como os núcleos de apoio à saúde da família...

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Revista da FONOAUDIOLOGIA • 2ª Região • nº 83 • out/nov/dez • 20093

Em junho deste ano, a composição da diretoria do CRFa. 2ª Região/SP sofreu modificações. Assumi a presi-

dência, Maria Cristina Pedro Biz é a nova Vice-presidente, Andréa Bonamigo é a nova Diretora Secretária e

Carolina Fanaro da Costa Damato está na função de Diretora Tesoureira. Os novos membros chegaram com o

objetivo de dar continuidade à execução das ações propostas na plataforma da gestão do 8º Colegiado. Por-

tanto, é com imenso prazer que escrevo este editorial, reafirmando nosso compromisso com a classe fonoaudiológica

em busca de uma Fonoaudiologia ética, competente, de qualidade e integrada.

O envelhecimento da população é um fato. Esta nova realidade demográfica demanda que

os diversos setores da sociedade reflitam sobre sua atuação na sociedade. E nós, fonoaudiólo-

gos, estamos diretamente ligados a esta população. Temos papel primordial no atendimento e

no desenvolvimento de políticas públicas que atendam às necessidades das pessoas mais ve-

lhas. Por isso, no mês em que se celebra o Dia Internacional do Idoso, a Revista da Fonoaudiologia

traz o tema em sua reportagem de capa. Além de entrevistas com profissionais atuantes na área,

temos depoimentos de especialistas que trazem à categoria um olhar especial voltado a essa

população. É preciso repensar nossa prática e até mesmo a formação dos novos profissionais,

que chegarão ao mercado para atender um número cada vez maior de idosos.

Formação, aliás, é tema de outra reportagem desta edição. A atuação na Atenção Primária

é o foco de programas como o Pró-Saúde e o Pet-Saúde, desenvolvidos em parceira entre

os Ministérios da Saúde e da Educação. No estado de São Paulo, estão disponíveis em seis

cursos de Fonoaudiologia. É preciso preparar os novos profissionais para atuar em serviços

como os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASFs).

As inovações no atendimento de pacientes provocadas pelo desenvolvimento de soft wares, inclusive com a parti-

cipação de fonoaudiólogos, também são tema de reportagem desta edição.

Gostaria de voltar a lembrar das eleições para este Conselho, que serão realizadas no dia 11 de dezembro. Desta

vez, teremos votação pela internet, o que vai facilitar e baratear a participação de todos os inscritos no CRFa. 2ª Região/

SP que estejam com suas obrigações em dia.

Boa leitura a todos!

Isabel Gonçalves

Presidente do 8º Colegiado do CrFa. 2ª região/sP

Editorial

ÍndicE

PRESIDENTEIsabel Gonçalves

VICE-PRESIDENTEMaria Cristina Pedro Biz

DIRETORA-SECRETÁRIAAndréa Bonamigo

DIRETORA-TESOUREIRACarolina Fanaro da Costa Damato

CONSELHEIROSAlexsandra Aparecida Moreira • Andrea Soares da Silva • Andrea Wander Bonamigo • Camila Carvalho Fussi • Carolina Fanaro da Costa Damato • Claudia Silva Pagotto Cassavia • Cristina Lemos Barbosa Furia • Da-niela Soares de Queiroz • Gisele Gotardi de Oliveira • Isabel Gonçalves • Lica Arakawa Sugueno • Lilian Cristina Cotrim Ferraz • Maria Cristina Pedro Biz • Monica Bevilacqua • Nadia Vilela • Renata Cristina Dias da

Silva • Renata Strobilius • Yalís Maria Folmer-Johnson Pontes

DELEGACIA DA BAIXADA SANTISTARua Joaquim Távora, 93 – cj. 15 – Vila Matias

CEP 11075-300 – Santos/SPFone: (13) 3221-4647 – Fax: (13) 3224-4908

[email protected]

DELEGACIA DE MARÍLIA Rua Paes Leme, 47 – 5º andar – sala 51 – Centro

CEP 17500-150 – Marília/SPFone/Fax: (14) 3413-6417

[email protected]

DELEGACIA DE RIBEIRÃO PRETORua Bernardino de Campos, 1001 – 13º andar – cj. 1303

CEP 14015-130 – Ribeirão Preto/SP Fone: (16) 3632-2555 – Fax: (16) 3941-4220

[email protected]

DEPARTAMENTOSCONTABILIDADE [email protected]ÇÃO [email protected]. PESSOAL [email protected]ÍDICO [email protected]ÇÃO E FISC. [email protected]ÇÃO [email protected]/TESOURARIA [email protected] [email protected]ÃO [email protected]

COMISSÕESAudiologia • Divulgação • Educação • Ética • Legislação e Normas • Licitação • Orientação e Fiscalização • Saúde • Tomada de Contas

COMISSÃO DE DIVULGAÇÃOCarolina Fanaro da Costa Damato – Presidente

Andrea Soares da SilvaLilian Cristina Cotrim Ferraz

Nadia Vilela

JORNALISTA RESPONSÁVELSérgio de Castro Rodrigues (MTb 23.903)

PRODUÇÃO EDITORIAL E GRÁFICACapa - Cláudia Barrientos

Diagramação: Alexandre BarrosVIANEWS Comunicação Integrada

REDAÇÃOConexão Nacional

(11) 3151-5516 e 3151-5752wwww.conexaonacional.com.br

[email protected] e edição:

Luísa de Oliveira • Sérgio de Castro RodriguesIMPRESSÃO

Prol Editora GráficaTIRAGEM

12.200 exemplares

Conselho Regional de Fonoaudiologia 2ª Região/SPRua Dona Germaine Burchard, 331 – Água Branca

CEP 05002-061 – São Paulo/SPFone/Fax: (11) 3873-3788 – www.fonosp.org.br

Envio de artigos, sugestões ou reclamações: [email protected]

As opiniões emitidas em textos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores. a reprodução de textos

desta edição é permitida, exclusivamente para uso editorial, desde que claramente identificada a fonte. Textos assinados e fotos com crédito identificado somente podem ser repro-

duzidos com autorização por escrito, de seus autores.

Conselho Regional de Fonoaudiologia2ª Região8º Colegiado CRFa. 2ª Região/SP terá eleições via Internet

Além de facilitar a participação, processo reduzirá gastos dos profissionais inscritos

Pelo envelhecimento ativo das pessoasFonoaudiologia tem papel importante no atendimento e na elaboração de políticas públicas voltadas a essa parcela cada vez maior da população

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Histórias de Prática Fonoaudiológica A partir desta edição, a Revista da Fonoaudiologia traz a experiência de profissionais da área que atuam nos Núcleos

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Softwares tornam-se importantes ferramentas para auxiliar no processo terapêutico

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Cartas31

Notas27

20 Ministérios da Saúde e da Educação disponibilizam programas de formação Atuação na Atenção Primária é principal foco do Pró-Saúde, criado para integrar ensino e serviço

Revista da FONOAUDIOLOGIA • 2ª Região • nº 83 • out/nov/dez • 20095

As eleições para a escolha do 9º Colegiado do Conselho Re­gional de Fonoaudiologia 2ª Região/SP serão realizadas via

internet. Esta é a primeira vez que este CRFa se utiliza da rede para escolher seus novos conselheiros. O processo eleitoral ele trônico terá início à 00:00 hora do dia 10 de dezembro de 2009, e finalizará às 18:00 horas do dia 11 de dezembro. Serão 42 horas ininterruptas no ar para receber o voto de todos profissionais do estado. A chapa eleita assume o comando da autarquia em abril de 2010 e terá um mandato de três anos.

“As principais razões para a mudança são, sem dúvida, os benefícios diretos que este meio eleitoral proporcionará para todos os inscritos”, explica o gerente do CRFa.2ª Região/SP, Fernando Augusto Pinto. Segundo ele, o primeiro benefício é o da comodidade de poder votar pela internet em casa ou no local de trabalho, na hora em que o fonoaudiólogo preferir – desde que seja, é claro, dentro da janela de tempo da eleição. Outro benefício, continua ele, é pecuniário. Na maneira tradicional, os inscritos arcariam com as

despesas do envio dos respectivos votos pelo Correio e o custo sairia em torno de seis reais para cada eleitor. “Mesmo sendo mais caro para o Conselho em função da Empresa de auditoria contratada para garantir a integridade do pleito, o meio eletrônico possibilita um custo total mais baixo do que o meio postal, por conta desse benefício para os profissionais ins­critos”, calcula o gerente.

Todos os fonoaudiólogos receberão pelo correio uma senha individual para a votação. Pa ra garantir a segurança do processo, o número deverá ser validado no site especialmente desenvolvido para este fim, antes das eleições. Só depois poderão votar. Para ter acesso à eleição, basta ter acesso à internet.

O voto é obrigatório para todos os profissionais, tenham inscrição definitiva ou provisória. Quem deixar de votar está sujeito ao recebimento de multa. O profissional que tiver débitos pendentes não poderá votar e estará sujeito a re­ceber, ainda, a multa eleitoral. Portanto, essa é uma excelente oportunidade para aproveitar a negociação de débitos que o CRFa. 2ª Região/SP oferece e acertar a

situação. Leia nesta página Resolução do Conselho Federal sobre o assunto.

A eleição pela internet terá as mesmas regras dos outros anos. Não haverá voto direcionado a pessoas isoladamente. O eleitor deverá escolher uma das chapas concorrentes.

Para garantir a idoneidade das elei­ções, o Conselho contratará uma em­pre sa es pecializada em auditoria que terá acesso a todos os aspectos necessários, desde a infra­estrutura de hardware, tamanho da banda de internet e auditoria de software, até o monitoramento dos dados durante a votação.

O Conselho Regional de Fonoaudio­lo gia 2ª Região ­ São Paulo, assim como o Conselho Federal, foi criado pela Lei nº 6965/81, que regulamentou a pro fis são de fonoaudiólogo. Foi criado com o objetivo de registrar, fiscalizar e orientar seus pro­fissionais quanto ao exercício legal e éti­co da profissão, entre outras atribuições vol tadas à área da Fonoaudiologia. A par­ticipação dos inscritos é fundamental para o sucesso deste trabalho. Com abrangência no Estado de São Paulo, o CRFa. 2ª Região/SP tem sua sede na capital e conta ainda com as Delegacias de Marília, de Ribeirão Preto e da Baixada Santista.

CRFa. 2ª Região/SP terá eleições via InternetAlém de facilitar a participação, processo reduzirá

gastos dos profissionais inscritos

Em dia

Resolução CFFa nº 370, de 11 de agosto de 2009

Dispõe sobre prazos para regularização financeira e inscrição profissional para exer-cer o direito de voto nas eleições dos Conselhos Regionais de Fonoaudiologia, e dá outras providências.

A presidente do Conselho Federal de Fonoaudiologia, ad referendum do Plenário e no uso de suas atribuições legais e regimentais;

Considerando o disposto nos incisos II e VII do artigo 10 da Lei nº 6.965/1981;Considerando a necessidade de fixar prazos para garantir o direito de voto, nas elei-

ções dos Conselhos Regionais de Fonoaudiologia, aos profissionais fonoaudiólogos;Considerando o disposto no artigo 109 do Regulamento Eleitoral, aprovado através

da Resolução CFFa nº 360, de 07 de dezembro de 2008,

RESOLVE:Art. 1º - Definir os seguintes prazos para regularização financeira e inscrição pro-

fissional para o exercício do direito de voto nas eleições dos Conselhos Regionais de Fonoaudiologia:

I - Até 60 (sessenta) dias antes da eleição, a contar da data do deferimento da inscri-ção profissional no Conselho Regional de Fonoaudiologia, estando o profissional sujeito a sanções administrativas caso deixe de votar.

II - Até 10 (dez) dias antes da eleição para regularização da situação financeira perante o Conselho Regional de Fonoaudiologia, sendo considerado apto a votar o profissional que estiver em parcelamento dos débitos.

Art. 2º - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Leila Coelho Nagib - Presidente do CFFa

Para poder votarO voto é obrigatório para todos os

profissionais inscritos. Verifique se você está em dia com suas obriga-ções financeiras junto ao Conselho e se seus dados cadastrais estão atua-lizados. Caso seja necessário alterar algo, entre em contato com os seto-res de registro e/ou tesouraria do CRFa. 2ª Região/SP o mais breve possível pelo telefone 11-3873-3788 ou pelo e-mail [email protected]. O Conselho está de portas abertas para parcelamentos de débitos de pessoas físicas, a partir de 100 re-ais. Basta procurar a tesouraria, par-celar e votar.

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rEportagEm dE capa

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Em 1o de outubro, o mundo celebrou o Dia Internacional do Idoso. A data é oportuna para reforçar uma reflexão cada vez mais necessária. Qual a si-tuação do idoso brasileiro? Afinal, o que a Fonoaudiologia pode fazer por esta população? “Como revela Renato Veras, acordamos de um dia para o outro num país jovem de cabelos brancos”, comenta a fonoaudióloga Sandra Regina Gomes, citando o médico carioca, Doutor em Epidemio-

logia do Envelhecimento e autor de vários trabalhos na área. “Somos responsáveis pela construção de políticas públicas para esse segmento, e nós, como fonoaudiólo-gos, devemos participar e acompanhar a execução técnica das ações desenvolvidas”, continua Sandra, que acaba de assumir o posto de consultora do Programa das Na-ções Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), na Secretaria Especial dos Direitos Humanos, em Brasília. Lá, ela vai pesquisar os indicadores sociais para a elaboração da Agenda Social do Idoso.

Estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) dão conta de que, em 2050, haverá mais de dois bilhões de idosos em todo o planeta. Calcula-se que por volta de 80% deles estarão em países como o Brasil. Os dados já apontam esse rumo. “O número de idosos no estado de São Paulo tem aumentado de modo acelerado”, comenta Áurea Soares Barroso, Mestre em Gerontologia e Doutora em Servi-ço Social pela PUC-SP e coordenadora do Futuridade, programa da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social do estado, até setembro deste ano, quando deixou o cargo para voltar à Universidade.

Pelo envelhecimento ativo das pessoas

Fonoaudiologia tem papel importante no atendimento e na elaboração de políticas públicas voltadas a essa

parcela cada vez maior da população

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“Envelhecimento ativo é o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança de forma a promover qualidade de vida à medida que se envelhece.”

Organização Mundial da Saúde

Revista da FONOAUDIOLOGIA • 2ª Região • nº 83 • out/nov/dez • 2009

Com o aumento da expectativa de vida ­ em 1943, era de 45 anos e hoje se espera que o paulista viva mais de 72 anos ­ e a queda na taxa de fecundidade ­ de seis em 1975, caiu para atuais 1,8 fi­lho por mulher ­ o perfil da população se altera rapidamente. Em 1990, São Paulo somava 2,3 milhões de idosos. Em 2008, saltou para 4,3 milhões. Segundo as pro­jeções, teremos 7,1 milhões de paulistas idosos em 2020 ­ o equivalente à soma do número de habitantes, hoje, das cida­des de Campinas e Rio de Janeiro.

“É preocupante o aumento da po­pulação idosa brasileira, que hoje repre­senta o segmento que mais cresce no país”, analisa Sandra Gomes. Mestranda em Gerontologia pela PUC­SP, Sandra tem mais de 20 anos de carreira dedi­cados ao atendimento ou à elaboração de ações em prol da população idosa. Esse trabalho fez com que fosse uma das profissionais indicadas para o Prêmio Destaque da Fonoaudiologia 2008, do Conselho Regional de Fonoaudiologia, instituído para premiar aqueles que re­alizam trabalhos inovadores na área de políticas públicas ou voltados à abertura de mercado de trabalho. Seu trabalho é justificado: “O país que não estiver se preparando para garantir qualidade de vida aos idosos, está na contramão em relação à promoção de um envelheci­mento saudável e ativo”, alerta.

