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CAPA Como será a Confiabilidade e mão-de-obra de alta qualidade serão essenciais para a Função nas próximas duas décadas no futuro? Manutenção 26 REVISTA MANUTENÇÃO – NOVEMBRO / DEZEMBRO 2008 Manu124_Materia de capa.indd 26 11/27/08 5:35:09 PM

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Como será a

Confiabilidade e mão-de-obra de alta qualidade serão essenciais para a

Função nas próximas duas décadas

no futuro?Manutenção

26 Revista Manutenção – noveMbRo / DezeMbRo 2008

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profissionais

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que reserva o futuro é uma preocupa-ção constante em todas as esferas, seja no ramo industrial, empresarial ou científico diante do desafio de cres-cer. É difícil, ou quase impossível,

prever o que acontecerá exatamente nos próximos dez ou 20 anos. Mas é fácil imaginar que os que não avançarem serão atropelados. Porém, para alguns especialistas, os investimentos feitos em pesquisas e desenvolvimento podem anunciar algumas pistas para os próximos anos.

Durante o World Science Festival, um dos even-tos mais importantes na área da ciência, realizado em Nova York no primeiro semestre de 2008, o cientista americano Ray Kurzweil, autor de livros sobre Inte-ligência Artificial e considerado um futurista, trouxe algumas boas notícias. Segundo ele, em 20 anos o pla-neta funcionará somente com energia limpa e em dez anos o avanço da medicina permitirá o controle quase completo de muitas doenças. Embora suas previsões pareçam exageradas, os críticos de Kurzweil reconhe-cem que ele tem credibilidade, afinal, ainda nos anos 80 do século passado ele anteviu o crescimento explo-sivo da internet na década seguinte, o que até então parecia remoto. Na mesma época ele também avisou que um computador se tornaria campeão mundial de xadrez até 1998. Acertou de novo, pois em 1997 o Deep Blue, criado pela IBM, ganhou um duelo contra o então campeão mundial, Gary Kasparov.

O cientista americano garantiu que certos aspec-tos da tecnologia seguem trajetórias notavelmente previsíveis e apresentou um gráfico sobre o poder da computação, que começa com as primeiras má-quinas eletromecânicas, mais de um século atrás. Segundo Kurzweil, inicialmente, a potência das máquinas dobrava a cada três anos. A partir da me-tade do século, a duplicação começou a acontecer

em intervalos de dois anos. Atualmente, a potência das máquinas dobra a cada ano.

Para os especialistas brasileiros ainda é difícil afirmar que os processos de Manutenção crescerão na mesma velocidade e que dependerão exclusivamente de máquinas. Pelo contrário, a maioria acredita que a Manutenção do futuro será uma junção entre tecno-logia de ponta, com fortes fundamento em TI e mão-de-obra altamente qualificada.

Há 20 anos, a Manutenção em todo o mundo era basicamente técnica, corretiva, onde o equipamento quebrado simplesmente era recuperado. Para o pro-fessor do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais – CEFET/MG, Daniel Enrique Cas-tro, não era possível imaginar o que vivemos hoje. “Nas últimas duas décadas o maior impacto nos processos industriais foi a evolução dos sistemas de produção, que estão cada vez mais rápidos e eficien-tes. E como conseqüência, a Manutenção também teve que mudar”, explica ele.

Ainda na segunda metade dos anos 1980 surgiram os primeiros softwares de Manutenção, que hoje fun-cionam em quase todas as indústrias brasileiras, sendo utilizados como ferramentas para planejamento, pro-gramação e acompanhamento, serviços e aplicação da Manutenção Preditiva, reconhecida como uma técnica eficaz de gerenciamento da Função.

Para o especialista e consultor em diagnose de des-gaste de equipamento, Tarcísio Baroni, apesar do alto custo, a Manutenção Preditiva traz tranqüilidade para os mantenedores e garante que não sejam apanhados de surpresa. “O meu dia-a-dia é o estado da arte da Ma-nutenção. Além disso, desenvolvo metodologias para o futuro, mas, infelizmente, a Manutenção como um todo está bem longe disso”, avalia ele. Baroni imagina que daqui a alguns anos haverá uma utilização muito mais pesada da diagnose – ou Manutenção Preditiva.

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“Quando as técnicas eram menos sensíveis traba-lhávamos com previsões de falha. Hoje, trabalhamos com pequenas alterações de condição e não deixamos o modo de falha se aproximar. Com isso, não há como prever quando o equipamento vai quebrar”, conclui.

