comÉrcio externo, investimento externo e … · terceiro envolve os sérios problemas, que afetam...

70
COMÉRCIO EXTERNO, INVESTIMENTO EXTERNO E EMPREGO – RESENHA Reinaldo Gonçalves* Introdução 1. Hipóteses e efeitos básicos 2. Literatura internacional 3. Literatura nacional 3.1. Padrão de comércio e exportações 3.2. Liberalização comercial e importações 3.3. Distribuição geográfica e integração regional 3.4. Reestruturação produtiva 4. Investimento externo direto, emprego, salário e qualificação 4.1. Literatura internacional 4.2. Literatura nacional 5. Conclusões Bibliografia Anexo: Resultados numéricos relevantes (*) Professor titular de Economia Internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Texto preparado para as Nações Unidas, Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, com a assistência de Gabriel Peixoto. [email protected] . Esta versão foi concluída em junho de 2006. Trabalho final publicado em Emprego, Desenvolvimento Humano e Trabalho Decente: A Experiência Brasileira Recente. Brasília: CEPAL/PNUD/OIT, 2008. (CD-ROM como anexo).

Upload: hoangnguyet

Post on 25-Jan-2019

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

COMÉRCIO EXTERNO, INVESTIMENTO EXTERNO E EMPREGO – RESENHA

Reinaldo Gonçalves*

Introdução

1. Hipóteses e efeitos básicos

2. Literatura internacional

3. Literatura nacional

3.1. Padrão de comércio e exportações

3.2. Liberalização comercial e importações

3.3. Distribuição geográfica e integração regional

3.4. Reestruturação produtiva

4. Investimento externo direto, emprego, salário e qualificação

4.1. Literatura internacional

4.2. Literatura nacional

5. Conclusões

Bibliografia

Anexo: Resultados numéricos relevantes

(*) Professor titular de Economia Internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Texto preparado para as Nações Unidas, Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, com a assistência de Gabriel Peixoto. [email protected]. Esta versão foi concluída em junho de 2006. Trabalho final publicado em Emprego, Desenvolvimento Humano e Trabalho Decente: A Experiência Brasileira Recente. Brasília: CEPAL/PNUD/OIT, 2008. (CD-ROM como anexo).

2

COMÉRCIO EXTERNO, INVESTIMENTO EXTERNO E EMPREGO - RESENHA

Introdução

Os efeitos do comércio externo sobre o nível e a estrutura do emprego, a remuneração e a qualificação dos trabalhadores são temas de grande relevância. Isto ocorre em decorrência, principalmente, de três fatores marcantes do atual processo de globalização. O primeiro refere-se ao crescimento extraordinário dos fluxos internacionais de bens e serviços. O segundo deriva do processo recente de liberalização comercial e produtiva observado em países em desenvolvimento. O terceiro envolve os sérios problemas, que afetam países desenvolvidos e em desenvolvimento, relacionados à geração e estrutura do emprego, renda para o trabalhador e condições de trabalho.

Esse texto trata dos efeitos do comércio externo sobre emprego, salário e qualificação da mão-de-obra. No que se refere às exportações, a análise busca na literatura evidência a respeito dos seguintes temas: variações na composição da pauta de exportações; identificação dos efeitos dessas variações sobre o nível de empregos diretos e indiretos gerados pela demanda por produtos exportados; impacto sobre a demanda por mão-de-obra, por grau de qualificação dos trabalhadores; e associação entre tipos de produtos exportados – mercados de destino dos produtos – e demanda por mão-de-obra (variações no emprego e nos salários).

No que diz respeito às importações, o trabalho trata dos seguintes temas: relação entre o aumento das importações e o impacto sobre o nível de emprego - impacto sobre os setores competidores com importações; efeitos de substituição de mão-de-obra por bens de produção importados, por setores; efeitos sobre o nível de emprego nos setores menos modernos e mais informais, como a agricultura de subsistência ou familiar; relação entre os setores com maior componente importado no processo produtivo e variações no emprego e no nível de salários; e, evidência disponível para o caso do Brasil relativa aos efeitos da liberalização comercial externa (multilateral e no âmbito do Mercosul) sobre os salários e sobre os diferenciais de qualificação da mão-de-obra empregada.

Entretanto, devemos chamar atenção para o fato de que a maior parte da literatura recente trata do impacto da liberalização das importações. Essa observação é válida tanto para a literatura internacional quanto para a literatura nacional que foca na experiência brasileira que vem do início da década de 1990.

Neste texto tratamos, na seção 1, das hipóteses básicas referentes ao impacto do comércio externo sobre emprego e salário, a partir da teoria pura do comércio internacional de vantagem comparativa na tradição neoclássica – modelo de Heckscher-Ohlin. Também são explicitadas as hipóteses críticas, ou seja, as qualificações e extensões das hipóteses básicas que têm como referência outros modelos de comércio internacional, a teoria do desenvolvimento econômico e as experiências comparadas de desenvolvimento. Nesta seção discutem-se, também, os principais efeitos do comércio externo sobre o nível de emprego, que podem ser quantificados a partir de hipóteses simplificadoras: efeito inicial, de encadeamento, multiplicador e de despesa.

3

A seção 2 apresenta uma síntese das principais conclusões da literatura internacional sobre os temas do estudo. Aqui, são destacados alguns dos principais trabalhos representativos do debate e as principais resenhas mais recentes.

A seção 3 apresenta uma resenha mais detalhada, ainda que longe de ser exaustiva, dos trabalhos produzidos no Brasil, principalmente os mais recentes – literatura nacional – a respeito do impacto do comércio externo sobre o emprego, salário, qualificação e temas correlatos da economia brasileira. Esta seção está dividida em quatro partes: padrão de comércio e exportações; liberalização comercial e importações; distribuição geográfica e integração regional; e temas associados à reestruturação produtiva.

A seção 4 trata da relação entre investimento externo direto (IED) e comércio externo. O comércio internacional é uma das formas básicas do processo de internacionalização da produção, juntamente com o IED. No contexto do processo de globalização econômica, verifica-se que a liberalização comercial tem sido acompanhada da liberalização na esfera produtivo-real, ou seja, a redução de barreiras de entrada e saída de capital na forma de IED. Ademais, o comércio intra-firma responde por parte expressiva do comércio internacional. Portanto, a análise do tema do impacto do comércio externo sobre o emprego ficaria incompleta se não fosse tratado o tema da relação entre o IED e o emprego.

A última seção é uma breve síntese das principais conclusões. E, no Anexo, são apresentados alguns resultados numéricos relevantes a respeito dos principais temas tratados.

1. Hipóteses e efeitos básicos

Todos os enfoques teóricos a respeito do comércio externo têm alguma contribuição relevante para a análise do impacto das exportações e das importações sobre o nível de emprego, salário e qualificação da mão-de-obra. Este argumento aplica-se aos modelos básicos de vantagem comparativa clássico e neoclássico, bem como às suas extensões. O modelo clássico de Ricardo destaca a importância da tecnologia de produção, que afeta a produtividade do fator trabalho, e se constitui no determinante fundamental do comércio externo – padrão, volume, preços e distribuição geográfica. O modelo neoclássico de Heckscher-Ohlin ressalta a importância do diferencial de dotação de fatores de produção como determinante do comércio externo.

As extensões dos modelos básicos trazem novas perspectivas teóricas para o tema do comércio externo. Isto é verdade tanto para o enfoque neotecnológico, com seus distintos modelos (e.g., hiato tecnológico e ciclo de vida do produto), como para o enfoque neofatorial (e.g., recursos naturais e capital humano). Os modelos que recuperam a importância da economia de escala, das estruturas de mercado e da diferenciação de produto apontam para hipóteses importantes em relação à dinâmica do comércio externo, inclusive, quanto às suas implicações de curto e longo prazo.

Naturalmente, o impacto do comércio externo não deve se concentrar em variáveis que operam fundamentalmente pelo lado da oferta e que afetam os diferenciais de custos e preços relativos. A negligência do lado da demanda tende a comprometer a profundidade e o escopo das análises sobre o impacto do comércio externo, inclusive, em temas como emprego e salário. Este fato é evidente quando

4

se considera não somente a influência do nível de utilização da capacidade produtiva sobre o comércio externo, como também a relação entre, de um lado, emprego e, do outro, o nível de atividade.

Portanto, os microfundamentos da análise convencional de comércio externo devem ser complementados com os macrofundamentos que envolvem, por exemplo, o nível e a composição da demanda agregada. O resultado é uma platitude: a análise do impacto da política comercial não pode estar desassociada da análise da política macroeconômica (cambial, monetária, fiscal, creditícia e salarial). Há, ainda, mudanças estruturais e institucionais que, de uma forma ou de outra, afetam o comércio externo. No caso específico deste estudo, deve ser mencionado as mudanças estruturais que ocorrem no campo da “economia do trabalho”, que envolvem temas como falhas de mercado, regulamentação sindical e trabalhista, e progresso técnico. Há, também as mudanças (e.g., preços relativos, renda e concorrência) provocadas pelos arranjos institucionais de integração econômica regional.

Esta complexidade é tratada nos estudos empíricos nacionais e internacionais sobre a relação entre, de um lado, comércio externo e, de outro, emprego, salário e qualificação. Entretanto, parte expressiva destes estudos restringe-se a testar hipóteses simplificadoras informadas pelos modelos básicos de comércio externo, principalmente, pelo modelo Heckscher-Ohlin. Esta seção trata de explicitar estas hipóteses, bem como outras que estão presentes na teoria do desenvolvimento econômico e no campo dos estudos de experiências históricas comparadas. A seção conclui com uma discussão de natureza metodológica que distingue os principais efeitos do comércio externo. Estes efeitos são, de uma forma ou de outra, relevantes para os temas do emprego, salário e qualificação.

1.1 Hipóteses básicas

A teoria convencional do comércio externo – modelo neoclássico de dotação de fatores na tradição Heckscher-Ohlin – apresenta um conjunto restrito de hipóteses básicas. Estas hipóteses servem como base para as investigações empíricas. Dentre essas hipóteses, vale destacar as seguintes:

(1) a mudança de uma situação de autarquia para livre-comércio permite o aumento de ganhos de bem-estar a partir da especialização produtiva e, portanto, maior eficiência alocativa. Este aumento de bem-estar só ocorre na situação em que a abertura da economia mantém o mesmo nível de emprego (ou de pleno emprego, na hipótese mais freqüente). Caso a abertura implique algum desemprego, que não seja compensado de uma forma ou de outra pelo restante da sociedade, não se pode afirmar que houve ganhos com a abertura comercial. Na hipótese de que haja capacidade ociosa antes da abertura, o modelo de vantagem comparativa estática indica, então, que o estímulo exógeno derivado do aumento da demanda por produtos exportados pelo país, provoca aumento de produção, renda e emprego. No caso de países em desenvolvimento, com abundância de mão-de-obra e forte dualidade no mercado de trabalho, o comércio externo pode alterar a estrutura do emprego no sentido de favorecer a mão-de-obra de baixa qualificação, tanto o seu nível de emprego quanto a sua remuneração.

(2) o modelo de vantagem comparativa estática aponta ainda para a necessidade de que os termos de troca estejam dentro de limites que permitam algum ganho de

5

comércio. Termos de troca desfavoráveis causam perdas de bem-estar. Ou seja, os países podem ter um nível de bem-estar superior em situação de autarquia do que de livre-comércio. Esta hipótese repercute diretamente na geração de emprego e de renda para o trabalhador, principalmente, em países caracterizados por grande dotação de mão-de-obra pouco qualificada. Ela coloca em questão a própria relação benefício-custo associada ao comércio externo. E, portanto, ela informa que produtores e, principalmente, os trabalhadores que são simultaneamente produtores e consumidores (pois, “os trabalhadores gastam o que ganham”), podem ter perda de bem-estar em decorrência do comércio externo. Assim, há uma queda do salário real medido em termos de quantidade de bens e serviços devido aos termos de troca desfavoráveis ou à piora dos termos de troca.

(3) a teoria assinala, ainda, que o comércio externo impacta na distribuição de renda via mercado de fatores de produção. Segundo o teorema de Stolper-Samuelson, o livre-comércio prejudica o fator escasso usado intensivamente no setor competidor com as importações e beneficia o fator abundante usado intensivamente no setor exportador. O engajamento no comércio internacional por meio da abertura da economia (redução de barreiras tarifárias e não-tarifárias) pressiona o mercado de fatores usados intensivamente na atividade de exportação, ou seja, estimula a demanda pelo fator escasso. Esse mecanismo induz, então, ao aumento da remuneração do fator escasso. No caso de países em desenvolvimento, com grande dotação de mão-de-obra, o comércio exterior tende a elevar os salários, principalmente, da mão-de-obra de baixa qualificação.

Entretanto, há outras hipóteses que podem ser apresentadas que transcendem o paradigma de vantagem comparativa estática. Estas hipóteses estão presentes no conjunto dos modelos de comércio externo (inclusive, os chamados “novos modelos”), na teoria do desenvolvimento econômico e no campo dos estudos de experiências históricas comparadas de desenvolvimento. Dentre estas hipóteses, podemos destacar as seguintes:

(1) a restrição ao comércio externo pode gerar um significativo processo de substituição de importações. Esse processo é um fator de expansão da demanda agregada e, portanto, tem efeitos diretos sobre a geração de emprego e renda para o trabalhador. Desta forma, os consumidores perdem, mas os produtores, inclusive os trabalhadores, ganham com o protecionismo (maior renda e emprego). Este aumento de renda pode favorecer mais particularmente o fator escasso e, portanto, piorar desigualdade de riqueza e renda .

(2) o argumento da substituição de importações enquadra-se no argumento mais geral a respeito da indústria nascente. A proteção permite o início da produção doméstica que, ao longo do tempo, poderá se beneficiar de economias de escala e de aprendizado. Então, o argumento é que haverá redução de custos de produção e mudanças nas configurações de preços relativos e, portanto, alterações no padrão de vantagem comparativa. Desta forma, mesmo um país que tenha escassez relativa de capital poderá adquirir vantagem comparativa em produtos intensivos em capital em decorrência dos ganhos de escala e aprendizado ao longo do tempo. As desvantagens iniciais associada à dotação de fatores são mais do que compensadas com a redução de custos derivada dos ganhos de escala e aprendizado. Como resultado, o argumento da indústria nascente implica políticas comerciais protecionistas em uma fase inicial, que repercutem favoravelmente sobre a geração de renda e o emprego. Este argumento é particularmente relevante para os países de grande porte que possuem um significativo mercado interno.

6

(3) os novos modelos de comércio internacional apresentam argumentos a respeito da seqüência de estratégias e de políticas comerciais estratégicas. Basicamente, a existência de imperfeições de mercado, economias de escala e diferenciação de produto podem indicar que a substituição de importações (inward-looking strategy) seja condição inicial necessária para a subseqüente fase de maior abertura para o exterior via exportações (outward-looking strategy). Esses argumentos tendem a expressar um remaking de conclusões encontradas há décadas no arcabouço geral das críticas à teoria pura do comércio internacional (e.g., na tradição cepalina) e das teorias da economia política do desenvolvimento.

(4) aumentos da produção e do emprego podem decorrer do funcionamento dos esquemas de integração econômica regional. A formação de áreas de livre comércio, união aduaneira ou mercado comum pode viabilizar ganhos de eficiência alocativa e eficiência técnica, bem como ganhos de escala e de aprendizado que geram maior competitividade internacional para os países-membros. Esta maior competitividade permite, então, a elevação da produção, da renda e do emprego nos setores exportadores e competidores com importações.

(5) o comércio externo pode ter impacto sobre a geração de renda e de emprego por meio do processo de afrouxamento da restrição de balanço de pagamentos. Na hipótese de um saldo positivo na balança comercial (supondo que as exportações e importações de bens e serviços não afetem a conta de capital e financeira), há a liberação de divisas estrangeiras que podem ser usadas para acumulação de capital. O aumento do investimento agregado provoca aumento de renda e de emprego. Por outro lado, na hipótese de déficit estrutural na balança comercial, medidas comerciais restritivas, juntamente com controles diretos sobre a conta financeira e de capital, podem afrouxar a restrição de balanço de pagamentos.

(6) a expansão do comércio exterior, tanto das exportações quanto das importações, pode ter impacto favorável sobre as finanças públicas. A tributação sobre as exportações e importações amplia a base fiscal. Estes recursos fiscais podem ser usados para expandir os gastos públicos e, portanto, gerar renda e emprego na economia. Além da tributação, há outros mecanismos que permitem que a renda dos exportadores seja apropriada pelo Estado como, por exemplo, os royalties e a vinculação de lucros das empresas estatais exportadoras com gastos públicos específicos, sociais ou de outra natureza.

(7) o comércio exterior tem efeito pró-competitivo na economia. A abertura e a maior contestabilidade dos mercados levam os produtores domésticos a aumentar a eficiência alocativa e a eficiência técnica. Este aumento da eficiência e, portanto, da produtividade pode ocorrer no contexto de processos virtuosos de reestruturação produtiva. Estes processos envolvem aumento dos gastos de investimento, inovação tecnológica, e maiores e melhores capacidades gerencial, organizacional e mercadológica. E, portanto, há aumento de renda e geração de emprego. Este processo pode, ainda, afetar a estrutura de emprego e a distribuição intra-salarial da renda na medida em que o progresso técnico implique viés na demanda por mão-de-obra qualificada.

(8) a reestruturação produtiva pode, por outro lado, corresponder a estratégias reativas e de acomodação das empresas que por meio, por exemplo, de processos de downsizing e terceirização, têm impacto negativo no conjunto da economia via redução de renda e queda do nível de emprego. A reestruturação pode ocorrer, ainda, no sentido de favorecer setores com baixo valor agregado, reduzidos efeitos

7

de encadeamento, elevado coeficiente de importação e reduzida intensidade no uso do fator trabalho. A reestruturação pode envolver, também, impacto negativo nas dimensões econômica (e.g., concentração da riqueza), social (e.g., condições de trabalho degradantes) e ambientais (exploração indiscriminada, principalmente de recursos não-renováveis). Estes processos podem provocar, inclusive, o deslocamento de trabalhadores via migração interna (de área rural para área urbana) e emigração internacional, com sérias repercussões para o trabalhador. Portanto, verificam-se restrições para a elevação da remuneração dos trabalhadores, melhoria das condições de trabalho, qualidade de vida do trabalhador e geração de emprego.

(9) a abertura da economia e a reestruturação produtiva podem, ainda, permitir o upgrade do padrão de comércio. Este upgrade pode repercutir favoravelmente sobre o volume, os termos de troca e a distribuição geográfica do comércio externo. Trata-se, então, de obter competitividade internacional em produtos com alta elasticidade-renda e favorável elasticidade-preço da demanda. O upgrade pode ser na direção de produtos que têm evolução favorável de preços no mercado internacional (baixa volatilidade e tendência de aumento de preços relativos), e na direção de mercados mais dinâmicos e com menores barreiras à entrada. Estes aspectos estão vinculados ao comércio externo e tendem aumentar os níveis de emprego e de renda do trabalhador.

(10) o comércio externo pode ter impacto sobre a renda e o emprego quando houver práticas disseminadas de dumping econômico, social e ambiental. Práticas predatórias de dumping no comércio externo desarticulam os aparelhos produtivos dos países importadores e, portanto, têm efeito negativo sobre a renda, o nível de salário e o desemprego nestes países. Nos países exportadores, a estratégia de “exportar a qualquer custo” ou “exportar é o que importa” pode implicar piora nas condições de trabalho e crescente pressão para flexibilização do mercado de trabalho.

Naturalmente, da mesma forma que não há uma teoria geral sobre o comércio externo, não há um consenso (ou evidências conclusivas) sobre os resultados empíricos a respeito das hipóteses acima. De fato, há uma significativa complexidade nas relações, estruturas e processos subjacentes aos efeitos do comércio externo sobre o emprego, a remuneração dos trabalhadores e a qualificação da mão-de-obra. A percepção inicial é de que “cada caso é um caso”. Ou seja, os efeitos dependem de fatores locacionais específicos ou características próprias de cada país como, por exemplo, as estratégias de inserção internacional no próprio sistema mundial de comércio e, também, nos sistema monetário e financeiro internacional, no sistema produtivo-real e no sistema de inovação tecnológica. Os efeitos são influenciados, ainda, por inúmeros outros fatores como, a dotação de fatores, as falhas de mercado, a eficácia das instituições, a coerência das políticas, os arranjos jurídicos e institucionais (e.g., esquemas de integração regional) e as políticas macroeconômicas (políticas fiscal, monetária e cambial).

De modo geral, os efeitos do comércio externo dependem também das relações, estruturas e processos subjacentes ao funcionamento do sistema econômico internacional nas suas esferas comercial, produtiva, tecnológica e monetário-financeira. Portanto, o impacto do comércio externo sobre variáveis como emprego, salário e qualificação da mão-de-obra depende da mediação da estrutura produtiva global comandada pelas empresas transnacionais, dos mecanismos de transferência de tecnologia, da dinâmica de funcionamento dos sistemas monetário

8

e financeiro internacional e, por fim, da configuração institucional do sistema mundial de comércio nas dimensões bilateral, plurilateral e multilateral.

Para ilustrar, em países onde cerca de dois terços do comércio externo é realizado por subsidiárias e filiais de empresas transnacionais, é evidente que os efeitos do comércio externo sobre emprego, salários e emprego dependem das estratégias, condutas e desempenhos dessas empresas. Outro exemplo: países altamente dependentes das exportações de produtos agrícolas, caracterizadas por reduzida elasticidade-preço da demanda e reduzida elasticidade-renda da demanda, defrontam-se com situações de benefício-custo (inclusive, quanto à geração e estrutura de emprego, e remuneração dos fatores) que significativamente afetadas por condições de acesso ao mercado externo e pelo comportamento dos preços internacionais das commodities.

O impacto do comércio externo sobre o emprego também é determinado, em medida não desprezível, por políticas de ajuste do balanço de pagamentos, principalmente, em países marcados por forte vulnerabilidade externa. Para ilustrar, cabe mencionar a política de “exportar a qualquer custo”, ou seja, a diretriz estratégica que procura maximizar o superávit da balança comercial independentemente de qualquer avaliação de custo-benefício, inclusive, quanto à geração de emprego e renda para o trabalhador, melhoria das condições de trabalho e de qualificação da mão-de-obra, e distribuição de riqueza e renda. Neste ponto, as relações entre taxa de câmbio e comércio externo são particularmente relevantes. Conforme o próprio enfoque da absorção para o ajuste do balanço de pagamentos chama atenção, a variação da taxa de câmbio tem impacto na renda ─ via mobilização de recursos ociosos, termos de troca e eficiência alocativa ─ e, consequentemente, no emprego e no salário. Há, também, os efeitos via absorção direta provocados pela relação entre variação cambial e nível geral de preços. Neste caso, há mecanismos monetários (via taxa de juro), fiscais (carga tributária) e distributivos (conflito salário versus lucro) que afetam o nível de gastos e, portanto, o emprego e o salário.

1.2. Efeitos básicos

A complexidade observada, tanto no plano do conhecimento científico quanto da realidade, não impede a construção de aparelhos analíticos e a realização de estudos qualitativos e quantitativos. Na realidade, quanto maior a complexidade do fenômeno, maior a necessidade de esforços no sentido de se compreender a realidade. Neste sentido, um estudo de referência na área é o de Lydall (1973), preparado especialmente para o Programa Mundial de Emprego da Organização Internacional do Trabalho nos anos 1970. Neste estudo, o impacto do comércio externo sobre o emprego é dividido em quatro efeitos. Vale notar que esta estrutura analítica segue, em certa medida, a tradição do chamado “problema de transferência”, que trata dos efeitos do movimento internacional de capitais (Baumann, Canuto e Gonçalves, 2004, p. 212-214).

Para simplificar, supõe-se que haja dois países (A e B) e que o país A promove a liberalização comercial de um determinado bem ou serviço (X). Desta forma temos o primeiro efeito, chamado de efeito inicial. O país B se beneficia por meio do aumento das suas exportações de X para o país A. Este aumento gera renda e emprego no país B. Por outro lado, o país A experimenta aumento das importações de X via dois mecanismos. O primeiro é, simplesmente, a de-

9

substituição de importações, pois o país A deixar de produzir, total ou parcialmente, o produto X, na quantidade equivalente ao aumento das exportações de X do país B. Há, também, um aumento de importações no país A em decorrência do efeito substituição de bens (e serviços) associado à alteração nos preços relativos. Considerando os coeficientes técnicos de produção (relação trabalho/produto), estima-se o impacto sobre o nível de emprego. A produção é medida em termos de valor agregado, e as exportações e importações são medidas a custo de fatores (excluem-se impostos, incentivos e subsídios). O país exportador tem aumento do nível de emprego, enquanto o país importador tem redução do nível de emprego.

O aumento da produção do bem ou serviço em questão (X) tem impacto na produção de outros bens e serviços nas economias dos países A e B. Trata-se, aqui, do efeito de encadeamento em decorrência dos efeitos para frente e para trás na cadeia produtiva do produto X cujas importações foram liberalizadas no país A. Este efeito implica aumento adicional da produção e da renda no país B nos setores que, de uma forma ou de outra, estão articulados à produção do produto X por meio da matriz de insumo-produto. Este efeito acumulado de renda gera um aumento acumulado do emprego nos setores vinculados.

