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Valeria Mandia Café Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração Influencia na Internacionalização das Empresas Brasileiras

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Valeria Mandia Café

Como o Capital Socialdos Conselheiros de AdministraçãoInfluencia na Internacionalizaçãodas Empresas Brasileiras

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ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING

PROGRAMA DE MESTRADO E DOUTORADO EM GESTÃO INTERNACIONAL

VALERIA MANDIA CAFÉ

COMO O CAPITAL SOCIAL DOS CONSELHEIROS DE ADMINISTRAÇÃO

INFLUENCIA NA INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS BRASILEIRAS

São Paulo

2018

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Cafe, Valeria Mandia Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração influenciana internacionalização das empresas brasileiras / Valeria Mandia Cafe. -São Paulo, 2018. 226 p. : il., color.

Dissertação (mestrado) – Escola Superior de Propaganda eMarketing, Programa de Mestrado em Administração – GestãoInternacional, São Paulo, 2018.

Orientador: George Bedinelli Rossi

1. internacionalização. 2. capital social. 3. redes sociais. 4. boardinterlocking. 5. conselho de administração. 6. uppsala revisitado. I.Rossi, George Bedinelli. II. Escola Superior de Propaganda e Marketing.III. Título.

Ficha catalográfica elaborada pelo autor por meio do Sistema de Geração Automático daBiblioteca ESPM

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VALERIA MANDIA CAFÉ

COMO O CAPITAL SOCIAL DOS CONSELHEIROS DE ADMINISTRAÇÃO

INFLUENCIA NA INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS BRASILEIRAS

Dissertação de mestrado apresentada como

requisito para obtenção do título de Mestre em

Administração com ênfase em Gestão

Internacional pela Escola Superior de Propaganda

e Marketing - ESPM.

Orientador: Prof. Dr. George Bedinelli Rossi

São Paulo

2018

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VALERIA MANDIA CAFÉ

COMO O CAPITAL SOCIAL DOS CONSELHEIROS DE ADMINISTRAÇÃO

INFLUENCIA NA INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS BRASILEIRAS

Dissertação de mestrado apresentada como

requisito para obtenção do título de Mestre em

Administração com ênfase em Gestão

Internacional pela Escola Superior de Propaganda

e Marketing - ESPM.

Data de Aprovação: _____ de____________de_______.

Banca Examinadora:

________________________________________________________________

Presidente: Prof. Dr. George Bedinelli Rossi

Escola Superior de Propaganda e Marketing - ESPM

________________________________________________________________

Membro externo: Prof. Dr. Wesley Mendes da Silva

Fundação Getúlio Vargas – FGV/EAESP

________________________________________________________________

Membro interno: Prof. Ilan Avrichir

Escola Superior de Propaganda e Marketing - ESPM

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Dedico este estudo aos meus filhos Luiza Café Naves e Thiago Café Naves, ao meu marido

Reynaldo Cesar Naves Filho, que foram obrigados a abdicar de mim como mãe e esposa

durante dois anos e acompanharam meus estudos noturnos e durante os feriados e finais de

semana.

A vocês, queridos, muito obrigada pelo suporte, amor e compreensão.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu orientador, Professor George Bedinelli Rossi, por compreender e

aceitar todas as mudanças que fiz em minha dissertação durante esses dois anos e, também,

por reforçar e garantir que as análises de meu estudo tivessem validade e confiabilidade.

Agradeço ao Professor Wesley Mendes da Silva, que me fez estudar e compreender

ainda mais sobre governança e me inspirou a seguir no tema board interlocking e capital

social dos conselheiros de administração, contanto que o assunto fosse relevante e inédito;

Agradeço ao Professor Ilan Avrichir, que nos apresentou toda a gama de teorias

relevantes para que pudéssemos utilizá-las da melhor forma;

Agradeço aos amigos Professores Sérgio Muritiba e Patrícia Muritiba, que acolheram

minhas dúvidas todas as vezes que precisei;

Agradeço à Mercedes Stinco e Tarcila Reis Ursini, que viabilizaram entrevistas com

alguns dos melhores conselheiros do país;

Agradeço a todos os conselheiros que aceitaram ser entrevistados;

Agradeço à Heloisa Bedicks, superintendente geral do IBGC que aceitou minha

ausência em muitas tardes de trabalho para que eu pudesse concluir o mestrado.

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“O futuro tem muitos nomes.

Para os fracos é o inalcançável.

Para os temerosos, o desconhecido.

Para os valentes é a oportunidade.”

(Victor Hugo)

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RESUMO

Esta dissertação visa analisar como o capital social dos conselheiros de administração

influencia na internacionalização das empresas brasileiras listadas na B3 (cujo nome era

BM&FBovespa). Para dar suporte, foram utilizados os conceitos de capital social do conselho

de administração e da teoria de redes. Essas teorias foram adotadas no ambiente da

governança corporativa das empresas nacionais, de forma a sustentar suas estratégias

internacionais. Para isso, foi realizada uma pesquisa exploratória qualitativa por meio do

método estudo de casos múltiplos, com entrevistas realizadas junto a 7 conselheiros e 2

gestores de internacionalização de empresas listadas na B3. Os resultados foram analisados

com a técnica de análise de conteúdo por codificação aberta, e utilizou-se também o software

NVivo. Os resultados mostraram que os conselheiros de administração influenciam na

internacionalização das empresas de inúmeras formas, principalmente por meio de

aconselhamento junto à gestão, relacionamento e negociação junto aos acionistas e também

por meio do uso do board interlocking visando trazer resultados e troca de conhecimento às

empresas. Esse trabalho contribui para os estudos de board interlocking, redes sociais e

internacionalização das empresas brasileiras.

Palavras-chave: internacionalização, uppsala revisitado, capital social, redes sociais, board

interlocking, conselho de administração

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ABSTRACT

This work aims to analyze how the social capital of board members influences the

internationalization of the Brazilian companies listed in B3 (the Brazilian Stock Exchange).

The concepts of social capital of the board of directors and social ties theory were used. These

theories were adopted in the corporate governance environment of the Brazilian companies, in

order to support their international strategies. For this, a qualitative exploratory research was

done through the multiple case study method, with interviews conducted with 7 board

directors and 2 internationalization managers from companies listed in B3. The results were

analyzed using the open-coded content analysis technique and NVivo software. The results

showed that board directors influence the internationalization of companies in different ways,

mainly through management counselling, relationship and negotiation with shareholders and

board interlocking. This work contributes to the studies of board interlocking, social networks

and internationalization of Brazilian companies.

Keywords: internationalization, uppsala revisited, social capital, social networks, board

interlocking, board of directors

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Padrões de comportamento de internacionalização de empresas latinas........... 27

Tabela 2 – Modelo redes sociais.......................................................................................... 49

Tabela 3 – Fontes de Evidências………………………………………………………...... 66

Tabela 4 – Matriz de Categorização: Códigos e Referências.............................................. 72

Tabela 5 - Matriz de Proposições Depoimentos das Entrevistas em relação às Teorias de

Capital Social e de Internacionalização – Uppsala, Uppsala Revisado e Alianças

Estratégicas...........................................................................................................................

160

Tabela 6 - Matriz comparativa dos depoimentos dos entrevistados nas proposições

apresentadas..........................................................................................................................

166

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1- Análise quantitativa de proposições................................................................... 162

Gráfico 2 – Quantidade de depoimentos que mencionam o Capital Social......................... 164

Gráfico 3 - Quantidade de depoimentos voltados à internacionalização............................. 164

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Modelo de uppsala........................................................................................... 23

Figura 2 - Modelo de uppsala revisitado.......................................................................... 25

Figura 3 - Benefícios primários providos por conselheiros de administração.................. 38

Figura 4 - Conceito de capital social ................................................................................ 40

Figura 5 - Modelo sobre dimensões do capital social....................................................... 43

Figura 6 - Modelo sobre relações de estruturas sociais..................................................... 45

Figura 7 - Relação de como o capital social de indivíduos como os conselheiros de

administração de uma empresa pode influenciar sua internacionalização.........................

55

Figura 8 – Percurso Metodológico do Trabalho................................................................ 56

Figura 9 - Abordagem metodológica................................................................................. 59

Figura 10 - Sobre as empresas selecionadas para estudo de caso..................................... 60

Figura 11 - Corpus de pesquisa e técnicas de coleta de dados.......................................... 61

Figura 12 - Matriz de amarração....................................................................................... 62

Figura 13 - Roteiro semi-estruturado de entrevistas.........................................................

Figura 14 - Volume de exportações Duratex de painéis de madeira MDP, em milhões

de m3, comparado ao volume de vendas nacional..............................................................

63

81

Figura 15 - Volume de exportações Duratex de painéis de madeira MDF, em milhões

de m3, comparado ao volume de vendas nacional..............................................................

81

Figura 16 - Receita bruta das unidades de negócio do Grupo Natura............................... 99

Figura 17 – Países onde atua…………………………………………………………… 99

Figura 18 – Receita Líquida da Fibria (em milhões de reais) …………………………. 128

Figura 19 - Distribuição da Receita Líquida de Celulose 3T17 – por região e por uso

final.....................................................................................................................................

129

Figura 20 - Frequência de Palavras advindas de matérias previamente selecionadas de

veículos de comunicação de negócios, transcrição das nove entrevistas e teoria

apresentada nesta dissertação.............................................................................................

190

Figura 21 - Análise do Mapa de árvore do NVivo e divisão de palavras por subgrupos.. 192

Figura 22 – Variáveis Independentes e suas correlações……………………………….. 195

Figura 23 – Proposta de Modelo “Como os Conselheiros de Administração

influenciam na internacionalização das empresas”…………………………………....

197

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

B3 B3 (Brasil, Bolsa, Balcão) é a bolsa de valores oficial do Brasil.

A bolsa é uma entidade autorreguladora que opera sob a supervisão

da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

BNDE Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CCSI Columbia Center on Sustainable Investment

CEO Chief Executive Officer

CME Coordinated Market Economies

CPC Comitê de Pronunciamentos Contábeis

CSN Companhia Siderúrgica Nacional

EAESP Escola de Administração de Empresas de São Paulo

ECI Economic Complexity Index

FLME Family-Led Market Economies

FMI Fundo Monetário Internacional

FGV Fundação Getúlio Vargas

GE General Electric

IASB International Accounting Standards Board

IDE Investimento Direto Estrangeiro

IFM International Financial Management Studies

LME Liberal Market Economies

MNC Multinational Corporations

MRE Ministério das Relações Exteriores

OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

OLI Ownership – Location – Internalization

SLME State-Led Economies

TBS The Body Shop

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SUMÁRIO

1 Introdução....................................................................................................................... 14

1.1 Objetivos e justificativa.................................................................................................. 17

2 Revisão de Literatura..................................................................................................... 18

2.1 Internacionalização............ .......................................................................................... 18

2.1.1 A governanca corporativa e o ambiente institucional................................................. 18

2.1.2 Teoria institucional e teoria neoinstitucional.............................................................. 19

2.1.3 Teoria da dependência de recursos e embeddedness.................................................. 20

2.1.4 O modelo de uppsala revisitado................................................................................. 22

2.2 Internacionalização das empresas latinas..................................................................... 26

2.2.1 Estrutura de propriedade das empresas brasileiras..................................................... 27

2.2.2 Internacionalização das empresas brasileiras............................................................. 29

2.2.3 A influência do governo brasileiro na internacionalização das empresas.................. 31

2.3 A governança corporativa e a teoria da agência........................................................... 33

2.4 O impacto dos conselheiros de administração na internacionalização das empresas 37

2.5 O papel do conselho de administração......................................................................... 38

2.6 O capital social............................................................................................................. 39

2.6.1 Análise de redes sociais.............................................................................................. 45

2.6.2 Board Interlocking...................................................................................................... 49

2.6.3 Redes estratégicas....................................................................................................... 51

2.6.4 O capital social do conselheiro de administração....................................................... 52

3 Metodologia..................................................................................................................... 56

3.1 Tipo de pesquisa e abordagem....................................................................................... 56

3.2 Método de pesquisa....................................................................................................... 57

3.3 Critérios de seleção........................................................................................................ 58

3.4 Corpus de pesquisa e técnicas de coleta de dados......................................................... 61

3.5. Técnica de tratamento de dados e análise…………………………………………... 68

4 Análise de Conteúdo…………………........................................................................... 75

4.1 As categorias escolhidas para análise e seus autores……............................................. 75

4.2 A Duratex........................................................................................................................ 80

4.2.1 Análise Comparativa dos Entrevistados Duratex…………………………………. 93

4.2.2 Conclusão da Análise Comparativa dos Entrevistados Duratex…………………….. 97

4.3 A Natura………………………………………………………………………………. 98

4.3.1 Análise Comparativa dos Entrevistados Natura…………………………………….. 115

4.3.2 Conclusão da Análise Comparativa dos Entrevistados Natura…………………….... 124

4.4 A Fibria………………………………………………………………………………... 127

4.4.1 Análise Comparativa dos Entrevistados Fibria……………………………………… 146

4.4.2. Conclusão da Análise Comparativa dos Entrevistados Fibria……………………. 157

Page 16: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

5. Conclusões…………………………………………………………………………….. 158

5.1 Análise Comparativa dos Estudos de Caso e as Proposições………………………… 158

5.2 Análise Quantitativa das Proposições………………………………………………… 162

5.3 Análise Comparativa Quantitativa de palavras presentes nas entrevistas, artigos e

teorías……………………………………………………………………………………..

189

5.4 Proposta de Modelo – Como os Conselheiros de Administração influenciam na

Internacionalização da empresa……………………………………………………………

196

6. Discussões Finais………………………………………………………………………. 198

7. Contribuições e Limitações…………………………………………………………… 202

8. Referências..................................................................................................................... 204

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1. INTRODUÇÃO

Cross, Parker e Sasson (2003) já diziam que a nova economia da informação é dirigida

pela economia de redes. Partindo do princípio de que redes de relacionamentos acumulam

conhecimento e resultam na construção de confiança entre parceiros (JOHANSON;

VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital

social e a rede de relacionamentos dos conselheiros de administração das empresas pode

influenciar sua internacionalização. Sua relevância está no fato dos conselhos de

administração terem ganhado destaque nos últimos anos, já que exercem um papel

fundamental na gestão das empresas listadas (JOHNSON et al., 2013). Atualmente questiona-

se muito sobre o que se entende por um conselho efetivo e quais os comportamentos que

fazem com que um conselho seja um importante mecanismo de governança (CONGER;

LAWLER; FINEGOLD, 2001; DE LA ROSA, 2006; NICHOLSON; KIEL, 2004;

SCHMIDT; BRAUER, 2006). Ao mesmo tempo, há poucos estudos que ligam os conselhos

aos resultados da organização, tais como a internacionalização de empresas (RIVAS;

HAMORI; MAYO, 2009). Estratégias de internacionalização nunca foram tão cruciais, uma

vez que os limites dos negócios são globais e, sob essas circunstâncias, as empresas

necessitam de conselhos efetivos para a tomada de decisões apropriadas (BARROSO;

VILLEGAS; PÉREZ-CALERO, 2011).

Como suporte teórico principal ao estudo foi utilizado o conceito de capital social e de

redes sociais do conselheiro de administração e a literatura sobre a efetividade dos conselhos

de administração e a internacionalização de empresas.

O capital social explica a importância de usar conexões e redes sociais para atingir

objetivos de indivíduos, grupos sociais, organizações ou comunidades (LIN, 2001) enquanto

que os estudos sobre a efetividade dos conselhos de administração analisam o conhecimento,

experiência, educação, expertise e a dinâmica de relacionamento dos conselheiros dentro do

próprio grupo e com as partes interessadas, internas e externas à empresa (BARROSO;

VILLEGAS; PÉREZ-CALLERO, 2011).

De acordo com Fama e Jensen (1983), os conselhos de administração de empresas são

responsáveis por monitorar e controlar os presidentes (Chief Executive Officers - CEOs).

Porém, como os conselhos de administração são formados por profissionais e executivos que

possuem conexões com outros grupos de gestão de diferentes empresas (FRACASSI; TATE,

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2012), autores como Hillman e Dalziel (2003), criaram o conceito de Capital do Conselho

(Board Capital), que é a habilidade dos conselheiros de oferecer recursos para a empresa.

Esse conceito foi desenvolvido com base na teoria da Dependência de Recursos (PFEFFER;

SALANCIK, 1978), no qual é esperado dos conselheiros, sua oferta de aconselhamento,

trazendo, com eles, legitimidade e acesso a importantes fatores e pessoas fora da empresa,

servindo como um canal de comunicação entre a empresa e o ambiente, ajudando na

formulação da estratégia.

Nesse sentido, foi considerada a importância do conselho de administração na

internacionalização das empresas brasileiras sob o ponto de vista do modelo de Uppsala

Revisitado. Isso porque, tem sido estudado na literatura de internacionalização, o papel que a

aprendizagem da experiência desempenha no processo de aumento gradual do nível de

envolvimento internacional. Ao mesmo tempo, o impacto do nível de conhecimento e perícia

dos conselheiros permanece, em grande parte, inexplorado (NIELSEN, 2010). Em outras

palavras, as características dos membros do conselho que dão forma à sua capacidade de

orientar gestores e administradores efetivamente nas decisões estratégicas internacionais

permanecem praticamente inexploradas (BARROSO; VILLEGAS; PEREZ-CALERO, 2011).

Daí a importância de se fazer esse comparativo também.

Alguns autores que vêm estudando a importância do capital social dos conselheiros

nas estratégias das empresas colocam pontos relevantes que podem ser estudados. Por

exemplo, para Barroso, Villegas e Pérez-Calero (2011), poucos estudos analisaram a

influência dos conselhos na internacionalização das empresas, principalmente em se

considerando que o ambiente para as empresas internacionais costuma ser mais difícil e

complexo na tomada de decisão (PRAHALAD, 1990). Já Rossoni, Aranha e Mendes-Da-

Silva (2017) consideram que existe um gap na pesquisa de board interlocking (um

profissional atuando como conselheiro em mais de duas empresas) com relação à influência

que os recursos embutidos (embedded) nas redes desses conselheiros realmente agregam valor

ao desempenho das empresas nas quais atuam, além do fato de que os autores reforçam que

não há estudos ou dados que permitam identificar os tipos e a natureza das relações existentes

entre membros de diferentes conselhos de administração.

Ainda, considerando o ambiente institucional brasileiro, Rossoni, Aranha e Mendes-

Da-Silva (2017), mencionam que no Brasil existe uma presença significativa de funcionários

e oficiais do governo ocupando assentos nos conselhos de administração das empresas que

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receberam investimento do próprio governo. Lazzarini (2015) estudou o impacto da presença

do principal banco de investimento estatal brasileiro, o Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social (BNDES). Segundo Lazzarini (2007), as redes de proprietários no Brasil

comportam-se como um mundo pequeno (small world), sendo que o BNDES é um ator

bastante central, com participações em diversas empresas.

Este estudo visa preencher a lacuna existente na literatura sobre capital social dos

conselheiros de administração e a internacionalização de empresas brasileiras, tendo como

foco verificar empiricamente como o capital social dos conselhos de administração influencia

na internacionalização de empresas brasileiras listadas na B3 (Bolsa de Valores oficial do

Brasil). Os objetivos específicos do estudo visam analisar como esse impacto acontece

considerando o modelo de Uppsala Revisitado e o relacionamento desses conselheiros com as

partes interessadas.

O tipo de pesquisa para viabilizar o estudo foi a pesquisa de campo exploratória, de

abordagem qualitativa. O método de pesquisa foi o estudo de casos múltiplos, por meio de

entrevistas em profundidade realizadas junto a três administradores de cada empresa, sendo

dois conselheiros e o principal executivo responsável por sua internacionalização. Para que

seja possível a comparação entre as empresas, foram selecionadas empresas cuja vantagem

competitiva são as florestas brasileiras, sendo que cada empresa está em um distinto estágio

de internacionalização. Foram também selecionados conselheiros que atuam em mais de uma

organização, para que possam apresentar as vantagens de atuação nos conselhos de diferentes

organizações.

Outro ponto importante analisado é o fato de que a dinâmica de relacionamento nos

conselhos precisa ser entendida em um sentido mais amplo, incluindo a dinâmica entre

conselheiros, entre conselheiros e os administradores da empresa e entre conselheiros e partes

interessadas externas. (HUSE, 2005; MACUS, 2008).

Este estudo contribui para qualificar as análises sobre a importância do capital social

dos conselheiros de administração nas estratégias das empresas, bem como posicionar o Brasil

na literatura de governança, explorando suas idiossincrasias (característica comportamental ou

estrutural peculiar a um indivíduo ou grupo). Além disso, trará à discussão dos estudos de

estratégia internacional, a relevância do capital social na internacionalização das empresas.

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1.1 Objetivos e justificativa

Diante dos fatos apresentados, este estudo visa investigar como o capital social dos

conselheiros de administração influencia a internacionalização das empresas brasileiras.

Como objetivos específicos, pretende-se:

1. Identificar e comparar elementos que demonstram a influência do capital social dos

conselheiros na gestão da empresa com relação à internacionalização;

2. Identificar e comparar elementos que demonstram a influência do capital social dos

conselheiros de administração que são conselheiros em mais de uma empresa;

3. Identificar e comparar como o perfil e as competências dos conselhos de administração

evoluem junto à evolução de seu processo de internacionalização.

A relevância dessa pesquisa abre a necessidade para que mais pesquisadores analisem

a governança corporativa no Brasil sob o aspecto do capital humano e como a reputação e a

habilidade desse capital humano pode ou não adicionar valor à empresa e ao seu processo de

internacionalização, uma vez que a internacionalização deve ser vista como um processo de

redes ao invés de ser vista como uma visão atomística (JARRILLO, 1988).

Ao mesmo tempo, com relação aos conselhos de administração, muitos autores já

comprovaram que informação, material e recursos simbólicos advindos dos conselheiros são

essenciais para o desempenho de uma empresa (CONNELLY; VAN SLYKE 2012; DAVIS,

1996; JOHNSON et al., 2011; MIZRUCHI; STEARNS, 2006). Porém, há poucos estudos

comprovando a avaliação empírica do efeito dos recursos relacionais dos conselheiros

(ROSSONI; ARANHA; MENDES-DA-SILVA, 2017).

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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Internacionalização de empresas

A análise de como o capital social dos conselheiros de administração influencia a

internacionalização de empresas brasileiras passa por entender e debater algumas teorias

específicas de internacionalização, tais como a teoria institucional e neo-institucional, a teoria

da dependência de recursos e, principalmente, o modelo de uppsala revisitado. Todas essas

teorias analisam as relações dos conselheiros de administração das organizações com outros

indivíduos, organizações e stakeholders.

2.1.1 A Governança Corporativa e o ambiente institucional

La Porta et al. (1998) já apontava que o estudo da governança corporativa está

fortemente vinculado ao ambiente institucional.

A teoria institucional descreve como uma organização adota práticas que são

consideradas aceitáveis e legítimas dentro de seu campo organizacional (SCOTT, 1995).

Neste caso, o campo organizacional seria o país.

Além da teoria institucional, Sherer e Lee (2002), indicam que a teoria da dependência

de recursos, assim como a teoria institucional, também se interessa com o relacionamento

entre uma organização e os diversos autores no ambiente em que atua. Ambas as teorias

assumem que a escolha da atuação de uma organização em um determinado país está restrita a

múltiplas pressões externas, considerando que as organizações estão preocupadas em

construir legitimidade e aceite junto ao stakeholder. Ambas teorias têm um poder preditivo

quando utilizadas em conjunto.

Por este motivo, será abordado, neste estudo, a teoria institucional e a teoria de

dependência de recursos, uma vez que uma empresa está fortemente ligada ao ambiente

institucional no qual atua e na análise de como essas relações e, consequentemente, os

negócios, são construídos dentro desse ambiente.

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2.1.2 Teoria institucional e teoria neoinstitucional

A teoria institucional teve seu início com Meyer e Rowan em 1977. Segundo os

autores, muitas estruturas organizacionais são construídas a partir de práticas e procedimentos

definidos pelos conceitos que predominam no ambiente organizacional e que estejam

institucionalizados na sociedade, trazendo uma homogeneização de práticas entre as

organizações. Essas regras institucionais funcionam como mitos que a organização incorpora,

garantindo, consequentemente, a essa organização, no mercado em que atua, legitimidade,

recursos, estabilidade e perspectivas de sobrevivência a longo prazo.

Já, nos anos 90, novos autores continuaram a estudar a Teoria Institucional e a

complexidade dos ambientes políticos, regulatórios e tecnológicos entre os países, o que levou

à construção da Teoria Neoinstitucional. Para Greenwood e Hinings (1996), o foco dessa está

construída sobre uma categoria ou rede de organizações, que são vistas como uma população

dentro de um campo organizacional.

Kostova, Roth e Dacin (2008), trazem algumas provocações com relação às teorias

Institucional e Neoinstitucional quando as mesmas são analisadas sob o ponto de vista das

Multinational Corporations (MNCs). A primeira provocação, e a única que será abordada

neste contexto, está na noção de que os Campos Organizacionais não se aplicam às MNCs

que, segundo os autores, criam seu próprio campo organizacional, independentemente das

normas e regras de cada país em que atua. Para reforçar este aspecto, vale relembrar que, sob

o ponto de vista das MNCs, os campos organizacionais são alianças estratégicas. Para Gulati e

Singh (1998), as empresas têm realizado, cada vez mais, alianças estratégicas, por meio das

quais essas organizações podem crescer e expandir seu escopo (HARRIGAN,1986). Uma

característica notável deste crescimento tem sido o aumento da diversidade de alianças entre

empresas, seja por suas distintas nacionalidades e motivos. A própria variedade nas estruturas

das organizações demonstra as inúmeras opções na estruturação dessas alianças.

Vale relembrar que nenhuma organização, mesmo que seja uma MNC, não conseguirá

operar em um país sem seguir suas regras e normas. Os autores Busenitz, Gomez e Spencer

(2000) mencionam a importância da dimensão reguladora, que consiste em seguir as normas

das políticas legislativas, regulamentares e governamentais, fornecendo suporte para novos

negócios, reduzindo os riscos para os indivíduos que começam uma nova empresa e

facilitando esforços empresariais para adquirir recursos.

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Aguilera e Judge (2014) fizeram uma análise dos ambientes institucionais em todo o

mundo. De acordo com eles, as sociedades utilizam instituições para governar as corporações,

o comportamento executivo e as transações econômicas. Essas instituições são a “regra do

jogo” estabelecida de tempos em tempos e representam as normas formais e informais nas

quais as corporações precisam operar. Instituições formais e orientações codificadas para o

comportamento corporativo incluem alguns princípios como leis e regulamentações. Já,

instituições informais são normas sociais não codificadas, incluindo valores, crenças e normas

comportamentais que definem um comportamento corporativo próprio de cada país e região.

Esses autores desenvolveram um modelo formado por quatro domínios institucionais, visando

identificar os diferentes tipos de economia baseados nas características do ambiente

institucional de cada país e nos diferentes modelos de capitalismo. São eles: as economias de

mercado liberal (LMEs), as economias de mercado coordenado (CMEs), as economias de

mercado lideradas por famílias (FLMEs) e as economias de mercado lideradas pelo estado

(SLMEs). Os Estados Unidos, por exemplo, possuem características do modelo LME,

enquanto o Japão e a Alemanha se encontram no domínio CME. Já, a Índia, possui

características heterogêneas de domínios FLME e SLME.

Se analisarmos o caso do Brasil, em termos de Internacionalização, de acordo com o

estudo da Fundação Getúlio Vargas, The Top 20 Brazilian Multinationals: Divestment under

Crisis”, lançado em março de 2017, o Brasil possui características heterogêneas do modelo

FLMEs e SLMEs.

2.1.3 A teoria da dependência de recursos e embeddedness

A Teoria da Dependência de Recursos (PFEFFER; SALANCIK, 1978) aponta que os

recursos necessários à sobrevivência de uma organização estão no ambiente externo no qual

atuam, tais como trabalho, capital, matéria-prima, consumidores e ambiente regulatório. Esse

ambiente é formado por outras organizações que, apesar de serem legalmente independentes,

dependem das outras para sua sobrevivência. Para os autores, os recursos são a base do poder

e, portanto, o poder é relacional, situacional e mútuo.

Alguns autores como Hillman et al. (2009); Davis e Cobb (2010); Drees e Heugens

(2013); Sharif e Yeoh (2014) vêm debatendo e indicando a importância desta teoria e

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sugerindo formas de superar a dependência das organizações por meio da construção de

alianças, joint ventures, fusões e aquisições, aprimorando, dessa forma, sua autonomia na

busca por legitimidade organizacional.

Pfeffer e Salancik (2003) relatam que um desafio para a dependência de recursos vem

da análise das redes sociais e estruturas de redes. Os autores mencionam Piskorski e Anand

(2003), que sugerem que as organizações desenvolvem relacionamentos com outras

organizações, baseadas nas interdependências entre suas alocações de recursos e nas

experiências anteriores entre elas, reforçando a estrutura de laços. Pfeffer e Salancik (2003)

reforçam que a história dos laços sociais importa, uma vez que a estrutura de redes traz

oportunidades de negócios e lucratividade.

A Teoria da Dependência de Recursos leva, portanto, à necessidade da construção de

redes sociais e alianças. Ao mesmo tempo, o argumento de embeddedness enfatiza o papel das

relações e estruturas pessoais concretas (ou redes) de tais relações na geração de confiança e

desencorajamento das malversações. A preferência generalizada por transações com

indivíduos de boa reputação implica que muitos preferem se proteger contra problemas.

(GRANOVETTER, 1985)

De acordo com Uzzi (1997, p. 22) embeddedness é um quebra-cabeças que, uma vez

compreendido, pode fornecer ferramentas para explicar não somente o quebra-cabeça

organizacional, mas também o mercado e o ambiente.

Identificado como a natureza, profundidade e extensão dos laços de um indivíduo no

ambiente, o embeddedness cria uma vantagem competitiva contextual e é comentado como

um elemento que configura o processo de negócios (WHITTINGTON, 1992; UZZI, 1997;

DACIN et al., 1999). Esse processo envolve a compreensão da natureza do ambiente e a sua

promulgação, forçando novos laços e mantendo tanto a ligação quanto o ambiente e sua

estrutura. Para que o embeddedness aconteça, torna-se necessário o desenvolvimento de

credibilidade e a aquisição de conhecimento de como os negócios são conduzidos naquele

ambiente (JACK; ANDERSON, 2002).

Ao trazer a importância do Conselho de Administração e relacioná-lo à teoria da

dependência de recursos, Pfeffer e Salancik (1978) apontam que esses conselheiros altamente

conectados trazem recursos à empresa, como legitimidade, habilidades, informações e

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vínculos com provedores de capital, fornecedores, clientes e outras entidades relevantes.

Além disso, Hillman e Dalziel (2003) e Coleman (1988) também apontam que outro recurso

importante trazido pelo conselheiro de administração é seu capital humano relacionado à

experiência, perícia e reputação, bem como o capital relacional associado a relacionamentos

com conselheiros de outras empresas (JACOBS, 1965).

Chuluun, Prevost e Puthenpurackal (2014), pontuam que Hillman e Dalziel (2003)

também observam que esses recursos afetam diretamente o desempenho da empresa,

reduzindo a dependência entre uma empresa e suas contingências externas, reduzindo a

incerteza e os custos de transação e aumentando a probabilidade da viabilidade da empresa a

longo prazo. Certo (2003) também observa os benefícios intangíveis do prestígio dos

conselheiros, em que os investidores formam percepções positivas da empresa com base no

capital humano e social agregado do conselho. Em termos empíricos, Larcker, So e Wang

(2013) descobrem que empresas altamente conectadas experimentam maiores retornos de

ações e maiores aumentos de rentabilidade em relação a empresas menos conectadas. Reeb e

Zhao (2010) confirmam que o capital do conselheiro está positivamente relacionado à

qualidade da divulgação corporativa.

2.1.4 O modelo de uppsala revisitado

As principais teorias que explicam a internacionalização podem ser classificadas em

duas principais linhas (URBAN, 2006). A primeira apresenta os aspectos econômicos e a

busca pela melhor alocação de recursos da empresa, considerando o ambiente macro e

microeconômico e os aspectos de mercado. Essas teorias veem a internacionalização de

empresas como uma decisão racional, com o objetivo principal de maximização de lucros

(MELO, 2012). As principais teorias dessa linha de estudo são a Teoria do Ciclo do Produto,

o Paradigma Baseado em Recursos (Resource-based View) e o Paradigma Eclético (OLI).

A outra linha de estudo foca os aspectos comportamentais e subjetivos na tomada de

decisão para a internacionalização de uma empresa. Nestes estudos, seus teóricos observam a

organização em si (KHAUAJA, 2009) e enfatizam aspectos comportamentais na tomada de

decisão, tendo como destaque o modelo de Uppsala de 1977, o modelo de redes de

relacionamentos do processo de internacionalização e o modelo de Uppsala revisitado

(JOHANSON E VAHLNE, 2003; 2009; 2013).

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Uma vez que esta dissertação analisa os aspectos comportamentais na tomada de

decisão da internacionalização das empresas, serão utilizadas, como referência, a teoria de

Uppsala revisitada e o modelo de redes de relacionamento do processo de

internacionalização.

A Teoria de Uppsala trata a internacionalização de empresas como um processo

crescente de participação nos mercados internacionais, sendo que esse compromisso se

reforça à medida que novos conhecimentos e experiências são adquiridos. Desta forma, a

empresa busca dar início à sua atuação internacional por meio de países nos quais já possui

algum conhecimento e que são mais parecidos com seu país de origem, oferecendo uma

menor distância psíquica – que, aparentemente, está diretamente ligada a um menor risco e à

possibilidade de expansão gradual dos negócios (ANDERSEN, 1993).

Essa teoria explica que as fases de internacionalização ocorrem por meio de quatro

fases distintas e que fazem com que essas empresas cresçam organicamente. As fases são:

exportação, negociação com intermediários, área de vendas local e, finalmente, produção no

país estrangeiro (JOHANSON; VAHLNE, 1977)

Figura 1: Modelo de Uppsala

Fonte: Adaptado de Johanson e Vahlne (1977)

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Em mercados com maior distância psíquica, a empresa precisa contar com o custo de

ser estrangeiro (liability of foreigness), o que leva à necessidade de a empresa desenvolver

vantagens competitivas com relação às concorrentes do mercado de destino (JOHANSON;

VAHLNE, 1977).

A estrutura do modelo de Uppsala revisitado considera a teoria de redes de negócios

para o processo de internacionalização de empresas.

A versão de Johanson e Vahlne (2009), explica que a participação efetiva da empresa

nas redes de relacionamento viabiliza o processo de internacionalização. Desta forma, o

sucesso da empresa está diretamente atrelado à sua inserção em uma ou mais redes de

relacionamentos. Caso a empresa não tenha uma posição relevante na rede de relacionamentos

de um determinado mercado ou cliente em que deseja participar, estará sujeita aos custos de

ser uma empresa estrangeira (liability of foreigness) e também aos custos de não pertencer a

esta rede (liability of outsidership).

Ainda, na versão de Johanson e Vahlne (2013), os autores, ao estudarem as empresas

multinacionais, explicam que elas devem ser vistas como organismos que criam e

desenvolvem relacionamentos de negócios em países estrangeiros ou entre países

estrangeiros, dentro ou fora de seus limites. Esse é o mesmo conceito de redes estratégicas,

que resultam de vínculos entre empresas para questões fundamentais, principalmente em se

tratando de pesquisa estratégica. As redes estratégicas são redes de relacionamentos em que as

empresas estão incorporadas, sendo que ambas influenciam a conduta e o desempenho de

cada uma. Geralmente acontecem pela estrutura da indústria ou busca por um posicionamento

único dentro de uma indústria, encontro de recursos e capacidades inimitáveis da empresa,

redução de custos de contratação e coordenação ou restrições de rede dinâmicas e benefícios

(GULATI; NOHRIA; ZAHEER, 2000).

Para Johanson e Vahlne (2013), três tipos de capacidades são fundamentais para a

internacionalização da empresa: a capacidade de identificar oportunidades e mobilizar

recursos; a de desenvolver diferentes mercados e locais, em circunstâncias diversas; e a

capacidade de construir, manter e coordenar relacionamentos na rede.

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Outro ponto relevante apresentado pelos autores é a posição da firma na rede de

relacionamentos, resultado de comprometimentos anteriores e construção de confiança. Essa

posição descreve o grau de multinacionalidade ou globalização da empresa.

Com relação ao comprometimento entre as partes, esse acontece por meio de

investimentos tangíveis, tais como o volume e o grau de investimento e de investimentos

intangíveis, como o apoio público a um determinado projeto ou programa.

Já, sobre a construção de confiança, ela é um pré-requisito para o aprendizado e

essencial para a construção de relacionamentos. Também é pré-requisito para o

comprometimento. A confiança torna possível prever o comportamento do outro e reduz o

grau de incerteza nas relações existentes na rede.

Figura 2: Modelo de Uppsala Revisitado

Fonte: Adaptado de Johanson e Vahlne, 2009, 2013.

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2.2 Internacionalização das empresas latinas

Cuervo-Cazurra (2008) pontua que as empresas latinas demoraram, em média, 49 anos

para expandir suas operações. Aliás, essas empresas já exportavam para outros países há

muito tempo. Porém, o fato da maioria dos governos desses países manterem uma

regulamentação garantindo uma barreira de forma a dificultar a entrada de competidores em

seus mercados locais, fez com que essas empresas não buscassem novas alternativas de

crescimento. Além disso, esse mesmo mercado fechado não propiciava às empresas nacionais

a criação de valor e, consequentemente, inibia a sua internacionalização. Este autor analisou,

portanto, a fundo, 20 empresas latinas multinacionais e detectou que todas elas começaram

seu processo de internacionalização após 1979, em meio a uma crise da região que forçou o

Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o governo americano a suportar os

países da América Latina por meio de um acordo financeiro denominado Consenso de

Washington (WILLIAMSON, 2004). Esse motivo levou as empresas latino-americanas a

buscarem suas vantagens competitivas para que estivessem aptas a expandirem suas

atividades fora de seus países de origem e garantirem um equilíbrio maior nos negócios.

Cuervo-Cazurra (2008) ainda pontua que é necessária uma adaptação ao modelo de

Uppsala para as empresas latino-americanas e que pode ser a partir da análise do movimento

de empresas pertencentes a um determinado setor, como essas empresas expandiram suas

operações e quais motivos as levaram a isso. Neste sentido, o autor criou quatro padrões de

comportamento, levando em consideração que o que influencia essa decisão não é o país de

origem:

a. Empresas que preferem expandir seus negócios para países com cultura e

desenvolvimento semelhantes ao seu país de origem têm sucesso nesta caminhada pois as

vantagens de transferência entre países são muito difíceis e por isso, a similaridade é tão

importante. Exemplos estão nos setores de construção e metalurgia, uma vez que são

industrias de capital e de tecnologia intensas onde o governo local exerce um papel muito

importante.

b. Empresas que preferem expandir seus negócios para países distantes em cultura

e desenvolvimento e têm sucesso nesta caminhada basicamente por dois motivos: um está na

vontade de obter recursos e vantagens complementares aos da própria empresa e outro é a

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facilidade na transferência de produtos e recursos entre fronteiras e a busca por elevados

níveis de rendimento.

c. Empresas que preferem expandir seus negócios para países distantes com

culturas similares e diferenças econômicas. A razão para esta seleção está na natureza cultural

do produto, o que limita o potencial do mercado em outros países. Um exemplo disso está nas

empresas mexicanas do setor alimentício que pretendem atender o público mexicano que

mora nos Estados Unidos.

d. Empresas que preferem expandir seus negócios para países com diferenças

econômicas similares e com culturas e comportamentos diferenciados. Isso acontece porque

somente as empresas de países subdesenvolvidos conseguem compreender as dificuldades e

as necessidades do consumidor desses países em desenvolvimento, tais como preço do

produto e formas de utilização do mesmo, considerando falha a infraestrutura desses países.

Tabela 1: Padrões de comportamento de internacionalização de empresas latinas

EMPRESAS

LATINAS

PAÍSES COM

CULTURA

PAÍSES COM DESENVOLVIMENTO

ECONÔMICO

EMPRESA A SEMELHANTE SEMELHANTE

EMPRESA B DIFERENTE DIFERENTE

EMPRESA C SEMELHANTE DIFERENTE

EMPRESA D DIFERENTE SEMELHANTE

Fonte: Adaptado de Curvo-Cazurra (2008)

2.2.1 A estrutura de propriedade das empresas brasileiras

Segundo Leal, Carvalhal-da-Silva e Valadares (2002) são poucos os países marcados

por empresas de propriedade dispersa, com exceção dos países com tradição jurídica anglo-

saxã – lei comum (Estados Unidos e Inglaterra, basicamente).

Marques, Guimarães e Peixoto (2015) analisam o estudo de La Porta et al. (2000), em

trabalho realizado com 691 empresas dos 27 países mais ricos do mundo (segundo critério de

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renda per capita), que encontraram evidências da prevalência de uma estrutura de propriedade

concentrada e de controle exercido majoritariamente por famílias e pelo Estado. Claessens et

al. (2002), em estudo feito sobre a concentração acionária de oito países do Leste Asiático,

notaram que 67% da amostra (composta por 2.980 companhias) era controlada por um único

acionista. Portanto, conforme indicam La Porta et al (2002), o mais comum no resto do

mundo (afora países com sistema jurídico originário da lei comum) é a existência de um

controlador majoritário ou bloco de grandes acionistas.

Para Marques, Guimarães e Peixoto (2015), quando a concentração de propriedade e

controle supera certo patamar, o conselho de administração e o mercado de aquisições hostis

perdem relevância diante do bloco de controle. Com isso, a maior concentração dos direitos

de controle sob posse do controlador e a separação entre direitos de controle e de fluxo de

caixa acirram o conflito de agência existente entre controladores e minoritários, e penalizam o

valor da empresa. Quando os direitos do controlador sobre o fluxo de caixa (propriedade) são

altos e o maior custo associado à expropriação tende a reduzi-la, isso implica em maior

valorização da empresa: trata-se do efeito incentivo. O impacto positivo sobre o desempenho

corporativo em decorrência da concentração de propriedade pode ser observado na redução

dos custos de agência por conta do monitoramento eficaz realizado pelos controladores,

sinalizando ao mercado um alinhamento entre gestores e acionistas.

Carvalho e Pennacchi (2012) e La Porta et al. (1998), pontuam que mercados

emergentes e de tradição legal francesa, como é o caso do Brasil, tendem a apresentar pouca

proteção aos investidores, abrindo espaço para várias assimetrias. Diante dos riscos e

incertezas emanados da baixa segurança do ambiente legal, parte-se do pressuposto que os

investidores pautam suas decisões em outros artefatos legitimados no mercado de capitais

(ROSSONI; MACHADO-DA-SILVA, 2010), como listagens diferenciadas (CARVALHO;

PENNACCHI, 2012), conselho de administração (HIGGINS; GULATI, 2006) e reputação

(ROBERTS; DOWLING, 2002). Para Carvalho e Pennacchi (2012), fazer parte de listagens

diferenciadas como o Novo Mercado da BM&F Bovespa (atual B3 – Bolsa de Valores

brasileira) já serve como mecanismo de salvaguardas aos investidores, principalmente em

ambientes de pouca proteção legal.

Segundo Gama et al. (2013), a introdução dos segmentos de mercado da Bolsa de

Valores foi um marco histórico para o mercado de capitais brasileiro, visto o retorno positivo

percebido pelos investidores, o que levou as empresas a buscarem melhorias contínuas em

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seus processos de gestão. A diferenciação dos níveis de governança foi necessária para que as

empresas pudessem se adaptar às novas regras de forma gradual.

Além dos níveis diferenciados de governança corporativa, a BM&F Bovespa criou, em

2004, a Bovespa Mais, de forma a introduzir pequenas e médias empresas no mercado de

capitais, trazendo oportunidades de melhoria às empresas que ainda não se enquadravam nas

condições do Novo Mercado.

Com a necessidade de adequação aos padrões mundialmente utilizados, o Comitê de

Pronunciamentos Contábeis (CPC) criou regras de demonstrações financeiras emitidas pelo

International Accounting Standards Board (IASB), com o objetivo de aumentar a

transparência e a clareza sobre a real situação da empresa.

Hoje, as empresas que aderiram ao Nível I empenham-se principalmente com a

transparência das informações e com a divisão acionária. As empresas que aderiram ao Nível

II empenham-se em satisfazer todas as prerrogativas do Nível I, além de enfatizar os direitos

suplementares para os acionistas minoritários. E, finalmente, as empresas que aderiram ao

Novo Mercado (Nível III), precisam satisfazer todas as prerrogativas dos Níveis I e II,

emitindo somente ações ordinárias, ampliando o direito de voto a todos os acionistas, além de

oferecer 100% de tag along, no caso de venda do controle da empresa.

Vale ressaltar a característica do mercado de ações no Brasil. Apesar de a BM&F

Bovespa ser respeitada internacionalmente, aparece somente em 13º. lugar na lista das

maiores bolsas de valores do mundo. A classificação Brasil considera o critério de

capitalização de mercado, que nada mais é do que a soma do valor de mercado de todas as

companhias negociadas naquela bolsa de valores (Bussola do Investidor, 2013).