Nos últimos 10 anos a descentralização da Manutenção nas indústrias dobrou. Hoje, mais de 30% das empresas conta com uma equipe de Manu-tenção para cada área de processo, que é responsável pela execução, planejamento e controle. Essa prática pode aumentar o risco de que cada setor tenha méto-dos, critérios e procedimentos diferentes, mas para Castro, essa é uma tendência mundial, que deve ser encarada de forma positiva. “Qualquer prestador de serviço, não só na área de Manutenção, precisa ter agilidade e isso só é possível com a descentralização das funções e com a terceirização das atividades. É preciso concentrar-se no que realmente representa valor agregado para uma empresa”, avisa.

O professor Castro não arrisca previsões muito longas, para ele, atualmente é possível enxergar so-mente os próximos cinco anos, no máximo. “Pre-cisamos ser ágeis no curto prazo e deixar a intuição para o longo”, argumenta. Segundo ele, em 20 anos a Manutenção vai acabar. E explica: “A tendência tec-nológica mundial é a automação, a robótica. O pessoal de operação vai desaparecer, as empresas precisarão de profissionais que garantam a produção. Não pode-mos jogar nada fora do que já fizemos, precisamos sim garantir a confiabilidade dos equipa-mentos, baixar o custo da Manuten-ção, assegurar disponibilidade e, além de tudo isso, garantir um alto rendi-mento para o negócio.”

Já para Baroni, o planejamento de Manutenção a longo prazo é es-sencial, inclusive considera impres-cindível que haja uma total sintonia com o planejamento estratégico da corporação como um todo. Ele com-para a indústria de base com a de computadores e celulares. “Estes produtos ficam obsoletos e, em seis meses, são praticamente descartá-veis. Isso não pode acontecer com a indústria de base. Uma siderúrgica, por exemplo, não pode ser constru-ída imaginando que em seis meses ela não produzirá mais da mesma maneira”, adverte. De acordo com dados do Documento Nacional de 2007, a idade média dos equipa-mentos e instalações nas indústrias

brasileiras é de 17 anos. A atualização do profissional de Manutenção

tem acontecido, na maioria das vezes, por meio de congressos e seminários. “É o caminho mais rápi-do e dinâmico, o único que vai permitir aos pro-fissionais que estão entrando no mercado buscar especialização. A formação acadêmica é essencial, mas não deve ser a única, pois caminha a passos de tartaruga, enquanto as empresas andam na ve-locidade de um trem bala”, avalia Castro. No en-tanto, há grandes indícios de que a absorção de novas tecnologias aconteça de forma mais rápida. “Esse é o papel da ABRAMAN, desenvolver a Ma-nutenção. Estamos trabalhando para disseminar o conhecimento”, garante Baroni.

Nas próximas páginas, quatro especialistas apre-sentam seus pontos de vista sobre a Manutenção do futuro e discutem quais serão os novos paradigmas da Função nas próximas duas décadas.

Mas será que os processos utilizados no setor de Manutenção atualmente permitem uma previ-são tão longa?

Para Ray Kurzweil, provavelmente a resposta seria sim. Já os especialistas brasileiros não acredi-tam em previsões futurísticas, mas em passos lar-gos e seguros rumo ao que há de melhor no mun-do da Manutenção, que garanta, principalmente, a confiabilidade dos equipamentos e a qualificação de mão-de-obra.

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Manutenção e estratégiaPor Luiz Carlos Freitas Araújo e Julio Cezar Jeronimo dos Santos*

diferença entre uma previsão feita em meados do século passado e uma nos dias de hoje está na velocidade da evo-lução tecnológica. Na década de 1980, por exemplo, olhar para frente em um

horizonte de cinco anos era absolutamente factível e previsível, o que não ocorre neste início de século.

Essa introdução é válida para todos os ramos de atividades e, em nosso caso, abordaremos a visão em relação à Manutenção Industrial levando em conta os aspectos referentes à qualificação profissional, o relacionamento do mercado prestador de serviços/sociedade e a confiabilidade das instalações.

Na edição de 2001 do livro Manutenção – Função Estratégica, os engenheiros Alan Kardec e Júlio Nas-cif já orientavam para um paradigma moderno em que “o homem de Manutenção sente-se bem quan-do ele consegue evitar todas as falhas não previstas” e, dessa forma, pensar de forma estratégica visando a evitar a ocorrência de danos, intervindo o menos possível na planta industrial. E essa é uma questão de sobrevivência em um mercado globalizado, cada vez mais competitivo.

