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1 FACULDADE EVANGÉLICA MACKENZIE DO PARANÁ ANA PAULA FERREIRA NUNES ANDRESSA SAKAMOTO AOKI COMPARAÇÃO ENTRE PACIENTES COM ESCLERODERMIA COM FAN NEGATIVO E POSITIVO CURITIBA 2020

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Page 1: COMPARAÇÃO ENTRE PACIENTES COM ESCLERODERMIA COM …

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FACULDADE EVANGÉLICA MACKENZIE DO PARANÁ

ANA PAULA FERREIRA NUNES

ANDRESSA SAKAMOTO AOKI

COMPARAÇÃO ENTRE PACIENTES COM ESCLERODERMIA COM FAN

NEGATIVO E POSITIVO

CURITIBA

2020

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ANA PAULA FERREIRA NUNES

ANDRESSA SAKAMOTO AOKI

COMPARAÇÃO ENTRE PACIENTES COM ESCLERODERMIA COM FAN

NEGATIVO E POSITIVO

Monografia apresentada como requisito

parcial para obtenção do grau

acadêmico em medicina da Faculdade

Evangélica Mackenzie do Paraná.

Orientadora: Dra. Thelma Larocca Skare

CURITIBA

2020

Page 3: COMPARAÇÃO ENTRE PACIENTES COM ESCLERODERMIA COM …

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N972 Nunes, Ana Paula Ferreira.

Comparação entre pacientes com esclerodermia com FAN negativo e positivo / Ana Paula Ferreira Nunes, Andressa Sakamoto Aoki — Curitiba, 2020.

Orientadora: Profa. Dra. Thelma Larocca Skare. Trabalho de Conclusão de Curso – Instituto Presbiteriano Mackenzie,

Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná, Curso de Medicina, 2020.

1. Esclerodermia. 2. Esclerose sistêmica. 3. FAN. I. Aoki, Andressa Sakamoto. II. Título.

CDD 616.544

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TERMO DE APROVAÇÃO

ANA PAULA FERREIRA NUNES

ANDRESSA SAKAMOTO AOKI

COMPARAÇÃO ENTRE PACIENTES COM ESCLERODERMIA COM FAN

NEGATIVO E POSITIVO

Monografia apresentada como

requisito parcial para obtenção do

grau acadêmico em medicina da

Faculdade Evangélica Mackenzie do

Paraná.

Orientadora: Dra. Thelma Skare

Aprovado em: __ / __ / __

COMISSÃO EXAMINADORA

________________________________________

Prof. 1 (Titulação e nome completo)

________________________________________

Prof. 2 (Titulação e nome completo)

________________________________________

Prof. 3 (Titulação e nome completo)

CURITIBA

2020

Page 5: COMPARAÇÃO ENTRE PACIENTES COM ESCLERODERMIA COM …

5

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à Deus pela saúde e pela oportunidade para realizar esse

trabalho.

À Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná pela possibilidade de

concluir essa etapa.

Agradecemos aos nossos familiares e amigos pelo amparo incondicional.

Agradecemos à nossa orientadora Dra. Thelma Larocca Skare pela

disposição e pela paciência ao nos orientar e instruir na realização desse

trabalho.

Ao Professor Dr. Fernando Issamu Tabushi pelo auxílio e instrução.

Agradecemos a toda equipe do Ambulatório de Reumatologia do HUEM

que colaborou para que o trabalho pudesse ser feito.

Aos nossos colegas de turma, pela amizade e companheirismo nesses 4

anos de curso.

Agradecemos também todas as pessoas que contribuíram para a

realização desse trabalho.

Eu, Ana Paula Nunes, gostaria de agradecer meus pais Roberto e

Lucinéia por sempre acreditarem no meu sucesso e por sempre de darem todo

o apoio possível, e também à minha irmã Carolina por todo suporte e incentivo.

Gostaria de agradecer ainda minha dupla Andressa Aoki, pela incrível parceria

ao realizar esse trabalho e pela amizade que será eterna

Eu, Andressa Sakamoto Aoki, gostaria de agradecer meus pais,

Humberto e Solange pelo apoio e amor incondicional, imprescindível nessa

jornada. Agradeço, também meu namorado, Douglas, pelo carinho e por se fazer

presente durante todos esses anos. Por fim, agradeço a minha dupla, colega,

amiga e irmã, Ana Paula F. Nunes. Agradeço por essa amizade e estima que

temos, que essa parceria perdure porque o amor e respeito permanecerão.

Page 6: COMPARAÇÃO ENTRE PACIENTES COM ESCLERODERMIA COM …

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“Algo só é impossivel até que alguém duvide e resolva provar o contrario”

