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1 Comando da Academia de Polícia Militar Escola de Pós-Graduação da PMGO Curso de Formação de Praças – CFP Polícia Ostensiva e Preservação da Ordem Pública GOIÂNIA Agosto/2017

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Comando da Academia de Polícia Militar

Escola de Pós-Graduação da PMGO

Curso de Formação de Praças – CFP

Polícia Ostensiva e Preservação da Ordem

Pública

GOIÂNIA

Agosto/2017

2

Sumário

INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 4

UNIDADE DIDÁTICA I – SISTEMA DE SEGURANÇA PÚBLICA ....................................... 5

2.1 Sistema de Segurança Pública no Brasil ...................................................................... 5

2.2 Sistema de Segurança Pública no Estado de Goiás ............................................... 8

2.3 Força Nacional e as Forças Armadas .............................................................................. 8

UNIDADE DIDÁTICA II – POLÍCIA MILITAR: POLÍCIA OSTENSIVA E PRESERVAÇÃO

DA ORDEM PÚBLICA ................................................................................................. 10

3.1 Conceitos fundamentais ....................................................................................................... 11

3.2 Características do Policiamento Ostensivo ............................................................... 14

3.2.1 Ação pública ........................................................................................................................ 14

3.2.2 Totalidade ............................................................................................................................. 14

3.2.3 Dinâmica ............................................................................................................................... 14

3.2.4 Legalidade ............................................................................................................................ 15

3.2.5 Ação de presença ............................................................................................................. 15

3.3 Princípios do Policiamento Ostensivo .......................................................................... 15

3.3.1 Universalidade ................................................................................................................... 15

3.3.2 Responsabilidade territorial ...................................................................................... 16

3.3.3 Continuidade ....................................................................................................................... 16

3.3.4 Efetividade ........................................................................................................................... 16

3.3.5 Aplicação ............................................................................................................................... 16

3.3.6 Isenção .................................................................................................................................. 16

3.3.7 Emprego lógico .................................................................................................................. 17

3.3.8 Antecipação ......................................................................................................................... 17

3.3.9 Profundidade ...................................................................................................................... 17

3.3.10 Unidade de comando ................................................................................................... 17

3.3.11 Objetivo .............................................................................................................................. 17

3.4 Variáveis do Policiamento Ostensivo ........................................................................... 18

3.5 Procedimentos da Polícia Militar..................................................................................... 19

3.5.1 Requisitos básicos ........................................................................................................... 19

3.5.2 Formas de empenho em ocorrências ................................................................... 20

3.5.3 Prevalência do aspecto preventivo sobre o repressivo na atuação da

Polícia Militar ................................................................................................................................... 24

UNIDADE DIDÁTICA III – POLÍCIA & SOCIEDADE .................................................... 24

3

4.1 Os problemas da sociedade atual ................................................................................... 24

4.2 A emergência de novos modelos (Por Theodomiro Dias Neto, do livro

“Policiamento Comunitário e o Controle sobre a Polícia”) .................................................... 27

4.3 A importância da polícia ...................................................................................................... 28

4.4 O ideal da instituição policial ............................................................................................ 28

4.5 Segurança como necessidade básica ........................................................................... 29

4.6 A polícia na satisfação das necessidades de segurança ................................... 30

4.7 Proação, Prevenção e Repressão .................................................................................... 30

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 31

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INTRODUÇÃO

No estágio atual de desenvolvimento das empresas e com o advento dos programas de qualidade, pelos quais passou-se a ter um norteamento das ações no sentido da gestão

qualitativa dos recursos humanos, materiais e financeiro, a Polícia Militar do Estado de Goiás, com o foco no cliente, objetiva uma prestação de serviço que atenda os anseios

da sociedade.

Na esteira desta evolução do comportamento empresarial, o poder público, voltou os olhos para esta cultura, absorvendo esta ideia e a implementando-a na execução de

seus serviços.

