como ser Útil ao senhor

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Como Ser Útil Ao SENHOR WITNESS LEE Título do original inglês: How to Be Useful to the Lord Sumário • Como ser útil para o Senhor • Aprender a pagar o preço na vida diária • Ser usado pelo Senhor e o transbordar de vida • A necessidade de crescer e amadurecer na vida após receber a salvação • A economia da graça de Deus • Como ser útil na mão do Senhor Prefácio Este livro é composto de mensagens ministradas pelo irmão Witness Lee em abril e maio de 1955, em Baguio, nas Filipinas. Consiste em seis capítulos que falam como o cristão pode tornar-se útil nas mãos do Senhor para realizar a comissão divina na economia da graça de Deus.

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Livro de Witness Lee

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Page 1: Como Ser Útil Ao Senhor

Como Ser Útil Ao SENHOR

WITNESS LEE

Título do original inglês: How to Be Useful to the Lord

Sumário

• Como ser útil para o Senhor • Aprender a pagar o preço na vida diária • Ser usado pelo Senhor e o transbordar de vida • A necessidade de crescer e amadurecer na vida após receber a salvação • A economia da graça de Deus • Como ser útil na mão do Senhor

Prefácio

Este livro é composto de mensagens ministradas pelo irmão Witness Lee em abril e maio de 1955, em Baguio, nas Filipinas. Consiste em seis capítulos que falam como o cristão pode tornar-se útil nas mãos do Senhor para realizar a comissão divina na economia da graça de Deus.

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Capítulo Um

COMO SER ÚTIL PARA O SENHOR

O RELACIONAMENTO ENTRE O PLANO DE DEUS E O HOMEM Deus tem um plano. Toda a obra de Deus no universo, desde as eras passadas até a eternidade futura, é realizada de acordo com Seu plano. Esse plano deve ser realizado pelo homem e também no homem. Por conseguinte, Deus deseja ganhar todo o Seu povo criado e remido para o cumprimento de Seu plano. Não pense que o fato de Deus usar-nos hoje é um acidente. O uso que Deus faz de nós está totalmente baseado em Seu plano predeterminado. Todos a quem Deus usa estão na esfera de Seu plano. Como o plano de Deus é realizado somente no homem, Deus precisa usar muito o homem. Uma vez que é cidadão de determinado país, o indivíduo está na esfera de utilidade desse país e pode ser usado por ele. De igual modo, nós, que pertencemos ao reino de Deus, estamos na esfera em que podemos ser usados por Ele.

A NECESSIDADE DO CHAMADO DE DEUS Todos os que foram salvos têm a posição e o potencial de ser usados por Deus. Deus confirma a utilidade do homem para Ele não somente quando o cria e redime, mas também quando o chama. A razão por que Deus criou e redimiu o homem é que Ele tem a intenção de usá-lo. No entanto, no que diz respeito ao sentimento do homem, a criação e a redenção não são suficientes para convencê-lo de que Deus intenta usá-lo. Conseqüentemente, Deus também deve chamar o homem para confirmar-lhe Sua intenção de usá-lo. Em outras palavras, talvez sintamos que, embora Deus nos tenha criado e redimido, Ele pode não necessariamente usar-nos. Somente quando temos clareza sobre o chamado de Deus a nós é que podemos dizer, com convicção, que Ele intenta usar-nos. Por conseguinte, para nós, o chamado de Deus é uma confirmação de Sua intenção de usar-nos. Agora a pergunta que devemos fazer a nós mesmos é: "Será que Deus nos chamou? e como sabemos que Ele nos chamou?"

A VISITAÇÃO DE DEUS

Talvez tenhamos o conceito de que entender o chamado de Deus é um assunto difícil. Na verdade, só precisamos perguntar a nós mesmos se, desde o dia em que fomos salvos até agora, já tivemos a sensação de querer ser usados pelo Senhor ou se já ouvimos, dentro de nós, uma voz suave e meiga dizendo que o Senhor deseja usar-nos. Se já tivemos essa sensação, então podemos saber que o Senhor nos chamou. Para nós, ter um coração disposto a ser usado pelo Senhor é o resultado de uma extraordinária obra do Senhor. Essa obra é muito mais grandiosa do que a obra do Senhor ao criar-nos.

A obra do Senhor ao criar-nos não foi tão grandiosa quanto Sua obra de colocar em nós um coração disposto a ser usado por Ele. Seu trabalhar no homem dessa maneira é o Seu mais grandioso modo de visitá-lo. Em outras palavras, essa obra acontece quando Ele vem ao homem e o visita. Como alcançamos um coração desejoso de ser usado pelo Senhor? Antes nós nem nos importávamos com Ele, não obstante, para nossa surpresa, agora temos o desejo de servir para Seu uso. Isso prova que essa é a visitação do Senhor e que Sua graça veio a nós. Nos últimos milhares de anos, Deus veio ao homem e o visitou inúmeras vezes. Infelizmente, não são muitos na igreja hoje que sentiram Sua visitação. Deus sempre vem ao homem, contudo, o homem muitas vezes O põe de lado. Não devemos pensar que, para obter o chamado de Deus, precisamos ouvir uma voz como a de trovão ou ver uma grande luz como Paulo viu no caminho para Damasco (At 9:3; 22:6). Na verdade, em princípio, a voz mansa e suave dentro de nós não é diferente do chamado que Paulo recebeu na estrada para Damasco. Podemos usar a luz do sol como ilustração. Embora haja diferença entre a intensidade do calor da luz tênue vista ao amanhecer e a dos raios brilhantes vistos ao meio-dia, o sol é o mesmo. De igual modo, embora Deus às vezes chame o homem de modo extraordinário, na maior parte das vezes Ele aparece ao homem e o visita de modo comum. A visitação de Deus ao homem é a confirmação de Seu desejo de usá-lo e o início de Seu uso do homem.

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PAGAR UM PREÇO A visitação do Senhor marca o início do uso do homem por Deus. Sem a visitação do Senhor, não temos como ser chamados. Desse modo, é da responsabilidade do Senhor visitar-nos. No entanto, a Bíblia revela-nos que, embora o Senhor tenha a responsabilidade de visitar-nos, também temos uma responsabilidade: pagar um preço (Mt 8:19-22; 16:24-27; Lc 9:59-62). Moisés e Davi, no Antigo Testamento, e Paulo e Pedra, no Novo Testamento, pagaram um preço por meio da visitação do Senhor. Quando o Senhor foi ao encontro de Paulo na estrada para Damasco, Ele não lhe concedeu poder, revelação ou dons de imediato. Pelo contrário, o Senhor disse a ele que entrasse na cidade e deixasse que um pequeno discípulo chamado Ananias lhe dissesse, em poucas palavras, o que ele tinha de fazer (At 9:5b-6, 10-17). Uma vez que estava disposto a pagar o preço, Paulo foi grandemente usado pelo Senhor (Fp 3:7-8). Por um lado, o Senhor sempre visita o homem, mas, por outro, o homem deve sempre pagar um preço. Portanto, nossa utilidade para o Senhor começa com Sua visitação, mas também depende de nossa disposição para pagar um preço. O preço que se tem de pagar depois de responder ao chamado do Senhor não tem limites. Ninguém pode dizer que pagou todo o preço e não há mais nada a pagar. Nem mesmo o apóstolo Paulo pôde dizer isso. Pelo contrário, ele sempre se esquecia das coisas que para trás ficavam e avançava para as que diante dele estavam, prosseguindo para o alvo, até que, um dia, ele até mesmo desistiu da própria vida (vs. 12-14; 2Tm 4:6-8). Quando escreveu o capítulo quatro de 2 Timóteo, Paulo já havia pago quase todo o preço que poderia, contudo, ele continuou a prosseguir. Todos fomos visitados pelo Senhor, e as visitações que recebemos foram as mesmas. No entanto, em razão das diferenças do preço que cada um de nós pagou, nossa utilidade nas mãos do Senhor pode ser diferente da dos outros. Uma vez que Paulo pagou um preço maior que o dos outros, sua utilidade também foi maior do que a dos outros. Alguns podem dizer que o Senhor tem misericórdia de quem Ele quer (Rm 9:18). Entretanto, essa palavra foi dita acerca dos gentios, como Faraó, que ainda não haviam sido visitados por Deus (vs. 15-17). Nós, que fomos salvos pela graça, já recebemos a visitação do Senhor (Ef 2:4-5,8). Portanto, agora a pergunta não é se recebemos a visitação do Senhor, mas se estamos dispostos a pagar um preço. Nossa utilidade nas mãos do Senhor depende totalmente do preço que pagamos. Se pagarmos um preço alto, nossa utilidade será grande; se pagarmos um preço baixo, nossa utilidade será limitada. Através dos anos, a visitação do Senhor não foi rara, contudo, Ele está sempre gemendo porque o preço que estamos dispostos a pagar é muito baixo. Essa é a razão por que a obra do Senhor, hoje, só pode avançar lentamente e o Senhor ainda não pode voltar. A Bíblia revela-nos claramente que o Senhor espera que o homem pague um preço e seja usado por Ele respondendo ao Seu chamado. Em Isaías 6:8, o Senhor disse: "A quem enviarei, e quem há de ir por nós?". Talvez não tenhamos uma compreensão suficientemente profunda dessa palavra. Essa palavra implica que, no universo, Senhor tem um grandioso desejo no coração e espera que homem responda ao Seu chamado. Ele pretende operar em qualquer época, contudo, faltam pessoas dispostas a pagar o preço e responder ao Seu chamado. Toda vez que houver alguém na terra disposto a pagar o preço e responder ao chamado do Senhor, o Senhor certamente irá usá-lo. A amplitude da resposta humana determina a amplitude do uso que o Senhor fará do homem.

O SIGNIFICADO BÍBLICO DO "SUBIR À MONTANHA"

A primeira pessoa na Bíblia a "subir à montanha" foi Noé. Ele chegou ao monte Ararate enquanto estava na arca, passando pelo dilúvio (Gn 8:1-5). A ênfase do juízo por meio do dilúvio não estava em julgar o pecado, mas o mundo que ofendia a Deus. O fato de Noé subir à montanha simboliza que ele estava sendo libertado do juízo e escapando de todas as situações de rebelião contra Deus. Quando ele chegou ao monte, todas as situações de rebelião em relação a Deus cessaram. Portanto, o subir à montanha na Bíblia para estar na presença de Deus indica, primeiro, estar livre da rebelião. Embora o mundo todo tenha mergulhado em um estado de rebelião contra Deus, os que foram à montanha com Noé escaparam da rebelião. Segundo, indica ascensão aos céus por meio da morte e ressurreição. Uma vez que ficou livre da rebelião e passou pelo dilúvio, um tipo de experiência de morte e ressurreição, Noé entrou em uma nova era para representar a autoridade de Deus na terra. O significado de Noé subir à montanha é o mesmo que o de todos os

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que subiram à montanha depois dele. Toda vez que leva uma pessoa a subir uma montanha, Deus tenciona que ela seja libertada da rebelião e passe pela morte e ressurreição a fim de chegar a uma condição de representar a autoridade de Deus na terra. É nisso que se resume o significado da experiência do homem de subir à montanha. Na Bíblia, há outro aspecto do significado do subir à montanha: obter revelação. Em muitos exemplos, desde a subida de Abraão ao monte Moriá (Gn 22:1-2) à permanência de João na ilha de Patmos (Ap 1:9; 21:10), a ênfase dada a essas experiências nas Escrituras é o receber a revelação. A subida de Abraão ao monte Moriá era, a princípio, para a consagração, mas, no final, foi para a revelação. Ao subir o monte, Abraão veio a conhecer a Deus como 'Jeová Jiré" (O Senhor Proverá) e a conhecer a obra de Deus na terra, pois a promessa de Deus a Abraão tinha a ver com a obra que Ele realizaria na terra. Depois de Abraão, Moisés e Elias também receberam a revelação ao subir a um monte (Êx 19:20; 1 Rs 18:42). No Novo Testamento, o fato de o Senhor levar Seus discípulos a um monte também foi para fazer uma revelação (Mt 5:1). Por fim, o objetivo de João ser levado a um monte quando estava na ilha de Patmos foi, sobretudo, receber revelação. Na experiência de João ao subir à montanha, vemos o significado extremo desta questão: ser libertado da rebelião, passar pela morte e ressurreição, representar a autoridade de Deus na terra e receber uma revelação extremamente misteriosa. O fato de que é preciso subir à montanha para receber revelação indica que, para recebê-la, é preciso pagar um preço. Em outras palavras, subir à montanha é pagar um preço. O ensino do Senhor no monte em Mateus 5 a 7 veio depois que Ele ensinou nas sinagogas (4:23) e também era independente de Seu ensino nelas. O ensino nas sinagogas era comum, geral e foi ouvido por grande número de pessoas. No entanto, após ensinar nas sinagogas, o Senhor levou Seus discípulos ao monte. O ensino no monte tinha a ver com o reino dos céus; esse ensino era importante, específico e foi ouvido só por alguns que foram ao Senhor, seguindo-O até o monte. Subir à montanha é pagar um preço e ir ao Senhor, aproximando-se Dele. Através de todas as gerações, poucos foram capazes de compreender o ensinamento de Mateus 5 a 7, porque poucos estavam dispostos a pagar um preço. Se quisermos receber revelação, precisamos, sinceramente, tomar a decisão de pagar um preço e aproximar-nos do Senhor. Há os requisitos básicos para que tenhamos a experiência de subir à montanha e recebamos a revelação. Foi ao cumprir esses requisitos, pagando o preço e aproximando-se do Senhor, que Abraão, Moisés e os discípulos do Senhor puderam receber revelação. Aconteceu, sobretudo, o mesmo com João na ilha de Patmos; ele recebeu a revelação enquanto pagava o preço e se aproximava do Senhor no dia do Senhor (Ap 1:10). Todos devemos aprender essa lição.

O PREÇO NOS EVANGELHOS: DEIXAR TUDO PARA SEGUIR AO SENHOR

Os Evangelhos mencionam inúmeras vezes em que o Senhor chamou pessoas diferentes. Rigorosamente falando, o chamado do Senhor não é, principalmente, para que as pessoas sejam salvas, mas para que O sigam. Por exemplo, há versículos bíblicos como: "Vinde após Mim" (Mt 4:19), "Segue-Me" (9:9), "Vende os teus bens (...) depois vem e segue-Me" (19:21), "Segue-Me, e deixa os mortos sepultar os seus próprios mortos" (8:22) e "Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é apto para o reino de Deus" (Lc 9:62). Esses versículos revelam-nos repetidas vezes quanto é grande o preço que tem de ser pago por aqueles que desejam seguir ao Senhor. Nos Evangelhos, o único requisito do Senhor para aqueles chamados por Ele era que deixassem todos os bens (14:33). Foi assim que os primeiros discípulos foram chamados a seguir ao Senhor. Pedro disse, por exemplo: "Eis que nós tudo deixamos e Te seguimos" (Mt 19:27). Tudo significa "todas as coisas". Se uma pessoa com cinco mil dólares oferece os cinco mil e outra com cinqüenta mil dólares oferece os cinqüenta mil, então, as duas entregaram tudo o que tinham para pagar o preço. Aos olhos do Senhor, ambas pagaram o mesmo preço. Um dia, o Senhor elogiou a viúva que depositou duas moedas no gazofilácio, porque ela havia depositado tudo o que tinha, que era até mesmo todo o seu sustento (Mc 12:42,44). Portanto, para nós, pagar um preço não significa necessariamente investir a maior parte, mas depositar tudo o que temos. Aquele que deposita tudo é quem paga um preço. O Senhor nunca leva em conta o que pagamos. Pelo contrário, o que Ele leva em conta é se pagamos tudo.

