componente curricular: saúde coletiva - professor antônio...

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Universidade Estadual do Rio Grande do Sul Bacharelado em Gestão Ambiental Componente curricular: Saúde Coletiva Aula 1 1. Primeira parte: ementa, características da disciplina, seminários, vídeo sobre a Saúde Indígena. Exercício em grupo: qual a importância da Saúde Indígena diferenciada na tua opinião? 2. Segunda parte: Transmissão e contágio, conceituação geral de saúde, de epidemiologia, de vigilância epidemiológica e vigilância em saúde. A história da epidemiologia. Exercícios: interpretar as tabelas do trabalho de John Snow. Professor Antônio Ruas

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Universidade Estadual do Rio Grande do Sul

Bacharelado em Gestão Ambiental

Componente curricular: Saúde Coletiva

• Aula 1

• 1. Primeira parte: ementa, características da disciplina,seminários, vídeo sobre a Saúde Indígena. Exercício emgrupo: qual a importância da Saúde Indígena diferenciada natua opinião?

• 2. Segunda parte: Transmissão e contágio, conceituação geralde saúde, de epidemiologia, de vigilância epidemiológica evigilância em saúde. A história da epidemiologia.

• Exercícios: interpretar as tabelas do trabalho de John Snow.

Professor Antônio Ruas

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Ementa

Saúde coletiva e a superação do modelo biomédico e a suaorganização estatal, pilares do campo da Saúde Pública.Compreensão do enfoque ecossistêmico para o entendimentodas relações sociais, ambientais e culturais com a saúde.Política nacional de saúde, ordenamento constitucional, legale institucional brasileiro e o Sistema Único de Saúde.Políticas específicas de saúde em ciclos de vida e gênero.Políticas de saúde para a diversidade cultural e étnica.Subsistema de atenção à saúde indígena. Epidemiologia,vigilância em saúde e a sua aplicação. Vigilância ambientalem saúde. Atenção primária em saúde ambiental. Doençasendêmicas e epidêmicas e o papel das populações de vetorese reservatórios animais. Diagnóstico comunitário eparticipativo em saúde coletiva.

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• Capacitar os alunos à compreensão da Saúde Coletiva como

movimento e conquistas, ao entendimento do SUS, das políticas

de saúde específicas para ciclos de vida e gênero, bem como

daquelas para a diversidade cultural e étnica. Conhecer os

conceitos gerais de epidemiologia e da vigilância em saúde, a

vigilância ambiental e a atenção primária em saúde ambiental.

Conhecer a importância das doenças endêmicas e epidêmicas

bem como o papel das populações de vetores e reservatórios

animais. Capacitar os alunos em diagnósticos comunitários e

participativos aplicados à saúde coletiva.

Objetivos

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Cronograma/Conteúdo Programático:

Data No da Aula

Assunto

07/8

1-2 Apresentação da disciplina. Orientação sobre seminários. Vídeo educativo “Baniwa: uma história de plantas e curas”. Exercício em grupo.

14/8

3-4 Assunto: conceituação de saúde, epidemiologia, vigilância epidemiológica, vigilância em saúde e vigilância ambiental em saúde. A história da saúde: contágio, transmissão e outros temas. Exercício: interpretação das tabelas de John Snow e do anuário Saúde Brasil.

21/8

5-6 Assunto: Estruturação do setor saúde: legislação atual; definições de saúde; Constituição Brasileira. Conferências nacionais de saúde e a oitava conferência nacional em saúde. Indicadores em saúde coletiva, introdução à epidemiologia descritiva e ao sistema de notificação. Questões iniciais e do módulo do CBVE. Trabalho com os sistemas SINASC, SIM e SINAN. Exercício em grupo: hierarquia de municípios nos indicadores apresentados ou propostos.

28/8

7-8 Assunto: Indicadores epidemiológicos: medidas de mortalidade e morbidade. 1. Avaliações de risco. Exercícios gerais e do módulo do CBVE, em grupo.