O Brasil, segundo a fonoaudióloga, está caminhando. A aprovação da Polí­tica Nacional do Idoso (PNI) e criação da Política Nacional de Saúde do Idoso,

rEportagEm dE capa

Um índice para o idoso paulistaFerramenta possibilita planejar ações para o segmento

em todos os municípios do estado

Entre as atividades do Plano Estadual para a Pessoa Idosa, coordenado pela Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social (SEADS) do estado de São Paulo, está o Índice Futuridade, ferramenta que possibilita ao gestor público identificar, monitorar e planejar ações específicas para o segmento idoso em cada um dos 645 municípios paulistas. Desta forma, permite às administrações municipais identificarem seus pontos fortes e seus problemas.

O Índice Futuridade fundamenta-se no conceito de envelhecimento ativo da Organização Mundial da Saúde. Para elaborar a ferramenta, os técnicos da SEADS receberam assessoria da Fundação SEADE. O índice foi validado pela ONU-UNFPA - Fundo de População das Nações Unidas no Brasil.

Para se chegar ao valor do índice, são levados em conta três aspectos. O primeiro é referente às Ações de Proteção Social Básica e Especial destinadas à pessoa idosa e sua família por meio das redes de Proteção Social Básica e de Proteção Especial de Média e Alta Complexidade. O segundo considera a Participação, ou seja, a existência de Conselho Municipal da Pessoa Idosa, que expressa a representação institucional dessa população, e a oferta de atividades socioculturais. O terceiro aspecto sintetiza as Condições de Saúde da Pessoa Idosa por meio da taxa de mortalidade de pessoas entre 60 e 69 anos e da proporção de óbitos de 60 a 69, no total de óbitos de 60 anos e mais.

O Índice é resultado da média ponderada de três dimensões: proteção, com peso de 45%; participação, com peso de 10%; e saúde, com peso de 45%. Varia de zero a cem e, quanto mais próximo de 100, melhor é a atuação do município com relação às políticas direcionadas à população idosa.

Para conhecer os resultados obtidos pelos municípios, acesse o site da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo (www.desenvolvimentosocial.sp.gov.br) e entre em Futuridade.

em 1994, assim como a promulgação do Estatuto do Idoso em 2003, que define princípios, diretrizes e competências em todas as áreas, mostra o que San­dra considera um “avanço significativo”. Mas ainda é pouco. “Falta muita coisa”, reconhece. “Há a necessidade de ações interdisciplinares, interssecretariais e in­

tergeracionais, que desenvolvam ações de valorização da pessoa idosa”, analisa Sandra. “Para que a convergência entre as ações aconteça é importante a ela­boração de uma agenda comum entre governo, sociedade civil, organizações não governamentais, conselhos de clas­se, universidades e profissionais de dife­rentes áreas”, completa.

Sandra não tem dúvidas da impor­tância da atuação dos profissionais da Fonoaudiologia nesta agenda. “É im­por tantíssimo o papel do fonoaudiólo­go nas ações que envolvem a popu­lação idosa. Todos os aspectos que en volvem a comunicação humana, voz, linguagem, fala e audição são fundamen­tais na garantia dos direitos do idoso. E o compromisso da Fonoaudiologia na manutenção, reabilitação, estimulação e prevenção neste âmbito favorece a par­ticipação social desse idoso”, define.

A carreira de Sandra é um exemplo

“Somos responsáveis pela construção de políticas públicas para esse segmento, e nós, como fonoaudiólogos, devemos participar e acompanhar a execução técnica das ações desenvolvidas”Sandra Regina Gomes, consultora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), na Secretaria Especial dos Direitos Humanos

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A Vila Clementino, onde fica localizado o campus paulistano da Unifesp, na zona sul da capital, é a primeira região de São Paulo a tornar-se Amiga do Idoso. No dia 4 de agosto, a universidade hospedou o Seminário sobre Envelhecimento Ativo e Iniciativas Amigas da Pessoa Idosa, ocasião do lançamento do projeto que envolve a instituição de ensino, a Prefeitura e representantes da sociedade civil.

A lei municipal que cria o Programa de Envelhecimento Ativo na cidade, assinada em fevereiro deste ano, abriu as portas para o lançamento do projeto. “O Bairro Amigo do Idoso está sendo construído com base na metodologia Cidade Amiga do Idoso da Organização Mundial da Saúde”, explica Áurea Soares Barroso, Mestre em Gerontologia e Doutora em Serviço Social pela PUC-SP e coordenadora do Futuridade, programa da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social do estado, até o mês de setembro.

O projeto Cidade Amiga do Idoso partiu de um projeto piloto realizado em 2005 em Copacabana, no Rio de Janeiro. Depois de receber o protocolo definitivo em um encontro realizado em Vancouver, no Canadá, no ano seguinte, foi exportado para 35 cidades de diversos países do mundo. A OMS e seus parceiros pediram aos idosos que apontassem os aspectos positivos e os obstáculos que encontram na cidade em que vivem. Da pesquisa, nasceu o Guia das Cidades Amigas do Idoso, que trata de oito temas: habitação, transporte, participação social, respeito e inclusão social, participação cívica e emprego, comunicação e informação, acesso a serviços de saúde e suporte comunitário e serviços sociais.

Um detalhe importante do projeto, que vem sendo implantado em um número crescente de cidades do mundo inteiro, é a mescla das informações dadas pelos próprios idosos sobre seus problemas e soluções – o idoso é, finalmente, porta-voz de suas necessidades – e da participação do poder público, que possui os meios de fazer com que as decisões sejam postas em prática.

A filosofia na qual se baseiam as iniciativas que levam o selo Amigo do Idoso tem como premissa a definição da OMS para o Envelhecimento Ativo: “O processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança de forma a promover qualidade de vida à medida que de envelhece.” O primeiro item, a Saúde, é fundamental para que não haja exclusão e garante o segundo, a participação. Tudo, é claro, com segurança, garantindo proteção e suporte aos mais vulneráveis.

De todo esse trabalho, podem sair soluções simples à primeira vista, como instalação de semáforos que permitam uma travessia das ruas de forma segura e em tempo humanamente possível, e projetos mais trabalhosos, como a reforma de calçadas, instalação de rampas e até mesmo o treinamento de sensibilização de trabalhadores da área de serviços, como motoristas de ônibus, funcionários de prédios e recepcionistas de empresas. “Uma cidade inclusiva deve aprender a tratar o idoso como um cidadão, inserindo-o na comunidade e na economia”, comentou, durante o lançamento na Unifesp, o médico e pesquisador em Saúde Pública, Alexandre Kalache, coordenador do Programa de Envelhecimento Global da Organização Mundial da Saúde (OMS) na época da criação do projeto.

Outro importante projeto da OMS visa a Atenção Primária à Saúde, projeto que pretende levar aos profissionais de saúde da comunidade onde vive o idoso o conhecimento e o treinamento para lidar com esse segmento da população. Um manual sobre o tema pode ser acessado no site da OMS. A publicação aborda os quatro itens principais a serem considerados nesse trabalho: a atitude da equipe (conscientizar o time sobre a maneira de atender o idoso), o entorno (facilitar o acesso ao local), informação (fazer com que o idoso seja um agente ativo de sua saúde) e habilidades e conhecimento (capacitar todos os integrantes da equipe para lidar com os idosos).

interessante de como o fonoaudiólogo pode encontrar espaços para atuar pela promoção do envelhecimento ativo da população. Durante seis anos, ela foi Coordenadora da Proteção Social para Idosos da Secretaria Municipal de Assis­tência e Desenvolvimento Social. Criou e coordenou a Rede de Proteção So­cial para Idosos; foi a responsável pela implantação do Centro de Referência da Cidadania do Idoso, com o objetivo principal de informar a população ido­sa dos seus direitos e benefícios, além de se constituir num pólo irradiador de conhecimentos gerontológicos e de experiências bem sucedidas, com aten­dimento de dez mil idosos por mês.

Sandra também atuou na criação de abrigos especiais para idosos em situa­ção de rua e na implementação de Nú­cleos de Convivência para idosos, entre várias outras ações.

A formação como fonoaudióloga foi fundamental para este trabalho e também para a participação que teve em vários projetos com empresas par­ceiras. Entre eles, está a adaptação para o Brasil do Guia de Prevenção de Acidentes Domésticos, lançado por uma seguradora. Na publicação voltada aos idosos, há espaço reservado para a audição e o equilíbrio, temas fun­damentais para se evitar o problema das quedas de idosos. “A maior parte

das quedas é causada por labirintite e está diretamente ligada a nós”, alerta Sandra. Por isso mesmo, o equilíbrio é tema tratado em um Parecer elabo­rado pelo CRFa. 2a Região/SP e apro­vado em agosto. O documento trata das competências do fonoaudiólogo na avaliação e na reabilitação vestibular da população (leia mais sobre o documento na página 27).

É imprescindível a atuação do fono­audiólogo na prevenção e na reabilita­ção dos pacientes que sofrem de labi­rintite junto com outros profissionais de saúde. Aliás, o atendimento do idoso necessita de um trabalho que envolva várias áreas de conhecimento. “Não há

São Paulo começa a se tornar uma Cidade Amiga do Idoso

Revista da FONOAUDIOLOGIA • 2ª Região • nº 83 • out/nov/dez • 2009

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como evitar. Para atender essa popula­ção, é importante que haja uma visão múltipla, multidisciplinar. Ninguém dá conta sozinho”, comenta a nutricionista Myriam Najas, docente da UNIFESP e presidente do Departamento de Ge­rontologia da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). Por isso mesmo, a Sociedade teve a iniciativa de elaborar o I Consenso de Nutrição e Disfagia, que está sendo redigido com a participação de médicos, nutricionis­tas e fonoaudiólogos que trabalham em hospitais das regiões Nordeste, Centro­Oeste, Sul e Sudeste do País. O docu­mento irá definir medidas importantes a serem tomadas na triagem, no diag­nóstico, no tratamento e na orientação de alta hospitalar para pacientes ido­sos com disfagia. “Queremos chamar a atenção para um assunto que sabemos que causa a morte de muitos idosos ­ a pneunomia aspirativa”, explica Myriam. O Consenso tem lançamento previsto para 2010 e será distribuído a todos os hospitais do País.

Myrian lembra que a Fonoaudio­logia, em todas as suas áreas, é de extrema importância no atendimento dos idosos. “Sem ela, não é possível fazer a prevenção de um problema im­portante como a disfagia, ou da perda auditiva, que faz com que os idosos fiquem cada vez mais isolados na pró­pria família”, ressalta ela, que lembra a importância de um bom atendimento fonoaudiológico também para evitar problemas alimentares. A represen­tante da SBGG ressalta a importância do trabalho com a linguagem. “Este é um papel que a Fonoaudiologia precisa consolidar melhor dentro das equipes multidisciplinares”, comenta.

CidadaniaUm importante trabalho que prevê a atuação multidisciplinar é o Futuridade. Criado no ano passado, ele une o go­verno a parceiros importantes, como Prefeitura de São Paulo, OAB­SP, Mi­nistério Público Estadual, Conselhos de Idosos, Universidades e entidades como o CRFa. 2a Região/SP. “Antes da Constituição Federal de 1988, as ques­tões relativas aos idosos eram tratadas no plano caritativo”, lembra Áurea Bar­roso, coordenadora do Futuridade, até

setembro. “Só depois passaram a ser compreendidas na perspectiva da cida­dania”, continua. A partir daí, nasceram a Política Nacional do Idoso (1994), o Estatuto do Idoso (2003) e a Política Estadual do Idoso de São Paulo (2007). “Neste contexto, surgiram iniciativas públicas voltadas a atender as disposi­ções previstas nestas legislações e uma delas é o Futuridade”, explica.

A coordenadora cita os principais objetivos do Plano: a criação de cam­panhas educativas que deem visibili­dade ao acelerado processo de enve­lhecimento e a reflexão crítica sobre a imagem social da velhice; a sensibiliza­ção de governos e sociedade sobre a importância das redes de proteção e defesa dos direitos da pessoa idosa; e a formação permanente de profissio­nais que atuam junto à população idosa com foco nas múltiplas dimensões do envelhecimento humano.

Ela ressalta três importantes ati­vidades do Plano: O Programa Expe­riente Cidadão, que propicia ativida­des no Metrô e na CPTM para idosos independentes com baixos recursos econômicos; o Programa Vila Dig­nidade, que prevê a construção de

condomínios horizontais para idosos independentes que ganhem até dois salários mínimos; e a definição de um manual que defina padrões de aten­dimento, gestão e operacionalização de Instituições de Longa Permanência para idosos, com o auxílio de estudio­sos e especialistas em envelhecimento.

No que se refere ao envelhecimen­to, o Brasil tem suas peculiaridades e demanda ações em diversas áreas. “O fenômeno da longevidade chegou antes que nosso país tivesse resolvido seus problemas sociais”, diagnostica Áurea. “Portanto, os negros, as crianças, os índios e agora os idosos estão lutan­do por melhores condições de vida. Assim, o maior desafio do Futuridade é assegurar melhor qualidade de vida para este enorme contingente popula­cional”, define.

Desafio que conta, também, com a participação da Fonoaudiologia. “Os profissionais da área têm contribuído muito na definição e implementa­ção de ações no Plano Estadual para a Pessoa Idosa e também no âmbito federal. Recentemente, aconteceu a Segunda Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa em Brasília e as representantes do Conselho de São Paulo participaram ativamente ajudan­do a pensar as diretrizes para a política nacional de direitos da pessoa idosa”, lembra Áurea. “Também organizamos junto com o CRFa./SP uma Campanha de prevenção de quedas de idosos na qual contamos com 82 parceiros”, continua. A parceria voltou à ativa no início deste mês, com participação o CRFa. 2a Região nos eventos da Sema­na do Idoso. Outra importante ação do Conselho em prol da situação do idoso se deu no VII Colóquio Estadual de Políticas Públicas em Direitos Hu­manos, realizado em agosto, que reu­niu representantes de diversos setores para debater o “Programa Estadual de Direitos Humanos: População Idosa”, ainda em elaboração.

A coordenadora do Futuridade tam ­bém cita outras maneiras de os fonoau­diólogos atuarem, independentemente das ações do Conselho. Ela frisa a par­ticipação de Sandra Gomes na redação do texto sobre assistência social, que será publicado em alguns livros desti­

“Não há como evitar. Para atender essa população, é importante que haja uma visão múltipla, multidisciplinar. Ninguém dá conta sozinho”Myriam Najas, docente da UNIFESP e presidente do Departamento de Gerontologia da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG)

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nados à formação de profissionais que trabalham com idosos no estado. O trabalho, uma parceria da SEADS com a TV Cultura, é mais um exemplo de como a Fonoaudiologia tem um amplo espaço a ocupar na elaboração e na im­plantação de políticas que garantam o envelhecimento ativo da população. “A atuação não tem limites”, conta Sandra Gomes. “Consegui esse espaço na As­sistência Social e agora estou nos Direi­tos Humanos”, comenta ela.