Iniciando a análise pelo ‘cenário Brasil’, consi-derando que fazemos parte de um mercado emer-gente no contexto mundial e que, apesar da crise atual que deve perdurar nos próximos dois anos, acredita-se em uma retomada do crescimento do PIB na ordem de 5% ao ano. Dessa forma, o País necessariamente deverá investir intensamente em infra-estrutura, tendo como um dos pilares a edu-cação de base e a qualificação profissional. Não po-demos acreditar que, em um horizonte de 20 anos, com a evolução das técnicas e ferramentas opera-cionais e de Manutenção, haverá espaço para pro-fissionais apenas com recursos braçais. A prepara-ção de profissionais com enfoque na formação de técnicos extremamente capacitados para, além de executar a Manutenção, ter o discernimento para o aprendizado contínuo de novas técnicas de reparo, análise de falhas, planejamento para atuação pre-ventiva e preditiva e interação com ferramentas in-

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* Luiz Carlos Freitas Araújo é engenheiro mecânico, especializado em Engenharia de Equipamentos, com ênfase em Dutos e Ter-minais e em Planejamento de Paradas, pela Universidade de Houston (EUA). Atualmen-te é gerente de gestão e acompanhamento de contratação da área de Refino - Petrobras.

formatizadas, será primordial na criação de uma nova base na pirâmide da Função Manutenção.

Dando continuidade ao enfoque referente às pessoas, teremos que preparar supervisores de equipes com os atributos já citados, aliados à experiência profissional e à capacidade de lide-rança que integre as pessoas, dissemine conheci-mentos e obtenha resultados.

Na linha gerencial, vislumbramos a formação de líderes cada vez mais estratégicos e menos ope-racionais, cada vez mais participativos e menos arrogantes e cada vez mais formadores de times e menos ‘senhores de si’. Por fim, os gestores precisa-rão perseguir os resultados para a corporação, não olhando apenas para o seu segmento, estando aten-tos sempre ao macro-cenário, às oportunidades de sucesso e aos riscos eminentes.

Em relação ao mercado prestador de serviços/sociedade, os desafios não serão menores ou di-ferentes. A relação comercial ‘ganha-perde’ ou ‘perde-ganha’ que ocorre entre tomadores e forne-cedores de serviços irá degradar-se em virtude da competitividade e da globalização, além disso, as ferramentas para precificação, orçamentação, ne-gociação e fiscalização de contratos de serviços, tendem a se tornar mais robustas e transparentes.

A ética nas relações comerciais há de se forta-lecer, tendo em vista os mecanismos de vigilância, que tornam a vida privada cada vez mais pública.

Os investimentos em tecnologias avançadas e uma gestão eficaz serão preponderantes para a sobrevivência no mercado.

Os valores referentes à segurança, meio ambiente e saúde serão cada vez mais exigidos por uma socie-dade esclarecida e conectada, que estará assistindo a escassez dos recursos naturais que precisarão ser preservados a qualquer custo. Com os trabalhadores qualificados, cientes dos seus direitos e deveres, e amparados pela legislação, a precarização nas rela-ções de trabalho será minimizada.

E os clientes?As múltiplas ofertas de serviços e soluções tecno-

lógicas certamente, os tornarão ainda mais exigentes e conhecedores do que querem e do que é justo pagar.

Após abordarmos a previsão em um cenário com-petitivo, com um mercado exigente e uma sociedade fiscalizadora, a questão de ordem passa pela quali-dade dos serviços, do atendimento e dos produtos, que requerem alta confiabilidade humana, das ins-talações e dos processos, aliada a um elevado fator de utilização e, como conseqüência, à garantia da produção e a uma estratégia de gestão como fator determinante para o sucesso. Como a operação dos processos físicos é impraticável em condições ide-ais, atrelado ainda à limitação da vida útil dos equi-

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Julio Cezar Jeronimo dos Santos é engenheiro mecânico, especializado em engenharia de equipamentos, com ênfase em equipamentos. Fez MBA em Gerenciamento de Manutenção pela UFRJ/ABRAMAN e MBA em Gerencia-mento de Projetos pela FIA/USP. Atualmente é gerente de confiabilidade e suporte opera-cional em Fertilizantes - Petrobras.

pamentos, as conseqüências naturais desses fatores refletem de uma forma implícita a noção de risco.

