compreender e ensinar - por uma docÊncia da melhor qualidade

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COMPREENDER E ENSINAR: POR UMA DOCÊNCIA DA MELHOR QUALIDADE Terezinha Azerêdo Rios RIOS, Terezinha Azerêdo. Compreender e Ensinar: por uma docência da melhor qualidade. São Paulo: Cortez, 2005.

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Page 1: COMPREENDER E ENSINAR  - POR UMA DOCÊNCIA DA MELHOR QUALIDADE

COMPREENDER E ENSINAR: POR UMA DOCÊNCIA DA

MELHOR QUALIDADETerezinha Azerêdo Rios

RIOS, Terezinha Azerêdo. Compreender e Ensinar: por uma docência da melhor qualidade. São Paulo: Cortez, 2005.

Page 2: COMPREENDER E ENSINAR  - POR UMA DOCÊNCIA DA MELHOR QUALIDADE

Preocupações:

◦ contexto geral da educação;

◦ cotidiano da prática de ensino de Filosofia, articulada com a Didática

◦ Didática de Filosofia: análise crítica da especificidade do ensino de uma determinada área do conhecimento e

◦ Filosofia da Didática: fundamentos de uma ciência que tem como objeto o gesto educativo que chamamos de ensinar.

Núcleo da reflexão:◦ formação e a prática dos educadores e educadoras ◦ em uma perspectiva crítica◦ para construir um profissional competente, considerando as

necessidades concretas de nossa realidade educacional

Didática da Filosofia eFilosofia da Didática

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Qualidade vs Qualidade Total (valores neoliberais).

Educação de qualidade é inquestionável, mas...

Qual qualidade?

Conceito com multiplicidade de elementos

"qualificar a qualidade“:◦ refletir sobre seu significado na prática educativa

O que é a ação competente?◦ É a ação de boa qualidade

Competência vs Qualidade

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“competências", no plural.

Há nesse movimento uma implicação ideológica?

◦ Competência: “saber fazer bem o que é necessário e desejável no espaço da profissão”.

◦ articulação das dimensões técnica e política, mediadas pela ética.

◦ Inclui uma perspectiva estética: presença da sensibilidade e da beleza no trabalho.

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Trabalho que se faz bem, a nós e àqueles a quem o dirigimos, do ponto de vista:◦ técnico-estético◦ ético-político,

Ação docente competente (boa qualidade):◦ é eficiente◦ faz bem ◦ é boa e bonita, um espaço de entrecruzado de bem e beleza.

idéia de fruição, de prazer, saborear a realidade.

No ser do professor (e do aluno que ele procura educar) entrecruzam-se 3 tipos de relações: ◦ o sentir, ◦ o saber e ◦ o fazer.

O que é a ação competente?

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Tanto o ser do professor quanto o do aluno possuem um caráter histórico

a historicidade não tem sido considerada muitas vezes nas propostas oficiais desvinculadas da prática, da realidade concreta de vida e da profissão de educadores e educandos.

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formar cidadãos, pssoas felizes

◦ vida digna na coletividade e a cidadania◦ a ação conjunta dos homens e mulheres num contexto

determinado, marcado pelos valores produzidos socialmente

No núcleo do trabalho de construção da cidadania está o desafio da comunicação.

O ensino é a instância de comunicação.

A aula é o espaço/tempo privilegiado da comunicação didática.

Qual a tarefa da educação e da escola?

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Questões propostasQuais os desafios que se colocam, contemporaneamente, a uma reflexão crítica sobre a educação e o ensino?

Com quais significados o conceito de qualidade tem sido incorporado no discurso, nas políticas e nas práticas de educação? Como podemos ressignificá-lo?

Quais são os indicadores de qualidade que tem norteado o trabalho dos educadores?

Que significados estão abrigados no conceito de competência?

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Como podem se articular os conceitos de qualidade, felicidade, cidadania?

