como ela influencia a nossa vida

35
OÁSIS NO MUNDO DA LUA COMO ELA INFLUENCIA A NOSSA VIDA LAGOS ANDINOS Uma nova travessia entre o Chile e a Argentina FUKUOKA O agricultor que deixava a terra em paz AQUECIMENTO GLOBAL Nas cordas de um violoncelo #126 EDIÇÃO

Upload: buingoc

Post on 07-Jan-2017

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Como ela influenCia a nossa vida

Oásis

NO MUNDO DA LUAComo ela influenCia a nossa vida

LAGOS ANDINOSuma nova travessia entreo Chile e a argentina

FUKUOKAo agricultor que deixava a terra em paz

AQUECIMENTO GLOBALnas cordas de um violoncelo

#126

edição

Page 2: Como ela influenCia a nossa vida

2/35OáSIS . Editorial

por

Editor

PEllEgriniLuis

“Num muNdo pragmático domiNado pela ciêNcia cartesiaNa, existem muitos que são

capazes de jurar pelo poder da lua. mas pesquisas cieNtíficas receNtes revelam que

Nem tudo é ficção No muNdo da lua”

V ocê acredita que a lua, nas suas diferentes fases – parti-cularmente a lua Cheia – influencia nossa saúde e nosso comportamento? Saiba então que essa crença é tão anti-

ga quanto a própria humanidade. desde que o ser humano co-meçou a pensar e a refletir sobre o mundo onde vivemos, uma das suas primeiras conclusões foi certamente a de que as fases da lua influenciam as marés oceânicas. E assim que aprendeu a estabelecer relações de analogia, deve ter percebido que o ciclo menstrual das mulheres – fenômeno orgânico diretamente rela-cionado à concepção e à maternidade – coincidia quase exata-mente com o ciclo das fases lunares.daí, estender a crença das influências lunares a muitas outras coisas foi um pulo. até hoje, são milhões os que acreditam que a lua influencia no crescimento e na queda dos cabelos, nas os-cilações do humor, na sexualidade, na fertilidade, nos impulsos agressivos e na criminalidade, para citar apenas algumas dessas influências.

Page 3: Como ela influenCia a nossa vida

OáSIS . Editorial

por

Editor

PEllEgriniLuis

3/35

a última descoberta, bem recente, não parece ser produto da ficção ou da superstição: as fases lunares realmente influenciam o sono. nos dias de lua Cheia, por exemplo, ou na proximida-de deles, aumenta consideravelmente a síndrome da insônia.a lua e as influências que ela exerce são o tema de nossa matéria de capa. Mas, à parte as influências comprovadas e as imaginárias do nosso belo satélite, um capítulo à parte deveria ser escrito sobre a lua como fonte de inspiração para as artes, a poesia, e para os românticos em geral. Mas este capítulo ficará para a próxima vez...

Page 4: Como ela influenCia a nossa vida

OáSIS . MiStério

NO MUNDO DA LUAComo ela influencia

a nossa vida

MIS

Tér

IO

Page 5: Como ela influenCia a nossa vida

5/35OáSIS . MiStério

obisomens, vampiros, boom de nascimentos... não dá para contar os personagens e aconte-cimentos - falsos e verdadeiros - ligados às fases da Lua, par-ticularmente ao surgir da Lua Cheia. O último fato da lista parece ser a ligação da Lua com a insônia. Pesquisa séria, fei-ta em laboratório, indica que o disco lunar completamente ilu-minado atrapalha o sono e atra-sa o adormecimento: mas a luz

lunar que eventualmente passa através das persianas não tem nada a ver com isso. Por qual estrada chegará até nós a influência da Lua?

Christian Cajochen, pesquisador da Uni-versidade da Basiléia, Suíça, examinou os padrões do sono humano em relação aos ciclos lunares, retomando uma experiên-cia iniciada há dez anos. O estudo original tinha como objetivo principal explorar as relações entre idade e qualidade do sono. Ele envolvia 33 voluntários de idade entre 20 e 74 anos, cujo sono foi estudado du-rante 64 noites seguidas. Os voluntários foram estudados em condições de contro-le muito rígido. Entre outros cuidados, eles foram completamente isolados da luz natural. Cajochen pensou que os mesmos dados poderiam também ser usados para avaliar como as fases lunares influenciam o sono. Assim, o pesquisador dividiu as 64 noites do experimento em três grupos com base na maior ou menor aproximação deles à fase da Lua Cheia.

