a influencia-metacaulim-propriedades-concreto

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A INFLUÊNCIA DO UNIV CENTR FELIPE COSTA MODA BELTRÃO JHEYSON CARLOS ZENAIDE METACAULIM NAS PROPRIEDADES D VERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA RO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOG BELÉM - PA 2010 DO CONCRETO A GIA

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Page 1: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

A INFLUÊNCIA DO METACAULIM NAS PROPRIEDADES DO CONC RETO

UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA

FELIPE COSTA MODA BELTRÃO JHEYSON CARLOS ZENAIDE

A INFLUÊNCIA DO METACAULIM NAS PROPRIEDADES DO CONC RETO

UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA

BELÉM - PA 2010

A INFLUÊNCIA DO METACAULIM NAS PROPRIEDADES DO CONC RETO

UNAMA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA

Page 2: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

1

FELIPE COSTA MODA BELTRÃO JHEYSON CARLOS ZENAIDE

A INFLUÊNCIA DO METACAULIM NAS PROPRIEDADES DO CONC RETO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como

exigência para a obtenção do Título de Engenheiro

Civil, submetido à banca examinadora da Universidade

da Amazônia, do Centro de Ciências Exatas e

Tecnologia, elaborado sob a orientação do Professor

M.Sc. José Zacarias Rodrigues da Silva Júnior.

UNAMA / CCET

BELÉM - PA 2010

Page 3: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

2

FELIPE COSTA MODA BELTRÃO JHEYSON CARLOS ZENAIDE

Trabalho de conclusão de curso submetido à Coordenação do Curso de Engenharia Civil do

Centro de Ciências Exatas e Tecnologia, da Universidade da Amazônia, como parte dos

requisitos para a obtenção do título de Engenheiro Civil.

Banca Examinadora

________________________________________ Engenheiro José Zacarias Rodrigues da Silva Júnior, Mestre

Professor e Orientador - CCET-UNAMA

________________________________________ Engenheiro Wandemyr Mata dos Santos Filho, Mestre

Professor - CCET-UNAMA

________________________________________ Engenheiro Archimino Cardoso de Athayde Neto, Mestre

Escritório de Cálculo Estrutural A. C. Athayde

UNAMA / CCET

BELÉM - PA 2010

Page 4: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

3

AGRADECIMENTOS

Agradecemos primeiro a Deus, que nos concedeu a vida e conhecimento para trilhar

por cinco anos esta jornada, não deixando que desviássemos de nossos princípios e objetivos.

Aos nossos pais por nos estimular a ter pulso firme, caráter, não desistir e enfrentar

nossos problemas de frente, além de todo o conhecimento partilhado conosco ao longo dos

anos.

As nossas mães pelos momentos de conforto, carinho, atenção, orientação e dedicação

em nossas criações, além de todos os ensinamentos.

Aos nossos familiares pelo apoio e incentivo, sempre nos encorajando a seguir em

frente e não desistir.

A UNAMA e todos os professores do Curso de Engenharia Civil, em especial ao

nosso orientador Prof. M.Sc. José Zacarias Rodrigues da Silva Junior e ao Coordenador do

Curso Professor Selênio Feio da Silva.

As empresas Metacaulim do Brasil Ltda. e Anchortec Ltda.

Aos amigos e colegas universitários pelos imprescindíveis e necessários momentos de

descontração, estimulo e colaboração mútua, uma vez que muitos de nós enfrentamos a

mesma luta.

Aos responsáveis técnicos pelos laboratórios de Materiais de Construção da

Universidade da Amazônia por toda colaboração e tempo disponibilizado para nos dar apoio

durante os experimentos.

Page 5: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

4

"Nem tudo que se enfrenta pode ser

modificado mas nada pode ser modificado até

que seja enfrentado"

Albert Einstein

Page 6: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

5

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 13

2 OBJETIVO ....................................................................................................................... 14

3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................. 14

4 MATERIAIS .................................................................................................................... 14

4.1 CIMENTO PORTLAND ........................................................................................... 15

4.1.2 Classificação dos tipos de cimento portland ...................................................... 17

4.2 ADITIVOS QUÍMICOS ............................................................................................ 19

4.3 AGREGADOS ........................................................................................................... 24

4.4 ÁGUA ....................................................................................................................... 25

5 O METACAULIM ......................................................................................................... 26

5.1 VISÃO DE SUSTENTABILIDADE ......................................................................... 26

5.2 BENEFÍCIOS ............................................................................................................ 27

5.3 COMPOSIÇÃO ......................................................................................................... 27

5.4 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS ................................................................................... 28

5.5 MECANISMO DE AÇÃO ........................................................................................ 29

6 O CONCRETO ................................................................................................................. 30

6.1 PROPRIEDADES ...................................................................................................... 33

6.1.1 Resistência e Porosidade .................................................................................... 33

6.1.2 Permeabilidade ................................................................................................... 35

6.1.3 Durabilidade ....................................................................................................... 36

6.1.4 Patologias ........................................................................................................... 44

7 PROGRAMA DE EXPERIMENTOS .............................................................................. 49

7.1 MATERIAIS .............................................................................................................. 50

7.2 PROCEDIMENTOS .................................................................................................. 52

Page 7: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

6

8 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................. 53

8.1 RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO AXIAL E TRAÇÃO POR COMPRESSÃO

DIAMETRAL ....................................................................................................................... 53

8.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS DE COMPRESSÃO AXIAL ............................... 55

8.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA TRAÇÃO POR COMPRESSÃO

DIAMETRAL ....................................................................................................................... 56

8.4 ABSORÇÃO DE ÁGUA POR CAPILARIDADE ................................................... 56

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 57

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 59

ANEXOS .................................................................................................................................. 63

Page 8: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

VII

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Representação diagramática da zona de transição e da matriz de pasta de cimento no

concreto. 15

Figura 2: Estrutura dos aditivos plastificantes típicos. 20

Figura 3: Representação da força de repulsão nas partículas de cimento dos aditivos

plastificantes. 21

Figura 4: Ilustração dos mecanismos de estabilização de suspensões: (a) estabilização

eletrostática, (b) estabilização estérica e (c) estabilização eletroestérica. 22

Figura 5: Rompimento de corpo de prova, sem Metacaulim. 27

Figura 6: Rompimento de corpo de prova, com Metacaulim. 27

Figura 7: Proveta contendo CP II-F 32. 29

Figura 8: Proveta contendo Metacaulim HP. 29

Figura 9: Proveta contendo água. 29

Figura 10: Seção polida de um corpo-de-prova de concreto. 30

Figura 11: Ruptura de corpos de prova. 32

Figura 12: Variação na porosidade capilar com relações água/cimento e graus de hidratação

diferentes. 34

Figura 13: Influencia da cura úmida sobre a resistência do concreto. 35

Figura 14: Regra de Sitter - custo relativo da intervenção. 40

Figura 15: Conceituação de vida útil das estruturas de concreto tomando-se por referência o

fenômeno de corrosão das armaduras. 41

Figura 16: Ábaco para obtenção da espessura de cobrimento às armaduras em função do

ambiente onde predomina o gás carbônico. 43

Page 9: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

VIII

Figura 17: Ábaco para obtenção da espessura de cobrimento às armaduras em função do

ambiente onde predomina exposição à zona de respingos de maré. 44

Figura 18: Ataque por sulfato no concreto ma Barrage, de Fort Peck, 1971. 46

Figura 19: Carbonatação em corpo de concreto armado (viga). 48

Figura 20: Ataque por cloretos. 49

Figura 21: Laboratório de materiais de construção. 49

Figura 22: Aditivo Superplastificante Structuro 105 da Anchortec Ltda. 51

Figura 23: Prensa Hidráulica EMIC. 53

Figura 24: Prensa executando ensaio de resistência à compressão axial. 53

Figura 25: Prensa executando ensaio de resistência à tração por compressão diametral. 53

Figura 26: Resistência à compressão axial aos 7 e 28 dias de idade. 54

Figura 27: Resistência à tração por compressão diametral aos 7 e 28 dias de idade. 54

Figura 28: Ensaio de absorção de água por capilaridade. 56

Figura 29: Gráfico da redução na absorção. 57

Page 10: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

IX

LISTA DE TABELAS

Tabela 01: Principais compostos do cimento Portland. 16

Tabela 02: Limites de teores de compostos para cimentos da ASTM C150. 17

Tabela 03: Composição dos diferentes tipos de cimentos. 19

Tabela 04: Análise dos compostos do Metacaulim HP. 28

Tabela 05: Massa dos materiais em comparação ao Metacaulim HP. 29

Tabela 06: Caracterização física do Metacaulim HP. 29

Tabela 07: Classes de agressividade ambiental. 38

Tabela 08: Classes de agressividade do ambiente em função das condições de exposição. 38

Tabela 09: Traços utilizados no programa de experimento. 50

Tabela 10: Caracterização do seixo rolado. 51

Tabela 11: Caracterização da areia fina. 52

Tabela 12: Resistência à compressão axial aos 7 e 28 dias de idade. 54

Tabela 13: Resistência à tração por compressão axial aos 7 e 28 dias de idade. 54

Tabela 14: Resultados do ensaio de absorção de água por capilaridade. 57

Page 11: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

X

LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS

ABCP - Associação Brasileira do Cimento Portland.

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas.

A/C - Relação água/cimento.

ACI - American Concrete Institute (Instituto Americano do Concreto).

ARI - Alta resistência inicial.

ASTM - American Society for Testing And Materials (Associação Americana para Testes e

Materiais).

CP - Cimento Portland.

CPB - Cimento Portland Branco.

CPP - Cimento para poços petrolíferos.

EPA - United States Environmental Protection Agency (Agência de Proteção Ambiental dos

Estados Unidos).

NBR - Norma Brasileira.

UR - Umidade Relativa.

Page 12: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

11

RESUMO

Este Trabalho de Conclusão de Curso apresenta os resultados do estudo sobre alguns

dos benefícios proporcionados pela utilização da adição mineral Metacaulim na composição

do concreto de cimento Portland, ou seja, as modificações nas propriedades do mesmo,

especificamente na resistência mecânica e redução da permeabilidade, além de algumas

análises sobre o impacto positivo gerado devido essas melhorias na durabilidade do concreto,

na sustentabilidade e economia de custos.

O estudo visa a exposição do mesmo como uma importante ferramenta na busca por

uma maior qualidade do concreto, no prolongamento da vida útil das estruturas, adquirida

através do combate à diversas patologias, característica proporcionada pela adição.

Palavras chave: Metacaulim, Durabilidade e Resistência do Concreto, Sustentabilidade.

Page 13: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

12

ABSTRACT

This work presents a study regarding a few benefits provided by using the mineral

addition Metacaulim in the composition of Portland cement concretes, in other words, the

modifications in the properties, specifically in the mechanical strength and absorption

reduction, and a few observations regarding the positive impacts generated in cost saving and

sustainability due this durability increase.

This study try to expose the addition as a important tool in the search of a better

concrete quality, in the prolongation of its life cicle in structures, acquired by fighting some

pathologies, a feature provided by the addition.

Keywords: Metacaulim, Concrete Durability and Strength, Sustainability.

Page 14: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

13

1 INTRODUÇÃO

Quando falamos de concreto, é essencial citar a importância da sua principal matéria

prima, o cimento. Estima-se que o consumo atual de concreto no mundo seja da ordem de 11

bilhões de toneladas métricas ano (MEHTA & MONTEIRO, 2008). Seu uso intenso na

indústria da construção civil faz com que o cimento seja o segundo material mais utilizado

pela humanidade, perdendo a primeira posição apenas para água. Além de ser um dos

ingredientes chave para concretos de cimento Portland, por ser uma das matérias prima mais

utilizada no mundo, seu preço é regulado pelas demandas do mercado internacional, portanto

o cimento é o que denominamos de commodity.

Dado essa sua importância, o concreto é foco de constantes pesquisas para aperfeiçoar

ou adicionar características a ele. Hoje temos uma diversidade de concretos que refletem esse

investimento em pesquisas, que apesar de não fugir da convencional mistura de cimento, água

e agregado, ao incluir adições minerais e aditivos químicos, suas propriedades são

modificadas de forma a atender as necessidades de projeto.