Albert Einstein

Page 7: COMPARAÇÃO ENTRE PACIENTES COM ESCLERODERMIA COM …

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RESUMO

Introdução: Esclerodermia (“pele dura”) é uma doença autoimune não

contagiosa que causa fibrose na pele e nos órgãos internos. Pode ser

classificada em esclerodermia localizada ou esclerose sistêmica O fator

antinuclear (FAN) está presente em cerca de 90% destes pacientes. Não é

adequadamente estudado se os indivíduos com esclerodermia e FAN negativo

diferem clinicamente daqueles com FAN positivo. Objetivos: Comparar o perfil

clinico e epidemiológico de pacientes com esclerodermia que possuem fan

positivo com os que possuem fan positivo. Metodologia: Estudo retrospectivo

de prontuários de pacientes com esclerodermia do ambulatório do HUEM

atendidos durante os últimos 10 anos. Foram coletados dados epidemiológicos

(idade, sexo, idade ao início da doença, raça) , clínicos (envolvimento do

esôfago, penumonite, miosite, miocardite, Raynaud, cicatriz estelar, úlcera

digital, telangiectasia, calcinose, pericardite, pleurite, hipertensão pulmonar,

manifestação articular, rim) e presença ou não do FAN. Resultados: Foram

estudados 211 pacientes, desses 93% foram FAN positivo, com maior

prevalência do padrão pontilhado. A idade media do diagnóstico foi de 44 anos.

As manifestações clínicas mais frequentes foram o fenômeno de Raynaud

(95%), envolvimento do esôfago (63,4%) e cicatriz estelar ( 53.6%). Pacientes

com envolvimento renal (p: 0,03) e com calcinose (p: 0,02) eram mais FAN

negativos.Mulheres tinham mais FAN positivo ( p=0.04). Conclusão: Existem

diferenças epidemiológicas e clínicas em pacientes com esclerodermia FAN

positivo e negativo. Calcinose e crise renal esclerodermica são mais comuns nos

FAN negativos.Mulheres têm mais FAN positivo.

Palavras chaves: esclerodermia, esclerose sistêmica, fator antinuclear - FAN

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ABSTRACT

Background: Scleroderma (“hard skin”) is a non-contagious autoimmune

disease that causes fibrosis at skin and internal organs. It can be classified into

localized scleroderma or systemic sclerosis. The antinuclear factor (ANA) is

present in 90% of these patients. It is not adequately studied whether individuals

with scleroderma and ANA negative differ clinically from those with positive ANA.

Objectives: Compare the clinical and epidemiological profile of patients with

scleroderma who have a positive fan with those who have a positive fan.

Methods: Retrospective study of medical records of patients with scleroderma

from the HUEM outpatient clinic during the past 10 years. Epidemiological data

(age, sex, age at onset of the disease, race), clinical (esophageal involvement,

penumonitis, myositis, myocarditis, Raynaud, stellar scar, digital ulcer,

telangiectasia, calcinosis, pericarditis, pleuritis, pulmonary hypertension,

articular, kidney) and presence or absence of ANA. Results: 211 patients were

studied, of which 93% were ANA positive, with a prevalence of non-specific

stippling pattern. The average age of diagnosis was 44 years. The most frequent

clinical manifestations were Raynaud's phenomenon (95%), esophageal

involvement (63.4%) and fingertip scars (53.6%). Females had more ANA

positive (p=0.04). Patients with renal involvement (p: 0,03) and calcinosis (p:

0,02) were more ANA negative. Conclusion: There are epidemiological and

clinical differences in scleroderma patients with positive and negative ANA.

Females have more positivity for ANA. Calcinosis and renal involvement are

more common in those ANA negative.

Keywords: scleroderma, systemic sclerosis, antinuclear antibody - ANA

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 ……………………………………………………………………………. 21

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 …………………………………………………………………………… 20

Tabela 2 …………………………………………………………………………… 21

Tabela 3 …………………………………………………………………………… 22

Tabela 4 …………………………………………………………………………… 23

Page 10: COMPARAÇÃO ENTRE PACIENTES COM ESCLERODERMIA COM …

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................ 11

2. OBJETIVOS ............................................................................................... 13

2.1 Geral………………………………………………………………….............13

2.2 Específico………………………………………………………...........…….13

3. REVISÃO DE LITERATURA…………………………..............................…..14

4. METODOLOGIA……………………………………………………………........19

4.1 Critérios de inclusão…………………………..............................….........19

4.2 Critérios de excluisão…………………………..............................…........19

4.3 Análise estatística…………………………..............................…............ 19

5. RESULTADOS….…………………………….....………………...... ................20

6. DISCUSSÃO ............................................................................................... 24

7. CONCLUSÃO..............................................................................................28

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………………………….....…………….29

ANEXOS......................................................................................................34

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1. INTRODUÇÃO

Esclerodermia (“pele dura”) é uma doença autoimune não contagiosa que

causa fibrose na pele e nos órgãos internos. Pode ser classificada em

esclerodermia localizada ou esclerose sistêmica. A localizada afeta uma região

de pele, poupando os demais órgãos, e sendo mais comum em crianças, a

sistêmica, por sua vez, acomete também os sistemas internos do organismo,

sendo quatro vezes mais comum em mulheres do que em homens,

principalmente na 4ª década. (Comissão de Esclerose Sistêmica, 2019).

A esclerose sistêmica (ES) é uma doença inflamatória crônica que está

inserida em um grupo de doenças difusas que afetam o tecido conjuntivo, desta

forma, podem evoluir e afetar qualquer sistema ou tecido do corpo. A sua

patogênese é complexa e engloba um conjunto de manifestações que levam a

uma desregulação do sistema imune causando microangiopatias e

consequentemente um processo de fibrose na pele e nos órgãos internos.

