comentÁrios sobre a lei de execuÇÃo penal

38
COMENTÁRIOS SOBRE A LEI DE EXECUÇÃO PENAL, PROJETOS, POSSÍVEIS ALTERAÇÕES E CORREÇÕES. POLICIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO ACADEMIA DE POLÍCIA CIVIL "DR. CORIOLANO NOGUEIRA COBRA" NÚCLEO DE ENSINO POLICIAL CIVIL DE RIBEIRÃO PRETO COMENTÁRIOS SOBRE A LEI DE EXECUÇÃO PENAL, PROJETOS, POSSÍVEIS ALTERAÇÕES E CORREÇÕES. RIBEIRÃO PRETO 2006 PROFESSORES INTEGRANDES DO GRUPO DE ESTUDO Adilson Massei Anivaldo Registro Antonio Benedito Valencise Antonio Hernandes Lopes Haroldo Chaud João Osinski Júnior Jorge Amaro Cury Neto

Upload: gislaine-azevedo

Post on 31-Oct-2015

260 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

COMENTÁRIOS SOBRE A LEI DE EXECUÇÃO PENAL, PROJETOS, POSSÍVEIS ALTERAÇÕES E CORREÇÕES.

POLICIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

ACADEMIA DE POLÍCIA CIVIL "DR. CORIOLANO NOGUEIRA COBRA"

NÚCLEO DE ENSINO POLICIAL CIVIL DE RIBEIRÃO PRETO

COMENTÁRIOS SOBRE A LEI DE EXECUÇÃO PENAL,

PROJETOS, POSSÍVEIS ALTERAÇÕES E CORREÇÕES.

RIBEIRÃO PRETO

2006

PROFESSORES INTEGRANDES DO GRUPO DE ESTUDO

Adilson Massei

Anivaldo Registro

Antonio Benedito Valencise

Antonio Hernandes Lopes

Haroldo Chaud

João Osinski Júnior

Jorge Amaro Cury Neto

Paulo José Esteia Piçarro

SUMÁRIO

 

 

I. Preliminar.............................................................................................. 1

II. Instituição do parlatório...................................................................... 2

III. Telefone Celular – “falta grave”.......................................................... 6

IV. RENAPEN – Registro Nacional Penitenciário - Sistema de pontuação

para suspensão da progressão do regime

penal...................................................................................................... 9

V. Restrição da visita íntima.................................................................... 12

VI. Obrigatoriedade do Exame Criminológico........................................ 14

VII. Saída do Sistema – Saída Temporária – Alterações......................... 18

VIII. Proibição do recebimento do “jumbo”.............................................. 19

IX. Atribuições, Responsabilidades e Direitos dos Diretores de Unidades

Prisionais............................................................................. 21

X. Atribuições e responsabilidades dos entes federativos.................. 22

XI. Privatizações das Instituições Penitenciárias.................................. 24

XII. Bibliografia........................................................................................... 28

 

I - Preliminar

 

 

Antes mesmo de se falar em modificações e correções, devemos

atentar para o fato de que a LEP nunca chegou de fato a ser aplicada em toda a sua

plenitude, principalmente em relação à superlotação, separação dos delinqüentes

com relação à gravidade dos delitos, celas de 6 metros quadrados, etc. Com certeza

o sistema penitenciário não estaria no caos que hoje se encontra, caso houvesse

por parte dos governos ações políticas, visando o cumprimento na íntegra da lei.

Sendo assim, oferecemos algumas sugestões sobre alterações

pontuais ou genéricas que poderão ser aproveitadas em uma eventual nova Lei de

Execução Penal com o escopo de torná-na mais atual e eficiente, podendo, assim,

propiciar ao Estado a reorganização e a retomada do controle sobre os inúmeros

estabelecimentos penais de nosso país, proporcionando, inclusive, melhores

condições à imensa massa carcerária que hoje lota o sistema, sem descurar do

principal objeto da LEP que é a ressocialização do condenado.

 

 

II - Instituição do parlatório

 

Por que tal sistema de parlatório sem contato físico não é adotado em todas

as unidades prisionais brasileiras?

Na maioria dos outros países os presos interagem com parentes, amigos e

advogados sem contato físico. Os presos se encontram com suas visitas em locais

conhecidos como parlatório, onde preso e visitante são separados por uma parede

de vidro ou de tela metálica de trama bem fechada, tornando impossível que

qualquer objeto possa ser passado do visitante para o preso ou vice versa!

Em algumas ocasiões especiais é permitido que o preso se encontre com seu

visitante em uma sala sem divisória, mas o encontro é vigiado por um guarda

penitenciário e ainda assim não é permitido sequer um aperto de mãos e uma

distância mínima deve ser observada entre o interno e seu interlocutor.

Com tal sistema, ficaria definitivamente afastada a hipótese de que

advogados, amigos e parentes possam estar abastecendo presos com telefones

celulares, armas e drogas, restando apenas a possibilidade de que funcionários

corruptos do sistema penitenciário sejam os responsáveis pelo problema e, sem

qualquer outra desculpa. O Poder Público teria que finalmente arcar com o ônus de

sua possível incapacidade de gerir a segurança de nossas unidades prisionais,

buscando um meio de solucionar a questão de uma vez por todas.

Não seria mais necessário, por exemplo, tentar atribuir às operadoras de

telefonia celular a obrigação de desenvolver sistemas que impeçam o funcionamento

dos celulares dentro dos presídios, com o propósito de resolver um problema que

absolutamente não é das empresas de telefonia, mas do Poder Público.

 

Art. 41. Constituem direitos do preso:

      I - alimentação suficiente e vestuário;

      II - atribuição de trabalho e sua remuneração;

      III - previdência social;

      IV - constituição de pecúlio;

      V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a

recreação;

      VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas

anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena;

      VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa;

      VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;

      IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado;

      X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias

determinados;

      XI - chamamento nominal;

      XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da

pena;

      XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento;

      XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito;

      XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da

leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons

costumes.

