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COMENTÁRIOS AO PROJETO DE LEI N. 8.046/2010 PROPOSTA DE UM NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL Elaine Harzheim Macedo Organizadora

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  • COMENTÁRIOS AO PROJETO DE LEI N. 8.046/2010PROPOSTA DE UM NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

    Elaine Harzheim Macedo Organizadora

  • COMENTÁRIOS AO PROJETO DE LEI N. 8.046/2010PROPOSTA DE UM NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

  • ChancelerDom Dadeus Grings

    ReitorJoaquim Clotet

    Vice-ReitorEvilázio Teixeira

    Conselho EditorialAna Maria Lisboa de MelloAugusto BuchweitzBeatriz Regina DorfmanBettina Steren dos SantosClarice Beatriz de C. SohngenCarlos Graeff TeixeiraElaine Turk FariaÉrico João HammesGilberto Keller de Andrade Helenita Rosa FrancoIr. Armando Luiz BortoliniJane Rita Caetano da SilveiraJorge Luis Nicolas Audy – Presidente Lauro Kopper FilhoLuciano KlöcknerNédio Antonio SeminottiNuncia Maria S. de Constantino

    EDIPUCRSJerônimo Carlos Santos Braga – DiretorJorge Campos da Costa – Editor-Chefe

  • 2012

    COMENTÁRIOS AO PROJETO DE LEI N. 8.046/2010PROPOSTA DE UM NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

    Elaine Harzheim Macedo Organizadora

  • C732 Comentários ao projeto de lei n. 8.046/2010 [recurso eletrônico] : proposta de um novo código de processo civil / org. Elaine Harzheim Macedo. – Dados Eletrônicos. – Porto Alegre : EDIPUCRS, 2012. 603 p.

    ISBN 978-85-397-0300-5 Sistema requerido: Adobe Acrobat Reader Modo de Acesso: 1. Direito Processual Civil - Brasil. 2. Código de Processo Civil – Brasil - Comentários. I. Macedo, Elaine Harzheim.

    CDD 341.4602681

    © EDIPUCRS, 2012

    Rodrigo Braga dos autores

    Rodrigo Valls

    EDIPUCRS – Editora Universitária da PUCRSAv. Ipiranga, 6681 – Prédio 33Caixa Postal 1429 – CEP 90619-900 Porto Alegre – RS – BrasilFone/fax: (51) 3320 3711e-mail: [email protected] - www.pucrs.br/edipucrs

    TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos. Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos, do Código Penal), com pena de prisão e multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos direitos Autorais).

  • PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SULFACULDADE DE DIREITOPROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO – MESTRADO E DOUTORADOGRUPO DE PESQUISA JURISDIÇÃO, EFETIVIDADE E INSTRUMENTALIDADE DO PROCESSO

    Coordenadores: Profª. Drª. Elaine Harzheim MacedoProf. Dr. José Maria Rosa Tesheiner Prof. Dr. Sérgio Gilberto Porto

    Secretária: Mestranda Fernanda dos Santos MacedoLocal de reunião: PUCRS, Prédio 11, sala 1039 Dias de reunião: sextas-feirasHorário: das 12h às 13h

    REVISORESProfessora Doutora Elaine Harzheim MacedoMestranda Fernanda dos Santos MacedoMestranda Liane Slaviero RamosMestranda Roberta ScalzilliMestranda Shana Serrão FensterseiferWalter Tierling Neto

    Artigos produzidos pelos integrantes do Grupo de Estudo/Pesquisa no ano de 2011.

  • SUMÁRIO

    APRESENTAÇÃO .................................................................................................................10Elaine Harzheim Macedo

    CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ...........................................................................................12

    ARTIGOS 1º A 12 ...................................................................................................................23Sérgio Gilberto Porto

    ARTIGOS 13 A 15 .............................................................................................................33José Maria Rosa Tesheiner e Frederico L. de Carvalho Freitas

    ARTIGOS 16 A 20 .............................................................................................................35José Maria Rosa Tesheiner

    ARTIGOS 21 A 24 ..............................................................................................................37José Maria Rosa Tesheiner

    ARTIGOS 25 A 41 .............................................................................................................40Sueli Chies

    ARTIGOS 42 A 46 ..............................................................................................................48José Maria Rosa Tesheiner

    ARTIGOS 47 A 53 ...............................................................................................................51José Maria Rosa Tesheiner

    ARTIGOS 54 A 69 .................................................................................................................55Deise Nicola Tanger Jardim

    ARTIGOS 70 A 111 ................................................................................................................63Mauricio Schuch

    ARTIGOS 112 A 153 .............................................................................................................82Walter Tierling Neto

    ARTIGOS 154 A 162 .............................................................................................................98Larissa Pilar Prado

    ARTIGOS 163 A 166 ............................................................................................................103Francisco M. Moreira e Walter Tierling Neto

    ARTIGOS 167 A 169 ............................................................................................................106Deise Nicola Tanger Jardim e Walter Tierling Neto

    ARTIGOS 170 A 178 ...........................................................................................................108Francisco M. Moreira e Walter Tierling Neto

  • ARTIGOS 179 A 204 ...........................................................................................................111Fernanda dos Santos Macedo

    ARTIGOS 205 A 228 ...........................................................................................................120Shana Serrão Fensterseifer

    ARTIGOS 229 A 250 ...........................................................................................................137Shana Serrão Fensterseifer

    ARTIGOS 251 A 258 ...........................................................................................................149Rafael Moraes

    ARTIGOS 259 A 268 ..........................................................................................................152Walter Tierling Neto

    ARTIGOS 269 A 286 ...........................................................................................................157Débora Minuzzi

    ARTIGOS 287 A 291 ..........................................................................................................175Adriane Barbosa Oliveira

    ARTIGOS 292 A 306 ..........................................................................................................179Geovana Specht Vital da Costa

    ARTIGO 307 .......................................................................................................................186Geovana Specht Vital da Costa

    ARTIGOS 308 A 322 ..........................................................................................................189Cláudia Ariane Espich da Silva e Roberta Scalzilli

    ARTIGOS 323 A 352 ...........................................................................................................195Fernanda dos Santos Macedo

    ARTIGOS 353 A 366 ...........................................................................................................205Marco Félix Jobim

    ARTIGOS 367 A 381 ...........................................................................................................211Walter Tierling Neto

    ARTIGOS 382 A 390 ...........................................................................................................217Danielle Viafore

    ARTIGOS 391 A 427 ............................................................................................................222Elaine Harzheim Macedo e Liane Slaviero Ramos

    ARTIGOS 428 A 448 ...........................................................................................................235Elaine Harzheim Macedo e Liane Slaviero Ramos

    ARTIGOS 449 A 467 ............................................................................................................246Roberta Scalzilli

  • ARTIGOS 468 A 471 ........................................................................................................252Elaine Harzheim Macedo

    ARTIGOS 472 A 482 ........................................................................................................254Ilana Bertagnoll

    ARTIGO 483 .......................................................................................................................258Rafael Salgado Moraes

    ARTIGOS 484 A 495 ........................................................................................................261Rafael Salgado Moraes

    ARTIGOS 496 A 499 ..........................................................................................................263Sabrina Pezzi

    ARTIGOS 500 A 523 ...........................................................................................................268Alexei de Almeida Chapper

    ARTIGOS 524 A 534 .........................................................................................................283Walter Tierling Neto

    ARTIGOS 535 A 539 ........................................................................................................287Walter Tierling Neto

    ARTIGOS 540 A 584 .........................................................................................................290Vinicius Grezelle

    ARTIGOS 585 A 659 ............................................................................................................306Liane Slaviero Ramos e Vinicius Grezelle

    ARTIGOS 660 A 684 ...........................................................................................................337Rafael Berthold

    ARTIGOS 685 A 729 ............................................................................................................350Jorge Benedito Marques Escobar

    ARTIGOS 730 A 741 ...........................................................................................................387Alexandre Grandi Mandelli

    ARTIGOS 742 A 753 ...........................................................................................................405Leonardo Santana de Abreu

    ARTIGOS 754 A 780 ..........................................................................................................419Shana Serrão Fensterseifer

    ARTIGOS 781 A 800 ............................................................................................................439Liane Slaviero Ramos e Vinicius Grezelle

    ARTIGOS 801 A 824 ............................................................................................................458Liane Slaviero Ramos e Vinicius Grezelle

  • ARTIGOS 825 A 865 ........................................................................................................474Liane Slaviero Ramos

    ARTIGO 866 .......................................................................................................................495Elaine Harzheim Macedo

    ARTIGOS 867 A 869 ...........................................................................................................498Rafael Berthold

    ARTIGOS 870 A 881 .........................................................................................................501Walter Tierling Neto

    ARTIGOS 882 A 918 ...........................................................................................................509Elaine Harzheim Macedo

    ARTIGOS 919 A 929 ........................................................................................................526Sérgio Gilberto Porto

    ARTIGOS 930 A 941 .........................................................................................................539Liane Slaviero Ramos

    ARTIGOS 942 A 947 ..........................................................................................................550Walter Tierling Neto

    ARTIGOS 948 A 974 ...........................................................................................................554Vinicius Grezelle

    ARTIGOS 975 A 980 .........................................................................................................573Walter Tierling Neto

    ARTIGOS 981 A 998 ..........................................................................................................578Liane Slaviero Ramos e Vinicius Grezelle

    ARTIGOS 999 A 1007 ........................................................................................................592Elaine Harzheim Macedo

  • APRESENTAÇÃO

    Ao longo das duas últimas décadas o Código de Processo Civil, gestado em período anterior à Constituição Federal de 1988, passou a ser objeto de inúmeras reformas, objetivando sua melhor adequação não só à nova ordem jurídica, mas também às exigências da sociedade, que clamava – e ainda clama – por uma prestação jurisdicional mais efetiva, mais tempestiva, mais democrática.

