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Competitividade e complementaridade em circuitos turísticos: O caso dos circuitos turísticos de Minas Gerais Bruno Alves Ramos 1 Luiz Gustavo Camarano Nazareth Pablo Luiz Martins Vânia Aparecida Rezende de Oliveira Resumo: O presente artigo, fruto de uma dissertação de mestrado, buscou identificar a importância da competitividade e complementaridade no desenvolvimento de circuitos turísticos. Inicialmente foi realizada uma abordagem teórica a respeito do tema. Após isso, uma pesquisa foi feita com os gestores dos circuitos turísticos de Minas Gerais, abordando 79% destes. Dentre os resultados, conclui- se que todos os gestores entrevistados concordam que com a criação de circuitos turísticos a atratividade e permanência de visitantes nos municípios e/ou região que os compõem pode aumentar. Além disso, a maioria considera positiva a competição e complementaridade entre os municípios de determinado circuito, coincidindo com a opinião dos variados autores abordados no trabalho e podendo ser estes, aspectos de grande utilidade no processo de desenvolvimento e gestão dos circuitos. Palavras- chave: Circuitos Turísticos. Minas Gerais. 1. Introdução No âmbito da atividade turística, não apenas os países competem no mercado internacional, mas principalmente cada vez mais as cidades ou regiões assumem papel de destaque na disputa pelos fluxos de visitantes, ancorando- se em diferenciais competitivos que as tornam singulares no mercado global. Além disso, há uma tendência cada vez maior de minimizar as instituições no nível nacional, que deixam de competir com outros atores do setor privado ou do setor público em nível local (DIAS, 2003). A abertura dos mercados força os países a redefinirem as funções dos organismos do nível central, fortalecendo- se seu papel na definição das políticas nacionais e diminuindo gradativamente sua função de execução das políticas em determinadas áreas, aumentando a autonomia municipal através da descentralização. 1 Universidade Federal de São João del- Rei - UFSJ / IPTAN E- mail: [email protected]

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Competitividade e complementaridade em circuitos turísticos: O caso dos circuitos turísticos de Minas Gerais

Bruno Alves Ramos1 Luiz Gustavo Camarano Nazareth

Pablo Luiz Martins Vânia Aparecida Rezende de Oliveira

Resumo: O presente artigo, fruto de uma dissertação de mestrado, buscou identificar a importância da competitividade e complementaridade no desenvolvimento de circuitos turísticos. Inicialmente foi realizada uma abordagem teórica a respeito do tema. Após isso, uma pesquisa foi feita com os gestores dos circuitos turísticos de Minas Gerais, abordando 79% destes. Dentre os resultados, conclui-se que todos os gestores entrevistados concordam que com a criação de circuitos turísticos a atratividade e permanência de visitantes nos municípios e/ou região que os compõem pode aumentar. Além disso, a maioria considera positiva a competição e complementaridade entre os municípios de determinado circuito, coincidindo com a opinião dos variados autores abordados no trabalho e podendo ser estes, aspectos de grande utilidade no processo de desenvolvimento e gestão dos circuitos. Palavras- chave: Circuitos Turísticos. Minas Gerais. 1. Introdução

No âmbito da atividade turística, não apenas os países competem no mercado

internacional, mas principalmente cada vez mais as cidades ou regiões assumem papel de

destaque na disputa pelos fluxos de visitantes, ancorando-se em diferenciais competitivos que

as tornam singulares no mercado global.

Além disso, há uma tendência cada vez maior de minimizar as instituições no nível

nacional, que deixam de competir com outros atores do setor privado ou do setor público em

nível local (DIAS, 2003). A abertura dos mercados força os países a redefinirem as funções

dos organismos do nível central, fortalecendo-se seu papel na definição das políticas nacionais

e diminuindo gradativamente sua função de execução das políticas em determinadas áreas,

aumentando a autonomia municipal através da descentralização.