Para Sandra, o papel do fonoau­diólogo nesse contexto é enorme. Desde a atuação clínica na prevenção dos problemas e no atendimento dos quadros patológicos, até a elaboração de políticas. “Nosso papel como pro­fissional de reabilitação e saúde deve estar inserido em vários contextos”, indica Sandra. Para ela, o envelheci­mento é um tema recente e deve ser abordado por profissionais de todas as áreas de conhecimento. “O fono­audiólogo é um profissional que tem de estar inserido em todas as mesas de construção de políticas públicas, e com todos os seus pares”, conclui.

Para saber maisOs interessados em aprofundar seus conhecimentos sobre envelhecimento ativo podem encontrar diversos sites na internet que abordam temas ligados à questão:

n Guia Cidade Amiga do Idoso – OMShttp://www.who.int/ageing/GuiaAFCPortuguese.pdf

http://www.saude.sp.gov.br/resources/profissional/acesso_rapido/gtae/saude_pessoa_idosa/cidades_amiga_do_idoso_oms.pdf

n Guia de Atenção Primária – OMShttp://www.who.int/ageing/publications/upcoming_publications/en/index.html n Cadernos de Atenção Básica – Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa – Ministério da Saúdehttp://dtr2004.saude.gov.br/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad19.pdf

n Secretaria Estadual da Saúdehttp://www.saude.sp.gov.br/content/gtae_saude_pessoa_idosa.mmp

n Organização Mundial da Saúdehttp://www.who.int/ageing/en/

n Organização das Nações Unidashttp://www.un.org/esa/socdev/ageing/

n Portal do Envelhecimentohttp://www.portaldoenvelhecimento.net/principal/principal.htm

n Futuridadehttp://www.desenvolvimentosocial.sp.gov.br/portal.php/futuridade_apresentacao

Revista da FONOAUDIOLOGIA • 2ª Região • nº 83 • out/nov/dez • 2009

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O médico carioca Alexandre Kalache coordenou o Pro­grama de Envelhecimento Global da Organização

Mundial da Saúde (OMS) por 14 anos. Pesquisador em Saúde Pública, desde os anos 70 estuda o envelhecimento. Quando o foco das pesquisas e das polí­ticas públicas centrava­se principalmente na população jovem, ele já vislumbrava a necessidade de todos os países, inclusi­ve aqueles em desenvolvimento, como o Brasil, iniciarem trabalhos voltados à qualidade de vida das pessoas idosas.

Hoje, Kalache é assessor para en­velhecimento global da presidência da Academia de Medicina de Nova York e presta consultoria sobre o assunto em vários países. Incansável, trabalha para conscientizar e sensibilizar a sociedade e o poder público para a necessidade de promover ações efetivas que garan­tam o envelhecimento ativo. Segundo ele, não há como evitar a questão. Kala­che vai direto ao ponto: “Goste ou não do idoso, você vai acabar tendo de lidar com ele. E não me refiro apenas aos profissionais de saúde. Todo mundo vai lidar com o idoso”, alerta.

O médico avisa que é preciso se livrar de preconceitos e se preparar para atender pacientes que vivem uma realidade muitas vezes bem diferente daquela imaginada nos bancos da fa­culdade. “Os profissionais acham que vão tratar jovens e crianças, mas irão atender velhinhos”, ressalta ele. Kalache aponta que o atendimento dos idosos não é restrito aos geriatras. Pelo con­trário, faz parte do dia­a­dia de todos os profissionais de saúde, que terão de aprender a lidar com essa população.

Em agosto, o médico esteve em São Paulo para participar do Seminário sobre Envelhecimento Ativo e Iniciati­vas Amigas da Pessoa Idosa, realizado na Unifesp. Na ocasião, foi lançado o projeto Vila Clementino Bairro Amigo da Pessoa Idosa, mais um fruto da me­todologia Cidade Amiga do Idoso, cria­

da por ele e por sua equipe enquanto estava na OMS (leia mais sobre o méto-do na pagina 9). Também realizou uma oficina sobre o assunto com profissio­nais de saúde de diversas cidades do estado. Durante sua visita a São Paulo, Kalache conversou com a Revista da Fonoaudiologia.

Os dados revelam o envelhecimento da população. Os profissionais de saú-de estão preparados para lidar essa nova realidade?

Eles não estão preparados para tra­balhar com o idoso. Quando me formei em Medicina, nos anos 70, eu não havia recebido nenhum treinamento sobre envelhecimento. Não me lembro de ouvir a palavra geriatria. Atendíamos idosos na enfermaria, mas eles não eram tratados de uma forma diferente. E há muitas diferenças. Por exemplo, depois de certa idade, o paciente não sente dor quando tem um infarto. Ou­tro exemplo é o padrão da posologia das medicações. É feito para o homem atleta, mas, na verdade, o profissional vai tratar um velhinho.

O senhor acha que acontece o mesmo com a Fonoaudiologia?

Na área da Fonoaudiologia, você tem de saber a patologia de base, o porquê, por exemplo, de aquela pessoa estar ficando surda. O normal do idoso é ser saudável. Muitas vezes, atribuímos a doença ao fato de a pessoa estar en­velhecendo e não investigamos o que há, se o processo pode ser reversível. A doença mais comum nos idosos é a iatrogenia, o surgimento das doenças provocadas pela intervenção médica.

“Goste ou não do idoso, você vai acabar tendo de lidar com ele”

Alexandre Kalache, ex- coordenador do Programa de Envelhecimento

Global da OMS, alerta para a nova realidade do atendimento em saúde

“O atendimento dos idosos não é restrito aos geriatras. Pelo contrário, faz parte do dia-a-dia de todos os profissionais de saúde, que terão de aprender a lidar com essa população”

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Como solucionar a falta de preparo?As universidades vão ter de prepa­

rar os profissionais de saúde. Desde o Ministro, o Reitor, o decano, todos te­rão de estar sensibilizados. Todos te­rão de perceber que o destino deles, individualmente e como sociedade, é o envelhecimento. Temos de nos sen­sibilizar para uma cultura menos pre­conceituosa. As pessoas não se dão conta de que a falta de ação se dá por uma mescla de ignorância e preconcei­to. Elas não veem o que está na frente. Não lidam bem com o próprio enve­lhecimento. Há mais de dois anos tive uma reunião com o Haddad (Fernando Haddad, Ministro da Educação) para rever o currículo dos profissionais de saúde. Ele está sensibilizado, mas nada foi feito ainda. É preciso transformar em prática aquilo em que a gente acredita. É preciso criar uma comissão que reveja os currículos. E não só os da Saúde, mas os de outras áreas tam­bém, como a Arquitetura.

Mas enquanto o currículo não muda, o que deve ser feito?

Em 2001, fui a um encontro da Fe­deração Internacional dos Estudantes de Medicina no México e conversei com os alunos. Falei que eles não es­tavam sendo bem formados. Os estu­dantes da área da Saúde acham que vão atender pacientes jovens e bonitos, mas a clientela deles será de velhos do­entes. Vão se formar e se frustrar, pois estão esperando uma coisa e irão en­contrar outra. Desse encontro, surgiu um projeto que fizemos entre 2001 e 2004. Coletamos dados e vimos que, na média dos países, para uma hora de treinamento voltada ao envelhecimen­to, havia 80 horas voltadas ao atendi­mento infanto­juvenil. E esses jovens foram agentes de mudança. Iniciaram um lobby e diversos países, como Es­lovênia, Irlanda e Espanha tiveram seu currículo totalmente modificado.

Mas isso também pode demorar. En-quanto isso, o que os profissionais de-vem fazer?

Simplesmente fazer a demanda de cursos de atualização. Existe gente com treinamento, que sabe mexer. Por isso o geriatra é tão importante. Ele detém

o conhecimento e pode treinar os ou­tros. Temos a obrigação de exigir, de criar a demanda de cursos e de cobrar das Sociedades e das Associações de sua área de formação. Há a percepção coletiva de que há uma necessidade ur­gente de mudança.

Como o senhor vê a Fonoaudiologia nesse processo?

Estou com déficit de audição no ouvido direito. O médico me disse: “Na usa idade...” Mas eu queria uma explicação. Até podia ser a idade, mas não é. Eu queria uma explicação que não fosse só isso. Os profissionais não podem atribuir ao envelhecimento coi­sas que podem diagnosticar. Por causa da ignorância, muitas vezes atribuem a

doença ao envelhecimento. Há muitos casos de pessoas mais velhas taxadas de dementes que, na verdade, não es­tão ouvindo, têm um diagnóstico de surdez. A pessoa está surda, não está ligada e vai se isolando. O estigma é outra questão com a qual a Fonoau­diologia tem de lidar. As pessoas têm vergonha de usar um aparelho auditi­vo. Compram e não usam. Preferem ficar isoladas. O fonoaudiólogo pode ajudar essa pessoa se olhar para isso. A gente precisa de profissionais de saúde mais sensibilizados para o enve­lhecimento de uma perspectiva holís­tica. O profissional não está diante de um órgão, mas de uma pessoa. E, para isso, é preciso estar treinado.

Como tratar os idosos? Muitos co-mentam que há uma infantilização no atendimento. O senhor concorda?

Essa é uma síndrome clássica. É como no atendimento do deficiente.

O profissional vai lá e pergunta para o acompanhante: “Ele toma café?”. Não conversa com o próprio paciente. E o profissional faz isso com a melhor das intenções. Existe a síndrome da infan­tilização por que as pessoas não estão abertas para perceber que aquele in­divíduo está velho, não é um imbecil. Para muito idosos, isso é muito impor­tante, pois ele perde sua identidade. Principalmente os homens. A questão da identidade é muito importante. Na Rússia, a expectativa de vida dos ho­mens caiu drasticamente depois do colapso do comunismo. De 71 para 58 anos. Mal ou bem, durante o comu­nismo o homem tinha uma ocupação, garantia de amparo do berço à morte. Com a derrocada, perdeu emprego, passou a viver uma situação econômi­ca muito ruim. Os homens passaram a fumar e a beber, o que sabiam fazer. Também houve um crescimento da violência – homem também sabe brigar – e aumento dos acidentes. As mulhe­res continuaram fazendo a mesma coi­sa, cuidar dos outros. A perspectiva do gênero também é muito importante. Como no caso do aparelho auditivo. A mulher pode esconder com o cabelo, o homem não.

Qual o papel dos profissionais de saú-de na elaboração de Políticas Públicas que atendam essa nova necessidade?

Faz parte da obrigação de todos os profissionais trabalhar por boas po­líticas públicas em sua área. Você não pode ficar assistindo. É preciso entrar para o Conselho de sua classe, para a Associação, e atuar. Todo profissional tem de estar antenado. Esta é uma obrigação de quem tem o conheci­mento. A sociedade te formou, te paga bem, por mais que possa haver alguma queixa. É preciso agir. Normalmen­te, é mais fácil ser passivo. Existe um ditado que cabe bem neste caso: “Se você quer que algo seja feito, peça para quem não tem tempo”.

O senhor tem algum recado para os fonoaudiólogos de São Paulo?

Aprendam a ouvir a população. Aprendam a ouvir e a ver. A população está envelhecendo, está com dificulda­des e precisa de vocês.

“A gente precisa de profissionais de saúde mais sensibilizados para o envelhecimento de uma perspectiva holística. O profissional não está diante de um órgão, mas de uma pessoa. E, para isso, é preciso estar treinado”

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A Fonoaudiologia e o Envelhecimento

Cinco renomadas profissionais da Fonoaudiologia escreveram para a Revista da Fonoaudiologia

depoimentos sobre como suas áreas – Audiologia, Linguagem, Motricidade Orofacial/Disfagia,

Voz e Saúde Coletiva – podem auxiliar no atendimento aos idosos. Todos responderam à mesma

pergunta: Como sua área pode contribuir para o envelhecimento ativo da população?

AUdIOlOgIA“Pensando exclusivamente na área de Audiologia, podemos afirmar sem medo que mergulhamos no mundo da deficiência auditiva do idoso com total segurança e consciência. Acompa­nhando a evolução da tecnologia, os aparelhos de amplificação sonora ganharam tecnologia digital, o que proporcionou me­lhores condições de adaptação. Além desses, equipamentos auxiliares de audição podem ser usados para melhorar a qua­lidade de vida do idoso, tais como: amplificadores de telefone, equipamentos para TV com alto­falantes adicionais, sistemas

de freqüência modulada, além de equipamentos de alerta, que substi­tuem o som pela pista visual ou tátil. Todavia, a adaptação destes instru­mentos deve ser realizada em pro­gramas de reabilitação auditiva que tenham como principais objetivos: maximizar a entrada sensorial, fazen­do melhor uso da amplificação e da percepção auditiva e visual da fala; maximizar o processamento cogniti­vo por meio de experiência prévia; maximizar a comunicação familiar por intermédio de aconselhamento e orientações específicas destinadas a diferentes ambientes e maximizar a comunicação interativa pelo de­senvolvimento e treinamento de es­tratégias de comunicação.

É por intermédio da implantação de programas de reabili­tação auditiva globais, que auxiliam o indivíduo idoso portador de deficiência auditiva, bem como seus familiares a lidarem com as restrições de participação e incapacidades resultantes desta deficiência, que os profissionais da área de Audiologia estão, efetivamente, contribuindo para tirá­lo do isolamento e auxiliá­lo a retornar ao mundo de comunicação verbal, impres­cindível para restaurar o seu bem estar físico, mental e social, garantindo, assim, o seu envelhecimento ativo.”

lINgUAgEm“A linguagem é uma das fun­

ções cognitivas mais resistentes ao envelhecimento, o que a torna in­teressante pilar para a manutenção da saúde e bem estar. Nessa po­pulação, extremamente heterogê­nea, encontramos sub­grupos com queixas, em geral as não linguísticas antecedendo as de linguagem, como as de memórias de curta e longa duração (memórias operacional e episódica), atenção e habilidades vi­so­espaciais. Na linguagem, entre as dificuldades mais frequentes, citam­se resgate de nomes próprios e ou­tros substantivos, compreensão de frases e textos complexos e mudan­ças no padrão discursivo conforme a natureza da tarefa.

A promoção de aspectos linguís­tico­cognitivos no idoso fundamenta­se na compensação de perdas e criação e ampliação de reserva cognitiva.

Idosos saudáveis podem recrutar suportes adicionais de atenção e memória operacional, inclusive do hemisfério não dominante, e com isso alcançar resultados semelhantes aos jo­vens na compreensão da linguagem, em situações complexas.

Por outro lado, reservas cognitivas desenvolvidas e am­pliadas ao longo da existência, constituem verdadeira “pou­pança” neuro­cognitiva a que se pode recorrer em caso de necessidade para o processamento da linguagem.

Várias atividades prestam­se à promoção de saúde lin­guístico­cognitiva: leitura e escrita de textos (jornais, revistas, livros), conversação, jogos que recrutem memória operacio­nal e atenção dividida, aprendizado de línguas estrangeiras.

Diante da perspectiva do aumento da população, a sis­tematização e formalização de propostas de promoção na área de linguagem e cognição constituem desafio para os fo­noaudiólogos.”

Iêda Chaves Pacheco RussoPresidente da Sociedade Internacional de Audiologia. Vice-Presidente da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. Professora Titular da PUCSP e da FCMSCSP.

Letícia Lessa MansurProfessora associada do Curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Professora e orientadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação da USP. Exerce atividades didáticas, de assistência e pesquisa nas áreas de Neurologia e Geriatria.