Sendo assim, nasceu dentro do Estado, um Programa de Qualidade, o qual dentro da

Polícia Militar do Estado de Goiás efetiva-se através do Procedimento Operacional Padrão - POP, visando a uniformização de procedimentos e correções de atitudes com o objetivo de uma prestação qualitativamente melhor do serviço de segurança pública.

Neste contexto, de forma compartimentalizada temos a disciplina de Polícia Ostensiva e Preservação da Ordem Pública, dentro da qual se busca dar conhecimentos holísticos

ao discente, para que o mesmo possa desempenhar suas atividades de policiamento ostensivo, de forma segura e eficiente.

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UNIDADE DIDÁTICA I – SISTEMA DE SEGURANÇA

PÚBLICA

2.1 Sistema de Segurança Pública no Brasil

Fundamentação Legal: Art. 144 da Constituição Federal de 1988

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do

patrimônio, através dos seguintes órgãos:

I - polícia federal;

II - polícia rodoviária federal;

III - polícia ferroviária federal;

IV - polícias civis;

V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública;

aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.

§ 6º As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.

§ 7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades.

§ 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei.

§ 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos órgãos relacionados

neste artigo será fixada na forma do § 4º do art. 39.

§ 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem pública e da

incolumidade das pessoas e do seu patrimônio nas vias públicas:

I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras atividades previstas em lei, que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana

eficiente; e,

II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, aos

respectivos órgãos ou entidades executivos e seus agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na forma da lei.

O art. 144 da CF/88, diz que a segurança pública é direito e responsabilidade de todos, o que nos leva a inferir que além dos policiais, cabe a qualquer cidadão uma

parcela de responsabilidade pela segurança. O cidadão na medida de sua capacidade, competência, e da natureza de seu trabalho, bem como, em função das solicitações da

própria comunidade, deve colaborar, no que puder, na segurança e no bem estar

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coletivo. A nossa pretensão é procurar congregar todos os cidadãos da comunidade

através do trabalho da Polícia, no esforço da segurança.

O policial é uma referência muito cedo internalizada entre os componentes da

comunidade. A noção de medo da polícia, erroneamente transmitida na educação e às vezes na mídia, será revertida desde que, o policial se faça perceber por sua ação

protetora e amiga.

O espírito de Polícia Comunitária que apregoamos se expressa de acordo com as seguintes ideias:

- A primeira imagem da POLÍCIA é formada na família;

- A POLÍCIA protetora e amiga transmitirá na família, imagem favorável que será

transferida às crianças desenvolvendo-se um traço na cultura da comunidade que aproximará as pessoas da organização policial;

- O POLICIAL, junto à comunidade, além de garantir segurança, deverá exercer função

didático-pedagógica, visando a orientar na educação e no sentido da solidariedade social;

- A orientação educacional do policial deverá objetivar o respeito à “Ordem Jurídica” e aos direitos fundamentais estabelecidos na Constituição Federal;

- A expectativa da comunidade de ter no policial o cidadão íntegro, homem interessado

na preservação do ambiente, no socorro em calamidades públicas, nas ações de defesa civil, na proteção e orientação do trânsito, no transporte de feridos em acidentes ou

vítimas de delitos, nos salvamentos e combates a incêndios;

- A participação do cidadão se dá de forma permanente, constante e motivadora, buscando melhorar a qualidade de vida.

Segurança Pública é o conjunto de garantias exigidas do Estado para a tutela dos direitos fundamentais dos cidadãos. É dever do Estado, direito e responsabilidade de

todos.

O conceito de Poder de Polícia é previsto no artigo 78 do Código Tributário Nacional (CTN), senão vejamos:

“Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que,

limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática

de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente

a segurança, higiene, a ordem, aos costumes, a disciplina da produção e

do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de

concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao

respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.”

Para VENTRIS (2010, p. 58):

“O Poder de Polícia não é exclusivo dos funcionários públicos com função

policial. O Poder de Polícia, expressão máxima da soberania do Poder

Público, é exercido pelos três Poderes no exercício da Administração de

sua competência. Todo funcionário público legalmente investido no

âmbito de sua competência legal, atua em nome do Estado, portanto a

sua atuação está revestida pelo Poder do Estado. É o Poder Público em

ação mediante a ação do funcionário público. Portanto, Poder de Polícia

não é exclusivamente da Polícia, qualquer que seja.”