O cimento Portland pode ser considerado como um ingrediente universal para

estruturas de concreto, sendo um dos materiais da construção civil que permite engenheiros e

arquitetos manipularem suas propriedades de acordo com as necessidades do projeto. Quando

se faz a escolha de um sistema estrutural em concreto, é necessário especificar algumas

variáveis para assegurar seu bom desempenho, como resistência mecânica à compressão e

tração e resistência a agentes agressivos químicos presentes em certos meios. Essas

características fazem parte de uma fórmula complexa que desde o início se faz necessário a

presença de um rígido controle tecnológico e uso de aditivos químicos e adições minerais para

auxiliar o construtor, onde podemos destacar o Metacaulim, foco específico deste trabalho de

conclusão de curso.

A fabricação do cimento é uma das maiores fontes de gases poluentes que contribuem

para o efeito estufa, atrás apenas da queima de combustíveis fósseis e gasosos. De acordo com

dados do EPA1, estima-se que 3,4% da emissão global de ��� tenha como responsável a

produção do clínquer e outras atividades industriais relacionadas à produção do cimento,

Com a atual preocupação mundial a respeito do clima, é essencial citarmos o papel do

Metacaulim na sustentabilidade. Substituindo parte do traço correspondente ao cimento

1 EPA - United States Environmental Protection Agency (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos).

Page 15: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

14

utilizado na produção do concreto pelo Metacaulim, diminuímos a demanda pelo cimento e

consequentemente a emissão de ���, pois sua composição é à base de sílica ������ e alumina

�����, diferente do cimento que tem como base compostos de cálcio constituídos por

carbono que liberam ��� na sua produção.

A proposta de substituir uma porcentagem do traço que corresponde ao cimento pela

adição mineral Metacaulim também visa melhorar algumas propriedades do concreto, as quais

podemos citar o aumento na resistência mecânica, resistência a sulfatos, inibição de reações

álcali-agregado e redução da permeabilidade. Aumentando a resistência do concreto, permite-

se reduzir seções de lajes, vigas e pilares ou o consumo de aço, promovendo economia de

materiais e custos.

2 OBJETIVO

Fazendo o uso de materiais comuns na produção do concreto nas obras da região

metropolitana de Belém, demonstrar alguns benefícios da adição mineral Metacaulim HP para

concretos de cimento Portland. Através de experimentos em diferentes dosagens da adição,

verificar as melhorias que ela proporciona nas propriedades do concreto, analisando os

resultados de acordo com a literatura disponível e sua colaboração na economia de custos e

sustentabilidade.

3 JUSTIFICATIVA

O Metacaulim HP é produto com pouco tempo de mercado no Brasil e novo nas obras

da região metropolitana de Belém. O presente trabalho visa esclarecer e melhor difundir a

utilidade benéfica desta adição mineral, independente do tamanho e tipo de empreendimento

que utilize concreto de cimento Portland.

4 MATERIAIS

Neste capítulo é abordado os materiais utilizados para a confecção do concreto de

cimento Portland. É essencial conhecê-los para compreender os mecanismos que levam a

mistura de água, cimento e agregados resultar em um corpo sólido heterogêneo com novas

característica físicas e químicas. Outros materiais como adições minerais e aditivos químicos

Page 16: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

15

também são abordados, pois estes possuem igual importância na confecção do concreto,

permitindo modificar algumas de suas características para atender necessidades especiais.

4.1 CIMENTO PORTLAND

Produzido em instalações industriais de grande porte, através de processos de extração

da matéria prima, britagem, moedura e mistura, queima, e moedura do clínquer (BAUER,

2000), PETRUCCI (1987) define cimento Portland como um aglomerante hidráulico de

"material pulverulento, constituído de silicatos e aluminatos de cálcio. Esses compostos

complexos, ao serem misturados com água, hidratam-se e produzem o endurecimento da

massa, que pode oferecer elevada resistência".

A definição de aglomerante hidráulico para o cimento Portland é devido a sua

característica de reagir na presença da água, pois ele sozinho não possui a capacidade de

aglomerar com a areia e agregado graúdo para a composição da argamassa para concretos.

Poucas horas iniciada sua hidratação, dá-se início a formação de cristais de

sulfoaluminato de cálcio hidratado ou "etringita" (� − � − �̅ − ) e após algumas horas

formam-se grandes cristais prismáticos de hidróxido de cálcio (���� �� ou � − ) e

pequenos cristais fibrosos de silicato de cálcio hidratado (������� ∙ �� ou � − � − )

(ISERHARD, 2000). Estes componentes estão representados na figura 1.

Figura 1: Representação diagramática da zona de transição e da matriz de pasta de cimento no concreto (MEHTA & MONTEIRO, 1994).

Page 17: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

16

De acordo com NEVILLE (1997), o cimento Portland é composto de uma série de

matérias primas que consistem principalmente de calcário �����, sílica ������, alumina

������� e óxido de ferro �������, representados na tabela 01.

Tabela 01 - Principais compostos do cimento Portland.

Nome do Composto Óxido Abreviação Composição em Óxidos Abreviação Silicato tricálcico ��� C 3���. ���� �3� Silicato bicálcico ���� S 2���. ���� �2� Aluminato tricálcico ��� A 3���. ��� �3� Ferroaluminato tetracálcico � �� F 4���. ���. � �� �4��

BAUER (2000) e MEHTA et al. (1994) descrevem o papel desempenhado por cada

um dos quatro compostos:

Silicato tricálcico �����: o maior responsável pela resistência do concreto em todas

as idades, especialmente nos primeiros 28 dias de cura, sendo o segundo com

responsabilidade pelo tempo de pega do cimento.

Silicato bicálcico �����: tem papel importante no ganho de resistência em idades

mais avançadas, em um ano ou mais devido sua lenta velocidade e baixo calor de hidratação.

Aluminato tricálcico �����: tem papel importante na rápida evolução da resistência

nos primeiros dias de cura e muito contribuí no calor de hidratação devido sua rápida

velocidade de pega. NEVILLE (1997) questiona sua colaboração na resistência da pasta de

cimento que apesar de nos três primeiros dias seja significativamente relevante, seu papel é

controverso por causar regressão em idades mais avançadas.

Ferroaluminato tetracálcico ��"���: não possui contribuição apreciável na

resistência do cimento, mas tem papel importante em facilitar a produção comercial do

cimento. Assim como o aluminato tricálcico, NEVILLE (1997) também questiona seu papel

no desenvolvimento da resistência da pasta de cimento.

BAUER (2000) e NEVILLE (1997) citam outros compostos secundários de menor

importância, como certa proporção de magnésia �#$��, uma pequena porcentagem de

anidrido sulfúrico ���� adicionado após a calcinação para retardar o tempo de pega, óxido

de sódio �%����, óxido de potássio �&���, óxido de titânio �'����, óxido de manganês

�#(��� e algumas impurezas.

Page 18: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

17

4.1.2 Classificação dos tipos de cimento portland

A escolha do tipo de cimento Portland deve ser de acordo com as necessidades físicas

e químicas desejadas. Há diversas classificações que variam de acordo com os teores dos

compostos que promovem alterações significativas em algumas de suas características. A

ASTM C150 especifica limites máximos para os teores de ��, ���, �� e ���� para cada

tipo de cimento, representados na tabela 02.

Tabela 02 - Limites de teores de compostos para cimentos da ASTM C150.

Composto (%) Tipo

I II III IV V ��� máx. - - - 35 - ��� max. - - - 40 - ��� máx. - 8 15 7 5 ��"�� + 2���� máx. - - - - 25

Mesmo com esta diversidade de tipos, nem sempre as necessidades são atendidas,

necessidades as quais podem não somente ser físicas e químicas, mas também econômicas.

MEHTA et al. (1994) cita que a economia de custos foi provavelmente a razão original para o

desenvolvimento de cimentos Portland compostos. De acordo com NEVILLE (1997), há

diversas formas de se produzir um cimento Portland composto, uma dela é moer os

compostos com o clínquer, produzindo um composto integral com grãos tão finos quanto o

cimento. As normas brasileiras fixam as especificações dos diferentes tipos de cimento

Portland:

CP I - Cimento Portland comum (NBR 5732/91): é o cimento sem propriedades

especiais, empregado no uso geral, ou seja, quando não há comprometimento com nenhuma

especificação especial. Este tipo de cimento pode ter adições de pozolana, escória de alto

forno ou filler, sendo assim denominado CP I-S - Cimento Portland comum com adição.

CP II - Cimento Portland composto (NBR 11578/91): apresenta moderada

resistência a sulfatos e moderado calor de hidratação. Pode ser composto por pozolana (CP II-

Z), escória de alto forno (CP II-E) ou filler (CP II-F). São os mais encontrados no mercado,

representando atualmente aproximadamente 75% da produção industrial brasileira (ABCP,

2002).

A ASTM C150 limita o quantidade de �� no cimento ao máximo de 8%, e tem um

limite opcional máximo de 58% na soma do �� + �� (MEHTA & MONTEIRO, 1994).

Page 19: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

18

CP III - Cimento Portland de alto forno (NBR 5735/91): obtido pela mistura

homogênea de clínquer Portland e escória granulada de alto forno. Caracteriza-se pela alta

resistência inicial. Este possui maior finura e teor de �3� que o cimento Portland comum que

de acordo com NEVILLE (1997), deve ser maior que 50% e as vezes até do que 70%.

A escória de alto forno é um resíduo da indústria de ferro gusa, quimicamente

composto de uma mistura de cal, sílica e alumina, ou seja, os mesmos óxidos que também

constituem o cimento Portland (NEVILLE, 1997).

CP IV - Cimento Portland pozolânico (NBR 5736/91): são cimentos de baixo calor

de hidratação e lenta evolução na resistência. Apresenta baixo teor de �� e ��. De acordo

com a norma, o teor de materiais pozolânicos secos deve estar entre 15% e 50% da massa

total do cimento.

Este tipo de cimento não tem sido mais utilizado devido a existência de outras formas

mais econômicas de controlar o calor de hidratação com adição de pozolana ou cinza volante

como exemplo no cimento Portland composto (CP II).

CP V-ARI - Cimento Portland de alta resistência inicial (NBR 5733/91): apresenta

alta resistência a sulfatos e baixo teor de ��, principal responsável em reagir com sulfatos.

De acordo com a norma brasileira, a designação "ARI" representa o mínimo de resistência à

compressão aos 7 dias de idade que corresponde a 34 MPa.

A ASTM C 150 limita o teor de �� em 5% e o total dos teores de �4�� mais o dobro

de �� a 25% (NEVILLE, 1997).

CPB - Cimento Portland branco (NBR 12989/93): difere-se dos demais pela

coloração branca devido os baixos teores de óxidos de ferro e manganês em sua composição,

além condições especiais durante a fabricação. A norma subdivide o CPB em dois tipos:

estruturais e não estruturais. Enquanto o estrutural possui classes de resistência de 20, 32 e 40

MPa assim como os outros tipos de cimento, o não estrutural não possui aplicação de classes

e é indicado apenas para fabricação de argamassas para rejunte, ladrilhos hidráulicos e outros

fins não estruturais (ABCP, 2010).

CPP - Cimento para poços petrolíferos (NBR 9831/06): sua aplicação é bastante

específica, destinada a cimentação de poços petrolíferos. Este cimento apresenta apenas

clínquer e gesso para retardar sua pega como componentes. Devido sua aplicação em grandes

profundidades em condições de temperatura e pressões elevadas, durante o processo de

Page 20: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

19

fabricação são tomadas precauções para garantir que o produto conserve sua plasticidade. O

volume de utilização deste tipo de cimento é pouco expressivo no país. (ABCP, 2002).

Cimento Portland de baixo calor de hidratação (NBR 13116/94): o rápido aumento

da temperatura em grandes massas de concreto podem resultar no aparecimento de fissuras de

origem térmica que podem ser evitadas com o uso de cimentos com lenta evolução de calor.