Os voluntários testados nas noites mais próximas à Lua Cheia, ou concomitantes a ela, mostraram, com efeito, um sono mais agitado. Por exemplo, a atividade cere-bral relativa ao sono profundo mostra-va um decremento de 30% em relação à média. Também os níveis de melatonina, hormônio que regula os ciclos de sono/vi-gília, revelaram- se bem mais baixos.

L

a crença de que a lua, nas suas diferentes fases, influencia nossa saúde e nosso comportamento é tão antiga quanto a humanidade. até hoje, num mundo pragmático dominado pela ciência cartesiana, existem muitos que são capazes de jurar pelo poder da lua. mas pesquisas científicas recentes revelam que nem tudo é ficção no mundo da luaPor: Luis PeLLegrini

Page 6: Como ela influenCia a nossa vida
Page 7: Como ela influenCia a nossa vida

Além disso, esses pacientes levaram em média 5 mi-nutos a mais para adormecer, e dormiram no total cerca de 20 minutos a menos. A qualidade do sono deles foi considerada inferior de 15% em relação à qualidade do sono do resto do gru-po.

É tudo culpa da Lua?

Claro, os resultados da pesquisa devem ser analisados com cautela, já que a amostragem foi considerada pe-quena e pelo fato de o objeto da pesquisa ser inicial-mente outro, diferente do objeto agora escolhido. No entanto, ressaltam os pesquisadores, os dados obti-dos foram atentamente calculados e foram excluídos outros fatores que pudessem perturbar o sono, tais como a influência da luz natural no quarto ou a con-comitância, nas mulheres, com o ciclo menstrual.

“Cada pessoa na Terra possui o seu próprio ritmo circadiano de 24 horas” explicou Cajochen. “Depois desse experimento podemos lançar a hipótese de que todos nós sofremos os efeitos dos ciclos lunares. Tal-vez no cérebro exista também um relógio circalunar, mas nós simplesmente ainda não sabemos nada dele”, concluiu.

A cegonha voa nas noites de Lua Cheia

Outra crença muito antiga, ainda viva nos dias de hoje, é a de que os ciclos da Lua podem influir não apenas sobre o temperamento e o humor, sobretudo

7/35OáSIS . MiStério

Page 8: Como ela influenCia a nossa vida
Page 9: Como ela influenCia a nossa vida

os das mulheres, mas também sobre a fertilidade fe-minina e os partos. A responsabilidade dessa crença deve-se a uma curiosa coincidência numérica: o mês lunar dura cerca 29 dias e 12 horas; o ciclo menstrual feminino dura em média entre 28 e 29 dias.

Tais hipóteses, no entanto, são fortemente desmenti-das pela comunidade científica. Mas é essa mesma ci-ência a estudar curiosos fenômenos naturais de nasci-mento e concepção ligados às fases da Lua. Os corais da Grande Barreira Coralina, no norte da Austrália, por exemplo, começam a se reproduzir em massa nas noites de Lua Cheia, e em modo perfeitamente sincro-nizado. O que lhes dá esse “ritmo” são fotorreceptores especiais sensíveis aos comprimentos de ondas lumi-nosas emitidos pela Lua. Inúmeros outros animais, sobretudo insetos e batráquios, também preferem as noites de Lua Cheia para seus ritos de sedução e aca-salamento.

Paladina dos nascimentos, senhora das colheitas e das semeaduras, responsável pela qualidade do vinho, doida e caprichosa, capaz de ativar em cada um de nós os instintos mais estranhos e primitivos, em torno da Lua todas as civilizações teceram as mais bizarras crenças e superstições. Existe quem a considere res-ponsável por terremotos e crises epilépticas. Existe quem controla em que fase a Lua se encontra antes de atirar-se a uma relação sexual. Quem acha ser ela o motor que ativa impulsos criminosos e até mesmo os que levam a assassinatos. Sem contar os que não acre-ditam de modo algum que o homem já caminhou na superfície lunar, e afirmam que as façanhas dos as

9/35OáSIS . MiStério

Page 10: Como ela influenCia a nossa vida

tronautas norte-americanos não passam de contos da carochinha.

