discriminação, quer fossem na base da raça, da etnia, da tribo, da região origem, etc.. Estar ao

serviço do nosso povo era um valor, participar na construção de Moçambique através do trabalho e dedicação era um valor. Estes valores constituíam o essencial daquilo que era ou devia ser o Estado. Esta era a maneira através da qual o Estado estava (ou pretendia estar) ao serviço das populações.

Mas apesar das intenções excelentes, esse Estado era habitado por contradições intrínsecas que acabaram anulando a grandeza dos objectivos precedentemente anunciados. A dinâmica participativa estava subordinada a uma ideologia unilateral de uma única família política, que se arrogava deter a única visão justa para a construção do país. Essa ideologia política é compreensível no quadro da divisão do mundo que então se vivia, apesar de a Frelimo se ter visto forçada a aderir a um dos lados sem estar necessariamente convencida do bem fundado da sua «opção» ideológica. Aliás, esta tese encontra uma confirmação na adesão sem reservas da maioria da classe política de esquerda às teses e às posições ultra-liberais que repentinamente irromperam na vida social moçambicana durante o início da segunda República.

De um dia para o outro as coisas mudaram. Era como se, de repente e sem aviso prévio, nos encontrássemos diante de uma passagem de nível sem guarda. Nesta mudança que corresponde à mudança das relações de força na política mundial, a sociedade moçambicana viu-se, de um dia para o outro, radicalmente mudada: de uma economia planificada para uma economia selvagem. Não digo liberal, digo selvagem, porque o liberalismo tem regras. Por exemplo, se o pressuposto é a livre iniciativa dos indivíduos e a possibilidade de concorrerem uns com os outros (Bentham), a situação moçambicana não se prestava a isso, quer porque as populações não tinham formação e informação, quer porque não tinham os meios financeiros necessários para entrarem neste tipo de economia. Abandonar as populações de um momento para o outro ao volante de um porsche que vai a duzentos quilómetros à hora sem lhes terem previamente ensinado a conduzir, significava condená-los inevitavelmente ao desastre.

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Ora, a mudança política e económica comportou uma mudança nos métodos de governação e nas prestações dos poderes públicos. O Estado da primeira República pecava pela sua pan-presença. Ele decidia pela educação, pela saúde, pela moral pública e individual, pela justiça, pelos valores individuais e colectivos. E para isso combatia os alicerces individuais e culturais dos indivíduos e dos grupos.

A segunda República tomou uma postura inversa. Ela peca pela sua ausência. As populações não sentem no Estado – desde as instâncias mais elevadas até ao servente de uma escola ou dum hospital – «uma pessoa jurídica» que está presente e ao seu serviço. O Estado ficou «dólar-crático». Tudo se faz em função do rendimento, do ganho, das mordomias. O funcionário do Estado transformou-se de servidor público em servidor de si próprio, instrumentalizando o privilégio que o seu lugar lhe concede. O funcionário não serve: serve-se. Esta situação está em discrepância com a ideia que as populações fazem de um funcionário. A ideia que as pessoas têm de um professor é de um homem que é uma referência para as populações, não só pelo seu saber, mas também pela sua conduta moral. Ver um professor a vender notas e provas de exame é simplesmente escandaloso. Ver o hospital transformado num comércio ia contra a ideia que as populações tinham da deontologia médica, mesmo sem conhecerem o juramento de Hipócrates.

Apesar do famoso crescimento económico e dos índices do PNB, a situação das populações piora, a qualidade do ensino piora. Aos jovens dá-se a consumir uma cultura feita de telenovelas e de slogans tipo «2M nossa tradição nossa cultura», ou então «a nossa cerveja, a nossa maneira de ser e de estar». O tratamento nos hospitais depende de dólares, a boa escola custa caro, todas as coisas a que as populações de baixo não se podem permitir. Isto põe um problema enorme de justiça, a nível distributivo e a nível de sanção jurídica.

Um dos primeiros sinais da ausência do Estado foi dado quando as populações começaram a fazer justiça com as próprias mãos. Muitas vezes queimava-se um miúdo que roubara para comer, quando funcionários do Estado e outros desviavam coisas muito mais consistentes esvaziaram literalmente os cofres do Banco Austral, venderam bens essenciais do Estado a estrangeiros ou que têm 500 mil dólares para comprar apartamentos e eram indemnes a qualquer sanção. Esta violência social, porque é disso que se trata, tem que ser analisada em todos os seus parâmetros. As populações começaram a ser violentas. Podemos dizer que os miúdos da rua são violentos, há assassinatos na cidade, assaltos à mão armada que culminaram em violência-espectáculo, com a morte de Carlos Cardoso e de Siba-Siba Macuácua. Todavia, toda esta violência pode ser conduzida à «dólar-cracia»: a instauração do dólar em valor supremo da nossa sociedade. O fim, «dólar», justifica todos os meios.

Então, ao mesmo tempo que o número e a qualidade de carros e casas de luxo aumenta na cidade, as viagens para compras na RSA, na Suazilândia e mesmo Portugal aumentam, que se multiplicam as viagens para Dubai, para bronzear-se no Estoril ou para o Carnaval no Rio, o número de pobres, de miseráveis não cessa de aumentar. O número de doentes que morrem de malária devido à falta de saneamento de meio aumenta.

Assim, a segunda República muito depressa oscilou da democracia à «dólar-cracia». Com a passagem da primeira à segunda República, deitou-se fora a água suja e o bebé. Valores verdadeiros para qualquer sociedade foram negligenciados, deliberadamente omitidos ou mesmo invertidos.

Durante o período da primeira República nós cantámos que a linha de ordem do nosso povo era a unidade, o trabalho e a vigilância. Podemos perguntar se estes valores não têm todo o seu lugar no Moçambique de hoje. Em que é que a unidade pode ser identificada com um regime político? A unidade do nosso povo, contra o tribalismo que está em voga, o regionalismo e o

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racismo não constitui um valor essencial para o Moçambique de hoje? O trabalho, o facto de contar com as próprias forças, num mundo de assistidos e objecto das ajudas e caridade internacional não é um valor a cultivar? A vigilância contra as divisões, com o perigo de recair no colonialismo, na dominação não é um valor a cultivar e a defender?

De facto, a falta desta vigilância condena a maior parte da população, os mais fracos, a processos que recordam muito o que era a época colonial, mas sobretudo distância entre o Estado da sociedade. Vale a pena recordar o debate português2 em volta da Sociedade de Geografia no fim do século XIX, depois do ultimato que a Inglaterra impôs a Portugal. Homens como Eça de Queirós pensavam que Portugal deveria desinteressar-se dos «selvagens» que viviam nas colónias. Aliás, Portugal tinha-se mostrado mau colonizador e isso só lhe tinha valido frustrações e humilhações, desde a perda do Congo a favor dos belgas até ao ultimato britânico.

Contra estas teses, jovens como António Ennes defendiam que era necessário ter colónias rentáveis como moeda de troca para melhor integrar a Europa. Para isso, Portugal teria primeiro que pacificar as suas terras, controlá-las com militares e com a administração, e assim poderia dizer aos parceiros: tenho terra para cultivar, militares para defendê-la e, sobretudo, pretos para trabalhá-la. Era o início do trabalho forçado que acabou substituindo a recém extinta escravatura pelo chibalo que faz da colonização portuguesa uma das mais cruéis e os povos de Moçambique dos mais sofredores.

Quando vejo certas práticas a que se prestam certas elites moçambicanas, como acordos de parceria com empresas ou indivíduos sem escrúpulos, acordos que não têm em conta os interesses das populações, pergunto-me se o discurso é diferente do discurso de António Ennes. Mas, sobretudo, o risco maior

é condenar as populações mais fracas do nosso povo ao novo chibalo, evidentemente com a nossa cumplicidade.

Aliás, não é a primeira vez: todo o sistema de dominação do nosso povo contou sempre com a cumplicidade de grupos entre nós. A escravatura foi facilitada por certas práticas internas pela cobiça e sobretudo pela falta do sentido histórico, pois quando o momento chegou, vendedores e vendidos tornaram-se todos escravos e colonizados.

A falta de sentido histórico seria pensar que nós, pequenos grupos, constituiríamos as excepções de um processo neocolonial no qual somos ou podemos ser cúmplices. Se a questão é dinheiro, então somos mais baratos que os nossos predecessores. Temos que lembrar que um espingarda no século passado era mais difícil de construir que um Mercedes hoje. Se temos que nos vender para obter um carro, temos que pensar não só na traição histórica para com os nossos e a causa negra de uma maneira geral, mas também no preço dessa mesma traição.

Podemos considerar que a Frelimo traiu a sua causa? Aquela mesma Frelimo que era constituída por rapazes e raparigas que estavam dispostos a morrer todos os dias durante dez anos em nome da liberdade do nosso povo? O que é que aconteceu?

Não foi, em primeiro lugar, a Frelimo que mudou. Há um facto que ninguém quer reconhecer, mas que é fundamental para entender o Moçambique de hoje e as circunstâncias das nossas vidas e acções. Se raciocinarmos em termos libertários podemos afirmar de uma maneira apodíctica que face à intransigência e ao anacronismo histórico do fascismo português, nós, colonizados e em busca da liberdade-independência, fizemos uma guerra justa e ganhámos. A guerra não foi ganha militarmente, mas o terreno de batalha não era esse. O terreno de batalha era político e foi um acidente histórico de responsabilidade portuguesa que obrigou Moçambique e as outras colónias portuguesas fossem a excepção no contexto africano a pegar em armas. Mas com

2BIGNASCA, A., La Singolarità terribile del Colonialismo Portoghese: il Dibattito della Società di Geografi a. Roma: Armando, 1971, 71-82.

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o 25 de Abril essa anomalia histórica foi corrigida e abriram-se as portas para as independências políticas das então colónias portuguesas.

Na Dimensão Moçambicana da Consciência Histórica defendi que a Frelimo não escolheu o comunismo: foi-lhe imposto por um processo histórico-político. Agora, tristemente, tenho que defender que o liberalismo selvagem em curso não é também resultado de uma escolha, mas da derrota na segunda guerra. De facto, os objectivos libertários da primeira guerra foram derrotados na segunda guerra.

O período que vai de 1945 até 1989, como já se escreveu enormemente, foi dominado pelo conflito ideológico que opôs o bloco chamado de esquerda ao bloco de direita. Nós entramos neste conflito pela janela da nossa vontade de nos libertarmos do colonialismo. A prova da nossa participação periférica está no facto de termos parado com a guerra no momento mesmo em que os generais R. Reagan e M. Gorbatchov assinaram o armistício do fim das hostilidades. A guerra terminou com a vitória do bloco da direita. Dado que nós estávamos no bloco da esquerda, perdemos. Temos que ter a coragem de dizer que se ganhamos a guerra de libertação (nessa luta nós estávamos

no sentido da história, contra o anacronismo histórico do colonialismo português), perdemos a segunda guerra.

O fim de todas as guerras é concluído com «actos cívicos» nas quais as partes se encontram, com aparente cortesia e mesmo cordialidade, bem vestidas e engravatadas para o processo de diálogo. Na realidade, trata-se de um encontro humanamente duro e humilhante para os vencidos, durante o qual os vencedores ditam as suas condições.

No panorama geral do conflito da guerra fria, a principal discussão do armistício fez-se em Helsínquia e teve como protagonistas Reagan e Gorbatchov. Assinado o documento principal, deixou-se que a resolução de detalhes ficasse a cargo dos burocratas ou dos oficiais subalternos, mas sempre no espírito da carta fundamental. Isto explica que os acordos de paz moçambicanos tenham sido assinados numa insignificante comunidade de Roma sem tradição nem prévia experiência política.

Os vencedores da guerra decidiram que em Moçambique, a Frelimo renovada – nome que nunca tomou, mas devia ter emprestado da UNITA Renovada – fosse a melhor força política para governar Moçambique. Com efeito, a natureza do capitalismo é não ter tempo. Dado que a estrutura administrativa de Moçambique tinha sido escangalhada e recomposta por esta força política, para o funcionamento eficaz e imediato de um liberalismo que em termos de eficiência e comprimento de prazos e datas é mais rigoroso que os sistemas de esquerda, o melhor governo seria o da Frelimo. Dava-se a Frelimo o mandato de governar com ordens precisas: utilizar as próprias estruturas para escangalhar o munus socialista e colectivista que ela mesmo tinha criado, introduzir o capitalismo contra o qual tinha lutado – sistema que tinha sido historicamente responsável pela submissão dos moçambicanos.

Em primeiro plano (da esquerda para a direita): Ya-Qub Sibindy, Miguel Mabote, Marcos Juma e André Balate

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Aceitaria a Frelimo destruir o que ela mesma tinha construído? Aceitaria dizer às pessoas que tinha educado que o homem novo agora era o capitalista, que a palavra de ordem era acumulação individual, era a exploração do mais fraco? Aceitaria a Frelimo dizer que, afinal de contas, o roubo e a desonestidade eram valores? Aceitaria a Frelimo transformar as funções estatais de serviços para o maior número em lugares de apropriação e de acumulação? Aceitaria a Frelimo destruir a sua lealdade com os camponeses, com os combatentes da Independência?

A bola parecia estar no campo da Frelimo: ou ela queria permanecer coerente consigo própria e, então, reconhecia a sua derrota e retirava-se, ou então ela se metamorfoseava e tornava-se uma «Frelimo renovada», atacando o poder a todo o custo. Existe, teoricamente, a possibilidade de a Frelimo ter aceitado a sua nova condição como forma de resistir, na medida do possível, aos ditames dos vencedores a fim de continuar a defender os seus valores originais.

Então a Renamo estava condenada a ser oposição? A nova missão do pequeno batalhão era ser uma pistola apontada à têmpera da nova Frelimo, governante. Se a Frelimo se comportasse bem, a Renamo continuaria na oposição quer ela quisesse ou não. Se a Frelimo se comportasse mal, a oposição premiria o gatilho e a Frelimo saltaria. Só que a Frelimo mostrou-se mais liberal do que era previsível. Isto leva-me a pensar que muitos socialistas da primeira República não o eram por convicção, mas por imposição ou por oportunismo político.

A partir do momento em que a Frelimo jogava bem o jogo liberal, a Renamo transformava-se num espantalho que só serve para afugentar pássaros. Mas as duas questões de fundo são: primeiro, a Frelimo ultraliberalizou-se estrategicamente como forma de manter o poder (e servir os interesses dos moçambicanos) ou como estratégia de enriquecimento de um certo número de indivíduos? Se foi uma estratégia para conservar o poder, que fim tem o novo poder e Governo da Frelimo? Segundo:

a comunidade internacional, virando as costas à Renamo e seguindo a estratégia da Frelimo, levanta o problema do futuro da democracia e da sua legitimação em Moçambique.

A Questão da Legitimação

A participação nas eleições de 1994, mais do que legitimar as novas forças políticas em presença e a nova governação nacional, era um assentimento que ia mais em direcção da necessidade de terminar com a guerra e todas as consequências que ele comportou em termos de acentuação da pobreza, da fome, da imigração das populações do campo para a cidade, etc. mas, de nenhuma maneira, uma legitimação política. Com efeito, ninguém pode legitimar o que não conhece, e nenhuma legitimidade é possível (legítima) se ela não parte e não se alimenta do substrato mental, cultural e filosófico do povo que deve supostamente governar e representar.

Ora, as estatísticas mostram que mais de noventa por cento dos cidadãos moçambicanos não possuem os apetrechos intelectuais necessários para participarem, e por conseguinte, legitimarem uma democracia, cujos paradigmas respondem a pressupostos culturais e históricos ocidentais. Por outro lado, todos os trabalhos de história e de antropologia levados a cabo sobre as diferentes culturas moçambicanas3 mostram que a participação popular na coisa pública e os diferentes sistemas de governação das culturas nacionais, diferem em toda a medida do sistema constitutivo e da organização dos poderes públicos actuais.

Todavia, e não obstante as afirmações precedentes, as eleições políticas de 1994 marcaram o início de uma nova legitimidade política, não fundada sobre a tradição ou sobre a força das armas, mas pelo princípio da soberania popular. A nossa questão será justamente de nos interrogarmos quanto ao estatuto político desta nova legitimação.

3Cfr. Documentos de Antropologia Moçambicana. Lisboa, 1996

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Em Moçambique, o nascimento do projecto nacional está indissociavelmente ligado aos nomes de Eduardo Mondlane4

e da Frelimo. As lutas dos povos africanos pelas próprias liberdades, na qual se situa o projecto de Eduardo Mondlane e da Frelimo, inscreveram-se em dois movimentos históricos opostos. O primeiro inscrevia-se e fundamentava-se no substrato cultural dos diferentes povos autóctones, o segundo tem o seu fundamento na história do movimento Pan-africano que nasceu com os negros da diáspora: República das Palmeiras no século XVII no Brasil, Haiti de Toussant Louverture no século XVIII, os marrões da Jamaica no século XIX, mas, sobretudo, as metamorfoses históricas e culturais dos negros nos EUA:

Os primeiros movimentos eram culturalmente homogéneos, tinham as suas delimitações geográficas e políticas bem definidas. As fronteiras traçadas ou reconhecidas por Berlim eram para os diferentes povos, entidades geo-políticas demasiado extensivas, mas sobretudo não correspondiam às dinâmicas políticas próprias dos diferentes grupos nacionais. As entidades políticas forjadas pelos povos africanos (Estados, Impérios) não paravam sempre nas fronteiras étnico-tribais, bastando pensar no império de Gaza ou no Império do Monomotapa. Contudo, a extensão de uma identidade política a grupos culturalmente heterogéneos era acompanhada por uma série de medidas de inserção jurídica, económica, política e cultural que se inscreviam nas dinâmicas culturais autóctones. Todavia, nenhuma destas dinâmicas correspondia nem geográfica, nem politicamente àquilo que os portugueses chamaram Moçambique.

Se a entidade Moçambique era (como, aliás, todas as colónias africanas pós-Berlim) demasiado grande sob o ponto de vista geográfico e culturalmente heterogénea em relação às dinâmicas políticas autóctones a Moçambique e a África, ela era, ao contrário, demasiado reduzida em relação aos objectivos

primeiros do pan-africanismo que prospectava uma unidade política de todos os negros do mundo no solo africano (Delany, Marcus Garvey). Os objectivos do movimento Pan-africano foram-se reformulando sem nunca, contudo, renunciarem ao objectivo de unir politicamente a África, como testemunha a obra política e literária de K. Nkrumah Africa Must Unit, ou mesmo os esforços da criação de uma África federal de Dubois ou, ainda, de Patrice Lumumba.

Eduardo Mondlane, como K. Nkrumah ou Azikiwe, pertence por formação e convicção ao movimento Pan-africano cujas ideias tiveram um impacto considerável nos anos em que ele viveu e estudou nos EUA. Contudo, a acção política de Eduardo Mondlane e da Frelimo foi precedida e condicionada por dois factos políticos e históricos importantes: a partir do congresso Pan-africano de Manchester de 1945 fala-se abertamente e, pela primeira vez, da questão de autodeterminação dos povos africanos. Mas ao mesmo tempo, o congresso observou que «as divisões arbitrárias e as fronteiras territoriais delimitadas pelas potências coloniais constituem outras tantas medidas deliberadamente tomadas para impedir a unidade política da África».

Constâncio Nguja intervindo no seminário sobre os desafios do nacionalismo

4 Cfr. NGOENHA, S.E., Para uma Reconciliação entre a Política e a(s) Cultura(s). Programa de Reforma dos Órgãos Locais (PROL), Texto de Discussão N° 3, Ministério da Administração Estatal (MAE), Editado por J. E. M. GUAMBE e B. WEIMER, Maputo, Agosto de 1997, 14.

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Se a questão da independência estava posta sem equívocos, restava delimitar o quadro geopolítico no qual estas independências se deviam inscrever: etnias, antigos Estados africanos, zonas economicamente viáveis, ou espaços coloniais delimitados em Berlim?

O co-presidente do congresso de 1945, Dubois (com Carter G. Woodson, fundador da Association for the Study of Negro Life an History em 1915) foi também um dos promotores da redescoberta da História, das tradições e da cultura da África pré-colonial. Contudo, ele pensava – como, aliás, todos os líderes políticos da época – que a África fragmentada não podia, por si só, na sua própria terra, tomar claramente consciência da sua unidade a não ser sob a forma de uma muito vaga comunidade de origens e de tradições, consideradas num sentido muito geral. De facto, a noção de Pan-africanismo era afectada por um alto grau de abstracção em relação à realidade. Tratava-se mais de uma doutrina cultural (ou do reconhecimento de uma unidade espiritual entre negros, como dissera Langston Hughes) do que de uma verdadeira ideologia política. Foi o que fez Azikiwe com o seu Renascent Africa de 1937, Césaire no Cahier d’un retour au pays natal, a revista Presence Africaine, ou ainda Cheikh Anta Diop com as Nações Negras e Cultura.

Por falta de uma ideia clara de unidade e mesmo de condições práticas para que essa unidade fosse possível, começou-se a falar de unidades regionais. Mas uma vez mais tinha que se definir os contornos políticos e jurídicos de tal unidade. E, sobretudo, definir-se se tal unidade devia preceder ou vir depois das independências das delimitações individuais daquilo que eram os Estados coloniais. Este assunto esteve no centro do debate político entre os anos 1957 e 1959.

Em 1961, um ano antes da fundação da Frelimo, a África independente divide-se claramente em dois grupos: o grupo de Monróvia e o grupo de Casa Blanca. Contudo, a ideia que prevalece é que a unidade que é preciso realizar neste momento não é a integração política dos Estados Africanos soberanos, mas a unidade das aspirações e da acção, do ponto de vista da solidariedade social africana e da identidade política.

O pan-africanista e funcionário das Nações Unidas, Eduardo Mondlane sabe, ao fundar a Frelimo, que o quadro geopolítico das liberdades (independências) africanas por vontade da ONU, guiada pelas mesmas potências que em Berlim tinham, cinquenta anos antes, dividido o continente sem se preocuparem nem com as culturas nem com os homens negros que nós somos, com a conivência dos novos dirigentes africanos, deve ser o espaço da colonização europeia, portanto portuguesa, para Moçambique. Isto quer dizer: do Rovuma ao Maputo.

Ora, neste espaço geopolítico tinham precedentemente surgido formas de nacionalismo que, sem serem o resultado de uma evolução política interna às culturas locais, inscrevia a sua dinâmica nos substratos culturais locais. Não há dúvida que sob ponto de vista da evolução da política mundial, Mondlane teve razão em criar a Frelimo, como meio de dar força e legitimidade internacionais – no sentido da ONU e, a partir de 1963, da OUA – às reivindicações dos povos Em primeiro plano (da esquerda para a direita): Dersa Jango, Cremildo Gove, Constantino Ngode

e Izidio Maquival.

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que viviam no espaço geográfico que se estendia do Rovuma ao Maputo. Contudo, havia aqui uma transferência de legitimidade. A Udenamo, Unamo e Manu, reivindicavam a sua legitimidade nos povos respectivos. A Frelimo que, justamente, não queria nem podia ser um simples somatório dos três movimentos nacionalistas que o precederam, nem sequer era o somatório dos grupos etno-tribais de Moçambique, não podia imediatamente receber a sua legitimação do interior e, portanto, das dinâmicas político-culturais interiores aos povos de Moçambique.

Quanto ao exterior, a Frelimo podia receber uma caução, mas não legitimação do Pan-africanismo que, entretanto, tinha sido redimensionado e mesmo isolado com a elevação do espaço colonial a quadro geopolítico para a proclamação das independências. A divisão de 1961 e a criação da OUA eram, de facto, uma vitória das antigas potências coloniais. E, paradoxalmente, eram a ONU e a OUA a legitimarem a Frelimo como movimento de libertação de Moçambique, e mais tarde, como representante do povo moçambicano.

Se as independências se devem inscrever no quadro geopolítico colonial, elas não se podem inspirar culturalmente nem nas lutas autóctones dos diferentes povos de Moçambique e das suas evoluções e debates políticos, nem sequer se podem inspirar na dinâmica histórica do Pan-africanismo. A acção de Eduardo Mondlane e da Frelimo deve geopolítica e juridicamente inspirar-se e, de qualquer modo, dar continuidade ao trabalho de centralização levado a cabo pelas autoridades coloniais portuguesas e, por outro lado, a partir do Partido transformado em Estado depois da independência, criar uma Nação à imagem e semelhança da Europa. Aqui surgem duas dificuldades:

a) Os portugueses para centralizarem a governação dos povos de Moçambique, não só não legitimavam o seu poder a partir dos povos de Moçambique, mas violavam sistematicamente os seus direitos mais elementares. Se a Frelimo-Estado de Moçambique seguia esta governabilidade tinha ou que

dialogar e fazer dialogar os diferentes povos e culturas nacionais, o que era tecnicamente impossível, tendo em conta sobretudo o factor tempo e os imperativos regionais; ou então, com uma legitimação proveniente do exterior, impor aos povos de Moçambique culturas políticas estrangeiras. Mas, se assim fosse, em que medida a imposição da Frelimo seria na prática diferente da imposição dos portugueses? Em que medida a governação da Frelimo seria menos colonialista em relação às práticas culturais dos diferentes povos e culturas locais?

b) A história social e política da Europa, que doravante servia de modelo, tinha visto nascer o Estado a partir das Nações. Ora, em que medida o Estado de Moçambique estaria à altura de criar a Nação, tarefa primordial que lhe foi confiada pelo Partido?

A missão histórica que foi da Frelimo – criar uma nação moçambicana – partiu de movimentos políticos, culturalmente circunscritos (Udenamo, Unamo e Manu), mas teve que se forjar logo depois uma ideologia unitarista. Depois da independência, o postulado de unidade nacional, que em si mesmo não é nem pode ser discutível, implicou também uma governação a partir de cima. O primeiro paradoxo era que o governo legitimava o seu poder no povo, mas governava contra os pressupostos jurídicos das culturas nacionais. O segundo paradoxo era que a legitimação teórica e histórica dos pressupostos políticos de governação respondia a pressupostos europeus: recordemo-nos que o marxismo é filho de um debate histórico próprio da cultura ocidental.

Estes paradoxos e mesmo a desconsideração das culturas nacionais no processo político e de governação foram, historicamente, o preço que tiveram de pagar as culturas nacionais pela edificação do Proto-Estado moçambicano.

A Nação democrática que se auto-proclamou em 1994 novo actor histórico da vida política e social moçambicana quer,

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como afirma a constituição de 1990 e os acordos de 1992: Todos se reconhecem actores e sujeitos da história, ou seja, um partido único não pode ser o dirigente da sociedade e do Estado5.

Por democracia se entende, portanto, um sistema de partidos. Ora, este sistema tipicamente ocidental desde há dois séculos tem vindo a provar a sua funcionalidade. Contudo, no contexto histórico actual, caracterizado pelo fim do bipolarismo, muitos sociólogos e politólogos se interrogam quanto à pertinência da divisão clássica da política em partidos e a capacidade deste sistema de representar verdadeiras alternativas políticas e, sobretudo, de representar os diferentes estratos da sociedade.Mas a questão mais interessante para nós é que em nenhum país africano o sistema de partidos como o proposto pela constituição e pelos acordos de Roma parece estar à altura de mobilizar o imaginário colectivo das populações. Das duas, uma: ou o africano (e, portanto, também o moçambicano) é geneticamente anti-democrático como sustentam alguns eugenistas (Medeved Arison), ou então o sistema de partidos é, talvez neste momento, um mal necessário, mas não corresponde ao substracto cultural dos nossos povos.

Não se trata de uma inadequação dos africanos à democracia, mas do modelo Europeu falsamente universal, que não se coaduna com as nossas culturas. Não são as culturas que se têm de adaptar a todo o custo a modelos, que responderam ao génio próprio de certos povos num determinado momento da sua história, mas os modelos que se têm de forjar a partir das culturas. Isto significa que nós temos de inventar um modelo de sociedade que nos seja próprio, um modelo que corresponda às nossas culturas, às nossas sensibilidades, um modelo capaz de mobilizar o conjunto de moçambicanos a participarem não só nas eleições, mas na vida integral da sociedade moçambicana.

Depois de uma entrevista que dei ao jornal Savana em Setembro de 1996, um deputado disse-me que ele tentava levar os seus eleitores a interessarem-se e mesmo a controlarem a sua actividade de deputado, mas em vão: os «eleitores não conhecem as suas prerrogativas jurídicas e políticas como eleitores».

Os deputados são, teoricamente, representantes dos interesses dos eleitores. Que tipo de mandato, eleitores que ignoram as suas prerrogativas políticas e jurídicas, podem confiar a um deputado? E se os deputados não têm um mandato claro dos seus eleitores o que é que eles representam? O que é que os autoriza a falarem em nome dos seus eleitores?

Mas supondo que os eleitores decidam controlar, acompanhar, influenciar a execução do mandato de um deputado ou, mais profundamente, que eles queiram fazer presente a um deputado que representa no Parlamento as suas preocupações, que não são sempre iguais, mas variam com o tempo e com as circunstâncias: de que mecanismos jurídicos e constitucionais dispõem? Que mecanismos estão previstos pela lei que permitam que os eleitores interpelem os seus representantes?

Em primeiro plano (da esquerda para a direita): Carla Manuel e Hamina Khadyhale.5Cfr. NGOENHA, S.E. Para uma Reconciliação entre a Política e a(s) Cultura(s). Programa de Reforma dos Órgãos Locais (PROL), Texto de Discussão N° 3, Ministério da Administração Estatal (MAE), Editado por J. E. M. GUAMBE e B. WEIMER, Maputo, Agosto de 1997, 21.

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Se os parlamentares representam simplesmente as posições dos próprios partidos, em discrepância total com os interesses e a compreensão das pessoas, estamos num sistema de partidocracia.

Será que o sistema de representação parlamentar é conforme o génio político e cultural moçambicano? Será que os mecanismos de representação tipicamente moçambicanos são os partidos? Os indivíduos, os grupos, as culturas e a sociedade exprimem as próprias opiniões, preocupações, posições através dos partidos, ou existem outros mecanismos, outras vias, outros veículos de opinião e de tomada de posição que são mais congénitos aos povos de Moçambique?

A democracia moçambicana e o seu sistema de representação vão ter que colocar o problema dos pressupostos. Temos que centrar os nossos esforços sobre a condição mesma da democracia: a dimensão sócio-cultural. A democracia vai exigir, como condição preliminar, uma acção concebida a partir das realidades autênticas das nossas comunidades autóctones, apreendidas a partir do interior. Contudo, as eleições políticas de 1994 e a nova constituição, fundando doravante a legitimidade política sobre a soberania e a vontade dos moçambicanos, consagram simbolicamente uma ruptura fundamental.

Para além do princípio de legitimidade política, é o fundamento mesmo da relação social que é posto em causa. Na era da nação democrática, a política substitui o princípio religioso ou dinâmico para unir os homens: ela reivindica o direito de instaurar o social. Doravante, todos os homens no interior do espaço nacional são iguais em dignidade. Esta cidadania não é simplesmente um atributo jurídico e político, no sentido estrito do termo. É também um meio para adquirir um estatuto social: a condição necessária mesmo se concretamente não suficiente para que um indivíduo possa ser plenamente reconhecido como actor de vida colectiva.

Existem, no entanto, dois problemas fundamentais. Primeiro – o nascimento da nação democrática foi precedido, e talvez mesmo condicionado, pela presença de uma outra nação que vive no seu seio: a nação produtivista. Não é por acaso que a democracia foi precedida por uma adesão às instituições económicas internacionais como o FMI e BM, composta por indivíduos mais preocupados em satisfazer os próprios interesses que a satisfação dos seus deveres cívicos – que segundo Rousseau constitui o principal problema moral para aquilo a que ele chama o homem social. A lógica produtivista intimamente ligada à eficácia da produção, tende a preceder os valores propriamente políticos. A participação na vida económica é a fonte essencial do estatuto social. Assim, a dimensão económica e social da vida colectiva impõe-se em detrimento do projecto político. Este facto enfraquece ulteriormente o nosso «Proto-Estado Democrático» que se vê obrigado a renunciar às suas prerrogativas estatais (que lhe foram confiadas pelos eleitores) para satisfazer as imposições anti-democráticas do FMI e do Banco Mundial6 que se arrogam a prerrogativa de legitimar o poder.

Como se isto não bastasse, os eleitores não têm mecanismos jurídicos legais previstos pela constituição que lhes permitam fazer-se ouvir ou simplesmente participar no debate público. Existe, por conseguinte, um outro problema jurídico, desta feita ligado à democracia representativa.

A Democracia Representativa

A democracia representativa, em princípio, é uma democracia parlamentar. Todavia, para que o parlamento seja democrático, deve respeitar três princípios fundamentais: a tolerância, a separação dos poderes, a justiça. Isto significa dizer que uma

6Cfr. Ngoenha, S. E., Para uma reconciliação entre a Política e a(s) Cultura(s). Programa de Reforma dos Órgãos Locais (PROL), Texto de Discussão N° 3, Ministério da Administração estatal (MAE), Editado por J. E. M. GUAMBE e B. WEIMER, Maputo, Agosto de 1997,33.

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democracia digna desse nome não se pode contentar em ser uma democracia formal, cega às desigualdades materiais entre os membros da sociedade, mas ela deve visar a um objectivo concreto: a justiça social. Podemo-nos perguntar: em que condições reina a justiça social? Isto é uma questão difícil. Em contrapartida, o que é claro é que a sua realização supõe, pelo menos, a criação de mecanismos susceptíveis de impedir o desenvolvimento de desigualdades demasiado grandes no seio da comunidade.