Entretanto, este incremento da produção e do emprego repercute no comércio externo via aumento das importações dos produtos intermediários necessários para aumentar a produção e exportação de X. Este efeito incorpora, ainda, a redução das exportações dos produtos intermediários visto que pode ter havido reorientação da produção para atender a demanda interna por estes produtos derivada do aumento das exportações do produto final X. No país A ocorre exatamente o contrário, pois a redução ou eliminação da produção de X tem efeitos ao longo de sua cadeia produtiva no sentido de reduzir a produção e, consequentemente, o nível do emprego nos setores afetados. Ainda que afetem diretamente a balança comercial, estes processos não repercutem diretamente sobre o nível de emprego. Ou seja, não há efeito sobre o nível de emprego em conseqüência do aumento da demanda por importação de produtos intermediários para atender à maior produção do bem final e da reorientação da produção de produtos intermediários do mercado externo para o mercado interno. Por outro lado, devemos levar em conta que o setor ─ por exemplo, a agroindústria que usa como insumos os produtos exportados pela agropecuária ─ pode sofrer o efeito negativo sobre sua renda em decorrência da expansão das exportações de produtos da agropecuária e da pressão no mercado interno destes produtos.

A questão das contas externas torna-se relevante no efeito multiplicador. O argumento central é que o país A, responsável pela liberalização comercial pode agravar ainda mais a situação de desequilíbrio externo. Neste caso, o ajuste do balanço de pagamentos pode estar ancorado na redução de gastos por meio de políticas macroeconômicas restritivas. O aumento da taxa de juros e a elevação da carga fiscal, juntamente com a contração do crédito, provocam redução dos gastos e, portanto, redução da produção doméstica, do emprego e do salário. No que se refere ao país B, o aumento das exportações gera afrouxamento da restrição do balanço de pagamentos. Isto permite aumentar as importações de bens de capital que provocam a alavancagem de novos investimentos produtivos. Se o adicional de receita de exportações for totalmente usado para o aumento dos gastos autônomos (principalmente, as importações de bens de capital), entra em operação o chamado super-multiplicador de Hicks, que enriquece a análise do impacto do comércio externo sobre o crescimento associada ao multiplicador de comércio exterior de

10

Harrod (McCombie e Thirlwall, 1994, capítulo 6). Este aumento da formação bruta de capital fixo tem efeitos positivos sobre a renda e o emprego.

Por fim, devemos considerar as repercussões bilaterais associadas ao comércio externo. Trata-se do chamado efeito despesa. Na realidade, o comércio externo envolve diferentes mecanismos que geram tipos distintos de multiplicadores de comércio externo com repercussões bilaterais. O mais simples é aquele que parte da liberalização comercial em A, que gera aumento da renda e do emprego em A. Este aumento de renda provoca, via propensão marginal a importar, o incremento das despesas de importações de A provenientes de B. O país B, portanto, logra aumentar a produção e a renda do seu setor exportador e, consequentemente, o nível de emprego.

2. Literatura internacional

Estudos recentes examinam as hipóteses básicas, as hipóteses críticas e os efeitos do comércio externo sobre o nível e a estrutura do emprego, a remuneração dos trabalhadores e a qualificação da mão-de-obra. No conjunto de resenhas e estudos mais gerais, vale destacar Lee (2005), Hoekman e Winters (2005), Goldberg e Pavcnik (2004), Baldwin (2003), Klein, Schuh e Triest (2002), Feenstra e Hanson (2001), Arbache (2001), Winters (2000), Rodriguez e Rodrik (1999), Johnson e Stafford (1999), Greenaway, Morgan e Wright (1998) e Baldwin (1994).

Há alguns principais pontos críticos de natureza metodológica observados na literatura internacional que merecem destaque e que se reproduzem na literatura nacional. Devemos destacar que estes pontos críticos estão presentes tanto nos multi-country studies quanto nos trabalhos sobre países específicos. E, estes pontos críticos aplicam-se à grande quantidade de estudos que tratam do impacto do comércio externo sobre o crescimento econômico, bem como ao menor número de trabalhos a respeito do impacto do comércio externo sobre o emprego e questões correlatas (salário, qualificação, condições trabalhistas). Vale ressaltar que a maioria dos trabalhos mais recentes trata mais especificamente do impacto da liberalização comercial, ou seja, há mais ênfase nas importações do que nas exportações.

O primeiro ponto crítico refere-se à dificuldade de se isolar os efeitos da maior abertura externa, associada à liberalização comercial e à promoção das exportações, dos efeitos das políticas macroeconômicas e de ajuste estrutural. Para ilustrar, mudanças na política comercial podem ser neutralizadas ou reforçadas por mudanças na política cambial. O mesmo se pode afirmar em relação a outras políticas macroeconômicas. As políticas comerciais também podem ter como contrapeso as mudanças estruturais ou institucionais. Aqui, podemos citar dois exemplos. Pelo lado das importações, a liberalização comercial pode vir acompanhada de políticas de maior proteção social e, mais especificamente, de proteção ao trabalhador. Pelo lado das exportações, a maior abertura para o mercado externo pode ter como contrapeso o upgrade das normas ambientais e trabalhistas do país em questão, bem como uma reforma tributária assentada na captura do rent do setor exportador.

O segundo ponto trata dos exercícios contrafatuais que simulam e comparam o impacto da liberalização e do comércio externo vis-à-vis situações alternativas em que não ocorrem a liberalização e as mudanças no comércio externo. As hipóteses

11

simplificadoras destes exercícios tendem a negligenciar as rupturas e mudanças de políticas e conjuntura que acompanham a realidade. Por exemplo, o processo de liberalização comercial pode vir acompanhado dos processos de liberalização nas esferas produtivo-real (em relação ao ingresso de investimento externo direto), tecnológica e monetário-financeira. Entretanto, estes processos podem ocorrer simultânea ou sequencialmente.

E, ademais, estes processos podem ter como pano de fundo a extraordinária mobilidade de fatores de produção ou a sua forte restrição. Neste sentido, o melhor exemplo é o contraste entre a perfeita mobilidade internacional da mão-de-obra no final do século XIX e a as enormes barreiras do final do século XX (Nayyar, 2006, p. 148). Outro exemplo, a liberalização comercial pode ocorrer durante um ciclo extraordinariamente favorável (ou desfavorável) da economia mundial. Políticas de ajuste estrutural ou reformas estruturais (e.g., privatizações) também podem afetar significativamente os parâmetros que influenciam o padrão de comércio externo, os termos de troca, o quantum e a distribuição geográfica das exportações e das importações.

O terceiro ponto refere-se à dificuldade de se estabelecer relações de causalidade, principalmente, em uma dimensão bilateral. Exercícios simplificadores que procuram estabelecer causalidade entre, de um lado, grau de abertura da economia (e.g., relação exportação/PIB) e, de outro, taxas de crescimento econômico, têm recebido críticas há alguns anos (e.g., Gonçalves e Richtering, 1987; Baldwin, 2003). Este problema decorre não somente do fato de que a exportação é uma fonte de expansão da demanda agregada, como também da complexidade da interação de inúmeros fatores endógenos e exógenos que afetam o desenvolvimento econômico (que vão do progresso técnico à institucionalidade) (Chang, 2002).

Aqui, vale mencionar o estudo de Berggren e Jordahl (2003) que procura analisar a relação entre o crescimento econômico e um “índice de liberdade de transações com o exterior” para uma amostra de países no período 1970-2000. Este índice tem cinco componentes: impostos sobre o comércio externo; barreiras via regulamentação do comércio externo; importância relativa do comércio externo; spread entre taxas de câmbio nos mercados paralelo e oficial; e, controle sobre os fluxos internacionais de capitais. O resultado básico encontrado é que a “liberdade de transações com o exterior” está associada a taxas mais baixas de crescimento econômico. Este resultado, entretanto, não parece ser estatisticamente significativo.

O quarto ponto envolve a fragilidade de indicadores de abertura e liberalização comercial. Esta crítica aplica-se a estudos que usam distorções na taxa de câmbio real e a variabilidade desta taxa como proxies para o grau de abertura da economia. Outro problema deriva do uso de medidas comerciais não-tarifárias (equivalente ad valorem) como indicadores de barreira de acesso a mercados.

Levando em conta estes pontos críticos e considerando o tema específico do impacto da liberalização comercial sobre o emprego, vale destacar o trabalho patrocinado pelo Banco Mundial (Dollar e Collier, 2001) e o conjunto dos relatórios da Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento ─ UNCTAD (1995), UNCTAD (1997), UNCTAD (2002) e UNCTAD (2005.a) ─ e, principalmente, os estudos da Organização Internacional do Trabalho (OIT), principalmente, os da série Employment Strategy Papers (Ernst, 2005; Peters, 2004; Majid, 2004; Bhorat e Lundall, 2004; Palma 2003). Os estudos da OIT fazem parte da agenda de pesquisa

12

derivada da iniciativa Tripartite Declaration of Principles concerning Multinational Enterprises and Social Policy. Vale ressaltar que a OIT – por meio da Comissão Mundial sobre a Dimensão Social da Globalização – produziu um relatório abrangente sobre problemas contemporâneos que envolvem, inclusive, do tema do emprego (ILO, 2004.a).

O trabalho de Dollar e Collier (2001) avalia o impacto da liberalização comercial sobre o emprego, qualificação da mão-de-obra e salários. Ainda que a avaliação dos autores identifique impacto favorável no longo prazo sobre o emprego, eles chamam atenção para os problemas que ocorrem no curto e médio prazo. No período de ajuste das economias, há evidência de aumento da desigualdade de salários tendo em vista a pressão de demanda por mão-de-obra qualificada. Eles argumentam, ainda, que os resultados obtidos variam significativamente segundo o país.

O relatório da UNCTAD (1995) está focado na evolução e nos efeitos do comércio Norte-Sul. Basicamente, examina-se o argumento de que a maior penetração das importações provenientes dos países em desenvolvimento nos mercados dos países desenvolvidos tem sido responsável pelo aumento do desemprego industrial nestes últimos. A conclusão principal é que o aumento do desemprego é, em grande medida, causado pelos ciclos econômicos recessivos nos países desenvolvidos (1973-74, 1982-82 e 1990-91) e pela redução das exportações destes países (Ibid., p. 134-138). Ou seja, o desemprego industrial nos países desenvolvidos não é causado pela evolução desfavorável dos saldos comerciais e nem pela maior penetração das importações provenientes dos países em desenvolvimento.

O estudo da UNCTAD (1997) examina o impacto da liberalização comercial sobre salários, mudanças na estrutura de emprego e distribuição da renda. Há evidência de que a liberalização comercial provocou o aumento da demanda por mão-de-obra mais qualificada em detrimento da mão-de-obra de baixa qualificação. Este fenômeno ocorre em resposta ao aumento da concorrência internacional. A concorrência tem estimulado, ainda, o upgrade das exportações na direção de produtos mais intensivos em mão-de-obra qualificada e em tecnologia. Este viés de demanda por mão-de-obra mais qualificada representou, em alguns casos, o aumento do diferencial de remuneração entre trabalho qualificado e trabalho não qualificado em detrimento deste último. Ou seja, houve piora na distribuição de renda dentro da classe trabalhadora.

Por outro lado, êxitos nas políticas de desenvolvimento (e.g., investimentos em educação) e de inserção ativa no sistema mundial de comércio (que se expressam, inclusive, por meio de maior competitividade internacional) tiveram impacto positivo sobre a distribuição de renda, as condições de trabalho, a qualificação da mão-de-obra, a estrutura do emprego e os salários. Em síntese, o impacto da liberalização comercial depende não somente das condições existentes no sistema econômico internacional, mas também das estratégias e políticas de cada país em determinado momento do tempo (Ibid. p. 137). Ou seja, “cada caso é um caso”.

Conclusão similar é encontrada no estudo de Desjonqueres, Machin e Reenen (1999). Os autores concluem que o comércio internacional não pode ser visto como o fator determinante das mudanças na estrutura do emprego (maior

13

demanda por mão-de-obra qualificada) e do diferencial de salários (em detrimento da mão-de-obra de menor qualificação) nos países desenvolvidos.

No relatório UNCTAD (2002) discute-se o tema da relação entre comércio externo e qualificação da mão-de-obra. Dentre as principais conclusões vale destacar a permanência de elevadas barreiras à entrada nos mercados dos países desenvolvidos de produtos manufaturados intensivos em mão-de-obra provenientes de países em desenvolvimento. E, também houve tendência de queda da participação relativa da mão-de-obra de baixa qualificação envolvida na produção de bens orientados para o comércio externo no período 1975-2000. A maior participação da mão-de-obra qualificada parece refletir a expansão do comércio intra-industrial dos países desenvolvidos, bem como o crescimento das exportações de um grupo seleto de países em desenvolvimento (países de industrialização recente, principalmente, do sudeste da Ásia) que têm tido significativos ganhos de competitividade internacional (Ibid., p. 126).

O tema dos termos de troca é tratado em UNCTAD (2005.a). O argumento central é que este tema continua sendo de grande relevância para os países em desenvolvimento. Ele tem implicações quanto ao crescimento econômico, geração de emprego e distribuição de renda. Trata-se, aqui, não somente da questão da deterioração dos termos de troca que é estruturalmente associada com os produtos primários, mas envolve também os eventuais ganhos de termos de troca que resultam de conjunturas internacionais específicas. O comportamento dos termos de troca tem variado significativamente segundo o país e o período em consideração. Naturalmente, este comportamento evolução depende do padrão de comércio.

O impacto das variações dos termos de troca sobre renda, salário e emprego depende da interação de inúmeros fatores como, por exemplo, produtividade, desempenho das exportações, grau de abertura da economia, políticas governamentais de ajuste frente aos problemas causados pela queda dos termos de troca, apropriação dos rents de exportação e benefícios gerados pela melhora dos termos de troca. No caso da deterioração, as políticas governamentais afetam a distribuição do custo entre empresas privadas nacionais, subsidiárias de empresas estrangeiras, trabalhadores, consumidores e Estado. O contexto macroeconômico e as políticas de ajuste das contas externas são determinantes desta distribuição de custos.

Por outro lado, a melhora dos termos de troca pode gerar benefícios extraordinários se a renda adicional provocada pelo aumento dos preços relativos dos produtos exportados for usada de forma eficaz e consistente. Para ilustrar, o aumento recente dos preços das commodities tem gerado uma renda extraordinária (a diferença entre o preço de mercado e o custo médio de produção multiplicada pelo volume exportado). Esta renda pode ser apropriada, em parte ou totalmente, pelo Estado por meio de diferentes tipos de tributação, como royalties sobre exploração de recursos naturais e imposto sobre lucros extraordinários na atividade exportadora. Estes recursos podem ser direcionados para programas sociais e projetos de infra-estrutura e, portanto, ter impacto significativo sobre acumulação de capital, progresso técnico, distribuição de renda, qualificação de mão-de-obra e geração de emprego. Ou seja, além de se evitar a conhecida síndrome da “doença holandesa”, revitaliza-se a economia e promove-se o desenvolvimento econômico e social por meio da apropriação e direcionamento de parte do excedente econômico do setor exportador.

14

A Organização Internacional do Trabalho, através do seu Employment Strategy Department, financiou uma série de estudos sobre os efeitos do comércio internacional sobre o emprego e o salário na indústria de transformação de um conjunto de países em desenvolvimento (Argentina, Brasil, China, Índia, Malásia e México). Estes estudos mostram resultados contrastantes (Lee, 2005). Por um lado, os países asiáticos experimentaram forte crescimento do comércio externo nas últimas duas décadas simultaneamente à elevação do emprego e dos salários reais. As indústrias intensivas no uso de mão-de-obra de baixa qualificação, cuja produção é orientada para a exportação, tiveram um desempenho superior. E, mesmo as indústrias intensivas em mão-de-obra no setor competidor com as importações, tiveram desempenho favorável quanto à geração de emprego. Verificou-se, ainda, ganhos de salário real para a mão-de-obra em geral, independentemente do grau de baixa qualificação. Não foi identificado qualquer padrão de variação no grau de desigualdade da estrutura salarial nos países asiáticos analisados.

Por outro lado, os resultados para os países latino-americanos mostram efeitos desfavoráveis no que se refere ao emprego (ausência de crescimento ou queda), salário (redução) e desigualdade entre os salários da mão-de-obra qualificada e da mão-de-obra não-qualificada em detrimento desta última. No caso do México, Palma (2003) conclui que a liberalização comercial provocou a expansão de setores intensivos em capital (e.g., indústria automobilística) e o declínio de indústrias intensivas no uso de mão-de-obra. Houve, ainda, queda do emprego e do salário da mão-de-obra não qualificada. No caso específico da zona de processamento de exportações (conhecida no México como o sistema de “maquiladoras”), ainda que tenha havido aumento do emprego da mão-de-obra de baixa qualificação, os efeitos de encadeamento e de dinamização da economia mexicana são pouco significativos. E, no contexto da formação do NAFTA, Salas (2003) argumenta que houve maior polarização (em termos de remuneração e emprego) no mercado de trabalho mexicano devido à maior concentração do capital em setores orientados para a exportação.

Resultados decepcionantes também se verificam nos casos do Brasil e da Argentina (Ernst, 2005). A maior inserção no sistema mundial de comércio, inclusive por meio da formação do Mercosul, variou de setor para setor, porém, o processo de reestruturação e o aumento de produtividade tiveram efeitos negativos sobre a geração de empregos na indústria. Houve aumento do salário da mão-de-obra qualificada em relação ao da mão-de-obra não qualificada. De modo geral, a reestruturação beneficiou, principalmente, as grandes empresas visto que as pequenas e médias empresas não somente tiveram que enfrentar a maior concorrência dos produtos importados como também não se beneficiaram das oportunidades de exportação. Nos casos do Brasil (Pochmann, 2003) e da Argentina (Palomino, 2003) a evidência indica que a liberalização comercial dos anos 1990 esteve associada à desestruturação do mercado do trabalho por meio da elevação da taxa de desemprego, redução do emprego assalariado no total do emprego e maior geração de postos de trabalho precários.

No que se refere ao padrão de comércio, o processo de abertura comercial brasileira provocou a maior especialização em produtos intensivos em recursos naturais, com baixo valor agregado. Neste ponto, cale destacar o argumento de Shafaeddin (2003) de que a liberalização comercial, quando não-gradual e não-seletiva, tende a provocar um processo de desindustrialização (menor importância relativa da indústria de transformação na renda). Este processo vem acompanhado

15

da maior especialização na produção de commodities e de indústrias de processamento simples, intensivas em mão-de-obra de baixa qualificação e com potencial de upgrade modesto. Este autor argumenta, ainda, que boa parte dos países africanos e latino-americanos sofreram processos de desindustrialização no contexto da liberalização comercial.

Vale mencionar que no Brasil, ao longo dos anos 1990, verificou-se, inclusive, uma tendência de reprimarização das exportações (Gonçalves, 2000). Este fenômeno é marcado pela crescente participação dos produtos primários, principalmente, produtos agrícolas, na pauta de exportações. Além do problema da volatilidade de preços, a reprimarização das exportações impacta negativamente no dinamismo da economia (efeitos de encadeamento), na geração de emprego, na distribuição funcional da renda e na distribuição da riqueza. Este argumento é verdadeiro na medida em que enclaves da indústria de extração mineral e vegetal ou do agronegócio são intensivos em capital e tendem a ser controlados por grandes grupos privados nacionais e empresas transnacionais.

Há também estudos isolados que tratam do tema do impacto do comércio externo sobre o emprego, salário e qualificação de mão-de-obra. Estes estudos trazem evidência empírica não conclusiva. De fato, os resultados destes estudos são bastante divergentes. Cabe aqui mencionar os seguintes country-studies: México (Ravenga, 1994), Marrocos (Currie e Harrison, 1997), Zimbábue (Rattso e Torvil, 1998), Chile (Levinsohn, 1999), Argentina (Frenkel e Martin, 2000) e Brasil (Moreira e Najberg, 2000). Este último é analisado na próxima seção sobre a literatura brasileira específica sobre o tema.

Especificamente sobre a questão da desigualdade salarial, vale mencionar os artigos incluídos na edição especial do Journal of International Economics de 2001, resumidos por Feenstra (2001). Feenstra e Hanson (2001) fazem uma resenha sobre o tema. De modo geral, na literatura identificam-se três mecanismos por meio dos quais o comércio afeta os salários de diferentes grupos de trabalhadores (segundo o grau de qualificação).

O primeiro mecanismo é convencional e refere-se ao fato de o comércio de bens e serviços ser substituto da mobilidade internacional dos fatores de produção. Assim, a liberalização comercial provoca o aumento das importações e, portanto, tende a aumentar a elasticidade-preço da demanda por mão-de-obra no setor competidor com as importações. Caso este setor seja intensivo em mão-de-obra de baixa qualificação (e.g., a indústria de vestuário de países da América Latina que têm enfrentado a concorrência extraordinária dos produtos importados da China), a tendência é de uma redução da remuneração deste tipo de mão-de-obra.

O segundo mecanismo trata das zonas de processamento de exportações (outsourcing), que exploram como vantagem locacional específica o baixo custo da mão-de-obra de baixa qualificação. Entretanto, no caso específico de países em desenvolvimento, a mão-de-obra empregada nas zonas de processamento de exportações tem um nível de qualificação superior ao do resto da economia (principalmente, o setor rural e o setor informal urbano). Desta forma, a maior demanda por mão-de-obra de baixa qualificação aumenta a desigualdade comparativamente à mão-de-obra sem qualificação. A rigidez na escolha de técnicas de produção tende a agravar este problema quando se considera que o uso de tecnologias apropriadas é descartado. Este último é, na realidade, um tema

16

antigo do debate sobre internacionalização da produção, investimento externo direto, tecnologia e emprego, que é tratado mais adiante.

O terceiro mecanismo vincula-se ao efeito pró-competitivo da abertura comercial e ao efeito demonstração do comércio exterior. Ou seja, a maior inserção no sistema mundial de comércio (via penetração das importações e maior propensão a exportar) exige a reestruturação produtiva no sentido, entre outros aspectos, de maior produtividade e melhoria na qualidade dos produtos. E, consequentemente, há o processo de modernização da maquinaria e dos equipamentos, e da capacidade gerencial, organizacional e mercadológica. Para acompanhar este processo, é necessário que haja maior qualificação da mão-de-obra. A maior demanda por este tipo de mão-de-obra interage com a oferta no mercado de trabalho e, portanto, os efeitos sobre os salários dependem dessa interação, bem como das políticas governamentais. A questão do tempo é fundamental neste processo de reestruturação produtiva, qualificação da mão-de-obra e maior competitividade internacional. Há tanto resultados bem sucedidos como resultados frustrantes, em que o crescimento da produtividade e o aumento do emprego não foram acompanhados por elevação do salário real (ver, por exemplo, os inúmeros casos sobre a experiência inicial de industrialização e modelos liderados pelas exportações na Ásia; Lee, 1981).

O trabalho de Feenstra e Hanson (2001) apresenta resenha da literatura e aponta que o progresso técnico enviesado no sentido da maior intensidade de mão-de-obra qualificada é determinante do aumento do diferencial de salários a favor dos trabalhadores de maior qualificação. Entretanto, eles apontam para a importância do aumento das importações de produtos intermediários via atividades de outsourcing ou global sharing (ou seja, fragmentação do processo produtivo em escala global). A importação de insumos intermediários mais intensivos em mão-de-obra de menor qualificação afeta o mercado de trabalho, mais especificamente, a demanda por este tipo de mão-de-obra nas indústrias finais e nas indústrias que usam estes insumos.

O artigo de Tokman (2003) apresenta um panorama dos processos de liberalização comercial para a América Latina e Caribe. O autor argumenta que os efeitos esperados em relação à maior abertura comercial e à globalização não se concretizaram em termos de geração de emprego e redução das desigualdades sociais nos diversos países que compõem a região, como prevê a base teórica convencional de comércio internacional (modelo Heckscher-Ohlin e teorema de Stolper-Samuelson). O trabalho em questão diferencia-se dos demais por acrescentar uma abordagem mais abrangente ao tema, sem, no entanto descuidar-se do aparato teórico para criticar os efeitos da liberalização comercial sobre as relações de trabalho na América Latina e Caribe.

No passado recente, houve predomínio de referenciais teórico-ideológicos (e.g., o chamado Consenso de Washington) que nortearam o aprofundamento da abertura econômica em busca de ganhos de eficiência, atração de investimentos e reestruturação produtiva. O objetivo era combater a desestabilização macroeconômica e recolocar os países em trajetórias sustentáveis de desenvolvimento. Entretanto, segundo o autor, ocorreram quatro processos com conseqüência indesejáveis sobre as relações de trabalho: privatização, informalização, terceirização e precarização.

A partir deste cenário, o autor busca identificar como a inserção das questões trabalhistas no âmbito do comércio internacional vem desenvolvendo-se no sentido

17

de garantir a concretização das expectativas iniciais em relação à abertura comercial. Para tanto, recorre à análise de iniciativas nos âmbitos: multilateral (Organização Mundial do Comércio); plurilateral (Mercosul, Nafta e projeto da Alca); e da sociedade civil e das empresas (selo de responsabilidade social). Expõem ainda, a inevitável divergência entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Os primeiros advogam a incorporação integral das questões trabalhistas nos acordos internacionais de comércio, como forma de prevenir o chamado dumping social; enquanto os últimos alegam que há oportunismo dos países ricos no sentido da elevação de barreiras não-tarifárias sob os auspícios da defesa dos direitos universais do trabalho.

Ainda como exemplo de trabalho de maior amplitude analítica, vale mencionar o artigo de ul Haque (2004) que examina o tema da globalização sob a perspectiva do emprego e da renda. O autor analisa os efeitos da liberalização econômica sobre produção, emprego e distribuição de renda, com atenção especial para a questão do excesso de rigidez nos mercados de trabalho de países industrializados e em desenvolvimento.

Em relação ao mercado de trabalho propriamente dito, a principal orientação das estratégias de abertura para o exterior é a eliminação das distorções que provocam sua rigidez, notadamente o excesso de regulação governamental. Sob esta ótica, políticas de proteção aos trabalhadores e mobilização sindical por barganhas salariais são entraves à geração de empregos. O crescimento das disparidades de renda entre trabalhadores segundo graus de instrução, observado em vários países em desenvolvimento, é apontado como evidência do funcionamento inadequado das forças de oferta e demanda. Os principais normativos de política trabalhista resumir-se-iam à eliminação das imperfeições do mercado de trabalho e à disseminação da educação a fim de ampliar a oferta de mão-de-obra qualificada.

