comunicaÇÃo tÉcnicaescriba.ipt.br/pdf/172618.pdf · aproveitamento dos resíduos da indústria...
TRANSCRIPT
COMUNICAÇÃO TÉCNICA ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Nº 172618
Aproveitamento dos resíduos da indústria de cerâmica vermelha (RCV) como aditivo pozolânico para cimento Portland: estudo de caso em quatro polos cerâmicos do Estado de São Paulo Eduardo Garcia |Alessandra Lorenzzetti Castro Marsis Cabral Jr. Valdecir Angelo Quarcioni Fabiano Ferreira Chotoli
Resumo apresentado no Congresso Brasileiro de Cerâmica, 58., Bento Gonçalves, 2014.
A série “Comunicação Técnica” compreende trabalhos elaborados por técnicos do IPT, apresentados em eventos, publicados em revistas especializadas ou quando seu conteúdo apresentar relevância pública. ___________________________________________________________________________________________________
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S/A - IPT
Av. Prof. Almeida Prado, 532 | Cidade Universitária ou Caixa Postal 0141 | CEP 01064-970
São Paulo | SP | Brasil | CEP 05508-901 Tel 11 3767 4374/4000 | Fax 11 3767-4099
www.ipt.br
06-026 Aproveitamento dos resíduos da indústria de cerâmica vermelha (RCV) como
aditivo pozolânico para cimento Portland: estudos de caso em quatro polos cerâmicos
do Estado de São Paulo Marsis Cabral Junior
Garcia, E. (1); Castro, A. L. de (1); Cabral Junior, M. (1); Quarcioni, V. A. (1); Chotoli, F.
F. (1)/(1) Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT
São apresentados os resultados de um estudo mais amplo dirigido ao aproveitamento de
resíduos da indústria de cerâmica vermelha - RCV, com intuito de reduzir os passivos
ambientais gerados pelas indústrias, diminuir os custos operacionais e agregar valor aos
negócios das empresas. Os estudos contemplaram quatro dos principais polos cerâmicos
paulista – Itu, Tatuí, Tambaú e Vargem Grande do Sul, e enfoca as caracterizações físico-
químicas e tecnológicas do uso dos RCV como aditivo pozolânico para cimento Portland. O
processo fabril, que opera em temperaturas de queima com patamares entre 700°C e 850°C,
corresponde a uma faixa apropriada à desestruturação dos argilominerais, sem, contudo, a
geração de novas fases minerais, resultando na geração de materiais reativos, propícios às
adições cimentícias. Todos os cimentos compostos formulados em laboratório a partir da
mistura entre a pozolana de RCV com o cimento Portland comercial, de alta resistência
inicial, atenderam aos requisitos físicos das normas correspondentes. Os resultados dos
ensaios físicos e mecânicos foram semelhantes para as diferentes pozolanas produzidas,
indicando que a adição de RCV não interferiu nas propriedades finais do cimento.
Constatou-se que não há separação significativa de metacaulinita na preparação dos cacos
por meio da moagem, podendo ser utilizado qualquer fração de peneira como material
cimentante. No entanto, há de ser observada a quantidade de álcalis para não haver
comprometimento em reações álcali-agregado posterior ao endurecimento da pasta de
cimento.
58º Congresso Brasileiro de Cerâmica18 a 21 de maio de 2014, Bento Gonçalves, RS, Brasil
1532
O Difratograma indica a presença de esmectitas, micas,
caulinitas, quartzo, feldspatos, além de hematitas e
magnetitas na composição da maioria das massas
cerâmicas amostradas.
APROVEITAMENTO DOS RESÍDUOS DA INDÚSTRIA DE CERÂMICA VERMELHA (RCV) COMO ADITIVO POZOLÂNICO PARA CIMENTO
PORTLAND: ESTUDOS DE CASO EM QUATRO POLOS CERÂMICOS DO ESTADO DE SÃO PAULO.
