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COMANDO DA ACADEMIA E ENSINO BOMBEIRO MILITAR
ALLISSON RANGEL MOURA MARTINS
A IMPORTÂNCIA DO USO DO SISTEMA DE ESPUMA POR AR
COMPRIMIDO – CAFS – NO COMBATE A INCÊNDIO URBANO
GOIÂNIA
2018
ALLISSON RANGEL MOURA MARTINS
A IMPORTÂNCIA DO USO DO SISTEMA DE ESPUMA POR AR
COMPRIMIDO – CAFS – NO COMBATE A INCÊNDIO URBANO
Artigo Científico, apresentado ao Comando da
Academia e Ensino Bombeiro Militar –
CAEBM, como parte das exigências para
conclusão do Curso de Formação de Oficiais e
obtenção do título de Aspirante-a-Oficial, sob
orientação do Sr. 1º Ten QOC Luis Antônio
Dias Araújo.
GOIÂNIA
2018
ALLISSON RANGEL MOURA MARTINS
A IMPORTÂNCIA DO USO DO SISTEMA DE ESPUMA POR AR
COMPRIMIDO – CAFS – NO COMBATE A INCÊNDIO URBANO
Goiânia, 09 de janeiro de 2018.
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________
Jonas Henrique Moreira Bueno – TC QOC
Oficial Presidente
__________________________________________
Helaine Vieira Santos – Maj QOC
Oficial Membro
__________________________________________
Igor Eduardo Cordeiro de Moura – 1º Ten QOC
Oficial Membro
Nota
A IMPORTÂNCIA DO USO DO SISTEMA DE ESPUMA POR AR COMPRIMIDO –
CAFS – NO COMBATE A INCÊNDIO URBANO
Allisson Rangel Moura Martins1
RESUMO
Esta pesquisa apresentou, basicamente, as vantagens do Sistema de Espuma por Ar
Comprimido – CAFS – no combate a incêndio urbano, buscando fazer a relação entre o uso
dessa tecnologia e o uso da água e de outros equipamentos formadores de espuma que possuem
método de aeração natural. Inicialmente, foi exposto o conceito e classificação das espumas
como agente extintor. Em seguida, foram elencadas as características da espuma que a colocam
em vantagem sobre a água, para determinadas finalidades. Posteriormente, foram apresentados
equipamentos formadores de espuma, dentre eles o CAFS, explicando seus princípios de
funcionamento. Por fim, a análise e a conclusão da importância do uso do CAFS no combate a
incêndio urbano foram feitas a partir de comparações entre o combate a incêndio com CAFS
da marca One Seven®, da empresa Gimaex Schmitz, e a água, bem como entre este mesmo
CAFS e outros equipamentos formadores de espuma, obtidas através de estudos e testes tanto
no Brasil como no exterior.
Palavras-chave: Espuma. Equipamentos Formadores de Espuma. Sistema de Espuma por Ar
Comprimido. CAFS.
ABSTRACT
This research presented, basically, the advantages of the Compressed Air Foam System (CAFS)
in the urban firefighting, trying to make the relationship between the use of this technology and
the use of water and other foam forming equipment that have natural aeration method. Initially,
the concept and classification of foams as extinguishing agent was exposed. Afterwards, the
characteristics of the foam that put it to advantage over the water, for certain purposes, were
listed. Subsequently, foam forming equipment was presented, among them CAFS, explaining
its operating principles. Finally, the analysis and conclusion of the importance of the use of
CAFS in the urban firefighting were made through comparisons between the firefighting with
CAFS of the brand One Seven®, of the company Gimaex Schmitz, and water, as well as
between this same CAFS and other foam forming equipment, obtained through studies and tests
both in Brazil and abroad.
Keywords: Foam. Foam Forming Equipment. Compressed Air Foam System. CAFS.
1 Graduado em Administração pela Universidade Federal do Piauí - UFPI
5
INTRODUÇÃO
Os Corpos de Bombeiros Militares, devido à sua missão, devem buscar sempre maior
efetividade nas suas atividades, dentre elas o combate a incêndio. Dessa forma, o estudo de
novas técnicas e de novos equipamentos deve ser uma prática incessante nas corporações.
Segundo Landim (2007), as tecnologias referentes à atividade de combate a incêndio surgem
em uma velocidade e quantidade muito menores do que de outras áreas científicas. Assim, as
corporações devem estar atentas a novas técnicas e equipamentos que venham a surgir,
buscando estudá-los e adaptá-los à própria realidade e, se possível, aperfeiçoá-los.
A utilização da espuma já é consagrada pelos Corpos de Bombeiros no combate a
incêndios Classe B (LANDIM, 2007). Inúmeras pesquisas apontam também as vantagens desse
agente extintor em incêndios Classe A. Quanto à utilização da espuma em combate a incêndios
Classe C, novas tecnologias foram desenvolvidas para se obter espuma sem a necessidade de
adição ou com necessidade mínima de água. O CAFS (do inglês Compressed Air Foam System),
é uma tecnologia que pode ser usada no combate a incêndios das classes citadas acima.
Existem outros equipamentos formadores de espuma para combate a incêndio tais como
proporcionadores portáteis, proporcionadores na bomba de viatura, esguichos para média e alta
expansão (SÃO PAULO, 2006). O CAFS tem um modelo de suprimento de ar diferente desses
equipamentos citados.
Segundo Darley (1995 apud MITCHELL, 2013), o conceito de espuma por ar
comprimido foi desenvolvido muito tempo depois do uso da espuma em combate a incêndio,
sendo esta nova tecnologia testada na década de 1930 pela Marinha Real do Reino Unido e pela
Marinha dos Estados Unidos. Landim (2007) relata que o CAFS surgiu nos anos 1940,
consistindo em um equipamento em que o ar comprimido era aplicado na mistura de água e
extrato formador de espuma, com intuito de gerar uma espuma mais seca e firme.
De acordo com Aguiar (2014), o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal –
CBMDF – fez testes utilizando o CAFS da marca One Seven®, da empresa Gimaex Schmitz.