1 Universidade Federal de São João del-Rei - UFSJ / IPTAN E-mail: [email protected]

Sob esse prisma, o Brasil vem modificando sua política de turismo nacional em prol

de uma administração mais descentralizada, transferindo para os estados a gestão e a captação

dos investimentos necessários na área, como o Programa Nacional de Municipalização do

Turismo – PNMT, que vigorou de 1994 até 2001, e, posteriormente, o Plano Nacional de

Turismo – PNT, implantado em 2003 e em vigor até hoje.

Seguindo as diretrizes nacionais os Estados vem adotando variadas formas de gerir sua

atividade turística de maneira descentralizada e regionalizada, modificando

consideravelmente sua forma de gestão. E o Estado de Minas Gerais fez isso com a criação de

circuitos turísticos.

Os circuitos turísticos do Estado de Minas Gerais são associações formadas por um

conjunto de municípios próximos entre si e que desejam desenvolver seus produtos turísticos

conjuntamente. Com uma gestão unificada e participativa, o circuito tem a autonomia de

representar seus municípios integrantes na política de turismo do Estado, encaminhado

projetos, solicitando recursos, etc., além disso, apenas integrado em circuitos turísticos um

município é contemplado pela política de recursos de turismo estadual.

Um dos principais objetivos da política de formação dos circuitos turísticos do Estado

de Minas Gerais é proporcionar um aumento do número de visitantes e a permanência destes

em seu interior, visando uma maior geração de emprego e renda nos municípios abrangidos

pela região do circuito (MINAS GERAIS, 2003).

Diante disso, o presente trabalho procura analisar a percepção dos gestores desses

circuitos turísticos a respeito da competitividade e complementaridade entre seus municípios.

A primeira e segunda parte enfatiza os efeitos da competitividade e complementaridade,

respectivamente, nos circuitos. A terceira revela a metodologia abordada na pesquisa e a

quarta os resultados obtidos. Por fim, na quinta parte, algumas considerações são expostas.

2. A competitividade nos circuitos turísticos

A competição dentro de um circuito, ou seja, entre seus municípios participantes,

pode colaborar para sua competitividade e desenvolvimento como um todo. Além disso, a

interação e complementaridade destes municípios podem se tornar características

imprescindíveis para esse desenvolvimento.

Para Valls (1996), em um destino turístico, os produtos ou atrativos turísticos

competem entre si. Cada destino desenvolve uma massa crítica de produtos compatíveis e

competitivos, com prioridades claras de rentabilidade econômica e social, permitindo

conjuntamente a captação dos consumidores exteriores.

Dias (2003) ressalta que uma cidade em si mesmo contém muitos produtos e deve-se

saber definir aqueles com os quais se possa competir nos variados mercados, dentre eles, o

regional. Para o autor, não é possível todas as cidades competirem em todos os produtos

turísticos. “Há múltiplos produtos turísticos que se encontram nos marcos da cidade, que

aqui é compreendida como o produto turístico global” (DIAS, 2003: 187).

Assim, um dos produtos que compõem o produto global constituirá a singularidade

do produto turístico cidade, pelo qual será conhecida e pelo qual se criará um fluxo turístico

para o município. No entanto, o autor complementa que para atrair esse fluxo incentivado pela

singularidade do local para outros atrativos existentes ao seu redor, permitindo que os

visitantes valorizem o produto turístico global acima de sua singularidade, é necessário

planejamento e muita organização.

O mesmo raciocínio pode ser aplicado aos Circuitos Turísticos. Em uma visão mais

ampla, colocam-se os produtos turísticos de todo o circuito como um produto turístico global,

e elege-se um, pela sua singularidade, como o produto turístico típico do circuito, aqui, em

associação ao produto turístico cidade. Assim, exigirá dos integrantes do circuito um esforço

para que os visitantes não apenas explorem o produto turístico que mais se destaca no

circuito, ou o produto turístico típico, mas que circulem em todo o circuito, ou seja, valorizem

o produto turístico global, por exemplo.

Neste sentido, na decisão de compra, os consumidores se mostram fiéis a um destino

não só em conseqüência de um produto determinado, mesmo que este seja especializado, mas

também pela ordenação do conjunto entre eles, permitindo ao turista viver uma experiência.