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mOtRICIdAdE OROFACIAl/dISFAgIA“Muitos idosos com 80 anos ou mais queixam­se de tos­

se, principalmente quando ingerem líquidos. A dinâmica da deglutição em adultos e idosos tem desempenho diferente da deglutição de adultos jovens. O envelhecimento pode al­terar as fases oral, faríngea e esofágica da deglutição, mas não é, isoladamente, uma causa de disfagia ­ ele pode levar

a uma maior vulnerabilidade para os distúrbios da deglutição.

Mudanças na força de propulsão da língua, na contração faríngea, na elevação do osso hióide e da laringe em direção à ponta fixa da epiglote podem causar penetração na laringe de partículas de saliva, de líquidos e de alimentos que descem até a tra­quéia e brônquios. A tosse é uma reação do organismo para que essas partículas sejam retiradas da via aé­rea. Problemas na fase esofágica da deglutição também podem provocar tosse: divertículos, disperistalse e re­fluxo gastroesofágico. Quando esses episódios se tornam muito frequentes incomodam o idoso e as pessoas de

sua convivência e podem evoluir para infecções pulmonares. O fonoaudiólogo que está preparado para atender idosos

que têm disfagia pode avaliar clinicamente e pelo videodeglu­tograma a fase da deglutição que está alterada. Se o problema estiver na fase oral e/ou faríngea poderá ser resolvido com o atendimento fonoaudiológico. Quando ocorrer somente na fase esofágica, o encaminhamento médico deverá ser feito.”

VOz“A voz acompanha o ser humano do nascimento ao úl­

timo suspiro e modifica­se ao longo da vida. Identificamos características definidas na voz do bebê, da criança, do ado­lescente, do jovem adulto, do adulto pleno e do idoso. Esti­ma­se que de 8 a 12% da população idosa perceba mudanças importantes em sua voz que podem interferir na qualidade de vida e dificultar as relações familiares, sociais e de tra­balho. O envelhecimento vocal (presbifonia) é um processo fisiológico paralelo ao que é observado em todo o corpo. As mudanças observadas não devem ser encaradas como doença e sim como alterações fisiológicas da idade. Algu­

mas vozes conservam­se bem e ou­tras mostram perda de qualidade, podendo ficar levemente instáveis, trêmulas ou rugosas. Além disso, a potência vocal pode ficar reduzida e as frases mais curtas, pela diminui­ção da capacidade vital, o que exige recarga de ar frequente durante a fala. O aparelho fonador fica menos eficiente do ponto de vista biodi­nâmico, o que pode ser percebido pelo ouvinte como falta de força, poder ou segurança; idosos mais ati­vos podem usar compensação por tensão vocal, trazendo cansaço.

A Fonoaudiologia auxilia a mini­

mizar os efeitos vocais indesejados, por meio de exercícios de condicionamento vocal. Pesquisas apontam que a musculatura do idoso apresenta sinais de atrofia e redução das fibras mus­culares, o que pode ser parcialmente modificado com treina­mento. Podem ser desenvolvidas abordagens individualizadas, particularmente para quem tem grande demanda vocal social ou profissional, além do uso de programas sistematizados, como os Exercícios de Função Vocal – EVF. Atividades como teatro e canto coral são potencialmente positivas para a voz, quando sob orientação, além do inegável valor de integração que possuem.”

SAúdE COlEtIVA “O tema do envelhecimento é, nos dias de hoje, um dos

focos de atenção de pesquisadores, gestores e trabalhado­res da saúde. Medidas e ações, tais como: Política Nacional da Pessoa Idosa (MS 1.395/1999, revisada pela portaria MS 2.528/2006); estabelecimento das Redes Estaduais de Assis­tência à Saúde do Idoso (SAS/MS 702/2002); priorização da Saúde do Idoso no Pacto da Saúde (2006), reafirmam a ne­cessidade de reflexão sobre o envelhecimento populacional. Trata­se de equacionar, entre outras problemáticas, o aumento de doen­ças crônicas, causadoras de limita­ções funcionais e de incapacidades, bem como seu impacto no volume e na aplicação de recursos.

Em artigo do Boletim do Instituto de Saúde, no 47 (abril de 2009), Lou­vison e Barros apontam dados re­centes do DATASUS: “Em São Paulo, a população idosa já atinge mais de 4 milhões de pessoas, representa mais de 10% da população e consome mais de 25% dos recursos de inter­nação hospitalar do SUS”.

Neste cenário, é um grande de­safio a produção de políticas públicas; a construção de redes de cuidado e práticas intersetoriais específicas para este grupo populacional, em busca de envelhecimento saudável e ativo.

Algumas experiências, como os Centros de Referência do Idoso, os programas de atividades físicas e de acompanhantes de idosos, têm instituído redes sociais de apoio na fronteira do campo clínico e do campo social, cumprindo importante pa­pel em termos de cuidados à saúde. Estas e outras práticas articulam atividades individuais (clínico­ambulatoriais) e cole­tivas (programas e grupos) de maneira a tratar e monitorar processos de adoecimento, ampliando as possibilidades de circulação e de participação social na velhice.”

Tereza BiltonProfessora Associada da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Doutora em Ciências Radiológicas pela Universidade Federal de São Paulo.

Mara BehlauDocente do Curso de Pós-Graduação da UNIFESP-EPM. Diretora do Centro de Estudos da Voz - CEV.

Vera MendesProfa. Doutora e Coordenadora do Aprimoramento em Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde da PUC-SP. Presidente do Departamento de Saúde Coletiva da SBFa. e pesquisadora do Laboratório de Inteligência Coletiva (LInC)

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A Comunicação como agente de empoderamento do idoso“Uma mulher de 82 anos adentrou o consultório do Dr. Mayerovitz: - Doutor, disse ela sofregamente, não estou me sentindo bem. - Sinto muito, Sra. Kupnik; algumas coisas a medicina mais avançada pode curar. Eu não tenho como torná-la mais jovem, a senhora compreende. Ela respondeu de imediato: - Doutor, quem foi que lhe pediu que me fizesse mais jovem? Tudo o que quero é que possa me fazer mais velha!” Bonder (1995, p.80)

A mudança do perfil demográfico mundial em consequência do envelhecimento populacional gera crescente demanda da população idosa por serviços de saúde. Isto leva a uma maior especificidade no atendimento a essas pessoas. Nos vários níveis de complexidade da assistência, da atenção primária à reabilitação, a operacionalização da atenção ao idoso depende da implementação de programas de capacitação de recursos humanos com vistas a instrumentalizar os profissionais de saúde para a prevenção efetiva de condições incapacitantes e para a recuperação da capacidade funcional já afetada.

A capacidade funcional surge, portanto, como um novo paradigma de saúde particularmente relevante para o idoso. Capacidade funcional e autonomia do idoso passam a ser mais importantes, por vezes, que a própria morbidade, pois se relacionam diretamente à qualidade de vida. Segundo Ramos (2002) “saúde, dentro dessa nova ótica, passa a ser a resultante da interação multidimensional entre saúde física, saúde mental, independência na vida diária, integração social, suporte familiar e independência econômica. Qualquer uma dessas dimensões, se comprometida, pode afetar a capacidade funcional de um idoso. O bem-estar na velhice, ou saúde num sentido amplo, seria o resultado do equilíbrio entre as varias dimensões da capacidade funcional do idoso, sem necessariamente significar ausência de problemas em todas as dimensões”.

A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa - Portaria GM n° 2.528/06 (PNSI) vem ao encontro desta premissa ao assumir que o principal problema a afetar o idoso é a perda de sua capacidade funcional, ou seja, a perda das habilidades físicas e mentais necessárias para a realização de suas atividades diárias.

A PNSI tem como propósito fundamental “a promoção do envelhecimento saudável, a manutenção e a melhoria, ao máximo, da capacidade funcional dos idosos, a prevenção de doenças, a recuperação da saúde dos que adoecem e a reabilitação daqueles que venham a ter a sua capacidade funcional restringida, de modo a garantir-lhes permanência no

meio em que vivem exercendo de forma independente suas funções na sociedade.” A Política apresenta três diretrizes:• Identificar o nível de dependência do idoso e atribuir acompanhamento diferenciado para cada situação • Distinguir idoso independente (promoção e prevenção) do idoso dependente (reabilitação)• Atenção por intermédio de equipe multiprofissional com atuação interdisciplinar para garantir linha de cuidado integral, deslocando o olhar da doença para o da promoção de saúde.

A capacidade de manter as habilidades físicas e mentais necessárias a uma vida independente e autônoma surge como um novo conceito de saúde, mais adequado para instrumentalizar e operacionalizar a atenção à saúde do idoso.

O Pacto pela Vida, em Defesa do SUS e de Gestão - Portaria GM nº 399/06 também avança na criação de políticas que propiciam a busca pelo envelhecimento ativo. Com o objetivo de pactuar responsabilidades nos três níveis de gestão, estabelece o segmento idoso como uma das prioridades na implantação de políticas públicas.

A Fonoaudiologia também avança em sua inserção, e um dos grandes passos foi o parecer do CFFa n° 28 de 02 de Setembro de 2006, que possibilitou compor o Caderno de Atenção Básica do Idoso, levando suas contribuições para um envelhecimento ativo.

Contudo, precisamos repensar nossa concepção de trabalho, na qual ações curativas ainda estão dissociadas da promoção da saúde e prevenção. É necessário ampliar o conceito de saúde em nossa prática. E a perspectiva de curso de vida, do envelhecimento tomado como processo, traz um novo significado à nossa ação. A Comunicação é o que fundamenta o trabalho do fonoaudiólogo, e ela, somente ela, leva ao empoderamento da pessoa idosa, possibilitando o pleno exercício da cidadania.Maria Cristina Pedro BizVice-presidente do 8º Colegiado do Conselho Regional de Fonoaudiologia 2ª Região/SP.

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tEcnologia

Não é de hoje que a Fono­audiologia curvou­se, em benefício próprio, à era da Tecnologia da Infor­

mação. Além do surgimento no mer­cado de diversos programas que favo­recem o processo terapêutico, vários prof issionais da área decidiram dedi­car­se à criação de programas que auxiliem o atendimento. “Sempre in­vesti na aquisição de softwares úteis à Fonoaudiologia, percebendo o valor da informática na melhoria das condi­ções de atendimento”, explica Ingrid Gielow, professora do Centro de Es­tudos da Voz (CEV), coordenadora da plataforma de Fonoaudiologia do Instituto de Tecnologia da Universi­

A informática em prol da Fonoaudiologia

Softwares tornam-se importantes ferramentas para

auxiliar no processo terapêutico

dade Federal de São Paulo, e coor­denadora do Comitê de Fononcolo­gia do Depar tamento de Voz da So­ciedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa). Desde 1997, ela realiza pesqui­sas na área. “Os softwares podem au­xiliar o fonoaudiólogo na criação de instrumentos de avaliação e terapia, tornando possível o registro objetivo de aspectos subjetivos, favorecendo a documentação de dados e tornan­do a terapia mais atraente e interes­sante”, defende ela.

A motivação de Ingrid veio da ne­cessidade de encontrar instrumentos de trabalho. “Também percebi o inte­resse dos pacientes por todas as ati­vidades que envolvem o uso do com­

putador”, lembra a fonoaudió­loga. No primeiro projeto em que trabalhou, foi procurada por um curso prof issionalizan­te de São José dos Campos, a ETEP, para dar uma idéia de trabalho. Da parceria, surgiu um programa utilizado para treinamento de fala, de dis­fonia psicogênica e de pro­cessamento auditivo cen­tral. Depois, veio um sof­tware para desenvolver habilidades auditivas. Atu­almente, Ingrid trabalha no desenvolvimento de um programa para ava­liar deglutição e de ou­tro direcionado à po­pulação com Mal de Pa­rkinson. Também par ti­cipa de um projeto sigi­loso que envolve parce­ria entre o Instituto de

Tecnologia da Unifesp e o ITA.Também bastante atuante na área,

a fonoaudióloga Mara Behlau, direto­ra do CEV e coordenadora do Depar­tamento de Voz da SBFa, teve con­tato com a informática ainda no iní­cio da carreira. “Logo após me for­mar, trabalhei em laboratórios de voz de ponta no exterior, exatamente no momento da introdução dos micro­computadores”, lembra ela. “Traba­lhávamos com minicomputadores na década de 1980, que só eram “mini” no nome, pois eram maiores que ge­ladeiras”, continua. De lá para cá, tudo mudou. E, desde 1995, Mara já colabo­rou na produção de oito programas. “Em alguns deles minha participação foi mais profunda, desde o desenho do produto até a elaboração de seu

Diana Melissa Faria: motivação e desafios

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Revista da FONOAUDIOLOGIA • 2ª Região • nº 83 • out/nov/dez • 2009

manual de ajuda, auxiliando a definir a caracterização do programa e seus modos de operação”, conta. “Em ou­tros tive par ticipação mais discreta, apenas como consultora de aspectos par ticulares.”

Segundo Mara, é muito difícil fazer um trabalho de qualidade, na área de voz, sem um computador. “Não é im­possível, mas é mais trabalhoso”, avi­sa. “Os softwares da área são propos­tas de soluções para problemas com­plexos e, embora sempre um pouco frustrantes por toda a formatação ne­cessária para a sua boa utilização, per­mitem registrar nossas ações e ofere­cer uma comprovação real dos resul­tados de nosso atendimento. No caso dos programas para ajuda na reabilita­ção, a inter face faz com que a voz, um produto abstrato, seja quase que con­creta para o paciente”, explica.

Usuária constante de alguns pro­gramas gratuitos oferecidos na inter­net, a fonoaudióloga Sabrina Cukier Blaj, especialista em Voz, Mestre em Linguística Aplicada aos Estudos da Linguagem (PUC­ SP), e pós­gradua­ção como pesquisadora associada do Instituto de Voz e Deglutição do De­par tamento de Otorrinolaringologia da Universidade de Columbia, nos Es­tados Unidos, considera o uso dos programas importantíssimo para se obter um bom atendimento.

“Nos casos de alterações da fala e da voz, é imprescindível realizar um diagnóstico eficaz para definir a neces­sidade de terapia e conduzir as estra­tégias a serem utilizadas. Apenas com a análise perceptivo­auditiva vários as­pectos são negligenciados e a análise acústica complementa as característi­cas clínicas da avaliação”, indica. “Du­rante a terapia fonoaudiológica, o uso também é eficaz uma vez que, em ca­sos de alterações, o trabalho com a produção da fala propriamente dita é importante e o monitoramento visu­al e auditivo permite melhor evolu­ção”, completa. No último Congres­so Brasileiro de Fonoaudiologia, reali­zado em Campos do Jordão, em 2008, ela abordou o tema na oficina Tera­pia Miofuncional Orofacial em Adul­tos. Em sua apresentação, falou do uso da análise acústica para o diagnóstico e a terapia fonoaudiológica em casos de alterações da fala e da qualidade vocal – como ajustes do dorso da língua, da faringe e dos lábios.

A fonoaudióloga Vanessa Pedrosa Vieira, Mestre em Ciências e Consul­tora de Pesquisa do Centro Cochra­ne, lembra um estudo do tipo ensaio clínico, realizado em 2004, que com­parou a efetividade da terapia utili­zando o feedback visual com espec­trograma e análises acústicas à de uma terapia convencional. “Os dois grupos demonstraram melhora na produção vocal, mas houve diferença na inten­sidade da produção da voz no grupo experimental (grupo com feedback visual). Neste grupo houve redução da intensidade vocal em dB”, conta.