E o lobisomem que ataca nas noites de Lua Cheia? A lenda, que parece ter origem europeia, se espalhou pelos cinco continentes, e até hoje existem aqueles que preferem permanecer trancados em casa nas noi-tes em que a Lua bem redonda brilha inteira no céu. Em 2007, Andy Parr, inspetor de polícia inglês do Sussex, pediu reforços para patrulhar as ruas nas noi-tes de Lua Cheia. Noites nas quais, segundo ele, ocor-re um aumento dos crimes e dos comportamentos agressivos. “Com base na minha experiência de mais de vinte anos como policial”, Parr declarou aos mi-crofones da BBC, a rádio estatal inglesa, “posso afir-mar que nas noites de Lua Cheia cruzamos nas ruas com pessoas que demonstram atitudes muito estra-nhas. Pessoas nervosas, encrenqueiras, briguentas”.

Esse policial não é o primeiro a denunciar uma liga-ção entre as fases lunares e episódios violentos. Trin-ta anos antes dele, Arnold Lieber, psicólogo norte--americano autor de uma importante pesquisa sobre mais de 11 mil agressões registradas na Flórida no arco de cinco anos, tentou provar que essa influência lunar nefasta é verdadeira. Também Lieber afirmou que, pelos resultados da sua pesquisa, a maior parte das agressões ocorre nas noites de Lua Cheia, ou nas horas que a precedem.

Os estudos sobre os efeitos bizarros provocados pelo nosso satélite não se limitam ao ser humano. Entre 1997 e 1999, alguns médicos de Bradford, na Ingla

10/35OáSIS . MiStério

Page 11: Como ela influenCia a nossa vida
Page 12: Como ela influenCia a nossa vida

terra, analisaram mais de 1600 casos de mordidas de animais. Concluíram que as possibilidades de sermos mordidos redobram nos dias próximos à Lua Cheia.Mas, também aqui, tais pesquisas não persuadiram a comunidade científica. Alguns cientistas preferem se debruçar sobre outra possibilidade: Também o nosso corpo se ressente da influência do magnetismo lunar que provoca o fenômeno das marés oceânicas? A pergunta tem razão de ser, já que, sabidamente, o magnetismo lunar influencia os líquidos que existem sobre nosso planeta. Como nosso corpo é constituído principalmente de líquidos...

As principais possibilidades estudadas dizem respeito a náuseas, cefaleias, distúrbios cognitivos e de con-fusão mental. Nada foi provado em definitivo, mas existem pesquisadores dispostos a apostar que nosso satélite possa não apenas mover a água dos oceanos, mas também aquela que existe no interior do corpo humano. A maioria dos médicos, no entanto, sorri diante dessas considerações, considerando que não apenas a força que a Lua exerce sobre nosso corpo é extremamente débil, mas também que os líquidos corporais estão encapsulados nos tecidos e não estão livres para flutuar e correr, como acontece com a água dos oceanos.

Assim, diante de tantos prós e contras a respeito da influência da Lua sobre nossas vidas, melhor ficar com uma influência que, esta sim, é absolutamente certa: a força da sugestão. Em estudo publicado na revista Epilepsy & Behaviour, em 2004, os únicos ata-ques epilépticos que efetivamente aumentam nas noi

12/35OáSIS . MiStério

Page 13: Como ela influenCia a nossa vida

tes de Lua Cheia são os “falsos ataques”. Aqueles que não são causados por disfunções elétricas do cérebro, mas sim por distúrbios psicóticos.E os que só cortam os cabelos numa determinada fase da Lua? Eles são muitos, e acreditam existir uma liga-ção entre as fases da Lua e o crescimento dos cabelos. Trata-se de uma crença muito antiga que tem suas raízes nas tradições populares ligadas às técnicas de magia simpática - um corpo de crenças baseadas no princípio da similitude entre aquilo que deve ser curado e os meios utilizados para chegar-se à cura. Em outras palavras, se a Lua cresce, crescerão tam-bém as unhas, os pelos e os cabelos...