Cimentos Portland de baixo calor de hidratação podem ser qualquer um dos tipos de cimento

básicos, porém este deve geram até 260 J/g e 300 J/g aos 3 e 7 dias de hidratação

respectivamente (ABCP, 2002).

De acordo com a ABCP (2002), as composições típicas destes diferentes tipos de

cimento estão representados na tabela 3.

Tabela 03 - Composição dos diferentes tipos de cimentos.

Tipo de cimento Portland

Sigla Composição (% de massa)

Clínquer + gesso

Escória granulada de alto forno (E)

Material pozolânico (Z)

Material carbonático (F)

Comum CP I 100 - CP-S 99-95 1-5

Composto CP II-E 94-56 6-34 - 0-10 CP II-Z 94-76 - 6-14 0-10 CP II-F 94-90 - - 6-10

Alto-forno CP III 65-25 35-70 - 0-5 Pozolânico CP IV 85-45 - 15-50 0-5 Alta resistência inicial CP V-ARI 100-95 - - 0-5

Branco estrutural CPB-25 CPB-32 CPB-40

100-75 - - 0-25

Branco não estrutural CPB 74-50 - - 26-50 Fonte: ABCP, 2002.

4.2 ADITIVOS QUÍMICOS

A NBR 11768/92 define aditivos como "produtos que adicionados em pequenas

quantidades a concretos de cimento Portland, modificam algumas de suas propriedades, no

sentido de melhor adequá-las a determinadas condições". De acordo com NEVILLE (1997),

a norma americana ASTM C125 define o aditivo como "material, além de água, agregados,

cimentos hidráulicos e fibras, empregado como um constituinte do concreto ou argamassa e

adicionado na betoneira imediatamente antes ou durante a mistura".

MEHTA et al. (1994) citam que o uso de aditivos proporciona ao concreto vantagens

consideráveis como melhorias físicas e econômicas. "Essas melhorias incluem o uso em

Page 21: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

20

condições nas quais seria difícil ou até impossível usar o concreto sem aditivos". Hoje é

comum o uso dois aditivos.

Por norma (NBR 11768/92), são definidos nove tipos de aditivos para concretos de

cimento Portland:

a) Tipo P - aditivo plastificante: também conhecidos como redutores de água de 1ª

geração, permitem a redução da relação água/cimento sem modificar sua consistência. São

aditivos que reduzem o teor de água de 5% a 10% (NEVILLE, 1997) e modificam a

consistência do concreto, o tornando mais fluido. É normalmente utilizado na concretagem de

peças com armaduras de aço muito densas ou regiões inacessíveis como em placas de pisos ou

de pavimentos rodoviários (MEHTA & MONTEIRO, 1994). Como consequência da redução

da relação água/cimento, é normal ocorrer aumento na resistência do concreto.

Mecanismo de ação: de acordo com MEHTA et al. (1994), existem dois motivos que

fazem o cimento, quando adicionado água, transforma-se em um sistema pouco disperso.

Primeiro, a água, que possui tensão superficial elevada (estrutura molecular com ligação tipo

ponte de hidrogênio), e segundo, as partículas de cimento tendem a se aglomerar ou formar

flocos devido a existência de forças de atração entre arestas, cantos, e superfícies, carregados

positivamente e negativamente quando os compostos são finamente moídos.

Plastificantes típicos como ácido cítrico, ácido glucônico e polímero de

lignossulfonato, representados na figura 2, trabalham de forma onde sua cadeia polar aniônica

que está ligada a uma cadeia de hidrocarboneto polar ou hidrófila (� ) que quando absorvida

pela superfície da partícula do cimento, reduz sua tensão superficial dando uma forte carga

negativa as partículas, gerando uma força de repulsão eletrostática entre elas e também

tornando-as hidrófilas. Esta ação está representada na figura 3.

Figura 2: Estrutura dos aditivos plastificantes típicos (MEHTA & MONTEIRO, 1994).

Page 22: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

21

Figura 3: Representação da força de repulsão nas partículas de cimento (MEHTA & MONTEIRO, 1994).

b) Tipo R - aditivo retardador: agem aumentando o tempo de início e fim de pega

do concreto, tornando mais lento o endurecimento e evolução da resistência. Permite a

concretagem em locais de temperaturas elevadas e proporcionam mais tempo para efetuar

acabamentos. Seu uso no controle de pega é essencial em estruturas onde se faz necessário a

eliminação de fissuras e juntas frias, permitindo assim concretagens contínuas (NEVILLE,

1997).

Mecanismo de ação: há um grande número de substâncias que podem ser empregadas

como aditivos retardadores de pega mas o mecanismo de ação é basicamente o mesmo, a

capacidade de impedir a dissolução dos cátions (íons de cálcio), e ânions do cimento durante

o período de hidratação, evitando a formação dos compostos hidratados do cimento.

c) Tipo A - aditivo acelerador: de acordo com BAUER (2000), agem sob o

endurecimento, facilitando a hidratação e acelerando os tempos de início e fim de pega do

concreto. Sua principal função é proporcionar uma rápida evolução da resistência inicial,

permitindo assim uma desforma rápida, reparos urgentes e concretagens a baixas temperaturas

(NEVILLE, 1997).

Mecanismo de ação: age de forma contrária ao retardador. Este deve promover a

dissolução dos cátions e ânions do cimento, agindo como um catalisador da reação,

acelerando o processo de hidratação e enrijecimento da pasta, resultando na rápida formação

dos compostos hidratados do cimento.

d) Tipo PR - aditivo plastificante retardador: combina os efeitos dos aditivos

plastificante e retardador.

Page 23: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

22

e) Tipo PA - aditivo plastificante acelerador: combina os efeitos dos aditivos

plastificante e acelerador.

f) Tipo IAR - aditivo incorporador de ar: incorpora pequenas bolhas de ar ao

concreto, o tornando mais resistente a ciclos de congelamento e descongelamento. Este é

empregado na produção de concretos leves. De acordo com MEHTA et al. (1994), o aditivo

torna as partículas de cimento hidrófobas. Um excesso de aditivo pode causar retardamento na

hidratação do cimento. Grandes quantidades de ar incorporado também causam perda na

resistência.

g) Tipo SP - aditivo superplastificante: considerados como aditivos de 3ª geração,

comparados aos aditivos plastificantes comuns, podem reduzir o teor de água de 25% a 32%,

trabalhando forma significamente mais intensa que os plastificantes comuns (NEVILLE,

1994). São também chamados de redutores de água de alta eficiência.

Mecanismo de ação: trabalham quimicamente de forma diferente aos aditivos

plastificantes típicos. Representado na figura 4, o mecanismo de ação dos superplastificantes

de éter de policarboxilato é a estabilização eletroestérica, resultando em uma dispersão mais

eficiente. As longas cadeias laterais do policarboxilato aumentam o espaço físico entre as

partículas de cimento, resultando em uma redução de água muito superior devido ao

mecanismo de repulsão.

Figura 4: Ilustração dos mecanismos de estabilização de suspensões: (a) estabilização eletrostática, (b)

estabilização estérica e (c) estabilização eletroestérica (CASTRO & PANDOLFELLI, 2009)

h) Tipo SPR - aditivo superplastificante retardador: combina os efeitos dos

aditivos superplastificante e retardador.

i) Tipor SPA - aditivo superplastificante acelerador: combina os efeitos dos

aditivos superplastificante e acelerador.

Page 24: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

23

Em complementação aos aditivos descritos acima, NEVILLE (1994) e BAUER (2000)

citam alguns aditivos especiais, não especificados na NBR 11768/92. São eles:

j) Aditivos impermeabilizantes (hidrofugante): atua de modo em tornar o concreto

hidrófobo, obturando os poros capilares ou por ação repulsiva em relação à água

(PETRUCCI, 1987).

k) Aditivos bactericidas e similares: alguns organismos como fungos, bactérias ou

insetos podem prejudicar o concreto com compostos químicos corrosivos resultante de seus

metabolismos. Ataque de ácido orgânico ou mineral provocam corrosão do aço e reagem com

a pasta de cimento hidratada. Aditivos bactericidas e similares incorporam substâncias tóxicas

aos organismos agressores que podem ser bactericidas, fungicidas ou inseticidas que não

devem ser agressivos a saúde do ser humano (NEVILLE, 1994).

l) Aditivos expansores: produzem expansão do concreto durante o período de

hidratação, gerando gás e aumentando seu volume devido o hidrogênio gerado na reação,

formando pequenas bolhas. O mais comum dos aditivos geradores de gás é o alumínio em pó

(BAUER, 2000).

j) Aditivos estabilizadores ou inibidores de hidratação: estes aditivos podem

reduzir ou até parar a hidratação do cimento e tem um importante papel na obtenção do "selo

verde". Alguns destes aditivos conseguem promover longos retardos na hidratação de até 72

horas, evitando o desperdício de concreto no caso de sobra após o final de uma concretagem,

devolução de concreto no estado fresco ou problemas de última hora como correção nas

armaduras, atraso no transporte do concreto em caminhões betoneiras devido a

engarrafamentos e outros contratempos que podem atrasar o início da entrega e concretagem,

resultando no início da pega, impossibilitando o lançamento deste concreto e causando

grandes desperdícios de materiais e dinheiro (TOKUDOME, 2010).

Mecanismo de ação: atua sobre as moléculas do cimento através do encapsulamento

das mesmas, bloqueando a reação com a água. A intensidade do retardo se dá pelo teor de

aditivo utilizado.

Page 25: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

24

4.3 AGREGADOS

Originários na natureza em jazidas e artificialmente por ação do homem através de

uma rocha mãe por processos de britagem e moagem ou através de uma diversidade de

processos industriais, podemos citar os mais convencionais o seixo, brita e areias como

agregados para a confecção do concreto de cimento Portland.

Pelo menos três quartos do volume do concreto são ocupados pelos agregados.

Anteriormente o agregado era tido como um material inerte, distribuído pelo meio da pasta de

cimento, utilizado principalmente por razões de economia (NEVILLE, 1997), porém, a

medida que pesquisas em torno do concreto avançaram, este ponto de vista é seriamente

questionado pois hoje sabe-se que certos minerais contidos na composição dos agregados

podem reagir com pasta de cimento (reação álcali-agregado).

De acordo com MEHTA et al. (1994), sabe-se que as propriedades de um agregado

possuem significante influência sobre a durabilidade e desempenho do concreto, propriedades

as quais como composição mineral, forma e textura, aderência a pasta de cimento, resistência

à compressão, porosidade, absorção e teor de umidade podem elevar ou diminuir a qualidade

do concreto.

Na obtenção de concretos com especificações de qualidade mais rigorosas, é utilizado

agregados de pelo menos dois tamanhos, os quais podemos denominar de agregados graúdos,

designados na maioria por seixo ou brita, e agregados miúdos, designados por areias.

De acordo com a norma brasileira de agregados para concreto NBR 7211/05, os

agregados graúdos e miúdos são classificados quanto ao seu tamanho através do peneiramento

do material. Vale ressaltar que a norma diz respeito apenas a agregados de origem natural,

portanto não se aplica a agregados obtidos de forma industrial.

Agregado miúdo: agregado cujos grãos passam pela peneira com abertura de malha

de 4,75 mm e ficam retidos na peneira com abertura de malha de 150 µm, em ensaio realizado

de acordo com a ABNT NBR NM 248, com peneiras definidas pela ABNT NBR NM ISO

3310-1 (ABNT NBR 7211/05).

Agregado graúdo: agregado cujos grãos passam pela peneira com abertura de malha

de 75 mm e ficam retidos na peneira com abertura de malha de 4,75 mm, em ensaio realizado

de acordo com a ABNT NBR NM 248, com peneiras definidas pela ABNT NBR NM ISO

3310-1 (ABNT NBR 7211/05).

Page 26: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

25

4.4 ÁGUA

O cimento Portland, para se transformar em agente ligante necessita ser hidratado pela

água. Com o decorrer do tempo, os produtos da hidratação dão origem a uma massa firme e

dura, a pasta de cimento endurecida (NEVILLE, 1997).