O resultado de tais testes foi apresentado pelo Cel George Cajaty do CBMDF no 1º Seminário
Técnico-Científico de Prevenção e Proteção a Desastres, em setembro de 2015, na cidade de
Cascavel-PR, e no Congresso Internacional de Bombeiros e Emergências – CIBE –, em
setembro de 2017, na cidade de Goiânia-GO, onde foi demonstrado que o CAFS é uma
ferramenta eficiente e que contribui sobremaneira para qualidade e efetividade do serviço de
combate a incêndio urbano.
6
Atualmente, o CBMDF possui 60 viaturas do tipo Auto Bomba Tanque – ABT –, 28 do
tipo Auto Serviço de Extinção – ASE – e 2 escadas mecânicas que contam com esse sistema,
sendo que as primeiras viaturas chegaram em 2013 (DISTRITO FEDERAL, 2017). O Corpo
de Bombeiros Militar do Estado de Goiás – CBMGO – ainda não possui viaturas com o referido
sistema, bem como também não tem este divulgado em seus cursos para uma investigação mais
a fundo sobre suas vantagens.
Posto isso, esta pesquisa procura trazer a literatura voltada ao CAFS, bem como seus
testes e resultados, tendo como objetivo geral mostrar a importância de sua utilização no
combate a incêndio urbano, e como objetivos específicos produzir um material mais robusto e
específico sobre o tema, ainda pouco tratado na literatura brasileira; prover uma fonte de
pesquisa adicional ao Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás (CBMGO) para análise
inicial da referida tecnologia; realizar testes de distância de jato da espuma produzida por
esguicho proporcionador e por proporcionador entrelinhas, para fins de embasamento quanto a
maior eficiência do CAFS em relação a estes equipamentos.
2. CONCEITO DE ESPUMA
Segundo o Manual Básico de Combate a Incêndio do Corpo de Bombeiros Militar do
Distrito Federal – CBMDF – (2013, p. 102), as espumas podem ser definidas como:
sistemas constituídos por uma fase contínua líquida (na superfície) e uma
dispersão gasosa (no interior), apresentando uma estrutura formada pelo
agrupamento de várias células (bolhas) originadas a partir da introdução de
agentes tensoativos e ar na água.
Buscando em Ferreira (2007, p. 20), tem-se que a espuma é produzida “através da
mistura do ar com uma solução que contém espuma mecânica e água”, o que vai ao encontro
com o Manual Técnico de Bombeiro 43 – MTB 43 – do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar
do Estado de São Paulo – CBPMESP – (2006, p. 4), que afirma sucintamente ser “um
aglomerado de bolhas formado pela mistura de água, extrato formador e ar”.
Portanto, em suma e tirando por base as referências citadas, pode-se dizer que a espuma
é um conjunto de bolhas, as quais individualmente são formadas pelo ar envolvido por uma
camada de solução aquosa.
7
3. CLASSIFICAÇÃO DA ESPUMA
A espuma pode ser classificada de algumas formas, sendo que para elucidação da
referida pesquisa foram destacadas as classificações a seguir.
3.1. Quanto ao Processo de Formação
Quanto ao processo de formação, a literatura traz principalmente dois tipos: espuma
química e espuma mecânica.
Com seu emprego não mais normatizado, a espuma química se forma através de uma
reação química entre o sulfato de alumínio e bicarbonato de sódio, a qual libera dióxido de
carbono (CO2) que, por sua vez, é o gás que fica no interior das bolhas (FERREIRA, 2007). No
Manual de Combate a Incêndio da Marinha do Brasil (2000) é explanado que a espuma química
é mais consistente que a mecânica e que seu uso é mais eficaz em combustíveis leves, como a
gasolina.
Já a espuma mecânica é a utilizada pelos Corpos de Bombeiros Militares para combate
a incêndio e, por isso, os manuais dessas corporações geralmente definem espuma tomando por
base sua formação mecânica. Para ser produzida mecanicamente, a espuma necessita de água,
extrato e ar. A solução é formada por água e extrato. Essa solução passa por um esguicho onde
é batida juntamente com o ar, tendo como resultado, portanto, a espuma (SÃO PAULO, 2006).
Há então a necessidade desse batimento mecânico.
3.2. Quanto à Capacidade de Expansão
Nessa classificação, há três tipos de espumas: de baixa, média e alta expansão, se
baseando em suas respectivas taxas de expansão e do mais adequado uso. Portanto essa taxa é
a relação entre o volume da solução aplicada e o volume de espuma resultante do processo de
formação.
Assim, Flores, Ornelas e Dias (2016), em seu Manual de Fundamentos de Combate a
Incêndio, mostram a relação entre a classificação e sua taxa de expansão, conforme
demonstrado no quadro 1.
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CLASSIFICAÇÃO
(Expansão) TAXA DE EXPANSÃO
Baixa Expansão Até 20 vezes
Média Expansão 20 até 200 vezes
Alta Expansão Mais de 200 vezes
Quadro 1 – Expansão da Espuma/Taxa de Expansão
Fonte: FLORES; ORNELAS; DIAS, 2016
Em um exemplo prático, para uma taxa de expansão de 200 vezes (média expansão),
em cada litro de solução (água mais extrato formador de espuma) serão acrescentados durante
o processo 199 litros de ar, produzindo assim 200 litros de espuma.
A espuma de baixa extensão é pesada e resistente, assim sendo mais recomendada para
incêndios intensos e para locais não confinados. A espuma de média expansão tem sua principal
utilização para abafar a vaporização de produtos químicos perigosos. Já a espuma de alta
expansão é ideal para incêndios em espaços confinados, pois seu uso em espaços abertos pode
sofrer obstrução por parte da ação do vento (SÃO PAULO, 2006). O quadro 2 faz a relação da
expansão com sua recomendação de uso.
CLASSIFICAÇÃO
(Expansão) RECOMENDAÇÃO DE USO
Baixa Expansão Incêndios intensos e locais não
confinados
Média Expansão Abafar a vaporização de produtos
químicos perigosos
Alta Expansão Incêndios em espaços confinados
Quadro 2 – Expansão da espuma/Recomendação de Uso
Fonte: SÃO PAULO, 2006
4. FORMAS DE ATUAÇÃO DA ESPUMA (PRINCÍPIO DE EXTINÇÃO)
De acordo com Aguiar (2014), a espuma age no combate a incêndio de duas formas:
abafamento e resfriamento. A espuma irá cobrir a superfície do combustível em chamas, o que
interrompe o contato deste com o comburente, neste caso, o ar. E, na medida em que a água
presente na espuma se transforma em vapor, retira calor do combustível, resfriando-o.