E quanto à influência astrológica da Lua em nossas vidas... dou a palavra aos astrólogos.

13/35OáSIS . MiStério

Page 14: Como ela influenCia a nossa vida
Page 15: Como ela influenCia a nossa vida

VIA

GEM

LAGOS ANDINOSUma nova travessia entre

o Chile e a Argentina

OáSIS . viagEMo VuLcão ViLLarrica se eLeVa às

margens do Lago de Pucón

Page 16: Como ela influenCia a nossa vida

gruPo de turistas faz a subida à cratera do VuLcão ViLLarrica

Page 17: Como ela influenCia a nossa vida

17/35OáSIS . viagEM

travessia entre o Chile e a Argen-tina navegando através dos lagos andinos começa na agitada cida-dezinha chilena de Pucón, na orla do lago Villarrica e aos pés do vulcão do mesmo nome. Reserve dois dias e duas noites de estadia. É tempo suficiente para aprovei-tar as variadas atrações locais. Não deixe de conhecer as Termas

Geométricas, projetadas pelo mais ousado e famoso arquiteto chileno, German del Sol,

A

cruzar a cordilheira dos andes entre o chile e a argentina é o sonho de todo turista que aprecia o sabor da aventura e não limita suas viagens apenas aos grandes hotéis, restaurantes e shoppings das grandes cidades. para esses, existe hoje uma opção que mistura natureza, paisagens de tirar o fôlego e o plus de visitar dois países numa mesma viagem. trata-se de ir do chile para a argentina – ou vice-versa -, por via terrestre, percorrendo o mítico itinerário dos lagos andinostexto e fotos: Jaime borquez

responsável pelos famosos hotéis Explora da Patagônia e do Deserto de Atacama.

No Chile, Pucón é a capital do turismo “outdoor”, com destaque para a ascensão do belíssimo Villarica, um vulcão ativo. São cinco horas de caminhada, mas o prê-mio vale todo o esforço: é indescritível a sensação de se chegar até a borda da cra-tera desse vulcão e ver a lava incandes-cente fervendo e fumegando lá embaixo. Será o caldeirão do diabo? Mas há tam-bém atividades mais suaves, como o raf-ting familiar no Rio Trancura, saltos em parapente duplo, passeios em mountain bike, caiaque, canopy - também chama-do de arvorismo -, pesca de truta e muito mais.

Pucón tem gastronomia boa e variada gastronomia. Peixes e frutos do mar são o forte do Chile, mas aqui, alem deles, há grande opção de carnes, incluindo as de caça. Há restaurantes muito charmosos, geralmente construídos a partir de enor-mes troncos de madeira nativa. Pucón é uma sucessão de surpresas encantadoras.

A saída para a Argentina se inicia com a travessia da cordilheira andina através do passo Hua-Hum. O caminho margeia os lagos Villarrica, Calafquén, Panguipully e

Page 18: Como ela influenCia a nossa vida

centro urbano de Pucón. ao fundo, o oniPresente VuLcão ViLLarrica

Page 19: Como ela influenCia a nossa vida

termas geométricas, na região de Pucón

Page 20: Como ela influenCia a nossa vida

a reserva de Huilo Huilo, com sua bela cachoeira. E se chega até Puerto Fuy, onde embarca-se na balsa que na-vega por hora e meia até chegar a Puerto Pirihueico.

Depois dos trâmites de imigração, chega-se à alfândega argentina onde é preciso preencher alguns documentos de entrada no país, e embarca-se na moderna lancha Patagônia 1, com capacidade para 115 passageiros. Pode se viajar na parte coberta da embarcação, ou sair para a parte externa da qual desfruta-se de 365 graus de pura paisagem andina.

E tem início a segunda parte do programa Travessia Na-vegando entre Chile e Argentina, passando pelos lagos Nonthué e Laçar, fazendo uma curta caminhada na ilha Santa Teresita para chegar, duas horas depois, na ci-dade argentina de San Martin de los Andes. A travessia completa dura perto de dez horas e, quando as condi-ções climáticas se põem mais complicadas, o trajeto se faz tranquilamente pelo passo Mamuil Malal, que não deixa nada a dever quanto a belas paisagens de lagos, rios e as sempre nevadas montanhas andinas.