    Ainda que se afirme – e não sem razão – que nem sempre tais reformas legislativas alcançaram o melhor desiderato, não se pode negar um profundo comprometimento da comunidade jurídica com o debate, a pesquisa, a contribuição para a produção legislativa reformista, ensejando um compartilhamento de ideias e projetos, em um ambiente em que consensos e embates conviveram lado a lado, o que representa um saudável pluralismo, típico dos estados democráticos ou dos que estejam construindo a sua democracia. O resultado, a redação do Código vigente, alterado em cerca de mais da metade em relação ao texto original, senão em número de artigos, pelo menos em conteúdo. A crítica, as reformas não tiveram o condão de construir um novo paradigma de processo.

    Mas um novo movimento se apresenta no cenário político e jurídico. Agora, a produção de um texto inteiro, substitutivo do estatuto vigente, que possa representar o aproveitamento das recentes reformas, com ajustes que se façam necessários, e a construção de um modelo processual mais uniforme e harmônico entre si, objetivando a simplificação e celeridade processual. Um novo Código de Processo Civil.

    A partir do Pacto Republicano firmado entre os três Poderes com vistas à agilização da ação da Justiça e, respeitada a independência e harmonia que constitucionalmente entre os mesmos hão de imperar, o Senado Federal tomou a iniciativa nomeando uma Comissão de Juristas encarregada de elaborar um anteprojeto de um novo Código de Processo Civil, em setembro de 2009, passando a mesma a ser presidida pelo Ministro Luiz Fux, então membro integrante do Superior Tribunal de Justiça.

    Desencadeados os trabalhos, inclusive com realização de audiências públicas em cinco regiões do país, dando-se publicidade aos procedimentos adotados e coletando-se sugestões e críticas, chegou-se a um termo em meados de 2010, quando entregue ao Senado Federal o anteprojeto do novo estatuto, dando origem ao Projeto de Lei n. 166/2010. Na sua formatação original, contava a proposta com 5 (cinco) Livros e 970 (novecentos e setenta) artigos.

    Na Casa dos Senadores o texto sofreu novas discussões e emendas, sendo ainda no mesmo ano remetido para a Câmara dos Deputados, onde o Projeto recebeu o n. 8.046/2010, agora na mesma formatação dos cinco livros, mas com o total de 1.007 (hum mil e sete) artigos, encontrando-se o projeto ainda sob debates internos e externos, reabrindo-se na Casa do Povo a oportunidade de ofertar críticas e sugestões, ao que a comunidade jurídica não se absteve.

    Ao longo do ano de 2011, o Grupo de Estudos/Pesquisa Jurisdição, Instrumentalidade e Efetividade do Processo, coordenado pela subscritora e pelos Professores José Maria Rosa Tesheiner e Sérgio Gilberto Porto, do Programa de Pós-Graduação em Direito da PUC-RS, assumiu o encargo de comentar artigo por artigo, sem embargo da ciência de que o texto objeto de estudo poderá sofrer alterações até a sua redação final a ser produzida pelo Congresso Nacional e submetida à sanção da Presidente da República, quando, então, estará de fato e de direito instituído o novo Código de Processo Civil Brasileiro.

    Trata-se de um estudo minucioso, onde doutrina e jurisprudência alimentam os juízos de valor e que, independentemente da manutenção ou não do dispositivo na legislação pátria, poderá contribuirá para a ciência do Direito Processual Civil.

    As reuniões realizaram-se com regularidade e frequência ímpar nas sextas-feiras, no 10º andar do Prédio 11 do campus da Pontifícia Universitária Católica do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, oportunizando-se que jovens pesquisadores, alunos dos cursos de doutorado, mestrado e igualmente da pós-graduação lato sensu e da graduação, sem dispensar a efetiva contribuição de profissionais do ramo jurídico, em um espaço de conhecimento que se pautou pela liberdade de ideias, desenvolvessem o trabalho que ora vem a público, porque conhecimento só se concretiza através do compartilhamento de todos.

  • 11

    Os textos produzidos, até para ser mantida a unidade e ordem do produto final, passaram por uma revisão levada a efeito por esta Organizadora e por uma eficiente e dedicada comissão formada entre os integrantes do grupo, revisão essa que se limitou a aspectos formais, em nenhum momento operando-se qualquer forma de censura de ideias. Considerando a defasagem temporal entre o início e o término dos trabalhos, as expressões substitutivo ou projeto, utilizadas livremente pelos articulistas em seus comentários, representam igualmente o mesmo texto examinado: o que foi produzido no Senado Federal, com as emendas e alterações produzidas na Casa dos Seniors, identificado como Emenda nº 1 – Substitutivo ao Projeto de Lei do Senado n. 166, de 2010, e que, encaminhado à Câmara dos Deputados, recebeu o respectivo tombamento como Projeto n. 8.046/2010, onde se encontra tramitando.

    A todos que, direta ou indiretamente contribuíram pela produção destes Comentários ao Projeto de Lei N. 8.046/2010: Proposta de um Novo Código De Processo Civil, o nosso muito obrigada.

    Profª Drª Elaine Harzheim MacedoOrganizadora e Revisora

  • CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

    LIVRO I

    PARTE GERAL

    TÍTULO I

    PRINCÍPIOS E GARANTIAS, NORMAS PROCESSUAIS, JURISDIÇÃO E AÇÃO

    CAPÍTULO I - Dos princípios e das garantias fundamentais do processo civil –arts. 1.º a 12

    CAPÍTULO II – Das normas processuais e da sua aplicação – arts. 13 a 15

    CAPÍTULO III – Da jurisdição – art. 16

    CAPÍTULO IV – Da ação – arts. 17 a 20

    TÍTULO II

    LIMITES DA JURISDIÇÃO BRASILEIRA E COOPERAÇÃO INTERNACIONAL

    CAPÍTULO I – Dos limites da jurisdição nacional – arts. 21 a 24

    CAPÍTULO II – Da Cooperação Internacional – Art. 25 a 41

    Seção I – Das disposições gerais – arts. 25 a 29

    Seção II – Do procedimento – arts. 30 a 33

    Seção III – Do auxílio direto – arts. 34 a 41

    TÍTULO III

    DA COMPETÊNCIA INTERNA

    CAPÍTULO I – Da competência – arts. 42 a 66

    Seção I – Disposições gerais – arts. 42 a 43

    Seção II – Da competência em razão do valor e da matéria – art. 44

    Seção III – Da competência funcional – arts. 45 a 46

    Seção IV – Da competência territorial – arts. 47 a 53

    Seção V – Das modificações da competência – arts. 54 a 63

    Seção VI – Da incompetência – arts. 64 a 66

    CAPÍTULO II – Da cooperação nacional – arts. 67 a 69

    TÍTULO IV

    DAS PARTES E DOS PROCURADORES

    CAPÍTULO I – Da capacidade processual – arts. 70 a 76

  • 13

    CAPÍTULO II – Do incidente de desconsideração da personalidade jurídica – arts. 77 a 79

    CAPÍTULO III – Dos deveres das partes e dos seus procuradores – arts.80 ao 99

    Seção I – Dos deveres – arts. 80 a 81

    Seção II – Da responsabilidade das partes por dano processual – arts. 82 a 84

    Seção III – Das despesas, dos honorários advocatícios e das multas – arts. 85 a 98

    Seção IV – Da gratuidade da justiça – art. 99

    CAPÍTULO IV – Dos Procuradores – arts. 100 a 106

    Seção I – Disposições gerais – arts. 100 a 104

    Seção II – Da advocacia pública – arts. 105 a 106

    CAPÍTULO V – Da sucessão das partes e dos procuradores – arts. 107 a 111

    TÍTULO V

    DO LITISCONSÓRCIO

    Arts. 112 ao 117

    TÍTULO VI

    DO JUIZ E DOS AUXILIARES DA JUSTIÇA

    CAPÍTULO I – Dos poderes, dos deveres e da responsabilidade do juiz – arts. 118 a 123

    CAPÍTULO II – Dos impedimentos e da suspeição – arts. 124 a 128

    CAPÍTULO III – Dos auxiliares da justiça – arts. 129 a 153 Art. 129

    Seção I – Do serventuário e do oficial de justiça – arts. 130 ao 134

    Seção II – Do perito – arts. 135 a 137

    Seção III – Do depositário e do administrador – art. 138 a 140

    Seção IV – Do interprete – arts. 141 a 143

    Seção V – Dos conciliadores e dos mediadores judiciais – arts. 144 a 153

    TÍTULO VII

    DO MINISTÉRIO PÚBLICO

    Arts. 154 a 159

    TÍTULO VIII

    DA DEFENSORIA PÚBLICA

    Arts. 160 a 162

  • 14

    TÍTULO IX1

    DOS ATOS PROCESSUAIS

    CAPÍTULO I – Da forma dos atos processuais – arts. 163 a 178

    Seção I – Dos atos em geral – arts. 163 a 166

    Seção II – Dos atos da parte – arts. 167 a 169

    Seção III – Dos pronunciamentos do juiz – arts. 170 a 172

    Seção IV – Dos atos do escrivão – arts. 173 a 178

    CAPÍTULO II – Do tempo e do lugar dos atos processuais – arts. 179 a 184

    Seção I – Do tempo – arts. 179 a 183

    Seção II – Do lugar – art. 184

    CAPÍTULO III – Dos prazos – arts. 185 a 204

    Seção I – Disposições gerais – arts. 185 a 199

    Seção II – Da verificação dos prazos e das penalidades – arts. 200 a 204

    CAPÍTULO IV – Das comunicações dos atos – arts. 205 a 250

    Seção I – Disposições gerais – arts. 205 a 206

    Seção II – Das citações – arts. 207 a 227

    Seção III – Das cartas – arts. 229 a 240

    Seção IV – Das intimações – arts. 241 a 250

    CAÍTULO V – Das nulidades – arts. 251 a 258

    Arts. 251 a 258

    CAPÍTULO VI – Da distribuição e do registro – arts. 259 a 265

    Arts. 259 a 265

    CAPÍTULO VII – Do valor da causa – arts. 266 a 268

    Arts. 266 a 268

    TÍTULO IX

    TUTELA DE URGÊNCIA E TUTELA DA EVIDÊNCIA

    CAPÍTULO I – Disposições gerais – arts. 269 a 278

    Seção I – Das disposições comuns – arts. 269 a 275

    Seção II – Da tutela de urgência cautelar e satisfativa – arts. 276 a 277

    Seção III – Da tutela da evidência – art. 278

    1 Há equívoco material no sumário do (novo) Código de Processo Civil, referente ao Título IX, que aparece em duplicidade, o primeiro versando sobre “Dos Atos Processuais” e o segundo versando sobre “Tutela de Urgência e Tutela da Evidência”.