A ação principal é de abafamento, mas que, pelo fato de conter água na sua formação,
age secundariamente por resfriamento (INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA
E TECNOLOGIA, 2015).
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5. CARACTERÍSTICAS DA ESPUMA
A espuma para combate a incêndio foi desenvolvida com intuito de contornar algumas
limitações que a água, com suas características, apresenta (FIGUEREDO; RIBEIRO;
SABADINI, 1998). Utilizando estudo dos autores citados anteriormente, pode-se abordar
algumas características, a saber:
a) Tensão superficial: a espuma diminui a alta tensão superficial que a água possui,
fazendo com que o combustível fique molhado com mais facilidade e que o agente
tenha maior penetração neste;
b) Viscosidade: a espuma dá maior viscosidade à água, o que possibilita maior tempo
de permanência do agente extintor sobre a superfície, com o escoamento mais lento,
e assim melhorando a atuação, principalmente em superfícies verticais;
c) Densidade: a espuma tem baixa densidade em comparação com a água e líquidos
combustíveis/inflamáveis, o que permite que o agente extintor fique na superfície
para abafar e resfriar o líquido em chamas sem que o faça transbordar.
No MTB 43 do CBPMESP (2006) são elencadas características que uma espuma de boa
qualidade deve ter, a saber:
d) Fluidez: a espuma deve cobrir o combustível em chamas com rapidez;
e) Resistência ao calor: as propriedades da espuma em determinada quantidade devem
garantir que sua integridade seja mantida em altas temperaturas;
f) Resistência ao combustível: a espuma deve manter sua capacidade extintora quando
em contato com determinado combustível.
6. CLASSES DE INCÊNDIO E O RESPECTIVO USO DA ESPUMA
O uso da espuma para combater os incêndios Classe A foi avaliado pela primeira vez na
década de 1930. Estudos iniciais mostraram que a espuma aplicada nos combustíveis Classe A
poderiam suprimir os incêndios de forma mais eficiente do que a água comum na maioria dos
casos (UNITED STATES FIRE ADMINISTRATION, 1996). A indicação do uso da espuma
em incêndios Classe A tem por base as características elencadas no subtítulo “2.4.”, com
exceção da letra “c” (densidade).
A espuma é um dos agentes extintores mais indicados para o combate a incêndios Classe
B, agindo principalmente por abafamento (RIO DE JANEIRO, 2017). A indicação do uso da
espuma nos incêndios da referida classe tem por base as características elencadas no subtítulo
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“2.4.”, com exceção das letras “a” (tensão superficial) e “b” (viscosidade). Ademais, a espuma
mecânica não é recomendada para incêndios em gases (GOIÁS, 2014).
Por conter água, não é recomendado o uso da espuma no combate a incêndios Classe C
(equipamentos energizados). Tal afirmação refere-se à espuma utilizada pela maioria dos
Corpos de Bombeiros Militares do Brasil (GOIÁS, 2017). Pelo mesmo motivo (conter água),
também não é indicada para combater incêndios Classe D (metais pirofóricos), pois reagem
violentamente com água (RIO DE JANEIRO, 2017).
O quadro 3 faz uma sucinta relação entre a classe de incêndio e a recomendação de uso
da espuma.
CLASSE DE INCÊNDIO RECOMENDAÇÃO DE USO DA
ESPUMA
Classe A SIM
Classe B SIM
Classe C NÃO
Classe D NÃO
Quadro 3 – Classe de Incêndio/Recomendação de Uso da Espuma
Fonte: RIO DE JANEIRO, 2017
7. EQUIPAMENTOS FORMADORES DE ESPUMA
A produção de uma espuma de boa qualidade requer equipamentos apropriados para tal.
Isso se deve ao fato de que a dosagem correta do extrato formador de espuma é essencial à
obtenção dos resultados pretendidos no combate a incêndio. O desenvolvimento de
equipamentos formadores de espuma veio a garantir essa dosagem (SÃO PAULO, 2006).
7.1. Proporcionador Entrelinhas e Esguicho Lançador
Conhecido também como proporcionador de linha, o proporcionador entrelinhas opera
com o princípio de Venturi (SÃO PAULO, 2006). A figura 1 ilustra esse sistema.
O princípio de Venturi consiste na passagem de água sob pressão por uma região
reduzida do proporcionador entrelinhas, onde há aumento de velocidade da água, gerando a
sucção do extrato formador de espuma pelo tubo coletor (SÃO PAULO, 2006).
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Figura 1 – Entrelinhas e Sucção pelo princípio de Venturi
Fonte: SÃO PAULO, 2006
O equipamento deve ser operado entre dois lances de mangueiras, fato que gerou o nome
entrelinhas (SÃO PAULO, 2006). Porém, segundo Ferreira (2007, p. 47), pode ser usado
também “diretamente da expedição da bomba ou junto ao esguicho”. A figura 2 mostra um
proporcionador entrelinhas e seus componentes.
Figura 2 – Proporcionador entrelinhas e seus componentes
Fonte: PROTECTOR FIRE, 2015
O proporcionador entrelinhas possui uma válvula dosadora que permite uma graduação
que varia de 1% a 6% dependendo do tipo de extrato formador de espuma a ser usado
(FERREIRA, 2007).
O esguicho lançador de espuma é um tubo metálico que não possui controle de vazão e
angulação do jato (FLORES; ORNELAS; DIAS, 2016). Tem um aparato para entrada de ar,
que adiciona este à pré-mistura, fazendo o batimento mecânico resultando na espuma. Para isso,
precisa de um proporcionador entrelinhas com vazão igual a do esguicho (FERREIRA, 2007).
A figura 3 apresenta um esguicho lançador de espuma e seus componentes.
