comentários à lei fundef
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Comentários à Lei Fundef, que regulamenta receitas e despesas para o Ensino Fundamental Público.TRANSCRIPT
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COMENTÁRIOS À LEI
FUNDEF
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ARON MAGNO DANGUI
COMENTÁRIOS À LEI FUNDEF
Comentários à Lei Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e
de Valorização do Magistério.
TEXTOS LEGAIS
(LEI Nº 9424/96, EC 14/96 E RESOLUÇÃO 03/97 DA CEB/CNE)
2003
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Dangui, Aron Magno
Comentários à Lei Fundef / Aron Magno Dangui –
Janiópolis – Pr: Edição Própria, 2003.
I – Financiamento da educação – Brasil II – Educação –
Brasil III – Educação – Leis e Legislação IV – Dangui,
Aron Magno
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DEDICATÓRIAS
Em memória de meus pais.
À Maristela – que me deu a idéia de escrever o texto -, e Isabeau e Rhuana – minha
inspiração - que suportam e, paradoxalmente, sustentam minhas quimeras.
Janeslei e Alex.
Para Jurandir, companheiro nos caminhos da educação.
Para Edson, meu irmão.
Para Davi, que consegue conciliar amizade, bom-humor e eficiência com desenvoltura.
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O AUTOR
Administrador de Empresas, Professor. Lecionou as disciplinas de Contabilidade
Geral e Aplicada, Estatística e Legislação Aplicada. Com experiência na administração
pública tendo atuado como Assessor Administrativo Municipal.Bacharel em
Administração com especialização em Administração De Recursos Humanos.
Especialista em Direito Educacional pelas Faculdades Claretianas.
-
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SIGLAS E ABREVIATURAS
CF: Constituição Federal
FUNDEF: Fundo de Desenvolvimento e Manutenção do Ensino Fundamental
ICMS: Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços de transporte interestadual
e intermunicipal e de comunicação
INSS: Instituto Nacional Do Seguro Social
FNDE: Fundo Nacional do Desenvolvimento do Ensino
EC-14: Emenda Constitucional nº 14
ADCT-CF: Ato das Disposições Transitórias da Constituição Federal
FPE: Fundo de participação dos Estados
FPM: Fundo de participação dos Municípios
IR: Imposto de Renda
IPI:Imposto Sobre Produtos Industrializados
LC: Lei Complementar
LDB :Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
LRF: Lei de Responsabilidade Fiscal
CNTE: Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação
APP: APP-Sindicato dos Trabalhadores em educação pública do Paraná – Núcleo
sindical de Campo Mourão-Pr.
CEB/CNE: Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação.
MDE: Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
MEC: Ministério da Educação e Cultura.
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FIPE: Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas
PIB: Produto Interno Bruto
PCCS: Plano de Cargos Carreira e Salários.
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PREFÁCIO
Ao apresentar esta obra, quero também falar do autor. Aron Magno Dangui é
antes de tudo um grande amigo, um companheiro. È difícil conhece-lo sem ficar
impressionado pela grandiosidade do seu caráter, pela seriedade do trabalho, pela ética
profissional. Aron é uma dessas pessoas que não desistem, que estão sempre lutando,
recomeçando. Não lhe falta disposição.
Tudo teve início em 1997 logo após a promulgação da Lei 9394/96 LDB Lei de
diretrizes e Bases da Educação e 9424/96 lei que instituiu o Fundef – Fundo de
Desenvolvimento e Manutenção do Ensino Fundamental, foi quando o professor Aron
iniciou a discussão com os professores municipais de Janiópolis para a implantação do
PCCS Plano de Cargos Carreira e Salários. Depois formou-se um grupo de estudos para
estudar a legislação. Este grupo era composto por 5 membros da APP-Sindicato núcleo
sindical de Campo Mourão. Realizamos dois seminários sobre o FUNDEF, e estamos
assessorando no momento 11 municípios, na região.
Este livro é a prova da capacidade do autor. Nele, encontramos uma análise
caucada não somente na legislação, o que seria uma repetição de informações. O que
existe é uma interação entre a legislação e a experiência de sete anos de estudos, o que
faz desta obra, uma das mais completas no assunto.
Cabe-nos, enfim, aqui salientar sua importância, pois irá clarear muitas dúvidas,
tanto dos professores quanto dos administradores públicos.
Edson José Lasta
Davi Ozório Bueno
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INTRODUÇÃO
Após a promulgação da nova LDB, descortinou-se uma nova era para a
educação brasileira. Substituía-se um instrumento implantado, após importação, que
gerenciava a educação, a lei nº 5.692/71 do período da ditadura militar.
As discussões, que redundaram na nova LDB percorreram um longo caminho.
Durante cerca de dez anos duas concepções de educação se confrontaram no Congresso
Nacional. Um projeto elaborado pelo conjunto de organizações de educadores, batizado
de Projeto Jorge Hage e, o que finalmente, veio a ficar denominado de LDB, conhecido
como Projeto Darcy Ribeiro.
Um aspecto obteve contornos novos. O financiamento da educação ganhou uma
nova reordenação dos recursos já existentes. Criou-se, após a EC-14/96 os fundos de
manutenção da educação. A Lei 9424/96 criou o Fundef e, além de outros recursos,
destinou recursos do salário-educação para serem aplicados exclusivamente no Ensino
Fundamental.
A partir de 1999 cresce a demanda de professores das Redes de Ensino Públicas
Municipais em busca de informações sobre o financiamento da educação. Para atender
esta necessidade, a APP-Núcleo regional de Campo Mourão-Pr, realizou dois
seminários, específicos para professores e secretários municipais de educação, com o Sr.
Milton Canuto, do CNTE, especialista em Fundef.
Estes seminários foram a gênese de uma política organizada e sistemática de
atendimento técnico, contábil e jurídico para professores da rede Municipal.
A análise da aplicação dos recursos do fundo revelou um grande descaso da
administração pública, na correta aplicação da legislação. E, até mesmo, princípios
básicos de publicidade e gestão democrática dos recursos do fundo, eram negadas na
imensa maioria dos poderes executivos municipais. Sendo necessário, invariavelmente,
recorrer à pressão política e paralisações de atividades da rede municipal para alertar a
população sobre a correta aplicação dos recursos do Fundo.
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Quando, estas atividades, extremas, resultaram ineficazes, recorreu-se à justiça,
para, via mandados de segurança garantir o acesso às contas públicas.
Apesar da intensa atividade, realizada para tornar conhecida a legislação relativa
ao financiamento em educação, é comum encontrar situações em que as informações
disponíveis revelam-se infrutíferas para a comunidade que as possui.
O texto, que aqui se apresenta, é mais uma tentativa de levar a discussão à
comunidade escolar.
Optamos por comentar todos os artigos, pois compreendemos que o uso de
manuais estava, paradoxalmente, reduzindo a reflexão e o estudo aprofundado da
legislação.
As reflexões aqui apresentadas nasceram em inúmeros seminários com
professores e reuniões com a administração pública e, posteriormente realimentadas
para melhor atuação em situações semelhantes que se apresentariam.
As lacunas existentes neste trabalho devem-se, em primeira instância às
limitações do autor e, pedimos escusas por tal fato. E, em segundo lugar, a uma clara
aversão contra a forma pessoal, prepotente e autoritária com que inúmeros
administradores tratam a “coisa pública” o que nos leva, invariavelmente, a emitir
conceitos e juízos que refletem este posicionamento.
Aron Magno Dangui
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Art. 1º
LEI nº 9.424 de 24 de dezembro de 1996.
Dispõe sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de valorização do Magistério, na forma do art. 60 § 7º do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias e da outras providências:
O Presidente da República
Faço saber que o Congresso Decreta e eu sanciono a seguinte Lei.
Art. 1º - É instituído no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, o Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério, o qual terá natureza contábil e será implantado, automaticamente, a
partir de 1º de janeiro de 1998.
§ 1º - O Fundo referido neste artigo será composto por 15% (quinze por cento) dos
recursos:
I - da parcela do Imposto sobre operações relativas à circulação de
mercadorias e de prestação de serviços de transporte interestadual e
intermunicipal, e de comunicações – ICMS, devida ao Distrito Federal, aos Estados
e aos Municípios conforme dispõe o art. 155, inciso II, combinado com o art. 158,
Inciso IV da Constituição Federal;
II - Do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal – FPE e dos
Municípios – FPM, previstos nos art. 159, inciso I, alíneas a e b, e no Sistema
Tributário Nacional de que trata a Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1996.
III - da parcela do Imposto Sobre Produtos Industrializados – IPI devida aos
Estados e ao Distrito Federal, na forma do art. 159, inciso II da Constituição
Federal e da Lei Complementar nº 61, de 26 de dezembro de 1989.
§ 2º - Inclui-se na base de cálculo do valor a que se refere o Inciso I do parágrafo
anterior o montante de recursos financeiros transferidos, em moeda, pela União aos
Estados, Distrito Federal e Municípios a titulo de compensação financeira pela
perda de receitas decorrentes da desoneração das exportações, nos termos da Lei
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Complementar nº 87, de 13 de setembro de 1996, bem como de outras
compensações da mesma natureza que vierem a ser instituídas.
§ 3º - Integra os recursos do Fundo a que se refere esse artigo a complementação da
União, quando for o caso, na forma prevista no art. 6º.
§ 4º - A implantação do Fundo poderá ser antecipada em relação à data prevista
neste artigo, mediante Lei no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal.
§ 5º - No exercício de 1997, a União dará prioridade, para a concessão de assistência
financeira, na forma prevista no art. 211, § 1º , da Constituição Federal, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios nos quais a implantação do Fundo foi
antecipada na forma prevista no parágrafo anterior.
C O M E N T Á R I O
1.PREÂMBULO
O processo, que se definiu com a promulgação da Lei Fundef, origina-se na
mudança da Constituição Federal, ocorrida em 1996. A EC-14 alterou o art. 60 do
ADCT-CF, criando a possibilidade de existências de Fundos compostos por
percentuais de recursos de impostos já existentes. Assim, segundo a nova redação
do art. 60 ADCT-CF, modificado pela EC-14/96, 60% (sessenta por cento) dos
recursos determinados no art. 212 da CF, ou seja, o mínimo de 25% (vinte e cinco
por cento) obrigatórios para aplicação em educação por Estados e Municípios
devem, ser aplicados, exclusivamente, no Ensino Fundamental.
"Art. 60. Nos dez primeiros anos da promulgação desta emenda, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios destinarão não menos de sessenta por cento dos
recursos a que se refere o caput do Art. 212 da Constituição Federal, à
manutenção e ao desenvolvimento do ensino fundamental, com o objetivo de
assegurar a universalização de seu atendimento e a remuneração condigna do
magistério.
§ 1o A distribuição de responsabilidades e recursos entre os Estados e seus
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Municípios a ser concretizada com parte dos recursos definidos neste artigo, na
forma do disposto no Art. 211 da Constituição Federal, e assegurada mediante
criação, no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, de um Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério, de natureza contábil.
§ 2o O Fundo referido no parágrafo anterior será constituído por, pelo menos,
quinze por cento dos recursos a que se referem os Arts. 155, Inc. II; 158, Inc. IV;
e 159, Inc. I, alíneas a e b; Inc. II, da Constituição Federal, e será distribuído
entre cada Estado e seus Municípios, proporcionalmente ao número de alunos nas
respectivas redes de ensino fundamental.
§ 3o A União complementará os recursos dos Fundos que se refere o § 1
o sempre
que, em cada Estado e no Distrito Federal, seu valor por aluno não alcançar o
mínimo definido nacionalmente.
§ 4o A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios ajustarão
progressivamente, em um prazo de cinco anos, suas contribuições ao Fundo, de
forma a garantir um valor por aluno correspondente a um padrão mínimo de
qualidade de ensino, definido nacionalmente.
§ 5o Uma proporção não inferior a sessenta por cento dos recursos de cada Fundo
referido no § 1 será destinada ao pagamento dos professores do ensino
fundamental em efetivo exercício no magistério.
§ 6o A União aplicará na erradicação do analfabetismo e na manutenção e no
desenvolvimento do ensino fundamental, inclusive na complementação a que se
refere o § 3o, nunca menos que o equivalente a trinta por cento dos recursos a que
se refere o caput do Art. 212 da Constituição Federal.
§ 7o A lei disporá sobre a organização dos Fundos, a distribuição proporcional de
seus recursos, sua fiscalização e controle, bem como sobre a forma de cálculo do
valor mínimo nacional por aluno." 1
O dispositivo Constitucional, criou a possibilidade da existência de fundos, nos
Estados, Distrito Federal e Municípios, que destinem recursos, exclusivamente ao ensino
1 Constituição Federal, art.60 do ADCT modificado pela EC 14/96
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fundamental. No caso, especifico, criou mecanismos que resultam na aplicação de
recursos já existentes, em uma determinada modalidade de ensino.
2. ÁREA DE ABRANGÊNCIA DA LEI
Os entes federados - Estados, o Distrito Federal e, os mais de cinco mil
municípios - brasileiros formam o espaço físico/contábil em que vigora a Lei Fundef.
A União não se inclui nos entes federativos que são a área de abrangência da Lei.
Portanto, o Fundo delimita a aplicação de 60% (sessenta por cento) dos 25% (vinte e
cinco por cento), a que estão obrigados a aplicar, no mínimo, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios.
Assim, os 18%(dezoito por cento), de aplicação mínima, a que esta obrigada,
constitucionalmente, a União não se enquadram nas limitações da Lei Fundef.
Como o próprio nome evidencia, os recursos do Fundo devem ser aplicados
exclusivamente no ensino Fundamental.
3.NATUREZA CONTÁBIL
A natureza contábil determina que os recursos serão gerenciados através de um
sistema de contas bancárias.
Os Estados, Distrito Federal e os Municípios devem ter contas únicas e
especificas para movimentar os recursos do fundo. Tal sistema possibilita eliminar,
praticamente quase toda a burocracia, não sendo necessário, por exemplo, esperar, que
uma Agência ou Autarquia governamental libere os recursos, uma vez que,
automaticamente, se retira um percentual de impostos que recebem Estados, Municípios
e o Distrito Federal e, são depositados na conta Fundef.
Com isto elimina-se a eventualidade de um atraso nos depósitos dos recursos na
conta Fundef, uma vez que, são retirados diretamente das contas originais.
4.DA COMPOSIÇÃO DO FUNDO
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O Fundef utiliza-se de percentuais de impostos/recursos que já existem e, que
estão em pleno vigor. Não é, portanto, um novo imposto. Tampouco é recurso novo da
União que virá reforçar os recursos já existentes no Município.
O percentual que incidirá sobre os impostos foi estipulado pela Lei em
15%(quinze por cento) no seu § 1º, Art. 1º.
4.1. ICMS
Quinze por cento dos recursos recebidos pelos Municípios, Estados e o Distrito
Federal, a titulo de ICMS, serão, automaticamente, descontados das contas ICMS e
repassadas para as contas FUNDEF.
“Art. 155 -compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: *
(Redação pela Emenda Constitucional 03/93)
II - operações relativas a circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços
de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as
operações e as prestações se iniciem no exterior; * (Redação pela Emenda
Constitucional 03/93)
Art. 158 - Pertencem aos Municípios:
IV - vinte e cinco por cento do produto da arrecadação do imposto do Estado
sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de
serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação.
Parágrafo Único - As parcelas de receita pertencentes aos Municípios,
mencionadas no inciso IV, serão creditadas conforme os seguintes critérios:
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I - Três quartos, no mínimo, na proporção do valor adicionado nas operações
relativas à circulação de mercadorias e nas prestações de serviços, realizadas em
seus territórios;
II - até um quarto, de acordo com o que dispuser lei estadual ou, no caso dos
Territórios, lei federal.”2
A Parcela de 15% (quinze por cento) deste imposto que, após ser recolhido é
depositado semanalmente nas contas ICMs dos Estados, Distrito Federal e Municípios,
será depositado na conta FUNDEF. Assim, por exemplo, as contas municipais ICMS
são, por assim dizer “contas-mãe” que terão subtraído de seu valor 15% (quinze por
cento) que serão, automaticamente depositados na conta Fundef.
Levando ao limite o exemplo podemos dizer que, a hipotética possibilidade de
um município, em uma das parcelas, de uma das quadrissemanas, de depósito do ICMS,
receber R$ 1.000,00 (um mil reais) teria os seguintes lançamentos a crédito em suas
contas: Conta ICMS R$ 850,00 (oitocentos e cinqüenta reais) e; Conta Fundef R$ 150,00
(cento e cinqüenta reais). Uma vez que os 15% (quinze por cento) são descontados
automaticamente.
No mesmo dia, em que for efetuado o depósito, na conta ICMS, ocorrerá,
também, o depósito de 15% (quinze por cento) deste recurso na conta Fundef, com
pouca, ou quase nenhuma burocracia, balcão ou interferência de burocratas ou políticos.
4 .2. DO FPE E FPM
Sobre estes impostos, assim determina Constituição Federal
2 Constituição Federal, art. 155 modificado pela EC 03/93
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“ Art. 159 - A União entregará:
I - do produto da arrecadação dos impostos sobre renda e proventos de qualquer
natureza e sobre produtos industrializados, quarenta e sete por cento na seguinte
forma:
a) vinte e um inteiros e cinco décimos por cento ao Fundo de Participação dos
Estados e do Distrito Federal;
b) vinte e dois inteiros e cinco décimos por cento ao Fundo de Participação dos
Municípios;”3
O FPE e FPM terão a seguinte composição, de acordo com o disposto nos artigos
43, 46, 86 e 87 da Lei nº 5.172 de 25 de outubro de 1966.
Art. 86. Do produto da arrecadação dos impostos a que se referem os artigos 43 e
46, 80% (oitenta por cento) constituem a receita da União e o restante será
distribuído à razão de 10% (dez por cento) ao Fundo de Participação dos Estados
e do Distrito Federal e 10 % (dez por cento) ao Fundo de Participação dos
Municípios.
Parágrafo único. Para cálculo da percentagem destinada aos Fundos de
Participação, exclui-se do produto da arrecadação do impôsto a que se refere o
artigo 43 a parcela distribuída nos têrmos do inciso II do artigo anterior.
Art. 87. O Banco do Brasil S.A., à medida em que for recebendo as
comunicações do recolhimento dos impostos a que se refere o artigo anterior,
para escrituração na conta "Receita da União", efetuará automaticamente o
destaque de 20% (vinte por cento), que creditará, em partes iguais, ao Fundo de
Participação dos Estados e do Distrito Federal e ao Fundo de Participação dos
Municípios.
3 Constituição Federal, art. 159.
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Parágrafo único. Os totais relativos a cada imposto, creditados mensalmente a
cada um dos Fundos, serão comunicados pelo Banco do Brasil S.A. ao Tribunal
de Contas da União até o último dia útil do mês subseqüente.
“Art. 43. O impôsto, de competência da União, sôbre a renda e proventos de
qualquer natureza tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade
econômica ou jurídica:
I - de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação
de ambos;
II - de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos
patrimoniais não compreendidos no inciso anterior.
Art. 46. O impôsto, de competência da União, sôbre produtos industrializados
tem como fato gerador:
I - o seu desembaraço aduaneiro, quando de procedência estrangeira;
II - a sua saída dos estabelecimentos a que se refere o parágrafo único do artigo
51;
III - a sua arrematação, quando apreendido ou abandonado e levado a leilão.
Parágrafo único. Para os efeitos dêste impôsto, considera-se industrializado o
produto que tenha sido submetido a qualquer operação que lhe modifique a
natureza ou a finalidade, ou o aperfeiçoe para o consumo. “4
É, decenalmente que são depositados os recursos do FPE e FPM, composto por
recursos do IR e IPI, nas contas dos Estados, Distrito Federal e Municípios. E, das
“contas-mãe” – FPE e FPM – também serão retiradas parcelas de 15% (quinze por cento)
para compor o Fundef.
4 Lei n. 5.172/66 de artigos 43 e 46.
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4 .3. DO IPI
“Art. 159 - A União entregará:
II - do produto da arrecadação do Imposto Sobre Produtos Industrializados, dez
por cento aos Estados e ao Distrito Federal, proporcionalmente ao valor das
respectivas exportações de produtos industrializados.