De acordo com MEHTA et al. (1994), em 1918 no Instituto Lewis da Universidade de

Illinois, um extenso programa de ensaios conduzidos por Duff Abrams determinou que a

resistência do concreto possui relação com o fator águágua/cimento empregado.

O aumento da relação água/cimento aumenta a trabalhabilidade do concreto, porém,

vale ressaltar que, de uma forma geral, podemos admitir que a resistência do concreto é

inversamente proporcional à relação água/cimento por ter uma íntima ligação com a

porosidade. Isso se deve a processos de evaporação da água e vazios entre partículas não

hidratadas no cimento, deixando vazios dentro do corpo rígido do concreto (poros capilares),

reduzindo suas capacidades físicas e mecânicas devido o enfraquecimento da matriz da pasta

de cimento. NEVILLE (1997) cita que um dos materiais conhecidos feito a base de cimento

com maior resistência tinha uma relação de água/cimento de 0,08 e que depois de adensado,

apresentou resistência de 345 MPa. Com a aplicação de uma pressão de 340 MPa e

temperatura de 250°C foi possível alcançar resistências de 660 MPa à compressão axial e 64

MPa por compressão diametral. Isso se deve a baixíssima porosidade dessas misturas dada a

baixa relação água/cimento e excelente adensamento.

Diminuir a relação água/cimento visando reduzir a porosidade é sempre uma opção,

porém o mesmo se torna pouco trabalhável e adensável. Para isto, utilizam-se aditivos

químicos plastificantes para contornar estas dificuldades.

Outro papel importante da água é sua aplicação na cura durante os primeiros estágios

do endurecimento, qual seu objetivo é manter o concreto saturado ou mais próximo possível

desta condição para promover a hidratação do cimento e controle da temperatura (NEVILLE,

1997).

É fundamental a qualidade da água utilizada nestes estágios de confecção do concreto.

Impurezas contidas na água podem interferir com a pega do cimento, comprometer a

resistência do concreto ou provocar o aparecimento de manchas na sua superfície e pode

também, resultar em corrosão de armadura. Apesar do uso de água não potável ser

satisfatório, em muitas especificações a qualidade da água indicada está assegurada nas

especificações que rege a qualidade da água potável (NEVILLE, 1997).

Page 27: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

26

5 O METACAULIM

Obter concretos com o menor custo e com rígidas especificações no seu desempenho e

características sem comprometer sua qualidade final ou elevar demasiadamente os custos

parece um desafio quando não se tem os materiais e conhecimento técnico necessários. O

extensivo uso do concreto convencional nas obras da nossa região ilustra essa situação.

Muitos construtores seja por falta de interesse ou até mesmo desconfiança desconhecem que

podem produzir em seus canteiros um concreto de desempenho e propriedades superiores com

simples adições minerais e aditivos químicos. O Metacaulim HP é uma destas adições que

tem como objetivo suprir essas necessidades dos construtores.

Largamente utilizado na Europa, Ásia e Estados Unidos, o Metacaulim é uma adição

mineral de alta eficácia para concretos e produtos a base de cimento Portland, podendo

inclusive ser utilizado em argamassas para revestimento.

O produto Metacaulim HP, ao contrário de outras adições minerais, não é um rejeito

industrial que em muitos casos não possuem controle de produção específico. Por se tratar de

uma pozolana de alta eficiência, possui normatização, se enquadrando na norma brasileira de

materiais pozolânicos (NBR 12653/92) e americana ASTM C618.

5.1 VISÃO DE SUSTENTABILIDADE

Os impactos ambientais gerados pela indústria e consumo humano vêm se tornando

uma preocupação cada vez maior no mundo visto alguns acontecimentos negativos

observados nos últimos anos em relação ao clima e desastres ecológicos, consequência da

degradação do meio em que vivemos. Processos industriais relacionados à produção do

cimento Portland tem significante relevância, sendo considerado como um dos principais

responsáveis em colaborar para esta degradação visto a grande quantidade de gás ���

liberada na atmosfera, principal responsável por atacar a camada de ozônio que reveste a terra

e nos protege dos raios solares, agravando o efeito estufa.

VARGAS et al. (2006) atenta que a produção do cimento gera poluição e utilização de

recursos não renováveis (argila e calcário) e utilização de grandes quantidades de energia

durante os processos industriais da fabricação. Para cada tonelada de cimento Portland

fabricada é gerada aproximadamente a mesma quantidade de ���.

Page 28: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

27

De acordo com SILVA JR. et al. (2009), “a produção do Metacaulim gera, durante a

calcinação, vapor de água e uma areia quartzosa, usada como agregado miúdo”.

Comparando os impactos ambientais produzidos pelos processos industriais dos dois

produtos, fica evidente que os impactos gerados na fabricação do Metacaulim são de menores

proporções. Como uma adição mineral para concretos de cimento Portland, substituir parte do

traço correspondente ao cimento pelo Metacaulim automaticamente gera uma redução na

demanda do cimento, amenizando os impactos ambientais.

5.2 BENEFÍCIOS

O uso da adição mineral Metacaulim não proporciona somente redução nos impactos

ambientais. Por se tratar de uma pozolana de alta eficiência, as melhorias no desempenho,

durabilidade e outras características do concreto são bastante apreciáveis.

De acordo com o fabricante, o uso da adição aumenta a resistência mecânica do

concreto à compressão e tração, reduz a porosidade e capilaridade, tornando o concreto menos

permeável, inibindo a penetração e ação de agentes agressivos que podem reagir com a pasta

de cimento e armadura da estrutura como cloretos e sulfatos, inibe reações álcali-agregado e

proporciona melhorias na zona de transição pasta de cimento e agregado.

As figuras 5 e 6 mostram uma análise comparativa pela microscopia eletrônica entre a

pasta de referência com cimento puro (esquerda) e a pasta contendo 8% de adição de

Metacaulim HP (direita) em substituição ao cimento, ambas aos 28 dias. As regiões mais

escuras representam porosidades ou interstícios.

Figura 5: Sem Metacaulim (Metacaulim do Brasil

Ltda., 2010)

Figura 6: Com Metacaulim (Metacaulim do Brasil

Ltda., 2010)

5.3 COMPOSIÇÃO

Oriundo da caulinita, o Metacaulim é uma classe de materiais pozolânicos obtidos da

calcinação, entre 700°C e 800°C (NASCIMENTO, 2009). O processo químico onde a

caulinita é transformada em Metacaulim é descrita quimicamente na equação abaixo:

Page 29: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

28

������+�� ��,----.----/012345461

+77°9:;;< ���. 2����,---.---/

=>6101234?

+ 2 ��

Fonte: NASCIMENTO, 2009.

A adição é constituída basicamente de 51% sílica ������ e 41% de alumina �����

na fase amorfa (vítrea), formando silicato de alumínio, que ao se posicionarem entre as

partículas de cimento preenchendo os vazios (ação de micro-filler), proporcionam alta

reatividade com o hidróxido de cálcio ���� �� presente no concreto, portanto podemos dizer

que a adição proporciona a pasta de cimento reações químicas pozolânicas.

Análises realizadas por HELENE (2004) indicam outros compostos em menores

proporções como � ���, ���, #$�, ��, %���, e &��. A tabela 04 apresenta uma

comparação desta análise com as especificações fornecidas pelo fabricante, mostrando pouca

diferença entre os teores.

Tabela 04 - Análise dos compostos do Metacaulim % de compostos em óxidos ���� ����� ����� @��� AB� C��� D�� ��� ��� Fabricante 51% 41% < 3% < 1% < 0,4% < 0,1 % < 0,5% < 0,1% < 0,5% HELENE 51,57% 40,5% 2,8% - - 0,08% 0,18% - -

Fonte: HELENE (2004) e Metacaulim do Brasil Ltda.

5.4 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS

O Metacaulim HP é um material pulverulento de cor branca, com peso específico

aproximadamente duas vezes menor que o cimento. As figuras 7, 8 e 9 representa provetas de

vidro preenchida até a marcação da sua capacidade máxima de 500 ml com o cimento

utilizado no programa de experimento (CP II-F 32), a adição mineral Metacaulim HP e água

como referência, respectivamente. A tabela 05 apresenta o valor da massa registrada pela

balança de precisão e a tabela 06 apresenta a caracterização física do MetacaulimHP fornecida

pelo fabricante.

Page 30: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

29

Figura 7: CP II-F 32.

Figura 8: Metacaulim HP.

Figura 9: Água.

Tabela 05 - Massa dos materiais.

Material Massa CP II-F 32 551,50 g MetacaulimHP 271,24 g Água 500,00 g

Tabela 06 - Caracterização física do MetacaulimHP

Determinação Resultado Área Específica Blaine (m²/g) 1,88 Densidade Aparente (g/cm³) 0,33

Finura Resíduo na peneira #200 (%) < 0,1 Resíduo na peneira #325 (%) < 2,0

Fonte: BARBOSA et al. (2006)

5.5 MECANISMO DE AÇÃO

O hidróxido de cálcio presente no cimento é um composto fraco e solúvel. Os

compostos a base de sílica da adição ao reagir com o hidróxido de cálcio formam produtos

mais resistentes, estáveis, insolúveis e com capacidades cimentícias, permitindo que sobre

menos do composto para ser lixiviado devido sua característica de ser um composto altamente

solúvel ou reagir com sulfatos, responsável que possam gerar reações potencialmente danosas,

fissurando o concreto devido sua ação expansiva.

Esta reação dos compostos do Metacaulim com o hidróxido de cálcio são conhecidas

esquematicamente como “ �– �– �– ” ou “Gelenita” e descrita quimicamente como

���. 2���� + 5���� �� → 5���. ���. 2����. 5 ��.

Page 31: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

30

6 O CONCRETO

Para compreendermos as melhorias nas propriedades do concreto, devemos entender

aspectos básicos dos elementos que o compõe, estruturas e propriedades destes elementos e

como eles se relacionam. Isso é fundamental para que através de estudos e pesquisas

possamos desenvolver ferramentas capazes de exercer algum tipo de controle sobre as

propriedades do material. Essa diversidade de elementos, propriedades e estruturas é o que

confere ao concreto sua característica heterogênea. Constituído de diversas fases, das quais,

algumas são visíveis à vista humana (macroestrutura) e outras são observadas apenas com o

auxilio de um microscópio eletrônico (microestrutura ).

Na figura 10, é possível identificar facilmente duas fases do concreto que são as

partículas de agregado, encontrados em diversas formas e tamanhos, e a pasta endurecida que

funciona como meio ligante para o agregado. De acordo com MEHTA (1994) “a nível

macroscópico, consequentemente, o concreto pode ser considerado como um material

bifásico, consistindo de partículas de agregado dispersas em uma matriz de cimento”.

Figura 10: Seção polida de um corpo-de-prova de concreto (MEHTA & MONTEIRO, 1994).

Essa disposição de agregados na pasta de cimento não é homogênea, assim como, a

própria matriz de cimento também não é. A densidade da massa de pasta e a dispersão dos

corpos nela são influenciadas pela quantidade de água utilizada na hidratação. Isso porque o

volume de vazios capilares na pasta diminui quanto menor for a relação água/cimento e a

medida que o tempo passa e a pasta hidrata. A relação da hidratação da pasta com o agregado

pode ser considerada uma terceira fase.

Durante a hidratação, devido às dimensões do agregado graúdo, forma-se uma película

de água com uma relação água/cimento maior do que a da pasta na face do agregado. Essa

Page 32: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

31

fase é conhecida como zona de transição. Apesar de delgada, de 10 a 50 µm, e frágil, em

relação a pasta ou o agregado, esta zona é de fundamental importância, pois exerce enorme

influencia no futuro comportamento mecânico do concreto. Isso porque, ao contrario do

agregado, a zona de transição e a pasta de cimento continuam a hidratar, ou seja, continuam a

formar novos compostos à medida que a água reage com os diversos compostos contidos

naquelas e nos agregados, além de ambas, a pasta e a zona de transição, estarem sujeitas a

influencia do tempo, temperatura e umidade ambiente.

