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Comentários à Lei Fundef, que regulamenta receitas e despesas para o Ensino Fundamental Público.

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Page 1: Comentários à Lei Fundef

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COMENTÁRIOS À LEI

FUNDEF

Page 2: Comentários à Lei Fundef

2

ARON MAGNO DANGUI

COMENTÁRIOS À LEI FUNDEF

Comentários à Lei Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e

de Valorização do Magistério.

TEXTOS LEGAIS

(LEI Nº 9424/96, EC 14/96 E RESOLUÇÃO 03/97 DA CEB/CNE)

2003

Page 3: Comentários à Lei Fundef

3

Dangui, Aron Magno

Comentários à Lei Fundef / Aron Magno Dangui –

Janiópolis – Pr: Edição Própria, 2003.

I – Financiamento da educação – Brasil II – Educação –

Brasil III – Educação – Leis e Legislação IV – Dangui,

Aron Magno

Page 4: Comentários à Lei Fundef

4

DEDICATÓRIAS

Em memória de meus pais.

À Maristela – que me deu a idéia de escrever o texto -, e Isabeau e Rhuana – minha

inspiração - que suportam e, paradoxalmente, sustentam minhas quimeras.

Janeslei e Alex.

Para Jurandir, companheiro nos caminhos da educação.

Para Edson, meu irmão.

Para Davi, que consegue conciliar amizade, bom-humor e eficiência com desenvoltura.

Page 5: Comentários à Lei Fundef

5

O AUTOR

Administrador de Empresas, Professor. Lecionou as disciplinas de Contabilidade

Geral e Aplicada, Estatística e Legislação Aplicada. Com experiência na administração

pública tendo atuado como Assessor Administrativo Municipal.Bacharel em

Administração com especialização em Administração De Recursos Humanos.

Especialista em Direito Educacional pelas Faculdades Claretianas.

-

Page 6: Comentários à Lei Fundef

6

SIGLAS E ABREVIATURAS

CF: Constituição Federal

FUNDEF: Fundo de Desenvolvimento e Manutenção do Ensino Fundamental

ICMS: Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços de transporte interestadual

e intermunicipal e de comunicação

INSS: Instituto Nacional Do Seguro Social

FNDE: Fundo Nacional do Desenvolvimento do Ensino

EC-14: Emenda Constitucional nº 14

ADCT-CF: Ato das Disposições Transitórias da Constituição Federal

FPE: Fundo de participação dos Estados

FPM: Fundo de participação dos Municípios

IR: Imposto de Renda

IPI:Imposto Sobre Produtos Industrializados

LC: Lei Complementar

LDB :Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

LRF: Lei de Responsabilidade Fiscal

CNTE: Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação

APP: APP-Sindicato dos Trabalhadores em educação pública do Paraná – Núcleo

sindical de Campo Mourão-Pr.

CEB/CNE: Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação.

MDE: Manutenção e Desenvolvimento do Ensino

MEC: Ministério da Educação e Cultura.

Page 7: Comentários à Lei Fundef

7

FIPE: Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas

PIB: Produto Interno Bruto

PCCS: Plano de Cargos Carreira e Salários.

Page 8: Comentários à Lei Fundef

8

PREFÁCIO

Ao apresentar esta obra, quero também falar do autor. Aron Magno Dangui é

antes de tudo um grande amigo, um companheiro. È difícil conhece-lo sem ficar

impressionado pela grandiosidade do seu caráter, pela seriedade do trabalho, pela ética

profissional. Aron é uma dessas pessoas que não desistem, que estão sempre lutando,

recomeçando. Não lhe falta disposição.

Tudo teve início em 1997 logo após a promulgação da Lei 9394/96 LDB Lei de

diretrizes e Bases da Educação e 9424/96 lei que instituiu o Fundef – Fundo de

Desenvolvimento e Manutenção do Ensino Fundamental, foi quando o professor Aron

iniciou a discussão com os professores municipais de Janiópolis para a implantação do

PCCS Plano de Cargos Carreira e Salários. Depois formou-se um grupo de estudos para

estudar a legislação. Este grupo era composto por 5 membros da APP-Sindicato núcleo

sindical de Campo Mourão. Realizamos dois seminários sobre o FUNDEF, e estamos

assessorando no momento 11 municípios, na região.

Este livro é a prova da capacidade do autor. Nele, encontramos uma análise

caucada não somente na legislação, o que seria uma repetição de informações. O que

existe é uma interação entre a legislação e a experiência de sete anos de estudos, o que

faz desta obra, uma das mais completas no assunto.

Cabe-nos, enfim, aqui salientar sua importância, pois irá clarear muitas dúvidas,

tanto dos professores quanto dos administradores públicos.

Edson José Lasta

Davi Ozório Bueno

Page 9: Comentários à Lei Fundef

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INTRODUÇÃO

Após a promulgação da nova LDB, descortinou-se uma nova era para a

educação brasileira. Substituía-se um instrumento implantado, após importação, que

gerenciava a educação, a lei nº 5.692/71 do período da ditadura militar.

As discussões, que redundaram na nova LDB percorreram um longo caminho.

Durante cerca de dez anos duas concepções de educação se confrontaram no Congresso

Nacional. Um projeto elaborado pelo conjunto de organizações de educadores, batizado

de Projeto Jorge Hage e, o que finalmente, veio a ficar denominado de LDB, conhecido

como Projeto Darcy Ribeiro.

Um aspecto obteve contornos novos. O financiamento da educação ganhou uma

nova reordenação dos recursos já existentes. Criou-se, após a EC-14/96 os fundos de

manutenção da educação. A Lei 9424/96 criou o Fundef e, além de outros recursos,

destinou recursos do salário-educação para serem aplicados exclusivamente no Ensino

Fundamental.

A partir de 1999 cresce a demanda de professores das Redes de Ensino Públicas

Municipais em busca de informações sobre o financiamento da educação. Para atender

esta necessidade, a APP-Núcleo regional de Campo Mourão-Pr, realizou dois

seminários, específicos para professores e secretários municipais de educação, com o Sr.

Milton Canuto, do CNTE, especialista em Fundef.

Estes seminários foram a gênese de uma política organizada e sistemática de

atendimento técnico, contábil e jurídico para professores da rede Municipal.

A análise da aplicação dos recursos do fundo revelou um grande descaso da

administração pública, na correta aplicação da legislação. E, até mesmo, princípios

básicos de publicidade e gestão democrática dos recursos do fundo, eram negadas na

imensa maioria dos poderes executivos municipais. Sendo necessário, invariavelmente,

recorrer à pressão política e paralisações de atividades da rede municipal para alertar a

população sobre a correta aplicação dos recursos do Fundo.

Page 10: Comentários à Lei Fundef

10

Quando, estas atividades, extremas, resultaram ineficazes, recorreu-se à justiça,

para, via mandados de segurança garantir o acesso às contas públicas.

Apesar da intensa atividade, realizada para tornar conhecida a legislação relativa

ao financiamento em educação, é comum encontrar situações em que as informações

disponíveis revelam-se infrutíferas para a comunidade que as possui.

O texto, que aqui se apresenta, é mais uma tentativa de levar a discussão à

comunidade escolar.

Optamos por comentar todos os artigos, pois compreendemos que o uso de

manuais estava, paradoxalmente, reduzindo a reflexão e o estudo aprofundado da

legislação.

As reflexões aqui apresentadas nasceram em inúmeros seminários com

professores e reuniões com a administração pública e, posteriormente realimentadas

para melhor atuação em situações semelhantes que se apresentariam.

As lacunas existentes neste trabalho devem-se, em primeira instância às

limitações do autor e, pedimos escusas por tal fato. E, em segundo lugar, a uma clara

aversão contra a forma pessoal, prepotente e autoritária com que inúmeros

administradores tratam a “coisa pública” o que nos leva, invariavelmente, a emitir

conceitos e juízos que refletem este posicionamento.

Aron Magno Dangui

Page 11: Comentários à Lei Fundef

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Art. 1º

LEI nº 9.424 de 24 de dezembro de 1996.

Dispõe sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino

Fundamental e de valorização do Magistério, na forma do art. 60 § 7º do Ato das

Disposições Constitucionais Transitórias e da outras providências:

O Presidente da República

Faço saber que o Congresso Decreta e eu sanciono a seguinte Lei.

Art. 1º - É instituído no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, o Fundo de

Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do

Magistério, o qual terá natureza contábil e será implantado, automaticamente, a

partir de 1º de janeiro de 1998.

§ 1º - O Fundo referido neste artigo será composto por 15% (quinze por cento) dos

recursos:

I - da parcela do Imposto sobre operações relativas à circulação de

mercadorias e de prestação de serviços de transporte interestadual e

intermunicipal, e de comunicações – ICMS, devida ao Distrito Federal, aos Estados

e aos Municípios conforme dispõe o art. 155, inciso II, combinado com o art. 158,

Inciso IV da Constituição Federal;

II - Do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal – FPE e dos

Municípios – FPM, previstos nos art. 159, inciso I, alíneas a e b, e no Sistema

Tributário Nacional de que trata a Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1996.

III - da parcela do Imposto Sobre Produtos Industrializados – IPI devida aos

Estados e ao Distrito Federal, na forma do art. 159, inciso II da Constituição

Federal e da Lei Complementar nº 61, de 26 de dezembro de 1989.

§ 2º - Inclui-se na base de cálculo do valor a que se refere o Inciso I do parágrafo

anterior o montante de recursos financeiros transferidos, em moeda, pela União aos

Estados, Distrito Federal e Municípios a titulo de compensação financeira pela

perda de receitas decorrentes da desoneração das exportações, nos termos da Lei

Page 12: Comentários à Lei Fundef

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Complementar nº 87, de 13 de setembro de 1996, bem como de outras

compensações da mesma natureza que vierem a ser instituídas.

§ 3º - Integra os recursos do Fundo a que se refere esse artigo a complementação da

União, quando for o caso, na forma prevista no art. 6º.

§ 4º - A implantação do Fundo poderá ser antecipada em relação à data prevista

neste artigo, mediante Lei no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal.

§ 5º - No exercício de 1997, a União dará prioridade, para a concessão de assistência

financeira, na forma prevista no art. 211, § 1º , da Constituição Federal, aos

Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios nos quais a implantação do Fundo foi

antecipada na forma prevista no parágrafo anterior.

C O M E N T Á R I O

1.PREÂMBULO

O processo, que se definiu com a promulgação da Lei Fundef, origina-se na

mudança da Constituição Federal, ocorrida em 1996. A EC-14 alterou o art. 60 do

ADCT-CF, criando a possibilidade de existências de Fundos compostos por

percentuais de recursos de impostos já existentes. Assim, segundo a nova redação

do art. 60 ADCT-CF, modificado pela EC-14/96, 60% (sessenta por cento) dos

recursos determinados no art. 212 da CF, ou seja, o mínimo de 25% (vinte e cinco

por cento) obrigatórios para aplicação em educação por Estados e Municípios

devem, ser aplicados, exclusivamente, no Ensino Fundamental.

"Art. 60. Nos dez primeiros anos da promulgação desta emenda, os Estados, o

Distrito Federal e os Municípios destinarão não menos de sessenta por cento dos

recursos a que se refere o caput do Art. 212 da Constituição Federal, à

manutenção e ao desenvolvimento do ensino fundamental, com o objetivo de

assegurar a universalização de seu atendimento e a remuneração condigna do

magistério.

§ 1o A distribuição de responsabilidades e recursos entre os Estados e seus

Page 13: Comentários à Lei Fundef

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Municípios a ser concretizada com parte dos recursos definidos neste artigo, na

forma do disposto no Art. 211 da Constituição Federal, e assegurada mediante

criação, no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, de um Fundo de

Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do

Magistério, de natureza contábil.

§ 2o O Fundo referido no parágrafo anterior será constituído por, pelo menos,

quinze por cento dos recursos a que se referem os Arts. 155, Inc. II; 158, Inc. IV;

e 159, Inc. I, alíneas a e b; Inc. II, da Constituição Federal, e será distribuído

entre cada Estado e seus Municípios, proporcionalmente ao número de alunos nas

respectivas redes de ensino fundamental.

§ 3o A União complementará os recursos dos Fundos que se refere o § 1

o sempre

que, em cada Estado e no Distrito Federal, seu valor por aluno não alcançar o

mínimo definido nacionalmente.

§ 4o A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios ajustarão

progressivamente, em um prazo de cinco anos, suas contribuições ao Fundo, de

forma a garantir um valor por aluno correspondente a um padrão mínimo de

qualidade de ensino, definido nacionalmente.

§ 5o Uma proporção não inferior a sessenta por cento dos recursos de cada Fundo

referido no § 1 será destinada ao pagamento dos professores do ensino

fundamental em efetivo exercício no magistério.

§ 6o A União aplicará na erradicação do analfabetismo e na manutenção e no

desenvolvimento do ensino fundamental, inclusive na complementação a que se

refere o § 3o, nunca menos que o equivalente a trinta por cento dos recursos a que

se refere o caput do Art. 212 da Constituição Federal.

§ 7o A lei disporá sobre a organização dos Fundos, a distribuição proporcional de

seus recursos, sua fiscalização e controle, bem como sobre a forma de cálculo do

valor mínimo nacional por aluno." 1

O dispositivo Constitucional, criou a possibilidade da existência de fundos, nos

Estados, Distrito Federal e Municípios, que destinem recursos, exclusivamente ao ensino

1 Constituição Federal, art.60 do ADCT modificado pela EC 14/96

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fundamental. No caso, especifico, criou mecanismos que resultam na aplicação de

recursos já existentes, em uma determinada modalidade de ensino.

2. ÁREA DE ABRANGÊNCIA DA LEI

Os entes federados - Estados, o Distrito Federal e, os mais de cinco mil

municípios - brasileiros formam o espaço físico/contábil em que vigora a Lei Fundef.

A União não se inclui nos entes federativos que são a área de abrangência da Lei.

Portanto, o Fundo delimita a aplicação de 60% (sessenta por cento) dos 25% (vinte e

cinco por cento), a que estão obrigados a aplicar, no mínimo, os Estados, o Distrito

Federal e os Municípios.

Assim, os 18%(dezoito por cento), de aplicação mínima, a que esta obrigada,

constitucionalmente, a União não se enquadram nas limitações da Lei Fundef.

Como o próprio nome evidencia, os recursos do Fundo devem ser aplicados

exclusivamente no ensino Fundamental.

3.NATUREZA CONTÁBIL

A natureza contábil determina que os recursos serão gerenciados através de um

sistema de contas bancárias.

Os Estados, Distrito Federal e os Municípios devem ter contas únicas e

especificas para movimentar os recursos do fundo. Tal sistema possibilita eliminar,

praticamente quase toda a burocracia, não sendo necessário, por exemplo, esperar, que

uma Agência ou Autarquia governamental libere os recursos, uma vez que,

automaticamente, se retira um percentual de impostos que recebem Estados, Municípios

e o Distrito Federal e, são depositados na conta Fundef.

Com isto elimina-se a eventualidade de um atraso nos depósitos dos recursos na

conta Fundef, uma vez que, são retirados diretamente das contas originais.

4.DA COMPOSIÇÃO DO FUNDO

Page 15: Comentários à Lei Fundef

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O Fundef utiliza-se de percentuais de impostos/recursos que já existem e, que

estão em pleno vigor. Não é, portanto, um novo imposto. Tampouco é recurso novo da

União que virá reforçar os recursos já existentes no Município.

O percentual que incidirá sobre os impostos foi estipulado pela Lei em

15%(quinze por cento) no seu § 1º, Art. 1º.

4.1. ICMS

Quinze por cento dos recursos recebidos pelos Municípios, Estados e o Distrito

Federal, a titulo de ICMS, serão, automaticamente, descontados das contas ICMS e

repassadas para as contas FUNDEF.

“Art. 155 -compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: *

(Redação pela Emenda Constitucional 03/93)

II - operações relativas a circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços

de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as

operações e as prestações se iniciem no exterior; * (Redação pela Emenda

Constitucional 03/93)

Art. 158 - Pertencem aos Municípios:

IV - vinte e cinco por cento do produto da arrecadação do imposto do Estado

sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de

serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação.

Parágrafo Único - As parcelas de receita pertencentes aos Municípios,

mencionadas no inciso IV, serão creditadas conforme os seguintes critérios:

Page 16: Comentários à Lei Fundef

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I - Três quartos, no mínimo, na proporção do valor adicionado nas operações

relativas à circulação de mercadorias e nas prestações de serviços, realizadas em

seus territórios;

II - até um quarto, de acordo com o que dispuser lei estadual ou, no caso dos

Territórios, lei federal.”2

A Parcela de 15% (quinze por cento) deste imposto que, após ser recolhido é

depositado semanalmente nas contas ICMs dos Estados, Distrito Federal e Municípios,

será depositado na conta FUNDEF. Assim, por exemplo, as contas municipais ICMS

são, por assim dizer “contas-mãe” que terão subtraído de seu valor 15% (quinze por

cento) que serão, automaticamente depositados na conta Fundef.

Levando ao limite o exemplo podemos dizer que, a hipotética possibilidade de

um município, em uma das parcelas, de uma das quadrissemanas, de depósito do ICMS,

receber R$ 1.000,00 (um mil reais) teria os seguintes lançamentos a crédito em suas

contas: Conta ICMS R$ 850,00 (oitocentos e cinqüenta reais) e; Conta Fundef R$ 150,00

(cento e cinqüenta reais). Uma vez que os 15% (quinze por cento) são descontados

automaticamente.

No mesmo dia, em que for efetuado o depósito, na conta ICMS, ocorrerá,

também, o depósito de 15% (quinze por cento) deste recurso na conta Fundef, com

pouca, ou quase nenhuma burocracia, balcão ou interferência de burocratas ou políticos.

4 .2. DO FPE E FPM

Sobre estes impostos, assim determina Constituição Federal

2 Constituição Federal, art. 155 modificado pela EC 03/93

Page 17: Comentários à Lei Fundef

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“ Art. 159 - A União entregará:

I - do produto da arrecadação dos impostos sobre renda e proventos de qualquer

natureza e sobre produtos industrializados, quarenta e sete por cento na seguinte

forma:

a) vinte e um inteiros e cinco décimos por cento ao Fundo de Participação dos

Estados e do Distrito Federal;

b) vinte e dois inteiros e cinco décimos por cento ao Fundo de Participação dos

Municípios;”3

O FPE e FPM terão a seguinte composição, de acordo com o disposto nos artigos

43, 46, 86 e 87 da Lei nº 5.172 de 25 de outubro de 1966.

Art. 86. Do produto da arrecadação dos impostos a que se referem os artigos 43 e

46, 80% (oitenta por cento) constituem a receita da União e o restante será

distribuído à razão de 10% (dez por cento) ao Fundo de Participação dos Estados

e do Distrito Federal e 10 % (dez por cento) ao Fundo de Participação dos

Municípios.

Parágrafo único. Para cálculo da percentagem destinada aos Fundos de

Participação, exclui-se do produto da arrecadação do impôsto a que se refere o

artigo 43 a parcela distribuída nos têrmos do inciso II do artigo anterior.

Art. 87. O Banco do Brasil S.A., à medida em que for recebendo as

comunicações do recolhimento dos impostos a que se refere o artigo anterior,

para escrituração na conta "Receita da União", efetuará automaticamente o

destaque de 20% (vinte por cento), que creditará, em partes iguais, ao Fundo de

Participação dos Estados e do Distrito Federal e ao Fundo de Participação dos

Municípios.

3 Constituição Federal, art. 159.

Page 18: Comentários à Lei Fundef

18

Parágrafo único. Os totais relativos a cada imposto, creditados mensalmente a

cada um dos Fundos, serão comunicados pelo Banco do Brasil S.A. ao Tribunal

de Contas da União até o último dia útil do mês subseqüente.

“Art. 43. O impôsto, de competência da União, sôbre a renda e proventos de

qualquer natureza tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade

econômica ou jurídica:

I - de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação

de ambos;

II - de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos

patrimoniais não compreendidos no inciso anterior.

Art. 46. O impôsto, de competência da União, sôbre produtos industrializados

tem como fato gerador:

I - o seu desembaraço aduaneiro, quando de procedência estrangeira;

II - a sua saída dos estabelecimentos a que se refere o parágrafo único do artigo

51;

III - a sua arrematação, quando apreendido ou abandonado e levado a leilão.

Parágrafo único. Para os efeitos dêste impôsto, considera-se industrializado o

produto que tenha sido submetido a qualquer operação que lhe modifique a

natureza ou a finalidade, ou o aperfeiçoe para o consumo. “4

É, decenalmente que são depositados os recursos do FPE e FPM, composto por

recursos do IR e IPI, nas contas dos Estados, Distrito Federal e Municípios. E, das

“contas-mãe” – FPE e FPM – também serão retiradas parcelas de 15% (quinze por cento)

para compor o Fundef.