§ 3º - Os Estados entregarão aos respectivos Municípios vinte e cinco por cento
dos recursos que receberem nos termos do inciso II, observados os critérios
estabelecidos no art. 158, parágrafo único, I e II.”5
Os Impostos Sobre Produtos Industrializados que são exportados também
farão parte do pacote de Impostos/recursos que compõem a base dos recursos do
Fundef e, será depositado mensalmente nas respectivas contas dos Estados, Distrito
Federal e, serão repassados 25% ( vinte e cinco por cento) para os Municípios.
Sendo que, automaticamente, 15% (quinze por cento) destes recursos serão
depositados nas contas especificas Fundef.
4 .4. Desoneração das exportações
Com intuito de tornar mais competitivos os produtos brasileiros no mercado
internacional e, conseqüentemente ampliar a pauta e a quantidade das exportações, o
governo brasileiro desonera as exportações, diminuindo ou isentando produtos da
cobrança do ICMS. Para tentar diminuir o Impacto, negativo, nas contas municipais e
Estaduais referentes à renúncia fiscal referida, o governo federal compensa os Entes
Federados (Estados, Distrito Federal e Municípios) com “recursos financeiros
transferidos em moeda...”.
Do repasse relativo à LC 87/96, acima descritos, desconta-se 15% (quinze por
cento) que, também, farão parte do “bolo” de recursos do Fundef.
5 Constituição Federal, art. 159.
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O parágrafo inclui futuras e possíveis compensações que, eventualmente, venham
a surgir, no conjunto de recursos que compõem o Fundef.
4.5. Complementação da união.
A União, anualmente, via decreto presidencial, definirá o valor mínimo anual por
aluno. Este será o limite mínimo, preconizado pela atual política educacional, a ser
investido por aluno/ano nos sistemas educacionais. Para o ano de 2003, este valor,
nacionalmente definido, será de R$ 446.00 (quatrocentos e quarenta e seis reais).6
Caso algum município não atinja o valor acima, a União complementará,
mensalmente, os valores que faltam para atingir o mínimo nacionalmente definido.
O § 4º faculta a antecipação do inicio determinado para vigência da Lei – 1º de
janeiro de 1998 – desde que Lei, do respectivo ente Federado, assim o determine.
Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que optarem pela antecipação
receberão assistência financeira prioritária da União.
4 .6. Tabelas informativas
COMPOSIÇÃO DOS RECURSOS DO FUNDEF
IMPOSTO %
%
ARTIGOS PERIODICIDAD
E
6 Decreto-Lei n. 4.580, de 24/01/2003.
21
ICMS 15 Inciso I, § 1º, art. 1º Semanalmente
FPM/FPE 15 Inciso II,
§ 1º, art. 1º
Decenalmente
IPI 15 Inciso III,
§ 1º, art. 1º
Mensalmente
DESONERA-
ÇÃO DA
EXPORTAÇ
ÃO
15 § 2º, art. 1º Mensalmente
COMPLEME
N-TAÇÃO
DA UNIÃO
QUANDO NECESSÁRIO, § 3º, ART. 1º
FONTE:ELABORADO PELO AUTOR
ART. 1º - Legislação Citada
Legisla-ção Nome Data Objeto
Lei nº
9424/96
Fundef 24/12/1996 Fundo de
Manutenção da
Educação
CF-1988 Constituição
Federal
08/10/1988 Artigos sobre
educação e
impostos.
Artigos:
155,158,159 e
211
22
Lei nº 5172 Sistema
Tributário
Nacional
25/10/1966 Tributos
LC nº 61 26/12/1989
LC nº 87 Lei Kandir 13/09/1996 Desoneração das
exportações
FONTE:ELABORADO PELO AUTOR
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Art. 2º - Os Recursos do Fundo serão aplicados na Manutenção e Desenvolvimento
do Ensino Fundamental público, e na valorização de seu magistério.
§ 1º A distribuição dos recursos, no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal
dar-se-á, entre o Governo Estadual e os Governos Municipais, na proporção do
número de alunos matriculados anualmente nas escolas cadastradas das respectivas
redes de ensino, considerando-se para esse fim:
I - as matrículas da 1ª a 8ª séries do ensino fundamental;
II - (VETADO)
§ 2º A distribuição a que se refere o parágrafo anterior, a partir de 1998, deverá
considerar, ainda, a diferenciação de custo por aluno, segundo os níveis de ensino e
tipos de estabelecimento, adotando-se a metodologia de cálculo e as
correspondentes ponderações, de acordo com os seguintes componentes:
I - 1ª a 4ª séries;
II - 5ª a 8ª séries;
III - estabelecimentos de ensino especial;
IV - escolas rurais.
§ 3º Para efeito dos cálculos mencionados no § 1º, serão computadas
exclusivamente as matrículas do ensino presencial.
§ 4º O Ministério da Educação e do Desporto - MEC realizará, anualmente, censo
educacional, cujos dados serão publicados no Diário Oficial da união e constituirão
a base para fixar a proporção prevista no § 1º.
§ 5º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão, no prazo de trinta dias
da publicação referida no parágrafo anterior, apresentar recurso para retificação
dos dados publicados.
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§ 6º É vedada a utilização dos recursos do Fundo como garantia de operações de
crédito internas e externas, contraídas pelos Governos da união, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, admitida somente sua utilização como
contrapartida em operações que se destinem, exclusivamente, ao financiamento de
projetos e programas do ensino fundamental.
COMENTÁRIO
1. MANUTENÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO ENSINO
O Conceito de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino está explicitado na
LDB
“ Considerar-se-ão como de manutenção e desenvolvimento do ensino as
despesas realizadas com vistas à consecução dos objetivos básicos das
instituições educacionais de todos os níveis, compreendendo as que se destinam
a:
I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e demais
profissionais da educação;
II - aquisição, manutenção, construção e conservação de instalações e
equipamentos necessários ao ensino;
III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao ensino;
IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas visando
precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à expansão do ensino;
V - realização de atividades-meio necessárias ao funcionamento dos
sistemas de ensino;
VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas públicas e
privadas;
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VII - amortização e custeio de operações de crédito destinadas a atender
ao disposto nos incisos deste artigo;
VIII - aquisição de material didático-escolar e manutenção de programas
de transporte escolar.”7
As despesas que são consideradas Manutenção e Desenvolvimento do ensino
podem ser divididas em dois grupos: os que se destinam ao corpo docente e discente e, as
de equipamentos e materiais destinados ao ensino.
A) Corpo docente e discente
Em relação às despesas “humanas” que são consideradas Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino incluem-se: remuneração e aperfeiçoamento dos
profissionais da educação e docentes; estudos, estatísticas, pesquisas; realização de
atividades-meio e; bolsas de estudos para alunos da rede pública e privada de ensino.
B) Equipamentos e materiais
As despesas materiais, na categoria
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino, são: as relativas às instalações/equipamentos
(aquisição/manutenção); utilização e manutenção de bens e serviços; operações de
créditos e; aquisição de material didático-escolar e transporte escolar.
2.ENSINO FUNDAMENTAL PÚBLICO
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB - Lei 9394/96, em seu
artigo 21 divide a educação em dois níveis: Educação básica e educação superior.
A Educação Básica é, ainda, segundo este mesmo artigo subdividida em outros
níveis: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio.
“A educação escolar compõem-se de:
7 LDB – Lei 9394/96, art. 70.
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I - Educação Básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino
médio
II - Educação Superior.”8
A seção II, do Capitulo II, da LDB, nos artigos 29 e 30 tratam especificamente da
Educação Infantil, explanando seus objetivos, a faixa etária do educando nesta
modalidade de ensino - até os seis anos de idade - e, sua função complementar. O art. 30
determina ainda onde será ofertada a educação infantil, em creches para crianças com até
03 anos e; Pré-escolas para crianças de 04 a 06 anos de idade.
“A educação Infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o
desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos
físicos, psicológicos, intelectual e social, complementando a ação da família e da
comunidade.
A educação infantil será oferecida em:
I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade;
II - pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade.”9
A seção III, deste mesmo capítulo II, trata do ensino fundamental explanando,
detalhadamente, seus objetivos com princípios, disciplinas, carga-horária, etc. E o art.32
determina a duração do ensino fundamental – 8 (oito) anos - ou seja, de 1º a 8º séries, os
antigos primários e ginásios.
“O ensino fundamental, com duração mínima de oito anos, obrigatório e gratuito
na escola pública, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante:”10
Assim, temos algumas definições úteis. 1 - A educação divide-se em Básica e
Superior
2 - A educação Básica é assim composta: Educação infantil, Ensino Fundamental e
Ensino Médio;
8 LDB – Lei 9394/96, art.21.
9 LDB – Lei 9394/96, artigos 29 e 30.
10 LDB – Lei 9394/96, art. 34.
27
3 - A Educação Infantil abrange os educandos de 0 a 6 anos em creches e pré-escolas;
4 - O Ensino Fundamental terá duração mínima de 8 anos, com crianças a partir de 07
anos.
Os recursos do Fundef são exclusivos para a manutenção do ensino fundamental
(1ª a 8ª séries) e, para valorizar os docentes desta modalidade de ensino.
3.VALORIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO
Na LDB, Lei nº 9394/96, entre seus princípios – Título II – destacamos um inciso
“valorização do profissional da educação escolar.”11
A palavra valorização vem do latim valorem /valere com significado, geral, de
preço, valer, valia. Também designa coragem, esforço. Por valorização compreendemos
“ aumento do valor de mercadorias, gêneros, alta de preços”12
E do latim valentia, significando corajoso. Assim, neste sentido, temos valor=
audácia, vigor, mérito, importância.
Etimologicamente, portanto, podemos identificar duas direções, no momento,
para o significado de valorização: preço e mérito.
Um valor de coisas (preço) e outro juízo de qualidades humanas (audácia, mérito,
coragem).
O sentido dado pelo legislador se equilibra entre estes juízos:
comercial/qualidade.
Ora, não resta dúvida que, o correto seria estipular um valor mínimo por
hora/aula, que vigoraria em todo território nacional. Acreditamos que tal medida não
afetaria as diferenças regionais, uma vez, que, a nosso ver, regiões com maior
11
LDB – Lei 9394/96, Art. 3º , Inciso VI. 12
Antonio Geraldo da Cunha, Dicionário etmológico Nova Fronteira de Língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982, p.
28
desenvolvimento sócio-econômico, poderiam, teoricamente, pagar aos seus profissionais
da educação valores acima do mínimo determinado nacionalmente.
Assim teríamos um valor, um preço mínimo que deveria ser acatado
nacionalmente. Indo assim ao encontro do principio constitucional de isonomia. Cargos
com atribuições semelhantes, com piso salarial semelhante.
Em outra vertente, encontramos o principio do esforço coragem/audácia/mérito.
Assim, a valorização passaria por reconhecimento de princípios e conceitos universais
que apontam para ideais almejados pela maior parte da humanidade. Busca, portanto,
alcançar princípios judaico-cristãos, que fundamentam nossa sociedade.
A profissão de educador – professor –é envolta em idealizações. A carreira é
denominada de, entre outras coisas: “Sacerdócio”; “missão”; “entrega”; “sacrifício”...
E a Lei, bem ou mal, atende esta atitude mistificadora da sociedade.
Depreendemos, então, que a “valorização” passa, necessariamente, pelo
atendimento destes dois conceitos: preço - qual o valor monetário de um professor?; e,
mérito – como reconhecer,mérito, audácia, coragem?
Calculamos que seria mais simples instituir um piso nacional de salários.
A LDB, contendo os conceitos majoritários, no Brasil, sobre educação, tenta dar
vida ao principio da “valorização” em suas disposições, obrigando os sistemas de ensino
a assegurar aos profissionais da educação os seguintes fundamentos
“Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais da educação,
assegurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do
magistério público:
I - ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos;
II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento
periódico remunerado para esse fim;
III - piso salarial profissional;
IV - progressão funcional baseada na titulação ou habilitação, e na
avaliação do desempenho;
V - período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na
carga de trabalho;
VI - condições adequadas de trabalho.
29
Parágrafo único. A experiência docente é pré-requisito para o exercício
profissional de quaisquer outras funções de magistério, nos termos das normas de
cada sistema de ensino.” 13
Apesar de não estar estipulado o “preço”, ou seja, o piso nacional mínimo, para o
exercício do magistério, encontra-se neste artigo alguns avanços. Por exemplo, aponta
para a existência de um “piso salarial profissional” em cada sistema de ensino. Isto
significa, em que pese suas discrepâncias, que cada Município, cada Estado e o Distrito
Federal poderão instituir seu próprio piso salarial. Teremos, então, em uma mesma
escola professores, com carga horária semelhante, atribuições semelhantes, porém,
recebendo salários dispares. E a isonomia? Em algumas escolas municipalizadas,
encontramos em atividade professores do sistema municipal de ensino, lado a lado, com
colegas do sistema estadual de ensino, gerando desconforto e indignação, graças aos
diferentes “preços” pagos pelos sistemas de ensino municipal e estadual.
E o que falar sobre professores dos sistemas municipais de ensino, de uma
mesma região, com idêntico perfil sócio-econômico, população semelhante, mas com
salários diferentes?
Outro avanço é o período para estudos, comumente denominados de hora-
atividade, apesar de não ser, ainda, o espaço de tempo que julgamos ser, efetivamente,
necessário para se fazer sentir melhorias significativas na qualidade de ensino, podemos
constatar avanços nos aspectos relacionados ao ensino-aprendizagem em inúmeros
estabelecimentos de ensino.
Ficou garantido na LDB:
a) Concurso público para ingresso;
b) aperfeiçoamento profissional;
c) progressão funcional com base na habilitação e na avaliação de desempenho;
d) condições adequadas de trabalho.
4.DA DISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS
13
LDB – Lei nº 9394/96, Art. 67.
30
Os alunos matriculados nos sistemas Estaduais/Distrital e Municipais servirão de
parâmetro para a distribuição dos recursos. Multiplicar-se-á o número de alunos do
sistema de ensino pelo coeficiente e obter-se-á o volume de recursos financeiros de cada
sistema.
Para efeito desta distribuição, levar-se-ão em conta os diferentes níveis de custo
por aluno, subdivididos em quatro tópicos: 1º a 4º séries; 5º a 8º séries; ensino especial e;
Escolas rurais.
O censo educacional, que determinará o número de alunos de cada sistema, será
realizado anualmente pelo MEC e, os dados serão disponibilizados no Diário Oficial da
União.
No censo serão considerados apenas alunos de ensino presencial.
Após a publicação dos resultados do censo, os entes da federação terão 30 dias
para solicitar sua revisão, se assim lhes aprouver.
Por fim, veda-se o uso do fundo como caução de operações de crédito,
possibilitando-se, apenas, o seu uso como contrapartida para projetos que se destinem,
exclusivamente, a projetos do ensino fundamental.
Assim, um ente federado (Município, Estado ou Distrito Federal), caso receba
recursos da União, por exemplo, para determinado projeto educacional, poderá,
contrapor (alocar) recursos do Fundo, a titulo de complementação dos recursos da União.
31
Art. 3º Os recursos do Fundo previstos no art. 1º serão repassados,
automaticamente, para contas únicas e específicas dos Governos Estaduais, do
Distrito Federal e dos Municípios, vinculadas ao Fundo, instituídas para esse fim e
mantidas na instituição financeira de que trata o art. 93 da Lei nº 5.172, de 25 de
outubro de 1996.
§ 1º Os recursos do Fundo, provenientes das participações a que se refere o art.
159, inciso I, alíneas a e b, e inciso II, da Constituição Federal, constarão dos
orçamentos da união, dos Estados e do Distrito Federal, e serão creditados pela
união em favor dos Governos Estaduais, do Distrito Federal e dos Municípios, nas
contas específicas a que se refere este artigo, respeitados os critérios e as finalidades
estabelecidas no art. 2º, observados os mesmos prazos, procedimentos e forma de
divulgação adotados para o repasse do restante destas transferências
constitucionais em favor desses governos.
§ 2º Os repasse do Fundo provenientes do imposto previsto no art. 155, inciso II,
combinado com o art. 158, inciso IV, da Constituição Federal, constarão dos
orçamentos dos Governos estaduais e do Distrito Federal e serão depositados pelo
estabelecimento oficial de crédito, previsto no art. 4º da Lei Complementar nº 63, de
11 de janeiro de 1990, no momento em que a arrecadação estiver sendo realizada
nas contas do Fundo abertas na instituição financeira de que trata este artigo.
§ 3º A instituição financeira, no que se refere aos recursos do imposto mencionado
no § 2º, creditará imediatamente as parcelas devidas ao Governo Estadual ao
distrito Federal e aos Municípios, nas contas específicas referidas neste artigo,
observados os critérios e as finalidades estabelecidas no art. 2º, procedendo à
divulgação dos valores creditados de forma similar e com a mesma periodicidade
utilizada pelos Estados em relação do restante da transferência do referido imposto.
§ 4º Os recursos do Fundo provenientes da parcela do Imposto sobre Produtos
Industrializados, de que trata o art. 1º, inciso II, serão creditados pela União, em
favor dos Governos Estaduais e do Distrito Federal, nas contas específicas, segundo
o critério e respeitadas as finalidades estabelecidas no art. 2º, observados os mesmos
32
prazos, procedimentos e forma de divulgação previstos na Lei Complementar nº 61,
de 26 de dezembro de 1989.
§ 5º Do montante dos recursos do IPI, de que trata o art. 1º, inciso III, a parcela
devida aos Municípios, na forma do disposto no art. 5º da Lei Complementar nº 61,
de 26 de dezembro de 1989, será repassada pelo respectivo Governo Estadual ao
Fundo e os recursos serão creditados na conta específica a que se refere este artigo,
observados os mesmos prazos, procedimentos e forma de divulgação do restante
desta transferência aos Municípios.
§ 6º As receitas financeiras provenientes das aplicações eventuais dos saldos das
contas a que se refere este artigo em operações financeiras de curto prazo ou de
mercado aberto, lastreadas em títulos da dívida pública, junto a instituição
financeira depositária dos recursos, deverão ser repassadas em favor dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios nas mesmas condições estabelecidas no art. 2º.
§ 7º Os recursos do Fundo, devidos aos Estados, ao Distrito Federal e aos
municípios, constarão de programação específica nos respectivos orçamentos.
§ 8º Os Estados e os Municípios recém-criados terão assegurados os recursos do
Fundo previstos no art. 1º, a partir das respectivas instalações, em conformidade
com os critérios estabelecidos no art. 2º.
§ 9º Os Estados e os respectivos Municípios poderão, nos termos do art. 211, § 4º, da
Constituição Federal, celebrar convênios para transferência de alunos, recursos
humanos, materiais e encargos financeiros nos quais estará prevista a transferência
imediata de recursos do Fundo correspondentes ao número de matrículas que o
Estado ou o Município assumir.
COMENTÁRIO
Os repasses do FPE, FPM e ICMS constarão dos orçamentos da União, dos
Estados e do Distrito Federal e serão creditados nas contas Fundef no Banco do Brasil,
para os entes federados respeitados os mesmos prazos, e demais procedimentos usuais
para os 85% (oitenta e cinco por cento) repassados aos Municípios.
33
“Até o último dia útil de cada mês, o Banco do Brasil S.A. creditará a cada
Estado, ao Distrito Federal e a cada Município as quotas a êles devidas, em
parcelas distintas para cada um dos impostos a que se refere o artigo 86,
calculadas com base nos totais creditados ao Fundo correspondente, no mês
anterior.
1º Os créditos determinados por êste artigo serão efetuados em contas especiais,
abertas automaticamente pelo Banco do Brasil S.A., em sua agência na Capital de
cada Estado, no Distrito Federal e na sede de cada Município, ou, em sua falta na
agência mais próxima.
2º O cumprimento do disposto neste artigo será comunicado pelo Banco do Brasil
S.A. ao Tribunal de Contas da União, discriminadamente, até o último dia útil do
mês subseqüente. “14
O caráter contábil do Fundo torna-se explicito nos disposto nos parágrafos 1º ao
5º, onde o legislador identifica a origem, os locais e prazos que devem ser obedecidos
para os depósitos nas contas Fundef. Evidenciando o sistema de contas públicas.
É, portanto, identificado os impostos que compõem o Fundo e determina a rotina
dos depósitos nas contas especificas. Ou seja, apresenta a fonte – impostos de onde vem
os recursos – e, aponta o destino destes recursos – a conta única Fundef – aberta nas
agências do Banco do Brasil.
