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Orientações Financeiras

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© 2011, Elsevier Editora Ltda.

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei no 9.610, de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros.

Copidesque: Alvanísio Damasceno Revisão: Ana Lucia Normando Editoração Eletrônica: Estúdio Castellani

Elsevier Editora Ltda. Conhecimento sem Fronteiras Rua Sete de Setembro, 111 – 16o andar 20050-006 – Centro – Rio de Janeiro – RJ – Brasil Rua Quintana, 753 – 8o andar 04569-011 – Brooklin – São Paulo – SP – Brasil Serviço de Atendimento ao Cliente 0800-0265340 [email protected]

ISBN 978-85-352-5324-5

Nota: Muito zelo e técnica foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de digitação, impressão ou dúvida conceitual. Em qualquer das hipóteses, solicitamos a comunicação ao nosso Serviço de Atendimento ao Cliente, para que possamos esclarecer ou encaminhar a questão.

Nem a editora nem o autor assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou perdas a pessoas ou bens, originados do uso desta publicação.

CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

V668c Viana, Rafael Paschoarelli Como comprar com menos [recurso eletrônico] : as melhores técnicas de compra para fazer seu dinheiro render / Rafael Paschoarelli Viana. – Rio de Janeiro : Elsevier, 2011. recurso digital

Formato: PDF Requisitos do sistema: Adobe Acrobat Reader Modo de acesso: World Wide Web ISBN 978-85-352-5324-5 (recurso eletrônico)

1. Finanças pessoais. 2. Compras. 3. Livros eletrônicos. I. Título.

11-5531. CDD: 332.024 CDU: 330.567.2

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Agradecimentos

Gostaria de agradecer a todos os meus alunos com os quais compartilho minhas ideias e que sempre me ajudam a depurá-las com suas inestimáveis contribuições.

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O autor

Rafael Paschoarelli é professor de Finanças no Departa-mento de Administração da FEA-USP, doutor e mestre em Administração (Finanças) pela FEA-USP, especia-lista em Administração pela EAESP-FGV-SP e enge-nheiro eletricista pela POLI-USP. Vencedor do Prêmio Jovem Revelação em Finanças 2006, concedido pela KPMG-IBEF, Rafael é membro do Conselho de Ética do CONAR e responsável pelo www.comdinheiro.com.br Atua como professor em cursos de MBA nas seguintes instituições: INSPER-SP, FIA, FIPE, Fipecafi, Funda-ção Dom Cabral e Fundação Carlos Alberto Vanzolini. Realiza treinamentos sobre mercado financeiro, derivati-vos de crédito e renda fixa e variável nas maiores e mais importantes instituições financeiras do país.

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Sumário

PARTE I Introdução

Como comprar mais gastando menos 3

“Perdeu, playboy!” 3

Razão e emoção 4

Obsessão em vender 5

Sede de dinheiro 6

Como comprar com o dinheiro que você já tem 9

Aprender com o problema dos outros 11

O que esperar do livro 13

PARTE II Armadilhas

A armadilha do crédito fácil 17

A armadilha da compra por impulso 22

A armadilha de acreditar em tudo o que é anunciado 32

A armadilha de comprar sem pensar 36

A armadilha de se gastar mais do que se ganha 42

A armadilha do cartão de crédito 44

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PARTE III O Indispensável

O que podemos aprender com os endinheirados 51

Fechar todos os ralos 54

Comprar sempre à vista 59

A lista do desejo 70

Não emprestar o nome 78

Evitar emprestar seu dinheiro para amigo ou familiar 81

Não comprar título de capitalização 85

Economizar parte do salário 94

PARTE IV Últimos Comentários

O sonho da casa própria 101

Gastar muito é gastar mal 114

Conclusão 115

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Introdução

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Como comprar mais gastando menos

“Perdeu, playboy!”

Dizem que, quando não domina um assunto na práti-ca, o indivíduo se torna professor. Embora não acredite que isso seja verdade – afinal de contas, sou professor –, afirmo que saber negociar a compra de mercadorias (ge-ladeira, carro, TV, casa) é uma atividade em que todas as pessoas deveriam ser mestres, pois, se não forem, com-prarão menos pagando mais.

Por exemplo, você, caro leitor, levou a negociação da compra da sua última geladeira até o gerente da loja?

Se a resposta for negativa, você ainda não domina a arte de negociar.

Quando estiver comprando um bem de valor mais ele-vado, a negociação tem de terminar com a pessoa que tenha o cargo mais alto da loja. Se não adotar essa prática, acredito que o uso de uma expressão popular que os ca-riocas conhecem bem seja apropriado: “Perdeu, playboy!”

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Razão e emoção

Dois temas que me agradam são o comportamento de compra das pessoas e as técnicas de venda das empresas.

A maneira com que as pessoas gastam seu dinheiro e como as empresas atraem seus consumidores são assuntos intrigantes.

Enquanto empresas usam técnicas de vendas, as pes-soas físicas, de maneira geral, não empregam técnicas de compra. O desfecho de uma negociação assim dificil-mente será favorável ao comprador.

Não se trata de culpar as empresas e, sim de mostrar para as pessoas que elas quase sempre levam desvantagem nas negociações do dia a dia, pois não possuem malícia, são levadas pela emoção, acreditam em tudo o que o ven-dedor fala e não fazem ideia das ardilosas técnicas de ven-das empregadas pelas lojas e vendedores.

Saber vender é ciência. Saber comprar também é. Acontece que o brasileiro, endinheirado ou não, não de-monstra saber/usar essas técnicas.

Enquanto as empresas estão muito preocupadas em ensinar seus vendedores a vender, as pessoas físicas não estão nem aí para saber comprar. Quero ajudar você e sua família a mudar a segunda parte dessa constatação.

O vendedor treinado vende usando técnica. O com-prador amador compra sob emoção.

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Já fui a uma loja de roupa feminina (para comprar rou-pa para minha esposa) em que o vendedor me ofereceu champanhe! Imagine fazer uma negociação envolvendo dinheiro sob o efeito da bebida alcoólica?! Esses gurus de venda são mesmo geniais!

Obsessão em vender

Repita o seguinte experimento: escreva no Google en-tre aspas “técnica de vendas”.

Em seguida, escreva entre aspas “técnica de compras”.

Observe que encontramos mais de um milhão de refe-rências para técnica de vendas e menos de 18 mil para téc-nicas de compras. Isso ilustra como vivemos num mundo obcecado por vender, vender, vender e vender.

Vá a uma livraria e peça ao vendedor um livro sobre téc-nica de vendas. Verifique a infindável lista de opções que o

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vendedor lhe apresentará. Em seguida, peça as opções de li-vros sobre técnicas de compras voltados para pessoas físicas.

Estou convencido de que posso ajudar você e sua famí-lia com minhas técnicas de compras ao explicar como agir para gastar menos e, ao mesmo tempo, comprar muito mais coisas com o dinheiro que você já tem.

Sede de dinheiro

As famílias brasileiras consomem atualmente cerca de R$2.500.000.000.000,00. Isso mesmo: mais de dois trilhões de reais por ano! Outra excelente notícia é que, em alguns anos, as famílias que menos ganham gastarão mais dinheiro em compras que as famílias mais endi-nheiradas.

Essa cifra nada desprezível faz brilhar os olhos de lojas de roupas, móveis, bancos, supermercados, agências de turismo, hotéis, escolas, academias de ginástica, faculda-des, restaurantes etc.

Ao contrário do que acontecia no passado, cada vez mais as empresas querem conquistar o bolso das pessoas que não ganham tanto dinheiro por mês, mas têm uma capacidade de consumo nada desprezível.

Todas essas empresas, sedentas pelo seu dinheiro, em-pregam ciência para poderem vender cada vez mais. Elas

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investem milhões todos os anos em consultores e gurus que as orientam como atrair o consumidor e, consequentemen-te, vender cada vez mais. Sem falar nos milhões investidos em treinamento – os bancos das salas de aula das empresas e das universidades estão abarrotados de pessoas com uma obsessão: vender mais! Abra o jornal ou a internet e veja a infinidade de cursos oferecidos sobre técnicas de venda.

Ainda falando de ciência na hora de vender, as empresas empregam a pesquisa de mercado para conhecer melhor o cliente. Com esse tipo de pesquisa, dá para saber como pen-sa o consumidor, o que o faz decidir por este ou aquele pro-duto, quanto tem para gastar, entre tantos outros aspectos.

Existe até uma classificação das famílias segundo sua renda, de maneira a direcionar os esforços de venda das empresas no seu público-alvo:

Classe Renda Familiar Mensal

A1 Acima de r$13.100,00

A2 Entre r$9.100,00 e r$13.100,00

B1 Entre r$4.900,00 e r$9.100,00

B2 Entre r$2.750,00 e r$4.900,00

C1 Entre r$1.650,00 e r$2.750,00

C2 Entre r$1.100,00 e r$1.650,00

D Entre r$710,00 e r$1.100,00

E Entre r$490,00 e r$710,00

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As pesquisas de mercado indicam que o brasileiro gas-ta, em média, um pouco menos de um terço da sua renda em despesas de manutenção do lar, seguido de despesas de alimentação, higiene e transportes.

Ora, se existe tanta ciência a serviço das empresas que desejam vender algo a você, deve existir também ciência para que você possa comprar mais pagando menos.

Acontece que, enquanto o comércio e a indústria empre-gam métodos eficientes para vender cada vez mais, boa parte das pessoas continua amadora na tarefa de comprar. Qual é o resultado dessa situação? As pessoas compram mal.

Que tal mudarmos esse cenário?

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Como comprar com o dinheiro que você já tem

Ao investigar como as pessoas gastam seu dinheiro, pre-ocupei-me especialmente em estudar como fazem para comprar seus bens de consumo (sofá, geladeira, DVD, blu-ray, automóvel, casa, micro-ondas etc.).

A descoberta é que elas não dão o melhor destino ao dinheiro tão duramente conseguido. Esse resultado é, até certo ponto, óbvio: empresas usam técnicas de venda, consumidores não empregam técnicas de compra. Em-presa faz venda baseada na técnica. Consumidor faz com-pra emocional, não planejada e baseada no imediatismo.

Sendo assim, boa parte das pessoas gasta muito mais que o necessário para comprar as coisas e, pior de tudo, costuma achar que fez um bom negócio. Isto é, na maio-ria das vezes, com o dinheiro gasto para comprar uma televisão é possível comprar a mesma televisão mais um DVD. Com o dinheiro gasto para comprar uma geladeira é possível comprar a mesma geladeira e mais um free-zer. Com o que se gastou para comprar um carro usado

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é possível comprar o mesmo carro usado e ainda fazer a reforma da casa.

Ora, quando descobrir como e por que isso acontece, você será capaz de fazer render muitíssimo mais o dinhei-ro que já tem. Você verá que, com o dinheiro que recebe, é possível comprar muito mais coisas. Essa notícia, sem sombra de dúvida, é excelente.

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Aprender com o problema dos outros

A experiência acumulada ao estudar a dinâmica do di-nheiro, ouvindo os problemas das pessoas e dando pales-tras sobre finanças pessoais, além de me motivar a escre-ver o livro, ajudou-me a identificar boa parte dos ralos que existem nas finanças das pessoas dos mais diversos níveis, sejam ricas* ou pobres. Um grande ralo é, sem sombra de dúvida, a compra malfeita.

Em várias passagens do livro, conto a história de pes-soas que passaram por problemas financeiros derivados de compras malfeitas, e como esses problemas foram sa-nados. São histórias reais de pessoas que contam suas ex-periências de sucesso e de fracasso.

* Por incrível que pareça, os ricos têm seriíssimos problemas financeiros. Um recado para você: não importa quanto ganhe, se você não souber cuidar do di-nheiro, sempre terá problemas financeiros.

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Ao mostrar as dificuldades vividas por outras pessoas e como elas foram contornadas, espero que você identi-fique e saiba solucionar os problemas que podem estar acontecendo com você.

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O que esperar do livro

Após ler o livro, você entenderá as seguintes questões:

Como evitar jogar dinheiro no lixo dando valor às •pequenas quantias.

O que fazer e o que não fazer quando o assunto é di-•nheiro.

Como planejar a compra de tudo o que estiver ao •seu alcance.

O que considerar na compra da casa própria.•

Veja nas próximas páginas as respostas que vão melho-rar substancialmente sua vida financeira.

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Armadilhas

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A armadilha do crédito fácil

Saiba que você é o público-alvo de uma série de cam-panhas destinadas a oferecer coisas de que não precisa. Por exemplo, muitas pessoas pegam dinheiro emprestado apenas porque o crédito é fácil e rápido, sem atentar para a enorme enrascada em que podem estar se metendo.

Acredito que você, ao passar a pé em rua ou avenida movimentada, já tenha sido abordado por pessoas que trabalham para uma financeira (em geral jovens uni-formizados que prometem dinheiro na hora) tentando convencê-lo a tomar emprestado um dinheiro caríssimo e que, se for uma pessoa bem-informada, você recusará.

Obviamente, a pessoa da financeira é muito bem trei-nada e utiliza técnica de venda para enaltecer a facilidade com que você terá o dinheiro na mão para resolver seus problemas financeiros. O que essa pessoa não diz ou en-fatiza é que os juros são um dos mais altos do mercado, e que esse dinheiro não significará o fim de seus proble-mas financeiros, e sim o começo de mais dor de cabeça

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por conta dos altos, melhor dizendo, dos altíssimos juros cobrados.