Além disso, com uma ampla busca de aprimoramento e aperfeiçoamento de cada município,

no intuito de atrair cada vez mais novos visitantes, o circuito como um todo automaticamente

se desenvolve, como um novo “produto global ampliado”, aqui, também associado ao

produto turístico cidade (DIAS, 2003), gerando um maior fluxo de turistas para região.

Uma das grandes vantagens que estes municípios têm, ao estarem participando e

incluídos em circuitos, é que atividades como divulgação de atrativos, implantação de

sinalização, construção de vias de acesso, dentre outras, são realizadas em conjunto, obtendo

desta forma as mesmas “vantagens competitivas” (MONTGOMERY E PORTER, 1998;

PORTER, 1999) das obtidas por um destino turístico consolidado.

Isso diminui o desgaste político para a obtenção de investimentos, que na maioria

das vezes, no Brasil, demoram a serem liberados, diminui também o tempo na elaboração de

projetos, já que muitos servem para todos os municípios do Circuito.

Porter (1999), quando se refere aos determinantes da vantagem competitiva

nacional, ou como denominado por ele “diamante” da vantagem nacional, ressalta que o papel

da rivalidade doméstica ilustra a atuação do “diamante” como sistema de reforço mútuo. “A

acirrada rivalidade doméstica estimula o desenvolvimento de um pool exclusivo de fatores

especializados, sobretudo se os rivais se localizam em uma cidade ou região” (PORTER,

1999: 195).

Para o autor “As diferenças nos valores nacionais, a cultura, as estruturas

econômicas, as instituições e a história são fatores que contribuem para o êxito competitivo.

[...] Nenhum país é capaz de competir em todos e nem mesmo na maioria dos setores”

(PORTER, 1999: 167).

Além disso, ele complementa que toda localidade seja um país, uma região ou uma

cidade, apresenta um conjunto de condições locais únicas que escoram a capacidade das

empresas lá situadas de competir em determinado campo. Para ele, “a vantagem competitiva

de uma localidade geralmente não emerge em empresas isoladas, mas em conjunto”

(PORTER, 1999: 401).

Essas afirmações podem se tornar visíveis com a formação de circuitos turísticos,

isto porque estes reúnem um grupo de municípios com objetivos similares, ou seja, a atração

de visitantes, e as peculiaridades de cada um se transformam em um chamariz para os turistas,

se tornando mais uma ferramenta desta competitividade.

O melhor é que todos os esforços produzidos por estes municípios visam o

desenvolvimento do circuito como um todo, assim, o ganho gerado pela atividade turística das

partes (os municípios), colaboram para a geração de renda e trabalho para toda a região onde

o circuito se insere.

3. A complementaridade nos circuitos turísticos

O destino turístico constitui-se, simultaneamente, em espaço de produção e de

consumo, nesse contexto, a especialização turística é obtida através das relações de

complementaridade e concorrência com outros setores produtivos (LOZATO, 1990).

Beni (2006) ressalta que o valor agregado percebido pelo turista em relação às

destinações complementares, trabalhadas em conjunto, é maior que os valores percebidos de

maneira individual e isolada. Para ele, a utilização da imagem que cada destinação dispõe

para os segmentos de demanda pode ser potencializada quando realizada pelo trabalho

conjunto de formatação de produtos turísticos primários entre as destinações.

Na formação de circuitos turísticos essa complementaridade se torna essencial e,

conseqüentemente, visível. O desenvolvimento conjunto de produtos turísticos, como a

formatação de roteiros, junto à singularidade que cada município possui, possibilita um maior

valor agregado percebido pelo visitante.

Tomás e Masgrau (1998) ressaltam que os modelos de multidestinação, como no

caso dos circuitos turísticos, possibilitam que o visitante busque não apenas os principais

destinos, mas também os complementares e secundários, proporcionando um maior

aproveitamento do espaço geográfico.