No dia seguinte, pela manhã, há tempo suficiente para se conhecer a charmosa San Martin de los Andes e fazer comprinhas.

À tarde tem início a “Excursão aos Sete Lagos”. Ela per-corre desfiladeiros andinos do lado argentino até che-gar a Villa La Angostura, uma parada para café e cho-colates. Depois, a viagem continua até San Carlos de Bariloche, onde o turista dispõe de dois dias para fazer passeios como o Circuito Chico, Cerro Campanário, Isla

Victoria, ou simplesmente sentar num bom restauran-te, saborear um bom bife de chorizo acompanhado por um vinho Malbec. Nada pode ser mais argentino do que isso!

A Travessia Navegando Chile e Argentina é uma das melhores alternativas para se conhecer e admirar os en-cantos dos vales da Cordilheira dos Andes. Informações: In Out Patagonia (0056- 45) 94-3650

www.inoutpatagonia.cl

www.freeway.tur.br

20/35oáSiS . viagEM

bike em riacho da região

Page 21: Como ela influenCia a nossa vida

entrada de uma das muitas caVernas VuLcânicas da região

dois ânguLos de Visão do VuLcão ViLLarrica

Vaqueiro da Patagônia PrePara churrasco tíPico no interior de cabana de madeira

Page 22: Como ela influenCia a nossa vida

duas LoJas de artesanatos em san martin de Los andes

a cratera fumegante do VuLcão ViLLarrica

o rafting é um dos esPortes mais Praticados nas corredeiras que Vão desaguar nos Lagos andinos

Page 23: Como ela influenCia a nossa vida

Paisagem da margem de um Lago andino

Page 24: Como ela influenCia a nossa vida

9/19OáSIS . SaúdE Praia do Lago de Pucón, muito frequentada nos meses de Verão

Page 25: Como ela influenCia a nossa vida

a cidadezinha de san martin de Los andes, em território argentino

Page 26: Como ela influenCia a nossa vida

uma Pousada na rota dos Lagos andinos

Page 27: Como ela influenCia a nossa vida

AG

rIC

ULT

Ur

AFUKUOKA

O agricultor que deixava a terra em paz

OáSIS . agriCultura

Page 28: Como ela influenCia a nossa vida

28/35OáSIS . agriCultura

uando abordamos a momento-sa questão da relação entre o homem e o mundo natural, não fazer nada ou interferir minima-mente torna-se uma ideia radi-cal. Especialmente para uma ci-vilização como a nossa, obcecada em saltar de uma complexidade para outra na prática, ao mesmo tempo em que, teoricamente, idealiza a simplicidade. Masanobu Fukuoka (1913 –2008) foi um agricultor, bi-ólogo e filósofo japonês, autor das obras “A revolução de uma palha” e “O sendeiro natural do cultivo”, nas quais apresenta

suas propostas para um método de agri-cultura que é hoje mundialmente conheci-do como “agricultura natural” ou “método Fukuoka”. Esse sistema de cultivo, cujos re-sultados costumam ser surpreendentemente bons, é baseado justamente num ideal de

Qseu nome era masanobu fukuoka e seu método de agricultura natural é cada vez mais valorizado ao redor do mundo. ele criou um sistema de cultivo que reproduz e respeita os processos naturais da terra

Por: equiPe oásis.

simplicidade.

No Japão, Fukuoka criou uma fazenda a partir de seus próprios conhecimentos e descobertas. Essa fazenda ficou célebre em todo o mundo por causa dos seus altos re-sultados agrícolas tanto em termos de pro-dução e da alta qualidade dos vegetais ali cultivados quanto de preservação da quali-dade do solo. Estes são os dois pontos que costumam ser destacados quando se fala da fazenda de Fukuoka:1. Era mais produtiva por metro quadra-do do que todas as plantações agroindus-triais do mundo, incluídas as que empre-gam as mais modernas tecnologias.2. Não empregava nenhum tipo de ma-quinário, nem pesticidas, nem adubos quí-micos. Nessa fazenda também não se arava a terra.