Deixe-me argumentar por que a financeira tem de co-brar caro pelo dinheiro emprestado. Pondere o seguinte: imagine os juros que devem ser cobrados por conta de empréstimo a uma pessoa que passa pela rua e, prova-velmente, nunca teve histórico de relacionamento com a instituição que concederá o crédito. O risco que a insti-tuição corre de não receber o dinheiro de volta é enorme. Logo, a financeira tem de cobrar altas taxas, de maneira que os que pagam o empréstimo compensem a perda que ela pode vir a ter com aqueles que pegam o empréstimo e não pagam. Você já deve ter ouvido falar que: Os justos pagam pelos pecadores. Isso é bem verdade.

Quem pega dinheiro emprestado e quita seu empréstimo em dia paga também um pedaço da dívida do caloteiro.

Você se sentiria bem sabendo que paga um pedaço da dívida de caloteiro? Acredito que não. Logo, por conta dos juros altíssimos, pegar dinheiro emprestado é um jei-to muito bom de ir para o buraco.

Algumas empresas que oferecem dinheiro de imedia-to com extrema rapidez contratam artistas para conven-cer você de que é muito fácil e vantajoso pegar dinheiro

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emprestado. Porém, esses anúncios não falam que os juros e as tarifas cobradas têm o potencial de sufocá-lo, deixando-o com dificuldades para pagar outras contas das quais não há como fugir: água, telefone, energia, alimen-tação etc.

As instituições os empregam porque sabem que as pes-soas acreditam no que os artistas famosos dizem. Duvido que as personalidades que fazem propaganda ofertando dinheiro fácil peguem empréstimos nas condições anun-ciadas. Como elas podem falar bem de algo tão perigoso para o consumidor? Será que têm conhecimento finan-ceiro para assegurar que é um bom negócio pegar dinhei-ro emprestado nas condições propostas?

Uma coisa que nunca se deve esquecer é o seguinte: pegar dinheiro emprestado hoje para comprar alguma coisa agora, significa que no futuro você terá muito me-nos dinheiro para gastar.

Vamos estudar o seguinte caso:Nicanor pegou emprestado R$600,00 de uma agiota

do bairro para comprar um videocassete mais novo, pois o dele já estava velho. Isso mesmo, Nicanor é da época do DVD e do blu-ray. Ele, definitivamente, não é amigo do próprio dinheiro, pois terá de devolver os R$600,00 mais um dinheirão em juros. Nicanor se comprometeu com a agiota a pagar 20 prestações mensais de R$50,00 para quitar o empréstimo de R$600,00.

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Nessas condições, ao pagar essas prestações, Nicanor aceitou ficar amarrado ao financiamento durante 20 lon-gos meses e desembolsar um total de R$1 mil. Ora, será que vale a pena receber R$600,00 para pagar de volta R$1 mil? Isso faz sentido? Se Nicanor repetir durante sua vida operações como essa por 50 vezes, terá jogado fora, por baixo, R$20 mil!

Você acha que faz sentido efetuar a seguinte troca:

Receber R$2 mil hoje e ter de devolver o dinheiro •pagando 12 prestações de R$304,90?

Se durante sua vida você repetir isso 10 vezes, ºterá jogado fora, por baixo, R$16 mil!

Receber R$2 mil hoje e ter de devolver o dinheiro •pagando 24 prestações de R$183,63?

Se durante sua vida você repetir isso 10 vezes, ºterá jogado fora, por baixo, R$24 mil!

Essas trocas não fazem muito sentido. Coitado do Ni-canor! Coitado daquele que pega dinheiro emprestado e paga os juros mais altos do planeta!

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Não é exagero. No Brasil, são cobrados os juros mais altos do mundo. Então, por que será que as pessoas con-tinuam tomando dinheiro emprestado para financiar a compra de coisas que elas poderiam pagar à vista se jun-tassem um pouco de dinheiro todos os meses?

Período Aquisiçãode bens

MédiaConsignadoCréditopessoal

Chequeespecial

2004 79,1143,5 65,4

% a.a

62,059,752,348,855,043,043,8

41,440,22005 71,2144,8 39,140,62006 68,9147,8 37,338,92007 57,2141,9 33,036,22008 53,1145,5 29,434,32009 56,5172,0 30,838,12010 44,8161,1 27,227,42011 48,3172,6Nota: As informações referem-se a janeiro de cada ano.

28,328,3

A tabela acima elaborada pelo Banco Central mostra como são caras as taxas de juros no Brasil. Você, caro leitor, é uma pessoa inteligente e concluirá que comprar tudo à vista fará com que seja capaz de comprar mais pa-gando menos.

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A armadilha da compra por impulso

Em um estudo conduzido por professores de Psicologia

e Administração de Empresas do Centro Universitário

Filadélfia – UNIFIL,* em que se analisavam as variáveis

envolvidas na compra por impulso por consumidores em um

shopping de Londrina, foram entrevistadas 100 pessoas, 50%

do gênero masculino e 50% feminino. Desse universo, 54%

tinham de 18 a 33 anos, com predominância de indivíduos

casados e com escolaridade de nível superior. O estudo concluiu

que 40% das mulheres efetuam compras não planejadas de

duas a quatro vezes ao mês, contra 24% dos homens. Entre

os fatores relatados que levam homens e mulheres a efetuarem

compras não planejadas estão principalmente a necessidade

de agradar as pessoas (26% para homens e 18% para as

mulheres) seguido por vaidade (18% e 34% para homens

e mulheres). A maioria do público masculino e feminino

* Disponível em http://web.unifil.br/docs/extensao/15%20-%20Um%20Estu-do%20sobre%20o%20Consumidor%20que%20Compra%20por%20Impulso.pdf

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(76% e 56% respectivamente) declarou se sentir satisfeita

imediatamente ao realizar uma compra não planejada.

Em outro estudo similar conduzido pelo PROVAR*, a

compra por impulso atinge 50% dos consumidores com renda

média mensal de até R$1.820,00, enquanto esse percentual

atinge 70% para os consumidores com renda média de

R$7.281,00

Ora, pelo que você acabou de ler, nada menos que 50% das pessoas que ganham até R$1.820,00 por mês com-pram por impulso. Isto é, compram coisas que não plane-javam comprar inicialmente.

Uma maneira de contornar esse problema é usar a “lis-ta do desejo”, que permite que a família planeje melhor o que deseja adquirir. Se você não for fiel a ela, comprará coisas que são menos importantes que outras.

Vejamos um exemplo.Natalina, a esposa do Nicanor, fez a lista do desejo:

Vamos ver:

* www.provar.org.br

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Lista do desejo de Natalina

Ordem de importância

Objeto de desejo

preço aproximado

Justificativa

1 Trocar de carro

r$19 mil O motor do carro velho já está queimando óleo.

2 DVD r$200,00 Ninguém mais usa videocassete.

3 Armário da cozinha

r$700,00 A cozinha até hoje não tem armário.

4 Armário do quarto

r$500,00 O quarto até hoje não tem armário.

5 Curso de inglês para o Júnior

r$1.100,00 Vai ficar mais fácil arranjar emprego.

Note que, pela lista do desejo da Natalina, a coisa mais importante é trocar o carro. Acontece que, andando pela cidade, Natalina acaba de ver uma geladeira sendo vendi-da em 24 vezes. Ela se lembra da “lista do desejo “e tenta resistir à tentação.

Acontece que a atração se torna irresistível, e Natalina acaba entrando na loja! Grande erro! Se você sabe que não vai resistir à conversa mole do vendedor, não entre na loja! Pobre Natalina... Será que ela vai resistir ao canto da se-reia? A sereia diz “compre, compre, a prestação é baixa, o juro é zero... compre, compre pagando a perder de vista”.

Conforme vimos, muitas pessoas compram qualquer coisa a prazo por impulso e também por conta do crédito

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fácil. Não estou dizendo que comprar geladeira seja des-necessário. A questão é a prioridade da compra da gela-deira e também como se deve comprá-la.

Em relação à prioridade, já vimos que, na lista do de-sejo da Natalina, nem tem geladeira. Então, por que ela a compra? Porque o crédito é fácil!

Fácil e caro. Vejamos por quê.Natalina sucumbiu à tentação da compra por impulso

e a prazo. Ela não resistiu ao anúncio da geladeira com preço à vista de R$1.199,00 ou em 24 vezes de R$89,90, perfazendo R$2.157,60. Ela entrou na loja, e o vendedor mostrou uma geladeira lindíssima. Aí, ela ignorou a lista do desejo, só olhou para o valor da prestação e acabou comprando a bendita geladeira em 24 vezes de R$89,90 por mês. Que pena!

Olhe que péssimo negócio foi feito: se ela tem condi-ções de pagar R$89,90, também pode, no lugar de pagar a prestação, guardar o dinheiro numa caderneta de pou-pança.*

* O rendimento da caderneta de poupança é muito ruim. Contudo, para quem não consegue aplicar mais de R$100,00 ou R$200,00 de uma só vez, ela é a alternativa possível. Se você puder economizar mais de R$200,00, é muito melhor aplicar no Tesouro Direto. Mais informações no site www.tesouro.direto.gov.br e no meu livro A Nova Regra do Jogo, (Rio de Janeiro: Campus-Elsevier, 2009).

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Veja a tabela a seguir:

Por essa tabela, já no 13o mês, Natalina terá dinheiro para comprar a geladeira à vista! Isto é, ao comprá-la a prazo, Natalina joga no lixo os valores pagos da 14a à 24a prestações, o que por si só já seria suficiente para comprar uma televisão de 21 polegadas, novinha em folha!

Mês Valor depositado Saldo na Poupança

1 89,90R$ 89,90R$ 2 89,90R$ 180,34R$ 3 89,90R$ 271,32R$ 4 89,90R$ 362,85R$ 5 89,90R$ 454,93R$ 6 89,90R$ 547,56R$ 7 89,90R$ 640,74R$ 8 89,90R$ 734,49R$ 9 89,90R$ 828,79R$ 10 89,90R$ 923,67R$ 11 89,90R$ 1.019,11R$ 12 89,90R$ 1.115,12R$ 13 89,90R$ 1.211,71R$ 14 89,90R$ 1.308,88R$ 15 89,90R$ 1.406,64R$ 16 89,90R$ 1.504,98R$ 17 89,90R$ 1.603,91R$ 18 89,90R$ 1.703,43R$ 19 89,90R$ 1.803,55R$ 20 89,90R$ 1.904,27R$ 21 89,90R$ 2.005,60R$ 22 89,90R$ 2.107,53R$ 23 89,90R$ 2.210,08R$ 24 89,90R$ 2.313,24R$

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Não é incrível? Ao comprar a prestação sem raciocinar direito, Natalina rasgou dinheiro e jogou fora! Por que ela fez isso? Pela pressa de ter o bem agora, mesmo que seja desnecessário, uma vez que não constava da sua lista do desejo. A pressa em ter o bem agora e a compra por im-pulso fizeram com que Natalina comprasse à prestação, jogando um dinheirão fora com juros.

Vejamos outro exemplo, agora de um fogão com preço à vista de R$699,00 ou em 18 vezes de R$62,90, perfa-zendo R$1.132,20.

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Ora, se você tem condições de pagar R$62,90 por mês em prestação, pode colocar esse dinheiro numa caderneta de poupança, visando comprar o fogão à vista num futuro próximo.

Veja a tabela a seguir:

Mês Valor depositado Saldo na Poupança

1 62,90R$ 62,90R$ 2 62,90R$ 126,18R$ 3 62,90R$ 189,83R$ 4 62,90R$ 253,87R$5 62,90R$ 318,30R$6 62,90R$ 383,11R$7 62,90R$ 448,31R$8 62,90R$ 513,89R$9 62,90R$ 579,88R$10 62,90R$ 646,26R$11 62,90R$ 713,04R$12 62,90R$ 780,21R$13 62,90R$ 847,79R$14 62,90R$ 915,78R$15 62,90R$ 984,18R$16 62,90R$ 1.052,98R$17 62,90R$ 1.122,20R$18 62,90R$ 1.191,83R$

Mais uma vez, perceba que, ao poupar o valor das prestações, você terá condições de comprar o fogão à vista já no 11o mês. Agora, se for teimoso e quiser com-prar o fogão à prestação de qualquer jeito, jogará no lixo da 12a à 18a prestações. Elas representam o preço da pressa. Com esse dinheiro, daria para comprar um som ou um DVD.

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A conclusão é que, ao comprar a prazo, você se torna mais pobre, muito mais pobre. Compete a você planejar as próximas compras usando o método da lista do desejo, e evitar as compras por impulso. E, antes de comprar, é importante seguir algumas regras:

Pesquise antes de comprar • – antes de comprar um bem de valor mais alto, informe-se sobre o preço em diversas lojas, de preferencia em diferentes re-giões da cidade. Se você tiver acesso à internet, não precisa nem sair de casa para pesquisar as melho-res alternativas de preço. A mensagem é a seguinte: seja indo pessoalmente nas lojas ou pesquisando na internet, o importante é comparar preço e não se levar pelo comodismo de comprar na primeira loja que você visitar.

Pechinche antes de comprar• – nunca aceite o primeiro preço cobrado pela loja ou pelo prestador de servi-ço. Sempre é saudável fazer negociação para baixar o preço.