O § 1º trata do FPE/FPM; o § 2º trata do ICMS; o § 3º das agências bancárias – o
Banco do Brasil – onde será depositado os recursos; os § 4º e 5º do IPI.
“Os coeficientes individuais de participação, calculados na forma do artigo
anterior, deverão ser apurados e publicados no “Diário Oficial” da União pelo
Tribunal de Contas da União até o último dia útil do mês de julho de cada ano.
14
Lei 5.172/66, Art. 93.
34
§ 1º As Unidades Federadas disporão de 30 (trinta) dias, a partir da publicação
referida no “caput” deste artigo, para apresentar contestação, juntando desde logo
as provas em que se fundamentar.
§ 2º O Tribunal de Contas da União, no prazo de 30 (trinta) dias contados do
recebimento da contestação mencionada no parágrafo anterior, deverá manifestar-
se sobre a mesma.
“Os Estados entregarão aos seus respectivos municípios 25% (vinte e cinco por
cento) dos recursos que nos termos desta Lei Complementar receberem,
observando-se para tanto os mesmos critérios, forma e prazos estabelecidos para
o repasse da parcela do ICMS que a Constituição Federal assegura às
Municipalidades.”15
Na eventualidade da aplicação dos recursos do Fundo no mercado financeiro, o
resultado da aplicação sujeitar-se-á ao disposto na Lei.
O § 9º abre a possibilidade, para os Estados e Municípios, da celebração de
convênios para transferência de alunos do sistema estadual para o sistema municipal e
vice-versa, com a competente transferência dos recursos entre os entes federados que,
porventura, celebrarem convênios.
Isto significa que, por exemplo, caso o município não atenda, um determinado
número de alunos, 400 (quatrocentos), por exemplo, e os mesmos forem atendidos pelo
sistema estadual os recursos referentes aos 400 (quatrocentos) alunos serão destinados ao
Estado, através da celebração de um convênio entre as partes.
15
Lei Complementar n. 61/89, Artigos 2º e 5º.
35
Art. 4º O acompanhamento e o controle social sobre a repartição, a transferência e
a aplicação dos recursos do Fundo serão exercidos, junto aos respectivos governos,
no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, por
Conselhos a serem instituídos em cada esfera no prazo de cento e oitenta dias a
contar da vigência desta Lei.
§ 1º Os Conselhos serão constituídos, de acordo com norma de cada esfera editada
para esse fim:
I - em nível federal, por no mínimo seis membros, representando respectivamente:
a) o Poder Executivo Federal;
b) o Conselho Nacional de Educação;
c) o Conselho Nacional de Secretários de Estado da Educação - CONSED;
d) a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação - CNTE;
e) a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação - UNDIME;
f) os pais de alunos e professores das escolas públicas do ensino fundamental.
II - nos Estados, por no mínimo sete membros, representando respectivamente:
a) o Poder Executivo Estadual;
b) os poderes Executivos Municipais;
c) o Conselho Estadual de Educação;
d) os pais de alunos e professores das escolas públicas do ensino fundamental;
e) a seccional da união nacional dos Dirigentes municipais de Educação - UNDIME;
f) a seccional da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação - CNTE;
g) a Delegacia Regional do Ministério da Educação e do Desporto - DEMEC.
36
III - no Distrito Federal, por no mínimo cinco membros, sendo as representações as
previstas no inciso II, salvo as indicadas nas alíneas b, e e g.
IV - nos Municípios, por no mínimo quatro membros representando
respectivamente:
a) a Secretaria Municipal de Educação ou órgão equivalente;
b) os professores e os diretores das escolas públicas do ensino fundamental;
c) os pais de alunos;
d) os servidores das escolas públicas do ensino fundamental;
§ 2º Aos Conselhos incumbe ainda a supervisão do censo escolar anual.
§ 3º Integrarão ainda os conselhos municipais, onde houver, representantes do
respectivo Conselho Municipal de Educação.
§ 4º Os Conselhos instituídos, seja no âmbito federal, estadual, do Distrito Federal
ou municipal, não terão estrutura administrativa própria e seus membros não
perceberão qualquer espécie de remuneração pela participação no colegiado, seja
em reunião ordinária ou extraordinária.
COMENTÁRIO
1 – CONTROLE SOCIAL.
A recente legislação brasileira vem, seguindo conceitos de países protestantes,
sabidamente os anglo-saxônicos, caminhando em direção ao controle social dos recursos
públicos.
O termo, em inglês, de tradução simples, mas paradoxalmente, de difícil
conceituação, que se refere ao controle social é “Accountability”. Leis brasileiras
37
traduzem, o termo accountability, por “Responsabilidade Fiscal” e/ou “controle e
acompanhamento social”, termos, a nosso ver, inadequados para traduzir a complexidade
do conceito.
A exatidão, ou não da tradução, não é, obviamente, objeto de nosso estudo, mas
sim a aplicação do conceito.
Campos16
observa que as sociedades com menor desenvolvimento não tem por
hábito o controle do setor público, “Nem mesmo sente-se falta de palavra que traduza
accountability.”17
, uma vez que não somos possuidores do arcabouço histórico que
formatou o termo/conceito.
A palavra “Accountability” pode-se traduzir por “responsabilidade” ou
“contabilidade responsável”.
O conceito relaciona-se a aplicação de recursos públicos dentro de normas
especificas que procuram diminuir déficits que, eventualmente, poderiam causar
transtornos fiscais à administração publica, com suas nefandas conseqüências para a
população. Assim, teríamos normas que regulariam e vedariam, em determinadas
situações, o gasto de recursos públicos.
Nota-se que o conceito, mais ainda que o termo, não tem correspondência com
nossa prática social, “o que nos falta é o próprio conceito, razão pela qual não dispomos
da palavra em vocabulário.”18
Accountability passa, necessariamente por duas vertentes: primeiro o servidor, o
burocrata sentir-se responsável e ser responsabilizado; e, por fim e, não menos
importante a organização dos cidadãos. A organização social serve de tutela para
eventuais arbitrariedades dos servidores/administradores, exemplo da democracia liberal
norte-americana.
“Nos EUA – tal como em muitas sociedades amadurecidas – existem numerosas
organizações, através das quais a opinião dos cidadãos faz-se ouvir e por cujo
16
Ana Maria Campos, Accountability: quando poderemos traduzi-la para o português?, Revista de Administração pública Rio de Janeiro, V.24 n.2, p. 30-50, 1990., 17
CF, Ana Maria Campos, Accountability...Revista, cit., p.48 18
CF, Ana Maria Campos, Accountability...Revista, cit., p.31
38
intermédio os descontentamentos são processados: associações de pais e
professores, associações de consumidores, comitês de vizinhança, associações
profissionais, sindicatos, comunidades eclesiais, etc. Tais associações servem
também de foro onde as necessidades do cidadão são discutidas, consolidadas,
traduzidas em demandas e canalizadas para os órgãos públicos.”19
No Brasil caminhamos timidamente nesta direção. A Legislação recente quer,
como de praxe, enfiar o conceito “goela” abaixo da sociedade. Tentamos implantar um
modelo via regulamentação e, não com a educação do cidadão na direção de
accountability.
O exemplo mais agudo, na Legislação brasileira é a Lei 101/2000, conhecida por
Lei de Responsabilidade Fiscal.
Relacionou-se o conceito “accountability” com aplicação responsável de recursos
públicos; normas técnicas para controle de gastos, com proibições para abusos e;
principalmente, normas para facilitar à comunidade o controle dos gastos públicos. A
sociedade organizada fiscalizaria a aplicação dos impostos, observados suas origens e
destinações.
O conceito nos aponta a responsabilidade do servidor público com a “coisa
pública”. Conceito este arraigado, cultural, vinculado com honra, caráter, honestidade.
Algo sagrado...
Na outra ponta a sociedade organizada, controlando as aplicações dos recursos
oriundos de seus impostos, taxas.
“O verdadeiro controle do governo – em qualquer de suas divisões: Executivo,
legislativo e Judiciário – só vai ocorrer efetivamente se as ações do governo
forem fiscalizadas pelos cidadãos.”20
No Brasil, os preceitos de controle social, ficam restritos a instituições de
conselhos de acompanhamento. Não se tendo noticia do uso, no Brasil, do mais
democrático instrumento de aplicação de recursos públicos – o plebiscito.
19
CF, Ana Maria Campos, Accountability...Revista, cit., p.35-36. 20
CF, Ana Maria Campos, Accountability...Revista, cit., p.34.
39
Quando Muito, temos noticias, de elaboração de orçamentos participativos em
algumas prefeituras, notadamente as administradas pelos militantes do Partido dos
Trabalhadores – PT.
A instituição dos conselhos de acompanhamento encontra várias dificuldades.
Sendo a mais relevante, a nosso ver, o aspecto cultural. O cidadão brasileiro, não tem o
hábito de participar das decisões que lhe dizem respeito e, quando se depara com a
possibilidade de intervir, se vê podado por circunstâncias, não por ele determinadas. Mas
que lhe foram imposto. Algumas vezes a força, na maioria das vezes sutilmente. Os
séculos de opressão escravista; a centralização do poder no Brasil-Colônia; a pequena
participação popular no Império; os currais eleitorais da República Velha. O
autoritarismo e, a pouca instrução moldaram a consciência nacional.
A situação é tão desalentadora, em alguns momentos, que levam as seguintes
opiniões de atentos observadores
“ O Brasil não tem povo”21
Para o francês, em questão, criador da frase, a atuação da sociedade brasileira não
se coaduna com a ativa participação de uma massa que interfere em seus destinos.
Talvez, lembrando da ativa participação popular francesa em vários movimentos:
Fronda; Revolução Francesa e Comuna de Paris. Dado a pouca participação popular em
movimentos brasileiros – Proclamação da República, por exemplo – o estudioso francês,
não caracterizava como “povo” a massa que ele vislumbrava...
Na formação do povo brasileiro existem situações culturais, políticas, ética que
contribuem para a não introdução de conceitos de solidariedade e responsabilidade
imprescindíveis à accountability.
“A verdade é que, como nossa aparente adesão a todos os formalismos denuncia
apenas uma ausência de forma espontânea, assim também a nossa confiança na
excelência das formas teóricas mostra que somos um povo pouco especulativo.
Podemos organizar campanhas, formar facções, armar motins, se preciso for, em
torno de uma idéia nobre. Ninguém ignora, porém, que o aparente triunfo de um
21
Couty , Louis , in Carvalho, José Murilo .Os bestializados.São Paulo:Companhia das Letras, 1987. p. 10.
40
principio jamais significou no Brasil – como no resto da América Latina – mais
que o triunfo de um personalismo sobre outro.”22
Podemos, com toda certeza, identificar o principio “accountability” como uma
“excelência das formas teóricas”, no caso mais aceita por ser anglo-saxônica. Assim
como não podemos nos furtar a frisar o acerto da análise no contexto atual da era
neoliberal brasileira. Onde, o personalismo de alguns teóricos, suplantou o de outros.
Em relação à ausência de trabalho coletivo no controle social buscamos suas
origens no fato de
“As iniciativas, mesmo quando se quiseram construtivas, foram continuamente de
separar os homens, não de os unir. Os decretos dos governos nasceram em
primeiro lugar da necessidade de se conterem e de se refrearem as paixões
particulares momentâneas, só raras vezes da pretensão de se associarem
permanentemente as forças ativas.”23
O caráter individualista e personalista nacional se evidencia nas seguintes
considerações:
“Foi essa mentalidade, justamente, que se tornou o maior óbice, entre eles, aos
espírito de organização espontânea, tão característica de povos protestantes, e
sobretudo calvinistas. Porque, na verdade, as doutrinas que apregoam o livre-
arbítrio e a responsabilidade pessoal são tudo, menos favorecedoras da associação
entre os homens.”24
Assim, diante das considerações acima, podemos concluir que as dificuldades no
bom funcionamento dos conselhos de acompanhamento não são tão simples de serem
debeladas, pois a “organização espontânea” e a “responsabilidade pessoal” não são frutos
de árvore. A cultura nossa preza a centralização, o presidencialismo e, isto se reflete em
todas as instâncias.
22
Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, 26 ed., São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 183. 23
Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, cit., p.33. 24
Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, cit., p.37.
41
Os conselhos sofrem a falta de conceitos arraigados de culturas voltadas para a
“organização espontânea”. E, a accountability vincula-se a fatores como “igualdade,
dignidade humana, participação, representatividade.”25
Portanto, nossos conselhos, são formados, na maioria das vezes por pessoas que
são apadrinhados políticos do mandatário político local. Em boa parte dos cerca de cinco
mil municípios brasileiros, encontram-se vícios nas formações dos conselhos. E em
alguns casos os conselheiros sequer sabem que o são. Meros joguetes na mão de
políticos, que se não inescrupulosos, se não mal-intencionados, mas com certeza
usufruindo, com respaldo das pessoas usadas, do mando e poder imenso que lhes
atribuem a maioria da população. Pois, geralmente, a população idealiza seus políticos –
notadamente os prefeitos – e, se entregam com prazer e, uma certa confiança ingênua às
vontades dos seus ídolos. Abdicam assim do direito de “aconselhar”, de fiscalizar
recursos seus. E pior acatam intelectualmente tal situação.
Esta idealização vincula-se, em primeira instância, a vetustos conceitos
autoritários, dos primórdios da formação do povo brasileiro, uma vez que existe, nos
povos ibéricos uma pré-ciência de que
“Não existe, ao seu ver, outra sorte de disciplina perfeitamente concebível, além
da que se funde na excessiva centralização do poder e na obediência.26
Não surpreende, portanto, que Campos27
não tenha encontrado, também em
Portugal, palavra que traduza accountability.
A casos extremos, em que a prefeita do Município de Colorado, no Noroeste do
Estado do Paraná, na Lei que implantou o conselho de acompanhamento, se deu o direto
de escolher e, só caso lhe fosse conveniente, nomear, via portaria o escolhida pelo
seguimento de Professores e diretores.
Este absurdo constava na Lei!
Isto não é fato fortuito. É regra!
25
CF, Ana Maria Campos, Accountability...Revista, cit., p.33 26
Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, cit., p.39. 27
CF, Ana Maria Campos, Accountability...Revista, cit., p.31
42
Portanto não estamos diante de um desvio de conduta anacrônico ou gerado por
fator aleatório, mas sim de uma regra de conduta nacional, em que pese as enormes
distâncias e diferenças sócio-econômicas entre os milhares de municípios, temos um
ponto de convergência. Assim estamos diante de um principio: a população – a maioria –
se recusa a participar ativamente sobre assuntos de interesse coletivo. Mas, acatam atuar
em pseudos conselhos comunitários, para atingir propósitos pessoais. Geralmente
mesquinhos. Emprego, ou troca de um favor qualquer.
E o que o executivo propõem?
Caminhar em direção a “accountability” sem condições culturais mínimas e,
copia leis de países em que, o controle social e responsabilidade com a coisa pública é,
não imposição legal, de cima para baixo, mas sim reflexo do caráter nacional. O
indivíduo tem essa preocupação e o legislador coloca no papel a intenção da
comunidade. Regula os costumes, tentando aparar arestas e almejando tornar os
conflitos, em decisões que prejudiquem o menor número de pessoas possível.
Analisemos o caso concreto da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Como é notório, a LRF é uma Lei adaptada, cópia, quase integral – em seu
anteprojeto – do Responsability Fiscal Act – 1994- da Nova Zelândia. O seu projeto
original – enviado pelo Poder Executivo Federal – foi alterado na Câmara Federal,
traduzia literalmente termos do inglês de difícil compreensão e/ou sem consonância com
termos jurídicos Brasileiros, causando espanto em comentadores desta Lei. “De observar
que a linguagem utilizada, representando mera tradução literal da Lei estrangeira, exibia
vícios e impropriedades que clamavam por correção. O Próprio Título era equivoco. Que
significa “responsabilidade fiscal”?”28
Estamos diante de uma máquina copiadora?
Traduziu-se uma Lei, sem a preocupação de que pudesse conter princípios não previstos
em nossa legislação, por ser moderno? Ou por ser uma imposição?
O fato, Per si, é revelador. Macunaíma já respondeu esta charada.
28
Misabel Abreu Machado Derzi. Comentários a Lei de Responsabilidade Fiscal . p.267
43
Seria enfadonho enumerar os casos explícitos de tradução literal de
frases/conceitos que nos são absolutamente estranhos. Porém alguns casos, por sua
gravidade devem ser anunciados.
“..a tradução literal de alguns termos introduzia neologismos desnecessários no
direito brasileiro, além de cometer algumas agressões ao vernáculo. A expressão
“a nível prudente”( art. 6º, II e VI), tradução do inglês prudent level , era
barbarismo(...)Outros anglicismos não adquiriam sentido: as expressões
“administração prudente de riscos fiscais”( art. 6º,IX), “prudência na
administração financeira e patrimonial”(art. 7º, IV, e seção V), “limite
prudencial”(arts. 19, § 1º, 38, II) foram traduzidos literalmente dos dispositivos
legais neozelandesas(...)mas excluídas, em boa hora...”29
A eminente comentadora se espanta com os problemas legais, constitucionais,
lingüísticos e exclama “A recepção ingênua da lei neozelandesa traria insuportável
confusão metodológica ao direito financeiro brasileiro, pela superposição de valores
estrangeiros.”30
Nossa preocupação, além da explicitada, acima, pela comentadora, se dirige para
os porões. Esta Lei determina que as contas das Prefeituras, Governos
Estaduais/Distritais e do Governo Federal, fiquem, permanentemente a disposição, de
qualquer pessoa para consulta e apreciação (artigos 48 e 49). O descaso com o
cumprimento deste preceito, em inúmeros municípios, é tão relevante, cômico, que basta
passar em qualquer Câmara Municipal e solicitar a Prestação de Contas para escutar as
mais dispares respostas, mas invariavelmente sem conseguir, em uma primeira tentativa,
acesso às prestações de contas. Não sabemos da Lei! Caso saibamos não conseguimos
acesso rápido às Contas Públicas! E, geralmente, os responsáveis pela guarda desses
documentos, muitas vezes, nem sabem ser delas possuidoras.
Revelando-se, assim
29
ibid 30
ibid
44
“Outro traço marcante do país, com impacto na administração pública e na vida
dos cidadãos, é a abundância de leis e regulamentos aprovados, porém nunca
obedecidos (nem destinados a ser obedecidos).31
Assim, o executivo traduziu – mal – uma Lei; a Câmara alterou o que podia ser,
sem comprometer os princípios da lei – mesmo restando algumas questões
inconstitucionais – a serem julgadas – e a aprovou; os comentadores se escandalizam
com a vulgaridade do ato - se não descaso; e, por questões culturais não conseguimos
aplicar dispositivos da Lei.
Qualquer individuo pode verificar nos jornais, ou diários oficiais, as publicações
obrigatórias que a LRF determina. Mas o principio fundamental a “accountability” é um
triste arremedo para imensa parcela da população. O principio – controle social – foi
substituído por uma determinação burocrática. Publicação de editais!
A “paternidade” da LRF, ou melhor, sua “clonagem”, nos faz lembrar, casos
pitorescos de período da elaboração das Leis Orgânicas Municipais. Sobre uma piada,
que corria em seminários, congressos e grupos de estudos sobre o tema, em que um
pequeno município do interior de Mato Grosso do Sul teria copiado – “clonado” –
integralmente, a Lei Orgânica de um município de grande porte, da faixa litorânea do
Estado de São Paulo, em que um dos capítulos indicava diretrizes para ocupação da Zona
Litorânea.
O Absurdo – quiçá real – renova-se, tal qual fênix, em uma Lei Federal.
As diferenças sócio-culturais, econômicas e jurídicas entre os dois países – Brasil
e Nova Zelândia – aparentemente foram relegadas a segundo plano.
Apesar das dificuldades de caráter constitucional e jurídico ter relevância, a nosso
ver, no aspecto cultural as dificuldades são imensuráveis.
O abismo nos remete a uma digressão, os aspectos de formação sócio-econômico-
cultural dos dois países em foco. Um anglo-saxão e o outro latino.
31
CF, Ana Maria Campos, Accountability...Revista, cit., p.41
45
O faremos por entender que a “accountability” não se impõem com uma
canetada.
Não se forma a consciência por decretos.
