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Como analisar blogs jornalísticos: uma proposta de investigação 1 Juliana Colussi 2 Katarini Miguel 3 Resumo: O trabalho apresenta um percurso investigativo para análise de blogs jornalísticos (jblogs) nas webs de meios de comunicação, resultado de intensa observação e análise comparativa de diferentes jblogs de jornalistas brasileiros e espanhóis. Foi composta uma proposta metodológica que combina o uso de uma série de técnicas de investigação, tais como a análise de conteúdo web, a observação sistemática aberta, a pesquisa de campo e a entrevista em profundidade. Foi constatada que a análise de conteúdo web tem maior capacidade de amplitude e profundidade, e permite ao pesquisador verificar tanto os elementos próprios do blog como os componentes jornalísticos do conteúdo publicado. As demais técnicas atuam de forma complementar. Ao aplicar e problematizar a proposta metodológica descrita neste artigo, pudemos verificar sua eficácia na apreciação de diferentes aspectos relativos ao formato, conteúdo e elementos jornalísticos. Palavraschave: Blog jornalístico; Jornalismo digital; Metodologia; Análise. 1 Artigo enviado na modalidade Apresentação de Trabalho 2 Jornalista. Doutora em jornalismo pela Universidade Complutense de Madri 3 Doutora em Comunicação pela Universidade Metodista de S.Paulo. Professora adjunta do curso de Jornalismo na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

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Como  analisar  blogs  jornalísticos:  uma  proposta  de  investigação1  

 

Juliana  Colussi2  

Katarini  Miguel3  

   

Resumo:  O  trabalho  apresenta  um  percurso  investigativo  para  análise  de  blogs  jornalísticos  (j-­‐blogs)   nas   webs   de   meios   de   comunicação,   resultado   de   intensa   observação   e   análise  comparativa  de  diferentes   j-­‐blogs  de  jornalistas  brasileiros  e  espanhóis.    Foi  composta  uma  proposta  metodológica   que   combina   o   uso   de   uma   série   de   técnicas   de   investigação,   tais  como  a  análise  de  conteúdo  web,  a  observação  sistemática  aberta,  a  pesquisa  de  campo  e  a  entrevista   em   profundidade.   Foi   constatada   que   a   análise   de   conteúdo   web   tem   maior  capacidade   de   amplitude   e   profundidade,   e   permite   ao   pesquisador   verificar   tanto   os  elementos  próprios  do  blog  como  os  componentes   jornalísticos  do  conteúdo  publicado.  As  demais   técnicas   atuam   de   forma   complementar.   Ao   aplicar   e   problematizar   a   proposta  metodológica   descrita   neste   artigo,   pudemos   verificar   sua   eficácia   na   apreciação   de  diferentes  aspectos  relativos  ao  formato,  conteúdo  e  elementos  jornalísticos.    

 

Palavras-­‐chave:  Blog  jornalístico;  Jornalismo  digital;  Metodologia;  Análise.  

1 Artigo  enviado  na  modalidade  Apresentação  de  Trabalho  2  Jornalista.  Doutora  em  jornalismo  pela  Universidade  Complutense  de  Madri  3  Doutora  em  Comunicação  pela  Universidade  Metodista  de  S.Paulo.  Professora  adjunta  do  curso  de  Jornalismo  na  Universidade  Federal  de  Mato  Grosso  do  Sul.

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INTRODUÇÃO  

 

Desde   que   os   blogs   ganharam   protagonismo   na   Internet,   mais   especificamente   a  

partir   de   2003,   quando   representantes   de   diversos   veículos   de   comunicação   passaram   a  

utilizar  a  ferramenta  para  publicar  atualidades  sobre  a  guerra  do  Iraque  (RECUERO,  2003),  os  

acadêmicos   passaram   a   investigar   o   blog   como   fenômeno   jornalístico   (SINGER,   2005;  

ROBINSON,   2006;   ARAÚJO,   2006;   NOGUERA   VIVO,   2006;   DOMINGO;   HEINONEN,   2008;  

FOLETTO,   2009),   mas   usando   de   técnicas   de   investigação   que   não   necessariamente    

contemplavam   a   análise   dos   elementos   jornalísticos.   Focando   esse   problema   de  

investigação,   o   trabalho   apresenta   uma   proposta   metodológica   para   análise   de   blogs  

jornalísticos  (que  chamamos  aqui  de  j-­‐blog,  do  inglês,  journalist  blog)  integrados  nas  páginas  

web  dos  meios  de  comunicação.  