Se estiver comprando numa loja, sua negociação não terá chegado ao menor preço enquanto o gerente não for chamado pelo vendedor. Isto é, você deve começar a negociação com o vendedor e, aos poucos, ir reduzindo

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o preço até que o vendedor diga: “Não consigo baixar mais.” Neste momento, você fala: “Quero falar com o gerente.” O gerente tem poder de decisão maior que o do vendedor. A tática de chamar o gerente pode não dar certo em todas as lojas. Caso isso ocorra, tente em outra e vá fazendo uma lista daqueles estabelecimentos em que você consegue e daqueles em que não consegue redução de preço via negociação. Esse processo demanda tempo, e se você estiver com pressa, acabará não fazendo o melhor negócio.

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A armadilha de acreditar em tudo o que é anunciado

Uma maneira genial de iludir o comprador é anunciar juro zero e cobrar uma TC (tarifa de cadastro) ou outra taxa administrativa que compense o “juro zero”.

Antigamente, a TC era chamada de TAC – Tarifa de Abertura de Crédito. Ocorre que o Banco Central bra-sileiro percebeu o abuso na cobrança indiscriminada da TAC, disciplinou um pouco mais a questão e, desde en-tão, os bancos, lojas e financeiras aposentaram o uso de TAC e passaram a chamar de TC. Melhorou muito, mas não resolveu!

Frequentemente, quando se diz em letras garrafais que o juro é zero, a TC só é vista com o auxílio de uma lupa. O coitado que comprou à prestação achando que o juro era zero saiu feliz da vida da loja e mal sabe do dinheirão jogado fora.

As pessoas pagam muitas tarifas e juros sem saber. Mesmo que a compra à prestação seja inevitável, é saudá-vel saber que esses custos existem. Acontece que, quando

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paga juros ou uma tarifa sem saber que eles existem, você nunca se preocupará em comparar esses valores entre diferentes lojas, bancos e financeiras. Além disso, você também não se preocupará em negociar o valor e acabará pagando mais dinheiro desnecessariamente.

Em minha opinião, uma cobrança para a qual poucas pessoas atentam e que, portanto, nem se preocupam em negociar é a TC – Tarifa de Cadastro. Quase sempre que você pega dinheiro emprestado, lá está a TC encarecendo a operação. Mas, afinal de contas, como funciona a TC?

É muito simples. Vejamos o que aconteceu com o Ni-canor, o nosso intrépido personagem consumista.

Nicanor queria comprar um conjunto estofado para trocar o sofá da sala. O objeto de desejo dele estava anun-ciado por R$300,00 à vista. O vendedor disse que se Ni-canor optasse por pagar em um mês, e não tudo no ato, o juro seria zero, mas ele apenas teria de pagar uma ta-xinha de cadastro no valor de R$30,00. Nicanor engoliu a história e aceitou pagar R$330,00 em um mês porque o juro era “zero”. Eu fico pensando no que mais Nicanor acredita: mula sem cabeça, boitatá, curupira...

Se, por hipótese, ele tivesse optado por parcelar o con-junto estofado numa loja de móveis ou na financeira e se a TC fosse de R$30,00, ele financiaria R$330,00 e não R$300,00. Isto é, além de pagar juros sobre o financia-mento, ele pagaria juros em cima de R$330,00.

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No passado, o governo federal, por meio da resolução 1.272,* proibiu os bancos de cobrar taxa de abertura de crédito na concessão dos empréstimos consignados para aposentados do INSS.

Viram só? Poucas pessoas notam a existência dessas taxas. O governo tomou a iniciativa de proibir a TAC e outras taxas administrativas para o empréstimo consig-nado para aposentados. Contudo, essas cobranças, even-tualmente disfarçadas com outros nomes, continuam va-lendo para outras modalidades de operações.

Veja bem: se você não souber que todo financiamento “sem juros” tem juros, não ficará aborrecido em pagar as prestações e encher o bolso de quem cobra juros. Ago-ra, se você souber que no financiamento “sem juros” tem muitos, muitos, muitos juros, não acreditará nas lojas que anunciam o financiamento sem juros.

Não estou aqui para criticar as instituições que cobram juros. Elas não obrigam ninguém a fazer nada. Compra-mos em prestações pagando juros altíssimos porque te-mos pressa, queremos ter o bem agora! Meu interesse é fazer você verificar que, provavelmente, não está dando o destino mais racional para seu rico dinheiro.

* Resolução tomada pelo Conselho Nacional de Previdência Social

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Você poderia fazer seu dinheiro render muito mais se conhecesse algumas das estratégias destinadas a tirá-lo do seu bolso sem que você note. Quando eu falo em tirar dinheiro do seu bolso, não me refiro a roubo ou furto. Refiro-me a tirar o dinheiro do nosso bolso (por meios lícitos) e ainda assim ficarmos felizes achando que fize-mos bom negócio.

Possivelmente, pelo fato de você ser uma pessoa que acredita em boa parte do que os outros lhe prometem, acaba quebrando a cara.

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A armadilha de comprar sem pensar

Margarida está passando férias em São Paulo, e o ani-versário do neto, Rodrigo, está próximo. Ela nunca deixa de dar um presente para os netos, especialmente para Ro-drigo. Como avó amorosa, vai a uma loja de chocolates e compra uma caixa cheia para ele. Ela pensa: “O Ro-driguinho vai adorar!” Essa caixa de chocolates custou, nada mais, nada menos que R$19,00. O próximo passo é escrever um bilhete e mandar os chocolates pelo correio para a Bahia. Chegando ao correio, Margarida envia o pacote pagando R$25,00 para que a encomenda chegue rapidamente.

Você notou alguma coisa estranha nessa história toda?

Ora, a despesa de envio ficou mais cara que o pró-prio presente? Isso faz sentido para você? Pois é, isso não faz o menor sentido. Não teria sido mais sensato enviar o dinheiro para os pais do Rodriguinho, para que eles comprassem um presente de R$19,00 e assim se obtivesse

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economia de R$25,00? Ou, melhor ainda, enviar R$19,00 + R$25,00 para os pais do Rodrigo comprarem um pre-sente melhor ainda em nome da vovó?

Qual é a moral da história: Pense bem antes de fazer um negócio.

Vou contar outra história.Júnior tem 24 anos e mora com os pais. Ele acaba de

juntar dinheiro para comprar um carro usado, que era o primeiro item na sua lista do desejo. Quando ele compra o carro e chega em casa, lembra-se de alguns proble-mas. Primeiro, a casa dos pais não tem vaga de garagem. Logo, ele tem de fazer a seguinte escolha: ou deixa o carro na rua ao relento ou vai ter de pagar R$90,00 por mês para deixar o carro no estacionamento da esquina. Segundo, Júnior não tem dinheiro suficiente para pagar o seguro do carro. O que ele tinha de dinheiro foi todo utilizado na compra do automóvel. Terceiro, ele não tem dinheiro para pagar a transferência e as despesas de despachante. Ora, novamente encontramos uma pessoa que não raciocinou direito antes de tomar uma decisão de compra.

Note também que Júnior agiu direitinho, juntando dinheiro para comprar o carro à vista. Ele também agiu direitinho se esforçando para comprar o primeiro item da sua lista do desejo. Onde errou? Ele não levou em consideração que com o carro viriam outras despesas,

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como estacionamento, seguro, manutenção, combustí-vel etc.

Certa vez um conhecido me relatou que comprou uma caminhonete a diesel sem consultar antes o valor do se-guro. Pois bem, comprou o carro e, em seguida, teve de vendê-lo, pois o seguro de carro a diesel é uma fortuna no Brasil pelos altos índices de sinistro.

No passado, Ambrósio comprou um lindo sítio que usaria para passar os finais de semana. Logo após a com-pra, todas as sextas-feiras, ele saía do trabalho, pegava a mulher e os filhos em casa e iam para o sítio. Após alguns meses nessa rotina, Amélia, a esposa de Ambrósio, pas-sou a reclamar que fazer o mesmo programa todos os fi-nais de semana era muito chato. E agora, o que Ambrósio fará: continuará indo ao sítio desagradando a patroa ou arrumará outro programa, abandonando o tão sonhado sítio? Ir sozinho ao sítio também não teria graça.

Pois bem, esse é o dilema de quem compra sítio ou casa na praia: a compra sem ponderar se o objeto de de-sejo era uma questão pessoal de um membro da família (normalmente o homem) ou um desejo verdadeiro de to-dos. Sem falar dos gastos que um sítio, casa de praia ou casa de veraneio trazem: caseiro, mais uma conta de água, energia, TV a cabo, manutenção etc. É até possível que seja mais caro manter uma segunda casa que comprá-la.

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Esse problema é semelhante àquele enfrentado por quem ganha muito dinheiro de repente: ganhador de lo-teria, de herança, de programa de televisão etc. As pes-soas, frequentemente, não param para pensar nas conse-quências da aquisição dos bens.

O que é mais difícil, comprar um celular ou mantê-lo funcionando? É fácil manter um carro em ordem fa-zendo todas as manutenções, pagando seguro, IPVA, multas?

Por exemplo, o que você faria se ganhasse na loteria? As respostas mais comuns são: compraria um carrão e uma casa muito boa ou apartamento e deixaria o em-prego.

Ora, você já parou para pensar que um carrão de R$100 mil tem seguro anual de cerca de R$5 mil? Já parou para pensar que um carrão de R$100 mil tem IPVA anual de cerca de R$4 mil? Você sabe que sem o antigo emprego, o dinheirão que você ganhou vai ser torrado numa velo-cidade ainda maior? E as despesas de manutenção de um carrão? E as despesas com combustível?

Outros, quando lhes perguntassem o que fariam se ganhassem muito dinheiro de uma hora para outra, res-ponderiam que comprariam um sítio. Não sou contra sítios, contudo, antes de comprar um, pondere sobre o seguinte: o sítio requer caseiro, manutenção, impostos,

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segurança etc. Já diz o ditado: Comprar sítio dá duas ale-grias: uma quando você compra, outra quando você vende!

Vocês já devem ter ouvido falar naquelas pessoas que ganham concurso em programa de televisão e levam um milhão de reais. A primeira coisa que o sujeito faz é com-prar um automóvel caro, que não conseguirá manter, e um apartamento, cujo condomínio não terá como pagar. Alguns até trocam de cônjuge escolhendo, via de regra, alguém que demanda muitos gastos. Grave erro, pois, além de ter de arcar com um cônjuge gastador, terá de pagar pensão para o antigo!

Aliás, muitos dos que ganharam dinheiro repentina-mente, em pouco tempo ficaram em difícil situação fi-nanceira, pois escolheram comprar ativos que geravam despesas, desprezando ativos que geravam riqueza.

Essa ideia de ativos que geram riqueza ou despesa é muito interessante e se disseminou graças ao livro de Ro-bert T. Kiyosaki e Sharon L. Lechter Pai rico, pai pobre: o que os ricos ensinam a seus filhos sobre dinheiro (Rio de Janeiro: Campus-Elsevier, 2000). Vejamos:

Nicanor, se ganhasse um dinheirão, compraria um ca-são. Um casão requer um carrão na garagem. Os carrões fazem poucos quilômetros com um litro de gasolina, têm um seguro que custa uma fortuna, as peças são caras e a mão de obra para executar os serviços não costuma ser

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acessível. Ora, o Sr. Nicanor compraria ativos que gera-riam despesa, e quanto mais ele demorasse para se desfa-zer desses ralos que sugam seu dinheiro, mais rapidamen-te iria para a lona.

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A armadilha de se gastar mais do que se ganha

Mesmo empregado, se você, mês a mês, gasta mais do que recebe, sinto informar que está num processo de en-dividamento, que só vai diminuir quando os gastos se adequarem aos ganhos, algo fácil de falar e difícil de fa-zer. Quanto mais tempo você demorar a cortar os gastos, mais difícil será sair dessa armadilha.

Apesar de não ser um consolo, você não é o único. Segundo dados da Latin Panel, as famílias de classe C gastaram mensalmente 8% a mais do que receberam. As classes D e E tiveram consumo mensal médio de cerca de 2% a mais que a própria renda.*

Independente da classe social, o brasileiro gastava na época do estudo 3% a mais do que ganhava, na média. Nessas condições, de nada adianta pegar dinheiro em-prestado para cobrir o buraco que todo mês aparece.

* No primeiro capítulo do livro, apresentamos a divisão de classes com diferen-tes valores de renda familiar mensal. Isso ocorre porque diferentes empresas utilizam diferentes classificações.

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Vejamos por quê. Considere o caso de Nicanor, que ganha R$1.300,00 líquidos por mês e gasta R$1.500,00. Sem levar em conta os juros que vão se acrescentar à dívida, o buraco no cheque especial aumenta R$200,00 todo mês. Imagine que lhe seja oferecido um emprésti-mo com parcelas de R$300,00 para cobrir o cheque es-pecial. Esse empréstimo resolve o problema de Nicanor? Resposta: não.

Mesmo que a nova dívida tenha taxa de juros mais bai-xa que a do cheque especial, a situação de Nicanor me-lhora, mas não se resolve. Ainda que ele zere a dívida no cheque especial por conta do novo empréstimo contraído, já no mês seguinte sua despesa mensal será de R$1.800,00 (R$1.500,00 que ele em geral já gasta, acrescidos da nova prestação de R$300,00).

