como realizar vendas business-to-business (b2b) em épocas ... · vendas, é abordado uma série de...

15
Instituto de Educação Tecnológica Pós-graduação Aperfeiçoamento em Engenharia de Vendas - Turma 22 25 de Setembro de 2015 Como realizar vendas Business-to-Business (B2B) em épocas de crise Saulo Teixeira Simão Engenheiro Eletrônico Engenheiro em Telecomunicação Engenheiro de Vendas [email protected] Tatiana Teixeira Paiva Engenheira Mecânica Engenheira de Vendas [email protected] Resumo O comércio estabelecido entre duas empresas é comumente chamado de B2B, sigla que veio do termo inglês Business-to-Business, negócio para negócio. Esse tipo de comércio é extremamente comum. O tempo todo empresas estão negociando e realizando transações comerciais entre si, gerando um grande movimento na economia de um país. Mas e quando um país esta em crise econômica? E, além de uma crise econômica, o país vive uma crise política? Pois bem, este é o cenário que o Brasil e vários países, de diversas partes do mundo, estão vivenciando. Diante desse cenário, elaborou-se este artigo no intuito de identificar possíveis saídas para continuar realizando negócios entre empresas e movimentando a economia do país. Palavras-chave: Crise, B2B, Business-to-Business, Economia, Vendas.

Upload: lecong

Post on 28-Jan-2019

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Instituto de Educação Tecnológica

Pós-graduação

Aperfeiçoamento em Engenharia de Vendas - Turma 22

25 de Setembro de 2015

Como realizar vendas Business-to-Business (B2B) em épocas de crise

Saulo Teixeira Simão

Engenheiro Eletrônico

Engenheiro em Telecomunicação

Engenheiro de Vendas

[email protected]

Tatiana Teixeira Paiva

Engenheira Mecânica

Engenheira de Vendas

[email protected]

Resumo

O comércio estabelecido entre duas empresas é comumente chamado de B2B, sigla que veio do

termo inglês Business-to-Business, negócio para negócio. Esse tipo de comércio é extremamente

comum. O tempo todo empresas estão negociando e realizando transações comerciais entre si,

gerando um grande movimento na economia de um país.

Mas e quando um país esta em crise econômica? E, além de uma crise econômica, o país vive

uma crise política? Pois bem, este é o cenário que o Brasil e vários países, de diversas partes do

mundo, estão vivenciando. Diante desse cenário, elaborou-se este artigo no intuito de

identificar possíveis saídas para continuar realizando negócios entre empresas e movimentando

a economia do país.

Palavras-chave: Crise, B2B, Business-to-Business, Economia, Vendas.

1. Introdução

O Brasil está em crise. Esta crise não é apenas econômica, mas também política, como afirma

João Pedro Lang (2015). A previsão de crescimento negativa do PIB, que indica um quadro de

recessão, a queda no índice de atividade econômica, a reversão da tendência de queda do

desemprego que persistia desde 2004, a inflação dos preços livres e regulados e a recorrente

elevação da taxa básica de juros (Selic) são as principais evidências do grande problema

econômico que o país está enfrentando. Tudo isso contribui para que os consumidores e

investidores fiquem receosos em relação ao futuro e não confiem nas previsões oficiais. Da

mesma forma agem os investidores internacionais, que são afugentados do Brasil, fazendo com

que a moeda nacional, o Real, se desvalorize constantemente e o quadro econômico se agrave

ainda mais.

O aumento da inflação, acompanhado do aumento da taxa de juros, gera desconfiança e queda

no consumo, diminuindo o nível de atividade da economia. Ao mesmo tempo, a incapacidade

de gestão pública e a falta de suporte político geram a desconfiança dos investidores quanto ao

compromisso do Brasil de honrar as dívidas, o que resultou inclusive no rebaixamento do grau

de investimento do Brasil pela agência de risco Standard & Poor’s (S&P) em Setembro deste ano.

O baixo nível de atividade econômica traz dúvidas para novos investimentos e leva os

empresários a assumirem uma atitude defensiva, visando principalmente o baixo risco.