2.2.1 Internacionalização das empresas brasileiras

A internacionalização das empresas no Brasil ocorreu com a abertura de mercado

provocada pelo governo Collor (1990-1992), que reduziu tarifas e eliminou barreiras não

tarifárias. A partir de 1994, o Plano Real 2 estabilizou a economia que, em conjunto com a

política cambial adotada pelo governo, estimularam o aumento das importações, pressionando

fortemente os produtores locais, o que os forçou a buscar a ampliação de sua participação no

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estrangeiro por meio do aumento do IDE (investimento direto estrangeiro), tanto por meio do

chamado greenfield, como pelo processo de fusões e aquisições de empresas, incluindo o

processo de privatização.

De acordo com o estudo “The Top 20 Brazilian Multinationals: Divestment under

Crisis” lançado em março de 2017 pela “The Center of International Financial Management

Studies” (IFM) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio

Vargas (EAESP/FGV) e a Columbia Center on Sustainable Investment (CCSI), o centro

integrado da Columbia Law School e The Earth Institute da Columbia University, as 20

maiores multinacionais brasileiras de 2015 combinaram ativos externos de aproximadamente

US$ 96 bilhões, receitas externas (incluindo exportações) de mais de US$ 97 bilhões e

174.448 empregados estrangeiros (excluindo terceirizados, temporários e sazonais). Esse

mesmo estudo junto às empresas pesquisadas aponta que as principais razões para a

internacionalização, foram a possibilidade de acesso a novos mercados e o potencial para

estarem mais próximas dos clientes, seguido pela redução de custos e acesso aos recursos

naturais. Algumas empresas entrevistadas pelo estudo também foram impulsionadas pela

instabilidade econômica e política, bem como pelos altos impostos no Brasil, buscando

alternativas e oportunidades em outros mercados. Os vazios institucionais no país, como a

corrupção, o mau sistema de transporte e mão-de-obra não qualificada, também foram

classificados pelas empresas pesquisadas como um fator na decisão.

O Brasil é a vigésima primeira maior economia de exportação do mundo e a

quadragésima segunda economia mais complexa, de acordo com o Índice de Complexidade

Econômica (ECI). Em 2016, o Brasil exportou US$ 182 bilhões e importou US$ 135 bilhões,

resultando em uma balança comercial positiva de US$ 46,4bilhões. Em 2016, o Produto

Interno Bruto (PIB) do Brasil era de US$ 1,8T e seu PIB per capita era de US$ 15,1k.

As principais exportações do Brasil são a soja (US$ 19 bilhões), o minério de ferro

(US$ 13.1 bilhões), o açúcar (US$ 10.4 bilhões), petróleo bruto (US$ 9.9 bilhões) e carne de

aves (US$ 6.13 bilhões) e os principais destinos de exportação do Brasil são a China (US$

35,1 bilhões), os Estados Unidos (US$ 23,3 bilhões), a Argentina (US$ 13,4 bilhões), a

Holanda (US$ 10,3 bilhões) e a Alemanha (US$ 4,86bilhões).

Há muitas vantagens em realizar investimentos em países desenvolvidos, seja por

meio da aquisição de uma firma existente, garantindo acesso às habilidades, experiências e à

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tecnologia embarcada, seja por meio da instalação de uma unidade fabril ou de uma unidade

de pesquisa e desenvolvimento, principalmente se estiver em regiões com alta concentração

de organizações com alta tecnologia (CHUDNOVSKY; LOPEZ, 2000).

2.2.2 A influência do governo brasileiro na internacionalização das empresas

O governo brasileiro porta consigo demandas de grupos domésticos ao projetar-se no

cenário internacional por meio de sua política externa, desempenhando papel de indutor da

ação coletiva (BOSCHI; DINIZ; SANTOS, 2000) e influenciando historicamente o padrão de

atuação do empresariado nacional e a estrutura de representação dos interesses desse próprio

empresariado e do governo em si, com momentos de maior e de menor interação, dependendo

dos governantes em atuação (PUERARI, 2016).

Desde a segunda metade do século XIX, o estado brasileiro já subsidiava indústrias

específicas e às vezes atuava como proprietário residual, garantindo a sobrevivência de

empresas em setores como instituições financeiras, serviços públicos, portos, navegação e

ferrovias (MUSACCHIO; LAZZARINI, 2015). No período Vargas, o Estado se tornou

fundador de grandes empreendimentos, de forma a promover a industrialização, tais como a

Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Vale, culminando na criação da Petrobrás na

década de 50 e na formação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE),

com o objetivo de fornecer crédito para investimentos em energia e transporte. Somente em

1982 o BNDE ganha, em seu nome, o S de Social. Porém, foi durante o Regime Militar

(1964-1985) que novas indústrias foram criadas pelo governo, como concessionárias de

serviços públicos como água, saneamento e telecomunicações.

De 1981 a 2002, o Estado Brasileiro começou um período de privatizações dividido

em três fases, que trouxeram aos cofres do Estado, neste período, uma receita de mais de 87

bilhões de dólares. Nesse processo, fundos de pensão de estatais e o Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por meio da criação de consórcios com

empresas privadas, tornaram-se donos de parte dessas firmas, evidenciando-se associação de

interesses entre atores privados e o Estado por meio de participações acionárias, de

financiamentos por parte de entidades governamentais e de concessões do governo (serviços,

estradas, etc) ao setor privado.

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As participações acionárias de atores privados nacionais, de capital privado ou

público, em companhias previamente privatizadas, se intensificaram no governo Lula, como

no caso da Vale, da qual um grande número de ações foi adquirido pelo BNDES e por fundos

de pensão de estatais, que se mantiveram no grupo controlador. Consequentemente, o governo

brasileiro aumentou seu poder decisório dentro da estrutura de algumas companhias privadas.

No governo Lula também se verificou aumento considerável do número de empresas

brasileiras que abriram seu capital na bolsa de valores. Tal movimento reforçou diversos

elementos característicos da associação governo-empresariado, sendo que muitas empresas

conquistaram apoio político-financeiro e, até mesmo, participação acionária por parte do

governo, o que possibilitou maior interferência governamental, um modo pelo qual o

empresariado tornar-se-ia parceiro e/ou instrumento do estado para seus próprios fins que não

a longevidade da empresa.

A irradiação da presença do governo na teia societária das empresas brasileiras suscita

uma série de questionamentos. Embora as participações do BNDES e dos fundos de pensão

de estatais sejam minoritárias, estes são atores que agem em uníssono e em associação com

outros donos alinhados às iniciativas do governo. Dessa forma, passa a haver a possibilidade

de que o braço estatal interfira nas dinâmicas internas do setor privado e vice-versa

(LAZZARINI, 2011). Cultivando laços com o sistema político, e especialmente com a

coalizão vigente, os grupos empresariais conseguiram contrabalançar o poder de influência do

governo e ter acesso a oportunidades e recursos diferenciados.

Durante o Governo Lula, o governo federal assumiu que a internacionalização de

empresas brasileiras permitiria ao país ocupar espaços de maior destaque no cenário mundial,

de forma a projetar o Brasil internacionalmente, ampliando a formação da imagem nacional e

se constituindo como um instrumento da política externa. O empresariado, por sua vez, ao

buscar oportunidades de negócio além-fronteiras não o fez somente motivado por apoio

governamental, mas principalmente, para obter maiores lucros, diversificar suas operações e

minimizar seus riscos de entrada em novos contextos. Com o apoio do governo, os riscos e

custos são diminuídos sensivelmente e as novas operações no exterior, facilitadas (PUERARI,

2016).

Apesar de haver companhias brasileiras já em avançado nível de internacionalização, a

maior parte segue ainda tímida nesse âmbito. O processo de internacionalização de empresas

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brasileiras ocorre, a priori, de maneira autônoma, por parte das empresas, mas percebe-se

interesse e apoio do governo federal a diversas iniciativas (por exemplo, por meio da abertura

de linhas de crédito do BNDES) e de apoio logístico e de inteligência de parte do Ministério

das Relações Exteriores – MRE (por exemplo, o estabelecimento de embaixada na Guiné após

decisão da Vale de realizar vultosos negócios de exploração de minas de ferro).

Somente no período de 2003 a 2006, primeiro mandato de Lula, foram realizadas 250

missões comerciais para 60 países, alcançando uma média de aproximadamente cinco viagens

por mês. Desses países, nove eram africanos, a saber: África do Sul, Angola, Argélia,

Camarões, Egito, Líbia, Moçambique, Namíbia e Nigéria. Nesse esforço de fomentar a

internacionalização de empresas nacionais com políticas e iniciativas públicas, o governo

brasileiro, por meio da Receita Federal e dos Correios, ampliou o limite de exportações por

remessa postal, criou programas de financiamento específicos pelo BNDES e abriu novas

representações diplomáticas.

São perceptíveis, portanto, indícios de convergências e de associações de interesses

entre o governo e determinados atores do empresariado. Nota-se uma estratégia deliberada do

próprio Estado em desenvolver certos setores, muitas vezes até mesmo escolhendo players,

incluindo a promoção internacional destes como forma de obter ganhos políticos em seus

pleitos externos (PUERARI, 2016).

2.3 A governança corporativa e a teoria da agência

O Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa do Instituto Brasileiro de

Governança Corporativa (IBGC, 2015) define Governança Corporativa como o sistema pelo

qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas,

envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de

fiscalização e controle e demais partes interessadas.

Já, o factbook Corporate Governance da Organização para a Cooperação e

Desenvolvimento Econômico (OECD, 2017) diz que uma boa governança corporativa não é

um fim em si mesmo, mas sim, um meio para criar um ambiente de confiança no mercado e

integridade do negócio, que suporte o desenvolvimento do mercado de capitais e o acesso

corporativo ao capital próprio para investimentos produtivos de longo prazo. A qualidade do

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quadro de governança corporativa de um país é, portanto, de importância decisiva para a

dinâmica e a competitividade do setor empresarial. Ainda, diz que governança corporativa é

uma forma de suportar a eficiência econômica, o crescimento sustentável e a estabilidade

financeira. Ela facilita o acesso das empresas a capitais de investimento de longo prazo e

ajuda a assegurar que investidores (shareholders) e as partes interessadas (stakeholders)

sejam tratadas de forma justa.

Di Miceli (2015), diz que o relatório Cadbury é considerado o primeiro código de boas

práticas de governança do mundo e que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento

Econômico (OCDE) criou as primeiras diretrizes de governança corporativa com escopo

global. Uma de suas principais inovações foi propor um conjunto de princípios que deveriam

ser considerados por reguladores e agentes de mercado. Esses princípios, se dividem em 5

dimensões: direitos dos acionistas, tratamento equitativo de todos os acionistas, papel das

partes interessadas (stakeholders), transparência e papel do conselho de administração.

Kogut (2012), diz que a história do mercado financeiro mostra que a confiança pessoal

não é suficiente e que investidores e credores exigem algum tipo de recurso para realizar um

empréstimo ou investimento. Para o autor, o rótulo da governança é uma garantia de que o

investimento será pago de volta com o retorno esperado. O autor ainda explica que inovações

na governança têm efeitos importantes na condução e desempenho das empresas.

Silveira (2015), explica que o movimento do Corporate Governance surgiu nos países

anglo-saxões no final dos anos 70 e início dos anos 80, quando surgiu o conceito do “valor

para o acionista” (shareholder value), como objetivo a ser perseguido pelos administradores.

Esse conceito se tornou ainda mais forte ao ser adotado por Jack Welch, Chief Executive

Officer (CEO) da General Electric (GE) entre os anos de 1981 e 2001.

Na academia, o foco no valor para o acionista encontrou respaldo na teoria da agência

de Jensen e Meckling (1976) e que serviu como pano de fundo para o movimento da

governança corporativa e as práticas recomendadas pelos agentes de mercado – remuneração

atrelada ao desempenho das ações, conselhos de administração independentes, maior

prestação de contas sobre os resultados das empresas – passaram a ser vistos como

mecanismos para aumentar a riqueza dos acionistas.

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De 1990 para cá, a estrutura societária das empresas, antes concentrada basicamente

em uma pessoa ou num pequeno grupo, hoje está composta de diversos acionistas, que detém

o capital e os administradores, que gerenciam o capital investido pelos acionistas (MARTIN;

SANTOS; DIAS FILHO, 2004). Neste contexto, a Teoria da Agência visa analisar os

conflitos e custos resultantes da separação entre a propriedade e o controle de capital, o que

origina as assimetrias informacionais, os riscos e outros problemas pertinentes à relação

principal-agente (JENSEN; MECKLING, 1976).

O trabalho de Jensen e Meckling (1976) qualifica esses conflitos de interesse

existentes entre gestores e acionistas (e, portanto, subjacentes à separação entre propriedade e

controle), à luz de uma abordagem contratual pela qual o principal (outorgante) concede ao

agente (outorgado) a função de exercer as tarefas conforme os anseios do primeiro. Como não

é de se esperar que os objetivos do agente estejam completamente alinhados aos interesses do

principal, configuram-se o conflito de agência e os custos de agência para mitigá-los, quais

sejam, custos de monitoramento, contratos, perdas residuais, entre outros.

Segundo Udayasankar (2008), o domínio da governança corporativa foi amplamente

influenciado pela teoria da agência, embora a teoria institucional (por exemplo, SHLEIFER;

VISHNY, 1997), a de dependência de recursos (por exemplo, HILLMAN; DALZIEL, 2003;

PFEFFER, 1972) e a de perspectivas dos stakeholders (por exemplo, DONALDSON;

PRESTON, 1995; HILLMAN; KEIM, 2001) foram também analisadas para explicar vários

fenômenos de governança. Para este mesmo autor, a teoria da agência se baseia no sistema de

conhecimento da governança corporativa em si, enquanto outras teorias tendem a oferecer

explicações para as relações entre vários elementos dentro desse sistema. Particularmente, a

dependência de recursos e as teorias institucionais informam um conjunto significativo de

pesquisas. No entanto, essas teorias são vistas como explicações, que permanecem

incorporadas em um contexto em grande parte ainda definido pela teoria da agência. Dada a

teoria da agência como fonte do sistema de conhecimento de governança, a regra chave neste

sistema seria que a separação de gestão e propriedade dê origem a certos problemas, cuja

solução constitui o cerne da governança corporativa.

Shleifer e Vishny (1997, p.737) relatam que a governança corporativa aborda as

formas como as áreas financeiras das empresas buscam a obtenção de retorno sobre o

investimento do acionista. Isso demonstra que a teoria da agência enfatiza a distribuição dos

lucros e não a geração de lucros (UDAYASANKAR, 2008).

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Udayasankar (2008) explica que a teoria da dependência de recursos propõe que as

competências exclusivas de uma empresa são fundamentais para a sua vantagem competitiva,

sendo que, com isso, o foco passa a ser a questão sobre como as empresas podem gerar e

explorar recursos únicos. Inspirado na noção de que a heterogeneidade da empresa é o

fundamento da vantagem competitiva, os estudiosos passaram a abordar a questão de “se” e

“como” a governança corporativa pode contribuir para esse processo (BARNEY et al., 2001).

O papel da governança corporativa, portanto, vai além de proteger ou distribuir lucros para

envolver também a geração e alocação de recursos em busca de vantagem competitiva.

Pfeffer e Salancik (1978) sugerem que a governança corporativa pode gerar recursos

por meio dos conselheiros de administração, que contribuem com suas experiências e vínculos

junto a outras empresas e instituições. Esses conselheiros, por meio de sua reputação, também

contribuem positivamente para uma avaliação positiva da empresa. Os conselhos de

administração podem ser a principal fonte de vários recursos (PFEFFER, 1972), com base no

capital humano e no capital social (CERTO, 2003). O primeiro inclui o conselho e os

conhecimentos dos conselheiros e o segundo cobre recursos como a legitimidade (ZAJAC;

WESTPHAL, 1994) e conexões junto a outras organizações. Cumulativamente, estes são

todos descritos como capital do conselho (HILLMAN; DALZIEL, 2003).

Pelo descrito acima, pode-se considerar que a Governança Corporativa é importante

para o desempenho da empresa, seja para garantir a distribuição de lucros ao acionista, seja

para gerar recursos à empresa, por meio de seus capitais.

Com relação à internacionalização de empresas e a importância da governança

corporativa neste contexto, vale ressaltar que é sabido que as maiores empresas exportadoras

têm presença nos mercados de valores internacionais e possuem em média um indicador de

qualidade de governança maior e estatisticamente diferente das outras empresas (AMARAL et

al, 2007). Nessa perspectiva, a teoria dos custos de transação sustenta o entendimento da

avaliação de como as estruturas de governança das empresas minimizam os custos de

transação, trazendo investidores de qualidade, potencializando a entrada de capital

estrangeiro.

As boas práticas de governança também podem ser um fator de competitividade para

as empresas e também para o desenvolvimento do país, por meio de fatores como a

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valorização na bolsa de valores, a redução no custo de captação de recursos, o aumento da

liquidez de ações e a queda na volatilidade das mesmas (JONES, 2010).

2.4 O impacto dos conselheiros de administração na internacionalização das empresas

Hillman e Dalziel (2003) argumentam que o capital do conselho (capital humano e

relacional) influencia positivamente todas as funções do conselho: serviço, monitoramento e

provisão de recursos. Além disso, eles argumentam que, para tomar as melhores decisões, os

conselheiros precisam de motivação e habilidade na forma de experiência, conhecimento e

habilidades relevantes (TIAN; HALEBLIAN; RAJAGOPALAN, 2010).

Kor e Sundaramurthy (2009) contribuíram para esta linha de pesquisa desenvolvendo

uma teoria sobre como determinados elementos do capital humano e social dos conselheiros

podem aumentar sua capacidade de desempenhar seus deveres de aconselhamento e

governança. Eles se concentram no capital coletivo humano e social dos conselheiros, que é

afetado não apenas pelas habilidades, conhecimento e conexões dos indivíduos, mas também

pelo conjunto ou combinação de habilidades. No entanto, eles não especificam a integração de

recursos com os processos internos da empresa. A visão baseada em recursos pode oferecer

essa perspectiva teórica, observando como os atributos que os conselheiros trazem para a

empresa são usados e, fornecendo uma explicação de como os recursos do conselho estão

integrados aos processos internos, de forma a produzir resultados únicos para a empresa.

Uma dúvida que surge nesse processo de internacionalização é entender como os

acionistas e administradores das empresas nacionais, em geral, definem o(s) país(es) no(s)

qual(is) atuarão, bem como o motivo que os levou a internacionalizar para aquela região e/ou

país(es) em específico.

Thompson (1967) diz que os membros do conselho, juntamente com a diretoria,

residem no ápice estratégico da organização e são o centro de processamento de informações

da empresa em sua relação com o meio ambiente. Não somente os diretores, mas também os

conselheiros de administração podem, de fato, serem selecionados, uma vez que têm acesso a

recursos para ajudar a empresa a executar a estratégia pretendida, bem como desempenhar um

papel de "linking pin" com outras empresas e governos para ajudar a organização a

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estabelecer operações estrangeiras e alianças estratégicas (PEARCE; ZAHRA, 1992;

PFEFFER; SALANCIK, 1978).

2.5 O papel do conselho de administração

Aguilera e Judge (2014) reforçam que o conselho de administração é um dos

mecanismos de governança corporativa utilizados para minimizar os problemas de agência.

Para Hillman e Dalziel (2003), os conselhos de administração são importantes tanto

para monitorar quanto para prover recursos à organização. Com relação à provisão de

recursos à empresa por parte dos Conselheiros de Administração, Pfeffer e Salancik (1978)

pontuam que quando uma empresa define um indivíduo para ser conselheiro de

administração, ela espera que o indivíduo a suporte e ajude. Ressaltam ainda que quatro

benefícios primários podem ser providos por conselheiros de administração. São eles:

legitimidade, aconselhamento (advice) e relacionamentos que proporcionem canais de

comunicação entre outras organizações e indivíduos e suporte/acesso a outras empresas e

indivíduos, trazendo, consequentemente, maior desempenho à empresa.

Figura 3: Benefícios primários providos por conselheiros de administração

Fonte: adaptado de Pfeffer e Salancik (1978)

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Outras pesquisas ampliaram a sugestão de Pfeffer e Salancik (1978) – de que ter

indivíduos de prestígio no conselho de administração é um sinal de "valor para a organização"

(1978, p. 145) – em duas direções. A primeira vê o conselheiro como uma ferramenta para

gerenciar a incerteza ambiental (BOYD, 1990) e como um mecanismo de rede para auxiliar a

tomada de decisão (CARPENTER; WESTPHAL, 2001), servindo também como um meio

para acessar outros recursos, às vezes, para eliminar concorrentes (UDAYASANKAR, 2008).

A questão do “board interlocking” (quando um conselheiro é conselheiro de duas ou mais

organizações), por exemplo, pode tornar mais fácil o acesso das empresas junto a vários

recursos externos, incluindo informações ou capital (BORGATTI; FOSTER, 2003;

FISCHER; POLLOCK, 2004).

Subrahmanyam (2008) é um dos autores que tem analisado os impactos, tanto

negativos quanto positivos, das redes de relacionamento sobre o desempenho das empresas e

parte da premissa de que as pessoas naturalmente estabelecem relacionamentos e conexões

sociais (BAUMEISTER; LEARY, 1995). Para este autor, esses relacionamentos dos

conselheiros que proporcionam acesso a outras organizações e indivíduos são exatamente o

seu capital social, construído ao longo de sua vida.

2.6 O capital social

Segundo Marx (1867, 2017), o capital é parte da mais-valia captada pelos capitalistas

ou pela burguesia, que controlam os meios de produção, nas circulações de mercadorias e de

dinheiro entre os processos de produção e de consumo.

Após a compreensão, pela sociedade, do conceito de capital, novos autores como

Bourdieu, passaram a difundir o conceito de capital social a partir dos anos 80, e hoje é

utilizado por sociólogos, antropólogos, economistas e pesquisadores de todo o mundo. Para

Bourdieu (1980), o capital social é a soma dos recursos, reais ou virtuais, que resultam de um

indivíduo ou por sua participação em um grupo, de forma a construir uma rede duradoura de

relações mais ou menos institucionalizadas de conhecimento mútuo e reconhecimento. Outro

autor, Coleman (1988, 1990), define o capital social como uma função da estrutura social que

produz vantagem ao indivíduo ou ao grupo. Já Putnam (1993), baseia seu trabalho influente

no argumento de Coleman. Para Putnam, o capital social se refere a características de

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organização social, tais como confiança, normas e redes, que podem melhorar a eficiência da

sociedade de forma a facilitar uma ação coordenada.

Segundo Burt (2000), a metáfora do capital social é que as pessoas que fazem melhor

estão de alguma forma melhor conectadas. Certas pessoas ou certos grupos estão ligados a

outros, confiando e apoiando nesses outros, dependentes deste intercâmbio, fazendo com que

a manutenção dessas posições de dependência sejam um ativo em si.

A premissa por trás da noção de capital social é simples e direta e está relacionada ao

retorno esperado das relações sociais (LIN, 1999). Sua metáfora está no fato de que as pessoas

que fazem melhor estão de alguma forma melhor conectadas. Certas pessoas ou certos grupos

estão ligados a outros, confiando e apoiando nesses outros, dependentes deste intercâmbio,

fazendo com que a manutenção dessas posições de dependência sejam um ativo em si. O

capital social é, portanto, o núcleo de duas coisas: uma tecnologia potente e uma questão

crítica. A tecnologia é a análise de rede e a questão crítica é o desempenho (BURT, 2000).

Figura 4: Conceito de Capital Social

Fonte: elaborado pela autora (2018) com base nas teorias de Bourdieu (1980),

Coleman (1988, 1990), Lin (1999) e Burt (2000).

Esta figura ilustra, esquematicamente, as principais conclusões tiradas pela

pesquisadora, a partir das principais linhas teóricas que suportam os argumentos e premissas

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dessa dissertação. Contudo, ressalta-se que as bases teóricas de capital social não se resumem

às obras citadas neste documento.

O capital social pode trazer informação, poder e vantagens de solidariedade aos atores

da rede. Informação de qualidade, com relevância e ganho de tempo. Poder que possibilita

influenciar ou controlar outros e solidariedade, aumentando a confiança entre os indivíduos ou

grupos e reduzindo a necessidade de controles formais (LIN, 2001).

Segundo Nahapiet e Ghoshal (1998), a proposição central da teoria do capital social

está nas relações das redes que constituem um recurso de valor, oferecendo aos membros

dessa rede um capital de propriedade da coletividade, uma espécie de credencial que lhes

confere crédito (BOURDIEU, 1986, p. 249).

Para esses mesmos autores, o conceito de capital social tem sido utilizado para analisar

uma série de fenômenos sociais, tais como o papel do capital social como uma influência no

desenvolvimento do capital humano (COLEMAN, 1988; LOURY, 1977,1987), no

desempenho econômico das empresas (BAKER, 1990), das regiões geográficas (PUTNAM

1993, 1995) e das nações (FUKUYAMA, 1995).

Ao contrário de outras formas de capital, o capital social é de propriedade conjunta das

partes em um relacionamento, e nenhum jogador tem ou é capaz de possuir direitos de

propriedade exclusivos (BURT, 1992). Além disso, embora tenha valor em uso, o capital

social não pode ser negociado facilmente. Amizades e obrigações não passam facilmente de

uma pessoa para outra. Em segundo lugar, o capital social possibilita a realização de fins que

seria impossível sem ele ou que poderia ser alcançado apenas a um custo extra.

Nahapiet e Ghoshal (1998) afirmam que embora os autores que estudam capital social

concordem sobre o significado das relações como um recurso para a ação social, eles não têm

consenso sobre uma definição precisa do termo capital social. Alguns, como Baker (1990),

limitam o alcance desse termo apenas à estrutura das redes de relacionamento, enquanto

outros, como Bourdieu (1986, 1993) e Putnam (1995), também incluem na sua conceituação

do capital social os recursos potenciais que podem ser acessados por meio dessas redes.

Nahapiet e Ghoshal (1998) definem o capital social como a soma dos recursos reais e

potenciais incorporados, disponíveis e derivados da rede de relações possuídas por uma

unidade individual ou social. O capital social, portanto, compreende a rede e os ativos que

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podem ser mobilizados por meio dessa rede (BOURDIEU, 1986; BURT, 1992). Esses

mesmos autores dizem que como um conjunto de recursos enraizados nos relacionamentos, o

capital social tem muitos atributos diferentes. Para responder ao argumento de Putnam (1995)

de que uma alta prioridade de pesquisa é esclarecer as dimensões do capital social, esses

autores sugerem três dimensões, que são: as dimensões estrutural, relacional e cognitiva do

capital social.

Os autores fazem uma interpretação de Granovetter (1992) a respeito do

embeddedness estrutural e relacional. Segundo Nahapiet e Ghoshal (1998), o embeddedness

estrutural diz respeito às propriedades do sistema social e da rede de relações como um todo e

descreve o conceito para se referir ao padrão geral de conexões entre os diversos atores - isto

é, quem é possível alcançar um indivíduo na rede e como alcança-lo (BURT, 1992).

Aqui os autores incluem a importância dos laços entre indivíduos (SCOTT, 2017;

WASSERMAN; FAUST, 1994); a configuração da rede (KRACKHARDT, 1989) ou

morfologia (TICHY; TUSHMAN; FOMBRUN, 1979), descrevendo o padrão de vínculos

com mensurações como densidade, conectividade e hierarquia; e a organização apropriada,

isto é, a existência de redes criadas para um propósito e que podem ser usadas para outro

(COLEMAN, 1988).

Por outro lado, Nahapiet e Ghoshal (1998) explicam o embeddedness relacional como

um tipo de relacionamento pessoal, em que os indivíduos constroem por meio de uma história

de interações (GRANOVETTER, 1992), criando relações de respeito e amizade. Aqui, os

indivíduos buscam suas razões sociais como sociabilidade, aprovação e prestígio.

Finalmente, a terceira dimensão do capital social denominada de dimensão cognitiva

por Nahapiet e Ghoshal (1998), refere-se aos recursos que proporcionam representações,

interpretações e sistemas de significado compartilhados entre as partes (CICOUREL, 1973).

Para os autores, essa dimensão representa um conjunto importante de ativos ainda não

discutidos na literatura geral sobre capital social, mas cuja importância recebe atenção no

domínio estratégico (CONNER; PRAHALAD, 1996; GRANT, 1996; KOGUT; ZANDER,

1992, 1996).

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Figura 5: Modelo sobre dimensões do capital social

Fonte: adaptado de Nahapiet e Ghoshal (1998)

Outros autores como Adler e Kwon (2002), explicam que a amplitude do conceito de

capital social reflete uma característica primordial da vida social e que pode ser utilizada para

propósitos diferentes. Essa seria uma habilidade do ser humano de apropriação da estrutura

social (COLEMAN, 1988, p. 108) e que legitima o conceito estratégico de trazer, de forma

única, o que foi estudado nos conceitos de organização informal, como confiança, cultura,

suporte, troca, recursos, contratos, embeddedness, redes sociais e redes corporativas

estratégicas. Hirsch e Levin (1999) unem todos esses conceitos sob o “guarda-chuva” de

capital social e Adler e Kwon (2002) encorajam o diálogo entre todas essas perspectivas de

capital social.

Adler e Kwon (2002) trazem o conceito de que as fontes do capital social estão na

estrutura social do indivíduo, sendo que seus recursos estão disponíveis em função da

localização deste indivíduo na estrutura de suas relações sociais que, consequentemente, se

distinguem entre três dimensões da estrutura social, cada uma enraizada em diferentes tipos

de relações. São elas: as relações de mercado, em que produtos e serviços são trocados por

dinheiro ou permuta; as relações hierárquicas, nas quais a obediência à autoridade é trocada

por segurança material e espiritual; e as relações sociais, nas quais favores e presentes são

trocados de forma não explícita, mas difusa. É neste terceiro tipo de relacionamento que os

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autores dizem que a dimensão da estrutura social subjacente ao capital social se constitui. No

entanto, os mesmos autores assumem que qualquer relação concreta provavelmente envolverá

uma combinação dos três tipos e ainda consideram que, na medida em que o mundo real e as

relações hierárquicas também dão origem a relações sociais - como é inevitável em condições

de interação repetida - as outras dimensões da estrutura social contribuem indiretamente para

a formação do capital social. Portanto, em se considerando esses intercâmbios de relações, os

autores pontuam que esses recursos sociais podem ser chamados de "capital".

Finalmente, Adler e Kwon (2002) analisam os principais autores do capital social para

construir um modelo que analisa como os indivíduos, por meio das relações das estruturas

sociais – de mercado, sociais e hierárquicas – são movidos a agir, sejam motivados por uma

norma implícita ou explícita de seu grupo ou organização, seja pelas oportunidades que

possuem de participar de grupos distintos de relacionamento ou mesmo pelas habilidades de

cada indivíduo em perceber quais são as melhores oportunidades dentro de cada grupo,

sempre respeitando suas regras e normas implícitas ou explicitas. Os mesmos autores ainda

explicam em seu modelo, que é preciso tomar cuidado para não fazer um investimento muito

grande em um capital social específico, pois os resultados nem sempre são os esperados.

Além disso, faz-se necessário ter um equilíbrio de laços fortes e fracos entre grupos internos e

externos à organização e finalmente, é preciso perceber que quando o capital social é benéfico

para um indivíduo, pode haver consequências negativas a outros atores. Vale lembrar que um

dado conjunto de benefícios e riscos diretos terá um valor agregado diferente para cada

indivíduo ou organização, dependendo de uma série de fatores.

Adler e Kwon (2002) reforçam que os principais benefícios do uso do capital social

são a informação; influência, controle e poder; e solidariedade.

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Figura 6: Modelo sobre relações das estruturas sociais

Fonte: Adaptado de Adler e Kwon (2002)

2.6.1 Análise de redes sociais

Scott (2017), na quarta edição de seu livro “Social Network Analysis”, diz que a

análise das redes sociais também tem sido associada recentemente a uma teoria substantiva

particular: a teoria do capital social, primeiramente descrita de maneira sistemática por

Putnam (2000). De acordo com este ponto de vista, as redes sociais são uma forma particular

de capital social que os indivíduos podem desenvolver para aumentar suas vantagens e

oportunidades. Isso gerou algumas aplicações poderosas de análise de rede social (Lin, 2001;

Burt, 2005; Lin e Erickson, 2008).

De acordo com Kogut (2012), redes sociais influenciam comportamentos corporativos.

Para ele, uma rede social é uma comunidade que consiste de agentes que podem ser pessoas

ou empresas e os laços que se constroem entre eles.

A análise de redes sociais é uma larga estratégia que visa investigar as estruturas

sociais. Nessa análise, a relação entre os atores é prioridade e as propriedades do indivíduo

são secundárias, uma vez que os dados relacionais entre indivíduos e empresas são o foco da

investigação. Os autores descrevem alguns indicadores de estrutura de redes (coesão) e a

importância do papel dos nódulos (pontos de contato entre indivíduos que se relacionam), que

são: densidade, centralidade e clique. Existem diversas possibilidades de métricas para a

análise de redes (OTTE; ROUSSEAU, 2002).

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De acordo com Tichy, Tushman e Fombrun (1979), os conteúdos de troca nas redes

sociais podem envolver relações de troca de afeto, por meio da amizade; relações de troca de

influência ou poder; relações de troca de informações e relações de troca de bens ou serviços.

Como observam Carsrud e Johnson (1989), o novo processo de desenvolvimento de negócios

é fortemente afetado por contatos ou vínculos sociais, que de fato formam os padrões de

interação social.

Para Uzzi (1996), as relações sociais fazem com que as informações sejam confiáveis

e possíveis de interpretação, impregnando-as de qualidades e valor além do que foi entregue.

Já, relações de confiança, para o mesmo autor, ajudam a reduzir a incerteza transacional e

criam oportunidades para a troca de produtos e serviços que são difíceis de precificar ou

realizar um contrato. Portanto, ao invés de uma orientação de negócios calculista e impessoal

(WILLIAMSON, 1994), a confiança é pessoal e dispõe da interpretação favorável do outro

com relação às intenções e ações da pessoa que entregará o que foi prometido.

Coleman (1990) que define a confiança como uma disposição para se comprometer

com um esforço colaborativo antes que um saiba como o outro se comportará. O autor explica

que situações envolvendo confiança constituem uma subclasse das situações que envolvem

risco. Há situações em que o risco que se toma depende do desempenho do outro ator. De

acordo com esta formulação, a confiança é garantida quando o ganho esperado de se

posicionar em situação de risco para outro é positivo. De fato, a decisão de aceitar tal risco

implica confiança.

A confiança também tem sido referida como "um importante lubrificante de um

sistema social" (ARROW, 1974, p.23) e tem sido teoricamente mostrada como importante nos

intercâmbios econômicos. Em alguns casos, também se demonstrou que a confiança reduz os

custos de transação ao mitigar o comportamento oportunista (Bromiley e Cummings, 1995).

Burt (1992) demonstra que existe uma ligação entre confiança e laços sociais, ao

comprovar que quando dois amigos compartilham um amigo, é provável que haja um maior

nível de confiança entre a díade. Além disso, há alguns estudos que examinaram a questão da

distância social no contexto da confiança, tal como Buchan et al. (2006), que descobrem que

fatores como etnia e proximidade geográfica mantêm peso na explicação das diferenças

observadas na confiança. Em outro estudo, Buchan et al. (2002) mostram que a cooperação

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diminui à medida que a distância social aumenta, em parte devido à interação da cultura e

identidade social e seu efeito sobre a confiança.

Para Granovetter (1973), a força de um laço é um relacionamento que combina tempo,

intensidade emocional, confidencialidade mútua e serviços recíprocos. Para ele, um laço pode

ser fraco, forte ou ausente. Indivíduos que compartilham laços fortes, possuem uma

identidade comum e geralmente pertencem ao mesmo círculo social.

Os laços não redundantes dão acesso a informações únicas. Granovetter (1973, 1974)

mostrou que os laços fortes são, muitas vezes, caracterizados por uma alta similaridade entre

os agentes. Um laço forte oferece uma grande profundidade de conhecimento, mas pouca

diversidade do conhecimento. Os laços fortes de um membro com outros membros também

tendem a estabelecer vínculos pelo menos fracos entre esses atores, levando ao

estabelecimento de laços redundantes (GRANOVETTER, 1995; BURT, 1992). Granovetter

(1993) argumenta com sua famosa frase, a "força dos laços fracos", que apenas os laços fracos

podem oferecer acesso a informações diversas.

De acordo com Niu e Chen (2017) existem três tipos de estruturas sociais que

oferecem capital social ao indivíduo: a de redes fechadas, a de redes não fechadas e a de

buracos estruturais. A teoria de redes fechadas significa que todos os atores da rede estão

conectados uns com os outros, criando obrigações, expectativas e confiança dentro da rede,

em uma estrutura em que as pessoas estão sempre fazendo coisas umas às outras. Em

estruturas de redes não fechadas, a realização de sanções que podem monitorar ou guiar um

indivíduo que exerce seu poder e influência de forma inadequada, pode não funcionar tão bem

quanto em uma estrutura fechada (COLEMAN, 1988).

Já, a teoria de redes de buracos estruturais, oferece o significado concreto do capital

social, uma vez que apresenta a importância de um relacionamento não redundante de um

indivíduo de um grupo com o indivíduo de outro grupo, ou mesmo quando esse mesmo

indivíduo pertence a dois grupos distintos. O buraco é um pára-choque, como um amortecedor

em um circuito elétrico. Um buraco estrutural indica que as pessoas de cada grupo circulam

diferentes fluxos de informação. A informação não redundante faz com que o ator do buraco

estrutural seja um líder de opinião, porque ele ou ela puderam trazer novas ideias e soluções

para o grupo (BURT, 1998).

Page 51: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

48

Gulati, Nohria e Zaheer (2000), acreditam que a condução e o desempenho das

empresas podem ser melhor compreendidos ao analisarmos a rede de relacionamentos dessas

empresas.

A rede de laços sociais de um indivíduo cria oportunidades para as transações de

capital social. Os laços externos a outros conferem aos indivíduos a oportunidade de

alavancar os recursos de seus contatos. Para os indivíduos de um mesmo grupo, os laços

internos criam a oportunidade de agir em conjunto (ADLER; KWON, 2002). No entanto,

embora muitos pesquisadores citem redes como uma importante fonte de capital social, o que

eles significam por redes varia consideravelmente.

Entre aqueles que se concentram em laços internos dentro de uma determinada

sociedade (por exemplo, BREHM; RAHN, 1997; EVANS, 1996; OSTROM, 1994;

PUTNAM, 1993), o termo redes geralmente significa interação informal, cara a cara ou

associação em associações civis ou clubes sociais. Em contraste, os teóricos da rede

argumentam que uma compreensão do capital social requer uma análise mais refinada da

qualidade e configuração específicas dos laços de rede. A última perspectiva promete maior

precisão. A análise da estrutura da rede exige, em primeiro lugar, atenção à qualidade dos

laços constituintes - sua freqüência, intensidade, multiplexidade e assim por diante - e à sua

configuração. Em segundo lugar, requer atenção aos laços diretos e indiretos – fortes e fracos

(ADLER; KWON, 2002). Granovetter (1973), Coleman (1988) e Burt (1992), entre outros,

salientam que os laços de rede diretos e indiretos proporcionam acesso tanto a pessoas que

podem fornecer apoio e aos recursos que essas pessoas podem se mobilizar através de seus

próprios laços de rede.

Coleman (1988) argumenta que o fechamento da estrutura da rede - a medida em que

os contatos dos atores estão eles próprios conectados - facilita o surgimento de normas

efetivas e mantém a confiabilidade dos outros, fortalecendo assim o capital social. Em uma

estrutura mais aberta, as violações das normas são mais susceptíveis de serem despercebidas e

impune. Nesse ambiente, as pessoas tendem a ter menos confiança umas com as outras,

enfraquecendo o capital social.

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49

Tabela 2: Modelo de redes sociais

REDES SOCIAIS

REDE ABERTA

(relacionamento externo ao

grupo)

REDE FECHADA

(relacionamento dentro do

grupo)

BURACOS ESTRUTURAIS

(relacionamento de um

individuo de um grupo com o

individuo de outro grupo)

LAÇOS FORTES

(profundidade de

conhecimento, confiança,

pouca diversidade)

LAÇOS FRACOS

(acesso a informações

diversas)

LAÇOS NEUTROS

Fonte: elaborado pela autora, com base em Niu e Chen (2017), Coleman (1988) e Burt (1988).

Esta tabela ilustra, esquematicamente, as principais conclusões tiradas pela

pesquisadora, a partir das principais linhas teóricas que suportam os argumentos e premissas

dessa dissertação. Contudo, ressalta-se que as bases teóricas de redes sociais não se resumem

às obras citadas neste documento.

2.6.2 Board interlocking

De acordo com Fich e White (2001), o termo Board Interlocking é utilizado quando

um conselheiro de administração de uma organização também atua como conselheiro de

administração em duas ou mais empresas, estabelecendo uma ligação entre elas. Outros

exemplos de estudos nesta linha de pesquisa também podem ser encontrados em Allen (1974),

Dooley (1969), Mizruchi (1996) e Fich e Shivdasani (2006).

Santos e Silveira (2007), pontuam que essa prática, tanto nos Estados Unidos, quanto

no Brasil, apenas é condenada entre companhias concorrentes, porém é aceita de modo geral,

entre organizações não concorrentes.

Para eles, os estudos a respeito de Board Interlocking partem da premissa de que bons

conselheiros tendem a participar de maior número de organizações, tal como de diferentes

grupos de organizações, sendo a centralidade e a posição desses conselheiros na rede indício

de seu prestígio como executivo. Assim, aqueles conselheiros mais bem posicionados na rede

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tendem a ter maior capacidade de receber informação, recursos e conhecimento, por meio do

seu acesso privilegiado a diferentes grupos não conectados entre si, ou seja, maior proporção

de lacunas estruturais (BURT, 1992). Com efeito, aqueles conselheiros com maiores lacunas

estruturais (structural holes) tendem a ser valorizados pelo mercado e investidores, já que sua

presença no conselho de determinada organização aponta para a legitimidade de sua gestão

(COHEN; DEAN, 2005; DAVIS, 1996; HIGGINS; GULATI, 2006).

As linhas de pesquisa em sociologia organizacional argumentam que o conselho de

administração é detentor de um capital social de grande valia para a empresa por duas razões

principais: seus contatos e seu conhecimento. Nicholson, Alexander e Kiel (2004) ressaltam

que o board interlocking é especialmente vantajoso para companhias que enfrentam cenários

de incerteza e interdependência no mercado e complexidade organizacional, pois seria um

mecanismo que combateria eventuais desvantagens provenientes destes fatores por meio da

coesão social dos conselheiros e de sua influência no ambiente de mercado.

Outro mecanismo pelo qual os conselhos de administração com ligações em outras

empresas agregam valor à companhia trata do capital cognitivo que estes conselheiros

adquirem – isto é, sua experiência pessoal. Haunschild e Beckman (1998) afirmam que as

conexões entre conselheiros permitem a disseminação de inovações organizacionais através

desta rede de contatos corporativos.

De acordo com Santos e Di Miceli (2007), com relação à influência do board

interlocking sobre as variáveis de valor e desempenho corporativos, foi constatado em todas

as regressões e modelos, que a prática é prejudicial ao valor da companhia. A existência de

um diretor executivo ou presidente do conselho que desempenha funções em outras empresas

tende a reduzir o valor da corporação e por sua capitalização de mercado. Outra constatação

relevante é o fato de que conselhos sobrecarregados, cuja metade ou mais de seus membros

executa funções em três ou mais companhias também se mostram prejudiciais aos indicadores

de valor da companhia.

Page 54: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

51

2.6.3 Redes estratégicas

Redes são um conjunto de atores ligados por relações (HOANG; ANTONCIC, 2003),

que podem ser classificadas em redes sociais ou de negócios. As redes sociais envolvem

aquelas desenvolvidas a partir de relações pessoais, ao passo que redes de negócios são

aquelas que envolvem trocas econômicas repetidas (VASILCHENKO; MORRISH, 2011).

Gulati (1995) pesquisou o motivo pelo qual as alianças estratégicas acontecem. Em seu artigo

“Social Structure and Alliance Formation Patterns: A Longitudinal Analysis”, ele pontua que

alguns pesquisadores acreditam que as alianças estratégicas trazem redução dos custos de

transação, uma vez que essas alianças são formas híbridas entre os extremos de mercados e

hierarquia (WILLIAMSON, 1985), que ocorrem quando os custos de transação, associados a

uma determinada troca, são altos demais, mas não o suficiente para a realização de uma

integração vertical (HENNART, 1988). Outro possível motivo está na possibilidade dessas

alianças trazerem novas habilidades ou ainda aquisição de conhecimento tácito (KOGUT,

1988; DOZ; HAMEL; PRAHALAD, 1989; HAMEL, 1991; GULATI; NOHRIA; KHANNA,

1994). Gulati (1995) continua mencionando outros motivos e autores, como os teóricos

institucionais, que sugerem que existe um efeito de onda no qual as empresas sucumbem às

pressões por isomorfismo e imitam outras empresas de sua rede de alianças

(VENKATRAMAN; KOH; LOH, 1994), ou os pesquisadores que acreditam que algumas

alianças resultam de buscas de legitimidade (SHARFMAN; GRAY; YAN, 1991;BAUM;

OLIVER, 1991, 1992) e também os que apresentam evidências de que algumas empresas

realizam alianças para aprimorar seu posicionamento estratégico (FULLER; PORTER, 1986;

CONTRACTOR; LORANGE, 1988; KOGUT, 1988).