4 Lei n. 5.172/66 de artigos 43 e 46.

Page 19: Comentários à Lei Fundef

19

4 .3. DO IPI

“Art. 159 - A União entregará:

II - do produto da arrecadação do Imposto Sobre Produtos Industrializados, dez

por cento aos Estados e ao Distrito Federal, proporcionalmente ao valor das

respectivas exportações de produtos industrializados.

§ 3º - Os Estados entregarão aos respectivos Municípios vinte e cinco por cento

dos recursos que receberem nos termos do inciso II, observados os critérios

estabelecidos no art. 158, parágrafo único, I e II.”5

Os Impostos Sobre Produtos Industrializados que são exportados também

farão parte do pacote de Impostos/recursos que compõem a base dos recursos do

Fundef e, será depositado mensalmente nas respectivas contas dos Estados, Distrito

Federal e, serão repassados 25% ( vinte e cinco por cento) para os Municípios.

Sendo que, automaticamente, 15% (quinze por cento) destes recursos serão

depositados nas contas especificas Fundef.

4 .4. Desoneração das exportações

Com intuito de tornar mais competitivos os produtos brasileiros no mercado

internacional e, conseqüentemente ampliar a pauta e a quantidade das exportações, o

governo brasileiro desonera as exportações, diminuindo ou isentando produtos da

cobrança do ICMS. Para tentar diminuir o Impacto, negativo, nas contas municipais e

Estaduais referentes à renúncia fiscal referida, o governo federal compensa os Entes

Federados (Estados, Distrito Federal e Municípios) com “recursos financeiros

transferidos em moeda...”.

Do repasse relativo à LC 87/96, acima descritos, desconta-se 15% (quinze por

cento) que, também, farão parte do “bolo” de recursos do Fundef.

5 Constituição Federal, art. 159.

Page 20: Comentários à Lei Fundef

20

O parágrafo inclui futuras e possíveis compensações que, eventualmente, venham

a surgir, no conjunto de recursos que compõem o Fundef.

4.5. Complementação da união.

A União, anualmente, via decreto presidencial, definirá o valor mínimo anual por

aluno. Este será o limite mínimo, preconizado pela atual política educacional, a ser

investido por aluno/ano nos sistemas educacionais. Para o ano de 2003, este valor,

nacionalmente definido, será de R$ 446.00 (quatrocentos e quarenta e seis reais).6

Caso algum município não atinja o valor acima, a União complementará,

mensalmente, os valores que faltam para atingir o mínimo nacionalmente definido.

O § 4º faculta a antecipação do inicio determinado para vigência da Lei – 1º de

janeiro de 1998 – desde que Lei, do respectivo ente Federado, assim o determine.

Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que optarem pela antecipação

receberão assistência financeira prioritária da União.

4 .6. Tabelas informativas

COMPOSIÇÃO DOS RECURSOS DO FUNDEF

IMPOSTO %

%

ARTIGOS PERIODICIDAD

E

6 Decreto-Lei n. 4.580, de 24/01/2003.

Page 21: Comentários à Lei Fundef

21

ICMS 15 Inciso I, § 1º, art. 1º Semanalmente

FPM/FPE 15 Inciso II,

§ 1º, art. 1º

Decenalmente

IPI 15 Inciso III,

§ 1º, art. 1º

Mensalmente

DESONERA-

ÇÃO DA

EXPORTAÇ

ÃO

15 § 2º, art. 1º Mensalmente

COMPLEME

N-TAÇÃO

DA UNIÃO

QUANDO NECESSÁRIO, § 3º, ART. 1º

FONTE:ELABORADO PELO AUTOR

ART. 1º - Legislação Citada

Legisla-ção Nome Data Objeto

Lei nº

9424/96

Fundef 24/12/1996 Fundo de

Manutenção da

Educação

CF-1988 Constituição

Federal

08/10/1988 Artigos sobre

educação e

impostos.

Artigos:

155,158,159 e

211

Page 22: Comentários à Lei Fundef

22

Lei nº 5172 Sistema

Tributário

Nacional

25/10/1966 Tributos

LC nº 61 26/12/1989

LC nº 87 Lei Kandir 13/09/1996 Desoneração das

exportações

FONTE:ELABORADO PELO AUTOR

Page 23: Comentários à Lei Fundef

23

Art. 2º - Os Recursos do Fundo serão aplicados na Manutenção e Desenvolvimento

do Ensino Fundamental público, e na valorização de seu magistério.

§ 1º A distribuição dos recursos, no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal

dar-se-á, entre o Governo Estadual e os Governos Municipais, na proporção do

número de alunos matriculados anualmente nas escolas cadastradas das respectivas

redes de ensino, considerando-se para esse fim:

I - as matrículas da 1ª a 8ª séries do ensino fundamental;

II - (VETADO)

§ 2º A distribuição a que se refere o parágrafo anterior, a partir de 1998, deverá

considerar, ainda, a diferenciação de custo por aluno, segundo os níveis de ensino e

tipos de estabelecimento, adotando-se a metodologia de cálculo e as

correspondentes ponderações, de acordo com os seguintes componentes:

I - 1ª a 4ª séries;

II - 5ª a 8ª séries;

III - estabelecimentos de ensino especial;

IV - escolas rurais.

§ 3º Para efeito dos cálculos mencionados no § 1º, serão computadas

exclusivamente as matrículas do ensino presencial.

§ 4º O Ministério da Educação e do Desporto - MEC realizará, anualmente, censo

educacional, cujos dados serão publicados no Diário Oficial da união e constituirão

a base para fixar a proporção prevista no § 1º.

§ 5º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão, no prazo de trinta dias

da publicação referida no parágrafo anterior, apresentar recurso para retificação

dos dados publicados.

Page 24: Comentários à Lei Fundef

24

§ 6º É vedada a utilização dos recursos do Fundo como garantia de operações de

crédito internas e externas, contraídas pelos Governos da união, dos Estados, do

Distrito Federal e dos Municípios, admitida somente sua utilização como

contrapartida em operações que se destinem, exclusivamente, ao financiamento de

projetos e programas do ensino fundamental.

COMENTÁRIO

1. MANUTENÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO ENSINO

O Conceito de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino está explicitado na

LDB

“ Considerar-se-ão como de manutenção e desenvolvimento do ensino as

despesas realizadas com vistas à consecução dos objetivos básicos das

instituições educacionais de todos os níveis, compreendendo as que se destinam

a:

I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e demais

profissionais da educação;

II - aquisição, manutenção, construção e conservação de instalações e

equipamentos necessários ao ensino;

III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao ensino;

IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas visando

precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à expansão do ensino;

V - realização de atividades-meio necessárias ao funcionamento dos

sistemas de ensino;

VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas públicas e

privadas;

Page 25: Comentários à Lei Fundef

25

VII - amortização e custeio de operações de crédito destinadas a atender

ao disposto nos incisos deste artigo;

VIII - aquisição de material didático-escolar e manutenção de programas

de transporte escolar.”7

As despesas que são consideradas Manutenção e Desenvolvimento do ensino

podem ser divididas em dois grupos: os que se destinam ao corpo docente e discente e, as

de equipamentos e materiais destinados ao ensino.

A) Corpo docente e discente

Em relação às despesas “humanas” que são consideradas Manutenção e

Desenvolvimento do Ensino incluem-se: remuneração e aperfeiçoamento dos

profissionais da educação e docentes; estudos, estatísticas, pesquisas; realização de

atividades-meio e; bolsas de estudos para alunos da rede pública e privada de ensino.

B) Equipamentos e materiais

As despesas materiais, na categoria

Manutenção e Desenvolvimento do Ensino, são: as relativas às instalações/equipamentos

(aquisição/manutenção); utilização e manutenção de bens e serviços; operações de

créditos e; aquisição de material didático-escolar e transporte escolar.

2.ENSINO FUNDAMENTAL PÚBLICO

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB - Lei 9394/96, em seu

artigo 21 divide a educação em dois níveis: Educação básica e educação superior.

A Educação Básica é, ainda, segundo este mesmo artigo subdividida em outros

níveis: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio.

“A educação escolar compõem-se de:

7 LDB – Lei 9394/96, art. 70.

Page 26: Comentários à Lei Fundef

26

I - Educação Básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino

médio

II - Educação Superior.”8

A seção II, do Capitulo II, da LDB, nos artigos 29 e 30 tratam especificamente da

Educação Infantil, explanando seus objetivos, a faixa etária do educando nesta

modalidade de ensino - até os seis anos de idade - e, sua função complementar. O art. 30

determina ainda onde será ofertada a educação infantil, em creches para crianças com até

03 anos e; Pré-escolas para crianças de 04 a 06 anos de idade.

“A educação Infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o

desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos

físicos, psicológicos, intelectual e social, complementando a ação da família e da

comunidade.

A educação infantil será oferecida em:

I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade;

II - pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade.”9

A seção III, deste mesmo capítulo II, trata do ensino fundamental explanando,

detalhadamente, seus objetivos com princípios, disciplinas, carga-horária, etc. E o art.32

determina a duração do ensino fundamental – 8 (oito) anos - ou seja, de 1º a 8º séries, os

antigos primários e ginásios.

“O ensino fundamental, com duração mínima de oito anos, obrigatório e gratuito

na escola pública, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante:”10

Assim, temos algumas definições úteis. 1 - A educação divide-se em Básica e

Superior

2 - A educação Básica é assim composta: Educação infantil, Ensino Fundamental e

Ensino Médio;

8 LDB – Lei 9394/96, art.21.

9 LDB – Lei 9394/96, artigos 29 e 30.

10 LDB – Lei 9394/96, art. 34.

Page 27: Comentários à Lei Fundef

27

3 - A Educação Infantil abrange os educandos de 0 a 6 anos em creches e pré-escolas;

4 - O Ensino Fundamental terá duração mínima de 8 anos, com crianças a partir de 07

anos.

Os recursos do Fundef são exclusivos para a manutenção do ensino fundamental

(1ª a 8ª séries) e, para valorizar os docentes desta modalidade de ensino.

3.VALORIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO

Na LDB, Lei nº 9394/96, entre seus princípios – Título II – destacamos um inciso

“valorização do profissional da educação escolar.”11

A palavra valorização vem do latim valorem /valere com significado, geral, de

preço, valer, valia. Também designa coragem, esforço. Por valorização compreendemos

“ aumento do valor de mercadorias, gêneros, alta de preços”12

E do latim valentia, significando corajoso. Assim, neste sentido, temos valor=

audácia, vigor, mérito, importância.

Etimologicamente, portanto, podemos identificar duas direções, no momento,

para o significado de valorização: preço e mérito.

Um valor de coisas (preço) e outro juízo de qualidades humanas (audácia, mérito,

coragem).

O sentido dado pelo legislador se equilibra entre estes juízos:

comercial/qualidade.

Ora, não resta dúvida que, o correto seria estipular um valor mínimo por

hora/aula, que vigoraria em todo território nacional. Acreditamos que tal medida não

afetaria as diferenças regionais, uma vez, que, a nosso ver, regiões com maior

11

LDB – Lei 9394/96, Art. 3º , Inciso VI. 12

Antonio Geraldo da Cunha, Dicionário etmológico Nova Fronteira de Língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982, p.

Page 28: Comentários à Lei Fundef

28

desenvolvimento sócio-econômico, poderiam, teoricamente, pagar aos seus profissionais

da educação valores acima do mínimo determinado nacionalmente.

Assim teríamos um valor, um preço mínimo que deveria ser acatado

nacionalmente. Indo assim ao encontro do principio constitucional de isonomia. Cargos

com atribuições semelhantes, com piso salarial semelhante.

Em outra vertente, encontramos o principio do esforço coragem/audácia/mérito.

Assim, a valorização passaria por reconhecimento de princípios e conceitos universais

que apontam para ideais almejados pela maior parte da humanidade. Busca, portanto,

alcançar princípios judaico-cristãos, que fundamentam nossa sociedade.

A profissão de educador – professor –é envolta em idealizações. A carreira é

denominada de, entre outras coisas: “Sacerdócio”; “missão”; “entrega”; “sacrifício”...

E a Lei, bem ou mal, atende esta atitude mistificadora da sociedade.

Depreendemos, então, que a “valorização” passa, necessariamente, pelo

atendimento destes dois conceitos: preço - qual o valor monetário de um professor?; e,

mérito – como reconhecer,mérito, audácia, coragem?

Calculamos que seria mais simples instituir um piso nacional de salários.

A LDB, contendo os conceitos majoritários, no Brasil, sobre educação, tenta dar

vida ao principio da “valorização” em suas disposições, obrigando os sistemas de ensino

a assegurar aos profissionais da educação os seguintes fundamentos

“Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais da educação,

assegurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do

magistério público:

I - ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos;

II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento

periódico remunerado para esse fim;

III - piso salarial profissional;

IV - progressão funcional baseada na titulação ou habilitação, e na

avaliação do desempenho;

V - período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na

carga de trabalho;

VI - condições adequadas de trabalho.

Page 29: Comentários à Lei Fundef

29

Parágrafo único. A experiência docente é pré-requisito para o exercício

profissional de quaisquer outras funções de magistério, nos termos das normas de

cada sistema de ensino.” 13

Apesar de não estar estipulado o “preço”, ou seja, o piso nacional mínimo, para o

exercício do magistério, encontra-se neste artigo alguns avanços. Por exemplo, aponta

para a existência de um “piso salarial profissional” em cada sistema de ensino. Isto

significa, em que pese suas discrepâncias, que cada Município, cada Estado e o Distrito

Federal poderão instituir seu próprio piso salarial. Teremos, então, em uma mesma

escola professores, com carga horária semelhante, atribuições semelhantes, porém,

recebendo salários dispares. E a isonomia? Em algumas escolas municipalizadas,

encontramos em atividade professores do sistema municipal de ensino, lado a lado, com

colegas do sistema estadual de ensino, gerando desconforto e indignação, graças aos

diferentes “preços” pagos pelos sistemas de ensino municipal e estadual.

E o que falar sobre professores dos sistemas municipais de ensino, de uma

mesma região, com idêntico perfil sócio-econômico, população semelhante, mas com

salários diferentes?

Outro avanço é o período para estudos, comumente denominados de hora-

atividade, apesar de não ser, ainda, o espaço de tempo que julgamos ser, efetivamente,

necessário para se fazer sentir melhorias significativas na qualidade de ensino, podemos

constatar avanços nos aspectos relacionados ao ensino-aprendizagem em inúmeros

estabelecimentos de ensino.

Ficou garantido na LDB:

a) Concurso público para ingresso;

b) aperfeiçoamento profissional;

c) progressão funcional com base na habilitação e na avaliação de desempenho;

d) condições adequadas de trabalho.

4.DA DISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS

13

LDB – Lei nº 9394/96, Art. 67.

Page 30: Comentários à Lei Fundef

30

Os alunos matriculados nos sistemas Estaduais/Distrital e Municipais servirão de

parâmetro para a distribuição dos recursos. Multiplicar-se-á o número de alunos do

sistema de ensino pelo coeficiente e obter-se-á o volume de recursos financeiros de cada

sistema.

Para efeito desta distribuição, levar-se-ão em conta os diferentes níveis de custo

por aluno, subdivididos em quatro tópicos: 1º a 4º séries; 5º a 8º séries; ensino especial e;

Escolas rurais.

O censo educacional, que determinará o número de alunos de cada sistema, será

realizado anualmente pelo MEC e, os dados serão disponibilizados no Diário Oficial da

União.

No censo serão considerados apenas alunos de ensino presencial.

Após a publicação dos resultados do censo, os entes da federação terão 30 dias

para solicitar sua revisão, se assim lhes aprouver.

Por fim, veda-se o uso do fundo como caução de operações de crédito,

possibilitando-se, apenas, o seu uso como contrapartida para projetos que se destinem,

exclusivamente, a projetos do ensino fundamental.

Assim, um ente federado (Município, Estado ou Distrito Federal), caso receba

recursos da União, por exemplo, para determinado projeto educacional, poderá,

contrapor (alocar) recursos do Fundo, a titulo de complementação dos recursos da União.

Page 31: Comentários à Lei Fundef

31

Art. 3º Os recursos do Fundo previstos no art. 1º serão repassados,

automaticamente, para contas únicas e específicas dos Governos Estaduais, do

Distrito Federal e dos Municípios, vinculadas ao Fundo, instituídas para esse fim e

mantidas na instituição financeira de que trata o art. 93 da Lei nº 5.172, de 25 de

outubro de 1996.

§ 1º Os recursos do Fundo, provenientes das participações a que se refere o art.

159, inciso I, alíneas a e b, e inciso II, da Constituição Federal, constarão dos

orçamentos da união, dos Estados e do Distrito Federal, e serão creditados pela

união em favor dos Governos Estaduais, do Distrito Federal e dos Municípios, nas

contas específicas a que se refere este artigo, respeitados os critérios e as finalidades

estabelecidas no art. 2º, observados os mesmos prazos, procedimentos e forma de

divulgação adotados para o repasse do restante destas transferências

constitucionais em favor desses governos.

§ 2º Os repasse do Fundo provenientes do imposto previsto no art. 155, inciso II,

combinado com o art. 158, inciso IV, da Constituição Federal, constarão dos

orçamentos dos Governos estaduais e do Distrito Federal e serão depositados pelo

estabelecimento oficial de crédito, previsto no art. 4º da Lei Complementar nº 63, de

11 de janeiro de 1990, no momento em que a arrecadação estiver sendo realizada

nas contas do Fundo abertas na instituição financeira de que trata este artigo.

§ 3º A instituição financeira, no que se refere aos recursos do imposto mencionado

no § 2º, creditará imediatamente as parcelas devidas ao Governo Estadual ao

distrito Federal e aos Municípios, nas contas específicas referidas neste artigo,

observados os critérios e as finalidades estabelecidas no art. 2º, procedendo à

divulgação dos valores creditados de forma similar e com a mesma periodicidade

utilizada pelos Estados em relação do restante da transferência do referido imposto.

§ 4º Os recursos do Fundo provenientes da parcela do Imposto sobre Produtos

Industrializados, de que trata o art. 1º, inciso II, serão creditados pela União, em

favor dos Governos Estaduais e do Distrito Federal, nas contas específicas, segundo

o critério e respeitadas as finalidades estabelecidas no art. 2º, observados os mesmos

Page 32: Comentários à Lei Fundef

32

prazos, procedimentos e forma de divulgação previstos na Lei Complementar nº 61,

de 26 de dezembro de 1989.

§ 5º Do montante dos recursos do IPI, de que trata o art. 1º, inciso III, a parcela

devida aos Municípios, na forma do disposto no art. 5º da Lei Complementar nº 61,

de 26 de dezembro de 1989, será repassada pelo respectivo Governo Estadual ao

Fundo e os recursos serão creditados na conta específica a que se refere este artigo,

observados os mesmos prazos, procedimentos e forma de divulgação do restante

desta transferência aos Municípios.

§ 6º As receitas financeiras provenientes das aplicações eventuais dos saldos das

contas a que se refere este artigo em operações financeiras de curto prazo ou de

mercado aberto, lastreadas em títulos da dívida pública, junto a instituição

financeira depositária dos recursos, deverão ser repassadas em favor dos Estados,

do Distrito Federal e dos Municípios nas mesmas condições estabelecidas no art. 2º.

§ 7º Os recursos do Fundo, devidos aos Estados, ao Distrito Federal e aos

municípios, constarão de programação específica nos respectivos orçamentos.

§ 8º Os Estados e os Municípios recém-criados terão assegurados os recursos do

Fundo previstos no art. 1º, a partir das respectivas instalações, em conformidade

com os critérios estabelecidos no art. 2º.

§ 9º Os Estados e os respectivos Municípios poderão, nos termos do art. 211, § 4º, da

Constituição Federal, celebrar convênios para transferência de alunos, recursos

humanos, materiais e encargos financeiros nos quais estará prevista a transferência

imediata de recursos do Fundo correspondentes ao número de matrículas que o

Estado ou o Município assumir.

COMENTÁRIO

Os repasses do FPE, FPM e ICMS constarão dos orçamentos da União, dos

Estados e do Distrito Federal e serão creditados nas contas Fundef no Banco do Brasil,

para os entes federados respeitados os mesmos prazos, e demais procedimentos usuais

para os 85% (oitenta e cinco por cento) repassados aos Municípios.

Page 33: Comentários à Lei Fundef

33

“Até o último dia útil de cada mês, o Banco do Brasil S.A. creditará a cada

Estado, ao Distrito Federal e a cada Município as quotas a êles devidas, em

parcelas distintas para cada um dos impostos a que se refere o artigo 86,

calculadas com base nos totais creditados ao Fundo correspondente, no mês

anterior.

1º Os créditos determinados por êste artigo serão efetuados em contas especiais,

abertas automaticamente pelo Banco do Brasil S.A., em sua agência na Capital de

cada Estado, no Distrito Federal e na sede de cada Município, ou, em sua falta na

agência mais próxima.

2º O cumprimento do disposto neste artigo será comunicado pelo Banco do Brasil

S.A. ao Tribunal de Contas da União, discriminadamente, até o último dia útil do

mês subseqüente. “14

O caráter contábil do Fundo torna-se explicito nos disposto nos parágrafos 1º ao

5º, onde o legislador identifica a origem, os locais e prazos que devem ser obedecidos

para os depósitos nas contas Fundef. Evidenciando o sistema de contas públicas.