Paul Singer, em seu artigo “A América Latina na crise mundial”, explica os comportamentos de

mercado mais comuns em épocas de crise:

“Em momentos de crise econômica, o pânico leva as classes proprietárias a entesourar

sua riqueza líquida em vez de investi-la diretamente ou de colocá-la à disposição de

quem queira fazê-lo, pelo sistema financeiro. Outra manifestação deletéria do pânico é

a “fuga de capitais”, quando filiais de transnacionais transferem grandes somas às

sedes, situadas fora do país, para que essas possam cobrir prejuízos e cumprir

obrigações. (...) A fuga de capitais reduz a disponibilidade de divisas, levando à

desvalorização da moeda nacional ante as moedas que estão sendo retiradas do país e

consequentemente a fortes pressões inflacionárias decorrentes da elevação dos preços

de todos produtos importados. ”

Com o receio dos empresários em realizar novos investimentos, a indisponibilidade de linhas de

crédito e a elevação dos preços dos produtos importados em detrimento dos nacionais, a queda

das vendas de empresa para empresa parece certa e as equipes de vendas precisam enfrentar

o desafio de cumprir as metas de crescimento mesmo diante de um cenário tão adverso.

Nas palavras de João Pedro Lang (2015), “uma crise econômica não é avaliada pelo desempenho

de setores específicos, mas pela economia como um todo”.

A venda de alguns produtos pode responder menos a crises econômicas ou a aumentos no

preço, mas quando se trata de vendas B2B (Business-to-Business), geralmente voltadas a

mercados bastante diversificados, a queda das vendas em determinados setores acaba por

impactar negativamente o resultado global de vendas.

Promover as vendas B2B em épocas de crise torna-se um enorme desafio para as empresas, e

apenas aqueles que definem uma metodologia de trabalho especial para o momento

conseguem sobreviver a este cenário adverso sem grandes perdas. São apresentadas a seguir

algumas estratégias para a diminuição do impacto da crise, com vista a solucionar esta

problemática.

2. Revisão bibliográfica

Para uma equipe de vendas ser vencedora em qualquer época e principalmente em épocas de

crise é necessário ter processos muito bem estabelecidos para realizar vendas assertivas e que

trarão sucesso para a empresa, sendo assim, com o objetivo de direcionar esse estudo usaremos

como referencia teórico o tema: Métodos de venda baseados em Processos: SPIN Selling e

Strategic Selling, uma consagrada técnica de vendas desenvolvida em empresas multinacionais

nos Estados Unidos e no mundo.

2.1. Métodos de Venda Orientados por Processos

De acordo com Sant (2006), existem alguns métodos de venda que podem se encaixar em

basicamente quatro grandes categorias sendo elas:

Métodos de Venda orientados por Processos;

Métodos de Venda Orientados por Relacionamentos;

Abordagens Linguísticas

Métodos Táticos

Para balizar este estudo definiremos um dos métodos apresentados acima os Métodos de Venda

Orientados por Processos.

Segundo o SANT (2006), dentro das diversos benefícios que esse método proporciona podemos

destacar alguns deles:

E relativamente fácil de ensinar, o que proporciona a equipe de vendas um conforto em

aplicar a metodologia e sendo assim focaram em entender cada passo do processo da

venda da organização onde está inserido.

Facilita a medição de desempenho, é também uma ferramenta de gerenciamento, onde

ao comparar o progresso da venda em cada uma de suas etapas pode ser relativamente

fácil de estratificar.

E sistemático e ajuda a equipe a se concentrar em cada fase da venda de maneira

distinta.

Prever com mais precisão o sucesso ou fracasso da venda, ajudando em tomada de

decisões antes mesmo de se perder uma venda.

Permite repetição, uma vez garantindo o sucesso da estruturação do processo ele

poderá ser aplicado com eficiência em outras vendas.

O método tende a ser eficaz em vendas complexas, o que é de grande importância para

o objetivo desse estudo.

Dentre os diversos livros do Autor Tom Sant o livro The Giants of Sales (2006) – O Gigante de

Vendas, é abordado uma série de métodos baseados em processos que foram desenvolvidos

por outros autores um deles é o SPIN Selling que tem como autor Neil Rackham e o Strategic

Selling escrito por Robert Miller e Stephen Heiman.

Como dito anteriormente esse estudo terá como referência literária esses dos livros.