Ainda, com relação às redes estratégicas, Gulati, Nohria e Zaheer (2000), trazem à

tona a discussão de que a condução e o desempenho das empresas podem ser melhor

compreendidos ao analisarmos a rede de relacionamentos na qual essas empresas estão

inseridas. Ao adotarem uma atitude relacional ao invés de uma abordagem atomística, é

possível aprofundar a compreensão das diferenças de conduta e rentabilidade das empresas,

em particular quando destaca-se a ideia de que as redes estratégicas potencialmente fornecem,

às empresas aliadas, acesso a informações, recursos, mercados e tecnologias; com vantagens

de aprendizagem, escala e economias de escopo, permitindo que elas alcancem objetivos

estratégicos, tais como compartilhamento de riscos e de terceirização de etapas da cadeia de

valor e funções organizacionais.

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52

Para Uzzi (1996), relações de confiança ajudam a reduzir a incerteza transacional e

criam oportunidades para a troca de produtos e serviços que são difíceis de precificar ou

realizar um contrato. Portanto, ao invés de uma orientação de negócios calculista e impessoal

(WILLIAMSON, 1994), a confiança é pessoal e dispõe da interpretação favorável do outro

com relação às intenções e ações da pessoa que entregará o que foi prometido. Quando

parceiros têm uma relação de confiança (SIVADAS; DWYER, 2000), cooperação

(LORANGE; ROOS, 1992), comunicação (LARSON, 1992; SIVADAS; DWYER, 2000) e

coordenação (MOHR; SPEKMAN, 1994; SIVADAS; DWYER, 2000), eles conseguem

trabalhar melhor juntos e consequentemente atingir os benefícios de laços (OZCAN;

EISENHARDT, 2009). De acordo com Lechner e Dowling (2003), o tipo de relacionamento

de um agente determina a profundidade e a diversidade de recursos acessíveis a ele.

Os agentes podem ter laços fortes ou fracos (GRANOVETTER 1973, 1974) e laços

redundantes ou não redundantes (BURT, 1992). Os laços fortes podem ser entendidos como

relações intensas. Dadas as restrições de tempo e energia de um agente (recursos escassos em

relação à construção e manutenção das relações), relações intensas são caracterizadas por um

"consumo" desproporcionado de tempo e energia em comparação a outras relações. Os laços

não redundantes são laços de um membro da rede com outros membros que não estão eles

próprios ligados uns aos outros (por exemplo, A tem ligações com B e C, mas B e C não têm

contato uns com os outros).

Stuart (1998) descobriu que quanto maior for o índice de redes sociais de uma

organização, mais elevadas são as taxas de formação de alianças estratégicas, uma vez que as

empresas de alto prestígio gozam de uma vantagem que decorre da sua capacidade única de

certificar a iniciativa das empresas menos conhecidas.

2.7 O capital social do conselheiro de administração

Walt e Ingley (2003), colocam que os eventos mundiais, desafios e tendências sociais

forçaram mudanças na composição e funcionamento dos conselhos de administração. As

iniciativas públicas para as reformas dos conselhos passaram a focar não apenas nas questões

de conformidade e legislação em busca de uma regulamentação mais rígida junto às empresas

de capital aberto, mas também sobre o funcionamento dos conselhos (SIMMERS, 1998). O

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53

apelo a essas reestruturações gerou um amplo debate sobre as características da boa

governança e sobre como ter conselhos mais eficientes. Como um grupo, um conselho de

administração combina competências e capacidades que representam um conjunto de capital

social para a organização. O capital social que cada conselheiro traz é uma medida do valor

adicionado pelo conselho na execução de sua função na governança corporativa

(CARPENTER; WESTPHAL, 2001). Nesse sentido, o conceito de capital social se origina

nas disciplinas da política e da ciência política.

Do ponto de vista político, a premissa central do capital social é que as redes sociais

têm valor, sendo que os conselhos de administração e as organizações corporativas são

exemplo (WALT; INGLEY, 2003). O capital social decorre da ideia da sociedade civil, do

envolvimento cívico e da governança democrática (PUTNAM, 1995), referindo-se ao valor

coletivo de todas as "redes sociais" dos indivíduos e as inclinações que surgem dessas redes

para que as pessoas nelas façam coisas umas às outras (conhecidos como "normas de

reciprocidade"). O termo capital social enfatiza uma grande variedade de benefícios

específicos que decorrem da confiança, reciprocidade, informação e cooperação associadas às

redes sociais. O capital social cria valor para as pessoas ligadas pelos laços sociais criados por

essas redes e também pelas repercussões além das conexões imediatas (PUTNAM, 1995;

WESTPHAL, 1999). Aplicando esse pensamento no contexto corporativo, um conselho de

administração pode ser visto como exemplificando essa rede social (WALT; INGLEY, 2003)

Niu e Chen (2017) apresentam que, de acordo com a estrutura de rede que um

conselheiro de administração possui, esse conselheiro pode influenciar o desempenho do

conselho, uma vez que a qualidade do desempenho do conselho pode ser aprimorada quando a

rede social fechada entre o conselho é alta e existem alguns contatos não redundantes além do

conselho (buracos estruturais). Enquanto a rede social fechada do conselho aumenta a

colaboração e a confiança entre seus participantes, os contatos externos beneficiam a empresa

com as mais diversas fontes de informação.

Mills (1956) publicou um artigo denominado “The Power Elite”, a respeito do

ambiente corporativo norte-americano, uma crítica sobre a poderosa rede política de “velhos

garotos”. De acordo com essa lógica, o compartilhamento de atributos possibilita o

estabelecimento de laços entre membros do conselho das maiores empresas listadas em Bolsa.

Esse fenômeno configurou uma rede social, como um pequeno mundo (small world) de

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conhecimento mútuo, caracterizado pelo compartilhamento de atividades em conselhos de

empresas (GRANOVETTER, 1985).

Em sua tese de Doutorado, Mendes-Da-Silva (2010) sugere a existência de uma elite

intelectual que ocupa a alta administração das companhias listadas em bolsa. Uma

consequência desse resultado é o entendimento do ambiente corporativo, segundo o modelo

de small-worlds, para o qual a distância entre os atores de uma rede tende a ser pequena,

sendo grande o agrupamento local dos participantes da rede, aumentando a velocidade de

comunicação entre conselheiros e, consequentemente, entre as empresas (GRANOVETTER,

1985).

O estudo de Mendes-Da-Silva (2010) demonstrou que a rede de relacionamentos entre

os membros de conselhos no Brasil e entre empresas também refletem o conceito de “small

world”. Ao mesmo tempo, o autor demonstra que os valores para o coeficiente de

clusterização dos membros do conselho são altos, ou seja, as empresas são valorizadas pelo

uso do capital social por parte de seus conselheiros até um certo grau de relacionamento.

Poucos autores analisaram, no contexto brasileiro, os efeitos de seu entrelaçamento

por meio de conselheiros ligados a múltiplas organizações (SANTOS; SILVEIRA, 2007;

SANTOS; SILVEIRA; BARROS, 2012) e também são poucos os estudos que consideraram

tal entrelaçamento com base em métodos e teorias relacionais, comumente associadas a

análise de redes sociais (MENDES-DA-SILVA et al., 2008; MENDES-DA-SILVA, 2011).

Além disso, apesar da importância do conselho nos resultados organizacionais e o alto

grau da expansão da internacionalização que muitas empresas experienciaram nos últimos

anos, há poucos estudos que ligam o conselho de administração à internacionalização de

empresas (RIVAS; HAMORI; MAYO, 2009).

Baseado na literatura é possível afirmar que o capital social (rede de relacionamentos

de um conselheiro de administração) pode influenciar na internacionalização de uma empresa,

positiva ou negativamente, uma vez que os laços e a reputação do conselheiro de

administração podem ser repassados à organização (ROSSONI; ARANHA; MENDES-DA-

SILVA, 2017).

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55

Esse estudo também investigará como esse capital social dos conselheiros de

administração influencia na internacionalização das empresas sob o ponto de vista do modelo

de Uppsala revisitado.

Figura 7: Relação de como o capital social de indivíduos como os Conselheiros de

Administração de uma empresa pode influenciar sua internacionalização

Fonte: elaborado pela autora, com base nos estudos de Adler e Kwon (2002) e de Johanson e

Vahlne (1977, 2003, 2009, 2013).

Esta figura ilustra, esquematicamente, as principais conclusões tiradas pela

pesquisadora, a partir das principais linhas teóricas de internacionalização – modelo de

uppsala revisitado –, capital social e redes sociais, que suportam os argumentos e premissas

dessa dissertação. Contudo, ressalta-se que as bases teóricas não se resumem às obras citadas

neste documento.

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56

3. METODOLOGIA

Neste capítulo é apresentado o percurso metodológico adotado no estudo e as técnicas

de pesquisa empírica desenvolvidas, que seguem a estrutura apresentada na Figura 8.

Figura 8: Percurso Metodológico do Trabalho

Fonte: elaborado pela autora a partir de notas de aula de método de pesquisa qualitativo

avançado com prof. Thelma Rocha, na Escola Superior de Propaganda e Marketing, em 2017.

3.1 Tipo de pesquisa e abordagem

Pesquisa de campo exploratória, de abordagem qualitativa, que visa verificar

empiricamente como o capital social dos conselheiros de administração influencia na

internacionalização das empresas brasileiras.

A abordagem qualitativa é relevante para a compreensão dos fenômenos em

profundidade, ao buscar a perspectiva dos atores envolvidos, além de auxiliar no

entendimento de como os indivíduos concebem a sua experiência com a realidade, dando

significado a ela. (CHERMAN; DA ROCHA-PINTO, 2016). Gaskell (2002) explica que a

pesquisa qualitativa fornece os dados básicos para o desenvolvimento e a compreensão das

relações entre os atores sociais e sua situação.

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57

3.2 Método de pesquisa

O método de pesquisa utilizado foi o estudo de casos múltiplos, mais adequado a

pesquisas com perguntas do tipo COMO (e por quê?), em que o pesquisador tem pouco

controle sobre os eventos, e quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos (YIN,

2001). O estudo de caso é uma estratégia de pesquisa focada em compreender a dinâmica

presente em configurações individuais (EISENHARDT, 1989). A escolha de um estudo de

caso traz oportunidades para a coleta de dados e possibilita que pesquisadores tenham acesso

a informações que não estariam disponíveis em outros métodos (TOLEDO; DE FARIAS

SHIAISHI, 2009).

Um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno

contemporâneo dentro de seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o

fenômeno e o contexto não estão claramente definidos. O estudo de caso é um método de

pesquisa utilizado quando existem muitas variáveis, por vezes desconhecidas pelo

pesquisador (YIN, 2001, p. 32). Neste caso, a estratégia de múltiplos casos se mostra mais

interessante, por possibilitar a confrontação de diferentes casos e estilos de conselheiros. O

que se espera é encontrar resultados diferenciados, uma vez que serão entrevistados

conselheiros de administração de empresas brasileiras, todas listadas em segmentos especiais

– Novo Mercado, porém em diferentes estágios de internacionalização.

Para o processo de amostragem, foram entrevistados, em cada empresa: um acionista

conselheiro, um conselheiro independente e um gestor, responsável pela internacionalização

da empresa e que tenha contato constante com o Conselho. Cada conselheiro e gestor da

empresa foi indicado por um conhecido pessoal da pesquisadora que, encaminhou um e-mail

ao conselheiro, com cópia para a pesquisadora. Cada entrevistado indicava um novo

administrador a ser entrevistado, seja ele conselheiro ou gestor. Todo o agendamento das

entrevistas foi realizado por e-mail, seja por intermédio das secretárias, seja pessoalmente,

sem a necessidade das secretárias, como no caso de quatro conselheiros dos nove

entrevistados. As entrevistas aconteceram no escritório de cada um desses conselheiros e

executivos das empresas, com exceção de uma conselheira, que preferiu ser entrevistada no

local de trabalho da pesquisadora.

Page 61: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

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3.3 Critérios de seleção

Para Eisenhardt (1989), a seleção de estudo de casos é um aspecto relevante para

construir a teoria a partir de estudos de casos. Por esse motivo, os critérios de seleção das

empresas analisadas foram:

Empresa listada na B3 (antiga BM&F Bovespa) e com boas práticas de governança

corporativa. Neste caso, as empresas listadas com melhores práticas de governança

corporativa são as listadas no segmento Novo Mercado;

Empresas que possuem, como vantagem competitiva internacional, o uso das florestas

brasileiras;

Empresas líderes brasileiras em seu setor de atuação, porém com níveis de

internacionalização distintos. Essa diferença no nível de internacionalização visa trazer uma

riqueza de informações sobre possíveis evoluções de cada uma dessas empresas pelo mundo e

a influência dos conselheiros de administração nesse processo.

Page 62: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

59

Figura 9: Abordagem metodológica

ABORDAGEM METODOLÓGICA – 8 ETAPAS DE EISENHARDT

DE

FIN

IÇÕ

ES

IN

ICIA

IS Tema

Objetivo

Justificativa

Método Adotado

Estrutura

RE

VIS

ÃO

DA

LIT

ER

AT

UR

A Internacionalização

Institucional

Dependência de Recursos

Embeddedness

Uppsala Revisitado

Capital Social e Redes Sociais

Governança Corporativa

Board Interlocking

SE

LE

ÇÃ

O D

O C

AS

O Empresas listadas –Novo Mercado

Lideres em seu setor de atuação

Uso das florestas brasileiras

Diferentes formas de internacionaliz.

Duratex, Natura e Fibria

INS

TR

UM

EN

TO

S E

FO

NT

ES

D

E E

VID

ÊN

CIA 9 roteiros de

entrevista,

documentação,

registros de

arquivos,

observação direta

TR

AB

AL

HO

DE

CA

MP

O Entrevista com Conselheiros:

2 conselheiros de cada organização e 1 gestor de internacionalização

Exceção: Fibria, com 3 conselheiros

AN

ÁL

ISE

DA

DO

S Técnica de Análise de

Conteúdo proposta por

Bardin (2004, p.75)

Planilhas de Excel com

categorias e principais

respostas e exemplos

FO

RM

UL

ÃO

DE

P

RE

SS

UP

OS

TO

S Comparar respostas com teoria

CO

MPA

RA

ÇÃ

O C

OM

T

EO

RIA

E F

EC

HA

ME

NT

O Formulação de

proposta de

sistematização dos

dados

Comparações

Finais e

Fechamento

Fonte: Adaptado de Eisenhardt (1989)

Page 63: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

60

CARACTERÍSTICAS

DA EMPRESADuratex Natura Fibria

Listada Novo Mercado Novo Mercado Novo Mercado

Fundação 1951 1969 2009 (Aracruz 1967 + VCP 1988)

Propósito Oferecer soluções para melhor viver Bem Estar Bem

Acreditamos em relações construtivas baseadas em

laços de parceria e confiança, com compromisso e

respeito.

Somos movidos pela energia vital, garra e paixão para

viabilizar produtos essenciais para a qualidade de vida,

saúde, educação e cultura

Buscamos o lucro reconhecido e admirado, que gere

benefícios para todos a partir de recursos utilizados de

forma sustentável.

Produtos Paineis de madeira e metais sanitárioscosméticos como produtos de higiene, beleza, perfumes

e maquiagem

celulose de eucalipto

cultivo de florestas como fonte renovável e sustentável

de vida

Estrutura atual da

empresa, nacional e

de

internacionalização

A empresa conta com 11 mil colaboradores, distribuídos

por 22 unidades industriais e florestais localizadas em 8

estados brasileiros, além da sede administrativa, que

fica na capital paulista. Conta ainda com 3 fábricas na

Colômbia e escritórios comerciais nos Estados Unidos e

na Europa, o que permite que seus produtos cheguem a

mais de 50 países, além do Brasil.

Com 3 unidades de negócio: Natura, Aesop e The Body

Shop, o grupo Natura tem presença em 70 países,

faturamento consolidado de R$ 11,5 bilhões, 17 mil

colaboradores, mais de 3,2 mil lojas e um portfólio de 2

mil produtos, além de uma força de vendas de 1,8

milhão de consultoras independentes.

Com capacidade produtiva de 7,25 milhões de toneladas

de celulose por ano, a companhia conta com unidades

industriais localizadas em Aracruz (ES), Jacareí (SP) e Três

Lagoas (MS), além de Eunápolis (BA), onde mantém a

Veracel em joint-operation com a Stora Enso. A

companhia possui 1,056 milhão de hectares de florestas,

sendo 633 mil hectares de florestas plantadas, 364 mil

hectares de áreas de preservação e de conservação

ambiental e 59 mil hectares destinados a outros usos. A

celulose produzida pela Fibria é exportada para mais de

35 países e matéria-prima para produtos de educação,

saúde, higiene e limpeza.

Número de

Conselheiros9 conselheiros e 3 suplentes 9 conselheiros 9 conselheiros titulares e 9 suplentes

Número de Comitês

de Apoio

6 comitês: Comitê de Pessoas, Governança e Nomeação;

Sustentabilidade; Auditoria e Gerenciamento de Risco;

Divulgação e negociação; Avaliação de Transações com

Partes Relacionadas; TI e Inovação Digital

4 comitês: Comitê de Auditoria, de Gestão de Riscos e de

Finanças; Comitê de Pessoas e Desenvolvimento

Organizacional; Comitê Estratégico e

Comitê de Governança Corporativa.

5 comitês: Comitê Financeiro, Sustentabilidade, Pessoas

e Remuneração, Inovação e Auditoria Estatutária.

Diversidade 2 mulheres suplentes. Nenhuma mulher conselheira. 2 mulheres no Conselho 2 mulheres suplentes. Nenhuma mulher conselheira.

Figura 10: Sobre as empresas selecionadas para estudo de caso

Fonte: Site das empresas e relatório anual das empresas

Page 64: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

61

3.4 Corpus de pesquisa e técnicas de coleta de dados

Por meio de entrevistas em profundidade realizadas junto a três administradores

de cada empresa, sendo dois conselheiros e o principal executivo responsável por sua

internacionalização. Foram também selecionados conselheiros que atuavam em mais de

uma organização, para que pudessem apresentar as vantagens de atuação nos conselhos

de diferentes organizações.

Figura 11: Corpus de Pesquisa e Técnica de Coleta de Dados

Fonte: Autora (2017)

Com relação à entrevista de um gestor de internacionalização da empresa, a

única exceção foi a Fibria, que preferiu que a entrevista acontecesse com um

conselheiro independente, uma vez que, toda a sua produção está voltada a clientes

internacionais.

A coleta de dados foi feita por meio de levantamento de dados documentais e

entrevistas individuais em profundidade, sendo utilizado um roteiro semi-estruturado,

definido a partir das teorias consideradas no estudo. Foram oito as categorias

previamente definidas, sendo que as entrevistas trouxeram novas categorias que foram

trazidas à tona durante o processo de análise de conteúdo (BARDIN, 2011).

Conselheiros e

Gestores

Entrevistados

Duratex Natura FibriaTÉCNICA DE COLETA

DE DADOSDuratex Natura Fibria

C1Acionista

ControladorC1 - 30/08/2017 37:04:00

C2Comitê de

SustentabilidadeC2 - 17/10/2017 01:00:02

C3Gestor de

InternacionalizaçãoC3 - 26/09/2017 00:54:48

C4Acionista

ControladorC4 - 04/10/2017 01:05:24

C5Comitê de Auditoria

e ConselhoC5 - 14/09/2017 01:16:13

C6Gestor de

InternacionalizaçãoC6 - 27/10/2017 00:55:59

C7Presidente do

ConselhoC7 - 31/10/2017 01:23:36

C8Conselheiro

Independente

Presidente do

Conselho da

Holding

C8 - 20/10/2017 00:50:42 00:50:42

C9Conselheiro

IndependenteC9 - 06/11/2017 01:04:16

Page 65: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

62

Figura 12: Matriz de amarração

Matriz de Amarração:

Referencial teórico Objetivos da

Pesquisa

Proposições da Pesquisa Técnicas de Análise dos

dados

Internacionalização,

Governança Corporativa,

Modelo de Uppsala revisitado,

Capital Social, Análise de

Redes Sociais, Board

Interlocking, Redes

Estratégicas

Como o Capital

Social do

Conselheiro de

Administração

influencia a

Internacionaliza-

ção das Empresas

Brasileiras

1. Identificar e comparar elementos que demonstram a

influência do capital social dos conselheiros de administração

na gestão da empresa com relação à internacionalização

2. Identificar e comparar elementos que demonstram a

influência do capital social dos conselheiros de administração

que são conselheiros em duas ou mais empresas

3. Identificar e comparar como o perfil e as competências dos

conselhos de administração evoluem junto à evolução de seu

processo de internacionalização.

Abordagem Qualitativa

Método: estudo de casos

múltiplos

Coleta de dados:

levantamento de dados

documentais e entrevistas

individuais em

profundidade, por meio de

roteiro semi-estruturado

Fonte: Autora (2017)

Page 66: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

63

Figura 13: Roteiro semi-estruturado de entrevistas

Teoria Base Teórica Categoria / Critérios Questões

1

Para tomar as melhores decisões, os conselheiros precisam de motivação e

habilidade na forma de experiência, conhecimento e habilidades relevantes

(TIAN; HALEBLIAN; RAJAGOPALAN, 2010)

Conselhos de Administração e o

Desempenho da Empresa (HILMAN e

DALZIEL, 2003)

Conselho de AdministraçãoComo foi sua carreira? Em quais empresas trabalhou? Onde estudou? Como sua

experiência foi relevante para sua atuação hoje como conselheiro?

2

Hillman e Dalziel (2003) e Coleman(1988) apontam que um recurso

importante trazido pelo conselheiro de administração é seu capital humano

relacionado à sua experiência, perícia e reputação.

Papel do Conselho de Administração

(PFEFFER; SALANCIK, 1978)Conselho de Administração

Como foi que você se tornou conselheiro de administração. Há quanto tempo você é

conselheiro? Qual foi sua marca como (maior posição que teve na gestão de uma

empresa no passado) e qual é sua marca hoje como conselheiro de administração da

empresa X?

3

O estudo “The Top 20 Brazilian Multinationals: Divestment under Crisis”

lançado em março de 2017, aponta que as principais razões para a

internacionalização das empresas brasileiras foram a possibilidade de acesso

a novos mercados e o potencial para estarem mais próximas dos clientes,

seguido pela redução de custos e acesso aos recursos naturais. Algumas

empresas entrevistadas pelo estudo também foram impulsionadas pela

instabilidade econômica e política, bem como pelos altos impostos no Brasil.

Internacionalização das Empresas

Brasileiras (EAESP/FGV, 2015)Internacionalização

O que é o processo de internacionalização para a empresa X? E para a empresa Y na

qual você também é conselheiro? Qual é a diferença entre elas? Qual é o seu papel

nesse processo?

4

A ampliação do IDE(investimento direto estrangeiro) das empresas brasileiras

aconteceu tanto por meio do chamado greenfield, como pelo processo de

fusões e aquisições de empresas.

Internacionalização das Empresas

Brasileiras (EAESP/FGV, 2015)Estágio da Internacionalização

Essa internacionalização aconteceu por meio de greenfield ou de fusões e

aquisições?

5Como e quantas vezes vocês discutem a questão da exportação e internacionalização

no conselho da empresa X?

6Existe algum conselheiro da empresa X que é mais comprometido com o

relacionamento com clientes globais? E com os fornecedores?

7Com relação à exportação/internacionalização da empresa X, como vocês pretendem

expandir os negócios?

COMO O CAPITAL SOCIAL DO CONSELHEIRO DE ADMINISTRAÇÃO INFLUENCIA A INTERNACIONALIZAÇÃO DA EMPRESA

As estratégias de internacionalização nunca foram tão cruciais, uma vez que

os limites dos negócios são globais e, sob essas circunstâncias, as empresas

necessitam de conselhos efetivos para a tomada de decisões apropriada

(BARROSO; VILLEGAS; PÉREZ-CALERO, 2011)

Influência do Conselho na

Internacionalização da Firma (BARROSO;

VILLEGAS; PÉREZ-CALERO, 2011)

Internacionalização e o

Conselho de Administração

Fonte: Autora (2017)

Page 67: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

64

Teoria Base Teórica Categoria / Critérios Questões

8Você acredita que seus relacionamentos podem virar negócios? Você tem exemplos

nesse sentido?

9

Como conselheiro da empresa X, como é seu relacionamento com os acionistas? E

com a Gestão? E com outros conselheiros? Clientes? Fornecedores? Parceiros de

Negócios?

10

Qual foi a participação e a importância do profissional responsável pela

internacionalização de sua empresa neste processo? Como foi o relacionamento

dele com o conselho?

11Uma das teorias sobre o papel dos conselheiros de administraçãoé que eles trazem à

empresa legitimidade, aconselhamento e relacionamento. Você acredita nisso?

12

Para Burt (2000) o capital social é o núcleo de duas coisas: uma tecnologia

potente e uma questão crítica. A tecnologia é a análise de rede e a questão

crítica é o desempenho.

Capital Social (BOURDIEU, 1980;

COLEMAN, 1988, 1990; BURT, 1992, 2000;

BAKER, 1990; GRANOVETTER, 1992;

SCOTT, 1991; WASSERMAN e FAUST,

1994; TICHY, TUSHMAN e FOMBRUN,

1979; GHOSHAL e NAHAPIERT, 1998)

Capital Social

Por meio da apresentação de sua rede de contatos aos acionistas e administradores

da empresa, houve algum resultado significativo para a empresa no que tange à

internacionalização? Poderia nos explicar?

13Você, como conselheiro independente, participa ou já participou de conselhos de

administração de outras empresas?

14Como sua rede de relacionamentos o ajudou a trazer mais resultados a essas

empresas?

15Você é conselheiro de administração de outras empresas? Quais?

Qual é a vantagem de um conselheiro atuar em diferentes conselhos?

16Algum conselheiro que já participou do processo de internacionalização de outra

empresa ajudou a sua empresa nesse mesmo processo?

17É possível transferir a exportise de uma empresa para outra, trazendo resultados

para a empresa?

Pfeffer & Salancik (1978) pontuam que quando uma empresa define um

indivíduo para ser conselheiro de administração, ela espera que o indivíduo a

suporte e ajude. Ressaltam ainda que quatro benefícios primários podem ser

providos por seus conselheiros. São eles: legitimidade, aconselhamento

(advice ) e relacionamentos que proporcionem canais de comunicação entre

outras organizações e indivíduos e suporte/acesso a outras empresas e

indivíduos, trazendo, consequentemente, maior desempenho à empresa.

Teoria do Capital Social (BOURDIEU,

1980)

A metáfora do capital social é que as

pessoas que fazem melhor estão de

alguma forma melhor conectadas

(BURT, 2000).

Capital Social e

Papel do Conselheiro

Mills (1956), publicou um artigo denominado “The Power Elite”, a respeito do

ambiente corporativo norte-americano, uma crítica sobre a poderosa rede

política de “velhos garotos”. Esse fenômeno configurou uma rede social,

como um pequeno mundo (small world) de conhecimento mútuo,

COMO O CAPITAL SOCIAL DO CONSELHEIRO DE ADMINISTRAÇÃO INFLUENCIA A INTERNACIONALIZAÇÃO DA EMPRESA

Small World (GRANOVETTER, 1985) Redes Sociais

Existe um gap na pesquisa de board interlocking (um profissional atuando

como conselheiro em mais de duas empresas) com relação à influência que

os recursos embutidos (embedded) nas redes desses conselheiros realmente

agregam valor ao desempenho das empresas nas quais atuam, além do fato

de que não há estudos ou dados que permitam identificar os tipos e a

natureza das relações existentes entre membros de diferentes conselhos de

Board Interlocking (FICH e WHITE (2001) Board Interlocking

Fonte: Autora (2017)

Page 68: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

65

Fonte: Autora (2017)

Teoria Base Teórica Categoria / Critérios Questões

18

Como seu capital social ajudou a empresa X no processo de buscar oportunidades e

recursos para a sua internacionalização?

Como sua experiência e conhecimentos colaboraram para trazer subsidios a essa

discussão?

18Você acredita que a experiência dos conselheiros de administração da empresa X

contribuíram para sua internacionalização? Como?

20

Em quais locais/ países a empresa estudada pensou em começar a

internacionalização? Por que um país em detrimento de outro? O que deu certo? O

que deu errado? Quais foram as soluções encontradas?

21

Como conselheiro, você já havia tido a experiência de atuar em alguma empresa que

estivesse atuando em algum desses mercados? Se sim, quais? Essa experiência foi

importante para as definições da empresa X? Como?

22

Nesses países onde a empresa buscou se internacionalizar, quais eram as diferenças

e similaridades entre consumidores/clientes? Preço? Políticas Públicas?

Crescimento econômico? Custo de transferência? Investimento em Inovação e

Tecnologia?

Seu capital social o ajudou a trazer subsidios para essas questões levantadas em

conselho, se elas foram levantadas?

23

Para a aquisição da empresa Y pela X:

- Como foi a negociação com esse parceiro? Havia algum relacionamento prévio

construido nesse processo que facilitou o fechamento do negócio?

24Ao buscar um parceiro para investimentos diretos no estrangeiro, esse parceiro

trouxe tecnologias que não existiam?

25Como foi o relacionamento da empresa com esse parceiro? Era puramente técnico?

Como foi o debate sobre esse(s) parceiro(s) no conselho?

26Em algum momento o capital social de algum conselheiro contribuiu para a solução

de alguma discussão em específico?

27

Quais são as vantagens competitivas das empresas adquiridas com relação aos

concorrentes globais e/ou regionais? Houve uma análise prévia dessas vantagens

competitivas em comparação às vantagens de sua empresa?

28

Com qual vantagem competitiva perante os concorrentes globais (ou do país no qual

a empresa está internacionalizando) a empresa X pensou em se internacionalizar?

O que deu certo e errado em qual país e porquê?

29

Como foi o processo de construção de parcerias em outros países? Deu certo? Foi

preciso internalizar? Poderia dar algum exemplo?

Qual foi a importância do conselho de administração nesse processo?

Como a experiência e relacionamentos prévios dos conselheiros de sua empresa

colaboraram para essa internalização?

30 (igual

24, 25 e

26)

Ao buscar um parceiro para investimentos diretos no estrangeiro, esse parceiro

trouxe tecnologias que não existiam?

Como foi o relacionamento da empresa com esse parceiro? Era puramente técnico?

Como foi o debate sobre esse(s) parceiro(s) no conselho? Em algum momento o

capital social de algum conselheiro contribuiu para a solução de alguma discussão

em específico?

Identificar oportunidades e

mobilizar recursos

Desenvolver diferentes

mercados e locais

Construir, manter e coordenar

relacionamentos na rede

Para Johanson e Vahlne (2013), três tipos de capacidades são fundamentais

para a internacionalização da empresa: a capacidade de identificar

oportunidades e mobilizar recursos; a de desenvolver diferentes mercados e

locais, em circunstâncias diversas; e a capacidade de construir, manter e

coordenar relacionamentos na rede.

Modelo de Uppsala Revisitado

(JOHANSON e VAHLNE, 2013)

Capital Social x InternalizaçãoParadigma Eclético - Internalização

(DUNNING, 1995b)

I - Internalização: (essa questão de redes estratégicas surgiu nas primeiras

entrevistas)

O investimento direto estrangeiro tem aumentado as vantagens competitivas

das empresas e tem sido uma forma importante de atividade econômica

entre fronteiras, colaborando para o crescimento de alianças estratégicas

entre empresas (Dunning, 2001).

Uma empresa pode ser vista como uma colecionadora de recursos criados,

dela e de outras empresas. As vantagens específicas das multinacionais

dependerão de sua competência para buscar, aproveitar e influenciar a

inovação, o preço e a qualidade dos ativos de outras instituições com as quais

possui relacionamento cooperativo (Dunning, 1995b).

COMO O CAPITAL SOCIAL DO CONSELHEIRO DE ADMINISTRAÇÃO INFLUENCIA A INTERNACIONALIZAÇÃO DA EMPRESA

Em mercados com maior distância psíquica, a empresa precisa contar com o

custo de ser estrangeiro (liability of foreigness), o que leva à necessidade de

a empresa desenvolver vantagens competitivas com relação às concorrentes

do mercado de destino (JOHANSON E VAHLNE, 1977)

Modelo de Uppsala (JOHANSON e

VAHLNE, 1977)Distância Psíquica

Page 69: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

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Tabela 3: Fontes de evidências

Temas Fontes de Dados Teorias

Histórico das

Empresas

Relatórios Anuais das

Empresas

Site das Empresas

Notícias divulgadas na

mídia (12 meses)

Entrevistas

Papel do

Conselho de

Administração

Relatórios Anuais das

Empresas

HILMAN; DALZIEL (2003)

PFEFFER; SALANCIK (1978)

BARROSO; VILLEGAS; PÉREZ-

CALERO (2011)

HILLMAN; DALZIEL (2003)

Site das Empresas

Entrevistas

Notícias divulgadas na

mídia (12 meses)

Internacionaliza-

ção de Empresas

Relatórios Anuais das

Empresas

JOHANSON; VAHLNE (1977, 2009,

2013)

CUERVO-CAZURRA (2008)

PFEFFER; SALANCIK (1978)

UZZI (1997)

Site das Empresas

Entrevistas

Notícias divulgadas na

mídia (12 meses)

Capital Social e

Redes Sociais

Entrevistas BOURDIEU (1980)

BURT (1992, 2000)

COLEMAN (1988, 1990)

BAKER (1990)

GRANOVETTER (1985, 1992)

SCOTT (2017)

WASSERMAN; FAUST (1994)

TICHY; TUSHMAN; FOMBRUN (1979)

NAHAPIET; GHOSHAL (1998)

Board

Interlocking

Entrevistas FICH e WHITE (2001)

Fonte: Autora (2017)

Page 70: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

67

Na tabela 3, foi desenvolvida uma síntese dos temas e fontes de evidências e

teorias utilizadas na dissertação. Os dados apresentados a respeito das empresas

analisadas foram retirados dos seus respectivos sites e relatórios anuais, bem como por

meio de notícias publicadas em veículos de comunicação de renome nacional e das

entrevistas. A base teórica, conforme figura acima, se refere ao referencial teórico

apresentado neste documento.

A definição e seleção dos entrevistados foi feita com base na experiência dos

conselheiros de administração que atuavam nas empresas selecionadas. A definição do

gestor de internacionalização a ser entrevistado – terceiro entrevistado de cada empresa

– foi feita pelo próprio fundador e/ou presidente do conselho durante sua entrevista. A

amostra definida foi de nove entrevistas, sendo três entrevistas por estudo de caso.

Essa definição foi feita com base nos autores Hennik, Kaiser e Marconi (2017),

que explicam que muitos fatores influenciam o tamanho da amostra para estudos

qualitativos. No entanto, o princípio orientador mais comum para avaliar a adequação

de uma amostra intencional é a saturação (Morse, 1995, 2015). A saturação é aplicada

em muitas abordagens da pesquisa qualitativa e refere-se ao ponto na coleta de dados

em que nenhum problema adicional é identificado, os dados começam a repetir e a

posterior coleta de dados torna-se redundante (Kerr, Nixon e Wild, 2010).

Hennink, Kaiser e Marconi (2017), ao buscarem identificar o número de

entrevistas mínimo necessário para a saturação de códigos e sentido, perceberam que,

para alguns códigos conceituais, as dimensões concretas mais tangíveis são capturadas

cedo, enquanto que as dimensões mais abstratas exigem mais dados para capturar todas

as dimensões. Ao final do estudo, os autores concluíram que a saturação do código foi

alcançada após nove entrevistas, quando a gama de questões temáticas comuns já foi

identificada e o livro de códigos se estabilizou. Estes resultados são semelhantes aos de

Guest et al. (2006), que identificou que a saturação de dados ocorre entre sete e doze

entrevistas, com os elementos básicos dos temas presentes entre as entrevistas um e seis.

Para a confiabilidade da abordagem qualitativa, foram adotados procedimentos

de observação e análises estatísticas visando instrumentalizar e quantificar os

procedimentos de pesquisa por meio da construção de proposições e do uso de

Page 71: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

68

softwares de quantificação na análise de conteúdo das entrevistas (VIDICH; LYMAN,

2005).

Para aumentar a validade do constructo do estudo de caso, foram utilizadas

várias fontes de evidências, de tal forma que incentivasse linhas convergentes de

investigação, tais como diferentes estratégias de coleta e análise de dados documentais e

a entrevista de distintos agentes de governança – acionista controlador, conselheiro

independente e gestor que se relaciona com o conselho de administração (FLICK,

2009).

Para a validade externa do estudo de caso, nos quais a teoria supõe que deveriam

ocorrer os mesmos resultados (YIN, 2001), uma possível replicação poderia ser aceita

se acontecesse no Brasil junto a outras empresas nacionais de grande porte.

Sessões de discussões regulares com o orientador, que não acompanhou as

entrevistas, também foram importantes formas de validação, uma vez que foram

rediscutidas as proposições de trabalho, resultados e pontos cegos da pesquisa

(LESSARD-HÉBERT; GOYETTE; BOUTIN, 2005).

3.5 Técnica de tratamento de dados e análise

Um dos primeiros pesquisadores a ter um olhar sobre a análise de conteúdo

sobre técnicas de estudo foi Berelson (1952), que explica que a análise de conteúdo é

uma técnica de pesquisa que visa descrever o conteúdo manifesto de comunicação de

maneira objetiva, sistemática e quantitativa. No entanto, o próprio Berelson (1959),

alguns anos depois, afirma que a análise de conteúdo como método, não possui

qualidades mágicas e raramente se retira mais do que nela se investe e algumas vezes

até menos; - no fim de contas, nada há que substitua as ideias brilhantes.

De acordo com Bardin (1979, p.29), o pesquisador, por meio do método de

análise de conteúdo, visa ultrapassar as incertezas, tendo como base um modelo formal

fundamentado na necessidade de descobrir, pelo questionamento se, o que se vê na

mensagem está realmente nela contida, se essa mensagem vai além das aparências e se

outros podem compartilhar dessa mesma visão do pesquisador.

Page 72: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

69

Vale ressaltar também que a análise qualitativa realizada via análise de conteúdo

não rejeita toda e qualquer forma de quantificação. Todavia, o que caracteriza o caráter

qualitativo da análise é o fato da inferência estar fundamentada na presença do índice

(tema, palavra, personagem) e não sobre a frequência de sua aparição. (BARDIN,

2004).

Esta mesma impressão é apresentada por Mozzato e Grzybovski (2011, p. 736)

ao afirmarem que a análise de conteúdo pode ser aplicada também na análise

qualitativa, pois sua característica é a inferência (variáveis inferidas a partir de variáveis

de inferência no nível da mensagem) e que estas podem estar baseadas ou não em

indicadores quantitativos.

Outro ponto importante a considerar é que, devido às suas características, a

análise de conteúdo é importante para o pesquisador que está em busca do entendimento

e da revelação do que se encontra entre as linhas das falas dos entrevistados, sendo que

é preciso considerar que esses pesquisadores não são somente processadores de

informação e nem somente carregadores de ideologias e crenças coletivas, mas

pensadores ativos de inúmeros episódios diários de interação social (SILVA; GOBBI;

SIMÃO, 2011).

A análise de conteúdo se faz pela prática e é um conjunto de técnicas de análise

de comunicação, visando obter, por procedimentos sistêmicos e objetivos de descrição

do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a

inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis

inferidas) destas mensagens (BARDIN, 2011, p. 47).

A análise de conteúdo deve ter, como ponto de partida, uma organização, uma

vez que é resultante de testes de associações de palavras e que, relacionadas, podem ser

úteis à classificação de itens (BARDIN, 2009). Para a autora, as diferentes fases da

análise de conteúdo são: (i) Pré-análise: escolha de documentos, formulação de

hipóteses e criação de indicadores, (ii) Exploração do material e (iii) Tratamento dos

resultados (inferência e interpretação). (BARDIN, 2009, p. 121).

Os documentos analisados nesta dissertação foram as transcrições das

entrevistas, bem como os relatórios anuais das empresas analisadas nos estudos de caso.

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70

A exploração do material foi realizada manualmente e por meio de softwares de

computador (N-Vivo). As informações foram sintetizadas por categoria no excel,

agrupadas em quadros-resumo, sendo que, no tratamento e interpretação dos resultados,

foram feitas inferências das entrevistas ao referencial teórico e, consequentemente,

relacionadas às proposições e objetivos do estudo.

No tratamento dos resultados, as entrevistas transcritas foram organizadas e

classificadas por itens e categorias – grupos de elementos com características comuns

(BARDIN, 2004).

Segundo Bardin (2011), as categorias são vistas como rubricas ou classes que

agrupam determinados elementos reunindo características comuns. No processo de

escolha de categorias, pode-se considerar os seguintes critérios:

Semântico – (temas)

Sintático – (verbos, adjetivos e pronomes)

Léxico – (sentido e significado das palavras – antônimo ou sinônimo)

Expressivo (variações na linguagem e na escrita)

Este processo permite a junção de um número significativo de informações

organizadas em duas etapas: inventário (onde isolam-se os elementos comuns) e

classificação (onde os elementos são divididos e a organização é formada).

Neste estudo, a escolha de categorias seguiu o critério semântico, ou seja, por

temas.

Foram analisadas 2 (duas) categorias derivadas da teoria de Uppsala: distância

psíquica (custo de ser estrangeiro - liability of foreigness) e custo de não pertencer à

rede (liability of outsidership).

Da teoria de Uppsala revisitada, foram derivadas 6 (seis) categorias: identificar

oportunidades e mobilizar recursos; desenvolver diferentes mercados e locais; construir

relacionamentos na rede; posição da empresa na rede de relacionamentos (grau de

multinacionalidade); comprometimento na rede, por meio de investimentos tangíveis e

intangíveis; construção de confiança.

Page 74: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

71

Da teoria da Dependência de Recursos foi analisada 1(uma) categoria, sendo a

busca por legitimidade organizacional por meio da formação de alianças.

Da teoria do Capital Social, foram analisadas 3 (três) categorias, sendo: relações

de mercado; relações hierárquicas e relações sociais, sendo que, das relações sociais,

foram derivadas 5 (cinco) categorias, que são: rede aberta; rede fechada; buracos

estruturais (board interlocking); laços fortes e laços fracos.

Das Alianças Estratégicas, foram analisadas 5 (cinco) categorias, sendo: redução

de custos de transação; novas habilidades e aquisição de conhecimento; busca por

legitimidade; posicionamento estratégico e relações de confiança (embeddedness).

Page 75: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

72

Tabela 4: Matriz de Categorização: Códigos e Referências

Teoria Categoria Sub-CategoriaAssuntos relacionados que surgiram

nas entrevistasReferências

Distância Psíquica (custo de ser estrangeiro)

Início da internacionalização na América

Latina

Custo de não pertencer à rede (liability of outsidership)*Realização de alianças com parceiros locais

Identificar oportunidades e

mobilizar recursos

Construção de planejamento estratégico de

longo prazo

Desenvolver diferentes mercados

e locaisConhecimento do cliente local

Construir relacionamentos na redeCompreender o ambiente institucional local

Conhecimento do cliente local

Posição da empresa na rede de

relacionamentos (grau de

multinacionalidade) **

Conhecimento prévio e construção de

relacionamento com possíveis parceiros

locais

Comprometimento na rede

(investimentos tangíveis e/ou

intangíveis)

Investimento no local para conhecer o

cliente, sua logística e sua tecnologia e não

para obtenção de lucro

Construção de relação de

confiança ***

Construção de relação de confiança com o

cliente, os parceiros locais e/ou com o

consumidor

Busca por legitimidade

organizacional (formação de

alianças) *

Desenvolvimento de novos produtos,

projetos e pesquisas junto com o cliente

Embeddedness***

Construção de relação de confiança com o

cliente, os parceiros locais e/ou com o

consumidor

UZZI (1997);

PFEFFER; SALANCIK (1978)

Teoria da Dependência

de Recursos

Teoria de Uppsala JOHANSON; VAHLNE (1977, 2009)

MATRIZ DE CATEGORIZAÇÃO - CÓDIGOS E REFERÊNCIAS

Teoria de Uppsala

revisitadaJOHANSON; VAHLNE (2013)

Page 76: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

73

Teoria Categoria Sub-CategoriaAssuntos relacionados que surgiram

nas entrevistasReferências

Relações de mercado

Relações hierárquicas

Rede Aberta Menos obrigações e expectativas

Rede Fechada

Small World (todos são colegas).

Mesmos valores e normas implícitas e

explícitas, relação de confiança e troca de

conhecimento e informações

Buracos Estruturais

(Board Interlocking)

Conexões com outras empresas e

organizações. Mais conhecimento e

diversidade de informações

Laços Fortes

Identidade comum. Mesmo círculo social.