Freqüentemente, as precauções adequadas con-tra as condições indesejáveis devem ser implan-tadas após a avaliação quantitativa e qualitativa do nível de risco, e a avaliação probabilística do risco/falha que caracteriza a Análise de Confiabi-lidade. E, nesse contexto, a Manutenção do futuro está sendo arquitetada no presente, principalmente através da Engenharia de Confiabilidade, que vem demonstrando um grande avanço no aumento da disponibilidade dos equipamentos, e no enorme

potencial de redução de custos de Manutenção.Contudo, as técnicas, modelagens e softwares

desenvolvidos para o gerenciamento da Manuten-ção, utilizando a engenharia de confiabilidade, de-mandarão cada vez mais a capacitação e certificação profissional, pois, para chegarmos bem estruturados e de forma sustentável ao futuro, é preciso vencer o grande desafio de possuirmos recursos humanos preparados para obtenção dos consistentes resulta-dos que os recursos tecnológicos proporcionarão.

Mas não basta tal evolução de cunho tecnoló-gico se não houver efetivamente a estruturação de uma Manutenção centrada em confiabilidade, pri-mando pelo planejamento das intervenções, pela avaliação de vida dos equipamentos e por um pla-no de inspeção baseado em risco.

Projetando esta reflexão para daqui a vinte anos, podemos imaginar que teremos cada vez mais a utilização de materiais nobres e equipamentos her-méticos, com controles eficazes que darão maior previsibilidade e, dessa forma, acreditamos que as intervenções corretivas se darão, quase que na sua totalidade, nos eventos programados pois, além do conhecimento adequado do ciclo de vida dos siste-mas e equipamentos, os projetos contemplarão re-dundâncias aos diversos processos industriais, de forma a garantir a adequada disponibilidade até a intervenção devidamente programada.

Na conclusão desse artigo, ressaltamos que, desde já, é fundamental iniciarmos imediatamen-te o alicerce para este não tão distante horizonte de vinte anos, mas com a perspectiva de grandes mudanças no mundo, nas corporações e na Fun-ção Manutenção. E a nossa aposta é que a busca da maior competitividade empresarial passa neces-sariamente pela educação de base e qualificação profissional, pelo amadurecimento e transparên-cia nas relações comerciais e pela estruturação da Manutenção centrada em confiabilidade e dispo-nibilidade, em um mercado cada vez mais de livre concorrência. Esse é o principal foco das empresas de vanguarda no mundo e, no futuro, será questão de sobrevivência para todas as organizações.

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na área de

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Por José Eduardo Lobato*

O homem é o futuro

Manutenção não deve desaparecer do mapa nos próximos anos, muito pelo contrário, assim como o corpo humano, as instalações industriais precisarão de acompanhamento e

prevenção sempre. As evoluções com certeza trarão mudanças tecnológicas, mas uma coisa é certa: o homem será a peça fundamental na Manutenção do futuro. Não vejo a possibilidade de máquinas faze-rem esse trabalho. Quanto mais automatizado for o processo de manufatura, a Manutenção será mais dependente do homem, seja daqui a 20 ou 50 anos.

No futuro, um robô poderá substituir os rola-mentos de um determinado equipamento, mas nunca poderá fazer uma análise da causa de seu desgaste. Prova disso é a exigência atual, cada vez maior, de que um mantenedor faça um diagnóstico preciso das causas dos defeitos e falhas. Não acre-dito que irão inventar computadores que consigam responder perguntas comuns em uma análise de falhas, pois todas as respostas dependem de uma série de aspectos dos processos individuais, que estão na cabeça do homem.

O futuro já dá uma mostra do que tem reservado para o setor. Na Petrobras, por exemplo, um enge-nheiro mecânico que trabalha na sede da empresa no Rio de Janeiro tem condições de acompanhar, on-line, o espectro de vibração de uma máquina que pode estar em qualquer uma das plantas da companhia. Isso já é o futuro, o mantenedor senta-do em uma mesa, com o equipamento a quilômetros de distância. Em breve, todo o processo de análise para bloquear causas e falhas poderá ser feito re-motamente, as intervenções se restringirão àquelas diagnosticadas à distância.