Assim, as Leis LRF e FUNDEF, sofrem de um paradoxo de difícil equalização
em sua plena aplicabilidade nos aspectos referentes à Accountability.
O controle social, o princípio da accountability é inerente às sociedades
protestantes anglo-saxônicas, foi moldada ao longo dos séculos, via adoção de uma
moral asceta, em que predominam noções de responsabilidade comunitária, vinculados
diretamente ao principio da predestinação.
A organização social protestante enseja atuação firme e responsável de seus
membros, imbuídos que estão de noções de cumprimento de ditames divinos.
“Deus, porém, requer realizações sociais dos cristãos, porque Ele quer que a vida
social seja organizada conforme seus mandamentos, de acordo com tais
propósitos. A atividade social dos cristãos no mundo é apenas uma atividade in
majorem gloria Dei. Este caráter é pois partilhado pelo trabalho dentro da
vocação, que propicia a vida mundana da comunidade.”32
O trabalho e as atividades sociais das sociedades protestantes levam o individuo a
oscilar entre dois pólos: trabalho e vida social regulamentado por princípios religiosos
rígidos que previam vida privada honesta e reservada e ação social dirigida pelo amor
fraternal ao próximo. Frugalidade pessoal e responsabilidades claras para com a
comunidade em que estava inserido.
“O amor fraternal, uma vez que só podia ser praticado pela glória de Deus e não a
serviço da carne, é expresso em primeiro lugar no cumprimento das atividades
diárias, dadas pela lex naturae; e no processo, esta obediência assume um caráter
peculiarmente objetivo e impessoal, a serviço do interesse da organização
racional do nosso meio social.”33
32
Max Weber, A ética protestante e o espírito do capitalismo, São Paulo: Martin Claret, 2002.p. 82 33
Max Weber, A ética protestante e o espírito do capitalismo, cit. p. 82
46
O posicionamento individual na fé religiosa obriga o individuo a acatar regras
monásticas. Sua vida é única e exclusivamente objeto de glorificação a Deus. Segue
preceitos morais embasados na interpretação de mandamentos bíblicos. Sua postura
pessoal, porém, não se restringe ao claustro. É viva e, convive com a família e, com os
demais membros da comunidade. Para tornar, esta difícil convivência agradável a Deus,
racionaliza sobre a organização social. Atua na comunidade, pois isto é um mandamento
divino. A organização divina serve de inspiração para sua vida secular “isto faz com que
o trabalho a serviço de publica e impessoal utilidade pareça promover a glória de Deus,
sendo portanto por Ele desejado”34
.
Já, na formação de nosso latino-americano e católico país o individualismo
característico dos nascidos na península ibérica é um elemento cerceador de princípios
como os de accountability e organização social.
Como pessoas que prezam a análise e tomada de decisões egocêntricas, podem se
moldar a princípios coletivos de gestão pública. Como pode se sentir responsável perante
a comunidade se é um inveterado individualista.
Como pode pensar coletivamente seres que
“Para eles, o índice do valor de um homem infere-se, antes de tudo, da extensão
em que não precise depender dos demais, em que não necessite de ninguém, em
que se baste. Cada qual é filho de si próprio, de suas virtudes.”35
Decisões coletivas representariam, quiçá, um fator ofensivo para sua “liberdade”.
Enquanto a moral protestante acena com a importância do trabalho comunitário e
da divina importância do serviço público (social), ocorre uma antítese na formação dos
povos ibéricos e, por extensão, do povo brasileiro, onde o trabalho, a solidariedade e a
organização social ficam relegados há segundo plano.
“Também se compreende que a carência dessa moral de trabalho se ajustava bem
a uma reduzida capacidade de organização social. Efetivamente o esforço
humilde, anônimo e desinteressado é agente poderoso de solidariedade dos
34
Max Weber, A ética protestante e o espírito do capitalismo, cit. p. 82 35
Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, cit., p.32.
47
interesses e, como tal, estimula a organização racional dos homens e sustenta a
coesão entre eles. Onde prevaleça uma forma qualquer de moral do trabalho
dificilmente faltará a ordem e a tranqüilidade entre os cidadãos, porque são
necessárias, uma e outra, à harmonia dos interesses. O certo é que, entre
espanhóis e portugueses, a moral do trabalho representou sempre fruto exótico.
Não admira que fossem precárias, nessa gente, as idéias de solidariedade.”36
Discorrendo sobre o aspecto peculiar do caráter dos povos ibéricos, no que
concerne a obediência, ou a ausência dela, em que destaca a centralização do poder como
resposta paradoxal de sua individualidade Holanda (1995) enfatiza nossas tentativas vãs
de implantar modelos de gestão democrática.
Transportamos suas reflexões para a tentativa recente de implantar o conceito de
accountability - notando que isto não é modismo, mas prática comum ao longo dos
séculos. Como não criamos modelos próprios de gestão nos obrigamos a importar
modelos. Mas neste caso específico, mais do que em outros, trombamos com uma forte
resistência: nossa formação nacional, pois
“É em vão que temos procurado importar dos sistemas de outros povos
modernos”.37
Pois bem, a tradução do Responsability Fiscal Act – 1994- da Nova Zelândia, não
é mais do que mera importação de “sistemas de outros povos”.
Na formação protestante a glória a Deus, com uma vida virtuosa difere com a
certeza de que os escolhidos a salvação já estavam definidos. Restando, pois, uma
singular dúvida: sou predestinado, ou não? Como me posicionar e conviver com esta
dúvida?
“Mas a salvação não poderia, como no Catolicismo, consistir em um gradual
acumulo de boas ações individuais para crédito pessoal, e sim num autocontrole
36
Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, cit., p.39. 37
Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, cit., p.40.
48
sistemático que a qualquer momento se defrontaria com a alternativa inexorável –
escolhido ou condenado...”38
O aspecto que nos interessa é o autocontrole há que se submete o individuo na
convivência de seu dilema. O puritanismo religioso se exarceba e a frugalidade amplia-
se.
“Talvez nunca tenha existido uma forma mais intensa de valorização religiosa do
agir ético do que aquela que o calvinismo induzia em seus adeptos.”39
Temos então duas posições: organização comunitária e ação ética. Estes dois
princípios amalgamam-se, promiscuem-se. Desta miscigenação brota uma norma de
conduta que espelhará toda a ação do grupo social a ela submetida. Apropriando-se
destes princípios, criando-os estabelece-se uma nova forma de ver a “coisa pública”, de
atuar em comunidade, de servir, efetivamente a comunidade. Não apenas para promoção
pessoal. Este é o aspecto menos importante. Mas, com intuito de servindo a comunidade
com zelo, honestidade, seguindo princípios éticos/religiosos judaico-cristãos glorificar o
Criador.
O bem público é a primeira expressão geral do arranjo divino para a humanidade.
Se a predestinação se revela em alguns aspectos, como, por exemplo, sinais de
prosperidade, no individuo. A prosperidade da comunidade transcende a predestinação
individual. A comunidade, o grupo social, a nação, ao apresentar sinais de prosperidade é
sinal de que esta nação é predestinada. Ampliam-se, para a comunidade, princípios,
claramente individuais.
Contribuir para a ampliação da riqueza individual é, simplesmente tornar-se
administrador de bens, que o Senhor lhe confiou. Ampliar este patrimônio poderá
redundar em predestinação.
O arranjo ao se tornar público amplia as responsabilidades do agente público.
Não carregará, não arcará, apenas, com o lote que o Senhor lhe “emprestou”. Terá
responsabilidade ampliada, pois controlará parcelas de todas as “entregas” da divindade.
38
Max Weber, A ética protestante e o espírito do capitalismo, cit. p. 86 39
Max Weber, A ética protestante e o espírito do capitalismo, cit. p. 87
49
O trato do bem público apresenta conflitos e responsabilidade de consciência que se
erguem sobre o trato do bem privado.
“O homem é apenas o fiduciário dos bens que lhe foram entregues pela graça de
Deus. Ele deve, como o servo da parábola, prestar conta até o último centavo do
que lhe foi confiado, e seria no mínimo perigoso gastar qualquer deles por
qualquer propósito que não servisse a glória de Deus, mas apenas para seu
prazer.”40
Prestar Contas sobre os recursos comuns é imperiosa obrigação pessoal/religiosa.
E o controle social sobre estes gastos é encarado como obrigação para verificação sobre
a aplicação correta dos recursos “emprestados”, não por um agiota, mas pelo Criador.
São evidentes as conseqüências deste agir. Dos costumes originam-se
Leis/Conceitos para a averiguação da correta aplicação destes recursos públicos.
Regula-se o costume.
Os recursos públicos não são para utilização pessoal. Para distribuir favores. Para
gastos em obras “faraônicas”. Os recursos são “públicos”. E devem ser aplicados em
consonância com os desígnios da comunidade e, não se submeter, simplesmente, aos
desejos e ao arbítrio de um títere. Mesmo que este títere esteja travestido em líder
democrata.
“Este ascetismo secular protestante, como foi recapitulado até aqui, agiu
poderosamente contra o desfrute espontâneo das riquezas; restringiu o consumo,
em especial do supérfluo.”41
Ou seja, conceitos como controle, respeito, responsabilidade social, parcimônia,
organização social e solidariedade prosperam por imposição ética/religiosa.
Em nossa formação estes conceitos são diluídos, principalmente no que se refere
aos aspectos da organização social e política.
40
Max Weber, A ética protestante e o espírito do capitalismo, cit. p. 123 41
Max Weber, A ética protestante e o espírito do capitalismo, cit. p. 123
50
“Em sociedades de origens tão nitidamente personalistas como a nossa, é
compreensível que os simples vínculos de pessoa a pessoa, independentes e até
exclusivos de qualquer tendência para a cooperação autêntica entre os indivíduos,
tenham sido quase sempre os mais decisivos. As agregações e relações pessoais,
embora por vezes precárias, e, de outro lado, as lutas entre facções, entre
famílias, entre regionalismos, faziam dela um todo incoerente e amorfo. O
peculiar da vida brasileira parece ter sido, por essa época, uma acentuação
singularmente enérgica do afetivo, do irracional, do passional, e uma estagnação
ou antes uma atrofia correspondente das qualidades ordenadoras, disciplinadoras,
racionalizadoras. Quer dizer, exatamente o contrário do que parece convir a uma
população em vias de organizar-se politicamente.”42
Fica claro que a formação social protestante leva, obrigatoriamente, ao
desenvolvimento de posturas respeitadoras da coisa pública e, cria o conceito de respeitar
o público e, de responsabilidade com a comunidade.
Já nossa formação prioriza o individualismo. O indivíduo resolve suas
dificuldades solitariamente. A solidariedade, a coletividade fica restrita a momentos
solenes e específicos, nossa “organização social” carece de elementos coletivos, pois os
cidadãos
“Formam, assim, como um todo indivisível, cujos membros se acham associados,
uns aos outros, por sentimentos e deveres, nunca por interesses ou idéias.”43
Enquanto o comum é regular o costume nos parece que com a publicação de Leis
que nos dirigem para o “Controle Social”, para a “Accountability”, invertemos a lógica.
A Lei tenta estabelecer o costume.
42
Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, cit., p.61. 43
Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, cit., p.79.
51
Art. 5º Os registros contábeis e os demonstrativos gerenciais, mensais e atualizados,
relativos aos recursos repassados, ou recebidos, à conta do Fundo a que se refere o
art. 1º, ficarão permanentemente, à disposição dos conselhos responsáveis pelo
acompanhamento e fiscalização, no âmbito do Estado, do Distrito Federal ou do
Município, e dos órgãos federais, estaduais e municipais de controle interno e
externo.
COMENTÁRIO
1 – PERMANENTEMENTE A DISPOSIÇÃO AOS MEMBROS DO CONSELHO.
O caput do artigo, garante aos membros dos conselhos de acompanhamento e
fiscalização, o constante acesso aos registros contábeis e, os demonstrativos gerenciais
relativos aos recursos recebidos e aplicados pela administração pública.
Este artigo é o que melhor identifica a Lei Fundef, como um dos pilares do
esforço brasileiro, no sentido de ampliar o controle social sobre os recursos públicos.
Ao permitir, o acesso permanente aos arquivos contábeis obrigatórios e, os, que
eventualmente, forem criados pelos entes federados, objetiva-se criar o salutar hábito de
controle e acompanhamento dos gastos dos recursos públicos.
O legislador é taxativo, não deixando margens a duplas interpretações, ao
afirmar, categoricamente, que os registros contábeis e demonstrativos dos gastos da
52
conta Fundef “ ficarão, permanentemente, a disposição dos conselhos responsáveis pelo
acompanhamento e fiscalização”.44
Apesar de tal assertiva não deixar margens para dúvidas, constantemente
encontra-se dificuldades de acessar tais documentos, não raro, os conselhos ficam
restritos a esperar que, eventualmente, os entes federados – Estados, Distrito Federal e
Municípios – remetam, simplesmente os balancetes de partidas dobradas, com entrada e
saída dos recursos, sem maiores informações.
Isto é obvio, configura uma quebra da Legislação, bem com, poda o esforço de
tentar incutir princípios de accountability na sociedade.
2 – REGISTROS CONTÁBEIS E DEMONSTRATIVOS GERENCIAIS.
Não resta dúvida, portanto, sobre a constante obrigação de disponibilizar, aos
conselhos, os registros contábeis e demonstrativos gerenciais. Resta, assim, a
necessidade de entender quais são estes registros que os entes federados devem
disponibilizar, permanentemente, aos seus respectivos conselhos.
Sobre a escrituração pública podemos resumir seus “passos” nos seguintes itens:
a) Disposições Orçamentárias;
b) Tomada de Preços; Carta Convite; Licitação; Concorrência Pública;
c) Empenho;
d) Efetivação do Pagamento.
Os registros contábeis e demonstrativos gerenciais “controlam” o caminho dos
gastos orçamentários e, podemos, também, resumi-los nos seguintes itens:
a) Balancetes mensais;
b) Demonstrativo de execução orçamentária (art.165 , § 3º CF)
44
Lei 9424/96, Art. 5º.
53
c) Receitas de Impostos (art.72 LDB)
d) Despesas com MDE – Bimestral Anexo II
e) Relatórios específicos por rubrica orçamentária
f) Balancetes anuais
A legislação brasileira, principalmente nas Leis 4.320/64, 8.666/93 e LC 101/00,
regulam, respectivamente o orçamento, as licitações e a, assim, denominada,
responsabilidade fiscal. Estas Leis indicam parâmetros comuns a cada objeto especifico
da Lei e, determinam uma serie de relatórios, que devem, periodicamente, ser elaborado
e publicado pelos poderes da União. As prefeituras, por exemplo, se obrigam a publicar e
fazer audiências públicas para tornar “transparente” à comunidade o recebimento e
aplicação dos recursos públicos.
Nesta “selva” de relatórios quais, efetivamente, seriam importantes para um
perfeito acompanhamento pelo conselho.
A nosso ver, em um momento inicial, com as dificuldades já destacadas, a
comunidade, representada pelo conselho poderia fazer um razoável acompanhamento
dos gastos da conta Fundef com os seguintes instrumentos:
2.1 – Balancete mensal do Fundef
O balancete, em questão, apresentaria os recursos – receitas – recebidas durante
um Mês e, onde foram gastos os recursos – despesas. Permitindo ao conselho saber,
mensalmente, os valores, em reais, que entraram e saíram da conta Fundef.
2.2 – Relatório resumido da execução orçamentária
54
Neste relatório, um balanço orçamentário, de publicação obrigatória45
– deve ser
publicado semestralmente -, contém, basicamente, as seguintes informações: receitas;
previsão inicial; previsão atualizada; receitas realizadas – no bimestre e semestral – e; o
saldo a realizar.
Entre outras receitas encontra-se o Fundef, o que permite aos conselheiros
observar a previsão orçamentária inicial, ou seja, quanto que o ente federado espera
arrecadar no ano com o Fundef, o quanto recebeu no bimestre e no semestre, permitindo
um melhor acompanhamento sobre os recursos que chegam ao ente federado.
2.3 – Relação dos servidores pagos com recursos do fundef
Nesta relação deve constar o nome do servidor; a função por ele executada; sua
qualificação; atividade; data da admissão; salário do mês; total pago no ano e; encargos
sociais pagos no mês e no ano.
Os modelos abaixo são uma adaptação do modelo em que os entes federados
prestam contas anuais aos respectivos legislativos e Tribunais de Contas. Uma das
poucas diferenças é que o proposto deve ser elaborado mensalmente, para que os
conselheiros possam saber mês a mês, que servidores receberam salários dos 60% e dos
40% do fundef.
SERVIDORES PAGOS COM RECURSOS DO FUNDEF
– 60%
MUNICIPIO:
ENTIDADE: PREFEITURA MUNICIPAL DE
EXERCICIO DE 2003
NOME
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45
Lei Complementar 101/2000, Art. 52.
55
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SERVIDORES PAGOS COM RECURSOS DO FUNDEF
– 40%
MUNICIPIO:
ENTIDADE: Prefeitura Municipal de
Exercício de 2003
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Tota
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Ano
Enca
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do
mês
Encar
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Sociai
s do
ano
Total
do ano
2.4 – Relação de empenhos pagos com recursos do fundef
56
Para que o controle dos gastos possa contribuir, efetivamente, para a melhoria e
desenvolvimento do ensino fundamental é primordial que, os membros dos conselhos de
acompanhamento tenham acesso aos gastos desta rubrica.
O rol de empenhos pagos, com recursos do fundef, portanto, é peça essencial no
controle dos gastos.
Os representantes da comunidade, os membros do conselho, observarão onde são
gastos os recursos do fundef.
Esta relação deverá conter, no mínimo, as seguintes informações para que tenha
alguma utilidade: número do empenho; data; nome do fornecedor; descrição, detalhada,
da despesa – se bens, serviços, obras, etc – e; valor empenhado.
As informações ao conselho devem ter periodicidade, mensal, bimestral,
semestral e anual, de acordo com o instrumento e com a legislação em vigor.
Com estes instrumentos e, os descritos no artigo 11, acreditamos que o caput do
artigo será contemplado com eficiência e, talvez, seja possível um efetivo controle social
sobre as contas públicas.
57
Art. 6º A União complementará os recursos do Fundo a que se refere o art. 1º,
sempre que, no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, seu valor por aluno
não alcançar o mínimo definido nacionalmente.
§ 1º O valor mínimo anual por aluno, ressalvado o disposto no § 4º, será fixado por
ato do Presidente da República e nunca será inferior à razão entre a previsão da
receita total para o Fundo e a matrícula total do ensino fundamental no ano
anterior, acrescida do total estimado de novas matrículas, observado o disposto no
art. 2º, § 1º, incisos I e II.
§ 2º As estatísticas necessárias ao cálculo do valor anual mínimo por aluno,
inclusive as estimativas de matrículas, terão como base o censo educacional
realizado pelo Ministério da Educação e do Desporto, anualmente, e publicado no
Diário Oficial da União.
§ 3º As transferências dos recursos complementares a que se refere este artigo serão
realizadas mensal e diretamente às contas específicas a que se refere o art. 3º.
§ 4º No primeiro ano de vigência desta Lei, o valor mínimo anual por aluno, a que
se refere este artigo, será de R$ 300,00 (trezentos reais).
§ 5º (VETADO)
COMENTÁRIO
1 – CUSTO MÉDIO ALUNO/ANO.
O caput do artigo institui o, assim chamado “valor mínimo anual por aluno”.
Este valor, como o titulo demonstra, é uma meta de gasto mínimo anual por
aluno. Assim sendo, as redes educacionais deverão aplicar no mínimo um determinado
valor anual por aluno.
58
O § 4º define este valor em R$ 300,00(trezentos reais).
Talvez, entendendo que tal valor é irrisório, a União descumpriu o principio legal
e, ampliou, via decreto, em 5% (cinco por cento) tal valor. Assim, nos dois primeiros
anos em vigor, a lei Fundef, via decretos ressaltamos, institucionalizou a miséria.
Os recursos mínimos legais, por aluno/ano, atingiram o total de R$ 315,00
(trezentos e quinze reais), menos de R 1,00(um real) por dia de gasto mínimo por aluno.
A titulo de comparação a ONU, considera em situação de miséria quem
sobrevive, por dia, com menos de US$ 2,00 (dois dólares), em valores do começo do ano
de 2003, equivalente a cerca de R$ 7,00 (sete reais).