Neste contexto, para que os benefícios advindos da reorganização produtiva provocada pela liberalização comercial, privatizações e demais medidas de abertura econômica se reflitam nos mercados de trabalho, faz-se necessária a flexibilização das relações trabalhistas. Mas, enquanto no mundo industrializado o tema é relacionado às questões macroeconômicas (nível de emprego e renda), nos países em desenvolvimento o tema é tratado como sendo um problema de eficiência microeconômica (nível das firmas). Mesmo que as perdas de postos de trabalho ao longo da reestruturação econômica sejam mais intensas que a capacidade de absorção em outro setores, reconhece-se o maior desemprego como custo necessário (e de curto prazo) para a racionalização produtiva.

Os países em desenvolvimento sofrem, ainda, com pressões contraditórias acerca das condições de trabalho. Sindicatos e partidos trabalhistas de países desenvolvidos têm denunciado o desrespeito às normas internacionais de proteção ao trabalho, causando desequilíbrios ao comércio internacional. O chamado dumping social seria responsável pelo aumento das importações e aumento do desemprego nos países desenvolvidos. As reivindicações para padronização das relações trabalhistas ganharam força ao serem incluídas nos recentes acordos bilaterais firmados por Estados Unidos e UE, e que pleiteiam sua inserção na OMC.

O autor critica as proposições acima. De modo geral, os países em desenvolvimento optaram pela maior confiança no poder alocativo dos mercados, liberalização comercial, privatizações e desregulamentação em busca de

18

crescimento rápido de geração de empregos. Para eles restou a frustração de duas décadas sem a materialização dos propalados benefícios. E, em sua conclusão, apresenta alternativas que tornariam possível uma globalização mais “humana”, cujos frutos da maior integração econômica seriam compartilhados mais equitativamente entre e intra-países.

Para concluir esta seção cabe fazer uma síntese dos principais resultados da literatura internacional. Para isto, cabe tomar como referência o artigo de Arbache (2001), que procura identificar modelos que comportem os resultados empíricos que apontam para o crescimento da desigualdade nos países em desenvolvimento após a liberalização. O autor apresenta uma seleção de experiências de abertura comercial e suas conseqüências sobre os respectivos mercados de trabalho, em países desenvolvidos e em desenvolvimento.

As evidências empíricas mostram que o processo de abertura comercial em países desenvolvidos teve efeitos negativos sobre a distribuição de renda, pois premiou mais que proporcionalmente o capital humano (trabalhadores mais qualificados). No entanto, ao analisar os números das correntes comerciais, constata-se que o baixo intercâmbio dos países desenvolvidos junto aos países em desenvolvimento não é suficiente para afetar a estrutura dos mercados de trabalho. A alternativa foi creditar o aumento da demanda por capital humano ao incentivo à disseminação de tecnologias indutoras de qualificação (skill-biased technological change), que para países industrializados, a princípio não está relacionada à política comercial, ao contrário do que ocorreria para os países em desenvolvimento.

No geral, as experiências de liberalização em países em desenvolvimento revelam resultados em termos de emprego e distribuição de renda diametralmente opostos aos previstos pelas teorias tradicionais. A exceção fica a cargo dos países do Leste Asiático, onde o processo de liberalização comercial, conjugado ao forte incentivo exportador nas décadas de 1960 e 1970, foi acompanhado pela melhora nos indicadores de distribuição de renda (e.g., Wood, 1999).

Na América Latina, entretanto, os resultados continuam a desafiar as predições teóricas. No Brasil, conforme discutido na próxima seção, há evidência de aumento do retorno para a educação superior após a abertura comercial, embora a pouca representatividade de trabalhadores com terceiro grau completo e o aumento da renda proporcionado pelo Plano Real tenham amenizado os efeitos negativos sobre a eqüidade distributiva.

Os exemplos fornecidos pelos países desenvolvidos e em desenvolvimento demonstram a existência de efeitos comuns, em termos de elevação da concentração de renda e aumento relativo dos rendimentos do trabalho qualificado, frente ao processo de abertura comercial. O autor argumenta, no entanto, que o fator determinante para a reorientação de demanda no mercado de trabalho pode não ser o mesmo para os dois grupos de países. Ele apresenta modelos e teorias que tentam abarcar os resultados apresentados nos países em desenvolvimento.

O maior acesso a tecnologias importadas proporcionado pela abertura comercial é uma das explicações possíveis para o fenômeno. A complementaridade entre as novas tecnologias e o trabalho qualificado seria o argumento por trás da maior demanda por capital humano. Este fato elevaria a renda da parcela mais escolarizada da população e, consequentemente, implicaria maior concentração na distribuição de renda nos países em desenvolvimento.

19

Neste ponto, considerando a influência exógena da tecnologia sobre a demanda por trabalho qualificado, é importante avaliar o papel da oferta de mão-de-obra. Considerando-se que o nível médio de escolaridade nos países em desenvolvimento é baixo, há grande possibilidade de elevação da oferta frente a um choque de demanda. Assim, quanto maior for a proporção da população com oito anos completos de estudo (ensino médio), tanto menores o investimento e o tempo necessário para reequilíbrio do mercado de trabalho. Com a liberalização comercial, o efeito sobre a distribuição de renda é determinado pela elasticidade de substituição entre o trabalho qualificado e o trabalho não-qualificado. Quanto menor a elasticidade da oferta de capital humano, maior serão os efeitos sobre a dispersão da renda. Portanto, para países em desenvolvimento, onde teoricamente há escassez de mão-de-obra qualificada, uma elevação da demanda por capital humano teria impacto negativo sobre a distribuição de renda, mesmo que a oferta de trabalho qualificado e não-qualificado crescessem a mesma taxa que o PIB.

O próprio autor (Arbache, 2001) guarda reservas em relação a essa interpretação por dois motivos. Em primeiro lugar, porque a liberalização pode não acarretar elevação dos investimentos externos e incorporação de novas tecnologias em países em desenvolvimento, justamente pelo caráter complementar entre estes fatores e o capital humano ─ a escassez de mão-de-obra qualificada comprometeria o retorno de tecnologias que necessitem intensivamente de capital humano. Segundo, a importação de tecnologias incorporadas a máquinas e equipamentos pode gerar apenas um aumento transitório da demanda por trabalhadores qualificados, até que o processo de learning-by-doing se complete. Os impactos de curto prazo sobre a renda seriam, portanto, dissipados no tempo.

Outra interpretação alternativa é atribuída a Davis (1996), que estende a aplicação do modelo Heckscher-Ohlin entre países com estruturas econômicas similares. Em relação ao mercado global, os países latino-americanos possuem vantagem comparativa em produtos intensivos em trabalho não qualificado. No entanto, se for considerado apenas o conjunto dos países em desenvolvimento, este tipo de vantagem é mais específica aos países asiáticos, como China, Índia e Indonésia, que têm maior de abundancia relativa de trabalho não-qualificado.

A maior desigualdade na distribuição de renda também pode estar associada à elevação do nível médio de qualificação do trabalho exigida tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento em resposta à maior contestabilidade do mercado internacional.

Retornando ao estudo de Arbache (2001), o autor aponta a uniformidade de diagnóstico tanto para os países da OCDE quanto para os países em desenvolvimento: um aumento do desemprego e deterioração dos indicadores de distribuição de renda pelo aumento relativo da renda dos trabalhadores mais qualificados. Efetivamente, a diferença comprovada entre o processo de liberalização comercial entre os dois grupos de países resume-se ao caráter seqüencial entre transformações tecnológicas e abertura comercial observado nos países desenvolvidos e, por outro lado, à simultaneidade destes processo na maioria dos países em desenvolvimento.

Nas resenhas ainda mais recentes de Goldberg e Pavcnik (2004) e de Hoekman e Winters (2005) encontramos sínteses elaboradas dos efeitos do comércio externo sobre o emprego. Esquematicamente, as principais conclusões são as seguintes:

20

- os autores convergem para a conclusão da resenha de Acemoglu (2002) de que o progresso técnico tem apresentado um viés na direção do uso mais intensivo do capital humano e que isto se reflete na elevação do salário da mão-de-obra qualificada. A elevação da proporção da mão-de-obra qualificada em relação à mão-de-obra de baixa qualificação em todos os setores tem estado associado à maior desigualdade na distribuição da renda na forma de salários em benefício do capital humano (aumento do “prêmio salarial”).

- ainda que o progresso tecnológico enviesado para o uso de mão-de-obra qualificada seja o fator determinante, o comércio externo – com destaque para a liberalização das importações – tem desempenhado papel no sentido de reduzir o preço relativo dos produtos intensivos no uso de mão-de-obra de baixa qualificação.

- o impacto do comércio externo sobre emprego e salários depende da interação entre a eficiência dos mercados de fatores e das políticas sociais e, de modo geral, este impacto tende a ser pouco significativo.

- em países em desenvolvimento, marcados por significativa rigidez no mercado de trabalho, o impacto do comércio tende a ser maior sobre o salário do que sobre o nível de emprego e a estrutura do emprego, ou seja, há reduzido impacto sobre a realocação setorial da mão-de-obra.

- os efeitos mais significativos são observados dentro de setores e em empresas específicos. O processo de downsizing das empresas é o principal mecanismo provocado pela liberalização comercial que afeta o emprego.

- exercícios de modelagem são muito sensíveis às hipóteses simplificadoras e, portanto, a evidência é não conclusiva quanto aos efeitos de longo prazo da liberalização comercial sobre o emprego. No curto prazo, porém, o impacto tende a ser negativo anda que não muito significativo.

As conclusões acima não divergem do argumento básico encontrado na literatura dos anos 1970s e 1980s: ainda que o comércio externo tenha algum impacto, os principais determinantes do nível e da estrutura do emprego, bem como do salário, são a demanda interna e a evolução da produtividade (Baldwin, 1994, p. 43). Ainda no que se refere ao aumento de produtividade, a evidência aponta para a maior influência dos fatores endógenos vis-à-vis ao efeito pró-competitivo das importações. No que se refere à elevação do salário da mão-de-obra qualificada, a evidência dos anos 1970s e 1980s também já assinalava na direção do papel determinante do progresso técnico na direção da maior demanda por mão-de-obra qualificada (Ibid, p. 44). Neste sentido, o comércio externo, exportações e importações desempenham um papel secundário.

3. Literatura nacional

Alguns estudos gerais sobre as complexas relações entre a inserção do Brasil no sistema econômico internacional e a questão do emprego foram elaborados no país nos últimos anos (e.g., Lacerda et al, 1998; Pochmann, 2001; Gonçalves, 2005, p. 279-282). Há, ainda, artigos de resenha da literatura nacional e internacional elaborados por economistas no Brasil como, por exemplo, Arbache, (2003), Raposo e Machado (2002) e Bonelli e Hahn (2000).

Na primeira parte desta seção faz-se uma síntese dos resultados encontrados nos estudos empíricos sobre o padrão de comércio do Brasil. A segunda parte

21

abarca a análise do padrão do comércio externo brasileiro bem como dos determinantes das exportações. A segunda parte envolve o tema do impacto da liberalização comercial sobre emprego, salário e qualificação da mão-de-obra. A terceira parte discute as relações entre, de um lado, a intensidade de mão-de-obra e sua qualificação e, do outro, a integração regional, o mercado de destino dos produtos brasileiros de exportação e a origem dos produtos de importação. Na quarta e última parte analisam-se de forma mais detalhada alguns estudos representativos da literatura nacional que discutem temas correlatos (precarização, produtividade, reestruturação produtiva e eficiência), cuja análise contribui para a melhor compreensão a respeito do impacto do comércio externo sobre o emprego, a remuneração e a qualificação do trabalho no país.

3.1. Padrão de comércio e exportações

Os estudos empíricos sobre o padrão de comércio externo brasileiro podem ser divididos em dois grupos. O primeiro inclui estudos que analisam especificamente as hipóteses gerais associadas ao teorema de Heckscher-Ohlin, que partem de características do país quanto à dotação de fatores de produção. O segundo grupo abarca estudos que investigam os determinantes das exportações de setores e empresas a partir de variáveis específicas a setores ou empresas, como, por exemplo, tamanho, nacionalidade, intensidade de fatores e grau de qualificação da mão-de-obra.

No conjunto de trabalhos pioneiros que testaram o teorema de H-O podemos destacar Tyler (1972), Rocca e Barros (1972) e Carvalho e Haddad (1977). O estudo de Tyler (1972) calculou um índice de qualificação de mão-de-obra com dados de 1960 e concluiu que este índice para os produtos importados era praticamente o dobro do índice para os produtos de exportação. Assim, encontrou um resultado compatível com a teoria convencional, ou seja, o Brasil tende a importar produtos intensivos em mão-de-obra mais qualificada e exportar produtos intensivos em mão-de-obra menos qualificada.

Outro estudo que merece destaque é o de Rocca e Barros (1972). Os autores calcularam um índice de conteúdo de mão-de-obra qualificada com dados para 1960. Este índice mostra os requisitos diretos de trabalho na indústria de transformação para gerar aumento de CR$ 1 milhão na produção de bens exportáveis e importáveis. A conclusão básica é que o índice de conteúdo de mão-de-obra qualificada no setor importador era três vezes superior ao do setor exportador. Mais uma vez, há convergência com o resultado informado pelo modelo tradicional.

Houve avanço metodológico no estudo de Carvalho e Haddad (1977) que consideraram os requisitos totais, diretos e indiretos, de mão-de-obra de cada setor da indústria de transformação necessários para gerar o aumento de CR$ 1 milhão na produção de bens exportáveis e importáveis. Os dados referem-se aos anos de 1959 e 1971. O resultado a destacar é que o índice de requisito de mão-de-obra qualificada era maior no setor importador do que no setor exportador. Portanto, este estudo também encontra o resultado previsto pela teoria tradicional.

O teste da hipótese básica do modelo H-O convencional é feito por Hidalgo (1985). O Brasil é um país rico em mão-de-obra e tem vantagem comparativa nos produtos intensivos no uso de mão-de-obra e, portanto, tem um padrão de comércio

22

marcado pela exportação deste tipo de produto. Com os dados da matriz insumo-produto de 1970, o autor calculou a relação capital-trabalho dos setores de exportação e de importação. Ele concluiu que a relação capital-trabalho do setor exportador é maior do que a do setor substituidor de importações (Ibid, tabela 3, p. 46). Este resultado contraria o proposto pelo modelo H-O. Assim, reproduz-se para o caso brasileiro o conhecido paradoxo de Leontieff. No entanto, o autor faz ajustes nos dados no sentido de considerar o diferencial de salários entre o setor rural e, também, exclui a renda do capital fundiário do cálculo. Com estes ajustes a relação capital-trabalho do setor exportador é menor do que esta mesma relação para o setor importador. Ou seja, os ajustes permitem chegar à conclusão compatível com a teoria tradicional.

Mais recentemente, Sales (1993) não encontrou resultados empíricos que confirmem o teorema básico de H-O no caso brasileiro. A evidência disponível não permite concluir que o Brasil tem vantagem comparativa em produtos intensivos em mão-de-obra e desvantagem comparativa em produtos intensivos em capital.

A importância do tipo de mão-de-obra no padrão de comércio externo do país é analisada por Machado (1997). A autora calcula os requisitos diretos e indiretos de mão-de-obra necessários à produção de Cr$ 1 milhão, bem como um índice de conteúdo médio de mão-de-obra qualificada que expressa a razão entre o pessoal de nível superior e o restante do pessoal ocupado. Os dados são provenientes dos censos industriais, de serviços e de comércio de 1980. A evidência mostra que as exportações brasileiras são intensivas em mão-de-obra de pouca qualificação, enquanto as importações são intensivas em mão-de-obra qualificada (Ibid, tabela 5.7, p. 82). Assim, a autora chega aos resultados previstos pela teoria tradicional

O estudo de Nonnenberg (1985) apresenta evidência empírica a respeito da importância da dotação de fatores na explicação do padrão de comércio exterior brasileiro. Ou seja, as vantagens comparativas tradicionais – por meio do diferencial da dotação de fatores – têm papel determinante no comércio externo brasileiro. O autor calcula índices de vantagem comparativa revelada (VCR) com dados para um conjunto de 100 produtos industriais no período 1980-88.

Como primeiro resultado, levando em conta o VCR médio do período 1980-88, a correlação positiva entre o índice VCR e a relação capital-trabalho tem o sinal esperado, mas é baixa (-0,076) e não é estatisticamente significativa. Entretanto, os 10 produtos com maior VCR têm uma relação capital-trabalho muito inferior à relação capital-trabalho dos 10 produtos com menor VCR (Ibid, tabela 4, p. 389). Ainda que o diferencial seja menor, o mesmo acontece comparando-se a relação capital-trabalho média do grupo dos 20 produtos de maior VCR com a do grupo dos 20 produtos de menor VCR. E, o índice VCR médio das atividades intensivas em trabalho (0,584) é maior do que o índice VCR médio das atividades intensivas em capital (0,070) (Ibid, tabela 10, p. 398). Estes resultados convergem, em certa medida, com o teorema básico de H-O.

O autor testa ainda a hipótese de o Brasil possuir vantagem comparativa em produtos intensivos em recursos naturais com base no coeficiente direto de recursos naturais (CDRN). Este coeficiente é calculado como a participação dos produtos da agropecuária e da indústria extrativa no custo intermediário total de cada atividade ou produto. Considerando o VCR médio do período 1980-88, a correlação positiva entre o índice VCR e o CDRN tem o sinal esperado, ela não é desprezível (0,242) e é estatisticamente significativa (coeficiente de Spearman significativo a 6,73%). E,

23

ademais, o resultado é que o CDRN médio dos 10 produtos com maior VCR é de 0269 e o CDRN médio dos 10 produtos com menor VCR é de 0,019 (Ibid, tabela 8, p. 397). Ainda que a diferença seja menor, o mesmo ocorre quando comparamos os grupos de 20 produtos com maiores e menores índices de vantagem comparativa.

O estudo de Nonnenberg (1985) verifica a convergência com o modelo de H-O, mas aponta para um padrão de vantagem comparativa marcado, principalmente, pela dotação de recursos naturais. O autor destaca, ainda, que fatores microeconômicos (e.g., economias de escala e diferenciação de produto) podem ser determinantes do padrão de comércio do país. Os estudos mais recentes sobre determinantes das exportações brasileiras têm explorado este campo de investigação.

No que se refere aos determinantes das exportações, a conclusão de Arbache (2003) é de que o padrão de comércio do país não segue o modelo tradicional do diferencial na dotação de fatores. A evidência apresentada destaca a importância dos ganhos de escala e da tecnologia. E, a evidência apresentada por Arbache (2003, p. 153) indica ainda que as empresas exportadoras “empregam trabalhadores mais qualificados e pagam melhores salários que as firmas não-exportadoras da mesma indústria”.

A partir de resultados da tese de doutorado (Maia, 2001.a), a autora elabora artigo no qual mostra que as exportações brasileiras são intensivas em mão-de-obra menos qualificada (Maia, 2001.b, p. 16-17). Este fato converge com o teorema básico de Heckscher-Ohlin. Entretanto, houve aumento dos requisitos (proporção do número de trabalhadores) de mão-obra qualificada nas exportações brasileiras entre 1985 e 1995. No contexto da abertura comercial, estes resultados são contrários aos esperados pelo modelo Heckscher-Ohlin, considerando que o Brasil é um país com abundância de mão-de-obra não qualificada e escassez de mão-de-obra qualificada. Por outro lado, no setor substituidor das importações, que é intensivo no uso de mão-de-obra qualificada, não houve alteração dos requisitos relativos de mão-obra para a substituição de importações. Assim, a abertura comercial não afetou significativamente o padrão de comércio do país.

O estudo de Arbache e Negri (2002) abarca uma amostra de 31 mil empresas exportadoras e não exportadoras com dados para o período 1996-98. Os autores concluem que as exportações brasileiras são significativamente determinadas pelo tamanho das empresas, qualificação da mão-de-obra e pela origem do capital (empresas estrangeiras). Ademais, eles verificaram que o salário médio das empresas exportadoras é maior do que o das empresas não exportadoras. Os autores argumentam que esta diferença pode resultar da maior eficiência, ganhos derivados da tecnologia e de escala de produção das empresas exportadoras.

Negri e Freitas (2004) mostram a influência da eficiência de escala de produção, da qualificação da mão-de-obra e da inovação tecnológica no desempenho exportador de empresas da indústria brasileira no período 1996-2000. A importante influência da inovação tecnológica no desempenho externo das empresas brasileiras também é verificada em Negri (2005.a) no período 2000-03. Neste período, os produtos de alta intensidade tecnológica representaram 15 % do valor das exportações e 35% do valor das importações. Vale notar, que as commodities responderam por 39% do valor das exportações (Ibid, tabela 1, p. 8). No caso das commodities, conforme ressaltado no estudo, a fonte de vantagem comparativa do país é a dotação de recursos naturais, ou seja, nas commodities “a

24

inovação não tem um papel relevante no desempenho externo das firmas” (Ibid, p. 18).

A China tem sido um dos mercados de maior expansão nos últimos anos. Negri (2005.b) analisa as exportações brasileiras para esse mercado e mostra um padrão fortemente marcado por produtos intensivos em recursos naturais (da agropecuária e do setor extrativista). No período 1996-2003 houve crescimento extraordinário da participação dos produtos da agropecuária e da indústria extrativa no valor das exportações brasileiras para a China. A participação de produtos manufaturados no valor das exportações caiu de 85,9% em 1996 para 50,8% em 2003 (Ibid, tabela 1, p. 8). De fato, a participação dos produtos intensivos em recursos naturais no valor total exportado para a China (60%) é maior do que a participação correspondente para o conjunto do mercado mundial (40%). A evidência mostra, ainda, que empresas brasileiras de grande porte e com produtos mais intensivos em tecnologia exportam quantidades pequenas para a China. Estas empresas apresentam competitividade internacional em mercados da América do Norte e do Sul, mas baixa competitividade no mercado chinês. Assim, as relações comerciais bilaterais Brasil-China tendem a reforçar o padrão tradicional de comércio exterior do Brasil, marcado pela forte presença de produtos intensivos em recursos naturais. Deve-se notar, ainda, a ausência de vantagem comparativa do Brasil frente à China em produtos intensivos em mão-de-obra.

Holland e Xavier (2004) analisam o comércio exterior brasileiro nos anos 1997, 1999 e 2001 e mostram o padrão de vantagem comparativa com base no índice de vantagem comparativa revelada para 247 setores, conforme a agregação SITC. Como era de se esperar, há uma correlação positiva entre vantagem comparativa, valor das exportações e contribuição para o saldo comercial. O estudo converge para o esperado pelo modelo Heckscher-Ohlin que aponta para a vantagem comparativa do país em setores intensivos em recursos naturais.

Domingues, Leon e Haddad (2001) examinam o impacto das exportações sobre o emprego e a qualificação da mão-de-obra com base em um modelo de equilíbrio geral e em dados para 10 setores em 1996. A qualificação da mão-de-obra é medida segundo o nível de escolaridade (seis níveis). As simulações partem da elevação das exportações que implicam aumento de 1% da demanda final. O resultado esperado é que, de modo geral, o aumento das exportações impacta positivamente no nível de emprego. Há, entretanto, uma importante exceção que é o setor da agropecuária. O aumento da demanda externa de produtos da agropecuária eleva os preços destes produtos. Na medida em que o setor industrial usa produtos agrícolas como insumos, a produção deste setor é negativamente afetada. O efeito líquido da expansão da agropecuária e da contração da indústria é negativo quanto à geração de emprego (Ibid, tabela 9, p. 11). De fato, “apenas para o setor agropecuário o impacto total no nível de emprego é negativo” (Ibid, p. 11).

Este estudo apresenta os multiplicadores de emprego. Há dois tipos de multiplicadores: o multiplicador I abarca os empregos adicionais para R$ 1 milhão de aumento de exportações; e, o multiplicador II envolve o número de empregos na economia para cada emprego criado no setor. Os dados da matriz insumo-produto mostram que multiplicador I é de 196 para a agropecuária e 84 para a indústria de transformação. O multiplicador II é de 1,36 para a agropecuária e 4,93 para a indústria de transformação (Ibid, tabela 11, p. 13). Entretanto, considerando o exercício do modelo de equilíbrio geral, os multiplicadores da agropecuária tornam-se negativos. Desta forma, a expansão das exportações da agropecuária aumenta o

25

emprego neste setor, mas diminui no resto da economia – com impacto final negativo.

No que se refere ao tipo de emprego por qualificação da mão-de-obra (nível educacional), o estudo mostra que, de modo geral, há expansão do emprego para todos os tipos. Entretanto, conforme mencionado, as exceções são a agropecuária e o setor de serviços auxiliares. Na indústria, o maior impacto do aumento das exportações é na contratação de mão-de-obra de baixa qualificação.

Ponciano e Campos (2003) apresentam simulações, no quadro de um modelo aplicado de equilíbrio geral, que partem da eliminação dos impostos sobre as exportações do agronegócio. Esta desoneração fiscal implica ganhos relativos de competitividade e, portanto, aumento das exportações da agropecuária. Isto acarreta aumento da renda e do emprego rural. Entretanto, há o encarecimento dos produtos da agropecuária que são insumos (matéria-prima) do setor agroindustrial doméstico processador de matéria-prima de origem agrícola. O resultado é um efeito negativo sobre a rentabilidade do capital agroindustrial e um pequeno efeito de contração do nível de atividade no conjunto da economia. Como resultado, há aumento do desemprego urbano. No conjunto, observa-se uma queda do nível de renda das famílias e redução no consumo e, portanto, perda de bem-estar.