Numa situação como essa (gastar todo mês mais do que se ganha), tomar novo empréstimo para pagar as dí-vidas não resolve o problema. A solução é dolorosa e pas-sa necessariamente pelo corte de gastos. Para resolver o problema, Nicanor, que costuma gastar R$1.500,00 por mês, terá de cortar despesas e passar a gastar, digamos, R$1 mil por mês. Com a economia mensal de R$300,00 (lembre-se de que ele ganha R$1.300,00 por mês), será capaz de começar a pagar a dívida.

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A armadilha do cartão de crédito

O cartão de crédito é extremamente prático e útil para quem sabe usá-lo. Por outro lado, para aquelas pessoas que não conseguem controlar seus impulsos de gastar, o cartão de crédito torna-se uma perigosa armadilha, e a melhor coisa que pessoas assim podem fazer é inutilizá-lo.

Resumindo: se você sabe utilizar o cartão de crédito, ótimo. Ele é bastante prático. Por outro lado, se com o cartão na mão você acaba sucumbindo à tentação de comprar de tudo, desfaça-se dele, pois ele se transforma numa corda que vai lhe enforcar. Uma das maiores lou-curas financeiras é não pagar o total da fatura do cartão em dia.

Agora, suponha que você entre numa loja e encontre o seguinte anúncio: “Compre qualquer item da loja com o mesmo preço à vista ou no cartão de crédito.” Nessas condições, quando a loja efetua venda de R$100,00 no cartão de crédito, a operadora de cartão, 30 dias depois, pagará a loja R$95,00. Note que R$5,00 constituem-se

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no ganho da operadora de cartão.* Agora, coloque-se no lugar do dono dessa loja: ao vender no cartão de crédito, ele receberá o dinheiro da operadora um mês depois e com um desconto de 5%.** O que fazer para manter a margem de lucro? Simples: embuta no preço das merca-dorias o custo que a operadora de cartão vai cobrar.

Note que, além do custo financeiro, a loja que aceita cartões tem o custo de manutenção daquelas maquini-nhas (elas são chamadas de POS – Point of sale ou ponto de venda em português.) em que você passa o cartão. A loja paga aluguel por cada maquininha, algo em torno de R$30 a R$60 por mês por máquina. Obviamente, a loja tem de repassar esses custos aos seus preços. Quem, em última análise, paga por isso? O comprador que não sabe negociar.

Quando você compra remédio na farmácia por, di-gamos, R$40,00, a farmácia receberá, 30 dias depois, R$38,00. Note que o preço da mercadoria é R$38,00 e que os R$40,00 embutem o custo financeiro.

Qualquer loja de móveis, roupa, material de constru-ção, farmácia, restaurante ou supermercado que aceite

* Lembre-se de que se o cliente não pagar a operadora de cartão de crédito, ela ficará com o prejuízo. Logo, nos R$5,00 cobrados também tem uma margem para cobrir a inadimplência dos maus pagadores.** Neste exemplo, o desconto da operadora do cartão foi de 5%. Esta taxa de-pende de negociação entre a loja e a operadora.

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cartão de crédito já embutiu no preço da mercadoria o custo que a operadora do cartão cobrará.

Sabendo disso, o que nós compradores podemos fazer? Basicamente, podemos fazer duas coisas. Primeiro: se a loja aceitar cartão de crédito e se você tiver o dinheiro na mão, fale para o vendedor ou gerente que quer desconto para pa-gar em dinheiro. Se o gerente disser que não é possível, fale o seguinte: “Eu sei que a operadora do cartão de crédito lhe cobra x% e que você já embutiu isso no preço. Como vou pagar em dinheiro, conceda-me o desconto corresponden-te.” Esse argumento funcionará em boa parte das lojas, par-ticularmente naquelas em que você tem acesso ao dono ou a um gerente com boa autonomia. É claro que se você falar com um atendente sem um mínimo de instrução ou auto-nomia, de nada adiantará. Nesse caso, procure outra loja. Segundo: tendo dinheiro na mão, ao fazer suas compras, dê preferência a lojas que não aceitam cartão, pois elas não tiveram de embutir na mercadoria o custo que a operadora cobra. Quando você compra comida num supermercado que aceita cartão de crédito, o estabelecimento já embutiu o custo do cartão no preço e já antecipo que nem adian-ta pedir desconto ao caixa ou ao gerente. Por outro lado, existem os chamados atacadões, que vendem mais barato, entre outros motivos, por só aceitarem pagamento à vista. Postos de combustível que não aceitam cartão de crédito vendem o combustível bem mais barato.

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Por experiência própria, digo que o desconto para pagamento em dinheiro não funciona em restaurantes, supermercados, compra de passagens de avião, casa de espetáculos etc. Já testei com sucesso esse argumento em lojas de material de construção, loja de roupa que não faça parte de grande rede, loja que vende material de informá-tica, loja em que o cliente tem acesso ao dono.

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O Indispensável

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O que podemos aprender com os endinheirados

Os endinheirados costumam conhecer todas as taxas e ta-rifas cobradas e quase sempre conseguem evitar pagá-las.

Por exemplo, o Sr. Agripino faz parte dos cerca de 200 mil brasileiros que possuem mais de um milhão de dólares para investir. Ele tem um bom dinheiro (alguns milhões, para dizer a verdade) aplicado no banco.

O Sr. Agripino não paga tarifa de manutenção da con-ta-corrente, nem de renovação de cadastro, também não paga tantas outras taxas e demais tarifas. Naturalmente, o gerente do banco nem se atreve a oferecer título de ca-pitalização a ele, pois dificilmente uma pessoa esclarecida como ele compraria um produto como esse.

Além de controlado, o Sr. Agripino é um sujeito que cuida muito bem de seu dinheiro e, se houver uma co-brança de R$1,00 em tarifa, ele liga para o gerente e pede o estorno imediato, isto é, pede o dinheiro de volta. Para não perder um cliente da qualidade (e o dinheiro) do Sr. Agripino, o gerente sempre estorna as taxas e tarifas.

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O que podemos aprender com o Sr. Agripino?O ponto a ser entendido é o seguinte: mesmo aqueles

endinheirados que possuem milhões tentam fechar todos os ralos. Eles odeiam ver seu dinheiro ir para o ralo, mes-mo que seja R$1,00. Ora, se os endinheirados odeiam jogar R$1,00 fora, os pobres mortais devem se esforçar mais ainda para não jogar nem um centavo fora, não con-corda?

O que precisamos ter em mente é o seguinte: se quem tem muito dinheiro odeia gastar R$1,00 em tarifa, é sau-dável que você também tente fechar os ralos que drenam um real aqui, outro real ali, outro real acolá. Como diz o ditado: De grão em grão, a galinha enche o papo.

Talvez você ainda não imagine como seu dinheiro é jogado pela janela nas mais diversas situações.Por exem-plo, você gosta de fazer uma fezinha toda semana? Ora, esse é um jeito fantástico de ficarmos mais pobres.

Ao apostar R$2,00, temos muito mais chances de empobrecer R$2,00 que de ganhar R$1 milhão.

A chance de ganhar na loteria não justifica jogar. Se você, que aposta R$5,00 por semana, economizar o di-nheiro, em pouco tempo, digamos três ou quatro anos,

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terá mais de R$1 mil. Portanto, um ralo a ser fechado é o da aposta mensal ou semanal.

Lembre-se do seguinte:

Quem faz apostas não gosta de dinheiro, gosta de jogo.

E você: Gosta mais de dinheiro ou de jogo? Definiti-vamente, colocar dinheiro em jogo (loteria, bingo, capita-lização, bicho) é uma péssima decisão de compra.

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Fechar todos os ralos

No item anterior, falamos do desperdício de dinheiro com apostas. Nesta parte, vamos mostrar outros ralos que podem estar drenando alguns reais do seu bolso.

Contudo, se você disser que tem pouco dinheiro e por isso não precisa se preocupar com os ralos, saiba que é jus-tamente quem não ganha muito que mais deve se preocu-par em não desperdiçar dinheiro. Digo mais: ao escrever este livro, pensei especialmente nos milhões de brasileiros que não ganham muito e sentem necessidade de fazer me-lhor uso do dinheiro tão duramente recebido.

Com os exemplos a seguir, você verá com seus pró-prios olhos que é bem provável que não esteja fazendo o melhor uso do seu dinheiro. Eis alguns ralos que podem estar levando seu dinheiro para o esgoto:

Fazer apostas.• Quem faz apostas, seja na loteria, bin-go, jogo do bicho, seja em outro tipo de jogo, parece não gostar do próprio dinheiro. A chance de ganhar

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é tão pequena que não vale a pena apostar. Contar com a sorte é ilusão. Não precisamos disso para ter-mos mais dinheiro. Precisamos contar com nosso trabalho, inteligência e esforço!

Comprar título de capitalização. • Título de capitalização é jogo, e não investimento. Quem gosta de jogo, não gosta de dinheiro.

Dar dinheiro. • Emprestar dinheiro para um amigo ou parente é, praticamente, a mesma coisa que dar dinheiro. Quando algum parente ou amigo pedir dinheiro emprestado, se você emprestar, saiba que DEU o dinheiro e não EMPRESTOU. Dificil-mente você terá seu dinheiro de volta.

Você foi fiador ou avalista de alguém? • Se você for fiador ou avalista de seu cunhado, e ele não pagar a dívida, você será gentilmente convidado/obrigado a pagá-la. Sabia disso? Então, pense duas vezes antes de se tornar fiador ou avalista de parentes e amigos.

Você emprestou seu nome para amigos ou parentes com-•prarem alguma coisa a prazo? Ora, se você emprestar seu nome para uma pessoa com o nome sujo na praça, e ela não pagar as prestações, nem adianta

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reclamar depois, porque a loja e a empresa de co-brança irão em cima de você, e não da pessoa.

Gastar dinheiro com cigarro. • Além de fazer um mal tremendo para sua saúde e deixar você cheirando mal, representa um gasto substancioso e é um gran-de ralo a ser fechado. A Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) apresenta a tabela mostrada na página ao lado contendo quanto você economiza ao deixar de fumar.

Comprar à prestação. • Quem compra bens à prestação paga em juros o suficiente para comprar duas ou três vezes a mesma coisa que acabou de adquirir. Isto é, se você compra um sofá à prestação, o que você paga em juros é suficiente para comprar outro igualzinho, caso pagasse à vista. O grande sucesso das lojas que vendem tudo a prazo evidencia o uso de técnica de venda de anunciar a prestação baixi-nha de maneira a seduzir o apressado. Esse tipo de loja identificou que o apressado (aquele que diz não poder esperar para comprar à vista) não usa técnica de compra, pois não se importa em pagar duas, três ou quatro vezes pela mesma coisa, desde que tenha o bem na hora. Por ser esse, em minha opinião, o

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maior ralo que atualmente drena o dinheiro do bra-sileiro, já discuti esse assunto em maior profundida-de no capítulo anterior.

Sei que você, caro leitor, será capaz de encontrar ou-tros ralos. De qualquer maneira, se você se identificou com alguma das situações acima, este livro é para você. Estou certo de que, após sua leitura, muito mais dinheiro sobrará no seu bolso. Basta ler e colocar em prática as ideias aqui contidas. Você verá que é possível comprar muito mais coisas com o dinheiro que já tem ou ganha, sem ter de recorrer a empréstimos.

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Comprar sempre à vista

O Sr. Silva fez dois empréstimos para terminar a reforma da casa. Ele ganha R$1.200,00, mas, na prática, recebe líquido R$820,00 por causa dos empréstimos. “Como tive um problema de saúde, não pude mais fazer bicos para completar a renda”, contou o funcionário da prefeitura. Com isso, as dívidas com despesas do dia a dia, como ali-mentação e outras, cresceram, e hoje ele acumula débitos em atraso de cerca de R$3 mil. “O décimo terceiro não dá nem para começar a pagar a dívida.”

A história acima não foi inventada. Ela foi adaptada de uma reportagem do jornal O Estado de S.Paulo. A ideia central da boa administração das finanças pessoais é: não compre à prestação! Junte o dinheiro para depois pagar à vista. Se você quiser comprar uma televisão nova, não compre à prestação!

Quando você compra em várias vezes, comete dois gravíssimos erros:

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Você aumenta seus gastos fixos mensais por con-•ta da prestação. Ter esses gastos todo mês vai tirar o seu fôlego. Isto é, você fica sem ar para respirar porque, antes mesmo de o próximo mês começar, parte considerável do seu salário já está compro-metida com prestações de som, carro, móvel, rádio, do empréstimo feito na financeira, e, assim, sobra pouco (se é que sobra alguma coisa) para você pa-gar o indispensável: água, luz, comida, transporte, telefone, gás.

Você acaba pagando duas, três ou até mesmo qua-•tro vezes o preço do bem porque os juros são muito altos.

Para deixar essas ideias mais claras, vejamos como se comportam dois amigos: Adamastor e Nicanor.

Além de amigos, eles são vizinhos e trabalham na mesma firma, ganhando o mesmo salário. Os dois que-rem comprar uma televisão nova. Eles têm interesse em comprar uma televisão anunciada num folheto de uma loja do bairro.

Eis o anúncio:

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O folheto anuncia uma TV de 21 polegadas por R$839,00 à vista ou em 24 vezes de R$65,90, sem entra-da. Ao somar as 24 prestações de R$65,90, nota-se que o valor desembolsado será de R$1.581,60. Afinal de con-tas, qual é o preço da TV: R$839,00 ou R$1.581,60?