Confidencialidade mútua e serviços

recíprocos. Conhecimento profundo de

um assunto ou setor

Laços Fracos Diversidade de informações

MATRIZ DE CATEGORIZAÇÃO - CÓDIGOS E REFERÊNCIAS

Relações Sociais

ADLER; KWON (2002)

BOURDIEU (1980)

BURT (1992, 2000)

COLEMAN (1988, 1990)

BAKER (1990)

GRANOVETTER (1985, 1992)

SCOTT (1991)

WASSERMAN; FAUST (1994)

TICHY; TUSHMAN; FOMBRUN

(1979)

GHOSHAL; NAHAPIERT (1998)

DUNNING (1995b)

Teoria do Capital Social

Histórico de relações sociais com pares,

subordinadores, líderes, fornecedores e

clientes

Page 77: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

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Teoria Categoria Sub-CategoriaAssuntos relacionados que surgiram

nas entrevistasReferências

Redução de Custos de Transação

Construção de relação de confiança com o

cliente, os parceiros locais e/ou com o

consumidor

Novas Habilidades e Aquisição de

Conhecimento

Desenvolvimento de novos produtos,

projetos e pesquisas junto com o cliente

Busca por legitimidade *

A aquisição de uma empresa local faz com

que a empresa adquirente ganhe a

legitimidade da adquirida

Conhecimento e conquista do cliente e/ou

consumidor local

Posicionamento Estratégico **

Conhecimento prévio e construção de

relacionamento com possíveis parceiros

locais

Relações de Confiança ***

Construção de relação de confiança com o

cliente, os parceiros locais e/ou com o

consumidor

*Temas relacionados: Teoria de Uppsala - liability of outsidership, Teoria da Dependência de Recursos - busca legitimidade organizacional e Alianças Estratégicas - busca legitimidade

**Temas relacionados: Teoria de Uppsala Revisitado - posição da empresa na rede de relacionamentos e Alianças Estratégicas - posicionamento estratégico

***Temas relacionados: Teoria de Uppsala Revisitado - construção de relação de confiança e Alianças Estratégicas - relações de confiança

MATRIZ DE CATEGORIZAÇÃO - CÓDIGOS E REFERÊNCIAS

Alianças Estratégicas

GULATI (1995);

KOGUT (1998);

UZZI (1996; 1997)

Fonte: Autora (2017)

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75

4. ANÁLISE DE CONTEÚDO

Por se tratar de estudos de caso múltiplos, a seguir, será apresentado um breve

histórico de cada empresa, seu estágio de internacionalização e as entrevistas

categorizadas, sendo as mesmas posteriormente comparadas.

4.1 As categorias escolhidas para análise e seus autores

São elas:

Teoria de Uppsala – Distância Psíquica: início da internacionalização

na América Latina.

O que a teoria diz:

“Em mercados com maior distância psíquica, a empresa precisa contar com o

custo de ser estrangeiro (liability of foreigness), o que leva à necessidade de a empresa

desenvolver vantagens competitivas com relação às concorrentes do mercado de

destino” (JOHANSON E VAHLNE, 1977).

Teoria de Uppsala – Custo de não pertencer à rede (liability of

outsidership): realização de alianças com parceiros locais

O que a teoria diz:

A versão de Johanson e Vahlne (2009), explica que a participação efetiva da

empresa nas redes de relacionamento viabiliza o processo de internacionalização. Desta

forma, o sucesso da empresa está diretamente atrelado à sua inserção em uma ou mais

redes de relacionamentos. Caso a empresa não tenha uma posição relevante na rede de

relacionamentos de um determinado mercado ou cliente em que deseja participar, estará

sujeita aos custos de ser uma empresa estrangeira (liability of foreigness) e também aos

custos de não pertencer a esta rede (liability of outsidership).

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Teoria de Uppsala Revisitada – Identificar oportunidades e

mobilizar recursos; desenvolver diferentes mercados e locais e a

capacidade de construir, manter e coordenar relacionamentos na

rede.

O que a teoria diz:

“Para Johanson e Vahlne (2013), três tipos de capacidades são fundamentais

para a internacionalização da empresa: a capacidade de identificar oportunidades e

mobilizar recursos; a de desenvolver diferentes mercados e locais, em circunstâncias

diversas; e a capacidade de construir, manter e coordenar relacionamentos na rede”.

Teoria de Uppsala Revisitada – Construir uma posição da empresa

na rede de relacionamentos (grau de multinacionalidade), construir

comprometimento na rede por meio de investimentos e construir

relação de confiança.

O que a teoria diz:

“Outro ponto relevante apresentado por Johanson e Vahlne (2013), é a posição

da firma na rede de relacionamentos, resultado de comprometimentos anteriores e

construção de confiança. Essa posição descreve o grau de multinacionalidade ou

globalização da empresa.

Com relação ao comprometimento entre as partes, esse acontece por meio de

investimentos tangíveis, tais como o volume e o grau de investimento e de

investimentos intangíveis, como o apoio público a um determinado projeto ou

programa.

Já, sobre a construção de confiança, ela é um pré-requisito para o aprendizado e

essencial para a construção de relacionamentos. Também é pré-requisito para o

comprometimento. A confiança torna possível prever o comportamento do outro e reduz

o grau de incerteza nas relações existentes na rede”.

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Teoria da Dependência de Recursos – Busca por legitimidade

organizacional.

O que a teoria diz:

“A Teoria da Dependência de Recursos (PFEFFER; SALANCIK, 1978) aponta

que os recursos necessários à sobrevivência de uma organização estão no ambiente

externo no qual atuam, tais como trabalho, capital, matéria-prima, consumidores e

ambiente regulatório. Esse ambiente é formado por outras organizações que, apesar de

serem legalmente independentes, dependem das outras para sua sobrevivência. Para os

autores, os recursos são a base do poder e, portanto, o poder é relacional, situacional e

mútuo”.

Teoria da Dependência de Recursos e Embeddedness.

O que a teoria diz:

“Identificado como a natureza, profundidade e extensão dos laços de um

indivíduo no ambiente, o embeddedness cria uma vantagem competitiva contextual e é

comentado como um elemento que configura o processo de negócios

(WHITTINGTON, 1992; UZZI, 1997; DACIN et al., 1999). Esse processo envolve a

compreensão da natureza do ambiente e a sua promulgação, forçando novos laços e

mantendo tanto a ligação quanto o ambiente e sua estrutura. Para que o embeddedness

aconteça, torna-se necessário o desenvolvimento de credibilidade e a aquisição de

conhecimento de como os negócios são conduzidos naquele ambiente (JACK;

ANDERSON, 2002).

Teoria do Capital Social – Relações de Mercado e Relações

Hierárquicas.

O que a teoria diz:

Page 81: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

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“Adler e Kwon (2002) trazem o conceito de que as fontes do capital social estão

na estrutura social do indivíduo, sendo que seus recursos estão disponíveis em função

da localização deste indivíduo na estrutura de suas relações sociais que,

consequentemente, se distinguem entre três dimensões da estrutura social, cada uma

enraizada em diferentes tipos de relações. São elas: as relações de mercado, em que

produtos e serviços são trocados por dinheiro ou permuta; as relações hierárquicas, nas

quais a obediência à autoridade é trocada por segurança material e espiritual; e as

relações sociais, nas quais favores e presentes são trocados de forma não explícita, mas

difusa”.

Teoria do Capital Social – Relações Sociais – Redes Abertas e

Fechadas.

O que a teoria diz:

“De acordo com Niu e Chen (2017) existem três tipos de estruturas sociais que

oferecem capital social ao indivíduo: a de redes fechadas, a de redes não fechadas e a de

buracos estruturais. A teoria de redes fechadas significa que todos os atores da rede

estão conectados uns com os outros, criando obrigações, expectativas e confiança dentro

da rede, em uma estrutura em que as pessoas estão sempre fazendo coisas umas às

outras. Em estruturas de redes não fechadas, a realização de sanções que podem

monitorar ou guiar um indivíduo que exerce seu poder e influência de forma

inadequada, pode não funcionar tão bem quanto em uma estrutura fechada

(COLEMAN, 1988).

Teoria do Capital Social – Relações Sociais – Buracos Estruturais –

Board Interlocking.

O que a teoria diz:

“Já, a teoria de redes de buracos estruturais, oferece o significado concreto do

capital social, uma vez que apresenta a importância de um relacionamento não

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redundante de um indivíduo de um grupo com o indivíduo de outro grupo, ou mesmo

quando esse mesmo indivíduo pertence a dois grupos distintos. O buraco é um pára-

choque, como um amortecedor em um circuito elétrico. Um buraco estrutural indica que

as pessoas de cada grupo circulam diferentes fluxos de informação. A informação não

redundante faz com que o ator do buraco estrutural seja um líder de opinião, porque ele

ou ela puderam trazer novas ideias e soluções para o grupo (BURT, 1998)” .

Teoria do Capital Social – Relações Sociais – Laços Fortes e Fracos.

O que a teoria diz:

Para Granovetter (1973), a força de um laço é um relacionamento que combina

tempo, intensidade emocional, confidencialidade mútua e serviços recíprocos.

Os laços não redundantes dão acesso a informações únicas. Granovetter (1973,

1974) mostrou que os laços fortes são, muitas vezes, caracterizados por uma alta

similaridade entre os agentes. Um laço forte oferece uma grande profundidade de

conhecimento, mas pouca diversidade do conhecimento. Os laços fortes de um membro

com outros membros também tendem a estabelecer vínculos pelo menos fracos entre

esses atores, levando ao estabelecimento de laços redundantes (GRANOVETTER,

1995; BURT, 1992). Granovetter (1993) argumenta com sua famosa frase, a "força dos

laços fracos", que apenas os laços fracos podem oferecer acesso a informações diversas.

Teoria do Capital Social – Alianças Estratégicas.

O que a teoria diz:

Gulati (1995) pesquisou o motivo pelo qual as alianças estratégicas acontecem.

Em seu artigo “Social Structure and Alliance Formation Patterns: A Longitudinal

Analysis”, ele pontua que alguns pesquisadores acreditam que as alianças estratégicas

trazem redução dos custos de transação, uma vez que essas alianças são formas híbridas

entre os extremos de mercados e hierarquia (WILLIAMSON, 1985).

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Outro possível motivo está na possibilidade dessas alianças trazerem novas

habilidades ou ainda aquisição de conhecimento tácito (KOGUT, 1988; DOZ; HAMEL;

PRAHALAD, 1989; HAMEL, 1991; GULATI; NOHRIA; KHANNA, 1994). Outros

pesquisadores acreditam que algumas alianças resultam de buscas de legitimidade

(SHARFMAN; GRAY; YAN, 1991;BAUM; OLIVER, 1991, 1992) e também há os

que apresentam evidências de que algumas empresas realizam alianças para aprimorar

seu posicionamento estratégico (FULLER; PORTER, 1986; CONTRACTOR;

LORANGE, 1988; KOGUT, 1988). Para Uzzi (1996), relações de confiança ajudam a

reduzir a incerteza transacional e criam oportunidades para a troca de produtos e

serviços que são difíceis de precificar ou realizar um contrato. Portanto, ao invés de uma

orientação de negócios calculista e impessoal (WILLIAMSON, 1994), a confiança é

pessoal e dispõe da interpretação favorável do outro com relação às intenções e ações da

pessoa que entregará o que foi prometido.

4.2 A Duratex

Fundada em 1951, a Duratex tem um novo propósito, que é oferecer soluções

para melhor viver. Os produtos ofertados são painéis de madeira e metais sanitários.

A empresa conta com 11 mil colaboradores, distribuídos por 22 unidades

industriais e florestais localizadas em 8 estados brasileiros, além da sede administrativa,

que fica na capital paulista. Conta ainda com 3 fábricas na Colômbia e escritórios

comerciais nos Estados Unidos e na Europa, o que permite que seus produtos cheguem

a mais de 50 países, além do Brasil.

Em sua apresentação de resultados referente ao terceiro trimestre de 2017,

apenas a divisão madeira detém volume em exportações, algo como 600 mil m3 em

MDF ao ano, o que representa 17,7% do total produzido de MDF até setembro de 2017.

Já, com relação a painéis MDP, o volume de exportações também vem crescendo, mas

em menor proporção, sendo que o realizado até setembro de 2017 foi 300 mil m3, o que

representa 15,8% do total produzido de MDP. Pode-se notar que esse volume de

exportação vem crescendo consistentemente, de 2013 a 2017.

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Figura 14: Volume de exportações Duratex de painéis de madeira MDP, em

milhões de m3, comparado ao volume de vendas nacional.

Fonte: Autora (2018), com base na apresentação de resultados Duratex referente

ao terceiro trimestre de 2017.

Figura 15: Volume de exportações Duratex de painéis de madeira MDF, em

milhões de m3, comparado ao volume de vendas nacional.

Fonte: Autora (2018), com base na apresentação de resultados Duratex referente

ao terceiro trimestre de 2017.

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Apesar dos dados demonstrarem que a empresa continua com o maior volume de

produção voltado ao mercado interno, as entrevistas dos conselheiros de administração e

do gestor de exportação da empresa demonstraram que há interesse da Duratex em

continuar investindo em exportação, conforme depoimentos abaixo:

C1: “A Duratex já estava com 40% do mercado brasileiro e a gente sempre

visualizou que crescer no mercado brasileiro na área de painéis ia ser muito difícil.

Então, começamos a procurar uma alternativa fora”.

C8: “No caso da Duratex, especificamente, o que nós procuramos fazer foi

justamente passar a criar uma cultura e uma mentalidade voltada para uma exportação

regular e o desenvolvimento de clientes que comprassem em todo e qualquer período e,

passando, inclusive, a desenvolver, em mercados aonde a empresa atua, em maior

intensidade, com equipe própria, visando criar fidelidade. Isso gradualmente vem

ocorrendo e, com isso, a empresa tem conseguido posicionar o seu produto em faixas de

preço que não são mais aquelas especulativas, fazendo com que a exportação comece a

ter algum tipo de rentabilidade”.

C3: “Eu estou nessa cadeira desde 2012 e já era um pouco o conselho naquele

momento pensando que o Brasil não iria continuar naquele cenário de 2011/2012 e a

gente precisava colocar os ovos em outras cestas”.

O Conselho de Administração da empresa, à época da entrevista, contava com 9

(nove) conselheiros, sendo 6 (seis) conselheiros controladores – acionistas

controladores, 3 (três) conselheiros independentes (não são fundadores, acionistas ou

funcionários da empresa) e, desses independentes, 1 (uma) mulher. O conselho de

administração contava também com 3 (três) suplentes, sendo 1 (uma) mulher e 6 (seis)

comitês de apoio, sendo eles: Comitê de Pessoas, Governança e Nomeação;

Sustentabilidade; Auditoria e Gerenciamento de Risco; Divulgação e Negociação;

Avaliação de Transações com Partes Relacionadas; TI e Inovação Digital.

Com relação à composição do Conselho, os três conselheiros independentes

também eram conselheiros em outras empresas sendo: um conselheiro de 8 (oito)

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empresas, o segundo, conselheiro de 5 empresas e o terceiro, conselheiro de 3(três)

empresas.

Inclusive, um dos conselheiros entrevistados (C8), à época da entrevista, estava

como conselheiro de administração de duas das empresas analisadas: Duratex e Fibria.

Com relação às categorias escolhidas para análise, foi possível verificar que os

entrevistados pontuaram questões relevantes, demonstrando a importância de cada uma

delas para a empresa e reforçando as teorias mencionadas nesta dissertação. A seguir,

apresentam-se os depoimentos dos entrevistados que suportam as teorias:

Teoria de Uppsala – Distância Psíquica: início da internacionalização

na América Latina.

O que os entrevistados disseram:

C1: “A gente sempre viu a exportação como um ganho de qualidade, sempre tem

um desafio que os outros países são muito mais exigentes em termos de qualidade.

Exportar para os Estados Unidos requer muito mais qualidade do que vender aqui

dentro do Brasil”.

C1: “A gente entendeu que se tivesse uma fábrica fora do Brasil seria uma

experiência importante e a gente foi buscar...apareceu uma oportunidade interessante na

Colômbia e nós compramos uma empresa chamada Tablemac. A gente aprendeu que é

muito mais complicado o problema de terra na Colômbia do que no Brasil. Você não

consegue ficar proprietário das terras, eles tiveram um problema de reforma agrária no

país e até hoje isso é complexo. Lá, você não tem escritura como tem aqui no Brasil.

Por outro lado, eles estão em uma economia em crescimento enquanto nós aqui

amargamos dois anos de recessão”.

C1: “A gente sempre viu que entrar nos países andinos era um começo, nos

países bons...entrar em Colômbia, tentar no Chile, nós temos concorrentes que estão no

Brasil como a Arauco, que está no Brasil, no Chile e em vários países da América

Latina e a gente era tímido nisso”.

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C8: “A crise caiu na minha cabeça e, de repente, nós paramos de vender. Falei:

bom, eu preciso programar uma viagem e visitar os clientes. Eu não conheci os clientes,

conheci as tradings. E aí eu fui visitar as tradings, e eu estava na mão das tradings. E as

tradings, naquele momento, estavam comprando de quem tinha o preço melhor. E o

preço estava lá embaixo. Aprendi. Preciso montar uma estrutura by passando essas

tradings ou não vai dar certo. Eu preciso conhecer o cliente. E aí que começamos a

montar estruturas por representantes. Primeiro foi tradings, depois foi representantes e,

aí, quando a gente adquiriu escala, passou a ter estrutura própria”.

C3: “Mais de 60% das exportações da Duratex está nas Américas. América do

Norte, América Central e América do Sul. Então, o foco é muito aqui. Inicialmente, pela

questão do fuso, cultura e facilidade para portfolio de produtos”.

C3: “Quando eu peguei essa área, ainda tinham muitos agentes comerciais que

estavam focados naqueles mesmos clientes, daqueles mesmos produtos da Duratex, lá

dos anos 70, início dos anos 80. Então, eu tive que ir rodando toda essa turma, trazendo

gente nova. Eu trouxe muita gente que é ex-colaborador de concorrentes nossos. Então,

deu acesso aos mercados”.

C2: “É floresta. É a tecnologia que eles têm lá. Imagine: a Europa não tem

floresta. Entendeu? Exatamente. E imagine quanto vai valer isso no futuro. E a floresta

é muito mais do que só painel de madeira”.

Teoria de Uppsala – Custo de não pertencer à rede (liability of

outsidership): realização de alianças com parceiros locais

O que os entrevistados disseram:

C8: “O fato da Duratex ter comprado uma empresa em outro país ajuda sim.

Porque acelera esse vínculo com o cliente indiretamente. Caso contrário, se você não

tem esse vínculo em um primeiro momento, normalmente o que as empresas fazem é,

elas começam a vender via distribuidor e, aí, o distribuidor é que vai vender para

grandes clientes, né, grandes, pequenos e médios clientes. Você ter uma empresa lá, que

produz, que vende, tem acesso aos diversos canais de distribuição, automaticamente, ela

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tem credibilidade para vender não só produção local, mas a importação, que é

proveniente dela mesma. E isso permite você praticar o preço de mercado”.

C8: “Então, a Duratex, por exemplo, pelo fato de ter (produção) na Colômbia,

isso permitiu que, quando ela começou a vender na Colômbia a mercadoria do Brasil,

em curtíssimo espaço de tempo, ela começou a praticar o preço de mercado. Se você

não tem isso, você vai levar mais tempo”.

Teoria de Uppsala Revisitada – Identificar oportunidades e

mobilizar recursos; desenvolver diferentes mercados e locais e a

capacidade de construir, manter e coordenar relacionamentos na

rede.

O que os entrevistados disseram:

Sobre identificar oportunidades e mobilizar recursos:

C1: “o dólar começou a ficar um pouco mais atraente e então a gente entendeu

que, se tivesse uma fábrica fora do Brasil, seria uma experiência importante e a gente

foi buscar...apareceu uma oportunidade interessante na Colômbia e nós compramos uma

empresa chamada Tablemac”.

Sobre desenvolver diferentes mercados e locais:

C3: “Com o passar do tempo, a necessidade de ampliar foi aumentando, a gente

já tinha uma exportação forte para a África do Sul, porque pelo modal marítimo a gente

tinha uma facilidade de logística, ampliamos muito na África, principalmente Norte da

África, que tem uma relação comercial forte com a Europa, pela questão da geografia

também, num primeiro momento a gente recuou a participação da Europa pela crise,

pelo excesso de capacidade que a gente tem lá e, agora, pouco a pouco, a gente vem

retomando tudo isso. E, mais recentemente, nos últimos dois anos, a gente foi mais forte

para a Ásia e Oriente Médio, porque chegou a um volume aqui nas Américas que eu já

não conseguia escoar todas as metas nesses mercados e, aí, eu tive que avançar um

pouco mais”.

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Sobre capacidade de construir, manter e coordenar relacionamentos na rede:

C3: “Um dos nossos sócios, já conhecia um dos donos da Tablemac, naquela

ocasião. Então, teve uma aproximação entre conselhos e a gente tinha esse executivo,

que cuidava da parte de M&A da companhia, que sempre foi um entusiasta desse

projeto. Então, ele se aproximou muito do principal executivo, que ainda está na

Colômbia até hoje, o Juan Fernando, se aproximou bastante dele para tentar viabilizar

de alguma maneira o negócio”.

Teoria de Uppsala Revisitada – Construir uma posição da empresa

na rede de relacionamentos (grau de multinacionalidade), construir

comprometimento na rede por meio de investimentos e construir

relação de confiança.

O que os entrevistados disseram:

Sobre construção de confiança:

C2: “O nosso RI (Relações com Investidores) e que trabalha na área financeira,

começou a perceber que existe um grupo de investidores, principalmente europeus, que

tem uma avaliação de risco muito mais ampliada com esse olhar de sustentabilidade. E é

um investidor que olha o longo prazo e que nos interessa. Então, ele começou a fazer

rodadas de investimento acessando esses investidores, buscando qualificar melhor o

investidor da empresa para a gente não ficar tão à mercê do investidor de curto prazo.

Ele fez todo um estudo que virou referência, com risco climático na matriz e com

finanças. Então, isso mostra a credibilidade da Duratex. Sem sombra de dúvidas, isso

atrai investimentos. O valor da ação, mesmo em momentos de crise, de dificuldade, o

tanto que valorizou a ação, você tem um goodwill de reputação”.

Sobre investimentos tangíveis e intangíveis:

C3: “De 2012 para 2013, a Duratex entrou como sócia. Em um primeiro

momento, a gente tinha algo como 30%, 33% de participação. Depois a gente subiu para

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ter o controle acionário, fomos acima de 50% e há um ano e meio atrás a gente fechou o

capital lá. Então, passou a ser uma empresa 100% Duratex”.

C8: “A minha ajuda na Duratex foi a de poder estabelecer no conselho uma

política de longo prazo de exportação. Acho que esse foi o principal ponto. Porque uma

vez estabelecido isso e tendo uma política aprovada pelo conselho, então o executivo

pode fazer planos de longo prazo e ele pode assumir compromissos com o cliente, que

ele vai colher frutos ao longo do tempo. Senão, ele não assume esses compromissos e

ele está sempre no spot e a exportação é (será) sempre o patinho feio”.

C8: “No caso da Duratex, o que nós procuramos fazer foi justamente passar a

criar uma cultura e uma mentalidade voltada para uma exportação regular e o

desenvolvimento de clientes que comprassem em todo e qualquer período e, passando,

inclusive, a desenvolver, em mercados aonde a empresa atua, em maior intensidade,

com equipe própria, visando criar fidelidade”.

C8: “Você está fazendo um investimento. O investimento, é o investimento no

cliente, para o cliente ter a confiança de que vai receber aquela mercadoria e ele vai

pagar o valor justo pela mercadoria”.

Teoria da Dependência de Recursos – Busca por legitimidade

organizacional.

O que os entrevistados disseram:

C1: “Tem um outro tipo de exportação, no caso da Deca, que é interessante,

falando de qualidade, que é vender para os home centers americanos. Isso é uma coisa

que a gente está fazendo. É pequeno, não dá lucro, mas é muito mais para ganhar

experiência no mercado americano. Primeiro, é buscar qualidade que aqui no Brasil não

tem e que, para vender aqui não precisa, mas talvez, lá na frente, a gente vai precisar. ”

C1: “A maneira de fazer os produtos nos Estados Unidos é diferente. Lá

ninguém tem caixa d’agua. Eu não tenho conhecimento desse mundo sem caixa d’agua.

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Então, essa é uma experiência que estamos começando a entender. Nós tivemos que

fazer produtos que estivessem adaptados a esse tipo de sistema”.

C3: “conheci os principais produtores na Indonésia e os caras produziam móvel

não para ficar lá, mas para exportar para o Japão e Estados Unidos. Então, eles

precisavam de toda a base de certificação que a gente tem aqui no Brasil, de FSC, de

pedido de emissão de formaldeído, são questões mais específicas da nossa área, mas

seriam selos verdes. Então, compor isso, eu acho que foi aí que a gente deu o pulo do

gato e que conseguiu desatar um pouco esse nó e sair das Américas”.

Teoria da Dependência de Recursos e Embeddedness

O que os entrevistados disseram:

C1: “Você precisa ter uma proposta de valor para o seu cliente. Por exemplo, por

que um home center vai comprar de mim. Preço, provavelmente. Preço e qualidade. Eu

consigo fazer para ele produtos de qualidade com preço que o produtor americano não

consegue fazer nos Estados Unidos e, na China, o cliente não tem confiança”.

C3: “Você não consegue falar de negócio no México sem antes falar da família,

da viagem, da comida, do futebol, então tem todo um ritual para que você tenha esse

approach. A primeira vez que eu fui no maior fabricante de portas dos Estados Unidos,

uma empresa que se chama Masonite. Eu cheguei na empresa, o cara...eu já fui errado,

porque eu fui com uma vestimenta como eu estou hoje aqui. E eles são muito informais.

O cara com bota de segurança, calça jeans, aí eu entrei e falei: errei. Eu estava até com

blazer, tirei o blazer e pensei: errei. Mas, aí ele perguntou: você quer um café? Eu falei:

quero. Aí ele pegou uma moedinha, me entregou e falou: a máquina está ali à direita”.

C3: “Foram raras as vezes que eu não fui ao cliente com meu parceiro de

negócios, para evitar conflito, para evitar o não conhecimento da cultura, então eu já ia

pegando algumas dicas. Na primeira vez, eu acho que eu nunca fui sozinho. Eu sempre

fui com algum parceiro. Aí, pouco a pouco, eu comecei a ir sozinho. Às vezes alguns

parceiros só serviam para abrir a porta, porque depois não faziam uma boa manutenção

do negócio, e aí eu comecei a fazer direto, para reduzir custo, principalmente no

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México. No México, eu verticalizei muita coisa para fazer direto. Os clientes do

México, todos têm meu WhatsApp”.

C8: “Quando você conquista a confiança do cliente e, ele passa a atuar

conjuntamente nesse sentido, ele automaticamente está te permitindo criar uma barreira

na competição”.

Teoria do Capital Social – Relações de Mercado e Relações

Hierárquicas.

O que os entrevistados disseram:

Sobre relações de mercado:

C2: “As pessoas dizem que o consumidor brasileiro ainda não paga por produtos

sustentáveis, mas a gente sabe que tem toda uma cadeia que acaba criando um ambiente

que ajude para que o negócio prospere nessa linha. Então, são os investimentos, os

financiadores, os fornecedores, são os parceiros”.

C2: “O Diretor de Novos Negócios tem trabalhado com fundos e investimentos e

empresas, na prospecção, que eu acabei abrindo esse canal para ele. Agora mesmo a

gente vai fechar uma parceria com a Vivenda, que é uma organização de impacto, que

está no sistema B e que faz reforma para baixa renda e para nós é um excelente

aprendizado, porque ela traz uma solução completa de um banheiro, de uma sala, a

pessoa escolhe e financia aquilo no longo prazo e faz uma solução e entrega o banheiro,

a sala, o quarto, enfim, e faltava um parceiro de louças e metais. E aí a gente vai entrar

como um parceiro. Até mesmo a gente achava que não tinha preço competitivo, mas a

gente consegue sim, e para nós é um baita aprendizado”.

C3: “Sobre a compra da Tablemac pela Duratex, a aproximação se deu via

sócios e executivos. A Tablemac não estava à venda. Teve uma intermediação com

algum banco de investimento só depois”.

Sobre relações hierárquicas:

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90

C1: “A Itausa é uma holding que não exerce o poder. O poder está nos conselhos

das empresas. Os conselhos, no caso da Itausa, têm um poder muito grande. Eles têm

nível de alçada. Então, um investimento de até 10% do patrimônio líquido é feito no

nível dos conselhos. Se for mais de 10% do patrimônio, aí eles consultam os acionistas.

No caso da compra da Tablemac, o investimento era pequeno, não chegava nos 10%.

Mas, mesmo assim, a Duratex foi na Itausa conversar. É bom ter uma interação entre

conselho e acionistas saudável”.

C1: “Você pode ser o conselheiro independente, mas isso não significa que não

precisa trocar experiências, oportunidades, coisas que vão impactar a vida de uma

empresa tão grande, como internacionalizar a empresa, realmente o acionista, é bom

estar, no mínimo, sabendo”.

C2: “Eu sempre promovi na Duratex, durante um período, muitos encontros. Por

exemplo, o tema era inserção da sustentabilidade na cadeia de compras. Então, a gente

trazia o diretor de compras para mostrar como é que ele ia inserir essa estratégia. Mas,

antes disso, eu fazia o link dele com outras empresas que eram benchmarking nesse

tema e que conseguiram fazer uma gestão de supply de uma maneira mais completa. Aí

eu trazia essa pessoa para falar no dia do comitê, antes dele mostrar o seu plano. E,

assim, várias áreas”.

C2: “Uma coisa que o conselheiro tem dificuldade é realmente saber o que está

acontecendo na empresa. Acho que isso é uma sensibilidade de perceber algumas

coisas, de conversar com a gestão, escutar a gestão”.

C3: “C8, da Fibria, me ajudou bastante. Principalmente nos primeiros momentos

em que a gente ainda estava precisando de ajuda, mesmo para definir aonde exportar,

com quem falar, como desenvolver esse mercado, novos agentes, etc. Ele me apresentou

a algumas pessoas, sim. Ele me colocou em contato com operadores logísticos, deu

dicas importantíssimas de locais de operação, maneiras de operar distintas”.

C3: “E sobre a visão de negócios, a família Seibel, são pessoas do negócio

madeireiro, eles trouxeram muitos inputs, dicas de agentes comerciais, eles fizeram toda

uma mudança de base”.

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91

C3: “O papel do executivo junto ao conselho é dar o nível de informação

relevante para que a decisão seja tomada. O nível de profundidade que eu vou ter numa

conversa com o sócio que é madeireiro e que eu vou ter com o sócio não madeireiro é

distinto”.

Teoria do Capital Social – Relações Sociais – Redes Abertas e

Fechadas.

O que os entrevistados disseram:

C3: “Os maiores desafios da minha relação com o conselho foi a consciência do

corpo do conselho, e não de alguns conselheiros. E, depois, ter os sponsors para

patrocínio. E cobrar, também”.

Teoria do Capital Social – Relações Sociais – Buracos Estruturais –

Board Interlocking.

O que os entrevistados disseram:

C8: “Agora, eu vim para cá para ser o presidente do conselho e, sendo presidente

do conselho e não sendo mais executivo, eu passei a ter mais tempo. E passei a

participar de outros conselhos. Então, hoje, eu participo de 5 conselhos. Além da

Votorantim, eu sou conselheiro independente na Duratex, eu sou conselheiro

independente na Embraer, sou conselheiro da Fibria, e sou conselheiro do Hospital Sirio

Libanês. Aí é probono”.

C8: “O fato de você estar em vários conselhos te permite também aprender

muito. Você aprende os diferentes negócios, diferentes tipos de problemas e, tudo isso,

acaba servindo para que você possa melhorar o desempenho nas outras empresas e você

possa realmente colaborar e agregar valor. Então, eu acho que o fato de conselheiros

estarem em diferentes setores traz muita agregação de valor”.

Sobre este tema, a pesquisadora encontrou uma matéria no jornal Valor

Econômico, datada de 06/12/2016 cujo título é: “Duratex vende florestas de eucalipto à

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Fibria por R$ 74,8 milhões”. Essa matéria dá a entender que essa venda de ativos da

Duratex à Fibria foi realizada por meio dos respectivos Conselhos de Administração,

uma vez que o entrevistado C8 é conselheiro de administração de ambas empresas.

Teoria do Capital Social – Relações Sociais – Laços Fortes e Fracos.

O que os entrevistados disseram:

C2: “Eu fui convidada para participar de um processo seletivo para ser Head da

organização da Marina Silva. Nesse processo, depois de muitas conversas, eu conversei

muito com a Maria Alice Setúbal. Foi ela que me indicou para o processo da Duratex.

Coincidentemente, o Rodolfo Villela, tinha estudado em Londres, feito Mestrado, na

mesma época que eu, na mesma universidade e a gente chegou a trocar alguns livros.

Então, eu participei de um processo seletivo mesmo, e comecei a atuar como a

especialista do Comitê de Sustentabilidade. ”

Teoria do Capital Social – Alianças Estratégicas.

O que os entrevistados disseram:

Sobre redução dos custos de transação:

C3: “Quando os países em que tinham conflitos, que a Duratex já exportava e a

Tablemac também, no primeiro momento, a gente colocou todo mundo na mesma

prateleira comercial e, pouco a pouco, a gente foi fazendo uma transição de/para. E é

um trabalho que deu muito certo. No começo foi um pouco traumático porque, você

imagina: todos os clientes que compravam das duas empresas, no primeiro momento,

era o melhor preço. Em alguns momentos, você tem que recuar, para pouco a pouco, ir

corrigindo. Teve um trabalho, relacionamento, cliente que gosta da pessoa A e não gosta

do B. Podendo sair daqui ou da Colômbia”.

Sobre legitimidade e aprimorar posicionamento estratégico:

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C3: “Tive que visitar praticamente todos os clientes junto com o pessoal da

Tablemac e, para chegar lá e falar assim: não são eles, somos nós. É Duratex Brasil e

Duratex Colômbia. É uma empresa só”.

Sobre novas habilidades e aquisição de conhecimento tácito:

C3: “Então, a gente encontrou lá exatamente como a gente era no passado. Uma

cultura muito mais simples, uma empresa mais focada em resultados, menos

formalidade, uma empresa que tem o controle da Itausa, era por si só, mais formal.

Então, a gente está no meio dessa jornada e aprendemos muito”.

C8: “Eles (Tablemac) têm uma construção de diálogo com a comunidade lá (na

Colômbia), que eles (a Duratex) ficaram surpresos de ver como a gestão já ocorre ali, de

compartilhamento com a sociedade e a comunidade local”.

Sobre relações de confiança e embeddedness:

C8: “Quando você conquista a confiança do cliente e, ele passa a atuar

conjuntamente nesse sentido, ele automaticamente está te permitindo criar uma barreira

na competição”.

4.2.1 Análise Comparativa dos Entrevistados Duratex

Analisando as respostas dos entrevistados, foi possível perceber que a maioria

das relações na Duratex ocorreu por meio de relações de mercado. No caso da

internacionalização, a relação da confiança da Duratex com seus clientes internacionais

ainda está em construção, sendo que a empresa ainda é muito dependente de seus

parceiros internacionais.

O fato da Duratex ter realizado aquisição de uma empresa na Colômbia

(Tablemac), a aproximou de seus clientes internacionais. A empresa adquiriu novas

habilidades e conhecimento com a Tablemac, ganhou legitimidade e posicionamento

estratégico internacional, reduziu os custos de transação e está em fase de construção de

uma forte relação de confiança com os administradores da empresa adquirida.

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A criação de categorias possibilitou que os depoimentos dos entrevistados

fossem analisados a partir do cruzamento das teorias de capital social com as teorias de

internacionalização, o que resultou em uma matriz de análise de entrevistas. Essa matriz

possibilitou o desenvolvimento de proposições que explicam como o capital social dos

conselheiros influencia positivamente na internacionalização da Duratex.

A teoria da dependência de recursos não foi utilizada nesta análise pois as outras

teorias – principalmente a de alianças estratégicas – contém categorias idênticas ou

similares à teoria da dependência de recursos.

As proposições são:

P1: Relações hierárquicas saudáveis entre conselheiros de administração e

gestores influenciam positivamente no desenvolvimento da empresa em diferentes

mercados e locais

C3: “C8, da Fibria, me ajudou bastante. Principalmente nos primeiros momentos

em que a gente ainda estava precisando de ajuda, mesmo para definir aonde exportar,

com quem falar, como desenvolver esse mercado, novos agentes, etc. Ele me apresentou

a algumas pessoas, sim. Ele me colocou em contato com operadores logísticos, deu

dicas importantíssimas de locais de operação, maneiras de operar distintas”.

P2: Relações hierárquicas saudáveis entre conselheiros de administração e

gestores influenciam positivamente o comprometimento da empresa na rede

internacional.

C3: “Os maiores desafios da minha relação com o conselho foi a consciência do

corpo do conselho, e não de alguns conselheiros. E, depois, ter os sponsors para

patrocínio. E cobrar, também”.

C3: “O papel do executivo junto ao conselho é dar o nível de informação

relevante para que a decisão seja tomada. O nível de profundidade que eu vou ter numa

conversa com o sócio que é madeireiro e que eu vou ter com o sócio não madeireiro é

distinto”.

Page 98: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

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P3: Relações hierárquicas saudáveis entre o conselho de administração e os

acionistas influenciam positivamente o desenvolvimento de diferentes mercados e

locais.

C1: “A Itausa é uma holding que não exerce o poder. O poder está nos conselhos

das empresas. Os conselhos, no caso da Itausa, têm um poder muito grande. Eles têm

nível de alçada. Então, um investimento de até 10% do patrimônio líquido é feito no

nível dos conselhos. Se for mais de 10% do patrimônio, aí eles consultam os acionistas.

No caso da compra da Tablemac, o investimento era pequeno, não chegava nos 10%.

Mas, mesmo assim, a Duratex foi na Itausa conversar. É bom ter uma interação entre

conselho e acionistas saudável. ”

C1: “Você pode ser o conselheiro independente, mas isso não significa que não

precisa trocar experiências, oportunidades, coisas que vão impactar a vida de uma

empresa tão grande, como internacionalizar a empresa, realmente o acionista, é bom

estar, no mínimo, sabendo”.

P4: A rede fechada do conselho de administração influencia positivamente

no comprometimento da empresa junto à rede internacional.

C8: “A minha ajuda na Duratex foi a de poder estabelecer no conselho uma

política de longo prazo de exportação. Acho que esse foi o principal ponto. Porque uma

vez estabelecido isso e tendo uma política aprovada pelo conselho, então o executivo

pode fazer planos de longo prazo e ele pode assumir compromissos com o cliente, que

ele vai colher frutos ao longo do tempo. Senão, ele não assume esses compromissos e

ele está sempre no spot e a exportação é (será) sempre o patinho feio”.

P5: Os conselheiros de administração, ao pertencerem a conselhos de

administração de diferentes empresas (board interlocking), influenciam

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96

positivamente na identificação de oportunidades e mobilização de recursos da

empresa para a sua internacionalização.

C8: “O fato de você estar em vários conselhos te permite também aprender

muito. Você aprende os diferentes negócios, diferentes tipos de problemas e, tudo isso,

acaba servindo para que você possa melhorar o desempenho nas outras empresas e você

possa realmente colaborar e agregar valor. Então, eu acho que o fato de conselheiros

estarem em diferentes setores traz muita agregação de valor. ”

P6: Os laços fracos dos conselheiros de administração, construídos por meio

de relações de mercado, influenciam positivamente na identificação de

oportunidades e mobilização de recursos.

C3: "Um dos nossos sócios, já conhecia um dos donos da Tablemac naquela

ocasião. Então, teve uma aproximação entre conselhos e a gente tinha esse executivo,

que cuidava da parte de M&A da companhia, que sempre foi um entusiasta desse

projeto. Então, ele se aproximou muito do principal executivo, que ainda está na

Colômbia até hoje, o Juan Fernando, se aproximou bastante dele para tentar viabilizar

de alguma maneira o negócio".

C3: “Sobre a compra da Tablemac pela Duratex, a aproximação se deu via

sócios e executivos. A Tablemac não estava à venda. Teve uma intermediação com

algum banco de investimento só depois”.

P7: Os laços fracos dos conselheiros de administração, construídos por meio

de relações de mercado, influenciam positivamente no desenvolvimento de

diferentes mercados e locais.

C3: “E sobre a visão de negócios, a família Seibel, são pessoas do negócio

madeireiro, eles trouxeram muitos inputs, dicas de agentes comerciais, eles fizeram toda

uma mudança de base”.

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97

4.2.2 Conclusão da Análise Comparativa dos Entrevistados Duratex

As proposições apresentadas até agora respondem, a princípio, aos objetivos

específicos deste trabalho, que são (i) identificar e comparar elementos que demonstram

a influência do capital social dos conselheiros na gestão da empresa com relação à

internacionalização e (ii) identificar e comparar elementos que demonstram a influência

do capital social dos conselheiros de administração que são conselheiros em mais de

uma empresa (board interlocking).

Já, considerando o terceiro objetivo – (iii) identificar e comparar como o perfil e

as competências dos conselhos de administração evoluem junto à evolução de seu

processo de internacionalização – é importante pontuar que, na Duratex, houve a

entrada da conselheira independente, Juliana Rozembaum Munemori1, em junho de

2016. Segundo depoimento de um entrevistado, conselheiro e acionista controlador,

Juliana foi convidada a participar do conselho de administração da Duratex por sua

experiência em varejo. Segue, abaixo o depoimento:

C1: “A conselheira veio pelo perfil, não pela questão de gênero, a Juliana

Rosenbaum. Ela veio porque teve uma experiência em varejo”.

Mesmo assim, não foi possível afirmar que houve a entrada de uma nova

conselheira por sua experiência em varejo internacional. Para isso, seria necessário

voltar ao entrevistado para confirmar essa informação.

É importante analisar que, de acordo com os depoimentos acima, as relações

hierárquicas entre conselho e acionista e conselheiros e gestores influenciam

positivamente no desenvolvimento da empresa em diferentes mercados e locais, bem

como as relações hierárquicas entre conselheiro e gestores influenciam positivamente o

comprometimento da empresa na rede internacional.

1 O currículo de Juliana Rozembaum Munemori foi extraído do site da Bloomberg.

Disponível em:

<https://www.bloomberg.com/research/stocks/people/person.asp?personId=367425051

&privcapId=27169270>. Acesso em: 14 jan. 2018.

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A rede fechada do conselho de administração (dinâmica do conselho) influencia

positivamente o comprometimento da empresa na rede internacional, sendo que o fato

de um ou mais conselheiros serem conselheiros de mais de uma empresa influencia

positivamente na identificação de oportunidades e mobilização de recursos da Duratex

para a sua internacionalização, sendo que os laços construídos por um dos acionistas

controladores influenciaram positivamente para a aquisição da Tablemac e uma maior

internacionalização da empresa.

É possível concluir, de acordo com os depoimentos mencionados até o

momento, que as 7 proposições feitas até agora demonstraram como o capital social dos

conselheiros influenciam positivamente na internacionalização das empresas.

4.3 A Natura

Fundada em 1969, o propósito da Natura é Bem Estar Bem. A empresa

comercializa cosméticos, como produtos de higiene, beleza, perfumes e maquiagem.

Com 3 unidades de negócio: Natura, Aesop e The Body Shop, o grupo Natura

tem presença em 70 países, faturamento consolidado de R$11,5 bilhões, 17 mil

colaboradores, mais de 3,2 mil lojas e um portfolio de 2 mil produtos, além de uma

força de vendas de 1,8 milhão de consultoras independentes.

Em sua apresentação de resultados referente ao terceiro trimestre de 2017, já é

possível compreender que o grupo Natura já se coloca como uma multinacional, com

demonstração de resultados globais, com dados divulgados por unidade de negócios:

Aesop, Natura e The Body Shop (TBS). A empresa individualiza também os resultados

por América Latina e Brasil somente para as marcas Natura e Aesop. Os dados da TBS

são globais e não por região e foram contabilizados somente a partir do terceiro

trimestre de 2017, sendo este o primeiro trimestre em que o grupo Natura divulga os

dados da unidade de negócios, antes pertencente à L’Oréal até junho de 2017.

Figura 16: Receita bruta das unidades de negócio do Grupo Natura

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Fonte: Autora (2018), com base na apresentação de resultados Natura referente

ao terceiro trimestre de 2017.

Figura 17: Países onde atua

Fonte: Autora (2018) com base na apresentação de resultados Natura referente

ao terceiro trimestre de 2017.

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100

As entrevistas dos conselheiros e do gestor de exportação do Grupo Natura

foram, em sua totalidade, baseadas na aquisição da Aesop e da TBS, sua estratégia de

internacionalização que resultou nessa aquisição e suas possíveis consequências.

O Conselho de Administração da empresa contava, até a aquisição da TBS, com

9 (nove) conselheiros, sendo 3 (três) conselheiros fundadores e 6 (seis) conselheiros

independentes (não são fundadores, acionistas ou funcionários da empresa) e, desses

independentes, 2 (duas) mulheres. O conselho de administração contava também com 4

(quatro) comitês de apoio, sendo eles: Comitê de Auditoria, de Gestão de Riscos e de

Finanças; Comitê de Pessoas e Desenvolvimento Organizacional; Comitê Estratégico e

Comitê de Governança Corporativa.