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O "tudo" exigido nos Evangelhos é tudo o que temos, inclusive pais, cônjuge, filhos, irmãos, irmãs, casa, negócios, diploma acadêmico, posição, fama, preferências, ambições e vida. Todos esses itens são o preço exigido nos Evangelhos. Muitos de nós, hoje, no entanto, não cortaram o relacionamento com parentes. Isso não significa que devemos romper, visivelmente, com todos os relacionamentos humanos. Pelo contrário, significa que devemos romper com todos os laços emocionais. Resumindo, o Senhor deseja que abramos mão de tudo o que temos. Essa é a exigência mais dura que Ele tem para nós. Toda vez que tocarmos no Senhor, Ele exigirá algo de nós. Será sempre assim. O Senhor nunca se satisfaz com o preço que já pagamos. Toda vez que nos tocar, Ele nos pedirá algo. Experimentamos a presença mais visível do Senhor quando Ele exige algo de nós. De nossa parte, a única vez em que não percebemos que Ele exige algo de nós é quando perdemos a comunhão com Ele. Da parte do Senhor, a exigência que Ele nos faz só cessará quando o novo céu e a nova terra estiverem estabelecidos. Hoje é o tempo de o Senhor usar o homem e conquistá-lo para fazer Sua obra. Conseqüentemente, Ele continuará a exigir algo de nós, e Suas exigências serão cada vez maiores. A princípio, as exigências do Senhor são pequenas, mas, aos poucos, passam a ser maiores, mais profundas e mais duras. Se tentarmos reprimir a sensação de que Ele exige algo, sofreremos grande perda, pois nossa comunhão com Ele será interrompida. Depois de muito tempo, o Senhor não mais fará a Sua vontade em nós e, conseqüentemente, será forçado a recorrer a outra pessoa. No entanto, se concordarmos com Suas exigências, se aprendermos a obedecer e se estivermos dispostos a pagar o preço, nosso sentimento ficará cada vez mais sensível, chegando a ponto de ter, quase que o dia todo, o sentimento de que o Senhor está pedindo algo de nós. Se não cooperarmos com Suas exigências e não estivermos dispostos a pagar o preço, haverá dois resultados. Primeiro, de nossa parte, seremos como o jovem que se retirou triste (Mt 19:22). Segundo, da parte do Senhor, Ele não poderá manifestar nossa utilidade para Ele. Por essa razão, devemos antes errar tentando obedecer do que desobedecer completamente, e é melhor obedecer demais do que obedecer de menos. Se respondermos aos requisitos do Senhor, também haverá dois resultados. Primeiro, nós nos encheremos de alegria e, segundo, o Senhor poderá manifestar nossa utilidade. Devemos perceber que o requisito básico para sermos usados pelo Senhor é concordar com Suas exigências. Uma pessoa que concorda com as exigências do Senhor pode ser usada por Ele ainda que não tenha grande conhecimento da verdade. Ela ainda pode ser usada pelo Senhor mesmo que não ore com muita freqüência. O poder que obtemos quando pagamos o preço de responder às exigências do Senhor muitas vezes é maior do que por meio de inúmeras orações. O poder que recebemos quando pagamos o preço de responder às exigências do Senhor muitas vezes é maior do que por meio do derramar do Espírito Santo. As pessoas prestam atenção no derramar do Espírito Santo, contudo, não vêem que, no dia do Pentecostes, os que receberam o derramar do Espírito Santo pagaram um alto preço. Eles deixaram tudo para estar no aposento superior em Jerusalém e perseveraram unânimes em oração (At 1:13-14). Muitas pessoas gostariam de receber o poder gerado pelo derramamento do Espírito, não obstante, elas não se dispõem a aprender a lição do pagar um preço. Por essa razão, realizam muitas obras, mas suas obras não podem perdurar e não têm efeito duradouro. Se o obreiro quiser que sua obra continue e perdure por muito tempo, deve aprender a lição de pagar o preço. A permanência de uma obra depende de quanto o obreiro aprendeu essa lição. O poder para fazer a obra do Senhor está no aprender essa lição e, para isso, é preciso pagar um preço. A utilidade de uma pessoa diante do Senhor está baseada no preço que ela pagou diante do Senhor. Todos admiramos o modo pelo qual pessoas como Paulo e Pedra foram úteis para o Senhor, contudo, esquecemos que eles pagaram um alto preço diante do Senhor. Se não somos úteis para o Senhor hoje, a única razão para isso é que não estamos dispostos a pagar um preço, não estamos dispostos a responder às Suas exigências e não estamos dispostos a abrir mão de nossa reputação, educação, posição, futuro e toda a nossa vida. Por essa razão, não sentimos a presença do Senhor, raramente temos contato com Ele na comunhão e, naturalmente, temos pouca utilidade diante Dele.

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O PREÇO EM FILIPENSES: ABRIR MÃO DE TODAS AS COISAS PARA GANHAR A CRISTO

O preço em Filipenses 3 é diferente do preço nos Evangelhos. O preço nos Evangelhos refere-se a tudo o que temos, enquanto o preço em Filipenses 3 refere-se, sobretudo, a todas as coisas que nos capacitam a servir ao Senhor. Por exemplo, todas as coisas em Filipenses 3 denotam nossas habilidades no serviço (v. 8). Talvez tenhamos a habilidade de servir, pregar, testificar e visitar os santos. Talvez também tenhamos eloqüência e experiência. Todas essas coisas estão incluídas no preço que nos é exigido em Filipenses 3. A revelação em Filipenses 3 é que devemos seguir a experiência de Cristo e o poder de Sua ressurreição (v.10). Portanto, precisamos pagar o preço, renunciando a tudo o que temos: nossa teologia, eloqüência, doutrinas, conhecimento e experiência, em troca de Cristo, da experiência de Cristo e do ganho de Cristo. Paulo renunciou a todas as coisas para ganhar a Cristo (v. 8). Em outras palavras, ele abriu mão de todas as suas habilidades no serviço de Deus para ganhar a Cristo como sua habilidade. Precisamos deixar de lado nossa habilidade, eloqüência, doutrinas e mensagens, e deixar que Cristo seja nossa habilidade, eloqüência e mensagem. É somente pagando o preço dessa forma que poderemos ganhar a Cristo. Utilizemos o exemplo de visitar os santos como ilustração. Uma vez que saímos freqüentemente para visitar os santos, aos poucos aprendemos algo acerca dessa questão. Logo, podemos achar que somos experientes no assunto. No entanto, se não abrirmos mão de nossa experiência nessa· questão por causa de Cristo, não poderemos experimentá-Lo por meio das visitas. Uma vez que desejamos conservar nossa habilidade, Cristo não tem chance de se mostrar. Entretanto, se formos visitar os santos pondo de lado nossa experiência, não mais dependeremos de nossa habilidade. Consideramos a habilidade de visitar os santos, que era um ganho para nós, como perda por causa de Cristo. Embora tenhamos a habilidade, abrimos mão dela e a consideramos como refugo. Em contrapartida, ganhamos a Cristo e O experimentamos. O preço em Filipenses 3 não é um preço experimentado no estágio inicial da vida cristã. O preço experimentado no estágio inicial de um cristão é o preço dos Evangelhos. O preço de Filipenses vem depois do preço dos Evangelhos. Quem não pagou o preço dos Evangelhos não pode pagar o preço de Filipenses 3. O preço dos Evangelhos não requer nenhuma qualificação: é o preço inicial; já o preço de Filipenses 3 requer certas qualificações. Somente depois de pagar o preço dos Evangelhos é que uma pessoa pode servir em Atos, e, somente depois de servir em Atos, é que ela tem a experiência e a qualificação para pagar o preço de Filipenses 3. Depois de pagar o preço dos Evangelhos, a pessoa terá inúmeras experiências no serviço de Deus. No entanto, se ela parar por aí, apegando-se a essas experiências, em vez de abrir mão delas, ela não terá nenhuma experiência nova e será incapaz de ter mais experiências de Cristo. Por essa razão, Paulo disse que devemos esquecer-nos das coisas que ficam para trás e avançar para as que estão diante de nós (Fp 3:13). Independentemente do quanto foram boas, nossas experiências do passado são as coisas que ficam para trás e precisam ser esquecidas (ef. vs. 5-6). Se pregamos a palavra uma vez e três mil almas foram salvas, precisamos, não obstante, abrir mão dessa experiência e considerá-la como refugo para ganhar o Cristo vivo. A menos que estejamos dispostos a abrir mão das experiências do passado, não poderemos ter uma experiência nova de Cristo e, sem essa experiência, não teremos nova utilidade no serviço. Há alguns cuja utilidade diante do Senhor é velha: não é nova nem viva, pois eles não estão dispostos a pagar o preço mencionado em Filipenses 3 e, assim, faltam-lhes a experiência de Cristo e o poder de Sua ressurreição. O preço de Filipenses 3 pode ser comparado à oferta de Isaque no altar feita por Abraão (Gn 22:1-2). Abraão havia recebido Isaque como promessa de Deus, não obstante, ainda teve de oferecer Isaque novamente. De igual modo, ainda precisamos oferecer ao Senhor as lições que aprendemos diante Dele no passado. Esse é o preço de Filipenses 3, que é um preço mais alto. O preço dos Evangelhos é pago por um seguidor do Senhor no estágio inicial de sua experiência. O preço de Filipenses é pago por quem já vem servindo ao Senhor de certo modo e já tem grau considerável de conhecimento do Senhor, grau considerável de espiritualidade, grau considerável de consecução e grau considerável de experiência. Nesse momento, o preço revelado em Filipenses 3 irá exigir-lhe abrir mão de todos esses "graus consideráveis", ou seja, abrir mão de todas as coisas. Embora sejam boas e sejam "Isaques", essas coisas são todas do passado. Portanto, a pessoa tem de esquecê-las e pagá-las como o preço para ter algumas experiências novas. É somente assim que ela tem utilidade nova e vigorosa no serviço.

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O PREÇO EM APOCALIPSE: COMPRAR TRÊS COISAS Outro texto nas Escrituras que menciona de modo muito claro o pagar o preço é Apocalipse 3:18. Nessa passagem fala-se na compra de três coisas: ouro refinado pelo fogo, vestiduras brancas e colírio. Todas têm a ver com um preço. Além disso, é o Senhor quem nos pede que as compremos. Ouro significa a natureza de Deus, o elemento de Deus. Na igreja em Laodicéia, havia muito barro, porém pouquíssimo ouro. Em outras palavras, havia muitas coisas no meio deles que estavam fora de Deus e muito pouco do elemento de Deus. Conseqüentemente, o Senhor aconselhou os cristãos a comprar ouro. Com relação às vestiduras brancas, a cor branca denota pureza, a ausência de mistura, e as vestiduras simbolizam um andar e conduta que expressam a pureza de Deus. Terceiro, o colírio é para ungir os olhos. Quando os olhos doem e não se pode ver, é preciso comprar colírio para curá-los e deixá-los bons novamente. Em situações normais, a natureza interior de um cristão deveria ser pura e seu viver exterior deveria ser alvo e brilhante. Todos esses itens exigem que compremos algo, que paguemos um preço. A intenção de Deus é cumprir Seu propósito eterno por meio do homem. Assim, depois que o Senhor nos chama, precisamos pagar o preço para ser úteis para Ele.

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Capítulo Dois APRENDER A PAGAR O PREÇO NA VIDA DIÁRIA

A VERDADEIRA BUSCA ACONTECE NA VIDA DIÁRIA

Em um momento ou outro, todos tomamos a decisão de buscar crescimento espiritual e ser úteis para o Senhor. No entanto, buscar por decisão própria muitas vezes pode vir a ser uma questão de formalidade e, assim, tornar-se incompatível com a realidade. A verdadeira busca deve ser realizada em todos os aspectos da vida diária. Você pode aproveitar a vista das montanhas e rios em suas viagens enquanto busca. Você pode conversar com um amigo sobre todos os tipos de assunto enquanto paga o preço. Deveríamos pagar o preço e seguir ao Senhor em todo aspecto da vida diária. Não há como saber se o Senhor presidiu alguma vez uma reunião formal enquanto esteve na terra, pois Ele não se prendeu a formalidades. Pelo contrário, levou os discípulos a seguir com a vida diária. Mesmo enquanto viajavam, eles ainda O seguiam (Mt 5:1; 8:23; 9:10; 13:1-2,10,36; 16:13; 17:1-2; 24:1-3). No Antigo Testamento, Gideão e seus seguidores foram provados na vida diária na questão de como bebiam a água (Jz 7:4-8). Esse deve ser o princípio da busca espiritual. Não devemos orar só quando entramos em uma sala, nem pregar e trabalhar só quando entramos no local de reuniões e subimos ao púlpito. Se orarmos, pregarmos e trabalharmos somente nesses momentos, estaremos meramente cumprindo formalidades religiosas. Podemos buscar a Deus em qualquer momento, quer estejamos no monte ou à beira-mar, na estrada ou em casa. É no viver diário que as pessoas podem detectar se realmente buscamos o Senhor e se podemos de fato ser usados por Ele. Se não podemos trabalhar pelo Senhor na vida diária, certamente não podemos trabalhar por Ele em horários marcados. O verdadeiro obreiro é aquele que pode prestar ajuda e provisão espirituais para os outros em cada um de seus movimentos e ações no curso da vida comum no dia-a-dia. Só isso é realidade. Nosso viver deve ser verdadeiro e não religioso. Todas as pessoas e coisas com as quais temos contato e encontramos todos os dias, em todo momento e lugar, são oportunidades para que paguemos o preço e busquemos ser úteis para o Senhor.

UM PREÇO BÁSICO A SER PAGO Um preço básico que precisamos aprender a pagar na busca diária é que os mais jovens devem receber ajuda dos mais velhos, que, por sua vez, devem fazer o possível para ajudar os mais jovens. Para que sejamos manifestados diante do Senhor como aqueles que verdadeiramente buscam crescimento espiritual, devemos atentar para essas duas questões. Por um lado, devemos fazer todo o possível para receber ajuda de quem puder prestar-nos ajuda e, por outro, devemos fazer todo o possível para ajudar quem precisa de ajuda. A verdadeira busca é isso. No entanto, normalmente o que acontece é que os mais jovens procuram os mais jovens e os mais velhos procuram os mais velhos. Isso não é nem buscar nem pagar o preço. Isso muito provavelmente acontece por causa de preferência própria. Procurar sempre aqueles que têm a sua idade para conversar intimamente não é pagar o preço, mas tem a ver com preferência. Você deveria dar um basta a essa prática de passar tempo só com aqueles cujo gosto e temperamento são iguais aos seus. É por causa da má vontade de pagar o preço que os mais jovens não procuram os mais velhos. É também por causa dessa má vontade que os mais velhos não procuram os mais jovens. Esse tipo de situação é, na maioria das vezes, causado por se estar na carne e não disposto a negar o "eu". No primeiro capítulo de Cântico dos Cânticos, aquela. que busca segue ao Senhor, mas ainda tem de apascentar os cabritos (v. 8). Se negligenciamos os mais jovens, não somos muito úteis para o Senhor. Os mais velhos deveriam procurar ajudar os mais jovens, por sentirem a responsabilidade de fazê-lo. Os mais jovens deveriam procurar os mais velhos, por sentirem a necessidade de receber ajuda. É nisso que consiste o devido serviço.

Não devemos esperar o momento da reunião para servir. Pelo contrário, devemos servir enquanto trabalhamos no escritório, fazemos os trabalhos domésticos e até longe de casa, viajando em nosso tempo livre. Isso pode ser comparado à mãe que não consegue esquecer os filhos, quer esteja em

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casa ou longe de casa, no emprego, cuidando de algum assunto ou fazendo atividades recreativas. As verdadeiras lições de busca são aprendidas na vida diária, e o verdadeiro momento de servir acontece nos momentos regulares.

CONHECER E MANTER A DEVIDA POSIÇÃO

Na vida da igreja, ninguém é apenas mais jovem ou apenas mais velho; pelo contrário, todos são mais jovens e mais velhos também. A despeito disso, todos ainda precisam saber qual é a sua posição e mantê-la. No trabalho, na igreja e até quando todos estão reunidos, os mais jovens devem comportar-se como tais e os mais velhos devem comportar-se como tais. Cada um deve manter a devida posição com firmeza e pagar o preço para aprender isso.

Todo assunto no universo tem certos princípios. Por exemplo, ninguém que perde a devida posição pode ser abençoado. Qualquer pessoa que abandonar a sua posição certamente perderá a bênção que, por direito, lhe pertence. Na família, quanto mais os filhos se comportam devidamente como filhos, mais firmemente eles ocupam a posição de filhos, e quanto mais os pais se comportam devidamente como pais, mais firmemente ocupam a posição de pais. O mesmo acontece na igreja: quanto mais os santos se desenvolvem de modo normal, mais firmemente mantêm a posição. A Bíblia diz que os mais jovens devem ser submissos aos mais velhos (1 Pe 5:5) e os mais velhos devem cuidar dos mais jovens (vs. 1-3). Todos devemos saber qual é a nossa posição sem esperar que os outros dêem ordens ou depender que eles tomem as medidas necessárias. Devemos sempre manter a nossa posição, pagando o preço para aprender essa lição. Toda pessoa deveria saber claramente qual é a sua posição. Por exemplo, quem realmente aprendeu essa lição e sabe qual é a sua posição não teria coragem de dizer nada sobre a comida que é posta à sua frente, independente do quanto essa comida esteja ruim. Ainda que a comida estivesse envenenada, tudo o que ele faria seria abster-se de comê-la. Ele não pode dizer o que lhe agrada porque não está na posição de dizer nada, nem o momento é oportuno para isso. Quem realmente aprendeu essa lição fará todo o esforço para falar no momento oportuno. No entanto, se o momento não for oportuno, ficará em silêncio. Quem realmente aprendeu essa lição sempre mantém sua posição. Quando o momento é oportuno para discutir algo em uma reunião, ele fala. Entretanto, fora da reunião, acabada a discussão, ele se nega a falar. Saber qual é a nossa posição e mantê-la é pagar o preço para aprender essa lição. Devemos sempre aprender a pagar o preço, pois, só então, podemos ser úteis na mão do Senhor. Quando nos reunimos, a posição dos mais jovens e a posição dos mais velhos devem estar claramente definidas. Quanto mais clara estiver essa situação, mais bênçãos haverá. Na igreja, quanto mais visível for a ordem, mais forte será a igreja. Os mais jovens não devem sentir-se envergonhados, e os mais velhos não devem sentir-se orgulhosos. Não devemos pensar que os que nos corrigem estão nos maltratando. Devemos perceber que o fato de os mais jovens poderem ouvir os mais velhos é algo extremamente glorioso e doce. Nossa posição é obedecer aos mais idosos, quer estejam certos ou errados. Não estamos na posição de dizer algo diante deles. Uma vez que dissermos algo de maneira desenfreada, perderemos a bênção. Noé cometeu um grave erro quando se embriagou e se pôs nu. No entanto, quando Cam, pai de Canaã, falou sobre o ocorrido, ele perdeu a bênção (Gn 9:20-27). Quando há diz-que-diz na igreja, perde-se a bênção. Não pense que falar pouco não é nada; na verdade, uma pequena fagulha pode provocar grande incêndio. Na vida diária, precisamos aprender a lição de saber qual é a nossa posição. Para isso, é preciso pagar um preço considerável.