04/9 9-10 Atenção primária em saúde e atenção primária ambiental. Vigilância

epidemiológica. Doenças endêmicas e epidêmicas. Zoonoses.

11/9

11-12

Avaliação I: entrega dos trabalhos de classe. Defesa do projeto. Assunto: os programas especiais no SUS e a diversidade étnica e cultural. Saúde indígena, saúde da população negra, saúde da população LGBT e saúde dos povos da floresta e do campo. Diagnóstico comunitário em saúde. Exercício em grupo.

18/9 13-14

Avaliação II: prova escrita individual.

25/9 15-16

Aula especial à distância, no período do SIEPEX: revisão de conteúdo da disciplina.

03/10 17-18

Avaliação III: seminário com apresentação oral e entrega de trabalho escrito.

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Metodologia de Ensino

Desenvolvida com aulas expositivas construtivas para a integraçãodos temas abordados nos enfoques da saúde coletiva, vigilância emsaúde e organização da Saúde Pública, complementados com relatosde experiências. É composta também de trabalhos em grupos parapreparação de seminários, sobre os temas em saúde estudados. Estáfacultado o acesso dos alunos a materiais de aula no sítiohttp://professor-ruas.yolasite.com/

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Referências bibliográficas

BARATA, R. B. Doenças edêmicas: abordagens sociais, culturais e comportamentais. Organizado por Rita Barradas Barata e Roberto Briceño-León. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2000.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. Curso básico de vigilância epidemiológica. Brasília, DF: CBVE – Nível Superior, 2001. Disponível em: < http://dtr2001.saude.gov.br/editora/produtos/livros/pdf/03_1398_M.pdf>

______. ______. Gestão municipal de saúde: textos básicos. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde, 2001.

1. BARATA, R. B. Doenças edêmicas: abordagens sociais, culturais e comportamentais. Organizado por Rita Barradas Barata e Roberto Briceño-León. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2000.

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Referências bibliográficas 2. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. FUNDAÇÃO NACIONAL

DE SAÚDE. Curso básico de vigilância epidemiológica. Brasília, DF: CBVE – Nível Superior, 2001. Disponível em: < http://dtr2001.saude.gov.br/editora/produtos/livros/pdf/03_1398_M.pdf>

______. ______. Gestão municipal de saúde: textos básicos. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde, 2001.

3. BREILH,J. Epidemiologia crítica: ciência emancipadora e interculturalidade. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2006.

4. LIMA, N. T. et al. (orgs). Saúde e democracia: história e perspectivas do SUS. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2005.

5. SCLIAR, M. et al. Saúde pública: histórias, políticas e revolta. São Paulo: Scipione, 2002. (Coleção Mosaico)

6. STARFIELD, B. Atenção Primária: Equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologias. Brasília, DF: UNESCO, Ministério da Saúde, 2002.

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Referências bibliográficas complementares

1. Boletim Epidemiológico. Secretaria Estadual de Saúde. Centro de Vigilância em Saúde/RS.

2. Epidemiologia e serviços de saúde. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.

3. MEDRONHO, R. A. et al. Epidemiologia. 2ª ed. São Paul. Editora Atheneu, 2009.

4. ROUQUAYROL, M. Z. & GURGEL, M. Epidemiologia e saúde. 7ª ed. Rio de Janeiro. MedBook, 2013.

5. TROSTLE, J. Epidemiologia e cultura. Rio de Janeiro. Editora Fiocruz, 2013.

6. WALDMAN, E. A. Vigilância em saúde pública. Coleção saúde e cidadania. IDS/USP, 1998. Pdf. Disponível para todos os alunos.

7. CAMPOS, G. W. S. de (et al.). Tratado de Saúde Coletiva. 2ª ed. São Paulo. Hucitec, 2012.

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• Seminários:

• Os temas sugeridos para os seminários são:

• 1. Meningites no Rio Grande do Sul: surtos ou epidemias

recentes.