  • 15

    CAPÍTULO II – Do procedimento das medidas de urgência – art. 279 a 286

    Seção I – Das medidas de urgência requeridas em caráter antecedente – arts. 279 a 285

    Seção II – Das medidas de urgência requeridas em caráter incidental – art. 286

    TITULO X

    FORMAÇÃO, SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DO PROCESSO

    CAPÍTULO I – Da formação do processo – art. 287

    Art. 287

    CAPÍTULO II – Da suspensão do processo – art. 288 a 289

    Arts. 288 a 289

    CAPÍTULO III – Da extinção do processo – arts. 290 a 291

    Arts. 290 a 291

    LIVRO II

    PROCESSO DE CONHECIMENTO E CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

    TÍTULO I

    DO PROCEDIMENTO COMUM

    CAPÍTULO I – Das disposições gerais – art. 292

    Art. 292

    CAPÍTULO II – Da petição inicial – arts. 293 a 306

    Seção I – Dos requisitos da petição inicial – art. 293 a 296

    Seção II – Do pedido – arts. 297 a 304

    Seção III – Do indeferimento da petição inicial – arts. 305 a 306

    CAPÍTULO III – Da improcedência liminar do pedido – Art. 307

    Art. 307

    CAPÍTULO IV – Da intervenção de terceiros – Arts. 308 a 322

    Seção I – Da assistência – arts. 308 a 313

    Seção II – Da denunciação em garantia - arts. 314 a 318

    Seção III – Do chamamento ao processo – arts. 319 ao 321

    Seção IV – Do amicus curiae – art. 322

    CAPÍTULO V – Da audiência de conciliação – art. 323

    Art. 323

  • 16

    CAPITULO VI – Da contestação – arts. 324 a 329

    Arts. 324 a 329

    CAPÍTULO VII – Da revelia – arts. 331 a 333

    Arts. 331 a 333

    CAPÍTULO VIII – Das providências preliminares e do saneamento – arts. 334 a 339

    Art. 334

    Seção I – Da não incidência dos efeitos da revelia – arts. 335 a 336

    Seção II – Do fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor – art. 337

    Seção III – Das alegações do réu – arts. 338 a 339

    CAPÍTULO IX – Do julgamento conforme o estado do processo – arts. 340 a 343

    Seção I – Do julgamento da lide – art. 340

    Seção II – Do julgamento imediato da lide – art. 341

    Seção III – Do saneamento do processo – arts. 342 a 343

    CAPÍTULO X – Da audiência de instrução e julgamento – arts. 344 a 352

    Arts. 344 a 352

    CAPÍTULO XI – Das provas – arts. 353 a 471

    Seção I – Das disposições gerais – arts. 353 a 366

    Seção II – Da produção antecipada de provas – arts. 367 a 369

    Seção III – Da ata notarial – art. 370

    Seção IV – Do depoimento pessoal – arts. 371 a 374

    Seção V – Da confissão – arts. 375 a 381

    Seção VI – Da exibição de documento ou coisa – arts. 382 a 390

    Seção VII – Da prova documental – arts. 391 a 424

    Subseção I – Da força probante dos documentos – arts. 391 a 416

    Subseção II – Da arguição de falsidade – arts. 417 a 420

    Subseção III – Da produção da prova documental – arts. 421 a 424

    Seção VIII – Dos documentos eletrônicos – arts. 425 a 427

    Seção IX – Da prova testemunhal – arts. 428 ao 448

    Subseção I – Da admissibilidade e do valor da prova testemunhal – arts. 428 a 435

    Subseção II – Da produção da prova testemunhal – arts. 436 a 448

    Seção X – Da prova pericial – arts. 449 a 467

    Seção XI – Da inspeção judicial – arts. 468 a 471

  • 17

    CAPÍTULO XII – Da sentença e da coisa julgada – arts. 472 a 495

    Seção I – Disposições gerais – arts. 472 a 475

    Seção II – Dos requisitos e efeitos da sentença – arts. 476 a 482

    Seção III – Da remessa necessária – art. 483

    Seção IV – Do julgamento das ações relativas às obrigações de fazer, de não fazer e de entregar coisa – arts. 484 a 488

    Seção V – Da coisa julgada – arts. 489 a 495

    CAPÍTULO XIII – Da liquidação de sentença – arts. 496 a 499

    Arts. 496 a 499

    TÍTULO II

    DO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA

    CAPÍTULO I – Das disposições gerais – arts. 500 a 505

    Arts. 500 a 505

    CAPÍTULO II – Do cumprimento provisório da sentença condenatória em quantia certa – arts. 506 a 508

    Arts. 506 a 508

    CAPÍTULO III – Do cumprimento definitivo da sentença condenatória em quantia certa – arts. 509 a 513

    Arts. 509 a 513

    CAPÍTULO IV – Do cumprimento da obrigação de prestar alimentos – arts. 514 a 518

    Art. 514 a 518

    CAPÍTULO V – Do cumprimento de pagar quantia certa pela fazenda pública – arts. 519 a 520

    Arts. 519 a 520

    CAPÍTULO VI – Da sentença condenatória de fazer, não fazer ou entregar coisa – arts. 521 a 523

    Seção I – Do cumprimento da sentença condenatória de fazer e não fazer – arts. 521 a 522

    Seção II – Do cumprimento da sentença condenatória de entregar coisa – art. 523

    TÍTULO III

    DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

    CAPÍTULO I – Da ação de consignação em pagamento – art. 524 a 534

    CAPÍTULO II – Da ação de exigir contas – arts. 535 a 539

    CAPÍTULO III – Das ações possessórias – arts. 540 a553

    Seção I – Disposições gerais – arts. 540 a 545

  • 18

    Seção II – Da manutenção e da reintegração de posse – arts. 546 a 551

    Seção III – Do interdito proibitório – arts. 552 a 553

    CAPÍTULO IV – Da ação de divisão e da demarcação de terras particulares – arts. 554 a 584

    Seção I – Disposições gerais – arts. 554 a 559

    Seção II – Da demarcação – arts. 560 a 573

    Seção III – Da divisão – arts. 574 a 584

    CAPÍTULO V – Da ação de dissolução parcial de sociedade – arts. 585 a 595

    Arts. 585 a 595

    CAPÍTULO VI – Do inventário e da partilha – art. 596 a 659

    Seção I – Disposições gerais – art. 596 a 600

    Seção II – Da legitimidade para requerer o inventário – arts. 601 a 602

    Seção III – Do inventariante e das primeiras declarações – arts. 603 a 611

    Seção IV – Das citações e das impugnações – arts. 612 a 615

    Seção V – Da avaliação e do cálculo do imposto – arts. 616 a 624

    Seção VI – Das colações – arts. 625 a 627

    Seção VII – Do pagamento das dívidas – arts. 628 a 632

    Seção VIII – Da partilha – arts. 633 a 644

    Seção IX – Do arrolamento – arts.645 a 653

    Seção X – Das disposições comuns a todas as Seções deste Capítulo – arts. 654 a 659

    CAPÍTULO VII – Dos embargos de terceiro – arts. 660 a 667

    Arts. 660 a 667

    CAPÍTULO VIII – Da habilitação – arts. 668 a 673

    Arts. 668 a 673

    CAPÍTULO IX – Da restauração de autos – arts. 674 a 680

    Arts. 674 a 680

    CAPÍTULO X – Da homologação do penhor legal – arts. 681 a 684

    Arts. 681 a 684

    CAPÍTULO XI – Dos procedimentos não contenciosos – arts. 685 a 729

    Seção I – Disposições gerais – arts. 685 a 691

    Seção II – Das notificações e interpelações – arts. 692 a 695

    Seção III – Das alienações judiciais – art. 696

    Seção IV – Do divórcio e da extinção de união estável consensuais e da alteração do regime de bens do matrimônio – arts. 697 a 700

  • 19

    Seção V – Dos testamentos e codicilos – arts. 701 a 703

    Seção VI – Da herança jacente – arts.704 a 709

    Seção VII – Dos bens dos ausentes – arts. 710 a 711

    Seção VIII – Das coisas vagas – art. 712

    Seção IX – Dos interditos e de sua curatela – arts. 713 a 717

    Seção X – Das disposições comuns à tutela e a curatela – arts. 718 a 722

    Seção XI – Da organização e da fiscalização das fundações – arts. 723 a 725

    Seção XII – Da posse em nome do nascituro – arts. 726 a 728

    Seção XIII – Da justificação – art. 729

    LIVRO III

    DO PROCESSO DE EXECUÇÃO

    TÍTULO I

    DA EXECUÇÃO EM GERAL

    CAPÍTULO I – Disposições e dever de colaboração – arts. 730 a 736

    Arts. 730 a 736

    CAPÍTULO II – Das partes – arts. 737 a 739

    CAPÍTULO III – Da competência – arts. 740 a 741

    CAPÍTULO IV – Dos requisitos necessários para realizar qualquer execução – arts. 742 a 746