OS DOIS ASPECTOS DO PREÇO

O preço que devemos pagar tem dois aspectos. Um deles diz respeito ao nosso sentimento interior e o outro tem a ver com a luz da verdade que nos foi dada pelo Senhor. Normalmente, o que sentimos no íntimo está, principalmente, relacionado com questões triviais. As coisas importantes, valiosas e profundas são, na maioria das vezes, encontradas na verdade. O último aspecto é visto, sobretudo, no Evangelho de Mateus. Mateus é um livro que fala do reino. O reino tem um duplo significado em relação a nós. Por um lado, envolve o governo dos céus e, por outro, exige que paguemos um preço. Quase todo o livro de Mateus diz respeito ao requisito de se pagar um preço. No entanto, os capítulos mais importantes são 5 a 7, 13,24 e 25.

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Os capítulos 5 a 7 de Mateus, que consistem no ensinamento dado no monte, dizem respeito à realidade do reino. O capítulo 13, que consiste nas parábolas proferidas à beira-mar, diz respeito à aparência do reino. Os capítulos 24 e 25, que consistem nas profecias ditas no monte das Oliveiras, dizem respeito à manifestação do reino. Tanto a realidade quanto a manifestação do reino foram ditas em um monte. Isso aconteceu porque somente os que "sobem à montanha" podem participar da realidade do reino hoje e entrar na manifestação do reino no futuro. Embora uma multidão tenha seguido ao Senhor, somente uma pequena parte dela ouviu a notícia acerca da realidade e da manifestação do reino. Os que ouviram foram os que seguiram ao Senhor até o monte e se aproximaram Dele. Em outras palavras, foram os que pagaram um preço e tiveram comunhão com o Senhor. A palavra acerca da aparição do reino foi dada à beira-mar, o que significa o mundo usurpado e corrompido por Satanás. Os que estão no mundo só podem ouvir a palavra acerca da aparição do reino. Eles não podem ver a realidade e a manifestação do reino porque não pagaram o preço, subindo à montanha e vindo para o Senhor .

Embora os ensinamentos incluídos nessas três seções de Mateus sejam diferentes em termos de conteúdo, eles têm um ponto em comum: o requisito de que um preço precisa ser pago. Em Mateus 5 a 7, o preço exigido é que todo o nosso ser e todo o viver humano sejam completamente entregues ao Senhor, para que possamos chegar à excelsa justiça, entrar pela porta estreita e andar no caminho apertado. Mateus 13 requer que sejamos livres da grande árvore e do fermento, e sejamos o trigo e o grão de mostarda. Requer que sejamos moídos e espezinhados para dar a provisão de vida aos outros. O capítulo 13 também requer que sejamos o tesouro (incluindo as pedras preciosas) e a pérola. Em outras palavras, esse capítulo requer que passemos pelo fogo do Espírito Santo e pela pressão dos sofrimentos para ser valiosos diante do Senhor. Nos capítulos 24 e 25, o preço que nos é exigido a pagar tem dois aspectos: o aspecto da vida e o aspecto da obra. O aspecto da vida é o de que precisamos comprar o azeite, e o aspecto da obra é o de que precisamos ser fiéis. Comprar o azeite, o aspecto de vida, é deixar todas as coisas exteriores da vida diária e cuidar somente do Espírito que habita em nós. Ser fiel no aspecto da obra é usar o dom que recebemos para suprir os outros.

A RELAÇÃO ENTRE PAGAR O PREÇO E RECEBER A SALVAÇÃO

Todos sabemos que a salvação de Deus consiste em duas partes. Na primeira, recebemos o perdão dos pecados e a vida eterna pela fé e, na segunda, Deus quer trabalhar a Si mesmo em nós para que sejamos mesclados com Ele e nos tornemos um só. O pré-requisito para receber a primeira parte da salvação de Deus é a fé. Rigorosamente falando, o pré-requisito para receber a segunda parte da salvação de Deus é o pagar um preço. Uma vez que a salvação de Deus consiste nessas duas partes, há dois requisitos para recebê-las. Para receber o perdão dos pecados e obter a vida eterna, basta simplesmente ter fé. No entanto, se quisermos que Deus trabalhe a Si mesmo em nós e se mescle conosco, devemos cumprir o segundo requisito: pagar um preço.

O SIGNIFICADO DE PAGAR UM PREÇO

Pagar um preço é pôr de lado tudo o que não é Deus a fim de receber a segunda parte da salvação divina. Devemos deixar tudo o que está fora de Deus, incluindo o "eu", a carne, o ser natural, a disposição, a família, a religião, as riquezas, a reputação, a posição e o futuro. A soma de todas essas coisas tem a ver com "todos os seus bens" mencionado pelo Senhor em Lucas 14:33 e com "todas as coisas" mencionado pelo apóstolo em Filipenses 3:8. O Senhor disse que precisamos renunciar a todos os bens para segui-Lo, e o apóstolo disse que precisamos perder todas as coisas para ganhar a Cristo. Devemos fazer isso porque Deus em Cristo pretende trabalhar a Si mesmo em nós para que possamos estar unidos a Ele e mesclados com Ele. Precisamos abandonar, pôr de lado, tudo o que está à parte de Deus, independentemente se essas coisas são boas ou ruins, se estão no passado ou no futuro. Desse modo, o preço que devemos pagar tem muitos aspectos, como o preço exigido em Mateus 5 a 7, 13,24 e 25, o preço em Filipenses 3 e o preço em Apocalipse 3:18. Além disso, há também o preço relacionado com o galardão e o castigo (1 Co 3:8, 14-15; 9:18,24-25; Hb 10:35). Todos esses preços envolvem um princípio: o preço que devemos pagar é perder tudo o que está fora de Deus. Devemos pôr de lado tudo o que não está de acordo com Deus e que se opõe a Deus, toma o lugar de

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Deus e substitui Deus. Do contrário, não Lhe daremos a oportunidade propícia e a base suficiente para trabalhar livremente a Si mesmo em nós. Por conseguinte, não experimentaremos Deus ricamente. Não pense que renunciar a tudo, como disse o Senhor, é muita coisa. Também não pense que é extremamente difícil abandonar todas as coisas, como disse o apóstolo. O Senhor e o apóstolo disseram tais coisas porque, para experimentar e obter Deus, devemos renunciar a tudo o que não seja Deus, ou seja, devemos abandonar todas as coisas. Isso não é simplesmente uma condição; é uma necessidade. Se vivermos por nossa conta, Deus não poderá estar em nós como nossa vida. Se confiarmos em inúmeras pessoas, coisas e questões, e não nos comprometermos totalmente com Deus, Ele não poderá ser tudo em nosso interior. Se a família, o cônjuge e os filhos forem mais preciosos para nós do que Deus, então Deus não poderá ser tudo em nós. Se a educação, fama, posição e futuro forem mais amáveis para nós do que Deus, então, Deus não poderá ser nosso gozo e elemento interiores. Suponhamos que, embora creiamos em Deus, vivemos de acordo com as coisas que estão fora de Deus, e essas coisas são tudo para nós. Embora não haja dúvida de que estamos eternamente salvos, a intenção de Deus de operar em nós para nos mesclar totalmente com Ele em unidade é completamente impossível e inviável. Quando vivemos dessa forma, não só deixamos de cumprir o que nos é exigido, mas também a intenção de Deus não pode ser cumprida em nós. Não pagamos o preço que é o requisito para que Deus trabalhe a Si mesmo em nós e seja mesclado conosco. Alguns podem dizer que, em se falando de pagar o preço, desprezamos a eficácia da salvação do Senhor. Os que dizem isso não percebem que o que dizem não está de acordo com a verdade. A parte da salvação que diz respeito ao perdão dos pecados e ao receber a vida eterna pode ser obtida tão somente pela fé. No entanto, devemos pagar um preço se quisermos que Deus entre em nós e se mescle conosco, para efetuar em nós tanto o querer quanto o realizar (Fp 2:13) e nos capacite a viver Cristo (1:21a), sempre permitindo que Cristo seja engrandecido em nosso corpo (v. 20b). Não podemos chegar a esse estágio simplesmente pela fé. É impossível encontrar um versículo em toda a Bíblia que nos diga que podemos obter esse resultado simplesmente pela fé. Paulo disse explicitamente que, uma vez que Deus efetua em nós tanto o querer quanto o realizar, devemos obedecer com temor e tremor (2:12). Ele também disse que, se desejamos viver Cristo, não nos importa o viver ou morrer. Não somente isso, se quisermos ganhar a Cristo e conhecer a Ele e o poder de Sua ressurreição, precisamos perder todas as coisas e considerá-las como refugo (3:8-10). Isso não é pagar um preço? A segunda parte da salvação de Deus requer que paguemos um preço. Isso é tanto um requisito como um fato.

O OBJETIVO DE PAGAR O PREÇO

O objetivo de pagar o preço é dar a Deus a oportunidade de realizar em nós o que Ele pretende fazer. O significado de pagar o preço é que permitimos a Deus ter um lugar em nós para entrar em nós, ser nossa vida e até se mesclar totalmente conosco sem qualquer empecilho, limitação ou dificuldade. Nosso viver, preferência, inclinação, futuro e interesse devem ser renunciados em troca de Cristo, pois Ele deseja preencher o lugar de tudo o que temos. Precisamos entregar tudo o que temos. Se entregarmos mais, receberemos mais. Se entregarmos menos, receberemos menos. Se não entregarmos nada, não receberemos nada. Se entregarmos tudo, receberemos tudo. Devemos pagar o preço e negar-nos a nós mesmos, renunciando à família, carreira e futuro, e deixando de lado tudo o que ocupa o lugar de Deus. Desse modo, Deus virá a nós para ser nossa vida, poder, natureza e conteúdo. Se alguém crê no Senhor, mas não está disposto a pagar o preço para ganhar a Cristo, então a salvação que ele recebe consistirá apenas no perdão dos pecados e no recebimento da vida eterna. O aspecto da salvação que inclui o perdão dos pecados e o recebimento da vida eterna foi preparado por Deus para você, e tudo o que você precisa fazer é recebê-lo. No entanto, para que Deus se mescle com você, você deve renunciar a tudo o que tem. Por essa razão, Mateus diz que precisamos comprar o azeite (25:8-9) e Apocalipse diz explicitamente que precisamos comprar ouro, vestiduras brancas e colírio (3:18). O termo comprar nessas passagens foi dito pelo próprio Senhor. Paulo não usou o termo comprar, em vez disso, ele disse: "Perdi todas as coisas (...) para ganhar" (Fp 3:8). Em princípio, tanto perder como comprar envolvem pagar um preço. O tamanho

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de sua perda determina quanto Cristo entra em você. Se você estiver apegado ao que já tem, não há como ganhar a Cristo.

Os primeiros cristãos venderam tudo o que tinham por amor ao Senhor (At 2:44-45; 4:32). Antes eles estavam sob a usurpação daquelas coisas, e Deus não tinha oportunidade, espaço e caminho neles. No entanto, por fim, eles perceberam que todas aquelas coisas não deveriam ser os objetivos de sua busca, mas o próprio Deus deveria ser seu único objetivo. Por essa razão, eles odiaram todas aquelas coisas e as perderam. O jovem rico nos Evangelhos amava ao Senhor e queria segui-Lo, mas, por fim, ele se retirou triste (Mt 19:16-22). Por quê? Porque não tinha a intenção de vender seus bens. Uma vez que ele estava dominado por todas aquelas coisas, Cristo não tinha lugar nele.

Toda vez que uma pessoa se deixa dominar pela reputação, futuro, posição, poder e parentes, não há como Cristo ter primazia nela. O Senhor disse que ninguém pode servir a dois senhores (6:24). Isso significa que ninguém pode ter dois amores. Essa questão não pode ser solucionada simplesmente pela fé. Assim, no final do Evangelho de João, um livro que muitas vezes refere-se à fé (1:12; 3:15-16, 18, 36; 6:40; 20:31), a questão do amor é mencionada. Muitos leitores da Bíblia reconhecem que João 21 foi acrescentado pelo autor como uma reflexão posterior. Esse Evangelho sem dúvida termina no capítulo vinte, mas o escritor acrescentou outro capítulo, o capítulo vinte e um, que é de outra natureza. Os primeiras vinte capítulos de João falam sobre fé, mas o último fala sobre amor (vs. 15-17). Pedra e João não tinham nenhum problema com a questão da fé. No entanto, a menos que deixassem os barcos de pesca e redes, eles não poderiam ganhar a Cristo. Hoje, há tantos cristãos que estão em João 20, mas quantos há que estão no capítulo vinte e um? Expressões como mais do que estes (21:15) e quando, porém, fores velho (v. 18) indicam que nos é exigido pagar um preço para que Cristo tenha a oportunidade de encher-nos ricamente de Si mesmo.

Embora, em João 20, Pedra já estivesse salvo, no íntimo, ele não tinha muito lugar para Cristo. Ele havia recebido a vida eterna com abundância, mas não havia sido suficientemente cheio de Cristo. Por essa razão, o Senhor perguntou: "Amas-Me mais do que estes?" (21:15). Ter mais amor pelo Senhor era algo que lhe exigia pagar um preço. Se só temos fé, ainda não podemos dizer que, para nós, o viver é Cristo, ainda não podemos conhecer o poder da ressurreição de Cristo e ainda não podemos dizer que é Deus quem efetua em nós tanto o querer como o realizar. O Senhor disse que quem não renuncia a tudo não pode ser Seu discípulo (Lc 14:26,33). Se bastasse simplesmente ter fé, então Paulo não teria necessidade de correr a corrida (1 Co 9:24, 26; Gl 2:2; 2 Tm 4:7), nem teria desejado receber a galardão no futuro (Fp 3:14).

O RESULTADO DE PAGAR O PREÇO

Em que resulta pagar o preço? O resultado é que, ao entregar-se a si mesmo e tudo o que você tem para Deus, Deus e tudo o que Ele tem mesclam-se com você. Pagar o preço não é só para que você receba um galardão e seja arrebatado no futuro. Pelo contrário, é para que você e tudo o que você tem sejam levados, e para que Deus e tudo o que Ele tem sejam acrescentados e mesclados com você. Os que são arrebatados primeiro são os que estão plenos de Deus. Os que entram no reino para receber um galardão são os que estão plenos de Cristo. Os que participam da ressurreição extraordinária são os que vivem no poder da ressurreição de Cristo hoje. Rigorosamente falando, não são os que não pagam um preço que entrarão no reino. Pelo contrário, somente os que pagaram um preço e estão, com isso, plenos de Cristo é que poderão entrar no reino. Não é o preço propriamente dito que o qualifica para entrar no reino, nem é o preço propriamente dito que lhe dá a qualificação para ser rei. Pelo contrário, é o Cristo do qual você está pleno que o conduz ao reino e o qualifica para ser rei. Se quiser estar pleno de Cristo, você precisa pagar um preço. O elemento de Deus não pode entrar em você a menos que seu elemento saia. Se lhe falta Deus, você não pode amadurecer precocemente. Se lhe falta Cristo, você perderá sua qualificação para ser rei. Portanto, o resultado do pagar o preço não é que você entrará no reino para receber um galardão, e, sim, que você receberá mais de Deus e de Cristo. No entanto, os que estão plenos de Deus e cheios de Cristo amadurecerão e serão arrebatados primeiro, e somente eles entrarão no reino e reinarão no trono. Se, o dia todo, os filhos só pensam em receber os bens dos pais, mas não amam os pais, eles. são tão desatinados quanto os ladrões. Se não pagamos o preço, amamos a Deus ou buscamos ao Senhor, mas o dia todo só pensamos em ser arrebatados e receber um galardão, então estamos

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simplesmente sonhando acordados. Em contrapartida, se os filhos não se preocupam com os bens dos pais, mas só sabem amar e agradar aos pais o tempo todo, por fim, tudo o que os pais têm será deles. Não devemos considerar o galardão, o arrebatamento e o reino como os alvos de nossa busca. Madame Guyon disse que nos tornamos caídos se buscamos o galardão apenas pelo galardão em si. O objetivo de todas as nossas buscas deve ser Deus e Cristo, e devemos pagar qualquer preço para ganhá-Lo. Se O buscássemos com tamanha singeleza de coração, como não poderíamos amadurecer precocemente? Como não poderíamos receber o galardão? Se você já leu a biografia de George Müller, verá que, em todas as questões, ele buscou a direção de Deus e tentou perceber o sentimento de Deus por meio da comunhão. Ele escreveu um livro intitulado, Narrative of the Lord's Dealings with George Müller (Narrativas sobre como o Senhor Lidou com George Müller). Müller buscava ao Senhor em comunhão em todas as questões da vida, fossem grandes ou pequenas. Uma coisa bastante impressionante é que, após sua morte, as pessoas tentaram fazer um inventário dos bens de Müller, mas não encontraram nada, pois ele entregara a si mesmo e tudo o que tinha por amor a Cristo. Aos olhos dos homens, ele estava paupérrimo após a morte, diferente de muitas pessoas hoje, que deixam grande herança após a morte para contenda dos filhos. No entanto, aos olhos divinos, Müller era segundo o coração de Deus e agradava a Deus. Dissemos repetidas vezes que o objetivo de pagar o preço é que ganhemos a Deus e O tenhamos acrescentado a nós e mesclado conosco, substituindo, assim, tudo que é nosso. As pessoas que desejam isso, de bom grado, rejeitam sua vida natural e disposição e aceitam a vida e a natureza de Deus. Elas vivem e andam não de acordo com sua própria sabedoria, mas de acordo com a sabedoria de Deus, e deixam seus bens, parentes, fama e posição, e desejam somente que Deus entre nelas para ser tudo o que elas têm. É a isso que a Bíblia se refere quando diz que devemos deixar tudo, seguir ao Senhor e perder todas as coisas para ganhar a Cristo. É isso que significa pagar o preço, e esse é o resultado do pagar o preço. Somente as pessoas que pagam o preço vêem Deus operando nelas tanto o querer como o realizar, vêem Cristo sendo engrandecido nelas o tempo todo, quer pela vida quer pela morte, e podem dizer que, para elas, o viver é Cristo. Elas são cheias de Cristo, cheias de Deus, e podem ser usadas por Deus. Resumindo, o primeiro requisito para que nosso ser seja usado por Deus é a visitação divina, que não é de nós, mas de Deus. A visitação de Deus é a Sua vinda até nós para visitar-nos. Esse é o início do processo de Deus em usar-nos. Toda vez que temos um desejo de servir a Deus, sabemos seguramente que Ele nos alcançou e visitou. No entanto, o simples fato de ter esse desejo não nos capacita para ser usados por Deus, pois, de nossa parte, ainda temos de pagar o preço. Um dia, Deus veio a Isaías e, conseqüentemente, Isaías decidiu ir e trabalhar para Deus (Is 6:1-8). No entanto, naquele momento, ele não pôde ser usado por Deus; ainda tinha de pagar um preço. O resultado de pagar o preço é que, ao renunciar a tudo o que temos, aceitamos tudo o que Deus tem. Somente pessoas assim podem ser usadas por Deus. Portanto, pagar o preço é o requisito e o fator básicos para que sejamos úteis para Deus.