      Parágrafo único. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV poderão ser

suspensos ou restringidos mediante ato motivado do diretor do estabelecimento.

     Art. 42. Aplica-se ao preso provisório e ao submetido à medida de segurança, no

que couber, o disposto nesta Seção.

 

Razão da seguinte sugestão de alteração do disposto no artigo 41 da

LEP:

Justificativa

Visto que se fazem necessárias providências no sentido de que sejam

minimizadas as possibilidades de introdução de objetos dentro do sistema prisional.

Visto que o sistema de vigilância se mostra falho em razão das

dificuldades operacionais de controle de entrada de objetos dentro do sistema.

Visto que quase todos os países do mundo têm como pratica a

proibição de um contato direto entre preso e visitas, como instrumento de controle

de entrada de objetos dentro do sistema.

Visto que a medida permitiria que apenas os funcionários do sistema

prisional fossem os únicos responsáveis pela introdução de objetos, cabendo ao

diretores prisionais o controle, apuração e punição de eventuais práticas.

Diante do exposto, se faz necessária à alteração do artigo 41 da LEP, nos

seguintes termos:

Art. 41. Constituem direitos do preso:

      I - alimentação suficiente e vestuário;

      II - atribuição de trabalho e sua remuneração;

      III - previdência social;

      IV - constituição de pecúlio;

      V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a

recreação;

      VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas

anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena;

      VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa;

      VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;

      IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado;

      X – Visitas mensais nas seguintes condições:

a) O interno só poderá estar habilitado a receber visitas após trinta dias

da data de sua inclusão;

b) As visitas serão pré-agendadas com antecedência de dez dias,

podendo somente ser pleiteadas pelos visitantes que estejam cadastrados no rol de

visitantes da Unidade;

c) As visitas presenciais serão no total de duas por mês com duração

máxima de uma hora cada, sem contato físico, a ser realizada em parlatório;

      XI - chamamento nominal;

      XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da

pena;

      XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento;

      XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito;

      XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da

leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons

costumes.

      Parágrafo único. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV poderão ser

suspensos ou restringidos mediante ato motivado do diretor do estabelecimento.

     Art. 42. Aplica-se ao preso provisório e ao submetido à medida de segurança, no

que couber, o disposto nesta Seção.

 

 

III - Telefone Celular – “falta grave”

 

Muito mais que buscar soluções para bloquear celulares dentro de

presídios, se fazem necessárias providências no sentido que sejam criados padrões

de condutas que venham impedir a entrada de celulares, bem como qualquer outro

objeto proscrito, sem o que não se garante qualquer ordem pública nas prisões,

além de incluir, no rol das faltas graves, a posse e o uso de celulares pelos

condenados, bem como qualquer tecnologia similar.

Não obstante, a “posse e utilização” de um telefone celular, por si só já

se constituem numa falta grave, nos termos do artigo 50 e 39, II e V, da LEP. O

preso deve obediência ao servidor e já é de há muito conhecido de todos, inclusive e

principalmente dos presos, que aparelho celular é algo proscrito dentro do sistema

penitenciário, não obstante ser uma norma não regulamentada.

 

Art. 39. Constituem deveres do condenado:

      I - comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentença;

      II - obediência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva

relacionar-se;

      III - urbanidade e respeito no trato com os demais condenados;

      IV - conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de

subversão à ordem ou à disciplina;

      V - execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas;

      VI - submissão à sanção disciplinar imposta;

      VII - indenização à vítima ou aos seus sucessores;

      VIII - indenização ao Estado, quando possível, das despesas realizadas com a

sua manutenção, mediante desconto proporcional da remuneração do trabalho;

      IX - higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento;

      X - conservação dos objetos de uso pessoal.

      Parágrafo único. Aplica-se ao preso provisório, no que couber, o disposto neste

artigo.

 

    Art. 50. Comete falta grave o condenado a pena privativa de liberdade que:

      I - incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina;

      II - fugir;

      III - possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física de

outrem;

      IV - provocar acidente de trabalho;

      V - descumprir, no regime aberto, as condições impostas;

      VI - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V no art. 39 desta lei.

      Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se no que couber, ao preso

provisório.

  

O preso não pode ter nenhum objeto que não seja autorizado pelo

Estado-Administração dentro do sistema prisional, sem previa autorização.

Nossos tribunais têm sido provocados em situações concretas a se

manifestar a respeito do assunto, ficando presos ao que é debatido em um processo

específico, daí prolatando decisões que acabam polemizando algo que uma simples

inclusão destas duas condutas como falta grave resolveria definitivamente as

discussões.

Até porque, se telefones celulares não funcionarem mais em presídios,

mas a corrupção continuar em atividade, os presos comunicar-se-ão com o exterior

com outros sistemas de comunicação e continuarão inclusive a ter acesso a drogas

e armas, etc.

Acredito que deveríamos ir mais longe, pensando na possibilidade do

surgimento de novas tecnologias que possam ser criadas e que venham a facilitar as

ações criminosas dentro dos presídios, alterando o artigo 50, incluindo como falta

grave “a posse e uso de qualquer objeto não autorizado de forma explicita pelo

Estado”.

Razão da seguinte sugestão de alteração do disposto no artigo 50 da

LEP:

 

Justificativa

Visto que a política penitenciária é condicionada por dois fatores

interligados reciprocamente: os controles formais, autorizados pela legislação, que

devem orientar a atuação das agências do sistema penal, e controles sociais

informais, oriundos da experiência prática do sistema prisional.

Visto que os controles sociais formais suplementam os controles

sociais informais, pois estamos num estado de direito, razão pela qual quando esses

controles se enfrentam nos tribunais, os controles informais sucumbem diante do

império da lei, em razão de que o Judiciário não pode aplicar a lei naquilo em que

ela for omissa.