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Figura 3 – Esguicho lançador de espuma e seus componentes
Fonte: PROTECTOR FIRE, 2015
7.2. Esguicho Proporcionador de Espuma
Esse tipo de esguicho integra em um só aparelho o proporcionador de espuma e o
equipamento lançador, possuindo assim dois dispositivos de sucção: um para o extrato
formador de espuma e outro para a entrada de ar (SÃO PAULO, 2006).
De acordo com Landim (2007, p. 22), esse esguicho não tem recebido muita atenção
por partes dos pesquisadores de técnicas de combate a incêndio por apresentar apenas a forma
de espuma molhada (baixa expansão), devido sua “pouca capacidade de aeração da mistura e
por utilizarem mais concentrado de espuma que o necessário”.
Também tem a desvantagem de limitar a mobilidade da guarnição de combate, visto que
o recipiente de extrato formador de espuma deve ficar junto ao esguicho pelo fato de o tubo
coletor (pick-up) fazer parte deste, diferentemente do que acontece com os proporcionadores
entrelinhas (SÃO PAULO, 2006), quando da utilização entre dois lances de mangueiras ou
diretamente na boca expulsora da viatura.
A foto 1 apresenta um esguicho proporcionador de espuma.
Foto 1 – Esguicho Proporcionador de Espuma
Fonte: Do Autor
13
7.3. Sistema de Espuma por Ar Comprimido (CAFS)
Na década de 1930, a Marinha Real do Reino Unido e a Marinha dos Estados Unidos
começaram os experimentos com a tecnologia que envolvia a produção de espuma por ar
comprimido. Em meados dos anos 1970, o Texas Forest Service (Serviço Florestal do Texas)
foi o primeiro a empregar o CAFS no combate a incêndio florestal (MITCHELL, 2013).
De acordo com Taylor (1997), em meados dos anos 1980, pesquisas da U.S. Bureau of
Land Management (Serviço de Gestão de Terras dos Estados Unidos) deixou o CAFS com
características e desenho mais modernos de compressores de ar rotativos, bombas centrífugas
e sistemas de doseamento de espuma por injeção direta.
Em 1988, o CAFS recebeu notoriedade nos Estados Unidos quando, durante os
incêndios do Parque Nacional de Yellowstone, um prédio de quatro andares foi protegido com
sucesso pela cobertura de espuma produzida por ar comprimido (TAYLOR, 1997).
7.3.1. Princípio de Funcionamento do CAFS
O CAFS é um equipamento formado por moto-bomba, compressor de ar e
proporcionador de extrato formador de espuma, capaz de produzir espuma de alta qualidade
(DISTRITO FEDERAL, 2007). A figura 5 representa o funcionamento desse equipamento.
Figura 4 – Princípio de funcionamento do CAFS
Fonte: GIMAEX SCHMITZ, 2007 apud DISTRITO FEDERAL, 2007
Segundo a National Fire Protection Association (Associação Nacional de Proteção
contra Incêndio dos Estados Unidos) – NFPA – (2005), o CAFS utiliza um método de geração
de espuma por ar comprimido usando uma câmara de mistura para combinar ar ou nitrogênio
sob pressão, água e extrato formador de espuma nas proporções corretas. Landim (2007, p. 13)
14
afirma que esse equipamento consiste em um “conjunto moto-bomba capaz de fornecer espuma
de alta pressão por meio de mangotinhos e mangueiras”.
7.3.2. Formas de Atuação da Espuma do CAFS
Segundo a empresa Gimaex Schmitz (2016), o CAFS One Seven® trabalha em três
frentes de extinção: abafamento, resfriamento e isolamento. Segue abaixo a descrição de cada
uma de acordo com a citada empresa:
• Abafamento: a cobertura contínua da superfície de combustíveis líquidos e sólidos
evita a liberação de gases e vapores inflamáveis;
• Resfriamento: uma espuma de combate a incêndio One Seven® adere-se ao material
em chamas como a espuma de barbear e assegura um resfriamento rápido;
• Isolamento: a espuma de combate a incêndio One Seven® aplicada em estruturas ao
redor da base do fogo evita a radiação de calor e, assim, evita que o fogo se espalhe.
7.3.3. Tipos de Espuma do CAFS
O CAFS utilizado em testes realizados pelo CBMDF, o One Seven® da empresa Gimaex
Schmitz, possui três opções de tipos de espuma: espuma molhada, espuma seca e água molhada
(DISTRITO FEDERAL, 2007).
A espuma molhada é a espuma padrão utilizada pelo sistema. Ela garante grande
distância do jato, sendo funcional tanto para ataque direto como indireto. Recomendado, assim,
para o combate (DISTRITO FEDERAL, 2007).
Com menor utilização de água, a espuma seca tem menor distância de lançamento,
porém com boa propriedade de isolamento térmico, e assim, com indicação para ser utilizada
em superfícies que ainda não foram atingidas pelo fogo. Outra utilização dessa espuma é para
combate a incêndios classe C, dentre eles em transformadores e geradores, obedecendo uma
distância mínima de lançamento e máxima de tensão, assunto ainda a ser tratado (DISTRITO
FEDERAL, 2007).
A água molhada é utilizada somente para espuma Classe A. É recomendado seu uso
para fazer rescaldo, pois a inclusão de pouco extrato na sua formação é apenas para dar um
pouco mais de poder de penetração da água no material combustível, principalmente aqueles
com profundidade (DISTRITO FEDERAL, 2007). Pode-se ver no quadro 4 o resumo da
recomendação de uso dos tipos de espuma do CAFS.
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TIPO DE ESPUMA DO CAFS RECOMENDAÇÃO DE USO
Espuma molhada Combate
Espuma seca Proteção
Água molhada Rescaldo
Quadro 4 – Tipo de Espuma do CAFS/Recomendação de Uso
Fonte: DISTRITO FEDERAL, 2007
8. METODOLOGIA
Classificando a pesquisa quanto à sua natureza, pode ser considerada uma pesquisa
básica. Este tipo de pesquisa tem o objetivo de gerar conhecimentos sem aplicação prática
prevista, envolvendo verdades e interesses universais (PRODANOV; FREITAS, 2013).