    Seção I – Do título executivo – arts. 742 a 743

    Seção II – Da exigibilidade da obrigação – arts. 744 a 746

    CAPÍTULO V – Da responsabilidade patrimonial – art. 747 a 753

    TÍTULO II

    DAS DIVERSAS ESPÉCIES DE EXECUÇÃO

    CAPÍTULO I – Das disposições gerais – arts. 754 a 762

    Arts. 754 a 762

    CAPÍTULO II – Da execução para a entrega de coisa – art. 763 a 770

    Seção I – Da entrega de coisa certa – arts. 763 a 767

    Seção II – Da entrega de coisa incerta – arts. 768 a 770

    CAPÍTULO III – Da execução das obrigações de fazer e de não fazer – arts. 771 a 780

    Seção I – Da obrigação de fazer – arts. 771 a 777

    Seção II – Da obrigação de não fazer – arts. 778 a 779

    Seção III – Disposições comuns – art. 780

  • 20

    CAPÍTULO IV – Da execução por quantia certa – arts. 781

    Seção I – Disposições gerais – arts. 781 a 783

    Seção II – Da citação do devedor do arresto – arts. 784 a 787

    Seção III – Da penhora, do depósito e da avaliação – arts. 787 a 830

    Subseção I – Do objeto da penhora – art. 788 a 793

    Subseção II – Da documentação da penhora, de seu registro e do depósito – art. 794 a 800

    Subseção III – Do lugar de realização da penhora – arts. 801 a 802

    Subseção IV – Das modificações da penhora – art. 803 a 809

    Subseção V – Da penhora de dinheiro depósito ou em aplicação financeira – art. 810

    Subseção VI – Da penhora de créditos – art. 811 a 816

    Subseção VII – Da penhora das quotas ou ações de sociedades personificadas - art. 817

    Subseção VIII – Da penhora da empresa, de outros estabelecimentos e de semoventes – art. 818 a 820

    Subseção IX – Da penhora de percentual de faturamento de empresa – art. 821

    Subseção X – Da penhora de frutos e rendimentos de coisa móvel ou imóvel – art. 822 a 824

    Subseção XI – Da avaliação – arts. 825 a 830

    Seção IV – Da expropriação de bens – arts.831 a 858

    Subseção I – Da adjudicação – arts. 831 a 833

    Subseção II – Da alienação – arts. 834 a 858

    Seção V – Da satisfação do crédito – art. 859 a 865

    CAPÍTULO V – Da execução contra a fazenda pública – art. 866

    Art. 866

    CAPÍTULO VI – Da execução de alimentos – arts. 867 a 869

    Arts. 867 a 869

    TITULO III

    DOS EMBARGOS À EXECUÇÃO – arts. 870 a 876

    Arts. 870 a 876

    TÍTULO IV

    DA SUSPENSÃO E DA EXTINÇÃO DO PROCESSO DE EXECUÇÃO

    CAPÍTULO I – Da suspensão – art. 877 a 879

    Arts. 877 a 879

    CAPÍTULO II - Da extinção – arts. 880 a 881

    Arts. 880 a 881

  • 21

    LIVRO IV

    DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS E DOS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS

    TÍTULO I

    DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS

    CAPÍTULO I – Disposições gerais – arts. 882 a 883

    Arts. 882 a 883

    CAPÍTULO II – Da ordem dos processos no tribunal – arts. 884 a 900

    Arts. 884 a 900

    CAPÍTULO III – Da declaração de inconstitucionalidade – arts. 901 a 903

    Arts. 901 a 903

    CAPÍTULO IV – Do conflito de competência – arts. 904 a 912

    Arts. 904 a 912

    CAPÍTULO V – Da homologação de sentença estrangeira ou de sentença arbitral – arts. 913 a 918

    Arts. 913 a 918

    CAPÍTULO VI – Da ação rescisória e da ação anulatória – arts. 919 a 929

    Seção I – Da ação rescisória – arts. 919 a 928

    Seção II – Da ação anulatória – art. 929

    CAPÍTULO VII – Do incidente de resolução de demandas repetitivas – art. 930 a 941

    Arts. 930 a 941

    CAPÍTULO VIII – Da reclamação – art. 942 a 947

    Arts. 942 a 947

    TÍTULO II

    DOS RECURSOS

    CAPÍTULO I – Das disposições gerais – arts. 948 a 962

    Arts. 948 a 962

    CAPÍTULO II – Da apelação – arts. 963 a 968

    Arts. 963 a 968

    CAPÍTULO III – Do agravo de instrumento – arts. 969 a 974

    Arts. 969 a 974

    CAPÍTULO IV – Do Agravo Interno – art. 975

    Art. 975

    CAPÍTULO V – Dos embargos de declaração – arts. 976 a 980

    Arts. 976 a 980

  • 22

    CAPÍTULO VI – Dos recursos para o Supremo Tribunal Federal e para o Superior Tribunal de Justiça – arts. 981 a 998

    Seção I – Do recurso ordinário – arts. 981 a 982

    Seção II – Do recurso extraordinário e do recurso especial – arts. 983 a 995

    Subseção I – Disposições gerais – arts. 983 a 989

    Subseção II – Do julgamento dos recursos extraordinário e especial repetitivos – arts. 990 a 995

    Seção III – Do agravo de admissão – art. 996

    Seção IV – Dos Embargos de divergência – arts. 997 a 998

    LIVRO V

    DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS

    Arts. 999 a 1007

  • ARTIGOS 1ºA 12

    Sérgio Gilberto Porto

    1. O PROJETO DE UM NOVO CPC: ExPECTATIVAS E TRAMITAçãO

    Tramita no Congresso Nacional Projeto de Lei que tem por propósito instituir um novo Código de Processo Civil. A iniciativa tem por fundamento, dentre outros, o enfrentamento da chamada morosidade da prestação jurisdicional.

    Sabe-se, entretanto, de antemão, que um novo CPC, por si só, não será capaz de resolver modo definitivo tão grave problema das sociedades contemporâneas, na medida em que não é a forma de processamento das demandas judiciais a única causa que contribui decisivamente para a demora na solução dos litígios judiciais. Existem, à evidência, outras causas concorrentes de natureza conjuntural, humanas e, quiçá, aqui ou ali, de conveniência ideológica.

    Efetivamente, a modelagem judiciária brasileira, está visto, não é capaz - com as exigências constitucionais atuais - de oferecer solução definitiva à morosidade, face, por exemplo, a multiplicidade de graus de jurisdição oferecidos à sociedade e decorrentes da ideia de Federação com uniformidade de pensamento jurídico, ainda que existam acentuadas diferenças culturais nas regiões do Brasil.

    Os homens que compões as estruturas judiciárias, de sua parte, não alcançam a mesma produtividade, daí a razão pela qual em alguns setores o serviço público é eficiente e em outros, com situação assemelhada, é ineficiente. Isto decorre simplesmente das idiossincrasias inerentes ao ser humano.

    Como se vê, existem particularidades concorrentes à morosidade que são estranhas ao processo e que por decorrência permanecerão presentes, muito embora a reforma pretendida.

    Desse modo, não há como imaginar que a instituição de um novo Código de Processo Civil seja capaz de resolver definitivamente o problema. Na realidade, a tentativa de melhorar o desempenho temporal da solução dos conflitos judiciais se constitui apenes em um segmento da complexa teia da morosidade jurisdicional. Existem outros pontos que também devem ser enfrentados, portanto não é correto criar a expectativa de que estamos diante de uma solução única e definitiva, isto por que, na verdade, estamos enfrentando apenas e tão-somente um segmento do problema e é assim que deve ser compreendida a iniciativa de instituir um novo Código de Processo Civil. É, apenas, uma das várias contribuições que são necessárias à melhora do desempenho do setor judiciário.

    Posto isto, oportuno esclarecer que o projeto de um novo Código de Processo Civil tramita, no momento, no cumprimento do devido processo legislativo e nesse passo recebeu substitutivo da lavra do Senador VALTER PEREIRA (PMDB-MS), o qual foi recentemente aprovado.

    O projeto original da lavra de uma Comissão de Juristas Presidida pelo Ministro Luiz Fux e que teve na relatoria a ilustre Professora Tereza Arruda Alvim Wambier (PL 106/2010) contava com 970 artigos. Já o substitutivo contém, agora, mais de 1000 dispositivos em razão da aceitação de uma série de propostas apresentadas em sede legislativa.

    Segue agora para apreciação à Câmara dos Deputados, onde, por certo, também receberá sugestões de aperfeiçoamento, com alterações de redação, inclusões e supressões como é da essência do debate legislativo.

    2. VETORES DO PROJETO

    O projeto elaborado pela comissão de juristas e agora revisto pelo Senado estabelece claramente os propósitos que persegue no sentido de dar cumprimento a alguns objetivos

  • 24 Sérgio Gilberto Porto

    identificados como adequados à ordem jurídica processual contemporânea, tendo como pano de fundo, evidentemente, a celeridade.