Além destes fatores, a zona de transição também pode ser influenciada pela forma e

estrutura física do agregado. “Quanto maior o tamanho do agregado no concreto e mais

elevada a proporção de partículas chatas e alongadas, maior será a tendência do filme de água

se acumular próximo a superfície do agregado, enfraquecendo assim a zona de transição

pasta-agregado” (MEHTA & MONTEIRO, 1994).

Este filme de água espesso é conhecido como exsudação interna. Esse acúmulo de

água altera a relação água/cimento e reduz drasticamente a resistência da zona de transição,

pois no momento em que a pasta esta hidratando, ocorre maior formação de cristais grandes,

como o hidróxido de cálcio e cavidades capilares ou vazios. A figura 11 exemplifica,

respectivamente, uma boa hidratação, baixa relação água/cimento, e uma hidratação ruim, alta

relação água/cimento ao romper o corpo de prova. A esquerda, podemos observar a ruptura do

agregado ao meio devido à boa hidratação que ocorreu devido a produção de uma zona de

transição resistente após 28 dias de hidratação. Já a imagem da direita apresenta um concreto

de baixa adesão entre o agregado e a pasta endurecida, evidenciado pelo fato do corpo de

prova ter rompido na superfície do agregado. Isso porque a exsudação interna aumentou a

relação água/cimento na zona de transição e favoreceu a produção de cristais grandes e

estruturas porosas. O volume e tamanho dos vazios são importantes, pois a principal força de

coesão entre as estruturas da pasta de cimento são as forças de atração de Van der Waals.

Page 33: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

32

Figura 11: Ruptura de corpos de prova (TECNOSIL, 2010).

O cimento Portland tem como matéria prima o clínquer, cujas principais composições

químicas minerais são ��, ���, �� e ����. Quando na presença da água os compostos de

cálcio passam a integrar a solução sob diversas formas iônicas, após alguns minutos começam

a se formar os primeiros cristais conhecidos como entrigita e horas depois formam se os

cristais de hidróxido de cálcio e silicatos de cálcio hidratados.

Segundo MEHTA et al. (1994), numa boa hidratação da pasta de cimento Portland na

elaboração de concretos, o volume de sólidos será constituído 50% a 60 % de silicatos de

cálcio hidratado (representado simbolicamente por � − � − ), 20% a 25 % de hidróxido de

cálcio, 15% a 20 % de sulfoaluminatos de cálcio (entrigita), mais grãos de clínquer não

hidratado. A pasta endurecida ainda apresenta dois outros componentes: vazios e água. O

primeiro pode apresentar se sob forma de vazios capilares, ar incorporado e espaço

interlamelar no � − � − . A água pode estar presente em cinco condições: água capilar,

água livre, água absorvida, água interlamelar e água quimicamente combinada.

O acréscimo de resistência à zona de transição ao longo dos dias e meses justifica-se

pela lenta hidratação que a mesma sofre em relação à pasta de cimento, hidratação essa que

pode produzir cristalizações menores entre os cristais de entrigita e o hidróxido de cálcio o

que aumenta a densidade, logo a resistência, da zona de transição. (MEHTA & MONTEIRO,

1994).

Rompimento em torno dono agregado

Rompimento no agregado

fck = 25 MPa fck = 45 MPa

Page 34: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

33

Devido à porcentagem que representa na pasta hidratada, o � − � − é o produto

crucial na determinação das características da matriz uma vez que sua morfologia, fibras

pouco cristalinas ou um reticulado cristalino, favorece a aglomeração do mesmo e aumenta a

resistência devido às forças de atração de Wan der Waals. O Metacaulim por ser um

composto a base de sílica e alumina, ao reagir com a pasta, produzirá um novo � − � −

melhorando assim a resistência do concreto à compressão e reduzindo a quantidade e tamanho

dos poros na microestrutura.

6.1 PROPRIEDADES

6.1.1 Resistência e Porosidade

A resistência dos materiais sólidos é inversamente proporcional a porosidade, por isso

os pequenos cristais de � − � − são tão importantes para esta propriedade. O silicato de

cálcio hidratado reduz a porosidade e aumenta a resistência, pois ele contribui com as forças

de atração entre as partículas e cria uma forte adesão entre os cristais de hidróxido, grãos de

clínquer não hidratados e o agregado graúdo e miúdo. A espessura dos capilares do concreto

varia de acordo com a idade do concreto, então, para alcançarmos a resistência de acordo com

a norma NBR 6118/04, é necessário um grau de hidratação adequado, o qual irá depender da

relação água/cimento, composição química do cimento, eventuais adições e da cura (NBR

5738/08).

Atentando ao fato de que 1 cm³ de cimento produz 2 cm³ de produto de hidratação,

através de cálculos simples Powers demonstra o volume de vazios no solido. Adotando um

volume de 100 cm³ de cimento e 200 cm³ de água, ou seja, 300 cm³ de volume de pasta, após

a hidratação completa serão produzidos 200 cm³ de sólidos, de forma que “o volume de

cimento hidratado a 7, 28 e 365 dias é 50, 75 e 100 %, respectivamente, o volume calculado

de sólidos (cimento anidro mais produtos de hidratação) é de 150, 175 e 200 cm³. O volume

de vazios capilares pode ser obtido pela diferença entre o volume total disponível e o volume

total de sólidos. Este é de 50, 42 e 33 %, respectivamente aos 7, 28 e 365 dias de hidratação.”

(MEHTA & MONTEIRO, 1994).

Page 35: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

34

Figura 12: Variação na porosidade capilar com relações água/cimento e graus de hidratação diferentes (MEHTA

& MONTEIRO, 1994).

Após a hidratação a pasta não é dimensionalmente estável, e quando exposta à

umidade ambiente inferior a 100%, a matriz começa a desidratar e sofrer retração, o que pode

ocasionar em fissuras. Essa secagem ocorre à medida que as moléculas de água contidas na

pasta, água absorvida e água capilar, são perdidas. A ausência dessa água nos capilares e nos

espaços entre as microestruturas sólidas acarreta numa menor pressão hidrostática e na

perda da pressão de desligamento respectivamente, o que causa as fissuras por retração. O

plano de cura do concreto nos dias seguintes visa manter a temperatura e a umidade no

interior da pasta saturada, evitando assim a perda de água para o ambiente ou o excesso de

calor no interior da mesma.

A cura mantém a água incorporada na mistura até que os produtos de hidratação

comecem a se formar (pega do cimento), ou seja, a cura adequada durante o tempo ideal (28

dias) garante não apenas as resistências satisfatórias para o tipo de cimento utilizado, mas

também resistência mais alta como mostra a figura 10. Essa hidratação completa produz uma

Page 36: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

35

matriz com menos e menores poros, reduzindo também a permeabilidade do concreto

(NEVILLE, 1997). A figura 13 ilustra esta situação em um concreto de diferentes dias de

idade com uma relação água/cimento igual a 0,50.

Figura 13: Influencia da cura úmida sobre a resistência do concreto (NEVILLE, 1997).

Existem vários métodos de cura que abrangem diversas situações, desde estruturas

com pequenas dimensões, pavimentos e/ou lajes extensas e corpos cilíndricos. No caso deste

trabalho será utilizada a cura úmida de acordo com a norma NBR 5738/08 para corpos

cilíndricos ou prismáticos. Essas características e fatores abordados são indispensáveis na

elaboração de concretos de alto desempenho e vida útil prolongada.

6.1.2 Permeabilidade

A forma como decorre a hidratação e a cura do concreto exerce influencia direta sobre

a porosidade da estrutura sólida final e é justamente através destes poros que ocorre o

transporte de fluidos viscosos e íons em poros preenchidos com água. Essa taxa de fluxo

viscoso de fluidos é o que define permeabilidade. Esta é a propriedade que controla a taxa de

fluxo de um fluido para o interior de um sólido poroso, sendo esta influenciada pela taxa de

fluxo do fluido, pela viscosidade do mesmo, pela pressão, pela área de superfície em contato

com o liquido e pela espessura da estrutura.

A permeabilidade também esta relacionada com a dimensão dos agregados. Segundo

MEHTA et al. (1994), quanto maior o agregado, maior será o coeficiente de permeabilidade,

isto porque partículas grandes de agregados favorecem a exsudação interna da pasta de

cimento, produzindo assim uma zona de transição muito porosa e frágil. As microfissuras

geradas na zona de transição apesar de muito pequenas, ainda sim são maiores que as da

Page 37: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

36

matriz do concreto, estabelecendo dessa forma interconexões que aumentam a permeabilidade

do sistema.

A quantidade e espessura dessas fissuras representam fatores, os quais intensificam a

corrosão pelo fato de promoverem o deslocamento dos agentes agressivos na direção da

armadura. (CASCUDO, 1997).

Por exemplo, a carbonatação:

“Esta comprovado que o processo de carbonatação ocorre preponderantemente ao

longo das paredes da fissura e esta carbonatação, mais rápida que as demais, vai contribuir

para a aceleração do aparecimento de células de corrosão, devido às diferenças de pH e de

aceleração decorrentes da carbonatação”. (HELENE, 1997).

Ou seja, as fissuras aumentam a permeabilidade da matriz de cimento o que ocasiona o

inicio precoce da corrosão, comprometendo então a durabilidade da estrutura.

6.1.3 Durabilidade

Atualmente a durabilidade é um dos principais focos de estudos na área dos materiais,

incluindo o concreto que com o aquecimento da indústria da Engenharia Civil em Belém nos

últimos anos (O Liberal, Edição de 25/04/2010) aumentou ainda mais o seu consumo e

produção. Tanto em obras residenciais quanto em obras onde o contato com a água é continuo

como as de saneamento ou uma ponte, o concreto está exposto ao seu principal agente de

deterioração, a água.

É por esse motivo que a durabilidade dele está intimamente ligada a duas importantes

propriedades, a porosidade e a permeabilidade, assim quaisquer defeitos físicos, como fissuras

e/ou agentes agressivos a pasta alcalina veiculados pela água contribuem de forma negativa

para a durabilidade e consequentemente desempenho do concreto.

“De acordo com o comitê 201 do ACI2 (1991), durabilidade do concreto de cimento

Portland é definida como a sua capacidade de resistir às intempéries, ataques químicos,

abrasão ou qualquer outro processo de deterioração; isto é, o concreto durável conservará a

sua forma original, qualidade e capacidade de utilização quando exposto ao seu meio

2 N.T. - American Concrete Institute. Guide to Durable Concrete: reported by ACI committee 201.2R. ACI Manual of Concrete Practice. Detroit, 1991. Part 1.

Page 38: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

37

ambiente”. (MEHTA & MONTEIRO, 1994). Assim, durabilidade é o mesmo que uma vida

longa útil sem que haja necessidade de reparos ou intervenções devido a patologias

desenvolvidas ao longo dos anos, porém nada impede que as estruturas necessitem de

manutenção e supervisão periódica uma vez que o meio ambiente pode prejudicar seu

desempenho, ou seja, a manutenção da estrutura garante a vida útil do material, mas nenhum

material possui vida eterna. Dessa forma, pode-se afirmar também que a vida útil de um

material chega ao fim a partir do momento que suas propriedades encontram se

comprometidas a tal ponto que a utilização do mesmo passa a ser insegura ou inviável

economicamente.

A partir do momento em que as empresas investem na tecnologia dos materiais

utilizados na execução das obras elas garantem um produto de qualidade, economia em

intervenções prematuras e a segurança dos usuários e consumidores, além de estar dando um

importante passo em direção a consciência ecológica e a sustentabilidade.

O Metacaulim HP contribui para o prolongamento da vida útil do concreto, pois ele

reduz a porosidade, que por sua vez está associada à permeabilidade do concreto que junto da

água são os principais veículos de deterioração de estruturas porosas. A água é importante

durante a hidratação do concreto, mas também é um poderoso solvente capaz de penetrar nos

finos poros do concreto endurecido e transportar agentes agressivos como íons e substâncias

ácidas dissolvidas, além da mesma por si só já ser um agente de deterioração.