Através de conhecimentos já produzidos sobre o CAFS, incluindo testes já documentados, a
pesquisa não tem o intuito de aplicação imediata, apenas produzir entendimento sobre essa
tecnologia.
Quanto aos procedimentos, trata-se de uma pesquisa bibliográfica em sua maior parte,
e pesquisa experimental no que se refere a alguns testes realizado pelo autor. Encontramos em
Lakatos (2007) que a pesquisa bibliográfica é fonte secundária, que abrange tudo que já foi
publicado, escrito, dito ou filmado. Portanto, grande parte do material produzido foi
referenciado em escritos de quem já fez estudos e testes relativos aos CAFS e demais assuntos
em questão. Prodanov e Freitas (2013) dizem que a pesquisa experimental é aquela em que o
pesquisador refaz condições de um fato sob estudo, utilizando aparelhos e instrumentos, em
local sob controle, estudando assim a relação causa-efeito. Foram feitos testes práticos dos
aparelhos formadores de espuma utilizados pelo CBMGO, no que tange à distância dos jatos
de espuma.
Para a análise e conclusão da importância do uso do CAFS, foram feitos, basicamente,
comparativos entre o CAFS da marca One Seven®, da empresa Gimaex Schmitz. e o uso da
água, bem como entre aquele e os equipamentos formadores de espuma comumente utilizados
pela maioria dos Corpos de Bombeiros Militares do Brasil, inclusive pelo CBMGO. Os dados
foram obtidos através de estudos e testes realizados no Brasil e no exterior.
16
Por fim, esta pesquisa teve limitações no que tange a referências bibliográficas
específicas, principalmente em língua portuguesa, bem como a uma maior quantidade de testes,
seja de outras corporações brasileiras, seja de CAFS de outras marcas.
9. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para atender ao objetivo geral da pesquisa, segue-se a apresentação dos resultados.
Entenda-se o termo CAFS como o sistema One Seven®, da empresa Gimaex Schmitz, bem
como seus acessórios e o extrato formador de espuma fornecido por esta, por ter sido o CAFS
trazido ao Brasil e testado cientificamente por um Corpo de Bombeiros Militar, como já dito, o
CBMDF.
9.1. Análise do CAFS em Relação à Água
Para análise do uso do CAFS em combate a incêndios Classe A (combustíveis sólidos),
o CBMDF fez um teste onde foram utilizados 160 elementos de madeira, nos quais foi ateado
fogo. Ao combater com água, foram gastos 1.560 litros, levando 8 minutos para que as chamas
fossem debeladas. Porém, depois de certo tempo, houve nova ignição (BRAGA, 2017). Assim,
necessitaria de novo combate ou, após extinção das chamas, continuar com o rescaldo. De
qualquer forma, gastaria mais tempo e mais água do que o já aferido.
Para a mesma quantidade de madeira, ao fazer combate direto com CAFS, gastou-se
250 litros de água, debelando as chamas em 3 minutos e 30 segundos. Não houve nova ignição
(BRAGA, 2017). Nota-se aí as características da espuma já relatadas nesta pesquisa. A inclusão
de extrato formador de espuma e grande quantidade de ar fez com que se utilizasse bem menos
água. Além disso, as propriedades da água que foram modificadas, como tensão superficial e
viscosidade, por exemplo, fizeram com que o agente extintor cobrisse o combustível de forma
mais duradoura e eficiente, diminuindo assim o tempo de combate e evitando o reaparecimento
das chamas. Houve uma economia de aproximadamente 84% no emprego de água, ou seja,
utilizou-se seis vezes menos água com o CAFS, e usando menos da metade do tempo.
O quadro 5 mostra de forma sucinta o resultado do teste relatado acima.
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COMBATE
COM ÁGUA
COMBATE COM
CAFS
QUANTIDADE DE
ÁGUA UTILIZADA 1.560 litros 250 litros
TEMPO ATÉ
EXTINGUIR AS
CHAMAS
8 minutos 3 minutos e 30
segundos
OCORREU NOVA
IGNIÇÃO? Sim Não
Quadro 5 – Água versus CAFS: Consumo/Tempo de Combate
Fonte: BRAGA, 2017
Em teste realizado em uma casa de fumaça simulando uma residência, Braga (2017)
relata que foi colocado termopares, que são sensores simples de temperatura, em um dos
compartimentos, bem como 10 madeirites, nos quais foi ateado fogo. O propósito era verificar
a queda de temperatura em determinado período de tempo de combate. Foram feitos dois testes:
um fazendo combate com jato atomizado e outro com o CAFS. O resultado dos testes é
mostrado no gráfico 1.
Gráfico 1 – Taxa de queda de temperatura durante combate
Fonte: BRAGA, 2017
O gráfico 1 mostra a relação entre a queda de temperatura e o tempo de combate, tanto
com o uso do jato atomizado de água como com o uso do CAFS. As linhas verticais azuis
indicam início e fim do combate com água e as linhas verticais amarelas, início e fim com o
CAFS. Os combates iniciaram-se com a temperatura ambiental de aproximadamente 500 ºC.
Ao combater com o jato atomizado de água, percebeu-se uma queda de temperatura de
aproximadamente 2,9 ºC por segundo até chegar próximo à temperatura ambiental de 150 ºC
em cerca de 2 minutos de combate. Ao combater com CAFS, a queda de temperatura foi de
18
18,6 ºC por segundo, deixando a temperatura ambiental próximo a 100 ºC em apenas 20
segundos de combate. Portanto, combatendo com o CAFS, os Bombeiros Militares extinguiram
o incêndio com mais rapidez e, consequentemente, ficaram menos tempo expostos a
temperaturas muito elevadas, assim tendo menos desgaste físico.
No que tange a combate a incêndios Classe B, o uso da água não é recomendado por
causar alguns comportamentos extremos do fogo devido a sua densidade ser maior do que a de
líquidos combustíveis/inflamáveis (GOIÁS, 2017). Um desses comportamentos extremos é o
Slop Over. “Quando a água é aplicada diretamente sobre a superfície em chamas do líquido, ela
afunda parcialmente no líquido quente e vaporiza-se, expelindo o combustível em chamas para
fora do tanque” (GOIÁS, 2017, p. 63). Além de não ser um combate muito eficaz, ainda pode
causar acidentes graves.