• 2. A dengue no Rio Grande do Sul: a situação nos anos mais

recentes.

• 3. Escolha entre as zoonoses: leptospirose, leishmanioses,

raiva, febre maculosa ou outra: histórico e importância no Rio

Grande do Sul.

• 4. A infecção pelo HIV nos anos recentes: padrão endêmico ou

epidêmico no Rio Grande do Sul e a coinfecção com a

tuberculose.

• 5. A vigilância epidemiológica e as intoxicações por agrotóxicos

agrícolas: panorama geral.

• 6. Epidemiologia Ambiental: avaliação de risco e epidemiologia

descritiva com sugestão de estudo de caso sobre a Celulose

Riograndense.

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• 2. Segunda parte.

• Concepções de saúde e doença: unicausal microbiana,multicausal, social e cultural.

• Conceituação geral de saúde, de epidemiologia, devigilância epidemiológica e vigilância em saúde. A históriada epidemiologia . Exercícios de interpretação detendências do “Vigilância em Saúde e “Saúde Brasil 2007”.

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• 1. Contexto histórico da ciência e da concepção de saúde edoença.

A concepção dualista corpo ou órgãos e mente vem deAristóteles que dividia a “matéria e a “alma”.

Deriva desta concepção o desenvolvimento de órgão, deorganização, do século XVII.

Permanece a concepção de “alma”, diferenciador do “vivo” e“não vivo”.

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• 1. Contexto histórico da ciência e da concepção de saúde edoença.

Segundo Czerenia (Do contágio à transmissão, 1997):

Alma, seria o conjunto dos sentidos que preservam a vida e“espírito” o pensamento.

Esta abordagem foi substituída pelo “vitalismo” nos séculosXVIII a XIX. Neste século a Biologia ressurge como a ciênciada vida.

No seu progresso, visa explicar cada vez com mais detalheso “funcionamento”.

Chega ao século XX e desenvolve-se enormemente com adescoberta da genética moderna (molecular).

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A origem das teorias sobre as doenças situa-se nastentativas de descrição e explicação para as epidemias.

Czeresnia relata descrições antigas sobre a “peste”(bubônica), de 430 A.C. (Tucídides). “Os doentes atingiam ossãos, os que tentavam ajudá-los. As descrições em outrasepidemias de peste são semelhantes, ressaltam o “inevitável”,o castigo, o clima a “pestilência do ar”.

Na idade média, o ar “pestilencial” era incriminado como opropagador de doenças como a peste que passam de pessoaa pessoa e entre comunidades. Ficou conhecida como teoriamiasmática.

•1. Contexto histórico da ciência e da concepção de saúde e

doença.

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O contexto em que as pessoas adquirem os “miasmas” dasdoenças: pessoas abertas a estímulos, humores e prazeresdiversos.

Miasmas e contágio confundiam-se nestas teorias derivadasde Hipócrates.

Depois veio a teoria da constituição epidêmica, derivada damiasmática e a partir do século XVI, já incorporando oconhecimento científico da época. A constituição epidêmica éum conjunto de fatores pessoais e ambientais que trazem asdoenças.

•1. Contexto histórico da ciência e da concepção de saúde e

doença.

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A constituição epidêmica foi contraposta e combatida pelateoria do contágio ou contagionista que com base em algumconhecimento científico sobre microrganismos, busca a causaespecífica para as doenças.

Fracastolo, o primeiro contagionista, concebeu no séculoXVI particulas de contágio (“semminaria”) causadoras dedoenças, que penetram por poros, viajam no ar, estão ourelacionam-se com ambientes insalubres como pântanos.

No século XVII, Kircher e outros contagionistasdesenvolveram mais a teoria de Fracastolo. As partículascontagiantes seriam partículas vivas, originadas por “geraçãoespontânea”.

•1. Contexto histórico da ciência e da concepção de saúde e

doença

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Sydenham foi um grande defensor da teoria miasmáticaelaborou as bases da constituição epidêmica, no século XVII.