Parafraseando o colega Jackson Chiabi, da Ar-celorMittal Tubarão, antigamente, quem ganhava a guerra era o general, que ficava sobre um morro di-recionando as tropas; o soldado que estava na linha de frente era comandado. Hoje, tanto na guerra mo-derna quanto nas empresas, quem tem que decidir é o soldado, quem está na linha de frente. É ele quem

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toma a decisão de ganhar ou perder a batalha. No futuro, provavelmente os chefes de Manutenção deixarão de exis-tir; a responsabilidade será individual. Cada profissional terá o livre arbítrio para con-duzir os equipamentos pelos quais será responsável. No entanto, para isso, um item será essencial: qualificação

Nós vivemos em um País onde as pessoas, normalmen-te, acham que toda qualifi-cação tem que ser dada pelo estado ou pelas empresas. O profissional não teria obri-gação nenhuma. Porém, a responsabilidade precisa ser dividida entre empresa e em-pregado e, em alguns casos, assumida integralmente pelo profissional. É o preço para estar em sintonia com o mer-cado. Muitas vezes o gestor de Manutenção investe em formação para toda a equipe, mas, normalmente, só 20% querem realmente aprender, 50% agregam algum valor, mas não estão totalmen-te interessados, e 30% não estão mesmo dispostos a adquirir conhecimento. Mas quem quiser se manter no mercado e acompanhar a evolução da Manuten-ção precisa estar disposto a se capacitar e isso pode ser negociado com o empregador.

Um fator importante é que, infelizmente, o mundo acadêmico não tem acompanhado a evolução do setor.

* José Eduardo Lobato é engenheiro mecânico especializado em Engenharia de Equipamen-tos pela UFRJ e atualmente exerce o cargo de gerente de Manutenção da área do Refino na Petrobras. Trabalhou na área de exploração e produção da companhia, gerenciando a área de Manutenção em plataformas da Bacia de Campos e foi responsável pelo planejamento de Paradas de Manutenção de rotina na Refi-naria Gabriel Passos, em Betim (MG).

Algumas universidades ainda dão ênfase à Manuten-ção corretiva, falam pouco da Manutenção preventi-va e quase nada sobre a Manutenção preditiva.

Os jovens profissionais precisam estar atentos e buscar meios para atualização fora da universidade. Existem muitas opções, como os próprios cursos da ABRAMAN, cursos de fabricantes e congressos.

Quando eu me formei, em 1979, essa defasa-gem não era tão grande, pois as mudanças tecno-lógicas eram mais lentas. Mas nos dias de hoje, os profissionais precisam ser rápidos, cada vez mais. Em cinco anos é possível ficar totalmente desatualizado, sem noção do mercado. Portanto, estudantes de engenharia, caso não possam parti-cipar dos congressos da área de Manutenção, pelo menos visitem as feiras, perguntem sobre os equi-pamentos e serviços disponíveis, sobre as novas tecnologias. Essa pode ser uma forma de sair na frente no mercado de trabalho.

Por todos esses motivos reitero que a Manuten-ção do futuro dependerá única e exclusivamente do homem, de sua capacidade e qualificação.

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O tempo da inteligência artificial

Jorge Nei Brito*

o mundo globalizado em que vivemos, onde as mudanças têm ocorrido de for-ma acelerada, não é tão simples fazer uma previsão realista da Manutenção, principalmente quando falamos de um

futuro tão próximo, ou seja, as duas décadas seguintes.Vários autores, quando falam da história da Ma-

nutenção, entendem que a mesma compreende três gerações. A primeira geração, relacionada ao perío-do antes da Segunda Guerra Mundial (Manutenção corretiva não-planejada); a segunda geração, rela-cionada ao período que vai desde a Segunda Guerra Mundial até os anos 1960 (Manutenção preventiva); e a terceira geração, a partir da década de 1970 (Ma-nutenção preditiva - que nos permite praticar uma Manutenção corretiva planejada).

Interessante observarmos que, explicitamente, nenhuma nova geração de Manutenção foi citada nestas últimas três décadas. Mas por outro lado, co-meçamos a assistir nos maiores congressos de Ma-nutenção do País e até mesmo do exterior, trabalhos técnicos com aplicações de técnicas de Inteligência Artificial (redes neurais artificiais, sistemas especia-listas, lógica nebulosa, sistemas Neuro-Fuzzy, dentre outros) visando a detecção de falhas nos mais varia-dos tipos de equipamentos, de forma não invasora. Sem dúvida, a quarta geração da Manutenção terá a presença das técnicas de Inteligência Artificial.