A   metodologia   aqui   apresentada   parte   de   uma   investigação   mais   ampla   e   foi  

resultado  da  análise  e  da  observação  sistemática  de  dez  blogs   jornalísticos  de  profissionais  

do  Brasil  e  da  Espanha  (RIBEIRO,  2013)4,  que  nos  permitiram  construir  categorias  de  análise,  

testar  a  proposta  e  compilá-­‐la  para  apresentar  como  proposta  de  metodologia  para  outros  

estudos.   Justamente  ao   longo  do  desenvolvimento  da   investigação  surgiram  determinadas  

perguntas   de   investigação:   Como   delimitar   as   categorias   de   análise   considerando   o   blog  

como  ferramenta,  mas  sem  esquecer  os  elementos  jornalísticos?  A  análise  de  conteúdo  para  

web  é  suficiente  para  responder  as  perguntas  de  investigação?  Qual  deve  ser  o  período  de  

análise?  Quantos  posts  são  necessários  analisar?  

Com  o  objetivo  de  responder  mais  precisamente  a  essas  questões  desenhamos  uma  

proposta  metodológica  que  combina  diferentes  técnicas  de  investigação  como  a  observação  

sistemática   aberta,   a   investigação  de   campo,   a   entrevista  em  profundidade  e   a   análise  de  

conteúdo  web   (HERRING,   2010).   Além  das   técnicas   citadas,   procuramos   ampliar   o   debate  

4  Os  10  j-­‐blogs  analisados  foram  os  brasileiros  Blogs  do  Noblat,  Josias  de  Souza,  José  Roberto  de  Toledo,  João  Bosco  Rabello,  além  do  Presidente  40  e  Diário  de  uma  Repórter.  E  os  espanhóis:  Escolar.net;   ¡Que  paren   las  máquinas!  La  sombra  del  poder  e  La  trincheira  digital.    A  analise  sistemática  fez  parte  da  tese  de  doutorado  “  El  blog  periodístico  como  mini  diario  digital”  (RIBEIRO,  2013)  e  é  centralizada  no  presente  texto,  mas  conta  com  contribuições   e   adaptações   que   são   fruto   de   observações   em   blogs   de   organizações   ambientalistas,   em  especial  do  Greenpeace  Brasil  (MIGUEL,  2014)  

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propondo   subcategorias,   considerando   1)   Análise   de   formato   dos   blogs,   2)   Análise   de  

conteúdo  y  3)  Análise  jornalística  

A  primeira  parte  denominamos  como  análise  de   formato  dos  blogs,  examinando  os  

elementos   que   estão   contribuindo   com  o   desenho   e   estrutura   dos   blogs   jornalísticos,   um  

aspecto   fundamental   para   compreender   os   elementos   personalizados   pelos   jornalistas-­‐

blogueiros.   Nesse   caso,   dividimos   em   quatro   categorias:   apresentação,   conteúdo,  

acessibilidade  e  elementos.    

O   segundo   momento   se   refere   à   análise   quantitativa,   para   conhecer   os   dados   de  

acesso  por   semana,   a  média  de  palavras   por  post   ,   título,   comentários   e   a   quantidade  de  

hiperlinks.  A   interpretação  desses  dados  serve  como  complemento  para  avaliar   também  o  

estilo   de   redação,   o   nível   de   interatividade   dos   jornalistas-­‐blogueiros   com   os   usuários   e  

entre  os  próprios  usuários.    

 Por   último,   alocamos   a   análise   jornalística   propriamente,   com   o   objetivo   de  

conhecer  o  estilo  de  redação,  a  narrativa  e  outros  elementos  do  conteúdo  dos  j-­‐blogs.  Para  

tanto,  consideramos  dez  categorias  1)  Manual  de  estilo,  2)  Origem  do  conteúdo  3)  Gêneros  

dos  posts,  4)  Estrutura  do  texto,  5)  Narrativa  dos  posts,  6)  Gramática  e  ortografia,  7)  Número  

e   tipos   de   fontes   informativas,   8)   Número,   tipo   e   destino   dos   hiperlinks   9)   Fomento   à  

participação  10)  Capacidade  de  produção.  

Iremos  discutir  essas  categorias  na  narrativa  que  se  segue.  

 

1.   Técnicas   empregadas:   investigação   de   campo,   observação   sistemática,   entrevista   em  

profundidade  e  análise  de  conteúdo  web  

Para   traçar   a   presente   proposta   nos   embasamos,   principalmente,   em   quatro  

referências   bibliográficas   que   abordam   técnicas   investigativas:   Cibermedios:   métodos   de  

investigación,  de  Díaz  y  Palácios  (2009);  Web  content  analisys:  expanding  the  paradigm,  de  

Herring   (2010);  Métodos   de   pesquisa   para   Internet,   editado   por   Fragoso   et   al.   (2011);   y  

Ferramenta  para  Análise  de  Blogs  em  Cibermeios,  de  Meso  et  al.  (2011).  