2.1.1. Strategic Selling

O Método Strategic Selling foi elaborado por Robert Miller e Stephen Heiman e utilizado em

vários treinamentos de equipes de vendas em diversas empresas nos Estados Unidos como, por

exemplo, a famosa Hewlett-Packard Co. empresa de detentora de várias tecnologias.

Segundo Robert e Stephen (1986), o Strategic Selling é baseado na estratégia ganha-ganha que

deve ser estabelecida entre vendedor e cliente, e que o sucesso da venda é determinado quando

existir satisfação entre ambas as partes. De acordo com Sant (2006), esse método mostra aos

vendedores que tem a árdua missão de vender produtos complexos, com grades detalhes

técnicos e na maioria das vezes com um valor elevado, como penetrar em grandes organizações

de e obter sucesso no processo de venda.

Dessa forma o primeiro conceito que definiremos é Venda complexa, uma vez que essa

metodologia está voltada principalmente para esse tipo de venda. Segundo a definição do autor,

“uma venda complexa é aquela que precisa receber o aval de várias pessoas antes de ocorrer”

(MILLER; HEIMAN, 1986, p.22). Exemplificando, durante o processo de uma venda complexa

existem vários agentes envolvidos no processo de decisão da compra, podemos citar alguns

deles como exemplo: O comprador, o usuário, o comprador técnico e o defensor, aquele que

acredita na solução do vendedor (SANT, 2006).

Além disso, Miller e Heiman definiram três premissas que regem o livro Strategic Selling. São

elas:

a) “O que te trouxe até onde você está agora já não é suficiente para te manter na sua posição”

(MILLER; HEIMAN, 1986, p.25). Ou seja, toda relação comercial esta sujeita a mudanças e

cenários instáveis como o que estamos passando por agora, e a equipe de vendas deve contar

com esses fatores para não serem pegos de surpresa.

b) “Na venda complexa, um bom plano tático só é bom se a estratégia que levou a ele também

o seja” (MILLER; HEIMAN, 1986, p.26). De acordo com os autores, o que pode se observar é que

em várias organizações as equipes de vendas não possuem uma estratégia bem definida para

atuar no mercado. O Strategic Selling tem como missão integrar a estratégia com as táticas de

venda.

c) “Você só pode ser bem sucedido na venda se souber o que você está fazendo e o porquê de

se fazer” (MILLER; HEIMAN, 1986, p.27). O verdadeiro sucesso da venda ocorrerá quando o

método for aplicado em sua melhor performance.

Diante do exposto os autores definem que o objetivo de uma boa estratégia de vendas é quando

o vendedor é levado ao lugar certo, conversa com às pessoas certas e no momento certo, de

modo a tornar a apresentação de vendas taticamente assertiva. Ou seja, de acordo com Miller

e Heiman (1985, p.37), sem estratégia, o vendedor “pode agir com base naquilo que ele deseja

que fosse verdadeiro, e não do que é realmente verdadeiro”. Por exemplo, ele pode muitas

vezes estar negociando há muito tempo com alguém e que esse agente dentro do processo de

compra não tem poderes suficientes para a decisão.

Miller e Heiman (1986, p.54) ainda definem alguns elementos-chave do Strategic Selling. São

eles:

Influenciadores na Compra

Identificação de “Red Flags”

Modelos de Resposta – do comprador

Resultados com Ganhos

O Funil de Vendas

O Perfil Ideal de Cliente

Inicialmente, é preciso que o vendedor identifique dentro do processo de compra da

organização os “Key players”, tendo sempre como principal objetivo identificar qual a

importância do seu papel dentro do processo, logo depois, quem são as pessoas responsáveis

por exercê-los (MILLER; HEIMAN, 1986, p.55).

Na identificação de “Red Flags”, o vendedor deve identificar quais suas dificuldades de

posicionamento no processo de venda antecipadamente. Segundo os autores, ele antecipa

incertezas e problemas na venda antes de enfrentá-la, e com isso escolher quais serão suas

armas para combater um risco eminente.

Segundo os autores Miller e Heiman (1986, p.58), como último elemento é necessário avaliar

como os compradores reagirão à proposta de venda apresentada. Assim, observa-se a sua atual

decisão a mudar, levando em conta as mudanças nos métodos de trabalho, por exemplo, caso

ele decida comprar o produto ofertado.