Assim, o potencial turístico da multidestinação apresenta benefícios consideráveis

ao turista que se encontra em uma redução de tempo e de custo da viagem, combinando

diversos destinos em apenas uma viagem. Além de uma otimização das expectativas do grupo

de viajantes, pois estas são sempre diferentes entre os membros do grupo, de forma que o

conjunto de destinos ou atrativos visitados na multidestinação combinam interesses de todos

os participantes no itinerário, circunstância pouco provável nos itinerários de destino simples

(TOMÁS E MASGRAU, 1998).

Para esses autores, a combinação de conceitos motivacionais e geográficos se

desprende da idéia de atração acumulativa, que permite valorar grupos de atrativos que

independentemente teriam escasso valor. Quando os atrativos se juntam, oferece-se uma

massa crítica superior às individuais, conseguindo um espaço geográfico mais amplo e uma

maior penetração nos mercados.

Aprofundando mais na análise da multidestinação, Chi-Chuan Lue (1993 apud

TOMÁS E MASGRAU, 1998) diferencia duas tipologias básicas de combinação de atrativos,

os similares e os complementares e compatíveis. Para os autores, a complementaridade

indicada depende da estrutura espacial, além da proximidade entre os atrativos e da distância

de ambos relativa ao ponto de origem.

Para Vera (1997), a complexidade do produto turístico deriva do próprio fenômeno

do turismo e de seu peculiar significado como atividade econômica. Para o autor, este seria

uma combinação de prestações e elementos tangíveis e intangíveis que oferecem benefícios

ao cliente como resposta a determinadas expectativas e motivações. Assim, se concebe o

produto turístico como a realidade integrada que capta ou percebe a demanda turística, e que

não se compõe de um só elemento, mas sim que compreende um conjunto de bens, serviços e

entorno, que o visitante percebe ou utiliza.

A complementaridade entre os municípios pertencentes a um circuito turístico é uma

das principais características da dinâmica dos circuitos. Valls (1996: 219) estrutura os

produtos turísticos como principais, periféricos e complementares, e caracteriza seus

respectivos benefícios. (Figura 1.1):

Figura 1.1 Estruturação do Produto Turístico. Fonte: (VALLS, 1996).

Nos Circuitos Turísticos é possível encontrar, analogamente como fez Valls, mas

tomando-se cada município como se fosse um produto turístico, as três denominações,

mostradas na fig 1.2, abaixo.

Produto Periférico

Produto Complementar Produto

Complementar Produto Complementar

Produto Periférico

Produto

Principal

Produto Periférico

Produto Complementar

Produto Periférico

Produto Complementar

Produto Complementar

Figura 1.2 Complementaridade dos municípios no Circuito Turístico. Fonte: Adaptado de Valls (1996).

Em grande parte dos Circuitos, existe dentre seus municípios pertencentes aquele(s)

com uma infra-estrutura mais completa para recepção de visitantes, como uma maior

variedade de restaurantes, hotéis, pousadas, dentre outros. Isto porque eles já possuem uma

demanda para tais serviços. Esta demanda pode não ser apenas turística, mas por outros

motivos, como negócios. Tal(is) município(s), em uma visão sistêmica do Circuito Turístico,

poderiam ser chamados de município Principal.

Há também os municípios possuidores de atrativos que de certa forma geram alguma

demanda de visitantes, e que por sua vez já possuem uma certa oferta de infra-estrutura, como

hospedagem e alimentação, mas não se comparando aos municípios principais, podendo ser

chamados de municípios Periféricos.

Além de existirem os municípios possuidores de alguns atrativos turísticos, cuja

demanda por visitantes não justificam determinados investimentos, e os riscos para tal são

elevados, podendo assim ser chamados de municípios Complementares.

Neste sentido, a formação do Circuito pode fazer com que os municípios

complementares tenham seus atrativos visitados por turistas de regiões mais distantes, não se

preocupando com o risco de se fazer grandes investimentos, como construção de hotéis, para

recebê- los, já que dentro do circuito, onde a distância entre os municípios não pode ser

Complementar

Complementar

Principal

Complementar

Periférico

Principal Periférico

Interação entre todos no Circuito

grande, este visitante pode contar com uma infra-estrutura melhor no município principal,

e/ou no complementar, com serviços de hospedagem, saúde, comunicação, etc. Assim, apenas

baixos investimentos como preservação de atrativos, construção de restaurantes, lojas de

artesanato e souvenires, dentre outras, poderiam ser suficientes para que os visitantes

provocassem uma maior geração de renda para o município complementar.