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Capítulo Três SER USADO PELO SENHOR E O TRANSBORDAR DE VIDA

TRABALHAR PARA O SENHOR SEGUNDO O TRANSBORDAR DE VIDA

Muitos filhos de Deus muitas vezes pensam que trabalhar para o Senhor é ser usado por Ele. É verdade que ser usado pelo Senhor é trabalhar para Ele, mas que significa trabalhar para Ele? Hoje, graças à misericórdia do Senhor, temos claramente visto que trabalhar para o Senhor não tem a ver com quantas coisas realizamos para Ele, mas com o quanto da vida do Senhor transborda de nós e é infundida a outros por meio de nós. O irmão Watchman Nee muitas vezes disse: "A obra autêntica é o transbordar de vida". Sem dúvida, nossa obra contém um elemento de realizar certas coisas. No entanto, não trabalhamos por causa do realizar coisas. Pelo contrário, trabalhamos para deixar a vida do Senhor transbordar, infundindo e ministrando a vida do Senhor aos outros, ou seja, infundindo o próprio Senhor aos outros.

Usemos a pregação do evangelho como exemplo. Nosso trabalho para o Senhor nesse sentido é, por um lado, conduzir as pessoas à salvação e, por outro, ministrar a vida do Senhor aos pecadores. Com relação ao aperfeiçoamento dos cristãos, por um lado, precisamos alimentá-los, mas, por outro, nossa verdadeira intenção é dispensar cada vez mais a vida do Senhor a eles. Em nossa comunhão com os irmãos ou em nossas saídas para visitar os santos, estamos, ao que parece, ajudando e aperfeiçoando pessoas. Na verdade, se a comunhão e as visitas estão à altura, deve haver o transbordar da vida do Senhor e a dispensação dessa vida aos irmãos. Mesmo se falamos palavras de consolo e encorajamento, deve haver o transbordar da vida do Senhor para os irmãos. João 7:38 mostra que a intenção do Senhor é que nós, que temos a vida do Senhor, deixemos fluir do nosso interior rios de água viva para ministrar às necessidades de muitos. A razão por que a Igreja Católica e as igrejas protestantes tornaram-se uma grande árvore (Mt 13:32) é que elas têm muitas realizações e iniciativas, mas falta-lhes a vida no interior. Na Igreja Católica há muitas obras e projetos, mas dificilmente há algo do elemento de vida. O mesmo acontece com muitas denominações protestantes. Elas têm iniciativas como missões evangelísticas, escolas e hospitais. No entanto, em todas essas obras de grande escala, é difícil para as pessoas receber algo do elemento de vida. Muitas vezes, o mesmo acontece até entre nós. Freqüentemente, nossas atividades, serviços e obras não têm muito a ver com o elemento de vida.

TRANSBORDAR DE VIDA NÃO DEPENDE DE ELOQÜÊNCIA OU DE DONS

Uma mensagem vinda do púlpito pode ser convincente e inspiradora, mas pode não necessariamente expressar a vida de Cristo às pessoas. Uma exposição das Escrituras pode ser interessante e satisfatória para as pessoas, mas pode não necessariamente infundir a elas a vida de Cristo. Em contrapartida, certo irmão pode levantar-se na reunião para dar um pequeno testemunho. Pode faltar eloqüência e fluência em seu discurso, e talvez a impressão dada é a de que ele é incapaz de tocar na emoção das pessoas. Não obstante, depois de seu discurso, os ouvintes têm a sensação de que algo inexplicável, algo espiritual, aconteceu com eles. É como se o Senhor viesse até eles para tocar-lhes as partes mais profundas, apesar de eles não terem consciência disso. Esse é o transbordar de vida para os outros. Às vezes, quando determinado irmão se levanta na reunião para falar, sua voz é forte e clara, e suas palavras fluem facilmente. Ele é capaz de prender a atenção do público e levar todos a acenar com a cabeça em sinal de apreço. No entanto, uma vez que ele encerrou seu discurso, não resta nada. Esse tipo de mensagem é como a música que não inspira. É simplesmente como o bronze que soa ou como o címbalo que retine (1 Co 13:1). Acabados os sons, não resta nada, e aqueles que os ouviram não receberam nenhuma vida. Às vezes, você pode visitar uma pessoa. Enquanto está sentado na frente dela, ela talvez não diga uma palavra, mas você sente que algo entrou em você e tocou seus sentimentos. Se você vive pela carne, a sensação que essa pessoa lhe dá pode tocar e condenar sua carne. Se você ama os pecados e o mundo, a sensação que essa pessoa lhe dá pode tocar em um pecado específico ou um aspecto específico do mundo e até condená-la. Em contrapartida, você pode encontrar-se com determinada pessoa que fala muito, mas nenhuma das palavras dela entra em você ou afeta seus sentimentos. Parece que tudo o que ela diz é em vão e inútil. A primeira pessoa não falou muito para exortá-lo, mas, graças a um simples contato com você, ela tocou seu problema. Embora a segunda pessoa

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tenha falado muito e citado muitos versículos, nada surtiu efeito em você. A diferença entre as duas é que uma é capaz de infundir vida nos outros ainda que seu falar não seja fluente, e a outra é incapaz de fazer a vida transbordar, embora suas palavras sejam muitas. Portanto, precisamos ver que a obra autêntica é o transbordar e o infundir de vida. Normalmente é mais triste ter fome espiritual do que fome física. Em algumas igrejas locais, as pessoas se sentem infelizes no espírito quando vão às reuniões, enquanto, em outras, as pessoas sentem a presença do Espírito quando as freqüentam. Tudo isso depende se há o transbordar de vida. Se tentarmos convencer os outros simplesmente com doutrinas, será inútil. As pessoas só conseguem compreender as coisas espirituais quando essas coisas tocam a vida. Portanto, quando tocamos as questões espirituais, a pergunta é: Estamos tocando algo que tem a ver com a doutrina ou com a vida? Certa vez, alguém perguntou a um irmão: "Pode uma pessoa salva continuar nas trevas?". O irmão respondeu: "Você está na luz hoje?" Aquela pessoa fez uma pergunta na mente, mas o irmão respondeu-lhe na vida para tocar seu sentimento interior. Por essa razão, mesmo quando conversamos com os outros, há diferença entre estar na doutrina e estar na vida.

PAGAR O PREÇO A FIM DE PERMITIR QUE DEUS OPERE EM NÓS

Certa vez, alguém me disse: "Não podemos dizer que as cinco virgens de Mateus 25 estão salvas". Então, perguntei-lhe: "Será que todos os salvos são sábios? Você é sábio?" (cf. vs. 1-13). Precisamos ver que o constante debate sobre doutrinas é inútil. Podemos solucionar os problemas das pessoas apenas tocando-as no aspecto da vida. Apenas pelo transbordar da vida é que podemos tocar o ser interior das pessoas e, uma vez que as tocarmos dessa forma, algo espiritual entrará nelas. Portanto, ser usado por Deus é trabalhar para Ele, o que, por sua vez, é fazer a vida de Deus transbordar, infundir a vida divina e o próprio Deus nos outros. No entanto, antes de poder dispensar Deus aos outros, nós mesmos devemos ter Deus e ter vida. Jamais poderemos deixar fluir o que não temos, o que não experimentamos ou o que não recebemos. Podemos deixar fluir somente o que recebemos, primeiro, para nós. Portanto, uma pessoa que pretende trabalhar para Deus deve, em primeiro lugar, deixar Deus operar nela. Só quem deixou Deus operar em sua vida estará apto para trabalhar para Deus. Isso acontece porque a pessoa só poderá experimentar Deus quando permitir que Ele opere nela. Ao fazê-lo, a vida de Deus entrará nela por meio de suas experiências e, então, ela será capaz de deixar fluir para os outros a vida que recebeu. Por essa razão, precisamos pagar um preço. Deixar Deus operar em nós é pagar um preço. Quem não está disposto a pagar esse preço só pode pregar doutrinas, mas não pode dispensar vida aos outros.

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Capítulo Quatro

A NECESSIDADE DE CRESCER E AMADURECER NA VIDA APÓS RECEBER A SALVAÇÃO

O CONCEITO TRADICIONAL ACERCA DA SALVAÇÃO DE DEUS

No cristianismo de hoje, incluindo o catolicismo e o protestantismo, a maioria das pessoas não tem um conceito preciso acerca da salvação de Deus, nem um conhecimento claro da economia e do arranjo de Deus em Sua salvação. Existe um conceito amplamente aceito no cristianismo hoje, aparentemente baseado nas Escrituras, que na verdade é fruto principalmente de especulação humana. Esse conceito não existia no início da igreja, mas foi uma idéia que se formou mais tarde pela conjetura humana e depois passou a ser uma doutrina. Agora, transformou-se em conceito tradicional que predomina no cristianismo. Que conceito é esse? As pessoas que têm esse conceito crêem que todos são pecadores, mas, uma vez que Deus teve compaixão de nós, Ele enviou Seu Filho unigênito para ser nosso Salvador. Esse Filho morreu por nós na cruz, levou nossos pecados, ressuscitou e ascendeu ao céu, e agora continuamente intercede por nós diante de Deus como nosso grande Sumo Sacerdote. De acordo com esse conceito, se um indivíduo que sente que é pecador e merece sofrer a perdição arrepender-se e crer no Senhor, recebendo-O como seu Salvador e invocando-O, seus pecados serão perdoados, ele se reconciliará com Deus e Deus se compadecerá dele e lhe concederá bênçãos. Conseqüentemente, esse indivíduo passará a ser um salvo. Uma vez que Deus se compadeceu dele, ele deve então mostrar gratidão a Deus, comportando-se de maneira que glorifique o nome de Deus. Após a sua morte, sua alma irá para o céu gozar a bênção eterna. Essa é a assim-chamada crença ortodoxa no cristianismo de hoje.

COMPARAÇÃO DO CONCEITO TRADICIONAL COM A BÍBLIA

Esse conceito está correto? Devemos compará-lo cuidadosamente com a verdade das Escrituras. Quando comparou a doutrina católica sobre o sacramento da penitência com a verdade bíblica sobre a justificação pela fé (Rm 1:17), Martinho Lutero descobriu que o ensino da penitência era uma tradição criada pelo homem baseada em opiniões humanas e completamente equivocada. Hoje, também devemos discernir a autenticidade das assim chamadas crenças ortodoxas ensinadas no cristianismo, comparando-as com a verdade revelada na Bíblia. Se abandonássemos as opiniões humanas com os conceitos tradicionais, não nos prendendo a nossas idéias e pontos de vista, mas simplesmente recorrendo à Palavra de Deus, veríamos que, no cristianismo, o conceito em vigor da salvação de Deus contém certas inexatidões e deficiências. Ser inexato é ser incorreto e não estar de acordo com a verdade revelada nas Escrituras, e ser deficiente é não corresponder à verdade bíblica em sua riqueza e transcendência.

A ÊNFASE DOS EVANGELHOS DE LUCAS EJOÃO: A SALVAÇÃO PELA FÉ Os Evangelhos não consistem em um livro, mas em quatro, e cada um tem uma ênfase. Por exemplo, Lucas, do início ao fim, trata da verdade do perdão dos pecados, do evangelho do perdão (24:47). Ele nos mostra que, aos olhos de Deus, éramos filhos pródigos distantes de Deus Pai e também pecadores e ovelhas perdidas (15:1, 6-7, 11-32). Portanto, Deus enviou Seu Filho como nosso Salvador para encontrar-nos e trazer-nos de volta. Deus aceitou-nos a nós, os filhos pródigos, quando nos arrependemos e voltamos para Ele. Mesmo que fôssemos como a mulher mal-afamada do capítulo sete, que tinha muitos pecados (vs. 36-50), como o cobrador de impostos do capítulo dezenove (vs. 1-9) ou como o ladrão na cruz do capítulo vinte e três (vs. 32, 40-43), quando nos arrependemos e cremos no Senhor, recebendo-O como nosso Salvador, nossos pecados foram perdoados. Essa é a verdade do perdão dos pecados apresentada no Evangelho de Lucas. Uma vez que o Senhor Jesus Cristo consumou a redenção na cruz, quem crer Nele receberá o perdão dos pecados gratuitamente, sem ter de pagar preço algum. Essa é a ênfase de Lucas.

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João pregou o Evangelho da vida. Logo no início, o Evangelho de João mostra-nos que o Senhor era Deus, que Nele estava a vida e que Ele se fez carne (1:1, 4, 14). A razão por que Ele veio dos céus para a terra é que pretendia infundir vida ao mundo (10:l0b). Ele disse que Ele era um grão de trigo e, como tal, não poderia liberar a vida de Seu interior para que os homens a recebessem a menos que Ele caísse na terra, morresse e ressuscitasse. Por essa razão Ele foi para a cruz e morreu, e, no terceiro dia, ressuscitou. Agora, a qualquer momento e em qualquer lugar, se uma pessoa crer em Seu nome e recebê-Lo como Salvador, Ele entrará nela como o Espírito para que ela receba a vida de Deus. Dessa forma, a pessoa pode ser regenerada e ter a vida de Deus (3:3, 5, 15-16; 20:31). Essa é a graça de vida, que recebemos totalmente pela fé, sem ter de pagar nenhum preço. Isso é claramente visto no Evangelho de João. Assim, Lucas e João mostram-nos que podemos receber o evangelho, quer do perdão dos pecados quer da vida, simplesmente pela fé. Não há necessidade de pagar preço algum ou cumprir qualquer exigência.

A ÊNFASE DOS EVANGELHOS DE MATEUS E MARCOS: PAGAR UM PREÇO

No entanto, os Evangelhos não só incluem Lucas e João, mas também Mateus e Marcos. Se lermos os Evangelhos de Mateus e Marcos, descobriremos que não é tão fácil encontrar passagens sobre a salvação pela fé. Esses dois Evangelhos falam que devemos deixar tudo o que temos, negar-nos a nós mesmos (Mt 16:24; Mc 8:34-35), entrar pela porta estreita e andar no caminho apertado (Mt 7:13-14), e pagar um preço consideravelmente alto para seguir ao Senhor Jesus. Embora, em alguns casos, esses dois Evangelhos também se refiram à fé, a fé que eles mencionam não é para receber a salvação, mas para andar no caminho do Senhor. Não é a fé para receber vida, mas para a vida diária. A fé para nossa salvação é a fé por meio da qual recebemos o perdão dos pecados e a vida de Deus. Essa é a fé revelada em Lucas e em João. Entretanto, depois de ser salvos e receber a vida de Deus, ainda precisamos andar no caminho do Senhor e viver uma vida celestial. Para isso precisamos do tipo de fé mencionado em Mateus e em Marcos. Com exceção das passagens que falam desse tipo de fé, é difícil encontrar passagens em Mateus e em Marcos que nos digam que a fé é para que sejamos salvos e recebamos a vida de Deus. Em vez disso, é-nos dito, seriamente, inúmeras vezes, que devemos abandonar tudo, negar a nós mesmos e tomar a cruz para seguir ao Senhor. Isso nos mostra a palavra de Deus em sua plenitude, com seu significado completo.