    A  análise  de  conteúdo  web  se  mostrou  com  nível  de  profundidade  adequado  para  ser  

aplicada   aos   blogs   (HERRING,   2010),   abarcando   diferentes   itens   como   os   posts,   os  

comentários,  os  links,  recursos  multimídias.  Para  complementar  a  análise,  sugerimos  outras  

técnicas  de  investigação.  A  observação  sistemática  que  contribui  com  investigações  empíricas  

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(DÍAZ  NOCI;  PALÁCIOS,  2009).  A  entrevista  em  profundidade  que  permite  confirmar  dados,  

informações  e   levanta  dados  de  caráter  qualitativo.  Com  isso,  temos  aqui  a  combinação  de  

uma   séria   de   técnicas   investigativas,   identificadas   separadamente   por   Fragoso,   Recuero   e  

Amaral   (2011)   em   estudos   sobre   blog.   E,   por   fim,   a   investigação   de   campo   do   tipo  

exploratória-­‐descritiva  que  tem  por  objetivo  descrever  o  processo  de  geração  de  conteúdos  

dos   j-­‐blogs,   incluindo   a   narrativa,   a   redação,   o   rigor   jornalístico   e   a   interação   entre  

profissional  e  usuários.      

    Marconi  e  Lakatos  (2006)  colocam  que  a  investigação  empírica  consiste  em  formular    

questões   com   tripla   finalidade:   desenvolver   hipóteses,   aumentar   a   familiaridade   do  

investigador   com   o   ambiente,   modificar   ou     clarificar   conceitos.   Com   essa   investigação  

empírica   se   pode   obter   tanto   descrições   quantitativas   como   qualitativas   do   objeto   de  

estudo.   E   permite   que   o   pesquisador   relacione   as   propriedades   do   fenômeno   com   o  

ambiente  observado.      

    Para  visualizar  melhor  as  técnicas,  desenvolvemos  um  passo  a  passo,  que  não  busca  

rigor  ou  exposição  de  grade  sistemática,  mas  apresentar  uma  proposta  que  pode  contribuir  

para  o  embasamento  de  estudos  empíricos  de  análise  de  blogs  jornalísticos.  

 

2.  Como  observar  os  blogs  

Antes  de  iniciar  a  observação  sistemática  do  objeto  de  estudo,  indicamos  selecionar  a  

amostra  dos  blogs  que  serão  analisados.  O  uso  da  observação  sistemática  aberta  possibilita  

contribuir  para  o  processo  de  delimitação  das   categorias  de  análise   referente  ao   formato,  

conteúdo  e  elementos   jornalísticos.   Sem  a  etapa  de  observação,  as   categorias  podem  não  

refletir  todos  os  elementos  necessários.    

Tratamos   de   uma   observação   direta   intensiva,   de   acordo   com   o   conceituado   por  

Marconi   e   Lakatos   (2006).   Para   realização   da   observação,   consideramos   a   tendência   dos  

estudos   atuais   de   jornalismo,   conforme   Quandt   (2008)5,   e   o   enfoque   científico,   ou   seja,  

observação   que   sirva   a   um   propósito   de   investigação   formulados,   planejados   de   forma  

5   As   investigações   jornalísticas   mais   recentes   costumam   aplicar   o   método   incluindo   uma   observação  estruturada   e   automatizada   (com   o   uso   de   base   de   dados)   ou   mais   aberta,   com   enfoque   qualitativo.  “Atualmente,   nos   estudos   de   comunicação   e   jornalismo,   a   observação   se   reduz   a   um   tipo   de   método  qualitativo,  exploratório”  (Quandt,  2008,  p.  132,  tradução  nossa).  

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sistemática  e  registrando  os  dados  de  maneira  sistemática.  Uma  das  principais  contribuições  

de   Quandt   corresponde   a   descrição   dos   cenários   jornalísticos,   observando   a   redação   das  

notícias  e  o  que  ele  denomina  como  entrada-­‐processo-­‐saída  (a  informação  bruta,  o  processo  

de   edição   e   a   publicação   de   conteúdo)     e   os   estudos   de   acessibilidade   (utilizados   para  

realizar  estudos  de  audiência  em  meios  de  comunicação  digital).  

A   principal   justificativa   para   aplicação   da   observação   sistemática   aberta   na    

determinação  das  categorias  de  análise,  se  deve  ao  fato  de  blogs  jornalísticos  serem  objeto  

de  investigação  em  construção  e,  portanto,  precisam  de  observação  e  pesquisa  exploratória  

para  compreensão  do  fenômeno  de  estudo.    