Segundo Vanessa, não há muitos trabalhos sobre o uso dos programas, mas a prática comprova a ef icácia des­se tipo de ferramenta. “A prática clíni­ca em Fonoaudiologia determina mui­tas das nossas atividades e automa­ticamente inserimos ferramentas no­vas em nossos consultórios”, comen­ta. “Mesmo não havendo ainda mui­tos trabalhos que atestem diretamen­te a ef iciência dos softwares, a maioria dos trabalhos em Fonoaudiologia uti­lizam pelo menos uma das ferramen­tas ou análises desses programas para demonstrar resultados”, continua ela.

Para Vanessa, foi o desenvolvimen­

to deste tipo de ferramenta que ofere­ceu mais objetividade, capacidade de comparação, comportamentos antes não percebidos e não mensurados da qualidade vocal. “Essas ferramentas também são intensamente utilizadas na Fonoaudiologia Forense, hoje tão falada. Elas definem todas as análises de uma voz e de uma fala e permite que sejam comparadas”, conta.

O uso do computador também pode trazer um efeito extra: a mo­tivação do paciente. “A atual gera­ção de crianças está crescendo tendo o computador como uma ferramen­ta de uso diário”, lembra Diana Me­lissa Faria, especialista em Voz e Mes­tre em Fonoaudiologia Clínica. “Des­de que passei a utilizar softwares na terapia percebi que as crianças mo­tivavam­se com mais facilidade para o trabalho”, avalia. “Acredito que o ambiente de terapia deve ser acolhe­dor, produtivo, diver tido e desaf iador para o paciente. Os softwares, com cer teza, auxiliam na construção des­te ambiente.”

No início da carreira, Diana en­contrava poucos programas voltados à área. Por isso, passou a buscar no­vas estratégias, como utilizar softwa­res de outras áreas ou criar jogos. Hoje, ela tem uma empresa que de­senvolve projetos de softwares para a Fonoaudiologia e também para a

Vanessa Pedrosa Vieira: objetividade e capacidade de comparação

Sabrina Cukier Blaj: diagnóstico eficaz e estragégias acertadas

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área educacional. “Tudo começou de uma forma despretensiosa, imaginan­do que eu estava fazendo alguns jo­gos apenas para meu uso na terapia, em parceria com um programador. Aos poucos fui percebendo o poten­cial desse produto e a possibilidade de compar tilhar com outros prof is­sionais”, explica.

Mas, como suas colegas, Diana acre­dita que, por mais eficientes que sejam, os softwares nunca substituem um bom profissional ou outros métodos também eficientes. “O software é uma das ferra­mentas que utilizo e não exclui jogos de mesa, leituras, conversas, etc”, comen­ta. “Nós, como profissionais, devemos lembrar que o computador não é o te­rapeuta e que a interação entre pacien­

te e profissional é o mais importante do processo e deve estar presente duran­te o uso das ferramentas”, alerta. Mara Behlau concorda: “É essencial compre­ender que um programa computadori­zado em nenhuma hipótese substitui um clínico experiente e, na maioria das ve­zes, ajuda quem já é bom na área”, afir­ma a especialista. “Estamos em um mo­mento de mudança de paradigma sobre o processo de aquisição de conhecimen­to e também sobre a forma de atendi­mento ao nosso cliente, seja ele um pa­ciente com disfonia ou um usuário pro­fissional da voz, que necessita ter um melhor rendimento na comunicação. É difícil prever para onde o mundo virtu­al irá nos levar, mas esse caminho é ir­reversível”, conclui.

Ingrid Gielow: terapia mais atraente e inter-essante para todos

Para saber maisSegundo a fonoaudióloga Vanessa Pedrosa Vieira, Mestre

em Ciências e Consultora de pesquisa do Centro Cochrane, a prática clínica mostra que os softwares são fundamentais na clínica para quatro fatores: 1- registro adequado da produção oral do paciente antes, durante e pós-tratamento; 2- ferramenta de feedback visual e auditivo; 3- comparação de resultados; e 4- suporte diagnóstico em alguns casos.

Para a fonoaudióloga Sabrina Cukier Blaj, especialista em Voz, Mestre em Linguística Aplicada aos Estudos da Linguagem (PUC- SP), e pós-graduação como pesquisadora associada do Instituto de Voz e Deglutição do Departamento de Otorrinolaringologia da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, os softwares são excelentes ferramentas para o atendimento fonoaudiológico em casos de alterações da fala e/ou da voz.

“Há softwares disponíveis para uso em tempo real e para gravação, análise e edição das amostras de fala”, conta ela. Nos softwares em tempo real, o paciente tem um apoio visual enquanto realiza as produções ou os exercícios. “Se houver necessidade de treinar a produção de um som fricativo como o som alveolar [s], o ruído poderá ser visualizado em faixas de frequências específicas nos gráficos, enquanto o som estiver sendo realizado”, exemplifica. “Há outros jogos cujo apoio é feito com desenhos, ou seja, para acertar o objetivo proposto a pessoa tem que, por exemplo, falar em intensidade mais fraca ou mais forte”, continua. Os softwares para gravação, análise e edição são aplicados tanto na terapia como para a realização de diagnósticos e elaboração de relatórios.

Há vários softwares no mercado, utilizados ou elaborados pelas profissionais entrevistadas para esta reportagem. Mas alguns programas podem ser acessados gratuitamente pela internet. A pedido da Revista da Fonoaudiologia, Vanessa e Sabrina fizeram algumas indicações de sites gratuitos:

n PRAAT - É desenvolvido por linguistas, não clínicos, e seu uso não é muito simples. “Mas oferece avaliação acurada,

e várias ferramentas de análise acústica como avaliação de variação de pitch, pitch mínimo e máximo, intensidade mínima e máxima,posicionamento de formantes, LPC, entre outros”, analisa Vanessa. “Há a disponibilidade de gravar o paciente e ouvir a voz, editando os segmentos ou trechos importantes. É uma ótima ferramenta para o trabalho de percepção auditiva com apoio visual. Esse software também pode ser utilizado para complementar a avaliação da fala e da voz do paciente”, completa Sabrina, que alerta ser importante que o fonoaudiólogo tenha domínio sobre acústica para interpretar os dados corretamente. O programa pode ser acessado no site www.praat.org

n Spectogram - Este software era pago, mas agora oferece acesso gratuito. “Ele vem com uma análise visual colorida extremamente didática para o paciente. É simples de utilizar. Eu sempre o abro quando vou fazer exercícios de acompanhamento visual, conta Vanessa. “Esse programa também solicita domínio de acústica para saber interpretar os dados”, alerta Sabrina. É possível acessá-lo no endereço http://xviiisnefnovastecnologias.blogspot.com/search/label/Gram%20V6

n Jogos de voz - Sabrina também indica um trabalho desenvolvido para oferecer exercícios de aprimoramento da coordenação fonoarticulatória, em especial para crianças e adolescentes com deficiência auditiva. Para entrar em contato, acesse www.decom.fee.unicamp.br/lpdf/jogosvoz.htm

Para conhecer o trabalho citado por Vanessa Pedrosa Vieira na reportagem, leia: Laukkanen A, Syrja T, Laitala M, Leino T. Effect of two month vocal exercising with and without spectral biofeedback on student actors’ speaking voice. Logopedics, Phoniatrics and vocology. 2004. 29:66-76.

Nas próximas edições da Revista abordaremos o uso dos softwares em outras áreas da Fonoaudiologia.

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A implantação dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), criados para ampliar a inserção do programa Bási­

co de Saúde da Família e dar suporte às equipes que atendem a população, vem levantando várias questões. Uma refle­xão que surge, a partir deste momen­to, refere­se à formação dos profissionais que atuam nos núcleos, ou seja, à adequa­ção, ou não, dos currículos dos cursos à nova realidade da Saúde Pública do país. “As políticas públicas vão mudando e o importante é a solidez da formação e a adaptação ao sistema, que está em cons­tante mudança”, opina Fernanda Dreux Miranda Fernandes, professora associada do Curso de Fonoaudiologia da USP da capital e Presidente da Sociedade Brasi­leira de Fonoaudiologia (SBFa).

Ministérios da Saúde e da Educação disponibilizam programas de formação

Atuação na Atenção Primária é principal foco do Pró-Saúde,

criado para integrar ensino e serviço

Para Fernanda, as mudanças exigem formação constante dos profissionais, que devem investir em Educação Continua­da, independentemente da área em que atuem. Mas os recentes rumos da política de saúde do país, que fortalece a Atenção Básica e o Sistema Único de Saúde (SUS), demandam adaptações já no decorrer da graduação. Os profissionais que deixam as escolas devem estar aptos a atender uma grande gama de casos e a dar prioridade a atividades multidisciplinares de projetos terapêuticos.

Para ajudar a academia e o serviço de saúde a encontrarem uma linguagem comum, foi criado o Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissio­nal em Saúde, o Pró­Saúde, parceria en­tre os Ministérios da Saúde e da Educa­ção. “O objetivo do programa é a inte­gração ensino­serviço, visando a reorien­tação da formação profissional, asseguran­do uma abordagem integral do processo

saúde­doença com ênfase na Atenção Bá­sica, promovendo transformações na pres­tação de serviços à população”, diz a apre­sentação do Pró­Saúde.

Numa primeira fase, o programa foi lançado apenas para os cursos de Medi­cina, Enfermagem e Odontologia e hoje é oferecido a todas as profissões da Saúde. Ele se firma em três eixos – orientação teó­rica, cenários de prática e orientação peda­gógica. Os alunos dos cursos dedicam car­ga horária para aprender enquanto atuam em serviços de saúde. “Quando implan­tado, o Pró­Saúde atinge toda a comuni­dade acadêmica, alunos, docentes e servi­ços de extensão, pois incidirá sobre a ma­triz curricular e todos que com ela estão relacionados”, explica Simone Hage, coor­denadora do curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru, da USP, e membro da comissão coordenado­ra de implantação do Pró­Saúde da insti­tuição. “No Pró­Saúde, a relação ensino­serviço precisa ser alimentada, um deve afetar o outro e disso resultar transforma­ções em ambos”, completa Maria Cecília Bonini Trenche, Professora titular e coor­denadora do Curso de Fonoaudiologia e do Pró­Saúde da PUC­SP.

Conceitos ampliados As mudanças vieram para atualizar. “Nos­sos currículos seguiram a lógica positivista do início do século XX, época em que tar­diamente nascem as Universidades no Bra­sil”, comenta Sigisfredo Luís Brenelli, Coor­denador Geral de Ações Estratégicas em Saúde do Ministério da Saúde. “Trouxe­ram os modelos europeu e norte­ame­

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ricano, voltados à produção de conheci­mento, com hierarquia e o poder impos­tos pelo saber”, continua. Para ele, a estra­tégia foi importante, pois propiciou o de­senvolvimento das ciências. Mas, hoje, a re­alidade é outra. “O SUS nasce com a re­forma sanitária, dentro de outro momen­to histórico do país e tem conceitos mais ampliados em sua concepção’”, compara. Brenelli ressalta as atuais necessidades bio­psico­sociais de indivíduos e comunidades. “Saúde é algo muito mais amplo que a do­ença e só pode ser solucionada com ações multidisciplinares. O Pró­Saúde visa, mais do que capacitação de fonoaudiólogos, a aprendizagem dos trabalhos em equipes de saúde e, por isso, é estendido para to­das as 14 profissões determinadas como saúde”, completa.

Brenelli faz questão de deixar claro que o Ministério da Saúde não é o órgão res­ponsável pela formação dos profissionais. Isso cabe às Universidades, que são autô­nomas, baseiam­se nas diretrizes curricula­res e são autorizadas, reconhecidas e ava­liadas pelo Ministério da Educação. “A pre­ocupação do Ministério da Saúde é de es­timular o cumprimento dessas diretrizes, que determinam o compromisso dos cur­sos com a formação de profissionais cons­cientes e com responsabilidade com o nos­so Sistema de Saúde”, explica. A medida, por sinal, está prevista na Constituição Fe­deral, que afirma caber ao SUS organizar a formação e ser cenário para o ensino e a aprendizagem na saúde.

Pet-Saúde complementa o aprendizado

As professoras Marisa Fukuda e Luciana Voi Tratwitzki, da USP-Ribeirão Preto

Histórico de ação Até o momento, seis cursos de Fonoaudio­logia do estado de São Paulo aderiram ao Pró­Saúde – PUC, Santa Casa, Unicamp, Unifesp, USP­Bauru e USP­Ribeirão Pre­to. Na verdade, a adesão é a continuidade de trabalhos realizados junto à comunida­

de que já pontuavam a rotina de docentes e discentes. Todas já atuavam de forma sig­nificativa com seus alunos. “Represento a Comissão de Ensino da SBFa. no FNEPAS (Fórum Nacional de Educação das Profis­sões da Área de Saúde, criado em 2004) e vejo que muitos cursos de Fonoaudio­

O Ministério da Saúde e o Ministério da Educação desenvolveram outro projeto cujo objetivo também é integrar as instituições de ensino e o serviço de saúde. É o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde, o Pet-Saúde. A apresentação do programa deixa claros seus objetivos: “Fomentar grupos de aprendizagem tutorial no âmbito da Estratégia da Família, viabilizando programas de aperfeiçoamento e especialização em serviços das profissões da saúde, bem como de iniciação ao trabalho, estágios e vivências dirigidas aos estudantes da área, por meio do pagamento de bolsas”. Elas são oferecidas em três categorias: Tutor Acadêmico (o docente da IES), Monitor (o aluno, que participa de uma disciplina prática em Atenção Primária) e o Preceptor (servidor de nível superior dos serviços de saúde).

“O Pet-Saúde veio complementar o Pró-Saúde, visando facilitar a comunicação entre as Instituições de Ensino Superior e os serviços de Atenção Básica”, analisa Ana Luiza Navas, diretora de curso de fonoaudiologia da Santa Casa. “Na verdade, existe uma articulação do PET com o Pró-Saúde, em objetivos comuns”, concorda Luciana Voi Trawitzki, Tutora e membro do Núcleo de Excelência Clínica do Pet-Saúde da USP-Ribeirão Preto. “Nos dois programas temos o envolvimento da IES com docentes e alunos em parceria com a Secretaria Municipal ou Estadual de Saúde”, ressalta.

Na Unifesp, por exemplo, como conta a coordenadora do Pró-Saúde do curso de Fonoaudiologia, Clara Brandão, os alunos que estão no Pet-Saúde participam, juntamente com estudantes da Medicina e Enfermagem, das atividades desenvolvidas pelas equipes do PSF em UBSs do município de São

Paulo. O grupo, por sinal, trabalha para instituir um Núcleo de Excelência Clínica Aplicada à Atenção Básica.

O programa criado pelo governo também visa contemplar outras metas, lembradas por Cecília Bonini. “Os outros objetivos são: dar condições para institucionalizar as atividades pedagógicas dos profissionais de serviço; promover a educação permanente desses profissionais e estimular seu ingresso na carreira docente, além de promover a inserção das necessidades do serviço como fonte de produção de conhecimento e pesquisa na universidade”.

Em Bauru, a experiência é diferente. Como, até o momento, somente instituições de Ensino Superior que oferecem o curso de Medicina podem participar do Pet-Saúde, a FOB/USP, que tem cursos de Odontologia e Fonoaudiologia, oferece um projeto pioneiro. É o Programa de Educação Tutorial em Fonoaudiologia, que tem como tutora responsável a docente Dra. Giédre Berretin-Félix.