No que diz respeito à permeabilidade e a porosidade, a segunda é a mais indicada

quando o objetivo é analisar e definir parâmetros sobre a durabilidade do concreto. Isso

porque a permeabilidade é a medida do fluxo de um liquido sob pressão em materiais

saturados, em quanto que a porosidade está mais associada à absorção capilar que mede o

mesmo fluxo, porém em materiais não saturados que são as estruturas de concreto. Além do

fato de que a velocidade de absorção ser maior que a de permeabilidade, ou seja, esta

propriedade pode exercer muito mais influencia no transporte de agentes agressivos através

dos poros (HELENE, 2001).

Assim, com base na grande diversidade de agentes agressivos e os ambientes onde os

mesmos encontram se apresentamos duas tabelas. A Tabela 7 relaciona o nível da

agressividade ao risco de danos estruturais, assim quanto maior for o nível e o risco maior

será a classe de agressividade. A tabela 8 relaciona a classe de agressividade do ambiente em

função das condições de exposição.

Page 39: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

38

Tabela 07 - Classes de agressividade ambiental.

Classe de agressividade Agressividade Risco de deterioração da estrutura I Fraca Insignificante II Média Pequeno III Forte Grande IV Muito forte Elevado

Fonte: ABNT NBR 6118/08.

Tabela 08 - Classes de agressividade do ambiente em função das condições de exposição.

Macro-clima

Micro-clima

Interior das edificações Exterior das edificações

Seco1 Úmido ou ciclos2 de molhagem e secagem

Seco3 Umido ou ciclos4 de molhagem e secagem

UR ≥ 65% UR ≥ 65%

Rural I I I II

Urbana I II I II

Marinha II III - III

Industrial II III II III

Especifico II III ou IV III III ou IV

Respingos de maré - - - IV

Submersa ≥3m - - - I

Solo - - Não agressivo, I Úmido e agressivo II, III ou IV Notas: 1. Salas, dormitórios ou ambientes com concreto revestido com argamassa e pintura. 2. Vestiários,

banheiros, cozinhas, garagens, lavanderias. 3. Obras no interior do nordeste do país, partes protegidas de chuva em ambientes predominante secos. 4. Incluindo ambientes quimicamente agressivos, tanques industriais,

galvanoplastia, branqueamento em indústrias de celulose e papel, armazéns de fertilizantes, indústrias químicas. Fonte: HELENE, 2001.

Segundo HELENE (2001), devido aos diversos meios agressivos, para cada um deles

desenvolveu-se um tipo de concreto com resistência especifica àquele meio, resistência essa

definida pelos tipos de materiais utilizados e dosagem adotada na elaboração do mesmo, ou

seja, tais especificidades estão diretamente ligadas aos elementos que definem as propriedades

do concreto, são eles:

• Tipo e consumo de cimento;

• tipo e consumo de adições;

• relação água/cimento;

• natureza e H?áJ. do agregado.

Porém, não faria sentido um concreto de excelente qualidade sem algumas concepções

de grande relevância a serem adotadas em projeto e pelos usuários, como ressalta a NBR

6118/03:

• Prever drenagem eficiente;

Page 40: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

39

• evitar formas arquitetônicas e estruturais inadequadas;

• garantir concreto de qualidade apropriada, particularmente nas regiões superficiais

dos elementos estruturais;

• garantir cobrimentos de concreto apropriados para proteção das armaduras;

• detalhar adequadamente as armaduras;

• prever espessuras de sacrifício ou revestimentos protetores em regiões sob condições

de exposição ambiental muito agressiva;

• definir um plano de inspeção e manutenção preventiva.

É essencial que o concreto seja projetado para resistir aos mais diversos ambiente, ou

seja, ele deve ter qualidade suficiente para combater tais agressividades do meio ambiente,

porém algumas medidas devem ser adotadas já na fase de projeto. (SILVA JR., 2001)

Existe no mercado cimento Portland adequado para diversos casos, dentre eles, às

patologias abordadas neste trabalho, tais como, CP I e CP V sem adições, com propriedades

capazes de reduzir a profundidade de carbonatação e os CP III e CP IV com adição extra de

sílica ativa e cinza de casca de arroz, que confere a eles a capacidade de reduzir a penetração

de cloretos. A adição do Metacaulim HP visa beneficiar estas características adquiridas

durante a produção do cimento pois é a qualidade final da espessura de cobrimento que

confere proteção à armadura da estrutura e uma boa proteção e evita o surgimento de

possíveis patologias precoces, garantindo economia em manutenções e também a durabilidade

da estrutura.

HELENE (2001) afirma que quaisquer medidas adotadas durante a elaboração do

projeto, visando à durabilidade da estrutura são mais convenientes, seguras e baratas, ou seja,

muito mais vantajoso que recorrer a medidas protetoras adotadas posteriormente. A questão

econômica é crucial para as empresas em vista do mercado competitivo e cada vez mais

exigente no que diz respeito à qualidade da estrutura.

O método mais prático e econômico de se combater a corrosão é o método preventivo.

(CASCUDO, 2001).

O gráfico na figura 14 mostra que o custo da intervenção assemelha se ao de uma

progressão geométrica de razão 5, conhecida por lei dos 5 ou regra de Sitter. Ele representa a

evolução dos custos em função da fase da vida da estrutura na qual a intervenção é feita.

Page 41: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

40

Figura 14: Custo relativo da intervenção (HELENE, 2001).

Este gráfico pode ser compreendido da seguinte forma:

• Fase de projeto: qualquer ação executada nesta fase visando melhorar a proteção e

aumentar a durabilidade da estrutura gera um custo associado ao número 1 (um);

• fase de execução: medidas tomadas após o inicio da construção visando o mesmo

nível de proteção e durabilidade que o da fase de projeto, são associadas ao numero 5 (cinco),

ou seja, um custo cinco vezes maior do que se tivesse sido adotada na fase de projeto. Tais

medidas surtem o efeito desejado, porém sem a mesma eficácia e economia.

• fase de manutenção preventiva: esta fase é prevista no decorrer da vida útil da

estrutura e consistem de medidas necessárias para assegurar a durabilidade da estrutura e

podem custar até 25 vezes em relação a medidas tomadas na fase do projeto, porém ainda sim

são 5 (cinco) vezes mais econômicas que estruturas, as quais já tenham apresentado

problemas patológicos.

• fase de manutenção corretiva: esta fase enquadra as estruturas com vida útil

comprometida, ou seja, já manifestam algum tipo de patologia. A correção de tais problemas

corresponde a um custo 125 vezes maior do que se medidas adequadas tivessem sido adotadas

na fase de projeto, lembrando se trata se do mesmo nível de durabilidade para as quatro fases.

Com base nestes fatores fica evidente a necessidade de investir se cada vez mais em

novos materiais, tecnologias e métodos executivos. O fator econômico facilmente também

justifica uma necessidade cada vez maior de se investir em projetos a fim de melhorar a

qualidade das estruturas e garantir maior vida útil as mesmas.

Page 42: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

41

Um dos modelos de vida útil das estruturas mais conhecidos era o proposto por Tuutti

em 1982, até que em 1993, Helene sugeriu que a vida útil das estruturas pode ser dividida em

três etapas. A figura 15 vale se de uma das patologias mais importante e conhecida

cientificamente, a corrosão de armaduras, a qual abrange diversos mecanismos de

deterioração, para demonstrar o ciclo de vida útil de uma estrutura.

Figura 15: Conceituação de vida útil das estruturas de concreto tomando-se por referência o fenômeno de

corrosão das armaduras (HELENE, 2001).

• A primeira fase corresponde ao tempo decorrido até a despassivação da armadura,

esse período é denominado vida útil de projeto. No momento que a carbonatação ou a frente

de cloretos atingirem a armadura será o marco final desta fase, porém não quer dizer que

haverá corrosão expressiva, mas ainda sim tal limite deve ser adotado e justificar a vida útil

no projeto da estrutura respeitando a segurança;

• A segunda fase inicia a partir do surgimento das primeiras patologias, manchas na

superfície do concreto, fissuras ou destacamento de cobrimento. Este período é chamado vida

útil de serviço, pois a estrutura ainda é capaz de desempenhar sua função com qualidade, mas

já é um sinal da necessidade de futuras intervenções.

• A fase final de uma estrutura dar se no momento de sua ruptura ou colapso parcial

ou total da mesma, por isso esta denomina se vida útil última ou total. A estrutura já apresenta

redução significativa da seção e a aderência da armadura já esta comprometida.

Page 43: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

42

• Neste modelo ele também introduziu o conceito de vida útil residual a qual esta

associada ao período no qual a estrutura ainda é capaz de desempenhar suas funções. Onde o

inicio é o final desde período pode variar de acordo com o momento em que a estrutura é

avaliada e as patologias que ela pode apresentar.

Segundo ANDRADE (1992), quando tratamos da despassivação da armadura, um

fator importante é a espessura mínima de cobrimento da armadura, pois a durabilidade do

concreto armado é proveniente da proteção que esse cobrimento oferece à estrutura. Essa

barreira confere à armadura dois tipos de proteção contra corrosões.

Uma proteção física que protege o aço do ataque de agentes agressivos externos,

oxigênio e umidade (água) (HELENE, 1993) e uma proteção química, pois a característica

alcalina do concreto, devido principalmente ao ���� ��, produz uma camada passiva, como

uma película, sobre a armadura que a protege por tempo indeterminado (ANDRADE, 1992).

A principal função desses cobrimento, passivação da armadura, proteger contra

impactos mecânicos e físicos, e simultaneamente garante a estabilidade química da pasta.

(HELENE, 1997). “O concreto de cobrimento tem a finalidade de proteger fisicamente a

armadura e propiciar um meio alcalino elevado que evite a corrosão por passivação do aço”

(HELENE, 1997).

Vale ressaltar que o cobrimento ideal não se da através de um cobrimento muito

espesso, nem muito fino, o que se deseja é muita qualidade. Esta sim é a verdadeira

responsável pela proteção do concreto e da armadura.

Uma pesquisa coordenada por HELENE (2001) apresentou dois ábacos provenientes

de formulações utilizadas na determinação do cobrimento para dois casos de despassivação já

conhecidos, carbonatação em faces externa de componentes estruturais expostos à intempérie

e difusão de cloretos em faces externas de componentes estruturais expostos à zona de

respingos de maré.

Os ábacos apresentam como podemos mesclar combinações de espessura de

cobrimento e resistência (qualidade) de concreto, a fim de obter se uma vida útil especifica

para os respectivos fenômenos. Quanto menor a espessura de cobrimento, melhor deve ser a

qualidade do concreto, ou, para concretos de baixa qualidade, faz-se necessário cobrimento

mais espesso.

Page 44: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

43

O ábaco da figura 16 corresponde ao ábaco para obtenção da espessura de cobrimento

de armadura em função do ambiente onde predomina o gás carbônico como agente agressor

(zona urbana, industrial, marinha ou rural), do concreto (C10 a C50) e da vida útil desejada (1

a 100 anos). Caso sejam utilizados cimentos Portland com escória de alto forno ou com

pozolanas, as espessuras mínimas características de cobrimento de concreto à armadura

devem ser aumentadas em pelo menos 20% e 10% respectivamente. Àbacos similares são

disponíveis para outras condições de exposição.

Figura 16: Ábaco para obtenção da espessura de cobrimento às armaduras em função do ambiente onde

predomina o gás carbônico (HELENE, 2001).

O ábaco da figura 17 corresponde ao ábaco para obtenção da espessura de cobrimento

de armadura onde predomina um ambiente para estruturas expostas à variação de maré e/ou

respingos, a qual pode ser considerada uma das situações mais severas para o concreto

armado, do concreto (C10 a C50) e da vida útil desejada (1 a 100 anos). Caso sejam utilizadas

adições de 8% de sílica ativa ou empregados cimentos Portland com teor de �� ≥ 12%, as

espessuras mínimas características de cobrimento de concreto à armadura podem ser

reduzidas em 20%. Ábacos similares são disponíveis para outras condições de exposição.