    Dentre esses se pode claramente identificar o propósito de:

    a. Incentivar a conciliação, como se vê pela instituição de audiência prévia ao debate judicial, em reconhecimento a eficiência e conveniência da composição dos litígios;

    b. Inibir os recursos, através da chamada sucumbência recursal, na tentativa de estabelecer critérios de maior razoabilidade aos apelos e valorizar as decisões de primeiro grau;

    c. Prestigiar posições consolidadas, na tentativa de instituir uma espécie de efeito “commonlawlizante” à civil law brasileira, através da busca da previsibilidade das decisões jurisdicionais, no sentido de oferecer maior segurança jurídica. É exemplo eloquente deste desiderato exatamente a força vinculante que se pretende outorgar à decisão proferida em incidente de resolução de demandas de índole coletiva, em contraste a absoluta e irrestrita autonomia jurisdicional hoje existente;

    d. Evitar decisões conflitantes, também com a instituição do incidente de coletivização;

    e. Formalizar a ideia da existência do devido processo civil constitucional, através da inserção expressa de princípios e garantias contempladas originalmente na Constituição Federal;

    f. Buscar celeridade, através, p. ex., da supressão de recursos, tais como embargos infringentes e agravo retido;

    Todos estes vetores, por certo, merecem exame e reflexão. Porém, aqui nos dedicaremos à expressa inserção de princípios de origem constitucional. Grifa-se expressa inserção, pois, sem dúvida, implicitamente estes já compunham o sistema implicitamente. Assim, o que deve primeiramente ser analisado, dentre outros reflexos, é a conduta de tornar expressa a idéia de contemplar princípios de assento constitucional.

    3. A INSERçãO DE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS COMO OPçãO IDEOLÓGICA

    Hoje, mais do que ontem, se fala com ênfase na instituição de um devido processo civil constitucional. Ontem, assim não se procedia, especialmente no Brasil, em razão do desprestígio da ordem constitucional decorrente da Carta de 1967 e emenda de 1969, pois se constituíam em ordens constitucionais outorgadas e não construídas no seio do debate democrático.

    Aquele momento, por evidente, ainda que superado pela edição da Constituição de 1988, deixou cicatrizes na consciência jurídica brasileira e, por decorrência, gerou reflexos no comportamento dos juristas em geral que sempre resistiram bravamente a ausência do Estado de Direito.

    Como relação a realidade de então, pouco se prestigiava a ordem jurídica constitucional positiva e, nessa linha, ainda que implicitamente, havia bloco de resistência a influência “constitucional” no direito, pois esta era considerada ilegítima. As reflexões mais atentavam para outros desdobramentos jurídicos do que para a possibilidade da Constituição presidir a compreensão do direito de então. Houve, em realidade, verdadeira dieta constitucional.

    A Constituição de 1988, entretanto, restabeleceu-se o Estado de Direito, encerrando, pois, a dieta constitucional imposta pelo período de chumbo.

    A partir deste momento, no Brasil, é possível identificar um movimento de constitucionalização do direito e, inclusive, do direito privado. O direito passa a ser compreendido, portando, através de sua moldura constitucional, passa a ser lido verdadeiramente com os óculos da Constituição.

  • 25Artigos 1 a 12

    O processo civil, por evidente, não poderia restar alheio ao movimento de constitucionalização do direito. Tanto é assim que a Carta Constitucional é pródiga em temas processuais, circunstância que, por decorrência, naturalmente empresta conteúdo processual à Constituição Federal e faz nascer um verdadeiro direito processual fundamental, haja vista que de sede constitucional.

    A Constituição Federal sabe-se é o ponto de partida para a interpretação do direito e argumentação jurídica, pois, hoje, mais do que uma simples Carta Política, face sua reconhecida força normativa, permeia toda ordem jurídica.

    Com efeito, a Carta, nesta linha, além de seu papel organizacional assegura direitos, dentre os quais os de natureza processual. Contempla, por igual, instrumentos e disciplina temas vinculados ao exercício da jurisdição.

    São instrumentos oferecidos pela Constituição Federal, portanto de natureza processual: o Habeas Corpus, o Habeas Data, o Mandado de Segurança, o Mandado de Segurança Coletivo, o Mandado de Injunção, a Ação Popular, a Ação Civil Pública, por exemplo.

    Já na jurisdição constitucional existem os mecanismos de controle de constitucionalidade representados pelos instrumentos da Ação Declaratória de Inconstitucionalidade, pela Ação Declaratória de Constitucionalidade, pela Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental e pelo Incidente de Constitucionalidade.

    No que toca à sede recursal estão instituídos os recursos de natureza extraordinária.Afora isto, a Constituição Federal também rege matéria referente à competência do STF (102,

    CF) e do STJ (105, CF), dos Tribunais Regionais Federais (108, CF), dos Juízes Federais (109, CF), e da Justiça do Trabalho (114, CF).

    Disciplina a legitimidade para propositura de ADI e ADC (103, CF), bem assim rege a atuação judicial do Ministério Público (129, CF) e da Defensoria Pública (134, CF).

    Consagra, ainda, direitos de aplicação genérica, ao contemplar garantias de natureza constitucional-processual. Estas, de sua parte, formam um verdadeiro direito processual fundamental e principiológico, na macro compreensão do sistema, vez que representam primados constitucionais incidentes em todos os ramos processuais especializados (civil, penal, trabalhista, etc.). Ou seja: são parâmetros constitucionais ditados para a ordem processual.

    Não se trata nesse último aspecto, pois, de segmento do direito processual de regras, mas do direito processual de princípios, daí a razão pela qual também ser identificado em doutrina a ideia da existência de princípios processuais na Constituição Federal.

    Assim, pois, o conteúdo processual da Constituição Federal vem expressado por um conjunto de direitos oferecidos ao cidadão. Estes, ora vem configurados como o direito propriamente dito – por constituírem direitos erigidos pela Constituição ao patamar de fundamentais -, ora vem formatados como instrumentos, caracterizando direito-meio – por definirem a forma como se exerce judicialmente determinado direito -, ora, ainda, se apresentam como disciplina de distribuição de funções ou atribuições.

    3.1 A incidência do sistema processual-constitucional sobre os segmentos processuais

    A ideia deste tópico do ensaio consagra o propósito de demonstrar que a Constituição Federal, possui claro conteúdo processual e que – por óbvio – este permeia os sistemas vigentes e, como decorrência, estabelece a existência de um verdadeiro sistema processual matriz a reger todos os segmentos do direito processual, ou seja, fixa a incidência de primados constitucionais em todas as disciplinas processuais especializadas. Além, à evidência, de contemplar instrumentos de sede constitucional e disciplinar matérias nitidamente de índole processual, tais como o sistema recursal e instrumentos de atuação na jurisdição constitucional.

  • 26 Sérgio Gilberto Porto

    Assim, como já registrado, o processo civil é composto de regras processuais próprias do microssistema que representa, tal qual o direito processual penal, o direito processual do trabalho, ou o processo endógeno pertinente a disciplina dos instrumentos constitucionais de realização do direito, representados por leis especiais e pertinentes a cada qual dos institutos, onde se inclui a regência do Mandado de Segurança, da Ação Popular e outros que tais, bem como de primados (constitucionais) que são balizas maiores e que disciplinam a aplicação das regras.

    Desse modo, também se pode afirmar que muito embora as particularidades de cada ramo do direito processual, existem, além e antes destas peculiaridades, princípios (ou garantias!) de ordem constitucional fundamental que iluminam a compreensão das regras processuais. Vale dizer: se irradiam sobre todos os ramos do direito processual.

    Dessa maneira, pouco importa em que área de incidência e qual a disciplina processual presente, aos demandantes deve ser assegurado o gozo de certos direitos inerentes ao devido processo do Estado Democrático de Direito, tais como a ampla defesa, o contraditório, o direito à produção de prova lícita, o exercício do duplo grau de jurisdição, etc.

    Esses, vez que contemplados pela Carta Magna, constituem um verdadeiro sistema processual matriz que regula todos os microssistemas processuais e, por decorrência, sobre estes incide e faz valer seus comandos, ou seja, no processo civil, p. ex., de nada vale deferir prazo de resposta ao réu se a seguir lhe é negado direito a plenitude do contraditório que incide em toda a existência do iter do processo e não apenas no momento da contestação.

    Dito de outro modo, o macrossistema processual que é representado pelo direito processual fundamental entretém relações com os demais microssistemas processuais existentes, vez que estes devem se amoldar àquele, pena de – se assim não for – gerarem vícios de ordem constitucional-processual fundamental, face à violação direta à Constituição, e, por consequência, invalidades na forma de prestar a adequada jurisdição.

    Assim, pode se inferir que existem relações estreitas e energizadas entre Constituição e Processo. Mais do que isto: existe subordinação da micro disciplina processual a macro disciplina constitucional-processual.

    Há, portanto, um grande sistema de índole processual-constitucional voltado para o processo judicial e instituído obviamente pela Constituição Federal. Este rege todos microssistemas processuais que devem a ele estar adequados, sob pena de violação da grande cláusula do Devido Processo do Estado Democrático de Direito, chamado pela Constituição de Devido Processo Legal, também podendo ser denominada Devido Processo Constitucional.

    3.2 A opção ideológico-constitucional do projeto de um novo CPC

    O artigo primeiro do projeto do novo CPC, sensível a realidade antes exposta, com clareza invulgar, estabelece que o processo civil contemporâneo deverá ser compreendido a partir de determinados primados constitucionais e que estes, mais do que antes, devem presidir claramente os destinos do futuro processo civil brasileiro.

    Ao assim se posicionar, longe de dúvida, o projeto traduz a vontade de que o processo seja instrumento de realização dos propósitos constitucionais e não apenas como instrumento de realização do direito material infraconstitucional. Há, pois, no projeto, clara opção ideológica e indiscutível norte fixado em favor da idéia de intensa constitucionalização do processo civil coevo.