O município principal se beneficia também pelo aumento da permanência dos

visitantes na região, na busca por conhecer outros atrativos que não sejam apenas na cidade

mas também nos municípios vizinhos, complementares e periféricos, pertencentes ao circuito.

Este fato eleva a receita dos empreendedores turísticos do município e conseqüentemente

aumenta a distribuição de renda na comunidade em geral. Com isso o município principal

adquire forças para se adaptar aos gostos e preferência dos visitantes, aumentando o nível de

satisfação e a garantia do retorno destes na região.

E os municípios periféricos também poderiam se desenvolver mais com o fluxo

maior de turistas na região. O Circuito Turístico proporciona ao visitante uma maior

variedade de atrativos, nas diversas cidades, possibilitando a todos os municípios um

incremento na demanda. Assim, com um aumento do fluxo de seus visitantes, o município

periférico adquire condições de aperfeiçoar, desenvolver e ampliar sua estrutura existente, no

sentido de satisfazer as necessidades dos clientes, e, conseqüentemente, mantê- los no local.

Ressalta-se que nem todos os circuitos possuem dentre seus municípios um ou mais

que seja o principal, mas a interação entre eles gera um produto regional global, já que a

distância entre eles é pequena e conseqüentemente o deslocamento entre cada um também é

pequeno.

É importante ressaltar também que a existência desta complementaridade nos

circuitos turísticos pode contribuir para que os municípios periféricos se tornem principais e

os complementares se tornem periféricos, além de fortalecer a atividade turística dos

municípios principais, e mesmo não havendo esta mudança de categoria nos municípios, a

possibilidade de desenvolvimento da atividade turística destes será maior.

Com isso, o desenvolvimento e crescimento que cada município do circuito busca,

seja ele principal, periférico ou complementar, na intenção de atrair cada vez mais visitantes,

é benéfico para todos os outros integrantes. Desde que este desenvolvimento esteja focado na

satisfação do turista, da comunidade, na preservação do meio ambiente, ou seja, que tenha

uma visão de sustentabilidade.

A complementaridade no circuito turístico exige um trabalho dinâmico e em

conjunto entre seus integrantes, e a cooperação entre eles se torna essencial. Beni (2006)

ressalta que a cooperação pode ser citada como um dos principais tipos de relacionamento

entre um agrupamento de destinações, e ainda cita duas estratégias de desencadeá-la.

A primeira é a estruturação do empresariado através de estímulo à criação de

associações setoriais representativas, o que propiciará maior força e representatividade do

empresariado perante o governo e também um maior poder de barganha perante os seus

fornecedores. A segunda é o estabelecimento de fóruns de discussão capazes de aproximar a

visão dos diferentes setores da atividade turística quanto ao produto turístico final oferecido e

as relações necessárias entre eles para que tal produto seja competitivo no mercado.

Assim, a diferenciação do produto como um todo oferecido pelo circuito turístico,

através de um processo de contínua inovação, estimulado pela competição e potencializado

pela cooperação de seus integrantes, pode gerar benefícios para toda região onde ele se insere.

4. Metodologia A pesquisa de campo foi realizada no período de outubro a dezembro de 2006 e

encaminhada, via correio postal eletrônico, para todos os gestores dos circuitos turísticos de

Minas Gerais. Como não foram recebidas as respostas de todos os entrevistados, procedeu-se

à pesquisa via telefone e pessoal.

Assim, abordaram-se no total 38 gestores dos circuitos turísticos de Minas Gerais.

Destes, 34 já estavam certificados pela Secretaria de Estado do Turismo (SETUR) e o

restante, 4, estavam se estruturando para o processo de certificação. Como o Estado

apresentava um total de 48 circuitos, sendo 36 certificados, 2 em fase de certificação e o

restante (10) se estruturando para o processo de certificação, o percentual de gestores

abordado na pesquisa foi de 79%.