Adamastor sabe que, quando o assunto é finan-ciamento, não existe milagre. Isto é: todo e qualquer

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financiamento tem juros. Ele sabe que juro zero é tão real quanto mula sem cabeça e Saci-Pererê. Adamastor sabe também que financiamento “sem juros” é conversa para boi dormir e reconhece que os juros já estão embu-tidos nos R$1.581,60. Ainda mais que o próprio anúncio diz que o preço para pagamento à vista é de R$839,00. Isto é, se ele for nessa loja ou em outra concorrente e oferecer R$839,00 à vista, a loja vende! As coisas estão bem claras para Adamastor: o preço da TV é R$839,00, e não R$1.581,60. Aliás, R$1.581,60 correspondem a R$839,00 (preço da TV) mais R$742,60 de juros. Nossa, quantos juros! Note que, ao comprar a prazo, você acaba pagando praticamente duas TVs!

Porém, para Nicanor, o preço da TV é R$1.581,60. Ele não consegue enxergar os juros de R$742,60. Nica-nor realmente acredita que o preço da TV é R$1.581,60, que podem ser financiados sem juros com prestações de R$65,90. Coitado do Nicanor! Ele é um cara apressa-do. Não tem nem R$1.581,60 nem R$839,00 na mão. Acontece que Adamastor também não tem condições de comprar a TV à vista hoje. Qual é a solução?

Nicanor, que é muito apressado, decide comprar a tele-visão em vezes, pagando 24 prestações de R$65,90, e ficar amarrado por dois anos a uma prestação que vai se somar às outras que ele já tem. Nicanor é o que eu chamo de es-cravo da prestação. Mal acaba uma e já entra em outra.

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Por outro lado, Adamastor, que é um sujeito contro-lado, esperto e sabedor das coisas, começa a economizar hoje R$65,90 por mês, colocando esse valor, religiosa-mente, na caderneta de poupança com o objetivo de com-prar a bendita TV.

Mês Valor depositado Saldo na Poupança1 65,90R$ 65,90R$ 2 65,90R$ 132,20R$ 3 65,90R$ 198,89R$ 4 65,90R$ 265,98R$ 5 65,90R$ 333,48R$ 6 65,90R$ 401,38R$ 7 65,90R$ 469,69R$ 8 65,90R$ 538,41R$ 9 65,90R$ 607,54R$ 10 65,90R$ 677,08R$ 11 65,90R$ 747,04R$ 12 65,90R$ 817,43R$ 13 65,90R$ 888,23R$ 14 65,90R$ 959,46R$ 15 65,90R$ 1.031,12R$ 16 65,90R$ 1.103,20R$ 17 65,90R$ 1.175,72R$ 18 65,90R$ 1.248,68R$ 19 65,90R$ 1.322,07R$ 20 65,90R$ 1.395,90R$ 21 65,90R$ 1.470,18R$ 22 65,90R$ 1.544,90R$ 23 65,90R$ 1.620,07R$ 24 65,90R$ 1.695,69R$

Após 13 meses depositando regularmente R$65,90 na poupança, Adamastor já sabe que o dinheiro juntado é

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suficiente para comprar a televisão à vista. Então, o que ele faz? Vai pesquisar em várias lojas de eletrodomésticos e identificar aquela que oferece o melhor preço à vista para a compra da televisão. Eis o que acontece nas lojas:

Loja 1

A Loja 1 é a mesma em que, 13 meses antes, Nicanor comprou a TV. Adamastor entra na loja e se dirige ao vendedor:

Adamastor: “Quero comprar a televisão modelo XPTO de 21 po-legadas. Qual é o preço?”

Vendedor: “Qual é o seu nome, senhor?”

Adamastor: “Meu nome é Adamastor.”

Vendedor: “Adamastor, você veio para o lugar certo! Temos uma promoção por tempo limitado e só vale até hoje. A televisão custa R$1.600,00 à vista ou em 10 vezes sem juros!”

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Adamastor: “Engraçado, há pouco mais de um ano eu vim aqui com meu amigo Nicanor, e vocês fizeram uma oferta parecidíssima, também disseram que era por tempo limitado, mas davam desconto para paga-mento à vista.”

Vendedor: “O preço à vista é de R$1.600,00, e o pre-ço parcelado é de R$1.600,00.”

Adamastor: “Como assim? Vocês não dão desconto para pagamento à vista?”

Vendedor: “Claro que não! Nossos financiamentos são todos sem juros!”

Adamastor: “Você quer que eu acredite que o seu financiamento é sem juros? Você acha que eu sou o quê?”

Indignado com o vendedor que diz que o financia-mento é sem juros, Adamastor sai da loja e vai para a concorrente. Eis o segundo diálogo:

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Loja 2

Adamastor: “Meu nome é Adamastor. Quero com-prar a televisão modelo XPTO de 21 polegadas. Qual é o preço?”

Vendedor: “A televisão custa R$1.600,00 à vista ou em 10 vezes sem juros!”

Adamastor: “Qual é o seu melhor preço à vista?”

Vendedor: “Se o preço à vista é igual ao a prazo, por que o senhor quer pagar à vista?”

Adamastor: “Qual é o seu nome?”

Vendedor: “Eduardo.”

Adamastor: “Eduardo, eu sou uma pessoa esclare-cida. Eu sei que financiamento sem juros é tão real quanto boitatá. Qual é o seu melhor preço à vista?”

Vendedor: “O nosso melhor preço à vista é R$900,00 para pagamento em dinheiro. Com esse preço, não aceitamos cheques nem cartão de crédito.”

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Adamastor: “Eduardo, se você fizer por R$700,00, levo agora!”

Vendedor: “Por R$700,00 eu não consigo vender!”

Adamastor: “Deixe-me falar com o gerente da loja.”

Adamastor, que é um sujeito inteligente, sabe que o vendedor tem um limite para reduzir o preço para paga-mento à vista. Se a redução for muito grande, só o gerente da loja pode autorizar a venda.

Vendedor: “Espere aí que vou chamá-lo.”

Após uns dez minutos, aparece o gerente da loja.

Gerente: “Sr. Adamastor, em que posso ajudá-lo?”

Adamastor: “Eu quero comprar a TV de 21 pole-gadas modelo XPTO e vou pagar à vista! Posso pagar R$700,00.”

Adamastor já sabe que por R$700,00 a loja não pode vender. Ele só está aguardando a contraproposta a ser dada pelo gerente. Se a contraproposta for abaixo de R$800,00, ele fecha o negócio na hora.

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Gerente: “Sr. Adamastor, por R$700,00 eu não pos-so vender. Mas por R$795,00 à vista e em dinheiro, eu vendo.”

Adamastor: “Negócio fechado por R$795,00!”

Chegando em casa, Adamastor instala sua nova tele-visão na sala de visitas para alegria geral da família. Em seguida, ele procura o Nicanor, seu vizinho, para contar a novidade: a compra da mesma televisão que o vizinho comprou, mas pagando R$795,00 à vista. Repare bem: há 13 meses, Nicanor comprou em 24 vezes a mesmís-sima TV que Adamastor acabou de adquirir à vista por R$795,00. Nicanor jogou fora mais de R$800,00 em ju-ros. Já Adamastor soube esperar alguns meses e comprou a mesmíssima televisão, pagando à vista! É como diz o ditado: O apressado come cru!

Caso você esteja pensando: “E se o preço da TV su-bir?”. Ora, enquanto a economia brasileira estiver estável e com o avanço tecnológico, a tendência do preço de apa-relhos eletrônicos é de abaixar e não de subir com o passar do tempo. Portanto, não se engane achando que, ao com-prar à prestação, você fugirá do aumento do preço, pois a tendência é de estabilidade ou de baixa dos preços.

Para comprar bem, é necessário ter disciplina, auto-controle e saber planejar. Imagine uma pessoa que compre

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tudo à prestação ao longo da vida: é muito dinheiro jo-gado fora com juros! Dadas as condições do exemplo, se Nicanor repetir, ao longo da vida, a compra financiada de bens como geladeira, fogão e DVD, ele terá jogado fora em juros dinheiro suficiente para comprar alguns carros zero quilômetro.

Conforme dito no início desta seção, Nicanor e Ada-mastor ganham o mesmo salário. Em vista do comporta-mento de compra de cada um, qual deles, em sua opinião, é capaz de comprar mais com o dinheiro que já tem? Qual deles acumulará mais ao longo da vida?

E quanto a você: Qual é o seu comportamento de com-pra? Você se assemelha ao Adamastor ou ao Nicanor?

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A lista do desejo

A lista do desejo é um excelente método para programar a compra dos bens que desejamos ter e não podemos com-prar de uma só vez. Vejamos o que é e como ela funciona:

Reúna-se com sua família, pegue caneta e um pedaço de papel e escreva as cinco coisas mais importantes que vocês desejam comprar. Coloque os itens em ordem de-crescente. Isto é, a primeira linha da lista contém o bem que você mais deseja. A segunda, o bem que você só vai adquirir depois de quitar o primeiro, e assim por diante. A lista do desejo possui quatro colunas.

Primeira coluna: ordem de importância

A primeira coluna mostra a ordem de importância do bem. O número 1 indica que é, de acordo com sua família, o primeiro bem a ser comprado. O número 2 indica que é o segundo bem a ser comprado, e assim por diante.

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Segunda coluna: objeto de desejo

A segunda coluna evidencia o nome do objeto deseja-do, podendo ser uma geladeira, uma televisão, um DVD, um carro, uma viagem, uma cirurgia plástica etc.

Terceira coluna: preço aproximado

A terceira coluna indica o preço à vista do que dese-ja comprar. Isso é muito importante. O preço do bem é sempre o melhor preço à vista que você conseguir. O preço do bem é o preço negociado e não o preço anuncia-do. Qualquer preço anunciado está sujeito à negociação, dependendo da habilidade do comprador de reduzi-lo. Um erro muito comum é o sujeito preencher a coluna de preço da lista do desejo com o preço pela soma das pres-tações. Soma das prestações não indica o preço de nada.

Quarta coluna: justificativa

A quarta e última coluna é um espaço reservado para você escrever alguns motivos que o levam a querer adqui-rir aquele bem ou serviço.

Veja um exemplo:

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Veja que trocar a máquina de lavar roupas que já está toda enferrujada é a prioridade maior. Depois de fazer a lista com a sua família, em ordem de importância, cons-cientize-se da seguinte regra:

Só pense em adquirir o próximo bem da lista quando o anterior tiver sido quITAdO.

Apesar de ser uma regra simples, é necessário disciplina para ser seguida. Ao empregar a lista do desejo, o sujeito sábio economizará o dinheiro até ser capaz de comprar à vista cada um dos itens, enquanto o apressado vai querer entrar no financiamento.

Ainda que não seja a atitude mais recomendável, se você for comprar a prazo a máquina de lavar roupas, só entre no financiamento do som novo (próximo item na lista do desejo) apenas quando acabar de pagar a presta-ção da máquina de lavar. Isto é, a regra de só pensar em adquirir o próximo bem da lista quando o anterior tiver sido quitado continua valendo, mesmo que a compra seja financiada.

Ora, se você entrar no parcelamento, verá que demo-rará muito até poder ter o som novo! Ou seja, a pessoa que compra tudo à prestação demora mais para ter o

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segundo item mais importante da sua lista de compras desejadas. Como resolver isso? Junte e compre à vista! E isso funciona? Claro! Vejamos: se você comprar a má-quina de lavar roupas em prestações, digamos em 24 vezes, só sairá das prestações desse bem após 24 meses (dois anos) e acabará pagando, por conta dos juros, duas ou três máquinas.

Como assim? Note que uma máquina de lavar rou-pas que custa R$800,00 à vista, se comprada à presta-ção, digamos 24 vezes de R$70,00, acaba custando mais de R$1.600,00! Quanto dinheiro jogado fora quando se compra à prestação!

Perceba que se você tem condições de pagar R$70,00 por mês em prestações, também pode guardar R$70,00 por mês na caderneta de poupança ou em outra alterna-tiva de investimento melhor. Farei o raciocínio conside-rando o investimento em poupança que, apesar de não ser uma maravilha, é o mais acessível a qualquer brasileiro. Se você conseguir alternativas melhores, o resultado para você será melhor ainda.

Então, se juntar R$70,00 por mês na caderneta de poupança, em 12 meses, você compra a máquina de lavar roupas à vista!*

* O Brasil vive com inflação relativamente baixa. Até esta situação se alterar, não espere aumento de preço nos eletrodomésticos.

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Note a diferença: ao comprar a máquina de lavar rou-pas a prazo, você paga 24 prestações de R$70,00 men-sais, fica amarrado a uma dívida e paga juros por 24 meses! Agora, se você guardar os mesmíssimos R$70,00 na caderneta de poupança até juntar dinheiro suficien- te para pagar à vista, conseguirá o total em apenas 12 meses!