Em Resultados com Ganhos, os autores afirmam as relações comerciais que tem como premissa

uma relação “ganha-ganha” tem mais capacidade de ser uma venda de sucesso, tal afirmação é

totalmente aplicável ao tema do trabalho, uma vez que em momentos de crise todos que

decidem por investir em um produto estão buscando ganhar algo, e o vendedor tem o papel de

mostrar o quanto o comprador está ganhando com aquele produto.

O funil de Vendas, é uma ferramenta para que o vendedor maximize seu tempo no processo de

venda. O Funil mostra claramente para a equipe de vendas cada etapa da venda desde a

identificação e qualificação dos leads até a conclusão efetiva da venda.

Considerando um perfil ideal para o nosso cliente devemos considerar a caracterização dos

clientes atuais e antigos, proporcionando a equipe comercial um suporte para selecionar

potenciais clientes futuros de uma forma mais assertiva. Levando em conta essa identificação,

Miller e Heiman afirmam que a equipe comercial tem a capacidade de selecionar melhor os

prospects que entram no Funil de Vendas, assegurando um melhor resultado uma vez que

estamos trabalhando com clientes mais potenciais (MILLER;HEIMAN,1986, p.265). Assim, Miller

e Heiman (1986, p.307) afirmam que, trabalhando com métodos bem definidos, o Strategic

Selling “reduz incertezas relacionadas à sorte, tentativa e erro”, elementos que envolvem uma

Venda Complexa.

2.1.2. SPIN Selling

Outra metodologia que podemos considerar para auxiliar as equipes de vendas em momentos

de crise, não só em momentos, mas em qualquer momento das vendas. E um método

conhecido como SPIN Selling que foi desenvolvido por Neil Rackham como veremos a seguir.

O método SPIN Selling foi desenvolvido por Neil Rackham e sua equipe após doze anos de

pesquisas, em 23 países, em que foram acompanhados milhares de visitas de vendas.

Durante o desenvolvimento da pesquisa RACKHAM (2008) identificou quatro fases diferentes

para um processo de venda sendo elas:

Abertura,

Investigação,

Demonstração de capacidade,

Obtenção de Compromisso,

Depois de várias visitas acompanhadas o autor e juntamente com sua equipe concluíram que a

Abertura tem sido superestimada, já que em vendas maiores essa fase tinha menos influência

do que se pensava. Já a Investigação é considerada como a “mais importante de todas as

habilidades de vendas, e é particularmente crucial em vendas maiores” (RACKHAM, 2008, p.26).

Segundo o autor, nesta fase, o vendedor passa a entender melhor o seu cliente e suas

necessidades através da realização de perguntas que serão importantes para a definição de

quais as soluções serão ofertadas no final.

Em seguida, a fase de Demonstração de Capacidade consiste em “demonstrar aos clientes que

existe algo que vale a pena oferecer” (RACKHAM, 2008, p.26). Ou seja, o vendedor nesse

momento da venda tem a missão de mostrar ao cliente o quanto sua empresa é competente

para prestar aquele tipo de serviço ou fornecer aquele tipo de produto, mostrar ao cliente quais

serão os benefícios que ele terá ao comprar aquele produto ou serviço e nunca se esquecendo

em atender diretamente a demanda do cliente.

Já a última faze da venda que é a Obtenção de Compromisso é a fase em que o vendedor atinge

o melhor dos mundos, o compromisso do cliente, isso implica que a venda está praticamente

concluída, apesar de terem algumas fazes ainda a serem percorridas. Segundo Rackham (2008),

em vendas maiores, antes de fechar o pedido, há uma série de estágios denominados Avanços,

ou seja, em que cada faze ou visita leva “o compromisso do cliente para a decisão final”

(RACKHAM, 2008, p.27).

Segundo RACKHAM (2008), as perguntas tendem a seguir uma determinada sequência

denominada SPIN (Situation, Problem, Implication, Need) – Situação, Problema, Implicação e

Solução:

- (S) Perguntas de Situação: essa fase da venda a equipe de vendas deve realizar uma

investigação do passado cliente com intuito de identificar as situações que o cliente passa, mas

segundo Rackham (2008, p.31), “as pessoas bem-sucedidas não as utilizam demasiadamente

porque muitas podem entediar ou irritar o comprador”.