A nossa constituição, inspirando-se na história das democracias representativas, separa claramente o poder executivo do legislativo e este do judicial. Que mecanismos temos para garantir a separação de poderes e gerir eventuais conflitos entre eles?

Dois tipos de conflitos têm perturbado de maneira recorrente a vida das democracias contemporâneas: primeiro, o conflito entre o executivo e o legislativo, quer quando a constituição dá mais importância a um ou ao outro, quer quando os representantes do executivo usam todos os subterfúgios para fugirem ao controlo dos representantes do povo. O membro da Renamo ou do MDM quando se pronunciam no parlamento, fazem-no como representantes do povo. O executivo não deve ridiculizá-los ou fugir às questões, muitas vezes judiciosas e pertinentes que levantam.

Segundo, o conflito entre o executivo e o judiciário. Nomeados pelos primeiros, os agentes do segundo, isto é, os magistrados, têm muita dificuldade em fazer compreender aos responsáveis do executivo, que ninguém pode estar acima da lei. Este é um problema que os pais da democracia representativa não resolveram. Trata-se de uma questão que tem minado a vida política, mesmo nas democracias mais experimentadas. Em Moçambique podemos falar do paradigma Anibalzinho-Nyimpini.

Que o presidente Chissano tenha feito ou não pressão ao pé das autoridades judiciárias, os juízes não podem ser completamente livres de uma certa pressão psicológica no acto mesmo de instaurar um processo e de judiciar Nyimpini.

Mas a verdadeira questão não é nem a atitude do presidente, nem Anibalzinho, nem Nyimpini. A questão é como fazer com que entre o poder executivo e o judicial não haja interferência, numa democracia que quer estes poderes iguais, mas subordina a nomeação do judicial à decisão do executivo? Que o presidente faça pressão ou não, que diga algo ou não, que o seu pessoal governativo intervenha ou não, o seu estatuto vai necessariamente condicionar o desenrolar do processo. Este não é um problema só moçambicano e, talvez ainda mais por isso, deve mobilizar as nossas inteligências com vista a encontrarmos uma saída…

A estes pontos tem que se acrescentar um que é a maneira particular como um certo Ocidente se arroga sempre mais, e de maneira antidemocrática, prerrogativas de legitimação anti-coloniais das emergentes democracias africanas, e mete sob tutela as nossas economias e, em consequência, a nossa soberania.

O Presidente Armando Guebuza ladeado pelo Professor Severino Ngoenha (a esquerda) e pela Drª. Arlete Matola e pelo Professor José Paulino Castiano (a direita) no final do Seminário.

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A Questão da Soberania

A constituição de 1975 prescreve em vinte e cinco artigos os princípios gerais ou, se quisermos, as proposições de base que orientam o conjunto de normas jurídicas e a promulgação das leis. Trata-se de ideias ou de proposições que inspiram e orientam todos os enunciados e todos os actos do direito.

O Moçambique de 1975 aparece, assim, no artigo I como «Um Estado soberano, independente e democrático sob a direcção da FRELIMO». O artigo II define a ideologia moçambicana como Democracia Popular. O artigo III indica a Frelimo como a entidade que «supervisa a acção dos órgãos estatais a fim de assegurar a conformidade da política do Estado com os interesses do povo». O partido e o Estado identificam-se. O artigo IV indica os objectivos fundamentais da República: «a eliminação das estruturas de opressão e exploração coloniais e tradicionais e da mentalidade que lhes está subjacente a extensão e reforço do poder popular democrático; a edificação de uma economia independente e a promoção do progresso cultural e social; a defesa e consolidação da Independência e da unidade nacional; o estabelecimento e desenvolvimento de relações de amizade e cooperação com outros povos e Estados; o prosseguimento da luta contra o colonialismo e o imperialismo».

Estes artigos mostram a vocação libertária da constituição e a filosofia prática subjacente ao direito moçambicano na sua primeira constituição.

A constituição da II República não renuncia ao substrato filosófico de base e aos seus corolários de lógica jurídica. Só que o exercício deste projecto libertário não se exercerá, doravante, através do partido Frelimo (apesar de se reconhecer o seu papel fundamental na construção de Moçambique), mas através de um sistema de competição entre partidos autónomos, com obrigação de respeitarem e defenderem a soberania nacional,

entendida como espaço geopolítico (do Rovuma ao Maputo), e a unidade nacional através da luta contra o tribalismo.

Os pressupostos filosóficos estipulados na primeira República e confirmados pela segunda aparecem em contradição com os seus corolários políticos. Para compreender o que está por detrás deste fenómeno, tem que se recorrer à história das lutas ideológicas que a subentendem.

Lutar contra o colonialismo, libertar Moçambique e ser soberano são conceitos fundamentais e constituintes da nação moçambicana. A comunidade internacional só pode ser positiva e a favor de Moçambique na medida em que respeite este substrato filosófico de base. Isto é, respeito pela soberania, configurada num espaço geopolítico bem determinado e pela unidade nacional.

Ora, o centro nevrálgico da constituição de 1975 era a liberdade/independência. O centro da constituição de 1990/1992/1994 é liberdade/democracia. Em 1975, a liberdade era entendida como contraposição ao colonialismo. Em 1992, à liberdade como anti-colonialismo se junta a democracia. Teoricamente, trata-se de um avanço considerável. Todavia, a opinião pública moçambicana parece acreditar que a nível da liberdade fundamental (independência e soberania), Moçambique tenha pura e simplesmente regredido (regresso de portugueses, economia sob tutela, ONG, cooperação, doadores, etc.). Pode-se progredir em democracia, recuando em soberania?

A II República nasceu dos escombros da antiga União Soviética e do fim da guerra fria. Os valores que a ideologia vencedora apregoa são contrários ao espírito da Primeira República defendidos pela Frelimo. Mas serão compatíveis com o espírito que é, ou que devia ser, da Renamo enquanto partido nacional: a defesa e a promoção da unidade e integridade nacionais?

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A situação actual de Moçambique caracterizada por democratismo (que é diferente da democracia), super liberalismo que se traduz em privatizações sumárias, e tutela governativa, são a prova da nossa entrada no fim da história, no ponto final da evolução ideológica da humanidade.

É neste contexto que deve ser vista a segunda República moçambicana. Mas resta uma questão de fundo: qual é a relação que existe entre o objectivo de fundo que persegue o africano, o moçambicano, isto é, a liberdade de dispor de si mesmo e esta forma de hegelenismo político-social? Qual é a relação que existe entre este sistema mundial dominante e a possibilidade real de ser soberanos, sem termos que obrigar os moçambicanos a terem que pegar em armas para uma segunda colonização, como escreve Heliodoro Baptista no artigo do Savana (nº 167, Março 1997)?

Duas aporias parecem remar contra a nossa liberdade e libertação: uma está intrinsecamente ligada à mesma ideia de soberania e outra à nossa incapacidade como povo de assumi-la com tudo o que ela comporta em termos de responsabilidade. E outra é ligada ao Ocidente sempre mentalmente imperialista

Eis porque é ridículo e contraditório ter uma constituição cujo pressuposto filosófico (soberania) tem que ser garantido por uma comunidade internacional, democrata no interior dos países de origem, mas selvagem nos seus princípios políticos, jurídicos e nas suas práticas económicas.

Falar de soberania moçambicana é hoje um autêntico abuso de linguagem. De facto, toda a estrutura constitucional moçambicana, desde os seus fundamentos filosóficos, jurídicos para terminar na prática política, encontra-se esvaziada de conteúdo. Eis porque a política moçambicana, apesar da aparente democracia, tornou-se numa coisa ligeira, leviana onde cada um procura os seus fins individuais: o «cabritismo» que é, de facto, o laissez faire, laissez passer moçambicano.

Todavia, esta situação é possível ou pelo menos é facilitada por um outro facto: «a nossa incapacidade de assumir o que a liberdade comporta como responsabilidade». O camaronês Mveng fala da pauperização antropológica do negro. Eis porque o maior comunista de ontem pode tornar-se no maior apóstolo do liberalismo selvagem; o revolucionário de ontem no reaccionário de hoje, os libertadores de ontem no instrumento de colonização de hoje.A Frelimo viu-se obrigada, por razões militares e pela pressão exterior, a instaurar um sistema democrático, sem estar realmente convencida de dever compartilhar o poder, cuja legitimidade auria da luta armada contra a colonização portuguesa. Hoje a Frelimo vê-se obrigada a harmonizar as exigências de duas autoridades: a Renamo e a Comunidade Internacional. Ora, se a força da Renamo no contexto nacional é muito fraca, o mesmo não se pode dizer da Comunidade Internacional, que impõe literalmente de uma maneira abusiva e anti-soberana a política, a economia e o tipo de governação.

No contexto económico dominante, o governo precisa do dinheiro dos doadores e da comunidade internacional

para melhorar a vida dos moçambicanos, o que, aliás, é a sua função política como partido no poder, mas está consciente da divergência de interesses entre os moçambicanos e de uma certa Comunidade Internacional (cf. entrevista com Mariano Matsinha, in: Savana 25.04.1997).

A Renamo é vista como instrumento da Comunidade Internacional, cujos objectivos são o enfraquecimento do Estado, a divisão do país.

Job Muthombene a fazer a sua intervenção

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Contudo, a Comunidade Internacional, apesar da sua força, só pode governar de maneira indirecta, pois dificilmente pode pegar em armas e ocupar militarmente Moçambique, ou mesmo nomear governadores e administradores em Moçambique. A Frelimo submete-se aos dictats da Comunidade Internacional fazendo o que esta exige, a fim de obter dinheiro e financiamentos, ao mesmo tempo que a nível político, tenta isolar a Renamo (Carta Aberta aos Moçambicanos de Afonso M. M. Dhlakama, Savana, 04.04.1997) e os outros partidos da oposição. Todavia, apesar das aparências, o verdadeiro adversário da Frelimo, não é a Renamo, como ontem não era a Renamo. Samora Machel quis discutir directamente com os sul-africanos e não com a Renamo. Hoje a táctica é a seguinte: fazer a vontade dos doadores a fim de ter investimentos, mas isolar politicamente a Renamo e os outros partidos da oposição.

Às estratégias de apropriação do poder e do seu abuso por parte de uma certa Comunidade Internacional, a Frelimo responde com uma dupla táctica: docilidade e submissão aparente face à Comunidade Internacional, e isolamento das oposições políticas nacionais. Este processo faz-se em detrimento de uma democracia real que, portanto, se tinha começado a engodar. Isto faz-se, por outro lado, em detrimento de um debate democrático cultural, que tenderia a deslocar realmente o centro de gravitação do poder em direcção às pessoas reais, aos grupos e às culturas. As consequências são: o isolamento dos partidos da oposição, a diminuição da possibilidade da democracia, o centralismo político, que impede a possibilidade de uma cultura política moçambicana. Isto é, a criação de um substracto político nacional a partir dos valores do homem de Moçambique, o reforço das tendências autoritárias e centralizadoras do partido no poder, que se vê obrigado a recorrer a armas nacionalistas para defender o país.

A responsabilidade da Comunidade Internacional no que se passa em Moçambique é enorme. Existem diferentes Comunidades Internacionais, aquelas pretensamente neocoloniais e tuteladoras, e outras cujos objectivos são de ajudar a construir uma comunidade política soberana, democrática, solidária e fundada sobre valores

moçambicanos. Penso que seria tempo de uma análise crítica das atitudes da Comunidade Internacional e da sua responsabilidade no clima que existe no Moçambique de hoje. Existe hoje um risco de confusão entre a democracia e o neocolonialismo; risco de ver na democracia e no liberalismo, simples avatares do neocolonialismo.O maior erro, que poderiam cometer as «velhas democracias», seria apresentarem-se como modelos, como os que sabem como as coisas devem ser feitas, como os problemas devem ser resolvidos, o que elas não são e nem podem ser; e impor, mesmo em termos económicos, o modelo e o estilo de sociedade que elas consideram boa para Moçambique. Neste sentido, é extremamente lamentável a atitude de certas organizações. Exigir que o Estado, o Governo, adopte e implemente práticas políticas e económicas decididas por investigadores e por centros de poder ocidentais, como condição da ajuda económica, é uma política que se baseia no desprezo pelos governantes nacionais. O perigo evidente, neste caso, é desacreditar gravemente o Governo aos olhos do povo, mas sobretudo desacreditar a própria democracia aos olhos do povo e dos seus líderes.A comunidade internacional, pelo menos a não colonialista, deve rever a sua posição, deve compreender que ela não pode ser colonizadora, neocolonizadora, tuteladora, sem ser contra Moçambique e contra os moçambicanos.

O específico das ciências filosóficas no contexto actual deveria ser a invenção de espaços e de mecanismos de incremento da soberania, quer contra o intervencionismo anti-democrático dos democratas ocidentais, quer, e sobretudo, no trabalho sobre as condições susceptíveis de libertar a imaginação e a criatividade nos moçambicanos, a fim de podermos assumir responsavelmente a nossa liberdade.

A «tarefa» da filosofia é não esquecer que a nível interno ainda não somos capazes de ser cabalmente responsáveis pela nossa liberdade. Incumbe-nos, portanto, descobrir e inventar espaços de liberdade concretos, dar material e instrumentos teóricos aos políticos nacionais.

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A reflexão filosófica moçambicana tem que se situar na intersecção do conflito de soberania entre a soberania externa dos estados europeus e Moçambique; entre a nossa vontade de soberania e a nossa incapacidade de assumi-la; entre a nossa vontade de soberania e a incapacidade dos ocidentais de se libertarem dos seus élans coloniais. Em segundo lugar, ela deve investigar as razões históricas, culturais e sociais que estão na base da nossa fraqueza existencial e as maneiras concretas de combatê-la. A ideia da soberania (liberdade) tem uma valência interna condicionada pelo movimento de participação cultural, que comummente se chama democracia. Esta deve ser internamente garantida por uma cultura política moçambicana que se forja a partir das culturas políticas nacionais, e que tenha em conta a preservação e o incremento da soberania moçambicana.

A filosofia africana na sua valência política deve contribuir para a realização das exigências de justiça. Por conseguinte, filosofar sobre a acção significa interrogar as legitimidades edificadas pelos homens (nacionais e internacionais), e tentar dar palavra às pessoas, grupos e culturas que foram privadas dela até aqui. A filosofia não se pode contentar em justificar o statu quo, mas, ao contrário, deve dessacralizar os equilíbrios políticos que parecem únicos. Eis porque eu proponho um contracto cultural, social e político.

1. Contrato Cultural

A democracia comporta duas partes: uma axiológica e outra institucional. A dimensão axiológica repousa essencialmente no princípio da igualdade em direito concebido como uma abstracção para corrigir as desigualdades naturais. Ela impõe, de uma maneira apodíctica e não negociável, o respeito pelos direitos do homem, a igualdade entre os cidadãos e o respeito pela dignidade das pessoas.

Se os valores não são negociáveis, as instituições, ao invés, nunca conheceram, na história das democracias, uma forma única. Se os valores têm uma vocação universal, a dimensão

institucional da democracia releva da história, das sociedades e das culturas.

As instituições, melhor, os modelos institucionais da democracia podem e devem mudar, podem e devem ser aculturados, aurir a sua legitimidade dos imaginários colectivos, das linguagens das pessoas, da maneira como eles concebem a sua vida social e colectiva. Eis o que eu chamo contrato cultural.

2. Contrato Social

A segunda República é percebida pelos moçambicanos como profundamente injusta. O conceito de justiça não é e nunca foi exclusivamente político. Ainda menos jurídico. Ele pode ser apreendido em diferentes sentidos: ético, metafísico-histórico (justiça imanente), religioso (transcendental), até mesmo estético. Entre estas múltiplas acepções, não separáveis por nenhuma fronteira bem definida, toda uma série de ligações mais ou menos subterrâneas se teceram durante séculos. Esta é a razão pela qual a dimensão política e a dimensão ética estão ligadas, como bem prova John Rawls (1987) na sua Teoria da Justiça que, há trinta anos, teve o grande mérito de dar um novo alento à questão da filosofia política, que tinha sido transcurado depois de Rousseau e de Kant.

3. Contrato Político

Sabemos da História que o processo da escravatura foi facilitado pelas nossas divisões internas; sabemos que o colonialismo foi também facilitado pelas nossas divisões; sabemos que, para neo-colonizar a África, o Ocidente, desde o Congo até Moçambique, passando pela Nigéria, utilizou ou suscitou divisões.

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Mas a História também nos ensina que quando fomos capazes de unidade, fomos fortes e conseguimos, se não ganhar, pelo menos resistir! Eis porque o «contrato político» que permitiu a unificação da Udenamo, Mani e Unamo e a fundação da Frelimo tem um grande valor pragmático-político, mas sobretudo moral.

É necessário que as diferentes forças políticas e sociais do país sejam os principais interlocutores uns dos outros, que tenham o sentido da significação profunda da «palavra» em termos de escuta, diálogo, espaço de reconciliação. Mas como família moçambicana, que tenhamos o sentido do segredo (prudência, cautela) familiar, isto é, do que não pode a nenhum preço ser dito aos estrangeiros, seja eles quem forem. Isso permitiria evitar a ingerência dos que se sentem autorizados a meter o nariz nas nossas coisas privadas (ministérios) com a pretensão de querer resolver problemas em nosso lugar.

Por conseguinte, os partidos políticos devem considerar-se adversários e não inimigos. Devem rivalizar uns com os outros não a partir de pertenças étnicas ou regionais, de amizades e apoios internacionais, mas de programas políticos com vista a incrementar as liberdades nacionais, os espaços democráticos, a participação das culturas no debate civil, do nível de vida moçambicano, etc. É indispensável criar um espaço público e uma espécie de contratualismo moçambicano. Para isso, deve-se concretizar um múnus de princípios, um contrato político que os governantes, independentemente da família política a que pertençam, deverão imperativamente respeitar e defender a todo o custo, um número de valores mesmo materiais, que não podem ser alienados sem o consentimento explícito dos moçambicanos, através de um referendo, por exemplo.

As forças políticas e sociais moçambicanas devem ser os principais interlocutores umas das outras na vida política moçambicana. As forças políticas moçambicanas deveriam fazer um deal sobre o essencial, o indiscutível, deveriam fazer com os povos de Moçambique uma espécie de contrato social sobre a essência mesma da liberdade moçambicana, sobre o que não é negociável, o que deveria constituir o fundamento normativo do Estado. A nível de bens económicos que constituem o património nacional (portos, caminhos de ferro, minas, a terra, etc.), de jurisdição política, espaços estritamente nacionais que não são acessíveis a estrangeiros (ministérios, lugares de defesa, de segurança, de planificação, etc.), prerrogativas ciumentamente nacionais não cedíveis a ONG, cooperações, doadores, etc..

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COMENTÁRIOS E “ADENDA” AO TRIPLO CONTRATO DE SEVERINO NGOENHA

Por: José P. Castiano

Na primeira parte da minha intervenção, para tornar compreensível o “triplo contrato” que Ngoenha propõe para Moçambique, importa comentar em volta do que penso ser o enquadramento do seu “contratualismo” no quadro dos últimos desenvolvimentos no campo da filosofia africana, porque é deste ângulo da filosofia que devemos aurir o pensamento de Ngoenha. Convém chamar a atenção de que os comentários que se seguem, embora baseando-se no texto lido por Ngoenha nesta sessão, porém não se restringem a ele. Os meus comentários têm a sua génese sobretudo na reflexão que tive que fazer em volta deste tema quando, em Julho de 2004, o próprio Ngoenha me pedira para escrever o prefácio à sua obra Os Tempos da Filosofia (Imprensa Universitária, UEM, Maputo, 2004) e que leva o subtítulo Filosofia e Democracia Moçambicana. É, pois, nesta obra onde Ngoenha aborda, com muita profundidade, o conteúdo do triplo contrato, cujo “esboço” se encontra no texto intitulado Por um Pensamento Engajado inserido na nossa obra conjunta Pensamento Engajado (Editora Educar, UP, Maputo, 2011).

Na segunda parte faço comentários ao conteúdo do triplo contrato, levantando algumas questões que poderão servir de alavanca para o debate, ao trazer à superfície o que considero serem os pressupostos do seu contratualismo.

Termino a minha alocução olhando para o que considero ser os “desafios” principais que Ngoenha coloca à consolidação da nossa moçambicanidade. Na verdade, quando eu comecei a escrever estes comentários, estava mesmo a pensar em termos de “adendas” ao triplo contrato para a nossa moçambicanidade. Por isso, nesta parte, me dou ao luxo de inscrever a minha própria “adenda” aos contratos ngoenhianos na esperança de poder iluminar algumas oportunidades que se abrem no debate sobre o futuro da nossa moçambicanidade ou moçambicanismo.

1. O PARADIGMA LIBERTÁRIO NO PENSAMENTO

Nos últimos 20 anos parece que a Filosofia Africana está a assistir a emergência de dois extremos paradigmáticos: [a] por um lado, assistimos a emergência de uma Filosofia Africana Política e da História que se equaciona mais sobre a experiência africana com a modernidade ocidental europeia. Os temas preferidos desta tendência têm sido a busca das condições de emancipação dos povos africanos da sua condição neo-colonial pós-independências. Esta tendência paradigmática tem como pressuposto básico o reconhecimento de que, embora o facto colonial tenha desaparecido oficialmente, ele, porém, conhece o seu prolongamento permanecendo através de uma cultura moderna que se opõe e se impõe às culturas autóctones. Pois, defende-se, se é verdade que a África rejeitou o colonizador, não é também menos verdade que ela retomou por sua conta e risco as instituições coloniais. [b] Por outro lado, assistimos a emergência de uma Filosofia Africana mais cultural; esta preocupa-se mais com o contexto de emancipação tentando resgatar os saberes, as práticas e os sistemas indígenas/locais no sentido de torná-los frutíferos para os desafios do desenvolvimento. Temas como religião, língua, mitos, costumes, direito entre outros, têm preocupado este eixo/tendência paradigmática. Com esta segunda tendência pergunta-se sobre o sentido e o significado dos valores tradicionais, as práticas tradicionais e os saberes tradicionais culturais no contexto do desenvolvimento dos estados nacionais; equaciona-se a possibilidade universalista destes saberes, valores e práticas pretensamente tradicionais e locais. Equaciona-se, enfim, a possibilidade e as condições para a universalização de saberes que são, na sua origem e essência, locais e tradicionais. Esta tendência parte do pressuposto básico, segundo o qual, as independências africanas não significaram ou não resultaram numa

Professor Doutor José Paulino Castiano, comentador e moderador do debate, a fazer a sua intervenção

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reconciliação das instituições e da sociedade africanas (moçambicanas) com as estruturas, instituições e culturas tradicionais dos diversos povos africanos.

Enquanto a primeira tendência paradigmática pergunta-se sobre o sentido das independências dos países africanos hoje, a segunda procura olhar e fundamentar o lugar e o significado das culturas particulares no contexto da modernização das nossas sociedades africanas.

Enquanto a primeira tendência faz uma luta titânica por deconstruir as consequências negativas resultantes da imposição de uma “modernidade não negociada” – para usar o termo de Elísio Macamo – para os povos africanos; a segunda tendência procura afirmar-se como uma filosofia resistindo à “tentação unanimista” (P. Hountondji) com que a Filosofia Africana é vista e exposta na sequência do legado da Antropologia Colonial.

A primeira tendência nos empurra a perguntar-nos hoje sobre o sentido da luta pela liberdade e o que esta comporta como responsabilidade; a segunda leva-nos a indagar como a Filosofia Africana pode recompor-se da desconfiança antropológica a que esteve sempre exposta.

Enquanto à primeira tendência denomino-a por “paradigma libertário”, chamo à segunda tendência por “paradigma cultural”, ambas na Filosofia Africana. Importa, de forma breve, olharmos com algum detalhe para cada uma destas tendências.

Numa definição simples, o paradigma libertário no pensamento africano é aquele que vê a liberdade como fulcro da historicidade africana. Ouçamos de Ngoenha – que considero o seu representante para o caso moçambicano – o significado e o sentido deste paradigma: “O processo – escreve ele – que começa no fim do século passado, quer ele se chame Pan-Africanismo, Negritude, Socialismo Africano, Etno-Filosofia, Filosofia Crítica ou Filosofia Hermenêutica, são movimentos que vivem o mesmo espírito e tendem para a mesma finalidade: a liberdade do homem negro, condição

da sua historicidade” (Ngoenha, Das Independências às Liberdades, Maputo, p.11).

Portanto, o que está no substracto das diversas correntes do pensamento filosófico africano é, por assim dizer, libertar o negro do papel de objecto da sua história. Ou seja, falando com Ngoenha (Idem) “na origem da reflexão filosófica africana, está a necessidade de afirmar uma humanidade negada” do africano, a tentar reabilitar o homem negro e a sua história.

O que teria acontecido para que o Homem Negro africano entrasse na história dita universal apenas como objecto e não como sujeito? Foram, por um lado, os processos objectivos da dita história universal e, por outro, processos de natureza subjectiva no pensamento ocidental.

Na óptica da filosofia libertária, os processos objectivos que colocaram o negro na periferia da história são a escravatura, o colonialismo e a globalização capitalistas. Estes três processos objectivos determinaram a historicidade do negro e condicionam ainda hoje a essência do seu pensamento. Também condicionam a experiência que África faz com a modernidade.

Enquanto a escravatura representou a negação da sua condição humana, o colonialismo reduz o negro a uma condição de “selvagem”, isto é, incapaz de viver numa sociedade civil, negando a sua cidadania activa. Nesta condição, deveria haver leis e instituições especiais para governar o negro, para poder civilizá-lo.

A globalização capitalista hoje continua a impor uma “modernidade não negociada” aos nossos povos ao mesmo tempo que, estruturalmente, continua a exportar “riscos”, que muitas vezes na sua forma de “invisíveis” (Ulrich Beck) para a África, deixando esta na periferia do desenvolvimento. Nesta óptica, os negros entram nestes processos históricos como escravos, colonizados e globalizados. E, como produto desta situação, a sua acção histórica só pode ter impulsos de sublevação (na escravatura), de lutas pela independência (no colonialismo) e de autonomia/libertação (na globalização).

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Estes processos objectivos tiveram o seu reflexo em outros de natureza subjectiva, i.e., consequências nas formas de pensamento dos africanos tanto na diáspora (descendentes dos escravos nas Américas) assim como no interior do continente (os colonizados). Nas diásporas nasceram correntes de pensamento como o Pan-Africanismo, a Negritude, hoje o Afrocentrismo, etc.. Do interior da África floresceram correntes de pensamento como a Etno-Filosofia, as Filosofias Políticas (como o consciencismo de Nkrumah, o Socialismo Africano ou ujamaa de Nyerere), a Filosofia Crítica, a Filosofia Hermenêutica e hoje a Filosofia Ubuntu cuja articulação está centrada na África do Sul.

Todas estas correntes procuram reflectir sobre as possibilidades e as condições que se oferecem para “libertar” o negro da sua condição periférica na história num primeiro momento, mas cada vez mais na produção material e do saber/conhecimento.

O paradigma libertário descrito resumidamente acima serve para iluminar a perspectiva fundante do triplo contrato que Ngoenha acaba de expor. Sem esta visão mais ampla no que concerne ao seu pensamento, cairíamos no risco de singularizar os aspectos que ele coloca no contexto moderno. Assim, à questão fundamental que se coloca de “como aprofundar a nossa moçambicanidade hoje?”, é subjacente à questão “como aprofundar as nossas liberdades no Moçambique de hoje?”. O triplo contrato constitui a resposta que Ngoenha nos oferece usando este paradigma.

2. O TRIPLO CONTRATO: PRESSUPOSTOS

Nesta parte da minha intervenção recupero os comentários que escrevi no prefácio à obra de Ngoenha Os Tempos da Filosofia em Julho de 2004. Desta vez, à luz deles, exploro os pressupostos do triplo contrato. O que estará subjacente a eles?

O primeiro pressuposto do triplo contrato está na linha da velha mas sempre nova questão de Platão que coloca como desafio da Filosofia Política: o que é um bom Governo e como fundamentar e desenhar instituições que possam garantir um bom governo? Desta feita Ngoenha

procura responder para o caso moçambicano de hoje. Para Ngoenha a resposta é clara: um “bom” Governo para Moçambique é aquele que age no sentido de consolidar e aprofundar as liberdades conquistadas. Ou seja, toda a acção governativa deve ser classificada como “boa” ou “má” consoante como ela se posiciona em relação às liberdades colectivas e individuais dos moçambicanos. No conjunto das liberdades colectivas o Governo deve defender a nossa soberania como Nação independente. A defesa da soberania é um valor cardinal para mantermo-nos na linha da liberdade e pressupõe uma clarificação de quais são os “interesses nacionais” hoje de Moçambique na região e no mundo. Dito de uma outra forma: a defesa da nossa soberania depende, em grande parte, da clarificação do que sejam os interesses nacionais que devem guiar toda a nossa acção governativa. A questão, assim, que fica no ar é: “quais são os nossos interesses nacionais hoje?” e “de que modo podemos defendê-los?”

O segundo pressuposto do triplo contrato para a nossa moçambicanidade em Ngoenha deve responder à questão “como mobilizar o espírito da tradição (ou das tradições) moçambicana para os desafios de hoje e do amanhã?”. Para ser mais concreto, podemos interrogar-nos com Ngoenha: Se é que o espírito da chamada solidariedade africana existe, então como devemos materializá-lo tendo em conta que já não vivemos em comunidades (onde certamente este espírito tem a sua origem) mas sim em sociedade moçambicana? O que significa pois “transportar” este espírito de solidariedade africana com base comunitária para um contexto de sociedade-estado em Moçambique? Ngoenha responde em Os Tempos da Filosofia que para um contrato de natureza social a dita solidariedade africana deve ser (re)tomada na sua forma discursiva de espírito, mas materializada sob forma moderna de redistribuição equitativa da riqueza material ou dos impostos. Isso seria uma nova forma de conceber a justiça como equidade. Sobre este aspecto comentava eu no prefácio ao livro de Ngoenha que fiz referência antes:

“O espírito da tradição em Ngoenha deve ser aquele que mobiliza os aspectos do passado, somente na medida em que os valores defendidos por este espírito têm capacidade de oferecer respostas alternativas aos desafios colocados pelo desenvolvimento. Deve despir-se o mito da chamada ‘solidariedade africana’, ou melhor,

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se é que ela existe e mesmo que essa existência seja apenas na sua forma espiritual, o desafio é torná-lo útil para o contrato social em debate”.

Dito de uma forma mais clara, Ngoenha propõe que esse espírito de solidariedade tradicional africana se transfigure e se materialize, no contexto da sociedade moçambicana moderna, naquilo que ele chama de “justiça como equidade”, conceito emprestado de John Rawls. Para o nosso caso, Ngoenha propõe que o símbolo da justiça deixe de ser uma mulher com a espada numa mão e a balança noutra mão, e passe a ser uma mulher com uma agulha numa mão e um tecido em pedaços numa outra mão. O trabalho da mãe-justiça não é cortar com a espada, mas sim coser os pedaços do tecido social moçambicano. Os “pedaços” são os diferentes povos, grupos sociais e indivíduos de Moçambique.

Daqui surge uma questão que penso ser digna de debate: quais são as linhas divisórias dos “pedaços” que compõem o tecido social do Moçambique moderno? Serão ainda e de facto as diferentes assim chamadas “etnias” ou grupos etno-linguísticos, ou encontramos outras linhas divisórias que são fontes concorrentes para as identidades particulares dos “pedaços” que devem ser unidos? Perguntado doutra forma, o que constitui o “diverso” na nossa “unidade” como moçambicanos? O que é que a mãe-justiça deve coser?

Penso que este debate está subjacente ao pensamento de Ngoenha e que toca directamente o tema da unicidade, ou, se quisermos, da unidade de todos nós como moçambicanos. Pois, se a nossa moçambicanidade deve aurir-se da nossa diversidade, temos que nos perguntar em que é que somos diversos no contexto moderno de Moçambique. Uma outra questão será de natureza política e de estratégica discursiva. Explico-me: estando de acordo sobre as linhas de diferenças que marcam os “pedaços” do nosso tecido, onde é que o discurso político deve formular-se e promover práticas de solidariedade? A partir das diferenças ou a partir do que nos une como moçambicanos?

O terceiro pressuposto do triplo contrato ngoenhiano toca directamente na natureza da nossa democracia moçambicana; ou seja, no modelo de representatividade por via dos partidos políticos tal e qual nos é prescrito pelo Ocidente, pelo texto constitucional de 1990 e, finalmente, retomamos por

nossa conta e risco nos Acordos de Roma em 1992. Constituem os partidos políticos a única forma e a mais apropriada de mobilização e de legitimação dos imaginários políticos e sociais dos moçambicanos? Ngoenha conclui, sem equívocos, que este modelo de representatividade, que se pretende “universal”, mostra-se até agora inapropriado para o contexto africano. A razão para esta conclusão é simples: não são as culturas (africanas) que se devem adaptar aos modelos (europeus); o ideal é que os modelos se forjem a partir dos imaginários culturais dos povos africanos. Se seguirmos o fio do pensamento de Ngoenha, este é que seria uma busca coerente com o seu princípio “libertário”: encontrar um modelo de representatividade da nossa democracia que emane forçosamente da dimensão sócio-cultural de Moçambique.

Mas então, o que impede o nascimento deste modelo que se quer do interior das nossas culturas? Quais são os constrangimentos estruturais para o seu nascimento?