Com relação à composição do Conselho à época da realização das entrevistas,

dos 6 (seis) conselheiros independentes, 4 (quatro) eram conselheiros em outras

empresas sendo o primeiro conselheiro de 5 (cinco) organizações; o segundo,

conselheiro de 6 (seis), o terceiro, conselheiro de 5(cinco) e o quarto, de 2(duas).

Com relação às categorias escolhidas para análise, foi possível verificar que os

entrevistados pontuaram questões relevantes, demonstrando a importância de cada uma

delas para a empresa e reforçando as teorias mencionadas nesta dissertação. A seguir,

apresentam-se os depoimentos dos entrevistados que suportam as teorias:

Teoria de Uppsala – Distância Psíquica: início da internacionalização

na América Latina.

O que os entrevistados disseram:

C4: “quando o Alessandro foi para lá, ele realmente começou a criar as

condições para que a América Latina se tornasse um negócio mais vigoroso. Mas,

demorou muito tempo. Foi quase uma determinação de fé, não trazia resultado, desvia

um pouco de foco e nós ficamos acumulando prejuízos na América Latina durante

muitos anos. ”

C4: “O modelo da venda direta é um modelo de relacionamento. Quer dizer,

uma consultora vem trabalhar com a Natura porque gosta do produto ou imagina que

vai ter uma renda extra, etc, mas ela permanece não necessariamente por essas razões.

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101

Até a renda extra ela vai ter um pouco, maior ou menor, às vezes as expectativas não se

conciliam, mas normalmente ela continua gostando do produto, mas normalmente é o

relacionamento que mantém o grupo. Então, é o como ela se relaciona, como ela é

respeitada pela empresa. Então, nesse nível do desenho comercial, é muito forte na

America Latina, completamente diferente do hemisfério norte, onde, por exemplo, o

modelo de venda direta é muito mais fraco. Não funciona”.

C5: “Tem muita tecnologia da Aesop e da Body Shop, e tem muita tecnologia da

própria Natura e que a própria Natura busca, como eu te falei, em Paris e em Nova

Iorque. Temos laboratórios e parcerias, não nesse sentido de investimento, mas tem

parcerias com todas essas casas que produzem essências, é uma parceria de mão dupla,

onde eles, inclusive se valem dos conhecimentos da Natura da biodiversidade

brasileira”.

C6: “Então, muito tempo atrás, pela proximidade e semelhança de hábitos de

beleza, pela aceitação da venda direta, a gente começou a vender na América Latina”.

Teoria de Uppsala – Custo de não pertencer à rede (liability of

outsidership): realização de alianças com parceiros locais

O que os entrevistados disseram:

C5: “Na França, uma lojinha, uma atividade de venda direta, porta a porta, que

nós fechamos neste ano, mas principalmente, estar no centro da tecnologia de

fragrâncias e de coisas. Então, é importante esse pé lá na França, em Paris”.

Teoria de Uppsala Revisitada – Identificar oportunidades e

mobilizar recursos; desenvolver diferentes mercados e locais e a

capacidade de construir, manter e coordenar relacionamentos na

rede.

O que os entrevistados disseram:

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102

Sobre identificar oportunidades e mobilizar recursos:

C4: “Nesse interim, a gente teve uma loja na França, alguma atividade na França

de internacionalização, mais ou menos o mesmo desastre da América Latina, um

prejuízo acumulado de muitos anos, e sem muita perspectiva de como crescer. Então, eu

acho que, o que caiu a ficha no exercício de 2010 até 2012, é que uma

internacionalização mais relevante não se daria de forma orgânica e, sim, através de

uma aquisição, M&A, etc.”

C5: “Muita gente bota a América do Sul em um saco só e são coisas diferentes.

Tem culturas diferentes...agora, a Natura até que...bom...se deu bem, mas demorou para

ter resultados nesses países. Era uma operação pequena e que, durante os primeiros

anos, em cada país, se perdia dinheiro mesmo para desenvolver”.

Sobre desenvolver diferentes mercados e locais:

C4: “Mais ou menos uns três ou quatro anos atrás, eu ainda era Presidente do

Conselho e a gente fez uma revisão na composição do nosso conselho. Depois, a gente

pega as datas e os nomes, mas a gente trouxe, apesar de brasileiros, a gente trouxe para

o conselho gente que mora, trabalha e é internacional. Então, a Silvia Lagnado, que era

da Lever e hoje é CMO do McDonald´s, o Roberto Marques que foi J&J avida inteira

nos Estados Unidos, também muito internacional, e agora era Mondelez, ele estava em

nosso conselho. Então, teve um período curto no nosso conselho, mas teve o Giovanelli,

que também teve uma participação, no mundo de educação, mas em uma empresa

internacional também. Então, já se formou um pouco a cultura internacional, apesar de

todos brasileiros”.

C4: “mais ou menos em 2010, a gente começou a analisar alternativas de

crescimento olhando para um cenário onde o Brasil poderia não ter as taxas de

crescimento que vinha tendo. Ou seja, havia uma perspectiva de...até onde a Natura vai

com esse market share, então, ...a América Latina ia bem, mas com a necessidade de a

gente começar a olhar um pouco mais para outras geografias. E aí, nós fizemos um

trabalho de pesquisa e aproximação com empresas, seja para M&A, seja para

aquisições, etc e tal...algumas grandes, outras menores, e acho que foi em 2012, depois

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de não ter feito uma grande operação, que a gente resolveu não levar à frente, a gente

acabou fazendo a aquisição da Aesop”.

C5: “no caso da Natura, que trabalha com produtos controlados e regulados, aqui

você tem a Anvisa, em cada país você legislações especiais. Por exemplo, na China a

Natura não pode ir, porque lá tem que fazer testes em animais. E a Natura não faz teste

em animais e nem a Body Shop. Tem até a possibilidade de contornar isso de um jeito

diferente ou não levar todos os produtos, porque não é para todos os produtos. Mas,

estou dando exemplos de que as coisas são diferentes, os rótulos, que são importantes

para esse tipo de produto, os rótulos tem que seguir a legislação local, validade de

produto é diferente, fora as questões fiscais, regulatórias, tamanho de depósito,

segurança de depósito, porque tem produtos inflamáveis, então não é simplesmente tirar

uma cópia, implanta e está funcionando, não”.

C6: “A Natura na época, muito bem-sucedida no Brasil, com crescimento muito

grande, foi difícil de dar a mesma atenção para a América Latina, mas quando o

crescimento começou a ficar mais difícil aqui no Brasil, a gente teve uma urgência para

se expandir. Antes disso, teve iniciativas de expansão, que não se sucederam. Então, o

fracasso também é importante porque gera aprendizados”.

Sobre capacidade de construir, manter e coordenar relacionamentos na rede:

C4: “Agora, recentemente, eu vim de uma viagem para conhecer os nossos

franqueados da Body Shop do Oriente Médio e todos com jeitos diferentes, empresas de

tamanhos diferentes, franqueados muito grandes, que tomam conta de países. Então são

empresas muito organizadas, não são franqueados como a gente vê aqui, cara que tem

duas ou três lojas. Pelo menos o que eu senti, na cultura Oriente Médio, o

relacionamento é fundamental também e eu nem estou falando de governo aqui não. A

relação é: o cara pega na tua mão, segura no primeiro jantar e diz: “Então, é pra valer?

Posso confiar? ”.

C6: “Em 2010, eu fui convidado, montei uma equipe, pequena, e a gente queria

crescer via parcerias e alianças, fundamentada na visão de uma estratégia chamada

2030. E exploramos, né, várias oportunidades, empresas, usamos filtros, para fazer uma

escolha de uma lista pequena de empresas que teriam um caráter semelhante que

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poderia ser parte da mesma família da Natura. A gente identificou várias empresas,

inclusive a Body Shop, naquela época, e a gente tinha uma regra, que depois a gente

adequou, mas a gente começou com um filtro: a empresa tem que ser de um certo porte,

porque a gente quer que tenha vida própria”.

Teoria de Uppsala Revisitada – Construir uma posição da empresa

na rede de relacionamentos (grau de multinacionalidade), construir

comprometimento na rede por meio de investimentos e construir

relação de confiança.

O que os entrevistados disseram:

Sobre construção de confiança:

C4: “Com o corralito, trocava governo a cada três meses. E teve uma

desvalorização cambial, o que significava dizer que todos os produtos (a Argentina

produz muito pouca coisa internamente) teriam um aumento de preço muito alto. Isso

abateu o mercado, todas as nossas consultoras, e a desesperança foi muito grande. Para

preservar os nossos consumidores e para preservar essa relação que tínhamos com

nossas consultoras, a gente tomou uma decisão, que eu garanto para você que foi muito

mais intuitiva do que calculada, a gente iria congelar os preços no patamar que estava,

sem aumento, para garantir que as pessoas pudessem continuar consumindo. A gente

iria fazer uma repactuação com nossos fornecedores e, à medida que a situação

melhorasse, a gente iria recompor as margens. Isso demorou uns 8 meses. O

crescimento de vendas foi brutal, começou a faltar produto, não tinha disponível e todo

mundo queria comprar e a admiração pela marca aumentou. E eu acho que, obviamente,

teve um trabalho de equipe muito bom e muito bem feito, mas eu acho que essa foi uma

alavanca que tirou a gente de um patamar de crescimento razoável para um outro

patamar, para um outro nível”.

C5: “Você precisa ter pessoas locais, você precisa ter algum brasileiro lá, mas

que entenda das pessoas locais, você pode contratar alguém, mas aí, normalmente, você

tem que levar alguém daqui”.

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C6: “No dia 7 de setembro, a gente assinou o contrato, no dia 8 celebramos com

o Comitê Executivo, que foi numa sexta-feira. Na segunda-feira de manhã, os nossos

fundadores estavam em Londres e, a primeira coisa que fizemos naquela semana,

primeiro a gente ligou para os franchisees da Asia. A gente deve ter 40, a gente ligou

para 11 naquele dia. Então a gente falou com o Japão, Filipinas, Indonesia, India, e a

gente deu as boas-vindas. A gente valoriza muito o relacionamento. Se a gente lembra

das duas paixões que a Natura foi fundada em cima: paixões por relacionamento e

paixões pelo produto, pela beleza. E o relacionamento para a gente é muito importante.

A gente usa a energia empreendedora das pessoas. Nosso modelo no Brasil é a

consultora. Mas a gente enxerga a mesma paixão na Body Shop pelo franqueado. Então,

é semelhante. É diferente, mas é semelhante”.

C6: “E daí a gente passou o primeiro mês visitando os franqueados. Então, a

gente conseguiu a vantagem de ter três fundadores é que eu consegui que o senhor Luiz

conhecesse os franqueados da Europa em Londres, eu me encontrei com o Guilherme na

Singapura para encontrar os franqueados da Ásia, e daí eu me encontrei com o Pedro em

Dubai para conhecer os franqueados do Oriente Médio”.

C6: “O papel que os fundadores fazem não é um papel executivo. É um papel

inspirador. E a gente tem que aproveitar isso ao máximo. São pessoas extraordinárias

que tem muita energia e conhecimento. Para eles falarem com um grupo de pessoas,

passa a inspiração. E essas pessoas passam essa inspiração”.

Sobre investimentos tangíveis e intangíveis:

C4: “Uma internacionalização mais relevante não se daria de forma orgânica

porque é um processo muito lento, de estabelecimento de marcas. A gente, entrando na

América Latina, se você não tem algumas plataformas, alavancas de distribuição, para

estabelecer marcas, se você considerar que vai abrir, uma loja, duas lojas, três lojas, ou

vai abrir a venda direta, com uma consultora, duas consultoras, três consultoras, é um

processo bastante lento. E que, na maior parte das vezes, ele é mais custoso, com todos

os riscos que tem, parcerias, as aquisições, é mais custoso”.

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Teoria da Dependência de Recursos – Busca por legitimidade

organizacional.

O que os entrevistados disseram:

C5: “Pela primeira vez, essas duas coisas não funcionaram. As mulheres não

estão comprando mais, talvez até estão comprando menos. E também as consultoras,

por algum motivo, estão em uma fase de retração. Então, a Natura está indo para lojas

físicas, está indo para eletrônica, online, tem várias experiências, então o desafio do

Brasil também é muito grande”.

C4: “Uma internacionalização mais relevante não se daria de forma orgânica

porque é um processo muito lento, de estabelecimento de marcas. A gente, entrando na

América Latina, se você não tem algumas plataformas, alavancas de distribuição, para

estabelecer marcas, se você considerar que vai abrir, uma loja, duas lojas, três lojas, ou

vai abrir a venda direta, com uma consultora, duas consultoras, três consultoras, é um

processo bastante lento. E que, na maior parte das vezes, ele é mais custoso, com todos

os riscos que tem, parcerias, as aquisições, é mais custoso”.

Teoria da Dependência de Recursos – Embeddedness.

O que os entrevistados disseram:

C6: “O Brasil é um país de grande umidade, onde a rotina de beleza da mulher

brasileira é diferente. Então, a gente teve que adequar o nosso portfolio para o

hemisfério norte e, elementos regulatórios. Então, a gente está fazendo essa adequação

nos Estados Unidos, com um time sediado em Nova Iorque e, parte dessa inovação, a

gente também abriu uma loja, para demonstrar nossa marca, capturar insights e ir

testando esse conceito. Agora, com a infraestrutura da Body Shop, a gente vai conseguir

fazer uma expansão significativa no mundo da marca Natura”.

C6: “Uma das primeiras coisas que eu fiz foi montar um processo, baseado um

pouquinho no meu histórico de M&A (fusões e aquisições). Mas, eu batizei M&A na

Natura como P&A (parcerias e alianças). Mesmo que a gente compre o controle, a gente

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vê como uma parceria. Então, a gente tem algumas empresas tem acquisition targets e

nós temos pps – potential partners. A gente não tem um plano de integração. Nós temos

um plano de welcome and relationship”.

Teoria do Capital Social – Relações de Mercado e Relações

Hierárquicas.

O que os entrevistados disseram:

Sobre relações de mercado:

C4: “Uma internacionalização mais relevante não se daria de forma orgânica

porque é um processo muito lento, de estabelecimento de marcas. A gente, entrando na

América Latina, se você não tem algumas plataformas, alavancas de distribuição, para

estabelecer marcas, se você considerar que vai abrir, uma loja, duas lojas, três lojas, ou

vai abrir a venda direta, com uma consultora, duas consultoras, três consultoras, é um

processo bastante lento. E que, na maior parte das vezes, ele é mais custoso, com todos

os riscos que tem, parcerias, as aquisições, é mais custoso”.

C4: “Acho que tem uma vontade de demonstrar que fazer negócios com uma

preocupação sócio-ambiental pode ser um bom negócio e isso pode ganhar expressão.

Pode ser o diferencial para se colocar no mercado e aí, respeitando também origens

culturais, então a Aesop australiana, a Natura brasileira e a Body Shop, mais inglesa, a

Body Shop é internacional, sempre foi mais internacional.

Sobre relações hierárquicas:

C4: “Por todas as pessoas do Body Shop, franqueados, etc, o fato de ter sido a

Natura (quem comprou), pelos valores similares e também por não ter sido um

estratégico muito agressivo ou um private equity, que normalmente é agressivo, foi

muito comemorado pelo grupo interno. Obviamente que eles têm dúvidas, da nossa

própria experiência para tocar um negócio novo. Internacional, lojas, nunca toquei

3.000 lojas na vida, então tem um monte de desafios que eles estão se perguntando e

tem uma transição porque o primeiro nível de executivos, um bom nível de executivos

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são os executivos da L’ Óreal, que uma parte deles já está saindo. Então, também tem

uma ebulição de quem vai ficar, como é que fica a governança”.

C4: “Nós temos um VP de Internacionalização que fez diferença, em alguns

momentos foi crucial, mesmo agora, com a Body Shop, foi muito importante ter alguém

com essa competência de lidar com banco de investimento, com consultoria, de fazer a

coordenação de um processo que, às vezes, é muito rápido, muito multifacetado, tem

várias frentes jurídico, isso, aquilo, negocial, assessment de gente, então, tem que ter

uma experiência para fazer uma aquisição relevante. Ele tinha essa experiência,

inclusive de recrutar parceiros, porque você não faz tudo internamente. Então, os

bancos, a consultoria de pessoas, consultoria de estratégia, due dilligence,

auditoria...então ele tinha essa experiência e foi muito útil. Aliás, ele tinha mais do que

todos os outros que estavam no projeto.

C6: “Então, para isso, eu tive que conhecer bem a Natura. Então, minha

integração foi muito rica. Também foi alocado um mentor, do mundo de beauty, eu

conheci o nosso modelo de negócio, eu também tive a chance de trabalhar com

consultores, o meu mentor foi o Seu Luiz (fundador e conselheiro de administração) e o

consultor foi o Rogê, um senhor já muito experiente nesse mundo de beauty, do

Carlucci (CEO), que era o meu chefe. Então, eu estava um pouquinho isolado do dia a

dia da Natura, e foi muito bacana esse trabalho”.

C6: “Mas na compra da Body Shop, por exemplo, no começo a gente estava

muito cético. Eu acho que 90% dos conselheiros não queriam nem saber. A Natura

estava em um turn-around, mas aí sim, eu tive que ter um padrinho dentro do conselho

que falou assim: você tem uma chance pequena. Foi um dos fundadores que me deu a

chance”.

C6: “O time interno, eu tive que negociar que eles fizessem isso de boa vontade

e com os seus gestores. O João Paulo (Diretor Presidente da Natura) foi muito apoiador.

E isso é importante. E ele sentiu que ele também teve o apoio do Conselho”.

C6: “quando eu tive a oportunidade de ser mentorado pelo sr. Luiz, isso me

ajuda muito. Por exemplo, se eu estou em uma situação que eu tenho que tomar uma

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decisão, eu reflito. Puxa, deixa eu pensar nessa empresa fundada pelo sr. Luiz. Como é

que ele falaria”.

C6: “Desde que eu entrei no Brasil, eu sempre tive um conselheiro que tinha

mais dedicação. No começo foi o Júlio Moura e daí, recentemente, no ano passado,

quando o Roberto Lima saiu, eu comecei a me reportar diretamente para o Presidente do

Conselho, na pessoa do Pedro Passos e depois para o Guilherme e hoje Roberto

Marques. Então, eu sempre tive acesso ao conselho”.

Teoria do Capital Social – Relações Sociais – Redes Abertas e

Fechadas.

O que os entrevistados disseram:

C5: “Eles não abrem mão desses princípios. Só para você ter uma ideia...até

consegui convencê-los de mudar, mas quando eu cheguei, não tinha um código de ética,

tinha um código de relacionamento. Que era uma espécie de um código de ética, mas

era muito, confiando nas pessoas, então eu falei, não, com a lei anticorrupção e etc, a

gente tem que ser um pouco mais hard, aí mudou para Código de Conduta”.

C5: “O Conselho participa intensamente destas discussões, diferente de algumas

empresas que tem controladores familiares, em que o controlador já chega com a

decisão pronta e você tem que questionar, perguntar, mas já está tudo tomado. Na

Natura se discute muito isso”.

C5: “Mas enfim, foi um processo rapidíssimo (a compra da TBS). Como a gente

estava, não digo que meio preparado, mas o assunto já tinha sido mastigado em algum

momento, a gente pôde participar e, felizmente, nos saímos bem, levamos. Mas, de

novo, o conselho foi fundamental. A maioria do conselho é independente na Natura,

porque são só os três”.

C6: “Hoje o conselho é equilibrado porque os três fundadores estão no conselho.

Não é um conselheiro, não é um fundador. São os três. E a combinação, quando tem

uma convicção e uma coerência, é muito forte”.

Page 113: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

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C5: “O Conselho é organizado em Comitês. Tem um Comitê de Estratégia, em

que os três participam e mais alguns conselheiros. Tem Comitê de Governança, em que

a participação deles é predominante e eles acabam sendo consultados o tempo todo

pelos executivos, como você consultaria qualquer dono de uma empresa na hora de

tomar uma decisão. E o mercado, do lado de fora, conta muito com isso. Se amanhã eles

vendem a empresa para um qualquer, a Natura vale muito menos. O Luiz Seabra, que é

quem começou tudo e é o fundador mais fundador do que os outros, ele é a alma da

Natura, todo esse espírito. Depois vem o Guilherme, o Pedro. Então, eles têm essa

coisa, é muito forte”.

C6: “O conselho também mudou de participantes, participantes mais

internacionais. Brasileiros, mas com vivência internacional. Isso é muito importante. E

então, teve uma evolução no próprio conselho e, eu acho que no conhecimento dos

conselheiros que ficaram. Então, essa combinação permitiu que a gente contemplasse

um movimento tão grande quanto nós fizemos com a Body Shop”.

C6: “Então, aí sim essa combinação de conselho, CEO e gestão é muito

importante. Mas, contra todas as possibilidades, nós fomos aumentando a convicção que

essa aquisição seria fundamental para a internacionalização significativa do Grupo

Natura e que permitiria a expansão da marca Natura”.

Teoria do Capital Social – Relações Sociais – Buracos Estruturais –

Board Interlocking.

O que os entrevistados disseram:

C5: “quando pensaram em uma internacionalização mais efetiva e

eventualmente por operações de aquisição inorgânicas é que começaram a trazer

conselheiros com experiência internacional”.

C4: “Então, tem uma série de novos desafios e a necessidade de uma rápida

mudança na empresa porque aí você precisa trazer um novo conselheiro, um conselheiro

que vem de fora, fala inglês”.

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C5: “na Cielo, eu participei em uma aquisição de uma empresa nos Estados

Unidos, na Califórnia, então eu trouxe essa experiência já na aquisição da Aesop, dos

cuidados que tem que ter, dos reflexos que isso traz na contabilidade aqui, por causa da

conversão de moedas, o head account, o famoso head account, essas coisas”.

C5: “A gente acaba aproveitando as experiências, mesmo que de realidades

diferentes, de um conselho para outro. Por exemplo, essa coisa do ambiente de negócios

nos países da América Latina, principalmente em crédito, em devedores duvidosos,

política de tratamento da inadimplência, etc, isso aí você vai juntando experiência de

uma e leva para outra”.

C6: “O conselho também mudou de participantes, participantes mais

internacionais. Brasileiros, mas com vivência internacional. Isso é muito importante. E

então, teve uma evolução no próprio conselho e, eu acho que no conhecimento dos

conselheiros que ficaram. Então, essa combinação permitiu que a gente contemplasse

um movimento tão grande quanto nós fizemos com a Body Shop”.

C6: “E vai ter uma evolução que agora o conselho vai incluir pessoas com

experiência em retail. E vai até ter um elemento onde vão fazer parte da reunião do

conselho em inglês”.

C6: “Nós escolhemos a Lazard (https://www.lazard.com/) para a primeira

transação da AESOP. Para a segunda, infelizmente a Lazard estava assessorando a

L´Oreal. A gente estava olhando a Body Shop desde 2010. Tivemos conversas com a

L´Oreal na época e não caminhou. E eu recebi uma ligação em janeiro, da própria

Lazard, falando que teria um processo”.

Teoria do Capital Social – Relações Sociais – Laços Fortes e Fracos.

O que os entrevistados disseram:

C5: “Essa conversa de Body Shop é antiga, mas não prosperava porque estava

na mão da L´Oreal, mas já tinha tido conversas, até com a própria L’Oreal. Reza a

lenda, até com a própria L’Oreal, mas não foi pra frente porque aí, as culturas não

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batem...e..agora essa fase, que acabou dando certo também começa com a L’Oreal

contratando um banco de investimento, mandatando um banco de investimento pra

oferecer Body Shop ao mercado”.

C4: “Teve uma escolha dos fundadores da Aesop, que preferiram, até aonde a

gente sabe, nos detalhes, preferiram a Natura como sendo a adquirente do que um

estratégico, uma grande corporação ou um private equity, etc, porque eles acreditavam

que a Natura teria condições de respeitar mais, enfim, os valores da empresa. E, de fato,

foi o que aconteceu, a gente fez a aquisição em duas etapas. Eles ficaram com um

pedaço minoritário da empresa, mas ainda tinham um pedaço da empresa e a gente

acabou de fazer a aquisição final que aconteceu no final de 2016”.

C4: “O que a gente fez na sequência da aquisição, foi fazer duas ou três viagens

de integração com os líderes da Aesop. Então, uma foi na Australia, outra foi em

Sevilha, que era um lugar totalmente diferente e aí, obviamente também houve

encontros aqui no Brasil e a gente promoveu momentos de integração, o que foi muito

bom. Mas, momentos que a gente não falava de negócio, falava de...o que você quer da

vida, de pessoas, de gente. E foi muito bom porque criou uma intimi...não é que são

íntimos, até porque a gente não se vê com essa frequência, mas criou uma amizade, um

certo respeito, muito legal, tanto é que foi um processo sem nenhuma dor”.

C6: “no dia 12 de setembro, quando a gente fez uma celebração com a Body

Shop pela aquisição em volta do mundo, nós organizamos momentos de encontro entre

os colegas. Potencialmente, muito estranho. Em Melbourne, uma pessoa da Body Shop

com Aesop, marcas totalmente diferentes, se encontrando, pela primeira vez, sem

ninguém falar eu sou da Natura, vocês estão aqui para isso...não. A gente organizou

com que, em cada lugar, as pessoas se encontrassem e celebrassem o momento. Então, a

gente fez isso em Melbourne, a gente fez isso em Paris, Londres, lógico, Estados

Unidos - Nova Iorque, México, Chile, São Paulo, no mundo todo. Nesse dia, todo

mundo se encontrou, tomaram caipirinha, celebraram o Brasil, celebraram a união e,

com todo mundo que eu conversei, foi uma conversa bacana”.

C6: “Essa é uma diferença da Natura, que quanto mais você está alinhado e trata

as pessoas como parceiro, mais valor eles conseguem agregar e não necessariamente

mais fees você vai pagar. Talvez você pague os mesmos fees, ou até menos, mas

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sentindo parte de um movimento muito potencial expressivo, é incrível o que as pessoas

fazem. Se eu tivesse ido nessa direção de um relacionamento transacional, eu acho que

o banco teria desistido. Para ganhar um auction competitivo, com todos aqueles private

equities, cheios de grana, em Londres, que fazem isso todo dia da vida, que já tinham

montado times, estavam super agressivos, para que uma empresa brasileira, de venda

direta, conseguisse ganhar isso, é incrível”.

Teoria do Capital Social – Alianças Estratégicas.

O que os entrevistados disseram:

Sobre redução dos custos de transação:

C5: “mas, se você não aproveitar algumas sinergias, você não está tirando o

melhor da aquisição. Essas sinergias são mais sinergias de receitas do que de custos “.

C4: “A gente decidiu ficar um pouco mais distante para estabelecer um conselho

de administração onde tem, dois dos nossos executivos faziam parte do conselho de

administração e a relação foi muito mais via um conselho de administração da Aesop do

que uma relação executiva”.

Sobre legitimidade e aprimorar posicionamento estratégico:

C5: “A Natura era isso. Uma empresa de um país emergente, Brasil, para quem

gosta de Brasil, para quem gosta de varejo específico, que é a venda direta, para quem

gosta de cosméticos. Agora a Natura é diferente. Ela não é só Brasil, então o cara que

estava dizendo...eu quero me expor ao risco Brasil, então ele não é mais Natura, porque

ela é 60% Brasil e o resto são outros países. Entendeu? Um cara que era focado em uma

carteira de empresas de venda direta, etc.... Ele diz...isso não é mais venda direta. Em

compensação, você traz gente que tem medo de estar concentrado em risco Brasil, gosta

da venda direta, mas não tanto assim, quer pulverizar, então o cara vai de varejo. Então,

a Natura não é mais a mesma. Isso é uma coisa que a gente discute muito no conselho,

discutiu muito antes de tomar a decisão. Isso é bom. Para a Natura, é bom”.

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C5: “No caso da Totvs, (ela se internacionalizou) para atender clientes dela

daqui. Imagina uma empresa brasileira, que tem atividades na Argentina, então vai usar

o mesmo ERP, então a Totvs está lá...começa assim, depois, claro, desenvolve

atividades”.

C6: “Com isso, então, quando a gente estava fazendo a busca da empresa e como

três marcas iriam viver juntas e o elemento consumidor ficou óbvio. São consumidores

diferentes, pela escolha de canais, são consumidores de geografias diferentes, muitas

vezes, são consumidores que têm talvez uma importância de que eles prestam o que eles

compram, por exemplo, uma pessoa que compra um creme da Aesop, põe muito valor

no que eles compram, porque é mais caro, muito mais caro. Uma pessoa que compra

uma coisa da Body Shop, é diferente, mas a motivação, em muitas vezes, é semelhante.

Eles compram um produto que eles gostam, mas eles compram também um produto que

significa. Eles são parte de uma marca que tem um propósito”.

C6: “A gente queria marcas autênticas, que queiram disseminar bem-estar bem,

que é a nossa razão de ser, de formas diferentes”.

C6: “quando eu fiz o processo da compra da Aesop, mesmo que pequena, e

mesmo sabendo que, com um bom advogado eu poderia fazer, eu quis ter um banco de

investimento. E eu escolhi um banco que tinha confiança dos controladores. O

importante é a credibilidade que traz para os mercados e os conselheiros”.

Sobre novas habilidades e aquisição de conhecimento tácito:

C4: “Aesop é uma empresa australiana, que foi uma aquisição muito bem-

sucedida, é uma marca muito bem cuidada, mas confesso a você que ainda era uma

internacionalização marginal pelo tamanho. É uma empresa pequena. Mas, foi

importante, por ela estar já em uma geografia do mundo desenvolvido, cidades

importantes, nos deu uma noção, tem uma viabilidade aqui e era um outro modelo de

negócio, também um pressuposto que a gente tinha que não seria venda direta na

Europa e Estados Unidos”.

C4: “Então, o conselho muda: vai falar inglês, vai fazer apresentações em inglês,

o que também é uma posição, tira da zona de conforto, mas pode ter alguma queda de

produtividade porque nem todo mundo é fluente em inglês como é fluente em

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português. Eu teria mais dificuldade de conversar com você sobre esses temas em inglês

do que (em português). Então, você restringe um pouco mais a ideia, enfim, então pode

ser que isso altere um pouco a dinâmica do conselho, porque o nosso conselho não é um

conselho tradicional, é um conselho muito atuante. O Mifano está há muitos anos com a

gente, foi trazido nessa última leva no Conselho de Administração. Recentemente,

também o Fabio Barbosa veio para o Conselho de Administração. Então, o conselho

teve uma ampliação em perfis diferentes também. Então, vai ter uma dinâmica nova

para ser vivida que a gente vai aprender com isso”.

C5: “A gente só entra quando uma empresa enxerga que tem alguma coisa em

especial em relação a seus concorrentes, lá fora. Com a Body Shop, a gente até está

contando um pouco com isso, de trazer mais competitividade para a Natura aqui, com

base na aquisição lá fora. Mas o grande motivo é enxergar aonde está a Body Shop hoje

e se ela tem vantagem competitiva com relação aos seus concorrentes”.

C6: “quando a gente fez o mesmo processo de aprovação que a gente fez da

Aesop, a gente fez da Body Shop. Mas, dessa vez, com muito mais participação do

conselho. Assim, semanal. Isso mudou pelo fato que antes, parcerias e alianças era

desconhecido e pelo próprio sucesso da Aesop. Conseguimos manter o fundador da

Aesop, o CEO da Aesop, vendo resultados, trazendo um pouquinho mais de experiência

internacional interessante, criou um nível de conhecimento no Conselho maior do que

eles tinham antes da Aesop. Então, isso foi um elemento importante”.

C6: “A Natura, em 2004, lançou uma operação na França e eu acho que serviu

ao propósito de ter um lugar de captar insights de consumidores diferentes,

internacionais, de mostrar a marca. Isso teve sucesso. O que não teve sucesso foi a parte

econômico-financeira”.

4.3.1 Análise Comparativa dos Entrevistados Natura

Analisando as respostas dos entrevistados, foi possível perceber que a Natura é

uma empresa que constrói seus negócios por meio de relacionamentos com seus

stakeholders. Os fundadores pensam dessa forma e passam essa cultura aos

administradores da empresa, seus fornecedores e parceiros. Mesmo as empresas

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adquiridas são denominadas parceiras, sendo que suas estruturas de negócios foram,

praticamente, mantidas intactas.

Depoimentos dos entrevistados mostraram todo o esforço da empresa em manter

relações em busca da construção de laços fortes e de relações de confiança, levando,

consequentemente, a construções de alianças estratégicas da organização com seus

fornecedores, parceiros de negócios e revendedoras.

A relação dos conselheiros de administração com parceiros, gestão e acionistas

fundadores, em busca da ampliação da internacionalização da Natura, foi analisada a

partir da revisão dos depoimentos dos entrevistados à luz do cruzamento das teorias de

capital social com as teorias de internacionalização, o que resultou em uma matriz de

análise de entrevistas. Essa matriz possibilitou o desenvolvimento de proposições que

explicam como o capital social dos conselheiros influencia positivamente na

internacionalização da Natura.

A teoria da dependência de recursos não foi utilizada nesta análise pois as outras

teorias – principalmente a de alianças estratégicas – contém categorias idênticas ou

similares à teoria da dependência de recursos.

As proposições são:

P1: Relações hierárquicas saudáveis entre conselheiros de administração e

gestores influenciam positivamente no desenvolvimento da empresa em diferentes

mercados e locais

C6: “Desde que eu entrei no Brasil, eu sempre tive um conselheiro que tinha

mais dedicação. No começo foi o Júlio Moura e daí, recentemente, no ano passado,

quando o Roberto Lima saiu, eu comecei a me reportar diretamente para o Presidente do

Conselho, na pessoa do Pedro Passos e depois para o Guilherme e hoje Roberto

Marques. Então, eu sempre tive acesso ao conselho”.

P4: A rede fechada do conselho de administração influencia positivamente

no comprometimento da empresa junto à rede internacional.

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C5: “O Conselho participa intensamente destas discussões, diferente de algumas

empresas que tem controladores familiares, em que o controlador já chega com a

decisão pronta e você tem que questionar, perguntar, mas já está tudo tomado. Na

Natura se discute muito isso”.

C5: “Mas enfim, foi um processo rapidíssimo (a compra da TBS). Como a gente

estava, não digo que meio preparado, mas o assunto já tinha sido mastigado em algum

momento, a gente pôde participar e, felizmente, nos saímos bem, levamos. Mas, de

novo, o conselho foi fundamental. A maioria do conselho é independente na Natura,

porque são só os três”.

P5: Os conselheiros de administração, ao pertencerem a conselhos de

administração de diferentes empresas (board interlocking), influenciam

positivamente na identificação de oportunidades e mobilização de recursos da

empresa para a sua internacionalização.

C5: “na Cielo, eu participei em uma aquisição de uma empresa nos Estados

Unidos, na Califórnia, então eu trouxe essa experiência já na aquisição da Aesop, dos

cuidados que tem que ter, dos reflexos que isso traz na contabilidade aqui, por causa da

conversão de moedas, o head account, o famoso head account, essas coisas”.

C6: “O conselho também mudou de participantes, participantes mais

internacionais. Brasileiros, mas com vivência internacional. Isso é muito importante. E

então, teve uma evolução no próprio conselho e, eu acho que no conhecimento dos

conselheiros que ficaram. Então, essa combinação permitiu que a gente contemplasse

um movimento tão grande quanto nós fizemos com a Body Shop”.

P8: O capital social, advindo das relações de mercado, dos conselheiros de

administração ajuda a manter coordenar e construir relacionamentos na rede,

aumentando o comprometimento entre as partes.

Page 121: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

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C6: “O papel que os fundadores fazem não é um papel executivo. É um papel

inspirador. E a gente tem que aproveitar isso ao máximo. São pessoas extraordinárias

que tem muita energia e conhecimento. Para eles falarem com um grupo de pessoas,

passa a inspiração. E essas pessoas passam essa inspiração”.

C4: “Agora, recentemente, eu vim de uma viagem para conhecer os nossos

franqueados da Body Shop do Oriente Médio e todos com jeitos diferentes, empresas de

tamanhos diferentes, franqueados muito grandes, que tomam conta de países. Então são

empresas muito organizadas, não são franqueados como a gente vê aqui, cara que tem

duas ou três lojas. Pelo menos o que eu senti, na cultura Oriente Médio, o

relacionamento é fundamental também e eu nem estou falando de governo aqui não. A

relação é: o cara pega na tua mão, segura no primeiro jantar e diz: “Então, é pra valer?

Posso confiar? ”.

C6: “E daí a gente passou o primeiro mês visitando os franqueados. Então, a

gente conseguiu a vantagem de ter três fundadores é que eu consegui que o senhor Luiz

conhecesse os franqueados da Europa em Londres, eu me encontrei com o Guilherme na

Singapura para encontrar os franqueados da Ásia, e daí eu me encontrei com o Pedro em

Dubai para conhecer os franqueados do Oriente Médio”.

P9: O capital social, advindo das relações hierárquicas, dos conselheiros de

administração ajuda a manter coordenar e construir relacionamentos na rede,

aumentando o comprometimento entre as partes.

C6: “O papel que os fundadores fazem não é um papel executivo. É um papel

inspirador. E a gente tem que aproveitar isso ao máximo. São pessoas extraordinárias

que tem muita energia e conhecimento. Para eles falarem com um grupo de pessoas,

passa a inspiração. E essas pessoas passam essa inspiração”.

P10: Relações hierárquicas saudáveis entre conselheiros de administração e

gestores influenciam positivamente na construção de relações de confiança junto

aos stakeholders.

Page 122: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

119

C6: “quando eu tive a oportunidade de ser mentorado pelo sr. Luiz, isso me

ajudou muito. Por exemplo, se eu estou em uma situação que eu tenho que tomar uma

decisão, eu reflito. Puxa, deixa eu pensar nessa empresa fundada pelo sr. Luiz. Como é

que ele falaria”.

P11: O capital social, advindo das relações de mercado, dos conselheiros de

administração ajuda positivamente a construir legitimidade da empresa na

construção de alianças estratégicas.

C6: “E daí a gente passou o primeiro mês visitando os franqueados. Então, a

gente conseguiu a vantagem de ter três fundadores é que eu consegui que o senhor Luiz

conhecesse os franqueados da Europa em Londres, eu me encontrei com o Guilherme na

Singapura para encontrar os franqueados da Ásia, e daí eu me encontrei com o Pedro em

Dubai para conhecer os franqueados do Oriente Médio”

P12: O capital social, advindo das relações de mercado, dos conselheiros de

administração ajuda positivamente a melhorar o posicionamento estratégico da

empresa em suas alianças estratégicas.

C4: “Teve uma escolha dos fundadores da Aesop, que preferiram, até aonde a

gente sabe, nos detalhes, preferiram a Natura como sendo a adquirente do que um

estratégico, uma grande corporação ou um private equity, etc, porque eles acreditavam

que a Natura teria condições de respeitar mais, enfim, os valores da empresa".

P13: A rede fechada do conselho de administração influencia positivamente

na redução da distância psíquica.

C4: “Nesse interim, a gente teve uma loja na França, alguma atividade na França

de internacionalização, mais ou menos o mesmo desastre da América Latina, um

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prejuízo acumulado de muitos anos, e sem muita perspectiva de como crescer. Então, eu

acho que, o que caiu a ficha no exercício de 2010 até 2012 é que uma

internacionalização mais relevante não se daria de forma orgânica e sim, através de uma

aquisição, M&A, etc”.

P14: A rede fechada do conselho de administração influencia positivamente

no desenvolvimento de diferentes mercados e locais.

C4: “mais ou menos em 2010, a gente começou a analisar alternativas de

crescimento olhando para um cenário onde o Brasil poderia não ter as taxas de

crescimento que vinha tendo. Ou seja, havia uma perspectiva de...até onde a Natura vai

com esse market share, então, ...a América Latina ia bem, mas com a necessidade de a

gente começar a olhar um pouco mais para outras geografias. E aí, nós fizemos um

trabalho de pesquisa e aproximação com empresas, seja para M&A, seja para

aquisições, etc e tal...algumas grandes, outras menores, e acho que foi em 2012, depois

de não ter feito uma grande operação, que a gente resolveu não levar à frente, a gente

acabou fazendo a aquisição da Aesop”.

P15: A rede fechada do conselho de administração influencia positivamente

na posição da empresa na rede de relacionamentos.

C6: “O conselho também mudou de participantes, participantes mais

internacionais. Brasileiros, mas com vivência internacional. Isso é muito importante. E

então, teve uma evolução no próprio conselho e, eu acho que no conhecimento dos

conselheiros que ficaram. Então, essa combinação permitiu que a gente contemplasse

um movimento tão grande quanto nós fizemos com a Body Shop”.

P16: A rede fechada do conselho de administração influencia positivamente

na construção de relação de confiança

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C6: “Hoje o conselho é equilibrado porque os três fundadores estão no conselho.

Não é um conselheiro, não é um fundador. São os três. E a combinação, quando tem

uma convicção e uma coerência, é muito forte”.

C5: "Se amanhã eles vendem a empresa para um qualquer, a Natura vale muito

menos. O Luiz Seabra, que é quem começou tudo e é o fundador mais fundador do que

os outros, ele é a alma da Natura, todo esse espírito. Depois vem o Guilherme, o Pedro.

Então, eles têm essa coisa, é muito forte”.

P17: A rede fechada do conselho de administração influencia positivamente

no reforço de alianças estratégicas por meio da construção de novas habilidades e

aquisição de conhecimento.

C4: “Uma internacionalização mais relevante não se daria de forma orgânica

porque é um processo muito lento, de estabelecimento de marcas. A gente, entrando na

América Latina, se você não tem algumas plataformas, alavancas de distribuição, para

estabelecer marcas, se você considerar que vai abrir, uma loja, duas lojas, três lojas, ou

vai abrir a venda direta, com uma consultora, duas consultoras, três consultoras, é um

processo bastante lento. E que, na maior parte das vezes, ele é mais custoso, com todos

os riscos que tem, parcerias, as aquisições, é mais custoso”.

C4: “mais ou menos em 2010, a gente começou a analisar alternativas de

crescimento olhando para um cenário onde o Brasil poderia não ter as taxas de

crescimento que vinha tendo. Ou seja, havia uma perspectiva de...até onde a Natura vai

com esse market share, então, ...a América Latina ia bem, mas com a necessidade de a

gente começar a olhar um pouco mais para outras geografias. E aí, nós fizemos um

trabalho de pesquisa e aproximação com empresas, seja para M&A, seja para

aquisições, etc e tal...algumas grandes, outras menores, e acho que foi em 2012, depois

de não ter feito uma grande operação, que a gente resolveu não levar à frente, a gente

acabou fazendo a aquisição da Aesop”.

Page 125: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

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P18: A rede fechada do conselho de administração influencia positivamente

no reforço de alianças estratégicas por meio da busca por legitimidade.

C4: “Então, o conselho muda: vai falar inglês, vai fazer apresentações em inglês,

o que também é uma posição, tira da zona de conforto, mas pode ter alguma queda de

produtividade porque nem todo mundo é fluente em inglês como é fluente em

português. Eu teria mais dificuldade de conversar com você sobre esses temas em inglês

do que (em português). Então, você restringe um pouco mais a ideia, enfim, então pode

ser que isso altere um pouco a dinâmica do conselho, porque o nosso conselho não é um

conselho tradicional, é um conselho muito atuante. O Mifano está há muitos anos com a

gente, foi trazido nessa última leva no Conselho de Administração. Recentemente,

também o Fabio Barbosa veio para o Conselho de Administração. Então, o conselho

teve uma ampliação em perfis diferentes também. Então, vai ter uma dinâmica nova

para ser vivida que a gente vai aprender com isso”.

P19: A rede fechada do conselho de administração influencia positivamente

no reforço de alianças estratégicas por meio da construção de um posicionamento

estratégico.

C6: “Então, aí sim essa combinação de conselho, CEO e gestão é muito

importante. Mas, contra todas as possibilidades, nós fomos aumentando a convicção que

essa aquisição (da TBS) seria fundamental para a internacionalização significativa do

Grupo Natura e que permitiria a expansão da marca Natura”.

P20: Os conselheiros de administração, ao pertencerem a conselhos de

administração de diferentes empresas (board interlocking), influenciam

positivamente no desenvolvimento de diferentes mercados e locais.

C5: “quando pensaram em uma internacionalização mais efetiva e

eventualmente por operações de aquisição inorgânicas é que começaram a trazer

conselheiros com experiência internacional”.

Page 126: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

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C5: “A gente acaba aproveitando as experiências, mesmo que de realidades

diferentes, de um conselho para outro. Por exemplo, essa coisa do ambiente de negócios

nos países da América Latina, principalmente em crédito, em devedores duvidosos,

política de tratamento da inadimplência, etc, isso aí você vai juntando experiência de

uma e leva para outra”.

P21: Os conselheiros de administração, ao pertencerem a conselhos de

administração de diferentes empresas (board interlocking), influenciam

positivamente na posição da empresa na rede de relacionamentos.

C4: “Então, tem uma série de novos desafios e a necessidade de uma rápida

mudança na empresa porque aí você precisa trazer um novo conselheiro, um conselheiro

que vem de fora, fala inglês”.

C6: “E vai ter uma evolução que agora o conselho vai incluir pessoas com

experiência em retail. E vai até ter um elemento onde vão fazer parte da reunião do

conselho em inglês”

P22: Os laços fortes dos conselheiros de administração influenciam

positivamente na redução de custos de transação.