A chegada do século XXI trouxe um novo con-ceito: a ‘sociedade do conhecimento’, e com ela no-vas mudanças significativas ao mundo do trabalho. O conceito de emprego também está sendo substitu-ído pelo de trabalho e a atividade produtiva passa a depender de conhecimentos. Neste cenário, tanto as técnicas preditivas quanto as de Inteligência Artifi-cial terão campos férteis para seus respectivos de-senvolvimentos. Devido à crescente aplicação das técnicas de Inteligência Artificial, também em vá-rios outros segmentos (com destaque para os robôs),

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essa nova geração deverá ter uma vida mais longa que as demais, até porque seu foco é procurar imitar o comportamento humano.

Mas ao mesmo tempo em que falamos de técni-cas mais avançadas também precisamos nos pre-ocupar com a qualificação dos profissionais. Não adianta nada termos tecnologias de última geração se os responsáveis pela Manutenção não compre-endem procedimentos básicos, como por exemplo, a troca correta de um rolamento.

Apesar de já estarmos no século XXI, muitos pro-fissionais sequer conhecem um aquecedor indutivo e continuam, erroneamente, usando o maçarico para aquecer o rolamento e, assim, permitir a troca a quen-te. Neste sentido chamamos a atenção para a neces-sidade de qualificação dos profissionais da Manu-tenção. Mas qualificação tem um custo e a pergunta surge espontaneamente: quem é o responsável pela qualificação dos profissionais? Seria o próprio profis-sional ou isso é uma obrigação das empresas?

Se analisarmos a situação de alguns profissio-nais de nível superior, com ou sem apoio das orga-nizações, devido à importância e necessidade, eles se sentem motivados e conseguem, ainda que com sacrifício, investirem em cursos de pós-graduação. É notório o crescimento da presença destes profissio-nais em programas de nível lato sensu (aperfeiço-amento e especialização) e até mesmo nível stricto

sensu (mestrado e doutorado). Algumas empresas até apóiam a capacitação de seus profissionais de nível superior porque vêem a necessidade de atualização como forma de melhor compreender as novas tecno-logias embarcadas nos modernos equipamentos.

Mas, infelizmente, nem todas as empresas se pre-ocupam com a capacitação de seus profissionais. Se antes da recente anunciada crise econômica os trei-namentos não eram tão ostensivos, fica difícil acredi-tar que as empresas investirão em seus trabalhadores diante de tempos difíceis (ainda que necessário).

Para os profissionais de piso salarial mais baixo fica difícil, ou até mesmo impossível, qualquer tipo de investimento próprio em capacitação. Com isto, mesmo já falando em quarta geração da Manuten-ção, teremos sérias dificuldades em fazer uma boa Manutenção sem qualificação.

Defendo que todas as empresas deveriam incluir em suas políticas um plano de capacitação profis-sional, não só treinamentos, mas até mesmo na par-ticipação em eventos relacionados à Manutenção. Eventos internos, pelo menos um por ano, também seriam uma opção muito interessante. Entender a importância da capacitação é muito simples, ou seja, se não há dúvidas quanto à depreciação do har-dware, então também não deveria haver quanto à depreciação do conhecimento.

Ainda que, em todos os sentidos, a Manutenção te-

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nha muito a evoluir, com relação à operação já temos ganhos significativos. Por meio da Manutenção predi-tiva, por exemplo, a Função passa a ter a opção de ser feita de forma planejada. Assim, a intervenção pode ser feita no momento mais adequado. Isso tem melhorado, e muito, a relação entre operação e Manutenção.

A tendência é que essa integração cresça ainda mais com a evolução dos sistemas de monitoramento on-line integrados com técnicas de Inteligência Arti-ficial. O que também já é uma tendência e que poderá ser um grande diferencial são os times de Manuten-ção. Com profissionais de diferentes setores traba-lhando juntos (elétrica, instrumentação, mecânica, planejamento, operação, segurança, dentre outros) teremos uma diminuição dos níveis de chefia, fusão de especialidades e adoção da polivalência. Nesse ambiente, sem dúvidas, a cooperação será mais in-tensa com resultados mais expressivos.