Há dois problemas que Ngoenha nos coloca para resolvermos a nossa moçambicanidade: um é que os mecanismos jurídicos legais previstos constitucionalmente que permitam o eleitor (ou “o povo”), no período entre as eleições, fazer-se ouvir ou participar no debate público, precisariam de ser aprofundados ou, melhor, mais pronunciadamente explorados; o segundo problema que se impõe à nossa moçambicanidade e soberania é que a nação teve que enveredar e submeter-se a uma lógica produtivista que se impôs muitas vezes em detrimento de qualquer projecto político que tenha havido ou que estivesse em emergência. Porque impostas por uma lógica produtivista ditada por instituições de Bretton Woods e outras agências internacionais e, por isso, sem a legitimidade popular necessária para governar o nosso país mesmo que seja em nome do desenvolvimento, algumas normatividades acabaram por ser anti-democráticas por não assentarem ou serem auridas dos imaginários culturais dos moçambicanos.

Enquanto o primeiro problema nos remete ao debate de como, na letra constitucional, corporizar o espírito de combinar elementos da democracia representativa com aspectos de aprofundamento de zonas e momentos de democracia directa; o segundo problema nos leva necessariamente a retomarmos a questão da soberania e dos interesses nacionais cardinais que orientem os fazedores de políticas nos próximos anos.

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Falando mais concretamente para o caso de Moçambique, trata-se pois de olhar como, na cultura política moçambicana, aprofundarmos os elementos da democracia directa (as “presidências abertas”, por exemplo) com outros elementos que ainda constituem um desafio (como por exemplo o distrito como “pólo de desenvolvimento económico” para assumir também e sobretudo o papel de centro do exercício da democracia e da palavra). Penso que estes são alguns dos temas fundamentais que poderemos debater a partir dos pressupostos adjacentes ao triplo contrato ngoenhiano.

Deixando os pressupostos e passando directamente para os contratos, importa agora rever, rapidamente, o conteúdo de cada um deles. No contrato cultural ressalta-se que a democracia comporta uma parte axiológica e outra institucional. A axiológica (valores) não é negociável porque comporta princípios de igualdade e de respeito pelos direitos humanos, como formas abstractas de corrigir as desigualdades naturais entre os cidadãos da República. Em contrapartida, as instituições podem e devem ser modeladas de tal forma que sejam legítimas ao contexto. De facto, é aqui na adaptação e redesenho das instituições onde reside a potencialidade do contrato cultural: deveria reconciliar a política com as culturas nacionais, reconciliar o projecto político nacionalista com as culturas particulares em função do futuro (e não do passado). Este é o papel que cabe às elites nacionais e nacionalistas de hoje na consolidação da nossa moçambicanidade e a universidade deve assumir um papel de vanguarda neste empreendimento.

O contrato social é aurido do debate que existe na filosofia política sobre justiça como equidade. Aqui trata-se, pois, de olhar para os princípios que garantam e defendam a distribuição dos bens primários entre os membros de uma sociedade. São eles: o auto-respeito, a auto-estima, as liberdades políticas básicas, a renda e os recursos sociais para a educação e saúde. Ngoenha usa estes princípios para dizer que a garantia das liberdades fundamentais (existentes na constituição liberal que temos) não é suficiente para o fortalecimento da democracia moçambicana se não formos suficientemente ousados em redimensionar constantemente o fosso entre os moçambicanos pobres e ricos. Neste aspecto, o paradigma libertário de Ngoenha ganha uma dimensão nova, a saber, a que podemos denominar por “paradigma da justiça social”.

No entanto, para garantir a moçambicanidade, é preciso um contrato político que tenha como interlocutores as diversas forças políticas e que estejam de acordo em termos de “interesses nacionais”. Para isso é necessário pôr a nossa imaginação a alargar e até a reinventar o “espaço público” onde a lógica da confrontação é argumentativa e não de armas ou violência. Para Ngoenha, o acordo político é constituído por aquilo que não é negociável, ou seja, sobre os fundamentos normativos do Estado Moçambicano: ao nível de Bens Económicos constitui o património nacional como os portos, os caminhos-de-ferro, as minas e as terras; ao nível da jurisdição política deve haver espaços reservados estritamente aos nacionais como ministérios, lugares de defesa e soberania, de segurança e até mesmo de planificação do desenvolvimento. Ngoenha escreve que estes lugares “são ciumentamente nacionais não cedíveis à ONGs, cooperações, doadores, etc.”.

3. “ADENDA” AO TRIPLO CONTRATO

Mas a Justiça Social não só se garante olhando para os moçambicanos de hoje. Cada geração ou acusa ou aprecia o engajamento intelectual e físico da geração anterior. A nossa geração de hoje só pode reconhecer o engajamento da geração que decidiu pegar em armas para encetar uma luta justa e dura cujo fim era eliminar total e completamente a dominação colonial. Aquela, foi uma heroicidade de toda a geração. Foi a geração que maximizou o gozo das liberdades nacionais ao proclamar a Independência Nacional. E pelo que se vem publicando ultimamente sobre a história da luta de libertação, pode notar-se que foi um processo cheio de contradições, indecisões, determinações, cisões, mas sobretudo de unidade em torno do objectivo comum. O que quero perguntar é: qual é o papel da nossa geração agora? Não teremos a responsabilidade de deixar um Moçambique com as liberdades mais alargadas do que estas que gozamos hoje e agora? Podemos dar-nos ao luxo de deixar explorar todas as riquezas do solo e subsolo sem a preocupação de sustentabilidade das vidas futuras? Não temos a responsabilidade de não só preparar as gerações futuras através da educação, mas também criar todas as condições materiais para que tenham emprego e segurança? Que valores deixamos para que os nossos filhos e netos se orgulhem dos anos 80 e 90?

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Moçambique pertence tanto aos moçambicanos presentes assim como aos espíritos dos nossos antepassados e aos moçambicanos futuros que aqui irão nascer, crescer, viver, amar e morrer. Moçambicanos são também os nossos heróis que morreram, somos nós hoje, mas também o futuro. Daí que é preciso viver hoje com a responsabilidade do amanhã. Hans Jonas, na sua obra O Princípio da Responsabilidade (1979), reformulando o princípio da ética kantiana, projecta uma ética de responsabilidade polarizada nas condições de vida das gerações futuras. Segundo esta ética, o homem não deve esperar que venha a receber alguma coisa em troca da sua acção responsável. É uma ética que visa criar condições para que os moçambicanos de amanhã tenham a possibilidade de serem sujeitos-agentes. Por isso, penso que deveria haver também um quarto contrato – o contrato de gerações. Este, que não teria necessariamente uma força constitucional, caberiam nele temas “futuristas”, tais como, tecnologia e inovação, meio ambiente, geração de empregos assim como compromissos em termos de poupanças. Em nome deste contrato a juventude de hoje (que ainda não tem direitos políticos) deveria estar em condições de exigir aos adultos o direito de viverem bem amanhã.

Mas mais do que temas futuristas, no contrato de gerações, importa perguntar como assegurar que todos os cidadãos participem no seu próprio desenvolvimento. O valor cardinal em torno deste contrato deve ser, em minha opinião, a participação de cada um no desenvolvimento, contrariando aos valores criados em torno da ideia de Estado-Pai pós-independência, que se caracterizava pela omnipresença; mas também, ao mesmo tempo, que contrarie a tendência mundial actual de Estado-Ausente.

Cidadãos moçambicanos participantes no contrato geracional são mulheres e homens, crianças, jovens, portadores de deficiências e os nossos “mais velhos”. A base deste “diálogo intergeracional” deverá ser a contribuição específica que cada um deles pode dar para a consolidação da moçambicanidade. Eis alguns exemplos.

Começando pelos “mais velhos” estes poderiam participar no desenvolvimento em dois sentidos: por um lado, com o seu saber local e tradicional, são os mais adoptados para olharem para as questões ambientais e liderarem as campanhas de deixarmos, cada vez mais, um Moçambique mais verde e mais limpo; o seu saber também pode ser usado na gestão das calamidades

naturais que assolam a nossa pátria. Por outro lado, podemos usar a nossa imaginação na revalorização dos professores reformados na alfabetização e no ensino da escrita e leitura, dos enfermeiros reformados em questões de saúde pública, em particular materno-infantil.

As mulheres oferecem boas condições naturais de liderança para as estratégias de segurança alimentar se tivermos como pressuposto que são elas que preparam e asseguram diariamente que tenhamos o prato na mesa. Preparação de alimentos saudáveis e nutrientes, conservação dos alimentos e a valorização das plantas e animais tradicionais são algumas das áreas que elas podem assumir liderança informada.

Tradicionalmente, o papel das crianças é observar e acompanhar os “mais velhos” ou os cidadãos seniores. Assim, estas podem ser as executoras do processo do “enverdamento”, no plantio assim como na segurança alimentar.

O papel dos jovens deve estar em volta da implantação da cultura de trabalho, ou seja, na implantação da dimensão axiológica do trabalho (honestidade, afinco, entrega, pontualidade, zelo, etc.). Enfim, tudo aquilo que contrarie a cultura de “mão estendida” que parece estar a implantar-se na nossa juventude, em particular a citadina.E, enfim, o diálogo inter-geracional deverá deslocar o conteúdo do termo “participação” do seu confinamento político, para um mais amplo de “sua contribuição específica no desenvolvimento e no aprofundamento da moçambicanidade.

****Resumindo: penso que Ngoenha, com esta ideia do “triplo contrato”, abre e oferece horizontes filosóficos para o debate de duas questões básicas do futuro da política em Moçambique: a da justiça social redistributiva ou como equidade (questão económica) e a da Unidade Nacional na Diversidade Cultural (questão da cultura política). São estas questões que, a meu ver, irão constituir os eixos do debate para a afirmação e o aprofundamento da moçambicanidade.

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A INDÚSTRIA DE HIDROCARBONETOS EM MOÇAMBIQUE: CAMINHOS A PERCORRER PELOS MOÇAMBICANOS

Por: Nelson Ocuane

Resumo

Moçambique é actualmente uma economia em crescimento. O bom desempenho depende em grande parte de mega-projectos financiados pelo investimento directo estrangeiro, da competitividade decorrente do desenvolvimento de infra-estruturas e das receitas geradas pela indústria dos hidrocarbonetos (carvão e gás natural) (African Development Bank Group, 2012). Não obstante, o crescimento do PIB real não é, por ora, sinónimo de redução da pobreza, sendo este um dos objectivos do Governo de Moçambique. Acresce o reconhecimento pelas entidades estatais, no Plano de Acção para Redução da Pobreza 2011-2014, da importância do investimento no desenvolvimento social e humano.

É nesta encruzilhada, onde se encontra um país rico em recursos naturais e com visível crescimento económico e um país onde o impacto da pobreza é ainda considerável, que se encontra o fundamento do presente trabalho. Tendo como ponto de partida a caracterização da actual situação económica de Moçambique, explora-se a possível ligação entre as receitas geradas pela indústria dos hidrocarbonetos e o desenvolvimento no plano humano e social. Para tal, recorre-se, em primeiro lugar, à teorização relativa à gestão de recursos e à participação das populações locais. A revisão da literatura centra-se na relação entre as riquezas naturais e o desenvolvimento sustentável, focando-se nos principais desafios a enfrentar para contrariar a “maldição dos recursos”, i.e., a tendencial relação inversa entre as variáveis supramencionadas. De seguida, aborda-se a praxis analisando o estado actual da indústria dos hidrocarbonetos, onde se apresenta como fulcral o estatuto de exportador mundial de carvão adquirido por Moçambique, bem como, a descoberta de importantes reservas de gás natural, que colocam o país no quarto lugar do ranking de países com maiores reservas desta matéria-prima. Assim, julga-se pertinente a descrição de exemplos de sucesso no que respeita a gestão de recursos naturais. Esta análise permite sustentar que as receitas geradas pela indústria poderão contribuir significativamente para o desenvolvimento social, através da criação de um Fundo Soberano, mas outrossim através do investimento em projectos em áreas que se interligam com o desenvolvimento económico, como, por exemplo, a educação e naturalmente, a erradicação da pobreza.

CLASSIFICAÇÃO JEL: E24; O10; Q32

Palavras-chave: Investimento; Desenvolvimento económico; Recursos não renováveis

Dr. Nelson Ocuane a proferir a sua intervenção

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1. Economia de Moçambique: Uma Breve Caracterização

Moçambique é frequentemente caracterizado como um caso de sucesso económico. Esta caracterização remete, na sua essência, para o crescimento económico relativamente estável. No entanto, a aparente estabilidade económica de Moçambique é paradoxalmente contraposta com uma elevada dependência de capitais externos sob a forma de ajuda externa e de investimento directo estrangeiro/empréstimos da banca internacional (Castel-Branco, 2010).

O actual equilíbrio macroeconómico depende em grande parte de recursos externos e o crescimento económico (ver Figura 1) deve-se, em grande parte, aos mega-projectos aliados à exploração dos recursos naturais e ao desenvolvimento de infra-estruturas possível através do investimento de capitais públicos e de parcerias público-privadas. Deste modo, para além dos riscos associados à dependência de recursos externos, acrescem actualmente os desafios colocados à estabilidade económica, tendo em conta a dependência entre o crescimento económico e o investimento público (desenvolvimento de infra-estruturas) (Berg, Yang e Zanna, 2012), e a relação por ora pouco visível entre o desenvolvimento de infra-estruturas e a produtividade.

Apesar dos paradoxos e dos desafios actuais, salienta-se que a economia de Moçambique encontra actualmente uma oportunidade de mudança. Segundo o African Development Bank Group (2012), o ano de 2011 parece constituir-se como um turning point, tendo sido observado um crescimento do PIB real de cerca de 7.2%. Mas quais os indicadores que permitem sustentar tal afirmação?

As exportações moçambicanas parecem ser um dos principais indicadores a ter em consideração. Salienta-se o início das exportações de carvão, cujas receitas contribuíram para o aumento do PIB real. O aumento das exportações de

carvão, oriundo das reservas de Moatize, na província de Tete, poderá servir mercados em expansão (Índia, Brasil e China) e, consequentemente, alterar de forma significativa algumas das projecções de médio-prazo da economia moçambicana. No que respeita à totalidade das exportações (alumínio, gás natural, produtos agrícolas, carvão) estima-se que o valor das receitas, em 2011, foi aproximadamente de 3.600 milhões de USD.

De igual modo, o bom desempenho no sector dos transportes e comunicações contribuiu significativamente para o crescimento do PIB no ano de 2011. O investimento de infra-estruturas concentrou-se no desenvolvimento ao longo de três grandes “corredores” (Maputo, Beira e Nacala). Estão em curso diversos projectos que visam a construção de uma rede ferroviária que responda às necessidades das indústrias extractivas. Paralelamente, estão em curso projectos de reabilitação da rede portuária (por ex., em Maputo), de expansão das estruturas necessárias à indústria aeronáutica, bem como, de construção de corredores rodoviários entre os principais corredores existentes. O desenvolvimento da rede de transportes e comunicações é essencial para o projecto de desenvolvimento económico de Moçambique, porquanto precede o aumento das exportações e a exploração dos recursos naturais.

O sector energético, contribuindo para 5% do PIB, continuou a expandir-se em 2011, sublinhando-se o projecto governamental de implementação de uma linha de transmissão regional (CESUL), que sustentará outros projectos hidroeléctricos e o acesso da população rural à rede eléctrica. Paralelamente, observou-se um bom desempenho da indústria agrícola, que representou cerca de 31% do PIB em 2011. O bom desempenho deveu-se maioritariamente às colheitas de cajú e à produção de cana-de-açúcar, para os quais se projectam aumentos de produção, na próxima década, de 80% e 23%, respectivamente.

O aumento significativo do investimento directo estrangeiro é outro indicador não negligenciável. O investimento centrou-

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se principalmente nos mega-projectos ligados à extracção de carvão, gerando cerca de 30.000 novos postos de trabalho na totalidade dos 285 novos projectos. Há também a registar que Moçambique beneficiou em 2011 do crescimento e desenvolvimento dos seus parceiros como a China, o Brasil e a Índia, em sectores como as infra-estruturas e a agricultura.

Embora importantes, as dinâmicas económicas supramencionadas não são suficientes para caracterizar o “ponto de viragem” do ano de 2011, que coloca Moçambique face a um potencial de crescimento e desenvolvimento económico. Assim, a análise estaria incompleta na omissão da referência às descobertas de reservas off-shore de gás natural da Anadarko e da ENI, que potencialmente perfazem 1.047 triliões de metros cúbicos. Caso se confirmem, tais descobertas colocam o país no quarto lugar do ranking de países com maiores reservas desta matéria-prima. Os futuros rendimentos gerados pela indústria dos hidrocarbonetos acarretam novos desafios e implicam diferentes soluções, sendo ambos objectos do presente artigo. 2. Objectivo Principal e Questões em Análise

A crescente importância das receitas da indústria dos hidrocarbonetos para o crescimento económico de Moçambique, sustenta o objectivo principal do presente artigo: a análise de soluções que permitam uma intricação dos rendimentos gerados pela indústria com ganhos sociais e económicos vantajosos para o país. O alcance de tal objectivo apoia-se numa revisão de literatura que permite: (i) caracterizar a situação actual da indústria dos hidrocarbonetos em Moçambique; (ii) o levantamento de duas orientações teóricas consideradas relevantes no contexto actual, sendo estas as teorizações relativas à gestão de recursos e ao desenvolvimento sustentável; (iii) confrontar as propostas teóricas com a realidade actual; (iv) enumerar algum dos desafios presentes e futuros de Moçambique; e (v) abordar em pormenor uma das soluções conservadoras e viáveis que permita arrecadar as receitas geradas com vista a um desenvolvimento sustentável.

Colocam-se assim diversos pontos para discussão que se abordam neste e nos capítulos seguintes do presente artigo, nomeadamente:

1. Como assegurar ganhos sociais e económicos a partir dos recursos existentes?

2. Como assegurar a gestão intergeracional, usando a riqueza gerada no presente sem desbaratar os recursos e manter as possibilidades de crescimento das gerações futuras7?

3. Quais as alavancas de que Moçambique dispõe para se manter no caminho do desenvolvimento sustentável e quais os riscos que corre e que deve evitar?

4. Como governar o desenvolvimento em Moçambique?

3. A Indústria dos Hidrocarbonetos em Moçambique

3.1. Introdução

No mundo industrializado a importância da indústria dos hidrocarbonetos8 é inegável, contribuindo de forma vital para outras indústrias e para a configuração actual do estilo de vida implementado em diferentes sociedades. De facto, os hidrocarbonetos são a principal fonte de energia na sociedade actual, sob a forma de combustíveis fósseis. De forma genérica, os combustíveis fósseis são definidos como fontes não renováveis de energia, tomando a forma líquida (petróleo), sólida (carvão)

7A riqueza intertemporal (ligação de “hoje” com “amanhã”) V pode ser defi nida como Vt = ∫∞u(c(s))e-δ(s-t)ds em que u é a função de utilidade, t é o tempo, c é um vector que representa o fl uxo dos bens consumidos e δ é a taxa de desconto (Ollivier, 2009). Ou seja, o consumo e a poupança hoje dependem das expectativas de proveitos futuros.

8Hidrocarbonetos são compostos orgânicos constituídos apenas por átomos de carbono e de hidrogénio, aos quais se podem juntar átomos de oxigénio, azoto e enxofre (Nogueira, 2009). Existem milhares de hidrocarbonetos, em estado líquido ou gasoso. No presente trabalho, como adiante se descreve, referimo-nos aos hidrocarbonetos naturais que se formam a grandes pressões no interior da terra (a mais de 150 km de profundidade) e são trazidos para zonas de menor pressão através de processos geológicos, onde podem formar acumulações para exploração comercial (petróleo, gás natural, carvão).

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ou gasosa (gás natural). Estes recursos naturais encontram-se em diferentes partes do mundo como se observa nas Figuras 2-4. A figura 5 ilustra a realidade no continente africano.

A indústria dos hidrocarbonetos engloba diferentes níveis de produção das matérias supramencionadas. Um primeiro nível remete para a extracção das matérias (nível upstream), o segundo para o processamento (midstream) e o terceiro para a comercialização e todas as actividades que esta acarreta (downstream). Neste sentido, o desenvolvimento da indústria dos hidrocarbonetos interliga-se com o desenvolvimento de diferentes sectores de actividade económica.

3.2. A Indústria dos Hidrocarbonetos, as Reservas Moçambicanas e a sua Exploração

A relevância da indústria dos hidrocarbonetos para a economia de Moçambique é recente. No entanto, a pesquisa destes recursos naturais encetou-se em 1904, com a descoberta de bacias sedimentares que indicavam a possível existência de petróleo ou de gás natural. O ano de 1948 marca o início de uma intensa pesquisa nas zonas litorais, concordante com os avanços tecnológicos de então9 .

Os primeiros campos de gás natural foram descobertos na década de 60 do século XX: Pande em 1961, Búzi em 1962 e Temane em 1967 (CIPM, 2009). Não obstante, a exploração de gás natural começou apenas nos anos 80 devido à instabilidade política e às características do mercado. Também nesta década foi aprovada a Lei dos Petróleos e criada a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH). A criação da ENH em 1981 pelo Decreto nº. 18/81 de 3 de Outubro veio impulsionar a

indústria de hidrocarbonetos em Moçambique, atribuindo-lhe responsabilidades em toda a cadeia de valor, desde a prospecção, à produção, ao transporte, processamento e distribuição de petróleo e gás natural. Nas duas últimas décadas do séc. XX, o Governo de Moçambique avaliou diversas possibilidades de aplicabilidade do gás natural, e em 1998, efectivou-se um acordo bilateral entre o Governo de Moçambique e o Governo da África do Sul. Este acordo surgiu no seguimento dos projectos da Sasol, companhia Sul-Africana, para um gasoduto entre Pande, Temane e a África do Sul – actualmente, o gasoduto tem uma capacidade de 3 biliões de metros cúbicos/ano. O gasoduto veio permitir 5 pontos de toma em Moçambique, dos quais dois (Temane e Ressano Garcia) estão a ser utilizados para consumo interno. Em 2001 foi aprovada a legislação que regulamenta actualmente o sector (Lei nº3/2001). Existem presentemente 11 licenças activas, das quais 10 na fase de pesquisa e 1 na fase de produção de gás natural (ver Quadros 1 e 2).

3.2.1. Gás Natural

Estão identificados quatro campos de gás natural: Pande, Buzi, Temane e Inhassoro. As reservas confirmadas correspondem a 127.4 biliões de metros cúbicos. Actualmente, encontram-se jazidas em exploração apenas nos campos de Pande e Temane. A produção nestes campos (upstream) tem vindo a aumentar, sendo que em 2010 perfez um total de 3.1 biliões de metros cúbicos. A principal operadora é a companhia Sul-Africana Sasol (para revisão ver Quadros 1) que exporta a maior parte do output para as suas fábricas na África do Sul. As receitas da exportação de gás natural rondaram os 134 milhões de USD. No que respeita a exploração de Pande e Temane, definida no Acordo de Produção de Petróleo, a Sasol é Operadora e detém 70% de participação, sendo a restante porção respectiva a uma afiliada da ENH, a Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos, e 5% detidos pelo IFC- International Finance Coorporation. Na componente de transporte a ENH detém 25% da sociedade proprietária do gasoduto (865 km de extensão) que liga os

9O petróleo e o gás natural encontram-se quer em terra (onshore), quer no mar (offshore) principalmente nas bacias sedimentares, mas igualmente em rochas de embasamento cristalino. O primeiro poço moderno data de uma perfuração em Bibi-Heybat, junto a Baku, no Azerbaijão em 1846, e em 1850 o escocês James Young criou o processo de refi nação.

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campos de gás de Pande e Temane e o Complexo Petroquímico da Sasol em Secunda-África do Sul.

Em 2010 foram identificadas importantes reservas de gás natural, na sequência de pesquisas intensivas realizadas quer pelo consórcio Anadarko, ENH, Barat, Videocom, Mistui e Cove, na Área 1, quer pelo consórcio ENI, ENH, Galp e Kogas para a Área 4. Até ao momento foram identificadas na Bacia de Rovuma reservas potenciais de gás natural de 4528 Biliões de Metros Cúbicos (160 Triliões de Pés Cúbicos). A Anadarko é a líder de um consórcio que conta com a participação da ENH (15%), de duas empresas Indianas, a Videocon (10%) e Barat Petroleum (10%), da Mitsui do Japão (20%) e da Cove Energy (8.5%). Os concessionários da Área 4 são, a ENI com 70% e a ENH, a Galp Energia e a Kogas com 10% de participação/cada (ver Quadros 1 a 4 que ilustram as participações e o tecido empresarial).

A serem confirmadas, as recentes descobertas colocam Moçambique no 4º lugar do ranking de países com maiores reservas de gás natural. Consequentemente, é expectável um aumento, a curto-prazo, das receitas geradas, tendo em vista os projectos de investimento visados pelas diferentes entidades.

3.2.2 Carvão

Moçambique dispõe de extensas reservas de carvão mineral nomeadamente nas províncias de Tete e Niassa. A pesquisa e a avaliação das reservas têm-se intensificado nos últimos anos, sendo o valor de reservas confirmadas de 6 biliões de toneladas. Actualmente, a maior produção é oriunda da mina de Moatize, concessionada, em 2007, à empresa brasileira Companhia Vale do Rio Doce, por um valor desconhecido mas que se julga rondar os 120 milhões de USD. A expansão da produção tem sido uma constante e o output do ano de 2011 atinge o milhão de toneladas.

O sector constitui-se como um atractivo para o investimento tendo em conta as reservas relativamente “inexploradas”. A Vale projecta um investimento de 6 biliões de USD para alcançar o objectivo de produção de 26 milhões de toneladas/ano a partir de 2014. Esta companhia é também responsável pelo início das exportações desta matéria-prima, oriundo do projecto mineiro no qual a companhia investiu 1,7 biliões de USD. Destacam-se ainda a aquisição da Riversdale pela Rio Tinto, que pretende atingir uma produção de 25 milhões de toneladas/ano a partir de 2016. Sublinha-se que o Governo outorgou 112 licenças a 45 companhias nos últimos dois anos. Um crescimento significativo da indústria é expectável nos próximos anos (2012-2016), mas é condicionado pelo desenvolvimento de infra-estruturas, nomeadamente no que concerne a rede ferroviária10.

António Grispos a fazer a sua intervenção no seminário sobre hidrocarbonetos10Esta é uma alavanca de desenvolvimento que o Estado tem que colocar no topo das prioridades.

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4. A Gestão dos Recursos e o Desenvolvimento: Como?

4.1. Gestão dos recursos

A gestão de recursos pode definir-se como o processo de tomada de decisão sobre a alocação dos recursos ao longo do tempo e do espaço, em função das necessidades do homem e tendo como pano de fundo a tecnologia, as estruturas sócio-políticas e o enquadramento legal e administrativo (ver por exemplo O’Riordan (1971)). A gestão de recursos é uma tarefa nacional com impacto em diversos sectores da economia porquanto envolve tomada de decisão informada e baseada em prioridades e preferências. Neste sentido, a gestão de recursos naturais e o desenvolvimento exigem uma visão holística e integrada11 .

Uma questão fulcral na gestão de recursos nos países em vias de desenvolvimento em geral é a erradicação da pobreza através de políticas de crescimento e de desenvolvimento sustentado no longo-prazo. De acordo com o Relatório Brundland das Nações Unidas, em 1987, desenvolvimento sustentado é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações vindouras satisfazerem as suas necessidades12. O desenvolvimento sustentado é uma conjugação de factores económicos e sociais em que o ambiente também pontua (Fig. 6).

A gestão eficiente dos recursos requer o desenvolvimento de actividades de investigação continuada em conjugação com o planeamento dos próprios recursos13 . Revela-se assim necessário dispor de dados sobre os recursos, com vista nomeadamente a:

1. mapear, analisar e medir a oferta e a procura dos recursos naturais;

2. estudar os efeitos sociais, demográficos, legais e tecnológicos decorrentes da utilização dos recursos naturais;

3. determinar o impacto das decisões de exploração ou alocação dos recursos naturais, como por exemplo, sistemas de transportes e indústrias.

4.2. O Desenvolvimento: das Teorias Clássicas ao Desenvolvimento Sustentável

A promoção do desenvolvimento económico tem sido objecto de amplo debate pelos economistas, nem sempre de forma unânime. Todavia, há um aspecto que merece a concordância de todos: o facto de o desenvolvimento requerer crescimento económico, um aumento do PIB per capita e um enquadramento social e político apto a apoiar a expansão da economia nacional. Moçambique é um país em vias de desenvolvimento e o enquadramento teórico que em seguida se apresenta contribui não somente para compreender a evolução por que passaram países em estádios avançados de desenvolvimento que foram alvo dos modelos que os economistas foram desenvolvendo nos últimos 50 anos, mas igualmente para calibrar o programa de desenvolvimento de Moçambique com medidas práticas mas que façam sentido teórico.

Naturalmente que dispor de mão-de-obra qualificada é uma condição necessária a esta expansão económica. O processo de desenvolvimento acarreta alterações significativas na estrutura da economia, com uma deslocação das actividades do sector primário – a agricultura – para actividades de produção industrial, bem como a migração de populações do campo para a cidade e a criação de oportunidades de emprego (Perkins, et al., 2001). No longo-prazo, o que induz o crescimento da economia é o aumento da produtividade e da produção (output), o que requer investimento, conforme adiante se explica.

11Uma abordagem holística considera todos os elementos e as suas interacções, enquanto uma análise integrada pressupõe considerar as disciplinas da gestão que se relacionam com o problema em análise. No caso de Moçambique, devem ser considerados todos os elementos e implicações da exploração de hidrocarbonetos, sem descurar as indústrias e as actividades que gravitam em torno da própria exploração de recursos (Quadros 1 e 2). A visão integrada requer considerar os aspectos económicos, incluindo o desenvolvimento humano, bem como os aspectos políticos e o enquadramento legal, a par dos elementos culturais.12Ver World Commission on Environment and Development (1987).13Esta visão é apresentada por exemplo por Omara-Ojungu (1992) quando analisa o caso da gestão dos recursos no Uganda. Trata-se de mais uma alavanca de desenvolvimento que o Governo moçambicano deve actuar.

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O modelo de crescimento básico define factores fundamentais de produção: (i) formação de capital (estradas, pontes, ferrovias, fábricas, terra, etc.) e (ii) trabalho (população activa). A produção (Y: output) é o resultado do capital (K) e do trabalho (L). Ou seja, Y=∫(K,L) (1)O investimento em capital fixo (K) depende da poupança nacional e o trabalho é uma função do desenvolvimento demográfico. A produção agregada é assim uma função crescente da formação de capital e do factor trabalho.

Dois economistas desenvolveram o modelo básico durante os anos 40 do século XX. Roy Harrod e Evsey Domar. Estes economistas introduziram um coeficiente fixo de rendimentos à escala (ou seja, consideraram a mesma proporção entre a utilização de capital e de mão obra). A equação (1) transforma-se assim em: Y=K/v (2)em que v é uma constante que resulta de dividir o capital (K) pelo investimento (Y) e se traduz numa medida de produtividade (modelo Harrod-Domar).

O modelo de Harrod-Domar tinha limitações, porquanto somente atingia o equilíbrio em situações de emprego a 100% e de utilização total de capital. Assim, em 1950 o economista do MIT Robert Solow apresentou um novo modelo de crescimento (o modelo neoclássico), substituindo a função com coeficiente de produção fixo por uma nova função de produção, na qual se previa o efeito de substituição entre capital e trabalho. O output passava a poder crescer em função de (i) aumento na mesma proporção de capital e trabalho, (ii) aumento em capital ou (iii) aumento em trabalho. Este modelo admite os rendimentos decrescentes. Além disso, os determinantes críticos do crescimento são a população e os desenvolvimentos tecnológicos,

o que ao longo do tempo induzirá uma aproximação entre países ricos e países pobres. O modelo de Solow é a primeira tentativa de modelar o crescimento a longo prazo.

O conceito de desenvolvimento foi apresentado inicialmente como uma receita pronta a ser aplicada em qualquer situação e em qualquer parte do mundo, o que embora tenha enquadrado o desenvolvimento após a Segunda Guerra Mundial no século XX, se revelou desajustado nos momentos ulteriores. Esta visão inicial reduz o desenvolvimento (i) ao processo pelo qual as sociedades evoluem e (ii) à própria finalidade do processo ou seja ao estado final desta mesma evolução. O construto assim definido remete para progresso, crescimento e avanço tecnológico e foi o foco da denominada teoria evolucionista que conheceu a sua formulação teórica com Rostow (1961; 1978), segundo a qual a mudança e o progresso são permanentes14 . Na óptica dos evolucionistas os países subdesenvolvidos alcançariam o desenvolvimento aplicando a receita do mundo ocidental, inspirado no Plano Marshall e na reconstrução rápida da Europa após a Segunda Guerra Mundial. A sua visão fundamenta-se na industrialização e na modernização a ela associada como motores do desenvolvimento.

Mais tarde, Rostow (1961) veio desenvolver um modelo teórico de desenvolvimento económico por fases, definindo o consumo de massas como o último estádio da evolução e da modernização económicas, ou seja, dando o enquadramento teórico ao processo evolutivo do desenvolvimento15. Rostow (1961) juntamente com Lewis (1995), este último com a sua teoria sobre desenvolvimento económico, passam a utilizar desenvolvimento e crescimento

14Esta visão de desenvolvimento enformou as políticas de desenvolvimento do presidente norte-americano Truman (1949) nos anos 40 do século XX. Truman usou o conceito de “subdesenvolvimento” - cunhado por Benson em 1942 (Esteva, 2000) a propósito das bases económicas para a paz – em contraponto a desenvolvimento, dividindo assim os países em desenvolvidos e subdesenvolvidos (ver por exemplo, Faé, 2009). 15O processo evolutivo comportava 5 etapas, da sociedade tradicional ao consumo de massas, passando pela fase de arranque (“take off”). Esta receita “curaria” todos os países do subdesenvolvimento elevando os padrões de consumo de forma drástica, na senda da sociedade de consumo.