É NECESSÁRIO PAGAR O PREÇO DEPOIS DE CRER

A fé propriamente dita não é suficiente para que gozemos plenamente a salvação de Deus em sua riqueza e extensão. Por isso, depois de crer, ainda precisamos pagar um preço para seguir ao Senhor a fim de gozar de tão rica salvação. Crer no Senhor é para que O recebamos e seguir ao Senhor é para que O desfrutemos. Ao crer, recebemos o perdão dos pecados e a vida de Deus, e o Senhor vem a nós como o Espírito. Ao seguir ao Senhor depois de salvos, nós O desfrutamos, temos Sua presença e deixamos que Ele seja tudo para nós, inclusive vida e poder todos os dias. Utilizemos uma ilustração. Quando seu amigo lhe dá um belo presente, você só precisa recebê-lo e, assim, irá tê-lo. A partir do dia que você o recebe, ele é seu. Entretanto, se, depois de recebê-lo, você o deixa de lado e não reserva tempo nenhum para aproveitá-lo, mesmo que o tenha recebido e agora ele seja seu, você não o desfruta. De igual modo, recebemos e temos a salvação de Deus porque cremos. Uma vez que cremos, nossos pecados são perdoados e recebemos a vida de Deus. Uma vez que cremos no Senhor, Ele vem até nós. Além disso, Deus e tudo o que Ele tem passam a ser nossos. Depois de crer, no entanto, ainda temos de pagar um preço. Precisamos fazer um esforço diário para desfrutar o que ganhamos, recebendo o Senhor ao comê-Lo e bebê-Lo em nosso espírito dia após dia. Desse modo, Ele pode, então, tornar-se o elemento dentro de nós na realidade. Se não pagarmos tal preço e não fizermos tal esforço, não poderemos prática e plenamente gozar a salvação que recebemos.

A CONDIÇÃO DOS FILHOS DE DEUS HOJE

Hoje, muitos filhos de Deus não desfrutam o Senhor nem a salvação de Deus, embora tenham realmente sido salvos, tenham a vida do Senhor neles e também tenham o Espírito Santo habitando neles. Talvez venham às reuniões, ouçam as mensagens e, vez por outra, orem e leiam a Palavra,

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porém, em seu viver e em seu caminhar, eles são eles mesmos, e o Senhor é o Senhor. Eles e o Senhor não se mesclaram afim de ser um. Eles não permitiram que o Senhor viesse à sua vida diária de modo prático. Fazem e dizem o que bem querem. Simplesmente se esqueceram do Senhor e O deixaram de lado. Embora tenham o Senhor, eles não O desfrutam. São como os avarentos, que têm muito dinheiro e não o usam. São salvos que têm a vida e a presença do Senhor, mas não O desfrutam. Vivem por si mesmos de acordo com as concupiscências da carne, seguindo o curso deste mundo. São como pessoas não salvas, vivendo no mundo de modo comum. A única diferença é que confessam que há Deus, e os não salvos não confessam. Eles crêem no Senhor, e os não salvos não crêem. Crêem na vida eterna, e os não salvos não crêem. Além disso, às vezes, quando o coração deles é tocado pela graça do Senhor, enche-se de gratidão para com Deus, e os não salvos não têm essas experiências. Cristãos desse tipo são diferentes dos não salvos nas crenças, mas no andar diário são iguais. Assim como os não salvos amam o mundo, vivem para o mundo e lutam para obter fama e riqueza, esses salvos fazem o mesmo. Assim como os não salvos vivem por si mesmos na carne e no ser natural, não estando debaixo da lei de Deus nem da autoridade do reino os salvos também fazem o mesmo. Eles já têm em si a vida de Deus, mas não vivem de acordo com ela. Para eles, Deus não passa de um objeto no qual crêem. Essa é a condição anormal de muitos filhos de Deus hoje.

A ÊNFASE DAS EPÍSTOLAS DE PAULO Entretanto, os quatro Evangelhos mostram que a salvação de Deus não é assim. Lucas e João mostram-nos que, ao crer no Senhor, recebemos o perdão dos pecados e a vida de Deus. Mateus e Marcos mostram-nos que, a partir do dia em que fomos salvos, nós, que fomos perdoados de nossos pecados e recebemos a vida de Deus, devemos seguir ao Senhor e tomá-Lo como nossa vida e viver. Devemos viver de acordo com a vida do Senhor. Por essa razão, temos de pagar um preço, deixar tudo o que temos, negar-nos a nós mesmos e tomar a cruz para seguir ao Senhor. Essa é a salvação de Deus vista nos quatro Evangelhos. Nas epístolas, vemos que os gálatas, sem dúvida, creram no Senhor. Seus pecados foram perdoados, e eles receberam a vida de Deus, mas viviam por si mesmos, confiando muito mais em si mesmos do que na vida de Cristo. O apóstolo Paulo disse-lhes: "Meus filhos, por quem, de novo, sofro as dores de parto" (Gl 4:19). Por que ele sofreu de novo as dores de parto por eles? para que fossem salvos novamente? Não. Para que fossem perdoados de seus pecados novamente? Não. Para que recebessem a vida de Deus novamente? Não! Então, para quê? Para que Cristo fosse formado neles. Ser salvo é uma coisa; ter Cristo formado em nós é outra.

O OBJETIVO DA SALVAÇÃO DE DEUS NÃO É SALVAR-NOS PARA IRMOS PARA O CÉU

O único objetivo da salvação divina é que Deus entre em nós e se mescle conosco. Ele deseja entrar em nós para ser a nossa vida (Cl 3:4a) e crescer em nós (2:19b). Embora o objetivo da salvação inclua a bênção de entrar no reino, ele não se restringe a isso. Antes, o objetivo extremo da salvação é que nós, os salvos, nos mesclemos com Deus para que Cristo habite em nosso coração por meio da fé (Ef 3:17), como nossa vida, e cheguemos à maturidade (4:13).

Infelizmente, por causa de falsos ensinos, há o conceito equivocado no cristianismo tradicional de que o salvo, o que crê no Senhor e cujos pecados são perdoados, irá para o céu quando morrer. De acordo com esse conceito, se o cristão tem um coração que teme ao Senhor e se, na vida diária, ele lê a Bíblia, ora ao Senhor, participa das reuniões, ajuda os outros e agrada ao Senhor, então o Senhor irá conceder-lhe muitas bênçãos. Conseqüentemente, ele poderá glorificar ao Senhor e terá paz no coração. De acordo com o conceito no cristianismo, esse é o maior privilégio de ser cristão. Esse é o conceito religioso tradicional, mas não o objetivo da salvação de Deus. O objetivo da salvação de Deus é que os cristãos, aos poucos, cresçam e amadureçam na vida até ser exatamente iguais a Cristo. Como Deus realiza tal salvação? Primeiro, Ele enviou Seu Filho unigênito para morrer na cruz por nossos pecados. Assim, em Cristo e como o Espírito (1 Co 15:45b), Ele entra em nós para viver em nós como nossa vida. Cristo não só vive em nós (Gl 2:20), mas também cresce em nós. Ele pretende crescer, ser formado e amadurecer em nós (Ef 4:13). É assim que Deus salva. Que significa crescer até chegar à maturidade? Significa que Cristo vive em nós como nossa vida e continuamente cresce

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até ser formado em nós. Quando Ele estiver totalmente formado em nós, seremos maduros em Sua vida. Se lermos toda a Bíblia, seremos incapazes de encontrar uma afirmação que diga que os que crêem em Jesus irão para o céu depois que morrerem. Tal conceito não existia nos dois primeiros séculos. Foi, no geral, um conceito criado por um catolicismo degradado. Em vez disso, a Bíblia diz que, depois que uma pessoa crê no Senhor, o Senhor entra nela para ser sua vida e crescer, ser formado e amadurecer nela. Essa é a salvação de Deus revelada nas Escrituras. É muito diferente do conceito tradicional, porém equivocado, de ir para o céu.

A PARÁBOLA DA COLHEITA

A Bíblia também diz que, depois que foi salva e recebeu a vida do Senhor, a pessoa torna-se parte da colheita no campo do Senhor (Ap 14:15-16). Será que o Senhor faria a colheita e a ajuntaria no celeiro sem que ela estivesse madura? É claro que não. Apocalipse 14 fala que, entre os cristãos, um pequeno número de vencedores será arrebatado aos céus antes da colheita. Eles são as primícias, os frutos que amadureceram primeiro. No norte da China, quase no mês de abril, o trigo no campo fica muito alto e exibe uma cor dourada. Isso indica que está totalmente maduro. O proprietário do campo colhe os primeiros frutos e os leva para casa. Então, no Double Fiflh Festival (festa do quinto dia do quinto mês lunar), a família come os primeiros frutos, desfrutando um prazer especial. Depois de duas semanas, o restante da colheita no campo amadurece e o proprietário faz a sega e a leva para o celeiro. Mateus 13 diz claramente que o campo refere-se ao mundo e o celeiro refere-se ao reino do Pai (vs. 24, 30, 38, 43). Hoje, somos a colheita de Deus que cresce no campo, o mundo, até ficar totalmente madura. Então o Senhor virá ceifar-nos e levar-nos para o celeiro eterno. Se a colheita não estivesse madura, mas ainda verde e tenra, o proprietário do campo jamais faria a sega e a levaria para o celeiro. De igual modo, não há dúvida de que os salvos entrarão no reino. No entanto, há uma condição: precisam estar maduros. A terra é o campo e os céus são o celeiro. Qual é a condição para que nós, a colheita, sejamos colhidos do campo na terra e levados para o celeiro nos céus? Precisamos estar maduros. Somente os maduros podem ser colhidos e levados para o celeiro. Os não maduros serão deixados no campo para que continuem a crescer. Enquanto cresce, o trigo aproveita os elementos do solo, a irrigação e os adubos. Se pudesse falar, o trigo diria: "Isso é muito bom! Que satisfação tenho aqui. No entanto, para amadurecer, a colheita passa por grande sofrimento. Não só o adubo é retirado e a água reduzida, mas o trigo também é exposto ao intenso calor do sol para deixar aquela cor esverdeada e ficar dourado. De igual modo, quando uma pessoa que pertence ao Senhor acaba de ser salva, ela passa por um período muito agradável. Entretanto, a menos que continue a pagar o preço, a ser tratada e a passar pela experiência de ser exposta ao sol, ela não pode crescer e amadurecer.

OS NÃO-MADUROS NÃO PODEM ENTRAR NO REINO O único tipo de pessoa que pode entrar no reino é a que está madura. Se lermos todo o livro de Apocalipse com cuidado, poderemos ver que todos os cristãos que estarão no reino serão os maduros. Os que não amadurecerem não poderão entrar no reino. É igual ao fato de que toda a produção que está no celeiro está madura. A produção que ainda não está madura tem de permanecer no campo até que amadureça por meio do calor do solou do soprar do vento. Ela tem de amadurecer antes de ser colhida. De igual modo, embora todos os cristãos tenham sido salvos, eles não podem entrar no reino sem que estejam maduros. Portanto, a idéia de que a alma de um cristão vai para o céu depois que ele morre é superficial e pueril. Não é a verdade revelada na Bíblia, mas a tradição do catolicismo romano. A idéia de ir para o céu não está na Bíblia.

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A MANSÃO CELESTIAL É UM TERMO RELIGIOSO

O termo mansão celestial não é encontrado na Bíblia. Pelo contrário, é uma expressão usada na religião. A Bíblia só usa os termos céu e céus. Na tradução chinesa da Bíblia, os tradutores tomaram emprestado o termo mansão celestial e o usaram porque ele havia sido amplamente adotado pela religião na época em que eles faziam a tradução. Na Versão Chinesa da Bíblia (Chinese Union version), o termo mansão celestial é encontrado em duas passagens: 1 Pedro 3:22 e Hebreus 9:24. Entretanto, no texto original, o termo céu é usado em ambas as passagens. Foi ao céu que o Senhor ascendeu depois de Sua morte e ressurreição (Mc 16:19; Lc 24:51; At 1:11). Na Bíblia, não há a idéia de "ir a uma mansão celestial" e não há nenhum versículo que diga que a alma dos cristãos vai para uma mansão celestial depois que eles morrerem. Quando um cristão morre, seu espírito e sua alma não vão para o céu, mas para o Paraíso no Hades (Lc 23:43). É correto dizer que os cristãos, um dia, entrarão no reino, mas para isso devem amadurecer. Pode ser que alguém se pergunte: "Muitos realmente receberam o perdão dos pecados e a vida do Senhor. No entanto, desde o momento em que foram salvos, não pagaram o preço, não levaram uma vida de vitória nem seguiram fielmente o Senhor. É óbvio que não têm maturidade de vida. Qual será seu futuro?" Houve certo irmão que realmente foi salvo. Entretanto, depois da salvação, ele ainda amava o mundo, vivia segundo a carne, amava o dinheiro e não amava a Deus. Um dia, ele morreu em virtude de derrame cerebral. Então, os irmãos reuniram-se para cantar alguns hinos em favor dele e dar uma palavra de consolo, dizendo: "Graças a Deus e louvado seja o Senhor porque nosso irmão foi para o céu, para o lar celestial. Ele realmente foi abençoado!" Onde você pode encontrar esse ensino nas Sagradas Escrituras? A Bíblia diz que, a menos que a seara esteja madura, a colheita não será feita e levada para o celeiro eterno. Nas Escrituras, o destino dos cristãos é decidido de acordo com a maturidade. Os que amadurecerem mais rápido serão ajuntados no celeiro antes e os que amadurecerem mais tarde serão levados mais tarde para o celeiro. Isso está claramente revelado na Bíblia. Então, se não foi para o céu, para onde foi esse irmão depois que morreu? Isso não é difícil de entender. Você se lembra do ladrão que se arrependeu na cruz? Ele disse ao Senhor: 'Jesus, lembra-te de mim quando entrares no Teu reino". O Senhor imediatamente respondeu: "Hoje estarás Comigo no Paraíso" (Lc 23:42-43). Além disso, Mateus 12 e Atos 2 falam que, após Sua morte, o Senhor ficou no Hades por três dias e três noites (Mt 12:40; At 2:24-27). Ao examinar com cuidado esses versículos, podemos de pronto entender que o Paraíso está no Hades. Lucas 16 também faz referência a isso. O seio de Abraão, onde estava Lázaro, do outro lado de onde estava o rico, era o Paraíso no Hades (vs. 23-24).

O PARAÍSO NÃO FOI TRANSFERIDO DO HADES PARA O CÉU

A maioria dos teólogos no cristianismo também reconhece esse fato. No entanto, alguns acreditam que, antes da ressurreição do Senhor Jesus, esse Paraíso estava de fato no Hades e, após a ressurreição do Senhor, foi transferido pelo Senhor do Hades para o céu. Eles falam isso com base em Efésios 4:8, que diz: "Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro". Citam esse versículo como base para justificar a transferência do Paraíso. Entretanto, a frase levou cativo o cativeiro significa que, antes da ressurreição do Senhor, quando os homens morriam, eram levados cativos para o Hades pelo poder da morte, o poder de Satanás. Então, no momento de Sua ressurreição, o Senhor Jesus venceu o diabo, que tem o poder da morte, e invadiu o Hades, levando cativo o cativeiro. Portanto, esse versículo não significa que o Hades foi transferido para o céu. Depois que os cristãos morrem, o espírito deles vai para o Hades e o corpo é enterrado. Por exemplo, depois que Pedro e Paulo morreram, o corpo dos dois foi enterrado, mas seu espírito despiu-se do corpo. Os espíritos despidos do corpo são anormais porque ainda levam o sinal da morte. Embora Pedro e Paulo fossem salvos, a morte ainda estava neles e não havia sido levada. Na volta do Senhor, o espírito deles sairá do Hades e seu corpo também sairá dos túmulos para tornar-se um corpo glorioso. Naquele momento, corpo e espírito estarão ligados. Quando o espírito deles for revestido com o corpo novamente, eles poderão entrar na presença de Deus. Na Bíblia, os espíritos desencarnados são espíritos despidos que ainda carregam o sinal da morte e, portanto, não podem entrar na presença de Deus. Será só no tempo do arrebatamento, quando o espírito dos salvos sairá do Hades e se revestirá do corpo transfigurado, sendo totalmente vestido com adornos apropriados, que eles poderão ir até Deus.

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OS CRISTÃOS QUE AINDA NAO AMADURECERAM PRECISAM LIDAR COM A QUESTÃO DA MATURIDADE ANTES DE SER RESSUSCITADOS

Os cristãos que morrem sem estar maduros em vida não poderão entrar na presença de Deus mesmo depois de revestidos na ressurreição. Em Mateus 25, diz-se que, no momento da ressurreição, os santos que estiverem prontos e maduros participarão das bodas do Senhor, e os não maduros ainda terão de pagar o preço para atingir a maturidade. Em outras palavras, se, como cristão, você morrer sem atingir a maturidade, então, no momento da ressurreição, você ainda terá de concluir o processo de amadurecimento. Não pense que você irá ao Senhor sem concluir esse processo. Por isso, quem quiser participar das bodas do Senhor terá de estar maduro. Há só um tipo de cristãos nos céus: cristãos maduros. Se você amadureceu durante sua vida, já está preparado e pode louvar ao Senhor por isso. Como as cinco virgens prudentes, você poderá entrar nas bodas do Senhor em Sua vinda. Entretanto, se você não se preparou e não amadureceu durante sua vida, então, se, por infelicidade, você morrer, após a ressurreição você ainda terá de lidar com a questão da maturidade. Depois que você ressuscitar, como as cinco virgens insensatas, ainda precisará pagar o preço do comprar o azeite. Por conseguinte, como cristãos, devemos amadurecer. Essa é a meta que todos devemos atingir. A intenção do Senhor de amadurecer em nós é uma questão que não podemos evitar. Se não andarmos nesse caminho e não alcançarmos essa meta, não nos compete esperar que, um dia, entraremos nas bodas do Senhor. Se você não pagar o preço de chegar à maturidade e, não obstante, esperar entrar no reino, então, um dia, sua expectativa terá sido em vão. Nós nos tornamos cristãos ao crer no Senhor, mas será que Cristo amadureceu em nós? Fomos salvos e temos a vida de Cristo em nós, mas será que essa vida amadureceu? Devemos lembrar-nos que essa vida precisa amadurecer, seja agora, seja no futuro. Se resolvermos essa questão da maturidade enquanto ainda estivermos vivos, somos as virgens prudentes. Se não estivermos maduros, então, no momento da ressurreição, ainda teremos de resolver essa questão da maturidade, pois a Bíblia diz-nos que, depois de salvos, precisamos crescer até chegar à maturidade na vida. Isso é a salvação de Deus.