A  partir  da  observação  sistemática,  podemos  delimitar  as  categorias  para  análise  de  

conteúdo  web6  dos  blogs  jornalísticos.  A  proposta  foi  dividida  em  três  partes,  paramentadas  

de   acordo   com   os   objetivos   específicos   de   investigação,   sendo   a   análise   de   formato,   de  

conteúdo  e  jornalística,  que  detalhamos  na  sequência.  

 

a)   Análise   de   formato:   trata-­‐se   de   estudar   os   elementos   que   estão   propiciando   a  

evolução  do  desenho  e  a  estrutura,  a  personalização  das  páginas,  considerando  para  isso:  

• Apresentação   1)   Perfil   dos   blogueiros   (sexo,   idade,   carreira   profissional)   2)  

Apresentação   do   blog.   Ambas   as   subcategorias   servem   para   conhecer   a   experiência  

profissional  e  a  própria  autodescrição  divulgada.  

• Conteúdo:  1)  Elementos  multimídias;  2)  Personalização  de  conteúdos;  3)  Uso  

de   imagens   estáticas   e   dinâmicas;   4)   Serviços;   5)   Documentos   arquivados   6)   Atualização.  

Estas   categorias   contribuem   para   verificar   os   diferentes   elementos   referentes   ao   tipo  

conteúdo,  armazenamento  e  atualização  dos    j-­‐blogs.  

• Acessibilidade:   1)   Buscador   interno/   externo;   2)   Normas   do   blog;   3)  

Possibilidades  de  feedback  y  4)  Hiperlinks.  Com  isso,  conseguimos  identificar  as  propostas  de  

participação  e  se  há  alguma  regra  para  acesso.  

6   Alguns   investigadores   utilizam   a   análise   de   conteúdo   para   examinar   os   blogs   como   um   novo   gênero   de  comunicação   (Herring   et   al.,   2004,   2005;   Papacharissi,  2004).  Outros   estudos   optam  pela   análise   da   retórica  (Miller   y   Shepherd,   2004)   e   entrevista   (Nardi,   Schiano,   y   Gumbrecht,   2004)   para   caracterizar   as   formas,   as  funções  e  a  audiência  dos  blogs  (Herring  et  al.,  2006).  

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•  Elementos:   1)   Cabeçalho   2)   Publicidade;   3)   Infografía;   4)   Integração   com  

redes   sociais/   agregadores   de   conteúdo   (RSS);   5)   Lista   de   blogs   dos   próprios   blogueiros  

(blogroll)  6)  Descrição  geral  do  layout  do  blog.    Esta  parte  consiste  em  fazer  uma  descrição  

dos  elementos  que  podem  interferir  no  conteúdo  informativo,  como  anúncios  publicitários  e  

integração  com  as  redes  sociais  (como  Twitter  e  Facebook).  

b)  Análise  de   conteúdo:   corresponde  a  uma  etapa  quantitativa  e  mais  precisa  para  

conhecer   dados   como   o   nível   de   interatividade,   quantidade   de   acesso,   estilo   de   redação.  

Elencamos  principalmente:      

• Posts  por  semana.  

• Palavras  por  post  e  por  título  das  postagens  

• Comentários  por  post  

• Média  de  hiperlinks  

 

c)   Análise   jornalística:   com   o   objetivo   de   conhecer   a   redação   e   o   uso   de   técnicas  

próprias  da  narrativa  jornalística,  elegemos  as  seguintes  categorias:  

1. Manual  de  estilo:  para  verificar  se  o   jornalista  dispõe  de  um  guia,  se  está  sujeito  ao  

manual  de  estilo  do  jornal  a  qual  está  hospedado  ou  mesmo  se  não  tem  nenhum  tipo  

de  padronização,  permitindo  maior  liberdade  editorial.  O  uso  de  um  manual  indica  a  

estandardização  do  conteúdo,  a  homogeneidade  nos  estilos,  na  redação  e  edição.    

2. Origem  do  conteúdo:  o  item  permite  averiguar  se  o  conteúdo  do  post  foi  gerado  pelo  

jornalista,  extraído  de  outros  meios  de  comunicação  ou  enviado  por  colaboradores,  e  

com  isso  classificar  os  tipos  de  produção  do  blog.  

3. Gêneros  dos  posts:  a  proposta  é  classificar  os  posts  em  informativos,  interpretativos  e  

opinativos.   Verificamos   também   a   adaptação   e   a   criação   de   novos   gêneros   de  

ciberjornalismo7.  A  análise  dos  gêneros   tem  como  base  autores  da  área  e  a  divisão  

elementar  entre  informativo,  interpretativo  e  opinativo.      