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económico com a mesma acepção16. A lógica subjacente assemelha-se à teoria da evolução das espécies de Darwin e as palavras de ordem são desenvolvimento e progresso com vista à diversidade. Depreende-se que Lewis e Rostow ainda apostam numa receita universal a aplicar a todos os países, numa simbiose entre desenvolvimento e crescimento económico (Fig. 7).

Naturalmente que os paradigmas subsequentes são mais abrangentes, tendo abandonado a visão mecanicista do desenvolvimento económico do pós-guerra, período em que a hegemonia económica dos Estados Unidos se afirmava. Deixaram para trás a simplificação de considerar o subdesenvolvimento como um simples ponto de partida do processo de desenvolvimento permanente17.

As teorias subsequentes encaram a economia mundial de forma holística, como um sistema em que desenvolvem relações económico-sociais, políticas e culturais em ciclos económicos. Estas teorias do crescimento económico já consideram a dinâmica do desenvolvimento e baseiam-se em estatísticas ou variáveis como, por exemplo, a taxa de crescimento do produto (output), a taxa de crescimento do emprego, o rácio do investimento versus produto e o rácio entre os salários e o produto. As novas teorias descartam o pressuposto de o desenvolvimento tecnológico ser independente do investimento, contrariamente às teorias tradicionais. O papel dos indivíduos e da sociedade em geral é assim elevado.

O artigo de Paul Romer em 1990, Engoneous Technological Change (crescimento tecnológico endógeno) aportou um contributo primordial à nova teoria do crescimento económico. Neste estudo, Romer argumentou que o desenvolvimento tecnológico (i) é um bem económico e o motor do crescimento económico, (ii) decorre dos indivíduos responderem a incentivos de mercado e (ii) é diferente de outros bens económicos. A teoria do crescimento endógeno conduz à noção de “cadeia de valor” e aos ciclos virtuosos, segundo os quais a necessidade de investimento em tecnologia, inovação, aumento de produtividade e processos de negócio e os subsequentes rendimentos crescentes são fundamentais para promover o crescimento económico (Fig. 11).

Todavia, segundo alguns autores, as décadas de 80 e 90 do século XX conheceram um retrocesso na abordagem centrada nas necessidades dos indivíduos, com os organismos internacionais a darem ênfase a programas de redução do papel do Estado na sociedade, numa lógica de redução da despesa pública, nomeadamente no continente africano, mas sem os resultados benéficos esperados. O Relatório de Bruntland (1987) da Organização das Nações Unidas18 vem apontar a necessidade do desenvolvimento sustentável, em que a satisfação das gerações futuras não pode ser prejudicada pelas acções das gerações actuais. São ainda apontados os defeitos de modelos que procurem institucionalizar preconceitos sobre países e populações (Fergunson, 1990). Por outras palavras, estas críticas a receitas estudadas vêm retomar as apreciações dos teóricos tradicionais na mesma matéria19 .

16Há ainda a destacar o artigo de Solow em 1974, em que o autor analisa o futuro da sua teoria em consequência do choque petrolífero de 1973. Shumpeter em 1976 apresenta uma visão evolucionista das mudanças económicas, advogando uma económica liberal, segundo a qual a decadência de momentos passados alimenta e precede novas iniciativas desencadeadas por uma visão empresarial, de tomada de risco e inovações tecnológicas (Faucheux, 2001).17Ver por exemplo Eltis (1984) para uma revisão das teorias tradicionais que abrangem Quesnay e Marx, bem como Smith, Malthus e Ricardo. Há ainda outros economistas que abordam o binómio desenvolvimento e crescimento económico, mas numa perspectiva de desenvolvimento comunitário, ou de “economia do homem” em detrimento da “economia do dinheiro”, ou seja criticando o conceito puramente economicista do desenvolvimento. A necessidade de um desenvolvimento centrado nas pessoas é proposta por organizações internacionais, como por exemplo A Swedish Hammarskjöld Dag Foundation (1975) e pela Organização Mundial do Trabalho (1976).

18Relatório da “World Commission on Environment and Development” (WCED, 1987) [exposição original da noção de desenvolvimento sustentável com a satisfação das necessidades presentes sem comprometer as necessidades futuras]. “Each generation should bequeath to its successor at least as large a productive base as it inherited from its predecessor” (Dasgupta e Mäler, 2001).19Embora não seja o foco do presente trabalho, afi gura-se de interesse referir que um factor apontado como dinamizador do crescimento a longo prazo é o grau de desenvolvimento do sistema fi nanceiro de cada país (Levine, 1977). Crescimento económico = f(Sistema fi nanceiro). Estudos empíricos revelam que o desenvolvimento do sistema fi nanceiro é um precursor e uma condição necessária do crescimento sustentável e da transformação económica, com particular incidência em economias em transição como é o caso de Moçambique. . Verifi ca-se presentemente que Moçambique dispõe de um sistema fi nanceiro sólido, com “know-how” aportado por accionistas externos e aplicando boas práticas em termos de gestão do risco. Moçambique tem mais de 500 agências de 17 bancos diferentes (Canalmoz, 01.09.2011). Em 2012 o número de bancos a operar e Moçambique, incluindo bancos estrangeiros situa-se em 18 (site do Banco Central de Moçambique - http://www.bancomoc.mz/Instituicoes.aspx?id=GINS0001&ling=pt).

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Considera-se que uma economia está no caminho do desenvolvimento sustentável se a base produtiva (per capita) não se reduzir, sendo que a base produtiva é constituída pela formação de capital. Nesta formação de capital incluem-se (i) o capital produzido; (ii) o capital humano20 (nível de educação, nível de conhecimentos, saúde, etc.), (iii) o capital social (instituições, enquadramento legal e ordem, ambiente de negócios amigável, etc.) e (iv) o capital natural21 (recursos minerais e outros recursos naturais, como por exemplo os florestais, piscatórios, etc.) (Ollivier, 2009).

O caso de Moçambique deve assim ser encarado de uma forma aberta e simultaneamente abrangente, no sentido de serem considerados os elementos essenciais à política de desenvolvimento com enfoque na participação dos cidadãos na indústria de hidrocarbonetos.

Na óptica da teoria evolucionista (Rostow, 1961; Lewis, 1995) a Moçambique e tendo presente a Fig. 7, pode-se posicionar a economia nacional actual como estando a sair da fase de sociedade tradicional, com técnicas arcaicas de produção, dominada pela agricultura com pequeno rendimento per capita, e a aproximar-se da fase de “take-off ” ou lançamento. Na fase de lançamento, um factor essencial é a diversificação das actividades económicas e é precisamente esta a etapa que Moçambique está a experimentar. Senão vejam-se alguns indicadores em concreto: (a) o PIB per capita está a aumentar (a taxa de variação média nos últimos 10 anos situou-se em 5,5%; (b) a envolvente tecnológica está em mudança; (c) há um aumento da população urbana face à população rural.

Rostow considerava ainda o crescimento como a consequência da introdução progressiva e eficiente de novas tecnologias, com dois efeitos relevantes: (a) por um lado, ganhos de eficiência na agricultura e nas actividades tradicionais; (b) por outro lado, o aumento da oferta e da procura de produtos industriais. Um sinal da passagem do estádio de sociedade tradicional para o de lançamento (“take off ”) é o crescimento das actividades industriais se processar a uma taxa superior ao das actividades tradicionais, incluindo a agricultura. Naturalmente que o impulso do investimento é um factor crítico de sucesso para este caminho evolutivo. 5. Desafios Moçambicanos: a Distância entre o Preconizado e a Realidade

A relativa estabilidade do crescimento económico constitui-se como um dos pontos fortes da economia moçambicana. No entanto, o actual modelo deverá ser capaz de transformar o crescimento em ganhos sociais e económicos.

20A OCDE defi ne capital humano como os conhecimentos, as qualidades, as competências e outros atributos que os indivíduos possuem e que são relevantes para a prossecução da actividade económica. No caso de Moçambique a educação e a saúde são críticos em fase do estádio de desenvolvimento do país nestas dimensões.21O valor do capital é o valor actual dos fl uxos de benefícios do seu uso futuro (Ollivier, 2009). Incluem-se os recursos naturais não renováveis (gás, carvão e petróleo) e os renováveis (pescas, fl orestas) e serviços conexos (p.ex. tratamento de água e resíduos).

Drª. Arlete Matola, Chefe do Gabinete de Estudos da Presidência da República dirigindo-se aos participantes do seminário

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O coeficiente de Gini desenvolvido pelo econometrista italiano Corrado Gini é uma medida das desigualdades de distribuição rendimento num país (desigualdade social). Está calibrado entre 0 (igualdade perfeita) e 1 (completa desigualdade). Moçambique apresenta um valor de 0,42, praticamente a meio da tabela de países (ver Fig. 8), mas o Índice de Gini moçambicano tem registado uma evolução modesta na última década, situação que carece de ser melhorada e que deve ser encarada como uma oportunidade.

Uma medida complementar de desenvolvimento é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) que serve de comparação entre os países, com objectivo de aferir o grau de desenvolvimento económico e a qualidade de vida oferecida à população. O Relatório Anual de IDH é elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), órgão da ONU. Este índice baseia-se em dados económicos e em dados sociais. O IDH varia de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total). Quanto mais próximo de 1, mais desenvolvido é o país. No cálculo do IDH incluem-se: (a) educação (número de anos de escolaridade), esperança de vida da população e (c) Produto Interno Bruto (PIB) per capita. Moçambique apresenta um IDH ainda baixo em comparação

com a média mundial: 0,32 em Moçambique e 0,68 no resto do mundo (Fig. 9). Também neste domínio as oportunidades de melhoria são significativas, potenciadas ainda pela distribuição etária da população (Fig. 10) cuja juventude é uma reserva de capital humano que sendo adequadamente encarada (investimento em educação e saúde) poderá constituir um factor impulsionador do crescimento sustentável que adiante se problematiza. A erradicação da pobreza é um dos desafios actuais da economia e releva directamente da teoria da gestão de recursos.

Outro desafio que é colocado ao país é o de desenvolvimento sustentável. Um estudo de Ollivier em 2009, relativo ao período de 2000 a 2005 revela que Moçambique está no caminho do desenvolvimento, embora de forma diferenciada em termos dos diversos tipos de capital. Na análise empírica efectuada por Ollivier (2009), o crescimento de Moçambique caracteriza-se por:

1. principal factor de crescimento – acumulação de capital principalmente humano e físico2. reduzida erosão do capital natural3. taxa de crescimento da produção pela totalidade dos factores significativa mas não representando o factor principal4. elevada taxa de crescimento da população.

Estas características contrastam com as que se verificam na África subsahariana com a erosão do capital reprodutível, acumulação do capital humano, taxa de crescimento da produção pela totalidade dos factores negativa e grande aumento da população (ver a Fig. 12 relativa à evolução do capital humano, natural e físico em Moçambique de 2000 a 2005).

Em suma, os desafios colocam-se não apenas ao nível da gestão de recursos, nomeadamente no que concerne a alocação dos Milton Machel fazendo a sua intervenção no seminário sobre hidrocarbonetos

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recursos naturais, mas outrossim relativamente à base produtiva, especificamente no que respeita ao capital humano e social.

As receitas geradas pela indústria dos hidrocarbonetos são uma das potenciais alavancas do desenvolvimento do país. No sector, a adopção de um quadro legal e fiscal apropriado, a existência de entidades competentes e experientes a nível tecnológico, bem como, uma regulamentação ambiental adequada podem ser considerados como pontes fortes. Não obstante, a indústria enfrenta alguns desafios no modelo actual:

Um dos aspectos a ter em conta no desenvolvimento sustentado de Moçambique é que o sector dos hidrocarbonetos deve potenciar o desenvolvimento dos diversos sectores da economia e não somente as empresas mais directamente ligadas á indústria dos hidrocarbonetos. A este propósito, releva-se o exemplo da Austrália que evitou a crise actual, mas à custa de ter a economia a duas velocidades, o que não é de todo benéfico a prazo. Na Austrália, os sectores não ligados aos recursos cresceram cerca de 1% de 2007-08 a 2009-10, o mesmo se passando com o biénio seguinte (2009-10 a 2011-12). Em contrapartida as actividades ligadas aos recursos cresceram 5% e 10% nos mesmos períodos. As actividades de mineração criaram 60.000 empregos enquanto os sectores de retalho e da

indústria transformadora perderam quase 50.000. Há vozes que se levantam no seio dos australianos contra o crescimento extraordinário da mineração, que é assim encarado como uma maldição ou malefício. Os sectores da indústria transformadora e do turismo reclamam que a subida de custos na Austrália a tornaram pouco competitiva (Financial Times, 18.06.2012).

O segundo aspecto remete para a importância de um aumento do consumo doméstico dos recursos naturais. A maioria dos outputs é actualmente exportada e somente uma parte menor é dirigida para as populações locais. Veja-se, por exemplo, o parco desenvolvimento do sector energético. Neste sentido, os projectos em curso, mencionados ao longo deste artigo, constituem-se essenciais para a transformação dos rendimentos em ganhos sociais, i.e., aumento da qualidade de vida das populações. Um terceiro elemento aponta para a necessidade de consolidar a fiscalização das actividades extractivas. A transparência da indústria deverá continuar a constituir uma das principais prioridades. Friedman (1996), advoga a participação da sociedade civil no âmbito de uma nova abordagem ao desenvolvimento; é a emergência do empoderamento como desenvolvimento alternativo procurando ultrapassar a crise de desenvolvimento das décadas de 80 e de 90 do século XX. Pretende-se que as políticas de desenvolvimento resolvam três aspectos fulcrais dos países menos desenvolvidos: a pobreza, o desemprego e as desigualdades (Lopes, 2009). Neste aspecto Moçambique tem mérito, pois a atribuição de concessões tem sido, regra geral, por via de concurso em mercado aberto.

O meio ambiente deve igualmente ser tido em consideração. Neste particular, as alterações climáticas referidas no Relatório do Banco Mundial em 2010 indiciam impacto ao nível das economias de vários sectores da economia, nomeadamente a agricultura, pelo que a evolução para a indústria é simultaneamente um desafio e uma oportunidade.

Da esquerda para a direita: Patrício José, Adriano Maleiane, Prakash Ratilal, John Kachamila e Narciso Matos

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Em suma, o desenvolvimento expectável da indústria dos hidrocarbonetos coloca desafios particulares e próprios a Moçambique.

6. Uma Possível Solução: Fundo Soberano

A secção precedente permite compreender a interligação entre os desafios da indústria dos hidrocarbonetos e os desafios colocados à economia moçambicana. Se, por um lado, é afirmado o potencial do país tomando em consideração o seu capital natural, por outro lado, alertam-se para os riscos associados à má gestão tanto dos recursos como das receitas geradas pela indústria.

As projecções económicas apontam para um crescimento a curto-prazo da indústria dos hidrocarbonetos, nomeadamente da exploração de gás natural e carvão. Este crescimento acarreta o aumento dos rendimentos do Estado.

Os fundos soberanos surgem na literatura como uma das soluções para as economias semelhantes à de Moçambique. Veículos detidos por entidades governamentais, aos quais se associam políticas de investimento a longo prazo, os fundos soberanos asseguram a continuidade intertemporal e intergeracional de um modelo assente nos recursos naturais e permitem a estabilização

dos ciclos de consumo. Os fundos soberanos revelam-se assim uma peça primordial na política governamental que tenha como objectivo alocar as receitas voláteis das matérias-primas a diferentes destinos mais duradouros: (a) activos mais rentáveis com algum risco; (b) investimento doméstico; e (c) consumo em termos de longo prazo. Naturalmente que a alocação óptima nestas três vertentes e a dimensão do “buffer” de poupança são função da volatilidade e da produtividade do investimento no sector dos bens transaccionáveis (ver por exemplo, Cherif & Hasanov, 2012).

O fundo soberano de petróleo da Noruega possui activos sob gestão que ultrapassam 560.000 milhões de USD. Este fundo soberano investe em empresas cotadas (60,6%), em dívida pública (16,5%), obrigações do tesouro (4,7%), títulos indexados à inflação (3,2%), obrigações de empresas (6,3%), títulos de securitização (9,0%) e imobiliário (0,1%), na Europa (53,3%), Américas, África e Médio Oriente (35,7%), Ásia e Oceânia (11,3%).

Tendo em conta as características do modelo económico de Moçambique, o seu estado de desenvolvimento, e o potencial de rendimentos elevados asociados às receitas das matérias-primas, a constituição de um fundo soberano parece ser a alternativa mais viável para a economia do país. O fundo soberano permitirá assim reduzir a insustentabilidade intergeracional do modelo económico e aportar ganhos sociais através do investimento em projectos socialmente responsáveis.

A título de exemplo, refira-se o possível investimento no sector da educação, que teoricamente apresenta uma forte correlação com a produtividade. Um projecto no sector da educação permitiria a continuidade dos actuais esforços governamentais que visam (i) o acesso universal à escolaridade (ii) a promoção da aprendizagem (iii) a promoção da boa governação. As necessidades, como por exemplo a contratação de professores, são francas e poderiam ser colmatadas a médio-prazo. Por General (na reserva) Jacinto Veloso fazendo a sua intervenção

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Comunicações dos SemináriosComunicações dos SemináriosC da Presidência da República

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Gabinete de Estudos Gabinete de Estudos G da Presidência da República

outro lado, as necessidades a nível educativo reflectem-se actualmente no mercado laboral através de uma elevada taxa de desemprego. Tais dinâmicas económicas poderão ser corrigidas se a formação da população não permanecer aquém das necessidades vocacionais e tecnológicas. Por outras palavras, o investimento em educação e em saúde pode aumentar de forma decisiva o valor do capital humano, atendendo à distância com que Moçambique se vê confrontado relativamente aos países desenvolvidos (IDH)22 . A própria indústria de hidrocarbonetos necessita de uma contínua capacitação do seu corpo técnico, de modo a que os projectos possam absorver cada vez mais técnicos nacionais e outro pessoal especializado. Este desiderato contribuirá igualmente para uma vantajosa transferência de conhecimento (“know-how”) para quadros de Moçambique.

7. Conclusões

A economia moçambicana é actualmente caracterizada por um crescimento económico relativamente estável. O presente equilíbrio macroeconómico depende em grande medida de recursos externos, do investimento em mega-projectos relativos à exploração de recursos naturais e do desenvolvimento de infra-estruturas sustentado pelo investimento de capitais públicos e de parcerias público-privadas. Deste modo, para além dos riscos associados à dependência de recursos externos, acrescem actualmente os desafios colocados à estabilidade económica, tendo em conta a dependência entre o crescimento económico e o investimento público (desenvolvimento de infra-estruturas) (Berg, Yang e Zanna, 2012), e a relação por ora pouco visível entre o desenvolvimento de infra-estruturas e a produtividade.

Apesar dos desafios que se colocam ao futuro económico do país, o ano de 2011 parece surgir como um “ponto viragem”.

Em 2011, observou-se um bom desempenho em diferentes sectores de actividade (por ex., transportes e comunicações, sector agrícola) e Moçambique impôs-se enquanto exportador de carvão. No entanto, o “ponto de viragem” diz sobretudo respeito às recentes descobertas de extensas reservas de gás natural, na bacia de Rovuma. Desta forma, pode dizer-se que a gestão das receitas geradas pela indústria dos hidrocarbonetos será um dos principais desafios da economia moçambicana. Reformulando, está em causa não apenas o alcance de uma verdadeira estabilidade macroeconómica mas outrossim, a gestão da exploração dos recursos não renováveis, a garantia de uma continuidade intergeracional do modelo, bem como, a associação entre o crescimento económico e um desenvolvimento sustentável - que contrarie a “maldição dos recursos”.

A um nível mais específico, as características do modelo económico e a conjuntura macro-económica internacional, julga-se que alguns desafios, colocados pela situação actual e pelas previsões da indústria dos hidrocarbonetos, poderão ser enfrentados através de uma forte mobilização dos diferentes actores.

A nível governamental poderá considerar-se como pertinente: o aumento da carga fiscal relativa às receitas oriundas da exploração, o investimento em diferentes sectores da economia, a avaliação de meios que permitam um aumento do consumo doméstico das matérias-primas, a aposta numa política de transparência no que concerne aos resultados da indústria e a aplicação dos rendimentos obtidos. Tais acções permitiriam encarar desafios como a natureza primária e concentrada das exportações, o fraco consumo interno e a desigualdade social. No entanto, as acções governamentais deverão ser acompanhadas por um aumento da participação de outros actores. Os ainda reduzidos níveis de desenvolvimento humano e a desigualdade de distribuição de rendimentos colocam Moçambique perante um leque de oportunidades nas quais se revela imperioso investir aproveitando um bom momento económico que a criteriosa gestão de recursos pode aportar.

22Deve atender-se ao facto de Moçambique estar ainda enfocado em actividades económicas tradicionais, o que remete para a necessidade de conjugar estas actividades com o desenvolvimento económico a alcançar por via de novas tecnologias e novos métodos de trabalho e de produção. Reside também aqui uma oportunidade e simultaneamente um foco de atenção redobrada com vista a evitar nomeadamente tensões sociais.

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Comunicações dos SemináriosComunicações dos SemináriosC da Presidência da República

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Gabinete de Estudos Gabinete de Estudos G da Presidência da República

Considerando a conjuntura e os desafios a enfrentar optou-se por uma solução conservadora: a proposta de criação de um fundo soberano. Esta proposta assenta essencialmente na continuidade intergeracional e na estabilização dos ciclos de consumo, que os fundos soberanos parecem garantir às economias. Tendo em conta a incapacidade de auto-financiamento da economia moçambicana e a sucessão de ciclos relativamente curtos de expansão e contracção económica, a criação de um fundo parece garantir a continuação do desenvolvimento económico e aportar ganhos sociais significativos através do investimento em projectos de responsabilidade social. A título de exemplo, sugeriu-se a aplicação de parte dos capitais do fundo (a criar) num projecto no sector da educação, um dos sectores fulcrais em termos económicos – devido à sua relação com a produtividade – e a nível social – estando associado à participação das populações na vida do país e a uma menor taxa de desemprego. Propõe-se assim, um dos caminhos possíveis para a tão desejada erradicação da pobreza, objectivo manifesto no Plano de Acção para a Redução da Pobreza (2011-2014) da autoria do Governo moçambicano.

Participantes do seminário sobre hidrocarbonetos

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Comunicações dos SemináriosComunicações dos SemináriosC da Presidência da República

139

Gabinete de Estudos Gabinete de Estudos G da Presidência da República

do projecto de pesquisa de Hidrocarbonetos da SASOL nos blocos 16 e 19.

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Figura1. Crescimento do PIB em Moçambique, em percentagem

Figura 1. Crescimento do PIB em Moçambique, em percentagem

Figura 2. Reservas mundiais de gás natural (provadas)

Fonte: CIA, The World Factbook (https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/rankorder/rawdata_2179.txt)

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

16141210

86420

Crescimento real do PIB%

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140

Comunicações dos SemináriosComunicações dos SemináriosC da Presidência da República

141

Gabinete de Estudos Gabinete de Estudos G da Presidência da República

Figura 3. Reservas mundiais de carvão (provadas)

Fonte: CIA, The World Factbook ( https://www.cia.gov/search?q=coal+proved+reserves& x=0&y=0&site=CIA&output=xml_no_dtd&client=CIA&myAction=%2Fsearch&proxystylesheet=CIA&submitMethod=get)

Figura 4. Reservas mundiais de petróleo (provadas)

Fonte: CIA, The World Factbook (https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/rankorder/rawdata_2178.txt)

Figura 5. Reservas de Africa e de Moçambique (provadas)Figura 6. Esquema dos constituintes do desenvolvimento sustentável

Sustentabilidade

Fig. 7. Estádios do crescimento económico com poupança e investimento (Lewis e Rostow)

Serv

ice

and

I nve

stim

anti

nin

dus t

ry

Time

1

2

3

4

5

Pre. Take of Stage

Take of Stage

Drive to Maturity

Hage Mass to Consumation

Trasicional Society

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142

Comunicações dos SemináriosComunicações dos SemináriosC da Presidência da República

143

Gabinete de Estudos Gabinete de Estudos G da Presidência da República

Figura 8. Índice de Gini

Fonte: CIA Factbook (2009) (https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/fields/2172.html)

Figura 9. Índice de desenvolvimento humano (IDH)

Fonte: CIA Factbook (2011)

Figura 10. Caracterização da população moçambicana

Figura 11. Ciclos virtuosos de crescimento

0,8

0,7

0,6

0,5

0,4

0,3

0,2

0,1

01985 1990 1995 2000 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

MozWord

80+75-7970-7465-6960-6455-5950-5445-4940-4435-3930-3425-2920-2415-1910-145-90-4

1.4 1.2 1.0 0.8 0.6 0.4 0.2 0.0 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4

Population ( in millions)

Source: U.S. Census Bureau, International Data Base

Mozambique: 2010MALE FEMALE

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Comunicações dos SemináriosComunicações dos SemináriosC da Presidência da República

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Gabinete de Estudos Gabinete de Estudos G da Presidência da República

Figura 12. Evolução do capital humano, natural e físico em Moçambique de 2000 a 2005

Fonte: Ollivier (2009)

Quadro 1. Empresas que participam na pesquisa de hidrocarbonetos em Moçambique

Áreas/

Blocos

Bacias Concessionárias % de

Participação

Operador Fase de

Pesquisa/ Produção

Observações

1

ROVUMA

Anadarko

COVE

ENH

Bharat Petroleum

Videocon Energy

Mitsui, Corp.

36,5

8,5

15

10

10

20

Anadarko 2ª Realizada a desco-berta de 60 TCF de gás natural

.Decorre a abertura de 4 furos de ava-liação no prospecto Golfi nho/ Atum para certifi cação de reser-vas e obtenção do Fecho Financeiro em Dezembro de 2013

4

ENI East Africa

ENH

KOGÁS

Galp Energy

70

10

10

10

ENI 2ª Em intensa activida-de. .Efectuada desco-berta entre 40-60TCF de gás natural

2&5

Statoil

ENH

90

10

Statoil 2ª Decorre o mapea-mento de prospectos

3&6 Petronas

ENH

90

10

Petronas 2ª Preparação para abertura do furo Marlin-1 em Setem-bro 2012

Áreas/

Blocos

Bacias Concessionárias % de

Participação

Operador Fase de

Pesquisa/ Produção

Observações

Onshore Rovuma

ROVUMA

Anadarko

Wenthworth

Maurel/Prom

ENH

Cove Energy

35,7

15,3

24

15

10

Anadarko 2ª Desminagem de 930 Km

Sofala

MOÇAM-BIQUE

Sasol

ENH

85

15

Sasol 2ª Em curso as activi-dades de aquisição

de 1.538 Km de sísmica 3D

M-10 Sasol

Petronas

ENH

42,5

42,5

15

Sasol 2ª Interpretação de dados sísmicos

16 & Sasol

Petronas

50

35

Sasol 3ª Houve descoberta 2TCF de gás natural

19 ENH 15

Pande e Temane

Sasol

ENH

IFC

70

25

5

Sasol Em produ-ção desde

2004

Reservas provadas de 4 TCF de gás

natural

A Sasol

ENH

90

10

Sasol 1ª Desminagem e aquisição de 600 Km

de sísmica 2D

Búzi Búzi Hydrocar-bons

ENH

75

25

Búzi Hydro-carbons

2ª Em curso aquisição de 600 Km de

sísmica 2D

Fonte: Relatório de produção de gás natural da UJV.

Quadro 1. Empresas que participam na pesquisa de hidrocarbonetos em Moçambique

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Comunicações dos SemináriosComunicações dos SemináriosC da Presidência da República

147

Gabinete de Estudos Gabinete de Estudos G da Presidência da República

Quadro 2.

Blocos/Áreas

Empresas com participação directa

Nacionais Locais Nº de famílias Obs

1 ENH - 150 INCUI AFLIADAS

4 ENH - 150 INCUI AFLIADAS

2&5 ENH - 150 INCUI AFLIADAS

3&6 ENH - 150 INCUI AFLIADAS

Onshore Rovuma ENH - 150 INCUI AFLIADAS

Onshore Rovuma ENH - 150 INCUI AFLIADAS

Sofala ENH - 150 INCUI AFLIADAS

M-10 ENH - 150 INCUI AFLIADAS

16 & 19 ENH - 150 INCUI AFLIADAS

Pande e Temane ENH - 150 INCUI AFLIADAS

A ENH - 150 INCUI AFLIADAS

Buzi ENH 150 INCUI AFLIADAS

Empresas com participação indirecta

Nacionais Locais Nº de famílias Observações

220 16 1.376 Varias empresas

189 12 214 Varias empresas

4 16 25

3 4 5

- - - Incluído na Área 1

6.185

9 1 423 Varias empresas

Fonte: ENH /recolha de amostras nas operadoras, Junho de 2012.

Quadro 2. (cont.)

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148

Comunicações dos SemináriosComunicações dos SemináriosC da Presidência da República

149

Gabinete de Estudos Gabinete de Estudos G da Presidência da República

Companhia Moçambicana de Petróleos, Limitada (COMOPETRO)

Empresa Nacional de Hidrocarbonetos de Moçambique (ENH)

Mozambican Hydrocarbon Company

OILMOZ – Investimentos e Participações, Lda (OILMOZ)

Rachana Global LDA

Sasol Petroleum Temane

Wentworth Moçambique Petróleo

Matola Gas Company (MGC)

Companhia do Pipeline

Mozambique-Zimbabwe Lda

Importadora Moçambicana de

Petróleos (Imopetro)

Lonropet SARL

Ministry of Mineral Resources and Energy

National Directorate of Coal and Hydrocarbons

Petrogal Moçambique

Quadro 3. Lista de empresas que operam no sector dos hidrocarbonetos em Moçambique

Empresas Moçambicanas que operam no sector dos Hidrocarbonetos

Descrição

Petroleum and its products trading

Extraction of crude petroleum

Support activities for petroleum and natural gas extraction

Support activities for petroleum and natural gas extraction

is primarily in the business of natural resource exploration in Africa. We are currently exploring Coal, Gold, Copper, Tantalum, Titanium, & Iron Ore across the globe.

Support activities for petroleum and natural gas extraction,Oil & Gas Exploration

is an independent oil and gas company with gas production and a committed exploration programme in the Rovuma Basin of southern Tanzania and northern Mozambique

Extraction of crude petroleum

Petroleum and Petroleum Products Wholesalers

Support activities for petroleum and natural gas extraction Petroleum and Petroleum Products Wholesalers, Importing

Support activities for petroleum and natural gas extraction

Petroleum and Petroleum Products Wholesalers, Importing

Contract Mining, Electrical Power Distribution, General public administration activities, OiI and Gas Industry Regulation

General public administration activities, OiI and Gas Industry Regulation

Oil Refining, Petroleum and Petroleum Products Wholesalers

The company, which was formed in 1997, is responsible for the purchasing

of Mozambique’s petroleum product requirements and for the setting of selling prices.

Petroleum and Petroleum Products Wholesalers

Petroleum and Petroleum Products Wholesalers

Oil Refining, Petroleum and Petroleum Products Wholesalers and Retail sale of automotive fuel in specialized stores

Oil Refining, Petroleum and Petroleum Products Wholesalers and Retail sale of automotive fuel in specialized stores

Petroleum Lubricating Oil and Grease Manufacturing Petroleum and Petroleum Products Wholesalers

Quadro 3. Lista de empresas que operam no sector dos hidrocarbonetos em Moçambique

Empresas Moçambicanas que operam no sector dos Hidrocarbonetos

Descrição

Fonte: http://www.mbendi.com/indy/oilg/af/mz/p0005.htm#Companies

Petróleos de Moçambique (PETROMOC)

BP Mozambique

Chevron Oil Mozambique

Engen Mozambique Ltd

ExxonMobil Moçambique

Mobil Oil Mozambique

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Comunicações dos SemináriosComunicações dos SemináriosC da Presidência da República

151

Gabinete de Estudos Gabinete de Estudos G da Presidência da República

GOVERNO CENTRAL

MICOA - National Council for Sustainable Development MICOA - National Directorate of Environmental Impact Assessment MICOA - National Directorate of Environmental Management MICOA - Center for Sustainable Development for Coastal Areas Ministry for Mineral Resources - Environmental Department Ministry for Mineral Resources - ENH Ministry for Mineral Resources - Petroleum Institute Ministry for Agric and Rural Dev - Nat Directorate for Forestry & Wildlife Ministry for Fisheries - Institute for Dev of Small Scale Fisheries Ministry for Fisheries - Institute for Fisheries Investigation Ministry for Tourism - National Directorate for Conservation Areas Ministry for Tourism - National Directorate for Planning & Co-operation CFM - Ports Authority GOVERNO PROVINCIALProvincial Government Inhambane Provincial Government Sofala Provincial Directorate for Tourism Inhambane Provincial Directorate for Tourism Sofala Provincial Directorate MICOA Inhambane Provincial Directorate MICOA Sofala

Provincial Directorate Agriculture Inhambane Provincial Directorate Agriculture Sofala Provincial Directorate Fisheries Inhambane Provincial Directorate Fisheries Sofala Provincial Directorate Mineral Resources Inhambane Provincial Directorate Mineral Resources Sofala Maritime Administration Inhambane Maritime Administration Sofala Institute for Fisheries Investigation - Inhambane Delegation Institute for Development of Small Scale Fisheries - Inhassoro PARQUES NACIONAISBazaruto National Park

ORGANISMOS DE INVESTIGAÇÃO

Biology Department - Eduardo Mondlane University (UEM) National History Museum GOVERNO DISTRITALMunicipal Council - Vilankulos (President) Administration - Govuro (Administrator) Administration - Machanga (Administrator) Administration - Vilankulos (Administrator) Administration - Inhassoro (Administrator) ASSOCIAÇÕES COMUNITÁRIAS PARA O DESENVOLVIMENTO Association of Friends of Inhambane Province Association of youth friends of Govuro (AJOAGO) Vilankulos Development Association

Quadro 4. Lista de outros organismos relacionados com a indústria de hidrocarbonetos

Organismos relacionados com as indústria dos hidrocarbonetos

Quadro 4. Lista de outros organismos relacionados com a indústria de hidrocarbonetos

Organismos relacionados com as indústria dos hidrocarbonetos

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Thomba Yeado Community Association (Bazaruto)GRUPOS ECOLOGISTAS (ONGs) IUCN - World Conservation Union WWF - World Wildlife Fund Fundação Natureza em Perigo Livaningo CTV - Centro Terra Verde GTA - Grupo de Trabalho Ambiental COMMUNITY DEVELOPMENT NGOs ADEL: Association for Local Development CARE Jesus AliveOPERADORES TURÍSTICOS(diversos)ASSOCIAÇÕES DE PESCADORESAssociação Moçambicana de Pescadores (AMPE) Associação de Pescadores de Inhassoro (API)

Quadro 4. Lista de outros organismos relacionados com a indústria de hidrocarbonetos

Organismos relacionados com as indústria dos hidrocarbonetos

Fonte: http://www.mbendi.com/indy/oilg/af/mz/p0005.htm#Companie

A INDÚSTRIA DE HIDROCARBONETOS EM MOÇAMBIQUE: CAMINHOS A PERCORRER PELOS MOÇAMBICANOS

(Comentário ao texto de Nelson Ocuane)Por: Daúd Jamal

Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de Moçambique;Distintos Convidados,Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Permitam-me antes de mais agradecer ao Gabinete de Estudos da Presidência da República pelo honroso convite que me endereçou para comentar o tema deste Seminário. Saúdo também o dr. Nelson Ocuane pela apresentação sistemática e elucidativa do quadro actual e das perspectivas do sector da indústria de hidrocarbonetos em Moçambique.