O trabalho de Pinheiro e Moreira (2000) baseia-se em uma amostra de aproximadamente 20 mil empresas industriais (exportadoras e não exportadoras) com dados para o período 1995-97. As empresas exportadoras representam cerca de 25% do conjunto de empresas da amostra. Ao confrontarmos as empresas exportadoras com o conjunto das empresas da amostra verificamos que as primeiras são de maior porte, pagam salários médios mais altos e empregam mão-de-obra mais qualificada. Quando os dados são analisados por ramos industrial os resultados são menos evidentes.

O uso do modelo probit para avaliar a probabilidade das empresas exportarem mostra a influência de variáveis específicas. A variável de maior relevância para explicar o desempenho exportador é o tamanho da empresa (Ibid, tabela 7). O fato de a empresa ser estrangeira afeta positivamente o desempenho exportador. O desempenho exportador também é afetado positivamente pela intensidade no uso de mão-de-obra e, principalmente, pela intensidade da mão-de-obra não qualificada.

As regressões por mínimos quadrados ordinários mostram que o valor das exportações é influenciado positivamente pela intensidade da mão-de-obra e pelo conteúdo direto e indireto de recursos naturais da produção ao nível setorial, bem como pela maior intensidade no uso de mão-de-obra não qualificada. Estes resultados convergem com os esperados pelo modelo tradicional de comércio externo.

No que se refere à relação entre exportação e distribuição de renda, vale destacar o trabalho de Clements e Kim (1988). Eles simulam o impacto de três estratégias de crescimento sobre a distribuição da renda no Brasil: promoção das exportações de manufaturados, substituição de importações e expansão do setor de nontradeables. O principal resultado é que a estratégia que leva à maior abertura da economia via exportações (elevação da relação entre exportações e PIB) tem efeito pouco expressivo sobre a distribuição da renda comparativamente às outras duas estratégias. Eles levantam duas hipóteses explicativas. A primeira é que a exportação de manufaturados está concentrada em um número pequeno de grandes

26

empresas que tendem a usar técnicas intensivas em capital. A segunda é que o elevado grau de desigualdade da renda no Brasil não é afetado pela estrutura da economia, ou seja, a concentração de renda é constatada em todos os setores produtivos. Eles concluem, então, que a questão central reside na distribuição funcional da renda que coloca, de um lado, o capital e, do outro, o trabalho. E, ademais, as estratégias comerciais desempenham um papel secundário na determinação da distribuição da renda na economia brasileira.

3.2. Liberalização comercial e importações

Com o objetivo de avaliar a experiência brasileira de liberalização comercial, selecionamos alguns estudos representativos que contribuem direta ou indiretamente para a análise empírica do impacto do comércio externo sobre emprego, salário e qualificação do trabalho no país.

As principais conclusões verificadas nos estudos mais recentes sobre o impacto do comércio externo sobre emprego, salário e qualificação de mão-de-obra no Brasil convergem para o que foi destacado na literatura internacional. A complexidade das interações entre comércio externo e emprego também se verifica na economia brasileira em decorrência da influência de fatores como progresso técnico, abertura da economia e políticas macroeconômicas. Conforme destacam Raposo e Machado (2004, p. 20), o efeito mais evidente da liberalização comercial refere-se à maior demanda por mão-de-obra qualificada.

A resenha de Arbache (2003, p. 153) concluiu que o comércio externo favoreceu a mão-de-obra mais qualificada e teve impacto negativo sobre a mão-de-obra de baixa qualificação. No caso brasileiro, a maior abertura externa ocorreu no contexto de expressivo avanço tecnológico. E, a evidência aponta que o progresso técnico, de um lado, teve impacto positivo e significativo sobre a demanda de mão-obra qualificada e, do outro, um impacto negativo sobre o emprego de mão-de-obra de baixa qualificação. Isto se refletiu no aumento do salário relativo da mão-de-obra mais qualificada e, portanto, não houve melhora no padrão de desigualdade da renda derivada do trabalho na década de 1990.

O artigo de Arbache e Corseuil (2004) tem como foco as conseqüências da liberalização comercial brasileira sobre as estruturas de emprego e salário. Para tanto, foram realizadas análises com base em dados da indústria de transformação no período 1987-98. A análise empírica revela que o aumento dos fluxos comerciais causou efeitos não-negligenciáveis sobre o nível de emprego e os prêmios salariais entre as indústrias. Conclui-se, também, que os trabalhadores foram afetados conforme o nível de qualificação. No entanto, os autores concluem que a abertura comercial não teve efeito significativo sobre a estrutura do emprego industrial e nos salários relativos (prêmios salariais) inter-industriais no Brasil no período 1987-98.

O arcabouço teórico utilizado para as regressões foi o teorema de Stolper-Samuelson. O processo de liberalização, portanto, segundo o modelo, deveria implicar melhorias na distribuição de renda, já que a concorrência externa provoca a reestruturação produtiva e aumenta a produção de setores intensivos em mão-de-obra e eleva os salários. Aplicado à experiência brasileira, no período pós-abertura o protecionismo beneficiou mais que proporcionalmente a remuneração do trabalho, fator de produção relativamente abundante.

27

A abordagem estática é, no entanto, incrementada pela introdução de variações qualitativas no mercado de trabalho. Considera-se três fatores de produção: capital, trabalho qualificado e trabalho não-qualificado, cujos retornos podem ser diferentemente afetados pelo comércio internacional, conforme sua respectiva escassez relativa. Desta forma, o resultado relacionado à dispersão de rendas é mantido, sendo que agora se reduz a diferença entre os salários de trabalhadores qualificados e não-qualificados. Assim, no caso de um país em desenvolvimento, a liberalização comercial envolve não apenas realocação da produção inter-industrial, mas, também, aumento da demanda relativa de trabalho pouco qualificado.

Há, ainda, outra flexibilização no modelo, cuja adequação prática é comprovada pelos resultados empíricos do trabalho, contrariando as predições do modelo original. Neste ponto, a referência bibliográfica principal é o artigo de Davis (1996). Trata-se de uma reformulação do teorema Stolper-Samuelson na qual a dotação de fatores de produção de um país não mais é considerada pela sua oferta a nível global, mas em relação a um limitado conjunto de países com estruturas econômicas semelhantes. Deste modo, os efeitos sobre a distribuição de renda da teoria tradicional tornam-se indeterminados, pois a abundância de recursos em escala mundial, não garante a manifestação da vantagem comparativa em relação a um conjunto de países de referência (parceiros e concorrentes comerciais diretos). Tal reformulação comporta a interpretação de que a entrada de países como China, Índia, Bangladesh, Paquistão e Indonésia no mercado mundial repercutiu negativamente sobre a distribuição de renda nos países de renda média, notadamente na América Latina. Estes paises foram pressionados a ajustarem suas estruturas de produção para ofertarem bens intensivos em trabalho de qualificação intermediária, elevando a dispersão dos níveis salariais.

Partindo da análise quantitativa, os autores chegam às seguintes conclusões:

(i) em relação ao nível de emprego a redução da proteção tarifária nominal é, em geral, insignificante. Já a tarifa efetiva sobre importações guarda uma relação negativa, embora pequena, sobre prêmios salariais. Corroborando o ganho de produtividade repassado aos trabalhadores proporcionado pelo maior grau de liberdade da política comercial.

(ii) as variáveis que mensuram o aumento dos fluxos comerciais (intensidade das exportações e penetração de importações) revelam correlação negativa em relação ao emprego. Este resultado foi provocado pelo ajuste recessivo frente à concorrência externa nos setores intensivos em mão-de-obra não-qualificada. Em relação aos salários, embora eles estejam diretamente relacionados ao crescimento das importações, eles também são negativamente afetados pela maior intensidade das exportações. O que demonstra que o esforço exportador baseou-se na demissão de mão-de-obra, ainda que com pouca intensidade, e redução dos prêmios salariais.

(iii) no que diz respeito à estrutura do trabalho, observa-se efeito negativo sobre o emprego nos setores intensivos em mão-de-obra não-qualificada em resposta ao maior fluxo comercial. Há uma relação positiva entre o aumento das exportações e o emprego de trabalhadores qualificados, enquanto a penetração de importações afeta negativamente este segmento.

(iv) o salário de trabalhadores mais qualificados é negativamente afetado pelo aumento das exportações, em intensidade superior aos salários dos trabalhadores

28

não-qualificados, contrariando a conclusão anterior. Os autores argumentam que as empresas exportadoras nacionais seriam mais eficientes e que, portanto, podem pagar altos prêmios pela aquisição de mão-de-obra qualificada. Após a liberalização, estas empresas possuiriam maior margem de manobra para promover cortes salariais, adequando-se à maior concorrência externa.

(v) os ganhos de produtividade decorrentes da maior penetração de importações revelam-se em correlações positivas entre esta e os salários de trabalhadores de ambas as qualificações.

O artigo de Moreira e Najberg (1997) mensura os efeitos da liberalização comercial sobre a reestruturação do mercado de trabalho nacional nos anos 1990. A abordagem quantitativa envolve inovações à bibliografia existente, tanto pelos indicadores utilizados, quanto pela apreciação da economia como um todo, não se restringindo à analise da indústria de transformação.

A investigação parte da insuficiência do modelo neoclássico de comércio internacional em abarcar a complexidade inerente ao tema. Tendo em vista a inexistência de imperfeições de mercado (como custos de deslocamento de fatores e preços não flexíveis), toda discussão em torno dos impactos do comércio externo dá-se sobre a realocação e não sobre o nível de utilização de recursos, supostamente em constante pleno emprego. Nos anos 1980, as críticas ao modelo de desenvolvimento por substituição de importações impulsionam as investigações a respeito das inter-relações entre o comércio externo e o nível geral de emprego (e.g, Krueger, 1981). A argumentação básica era que o fechamento das economias em desenvolvimento produziu dois efeitos nocivos à geração de empregos: o viés setorial e o de mercado. Setorialmente, o sistema de proteção indiscriminado desviaria recursos de setores intensivos em mão-de-obra e recursos naturais (onde os países em desenvolvimento têm fortes vantagens comparativas), para setores intensivos em capital, o que resultou numa realocação da produção na direção de setores menos intensivos em trabalho. O segundo viés relaciona-se ao desestímulo às exportações provocado pela maior lucratividade do mercado doméstico protegido contra importações, o que comprometeu a geração de empregos em setores presumivelmente intensivos em mão-de-obra.

Por outro lado, o processo de abertura comercial em países em desenvolvimento implicaria, no curto prazo, custo em termos de emprego. Mas, a médio e longo prazo este custo seria diluído pela reestruturação produtiva e da alocação de fatores mais eficiente em relação às dotações internas de cada país (maior abundância em trabalho). A fim de testarem esta hipótese para o caso brasileiro entre 1990 e 1995 os autores desenvolveram uma série de índices embasados na metodologia da contabilidade do crescimento, por meio da decomposição das contribuições da demanda doméstica, da balança comercial e da produtividade para a evolução do nível de emprego. A evolução do emprego no período avaliado relaciona-se positivamente à demanda interna e ao coeficiente doméstico (relação entre produção e demanda interna). E, negativamente em relação à produtividade. Os autores esclarecem que as inter-relações entre as variáveis devem ser interpretadas cuidadosamente, pois não passam de simples identidades contábeis desprovidas, a priori, de qualquer relação causal entre si.

Os resultados são apresentados para quatro grandes agregados setoriais (agropecuário, extrativo, serviços e indústria de transformação) e para 28 setores da indústria de transformação. Estes foram ainda classificados segundo a intensidade

29

de fatores de produção utilizados (recursos naturais, capital e trabalho). Há, ainda, a decomposição dos resultados por nível de renda (baixa, média e alta), utilizado como proxy de qualificação da mão-de-obra.

Para os grandes agregados setoriais, o exercício de decomposição da taxa de crescimento do emprego aponta um crescimento acumulado de 9% no período, com forte contribuição do consumo interno, que cresceu 15,5%. Em relação à estrutura setorial do emprego, o grande incremento de produtividade provocou redução de postos de trabalho na indústria em benefício das atividades da agropecuária e dos serviços, comprovando, ainda que timidamente, a hipótese de realocação em prol de atividades intensivas em mão-de-obra. O setor de serviços incrementa em 17,5% sua participação na absorção de mão-de-obra, beneficiado quase que exclusivamente pelo aumento da demanda interna. Por sua vez, o emprego no setor agropecuário amplia-se em 3,6%, impulsionado pela maior abertura comercial e pela desvalorização cambial que beneficiou suas exportações. No geral, os impactos da política comercial tiveram custo em nível de empregos de 1,2% ou 800 mil postos de trabalho, considerado pelos autores bastante reduzido se comparado à velocidade e intensidade do processo de liberalização comercial brasileiro.

No que se refere aos setores da indústria de transformação, os dados apresentados mostram perda relativa de empregos nos segmentos intensivos em capital (-9,6%) e elevação nos segmentos intensivos em recursos naturais (18,6%). Os setores intensivos em trabalho apresentaram elevação inexpressiva do nível de emprego (0,6%). A estrutura alocativa da produção, no entanto, apresenta-se mais rígida que a de empregos. A participação dos setores capital-intensivos mantém-se estável, enquanto os segmentos intensivos em trabalho têm sua participação reduzida, tanto a preços constantes quanto a preços correntes (-7% e -10,2% respectivamente), refletindo os efeitos da concorrência externa sobre os setores tradeables.

O exercício de decomposição da taxa de crescimento para os ramos da indústria de transformação mostra, no geral, que a contribuição do comércio externo para a geração de emprego nos segmentos intensivos em mão-de-obra foi negativa, embora modesta (-0,5%). E, que o sinal dessa contribuição deve-se muito mais a um desempenho sofrível das exportações do que a um deslocamento provocado pelas importações. Já no grupo das atividades intensivas em recursos naturais, prevaleceram altas taxas de crescimento do emprego (16,1%), fruto da combinação de queda na produtividade e elevado crescimento do consumo doméstico. A contribuição do comércio exterior oscilou entre positiva e negativa, mas foi em geral insignificante. Já para as indústrias intensivas em capital, o que se observa é a queda substancial do volume de emprego (11,1%). Esta queda é explicada pelo crescimento elevado da produtividade (22,2%) e pelo declínio significativo do coeficiente doméstico dos setores de equipamentos eletrônicos, automóveis, caminhões e ônibus e máquinas e equipamentos, que ficaram bem acima da média da indústria.

A última segmentação de dados empíricos, em relação aos níveis de qualificação apresenta os seguintes resultados. Em termos do nível de emprego, os setores intensivos em trabalho de baixa qualificação tiveram um pequeno ganho (3,5%), enquanto que as duas outras categorias (setores intensivos em trabalho de média e alta qualificação) tiveram pequenas perdas (-0,6% e -1,3%). Ao decompor as taxas de crescimento usando os mesmos critérios, a única categoria que apresentou variação positiva (2,4%) foi, mais uma vez, o setor intensivo em mão-de-

30

obra de baixa qualificação, resultado para o qual a contribuição do comércio foi positiva (2%). As duas outras categorias (média e alta qualificação) apresentaram reduções no nível de emprego, explicadas em parte por quedas nos coeficientes domésticos e por elevados ganhos de produtividade.

No agregado, a evidência quantitativa apresentada para a indústria de transformação confirma o impacto positivo da abertura comercial sobre a geração de emprego nos setores intensivos em recursos naturais. Se, por um lado, esses resultados corroboram as expectativas geradas pelo padrão alocativo condizente com as dotações de recursos na economia brasileira, por outro, o mesmo não se pode dizer para as indústrias intensivas em trabalho. Neste caso, diferentemente do esperado, as conseqüências da liberalização foram negativas, embora reduzidas, com grande estabilidade em termos de participação no nível de emprego e redução em termos de percentual da produção. Por trás desses resultados esteve a incapacidade de o setor ampliar suas exportações, o que, por sua vez, deve ter refletido a influência de fatores como o baixo crescimento da produtividade no setor, o viés anti-trabalho da estrutura tributária, que eleva o custo da mão-de-obra, o ambiente macroeconômico que prevaleceu durante a abertura e, obviamente, a concorrência do Sudeste Asiático.

O trabalho desenvolvido por Pavcnik, Blom, Goldberg e Schady (2003), patrocinado pelo Banco Mundial, trata dos efeitos da liberalização comercial sobre a eqüidade distributiva ao longo da década de 1990, em um país já assolado pela elevada concentração da renda. Para tanto, os autores focam sua investigação nos fatores condicionantes que permitiram o aumento relativo da renda para trabalhadores qualificados em período coincidente com o da abertura comercial.

Os autores indicam três interpretações teóricas possíveis para explicar o fenômeno: (i) aumento dos prêmios salariais previstos nos modelos Heckscher-Ohlin e Stolper-Samuelson como resultado das reformas liberalizantes; (ii) maior demanda por trabalhadores com maior grau de escolaridade devido à incorporação de tecnologias indutoras de qualificação (skill-biased technological change), incentivada pelo maior acesso às importações; e, (iii) alterações inter-industriais dos prêmios salariais. Em seguida testam empiricamente as hipóteses de cada interpretação com dados da Pesquisa Mensal do Emprego (PME), divulgada pelo IBGE e indicadores setoriais de 20 segmentos da indústria de transformação, tais como, proteção tarifária, penetração das importações e exposição das exportações, entre os anos de 1987 e 1998.

A compilação dos dados contidos na PME possibilitou a incorporação de uma série de variáveis importantes para o estudo do mercado de trabalho brasileiro e sua relação com a política comercial. O emprego é decomposto pelo nível de renda, idade, qualificação, localização geográfica, caráter formal ou informal, trabalho autônomo e por setores da indústria. No que se refere à qualificação, tema em que se concentram as conclusões do trabalho, o critério de anos completos de estudo utilizado pelo IBGE foi simplificado em dois grandes segmentos. Foram classificados como trabalhadores qualificados os que possuíam ao menos o ensino médio completo, e abaixo desta linha todos os demais foram classificados como mão-de-obra não-qualificada.

Para testar a predições dos modelos Heckscher-Ohlin e Stolper-Samuelson, os autores utilizam uma variação dos teoremas, e usam como fatores de produção apenas o trabalho qualificado e o trabalho não-qualificado. Neste sentido, o Brasil

31

possuiria escassez relativa de trabalho qualificado, e, portanto, em face de uma política comercial liberalizante sofreria realocação produtiva em prol do trabalho não-qualificado e reduziria os prêmios salariais por maiores qualificações. A evidência empírica apresentada refuta essas hipóteses.

Os dados empíricos apresentados mostram, também, que a intensidade e a velocidade da liberalização comercial sobre os setores que são mais intensivos no uso de mão-de-obra menos qualificada foram maiores que nos setores demandantes de mão-de-obra qualificada.

Durante a liberalização, no mercado de trabalho brasileiro não houve deslocamento de mão-de-obra dos setores mais expostos à concorrência externa (intensivos em trabalho não-qualificado) para os setores que relativamente mantiveram sua proteção externa (intensivos em trabalho qualificado). Os autores apresentam uma regressão entre a participação da indústria na absorção de mão-de-obra, o nível tarifário, a penetração das importações e a intensidade de exportações. Não há evidência de que a alteração na estrutura tarifária tenha afetado a alocação de recursos. E, considerando a participação do emprego industrial nos diversos setores, antes e depois da abertura, verificou-se que permaneceu estável o padrão de absorção de mão-de-obra ao longo da década analisada.

O arcabouço teórico tradicional é inadequado para explicar a elevação da remuneração do trabalho qualificado no processo de abertura brasileiro. Esta elevação é provocada pelo aumento do custo do trabalho de maior qualificação no curto prazo, que não foi acompanhado pela redução da demanda do fator ao longo da década nos vintes setores analisados. Este processo aponta para a hipótese acerca da importância da absorção de tecnologias indutoras do uso de mão-de-obra de mais alta qualificação.

A fim de mensurar a contribuição da absorção de novas tecnologias para a elevação dos prêmios de qualificação do trabalho, os autores desenvolvem uma regressão entre a participação do trabalho qualificado em cada setor e os níveis tarifários, penetração de importações e intensidade de exportações. Desta estimação, a conclusão mais importante refere-se à correlação positiva entre uma maior penetração das importações e a incorporação de maiores proporções de trabalho qualificado. Houve, ainda, a tentativa de identificar nos setores onde a processo de liberalização foi mais intenso (maior redução de tarifas) e a penetração de importações foi mais pronunciada, uma maior alocação relativa de mão-de-obra qualificada, mas sem resultados consistentes.

Assim, a rigidez do mercado de trabalho brasileiro contraria as predições do modelo de Heckscher-Ohlin (mudança na estrutura do emprego na direção de mão-de-obra de baixa qualificação) e do teorema de Stolper-Samuelson (maior remuneração para a mão-de-obra de baixa qualificação). Por outro lado, a proposição acerca da adoção de tecnologias indutoras de qualificação foi sancionada pelos dados empíricos. Parte dos ganhos de produtividade permitidos pelas novas tecnologias foi repassado para trabalhadores e mostrou-se como a opção mais plausível para se interpretar a elevação dos prêmios salariais do trabalho qualificado em decorrência da abertura comercial. O artigo prossegue com a estimação direta dos prêmios salariais segundo os níveis de qualificação do trabalho.

32

A primeira constatação é de que a exemplo da estrutura inter-industrial de emprego, a correlação ano a ano do nível de renda dos trabalhadores nos diversos setores é elevada, denotando a rigidez de uma economia que apesar do processo de abertura comercial preserva baixo coeficiente de penetração de importações. Por conta disso, a política comercial teria pouca incidência sobre o nível de eqüidade na distribuição de renda nacional, como foi comprovado pela estimação dos determinantes dos prêmios salariais. Segundo os dados apresentados, não há correlação significativa entre o nível tarifário e as sobre-rendas relativas a cada setor.

A política comercial, no entanto, pode ter impacto nos prêmios salariais específicos de cada setor, alterando as correlações entre os níveis de qualificação da mão-de-obra, se forem analisados dados específicos de cada setor. Dado o caráter discricionário da abertura comercial brasileira, os ganhos extraordinários de renda segundo a qualificação do trabalho foram relativamente maiores nos setores onde a redução tarifária foi maior. Este resultado está, entretanto, intrinsecamente relacionado à adoção de novas tecnologias demandantes de qualificação, que faz parte de estratégia de ajuste das empresas frente à maior concorrência externa.

Mesmo assim, os autores mantêm a conclusão de que, no geral, o impacto das reformas comerciais sobre o padrão de distribuição de renda não é determinante. Ainda mais se constatarmos que a elevação dos prêmios salariais de qualificação do trabalho não foi acompanhada de um acréscimo acentuado de concentração de renda. A pouca influência da política comercial sobre a distribuição de renda é atribuída ao fato de que apesar do substancial desgravamento tarifário, a penetração de importações continua relativamente baixa.

Ao desmistificar a experiência brasileira, um dos principais motivadores da política comercial adotada na década de 1990, o artigo de Pavcnik, Blom, Goldberg e Schady (2003) cumpre importante papel ao particularizar os efeitos da liberalização comercial sobre a distribuição de renda, baseado em dados empíricos. Entretanto, a grande ênfase dada ao aumento dos prêmios de renda para trabalhadores qualificados fez com que o estudo não aprofundasse as demais variáveis disponibilizadas pela PME, como gênero, caráter formal do emprego, etc. Ao se ater apenas ao nível educacional dos trabalhadores os pesquisadores reduziram o escopo de atuação da política comercial.

O artigo de Gonzaga, Menezes Filho e Terra (2005) procura testar a seguinte hipótese: houve redução nos diferenciais de renda dos trabalhadores por níveis de qualificação ao longo do processo de liberalização comercial brasileiro. A análise trata do período 1988-95. Supõe-se que o país tenha maior dotação relativa de mão-de-obra de baixa qualificação. A partir desta premissa, os autores desenvolvem uma série de exercícios quantitativos a fim de testar os mecanismos de transmissão entre a política comercial e as mudanças relativas nos rendimentos do trabalho, previstos na teoria neoclássica de comércio internacional.

Primeiramente, por meio da análise decomposta dos indutores do emprego qualificado (growth accounting), busca-se especificar a contribuição da abertura comercial para a menor absorção relativa de mão-de-obra qualificada, em vistas do concomitante aumento da oferta de trabalhadores mais educados, já que ambas concorrem para a redução dos prêmios de qualificação. Procura-se, também, identificar os condicionantes endógenos e intra-setoriais na alocação do trabalho.

33

Para avaliar as inter-relações do desgravamento tarifário sobre os preços relativos nos diversos setores selecionados, desenvolve-se uma adaptação do modelo no qual se acrescenta um coeficiente de transmissão setorial para variações tarifárias baseado no grau de penetração das importações. Este procedimento é baseado no argumento de que mesmo uma redução homogênea das barreiras tarifárias pode provocar alterações na estrutura de preços relativos se os coeficientes de transmissão forem distintos entre os setores. Todos os dados relativos ao mercado de trabalho e sua alocação setorial por nível de qualificação são do IBGE. Os dados da PIA foram agregados para serem compatíveis com as estatísticas fornecidas pela PNAD.

Inicialmente, os autores apresentam algumas considerações acerca dos efeitos de uma elevação exógena da oferta de mão-de-obra qualificada e da abertura comercial sobre economias de países em desenvolvimento. Supõe-se que estes países possuem vantagens comparativas em segmentos intensivos em trabalho não-qualificado. Dada a elevação da oferta de trabalhadores de maior qualificação, a teoria padrão de comércio internacional prevê ampliação da produção nos setores que comparativamente empreguem mais intensivamente este fator (em pleno emprego). No exercício proposto no artigo, portanto, o efeito inter-setorial seria positivo para a experiência brasileira. Além do mais, considerando-se uma estrutura de preços não flexível, a queda relativa da remuneração do fator após o aumento da oferta induziria a elevação de seu emprego em todos os setores. Retornando ao exercício, o efeito intra-setorial (endógeno) seria positivo.