Escolheram-se os gestores dos circuitos turísticos de Minas Gerais para realização de

tal pesquisa porque são pessoas diretamente envolvidas na atividade turística de cada

município integrante de seu circuito e também responsáveis pela gestão integrada do circuito

como um todo.

Além disso, pelo fato dos gestores serem um dos principais representantes e

conhecedores da atividade turística regional a qual pertencem, a reunião destes em uma

pesquisa, abordando suas respectivas regiões, representa grande parte do território Estadual.

Para a realização da pesquisa foram utilizados questionários semi-estruturados

contendo questões fechadas e algumas questões abertas, para coletar opiniões que por ventura

se diferenciavam das opções de escolha.

5. Resultados Inicialmente, os resultados revelam as opiniões dos gestores quanto às suas visões a

respeito do principal objetivo da formação dos circuitos turísticos, ou seja, a atração e

permanência de visitantes, posteriormente, são reveladas opiniões com relação à

complementaridade e competitividade que podem ocorrer nos circuitos.

Quando solicitados para opinar sobre a afirmativa de que com a criação de um

circuito turístico o número de visitantes (turistas) nos municípios pertencentes a este circuito

pode aumentar, 100% dos gestores que responderam à entrevista concordaram com tal

afirmativa.

E com relação à afirmativa de que com a criação de um circuito turístico a

permanência destes visitantes no circuito tende a aumentar, novamente todos os gestores que

responderam à entrevista concordaram, ou seja 100%, como mostra a tabela 1.1, abaixo.

Tabela 1.1 Opinião dos gestores sobre a afirmação de que com a criação de um circuito turístico o número e permanência de visitantes na região podem aumentar.

Opinião sobre a afirmação Freq. Abs.

Freq. Rel.(%)

Concordo 38 100

Indiferente 0 0

Discordo 0 0

Discordo Totalmente 0 0

Total 38 100

Assim, revelou-se que todos os gestores entrevistados concordam que com a criação

de circuitos turísticos a atratividade e permanência de visitantes nos municípios e/ou região

que os compõem pode aumentar.

Com relação à competitividade entre os municípios pertencentes a um circuito

turístico, três questões foram levantadas aos gestores. A primeira era “em seu circuito

existe(m) município(s) com atrativos que de alguma forma poderiam atrair visitantes que

estão em outras cidades deste circuito?”, nesta questão todos os gestores, ou seja, 100%,

responderam sim.

A segunda questão era “os municípios de seu circuito podem vir a competirem entre si

na atração de visitantes?. Nesta questão 84,2% dos gestores disseram que sim e o restante,

15,8%, não. Aos gestores que disseram sim, foi perguntada uma última questão, ou seja, o que

eles achavam de tal competitividade. A tabela 1.2 mostra a opinião dos gestores com relação a

esta questão.

Tabela 1.2 Opinião dos gestores sobre o efeito da competitividade nos circuitos turísticos de Minas Gerais

Opinião Freq. Abs.

Freq. Rel.(%)

M. Boa 16 42,1

Boa 10 26,3

Regular 4 10,5

Ruim 2 5,3

M. Ruim 0 0,0

Não resp. 6 15,8

Total 38 100,0

Como mostra a tabela 1.2, 42,1% e 26,3% dos gestores afirmaram que a

competitividade entre os municípios do circuito é muito boa e boa, respectivamente. 10,5%

acham que esta competitividade é regular e 15,8% dos gestores não responderam a esta

questão.

Com relação à complementaridade entre os municípios pertencentes a um circuito

turístico, foi perguntado aos gestores a seguinte questão: “Se um município pertencente ao seu

circuito não possui atrativos turísticos que influenciam diretamente na atração de visitantes,

mas, por outro lado, oferece boa hospedagem, e/ou alimentação, e/ou infra-estrutura, este

município pode contribuir para a permanência de visitantes no circuito?”. Nesta questão,

100% dos gestores responderam sim.