É, portanto, identificado os impostos que compõem o Fundo e determina a rotina

dos depósitos nas contas especificas. Ou seja, apresenta a fonte – impostos de onde vem

os recursos – e, aponta o destino destes recursos – a conta única Fundef – aberta nas

agências do Banco do Brasil.

O § 1º trata do FPE/FPM; o § 2º trata do ICMS; o § 3º das agências bancárias – o

Banco do Brasil – onde será depositado os recursos; os § 4º e 5º do IPI.

“Os coeficientes individuais de participação, calculados na forma do artigo

anterior, deverão ser apurados e publicados no “Diário Oficial” da União pelo

Tribunal de Contas da União até o último dia útil do mês de julho de cada ano.

14

Lei 5.172/66, Art. 93.

Page 34: Comentários à Lei Fundef

34

§ 1º As Unidades Federadas disporão de 30 (trinta) dias, a partir da publicação

referida no “caput” deste artigo, para apresentar contestação, juntando desde logo

as provas em que se fundamentar.

§ 2º O Tribunal de Contas da União, no prazo de 30 (trinta) dias contados do

recebimento da contestação mencionada no parágrafo anterior, deverá manifestar-

se sobre a mesma.

“Os Estados entregarão aos seus respectivos municípios 25% (vinte e cinco por

cento) dos recursos que nos termos desta Lei Complementar receberem,

observando-se para tanto os mesmos critérios, forma e prazos estabelecidos para

o repasse da parcela do ICMS que a Constituição Federal assegura às

Municipalidades.”15

Na eventualidade da aplicação dos recursos do Fundo no mercado financeiro, o

resultado da aplicação sujeitar-se-á ao disposto na Lei.

O § 9º abre a possibilidade, para os Estados e Municípios, da celebração de

convênios para transferência de alunos do sistema estadual para o sistema municipal e

vice-versa, com a competente transferência dos recursos entre os entes federados que,

porventura, celebrarem convênios.

Isto significa que, por exemplo, caso o município não atenda, um determinado

número de alunos, 400 (quatrocentos), por exemplo, e os mesmos forem atendidos pelo

sistema estadual os recursos referentes aos 400 (quatrocentos) alunos serão destinados ao

Estado, através da celebração de um convênio entre as partes.

15

Lei Complementar n. 61/89, Artigos 2º e 5º.

Page 35: Comentários à Lei Fundef

35

Art. 4º O acompanhamento e o controle social sobre a repartição, a transferência e

a aplicação dos recursos do Fundo serão exercidos, junto aos respectivos governos,

no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, por

Conselhos a serem instituídos em cada esfera no prazo de cento e oitenta dias a

contar da vigência desta Lei.

§ 1º Os Conselhos serão constituídos, de acordo com norma de cada esfera editada

para esse fim:

I - em nível federal, por no mínimo seis membros, representando respectivamente:

a) o Poder Executivo Federal;

b) o Conselho Nacional de Educação;

c) o Conselho Nacional de Secretários de Estado da Educação - CONSED;

d) a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação - CNTE;

e) a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação - UNDIME;

f) os pais de alunos e professores das escolas públicas do ensino fundamental.

II - nos Estados, por no mínimo sete membros, representando respectivamente:

a) o Poder Executivo Estadual;

b) os poderes Executivos Municipais;

c) o Conselho Estadual de Educação;

d) os pais de alunos e professores das escolas públicas do ensino fundamental;

e) a seccional da união nacional dos Dirigentes municipais de Educação - UNDIME;

f) a seccional da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação - CNTE;

g) a Delegacia Regional do Ministério da Educação e do Desporto - DEMEC.

Page 36: Comentários à Lei Fundef

36

III - no Distrito Federal, por no mínimo cinco membros, sendo as representações as

previstas no inciso II, salvo as indicadas nas alíneas b, e e g.

IV - nos Municípios, por no mínimo quatro membros representando

respectivamente:

a) a Secretaria Municipal de Educação ou órgão equivalente;

b) os professores e os diretores das escolas públicas do ensino fundamental;

c) os pais de alunos;

d) os servidores das escolas públicas do ensino fundamental;

§ 2º Aos Conselhos incumbe ainda a supervisão do censo escolar anual.

§ 3º Integrarão ainda os conselhos municipais, onde houver, representantes do

respectivo Conselho Municipal de Educação.

§ 4º Os Conselhos instituídos, seja no âmbito federal, estadual, do Distrito Federal

ou municipal, não terão estrutura administrativa própria e seus membros não

perceberão qualquer espécie de remuneração pela participação no colegiado, seja

em reunião ordinária ou extraordinária.

COMENTÁRIO

1 – CONTROLE SOCIAL.

A recente legislação brasileira vem, seguindo conceitos de países protestantes,

sabidamente os anglo-saxônicos, caminhando em direção ao controle social dos recursos

públicos.

O termo, em inglês, de tradução simples, mas paradoxalmente, de difícil

conceituação, que se refere ao controle social é “Accountability”. Leis brasileiras

Page 37: Comentários à Lei Fundef

37

traduzem, o termo accountability, por “Responsabilidade Fiscal” e/ou “controle e

acompanhamento social”, termos, a nosso ver, inadequados para traduzir a complexidade

do conceito.

A exatidão, ou não da tradução, não é, obviamente, objeto de nosso estudo, mas

sim a aplicação do conceito.

Campos16

observa que as sociedades com menor desenvolvimento não tem por

hábito o controle do setor público, “Nem mesmo sente-se falta de palavra que traduza

accountability.”17

, uma vez que não somos possuidores do arcabouço histórico que

formatou o termo/conceito.

A palavra “Accountability” pode-se traduzir por “responsabilidade” ou

“contabilidade responsável”.

O conceito relaciona-se a aplicação de recursos públicos dentro de normas

especificas que procuram diminuir déficits que, eventualmente, poderiam causar

transtornos fiscais à administração publica, com suas nefandas conseqüências para a

população. Assim, teríamos normas que regulariam e vedariam, em determinadas

situações, o gasto de recursos públicos.

Nota-se que o conceito, mais ainda que o termo, não tem correspondência com

nossa prática social, “o que nos falta é o próprio conceito, razão pela qual não dispomos

da palavra em vocabulário.”18

Accountability passa, necessariamente por duas vertentes: primeiro o servidor, o

burocrata sentir-se responsável e ser responsabilizado; e, por fim e, não menos

importante a organização dos cidadãos. A organização social serve de tutela para

eventuais arbitrariedades dos servidores/administradores, exemplo da democracia liberal

norte-americana.

“Nos EUA – tal como em muitas sociedades amadurecidas – existem numerosas

organizações, através das quais a opinião dos cidadãos faz-se ouvir e por cujo

16

Ana Maria Campos, Accountability: quando poderemos traduzi-la para o português?, Revista de Administração pública Rio de Janeiro, V.24 n.2, p. 30-50, 1990., 17

CF, Ana Maria Campos, Accountability...Revista, cit., p.48 18

CF, Ana Maria Campos, Accountability...Revista, cit., p.31

Page 38: Comentários à Lei Fundef

38

intermédio os descontentamentos são processados: associações de pais e

professores, associações de consumidores, comitês de vizinhança, associações

profissionais, sindicatos, comunidades eclesiais, etc. Tais associações servem

também de foro onde as necessidades do cidadão são discutidas, consolidadas,

traduzidas em demandas e canalizadas para os órgãos públicos.”19

No Brasil caminhamos timidamente nesta direção. A Legislação recente quer,

como de praxe, enfiar o conceito “goela” abaixo da sociedade. Tentamos implantar um

modelo via regulamentação e, não com a educação do cidadão na direção de

accountability.

O exemplo mais agudo, na Legislação brasileira é a Lei 101/2000, conhecida por

Lei de Responsabilidade Fiscal.

Relacionou-se o conceito “accountability” com aplicação responsável de recursos

públicos; normas técnicas para controle de gastos, com proibições para abusos e;

principalmente, normas para facilitar à comunidade o controle dos gastos públicos. A

sociedade organizada fiscalizaria a aplicação dos impostos, observados suas origens e

destinações.

O conceito nos aponta a responsabilidade do servidor público com a “coisa

pública”. Conceito este arraigado, cultural, vinculado com honra, caráter, honestidade.

Algo sagrado...

Na outra ponta a sociedade organizada, controlando as aplicações dos recursos

oriundos de seus impostos, taxas.

“O verdadeiro controle do governo – em qualquer de suas divisões: Executivo,

legislativo e Judiciário – só vai ocorrer efetivamente se as ações do governo

forem fiscalizadas pelos cidadãos.”20

No Brasil, os preceitos de controle social, ficam restritos a instituições de

conselhos de acompanhamento. Não se tendo noticia do uso, no Brasil, do mais

democrático instrumento de aplicação de recursos públicos – o plebiscito.

19

CF, Ana Maria Campos, Accountability...Revista, cit., p.35-36. 20

CF, Ana Maria Campos, Accountability...Revista, cit., p.34.

Page 39: Comentários à Lei Fundef

39

Quando Muito, temos noticias, de elaboração de orçamentos participativos em

algumas prefeituras, notadamente as administradas pelos militantes do Partido dos

Trabalhadores – PT.

A instituição dos conselhos de acompanhamento encontra várias dificuldades.

Sendo a mais relevante, a nosso ver, o aspecto cultural. O cidadão brasileiro, não tem o

hábito de participar das decisões que lhe dizem respeito e, quando se depara com a

possibilidade de intervir, se vê podado por circunstâncias, não por ele determinadas. Mas

que lhe foram imposto. Algumas vezes a força, na maioria das vezes sutilmente. Os

séculos de opressão escravista; a centralização do poder no Brasil-Colônia; a pequena

participação popular no Império; os currais eleitorais da República Velha. O

autoritarismo e, a pouca instrução moldaram a consciência nacional.

A situação é tão desalentadora, em alguns momentos, que levam as seguintes

opiniões de atentos observadores

“ O Brasil não tem povo”21

Para o francês, em questão, criador da frase, a atuação da sociedade brasileira não

se coaduna com a ativa participação de uma massa que interfere em seus destinos.

Talvez, lembrando da ativa participação popular francesa em vários movimentos:

Fronda; Revolução Francesa e Comuna de Paris. Dado a pouca participação popular em

movimentos brasileiros – Proclamação da República, por exemplo – o estudioso francês,

não caracterizava como “povo” a massa que ele vislumbrava...

Na formação do povo brasileiro existem situações culturais, políticas, ética que

contribuem para a não introdução de conceitos de solidariedade e responsabilidade

imprescindíveis à accountability.

“A verdade é que, como nossa aparente adesão a todos os formalismos denuncia

apenas uma ausência de forma espontânea, assim também a nossa confiança na

excelência das formas teóricas mostra que somos um povo pouco especulativo.

Podemos organizar campanhas, formar facções, armar motins, se preciso for, em

torno de uma idéia nobre. Ninguém ignora, porém, que o aparente triunfo de um

21

Couty , Louis , in Carvalho, José Murilo .Os bestializados.São Paulo:Companhia das Letras, 1987. p. 10.

Page 40: Comentários à Lei Fundef

40

principio jamais significou no Brasil – como no resto da América Latina – mais

que o triunfo de um personalismo sobre outro.”22

Podemos, com toda certeza, identificar o principio “accountability” como uma

“excelência das formas teóricas”, no caso mais aceita por ser anglo-saxônica. Assim

como não podemos nos furtar a frisar o acerto da análise no contexto atual da era

neoliberal brasileira. Onde, o personalismo de alguns teóricos, suplantou o de outros.

Em relação à ausência de trabalho coletivo no controle social buscamos suas

origens no fato de

“As iniciativas, mesmo quando se quiseram construtivas, foram continuamente de

separar os homens, não de os unir. Os decretos dos governos nasceram em

primeiro lugar da necessidade de se conterem e de se refrearem as paixões

particulares momentâneas, só raras vezes da pretensão de se associarem

permanentemente as forças ativas.”23

O caráter individualista e personalista nacional se evidencia nas seguintes

considerações:

“Foi essa mentalidade, justamente, que se tornou o maior óbice, entre eles, aos

espírito de organização espontânea, tão característica de povos protestantes, e

sobretudo calvinistas. Porque, na verdade, as doutrinas que apregoam o livre-

arbítrio e a responsabilidade pessoal são tudo, menos favorecedoras da associação

entre os homens.”24

Assim, diante das considerações acima, podemos concluir que as dificuldades no

bom funcionamento dos conselhos de acompanhamento não são tão simples de serem

debeladas, pois a “organização espontânea” e a “responsabilidade pessoal” não são frutos

de árvore. A cultura nossa preza a centralização, o presidencialismo e, isto se reflete em

todas as instâncias.

22

Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, 26 ed., São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 183. 23

Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, cit., p.33. 24

Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, cit., p.37.

Page 41: Comentários à Lei Fundef

41

Os conselhos sofrem a falta de conceitos arraigados de culturas voltadas para a

“organização espontânea”. E, a accountability vincula-se a fatores como “igualdade,

dignidade humana, participação, representatividade.”25

Portanto, nossos conselhos, são formados, na maioria das vezes por pessoas que

são apadrinhados políticos do mandatário político local. Em boa parte dos cerca de cinco

mil municípios brasileiros, encontram-se vícios nas formações dos conselhos. E em

alguns casos os conselheiros sequer sabem que o são. Meros joguetes na mão de

políticos, que se não inescrupulosos, se não mal-intencionados, mas com certeza

usufruindo, com respaldo das pessoas usadas, do mando e poder imenso que lhes

atribuem a maioria da população. Pois, geralmente, a população idealiza seus políticos –

notadamente os prefeitos – e, se entregam com prazer e, uma certa confiança ingênua às

vontades dos seus ídolos. Abdicam assim do direito de “aconselhar”, de fiscalizar

recursos seus. E pior acatam intelectualmente tal situação.

Esta idealização vincula-se, em primeira instância, a vetustos conceitos

autoritários, dos primórdios da formação do povo brasileiro, uma vez que existe, nos

povos ibéricos uma pré-ciência de que

“Não existe, ao seu ver, outra sorte de disciplina perfeitamente concebível, além

da que se funde na excessiva centralização do poder e na obediência.26

Não surpreende, portanto, que Campos27

não tenha encontrado, também em

Portugal, palavra que traduza accountability.

A casos extremos, em que a prefeita do Município de Colorado, no Noroeste do

Estado do Paraná, na Lei que implantou o conselho de acompanhamento, se deu o direto

de escolher e, só caso lhe fosse conveniente, nomear, via portaria o escolhida pelo

seguimento de Professores e diretores.

Este absurdo constava na Lei!

Isto não é fato fortuito. É regra!

25

CF, Ana Maria Campos, Accountability...Revista, cit., p.33 26

Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, cit., p.39. 27

CF, Ana Maria Campos, Accountability...Revista, cit., p.31

Page 42: Comentários à Lei Fundef

42

Portanto não estamos diante de um desvio de conduta anacrônico ou gerado por

fator aleatório, mas sim de uma regra de conduta nacional, em que pese as enormes

distâncias e diferenças sócio-econômicas entre os milhares de municípios, temos um

ponto de convergência. Assim estamos diante de um principio: a população – a maioria –

se recusa a participar ativamente sobre assuntos de interesse coletivo. Mas, acatam atuar

em pseudos conselhos comunitários, para atingir propósitos pessoais. Geralmente

mesquinhos. Emprego, ou troca de um favor qualquer.

E o que o executivo propõem?

Caminhar em direção a “accountability” sem condições culturais mínimas e,

copia leis de países em que, o controle social e responsabilidade com a coisa pública é,

não imposição legal, de cima para baixo, mas sim reflexo do caráter nacional. O

indivíduo tem essa preocupação e o legislador coloca no papel a intenção da

comunidade. Regula os costumes, tentando aparar arestas e almejando tornar os

conflitos, em decisões que prejudiquem o menor número de pessoas possível.

Analisemos o caso concreto da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Como é notório, a LRF é uma Lei adaptada, cópia, quase integral – em seu

anteprojeto – do Responsability Fiscal Act – 1994- da Nova Zelândia. O seu projeto

original – enviado pelo Poder Executivo Federal – foi alterado na Câmara Federal,

traduzia literalmente termos do inglês de difícil compreensão e/ou sem consonância com

termos jurídicos Brasileiros, causando espanto em comentadores desta Lei. “De observar

que a linguagem utilizada, representando mera tradução literal da Lei estrangeira, exibia

vícios e impropriedades que clamavam por correção. O Próprio Título era equivoco. Que

significa “responsabilidade fiscal”?”28

Estamos diante de uma máquina copiadora?

Traduziu-se uma Lei, sem a preocupação de que pudesse conter princípios não previstos

em nossa legislação, por ser moderno? Ou por ser uma imposição?

O fato, Per si, é revelador. Macunaíma já respondeu esta charada.

28

Misabel Abreu Machado Derzi. Comentários a Lei de Responsabilidade Fiscal . p.267

Page 43: Comentários à Lei Fundef

43

Seria enfadonho enumerar os casos explícitos de tradução literal de

frases/conceitos que nos são absolutamente estranhos. Porém alguns casos, por sua

gravidade devem ser anunciados.

“..a tradução literal de alguns termos introduzia neologismos desnecessários no

direito brasileiro, além de cometer algumas agressões ao vernáculo. A expressão

“a nível prudente”( art. 6º, II e VI), tradução do inglês prudent level , era

barbarismo(...)Outros anglicismos não adquiriam sentido: as expressões

“administração prudente de riscos fiscais”( art. 6º,IX), “prudência na

administração financeira e patrimonial”(art. 7º, IV, e seção V), “limite

prudencial”(arts. 19, § 1º, 38, II) foram traduzidos literalmente dos dispositivos

legais neozelandesas(...)mas excluídas, em boa hora...”29

A eminente comentadora se espanta com os problemas legais, constitucionais,

lingüísticos e exclama “A recepção ingênua da lei neozelandesa traria insuportável

confusão metodológica ao direito financeiro brasileiro, pela superposição de valores

estrangeiros.”30

Nossa preocupação, além da explicitada, acima, pela comentadora, se dirige para

os porões. Esta Lei determina que as contas das Prefeituras, Governos

Estaduais/Distritais e do Governo Federal, fiquem, permanentemente a disposição, de

qualquer pessoa para consulta e apreciação (artigos 48 e 49). O descaso com o

cumprimento deste preceito, em inúmeros municípios, é tão relevante, cômico, que basta

passar em qualquer Câmara Municipal e solicitar a Prestação de Contas para escutar as

mais dispares respostas, mas invariavelmente sem conseguir, em uma primeira tentativa,

acesso às prestações de contas. Não sabemos da Lei! Caso saibamos não conseguimos

acesso rápido às Contas Públicas! E, geralmente, os responsáveis pela guarda desses

documentos, muitas vezes, nem sabem ser delas possuidoras.

Revelando-se, assim

29

ibid 30

ibid

Page 44: Comentários à Lei Fundef

44

“Outro traço marcante do país, com impacto na administração pública e na vida

dos cidadãos, é a abundância de leis e regulamentos aprovados, porém nunca

obedecidos (nem destinados a ser obedecidos).31

Assim, o executivo traduziu – mal – uma Lei; a Câmara alterou o que podia ser,

sem comprometer os princípios da lei – mesmo restando algumas questões

inconstitucionais – a serem julgadas – e a aprovou; os comentadores se escandalizam

com a vulgaridade do ato - se não descaso; e, por questões culturais não conseguimos

aplicar dispositivos da Lei.

Qualquer individuo pode verificar nos jornais, ou diários oficiais, as publicações

obrigatórias que a LRF determina. Mas o principio fundamental a “accountability” é um

triste arremedo para imensa parcela da população. O principio – controle social – foi

substituído por uma determinação burocrática. Publicação de editais!

A “paternidade” da LRF, ou melhor, sua “clonagem”, nos faz lembrar, casos

pitorescos de período da elaboração das Leis Orgânicas Municipais. Sobre uma piada,

que corria em seminários, congressos e grupos de estudos sobre o tema, em que um

pequeno município do interior de Mato Grosso do Sul teria copiado – “clonado” –

integralmente, a Lei Orgânica de um município de grande porte, da faixa litorânea do

Estado de São Paulo, em que um dos capítulos indicava diretrizes para ocupação da Zona

Litorânea.

O Absurdo – quiçá real – renova-se, tal qual fênix, em uma Lei Federal.

As diferenças sócio-culturais, econômicas e jurídicas entre os dois países – Brasil

e Nova Zelândia – aparentemente foram relegadas a segundo plano.

Apesar das dificuldades de caráter constitucional e jurídico ter relevância, a nosso

ver, no aspecto cultural as dificuldades são imensuráveis.

O abismo nos remete a uma digressão, os aspectos de formação sócio-econômico-

cultural dos dois países em foco. Um anglo-saxão e o outro latino.