No que se refere à abertura comercial, a maior contestabilidade de mercado em setores que não apresentam vantagens comparativas levaria a quedas de produção em benefício de setores intensivos em trabalho não-qualificado. O que configuraria o efeito inter-setorial negativo. Já o efeito endógeno, similar ao ocorrido com a elevação da oferta, seria positivo, pois a redução relativa dos prêmios de qualificação elevaria a demanda por mão-de-obra qualificada. Neste caso, percebe-se uma possível indeterminação do efeito líquido da liberalização comercial sobre a estrutura alocativa.

Os dados empíricos mostram que o emprego qualificado cresceu em termos relativos 2,7% entre 1988 e 1995. Este resultado foi construído sobre uma contribuição positiva do efeito endógeno (3,3%) e negativo do efeito inter-setorial (-0,7%). Houve, por conseguinte, uma realocação produtiva em benefício dos setores intensivos em trabalho não-qualificado, ao mesmo tempo em que se verificou uma ampliação relativa da dotação de trabalho qualificado na estrutura econômica como um todo. Tal resultado não pode ser atribuído apenas ao aumento da oferta de trabalho qualificado constatado no período. Ele aponta para a contribuição da política comercial para a redução da demanda por trabalhados mais qualificados.

Os testes empíricos prosseguem com a apresentação de uma série de regressões que visam determinar três correlações que assegurariam a validade dos resultados apresentados no exercício anterior: (i) comportamento apresentado pelos preços relativos dos setores intensivos em trabalho qualificado; (ii) relação entre o desgravamento tarifário e o nível setorial de qualificação da mão-de-obra; e, (iii) a relação entre a redução tarifária e a estrutura de preços relativos.

As três correlações apresentam padrões condizentes com a hipótese central do artigo de redução dos rendimentos do trabalho qualificado. Há uma correlação negativa entre a estrutura de preços relativos e a intensidade de qualificação do

34

trabalho (coeficiente de -0,043); uma correlação negativa entre a evolução ponderada do nível tarifário e a proporção empregada de trabalho qualificado (coeficiente de -0,02); e, por último, uma correlação positiva entre impacto tarifário ponderado e a dinâmica dos preços relativos (coeficiente de 0,221).

Ao final, apresenta-se a regressão que visa testar a própria hipótese central do artigo, qual seja, como a reestruturação dos preços relativos gerada pela abertura comercial relaciona-se com o custo de mão-de-obra qualificada. Os dados indicam que se a política comercial fosse a única força a atuar no mercado de trabalho na época de liberalização, a redução nos diferenciais de renda por qualificação seria de 25,5%, frente a uma redução real de 15,5%. Segundo os autores, esses 10% devem-se, em grande parte, à modernização produtiva e à adoção de tecnologias indutoras de qualificação (skill biased technological change).

Embora bem sucedidos em demonstrar empiricamente a adequação da teoria tradicional de comércio à experiência brasileira dos anos 1990, cabem algumas ressalvas aos resultados apresentados. Longe de serem consensuais, as conclusões apresentadas são controversas, visto que a maioria dos estudos sobre o tema oferece resultados ambíguos a respeito das relações entre equidade distributiva e comércio exterior. A exclusão dos trabalhadores com nível superior completo das estimativas de intensidade de qualificação não parece acertada para países com elevada desigualdade social como a Brasil, pois apesar de representarem menos de 10% dos trabalhadores, sua renda relativa é bem superior. Há, por mais de uma vez, o recurso a nexos causais só justificáveis em condições hipotéticas de pleno emprego. E, por fim, deve-se mencionar o reduzido prazo atribuído para a efetivação das repercussões do processo de liberalização.

O estudo de Ferreira e Guillén (2004) mostra o significativo impacto da liberalização comercial sobre a produtividade industrial. Estes autores mostram, também, que a liberalização não parece ter tido qualquer impacto sobre o nível de concorrência na indústria brasileira. Ou seja, não se verificou a importante hipótese do efeito pró-competitivo das importações.

Giovannetti e Menezes Filho (2005) mostram que o viés de demanda por mão-de-obra qualificada foi determinada pela liberalização comercial de produtos intermediários. A liberalização comercial e a maior concorrência implica o uso de técnicas mais intensivas em mão-de-obra mais qualificada com o intuito de aumentar a produtividade.

A maior demanda por mão-de-obra qualificada, como resultado da liberalização comercial e da mudança tecnológica, também é encontrada em Maia (2001.b), que trabalha com dados para 1985 e 1995. A expansão do consumo final é, entretanto, o fator determinante do nível e estrutura do emprego. E, a liberalização comercial afetou significativamente o aumento da produtividade. A menor demanda por trabalho menos qualificado foi provocada pela liberalização comercial e, principalmente, pela mudança tecnológica.

O trabalho de Veras (2004) procura avaliar o impacto da liberalização comercial sobre os trabalhadores no mercado formal (trabalhadores registrados) e no informal (trabalhadores não registrados) com dados para 17 indústrias no período 1987-98. Os dados para a indústria de transformação indicam que a liberalização comercial teve influência no processo de redução do diferencial dos salários dos trabalhadores registrados e não registrados. Assim, o efeito pró-competitivo das importações reduziu o salário dos trabalhadores do mercado formal

35

comparativamente ao salário dos trabalhadores do mercado informal. Por outro lado, não há evidência de que a liberalização comercial tenha afetado a queda da participação dos trabalhadores do mercado formal no total da força de trabalho empregada.

O estudo de Corseuil e Cury (2003) vai no sentido contrário, pois simula o impacto sobre o nível de emprego da mão-de-obra com distintos níveis de qualificação, mas supondo aumento nas tarifas de importação. Os autores usam um modelo de equilíbrio geral que permite computar o impacto do retorno da estrutura de proteção tarifária existente no país em 1990. As simulações realizadas mostram que o impacto sobre o nível de emprego é negativo no mercado formal e no informal, para a mão-de-obra qualificada e não-qualificada. Vale mencionar que a queda no nível de emprego é, de modo geral, insignificante, pois inferior a 0,5% (Ibid, tabela 2).

Os autores simulam, ainda, o impacto da reversão da liberalização comercial sobre a estrutura salarial e a distribuição de renda. O resultado geral é uma redução do salário real. A maior perda ocorre no caso do salário do trabalhador de baixa qualificação, tanto no mercado formal quanto no informal. A única exceção é o caso do trabalhador formal urbano com alta qualificação que não experimenta redução do seu nível de salário médio real (Ibid, tabela 3). O impacto sobre a distribuição de renda é negativo sobre todos os grupamentos de renda (famílias) (Ibid, tabela 4). O grupo mais afetado é o de famílias urbanas pobres chefiadas por indivíduo ativo. O menos afetado é o de famílias urbanas pobres chefiadas por inativos.

3.3. Distribuição geográfica e integração regional

O padrão de comércio externo tende a envolver diferenças na intensidade de fatores segundo a distribuição geográfica. Isto ocorre na medida em que o comércio bilateral de cada país implica diferenças nas dotações relativas de fatores. Por exemplo, comparativamente aos países europeus, o Brasil pode ser visto como um país com abundância de recursos naturais. O mesmo não se pode dizer a respeito da comparação entre o Brasil e os Estados Unidos, país reconhecidamente rico em recursos naturais. Outro exemplo: o Brasil é um país bem dotado em mão-de-obra de baixa qualificação em relação aos Estados Unidos, mas o mesmo não pode ser dito em relação aos países da Ásia como Índia, China e Bangladesh.

Na realidade, este fato é uma das mais importantes explicações do conhecido paradoxo de Leontieff. E, não é por outra razão, também, que Markwald e Machado (2001) constataram que, nas exportações brasileiras, os produtos industrializados predominam no comércio bilateral Brasil-Estados Unidos, enquanto os produtos agrícolas predominam no comércio bilateral Brasil-União Européia. Ou seja, os produtos de exportação do Brasil para a União Européia tendem a ser mais intensivas em recursos naturais do que as exportações brasileiras para os Estados Unidos. As importações brasileiras provenientes dos Estados Unidos e da União Européia são dominadas por produtos manufaturados. No caso da relação comercial com os países da América do Sul, o predomínio dos produtos manufaturados ocorre nas exportações, enquanto nas importações brasileiras há maior presença relativa de produtos primários comparativamente às outras regiões.

Tendo em vista a formação do Mercosul em 1991 e a negociação do projeto da ALCA, há uma abundante literatura a respeito dos efeitos dos esquemas de

36

integração econômica regional. Parte expressiva dos exercícios de simulação baseiam-se nos cálculos dos efeitos desvio e criação de comércio. Como era de se esperar, os resultados obtidos nestes trabalhos empíricos são “bastante díspares”, segundo resenha recente (Castilho, 2002). Os resultados dependem do foco da análise e da metodologia empregada. Neste último caso, o contraste marcante é entre modelos de equilíbrio parcial e modelos de equilíbrio geral. Há, ainda, a diferença entre efeitos estáticos (provocados pela maior eficiência alocativa) e efeitos dinâmicos, geralmente, de mais longo prazo associados a ganhos de escala, aprendizado e processo de reestruturação produtiva. Este último envolve desde o investimento externo direto até mudanças gerenciais e organizacionais, como a redução de ineficiência-X. Os resultados dos trabalhos dependem também da escolha dos parâmetros e variáveis, como as elasticidades-preço da demanda por produtos importados e os equivalentes ad valorem das barreiras não-tarifárias.

No que se refere aos efeitos da distribuição geográfica do comércio externo sobre o emprego, vale mencionar os resultados do estudo de Castilho (2004). Os dados de 1999-2001 mostram, por exemplo, que mais da metade do valor de exportação do Brasil para a União Européia corresponde a produtos da agropecuária, extrativa mineral e da indústria de alimentos. No caso das exportações para os Estados Unidos, estes setores respondem por menos de 12% do valor, enquanto as indústrias siderúrgica, metalúrgica e de material de transporte representam aproximadamente 40% do valor total exportado. No caso do Mercosul, há uma menor especialização setorial das exportações brasileiras, ainda que os produtos da agropecuária, extrativa mineral e da indústria de alimentos respondam por menos de 12% do valor exportado. Pelo lado das importações, tanto no caso da União Européia quanto no dos Estados Unidos, cerca de dois terços do valor importado pelo Brasil corresponde a produtos das indústrias de material elétrico e eletrônico, material de transporte, máquinas e tratores, e química (Ibid, tabela 2). E, ademais, vale notar que aproximadamente três quintos dos produtos da agropecuária exportados pelo Brasil estão direcionados para os mercados da União Européia (Ibid, tabela 1).

No que se refere ao impacto do comércio externo brasileiro segundo a distribuição geográfica, o estudo em questão usa como indicador básico o conteúdo direto e indireto de trabalho (quantidade de trabalhadores por R$ 1 milhão de valor de produção). A primeira conclusão relevante é que o padrão de comércio externo brasileiro não é marcadamente caracterizado pela intensidade do fator trabalho (Ibid, tabela 3). Este fato se aplica às exportações e, principalmente, às importações.

Na economia brasileira há uma forte correlação positiva entre a intensidade no uso total do fator trabalho e a intensidade de mão-de-obra menos qualificada, enquanto a correlação entre intensidade total do fator trabalho e intensidade no uso de trabalho de mais alta qualificação é negativa (Ibid, p. 17-18). A qualificação da mão-de-obra é medida pelo número de anos de estudo do trabalhador.

A evidência mostra também que a quantidade de trabalho embutido nas exportações é superior ao embutido nas importações do Brasil. No período 1999-2001, as exportações totais envolveram o emprego de 7,1 milhões de trabalhadores, enquanto as importações totais corresponderam ao uso no setor substituidor de importações de 4,3 milhões de trabalhadores. Ou seja, o país é um “exportador líquido de trabalho” e este saldo positivo corresponde a 4,8% do emprego total na economia brasileira. A maior contribuição para este saldo é dada pelo trabalho de baixa qualificação. Neste sentido, o estudo converge para o resultado esperado e

37

informado pela teoria no sentido de que a liberalização comercial favorece o fator abundante.

A exportação líquida de trabalho refere-se ao comércio com os Estados Unidos e a União Européia, bem como às diferentes qualificações da mão-de-obra. Entretanto, no caso do comércio brasileiro com os países da União Européia, as exportações envolvem mais trabalho pouco qualificado, enquanto nas importações predomina o trabalho de maior qualificação. No caso dos Estados Unidos, esta diferença não é tão evidente, ainda que as exportações brasileiras sejam marcadas por maior quantidade de trabalho pouco qualificado. No comércio com os países do Mercosul, o Brasil é “importador líquido de trabalho”. E, ademais, as exportações brasileiras têm mais trabalho qualificado do que as importações. Estes resultados de intensidade fatorial convergem com as características gerais do padrão setorial do comércio apontadas acima segundo a distribuição geográfica.

O estudo de Castilho (2004, p. 24-25) simula, ainda, o impacto da integração regional com os Estados Unidos (via projeto da ALCA) e com a União Européia (via acordo Mercosul-União Européia) sobre o emprego no Brasil. Estes acordos implicariam aumento do comércio entre 7,3% e 10,9%, a as importações cresceriam mais do que as importações. Com base nestes dados, o modelo estático de equilíbrio geral indica a geração de aproximadamente 230 mil novos empregos. O impacto da ALCA seria um pouco superior ao do acordo com a União Européia (cerca de 15 mil empregos) e o maior impacto seria sobre o trabalho de menor qualificação em ambos os casos. Em termos relativos, o impacto do aumento do emprego provocado pelos acordos de integração corresponderia a 0,4% dos trabalhadores empregados. O acordo da ALCA favorece os trabalhadores mais qualificados, enquanto o acordo com a União Européia favorece a geração de empregos de menor qualificação. Deve-se notar, também, que há diferenças marcantes nos resultados ao nível de setores.

O artigo de Gonzaga, Terra e Cavalcante (1997) tem como objetivo avaliar o impacto do desgravamento tarifário previsto no Mercosul sobre o emprego setorial no Brasil. A análise é feita através de um modelo de equilíbrio geral computável. A economia mundial foi dividida em quatro regiões, Argentina, Brasil, Uruguai e Resto do Mundo. A ausência do Paraguai deve-se à insuficiência de dados estatísticos, e Nafta e União Européia compõem a região ‘Resto do Mundo’. Cada região teve sua estrutura produtiva dividida em 13 setores, selecionados pela sua importância relativa na produção e no comércio exterior. Os setores selecionados foram os seguintes: produtos agropecuários; extrativa mineral; alimentos (exceto bebidas); têxteis; couros e calçados; produtos químicos; metalurgia; automóveis e materiais de transporte; autopeças; construção civil; transporte terrestre; outros serviços; e outros produtos comercializáveis.

A partir daí, dois exercícios foram desenvolvidos com hipóteses distintas sobre o nível de mobilidade da mão-de-obra. No primeiro exercício, o trabalho foi considerado perfeitamente móvel, podendo deslocar-se livremente entre os setores. No segundo, o mercado de trabalho foi segmentado; introduziu-se um grau de rigidez (modelo de barganha salarial) em alguns setores, conferindo assim mais realismo ao modelo que admitiria parte dos trabalhadores em desemprego estrutural. Vale notar que a quantidade total de trabalhadores disponíveis em cada um dos setores que não é competitivo é igual à quantidade de trabalhadores empregados no setor no ano-base, mais a quantidade de desempregados no setor, com a hipótese de que tais trabalhadores não são móveis setorialmente.

38

O mecanismo de transmissão entre a política comercial e as decisões microeconômicas são as alterações de preços relativos. E, a diminuição da proteção provoca uma diminuição do preço relativo dos produtos comercializáveis, o que afeta as decisões de consumo e de produção dos agentes econômicos. Os autores, no entanto, advertem contra interpretações apressadas sobre os resultados apresentados. Dada as hipóteses extremamente restritivas do ferramental utilizado, os exercícios de estática comparativa com base no modelo de equilíbrio geral delineiam, no máximo, tendências de longo prazo. Esta observação parte da constatação de que o nível tarifário não foi a única força a atuar sobre o mercado de trabalho no período. Houve mudanças tecnológicas, alterações de restrições comerciais não tarifárias, aumentos dos fluxos de investimentos externos para a região, alterações de políticas econômicas, e mudanças macroeconômicas e institucionais, que também tiveram impacto sobre a alocação de trabalhadores em cada setor.

Feitas as devidas ressalvas, os resultados se resumem a dois exercícios de estática comparativa entre o ano-base, 1990, e os anos de 1996 e 2006, este último ano foi previsto para o desgravamento tarifário completo. Temos, primeiro, os resultados com livre mobilidade do trabalho e, posteriormente, os resultados com a introdução da mobilidade limitada. Esta esquematização, contudo, mostrou-se insuficiente para provocar alterações significativas entre as quatro simulações.

Como era previsto, o nível de produção e emprego no Resto do Mundo permaneceu insensível ao Mercosul nos quatro exercícios. No Uruguai, o setor têxtil foi o mais afetado pela integração regional (redução média de 1,9% da produção e de 1,8% do emprego). Para Argentina e Brasil, os resultados foram um pouco mais intensos. Os setores argentinos mais afetados foram o têxtil (-4,1% da produção e -5,0% do emprego, em média), couro e calçados (-2,9% e -2,9%) e outros produtos comercializados (-6,5% e - 6,9%). O Brasil apresentou ganhos de produção e emprego em produtos químicos (aumento médio de 3,2% e de 2,8%, respectivamente) e na indústria extrativa mineral (aumento de 3,4% da produção e 3,7% do emprego), de desvantagem em outros produtos comercializáveis (-6,3% e -5,6%, respectivamente).

Outro resultado apresentado diz respeito à menor corrente comercial entre o Mercosul e o Resto do Mundo, o que evidencia os desvios de comércio provocados pela integração regional. No mais, devido às restrições metodológicas, as conclusões apresentadas seriam, por si sós, insuficientes para subsidiar políticas públicas a fim de compensarem efeitos setoriais negativos, em termos de emprego e renda, ocasionados pela adesão ao Mercosul.

A liberalização comercial, via integração econômica regional, também pode ter impacto sobre a desigualdade territorial no país. A partir de um modelo inter-regional de equilíbrio geral computável, Domingues e Lemos (2004) assinalam que os esquemas de integração econômica podem aumentar a concentração de renda nas regiões mais ricas do país. E, este fenômeno pode provocar a maior migração da mão-de-obra para estas regiões.

3.4. Reestruturação produtiva

Nesta seção analisamos um conjunto de trabalhos representativos a respeito de temas que são relevantes para se entender e aprofundar a discussão entre

39

comércio e emprego. Estes temas são precarização, produtividade, reestruturação produtiva e eficiência.

Precarização do trabalho no setor de serviços

Embora não orientado diretamente a analisar os efeitos da liberalização comercial sobre o mercado de trabalho brasileiro, o trabalho desenvolvido por Amadeo e Néri (1997) preenche lacuna importante a respeito da mobilidade inter-setorial de mão-de-obra.

Ao estudar os indícios de precarização do trabalho no setor de serviços, os autores desenvolvem uma série de estatísticas que segmentam os trabalhadores por grau de instrução, tipo de vinculo empregatício (formal ou informal) e nível de renda, baseadas nos dados da Pesquisa Mensal do Emprego do IBGE. Em seguida, comparam os resultados apresentados pelo emprego no setor de serviços ao longo do período proposto (1989-96) com a média dos indicadores apresentados para o mercado de trabalho como um todo.

O artigo se propõe, ainda, a uma análise mais refinada da hipótese de precarização, ao desenvolver painéis matriciais que permitem comparar as características sócio-econômicas dos trabalhadores que migraram da indústria manufatureira para o setor de serviços (e vice-versa) frente aos trabalhadores que permaneceram nos respectivos setores ao longo do processo de reestruturação produtiva decorrente da abertura comercial. Os resultados apresentados ganham significado especial para o estudo das transformações no mercado de trabalho brasileiro no período, pois consideram, entre outros fatores, o papel da informalidade na conformação da mão-de-obra frente à liberalização.

Dentre os principais resultados vale destacar que o setor de serviços elevou sua participação na absorção de mão-de-obra de 45% para 50% durante os anos de 1989 e 1996. No que diz respeito ao vínculo empregatício, o trabalho informal (trabalhadores sem carteira assinada e por conta própria) apresentou menor crescimento relativo no setor de serviços do que na economia como um todo, apesar de continuar apresentando números bem acima da média global (de 23% acima da média em 1986 para 11% em 1996). No quesito nível de instrução, o desempenho do setor de serviços acompanha a média nacional. Enquanto a proporção de trabalhadores não educados (zero a quatro anos de estudo) cai de 32% em 1989 para 27% em 1996, o trabalhadores educados e muito educados (oito anos ou mais de estudo) ampliaram sua participação de 46% para 52%. A peculiaridade está na maior absorção relativa de trabalhadores com nível superior (12 anos ou mais de estudo), 18% superior à média. Já em relação à renda, a recessão que acompanhou o Plano Collor infligiu uma redução média de 35% nos rendimentos dos trabalhadores. Houve recuperação após 1992, de forma que a recuperação média acumulada até 1996 foi de 31%, sendo que os trabalhadores alocados no setor de serviços obtiveram ganhos de renda 36% superiores à média.

São apresentados ainda indicadores da evolução da remuneração dos trabalhadores controlados pelos índices de escolaridade e vinculo empregatício, de onde se conclui que: o crescimento relativo médio da remuneração dos empregados por conta própria é contínuo e significativo, tanto para os alocados na indústria, quanto para os alocados no setor de serviços (partindo de -17% em 1989 para 8% da média em 1996); a recuperação da renda por níveis educacionais é

40

especialmente forte para os trabalhadores sem carteira, após a implantação do Plano Real em 1994; apenas para os segmentos sem instrução do trabalho informal (sem carteira e conta-própria) houve perda relativa de renda, e sua remuneração permaneceu abaixo da média global.

O último instrumento de análise são os painéis matriciais de realocação produtiva da mão-de-obra entre a indústria de transformação e o setor de serviços. Os autores mostram evidência que confirma a precarização do trabalho migrante, ao menos entre os setores em questão. Constata-se, primeiramente, queda na participação dos empregos formais de 58% entre os trabalhadores que permaneceram no posto de trabalho, para 36% entre os que migraram da indústria para os serviços; queda de cerca de 12% na renda média; queda no percentual de trabalhadores com vencimentos acima da renda mediana de 44% para 38%; queda no nível de instrução dos trabalhadores, embora a média de anos de estudo dos trabalhadores que migraram seja superior à média dos trabalhadores alocados na indústria e inferior aos previamente alocados no setor de serviços. Os dados empíricos revelam apenas um argumento que refutaria a precarização do trabalho: a redução da jornada de trabalho em uma hora (de 41 horas na indústria para 40 horas no setor de serviços), insuficiente, no entanto, para compensar as perdas relativas de renda.

O trabalho em questão abre nova perspectivas para entendermos de que forma a economia brasileira reagiu à maior abertura externa decorrente do processo de liberalização, independentemente dos méritos na constatação ou não da precarização do trabalho no setor de serviços. O evidente aumento do mercado informal de mão-de-obra, frente ao reduzido aumento do desemprego no setor formal, mostra que o ajuste produtivo deu-se no país em prejuízo das rendas indiretas garantidas pela legislação trabalhista.

Uma série de questões coloca-se diante dos resultados apresentados. O aumento do nível de escolaridade, na economia como um todo, e no setor de serviços em particular, é resultado da maior demanda por qualificação ou da precarização da mão-de-obra educada? A maior dispersão entre os níveis de educação no setor de serviços, segmento responsável pela maior absorção de empregos na economia nacional, teria repercussão sobre a distribuição de renda? Estas questões apontam no sentido de retomar e atualizar os resultados deste estudo para melhor auferir as relações entre a reestruturação produtiva provocada pela liberalização e suas conseqüências sobre o mercado de trabalho nacional.

Produtividade do trabalho no setor industrial

O artigo de Carvalho e Feijó (1999) examina as origens dos ganhos de produtividade paralelos à abertura comercial. Este ganho seria um movimento defensivo em decorrência da recessão, ou traria consigo importante elemento estrutural relacionado à reestruturação produtiva? Os autores apontam vasta bibliografia ao indicarem o consenso em torno da segunda proposição e promovem o aprofundamento desta discussão com a introdução de novas questões que ainda dividem as pesquisas sobre o tema.

O trabalho estrutura-se em cima de tais questões, a saber: (i) a identificação das causas estruturais dos ganhos de produtividade; (ii) a indicação de que atores econômicos apropriaram-se dos ganhos de eficiência, e; (iii) a real qualidade das

41

estatísticas utilizadas para estimação da produtividade, em particular as pesquisas conjunturais do IBGE (PIA, PIM-PF e PIM-DG), dada as evidências de superestimação dos indicadores de produtividade.

No que diz respeito à apropriação dos ganhos de eficiência, os autores usam os dados das Contas Nacionais, a fim de correlacionar os componentes do valor agregado na indústria com a evolução dos índices de produtividade. O primeiro resultado relevante é que, de 1990 a 1997, a participação dos salários no valor adicionado industrial reduz-se de 31,2% para 21,8%, descartando, portanto, a hipótese de apropriação pelos trabalhadores. Há uma baixa significância da correlação entre rendimentos médios e evolução da produtividade no mesmo período. Por outro lado, a parcela relativa do excedente operacional bruto (proxy do lucro) manteve-se estável em 61,2%. O aumento ficou por conta dos impostos sobre a produção (de 4,2% para 9,3%) e da previdência oficial/FGTS (de 3,7% para 5,1%) e da previdência privada (de 0,5% para 0,7%).