7  Depois  de  relacionar  as  referências  bibliográficas  sobre  os  gêneros  informativos,  interpretativos  e  opinativos,  e  avaliando  os  formatos  no  âmbito  da  web,  optamos  por  usar  o  termo  gêneros  ciberjornalísticos  porque  não  se  observa   os   mesmos   na   imprensa   escrita.   Nos   j-­‐blogs   ou   nos   cibermeios   uma   notícia   pode   se   estruturar  mediante  a   inserção  de  recursos  hipermídias,  com  estruturas  não   lineares,  o  que  não  é  viável  em  um  veículo  impresso.  Esses  elementos  diferenciados  se  mesclam  aos  tradicionais  gêneros  e  formatos  jornalísticos  como  a  coluna  de  opinião,  a  crônica,  a  reportagem  e  compõem  as  narrativas  ciberjornalísticas.  

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• Gêneros  informativos  

A   mensagem   informativa   permite   conhecer   os   fatos   de   maneira   mais   objetiva  

possível,  sem  que  o  jornalista  expresse  nenhum  juízo  de  valor  ou  adjetivação.  O  gênero  esta  

relacionado   com   a   notícia   propriamente   dita   e   faz   uso   do   lead   (o   primeiro   parágrafo   que  

responde   as   principais   perguntas)   e   da   hierarquia   da   informação,   com  priorizando   o  mais  

importante,   com   uso   da   técnica   conhecida   como   pirâmide   invertida.   No   caso   dos   blogs,  

ainda   que   antecipamos   a   presença   inerente   do   eu   profissional,   é   possível   construir  

informações   sem   necessariamente   emitir   opinião   explícita.   Entre   os   gêneros  

ciberjornalísticos   de   informação,   destacamos   a   notícia,   notas   informativas,   notas   curtas   –  

caso  do  Twitter,  com  140  caracteres.    

 

• Gêneros  interpretativos  

A   principal   característica   do   gênero   interpretativo   é   a   contextualização   dos   fatos,  

contudo,   excluindo   juízos   de   valor.   A   estrutura   pode   conter   o   lead,   as   informações  

hierarquizadas,   mas   de   maneira   mais   completa   se   interpretam   os   fatos   e   dados,   usando  

elementos   externos   ao   texto   como   infográficos,   fotografia,   além   de   recursos  multimídias,  

hipermídias  e  links,  no  caso  das  páginas  web.  

Os  formatos  mais  comuns  são  a  reportagem,  a  reportagem  hipermídia  e  a  entrevista.    

Esta   última   pode   ser   em   formato   pergunta   e   resposta   ou   em   texto   corrido,   e   tem   como  

objetivo  decifrar  uma  personalidade  por  meio  de  uma  interação  dialógica.    

 

• Gêneros  de  opinião    

Nesse  caso,  os  textos  apresentam  opinião,  argumentos  e  juízos  de  maneira  explícita.  

Entre   os   formatos   opinativos   estão   o   editorial,   o   artigo,   a   coluna,   comentário   e   critica.   O  

editorial,   em   específico,   se   caracteriza   por   expressar   a   linha   ideológica   do   meio   de  

comunicação  sobre  diferentes  temas  da  atualidade.  Corresponde  a  voz  da  publicação  (Díaz  

et  al.,  1996)  apesar  de  não  ser  assinado.  

Já  no  artigo  sobressai  a  assinatura,  o  estilo  e  a  posição  do  autor,  e  é  justamente  o  que  

atrai  o  leitor.  Pode  ser  escrito  por  jornalista,  especialista  ou  escritor  que  “colabora  com  seu  

nome  e  seu  estilo  para  realçar  o  prestigio  e  acentuar  a  qualidade  do  diário”  (GOMIS,  2008,  p.  

180,   tradução   nossa).   Se   o   artigo   aparece   em   uma   seção   do   site   de   forma   periódica,   já  

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podemos   classificar   como   coluna,   mas   nas   características   não   se   difere   do   artigo  

propriamente,  são  textos  autorais.    

O   comentário   e   a   crítica   também   são  pessoais   e,   geralmente,   fazem  apresentação,  

valoração  de  obra,  acontecimento,   informando  e  opinando.  Uma  das  variantes  da  crítica,  a  

resenha,  é  elaborada  no  intuito  de  avaliar  produtos  normalmente  culturais.    

 

• Gêneros  dialógicos  

São   composições   que  possibilitam  a   conversação,   a   interatividade,   troca.   Incluimos  

nesse  item  a  pesquisa  online  (que  permite  interação  entre  jornalista  e  usuários)  a  partir  de  

uma  pergunta  com  opções  de  respostas  e  com  resultado  contabilizados  automaticamente.  

Também   podem   ser   enquadrados   como   dialógicos   os   comentários,   chats   online,  

ferramentas   que   caracterizam   a   aposta   de   participação   na   internet   e   que   não   são  

contempladas   pelos   gêneros   e   formatos   tradicionais   do   jornalismo.   Esses   elementos  

também  podem  ser  analisados  no  quesito  do  fomento  à  participação.  