    Isso equivale a dizer que devemos, uma vez transformado em lei o projeto, proceder a leitura do sistema processual sob a óptica da Constituição. Verdadeiramente emoldurar o processo civil coetâneo à Constituição Federal, agora, entretanto, por determinação expressa. Para aqueles que acompanham atentos a evolução do direito processual esta opção do projeto não se constitui em novidade e sequer necessitaria constar expressamente, haja vista que já de alguns anos para cá se percebe esta clara tendência no direito brasileiro e chega a se apontar existência de um movimento de “constitucionalização do direito”, como se o direito brasileiro pudesse ser compreendido de outro modo que não alinhado com a Constituição Federal.

  • 27Artigos 1 a 12

    No que tange ao direito processual civil, entretanto, agora, mais do que antes, onde se percebiam somente movimentos doutrinários e jurisprudenciais nesse sentido, o projeto expressamente aponta a mais valia da cidadania processual, ou seja, o direito de ver asseguradas as cláusulas constitucionais concebidas para valer no debate judicial ou em razão deste.

    Máxima vênia, não poderia ser diferente!Com efeito, há um sistema constitucional na base do direito brasileiro e, por decorrência, os

    demais segmentos devem a esta base se amoldar, pena de restar caracterizada fratura insuperável na operação da ordem jurídica.

    Assim, segundo se percebe, o projeto de um novo CPC, atento a esta realidade, busca, agora, modo expresso, definir este quadro e, como decorrência, dentre outros resultados, deverá repercutir de maneira significativa nas idéias da ciência processual, impondo uma verdadeira (re)compreensão dos operadores, mormente no habito de instituir reformas mais direcionadas a superar a ineficiência do Estado do que preservar o Estado de Direito.

    Iniciativas nitidamente procedimentais, mais que as processuais, por igual, com mais intensidade ainda deverão se submeter à disciplina constitucional, inibindo, portanto, propostas legislativas ou iniciativas jurisdicionais voltadas apenas para atenuar as mazelas operacionais da máquina judiciária, ao invés de readequarem os fundamentos processuais aptos a, com segurança jurídica, equalizar a operação do processo à realidade.

    Há, pois, claro norte estabelecendo que a realização do direito através do processo judicial deverá amoldar-se ao conjunto de garantias asseguradas ao cidadão pela Constituição Federal, não havendo, por decorrência, decisão válida se o processo desconhecer os vetores constitucionais do processo. Será este, mais do que nunca, instrumento de realização dos propósitos daquela!

    Assim, é possível afirmar que uma das opções ideológicas do projeto de um novo CPC é de reconhecer, expressamente, a existência de um direito processual matriz e que este macro direito processual tem assento na Constituição Federal, o qual regerá - agora com mais intensidade - a aplicação do direito processual civil contemporâneo.

    3.4 A formalização do devido processo civil-constitucional

    A garantia do due process of law, como já destacado por muitos, encontra inspiração na Magna Carta de João Sem Terra, datada de 1215, e representa, verdadeiramente, o fundamento para todas as demais garantias que são oferecidas às partes ou, dito de outro modo, o gênero de cujas as demais garantias são espécie.

    Assim, possível afirmar que as garantias processuais, necessariamente, integram o devido processo legal que, em última ratio, visa assegurar às partes um processo e uma sentença adequada à causa submetida a exame.

    Desta forma, o legislador constituinte, atento, acima de tudo, ao Estado Democrático de Direito, tratou de - expressamente - insculpir tal princípio no ordenamento nacional e o fez através da afirmativa peremptória de que ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal (5°, LIV, CF).

    Oportuno registrar para boa compreensão e alcance da cláusula do devido processo legal que a expressão legal integrante da designação constitucional da garantia, na realidade não deve receber a compreensão estrita atribuída ao termo no sistema brasileiro, na medida em que o melhor sentido a ser atribuído à compreensão da idéia de devido processo legal é que isto significa que se assegura ao cidadão o devido processo do Estado de direito, englobando, portanto, a compreensão de que vai para além da lei em sentido estrito, ou seja, embutindo em si a idéia de devido processo da ordem jurídica integral.

    Ciente e consciente da compreensão a ser atribuída a idéia de devido processo da ordem jurídica, o projeto de um novo CPC, ao expressamente fazer referência que incorpora primados constitucionais à sua compreensão opta por apontar o vetor essencial do processo civil coetâneo e, como dito, por decorrência de tal proceder, institui o devido processo civil-constitucional.

  • 28 Sérgio Gilberto Porto

    O conteúdo desse devido processo civil-constitucional é representado por um conjunto de direitos formativos aptos a permitir o exercício da cidadania através de direitos de natureza paraprocessual e/ou endoprocessual.

    Com efeito, é e será ainda mais acentuadamente assegurado ao cidadão em razão do processo ou durante o processo judicial o gozo de um conjunto de garantias da essência do Estado de Direito e sem a concreção deste não se construirá processo válido e eficaz.

    Esses direitos formativos estão representados pelas chamadas garantias constitucional-processuais, expressas ou implícitas, cuja existência decorre de sua inserção na Constituição Federal.

    Assim, para bem compreender a fórmula proposta pelo sistema que se pretende implantar é necessário identificar a existência de um conjunto de valores constitucionais que necessariamente balizará a aplicação dos institutos processuais.

    3.5 As garantias e princípios expressos no projeto

    Além da fórmula genérica assentada no artigo primeiro do projeto do novo CPC, há referências expressas a uma série de garantias e princípios no Livro I, Título I, Capítulo I. Realmente, prevê o projeto a regência do processo civil pela presença expressa das garantias da (a) inafastabilidade do controle jurisdicional dos conflitos (art. 3°); (b) duração razoável do processo (art. 4°); (c) isonomia processual (art. 7°); (f) contraditório (art. 7°); (g) publicidade (art. 11) e (h) motivação (art. 11) e, ainda, os princípios da dignidade da pessoa humana, razoabilidade, legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (art. 6°) e da cooperação (art. 5°).

    Como se vê, com eventuais variações, aqui ou ali, o projeto reproduz expressamente parcela do que consta da Constituição Federal e, por conseguinte, mais uma vez reafirma o desejo de estabelecer sintonia fina com o Estado constitucional, deixando claro que não há como compreender o processo contemporâneo senão através da incidência de valores constitucionais.

    3.6 A inserção das garantias implícitas

    O artigo primeiro do projeto incorpora para além das garantias expressadas nos artigos subsequentes, todas aquelas integrantes do Estado de direito, na medida em que aduz claramente que “o processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e os princípios fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil”.

    Isso quer dizer que direitos implícitos que tenham caráter paraprocessual e/ou endoprocessual são incorporados à nova ordem jurídico-processual, haja vista decorrerem da compreensão sistemática desta.

    Portanto, resta claramente fixada à supremacia dos valores constitucionais na aplicação, compreensão e interpretação do processo civil coevo, sejam estes expressos ou não.

    Isto, por derradeiro, registre-se que em nada afeta a autonomia do direito processual civil, mas apenas e tão-somente estabelece a linha de compreensão que deve ser seguida, o que, aliás, como registrado, vem sendo sinalizado com ênfase pela doutrina moderna.

    Assim, em síntese conclusiva, se pode com tranquilidade afirmar que - em sede de princípios instituídos pelo projeto de um novo CPC – a ideia matriz foi a de constitucionalizar a compreensão do processo civil contemporâneo, formalizando, portanto, modo definitivo, a existência do devido processo civil-constitucional.

    4. A ORDEM DE PREFERÊNCIA DOS JULGAMENTOS E SUAS ExCEçÕES

    O artigo 12 do projeto pretende instituir uma rigorosa disciplina na ordem dos julgamentos, fixando o critério objetivo do tempo de conclusão para definir a ordem cronológica das decisões, ou

  • 29Artigos 1 a 12

    seja, aquele feito que primeiro foi concluso deverá merecer decisão em primeiro lugar. Se constitui, pois, em algo similar a obstrução de pauta existente no Congresso Nacional.

    Máxima vênia, ainda que aparentemente adequado, por estabelecer critério objetivo e prestigiar a isonomia, o dispositivo fixa amarras no julgador de duvidosa eficiência no que diz respeito à qualidade da prestação jurisdicional e, até mesmo, embaraço, na celeridade.

    Com efeito, existem processos juridicamente complexos, outros probatoriamente de difícil interpretação e, bem assim, aqueles que não oferecem grande dificuldade, quer por que o tema jurídico é conhecido, quer por que nem mesmo reclamaram dilação probatória.

    Portanto existem demandas que reclamam maior tempo de meditação, outras nem tanto. O fato dos grilhões legais definirem qual demanda merecerá atenção em primeiro lugar, inclusive com a disponibilização permanente de lista para consulta pública em cartório, estabelece, ao menos em tese, a hipótese de que o juízo, ainda que pronto para julgamento de uma causa deva aguardar o amadurecimento de outra, impedindo assim a prestação jurisdicional desta última e, por decorrência, represando a prestação jurisdicional do feito em condições de ser decidido.

    Alguém dirá que este é - justamente - o mecanismo psicológico criado para pressionar o julgador a proferir decisão. Resta saber se para o jurisdicionado será saudável ter decisão prolatada por juiz pressionado por circunstâncias objetivas e, portanto, com contaminantes subjetivos possivelmente indesejáveis, as quais perpassam desde a ausência do tempo necessário de maturação até a indisposição pessoal por praticar o ato de julgar coagido e, quiçá, até mesmo, em momento pessoal impróprio.

    De outro lado, tanto é verdade que as demandas possuem características que as diferenciam que o próprio artigo 12 estabelece exceções a sua própria regra. Realmente, o parágrafo segundo cuida de excepcionar a regra reconhecendo àquelas hipóteses que o julgador não está adstrito ao critério cronológico de conclusão.