Visto que um novo padrão de política penitenciária requer, ao mesmo

tempo, que se detalhem mudanças no comportamento e na cultura dos criminosos

encarcerados e da sociedade, assim como das instituições de controle penal que

buscam produzir a ordem pública.

Diante do exposto se faz necessário olhando para o futuro, alteração

no disposto do artigo 50 da LEP com a seguinte redação:

 Art. 50. Comete falta grave o condenado a pena privativa de liberdade que:

      I - incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina;

      II - fugir;

      III - possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física de

outrem;

      IV - provocar acidente de trabalho;

      V - descumprir, no regime aberto, as condições impostas;

      VI - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V no art. 39 desta lei;

VII – possuir ou utilizar: objeto ou tecnologia sem prévia autorização explicita do

diretor do estabelecimento prisional.

VIII - participar, direta ou indiretamente de grupo ou organização criminosa

dentro ou fora do sistema prisional.

      Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se no que couber, ao preso

provisório.

 

 

IV - RENAPEN – Registro Nacional Penitenciário - Sistema de pontuação para

suspensão da progressão do regime penal.

 

 

 

O sistema progressivo de cumprimento de pena privativa de liberdade

foi adotado no Brasil como forma de racionalizar o processo de execução penal,

possibilitando que o condenado seja preparado, paulatinamente, para a vida que,

futuramente, levará fora do cárcere. Segundo esse sistema, a execução da pena se

apresentará desde que cumpridos os prazos legais, mais ou menos rigorosos, em

razão do mérito ou do demérito do condenado. Oferece-se ao preso uma

oportunidade de melhorar sua situação conforme sua conduta, ao mesmo tempo em

que se acena com a regressão de regime àqueles que mostrarem má conduta,

demonstrando necessidade concreta de cumprir pena em um regime mais severo.

Daí a proposta de criação do RENAPEN, registro que avaliará o comportamento do

recuperando, ou seja, a progressão estará limitada pela conduta do próprio

interessado de uma forma mais abrangente, onde em tese todo o sentenciado faz

jus a progressão. Devemos entender que a progressão não deveria ser considerada

um direito, mas sim uma regalia, pois o estado deve criar condições para que o

preso possa recuperar-se, entretanto o estado não pode introjetar no preso a visão

da recuperação, pode sim, ser um facilitador para que ele absorva esta visão.

Entretanto se o preso através do seu comportamento demonstrar que não está

disposto a se submeter e praticar atos que firam os preceitos da lei, terá a sua

progressão comprometida, impedindo a progressão por um determinado tempo.

 

Artigo 1º. Altera o artigo 49 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 que passa a

vigorar com a seguinte redação: As faltas disciplinares, especificadas nesta lei,

serão classificadas e pontuadas em:

I - gravíssima – sete pontos

II - grave – cinco pontos

III – média – quatro pontos

IV – leve – três pontos

Parágrafo único. Pune-se a tentativa com a sanção correspondente à falta

consumada.

Artigo 2º. Altera o inciso I do artigo 118 da Lei nº 7210, de 11 de junho de 1984

passa a vigorar com a seguinte redação:  praticar fato definido como crime doloso,

falta gravíssima ou atingir a contagem de vinte pontos, previsto no artigo

anterior;            

Artigo 3º. A penalidade de suspensão da progressão do regime penal será aplicada,

nos casos previstos nesta lei, pelo prazo mínimo de um mês até o máximo de um

ano e, no caso de reincidência no período de doze meses, pelo prazo mínimo de

seis meses até o máximo de dois anos, sempre que o infrator atingir a contagem de

vinte pontos, prevista no artigo 1º desta Lei.

Artigo 4º. Os prazos para suspensão da progressão do regime penal deverão

obedecer aos critérios abaixo:

I – de um a três meses, para penalidades que não sejam agravadas;

II – de dois a sete meses, para penalidades que sejam agravadas com fator

multiplicador de três vezes;

III – de quatro a doze meses, para penalidades que sejam agravadas com fator

multiplicador de cinco vezes;

Artigo 5º. Os prazos para suspensão da progressão do regime penal, cujos

infratores forem reincidentes no período de doze meses, deverão obedecer aos

critérios abaixo:

I – de seis a dez meses, para penalidades que não sejam agravadas;

II – de oito a dezesseis meses, para penalidades que sejam agravadas com fator

multiplicador de três vezes;

III – de doze a vinte e quatro meses, para penalidades que sejam agravadas com

fator multiplicador de cinco vezes;

Artigo 6º. O cômputo da pontuação referente às infrações, para fins de

aplicabilidade da penalidade de suspensão da progressão do regime penal, terá a

validade do período de doze meses;

Parágrafo único. A contagem do período expresso no caput deste artigo será

computada sempre que o infrator for penalizado, retroativo aos últimos doze meses.

Artigo 7º. Para fins do disposto no artigo anterior, o prontuário geral único do interno

deverá ser inserido no RENAPEN – Registro Nacional Penitenciário.

Artigo 8º. A penalidade de suspensão da progressão do regime penal será aplicada

por decisão fundamentada da autoridade competente, em processo administrativo,

assegurado ao infrator amplo direito de defesa.

Artigo 9º. Aplica-se ao preso provisório e ao submetido à medida de segurança, no

que couber, o disposto nesta lei.

Artigo 10. Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação.

 

Justificativa:

O conceito de pontuação das infrações praticadas pelo

condenado impõe maior eficácia na aplicação da penalidade. Não se trata de

regressão do sistema penal, contrario sensu, mas de maior credibilidade por parte

do condenado de que as infrações eventualmente por ele praticadas serão,

efetivamente, punidas com o rigor necessário, de modo a não despertar o

sentimento de impunidade e, conferindo ao Juiz da Execução a aplicação da forma

regressiva prevista no artigo 118 da LEP.