 

• Gêneros  anexos  ou  complementares  

Os  posts  que  não  se  alocam  diretamente  nos  gêneros  expostos,  e  que  são  frutos  do  

potencial  multimídia  da  rede,  podem  ser  classificados  como  gêneros  anexos  (YANES,  2004)  

ou   complementares   (LÓPEZ   HIDALGO,   2002).   São   os   casos   das   vinhetas,   vídeos,   músicas,  

discursos  oficiais.  

A   classificação  aqui  proposta   foi  originada  pela  observação  e   considerando  aqueles  

gêneros  verificados  no  escopo  do  j-­‐blogs8  analisados.    

Ainda   na   análise   ciberjornalística,   levantamos   as   seguintes   características,  

pertinentes  para  entender  a  narrativa  do  ciberespaço.    

4. Estrutura  do  texto:  trata-­‐se  de  analisar  a  estrutura  dos  textos  dos  posts.  Em  conjunto  

com   a   média   de   palavras   por   texto,   os   dados   proporcionados   nesse   campo  

contribuem  para  a   identificação  das   técnicas  utilizadas  para  elaborar  as  mensagens  

8   Identificamos  os  gêneros  e   formatos   jornalísticos  a  partir  dos  10   j-­‐blogs,  976  posts  analisados,  que  

apresentaram  os  gêneros  de  informação,  opinião,  interpretação  dialógico  e  complementares,  com  os  formatos  de   notícia,   nota,   nota   curta,   crônica,   reportagem,   reportagem  hipermídia,   entrevista,   análise,   artigo,   coluna,  comentário,  crítica,  pesquisa  digital,  conteúdo  audiovisual.    

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informativas  e  interpretativas.  Por  exemplo,  se  pode  verificar  se  as  notícias  dos  blogs  

jornalísticos  seguem  a  estrutura  da  pirâmide  invertida,  e  como  se  constroem  as  notas  

e  reportagens.  Também  contabilizamos  o  número  de  palavras  dos  textos  opinativos,  

para   conhecer   sua   extensão,   mas   não   nos   preocupamos   em   analisar   a   estrutura  

propriamente,  já  que  eles  se  caracterizam  justamente  pela  maior  liberdade  de  estilo.    

5. Narrativa  dos  posts:  por  meio  dessa  categoria  podemos  identificar  os  diferentes  tipos  

de   narrativa   empregadas   nas   chamadas   dos   blogs   jornalísticos,   que   dividimos   em:  

textual,  hipertextual,  hipermídia  e  visual.  As  chamadas  que  reproduzem  um  estilo  de  

redação  particular  da   imprensa  escrita,  por  exemplo,   se  apresentam  em   linguagem  

textual  de   leitura   linear.   Já  quando  agregam   links  aos   conteúdos  caracterizam  uma  

narrativa   hipertextual   de   leitura   não   linear   ou  multilinear   (DÍAZ   NOCI,   2001;   EDO,  

2002;   SALAVERRÍA,   2005).   Aqueles   que   além   dos   links   exploram   também   recursos  

multimídias   como   audiovisual   constroem   uma   narrativa   hipermídia   (SALAVERRÍA,  

2005;   LARRONDO,   2008).   Por   último,   estão   as   chamadas   que   publicam   conteúdos  

visuais,  como  as  vinhetas.    

6. Gramática  e  ortografia:  considerando  que  os  blogs,  em  geral,  permitem  a  publicação  

de   conteúdo   independente   da   qualidade,   a   categoria   busca   averiguar   o   rigor   dos  

profissionais   quando   se   refere   a   normas   gramaticais   do   conteúdo   publicado.  

Sustenta-­‐se   um   discurso   de   que   o   conteúdo   na  web   não   atende   normas   cultas   da  

língua   ou   mesmo   que   se   escreve   por   gírias   e   sem   regras,   portanto,   pretendemos  

verificar  se  essa  assertiva  se  respalda  nos  posts  dos  jornalistas  blogueiros,  ou  seja,  se  

há  falta  ortográfica.    