Fukuoka conseguiu tudo isso empregan-do técnicas pioneiras dentro do espírito da permacultura (sistema de design para a criação de ambientes humanos sustentá-veis e produtivos em equilíbrio e harmonia com a natureza). A mais célebre das técni-cas de Fukuoka é a das “nendo dango”, bo-las de argila com sementes em seu interior.

Fukuoka participou de numerosos projetos de permacultura que alcançaram grande

Page 29: Como ela influenCia a nossa vida

êxito ao redor do mundo. Por causa deles esse sábio ja-ponês conquistou a fama de ser capaz de reverdecer cam-pos áridos e até mesmo zonas desérticas. Ele entendia seu trabalho não apenas como um labor de cura da Ter-ra, mas também de cultivo da alma.

Projeto Fukuoka

O sistema de cultivo de Fukuoka foi por ele batizado de “agricultura natural”. Embora muitas das suas práticas sejam específicas para o Japão, a ideia geral que rege o seu método foi aplicada com êxito em muitos lugares ao redor do mundo. Seu sistema se enquadra dentro do âm-bito da permacultura, cuja essência é reproduzir as con-dições naturais tão fielmente quanto possível, de modo que o solo se enriqueça progressivamente e a qualidade dos alimentos cultivados aumente sem o acréscimo de nenhum esforço ulterior.

Princípios do método

Não arar: deste modo são preservados e mantidos a es-trutura e a composição do solo com suas características ótimas de umidade e de micronutrientes.Não usar adubos ou fertilizantes: mediante a interação dos diferentes elementos botânicos, animais e minerais do solo, a fertilidade do terreno de cultivo se regenera como em qualquer sistema não domesticado.Não eliminar ervas daninhas nem usar herbicidas: estes destroem os nutrientes e os microrganismos do solo, e unicamente se justificam em certos casos de monocultu-ras. Fukuoka propõe uma interação de plantas que enri

29/35oáSiS . agriCultura

Page 30: Como ela influenCia a nossa vida

30/35OáSIS . agriCultura

Page 31: Como ela influenCia a nossa vida

quece e controla a biodiversidade de um solo.Não usar pesticidas: eles também matam a riqueza na-tural do solo. A presença de insetos pode ser equilibrada numa plantação.Não podar: deixar que as plantas sigam o seu curso natu-ral.Todos estes princípios de trabalho à primeira vista bas-tante radicais são baseados na antiquíssima filosofia oriental do não fazer (wu-wei, em chinês) ou, mais exa-tamente, não interferir. Fukuoka alcançou um alto grau de compreensão dos microssistemas do solo, que lhe per-mitiu idealizar um sistema que libera do trabalho e dos esforços não necessários empregados na agricultura con-vencional moderna.

Seu método se baseia em dar e receber da terra de forma natural, em vez de sugar os seus recursos até o seu total esgotamento.

Bolas de argila (nendo dango)

Para melhorar a produção com a menor intervenção pos-sível, Fukuoka idealizou entre outras coisas um sistema que permite substituir tanto o arado quanto os espanta-lhos.

Uma criação importante é o das bolinhas de barro: colo-car sementes dentro de bolinhas de barro de 2 a 3 centí-metros de diâmetro que serão espalhadas na superfície do campo agrícola. No interior das bolinhas, as sementes permanecerão protegidas das intempéries e dos animais. Com as primeiras chuvas intensas, as bolinhas serão des

31/35

Page 32: Como ela influenCia a nossa vida

feitas e as sementes começarão a brotar.Misturadas às sementes das plantas que se deseja cultivar são incluídas sementes de outras plantas (principalmente do trevo branco). Estas últimas germinarão mais rapida-mente e suas plantas criarão uma capa fina que protegerá o solo da luz solar, impedindo a germinação de ervas dani-nhas, mas não a dos cereais que se deseja cultivar.

Em vez de arar ou eliminar as ervas do campo agrícola, o método Fukuoka recomenda que ele seja recoberta com os restos das plantas cultivadas na colheita anterior, de for-ma que seja criada uma compostagem natural, capaz de conservar a umidade e os nutrientes e de impedir a proli-feração de ervas não desejadas.