Não há dúvidas do crescimento da Manutenção nos últimos anos e de suas várias ferramentas de qua-lidade. A Manutenção Centrada em Confiabilidade – MCC, por exemplo, tem se popularizado, e a tendên-cia é que continue, porque tudo que se deseja é que o equipamento tenha maior disponibilidade, com maior confiabilidade. Para isso, contam as técnicas de Análi-se de Modos de Falha – FMEA (sigla em inglês), Efei-

tos e Criticidade – FMECA (sigla em inglês) e outras ferramentas, tais como as Árvores de Falha – FTA (sigla em inglês) e Análise Probabilística de Riscos – PRA (sigla em inglês). Mas, para que tenhamos um Tempo Médio Para Reparos – MTTR (sigla em in-glês) adequado, sem prejuízo do Tempo Médio En-tre Falhas – MTBF (sigla em inglês) é preciso que os responsáveis pela Manutenção estejam devidamen-te qualificados. Só assim entenderão a importância das ferramentas da qualidade e, de fato, vivenciarão e farão parte da evolução da Manutenção.

Quando falamos da Manutenção do futuro al-guns ainda podem imaginar que tecnologias e ferramentas de última geração estão sendo desen-volvidas nas várias partes do mundo. Igualmente podem imaginar o tempo que levará para que elas estejam disponíveis no Brasil. Com o fenômeno da globalização, isso não faz mais sentido. O que se tem de mais novo é lançado de imediato nas gran-des feiras, inclusive as do Brasil. Nossa Manuten-ção já é vista como uma das melhores do mundo. E se isso é verdade, somos então um mercado seleto e exigente. Para acompanhar toda essa evolução, precisamos de profissionais mais qualificados.

As tecnologias do futuro terão cada vez mais a presença das técnicas de Inteligência Artificial.

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Um exemplo simples é o balanceamento dinâmico de rotores flexíveis. Tradicionalmente, o balanceamen-to destes flexíveis em máquinas industriais tem sido abordado pelo método dos coeficientes de influência e requer no mínimo três paradas do sistema. Buscan-do solucionar as deficiências dos métodos atuais, o balanceamento dinâmico através de Redes Neural Artificiais é possível de uma forma muito mais rá-pida, identificando o posicionamento das massas de correção, as quais permitem diminuir as vibrações do rotor para uma dada velocidade.

Com essa nova metodologia, resolvem-se os proble-mas quanto à quantidade de paradas do sistema para corrigir o desbalanceamento, gerando assim um ganho significativo para a confiabilidade e disponibilidade de rotores industriais e, conseqüentemente, um grande ga-nho para a empresa e equipe de Manutenção.

Outro exemplo, este um pouco mais complexo, é a implantação de um transdutor (bobina de fluxo) sensível às ondas eletromagnéticas dentro de um motor elétrico e a utilização de um microcontrola-dor como sistema supervisor de falhas. Este sistema é composto de técnicas de análise de sinais (Trans-formada Rápida de Fourier – FFT (sigla em inglês), e/ou Wavelet, e/ou Hilbert) e técnicas de Inteligên-cia Artificial (sistemas adaptativos neuro-fuzzy e/ou SVM), que permitem o diagnóstico de falhas elétri-cas e mecânicas incipientes.

Com certeza novos paradigmas da Manutenção

irão surgir com a evolução da Função. Da mesma forma que a primeira mudança de paradigma ocorre quando se passa da preventiva para a preditiva e, a segunda, quando se passa a adotar a Engenharia de Manutenção, no futuro acontecerá após a adoção da Inteligência Artificial.

Uma evolução esperada para os próximos anos é que os equipamentos passem a necessitar cada vez menos de Manutenção. Neste foco, as técnicas de Inteligência Artificial poderão ter uma contribuição significativa. É esperar para ver! Mas independente de que tecnologias farão sucesso no futuro, sem dú-vida, esperam-se equipamentos cada vez mais inteli-gentes, de fácil operação e Manutenção.

Hoje, já é possível ver vários modelos com tec-nologias embarcadas que sequer poderiam ser ima-ginadas no passado próximo. E para que o homem da Manutenção possa fazer parte desse cenário é imprescindível que esteja tão qualificado como as máquinas do futuro.

* Jorge Nei Brito é engenheiro mecânico, dou-tor em Engenharia Mecânica pela Universi-dade Estadual de Campinas – UNICAMP e professor do departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ). Também é especialista em detecção de falhas em máquinas rotati-vas, por meio de técnicas preditivas.