31

CF, Ana Maria Campos, Accountability...Revista, cit., p.41

Page 45: Comentários à Lei Fundef

45

O faremos por entender que a “accountability” não se impõem com uma

canetada.

Não se forma a consciência por decretos.

Assim, as Leis LRF e FUNDEF, sofrem de um paradoxo de difícil equalização

em sua plena aplicabilidade nos aspectos referentes à Accountability.

O controle social, o princípio da accountability é inerente às sociedades

protestantes anglo-saxônicas, foi moldada ao longo dos séculos, via adoção de uma

moral asceta, em que predominam noções de responsabilidade comunitária, vinculados

diretamente ao principio da predestinação.

A organização social protestante enseja atuação firme e responsável de seus

membros, imbuídos que estão de noções de cumprimento de ditames divinos.

“Deus, porém, requer realizações sociais dos cristãos, porque Ele quer que a vida

social seja organizada conforme seus mandamentos, de acordo com tais

propósitos. A atividade social dos cristãos no mundo é apenas uma atividade in

majorem gloria Dei. Este caráter é pois partilhado pelo trabalho dentro da

vocação, que propicia a vida mundana da comunidade.”32

O trabalho e as atividades sociais das sociedades protestantes levam o individuo a

oscilar entre dois pólos: trabalho e vida social regulamentado por princípios religiosos

rígidos que previam vida privada honesta e reservada e ação social dirigida pelo amor

fraternal ao próximo. Frugalidade pessoal e responsabilidades claras para com a

comunidade em que estava inserido.

“O amor fraternal, uma vez que só podia ser praticado pela glória de Deus e não a

serviço da carne, é expresso em primeiro lugar no cumprimento das atividades

diárias, dadas pela lex naturae; e no processo, esta obediência assume um caráter

peculiarmente objetivo e impessoal, a serviço do interesse da organização

racional do nosso meio social.”33

32

Max Weber, A ética protestante e o espírito do capitalismo, São Paulo: Martin Claret, 2002.p. 82 33

Max Weber, A ética protestante e o espírito do capitalismo, cit. p. 82

Page 46: Comentários à Lei Fundef

46

O posicionamento individual na fé religiosa obriga o individuo a acatar regras

monásticas. Sua vida é única e exclusivamente objeto de glorificação a Deus. Segue

preceitos morais embasados na interpretação de mandamentos bíblicos. Sua postura

pessoal, porém, não se restringe ao claustro. É viva e, convive com a família e, com os

demais membros da comunidade. Para tornar, esta difícil convivência agradável a Deus,

racionaliza sobre a organização social. Atua na comunidade, pois isto é um mandamento

divino. A organização divina serve de inspiração para sua vida secular “isto faz com que

o trabalho a serviço de publica e impessoal utilidade pareça promover a glória de Deus,

sendo portanto por Ele desejado”34

.

Já, na formação de nosso latino-americano e católico país o individualismo

característico dos nascidos na península ibérica é um elemento cerceador de princípios

como os de accountability e organização social.

Como pessoas que prezam a análise e tomada de decisões egocêntricas, podem se

moldar a princípios coletivos de gestão pública. Como pode se sentir responsável perante

a comunidade se é um inveterado individualista.

Como pode pensar coletivamente seres que

“Para eles, o índice do valor de um homem infere-se, antes de tudo, da extensão

em que não precise depender dos demais, em que não necessite de ninguém, em

que se baste. Cada qual é filho de si próprio, de suas virtudes.”35

Decisões coletivas representariam, quiçá, um fator ofensivo para sua “liberdade”.

Enquanto a moral protestante acena com a importância do trabalho comunitário e

da divina importância do serviço público (social), ocorre uma antítese na formação dos

povos ibéricos e, por extensão, do povo brasileiro, onde o trabalho, a solidariedade e a

organização social ficam relegados há segundo plano.

“Também se compreende que a carência dessa moral de trabalho se ajustava bem

a uma reduzida capacidade de organização social. Efetivamente o esforço

humilde, anônimo e desinteressado é agente poderoso de solidariedade dos

34

Max Weber, A ética protestante e o espírito do capitalismo, cit. p. 82 35

Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, cit., p.32.

Page 47: Comentários à Lei Fundef

47

interesses e, como tal, estimula a organização racional dos homens e sustenta a

coesão entre eles. Onde prevaleça uma forma qualquer de moral do trabalho

dificilmente faltará a ordem e a tranqüilidade entre os cidadãos, porque são

necessárias, uma e outra, à harmonia dos interesses. O certo é que, entre

espanhóis e portugueses, a moral do trabalho representou sempre fruto exótico.

Não admira que fossem precárias, nessa gente, as idéias de solidariedade.”36

Discorrendo sobre o aspecto peculiar do caráter dos povos ibéricos, no que

concerne a obediência, ou a ausência dela, em que destaca a centralização do poder como

resposta paradoxal de sua individualidade Holanda (1995) enfatiza nossas tentativas vãs

de implantar modelos de gestão democrática.

Transportamos suas reflexões para a tentativa recente de implantar o conceito de

accountability - notando que isto não é modismo, mas prática comum ao longo dos

séculos. Como não criamos modelos próprios de gestão nos obrigamos a importar

modelos. Mas neste caso específico, mais do que em outros, trombamos com uma forte

resistência: nossa formação nacional, pois

“É em vão que temos procurado importar dos sistemas de outros povos

modernos”.37

Pois bem, a tradução do Responsability Fiscal Act – 1994- da Nova Zelândia, não

é mais do que mera importação de “sistemas de outros povos”.

Na formação protestante a glória a Deus, com uma vida virtuosa difere com a

certeza de que os escolhidos a salvação já estavam definidos. Restando, pois, uma

singular dúvida: sou predestinado, ou não? Como me posicionar e conviver com esta

dúvida?

“Mas a salvação não poderia, como no Catolicismo, consistir em um gradual

acumulo de boas ações individuais para crédito pessoal, e sim num autocontrole

36

Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, cit., p.39. 37

Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, cit., p.40.

Page 48: Comentários à Lei Fundef

48

sistemático que a qualquer momento se defrontaria com a alternativa inexorável –

escolhido ou condenado...”38

O aspecto que nos interessa é o autocontrole há que se submete o individuo na

convivência de seu dilema. O puritanismo religioso se exarceba e a frugalidade amplia-

se.

“Talvez nunca tenha existido uma forma mais intensa de valorização religiosa do

agir ético do que aquela que o calvinismo induzia em seus adeptos.”39

Temos então duas posições: organização comunitária e ação ética. Estes dois

princípios amalgamam-se, promiscuem-se. Desta miscigenação brota uma norma de

conduta que espelhará toda a ação do grupo social a ela submetida. Apropriando-se

destes princípios, criando-os estabelece-se uma nova forma de ver a “coisa pública”, de

atuar em comunidade, de servir, efetivamente a comunidade. Não apenas para promoção

pessoal. Este é o aspecto menos importante. Mas, com intuito de servindo a comunidade

com zelo, honestidade, seguindo princípios éticos/religiosos judaico-cristãos glorificar o

Criador.

O bem público é a primeira expressão geral do arranjo divino para a humanidade.

Se a predestinação se revela em alguns aspectos, como, por exemplo, sinais de

prosperidade, no individuo. A prosperidade da comunidade transcende a predestinação

individual. A comunidade, o grupo social, a nação, ao apresentar sinais de prosperidade é

sinal de que esta nação é predestinada. Ampliam-se, para a comunidade, princípios,

claramente individuais.

Contribuir para a ampliação da riqueza individual é, simplesmente tornar-se

administrador de bens, que o Senhor lhe confiou. Ampliar este patrimônio poderá

redundar em predestinação.

O arranjo ao se tornar público amplia as responsabilidades do agente público.

Não carregará, não arcará, apenas, com o lote que o Senhor lhe “emprestou”. Terá

responsabilidade ampliada, pois controlará parcelas de todas as “entregas” da divindade.

38

Max Weber, A ética protestante e o espírito do capitalismo, cit. p. 86 39

Max Weber, A ética protestante e o espírito do capitalismo, cit. p. 87

Page 49: Comentários à Lei Fundef

49

O trato do bem público apresenta conflitos e responsabilidade de consciência que se

erguem sobre o trato do bem privado.

“O homem é apenas o fiduciário dos bens que lhe foram entregues pela graça de

Deus. Ele deve, como o servo da parábola, prestar conta até o último centavo do

que lhe foi confiado, e seria no mínimo perigoso gastar qualquer deles por

qualquer propósito que não servisse a glória de Deus, mas apenas para seu

prazer.”40

Prestar Contas sobre os recursos comuns é imperiosa obrigação pessoal/religiosa.

E o controle social sobre estes gastos é encarado como obrigação para verificação sobre

a aplicação correta dos recursos “emprestados”, não por um agiota, mas pelo Criador.

São evidentes as conseqüências deste agir. Dos costumes originam-se

Leis/Conceitos para a averiguação da correta aplicação destes recursos públicos.

Regula-se o costume.

Os recursos públicos não são para utilização pessoal. Para distribuir favores. Para

gastos em obras “faraônicas”. Os recursos são “públicos”. E devem ser aplicados em

consonância com os desígnios da comunidade e, não se submeter, simplesmente, aos

desejos e ao arbítrio de um títere. Mesmo que este títere esteja travestido em líder

democrata.

“Este ascetismo secular protestante, como foi recapitulado até aqui, agiu

poderosamente contra o desfrute espontâneo das riquezas; restringiu o consumo,

em especial do supérfluo.”41

Ou seja, conceitos como controle, respeito, responsabilidade social, parcimônia,

organização social e solidariedade prosperam por imposição ética/religiosa.

Em nossa formação estes conceitos são diluídos, principalmente no que se refere

aos aspectos da organização social e política.

40

Max Weber, A ética protestante e o espírito do capitalismo, cit. p. 123 41

Max Weber, A ética protestante e o espírito do capitalismo, cit. p. 123

Page 50: Comentários à Lei Fundef

50

“Em sociedades de origens tão nitidamente personalistas como a nossa, é

compreensível que os simples vínculos de pessoa a pessoa, independentes e até

exclusivos de qualquer tendência para a cooperação autêntica entre os indivíduos,

tenham sido quase sempre os mais decisivos. As agregações e relações pessoais,

embora por vezes precárias, e, de outro lado, as lutas entre facções, entre

famílias, entre regionalismos, faziam dela um todo incoerente e amorfo. O

peculiar da vida brasileira parece ter sido, por essa época, uma acentuação

singularmente enérgica do afetivo, do irracional, do passional, e uma estagnação

ou antes uma atrofia correspondente das qualidades ordenadoras, disciplinadoras,

racionalizadoras. Quer dizer, exatamente o contrário do que parece convir a uma

população em vias de organizar-se politicamente.”42

Fica claro que a formação social protestante leva, obrigatoriamente, ao

desenvolvimento de posturas respeitadoras da coisa pública e, cria o conceito de respeitar

o público e, de responsabilidade com a comunidade.

Já nossa formação prioriza o individualismo. O indivíduo resolve suas

dificuldades solitariamente. A solidariedade, a coletividade fica restrita a momentos

solenes e específicos, nossa “organização social” carece de elementos coletivos, pois os

cidadãos

“Formam, assim, como um todo indivisível, cujos membros se acham associados,

uns aos outros, por sentimentos e deveres, nunca por interesses ou idéias.”43

Enquanto o comum é regular o costume nos parece que com a publicação de Leis

que nos dirigem para o “Controle Social”, para a “Accountability”, invertemos a lógica.

A Lei tenta estabelecer o costume.

42

Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, cit., p.61. 43

Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, cit., p.79.

Page 51: Comentários à Lei Fundef

51

Art. 5º Os registros contábeis e os demonstrativos gerenciais, mensais e atualizados,

relativos aos recursos repassados, ou recebidos, à conta do Fundo a que se refere o

art. 1º, ficarão permanentemente, à disposição dos conselhos responsáveis pelo

acompanhamento e fiscalização, no âmbito do Estado, do Distrito Federal ou do

Município, e dos órgãos federais, estaduais e municipais de controle interno e

externo.

COMENTÁRIO

1 – PERMANENTEMENTE A DISPOSIÇÃO AOS MEMBROS DO CONSELHO.

O caput do artigo, garante aos membros dos conselhos de acompanhamento e

fiscalização, o constante acesso aos registros contábeis e, os demonstrativos gerenciais

relativos aos recursos recebidos e aplicados pela administração pública.

Este artigo é o que melhor identifica a Lei Fundef, como um dos pilares do

esforço brasileiro, no sentido de ampliar o controle social sobre os recursos públicos.

Ao permitir, o acesso permanente aos arquivos contábeis obrigatórios e, os, que

eventualmente, forem criados pelos entes federados, objetiva-se criar o salutar hábito de

controle e acompanhamento dos gastos dos recursos públicos.

O legislador é taxativo, não deixando margens a duplas interpretações, ao

afirmar, categoricamente, que os registros contábeis e demonstrativos dos gastos da

Page 52: Comentários à Lei Fundef

52

conta Fundef “ ficarão, permanentemente, a disposição dos conselhos responsáveis pelo

acompanhamento e fiscalização”.44

Apesar de tal assertiva não deixar margens para dúvidas, constantemente

encontra-se dificuldades de acessar tais documentos, não raro, os conselhos ficam

restritos a esperar que, eventualmente, os entes federados – Estados, Distrito Federal e

Municípios – remetam, simplesmente os balancetes de partidas dobradas, com entrada e

saída dos recursos, sem maiores informações.

Isto é obvio, configura uma quebra da Legislação, bem com, poda o esforço de

tentar incutir princípios de accountability na sociedade.

2 – REGISTROS CONTÁBEIS E DEMONSTRATIVOS GERENCIAIS.

Não resta dúvida, portanto, sobre a constante obrigação de disponibilizar, aos

conselhos, os registros contábeis e demonstrativos gerenciais. Resta, assim, a

necessidade de entender quais são estes registros que os entes federados devem

disponibilizar, permanentemente, aos seus respectivos conselhos.

Sobre a escrituração pública podemos resumir seus “passos” nos seguintes itens:

a) Disposições Orçamentárias;

b) Tomada de Preços; Carta Convite; Licitação; Concorrência Pública;

c) Empenho;

d) Efetivação do Pagamento.

Os registros contábeis e demonstrativos gerenciais “controlam” o caminho dos

gastos orçamentários e, podemos, também, resumi-los nos seguintes itens:

a) Balancetes mensais;

b) Demonstrativo de execução orçamentária (art.165 , § 3º CF)

44

Lei 9424/96, Art. 5º.

Page 53: Comentários à Lei Fundef

53

c) Receitas de Impostos (art.72 LDB)

d) Despesas com MDE – Bimestral Anexo II

e) Relatórios específicos por rubrica orçamentária

f) Balancetes anuais

A legislação brasileira, principalmente nas Leis 4.320/64, 8.666/93 e LC 101/00,

regulam, respectivamente o orçamento, as licitações e a, assim, denominada,

responsabilidade fiscal. Estas Leis indicam parâmetros comuns a cada objeto especifico

da Lei e, determinam uma serie de relatórios, que devem, periodicamente, ser elaborado

e publicado pelos poderes da União. As prefeituras, por exemplo, se obrigam a publicar e

fazer audiências públicas para tornar “transparente” à comunidade o recebimento e

aplicação dos recursos públicos.

Nesta “selva” de relatórios quais, efetivamente, seriam importantes para um

perfeito acompanhamento pelo conselho.

A nosso ver, em um momento inicial, com as dificuldades já destacadas, a

comunidade, representada pelo conselho poderia fazer um razoável acompanhamento

dos gastos da conta Fundef com os seguintes instrumentos:

2.1 – Balancete mensal do Fundef

O balancete, em questão, apresentaria os recursos – receitas – recebidas durante

um Mês e, onde foram gastos os recursos – despesas. Permitindo ao conselho saber,

mensalmente, os valores, em reais, que entraram e saíram da conta Fundef.

2.2 – Relatório resumido da execução orçamentária

Page 54: Comentários à Lei Fundef

54

Neste relatório, um balanço orçamentário, de publicação obrigatória45

– deve ser

publicado semestralmente -, contém, basicamente, as seguintes informações: receitas;

previsão inicial; previsão atualizada; receitas realizadas – no bimestre e semestral – e; o

saldo a realizar.

Entre outras receitas encontra-se o Fundef, o que permite aos conselheiros

observar a previsão orçamentária inicial, ou seja, quanto que o ente federado espera

arrecadar no ano com o Fundef, o quanto recebeu no bimestre e no semestre, permitindo

um melhor acompanhamento sobre os recursos que chegam ao ente federado.

2.3 – Relação dos servidores pagos com recursos do fundef

Nesta relação deve constar o nome do servidor; a função por ele executada; sua

qualificação; atividade; data da admissão; salário do mês; total pago no ano e; encargos

sociais pagos no mês e no ano.

Os modelos abaixo são uma adaptação do modelo em que os entes federados

prestam contas anuais aos respectivos legislativos e Tribunais de Contas. Uma das

poucas diferenças é que o proposto deve ser elaborado mensalmente, para que os

conselheiros possam saber mês a mês, que servidores receberam salários dos 60% e dos

40% do fundef.

SERVIDORES PAGOS COM RECURSOS DO FUNDEF

– 60%

MUNICIPIO:

ENTIDADE: PREFEITURA MUNICIPAL DE

EXERCICIO DE 2003

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45

Lei Complementar 101/2000, Art. 52.

Page 55: Comentários à Lei Fundef

55

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SERVIDORES PAGOS COM RECURSOS DO FUNDEF

– 40%

MUNICIPIO:

ENTIDADE: Prefeitura Municipal de

Exercício de 2003

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Ano

Enca

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Soci

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do

mês

Encar

gos

Sociai

s do

ano

Total

do ano

2.4 – Relação de empenhos pagos com recursos do fundef

Page 56: Comentários à Lei Fundef

56

Para que o controle dos gastos possa contribuir, efetivamente, para a melhoria e

desenvolvimento do ensino fundamental é primordial que, os membros dos conselhos de

acompanhamento tenham acesso aos gastos desta rubrica.

O rol de empenhos pagos, com recursos do fundef, portanto, é peça essencial no

controle dos gastos.

Os representantes da comunidade, os membros do conselho, observarão onde são

gastos os recursos do fundef.

Esta relação deverá conter, no mínimo, as seguintes informações para que tenha

alguma utilidade: número do empenho; data; nome do fornecedor; descrição, detalhada,

da despesa – se bens, serviços, obras, etc – e; valor empenhado.

As informações ao conselho devem ter periodicidade, mensal, bimestral,

semestral e anual, de acordo com o instrumento e com a legislação em vigor.

Com estes instrumentos e, os descritos no artigo 11, acreditamos que o caput do

artigo será contemplado com eficiência e, talvez, seja possível um efetivo controle social

sobre as contas públicas.

Page 57: Comentários à Lei Fundef

57

Art. 6º A União complementará os recursos do Fundo a que se refere o art. 1º,

sempre que, no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, seu valor por aluno

não alcançar o mínimo definido nacionalmente.

§ 1º O valor mínimo anual por aluno, ressalvado o disposto no § 4º, será fixado por

ato do Presidente da República e nunca será inferior à razão entre a previsão da

receita total para o Fundo e a matrícula total do ensino fundamental no ano

anterior, acrescida do total estimado de novas matrículas, observado o disposto no

art. 2º, § 1º, incisos I e II.

§ 2º As estatísticas necessárias ao cálculo do valor anual mínimo por aluno,

inclusive as estimativas de matrículas, terão como base o censo educacional

realizado pelo Ministério da Educação e do Desporto, anualmente, e publicado no

Diário Oficial da União.

§ 3º As transferências dos recursos complementares a que se refere este artigo serão

realizadas mensal e diretamente às contas específicas a que se refere o art. 3º.

§ 4º No primeiro ano de vigência desta Lei, o valor mínimo anual por aluno, a que

se refere este artigo, será de R$ 300,00 (trezentos reais).

§ 5º (VETADO)

COMENTÁRIO

1 – CUSTO MÉDIO ALUNO/ANO.

O caput do artigo institui o, assim chamado “valor mínimo anual por aluno”.

Este valor, como o titulo demonstra, é uma meta de gasto mínimo anual por

aluno. Assim sendo, as redes educacionais deverão aplicar no mínimo um determinado

valor anual por aluno.

Page 58: Comentários à Lei Fundef

58

O § 4º define este valor em R$ 300,00(trezentos reais).

Talvez, entendendo que tal valor é irrisório, a União descumpriu o principio legal

e, ampliou, via decreto, em 5% (cinco por cento) tal valor. Assim, nos dois primeiros

anos em vigor, a lei Fundef, via decretos ressaltamos, institucionalizou a miséria.

Os recursos mínimos legais, por aluno/ano, atingiram o total de R$ 315,00

(trezentos e quinze reais), menos de R 1,00(um real) por dia de gasto mínimo por aluno.

A titulo de comparação a ONU, considera em situação de miséria quem

sobrevive, por dia, com menos de US$ 2,00 (dois dólares), em valores do começo do ano

de 2003, equivalente a cerca de R$ 7,00 (sete reais).