C4: “A gente decidiu ficar um pouco mais distante para estabelecer um conselho

de administração onde, dois dos nossos executivos faziam parte do conselho de

administração e a relação foi muito mais via um conselho de administração da Aesop do

que uma relação executiva. ”

. P23: Os laços fortes dos conselheiros de administração influenciam

positivamente na busca da empresa por legitimidade.

C6: “no dia 12 de setembro, quando a gente fez uma celebração com a Body

Shop pela aquisição em volta do mundo, nós organizamos momentos de encontro entre

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os colegas. Potencialmente, muito estranho. Em Melbourne, uma pessoa da Body Shop

com Aesop, marcas totalmente diferentes, se encontrando, pela primeira vez, sem

ninguém falar eu sou da Natura, vocês estão aqui para isso...não. A gente organizou

com que, em cada lugar, as pessoas se encontrassem e celebrassem o momento. Então, a

gente fez isso em Melbourne, a gente fez isso em Paris, Londres, lógico, Estados

Unidos - Nova Iorque, México, Chile, São Paulo, no mundo todo”.

P24: Os laços fortes dos conselheiros de administração influenciam

positivamente no reforço das alianças estratégicas por meio do embeddedness.

C4: “O que a gente fez na sequência da aquisição, foi fazer duas ou três viagens

de integração com os líderes da Aesop. Então, uma foi na Australia, outra foi em

Sevilha, que era um lugar totalmente diferente e aí, obviamente também houve

encontros aqui no Brasil e a gente promoveu momentos de integração, o que foi muito

bom. Mas, momentos que a gente não falava de negócio, falava de...o que você quer da

vida, de pessoas, de gente."

4.3.2 Conclusão da Análise Comparativa dos Entrevistados Natura

As proposições acima colocadas responderam, a princípio, aos objetivos

específicos desta dissertação, que são (i) identificar e comparar elementos que

demonstram a influência do capital social dos conselheiros na gestão da empresa com

relação à internacionalização; (ii) identificar e comparar elementos que demonstram a

influência do capital social dos conselheiros de administração que são conselheiros em

mais de uma empresa (board interlocking) e (iii) identificar e comparar como o perfil e

as competências dos conselhos de administração evoluem junto à evolução de seu

processo de internacionalização.

Neste último objetivo especifico, pode-se notar que, diferentemente da primeira

empresa analisada, a Natura vem se preparando, desde 2010, para a sua

internacionalização, inclusive com a inclusão e troca de novos participantes nos

conselhos de administração, conforme depoimento de C5: “quando pensaram em uma

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internacionalização mais efetiva e eventualmente por operações de aquisições

inorgânicas é que começaram a trazer conselheiros com experiência internacional”.

Em todos os depoimentos, notou-se que, na dinâmica do conselho, existe uma

relação de confiança entre os seus participantes – rede fechada – sendo que, a cada novo

participante, existe sempre a busca pela transmissão da importância das relações entre

os stakeholders e da cultura Natura. A construção do planejamento estratégico de longo

prazo em busca da internacionalização da empresa, por meio da existência de relações

de confiança entre os administradores – acionistas, conselho de administração,

presidência e vice-presidências – ficou clara nos depoimentos de C4, fundador e

conselheiro:

C4: “Uma internacionalização mais relevante não se daria de forma orgânica

porque é um processo muito lento, de estabelecimento de marcas. A gente, entrando na

América Latina, se você não tem algumas plataformas, alavancas de distribuição, para

estabelecer marcas, se você considerar que vai abrir, uma loja, duas lojas, três lojas, ou

vai abrir a venda direta, com uma consultora, duas consultoras, três consultoras, é um

processo bastante lento. E que, na maior parte das vezes, ele é mais custoso, com todos

os riscos que tem, parcerias, as aquisições, é mais custoso”.

E complementou: “mais ou menos em 2010, a gente começou a analisar

alternativas de crescimento olhando para um cenário onde o Brasil poderia não ter as

taxas de crescimento que vinha tendo. Ou seja, havia uma perspectiva de...até onde a

Natura vai com esse market share. Então, a América Latina ia bem, mas com a

necessidade de a gente começar a olhar um pouco mais para outras geografias. E aí, nós

fizemos um trabalho de pesquisa e aproximação com empresas, seja para M&A, seja

para aquisições, etc e tal...algumas grandes, outras menores, e acho que foi em 2012,

depois de não ter feito uma grande operação, que a gente resolveu não levar à frente, a

gente acabou fazendo a aquisição da Aesop”.

Inclusive, C4 pontuou a importância de continuar evoluindo ao trazer novas

competências e habilidades ao conselho, com experiência em mercados internacionais,

de forma a colaborar na implementação e constante revisão desse planejamento, como

segue:

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“Então, tem uma série de novos desafios e a necessidade de uma rápida mudança

na empresa porque aí você precisa trazer um novo conselheiro, um conselheiro que vem

de fora, fala inglês”

E C6, executivo da empresa, especializado em internacionalização,

complementou sobre a vinda de um especialista em varejo no Conselho:

“E vai ter uma evolução que agora o conselho vai incluir pessoas com

experiência em retail”.

O que é preciso mencionar, e os depoimentos demonstraram muito esse ponto,

foi o fato de que os fundadores e acionistas controladores da empresa, mesmo atuando

no conselho de administração, diferentemente das outras empresas analisadas, são

extremamente presentes na organização, inclusive no processo de planejamento

estratégico e na internacionalização da Natura. O depoimento de C5 demonstra isso:

“Claro que eles são os mestres cervejeiros. Eles conhecem a fórmula da Coca-

Cola, tá certo. Claro que a opinião deles é fundamental, mas eles ouvem muito”.

E complementou:

“Se amanhã eles vendem a empresa para um qualquer, a Natura vale muito

menos. O Luiz Seabra, que é quem começou tudo e é o fundador mais fundador do que

os outros, ele é a alma da Natura, todo esse espírito. Depois vem o Guilherme, o Pedro.

Então, eles têm essa coisa, é muito forte”.

Concluindo, 8 das 20 proposições que demonstraram como os conselheiros de

administração da Natura influenciam positivamente na internacionalização da empresa,

são a respeito de como o relacionamento entre conselheiros e suas decisões influenciam

positivamente no reforço de alianças estratégicas, na construção de relações de

confiança, da construção da empresa na rede de relacionamentos, no desenvolvimento

de diferentes mercados e locais e na redução da distância psíquica.

O fato de conselheiros pertencerem a dois ou mais conselhos e possuírem laços

com outros profissionais do mercado influencia positivamente no desenvolvimento de

diferentes mercados e locais, na posição da empresa na rede de relacionamentos,

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127

ajudando a melhorar o posicionamento estratégico da empresa em suas alianças

estratégicas, bem como construir legitimidade da empresa na construção de alianças

estratégicas.

Finalmente, os laços fortes dos conselheiros de administração influenciam

positivamente na busca da empresa por legitimidade e no reforço das alianças

estratégicas por meio do embeddedness.

É possível concluir, de acordo com os depoimentos mencionados até o

momento, que as 20 proposições colocadas acima demonstram como o capital social

dos conselheiros influenciam positivamente na internacionalização das empresas.

4.4 A Fibria

Fruto de aquisições de empresas de papel e celulose no país, a Fibria foi

constituída em 2009, na ocasião em que a VCP (fundada em 1988) adquiriu a Aracruz

(fundada em 1967). Seu propósito é – “acreditamos em relações construtivas baseadas

em laços de parceria e confiança, com compromisso e respeito; somos movidos pela

energia vital, garra e paixão para viabilizar produtos essenciais para a qualidade de vida,

saúde, educação e cultura; buscamos o lucro reconhecido e admirado, que gere

benefícios para todos a partir de recursos utilizados de forma sustentável.

Líder mundial na produção de celulose de eucalipto, a Fibria desenvolve

produtos a partir da floresta plantada. Com capacidade produtiva de 7,25 milhões de

toneladas de celulose por ano, a companhia conta com unidades industriais localizadas

em Aracruz (ES), Jacareí (SP) e Três Lagoas (MS), além de Eunápolis (BA), onde

mantém a Veracel em joint-operation com a Stora Enso. A companhia possui 1,056

milhão de hectares de florestas, sendo 633 mil hectares de florestas plantadas, 364 mil

hectares de áreas de preservação e de conservação ambiental e 59 mil hectares

destinados a outros usos. A celulose produzida pela Fibria é exportada para mais de 35

países e a matéria-prima é utilizada em produtos de educação, saúde, higiene e limpeza.

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Em sua apresentação de resultados referente ao terceiro trimestre de 2017, seus

resultados decresceram em 2016 e, em 2017, voltaram ao mesmo patamar das receitas

de 2015, bem como os valores das ações ao final de 2017 e início de 2018.

Sua produção é distribuída principalmente para a Europa e Ásia, seguida por

América do Norte e América Latina.

Figura 18: Receita líquida da Fibria (em milhões de reais)

Fonte: Fibria (Teleconferência de Resultados 3T17, p. 6)

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Figura 19: Distribuição da Receita Líquida de Celulose 3T17 – por região e por

uso final

Fonte: Fibria (Teleconferência de Resultados 3T17, p.5)

Foram entrevistados 3 conselheiros de administração, sendo que, à época da

entrevista, um conselheiro era presidente do conselho da Fibria e os outros dois eram

conselheiros independentes na Fibria, além de presidentes de conselho de outras

empresas. Nenhum deles era acionista controlador da Fibria, pois os acionistas da

empresa estão totalmente distantes dos negócios.

Como a Fibria já é uma empresa em que todos pensam de forma globalizada, as

entrevistas foram baseadas na expertise de cada conselheiro e como essa expertise

contribuiu e contribui para o crescimento e aprimoramento da organização.

A composição do Conselho de Administração da Fibria contava, à época da

entrevista, com 9 (nove) conselheiros titulares e 9 conselheiros suplentes, sendo que

todos os conselheiros titulares e suplentes participavam dos comitês de apoio. Eram 2

(dois) conselheiros independentes. Além deles, 5 (cinco) conselheiros foram indicados

pela Votorantim Industrial e 2 (dois) indicados pelo BNDES. O conselho de

administração contava com 5 (cinco) comitês de apoio, sendo eles: Comitê Financeiro,

de Sustentabilidade, Pessoas e Remuneração, Inovação e Auditoria Estatutária.

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Não havia nenhuma mulher no conselho de administração da Fibria. Havia 2

(duas) mulheres conselheiras suplentes e 1 (uma) mulher na diretoria executiva da

empresa.

Com relação às categorias escolhidas para análise, foi possível verificar que os

entrevistados pontuaram questões relevantes, demonstrando a importância de cada uma

delas para a empresa e reforçando as teorias mencionadas nesta dissertação.

A seguir, apresentam-se os depoimentos dos entrevistados que suportam as

teorias:

Teoria de Uppsala – Distância Psíquica: início da internacionalização

na América Latina.

O que os entrevistados disseram:

C9: “Começamos a procurar fora do Brasil (Celma), então conseguimos

Paraguai, foi relativamente fácil, Argentina é complicado porque Argentina e brasileiro

é um inferno. Uruguai, Chile, até o Chile foi relativamente fácil. Peru e Colômbia já são

países que estão perto dos Estados Unidos e o relacionamento é muito grande com os

Estados Unidos. Já foi mais difícil. Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, já demorou

mais. Mas, também vai indo. América Central tinha pouca coisa, com exceção do

México. O México foi difícil. Foi muito difícil. E aí nós percebemos que, mesmo que

nós conquistássemos tudo isso, o volume de serviço desses países não era muito grande.

Empresas aéreas pequenas, sem dinheiro, cliente ruim. Então, nós decidimos que nós

tínhamos que entrar no mercado americano”.

Teoria de Uppsala – Custo de não pertencer à rede (liability of

outsidership): realização de alianças com parceiros locais

O que os entrevistados disseram:

C8: “Aquela estrutura de comercialização que nós fizemos lá atrás, no

comecinho de 70, que era baseada em agentes, ela deu lugar, com o aumento da escala,

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131

à própria estrutura comercial da empresa. Então, os agentes foram todos substituídos, os

contratos foram revogados, rescindidos e desenvolvemos uma estrutura própria da

empresa. Essa estrutura passou logicamente maior controle sobre os clientes, trazendo

mais ações de fidelização e permitindo também o desenvolvimento de produtos de uma

maneira mais integrada”.

C9: “Chegamos à conclusão que a gente tinha que arranjar vendedor de olho

azul, para vender do de olho azul de lá. Então contratamos um americano que a gente

conhecia bem, que começou a abrir as portas para a gente. Ele realmente abriu as portas.

Primeiro que ele era do setor, da indústria, falava o inglês deles, tudo o mais e tal. E aí

tivemos acesso a várias empresas”. (Sobre a Celma, quando era CEO)

Teoria de Uppsala Revisitada – Identificar oportunidades e

mobilizar recursos; desenvolver diferentes mercados e locais e a

capacidade de construir, manter e coordenar relacionamentos na

rede.

O que os entrevistados disseram:

Sobre identificar oportunidades e mobilizar recursos:

C8: “Você vende aonde der. Então, eu vendia no Oriente Médio, vendia um

pouco nos Estados Unidos, preço muito baixo, vendia um pouco na Inglaterra, começa a

ter reclamação de qualidade, vai aprendendo como faz o produto, é um aprendizado.

Posteriormente, na medida em que o produto vai se estabilizando no mercado, e você

cria o fluxo, os mercados de maior escala e aqueles que te permitem ter uma vantagem

competitiva, vantagem de frete, esse tipo de coisa, por diversas razões, são os mercados

em que você procura se concentrar mais”.

Sobre desenvolver diferentes mercados e locais:

C8: “Mas, logicamente, esses maiores importadores são aonde você se sobrepõe

à produção local e se sobrepõe também aos concorrentes para o exterior. Então, esses

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são os mercados de maior escala aonde você procura dar ênfase. E você vai ampliando

toda a sua rede, capilarizando aí pelo mercado”.

C9: “Então, a gente tem um mix de competências ideal para o conselho. Tantos

com background financeiro forte. Tantos com background de gestão forte, estratégico,

pensamento estratégico, gestão de pessoas, a gente tem um mix de competências que a

gente procura. Então, a gente sabe quem vai sair, sabe aquelas competências que estão

saindo, vê como está o conselho, como é que precisaria para balancear. Então, a gente

precisa para a próxima gestão: um com experiência internacional, outro com experiência

em pessoas, qualquer coisa assim, procura no mercado. ” (Sobre a Embraer)

Sobre capacidade de construir, manter e coordenar relacionamentos na rede:

C8: “Você não precisa ter produção local. O que você precisa é conquistar a

confiança do cliente que, o seu sistema de fornecimento, ele permite você competir com

os teus concorrentes, de tal maneira que você acabe tendo um tipo de vantagem e, ao

mesmo tempo, com a confiança, você passa a desenvolver produtos e serviços. E essa é

uma abertura que poucas empresas dão, a de desenvolver produtos e serviços. Quando

você conquista a confiança do cliente e, ele passa a atuar conjuntamente nesse sentido,

ele automaticamente está te permitindo criar uma barreira na competição. ”

C9: “Você tem que ter no conselho pessoas que entendam da atividade,

entendam do mercado e mais o seguinte. O conselho precisa entender, que você para ter

sucesso, a questão do relacionamento é vital. Então, se você tiver um diretor comercial

que não estabeleça relacionamentos, não tem um perfil bom para isso e uma estrutura

que não esteja se relacionando, você tem obrigação de intervir. Sim, tem que intervir.

Mas não ir lá para estabelecer o relacionamento. Não. Tem que escolher as pessoas

certas”.

Teoria de Uppsala Revisitada – Construir uma posição da empresa

na rede de relacionamentos (grau de multinacionalidade), construir

comprometimento na rede por meio de investimentos e construir

relação de confiança.

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133

O que os entrevistados disseram:

Sobre construção de confiança:

C8: “Mas o importante é o seguinte: precisa ter política (de internacionalização)

de longo prazo. Isso é comum para todas. Quem não tiver uma política de longo prazo,

está fazendo uma opção para vender barato sempre”.

Sobre investimentos tangíveis e intangíveis:

C7: “Hoje eu tenho uma fábrica de nanocelulose no Canadá e uma aqui. Eu

tenho pesquisas, participação em startups de transformar nanocelulose em tecido, eu

tenho uma série de coisas acontecendo...temos um centro de pesquisa na universidade

de Prints Columbia no Canadá, pesquisando lignina, que hoje eu queimo, mas que vai

ser material para eu fazer meu taco de golfe, para fazer liga de aviação, para fazer

construção civil leve, automóveis. Então, a gente tanto faz a pesquisa de longa duração,

quanto faz a inovação mais moderna de rapidez”.

C8: “O investimento, é o investimento no cliente, para o cliente ter a confiança

de que vai receber aquela mercadoria e ele vai pagar o valor justo pela mercadoria”.

C9: “Se você olhar para o futuro, daqui a alguns anos, vai ter carro voador aí.

Drones e tudo o mais. Então, a gente (Embraer) tem hoje um alto posto nos Estados

Unidos. Gente lá. Estamos investindo em empresas pequenas lá. Temos um fundo aqui

no Brasil, um fundo pequeninho lá para investir em empresas pequenas, se for o caso,

para a gente aprender o que está acontecendo”.

C9: “a chance daquilo (startup investida) virar um negócio para nós é zero. A

gente quer aprender. A gente quer estar ali. Então, por exemplo, no Vale do Silício,

você tem montes de startups e gente e tal. Se uma Embraer chegar lá e quiser investir

em uma empresa, eles não vão levar a sério. Mas, se você já tiver um histórico de

investimento em pequenos startups, eles vão entender que você realmente leva essa

questão da inovação a sério. Essas definições de investimento acontecem no Conselho.

A estratégia, quanto vai investir, quanto não vai investir, esse tipo de coisa vem ao

conselho (sobre aquisições de startups). Aí depois a execução é da diretoria”.

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Teoria da Dependência de Recursos – Busca por legitimidade

organizacional.

O que os entrevistados disseram:

C9: “Então, a empresa (Nitroquímica) comprou uma empresinha nos Estados

Unidos que vende nitrocelulose e faz alguns produtos derivados. Para quê? Para

entender o mercado. Ter americanos na área comercial que entendam o cliente e tudo o

mais e tal para ver de que maneira a empresa pode aumentar. Então, isso aí é o seguinte,

se for uma internacionalização para você conhecer melhor o mercado”.

C9: “nós temos um complicador aqui, que é o Golden share, que nos obriga a ter

três indicados. Um da União, um eleito pelos funcionários e um eleito pelo Clube de

Investidores da Embraer, que é um grupo de funcionários que quis ser investidor e

compraram ações e tal”.

C9: “Então, para você ter uma pessoa de fora (atuando no conselho), ou você ia

ter que fazer as reuniões em inglês com tradutor para o português ou em português com

tradutor para o inglês. Isso não funciona. Então, a gente está pensando em fazer, ter

pessoas de fora (de outros países) nos Comitês. Foi uma constatação que a gente fez

recente, agora, e é uma coisa que a gente vai pensar daqui para frente como é que a

gente vai executar isso aí. Mas o ideal é que tivesse”. (Sobre o Conselho da Embraer)

C7: “A Fibria tem uma necessidade imensa de um relacionamento com

comunidades, porque a Fibria está em 253 municípios e, normalmente, são municípios

mais distantes de centros urbanos. A VCP estava mais em São Paulo, então, a gente não

tinha uma exposição com diferenças sociais tão grandes. Mas, quando a gente adquiriu a

Aracruz, a gente passou a ficar com interfaces com comunidades indígenas, com

comunidades quilombolas, com o MST, movimentos de luta pela terra ou simplesmente

comunidades empobrecidas que não tinham a consciência ou a organização social,

capital social para atuar, às vezes eram comunidades aparentemente quilombolas, mas

sem a percepção de sua identidade. Então, a Fibria construiu uma metodologia bastante

formal de estabelecimento de contatos e engajamento com essas comunidades”.

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Teoria da Dependência de Recursos e Embeddedness.

O que os entrevistados disseram:

C9: “na Europa, Oriente Médio, por ali, a gente (Fibria) percebeu que vender

solução, não o algodão, vender a solução, quer dizer, o algodão já dissolvido em algum

solvente, é melhor para o cliente. O cliente já recebe a solução. Então, ele não tem que

fazer a solução. Então, provavelmente, a empresa vai montar um negocinho pequeno

para transformar o algodão em solução (lá na região). Mais fácil transportar, mais leve”.

C7: “Um dos motivos que também me qualificou para vim trabalhar em um

outro setor, era que eu tinha uma vivência internacional grande que, para o mercado de

celulose, tem muito paralelismo entre uma operação de minérios de ferro e de celulose.

É uma commodity que, para quem é leigo parece tudo japonês, tudo igual, mas ela tem,

permite uma diferenciação de produtos que vincula o cliente, no longo prazo, com o

fornecedor. Então, não é assim uma commodity tão clara que você pode assim mudar de

uma hora para outra. Você lida com culturas diferentes, você tem um relacionamento,

então, tanto com os clientes quanto com o mercado financeiro internacional, quanto com

a parte de fretes marítimos e logística internacional. Então, isso foram competências que

eu transportei de um setor para o outro, além do entendimento cultural, respeito ao

relacionamento, à construção desse vínculo permanente que é o que faz o negócio

internacional ser bem-sucedido”.

Teoria do Capital Social – Relações de Mercado e Relações

Hierárquicas.

O que os entrevistados disseram:

Sobre relações de mercado:

C7: “Na época, estava ocorrendo no Brasil o movimento voluntariado da esposa

do Fernando Henrique Cardoso, a Ruth Cardoso. E então, eu praticamente contratei uma

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pessoa do grupo dela, levei pra Minas e fizemos um grande estímulo na Samarco para o

voluntariado empresarial”.

C9: “apesar de não fazer diferença que está no Brasil, sempre faz um pouquinho.

Um pouquinho sempre faz. Porque o pessoal imagina que possa dar uma confusão aqui

e, de repente, a Fibria não pode mais suprir o que eles pediram. Sempre tem uma certa

preocupação com o país. Risco Brasil. É claro, com o passar do tempo, a Fibria

performando, performando, performando, isso vai ficando meio para trás”.

Sobre relações hierárquicas:

C7: “Apesar de controle muito definido, o respeito ao minoritário era bem

importante. Por exemplo, eu tinha um acionista que tinha uma ação só da empresa e ele

vinha nas Assembleias e pedia para opinar, para falar e, na verdade, ele era uma pessoa

interessante porque ele comprou uma ação de dez empresas e o objetivo dele era a

preservação da memória ferroviária do estado de São Paulo. Eu até usei isso muito em

palestra que eu fiz para demonstrar que, às vezes eu tinha que dar a mesma atenção a

um cara que tinha uma ação e que eu dava ao acionista controlador que tinha cinquenta

e seis por cento das ações”.

C7: “A VCP quis fazer um investimento e expandir uma base florestal no Rio

Grande do Sul. Nós já sabíamos que a região tinha 200 assentamentos, de diversos

movimentos pela terra. Então, para estar lá e ser bem-sucedido, nós teríamos que

estabelecer uma interlocução e um convívio com o público que lá estava e,

inevitavelmente, o MST era um deles. Então, nós começamos a comprar terra, a plantar

e fazer o relacionamento. Um dia isso saiu no jornal. Eu não reportava ao Dr. Antônio

Ermírio de Moraes, mas ele era figura pública da Votorantim. Ele me ligou e falou

assim: Dr. José – eu era bem mais novo que ele – mas ele falou assim: Dr. José, me fale

sobre essa notícia da Votorantim com o MST no Rio Grande do Sul. Ele gostava de

coisas muito rápidas. Aí eu expliquei a ele que nós tínhamos um objetivo estratégico de

desenvolver um pacto florestal no Rio Grande do Sul, uma região que não tinha

florestas e que a gente tinha que lidar com os fazendeiros, com as comunidades e com

os moradores do campo e que lá tinha uns quase 200 assentamentos e neles, havia um

movimento ideológico e a Fibria resolveu fazer uma proposta de parceria que

melhorasse a vida daquelas pessoas, respeitando os ideais deles. Nós iríamos ser bons

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vizinhos. Expliquei a ele que as pessoas eram de boa índole, eram brasileiros querendo

trabalhar e melhorar e nós não teríamos um maior conflito. Aí ele ficou satisfeito e falou

assim: Dr. José, se eles são brasileiros querendo construir seu futuro pelo trabalho, nós

devemos dar as mãos a eles”.

C7: “Quando eu me tornei Presidente do Conselho, nós estabelecemos com os

novos acionistas, que era Votorantim e BNDES, que eu tinha 3 objetivos principais que

era a governança, porque a Fibria nasceu de um grande erro de governança da Aracruz,

que foi a questão dos derivativos que nos custou mais de dois bilhões de dólares. O

segundo era a sustentabilidade, principalmente a relação com o social, que era muito

aguda e que podia caçar nossa licença de operar, a sociedade poderia não nos querer na

região. A parte ambiental era a menos relevante, mas a Aracruz tinha uma parte

ambiental relevante, que apesar de ela ser boa no ambiental, ela tinha certificações

Serflor, mas não tinha FSC por causa dos atritos sociais. E o terceiro era que, como nós

estávamos juntando duas empresas, eu ia ter atenção à formação da cultura Fibria e,

principalmente, ao processo de sucessão dos executivos, porque nós tínhamos

executivos relativamente próximos de aposentadoria e nós tínhamos que fazer, primeiro,

a junção dos dois executivos e depois, a sucessão deles para uma geração mais jovem,

que hoje já está aqui funcionando”.

C9: “A governança dos conselhos melhorou muito, graças ao IBGC, sem dúvida,

e graças também ao entendimento que as empresas tiveram, os donos de empresa, os

grupos de controle, entendimento que eles tiveram que o conselho não era um grupo de

amigos para tomar cafezinho e tudo o mais. O Conselho era um órgão que poderia e

muito ajudar as empresas e os conselhos foram se profissionalizando. E também o perfil

dos investidores. As empresas brasileiras que são listadas nos Estados Unidos têm

grandes investidores que acabam forçando a empresa, incentivando a empresa a

melhorar a sua governança”.

C9: “É diferente, por exemplo, de uma diretoria, em que você tem pessoas

responsáveis por áreas e o presidente da empresa é responsável por tudo e, no fundo,

quando a gente fala muito de cultura da empresa e tudo o mais, é claro que o conselho

influi nisso, mas quem dissemina a cultura é o CEO da empresa. Porque ele é quem tem

contato com o dia a dia, com a empresa e tudo o mais. Ele tem contato com os diretores.

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Então, quem dissemina uma cultura é o CEO. É claro que se a cultura dele tiver em

conflito com o conselho, não vai funcionar, claro”.

C9: “Na Fibria, eu já mentorei diretores alternadamente. Momentos que eu

converso mais com o Castelli (Marcelo Castelli – CEO). Não é que ele só tem um

mentor não. Ele tem mais. Dou atenção a ele para um determinado assunto. Com o

Aires (Aires Galhardo – Diretor de Operações) também, para outros assuntos”.

C9: “na Fibria, no Grupo Ultra, que são empresas com grupo de controle,

assuntos estratégicos sendo levados ao conselho, discutidos no conselho e o conselho

orientando a gestão como agir”.

Teoria do Capital Social – Relações Sociais – Redes Abertas e

Fechadas.

O que os entrevistados disseram:

C7: “Todos os conselheiros titulares participam também dos comitês e eu tenho

também comitês com membros externos. Então, sustentabilidade tem membros

externos, mas o comitê de remuneração também tem dois membros externos, o comitê

de auditoria estatutária é totalmente de gente externa, o de finanças tem um

representante do minoritário e o único que não tem é o de inovação, porque o de

inovação é a própria essência da estratégia da empresa. Então, ali nós temos só os

representantes dos controladores. Não temos independente, apesar de que os

conselheiros independentes participam, mas no comitê só os controladores”.

C7: “Montar um conselho é extremamente importante para você ter sucesso. Por

exemplo, a Fibria, nós estamos, pelo 8º ano consecutivo, reavaliando o conselho. Eu

acho isso extremamente importante. A gente definiu: hoje nós temos 22 ou 23

competências críticas. Então, o que é uma competência crítica, por exemplo,

conhecimento do negócio é crítico, para qualquer empresa. Mas, para mim, entender

dessa dinâmica de mudança climática é crítico. Conhecer o cliente é crítico.

Conhecimentos jurídicos, é crítico. Resultados financeiros, claro que é fundamental.

Então, a gente listou essas competências, todo ano a gente avalia se tira uma ou se põe

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outra e, todos os conselheiros se avaliam e avaliam individualmente cada um ao outro.

E a gente faz um feedback disso, com um consultor independente coordenando e a gente

avalia em quais competências eu preciso reforçar. Ás vezes, eu preciso contratar um

ponta direita, alguém que tenha idealmente, as competências tais, tais e tais. Nunca é

perfeito. Você não consegue achar exatamente, mas a procura de um conselheiro é

direcionada para completar a competência do grupo”.

C8: “E, muitas vezes, as pessoas mudam de empresa. Então, ele foi comprador

do nosso produto na empresa A e ele mudou de país ou mudou de empresa e foi para

outra e vai querer trabalhar com a gente”.

C9: “O conselho é um time. O Presidente do Conselho é um maestro, mas não

existe vôo solo. O conselho é um colegiado que atua como colegiado. O Presidente do

Conselho não é chefe dos conselheiros. Ele é um coordenador. Ele trabalha para os

conselheiros. Monta pauta, não o que, mas ele trabalha para os conselheiros”.

C9: “a Fibria tem controle definido. Você tem no Conselho representantes dos

dois grupos, tem representantes da Votorantim, representantes do BNDES e tem dois

conselheiros independentes, eu e um outro. No início, você notava nitidamente na

reunião do conselho a presença do grupo de controle. Mas, não tinha nenhum assunto

importante que não tivesse sido tratado, como aliás prevê o acordo de acionistas, e

resolvido. Então, as reuniões eram meio frias. Você não tinha muita abertura para, não é

que não tivesse abertura, não tinha muita oportunidade para discutir os assuntos. com o

passar do tempo, os independentes e o próprio pessoal dos dois grupos, a gente

começou a discutir os assuntos e não se satisfazer com o que vinha resolvido, e dar uma

sugestão aqui e outra ali. E o negócio foi mudando...hoje você não sente mais a

presença dos grupos de controle. É um grupo que trabalha harmonicamente ali, os

assuntos são todos discutidos e resolvidos ali. E quando são assuntos de decisão do

controlador, eles primeiro vêm ao conselho e o conselho leva para os controladores a

posição do conselho”.

Teoria do Capital Social – Relações Sociais – Buracos Estruturais –

Board Interlocking.

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O que os entrevistados disseram:

C7: “Depois de 2009, quando eu passei ao Conselho, eu me ocupo praticamente

50% com o Conselho da Fibria e assuntos de interesse da Fibria. E aí, vai várias

atuações probono que eu faço do interesse da Fibria. E, os outros 50%, eu aplico em

outros 4 conselhos que eu participo. Então, eu sou do Conselho da Copersucar, sou do

Conselho do Banco Santander, sou do Conselho do Grupo Algar e sou do Conselho da

Química Amparo. Química Amparo faz os produtos Ipê. Detergente, essas coisas.

Então, é uma empresa de varejo, uma empresa de telefonia, um banco e um açúcar e

etanol. Alimento e combustível. E probono, eu me ligo muito na causa ambiental.

Então, eu tenho um protagonismo na coalisão Brasil, Floresta e Agricultura, que olha a

transição do Brasil para uma economia de baixo carbono e as mudanças climáticas. Eu

faço parte de um projeto corredor ecológico do Vale do Paraíba que visa fazer

interconexão de corredores, conectando a Mata Atlântica, que tem da Serra do Mar com

a da Serra da Mantiqueira, para melhorar a paisagem, a qualidade de vida daqui do Vale

do Paraíba e, lá em Minas, eu sou do Conselho da Rede Cidadã, que visa empregar

pessoas, jovens em dificuldade”.

C7: “Copersucar tem a mesma dinâmica que uma fábrica de...de uma empresa de

celulose. Você troca floresta por grandes canaviais, então você tem toda a relação com

pequenas comunidades, prefeituras, a relação com o empregado do campo, a lei de uso

do solo, o código florestal, isso tudo acontece”.

C7: “a Fibria tem um bom relacionamento com o WWF. Ontem, eu estava de

lado do Mauricio Voivodic, que é Presidente do WWF e, por exemplo, nós estamos

construindo também uma parceria lá (na Copersucar) que, para os grandes clientes dele,

isso é percebido como valor, como adequação. Logística internacional é a mesma coisa,

porto é a mesma coisa, financiamentos internacionais é a mesma coisa. Então, você tem

uma série de negócios que são muito paralelos”.

C7: “O Banco Santander tem hoje um foco de crescer no agronegócio, que é o

Brasil que está dando certo. Então, isso eu ajudo eles bem. E, no fundo, como eu estou

em vários conselhos de businesses diferentes, eu também ajudo o banco na percepção de

cinco setores da economia diferentes. Lá eu lidero o Comitê de Sustentabilidade e lidero

o Comitê de Auditoria Estatutária”.

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C7: “A competência que eu mais entrego nas diversas empresas é a relação de

gestão de gente, porque eu estou no comitê de pessoas e remuneração da Química

Amparo, da Algar, da Fibria. Toda empresa lida sempre com o desafio maior que é

atrair boas pessoas, desenvolvê-las, treiná-las, focá-las em resultado, construir um clima

de relacionamento motivador, desafiador e sustentável ao longo do tempo. Então,

praticamente em toda empresa que eu entro, a discussão maior é desenvolver o time de

diretores, de supervisores, motivá-los, remunerá-los alinhados com o interesse do

acionista”.

C9: “Agora estou na Embraer, em que sou presidente do Conselho. Isso toma um

tempo amplo. Estou na Fibria, estou no Grupo Ultra, estou na Votorantim Cimentos e

estou na Nitro Química”.

C9: “Eventualmente a gente pode até contratar um headhunter. Nunca foi o

caso, mas a gente procura, lista as pessoas, discute no comitê, leva ao conselho uma

sugestão do comitê, o conselho aprova ou não. E aí a gente identifica, dentro do

conselho, quais são as pessoas que tem, eventualmente, ligação com essas e aí, nós

contatamos as pessoas e a convidamos”. (Sobre a definição de novos conselheiros na

Embraer)

C9: “Eu conheci o Pedro em um conselho da Nitro Química, uma empresa

pequenininha que era do Grupo Votorantim, foi comprada por dois acionistas de private

equity e resolveram montar um conselho com duas pessoas de fora. E aí convidaram o

Pedro e convidaram a mim. E aí eu fiquei conhecendo o Pedro no conselho da Nitro

Química. E vi que o Pedro, além de ser ótimo químico, bom gestor, é um cara

excepcional, ótimo, de relacionamento bom, sabe se relacionar em um conselho, que

nem sempre é fácil. O Pedro, ele sabe colocar a opinião dele, mas sabe ouvir também. E

aí aconteceu uma coincidência aqui. Eu convidei o Pedro para vir para a Embraer. E ele

disse: mas eu quero te convidar para vir para o Ultra. E foi um negócio interessante. E

acabou dando certo”.

C9: “A gente estava com uma posição aqui (Embraer) e, eu observando o

desempenho do Raul, lá na Fibria, o Raul passou de CEO do Grupo Votorantim, para a

pessoa que chegava com o prato feito e punha na mesa, ele foi mudando e, de repente,

ele deixou de ser o chefe do conselho ali. E eu achei o cara inteligentíssimo,

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superpreparado e tal, e aí eu o convidei para vir para cá, porque eu conheci o

desempenho dele lá”.

C9: “você sabe que o que eu tenho feito de leverage de melhores práticas é

incrível. Uma coisa que eu vejo de bom aqui na Embraer, eu procuro levar para os meus

conselhos e trago para cá o que eu aprendo lá. E todo mundo faz isso. E a gente troca

informações. De vez em quando eu trago um diretor da Fibria aqui para fazer uma

apresentação aqui, em outra empresa, sobre um determinado assunto. Não competem,

né? Então, isso é ótimo. É muito rico”.

Teoria do Capital Social – Relações Sociais – Laços Fortes e Fracos.

O que os entrevistados disseram:

C7: “O senhor Lorentzen (Erling Lorentzen), que era o fundador da Aracruz, era

norueguês e muito ligado na causa ambiental, tanto que gostava de floresta, como todo

escandinavo e ele é que iniciou praticamente os plantios florestais no Brasil e motivou

outros a participar. Por exemplo, na Rio 92, ele, o Schmitheiner e o Eliezer Batista

foram os empresários mundiais que lideraram a interlocução do business com a área

ambiental para a discussão na conferência do clima do Rio. Depois disso, essa discussão

mobilizou a criação do WBCSD, que é o World Business Council for Sustainable

Development e que a Aracruz foi fundadora também. Nós também, pela Aracruz, fomos

uma das 32 empresas que participaram da Fundação do Global Compact, nas Nações

Unidas”.

C7: “Mas, você fala assim: você hoje está em uma interface com os clientes, não

mais. Interface com o cliente é diretamente com a diretoria executiva, com o CEO e a

diretoria comercial, diretoria técnica. Agora, o conselho acompanha essa relação e

eventualmente a gente em contatos, normalmente ocorre em duas situações: ou quando

a relação estressa ou quando comercialmente estressa, ou quando você estabelece um

relacionamento de alto nível voltado para a inovação, para a construção de reforço da

parceria estratégica. Aí o contato acontece no nível de conselho”.

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C7: “O presidente do Banco Mundial, na época se chamava John Wolfensohn,

me falou que na próxima década - isso era talvez 98, 97, então a gente estava falando da

virada do milênio – Ele falou assim: na próxima década, quem tiver qualidade,

adequação ambiental, tudo bem, é um pré-requisito. Mas, quem vai ser bem-sucedido é

quem entender a dimensão social do negócio. E aquilo me tocou e eu voltei pensando”.

C9: “Em 2004, 2005, eu conheci o Pedro (Luiz Passos) na Câmara Americana.

Eu era da Câmara Americana e ele também e tal. E aí, um dia, ele me falou: puxa vida,

a gente está pensando em internacionalizar a Natura. Será que a gente pode bater um

papo sobre isso? Eu convidei o Pedro e mais os diretores para visitarem a GE nos

Estados Unidos. Eu levei ele no Centro de Pesquisas da GE – Pesquisa e

Desenvolvimento, que é um negócio enorme e depois levei em Crotonville (Nova

Iorque), que é a universidade da GE. E lá, entre mil e outros assuntos, se falou sobre

gestão de pessoas em internacionalização. É natural. Isso tem mais de 10 anos”.

C9: “Aí convidamos uns engenheiros deles para virem para cá, conhecer a

empresa, o cara depois de muita chateação nossa e o americano nos ajudando, mandou

dois ou três engenheiros visitar a Celma. Chegaram aqui, o pessoal do Tenessee.

Olharam, gostaram da oficina, gostaram do país, caipirinha, aquele negócio todo, e

voltaram para lá e fizeram um relatório positivo. Enchemos a paciência do cara lá e ele,

para se livrar da gente, pensou: vou mandar dois motores e mandou”.

Teoria do Capital Social – Alianças Estratégicas.

O que os entrevistados disseram:

Sobre redução dos custos de transação:

C8: “Nós hoje somos praticamente fornecedores exclusivos de Kimberly-Clark

no mundo, de Procter&Gamble, dos grandes produtores. E fazemos todo um

desenvolvimento, não só de produtos, mas de serviços, visando valor agregado, visando

redução de custos, visando compartilhamento de ganhos. Então, isso permite que se

torne muito difícil a entrada de concorrentes”.

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Sobre novas habilidades e conhecimento:

C7: “Nós somos, talvez, uma das poucas empresas brasileiras que tem um

comitê de inovação extremamente atuante. Porquê inovação? Porque nós estamos em

um setor que oferece as soluções para a questão das mudanças climáticas. A gente

imagina que nós seremos provedores de soluções para a qualidade de vida da sociedade

na indústria de baixo carbono, que é um mundo que vem aí em 2030, 2040 e 2050. Nós

temos uma representação da Votorantim, uma representação do BNDES e dois

independentes”.

C8: “É um cliente, que está em vários lugares. Aí ele vende papel higiênico e ele

está em vários segmentos e ele quer um segmento premium, em que ele tenha maior

maciez. Então, eu preciso desenvolver uma fibra que tenha maior maciez. E, para isso,

vai desde o tipo de clone que você vai utilizar. E você desenvolve com o cliente, vai

fazendo testes. Só que leva tempo, porque você vai usar aquele clone e ele leva seis

anos para você cortar. E então são desenvolvimentos de longo prazo”.

Sobre legitimidade e aprimorar posicionamento estratégico:

C7: “Hoje nós já temos bastante equacionado nosso relacionamento com

comunidades indígenas, não temos atrito mais, apesar de que eles ainda vivem uma

qualidade de vida muito deficiente. Eu diria que, sinceramente, parece ser mais um

reflexo da inoperância da Funai, que os tutela pobremente. Temos uma relação hoje

adulta e construtiva com o movimento de luta pela terra. A Fibria é a única empresa

brasileira que eu falo que tem beijinho na bochecha com o MST, um stakeholder difícil

de se lidar. Então é uma posição de respeito, mas a gente consegue achar pontos de

cooperação”.

C7: “A Fibria fez uma liderança internacional grande, no WBCSD, na parte das

industrias florestais e hoje, nós estamos muito alinhados com o modelo do professor

Michael Porter, de shared value. Então, a gente às vezes é mencionada pelo professor

Michael Porter, também pelo John Elkington, como empresa que conseguiu construir o

senso de propósito”.

C8: “A Fibria sabe que tem que criar para o cliente diferenciações de produtos.

E, nessas diferenciações, vem muita coisa. Vem sustentabilidade. Então, para isso, você

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tem que ter todas as florestas certificadas, dizer que são florestas plantadas, são florestas

que obedecem rigorosamente a todos os princípios que regem a plantação de florestas e,

o cliente do cliente, valoriza isso. Então, ele (o cliente) coloca no rótulo, que é um

produto sustentável e explica como. Tem uma certificação. E, ás vezes, a gente concorre

com empresas, da Ásia, por exemplo, que não tem esse tipo de certificação. E o

concorrente não vai vender para o meu cliente, nem se ele der desconto, nem se ele

vender por 50% a menos”.

Sobre relações de confiança e embeddedness:

C7: “A Fibria é uma empresa da velha economia, ligada à terra, onde ela tem

que ter excelência de relacionamento com a sociedade”.

C7: “A Fibria consegue construir uma relação de longo prazo com clientes no

modelo de parceria estratégica, porque, por exemplo, nós temos clientes que compram

mais de 15% da nossa produção. Por exemplo, a Kimberly-Clark, nós somos o

fornecedor exclusivo dela em todas as fábricas do mundo. Às vezes ela mesma não sabe

o quanto ela precisa e o quanto ela tem de estoque porque a gente é que gerencia o

estoque delas”.

C7: “nós temos um grupo de pesquisa exclusivo para apoia-los (Kimberly-Clark

– K-C), com chinese wall e tudo para isso não fluir para outro concorrente. E é

interessante porque nós também somos fornecedores exclusivos da P&G, que é

concorrente da K-C. Então, o centro de pesquisa nosso tem um grupo de pesquisa só

para a Procter e um grupo de pesquisa só para a K-C e não se falam, sabe? Além disso,

eu abasteço também o concorrente deles que é a SCA na Europa e outros produtores de

tissue (papel toalha, papel higiênico) no mundo”.

C8: “Todo cliente, ele acaba tendo suas peculiaridades específicas e você precisa

conhecer o que é importante para ele. E ter a abertura de trabalhar em conjunto. Esse é o

grande objetivo. Se você não adaptar, não vai ter vantagem”.

C8: “Na medida em que esses grandes clientes começaram a valorizar nosso o

produto e começaram a nos colocar como fornecedor preferencial, é que nós

enxergamos o valor que nós começamos a ter junto a nossos clientes. E aí começamos

sempre a querer dar passos adicionais e esses passos vão sendo cada vez mais

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sofisticados e, aí a relação se torna cada vez mais sofisticada. Porque você começa,

muitas vezes, com passos simples. Então, você faz um entreposto próximo do cliente,

passa a estocar mercadoria para fazer entrega mais rápida, isso todo mundo copia. Isso é

fácil. Mas é um passo. Na medida em que você adquire relevância no cliente, o cliente

vai se tornando cada vez mais exigente. E ele começa a dizer o seguinte: olha, eu

preciso ter essa característica no produto e eu preciso desenvolver isso. E aí você passa

a trabalhar em conjunto. Você pega as duas áreas de pesquisa e desenvolvimento, do

cliente e a nossa, faz um plano de ação e, vão caminhando juntas, fazendo testes, e tem

avanços e tem retrocessos, até o momento em que você consegue emplacar exatamente

o que o cliente quer”.

C9: “Eu, conversando com ele, ele falou que a diferença não era no preço, que

era uma coisa parecida, o prazo de revisão era importante, porque o nosso era muito

bom, mas o melhor era o relacionamento. Eu confio em vocês. Você vê que coisa? O

americano tem uma característica diferente da nossa. Para eles, a coisa mais importante

que tem é a verdade. Se você mentir, é uma desgraça. Você pode tentar roubar ele. Ele

até entende. Mas não pode mentir”.