(ZIMMERMANN, 2019). Apesar de ainda não existir publicações sobre a

incidência e prevalência de ES no Brasil, a incidência nos EUA é de 1-5 casos a

cada 1.000 habitantes, porém destaca-se que existe variação epidemiológicas

em função de fatores ambientais e genéticos. (HORIMOTO et al., 2017).

Existem duas formas clínicas da ES, dependendo da extensão do

acometimento, podendo ser dividido em cutânea limitada e difusa. O

acometimento da forma cutânea limitada envolve as extremidades, distalmente

aos cotovelos e joelhos, deixando-as espessadas e endurecidas. Esta, no

entanto, agride os tecidos de forma mais branda do que a cutânea difusa que

pode também afetar proximalmente os braços e coxas, afetando até a pele do

tronco e abdômen. A face, por sua vez, é afetada nos dois tipos. É importante

diferenciá-las, uma vez que a extensão da agressão da pele pode indicar o grau

de acometimento dos órgãos internos. (Comissão de Esclerose Sistêmica,

2019).

Na maioria dos pacientes, a primeira manifestação clínica de ambas as

formas é o Fenômeno de Raynaud, vasoespasmos que podem acabar

danificando pequenos vasos, caracterizada pela alteração de coloração das

extremidades em resposta à variação de temperatura e estresse. O

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comprometimento da forma limitada usualmente se apresenta na forma CREST

(calcinoses, Raynaud, doença Esofagiana, esclerodactilia e telangiectasias) e

está com frequência associada com hipertensão pulmonar, e quando comparada

a difusa, apresenta melhor prognóstico e maior sobrevida. (Ministério da Saúde,

2013). Já pacientes com a forma difusa, podem apresentar fibrose pulmonar,

comprometimento renal e no trato gastrointestinal.

Os critérios para classificar a esclerose sistêmica foi proposta pelo

American College of Reumatology (ACR), com o objetivo de uniformizar a

pesquisa de achados clínicos, permitindo fazer um diagnóstico mais precoce da

doença. Estes critérios foram separados em critério maior (esclerodermia

proximal às articulações metacarpofalangeanas ou metatarsofalangeanas) e os

critérios menores (esclerodactilia, ulcerações de polpa digital, fibrose pulmonar),

sendo necessário 1 maior ou 2 menores para fechar o diagnóstico. E de exames

laboratoriais complementares é feito o FAN (positivo em cerca de 95% dos

pacientes) e os anticorpos específicos como ACA, Scl-70 e anticorpos contra

RNA polimerase I, II e III. (SAMPAIO-BARROS, et al, 2013).

A pesquisa do fator antinuclear (FAN), é um exame que possui uma alta

sensibilidade, o que confere a sua importância no rastreamento de

autoanticorpos associados a doenças autoimunes. Os resultados devem ser

corroborados com a história clínica do paciente devido a sua baixa

especificidade e a possibilidade de positivar em pacientes saudáveis. (SILVA, et

al., 2018).

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2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

- Estudar comparativamente pacientes com esclerodermia que possuem FAN

positivo com os que possuem FAN negativo.

2.2 Objetivos Específicos

- Estudar se existem diferenças epidemiológicas em pacientes com

esclerodermia FAN positivo e negativo.

- Estudar se existem diferenças clinicas em pacientes com esclerodermia FAN

positivo e negativo.

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3. REVISÃO DE LITERATURA

A esclerodermia (ES) é uma doença do tecido conjuntivo causadora de

diversas disfunções no organismo de etiologia desconhecida (LEITE, et al

2013). Tem caráter autoimune e uma apresentação clínica heterogênea com um

curso variável e imprevisível. (HORIMOTO et al., 2017). É caracterizada pelo

espessamento e fibrose da pele, alterações vasculares e pelo acometimento de

órgãos internos. (ALMEIDA et al., 2015). Histologicamente, observa-se uma

alteração na síntese do colágeno, o que gera um aumento de depósito,

culminando em alterações tróficas na pele. (BOUER et al., 2008). Por não existir

um tratamento que atue na patogenia da doença, a conduta terapêutica se

concentra nas manifestações órgãos específicas. (ALMEIDA, 2014).

Por ser uma doença relativamente rara, seus dados epidemiológicos são

difíceis. Sua prevalência parece ser maior na América do Norte e na Austrália

quando comparada ao Japão e Europa. Com uma incidência 1:3 em homens e

mulheres, o sexo feminino é mais prevalente na doença e essa prevalência se

torna ainda maior quando relacionada a pacientes não brancos. (ALMEIDA,

2014). Os fatores de risco se baseiam em etnia, sexo, idade, fatores de risco

ambiental e história familiar. Os negro tem uma maior incidência quando

comparados à idades específicas com pacientes brancos, além de apresentarem

uma doença mais grave e de início mais precoce. A ES pode ocorrer em qualquer

faixa etária, sendo mais comum na quinta década, pacientes mais idosos

apresentam uma forma mais grave. A exposição a sílica e solventes aumentam

as chances do aparecimento da doença. (RANQUE, et. al., 2009).

Três mecanismos fisiopatológicos principais estão envolvidos na doença:

lesão vascular que culmina na liberação de vasoconstritores e hipóxia tecidual,

imunogenicidade levando a produção de anticorpos e disfunção de fibroblastos.