Institucionalizou-se, repetimos, a miséria.

Calcula-se que um presidiário custe ao mês, aos cofres públicos cerca de R$

1.000,00 (Um mil reais), equivalente a R$ 33,33 (Trinta e três reais e trinta e três

centavos) por dia.

A disparidade é gritante, o custo dia/presidiário é, trinta e três vezes superior, que

o custo aluno/dia, em valores aproximados.

Apesar de parecer impossível, alguns Estados/Municípios da federação não

alcançam o valor mínimo por aluno/ano e, nestes casos, como determina o caput do

artigo, a União complementará o irrisório mínimo.

Em 1998, o Estado do Maranhão não atingiu o mínimo nacional definido por

decreto. Assim, como determina a legislação a União complementou os recursos, até

atingir o valor mínimo obrigatório.

Felizmente, a maioria dos Municípios/Estados, ultrapassou este valor mínimo.

Não que isto represente grandes vantagens, mas evidencia a dicotomia entre o

mínimo estipulado pelo decreto e a realidade nacional.

Talvez, represente, ainda, um claro descaso com a educação. O valor mínimo é

tão pequeno que recursos federais não serão, em hipótese alguma, realocados.

Page 59: Comentários à Lei Fundef

59

Como demonstrado acima, se esta estratégia previa a não utilização de recursos

federais em nenhuma unidade da federação, a miserável realidade brasileira surpreendeu

o legislador.

No quadro abaixo, é possível acompanhar a evolução do custo médio aluno/ano,

desde sua implantação:

CUSTO MÉDIO ALUNO/ANO

Ano 1ª a 4ª

séries

% 5ª a 8ª

séries

%

1998 R$ 315,00 - R$ 315,00 -

1999 R$ 315,00 - R$ 315,00 -

2000 R$ 333,00 5.7 R$ 349,65 11

2001 R$ 363,00 15.2 R$ 381,15 21

2002 R$ 418,00 32.7 R$ 438,90 39.3

2003 R$ 446,00

Fonte: Pagina da internet do MEC.

Page 60: Comentários à Lei Fundef

60

Art. 7º Os recursos do Fundo, incluída a complementação da União, quando for o

caso, serão utilizados pelos Estados, Distrito Federal e Municípios, assegurados,

pelo menos 60% (sessenta por cento) para a remuneração dos profissionais do

magistério, em efetivo exercício de suas atividades no ensino fundamental público.

Parágrafo Único - Nos primeiros cinco anos, a contar da publicação desta Lei, será

permitida a aplicação de parte dos recursos da parcela de 60% (sessenta por cento),

prevista neste artigo, na capacitação de professores leigos, na forma prevista no art.

9º, § 1º.

COMENTÁRIO

1. DA REMUNERAÇÃO – OS 60% (SESSENTA POR CENTO)

Entre as inovações contidas nesta Lei, a vinculação de parte do Fundo para

pagamento de vencimentos de servidores é, sem dúvida, um dos pontos que mais causam

polêmica.

O texto é relativamente simples, do total de recursos recebidos pelos Municípios,

pelos Estados e pelo Distrito Federal, uma parcela nunca inferior a 60% (sessenta por

cento), obrigatoriamente, deve ser aplicada na remuneração dos servidores em efetivo

exercício no ensino fundamental.

Isto significa que, caso um Município, tenha recursos – a título de Fundef - da

ordem de, por exemplo, R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), no mínimo R$

600.000,00 (seiscentos mil reais) deverão ser aplicado em salários e em seus reflexos:

décimo terceiro salário; um terço de férias; eventuais substituições; encargos patronais.

Page 61: Comentários à Lei Fundef

61

Na hipótese do município/estado não atingir o custo médio aluno/ano, com seus

recursos próprios, a aplicação da regra – aplicação de 60% (sessenta por cento) em

remuneração - também atingirá a complementação da União.

Como ressalva, deve-se chamar atenção ao fato do Fundo ter regime fiscal, ou

seja, o montante de recursos de um ano fiscal é que determinará, efetivamente, quantos

deverão ser aplicados em remuneração. Isto significa que os valores, isolados de um mês,

não são conclusivos para saber se o município aplica ou não o mínimo obrigatório de

60% (sessenta por cento).

Porém, caso os valores estejam muito aquém do mínimo a ser aplicado,

necessário se faz reorganizar a remuneração do magistério para evitar distorções.

2. DOS PROFISSIONAIS DO MAGISTÉRIO

Sabendo-se que a aplicação mínima, em remuneração, é de 60%, passemos à

análise de quem pode receber sua remuneração nesta modalidade. Em outras palavras,

quem é objeto, quem é alvo da Lei. Claro fica que o legislador utiliza-se de uma parcela

dos recursos do Fundo com claro intuito de beneficiar uma determinada categoria, indo

ao encontro, de um dos pilares da Lei, fato que denomina de “valorização do

magistério”.

O caput do artigo nos fornece a definição da categoria que tem a garantia de

perceber sua remuneração nos 60% (sessenta por cento) os “profissionais do magistério,

em efetivo exercício de suas atividades no ensino fundamental público.”

Vamos, portanto, definir quem são os “profissionais de magistério”.

Segundo a LDB, cada nível e modalidade de ensino, deverá ter uma formação

mínima para se enquadrar como “profissional de educação”.46

46

Lei 9394/96, Art. 61.

Page 62: Comentários à Lei Fundef

62

Para docentes da educação básica, em que esta inserida o Ensino Fundamental,

objeto da Lei Fundef, exige-se Licenciatura Plena, admitindo-se, para as quatro primeiras

séries do ensino fundamental, nível médio – Normal (magistério).47

Em relação aos profissionais de educação, para educação básica, nas funções de

supervisão, administração, inspeção, planejamento e orientação educacional é exigido

curso de graduação em pedagogia ou pós-graduação. Exigindo-se, para estas funções de

magistério, destes profissionais de educação, experiência docente como pré-requisito.48

Temos alguns parâmetros para construir a figura dos profissionais de magistério

que poderão perceber sua remuneração dos 60% (sessenta por cento):

1 - para docentes, formação mínima de Licenciatura Plena e; para 1ª a 4ª

séries admitir-se-á a formação a nível médio – normal.

2 - para profissionais que exercem outras atividades de magistério que não a

docência, e que o legislador define como “funções de magistério” exige-se licenciatura

plena em pedagogia ou pós-graduação, com experiência docente.

Acrescente-se o conceito de que os profissionais de educação, que façam parte do

sistema, que não contarem com esta titulação mínima, terão cinco anos para deixarem de

ser considerados leigos, após a aprovação do Plano de Carreira do Município, Estado ou

Distrito Federal.

A resolução 03/97 do CEB/CNE, de oito de outubro de 1997, que fixou as

diretrizes para os novos Planos de Carreira para os entes federados, considera como

integrantes da carreira do magistério os docentes e o pessoal que executam atividades de

apoio à docência.

“Integram a carreira do Magistério dos sistemas de Ensino Público os

profissionais que exercem atividades de docência e os que oferecem suporte

47

Lei 9394/96, Art. 63. 48

Lei 9394/96, Artigos 64 e 67.

Page 63: Comentários à Lei Fundef

63

pedagógico direto a tais atividades, incluídas as de direção ou administração

escolar, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional.”49

Este mesmo parecer define qual a experiência docente é necessária, como pré-

requisito, para ingresso nas funções de magistério que não a docência.

“A experiência docente mínima, pré-requisito para o exercício profissional de

quaisquer funções de magistério, que não a de docência, será de 02 (dois) anos e

adquirida em qualquer nível ou sistema de ensino, público ou privado.” 50

Como podemos perceber a legislação brasileira delimita em dois campos bem

distintos as atividades de magistério: docência e suporte às atividades de docência.

Em que pese os inúmeros inconvenientes desta dualidade e, as incontáveis

discussões e posicionamentos ideológicos sobre esta dicotomia, para nós fica claro que a

legislação em vigor, claramente conceitua em dois campos as atividades de magistério.

A legislação, portanto, define como integrantes da carreira de magistério, tanto

docentes quanto profissionais que exercem atividades como: direção, orientação,

supervisão, etc.

Poderíamos, em uma análise ligeira, concluir que tanto diretores, supervisores,

orientadores e as mais variadas nomenclaturas poderiam receber dos 60% (sessenta por

cento), juntamente com os docentes.

Assim, onde resta polêmica sobre a aplicação dos recursos do Fundef? Polêmicas

citadas originariamente, no preâmbulo deste comentário.

3. DOS PROFISSIONAIS DO MAGISTÉRIO EM EFETIVO EXERCÍCIO DE

SUAS ATIVIDADES NO ENSINO FUNDAMENTAL PÚBLICO.

A polêmica reside em uma única frase, que delimita perfeitamente o grupo de que

deve receber dos 60% (sessenta por cento) e, que vem sendo desrespeitada

sistematicamente, pelos gestores do Fundo, com a conivência de vários órgãos, que, por

definição deveriam realizar a fiscalização da aplicação destes recursos – Os tribunais de

Contas. Este desrespeito é claro, causa enormes prejuízos não só para os docentes do

49

Resolução 03/97 CEB/CNE, Art. 2º. 50

Resolução 03/97 CEB/CNE, §1º, do art. 3º.

Page 64: Comentários à Lei Fundef

64

Ensino Fundamental, mas, também, para os docentes dos outros níveis da educação

básica, uma vez que, os salários dos docentes do ensino fundamental deverão balizar os

salários dos docentes do ensino infantil e do ensino médio51

, bem como para os

profissionais que exercem as funções de magistério. O intuito do legislador era valorizar

os profissionais de magistério – do ensino básico – tanto os docentes, quanto os

profissionais que exercem funções de magistério, criando uma reserva que serviria de

parâmetro para definir os salários de todos os profissionais de educação, mas a aplicação

dos conceitos que permitiriam este tipo de valorização – aumento salarial – ficou

prejudicada pela inclusão de inúmeros profissionais no cálculo dos 60% (sessenta por

cento) ampliando o cociente para efetivação dos cálculos salariais.52

Cálculos sim! Pois existe um parecer que chegou ao requinte de propor uma

fórmula matemática para calcular a remuneração média mensal dos docentes.53

Apesar de não ter definido um piso salarial nacional, o parecer define que em

cada ente federado seja fixado um menor salário tendo como parâmetro o seu salário

médio.

Ou seja, nos Municípios, estados e no Distrito Federal deve ser fixado um piso

salarial que há de ser calculado dentro de regras perfeitamente definidas.

Para se atingir o salário médio mensal do professor há de se aplicar a seguinte

fórmula:

SMMP=Custo Médio alunosX0,60Xnºmédio alunos/professor

13 (meses) X 1,12 (encargos)

Após definir, com a fórmula matemática acima, o Salário Médio deverá se aplicar

uma amplitude de 50%.

“V - Nos municípios onde o salário médio do professor fosse R$ 300,00,

sendo adotada a amplitude de 50% o menor salário seria de R$ 240,00 (máximo

de R$ 360,00)”54

Temos, portanto, a fórmula para definir o piso municipal de salário para os

profissionais de educação.

51

Resolução 03/97 CEB/CNE, V, Art. 7º. 52

Resolução 03/97 CEB/CNE, Art. 7º. 53

Parecer PAR – CEB 10/97 aprovado em 03/09/97 54

Parecer 10/97 CEB

Page 65: Comentários à Lei Fundef

65

O “0,60” da fórmula é, obviamente, os sessenta por cento de mínimo obrigatório

de aplicação em remuneração. Fica claro que, se incluir, na relação aluno/professor,

profissionais que são vedados de receber dos 60% (sessenta por cento) diminuiremos a

relação e, conseqüentemente, o piso salarial.

A não aplicação do conceito gera, a nosso ver, uma inconstitucionalidade, além

de contrariar a exegese e a hermenêutica do direito educacional brasileiro.

3.1. Da exegese, da hermenêutica e da inconstitucionalidade.

A Emenda Constitucional 14/96, em seu art. 5º alterou a redação e, incluiu novos

parágrafos no art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

Esta emenda institui o Fundef55

e, destacamos que, em seu caput um de seus

objetivos é propor uma “remuneração condigna do magistério”.

Sobre a destinação dos recursos dos referidos fundos, ficam assegurados as

seguintes proporções

“Uma proporção não inferior a sessenta por cento dos recursos de cada Fundo

referido no § 1º será destinada ao pagamento dos professores do ensino

fundamental em efetivo exercício no magistério.”56

( grifo nosso)

Em relação ao termo professores do texto constitucional assim se expressa o

Supremo Tribunal Federal

“...funções de magistério, se professor, assim entendido aquele que ministra aula,

ou seja, funções exercidas pelo professor dentro da sala de aula.”57

Portanto, professor, para o Supremo Tribunal Federal é o que ministra aula, ou

seja, o que exerce funções de docência, dentro da sala de aula, sendo regra para computar

aposentadoria especial para professor contar, apenas, o tempo de atividade no

magistério, o executado dentro da sala de aula – em docência.

Tendo em vista que a Constituição afirma que os beneficiários, os servidores que

podem perceber dos 60% (sessenta por cento) dos Fundos em questão – FUNDEF – são

apenas e, unicamente, os professores do ensino fundamental, não resta dúvida sobre

55

ADCT modificada pela EC 14/96, § 1º, Art. 60. 56

ADCT modificada pela EC 14/96, § 5º, Art. 60. 57

Julgamento da ADIN 122 SC, Relator Ministro Paulo Brossard

Page 66: Comentários à Lei Fundef

66

quem pode receber desta rubrica, apenas os que exercem docência, os que ministram

aulas.

A exegese firmada pelo Supremo Tribunal Federal segue o seguinte teor

“Voto - ... evidente que o cargo e, muito menos a função “Especialista em

Assunto Educacional”, não se confundem com o de professor, tanto é que a

impugnada norma da Constituição do Estado procurou equipara-los para fins de

aposentadoria.

O vocábulo magistério, como observa o parecer do Ministério Público, tem

sentido especifico que não alcança a amplitude que lhe emprestou o Constituinte

Catarinense, designa tão somente o cargo de professor. E este é , apenas,

aquele que ministra aulas. ”(grifo nosso).

Vê-se, pois, que o dispositivo Constitucional concede aposentadoria especial não

aos ocupantes de cargos e funções do magistério, mas especificamente aos

titulares de cargos e funções de professor...”58

No mesmo julgamento da ADIN o Ministro Néri da Silveira enclausura, ainda

mais, o vocábulo professor ao excluir outros servidores da educação, eventualmente,

com o cargo de concurso de professor, mas exercendo atividades, fora da sala de aula, ou

seja, não ministrando aulas

“Voto -... Sempre entendi que os dispositivos constitucionais, que asseguram a

aposentadoria com o tempo reduzido, no âmbito do magistério, destinam-se,

exclusivamente, ao professor, vale dizer àquele que tem atividade docente em

classe, atividade direta e ordinária com os alunos. Não se podem beneficiar

dessas normas especiais outros servidores, embora dedicados a assuntos técnicos

pedagógicos, sem natureza docente.”59

Confirmando a exegese sobre o termo professor assim se expressa o Ministro

Ilmar Galvão

“Voto - ...Uma leitura atenta do dispositivo sob enfoque da Constituição Federal,

revela sem maior esforço interpretativo, haverem sido por ele contemplados

58

Julgamento da ADIN 112-1 SC Relator Ministro Paulo Brossard 59

Julgamento da ADIN 112-1 SC Relator Ministro Paulo Brossard

Page 67: Comentários à Lei Fundef

67

somente os integrantes do corpo docente da rede de ensino, os encarregados de

ministrar aula e de transmitir ensinamentos aos alunos, entre os quais não se

compreendem os servidores encarregados de planejamento, de assessoramento,

de controle e avaliação, ainda que, entre os requisitos a serem por eles atendidos,

se contém títulos alusivos à formação pedagógica...”60

60

ADIN 152 MG

Page 68: Comentários à Lei Fundef

68

Art. 8º A instituição do Fundo previsto nesta Lei e a aplicação de seus recursos não

isentam os Estados, o Distrito Federal e os Municípios da obrigatoriedade de

aplicar, na manutenção e desenvolvimento do ensino, na forma prevista no art. 212

da Constituição Federal:

I - pelo menos 10% (dez por cento) do montante de recursos originários do ICMS,

do FPE, do FPM, da parcela do IPI, devida nos termos da Lei Complementar nº 61,

de 26 de dezembro de 1989, e das transferências da União, em moeda, a título de

desoneração das exportações, nos termos da Lei Complementar nº 87, de 13 de

setembro de 1996, de modo que os recursos previstos no art. 1º, § 1º, somados aos

referidos neste inciso, garantam a aplicação do mínimo de 25% (vinte e cinco por

cento) destes impostos e transferências em favor da manutenção e desenvolvimento

do ensino;

II - pelo menos 25% (vinte e cinco por cento) dos demais impostos e transferências.

Parágrafo Único - Dos recursos a que se refere o inciso II, 60% (sessenta por cento)

serão aplicados na manutenção e desenvolvimento do ensino fundamental,

conforme disposto no art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

COMENTÁRIO

1.25% DA RECEITA DEVEM SER APLICADAS EM EDUCAÇÃO

A instituição do FUNDEF, reservando 15% (quinze por cento) dos recursos FPM,

FPE, ICMS, IPI e Lei Kandir, não desobrigam os Estados, Distrito Federal e os

Municípios de aplicar os percentuais mínimos exigidos pela Constituição Federal em

seus dispositivos. Assim, além do Fundef, devem ser aplicados em manutenção e

desenvolvimento do ensino percentuais obrigatórios constitucionais

Page 69: Comentários à Lei Fundef

69

“ A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito

Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante

de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e

desenvolvimento de ensino.”61

Assim, dos cerca de 52 (cinqüenta e dois) impostos, taxas , tributos cobrados dos

contribuintes, apenas cinco compõem o Fundef e, não no percentual mínimo determinado

pela Constituição Federal que devem ser aplicados em MDE – Manutenção e

Desenvolvimento de Ensino.

Os dez por cento restantes, dos impostos e recursos acima nominados, devem ser

aplicados, obrigatoriamente em MDE, porém sem as “amarras” determinadas na Lei

Fundef.

Dos demais impostos e transferências entre os entes federados, o percentual

mínimo deve atingir, no mínimo 25% (vinte e cinco por cento). Impostos como IPTU,

IPVA, ITBI e ITR, por exemplo, que não compõem o pacote de impostos e recursos que

formam o Fundef, devem ter 25% (vinte e cinco por cento) de seus montantes aplicados

em Manutenção e Desenvolvimento de Ensino.

60% (sessenta por cento) dos recursos explicitados no Inciso II devem ser

aplicados, exclusivamente, em MDE do Ensino Fundamental, de acordo com preceitos

emanados no art. 60 do ADTC.

61

Constituição Federal 1988, Art. 212.

Page 70: Comentários à Lei Fundef

70

Art. 9º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão, no prazo de seis

meses da vigência desta Lei, dispor de novo Plano de Carreira e Remuneração do

Magistério, de modo a assegurar:

I - a remuneração condigna dos professores do ensino fundamental público, em

efetivo exercício no magistério;

II - o estímulo ao trabalho em sala de aula;

III - a melhoria da qualidade do ensino.

§ 1º Os novos planos de carreira e remuneração do magistério deverão contemplar

investimentos na capacitação dos professores leigos, os quais passarão a integrar

quadro em extinção, de duração de cinco anos.

§ 2º Aos professores leigos é assegurado prazo de cinco anos para obtenção da

habilitação necessária ao exercício das atividades docentes.

§ 3º A habilitação a que se refere o parágrafo anterior é condição para ingresso no

quadro permanente da carreira, conforme os novos planos de carreira e

remuneração.

COMENTÁRIO

1.DA VIGÊNCIA DO FUNDEF

O caput do artigo limita o tempo de implantação dos novos planos de carreira a

partir de seis meses da vigência da Lei Fundef.

Segundo o artigo 1º da Lei 9424/96 o Fundef será implantado de forma automática

a partir de primeiro de janeiro de 1998.

Page 71: Comentários à Lei Fundef

71

Por este limite já, há muito, os municípios, estados e o distrito federal deveriam ter

implantado os novos Planos de Carreira. Porém, muitos estados, incluindo o do Paraná e,

inúmeros municípios, ainda, no inicio de 2003, não haviam instituído os novos Planos de

Carreira do Magistério. Tendo em vista que, pelo artigo primeiro da Lei Fundef, em

junho de 1998, já deveriam estar implantados os novos Planos de Carreira nos entes

federados.

2.RAZÕES QUE MOTIVARAM O ATRASO DA

IMPLANTAÇÃO DOS NOVOS PLANOS DE CARREIRA.

Por entender que a União não pode fixar prazos para os Estados, Municípios e o

Distrito Federal o Supremo Tribunal Federal, uma vez que, segundo liminar, feriria a

autonomia prevista na Constituição Federal, considerou inconstitucional o limite

estabelecido em Lei Federal, impondo prazo aos demais entes federados.