Mês Valor depositado Saldo na Poupança

1 70,00R$ 70,00R$ 2 70,00R$ 140,42R$ 3 70,00R$ 211,26R$ 4 70,00R$ 282,53R$ 5 70,00R$ 354,23R$ 6 70,00R$ 426,35R$ 7 70,00R$ 498,91R$ 8 70,00R$ 571,90R$ 9 70,00R$ 645,33R$ 10 70,00R$ 719,21R$ 11 70,00R$ 793,52R$ 12 70,00R$ 868,28R$ 13 70,00R$ 943,49R$ 14 70,00R$ 1.019,15R$ 15 70,00R$ 1.095,27R$ 16 70,00R$ 1.171,84R$ 17 70,00R$ 1.248,87R$ 18 70,00R$ 1.326,36R$ 19 70,00R$ 1.404,32R$ 20 70,00R$ 1.482,75R$ 21 70,00R$ 1.561,64R$ 22 70,00R$ 1.641,01R$ 23 70,00R$ 1.720,86R$ 24 70,00R$ 1.801,19R$

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Veja como se engana a pessoa que pensa: “Eu, hein?, se posso levar a máquina agora pagando prestação de R$70,00 em 24 meses, por que esperar dois anos juntando para pagar à vista?” O engano é achar que a geladeira vale 24 vezes R$70,00, que resulta em mais de R$1.600,00. A geladeira vale R$800,00 à vista, valor que pode ser pou-pado em 12 meses. Caso você opte pelo financiamento, os últimos 12 meses de prestação representam o preço da sua pressa. Neste caso específico, o preço da pressa é de cerca de R$860,00.

Ao não comprar a prazo, você economiza muitos me-ses de prestação. Com essa economia, dá para comprar, à vista, um som de R$350,00 e uma televisão de R$450,00! A escolha é sua. Eis suas alternativas:

Você junta R$70,00 por mês durante 12 meses e •compra à vista a máquina de lavar roupas. Com as prestações economizadas (da 13a até a 24a), você compra um som e uma televisão nova.

Resumo: após 24 meses você tem máquina de ºlavar roupas, som e aparelho de TV.

Você se amarra a 24 prestações e fica sem som e •sem televisão nova.

Resumo: após 24 meses você tem máquina de ºlavar roupas, apenas.

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Resumindo, quem compra tudo em vezes demorará muito mais tempo para comprar todos os itens da lista. Quem compra em vezes fica mais pobre. Por outro lado, quem junta para depois comprar à vista comprará todos os itens da lista do desejo num intervalo de tempo menor! Esse método vale para comprar virtualmente qualquer coisa, do fogão até o carro!

Já com a casa própria, a coisa é um pouco diferente.

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Não emprestar o nome

Janaína entrou pelo cano por emprestar seu nome para as compras de uma conhecida, Gildete. Como Gildete estava com o nome sujo na praça, ela pediu que Janaína fizesse o crediário em seu nome. Nos dois primeiros me-ses, tudo deu certo, e os pagamentos foram feitos em dia. No terceiro mês, porém, quando chegou o dia do paga-mento, Gildete disse a Janaína que não tinha o dinheiro para pagar a conta. Resultado: Janaína, para não sujar seu nome, pagou a conta da Gildete.

Janaína se deu mal emprestando seu nome para uma conhecida. E você, já fez isso alguma vez? Espero que não!

É muito perigoso emprestar seu nome para que outras pessoas façam crediário. Se a outra pessoa não pagar a conta, quem fica com o nome sujo é você! Não adianta nem tentar explicar a situação para a loja.

Vejamos o caso de Adamastor, o mesmo sujei-to do exemplo da televisão, e de sua esposa, Natalina.

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Adamastor trabalha numa metalúrgica, e dona Natalina é dona de casa. O salário de Adamastor é de R$2.300,00 por mês, já descontados os impostos, o vale-refeição e outros. O que ele recebe é suficiente para pagar o aluguel, despesas de transporte, alimentação, água, luz, telefone e ainda sobram uns trocados quase todos os meses.

Acontece que, no ano passado, José, o irmão mais ve-lho de Natalina, precisou comprar uma geladeira nova. Mas o que tem a ver a geladeira comprada à prestação pelo José com a vida de Adamastor e Natalina? Tem mui-ta coisa a ver. Vejamos por quê.

O nome do José está sujo na praça há muitos anos. Com o nome sujo, não dá para comprar à prestação. Então, José pediu para Natalina comprar a geladeira no nome dela e ele, José, pagaria as prestações. Natalina, con-fiando em seu irmão, nem contou essa história comprida para o marido. E foi justamente o que aconteceu no ano passado: Natalina comprou a geladeira a prazo, no nome dela, só que a geladeira foi para a casa do irmão. Acon-tece que, logo na primeira prestação, José não efetuou o pagamento. Aí, veio a segunda prestação, e José também não pagou, e a dívida foi crescendo. Apesar de José ser o devedor, a loja nem sabe que ele existe. Para a loja, Nata-lina é a caloteira, pois o financiamento saiu no nome dela. Como se tudo isso não fosse suficiente, Natalina tem de enfrentar a fúria da empresa de cobrança. A empresa já

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foi até a casa dela para pegar a geladeira de volta. Mas a geladeira está na casa de José. Que confusão!

Essa mesma história já aconteceu e continua aconte-cendo com muita gente que, por ser boa e generosa, “em-presta” o nome para que pessoas com nome sujo com-prem à prestação.

Como você viu, é muito perigoso emprestar o nome para outra pessoa comprar a prazo. No caso de Natalina, ela é a devedora e caloteira! Não adianta tentar explicar para a loja ou para a empresa de cobrança que, na verda-de, o devedor é José. Natalina se deu muito mal e vai ter de pagar toda a geladeira do irmão. Se ela não pagar, vai ficar com o nome sujo, e Adamastor vai ficar uma fera. Uma fera ele já ficou quando descobriu a confusão em que sua mulher se meteu para ajudar o irmão.

Lembre-se sempre: nunca empreste seu nome para que outras pessoas comprem a prazo. Se a pessoa que lhe pediu para comprar no seu nome tem o nome sujo, é por-que ele/ela já faltou com algum compromisso financeiro antes. Por que esse caloteiro se sentiria constrangido em dar um novo calote? Uma coisa eu digo: não existe ex-caloteiro!

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Evitar emprestar seu dinheiro para amigo ou familiar

Jane, por exemplo, há um ano pegou um empréstimo consig-nado de R$8 mil a um custo de 1,7% ao mês. A intenção foi ajudar um dos sobrinhos que estava investindo num novo negócio, contou. “Mas esse empréstimo me apertou muito”, reclamou. De uma aposentadoria mensal de R$1.400,00, passou a receber somente R$1 mil, já descontada a parcela do financiamento. Com a renda da aposentadoria redu-zida, as outras dívidas foram se acumulando. E o pior: os negócios do sobrinho não foram para a frente e o dinheiro do empréstimo consignado não lhe foi devolvido. Com isso, Jane soma dívidas de R$6 mil, fora o financiamento con-signado. “É a prestação da casa própria, do carro, entre outras, em atraso.”

A história acima não é inventada. Ela foi retirada de uma reportagem do jornal O Estado

de S.Paulo e mostra um caso típico da pessoa que empres-ta dinheiro para parente ou amigo.

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Tenho certeza de que você conhece histórias muito parecidas, em que uma pessoa bem-intencionada em-presta dinheiro para amigo ou parente, achando que vai recebê-lo de volta. Saiba que empréstimo desse tipo é, quase sempre, igual a doação. Você dificilmente recebe o dinheiro de volta, não adianta se iludir. Se quiser dar o dinheiro, a escolha é sua. Agora, não crie esperança de receber de volta.

Se você fez como Jane, que emprestou dinheiro para o sobrinho, saiba que você não emprestou o dinheiro, e sim deu o dinheiro! A chance de receber o dinheiro de volta é mínima. É por isso que eu digo: evite emprestar dinheiro para amigo ou parente. Quando você empresta dinheiro para um amigo e ele não lhe paga de volta, você perde o amigo e o dinheiro.

Emprestar dinheiro para parente é enfrentar um pe-rigo maior ainda. Imagine que você empreste dinheiro para seu queridíssimo cunhado. A chance de ele não lhe pagar de volta é enorme! Contudo, ao contrário do amigo caloteiro que você nunca mais vai ver na frente, paren-te caloteiro você sempre encontra, por isso é melhor não emprestar.

Um bom argumento para fugir desse tipo de situação é dizer que não tem dinheiro. Isso não é mentir, mesmo que você tenha. Encare da seguinte maneira: mesmo que você tenha o dinheiro, ele não é para emprestar.

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Um dos motivos para as pessoas lhe pedirem dinheiro emprestado é o fato de, em algum momento, você ter dito que tinha dinheiro sobrando. Nunca revele para ninguém quanto você ganha ou se tem dinheiro guardado. Bastam essas informações para chegar alguém contando a você uma história triste tentando arrancar algum dinheiro.

Tenho experiências muito amargas de ter emprestado dinheiro para parentes. Eles dificilmente pagam de volta (ao menos os meus. Pode até ser que você empreste a parentes, e eles lhe devolvam direitinho. Quer arriscar? Eu não arrisco mais!). No meu caso, já emprestei todo o dinheiro que tinha para um parente bem próximo. Em-prestei, porque fui ingênuo de acreditar que a pessoa me pagaria de volta. Não deu outra: no prazo combinado para receber o dinheiro de volta, começou a enrolação de não pagar pelos motivos mais mentirosos possíveis.

Veja bem: não estou afirmando que todo parente é caloteiro, apenas estou dizendo que não é prudente em-prestar dinheiro, seja para parente, seja para amigo, seja para estranho. Os especialistas em emprestar dinheiro são o banco, a financeira e o agiota. Eles conhecem todos os métodos eficientes de cobrar o devedor. Nós não!

Outra questão interessante é saber o motivo de o pa-rente vir lhe pedir dinheiro emprestado. Quais são os motivos mais frequentes?

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O parente gastou mais do que devia na compra de •eletrodomésticos. Por esse motivo, não empresto de jeito nenhum! Não é justo eu ficar com meus ele-trodomésticos velhos e pagar pela geladeira nova do meu parente!

O parente perdeu dinheiro em apostas. Sem co-•mentários!

O parente quer abrir um negócio. Qualquer negó-•cio é muito arriscado! Tô fora!

O parente perdeu o emprego. Se você emprestar •uma vez, ele vai te pedir dinheiro de novo, e de novo, e de novo, e de novo até arranjar um emprego. Num caso como esse, também não podemos ficar indi-ferentes. Vai ser muito melhor você ajudar dando comida, levando os filhos dele para o parquinho, convidando-o para almoçar e jantar na sua casa e dando uma força para que arranje outro emprego rapidamente.

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Não comprar título de capitalização

Que tal comprar um carro novo com prestações menores que as do consórcio, receber o veículo em seis meses e passar dez anos pagando? Ah, mais um detalhe: se o interessa-do desistir da compra no meio do caminho, terá todas as mensalidades devolvidas, devidamente corrigidas. Ótimo negócio, não? Pois é. Pena que essa modalidade de finan-ciamento não exista em lugar nenhum do mundo. Apesar disso, muitos corretores de títulos de capitalização têm vendido seus produtos com essa falsa promessa, geralmen-te para pessoas com pouca instrução e baixo rendimento. Depois de ouvir um anúncio de rádio que prometia carro fácil, rapidamente, sem comprovação de renda, o porteiro Alexandre Conceição, de 50 anos, diz que procurou em São Paulo um corretor da Valor Capitalização, empresa pertencente ao Banco Santos. Sua ideia era comprar um Palio. Deu R$300 de entrada e há um ano paga mensa-lidades de R$100. Como o carro prometido não chegava, foi investigar. Atônito, descobriu que a única e remota

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possibilidade de obter o veículo no curto prazo era por meio de um sorteio. Pensou em resgatar os R$1.400 apli-cados, mas foi informado de que só teria de volta 23% do dinheiro. Péssimo negócio. Detalhe: Conceição ganha R$500 por mês.Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT571878-1664,00.html

A primeira coisa que você deve saber é que a capitali-zação é um dos piores métodos para se juntar dinheiro. Qualquer professor de finanças concordará com o que eu vou falar: quem compra capitalização ou desconhece a besteira que está fazendo ou gosta de jogar dinheiro pela janela.

Em minha opinião, a capitalização é um dos produtos financeiros mais desfavoráveis ao comprador. Contudo, os títulos de capitalização são absolutamente legais e re-gulados pela Susep, instituição governamental que regula a operação das sociedades de capitalização. Ao consultar o site da Susep (http://www.susep.gov.br/menuatendi-mento/index_capitalizacao.asp#1), lemos que:

As Quotas de Capitalização representam o percentual de cada pagamento que será destinado à constituição do Capital. Elas deverão ser apresentadas sempre em desta-que nas Condições Gerais do título de capitalização Em geral, não representam a totalidade do pagamento, pois, como foi dito acima, há também uma parcela destinada a

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custear os sorteios e outra destinada aos Carregamentos da Sociedade de Capitalização.

Em outras palavras, quando você compra uma capi-talização pagando, digamos, R$50,00, apenas uma par-te dos R$50,00 estará sujeita a algum rendimento. Essa parte que terá algum rendimento é chamada de Quota de Capitalização. Um bom naco dos R$50,00 vai custear os sorteios.

Isso significa que, ao pagar R$50,00 num título de capitalização, é possível (e absolutamente dentro da lei) que R$10,00 sejam destinados às despesas do sorteio e apenas R$40,00 estejam sujeitos a algum rendimento. Isto é, se você não for o felizardo contemplado no sor-teio, acaba de jogar no lixo R$10,00 dos R$50,00 de-positados! Você não leu errado: em muitos casos, você deposita R$50,00 e o seu saldo é R$40,00. Imagine o efeito de sucessivos depósitos de R$50,00! Notadamen-te, colocar dinheiro em capitalização é um jeito mui-to eficiente de ficar cada vez com menos dinheiro! Se esse for o seu caso, atacar aos esperneios o banco ou o gerente não vai adiantar nada. Pelo contrário, só vai atrapalhar. Aliás, você já é maior e vacinado e comprou capitalização porque quis. Para reduzir as suas perdas, suspenda imediatamente os depósitos mensais! Repito:

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não adianta reclamar com o gerente, pois você comprou a capitalização por livre e espontânea vontade.