Inovou o pensamento hipocrático, classificando as doençase concebendo um elo ambiental para a sua gênese.

A doença foi concebida por Sydenham como um esforçovigoroso da natureza para exterminar a matéria mórbida,procurando com todas as suas forças a saúde do doente".

Formulou a teoria da constituição epidêmica, como napassagem:

“As doenças geralmente surgem de alguma desordempeculiar de corpos particulares, por meio do qual o sangue eos humores estão de algum modo viciados, ainda que,algumas vezes, elas (as doenças) procedam mediatamentede alguma causa geral no ar ...”

•1. Contexto histórico da ciência e da concepção de saúde e

doença

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A principal diferença entre as teorias contagionistas econstituição epidêmica no período reside na ampliação para oambiente no caso da constituição epidêmica, quase comouma concepção ampla, próxima da causalidade múltipla doséculo XX.

Virchow, no século XIX, foi um grande expoente desta teoriada constituição epidêmica. Relatou o que segue:

1. Contexto histórico da ciência.

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“saúde e doença, naturalmente, são propriedades doindivíduo, desde que a vida não pertence à massa e sim aoindivíduo. Certas condições de vida, contudo, dizem respeitoa nações inteiras ou à maior parte da população, e enquantoos indivíduos nas suas vidas particulares sempre são osportadores e a expressam de situações e condições, normaise anormais, ainda assim, as manifestações da vida, quandomodificadas por condições especiais e temporais podemaparecer de uma maneira tão massiva que podemos nospermitir falar de saúde e doença do povo de uma maneiraabstrata, mesmo que não seja o ideal”.

Para Virchow, “as condições naturais induziriam epidemiasquando e onde condições sociais precárias produzissemsituações anormais prolongadas”. Guerras, pestilência e fomese engendram mutuamente.

1. Contexto histórico da ciência.

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No século XIX, o foco da divergência entre contagionistas emiasmáticos deslocou-se para o anatomismo, portas deentrada, da pele para o interior do corpo. O contágio pela pelee o acesso ao interior do corpo pelos miasmas.

Houve um deslocamento dos sentidos de percepção dasdoenças do olfato para a visão. Iniciou-se a contrução dateoria da transmissão das doenças.

Os adeptos da constitução epidêmica, constitucionistas daépoca passaram a dedicar-se também ao estudo dapatologia, mas centravam-se na fisiologia e na sintomatologia,e não tanto à etiologia, ou seja, aos agentes causadores.

1. Contexto histórico da ciência.

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• Um expoente contagionista, Henle, formula uma teoria em1840, próxima ao postulados de Pasteur e Koch posteriores.Henle descreveu o contágio: “... não é a doença, mas a causada doença que se reproduz a si mesma”. Elaborou também aassociação entre etiologia e processo inflamatório.

Votando a Virchow, ele permaneceu defendendo oconstitucionalismo, próximo da antiga ideia dos miasmas.Baseava-se na questão do contexto das doenças, o quedepois, foi uma das bases do início da epidemiologia comJohn Snow.

Snow era um contagionista, mas também seguidor dasidéias de Virchow. Snow é considerado o fundador daepidemiologia, ao estudar a epidemia de cólera na Inglaterra,em 1849.

A demonstração de agentes infecciosos por Pasteur e Kochna segunda metade do século XIX sepultou de vez a teoriamiasmática, impulsionando a teoria microbiana das doenças.

1. Contexto histórico da ciência.

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• O estabelecimento de causa microbiológica trouxe oimpulsionamento da terapêutica específica. Reforçou noentanto o reducionismo da medicina. “Saber o que causa,combater e curar”, poderia ser o lema deste impulsionamento.

A teoria microbiológica trouxe o otimismo com “fim dasdoenças”, presente na primeira metade do século XX. Em1943, Winslow celebrava “o triunfo de terem sido banidaspara sempre dIa Terra as grandes pragas e pestilências dopassado ...”.

