comunicação e sociedade - joão pissarra esteves

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O ESTUDO DOS MEIOS DE COMUNICAO E A PROBLEMTICA DOS EFEITOSBREVE RESENHA HISTRICA E CONTRIBUTOS PARA UMA PERSPECTIVA CRTICA

JOO PlSSARRA ESTEVES

A formao, nas primeiras dcadas do sculo XX, de uma disciplina cientfica especialmente vocacionada para o estudo do fenmeno da comunicao apresenta como suas condies constituintes um conjunto diversificado de factores. Alguns destes factores dizem respeito situao geral das sociedades ocidentais nessa poca, outros esto mais directamente relacionados com as condies especficas de desenvolvimento das cincias sociais e, de entre estas, em particular, a sociologia. A este nvel, sobressai como grande problemtica mobilizadora de esforos para a constituio e, depois, para rpida consolidao da sociologia da comunicao, a chamada questo dos efeitos, cuja presena marcou, at aos nossos cfis, quase todos os grandes momentos do desenvolvimento desta nova disciplina cientfica: proporcionou a formulao de propostas tericas e metodolgicas originais, de novas tcnicas de anlise (que viriam a conhecer uma ampla repercusso mesmo noutros domnios das cincias sociais) e, ainda, o desenvolvimento de vrias pesquisas de campo paradigmticas. A questo dos efeitos acabou, assim, por exercer uma espcie de funo ordenadora sobre uma srie de outras importantes problemticas da disciplina: o estudo dos diversos elementos constituintes dos processos comunicacionais, em especial das audincias, o estudo da recepo e dos processos de estruturao das mensagens, as funes sociais dos media - para referir apenas alguns exemplos. O conjunto de textos apresentados nesta colectnea constitui a seleco possvel, dentro dos condicionalismos prprios a uma primeira edio do gnero oferecida ao pblico portugus, de alguns dos trabalhos e propostas mais marcantes surgidas neste domnio de estudos ao longo de todo o sculo xx. No , certamente, uma seleco exaustiva, nem o seu critrio poder ser considerado inquestionvel: mais que fechar uma problemtica, o que osli edio pretende sim abri-la a uma mais ampla discusso da comunidade! (cientfica o no s) de lngua portuguesa, desejando, num f u t u r o l a u t o (|u;iulo possvel prximo, o surgimento de novos contributos, nomeadamente editoriais,

i l;,l mesmo gnero e outros, que mais incisivamente possam dar expresso p u b l i c a produo cientfica nacional que vai sendo realizada neste domnio de estudos. Em qualquer caso, a importncia dos trabalhos aqui apresentados - de diferentes autores e, em alguns casos, j muito afastados no tempo - absolutamente inquestionvel: todos eles continuam, ainda hoje, a marcar momentos decisivos da histria desta disciplina cientfica e so motivo de reflexo da maior actualidade para todos os que se preocupam com os problemas da comunicao nos nossos dias.