Como essa articulação acontece nas relações educativas no interior da prática docente?

Como se caracteriza a perspectiva estética que se encontra na competência profissional dos educadores?

Como se evidencia no processo de construção do trabalho docente e de seu núcleo, a aula - o esforço na direção da competência?

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COMPREENDER E ENSINAR

NO MUNDO CONTEMPORÂNEOCapítulo 1

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Que demandas colocam-se à Filosofia e à Didática um cenário com as características do mundo contemporâneo?

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para a superação da fragmentação:

visão de totalidade, um olhar abrangente no ensino: a articulação estreita dos saberes

e capacidades;

Um mundo fragmentado

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◦para evitar a massificação e a homogeneidade redutora:

esforço de distinguir para unir, a percepção clara de diferenças e desigualdades

no ensino: o reconhecimento de que é necessário um trabalho interdisciplinar, que só ganha sentido se parte de uma efetiva disciplinaridade;

Um mundo globalizado

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◦encontrar o equilíbrio

recuperação do significado da razão articulada ao sentimento

No ensino: reapropriação do afeto no espaço pedagógico.

Um mundo da razão instrumental versus irracionalismo

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Filosofia: busca amorosa de um saber inteiro. ◦ Ver com clareza, abrangência e profundidade a realidade◦ Assumir uma atitude crítica◦ Orientar-se num esforço de compreensão, sentido, do valor dos objetos

sobre os quais se volta.

A compreensão é, segundo Arendt, (1993:39):

"uma atividade interminável, por meio da qual, na constante mudança e variação, aprendemos a lidar com nessa realidade, conciliamo-nos com ela, isto é, tentamos nos sentir em casa no mundo".

◦ dimensão intelectual e a uma dimensão afetiva◦ aponta a necessidade de superação da dicotomia que se faz entre razão e

sentimento diante dos desafios

Compreender o mundo

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Dois espaços para busca de respostas aos desafios:◦ Prática: experiência cotidiana; ◦ Reflexão crítica sobre os problemas da prática.

Na educação:◦ referência às relações entre os indivíduos e à sua

conduta parece indicar que a demanda pela Filosofia no mundo contemporâneo abriga uma preocupação ética

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o núcleo da reflexão ética é o reconhecimento do outro, o respeito pelo outro.

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Didática, para Coménio é a "arte de ensinar”: em 2 perspectivas: ◦ a de um saber, um ramo do conhecimento, uma ciência

que tem um objeto próprio, ◦ e uma disciplina que compõe o currículo dos cursos de

formação de professores.

Objeto da Didática: ensino◦ prática social específica◦ se dá no interior de um processo de educação

sistemática, intencional e organizada na instituição escolar.

Ensinar o mundo

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Função do ensino: socialização criadora e recriadora de conhecimento e cultura.

O ensino é uma ação que se articula à aprendizagem ◦ como gesto de socialização - construção e reconstrução -

de conhecimentos e valores, ele ganha significado apenas na articulação - dialética - com o processo de aprendizagem.

Sendo assim, estarão efetivamente ensinandoos professores cujos alunos “fracassam”?

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"perspectiva critica da Didática" (Pimenta 1997c):◦ esforço de compreensão de seu objeto ◦ olhar compreensivo que se volta sobre ela: Filosofia da

Educação.

Didática e Filosofia da Educação: a interlocução

A extensão do mundo se torna cada vez maior em função da intervenção contínua que os seres humanos fazem sobre ele, construindo e modificando a cultura e a história.

Ensinar o mundo

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E esse mundo estabelece demandas ao docente, muito complexas que são:◦ 1. a superação da fragmentação do

conhecimento, da comunicação, das relações. visão de totalidade:

“olhar largo" da Filosofia da Educação visão de saberes e capacidades :

buscar alternativas para pensar o ensino da Didática no exercício de uma "vigilância critica" do trabalho docente.