Outro comportamento extremo que o uso da água pode causar é chamado de Boil Over.
Nesse caso, a água aplicada sobre o líquido em chamas poderá descer até o fundo, acumulando-
se. Em um incêndio duradouro, a onda de calor irá propagar-se da superfície até a camada de
água, fazendo com que esta mude para o estado gasoso. Quando isso acontece, as bolhas
empurram o líquido em chamas para fora do recipiente. Nesse evento, o líquido em chamas
pode chegar a uma distância de projeção de até dez vezes o diâmetro do tanque (GOIÁS, 2017).
Figueredo, Ribeiro e Sabadini (1998) observam outra possiblidade de acidente ao usar água
nesses casos, que é o simples transbordamento do líquido em chamas.
Visto que o empecilho de se usar água em combate a incêndio Classe B diz respeito
principalmente à sua alta densidade relativa, a espuma, principalmente a do CAFS (pela maior
consistência e homogeneidade, a ser tratado mais à frente), veio a modificar essa característica.
Como já abordado na parte de características da espuma, o acréscimo de ar na mistura faz com
que a espuma seja menos densa que a maioria dos líquidos combustíveis/inflamáveis. Como
apontam Figueredo, Ribeiro e Sabadini (1998), isso faz com que ela flutue pela superfície do
líquido em chamas, abafando-o e resfriando-o sem que o faça transbordar.
Em relação a combate a incêndios Classe C, que é quando não é possível o corte do
fornecimento de energia elétrica do local, a recomendação é de utilização de agentes extintores
que não possuam água na sua composição, pela condutividade elétrica desta (DISTRITO
FEDERAL, 2013; GOIÁS, 2017; RIO DE JANEIRO, 2017). Em algumas doutrinas, como os
Manuais de Combate a Incêndio dos Corpos de Bombeiros Militares do Estado de Goiás (2017)
e do Distrito Federal (2013), fala-se que em caso de necessidade, água poderia ser usada
respeitando algumas distâncias a serem mostradas no quadro 6.
19
TIPO DE JATO ESGUICHO
(POLEGADA)
DISTÂNCIA DE
SEGURANÇA
Neblinado 11 2⁄ ou 21 2⁄ 3 metros
Sólido ou compacto 11 2⁄ 6 metros
Sólido ou compacto 21 2⁄ 10 metros
Quadro 6 – Tipo de jato d’água/Distância de segurança Classe C
Fonte: DISTRITO FEDERAL, 2013
Porém, vale destacar que, além de obedecidas as distâncias relatadas acima, poderá ser
usada água desde que a fonte seja de até 600 Volts (DISTRITO FEDERAL, 2013).
Quanto ao uso do CAFS nos incêndios Classe C, foram feitos testes laboratoriais com o
sistema One Seven® e seu respectivo extrato formador de espuma, utilizando o tipo “espuma
seca”. Conforme relatório que consta no Anexo A, o teste consistiu em medir a fuga de corrente
elétrica entre dois pontos com distância de 4 metros entre si, os quais simulavam, de um lado,
o combatente e, do outro lado, a fonte de tensão. Basicamente, eram dois testes: um simulando
a fuga de corrente sem uso de qualquer agente extintor e outro com uso da espuma seca do
CAFS. Foram utilizados diferentes valores progressivos de voltagem até 100 kV (100.000
Volts) e teve como parâmetro a fuga de corrente máxima permitida de 500 µA (500
microAmpere ou 5 x 10-4 Ampere).
Sem a necessidade de entrar em mais detalhes técnicos (já constantes do Anexo A), a
conclusão que se teve é que no combate com a espuma seca do CAFS, na distância de segurança
de 4 metros, com a fonte de 100.000 Volts – 167 vezes o valor máximo permitido com uso de
água (600 Volts) – a fuga de corrente foi de 326,94 µA – menor do que o valor máximo
permitido pelo teste (500 µA) para que se atestasse o uso. Segundo Sadiku, Alexander e Musa
(2014), corrente elétrica menor que 1 mA não causa nenhuma sensação ao corpo humano, vindo
a causar formigamento a partir de 1 mA – 1.000 µA –, ou seja, o triplo do valor de fuga de
corrente com uso do CAFS (326,94 µA).
Cabe dizer que, de acordo com Landim (2007), o fabricante recomenda usar o CAFS a
uma distância de 4 metros em instalações elétricas de até 35.000 Volts (ainda assim bem acima
do máximo recomendado para uso de água). Outra recomendação é a distância de 1 metro para
fontes de até 230V (DISTRITO FEDERAL, 2007).
E por fim, outra vantagem importante do combate com o CAFS em relação à água diz
respeito à comodidade do combatente. Segundo Colleti (2004 apud AGUIAR, 2014), a linha de
20
mangueira do CAFS fica bem mais leve pelo fato de ter grande quantidade de ar na composição,
o que diminui sobremaneira o desgaste do Bombeiro Militar na hora do combate.
9.2. Análise do CAFS em Relação a Outros Equipamentos Formadores de Espuma
De acordo com Grimwood (2007 apud LANDIM 2007), na Universidade de Caterbury
da Nova Zelândia, foi realizado um teste com objetivo de analisar quatro parâmetros em relação
ao uso do jato atomizado, da espuma por esguicho proporcionador e do CAFS. Para o teste, foi
ateado fogo em um engradado de madeira dentro de um compartimento de 5,74 m², com 3,6 m
de altura. Os parâmetros observados eram: 1) Consumo médio de água; 2) Alcance de
temperatura ambiental suportável; 3) Taxa de calor liberada; e 4) Resfriamento da camada de
fumaça. Sobre os itens 2 e 3, não houve variação significativa entre os três métodos. Quanto ao
item 4, o jato atomizado foi um pouco mais efetivo. Dessa forma, entre o CAFS e o esguicho
proporcionador também não houve variação significativa no item 4.
Porém, no que tange ao consumo médio de água (item 1), o CAFS mostrou-se superior
também ao outro equipamento formador de espuma, economizando aproximadamente 43% de
água em determinado tempo comum de combate (não informado), conforme quadro 7.