(ZUCKERMAN, et al., 2018). De acordo com Esposito, J, et al., 2016 o

complemento sérico baixo é um marcador sorológico que pode ocasionar a

atividade da doença na ES. Além disso, foi demonstrado que as manifestações

da ES são desencadeadas por uma desestruturação do sistema imune inato e

adaptativo, responsáveis pela ativação e consumo do complemento.

Page 15: COMPARAÇÃO ENTRE PACIENTES COM ESCLERODERMIA COM …

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Na maioria dos casos, encontram-se autoanticorpos contra antígenos

nucleares, os quais se associação as diferentes manifestações clínicas e

ajudam a determinar o prognóstico do paciente. Enquanto os anticorpos

anticenrômero (ACA) estão relacionados a forma mais limitada da pele com pele

protetor contra cardiomiopatias, o autoanticorpo antitopoisomerase 1 (anti-Scl-

70 ou antitopo1) tem relação com formas mais difusas da doença e maior risco

de cardiomiopatias e aumento da gravidade de doença pulmonar intersticial.

(SKARE, et al., 2011)

A esclerodermia é classificada em dois grandes grupos Esclerose

Sistêmica e Esclerose Localizada. (ZANCANARO et al., 2009). O exame da pele

pode ser semelhante ou idêntico nas síndromes localizadas e sistêmicas, o que

as diferencia é a apresentação clínica e o padrão de envolvimento cutâneo.

(CHUNG, et al., 2006).

As principais manifestações clínicas da esclerodermia não se limitam

apenas aos acometimentos cutâneos, podendo afetar demais órgãos e sistemas,

como afecções vasculares, musculoesqueléticas, gastrointestinais, renais,

pulmonares e cardíacas. (LEROY, E., 2001).

Comumente a primeira manifestação clínica é o Fenômeno de Raynaud,

podendo aparecer em mais de 90% dos casos. (SUNDERKOTTER, C. 2006). É

causada por alterações de temperatura ou exposição ao estresse, causando um

vasoespasmo que leva a três fases de mudanças de coloração da pele: palidez,

cianose e eritrema. Normalmente os episódios são dolorosos e podem causar

parestesia e dormência das mãos. Apesar de ser um fenômeno secundário mais

comum na esclerodermia, também pode aparecer em outras doenças

reumatológicas. (SINNATHURAI, P. 2013).

Por se tratar de uma doença rara, o diagnóstico da doença é dificultado.

Exigindo uma anamnese detalhada e um exame físico completo, bem como

exames laboratoriais, para diferenciar de outras doenças autoimunes que podem

ter clínicas semelhantes. (LEITE et al., 2013). No entanto, alguns sinais e

sintomas podem ser identificados precocemente sugerindo uma investigação da

doença, como o fenômeno de Raynaud, refluxo e dores musculoesqueléticas.

Page 16: COMPARAÇÃO ENTRE PACIENTES COM ESCLERODERMIA COM …

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Este diagnóstico precoce pode auxiliar no manejo e atenuar as complicações da

doença. (HUMMERS et al., 2014)

Para orientar o diagnóstico o Colégio Americano de Reumatologia

(American College of Reumatology – ACR) divulgou critérios para classificar a

ES. Fechando o diagnóstico para doença com um critério maior ou no mínimo

dois menores. Nessa classificação, o critério maior é preciso ter esclerose

proximal às articulações metacarpofalangianas ou metatarsofalangianas.

Enquanto o critério menor podendo ser esclerodactilia, úlceras ou microcicatrizes

ou perda de substância da polpa digital, fibrose pulmonar bilateral. (WALKER et

al, 2007).

Todavida, estes critérios não são eficientes para fazer um diagnóstico

precoce ou de sintomas no início do seu aparecimento. Desta forma, foi proposto

outra forma de classificação. Assim, os critérios para diagnosticar precocemente

a ES associando dados como Fenômeno de Raynaud (FR), com a

capilaroscopia periungueal e pesquisa de autoanticorpos. (LEROY et al, 2001).

Dividindo em esclerodermia sistêmica limitada (ESl) e a difusa (ESd). A forma

limitada cursa com acometimento cutâneo restrito às extremidades chegando

até cotovelos e joelhos, de evolução lenta, manifestações viscerais tardias, e que

atualmente é denominada Síndrome de CREST (calcinose, Raynaud, esôfago,

esclerodactilia, telangiectasia). Enquanto a difusa envolve um acometimento

cutâneo generalizado, podendo afetar até o tronco, face e membros, e ocorre de

forma mais rápida e comprometimento visceral precoce. (LEROY et al, 1988).