Para deixar mais claro ainda o efeito devastador que a capitalização tem no seu bolso (ou será título de descapita-lização?), montei uma simulação comparando a evolução do saldo de um título de capitalização com vencimento em 23 meses com a aplicação em caderneta de poupan-ça. Segundo a simulação feita, após realizar 23 depósitos mensais de R$50,00 cada, seu saldo seria de R$792,19 na capitalização e de R$1.229,19 na caderneta de poupança. Ainda que você tivesse guardado os R$50,00 mensais de-baixo do colchão, após 23 meses você teria R$1.150,00, cerca de R$350,00 a mais que a capitalização. Sem co-mentários!

Com números tão expressivos, como justificar que al-guém coloque dinheiro na capitalização?

A tabela abaixo foi montada respeitando os valores mínimos definidos pela Susep para planos de capitaliza-ção. Segundo a instituição, os títulos com pagamentos mensais (PM), os percentuais destinados à formação da provisão matemática deverão respeitar os seguintes valo-res mínimos:

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Compare:

Mês Saldo na Capitalização Saldo na Poupança

1 5,00R$ 50,00R$ 2 10,03R$ 100,30R$ 3 45,09R$ 150,90R$ 4 80,36R$ 201,81R$ 5 115,84R$ 253,02R$ 6 151,54R$ 304,54R$ 7 187,45R$ 356,36R$ 8 223,57R$ 408,50R$ 9 259,91R$ 460,95R$ 10 296,47R$ 513,72R$ 11 333,25R$ 566,80R$ 12 370,25R$ 620,20R$ 13 407,47R$ 673,92R$ 14 444,92R$ 727,97R$ 15 482,59R$ 782,33R$ 16 520,48R$ 837,03R$ 17 558,61R$ 892,05R$ 18 596,96R$ 947,40R$ 19 635,54R$ 1.003,09R$ 20 674,35R$ 1.059,11R$ 21 713,40R$ 1.115,46R$ 22 752,68R$ 1.172,15R$ 23 792,19R$ 1.229,19R$

Se você quiser defender a capitalização, poderá argu-mentar que é um jeito divertido de fazer um pé de meia e ainda tem a chance de ganhar uma bolada, caso seja sorteado.

Ora, se existe uma maneira eficiente de jogar dinheiro fora é com apostas. Se você for um amante da jogatina, minhas palavras de nada servirão!

Para encerrar, darei um exemplo que a própria Susep mostra no seu site:

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Suponha que num título com pagamentos mensais no valor de R$100,00 cada um, o quarto pagamento apre-sente as seguintes quotas:

Quota de capitalização: 75%

(comentário do autor: parcela dos R$100 que não foram para o ralo).

Quota de sorteio: 15%

(comentário do autor: parcela dos R$100 para custear sorteio).

Quota de carregamento: 10%

(comentário do autor: parcela dos R$100 para custear o plano de capitalização).

Resumindo, de cada R$100,00 que saem do seu bolso para pagar a capitalização:

R$75,00 serão destinados •para compor o capital.

esse dinheiro continua sendo seu;

R$15,00 serão destinados •para o custeio dos sorteios.

esse dinheiro não é mais seu a menos que você seja sorteado;

R$10,00 serão destinados à •Sociedade de Capitalização.

esse dinheiro não é mais seu.

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Você sabia disso? Quem souber desses detalhes dificil-mente comprará título de capitalização.

Um pergunta comum das pessoas que fazem esse tipo de investimento: O título pode ser resgatado a qualquer momento?*

Não, alguns títulos preveem prazo de carência, isto é, um período inicial em que o capital fica indisponível ao titular. Se o titular solicitar o resgate durante o período de carência ou se o título for cancelado, o resgate só poderá acontecer efetivamente (receber o dinheiro) após o en-cerramento do período de carência. Em casos de resgate antecipado, faculta-se à Sociedade de Capitalização esti-pular uma penalidade de até 10% do capital constituído. Outra possibilidade, também, é de o título prever Resgate Parcial, isto é, resgata-se uma parte do capital constituí-do, valendo inclusive a aplicação de penalidade limitada novamente a 10%.

O título de capitalização deverá informar nas suas Condições Gerais, normalmente na forma de uma tabela, os percentuais do capital constituído a que o titular terá direito em função do número de pagamentos realizados.

Considere o caso de um título de pagamentos men-sais com 12 meses de prazo de vigência e com prazo de pagamento igual a 9 meses, sendo cada pagamento no

* Fonte: adaptado de http://www.susep.gov.br/menuatendimento/index_capi-talizacao.asp#1

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valor de R$10,00. Se, por exemplo, o titular solicitar o resgate após ter efetuado dois pagamentos (2 x R$10,00 = R$20,00), ele terá direito a 27,16% do valor que pagou, o que resulta em R$5,43 (27,16% de R$20,00). Ou seja, embora você tenha depositado R$20,00, se quiser sacar, terá direito a R$5,43.

Já, se o titular permanecer até o final do plano, ten-do, portanto, realizado 9 pagamentos (9 × R$10,00 = R$90,00), ele terá direito a 71,48% do que pagou, ou seja, a R$64,33 (71,48% de R$90,00).

Para encerrar, transcrevo algumas passagens que reti-rei da Susep:

Aplicar em título de capitalização é o mesmo que aplicar em poupança? Formarão, em situação semelhante, o mes-mo capital?

Título de capitalização não é a mesma coisa que caderne-ta de poupança. O título de capitalização é um produto comercializado somente pelas Sociedades de Capitaliza-ção através de planos que são previamente aprovados pela Susep. Seu capital de resgate será sempre inferior ao ca-pital constituído por aplicações idênticas na caderneta de poupança, já que, dos pagamentos efetuados num título,

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desconta-se uma parte para custear as despesas adminis-trativas das Sociedades de Capitalização e, quando há sor-teios, uma parcela para custear as premiações.

Os títulos que, ao final do prazo de vigência, estabelecem capital de resgate de 100% (ou mais) em relação aos paga-mentos efetuados, além de atualização monetária pela TR (taxa referencial que tem dado em torno de 0,2% ao mês), não formarão no título de capitalização o mesmo capital comparado com a caderneta de poupança?

Não, o capital formado na caderneta de poupança é calcu-lado sobre a totalidade dos depósitos e inclui a variação da TR, além de juros de 0,5% ao mês. No caso dos títulos de capitalização, sempre há também variação pela TR e juros mensais, mas estes não incidem sobre a totalidade dos pa-gamentos. Ao prever um resgate de 100% (ou mais), estes já incluem a taxa de juros nos percentuais da tabela citada anteriormente, restando apenas a atualização pela TR. Dizer que há atualização pela TR não significa dizer que o capital formado será igual ao que seria constituído por meio da caderneta de poupança.

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Economizar parte do salário

Adamastor aprendeu a economizar todo mês uma pe-quena parte do salário com o objetivo de dispor de uma reserva para emergências. Esse comportamento foi ad-quirido a duras penas. Isto é, ele aprendeu a necessidade de constituir uma pequena reserva da maneira mais difí-cil. Vejamos a história dele.

Há alguns anos, Adamastor gastava tudo que ganha-va, não tendo, portanto, nadinha guardado no banco. Por azar, a antiga empresa em que ele trabalhava faliu, e ele ficou, da noite para o dia, sem emprego e sem o dinheiro da rescisão, pois a empresa quebrou sem pagar os direitos trabalhistas de nenhum dos antigos funcionários. O pro-cesso corre na justiça, e Adamastor não tem esperança de ver a cor do dinheiro que lhe cabe tão cedo.

Por não ter dinheiro guardado, Adamastor se viu numa situação terrível, pois, de uma hora para outra, estava sem emprego, sem salário e sem dinheiro para pagar aluguel, conta de água, eletricidade e tantas outras despesas que

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um chefe de família possui. Acreditando que iria arranjar outro emprego rapidamente, ele pegou dinheiro empres-tado com um agiota com a promessa de pagar de volta em dois meses, prazo que julgou suficiente para encontrar outra ocupação.

Passaram-se um, dois, três, quatro meses e nada de arranjar emprego. Adamastor já sentia um frio na barriga de ficar desempregado por mais tempo que estimara e, agora, com um complicador maior: ter um agiota pres-sionando-o para que a dívida fosse quitada. Que situação terrível. Felizmente, depois de seis meses desempregado, ele conseguiu uma nova ocupação e começou a pagar suas dívidas. Para se ter uma ideia, ele pegou um empréstimo de R$1.500,00 com o agiota e, após seis meses, a dívida já passava de R$3.800,00. Após muitos meses pagando “os olhos da cara” em juros para o agiota, Adamastor prome-teu a si mesmo que nunca ficaria sem um nível de reserva para o caso de precisar de dinheiro imediatamente.

A história narrada, que tem como protagonista essa personagem, acontece diariamente com muitas pessoas, com algumas variantes: o tempo em que o indivíduo per-manece desempregado, a maneira com que a pessoa se endividou e como ela saiu do buraco (se é que saiu).

O fato é que devemos estar preparados para períodos em que ficamos sem renda por conta do desemprego ou outra situação emergencial, e a melhor prevenção para

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isso é constituir uma reserva financeira. Naturalmente isso, só é possível ao se gastar menos que se ganha.

Segundo dados do Dieese, instituição de pesquisa li-gada ao movimento sindical brasileiro, o tempo médio de desemprego, na região metropolitana de São Paulo, é de 13 meses para os homens e de 12 meses para as mulheres.

Em vista desses dados, não seria prudente ter dinheiro guardado num montante que lhe permita atravessar o pe-ríodo de desemprego (caso você seja assalariado) ou um período sem serviço (caso você seja autônomo)?

A situação de desemprego é agravada se você estiver no meio de muitos financiamentos. Uma coisa é ficar de-sempregado tendo de pagar o inevitável: conta de água, energia, gás, supermercado, telefone, transporte. Outra coisa é, além de ter de pagar essas contas, arcar com a prestação da geladeira, da TV de última geração, do carro, do celular, da viagem. Esse é mais um motivo pelo qual sugiro, insistentemente, a compra à vista, pois, além da redução do valor pago pelo produto, por não incorrer nos juros, não há aumento do seu custo fixo mensal. Quanto maior o seu custo fixo mensal na situação de desemprego, mais rápido você afunda.

A emergência não ocorre apenas por conta do desempre-go. Mesmo empregado, é possível que surjam emergências em que seremos obrigados a adquirir bens ou serviços que

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não estavam planejados no nosso orçamento. Imagine que sua geladeira quebre da noite para o dia, sem possibilidade de conserto. Numa situação dessas, não dá para orientar a pessoa a guardar dinheiro até ter valor suficiente para com-prar outra geladeira à vista: ou se financia ou se compra à vista. A hipótese de ficar sem geladeira não existe.

Outra situação é enfrentar uma emergência médica: ninguém planeja uma doença que traz, do dia para noite, pesadas despesas hospitalares e com medicamentos. Per-ceba, existem inúmeras situações emergenciais em que, se não tivermos um mínimo de reserva, nossa situação financeira se tornará muito difícil.

Atualmente, Adamastor consegue guardar cerca de R$50,00 por mês e a alternativa é a caderneta de pou-pança. Assim que o saldo da poupança alcança um va-lor acima de R$200,00, ele investe no Tesouro Direto (para mais informações sobre o Tesouro Direto, vá ao site www.tesouro.direto.gov.br e/ou leia capítulo sobre Tesouro Direto no meu livro A nova regra do jogo) que rende muitíssimo mais que a poupança e possui um risco baixíssimo.

Apesar de a caderneta de poupança render muito pouco, ela é a alternativa de investimento para a maioria esmagadora dos brasileiros, que não conseguem aplicar mais de R$100,00 ou R$200,00 de uma só vez.

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O sonho da casa própria

Um dos sonhos mais acalentados pelo brasileiro é com-prar a casa própria e, assim, finalmente sair do aluguel.* Para você, que já está decidido a comprar imóvel residen-cial, quero passar algumas informações relevantes e que, raramente, são lembradas por aqueles que buscam a me-lhor alternativa de compra do tão sonhado imóvel. Vou supor também que você não tenha o dinheiro para pagar à vista, e que só lhe reste a alternativa de financiamento.

O financiamento imobiliário segue regras diferentes do de um carro ou geladeira. Enquanto no financiamento de bens como móveis, automóveis, roupas etc. a taxa de juros cobrada nunca é baixa, no financiamento imobiliá-rio, a taxa de juros pode ser muito pequena, fazendo com que a compra de um imóvel financiado, efetivamente, seja um excelente negócio para você. Mesmo podendo ser um

* Em boa parte das vezes, pagar aluguel não é jogar dinheiro fora, ao contrário do que se pensa. Quem tem conhecimento de finanças sabe que, muitas vezes, é bem melhor morar de aluguel que no imóvel próprio.

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excelente negócio, vou alertá-lo sobre algumas condições que podem transformar algo potencialmente bom num mau negócio. Vejamos.