O período coincide com o otimismo das grandes campanhasde saúde, da teoria da “erradicação” e do campanhismo.

No século XX, a teoria unicausal das doenças foi primeiosubstituída pela multicausal. Apenas após a Conferência deAlma Ata em 1978 é que as doenças passaram a ser tratadasnum contexto social, político e administrativo e a saúdepassou a ser o foco da construção. Este é o início da SaúdeColetiva.

1. Contexto histórico da ciência.

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2. Revisando os conceitos de saúde e doença.

1. Constituição do Brasil e Lei 8080.

No artigo 196 define que “saúde é direito de todos e deverdo Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicasque visem à redução do risco de doença e de outros agravose ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para asua promoção, proteção e recuperação”.

A lei 8080 (1990), salienta o dever do Estado com a saúde eacrescenta que “ a saúde tem fatores determinantes econdicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, osaneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, aeducação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens eserviços essenciais; os níveis de saúde da populaçãoexpressam a organização social e econômica do País.

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A justificativa legal do SUS eleva a importância dasaúde, mas não a define. Aparece como antítese dedoença que por sua vez resulta dos fatoresdeterminantes.

O conceito da OMS é geralmente apresentado comoponto de partida: “ saúde é o estado de completo bemestar físico, mental e social, e não apenas a ausência dedoença”.

Na vertente biológica ou ecológica aparece a definiçãode Wylie (1970): “saúde é a perfeita e contínua adaptaçãodo organismo ao seu ambiente”.

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O. P. Forattini (1990,92), da corrente ecológica, prefere adefinição do que é doença :

- “Existe um gradiente de sanidade, que no sentido dadesabilidade biológica ou fisiológica resulta em doença,antítese da saúde”.

-

- “ ...os determinantes sociais estão contidos nosecológicos”

- “... Estados de doença das pessoas antecedem osmédicos”

C. Helman e outros antropólogos da saúde desenvolvemmuito os “estados de saúde e doença sob a ótica dacultura:

- Os estados de doença são distintos para o paciente epara o médico: numa etapa inicial “sente-se doente”, aperturbação, o que será traduzido como patologia naconsulta médica segundo a visão científicapredominante.

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2. O conceito ampliado de saúde

A concepção da OMS de saúde é simplista, mas servepara indicar a complexidade da questão saúde.

A nível individual, a abordagem ampliada da questão dasaúde indica a compreensão cultural do fenômeno doadoecimento. Este aspecto é fundamental na educaçãopara a saúde.

A nível coletivo, a concepção de saúde deve abranger oconjunto de relações ecológicas e relacionais dassociedades, para um entendimento abrangente dos seusdeterminantes.

Isto reúne as relações das pessoas com a natureza (meioambiente, espaço, território) e com as outras pessoas(através do trabalho e das relações sociais, culturais epolíticas) num determinado espaço geográfico e numdeterminado tempo histórico .

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2. O conceito ampliado de saúde

A garantia à saúde transcende a esfera das atividadesclínico-assistenciais, devendo levar em conta novosconceitos e práticas como a da qualidade de vida e dapromoção à saúde.

2.1 Qualidade de vida: o que é?

“Em caráter preliminar, há de se registrar que, emprimeiro lugar, a qualidade de vida deve sercompreendida como sendo uma condição de existênciados homens sempre referida ao modo de viver emsociedade, isto é, dentro dos limites que são colocadosem cada momento histórico para se viver o cotidiano” (doCBVE)

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2.2 Promoção à saúde: o que é?

Promoção á saúde é uma idéia cuja conceituação estáem construção e se aproxima dos objetivos da melhorqualidade de vida.

Deriva do entendimento clássico de prevenção cujasações ocorrem em níveis. No nível primário, efetuam-seas ações sobre o meio: saneamento básico, educação,fiscalização sanitária, etc.