Por fim, em 2013 um grupo europeu criou critérios para o diagnóstico mais

precoce ainda, visando possibilitar o tratamento da ES na sua fase inicial. No

qual o escore de 9 pontos fecha o diagnóstico para doença, podendo marcar até

19 pontos - Espessamento cutâneo proximal às articulações metacarpo-

falangeanas (9 pontos); Espessamento cutâneo dos dedos: puffy fingers (2

pontos) ou esclerodactilia (4 pontos); Lesões nas pontas dos dedos: úlceras

digitais (2 pontos) ou pitting scar (3 pontos); Telangiectasia (2 pontos);

Capilaroscopia anormal (2 pontos); Hipertensão arterial pulmonar ou doença

intersticial pulmonar (2 pontos); Fenômeno de Raynaud - FRy (3 pontos);

Autoanticorpos associados à ES (3 pontos): anticentrômero ou

antitopoisomerase I ou anti-RNA polimerase III. (HOOGEN et al., 2013)

Page 17: COMPARAÇÃO ENTRE PACIENTES COM ESCLERODERMIA COM …

17

Este mesmo grupo europeu definiu três sinais de alarme para a ES, que

quando presente, o paciente deve ser encaminhado ao especialista. Sinal do FR,

espessamento cutâneo dos dedos (puffy fingers) e FAN positivo. Onde cerca de

90% dos pacientes com os três sinais de alarme possuem autoanticorpos

específicos para a doença. (MINIER et al., 2013). A pesquisa do Fator

antinuclear (FAN) é um exame indispensável, uma vez que é muito sensível,

presente em cerca de 95% dos pacientes. Porém, possui baixa especificidade,

uma vez que é positivo para outras doenças autoimunes, do grupo “doenças do

tecido conjuntivo”. (WALKER et al, 2007).

Cerca de 75-95% dos casos é evidenciado a presença de autoanticorpos

contra antígenos nucleares que estão associadas as diferentes formas de

apresentações clínicas da doença. O anticorpo anticentrômero (ACA) é

principalmente relacionado com o tipo ES limitada a pele, pouco associado com

o acometimento de vísceras. O antitopoisomerase 1 (anti-Scl-70 ou antitopo1),

está relacionado à forma mais agressiva da doença, a ES difusa, com afecção

de órgãos como o pulmão, e até causando uma insuficiência cardíaca

relacionada à doença pulmonar. Por sua vez, o anticorpo anti-U1-RNP apesar

de estar presente em outras doenças do tecido conjuntivo, como LES e

polimiosite, na esclerodermia está ligada a um melhor prognóstico da doença e

maior responsividade a corticoides. (SKARE et al, 2011).

Ainda não existe um tratamento que seja capaz de impedir o avanço da doença

ou curá-la. No entanto existem medicamentos capazes de aliviar sintomas

específicos e diminuir a evolução das complicações. O tratamento varia de

acordo com a extensão do acometimento de outros sistemas, se a doença se

encontra ativa, e pode ser controlada como inflamação, ou se já causou danos

irreversíveis como fibrose e necrose. (MATUCCI-CERINIC et al, 2009).

As terapias farmacológicas, em sua maioria, visam reduzir o processo

inflamatório ativo e da ação do colágeno. Os corticoesteroides tópicos podem

ser utilizados para lesões superficiais, os sistêmicos, por sua vez, só são uteis

na fase inflamatória ativa, não reduzindo a esclerose já estabelecida.

(BEDRIKOW, 2008). O principal fármaco utilizado para as manifestações

cutâneas é o metotrexato que se mostrou eficiente no tratamento da fibrose

cutânea em estágios iniciais. (POPE et al, 2001).

Page 18: COMPARAÇÃO ENTRE PACIENTES COM ESCLERODERMIA COM …

18

Em relação ao acometimento vascular que pode influenciar no

aparecimento do fenômeno de Raynaud pode ser controlado sem fármacos,

evitando fatores desencadeadores, como estresse, frio, tabagismo e cafeína. No

entanto, o uso de bloqueadores do canal de cálcio pode apresentar benefício

nos ataques isquêmicos. (THOMPSON et al 2001). A sildenafila também é

indicada para FR, sendo mais utilizada para ataques isquêmicos mais graves ou

não responsivos à bloqueadores do canal de cálcio. E as úlceras tendem a

reaparecer ou piorar após a interrupção do medicamento. (BRUECKNER et al,

2010).

A ciclofosfamida pode ser utilizada tanto na forma sistêmica quanto na

cutânea, a fim de reduzir o avanço da doença, e é o medicamento de escolha

para o tratamento da doença pulmonar intersticial. (TASHKIN et al, 2006). Para

a terapêutica renal, é mais utilizado os inibidores da enzima conversora de

angiotensina (IECA), principalmente o captopril. (PENN et al, 2007). Por fim,

para as manifestações gastrointestinais, é indicado os bloqueadores da bomba,

omeprazol, para amenizar as complicações do refluxo gastroesofágico. Pró-

cineticos para problemas da motilidade e dependendo da progressão da doença

pode ser necessário abordagens cirúrgicas. (CARDOSO et al, 2006).

Os autoanticorpos representam marcadores sorológicos para as doenças

autoimunes, sua detecção e quantificação vem se tornando uma importante

ferramenta para diagnóstico e avaliação de conduta para doenças

reumatológicas. (ALMEIDA, et al., 2009). Um dos achados sorológicos na

esclerodermia é o fator antinuclear (FAN), sendo a técnica de

imunofluorescência direta (IFI) em células HEp-2 o teste padrão outro padrão-

outro para a detecção desse auçoanticorpo. (VIANA, et al., 2009).

Page 19: COMPARAÇÃO ENTRE PACIENTES COM ESCLERODERMIA COM …

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4. MATERIAL E MÉTODO

Estudo retrospectivo de análise de prontuários de pacientes com

esclerodermia que frequentaram o ambulatório de reumatologia do HUEM de

janeiro de 2010 a janeiro de 2020.