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◦ 2. o risco da massificação e da homogeneidade, advindo do fenômeno da globalização. trabalho coletivo e interdisciplinar

Interdisciplinaridade: diálogo em parceria que se constitui na diferença, na especificidade da ação de grupos ou indivíduos que querem alcançar objetivos comuns, de maneira orgânica

o aluno lembre sempre do "convívio inteiro" que estabelece no diálogo com seu professor.

A filosofia vai trazer à Didática a contribuição do exercício de distinguir para unir, próprio da lógica, da epistemologia;

a Didática vai levar à Filosofia o recurso das metodologias, das técnicas, num esforço de contribuição de projetos.

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3. o embate entre uma razão instrumental e um irracionalismo: encontrar o equilíbrio, fazendo a recuperação do

significado da razão articulada ao sentimento; No ensino: a reapropriação do afeto no espaço

pedagógico.

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COMPETÊNCIA E QUALIDADE

NA DOCÊNCIACapítulo 2

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reflexão sobre a articulação dos conceitos de competência e de qualidade no espaço da profissão docente

Idéia central: o ensino competente é um ensino de boa qualidade.

Uma análise crítica da qualidade deverá articular todos os aspectos da realidade especifica de um contexto concreto, para superar a retórica da qualidade: ◦ técnica e pedagógica ◦ político-ideológico

Competência e qualidade

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Concepção de competência mais difundida é ideológica:◦ competência privada, identificada como um modelo

sustentado pela "linguagem do especialista que detém os segredos da realidade vivida e que, indulgentemente, permite ao não especialista a ilusão de participar do saber" (Chauí, 2000:13).

Há vários discursos “competentes”, que se dispõem a trazer fórmulas fechadas do saber e do comportamento nas relações entre os indivíduos, fazendo desaparecer a dimensão propriamente humana da experiência.

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“Ir contra o caráter ideológico do discurso da competência e da retórica da qualidade significa procurar trazer, para os sujeitos sociais e suas relações, as idéias e os valores que parecem ter sido deslocados para o espaço de uma racionalidade cientificista, de uma suposta mentalidade, em que os homens se encontram reduzidos à condição de objetos sociais e não sujeitos históricos”.

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Arroyo descreve momentos fortes do movimento social, pedagógico e cultural brasileiro ao longo das últimas décadas, com

◦ “diferentes concepções e práticas sobre a qualidade na educação se confrontam, avançam e recuam. As propostas de educação postas hoje são a confluência tensa entre essas concepções e opções"

Qualidade ou qualidades?

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1°) a luta pela escola pública e pela cultura nos anos 50 e início dos 60: qualidade social e cultural na educação;

2°) as reformas dos anos 60-70, a lei 5692/71: desqualificando a educação e seus profissionais;

3°) o movimento de renovação pedagógica iniciado em final dos anos 70: construindo a escola pública e democrática;

4°) a qualidade neoliberal do final dos anos 80: reprivatizando o público, a gestão eficiente da escola desqualificada;

5°) repensando nosso projeto progressista, reafirmando a qualidade sociocultural na educação.

◦ A "qualidade sócio-cultural” se contrapõe a uma concepção que desqualifica, ou seja, a concepção de qualidade veiculada nos programas de Qualidade Total, que transforma a qualidade numa estratégia competitiva de acordo com um mercado cada vez mais diversificado e diferenciado.

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Programa de Qualidade Total no Brasil:◦ segunda metade da década de 80 e chega às escolas,

segundo Gentili (1995:115), como "contraface do discurso da democratização", que estava presente nas escolas.

◦ Desloca-se o eixo do debate sobre a qualidade do ensino como direito dos cidadãos, para uma articulação com as questões associadas à produtividade e à competitividade (Vieira, 1995:289).

"a retórica da qualidade se impôs rapidamente como senso comum em todos os segmentos da sociedade".

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Crítica à qualidade total:◦ Caráter neoliberal com equívocos e contradições.