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Capítulo Cinco A ECONOMIA DA GRAÇA DE DEUS

Muitos cristãos não têm um conhecimento claro e preciso da verdade acerca do plano de salvação de Deus e da economia da graça de Deus. Os termos economia, ou plano, e administração (ou mordomado, dispensação) foram usados por Paulo em Efésios 1:10 e 3:2,9. Infelizmente, esses termos não foram adequadamente traduzidos na Versão Chinesa da Bíblia (Chinese Union vérsion).

DEUS TEM UM PLANO E UMA ECONOMIA Efésios 1:10 diz: "Na dispensação da plenitude dos tempos". O termo grego para economia também significa "dispensação", "plano" ou "administração". Assim como um homem de negócios sabe administrar seus bens, Deus também tem Sua administração, Sua economia, no universo. No entanto, o que Deus administra em Sua economia no universo é Sua graça.

Já vimos que Deus tem um plano para salvar-nos e uma economia para dispensar graça a nós. Assim como um homem de negócios tem um plano para a administração de seus negócios, o maravilhoso Deus tem Seu plano para distribuir graça entre a raça humana. Os capítulos um e três de Efésios falam sobre o plano, a economia, o mistério de Deus. Se lermos o livro de Efésios com atenção, veremos que ele é bastante complicado, e não tão simples quanto pensamos. Em muitos conceitos humanos, salvação significa simplesmente que Deus amou-nos e enviou Seu Filho para consumar a redenção pelos nossos pecados, para que, uma vez que cremos Nele, nossos pecados sejam perdoados e, com isso, sigamos para o céu para gozar as bênçãos eternas. Se a salvação do Deus a quem servimos realmente for isso, então ela é, reconhecidamente, muito simples. Se examinarmos a Bíblia toda em detalhes, veremos que a salvação de Deus não é tão simples. Por isso, precisamos meditar na Palavra de Deus com atenção para entrar a fundo no conceito das Escrituras.

Ao ler a Palavra, não devemos descontextualizar nenhum capítulo ou versículo. Não podemos usar uma ou duas frases da Bíblia e, depois, afirmar que a salvação de Deus é "assim ou assado". Fazê-lo seria muito perigoso. Se meditássemos no Novo Testamento como um todo, perceberíamos que o conceito comum no cristianismo é muito diferente da revelação de Deus por meio das Sagradas Escrituras. Hoje, o Senhor tem revelado as verdades para as igrejas em Sua restauração, por isso, não devemos ocultá-las. Contudo, também não queremos que essas verdades sejam munições para discussões. Se isso acontecer, não só privará as pessoas da provisão de vida, mas também irá tornar-se um empecilho para elas. O que quer que façamos deve servir para que os outros sejam ajudados e aperfeiçoados.

O EQUÍVOCO DO CATOLICISMO

Para retificar os conceitos inexatos do passado, devemos, primeiro, mostrar quais são eles. O catolicismo e o protestantismo fizeram muitas coisas para prejudicar a vida espiritual das pessoas, a obra do Senhor e a economia de Deus. A razão por que muitos foram prejudicados pelo catolicismo e pelo protestantismo se deve ao fato de que eles não tinham um conhecimento preciso e meticuloso da verdade. Um exemplo é a questão do purgatório. O catolicismo ensina que, após a morte, a pessoa tem de ser disciplinada no purgatório por causa dos pecados que cometeu. Por isso, antes de morrer, ela deve fazer o possível para penitenciar-se e, mesmo depois da morte, os parentes também podem fazer penitência em seu lugar para que ela possa ser tirada do purgatório. Essa é uma doutrina prejudicial ensinada no catolicismo. Muitos católicos têm a idéia de que, enquanto a pessoa está viva, não precisa recorrer à eficácia do precioso sangue do Senhor. Se pecar, ela só tem de confessar o pecado aos padres para ser perdoada. Enquanto estiver viva, ela não precisa temer a Deus nem levar uma vida santa para agradar a Deus, pois, antes de morrer, pode simplesmente fazer uma doação em dinheiro ou fazer boas obras para a expiação dos pecados. Ainda que ela não possa fazer isso, seus familiares podem fazê-lo em seu lugar, realizando uma missa em seu nome a fim de arrancar sua alma dos

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sofrimentos do purgatório. É surpreendente que tal idéia, tal conceito, possa existir no catolicismo e ser aceito por quase todos os católicos. Se você lhes disser que é uma heresia, eles dizem que é uma ordenança do papa. Se disser que não é bíblico, eles dizem que é um decreto do papa. Na opinião de muitos católicos, eles só têm o papa.

O EQUÍVOCO DO PROTESTANTISMO Apocalipse 12 fala sobre o filho varão que, uma vez que venceu, foi arrebatado para Deus até o Seu trono antes da grande tribulação de três anos e meio (v. 5). Então, no capítulo 14, vemos os cento e quarenta e quatro mil que, por terem seguido ao Cordeiro, foram arrebatados para o monte Sião nos céus (vs. 1-5) enquanto o Anticristo agia iniquamente na terra. As palavras nas Sagradas Escrituras são tão claras que não dão margem para a dúvida humana. Além disso, 1 Tessalonicenses 4 diz também que, quando o Senhor descer dos céus, os cristãos mortos que serão ressuscitados e os cristãos vivos que foram transformados irão juntar-se para se encontrar com Ele nos ares (vs. 15-17). Enquanto o Senhor Jesus estava na cruz, o ladrão arrependido pediu-Lhe um favor: 'Jesus, lembra-te de mim quando entrares no Teu reino" (Lc 23:42). Se tivesse respondido ao ladrão de acordo com o seu pedido, o Senhor teria tido de esperar muito tempo para poder lembrar-se do ladrão: o tempo que passaria antes de Ele entrar em Seu reino. Contudo, Ele respondeu: "Hoje estarás Comigo no Paraíso" (v. 43). Onde está o Paraíso mencionado pelo Senhor? no céu? Não, pois sabemos que o Senhor foi para o Hades assim que expirou. Foi o cumprimento do que Ele havia dito acerca do Filho do Homem estando no coração da terra por três dias e três noites (Mt 12:40). Com isso, podemos ver que o Paraíso mencionado pelo Senhor ao ladrão está no Hades. As palavras do Senhor são claras e precisas, e não dão margem a dúvidas e conjeturas. Por isso, devemos examinar essa questão de acordo com a revelação da Bíblia.

O CONCEITO NAS SAGRADAS ESCRITURAS A Bíblia nunca diz que a alma de uma pessoa que creu em Jesus e foi salva irá para uma mansão celestial quando essa pessoa morrer. É verdade que a Versão Chinesa da Bíblia (Chinese Union Version) utiliza o termo mansão eelestia4 mas isso se deve ao modo como esse termo foi traduzido. O termo grego deveria ser devidamente traduzido por céus. Esse é o mesmo termo traduzido por céus na frase está próximo o reino dos céus (Mt 3:2; 4:17; 10:7). De acordo com o registro bíblico, o termo céus refere-se ao terceiro céu, a habitação de Deus. Na Chinese Union Version, esse termo foi traduzido por mansão celestial em dois únicos lugares em todo o Novo Testamento: Hebreus 9:24 e 1 Pedro 3:22. Mansão celestial é um termo usado no budismo chinês para referir-se ao nirvana, um lugar de perfeita alegria. No entanto, o termo céus nessas duas passagens da Palavra refere-se ao terceiro céu onde Deus habita. A Bíblia diz que, na última era, na chegada do novo céu e da nova terra, a cidade santa, a Nova Jerusalém, a habitação de Deus, descerá do céu, da parte de Deus (Ap 21:2,10). Naquele momento, todos os salvos, sem dúvida, desfrutarão das bênçãos eternas com Deus. Não só a alma deles estará ali, mas todo o seu ser, espírito, alma e corpo, também será cheio do elemento divino e eles estarão na habitação do Deus da glória, mesclados com Ele e vivendo com Ele eternamente.

Espero que todos vejamos que a salvação de Deus é fruto de Seu plano e que a dádiva da graça de Deus para nós é fruto de Sua economia. Algumas versões bíblicas utilizam o termo economia ou dispensação, que significa 'disposição" ou "distribuição". Essas expressões mostram que a dádiva da graça de Deus inclui Sua economia, administração e dispensação. A Bíblia diz que o Deus que opera todas as coisas dispensa graça a nós segundo o eterno propósito que Ele estabeleceu em Cristo (Ef 1:11; 3:8-11). Esse Deus que tem uma expectativa, um propósito, um plano e uma economia, não nos concede graça segundo o Seu capricho. Pelo contrário, a Sua dádiva de graça é a Sua distribuição de graça segundo a Sua economia, a Sua dispensação.

O CONCEITO DE DEUS ACERCA DA SALVAÇÃO: QUE SEJAMOSCONFORMES A IMAGEM DE SEU FILHO

Se lermos a Bíblia com cuidado, poderemos descobrir o conceito de Deus acerca da salvação. Toda pessoa que administra um negócio tem uma idéia acerca de sua administração, e a administração e a organização de seu negócio estão baseadas nessa idéia. De igual modo, Deus também tem uma

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idéia acerca da economia e da dispensação da graça a nós. Hoje, no cristianismo, o conceito que predomina é o de que antes éramos pecadores, mas, depois de termos crido no Senhor e recebido o perdão de Deus, fomos salvos. Portanto, depois que morrermos, a nossa alma irá para o céu para desfrutar as bênçãos eternas. Lembre-se, no entanto, que esse é o conceito do homem, e não o de Deus.

Romanos 8.29 diz que "aos que de antemão [Deus] conheceu, também os predestinou". Para que Deus os predestinou? para que fossem para o céu? Não. O versículo 30 ainda diz: "E aos que predestinou, a esses também chamou". Ele os chamou para que fossem para o céu? Não. O versículo continua: "E aos que chamou, a esses também justificou". Ele os justificou para que fossem para o céu? Não. A Palavra diz que "também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho". Deus salva-nos não para irmos para o céu, mas para sermos conformes à imagem de Seu Filho. Efésios 1 diz que Deus "nos escolheu nele [em Cristo] antes da fundação do mundo (...) para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo" (vs. 4-5). [A expressão adoção de filhos também pode ser traduzida por filiação´] A intenção de Deus é que nos tornemos filhos de Deus. Depois o capítulo quatro diz que Seu desejo é que nós, os salvos, cheguemos à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo (v. 13). A primeira epístola de João 3:2 diz que, sem dúvida, "agora, somos filhos de Deus", e ainda "não se manifestou o que haveremos de ser".João também diz que, não obstante, na volta do Senhor, "seremos semelhantes a ele". Além disso, ele diz: "A si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro" (vs. 2-3). Diante disso, qual é o conceito de Deus? O conceito de Deus não é tão simplista quanto o nosso. A Bíblia diz que Deus tem um prazer no coração, segundo o qual Ele quer ganhar um grupo de pessoas para que sejam vasos de Sua glória no futuro. Como um oleiro, Deus fez-nos de barro. Não passávamos de pedaços de barro, mas fomos criados por Deus para ser vasos, e até vasos que Ele preparou de antemão para glória. A intenção de Deus é pôr a Si mesmo como glória em nós para que venhamos a ser vasos de glória (Rm 9:20-24). Que graça! Assim como um copo pode conter suco de uva, também podemos conter Deus. No entanto, como o copo é um vaso morto, o suco de uva não pode transformar o copo nem mesclar-se com ele. Entretanto, como vasos vivos de Deus, contemos o Deus vivo com o Espírito vivo e a vida. Assim, podemos ser mesclados com Ele. Graças a Deus porque, um dia, fomos salvos, Deus entrou em nós e, assim que Ele entrou em nós, uma comunhão foi estabelecida entre Ele e nós, nós e Ele (1Jo 1:3). Uma vez estabelecida a comunhão, começa a transformação (2 Co 3:18). Creio que todos temos esse tipo de experiência. No momento em que fomos salvos, Deus entrou em nós e, a partir daí, intervém em tudo em nossa vida diária: no falar, no fazer, nas intenções, nos pensamentos e nos motivos. Aquele que está em nós está vivo. Uma vez que vive em nós, Ele nos incomoda e tem comunhão conosco o tempo todo, produzindo um efeito dentro de nós. Quanto mais intenso for esse efeito, mais seremos transformados interiormente. Essa transformação acontece, primeiro, em nosso espírito e depois, aos poucos, chega à nossa mente (Rm 12:2; Ef 4:23). Quando isso ocorre, nossa mente passa a ter o elemento de Deus. Aos poucos, essa transformação chega à nossa emoção e, conseqüentemente, não podemos mais ser tão livres quanto éramos antes no sentido de expressar nossa alegria, raiva, dor e prazer. Não podemos mais ser livres para amar o que quisermos. Quando queremos amar alguém ou alguma coisa co.m o nosso amor, Aquele que está em nós detém-nos e não nos deixa amar. Antes amávamos e perdíamos a paciência como bem queríamos, mas agora não nos convém fazer mais essas coisas. Quando estamos prestes a amar alguém ou perder a paciência, Aquele que está em nós detém-nos e incomoda-nos, levando-nos a não ter paz. Antes, nossas idéias, decisões, escolhas e preferências eram de nós mesmos. Entretanto, depois que Deus Se mesclou conosco, tudo está diferente e não estamos mais tão livres. Isso acontece porque o elemento de Deus nos foi acrescentado. No passado, uma vez que tínhamos determinada idéia ou uma opinião formada, ninguém podia mudar-nos. Agora é diferente. Quando estamos prestes a expressar nossa idéia, Ele nos dá um toque interior. Quando temos uma opinião formada, Ele Se mescla conosco. Enquanto oramos, lá no íntimo perguntamos: "Será que Deus quer que eu faça isso? Ele ficará feliz com isso?" Desse modo, temos o elemento de Deus e o sabor de Deus em nossas idéias, pois Ele Se mesclou conosco. Esse mesclar-se é conformar-se. Quanto mais nos mesclamos, mais temos a imagem do Filho de Deus.

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Muitos entre nós têm certo sabor do Filho de Deus em suas experiências. Isso acontece porque Deus continuamente Se mescla com eles para conformá-los à imagem de Seu Filho. Quanto mais Deus Se mescla conosco, mais temos Seu elemento. Quanto mais Deus Se mescla conosco, mais Cristo se espalha em nós. Assim, Cristo, aos poucos, crescerá em nós até ser formado e amadurecer em nós. Isso nos leva ao perfeito crescimento (Ef 4:13). Quando atingirmos o estágio da perfeita varonilidade, Cristo será plenamente expresso por meio de nós. Ele irá espalhar-se a partir de nosso espírito e ocupará totalmente a nossa alma, e, então, permeará o nosso corpo, e a glória será expressa. Naquele momento, estaremos maduros e prontos para ser arrebatados, pois Cristo estará plenamente desenvolvido e formado em nós. A Primeira Epístola de João 3:2 diz: "Quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele". Somos semelhantes a Ele agora? até onde expressamos Cristo? desde o momento em que fomos salvos, será que Deus continuou a mesclar-Se conosco? toda vez que Deus se move em nós, somos tocados, mas não comovidos? deixamos que Ele prevaleça? o elemento de Deus está em nossas opiniões e preferências? Talvez, até hoje, alguns dentre nós ainda tenham o conceito de que basta ser salvo e "ir para o céu" e não é necessário preocupar-se com a questão do vencer. Alguns até dizem: "Não esperamos receber um galardão. Estamos satisfeitos em servir como vigias nos portões das mansões celestiais". Além disso, eles dizem: "Todas as mensagens acerca da verdade são muito boas, mas não podemos chegar ao nível delas. São muito difíceis, por isso vamos esquecê-las. Nosso Deus é um Deus de compaixão. Ele nos predestinou não para que fôssemos julgados, mas para que fôssemos salvos. Portanto, está de bom tamanho sermos salvos. Devemos evitar pecadões, mas, se, de vez em quando, cometermos pecadinhos, não precisamos pensar muito nisso. Nós, cristãos, não devemos ser demasiadamente zelosos. Por que devemos ir às reuniões e orar todos os dias? Basta ser salvos". No entanto, se, um dia, um deles ficasse seriamente doente e estivesse à beira da morte, ele já não diria isso. Pelo contrário, ele se arrependeria de sua atitude anterior acerca da graça e diria ao Senhor: "Senhor, Tu me salvaste e eu realmente sei qu me perdoaste os pecados e me deste a vida eterna, por isso, não me aflijo se quiseres levar-me hoje para estar Contigo. No entanto, quando penso que, em toda a minha vida, andei segundo a minha carne e atentei somente para mim mesmo, quando penso que nunca pensei em Teus interesses nem vivi um único dia de acordo com o evangelho, como posso ir ver-Te em paz? Ó Senhor, tem piedade de mim! Se me desses mais alguns anos, eu os viveria totalmente para Ti". Se expirasse sem concluir suas palavras, ele iria para uma "mansão celestial"? Se fosse, ele não se sentiria envergonhado quando visse o Senhor naquela "mansão celestial"? Uma pessoa não pode ir, de modo tão negligente, encontrar-se nem com o presidente de um país, muito menos com o Senhor. No mínimo, ele precisa pentear os cabelos, lavar o rosto e trocar de roupa. Muitas pessoas foram salvas, mas, mesmo depois disso, ainda vivem segundo a carne e a vida natural, amam o mundo, entregam-se às concupiscências, praticam o engano e fazem o mal; não obstante, ainda acreditam que, quando morrerem, sua alma irá imediatamente para uma mansão celestial. Se fosse assim, que tipo de lugar seria essa mansão celestial? Não seria ela um covil de salteadores? Esse não é o conceito de Deus acerca da salvação. A intenção de Deus é que todos os salvos sejam conformes à imagem de Seu Filho. Agora pense em si mesmo. Acaso seus pensamentos são torpes? será que eles foram purificados pelo Espírito Santo? porventura seu ser natural é forte? será que já foi transformado pelo Espírito Santo? É verdade que o Senhor comprou e redimiu você por meio de Seu precioso sangue. Contudo, Deus irá perguntar-lhe até onde você foi transformado em Sua vida. Você se conformou à imagem de Seu Filho? você se parece com Ele? A salvação de Deus não está de acordo com a doutrina ensinada por um cristianismo degradado, mas de acordo com Seu propósito de graça. Não estou perguntando se você foi salvo. Sei que já foi lavado pelo precioso sangue e recebeu a vida de Deus, mas você vive Nele? você está sob o domínio do Espírito? você se submete à autoridade celestial? está sendo disciplinado pelos céus?