Critérios de inclusão: Pacientes de ambos os sexos que preenchiam os

critérios classificatórios (9 pontos) do ACR/EULAR para esclerodermia.

Critérios de exclusão: Indivíduos com diagnóstico feito antes dos 16 anos

(forma juvenil) e com prontuários incompletos.

Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa: número 4.255.193

de 02/09/2020 (ANEXO 1)

Dados que foram coletados:

(a) - Epidemiológicos: sexo idade, idade de início da doença, raça e uso do fumo.

(b) - Clínicos: forma de esclerodermia, presença de Raynaud, grau de

envolvimento cutâneo na primeira consulta (medido pelo índice de Rodnam),

envolvimento de esôfago, pneumonite intersticial, miocardite, miosite,

hipertensão pulmonar primária, cicatrizes estelares, perda de dígitos,

telangiectasias, crise renal esclerodérmica.

(c)- Sorológicos; presença de FAN, anti centromero e anti topoisomerase ( SCL-

70).

Analise estatística:

Os dados foram coletados de pronturários em tabelas de frequência e

contingencia. Dados nominais foram comparados pelos testes de Fisher e qui

quadrado. Dados numéricos foram comparados pelos testes de Mann Whitney e

t não pareado. Significancia a ser adotada de 5%.

Page 20: COMPARAÇÃO ENTRE PACIENTES COM ESCLERODERMIA COM …

20

5. RESULTADOS

5.1 DESCRIÇÃODA AMOSTRA ESTUDADA:

Foram revisados os prontuários de 211 pacientes do ambulatório de

reumatologia do HUEM vistos nos últimos 15 anos. Na tabela 1 estão as

principais características clínica e epidemiológicas.

TABELA 1- DESCRIÇÃO DA AMOSTRA ESTUDADA: 211 PACIENTES COM ESCLERODERMIA.

Sexo 190 H / 21 M

Limitada 119/211

Difusa 58/211

Overlap 25/211

Sine esclero 8/211

Idade ao dx 16 a 74 Mediana de 44 ( 34-53)

Raça 119/177 58/177

Medsger 0-16 Mediana de 5 ( 3-7)

Rodnam M 0-48- Mediana de 10 (3-19)

Envolvimento de esôfago 123/194 (63.4%)

Pneumonite 99/197 (50.2%)

Miosite 19/200 (9,5%)

Miocardite 9/196 (4,5%)

Raynaud 194/204 (95,0%)

Cicatriz estelar 104/194 (53.6%)

Ulcera digital 22/178 (12.3%)

Telangiectasia 79/187 (42.2%)

Calcinose 26/182 (14.2%)

Pericardite 11/197 (5.5%)

Pleurite 13/192 (6.7%)

Hipertensão pulmonar 27/177 (15.2%)

Manifestação articular 69/185 (37.2%)

Rim 5/186(2.6%)

Page 21: COMPARAÇÃO ENTRE PACIENTES COM ESCLERODERMIA COM …

21

A figura 1 mostra a positividade do FAN e a tabela 2, o padrão deste

autoanticorpo nesta amostra.

Figura 1- Prevalência de FAN positivo na amostra de 211 pacientes com

esclerodermia.

Fonte: as autoras, 2020.

TABELA 2- PADRÕES DO FAN NA AMOSTRA ESTUDADA.

Pontilhado não especificado 55/196

Pontilhado fino 23/196

Pontilhado grosso 8/196

Centromerico 53/196

Nucleolar 34/196

Homogeneo 17/196

Pontilhado Fino denso 3/196

Citoplasmático 3/196

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22

5.2- Comparação de pacientes de esclerodermia FAN positivos com FAN

negativos.

A comparação de pacientes FAN positivos com FAN negativos assim

como dos valores de gravidade de doença e de envolvimento cutâneo estão na

Tabela 3. Nela observa-se que mulheres são mais FAN positivo.

TABELA 3; COMPARAÇÃO DOS DADOS EPIDEMIOLÓGICOS, INDICE DE GRAVIDADE (MEDSGER) E DE ENVOLVIMENTO CUTÂNEO (RODNAM M)

ENTRE PACIENTES COM E SEM FAN

FAN positivo

N=196 FAN negativo

N= 15 P

Sexo 179 M/17H 11M/4H 0.04 fisher

Subtipo de Esclerodermia

Limitada 110/196 9/15 0,32

Difusa 52/196 6/15 0,32

Overlap 25/196 0 0,32

Sine esclero 8/196 0 0,32

Idade ao dx 16 a 74

Mediana de 44 (33-52.2)

17 a 67 Mediana de 44

(36,2-56,2) 0,65

Raça 110/167=euros

57/167 afros 9/10= euros 1/10=afro

0.16

Medsger 0-16

Mediana de 5 (3-7)

2-12 Mediana de 4

( 2-5) 0.40

Rodnam m 0-48

Mediana de 10 (3-19)

0-36 Mediana de 9

(6-20,5) 0,63

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A comparação entre achados clínicos na amostra com e sem FAN está

na TABELA 4. Nesta tabela é possível ver que pacientes com envolvimento renal

e com calcinose eram mais FAN negativos.

TABELA 4- COMAPRAÇÃODOS DADOS CLÍNICOS ENTRE PACIENTES DE ESCLERODERMIA COM E SEM FAN POSITIVO.