O tema de hoje, apresentado sob o título A Indústria de Hidrocarbonetos em Moçambique: Caminhos a Percorrer pelos Moçambicanos é de extrema importância e relevância para nós, moçambicanos de hoje e de amanhã.

Professor Doutor Daud Jamal fazendo os comentários em torno da comunicação do Dr. Nelson Ocuane

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A descoberta de hidrocarbonetos e o início da actividade extractiva do carvão, aos quais se adiciona a extracção de gás e de outros recursos, colocam Moçambique no mapa do grupo de países de actividade extractiva de larga escala. Historicamente, esta actividade tem redundado, nuns casos, em maldição ou, noutros, em dádiva para o desenvolvimento. O desafio que se coloca aos moçambicanos é de, juntos, transformarmos as riquezas naturais em bem-estar e felicidade das gerações actuais e vindouras.

A comunicação feita pelo dr. Nelson Ocuane inicia-se com uma resenha do estágio actual da economia de Moçambique recorrendo aos indicadores tradicionais que espelham a estabilidade macro-económica do País. São destacados os principais sectores contribuintes da economia, nomeadamente a agricultura, exportação de matérias-primas de origem mineral e do alumínio, transporte e comunicações, o sector de energias e infra-estruturas. O incremento do investimento directo estrangeiro reflecte sobremaneira o ambiente económico são e estável. Contudo, salienta-se que esta estabilidade macro-económica, marcada por um PIB estável, não reflecte a melhoria da qualidade de vida dos moçambicanos em geral.

O autor prossegue abordando a problemática dos recursos do subsolo, concretamente as descobertas de hidrocarbonetos no off-shore. O dr. Nelson Ocuane faz uma breve incursão histórica na indústria de hidrocarbonetos em Moçambique e na sua evolução até ao estágio actual, ao longo da qual se destaca a descoberta dos campos de Búzi e Temane nos anos 60, a criação da ENH em 1981 e do INP em 2001, bem como o início da produção dos campos da SASOL. Sobre os recursos do subsolo, o mesmo refere que os anúncios recentes de descobertas de gás natural no off-shore, reportadas nesta comunicação em cerca de 160 tcf (triliões de pés cúbicos), constitui um marco histórico para Moçambique.

Partindo da realidade económica e da sociedade moçambicana actuais, e socorrendo-nos do paradigma das ciências do desenvolvimento económico, o autor discute as várias formas do capital tendo como pano de fundo a gestão sustentável dos recursos minerais. Permitam-me destacar desta análise o capital natural, o capital humano e o desenvolvimento sustentável, os quais retomarei mais adiante.

Na perspectiva de um desenvolvimento sustentável, a comunicação remete-nos à questão do modelo actual de desenvolvimento económico, marcado por um PIB estável e robusto, não ter impacto eficiente na erradicação da pobreza e elevação do índice do bem-estar dos moçambicanos. Como desafios (caminhos a percorrer) para a prossecução da sustentabilidade, o dr. Nelson Ocuane elege o desenvolvimento do capital humano e da base produtiva alargada. Assim, refere o autor que o sector dos hidrocarbonetos deve potenciar o desenvolvimento dos diversos sectores da economia e não somente das empresas mais directamente ligadas à indústria dos hidrocarbonetos.

Portanto, emerge desta comunicação, a ideia e a necessidade da sustentabilidade social e económica. A proposta da criação de um Fundo de Soberania como instrumento de garantia e estabilização sócio-económica das gerações futuras, afigura-se como um caminho viável. Da argumentação apresentada, configura-se que o Capital Humano é factor garante de tal sustentabilidade, na perspectiva de que este capital possa impulsionar o progresso tecnológico que, por sua vez, eleva a produção per capita e a produtividade do país no geral.

O Fundo de Soberania pode, a médio e longo prazos, propiciar as condições para o que o cidadão moçambicano (capital humano) e a sociedade de Moçambique se apoderem da ciência e tecnologia como factores de produção e sustentabilidade. Entendo que só nesta base os moçambicanos podem se constituir como parâmetro determinante da função do desenvolvimento, e capacitados para explorar as oportunidades decorrentes da intromissão (positiva) do capital intensivo estrangeiro, essencialmente orientado para a extracção de recursos naturais esgotáveis.

Não obstante o Índice de Desenvolvimento Humano de Moçambique ser baixo, as condições endógenas para a elevação do capital humano como factor de desenvolvimento sustentável são favoráveis pois, por um lado, a base da pirâmide etária é bastante alargada, reflectindo uma percentagem de população jovem activa e, por outro, temos recursos naturais em abundância. A população jovem pode ser capacitada para explorar o potencial de desenvolvimento tecnológico, actuando como factor de atracção

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de investimento estrangeiro para o sector da indústria de transformação. Esta é uma das alternativas para a preparação da transição completa de Moçambique de uma sociedade de base tradicional para uma sociedade de base científico-tecnológica, libertando-nos da dependência de recursos naturais exauríveis com forte dependência da localização geográfica.

Termino o meu comentário afirmando que equidade entre os moçambicanos pode ser efectivada se todos formos educados para o domínio da ciência e tecnologia.

A Sua Excelência, o Senhor Presidente da República, e aos distintos participantes deste seminário vão os meus agradecimentos pela atenção dispensada.

OS DESAFIOS DO SISTEMA DE ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA EM MOÇAMBIQUE

Por: Filipe Sebastião Sitoi

“… o sistema de administração da justiça, os seus actores, as prerrogativas do advogado e a ética cidadã devem ser um óculo que permite ver o faminto, o oprimido e o excluído e, pretendo-se universal, não é restrita a uma óptica negativa mas coroada de áurea positiva de virtudes, valores, costumes, de responsabilidade social, de fonte da felicidade, esse supremo bem…”

Introdução

Como é sabido, o Mundo transformou-se radicalmente23 nas últimas décadas, e as fronteiras que compartimentavam os

Dr. Filipe Sitoi a fazer a sua intervenção

23O ordenamento jurídico moçambicano, acompanhou esta vaga de transformações económicas-culturais, tornando-se mais efémero e complexo, a exigir certa especialização em áreas até há pouco, praticamente desconhecidas, como os direitos dos consumidores, o ambiente e a informática. O advogado artesão, dos meados do século, a trabalhar isolado no seu escritório, dando consultas e aceitando o patrocínio de todos os casos, está a desaparecer, mesmo nos locais mais remotos do nosso país. De súbito, como se despertasse de um sonho, o advogado encontrou-se num mundo outro. O advogado já não pode, seriamente, abarcar todas as questões que a vertiginosa vida de hoje engendra e multiplica. O velho generalista é um abencerragem.

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países caíram como o Muro de Berlim, ou deixaram de ser barreiras quase intransponíveis. As relações individuais e internacionais adquiriram novas formas, o capital circula tão rapidamente como as notícias, as pessoas movimentam-se ao ritmo dos aviões, o comércio jurídico multiplicou-se, a criminalidade refinou-se e organizou-se, os conflitos sociais agudizaram-se.

Falar de desafios do sistema de administração da justiça em Moçambique, neste momento, é oportuno e actual, pois, com o crescimento do tráfego comercial, a contínua e promissora exploração dos recursos naturais associada a descoberta de hidrocarbonetos, novos modus legislandi e faciendi esperam de todos os actores do sistema de justiça (Magistrados Judiciais e do Ministério Público, advogados, técnicos e assistentes jurídicos, Polícia de Investigação Criminal, Guardas prisionais e Sociedade Civil em geral).

É importante esta abordagem pois, permitirá reflectir de forma sucinta sobre os desafios do sistema de justiça em Moçambique e perceber a ratio da administração do sistema judicial em Moçambique, através das vicissitudes constitucionais, na ordem jurídica moçambicana, tendo em conta a aplicabilidade directa dos preceitos consagradores dos direitos, liberdades e garantias fundamentais; e as principais ilações a reter desta análise.

Os vários estudos, análises e avaliações feitas ao sistema de justiça nos últimos anos dão conta de uma realidade em franca transformação e com grandes desafios (próprios do Séc. XXI) no sector. É, pois, face à um quadro muito crítico e um conjunto tão alargado e ambicioso de desafios a pôr em prática, que nos iremos deter nesta pequena reflexão, sem termos a pretensão nem a veleidade de trazer soluções acabadas mas um mero contributo para a administração da justiça, onde actuamos. Iremos cingir a nossa reflexão sobre:

i) Os desafios e/ou obstáculos actuais da administração da justiça;

ii) o papel dos seus principais actores; iii) sem descurar os avanços obtidos na reforma legal e prisional

em curso;iv) para garantia do acesso a justiça por parte da população.

Desafios actuais do sistema de administração de justiça

Em 2003, um estudo extensivo sobre a justiça moçambicana apontava, entre as suas conclusões, alguns obstáculos/desafios ao bom funcionamento do sector da justiça como seja:

i) a grande distância dos cidadãos perante os tribunais com origem, entre outros motivos, na desadequação da lei escrita à realidade, na desconfiança sobre o funcionamento dos tribunais e na incompreensão sobre o destino das multas ou do pagamento de caução (Filipe Sitoi e José Macuane, 2003);

ii) os mobilizadores do sistema de justiça residem nas áreas urbanas com destaque para a cidade de Maputo, sendo que as áreas rurais ficam praticamente fora do alcance do sistema judicial cível, “ora porque o direito é outro, ora porque o tribunal não existe ou fica muito longe física e culturalmente”. Se os mais carenciados têm dificuldades de aceder à justiça, “os mais ricos auto-excluem-se, porque duvidam da qualidade da decisão judicial e da sua independência”, tentando a todo o custo “prevenir os seus conflitos ou recorrer a formas negociadas para a sua resolução”;

iii) Os cidadãos têm da justiça uma percepção muito crítica, apontando, entre outros, o problema da falta de recursos humanos, materiais e financeiros, a passividade das

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instituições judiciais, policiais e a sua aparente inoperância e morosidade;

iv) Entre os restantes bloqueios ainda apontados ao desenvolvimento de uma justiça democrática, destacamos a insuficiência e a falta de qualificação dos recursos humanos – magistrados judiciais, do Ministério Público, funcionários e oficiais de justiça; o aumento de processos pendentes nos vários escalões dos tribunais; a precariedade das instalações; a falta de equipamentos; a deficiência e o desajustamento da organização judiciária; a escassez de advogados e a sua concentração nas grandes cidades de Maputo, Beira e Nampula; a deficiente e a desadequada formação dos técnicos e assistentes jurídicos; e o mau funcionamento do IPAJ. As ONGs mostraram-se fundamentais, verificando-se que o acesso ao direito dependia, em grande parte, da acção das mesmas.

v) Como uma grande dificuldade do sistema de justiça – está “…o crescimento da procura de tutela judicial e dos processos pendentes e a sua longa duração na maioria dos tribunais judiciais…”; a ineficiência e inacessibilidade destes tribunais; a existência de uma pluralidade de instâncias a resolver litígios na sociedade moçambicana; a ausência de tribunais judiciais e/ou comunitários em grande parte do território, perto das populações24 ; e a incapacidade do Instituto do Patrocínio e Assistência Jurídica em desempenhar cabalmente a sua missão”- exigiam (à data dos factos) uma reforma da justiça,

de modo a torná-la mais célere25 , transparente, acessível aos cidadãos e com maior capacidade para promover os direitos humanos e responder às necessidades decorrentes do desenvolvimento económico e social do país.

vi) O PEDLCC – (Plano Estratégico de Defesa Legal dos Cidadãos Carenciados, já aprovado e em implementação no sector) afirma existir um consenso razoável não apenas em relação à importante missão que cabe ao IPAJ, como também em relação ao seu fracasso na prossecução da mesma. Tal consenso não existe em relação às causas desse fracasso, bem como às soluções para o futuro. Se uns defendem que ao IPAJ faltam apenas melhores condições, outros acreditam que o modelo em si é inadequado (PEDLCC, 2008). Deve, ainda, ter-se em consideração o relevante papel que as ONGs têm desempenhado, apoiando-as e promovendo uma articulação entre estas e os serviços prestados pelo Estado. Nesse sentido, parece-nos que deve ser ponderada a substituição do actual modelo de assistência jurídica estatal, protagonizado essencialmente pelo IPAJ, por um outro modelo que aproveite as sinergias existentes na sociedade.

vii) A atribuição de dotações orçamentais26 às instituições do Estado, pelo Governo tem sido efectuada com base em duas componentes: a componente despesas para funcionamento e despesas para investimento. Tanto na componente despesas

24 O estudo da OSISA, em 2006, também não foi optimista em relação ao estado do sector da justiça. Surgem, uma vez mais, os problemas da formação de recursos humanos, a falta de advogados e procuradores e o défi ce de recursos dos tribunais distritais. O estudo conclui que, apesar dos esforços do Governo em realizar reformas com vista a garantir o acesso à justiça dos cidadãos, o Estado moçambicano continua sem cumprir esse objectivo, sobretudo para aqueles que vivem nas áreas rurais ou mais remotas, onde os tribunais são de difícil acesso devido às difi culdades fi nanceiras e à sua localização física. Este estudo afi rma, ainda, que o conhecimento dos direitos por parte dos moçambicanos é extremamente baixo e que existe uma grande difi culdade de acesso ao patrocínio jurídico.

25 No Joint Review de 2005, ano de entrada em vigor do PARPA II, o Grupo de Trabalho sobre a reforma do Sector da Justiça refere “um desempenho lento do sector da Justiça marcado por alguns avanços e pela manutenção de constrangimentos que, a não serem superados, continuarão a afectar o normal desempenho do sector”. No que diz respeito à bloqueios do bom desempenho do sector da justiça, o grupo de trabalho sobre a reforma do sector da justiça aponta: “a superlotação das cadeias, a falta de serviços de assistência e defesa legal para os necessitados, a insegurança no cumprimento das obrigações contratuais, mesmo no âmbito dos pequenos negócios, as carências da administração da justiça formal e informal a nível dos distritos e das localidades.” Os objectivos defi nidos pelo PARPA II no âmbito do acesso à justiça vão no sentido de combater estes e outros problemas, reconhecendo a necessidade de melhorar substancialmente o estado deste sector, como uma das componentes fundamentais da luta contra a pobreza. 26Os orçamentos dos tribunais judiciais registaram signifi cativos aumentos desde o ano de 1998, com o pico nos últimos cinco anos, não obstante o ligeiro abrandamento no ano de 2011.

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de funcionamento, como na componente despesas para investimento, a dotação orçamental atribuída pelo Estado às diversas instituições do sistema de justiça, varia, havendo instituições com maior orçamento e outras com menos orçamento dentro do sistema.

viii) Neste âmbito do ponto de vista de planificação estratégica tanto o executivo, tanto o legislativo, bem como, o judicial partilham do mesmo pedestal: todos são por uma justiça célere e de qualidade. O empenho do Governo e do Legislativo na aprovação de diversos instrumentos, desde os relacionados com a tramitação de processos, até aos que visem a melhoria das condições de trabalho e de vida dos magistrados e funcionários judiciais são exemplo disso. Há toda uma acção que evidencia um cometimento sério e indisfarçável de todos os sectores do Poder do Estado na busca de soluções para um correcto funcionamento da justiça no país, que justifica a necessidade de identificação urgente e desapaixonada do que pode estar ainda a ensombrar esta vontade colectiva.

ix) O modelo de planificação e de afectação de recursos no sector público nacional, obedece a um esquema que tem nos Directores Nacionais de Tesouro, Orçamento e de Património do Estado no Ministério das Finanças, isso a nível central, e no Director Provincial de Finanças, a nível da Província, as peças fundamentais de todo o processo. Logo, o tipo de formação destes dirigentes27 , a sua sensibilidade e a cultura de Estado, que cada um deles possuir vai ser determinante no fluxo financeiro necessário para que os tribunais e todo o sector, desenvolvam os seus planos de actividades.

x) A nossa posição aproxima-se da ideia segundo a qual “… é necessário que o acesso à justiça seja pensado não apenas na perspectiva da resolução de litígios em tribunal, mas também na da divulgação contínua dos direitos e deveres dos cidadãos, da prestação de consultas jurídicas…”, bem como nas várias formas e instâncias de resolução extrajudicial de conflitos, incluindo dentre elas, as vias alternativas de resolução de conflitos (conciliação, mediação e arbitragem).

xi) Os dados disponíveis demonstram-nos que o Governo dá mais prioridade a componente despesas para funcionamento em detrimento da componente despesas para investimento. As acções e planos futuros do Governo para o sector da Justiça devem continuar a priorizar a formação e a capacitação de quadros e o investimento em infra-estruturas e equipamentos necessários à boa administração da justiça em Moçambique.

Para uma melhor percepção dos desafios iremos de seguida, apontá-los quanto a: i) formação de recursos humanos, ii) infra-estruturas e equipamentos, iii) Reforma legal em curso, iv) Impacto das Reformas no Sistema Prisional e acesso a justiça sem descurar a simbiose intrínseca com os princípios constitucionais consagradores dos direitos liberdades e garantias fundamentais, que cabe ao sistema tutelar com dignidade.

27 Intervenção do Venerando Juiz Desembargador Bernardo Bento Chuzuaio no Primeiro Congresso para Justiça, realizado pela Ordem dos Advogados de Moçambique, 13 a 14 de Setembro de 2012, CCJC, pg. 15 e seguintes. Nos últimos tempos começaram a ganhar algum protagonismo neste processo, os governadores de Província e os Secretários permanentes dos Governos provinciais. Alguns directores provinciais de fi nanças não conhecem o papel dos tribunais e não tem noção da sua complexidade, o que acontece, também com alguns governadores provinciais. Estes, às vezes, assumem uma atitude de confrontação para com a justiça a nível local, num exercício de afi rmação do seu maior protagonismo na província.

Em primeiro plano (da esquerda para a direita): Ozias Pondja (Presidente do Tribunal Supremo), Machatine Munguambe (Presidente do Tribunal Administrativo), Hermenegildo Gamito (Presidente do Conselho Constitucional), Augusto Paulino (Procurador Geral da República) e José Abudo (Provedor de Justiça)

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A. FORMAÇÃO

xii) Continua a ser urgente o aumento do número de Magistrados Judiciais e do Ministério Público, de advogados inscritos na Ordem dos Advogados de Moçambique, Técnicos e assistentes jurídicos do IPAJ bem como dos demais agentes indispensáveis à administração da Justiça nos distritos. A contínua capacitação de quadros e do pessoal da justiça com vista a elevar o nível de conhecimento técnico e científico e as capacidades profissionais dos quadros é imperativa.

xiii) As acções realizadas devem dar prioridade aos distritos onde a actual conjuntura económico-social (imigração ilegal, refugiados, exploração galopante de recursos naturais e descoberta de hidrocarbonetos) tem dado origem a crimes violentos e de natureza complexa, como o tráfico de órgãos e de seres humanos, sendo necessário quadros capazes de enfrentar a situação. Parece-nos claro que a leitura desta realidade não pode ser unicamente numérica.

xiv) Uma análise profunda exige que se vá além de uma avaliação em termos de despesas efectuadas ou do número de formações realizadas e passa por compreender o efeito dos investimentos em termos dos conhecimentos e das competências adquiridas pelos formandos e de que forma isso se manifesta na administração de uma justiça mais célere, adequada e próxima dos cidadãos (real impacto nas populações).

xv) No que diz respeito aos magistrados, a formação oferecida quer nas faculdades, quer no Centro de Formação Jurídica e Judiciária deve permitir a aquisição de sólidos conhecimentos técnicos e da dogmática jurídica; consciência da realidade do país, nomeadamente da pluralidade jurídica e de possíveis formas de articulação dos tribunais comunitários; bem como o respeito pelos cidadãos e pela democracia.

xvi) Conhecer esta realidade implica a realização de um estudo mais alargado que permita avaliar os cursos de formação do país, bem como o desempenho dos magistrados formados. Deve ser tido em conta que mais formação não significa sempre melhor formação, devendo evitar-se a repetição de matérias que devem ser do conhecimento do grupo de formandos e promover a realização de cursos direccionados à especialização em determinados temas. Deve ainda trabalhar-se no sentido de ajustar as políticas do sector para que sejam integradas e orientadas para um objectivo comum.

xvii) O aumento do investimento para construção ou reabilitação de infra-estruturas e para formação e capacitação de quadros constituem elementos indispensáveis para os avanços registados, comparativamente a realidade nos anos anteriores, tendo se revelado que estas componentes continuam a ser elementos de extrema importância no processo de provisão da justiça para todos.

Em primeiro plano: Ministra da Justiça Benvinda Levi a intervir. Na segunda fi la da esquerda para a direita: Joaquim Verissimo e General (na reserva) Hama Th ai

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xviii) Entretanto, embora tenha havido melhorias resultantes do incremento em investimento nessas áreas ainda persistem algumas questões que reclamam maior atenção do Estado. Desde logo e apesar dos avanços registados, é importante frisar que os esforços empreendidos com vista a melhoria do sector devem continuar na medida em que o número de magistrados judiciais e do ministério público ao nível dos distritos e de outras zonas pouco avantajadas economicamente ainda permanece aquém do desejado. Há necessidade de aumento do número de profissionais especializados nas diversas áreas de direito tendo presente o aumento da população nos distritos (surgimento de novos assentamentos urbanos, vilas e cidades) e a complexidade de processos que as instituições do sector da justiça são chamadas a resolver (recursos naturais, mega-projectos, imigração ilegal, tráfego de drogas, pessoas, etc.).

xix) A falta de informação do Estado relativamente a necessidade de informar ao cidadão mais pobre dos seus direitos e deveres também é um aspecto que constitui um obstáculo e que afecta o acesso desses cidadãos ao Direito e à justiça formal. Daí que não são raras as vezes em que o cidadão recorre a outros meios de justiça informal com vista a obter

a reposição do seu direito violado. A lição a reter nestes casos é que para além da capacitação e formação de quadros do sector, o Estado deve desenvolver acções destinadas a informar ao cidadão dos direitos que lhe assistem e dos deveres a que o mesmo está vinculado.

xx) Outro factor importante na componente de formação de quadros28 do sector da Justiça é a atenção que deve ser dispensada na relação entre o Centro de Formação Jurídica e Judiciaria (CFJJ) e as instituições de ensino superior que ministram os cursos de Direito. A especialização dos magistrados ao nível do CFJJ deve ser complementada pela instrução desses técnicos ao nível das instituições de ensino superior.

xxi) Assim, é desejável que a formação ao nível de ensino superior29 seja mais completa possível no sentido de não deixar lacunas em aspectos básicos e elementares na formação dos magistrados ao nível do CFJJ. Isso iria permitir que pouco esforço e menos recursos fossem gastos para capacitação de magistrados no CFJJ em certas áreas que de antemão caberiam às instituições de ensino superior.

xxii) Daí a necessidade urgente de direccionar recursos para a capacitação dos quadros das instituições de ensino superior, em especial as Faculdades de Direito da Universidade Eduardo Mondlane, da Universidade Católica, ISCTEM e A

28Um dos problemas actuais mencionados pela Direcção Nacional dos Recursos Humanos do Tribunal Supremo, tem a ver com a possibilidade de mobilidade dos funcionários públicos, o que faz com que estes migrem sempre para aqueles sectores do mesmo Estado (Autoridade Tributária), com melhores condições salariais e de trabalho. 29Ainda a acrescentar, não seria menos desejável que o desenho Curricular das escolas e/ou instituições de ensino superior tivessem em atenção aos padrões defi nidos no Curricula do CFJJ. Uma ligação umbilical entre as Faculdades de Direito da UEM, UCM, ISCTEM, A Politécnica, o CFJJ e a Ordem dos Advogados de Moçambique, é recomendável em vista da melhoria da qualidade dos futuros profi ssionais do Direito (juízes, procuradores e advogados). Assim, sugere-se a concepção de cursos de capacitação de docentes das Escolas e Faculdades de Direito (numa primeira fase) em Direitos Humanos e legislação dos recursos naturais e hidrocarbonetos implementados conjuntamente pelo CFJJ e a Ordem dos Advogados como uma das acções/indicadores a inscrever no próximo PARPA de modo a que os investimentos no sector tragam resultados mais equilibrados do ponto de vista da qualidade dos profi ssionais que são formados.

Da esquerda para a direita e em primeiro plano: Etelvina Mbalane, Lubélia Muiuane e Berta Chilundo

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Politécnica que são as que mais contribuem com formandos para os Cursos do CFJJ. Esta acção deve ter em vista as áreas sensíveis como os Direitos Humanos, legislação de terras e de outros recursos naturais e legislação para a protecção da mulher e criança.

xxiii) Impõe-se reverter o modelo “imparcial” de resolução de problemas jurídicos até aqui seguido nas escolas de ensino de direito e nas Faculdades de direito, adoptando-se um modelo curricular mínimo, visando desenvolver outras competências (ser, saber estar e saber fazer) para além das de sempre - apresentar meras soluções jurídicas, reforçando com isso, os aspectos ético e deontológicos em algumas matérias técnico-jurídicas.

xxiv) Justifica-se igualmente ainda, a definição do perfil ideal do Jurista em Moçambique, devendo-se centrar a atenção no domínio do saber fazer, com cada vez maior espaço a dogmática jurídica, de modo a elevar a cultura jurídica do jurista nacional, permitindo o resgate da nobreza da profissão.

xxv) Relativamente ao CFJJ, seria desejável que este se apresentasse como uma instituição autónoma30 do executivo e do judiciário (TS) de modo que a sua actividade científica e administrativa decorra em regime de plena autonomia31 no quadro de funcionamento das instituições do ensino superior (artigo 114, nº 2 da Constituição). Isto poderá

resultar na melhoria da quantidade e qualidade dos profissionais que forma.

xxvi) Finalmente, no que tange a componente infra-estrutural parece razoável considerar a ideia dos “palácios de justiça” como algo válido e a replicar para mais distritos, particularmente na sua componente “funcional” e não física (edifício), o qual igualmente deveria dispor de mais recursos para a componente de produção e divulgação de materiais de educação jurídica do cidadão.

xxvii) A globalização e a integração regional trazem elementos que impõem cada vez maior nível de qualificação de quadros. Matérias de carácter universal e de incidência internacional devem receber atenção. Com efeito, os cursos de formação e de capacitação de quadros e técnicos do sector da Justiça também devem englobar os procedimentos e as regras de funcionamento dos sistemas internacionais (Nações Unidas), regionais (sistema Africano) e sub-regionais (Tribunal da SADC) no sentido de permitir aos técnicos aconselhar ao cidadão dos meios de recurso existentes no caso de manifesta insatisfação com a justiça aplicada no País.

xxviii) A crise mundial dos 3 fs (fuel, food and finance) constitui não só um desafio para o sistema de justiça moçambicana mas uma boa oportunidade de inovar32, adaptar, estudar e legislar (tempestivamente) para o bem das populações.

30Relativamente a formação dos Magistrados torna-se necessário: i) reformular o desenho de um programa com dois anos de duração, com custos totalmente assumido pelo Estado; ii) Visando garantir uma melhor selecção de candidatos à Magistratura, impõe-se ampliar a base de recrutamento dos candidatos, defi nindo-se um vínculo de inicio com o Formando/ Estagiário; iii) Com vista a garantir a mínima preparação inicial dos Magistrados é imperioso introduzir a formação geral para as duas magistraturas, com dois semestres lectivos e alargar o estágio com período de duração de 1 ano; 31Neste âmbito, o CFJJ deveria funcionar com base num contrato-programa assinado com o executivo em vista do PARPA e dos PES’s, o que lhe permitiria uma sustentabilidade funcional e não dependendo tanto dos projectos que eventualmente metem mais dinheiro ou dinheiro mais fl exível para a existência da instituição e comprometendo não só a qualidade da acção formativa mas também o cumprimento das acções assumidas perante o Governo.

32Estas iniciativas foram afl orados no Conselho Coordenador do Ministério da Justiça que tinha como objectivo avaliar o desempenho do sector em 2011 e primeiro trimestre de 2012, em termos de acções e implementação orçamental bem como a avaliação intermédia da componente da Justiça no âmbito do Programa Quinquenal do Governo - Vide Documento fi nal do VIII Conselho Coordenador do Ministério da Justiça, Inhambane ( 2 a 4 de Julho de 2012).

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B. INFRA-ESTRUTURAS E EQUIPAMENTOS

xxix) No âmbito do investimento em infra-estruturas e equipamentos, importa atribuir uma nota positiva pelos avanços registados. Todavia, os esforços devem ser continuados com vista a suprir as dificuldades actuais. Na verdade, dados obtidos junto do Departamento de Administração, Planificação e Finanças (DAPF) do Tribunal Supremo indicam que, presentemente, todos os tribunais funcionam em instalações próprias, à excepção de três que estão instalados em imóveis arrendados a terceiros. Quanto a residências, 118 imóveis são propriedade do Estado ou do Cofre dos Tribunais e 115 arrendados a terceiros.

xxx) Segundo pesquisadores moçambicanos33, em 1996 não havia um registo sobre património mobiliário e imobiliário, como também do equipamento sob gestão do Tribunal Supremo e demais tribunais judiciais. Passados 16 anos, a situação mantém-se quase a mesma. Relativamente a mobiliário e outro equipamento, não existe um registo centralizado, contudo, sabe-se que quase todos tribunais de província estão minimamente equipados, existindo, contudo, cartórios que trabalham ainda com máquinas de escrever para o trabalho do dia-a-dia e sessões de julgamento.

xxxi) A situação contínua crítica a nível dos tribunais judiciais de distrito, em que, regra geral, o mobiliário é insuficiente para acomodar todos os funcionários e é ainda insignificante o número de tribunais que tem computadores. Aliás, sequer existe capacidade humana para operar este tipo de equipamentos, além de que, alguns tribunais nem têm como beneficiar destas facilidades por se localizarem em distritos sem energia eléctrica.

xxxii) A nível dos recém-criados Tribunais Superiores de Recurso34, a situação é bem mais grave, visto que somente o Tribunal Superior de Recurso de Maputo está instalado, enquanto o da Beira e Nampula continuam a trabalhar precariamente em Maputo, por não terem instalações disponíveis para o seu funcionamento nas zonas de suas sedes, muito menos, residências e meios de transporte para os respectivos magistrados.

xxxiii) Os serviços de internet35 continuam o privilégio dos tribunais de nível provincial. No entanto, mesmo nestes, os mesmos são fornecidos com muita irregularidade, pois, devido a problemas orçamentais, maior parte de tempo estão inoperacionais ou suspenso o seu fornecimento. Ressalve-se que somos de opinião que a medição do desempenho institucional não se observe pela eficácia no cumprimento de metas físicas, mas pela sua efectividade, ou seja, pelo impacto na vida dos cidadãos e das comunidades.

xxxiv) Por um lado, o orçamento destinado ao investimento em infra-estruturas deve ser aumentado. Desta forma será possível planificar e concluir mais projectos36 associados ao sector da administração da Justiça.

33Confl ito e Transformação Social: Paisagem das Justiças, pp. 329 a 331, de Boaventura de Sousa Santos e João Carlos Trindade.