Institucionalizou-se, repetimos, a miséria.
Calcula-se que um presidiário custe ao mês, aos cofres públicos cerca de R$
1.000,00 (Um mil reais), equivalente a R$ 33,33 (Trinta e três reais e trinta e três
centavos) por dia.
A disparidade é gritante, o custo dia/presidiário é, trinta e três vezes superior, que
o custo aluno/dia, em valores aproximados.
Apesar de parecer impossível, alguns Estados/Municípios da federação não
alcançam o valor mínimo por aluno/ano e, nestes casos, como determina o caput do
artigo, a União complementará o irrisório mínimo.
Em 1998, o Estado do Maranhão não atingiu o mínimo nacional definido por
decreto. Assim, como determina a legislação a União complementou os recursos, até
atingir o valor mínimo obrigatório.
Felizmente, a maioria dos Municípios/Estados, ultrapassou este valor mínimo.
Não que isto represente grandes vantagens, mas evidencia a dicotomia entre o
mínimo estipulado pelo decreto e a realidade nacional.
Talvez, represente, ainda, um claro descaso com a educação. O valor mínimo é
tão pequeno que recursos federais não serão, em hipótese alguma, realocados.
59
Como demonstrado acima, se esta estratégia previa a não utilização de recursos
federais em nenhuma unidade da federação, a miserável realidade brasileira surpreendeu
o legislador.
No quadro abaixo, é possível acompanhar a evolução do custo médio aluno/ano,
desde sua implantação:
CUSTO MÉDIO ALUNO/ANO
Ano 1ª a 4ª
séries
% 5ª a 8ª
séries
%
1998 R$ 315,00 - R$ 315,00 -
1999 R$ 315,00 - R$ 315,00 -
2000 R$ 333,00 5.7 R$ 349,65 11
2001 R$ 363,00 15.2 R$ 381,15 21
2002 R$ 418,00 32.7 R$ 438,90 39.3
2003 R$ 446,00
Fonte: Pagina da internet do MEC.
60
Art. 7º Os recursos do Fundo, incluída a complementação da União, quando for o
caso, serão utilizados pelos Estados, Distrito Federal e Municípios, assegurados,
pelo menos 60% (sessenta por cento) para a remuneração dos profissionais do
magistério, em efetivo exercício de suas atividades no ensino fundamental público.
Parágrafo Único - Nos primeiros cinco anos, a contar da publicação desta Lei, será
permitida a aplicação de parte dos recursos da parcela de 60% (sessenta por cento),
prevista neste artigo, na capacitação de professores leigos, na forma prevista no art.
9º, § 1º.
COMENTÁRIO
1. DA REMUNERAÇÃO – OS 60% (SESSENTA POR CENTO)
Entre as inovações contidas nesta Lei, a vinculação de parte do Fundo para
pagamento de vencimentos de servidores é, sem dúvida, um dos pontos que mais causam
polêmica.
O texto é relativamente simples, do total de recursos recebidos pelos Municípios,
pelos Estados e pelo Distrito Federal, uma parcela nunca inferior a 60% (sessenta por
cento), obrigatoriamente, deve ser aplicada na remuneração dos servidores em efetivo
exercício no ensino fundamental.
Isto significa que, caso um Município, tenha recursos – a título de Fundef - da
ordem de, por exemplo, R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), no mínimo R$
600.000,00 (seiscentos mil reais) deverão ser aplicado em salários e em seus reflexos:
décimo terceiro salário; um terço de férias; eventuais substituições; encargos patronais.
61
Na hipótese do município/estado não atingir o custo médio aluno/ano, com seus
recursos próprios, a aplicação da regra – aplicação de 60% (sessenta por cento) em
remuneração - também atingirá a complementação da União.
Como ressalva, deve-se chamar atenção ao fato do Fundo ter regime fiscal, ou
seja, o montante de recursos de um ano fiscal é que determinará, efetivamente, quantos
deverão ser aplicados em remuneração. Isto significa que os valores, isolados de um mês,
não são conclusivos para saber se o município aplica ou não o mínimo obrigatório de
60% (sessenta por cento).
Porém, caso os valores estejam muito aquém do mínimo a ser aplicado,
necessário se faz reorganizar a remuneração do magistério para evitar distorções.
2. DOS PROFISSIONAIS DO MAGISTÉRIO
Sabendo-se que a aplicação mínima, em remuneração, é de 60%, passemos à
análise de quem pode receber sua remuneração nesta modalidade. Em outras palavras,
quem é objeto, quem é alvo da Lei. Claro fica que o legislador utiliza-se de uma parcela
dos recursos do Fundo com claro intuito de beneficiar uma determinada categoria, indo
ao encontro, de um dos pilares da Lei, fato que denomina de “valorização do
magistério”.
O caput do artigo nos fornece a definição da categoria que tem a garantia de
perceber sua remuneração nos 60% (sessenta por cento) os “profissionais do magistério,
em efetivo exercício de suas atividades no ensino fundamental público.”
Vamos, portanto, definir quem são os “profissionais de magistério”.
Segundo a LDB, cada nível e modalidade de ensino, deverá ter uma formação
mínima para se enquadrar como “profissional de educação”.46
46
Lei 9394/96, Art. 61.
62
Para docentes da educação básica, em que esta inserida o Ensino Fundamental,
objeto da Lei Fundef, exige-se Licenciatura Plena, admitindo-se, para as quatro primeiras
séries do ensino fundamental, nível médio – Normal (magistério).47
Em relação aos profissionais de educação, para educação básica, nas funções de
supervisão, administração, inspeção, planejamento e orientação educacional é exigido
curso de graduação em pedagogia ou pós-graduação. Exigindo-se, para estas funções de
magistério, destes profissionais de educação, experiência docente como pré-requisito.48
Temos alguns parâmetros para construir a figura dos profissionais de magistério
que poderão perceber sua remuneração dos 60% (sessenta por cento):
1 - para docentes, formação mínima de Licenciatura Plena e; para 1ª a 4ª
séries admitir-se-á a formação a nível médio – normal.
2 - para profissionais que exercem outras atividades de magistério que não a
docência, e que o legislador define como “funções de magistério” exige-se licenciatura
plena em pedagogia ou pós-graduação, com experiência docente.
Acrescente-se o conceito de que os profissionais de educação, que façam parte do
sistema, que não contarem com esta titulação mínima, terão cinco anos para deixarem de
ser considerados leigos, após a aprovação do Plano de Carreira do Município, Estado ou
Distrito Federal.
A resolução 03/97 do CEB/CNE, de oito de outubro de 1997, que fixou as
diretrizes para os novos Planos de Carreira para os entes federados, considera como
integrantes da carreira do magistério os docentes e o pessoal que executam atividades de
apoio à docência.
“Integram a carreira do Magistério dos sistemas de Ensino Público os
profissionais que exercem atividades de docência e os que oferecem suporte
47
Lei 9394/96, Art. 63. 48
Lei 9394/96, Artigos 64 e 67.
63
pedagógico direto a tais atividades, incluídas as de direção ou administração
escolar, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional.”49
Este mesmo parecer define qual a experiência docente é necessária, como pré-
requisito, para ingresso nas funções de magistério que não a docência.
“A experiência docente mínima, pré-requisito para o exercício profissional de
quaisquer funções de magistério, que não a de docência, será de 02 (dois) anos e
adquirida em qualquer nível ou sistema de ensino, público ou privado.” 50
Como podemos perceber a legislação brasileira delimita em dois campos bem
distintos as atividades de magistério: docência e suporte às atividades de docência.
Em que pese os inúmeros inconvenientes desta dualidade e, as incontáveis
discussões e posicionamentos ideológicos sobre esta dicotomia, para nós fica claro que a
legislação em vigor, claramente conceitua em dois campos as atividades de magistério.
A legislação, portanto, define como integrantes da carreira de magistério, tanto
docentes quanto profissionais que exercem atividades como: direção, orientação,
supervisão, etc.
Poderíamos, em uma análise ligeira, concluir que tanto diretores, supervisores,
orientadores e as mais variadas nomenclaturas poderiam receber dos 60% (sessenta por
cento), juntamente com os docentes.
Assim, onde resta polêmica sobre a aplicação dos recursos do Fundef? Polêmicas
citadas originariamente, no preâmbulo deste comentário.
3. DOS PROFISSIONAIS DO MAGISTÉRIO EM EFETIVO EXERCÍCIO DE
SUAS ATIVIDADES NO ENSINO FUNDAMENTAL PÚBLICO.
A polêmica reside em uma única frase, que delimita perfeitamente o grupo de que
deve receber dos 60% (sessenta por cento) e, que vem sendo desrespeitada
sistematicamente, pelos gestores do Fundo, com a conivência de vários órgãos, que, por
definição deveriam realizar a fiscalização da aplicação destes recursos – Os tribunais de
Contas. Este desrespeito é claro, causa enormes prejuízos não só para os docentes do
49
Resolução 03/97 CEB/CNE, Art. 2º. 50
Resolução 03/97 CEB/CNE, §1º, do art. 3º.
64
Ensino Fundamental, mas, também, para os docentes dos outros níveis da educação
básica, uma vez que, os salários dos docentes do ensino fundamental deverão balizar os
salários dos docentes do ensino infantil e do ensino médio51
, bem como para os
profissionais que exercem as funções de magistério. O intuito do legislador era valorizar
os profissionais de magistério – do ensino básico – tanto os docentes, quanto os
profissionais que exercem funções de magistério, criando uma reserva que serviria de
parâmetro para definir os salários de todos os profissionais de educação, mas a aplicação
dos conceitos que permitiriam este tipo de valorização – aumento salarial – ficou
prejudicada pela inclusão de inúmeros profissionais no cálculo dos 60% (sessenta por
cento) ampliando o cociente para efetivação dos cálculos salariais.52
Cálculos sim! Pois existe um parecer que chegou ao requinte de propor uma
fórmula matemática para calcular a remuneração média mensal dos docentes.53
Apesar de não ter definido um piso salarial nacional, o parecer define que em
cada ente federado seja fixado um menor salário tendo como parâmetro o seu salário
médio.
Ou seja, nos Municípios, estados e no Distrito Federal deve ser fixado um piso
salarial que há de ser calculado dentro de regras perfeitamente definidas.
Para se atingir o salário médio mensal do professor há de se aplicar a seguinte
fórmula:
SMMP=Custo Médio alunosX0,60Xnºmédio alunos/professor
13 (meses) X 1,12 (encargos)
Após definir, com a fórmula matemática acima, o Salário Médio deverá se aplicar
uma amplitude de 50%.
“V - Nos municípios onde o salário médio do professor fosse R$ 300,00,
sendo adotada a amplitude de 50% o menor salário seria de R$ 240,00 (máximo
de R$ 360,00)”54
Temos, portanto, a fórmula para definir o piso municipal de salário para os
profissionais de educação.
51
Resolução 03/97 CEB/CNE, V, Art. 7º. 52
Resolução 03/97 CEB/CNE, Art. 7º. 53
Parecer PAR – CEB 10/97 aprovado em 03/09/97 54
Parecer 10/97 CEB
65
O “0,60” da fórmula é, obviamente, os sessenta por cento de mínimo obrigatório
de aplicação em remuneração. Fica claro que, se incluir, na relação aluno/professor,
profissionais que são vedados de receber dos 60% (sessenta por cento) diminuiremos a
relação e, conseqüentemente, o piso salarial.
A não aplicação do conceito gera, a nosso ver, uma inconstitucionalidade, além
de contrariar a exegese e a hermenêutica do direito educacional brasileiro.
3.1. Da exegese, da hermenêutica e da inconstitucionalidade.
A Emenda Constitucional 14/96, em seu art. 5º alterou a redação e, incluiu novos
parágrafos no art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
Esta emenda institui o Fundef55
e, destacamos que, em seu caput um de seus
objetivos é propor uma “remuneração condigna do magistério”.
Sobre a destinação dos recursos dos referidos fundos, ficam assegurados as
seguintes proporções
“Uma proporção não inferior a sessenta por cento dos recursos de cada Fundo
referido no § 1º será destinada ao pagamento dos professores do ensino
fundamental em efetivo exercício no magistério.”56
( grifo nosso)
Em relação ao termo professores do texto constitucional assim se expressa o
Supremo Tribunal Federal
“...funções de magistério, se professor, assim entendido aquele que ministra aula,
ou seja, funções exercidas pelo professor dentro da sala de aula.”57
Portanto, professor, para o Supremo Tribunal Federal é o que ministra aula, ou
seja, o que exerce funções de docência, dentro da sala de aula, sendo regra para computar
aposentadoria especial para professor contar, apenas, o tempo de atividade no
magistério, o executado dentro da sala de aula – em docência.
Tendo em vista que a Constituição afirma que os beneficiários, os servidores que
podem perceber dos 60% (sessenta por cento) dos Fundos em questão – FUNDEF – são
apenas e, unicamente, os professores do ensino fundamental, não resta dúvida sobre
55
ADCT modificada pela EC 14/96, § 1º, Art. 60. 56
ADCT modificada pela EC 14/96, § 5º, Art. 60. 57
Julgamento da ADIN 122 SC, Relator Ministro Paulo Brossard
66
quem pode receber desta rubrica, apenas os que exercem docência, os que ministram
aulas.
A exegese firmada pelo Supremo Tribunal Federal segue o seguinte teor
“Voto - ... evidente que o cargo e, muito menos a função “Especialista em
Assunto Educacional”, não se confundem com o de professor, tanto é que a
impugnada norma da Constituição do Estado procurou equipara-los para fins de
aposentadoria.
O vocábulo magistério, como observa o parecer do Ministério Público, tem
sentido especifico que não alcança a amplitude que lhe emprestou o Constituinte
Catarinense, designa tão somente o cargo de professor. E este é , apenas,
aquele que ministra aulas. ”(grifo nosso).
Vê-se, pois, que o dispositivo Constitucional concede aposentadoria especial não
aos ocupantes de cargos e funções do magistério, mas especificamente aos
titulares de cargos e funções de professor...”58
No mesmo julgamento da ADIN o Ministro Néri da Silveira enclausura, ainda
mais, o vocábulo professor ao excluir outros servidores da educação, eventualmente,
com o cargo de concurso de professor, mas exercendo atividades, fora da sala de aula, ou
seja, não ministrando aulas
“Voto -... Sempre entendi que os dispositivos constitucionais, que asseguram a
aposentadoria com o tempo reduzido, no âmbito do magistério, destinam-se,
exclusivamente, ao professor, vale dizer àquele que tem atividade docente em
classe, atividade direta e ordinária com os alunos. Não se podem beneficiar
dessas normas especiais outros servidores, embora dedicados a assuntos técnicos
pedagógicos, sem natureza docente.”59
Confirmando a exegese sobre o termo professor assim se expressa o Ministro
Ilmar Galvão
“Voto - ...Uma leitura atenta do dispositivo sob enfoque da Constituição Federal,
revela sem maior esforço interpretativo, haverem sido por ele contemplados
58
Julgamento da ADIN 112-1 SC Relator Ministro Paulo Brossard 59
Julgamento da ADIN 112-1 SC Relator Ministro Paulo Brossard
67
somente os integrantes do corpo docente da rede de ensino, os encarregados de
ministrar aula e de transmitir ensinamentos aos alunos, entre os quais não se
compreendem os servidores encarregados de planejamento, de assessoramento,
de controle e avaliação, ainda que, entre os requisitos a serem por eles atendidos,
se contém títulos alusivos à formação pedagógica...”60
60
ADIN 152 MG
68
Art. 8º A instituição do Fundo previsto nesta Lei e a aplicação de seus recursos não
isentam os Estados, o Distrito Federal e os Municípios da obrigatoriedade de
aplicar, na manutenção e desenvolvimento do ensino, na forma prevista no art. 212
da Constituição Federal:
I - pelo menos 10% (dez por cento) do montante de recursos originários do ICMS,
do FPE, do FPM, da parcela do IPI, devida nos termos da Lei Complementar nº 61,
de 26 de dezembro de 1989, e das transferências da União, em moeda, a título de
desoneração das exportações, nos termos da Lei Complementar nº 87, de 13 de
setembro de 1996, de modo que os recursos previstos no art. 1º, § 1º, somados aos
referidos neste inciso, garantam a aplicação do mínimo de 25% (vinte e cinco por
cento) destes impostos e transferências em favor da manutenção e desenvolvimento
do ensino;
II - pelo menos 25% (vinte e cinco por cento) dos demais impostos e transferências.
Parágrafo Único - Dos recursos a que se refere o inciso II, 60% (sessenta por cento)
serão aplicados na manutenção e desenvolvimento do ensino fundamental,
conforme disposto no art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
COMENTÁRIO
1.25% DA RECEITA DEVEM SER APLICADAS EM EDUCAÇÃO
A instituição do FUNDEF, reservando 15% (quinze por cento) dos recursos FPM,
FPE, ICMS, IPI e Lei Kandir, não desobrigam os Estados, Distrito Federal e os
Municípios de aplicar os percentuais mínimos exigidos pela Constituição Federal em
seus dispositivos. Assim, além do Fundef, devem ser aplicados em manutenção e
desenvolvimento do ensino percentuais obrigatórios constitucionais
69
“ A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante
de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e
desenvolvimento de ensino.”61
Assim, dos cerca de 52 (cinqüenta e dois) impostos, taxas , tributos cobrados dos
contribuintes, apenas cinco compõem o Fundef e, não no percentual mínimo determinado
pela Constituição Federal que devem ser aplicados em MDE – Manutenção e
Desenvolvimento de Ensino.
Os dez por cento restantes, dos impostos e recursos acima nominados, devem ser
aplicados, obrigatoriamente em MDE, porém sem as “amarras” determinadas na Lei
Fundef.
Dos demais impostos e transferências entre os entes federados, o percentual
mínimo deve atingir, no mínimo 25% (vinte e cinco por cento). Impostos como IPTU,
IPVA, ITBI e ITR, por exemplo, que não compõem o pacote de impostos e recursos que
formam o Fundef, devem ter 25% (vinte e cinco por cento) de seus montantes aplicados
em Manutenção e Desenvolvimento de Ensino.
60% (sessenta por cento) dos recursos explicitados no Inciso II devem ser
aplicados, exclusivamente, em MDE do Ensino Fundamental, de acordo com preceitos
emanados no art. 60 do ADTC.
61
Constituição Federal 1988, Art. 212.
70
Art. 9º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão, no prazo de seis
meses da vigência desta Lei, dispor de novo Plano de Carreira e Remuneração do
Magistério, de modo a assegurar:
I - a remuneração condigna dos professores do ensino fundamental público, em
efetivo exercício no magistério;
II - o estímulo ao trabalho em sala de aula;
III - a melhoria da qualidade do ensino.
§ 1º Os novos planos de carreira e remuneração do magistério deverão contemplar
investimentos na capacitação dos professores leigos, os quais passarão a integrar
quadro em extinção, de duração de cinco anos.
§ 2º Aos professores leigos é assegurado prazo de cinco anos para obtenção da
habilitação necessária ao exercício das atividades docentes.
§ 3º A habilitação a que se refere o parágrafo anterior é condição para ingresso no
quadro permanente da carreira, conforme os novos planos de carreira e
remuneração.
COMENTÁRIO
1.DA VIGÊNCIA DO FUNDEF
O caput do artigo limita o tempo de implantação dos novos planos de carreira a
partir de seis meses da vigência da Lei Fundef.
Segundo o artigo 1º da Lei 9424/96 o Fundef será implantado de forma automática
a partir de primeiro de janeiro de 1998.
71
Por este limite já, há muito, os municípios, estados e o distrito federal deveriam ter
implantado os novos Planos de Carreira. Porém, muitos estados, incluindo o do Paraná e,
inúmeros municípios, ainda, no inicio de 2003, não haviam instituído os novos Planos de
Carreira do Magistério. Tendo em vista que, pelo artigo primeiro da Lei Fundef, em
junho de 1998, já deveriam estar implantados os novos Planos de Carreira nos entes
federados.
2.RAZÕES QUE MOTIVARAM O ATRASO DA
IMPLANTAÇÃO DOS NOVOS PLANOS DE CARREIRA.
Por entender que a União não pode fixar prazos para os Estados, Municípios e o
Distrito Federal o Supremo Tribunal Federal, uma vez que, segundo liminar, feriria a
autonomia prevista na Constituição Federal, considerou inconstitucional o limite
estabelecido em Lei Federal, impondo prazo aos demais entes federados.