O instituto do RENAPEN – Registro Nacional Penitenciário -,

busca harmonizar a vida carcerária do condenado, através do PGU – Prontuário

Geral Único, disponível eletronicamente no sistema penitenciário, permitindo acesso

imediato nos casos de transferência do infrator ou na apuração das infrações por

parte da direção do presídio, quando da instauração do procedimento previsto no

artigo 8º desta Lei, ou seja, nos casos da pontuação atingir o limite de 20 (vinte)

pontos ou a ocorrência de infração gravíssima que, por si só, deverá deflagrar a

apuração, independente da quantidade de pontos.

 

 

V - Restrição da visita íntima

 

Propostas de mudanças:

Como foi discutido em reunião, não existe o que possa ser mudado na LEP

em relação à visita intima do preso (a), vez que o assunto é regulado pela

Resolução 1/99, do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciaria.

O que se precisa fazer é dar fiel cumprimento à Resolução, ou seja, que

quando o preso der entrada no sistema devera indicar quem é o cônjuge ou

companheira que ira visitá-lo (a) durante o período em que ali estiver, sendo que não

será possível mudar. É inadmissível que alguém arrume uma namorada nova se

estiver preso.

A visita intima deverá ser em ambiente reservado, cuja privacidade e

inviolabilidade sejam assegurados, uma vez por mês.

Assim, pode-se sugerir mudanças no art. 4º da Resolução 01, de 30.03.99, “a

visita intima pode ser suspensa a titulo de sanção” e no art. 5º “ uma vez indicado o

nome, o mesmo não pode ser substituído”.

A visita intima deve estar condicionada ao comportamento do preso, a

segurança do presídio e as condições da unidade prisional sem perder de vista a

preservação da saúde das pessoas envolvidas e a defesa da família.

A visita da família deve ser incentivada, e é considerada parte da dignidade

da pessoa humana, preceito constitucional.

Nos primeiros três meses de internação, não deve ser permitido visita intima,

nos moldes do RDD.

É direito constitucional e não pode ser suprimido, no entanto pode ser

dificultado.

Seguem abaixo as regras básicas, as quais devem ser cumpridas.

 

Das visitas íntimas

 

Conceito: A visita íntima é entendida como a recepção pela pessoa privada

de liberdade, nacional ou estrangeiro, homem ou mulher, de cônjuge ou outro

parceiro, no estabelecimento prisional em que estiver recolhido, em ambiente

reservado, cuja privacidade e inviolabilidade sejam asseguradas.

 

Quem tem direito? O direito de visita íntima é, também, assegurado às

pessoas privadas de liberdade casadas entre si ou em união estável, do mesmo

sexo ou não.

A regularidade e responsabilidade. A direção do estabelecimento prisional

deve assegurar à pessoa privada de liberdade visita íntima de, pelo menos, uma vez

por mês.

 

Proposta de mudança: A visita íntima deve ser proibida ou suspensa a título

de sanção disciplinar.

Regras: A pessoa privada de liberdade, ao ingressar no

estabelecimento prisional, deve informar o nome do cônjuge ou de outro parceiro

para sua visita íntima.

Para habilitar-se à visita íntima o cônjuge ou outro parceiro indicado

deve cadastrar-se no setor competente do estabelecimento prisional.

 

Responsabilidade: Incumbe à direção do estabelecimento prisional o

controle administrativo da visita íntima, como o cadastramento do visitante, a

confecção, sempre que possível, do cronograma da visita, e a preparação de local

adequado para sua realização e outros pormenores correlatos.

A pessoa privada de liberdade não pode fazer duas indicações

concomitantes e só pode nominar o cônjuge ou novo parceiro de sua visita íntima

após o cancelamento formal da indicação anterior, devidamente justificado e

condicionado a aprovação da direção.

Questões de saúde: Incumbe à direção do estabelecimento prisional

informar à pessoa privada de liberdade, cônjuge ou outro parceiro da visita íntima

sobre assuntos pertinentes à prevenção do uso de drogas, de doenças sexualmente

transmissíveis e, particularmente, a AIDS.

 

 

VI - Obrigatoriedade do Exame Criminológico.

 

 

Tal como já o fizera o Código Penal de 1940, a Lei de Execução Penal

estabelece o sistema progressivo do cumprimento da pena, prevendo-se a

transferência do condenado de regime mais rigoroso a outro menos rigoroso uma

vez preenchidos os requisitos. De outro lado, determina também a regressão de

regime, fazendo-se o caminho inverso.

Antes do advento da Lei nº 10.792, de 1º de dezembro de 2003, que

alterou alguns dispositivos da Lei nº 7.210/2004-Lei de Execução Penal (LEP), o art.

112 deste último diploma estabelecia dois requisitos para a progressão, sendo um

de caráter objetivo e outro subjetivo.

Dispunha o artigo em comento, “a pena privativa de liberdade será

executada em forma progressiva, com a transferência para regime menos rigoroso,

a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da

pena no regime anterior e seu mérito indicar a progressão. Parágrafo único:”A

decisão será motivada e precedida de parecer da Comissão Técnica de

Classificação e do exame criminológico, quando necessário.”

Portanto, como requisito objetivo, de ordem temporal, deveria o

condenado, para obter a progressão, ter cumprido um sexto da pena no regime

inicial.Além disso, deveria possuir mérito para tanto, aferido através de parecer da

Comissão Técnica de Classificação e do exame criminológico, quando necessário.

Baseado no que dispõem os artigos 34 do CP e 8º da LEP o exame criminológico

era indispensável quando se tratava da progressão do regime fechado para o regime

semi-aberto e facultativo quando do regime semi-aberto para o aberto (art.8º ,

parágrafo único).

Objetivando acabar com eventual morosidade pela qual passava um

pedido de progressão de regime prisional, o legislador suprimiu a exigência do

exame criminológico, substituindo o requisito do mérito pelo do bom comportamento,

comprovado pelo diretor do estabelecimento.