Para aqueles que disseram sim a esta questão, ou seja, todos, buscou-se uma opinião a

respeito dessa complementaridade para o circuito. Como mostra a tabela 1.3, 52,6% e 36,8%

dos gestores afirmaram que esta complementaridade é muito boa e boa, respectivamente, para

o circuito. E 10,5% dos gestores afirmaram que esta complementaridade é regular. Nenhum

gestor afirmou ser ruim ou muito ruim esta complementaridade para o circuito.

Tabela 1.3 Opinião dos gestores sobre o efeito da complementaridade nos circuitos turísticos de Minas Gerais

Situação Freq. Abs.

Freq. Rel.(%)

M. Boa 20 52,6

Boa 14 36,8

Regular 4 10,5

Ruim 0 0,0

M. Ruim 0 0,0

Total 38 100,0

6. Considerações finais

Os resultados revelaram que os gestores dos circuitos turísticos de Minas Gerais

reconhecem que com a criação de circuitos turísticos o número de visitantes na região pode

aumentar, o mesmo acontece com a permanência destes. Estes resultados vão de encontro

com o principal objetivo da política de formação de circuitos turísticos do Estado, ou seja,

aumentar a atratividade e a permanência de visitantes na região de cada circuito.

Com relação à competitividade entre municípios dentro do próprio circuito, a maioria

dos gestores reconheceu que há possibilidade de competição entre eles. A maioria revelou

também que esta competição é muito boa ou boa para o circuito, ou seja, a visão destes

gestores quanto à competitividade no circuito coincidiu com a dos variados autores citados

anteriormente, como Dias (2003), Valls (1996), Montgomery e Porter (1998), Porter (1999),

dentre outros.

Quanto à complementaridade existente entre os municípios dentro do circuito,

reconhecida por todos os gestores entrevistados, esta foi considerada muito boa ou boa para a

maioria dos gestores, opiniões estas que coincidem novamente com a de outros autores

citados anteriormente (LOZATO, 1990; BENI 2006; TOMÁS E MASGRAU, 1998).

Estes resultados também reforçam a analogia realizada entre a Estruturação do

Produto Turístico (VALLS, 1996) e a complementaridade dos municípios no Circuito

Turístico (fig. 1.2), classificando-os como Principais, Complementares e Periféricos.

Portanto, fica claro um entrosamento de opiniões entre gestores e variados autores,

v is ível também foi a boa aceitação destes gestores quanto competitividade e

complementaridade dentro dos circuitos, podendo ser de grande utilidade no processo de

desenvolvimento e gestão destes.

7. Bibliografia BENI, M. C. Análise estrutural do turismo. São Paulo: Senac, 1998. CHI-CHUAN LUE. et al. Conceptualization of multi-destination pleasure trips. Annals of Tourism Research. Vol 20. N 18, Pergamon Press, 1993. DIAS, R. Planejamento do Turismo: política e desenvolvimento do turismo no Brasil. São Paulo: Atlas, 2003. LOZATO-GIOTART, J. P. Geografía del turismo: del espacio contemplado al espacio consumido. Tadução de Jordi Soler Insa. Barcelona: Masson, 1990. MINAS GERAIS. Secretaria do Estado de Turismo de Minas Gerais. Turismo: Construindo um novo tempo - Circuitos Turísticos do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2003. MONTGOMERY, C. A; PORTER, M. E. Estratégia: a busca da vantagem competitiva. Rio de Janeiro: Campus, 1998. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO. Introdução ao turismo. São Paulo: Roca, 2001. PORTER, M. E. A Vantagem Competitiva dos Centros das Cidades. In: Competição = On Competition: estratégias competitivas essenciais. Rio de Janeiro. Campus, 1999. TOMÁS, J. C; MASGRAU, M. M. Manual de geografia turística de España. 2. ed. Madrid: Editorial Síntesis, 1998. VALLS, J. F. Las claves del mercado turístico. Bilbao: Ediciones Deusto, 1996. VERA, J. F. (Coord.). Análisis territorial del turismo. Barcelona: Ariel, 1997.