Para uma melhor compreenso das incidncias, marcantes mas tambm bastante contraditrias, do desenvolvimento cientfico desta problemtica, justifica-se um esforo preliminar de esclarecimento quanto ao significado propriamente dito, e preciso, da noo efeitos da comunicao neste contexto; sendo tanto mais til esta preciso quanto as questes delimitadas a partir dessa noo so, efectivamente, bastante mais restritas do que a prpria designao sugere. Primeiro, haver que ter em conta-que os efeitos considerados so apenas (ou prioritariamente) efeitos de caracter sociolgico, ou seja, as conseqncias dos processos de comunicao ao nvel da vida colectiva e da organizao das sociedades humanas, o que deixa de fora (ou em plano secundrio) muitos outros tipos de efeitos; no obstante estes poderem tambm ser considerados, mas sempre, sublinhe-se mais uma vez, de um modo secundrio ou complementar. Em segundo lugar, haver que considerar que a comunicao em causa se restringe aos chamados meios de comunicao de massa: no a comunicao ou court, portanto, mas a comunicao relativa aos referidos meios e, mesmo dentro desta, com a ateno especial a incidir naquela quo assume um caracter pblico, habitualmente designada por comunicao social'. Para se compreender a razo porque a problemtica dos efeitos foi delimiladii desta forma, as circunstncias sociais e histricas da sua emergncia so da maior importncia. Recuando aos anos 30 do sculo passado, ao perodo entre as duas Guerras Mundiais, deparamos com um ambiente de extrema eonlurbao a nvel social, econmico e poltico: mais uma das fatdicas crises do sistema capitalista (fazendo-se sentir as suas repercusses dramticas quer nos Kslados Unidos quer na Europa), a revoluo comunista que se consolidava ua Rssia e os totalitarismos que germinavam de forma ameaadora no ( i o n l i n e n t e Europeu - estes apenas alguns exemplos mais marcantes desse c l i m a i;: r l de enorme instabilidade. Ao mesmo tempo que as tecnologias de d i f u s o colectiva de mensagens registavam um desenvolvimento at ento :a vislo: a imprensa de massa, a rdio (j com um impado poderoso no o da sociedade) e a televiso (a ensaiar, ento, os seus primeiros pasI'i m l ii ira a i n d a sn de um modo difuso, comeou eu l ao a tomar lorma social e a conscincia de uma ml i ma relao e n t r e estes dois tipos de l e i i o m e i i i >:., eios u P. n .10 consisti (landi

'l') comunicao, bem como ao reconhecimento, pela primeira vez e de lorma "liira, do enorme poder destes mesmos meios. uma inquietao envolta por Min clima de temor e de um certo mistrio, mas tambm de uma p r o f u n d a ignorncia quanto aos meandros mais secretos do funcionamento dos novos meios de comunicao e aos limites do seu poder. Foi assim, neste contexto histrico e nestas circunstncias sociais particulares, com o objectivo de dar resposta a este gnero de necessidades de conhecimento, que ao nvel da cincia, diferentes disciplinas (e de entre elas em Particular a sociologia) comearam a consolidar uma preocupao com a comunicao, atravs do seu estudo rigoroso e sistemtico. A circunstncia de as preocupaes cientficas em torno dos meios de comunicao se constiturem a partir de uma forte presso social acabaria por marcar decisivamente o desenvolvimento dos estudos da comunicao (e da Ociologia da comunicao, em particular) neste perodo. As necessidades de conhecimento a este nvel partiram, mais precisamente e de uma forma organizada, dos prprios agentes sociais mais directamente ligados actividade dos meios de comunicao: os emissores institucionalizados, que desta forma s ia l e d i r e c l a -

Conniiliciitio i:

Comunicao c Sociedade

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J*n to a,u^| 0 pela menSagem>) {VVHgh ig75; 7g) Atendendo s circuns. as h or lca s referidas e, em particular, ao tipo de u i izao predominan%os de comunicao 6ra realizada nessa poca, podemos considerar > sentido lato do fenmeno comunicacional se encontra ausente desta 'Um modo geral, do pensamemo da maioria dos autores que mes'"i prestara^ um contributo ' n n, de torma clara ento sobressai como reli r tque enomeno dos meios de comuni o de massa > estritamente e em i igoi, a piop;ujanda; perante a Huai o meio cientifico reage com a maior perple011=1 ^cv!f , i : reveiando temor em rpla - l i,,, - aao as suas conseqncias, mas ao mesmo escondendo tambm Um certo fascnio por este novo e enorme po6ra roluSr teria a possibilidadePsi5- do homem ^ ^ja cincia< em Pri' r' dS oiro lugar,T j -, ie ,.. ou sonhava poder vir a dominar). XT No excito cientfico da sociol ia da Comunicaa0; esta hiptese sobre nto e mais do que um a espcie de pr-histria da disciplina: os dj problemtica comear^ a ganhar alguma definio e os conheentos sobre a mesma adqufcfc^ tambm uma certa sistematicidade, mas -ontmuavam ainda a predomina,, as . . r rk>nrnc ac r\nt 2 T7 meras mtuioes e as percepes pouco b ra hlTn < 7T0 Adicionada pelo ambiente social convulsivo ^pocaj referido, esta prop0sta ^ deve ger considerada propriamente estit^da de quaisquer mritos cientficos, destacando-se mesmo, a este -as duas teorias como sua incipal base de sustentao: a teoria P P da acao e a teoria da so ciedade de massa _ uma de carc.