Garcia, E. (1); Castro, A. L. de (2); Cabral Junior, M. (1); Quarcioni, V. A. (2); Chotoli, F. F. (1) (1)Seção de Recursos Minerais e Tecnologia Cerâmica – Centro de Tecnologia de Obras de Infraestrutura
(2) Laboratório de Materiais de Construção Civil – Centro de Tecnologia de Obras de Infraestrutura
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT,
Av. Prof. Almeida Prado, 532 – Cidade Universitária – São Paulo – SP, Brasil
MATERIAS E MÉTODOS
Utilizaram-se dois tipos de materiais para o estudo: as massas cerâmicas e os RCV gerados por defeitos e
quebras dos produtos durante a fabricação. As amostras foram coletadas em oito cerâmicas representativas de
quatro dos principais polos cerâmicos paulista (duas unidades fabris em cada polo), situados nas regiões de Itu,
Tatuí, Tambaú e Vargem Grande do Sul.
As massas e cacos foram caracterizadas por DRX em equipamento Rigaku Windmax 1000 operando com
radiação CuKa (40kV/30mA), calibração com fendas 1° divergente e 1° espalhamento, passo 0,02° 2Ѳ e 8° a 70°,
cujo software de análise utilizado foi o Panalytical X-Pert HighScore Plus v. 2.2. A TG e DTG foram realizadas
com TA Instruments módulo TGA 50, cadinho de alumina, sem tampa, com fluxo de gás nitrogênio 100mL/min
com rampa de aquecimento constante de 10°C /min de 30°C a 925°C. O software de análise utilizado foi TA
Universal Analysis 2000 v.4.1D. A análise química foi realizada por meio de FRX em equipamento Panalytical
Minipal Cement com fundentes de tetraborato de lítio/ metaborato de lítio (Maxxiflux) e calibração por Curva
Omnian e por via clássica.
A massa cerâmica foi seca em estufa e moída até totalmente passante na peneira #200 mesh (65µm). Já os
cacos cerâmicos passaram por 2 processos distintos de moagem: o primeiro consistiu na obtenção da finura <
#20 mesh (0,8mm) para todo o material; o segundo utilizou uma alíquota de 10 kg obtida após intensa
homogeneização e quarteamento, sendo cominuída até totalmente passante na peneira #200 mesh (65 µm) e
atingindo, desta maneira, uma curva granulométrica próxima ao cimento CP-V ARI utilizado nos ensaios
mecânicos.
Para obtenção de granulometria adequada dos resíduos cerâmicos a < #20 mesh fez-se uso de trincha para
facilitar a passagem do material na peneira.
No caso da obtenção do material menor que #200 mesh, provindo dos resíduos cerâmicos, a avaliação foi
realizada por retirada de alíquota e peneiramento a seco com uso de trincha para facilitar o peneiramento.
Adotou-se a quantidade de retidos menor que 3% nestas condições como 100% passante na peneira #200 mesh.
Os ensaios Chapelle foram realizados de acordo com a norma ABNT NBR [4] utilizando-se de equipamento tipo
Dubnoff em banho-maria por 16 horas a 90°C ±5°C. Neste ensaio, há uma separação da reatividade efetiva do
material analisado, sem a interferência do efeito Filler que é de difícil mensuração no caso de ensaios mecânicos.
RESULTADOS
CONCLUSÕES
Os cacos cerâmicos moídos dos polos cerâmicos de Itu, Tatuí, Tambaú e Vargem Grande do Sul mostraram-se adequados para utilização como aditivo pozolânico para cimento Portland. As 8 amostras
ensaiadas apresentaram uma média de 500 mg de Ca(OH)2/g, suplantando em 14,7%, o valor mínimo normatizado do ensaio Chapelle. Apenas a amostra da Cerâmica 4 apresentou valor Chapelle inferior ao
limite da norma.
A investigação demonstrou que não há separação significativa de metacaulinita na preparação dos cacos por meio da moagem, podendo ser utilizada qualquer fração de peneira abaixo de #20 mesh como
material pozolânico. No caso, os finos passantes na peneira #200 seriam os mais apropriados para utilização como aditivo.