C9: “Você vê, mesmo lá na Fibria, o Raul é da indústria, o Penido é da indústria,

o Carlos Aguiar é da indústria, eles não se metem. Quando algum dono de empresa quer

falar com dono de empresa, eles falam com os Ermírio de Moraes. Ás vezes eles até

tentam ir para o Raul e ele encaminha direitinho, acionista com acionista”.

C9: “Porque, na verdade, é o seguinte: nesses relacionamentos, não é o diretor

que se relaciona com o diretor. O negócio é de baixo para cima. É o engenheiro, que

está feliz, o chefe dele, o diretor, o presidente, é claro que o cara lá de cima tem que

estar contente, mas o relacionamento não é imposto. Ele é conquistado e de baixo para

cima. Então, por exemplo, hoje, no caso da Fibria, os clientes, Kimberly-Clark e Procter

& Gamble, a Celma com Southwestern e Fedex, a estrutura de um lado se relaciona com

a estrutura do outro. E bem, em todos os níveis, senão não funciona”.

4.4.1 Análise Comparativa dos Entrevistados Fibria

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Analisando as respostas dos entrevistados, foi possível perceber que a maioria

das relações na Fibria se dá por meio de alianças estratégicas.

No caso da internacionalização, a relação de confiança da Fibria com seus

clientes globais é completa. Como já foi mencionado acima, a empresa é fornecedora

exclusiva da Procter & Gamble e Kimberly-Clark, sendo que, mais de 15% da produção

da empresa é entregue à K-C, considerando que a Fibria, inclusive, controla os estoques

do cliente.

Dando continuidade à construção de proposições por empresas, a partir do

cruzamento das teorias de capital social com as teorias de internacionalização, segue os

depoimentos que demonstram as proposições que explicam como o capital social dos

conselheiros de administração influenciam positivamente na internacionalização da

Fibria.

Relembrando que a teoria da dependência de recursos não foi utilizada nesta

análise pois as outras teorias – principalmente a de alianças estratégicas – contém

categorias idênticas ou similares à teoria da dependência de recursos.

As proposições são:

P1: Relações hierárquicas saudáveis entre conselheiros de administração e

gestores influenciam positivamente no desenvolvimento da empresa em diferentes

mercados e locais.

C9: “Quem dissemina uma cultura é o CEO. É claro que se a cultura dele tiver

em conflito com o conselho, não vai funcionar, claro”.

C9: "Na Fibria, eu já mentorei diretores alternadamente. Momentos em que eu

converso mais com o Castelli (marcelo Castelli - CEO). Não é que ele só tem um

mentor não. Ele tem mais. Dou atenção a ele para um determinado assunto. Com o

Aires (Aires Galhardo - Diretor de Operações) também, para outros assuntos."

C7: “A competência que eu mais entrego nas diversas empresas é a relação de

gestão de gente, porque eu estou no comitê de pessoas e remuneração da Química

Amparo, da Algar, da Fibria. Toda empresa lida sempre com o desafio maior que é

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atrair boas pessoas, desenvolvê-las, treiná-las, focá-las em resultado, construir um clima

de relacionamento motivador, desafiador e sustentável ao longo do tempo. Então,

praticamente em toda empresa que eu entro, a discussão maior é desenvolver o time de

diretores, de supervisores, motivá-los, remunerá-los alinhados com o interesse do

acionista. ”

P2: Relações hierárquicas saudáveis entre conselheiros de administração e

gestores influenciam positivamente o comprometimento da empresa na rede

internacional.

C9: "Quem dissemina uma cultura é o CEO. É claro que se a cultura dele tiver

em conflito com o conselho, não vai funcionar, claro. ”

C9: "Na Fibria, eu já mentorei diretores alternadamente. Momentos em que eu

converso mais com o Castelli (Marcelo Castelli - CEO). Não é que ele só tem um

mentor não. Ele tem mais. Dou atenção a ele para um determinado assunto. Com o

Aires (Aires Galhardo - Diretor de Operações) também, para outros assuntos."

P3: Relações hierárquicas saudáveis entre o conselho de administração e os

acionistas influenciam positivamente o desenvolvimento de diferentes mercados e

locais.

C7: “Quando eu me tornei Presidente do Conselho, nós estabelecemos com os

novos acionistas, que era Votorantim e BNDES, que eu tinha 3 objetivos principais que

era a governança, porque a Fibria nasceu de um grande erro de governança da Aracruz,

que foi a questão dos derivativos que nos custou mais de dois bilhões de dólares. O

segundo era a sustentabilidade, principalmente a relação com o social, que era muito

aguda e que podia caçar nossa licença de operar, a sociedade poderia não nos querer na

região. A parte ambiental era a menos relevante, mas a Aracruz tinha uma parte

ambiental relevante, que apesar de ela ser boa no ambiental, ela tinha certificações

Serflor, mas não tinha FSC por causa dos atritos sociais. E o terceiro era que, como nós

estávamos juntando duas empresas, eu ia ter atenção à formação da cultura Fibria e,

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principalmente, ao processo de sucessão dos executivos, porque nós tínhamos

executivos relativamente próximos de aposentadoria e nós tínhamos que fazer, primeiro,

a junção dos dois executivos e depois, a sucessão deles para uma geração mais jovem,

que hoje já está aqui funcionando. ”

P4: As redes fechadas dos conselheiros de administração influenciam

positivamente para o comprometimento da empresa na rede internacional.

C7: “Nós somos, talvez, uma das poucas empresas brasileiras que tem um

comitê de inovação extremamente atuante. Porquê inovação? Porque nós estamos em

um setor que oferece as soluções para a questão das mudanças climáticas. A gente

imagina que nós seremos provedores de soluções para a qualidade de vida da sociedade

na indústria de baixo carbono, que é um mundo que vem aí em 2030, 2040 e 2050. Nós

temos uma representação da Votorantim, uma representação do BNDES e dois

independentes. ”

C9: “a chance daquilo (startup investida) virar um negócio para nós é zero. A

gente quer aprender. A gente quer estar ali. Então, por exemplo, no Vale do Silício,

você tem montes de startups e gente e tal. Se uma Embraer chegar lá e quiser investir

em uma empresa, eles não vão levar a sério. Mas, se você já tiver um histórico de

investimento em pequenos startups, eles vão entender que você realmente leva essa

questão da inovação a sério. Essas definições de investimento acontecem no Conselho.

A estratégia, quanto vai investir, quanto não vai investir, esse tipo de coisa vem ao

conselho (sobre aquisições de startups). Aí depois a execução é da diretoria. ”

P5: Os conselheiros de administração, ao pertencerem a conselhos de

administração de diferentes empresas (board interlocking), influenciam

positivamente na identificação de oportunidades e mobilização de recursos da

empresa para a sua internacionalização.

C7: “A Fibria tem um bom relacionamento com o WWF. Ontem, eu estava de

lado do Mauricio Voivodic, que é Presidente do WWF e, por exemplo, nós estamos

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150

construindo também uma parceria lá (na Copersucar) que, para os grandes clientes dele,

isso é percebido como valor, como adequação. Logística internacional é a mesma coisa,

porto é a mesma coisa, financiamentos internacionais é a mesma coisa. Então, você tem

uma série de negócios que são muito paralelos. ”

C9: “De vez em quando eu trago um diretor da Fibria aqui para fazer uma

apresentação aqui, em outra empresa, sobre um determinado assunto. Não competem,

né? Então, isso é ótimo. É muito rico. ”

P6: Os laços fracos dos conselheiros de administração, construídos por meio

de relações de mercado, influenciam positivamente na identificação de

oportunidades e mobilização de recursos.

C7: “Um dos motivos que também me qualificou para vim trabalhar em um

outro setor, era que eu tinha uma vivência internacional grande que, para o mercado de

celulose, tem muito paralelismo entre uma operação de minérios de ferro e de celulose.

É uma commodity que, para quem é leigo parece tudo japonês, tudo igual, mas ela tem,

permite uma diferenciação de produtos que vincula o cliente, no longo prazo, com o

fornecedor. Então, não é assim uma commodity tão clara que você pode assim mudar de

uma hora para outra. Você lida com culturas diferentes, você tem um relacionamento,

então, tanto com os clientes quanto com o mercado financeiro internacional, quanto com

a parte de fretes marítimos e logística internacional. Então, isso foram competências que

eu transportei de um setor para o outro, além do entendimento cultural, respeito ao

relacionamento, à construção desse vínculo permanente que é o que faz o negócio

internacional ser bem-sucedido. ”

P8: O capital social, advindo das relações de mercado, dos conselheiros de

administração ajuda a manter coordenar e construir relacionamentos na rede,

aumentando o comprometimento entre as partes.

C7: “Um dos motivos que também me qualificou para vim trabalhar em um

outro setor, era que eu tinha uma vivência internacional grande que, para o mercado de

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celulose, tem muito paralelismo entre uma operação de minérios de ferro e de celulose.

É uma commodity que, para quem é leigo parece tudo japonês, tudo igual, mas ela tem,

permite uma diferenciação de produtos que vincula o cliente, no longo prazo, com o

fornecedor. Então, não é assim uma commodity tão clara que você pode assim mudar de

uma hora para outra. Você lida com culturas diferentes, você tem um relacionamento,

então, tanto com os clientes quanto com o mercado financeiro internacional, quanto com

a parte de fretes marítimos e logística internacional. Então, isso foram competências que

eu transportei de um setor para o outro, além do entendimento cultural, respeito ao

relacionamento, à construção desse vínculo permanente que é o que faz o negócio

internacional ser bem-sucedido. ”

C7: “O presidente do Banco Mundial, na época se chamava John Wolfensohn,

me falou que na próxima década - isso era talvez 98, 97, então a gente estava falando da

virada do milênio – Ele falou assim: na próxima década, quem tiver qualidade,

adequação ambiental, tudo bem, é um pré-requisito. Mas, quem vai ser bem-sucedido é

quem entender a dimensão social do negócio. E aquilo me tocou e eu voltei pensando. ”

C9: “Porque, na verdade, é o seguinte: nesses relacionamentos, não é o diretor

que se relaciona com o diretor. O negócio é de baixo para cima. É o engenheiro, que

está feliz, o chefe dele, o diretor, o presidente, é claro que o cara lá de cima tem que

estar contente, mas o relacionamento não é imposto. Ele é conquistado e de baixo para

cima. Então, por exemplo, hoje, no caso da Fibria, os clientes, Kimberly-Clark e Procter

& Gamble, a Celma com Southwestern e Fedex, a estrutura de um lado se relaciona com

a estrutura do outro. E bem, em todos os níveis, senão não funciona. ”

P13: A rede fechada do conselho de administração influencia positivamente

na redução da distância psíquica.

C7: “Hoje eu tenho uma fábrica de nanocelulose no Canadá e uma aqui. Eu

tenho pesquisas, participação em startups de transformar nanocelulose em tecido, eu

tenho uma série de coisas acontecendo...temos um centro de pesquisa na universidade

de Prints Columbia no Canadá, pesquisando lignina, que hoje eu queimo, mas que vai

ser material para eu fazer meu taco de golfe, para fazer liga de aviação, para fazer

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construção civil leve, automóveis. Então, a gente tanto faz a pesquisa de longa duração,

quanto faz a inovação mais moderna de rapidez. ”

P15: A rede fechada do conselho de administração influencia positivamente

na posição da empresa na rede de relacionamentos.

C9: “Você tem que ter no conselho pessoas que entendam da atividade,

entendam do mercado e mais o seguinte. O conselho precisa entender, que você para ter

sucesso, a questão do relacionamento é vital. Então, se você tiver um diretor comercial

que não estabeleça relacionamentos, não tem um perfil bom para isso e uma estrutura

que não esteja se relacionando, você tem obrigação de intervir. Sim, tem que intervir.

Mas não ir lá para estabelecer o relacionamento. Não. Tem que escolher as pessoas

certas. ”

P16: A rede fechada do conselho de administração influencia positivamente

na construção de relação de confiança.

C9: “A Fibria tem controle definido. Você tem no Conselho representantes dos

dois grupos, tem representantes da Votorantim, representantes do BNDES e tem dois

conselheiros independentes, eu e um outro. No início, você notava nitidamente na

reunião do conselho a presença do grupo de controle. Com o passar do tempo, os

independentes e o próprio pessoal dos dois grupos, a gente começou a discutir os

assuntos e não se satisfazer com o que vinha resolvido, e dar uma sugestão aqui e outra

ali. Hoje você não sente mais a presença dos grupos de controle. E quando são assuntos

de decisão do controlador, eles primeiro vêm ao conselho e o conselho leva para os

controladores a posição do conselho. ”

P17: A rede fechada do conselho de administração influencia positivamente

no reforço de alianças estratégicas por meio da construção de novas habilidades e

aquisição de conhecimento.

Page 156: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

153

C7: “Montar um conselho é extremamente importante para você ter sucesso. Por

exemplo, a Fibria, nós estamos, pelo 8º ano consecutivo, reavaliando o conselho. Eu

acho isso extremamente importante. A gente definiu: hoje nós temos 22 ou 23

competências críticas. Então, o que é uma competência crítica, por exemplo,

conhecimento do negócio é crítico, para qualquer empresa. Mas, para mim, entender

dessa dinâmica de mudança climática é crítico. Conhecer o cliente é crítico.

Conhecimentos jurídicos, é crítico. Resultados financeiros, claro que é fundamental.

Então, a gente listou essas competências, todo ano a gente avalia se tira uma ou se põe

outra e, todos os conselheiros se avaliam e avaliam individualmente cada um ao outro.

E a gente faz um feedback disso, com um consultor independente."

P21: Os conselheiros de administração, ao pertencerem a conselhos de

administração de diferentes empresas (board interlocking), influenciam

positivamente na posição da empresa na rede de relacionamentos.

C7: "Então, eu sou do Conselho da Copersucar, sou do Conselho do Banco

Santander, sou do Conselho do Grupo Algar e sou do Conselho da Química Amparo.

Química Amparo faz os produtos Ipê. Detergente, essas coisas. Então, é uma empresa

de varejo, uma empresa de telefonia, um banco e um açúcar e etanol. Alimento e

combustível. E probono, eu me ligo muito na causa ambiental. Então, eu tenho um

protagonismo na coalisão Brasil, Floresta e Agricultura, que olha a transição do Brasil

para uma economia de baixo carbono e as mudanças climáticas. Eu faço parte de um

projeto corredor ecológico do Vale do Paraíba que visa fazer interconexão de

corredores, conectando a Mata Atlântica, que tem da Serra do Mar com a da Serra da

Mantiqueira, para melhorar a paisagem, a qualidade de vida daqui do Vale do Paraíba e,

lá em Minas, eu sou do Conselho da Rede Cidadã, que visa empregar pessoas, jovens

em dificuldade”.

P22: Os laços fortes dos conselheiros de administração influenciam

positivamente na redução de custos de transação.

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154

C8: “Nós hoje somos praticamente fornecedores exclusivos de Kimberly-Clark

no mundo, de Procter&Gamble, dos grandes produtores. E fazemos todo um

desenvolvimento, não só de produtos, mas de serviços, visando valor agregado, visando

redução de custos, visando compartilhamento de ganhos. Então, isso permite que se

torne muito difícil a entrada de concorrentes. ”

P23: Os laços fortes dos conselheiros de administração influenciam

positivamente na busca da empresa por legitimidade.

C7: "Temos uma relação hoje adulta e construtiva com o movimento de luta pela

terra. A Fibria é a única empresa brasileira que eu falo que tem beijinho na bochecha

com o MST, um stakeholder difícil de se lidar. Então, é uma posição de respeito, mas a

gente consegue achar pontos de cooperação."

C7: "A Fibria fez uma liderança internacional grande, no WBCSD, na parte das

industrias florestais e hoje, nós estamos muito alinhados com o modelo do professor

Michael Porter, de shared value. Então, a gente às vezes é mencionada pelo professor

Michael Porter, também pelo John Elkington, como empresa que conseguiu construir o

senso de propósito."

C7: “Todos os conselheiros titulares participam também dos comitês e eu tenho

também comitês com membros externos. Então, sustentabilidade tem membros

externos, mas o comitê de remuneração também tem dois membros externos, o comitê

de auditoria estatutária é totalmente de gente externa, o de finanças tem um

representante do minoritário e o único que não tem é o de inovação, porque o de

inovação é a própria essência da estratégia da empresa. ”

C7: “A Fibria tem uma necessidade imensa de um relacionamento com

comunidades, porque a Fibria está em 253 municípios e, normalmente, são municípios

mais distantes de centros urbanos. A VCP estava mais em São Paulo, então, a gente não

tinha uma exposição com diferenças sociais tão grandes. Mas, quando a gente adquiriu a

Aracruz, a gente passou a ficar com interfaces com comunidades indígenas, com

comunidades quilombolas, com o MST, movimentos de luta pela terra ou simplesmente

comunidades empobrecidas que não tinham a consciência ou a organização social,

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155

capital social para atuar, às vezes eram comunidades aparentemente quilombolas, mas

sem a percepção de sua identidade. Então, a Fibria construiu uma metodologia bastante

formal de estabelecimento de contatos e engajamento com essas comunidades. ”

C7: “O senhor Lorentzen (Erling Lorentzen), que era o fundador da Aracruz, era

norueguês e muito ligado na causa ambiental, tanto que gostava de floresta, como todo

escandinavo e ele é que iniciou praticamente os plantios florestais no Brasil e motivou

outros a participar. Por exemplo, na Rio 92, ele, o Schmitheiner e o Eliezer Batista

foram os empresários mundiais que lideraram a interlocução do business com a área

ambiental para a discussão na conferência do clima do Rio. Depois disso, essa discussão

mobilizou a criação do WBCSD, que é o World Business Council for Sustainable

Development e que a Aracruz foi fundadora também. Nós também, pela Aracruz, fomos

uma das 32 empresas que participaram da Fundação do Global Compact, nas Nações

Unidas. ”

P24: Os laços fortes dos conselheiros de administração influenciam

positivamente no reforço das alianças estratégicas por meio do embeddedness.

C8: “A Fibria sabe que tem que criar para o cliente diferenciações de produtos.

E, nessas diferenciações, vem muita coisa. Vem sustentabilidade. Então, para isso, você

tem que ter todas as florestas certificadas, dizer que são florestas plantadas, são florestas

que obedecem rigorosamente a todos os princípios que regem a plantação de florestas e,

o cliente do cliente, valoriza isso. Então, ele (o cliente) coloca no rótulo, que é um

produto sustentável e explica como. Tem uma certificação. E, ás vezes, a gente concorre

com empresas, da Ásia, por exemplo, que não tem esse tipo de certificação. E o

concorrente não vai vender para o meu cliente, nem se ele der desconto, nem se ele

vender por 50% a menos. ”

C7: “Por exemplo, a Kimberly-Clark, nós somos o fornecedor exclusivo dela em

todas as fábricas do mundo. Às vezes ela mesma não sabe o quanto ela precisa e o

quanto ela tem de estoque porque a gente é que gerencia o estoque delas. ”

C7: “Nós temos um grupo de pesquisa exclusivo para apoia-los (Kimberly-Clark

– K-C), com chinese wall e tudo para isso não fluir para outro concorrente. E é

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156

interessante porque nós também somos fornecedores exclusivos da P&G, que é

concorrente da K-C. Então, o centro de pesquisa nosso tem um grupo de pesquisa só

para a Procter e um grupo de pesquisa só para a K-C e não se falam. ”

C7: “Interface com o cliente é diretamente com a diretoria executiva, com o

CEO e a diretoria comercial, diretoria técnica. Agora, o conselho acompanha essa

relação e eventualmente a gente em contatos, normalmente ocorre em duas situações: ou

quando a relação estressa ou quando comercialmente estressa, ou quando você

estabelece um relacionamento de alto nível voltado para a inovação, para a construção

de reforço da parceria estratégica. Aí o contato acontece no nível de conselho. ”

P25: Os laços fortes dos conselheiros de administração influenciam

positivamente no reforço de alianças estratégicas por meio da construção de novas

habilidades e aquisição de conhecimento.

C8: “É um cliente, que está em vários lugares. Aí ele vende papel higiênico e ele

está em vários segmentos e ele quer um segmento premium, em que ele tenha maior

maciez. Então, eu preciso desenvolver uma fibra que tenha maior maciez. E, para isso,

vai desde o tipo de clone que você vai utilizar. E você desenvolve com o cliente, vai

fazendo testes. Só que leva tempo, porque você vai usar aquele clone e ele leva seis

anos para você cortar. E então são desenvolvimentos de longo prazo. ”

C9: “Na Europa, Oriente Médio, por ali, a gente (Fibria) percebeu que vender

solução, não o algodão, vender a solução, quer dizer, o algodão já dissolvido em algum

solvente, é melhor para o cliente. O cliente já recebe a solução. Então, ele não tem que

fazer a solução. Então, provavelmente, a empresa vai montar um negocinho pequeno

para transformar o algodão em solução (lá na região). Mais fácil transportar, mais leve.

C8: “Na medida em que esses grandes clientes começaram a valorizar nosso o

produto e começaram a nos colocar como fornecedor preferencial, é que nós

enxergamos o valor que nós começamos a ter junto a nossos clientes. Na medida em

que você adquire relevância no cliente, o cliente vai se tornando cada vez mais exigente.

E ele começa a dizer o seguinte: olha, eu preciso ter essa característica no produto e eu

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157

preciso desenvolver isso. E aí você passa a trabalhar em conjunto. Você pega as duas

áreas de pesquisa e desenvolvimento, do cliente e a nossa, faz um plano de ação e, vão

caminhando juntas, fazendo testes, e tem avanços e tem retrocessos, até o momento em

que você consegue emplacar exatamente o que o cliente quer. ”

4.4.2 Conclusão da Análise Comparativa dos Entrevistados Fibria

As proposições acima colocadas responderam, a princípio, aos objetivos

específicos deste trabalho, que são (i) identificar e comparar elementos que demonstram

a influência do capital social dos conselheiros na gestão da empresa com relação à

internacionalização; (ii) identificar e comparar elementos que demonstram a influência

do capital social dos conselheiros de administração que são conselheiros em mais de

uma empresa (board interlocking) e (iii) identificar e comparar como o perfil e as

competências dos conselhos de administração evoluem junto à evolução de seu processo

de internacionalização.

Neste último objetivo especifico, pode-se notar que, diferentemente das

empresas analisadas anteriormente, a Fibria já exporta mais de 91% de sua produção há

muitos anos. Ou seja, mesmo produzindo somente no Brasil, a Fibria é uma empresa

que possui clientes globais e os atende onde quer que estejam. Por conta disso, não

houve a necessidade de adaptação do conselho por ocasião da internacionalização. Ao

contrário, a Fibria está em um movimento de identificação de administradores que

tenham competência em inovação.

A dinâmica do conselho (rede fechada do conselho), de acordo com os

depoimentos, influencia positivamente na construção de relacionamentos na rede e de

novas habilidades, aquisição de conhecimento, melhoria da posição da empresa na rede

de relacionamentos e seu respectivo comprometimento, além de influenciar

positivamente na construção de confiança com stakeholders.

Outro ponto relevante na Fibria é a forma como o board interlocking influencia

positivamente na identificação de oportunidades e mobilização de recursos da empresa

para a sua internacionalização, no desenvolvimento de diferentes mercados e locais e na

posição da empresa na rede de relacionamentos.

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158

Finalmente, o conselho da Fibria utiliza seus laços fortes de forma a influenciar

positivamente o reforço de alianças estratégicas na redução dos custos de transação, na

construção de novas habilidades e aquisição de conhecimento, do embeddedness e na

busca da empresa por legitimidade.

É possível concluir, de acordo com os depoimentos mencionados até o

momento, que as 16 proposições colocadas acima demonstram como o capital social

dos conselheiros influenciam positivamente na internacionalização das empresas.

5. CONCLUSÕES

5.1 Análise Comparativa dos Estudos de Caso e as Proposições

Na tabela 5 foi apresentado o racional sobre como as proposições foram

construídas. Cada depoimento que representa uma categoria da teoria do capital social e,

ao mesmo tempo, uma categoria das teorias de internacionalização (Uppsala, Uppsala

revisitado e alianças estratégicas), sugere a formação de uma nova proposição.

Esses cruzamentos demostram que, das empresas analisadas, em se tratando do

tema internacionalização de empresas, os capitais sociais mais utilizados foram: as

relações hierárquicas, principalmente a relação conselheiro de administração e gestão;

as redes fechadas, demonstrando que os conselheiros buscam sempre estar conectados

uns aos outros, em uma dinâmica de grupo que traz resultados e em uma estrutura na

qual as pessoas estão sempre ajudando e realizando atividades umas às outras. O Board

Interlocking pode ser uma consequência desse fenômeno. Porém, estudos adicionais

deveriam ser realizados para fazer essa afirmação.

Ao mesmo tempo, em se tratando do tema alianças estratégicas, as conexões das

redes fechadas entre conselheiros (dinâmica do conselho) continuaram aparecendo nos

depoimentos, sendo que foi possível notar a necessidade da construção de laços fortes

para o fortalecimento das alianças estratégicas entre empresas, comunidades e

stakeholders específicos, necessários para o bom funcionamento das empresas.

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Tabela 5: Matriz de Proposições Depoimentos das Entrevistas em relação às Teorias de Capital Social e de Internacionalização – Uppsala,

Uppsala Revisado e Alianças Estratégicas.

REDE ABERTA REDE FECHADABURACOS

ESTRUTURAIS LAÇOS FORTES LAÇOS FRACOS

TEORIA DE UPPSALA -

PAÍSES COM MENOR OU MAIOR

DISTÂNCIA PSÍQUICA (liability of

foreigness)

P13

TEORIA DE UPPSALA -

REDES DE RELACIONAMENTO

(liability of outsidership)

TEORIA DE UPPSALA

REVISITADA - IDENTIFICAR

OPORTUNIDADES E MOBILIZAR

RECURSOS

P5 P6

TEORIA DE UPPSALA

REVISITADA - DESENVOLVER

DIFERENTES MERCADOS E

LOCAIS

P1/P3 P14 P20 P7

TEORIA DE UPPSALA

REVISITADA - CONSTRUIR,

MANTER E COORDENAR

RELACIONAMENTOS NA REDE

P8 P9

TEORIA DE UPPSALA

REVISITADA -

COMPROMETIMENTO NA REDE

P8 P2 P4

TEORIA DE UPPSALA

REVISITADA -POSIÇÃO DA

EMPRESA NA REDE DE

RELACIONAMENTOS

P15 P21

TEORIA DE UPPSALA

REVISITADA -CONSTRUÇÃO DE

RELAÇÃO DE CONFIANÇA

P10 P16

INTERNACIONALIZAÇÃO X CAPITAL SOCIAL DO CONSELHEIRO

CAPITAL SOCIAL CAPITAL SOCIAL

RELAÇÕES SOCIAISRELAÇÕES DE

MERCADO

RELAÇÕES

HIERÁRQUICAS

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160

REDE ABERTA REDE FECHADA

BURACOS

ESTRUTURAIS

(BOARD

INTERLOCKING)

LAÇOS FORTES LAÇOS FRACOS

ALIANÇAS ESTRATÉGICAS -

REDUÇÃO CUSTOS DE

TRANSAÇÃO

P22

ALIANÇAS ESTRATÉGICAS -

NOVAS HABILIDADES E

AQUISIÇÃO DE

CONHECIMENTO

P17 P25

ALIANÇAS ESTRATÉGICAS -

BUSCA POR LEGITIMIDADEP11 P18 P23

ALIANÇAS ESTRATÉGICAS -

POSICIONAMENTO

ESTRATÉGICO

P12 P19

ALIANÇAS ESTRATÉGICAS

(EMBEDDEDNESS)P24

INTERNACIONALIZAÇÃO X CAPITAL SOCIAL DO CONSELHEIRO

CAPITAL SOCIAL CAPITAL SOCIAL

RELAÇÕES SOCIAIS

RELAÇÕES

HIERÁRQUICAS

RELAÇÕES DE

MERCADO

Fonte: Autora (2018), com base na metodologia Adler e Kwon (2002) – a partir das teorias de capital social e relações sociais descritas

por Granovetter (1973); Coleman (1988) e Burt (1992) – cruzadas com o Modelo de Uppsala, Uppsala Revisitado de Johanson e Vahlne (2003,

2009, 2013) e alianças estratégicas de Gulati e Singh (1998) e embeddedness de Granovetter (1985).

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161

5.2 Análise Quantitativa das Proposições

Após a segunda guerra mundial, a análise de conteúdo se espalhou por inúmeras

disciplinas. Psicólogos começaram a utilizar a análise de conteúdo em quatro áreas

primárias: (i) inferência de características motivacionais, mentais ou pessoais, (ii) uso

de informação verbal colhida em formato de entrevistas, (iii) processo de comunicação

no qual o conteúdo é parte integrante, como o comportamento de grupo e, finalmente, a

última aplicação (iv) tomou a forma de medições generalizadas de significados sobre

uma série de situações e culturas (KRIPPENDORF, 2012).

Visando fazer algumas medições generalizadas sobre algumas situações

encontradas nas respostas das entrevistas, a pesquisadora realizou algumas comparações

das proposições.

Gráfico 1: Análise quantitativa de proposições

Fonte: Autora (2018)

Ao comparar as proposições no gráfico 1, foi possível perceber que as

proposições 1, 4 e 5 foram as únicas mencionadas pelas três empresas, sendo que as

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162

proposições com a maior quantidade de depoimentos foram as proposições 2, 8 e 23,

seguidas das proposições 1, 4, 5 e 24.

O que pode ser percebido foi que as proposições com maior frequência e

presença nas empresas são:

P1: Relações hierárquicas saudáveis entre conselheiros de administração e

gestores influenciam positivamente no desenvolvimento da empresa em diferentes

mercados e locais

P4: As redes fechadas dos conselheiros de administração influenciam

positivamente para o comprometimento da empresa na rede internacional.

P5: Os conselheiros de administração, ao pertencerem a conselhos de

administração de diferentes empresas (board interlocking), influenciam positivamente

na identificação de oportunidades e mobilização de recursos da empresa para a sua

internacionalização.

Isso significa que, independente da estratégia definida pela empresa, essas

proposições sempre acontecerão e, por isso, podem ser denominadas variáveis

independentes.

Sobre as proposições com maior volume de depoimentos, ou seja, as mais

mencionadas, independentemente da empresa ou do entrevistado, foram:

P2: Relações hierárquicas saudáveis entre conselheiros de administração e

gestores influenciam positivamente o comprometimento da empresa na rede

internacional.

P8: O capital social, advindo das relações de mercado, dos conselheiros de

administração ajuda a manter coordenar e construir relacionamentos na rede,

aumentando o comprometimento entre as partes.

P23: Os laços fortes dos conselheiros de administração influenciam

positivamente na busca da empresa por legitimidade.

Page 166: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

163

Gráfico 2: Quantidade de depoimentos que mencionam o Capital Social

Fonte: Autora (2018)

Gráfico 3: Quantidade de depoimentos voltados à internacionalização

Fonte: Autora (2018)

As categorias de capital social mais mencionadas nos depoimentos foram as

categorias relacionadas a relações sociais, principalmente no que se refere às redes

fechadas – o que mostra a importância da dinâmica do conselho – e a importância do

uso dos laços fortes e fracos no impacto positivo à internacionalização – o que também

mostra como os relacionamentos trazem resultados às corporações.

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164

Um caso bem interessante foi encontrado pela pesquisadora durante a análise das

matérias publicadas nos principais veículos de negócios do país. No caso, a venda de

florestas de uma empresa à outra pareceu ser resultado do Board Interlocking de C8.

A matéria citada foi publicada no jornal Valor Econômico, no dia 06/12/2016,

com o título: “Duratex vende florestas de eucalipto à Fibria por R$ 74,8 milhões”.

Quanto ao impacto positivo causado, a maioria dos depoimentos relativos à

internacionalização se referiram a questões diretamente ligadas à teoria de Uppsala

revisitada e, em segundo lugar, à construção de alianças estratégicas entre as empresas

analisadas e seus clientes e/ou stakeholders relevantes como as comunidades vizinhas à

empresa.

Na tabela 6, a pesquisadora apresenta uma comparação das empresas,

depoimentos relacionados e suas respectivas proposições.

Page 168: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

165

Tabela 6: Matriz comparativa dos depoimentos dos entrevistados nas proposições apresentadas.

PROPOSIÇÕES DURATEX NATURA FIBRIA

P1: Relações

hierárquicas saudáveis

entre conselheiros de

administração e

gestores influenciam

positivamente no

desenvolvimento da

empresa em diferentes

mercados e locais

C3: “C8, da Fibria, me ajudou

bastante. Principalmente nos

primeiros momentos em que a gente

ainda estava precisando de ajuda,

mesmo para definir aonde exportar,

com quem falar, como desenvolver

esse mercado, novos agentes, etc.

Ele me apresentou a algumas

pessoas, sim. Ele me colocou em

contato com operadores logísticos,

deu dicas importantíssimas de

locais de operação, maneiras de

operar distintas”.

C6: “Desde que eu entrei no Brasil,

eu sempre tive um conselheiro que

tinha mais dedicação. No começo

foi o Júlio Moura e daí,

recentemente, no ano passado,

quando o Roberto Lima saiu, eu

comecei a me reportar diretamente

para o Presidente do Conselho, na

pessoa do Pedro Passos e depois

para o Guilherme e hoje Roberto

Marques. Então, eu sempre tive

acesso ao conselho”.

C9: "Quem dissemina uma cultura é o

CEO. É claro que se a cultura dele

tiver em conflito com o conselho, não

vai funcionar”.

C9: “Na Fibria, eu já mentorei

diretores alternadamente”.

C7: “A competência que eu mais

entrego nas diversas empresas é a

relação de gestão de gente, porque eu

estou no comitê de pessoas e

remuneração da Química Amparo, da

Algar, da Fibria. Então, praticamente

em toda empresa que eu entro, a

discussão maior é desenvolver o time

de diretores, de supervisores, motivá-

los, remunerá-los alinhados com o

interesse do acionista.”

P2: Relações

hierárquicas saudáveis

entre conselheiros de

administração e

gestores influenciam

positivamente o

comprometimento da

empresa na rede

internacional.

C3: “Os maiores desafios da minha

relação com o conselho foi a

consciência do corpo do conselho, e

não de alguns conselheiros. E,

depois, ter os sponsors para

patrocínio. E cobrar, também”.

C3: “O papel do executivo junto ao

conselho é dar o nível de

informação relevante para que a

decisão seja tomada. O nível de

C9: "Quem dissemina uma cultura é o

CEO. É claro que se a cultura dele

tiver em conflito com o conselho, não

vai funcionar”.

C9: "Na Fibria, eu já mentorei

diretores alternadamente”.

Page 169: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

166

profundidade que eu vou ter numa

conversa com o sócio que é

madeireiro e que eu vou ter com o

sócio não madeireiro é distinto”.

P3: Relações

hierárquicas saudáveis

entre o conselho de

administração e os

acionistas influenciam

positivamente o

desenvolvimento de

diferentes mercados e

locais.

C1: “A Itausa é uma holding que

não exerce o poder. O poder está

nos conselhos das empresas. Os

conselhos, no caso da Itausa, têm

um poder muito grande. Eles têm

nível de alçada. Então, um

investimento de até 10% do

patrimônio líquido é feito no nível

dos conselhos. Se for mais de 10%

do patrimônio, aí eles consultam os

acionistas. No caso da compra da

Tablemac, o investimento era

pequeno, não chegava nos 10%.

Mas, mesmo assim, a Duratex foi

na Itausa conversar. É bom ter uma

interação entre conselho e

acionistas saudável. ”

C1: “Você pode ser o conselheiro

independente, mas isso não

significa que não precisa trocar

experiências, oportunidades, coisas

que vão impactar a vida de uma

empresa tão grande, como

internacionalizar a empresa,

realmente o acionista, é bom estar,

no mínimo, sabendo”.

C7: “Quando eu me tornei Presidente

do Conselho, nós estabelecemos com

os novos acionistas, que era

Votorantim e BNDES, que eu tinha 3

objetivos principais que era a

governança, porque a Fibria nasceu de

um grande erro de governança da

Aracruz, que foi a questão dos

derivativos que nos custou mais de

dois bilhões de dólares. O segundo era

a sustentabilidade, principalmente a

relação com o social, que era muito

aguda e que podia caçar nossa licença

de operar, a sociedade poderia não nos

querer na região. A parte ambiental

era a menos relevante, mas a Aracruz

tinha uma parte ambiental relevante,

que apesar de ela ser boa no

ambiental, ela tinha certificações

Serflor, mas não tinha FSC por causa

dos atritos sociais. E o terceiro era

que, como nós estávamos juntando

duas empresas, eu ia ter atenção à

formação da cultura Fibria e,

principalmente, ao processo de

sucessão dos executivos, porque nós

Page 170: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

167

tínhamos executivos relativamente

próximos de aposentadoria e nós

tínhamos que fazer, primeiro, a junção

dos dois executivos e depois, a

sucessão deles para uma geração mais

jovem, que hoje já está aqui

funcionando”.

P4: As redes fechadas

dos conselheiros de

administração

influenciam

positivamente para o

comprometimento da

empresa na rede

internacional.

C8: “A minha ajuda na Duratex foi

a de poder estabelecer no conselho

uma política de longo prazo de

exportação. Acho que esse foi o

principal ponto. Porque uma vez

estabelecido isso e tendo uma

política aprovada pelo conselho,

então o executivo pode fazer planos

de longo prazo e ele pode assumir

compromissos com o cliente, que

ele vai colher frutos ao longo do

tempo. Senão, ele não assume esses

compromissos e ele está sempre no

spot e a exportação é (será) sempre

o patinho feio”.

C5: “O Conselho participa

intensamente destas discussões,

diferente de algumas empresas que

tem controladores familiares, em

que o controlador já chega com a

decisão pronta e você tem que

questionar, perguntar, mas já está

tudo tomado. Na Natura se discute

muito isso”.

C5: “Mas enfim, foi um processo

rapidíssimo (a compra da TBS).

Como a gente estava, não digo que

meio preparado, mas o assunto já

tinha sido mastigado em algum

momento, a gente pôde participar e,

felizmente, nos saímos bem,

levamos. Mas, de novo, o conselho

foi fundamental. A maioria do

conselho é independente na Natura,

porque são só os três”.

C7: “Nós somos, talvez, uma das

poucas empresas brasileiras que tem

um comitê de inovação extremamente

atuante. Porquê inovação? Porque nós

estamos em um setor que oferece as

soluções para a questão das mudanças

climáticas. A gente imagina que nós

seremos provedores de soluções para a

qualidade de vida da sociedade na

indústria de baixo carbono, que é um

mundo que vem aí em 2030, 2040 e

2050. Nós temos uma representação

da Votorantim, uma representação do

BNDES e dois independentes.”

C9: “a chance daquilo (startup

investida) virar um negócio para nós é

zero. A gente quer aprender. A gente

quer estar ali. Então, por exemplo, no

Vale do Silício, você tem montes de

startups e gente e tal. Se uma Embraer

chegar lá e quiser investir em uma

empresa, eles não vão levar a sério.

Page 171: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

168

Mas, se você já tiver um histórico de

investimento em pequenos startups,

eles vão entender que você realmente

leva essa questão da inovação a sério.

Essas definições de investimento

acontecem no Conselho. A estratégia,

quanto vai investir, quanto não vai

investir, esse tipo de coisa vem ao

conselho (sobre aquisições de

startups). Aí depois a execução é da

diretoria. ”

P5: Os conselheiros de

administração, ao

pertencerem a

conselhos de

administração de

diferentes empresas

(board interlocking),

influenciam

positivamente na

identificação de

oportunidades e

mobilização de

recursos da empresa

para a sua

internacionalização.

C8: “O fato de você estar em vários

conselhos te permite também

aprender muito. Você aprende os

diferentes negócios, diferentes tipos

de problemas e, tudo isso, acaba

servindo para que você possa

melhorar o desempenho nas outras

empresas e você possa realmente

colaborar e agregar valor. Então, eu

acho que o fato de conselheiros

estarem em diferentes setores traz

muita agregação de valor”.

C5: “na Cielo, eu participei em

uma aquisição de uma empresa nos

Estados Unidos, na Califórnia,

então eu trouxe essa experiência já

na aquisição da Aesop, dos

cuidados que tem que ter, dos

reflexos que isso traz na

contabilidade aqui, por causa da

conversão de moedas, o head

account, o famoso head account,

essas coisas”.

C6: “O conselho também mudou de

participantes, participantes mais

internacionais. Brasileiros, mas

com vivência internacional. Isso é

muito importante. E então, teve

uma evolução no próprio conselho

e, eu acho que no conhecimento

dos conselheiros que ficaram.

C7: “A Fibria tem um bom

relacionamento com o WWF. Ontem,

eu estava de lado do Mauricio

Voivodic, que é Presidente do WWF

e, por exemplo, nós estamos

construindo também uma parceria lá

(na Copersucar) que, para os grandes

clientes dele, isso é percebido como

valor, como adequação. Logística

internacional é a mesma coisa, porto é

a mesma coisa, financiamentos

internacionais é a mesma coisa. Então,

você tem uma série de negócios que

são muito paralelos”.

C9: “De vez em quando eu trago um

diretor da Fibria aqui para fazer uma

apresentação aqui, em outra empresa,

sobre um determinado assunto. Não

competem, né? Então, isso é ótimo. É

Page 172: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

169

Então, essa combinação permitiu

que a gente contemplasse um

movimento tão grande quanto nós

fizemos com a Body Shop”.

muito rico”.

P6: Os laços fracos dos

conselheiros de

administração,

construídos por meio

de relações de

mercado, influenciam

positivamente na

identificação de

oportunidades e

mobilização de

recursos.

C3: "Um dos nossos sócios, já

conhecia um dos donos da

Tablemac naquela ocasião. Então,

teve uma aproximação entre

conselhos e a gente tinha esse

executivo, que cuidava da parte de

M&A da companhia, que sempre

foi um entusiasta desse projeto.

Então, ele se aproximou muito do

principal executivo, que ainda está

na Colômbia até hoje, o Juan

Fernando, se aproximou bastante

dele para tentar viabilizar de alguma

maneira o negócio".

C3: “Sobre a compra da Tablemac

pela Duratex, a aproximação se deu

via sócios e executivos. A

Tablemac não estava à venda. Teve

uma intermediação com algum

banco de investimento só depois”.

C7: “Um dos motivos que também me

qualificou para vim trabalhar em um

outro setor, era que eu tinha uma

vivência internacional grande que,

para o mercado de celulose, tem muito

paralelismo entre uma operação de

minérios de ferro e de celulose. É uma

commodity que, para quem é leigo

parece tudo japonês, tudo igual, mas

ela tem, permite uma diferenciação de

produtos que vincula o cliente, no

longo prazo, com o fornecedor. Então,

não é assim uma commodity tão clara

que você pode assim mudar de uma

hora para outra. Você lida com

culturas diferentes, você tem um

relacionamento, então, tanto com os

clientes quanto com o mercado

financeiro internacional, quanto com a

parte de fretes marítimos e logística

internacional. Então, isso foram

competências que eu transportei de um

setor para o outro, além do

entendimento cultural, respeito ao

relacionamento, à construção desse

vínculo permanente que é o que faz o

Page 173: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

170

negócio internacional ser bem-

sucedido”.

C7: “O presidente do Banco Mundial,

na época se chamava John

Wolfensohn, me falou que na próxima

década - isso era talvez 98, 97, então a

gente estava falando da virada do

milênio – Ele falou assim: na próxima

década, quem tiver qualidade,

adequação ambiental, tudo bem, é um

pré-requisito. Mas, quem vai ser bem-

sucedido é quem entender a dimensão

social do negócio. E aquilo me tocou e

eu voltei pensando”.

P7: Os laços fracos dos

conselheiros de

administração,

construídos por meio

de relações de

mercado, influenciam

positivamente no

desenvolvimento de

diferentes mercados e

locais.

C3: “E sobre a visão de negócios, a

família Seibel, são pessoas do

negócio madeireiro, eles trouxeram

muitos inputs, dicas de agentes

comerciais, eles fizeram toda uma

mudança de base”.

P8: O capital social,

advindo das relações de

mercado, dos

conselheiros de

administração ajuda a

manter coordenar e

C6: “O papel que os fundadores

fazem não é um papel executivo. É

um papel inspirador. E a gente tem

que aproveitar isso ao máximo. São

pessoas extraordinárias que tem

muita energia e conhecimento. Para

C7: “Um dos motivos que também me

qualificou para vim trabalhar em um

outro setor, era que eu tinha uma

vivência internacional grande que,

para o mercado de celulose, tem muito

paralelismo entre uma operação de

Page 174: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

171

construir

relacionamentos na

rede, aumentando o

comprometimento entre

as partes.

eles falarem com um grupo de

pessoas, passa a inspiração. E essas

pessoas passam essa inspiração”.

C4: “Agora, recentemente, eu vim

de uma viagem para conhecer os

nossos franqueados da Body Shop

do Oriente Médio e todos com

jeitos diferentes, empresas de

tamanhos diferentes, franqueados

muito grandes, que tomam conta de

países. Então são empresas muito

organizadas, não são franqueados

como a gente vê aqui, cara que tem

duas ou três lojas. Pelo menos o

que eu senti, na cultura Oriente

Médio, o relacionamento é

fundamental também e eu nem

estou falando de governo aqui não.