- (P) Perguntas de Problema: “(...) exploram problemas, dificuldades e insatisfações nas áreas

em que o produto do vendedor pode ajudar” (RACKHAM, 2008, p.31). Ainda sim encontramos

equipes de vendas que diante de um comprador, muita das vezes por falta de prática ou de

experiência, não conseguem abordar todas as perguntas necessárias para realizar um bom

levantamento de requisitos.

- (I) Perguntas de Implicação: para Rackham (2008, p.88), elas visam “(...) desenvolver a

gravidade do problema antes de oferecer uma solução”. É nesse momento que a equipe de

vendas tem que brilhar, tem que mostrar para o cliente o quanto aquele problema dele é

urgente, e o quanto seu produto ou serviço vai ajudar a ele resolver o seu problema, em vendas

complexas isso é extremamente necessário, e em momentos de crise temos que usar dessa

ferramenta para antecipar os investimentos que os clientes desejam fazer.

- (N) Perguntas de Necessidade de Solução: o autor afirma que elas têm uma relação muito forte

com o sucesso na venda, pois “(...) fazem o cliente dizer a você os benefícios que sua solução

poderia oferecer” (RACKHAM, 2008, p.32). São mais importantes em maioria dos casos do que

as perguntas sobre problemas e também tem um papel importante para evangelizar os seus

clientes sobre aquele serviço ou produto, fazendo com que ele defenda você dentro da empresa

em um processo de decisão.

De modo geral, o modelo SPIN provê uma “descrição simples e precisa a um processo complexo”

(RACKHAM, 2008, p.109). Ou seja, o SPIN é um método que faz com que a equipe de venda siga

um caminho que vai levando o cliente a entender que o seu produto ou serviço são importantes

e que ajudarão ele a resolver suas dores.

Em um mercado cada vez mais competitivo e com uma crise econômica assolando todo o pais e

o mercado mundial, as vendas complexas se tornam mais difíceis de serem realizadas, daí cabe

as equipes de vendas se preparem, se estruturarem com processos assertivos e robustos para

que eles tenham um diferencial diante o mercado.

E esse método pode ajudar na construção desses processos alavancando vendas em momentos

de crise, e quando a crise passar a equipe vai estar altamente qualificada para agredir o mercado

com toda força, batendo todas as metas estipuladas com muito mais facilidade.

3. Metodologia

Preparação do processo de venda

Conforme exposto por Robert Miller e Stephen Heiman (1986), o vendedor deve definir a sua

estratégia desde a seleção de prospects até o momento do fechamento do pedido. Em um

momento de crise, o ciclo das vendas se torna em geral mais longo e o vendedor deve se munir

de ferramentas para encurtar estes processos.

A seleção dos prospects deve ser cuidadosa, levando em conta fatores como o histórico do

cliente, situação financeira, capacidade de compra e principalmente a identificação dos

participantes do processo de compra.

Em outras palavras, em um momento de crise econômica, não é aconselhável investir

demasiados esforços em um cliente que, historicamente, só compra da concorrência - a não ser

que se identifiquem conflitos recentes entre a empresa e o antigo fornecedor. Conforme

comentado anteriormente, este não é um momento propício a grandes mudanças, é muito mais

um momento de evitar correr riscos, e o cliente irá provavelmente utilizar as especificações e o

preço fornecidos apenas para orientar e pressionar o fornecedor atual.

Além disso, também não é produtivo investir horas de trabalho para convencer um cliente de

que a sua solução é a melhor, se ele não pode pagar por ela. O vendedor deve checar

rapidamente o cadastro do possível cliente a fim de conhecer a sua capacidade de compra e

verificar se ele não possui grandes restrições junto aos serviços de proteção ao crédito.

Por fim e extremamente importante é descobrir o papel de cada um dos interlocutores no

processo de compra. Conquistar os influenciadores e negociadores é muito importante, mas,

em um momento de crise, é mandatório identificar os decisores do processo. Por mais que os

gerentes da produção ou da manutenção identifiquem a necessidade de compra de algum

produto ou equipamento, a diretoria pode optar por não realizar o investimento em um

momento de tanta instabilidade. Da mesma maneira, mesmo que o comprador já possua um

budget aprovado para determinadas aquisições, o decisor pode cancelá-las a qualquer

momento devido a uma mudança emergencial na estratégia da empresa, provocada pela crise.