Constatou-se que nos resíduos as caulinitas e esmectitas das matérias primas argilosas foram desidroxiladas, correspondendo aos componentes potencialmente pozolânicos. Nesses materiais a máxima
reatividade pozolânica verificada pelos ensaios Chapelle situam-se na faixa de temperatura de queima entre 700°C e 800°C, com queda progressiva da reatividade acima desta temperatura. Em patamares
superiores de temperatura, mesmo com os ganhos de reatividade propiciados pela amorfização das esmectitas, há tendência de perda da reatividade da caulinita por recristalização.
O processo fabril, do modo como se apresenta hoje, possui um material residual com capacidade pozolânica. O maior controle no processo de queima em gradientes mais estreitos entre 700°C a até 850°C
incidindo sobre as peças cerâmicas, além da melhora do próprio produto, deve corresponder a um incremento da reatividade do material residual como aditivo ao cimento.
As massas utilizadas nas cerâmicas evidenciam grande similaridade de composição, mesmo com as particularidades e exigências que cada tipo de forno promove para a produção das peças cerâmicas
calcinadas. Este fato contribui para a relativa homogeneidade na composição química dos resíduos e, consequentemente, na similaridade de seu potencial pozolânico.
Trata-se, portanto, de uma importante alternativa de aproveitamento dos resíduos da indústria de cerâmica vermelha, contribuindo na diminuição dos passivos ambientais gerados pela disposição desses
materiais e agregando um novo produto comercial a esse segmento. Por sua vez, o RCV apresenta-se também como uma nova fonte de material pozolânico para a indústria cimenteira no país.
OBJETIVO
Este trabalho apresenta uma síntese de estudos de caracterização dirigidos à avaliação do potencial
pozolânico de resíduos de cerâmica vermelha dos APLs de Itu, Tatuí, Tambaú e Vargem Grande do Sul.
58° Congresso Brasileiro de Cerâmica 18 a 21 de maio 2014 Bento Gonçalves – Rio Grande do Sul
0
100
200
300
400
500
600
110
°C
550
°C
600
°C
650
°C
700
°C
750
°C
800
°C
850
°C
900
°C
950
°C
mg
de C
a(O
H)2
/ g
de a
mo
str
a
Temperatura de calcinação (°C)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
0 1 10 100 1000
% A
cum
ula
da
Abertura das peneiras (m)
Cerâmica 1
Cerâmica 2
Cerâmica 3
Cerâmica 4
Cerâmica 5
Cerâmica 6
Cerâmica 7
Cerâmica 8
Cimento ARI
PF SiO2 Al2O3 Fe2O3 CaO MgO Na2O K2O Mn2O3 TiO2
Cerâmica 1 1,21 68,90 19,10 7,04 0,21 0,53 0,17 3,15 0,06 1,16
Cerâmica 2 1,23 60,70 24,80 7,48 0,70 0,75 0,56 3,28 0,07 1,27
Cerâmica 3 0,80 70,20 17,10 6,73 0,26 0,97 0,14 3,74 0,09 1,18
Cerâmica 4 0,90 71,30 18,00 7,56 0,22 0,31 0,08 1,63 0,09 0,99
Cerâmica 5 1,04 68,70 17,70 7,74 0,40 0,80 0,15 2,51 0,07 1,53
Cerâmica 6 1,30 70,30 18,10 6,96 0,35 0,53 0,34 2,25 0,04 0,95
Cerâmica 7 2,05 65,70 20,80 6,28 0,35 0,80 0,18 3,63 0,09 1,04
Cerâmica 8 1,62 68,30 18,30 5,73 0,37 0,99 0,17 4,11 0,09 0,90
Amostra mg de Ca(OH)2/g
amostra
Cerâmica 1 443
Cerâmica 2 525
Cerâmica 3 481
Cerâmica 4 434
Cerâmica 5 569
Cerâmica 6 599
Cerâmica 7 481
Cerâmica 8 473
Identificação da
amostra
Resistência à compressão (MPa) Desvio relativo máximo
(%) CP 01 CP02 CP 03 Média
Cerâmica 1 8,8 9,3 8,7 8,9 4,5
Cerâmica 2 10,0 9,5 9,7 9,7 3,1
Cerâmica 3 8,2 8,0 8,0 8,1 1,2
Cerâmica 4 8,6 8,9 8,9 8,8 2,3
Cerâmica 5 9,4 9,3 9,4 9,4 1,1
Cerâmica 6 9,1 9,2 9,2 9,2 1,1
Cerâmica 7 7,4 7,2 7,1 7,2 2,8