A carta de intenções da Primeira ConferênciaInternacional sobre Promoção da Saúde, realizada emOttawa, Canadá, em 1986, denominada Carta de Ottawa, éum marco na ampliação do conceito de promoção àsaúde:

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2.2 Promoção à saúde: o que é?

"...o processo de capacitação da comunidade para atuarna melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindomaior participação no controle desse processo. Paraatingir um estado de completo bem-estar físico, mental esocial, os indivíduos e grupos devem saber identificaraspirações, satisfazer necessidades e modificarfavoravelmente o meio ambiente... Assim, a promoção àsaúde não é responsabilidade exclusiva do setor dasaúde, e vai para além de um estilo de vida saudável, nadireção de um bem-estar global."

“... a saúde constitui o maior recurso para odesenvolvimento social, econômico e pessoal e ésomente através das ações de promoção que sedesenvolve. As condições para este desenvolvimentosituam-se dentro e fora do setor saúde, como porexemplo na melhoria de:

Paz; habitação; educação; alimentação; recursosrenováveis; justiça social e eqüidade, etc.

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2.3 Vigilância em saúde, atenção primária ambiental emsaúde e epidemiologia ambiental.

Estes temas serão tratados no próximo encontro.

A seguir: introdução ao conceito de epidemiologia e ostrabalhos de John Snow.

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1. O que é epidemiologia?.

É um termo de origem grega que significa:

epi = sobre

demo = população

logia = estudo

O seu uso é atribuído a um desdobramento de epidemiae foi usado pela primeira vez em 1802, na Espanha.Durante o século XIX e maior parte do século XX esteveassociado ao estudo das doenças infecciosas.

Uma disciplina básica ou ramo científico da saúdepública ou coletiva. Está voltada para a compreensão doprocesso saúde-doença no coletivo. Diferencia-se doestudo patológico individual e o clínico, que tem foco noindivíduo.

II. Conceitos gerais de epidemiologia.

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2. Definições mais conhecidas.

“...ciência que estuda o processo saúde-doença nasociedade, analisando a distribuição populacional e osfatores determinantes das enfermidades, danos à saúde eeventos associados à saúde coletiva, propondo medidasespecíficas de prevenção, controle ou erradicação dedoenças e fornecendo indicadores que sirvam de suporteao planejamento, administração e avaliação das ações desaúde” (CBVE 2).

“...o estudo da freqüência, da distribuição e dosdeterminantes dos estados ou eventos relacionados àsaúde em específicas populações e a aplicação dessesestudos no controle dos problemas de saúde." (Vigilânciaem Saúde Pública).

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3. Objetivos da epidemiologia.

Descrever a distribuição e a magnitude dos problemasde saúde nas populações humanas;

Proporcionar dados essenciais para o planejamento,execução e avaliação das ações de prevenção, controle etratamento das doenças, bem como para estabelecerprioridades;

Identificar fatores etiológicos na gênese dasenfermidades (CBVE 2).

• 4. A pesquisa epidemiológica

• É a aplicação de métodos científicos para atingir osobjetivos da epidemiologia.

• As áreas de produção do conhecimento pelaepidemiologia clássica, que mantém um viés de análisequantitativo e as respectivas metodologias aplicadas sãoexemplificadas como: (Vigilância em Saúde Pública):

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5. Epidemiologia social

A epidemiologia clássica, quantitativa, tem suasvertentes históricas nas:

Idéias do contagionismo e constituição epidêmica quebuscavam no modo de vida as explicações para asdoenças (ver John Snow adiante).

Na teoria microbiana e teoria unicausal resultante, “umadoença, uma causa, um agente etiológico”.

A teoria da unicausalidade foi rapidamente suplantadapela multicausalidade, desenvolvida por exemplo porLeavell e Clarck. Contudo avançou no entendimento dosdeterminantes sociais e culturais.

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5. Epidemiologia social

Minayo, Breilh e outros são teóricos da epidemiologiasocial, fundada no conceito da saúde coletiva.

Constroem métodos de abordagem pós-multicausalidade.