Mas, afinal, o que seria bom comportamento? Não ficou definido, de

maneira objetiva, como classificar o comportamento de um apenado. Poderia ele

cometer falta leve, média ou grave? Qual o tempo para a reabilitação do

comportamento? A falta disciplinar prescreve? Cremos que todas essas questões

serão respondidas com a adoção do sistema de pontuação de faltas, assunto sobre

o qual já tratamos. Entretanto, cremos que o requisito do bom comportamento se

limita ao aspecto exterior da conduta do apenado, ou seja, se cumpre ou não as

determinações do administrador, ou se tentou ou não fugir, mas não das condições

subjetivas intrínsecas à psique do condenado.

Acerca disto já ensinou Mirabete:

“Não basta bom comportamento carcerário para preencher o requisito

subjetivo indispensável à progressão. Bom comportamento não se confunde com

aptidão ou adaptação do condenado e muito menos serve como índice fiel de sua

readaptação social. Ensina Hans Gobbels:’O bom comportamento de um preso não

pode ser determinante imediata para estabelecer-lhe um prognóstico biológico-social

favorável, principalmente porque tal comprovante da melhoria se baseia

fundamentalmente em informes de funcionários de prisões, fornecidos pouco antes

da liberação e que se atêm ao bom comportamento externo, a fim de facilitar a

readaptação sem inconvenientes ao termo de condenação... Na verdade, a

adaptação do sentenciado à organização do estabelecimento se deve a vários e

múltiplos fatores simultâneos e justapostos, e somente a verificação dos motivos

predominantes permitirá uma conclusão motivada sobre o caráter”.(JÚLIO FABRINI

MIRABETE, Execução Penal, 10ª ed.,SP:Atlas, p. 388/389)

Ao abandonar o parecer da Comissão Técnica de Classificação e o

exame criminológico, a Lei pretendeu seguir o caminho mais fácil, mas não

necessariamente o mais correto, não se atendo a nenhuma justificativa técnica e

lógica para sua extinção.

Sem uma análise apurada da personalidade do sentenciado, seu grau

de periculosidade, sua capacidade de entender os fins da pena e sem saber da

probabilidade dele voltar a delinqüir, ficará o juiz sem um suporte confiável para sua

decisão de conceder ou não a liberdade a um condenado.

O exame criminológico está consagrado na jurisprudência dos

tribunais, do que é exemplo o julgado catarinense expresso no Recurso de Agravo

nº 99.018920-1, de Itajaí-SC, rel. Dês. Nilton Macedo Machado, j. 21.12.1999:

“Somente através da análise global da vida carcerária do reeducando,

inclusive com o exame criminológico daquele submetido ao regime fechado,

sopesando-se os pontos negativos e positivos que possam denotar sua reabilitação,

poder-se-á constatar com segurança sua aptidão para progressão e retorno ao

convívio social”

O mesmo se diga em relação à doutrina:

Segundo Mirabete, “No exame criminológico, a personalidade do

criminoso é examinada em relação ao crime em concreto, ao fato por ele praticado,

pretendendo-se com isso explicar a ‘dinâmica criminal (diagnóstico criminológico),

propondo medidas recuperadoras (assistência criminiátrica)’e a avaliação da

possibilidade de delinqüir (prognóstico criminológico)” (Op. Cit.).

Para Paulo Lúcio Nogueira:

“O exame criminológico conduz à classificação o condenado para a

designação do estabelecimento adequado e escolha dos métodos de tratamento,

pois o conhecimento da personalidade do preso e a proposição do seu tratamento

têm em vista justamente a sua ressocialização”. (Comentários à Lei de Execução

Penal, SP:Saraiva, 1990, p.10).

E continua o doutrinador:

“Nem sempre o simples cumprimento de um sexto da pena poder

ensejar a progressão, pois o condenado deve cumprir pelo menos esse lapso

temporal, que nem sempre pode ser satisfatório, dado o montante da pena aplicada.

E também, deve revelar merecimento, o que deve ser apurado através de sua

personalidade e não apenas do seu comportamento carcerário, pois existe tendência

de elementos perigosos demonstrarem bom comportamento na prisão, o que não

deixa de ser verdadeira simulação”.(Op.cit.,p.135/136).

Além de representar um retrocesso no combate ao crime e na

prevenção da reincidência, a alteração legislativa conflita com a Constituição

Federal, que dispõe, em seu art. 5º, inciso XLVI, sobre a individualização da pena,

que consiste, nos dizeres de César Dario Mariano da Silva, em:

“propiciar ao preso as condições necessárias para que possa retornar

ao convívio social. A individualização deve ater-se a métodos científicos, nunca

improvisados, iniciando-se com a classificação dos detentos, de forma que possam

ser destinados aos programas de execução mais apropriados de acordo com suas

necessidades pessoais. A individualização da pena é direito constitucional previsto

no artigo 5º, XLVI, 1ª parte da CF” (disponível em http: //www. cpc.adv.br).

A abolição do exame criminológico também entra em conflito com a

norma do art. 33, § 2º, do Código Penal, que assim prevê:” As penas privativas de

liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do

condenado, observados os seguintes critérios (...)”.

Aqueles que advogam entendimento contrário justificam a mudança

legislativa sob o argumento de que se o Estado não acompanha o preso durante o

cumprimento da pena, não seria justo avaliá-lo para a progressão. Outros aplaudem

a dispensa por não serem, normalmente, realizados na prática, por falta de recursos

humanos e materiais e também por apresentarem conclusões de pouca

credibilidade, pela má elaboração dos laudos e devido à tendência

criminologicamente ultrapassada e preconceituosa dos profissionais encarregados.

Ora, cumpriria então corrigir os erros apontados, aprimorando-se o sistema, ao invés

de pura e simplesmente suprimir o exame. Seria como abolir crimes porque não

existe cadeia.