3.PRINCÍPIOS OBRIGATÓRIOS NOS NOVOS PLANOS
DE CARREIRA
O inciso I utiliza-se de o termo remuneração condigna para definir qual deve ser
o vencimento dos professores do Ensino Fundamental. Nos parece que o mais correto
seria implantar um piso salarial mínimo para a categoria, a ser obedecido nacionalmente,
assim como ocorre com varias categorias.
O termo remuneração condigna abre um amplo leque de possibilidades para os
administradores públicos. O mérito, o valor, não são expressões aritméticas. São juízos
de valores e, como tal, sujeitam-se ao arbítrio humano, nem sempre justo, nem sempre
meritório.
Segundo pesquisa MEC – FIPE/SP, realizada em 2001, em 250 redes de ensino
estaduais e municipais podemos verificar as seguintes remunerações condignas por
regiões:
A pesquisa levou em consideração o salário- base. Fazendo uma média dos
valores informados a título de remuneração para compor os valores por regiões. Trata-se,
72
portanto de salários médios e não números absolutos, sendo, portanto, é evidente, normal
encontrar valores menores dos que os apresentados.
Região Salário-base Remuneração
condigna/dia
NO 353,00 11,77
NE 307,00 10,23
SD 503,00 16,77
SU 650,00 21,67
CO 451,00 15,03
BRASIL 450,00 15,00
FONTE: MEC – PESQUISA FIPE – Adaptado pelo Autor
O salário-base médio dos Professores, no caso, refere-se ao corpo docente com
habilitação em nível médio, modalidade normal, para uma jornada de quarenta horas
semanais. Ou seja, com dedicação exclusiva.
A interpretação ampla do conceito permite, como demonstrado, inúmeras
distorções. Teoricamente, por ter maior parcela do PIB a região Sudeste, deveria ter um
salário-base médio maior que as demais regiões. Uma vez que, a maior parte, dos
recursos do Fundef são oriundos do IPI, do IR e do ICMs, recursos de natureza, por
assim dizer, industrial e comercial, sendo, indubitavelmente maior a concentração destas
atividades econômicas na região Sudeste. Mas tal fato não ocorre, uma vez que o salário-
base médio da região Sul, segundo a pesquisa FIPE/SP, é o maior do Brasil.
Quais as origens destas distorções?
Prefeituras com semelhantes perfis sócio-econômicos apresentam diferentes e
disparatados salários.
O custo médio aluno/ano nos municípios abaixo é praticamente idêntico. São
municípios com grande produção agrícola, com setor industrial direcionado, em sua
maioria para a agroindústria.
Até mesmo o comportamento da demografia dos municípios citados são
semelhantes. Sendo que o único município que apresenta, pequena, evolução da
73
população é o município de Campo Mourão. Os demais sofreram grande êxodo de sua
população.
Como se explica a variação enorme das remunerações iniciais?
Município Menor
salário
Remuneração
condigna/dia
Farol 265,00 8,83
Campina da
Lagoa
234,00 7,80
Campo
mourão
300,98 10,03
Moreira
Sales
265,00 8,83
Rancho
Alegre
447,46 14,91
Mamborê 283,60 9,45
FONTE: APP-SINDICATO – inicio de 2003
Saliente-se, que as jornadas de trabalho dos municípios acima, refere-se a
jornadas de 20 h/a(vinte horas aula).
Exige-se, também, “incentivo ao trabalho em sala de aula” e melhoria da
qualidade de ensino.
Além dos três princípios citados que, obrigatoriamente devem compor o texto dos
novos Planos de Carreira é necessário, também, obedecer outros princípios contidos na
LDB e na resolução nº 03/97, do CEB/CNE.
3.1. LDB – Lei Nº 9394/96
A LDB elenca alguns princípios básicos que devem constar nos Planos de
Carreira.
74
“Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais da educação,
assegurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do
magistério público”.62
Esses princípios visam um objetivo mais amplo a propalada “valorização da
educação”, portanto são pilares deste conceito.
Alguns são reflexos da Constituição Federal como, por exemplo, assegurar que a
forma de ingresso na carreira do magistério público seja o concurso público de provas e
títulos.63
E licenças remuneradas para aperfeiçoamento.64
Além disso, deve estabelecer um piso salarial profissional, o que, em nossa
opinião, gera inúmeras incongruências e disparidades, já que não existe um piso nacional
definido. Ou seja, cada ente federado deve instituir seu próprio piso salarial.
Continuam os populares “avanços“, verticais e horizontais embasados na
titulação e na avaliação de desempenho...
Institui a hora-atividade, permitindo ao professor tempo, remunerado, para
planejar suas aulas, correções de avaliações e atividades correlatas.
Garante, também “condições adequadas de trabalho”.
Encerra com a exigência de experiência docente para exercer as funções de
magistério.
3.2. Resolução nº 03, de 08 de outubro de 1997. CEB/CNE
Esta resolução fixou diretrizes que devem ser seguidas pelos Municípios, Estados
e Distrito Federal no processo de implantação dos novos planos de carreira.
Esquematicamente resumimos os principais itens desta resolução.
Art. Comentário
1º É obrigatória a aplicação dos princípios desta
resolução nos Novos Planos de Carreira.
62
Lei 9394/96, Art. 67. 63
Lei 9394/96, Inciso I do art. 67. 64
Lei 9394/96, Inciso II do art. 67.
75
2º A carreira do magistério é composta por docentes e
pessoal de suporte pedagógico (funções de
magistério): direção, planejamento, inspeção,
supervisão e orientação educacional.
3º Ingresso na carreira apenas por concurso de provas e
títulos.
§ 1º - Para ingressar na carreira, no suporte
pedagógico, é necessário ter dois anos de experiência
docente.
§ 2º - Concursos periódicos, em caso de existência de
vagas. Pelo menos de quatro em quatro anos.
§ 3º - Estágio probatório de três anos, definido como
o período entre a posse e a investidura permanente do
cargo.
4º Habilitação para docência:
a) Normal (ensino médio): Para Educação
Infantil e os quatro primeiros anos do Ensino
Fundamental.
b) Licenciatura Plena: Quinta a Oitava séries do
Ensino Fundamental e Ensino Médio.
c) Licenciatura Plena e complementação: Para
Ensino Fundamental e Ensino Médio.
d) Suporte pedagógico: Pedagogia ou pós-
graduação.
e) Os entes federados deverão colaborar para dar
formação mínima exigida aos professores
leigos no prazo de cinco anos.
5º Incentivo aos profissionais para que façam cursos de
76
graduação, programas de desenvolvimento
profissional e aperfeiçoamento, inclusive com uso da
“educação a distância”.
6º Serão vetados benefícios que não são constitucionais,
incidentes sobre faltas, justificativas e licenças.
Professores cedidos para outras funções fora do
sistema de ensino, ocorrerão sem custos para o
sistema educacional.
Férias: 45 (quarenta e cinco) dias para os docentes;
30 (trinta) dias para o suporte pedagógico.
A jornada de trabalho poderá ser de 40 (quarenta)
horas semanais, com percentual reservado para hora-
atividade entre 20% (vinte por cento) e 25% (vinte e
cinco por cento).
A remuneração dos docentes com Licenciatura Plena,
não poderá ultrapassar, em mais de 50% (cinqüenta
por cento), a remuneração dos docentes com
habilitação em Ensino Médio, modalidade Normal.
São incentivos de progressão na carreira:
a) dedicação exclusiva;
b) avaliação de desempenho;
c) qualificação em instituições;
d) tempo de serviço docente;
e) avaliações periódicas.
É vedada incorporação de gratificações por função
77
aos vencimentos e proventos.
Somente com concurso poderá ocorrer transposição
de cargo.
7º O custo médio aluno-ano será parâmetro para definir
a remuneração dos docentes, seguindo os seguintes
preceitos:
a) O custo médio aluno-ano será obtido
dividindo os recursos anuais do fundef
somados aos 15% (quinze por cento) dos
demais impostos não incluídos no Fundef,
pelo número de alunos matriculados no
sistema.
b) Ponto médio é a média aritmética entre a
maior e a menor remuneração possíveis.
c) Remuneração média será igual ao custo
médio aluno-ano, na situação modelo de uma
função de 20 h/a (vinte horas-aula) e 5 h/a
(cinco horas-aula) destinadas a atividades
fora da sala de aula e, uma relação de 25
alunos por professor.
d) O custo médio aluno-ano e o ponto médio de
remuneração sofrerá alterações de acordo
com as variações da jornada de trabalho e da
relação aluno-professor do sistema.
A remuneração dos docentes do Ensino Fundamental
será referência para a remuneração dos docentes do
Ensino Infantil e Ensino Médio.
8º Serão incluídas regras de transição na passagem do
Plano de Carreira atual para o novo Plano de
Carreira.
78
FONTE:ELABORADO PELO AUTOR
4.DOS PROFESSORES LEIGOS.
Os professores leigos (sem habilitação mínima exigida para compor o sistema)
serão enquadrados em “cargo em extinção” que perdurará por cinco anos após a
promulgação do novo Plano de Carreira.
Será garantido, aos professores leigos, prazo de cinco anos para que obtenham a
habilitação necessária para o exercício do magistério.
A habilitação mínima exigida – magistério em nível de ensino médio, modalidade
normal – será considerada condição sine qua non para o ingresso na carreira.
79
Art. 10 Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão comprovar:
I - efetivo cumprimento do disposto no art. 212 da Constituição Federal;
II - apresentação de Plano de Carreira e Remuneração do Magistério, de acordo
com diretrizes do Conselho Nacional de Educação, no prazo referido no artigo
anterior;
III - fornecimento das informações solicitadas por ocasião do censo escolar, ou para
fins de elaboração de indicadores educacionais.
Parágrafo Único - O não cumprimento das condições estabelecidas neste artigo, ou
o fornecimento de informações falsas acarretará sanções administrativas sem
prejuízo das civis ou penais ao agente executivo que lhe der causa.
COMENTÁRIO
1.DA APLICAÇÃO MÍNIMA OBRIGATÓRIA EM EDUCAÇÃO
A Constituição Federal obriga os entes federados a aplicar no mínimo um
percentual das receitas em educação, a saber: A União 18% (dezoito por cento); os
Estados , o Distrito Federal e os Municípios 25% (vinte e cinco por cento).
“A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os, o Distrito Federal
e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de
impostos, compreendida a proveniente de transferências, na Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino.”65
Das receitas anuais, portanto, nunca menos de 25% (vinte e cinco por cento)
devem, por determinação constitucional ser aplicados em manutenção e desenvolvimento
do ensino, por Estados, Distrito Federal e Municípios.
65
Constituição Federal – 1988, Art. 212.
80
Ressalvam-se os casos em que as Constituições Estaduais, ou as Leis Orgânicas
ampliaram os percentuais mínimos. Caso especifico, por exemplo, do município de São
Paulo, em que a Lei Orgânica determina a aplicação mínima anual de 30% (trinta por
cento) das receitas em educação.
A Lei Fundef obriga os entes federados a comprovar esta aplicação mínima.
Como é do conhecimento geral, as administrações municipais são obrigadas a
prestar contas anualmente aos Tribunais de Contas, para fiscalização da correta aplicação
dos recursos públicos.
Entendemos, portanto, que não é esta comprovação a que se refere o legislador,
quando se reporta sobre a necessidade de comprovação da aplicação destes recursos.
Transcende o já determinado constitucionalmente.66
Concluímos que esta comprovação deve ser feita a comunidade.
Devem ser criados mecanismos, outros, que não os enviados aos Tribunais de
Contas, para ciência da comunidade.
2.DO PCCS E DO CENSO.
O inciso II reforça a necessidade da promulgação dos novos Planos de Carreira
do Magistério no prazo de seis meses após a vigência da Lei Fundef.
Como a Lei passou a vigorar em janeiro de 1998, o prazo extinguiu-se em junho
do mesmo ano.
Acrescenta, entretanto, a obrigatoriedade de se seguir às diretrizes do parecer da
CEB/CNE, na elaboração dos novos planos de carreira. Diretrizes estas explanadas no
capítulo anterior.
Exige-se, ainda, a colaboração dos sistemas de ensino para executar o censo
escolar e fornecimento de dados para embasar pesquisas na área educacional.
O parágrafo único chama a atenção para as sanções administrativas, civis e penais
a que se submeterão os membros do poder executivo que não cumprirem fielmente o
disposto no artigo.
66
Constituição Federal – 1988, Artigos 70, 71, 72, 73, 74 e 75.
81
Art. 11 - Os órgãos responsáveis pelos sistemas de ensino, assim como os Tribunais
de Contas da União dos estados e Municípios, criarão mecanismos adequados à
fiscalização do cumprimento pleno do disposto no art. 212 da Constituição Federal
e desta Lei, sujeitando-se os Estados e o Distrito Federal à intervenção da União e
os Municípios à intervenção dos respectivos estados, nos termos do art. 34, inciso
VII, alínea e, e do art. 35, inciso II, da Constituição Federal.
COMENTÁRIO
O artigo cita, como um dos órgãos fiscalizadores, da correta aplicação dos
recursos públicos, os tribunais de Contas da União, dos Estados e Municípios.
Exige, ainda, a criação de mecanismos para a fiscalização desta aplicação.
De novidade a exigência de que os órgãos municipais e estaduais que gerenciam a
educação – Departamentos de Educação, Secretárias de Educação e correlatas – também
devem criar mecanismos para fiscalizar a correta aplicação do percentual mínimo
exigido pela Constituição Federal.
Os Tribunais de Contas, juntamente com técnicos do MEC lançaram um
documento, no dia 04 de julho de 1999, denominado de “Carta dos técnicos do
Ministério da Educação e dos Tribunais de Contas sobre o Fundef” onde uniformizam as
interpretações dispares sobre pontos polêmicos da Legislação relativa ao financiamento
da educação – Fundef. Além de estabelecer mecanismos comuns de análise e fiscalização
da aplicação destes recursos.
Esta “Carta” embasou pareceres dos Tribunais de Constas que criaram normas e
mecanismos para aplicação e fiscalização dos recursos destinados à educação.
Na eventualidade, de não ocorrer aplicação mínima constitucional obrigatória em
educação, os Estados sujeitar-se à intervenção nos termos constitucionais.
“A união não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:
(...)
82
VII – Assegurar a observância do seguintes princípios constitucionais.
(...)
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais,
compreendida a proveniente de transferência, na Manutenção e Desenvolvimento
do Ensino.”
Os municípios, que por sua vez, eventualmente não aplicarem o mínimo de 25% (
vinte e cinco por cento) das receitas em educação, sujeitar-se-ão, também, à intervenção
“O Estado não interferirá em seus municípios, nem a União nos municípios
localizados em território federal exceto quando:
(...)
III – Não tiver aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e
desenvolvimento do ensino.”
83
Art. 12 - O Ministério da Educação e do Desporto realizará avaliações periódicas
dos resultados da aplicação desta Lei, com vistas à adoção de medidas operacionais
e de natureza político-educacional corretivas, devendo a primeira realizar-se dois
anos após sua publicação.
COMENTÁRIO
O artigo cria mecanismos de avaliação dos efeitos da aplicação da Lei para
realizar uma realimentação, caso seja necessário, inclusive determina que a primeira
avaliação ocorra dois anos após a implantação da Lei.
Estabelece, também, que estas avaliações sejam periódicas. Até o momento foram
divulgadas três avaliações da aplicação da Lei, onde, os relatórios ufanos apontam
avanços na “democratização do ensino”.
As avaliações realizadas até o momento são as seguintes:
1. “Balanço do primeiro ano do FUNDEF” com dados relativos ao período de dezembro
de 1997 a agosto de 1998;
2. “FUNDEF – balanço 1998-2000” e;
3. “FUNDEF – Relatório sintético 1998-2002”.
Todas pesquisas contratadas pelo MEC junto a FIPE-SP. A pesquisa ocorreu em
250 (duzentos e cinqüenta) Redes de Ensino Fundamental (Secretarias Estaduais e
Municipais de Educação).
Um dos aspectos que chamam a atenção é a diferença percentual de aplicação de
recursos entre Estados/Distrito Federal/Municípios e a União.
Desde sua implantação a participação da União na composição do Fundo
diminuiu de 3,7% (três virgula sete por cento), em 1998, para 2% (dois por cento) em
2001.
84
Isto ocorre, em primeira instância, graças ao irrisório valor definido como
mínimo nacional por aluno, o que, como analisado anteriormente, tem como claro
objetivo evitar contrapartida/complementação da União.
O quadro abaixo demonstra a aplicação de recursos, por parte da União e dos
demais Entes Federados:
R$ milhões
Recursos Entes
Federados
União Total
Ano
1998 12.787,3 486,7 13.274,0
% 96,3 3,7 100
1999 14.569,6 580,0 15.149,6
% 96,2 3,8 100
2000 17.119,9 485,4 17.605,3
% 97,2 2,8 100
2001 19.468,9 391,6 19.860,5
% 98,0 2,0 100
FONTE:Pesquisa MEC-FIPE-SP 2001(adaptado pelo autor)
Existe uma clara dicotomia, apesar de ser uma Lei Federal os recursos são
majoritariamente de Estados e Municípios. E, o próprio comportamento da receita,
apesar da constante evolução, gera uma paradoxal aplicação. Aplicação esta que se dá
em razão inversa: enquanto ampliam-se as receitas dos Estados e Municípios, ampliam-
se, também, os recursos do Fundef; já, a União - em que pese, a injusta distribuição de
recursos entre a União e os demais Entes Federados e, concomitantemente, à ampliação
constante da arrecadação operada pela Receita Federal - enquanto amplia sua
arrecadação diminui sua participação no “bolo” que compõem o Fundef.
O número de Estados que recebem complementação da União também
acompanha a queda da contrapartida/complementação da União. Os Estados que
recebem complementação da União são, obviamente – em razão do pacote de impostos
que compõe o Fundo -, em sua maioria, do Nordeste:
UF Ano
85
1998 1999 2000 2001
Alagoas - 3,2 - -
Bahia 143,9 215,2 191,2 163,5
Ceará 46,4 33,5 2,9 -
Maranhão 153,5 174,5 168,8 146,8
Pará 112,6 116,5 94,2 61,6
Paraíba - 4,7 - -
Pernambuco 6,3 8,1 - -
Piauí 24,0 24,3 28,3 19,7
Brasil 486,7 580,0 485,4 391,6
FONTE:Pesquisa MEC-FIPE-SP 2001(adaptado pelo autor)
Na selva de relatórios publicados destacamos e relacionamos duas em especial:
As estatísticas relativas ao valor aluno/ano por Municípios/Regiões de
1ª(primeira) a 4ª(quarta) séries e, a que explicita o salário base médio em junho de 2001.
Dados relativos ao ano de 2001 em R$
Regiões Valor
aluno/ano
Salário base
20H/A
Salário base
40H/A
NO 436,0 236,0 353,0
NE 378,0 219,0 307,0
CO 521,0 312,0 451,0
SD 732,0 403,0 503,0
SU 683,0 341,0 650,0
BRASIL 526,0 297,0 450,0
FONTE:Pesquisa MEC-FIPE-SP 2001(adaptado pelo autor)
O valor aluno/ano é para toda a região. O custo aluno/ano é realizado por Rede de
Ensino (municipais e Estaduais). Assim, cada rede de ensino tem seu custo aluno/ano.
Neste cômputo inserem-se, também, 15% (quinze por cento) dos demais impostos, taxas,
etc, que não compõem o Fundef. Incluem-se, portanto, valores percentuais do IPTU,
IPVA, ITBI, etc, neste cálculo. Assim, obviamente o valor aluno/ano é superior ao
apresentado.
86
Esta ressalva faz-se necessário, pois, como visto anteriormente, este valor é um
dos componentes para se calcular o salário base de cada rede de ensino para uma jornada
de 20(vinte) horas.
Em uma situação ideal, o valor aluno/ano seria próximo ao salário médio, com a
propalada amplitude de 50% (cinqüenta por cento) do inicio da carreira.
Os dados revelam, entre outras, duas injustiças:
Primeiro, como demonstram os números os valores do custo aluno/ano –
irrisórios – não estão sequer próximos do salário preconizado e estabelecido na fórmula
do salário médio do magistério, sendo os salários mais irrisórios que o custo aluno/ano;
Em segundo, revela-se que os salários base, das redes de ensino para quarenta
horas aula não são o dobro dos salários base para vinte horas aula.