    O quadro proposto certamente provocará debates, vez que atinge diretamente a liberdade dispositiva do julgador, na medida em que é este e apenas este que sabe quando está pronto para julgar.

    O julgamento, sabemos, é um ato que envolve uma série de variantes subjetivas e não apenas critérios objetivos. Assim, se, de uma lado, parece razoável impor um controle, de outro, talvez a proposta provoque insatisfação e, por decorrência, gere decisões não suficientemente amadurecidas pela reflexão.

    Cumpre registrar ainda dois temas que ensejam meditação. Primeiro quais as razões que determinaram a inclusão de tal dispositivo no presente capítulo. Talvez a iniciativa decorra de seu parentesco distante com a garantia da duração razoável do processo ou, se não isto, uma simples acomodação de proposta. Segundo, acaso passe a vigorar, seu descumprimento pelo magistrado ensejará qual consequência? O comando padece do mal de um sem número de normas da ordem jurídica brasileira, ou seja, não prevê sanção, criando o risco de configurar norma em branco, circunstância que ensejaria o esvaziamento da proposta.

    Assim, posta como está a disciplina, o caminho a seguir, em caso de descumprimento, seria correição parcial, face à inversão da ordem de preferência.

  • 30 Sérgio Gilberto Porto

    PROJETO CÓDIGO VIGENTE/LEGISLAÇÃO VIGENTE

    LIVRO I

    PARTE GERAL

    TÍTULO I

    PRINCÍPIOS E GARANTIAS, NORMAS PROCESSUAIS, JURISDIçãO E AçãO

    CAPÍTULO I

    DOS PRINCÍPIOS E DAS GARANTIAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL

    Art. 1º O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e os princípios fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código.

    Art. 2º O processo começa por iniciativa da parte, nos casos e nas formas legais, salvo exceções previstas em lei, e se desenvolve por impulso oficial.

    Art. 262. O processo civil começa por iniciativa da parte, mas se desenvolve por impulso oficial.

    Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito, ressalvados os litígios voluntariamente submetidos à solução arbitral, na forma da lei.

    Constituição, art. 5º xxxV - a lei não excluirá da apreciação

    do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

    Art. 4º As partes têm direito de obter em prazo razoável a solução integral da lide, incluída a atividade satisfativa.

    Constituição, art. 5ºLxxVIII a todos, no âmbito judicial e

    administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

    Art. 5º As partes têm direito de participar ativamente do processo, cooperando com o juiz e fornecendo-lhe subsídios para que profira decisões, realize atos executivos ou determine a prática de medidas de urgência.

  • 31Artigos 1 a 12

    Art. 6º Ao aplicar a lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum, observando sempre os princípios da dignidade da pessoa humana, da razoabilidade, da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade e da eficiência.

    Lei de Introdução ao Código Civil (Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942)

    Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.

    Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz velar pelo efetivo contraditório.

    Art. 8º As partes e seus procuradores têm o dever de contribuir para a rápida solução da lide, colaborando com o juiz para a identificação das questões de fato e de direito e abstendo-se de provocar incidentes desnecessários e procrastinatórios.

    Art. 9º. Não se proferirá sentença ou decisão contra uma das partes sem que esta seja previamente ouvida, salvo se se tratar de medida de urgência ou concedida a fim de evitar o perecimento de direito.

    Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual tenha que decidir de ofício.

    Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica aos casos de tutela de urgência e nas hipóteses do art. 307 (Vide comentário ao art. 307, do Projeto de Lei n. 8046/2010).

  • 32 Sérgio Gilberto Porto

    Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade.

    Parágrafo único. Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada somente a presença das partes, de seus advogados ou defensores públicos, ou ainda, quando for o caso, do Ministério Público.

    Constituição, art. 5ºIx todos os julgamentos dos órgãos

    do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

    Código de Processo Civil

    Art. 165. As sentenças e acórdãos serão proferidos com observância do disposto no art. 458; as demais decisões serão fundamentadas, ainda que de modo conciso.

    Art. 458. São requisitos essenciais da sentença:

    I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a suma do pedido e da resposta do réu, bem como o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo;

    II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito;

    III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões, que as partes Ihe submeterem.

    Art. 12. Os juízes deverão proferir sentença e os tribunais deverão decidir os recursos obedecendo à ordem cronológica de conclusão. §1o A lista de processos aptos a julgamento deverá ser permanentemente disponibilizada em cartório, para consulta pública.

    §2o Estão excluídos da regra do caput:

    I – as sentenças proferidas em audiência, homologatórias de acordo ou de improcedência liminar do pedido; II – o julgamento de processos em bloco para aplicação da tese jurídica firmada em incidente de resolução de demandas repetitivas ou em recurso repetitivo;

    III – a apreciação de pedido de efeito suspensivo ou de antecipação da tutela recursal;

    IV – o julgamento de recursos repetitivos ou de incidente de resolução de demandas repetitivas;

    V – as preferências legais.

  • ARTIGOS 13 A 15

    José MariaRosa Tesheiner

    Frederico L. de Carvalho Freitas

    Das normas processuais e da sua aplicação no Anteprojeto do Código de Processo Civil

    A regra é que se aplique, quanto ao processo, a lei local, diferentemente do direito material, que pode ser estrangeiro. O Anteprojeto ressalva, porém, a aplicação de tratados ou convenções internacionais aplicáveis no território nacional.

    É regra, também, a aplicação imediata da lei processual nova aos processos em curso, respeitados os efeitos dos atos já praticados. Observa Galeno Lacerda que há direitos adquiridos processuais, oriundos dos próprios atos ou fatos processuais, que emergem, em cada processo, do dinamismo desse relacionamento jurídico complexo. “Existem direitos adquiridos à defesa, à prova, ao recurso, como existem direitos adquiridos ao estado, à posse, ao domínio. Acontece que os direitos subjetivos processuais se configuram no âmbito do direito público e, por isto, sofrem o condicionamento resultante do grau de indisponibilidade dos valores sobre os quais incidem”.1 Regida a matéria por princípios, e não por regras, é inevitável certo casuísmo no tratamento do tema. Contudo, algumas questões podem ser respondidas a priori, entre elas, a que diz respeito aos recursos, que se regem pela lei do tempo em que proferida a decisão. Assim, embora extintos, deverão ser processados e julgados segundo a lei antiga os embargos infringentes de julgados anteriores à entrada em vigor da lei nova.

    Resta evidente a opção do legislador infraconstitucional, que inseriu diretrizes relativas às disposições transitórias do Código de Processo Civil no Capítulo II do Título I do Anteprojeto do Novo Código de Processo Civil em tramitação na Câmara dos Deputados, em especial nos artigos 14 e 15. A opção adotada não reflete grande evolução, nem representa contribuição efetiva para o sistema processual.

    O artigo 14 do Anteprojeto tem conteúdo similar ao disposto nos artigos 962 e seguintes, do mesmo diploma legal. Porém, no capítulo das Disposições Finais e Transitórias, o legislador optou por ressaltar a aplicação do diploma revogado em casos específicos (extensão da coisa julgada, publicação de editais, questões referentes ao direito probatório), sob pena de, aos desavisados, a norma causar desorganização nos processos já em andamento, o que iria de encontro às intenções e objetivos da Comissão, que priorizou na reforma a busca da celeridade da tramitação processual e a diminuição do formalismo exacerbado.

    O artigo 15 do Substitutivo contém disposição que poderá causar algum problema. Suponha-se que seja editada nova lei processual penal ou eleitoral, omissa quanto à aplicação subsidiária do Código de Processo Civil. Como lei nova, a regular inteiramente a matéria, derrogará as disposições em contrário, inclusive esta, do artigo 14. Mas isso poderá não ser claro para todos. O normal é que sejam as leis específicas que determinem a aplicação subsidiária do Código de Processo Civil, havido para este efeito como lei processual comum.

    A experiência atual já ilustra situação similar que gera enormes controvérsias, tanto na esfera acadêmica quanto forense. É o caso do processo trabalhista, regulado pela CLT. O CPC é aplicado subsidiariamente às normas da Consolidação Trabalhista, inclusive com regra expressa no artigo 769 do diploma laboral. No entanto, há divergências sérias sobre a aplicação subsidiária. Não parece que o proposto artigo 15 irá resolvê-las. Ao contrário, é de se acreditar que o embate de posições irá se agravar na medida em que interesses diversos estiverem em rota de colisão.

    1 LACERDA. Galeno. O Novo Direito Processual Civil e os feitos pendentes. Rio de Janeiro: Forense, 1974.

  • 34 José Maria Rosa Tesheiner e Frederico L. de Carvalho Freitas

    PROJETO CÓDIGO VIGENTE

    CAPÍTULO II

    DAS NORMAS PROCESSUAIS E DA SUA APLICAçãO

    Art. 13. A jurisdição civil será regida unicamente pelas normas processuais brasileiras, ressalvadas as disposições específicas previstas em tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário.

    Art. 1º. A jurisdição civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes, em todo o território nacional, conforme as disposições que este Código estabelece.

    Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da lei revogada.

    . Art. 1211. Este Código regerá o processo civil em todo o território brasileiro. Ao entrar em vigor, suas disposições aplicar-se-ão desde logo aos processos pendentes.

    Art. 15. Na ausência de normas que regulem processos penais, eleitorais, administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletivamente.