34No global, os três Tribunais Superiores de Recurso, em pouco mais de seis meses de efectividade de funções (o de Maputo e o de Nampula) e pouco mais de três meses do da Beira, já produziram 290 acórdãos que puseram fi m aos processos, um número muito próximo do produzido pelo Tribunal Supremo durante o ano de 2010. Quer isto ilustrar que um pouco mais de cometimento na disponibilização tempestiva de condições destes tribunais, maiores resultados poderiam ser alcançados, facto que representa um grande ganho para a Nação - Vide pg. 11 da Comunicação do Venerando Juiz Desembargador do Tribunal Superior de Recurso de Maputo, Dr. Bernardo Chuzuaio no 1º Congresso para a Justiça, realizado pela OAM, de 13 a 14 de Setembro de 2012, em Maputo. 35Como recomendação importante emanado do Conselho Coordenador do MIJUS “… o Ministério da Justiça passa a fazer uso imediato das tecnologias de informação e comunicação, nomeadamente a teleconferência, nas formas de som e imagem (vídeo conferencia) permitindo o envolvimento dos Directores Provinciais nas sessões dos Colectivos do Ministério – Conselho Técnico e Consultivo…” – vide pg. 7 do Documento fi nal do VIII Conselho Coordenador do Ministério da Justiça.36O sector da administração da justiça deve actuar de forma coordenada com vista a solucionar o problema de gestão dos Palácios de Justiça, tendo sobretudo em conta, os modelos de Palácios de Justiça, determinação dos locais de construção dos próximos Palácios de Justiça, surgimentos de novos assentamentos urbanos, vilas e cidades e a inerente mobilidade das pessoas.

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xxxv) Ainda neste contexto, o nível de exigência e fiscalização das obras de construção e de reabilitação de infra-estruturas deve ser maior, de forma a garantir a qualidade e durabilidade das mesmas.

xxxvi) Nos distritos deve continuar-se a priorizar a construção geminada de estabelecimentos da Administração da Justiça com uma estrutura arquitectónica e com uma área que toma em consideração o crescimento populacional e aumento da demanda pela justiça.

C. QUANTO A REFORMA LEGAL E SEU IMPACTO

• No âmbito do objectivo estabelecido na Reforma Legal - o de tornar a legislação mais adequada ao bom funcionamento da administração da justiça, constituíam acções imediatas do sector: a) a implementação do sistema de monitoria e avaliação em todas as instituições do sector da Justiça; b) a reforma do Código Penal, do Código de Processo Penal e do Código de Registo Comercial; c) a entrada em vigor, aplicação e divulgação das novas leis que regulam a administração da justiça (aprovação e implementação da lei orgânica dos Tribunais Judiciais, reforma da Lei Orgânica do Ministério Público, reforma do Código Penal e Processo Penal, etc.).

• Dos instrumentos normativos aprovados no período 2005-2009 com impacto no acesso à justiça, salientamos a Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais, a revisão do Código de Processo Civil e o novo Estatuto da Ordem dos Advogados. A grande alteração ocorrida com a Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais, aprovada pela Lei nº 24/2007 de 20 de Agosto, consistiu na criação dos Tribunais Superiores de Recurso, que têm como missão contribuir para o descongestionamento processual do Tribunal Supremo garantindo, deste modo, para além de um outro patamar de

justiça, uma maior celeridade processual.• Outra importante inovação reside no facto da mesma lei

proclamar que a divisão judicial não deve coincidir com a divisão administrativa37 , o que não impede a existência de mais tribunais do que os distritos actualmente existentes no país, permitindo dar uma maior cobertura à demanda judicial. Continuamos a pensar que, embora seja um instrumento de capital importância para o acesso à justiça38 , a aprovação de uma Lei da Organização Judiciária, deveria ter sido precedida, na nossa modesta opinião, da aprovação de um instrumento que regulasse a Administração da Justiça como um todo.

• A revisão do Código de Processo Civil, operada através dos Decretos-Lei n. 1/2005, de 27 de Dezembro e 1/2009, de 24 de Abril, veio contribuir de alguma forma para o melhoramento no acesso à justiça. Apesar de algumas das

Da esquerda para a direita: Maria Benvida Levi (Ministra da Justiça), Gilberto Correia (Bastonário da Ordem dos Advogados de Moçambique), Ângelo Matusse (Procurador Geral Adjunto) e José Mandra (Vice-Ministro do Interior)

37Com a entrada em vigor da Lei nº 17/2012, de 14 de Agosto – Publicado no Boletim da República nº 32, I Série - foram estabelecidos princípios e critérios de organização territorial, nomeadamente a criação, a elevação e a transferência das áreas das unidades territoriais – tal como resulta do dispositivo legal contido no art. 1º da referida lei e da ratio legis, ínsita no preâmbulo do texto legal. 38A proposta de lei da Lei da Administração da Justiça contemplava medidas que davam maior relevo ao pluralismo jurídico, e previa uma nova institucionalização dos tribunais comunitários, uma nova organização e repartição de competências dos tribunais judiciais e um novo sistema público de acesso à justiça.

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alterações terem em vista uma maior celeridade processual, a manutenção das formalidades exigidas nos tribunais judiciais continuam a ser um obstáculo e a distanciar a justiça do cidadão.

• O novo Estatuto da Ordem dos Advogados dedica o Capítulo VI à Assistência Judiciária, e estabelece a obrigatoriedade do advogado e dos advogados estagiários patrocinarem a causa dos carentes dos meios financeiros até final do processo, sob pena de procedimento disciplinar. A nomeação de advogados e advogados estagiários para representarem em juízo os mais carenciados, é um passo muito importante que poderá diminuir a distância económica dos cidadãos face aos tribunais judiciais.

• Do ponto de vista dos cidadãos mais carenciados, designadamente as mulheres e crianças, merece especial destaque a aprovação dos seguintes diplomas: a Lei n. 6/2008, de 9 de Julho, que aprovou o regime jurídico aplicável à prevenção e combate ao tráfico de pessoas, em particular mulheres e crianças; a Lei n. 8/2008, de 15 de Julho, que aprovou a Lei da Organização Tutelar de Menores; e a Lei n. 7/2008, de 9 de Julho, que aprovou os mecanismos legais de promoção dos direitos da criança.

Qual o impacto dos instrumentos aprovados ?

A reforma legal é um dos elementos que contribuem para um maior e melhor acesso à justiça pelos cidadãos. Trata-se, como se pode ver, de um conjunto de medidas que trouxe uma outra dinâmica no judicial, com reconhecimento pleno do pluralismo jurídico39 , reflectindo-se em alguma melhoria na celeridade processual, mas que, inegável a sua insuficiência para os níveis de satisfação desejados pela sociedade e pela comunidade jurídica nacional.

• Uma verdadeira implementação da Reforma Legal, pressupõe uma eficaz divulgação e implementação dos instrumentos legais: De acordo com os dados fornecidos é ainda muito incipiente, a divulgação da legislação existente e, consequentemente, das recentes alterações legislativas. Apesar dos esforços que têm sido feitos, nomeadamente através de algumas ONG’s em colaboração com as polícias, para divulgar as normas jurídicas, ainda é grande o desconhecimento por parte dos cidadãos mais carenciados dos seus direitos e das normas jurídicas que regulam a sociedade.

• A carente divulgação das reformas jurídicas, aliada ao facto das mesmas serem ainda recentes, traduz-se num fraco impacto das referidas reformas junto dos órgãos da justiça e principalmente dos cidadãos. Aliás, algumas destas medidas inovadoras, longe de se apresentar como solução, trouxeram outros problemas, cuja solução imediata se impõe.

Simião Ponguana a intervir no seminário sobre a Justiça

39O Estado reconhece os vários sistemas normativos e de resolução de confl itos que coexistem na sociedade moçambicana, na medida em que não contrariem os valores e os princípios fundamentais da Constituição, como resulta do dispositivo legal contido no art. 4º da CRM/2004. No último (VIII Conselho Coordenador do MIJUS), foi suscitado debate em torno dos mecanismos que devem ser usados para se construir um sistema unitário de justiça que, simultaneamente, respeite as diferentes concepções de direito e de justiça, enraizadas em culturas e historicidades locais; Como recomendação fi cou assente que, urge defi nir: i) o que se pretende realmente com os Tribunais Comunitários; ii) continuar a potenciar outras instancias de resolução de confl itos; iii) desenvolver um trabalho de monitoria para se aferir até que ponto os Tribunais comunitários se conformam com a lei vigente; iv) as questões constitucionais no seu todo ( …) que digam respeito ao Sector de Administração da Justiça.

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Por exemplo, a eliminação da obrigatoriedade do pagamento de custas no prazo de cinco dias como motivo de deserção de recursos e a transferência40 da litigiosidade que era antes da competência dos tribunais judiciais de província para os tribunais judiciais de distrito.

• Outro obstáculo a uma eficaz implementação das reformas legais preconizadas prende-se com o nível de participação dos actores judiciais no processo de elaboração das mesmas. Na verdade, o processo de reforma legal que tem vindo a decorrer, deveria ser mais inclusivo, através da partilha e consulta dos actores que lidam diariamente com matérias relacionadas com a justiça em geral, e com o acesso a esta em especial. As carências constatadas ao nível do acompanhamento do processo de reforma traduzem-se na prestação de fraca e deficiente informação relativamente aos conteúdos e actualizações da mesma.

• O Diploma Presidencial nº 5/95 de 1 de Novembro, atribui ao Ministério da Justiça a responsabilidade de dirigir, executar a área da legalidade e da justiça, bem como competências no âmbito da elaboração legislativa. Deveria pois, o Ministério da Justiça ao dirigir a actividade de reforma legal procurar ser mais inclusiva e promover a disseminação dos projectos de lei junto das instituições que mais relevância têm para a justiça, designadamente os magistrados, procuradores, advogados e ONG’s.

• A reforma legal, como um processo de actualização das leis, deve ser mais participativo de modo a envolver de certa forma a sociedade, pelo que se deverá ter em atenção o princípio

da participação dos actores judiciais, designadamente, magistrados judiciais, procuradores, advogados e ONG’s no processo de elaboração legislativa.

• É necessária uma eficaz divulgação dos conteúdos das normas jurídicas aprovadas e alteradas de forma a contribuir para um maior conhecimento dos cidadãos em relação aos seus direitos. Finalmente, é ainda previdente recomendar que as leis aprovadas sejam alvo de um acompanhamento específico durante a sua implementação, de forma a garantir que as mesmas se tornem eficazes na normação da sociedade e acesso a justiça, tempestivamente.

• Por forma a melhorar a qualidade da justiça é imperioso que se aprove um novo Código das Custas Judiciais, garantindo a simplificação dos procedimentos de cálculo e a sua previsibilidade por parte dos utentes em prol do acesso ao direito e a justiça;

• É imperioso aprovar com a máxima celeridade, um novo regime jurídico de insolvência e recuperação de empresas,

40É certo que trouxe desafogo e certa celeridade às secções criminais dos Tribunais Judiciais provinciais mas acabou sufocando os tribunais judiciais de distrito, já abraços com um enorme volume processual, sobretudo de processos sumários-crime, à data da aprovação da lei. Como resultado, muitos processos de querela que caem sob alçada destes tribunais difi cilmente são julgados, o mesmo sucedendo com processos de natureza cível.

Da esquerda para a direita: Tomás Timbana, Presidente Armando Guebuza, Filipe Sitoi e Arlete Matola à saida do local onde decorreu o seminário sobre a justiça

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por forma a tornar este processo mais célere, dando primazia a recuperação das empresas, conferindo maiores poderes ao administrador de massa falida, reduzindo, tanto quanto possível, a judicialização dos actos. Perfilhamos esta corrente, pois, parece-nos que, não há evidências concretas de que a revisão do Código de Processo Civil, tenha traduzido na redução substancial do tempo para a conclusão dos processos e para melhoria do ambiente de negócios.

• O projecto do novo Código de Processo Penal, é oportuno e introduz algumas medidas que permitem agilizar o processo penal, designadamente, (i) medidas sócio-educativas e socialmente úteis que permite que os Tribunais Comunitários possam julgar delitos punidos com penas até um ano de prisão, e (ii) medidas alternativas à prisão, por via das quais se permite o recurso a transacção para certa categoria de crimes, bem como, a suspensão provisória do processo desde que se verifiquem certos requisitos legais.

• Torna-se de todo relevante, alertar ao órgão legiferante por excelência, para o uso de fórmulas linguísticas mais simples e abrangentes; corrigindo-se, tempestivamente, algumas imprecisões conceituais existentes no texto ora proposto (por exemplo, parece-nos que as medidas alternativas, o são à acusação e não a prisão), sem descurar a necessidade de definir a natureza jurídica das medidas alternativas;

• É imperioso dotar - com força constitucional se possível - o sistema de administração de justiça de melhores meios técnicos, materiais, financeiros e tecnológicos para materialização do seu desiderato em prol do acesso ao direito e a justiça.

D. IMPACTO DAS REFORMAS DO SISTEMA PRISIONAL

As diversas dificuldades enfrentadas, designadamente a problemática da coordenação e da planificação do sistema prisional, conduziram à necessidade de reforma do sistema com o objectivo de racionalizar a utilização dos recursos que lhe são atribuídos, de o tornar eficiente e de o ajustar às exigências de um Estado de Direito.

Neste pressuposto, foi aprovada a Política Prisional e a Estratégia da sua Implementação, através da Resolução n.º 65/2002, de 27 de Agosto, onde foram fixadas medidas para o desenvolvimento de um sistema prisional unificado41 e a sua consequente modernização, incluindo princípios fundamentais da missão dos serviços prisionais, objectivos a alcançar pelo Governo na sua acção de direcção e orientação das instituições de tutela do sistema prisional, e os passos conducentes à unificação do sistema e ao estabelecimento de uma visão mais ampla para a sua transformação em sistema correccional.

Na prossecução destes objectivos, o Ministro da Justiça através do Diploma Ministerial n.º 43/2003, de 16 de Abril, criou a Unidade Técnica de Unificação do Sistema Prisional, também designada por UTUSP, para apoiar os Ministérios da Justiça e do Interior, no processo de unificação do sistema prisional no quadro da implementação da Política Prisional e respectiva Estratégia.

41O sistema prisional colonial, regulado essencialmente pelo Decreto-Lei n.º 26.643, de 28 de Maio de 1936, tornado extensivo a Moçambique com algumas alterações através do Decreto-Lei n.º 39.997, de 29 de Dezembro de 1954, estava unifi cado e sob a tutela do Ministério da Justiça. Com a Independência Nacional, a administração do sistema prisional foi partilhada entre os Ministérios da Justiça e do Interior. As prisões passaram a estar subordinadas ao Ministério da Justiça, por força do Decreto n.º 1/75, de 27 de Julho. Com a extinção da Polícia Judiciária e a criação da Polícia de Investigação Criminal, esta foi colocada sob a autoridade do Ministério do Interior. Os estabelecimentos de detenção preventiva passaram também a subordinar-se ao Ministério do Interior, permanecendo os restantes na dependência do Ministério da Justiça pela via da Inspecção Prisional.

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Como resultado do trabalho da UTUSP, o Conselho de Ministros através do Decreto n.º 7/2006, de 17 de Maio criou o Serviço Nacional das Prisões, abreviadamente designado por SNAPRI42, integrado no Ministério da Justiça. A estrutura interna do SNAPRI é constituída por serviços, departamentos e gabinetes cujas funções têm em vista fazer face aos graves problemas enfrentados pelo sistema prisional, sendo de louvar a iniciativa de se criar um Departamento de Assistência Sanitária que fará face ao problema das péssimas condições sanitárias da população reclusa e da dificuldade de assegurar cuidados médicos básicos.

O objectivo específico de “reformar o sistema prisional e garantir ao recluso um tratamento consistente com as normas e princípios internacionais dos direitos humanos”, ainda não foi alcançado embora tenha havido diversas acções nesse sentido conforme supra exposto. Assim, constituem desafios ao sector:

• assegurar a formação e a reciclagem do pessoal prisional,• reabilitar e construir as infra-estruturas prisionais,• aumentar as iniciativas de educação e formação técnico

profissional dos reclusos tendo em vista a sua reintegração social;

• assegurar os cuidados básicos de saúde aos reclusos,• prosseguir com a reforma legislativa (aprovação dos

instrumentos legais relevantes para o sector e supra mencionados).

Devido às péssimas condições de reclusão nas prisões moçambicanas e ao problema da superlotação, recomendamos a

introdução de penas alternativas de prisão, através da aprovação da Lei sobre as Medidas Alternativas à Prisão – acção que poderá ser materializada com a provável aprovação do Código Penal na próxima sessão da Assembleia da República, já marcada para o mês de Outubro de 2012.

Verificados os requisitos, os condenados não devem ser mantidos em regime de reclusão, sendo aplicadas penas alternativas, como a prestação de serviços à comunidade ou entes públicos, sem prejuízo de ressarcimento material/patrimonial da vítima da conduta típica. Esta medida tem também a vantagem de reduzir os custos do sistema penitenciário, favorecer a re-socialização do autor do facto pelas vias alternativas, evitando-se o pernicioso contacto carcerário, bem como a consequente estigmatização.

A avaliação do grau de concretização do objectivo específico de “…reformar o sistema prisional e garantir ao recluso um tratamento consistente com as normas e princípios internacionais dos direitos humanos…” passa também pela avaliação do grau de realização das acções concretas definidas pelo PARPA II com vista a atingir esse objectivo, designadamente a necessidade de “…a) reformar e unificar o sistema prisional; b) melhorar as condições habitacionais do sistema prisional; c) assegurar a formação e reciclagem do pessoal prisional; d) construir e reabilitar as infra-estruturas prisionais; e e) aumentar as iniciativas de educação e formação profissional para os reclusos”. A conclusão geral que se faz é de que o objectivo de “…garantir ao recluso um tratamento consistente com as normas e princípios internacionais dos direitos humanos” está longe de ser atingido.

É certo que foram dados alguns passos importantes, principalmente no âmbito da unificação formal do sistema prisional, como a criação do SNAPRI (Serviço Nacional de Prisões, Decreto n.º 17/2006, de 17 de Maio) que resulta da junção da então da Direcção Nacional dos Serviços Prisionais

42Assim, são estruturas do SNAPRI, o Serviço de Inspecção Prisional, o Serviço de Controlo Penal e de Execução de Medidas de Segurança, o Serviço correccional e de Reintegração Social, o Serviço de Vigilância e Segurança Prisional, o Serviço de Planifi cação e Desenvolvimento Institucional, o Departamento de Administração e Recursos Humanos, o Departamento de Assistência Sanitária, o Gabinete Jurídico, o Gabinete de Obras e Infra-estruturas Prisionais, a Repartição de Informática, e a Repartição de Relações Públicas.

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do Ministério da Justiça e do Departamento de Administração Prisional do Ministério do Interior e a correspondente afectação dos meios humanos, financeiros e patrimoniais das instituições ora extintas ao SNAPRI, bem como a passagem à gestão do SNAPRI dos estabelecimentos de detenção43 e de execução de penas privativas de liberdade, ora dependentes do Ministério do Interior.

Mas estas acções são quase que uma gota no oceano, se considerarmos a gravidade da situação prisional em Moçambique, onde as acções realizadas não foram suficientes para resolver os principais problemas enfrentados no sistema prisional. Ainda persiste o grave problema da superlotação dos estabelecimentos prisionais, as péssimas condições sanitárias da população reclusa e a dificuldade de assegurar cuidados básicos de saúde, a necessidade de reintegração social dos delinquentes, a falta de motivação e profissionalismo no seio do pessoal e as dificuldades financeiras.

Constitui ainda enorme desafio, a urgente aprovação do pacote legislativo do Serviço Nacional de Prisões, depositado na Assembleia da República por constituir um imperativo inadiável, pois, o sector está a enfrentar graves constrangimentos na gestão dos Recursos humanos por inexistência de quadro único do pessoal cuja institucionalização depende da aprovação desta legislação.

Não menos importante é a solução, a médio prazo, da construção do Complexo Prisional, vista como factor de modernização do

sistema prisional, cujo projecto encontra-se na fase conclusiva e, o inicio de construção, está previsto para o decurso deste semestre. A recomendação essencial para o sector prisional é a necessidade de se cumprir com as acções previstas no PARPA II, em especial a implementação na prática da unificação do sistema prisional, a reabilitação, construção e apetrechamento das infra-estruturas prisionais, melhoria das condições sanitárias e de alimentação e a formação técnico vocacional do recluso para a sua reintegração social e não se esquecendo a formação e reciclagem do pessoal em serviço nas prisões na área dos Direitos Humanos.

Justifica-se ainda, uma reformulação da legislação em vigor, com debate público com outras sensibilidades da sociedade, de forma coordenada e científica, obedecendo um programa delineado e articulado com os operadores jurídicos44 , com respeito pelos princípios inerentes à sistemática das leis, com uso de formas verbais mais simples, que facilite uma adequada interpretação e aplicação e contribua para melhorar o desempenho do sector satisfazendo as expectativas dos utentes. As acções importantes como a “Lei sobre as Medidas Alternativas à Pena de Prisão” e um regulamento sobre as “Regras para o tratamento dos Reclusos” devem ser implementadas com toda a força como desafio premente para a melhoria da imagem do sistema de justiça, com principal zelador dos princípios consagradores dos direitos e liberdades fundamentais, que abaixo desenvolveremos.

II. Qual a ratio da administração da justiça em Moçambique vs aplicabilidade directa dos princípios consagradores de direitos, liberdades fundamentais?

Analisados os desafios do sistema de administração da justiça importa frisar que o direito de recorrer aos tribunais, porque

43Igualmente foram realizadas algumas obras de construção e reabilitação de estabelecimentos prisionais (e.g., construção de uma nova Cadeia de Xai-Xai, a reabilitação da Penitenciária Industrial de Nampula, a reabilitação da Cadeia Civil da Beira e de Moma, estas duas no contexto do Projecto “Palácios da Justiça”) e a entrada de uma secção juvenil na Penitenciária Industrial de Nampula. Outras acções a destacar são a criação de escolas secundárias das Cadeias Centrais de Maputo e Beira, bem como das Penitenciárias industriais e agrícolas de Nampula, Chimoio e Mabalane (Gaza), e do Centro de Reclusão Feminino de Ndlavela (Maputo), através do Diploma Ministerial n.º 130/2002, de 7 de Agosto; a implementação de programas de prevenção, combate e mitigação do HIV/SIDA no seio da população reclusória; e reactivação das actividades produtivas em todos os estabelecimentos prisionais como parte da reforma do sistema prisional e como parte da reeducação dos reclusos.

44Conclusão extraída do 1º Congresso para Justiça, realizada pela OAM em Maputo, cujo lema foi Qualidade e Celeridade da Justiça (13 a 14 de Setembro de 2012), Centro de Conferências Joaquim Chissano.

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inserido no Capítulo III do Título III da Constituição da República de Moçambique45 , integra, inequivocamente, a categoria de direitos, liberdades e garantias individuais e, consequentemente, sujeita-se ao regime específico estabelecido no artigo 56 da Constituição da República de Moçambique, do qual importa destacar os seguintes princípios:

i) aplicabilidade directa dos preceitos consagradores dos direitos, liberdades e garantias;

ii) vinculatividade das entidades públicas e privadas; iii) proibição do excesso, implícita no imperativo de se

justificar a limitação daqueles direitos apenas com base na necessidade de salvaguardar outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos;

iv) reserva da lei formal para a limitação do exercício dos mesmos direitos;

v) exigência de autorização constitucional expressa para a sua limitação através da lei.

Na verdade, se bem que se envolve a eficácia imediata dos preceitos constitucionais consagradores dos direitos, liberdades e garantias, nem sempre implica a exequibilidade imediata desses preceitos, porquanto, muitos direitos, liberdades e garantias precisam de uma optimização legal, outros pressupõem dimensões institucionais, procedimentais e organizatórias criadas pelo legislador – sendo este o caso do sistema de administração da justiça, cuja efectivação implica, nomeadamente, a presença obrigatória dos advogados, a criação e organização de tribunais, bem como, a definição legal dos meios processuais mais adequados para que o sistema de administração da justiça seja operacional.

As mesmas encontram consagração constitucional, desde logo, quando na parte final do artigo 3 da CRM/2004, o legislador

consagra o respeito e garantia dos direitos e liberdades46

fundamentais do Homem como um dos fundamentos do Estado. A protecção jurídica efectiva dos direitos e liberdades , no quadro do Estado de Direito moçambicano em franca consolidação, impõe a atribuição da realização concreta do direito, com o fim de solucionar litigios, a orgãos imparciais particularmente qualificados (…) e que devem ter o monopólio da jurisdição…”; ou seja, a tribunais independentes, perante os quais o cidadão ou outra pessoa jurídica pode exigir o reconhecimento em concreto dos seus direitos, assim como reclamar a reparação dos danos que resultem da sua violação.

O processo existe para garantir o direito de defesa do cidadão e não para funcionar como instrumento de opressão estatal. Tal com os diferentes actores do sistema de justiça, o advogado47 é o garante do processo justo, indispensável à segurança jurídica e a qualidade da distribuição da Justiça – daí as prerrogativas que lhe são inerentes. As prerrogativas do advogado servem para garantir um exercício mais eficaz, independente e autónomo da advocacia. Pois, no exercício da sua profissão e por seu papel indispensável à administração da justiça moderna48

45 Constituição da República de 2004 em vigor.

46Vide a este respeito Acórdão n. 3/CC/2011, de 18 de Outubro (Conselho Constitucional) – que declara a inconstitucionalidade material das normas contidas nos n. 1 e 2 do art. 184 da Lei n. 23/2007, de 1 de Agosto, publicado no Boletim da República, I série, n. 41. Pg 20 . Neste sentido, a Constituição, no artigo 62, sob a epígrafe “…acesso dos cidadãos aos tribunais…” e, no artigo 70, reconhece ao cidadão o direito de recorrer aos tribunais, sendo adequado concluir que existe conexão directa e imediata entre as duas disposições constitucionais em apreço.47 Sem as perrrogativas funcionais dos advogados e garantias do exercício da profi ssão, o advogado não conseguirá defender o cidadão em toda a sua plenitude, sobrelevando-se o poder estatal. Não é possível readmitir a lógica da Idade média, segundo a qual “…a forca está pronta, só falta o processo…”.48O remédio para a globalização da profi ssão, no caso moçambicano, parece estar nas sociedades de advogados e na especialização por áreas jurídicas. Só assim um escritório pode dar resposta às questões, cada vez mais específi cas e complexas que se lhe apresentam. A troca de opiniões, o apoio recíproco e a cada associado, é a primeira e grande vantagem das sociedades de advogados. Outra, e não despicienda, é de ordem, económica-funcional, pois, o apetrechamento do escritório e as despesas correntes fi cam a cargo de todos os sócios. A complexidade que a advocacia moçambicana tem alcançado, pelo desenvolvimento de diversas disciplinas e descoberta de recursos naturais e hidrocarbonetos, vai aconselhando que o seu exercício se realize por uma colaboração entre profi ssionais de diversa especialização. Por outro lado, adesão de Moçambique em comunidades jurídicas como a SADC, UALP, mais impõe esta actividade em equipa e, só os advogados podem constituir ou ingressar neste tipo de sociedade, esta só pode ter por objecto o exercício da advocacia em prol do cidadão.

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, exerce uma função social, que de forma preponderante contribui para a transformação, nos mais diversos âmbitos, da realidade do país49 , daí a necessidade de existência e razão de ser dessas prerrogativas.

Para além de valores50 essenciais existem outros princípios que caracterizam a actividade advocatícia (princípio da liberdade contratual, da natureza não mercantil, da institucionalização, da transparência e da credibilidade). Os advogados devem sobretudo observar o princípio legal-deontológico – que implica a subordinação dos sócios (nas sociedades de advogados) aos deveres deontológicos previstos no EOAM sua exclusão51 da sociedade (no estágio actual) em caso de violação grave dos imperativos legais. Por tratar-se, de um sector de grande impacto para a economia nacional, o sistema de administração da justiça52 não pode estar alheio ao desenvolvimento dos recursos naturais e hidrocarbonetos.

O desenvolvimento da indústria extractiva, é um dado adquirido, um grande desafio e, uma alavanca imprescindível para o desenvolvimento de Moçambique com potencial inestimável para alavancar o seu desenvolvimento económico através da projecção de uma indústria extractiva mineira estratégica com confiança no sistema de administração da justiça, acessível, dai que esta matéria específica, constitua um desafio para o sistema.

C. ACESSO A JUSTIÇA

O acesso à justiça está consagrado na Constituição moçambicana como um direito de todos os cidadãos e como um dever do Estado, ou seja, é dever do Estado garantir o acesso efectivo dos cidadãos à justiça. Não obstante o acesso à justiça ser um dever do Estado, os tribunais judiciais são inacessíveis para muitos moçambicanos quer por causa da distância cultural entre o cidadão e os tribunais, quer por causa da distância geográfica. Apontam-se nesse sentido as reformas legais adoptadas; o aumento de infra-estruturas relacionadas com o acesso à justiça, com especial enfoque à implantação dos palácios da justiça; e a celeridade processual, ligada à melhoria qualitativa das decisões proferidas pelos tribunais.

Uma grande mudança do cenário do acesso à justiça em Moçambique, passa pela reconsideração completa de todo o quadro sistémico e institucional da administração da justiça, incluindo no quadro de uma revisão Constitucional. Igualmente, parece razoável pensar-se num cenário em que parte das funções desempenhadas pelo IPAJ possam ser cumpridas indirectamente pelas organizações da sociedade civil, quer através de um processo de delegação de competências, quer através de um processo de descentralização na administração da assistência jurídica estatal, incluindo dos fundos do OE alocados através do IPAJ53 .

53Para este efeito, é de recomendar como uma das acções no contexto do próximo PARPA a aprovação pelo Estado de um estatuto próprio para os agentes das organizações da sociedade civil envolvidos na assistência e aconselhamento jurídicos, nomeadamente os “paralegais”, aliás, como recomenda a Comissão Africana dos Direitos Humanos e do Povos relativamente ao dever dos Estados membros da UA na garantia de um julgamento justo e equitativo. Um aspecto positivo que não deverá ser perdido de vista é que os novos Estatutos da Ordem dos Advogados prevêem que a última fase do estágio seja feita no IPAJ. Isto pressupõe que o IPAJ seja dotado de recursos fi nanceiros para fazer deslocar aqueles profi ssionais para os distritos. Pensando num indicador neste contexto seria o “número de advogados da Ordem de Advogados em estágio nos distritos ao serviço IPAJ”.

49Ordem dos Advogados do Brasil –OAB/RS, Gestão 2012-2012, Manual de Defesa das Prerrogativas dos Advogados, disponível na internet em http://www.oabjoinville.org.br/materiais/24/MANUAL-DE-DIREITOS-E-PRERROGATIVAS-DO-ADVOGADO.pdf50A Ordem dos Advogados de Moçambique tem como visão “…o estabelecimento de uma ordem dos advogados de Moçambique independente, credível, acessível, actuante, efi ciente e efi caz na defesa da ordem jurídica nacional, das instituições democráticas, dos direitos dos cidadãos, dos seus membros e dos princípios de justiça popular…”. A sua missão é de contribuir para a consolidação do Estado de Direito democrático, através da defesa da Constituição, dos direitos fundamentais dos cidadãos, da dignidade e prestígio da profi ssão de advogados, assim como promover o respeito pelos respectivos princípios deontológicos profi ssionais pelos seus membros. São valores dignos do advogado (o compromisso social, efi ciência, efi cácia, ética, imparcialidade, impessoalidade, independência e transparência, consagrados e respeitados no seio da família dos advogados moçambicanos. 51No âmbito do combate a procuradoria ilícita, o advogado, contudo, não perdeu, nem deve perder, as suas características essenciais de consultor, confi dente, patrono e servidor da justiça. Parafraseando Ortega Y Gasset, o advogado é ele e a sua circunstancia. Se deve adaptar-se às novas realidades, como todas as profi ssões, não pode esquecer o seu papel na comunidade, nem que a sua função é sempre personalizada. Mesmo quando se recorre a uma sociedade de advogados, o cliente procura, em regra, um determinado advogado em quem deposita confi ança. Se este encarrega outro, do mesmo escritório, de tratar do caso, por não ser da sua área, delega nele esse capital de confi ança.Quando a confi ança social não for relevante para a escolha do patrono, a advocacia deixará de prestar um serviço e passará a vender uma mercadoria. Se a complexidade da vida tornou o advogado diferente de seus pares antigos e recentes, os grandes princípios deontológicos e os objectivos da função mantém-se inalteráveis, como fi o invisível que une e identifi ca, ao longo dos séculos, os profi ssionais do foro. A alma da toga não mudou, nem pode mudar. A ética é a pedra angular da dignidade da advocacia. Sem ela a profi ssão seria um mecenato.52 Para alavancar o desenvolvimento deste sector, dois aspectos devem ser tidos em conta para que o papel deste sector seja visível e tenha impacto positivo na vida das populações e para a economia de Moçambique, a transparência e a gestão responsável dos recursos. Pois, não existe desenvolvimento económico sem que haja um esforço político ajustado, ou seja, não é pela mera existência de potencialidades minerais que Moçambique passará a conhecer algum desenvolvimento económico sem contar nem interagir com um sistema de justiça fi ável, robusto, célere e de proximidade com as populações.

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O Estado moçambicano, no cumprimento do seu dever de garantir o acesso à justiça, tem procurado contornar os obstáculos culturais e geográficos ao acesso à justiça, como por exemplo a construção de palácios de justiça nos distritos. Em relação à proximidade geográfica, o Governo tem empreendido esforços no sentido de facilitar o acesso à justiça aos cidadãos que dele carecem através da aproximação das instituições de administração de justiça às comunidades. É neste âmbito que o Governo, com apoio financeiro da União Europeia e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, tem instalado nos distritos palácios de justiça, infra-estruturas estas que incluem residências para os magistrados, o Tribunal, a Procuradoria, a Polícia de Investigação Criminal e o Instituto de Patrocínio Jurídico.

