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  • Santo Toms de Aquino

    COMPNDIODE

    TEOLOGIA

    Traduo e Notas de D. Odilo Moura, OSB.

    PRESENA

    RIO DE JANEIRO RJ.

    1977

  • Copyright Mosteiro de S. Bento Rio de Janeiro

    NIHIL OBSTATD. Emanuel d'Oliveira de Almeida

    01/11/1977

    IMPRIMATURD. Incio Barbosa Accioly Abade

    01/11/1977

    Abadia Nullius de N. S.a do MonserrateRio

    PRESENA EDIESRua do Catete, 214S. 211 Rio de Janeiro RJ

    Impresso no Brasil1977

    PREFCIO TRADUO

    O Compendium Theologiae, que as primitivas colees das obras de Santo Toms de Aquino tambm intitularam Brevis Compilatio Theologiae ad Fratrem Raynoldum de Piperno, e De Fide, Spe et Charitate ad Fratrem Reginaldum Socium Suum1 dos mais proveitosos trabalhos do Santo. Alm de desenvolver, em sntese perfeita, os principais temas da Teologia, encerra, no contexto desta cincia, uma perfeita smula filosfica. Elaborado que foi nos derradeiros anos da vida do autor, manifesta, em no poucas questes, o seu ltimo pensamento sobre as mesmas. Embora no terminado, as partes escritas do Compndio de Teologia so rica fonte da doutrina tomista.

    Na Primeira Parte, referente F, a nica completa, onde so explicados os mistrios da Revelao, na ordem em que o Smbolo dos Apstolos os contm, est exposta quase toda a Teologia, em estilo conciso, exato, lgico e claro. Sob a luz da Revelao Virtual e da considerao de Deus "sub ratione Deitatis", so esclarecidos os tratados de Deus Uno e Trino, da Criao, da Redeno e da Escatologia. Por isso, pode-se considerar esta obra como uma introduo Teologia do Doutor Anglico.

    inegvel o valor filosfico das pginas do Compndio de Teologia. A inteligncia genial e multiforme do grande

    5Mestre medieval no se limitou ao estudo das questes teolgicas, embora nela a atividade teolgica sempre estivesse em primeiro plano. Compreende-se. Mergulhado que estava na contemplao de Deus, era natural que mais atrasse ao Santo a sabedoria amorosa da Divindade, que a cincia racional do Ser. No podendo, porm, fazer boa e autntica Teologia2, sem que a 1 Cf. Mandonnet O. P., Pedro. Des crits Authentiques de Saint Thomas dAquin. Revue Thomiste, 1909, p. 158, 257, 274.2 "Sem a F sobrenatural no h Teologia crist. (...) Como nos bastaria um assentimento cego, sem o esforo de compreenso do contedo da F? No somos papagaios; somos seres dotados de inteligncia. Tendo Deus falado, quis comunicar verdades, e no vocbulos sem sentido. Incumbe-nos, portanto, penetrar e assimilar os degraus que a Igreja prope como revelados por Deus. Elevada pela F ordem de cincia divina, normal que a inteligncia, assim divinizada, queira atuar; ora, para a inteligncia, atuar compreender. Passamos, destarte, sem hiato, do simples

    2

  • razo estivesse aperfeioada pelo hbito da Filosofia intimamente presa realidade das coisas, evitando, assim, que a "cincia de Deus" se degradasse e tombasse no plano da imaginao e da fico, o Doutor Anglico, fundamentando-se, em primeiro lugar, em Aristteles, conseguiu o instrumento apto para a sua especulao teolgica, e nos legou a verdadeira Filosofia. Nele, o filsofo nasceu do telogo, mas nem por isso a sua Filosofia confundiu-se com a Teologia. Respeitando sempre o objeto formal daquela cincia, Santo Toms fez que ela servisse a esta, conservando a sua independncia prpria. Santo Toms foi tambm filsofo, e lcito dizer que h uma filosofia Tomista3. Muitas das suas obras so exclusivamente filosficas. Mas mesmo das suas obras teolgicas pode-se retirar todo o contedo da Filosofia que lhe prpria. Tra-

    6balho difcil, sem dvida, este de descobrir os temas filosficos nos teolgicos, e de reduzi-los pureza da razo natural, que no deixa de ter os seus riscos4: tarefa rdua, delicada, como a do garimpeiro a separar as pedras preciosas da areia que as esconde. O Compndio de Teologia est prenhe de doutrina filosfica, e nele esto expostas as teses fundamentais do tomismo: a intuio e a realidade do Ser; o ato e a potncia, a essncia e a existncia como princpios do Ser; a diviso deste em substncia e acidente; a matria e a forma como princpios essenciais do ser corpreo; o conhecimento sensitivo e o conhecimento intelectivo; a unidade e as potncias da alma humana; a unidade de Deus e os seus atributos. Entregando-se ao atraente labor de procurar, nesta traduo, os elementos da Filosofia do Doutor Anglico, o Leitor curioso, calculados os riscos, descobrir nos argumentos teolgicos todo um tesouro metafsico neles contido.