Apesar de ser uma média, calcula-se, que deveriam ficar próximas ao dobro ou
acima.
Imaginamos como devem se sentir “valorizados” os professores com jornadas de
40 (quarenta) hora-aula, nas redes do Sudeste que percebem, em média, R$ 100,00 (cem
reais) a mais do que um professor com vinte horas aula.
No item 14 do “FUNDEF – Relatório sintético 1998-2002” encontramos a
seguinte análise sobre as condições gerais da educação:
“As mudanças decorrentes da implantação do fundo em janeiro de 1998 fizeram
com que o ensino fundamental público brasileiro passasse por um significativo
processo de mudança e melhorias, com expressivos e importantes avanços...”67
Relatório, este, que destoa da realidade. Uma vez que, os últimos dados do
sistema nacional de avaliação apontam uma diminuição dos resultados de aprendizagem
dos alunos do ensino fundamental.
O próprio Ministério da Educação considera a situação calamitosa
“Classificando de “tragédia brasileira”, o Ministro da Educação divulgou ontem
um estudo mostrando o que entidades e professores vem dizendo há algum
tempo: o nível de leitura e o aprendizado de matemática de matemática estão
entre intermediário e muito crítico.”68
67
Fundef – Relatório sintético 1998-2002 – item 14. 68
Gazeta do Paraná – Pg 07 – edição de 23/04/2003.
87
Como podemos considerar em “desenvolvimento”, o ensino fundamental, com tal
avaliação para os efeitos do ensino-aprendizagem?
Lembramos que os dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica,
referem-se, neste caso, a alunos que são objeto da Lei Fundef: alunos de Ensino
Fundamental e, alunos do Ensino Médio.
As razões apontadas pelo presidente do Instituto Nacional de Pesquisas
Educacionais, para tal situação referem-se, justamente, aos princípios preconizados e
buscados na Lei Fundef:
“...devem ser levados em consideração fatores como preparação do professor,
qualidade de ensino (para incentivar o aluno)...” 69
Diz, a reportagem, que nos embasa, que os dados relativos ao Nordeste causou
surpresa nos técnicos do MEC por revelar o óbvio:
“O Nordeste tem os piores índices entre os estudantes das três séries.”70
Não por acaso esta região é a que menos aplica em educação, segundo os dados
acima citados. E que recebe pequeno auxilio da União:
Os dados relativos ao Nordeste são assustadores e excludentes:
“No caso da prova de língua portuguesa para estudantes da 4º série, por exemplo,
o Nordeste tem 33,42% no estágio muito crítico e outros 41,75% em crítico.
Traduzindo: não foram alfabetizados adequadamente e quando lêem é de forma
truncada ou apenas frases simples,”71
Mais de setenta e cinco por cento dos estudantes de quarta série não sabem ler
adequadamente!!!
Talvez, sejam estes os “avanços e melhorias”, ocorridos no Ensino Fundamental,
segundo “FUNDEF – Relatório sintético 1998-2002”.
A proposta do governo, via MEC, é, de forma hedionda e obvia, o mesmo
discurso atroz: “valorização do professor para reverter este quadro.”72
A ridícula proposta prevê a aplicação de míseros cento e vinte e dois milhões de
reais para atender, pasmem, cinco mil cidades.
69
Gazeta do Paraná – Cit., p.7 70
Gazeta do Paraná. Cit. , p.7 71
Gazeta do Paraná. Cit. , p.7 72
Gazeta do Paraná. Cit. , p.7
88
Como não há notícia de que ocorreram algumas mudanças, além dos “enormes”
recursos acima citados, para corrigir os rumos do Fundef, base do caput, para a execução
das pesquisas propomos não divulgar os resultados. Ambos não! É claro, apenas um,
para não se contradizerem: Ou os dados do Sistema de Avaliação, nu e cru ou os do
MEC, sofismando.
Talvez fosse menos contraproducente tomar essa medida drástica: evitaria, pelo
menos, que os professores se sentissem menos valorizados do que já são.
E seria mais produtivo do que aplicar tão parcos recursos!
Isto sim seria valorizar o professor!
Ou, quem sabe, combinar os diferentes dados, forjando-os, para apresentar
melhores resultados.
Um questionamento nos assalta! E caso isto tenha ocorrido?
89
Art. 13 Para os ajustes progressivos de contribuições a valor que corresponda a
um padrão de qualidade de ensino definido nacionalmente e previsto no art. 60,
§ 4°, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, serão considerados
observado o disposto no art. 2°, § 2°, os seguintes critérios:
I - estabelecimento do número mínimo e máximo de alunos em sala de aula:
II - capacitação permanente dos profissionais de educação;
III - jornada de trabalho que incorpore os momentos diferenciados das
atividades docentes;
IV - complexidade de funcionamento;
V - localização e atendimento da cidade;
VI - busca do aumento do padrão de qualidade do ensino.
COMENTÁRIO
A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios ajustarão
progressivamente, em um prazo de cinco anos, suas contribuições ao fundo, De forma a
garantir um valor por aluno correspondente a um padrão mínimo de qualidade de ensino,
definido nacionalmente de acordo com o artigo 60, em seu parágrafo 4º do ADCT.
Estes valores aluno/ano , serão definidos, observando-se o disposto no artigos 2º,
em seu parágrafo 2º da lei 9424/96. Neste parágrafo determina-se a diferenciação de
valores segundo dois critérios: nível de ensino e tipo de estabelecimento.
Assim, através de decretos, o Poder Executivo definirá, nacionalmente, o custo
mínimo aluno/ano.
90
Dever-se-á, na determinação destes valores aluno/ano, definir, em cada nível de
ensino – no ensino fundamental dois valores: um para 1º a 4º e outro para 5º a 8º.
Número mínimo e máximo de alunos por sala de aula.
Os sistemas de ensino implementarão programas de capacitação contínua para os
profissionais de magistério, com definição de horas-aula e horas atividade na jornada de
trabalho.
91
Art. 14 A União desenvolverá política de estímulo às iniciativas de melhoria de
qualidade do ensino, acesso e permanência na escola promovidos pelas
unidades federadas, em especial aquelas voltadas as crianças e adolescentes em
situação de risco social.
COMENTÁRIO
As unidades federadas terão auxilio federal, nas iniciativas que procurem manter
os alunos nas escolas, e as tentativas de estabelecimento de programas que objetivem a
melhoria da qualidade de ensino.
As prioridades, das subvenções federais, serão as atividades destinadas a atender
as crianças e adolescentes, consideradas em situação de “risco social”.
92
Art. 15 O Salário-Educação, previsto no art. 212, § 5°, da Constituição Federal
e devido pelas empresas, na forma em que vier a ser disposto em regulamento, é
calculado com base na alíquota de 2,5% (dois e meio por cento) sobre o total de
remunerações pagas ou creditadas, a qualquer título, aos segurados
empregados, assim definidos no art. 12, inciso I, da Lei nº 8.212, de 24 de julho
de 1991.
§ 1° A partir de 1° de janeiro de 1997, o montante da arrecadação do Salário-
Educação, após a dedução de 1% (um por cento) em favor do Instituto
Nacional do Seguro Social - INSS, calculado sobre o valor por ele arrecadado,
será distribuído pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação -
FNDE, observada a arrecadação realizada em cada Estado e no Distrito
Federal, em quotas, da seguinte forma.
I - Quota Federal, correspondente a um terço do montante de recursos, que
será destinada ao FNDE e aplicada no financiamento de programas e projetos
voltados para a universalização do ensino fundamental, de forma a propiciar a
redução dos desníveis sócio-educacionais existentes entre Municípios, Estados,
Distrito Federal e regiões brasileiras;
II - Quota Estadual, correspondente a dois terços do montante de recursos, que
será creditada mensal e automaticamente em favor das Secretarias de
Educação dos Estados e do Distrito Federal para financiamento de programas
projetos e ações do ensino fundamental.
§ 2° (VETADO)
§ 3° Os alunos regularmente atendidos, na data da edição desta Lei como
beneficiários da aplicação realizada pelas empresas contribuintes, no ensino
fundamental dos seus empregados e dependentes a conta de deduções da
contribuição social do Salário-Educação, na forma da legislação em vigor terão
a partir de 1° de janeiro de 1997, o benefício assegurado, respeitadas as
93
condições em que foi concedido, e vedados novos ingressos nos termos do art.
212, § 5°, da Constituição Federal.
COMENTÁRIO
Os recursos destinados ao financiamento da educação terão o acréscimo dos
valores recolhidos a título de salário-educação.
Estes recursos, após a dedução devida ao INSS, serão incluídos no FNDE.
Respeitando-se os valores arrecadados em cada Estado e no Distrito Federal, será
distribuído, respeitando-se a seguinte partilha:
I - 1/3 (um terço) quota federal, será destinado ao FNDE e financiará programas como o
PNLD – Programa Nacional do Livro Didático, Programa Nacional Biblioteca da Escola,
Programa Nacional de Alimentação Escolar, Programa Dinheiro Direto na Escola, etc.
II – 2/3 (dois terços) quota estadual, depositada mensalmente para as secretarias
estaduais e distrital de educação e será revertido para financiar o ensino fundamental.
94
Art. 16 Esta Lei entra em vigor em 1° de janeiro de 1997.
COMENTÁRIO
Publicada em 24 de dezembro de 1996 está Lei entra em vigor em primeiro de
janeiro de 1997. Mas sua efetiva aplicação ocorre apenas em janeiro de 1998.
Art. 17 Revogam-se as disposições em contrário.
95
TEXTOS LEGAIS
1. LEI nº 9.424, DE 24 DE DEZEMBRO DE 1996
Dispõe sobre o Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de
Valorização do Magistério, na forma prevista no
art. 60, § 7º, do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º É instituído, no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, o Fundo
de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério, o qual terá natureza contábil e será implantado, automaticamente, a
partir de 1º de janeiro de 1998.
§ 1º O Fundo referido neste artigo será composto por 15% (quinze por cento)
dos recursos:
I - da parcela do imposto sobre operações relativas à circulação de
mercadorias e sobre prestação de serviços de transporte interestadual e
intermunicipal e de comunicação - ICMS, devida ao Distrito Federal, aos Estados
e aos Municípios, conforme dispõe o art. 155, inciso II, combinado com o art. 158,
inciso IV, da Constituição Federal:
II - do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal - FPE e dos
Municípios - FPM, previstos no art.159, inciso I, alíneas a e b, da Constituição
Federal, e no Sistema Tributário Nacional, de que trata a Lei nº 5.172, de 25 de
outubro de 1966, e
III - da parcela do Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI devida aos
Estados e ao Distrito Federal, na forma do art. 159, inciso II, da Constituição Federal
e da Lei Complementar nº 61, de 26 de dezembro de 1989.
96
§ 2º Inclui-se na base de cálculo do valor a que se refere o inciso I do
parágrafo anterior o montante de recursos financeiros transferidos, em moeda, pela
União aos Estados, Distrito Federal e municípios a título de compensação financeira
pela perda de receitas decorrentes da desoneração das exportações, nos termos da
Lei Complementar nº 87, de 13 de setembro de 1996, bem como de outras
compensações da mesma natureza que vierem a ser instituídas.
§ 3º Integra os recursos do Fundo a que se refere este artigo a
complementação da União, quando for o caso, na forma prevista no art. 6º.
§ 4º A implantação do Fundo poderá ser antecipada em relação à data
prevista neste artigo, mediante lei no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal.
§ 5º No exercício de 1997, a União dará prioridade, para concessão de
assistência financeira, na forma prevista no art. 211, § 1º, da Constituição Federal,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios nos quais a implantação do Fundo
for antecipada na forma prevista no parágrafo anterior.
Art. 2º Os recursos do Fundo serão aplicados na manutenção e
desenvolvimento do ensino fundamental público, e na valorização de seu Magistério.
§ 1º A distribuição dos recursos, no âmbito de cada Estado e do Distrito
Federal dar-se-á, entre o Governo Estadual e os Governos Municipais, na proporção
do número de alunos matriculados anualmente nas escolas cadastradas das
respectivas redes de ensino, considerando-se para esse fim:
I - as matrículas da 1ª a 8ª séries do ensino fundamental;
II - (VETADO)
§ 2º A distribuição a que se refere o parágrafo anterior, a partir de 1998,
deverá considerar, ainda, a diferenciação de custo por aluno, segundo os níveis de
ensino e tipos de estabelecimento, adotando-se a metodologia de cálculo e as
correspondentes ponderações, de acordo com os seguintes componentes:
I - 1ª a 4ª séries;
97
II - 5ª a 8ª séries;
III - estabelecimentos de ensino especial;
IV - escolas rurais.
§ 3º Para efeito dos cálculos mencionados no § 1º, serão computadas
exclusivamente as matrículas do ensino presencial.
§ 4º O Ministério da Educação e do Desporto - MEC realizará, anualmente,
censo educacional, cujos dados serão publicados no Diário Oficial da união e
constituirão a base para fixar a proporção prevista no § 1º.
§ 5º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão, no prazo de
trinta dias da publicação referida no parágrafo anterior, apresentar recurso para
retificação dos dados publicados.
§ 6º É vedada a utilização dos recursos do Fundo como garantia de operações
de crédito internas e externas, contraídas pelos Governos da união, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, admitida somente sua utilização como
contrapartida em operações que se destinem, exclusivamente, ao financiamento de
projetos e programas do ensino fundamental.
Art. 3º Os recursos do Fundo previstos no art. 1º serão repassados,
automaticamente, para contas únicas e específicas dos Governos Estaduais, do
Distrito Federal e dos Municípios, vinculadas ao Fundo, instituídas para esse fim e
mantidas na instituição financeira de que trata o art. 93 da Lei nº 5.172, de 25 de
outubro de 1996.
§ 1º Os recursos do Fundo, provenientes das participações a que se refere o
art. 159, inciso I, alíneas a e b, e inciso II, da Constituição Federal, constarão dos
orçamentos da união, dos Estados e do Distrito Federal, e serão creditados pela
união em favor dos Governos Estaduais, do Distrito Federal e dos Municípios, nas
contas específicas a que se refere este artigo, respeitados os critérios e as finalidades
estabelecidas no art. 2º, observados os mesmos prazos, procedimentos e forma de
98
divulgação adotados para o repasse do restante destas transferências constitucionais
em favor desses governos.
§ 2º Os repasse do Fundo provenientes do imposto previsto no art. 155,
inciso II, combinado com o art. 158, inciso IV, da Constituição Federal, constarão
dos orçamentos dos Governos estaduais e do Distrito Federal e serão depositados
pelo estabelecimento oficial de crédito, previsto no art. 4º da Lei Complementar nº
63, de 11 de janeiro de 1990, no momento em que a arrecadação estiver sendo
realizada nas contas do Fundo abertas na instituição financeira de que trata este
artigo.
§ 3º A instituição financeira, no que se refere aos recursos do imposto mencionado
no § 2º, creditará imediatamente as parcelas devidas ao Governo Estadual ao distrito
Federal e aos Municípios, nas contas específicas referidas neste artigo, observados
os critérios e as finalidades estabelecidas no art. 2º, procedendo à divulgação dos
valores creditados de forma similar e com a mesma periodicidade utilizada pelos
Estados em relação do restante da transferência do referido imposto.
§ 4º Os recursos do Fundo provenientes da parcela do Imposto sobre
Produtos Industrializados, de que trata o art. 1º, inciso II, serão creditados pela
União, em favor dos Governos Estaduais e do Distrito Federal, nas contas
específicas, segundo o critério e respeitadas as finalidades estabelecidas no art. 2º,
observados os mesmos prazos, procedimentos e forma de divulgação previstos na
Lei Complementar nº 61, de 26 de dezembro de 1989.
§ 5º Do montante dos recursos do IPI, de que trata o art. 1º, inciso III, a
parcela devida aos Municípios, na forma do disposto no art. 5º da Lei Complementar
nº 61, de 26 de dezembro de 1989, será repassada pelo respectivo Governo Estadual
ao Fundo e os recursos serão creditados na conta específica a que se refere este
artigo, observados os mesmos prazos, procedimentos e forma de divulgação do
restante desta transferência aos Municípios.
§ 6º As receitas financeiras provenientes das aplicações eventuais dos saldos
das contas a que se refere este artigo em operações financeiras de curto prazo ou de
mercado aberto, lastreadas em títulos da dívida pública, junto a instituição financeira
99
depositária dos recursos, deverão ser repassadas em favor dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios nas mesmas condições estabelecidas no art. 2º.
§ 7º Os recursos do Fundo, devidos aos Estados, ao Distrito Federal e aos
municípios, constarão de programação específica nos respectivos orçamentos.
§ 8º Os Estados e os Municípios recém-criados terão assegurados os recursos
do Fundo previstos no art. 1º, a partir das respectivas instalações, em conformidade
com os critérios estabelecidos no art. 2º.
§ 9º Os Estados e os respectivos Municípios poderão, nos termos do art. 211,
§ 4º, da Constituição Federal, celebrar convênios para transferência de alunos,
recursos humanos, materiais e encargos financeiros nos quais estará prevista a
transferência imediata de recursos do Fundo correspondentes ao número de
matrículas que o Estado ou o Município assumir.
Art. 4º O acompanhamento e o controle social sobre a repartição, a
transferência e a aplicação dos recursos do Fundo serão exercidos, junto aos
respectivos governos, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, por Conselhos a serem instituídos em cada esfera no prazo de cento e
oitenta dias a contar da vigência desta Lei.
§ 1º Os Conselhos serão constituídos, de acordo com norma de cada esfera
editada para esse fim:
I - em nível federal, por no mínimo seis membros, representando
respectivamente:
a) o Poder Executivo Federal;
b) o Conselho Nacional de Educação;
c) o Conselho Nacional de Secretários de Estado da Educação - CONSED;
d) a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação - CNTE;
e) a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação - UNDIME;
100
f) os pais de alunos e professores das escolas públicas do ensino
fundamental.
II - nos Estados, por no mínimo sete membros, representando
respectivamente:
a) o Poder Executivo Estadual;
b) os poderes Executivos Municipais;
c) o Conselho Estadual de Educação;
d) os pais de alunos e professores das escolas públicas do ensino
fundamental;
e) a seccional da união nacional dos Dirigentes municipais de Educação -
UNDIME;
f) a seccional da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação -
CNTE;
g) a Delegacia Regional do Ministério da Educação e do Desporto - DEMEC.
III - no Distrito Federal, por no mínimo cinco membros, sendo as
representações as previstas no inciso II, salvo as indicadas nas alíneas b, e e g.
IV - nos Municípios, por no mínimo quatro membros representando
respectivamente:
a) a Secretaria Municipal de Educação ou órgão equivalente;
b) os professores e os diretores das escolas públicas do ensino fundamental;
c) os pais de alunos;
d) os servidores das escolas públicas do ensino fundamental;
§ 2º Aos Conselhos incumbe ainda a supervisão do censo escolar anual.
§ 3º Integrarão ainda os conselhos municipais, onde houver, representantes
do respectivo Conselho Municipal de Educação.
101
§ 4º Os Conselhos instituídos, seja no âmbito federal, estadual, do Distrito
Federal ou municipal, não terão estrutura administrativa própria e seus membros não
perceberão qualquer espécie de remuneração pela participação no colegiado, seja em
reunião ordinária ou extraordinária.
Art. 5º Os registros contábeis e os demonstrativos gerenciais, mensais e
atualizados, relativos aos recursos repassados, ou recebidos, à conta do Fundo a que
se refere o art. 1º, ficarão permanentemente, à disposição dos conselhos responsáveis
pelo acompanhamento e fiscalização, no âmbito do Estado, do Distrito Federal ou do
Município, e dos órgãos federais, estaduais e municipais de controle interno e
externo.
Art. 6º A União complementará os recursos do Fundo a que se refere o art.
1º, sempre que, no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, seu valor por aluno
não alcançar o mínimo definido nacionalmente.
§ 1º O valor mínimo anual por aluno, ressalvado o disposto no § 4º, será
fixado por ato do Presidente da República e nunca será inferior à razão entre a
previsão da receita total para o Fundo e a matrícula total do ensino fundamental no
ano anterior, acrescida do total estimado de novas matrículas, observado o disposto
no art. 2º, § 1º, incisos I e II.