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Por Quintino Ribeiro Sobrinho *

O futuro é a confiabilidade

ó será possível fazermos uma previsão realista da Manutenção nos próximos 20 anos se considerarmos que os avan-ços no setor, até então, foram regidos pe-los métodos de gerenciamento, pelo au-

mento da confiabilidade de equipamentos e sistemas e pelo desenvolvimento de alternativas tecnológicas para os equipamentos existentes. Assim, podemos sustentar que no futuro a Manutenção se manterá no patamar pleno da confiabilidade, comprovando que a probabilidade de falha varia ao longo do tempo.

Este novo cenário reservará novos paradigmas para a Função, como a efetiva adequação dos cus-tos da Manutenção com a variação produção; a otimização do planejamento, a programação e o controle da Manutenção, a fim de prover ganhos sustentáveis; e a necessidade de profissionais qua-lificados e certificados.

Mas a qualificação é um ponto que precisará ser aperfeiçoado, para acompanhar as inovações tecno-lógicas. Porém, as mudanças conduzirão ao apare-cimento de uma população de responsáveis de Ma-nutenção com uma melhor percepção dos desafios inerentes a esta Função. Reconhece-se hoje, facil-mente, o desenvolvimento no meio industrial de um pessoal de Manutenção dotado de raciocínio mais rigoroso e estruturado em relação ao desempenho de suas instalações e aos problemas ligados aos equipa-mentos sujeitos à Manutenção.

Outro fator é a integração operação-manutenção on-line, que será determinante para o sucesso de uma organização. As orientações estratégicas da empresa serão as mesmas para a Manutenção e a produção. A interatividade mútua consolidará o negócio, pois, se a Manutenção e a operação se preocuparem com os equipamentos ficará entendido que, se a máquina quebrar, o prejuízo será de todos.

Acredito que haverá, na verdade, um entendimen-

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to aprofundado com uma aplicabilidade correta da filosofia da Manutenção Centrada em Confiabilidade – RCM (sigla em inglês). Atualmente, a RCM tem sido utilizada para auxiliar a formulação de estratégias de Manutenção em quase todas as áreas do empreendi-mento organizado. Ela se destacará concretamente no trabalho de campo, a sua potencialidade junto dos setores de operação, quer nas indústrias de processo, quer nas indústrias de bens de equipamentos ou de bens duráveis.

A Manutenção no mundo globalizado é uma área prioritária para as empresas industriais competiti-vas, pela necessidade cada vez maior de se manter níveis de produção elevados, dentro da capacidade máxima dos equipamentos, porém com alta confia-bilidade operacional, sem poluir e com toda segu-rança para os trabalhadores.

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No segmento de siderurgia, por exemplo, a Ma-nutenção é considerada parte integrante do proces-so produtivo. A Função cada vez mais é a parte do processo que se antecipa aos problemas, agrega va-lor ao produto, é fundamental na redução de custos e é gerenciadora dos ativos. Neste setor, trabalha-se para definir claramente as estratégicas da Manuten-ção dentro da organização, como consolidar a es-tabilidade operacional, reduzir as variabilidades, prolongar a vida útil dos ativos, desenvolver parce-rias estratégicas, manter a atualização tecnológica, priorizar sob todos os aspectos a segurança e saúde dos empregados e parceiros, minimizar impactos ambientais e sedimentar a gestão da rotina.

Apesar da crise mundial, na ArcelorMittal Tubarão não houve cortes de verba para área de Manutenção. De imediato, ocorreu uma adequação aos sinais do mercado, com uma revisão mais detalhada do planeja-

* Quintino Ribeiro Sobrinho é engenheiro mecânico e gerente de Manutenção da Arce-lorMittal Tubarão.

mento da Manutenção onde, dentro da perspectiva de retomada econômica do segmento, serão trabalhadas todas as oportunidades de crescimento, permitindo tornar mais eficaz a gestão dos nossos recursos.

Quando falamos em planejamento de Manuten-ção a longo prazo, penso que os gestores devem con-siderar que as manutenções têm apresentado para as empresas, entre outras, duas práticas desejáveis: a integração da operação com a Manutenção e o uso da Manutenção como alternativa estratégica, com a possibilidade evidente de aumentar a capacidade de oferecer serviços e produtos diferenciados, ao mesmo tempo em que possa reduzir custos de mão-de-obra e materiais pela otimização das intervenções.

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