    * * *

    Seguro da slida amizade que o mestre frei Toms lhe dedicava, o confrade frei Reginaldo de Piperno lhe pede que escreva para o seu uso pessoal uma sinopse da doutrina sagrada. Ofereceu-lhe ento o bom Mestre "um compndio da doutrina crist, de modo a t-lo sempre diante dos olhos" (cap. I), no podendo deixar de satisfazer o desejo do discpulo amado, a quem sempre se dirige como "filho carssimo", premido pela terna afeio para quem era, para ele, como um alter ego. Desde 1259, logo aps o seu primeiro magistrio em Paris, escolhera Mestre Toms de Aquino a seu confrade Reginaldo para seu socius frater, a quem se tornara afeioado, j por ser filho da sua ptria, j devido sua piedade e compreenso da Teologia, e tambm porque era para si extremamente dedicado. Alm disso, como o Mestre, o frater socius pertencia Provncia Dominicana de Roma. Era costume, naqueles incios da Ordem, que os mestres mais atarefados e notveis escolhessem para seu servio um confrade, que lhe auxiliaria nos cuidados materiais e nos trabalhos de pesquisa e de preparao das aulas, enfim, um secretrio quase fmulo. Frei Reginaldo fazia tudo isso para o Santo, mas ultrapassou em zelo o que de si a funo exigia. Alm de secretari-lo em

    7tudo, escrevia os livros que Mestre Toms lhe ditava; arrumava-lhe a cela, na qual tambm dormia; acompanhava-o dia e noite, aonde ele fosse; recebia-lhe as confidencias e mutuamente se ouviam no sacramento da Confisso. Santo Toms dedicou trs obras, alm do Compndio, a Reginaldo. Os ltimos e edificantes momentos da vida do grande Santo, assiste-os frei Reginaldo, e dele recebe as

    assentimento a um saber inteligvel; a F desabrocha em Teologia. Comeamos por crer, e, depois, dentro da F, tentamos chegar a uma certa inteleco." Penido. Pe. M. Teixeira Leite. O Mistrio da Igreja. Vozes, 1956, p. 37. Cf. Congar, M. J. D. T. C, vol. XV, 342. Thologie.3 "Um estudo profundo e atento das obras de Aristteles e de Santo Agostinho, descobriu-lhe (a Santo Toms), atrs da letra, o verdadeiro estilo de ambos, que no era antittico nem antagnico, mas perfeitamente harmonioso no fundo, como todos os fragmentos da verdade. Apoderou-se, pois, desse esprito, e elevando-o ao mximo com o impulso de seu prprio gnio, conseguiu reunir, numa sntese prpria e pessoal, mas muito superior, o quanto de bom e so eles haviam dito, pondo como base a experincia e a tcnica aristotlica, e, como remate, as geniais intuies agostinianas, enriquecidas com contribuies pessoais dos melhores quilates. Sntese grandiosa que fez sofrer profundas transformaes aos elementos reunidos com no poucas, nem leves, retificaes, a que "sempre aspiraram Aristteles e Santo Agostinho." Ramirez-Santiago. Introduccin a Tomas de Aquino. B. A. C, Madri, 1975, p. 117.

    Cf. Gilson-Etienne. Le Thomisme, 5me. ed. Paris, 1944, p. 37 e ss.; Maritain, Jacques. Le paysan de Ia Garonne. Descle de Brower, Paris, 1966, p. 197, 201.4 Cf. Nicolas O. P., J. H. Dieu connu comme inconnu. Descle de Brower, Paris, 1966, p. 293.

    3

  • ltimas palavras e o ltimo olhar. Morto Santo Toms, a quem durante quinze anos servira fiel e cotidianamente, o socius frater sobrevivente ser o primeiro a propagar-lhe o culto; recolhe, classifica e cataloga-lhe as obras. Por feliz iniciativa, pois ningum seno ele poderia faz-lo, completa a III Parte da Suma Teolgica, que ficara inacabada, e substitui o grande Doutor na Ctedra de Teologia da Universidade de Npoles. No fora o humilde frei Reginaldo, dificilmente teriam chegado a ns tantos e preciosos pormenores da vida do amigo santo, e muitas das suas obras estariam perdidas5. O rgio presente que era o Compndio de Teologia, pedao da alma amantssima e reflexo da inteligncia clarssima do Doutor Anglico, frei Reginaldo no quis conserv-lo s para si, mas, divulgando-o, abriu para todos as pginas de um dos mais importantes tratados da Teologia Catlica.

    * * *

    Conhecido o destinatrio, melhor se pode compreender o significado do livro que o Mestre redigira com a inteligncia, e o Santo, com o seu ternssimo corao. Se todos os seus escritos saem de uma alma ardorosa de caridade, amantssima de Deus e dos homens, este especialmente embebido de amor. Se o fim da obra, no Compndio de Teologia, est dirigido para a mais rigorosa Teologia cientfica, o fim que o autor teve em vista, ao escrev-lo, foi despertar, na alma do "carssimo filho", a santidade, que, na caridade, encontra a perfeio: "caridade, pela qual a tua afeio deve ser inteiramente ordenada" (cap. I). A finalidade do livro , portanto, espiritual. Se a Primeira Parte desenvolve-se em argumentos estritamente racionais, parcimoniosa em citaes da Escritura, os poucos captulos terminados da Segunda Parte, abundantemente baseados em textos escritursticos e patrsticos, prenunciavam uma obra, talvez

    8exaustiva, de Teologia Asctica e Mstica. Terminada se fosse, condensaria, qui, toda a espiritualidade do Doutor Anglico. Alis, para ele, a Teologia cincia especulativa e prtica, tratando tambm das aes humanas informadas pela graa, "das quais ela se ocupa enquanto, por elas, o homem se encaminha para o perfeito conhecimento de Deus, no