3.PRINCÍPIOS OBRIGATÓRIOS NOS NOVOS PLANOS

DE CARREIRA

O inciso I utiliza-se de o termo remuneração condigna para definir qual deve ser

o vencimento dos professores do Ensino Fundamental. Nos parece que o mais correto

seria implantar um piso salarial mínimo para a categoria, a ser obedecido nacionalmente,

assim como ocorre com varias categorias.

O termo remuneração condigna abre um amplo leque de possibilidades para os

administradores públicos. O mérito, o valor, não são expressões aritméticas. São juízos

de valores e, como tal, sujeitam-se ao arbítrio humano, nem sempre justo, nem sempre

meritório.

Segundo pesquisa MEC – FIPE/SP, realizada em 2001, em 250 redes de ensino

estaduais e municipais podemos verificar as seguintes remunerações condignas por

regiões:

A pesquisa levou em consideração o salário- base. Fazendo uma média dos

valores informados a título de remuneração para compor os valores por regiões. Trata-se,

Page 72: Comentários à Lei Fundef

72

portanto de salários médios e não números absolutos, sendo, portanto, é evidente, normal

encontrar valores menores dos que os apresentados.

Região Salário-base Remuneração

condigna/dia

NO 353,00 11,77

NE 307,00 10,23

SD 503,00 16,77

SU 650,00 21,67

CO 451,00 15,03

BRASIL 450,00 15,00

FONTE: MEC – PESQUISA FIPE – Adaptado pelo Autor

O salário-base médio dos Professores, no caso, refere-se ao corpo docente com

habilitação em nível médio, modalidade normal, para uma jornada de quarenta horas

semanais. Ou seja, com dedicação exclusiva.

A interpretação ampla do conceito permite, como demonstrado, inúmeras

distorções. Teoricamente, por ter maior parcela do PIB a região Sudeste, deveria ter um

salário-base médio maior que as demais regiões. Uma vez que, a maior parte, dos

recursos do Fundef são oriundos do IPI, do IR e do ICMs, recursos de natureza, por

assim dizer, industrial e comercial, sendo, indubitavelmente maior a concentração destas

atividades econômicas na região Sudeste. Mas tal fato não ocorre, uma vez que o salário-

base médio da região Sul, segundo a pesquisa FIPE/SP, é o maior do Brasil.

Quais as origens destas distorções?

Prefeituras com semelhantes perfis sócio-econômicos apresentam diferentes e

disparatados salários.

O custo médio aluno/ano nos municípios abaixo é praticamente idêntico. São

municípios com grande produção agrícola, com setor industrial direcionado, em sua

maioria para a agroindústria.

Até mesmo o comportamento da demografia dos municípios citados são

semelhantes. Sendo que o único município que apresenta, pequena, evolução da

Page 73: Comentários à Lei Fundef

73

população é o município de Campo Mourão. Os demais sofreram grande êxodo de sua

população.

Como se explica a variação enorme das remunerações iniciais?

Município Menor

salário

Remuneração

condigna/dia

Farol 265,00 8,83

Campina da

Lagoa

234,00 7,80

Campo

mourão

300,98 10,03

Moreira

Sales

265,00 8,83

Rancho

Alegre

447,46 14,91

Mamborê 283,60 9,45

FONTE: APP-SINDICATO – inicio de 2003

Saliente-se, que as jornadas de trabalho dos municípios acima, refere-se a

jornadas de 20 h/a(vinte horas aula).

Exige-se, também, “incentivo ao trabalho em sala de aula” e melhoria da

qualidade de ensino.

Além dos três princípios citados que, obrigatoriamente devem compor o texto dos

novos Planos de Carreira é necessário, também, obedecer outros princípios contidos na

LDB e na resolução nº 03/97, do CEB/CNE.

3.1. LDB – Lei Nº 9394/96

A LDB elenca alguns princípios básicos que devem constar nos Planos de

Carreira.

Page 74: Comentários à Lei Fundef

74

“Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais da educação,

assegurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do

magistério público”.62

Esses princípios visam um objetivo mais amplo a propalada “valorização da

educação”, portanto são pilares deste conceito.

Alguns são reflexos da Constituição Federal como, por exemplo, assegurar que a

forma de ingresso na carreira do magistério público seja o concurso público de provas e

títulos.63

E licenças remuneradas para aperfeiçoamento.64

Além disso, deve estabelecer um piso salarial profissional, o que, em nossa

opinião, gera inúmeras incongruências e disparidades, já que não existe um piso nacional

definido. Ou seja, cada ente federado deve instituir seu próprio piso salarial.

Continuam os populares “avanços“, verticais e horizontais embasados na

titulação e na avaliação de desempenho...

Institui a hora-atividade, permitindo ao professor tempo, remunerado, para

planejar suas aulas, correções de avaliações e atividades correlatas.

Garante, também “condições adequadas de trabalho”.

Encerra com a exigência de experiência docente para exercer as funções de

magistério.

3.2. Resolução nº 03, de 08 de outubro de 1997. CEB/CNE

Esta resolução fixou diretrizes que devem ser seguidas pelos Municípios, Estados

e Distrito Federal no processo de implantação dos novos planos de carreira.

Esquematicamente resumimos os principais itens desta resolução.

Art. Comentário

1º É obrigatória a aplicação dos princípios desta

resolução nos Novos Planos de Carreira.

62

Lei 9394/96, Art. 67. 63

Lei 9394/96, Inciso I do art. 67. 64

Lei 9394/96, Inciso II do art. 67.

Page 75: Comentários à Lei Fundef

75

2º A carreira do magistério é composta por docentes e

pessoal de suporte pedagógico (funções de

magistério): direção, planejamento, inspeção,

supervisão e orientação educacional.

3º Ingresso na carreira apenas por concurso de provas e

títulos.

§ 1º - Para ingressar na carreira, no suporte

pedagógico, é necessário ter dois anos de experiência

docente.

§ 2º - Concursos periódicos, em caso de existência de

vagas. Pelo menos de quatro em quatro anos.

§ 3º - Estágio probatório de três anos, definido como

o período entre a posse e a investidura permanente do

cargo.

4º Habilitação para docência:

a) Normal (ensino médio): Para Educação

Infantil e os quatro primeiros anos do Ensino

Fundamental.

b) Licenciatura Plena: Quinta a Oitava séries do

Ensino Fundamental e Ensino Médio.

c) Licenciatura Plena e complementação: Para

Ensino Fundamental e Ensino Médio.

d) Suporte pedagógico: Pedagogia ou pós-

graduação.

e) Os entes federados deverão colaborar para dar

formação mínima exigida aos professores

leigos no prazo de cinco anos.

5º Incentivo aos profissionais para que façam cursos de

Page 76: Comentários à Lei Fundef

76

graduação, programas de desenvolvimento

profissional e aperfeiçoamento, inclusive com uso da

“educação a distância”.

6º Serão vetados benefícios que não são constitucionais,

incidentes sobre faltas, justificativas e licenças.

Professores cedidos para outras funções fora do

sistema de ensino, ocorrerão sem custos para o

sistema educacional.

Férias: 45 (quarenta e cinco) dias para os docentes;

30 (trinta) dias para o suporte pedagógico.

A jornada de trabalho poderá ser de 40 (quarenta)

horas semanais, com percentual reservado para hora-

atividade entre 20% (vinte por cento) e 25% (vinte e

cinco por cento).

A remuneração dos docentes com Licenciatura Plena,

não poderá ultrapassar, em mais de 50% (cinqüenta

por cento), a remuneração dos docentes com

habilitação em Ensino Médio, modalidade Normal.

São incentivos de progressão na carreira:

a) dedicação exclusiva;

b) avaliação de desempenho;

c) qualificação em instituições;

d) tempo de serviço docente;

e) avaliações periódicas.

É vedada incorporação de gratificações por função

Page 77: Comentários à Lei Fundef

77

aos vencimentos e proventos.

Somente com concurso poderá ocorrer transposição

de cargo.

7º O custo médio aluno-ano será parâmetro para definir

a remuneração dos docentes, seguindo os seguintes

preceitos:

a) O custo médio aluno-ano será obtido

dividindo os recursos anuais do fundef

somados aos 15% (quinze por cento) dos

demais impostos não incluídos no Fundef,

pelo número de alunos matriculados no

sistema.

b) Ponto médio é a média aritmética entre a

maior e a menor remuneração possíveis.

c) Remuneração média será igual ao custo

médio aluno-ano, na situação modelo de uma

função de 20 h/a (vinte horas-aula) e 5 h/a

(cinco horas-aula) destinadas a atividades

fora da sala de aula e, uma relação de 25

alunos por professor.

d) O custo médio aluno-ano e o ponto médio de

remuneração sofrerá alterações de acordo

com as variações da jornada de trabalho e da

relação aluno-professor do sistema.

A remuneração dos docentes do Ensino Fundamental

será referência para a remuneração dos docentes do

Ensino Infantil e Ensino Médio.

8º Serão incluídas regras de transição na passagem do

Plano de Carreira atual para o novo Plano de

Carreira.

Page 78: Comentários à Lei Fundef

78

FONTE:ELABORADO PELO AUTOR

4.DOS PROFESSORES LEIGOS.

Os professores leigos (sem habilitação mínima exigida para compor o sistema)

serão enquadrados em “cargo em extinção” que perdurará por cinco anos após a

promulgação do novo Plano de Carreira.

Será garantido, aos professores leigos, prazo de cinco anos para que obtenham a

habilitação necessária para o exercício do magistério.

A habilitação mínima exigida – magistério em nível de ensino médio, modalidade

normal – será considerada condição sine qua non para o ingresso na carreira.

Page 79: Comentários à Lei Fundef

79

Art. 10 Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão comprovar:

I - efetivo cumprimento do disposto no art. 212 da Constituição Federal;

II - apresentação de Plano de Carreira e Remuneração do Magistério, de acordo

com diretrizes do Conselho Nacional de Educação, no prazo referido no artigo

anterior;

III - fornecimento das informações solicitadas por ocasião do censo escolar, ou para

fins de elaboração de indicadores educacionais.

Parágrafo Único - O não cumprimento das condições estabelecidas neste artigo, ou

o fornecimento de informações falsas acarretará sanções administrativas sem

prejuízo das civis ou penais ao agente executivo que lhe der causa.

COMENTÁRIO

1.DA APLICAÇÃO MÍNIMA OBRIGATÓRIA EM EDUCAÇÃO

A Constituição Federal obriga os entes federados a aplicar no mínimo um

percentual das receitas em educação, a saber: A União 18% (dezoito por cento); os

Estados , o Distrito Federal e os Municípios 25% (vinte e cinco por cento).

“A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os, o Distrito Federal

e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de

impostos, compreendida a proveniente de transferências, na Manutenção e

Desenvolvimento do Ensino.”65

Das receitas anuais, portanto, nunca menos de 25% (vinte e cinco por cento)

devem, por determinação constitucional ser aplicados em manutenção e desenvolvimento

do ensino, por Estados, Distrito Federal e Municípios.

65

Constituição Federal – 1988, Art. 212.

Page 80: Comentários à Lei Fundef

80

Ressalvam-se os casos em que as Constituições Estaduais, ou as Leis Orgânicas

ampliaram os percentuais mínimos. Caso especifico, por exemplo, do município de São

Paulo, em que a Lei Orgânica determina a aplicação mínima anual de 30% (trinta por

cento) das receitas em educação.

A Lei Fundef obriga os entes federados a comprovar esta aplicação mínima.

Como é do conhecimento geral, as administrações municipais são obrigadas a

prestar contas anualmente aos Tribunais de Contas, para fiscalização da correta aplicação

dos recursos públicos.

Entendemos, portanto, que não é esta comprovação a que se refere o legislador,

quando se reporta sobre a necessidade de comprovação da aplicação destes recursos.

Transcende o já determinado constitucionalmente.66

Concluímos que esta comprovação deve ser feita a comunidade.

Devem ser criados mecanismos, outros, que não os enviados aos Tribunais de

Contas, para ciência da comunidade.

2.DO PCCS E DO CENSO.

O inciso II reforça a necessidade da promulgação dos novos Planos de Carreira

do Magistério no prazo de seis meses após a vigência da Lei Fundef.

Como a Lei passou a vigorar em janeiro de 1998, o prazo extinguiu-se em junho

do mesmo ano.

Acrescenta, entretanto, a obrigatoriedade de se seguir às diretrizes do parecer da

CEB/CNE, na elaboração dos novos planos de carreira. Diretrizes estas explanadas no

capítulo anterior.

Exige-se, ainda, a colaboração dos sistemas de ensino para executar o censo

escolar e fornecimento de dados para embasar pesquisas na área educacional.

O parágrafo único chama a atenção para as sanções administrativas, civis e penais

a que se submeterão os membros do poder executivo que não cumprirem fielmente o

disposto no artigo.

66

Constituição Federal – 1988, Artigos 70, 71, 72, 73, 74 e 75.

Page 81: Comentários à Lei Fundef

81

Art. 11 - Os órgãos responsáveis pelos sistemas de ensino, assim como os Tribunais

de Contas da União dos estados e Municípios, criarão mecanismos adequados à

fiscalização do cumprimento pleno do disposto no art. 212 da Constituição Federal

e desta Lei, sujeitando-se os Estados e o Distrito Federal à intervenção da União e

os Municípios à intervenção dos respectivos estados, nos termos do art. 34, inciso

VII, alínea e, e do art. 35, inciso II, da Constituição Federal.

COMENTÁRIO

O artigo cita, como um dos órgãos fiscalizadores, da correta aplicação dos

recursos públicos, os tribunais de Contas da União, dos Estados e Municípios.

Exige, ainda, a criação de mecanismos para a fiscalização desta aplicação.

De novidade a exigência de que os órgãos municipais e estaduais que gerenciam a

educação – Departamentos de Educação, Secretárias de Educação e correlatas – também

devem criar mecanismos para fiscalizar a correta aplicação do percentual mínimo

exigido pela Constituição Federal.

Os Tribunais de Contas, juntamente com técnicos do MEC lançaram um

documento, no dia 04 de julho de 1999, denominado de “Carta dos técnicos do

Ministério da Educação e dos Tribunais de Contas sobre o Fundef” onde uniformizam as

interpretações dispares sobre pontos polêmicos da Legislação relativa ao financiamento

da educação – Fundef. Além de estabelecer mecanismos comuns de análise e fiscalização

da aplicação destes recursos.

Esta “Carta” embasou pareceres dos Tribunais de Constas que criaram normas e

mecanismos para aplicação e fiscalização dos recursos destinados à educação.

Na eventualidade, de não ocorrer aplicação mínima constitucional obrigatória em

educação, os Estados sujeitar-se à intervenção nos termos constitucionais.

“A união não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:

(...)

Page 82: Comentários à Lei Fundef

82

VII – Assegurar a observância do seguintes princípios constitucionais.

(...)

e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais,

compreendida a proveniente de transferência, na Manutenção e Desenvolvimento

do Ensino.”

Os municípios, que por sua vez, eventualmente não aplicarem o mínimo de 25% (

vinte e cinco por cento) das receitas em educação, sujeitar-se-ão, também, à intervenção

“O Estado não interferirá em seus municípios, nem a União nos municípios

localizados em território federal exceto quando:

(...)

III – Não tiver aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e

desenvolvimento do ensino.”

Page 83: Comentários à Lei Fundef

83

Art. 12 - O Ministério da Educação e do Desporto realizará avaliações periódicas

dos resultados da aplicação desta Lei, com vistas à adoção de medidas operacionais

e de natureza político-educacional corretivas, devendo a primeira realizar-se dois

anos após sua publicação.

COMENTÁRIO

O artigo cria mecanismos de avaliação dos efeitos da aplicação da Lei para

realizar uma realimentação, caso seja necessário, inclusive determina que a primeira

avaliação ocorra dois anos após a implantação da Lei.

Estabelece, também, que estas avaliações sejam periódicas. Até o momento foram

divulgadas três avaliações da aplicação da Lei, onde, os relatórios ufanos apontam

avanços na “democratização do ensino”.

As avaliações realizadas até o momento são as seguintes:

1. “Balanço do primeiro ano do FUNDEF” com dados relativos ao período de dezembro

de 1997 a agosto de 1998;

2. “FUNDEF – balanço 1998-2000” e;

3. “FUNDEF – Relatório sintético 1998-2002”.

Todas pesquisas contratadas pelo MEC junto a FIPE-SP. A pesquisa ocorreu em

250 (duzentos e cinqüenta) Redes de Ensino Fundamental (Secretarias Estaduais e

Municipais de Educação).

Um dos aspectos que chamam a atenção é a diferença percentual de aplicação de

recursos entre Estados/Distrito Federal/Municípios e a União.

Desde sua implantação a participação da União na composição do Fundo

diminuiu de 3,7% (três virgula sete por cento), em 1998, para 2% (dois por cento) em

2001.

Page 84: Comentários à Lei Fundef

84

Isto ocorre, em primeira instância, graças ao irrisório valor definido como

mínimo nacional por aluno, o que, como analisado anteriormente, tem como claro

objetivo evitar contrapartida/complementação da União.

O quadro abaixo demonstra a aplicação de recursos, por parte da União e dos

demais Entes Federados:

R$ milhões

Recursos Entes

Federados

União Total

Ano

1998 12.787,3 486,7 13.274,0

% 96,3 3,7 100

1999 14.569,6 580,0 15.149,6

% 96,2 3,8 100

2000 17.119,9 485,4 17.605,3

% 97,2 2,8 100

2001 19.468,9 391,6 19.860,5

% 98,0 2,0 100

FONTE:Pesquisa MEC-FIPE-SP 2001(adaptado pelo autor)

Existe uma clara dicotomia, apesar de ser uma Lei Federal os recursos são

majoritariamente de Estados e Municípios. E, o próprio comportamento da receita,

apesar da constante evolução, gera uma paradoxal aplicação. Aplicação esta que se dá

em razão inversa: enquanto ampliam-se as receitas dos Estados e Municípios, ampliam-

se, também, os recursos do Fundef; já, a União - em que pese, a injusta distribuição de

recursos entre a União e os demais Entes Federados e, concomitantemente, à ampliação

constante da arrecadação operada pela Receita Federal - enquanto amplia sua

arrecadação diminui sua participação no “bolo” que compõem o Fundef.

O número de Estados que recebem complementação da União também

acompanha a queda da contrapartida/complementação da União. Os Estados que

recebem complementação da União são, obviamente – em razão do pacote de impostos

que compõe o Fundo -, em sua maioria, do Nordeste:

UF Ano

Page 85: Comentários à Lei Fundef

85

1998 1999 2000 2001

Alagoas - 3,2 - -

Bahia 143,9 215,2 191,2 163,5

Ceará 46,4 33,5 2,9 -

Maranhão 153,5 174,5 168,8 146,8

Pará 112,6 116,5 94,2 61,6

Paraíba - 4,7 - -

Pernambuco 6,3 8,1 - -

Piauí 24,0 24,3 28,3 19,7

Brasil 486,7 580,0 485,4 391,6

FONTE:Pesquisa MEC-FIPE-SP 2001(adaptado pelo autor)

Na selva de relatórios publicados destacamos e relacionamos duas em especial:

As estatísticas relativas ao valor aluno/ano por Municípios/Regiões de

1ª(primeira) a 4ª(quarta) séries e, a que explicita o salário base médio em junho de 2001.

Dados relativos ao ano de 2001 em R$

Regiões Valor

aluno/ano

Salário base

20H/A

Salário base

40H/A

NO 436,0 236,0 353,0

NE 378,0 219,0 307,0

CO 521,0 312,0 451,0

SD 732,0 403,0 503,0

SU 683,0 341,0 650,0

BRASIL 526,0 297,0 450,0

FONTE:Pesquisa MEC-FIPE-SP 2001(adaptado pelo autor)

O valor aluno/ano é para toda a região. O custo aluno/ano é realizado por Rede de

Ensino (municipais e Estaduais). Assim, cada rede de ensino tem seu custo aluno/ano.

Neste cômputo inserem-se, também, 15% (quinze por cento) dos demais impostos, taxas,

etc, que não compõem o Fundef. Incluem-se, portanto, valores percentuais do IPTU,

IPVA, ITBI, etc, neste cálculo. Assim, obviamente o valor aluno/ano é superior ao

apresentado.

Page 86: Comentários à Lei Fundef

86

Esta ressalva faz-se necessário, pois, como visto anteriormente, este valor é um

dos componentes para se calcular o salário base de cada rede de ensino para uma jornada

de 20(vinte) horas.

Em uma situação ideal, o valor aluno/ano seria próximo ao salário médio, com a

propalada amplitude de 50% (cinqüenta por cento) do inicio da carreira.

Os dados revelam, entre outras, duas injustiças:

Primeiro, como demonstram os números os valores do custo aluno/ano –

irrisórios – não estão sequer próximos do salário preconizado e estabelecido na fórmula

do salário médio do magistério, sendo os salários mais irrisórios que o custo aluno/ano;

Em segundo, revela-se que os salários base, das redes de ensino para quarenta

horas aula não são o dobro dos salários base para vinte horas aula.