A instalação do Palácio da Justiça visa facilitar o acesso à Justiça aos cidadãos que dela carecem, não só através da aproximação geográfica das instituições do sector, no mesmo edifício, mas através de melhoramento do diálogo entre as instituições da Justiça de forma a ligá-las profundamente às necessidades reais da população. Não obstante os esforços do Governo em tornar a justiça mais próxima da população, a base infra-estrutural para a garantia do acesso à justiça é insuficiente, pois, o país conta actualmente com cinco palácios de justiça edificados nas provinciais de Nampula, Sofala e Inhambane. Como reconhece o Plano Estratégico Integrado de Justiça (PEIJ), a distância geográfica permanece um entrave ao acesso à justiça. Os custos54 financeiros para o cidadão comum são demasiados elevados.

O Relatório de Avaliação de Moçambique de Julho de 2009, reconhece que os Tribunais Judiciais distritais não são acessíveis às pessoas que vivem em zonas remotas devido à distância e aos recursos. No mesmo relatório afirma-se que as normas ou regras de justiça não são entendidas pelas populações e que os cidadãos

analfabetos têm muita dificuldade em aceder a informação que facilite o conhecimento dos seus direitos constitucionais. Apesar de se constatarem também, por outro lado, melhorias no desempenho e meios operacionais da Polícia55 , bem como no que se refere a políticas no sentido de maior relacionamento com a população.

Por outro lado, no que diz respeito à relação entre o cidadão e a justiça informal, uma maior proximidade tem como efeitos não só uma resolução dos problemas com um conhecimento directo e possibilidade de maior celeridade e justiça material, mas também um menor custo no caso concreto, uma vez que não estarão envolvidos custos de deslocações. Tal importa também, no propósito de se estabelecer uma relação participativa e equilibrada na colaboração entre as comunidades e a Polícia.

Já numa vertente mais específica que é a das comunidades usarem instituições que devem ser-lhes próprias como sejam os tribunais comunitários para a resolução vinculativa e coerciva de conflitos que afectam seriamente as relações no seio das comunidades mesmas, importa promover a intervenção dos tribunais comunitários, no quadro das suas competências legais, alargando-se a rede de colaboração e participação para uma maior segurança pública em cada comunidade de residência.

A justiça é ainda distante dos cidadãos e há ainda um longo caminho a percorrer. O direito escrito deve adequar-se à realidade e servir de padrão de conduta geral com um sentido paradigmático, tanto quanto mais partilhado pela sociedade no seu conjunto melhor, sendo fundamental envolver a sociedade

54Em média, as deslocações de ida e volta até as vilas podem custar ao cidadão um valor aproximado a 240,00 MT (duzentos e quarenta meticais).

55 há na Polícia, por um lado, insufi ciência de quadros com formação profi ssional adequada a esses propósitos. De referir que estas insufi ciências têm, de entre outras, como consequências a cobertura incompleta do território nacional e das ocorrências que justifi cariam a participação dos agentes da Polícia de Segurança Pública. Efectivamente, os Comandos, Esquadras e Postos Policiais existentes são numericamente inferiores às necessidades, com efectivos exíguos, meios materiais e fi nanceiros escassos e, em muitos casos, o seu pessoal possui baixo nível académico e profi ssional. Há necessidade de se criarem mais postos policiais, especialmente nas comunidades e bairros distantes das sedes distritais, como forma de descentralização e de expandir o acesso a serviços da polícia, com vista á melhoria da proximidade entre o cidadão e a justiça formal.

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nas reformas legislativas. Para o efeito, importa encontrar métodos que tornem mais acessível o debate de temáticas de política legislativa e de conteúdos ou temas a legislar e suas opções, evitando a entrada em discussões de textos redigidos de forma articulada que dificultam o entendimento pelo cidadão. É, por outro lado, necessário inverter o sentimento do cidadão comum de que o judiciário é parte de um ambiente que tendencialmente lhe é hostil e distante. Ressalvamos que a formação e a capacitação dos vários agentes na cultura de que a justiça serve os cidadãos é factor preponderante se ligado a mudanças efectivas no relacionamento e processos de prestação de serviços aos cidadãos que recorram às instituições do judiciário.

É necessário aumentar o número de magistrados e melhorar sua formação, bem como capacitar outros agentes de justiça. Estas medidas devem associar-se a outras no sentido de melhorar a celeridade processual e a informação sobre os estágios do processo às partes no processo ou seus representantes.

O aumento da cobertura geográfica dos tribunais deve constituir uma prioridade, devendo ter-se em consideração a criação de postos policiais e tribunais judiciais móveis para resolver casos de cidadãos sem meios para se deslocar às sedes distritais.

É fundamental dar continuidade ao projecto de construção de palácios de justiça com vista a diminuir o tempo, os custos das deslocações, assim como aproximar as instalações de justiças às comunidades distantes. Um melhor funcionamento dos cartórios e secretarias das instituições de justiça tem também impacto a considerar na relação com os cidadãos que careçam de serviços por parte do judiciário.

A tarefa da regulamentação dos tribunais comunitários deve constituir uma prioridade imediata, com vista a promover uma justiça mais próxima dos cidadãos e garantir o seu funcionamento como parte de um Estado de direito democrático.

CONCLUSÃO

1. No âmbito do que foi planeado o Governo aumentou o investimento para infra-estruturas e para formação de quadros tendo nos anos de 2007 e 2008, realizado maior número de acções pertinentes a administração da justiça em Moçambique.

2. Na verdade, se bem que se envolve a eficácia imediata dos preceitos constitucionais consagradores dos direitos, liberdades e garantias, nem sempre implica a exequibilidade imediata desses preceitos, porquanto, muitos direitos, liberdades e garantias precisam de uma optimização legal, outros pressupõem dimensões institucionais, procedimentais e organizatórias criadas pelo legislador – sendo este o caso do sistema de administração da justiça, cuja efectivação implica, nomeadamente, a presença obrigatória dos advogados, a criação e organização de tribunais, bem como, a definição legal dos meios processuais mais adequados para que o sistema de administração da justiça seja operacional.

3. Olhando para o conjunto das acções previstas no âmbito da reforma legal apercebemo-nos de uma intenção de uma reforma mais profunda e abrangente que encarasse os serviços e instituições ligadas ao sector da justiça como um todo e daí a necessidade de um quadro legal e institucional mais sistémico e holístico. Em consequência a necessidade de uma plataforma legal que servisse de base às várias reformas e sub-reformas dos vários sistemas e subsistemas de serviços e institucionais que integram a justiça.

4. Igualmente é de apontar a reforma da legislação sobre o Ministério Público e da respectiva máquina operativa, a Procuradoria-Geral da República e instituições subordinadas, que trouxe uma maior clareza e garantias da legalidade na acção dos Procuradores. Mas os novos Estatutos dos magistrados (juízes e procuradores) trouxeram resultados diferentes na motivação profissional e social por parte

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destes, dado que muitos dos direitos e regalias previstas não entraram em vigor ou são concretizadas de forma diferente de tribunal para tribunal ou de contexto para contexto.

5. Num outro plano e relativamente as custas judiciais, com o fim de permitir um exercício mais amplo do direito ao recurso pelo cidadão e como parte do objectivo do “julgamento justo e equitativo”, a nova reforma prevê que a falta de pagamento de preparos para recursos em processo cível não traga como consequência o arquivamento e extinção automática do recurso e com isso a possibilidade do desfecho do caso pelo seu trânsito em julgado tal como acontecia à luz dos comandos legais anteriores. Mas esta medida em si é considerada algo controversa56

pelos juízes e procuradores, dizem que enquanto se confere maiores garantias processuais a uma parte (neste caso à parte vencida) se frustra as expectativas do outro interveniente processual (a parte que ganha a causa) que fica agora facilmente a mercê da parte vencida que pode usar deste “direito” processual como um expediente para fazer simplesmente atrasar o fim do caso e com isso o cumprimento das eventuais obrigações que lhe impôs o tribunal de primeira instância.

6. As reformas legais e todos os esforços do Governo e do sector têm estado igualmente orientados para a remoção dos custos financeiros57 como um dos obstáculos no acesso a justiça. Mas todas as medidas que se tomem neste contexto

esbarram-se com uma barreira quase sagrada e inamovível: o Código das Custas Judiciais vigente. Pois, enquanto este não for revisto e minimizado o peso financeiro para o pobre que decorre da sua aplicação de nada servirão todas as medidas e reformas que forem tomadas na periferia desse código.

7. Algumas das áreas em que se pode assinalar melhorias no período analisado são a celeridade processual e a qualidade e justeza das decisões judiciais. Isto fica evidenciado pela subida do número de casos resolvidos pelos tribunais judiciais, dos processos em recurso resolvidos pelos Tribunais Superiores de Recurso (baixados pelo Tribunal Supremo) bem como pela subida de intervenções da Procuradoria- Geral da República no âmbito da perseguição criminal e da garantia dos direitos do arguido (detido) e a redução do número da população prisional sem julgamento ou sem a sua situação de detenção legalizada pelo Juiz.

8. Esta melhoria é, evidentemente, fruto da concorrência de acções como a formação e colocação de magistrados (juízes e procuradores) com nível superior nos distritos, as inspecções regulares conduzidas pelo Conselho Superior da Magistratura Judicial e as levadas a cabo pela Procuradoria-Geral da Republica, a introdução dos processos de monitoria e avaliação do desempenho dos juízes e procuradores, o crescente aumento do número de advogados (actualmente 950 advogados inscritos na OAM), a afectação de agentes da polícia com o nível superior formados pela ACIPOL para a PIC, a contínua capacitação dos oficiais de justiça, as novas exigências académicas impostas aos escrivães dos tribunais e a contínua melhoria dos salários dos juízes e procuradores.

9. Neste quadro, é preciso entender tanto a situação do Juiz como do Procurador moçambicano cuja acção e actuação transcorre dentro do circunstancialismo, agravado por um quadro de correlação de forças entre os poderes legislativo,

56Portanto, agora os recorrentes têm um período de quase um ano dentro do qual se podem organizar fi nanceiramente e voltar para o tribunal para pagar os custos judiciais do recurso para que este possa ser tramitado. No entanto, esta solução inovadora para o recorrente não foi acompanhada da revisão do Código das Custas, o que faz com que na prática os tribunais continuem a exigir os preparos dentro dos prazos anteriores sob pena de se considerar o recurso como abandonado sem se esperar pelos novos prazos indicados na legislação processual.57Sabe-se por exemplo que mesmo o “mecanismo de atestado de pobreza” tem ajudado pouco pois em vez de facilitar o acesso aos tribunais pelos carenciados se tem mostrado ser um obstáculo na medida em que o cidadão necessitado tem de pagar valores nada insignifi cantes junto das estruturas do seu local de residência para a obtenção do documento comprovativo de estado de pobreza.

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executivo e judicial muito a desfavor deste último, para além de todo o contexto geral do Estado de Direito Democrático ainda muito incipiente em que o país se encontra. Nestas circunstâncias não é suficiente medir a independência e a imparcialidade do judiciário através de indicadores clássicos como a existência ou não de interferência directa dos centros reais do poder político (o Governo, os interesses corporativos e outras elites sociais) nas decisões dos tribunais ou das procuradorias porque basta a consciência por parte do juiz ou do procurador sobre a realidade da causa para tomar muitas cautelas.

10. Os desafios do sistema de administração da Justiça - encontram consagração constitucional, na parte final do artigo 3 da CRM/2004. O legislador consagra o respeito e garantia dos direitos e liberdades fundamentais do Homem como um dos fundamentos do Estado. A protecção jurídica efectiva dos direitos e liberdades58 , no quadro do Estado de Direito moçambicano em franca consolidação, impõe a atribuição da realização concreta do direito, com o fim de solucionar litigios, a orgãos imparciais particularmente qualificados (…) e que devem ter o monopólio da jurisdição…”.

11. A conclusão geral sobre esta temática, indica que o combate efectivo contra a corrupção no judiciário ainda não descolou das palavras e promessas das lideranças políticas do Estado e das magistraturas. Ou seja, há muita crítica discursiva contra a corrupção, porém, não estão a ser postos em prática mecanismos exequíveis, eficientes e transparentes de combate ao fenómeno no judiciário. A reforma da

58Vide a este respeito Acórdão n. 3/CC/2011, de 18 de Outubro (Conselho Constitucional) – que declara a inconstitucionalidade material das normas contidas nos n. 1 e 2 do art. 184 da Lei n. 23/2007, de 1 de Agosto, publicado no Boletim da República, I série, n. 41. Pg 20 . Neste sentido, a Constituição, no artigo 62, sob a epígrafe “…acesso dos cidadãos aos tribunais…” e, no artigo 70, reconhece ao cidadão o direito de recorrer aos tribunais, sendo adequado concluir que existe conexão directa e imediata entre as duas disposições constitucionais em apreço

Inspecção judicial, através da introdução de mecanismos de fiscalização independente e participativa, envolvendo organizações da sociedade civil que actuam no sector da justiça e a Ordem dos Advogados de Moçambique parece constituir uma alternativa face “ao status quo”.

12. A eficácia imediata dos preceitos constitucionais consagradores dos direitos, liberdades e garantias, implica a exequibilidade imediata, por parte dos magistrados, desses preceitos no processo de composição de litígios. Note-se que muitos direitos, liberdades e garantias precisam de uma optimização legal, outros pressupõem dimensões institucionais, procedimentais e organizatórias criadas ou a criar pelo legislador.

13. Os actores do sistema de administração da justiça também servem para garantir um exercício mais eficaz, independente e autónomo da advocacia e do IPAJ, pois, no exercício da sua profissão e por seu papel indispensável à administração da justiça moderna59 , exerce uma função social, que de forma preponderante contribui para a transformação, nos mais diversos âmbitos, da realidade do país60 , daí a necessidade de sua existência e razão de ser.

59O remédio para a globalização da profi ssão, no caso moçambicano, parece estar nas sociedades de advogados e na especialização por áreas jurídicas. Só assim um escritório pode dar resposta às questões, cada vez mais específi cas e complexas que se lhe apresentam. A troca de opiniões, o apoio recíproco e a cada associado, é a primeira e grande vantagem das sociedades de advogados. Outra, e não despicienda, é de ordem, económica-funcional, pois, o apetrechamento do escritório e as despesas correntes fi cam a cargo de todos os sócios. A complexidade que a advocacia moçambicana tem alcançado, pelo desenvolvimento de diversas disciplinas e descoberta de recursos naturais e hidrocarbonetos, vai aconselhando que o seu exercício se realize por uma colaboração entre profi ssionais de diversa especialização. Por outro lado, adesão de Moçambique em comunidades jurídicas como a SADC, UALP, mais impõe esta actividade em equipa e, só os advogados podem constituir ou ingressar neste tipo de sociedade, esta só pode ter por objecto o exercício da advocacia em prol do cidadão.60Ordem dos Advogados do Brasil –OAB/RS, Gestão 2012-2012, Manual de Defesa das Prerrogativas dos Advogados, disponível na internet em http://www.oabjoinville.org.br/materiais/24/MANUAL-DE-DIREITOS-E-PRERROGATIVAS-DO-ADVOGADO.pdf

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Principais Referências Bibliográficas

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2. Lei nº. 24/2007, de 20 de Agosto - aprova a Lei da Organização Judiciária.

3. Lei nº. 28/2009, de 29 de Setembro – aprova o Estatuto da Ordem dos Advogados de Moçambique, BR n. 38, I série.

4. Lei nº 16/2012, de 14 de Agosto – Lei de Probidade Pública, publicada no BR nº 32, I série.

5. Lei nº 17/2012, de 14 de Agosto – Estabelece princípios e critérios de organização territorial, publicada no BR, nº 32, I Série.

6. Código de Processo Civil e Legislação Complementar – Compilação produzida por Filipe Sebastião Sitoi. Ministério da Justiça, CFJJ, Maputo, 2010.

7. Avaliação Sumária do Impacto das realizações do PARPA II no acesso à Justiça (2009) elaborado pela MGA & Lex Terra -

8. Independência do Poder Judiciário: A experiência moçambicana – Comunicação feita no 1º Congresso para Justiça, organizado pela OAM, pelo Dr. João Nguenha, Venerando Juiz Conselheiro do Conselho Constitucional.

9. Independência do Poder Judiciário: experiência brasileira - Comunicação feita no 1º Congresso para Justiça, organizado pela OAM, pelo Dr. Ophir Cavalcante Júnior, Bastonário da Ordem dos Advogados do Brasil.

10. Documento final relativo ao VIII Conselho Coordenador do Ministério da Justiça – realizado em Inhambane, Julho 2012.

11. Ordem dos Advogados de Moçambique. Plano Estratégico da Ordem dos Advogados de Moçambique (2009-2014). Maputo, 2009. Elaborado sob coordenação de Filipe Sebastião Sitoi e seu escritório de advogados - Advocacia Consultoria e Serviços, Lda.

12. Instituto do Patrocínio e Assistência Jurídica – IPAJ. Plano Estratégico de Defesa Legal do Cidadão Carenciado. Maputo. 2008. Elaborado sob coordenação de Filipe Sebastião Sitoi e seu escritório de advogados - Advocacia Consultoria e Serviços, Lda.

13. Legislação Judiciária (2010). Imprensa Nacional, Moçambique.

14. Prerrogativas de Advogado – Direito do Cidadão – Apresentação de Filipe Sebastião Sitoi, no Congresso da UALP (União Africana dos Advogados de Lingua Portuguessa), Luanda, 2012.

15. Ministério da Justiça (2006). Visão da Justiça: Plataforma para Discussão. Maputo, Moçambique.

16. Open Society Iniciative for Southern Africa (2006). Moçambique o Sector da Justiça e o Estado de Direito.

17. República de Moçambique - Plano de Acção da Redução da Pobreza Absoluta 2006-2009 (PARPA II).Maputo, Moçambique.

18. Acesso à Justiça. Mauro Cappelleti e Bryant Garth, Porto Alegre/ 1988.

19. Hermenegildo Pedro Chambal. Denegação de Justiça como fundamento da Responsabilidade civil por actos jurisdicionais. Ministério da Justiça – Centro de Formação Jurídica e Judiciária.Maputo, 2009.

20. Santos, Boaventura de Sousa e Trindade, João Carlos (2003); «Conclusões»; in Santos, Boaventura de Sousa e Trindade, João Carlos (org.); Conflito e Transformação Social: Uma Paisagem das Justiças em Moçambique; Porto: Afrontamento; Vol II; pp. 525-580.

21. Gomes, Conceição; Fumo, Joaquim; Mbilana, Guilherme; Santos, Boaventura de Sousa (2003); «Os tribunais comunitários»; in Santos, Boaventura de Sousa e Trindade, João Carlos (org.); Conflito e Transformação Social: Uma Paisagem das Justiças em Moçambique, Vol. II; Porto: Afrontamento; pp. 189-340.

22. Araújo e José (2007); Pluralismo jurídico, legitimidade e acesso à justiça. Instâncias comunitárias de resolução de conflitos no Bairro de Inhagoia «B». Maputo;

23. Oficina do CES; 284; Coimbra: CES.

24. Comoane, Paulo (2007); Access to Justice and Rule of Law; Maputo, disponível em http://www.undp.org/legalempowerment/reports/National%20Consultation%20Reports/Country%20Files/19_Mozambique/19_3_Access_to_Justice.pdf

25. OSISA (2006); Moçambique. O Sector da Justiça e o Estado de Direito Meneses, Maria Paula; Fumo, Joaquim; Mbilana, Guilherme; Gomes, Conceição (2003);

26. «As autoridades tradicionais no contexto do pluralismo jurídico»; in Santos, Boaventura de Sousa e Trindade, João Carlos (org.); Conflito e Transformação Social: Uma Paisagem das Justiças em Moçambique, vol II; Porto: Afrontamento; pp. 321-420.

27. Sachs, Albie; Welch, Gita Honwana (1990) Liberating The Law. Creating Popular Justice in Mozambique; London e New Jersey: Zed Books.

28. Trindade, João Carlos e Pedroso, João (2003); «A caracterização do sistema judicial e do ensino e formação jurídica»; in Santos, Boaventura de Sousa e Trindade, João Carlos (org.); Conflito e Transformação Social: Uma Paisagem das Justiças em Moçambique; Vol. I; Porto: Afrontamento; pp. 259-318.

29. Francisco, António Alberto da Silva (2003); «Reestruturação económica e desenvolvimento»; in Santos, Boaventura de Sousa e Trindade, João Carlos (org.); Conflito e Transformação Social: Uma Paisagem das Justiças em Moçambique; Porto: Afrontamento, Vol. I; pp. 141-178.

30. Araújo, Sara (2008), O Estado e as instâncias comunitárias de resolução de conflitos em Moçambique, comunicação apresentada na/o 12th CODESRIA General Assembly - Governing the African Public Sphere, Yaoundé, 07 a 11 de Dezembro.

31. LDH (2007); Direitos Humanos em Moçambique; Maputo

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OS DESAFIOS DO SISTEMA DE ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA EM MOÇAMBIQUE

(Comentário ao texto de Filipe Sitoi)

Por: Tomás Luís Timbane

I. Parece inquestionável que a Justiça moçambicana atravessa uma crise. Muitos estudos e investigações foram feitos e confirmam o estado em que se encontra nossa Justiça, sendo que diversos factores contribuem para a actual situação, desde a deficiente legislação – que, muitas vezes, não toma em consideração a realidade dos seus principais destinatários – a inexistência de meios humanos e materiais adequados para um melhor desempenho do sector, um desadequado sistema de acesso à justiça (encargos elevados e apoio judiciário insuficiente) e um processo de formação de profissionais da área que, para além de não estar a altura das necessidades do país, parece ser deficiente.

É, antes de tudo, importante chamar a atenção que, muitas vezes, quando se fala de sistema de administração da justiça pretende-se, tão-somente, abordar a justiça formal, mas não podemos perder de vista que em Moçambique existem diversos sistemas de justiça, o que, aliás, levou o legislador constituinte de 2004, a consagrar o pluralismo jurídico.

II. Coincidentemente, a administração da justiça tem assistido, nos últimos meses, a diversos encontros e debates sobre a necessidade de melhorar a Justiça, realizados não só pelas instituições de administração da justiça, como por entidades políticas e da sociedade civil, prova de que a preocupação de melhorar o seu desempenho é constante não só para os operadores judiciários, mas também para as instituições públicas, privadas e para a sociedade civil.

No dia 14 de Março de 2012, o Ministério da Justiça e a Liga dos Direitos Humanos organizaram a Primeira Conferência Nacional sobre o Acesso à Justiça em Moçambique; nos dias 26 e 27 de Junho a Procuradoria-Geral da República realizou Jornadas Jurídicas61 e, aquando da Semana do Advogado (10 a 14 de Setembro de 2012), a Ordem dos Advogados de Moçambique organizou o Primeiro Congresso da Justiça 62.

No seu discurso de abertura do referido Congresso da Justiça, S.Exa. o Presidente da República referiu que devemos todos reafirmar o nosso compromisso em garantir que os vários intervenientes nos sistemas de resolução de conflitos ocupem o espaço que a Constituição da República lhes reserva. Para além disso, referiu que devemos manter a nossa determinação para assegurarmos uma Justiça de qualidade e célere, uma Justiça que esteja à altura e que seja o promotor e o esteio dos progressos que temos estado a registar e almejamos para as diversas áreas da intervenção humana.Na verdade, a preocupação que deve existir não é só de garantir uma justiça rápida e de qualidade exercida pelos órgãos da administração da justiça “oficial”, mas também não perder de vista que só haverá justiça se todo o povo moçambicano puder dela usufruir, seja qual for o modelo de organização da justiça em que se insere.

Em consequência dessas preocupações, convida-nos o Gabinete de Estudos da Presidência da República para discutirmos sobre os desafios que o sector da administração da justiça enfrenta.

Dr. Tomás Timbana, moderador e comentador do seminário sobre a justiça

61Jornadas que foram realizadas sob o lema “Pelo reforço da eficiência e da eficácia do Ministério Público”.62Muitas das sugestões feitas para responder aos desafios que o sistema de administração da justiça enfrenta coincidem com as conclusões e recomendações do 1.º Congresso da Justiça, as quais foram publicadas no 6.º Boletim Informativo da Ordem dos Advogados de Moçambique de 6 de Outubro de 2012 (www.oamoz.org/Docs/BI/BoletimInformativo-6Edicao.pdf).

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III. Uma das grandes preocupações dos operadores judiciários em particular e dos cidadãos em geral relaciona-se com a morosidade processual, que se traduz em processos demasiadamente demorados, procedimentos excessivamente burocráticos e incompreensíveis para o comum dos cidadãos. Foi essa uma das preocupações daquele 1.º Congresso da Justiça mas, como os seus organizadores o referiram, trata-se, apenas, de um dos problemas que o sector enfrenta.

A morosidade processual é causa de graves injustiças, mas há outros problemas que não podem ser minimizados: as questões do acesso à justiça, os encargos que o comum dos cidadãos tem de suportar, a debilidade das infra-estruturas, a qualidade técnica dos actores do sistema de administração da justiça, o desconhecimento das leis pelos cidadãos, etc., pelo que uma actuação integrada é essencial.

O acesso à justiça é um direito fundamental, sendo, aliás, em certo sentido, o direito mais importante que pode existir num Estado de Direito: é por ele que se pode usufruir de todos os outros direitos. Por exemplo, a protecção do direito à vida, à propriedade, ao investimento, ao bom nome, à intimidade, ganham expressão justamente porque em caso de violação de qualquer deles, é possível recorrer às instituições da administração da justiça para a sua protecção.

IV. O país está sujeito a enormes desafios: económicos, sociais, políticos, mas muitos deles têm sido enfrentados com sucesso e o ambiente que tem sido criado permite augurar que é possível obter resultados muito mais expressivos. A descoberta e exploração dos recursos naturais e dos hidrocarbonetos e a sua crescente importância no concerto das nações, o desenvolvimento das tecnologias de informação63, a crescente crise de valores morais e éticos da sociedade64, trazem ao sector da justiça enormes desafios aos quais se juntam os que, ao longo dos anos, foram existindo,

como a fraca qualidade dos profissionais do sector, leis deficientes e arcaicas, exiguidade dos recursos disponíveis, etc..

É neste contexto que o Mestre Filipe Sitoi aborda o tema reconhecendo a diversidade dos desafios que o sector enfrenta. Apesar de a exposição ser densa65 , em alguns casos repetitiva e abarcar aspectos marginais aos desafios que se colocam ao sector da administração da justiça, podemos surpreender, na abordagem feita pelo orador, 6 (seis) aspectos essenciais:

O primeiro aspecto que é apontado, esse de carácter geral, relaciona-se com a necessidade de uma crescente formação e especialização dos sujeitos do sistema: magistrados, advogados, investigadores criminais, funcionários judiciais e técnicos e assistentes jurídicos, vê-se, hoje em dia, com novas realidades, o que impõem, pois, um fortalecimento das suas capacidades. Se, em condições normais, sempre foi consensual que os recursos humanos do sector da justiça careciam de qualificações técnicas para uma melhor actuação, os desafios que o país enfrenta exigem ainda mais dos mesmos. Do ponto de vista quantitativo, só para ilustrar, em finais de 2011 existiam no país 293 (duzentos e noventa e três) magistrados judiciais para um universo de 23 (vinte e três) milhões de habitantes, muitas vezes residentes em espaços territoriais longe dos tribunais. Como é evidente, este número é manifestamente inferior às necessidades do país.

Em termos médios podemos dizer que o Centro de Formação Jurídica e Judiciária (CFJJ) formou, nos 12 anos da sua existência, menos de 40 (quarenta) magistrados por ano, sendo que todos os formados são imediatamente absorvidos pelos tribunais e Ministério Público. Se é verdade que deve aumentar o número de formados, o Mestre Filipe Sitoi

63O Facebook, uma das redes sociais mais usadas, só foi criada em 2004, mas hoje constitui uma das ferramentas de comunicação mais importantes do mundo, sendo usado por mais de 1 bilião de pessoas, mais de metade das quais através do telemóvel. 64Basta exemplifi car com a crescente onda de justiça pelas próprias mãos (linchamentos), raptos, tráfi co de órgãos humanos, etc. para constatar a existência de crimes que aliados a diversos factores, tem na crise dos valores morais um dos aspectos essenciais.

65O Seminário tinha como título os “Os Desafi os da Administração da Justiça em Moçambique”, tendo como enfoque três pontos fundamentais: a formação dos magistrados, as infra-estruturas e a reforma legal. Para além de abordar estes três pontos, o orador faz referência, com conhecimento de causa, aos problemas da garantia do acesso à justiça e o impacto da reforma prisional que podendo estar ligado à reforma legal. Um dos aspectos que afl ora é o impacto do pluralismo jurídico que resulta da reforma legal o que se refl ecte na melhoria da celeridade processual. Um dos desafi os que julgamos se coloca ao nível da reforma legal mas que nunca foi concretizado, é, justamente, o da concretização do pluralismo jurídico consagrado em 2004. Desde que o mesmo foi consagrado na Constituição de 2004, não notamos nas actividades do Ministério da Justiça, através da UTREL – Unidade Técnica de Reforma Legal, qualquer preocupação em densifi car e regulamentar os termos e as condições em que se poderiam aplicar os diversos sistemas normativos que existem na sociedade moçambicana.

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chama a atenção que há lacunas em aspectos básicos da formação, pelo que há necessidade de aumentar a qualidade dos mesmos, através, por exemplo, duma interacção entre o CFJJ, a Ordem dos Advogados e as diversas Escolas do ensino de Direito, no melhoramento dos planos de formação de uns e outros. Sugere, ainda a necessidade de contribuir para a definição do perfil do Jurista em Moçambique66 , evitando um aumento de magistrados com duvidosa qualidade, pois isso reflecte-se na qualidade da justiça.

Ainda que não esteja claro que impacto teria a definição do perfil do Jurista em Moçambique, não deixa de ser verdade que há necessidade de uma formação de base genérica de todo o jurista formado em Moçambique, tomando em conta a realidade do país e os desafios que as diversas áreas impõem à justiça.

É, aliás, importante sublinhar que a justiça é instrumental, não é um fim em si mesmo, pelo que os seus sujeitos nunca podem perder de vista que a mesma visa a prossecução e, sobretudo, defesa de outros interesses, das mais diversas áreas da vida em sociedade.

V. O segundo aspecto que é apontado pelo Mestre Filipe Sitoi é o da necessidade de aproximação das instituições da justiça aos cidadãos, não só do ponto de vista geográfico, mas, sobretudo, das suas normas e procedimentos. Neste âmbito ganha particular destaque a ausência de informação, agravada pela percepção de um certo elitismo como o cidadão vê as pessoas que lidam, no seu dia-a-dia, com a justiça.

Se o cidadão deve solicitar a intervenção das instituições da justiça para resolver um certo conflito de interesses, é mais do que evidente a necessidade do mesmo compreender a linguagem que lá se usa. Mais do que tomar em consideração a necessidade de responder aos desafios resultantes das necessidades decorrentes do desenvolvimento económico e social, dos diversos estudos que refere, o Mestre Filipe Sitói ilustra-nos

que a diversidade do país e das suas gentes, impõe que as instituições de administração da justiça estejam à altura de responder aos desafios que essa particular característica dos cidadãos do nosso país impõe.

VI. Ainda que não o tenha dito, impõem-se reflectir sobre os tribunais comunitários, a necessidade da sua regulamentação e a definição da sua natureza. Trata-se de instituições que julgam conflitos de interesses, pelo que não podem deixar de ser considerados como. Do mesmo modo, o conhecimento dos usos e costumes locais pelos operadores do sistema em geral e dos magistrados em particular, revela-se de extrema importância, pois, muitos aplicam leis sem tomar em conta o contexto em que se encontram, quando a Constituição prevê a existência do pluralismo jurídico.

Na verdade, o sistema de ensino do Direito em Moçambique caracteriza-se por potenciar a reprodução pelos professores e estudantes do sistema de leis vigentes, quando a Constituição da República inculca a ideia de que os aplicadores do Direito devem ter a capacidade de conciliar o direito positivo e o direito consuetudinário, como decorrência do pluralismo jurídico. Sendo assim, um dos desafios que se coloca é justamente o de encontrar um ponto de equilíbrio entre o o sistema legal e os diferentes sistemas normativos, ainda que estes só sejam reconhecidos e, por consequência, aplicados na medida em que não contrariem os valores e os princípios fundamentais da Constituição (art. 4).

Explicar os termos em que está elaborado o princípio da coexistência dos diversos sistemas normativos não parece difícil, mas, como é fácil de compreender, a informalidade de muitos desses sistemas, a ausência de estudos integrados e sistematizados sobre esses sistemas, dificulta, ainda, mais a sua aplicabilidade. Parece-nos, pois, que antes de determinar os termos em que essa aplicação deve ser feita, importa proceder a uma sistematização e catalogação dos diversos sistemas normativos, o que iria facilitar a sua aplicação uniforme, bem assim a sua inclusão nos diversos planos de estudos das Escolas de Direito.

VII. O Mestre Filipe Sitoi refere, em terceiro lugar, que tem-se verificado um enorme desenvolvimento e apetrechamento em infra-estruturas postos

66Sobre questões relacionadas com a qualidade dos formandos no CFJJ e nas Escolas de Direito em Moçambique, vejam-se as interessantes comunicações ao 1.º Congresso da Justiça, de Carlos Serra Júnior e Paulo Comoane, disponíveis em www.oamoz.org.

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à disposição das instituições de administração da justiça. Apesar de ser inquestionável essa realidade, os desafios existentes a esse nível ainda são enormes. Para além disso, adequado dessas infra-estruturas impõe uma outra atitude, pelo que há que potenciar melhor o seu uso para uma melhor justiça. Mesmo com estas conquistas, ainda há 21 distritos sem tribunais sem procuradorias.