Cerâmica 8 9,9 10,1 10,2 10,1 2,0
Amostra Quantidade de
caulinita, em %
Cerâmica 1 22,14
Cerâmica 2 36,29
Cerâmica 3 25,79
Cerâmica 4 24,29
Cerâmica 5 21,43
Cerâmica 6 25,71
Cerâmica 7 26,43
Cerâmica 8 25,71
A Figura ilustra os resultados de ensaios Chapelle
conforme a norma ABNT NBR [4] realizados na massa
da Cerâmica 4, em materiais secos (110°C) e queimados
nas temperaturas de 700°C, 750°C, 800°C, 850°C,
900°C e 950°C, que correspondem a faixa de
temperatura de queima nos fornos das cerâmicas
amostradas. A curva obtida para essa matéria prima
revela que o patamar máximo de reatividade ocorre
entre as temperaturas de 700°C e 800°C, a partir do
qual há uma perda progressiva da atividade pozolânica.
Supõe-se que à medida que as esmectitas ganham
reatividade por amorfização com aumento da
temperatura de queima acima de 800°C, há a tendência
de perda da reatividade da caulinita por recristalização.
A presença de caulinita na
caracterização por termogravimetria
(TG) é evidenciada pela perda de
massa no intervalo de calcinação
entre 300°C e 550°C que se encontra
em destaque na figura. As curvas são
semelhantes, sendo que o teor de
caulinita calculado é muito
homogêneo entre as várias amostras.
A tabela mostra a quantidade de
caulinita estimada por perda de
massa (perda de água estrutural).
Análise Química
DRX total das massas
Ensaio Chapelle
Termogravimetria
DRX total dos resíduos Ensaio Chapelle e ensaio IAP
O desaparecimento dos picos dos minerais dos grupos
da caulinita e esmectita, e a permanência dos picos das
micas devem estar relacionados às temperaturas de
queima praticadas nas cerâmicas, que provocaram a
desidroxilação desses argilominerais e não foram
suficientes para permitir a perda das hidroxilas do
conteúdo micáceo. As micas mantêm sinais claros nos
difratogramas de raios-X, sugerindo desestruturação
incipiente da sua cristalinidade. Portanto, a atividade
pozolânica dos materiais amostrados está relacionada
essencialmente ao conteúdo dos dois argilominerais
(caulinita e esmectitas) nas massas cerâmicas. A
constatação da desidroxilação das esmectitas indica
também que as peças provavelmente atingiram
temperaturas acima de 800°C, quando ocorre a
finalização de perda das hidroxilas por este mineral.
Os valores do ensaio Chapelle variaram de 434 a 599 mg
de Ca(OH)2/g. Apenas a amostra da Cerâmica 4
apresentou valor Chapelle inferior ao limite da norma (436
mg de Ca(OH)2/g), com o conjunto amostral indicando
uma média de 500 mg de Ca(OH)2/g, suplantando o valor
da norma em 14,7%. As variações na reatividade devem
estar relacionadas à composição das massas cerâmicas,
e ao ciclo e temperatura de queima adotados nas
diferentes unidades fabris.
A partir dos resultados obtidos (ver tabela), verifica-se
que todos os materiais avaliados podem ser considerados
como materiais pozolânicos, apresentando resistência à
compressão maior que 6 MPa e desvio relativo máximo
inferior a 6%. Portanto, servem como adição em
substituição ao cimento Portland.
A curva granulométrica obtida pelo
processo de moagem que ficou muito
próxima da curva do cimento ARI,
lembrando que a referência utilizada
para a granulometria do material foi o
material ser totalmente passante na
peneira #200 mesh, eficiente a ponto
de gerar somente 25% de retidos na
peneira #325 mesh, o que indica a
facilidade de moagem do RCV.
Granulometria