Apesar de ser uma média, calcula-se, que deveriam ficar próximas ao dobro ou

acima.

Imaginamos como devem se sentir “valorizados” os professores com jornadas de

40 (quarenta) hora-aula, nas redes do Sudeste que percebem, em média, R$ 100,00 (cem

reais) a mais do que um professor com vinte horas aula.

No item 14 do “FUNDEF – Relatório sintético 1998-2002” encontramos a

seguinte análise sobre as condições gerais da educação:

“As mudanças decorrentes da implantação do fundo em janeiro de 1998 fizeram

com que o ensino fundamental público brasileiro passasse por um significativo

processo de mudança e melhorias, com expressivos e importantes avanços...”67

Relatório, este, que destoa da realidade. Uma vez que, os últimos dados do

sistema nacional de avaliação apontam uma diminuição dos resultados de aprendizagem

dos alunos do ensino fundamental.

O próprio Ministério da Educação considera a situação calamitosa

“Classificando de “tragédia brasileira”, o Ministro da Educação divulgou ontem

um estudo mostrando o que entidades e professores vem dizendo há algum

tempo: o nível de leitura e o aprendizado de matemática de matemática estão

entre intermediário e muito crítico.”68

67

Fundef – Relatório sintético 1998-2002 – item 14. 68

Gazeta do Paraná – Pg 07 – edição de 23/04/2003.

Page 87: Comentários à Lei Fundef

87

Como podemos considerar em “desenvolvimento”, o ensino fundamental, com tal

avaliação para os efeitos do ensino-aprendizagem?

Lembramos que os dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica,

referem-se, neste caso, a alunos que são objeto da Lei Fundef: alunos de Ensino

Fundamental e, alunos do Ensino Médio.

As razões apontadas pelo presidente do Instituto Nacional de Pesquisas

Educacionais, para tal situação referem-se, justamente, aos princípios preconizados e

buscados na Lei Fundef:

“...devem ser levados em consideração fatores como preparação do professor,

qualidade de ensino (para incentivar o aluno)...” 69

Diz, a reportagem, que nos embasa, que os dados relativos ao Nordeste causou

surpresa nos técnicos do MEC por revelar o óbvio:

“O Nordeste tem os piores índices entre os estudantes das três séries.”70

Não por acaso esta região é a que menos aplica em educação, segundo os dados

acima citados. E que recebe pequeno auxilio da União:

Os dados relativos ao Nordeste são assustadores e excludentes:

“No caso da prova de língua portuguesa para estudantes da 4º série, por exemplo,

o Nordeste tem 33,42% no estágio muito crítico e outros 41,75% em crítico.

Traduzindo: não foram alfabetizados adequadamente e quando lêem é de forma

truncada ou apenas frases simples,”71

Mais de setenta e cinco por cento dos estudantes de quarta série não sabem ler

adequadamente!!!

Talvez, sejam estes os “avanços e melhorias”, ocorridos no Ensino Fundamental,

segundo “FUNDEF – Relatório sintético 1998-2002”.

A proposta do governo, via MEC, é, de forma hedionda e obvia, o mesmo

discurso atroz: “valorização do professor para reverter este quadro.”72

A ridícula proposta prevê a aplicação de míseros cento e vinte e dois milhões de

reais para atender, pasmem, cinco mil cidades.

69

Gazeta do Paraná – Cit., p.7 70

Gazeta do Paraná. Cit. , p.7 71

Gazeta do Paraná. Cit. , p.7 72

Gazeta do Paraná. Cit. , p.7

Page 88: Comentários à Lei Fundef

88

Como não há notícia de que ocorreram algumas mudanças, além dos “enormes”

recursos acima citados, para corrigir os rumos do Fundef, base do caput, para a execução

das pesquisas propomos não divulgar os resultados. Ambos não! É claro, apenas um,

para não se contradizerem: Ou os dados do Sistema de Avaliação, nu e cru ou os do

MEC, sofismando.

Talvez fosse menos contraproducente tomar essa medida drástica: evitaria, pelo

menos, que os professores se sentissem menos valorizados do que já são.

E seria mais produtivo do que aplicar tão parcos recursos!

Isto sim seria valorizar o professor!

Ou, quem sabe, combinar os diferentes dados, forjando-os, para apresentar

melhores resultados.

Um questionamento nos assalta! E caso isto tenha ocorrido?

Page 89: Comentários à Lei Fundef

89

Art. 13 Para os ajustes progressivos de contribuições a valor que corresponda a

um padrão de qualidade de ensino definido nacionalmente e previsto no art. 60,

§ 4°, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, serão considerados

observado o disposto no art. 2°, § 2°, os seguintes critérios:

I - estabelecimento do número mínimo e máximo de alunos em sala de aula:

II - capacitação permanente dos profissionais de educação;

III - jornada de trabalho que incorpore os momentos diferenciados das

atividades docentes;

IV - complexidade de funcionamento;

V - localização e atendimento da cidade;

VI - busca do aumento do padrão de qualidade do ensino.

COMENTÁRIO

A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios ajustarão

progressivamente, em um prazo de cinco anos, suas contribuições ao fundo, De forma a

garantir um valor por aluno correspondente a um padrão mínimo de qualidade de ensino,

definido nacionalmente de acordo com o artigo 60, em seu parágrafo 4º do ADCT.

Estes valores aluno/ano , serão definidos, observando-se o disposto no artigos 2º,

em seu parágrafo 2º da lei 9424/96. Neste parágrafo determina-se a diferenciação de

valores segundo dois critérios: nível de ensino e tipo de estabelecimento.

Assim, através de decretos, o Poder Executivo definirá, nacionalmente, o custo

mínimo aluno/ano.

Page 90: Comentários à Lei Fundef

90

Dever-se-á, na determinação destes valores aluno/ano, definir, em cada nível de

ensino – no ensino fundamental dois valores: um para 1º a 4º e outro para 5º a 8º.

Número mínimo e máximo de alunos por sala de aula.

Os sistemas de ensino implementarão programas de capacitação contínua para os

profissionais de magistério, com definição de horas-aula e horas atividade na jornada de

trabalho.

Page 91: Comentários à Lei Fundef

91

Art. 14 A União desenvolverá política de estímulo às iniciativas de melhoria de

qualidade do ensino, acesso e permanência na escola promovidos pelas

unidades federadas, em especial aquelas voltadas as crianças e adolescentes em

situação de risco social.

COMENTÁRIO

As unidades federadas terão auxilio federal, nas iniciativas que procurem manter

os alunos nas escolas, e as tentativas de estabelecimento de programas que objetivem a

melhoria da qualidade de ensino.

As prioridades, das subvenções federais, serão as atividades destinadas a atender

as crianças e adolescentes, consideradas em situação de “risco social”.

Page 92: Comentários à Lei Fundef

92

Art. 15 O Salário-Educação, previsto no art. 212, § 5°, da Constituição Federal

e devido pelas empresas, na forma em que vier a ser disposto em regulamento, é

calculado com base na alíquota de 2,5% (dois e meio por cento) sobre o total de

remunerações pagas ou creditadas, a qualquer título, aos segurados

empregados, assim definidos no art. 12, inciso I, da Lei nº 8.212, de 24 de julho

de 1991.

§ 1° A partir de 1° de janeiro de 1997, o montante da arrecadação do Salário-

Educação, após a dedução de 1% (um por cento) em favor do Instituto

Nacional do Seguro Social - INSS, calculado sobre o valor por ele arrecadado,

será distribuído pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação -

FNDE, observada a arrecadação realizada em cada Estado e no Distrito

Federal, em quotas, da seguinte forma.

I - Quota Federal, correspondente a um terço do montante de recursos, que

será destinada ao FNDE e aplicada no financiamento de programas e projetos

voltados para a universalização do ensino fundamental, de forma a propiciar a

redução dos desníveis sócio-educacionais existentes entre Municípios, Estados,

Distrito Federal e regiões brasileiras;

II - Quota Estadual, correspondente a dois terços do montante de recursos, que

será creditada mensal e automaticamente em favor das Secretarias de

Educação dos Estados e do Distrito Federal para financiamento de programas

projetos e ações do ensino fundamental.

§ 2° (VETADO)

§ 3° Os alunos regularmente atendidos, na data da edição desta Lei como

beneficiários da aplicação realizada pelas empresas contribuintes, no ensino

fundamental dos seus empregados e dependentes a conta de deduções da

contribuição social do Salário-Educação, na forma da legislação em vigor terão

a partir de 1° de janeiro de 1997, o benefício assegurado, respeitadas as

Page 93: Comentários à Lei Fundef

93

condições em que foi concedido, e vedados novos ingressos nos termos do art.

212, § 5°, da Constituição Federal.

COMENTÁRIO

Os recursos destinados ao financiamento da educação terão o acréscimo dos

valores recolhidos a título de salário-educação.

Estes recursos, após a dedução devida ao INSS, serão incluídos no FNDE.

Respeitando-se os valores arrecadados em cada Estado e no Distrito Federal, será

distribuído, respeitando-se a seguinte partilha:

I - 1/3 (um terço) quota federal, será destinado ao FNDE e financiará programas como o

PNLD – Programa Nacional do Livro Didático, Programa Nacional Biblioteca da Escola,

Programa Nacional de Alimentação Escolar, Programa Dinheiro Direto na Escola, etc.

II – 2/3 (dois terços) quota estadual, depositada mensalmente para as secretarias

estaduais e distrital de educação e será revertido para financiar o ensino fundamental.

Page 94: Comentários à Lei Fundef

94

Art. 16 Esta Lei entra em vigor em 1° de janeiro de 1997.

COMENTÁRIO

Publicada em 24 de dezembro de 1996 está Lei entra em vigor em primeiro de

janeiro de 1997. Mas sua efetiva aplicação ocorre apenas em janeiro de 1998.

Art. 17 Revogam-se as disposições em contrário.

Page 95: Comentários à Lei Fundef

95

TEXTOS LEGAIS

1. LEI nº 9.424, DE 24 DE DEZEMBRO DE 1996

Dispõe sobre o Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de

Valorização do Magistério, na forma prevista no

art. 60, § 7º, do Ato das Disposições Constitucionais

Transitórias e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º É instituído, no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, o Fundo

de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do

Magistério, o qual terá natureza contábil e será implantado, automaticamente, a

partir de 1º de janeiro de 1998.

§ 1º O Fundo referido neste artigo será composto por 15% (quinze por cento)

dos recursos:

I - da parcela do imposto sobre operações relativas à circulação de

mercadorias e sobre prestação de serviços de transporte interestadual e

intermunicipal e de comunicação - ICMS, devida ao Distrito Federal, aos Estados

e aos Municípios, conforme dispõe o art. 155, inciso II, combinado com o art. 158,

inciso IV, da Constituição Federal:

II - do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal - FPE e dos

Municípios - FPM, previstos no art.159, inciso I, alíneas a e b, da Constituição

Federal, e no Sistema Tributário Nacional, de que trata a Lei nº 5.172, de 25 de

outubro de 1966, e

III - da parcela do Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI devida aos

Estados e ao Distrito Federal, na forma do art. 159, inciso II, da Constituição Federal

e da Lei Complementar nº 61, de 26 de dezembro de 1989.

Page 96: Comentários à Lei Fundef

96

§ 2º Inclui-se na base de cálculo do valor a que se refere o inciso I do

parágrafo anterior o montante de recursos financeiros transferidos, em moeda, pela

União aos Estados, Distrito Federal e municípios a título de compensação financeira

pela perda de receitas decorrentes da desoneração das exportações, nos termos da

Lei Complementar nº 87, de 13 de setembro de 1996, bem como de outras

compensações da mesma natureza que vierem a ser instituídas.

§ 3º Integra os recursos do Fundo a que se refere este artigo a

complementação da União, quando for o caso, na forma prevista no art. 6º.

§ 4º A implantação do Fundo poderá ser antecipada em relação à data

prevista neste artigo, mediante lei no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal.

§ 5º No exercício de 1997, a União dará prioridade, para concessão de

assistência financeira, na forma prevista no art. 211, § 1º, da Constituição Federal,

aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios nos quais a implantação do Fundo

for antecipada na forma prevista no parágrafo anterior.

Art. 2º Os recursos do Fundo serão aplicados na manutenção e

desenvolvimento do ensino fundamental público, e na valorização de seu Magistério.

§ 1º A distribuição dos recursos, no âmbito de cada Estado e do Distrito

Federal dar-se-á, entre o Governo Estadual e os Governos Municipais, na proporção

do número de alunos matriculados anualmente nas escolas cadastradas das

respectivas redes de ensino, considerando-se para esse fim:

I - as matrículas da 1ª a 8ª séries do ensino fundamental;

II - (VETADO)

§ 2º A distribuição a que se refere o parágrafo anterior, a partir de 1998,

deverá considerar, ainda, a diferenciação de custo por aluno, segundo os níveis de

ensino e tipos de estabelecimento, adotando-se a metodologia de cálculo e as

correspondentes ponderações, de acordo com os seguintes componentes:

I - 1ª a 4ª séries;

Page 97: Comentários à Lei Fundef

97

II - 5ª a 8ª séries;

III - estabelecimentos de ensino especial;

IV - escolas rurais.

§ 3º Para efeito dos cálculos mencionados no § 1º, serão computadas

exclusivamente as matrículas do ensino presencial.

§ 4º O Ministério da Educação e do Desporto - MEC realizará, anualmente,

censo educacional, cujos dados serão publicados no Diário Oficial da união e

constituirão a base para fixar a proporção prevista no § 1º.

§ 5º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão, no prazo de

trinta dias da publicação referida no parágrafo anterior, apresentar recurso para

retificação dos dados publicados.

§ 6º É vedada a utilização dos recursos do Fundo como garantia de operações

de crédito internas e externas, contraídas pelos Governos da união, dos Estados, do

Distrito Federal e dos Municípios, admitida somente sua utilização como

contrapartida em operações que se destinem, exclusivamente, ao financiamento de

projetos e programas do ensino fundamental.

Art. 3º Os recursos do Fundo previstos no art. 1º serão repassados,

automaticamente, para contas únicas e específicas dos Governos Estaduais, do

Distrito Federal e dos Municípios, vinculadas ao Fundo, instituídas para esse fim e

mantidas na instituição financeira de que trata o art. 93 da Lei nº 5.172, de 25 de

outubro de 1996.

§ 1º Os recursos do Fundo, provenientes das participações a que se refere o

art. 159, inciso I, alíneas a e b, e inciso II, da Constituição Federal, constarão dos

orçamentos da união, dos Estados e do Distrito Federal, e serão creditados pela

união em favor dos Governos Estaduais, do Distrito Federal e dos Municípios, nas

contas específicas a que se refere este artigo, respeitados os critérios e as finalidades

estabelecidas no art. 2º, observados os mesmos prazos, procedimentos e forma de

Page 98: Comentários à Lei Fundef

98

divulgação adotados para o repasse do restante destas transferências constitucionais

em favor desses governos.

§ 2º Os repasse do Fundo provenientes do imposto previsto no art. 155,

inciso II, combinado com o art. 158, inciso IV, da Constituição Federal, constarão

dos orçamentos dos Governos estaduais e do Distrito Federal e serão depositados

pelo estabelecimento oficial de crédito, previsto no art. 4º da Lei Complementar nº

63, de 11 de janeiro de 1990, no momento em que a arrecadação estiver sendo

realizada nas contas do Fundo abertas na instituição financeira de que trata este

artigo.

§ 3º A instituição financeira, no que se refere aos recursos do imposto mencionado

no § 2º, creditará imediatamente as parcelas devidas ao Governo Estadual ao distrito

Federal e aos Municípios, nas contas específicas referidas neste artigo, observados

os critérios e as finalidades estabelecidas no art. 2º, procedendo à divulgação dos

valores creditados de forma similar e com a mesma periodicidade utilizada pelos

Estados em relação do restante da transferência do referido imposto.

§ 4º Os recursos do Fundo provenientes da parcela do Imposto sobre

Produtos Industrializados, de que trata o art. 1º, inciso II, serão creditados pela

União, em favor dos Governos Estaduais e do Distrito Federal, nas contas

específicas, segundo o critério e respeitadas as finalidades estabelecidas no art. 2º,

observados os mesmos prazos, procedimentos e forma de divulgação previstos na

Lei Complementar nº 61, de 26 de dezembro de 1989.

§ 5º Do montante dos recursos do IPI, de que trata o art. 1º, inciso III, a

parcela devida aos Municípios, na forma do disposto no art. 5º da Lei Complementar

nº 61, de 26 de dezembro de 1989, será repassada pelo respectivo Governo Estadual

ao Fundo e os recursos serão creditados na conta específica a que se refere este

artigo, observados os mesmos prazos, procedimentos e forma de divulgação do

restante desta transferência aos Municípios.

§ 6º As receitas financeiras provenientes das aplicações eventuais dos saldos

das contas a que se refere este artigo em operações financeiras de curto prazo ou de

mercado aberto, lastreadas em títulos da dívida pública, junto a instituição financeira

Page 99: Comentários à Lei Fundef

99

depositária dos recursos, deverão ser repassadas em favor dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios nas mesmas condições estabelecidas no art. 2º.

§ 7º Os recursos do Fundo, devidos aos Estados, ao Distrito Federal e aos

municípios, constarão de programação específica nos respectivos orçamentos.

§ 8º Os Estados e os Municípios recém-criados terão assegurados os recursos

do Fundo previstos no art. 1º, a partir das respectivas instalações, em conformidade

com os critérios estabelecidos no art. 2º.

§ 9º Os Estados e os respectivos Municípios poderão, nos termos do art. 211,

§ 4º, da Constituição Federal, celebrar convênios para transferência de alunos,

recursos humanos, materiais e encargos financeiros nos quais estará prevista a

transferência imediata de recursos do Fundo correspondentes ao número de

matrículas que o Estado ou o Município assumir.

Art. 4º O acompanhamento e o controle social sobre a repartição, a

transferência e a aplicação dos recursos do Fundo serão exercidos, junto aos

respectivos governos, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios, por Conselhos a serem instituídos em cada esfera no prazo de cento e

oitenta dias a contar da vigência desta Lei.

§ 1º Os Conselhos serão constituídos, de acordo com norma de cada esfera

editada para esse fim:

I - em nível federal, por no mínimo seis membros, representando

respectivamente:

a) o Poder Executivo Federal;

b) o Conselho Nacional de Educação;

c) o Conselho Nacional de Secretários de Estado da Educação - CONSED;

d) a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação - CNTE;

e) a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação - UNDIME;

Page 100: Comentários à Lei Fundef

100

f) os pais de alunos e professores das escolas públicas do ensino

fundamental.

II - nos Estados, por no mínimo sete membros, representando

respectivamente:

a) o Poder Executivo Estadual;

b) os poderes Executivos Municipais;

c) o Conselho Estadual de Educação;

d) os pais de alunos e professores das escolas públicas do ensino

fundamental;

e) a seccional da união nacional dos Dirigentes municipais de Educação -

UNDIME;

f) a seccional da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação -

CNTE;

g) a Delegacia Regional do Ministério da Educação e do Desporto - DEMEC.

III - no Distrito Federal, por no mínimo cinco membros, sendo as

representações as previstas no inciso II, salvo as indicadas nas alíneas b, e e g.

IV - nos Municípios, por no mínimo quatro membros representando

respectivamente:

a) a Secretaria Municipal de Educação ou órgão equivalente;

b) os professores e os diretores das escolas públicas do ensino fundamental;

c) os pais de alunos;

d) os servidores das escolas públicas do ensino fundamental;

§ 2º Aos Conselhos incumbe ainda a supervisão do censo escolar anual.

§ 3º Integrarão ainda os conselhos municipais, onde houver, representantes

do respectivo Conselho Municipal de Educação.

Page 101: Comentários à Lei Fundef

101

§ 4º Os Conselhos instituídos, seja no âmbito federal, estadual, do Distrito

Federal ou municipal, não terão estrutura administrativa própria e seus membros não

perceberão qualquer espécie de remuneração pela participação no colegiado, seja em

reunião ordinária ou extraordinária.

Art. 5º Os registros contábeis e os demonstrativos gerenciais, mensais e

atualizados, relativos aos recursos repassados, ou recebidos, à conta do Fundo a que

se refere o art. 1º, ficarão permanentemente, à disposição dos conselhos responsáveis

pelo acompanhamento e fiscalização, no âmbito do Estado, do Distrito Federal ou do

Município, e dos órgãos federais, estaduais e municipais de controle interno e

externo.

Art. 6º A União complementará os recursos do Fundo a que se refere o art.

1º, sempre que, no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, seu valor por aluno

não alcançar o mínimo definido nacionalmente.

§ 1º O valor mínimo anual por aluno, ressalvado o disposto no § 4º, será

fixado por ato do Presidente da República e nunca será inferior à razão entre a

previsão da receita total para o Fundo e a matrícula total do ensino fundamental no

ano anterior, acrescida do total estimado de novas matrículas, observado o disposto

no art. 2º, § 1º, incisos I e II.