Outra situação comum em épocas de crise é a mudança de papéis: Compradores que possuíam

autonomia para realizar investimentos, atuando como decisores, começam a submeter todas as

compras importantes ao aval da diretoria, por exemplo, e se tornam apenas negociadores. Que

fique claro que a orientação aqui não é pular etapas e ignorar os participantes do processo,

apenas definir um caminho para identificar e chegar mais rápido ao decisor do processo, a fim

de evitar a perda de tempo com processos que não irão se concretizar.

Aumento da agressividade comercial

Tendo em vista a esperada redução nas taxas de conversão do funil de vendas em um momento

de crise, é preciso que o vendedor gere um volume maior de atividades, principalmente visitas

e propostas.

A necessidade de selecionar melhor os clientes, citada anteriormente, não vem acompanhada

da possibilidade de redução do número de prospects do funil de vendas, muito antes pelo

contrário. A preparação da venda é necessária apenas para determinar onde o vendedor deve

concentrar os seus maiores esforços, mas é preciso buscar muitos possíveis clientes e muitas

oportunidades para que alguns processos se desenvolvam e as vendas se concretizem.

Neste caso, sugere-se a intensificação das campanhas de marketing e a utilização de um time

auxiliar de prospecção, que irá aumentar o número de contatos e realizar uma qualificação

prévia dos possíveis clientes de acordo com o perfil ideal traçado, a fim de que os vendedores

trabalhem mais focados e com maior qualidade.

Foco nos mercados que estão sentindo menos a crise

Quando João Pedro Lang (2015) diz que a crise econômica não é avaliada pelo desempenho de

setores específicos, ele fornece uma importante informação sobre o mercado em épocas como

esta: A de que nem todos os setores da economia sofrem com a crise. Existem setores que

conseguem manter o seu desempenho durante a crise e até aqueles que se beneficiam dela.

Cabe às empresas identificarem quais são estes setores e alterarem o seu perfil de cliente ideal

em conformidade com os impactos da crise, a fim de concentrarem seus esforços nos mercados

que estão crescendo e que, portanto, oferecem maior possibilidade de novos investimentos.

Argumentação de venda direcionada para o baixo risco

O momento de incertezas, insegurança e desconfiança gerado pela crise faz com que os

empresários tendam a optar por soluções com o menor risco possível. A possibilidade de altos

ganhos futuros perde importância diante da possibilidade de retorno rápido do investimento e

baixo risco financeiro.

Desta forma, a possibilidade de redução instantânea dos custos operacionais surge como uma

das principais argumentações de venda. No entanto, este benefício deve ser embasado por

cálculos, dados técnicos, referências e todos os documentos disponíveis para provar a proposta

de valor, a fim de evitar desconfiança ou receio dos clientes com relação à precisão e veracidade

das soluções apresentadas pelo vendedor.

Outro benefício de grande importância é a possibilidade de conversão dos custos fixos em custos

variáveis. Isto acontece quando uma máquina tem a sua potência consumida variável de acordo

com a produção, quando a mão-de-obra é terceirizada, quando os bens são alugados, enfim,

quando só se paga pelo que é consumido. Na crise, as expectativas para o futuro são muito

incertas, e a possibilidade de cortar tudo o que não consome ou utiliza traz ao empresário a

tranquilidade de poder reduzir imediatamente os seus custos em caso de queda abrupta das

suas vendas.

Por fim, a alta disponibilidade (no caso de equipamentos) ou qualidade (no caso de produtos) e

a credibilidade da marca são elementos que inspiram confiança e devem ser ressaltados pelo

vendedor como garantias de baixo risco para o cliente.

Foco no cliente

O vendedor deve dar um foco ainda maior à qualidade e satisfação do cliente. É necessário que

o gestor tenha a consciência de que, mais importante do que captar clientes para substituir os

que a empresa perdeu para a concorrência, é necessário conservar os clientes ativos. É no

aumento do ticket médio destes clientes que reside a maior possibilidade de venda da empresa

em meio a uma crise e são eles que irão realizar a melhor propaganda da empresa para outros

empresários. As empresas tendem a procurar mais referências antes de fecharem negócios em

época de crise, a fim de minimizar o risco, e um cliente insatisfeito pode gerar um sentimento

de desconfiança que é determinante para perder uma venda. Ao mesmo tempo, um cliente

satisfeito e um fornecimento com desdobramentos positivos é um dos argumentos mais fortes

de venda neste momento.