Nesta concepção, a epidemiologia deve considerar nãosó os indicadores de morbidade ou mortalidadeclássicos, mas agregar uma abordagem de fatores oudeterminantes ecológicos, sociais culturais, agregando apesquisa qualitativa nos estudos.

A seguir um diagrama epidemiológico mais abrangente(Breilh, 1991).

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• John Snow é considerado o “pai” da epidemiologia,graças aos seus estudo pioneiros sobre a cólera emLondres, numa época de transição entre as teorias daconstituição epidêmica de origem miasmática econtagionista bacteriana.

• Era anestesiologista, contemporâneo de William Farr.Sintetizou a sua contribuição no ensaio “Sobre a Maneirade Transmissão da Cólera”, de 1855, um memorávelestudo a respeito de duas epidemias de cólera ocorridasem Londres em 1849 e 1854.

III. História da epidemiologia: John Snow, o “pai da epidemiologia”

(Vigilância em Saúde Pública)

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• Snow descreveu o desenvolvimento da epidemia e dascaracterísticas de sua propagação, detalhadamente. Oseu raciocínio foi considerado genial, conseguindodemonstrar o caráter transmissível da cólera (pela teoriado contágio), muito antes das descobertas damicrobiologia, do Vibrio cholerae ser conhecido comoagente etiológico da cólera.

• “O fato da doença caminhar ao longo das grandestrilhas de convivência humana, nunca mais rápido que ocaminhar do povo, via de regra mais lentamente..." "Ao sepropagar em uma ilha ou continente ainda não atingido,surge primeiro num porto..." "Jamais ataca tripulaçõesque se deslocam de uma área livre da doença para outraatingida até que elas tenham entrado no porto...“

III. História da epidemiologia: John Snow, o “pai da epidemiologia”

(Vigilância em Saúde Pública)

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• "... doenças transmitidas de pessoa a pessoa sãocausadas por alguma coisa que passa dos enfermos paraos sãos e que possui a propriedade de aumentar e semultiplicar nos organismos dos que por ela sãoatacados...“

III. História da epidemiologia: John Snow, o “pai da epidemiologia”

(Vigilância em Saúde Pública)

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• "... Os casos subseqüentes ocorreram sobretudo entreparentes daquelas (pessoas) que haviam sidoinicialmente atacadas, e a sua ordem de propagação é aseguinte: ... o primeiro caso foi o de um pai de família; osegundo, sua esposa; o terceiro, uma filha que moravacom os pais; o quarto, uma filha que era casada e moravaem outra casa; o quinto, o marido da anterior, e o sexto, amãe dele...“

• Transmissão por veículo comum: "... Estar presente nomesmo quarto com o paciente e dele cuidando não fazcom que a pessoa seja exposta obrigatoriamente aoveneno mórbido...

• Em Surrey Buildings a cólera causou terríveldevastação, ao passo que no beco vizinho só se verificouum caso fatal... No primeiro beco a água suja despejada...ganhava acesso ao poço do qual obtinham água. Essa foide fato a única diferença...“

III. História da epidemiologia: John Snow, o “pai da epidemiologia”

(Vigilância em Saúde Pública)

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• "... Todavia, tudo o que eu aprendi a respeito da cólera ...leva-me a concluir que a cólera invariavelmente começacom a afecção do canal alimentar".

• "... Se a cólera não tivesse outras maneiras detransmissão além das já citadas, seria obrigada a serestringir às habitações aglomeradas das pessoas depoucos recursos e estaria continuamente sujeita àextinção num dado local, devido à ausência deoportunidades para alcançar vítimas ainda não atingidas.Entretanto, freqüentemente existe uma maneira que lhepermite não só se propagar por uma maior extensão, mastambém alcançar as classes mais favorecidas dacomunidade. Refiro-me à mistura de evacuações depacientes atingidos pela cólera com a água usada parabeber e fins culinários, seja infiltrando-se pelo solo ealcançando poços, seja sendo despejada, por canais eesgotos, em rios que, algumas vezes, abastecem de águacidades inteiras.“

III. História da epidemiologia: John Snow, o “pai da epidemiologia”

(Vigilância em Saúde Pública)

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• Na primeira das duas epidemias estudadas por Snow, eleverificou que os distritos de Londres que apresentarammaiores taxas de mortalidade pela cólera eram abastecidosde água por duas companhias:

• Lambeth Company, e

• Southwark & Vauxhall Company.