MÉTODO DE COMBATE QUANTIDADE DE ÁGUA
UTILIZADA
CAFS 12 litros
Espuma por esguicho
proporcionador 21 litros
Quadro 7 – CAFS versus Esguicho proporcionador – consumo de água
Fonte: GRIMWOOD, 2007 apud LANDIM, 2007
Com o objetivo de fazer uma relação entre a redução de temperatura do ambiente e o
tempo de combate, foram realizados testes também nos Estados Unidos empregando os mesmos
métodos utilizados pelos neozelandeses. O teste foi feito em um ambiente fechado de 12 m²,
com 2,64 m de altura. Foram colocados sensores de temperatura que captaram a redução da
temperatura de 538 ºC a 100 ºC (GRIMWOOD, 2007 apud LANDIM, 2007) e puderam
determinar as taxas de queda da temperatura apresentadas no quadro 8, fazendo a comparação
entre o CAFS e a espuma de um esguicho proporcionador.
21
MÉTODO DE COMBATE TEMPO DE COMBATE TAXA DE QUEDA DE
TEMPERATURA
CAFS 38,5 segundos 11,4 ºC/seg
Espuma por esguicho
proporcionador 102,9 segundos 4,3 ºC/seg
Quadro 8 – CAFS versus Esguicho proporcionador – Taxa de queda de temperatura
Fonte: GRIMWOOD, 2007 apud LANDIM, 2007
Portanto, o teste mostrou que a espuma produzida por esguicho proporcionador
necessitou de mais que o dobro do tempo utilizado pelo CAFS para fazer a mesma redução de
438 ºC da temperatura ambiental.
Em se tratando de regulagem do proporcionador de extrato formador de espuma, o
combate com CAFS gasta menos extrato produzindo uma espuma de consistência superior à
dos proporcionadores entrelinhas e esguichos proporcionadores (LANDIM, 2007). Conforme
já tratado, a válvula do proporcionador entrelinhas possui regulagem que vai desde 1% até 6%,
sendo que o esguicho proporcionador não possui qualquer regulagem. Já o proporcionador do
CAFS possui a regulagem de 0,1%, 0,3%, 0,5% e 0,6% de acordo com o objetivo do combate
e o tipo de extrator formador de espuma (DISTRITO FEDERAL, 2007). O quadro 9 traz melhor
esquematizada essa relação.
TIPO DE EXTRATO REGULAGEM NO
PROPORCIONADOR
Classe A
0,3% Espuma (Padrão)
0,1% Água Molhada
Classe B 0,5% Espuma (Padrão)
Classe B-AR 0,6% Espuma (Padrão)
Quadro 9 – Tipo de Extrato do CAFS/Regulagem
Fonte: DISTRITO FEDERAL, 2007
De acordo com o que já foi exposto, o tipo de espuma padrão do CAFS é a espuma
molhada e, segundo Landim (2007), a porcentagem padrão do proporcionador desse sistema é
de 0,3%, inclusive para a espuma seca. Porém, como mostra o quadro 9, quando se muda o tipo
de extrato deve-se mudar a porcentagem de proporção, dependendo da classe de incêndio.
Pode-se concluir que, por exemplo, em um combate a incêndio em líquido combustível
com álcool (extrato Classe B-AR), que é o de maior proporção (0,6%), o CAFS teria uma
economia de 40% de extrato formador de espuma em relação à menor proporção que pode ser
22
regulada nos equipamentos comuns (1%). Porém o tipo de extrato utilizado por outros
equipamentos para combate a incêndio em álcoois varia sua regulagem de 3% a 6% (SÃO
PAULO, 2006). Considerando a vazão de 150 litros por minuto, seriam gastos 900 ml de extrato
por minuto no CAFS e pelo menos 4,5 litros por minuto no equipamento comum. Em um
combate de 5 minutos, o CAFS gastaria 4,5 litros e o outro equipamento 22,5 litros de extrato,
ou seja, neste último caso, o recipiente padrão, que é de 20 litros, não duraria nem os 5 minutos,
isso sem considerar a eficácia das espumas produzidas por cada equipamento.
Em se tratando de qualidade e consistência da espuma, a forma de proporção de extrato
e de ar do CAFS assegura um fluxo constante de espuma de acordo com o tipo desta. As bolhas
produzidas são relativamente pequenas e homogêneas, diferente das produzidas por
equipamentos comuns. Essa característica do CAFS torna mais consistente a barreira de
espuma, possuindo, assim, uma melhor aderência a superfícies verticais, permitindo um bom
uso como linha fria (LANDIM, 2007). Portanto, torna-se mais eficiente, nesse quesito, para
fazer isolamento térmico de superfícies, verticais ou horizontais, ainda não atingidas pelo
incêndio.
No que tange à distância de lançamento do jato, atendendo ao terceiro objetivo
específico desta pesquisa, foram realizados testes no 1º Batalhão Bombeiro Militar do CBMGO,
em Goiânia, no dia 17 de novembro 2017, que consistiram em medir a distância do jato de
espuma utilizando tanto o esguicho proporcionador de espuma como o proporcionador
entrelinhas/esguicho lançador (três testes com cada equipamento), com pressão residual de 100
PSI, e angulação de 45º do esguicho, por ser esta, segundo informação verbal2, a de maior
alcance do jato. Ao utilizar o esguicho proporcionador, o jato atingiu até 18 metros e, utilizando
o proporcionador entrelinhas/esguicho lançador, o jato atingiu até 15 metros. Maiores detalhes
sobre os testes podem ser vistos no Apêndice A.
Quanto ao CAFS, seu compressor de ar também tem a função de impulsionar a espuma
no sistema (GOIÁS, 2017). Assim como aponta Landim (2007, p. 23), que diz que o CAFS “é
considerado um sistema de alta pressão porque alia a energia hidráulica da pressurização da
água com a energia pneumática do ar pressurizado, que propulsiona e aera a espuma,
respectivamente”. Pressão essa que o equipamento comum possui apenas hidraulicamente.