Os recursos que os bancos utilizam para emprestar para a compra da casa própria vêm da caderneta de poupança. O governo obriga os bancos a destinarem uma boa parte dos recursos captados em poupança para o financiamento imobiliário. Naturalmente, quanto menos render a cader-neta de poupança,* mais barato fica o financiamento imo-biliário. A caderneta de poupança rende TR + 0,5% ao mês (o que dá algo em torno de TR + 6% ao ano). Se você não estiver familiarizado com a TR, saiba que a TR é uma taxa bem baixinha. Para você ter uma ideia, a TR em agosto de 2011 variou em 0,1% e 0,2% ao mês, fazendo a poupan-ça render em torno de 0,7% ao mês. Nos últimos meses, pouquíssimas vezes a TR mensal ultrapassou 0,25% ao mês. Para verificar o histórico de TR, visite o site www.comdinheiro.com.br.

Com essa breve explicação, acredito que agora você esteja convencido de que, pelo fato de o banco empre-gar recursos captados na caderneta de poupança para fi-nanciar imóveis, a taxa de juro cobrada no financiamento imobiliário é muito baixa quando comparada com a taxa do financiamento de um carro ou móvel, por exemplo.

* Lembre-se de que falamos que o rendimento da caderneta de poupança é muito baixo. Um dos motivos da poupança ter de render pouco é que ela serve como fonte de recursos para o financiamento da casa própria.

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Mas mesmo assim, o empréstimo pode sair caro devido a outros custos que o banco lhe cobra.

Já que o banco capta dinheiro a TR + 6% ao ano, via caderneta de poupança, ao menos teoricamente, ele teria lucro se emprestasse recursos para financiamento da casa própria cobrando TR + 12% ao ano ou TR + 9% ao ano ou TR + 8% ao ano. A taxa de juros cobrada de você de-pende, entre outros fatores, do valor do imóvel, do valor a ser financiado e da renda familiar.

Agora, atente para o que eu vou dizer: mesmo cap-tando dinheiro a TR + 6% ao ano, o banco tem lucro se emprestar os recursos a TR + 6% ao ano. Como isso é possível? Resposta: um considerável ganho dos bancos ao financiar casa própria é feito por intermédio da cobrança de outros custos que serão agregados ao financiamento.

É o que eu chamo de penduricalhos. Vejamos alguns:

TIPO dE COBRANÇA EXPLICAÇÃO

Taxa de análise de crédito; y *

seguro por morte ou invalidez ypermanente:

Cobrado em todas as prestações.

seguro por danos físicos no yimóvel:

Cobrado em todas as prestações.

Taxa administrativa: y Cobrada em todas as prestações.

Taxa de vistoria do imóvel: y *

Taxa de verificação da ydocumentação:

*

* Valor acrescido ao valor financiado ou pago à parte no momento da contratação do financiamento.

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Praticamente todos os bancos cobram os pendurica-lhos citados, podendo variar o nome dado para cada tipo e, em geral, o valor cobrado por cada instituição.

Para você ter uma ideia de custo, ao fazer uma rápida pesquisa na internet, encontrei uma instituição que cobra R$800,00 pela taxa de análise de crédito, independente do valor financiado. Isto é, se você financiar, digamos, R$20 mil nessa instituição, terá um gasto adicional de R$800,00 apenas em taxa de análise de crédito. Esse pa-gamento provavelmente será cobrado à parte, antes mes-mo de você começar a pagar as prestações.

Quanto ao seguro por morte e invalidez permanen-te (MIP), seguro por danos físicos e taxa administrativa, eles também não são baratos e são cobrados em todas as prestações.

O seguro por morte e invalidez (MIP) serve para se-gurar aquelas pessoas que você coloca como componen-tes da renda familiar. A indenização será utilizada para a amortização ou a quitação do saldo devedor do imóvel, de acordo com o percentual de participação na renda. Isto é, se você colocou a renda de seu pai para configurar a renda familiar e ele responde por 20% dessa renda, na hipótese de ele falecer, 20% do saldo devedor será quitado pelo seguro.

O seguro por danos físicos do imóvel serve para repor o bem ou parte dele no caso de algum acidente (sinistro).

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O valor dos seguros (morte e invalidez e danos físi-cos do imóvel) varia bastante de acordo com o perfil do comprador e do imóvel. Fazendo uma rápida pesquisa, constatei que o seguro (morte e invalidez e danos físicos do imóvel) cobrado mensalmente corresponde a algo en-tre 5% a 10% do valor da prestação. A taxa administrativa costuma ser de R$25,00 por mês. Isso mesmo, por mês. Tem banco que cobra taxa administrativa de R$82,93 por mês. Naturalmente, se você pesquisar, encontrará bancos que cobram menos de R$15,00 por mês.

Toda vez que dou uma palestra sobre este assunto, solicito que alguém me entregue o boleto ou recibo de pagamento para que eu explique o destino do dinheiro pago. De posse desse documento, comprova-se que a taxa de administração cobrada pelos bancos varia bastante. Po-rém o mesmo banco pode cobrar diferentes taxas de ad-ministração. Tenho comigo cópia de boleto de pagamen-to em que a taxa de administração mensal é de R$43,91, R$24,62, R$51,04 e, pasmem: R$82,93! Detalhe: todas essas taxas foram cobradas pelo mesmíssimo banco.

É possível que se pague mais em penduricalhos que em juros. Sendo assim, antes de assinar qualquer documento com o banco, peça uma explicação bastante detalhada des-ses custos e leia o contrato. O contrato pode prever cobran-ças de taxas e tarifas que, agora, não são cobradas, porém, a qualquer momento, podem vir a ser.

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O artifício de se cobrar penduricalhos é uma tremenda armadilha. Você pesquisa a instituição que, aparentemen-te, tem a menor taxa de juros, e ela acaba descontando essa taxa baixa cobrando caríssimo por esses pendurica-lhos, cuja incidência afeta drasticamente a taxa de juros cobrada, dificultando bastante a comparabilidade das propostas entre instituições. Ou seja, é possível que, no final das contas, um financiamento à taxa de juros de TR + 8% ao ano com poucos penduricalhos saia mais barato que o financiamento à taxa de TR + 6% ao ano com mui-tos penduricalhos.

Se você já fez seu empréstimo imobiliário, lembrou de conferir como os penduricalhos afetam a verdadeira taxa de juros cobrada?

Exemplo 1

Pegue o seu boleto de pagamento e repita o raciocínio que eu farei com o boleto de pagamento a seguir. Em 06/11/2010, o contratante possuía saldo devedor no fi-nanciamento imobiliário de R$31.263,87. Vejamos:

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Pelo documento anterior, percebemos que:

A taxa de juros contratual é de 6% ao ano, que é •extremamente baixa para a nossa realidade.

O reajuste do saldo devedor é pela TR. Logo, o fi-•nanciamento, sem contar os penduricalhos, custa TR + 6% ao ano.

O financiamento é em 240 meses (20 anos) e o de-•vedor (contratante) está na parcela número 41.

O valor da prestação sem penduricalho é de •R$312,96.

Note que o valor do seguro é de R$29,76, o que •corresponde a 9,5% da prestação sem os pendurica-lhos. Apenas lembrando, o seguro (morte e invali-dez + danos físicos do imóvel) é cobrado em TO-DAS as prestações.

A taxa administrativa é de R$82,93, o que corres-•ponde a 26,5% da prestação sem penduricalhos. Apenas lembrando, essa taxa administrativa é co-brada em TODAS as prestações.

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Naturalmente, a baixa taxa de juros cobrada no fi-nanciamento (TR + 6% ao ano) é mais do que compen-sada pela cobrança de tantos penduricalhos. Ao serem somados todos os acessórios na prestação (R$29,76 do seguro + R$82,93 da taxa administrativa), obtém-se R$112,69. O valor de R$112,69 varia ao longo do financiamento, mas é cobrado em cada uma das 240 prestações.

Imagine pagar um valor em torno de cento e poucos reais em penduricalhos em todos os meses durante vin-te anos. Isso sem contar a taxa de contrato, vistoria do imóvel, que essa pessoa já pagou na contratação do finan-ciamento.

Os dados acima mostram que tão importante quan-to comparar as taxas de juros cobradas pelas instituições é comparar os outros custos que, quase sempre, não são discutidos antes de você fechar o negócio.

Exemplo 2

Em 04/06/2011, o contratante possuía saldo devedor no financiamento imobiliário de R$1.145,10. Vejamos:

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Pelo documento anterior, percebemos que:

A taxa de juros contratual é de 6% ao ano, que é •extremamente baixa para a nossa realidade.

O reajuste do saldo devedor é pela TR. Logo, o fi-•nanciamento, sem contar os penduricalhos, custa TR + 6% ao ano.

O financiamento é de 18 meses e tem um prazo •remanescente de 13 meses. Neste caso específico, o mutuário financiou em, digamos, 10 anos, e an-tes do financiamento acabar ele quitou antecipada-mente boa parte do saldo devedor. Após quitar um bom naco do saldo devedor, este ficou bem peque-no possibilitando ser saldado em 18 vezes.

O valor da prestação sem penduricalho é de •R$245,02.

Note que o valor do seguro é de R$9,04, o que cor-•responde a 3,7% da prestação sem os penduricalhos. Apenas lembrando, o seguro (morte e invalidez + danos físicos do imóvel) é cobrado em TODAS as prestações.

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A taxa administrativa é de R$51,04, o que corres-•ponde a inacreditáveis 20,83% da prestação sem penduricalhos. Apenas lembrando, essa taxa admi-nistrativa é cobrada em TODAS as prestações.

Naturalmente, a baixa taxa de juros cobrada no finan-ciamento (TR + 6% ao ano) é mais do que compensada pela cobrança de tantos penduricalhos. Ao serem soma-dos todos os acessórios na prestação (R$9,04 do seguro + R$51,04 da taxa administrativa), obtém-se R$60,08. Neste exemplo específico, paga-se muito mais em pendu-ricalhos (R$60,08) por mês que em juros (R$6,92).

Os dados acima mostram que tão importante quan-to comparar as taxas de juros cobradas pelas instituições é comparar os outros custos que, quase sempre, não são discutidos antes de você fechar o negócio.

Apenas para lembrar: esses exemplos são reais.*

Além dos custos já discutidos, lembre-se de que, em-bora não sejam cobrados pelo banco, você ainda tem de pagar os custos de cartório por conta da escritura e o ITBI (Imposto de Transferência de Bens Intervivos).

* Apenas as datas foram modificadas.

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Outro ponto importante é que, na hora de você sele-cionar a modalidade de financiamento, surge a dúvida: É melhor fazer financiamento pela tabela SAC ou pela tabela Price? Considerando que a taxa de juros e o prazo de financiamento sejam os mesmos, em geral, é melhor financiar pelo sistema SAC.

Não tive a intenção de esgotar o assunto. Meu maior objetivo foi alertá-lo para pontos que quase sempre são esquecidos. Procurei chamar a atenção sobre os principais aspectos que, em minha opinião, podem transformar algo bom para você em um desastre, em que você ficará amar-rado por muitos e muitos anos.

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Gastar muito é gastar mal

Ao investigar como as empresas fazem para atrair você e seu dinheiro, passei a entender boa parte das estratégias que têm por objetivo cobrar mais, sem que você perceba que pagou muito mais que o necessário. É de ficar de boca aberta notar em quantas situações do nosso dia a dia gastamos muito mais que deveríamos.

Você percebeu que muitos dos negócios oferecidos pela televisão, rádio e jornal escondem grandes desvanta-gens, fazendo que você gaste muito desnecessariamente? É importante saber que muitas pessoas são atraídas por anúncios milagrosos de compra de móveis, casa própria, geladeira, carro e acabam perdendo dinheiro por conta das armadilhas presentes nos negócios.

Espero que, ao ler este livro, você se torne mais sábio do ponto de vista financeiro e, assim, tenha menos chan-ce de meter os pés pelas mãos na hora de dar um bom destino ao seu dinheiro.

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Conclusão

E screvi este livro pensando especialmente em você, tra-balhador que nunca viu dinheiro cair do céu, que nunca recebeu nada de herança e conseguiu tudo o que tem com muito esforço, sangue e suor. Você, assim como milhões de outros brasileiros que trabalham de sol a sol, mere-cia há muito tempo um livro que explicasse, de maneira simples e direta, como fazer valer muito mais o dinheiro conseguido com o fruto do seu trabalho.

A primeira mensagem do livro foi mostrar que existe uma chance enorme de você, assim como a maioria esma-gadora da população brasileira, não estar dando o melhor aproveitamento para seu dinheiro, pois você, provavel-mente, não usava técnicas de compra. Essa é uma notícia que tem um lado bom e um lado ruim.

O lado ruim é que ninguém gosta de saber que está jogando dinheiro fora, e a primeira sensação ao se per-ceber isso não é muito agradável. O lado bom é que, se você efetivamente não estava aproveitando bem seu

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dinheiro, após ler estas páginas pode aprender a apro-veitar muito melhor os recursos que já tem. Se você co-locar em prática os conceitos aqui apresentados, não há sombra de dúvida de que será capaz de comprar muito mais pagando menos.

A lista do desejo é uma ferramenta fundamental para que você planeje suas compras e diminua as chances de realizar uma compra impulsiva. Essa constatação não é “achismo”, nós provamos, com os exemplos apresentados, que quem tem conhecimento das estratégias de compra e venda faz muito mais com o dinheiro que já tem, sem ter de pedir emprestado.

Ao aplicar os conceitos aqui evidenciados, você será capaz de comprar muito mais pagando muito menos.

Agora é com você!