O cruzamento dos dados absolutos com a evolução da produtividade entre 1990 e 1997, no entanto, demonstrou correlação positiva significativa apenas para o excedente operacional bruto (0,820, nível de significância de 1%). Há também uma correlação (0,400) significativa (a 5%) entre o crescimento da produtividade e evolução da participação do excedente no valor agregado. Além disso, fazendo-se a correlação cross section da evolução da produtividade com a variação do nível de preços (deflator implícito) para o acumulado do período encontra-se um coeficiente negativo relativamente baixo (-0,330), mas significativo a 5%. A evidência empírica, portanto, revela que boa parte dos ganhos de produtividade reverteram-se para o excedente operacional bruto (lucros), e uma parcela reduzida foi apropriada pelos consumidores na forma de menores preços.

Os autores desenvolvem, ainda, longa discussão metodológica acerca da precisão dos indicadores de produtividade elaborados com dados das pesquisas conjunturais do IBGE. Em linhas gerais eles elegem as estimativas baseadas nas Contas Nacionais mais confiáveis que as construídas com os dados da PIA, PIM–PF e PIM–DG. Além de embasar-se num volume de informações maior e por estar mais atualizada, as Contas Nacionais permitem a estimação do valor agregado, no numerador, que leva em consideração a variação de preços relativos, e fornecem para o denominador estimativas de variação do emprego segundo pesquisas domiciliares.

O trabalho encerra-se com a conclusão de que houve um caráter estrutural nos ganhos de eficiência ocorridos ao longo do processo de liberalização que não podem ser desqualificados pela superestimação dos indicadores desenvolvidos com as estatísticas fornecidas pelo IBGE, apesar de suas deficiências.

Reestruturação produtiva, absorção de mão-de-obra e qualificação

O trabalho de Dedecca (2002) apresenta uma visão estrutural acerca da reorganização produtiva ocorrida no Brasil na década de 1990, e suas repercussões sobre o mercado de trabalho. O autor encontra evidências de que a dinâmica assumida pela economia brasileira desde então está associada ao crescente desemprego e informalidade. Há desarticulação do trabalho assalariado e ampliação de segmentos não assalariados voltados para a oferta de serviços pessoais e domiciliares, onde predominam ocupações de baixa qualificação e rendimento.

42

Além da grande instabilidade da primeira metade da década e do processo de liberalização comercial, o autor analisa as relações trabalhistas a partir de 1930, a fim de identificar as raízes do trabalho informal. No que se refere especificamente às principais questões entre os efeitos da política comercial sobre o mercado de trabalho, o artigo refuta a idéia de melhora na qualificação da mão-de-obra após a liberalização, e atribui os ganhos de produtividade basicamente às inovações organizacionais, oferecendo um contraponto à hipótese de incorporação de tecnologias que induzem a maior incorporação de trabalho qualificado (skill-biased technological change).

Ao investigar a evolução das relações trabalhistas entre os anos de 1930 e 1980, o autor identifica uma estrutura heterogênea. De um lado, havia relações capitalistas que tendiam a internalizar as relações produtivas necessárias à sua reprodução e, de outro, havia atividades atrasadas ou de sobrevivência associadas à má distribuição de renda, que possibilitaram a reprodução de formas de consumo que geravam todo um conjunto de serviços pessoais e domésticos. A inter-relação entre o segmento capitalista dinâmico e as atividades de sobrevivência (que nos anos 1970 seriam definitivamente denominadas de atividades informais) dava-se por meio de relações tênues inseridas no circuito de renda-consumo. Assim, no auge do processo de industrialização por substituição de importações, juntamente com o atraso, consolidava-se toda uma nova estrutura produtiva moderna, bem ou mal inserida nos fluxos de comércio e investimentos da economia mundial. Esta heterogeneidade reproduzia-se também na estrutura social brasileira.

Com a crise da dívida externa e o esgotamento do modelo que sustentava a dicotomia entre os setores capitalista e de sobrevivência, engendra-se uma reorganização produtiva e do mercado de trabalho nos anos 1980 e, principalmente, nos anos 1990, com a nova política econômica ancorada na rápida abertura externa, que eliminou parcela substancial do emprego assalariado nas atividades formais (capitalistas). O processo de desverticalização industrial provocou a maior importação de insumos e a ampliação das subcontratações de pequenas e médias empresas, e ampliou a complexidade entre os segmentos básicos da economia. Pela nomenclatura adotada no artigo, o setor capitalista passa a dividir-se em grande setor e pequeno-médio setor contratado, que interagem de tal forma capaz de desfazer a relação positiva entre a produção capitalista e o nível de empregos. O excedente de mão-de-obra desemboca no pequeno-médio setor não contratado (informalidade) ou no desemprego aberto.

O baixo dinamismo da economia brasileira na década de 1990 amplificou os efeitos da reestruturação produtiva. Houve movimento de racionalização econômica e do mercado de trabalho no contexto de limitado crescimento da produção industrial, dos significativos ganhos de produtividade e do vazamento de parte da renda doméstica para o exterior. Estas alterações tendem a consolidar um pequeno-médio setor que se torna o mais importante espaço de absorção da mão-de-obra excedente e, no entanto, insuficiente para fazer frente ao crescimento da oferta de trabalho.

Entre os principais resultados apontados pela pesquisa de dados empíricos, está a baixa mobilidade do emprego entre os setores industrial e de serviços, insuficiente para inibir uma permanentemente alta da taxa de desemprego. No que se refere à abertura comercial, houve baixa correlação entre a formação bruta de capital fixo e o incremento das compras externas, o que reduz a importância relativa

43

dos ganhos de produtividade associados à aquisição de máquinas e equipamentos importados.

A restrição externa impôs uma lenta taxa de crescimento da produção do setor industrial, como se verificou na década de 1990. E, a tentativa de absorção de novas tecnologias (ao menos as incorporadas a máquinas e equipamentos) implicou aumento rápido das importações e, conseqüentemente, do desequilíbrio externo. Esta constatação configura-se como um argumento contrário às interpretações que consideram a incorporação de novas tecnologias indutoras de trabalho qualificada como a principal fonte dos ganhos de produtividade ocorridos após a liberalização. O autor atribui a maior eficiência alocativa, por sua vez, a inovações organizacionais e gerenciais que permitiram a mobilização do capital pré-existente com a redução dos quadros na indústria de transformação. E, portanto, sem maiores repercussões negativas sobre a balança comercial.

Em relação ao suposto aumento dos níveis de qualificação da mão-de-obra decorrente da reestruturação produtiva, são apresentados indicadores que não convergem com os resultados apresentados pela maioria dos trabalhos sobre o tema. O autor utiliza a metodologia de agrupamento de ocupação, desenvolvida através do arranjos (clusters) de variáveis básicas de escolaridade, tempo de serviço e renda média. O autor também destaca a condição recessiva enfrentada pela economia brasileira, na qual os trabalhadores com menor qualificação tendem a ser demitidos em primeiro lugar, pois a recontratação dos mesmos não gera maiores custos de seleção e treinamento para as empresas. É plausível, portanto, que a geração de emprego seja acompanhada pela elevação da participação dos trabalhadores com maior qualificação, nível de escolaridade mais elevado e maior tempo de serviço na empresa.

Para a indústria, em geral, observa-se redução relativa dos segmentos de baixa e médio-baixa qualificação até 1992, restabelecendo o mesmo nível de 1986 ao final do período de análise em 1996. Para os setores selecionados, estes dois grupamentos ampliaram sua participação relativa, tanto na indústria química, quanto na metal-mecânica, embora marginalmente. O setor de produtos alimentícios apresentou elevação proporcional continuada nos dois segmentos mais qualificados (média e alta), embora fosse predominante a participação dos trabalhadores de baixa qualificação. No geral, denota-se a estabilidade relativa da estrutura de ocupações por qualificação.

A principal contribuição do estudo em questão reside na introdução de uma perspectiva estrutural e na interpretação da reestruturação produtiva e suas repercussões sobre o mercado de trabalho a partir dos aspectos inerentes à formação da nova dinâmica interna.

Eficiência econômica

A tese de doutorado de Nassif (2003) visa confrontar a experiência brasileira de liberalização na década de 1990 com as predições das principais teorias de comércio internacional, com ênfase na questão da eficiência econômica. Com esse intuito, desenvolve uma extensa análise teórica: os modelos clássico de Ricardo e neoclássico de Heckscher-Ohlin-Samuelson; as abordagens mais atuais que levam em conta as hipóteses da concorrência imperfeita e da existência de economias de escala internas e externas à firma; e, as interpretações neo-schumpterianas

44

calcadas no estudo da correlação entre o livre-comércio, a criação de inovação e a disseminação do progresso técnico.

A segunda etapa inicia-se com uma descrição do processo de liberalização propriamente dito, introduzido por uma reconstituição do cenário econômico na década de 1990. Aqui é delineada a divisão cronológica que norteia a análise quantitativa dos indicadores de eficiência econômica. O processo de abertura comercial brasileira é dividido em dois períodos: o primeiro, de 1988 a 1994, foi pautado pela crise crônica de balanço de pagamentos; e, o segundo, de 1994 a 1998, quando a estabilização do nível geral de preços monopolizou a agenda econômica e prevaleceu sobre qualquer estratégia de política comercial. A instabilidade macroeconômica permeia ambas as “fases” do processo.

O autor destaca, no entanto, que apesar da instabilidade macroeconômica, a liberalização comercial no Brasil foi gradual entre 1990 e 1994 e, inicialmente, ela esteve focada nos produtos em que o país tinha evidente vantagem comparativa.

A principal contribuição do trabalho em questão está na análise que visa identificar correlações empíricas entre o processo de liberalização comercial e os indicadores de eficiência econômica, obtidos econométricamente com base em dados de painéis (panel data) extraídos de plantas produtivas selecionadas em nível setorial e com algumas modificações metodológicas.

No que se refere aos ganhos de produtividade nos dois períodos, constatam-se resultados bastante distintos para 1988-1994 (crescimento de 8,7%, correspondente à média anual de 1,4%) e 1994-1998 (crescimento de 21,6%, e média anual de 5,0%), que refletem as diferentes características da liberalização comercial e da situação macroeconômica vigentes nesses dois subperíodos.

O indicador de produtividade do trabalho foi concebido para mensurar dois prováveis desdobramentos da liberalização: o primeiro, chamado de efeito-emprego, é sensível ao enxugamento de mão-de-obra puro e simples; enquanto o segundo, denominado genericamente de efeitos residuais, considera os ganhos de produtividade decorrentes da incorporação de técnicas produtivas mais próximas da fronteira internacional, via importação de bens de capital ou mesmo maior esforço tecnológico endógeno derivados das decisões estratégicas das empresas. E, embora não possamos desprezar a influência positiva dos efeitos residuais sobre os ganhos de produtividade obtidos, a evidência revela o predomínio de efeito-emprego ao longo de todo o processo de abertura.

O autor chama atenção para o fato de que o aumento de produtividade na economia brasileira ocorreu no contexto de reduzidos níveis de investimento (Ibid, p. 225). Esta constatação permite apontar respostas mais precisas para uma das controvérsias do debate sobre o aumento da produtividade do trabalho no Brasil na década de 1990, a saber, o desacordo acerca das fontes principais dos ganhos de eficiência. O autor enumera três tipos de interpretação: (i) dispensa de mão-de-obra, acompanhado de racionalização produtiva das plantas (o efeito-emprego); (ii) reestruturação derivada da abertura que aumentou a participação das firmas sobreviventes mais produtivas (efeito market-share); e, (iii) adoção da inovação como estratégia competitiva, no sentido schumpteriano pleno – novas técnicas produtivas, novos métodos de organização e novos produtos – (efeitos residuais).

A interpretação dos dados empíricos fornecidos na tese explicita claramente que tanto no inicio do processo de liberalização comercial (1988-1994), quanto no

45

período posterior ao Plano Real, a dispensa de mão-de-obra atuou como fator determinante dos ganhos totais de produtividade na indústria de transformação. Ao longo de toda a década em foco (de 1988 a 1998), a retração do nível de emprego industrial respondeu por 50% dos ganhos de produtividade no período, ao passo que os elementos ligados às inovações, mudanças de técnicas produtivas, importações de máquinas e equipamentos e demais forças ‘residuais’ representaram cerca de 40%.

Além desta contribuição, os resultados do exercício econométrico corroboram a conclusão presente em grande parte dos trabalhos que vêm sendo publicados sobre o tema no Brasil, desde a primeira metade da década de 1990. Ou seja, contráriamente ao que ocorreu no período 1985-1990, os ganhos de produtividade do trabalho na indústria de transformação brasileira na década de 1990 foram positivos e crescentes, além de terem sido, no caso de alguns setores, bastante expressivos.

A relevância do trabalho em questão está na abordagem setorial e na mensuração dos ganhos de produtividade. Com relação aos objetivos específicos desta resenha, sente-se a ausência neste trabalho de uma análise da relação entre os ganhos de produtividade do trabalho e a evolução dos salários reais no período, bem como uma avaliação dos impactos nos níveis de qualificação da mão-de-obra.

4. Investimento externo direto, emprego, salário e qualificação

Esta seção tratará dos efeitos do investimento externo direto (IED) sobre o mercado de trabalho. Na primeira parte faz-se uma síntese da literatura internacional recente sobre o tema. A segunda parte apresenta uma resenha dos trabalhos realizados no país nos últimos anos.

4.1. Literatura internacional

A literatura teórica a respeito do impacto do investimento externo direto (IED) sobre nível e estrutura do emprego, salário e qualificação de mão-de-obra é ainda menos robusta do que aquela existente no campo da teoria do comércio internacional. Há um conjunto de hipóteses ad hoc, cuja verificação depende do caso analisado (ILO, 2004.b). Os estudos empíricos, por seu turno, resumem-se à conclusão de que esse impacto é específico quanto a produto, empresa, setor, país e tempo. Este argumento é válido tanto para a literatura dos anos 1970s e 1980s (Baldwin, 1994, p. 44) quanto para a literatura mais recente. Ou seja, apesar de a literatura teórica apresentar um conjunto expressivo de proposições, a realidade tem mostrado extraordinária complexidade (ILO, 2004.b, p. 9).

A grande importância do comércio intra-firma e do comércio intra-indústria apontam claramente na direção de que o IED, as estratégias, condutas e desempenhos das empresas transnacionais (ETs) e sua rede de filiais, subsidiárias e empresas associadas têm importante papel no sistema mundial de comércio. Ademais, no passado recente o processo de liberalização comercial em países em desenvolvimento tem sido acompanhado pelo processo de liberalização na esfera produtivo-real que envolve o IED e as atividades das ETs.

46

No plano teórico, o processo de internacionalização da produção assume duas formas básicas: comércio e IED. E, esses processos podem ser tanto substitutos quanto complementares. Assim, da mesma forma que o estabelecimento de uma planta produtiva em um país para produzir um determinado bem implica a redução das importações deste bem, a presença de uma subsidiária de ET pode acarretar mudanças no padrão de comércio exterior. Este fato é evidente quando ocorre, por exemplo, a fragmentação do processo de produção do bem em escala global (Currie e Harrison; 1997; Dias, 2003).

O tema do IED e seus efeitos abarca um conjunto expressivo de questões, que foram apontadas em estudos mais gerais sobre o tema (e.g., Caves, 1996, cap. 5; Hood e Young, 1979). Sínteses abrangentes a respeito do impacto do IED e das ETs sobre o emprego e temas correlatos foram apresentadas nos relatórios anuais da Organização Internacional do Trabalho – OIT (ILO, 1993) e da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, UNCTAD – World Investment Report (UNCTAD, 1994; UNCTAD, 1999). Devemos ressaltar que a OIT tem um programa de pesquisa específico a respeito dos efeitos do IED sobre o emprego, salário e condições de trabalho. Neste sentido, cabe ver no portal da organização (www.ilo.org) as seguintes referências: ILO, Research Programme, Globalization and Employment. Effects of FDI and ME activities on Employment, Wages and Working Condition; ILO, Tripartite Declaration of Principles concerning Multinational Enterprises and Social Policy; e ILO, Global Employment Trends.

No relatório UNCTAD (1994, cap. 4) há uma análise abrangente do impacto do IED sobre o nível e a estrutura do emprego e sobre a remuneração do trabalho. O relatório faz uma distinção entre os efeitos dos ingressos e dos fluxos de saída. Aqui, o foco é no impacto dos fluxos de ingresso de IED sobre a economia receptora do investimento. No que se refere ao impacto sobre o nível de emprego, há efeitos diretos e indiretos, que podem ser positivos ou negativos.

O efeito direto positivo abarca os investimentos greenfield que acarretam acréscimo no estoque de capital e, portanto, geram emprego. Por meio dos efeitos de encadeamento para frente e para trás e do funcionamento do mecanismo do multiplicador de gastos, o IED tem efeitos positivos indiretos sobre a renda e o nível de emprego. Por outro lado, há efeitos negativos diretos quando o IED envolve a aquisição de empresa local e, como parte do processo de reestruturação, ocorre a demissão de trabalhadores. O efeito negativo indireto decorre da maior propensão a importar das ETs que reduz a demanda por bens e serviços produzidos localmente.

No que diz respeito à remuneração e qualificação da mão-de-obra, o efeito positivo direto resulta da maior produtividade das subsidiárias que implica pagamentos de salários mais elevados, bem como atividades de treinamento da mão-de-obra na direção de padrões mais avançados. Como efeito positivo indireto destaca-se o efeito de desdobramento (spill-over effect) que decorre da interação das subsidiárias com fornecedores e subcontratados locais que precisam se ajustar aos novos padrões gerenciais e organizacionais. Por outro lado, há um efeito negativo direto quando as ETs usam relações trabalhistas (e.g., sistema de contratação e promoção de mão-de-obra) que envolvem práticas consideradas inapropriadas no país hospedeiro. O efeito positivo indireto revela-se quando a maior contestabilidade do mercado interno, provocada pela presença de subsidiárias, causa reduções salariais nas empresas locais que procuram competir via redução de custos.

47

O tema da localização também tem implicações para o nível e estrutura do emprego, remuneração e qualificação. A realização de investimentos por ETs em áreas mais atrasadas ou com altas taxas de desemprego tem impacto direto positivo em relação seja ao desenvolvimento regional, seja ao combate à exclusão social. O efeito positivo indireto decorre da migração de outras empresas para as áreas onde se instalaram as subsidiárias, principalmente, a rede de fornecedores. Pelo lado do impacto direto negativo, subsidiárias podem realizar investimentos de grande porte em áreas que já apresentam sérios problemas, como é o caso de zonas urbanas com altos índices de congestionamento ou de poluição. O efeito negativo indireto ocorre quando as subsidiárias provocam o fechamento ou deslocamento de produtores locais estabelecidos em regiões com baixos índices de desenvolvimento econômico e social. O fechamento dos postos de trabalho agrava ainda mais os problemas locais.

A teoria e evidência empírica discutida nos relatórios mencionadas aponta para o fato de que o impacto das ETs e do IED sobre o emprego depende da interação entre fatores locacionais específicos e fatores específicos às empresas. Em relação aos fatores locacionais, vale mencionar o tamanho da economia, seu grau de internacionalização, as políticas governamentais (e.g., estímulo e regulação do IED, comércio externo, educação e formação de recursos humanos), a institucionalidade (e.g., normas trabalhistas) e o sistema de correlação de forças políticas (e.g., poder dos sindicatos e grupos de pressão). No longo prazo, pode se argumentar que o maior impacto das ETs sobre o emprego, remuneração e qualificação da mão-de-obra decorre dos efeitos destas empresas sobre a estrutura de produção e de comércio externo do país (UNCTAD, 1994, p. 168). Por exemplo, ainda que no curto prazo a aquisição de uma empresa local, que provoca demissões, possa ter efeito negativo sobre o nível de longo prazo, os ganhos de produtividade e competitividade podem implicar impacto positivo sobre a força de trabalho no longo prazo (mais emprego, melhor qualificação e maiores salários).

O impacto depende também da estratégia, conduta e desempenho das ETs. Para ilustrar, a decisão de entrar em um mercado via greenfield investment ou aquisição de empresa local já tem impacto direto sobre o nível de emprego. A melhoria de qualificação da mão-de-obra local depende também da decisão de se reproduzir na subsidiária os padrões existentes na matriz.

De fato, é possível fazer a associação entre determinados tipos de estratégias e diferentes tipos de efeitos (Ibid, p. 168-173). Dentre os tipos de estratégia vale mencionar; (i) orientação da operação da ET para explorar o mercado interno do país hospedeiro; (ii) explorar vantagens locacionais específicas de recursos naturais ou mão-de-obra barata; e, (iii) estratégia de integração complexa via fragmentação do processo produtivo em escala global de tal forma que a subsidiária seja parte de uma rede internacional de produção e distribuição. Para ilustrar, a estratégia de integração complexa pode ter efeitos significativamente distintos sobre o fator trabalho quando comparada com a estratégia de exploração de mão-de-obra barata ou de recursos naturais. A primeira exige padrões internacionais de qualidade que têm repercussões na qualificação da mão-de-obra local via treinamento no local do trabalho ou mesmo fora dele.

No relatório UNCTAD (1999, cap. 9) o tema do impacto do IED e da ET sobre a geração de emprego e a qualificação da mão-de-obra é retomado com maior ênfase nos efeito positivos. Os efeitos diretos são divididos em dois: iniciais e subseqüentes. Os efeitos diretos dependem das seguintes variáveis: tamanho e

48

modalidade do investimento, escolha de técnica, localização, orientação para o comércio externo e condições do mercado de trabalho. Os efeitos subseqüentes, por seu turno, dependem de determinantes específicos à ET e determinantes específicos ao país receptor do IED. No que se refere aos primeiros, vale destacar: melhoria da tecnologia, evolução da competitividade, orientação comercial, estratégia de compra de insumos, necessidade de mão-de-obra qualificada e competitividade da empresa investidora. No que diz respeito aos fatores locacionais, cabe mencionar: disponibilidade local de diferentes tipos de mão-de-obra segundo a qualificação, crescimento dos mercados locais, evolução dos salários e dos custos dos insumos, infra-estrutura, competitividade do país receptor.

Os efeitos indiretos são separados em cinco tipos. O primeiro trata do caso da empresas integradas verticalmente: extensão e natureza da demanda por produtos locais, intensidade dos encadeamentos com compradores e fornecedores locais e entrada do IED em segmentos da cadeia produtiva. O segundo efeito indireto relaciona-se à questão da concorrência: efeitos positivos e negativos da entrada de IED sobre a concorrência, efeitos de spill-overs, e capacidade de resposta das empresas locais no mercado local e no mercado externo frente aos desafios e problemas gerados pelo IED. O terceiro está relacionado ao efeito demonstração, ou seja, a entrada de determinado IED ou ET pode provocar a reação de outras ETs no sentido de fazer investimentos no país receptor. O investimento de uma ET pode atrair outros fluxos de IED de empresas fornecedoras de bens e serviços. Fluxos de IED podem, ainda, ter um efeito cumulativo quanto à promoção da imagem internacional do país enquanto país receptor de IED. O quarto tipo refere-se especificamente ao tema da subcontratação de pequenas e médias transnacionais, bem como de pequenas e médias empresas locais. A extensão e natureza (composição setorial, tipo de mão-de-obra usada) afetam o resultado quanto à geração de emprego, remuneração e qualificação da mão-de-obra. Por fim, há os efeitos indiretos sobre o emprego que decorrem do impacto macroeconômico do IED: renda líquida gerada pela operação das ETs, distribuição entre poupança e investimento, mecanismos do acelerador e do multiplicador, e efeito sobre a renda provocado pelo afrouxamento da restrição de balanço pagamentos devido à entrada de IED e às atividades externas das ETs.

4.2. Literatura nacional

O conjunto de estudos brasileiros recentes sobre IED pode ser dividido em dois grupos. O primeiro avalia a presença de empresas estrangeiras no país e, o segundo trata da internacionalização das empresas brasileiras. Os objetivos e os métodos de análise variam não somente entre estes grupos, mas também dentro de cada grupo. Há, entretanto, um elemento comum a estes grupos: não há foco no tema do impacto do IED no mercado de trabalho. Este fato é surpreende em decorrência da importância relativa do IED na economia brasileira (produção e comércio externo). Devemos relembrar que alguns estudos mencionados na seção 3.1,que tratam dos determinantes das exportações, fazem a relação entre comércio, emprego e origem da propriedade.

Segundo os dados obtidos a partir do Censo de Capital Estrangeiro de 2000 do Banco Central, as empresas estrangeiras responderam por 60,4% do valor das exportações e 56,6% das importações (Lacerda, 2004, p. 105 e p. 109). Em 2000, a relação entre o comércio intra-firma e as exportações das empresas estrangeiras era

49

63,3%, enquanto a relação entre o comércio intra-firma e as exportações totais brasileiras era de 38,2%. No que se refere às importações, estas relações eram de 57,8% e 32,7%, respectivamente (Ibid). Ademais, estima-se que as empresas estrangeiras eram responsáveis por 22,8% do PIB brasileiro e 45,6% do valor das vendas das 550 maiores empresas do país em 2001. Considerando unicamente o setor de tradeables, a participação das empresas estrangeiras era ainda maior (52,9%) (Gonçalves, 2005, p. 196-197).

Estudo recente de Gonçalves (2006) avalia o impacto macroeconômico de empresas estrangeiras que atuam na economia brasileira no período 1995-2002. O foco de análise são os efeitos sobre a renda, o emprego e o balanço de pagamentos. Esta avaliação toma como base um modelo que analisa o efeito cumulativo da presença das empresas estrangeiras por meio de um sistema de equações simultâneas. Este modelo envolve um exercício contrafatual, isto é, calcula-se a diferença entre uma situação onde a empresa estrangeira está presente e outra situação (hipotética) na qual se supõe a ausência da empresa estrangeira.

O exercício mostra que as empresas estrangeiras tendem, de modo geral, a ter resultados positivos sobre a renda no Brasil. Este resultado é particularmente evidente no caso das empresas estrangeiras que atuam na indústria de transformação. As estimativas apresentadas indicam que as empresas estrangeiras também têm um efeito negativo sobre o balanço de pagamentos. Isto ocorre não somente via impacto direto sobre a renda, mas também por meio dos efeitos negativos causados pelo desequilíbrio entre, de um lado, exportações e, de outro, despesas com importações, remessas de lucros e pagamentos por tecnologia. A acumulação de capital por parte das empresas estrangeiras, que é financiada com recursos externos (endividamento), também afeta negativamente as contas externas do país.