Pode perder-se clientes principalmente por erros no serviço e falhas na qualidade ou porque o

cliente encontrou melhores propostas a igual ou menor preço. A equipe de vendas precisa estar

alinhada com a equipe de serviços e pedir uma avaliação constante dos clientes para evitar o

primeiro problema. A segunda possibilidade pode ser evitada se o vendedor utilizar o método

de vendas orientado por processos e estudar o seu concorrente, preparando a sua

argumentação para não brigar por preço, mas sim pelo reconhecimento de valor por parte do

cliente.

4. Conclusão

Procurou-se descrever neste artigo uma metodologia de fácil compreensão e aplicação para

promover vendas Business-to-Business em épocas de crise. Tomando por base o contexto pelo

qual o Brasil está passando, considerou-se de grande relevância a elaboração de um roteiro de

boas práticas que ajude os vendedores a evitar a queda brusca no volume de vendas e

minimizar, desta forma, o impacto da crise para as empresas.

Os autores deste artigo são vendedores técnicos de máquinas em grandes multinacionais e

alunos do curso de pós-graduação em Engenharia de Vendas do IETEC. Convivendo diariamente

com as dificuldades trazidas pela crise ao setor comercial, eles buscaram aliar suas experiências

e os conhecimentos adquiridos em sala de aula para ajudar outros vendedores a superarem os

desafios da crise atual. Aqui, os autores compartilham algumas das ações que trouxeram

resultados satisfatórios quando inseridos em sua rotina de trabalho.

Buscou-se aliar técnicas consagradas, como Vendas Orientadas por Processos, Strategic Selling

e SPIN Selling, para elaborar um roteiro prático e de simples execução. Este artigo orienta sobre

a necessidade de uma boa preparação da venda, da subdivisão dos processos de negociação em

etapas, de aumentar o volume de prospecção e de definir o cliente ideal de acordo com a

situação do mercado. Além disso, direciona o foco da argumentação e expõe a importância da

satisfação do cliente.

Espera-se que, seguindo estas orientações, os vendedores trabalhem com mais qualidade e as

empresas consigam manter um bom nível de vendas. Neste momento de instabilidade, a

movimentação do comércio Business-to-Business reaquece a economia do país, evita a falência

de empresas e forma empresas e profissionais muito mais qualificados e preparados para lidar

com as adversidades do mercado.

Referências

CORDOVEZ, Diego. “B2B, o negócio do século”. Disponível em https://viddheo.com/blog/b2b/.

Acesso em 14 de agosto de 2015.

MILLER, Robert B.; HEIMAN, Stephen E. Strategic selling. New York : Warner Books,1986.

RACKHAM, Neil. Alcançando excelência em Vendas Spin Selling. Construindo Relacionamentos

de Alto Valor para seus Clientes. 2009 – São Paulo – M. Brooks do Brasil Editora Ltda.

SANT, Tom. The Giants of Sales: What Dale Carnegie, John Patterson, Elmer Wheeler, and Joe

Girard Can Teach You About Real Sales Success. New York: Ed. Amacom, 2006.

2015

Autorização de Divulgação de Artigo Técnico

AUTORIZAÇÃO DE PUBLICAÇÃO

AUTORIZO A PUBLICAÇÃO DO ARTIGO TÉCNICO NA INTERNET, JORNAIS E

REVISTAS TÉCNICAS EDITADAS PELO IETEC.

NÃO AUTORIZO A PUBLICAÇÃO OU DIVULGAÇÃO DO ARTIGO

Belo Horizonte, ______/_______/_______

CURSO: Aperfeiçoamento em Engenharia de Vendas

SEMESTRE/ANO: 02/2015

TÍTULO DO ARTIGO: Como realizar vendas Business-to-Business (B2B) em épocas de crise

NOME DO(S) AUTOR(ES) (LEGÍVEL) ASSINATURA

Saulo Teixeira Simão _______________________________

Tatiana Teixeira Paiva _______________________________