Concluindo, somos favoráveis ao retorno da obrigatoriedade da

realização de um exame criminológico sério e minucioso para efeito de progressão

da pena, pois que o julgador não pode prescindir de uma análise clínica,

morfológica, neurológica, psicológica, psiquiátrica e social do apenado quando se

depara com uma decisão tão importante para a sociedade, prevendo-se a

disponibilização de profissionais habilitados para a perícia e criando-se mecanismos

para sua agilização.

 

 

VII - Saída do Sistema – Saída Temporária - Alterações

 

Artigo 123

I – Comportamento Adequado exemplar

 

Justificativa

O preso que se envolveu em brigas internas, participou de rebelião, é

comprovadamente ligado às facções criminosas, participou de fuga tentada ou

consumada não teria direito à saída temporária.

 

Artigo 124 A autorização será concedida por prazo não superior a três

dias, podendo ser renovada por mais de uma vez.

 

Justificativa

Quanto mais se prolonga o prazo de saída temporária o beneficiado

fica desocupado e esse tempo ocioso permite-lhe reatar e rever amizades

comprometidas e freqüentar locais impróprios.

Duas visitas são suficientes para rever os familiares.

 

 

VIII - Proibição do recebimento do “jumbo”

 

“Jumbo” é uma criação tipicamente brasileira, o famoso “jeitinho

brasileiro”, ou seja, processo da “acomodação”. Quebram-se por ação dos presos e

omissão do estado as regras de segurança, com único propósito: ser “bãozinho”

para com os presidiários. O termo “jumbo” vem da aviação, trata-se de um avião

com uma grande capacidade de transporte de carga, fazendo-se uma alusão a

grande quantidade de alimentos que periodicamente são depositados na

carceragem do sistema prisional, chegando dependendo da quantidade de presos, a

carga de muitos caminhos. Criou-se uma nova interpretação à brasileira do termo

“Jumbo”. Resume-me na entrada no sistema prisional com produtos levados por

familiares. Obrigando os agentes de segurança a se meter numa verdadeira caça a

“criatividade humana”, tais como introduzir celulares dentro de mortadela, rapadura,

etc. Os presos com justificativa de que o estado não atende as necessidades dos

presidiários, tenta entrar dentro do sistema prisional com produtos dos mais

diversos, e às vezes até proscrito pela administração prisional. Alguns desses

contrabandos são descobertos outros por sinal na maioria deles não são

encontrados.

O artigo 12 e 13 da Lei de Execução Penal trata do assunto, afirmando

que cabe ao Estado atender as necessidades dos presos, bem como criar uma “

espécie de almoxarifado”, com a finalidade de assistir ao preso com a devida paga.

Alguns lideres de presos insistem na continuidade dessa excrescência,

chegando ao ponto de até ameaçar com a possibilidade de revoltas no sistema

prisional. Até parece que são eles que comandam o governo. Tentam disciplinar

como “obrigação” esta liberalidade, chegando a ponto de elaborar um rol de

mercadorias que deveriam ser permitidos a entrada, se esquecendo que os presos

não são pessoas com direitos plenos, há restrição de liberdade na condição de

preso. Os presos relatam que não comem a refeição fornecida pelo Estado, tendo

em vista que o “jumbo” é liberado e as famílias trazem os alimentos para seus

familiares.

A Carta de Avaré, documento elaborado com base em sugestões e

reivindicações apresentadas durante o I Fórum Regional de Debates sobre

Segurança Pública, foi entregue, dia 20 de julho de 2.006, por uma comitiva ao

presidente da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, Rodrigo Garcia. O

documento tem como objetivo contribuir com as autoridades competentes na busca

de medidas efetivas para a questão de segurança pública tratou da questão:

 

1.-Aperfeiçoar a segurança interna dos presídios, abolindo

rigorosamente a entrada de qualquer tipo de objeto pertencente aos presos,

incluindo o “jumbo”.

 

Fica difícil para os diretores de presídio tomar a iniciativa de proibir tal

uso e abuso, pois na maioria das vezes trata-se de atitude isolada, causando

revolta, tendo em vista que nos outros estabelecimentos prisionais a excrescência é

permitida. Tal assunto deveria ser disciplinado em uma Lei, ou seja, proibição para

todos, tornando-se impessoal tal providência.

Basta dos chamados “jumbo”, como medida corroboradora de segurança nas

unidades prisionais. Preso tem que ter todas as condições para uma vida digna,

entretanto não pode criar situações que venham comprometer o sistema.”

 

 

IX - Atribuições, Responsabilidades e Direitos dos Diretores de Unidades

Prisionais:

 

 

Proposta: Período determinado para o dirigente.

 

Tanto a Lei de execuções Penais, como a própria Secretaria de

Administração Penitenciária, aglutinam diversas atribuições e responsabilidades que

ficam a cargo do Diretor da Unidade Prisional.

Fora às atribuições inerentes ao cargo, há uma pressão muito grande

por parte de órgãos e entidades externas, o que dificulta ainda mais seu trabalho.

Ameaças e circunstâncias adversas são corriqueiras, atingindo, inclusive, sua

família, havendo privações de ordem pessoal e profissional.

Para tanto, fazem-se necessárias garantias que possam trazer mais

estabilidade e bom desempenho na condução de suas funções.

 

Período Determinado: O Diretor da Unidade Prisional exercerá suas

atividades por um período de 2 (dois) anos, podendo ser reconduzido por igual

período.

Esta providência dá ao dirigente tranqüilidade para exercer suas

funções sabendo que poderá tomar medidas firmes e seguras que não será

removido por interesses diversos.

A permanência por muito tempo no mesmo lugar também não é

benéfica, pois todo setor necessita de oxigenação e novas posturas administrativas.

Aquele que inicia um trabalho a frente de uma unidade, chega com disposição e

idéias a serem implantadas.

 

 

Proposta: Inclusão dos municípios maiores na construção e no

gerenciamento do sistema prisional.

 

Importante buscar uma adequação de competências de cada ente

federativo, União, Estado e Município, no que tange o Sistema Prisional.