• Naquela época, ambas utilizavam água captada no rioTâmisa num ponto abaixo da cidade. No entanto, na segundaepidemia por ele estudada, a Lambeth Company já haviamudado o ponto de captação de água do rio Tâmisa para umlocal livre dos efluentes dos esgotos da cidade. Tal mudançadeu-lhe oportunidade para comparar a mortalidade por cóleraem distritos servidos de água por ambas as companhias ecaptadas em pontos distintos do rio Tâmisa.

III. História da epidemiologia: John Snow, o “pai da epidemiologia”

(Vigilância em Saúde Pública)

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• Exercício:

• Interpretar os dados apresentados na tabela 1:

• Como avaliar o risco de morrer por cólera comparando ostrês distritos avaliados? Qual a medida mais importante,óbitos totais ou a taxa?

• Os dados da tabela 2 referem-se aos distritos abastecidospor ambas as companhias. Avalie novamente o risco demorrer por cólera.

III. História da epidemiologia: John Snow, o “pai da epidemiologia”

(Vigilância em Saúde Pública)

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• III. História da epidemiologia: John Snow, o “pai da

epidemiologia” (Vigilância em Saúde Pública)

• Os dados apresentados na tabela 1 sugerem que o risco de

morrer por cólera era mais de cinco vezes maior nos distritos

servidos somente pela Southwark & Vauxhall Company do que

as servidas, exclusivamente, pela Lambeth Company. Na

tabela 2 isto é confirmado pela comparação entre as amostras

populacionais em distritos abastecidos pelas duas companhias

em casas semelhantes.

• Chama a atenção o fato de os distritos servidos por ambas as

companhias na tabela 1 apresentarem taxas de mortalidade

intermediárias. Esses resultados são consistentes com a

hipótese de que a água de abastecimento captada abaixo da

cidade de Londres era a origem da cólera.

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• Podemos sintetizar da seguinte forma a estratégia doraciocínio epidemiológico estabelecido por Snow:

• a. Descrição do comportamento da cólera segundoatributos do tempo, espaço e da pessoa.

• b. Busca de associações causais entre a doença edeterminados fatores, por meio de:

• - exames dos fatos;

• - avaliação das hipóteses existentes;

• - formulação de novas hipóteses mais específicas;

• obtenção de dados adicionais para testar novashipóteses.

III. História da epidemiologia: John Snow, o “pai da epidemiologia”

(Vigilância em Saúde Pública)

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IV. Exemplos de dados epidemiológicos importantes para a Saúde

Coletiva (Sapude Brasil 2007)

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IV. Exercício em grupo: interpretar as tabelas apresentadas (Vigilância em

Saúde Pública, trabalho de Snow, 13-14 e Saúde Brasil 2007)

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IV. Exercício em grupo: interpretar as tabelas apresentadas (Vigilância em

Saúde Pública, trabalho de Snow, 13-14 e Saúde Brasil 2007)

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IV. Exercício em grupo: interpretar as tabelas apresentadas (Vigilância em

Saúde Pública, trabalho de Snow, 13-14 e Saúde Brasil 2007)

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IV. Exercício em grupo: interpretar as tabelas apresentadas (Vigilância em

Saúde Pública, trabalho de Snow, 13-14 e Saúde Brasil 2007)

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IV. Exercício em grupo: interpretar as tabelas apresentadas (Vigilância em

Saúde Pública, trabalho de Snow, 13-14 e Saúde Brasil 2007)