O impacto negativo sobre o balanço de pagamentos é particularmente relevante no caso do setor de serviços, ou seja, a produção de nontradeables pelas empresas estrangeiras. Observou-se, ainda, que o efeito das empresas estrangeiras no setor de serviços sobre a poupança pública pode ser mínimo. Este fato é relevante no contexto de uma política de estabilização macroeconômica ancorada na geração de superávites primários nas finanças públicas federais. O modelo permite destacar, ainda, o potencial de efeitos negativos que derivam do financiamento público de empresas estrangeiras no setor de nontradeables, quando estas empresas financiam parte expressiva dos seus investimentos com recursos públicos, poupança privada doméstica e endividamento externo. Nos dois primeiros casos há redução dos recursos de financiamento para as empresas nacionais. No caso do endividamento externo pelas empresas estrangeiras, o efeito negativo sobre o balanço de pagamentos torna-se ainda mais relevante em uma situação de vulnerabilidade externa estrutural.

No que se refere ao impacto sobre o emprego, o trabalho em questão não apresenta resultados específicos. O significativo impacto sobre a renda indica que as empresas estrangeiras no Brasil têm um impacto expressivo sobre o mercado de trabalho no país.

Entretanto, há uma diferença marcante entre a contribuição das empresas estrangeiras para a geração de renda e a contribuição para a geração de emprego. Os dados do Censo de Capital Estrangeiro mostram que as empresas estrangeiras geraram 1710 mil postos de trabalho em 2000, o que representou 2,1% do emprego

50

total no país (UNCTAD, 2005.b, tabela I.8). Este fato decorre da concentração de empresas estrangeiras em setores menos intensivos em mão-de-obra e da maior produtividade destas empresas (Zockun, 2000; Negri, 2003). Ademais, segundo a evidência disponível, as empresas estrangeiras que atuam na indústria de transformação no Brasil usam, de modo geral, mão-de-obra mais qualificada do que as empresas nacionais, ao mesmo tempo em que pagam salários médios mais elevados (Negri e Acioly, 2004).

Particularmente no que se refere à geração de emprego, UNCTAD (2005.b, p. 25-27) argumenta que o impacto dos fluxos de ingresso de IED sobre o emprego no Brasil pode ser inexpressivo em decorrência da forma predominante do investimento (compra de empresas brasileiras). Este argumento aplica-se tanto ao processo de fusão e aquisição que envolve empresas privadas quanto o processo de privatização de empresas estatais. A evidência disponível assinala que as fusões, aquisições e privatizações foram os mecanismos determinantes da crescente presença de empresas estrangeiras na economia brasileira a partir de meados dos anos 1990 (Gonçalves, 1999, capítulo 6).

No que se refere ao processo de internacionalização das empresas brasileiras via investimento externo direto, vale mencionar Guimarães (1986), Goulart, Brasil e Arruda (1994), Dias (1994), BNDES (1995), Brasil et al (1996), BNDES (1995) e Iglesias e Veiga (2002). Estes estudos mostram que a internacionalização da produção das empresas brasileiras via IED é mais visível a partir de meados dos anos 1960 via IED das empresas de construção, dos bancos e da Petrobrás. Porém, os valores tornam-se mais expressivos somente no final da década seguinte. O processo avança com o IED de empresas da indústria de transformação. Nos anos 1980, os destaques ficam por conta dos bancos e da Petrobrás. Este processo continuou nos anos 1990 e tem experimentado um avanço extraordinário nos últimos anos em decorrência das mudanças (liberalização da conta de capital) e do contexto macroeconômico (forte apreciação cambial a partir de 2003).

Os estudos sobre o IED de empresas brasileiras mostram que há diferenças importantes quanto aos determinantes. Aqui, cabe destacar as diretrizes estratégicas das empresas, as especificidades setoriais, o contexto macroeconômico e as mudanças institucionais (e.g., processo de integração regional - leia-se, principalmente, criação do Mercosul e integração energética na América do Sul). Na hierarquização mais geral dos determinantes, podemos mencionar (Brasil et al, 1996): necessidade de estar próximo ao cliente; conquista de novos mercados; acesso à tecnologia; presença em blocos regionais; acesso a fontes internacionais de financiamento; superação de barreiras de acesso a mercados externos; ajuste às regulamentações do mercado externo; acesso à rede de fornecedores; e, estratégia reativa frente à concorrência.

O estudo de Iglesias e Veiga (2002) sobre a internacionalização das empresas brasileiras e suas atividades de comércio externo não trata de temas relacionados ao mercado de trabalho. Os autores mostram que empresas exportadoras brasileiras realizam investimento externo direto como resultado, em grande medida, da necessidade de abrir empresas de representação comercial e canais de distribuição. Somente 12,0% dos investimentos correspondem à construção de unidades produtivas. Ou seja, a necessidade de logística relativa ao comércio externo é o principal determinante do IED de empresas exportadoras brasileiras.

51

Estudo de Ferraz e Ribeiro (2002) analisa um conjunto de 460 empresas exportadoras brasileiras, no qual 92 empresas realizaram IED destinados a apoiar as vendas externas. Os principais tipos de investimento externo são: representação comercial; canais de distribuição; e, atividades de produção local. A distribuição relativa das empresas segundo estes determinantes é 52,3%, 39,1% e 28,3%, respectivamente (Ibid, tabela 10, p. 668).

No que se refere ao IED no Brasil, há alguns estudos sobre a relação entre IED e comércio externo. Estudos representativos da literatura recente são Moreira (1999), Hiratuka (2002), Negri (2004), Negri e Acioly (2004) e Laplane e Negri (2004).

O estudo de Moreira (1999) analisa o desempenho no comércio externo de empresas estrangeiras comparativamente a empresas nacionais. A principal base de dados é o imposto de renda da pessoa jurídica e refere-se às empresas industriais no período 1996-98. Os dados mostram que as propensões médias a exportar e a importar das empresas estrangeiras são superiores às das empresas nacionais. Este fato é válido para o conjunto de setores e para os subconjuntos de setores intensivos em capital, trabalho e recursos naturais (Ibid, tabelas 12 e 14). Para ilustrar, a propensão média a exportar das empresas estrangeiras é de 12,2% em 1997, enquanto a propensão correspondente para as empresas nacionais é de 4,8%. As propensões médias a importar são 17,6% para as empresas estrangeiras e 9,6% para as empresas nacionais. No que se refere, aos fatores determinantes das exportações e das importações, verifica-se a influência da origem da propriedade e do tamanho da empresa.

A pesquisa de Hiratuka (2002) baseou-se em uma amostra de 96 empresas estrangeiras com dados para 1989 (pré-liberalização comercial) e 1997 (pós-liberalização comercial). A evidência empírica apresentada pelo autor indica que o desempenho de comércio exterior das empresas estrangeiras não tendeu, de modo geral, a reduzir a restrição de balanço de pagamentos do país. No contexto da liberalização comercial, verificou-se que a maior integração das empresas estrangeiras no sistema mundial de comércio apresentou um viés a favor das importações.

Os trabalhos de Negri (2004) e Laplane e Negri (2004) baseiam-se em uma base dados de 53860 empresas do setor industrial e refere-se ao período 1996-2000. Nesta base há 2238 empresas estrangeiras. Segundo Negri (2004), as empresas estrangeiras responderam por 27% do valor da produção industrial em 1996 e 42% em 2000 (Ibid, tabela 3.2, p. 42). Neste sentido, a abertura comercial brasileira também foi acompanhada por uma significativa abertura na esfera produtivo-real.

Os autores apresentam evidência a respeito da maior produtividade e maior escala das empresas estrangeiras. Estes dois atributos apontariam na direção de maior propensão a exportar e menor propensão a importar das empresas estrangeiras. Entretanto, a propensão média a exportar das empresas estrangeiras é de 16,5%, enquanto a propensão média a exportar das empresas nacionais é de 15,9% - o que caracteriza a ausência de uma diferença marcante na orientação exportadora de empresas estrangeiras e nacionais. Por outro lado, a propensão média a importar é de 15,9% para as empresas estrangeiras e de 8,6% para as empresas nacionais. Aqui, temos uma diferença bastante significativa. Os dados acima indicam que há diferença no comportamento (propensão) das empresas

52

estrangeiras e das empresas nacionais quanto às importações e que não há diferença marcante quanto às exportações.

Quanto aos determinantes do comércio externo (valores de exportação e de importação), a evidência aponta a influência da escala, nacionalidade e produtividade. Por outro lado, a qualificação da mão-de-obra não aparece como um fator determinante do comércio externo das empresas da amostra. Esta evidência é válida tanto para as empresas nacionais quanto para as empresas estrangeiras operando no país.

O estudo de Negri e Acioly (2004) parte da mesma base de dados mencionada acima, com uma amostra de 914 empresas estrangeiras e 11770 empresas brasileiras na indústria de transformação e dados para o período 1996-2000. A evidência para os valores médios dos dois grupos de empresas é a seguinte: as empresas estrangeiras são 8,4 vezes maiores do que as empresas nacionais se medidas pelo faturamento e 7,5 vezes maiores se medidas pelo valor agregado; as empresas estrangeiras parecem mais eficientes do que as empresas nacionais; o salário médio pago pelas empresas estrangeiras é maior do que o das empresas nacionais; a mão-de-obra empregada pelas empresas estrangeiras tem um nível mais elevado de escolaridade; o valor médio exportado pelas empresas estrangeiras é 5,5 vezes maior do que o das empresas nacionais; o valor médio importado pelas empresas estrangeiras é 6,6 vezes maior do que o das empresas nacionais (Ibid, tabelas 1 e 2).

Para concluir esta seção, vale notar que estudos sobre o desempenho comparativo das empresas estrangeiras e nacionais já chamavam a atenção para a necessidade de se isolar determinadas variáveis como, por exemplo, o tamanho e o tipo de produto (Gonçalves, 1983). Quando este tipo de procedimento metodológico é usado, principalmente, com a técnica dos pares combinados, a evidência não aponta para diferenças marcantes entre empresas estrangeiras e empresas nacionais. Ou seja, os fatores locacionais específicos parecem ser mais determinantes do desempenho do que os fatores específicos à propriedade, em que a origem do capital é, certamente, um dos mais relevantes.

5. Conclusões

A literatura internacional do passado recente têm tido como focos o impacto da liberalização comercial (penetração das importações) sobre algumas variáveis (e.g., nível e estrutura do emprego, e salários) e a relação entre abertura comercial (expansão das exportações) e crescimento econômico. Há, ainda, uma literatura sobre a abertura na esfera produtivo-real relacionada ao investimento externo direto e sua relação com o nível e estrutura do emprego e os salários. A literatura nacional tende, no geral, a acompanhar estes temas de análise.

A amostra de estudos que compõem a literatura internacional e a literatura nacional analisada nesta resenha aponta para resultados não-conclusivos. A percepção final é que o impacto da liberalização comercial sobre o emprego e temas correlatos depende da interação de variáveis locacionais específicas, ou seja, “cada caso é um caso”. A complexidade das interações no plano das relações de mercados de bens e de fatores de produção é influenciada, em não pequena medida, pela própria complexidade da interação entre as falhas de mercado e as políticas governamentais (inclusive, os erros destas políticas). Não é por outra razão,

53

que resenha recente sobre o tema (Lee, 2005) conclui com uma discussão de policy issues. E, inclusive, esta discussão abarca arranjos institucionais específicos como, por exemplo, os acordos internacionais de investimento, as agências de crédito à exportação e as instituições de financiamento do desenvolvimento (Penfold, 2004).

A análise de casos específicos deve valorizar as interações entre mercado externo e mercado interno, e entre mercado de bens e mercado de fatores. E, também, deve valorizar a influência das estratégias e políticas governamentais, bem como o papel das instituições sobre estas interações no curto prazo e no longo prazo. De fato, há uma complexa interação entre fatores de curto prazo e de longo prazo que pode alterar os resultados esperados de hipóteses específicas que desconsideram a dimensão temporal (Hoeven e Taylor, 2001).

No que se refere à liberalização na esfera produtivo-real, a teoria relativa ao impacto do IED sobre emprego, remuneração e qualificação da mão-de-obra é ainda menos robusta. O quadro analítico torna-se ainda mais complexo quando se considera a relação entre investimento externo direto e comércio externo. Estes fatos se expressam nos estudos empíricos que apresentam resultados não-conclusivos. A complexidade do fenômeno aponta para a situação já observada neste campo da análise da internacionalização da produção, ou seja, “cada caso é um caso”. Efeitos diretos e indiretos dependem da interação de conjuntos complexos de variáveis (algumas não-quantificáveis) que operam em níveis distintos (empresa e país). Neste sentido, no contexto de análises mais abrangentes e, ao mesmo tempo, profundas não é possível negligenciar dimensões próprias da economia política internacional (Oxfam, 2002).

No caso brasileiro, esta resenha mostra a existência de alguns trabalhos realizados no país e no exterior que trazem evidência a respeito do impacto do comércio externo. Ainda que a ênfase dos estudos recentes seja questão da liberalização comercial sobre emprego, remuneração e qualificação da mão-de-obra, há uma literatura que trata especificamente das exportações.

O padrão de comércio do país (padrão das exportações) não parece ter sido afetado significativamente pela abertura comercial. De modo geral, as exportações brasileiras caracterizam-se pela intensidade de recursos naturais. Quando se considera a intensidade no uso de mão-de-obra, a evidência indica que as exportações brasileiras são mais intensivas em mão-de-obra de pouca qualificação, enquanto as importações são mais intensivas em mão-de-obra qualificada.

No que se refere às empresas exportadoras, a evidência indica que estas empresas tendem, de modo geral, a ser empresas de maior porte e ter origem no exterior. Comparativamente às empresas não exportadoras, as empresas exportadoras tendem a usar mão de obra com maior nível de qualificação e pagar salários mais elevados.

No que se refere ao impacto da liberalização comercial sobre a economia brasileira, o efeito sobre o nível de emprego não é, em geral, significativo. O efeito mais significativo refere-se à maior demanda por mão-de-obra qualificada. Considerando progresso tecnológico, a abertura comercial reforçou o efeito positivo e significativo sobre a demanda de mão-obra qualificada. Em conseqüência, o salário da mão-de-obra mais qualificada aumentou comparativamente ao salário da mão-de-obra menos qualificada. Então, no contexto de liberalização comercial na década de 1990, não houve melhora no padrão de desigualdade da renda derivada do trabalho. Entretanto, a evidência disponível aponta que o impacto da maior

54

abertura externa (via exportação e importação) sobre a distribuição de renda não é significativa.

Há lacunas metodológicas que se preenchidas enriqueceriam a análise e proposições de alguns dos estudos examinados. Podemos mencionar, por exemplo, a abordagem mais direta dos novos modelos de comércio internacional, que incorporam temas como inovação, imperfeições de mercado e concorrência monopolística. Caberia, ainda, ênfase em indicadores de distribuição de renda como variáveis explicativas dos modelos econométricos apresentados, para melhor auferir as predições do modelo Stolper-Samuelson.

A principal conclusão a respeito da literatura sobre o Brasil é da necessidade de aprofundamento dos estudos. De forma ainda mais evidente, partindo da complexidade da relação entre IED e emprego, bem como da escassez relativa de estudos sobre o tema no Brasil, abre-se espaço para uma agenda de pesquisa. E, ademais, pode haver avanço na direção de se avaliar a relação entre, de um lado, o IED e a atuação de empresas estrangeiras e, do outro, o comércio externo. E, mais especificamente, cabe aprofundar o exame desta relação tendo como foco o impacto da atividade de comércio externo das empresas estrangeiras sobre emprego, remuneração e qualificação da mão-de-obra.

Na literatura brasileira, com poucas exceções, há escassez relativa de estudos que tratam do impacto das atividades de comércio externo do agronegócio. O próprio avanço do agronegócio e de suas atividades de exportação tem sido acompanhado da maior presença de empresas estrangeiras na produção e na exportação de produtos agrícolas. Neste sentido, é necessário explorar o campo de investigação a respeito das atividades de exportação e importação do agronegócio controlado por empresas estrangeiras e seu impacto sobre emprego, remuneração e qualificação da mão-de-obra.

55

Bibliografia

ACEMOGLU, Daron. Technical change, inequality and the labour market. Journal of Economic Literature, v. 40, p. 7-72, 2002.

AMADEO, E.; Néri, M. Houve precarização do setor serviços? Qualidades dos trabalhadores e empregos entre 1989 e 1996. Rio de Janeiro: PUC-Rio, Texto Discussão, n. 377, 1997.

ARBACHE, Jorge S.; NEGRI, J. A. de. Determinantes das exportações brasileiras: novas evidências. In: Encontro ANPEC, Anais 2002.

ARBACHE, Jorge Saba. Trade liberalization and labor markets in developing countries: theory and evidence. Rio de Janeiro: IPEA, Texto Discussão, n. 853, 2001.

ARBACHE, Jorge Saba. Comércio internacional, competitividade e mercado de trabalho: algumas evidências para o Brasil. In: Corseuil, Carlos Henrique; Kume, Honório. A Abertura Comercial Brasileira nos anos 1990. Impactos sobre Emprego e Salário. Rio de Janeiro: Ministério do Trabalho e Emprego, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2003, p. 115-167.

ARBACHE, Jorge Saba; CORSEUIL, Carlos Henrique. Liberalização comercial e estruturas de emprego e salário. Revista Brasileira de Economia, v. 58, n. 4, p. 485-505, 2004.

BALDWIN, Robert E. Openness and growth: What’s the empirical literature. Cambridge MA: National Bureau of Economic Research, NBER Working Paper n. 9578, 2003.

BALDWIN, Robert E. The effects of trade and foreign direct investment on employment and relative wages. OECD Economic Studies n. 23, Winter 1994.

BAUMANN, Renato; CANUTO, Otaviano; GONÇALVES, Reinaldo. Economia Internacional. Teoria e Experiência Brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Campus/Elsevier, 2004.

BERGGREN, Niclas; JORDAHL, Hendrik. Does free trade really reduce growth? Further testing using the economic freedom index. Uppsala: Department of Economics, Uppsala University, 2003.

BHORAT, Haroonm; LUNDALL, Paul. Employment and labour market effects of globalization. Selected issues for policy management. Genebra: International Labour Organization, Employment Strategy Papers, n. 3, 2004.

BNDES. Caracterização do processo de internacionalização de grupos econômicos privados brasileiros. Rio de Janeiro: BNDES, Série Pesquisas Empresariais, 1, nov. 1995.

BONELLI, R.; HAHN, L. Resenha dos estudos recentes das relações comerciais brasileiras. Rio de Janeiro: IPEA, Texto para Discussão n. 708, 2000.

BRASIL, H. V. et al. Pesquisa de campo sobre a internacionalização das empresas brasileiras. In: Brasil, H. V.; Arruda, C. (eds.). Internacionalização de empresas Brasileiras. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1996.

56

CARVALHO, José Luís; HADDAD, Cláudio L. S. Um índice de qualidade de mão-de-obra: uma aplicação do conceito de capital humano. Revista Brasileira de Economia, Rio de Janeiro, v. 31, n. 1, p. 31-43, janeiro-março 1977.

CARVALHO, Paulo Gonzaga M.; FEIJÓ, Carmem. Produtividade Industrial no Brasil: O Debate Recente e as Fontes de Dados. In: VI Encontro Nacional de Estudos do Trabalho, ABET, Anais,1999.

CASTILHO, Marta R. Impactos de acordos comerciais sobre a economia brasileira: resenha dos trabalhos recentes. Rio de Janeiro: IPEA, Texto para Discussão n. 936, 2002.

CASTILHO, Marta R. Integração regional e conteúdo de trabalho no comércio exterior brasileiro. Rio de Janeiro: IPEA, Texto para Discussão n. 936, 2004.

CAVES, Richard E. Multinational Enterprise and Economic Analysis. Cambridge: Cambridge University Press, 2ª. Edição, 1996.

CHANG, Ha-Joon. Chutando a Escada. A Estratégia do Desenvolvimento em Perspectiva Histórica. São Paulo: Editora Unesp, 2002.

CLEMENTS, Benedict J. The Heckscher-Ohlin Theorem: new empirical test for Brazil. The Journal of Applied Business Research, Winter, 1987.

CLEMENTS, Benedict J.; KIM, Kwan S. Foreign trade and income distribution. The case of Brazil. Kellogg Institute, Working Paper n. 108, March 1988.

CORSEUIL, Carlos Henrique; CURY, Samir. Estimativas da relação entre a abertura comercial e a estrutura de empregos e salários. In: CORSEUIL, Carlos Henrique; KUME, Honório. A Abertura Comercial Brasileira nos Anos 90. Impactos sobre Emprego e Salário. Rio de Janeiro: Ministério do Trabalho e Emprego, IPEA, 2003, p. 199-211.

CURRIE, J.; HARRISON, A. Sharing the costs: The impact of trade reform on capital and labor in Morocco. Journal of Labour Economics, vol. 15, July, p. S44-S72, 1997.

DAVIS, D. R. Trade liberalization and income distribution. Cambridge MA: National Bureau of Economic Research, NBER Working Paper n. 5693, 1996.

DEDECCA, C. Reorganização Econômica, Absorção de Mão-de-Obra e Qualificação. Revista de Economia Política, vol. 22, n. 2 (86), abr.-jun., 2002.

DESJONQUERES, Thibaut; MACHIN, Stephen; REENEN, John Van. Another nail in the coffin? Or can the trade based explanation of changing skill structures be resurrected? Scandinavian Journal of Economics, v. 101, n. 4, p. 533-554, 1999.

DIAS, Viviane Ventura. Las empresas brasileñas: internacionalizacón y ajuste a la globalización de los mercados. Santiago: Naciones Unidas, CEPAL, 1994 (Documento de Trabajo 33).

DIAS, Vivianne Ventura. What can we say about trade and growth when trade becomes a complex system? Santiago: United Nations, Economic Comission for Latin America and the Caribbean, ECLAC, International Trade and Integration Division, Série Comércio Internacional n. 27, 2003.

DOLLAR, David; COLLIER, P. Globalization, Growth and Poverty. Building an Inclusive World. Washington D.C: World Bank; New York: Oxford University Press, 2001.

57

DOMINGUES, Edson Paulo; LEMOS, Mauro Borges. Regional impacts of trade liberalization strategies in Brazil. Belo Horizonte: Cedeplar, Universidade Federal de Minas Gerais, Texto para Discussão n. 234, 2004.

DOMINGUES, Edson. P.; LEON, Fernanda. L. L.; HADDAD, Eduardo A. Impacto das exportações sobre a estrutura setorial e de qualificação do emprego no Brasil. Revista ANPEC, v. 2, n. 1, jan-jun, p. 259-290, 2001.

ERNST, Christoph. Trade liberalization, export orientation and employment in Argentina, Brazil and Mexico. Genebra: International Labour Organization, Employment Strategy Papers, n. 15, 2005.

FEENSTRA, Robert C. Introduction. Journal of International Economics, Special edition, n. 54, p. 1-3, 2001.

FEENSTRA, Robert C.; HANSON, Gordon H. Global production sharing and rising wage inequality. A survey of trade and wages. Cambridge MA: National Bureau of Economic Research, NBER Working Paper n. 8372, July 2001.

FERRAZ, Galeno T.; RIBEIRO, Fernando J. Um levantamento de atividades relacionadas às exportações das empresas brasileiras: Resultados de pesquisa de campo com 460 empresas exportadoras. In: Pinheiro, A. C.; Markwald, R.; Pereira, L. V. O Desafio das Exportações. Rio de Janeiro: BNDES, 2002, p. 621-702.

FERREIRA, P. C.; GUILLÉN, O. T. Estrutura competitiva, produtividade industrial e liberalização comercial no Brasil. Revista Brasileira de Economia, v. 58, n. 4, p. 507-532, 2004.

FRENKEL, Roberto; MARTIN, Rozada González. Balance-of-payments liberalization: effects on growth, employment and income in Argentina. CEPA, WP n. 13, February 2000.

GIOVANNETTI, Bruno; MENEZES Filho, Naércio Aquino. Liberalização comercial e demanda por trabalho qualificado no Brasil. Encontro ANPEC, Anais, 2005.

GOLDBERG, Pinelopi Koujianou; PAVCNIK, Nina. Trade, inequality, and poverty: What do we know? Evidence from recent trade liberalization episodes in developing countries. MA: National Bureau of Economic Research, NBER Working Paper n. 10593, 2004.

GONÇALVES, Reinaldo. Economia Política Internacional. Fundamentos Teóricos e as Relações Internacionais do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Elsevier, 2005.

GONÇALVES, Reinaldo. Globalização e Desnacionalização. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1999.

GONÇALVES, Reinaldo. Impacto macroeconômico das empresas transnacionais no Brasil. In: LACERDA, Antônio Corrêa de (org.). Crise e Oportunidade: O Brasil e o cenário internacional. São Paulo: Editora Lazuli, 2006.

GONÇALVES, Reinaldo. Lucratividade na indústria de transformação: empresas multinacionais versus nacionais privadas, Revista Brasileira de Economia, vol. 37, n. 2, p. 207-224, abr./jun. 1983.

GONÇALVES, Reinaldo. O Brasil e o Comércio Internacional. Transformações e Perspectivas. São Paulo: Ed. Contexto, 2000.

58

GONÇALVES, Reinaldo; RICHTERING, Jurgen. Intercountry comparison of export performance and output growth. The Developing Economies, vol. 25, n. 1, March 1987, p. 3-18.