 

O Título IV – Dos Estabelecimentos Penais da Lei de Execução Penal

– Estabelece as regras gerais, contudo não dá responsabilidades claras a União,

aos Estados e aos Municípios. Por isso, gera grande impasse e transferências de

responsabilidades quanto às diretrizes governamentais e de investimentos.

O Município dispõe de um retrato mais exato dos problemas de

criminalidade, facilitando o estudo e o trato com a questão. As vantagens são

inúmeras, tanto do ponto de vista Jurídico, como do ponto de vista prático.

Todo município de médio porte dispõe de estrutura médico-

ambulatorial, odontológica, psicológica e psiquiátrica, educacional, parcerias com

entidades privadas, tudo pode, muito bem, estar à disposição do Sistema Prisional e

hoje, não está.

Para o preso e sua família também é uma questão de grande

importância, pois haverá uma proximidade entre eles, uma das buscas que a LEP

quer no processo de reeducação do preso. Dentre outras vantagens.

 

Por exemplo:

União - Responsável pela criação de no mínimo uma unidade prisional

em cada Estado, cuja capacidade será determinada pela demanda, abrigando,

principalmente, presos perigosos ligados a grandes facções criminosas, presos da

Polícia Federal e presos internacionais.

 

Estado - Responsável por crimes graves, presos notadamente ligados

a facções criminosas e com número de Unidades compatível com sua necessidade.

Município - Exigência de Unidades prisionais para município com mais

de 100 mil habitantes, sendo facultativo para os municípios cuja população não

atinge esse número. Poderia abrigar crimes de menor gravidade, como por exemplo,

furtos, estelionatos, pequenos roubos e demais crimes cuja pena não atinge cinco

anos (por exemplo).

As diretrizes básicas continuam dentro da LEP, podendo cada ente

federativo criar normas de disciplinas e administrativas que não contrariem a norma

vigente.

Para os juízes das causas, bem como das execuções penais, há a

possibilidade de se adequar cada tipo de sentenciando a cada unidade prisional,

dependendo da natureza do crime, de sua gravidade e da periculosidade do autor.

Nos termos da CF / 88, art. 5º , XLVIII –“ a pena será cumprida em estabelecimentos

distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;”

 

 

XI - Privatizações das Instituições Penitenciárias – Considerações

 

 

As cenas de violência que levaram a capital e o interior de São Paulo

ao estado de pânico ainda repercutem em todo país e provocam muitas discussões,

dentre elas, as vantagens e desvantagens de uma privatização dos presídios,

compreendidos aqui como estabelecimentos prisionais das mais variadas

naturezas. Existe uma unanimidade quanto à falência de nosso sistema carcerário.

As carências e a precariedade dos presídios são visíveis, as rebeliões constantes e

é notório que em muitas cadeias o controle está nas mãos dos próprios detentos. A

pergunta a ser feita é como resolver, ou ao menos mitigar, este grave problema que

reflete em toda sociedade.

A própria sociedade civil tem classificado como desperdício empregar

verbas públicas com presidiários, uma vez que poderiam ser convertidos em gastos

com educação, saúde e transporte. Assim, a solução para o problema é sempre

postergada. Talvez agora o país tenha despertado para as dimensões do problema,

e a sociedade se mova mais rapidamente. Nesse ponto é que a denominada

privatização dos presídios entra em cena como potencialmente solucionadora da

parte material da questão.

Porém, antes de pensarmos em privatização de presídios devemos

estabelecer os critérios que nortearão a administração das penitenciárias.

Diariamente a mídia noticia rebeliões com fugas ou resgates de detentos no interior

dos estabelecimentos prisionais. Qual seria a situação se estas penitenciárias

fossem privadas? A quem caberiam as responsabilidades? Como seria a segurança

para estes presídios? Para uma melhor análise desta questão recorremos ao direito

comparado, sobretudo, ao modelo norte americano, pioneiro na matéria.

A privatização dos presídios não é unanimidade nem nos Estados

Unidos, pois somente alguns Estados americanos privatizaram suas penitenciárias,

já que a Constituição Americana permite que os Estados tenham autonomia para

legislar sobre tal assunto independentemente da União. Os Estados do sul dos

Estados Unidos são onde se encontra a maioria das penitenciárias privatizadas, e

como qualquer empreendimento os resultados não são homogêneos, havendo

casos de insucesso nesse processo.

 

As condições dos detentos nos Estados Unidos são infinitamente

melhores que as dos detentos brasileiros, independentemente do estabelecimento

ser administrado pelo setor público ou pela iniciativa privada. As celas, em sua

maioria, são individuais e as delegacias são locais para cárcere temporário até o

julgamento, período este que raramente ultrapassa noventa dias. Focado no objetivo

de recuperar o detento para a sociedade, a segregação dos presidiários é efetuada

conforme o delito, presos do colarinho branco e.g., ficam separados, pois possuem

conhecimentos financeiros que se caírem nas mãos de traficantes esses podem

criar um sistema de lavagem de dinheiro de difícil apuração.

Outro critério importante é que as faltas graves ocorridas na prisão,

mormente as que envolvam atos de grave ameaça ou violência são duramente

reprimidas para que se mantenha a ordem e possibilite a recuperação dos detentos.

Os delitos cometidos nas penitenciárias são julgados como agravantes que

aumentam em muito as penas, o que desestimula os crimes na prisão.

Dentro desse conceito, o projeto de privatização dos presídios deve

contemplar um projeto de readequação do detento à sociedade, pois o

aprisionamento por si só não recupera o detento. Algumas questões devem ser

analisadas antes de se implantar qualquer nova metodologia para as penitenciárias.

Deve se analisar como será a passagem para a empresa privada da atividade e

quem pagará o custo do preso: o Estado ou próprio condenado, através de multas

ou com seu trabalho. Da mesma forma, deve se definir quem controlará a qualidade

dos presídios, estipulando critérios para a recuperação dos presos.