Assim, com o CAFS, o jato atinge uma distância superior a 25 metros, o que possibilita aos
combatentes ficarem mais distantes das chamas. A capacidade de pressurização da linha de
mangueira do CAFS é de 3.000 metros de distância na horizontal e 250 metros na vertical
2 Informação prestada pelo 1º Ten QOC Luis Antônio Dias Araújo – CBMGO, Instrutor Flashover.
23
(LANDIM, 2007). Dessa forma se torna um bom equipamento para se ter, por exemplo, em
uma viatura do tipo escada mecânica de altura considerável para combates elevados. O quadro
10 resume as referidas distâncias.
EQUIPAMENTO DISTÂNCIA DOS
JATOS
CAFS Superior a 25 metros
Esguicho Proporcionador Até 18 metros
Entrelinhas/esguicho
lançador Até 15 metros
Quadro 10 – Distâncias dos jatos
Fonte: Do Autor; LANDIM, 2007
Novamente em análise de combate a incêndio Classe C, já foi exposto nesta pesquisa a
não recomendação do uso da espuma produzida por equipamentos comuns formadores de
espuma, pelo fato da presença de água na composição. Já a espuma seca do CAFS foi atestada,
por meio de relatório técnico, para seu uso nessa classe de incêndio, com a distância de
segurança de 4 metros, conforme demonstrado no Anexo A e em análise feita anteriormente.
Quanto à facilidade de operação do equipamento, Landim (2007) aponta que para
alternar o tipo de espuma do CAFS, o painel de controle possui botões específicos para espuma
molhada, espuma seca e água molhada. Ao apertar um botão, o operador faz com que o sistema
automaticamente proporcione a correta concentração na mistura, tanto de extrato como de ar.
Em outros equipamentos, o operador deve ter mais perícia e controlar manualmente essa
proporção através de uma válvula para proporção de extrato. E quanto à inserção de ar na
mistura, nos esguichos proporcionadores e lançadores de espuma a proporção será estabelecida
naturalmente pelos orifícios sem qualquer controle.
Além do combate com espuma, o CAFS também pode ser usado para o combate
utilizando apenas água. Para isso, o painel de controle permite desligar a função espuma em um
botão, e o sistema ainda conta com um esguicho regulável que possibilita vazões de 130, 235
ou 400 litros por minuto (LANDIM, 2007).
Quanto à comodidade do combatente, como já tratado na relação CAFS/água, a linha de
mangueira do CAFS fica bem mais leve pelo fato de ter grande quantidade de ar na composição,
que corre por toda a extensão da mangueira. Nos equipamentos comuns, o acréscimo de ar só
ocorre no esguicho, tornando, assim, a mangueira bem mais pesada do que utilizada no CAFS.
24
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por ter sido a água o principal, ou o único, agente extintor utilizado por anos pelos
Corpos de Bombeiros Militares do Brasil, é natural que haja dúvidas quanto à efetividade ou
mesmo necessidade de uso de outro agente para combate a incêndios, como os de Classe A, por
exemplo. Da mesma forma, tal dúvida pode surgir também quanto à necessidade de uso de
outro tipo equipamento formador de espuma, visto que os equipamentos comuns adquiridos já
possam parecer suprir de forma eficiente as demandas.
Porém, não foi objetivo desta pesquisa mostrar que a água pode ser substituída, ou que
se deve descartar equipamentos já adquiridos. Também não foi objetivo da pesquisa fazer
análise de custos de aquisição, visto que, para um estudo inicial, procurou-se apenas apresentar
a tecnologia, sugerindo assim que futuras pesquisas ainda mais densas possam acrescentar tal
item. O que se dá para extrair implicitamente sobre custos, sem análise numérica, é pelo menos
a diminuição da quantidade de água e extrato formador de espuma utilizados no combate com
o CAFS.
Buscou-se, portanto, estudar sobre uma tecnologia ainda não obtida e difundida pelo
CBMGO, com o aval científico de que a pesquisa é sempre bem-vinda quando se procura a
melhoria nas ações de uma instituição. Foram analisados estudos e testes para fazer a
compilação em um material específico que mostrasse a importância do uso do CAFS no
combate a incêndio urbano para servir de fonte de pesquisa adicional para o CBMGO. Tal
importância foi apresentada de forma objetiva, restando ao gestor decidir sobre sua aquisição
no futuro.
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26
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2017.
27
APÊNDICE A
TESTE DE DISTÂNCIA DOS JATOS DE ESPUMA
No dia 11 de novembro de 2017, no pátio do 1º Batalhão Bombeiro Militar, em Goiânia,
o próprio autor desta pesquisa e seu orientador – 1º Ten QOC Luis Antônio DIAS Araújo –
fizeram testes relativos às distâncias que atingem os jatos de espuma produzidos por
equipamentos formadores de espuma utilizados pelo CBMGO. Os testes consistiram em fazer
lançamentos de jatos, três vezes com cada equipamento, a uma pressão residual de 100 PSI com
angulação de 45º do esguicho, e medir a distância do jato em cada lançamento. A viatura
utilizada era do tipo Auto Bomba Tanque (ABT). Os equipamentos foram acoplados a uma
mangueira de 30 metros de comprimento e 11 2⁄ polegada de diâmetro, e seus respectivos tubos
coletores foram inseridos em um recipiente de LGE AFFF 3%-6% de 20 litros.
Primeiramente foi utilizado o esguicho proporcionador de espuma (Foto A1) e, depois,
o proporcionador entrelinhas (Foto A2) acoplado diretamente na boca expulsora da viatura,
com o esguicho lançador (Foto A3) na ponta da linha. Os resultados dos testes são apresentados
no quadro A1.
EQUIPAMENTO 1º teste 2º teste 3º teste
Esguicho
proporcionador 17 m 17,5 m 18 m
Entrelinhas/esguicho
lançador 14,5 m 15 m 15 m
Quadro A1 – Distâncias dos jatos de espuma
Fonte: Do autor
Foto A3 – Esguicho
Lançador de Espuma
utilizado pelo CBMGO
Fonte: Do Autor
Foto A2 – Proporcionador entrelinhas
utilizado pelo CBMGO
Fonte: Do Autor
Foto A1 – Esguicho
Proporcionador de Espuma
utilizado pelo CBMGO
Fonte: Do Autor