§ 2º As estatísticas necessárias ao cálculo do valor anual mínimo por aluno,

inclusive as estimativas de matrículas, terão como base o censo educacional

realizado pelo Ministério da Educação e do Desporto, anualmente, e publicado no

Diário Oficial da União.

§ 3º As transferências dos recursos complementares a que se refere este

artigo serão realizadas mensal e diretamente às contas específicas a que se refere o

art. 3º.

§ 4º No primeiro ano de vigência desta Lei, o valor mínimo anual por aluno,

a que se refere este artigo, será de R$ 300,00 (trezentos reais).

§ 5º (VETADO)

Page 102: Comentários à Lei Fundef

102

Art. 7º Os recursos do Fundo, incluída a complementação da União, quando

for o caso, serão utilizados pelos Estados, Distrito Federal e Municípios,

assegurados, pelo menos 60% (sessenta por cento) para a remuneração dos

profissionais do magistério, em efetivo exercício de suas atividades no ensino

fundamental público.

Parágrafo Único - Nos primeiros cinco anos, a contar da publicação desta

Lei, será permitida a aplicação de parte dos recursos do parcela de 60% (sessenta por

cento), prevista neste artigo, na capacitação de professores leigos, na forma prevista

no art. 9º, § 1º.

Art. 8º A instituição do Fundo previsto nesta Lei e a aplicação de seus

recursos não isentam os Estados, o Distrito Federal e os Municípios da

obrigatoriedade de aplicar, na manutenção e desenvolvimento do ensino, na forma

prevista no art. 212 da Constituição Federal:

I - pelo menos 10% (dez por cento) do montante de recursos originários do

ICMS, do FPE, do FPM, da parcela do IPI, devida nos termos da Lei Complementar

nº 61, de 26 de dezembro de 1989, e das transferências da União, em moeda, a título

de desoneração das exportações, nos termos da Lei Complementar nº 87, de 13 de

setembro de 1996, de modo que os recursos previstos no art. 1º, § 1º, somados aos

referidos neste inciso, garantam a aplicação do mínimo de 25% (vinte e cinco por

cento) destes impostos e transferências em favor da manutenção e desenvolvimento

do ensino;

II - pelo menos 25% (vinte e cinco por cento) dos demais impostos e

transferências.

Parágrafo Único - Dos recursos a que se refere o inciso II, 60% (sessenta

por cento) serão aplicados na manutenção e desenvolvimento do ensino

fundamental, conforme disposto no art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais

Transitórias.

Page 103: Comentários à Lei Fundef

103

Art. 9º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão, no prazo de

seis meses da vigência desta Lei, dispor de novo Plano de Carreira e Remuneração

do Magistério, de modo a assegurar:

I - a remuneração condigna dos professores do ensino fundamental

público, em efetivo exercício no magistério;

II - o estímulo ao trabalho em sala de aula;

III - a melhoria da qualidade do ensino.

§ 1º Os novos planos de carreira e remuneração do magistério deverão

contemplar investimentos na capacitação dos professores leigos, os quais passarão a

integrar quadro em extinção, de duração de cinco anos.

§ 2º Aos professores leigos é assegurado prazo de cinco anos para obtenção

da habilitação necessária ao exercício das atividades docentes.

§ 3º A habilitação a que se refere o parágrafo anterior é condição para

ingresso no quadro permanente da carreira, conforme os novos planos de carreira e

remuneração.

Art. 10 Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão comprovar:

I - efetivo cumprimento do disposto no art. 212 da Constituição Federal;

II - apresentação de Plano de Carreira e Remuneração do Magistério, de

acordo com diretrizes do Conselho Nacional de Educação, no prazo

referido no artigo anterior;

III - fornecimento das informações solicitadas por ocasião do censo escolar,

ou para fins de elaboração de indicadores educacionais.

Parágrafo Único - O não cumprimento das condições estabelecidas neste

artigo, ou o fornecimento de informações falsas acarretará sanções administrativas

sem prejuízo das civis ou penais ao agente executivo que lhe der causa.

Page 104: Comentários à Lei Fundef

104

Art. 11 Os órgãos responsáveis pelos sistemas de ensino, assim como os

Tribunais de Contas da União dos estados e Municípios, criarão mecanismos

adequados à fiscalização do cumprimento pleno do disposto no art. 212 da

Constituição Federal e desta Lei, sujeitando-se os Estados e o Distrito Federal à

intervenção da União e os Municípios à intervenção dos respectivos estados, nos

termos do art. 34, inciso VII, alínea e, e do art. 35, inciso II, da Constituição

Federal.

Art. 12 O Ministério da Educação e do Desporto realizará avaliações

periódicas dos resultados da aplicação desta Lei, com vistas à adoção de medidas

operacionais e de natureza político-educacional corretivas, devendo a primeira

realizar-se dois anos após sua publicação.

Art. 13 Para os ajustes progressivos de contribuições a valor que

corresponda a um padrão de qualidade de ensino definido nacionalmente e previsto

no art. 60, § 4°, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, serão

considerados observado o disposto no art. 2°, § 2°, os seguintes critérios:

I - estabelecimento do número mínimo e máximo de alunos em sala de

aula:

II - capacitação permanente dos profissionais de educação;

III - jornada de trabalho que incorpore os momentos diferenciados das

atividades docentes;

IV - complexidade de funcionamento;

V - localização e atendimento da cidade;

VI - busca do aumento do padrão de qualidade do ensino.

Art. 14 A União desenvolverá política de estímulo às iniciativas de melhoria

de qualidade do ensino, acesso e permanência na escola promovidos pelas unidades

federadas, em especial aquelas voltadas as crianças e adolescentes em situação de

risco social.

Page 105: Comentários à Lei Fundef

105

Art. 15 O Salário-Educação, previsto no art. 212, § 5°, da Constituição

Federal e devido pelas empresas, na forma em que vier a ser disposto em

regulamento, é calculado com base na alíquota de 2,5% (dois e meio por cento)

sobre o total de remunerações pagas ou creditadas, a qualquer título, aos segurados

empregados, assim definidos no art. 12, inciso I, da Lei nº 8.212, de 24 de julho de

1991.

§ 1° A partir de 1° de janeiro de 1997, o montante da arrecadação do Salário-

Educação, após a dedução de 1% (um por cento) em favor do Instituto Nacional do

Seguro Social - INSS, calculado sobre o valor por ele arrecadado, será distribuído

pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE, observada a

arrecadação realizada em cada Estado e no Distrito Federal, em quotas, da seguinte

forma.

I - Quota Federal, correspondente a um terço do montante de

recursos, que será destinada ao FNDE e aplicada no financiamento de programas e

projetos voltados para a universalização do ensino fundamental, de forma a propiciar

a redução dos desníveis sócio-educacionais existentes entre Municípios, Estados,

Distrito Federal e regiões brasileiras;

II - Quota Estadual, correspondente a dois terços do montante de recursos,

que será creditada mensal e automaticamente em favor das Secretarias de Educação

dos Estados e do Distrito Federal para financiamento de programas projetos e ações

do ensino fundamental.

§ 2° (VETADO)

§ 3° Os alunos regularmente atendidos, na data da edição desta Lei

como beneficiários da aplicação realizada pelas empresas contribuintes, no ensino

fundamental dos seus empregados e dependentes a conta de deduções da

contribuição social do Salário-Educação, na forma da legislação em vigor terão a

partir de 1° de janeiro de 1997, o benefício assegurado, respeitadas as condições em

que foi concedido, e vedados novos ingressos nos termos do art. 212, § 5°, da

Constituição Federal.

Page 106: Comentários à Lei Fundef

106

Art. 16 Esta Lei entra em vigor em 1° de janeiro de 1997.

Art. 17 Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 24 de dezembro de 1996, 175º da Independência e 108º da

República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

PAULO RENATO SOUZA

Page 107: Comentários à Lei Fundef

107

2. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 14, DE 1996

Modifica os Arts. 34, 208, 211 e 2 12 da Constituição Federal, e dá nova redação ao Art

60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do § 3o do

Art. 60 da Constituição Federal, promulgam a seguinte emenda ao texto constitucional:

Art. 1o E acrescentada no Inc. VII do Art. 34 da Constituição Federal, a alínea e,

com a seguinte redação:

"e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais,

compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do

ensino."

Art. 2o É dada nova redação aos Incs. 1 e II do Art. 208 da Constituição Federal,

nos seguintes termos:

"I. ensino fundamental obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta

gratuita para todos os que a ele não tiverem acesso na idade própria;

II. progressiva universalização do ensino médio gratuito;"

Art. 3o É dada nova redação aos § 1

o e 2

o do Art. 211 da Constituição Federal e

nele são inseridos mais dois parágrafos, passando a ter a seguinte redação:

"Art. 211 ..........................................

§ 1o A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios, financiará

as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função

redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades

educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino, mediante assistência técnica e

financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios.

§ 2o Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação

infantil.

§ 3o Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino

fundamental e médio.

Page 108: Comentários à Lei Fundef

108

§ 4o Na organização de seus sistemas de ensino, os Estados e os Municípios

definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino

obrigatório."

Art. 4o É dada nova redação ao § 5

o do Art. 212 da Constituição Federal nos

seguintes termos:

"§ 5o O ensino fundamental público tenha como fonte adicional de financiamento

a contribuição social do salário-educação, recolhida pelas empresas, na forma da lei."

Art. 5o É alterado o Art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e

nele são inseridos novos parágrafos, passando o artigo a ter a seguinte redação:

"Art. 60. Nos dez primeiros anos da promulgação desta emenda, os Estados, o

Distrito Federal e os Municípios destinarão não menos de sessenta por cento dos

recursos a que se refere o caput do Art. 212 da Constituição Federal, à manutenção e ao

desenvolvimento do ensino fundamental, com o objetivo de assegurar a universalização

de seu atendimento e a remuneração condigna do magistério.

§ 1o A distribuição de responsabilidades e recursos entre os Estados e seus

Municípios a ser concretizada com parte dos recursos definidos neste artigo, na forma

do disposto no Art. 211 da Constituição Federal, e assegurada mediante criação, no

âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, de um Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério, de natureza

contábil.

§ 2o O Fundo referido no parágrafo anterior será constituído por, pelo menos,

quinze por cento dQs recursos a que se referem os Arts. 155, Inc. II; 158, Inc. IV; e 159,

Inc. I, alíneas a e b; Inc. II, da Constituição Federal, e será distribuído entre cada Estado

e seus Municípios, proporcionalmente ao número de alunos nas respectivas redes de

ensino fundamental.

§ 3o A União complementará os recursos dos Fundos que se refere o § 1

o sempre

que, em cada Estado e no Distrito Federal, seu valor por aluno não alcançar o mínimo

definido nacionalmente.

§ 4o A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios ajustarão

progressivamente, em um prazo de cinco anos, suas contribuições ao Fundo, de forma a

garantir um valor por aluno correspondente a um padrão mínimo de qualidade de

Page 109: Comentários à Lei Fundef

109

ensino, definido nacionalmente.

§ 5o Uma proporção não inferior a sessenta por cento dos recursos de cada Fundo

referido no § 1 será destinada ao pagamento dos professores do ensino fundamental em

efetivo exercício no magistério.

§ 6o A União aplicará na erradicação do analfabetismo e na manutenção e no

desenvolvimento do ensino fundamental, inclusive na complementação a que se refere o

§ 3o, nunca menos que o equivalente a trinta por cento dos recursos a que se refere o

caput do Art. 212 da Constituição Federal.

§ 7o A lei disporá sobre a organização dos Fundos, a distribuição proporcional de

seus recursos, sua fiscalização e controle, bem como sobre a forma de cálculo do valor

mínimo nacional por aluno."

Art. 6o Esta emenda entra em vigor a primeiro de janeiro do ano subseqüente ao de

sua promulgação.

Brasília, 12 de setembro de 1996.

A MESA DA CÂMARA DOS DEPUTADOS: Luís Eduardo, Presidente -Ronaldo

Perim, 1o Vice-Presidente - Beto Mansur, 2

o Vice-Presidente - Wilson Campos, 1

o

Secretário - Leopoldo Bessone, 2o Secretário - Benedito Domingos, 3

o Secretário - João

Henrique, 4o Secretário.

A MESA DO SENADO FEDERAL: José Sarney, Presidente - Teotonio Vilela

Filho, 1o Vice-Presidente - Júlio Campos, 2

o Vice-Presidente - Odacir Soares, 1

o

Secretário - Renan Calheiros, 2o Secretário - Ernandes Amorim, 4

o Secretário - Eduardo

Suplicy, Suplente de Secretário.

DO 13-9-96

Relator da Proposta de Emenda Constitucional no Senado

Senador Lúcio Alcântara

Page 110: Comentários à Lei Fundef

110

3. RESOLUÇÃO N.º 3, DE 8 DE OUTUBRO DE 1997

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

Câmara de Educação Básica

Resolução n.º 3, de 8 de outubro de 1997

Fixa Diretrizes para os Novos Planos de Carreira e de Remuneração para o

Magistério dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de

Educação, tendo em vista o disposto na Lei 9.131, de 25/11/95, nos artigos 9º e 10 da

Lei 9.424, de 24/12/96 e no Parecer 10/97, homologado pelo Ministro de estado da

Educação e do Desporto em 25 de setembro de 1997, resolve:

Art. 1º. Os novos Planos de Carreira e Remuneração para o Magistério

Público deverão observar às diretrizes fixadas por esta Resolução.

Art. 2º. Integram a carreira do Magistério dos Sistemas de Ensino Público os

profissionais que exercem atividades de docência e os que oferecem suporte

pedagógico direto a tais atividades, incluídas as de direção ou administração escolar,

planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional.

Art. 3º. O ingresso na carreira do magistério público se dará por concurso

público de provas e títulos.

§ 1º. A experiência docente mínima, pré requisito para o exercício profissional

de quaisquer funções do magistério, que não a de docência, será de 02 (dois) anos e

adquirida em qualquer nível ou sistema de ensino, público ou privado.

Page 111: Comentários à Lei Fundef

111

§ 2º. Comprovada a existência de vagas nas escolas e a indisponibilidade de

candidatos aprovados em concursos anteriores, cada sistema realizará concurso público

para preenchimento das mesmas, pelo menos de quatro em quatro anos.

§ 3º. O estágio probatório, tempo de exercício profissional a ser avaliado após

período determinado em lei, ocorrerá entre a posse e a investidura permanente na

função.

Art. 4º. O exercício da docência na carreira de magistério, exige, como

qualificação mínima:

I – ensino médio completo, na modalidade normal, para a docência na

educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental;

II – ensino superior em curso de licenciatura, de graduação plena, com

habilitações específicas em área própria, para a docência nas séries finais do ensino

fundamental e no ensino médio;

III – formação superior em área correspondente e complementação nos termos

da legislação vigente, para a docência em áreas específicas das séries finais do ensino

fundamental e do ensino médio.

§ 1º. O exercício das demais atividades de magistério de que trata o artigo 2º

desta Resolução exige como qualificação mínima a graduação em Pedagogia ou Pós-

graduação, nos termos do artigo 64 da Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

§ 2º. A União, os Estados e os Municípios colaborarão para que, no prazo de

cinco anos, seja universalizada a observância das exigências mínimas de formação para

os docentes já em exercício na carreira do magistério.

Art. 5º. Os sistemas de ensino, no cumprimento do disposto nos artigos 67 e

87 da Lei 9.394/96, envidarão esforços para implementar programas de

desenvolvimento profissional dos docentes em exercício, incluída a formação em nível

superior, em instituições credenciadas, bem como em programas de aperfeiçoamento

em serviço.

Page 112: Comentários à Lei Fundef

112

Parágrafo único – A implementação dos programas de que trata o caput tomará

em consideração:

I – a prioridade em áreas curriculares carentes de professores;

II – a situação funcional dos professores, de modo a priorizar os que terão

mais tempo de exercício a ser cumprido no sistema

III – a utilização de metodologias diversificadas, incluindo as que empregam

recursos da educação a distância.

Art. 6º. Além do que dispõe o artigo 67 da Lei 9.394/96, os novos planos de

carreira e remuneração do magistério deverão ser formulados com observância do

seguinte:

I – não serão incluídos benefícios que impliquem afastamento da escola, tais

como faltas abonadas, justificativas ou licenças, não previstas na Constituição Federal;

II – a cedência para outras funções fora do sistema de ensino só será admitida

sem ônus para o sistema de origem do integrante da carreira do magistério;

III – as docentes em exercício de regência de classe nas unidades escolares

deverão ser assegurados 45 (quarenta e cinco) dias de férias anuais, distribuídos nos

períodos de recesso, conforme o interesse da escola, fazendo jus os demais integrantes

do magistério a 30 (trinta) dias por ano;

IV – a jornada de trabalho dos docentes poderá ser de até 40 (quarenta) horas e

incluirá uma parte de horas de aula e outra de horas de atividades, estas últimas

correspondendo a um percentual entre 20% (vinte por cento) e 25% (vinte e cinco por

cento) do total da jornada, consideradas como horas de atividades aquelas destinadas à

preparação e avaliação do trabalho didático, à colaboração com a administração da

escola, às reuniões pedagógicas, à articulação com a comunidade e ao aperfeiçoamento

profissional, de acordo com a proposta pedagógica de cada escola;

V – a remuneração dos docentes contemplará níveis de titulação, sem que a

atribuída aos portadores de diploma de licenciatura plena ultrapasse em mais de 50%

(cinquenta por cento) a que couber aos formados em nível médio;

Page 113: Comentários à Lei Fundef

113

VI – constituirão incentivos de progressão por qualificação de trabalho

docente:

a) a dedicação exclusiva ao cargo no sistema de ensino;

b) o desempenho no trabalho, mediante avaliação segundo parâmetros de qualidade do

exercício profissional, a serem definidos em cada sistema;

c) a qualificação em instituições credenciadas;

d) o tempo de serviço na função docente;

e) avaliações periódicas de aferição de conhecimentos na área curricular em que o

professor exerça docência e de conhecimentos pedagógicos.

VII – não deverão ser permitidas incorporações de quaisquer gratificações por

funções dentro ou fora do sistema de ensino aos vencimentos e proventos de

aposentadoria;

VIII – a passagem do docente de um cargo de atuação para outro só deverá ser

permitida mediante concurso, admitido o exercício a título precário apenas quando

indispensável para o atendimento à necessidade do serviço.

Art. 7º. A remuneração dos docentes do ensino fundamental deverá ser

definida em uma escala cujo ponto médio terá como referência o custo médio aluno-ano

de cada sistema estadual ou municipal e considerando que:

I – o custo médio aluno-ano será calculado com base nos recursos que

integram o Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do

Magistério, aos quais é adicionado o equivalente a 15% (quinze por cento) dos demais

impostos, tudo dividido pelo número de alunos do ensino fundamental regular dos

respectivos sistemas;

II – o ponto médio da escala salarial corresponderá à média aritmética entre o

menor e a maior remuneração possível dentro da carreira;

III – a remuneração média mensal dos docentes será equivalente ao custo médio

aluno-ano, para uma função de 20 (vinte) horas de aula e 05 (cinco) horas de

atividades, para uma relação média de 25 alunos por professor, no sistema de

ensino;

Page 114: Comentários à Lei Fundef

114

IV – jornada maior ou menor que a definida no inciso III, ou a vigência de

uma relação aluno-professor diferente da mencionada no referido inciso, implicará

diferenciação para mais ou para menos no fator de equivalência entre custo médio

aluno-ano e o ponto médio de escala de remuneração mensal dos docentes;

V – a remuneração dos docentes do ensino fundamental, estabelecida na forma

deste artigo, constituirá referência para a remuneração dos professores da educação

infantil e do ensino médio.

Art. 8º. Os planos a serem instituídos com observância destas diretrizes

incluirão normas reguladoras da transição entre o regime anterior e o que será

instituído.

Art. 9º. A Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação

proporá ao Ministro de Estado da Educação e do Desporto a constituição de uma

Comissão Nacional com adequada representatividade, considerando o artigo 195 da

Constituição Federal, para num prazo de 06(seis) meses, a contar de sua instalação,

estudar a criação de fundos de aposentadoria para o magistério, com vencimentos

integrais, de modo a evitar a utilização dos recursos vinculados à educação para tal

finalidade.

Art. 10º. A presente Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

CARLOS ROBERTO JAMIL CURY

Page 115: Comentários à Lei Fundef

115

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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português?,Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, V. 24, n.2, p.

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CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a

república que não foi. São Paulo: Companhia de Letras, 1987.

COMENTÁRIOS A LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL. Organizadores Ives

Gandra da Silva Martins, Carlos Valder do Nascimento.São Paulo: Editora Saraiva,

2001.

CUNHA, Antonio Geraldo da. Dicionário etimológico da língua portuguesa. Rio

de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo: Companhia de

Letras, 1995.

WEBER, Max. A ética protestante e o Espírito do capitalismo. São Paulo:

Editora Martin Claret, 2002.