Aprovado em 2006 pela Secretaria da Educação Superior, do Ministério da Educação, o programa tem como objetivo contribuir para a melhoria do ensino na graduação por meio da educação tutorial. É constituído por 12 bolsistas. “O grupo desenvolve atividades extra-curriculares de ensino, pesquisa e extensão e busca envolver todo corpo discente nas ações realizadas”, conta Giédre. Dentre as atividades desenvolvidas destaca-se a criação da “Liga de Telessaúde da FOB/USP”, curso de difusão reconhecido pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP, que conta com atividades presenciais e à distância, desenvolvimento de projetos interdisciplinares que envolvem as áreas da saúde, educação e tecnologia da informação.

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logia estão protagonizando mudanças im­portantes na formação profissional, sen­do referência para outras profissões”, con­ta Cecília Bonini.

“Precisamos preparar nossos alunos desde o primeiro ano para resolver pro­blemas de saúde da população, enfrentar desafios, trabalhar em equipe, tecer re­des, planejar ações, identificar necessida­des e estabelecer prioridades, atuar com competência técnica e teórica”, continua ela. Cecília acha importante evitar esco­lhas prematuras de especialidades. “O es­tudante deve ter boa formação clínica, co­nhecer e refletir criticamente sobre políti­cas de saúde, de proteção social e de edu­cação. E, embora alguns profissionais já tra­balhassem em atenção básica, nossa atua­ção esteve por muitos anos associada aos níveis de atenção mais complexos ou mais voltada para as especialidades,” continua.

Como a fonoaudióloga e conselheira do CRFa. 2a Região/SP, Andréa Bonamigo, comentou durante a realização do I Fórum: Inserção do Fonoaudiólogo no NASF, os núcleos abrem portas para a “atuação ple­

na do fonoaudiólogo generalista”, por sinal, uma das propostas das Diretrizes Curricu­lares Nacionais de 2002. Mas é preciso ter cuidado. “Ser generalista não significa co­nhecer de tudo um pouco e sim de qua­se tudo o bastante e necessário para de­sempenhar seu papel e alcançar seus ob­

jetivos. Formar generalistas significa pre­parar pessoas com capacidade de integrar as diferentes especialidades fonoaudiológi­cas, interagir com diferentes profissionais, com visão holística sobre o sujeito e so­bre a sua profissão”, ressalta Simone Hage.

No início da instalação do programa, a ênfase dada à formação para a Aten­ção Básica preocupou a coordenadora do Curso de Graduação e do Pró­Saú­de em Fonoaudiologia da Unicamp, Ma­ria Francisca Colella dos Santos. Não por­que não gostasse da abordagem, mas por­que queria garantias de espaço no mer­cado de trabalho para seus alunos. “Che­guei a me perguntar o que essa inserção maior na rede ia trazer para os alunos”, lembra. “Mas, este ano, ocorreu um se­minário para coordenadores em Brasília e ficou claro que serão criados muitos NAS­Fs”, conta. “Isso me animou. Vamos inte­grar essas equipes em que a Saúde vai se apoiar daqui para frente”, vislumbra.

Mas a professora ressalta que o traba­lho não será fácil e vai demandar muita aten­ção. “Nosso grande desafio a meu ver será

PUC-SP A PUC aderiu ao Pró-Saúde no editorial de 2008. Antes, já atuava em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde da capital nas áreas de Psicologia, Fonoaudiologia e Serviço Social. “A construção do projeto já foi muito enriquecedora”, comenta a professora Cecília Bonini. Houve a necessidade de socializar as experiências, afinar conceitos, pensar temáticas comuns, identificar lacunas e pactuar com os parceiros formas de estar no território, fazendo a formação dos estudantes e contribuindo para a educação permanente dos trabalhadores da saúde. Neste semestre, o foco é “aprofundar o conceito de território como processo”, diz ela. “Nossos alunos vão interagir na Freguesia do Ó-Brasilândia (Zona Norte) na identificação das potencialidades e fragilidades, na promoção da saúde e na consolidação de redes. Teremos visitas monitoradas, atividades programadas, pesquisas e diversificação de locais de estágios. Vamos realizar seminários com todos os envolvidos no processo.”

Santa Casa de São Paulo “A Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo já tinha a preocupação com relação às questões da Atenção Básica mesmo antes da implantação do Programa Pró-Saúde, tanto nos Cursos de Medicina como em Fonoaudiologia e em Enfermagem”, explica a diretora do curso, Ana Luiza Navas. Até o ano passado, o Curso de Fonoaudiologia da instituição participava nas atividades institucionais de planejamento e acompanhamento do Programa no Curso de Medicina da IES. Este ano, entrou no programa efetivamente. O Projeto para o Pró-Saúde II engloba os Cursos de Fonoaudiologia e Enfermagem da instituição. Inicialmente, foi realizado o primeiro curso de capacitação para docentes da IES. Os alunos do terceiro e do quarto anos de Fonoaudiologia participam de estágios supervisionados na Unidade Básica de Saúde. A partir de 2010, os alunos que cursam o primeiro ano participarão do acompanhamento de famílias do Programa de Saúde da Família da própria UBS.

Unicamp Criado em 2001, o curso de Fonoaudiologia da Unicamp já atuava junto à comunidade, com estágios na creche da instituição, em uma UBS, no Centro de Saúde do Trabalhador, no próprio Hospital da Universidade e no Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação (CEPRE), lembra a professora Maria Francisca Colella dos Santos. Com o Pró-Saúde, iniciado este ano, ampliou-se a atuação na rede municipal de Campinas. Reformulações curriculares foram realizadas pelo grupo de docentes responsáveis, apoiados pelos serviços municipais, para atuação nos Distritos Leste e Sul da cidade - duas UBSs, além de EMEIs e CEMEIs. “No primeiro ano, os alunos conhecem os locais e, no terceiro, voltam para atuar”, explica. “Incentivamos projetos de iniciação que integram ensino e serviço. Um deles prevê triagem auditiva, orientação a pais e professores quanto ao desenvolvimento da linguagem e audição”, continua. Vinculado ao CEPRE, o curso foi elaborado para contemplar ações multidisciplinares.

O Pró-saúde nas Universidades do estado Conheça um pouco do trabalho realizado nas instituições paulistas que aderiram ao programa

M. Francisca Colella dos Santos, da Unicamp

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reorientar a formação dos nossos egressos para o SUS, buscando­se o equilíbrio entre a excelência técnica e a formação especiali­zada e a abordagem que enfoque os deter­minantes do processo saúde­doença na co­munidade e em todos os níveis do sistema, conforme as diretrizes de universalização, equidade e integralidade”, alerta.

Para Maria Aparecida Miranda de Pau­la Machado, docente da FOB/USP, douto­ra em saúde coletiva e membro da comis­são coordenadora de implantação do Pró­Saúde na instituição, ainda há muito que se ajustar. “Poucos cursos têm a prática sen­do conduzida por profissionais que tive­ram formação em Saúde Pública/Coleti­va”, conta ela. “Embora o NASF seja um núcleo de apoio às equipes de Saúde da Família, estratégia de atuação em Atenção Primária, observo o trabalho sendo criado, construído para e por todos os profissio­nais envolvidos no próprio fazer, na pró­pria construção, por ser mais uma estra­tégia inédita no país”, completa.

Clara Regina Brandão de Ávila, coor­denadora do Pró­Saúde do Curso de Fo­

noaudiologia da Unifesp, concorda com a colega: “A implementação do NASF ain­da é recente e incipiente para receber o graduando. Sem dúvida, a inserção do es­tudante nas discussões desse núcleo, que vão desde as especificidades de cada caso às orientações de ações de atenção pri­

mária, será preciosa para seu aprendiza­do. No plano das ideias, essa oportuni­dade de aprender é perfeita. As mudan­ças virão com a consolidação do NASF e de outras políticas públicas na área da Saúde”, prevê.

A construção das articulações com as partes envolvidas no processo não tem sido fácil, mas já começa a dar frutos. Segundo Marisa Fukuda, coordenadora do curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, e Luciana Voi Trawitzki, coordenadora das Disciplinas de Atenção Primária I e II, membro do Pró­Saúde, Tutora e membro do Núcleo de ex­celência Clínica do Pet­Saúde da instituição, as mudanças são visíveis. “No nosso curso, várias já foram realizadas, como a inserção de práticas clínicas em serviços públicos de saúde diretamente ligados à rede Municipal ou Estadual de Saúde e em escolas munici­pais, com convênio firmado entre a FMRP­USP e as Secretarias Municipais de Saúde e Educação”, conta Marisa. “Entretanto, al­guns serviços públicos de saúde nem sem­pre apresentam uma estrutura que com­

Unifesp Já em 2002, o Curso de Medicina da UNIFESP dava início ao PROMED, ao qual se juntaram os outros cursos da instituição. O programa, voltado à integralidade na atenção à saúde, com discussões sobre o processo de ensino e a prática multiprofissional e interdisciplinar, foi seguido do Pró-Saúde I, do qual participam Medicina e Enfermagem. Em 2008, a Fonoaudiologia foi aprovada no Pró-Saúde II e iniciou a reformulação de suas grades curriculares e disciplinares. “Até o momento, realizaram-se oficinas de aproximação do serviço e a universidade, reuniões regulares com os Núcleos de Articulação e o Gestor, atividades didáticas de preparação para inserção do aluno nos diferentes cenários de prática, incentivo à produção de pesquisas no serviço, sensibilização do corpo docente para o trabalho em atenção básica, em outros equipamentos do Sistema Público de Saúde”, conta a professora Clara Brandão.

USP-BauruO Curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB), da Universidade de São Paulo, iniciou sua atuação no Pró-Saúde em maio de 2008. “Acreditar na formação de profissionais capazes de desenvolver uma assistência mais humanizada e de alta qualidade foi o que nos levou ao Programa”, explica a professora Simone Hage. Assim que o projeto foi aprovado, foi criada uma Comissão Pró-Saúde, com dez membros, envolvendo o presidente da comissão de graduação da unidade, o coordenador do Grupo de Apoio Pedagógico, os coordenadores de curso, professores da área de saúde coletiva e representação discente. A equipe se reúne sistematicamente para discutir a implantação da reorientação profissional do curso. “Já concluímos a reorientação dos primeiro e segundo anos, com disciplinas teórico-práticas ocorrendo em diversos cenários e agora estamos discutindo os terceiro e quarto anos”, conta ela.

USP-Ribeirão Preto O curso de Fonoaudiologia da USP de Ribeirão Preto ampliou sua ação junto à comunidade ao aderir ao Pró-Saúde em 2008. A preparação contou com a participação de docentes, alunos e gestores da Secretaria de Saúde. Eles diagnosticaram a situação dos cursos e do serviço de saúde e propuseram mudanças. Uma comissão com representantes da instituição, da secretaria, dos servidores e dos usuários acompanha o trabalho. “Os alunos atuam em Núcleos de Saúde da Família e, entre seus objetivos, estão sensibilizar os demais profissionais quanto às possibilidades de atuação do fonoaudiólogo no PSF; sensibilizar a comunidade em relação aos aspectos fonoaudiológicos; discutir propostas de intervenção nos diferentes equipamentos sociais; fazer triagens e encaminhamentos e elaborar programas de otimização do desenvolvimento da comunicação e das funções orofaciais”, conta a professora Luciana Voi. Há financiamento para adequação do espaço físico.

O Pró-saúde nas Universidades do estado Conheça um pouco do trabalho realizado nas instituições paulistas que aderiram ao programa

Ana Luiza Navas, da Santa Casa

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porte estagiários, como espaço físico, ma­teriais, entre outros”, continua ela.

Luciana lembra uma característica im­portante do Pró­Saúde: o financiamento dos projetos com recursos da programa­ção orçamentária do Ministério da Saúde. “A verba poderá ser utilizada quando hou­ver a necessidade de adequação do espaço físico e aquisição de material permanente e de consumo para os serviços de saúde que receberem os alunos de graduação. No projeto da FMRP­USP foram previstas aquisição de equipamentos e adequação do espaço físico dos locais de atendimen­tos aos usuários SUS”, conta a professora.

Formação dos docentes Para Ana Luiza Navas, diretora do Curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Ciên­cias Médicas da Santa Casa de São Paulo e Diretora Científica da SBFa., e Adriana Gurgueira, professora Assistente e repre­sentante do curso no Comitê Executivo do Pró­Saúde da instituição, ainda é cedo para avaliar os resultados do programa, já que a Fonoaudiologia só foi incluída na segun­da fase do Pró­Saúde. “Ainda é prematu­ro avaliar os resultados da implantação do programa nos cursos. Em geral, os objeti­vos estão sendo cumpridos, apesar das di­ficuldades. Muitas vezes, é difícil modificar a tendência de uma formação de especialista para uma formação voltada para a Aten­ção Básica”, lembra Ana Luiza.

As duas professoras acreditam que as inovações trazidas à Atenção Básica ainda demandam muitas alterações no próprio currículo de Fonoaudiologia. “Grande par­te dos currículos dos Cursos de Graduação

Educação Continuada não pode sair da agenda. “Além do enfoque de formação do estudante em Fonoaudiologia para a Atenção Básica, seria de extrema impor­tância que profissionais já formados tam­bém fossem capacitados para atuar nesta perspectiva”, comenta Ana Luiza Navas. “Assim, a proposta de um programa de educação continuada que discutisse a inte­gração do profissional com os serviços de saúde e salientasse a importância da atu­ação fonoaudiológica em Atenção Básica seria complementar à atuação junto aos Cursos de Graduaçao”, propõe.

Simone Hage, da FOB-USP, em Bauru

Maria Aparecida Machado, também de Bauru

Para saber maisn Pró-Saúdehttp://www.prosaude.org

n Pet-Saúdehttp://www.prosaude.org/not/prosaude-maio2009/resumoPET-SAUDE-29-04-09.pdf

n Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúdehttp://portal.saude.gov.br/portal/saude/Gestor/area.cfm?id_area=382

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Outros caminhosFormação também pode ser complementada em outros programas

Além do Pro-Saúde e do Pet-Saúde, há outras opções para quem se interessa em aprofundar conhecimentos relativos à Atenção Primária. “Existem iniciativas de algumas universidades no Rio de Janeiro, na Bahia, Ceará que vêm buscando inovar na área da saúde, com atividades interdisciplinares, em projetos comunitários, que envolvem vários cursos e que podem servir de “modelo”, caso não tenha a Fonoaudiologia independente dos cursos e mesmo sem apoio do MS”, sugere Maria Aparecida Miranda de Paula Machado, docente da FOB/USP, doutora em Saúde Coletiva e membro da Comissão Coordenadora de implementação do Pró-Saude da instituição.

A coordenadora do Pró-Saúde do Curso de Fonoaudiologia da Unifesp, Clara Brandão, lembra a existência das Residências Multiprofissionais em Saúde. “Elas preparam o profissional para trabalhar em PSF e na atenção básica”, ressalta ela. Marisa Fukuda, coordenadora do Curso de Fonoaudiologia da USP de Ribeirão Preto cita os cursos promovidos pela Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Além do Pró-Saúde e do Pet-Saúde, a Secretaria propõe várias outras atividades.