" ' respectivamente^. c comportamenta l forma & da icol ia beha viorista mana Como uma explicao ^ naturalista (bi ologizante) da aco mana, endo por referencia a ^ ge estabelece entre o organismo e plexa numar1" ^ nCebida, ento, ainda de uma forma pouco comogica es ri a e ass0cjaues estmulo-resposta: aos estmulos que f"? as condlcoes ambientais correspondem determinadas resposmento do ind 0d0r8aniSm' ^ qais ^^stituem, afinal, o prprio comportaivi uo. ransposta esta i5gica para o funcionamento dos meios ic >ao, torna-se tcil Perceber a formulao que adquire a hiptese J ' I ( ) efeitos v ri - j .* _ f~ . i ^ iH m u W / / itotais: as mensagens os meios de comunicao funcionam como t i Mirnulos i^jectados nos i ndiv , , ,v. , . lv i r i i l - i rocnnd iduos capazes de produzirem uma determi""la tonrin r) resposta-um j j j comportamPitnto unuorme e predeterminado 4 . >,4. -r j , 4 A A teoria q a sociedade de mac!c, , . ,, . bs j.,1 ,.,, n -on^n^ j r -^ -ia, por sua vez, fornece o suporte sociolgico ll< u j- A preocupao com o tenomeno r > da i-oncepao - efeitos ilirnitarir, dos media. A F m-i^inVn dos os j F v u,: m,issiticaao comeou a m aro . , . , , L i " i i i h . cAr-ni -v ar presena no pensamento social ainda dui - u i i i , o sculo XIX, na sequncin A - j d ti-iin n ii/c'.s- ii:u, 1944). l I I ' 1 ' M A N N , Waller, 1949, Public Opinion, New York, The Free Press (orig. 1922). I l M I M A N N , Niklas, 1978, Stato di Diritto e sistema sociale, Napoli, Guida (Politische planung, 1971). Mi ( : < )MI!S, Maxwell E. e SHAW, Donald L., 1972, The agenda-setting function of mass media, Public t I/I//IHHI Quarterly, n." 36-2. MILLS. C. Wright, 1982, A imaginao sociolgica, Rio de Janeiro, Zahar (The sociological imagination, 1959). l ' M i l . . Kuburt, 1940, News as a form of knowledge: a chapter in the sociology of knowledge, The Wm.T/can Journal of Sociology, vol.45 - n. 5. Kul>i:rt e BURGESS, Ernest, 1967, The city, Chicago, University of Chicago Press (orig. 1925). '.ATKKAS, Enric, 1987, Los efectos cognitivos de Ia comunicacin de masas, Barcelonp, Arial. ,i l I K / \ M M , Wilbur, 1972, The natureof communication between humans, in W. Schramm e D. Roberts 11'd.s), The process and effects ofmass communication, Urbana, University of Illinois Press. l'Hi-1, Pesquisa sobre comunicao nos Estados Unidos, in W. Schramm et ali, Panorama da comunicao colectiva, S. Paulo, Fundo de Cultura (in, Mass communication series -frum lectures in the li u'i .y; of America, s/d). H \W, lric, 1979, Agenda-setting and mass communication theory, Gazette - International Journal of A / I / M Communication Studies, n. 25-2. :i I K N O K , Philip J., DONOHUE, George A. e OLIEN, Clarice N., 1970, Mass media and differential j ; m w l l i i n knowledge, Public Opinion Quarterly, n. 34-3. I 1 H ;| IMAN, Gaye, 1980, Making news: a study in the construction ofreality, New York, The Free Press (orig. IOH). vi )l J 1 . Mauro, 1987, Teorias da comunicao, Lisboa, Presena (Teor/e delle comunicazione di massa, 1985). u ' H . MT, Charles R., 1975, Aass communication: a sociological approach, N. York, Random House.

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