7. Número  e  tipos  de  fontes:  tendo  em  conta  que  o  relato  jornalístico  deve  indicar  de  

forma   precisa   as   fontes   de   informação   consultadas   (MARTÍNEZ   ALBERTOS;  

SANTAMARÍA,  1993)  ou  mesmo  os  dados  e  documentos  disponíveis  na  Internet  que  

também   servem   de   fontes   documentais   para   jornalistas   (MENCHER,   2000;  

MARTÍNEZ-­‐FRESNEDA,  2004),  buscamos  identificar  os  tipos  de  fontes  utilizadas  pelos  

blogueiros.   No   caso   dos   j-­‐blogs,   seus   autores   não   costumam   ser   testemunhas   dos  

fatos   que   noticiam,   mas   se   baseiam   em   fontes   de   segunda   mão   (aquela   que  

vivenciou   fato   e   fala   sobre   ele)   ou   ainda   terceira   mão   (quando   alguém   passa   a  

informação   a   uma   fonte   e   essa   a   transmite)   (MENCHER,   2000).   Nesse   sentido,  

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interessa   saber   quais   são   as   fontes   informativas   consultadas   para   construção   da  

informação,   caracterizando,   dessa   forma,   as  maneiras   de   obtenção   da   informação  

que  podem  ser  desde  a  própria  observação  de  um  fato,  uma  testemunha,  uma  nota  

de  imprensa,  um  conteúdo  publicado  em  outro  cibemeio.  E  até  analisar  se  as  fontes  

do  ciberjornalismo  se  diferem  daquelas  usadas  pelos  meios  convencionais9.  

8. Número,   tipo   e   destino  dos   links:   o   hipertexto  oferece   ao  usuário   uma   leitura   não  

linear,   podendo   construir   diferentes   percursos   de   leitura   e   percepções   de   acordo  

com   a   trajetória   escolhida.   Nesse   sentido,   é   importante   conhecer   os   tipos   e   os  

destinos  dos  links,  assim  como  o  número  de  links   inseridos  em  cada  chamada,  para  

averiguar   a   estrutura   informativa   e   o   número   de   possibilidades   ofertadas,   se  

aproveitam  o  potencial  da  rede.    

9. Incentivo   à   participação:   para   verificar   o   nível   de   interação   dos   jornalistas   com   os  

usuários   e   o   espaço   de   comentários   do   blog,   na   tentativa   de   identificar   o   diálogo  

entre  o  profissional   e   sua  audiência.  Ou   seja,   se  há   interação,   resposta,   fomento  a  

participação  cidadã  no  ambiente  online10.  

10. Capacidade   de   produção:   conhecer   quantos   jornalistas   trabalham   na   geração   de  

conteúdos  do  blog  e  o  objetivo  dessa  categoria.  Ao  desenhar  a  base  de  dados  para  

realização   das   análises,   recomendamos   deixar   um  espaço   para   anotar   observações  

sobre   o   autor   de   cada   post,   para   contabilizar   o   número   de   jornalistas   que  

desenvolvem   conteúdos   e   verificar   se   há   mais   de   um   jornalista   que   atualiza   o  

conteúdo,  o  que  vem  acontecendo  em  blogs  profissionais  11.  

 3.  As  entrevistas  com  os  jornalistas  blogueiros    

9  Na  análise  dos  j-­‐blogs  verificamos  que  as  informações  são  construídas,  principalmente,  a  partir  de  fontes  ou  publicações  de  outros  meios  de  comunicação.  10  O  fomento  a  participação  é  uma  categoria  negligenciada.  Verificamos  que  apenas  um  blogueiro,  o  espanhol  Ignacio  Escolar,  de  Escolar.net,   respondia  a  comentários  de  usuários,  ainda  assim  de   forma  muito   incipiente.  Nos  outros  blogs  não  há  real  interação.  11  Na  nossa  observação,  por  exemplo,  constatamos  que  a  maioria  dos  blogs  é  mantida  apenas  com  o  trabalho  do  jornalista  responsável.  As  exceções  foram  o  Blog  do  Noblat  que  no  momento  da  pesquisa  contava  com  um  repórter   colaborador   e  um   revisor   de   comentários,   e   chegou  a   contar   com  dois   repórteres;   e   Presidente   40  que,  por  ser  um  blog  da  seção  de  Política  do  jornal  Folha  de  S.Paulo,  traz  diferentes  colaboradores  da  própria  redação  do  jornal.    

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Com   o   objetivo   de   complementar   e   contrastar   as   informações   e   os   dados   obtidos  

durante  as  três  etapas  da  análise  de  conteúdo,  é  pertinente  a  realização  de  entrevistas  em  

profundidade,   no   estilo   semi-­‐aberta,   com   os   jornalistas   blogueiros.   A   entrevista   é  

fundamental  para  conseguir  informações  diretamente  dos  produtores  do  blog,  compará-­‐las  

com  os  dados   levantados  empiricamente,  além  de   revelar  outros  dados.  A   comparação   se  

converte  em  uma  etapa  importante  para  a  compreensão  do  universo  de  conteúdo  dos  blogs  

e  para  conhecimento  das  próprias  rotinas  produtivas.    A  “entrevista  em  profundidade  é  um  

recurso   metodológico   que   busca,   com   base   em   teorias   e   pressupostos   definidos   pelo  

investigador,  conseguir  respostas  a  partir  da  experiência  subjetiva  de  uma  fonte”  (DUARTE,  

2005,  p.62).  