Page 45: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

44

Figura 17: Ábaco para obtenção da espessura de cobrimento às armaduras em função do ambiente onde

predomina exposição à zona de respingos de maré (HELENE, 2001).

Com base na analise de ambos os ábacos, concluímos que a espessura mínima de

cobrimento e a alta qualidade nas propriedades do concreto, aliadas, são fundamentais no

combate as diversas patologias as quais as estruturas estão sujeitas. Conhecendo agora os

conceitos básicos da durabilidade e os elementos que a influenciam, podemos compreender

melhor o ataque de alguns agentes agressivos e seus mecanismos.

6.1.4 Patologias

A corrosão se processa através da interação das estruturas de concreto com o meio ao

qual elas estão expostas ou através da incorporação destes agentes agressivos a pasta de

cimento.

São diversos os meios de deterioração e as patologias manifestadas pelas estruturas, e

uma das mais encontradas é a corrosão de estruturas de concreto armado. Os estudos nessa

área é fundamental para a compreensão desses problemas e desenvolvimento de

Page 46: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

45

procedimentos e tecnologias, como a aplicação de aditivos químicos e adições minerais como

o Metacaulim.

Com base em dados de pesquisas realizadas por VELOSO (2002), podemos ter um

parâmetro do volume de recursos que são destinados a manutenção e recuperação de

estruturas debilitadas devido à corrosão das armaduras.

“No Reino Unido, as pontes das grandes autopistas, devido às condições severas de

corrosão, têm os custos de recuperação estimados em mais de US$ 1 bilhão.”

“No Brasil, 20% a 58% dos problemas em pontes, viadutos e outras estruturas em

ambientes marinhos e industriais são provocados por corrosão das armaduras”.

E na Amazônia aproximadamente 60% dos casos de patologias em estruturas apontam

a corrosão das armaduras como principal causa (VELOSO, 2002).

A corrosão de armaduras é marcada pela depreciação do aço, através de processos

químicos ou eletroquímicos provenientes da contaminação por agentes ativos encontrados no

meio ambiente em que a estrutura se localiza.

Dentre os processos de corrosão do concreto armado, os pertinentes a este trabalho são

a expansão por exposição a sulfatos, a despassivação da armadura por carbonatação e a

despassivação devido ao elevado teor de cloretos por absorção capilar.

Segundo HELENE (2001), a primeira patologia citada ocorre devido à presença de

fluídos contaminados com sulfatos em contato com a estrutura, estes compostos reagem com

a pasta de cimento hidratada e possibilitam reações expansivas e deletérias. Vale ressaltar que

esses agentes agressivos não estão apenas relacionados a águas marítimas ou industriais, mas

também aos solos úmidos, ou seja, qualquer fundação pode ou não estar sujeita a este

problema. As características que evidenciam estas reações são a perda de dureza e resistência

superficial do concreto, além a redução de pH nos poros o que pode acarretar na

despassivação da armadura.

Segundo MEHTA et al. (1994), alguns casos de expansão e fissuração por ataque de

sulfatos são conhecidos.

O primeiro caso, devido à presença de hidróxido de cálcio em contato com íons sulfato

converte o monossulfato hidratado (��. ��. KL) da pasta de cimento na sua forma altamente

sulfatada (��. 3��. �), conhecida como entrigita, e que ocorre de acordo com a reação

abaixo:

Page 47: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

46

��. ��. KL + 2� + 2� + 12 → ��. 3��. �

O segundo caso ocorre mediante a presença de cátions na solução de sulfato que

podem ser de sódio (%�N� ou magnésio (#$2N), dessa forma o hidróxido de cálcio e o

� − � − da pasta de cimento podem ser convertidos em gipsita devido ao ataque. As

reações procedem da seguinte forma:

%����� + ���� �� + 2 �� → �����. 2 �� + 2%��

#$��� + ���� �� + 2 �� → �����. �� + #$�� ��

3#$��� + 3���. 2����. 3 �� + 8 �� → 3������. 2 ��� + 3#$�� �� + 2����. ��

No ataque por sulfato de sódio a formação do hidróxido de sódio garante a

alcalinidade da pasta e possibilita a estabilidade do � − � − (principal responsável pela

resistência do concreto). No outro caso, ataque por sulfato de magnésio, há formação de

hidróxido de magnésio que é pouco alcalino e compromete a estabilidade do � − � − que

passa a ser atacado pela solução de sulfato. Portanto o ataque por sulfato de magnésio é mais

severo.

Figura 18: Ataque por sulfato no concreto ma Barrage, de Fort Peck, 1971 (MEHTA & MONTEIRO, 1994).

A segunda patologia, representada na figura 19, associada à carbonatação, ocorre

através da penetração de gás carbônico por meio da difusão, reage com os compostos

alcalinos e reduz o pH da pasta. Pelo fato de envolver gases, as estruturas sujeitas a esta

patologia são as envolvidas em ciclos de molhagem e secagem ou as expostas à umidade

Page 48: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

47

relativa (UR) ambiente que no intervalo de 60% a 98% tende a favorecer a despassivação

deletéria.

Em ambientes de umidade favorável o dióxido de carbono (���) pode diluir se nos

poros da estrutura e formar o ácido carbônico ( ���), o qual pode reagir com diversos

componentes da pasta de cimento, formando assim o carbonato de cálcio (����) que reagirá

com o hidróxido de cálcio (���� ��). Estas reações consomem os álcalis do concreto, como

o � − � − , e reduz o pH da pasta, ou seja, compromete sua estabilidade. O meio ácido

proporcionado pelo ��� é que permite o avanço do processo:

��� + �� → ���

2 ��� + ���� �� → ��� ���� + 2 ��

��� ���� + ���� �� → 2 ���� + 2 ��

O principal responsável pela alcalinidade da pasta de cimento é o ���� �� e sua

carbonatação provoca a redução do pH do concreto de 12,5, aproximadamente, para valores

na faixa de 8,5 a 9,0. Essa acidez compromete a película de passivação que protege a

armadura, o que torna a estrutura suscetível à corrosão. (CASCUDO, 2001).

Vale observar que a carbonatação não se processa à profundidades ilimitadas do

concreto. Existe uma “frente” que mede o progresso da reação conhecida como Frente de

Carbonatação, a qual situa se entre as duas zonas de pH formadas com a carbonatação. A zona

carbonatada possui um pH da ordem 9,0 enquanto que a zona não-carbonatada possui um pH

da ordem de 12,0. Ou seja, a armadura será passível de corrosão apenas se a frente de

carbonatação a atingir e despassivar.

Algumas substâncias podem ser usadas para leitura da profundidade de carbonatação,

como a fenolftaleína que ao entrar em contato com o concreto identifica a zona não

carbonatada num tom de vermelho e a zona carbonatada permanece incolor. (ANDRADE,

1992).

Este fenômeno não é observado externamente na estrutura até que o mesmo alcance a

armadura, é quando então podem ocorre manchas, fissuras, destacamentos, perdas de seção

e/ou aderência, comprometendo assim partes da estrutura ou ela como um todo.

Page 49: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

48

Figura 19: Carbonatação em corpo de concreto armado (viga), (Construtora Geminiani Luigi, 2010).

A terceira patologia é a despassivação por íons cloreto, representada na figura 20. Os

íons podem estar presentes na estrutura de duas maneiras: íons cloro incorporado à pasta de

cimento durante sua elaboração (cloreto intrínseco), através de aceleradores de pega, água de

amassamento, agregados, entre outros, e o cloreto derivado do meio externo (cloreto

extrínseco), comum em ambiente marinho, ou névoa salina, entre outros.

Segundo HELENE (1986), a incorporação de íons cloretos (íon �P) pode dar se de

forma involuntária através de aditivos aceleradores de pega que possuam o Cloreto de Cálcio

(����) como base, agregados oriundos de regiões próximas ao mar e água contaminada, ou

salobras contendo Cloreto de Sódio (%��) e Ácido Muriático utilizado comumente na

limpeza de pastilhas e pisos.

De acordo com CASCUDO (1997), os principais mecanismos de transporte

responsáveis pela concentração iônica dos cloretos e contaminação no concreto são: a

absorção capilar, a difusão iônica, a permeabilidade sob pressão e a migração iônica. Esse

deslocamento é extremamente influenciado pela estrutura porosa do concreto endurecido,

além de outros fatores, como, elevadas temperaturas e fissuras favorecem a mobilidade desses

íons cloreto, em quanto que cimentos com alta concentração de �� retardam o tempo de

início da corrosão.

As estruturas de concreto sujeitas a esse agente são as próximas a regiões litorâneas,

reservatórios de água tratada, piscinas, dentre outros. Podemos então afirmar que a

primeira, região litorânea, enquadra se na orla de Belém e a última pode ser observada na

maioria dos novos condôminos construídos atualmente. As consequências desta patologia são

Page 50: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

49

semelhantes as do caso anterior; manchas, fissuras, destacamentos, perdas de seção e/ou

aderência, comprometendo assim partes da estrutura ou ela como um todo.

Figura 20: Ataque por cloretos (Reparo em concreto, 2010).

7 PROGRAMA DE EXPERIMENTOS

A parte experimental da pesquisa foi executada no laboratório de materiais de

construção da Universidade da Amazônia - UNAMA campus Alcindo Cacela durante o

período do segundo semestre do ano de 2010.

Figura 21: Laboratório de materiais de construção.

Page 51: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

50

O experimento envolveu a confecção de corpos de prova cilíndricos de concreto nas

dimensões de 10 x 20 cm no traço de 1,00 : 1,59 : 2,59 : 0,52. Este traço apresentado servirá

de referência para a análise das mudanças proporcionadas pela adição mineral Metacaulim

HP. Foram realizadas diferentes porcentagens de adição por substituição em massa de

cimento de 6%, 10% e 14% pela adição mineral, sem alteração na proporção de areia, seixo e

relação água/cimento do traço.

Foi empregado o uso de aditivo químico superplastificante em diferentes dosagens,

seguindo as recomendações de dosagem de acordo com os manuais fornecidos pelo

fabricante. Houve variação na quantidade de aditivo utilizado em cada traço devido a

mudança na trabalhabilidade do concreto de acordo com o aumento do uso da adição mineral

Metacaulim HP. Os traços utilizados estão representados na tabela 9.

Tabela 09 - Traços utilizados no programa de experimento.

Traço cimento : adição : areia : seixo : a/c Aditivo Controle 1,00 : 0,00 : 1,59 : 2,59 : 0,52 0,3% 06% de adição (Metacaulim HP) 0,94 : 0,06 : 1,59 : 2,59 : 0,52 0,5% 10% de adição (Metacaulim HP) 0,90 : 0,10 : 1,59 : 2,59 : 0,52 0,7% 14% de adição (Metacaulim HP) 0,86 : 0,14 : 1,59 : 2,59 : 0,52 0,9%

7.1 MATERIAIS

Os materiais empregados na confecção dos traços foram:

Cimento: o cimento utilizado nos experimentos foi o cimento Portland composto de

filler (CP II-F 32) fabricado pela empresa Poty (grupo Votorantim).

Adição mineral: a adição mineral empregada foi o Metacaulim HP branco, fabricado

pela empresa Metacaulim do Brasil Ltda.

Aditivo químico: o aditivo químico empregado (figura 22) foi o aditivo

superplastificante de 3ª geração com base em policarboxilato Structuro 105, fabricado pela

empresa Anchortec Ltda. Todos os teores da adição utilizadas nos traços estão de acordo com

as recomendações descritas no manual do fabricante que compreende o intervalo de 0,3% a

1,5% sobre a massa do cimento.

Page 52: A influencia-metacaulim-propriedades-concreto

51

Figura 22: Aditivo Superplastificante Structuro 105 da Anchortec Ltda.

Agregrado graúdo: foi utilizado como agregrado graúdo seixo rolado proveniente de

jazidas de Ourém-PA. A caracterização deste agregado está representada na tabela 10.