◦ O adjetivo “TOTAL” indica um tratamento inadequado do conceito de totalidade.

◦ A “QUALIDADE” é cultural e histórico, se ampliando, aprimorando e transformando.

◦ “QUALIDADE TOTAL” é algo que se cristaliza em um modelo

◦ EDUCAÇÃO DA MELHOR QUALIDADE é um direito e não um modelo, algo que se coloca sempre à frente, como algo a ser construído e buscado pelos sujeitos que a constroem.

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Conforme Arroyo:◦ "construção de um espaço público, de reconhecimento de diferenças, dos

direitos iguais nas diferenças" ◦ na contemporaneidade:

renovação dos conteúdos críticos e da consciência crítica dos profissionais", resistência a uma concepção mercantilizada e burocratizada do conhecimento alargamento da função social e cultural da escola e intervenção nas estruturas

excludentes do velho e seletivo sistema escolar.

Para Cortella: ◦ "Em uma democracia plena, quantidade é sinal de qualidade social e, se

não se tem a quantidade total atendida, não se pode falar em qualidade".

◦ Não se pode contrapor as categorias de quantidade e qualidade.

Qualidade sócio-cultural

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A "qualidade social" é, para Cortella, indicadora da presença na escola, especialmente na escola pública, de "uma sólida base científica formação crítica de cidadania e solidariedade de classe social".

Questões •De que docência se fala quando se fala de uma docência de boa qualidade?

•Que qualidades devem ter a boa docência que queremos?

•Serão essas qualidades que atualmente têm sido chamadas de competências?

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"competências", no plural, uso recente. ◦ substitui alguns outros: saberes, habilidades, capacidades, etc,

indicando maior flexibilidade à formação, rompendo com modelos fechados de saberes e disciplinas.

◦ referência às competências que devem ter os profissionais de todas as áreas ou que são esperadas dos alunos nos cursos que os formam, em diversos níveis.

◦ problemas com relação à sua compreensão.

Para Perrenoud, as competências utilizam, integram, mobilizam conhecimentos para enfrentar um conjunto de situações complexas e implica em uma capacidade de atualização dos saberes.

Esse é o conceito dos documentos oficiais (moda), semalterar o contexto educacional.

Competência ou competências?

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Competências

Desenvolvimento de

Competências

Indivíduo Qualificad

o

Mobilização de competências

diante de novas situações

do mercado

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As competências no sistema em que vivemos, são definidas levando-se em conta a demanda do mercado imediata, mercadológica e não a demanda social, ou seja, as necessidades concretas dos membros de uma comunidade.

Qualificação Versus Competências

Competências

Atendimento ao

mercado

Ideologia neoliberal

Desenvolvimento de Recursos

Humanos

Qualificação

Formação para o

trabalho

Educação Integral

Atendimento às demandas

sociais

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O homem, no entanto, não é um recurso - ele possui recursos, cria recursos e, ao desenvolve-los, caminha no sentido de uma qualificação constante.

É necessário, portanto, afastar do conceito de competência uma compreensão ideologizante, que parece ensejar um novo tecnicismo, retornando a "palavras de ordem" para falar do trabalho pedagógico.

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Competência e suas dimensões

Técnica

domínio de saberes e habilidades de diversas naturezas que permitem a intervenção critica na realidade

Política

visão crítica do alcance das ações e o compromisso com as necessidades concretas do contexto social

Ética

reflexão de caráter crítico sobre os valores presentes na prática dos indivíduos em sociedade

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Competência:◦ totalidade que engloba pluralidade de propriedades,

um conjunto de qualidades de caráter positivo, fundadas no bem comum, na realização dos direitos do coletivo de uma sociedade.

conceito de competência vai sendo construído a partir mesma da práxis, do agir concreto e situado dos sujeitos, daí a necessidade de uma formação continuada dos educadores.