Detalhes interessantes

As bolas de argila podem conter uma porção de adubo na-tural (esterco ou outros).Uma porção de pimenta caiena acrescentada às bolotas de barro ajuda a espantar animais que poderiam comer as sementes. Nessas bolotas podem também ser incluídas vá-rias combinações, segundo seja o cultivo de cereais, horta-liças, frutas, zonas de bosques, etc., de modo que possam ter muito mais usos que o da produção de alimentos agrí-colas (reflorestamento, renovação de áreas verdes, regene-ração de solos desgastados, etc.)

Sistema de trabalho

O sistema Fukuoka se baseia em respeitar e inclusive po-tencializar os ciclos naturais, de maneira que estes assegu-rem uma melhor qualidade de crescimento das plantas.

7/8OáSIS . agriCultura

Page 33: Como ela influenCia a nossa vida

Mediante intervenções simples, executadas no mo-mento adequado, é possível obter-se uma considerá-vel redução do tempo de trabalho. Essas intervenções são baseadas na interação da biosfera com o solo. Por exemplo: no outono semeia-se arroz, recoberto com uma espessa camada de palha de arroz. O centeio ou a cevada e o trevo brotam imediatamente, mas as se-mentes do arroz permanecem latentes até a chegada da primavera. O centeio e a cevada são ceifados em maior e permanecem espalhados sobre o terreno para que se-quem durante uma semana a dez dias.Depois disso, são triados e ensacados para armazena-mento. Toda a palha é espalhada sem trituração so-bre os campos, como para formar um acolchoado. Os campos permanecem inundados durante um curto pe-ríodo de tempo durante as chuvas das monções de ju-nho para debilitar o trevo e as ervas daninhas, e dessa forma proporcionar ao arroz a oportunidade de brotar através da capa vegetal que cobre o solo.

A filosofia de vida de Fukuoka

“Se não tivesse criado para mim uma filosofia de vida, já estaria morto há muitos anos”, costumava afirmar Fukuoka. “Uma única coisa é absolutamente verdadei-ra: Tudo é uno. Também descobri que nada existe nes-te mundo. Tentei penetrar cada vez mais nos detalhes do NADA mais profundo”.

Assista o vídeo aqui.

33/35OáSIS . aStro

Page 34: Como ela influenCia a nossa vida

OáSIS . aMbiEntE

AQUECIMENTO GLOBALNas cordas de um violoncelo

AM

BIE

NT

E

Page 35: Como ela influenCia a nossa vida

s efeitos do aquecimento global estão em todas as partes, dia após dia. Mas é difícil construir uma ideia precisa desse fenômeno sem ter nas mãos os dados do quanto os termômetros subiram nos últi-mos cem anos.Uma ideia genial nos ajuda a per-ceber essa escalada. Ela foi pen-sada por Daniel Crawford, um estudante de música da Universi-dade de Minnesota, que transfor-mou 130 anos de história atmos-férica terrestre em uma partitura para violoncelo.

Estudioso de temáticas ambientais, além de músico, Crawford coletou os dados sobre a temperatura da atmosfera vizinha à superfície terrestre publicados pelo Goddard Institute of Space Studies, da NASA, relativos a um perío-do que vai de 1880 a 2012. A cada ano, ele as-sociou uma nota: à medida que a temperatura média do planeta aumenta, aumenta também a altura da nota tocada.

Oideia genial: o músico e ambientalista daniel crawford transformou 130 anos de história atmosférica terrestre em uma partitura para violoncelo

Por: equiPe oásis. Vídeo: Vimeo

Escute o lamento sonoro da Terra que está cada vez mais quente: é fácil perceber que de 1960 em diante as notas são cada vez mais agudas, quase estridentes em relação ao iní-cio da composição. Isso acontece porque 9 dos 10 anos mais quentes da história dos registros meteorológicos, de 1880 em diante, verificaram-se na última década.“Os especialistas sustentam que o planeta ainda se aquecerá 1,8 graus centígrados até o final deste século”, disse Crawford ao comen-tar a sua composição, que batizou de “A Song of Our Warming Planet”. Segundo o autor, “esse ulterior aquecimento criará uma série de notas que irão além do limite perceptivo do ouvido humano”.

Vídeo: A Song o four Warming Planet”, de Daniel Crawford

OáSIS . aMbiEntE