Por exemplo, se essa potenciação tem sido rápida no Ministério Público, o mesmo não ocorre com os tribunais, o que não deixa de ser estranho, até pelo paralelismo das duas magistraturas proclamada através da previsão da intercomunicabilidade das duas magistraturas. Noutros casos, há zonas onde há tribunais judiciais de distrito mas em que o movimento processual não justifica a existência de um tribunal dessa natureza e as inerentes regalias do magistrado que terá aí de estar, quando se poderia recorrer a um outro sistema, diferente do que se estrutura na coincidência da divisão judicial com a divisão administrativa.

Na verdade, os magistrados poderiam exercer as suas actividades, não tanto de acordo com o princípio da divisão administrativa mas, em alguns casos, poderia afectar-se mais magistrados tendo em conta o movimento processual, bem assim poderiam exercer funções de forma itinerante, deslocando-se, periodicamente, às áreas onde não haja um grande movimento processual.

Os Tribunais Superiores de Recurso ainda se debatem com a falta de infra-estruturas, funcionando todos, a meio gás, e na Cidade de Maputo, sendo, aliás, disso sintomático que todos os recursos interpostos desde a sua entrada em funcionamento (2010), continuam sem ser tramitados. Na sua exposição, o Mestre Filipe Sitoi refere que estes tribunais não têm condições para o seu funcionamento, residências e meios de transporte, o que criou alguma falta de incentivo aos magistrados nomeados para neles exercerem funções. VIII. O quarto aspecto que ressalta da exposição do Mestre Filipe Sitoi relaciona-se com a reforma legal em curso em Moçambique. Muitos diplomas legais têm sido alterados, mas pode-se questionar se essas alterações têm contribuído para a desejada celeridade processual. Ainda

que não o diga, percebe-se que uma das insinuações que o Mestre Sitoi faz é sobre a necessidade de fazer um trabalho de avaliação, afinal não podemos mudar as leis só com base em percepções. É importante saber se as alterações feitas têm obtido aceitação, quais são as razões para eventuais resistências e o que deve ser feito, pelo menos, ao nível da reforma legal para ter leis que permitam obter decisões rápidas e justas.

Para além disso, há uma percepção de que as alterações legislativas em curso não procuram envolver as diversas sensibilidades, não só por se lhes dar pouco tempo para emitirem as suas opiniões, como também porque muitas vezes nota-se delas um certo alheamento aos processos de alteração legislativo. Uma das soluções que se poderia avançar neste âmbito é dar alguma autonomia para sugerir alterações legislativas, para além do actual sistema em que tudo depende da boa vontade do Ministério da Justiça que tendo uma agenda diferente, pode não dar seguimento às solicitações das magistraturas.

IX. Questiona-se, muitas vezes, se a UTREL, pelo menos nos moldes em que actualmente está estruturada – com um Director e sem um quadro técnico permanente – será o melhor modelo, pois se é verdade que consegue disponibilizar ao Governo propostas tecnicamente bem elaboradas, nota-se a ausência de uniformização de propostas e uma articulação entre as diversas equipas ou consultores contratados para a elaboração de propostas legislativas. Para além disso, a outra preocupação que existe e se não deveria ser esta a instituição governamental que, com um quadro permanente de investigadores, deveria levar a cabo o processo de avaliação das reformas que têm sido realizadas.

Alguns exemplos que o Mestre Filipe Sitoi indica, podem-nos ajudar a compreender melhor esta percepção: i) a ausência de uma Lei de Bases da Administração da Justiça, a qual, diz, regularia o sector no seu todo67 ;

67O respectivo projecto chegou a ser elaborado pelo CFJJ sob os auspícios da UTREL mas, estranhamente, nunca chegou a ser aprovado.

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ii) a existência de contradições inexplicáveis na Lei da Organização Judiciária, pois continua a proclamar que a divisão judicial coincide com a divisão administrativa, mas refere que a divisão judicial deve basear-se noutros critérios, como o número de habitantes, o volume e natureza da procura de tutela, a proximidade da justiça ao cidadão e às necessidades do sistema da administração da justiça; iii) o aumento, nuns casos, e redução, noutros, injustificada, das competências dos tribunais judiciais de distrito, sem que os mesmos tenham condições para as funções que agora lhes foram cometidas68 e impossibilidade de julgarem litígios laborais superiores a um pouco mais do que um salário mínimo e grande parte dos litígios de família e menores69;iv) a falta de aprovação do Código das Custas Judiciais, do novo regime jurídico da insolvência e recuperação de empresas e os contornos da revisão do Código Penal;v) a falta de articulação da elaboração da reforma prisional, a qual, apesar de iniciada, ainda carece de aperfeiçoamentos, recomendando a aprovação de penas alternativas de prisão.

X. Um aspecto que o Mestre Filipe Sitoi refere, com muita oportunidade, é o do conhecimento das leis pelos operadores judiciários em geral, mas dos seus destinatários últimos em particulares. Segundo o nosso direito positivo, o desconhecimento da lei não isenta as pessoas das sanções nela previstas,

pelo que é inquestionável que é obrigação do Estado dar a conhecer aos cidadãos as leis que vai, de forma intensa, disponibilizando.

Ainda que não o diga de forma expressa, parece fora de qualquer dúvida que as instituições que são incumbidas da responsabilidade do acesso à justiça, devem, igualmente, preocupar-se em difundir as leis que vão sendo publicados, através da criação, por exemplo, de centros de divulgação de legislação. Mais do que apoiarem no acesso aos tribunais, as organizações da sociedade civil podem, neste âmbito, desempenhar um papel extremamente importante de divulgação e avaliação das reformas legais.

Podemos, assim, dizer, que sendo evidente que trata-se de uma prioridade governamental, o bom andamento da reforma legal deve ser acompanhado de um processo de avaliação crescente das reformas, o que não tem sido prioridade do Governo. Por exemplo, apesar de prevista, nunca chegou a ser criada a Comissão de Acompanhamento do Código Comercial, cujo período expirou em 2011, o que representa um sintoma de ausência de preocupação na avaliação e melhoria das leis.

XI. Uma outra questão é referida pelo Mestre Filipe Sitoi: a falta de combate, no interior do judiciário, da corrupção, pois não se tem posto em prática mecanismos exequíveis, eficientes e transparentes para o efeito, pelo que sugere a necessidade de reforma da inspecção judicial, estabelecendo mecanismos de fiscalização independente e participativa, eventualmente, com a participação da sociedade civil.

Deve, aliás, concordando com o Mestre Filipe Sitoi, dizer-se que, sendo a justiça um serviço público, é importante adoptar um sistema de avaliação e remuneração dos magistrados, pois o crescimento que o país está a observar exige um incremento qualitativo do número de funcionários judiciais, ou através da previsão de um orçamento capaz de suportar essas necessidades ou de um outro sistema remuneratório, até porque os Estatutos dos Magistrados Judiciais e do Ministério Público trouxeram, diz o orador, resultados diferentes na motivação profissional e social, uma vez que muitos direitos e regalias não entraram em vigor ou foram concretizadas de forma diferente nos diversos tribunais e procuradorias.

68Aumento da competência para os tribunais julgarem litígios criminais, pois agora passaram a julgar crimes com moldura penal abstracta até 12 (doze) anos (tribunais de 1.ª classe) e 8 (oito) anos (tribunais de 2.ª classe). Há outros casos que podem ser indicados, como é o da existência de um prazo injustifi cável de 2 (dois) anos para a instauração do processo de investigação de paternidade, pelo que decorrido este prazo, a paternidade nunca mais pode ser investigada, continuando certa pessoa a ser fi lha de outro, quando pode, com o tempo, existirem provas capazes de abalar essa paternidade. Trata-se, aliás, de um caso de presunção ilidível por prova em contrário mas que o legislador moçambicano decidiu limitar a investigação da paternidade a 2 (dois) curtíssimos anos. 69Os tribunais judiciais de distrito de 2.ª classe não podem julgar as acções relativas as relações de família e os processos jurisdicionais de menores. Estão nesta categoria todos os tribunais judiciais de distrito, à excepção dos 34 (trinta e quatro) tribunais judiciais de distrito de 1.ª classe, designadamente os tribunais judiciais da Cidade de Lichinga e Distrito de Cuamba (Niassa), da Cidade de Pemba e Distritos de Montepuez e Mocímboa da Praia (Cabo Delgado), Cidade de Nampula e Distritos de Nacala-Porto, Angoche e Ribaué (Nampula), Cidade de Quelimane e Distritos de Mocuba e Gurué (Zambézia), Cidade de Tete e Distritos de Moatize e de Angónia (Tete), Cidade de Chimoio e Distritos de Manica e Bárue (Manica), Cidade da Beira e Distrito do Dondo (Sofala), Cidade de Inhambane e Distritos de Maxixe, Vilanculos e Massinga (Inhambane), Cidade de Xai-Xai e Distritos de Chókwé, Chibuto e Macia (Gaza), Cidade da Matola e Distrito da Moamba (Maputo) e os Distritos Municipais de KaMpfumu, Lhlamankulu, KaMaxakeni, KaMavota e KaMubukwana (Cidade de Maputo).

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XII. Parece que o orador coloca a questão da falta de motivação como podendo resultar da falta do cumprimento do Estado dos direitos e regalias dos magistrados. Se é verdade que os Estatutos das duas magistraturas trazem um conjunto de direitos e regalias70 , não deixa de ser preocupante que certos tribunais, como é o caso dos Tribunais Superiores de Recurso, tenham entrado em funcionamento sem a garantia do usufruto desses direitos e regalias.

Se o país ainda carece de magistrados a todos os níveis, a existência de demasiadas71 regalias podem ser um entrave ao aumento do número de magistrados, justamente porque o Estado não terá possibilidades de oferecer essas condições à medida que os magistrados forem formados. Parece-nos, pois, que uma das formas de resolver este problema não é tanto conceder regalias materiais, mas sim financeiras, atribuindo uma remuneração condigna ao magistrado que terá de criar, ele próprio, todas as condições de habitação.

Pode, porém, dizer-se que o exercício da função de magistrado implica que este seja tratado com deferência que a função exige, pelo que o Estado deve preocupar-se que o mesmo resida numa habitação condigna. Julgamos que essa reposta é, porém, insuficiente. Na verdade, do mesmo modo que o magistrado, por exemplo, o polícia ou o funcionário judicial tem um papel importante na administração da justiça, mas nem por isso são tratados com a deferência que as suas actividades exigem. A solução não será tanto estabelecer na lei tais regalias – muitas vezes difíceis de cumprir, o que cria os tais problemas de motivação – mas criar outro tipo de condições que o Estado esteja em condições de suportar – o que pode contribuir para aumentar, rapidamente, o número de magistrados – mas sem que isso ponha em causa a desejada independência que o exercício da função de magistrado exige.

XIII. A justiça, a sociedade e a economia estão intimamente ligadas. O desenvolvimento da economia a que se assiste nos últimos anos, não tem sido acompanhado, podemos concluir, pelo desenvolvimento da justiça. É verdade que a justiça é, por definição, lenta porque ponderada, mas não pode ficar alheia aos avanços que a economia está a ter, muito menos os lamentos vindos da sociedade.

A previsibilidade é importante e as pessoas em geral e os investidores em particular pretendem uma informação muito simples e clara sobre o recurso a tribunal: em quanto tempo a decisão será proferida, quais os encargos judiciais que deverão ser suportados e quais os honorários que deverão ser exigidos. Apesar dos esforços que têm sido feitos, isso não tem sido possível, mas bem respondidas essas questões podem contribuir para uma maior previsibilidade, menores riscos e mais confiança na justiça. Então se a justiça contribui para aumentar os custos dos agentes económicos – por exemplo com a demora da decisão, custas e honorários de advogado – sempre será vista com desconfiança.

XIV. Como qualquer outra área produtiva, a justiça produz um serviço consumido pela sociedade e pelos agentes económicos. Esse produto deve ser, então, oferecido com qualidade, ser acessível e de forma rápida. O consumidor tem direito à protecção dos seus interesses, impondo-se a lei nas relações contratuais entre diversos consumidores, com recurso ao princípio da igualdade, lealdade e boa-fé.

Muitos desafios foram apontados, conhecemos o caminho a seguir. Estaremos em condições de o fazer? Podíamos, em jeito de conclusão, dizer que as dificuldades que o Mestre Filipe Sitoi indica, devem ser encaradas como desafios, transformando-os em oportunidades que só a criatividade e o talento que habita em cada um de nós as pode vencer. Este é o desafio que a administração da justiça nos coloca.

70Casa da habitação mobilada pelo Estado ou a expensas deste (incluindo electrodomésticos e outros equipamentos, bem assim a substituição de ambos quando se tornem incapazes de uso normal), despesas de água e energia eléctrica, viatura de serviço ou de alienação, subsídio de compensação quando resida em casa própria, subsídio de combustível ou manutenção da viatura, subsídio de risco, passaporte de serviço, passaporte diplomático e viagem em classe executiva, viatura protocolar (juízes desembargadores e juízes conselheiros).71Demasiadas regalias no sentido de impossibilidade ou difi culdade do seu imediato cumprimento.

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O DEBATE COMO UM DOS INSTRUMENTOS DA CONSTRUÇÃO DE UMA VISÃO COMUM

DO NOSSO PAÍS

Comunicação apresentada por Sua Excelência, Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de Moçambique, por ocasião do encerramento do Ciclo dos Seminários do ano de 2012 organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da República

Senhores Membros do Conselho de Ministros,Distintos Painelistas,Caros convidados,Minhas senhoras e meus senhores,

Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados ao desenvolvimento deste nosso belo Moçambique. A temática que hoje tivemos a oportunidade de reflectir, que é sobre o papel das confissões religiosas no desenvolvimento de Moçambique, demonstra inequivocamente que cada confissão religiosa independentemente dos seus princípios e valores orientadores tem um contributo a dar na materialização da nossa agenda de luta contra a pobreza.

Por isso, queremos prestar o nosso reconhecimento a todas as confissões religiosas do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Indico, aqui presentes e não presentes, pelo seu contributo na edificação e promoção de princípios éticos e morais que visam criar uma sociedade cada vez mais tolerante e justa e na transmissão dos ideais da cultura do trabalho.

Os seminários organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da República tem o condão de:

• Estar também a ampliar junto dos diferentes segmentos da nossa sociedade a Presidência Aberta e Inclusiva que abraçamos;

• Ser uma forja de ideias e de pontos de vista dos diferentes concidadãos o que contribui, em parte, para construção de uma visão comum sobre o desenvolvimento e compreensão dos resultados da nossa governação; e

• Ser um espaço onde a partilha de saberes, experiências e vivências se entrelaçam com amizades que se criam contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito de solidariedade, que caracteriza os moçambicanos.

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Assistimos aqui na Presidência da República durante todo o ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de seminários de 2012.

Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos ensinamentos que a abordagem dos temas que ao longo do ano foram debatidos, trouxeram para a nossa governação.

Saudamos a pertinência e actualidade das temáticas excelentemente abordadas pelos nossos peritos, fruto da nossa independência, que com clareza e profundidade, contribuiram para a melhoria na formação e implementação das nossas politicas públicas e na busca incessante de soluções articuladas e integradas dos desafios que emergem das mudanças que estamos a imprimir na implementação da nossa agenda.

Senhores Membros do Conselho de Ministros,

que hoje tivemos a oportunidade de reflectir, que é sobre o papel das confissões religiosas no desenvolvimento de Moçambique, demonstra inequivocamente que cada confissão religiosa

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Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados

demonstra inequivocamente que cada confissão religiosa independentemente dos seus princípios e valores orientadores tem um contributo a dar na materialização da nossa agenda de independentemente dos seus princípios e valores orientadores demonstra inequivocamente que cada confissão religiosa independentemente dos seus princípios e valores orientadores demonstra inequivocamente que cada confissão religiosa independentemente dos seus princípios e valores orientadores demonstra inequivocamente que cada confissão religiosa demonstra inequivocamente que cada confissão religiosa demonstra inequivocamente que cada confissão religiosa demonstra inequivocamente que cada confissão religiosa independentemente dos seus princípios e valores orientadores demonstra inequivocamente que cada confissão religiosa independentemente dos seus princípios e valores orientadores demonstra inequivocamente que cada confissão religiosa independentemente dos seus princípios e valores orientadores tem um contributo a dar na materialização da nossa agenda de

demonstra inequivocamente que cada confissão religiosa independentemente dos seus princípios e valores orientadores independentemente dos seus princípios e valores orientadores independentemente dos seus princípios e valores orientadores independentemente dos seus princípios e valores orientadores independentemente dos seus princípios e valores orientadores tem um contributo a dar na materialização da nossa agenda de

das confissões religiosas no desenvolvimento de Moçambique, das confissões religiosas no desenvolvimento de Moçambique, demonstra inequivocamente que cada confissão religiosa demonstra inequivocamente que cada confissão religiosa independentemente dos seus princípios e valores orientadores demonstra inequivocamente que cada confissão religiosa demonstra inequivocamente que cada confissão religiosa demonstra inequivocamente que cada confissão religiosa independentemente dos seus princípios e valores orientadores

ao desenvolvimento deste nosso belo Moçambique. A temática reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados ao desenvolvimento deste nosso belo Moçambique. A temática ao desenvolvimento deste nosso belo Moçambique. A temática que hoje tivemos a oportunidade de reflectir, que é sobre o papel que hoje tivemos a oportunidade de reflectir, que é sobre o papel que hoje tivemos a oportunidade de reflectir, que é sobre o papel ao desenvolvimento deste nosso belo Moçambique. A temática que hoje tivemos a oportunidade de reflectir, que é sobre o papel que hoje tivemos a oportunidade de reflectir, que é sobre o papel

reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados

Minhas senhoras e meus senhores,

Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados ao desenvolvimento deste nosso belo Moçambique. A temática

Minhas senhoras e meus senhores,Minhas senhoras e meus senhores,

Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados

Minhas senhoras e meus senhores,Minhas senhoras e meus senhores,Minhas senhoras e meus senhores,Minhas senhoras e meus senhores,Minhas senhoras e meus senhores,Minhas senhoras e meus senhores,Minhas senhoras e meus senhores,Minhas senhoras e meus senhores,Minhas senhoras e meus senhores,Minhas senhoras e meus senhores,Minhas senhoras e meus senhores,Minhas senhoras e meus senhores,Minhas senhoras e meus senhores,Minhas senhoras e meus senhores,Minhas senhoras e meus senhores,Minhas senhoras e meus senhores,Minhas senhoras e meus senhores,Minhas senhoras e meus senhores,Minhas senhoras e meus senhores,

Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados ao desenvolvimento deste nosso belo Moçambique. A temática ao desenvolvimento deste nosso belo Moçambique. A temática reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados ao desenvolvimento deste nosso belo Moçambique. A temática ao desenvolvimento deste nosso belo Moçambique. A temática ao desenvolvimento deste nosso belo Moçambique. A temática reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados ao desenvolvimento deste nosso belo Moçambique. A temática ao desenvolvimento deste nosso belo Moçambique. A temática reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados ao desenvolvimento deste nosso belo Moçambique. A temática ao desenvolvimento deste nosso belo Moçambique. A temática

Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados ao desenvolvimento deste nosso belo Moçambique. A temática que hoje tivemos a oportunidade de reflectir, que é sobre o papel das confissões religiosas no desenvolvimento de Moçambique,

ao desenvolvimento deste nosso belo Moçambique. A temática que hoje tivemos a oportunidade de reflectir, que é sobre o papel que hoje tivemos a oportunidade de reflectir, que é sobre o papel ao desenvolvimento deste nosso belo Moçambique. A temática que hoje tivemos a oportunidade de reflectir, que é sobre o papel ao desenvolvimento deste nosso belo Moçambique. A temática que hoje tivemos a oportunidade de reflectir, que é sobre o papel ao desenvolvimento deste nosso belo Moçambique. A temática que hoje tivemos a oportunidade de reflectir, que é sobre o papel ao desenvolvimento deste nosso belo Moçambique. A temática que hoje tivemos a oportunidade de reflectir, que é sobre o papel que hoje tivemos a oportunidade de reflectir, que é sobre o papel que hoje tivemos a oportunidade de reflectir, que é sobre o papel das confissões religiosas no desenvolvimento de Moçambique, que hoje tivemos a oportunidade de reflectir, que é sobre o papel que hoje tivemos a oportunidade de reflectir, que é sobre o papel que hoje tivemos a oportunidade de reflectir, que é sobre o papel que hoje tivemos a oportunidade de reflectir, que é sobre o papel que hoje tivemos a oportunidade de reflectir, que é sobre o papel que hoje tivemos a oportunidade de reflectir, que é sobre o papel que hoje tivemos a oportunidade de reflectir, que é sobre o papel que hoje tivemos a oportunidade de reflectir, que é sobre o papel que hoje tivemos a oportunidade de reflectir, que é sobre o papel das confissões religiosas no desenvolvimento de Moçambique, que hoje tivemos a oportunidade de reflectir, que é sobre o papel que hoje tivemos a oportunidade de reflectir, que é sobre o papel

Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de Permitam-nos saudar a todos os presentes neste espaço de reflexão e de debates sobre os mais variados assuntos ligados

Senhores Membros do Conselho de Ministros,Distintos Painelistas,Caros convidados,Minhas senhoras e meus senhores,

Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Distintos Painelistas,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Distintos Painelistas,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Distintos Painelistas,Caros convidados,Minhas senhoras e meus senhores,Caros convidados,Minhas senhoras e meus senhores,Minhas senhoras e meus senhores,

Distintos Painelistas,Caros convidados,Caros convidados,Minhas senhoras e meus senhores,Caros convidados,Minhas senhoras e meus senhores,Minhas senhoras e meus senhores,Minhas senhoras e meus senhores,Minhas senhoras e meus senhores,Minhas senhoras e meus senhores,

Distintos Painelistas,Caros convidados,Minhas senhoras e meus senhores,

Distintos Painelistas,Caros convidados,Minhas senhoras e meus senhores,Minhas senhoras e meus senhores,Minhas senhoras e meus senhores,

• Ser um espaço onde a partilha de saberes, experiências e vivências se entrelaçam com amizades que se criam contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito de solidariedade, que caracteriza os moçambicanos.

Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos ensinamentos que a abordagem dos temas que ao longo do ano Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos ensinamentos que a abordagem dos temas que ao longo do ano

com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de

ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de

Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos

com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de

ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de seminários de 2012.

com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de seminários de 2012.seminários de 2012.

Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos

seminários de 2012.

Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos

Assistimos aqui na Presidência da República durante todo o ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam Assistimos aqui na Presidência da República durante todo o ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último

Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos ensinamentos que a abordagem dos temas que ao longo do ano foram debatidos, trouxeram para a nossa governação.

Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos ensinamentos que a abordagem dos temas que ao longo do ano Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos ensinamentos que a abordagem dos temas que ao longo do ano Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos ensinamentos que a abordagem dos temas que ao longo do ano Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos ensinamentos que a abordagem dos temas que ao longo do ano Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos ensinamentos que a abordagem dos temas que ao longo do ano ensinamentos que a abordagem dos temas que ao longo do ano ensinamentos que a abordagem dos temas que ao longo do ano ensinamentos que a abordagem dos temas que ao longo do ano Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos Neste contexto, manifestamos a nossa profunda satisfação pelos ensinamentos que a abordagem dos temas que ao longo do ano

seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último

de solidariedade, que caracteriza os moçambicanos.

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Assistimos aqui na Presidência da República durante todo o ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de

Minhas Senhoras e meus Senhores,Minhas Senhoras e meus Senhores,

ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último

Minhas Senhoras e meus Senhores,Minhas Senhoras e meus Senhores,

Assistimos aqui na Presidência da República durante todo o

Minhas Senhoras e meus Senhores,Minhas Senhoras e meus Senhores,Minhas Senhoras e meus Senhores,Minhas Senhoras e meus Senhores,Minhas Senhoras e meus Senhores,Minhas Senhoras e meus Senhores,Minhas Senhoras e meus Senhores,Minhas Senhoras e meus Senhores,Minhas Senhoras e meus Senhores,Minhas Senhoras e meus Senhores,Minhas Senhoras e meus Senhores,

Assistimos aqui na Presidência da República durante todo o

Minhas Senhoras e meus Senhores,Minhas Senhoras e meus Senhores,Minhas Senhoras e meus Senhores,Minhas Senhoras e meus Senhores,Minhas Senhoras e meus Senhores,Minhas Senhoras e meus Senhores,

Assistimos aqui na Presidência da República durante todo o

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Assistimos aqui na Presidência da República durante todo o ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam Assistimos aqui na Presidência da República durante todo o ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam Assistimos aqui na Presidência da República durante todo o ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam Assistimos aqui na Presidência da República durante todo o Assistimos aqui na Presidência da República durante todo o ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam Assistimos aqui na Presidência da República durante todo o Assistimos aqui na Presidência da República durante todo o Assistimos aqui na Presidência da República durante todo o Assistimos aqui na Presidência da República durante todo o Assistimos aqui na Presidência da República durante todo o Assistimos aqui na Presidência da República durante todo o ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam Assistimos aqui na Presidência da República durante todo o ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de

ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de seminário do ano em procedemos ao encerramento do ciclo de seminários de 2012.seminários de 2012.seminários de 2012.seminários de 2012.seminários de 2012.seminários de 2012.seminários de 2012.seminários de 2012.seminários de 2012.

ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último ano em curso a um conjunto de apresentações, que culminam com a que hoje acaba de ser apresentada e debatida neste último

• Ser um espaço onde a partilha de saberes, experiências e vivências se entrelaçam com amizades que se criam contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito de solidariedade, que caracteriza os moçambicanos.

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Assistimos aqui na Presidência da República durante todo o

e vivências se entrelaçam com amizades que se criam contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito de solidariedade, que caracteriza os moçambicanos.contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito de solidariedade, que caracteriza os moçambicanos.contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito de solidariedade, que caracteriza os moçambicanos.de solidariedade, que caracteriza os moçambicanos.de solidariedade, que caracteriza os moçambicanos.de solidariedade, que caracteriza os moçambicanos.contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito e vivências se entrelaçam com amizades que se criam contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito de solidariedade, que caracteriza os moçambicanos.de solidariedade, que caracteriza os moçambicanos.de solidariedade, que caracteriza os moçambicanos.de solidariedade, que caracteriza os moçambicanos.contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito de solidariedade, que caracteriza os moçambicanos.

e vivências se entrelaçam com amizades que se criam contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito de solidariedade, que caracteriza os moçambicanos.

e vivências se entrelaçam com amizades que se criam contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito de solidariedade, que caracteriza os moçambicanos.contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito de solidariedade, que caracteriza os moçambicanos.contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito de solidariedade, que caracteriza os moçambicanos.

Minhas Senhoras e meus Senhores,Minhas Senhoras e meus Senhores,Minhas Senhoras e meus Senhores,

de solidariedade, que caracteriza os moçambicanos.

Minhas Senhoras e meus Senhores,Minhas Senhoras e meus Senhores,Minhas Senhoras e meus Senhores,Minhas Senhoras e meus Senhores,Minhas Senhoras e meus Senhores,

Assistimos aqui na Presidência da República durante todo o

Minhas Senhoras e meus Senhores,

de solidariedade, que caracteriza os moçambicanos.

Minhas Senhoras e meus Senhores,

contribuindo, desta feita, no aprofundamento do espírito de solidariedade, que caracteriza os moçambicanos.

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Assistimos aqui na Presidência da República durante todo o

de solidariedade, que caracteriza os moçambicanos.de solidariedade, que caracteriza os moçambicanos.de solidariedade, que caracteriza os moçambicanos.

Minhas Senhoras e meus Senhores,Minhas Senhoras e meus Senhores,

Assistimos aqui na Presidência da República durante todo o

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Comunicações dos SemináriosComunicações dos SemináriosC da Presidência da República

Esta iniciativa é produto de uma equipa dinâmica e dedicada que nos proporcionou uma oportunidade para vermos os nossos peritos, peritos moçambicanos, fruto da nossa independência, a desfilarem para apresentar e partilhar os seus conhecimentos e saberes. Oportunidade também de, neste local, forjarem-se e cimentarem-se amizades e parcerias num claro exercício de partilha de outras oportunidades que estes eventos também oferecem.

Antes de terminar, queremos mais uma vez, dirigir a nossa palavra de apreço e carinho aos diferentes intervenientes deste seminário, e, de forma particular aos painelistas pelo inestimável contributo por eles trazido em forma de esclarecimento e de reflexão. Referimo-nos ao:

• Dr. Adriano Maleiane • Drª. Albertina Fruquia• Professor Severino Ngoenha• Professor José Castiano• Dr. Nelson Ocuane• Professor Daud Jamal• Dr. Filipe Sitoi• Dr. Tomás Timbana• Dr. Zaqueu Ranchaze e • Drª. Neyma Nurdin Sau.

Assim, declaramos encerrado o ciclo de seminários do ano de 2012.Muito obrigado pela vossa atenção e votos antecipados de uma boa quadra festiva.

seminário, e, de forma particular aos painelistas pelo inestimável contributo por eles trazido em forma de esclarecimento e de

s Timbanas Timbanas Timbana• Dr. Zaqueu Ranchaze e

s Timbana• Dr. Zaqueu Ranchaze • Dr. Zaqueu Ranchaze e • Dr. Zaqueu Ranchaze

• Dr. Nelson Ocuane• Professor Daud Jamal• Dr. Nelson Ocuane• Professor Daud Jamal• Professor Daud Jamal• Dr. Filipe Sitoi

s Timbana• Dr. Filipe Sitoi

s Timbana• Dr. Zaqueu Ranchaze • Dr. Zaqueu Ranchaze

. Albertina Fruquia• Professor Severino Ngoenha• Professor José Castiano• Dr. Nelson Ocuane

. Albertina Fruquia• Professor Severino Ngoenha• Professor José Castiano• Dr. Nelson Ocuane• Dr. Nelson Ocuane

• Dr. Zaqueu Ranchaze e . Neyma Nurdin Sau

e • Dr. Zaqueu Ranchaze e e . Neyma Nurdin Sau. Neyma Nurdin Sau

s Timbana• Dr. Zaqueu Ranchaze • Dr. Zaqueu Ranchaze

• Professor Daud Jamal• Professor Daud Jamal

• Dr. Adriano Maleiane . Albertina Fruquia

• Professor Severino Ngoenha• Professor José Castiano• Dr. Nelson Ocuane• Professor Daud Jamal

• Professor Severino Ngoenha. Albertina Fruquia

• Professor Severino Ngoenha• Professor Severino Ngoenha• Professor Severino Ngoenha. Albertina Fruquia

• Professor Severino Ngoenha• Professor Severino Ngoenha• Professor José Castiano• Professor José Castiano• Dr. Nelson Ocuane• Dr. Nelson Ocuane• Professor Daud Jamal• Professor Daud Jamal• Professor Daud Jamal• Professor Daud Jamal• Professor Daud Jamal• Professor Daud Jamal• Professor Daud Jamal• Dr. Filipe Sitoi• Dr. Filipe Sitoi• Dr. Filipe Sitoi• Dr. Filipe Sitoi• Dr. Filipe Sitoi• Dr. Filipe Sitoi

• Dr. Nelson Ocuane• Dr. Nelson Ocuane• Dr. Nelson Ocuane• Dr. Nelson Ocuane• Dr. Nelson Ocuane• Dr. Nelson Ocuane• Dr. Nelson Ocuane• Dr. Nelson Ocuane• Dr. Nelson Ocuane• Dr. Nelson Ocuane• Dr. Nelson Ocuane

seminário, e, de forma particular aos painelistas pelo inestimável contributo por eles trazido em forma de esclarecimento e de reflexão. Referimo-nos ao:

• Dr. Adriano Maleiane . Albertina Fruquia

• Professor Severino Ngoenha

seminário, e, de forma particular aos painelistas pelo inestimável contributo por eles trazido em forma de esclarecimento e de contributo por eles trazido em forma de esclarecimento e de contributo por eles trazido em forma de esclarecimento e de

• Professor Severino Ngoenha

contributo por eles trazido em forma de esclarecimento e de contributo por eles trazido em forma de esclarecimento e de contributo por eles trazido em forma de esclarecimento e de contributo por eles trazido em forma de esclarecimento e de contributo por eles trazido em forma de esclarecimento e de contributo por eles trazido em forma de esclarecimento e de contributo por eles trazido em forma de esclarecimento e de

. Albertina Fruquia• Professor Severino Ngoenha

contributo por eles trazido em forma de esclarecimento e de reflexão. Referimo-nos ao:reflexão. Referimo-nos ao:

• Dr. Adriano Maleiane • Dr. Adriano Maleiane . Albertina Fruquia. Albertina Fruquia

• Dr. Adriano Maleiane • Dr. Adriano Maleiane . Albertina Fruquia

• Professor Severino Ngoenha. Albertina Fruquia

• Professor Severino Ngoenha

• Dr. Adriano Maleiane . Albertina Fruquia

• Professor Severino Ngoenha. Albertina Fruquia

• Professor Severino Ngoenha. Albertina Fruquia

• Professor Severino Ngoenha• Professor Severino Ngoenha• Professor Severino Ngoenha• Professor Severino Ngoenha. Albertina Fruquia

• Professor Severino Ngoenha. Albertina Fruquia

• Dr. Adriano Maleiane

reflexão. Referimo-nos ao:

• Dr. Adriano Maleiane . Albertina Fruquia

• Professor Severino Ngoenha• Professor Severino Ngoenha

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