Tabela 10 - Caracterização do seixo rolado.

Peneiras (mm) Massa retida (g) % retida % retida acumulada Método de ensaio

25 0 0 0

NBR NM 248

19 0 0 0 12,5 387,34 7,75 7,75 9,5 1267,60 25,35 33,10 6,3 1342,29 26,85 59,94 4,8 751,82 15,04 74,98 2,4 0 0 74,98 1,2 0 0 74,98 0,6 0 0 74,98 0,3 0 0 74,98 0,15 0 0 74,98

Fundo 1250,95 25,02 100 Total 5000 100 -

Massa específica 1,55 Kg/dm³ NBR NM 52 Massa unitária 1,67 Kg/dm³ NBR NM 7251 Módulo de finura 4,83 NBR NM 248 Diâmetro náximo 19 mm NBR NM 248

Agregrado miúdo: foi utilizado como agregado miúdo areia fina. A caracterização

deste agregado está representada na tabela 11.

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52

Tabela 11 - Caracterização da areia fina.

Peneiras (mm) Massa retida (g) % retida % retida acumulada Método de ensaio

4,8 3,13 0,313 0,313

NBR NM 248

2,4 14,21 1,421 1,734 1,2 38,67 3,867 5,601 0,6 128,0 12,800 18,401 0,3 715,09 71,509 89,91 0,15 41,02 4,102 94,012

Fundo 59,88 5,988 100 Total 1000 100 -

Massa específica 2,57 Kg/dm³ NBR 9776 Massa unitária 1,65 Kg/dm³ NBR NM 7251 Módulo de finura 1,20 NBR NM 248 Diâmetro máximo 1,2 mm NBR NM 248

7.2 PROCEDIMENTOS

Os materiais foram misturados em uma betoneira do tipo planetária. Os agregados

graúdos (seixo rolado) foram adicionados na betoneira e saturados com parte da água de

amassamento do traço, seguido do cimento, areia e Metacaulim HP no caso dos traços que

receberam diferentes teores da adição, e por fim o resto da água de amassamento com o

aditivo superplastificante foram adicionadas à mistura.

Após a homogeneização da mistura na betoneira, deu-se início a modelagem corpos de

prova cilíndricos de dimensões 10 x 20 cm. 24 horas depois foi feito o desmolde e os corpos

colocados em cura úmida submersa.

Os ensaios realizados nos corpos de prova de cada traço foram:

• Resistência à compressão aos 7 e 28 dias de idade;

• resistência à tração por compressão diametral aos 7 e 28 dias de idade;

• absorção de água por capilaridade.

A prensa utilizada no ensaio de resistência à compressão axial e tração por compressão

diametral dos corpos de prova foi uma prensa hidráulica da marca EMIC modelo MUE100

com capacidade de 100 toneladas, representada nas figuras 23, 24 e 25.

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Figura 23: Prensa Hidráulica EMIC.

Figura 24: Prensa executando ensaio de resistência à compressão axial.

Figura 25: Prensa executando ensaio de resistência à tração por compressão diametral.

8 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

8.1 RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO AXIAL E TRAÇÃO POR COMPRESSÃO DIAMETRAL

Resistência à compressão axial: os resultados do rompimento aos 7 e 28 dias de

idade apresentados na tabela 12 e figura 26 representa a média dos valores obtidos da

resistência à compressão axial dos corpos de prova fornecidos pelos relatórios de ensaio da

prensa hidráulica (ANEXO A - Relatórios de ensaio do rompimento de corpos de prova à

compressão axial aos 7 e 28 dias de idade).

Resistência à tração por compressão diametral: os resultados do rompimento aos 7

e 28 dias de idade apresentados na tabela 13 e figura 27 representa a média dos valores

obtidos da resistência à tração por compressão diametral dos corpos de prova fornecidos pelos

relatórios de ensaio da prensa hidráulica (ANEXO B - Relatórios de ensaio do rompimento de

corpos de prova à tração por compressão diametral aos 7 e 28 dias de idade).

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Tabela 12 - Resistência à compressão axial aos 7 e 28 dias de idade.

Traço Rompimento aos 7 dias Rompimento aos 28 dias Controle 26,34 MPa 31,88 MPa 6% de adição (Metacaulim HP) 30,48 MPa 33,10 MPa 10% de adição (Metacaulim HP) 34,66 MPa 37,74 MPa 14% de adição (Metacaulim HP) 36,63 MPa 43,20 MPa

Figura 26: Resistência à compressão axial aos 7 e 28 dias de idade.

Tabela 13 - Resistência à tração por compressão axial aos 7 e 28 dias de idade.

Traço Rompimento aos 7 dias Rompimento aos 28 dias Controle 2,11 MPa 2,35 MPa 6% de adição (Metacaulim HP) 2,38 MPa 2,61 MPa 10% de adição (Metacaulim HP) 2,79 MPa 3,34 MPa 14% de adição (Metacaulim HP) 3,43 MPa 3,74 MPa

Figura 27: Resistência à tração por compressão diametral aos 7 e 28 dias de idade.

26,34

31,8830,4833,1034,66

37,7436,63

43,20

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

30,00

35,00

40,00

45,00

50,00

7 dias 28 dias

Re

sist

ên

cia

(M

Pa

)

Idade do rompimento

Resistência à Compressão Axial

Controle

6% Metacaulim

10% Metacaulim

14% Metacaulim

2,112,352,38

2,612,79

3,343,433,74

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

7 dias 28 dias

Re

sist

ên

cia

(M

Pa

)

Idade do rompimento

Tração por compressão diametral

Controle

6% Metacaulim

10% Metacaulim

14% Metacaulim

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8.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS DE COMPRESSÃO AXIAL

Diante os resultados apresentados do rompimento dos corpos de prova aos 7 e 28 dias

de idade à compressão axial, aos 7 dias de idade percebe-se o aumento na resistência de

16%, 32% e 39% para 6%, 10% e 14% de adição respectivamente quando comparados ao

traço controle. A maior resistência alcançada aos 7 dias de idade foi de 36,63 MPa,

pertencente ao traço com 14% de adição enquanto que quando o traço controle alcançou a

resistência de 26 MPa, representando um aumento de 42% na resistência.

Aos 28 dias de idade, temos o aumento na resistência de 4%, 19% e 36% para 6%,

10% e 14% de adição respectivamente quando comparados ao traço controle. A maior

resistência alcançada aos 28 dias foi de 43 MPa, pertencente ao traço com 14% de adição

enquanto o traço controle alcançou a resistência de 32 MPa, representando um aumento de

36% na resistência.

Nota-se que aos 7 dias, o salto no aumento da resistência do concreto com 14% de

adição de Metacaulim HP foi substancialmente menor quando comparado aos concretos de

mesma idade com 6% e 10% de adição, representando um salto de apenas 7%. É possível que

aos 7 dias de idade, o baixo teor de hidróxido de cálcio e a abundância da adição possa ter

causado uma saturação do concreto, tornando indisponível o composto para reagir com a

adição, impedindo um aumento mais significativo na resistência da matriz do concreto. A

lenta formação de mais compostos hidratados de hidróxido de cálcio para a reação com a

adição, lenta reação do Metacaulim HP e saturação da adição nos primeiros 7 dias de idade

podem ter causado retardo no surgimento de reações pozolânicas, gerando um menor aumento

na resistência aos 7 dias com altos teores de adição.

Aos 28 dias pode-se notar um aumento na resistência pouco significativo no concreto

com 6% de adição, representando apenas 4% de aumento quando comparado ao concreto

controle enquanto os concretos que receberam 10% e 14% de adição tiveram aumento na

resistência mais significativo, reforçando a conclusão de que a medida que a idade do

concreto avança e mais compostos se hidratam, principalmente o aumento da disponibilidade

do hidróxido de cálcio, o Metacaulim continua a manter suas propriedades reativas gerando

mais compostos com capacidade cimentícia, elevando a resistência com o passar do tempo.

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56

8.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA TRAÇÃO POR COMPRESSÃO DIAMETRAL

O percentual de aumento da resistência à tração apesar de parecer bastante substancial

em termos percentuais, é pouco significativo. Isto se deve a característica do concreto ser

pouco resistência à tração.

O aumento da resistência aos 7 dias de idade foram de 13%, 32% e 63% para os

traços com 6%, 10% e 14% de adição respectivamente quando comparados ao traço controle.

A maior resistência alcançada aos 7 dias de idade foi de 3,43 MPa, pertencente ao traço com

14% de adição enquanto que quando o traço controle alcançou a resistência de 2,11 MPa,

representando um aumento de 63% na resistência.

O aumento da resistência aos 28 dias de idade foram de 11%, 42% e 59% para os

traços com 6%, 10% e 14% de adição respectivamente quando comparados ao traço controle.

A maior resistência alcançada aos 28 dias de idade foi de 3,74 MPa, pertencente ao traço com

14% de adição enquanto que quando o traço controle alcançou a resistência de 2,35 MPa,

representando um aumento de 59% na resistência.

No geral, podemos assumir que as resistências à tração aproximam-se dos 10% da

resistência apresentada à compressão axial, acompanhando a curva de crescimento na

resistência à compressão proporcionado pelos diferentes teores de adição.

8.4 ABSORÇÃO DE ÁGUA POR CAPILARIDADE

Os ensaios de absorção de água por capilaridade foram executados com os corpos de

prova aos 28 dias de idade. Os dados obtidos no ensaio estão representados na tabela 14.

Figura 28: Ensaio de absorção de água por capilaridade.

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Tabela 14 - Resultados do ensaio de absorção de água por capilaridade

Traço Peso seco Peso molhado Diferença Absorção Controle 3388,79 g 3391,97 g 3,18 g 0,040 g/cm² 6% de adição 3174,02 g 3176,80 g 2,78 g 0,035 g/cm² 10% de adição 3349,16 g 3351,80 g 2,64 g 0,033 g/cm² 14% de adição 3437,26 g 3439,72 g 2,46 g 0,031 g/cm²

Figura 29: Gráfico da redução na absorção.

Os resultados comprovam que o aumento do teor de adição de Metacaulim HP

contribuiu para a redução da porosidade do concreto, exercendo influência direta sobre a

capacidade de absorção de água do mesmo. Houve uma redução nos valores de 0,040 g/cm2

do concreto controle, sem qualquer adição, para 0,031 g/cm2 no concreto com 14% de adição

de Metacaulim HP, ou seja, uma redução de 29% na absorção capilar.

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Metacaulim demonstra ser um grande aliado para os construtores que buscam

concretos com maior durabilidade e características mecânicas. Investir na utilização da

adição, somada ao emprego de aditivos, exercemos controle sobre suas propriedades,

proporcionando ao concreto uma melhor qualidade.

É importante evidenciar a importância destas tecnologias em adições minerais e

aditivos químicos para que cada vez mais se torne comum o seu emprego em nossas obras,

evitar patologias e elevar a qualidade das estruturas em concreto.

0%

14%

21%

29%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

%

Redução na absorção

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Portanto, podemos chegar a algumas conclusões com o conhecimento adquirido com o

estudo do concreto, suas patologias, propriedades, adição de Metacaulim e aditivos químicos,

quando analisados em conjunto dos resultados dos experimentos, seus benefícios tem efeitos

positivos em cascata:

- Aumento da durabilidade do concreto através do combate das patologias;

- aumento da resistência mecânica do concreto, permitindo aos projetistas fazer uso de

vãos maiores e afastamento de pilares;

- redução da seção de elementos estruturais ou quantidade de armação necessária para

combater esforços em lajes, vigas e pilares devido o aumento da resistência;

- economia de custos, tempo e materiais com a redução de seções e desforma mais

rápida proporcionada por fck elevados em menores idades;

- aumento do valor agregado do empreendimento.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXOS

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ANEXO A - Relatórios de ensaio do

rompimento de corpos de prova à compressão

axial aos 7 e 28 dias de idade

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ANEXO B - Relatórios de ensaio do

rompimento de corpos de prova à tração por

compressão diametral aos 7 e 28 dias de idade