A relação é: o cara pega na tua

mão, segura no primeiro jantar e

diz: “Então, é pra valer? Posso

confiar?”.

C6: “E daí a gente passou o

primeiro mês visitando os

franqueados. Então, a gente

conseguiu a vantagem de ter três

fundadores é que eu consegui que o

senhor Luiz conhecesse os

franqueados da Europa em

Londres, eu me encontrei com o

minérios de ferro e de celulose. É uma

commodity que, para quem é leigo

parece tudo japonês, tudo igual, mas

ela tem, permite uma diferenciação de

produtos que vincula o cliente, no

longo prazo, com o fornecedor. Então,

não é assim uma commodity tão clara

que você pode assim mudar de uma

hora para outra. Você lida com

culturas diferentes, você tem um

relacionamento, então, tanto com os

clientes quanto com o mercado

financeiro internacional, quanto com a

parte de fretes marítimos e logística

internacional. Então, isso foram

competências que eu transportei de um

setor para o outro, além do

entendimento cultural, respeito ao

relacionamento, à construção desse

vínculo permanente que é o que faz o

negócio internacional ser bem-

sucedido.”

C7: “O presidente do Banco Mundial,

na época se chamava John

Wolfensohn, me falou que na próxima

década - isso era talvez 98, 97, então a

gente estava falando da virada do

milênio – Ele falou assim: na próxima

década, quem tiver qualidade,

adequação ambiental, tudo bem, é um

Page 175: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

172

Guilherme na Singapura para

encontrar os franqueados da Ásia, e

daí eu me encontrei com o Pedro

em Dubai para conhecer os

franqueados do Oriente Médio”.

pré-requisito. Mas, quem vai ser bem-

sucedido é quem entender a dimensão

social do negócio. E aquilo me tocou e

eu voltei pensando.”

C9: “Porque, na verdade, é o seguinte:

nesses relacionamentos, não é o

diretor que se relaciona com o diretor.

O negócio é de baixo para cima. É o

engenheiro, que está feliz, o chefe

dele, o diretor, o presidente, é claro

que o cara lá de cima tem que estar

contente, mas o relacionamento não é

imposto. Ele é conquistado e de baixo

para cima. Então, por exemplo, hoje,

no caso da Fibria, os clientes,

Kimberly-Clark e Procter & Gamble,

a Celma com Southwestern e Fedex, a

estrutura de um lado se relaciona com

a estrutura do outro. E bem, em todos

os níveis, senão não funciona”.

P9: O capital social,

advindo das relações

hierárquicas, dos

conselheiros de

administração ajuda a

manter coordenar e

construir

relacionamentos na

rede, aumentando o

comprometimento entre

C6: “O papel que os fundadores

fazem não é um papel executivo. É

um papel inspirador. E a gente tem

que aproveitar isso ao máximo. São

pessoas extraordinárias que tem

muita energia e conhecimento. Para

eles falarem com um grupo de

pessoas, passa a inspiração. E essas

pessoas passam essa inspiração”.

Page 176: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

173

as partes.

P10: Relações

hierárquicas saudáveis

entre conselheiros de

administração e

gestores influenciam

positivamente na

construção de relações

de confiança junto aos

stakeholders.

C6: “quando eu tive a oportunidade

de ser mentorado pelo sr. Luiz, isso

me ajudou muito. Por exemplo, se

eu estou em uma situação que eu

tenho que tomar uma decisão, eu

reflito. Puxa, deixa eu pensar nessa

empresa fundada pelo sr. Luiz.

Como é que ele falaria”.

P11: O capital social,

advindo das relações de

mercado, dos

conselheiros de

administração ajuda

positivamente a

construir legitimidade

da empresa na

construção de alianças

estratégicas.

C6: “E daí a gente passou o

primeiro mês visitando os

franqueados. Então, a gente

conseguiu a vantagem de ter três

fundadores é que eu consegui que o

senhor Luiz conhecesse os

franqueados da Europa em

Londres, eu me encontrei com o

Guilherme na Singapura para

encontrar os franqueados da Ásia, e

daí eu me encontrei com o Pedro

em Dubai para conhecer os

franqueados do Oriente Médio”

P12: O capital social,

advindo das relações de

mercado, dos

conselheiros de

administração ajuda

positivamente a

melhorar o

C4: “Teve uma escolha dos

fundadores da Aesop, que

preferiram, até aonde a gente sabe,

nos detalhes, preferiram a Natura

como sendo a adquirente do que

um estratégico, uma grande

corporação ou um private equity,

Page 177: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

174

posicionamento

estratégico da empresa

em suas alianças

estratégicas.

etc, porque eles acreditavam que a

Natura teria condições de respeitar

mais, enfim, os valores da

empresa".

P13: A rede fechada do

conselho de

administração

influencia

positivamente na

redução da distância

psíquica.

C4: “Nesse interim, a gente teve

uma loja na França, alguma

atividade na França de

internacionalização, mais ou menos

o mesmo desastre da América

Latina, um prejuízo acumulado de

muitos anos, e sem muita

perspectiva de como crescer.

Então, eu acho que, o que caiu a

ficha no exercício de 2010 até 2012

é que uma internacionalização mais

relevante não se daria de forma

orgânica e sim, através de uma

aquisição, M&A, etc”.

C7: “Hoje eu tenho uma fábrica de

nanocelulose no Canadá e uma aqui.

Eu tenho pesquisas, participação em

startups de transformar nanocelulose

em tecido, eu tenho uma série de

coisas acontecendo...temos um centro

de pesquisa na universidade de Prints

Columbia no Canadá, pesquisando

lignina, que hoje eu queimo, mas que

vai ser material para eu fazer meu taco

de golfe, para fazer liga de aviação,

para fazer construção civil leve,

automóveis. Então, a gente tanto faz a

pesquisa de longa duração, quanto faz

a inovação mais moderna de rapidez.”

P14: A rede fechada do

conselho de

administração

influencia

positivamente no

desenvolvimento de

diferentes mercados e

locais.

C4: “mais ou menos em 2010, a

gente começou a analisar

alternativas de crescimento olhando

para um cenário onde o Brasil

poderia não ter as taxas de

crescimento que vinha tendo. Ou

seja, havia uma perspectiva de...até

onde a Natura vai com esse market

share, então, ...a América Latina ia

bem, mas com a necessidade de a

gente começar a olhar um pouco

Page 178: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

175

mais para outras geografias. E aí,

nós fizemos um trabalho de

pesquisa e aproximação com

empresas, seja para M&A, seja

para aquisições, etc e tal...algumas

grandes, outras menores, e acho

que foi em 2012, depois de não ter

feito uma grande operação, que a

gente resolveu não levar à frente, a

gente acabou fazendo a aquisição

da Aesop”.

P15: A rede fechada do

conselho de

administração

influencia

positivamente na

posição da empresa na

rede de

relacionamentos.

C6: “O conselho também mudou de

participantes, participantes mais

internacionais. Brasileiros, mas

com vivência internacional. Isso é

muito importante. E então, teve

uma evolução no próprio conselho

e, eu acho que no conhecimento

dos conselheiros que ficaram.

Então, essa combinação permitiu

que a gente contemplasse um

movimento tão grande quanto nós

fizemos com a Body Shop”.

C9: “Você tem que ter no conselho

pessoas que entendam da atividade,

entendam do mercado e mais o

seguinte. O conselho precisa entender,

que você para ter sucesso, a questão

do relacionamento é vital. Então, se

você tiver um diretor comercial que

não estabeleça relacionamentos, não

tem um perfil bom para isso e uma

estrutura que não esteja se

relacionando, você tem obrigação de

intervir. Sim, tem que intervir. Mas

não ir lá para estabelecer o

relacionamento. Não. Tem que

escolher as pessoas certas.”

P16: A rede fechada do

conselho de

administração

influencia

C6: “Hoje o conselho é equilibrado

porque os três fundadores estão no

conselho. Não é um conselheiro,

não é um fundador. São os três. E a

C9: “O conselho é um time. O

Presidente do Conselho é um maestro,

mas não existe vôo solo. O conselho é

um colegiado que atua como

Page 179: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

176

positivamente na

construção de relação

de confiança

combinação, quando tem uma

convicção e uma coerência, é muito

forte”.

C5: "Se amanhã eles vendem a

empresa para um qualquer, a

Natura vale muito menos. O Luiz

Seabra, que é quem começou tudo

e é o fundador mais fundador do

que os outros, ele é a alma da

Natura, todo esse espírito. Depois

vem o Guilherme, o Pedro. Então,

eles têm essa coisa, é muito forte”.

colegiado. O Presidente do Conselho

não é chefe dos conselheiros. Ele é um

coordenador. Ele trabalha para os

conselheiros. Monta pauta, não o que,

mas ele trabalha para os conselheiros.”

C9: “A Fibria tem controle definido.

Você tem no Conselho representantes

dos dois grupos, tem representantes da

Votorantim, representantes do

BNDES e tem dois conselheiros

independentes, eu e um outro. No

início, você notava nitidamente na

reunião do conselho a presença do

grupo de controle. Com o passar do

tempo, os independentes e o próprio

pessoal dos dois grupos, a gente

começou a discutir os assuntos e não

se satisfazer com o que vinha

resolvido, e dar uma sugestão aqui e

outra ali. Hoje você não sente mais a

presença dos grupos de controle. E

quando são assuntos de decisão do

controlador, eles primeiro vêm ao

conselho e o conselho leva para os

controladores a posição do conselho”.

P17: A rede fechada do

conselho de

administração

influencia

positivamente no

C4: “Uma internacionalização mais

relevante não se daria de forma

orgânica porque é um processo

muito lento, de estabelecimento de

marcas. A gente, entrando na

C7: “Montar um conselho é

extremamente importante para você

ter sucesso. Por exemplo, a Fibria, nós

estamos, pelo 8º ano consecutivo,

reavaliando o conselho. Eu acho isso

Page 180: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

177

reforço de alianças

estratégicas por meio

da construção de novas

habilidades e aquisição

de conhecimento.

América Latina, se você não tem

algumas plataformas, alavancas de

distribuição, para estabelecer

marcas, se você considerar que vai

abrir, uma loja, duas lojas, três

lojas, ou vai abrir a venda direta,

com uma consultora, duas

consultoras, três consultoras, é um

processo bastante lento. E que, na

maior parte das vezes, ele é mais

custoso, com todos os riscos que

tem, parcerias, as aquisições, é

mais custoso”.

C4: “mais ou menos em 2010, a

gente começou a analisar

alternativas de crescimento olhando

para um cenário onde o Brasil

poderia não ter as taxas de

crescimento que vinha tendo. Ou

seja, havia uma perspectiva de...até

onde a Natura vai com esse market

share, então, ...a América Latina ia

bem, mas com a necessidade de a

gente começar a olhar um pouco

mais para outras geografias. E aí,

nós fizemos um trabalho de

pesquisa e aproximação com

empresas, seja para M&A, seja

para aquisições, etc e tal...algumas

grandes, outras menores, e acho

extremamente importante. A gente

definiu: hoje nós temos 22 ou 23

competências críticas. Então, o que é

uma competência crítica, por exemplo,

conhecimento do negócio é crítico,

para qualquer empresa. Mas, para

mim, entender dessa dinâmica de

mudança climática é crítico. Conhecer

o cliente é crítico. Conhecimentos

jurídicos, é crítico. Resultados

financeiros, claro que é fundamental.

Então, a gente listou essas

competências, todo ano a gente avalia

se tira uma ou se põe outra e, todos os

conselheiros se avaliam e avaliam

individualmente cada um ao outro. E a

gente faz um feedback disso, com um

consultor independente."

Page 181: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

178

que foi em 2012, depois de não ter

feito uma grande operação, que a

gente resolveu não levar à frente, a

gente acabou fazendo a aquisição

da Aesop”.

P18: A rede fechada do

conselho de

administração

influencia

positivamente no

reforço de alianças

estratégicas por meio

da busca por

legitimidade.

C4: “Então, o conselho muda: vai

falar inglês, vai fazer apresentações

em inglês, o que também é uma

posição, tira da zona de conforto,

mas pode ter alguma queda de

produtividade porque nem todo

mundo é fluente em inglês como é

fluente em português. Eu teria mais

dificuldade de conversar com você

sobre esses temas em inglês do que

(em português). Então, você

restringe um pouco mais a ideia,

enfim, então pode ser que isso

altere um pouco a dinâmica do

conselho, porque o nosso conselho

não é um conselho tradicional, é

um conselho muito atuante. O

Mifano está há muitos anos com a

gente, foi trazido nessa última leva

no Conselho de Administração.

Recentemente, também o Fabio

Barbosa veio para o Conselho de

Administração. Então, o conselho

teve uma ampliação em perfis

diferentes também. Então, vai ter

Page 182: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

179

uma dinâmica nova para ser vivida

que a gente vai aprender com isso”.

P19: A rede fechada do

conselho de

administração

influencia

positivamente no

reforço de alianças

estratégicas por meio

da construção de um

posicionamento

estratégico.

C6: “Então, aí sim essa

combinação de conselho, CEO e

gestão é muito importante. Mas,

contra todas as possibilidades, nós

fomos aumentando a convicção que

essa aquisição(da TBS) seria

fundamental para a

internacionalização significativa do

Grupo Natura e que permitiria a

expansão da marca Natura”.

P20: Os conselheiros

de administração, ao

pertencerem a

conselhos de

administração de

diferentes empresas

(board interlocking),

influenciam

positivamente no

desenvolvimento de

diferentes mercados e

locais.

C5: “quando pensaram em uma

internacionalização mais efetiva e

eventualmente por operações de

aquisição inorgânicas é que

começaram a trazer conselheiros

com experiência internacional”.

C5: “A gente acaba aproveitando as

experiências, mesmo que de

realidades diferentes, de um

conselho para outro. Por exemplo,

essa coisa do ambiente de negócios

nos países da América Latina,

principalmente em crédito, em

devedores duvidosos, política de

tratamento da inadimplência, etc,

isso aí você vai juntando

experiência de uma e leva para

outra”.

Page 183: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

180

P21: Os conselheiros

de administração, ao

pertencerem a

conselhos de

administração de

diferentes empresas

(board interlocking),

influenciam

positivamente na

posição da empresa na

rede de

relacionamentos.

C4: “Então, tem uma série de

novos desafios e a necessidade de

uma rápida mudança na empresa

porque aí você precisa trazer um

novo conselheiro, um conselheiro

que vem de fora, fala inglês”.

C6: “E vai ter uma evolução que

agora o conselho vai incluir

pessoas com experiência em retail.

E vai até ter um elemento onde vão

fazer parte da reunião do conselho

em inglês”.

C7: "Então, eu sou do Conselho da

Copersucar, sou do Conselho do

Banco Santander, sou do Conselho do

Grupo Algar e sou do Conselho da

Química Amparo, que faz os produtos

Ipê. Então, é uma empresa de varejo,

uma empresa de telefonia, um banco e

um açúcar e etanol. Alimento e

combustível. E probono, eu me ligo

muito na causa ambiental. Tenho um

protagonismo na coalisão Brasil,

Floresta e Agricultura, que olha a

transição do Brasil para uma economia

de baixo carbono e as mudanças

climáticas. Faço parte de um projeto

corredor ecológico do Vale do Paraíba

que visa fazer interconexão de

corredores, conectando a Mata

Atlântica, que tem da Serra do Mar

com a da Serra da Mantiqueira, para

melhorar a paisagem, a qualidade de

vida daqui do Vale do Paraíba e, lá em

Minas, eu sou do Conselho da Rede

Cidadã, que visa empregar pessoas,

jovens em dificuldade”.

P22: Os laços fortes

dos conselheiros de

administração

C4: “A gente decidiu ficar um

pouco mais distante para

estabelecer um conselho de

C8: “Nós hoje somos praticamente

fornecedores exclusivos de Kimberly-

Clark no mundo, de Procter&Gamble,

Page 184: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

181

influenciam

positivamente na

redução de custos de

transação.

administração onde, dois dos

nossos executivos faziam parte do

conselho de administração e a

relação foi muito mais via um

conselho de administração da

Aesop do que uma relação

executiva.”

dos grandes produtores. E fazemos

todo um desenvolvimento, não só de

produtos, mas de serviços, visando

valor agregado, visando redução de

custos, visando compartilhamento de

ganhos. Então, isso permite que se

torne muito difícil a entrada de

concorrentes”.

P23: Os laços fortes

dos conselheiros de

administração

influenciam

positivamente na busca

da empresa por

legitimidade.

C6: “no dia 12 de setembro,

quando a gente fez uma celebração

com a Body Shop pela aquisição

em volta do mundo, nós

organizamos momentos de

encontro entre os colegas.

Potencialmente, muito estranho.

Em Melbourne, uma pessoa da

Body Shop com Aesop, marcas

totalmente diferentes, se

encontrando, pela primeira vez,

sem ninguém falar eu sou da

Natura, vocês estão aqui para

isso...não. A gente organizou com

que, em cada lugar, as pessoas se

encontrassem e celebrassem o

momento. Então, a gente fez isso

em Melbourne, a gente fez isso em

Paris, Londres, lógico, Estados

Unidos - Nova Iorque, México,

Chile, São Paulo, no mundo todo”.

C7: "Temos uma relação hoje adulta e

construtiva com o movimento de luta

pela terra. A Fibria é a única empresa

brasileira que eu falo que tem beijinho

na bochecha com o MST, um

stakeholder difícil de se lidar. Então, é

uma posição de respeito, mas a gente

consegue achar pontos de

cooperação."

C7: "A Fibria fez uma liderança

internacional grande, no WBCSD, na

parte das industrias florestais e hoje,

nós estamos muito alinhados com o

modelo do professor Michael Porter,

de shared value. Então, a gente às

vezes é mencionada pelo professor

Michael Porter, também pelo John

Elkington, como empresa que

conseguiu construir o senso de

propósito."

C7: “Todos os conselheiros titulares

participam também dos comitês e eu

Page 185: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

182

tenho também comitês com membros

externos. Então, sustentabilidade tem

membros externos, mas o comitê de

remuneração também tem dois

membros externos, o comitê de

auditoria estatutária é totalmente de

gente externa, o de finanças tem um

representante do minoritário e o único

que não tem é o de inovação, porque o

de inovação é a própria essência da

estratégia da empresa.”

C7: “A Fibria tem uma necessidade

imensa de um relacionamento com

comunidades, porque a Fibria está em

253 municípios e, normalmente, são

municípios mais distantes de centros

urbanos. A VCP estava mais em São

Paulo, então, a gente não tinha uma

exposição com diferenças sociais tão

grandes. Mas, quando a gente adquiriu

a Aracruz, a gente passou a ficar com

interfaces com comunidades

indígenas, com comunidades

quilombolas, com o MST,

movimentos de luta pela terra ou

simplesmente comunidades

empobrecidas que não tinham a

consciência ou a organização social,

capital social para atuar, às vezes eram

comunidades aparentemente

Page 186: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

183

quilombolas, mas sem a percepção de

sua identidade. Então, a Fibria

construiu uma metodologia bastante

formal de estabelecimento de contatos

e engajamento com essas

comunidades.”

C7: “O senhor Lorentzen (Erling

Lorentzen), que era o fundador da

Aracruz, era norueguês e muito ligado

na causa ambiental, tanto que gostava

de floresta, como todo escandinavo e

ele é que iniciou praticamente os

plantios florestais no Brasil e motivou

outros a participar. Por exemplo, na

Rio 92, ele, o Schmitheiner e o Eliezer

Batista foram os empresários mundiais

que lideraram a interlocução do

business com a área ambiental para a

discussão na conferência do clima do

Rio. Depois disso, essa discussão

mobilizou a criação do WBCSD, que é

o World Business Council for

Sustainable Development e que a

Aracruz foi fundadora também. Nós

também, pela Aracruz, fomos uma das

32 empresas que participaram da

Fundação do Global Compact, nas

Nações Unidas.”

P24: Os laços fortes

dos conselheiros de

C4: “O que a gente fez na

sequência da aquisição, foi fazer

C8: “A Fibria sabe que tem que criar

para o cliente diferenciações de

Page 187: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

184

administração

influenciam

positivamente no

reforço das alianças

estratégicas por meio

do embeddedness.

duas ou três viagens de integração

com os líderes da Aesop. Então,

uma foi na Australia, outra foi em

Sevilha, que era um lugar

totalmente diferente e aí,

obviamente também houve

encontros aqui no Brasil e a gente

promoveu momentos de integração,

o que foi muito bom. Mas,

momentos que a gente não falava

de negócio, falava de...o que você

quer da vida, de pessoas, de gente."

produtos. E, nessas diferenciações,

vem muita coisa. Vem

sustentabilidade. Então, para isso,

você tem que ter todas as florestas

certificadas, dizer que são florestas

plantadas, são florestas que obedecem

rigorosamente a todos os princípios

que regem a plantação de florestas e, o

cliente do cliente, valoriza isso. Então,

ele (o cliente) coloca no rótulo, que é

um produto sustentável e explica

como. Tem uma certificação. E, ás

vezes, a gente concorre com empresas,

da Ásia, por exemplo, que não tem

esse tipo de certificação. E o

concorrente não vai vender para o meu

cliente, nem se ele der desconto, nem

se ele vender por 50% a menos.”

C7: “Por exemplo, a Kimberly-Clark,

nós somos o fornecedor exclusivo dela

em todas as fábricas do mundo. Às

vezes ela mesma não sabe o quanto ela

precisa e o quanto ela tem de estoque

porque a gente é que gerencia o

estoque delas.”

C7: “Nós temos um grupo de pesquisa

exclusivo para apoia-los (Kimberly-

Clark – K-C), com chinese wall e tudo

para isso não fluir para outro

concorrente. E é interessante porque

Page 188: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

185

nós também somos fornecedores

exclusivos da P&G, que é concorrente

da K-C. Então, o centro de pesquisa

nosso tem um grupo de pesquisa só

para a Procter e um grupo de pesquisa

só para a K-C e não se falam.”

C7: “Interface com o cliente é

diretamente com a diretoria executiva,

com o CEO e a diretoria comercial,

diretoria técnica. Agora, o conselho

acompanha essa relação e

eventualmente a gente em contatos,

normalmente ocorre em duas

situações: ou quando a relação estressa

ou quando comercialmente estressa,

ou quando você estabelece um

relacionamento de alto nível voltado

para a inovação, para a construção de

reforço da parceria estratégica. Aí o

contato acontece no nível de

conselho”.

P25: Os laços fortes

dos conselheiros de

administração

influenciam

positivamente no

reforço de alianças

estratégicas por meio

da construção de novas

habilidades e aquisição

"C8: “É um cliente, que está em vários

lugares. Aí ele vende papel higiênico e

ele está em vários segmentos e ele

quer um segmento premium, em que

ele tenha maior maciez. Então, eu

preciso desenvolver uma fibra que

tenha maior maciez. E, para isso, vai

desde o tipo de clone que você vai

utilizar. E você desenvolve com o

Page 189: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

186

de conhecimento.

cliente, vai fazendo testes. Só que leva

tempo, porque você vai usar aquele

clone e ele leva seis anos para você

cortar. E então são desenvolvimentos

de longo prazo.”

"

C9: “Na Europa, Oriente Médio, por

ali, a gente (Fibria) percebeu que

vender solução, não o algodão, vender

a solução, quer dizer, o algodão já

dissolvido em algum solvente, é

melhor para o cliente. O cliente já

recebe a solução. Então, ele não tem

que fazer a solução. Então,

provavelmente, a empresa vai montar

um negocinho pequeno para

transformar o algodão em solução (lá

na região). Mais fácil transportar, mais

leve.”

C8: “Na medida em que esses grandes

clientes começaram a valorizar nosso

o produto e começaram a nos colocar

como fornecedor preferencial, é que

nós enxergamos o valor que nós

começamos a ter junto a nossos

clientes. Na medida em que você

adquire relevância no cliente, o cliente

vai se tornando cada vez mais

exigente. E ele começa a dizer o

Page 190: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

187

seguinte: olha, eu preciso ter essa

característica no produto e eu preciso

desenvolver isso. E aí você passa a

trabalhar em conjunto. Você pega as

duas áreas de pesquisa e

desenvolvimento, do cliente e a nossa,

faz um plano de ação e, vão

caminhando juntas, fazendo testes, e

tem avanços e tem retrocessos, até o

momento em que você consegue

emplacar exatamente o que o cliente

quer.”

Fonte: Autora (2018)

Page 191: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

188

5.3 Análise Comparativa Quantitativa de palavras presentes nas entrevistas,

artigos e teorias.

Segundo Krippendorff (2012), as abordagens de associação estatística tornaram-

se populares com o uso da metáfora de mineração para extrair conceitos ou descobrir

informações relevantes de volumosos bancos de dados textuais.

Para Bardin (2011), a ponderação da frequência de palavras traduz um caráter

quantitativo (intensidade) e qualitativo. Segundo a autora, é preciso que a análise

qualitativa não rejeite toda e qualquer forma de quantificação, podendo o analista

recorrer a testes quantitativos: por exemplo, a aparição de índices similares em

discursos semelhantes.

Vale ressaltar que as notícias levantadas no último ano (janeiro de 2017 a janeiro

de 2018) referentes às empresas Duratex, Fibria e Natura totalizaram, por meio da busca

do Google Notícias, 151.054 matérias, notas e assuntos sobre essas empresas. Somente

da Natura, foram contabilizadas 146.000 notícias; da Fibria, 4.080 notícias e da

Duratex, 974 notícias.

Uma vez que as matérias referentes a esta dissertação dizem respeito a notícias

sobre os negócios das empresas, foram selecionadas todas as matérias provenientes do

principal jornal de negócios do país, o Valor Econômico e da principal revista e site de

negócios do país, a Exame, considerando que o assunto principal dessas matérias

deveria ser diretamente relacionado às empresas estudadas: Natura, Duratex e Fibria.

Entre os períodos de 01 de janeiro de 2017 a 25 de janeiro de 2018, foram

selecionadas e analisadas 147 matérias do jornal Valor Econômico, sendo 19 da

Duratex, 65 da Fibria e 63 da Natura. Já, da revista e site da Exame, foram selecionadas

92 matérias, sendo 8 da Duratex, 31 da Fibria e 53 da Natura.

Por meio do sistema NVivo, foi possível fazer um levantamento de frequência

das 100 palavras mais mencionadas dentre as matérias previamente selecionadas dos

dois principais de veículos de comunicação de negócios do país – Valor Econômico e

Page 192: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

189

Revista e Site Exame – o resumo das teorias apresentadas nesta dissertação e as

transcrições das nove entrevistas.

As 100 principais palavras mais mencionadas somaram 23.588 menções,

considerando as palavras e suas derivadas.

As 10 palavras mais mencionadas foram Natura, Brasil, mercado, Fibria,

negócios, conselhos, produtos, venda, Duratex e shop (provavelmente The Body Shop).

Figura 20: Frequência de Palavras advindas de matérias previamente

selecionadas de veículos de comunicação de negócios, transcrição das nove entrevistas e

teoria apresentada nesta dissertação.

Fonte: Autora (2018), usando NVivo

Page 193: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

190

Analisando a figura 21, o mapa de árvore do software NVivo, foi possível

relacionar as 100 palavras mais mencionadas e, o que se percebe, retirando os nomes

das empresas, é que existe um volume maior de palavras relacionadas a negócios, tais

como preços, resultados, investimentos, receitas, crescimento, estratégia, desempenho,

oportunidade, operações, recursos, custos, riscos, fábricas, etc.

Este subgrupo com o tema negócios representa 42,43% das menções das 100

palavras mais mencionadas.

O segundo volume em menções está diretamente ligado a relacionamentos e

stakeholders em geral, sendo que os acionistas e investidores são os menos

mencionados. As palavras com maior destaque neste subgrupo de palavras são:

conselho, redes, pessoas, relações, presidente, gestão, conselheiros, fornecedores,

consultoras, consumo, consumidores, colaboradores, clientes, comunidades,

administração, governança e relacionamentos. Este subgrupo de stakeholders representa

23,96% do total de menções das 100 palavras mais mencionadas.

O terceiro subgrupo mais mencionado está ligado a temas de

internacionalização, tais como global, mundo, américas, internacionalização, região,

latina, dentre outras. Este subgrupo representou 15,23% do total de menções das 100

palavras que mais se destacaram nos documentos analisados.

O fato que se destacou foi o surgimento, entre as palavras mais mencionadas, de

um subgrupo de palavras voltado às questões de agua, energia, ambiente,

sustentabilidade e inovação, representando 8,14% das menções. Neste aspecto, vale

realizar outro estudo mais aprofundado.

Algumas palavras que foram debatidas na entrevista e que não apareceram

foram: comprometimento, aliança e confiança, o que pode mostrar que essas relações de

comprometimento, aliança e confiança ainda não são tão fortes entre as empresas

brasileiras e seus stakeholders.

Page 194: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

191

Figura 21 – Análise do Mapa de árvore do NVivo e divisão de palavras por sub-grupos

C

PALAVRAS RELACIONADAS:

BRASIL, MERCADOS, BRASILEIROS, AMÉRICA, PAÍS, PAÍSES, MUNDO, GLOBAL, INTERNACIONALIZAÇÃO, LATINA, REGIÃO

PREÇOS, RESULTADOS, INVESTIMENTOS, RECEITAS, CRESCIMENTO, AQUISIÇÃO, ESTRATÉGIA, DESEMPENHO, OPORTUNIDADE,

NEGÓCIOS, VENDA

CONSELHO, REDES, PESSOAS, PRESIDENTE, RELAÇÃO, GESTÃO, CONSELHEIROS, FORNECEDORES, CONSULTORAS, CONSUMO,

COLABORADORES, CLIENTES, COMUNIDADES, RELAÇÕES, GOVERNANÇA, RELACIONAMENTO, ACIONISTAS, CONSUMIDORES

C

CC

C

FLORESTAS, SUSTENTABILIDADE, ÁGUA, ENERGIA, INOVAÇÃO

C

Fonte: Autora (2018), usando NVivo

Page 195: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

192

Importante mencionar que esse tipo de análise relacional que o software NVivo

proporciona, oferece a possibilidade de o pesquisador explorar as relações entre os

conceitos identificados, onde a ênfase está na busca por relações semânticas ou

resultados (PALMQUIST; CARLEY; DALE, 1997).

Esse tipo de análise permite duas abordagens, sendo uma linguística e outra

cognitiva. Na linguística, a unidade de análise é a frase ou o depoimento, em fragmentos

de entrevistas, de forma a estabelecer uma matriz por meio de codificações. (CARLEY,

1993). Esse tipo de análise de conteúdo já foi realizado nesta dissertação.

Já, na abordagem cognitiva, o processo de código é construído por meio de

mapas de decisão, feitos a partir de ideias, crenças, atitudes e informação que o autor

(pesquisador) tem à sua disposição na análise do texto, enquanto modelos mentais e

conceitos são agrupados ou inter-relacionados, refletindo a percepção consciente e

subconsciente da realidade (ROSSI; SERRALVO; JOÃO, 2014).

Utilizando a abordagem cognitiva, será apresentada, a seguir, uma proposição de

metodologia a partir dos resultados encontrados.

Considerando as proposições cujas variáveis são independentes – P1, P4 e P5 e

as palavras mais mencionadas nos documentos analisados, pode-se estabelecer algumas

correlações.

A figura apresentada a seguir faz uma inter-relação de palavras sobre a situação

relacional ideal, construída a partir das 3 variáveis independentes e os seus reflexos na

organização e na sociedade em geral.

A pesquisadora incluiu a palavra confiança e comprometimento na figura,

demonstrando que, possivelmente, se a variável confiança acontecesse de maneira mais

efetiva, ela poderia gerar outras variáveis como mais inovação e pesquisa, que é o caso

do relacionamento da Fibria com seus clientes exclusivos.

Ao mesmo tempo, se a variável comprometimento aparecesse nas palavras mais

mencionadas, esse comprometimento com colaborares e a comunidade local poderia

gerar menos impacto, maior confiança da comunidade com relação à empresa e,

consequentemente mais resultados. Esse é também o caso da Fibria, que utiliza o

Page 196: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

193

comprometimento com a sociedade local para garantir sua operação com mais eficácia e

eficiência.

No entanto, para que essas proposições relacionadas a confiança e

comprometimento fossem confirmadas, seria necessário o desenvolvimento de outro

estudo.

Page 197: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

194

Figura 22: Variáveis Independentes e suas correlações

P1: Relações hierárquicas

saudáveis entre conselheiros de

administração e gestores

impactam positivamente no

desenvolvimento da empresa em

diferentes mercados e locais

P4: A rede fechada do conselho

de administração impacta

positivamente no

comprometimento da empresa

junto à rede internacional.

P5: Os conselheiros de administração,

ao pertencerem a conselhos de

administração de diferentes empresas

(board interlocking), impactam

positivamente na identificação de

oportunidades e mobilização de

recursos da empresa para a sua

internacionalização.

RELAÇÕES

HIERÁRQUICAS

COMPROMETIMENTO

DA EMPRESA JUNTO À

REDE INTERNACIONAL

BOARD

INTERLOCKING

BURACOS

ESTRUTURAISMOBILIZAÇÃO DE

RECURSOS

IDENTIFICAÇÃO DE

OPORTUNIDADES

CONSELHEIROS

GESTORES

DESENVOLVI-

MENTO EM

DIFERENTES

MERCADOS E

LOCAIS

MUNDORESULTADOS

INVESTIMENTOREDE

CRESCIMENTO

COLABORADOR COMUNIDADE

IMPACTO

REDES

FECHADASCONSELHOS

BRASIL

FLORESTAS

RECURSOS DESEMPENHO

FÁBRICAS

SUSTENTABILIDADE

CONSELHEIROS

INOVAÇÃO, PESQUISA

REDUÇÃO DOS RISCOS

LOJAS

EXPERIÊNCIA

VENDA, CONSUMO CONFIANÇA

COMPROMETIMENTO

Fonte: Autora (2018), com base nas análises quantitativas de conteúdo e frequência de palavras

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195

5.4 Proposta de Modelo – Como os Conselheiros de Administração influenciam

na Internacionalização da empresa

A proposta desta dissertação também é apresentar um aprimoramento da

metodologia apresentada na Figura 7, página 55 deste documento, elaborada com base

nos estudos de Adler e Kwon (2002) e de Johanson e Vahlne (1977, 2003, 2009, 2013).

Para que este estudo possa ser replicado, a autora propõe um modelo sobre como

os conselheiros de administração influenciam na internacionalização das empresas.

Basicamente, o modelo integra, por meio do conselho e dos conselheiros de

administração, os estudos de Adler e Kwon (2002) e as teorias de Uppsala e Uppsala

revisitado, apresentando a teoria das alianças estratégicas como uma evolução natural da

internacionalização.

A ideia é que o capital social dos conselheiros seja parte integrante do processo

de internacionalização, uma vez que seus recursos – experiência, conhecimento e acesso

a fatores e pessoas fora da empresa (PFEFFER; SALANCIK, 1978) influenciam na

internacionalização.

Os depoimentos demonstram que essa metodologia proposta pela pesquisadora

realmente acontece nas empresas estudadas nesta dissertação.

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196

Figura 23: Proposta de Modelo “Como os Conselheiros de Administração influenciam na internacionalização das empresas”

RELAÇÕES DAS ESTRUTURAS SOCIAISCAPITAL SOCIAL

RELAÇÕES DE MERCADO

RELAÇÕES SOCIAIS

RELAÇÕES HIERÁRQUICAS

REDE ABERTA

REDE FECHADA

BURACOS

ESTRUTURAIS

LAÇOS FORTES

LAÇOS FRACOS

CONSELHO

CONSELHEIROS

DIRETORIA

GESTORES

ACIONISTAS

ALIANÇAS ESTRATÉGICAS

REDES DE RELACIONAMENTO

DISTÂNCIA PSÍQUICA

IDENTIFICAR OPORTUNIDADES E

MOBILIZAR RECURSOS

DESENVOLVER DIFERENTES MERCADOS

MANTER E COORDENAR RELACIONAMENTOS

INTERNACIONALIZAÇÃO

UPPSALA

UPPSALA

REVISITADO

Fonte: Autora (2018), revisando o modelo teórico da Figura 7, página 55 deste documento, elaborada com base nos estudos de Adler e

Kwon (2002) e de Johanson e Vahlne (1977, 2003, 2009, 2013).

Page 200: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

197

6. DISCUSSÕES FINAIS

A Pergunta de Pesquisa dessa dissertação foi: “Como o Capital Social dos

Conselheiros de Administração influencia na Internacionalização das empresas

brasileiras.

Para responder a essa pergunta de pesquisa, foram analisadas as teorias de

capital social, redes sociais, teoria de uppsala, teoria de uppsala revisitada e alianças

estratégicas, sempre considerando os autores que estudam o papel do conselho de

administração e dos conselheiros dentro das organizações.

Os objetivos específicos visavam (i) identificar e comparar elementos que

demonstram a influência do capital social dos conselheiros na gestão da empresa com

relação à internacionalização; (ii) identificar e comparar elementos que demonstram a

influência do capital social dos conselheiros de administração que são conselheiros em

mais de uma empresa e (iii) identificar e comparar como o perfil e as competências dos

conselhos de administração evoluem junto à evolução de seu processo de

internacionalização.

Foram feitos três estudos de caso, sendo realizadas três entrevistas por empresa.

Os depoimentos possibilitaram o desenvolvimento de 25 proposições, baseadas na

convergência dos depoimentos com as teorias do capital social e internacionalização de

empresas.

Das vinte e cinco proposições, três delas foram consideradas variáveis

independentes, pois as três proposições ocorreram nas três empresas (sinalizadas nos

depoimentos dos entrevistados). São elas: P1, P4 e P5.

Com relação ao primeiro objetivo específico, (i) identificar e comparar

elementos que demonstram a influência do capital social dos conselheiros na gestão da

empresa com relação à internacionalização, as proposições P1, P2 e P10 confirmam que

há influência do capital social do conselheiro na gestão da empresa com relação à

internacionalização. Inclusive, P1 conta com depoimentos das três empresas.

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198

Com relação ao segundo objetivo específico, (ii) identificar e comparar

elementos que demonstram a influência do capital social dos conselheiros de

administração que são conselheiros em mais de uma empresa, as proposições P5, P20 e

P21 confirmam que há influência do capital social dos conselheiros de administração

que são conselheiros em mais de uma empresa. Inclusive, P5 conta com depoimentos

das três empresas.

Finalmente, com relação ao terceiro objetivo específico, (iii) identificar e

comparar como o perfil e as competências dos conselhos de administração evoluem

junto à evolução de seu processo de internacionalização, das três empresas analisadas,

verificou-se que, de acordo com os depoimentos, apenas a Duratex ainda não realiza

mudanças em seu conselho de administração visando a internacionalização da empresa.

A Natura vem realizando essas alterações em seu conselho por conta de sua estratégia

de internacionalização desde 2010. Já, a Fibria, por ser uma empresa totalmente voltada

a clientes globais, faz alterações no conselho de acordo com seu planejamento

estratégico de longo prazo, mas também considera relevante o conhecimento

internacional do conselheiro e seu relacionamento com clientes, fornecedores e

comunidade.

Concluindo, as vinte e cinco proposições apresentam vinte e cinco maneiras de

como o capital social dos conselheiros de administração impacta na internacionalização

das empresas.

São elas:

P1: Relações hierárquicas saudáveis entre conselheiros de administração e

gestores influenciam positivamente no desenvolvimento da empresa em diferentes

mercados e locais

P2: Relações hierárquicas saudáveis entre conselheiros de administração e

gestores influenciam positivamente o comprometimento da empresa na rede

internacional.

P3: Relações hierárquicas saudáveis entre o conselho de administração e os

acionistas influenciam positivamente o desenvolvimento de diferentes mercados e

locais.

Page 202: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

199

P4: A rede fechada do conselho de administração influencia positivamente no

comprometimento da empresa junto à rede internacional.

P5: Os conselheiros de administração, ao pertencerem a conselhos de

administração de diferentes empresas (board interlocking), influenciam positivamente

na identificação de oportunidades e mobilização de recursos da empresa para a sua

internacionalização.

P6: Os laços fracos dos conselheiros de administração, construídos por meio de

relações de mercado, influenciam positivamente na identificação de oportunidades e

mobilização de recursos.

P7: Os laços fracos dos conselheiros de administração, construídos por meio de

relações de mercado, influenciam positivamente no desenvolvimento de diferentes

mercados e locais.

P8: O capital social, advindo das relações de mercado, dos conselheiros de

administração ajuda a manter coordenar e construir relacionamentos na rede,

aumentando o comprometimento entre as partes.

P9: O capital social, advindo das relações hierárquicas, dos conselheiros de

administração ajuda a manter coordenar e construir relacionamentos na rede,

aumentando o comprometimento entre as partes.

P10: Relações hierárquicas saudáveis entre conselheiros de administração e

gestores influenciam positivamente na construção de relações de confiança junto aos

stakeholders.

P11: O capital social, advindo das relações de mercado, dos conselheiros de

administração ajuda positivamente a construir legitimidade da empresa na construção de

alianças estratégicas.

P12: O capital social, advindo das relações de mercado, dos conselheiros de

administração ajuda positivamente a melhorar o posicionamento estratégico da empresa

em suas alianças estratégicas.

Page 203: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

200

P13: A rede fechada do conselho de administração influencia positivamente na

redução da distância psíquica.

P14: A rede fechada do conselho de administração influencia positivamente no

desenvolvimento de diferentes mercados e locais.

P15: A rede fechada do conselho de administração influencia positivamente na

posição da empresa na rede de relacionamentos.

P16: A rede fechada do conselho de administração influencia positivamente na

construção de relação de confiança

P17: A rede fechada do conselho de administração influencia positivamente no

reforço de alianças estratégicas por meio da construção de novas habilidades e aquisição

de conhecimento.

P18: A rede fechada do conselho de administração influencia positivamente no

reforço de alianças estratégicas por meio da busca por legitimidade.

P19: A rede fechada do conselho de administração influencia positivamente no

reforço de alianças estratégicas por meio da construção de um posicionamento

estratégico.

P20: Os conselheiros de administração, ao pertencerem a conselhos de

administração de diferentes empresas (board interlocking), influenciam positivamente

no desenvolvimento de diferentes mercados e locais.

P21: Os conselheiros de administração, ao pertencerem a conselhos de

administração de diferentes empresas (board interlocking), influenciam positivamente

na posição da empresa na rede de relacionamentos.

P22: Os laços fortes dos conselheiros de administração influenciam

positivamente na redução de custos de transação.

. P23: Os laços fortes dos conselheiros de administração influenciam

positivamente na busca da empresa por legitimidade.

Page 204: Como o Capital Social dos Conselheiros de Administração ... · VAHLNE, 2009), esta dissertação apresenta, por meio de três estudos de caso, como o capital social e a rede de

201

P24: Os laços fortes dos conselheiros de administração influenciam

positivamente no reforço das alianças estratégicas por meio do embeddedness.

P25: Os laços fortes dos conselheiros de administração influenciam

positivamente no reforço de alianças estratégicas por meio da construção de novas

habilidades e aquisição de conhecimento.

7. CONTRIBUIÇÕES E LIMITAÇÕES

Manuel Castells (2000) popularizou a ideia de uma sociedade de rede. O autor

estabeleceu uma visão da estrutura global das relações econômicas, políticas e culturais

como uma rede e enfatizou a necessidade de examinar os processos pelos quais a

integração global tem sido alcançada e suas implicações para os negócios empresariais,

as nações e os movimentos sociais.

A autora e pesquisadora acredita que, apesar de todas as limitações, este estudo

contribui para o entendimento dos processos empresariais de globalização, desta vez,

por meio do capital social e das redes sociais dos conselheiros de administração que

atuam nas empresas brasileiras, visando preencher uma lacuna existente na literatura

sobre capital social dos conselheiros de administração e a internacionalização de

empresas brasileiras.

Outro ponto que foi analisado e que contribui para a literatura está na dinâmica

de relacionamento entre conselheiros e também entre conselheiros e os administradores

da empresa e, finalmente, entre conselheiros e partes interessadas externas. (HUSE,

2005; MACUS, 2008).

Finalmente, este estudo colaborou para qualificar as análises sobre a importância

do capital social dos conselheiros de administração nas estratégias das empresas, bem

como posicionar o Brasil na literatura de governança, explorando suas idiossincrasias e

trazendo à discussão a relevância do capital social na internacionalização das empresas

para os estudos de estratégia internacional.

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202

Pesquisas futuras poderiam considerar a evolução das redes estratégicas das

empresas em alianças estratégicas e o papel do conselheiro de administração neste

processo.

Além disso, muitos entrevistados mencionaram a importância do processo de

inovação e os motivos pelos quais as grandes empresas estão investindo em startups.

Seria fundamental uma análise mais profunda do papel do conselho neste processo.

Finalmente, muitas proposições deste trabalho falam sobre a importância das

redes fechadas, ou seja, da dinâmica dos conselhos, do grupo fechado de conselheiros e

como as definições tomadas neste fórum exclusivo impactam muitas empresas

brasileiras internacionais. Mais estudos também poderiam ser feitos neste sentido

também.

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