§ 2º As estatísticas necessárias ao cálculo do valor anual mínimo por aluno,
inclusive as estimativas de matrículas, terão como base o censo educacional
realizado pelo Ministério da Educação e do Desporto, anualmente, e publicado no
Diário Oficial da União.
§ 3º As transferências dos recursos complementares a que se refere este
artigo serão realizadas mensal e diretamente às contas específicas a que se refere o
art. 3º.
§ 4º No primeiro ano de vigência desta Lei, o valor mínimo anual por aluno,
a que se refere este artigo, será de R$ 300,00 (trezentos reais).
§ 5º (VETADO)
102
Art. 7º Os recursos do Fundo, incluída a complementação da União, quando
for o caso, serão utilizados pelos Estados, Distrito Federal e Municípios,
assegurados, pelo menos 60% (sessenta por cento) para a remuneração dos
profissionais do magistério, em efetivo exercício de suas atividades no ensino
fundamental público.
Parágrafo Único - Nos primeiros cinco anos, a contar da publicação desta
Lei, será permitida a aplicação de parte dos recursos do parcela de 60% (sessenta por
cento), prevista neste artigo, na capacitação de professores leigos, na forma prevista
no art. 9º, § 1º.
Art. 8º A instituição do Fundo previsto nesta Lei e a aplicação de seus
recursos não isentam os Estados, o Distrito Federal e os Municípios da
obrigatoriedade de aplicar, na manutenção e desenvolvimento do ensino, na forma
prevista no art. 212 da Constituição Federal:
I - pelo menos 10% (dez por cento) do montante de recursos originários do
ICMS, do FPE, do FPM, da parcela do IPI, devida nos termos da Lei Complementar
nº 61, de 26 de dezembro de 1989, e das transferências da União, em moeda, a título
de desoneração das exportações, nos termos da Lei Complementar nº 87, de 13 de
setembro de 1996, de modo que os recursos previstos no art. 1º, § 1º, somados aos
referidos neste inciso, garantam a aplicação do mínimo de 25% (vinte e cinco por
cento) destes impostos e transferências em favor da manutenção e desenvolvimento
do ensino;
II - pelo menos 25% (vinte e cinco por cento) dos demais impostos e
transferências.
Parágrafo Único - Dos recursos a que se refere o inciso II, 60% (sessenta
por cento) serão aplicados na manutenção e desenvolvimento do ensino
fundamental, conforme disposto no art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias.
103
Art. 9º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão, no prazo de
seis meses da vigência desta Lei, dispor de novo Plano de Carreira e Remuneração
do Magistério, de modo a assegurar:
I - a remuneração condigna dos professores do ensino fundamental
público, em efetivo exercício no magistério;
II - o estímulo ao trabalho em sala de aula;
III - a melhoria da qualidade do ensino.
§ 1º Os novos planos de carreira e remuneração do magistério deverão
contemplar investimentos na capacitação dos professores leigos, os quais passarão a
integrar quadro em extinção, de duração de cinco anos.
§ 2º Aos professores leigos é assegurado prazo de cinco anos para obtenção
da habilitação necessária ao exercício das atividades docentes.
§ 3º A habilitação a que se refere o parágrafo anterior é condição para
ingresso no quadro permanente da carreira, conforme os novos planos de carreira e
remuneração.
Art. 10 Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão comprovar:
I - efetivo cumprimento do disposto no art. 212 da Constituição Federal;
II - apresentação de Plano de Carreira e Remuneração do Magistério, de
acordo com diretrizes do Conselho Nacional de Educação, no prazo
referido no artigo anterior;
III - fornecimento das informações solicitadas por ocasião do censo escolar,
ou para fins de elaboração de indicadores educacionais.
Parágrafo Único - O não cumprimento das condições estabelecidas neste
artigo, ou o fornecimento de informações falsas acarretará sanções administrativas
sem prejuízo das civis ou penais ao agente executivo que lhe der causa.
104
Art. 11 Os órgãos responsáveis pelos sistemas de ensino, assim como os
Tribunais de Contas da União dos estados e Municípios, criarão mecanismos
adequados à fiscalização do cumprimento pleno do disposto no art. 212 da
Constituição Federal e desta Lei, sujeitando-se os Estados e o Distrito Federal à
intervenção da União e os Municípios à intervenção dos respectivos estados, nos
termos do art. 34, inciso VII, alínea e, e do art. 35, inciso II, da Constituição
Federal.
Art. 12 O Ministério da Educação e do Desporto realizará avaliações
periódicas dos resultados da aplicação desta Lei, com vistas à adoção de medidas
operacionais e de natureza político-educacional corretivas, devendo a primeira
realizar-se dois anos após sua publicação.
Art. 13 Para os ajustes progressivos de contribuições a valor que
corresponda a um padrão de qualidade de ensino definido nacionalmente e previsto
no art. 60, § 4°, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, serão
considerados observado o disposto no art. 2°, § 2°, os seguintes critérios:
I - estabelecimento do número mínimo e máximo de alunos em sala de
aula:
II - capacitação permanente dos profissionais de educação;
III - jornada de trabalho que incorpore os momentos diferenciados das
atividades docentes;
IV - complexidade de funcionamento;
V - localização e atendimento da cidade;
VI - busca do aumento do padrão de qualidade do ensino.
Art. 14 A União desenvolverá política de estímulo às iniciativas de melhoria
de qualidade do ensino, acesso e permanência na escola promovidos pelas unidades
federadas, em especial aquelas voltadas as crianças e adolescentes em situação de
risco social.
105
Art. 15 O Salário-Educação, previsto no art. 212, § 5°, da Constituição
Federal e devido pelas empresas, na forma em que vier a ser disposto em
regulamento, é calculado com base na alíquota de 2,5% (dois e meio por cento)
sobre o total de remunerações pagas ou creditadas, a qualquer título, aos segurados
empregados, assim definidos no art. 12, inciso I, da Lei nº 8.212, de 24 de julho de
1991.
§ 1° A partir de 1° de janeiro de 1997, o montante da arrecadação do Salário-
Educação, após a dedução de 1% (um por cento) em favor do Instituto Nacional do
Seguro Social - INSS, calculado sobre o valor por ele arrecadado, será distribuído
pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE, observada a
arrecadação realizada em cada Estado e no Distrito Federal, em quotas, da seguinte
forma.
I - Quota Federal, correspondente a um terço do montante de
recursos, que será destinada ao FNDE e aplicada no financiamento de programas e
projetos voltados para a universalização do ensino fundamental, de forma a propiciar
a redução dos desníveis sócio-educacionais existentes entre Municípios, Estados,
Distrito Federal e regiões brasileiras;
II - Quota Estadual, correspondente a dois terços do montante de recursos,
que será creditada mensal e automaticamente em favor das Secretarias de Educação
dos Estados e do Distrito Federal para financiamento de programas projetos e ações
do ensino fundamental.
§ 2° (VETADO)
§ 3° Os alunos regularmente atendidos, na data da edição desta Lei
como beneficiários da aplicação realizada pelas empresas contribuintes, no ensino
fundamental dos seus empregados e dependentes a conta de deduções da
contribuição social do Salário-Educação, na forma da legislação em vigor terão a
partir de 1° de janeiro de 1997, o benefício assegurado, respeitadas as condições em
que foi concedido, e vedados novos ingressos nos termos do art. 212, § 5°, da
Constituição Federal.
106
Art. 16 Esta Lei entra em vigor em 1° de janeiro de 1997.
Art. 17 Revogam-se as disposições em contrário.
Brasília, 24 de dezembro de 1996, 175º da Independência e 108º da
República.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
PAULO RENATO SOUZA
107
2. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 14, DE 1996
Modifica os Arts. 34, 208, 211 e 2 12 da Constituição Federal, e dá nova redação ao Art
60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do § 3o do
Art. 60 da Constituição Federal, promulgam a seguinte emenda ao texto constitucional:
Art. 1o E acrescentada no Inc. VII do Art. 34 da Constituição Federal, a alínea e,
com a seguinte redação:
"e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais,
compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do
ensino."
Art. 2o É dada nova redação aos Incs. 1 e II do Art. 208 da Constituição Federal,
nos seguintes termos:
"I. ensino fundamental obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta
gratuita para todos os que a ele não tiverem acesso na idade própria;
II. progressiva universalização do ensino médio gratuito;"
Art. 3o É dada nova redação aos § 1
o e 2
o do Art. 211 da Constituição Federal e
nele são inseridos mais dois parágrafos, passando a ter a seguinte redação:
"Art. 211 ..........................................
§ 1o A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios, financiará
as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função
redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades
educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino, mediante assistência técnica e
financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios.
§ 2o Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação
infantil.
§ 3o Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino
fundamental e médio.
108
§ 4o Na organização de seus sistemas de ensino, os Estados e os Municípios
definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino
obrigatório."
Art. 4o É dada nova redação ao § 5
o do Art. 212 da Constituição Federal nos
seguintes termos:
"§ 5o O ensino fundamental público tenha como fonte adicional de financiamento
a contribuição social do salário-educação, recolhida pelas empresas, na forma da lei."
Art. 5o É alterado o Art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e
nele são inseridos novos parágrafos, passando o artigo a ter a seguinte redação:
"Art. 60. Nos dez primeiros anos da promulgação desta emenda, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios destinarão não menos de sessenta por cento dos
recursos a que se refere o caput do Art. 212 da Constituição Federal, à manutenção e ao
desenvolvimento do ensino fundamental, com o objetivo de assegurar a universalização
de seu atendimento e a remuneração condigna do magistério.
§ 1o A distribuição de responsabilidades e recursos entre os Estados e seus
Municípios a ser concretizada com parte dos recursos definidos neste artigo, na forma
do disposto no Art. 211 da Constituição Federal, e assegurada mediante criação, no
âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, de um Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério, de natureza
contábil.
§ 2o O Fundo referido no parágrafo anterior será constituído por, pelo menos,
quinze por cento dQs recursos a que se referem os Arts. 155, Inc. II; 158, Inc. IV; e 159,
Inc. I, alíneas a e b; Inc. II, da Constituição Federal, e será distribuído entre cada Estado
e seus Municípios, proporcionalmente ao número de alunos nas respectivas redes de
ensino fundamental.
§ 3o A União complementará os recursos dos Fundos que se refere o § 1
o sempre
que, em cada Estado e no Distrito Federal, seu valor por aluno não alcançar o mínimo
definido nacionalmente.
§ 4o A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios ajustarão
progressivamente, em um prazo de cinco anos, suas contribuições ao Fundo, de forma a
garantir um valor por aluno correspondente a um padrão mínimo de qualidade de
109
ensino, definido nacionalmente.
§ 5o Uma proporção não inferior a sessenta por cento dos recursos de cada Fundo
referido no § 1 será destinada ao pagamento dos professores do ensino fundamental em
efetivo exercício no magistério.
§ 6o A União aplicará na erradicação do analfabetismo e na manutenção e no
desenvolvimento do ensino fundamental, inclusive na complementação a que se refere o
§ 3o, nunca menos que o equivalente a trinta por cento dos recursos a que se refere o
caput do Art. 212 da Constituição Federal.
§ 7o A lei disporá sobre a organização dos Fundos, a distribuição proporcional de
seus recursos, sua fiscalização e controle, bem como sobre a forma de cálculo do valor
mínimo nacional por aluno."
Art. 6o Esta emenda entra em vigor a primeiro de janeiro do ano subseqüente ao de
sua promulgação.
Brasília, 12 de setembro de 1996.
A MESA DA CÂMARA DOS DEPUTADOS: Luís Eduardo, Presidente -Ronaldo
Perim, 1o Vice-Presidente - Beto Mansur, 2
o Vice-Presidente - Wilson Campos, 1
o
Secretário - Leopoldo Bessone, 2o Secretário - Benedito Domingos, 3
o Secretário - João
Henrique, 4o Secretário.
A MESA DO SENADO FEDERAL: José Sarney, Presidente - Teotonio Vilela
Filho, 1o Vice-Presidente - Júlio Campos, 2
o Vice-Presidente - Odacir Soares, 1
o
Secretário - Renan Calheiros, 2o Secretário - Ernandes Amorim, 4
o Secretário - Eduardo
Suplicy, Suplente de Secretário.
DO 13-9-96
Relator da Proposta de Emenda Constitucional no Senado
Senador Lúcio Alcântara
110
3. RESOLUÇÃO N.º 3, DE 8 DE OUTUBRO DE 1997
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO
Câmara de Educação Básica
Resolução n.º 3, de 8 de outubro de 1997
Fixa Diretrizes para os Novos Planos de Carreira e de Remuneração para o
Magistério dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de
Educação, tendo em vista o disposto na Lei 9.131, de 25/11/95, nos artigos 9º e 10 da
Lei 9.424, de 24/12/96 e no Parecer 10/97, homologado pelo Ministro de estado da
Educação e do Desporto em 25 de setembro de 1997, resolve:
Art. 1º. Os novos Planos de Carreira e Remuneração para o Magistério
Público deverão observar às diretrizes fixadas por esta Resolução.
Art. 2º. Integram a carreira do Magistério dos Sistemas de Ensino Público os
profissionais que exercem atividades de docência e os que oferecem suporte
pedagógico direto a tais atividades, incluídas as de direção ou administração escolar,
planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional.
Art. 3º. O ingresso na carreira do magistério público se dará por concurso
público de provas e títulos.
§ 1º. A experiência docente mínima, pré requisito para o exercício profissional
de quaisquer funções do magistério, que não a de docência, será de 02 (dois) anos e
adquirida em qualquer nível ou sistema de ensino, público ou privado.
111
§ 2º. Comprovada a existência de vagas nas escolas e a indisponibilidade de
candidatos aprovados em concursos anteriores, cada sistema realizará concurso público
para preenchimento das mesmas, pelo menos de quatro em quatro anos.
§ 3º. O estágio probatório, tempo de exercício profissional a ser avaliado após
período determinado em lei, ocorrerá entre a posse e a investidura permanente na
função.
Art. 4º. O exercício da docência na carreira de magistério, exige, como
qualificação mínima:
I – ensino médio completo, na modalidade normal, para a docência na
educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental;
II – ensino superior em curso de licenciatura, de graduação plena, com
habilitações específicas em área própria, para a docência nas séries finais do ensino
fundamental e no ensino médio;
III – formação superior em área correspondente e complementação nos termos
da legislação vigente, para a docência em áreas específicas das séries finais do ensino
fundamental e do ensino médio.
§ 1º. O exercício das demais atividades de magistério de que trata o artigo 2º
desta Resolução exige como qualificação mínima a graduação em Pedagogia ou Pós-
graduação, nos termos do artigo 64 da Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
§ 2º. A União, os Estados e os Municípios colaborarão para que, no prazo de
cinco anos, seja universalizada a observância das exigências mínimas de formação para
os docentes já em exercício na carreira do magistério.
Art. 5º. Os sistemas de ensino, no cumprimento do disposto nos artigos 67 e
87 da Lei 9.394/96, envidarão esforços para implementar programas de
desenvolvimento profissional dos docentes em exercício, incluída a formação em nível
superior, em instituições credenciadas, bem como em programas de aperfeiçoamento
em serviço.
112
Parágrafo único – A implementação dos programas de que trata o caput tomará
em consideração:
I – a prioridade em áreas curriculares carentes de professores;
II – a situação funcional dos professores, de modo a priorizar os que terão
mais tempo de exercício a ser cumprido no sistema
III – a utilização de metodologias diversificadas, incluindo as que empregam
recursos da educação a distância.
Art. 6º. Além do que dispõe o artigo 67 da Lei 9.394/96, os novos planos de
carreira e remuneração do magistério deverão ser formulados com observância do
seguinte:
I – não serão incluídos benefícios que impliquem afastamento da escola, tais
como faltas abonadas, justificativas ou licenças, não previstas na Constituição Federal;
II – a cedência para outras funções fora do sistema de ensino só será admitida
sem ônus para o sistema de origem do integrante da carreira do magistério;
III – as docentes em exercício de regência de classe nas unidades escolares
deverão ser assegurados 45 (quarenta e cinco) dias de férias anuais, distribuídos nos
períodos de recesso, conforme o interesse da escola, fazendo jus os demais integrantes
do magistério a 30 (trinta) dias por ano;
IV – a jornada de trabalho dos docentes poderá ser de até 40 (quarenta) horas e
incluirá uma parte de horas de aula e outra de horas de atividades, estas últimas
correspondendo a um percentual entre 20% (vinte por cento) e 25% (vinte e cinco por
cento) do total da jornada, consideradas como horas de atividades aquelas destinadas à
preparação e avaliação do trabalho didático, à colaboração com a administração da
escola, às reuniões pedagógicas, à articulação com a comunidade e ao aperfeiçoamento
profissional, de acordo com a proposta pedagógica de cada escola;
V – a remuneração dos docentes contemplará níveis de titulação, sem que a
atribuída aos portadores de diploma de licenciatura plena ultrapasse em mais de 50%
(cinquenta por cento) a que couber aos formados em nível médio;
113
VI – constituirão incentivos de progressão por qualificação de trabalho
docente:
a) a dedicação exclusiva ao cargo no sistema de ensino;
b) o desempenho no trabalho, mediante avaliação segundo parâmetros de qualidade do
exercício profissional, a serem definidos em cada sistema;
c) a qualificação em instituições credenciadas;
d) o tempo de serviço na função docente;
e) avaliações periódicas de aferição de conhecimentos na área curricular em que o
professor exerça docência e de conhecimentos pedagógicos.
VII – não deverão ser permitidas incorporações de quaisquer gratificações por
funções dentro ou fora do sistema de ensino aos vencimentos e proventos de
aposentadoria;
VIII – a passagem do docente de um cargo de atuação para outro só deverá ser
permitida mediante concurso, admitido o exercício a título precário apenas quando
indispensável para o atendimento à necessidade do serviço.
Art. 7º. A remuneração dos docentes do ensino fundamental deverá ser
definida em uma escala cujo ponto médio terá como referência o custo médio aluno-ano
de cada sistema estadual ou municipal e considerando que:
I – o custo médio aluno-ano será calculado com base nos recursos que
integram o Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério, aos quais é adicionado o equivalente a 15% (quinze por cento) dos demais
impostos, tudo dividido pelo número de alunos do ensino fundamental regular dos
respectivos sistemas;
II – o ponto médio da escala salarial corresponderá à média aritmética entre o
menor e a maior remuneração possível dentro da carreira;
III – a remuneração média mensal dos docentes será equivalente ao custo médio
aluno-ano, para uma função de 20 (vinte) horas de aula e 05 (cinco) horas de
atividades, para uma relação média de 25 alunos por professor, no sistema de
ensino;
114
IV – jornada maior ou menor que a definida no inciso III, ou a vigência de
uma relação aluno-professor diferente da mencionada no referido inciso, implicará
diferenciação para mais ou para menos no fator de equivalência entre custo médio
aluno-ano e o ponto médio de escala de remuneração mensal dos docentes;
V – a remuneração dos docentes do ensino fundamental, estabelecida na forma
deste artigo, constituirá referência para a remuneração dos professores da educação
infantil e do ensino médio.
Art. 8º. Os planos a serem instituídos com observância destas diretrizes
incluirão normas reguladoras da transição entre o regime anterior e o que será
instituído.
Art. 9º. A Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação
proporá ao Ministro de Estado da Educação e do Desporto a constituição de uma
Comissão Nacional com adequada representatividade, considerando o artigo 195 da
Constituição Federal, para num prazo de 06(seis) meses, a contar de sua instalação,
estudar a criação de fundos de aposentadoria para o magistério, com vencimentos
integrais, de modo a evitar a utilização dos recursos vinculados à educação para tal
finalidade.
Art. 10º. A presente Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
CARLOS ROBERTO JAMIL CURY
115
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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português?,Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, V. 24, n.2, p.
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república que não foi. São Paulo: Companhia de Letras, 1987.
COMENTÁRIOS A LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL. Organizadores Ives
Gandra da Silva Martins, Carlos Valder do Nascimento.São Paulo: Editora Saraiva,
2001.
CUNHA, Antonio Geraldo da. Dicionário etimológico da língua portuguesa. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo: Companhia de
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WEBER, Max. A ética protestante e o Espírito do capitalismo. São Paulo:
Editora Martin Claret, 2002.