Por   meio   da   entrevista   em   profundidade   podemos   compreender   vários   aspectos:  

como   os   jornalistas   percebem   o   produto   informativo;   explicar   a   produção   de   notícias;  

identificar  as  principais   fontes  de   informação  de   jornalistas.  O  roteiro  das  entrevistas  deve  

estar  fundamentado  com  base  nos  resultados  das  análises,  obtidos  em  cada  caso  específico.    

 

4.  Coleta  de  dados  

Para   sistematizar   a   análise,   sugerimos   a   construção   de   uma   base   de   dados   para  

coletar  as   informações  e  no  passo  seguinte,   interpretá-­‐las.  Criamos  como  experiência  uma  

base  dividida  em  três  vertentes,  seguindo  as  categorias  propostas  pela  análise  de  conteúdo  

web   dos   blogs   jornalísticos.   O   item   “Posts”,   no   cabeçalho,   corresponde   ao   espaço   para  

registrar   os   dados   referentes,   que   integram   a   análise   jornalística.   Em   “Dados   do   blog”,  

registramos  a  informação  relativa  ao  jornalista-­‐blogueiro  e  ao  blog.  Por  último,  em  “Análise  

Formato”,  anotamos  as  especificidades  de  cada  j-­‐blog  quanto  aos  elementos  do  formato.  

O  uso  de  uma  base  de  dados  elaborada  especificamente  para  a  investigação  facilita  a  

organização   do   trabalho,   além   de   sistematizar   a   coleta   e   o   tratamento   dos   dados.   A  

ferramenta  garante  a  organização  e  o  rigor  para  análise  dos  blogs   jornalísticos,  e  a  melhor  

visualização,  como  mostra  a  figura  abaixo  (original,  em  espanhol):  

 

 

 

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5.  BREVES  CONSIDERAÇÕES  FINAIS  

Esta  proposta  metodológica  reúne  diferentes  técnicas  de  investigação  indicadas  para  

análise   dos   blogs   jornalísticos   e   que   nos   pareceram   adequadas   e   forneceram   dados  

importantes   quando   aplicadas.   Dividimos   em   três   diferentes   tipos   de   análise   (formato,  

conteúdo  e  jornalístico),  de  acordo  com  o  que  Herring  (2010)  denomina  análise  de  conteúdo  

web.   A   partir   das   variáveis   da   análise,   se   consegue   definir   demais   categorias   a   serem  

analisadas  de  acordo  com  os  objetivos  específicos  de  cada  investigação.    

Colocamos  em  prova  a  proposta  metodológica  em  uma  investigação  empírica  em  10  

blogs  jornalísticos  de  grande  notoriedade  no  Brasil  e  na  Espanha.  E  com  isso,  identificamos  

que  a  análise  de  conteúdo  web  pode  não  ser  suficiente  para  responder  a  todas  as  perguntas  

de  investigação.  Com  isso,  optamos  pela  entrevista  em  profundidade  com  os  jornalistas  para  

esclarecer   aspectos   relevantes   e   comentar   o   resultado   das   analises.   Nessa   entrevista   é  

possível   conhecer  detalhes  que  a  análise  não  é  possível  alcançar,   como  o  motivo  por  qual  

preferem  manter  determinado  elemento  no  blog  ou  quais  critérios  utilizam  para  responder  

o   comentário   feito   por   um  usuário   sobre   as   publicações.   As   entrevistas   complementam   a  

análise,  de  caráter  majoritariamente  quantitativo,  dando  para  a  investigação  um  aporte  mais  

qualitativo.    

Vale  ressaltar  que  essa  descrição  do  percurso  de  uma  proposta  metodológica,  para  a  

realização  de  um  estudo  exploratório  de  blogs   jornalísticos,  nos  parece  determinante  para  

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conhecer  os  elementos  do  objeto  de  investigação  em  profundidade.  Consideramos  não  ser  

possível  adaptar  metodologias  tradicionais  para  análise  de  cibermeios,   já  que  os  blogs  têm  

suas  peculiaridades  enquanto  produto  jornalístico  que  devem  ser  levadas  em  consideração.    

Por   último,   destacamos  que   a   construção  de  uma  base  de  dados   específica   para   o  

estudo  dos  blogs   jornalísticos  se  converte  em  uma  ferramenta  fundamental  para  realizar  o  

tratamento   dos   dados   com   eficácia.   Com   os   dados   inseridos,   os   gráficos   e   tabelas   são  

gerados  de  forma  automatizada,  o  que  evita  erros  de  contabilidade.  Mas  o  elemento  crucial  

dessa  trajetória  é  a  interpretação  que  o  investigador  fará  desses  dados.    

 

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