TODAS AS COISAS SÃO IMPOSSÍVEIS PARA OS HOMENS, MAS POSSÍVEIS PARA DEUS

Sei que alguns dirão: "Eu realmente não consigo". No entanto, uma vez que você tenha o desejo, a força de Deus virá até você. "Para os homens é impossível; mas não para Deus, porque para Deus tudo é possível" (Mc 10:27). Ele é a nossa força. A pergunta não é se somos capazes, mas se estamos dispostos. Estamos dispostos a odiar o mundo? a odiar a carne? a odiar o ser natural? É lamentável saber que há muitos que

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simplesmente não estão dispostos. Eles ainda continuam a andar segundo a carne e se entregam às concupiscências. Espero que todos perguntemos a nós mesmos, segundo a nossa consciência e os nossos sentimentos: "Uma vez que andamos segundo a carne, entregamo-nos às concupiscências e vivemos totalmente para nós mesmos, se tivéssemos de morrer hoje, a nossa alma iria imediatamente para uma 'mansão celestial'?" Não existe tal lógica nem na terra, muito menos nos céus. Como a seara pode ser ajuntada no celeiro antes de amadurecer? A seara precisa estar madura. Os salvos devem crescer até atingir a maturidade e, assim, poderão ser arrebatados e levados a Deus. Deus tem Sua economia, Sua administração e Sua dispensação. A salvação de Deus não é o que muitas pessoas imaginam: uma questão de céu e inferno, de ir para o céu ou para o inferno. Deus tem Seu plano, Seu arranjo, e, em Sua graça, Ele tem Sua economia. Que o Senhor tenha misericórdia de nós para que não sejamos reprovados (2 Co 13:6). Todos devemos orar pela igreja e para que o Senhor conceda graça à igreja, para que ela prossiga no caminho de Sua restauração. Já se passaram mais de quatrocentos anos desde a Reforma na época de Martinho Lutero e Deus ainda está restaurando Suas verdades. Que nós, que vivemos nestes últimos dias, não deixemos que os erros tradicionais impeçam o caminho de restauração de Deus. Todos temos a responsabilidade de cumprir essa comissão.

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Capítulo Seis COMO SER ÚTIL NA MÃO DO SENHOR

A VIDA NOS CRISTÃOS É UMA VIDA QUE SERVE

Quem serve a Deus muitas vezes pergunta: "Como posso vir a ser útil para o Senhor? Como posso vir a ser útil na mão do Senhor, e realmente servir ao Senhor?" Primeiro, devemos ver que a vida do Senhor em nós é uma vida de servir. Para ver essa característica, é preciso revelação. Muitos cristãos provavelmente sabem que a vida do Senhor é santa, boa, mansa, radiante e assim por diante, mas não sabem que a vida do Senhor neles é uma vida de servir. Por que não sabem disso? Porque seu conhecimento espiritual é muitas vezes limitado pelo conceito natural. Em nosso conceito natural, podemos ter pensamentos voltados somente para a santidade, bondade e mansidão. Raramente temos algum pensamento sobre como servir a Deus. Na realidade, a vida de Deus vem a nós para que O sirvamos.

TODAS AS CARACTERÍSTICAS INERENTES À VIDA DO SENHOR SÃO PARA O SERVIÇO

Apocalipse 21 e 22 mostram que, por um lado, toda a situação da Nova Jerusalém é santa e brilhante (21:11, 18,21,23-25) e, por outro, na Nova Jerusalém, o destino final, há o serviço eterno para Deus (22:3-5). Isso claramente indica que todos os que estão na Nova Jerusalém são santos para servir a Deus. Eles estão cheios de luz para servir a Deus. Eles são bons para servir a Deus. A vida da nova criação, que eles possuem, é para que sirvam a Deus. Todas as características inerentes à vida do Senhor, a qual está em nós, são para o serviço. O amor é para o serviço, a luz é para o serviço, a santidade é para o serviço, a justiça é para o serviço, a bondade é para o serviço e a espiritualidade é para o serviço. Todas as qualidades especiais inerentes à vida do Senhor são para o serviço. Podemos dizer que o serviço é o objetivo, e as qualidades especiais inerentes à vida do Senhor são as qualificações e requisitos para atingir esse objetivo. Uma vida que não é santa não pode servir a Deus. Uma vida que não é brilhante não pode servir a Deus. Uma vida que não é justa não pode servir a Deus. Uma vida que não é espiritual não pode servir a Deus. As características da vida não são o objetivo. São para que alcancemos o único objetivo: o serviço a Deus.

A VIDA NOS EVANGELHOS Muitos cristãos desejam ser santos, espirituais e vitoriosos. No entanto, devemos perguntar por que desejamos essas coisas. Por que aspiramos ser santos? por que aspiramos ser espirituais? por que aspiramos vencer? Devemos aspirá-las por um único objetivo: servir a Deus. A vida nos Evangelhos é uma vida que é santa, brilhante, boa, espiritual, celestial, forte e vitoriosa. Devemos lembrar-nos, entretanto, que o propósito de tal vida é o serviço. O Senhor Jesus era santo para o serviço, era justo para o serviço e era forte e vitorioso para o serviço. Os Evangelhos mostram-nos que a vida em Jesus de Nazaré era uma vida de servir.

A VIDA NAS EPÍSTOLAS Romanos é um livro que nos dá o esboço da salvação de Deus, da experiência espiritual e da vida espiritual de um cristão. No começo, Romanos mostra como somos salvos e podemos ter a vida do Senhor. Em seguida, mostra como devemos buscar a santidade e a vitória. Depois de apresentar as experiências de santificação e vitória, o capítulo doze mostra-nos que devemos oferecer o nosso corpo como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, e que esse tipo de serviço é racional (v. 1). Isso significa que, em nossa consagração, devemos experimentar uma "crise", na qual deixamos a esfera do não-servir a Deus e entramos na esfera do servir a Deus. Entretanto, muitas pessoas não vêem essa questão. Não percebem que a vida é para o serviço, a salvação é para o serviço, a santificação é para o serviço e a vitória é para o serviço. Todas as virtudes espirituais são para o serviço. Além disso, o serviço não é simplesmente um comportamento externo. Antes, é o crescimento da vida em nós. Nos primeiros versículos de Romanos 12, Paulo exortou-nos a que passemos pela crise da consagração, deixando a esfera do não servir a Deus e voltando-nos para a esfera do servir a Deus. Parece que o serviço é um ato exterior de acordo com o primeiro versículo, mas, na realidade,

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é uma história da vida que está em nós. Creio que todos temos esse tipo de experiência. Quando dobramos os joelhos para orar, entregando-nos ao Senhor para amá-Lo um pouco mais, aproximar-nos Dele um pouco mais e deixar que Sua vida tenha um pouco mais de fundamento em nós, imediatamente temos um desejo de servir a Deus. Dentro de nós existe algo inexplicável que nos incita a servir a Deus, pregar o evangelho, ajudar os irmãos e servir na igreja. Se não servimos, nós nos sentimos pouco à vontade e inquietos, como se faltasse alguma coisa. Se servimos, nós nos sentimos à vontade, descontraídos, em paz e alegres. Que isso significa? Significa que a vida que está em nós é uma vida de servir. Muitas vezes ouvimos as pessoas louvando: "ó Senhor, louvado sejas Tu porque a Tua vida é santa, poderosa, brilhante e espiritual". Todavia, raramente ouvimos as pessoas dizendo: "ó Senhor, louvado sejas Tu porque a Tua vida é uma vida de servir". Poucos de nós têm visto que a vida cristã é uma vida de ministração, de serviço a Deus. Precisamos orar para que o Senhor nos dê essa luz e essa revelação, pois se trata de uma grande e importante revelação no Novo Testamento. A vida nos evangelhos é para o serviço e a vida em Romanos também é para o serviço. O mesmo acontece nos livros de Coríntios e Efésios. Em Efésios 4, Paulo fala que, uma vez que essa vida atinge a maturidade, "todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor" (v. 16). Que é isso? Isso é o ministério; é o serviço.

A VIDA EM APOCALIPSE No final do Novo Testamento, quando a vida atingiu o perfeito crescimento e maturidade, temos a Nova Jerusalém. Qual é o último ponto da Nova Jerusalém? Apocalipse 22:3-5 diz que os que estão na Nova Jerusalém servem a Deus para todo o sempre. Nos capítulos vinte e um e vinte e dois, vemos a manifestação da Nova Jerusalém no novo céu e nova terra na eternidade futura. A Nova Jerusalém é o principal ponto da obra de Deus tanto na velha como na nova criação através das eras, ou seja, tanto na obra de criação de Deus como na Sua obra de redenção. Do começo do capítulo vinte e um ao versículo 2 do capítulo vinte e dois, vemos a natureza da Nova Jerusalém. Em seguida, há três pequenos versículos, os versículos 3 a 5, que nos mostram o que as pessoas na Nova Jerusalém farão. Elas não farão nada, a não ser servir a Deus eternamente.

AS FUNÇÕES PARA O SERVIÇO SÃO O CRESCIMENTO DA VIDA INTERIOR No dia em que fomos salvos, a vida de Cristo entrou em nós. Se amássemos ao Senhor cada vez mais, se nos consagrássemos a Ele, se abandonássemos o nosso futuro, se deixássemos que nossa vida natural fosse quebrada e nossa disposição transformada, se seguíssemos a luz espiritual e vivêssemos em Cristo, a vida que está em nós teria a oportunidade de crescer. Esse crescimento da vida é a nossa função, o nosso serviço. Por fim, a função de profeta manifesta-se em um irmão, enquanto a função de mestre manifesta-se em outro. Em um terceiro irmão brota a função de presbítero, a função de diácono brota de outro e a função daquele que demonstra misericórdia, em outro. Todos os tipos de funções cristãs nascem da vida interior. As funções para o serviço ao Senhor não são aprendidas em seminários. São, antes, fruto do crescimento da vida interior. Uma pessoa que serve ao Senhor não necessariamente tem diploma, mas certamente é membro do Corpo. A função de todo e qualquer membro depende do crescimento e da força da vida que há nele. Como uma criança cresce até ser adulto? Seu crescimento não requer ensino. Requer apenas provisão para se alimentar adequadamente e cumprir as exigências do crescimento na vida. Então, um dia, ela naturalmente crescerá e virá a ser adulto. Muitos pensam que só os que são muito sábios podem ser usados pelo Senhor e, uma vez que eles mesmos são insensatos, jamais poderiam ser usados pelo Senhor. Isso não é verdade. Não diga: "Não tenho eloqüência, não sei falar e não consigo pregar a palavra, então em que sou bom? Somente os que têm alto grau de eloqüência, que conseguem falar com fluência e sem parar, são realmente bons em alguma coisa. Só eles podem de fato ser usados pelo Senhor". Isso não é verdade. Se somos ou não úteis para o Senhor depende exclusivamente se a vida do Senhor teve ou não a oportunidade de crescer em nós. Devemos perguntar a nós mesmos: "Eu amo o Senhor? consagrei-me a Ele? dou à vida do Senhor a oportunidade de crescer? permito que a vida do Senhor tenha lugar em mim? deixei de lado o meu futuro? estou disposto a deixar que a vida

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natural e a carne sejam quebrantadas e eliminadas, permitindo-me ser posto de lado?" Ser usados na mão do Senhor não tem a ver com habilidade e capacidade de ser úteis, mas com o crescimento da vida em nós.

SERVIR AO SENHOR AO MESMO TEMPO EM QUE CONFIAMOS NA FONTE INTERIOR DE VIDA

Isto é uma verdade: o grau com que uma pessoa dá lugar à vida do Senhor é a extensão de sua utilidade na mão do Senhor. Compartilhemos um pequeno testemunho. O que sou agora é completamente diferente do que era quando criança. Na infância, eu era tímido e isolado. Não gostava de estar com os outros, mas preferia ficar sentado sozinho, sempre evitando os outros. Na escola, falava muito pouco. Não gostava de participar de atividades e quase não tinha contato com as pessoas. Em casa, quando chegavam visitas, eu achava uma oportunidade de escapulir porque, toda vez que via pessoas, eu enrubescia e meus lábios tremiam quando eu falava. Era assim que eu era naturalmente. Um dia, no entanto, o Senhor chamou-me para que eu me levantasse e falasse em Seu nome, e, a partir daquele dia, passei a consagrar-me diariamente, o Senhor lidava comigo todos os dias e eu aprendia a viver no Senhor a cada dia. Em 1947, em Xangai, conheci um irmão que me disse: "Irmão Lee, quando jovem, você deve ter sido um aluno muito popular e um habilidoso orador". Respondi: "Irmão, você errou. Se você perguntasse isso aos meus colegas de classe, descobriria que sou totalmente diferente do que eu era quando jovem. É como se fossem duas pessoas diferentes". Independentemente do que você seja em seu homem natural, quando estiver disposto a dar lugar à vida de Cristo, Ele viverá em seu lugar. Ele transformará o seu ser e fará de você uma pessoa diferente, completamente diferente do que era antes. Antes você não gostava de atividades, mas agora Ele quer que você seja ativo. Talvez você não gostasse de sossego, mas agora Ele quer que você seja sossegado. Talvez você não gostasse de falar, mas agora Ele quer que você fale. Talvez você não gostasse de fazer contato com as pessoas, mas agora Ele quer que você as contate. Ele o transformará completamente. N os primeiros dias, quase todas as vezes que me levantava para falar em nome do Senhor, eu tinha problemas de estômago e a dor era indescritível. Tudo o que eu podia fazer era orar e consagrar-me, e, então, na próxima vez que falava, tinha de orar e consagrar-me novamente. Era por estar desesperado que, na mão do Senhor, eu podia deslanchar. É aí que está a nossa utilidade. Utilidade não é algo que temos naturalmente nem é de nascença. Pelo contrário, só quando Cristo encontrar uma forma, uma oportunidade e um meio de se manifestar por meio de nós é que seremos úteis. Uma irmã idosa freqüentemente me diz: "Irmão Lee, parece que você nunca poderá deixar de falar. Depois de falar, você tem mais para falar". Na verdade, o fato de eu poder estar aqui se deve totalmente à misericórdia e graça de Deus. Tenho tantas coisas para falar porque, dentro de mim há uma fonte: a fonte sem fim da vida eterna. A única dúvida é se iremos limitá-Lo ou não. Se O limitarmos, estaremos acabados e não teremos nada. O que aprendemos na mente é muito limitado, mas a fonte de vida que existe em nós é ilimitada.

Posso testificar que muitas vezes o que falei no púlpito foi algo em que eu nem havia pensado meia hora antes da reunião. Descobri um segredo: toda vez que vou falar, preciso consagrar-me muito. A minha oração é: "Senhor,· aqui está uma pessoa que talvez tenha sido um pouco relaxada outras vezes, mas, desta vez, quer colocar-se completamente em Tuas mãos, pôr-se totalmente de lado e esquecer-se absolutamente de si mesma. Senhor, que Tu Te manifestes. Que operes e Te faças conhecido por meio dessa pessoa". Às vezes eu fazia isso meia hora antes da reunião, mas, em outras, logo depois do primeiro hino, alguém se aproximava de mim e dizia: "Irmão Lee, por favor, fale". Nesses momentos, que eu poderia dizer? Eu tinha de me cingir, não com o cinto exterior, mas com o cinto interior, no mesmo instante e dizer ao Senhor: "Senhor, estou em Tuas mãos. Por favor, manifesta-Te". Era assim que as palavras começavam a fluir e a mensagem era liberada. Portanto, servimos ao Senhor não quando confiamos em nós mesmos, mas quando dependemos Daquele que está em nós. Nossos bens e recursos não são as coisas naturais que possuímos; antes, são a vida que está em nós, que é o Cristo vivo, o Cristo incomensurável. O problema é que, embora

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tenhamos esse Cristo, não Lhe damos espaço. Temos essa vida, mas não lhe damos oportunidade para crescer. Não nos consagramos totalmente ao Senhor e não fomos disciplinados nem quebrantados a fundo. Uma vez que não Lhe permitimos ter espaço e a oportunidade para crescer, Ele não Se pode revelar e, conseqüentemente, não podemos ministrar às pessoas. Todo o nosso serviço depende de Sua vida. O que ministramos é a Sua vida, e a força para ministrar também é a Sua vida. Uma vez que Ele ganhar lugar em nós, passaremos a ser úteis e poderemos ministrar, servir. Como isso é maravilhoso!