Mas, mesmo com as ofertas de especializações por parte de instituições, os cursos de graduação não podem perder o foco nas políticas nacionais voltadas à população. É o que defende Cecília Bonini, coordenadora do Curso de Fonoaudiologia e do Pró-Saúde da PUC/SP. “Temos muito a contribuir com algumas políticas implantadas, como a da Integração da Pessoa com Deficiência, de Saúde Mental, da Saúde do Idoso e da Saúde Auditiva, desde que os profissionais sejam bem preparados”, comenta. “Precisamos pensar também em preparar profissionais para o trabalho junto a políticas de proteção social da criança, do adolescente, do idoso”, exemplifica.

apresenta uma ou mais disciplinas na área de Saúde Coletiva. No entanto, especifica­mente em relação à Atenção Básica ainda há uma distância entre a teoria e a atuação prática”, opinam. Para elas, além da inten­sificação da aproximação entre as Institui­ções de Ensino Superior e os serviços de saúde durante os quatro anos de formação, também é preciso investir na capacitação de todos os docentes do curso, que tam­bém devem aderir a essa nova realidade.

Como lembrou Fernanda Dreux, a

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Histórias de prática fonoaudiológica

naSF

A partir desta edição, a Revista da Fonoaudiologia traz a experiência

de profissionais da área que atuam nos Núcleos

Em Cachoeira Paulista, município de 30 mil habitantes localizado no Vale do Paraíba, uma fono­audióloga coordena o Núcleo de

Apoio à Saúde da Família (NASF). “Co­ordeno a equipe NASF desde o seu cre­denciamento no Ministério da Saúde, em junho”, conta Mariane Alves de Oliveira. Ela já tinha vivência na área. “Desenvol­vo um trabalho de Estratégia em Saúde da Família em Cachoeira Paulista desde 2007, e já vínhamos formando a equipe de acordo com a implantação do projeto desde meados de 2008”, explica.

O núcleo de Cachoeira Paulista é formado por oito profissionais de cin­co áreas – Fisioterapia, Fonoaudiologia, Psicologia, Educação Física e Assistência Social – e atende todo o município. Só a Fonoaudiologia atua com cerca de 90 pacientes, sendo que a linguagem é a área que recebe mais encaminhamen­tos. “Mas a maior solicitação da ESF é o trabalho relacionado ao incentivo ao alei­tamento materno, indicador importante a ser melhorado em nosso município”, conta Mariane. Ela lembra que o princi­pal papel do fonoaudiólogo no NASF é “atuar de forma integrada à rede, a partir de demandas identificadas no trabalho conjunto com as equipes de saúde da família, explorando a potencialidade da comunicação humana para o processo de promoção da saúde”.

Durante sua rotina de trabalho, Mariane dedica­se principalmente a ar­ticular as ações a serem desenvolvidas nas unidades, tanto em conjunto com a coordenação da ESF, assim como com os profissionais da equipe. Ela conta que não enfrentou dificuldades signifi­cativas ao lidar com um trabalho que

reúne profissionais de diversas áreas. “As dificuldades em adaptar a equipe multidisciplinar não foram impeditivas para o desenvolvimento do trabalho, pois desde a graduação, os contatos, as experiências e as atuações em projetos desenvolvidos na disciplina Fonoaudio­logia Preventiva foram significantes e enriquecedoras para minha atuação em atenção básica”, comenta.

Para Mariane, as equipes multidiscipli­nares trazem grandes vantagens. “Ganha­mos profissionalmente com o trabalho multidisciplinar, com abordagem ampla de atuação em saúde pública, de acordo com as necessidades da população”, co­menta. “Isso implica atendimento integral e compartilhamento de responsabilida­des, sendo essencial para a articulação da rede e a construção de ações interseto­riais para a melhora da qualidade de vida e a autonomia das pessoas”, completa.

Jardim São luizDesde fevereiro, a fonoaudióloga Da­

niela Cardilli Dias atua na Equipe de NASF sob gestão da Associação Comunitária Monte Azul, na capital, numa realidade bem diferente da vivida por Mariane em Cachoeira Paulista. A Monte Azul atua com quatro núcleos compostos por sete a oito profissionais de diferentes áreas e Daniela atua no Jardim São Luiz, distrito da Zona Sul da capital com mais de 200 mil moradores. “Até junho deste ano, tínhamos setenta mil usuários cadastra­dos nas quatro UBS/PSF que acompanho (Novo Jardim, Zumbi dos Palmares, Jar­dim Souza e Chácara Santana)”, lembra a fonoaudióloga. Segundo ela, nessa região a cobertura do Programa de Saúde da Família apresenta 100% de abrangência.

No Jardim São Luiz, há várias de­mandas fonoaudiológicas, mas, a exem­plo de Cachoeira Paulista, “a linguagem apresenta­se como área em destaque nas realizações das atividades da área”, lembra Daniela.

Ela comenta que atua junto às ESF no apoio matricial, “discutindo casos elencados pelas próprias Equipes, pro­porcionando um olhar multidisciplinar às discussões, nas quais existe a cons­trução de um trabalho horizontal que propicia o partilhar dos saberes de di­versos profissionais”.

São estas discussões que definem a necessidade ou não da realização do Projeto Terapêutico Singular (PTS), no qual se elaboram ações de curto, médio e longo prazo para determinado caso, co­responsabilizando todos os membros da Equipe. O grupo realiza consultas compartilhadas, nas quais diversos profis­sionais analisam os casos. As discussões

Daniela Cardilli Dias: consultas compartilhadas e ações multidisciplinares

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Revista da FONOAUDIOLOGIA • 2ª Região • nº 83 • out/nov/dez • 2009

NASF

A palestra Integralidade na Assistência à Saúde: A Organização das Linhas de Cuidado, a ser ministrada pela fonoaudióloga Dra. Érika Pisaneschi, coordenadora da Área Técnica Saúde de Pessoa com Deficiência da Secretaria de Atenção à Saúde, do Ministério da Saúde, abrirá

as discussões do XII Encontro dos

Fonoaudiólogos do Serviço Público do Estado de São Paulo, no dia 27 de novembro, em Santos. O evento é uma realização do Conselho Regional de Fonoaudiologia-2ª Região, com a organização da Delegacia da Baixada Santista, e o apoio da Secretaria de Saúde de Santos e da Divisão Regional de Saúde do Estado de São Paulo (DRS-IV).

A programação segue com as palestras: Rede de Atenção à Saúde Auditiva: sistemas de referência e contra-referência, pela fonoaudióloga Sandra Maria Vieira Tristão de Almeida, coordenadora da área técnica de saúde da pessoa com deficiência da Secretaria Mnicipal de Saúde de São Paulo e Diretora-tesoureira do CFFa; Implantação

dos NASFs: panorama geral, com Cláudia Taccolini, fonoaudióloga da Prefeitura Municipal de Saúde de São Paulo, Área técnica da Pessoa com Deficiência, e Presidente da Comissão de Saúde do CFFa; e Ações dos Conselhos de Fonoaudiologia – NASFs, com a fonoaudióloga Cláudia Cassavia, Conselheira e Presidente da Comissão de Saúde do CRFa. 2ª Região/SP.

O Encontro, que também contará com trabalhos em grupo e plenária final, será realizado na UNILUS (Rua. Batista Pereira, 265- Macuco), em Santos. Para inscrições ou informações, ligue para a Delegacia de Santos no (13) 3221-4647 ou envie um e-mail para [email protected]

também definem a necessidade de for­mação de grupos terapêuticos, de ações multidisciplinares e de atendimento cole­tivo ou individual. Os pacientes que não podem ir à UBS/PSF recebem visitas do­miciliares.

Os profissionais dos Núcleos também participam de atividades educativas, que ocorrem de acordo com a necessidade da comunidade ou dos membros das equi­pes. “As ações educativas para comunida­de muitas vezes são compartilhadas com ESF, uma vez que são elaboradas e aplica­

das em parceria. Por outro lado, as ações direcionadas aos colaboradores da UBS/PSF são desenvolvidas apenas pela Equipe NASF”, conta Daniela.

Para a fonoaudióloga, sua atuação nos estágios dentro das instituições de ensino público (CEI, EMEI e EMEF), bem como nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), foram fundamentais na prepa­ração para o trabalho no NASF, assim como o trabalho, depois de formada, na Subprefeitura de Santo Amaro no grupo TEIA (Trabalho envolvendo a infância e

a adolescência). Mesmo assim, precisou adaptar­se à nova realidade, “por se tra­tar de uma proposta inovadora junto às Equipes de Saúde da Família”, diz ela.

Daniela acredita ser fundamental que as instituições de ensino superior contemplem a formação para atuação nos núcleos. “É primordial que as IES se mobilizem para que dentro de sua grade curricular haja não só conteúdo teórico, como também a prática, pois será de grande valia para os novos co­legas”, indica.

Integralidade na Assistência e NASF em pauta no Encontro de Fonoaudiólogos do Serviço Público

No dia 15 de agosto, CRFa. 2a Região/SP promoveu o II Fórum: Inserção do Fonoaudiólogo no Núcleo de Apoio à Saúde da Família. O evento teve como objetivo dar continuidade às discussões do I Fórum, realizado em maio. Para os integrantes da Comissão de Saúde, responsável pela organização do Fórum e coordenação dos trabalhos, a discussão atingiu seu principal objetivo: propiciar a reflexão do fazer fonoaudiológico, a fim de consensuar junto aos profissionais as diferentes formas de atuação no NASF, cumprindo assim o papel do Conselho enquanto órgão representativo, responsável pela orientação e fiscalização do exercício profissional nas suas diversas formas e espaços de atuação. Um documento sobre o Fórum está em fase de elaboração

e em breve será divulgado, na íntegra, a todos os interessados.

Representantes das seguintes entidades contribuíram com as discussões: Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa.); Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa.); Cursos de Graduação em Fonoaudiologia da UNESP/Marília, FOB/USP, PUC/SP, PUC/CAMP, FMUSP e UNIFESP; fonoaudióloga do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família da UFSCAR; fonoaudiólogos que atuam em NASFs do município de São Paulo sob gestão de diferentes organizações sociais parceiras da Secretaria Municipal de Saúde, e a fonoaudióloga coordenadora da equipe NASF do município de Cachoeira Paulista.

Conselho promove o II Fórum sobre o Núcleo de Apoio à Saúde da Família

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Revista da FONOAUDIOLOGIA • 2ª Região • nº 83 • out/nov/dez • 200927

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CRFa. lança Parecer sobre Reabilitação VestibularO Conselho Regional de Fonoaudiologia 2ª

Região/SP lançou, em agosto, um parecer que trata das competências do fonoaudiólogo na avaliação e reabilitação vestibular. “Contamos com a ajuda de renomados profissionais que atuam na área. Eles elaboraram o resumo técnico sobre o tema, que norteou a construção do Parecer”, comenta a conselheira Daniela Queiroz, presidente da Comissão de Audiologia. Além das competências em si, o documento comenta questões como informações das provas do exame que auxiliam no diagnóstico da avaliação da função vestibular, fornecendo subsídios para a elaboração do laudo.

“Estabelecer um parecer de atuação profissional pelo nosso órgão de classe é muito importante para dar início a uma possível normativa no futuro, podendo, no decorrer do processo, caminhar para uma futura resolução, norteando o fonoaudiólogo quanto a sua competência e atuação em uma determinada área dentro de uma especialidade, no caso, a Audiologia”, comenta a fonoaudióloga Yara Bohlsen, professora assistente-doutor da Faculdade de Fonoaudiologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e integrante do Comitê de Equilíbrio do Departamento de Audição e Equilíbrio da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa). Ela foi uma das profissionais que auxiliou na elaboração do Parecer, que contou com mais quatro integrantes do Comitê de Equilíbrio da SBFa, representantes do CRFa. 2ª Região/SP e outros profissionais da área, todos do estado de São Paulo.

Segundo Yara, o documento chega em um momento muito propício. “Como atuo na área clínica e acadêmica, tenho observado nos últimos cinco anos um interesse maior dos fonoaudiólogos pela área, inclusive um aumento no número de trabalhos científicos encaminhados para os congressos nacionais e internacionais, bem como na publicação de artigos em periódicos”, conta a professora. “A procura por cursos e supervisões na área também se intensificaram e nas mesas apresentadas em congressos no Brasil, o público presente tem discutido sobre a nossa atuação profissional em avaliação e reabilitação vestibular, incluindo a emissão do laudo do exame”, continua. A fonoaudióloga também ressalta a importância de se investigar melhor e estabelecer no Brasil, parâmetros de referência dos equipamentos digitais mais recentes, tanto de avaliação como de reabilitação vestibular, em todas as faixas etárias. Destaca também a importância de uma constante atualização na área por parte do profissional atuante, tendo inclusive o cuidado em descrever os achados do exame que serão fundamentais para o diagnóstico nosológico emitido pelo médico responsável.Leia a íntegra do Parecer no site do CRFa. www.fonosp.org.br

OAB homenageia fonoaudiólogos com mais de 60 anos

Por conta da Semana do Idoso, a Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB-SP) homenageou profissionais liberais de todo o estado com mais de 60 anos. A comemoração foi organizada pela Comissão dos Direitos do Idoso da entidade, presidida por Maria Elisa Munhol. Para organizar a participação dos profissionais inscritos no CRFa. 2ª Região/SP, a representante da OAB-SP reuniu-se com a conselheira Carolina Fanaro da Costa Damato. Acompanhe os detalhes do evento no site do Conselho: www.fonosp.org.br

Fonoaudiólogas de Bauru e São Paulo recebem Prêmio Capes

Duas fonoaudiólogas estão entre os 38 vencedores do Prêmio Capes de Teses, anunciado no final de maio: Stela Maris Aguiar Lemos, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e Ana Paula Fukushiro, funcionária do Hospital Centrinho e professora do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB-USP).

Stela Maris apresentou a tese Processamento Auditivo e Estressores Familiares em Indivíduos com Dificuldades Escolares, sob a orientação de Liliane Desgualdo Pereira. Ana Paula apresentou o estudo Análise Perceptiva, Nasométrica e Aerodinâmica da Fala de Indivíduos Submetidos à Cirurgia de Retalho Faríngeo para Correção da Insuficiência Velofarínge. Ela foi orientada por Inge Elly Kiemle Trindade.

trabalho brasileiro é premiado em Congresso Europeu

Perda de massa óssea e risco de fraturas em pacientes com apneia do sono de ambos os sexos foi um dos trabalhos premiados no Congresso Europeu de Pneumologia da European Respiratory Society, realizado em Viena, na Áustria, entre 12 e 16 de setembro. A pesquisa, desenvolvida no Ambulatório Médico de Especialidades de Interlagos – Associação Congregação de Santa Catarina –, pelo Ambulatório Multidisciplinar de Medicina do Sono, tem a coordenação do médico otorrinolaringologista Agnaldo Carlesse. Também foram autores do estudo o fisioterapeuta, Rafael Montenegro Rodrigues, a fonoaudióloga Carolina Fanaro da Costa Damato e a médica reumatologista Virgínia Fernandes Moça Trevisani. O estudo chama a atenção para a necessidade de se rastrear a possibilidade de osteoporose e risco de fraturas em indivíduos com diagnóstico de apneia do sono. Também ressalta a importância de tratamentos para a diminuição dos índices de apneia e hipoapneia e que aumentem a qualidade do sono, como é o caso do tratamento fonoaudiológico, fisioterapêutico e nutricional.

O objetivo dos pesquisadores era verificar se havia relação entre hipoxemia noturna, índice de apneia, idade, índice de massa corpórea e a densidade mineral óssea do fêmur e da coluna lombar em homens e mulheres com apneia do sono. Um grupo de 36 indivíduos foi analisado por meio de polissonografia, densitometria óssea e dados antropométricos e demográficos. Observou-se que cerca de 55,5% apresentavam quadro de osteoporose/osteopenia. Nos homens, percebeu-se relação entre hipoxemia noturna e baixa densidade óssea em fêmur. Nas mulheres, o sobrepeso atuou como fator protetor contra a desmineralização óssea. No entanto, o fator idade apresentou-se como importante indicador de risco para fraturas do fêmur.