FAN positivo

N=196 FAN negativo

N= 15 P

Envolvimento de esôfago

116/181 7/13 0.45

Pneumonite 91/183 8/14 0.59

Miosite 18/186 1/14 1.0

Miocardite 7/181 2/15 0.14

Raynaud 179/189 15/15 1.0

Cicatriz estelar 98/180 6/14 0.40

Ulcera digital 21/166 1/12 1.0

Telangiectasia 72/174 7/13 0.38

Calcinose 21/169 5/13 0.02

Pericardite 11/182 0/15 1.0

Pleurite 13/177 0/15 0.60

Hipertensão pulmonar

27/167 0/10 0.36

Manifestação articular

61/171 8/14 0.11

Rim 3/174 2/12 0.03

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6. DISCUSSÃO

Dos pacientes analisados, houve uma predominância do sexo feminino

com FAN positivo. O subtipo de esclerodermia mais comum foi o limitado. O

fenômeno de Raynaud foi a manifestação clínica mais observada, seguida pelo

envolvimento do esôfago e cicatriz estrelar.

Está é uma amostra que reflete bem o padrão epidemiológico e clínico

da esclerodermia. Em um estudo realizado por Gabrielli, et al (2009) a incidência

entre mulheres e homens varia de 3:1 a 14:1, o que corrobora o predomínio da

doença em mulheres. Em Ranque, et. al. (2009) a ES mostrou uma prevalência

estimada entre 3 a 24 por 100.000 habitantes. O estudo concluiu ainda que a

fibrose pulmonar e a hipertensão arterial são as principais causas de morte na

ES.

Em artigo publicado por Katsumoto, et al. (2011) o fenômeno de Raynaud

é geralmente a manifestação mais precoce da ES, podendo ainda ser simultâneo

outras manifestações clínicas que caracterizam a esclerodermia. Além disso, a

doença microvascular caracterizada pelas telangiectasias também é detectada

em muitos pacientes. Segundo Chung, et al. (2006), a pele é o sistema mais

comumente afetado, seguido pelos órgãos do trato gastrointestinal (TGI), com

uma prevalência de 75% a 90% de todos os pacientes. Do acometimento do TGI,

a disfunção esofágica é a mais comum, presente em quase 80% dos pacientes.

No trabalho de Salazar et al (2015) foram comparados as características

demográficas e clínicas de 3249 pacientes com ES em relação ao FAN. Neste

estudo, apesar da doença ser mais comum no sexo feminino, pacientes com

FAN negativo existe uma maior frequência no sexo masculino. Já em relação ao

tipo, diferente do presente trabalho, a forma clínica mais comum em pacientes

FAN negativo foi a ES difusa, porém aqueles pacietnes tinham uma fibrose mais

branda, com menor gravidade sistêmica.

Segundo a pesquisa de Liberati et al (2010), dos 54 pacientes analisados,

92,5% (50/54) eram FAN positivos com uma predominância feminina. Alem

disso, de acordo com Hassan (2015), a positividade do FAN está relacionada

com a gravidade da doença. Em Ranque et al (2009), em um estudo com

gêmeos monozigóticos e dizigóticos, a positividade de FAN foi de 100% em

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25

monozigóticos e de 64% em dizigóticos, nenhum dos portadores saudáveis com

FAN positivo apresentaram anticorpos específicos para esclerodermia (ACA e

anti-Scl-70). Isto mostra que, a positividade do FAN neste contexto pode ter uma

influência genética. A esclerodermia tem sido descrita em associação com

diversos genes, como os do complexo antígeno leucocitário humano (HLA), bem

como genes não HLA como TNFAIP3, CD247, IRF5, STAT4 e PTPN22. No

trabalho de Mayes et al. (2007) foi estudado a associaçao do gene Fli-1 (friend

leukaemia integration 1) que é um fator de transcrição relacionado com as

células do sistema imunes, fibroblasto e células endoteliais que regulam o

colágeno e a angiogênese.

Com relação as manifestações grastrointestinais, Almeida et al (2015)

concluiu que há uma relação inversa entre pacientes com sintomas de diarreia e

fibrose pulmonar. A presença de anticorpos ACA ou anti-Scl-70 foi menor

quando comparados com a positividade do FAN. Já quando comparado, os

pacientes com FAN negativo possuem com maior frequência refluxo

grastroesofágico do que os FAN positivo. (SALAZAR et al.. 2015), o que foi

diferente dos dados do presente estudo. Isto talvez se deva à maneira pela qual

foi feita a pesquisa do envolvimento esofágico. Nos pacientes do presente

estudo ela foi pesquisada através de verificação de dismotilidade da musculatura

lisa ao RX contrastado de esofago não tendo sido feita a manometria esofágica

que é um exame mais fidedigno. Isso pode explicar as diferenças encontradas.

Já em relação ao envolvimento na função renal, a principal e mais grave

é a crise renal da esclerodermia (SRC – Scleroderma Renal Crisis). É

caracterizada por um início agudo de hipertensão arterial grave, causando

lesões renais com espessamento da camada íntima e proliferação de artérias

intralobulares e arqueadas. (STEEN, 2014). A crise renal de esclerodermia tem

um prognóstico pouco favorável. É uma complicação da ES que leva a

insuficiência renal e possui alta mortalidade, apesar de atualmente ter caído a

taxa de mortalidade com uso de inibidores da enzima conversora de

angiotensina (IECA). (PENN et al., 2013).