  • ARTIGOS 16 A 20

    José Maria Rosa Tesheiner

    Da jurisdição e da ação no Substitutivo do Projeto de Código de Processo Civil

    No que diz respeito à jurisdição, o que mais se nota é a ausência de menção ao princípio da ação, consagrado no artigo 2º do Código vigente: “Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e forma legais”. Embora não se possa por isso esperar qualquer mudança substancial, mesmo porque o próprio Código vigente prevê alguns casos, raros, de iniciativa judicial (o processo de inventário constitui o caso mais notório), é sugestiva a aceitação, ainda que em tese, de “processos sem ação”. Abrem-se as portas para a substituição da verdadeira e própria jurisdição por uma atividade que se pode denominar de “administração da justiça”, que ressalta seu caráter administrativo.

    Não há alteração no que diz respeito ao interesse e à legitimidade como condições da ação. Ainda nesse caso, porém, há de haver uma sentença, configurando-se, portanto, a existência de ação, no sentido da teoria do direito abstrato de agir.

    Também não há alteração no que diz respeito à existência, como regra, de pertinência entre a ação e o direito que se pretenda valer, admitindo-se, porém, casos expressos de substituição processual. Interessante é o caso das locações contratadas por empresas imobiliárias. Com ela são feitas todas as negociações. Ela também é que recebe os aluguéis. Parece lógico que, havendo recusa, o locatário proponha ação contra a Imobiliária, como substituta processual do locador, tendo em vista o pacto “adjectus solutionis causa”. Isso admitido, como parece razoável, tem-se, aí, um caso de substituição processual passiva, não previsto em lei.

    O parágrafo único do artigo 18 inova, estabelecendo que, havendo substituição processual, será dada ciência ao substituído que, intervindo no processo, fará cessar a substituição.

    Não há alteração no que diz respeito à admissibilidade de ação declaratória, ainda que cabível pedido de condenação.

    O Substitutivo extingue a ação declaratória incidental. O julgamento de questão prejudicial fará coisa julgada, independentemente de pedido da parte, desde que observado o contraditório. O texto permite interpretação no sentido de que o juiz, para evitar surpresa, deverá advertir as partes de que irá decidir a questão com força de coisa julgada: “o juiz, assegurado o contraditório...” Os limites da coisa julgada, tão claros no sistema vigente, que praticamente não suscitam questões na prática forense, tornar-se-ão imprecisos, dando margem a controvérsias de difícil solução, retornando-se ao sistema do Código de Processo Civil de 1939, exatamente por isso abandonado pelo de 1973.

    PROJETO CÓDIGO VIGENTE

    CAPÍTULO III

    DA JURISDIçãO

    Art. 16. A jurisdição civil é exercida pelos juízes em todo o território nacional, conforme as disposições deste Código.

    Art. 1o A jurisdição civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes, em todo o território nacional, conforme as disposições que este Código estabelece.

    Art. 2o Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e forma legais.

  • 36 José Maria Rosa Tesheiner

    CAPÍTULO IV

    DA AçãO

    Art. 17. Para propor a ação é necessário ter interesse e legitimidade.

    Art. 3o Para propor ou contestar ação é necessário ter interesse e legitimidade.

    Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado por lei.

    Parágrafo único. Havendo substituição processual, o juiz determinará que seja dada ciência ao substituído da pendência do processo; nele intervindo, cessará a substituição.

    Art. 6o Ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei.

    Art. 19. O interesse do autor pode limitar-se à declaração:

    I - da existência ou da inexistência de relação jurídica;

    II - da autenticidade ou da falsidade de documento.

    Parágrafo único. É admissível a ação declaratória ainda que tenha ocorrido a violação do direito.

    Parágrafo único. É admissível a ação declaratória, ainda que tenha ocorrido a violação do direito.

    Art. 4o O interesse do autor pode limitar-se à declaração:

    I - da existência ou da inexistência de relação jurídica;

    II - da autenticidade ou falsidade de documento.

    Art. 20. Se, no curso do processo, se tornar litigiosa relação jurídica de cuja existência ou inexistência depender o julgamento da lide, o juiz, assegurado o contraditório, a declarará por sentença, com força de coisa julgada.

    Art. 5o Se, no curso do processo, se tornar litigiosa relação jurídica de cuja existência ou inexistência depender o julgamento da lide, qualquer das partes poderá requerer que o juiz a declare por sentença. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1973)

  • ARTIGOS 21 A 24

    José Maria Rosa Tesheiner

    Dos limites da jurisdição nacional no Substitutivo do Projeto de Código de Processo Civil

    Trata este capítulo da competência geral dos tribunais brasileiros.Denomina-se competência geral dos tribunais de um país a que se opõe à dos tribunais

    estrangeiros, enquanto competência especial é a de certo tribunal de um país a respeito dos demais tribunais desse mesmo país. (...) O árduo problema da competência geral é dominado exclusivamente pelo direito processual internacional, ramo do direito nacional.1

    O artigo 21 do Substitutivo repete o disposto no artigo 88 do Código de Processo Civil vigente, apenas alterando a redação. Em vez de “É competente a autoridade judiciária brasileira”: “Cabe à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que...”.

    O artigo 22 do Substitutivo acrescenta novos casos de competência da autoridade judiciária brasileira, entre os quais o da ação de alimentos, quando o credor tiver seu domicílio ou residência no Brasil, e o das ações fundadas em relação de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil. São casos em que a eficácia da sentença brasileira dependerá de sua aceitação pelo Estado estrangeiro, se, como suposto, nele se encontrarem o réu e seus bens.

    Observa Amílcar de Castro que

    ... no silêncio da lei, o exercício da jurisdição arrima-se em dois princípios: o da efetividade e o da submissão. O princípio da efetividade significa que o juiz é incompetente para proferir sentença que não tenha possibilidade de executar. É intuitivo que o exercício da jurisdição depende da efetivação do julgado, o que não exclui a possibilidade de ser exercida a respeito de pessoas que estejam no estrangeiro e portanto fora do poder do tribunal. O que se afirma é que, sem texto de lei, em regra, o tribunal deve-se julgar incompetente quando as coisas, ou o sujeito passivo, estejam fora de seu alcance, isto é, do alcance da força de que dispõe.2

    Sobre o princípio da submissão, a que se refere o artigo 23, III, do Anteprojeto, diz o mesmo autor

    O princípio da submissão significa que, em limitado número de casos, uma pessoa pode voluntariamente submeter-se à jurisdição de tribunal a que não estava sujeita, pois se começa por aceitá-la não pode depois pretender livrar-se dela. Mas este princípio está sujeito a duas limitações: não prevalece onde se encontre estabelecida por lei a competência de justiça estrangeira, e não resiste ao princípio da efetividade, isto é, n~´ao funciona quando este deva funcionar. Por conseguinte, no silencio da lei indígena, o tribunal deve declarar-se incompetente quando não tenha razoável certeza de que poderá executar o julgado.3

    O artigo 23 do Substitutivo, assim como o artigo 89 do Código de Processo Civil vigente, estabelecem os casos que, segundo a lei brasileira, são de competência exclusiva da autoridade judiciária brasileira. Há pequenas mas relevantes diferenças de redação: em vez “proceder a inventário e partilha de bens, situados no Brasil”, “em matéria de sucessão hereditária, proceder a inventário

    1 CASTRO, Amilcar de. Direito Internacional Privado. 5ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 528 e 536;2 CASTRO, idem, p. 537.3 CASTRO, Amilcar de. Idem, p. 537-538.

  • 38 José Maria Rosa Tesheiner

    e partilha de bens situados no Brasil”; em vez de “ainda que o autor da herança seja estrangeiro e tenha residido fora do território nacional”, “ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional”.

    O artigo 24 do Substitutivo repete o disposto no artigo 90 do Código de Processo Civil vigente, expressamente ressalvando, porém, as disposições em contrário de tratados e acordos internacionais e esclarecendo que a pendência da causa perante a jurisdição brasileira não impede a homologação de sentença judicial ou arbitral estrangeira.

    Assim como o Código de Processo Civil vigente, o Anteprojeto não trata da imunidade à jurisdição, como a de Estados e consulados estrangeiros e a de organismos internacionais.

    PROJETO CÓDIGO VIGENTE

    TÍTULO II

    LIMITES DA JURISDIçãO BRASILEIRA E COOPERAçãO INTERNACIONAL

    CAPÍTULO I

    DOS LIMITES DA JURISDIçãO NACIONAL

    Art. 21. Cabe à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que:

    I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil;

    II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;

    III – o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil.

    Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, considera-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que aqui tiver agência, filial ou sucursal.

    Art. 88. É competente a autoridade judiciária brasileira quando:

    I – o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil;

    II – no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;

    III – a ação se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil.

    Parágrafo único. Para o fim do disposto no nº I, reputa-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que aqui tiver agência, filial ou sucursal.

  • 39Artigos 21 a 24

    Art. 22. Também caberá à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações:

    I - de alimentos, quando:a) o credor tiver seu domicílio ou sua

    residência no Brasil;

    b) o réu mantiver vínculos pessoais no Brasil, tais como posse de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos.

    II - decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil;

    III - em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição nacional.

    Art. 23. Cabe à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:

    I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;

    II - em matéria de sucessão hereditária, proceder a inventário e partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional.

    Art. 89. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:

    I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;

    II - proceder a inventário e partilha de bens, situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja estrangeiro e tenha residido fora do território nacional.

    Art. 24. A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil.

    Parágrafo único. A pendência da causa perante a jurisdição brasileira não impede a homologação de sentença judicial ou arbitral estrangeira.

    Art. 90. A ação intentada perante tribunal estrangeiro não induz litispendência, nem obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas.

  • ARTIGOS 25 A 41

    Sueli Chies

    A necessidade de cooperação jurídica entre os Estados se faz oportuna, uma vez que, mesmo com um conjunto de normas jurídicas internas, ainda assim estas se mostram insuficientes para a solução de uma controvérsia. Em razão disto, recorre-se a outros Estados através de sua jurisdição com o intuito de buscar ajuda mútua no âmbito In