Ribeirão tem nova delegadaDesde o dia 08 de setembro, a fonoaudióloga Juliana Cardoso de

Melo Rocha está à frente da Delegacia Regional de Ribeirão Preto.

Revista da FONOAUDIOLOGIA • 2ª Região • nº 83 • out/nov/dez • 2009

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Conselhos discutem revisão de especialidadesDuas reuniões interconselhos de diretoria

sediadas pelo CRFa. 2ª Região/SP, em junho e agosto, tiveram como objetivo principal redigir um documento, encaminhado para consulta pública à categoria, referente à revisão das especialidades na Fonoaudiologia. O CRFa. 2ª região/SP foi representado nos encontros pela presidente Isabel Gonçalves, pela vice-presidente Maria Cristina Pedro Biz, e pela diretora-tesoureira, Carolina Fanaro da Costa Damato.

No primeiro encontro, em 26 e 27 de junho, diretores do Conselho Federal e de todos os Regionais do País discutiram o tema de forma intensa com representantes da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia e da Academia Brasileira de Audiologia. Já no segundo encontro, realizado em 28 e 29 de agosto, o debate teve em vista a Classificação Brasileira de Ocupação (CBO).

Os integrantes do Sistema dos Conselhos de Fonoaudiologia redigiram um documento colocado em consulta pública à categoria. Segundo a proposta, ficam mantidas as cinco áreas de especialidade já definidas – Audiologia, Linguagem, Motricidade Orofacial, Saúde Coletiva e Voz – e são criadas mais quatro – Disfagia, Fluência, Fonoaudiologia Escolar/Educacional e Fonoaudiologia do Trabalho.

Política de Reabilitação terá Audiência Pública

A Comissão de Saúde da Câmara Municipal de São Paulo, em parceria com o CRFa. 2a Região/SP, promoverá audiência pública para discutir o cenário da implementação da política de reabilitação do município de São Paulo. O evento está marcado para o dia 4 de novembro, das 13hs às 15hs, na Câmara Municipal de São Paulo. Esta é uma excelente oportunidade para os fonoaudiólogos colocarem suas principais questões sobre o tema.

Conselho marcou presença no Pautar Brasil

O CRFa.2ª Região/SP participou do Pautar Brasil- O Poder das Profissões e a Responsabilidade dos Profissionais, o Fórum Nacional das Profissões, que se reuniu nos dias 24 e 25 de agosto, em Brasília. Vários temas foram abordados no encontro, sendo que os principais foram o papel das assessorias parlamentares na tramitação de projetos de lei que favoreçam as profissões e a importância dos Conslhos para a sociedade e para o desenvolvimento profissional. O CRFa. foi representado pela presidente Isabel Gonçalves, pela vice-presidente Maria Cristina Pedro Biz e pela assessora jurídica Valéria Nascimento.

mS publica nova Portaria sobre direitos e

deveres dos usuáriosNo dia 13 de agosto, foi publicada no Diário Oficial da União

a Portaria N° 1.820, que “dispõe sobre os direitos e deveres dos usuários da saúde nos termos da legislação vigente”.O documento garante que: “Toda pessoa tem direito ao acesso a bens e serviços ordenados e organizados para garantia da promoção, prevenção, proteção, tratamento e recuperação da saúde” e prevê que o acesso seja oferecido “preferencialmente nos serviços de Atenção Básica integrados por centros de saúde, postos de saúde, unidades de saúde da família e unidades básicas de saúde ou similares mais próximos de sua casa”.

A Comissão de Saúde do CRFa. 2ª Região/SP destacou alguns importantes itens do documento, que possuem relação direta com a Fonoaudiologia. Caso já do terceiro artigo da portaria, que prevê: “Toda pessoa tem direito ao tratamento adequado e no tempo certo para resolver o seu problema de saúde. É direito da pessoa ter atendimento adequado, com qualidade, no tempo certo e com garantia de continuidade do tratamento”, diz o texto. Para isso, é necessário assegurar “atendimento ágil, com tecnologia apropriada, por equipe multiprofissional capacitada e com condições adequadas de atendimento”.

A portaria também exige o registro atualizado e legível do prontuário, que deve conter o motivo do atendimento, os dados de observação e de evolução clínica, a prescrição terapêutica e as avaliações dos profissionais da equipe. No caso de encaminhamento para outro serviço, o profissional de saúde deverá enviar documento legível e em linguagem clara com o histórico clínico do paciente, nome legível do profissional e seu número de registro no conselho profissional, identificação da unidade de saúde que recebeu a pessoa, assim como da que continuará o atendimento.

É garantido o direito ao usuário de, quando estiver internado, receber a visita de profissionais de saúde que não pertençam àquela unidade hospitalar e que poderão ter acesso ao prontuário. Ele também deve ter “acesso ao conteúdo do seu prontuário ou de pessoa por ele autorizada e a garantia de envio e fornecimento de cópia, em caso de encaminhamento a outro serviço ou mudança de domicilio”. O paciente também tem a liberdade de procurar uma segunda opinião ou parecer de outro profissional sobre seu estado de saúde caso ache necessário. E não poderá realizar exame de saúde pré-admissional, periódico ou demissional, sem conhecimento e consentimento, exceto nos casos de risco coletivo. Entre as obrigações do usuário, consta “assumir a responsabilidade pela recusa a procedimentos, exames ou tratamentos recomendados e pelo descumprimento das orientações do profissional ou da equipe de saúde”.

Os serviços de saúde deverão deixar em local visível aos usuários informações sobre o próprio serviço, como nome do responsável e dos profissionais, horário de trabalho de cada integrante da equipe e as ações e procedimentos disponíveis. O documento assinado pelo ministro José Gomes Temporão também define que “as informações prestadas à população devem ser claras, para propiciar a compreensão por toda e qualquer pessoa.”

Para ler a íntegra da Potaria N° 1.820, acesse www.fonosp.org.br ou http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2009/prt1820_13_08_2009.html

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Secretaria premia trabalho em Fonoaudiologia e

NutriçãoA equipe de Fonoaudiologia e Nutrição do Hospital

Regional de Cotia, na Grande São Paulo, ficou com o primeiro lugar no Prêmio Ideia Saudável, categoria “Organização do Serviço”, deste ano. Esta é a terceira edição da premiação outorgada pela Secretaria Estadual de Saúde, que reconhece projetos inovadores que tragam benefícios à população, com ampliação no atendimento, melhoria da qualidade da assistência prestada e melhor aproveitamento do dinheiro público.

A equipe conquistou o prêmio com o trabalho “Inclusão do Cuidador na Assistência Nutricional e Fonoaudiológica ao Paciente Após Alta Hospitalar”, desenvolvido na instituição. “Este trabalho contribui para a divulgação e a valorização do nosso trabalho”, comemora a fonoaudióloga Vanessa Esquerdo Araújo, integrante da equipe.

Conselhos elaboram novo Código

Entre os dias 20 e 22 de agosto, a conselheira Renata Strobilius, membro da Comissão de Ética do CRFa. 2a Região/SP, e a assessora jurídica, Valéria Nascimento, participaram da Reunião Interconselhos das Comissões de Ética. O objetivo do encontro, que reuniu representantes dos Conselhos Federal e Regionais, foi dar continuidade à elaboração do novo Código de Processo Disciplinar. O documento, que deve substituir o atual Código de Processo Ético Disciplinar, complementa o Código de Ética da Fonoaudiologia, de 2003. Antes utilizado apenas pela Comissão de Ética, ele também passará a ser usado pela Comissão de Orientação e Fiscalização. A previsão é de que o novo código fique pronto até o final do ano.

Estado de São Paulo discute Saúde Pública

O CRFa. 2a Região/SP esteve no 11o Congresso Paulista de Saúde Pública, realizado na Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), em São José dos Campos, durante o período de 22 a 26 de agosto. “Saúde Pública e Crise(s): fronteiras e caminhos” foi o tema do evento, que contou com a representação de autoridades municipais e estaduais da saúde, de conselhos e associações profissionais, além da colaboração de profissionais da saúde pública de diversas inserções e instituições do país. Com um formato inovador, teve conferências, pôsteres, discussões temáticas e diálogos pertinentes sobre temas como a crise econômica, o modelo de organização do estado, a relação entre os serviços públicos e privados em saúde, a Atenção Básica no estado de São Paulo, epidemias e risco sanitários no mundo. O CRFa. 2a Região esteve representado no evento pela conselheira Carolina Fanaro da Costa Damato.

Revista da FONOAUDIOLOGIA • 2ª Região • nº 83 • out/nov/dez • 200930

Santos discute Saúde Auditiva Neonatal

A Delegacia Regional da Baixada Santista realizou, em maio, o encontro “Triagem Auditiva Neonatal: Identificação e Diagnóstico da Deficiência Auditiva”, coordenado pela Dra. Doris Ruth Lewis. O evento reuniu fonoaudiólogos que atuam nessa área em toda a região metropolitana da Baixada Santista e já produziu frutos.

Durante o evento, Doris fez uma breve apresentação sobre o COMUSA (Comitê Multiprofissional em Saúde Auditiva). Entre as principais discussões, esteve a criação de um Grupo de Trabalho (GT) composto por fonoaudiólogos representantes de cada cidade presente ao encontro – Santos, São Vicente, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém, Cubatão, Guarujá e São Sebastião. No dia 30 de julho, o Grupo realizou sua primeira reunião, sob a coordenação da conselheira Maria Cristina Biz e da Delegada Maria Cristina Jabbur e contou com a presença da fiscal Milene Lopes para a organização dos dados levantados.

Vários aspectos do processo triagem-diagnóstico-reabilitação foram apre sentados pelos diversos serviços, levando o grupo a refletir sobre como otimizar as ações e agilizar o sistema para chegar à alta complexidade.

Dentre as várias questões apresentadas, pode-se destacar os relatos positivos das fonoaudiólogas Eliane Blanco (Praia Grande) e Fabiana Godinho (Guarujá), nos quais ficou bem claro que a postura do profissional fonoaudiólogo, com esclarecimentos à equipe e, principalmente, às suas chefias, torna a resolução do processo de triagem, diagnóstico e encaminhamentos mais ágil e consistente.

O grupo de trabalho é formado pelas seguintes fonoaudiólogas: Eliane Blanco (Praia Grande), Tania Akiko (São Vicente), Fabiana Godinho (Guarujá), Soraya Ribeiro (Itanhaém), Luiza Salles (Cubatão), Tânia Cardoso (Santos), Teresa Cristina Souza (Estado - HGA), Rosemeire Zuanazzi e Lud Lanes (Serviços privados - Santos), Tatiane Freire (Serviços privados - São Vicente) e Glaucia Mazon (Alta Complexidade).

Dra. Doris Ruth Lewis apresenta o COMUSA para os participantes do encontro

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CRFa. no II Seminário

Nacional de VozO Conselho Regional de

Fonoaudiologia 2ª Região/SP, representado pela vice-presidente Maria Cristina Pedro Biz, participou, no dia 17 de agosto, do II Seminário Nacional de Voz - CEREST/SP e XIX Seminário de Voz da PUC-SP. As discussões giraram em torno do tema Distúrbios de Voz Relacionados ao Trabalho (DVRT). O evento contou com a presença de representantes do Ministério da Saúde, de Centros de Referência em Saúde do Trabalhador de São Paulo e de diversos municípios do Estado, de Sociedades Científicas e do recém criado “Comitê Nacional Multidisciplinar de Voz Ocupacional”, do qual a Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia é integrante.

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Desde a publicação do material Audiometria Tonal, Logoau­diometria e Medidas de Imi­tância Acústica: Orientação

dos Conselhos de Fonoaudiologia para o Laudo Audiológico, o CRFa. 2ª Região/SP tem recebido inúmeras manifestações a respeito do documento. Algumas para­benizam os Conselhos pela publicação e outras pedem esclarecimentos de dúvidas sobre como utilizá­la.

As questões mais comuns foram: “Como utilizar a norma obrigatória pelo conselho?”, “Como ficam a NR7 e a Porta­ria 19”, “Qual normalidade deve ser utiliza­da: BIAP, Lloyd e Kaplan ou CFFa.?” Ressal­

tamos que os Conselhos Federal e Regio­nais de Fonoaudiologia apenas compilaram as classificações mais utilizadas, amplamen­te difundidas nos livros tradicionais de Au­diologia, cabendo ao fonoaudiólogo apro­fundar seu conhecimento através de con­sultas aos capítulos originais listados nas re­ferências bibliográficas da publicação. É im­portante esclarecer que as classificações incluídas na publicação são sugestões dos Conselhos Regionais e Federal de Fonoau­diologia e não se tratam de determinação.

Outra questão importante levantada pelos questionamentos refere­se à emis­são dos laudos dos exames ocupacionais. Eles devem conter todas as determinações

da Portaria Nº 19 do Ministério do Traba­lho e Emprego (MTE) e da legislação vigen­te, as quais norteiam a atuação do fonoau­diólogo na área de Audiologia Ocupacional. As classificações de Lloyd e Kaplan, BIAP e da Portaria Nº 19 são diferentes e não po­dem ser “agrupadas”. Desta forma, deve­se optar por apenas uma classificação.

É importante lembrar que, ao laudar o exame, o fonoaudiólogo legitima sua atu­ação. Além disso, torna a informação cla­ra para o maior interessado: o próprio pa­ciente, que tem o direito de saber como está sua audição.

Comissão de Audiologia

Esclarecimentos sobre o Laudo AudiológicoComissão de Audiologia do Conselho responde dúvidas dos fonoaudiólogos

Políticas PúblicasOlá,Acabo de receber a revista do CRFa. 2a Região (ed. 82). As matérias estão muito boas. Os temas retratam o panorama de inserção dos fonoaudiólogos nas políticas públicas e apontam para novas configurações. Mostram, na verdade, que muitos fonoaudiólogos estão indo à luta e de fato contribuindo para a consolidação de nossa participação nas transformações sociais. Fiquei muito animada!Cecília Bonini

Reabilitação Vestibular Bom dia!Achei excelente a iniciativa do CRFa. 2a Região/SP em elaborar o Parecer sobre avaliação e reabilitação vestibular! Diante da insistência da Fisioterapia em atuar nesta área, realmente precisávamos de um documento que afirmasse a competência do Fonoaudiólogo para tal. Considerando a importância do Parecer, acredito ser imprescindível transformá-lo em Resolução. Priscila Cristina Vidal Martins

ponto dE ViSta

Veja a lista de fonoaudiólogos que perderam carimbos e cédulas:

CARIMBOAna Maria N. Bromerchenkel - CRFa. 5628/SPNatália Siqueira Spitaletti Araújo - CRFa. 15891/SPJuliana Boaventura Pinto Martins - CRFa. 14798/SPFabiane Taira Gushiken - CRFa. 9403/SPMarília Marcondes - CRFa. 6401/SPLiliane Leão da Silva - CRFa. 16341/SP

CédULAMarília Zannon de Andrade – CRFa. 15970/SP

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ERRATA

Por causa de um erro de digitação, o tamanho das baterias dos aparelhos Solar Ears foi publicado de forma incorreta (Ed. 82 p. 12 e 13). Os tamanhos corretos são 675, 312 e 13.

Revista da FONOAUDIOLOGIA • 2ª Região • nº 83 • out/nov/dez • 200931

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