A VIDA MANIFESTA DIFERENTES FUNÇÕES PARA DIFERENTES SERVIÇOS A vida e as células sanguíneas que fluem para as orelhas e nos permitem ouvir também fluem para os olhos para permitir que vejamos, para a boca para permitir que falemos e para as pernas para permitir que andemos. A vida é a mesma e as células sanguíneas também, mas manifestam diferentes funções em diferentes membros. Todos temos exatamente a mesma vida em nós: a vida de Cristo. Quando ganha lugar em você, ela pode manifestar a função de mestre. Quando ganha lugar em outra pessoa, pode manifestar a função de presbítero. Quando ganha lugar em mim, pode manifestar a função de diácono. Embora as funções manifestadas sejam diferentes, a vida ainda é uma só, e Cristo ainda é um só. A diferença não está na natureza, mas na função, e as diferentes funções são para diferentes serviços. O serviço é fruto disso e está baseado nisso. Quando a vida de Cristo ganhar lugar em nós, ela manifestará uma função. Isso é ministério e serviço.

CINCO QUESTÕES PARA NOSSO EXERCÍCIO

Pergunta: Por que a função de muitos cristãos diante do Senhor não se manifesta? Resposta: Consideremos a nossa utilidade diante do Senhor. Talvez sejamos muito zelosos, dispostos a buscar ao Senhor e assíduos nas reuniões, mas qual é a nossa utilidade nas mãos do Senhor? Creio que todos provavelmente diriam que não sabem. Nas igrejas locais em todas as partes, podemos ver que há muitos que são zelosos para com o Senhor, amam ao Senhor, têm um coração que busca ao Senhor e estão presentes em todas as reuniões. Contudo, não sabem qual é a sua utilidade na mão do Senhor. Não só são incapazes de dizer, mas o fato é que sua utilidade não se manifestou. Qual é a razão para isso? O problema está em não amar totalmente ao Senhor, não se consagrar a fundo, não abrir mão do futuro, não se deixar quebrantar e não experimentar o eliminar da carne. Se alguém de fato amasse ao Senhor, se consagrasse totalmente, abandonasse seu futuro e fosse quebrantado e disciplinado, o Cristo que está nele poderia ganhar lugar e um meio para se expressar. Nesse momento, quer ele sentisse ou não, sua função iria manifestar-se. Perdoe-me por dizer que, na igreja, hoje, poucos são chamados, poucos são úteis, poucos podem fazer a diferença, poucos podem servir e poucos podem ser usados pelo Senhor. A única e principal razão é que não somos absolutos quando amamos ao Senhor e não nos entregamos totalmente a Ele, consagrando-nos a Ele, renunciando o futuro e sendo de fato quebrantados e tratados. Se todos, seriamente, praticássemos essas cinco questões: amar ao Senhor absolutamente, consagrar-nos cabalmente, abrir mão do futuro, deixar que o homem natural seja quebrantado e a nossa carne, disciplinada, então, Cristo teria como fazer com que Sua vida fosse vivida por meio de nós pouco a pouco. Dessa forma, teríamos a certeza de que, um dia, seríamos úteis nas mãos do Senhor. Hoje, a principal razão por que não sabemos se somos ou não úteis nas mãos do Senhor é que não praticamos esses cinco itens. Não praticamos o amar ao Senhor absolutamente, o consagrar-se, o abrir mão do futuro, o ser disciplinado ou quebrantado. O nosso "eu" ainda permanece e é preservado. Por isso, somos zelosos, mas não servimos; freqüentamos as reuniões, mas não somos úteis; e sempre nos reunimos, mas nossas funções não se manifestam claramente. Em muitos casos não está muito claro entre nós quem são presbíteros, quem são diáconos e quem são mestres. Muitas vezes, quando nós, os obreiros, íamos às igrejas para ajudá-las a designar presbíteros, depois de examinar o nome de todos os irmãos, estudando-os e orando por eles, não podíamos

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encontrar nenhum que pudesse ser presbítero. A impressão era de que todos eram quase iguais; o irmão A era quase igual ao irmão B, que, por sua vez, era quase igual ao irmão C, que, por sua vez, era quase igual ao irmão D. Todos eram quase iguais. Dificilmente encontrávamos alguém que tivesse a capacidade de ser presbítero ou tivesse a função de diácono. Todos amavam ao Senhor, eram zelosos e buscavam ao Senhor, e freqüentavam regularmente as reuniões, mas não podiam ser diáconos nem presbíteros porque a vida que havia neles não manifestava claramente sua função. Devemos ver que toda pessoa salva é alguém que o Senhor pode usar. A vida do Senhor é uma vida de servir, e a vida do Senhor se manifesta a nós para que possamos servir. Entretanto, nossa habilidade para servir muitas vezes não se manifesta. Qual é a razão para isso? A razão é que a capacidade de servir, que é inerente à vida que está em nós, não se desenvolveu. Se, por causa do amor do Senhor, todos nós, mais uma vez, nos submetêssemos, nos consagrássemos, abríssemos mão do futuro e fôssemos quebrantados e disciplinados, em menos de um ano muitos entre nós se manifestariam como chamados, como obreiros, presbíteros, diáconos e como os que se ocupariam nos negócios, ganhando dinheiro unicamente para o Senhor. Todos os problemas estão no fato de que a vida de serviço que há em nós não pode ganhar espaço e não tem como crescer. Nessa situação, o encorajamento, o ensino e a exortação são inúteis. Em vez disso, o que precisamos fazer é deixar que a vida que está em nós encontre saída para ser liberada. Certo irmão que pertencia a uma família abastada havia seguido ao Senhor por muito tempo e também se consagrado, mas a função da vida, a vida de servir, nele não se havia manifestado. Na primavera de 1948, quase na época do Ano Novo chinês, cheguei em Ku-lang-yu, e os irmãos providenciaram minha estadia na casa desse irmão. Ele tinha um casarão de estilo ocidental bastante imponente, e a hospitalidade para comigo era maravilhosa. No entanto, a coisa mais dolorosa para mim era que eu não tinha ninguém com quem pudesse ter comunhão ali. Se não fosse o fato de que a graça do Senhor havia sido estabelecida em mim através dos anos, eu provavelmente teria ficado sem vida. Em cada célula do ser desse irmão estava o dinheiro, e tudo o que ele pensava era o dinheiro. Às vezes ele me levava para um pequeno passeio na montanha e, no caminho,· ele me fazia muitas perguntas às quais ele mesmo provavelmente sabia que eu não poderia responder. Como conversar com uma pessoa que vive para o dinheiro? Não obstante, uma vez que ele era o anfitrião e eu, o hóspede, seria deselegante de minha parte não responder às suas perguntas, por isso eu tinha de responder alguma coisa, embora soubesse que isso era inútil. O ponto crucial dessa história é que, a partir daquele momento, pelo menos algumas vezes em minhas orações, pedi ao Senhor que se lembrasse daquele irmão. Eu disse: "Senhor, esse irmão recebeu Teus servos e servas. Ele me recebeu e também recebeu algumas irmãs da obra. Senhor, Tu precisas visitá-lo. Tu precisas realizar uma obra da graça nele". Sem dúvida, qualquer obreiro naturalmente faria tal oração sem ser exortado a fazê-la. Aquele irmão era salvo, buscava ao Senhor, interessava-se pelas coisas espirituais e também não tinha nenhum problema na vida da igreja, mas o grande problema era que se havia deixado levar pelo dinheiro e se transformado em um cofre. Assim, a vida de Cristo nele estava restrita. Por essa razão, embora ele fosse salvo e se interessasse pelas coisas espirituais, a vida de serviço não podia se manifestar por meio dele. Um sacrifício que devia ser apresentado a Deus, primeiro, tinha de ser levado ao altar, depois abatido, cortado em pedaços, esfolado, preparado de várias formas e, então, por fim, consumido pelo fogo e oferecido a Deus. Assim, todos os procedimentos vinham depois de o sacrifício ter sido levado à consagração. Em outras palavras, nossa consagração pode ser considerada a base do modo como o Senhor lida conosco. Por quê? De acordo com um raciocínio simples, o Senhor deve ter começado a lidar conosco logo depois que fomos salvos para começar a Se manifestar por meio de nós cada vez mais, contudo, muitos de nós não o aceitaram nem concordaram com isso. Uma vez que o Senhor nunca nos força a fazer coisa alguma, Ele tenta atrair-nos e comover-nos para que nos consagremos e digamos: "ó Senhor, eu aceito a Tua disciplina e o Teu quebrantamento". Tal reação vinda de nós é nossa consagração; nossa consagração é nossa reação. A verdadeira consagração é deixar que Deus opere em nós. Não é que trabalhamos para Deus, como a maioria das pessoas pensa. A verdadeira consagração é deixar que Deus opere em nós. Não é para que trabalhemos para o Senhor. Muitas pessoas pensam que, depois de se terem consagrado, têm de trabalhar para o Senhor. Elas mal sabem que se consagrar é permitir que o Senhor opere nelas,

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ou seja, permitir que o Senhor cumpra a obra de lidar com elas. Por meio de nossa consagração, o Senhor recebe o direito e tem uma reação para começar a operar em nós. Assim, primeiro vem a consagração e, depois, o Senhor lida conosco. Sem dúvida, às vezes, há exceções. Às vezes o Senhor quer ganhar alguém; contudo, essa pessoa se recusa a consagrar-se. O Senhor quer conquistá-la, mas ela se recusa a dizer sim. O Senhor quer operar nela, mas ela não coopera e não O deixa realizar a obra. Então, o que o Senhor deve fazer? O Senhor precisa criar situações para dar um "golpe" nela, em seus negócios e em sua saúde. Isso ainda não é o quebrantar, mas só um "golpe" para forçá-la a não ter escolha, senão consagrar-se, concordar com o Senhor e dizer sim a Ele. O verdadeiro disciplinar e quebrantar vêm após a consagração. Só depois que nos consagramos é que podemos ser realmente disciplinados. Os golpes mencionados anteriormente são externos. Até a doença física é externa. São golpes na situação, e não o lidar com o "eu" interior. Depois de você se ter consagrado, o Senhor começa a lidar com o seu "eu". Todos sabemos que o Senhor lidou com Paulo não só uma vez, mas por longo período. Ele disse que um espinho na carne lhe havia sido dado. Por causa desse espinho, ele pediu ao Senhor três vezes que o afastasse dele, mas o Senhor não o retirou (2 Co 12:7-9). O Senhor deixou o espinho em Paulo, por isso o lidar nunca se afastou de Paulo. Por quê? Porque ele ainda não havia deixado a sua carne. Devemos sempre lembrar-nos de que, antes de ser transfigurados e arrebatados; a despeito de quanto o Senhor tenha lidado conosco, a nossa carne continua não transformada. Assim, precisamos viver debaixo do lidar do Senhor diariamente. É realmente um paradoxo uma pessoa com quem o Senhor não tenha lidado não sentir que é carnal. Todos os dias, a sua carne está em ação, mas a pessoa não percebe. Em contrapartida, a pessoa com quem o Senhor lida todos os dias tem uma forte sensação de que sua carne está presente e ela é de fato carnal. Parece que, se falar, ela é carnal e, se não falar, também é carnal. Independente do que faça, ela sente que é carnal. Essa experiência é adequada. Quanto mais o Senhor lidar conosco, mais sentiremos a carne. Assim, nós nos submeteremos a Ele e diremos: "Senhor, sou muito miserável". Essa é uma boa situação, uma ótima situação. Se você acha que, depois de o Senhor lidar com você uma vez, isso foi um sucesso, que sua carne foi quebrantada e sua naturalidade purificada, então você está se enganando. Você não foi quebrantado. Mesmo na época em que escreveu o livro de Filipenses, Paulo disse que ainda não havia sido aperfeiçoado, ainda não havia chegado à perfeição e ainda não havia obtido a perfeição. Ele ainda buscava e o Senhor ainda lidava com ele (3:12-14). É verdade que há alguns que, mesmo quando envelhecem, ainda são inúteis na mão do Senhor. Por quê? Porque, quando são velhos, eles ainda não permitem que o Senhor lide com eles. Nunca nos formamos na escola da disciplina do Senhor.

COMO SER QUEBRANTADO

Com relação ao ser quebrantado, há três pontos ou estágios da experiência: 1) a iluminação do Senhor; 2) o nosso receber ou agir e 3) a coordenação das circunstâncias. Que significa quebrantar? Imagine um copo de vidro que, a princípio, estava inteiro, mas agora foi feito em pedaços. Isso é ser quebrado. Isso deveria estar claro para todos nós. Pense em si mesmo. Sua vida natural, temperamento, disposição e carne estão inteiros. No entanto, agora que você foi salvo, a vida de Cristo entrou em você. Essa vida precisa ser manifestada por meio de seu espírito, mas ela foi cercada. Pelo que ela está cercada? Pela vida natural, pela carne, pelo temperamento e pela disposição. Tudo o que você tem envolve a vida de Cristo, impedindo-a de ser liberada. Assim, tudo o que você tem em si que é inteiro precisa ser quebrado. Só quando todas essas coisas são quebradas é que a vida de Cristo pode ser liberada. Primeiro, Deus resplandecerá a Sua luz em você para mostrar-lhe que tudo o que você tem, incluindo a vida natural, a carne, o temperamento e a disposição, são inimigos da vida de Cristo e frustrações e limitações para a vida de Cristo. Deus também irá mostrar-lhe que todas essas coisas já foram crucificadas, pois são rejeitadas por Deus, são inimigos de Deus e são frustrações para a vida de Cristo. Depois que você vir essa luz, imediatamente o Espírito Santo que está em você virá e levará essa luz a todas as questões quer importantes quer triviais da vida diária. Antes de ver essa luz você não tinha sentimento nem consciência de condenação quando perdia a paciência e agia de modo carnal, mas agora, depois de ver a luz, o Espírito Santo em você concretiza essa luz em você. Quando você age de acordo com a vida natural e perde a paciência, o Espírito Santo lhe dá a sensação de que

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isso é a carne, a vida natural, o "eu" e o temperamento; todos deveriam ser condenados, pois já foram mortificados na cruz. Então, pelo poder do Espírito Santo, você condena essas coisas, crucificando-as. Nesse momento, a crucificação não é apenas uma verdade objetiva acerca da cruz, mas uma experiência subjetiva em você. Isso é mortificar as práticas do corpo mencionadas em Romanos 8:13. Isso também é a morte que faz o mortificar de Jesus operar em nós, como menciona 2 Coríntios 4:11-12. Sabemos que a vida de Cristo tem o elemento de morte e, quando esse elemento passa por nós, ele causa uma morte em nós. Isso é semelhante às células sanguíneas, que têm pelo menos duas funções. A primeira é neutralizar os inimigos do nosso corpo, as bactérias, e a segunda é, ao mesmo tempo, prover ao nosso corpo os nutrientes necessários. Vimos essa luz há alguns anos, mas não falamos sobre ela porque não tínhamos a coragem de dizer que, na vida de Cristo, há o efeito de morte. No entanto, na experiência, aos poucos ficamos cada vez mais certos disto. Recentemente, vimos que o irmão Andrew Murray também disse a mesma coisa. Ele disse que, na vida de Cristo, há um poder aniquilador, um elemento de morte, um efeito de morte. Uma vez que o Espírito Santo ganhou lugar em nós, Ele nos levará diariamente a mortificar a vida natural e a carne. Esse mortificar, esse matar, é quebrantar. Além disso, para ajudar-nos, Deus também dá-nos a disciplina do Espírito Santo no exterior, preparando as circunstâncias para operar em nós em um esforço conjunto por dentro e por fora. A vida de Cristo opera por dentro e as circunstâncias, por fora. Quando temos o desejo de ser quebrantados, há a coordenação das coisas por dentro e por fora, e o Espírito Santo começa a cumprir o quebrantar em nós. Entretanto, se o nosso desejo do coração e nosso espírito não cooperarem com o Espírito Santo no sentido de mortificar, então todas as circunstâncias, independente de quantas sejam, não são muito úteis. As circunstâncias externas operam em conjunto com o Espírito. Santo em nós e, entre esses dois fatores, há um terceiro fator necessário: a nossa aceitação. O Espírito está no interior, as circunstâncias são exteriores e, entre eles, temos de ser os que recebem, os que executam. Desse modo, dia após dia e vez após outra, a vida natural, a carne e o "eu" serão quebrantados. Por fim, quando estivermos prestes a perder a paciência, não mais poderemos agir assim, pois fomos quebrantados e temos muitas feridas em nós.