Assim como este trabalho, para Salazar et al (2015) existe maior taxa de

crises renais e acometimento do rim em pacientes com FAN negativo. O fato de

a crise renal ser mais comum nos indivíduos FAN negativos é um dado de

Page 26: COMPARAÇÃO ENTRE PACIENTES COM ESCLERODERMIA COM …

26

bastante utilidade clínica por causa do prognostico grave desta manifestação.

Assim, no paciente esclerodérmico que não apresente o FAN, o atendimento à

ocorrência desta complicação deve ser feito mais de perto visando um

diagnóstico precoce o que influi no prognóstico do paciente. Isso pode se feito

de maneira simples com medidas periódicas de pressão arterial – que é um teste

simples e de fácil acesso, já que a hipertensão é um dos sinais mais precoces

no aparecimento da crise renal.

A pesquisa de Toebe et al (2011), relacionou o desempenho funcional das

mãos em pacientes com esclerodermia com o perfil de autoanticorpos. Dos 46

pacientes estudados, 41 possuíam FAN positivo. O estudo concluiu que a

alteração na função da mão piora a qualidade de vida dos pacientes. Se

comparando, assim como este presente trabalho, os FAN negativos possuem

menor presença de úlcera digital que os positivo. No estudo de Salazar et al

(2015) cerca de 39% dos pacientes eram FAN negativo, enquanto os FAN

positivos eram 56%. Neste estudo, cerca de 12% são FAN positivo para 8%

negativos.

No estudo de Paixão et al (2007), ao comparar 65 pacientes com

diagnóstico de esclerodermia, observou-se que 38,5% foram classificados como

da raça mulata, seguidos por 33,8% da raça negra e 27,7%, branca. Desses

pacientes, 42 apresentaram gama-glutamiltransferase (gama-GT) alterada, e em

84% deles o FAN foi positivo, concluindo uma positividade para FAN muito maior

em pacientes com alterações das enzimas hepáticas. Já pacientes com FAN

negativo, há maior frequência em caucasianos, seguido de mulatos e hispânicos.

(SALAZAR et al.. 2015). Em nossa amostra não foi possivel obter diferenças na

positividade do FAN quanto ao perfil etnico. Isso talvez se deva ao fato de termos

estudado uma população brasileira que é notoria pela sua miscigenação racial

onde a cor da pele não refelte necessáriamente o perfil genetico à ela associado.

A calcinose é uma complicação da ES, é um depósio de calcio insolúvel

na pele e nos tecidosadjacentes, podendo ser dolorosa e muito debilitante, com

possível resultado de incapacidade funcional. (CASTRO, et al. 2007). Sua

patogênese ainda não é completamente elucidada, porém existem evidências

de ser causada por um processo inflamatório crônico com quadro de hipóxia,

trauma contínuo e uma desregulação das proteínas da matriz óssea. Esta

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27

complicação se apresenta mais comumente como nódulos subcutâneos em

locais que sofrem maior atrito como as mãoes, dedos, joelhos, cotovelos e

tuberosidade isquiática. Apesar destes nódulos normalmente serem palpáveis,

exames de imagem podem auxiliar no diagnóstico, as calcificações podem ser

visualizadas em radiografias e imagens de ultrassom. (VALENZUELA et al.,

2018).

Não há um consenso sobre o tratamento, dentre as drogas utilizadas

destacam-se a hidroxicloroquina, imunoglobulina endovenosa e ciclosporina

(CASTRO, et al. 2007). De acordo Castro, et al. (2014), a calcinose é uma

complicação comum em doenças reumáticas e quando relacionadas a ES, estão

mais presentes na esclerodermia localizada. O estudo ainda enfatiza a escassez

de conhecimento sobre a sua fisiopatologia e reitera a inexistência de um

tratamento comprovadamente eficaz. Medidas gerais podem ser tomadas para

amenizar os sintomas, como evitar estresse, trauma, exposição ao frio e

aumentar o fluxo sanguíneo das extremidades. (VALENZUELA et al., 2018).

Este trabalho tem algumas limitações: uma delas é o seu aspecto

retrospectivo. Assim sendo a pesquisa do FAN pode não ter sido feita de maneira

homogênea- ou seja utilizando um único teste- o que permitiria uma comparação

mais fidedigna, já que a positividade deste teste foi baseada apenas em

anotações no prontuário. Mais estudos, homogeneizando-se a pesquisa do FAN

devem ser feitos para complementar as presentes observações.

Page 28: COMPARAÇÃO ENTRE PACIENTES COM ESCLERODERMIA COM …

28

7. CONCLUSÃO

A prevalência de FAN positivo em esclerodermia é de 93%. Existem

diferenças clínicas em pacientes com esclerodermia FAN positivo e negativo

sendo que calcinose e crise renal esclerodermica são mais comuns nos FAN

negativos.

Page 29: COMPARAÇÃO ENTRE PACIENTES COM ESCLERODERMIA COM …

29

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ANEXO 1 – PARECER SUBSTANCIADO DO CEP

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