GONZAGA, G.; MENEZES Filho, N.; TERRA, M. Trade liberalization and the evolution of skill earnings differentials in Brazil. Rio de Janeiro: PUC-Rio, Texto Discussão, n. 503, 2005.

GONZAGA, G.; Terra, M.; CAVALCANTE, J. O Impacto de Mercosul sobre a Emprego Setorial no Brasil. Rio de Janeiro: PUC-Rio, Texto Discussão, n. 0382, 1997.

GOULART, L.; BRASIL, H. V.; ARRUDA, C. A. A evolução na dinâmica de internacionalização. Revista Brasileira de Comércio Exterior, Rio de Janeiro, n. 41, out./dez. 1994.

GREENAWAY, D., MORGAN, W.; WRIGHT, P. Trade reform, adjustment and growth: What does the evidence tell us? Economic Journal, vol. 108 (450), p. 1547-1561, September 1998.

GUIMARÃES, Eduardo Augusto. The activities of Brazilian firms abroad. In: Oman, Charles (ed.). New Forms of Overseas Investment by Developing Countries: \The Case of India, Korea and Brazil. Paris: OECD, 1986.

HIDALGO, Álvaro Barrantes. Intensidades fatoriais na economia brasileira: novo teste empírico do teorema de Heckscher-Ohlin. Revista Brasileira de Economia, v. 30, n. 1, p. 27-55, jan.-mar. 1985.

HIRATUKA, Célio. Empresas transnacionais e comércio exterior. Uma análise das estratégias das filiais brasileiras no contexto da abertura econômica. Tese (Doutorado), Instituto de Economia, Universidade de Campinas, 2002.

HOEKMAN, Bernard; WINTERS, L. Alan. Trade and employment: stylized facts and research findings. Nova York: United Nations, Department of Economic and Social Affairs, DESA Working Paper N. 7, November, 2005.

HOEVEN, Rolph van der; TAYLOR, Lance. Employment and labour market policies in an era of structural adjustment. In: R. Clarke, C. Kirkpatrick e C. Polidano (eds.), Handbook on Development Policy and Management. Cheltenham: Edward Elgar Publications, 2001.

HOLLAND, Márcio; XAVIER, Clésio Lourenço. Dinâmica e competitividade setorial das exportações brasileiras: uma análise de painel para o período recente. Encontro ANPEC, Anais, 2004.

HOOD, Neil; YOUNG, Stephen. The Economics of Multinational Enterprise. Londres, Longamn, 1979.

IGLESIAS, Roberto Magano; VEIGA, Pedro da Motta. Promoção de exportações via internacionalização das firmas de capital brasileiro. In: PINHEIRO, A.C.; MARKWALD, R.; PEREIRA, L. V. (orgs.) O Desafio das Exportações. Rio de Janeiro: BNDES, p. 367-446, 2002.

ILO. Multinationals and employment: The Global Economy of the 1990s. Genebra: International Labour Organization, 1993.

59

ILO. A Fair Globalization: Creating Opportunities for All. Report World Commission on the Social Dimension of Globalization, Genebra: International Labour Organization, 2004.a.

ILO. Trade, foreign investment and productive employment in developing countries. Genebra: International Labour Organization, Governing Body, Committee on Employment and Social Policy, GB.291/ESP/2, 291st Session, November, 2004.b.

ILO. Research Programme. Globalization and Employment. Effects of FDI and ME activities on Employment, Wages and Working Conditions. Genebra: International Labour Organization, Disponível: http://www.ilo.org. Acesso: 20 de março de 2006.

ILO. Global Employment Trends. Brief, January 2006. Genebra: International Labour Organization, 2006. Disponível: http://www.ilo.org. Acesso: 25 de março de 2006.

ILO. Tripartite Declaration of Principles concerning Multinational Enterprises and Social Policy. International Labour Organization, Genebra: International Labour Organization, Disponível: http://www.ilo.org. Acesso: 28 de março de 2006.

JOHNSON, G.; STAFFORD, F. The labour market implications of international trade. In: Ashenfelter, O. C.; Card, D. (eds.). Handbook of Labour Economics, v.3b. North-Holland, Amsterdam, 1999.

KLEIN, M.; SCHUH, S.; TRIEST, R. Job creation, job destruction and international competition: a literatura review. Federal Reserve Bank of Boston, Working Paper, N. 02-7, 2002.

KRUEGER, Anne O. et al. Trade and Employment in Developing Countries. Vol. I, Individual Countries. Chicago: Chicago University Press, 1981.

LACERDA, Antônio Corrêa de (org.) Crise e Oportunidade: O Brasil e o cenário internacional. São Paulo: Editora Lazuli, 2006.

LACERDA, Antônio Corrêa de. Globalização e Investimento Estrangeiro no Brasil. São: Editora Saraiva, 2004.

LACERDA, Antônio Corrêa de; et al. (Des)emprego e Globalização: Avaliação e Perspectivas. São Paulo: Educ, Cadernos PUC n. 7, 1998.

LAPLANE, Mariano F.; NEGRI, Fernanda de. Impactos das empresas estrangeiras sobre o comércio exterior brasileiro: evidências da década de 90. Curitiba: UFPR, Economia, v. 30, n. 1 (28), p. 31-48, jan-jun, 2004.

LEE, Eddy (ed.). Export-led Industrialisation and Development. Genebra: International Labour Organization, Asian Development Programme, 1981.

LEE, Eddy. Trade liberalization and employment. Nova York: United Nations, Department of Economic and Social Affairs, DESA Working Paper n. 5, ST/ESA/2005/DWP/5, October 2005.

LEVINSOHN, J. Employment responses to international liberalization in Chile. Journal of International Economics, n. 47, p. 321-344, 1999.

LYDALL, H. F. Trade and Employment. Genebra: International Labour Organization,1975.

MACHADO, Danniel Lafetá. A qualificação da mão-de-obra no comércio internacional brasileiro: um teste do teorema de Heckscher-Ohlin. Rio de Janeiro, BNDES, 1997.

60

MAIA, Katy. O impacto do comércio internacional, da mudança tecnológica e da demanda final na estrutura do emprego, por nível de qualificação, no Brasil, 1985-1995. Encontro ANPEC, Anais, 2001.

MAJID, Nomaan. What is the effect of trade openness on wages? Genebra: International Labour Organization, Employment Strategy Papers, n. 18, 2004.

MARKWALD, Ricardo A. O impacto da abertura comercial sobre a indústria brasileira: balanço de uma década. Revista Brasileira de Comércio Exterior, Rio de Janeiro, n. 68, p. 4-25, jul./set. 2001.

MARKWALD, Ricardo; MACHADO, João Bosco. Brasil-União Européia e Brasil-Estados Unidos: Especificidades do padrão de comércio. Revista Brasileira de Comércio Exterior, n. 58, p. 47-53, jan./mar., 1999.

MCCOMBIE, J. S. L.; THIRLWALL, A. P. Economic Growth and the Balance-of-Payments Constraint. Nova York: St. Martins Press, 1994.

MOREIRA, M.; NAJBERG, S. Abertura Comercial: Criando ou Exportando Empregos? Rio de Janeiro: BNDES, Texto de Discussão, n. 59, 1997.

MOREIRA, Mauricio Mesquita. Estrangeiros em uma economia aberta: impactos recentes sobre a produtividade, a concentração e o comércio exterior. In: GIAMBIAGI, Fábio; MOREIRA, Mauricio M. (orgs.) A Economia Brasileira no Anos 90. Rio de Janeiro: BNDES, 1999.

MOREIRA, Mauricio Mesquita; NAJBERG, Sheila. Trade liberalisation in Brazil: Creating or exporting jobs? The Journal of Development Issues, Vol. 36, n. 3, 2000.

NASSIF, A. Liberalização Comercial e Eficiência Econômica: A Experiência Brasileira. Rio de Janeiro, Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Tese (Doutorado), 2003.

NAYYAR, Deepak. Globalisation, history and development: a tale of two centuries. Cambridge Journal of Economics, v. 30, p. 137-159, 2006.

NEGRI, Fernanda de. Inovação tecnológica e exportações das firmas brasileiras. Encontro ANPEC, Anais, 2005.a.

NEGRI, Fernanda de. O perfil dos exportadores industriais brasileiros para a China. Brasília: IPEA, Texto para Discussão n. 1091, 2005.b.

NEGRI, Fernanda de. Desempenho Comercial das Empresas Estrangeiras no Brasil na década de 90. Rio de Janeiro: BNDES, 2004.

NEGRI, Fernanda de. Desempenho comercial das empresas estrangeiras no Brasil na década de 90. Instituto de Economia, Universidade de Campinas, Campinas, Dissertação (Mestrado), 2003.

NEGRI, João Alberto de; FREITAS, Fernando. Inovação tecnológica, eficiência de escala e exportações brasileiras. Brasília: IPEA, Texto para Discussão n. 1044, 2004.

NEGRI, João Alberto de; ACIOLY, Luciana. Novas evidências sobre os determinantes do investimento externo na indústria de transformação. Brasília: IPEA, Texto para Discussão n. 1019, 2004.

NONNENBERG, Marcelo. Vantagens comparativas reveladas, custo relativo de fatores e intensidade de recursos naturais: resultados para o Brasil – 1980/88.

61

Pesquisa e Planejamento Econômico, Rio de Janeiro, v. 25, n. 2, p. 373-404, agosto 1995.

OXFAM. Mudar as Regras. Comércio, Globalização e Luta contra a Pobreza. Brasília: Oxfam, 2002.

PALMA, Gabriel. Trade liberalization in Mexico: Its Impact on Growth, Employment and Wages. Genebra: International Labour Organization, Employment Paper n. 55, 2003.

PALOMINO, HÉCTOR. Los efectos de la apertura comercial sobre las relaciones laborales en Argentina. In: TOLEDO, Enrique de la Garza; SALAS, Carlos (orgs.). Nafta y Mercosur. Procesos de Apertura Económica y Trabajo. Buenos Aires: Clacso, 2003, p. 167-184.

PAVCNIK, N.; BLOM, A.; GOLDBERG, P.; e SCHADY, N. Trade Liberalization and Labor Market Adjustment in Brazil. Washington: World Bank, Working Paper, n. 2982. 2003.

PENFOLD, Bonnie. Labour and employment issues in foreign direct investment: Public support conditionalities. Genebra: International Labour Organization, Working Paper n. 95, 2004.

PETERS, Enrique Dussel. Efectos de la apertura comercial en el empleo y el mercado laboral de México y sus diferencias com Argentina y Brasil. Genebra, International Labour Organization, Employment Strategy Papers, n. 10, 2004.

PINHEIRO, Armando C.; MOREIRA, Maurício Mesquita. O perfil dos exportadores brasileiros de manufaturados nos anos 90: quais as implicações de política? Rio de Janeiro: BNDES, Texto para Discussão 80, 2000.

POCHMANN, Márcio. O Emprego na Globalização. São Paulo: Editora Boitempo, 2001.

POCHMANN, Márcio. Efeitos da internacionalização do capital no mundo do trabalho no Brasil. In: TOLEDO, Enrique de la Garza; SALAS, Carlos (orgs.). Nafta y Mercosur. Procesos de Apertura Económica y Trabajo. Buenos Aires: Clacso, 2003, p. 185-214.

PONCIANO, Niraldo José; CAMPOS, Antônio Carvalho. Eliminação dos impostos sobre as exportações do agronegócio e seus efeitos no comportamento da economia. Revista Brasileira de Economia, v. 57, n. 3, p. 637-658, 2003.

RAPOSO, Daniela Almeida; MACHADO, Ana Flávia. Abertura comercial e mercado de trabalho: resenha bibliográfica. Belo Horizonte, UFMG, CEDEPLAR, Texto para Discussão 177, 2002.

RATTSO, J.; TORVIL, R. Zimbabwean trade liberalization: Ex-post evaluation. Cambridge Journal of Economics, n. 22, May, p. 325-346, 1998.

RAVENGA, A. Employment and wage effects of trade liberalization: The case of Mexican manufacturing. Washington DC: World Bank, 1994.

ROCCA, C.; BARROS, J. Recursos humanos e estrutura do comércio exterior. Estudos Econômicos, v. 2, n. 3, p. 89-110, outubro 1972.

RODRIGUEZ, Francisco; RODRIK, Dani. Trade policy and economic growth. A skeptics guide to cross-national evidence. Cambridge MA: National Bureau of Economic Research, NBER Working Paper n. 7081, April 1999.

62

SALAS, Carlos. Integración económica, empleo y salários en México. In: TOLEDO, Enrique de la Garza; SALAS, Carlos (orgs.). Nafta y Mercosur. Procesos de Apertura Económica y Trabajo. Buenos Aires: Clacso, 2003, p. 55-76.

SALES, Adriana S. Vantagens comparativas e padrão de comércio exterior brasileiro: uma análise empírica com ênfase no modelo Heckscher-Ohlin. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1993 (Dissertação de Mestrado).

SHAFAEDDIN, S. M. Trade liberalization and economic reform in developing countries: Structural change or de-industrialization? UNCTAD/OSG/DP/2005/3, UNCTAD Discussion Papers No. 179, April 2003.

TOKMAN, V. Libre Comercio y Estandares Laborales: Un Vínculo en Evolución. Gabinete de la Presidencia de la Republica de Chile. Santiago: BID, 2003.

TOLEDO, Enrique de la Garza; SALAS, Carlos (orgs.). Nafta y Mercosur. Procesos de Apertura Económica y Trabajo. Buenos Aires: Clacso, 2003.

TYLER, W. G. O comércio de manufaturados e a participação do trabalho especializado. Estudos Econômicos, v. 2, n. 5, p. 129-154, outubro 1972.

UL HAQUE, I. “Globalization, Neoliberalism and Labor.” Genebra: United Nations Conference on Trade and Development, Discussion Paper, n. 173, 2004.

UNCTAD. World Investment Report. Transnational Corporations, Employment and the Workplace. Genebra: United Nations Conference on Trade and Development, 1994.

UNCTAD. Trade and Development Report 1995. Genebra: United Nations Conference on Trade and Development, 1995.

UNCTAD. Trade and Development Report. Globalization, Distribution and Growth. Genebra: United Nations Conference on Trade and Development, 1997.

UNCTAD. World Investment Report. Foreign Direct Investment and the Challenge of Development. Genebra: United Nations Conference on Trade and Development, 1999.

UNCTAD. Trade and Development Report. Developing Countries in World Trade. Genebra: United Nations Conference on Trade and Development, 2002.

UNCTAD. Trade and Development Report 2005. New Features of Global Interdependence. Genebra: United Nations Conference on Trade and Development, 2005.a.

UNCTAD. Investment Policy Review. Brazil. Genebra: United Nations Conference on Trade and Development. UNCTAD/ITE/IPC/MISC/2005/1, 2005.b.

VERAS, Fábio. The impact of trade liberalisation on the informal sector in Brazil. Brasília: Departamento de Economia, Universidade de Brasília, Textos para Discussão n. 134, 2004.

WINTERS, L. Alan. Trade and poverty: Is there a connection? In: WTO, Trade, Income Disparity and Poverty. Genebra: World Trade Organization, Special Study n. 5, 2000.

WOOD, A. Openness and wage inequality in developing countries: the Latin American Challenge to East Asian conventional wisdom. In: R. Baldwin et al (eds.)

63

Market Integration, Regionalism and Global Economy. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.

ZOCKUN, Maria Helena. Desnacionalização e vulnerabilidade externa. In: Lacerda, Antônio Corrêa de (org.). Desnacionalização. Mitos e Desafios. São Paulo: Editora Contexto, 2000, p. 91-104.

64

ANEXO

RESULTADOS NUMÉRICOS RELEVANTES

Quadro 1: Brasil – Vantagem comparativa em produtos intensivos recursos naturais

Coeficiente direto de recursos naturais segundo o índice de vantagem comparativa

VCR CDRN

10+ 0,2685

10- 0,0189

20+ 0,2499

20- 0,0803

Notas: VCR – índice de vantagem comparativa revelada (formula de Lafay). CDRN – coeficiente direto de recursos naturais. Dados da matriz de insumo-produto de 1980. Definido como a participação dos produtos da agropecuária e da indústria extrativa no custo intermediário total de cada atividade. 10+ refere-se aos 10 produtos com maior VCR e 10- aos 10 produtos com menor VCR. Fonte: NONNENBERG, Marcelo. Vantagens comparativas reveladas, custo relativo de fatores e intensidade de recursos naturais: resultados para o Brasil – 1980/88. Pesquisa e Planejamento Econômico, Rio de Janeiro, v. 25, n. 2, p. 373-404, agosto 1995, tabela 8, p. 397.

65

Quadro 2: Brasil – Produtos de exportação intensivos em mão-de-obra menos qualificada e produtos de importação intensivos em mão-de-obra mais qualificada

Conteúdo médio de mão-de-obra implícito nas exportações e nas importações segundo o grau de qualificação da mão-de-obra

Mão-de-obra mais qualificada

(Q)

Mão-de-obra menos qualificada

(PQ)

Exportações (Lx) 0,0116 2,6379

Importações (Lm) 0,0117 1,3962

Relações

LxQ / LxPQ

LmQ / LmPQ

0,0044

0,0084

Nota: Requisitos diretos e indiretos de mão-de-obra necessários ao aumento de CR 1 milhão na demanda final. Fonte: MACHADO, Danniel Lafetá. A qualificação da mão-de-obra no comércio internacional brasileiro: um teste do teorema de Heckscher-Ohlin. Rio de Janeiro, BNDES, 1997, tabela 5.7, p. 82.

66

Quadro 3: Brasil – Aumento relativo dos requisitos de mão-de-obra mais qualificada no setor exportador entre os períodos pré e pós-liberalização comercial

Produtos de exportação tendem a ser mais intensivos no uso de mão-de-obra menos qualificada do que os produtos de importação

Distribuição da mão-de-obra empregada nas exportações e no setor substituidor de importações (em percentagem)

Mão-de-obra menos qualificada

Mão-de-obra mais qualificada

Total

1985 Exportações 96,2 3,8 100 Importações 93,0 7,0 100 1995 Exportações 95,2 4,8 100 Importações 92,9 7,1 100

Crescimento percentual do emprego no setor as exportações e no setor substituidor de importações (1995 comparativamente a 1985)

Mão-de-obra menos qualificada

(A)

Mão-de-obra mais qualificada

(B)

Proporção entre as taxas de crescimento

(B/A) Exportações 6,2 33,2 5,35 Importações 129,8 132,1 1,02

Nota: Dados do IBGE da matriz insumo-produto e da PNAD em 1985 e 1995.

Fonte: MAIA, Katy. O impacto do comércio internacional, da mudança tecnológica e da demanda final na estrutura do emprego, por nível de qualificação, no Brasil, 1985-1995. Encontro ANPEC, Anais, 2001, tabelas 3 e 4.

67

Quadro 4: Brasil – A liberalização comercial teve maior efeito negativo sobre o emprego da mão-de-obra menos qualificada do que sobre obra a mão-de-obra mais qualificada

Requisitos de mão-de-obra (número de trabalhadores empregados, mil)

Exportação Importação Proporção exportação / Importação

Pré-liberalização (1985)

Mão-de-obra menos qualificada 4515 1419 3,18

Mão-de-obra mais qualificada 181 107 1,69

Pós-liberalização (1995)

Mão-de-obra menos qualificada 4794 3261 1,47

Mão-de-obra mais qualificada 241 249 0,97

Nota: Dados do IBGE da matriz insumo-produto e da PNAD em 1985 e 1995.

Fonte: MAIA, Katy. O impacto do comércio internacional, da mudança tecnológica e da demanda final na estrutura do emprego, por nível de qualificação, no Brasil, 1985-1995. Encontro ANPEC, Anais, 2001, tabelas 3 e 4.

68

Quadro 5: Distribuição, padrão e conteúdo de trabalho no comércio exterior brasileiro por parceiro comercial, segundo o grau de qualificação de mão-de-obra - 1999 e 2001 Diferenças marcantes no padrão de comércio exterior brasileiro segundo o parceiro comercial – os produtos exportados para a União Européia são mais intensivos em recursos naturais. Distribuição do comércio exterior brasileiro, segundo o parceiro comercial, percentual do valor total UE EUA Mercosu

l Outros Total

Exportação 27,3 24,0 13,2 35,5 100,0 Importação 27,3 23,3 13,4 36,0 100,0 Padrão do comércio exterior brasileiro, segundo o parceiro comercial e o setor (em % do total de cada parceiro) Exportação UE EUA Mercosul Agropecuária e produtos alimentares 43,4 9,4 9,8 Indústria extrativa mineral, inclusive petróleo 9,6 2,5 2,4 Outras indústrias 47,0 88,1 87,8 Total 100,0 100,0 100,0 Importação Agropecuária e produtos alimentares 3,3 1,4 32,7 Indústria extrativa mineral, inclusive petróleo 0,2 1,9 9,4 Outras indústrias 96,5 96,7 57,9 Total 100 100 100 Conteúdo de trabalho no comércio exterior brasileiro por parceiro comercial, segundo o grau de qualificação de mão-de-obra O comércio exterior com a União Européia tem maior impacto sobre a geração de emprego, principalmente de mão-de-obra menos qualificada. Quantidade de trabalho embutido no comércio exterior (em mil empregos) Exportações UE EUA Mercosul Outros Total Mão-de-obra menos qualificada 1884 813 404 1841 4942 Mão-de-obra mais qualificada 625 517 273 770 2185 Total 2509 1330 677 2611 7127

Importações Mão-de-obra menos qualificada 574 426 762 697 2459 Mão-de-obra mais qualificada 520 418 258 597 1793 Total 1094 844 1020 1294 4252

Saldo Mão-de-obra menos qualificada 1309 388 -358 1144 2483 Mão-de-obra mais qualificada 106 99 15 172 392 Total 1415 487 -343 1316 2875 Notas: Dados do IBGE de emprego para 1999 e 2001 das Contas Nacionais e da PNAD e dados de produção para 1996. Mão-de-obra menos qualificada refere-se a trabalhadores com até 7 anos de estudo. E, mão-de-obra mais qualificada refere-se a trabalhadores com mais de 7 anos de estudo.

Fonte: CASTILHO, Marta R. Integração regional e conteúdo de trabalho no comércio exterior brasileiro. Rio de Janeiro: IPEA, Texto para Discussão n. 936, 2004, tabelas 2 e 5.

69

Quadro 6: Composição e conteúdo de trabalho no comércio exterior brasileiro por parceiro comercial, segundo o grau de qualificação de mão-de-obra O comércio exterior com a União Européia tem maior impacto sobre a geração de emprego para a mão-de-obra menos qualificada. Distribuição percentual Exportações UE EUA Mercosul Outros Total Mão-de-obra menos qualificada 75,1 61,1 59,7 70,5 69,3 Mão-de-obra menos qualificada 24,9 38,9 40,3 29,5 30,7 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Importações Mão-de-obra menos qualificada 52,5 50,5 74,7 53,9 57,8 Mão-de-obra mais qualificada 47,5 49,5 25,3 46,1 42,2 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Saldo Mão-de-obra menos qualificada 92,5 79,7 -104,4 86,9 86,4 Mão-de-obra mais qualificada 7,5 20,3 4,4 13,1 13,6 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

O saldo líquido de emprego gerado pelo comércio exterior representa 4,8% do emprego total do país e metade deste impacto é decorrente do comércio com a União Européia. O Mercosul tem um efeito líquido negativo sobre o emprego da mão-de-obra menos qualificada. Participação no emprego total no país (%) Exportações UE EUA Mercosul Outros Total Mão-de-obra menos qualificada 3,1 1,4 0,7 3,1 8,2 Mão-de-obra mais qualificada 1,0 0,9 0,5 1,3 3,6 Total 4,2 2,2 1,1 4,3 11,9

Importações Mão-de-obra menos qualificada 1,0 0,7 1,3 1,2 4,1 Mão-de-obra mais qualificada 0,9 0,7 0,4 1,0 3,0 Total 1,8 1,4 1,7 2,2 7,1

Saldo Mão-de-obra menos qualificada 2,2 0,6 -0,6 1,9 4,1 Mão-de-obra mais qualificada 0,2 0,2 0,0 0,3 0,7 Total 2,4 0,8 -0,6 2,2 4,8 Notas: Dados do IBGE de emprego para 1999 e 2001 das Contas Nacionais e da PNAD e dados de produção para 1996. Mão-de-obra menos qualificada refere-se a trabalhadores com até 7 anos de estudo. E, mão-de-obra mais qualificada refere-se a trabalhadores com mais de 7 anos de estudo.

Fonte: CASTILHO, Marta R. Integração regional e conteúdo de trabalho no comércio exterior brasileiro. Rio de Janeiro: IPEA, Texto para Discussão n. 936, 2004, tabela 5.

70

Quadro 7: Empresas estrangeiras e comércio exterior brasileiro - Coeficientes de exportação e importação, 1995 e 2000 (em percentagem)

Crescente importância do comércio intrafirma e crescente participação das ETs no comércio exterior brasileiro Exportações 1995 2000 ETs/total Brasil 46,8 60,4 Comércio intrafirma / total ETs 41,7 63,3 Comércio intrafirma / total Brasil 19,5 38,2 Propensão a exportar de ETs 11,5 15,4 Propensão a exportar de ETs na indústria 15,0 23,2

Importações ETs/total Brasil 38,8 56,6 Comércio intrafirma / total ETs 44,0 57,8 Comércio intrafirma / total Brasil 17,1 32,7 Propensão a importar de ETs 10,2 14,6 Propensão a importar de ETs na indústria 13,7 20,5 Notas: ETs – filiais e subsidiárias de empresas estrangeiras no país. Propensão a exportar das ETs = exportação/receita operacional liquida Propensão a importar das ETs = Importação/receita operacional liquida

Fonte: Elaboração do autor com base em LACERDA, Antônio Corrêa de. Globalização e Investimento Estrangeiro no Brasil. São: Editora Saraiva, 2004, tabelas 5.1 e 5.2.