No direito pátrio há uma máxima de que a execução da pena jamais

pode passar para as mãos de particulares, pois seria ofensa direta à Constituição

Federal que obriga o Estado, de forma indelegável, a exercer a Justiça em todas as

conotações do termo. Isso não impede, porém, que a construção de penitenciárias e

sua manutenção possam ser contratadas pelo Estado com terceiros. A terceirização

da construção de alguns presídios no Brasil tem sido objeto de licitação com a

iniciativa privada, que também supre as unidades de alimentação e hotelaria,

quando o poder público não exerce diretamente esta tarefa.

Os investimentos necessários para a construção e manutenção de

presídios são extremamente altos, e o custo de cada preso com os padrões de

recuperação estipulados, v.g., pelo Estado do Texas nos E.U.A., é de quarenta mil

dólares anuais por preso. Criar vagas para vinte mil presos tem uma previsão de

investimento de cerca de oitocentos milhões de dólares, incluídas todas as despesas

com segurança, administração, assistência médica, recuperação de viciados,

ressocialização de presos, etc.

Isso tudo tem que ser considerado antes de se pensar em uma

privatização de presídios, posto que a iniciativa privada somente terá interesse em

abraçar a tarefa se além de todos os enormes gastos funcionais, a margem de lucro

for compensadora, razão de existir de uma empresa, seja ela de que natureza for.

A denominação genérica de privatização dos presídios constitui em um

primeiro momento na observância em diagnosticar as necessidades de prédios e

equipamentos e, em seguida, estudar a melhor maneira de gestão física dos

mesmos. Em outras palavras, listar as necessidades públicas neste setor. Feito isso,

pode-se solicitar à iniciativa privada que pelo regime das parcerias-público-privadas

(PPPs) apresente as suas manifestações de interesse sobre o tema e suas

sugestões de como resolvê-los.

A legislação das PPPs criou dois tipos de concessão, a patrocinada e a

administrada. Por essa, o Estado é o único provedor de recursos, adquirindo do

privado o bem ou o serviço objeto da concessão. O presídio é o exemplo típico

dessa concessão. Realizada a obra e concedido o serviço, o estado pagaria um

determinado valor por mês, por preso, de forma que o particular ao cabo de um certo

tempo possa ser ressarcido de seus custos com a construção e manutenção,

devolvendo o estabelecimento prisional ao Estado ao final desse período, que pode

variar de quinze a trinta anos.

A privatização dos presídios não é bem vista por um expressivo

número de pessoas, que dentre outros argumentos apresentam os seguintes:

- O bom operário é o preso de bom comportamento, portanto, só

interessaria por em liberdade os presos perigosos, “alérgicos” ao labor.

- O risco de grandes criminosos construírem presídios para eles, como

Pablo Escobar, na Colômbia.

- A dúvida sobre quem deve ser responsabilizada se algo ocorrer ao

preso, como, e.g., um acidente de trabalho, uma fuga, um óbito.

- Não existem estudos suficientes em nosso país para afirmar que a

medida seria útil a médio ou em longo prazo, compensando o pesado investimento.

 

Existem, enfim, inúmeros outros argumentos a desaprovar a

privatização do sistema penitenciário, mas, em contrapartida, resta patente que o

país padece da falta de recursos para a construção de novos presídios nos moldes

recomendados, e que os atuais estabelecimentos penais estão à beira da falência.

Em assim sendo, há os que defendam uma privatização do tipo

terceirização de prédios, produtos e serviços, com a manutenção da disciplina,

normas e fiscalização do sistema penitenciário nas mãos do Estado, visto que assim

o poder de controle das prisões permaneceria centralizado.

A privatização dos presídios é uma tendência mundial, e além dos

Estados Unidos, Inglaterra e França também criaram penitenciárias privadas, mas

sempre ocupadas por presos de mínima periculosidade, o que na opinião de

especialistas vem se revelando a melhor solução para a questão prisional em todo

planeta.

 

 

XII - Bibliografia

 

 

1. CORDEIRO, Grecianny Carvalho. Privatização do sistema prisional brasileiro,

Editora Freitas Bastos;

2. BITTENCOURT, Cezar Roberto, Falência da Pena de Prisão, São Paulo,

Editora Revista dos Tribunais, 1993;

3. DIPP Gilson, Ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), entrevista a CNN

- comenta decisões proferidas em hábeas corpus sobre a posse de celular

com detentos em presídios;

4. MINHOTO, Laurindo Dias. Privatização de Presídios e Criminalidade. A

gestão da violência no capitalismo global. São Paulo. Max Limonad. 2000;

5. MIRABETE, Julio Fabbrini, Execução Penal, Editora Atlas, 11º ed.;

6. MARCÃO, Renato, Curso de Execução Penal, Editora Saraiva, 3º ed.;

7. MARTINS, Sérgio Mazina, Boletim nº 91-junho/2000, IBCCRIM, pág. 11, “A

Lei e os Homens: Argumentos sobre o Estatuto Filosófico do Direito de

Execução Penal”;

8. MORAES, Alexandre de, Direito Constitucional, 9ª ed, São Paulo, Editora

Saraiva;

9. NUCCI, Guilherme de Souza, Manual de Direito Penal, Editora Revista dos

Tribunais, 2005;

10. PINHEIRO, Jorge Augusto de Medeiros. Privatização dos presídios (I). O

Liberal Belém, 5 jul. 2001. Opinião.Atualidades.

11. SOBRINHO José Almeida, BARBOSA Manoel Messias, MUKAI Nair Sumiko

Nakamura, Código de Trânsito do Brasil anotado e Legislação Complementar

em vigor, Editora Método, 8ª edição;

12. TUCCI, Rogério Lauria, Direitos e Garantias Individuais no Processo Penal

Brasileiro, Editora Revista dos Tribunais, 2º Ed.