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Para concluir, é importante retomar:

◦ competência e qualidade se relacionam a ação competente se reveste de propriedades que são chamadas de

qualidades boas;

◦ o que se busca é uma prática docente competente, de uma qualidade que se quer cada vez melhor, uma vez que está sempre em processo;

◦ como os critérios para estabelecimento do que se qualifica como bom têm um caráter cultural e histórico, é importante explicitar os critérios e seus fundamentos;

◦ para indagar sobre a consistência dos critérios, faz-se necessária uma constante atitude crítica, que contribui para iluminar a prática docente competente e apontar suas dimensões.

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DIMENSÕES DA COMPETÊNCIA

Capítulo 3

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O objetivo deste capítulo é explorar cada uma das dimensões (técnica, política, ética e

estética) que caracterizam a prática docente, mostrando a estreita relação entre elas.

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suporte da competência, uma vez que esta se revela na ação dos profissionais.

A técnica tem, por sua vez, um significado específico no trabalho, que é empobrecido, quando se considera a técnica desvinculada de outras dimensões.

É assim que se cria uma visão tecnicista, na qual se supervaloriza a técnica, ignorando sua inserção num contexto social e político e atribuindo-lhe um caráter de neutralidade.

Dimensão técnica

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caráter poético na técnica e prática profissional. ◦ "arte" do docente, revelada em sua competência,

possui uma dimensão poética, que requer a imaginação criadora, cuja marca fundamental é a sensibilidade associada à razão.

◦ se a práxis não revela um caráter criador, ela tem seu significado empobrecido, tornando-se uma prática reiterativa ou burocratizada.

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Sempre presente, pouco explorada. ◦ Sensibilidade vai além do sensorial◦ uma ordenação das sensações, uma apreensão consciente da

realidade, ligada estreitamente à intelectualidade.

dimensão da existência, do agir humano. ◦ Ao produzir sua vida, ao construí-la, o indivíduo se afirma como sujeito,

produz a sua subjetividade.

Subjetividade articula-se com identidade, que é afirmada exatamente na relação com a alteridade, com a consideração do outro.

Competência: movimento em direção à beleza, como algo que se aproxima do que se necessita concretamente para o bem social e coletivo.

A dimensão estética

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Ética e moral.

◦ Ethos: maneira de agir e de pensar que constitui a marca de um grupo, de

um povo, de uma sociedade. manifesta-se um aspecto fundamental da existência humana: a

criação de valores. Qualifica-se como boa ou correta uma conduta que seja costumeira e

a estranhar, e mesmo qualificar de má, uma conduta a que não se está acostumado.

o costumeiro vai ganhando força, instala-se o dever.

O ethos é o ponto de partida para a instalação do nomos, da lei, da regra.

As dimensões: ética e política

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A moral é, portanto, o conjunto de normas, regras e leis destinadas a orientar a ação e a relação social e revela-se no comportamento prático dos indivíduos.

E o estabelecimento do nomos, das regras, dos princípios orientadores que permite que se fale no espaço verdadeiramente humano da cultura.

As normas, as leis, são constituidoras da organização social, da polis, que se propõe a garantir o caráter humano das relações e do trabalho.

A moral torna-se uma instituição que nos informa acerca do melhor modo para resistir, mediante a consideração e o respeito, à extrema vulnerabilidade das pessoas (Habermas), que se configura em vários níveis da vida humana.

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Vida política - é assim a vida dos seres humanos. É com a instauração de ethos, configurado na polis, que se instala a condição humana. A condição humana é configurada pelos homens e mulheres no processo histórico, por isso é que o ser humano é, por natureza, um ser político.

É no espaço político que transita o poder, que se configuram acordos, que se estabelecem hierarquias que se assumem compromissos. Daí sua articulação com a moral e a necessidade de sua articulação com a ética.

A dimensão política tem necessidade de articulação fecunda com a dimensão ética. Nesse ponto, o conceito que se articula à idéia de felicidade e permite compreendê-la mais amplamente é o de cidadania.

E é tarefa da educação a formação da cidadania.

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O trabalho docente competente é um trabalho que faz bem. ◦ Essa é a tese da autora.

◦ A competência não é algo abstrato ou um modelo, ela é sempre situada e, portanto, a docência da melhor qualidade se afirmará na explicitação dessa qualidade em cada dimensão da docência:

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na dimensão técnica, que diz respeito à capacidade de lidar com os conteúdos - conceitos, comportamentos e atitudes - a à habilidade de construí-los e reconstruí-los com os alunos;

na dimensão estética, que diz respeito à presença da sensibilidade e sua orientação numa perspectiva criadora;

na dimensão política, que diz respeito à participação na construção coletiva da sociedade e ao exercício de direitos e deveres;

na dimensão ética, que diz respeito à orientação da ação, fundada no princípio do respeito e da solidariedade, na direção da realização de um bem coletivo.

A dimensão ética é a dimensão fundante da competência porque a técnica, a estética e a política ganharão seu significado pleno quando, além de se apoiarem em fundamentos próprios de sua natureza, se guiarem por princípios éticos.

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FELICIDADANIACapítulo 4

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é o que se coloca no horizonte de uma prática profissional que se quer competente.

Cidadania:◦ implica uma consciência de pertença a uma comunidade e

também de responsabilidade compartilhada.

◦ ganha seu sentido num espaço de participação democrática de todos os cidadãos qual se respeita o principio ético da solidariedade.

◦ O empenho coletivo, portanto, deve se dar na direção de uma democratização, assim como de uma construção constante da cidadania.

Felicidadania

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felicidade e cidadania se dá na medida em que o exercício da cidadania é possibilitador da experiência da felicidade, sendo a felicidade a construção histórica do bem comum, que é coletivo e público.

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A identidade é a síntese de contradições de cada dia, é algo em permanente construção em articulação com a alteridade que implica o reconhecimento do outro.

Na alteridade, o outro aparece como medida de nossa liberdade, pois não há homens livres sozinhos.

Os limites e as possibilidades da liberdade definem-se efetivamente na consideração da alteridade.

◦ articulação entre liberdade e responsabilidade ◦ exigência essencial de um respeito mútuo na relação entre os indivíduos.

Cidadania e felicidade são intercomplementares e ganham sentido num espaço verdadeiramente democrático, em que as ações e relações sustentam-se em princípios éticos.

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À escola cabe desenvolver seu trabalho no sentido de colaborar na construção da cidadania democrática, da felicidadania.

Construir a felicidadania, na ação docente, é reconhecer o outro. Nesse sentido, é necessário:◦ 1. Para o professor, reconhecer o outro no aluno é considerá-lo na perspectiva da

igualdade na diferença, tendo-se o respeito como corolário;◦ 2. Tomar como referencia o bem coletivo. Os princípios que norteiam a ação do

professor devem sempre visar o bem coletivo;◦ 3. Envolver-se na elaboração e desenvolvimento de um projeto coletivo de

trabalho.◦ 4. Instalar na escola e na aula uma instância de comunicação criativa.

A forma que se reveste a comunicação pode favorecer ou afastar a possibilidade de uma aprendizagem realmente significativa, calcada no diálogo; que se faz na diferença e na diversidade;

◦ 5. Criar espaço, no cotidiano da relação pedagógica, para a afetividade e a alegria;

◦ 6. Lutar pela criação e pelo aperfeiçoamento constante das condições viabilizadoras de um trabalho de boa qualidade.

A ação docente e a construção da felicidadania.

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Faz parte da ação competente do professor a reivindicação de condições objetivas de boa qualidade para que se realizem seus objetivos, a crítica constante, para que se superem os problemas e se apontem e transformem as condições adversas.

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"o trabalho docente só serve par colaborar na construção da felicidadania”