Dessa forma, o Poder de Polícia é a capacidade que o Estado possui para limitar as

liberdades individuais em nome do interesse público para que a sociedade não seja privada do seu bem estar ou da sua segurança. É o mecanismo de frenagem do poder

público para conter os abusos do direito individual.

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Ordem Pública é a situação e o estado de legalidade normal, em que as autoridades

exercem suas precípuas atribuições e os cidadãos as respeitam e acatam.

Muitos juristas, entretanto, observam que a expressão ordem pública tem definição

vaga e ampla, e varia no tempo e no espaço, sendo mais fácil a sua percepção na vida social. Constituir-se-ia assim pelas condições mínimas necessárias a uma conveniente

vida social, a saber: segurança pública, salubridade pública e tranquilidade pública. É consenso, pois, que a ordem pública se materializa pelo convívio social pacífico e harmônico, pautado pelo interesse público, pela estabilidade das instituições e pela

observância dos direitos individuais e coletivos.

Do ponto de vista formal, a ordem pública é o conjunto de valores, princípios e normas

que se pretende sejam observados em uma sociedade. Do ponto de vista material, ordem pública é a situação de fato ocorrente em uma sociedade, resultante da disposição harmônica dos elementos que nela interagem, de modo a permitir um

funcionamento regular e estável, que garanta a liberdade de todos.

A ordem pública seria, assim, consequência da ordem jurídica ou do conjunto de regras

formais, que emanam do ordenamento jurídico da nação. Dessa forma, o conceito de ordem pública reflete os valores dominantes e a cultura jurídica vigente em determinada época - a Constituição, a noção de interesse social e dos direitos basilares

de uma coletividade.

O artigo 29, 2° da Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma que:

No exercício destes direitos e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e

o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e

do bem-estar numa sociedade democrática.

Numa democracia, a preservação da ordem pública deve, portanto, realizar-se dentro do ordenamento jurídico e pelos Poderes de Estado, de forma integrada e harmoniosa

de modo a garantir os direitos e interesses de uma nação livre e soberana.

Por preservação da ordem pública se entende a manutenção da ordem do Estado e

do bem social, através de ações coativas objetivando coibir as ameaças à convivência pacífica em sociedade. Estas ações coativas estão presentes em instrumentos judiciais, policiais, prisionais e promotorias públicas.

A segurança pública é a garantia que o Estado proporciona de preservação da ordem pública diante de toda espécie violação que não contenha conotação ideológica. É o

conjunto de processos políticos e jurídicos, destinados a garantir a ordem pública na convivência de homens em sociedade. Trata-se de função pertinente aos órgãos estatais

e à comunidade como um todo, realizada com o fito de proteger a cidadania, prevenindo e controlando manifestações de criminalidade e violência, efetivas ou potenciais, bem como garantindo o exercício pleno da cidadania nos limites da lei.

O regulamento para as Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares do Brasil, aprovado pelo Decreto n. 88.777/1983, conceitua ordem pública como sendo

o conjunto de regras formais, que emanam do ordenamento jurídico da Nação, tendo por escopo regular as relações sociais de todos os níveis no interesse público, estabelecendo um clima de convivência harmoniosa e pacífica, fiscalizado pelo poder de

polícia, e constituindo uma situação ou condição que conduza ao bem comum.

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2.2 Sistema de Segurança Pública no Estado de Goiás

Fundamentação Legal: Artigos 121 e 122 da Constituição Estadual de Goiás

Art. 121 – A Segurança Pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para assegurar a preservação da ordem pública, a incolumidade das pessoas, do patrimônio e do meio ambiente e o pleno e livre exercício dos direitos e

garantias fundamentais, individuais, coletivos, sociais e políticos, estabelecidos nesta e na Constituição da República, por meio dos seguintes órgãos:

I – Polícia Civil/ (Polícia Técnico-Científica);

II – Polícia Militar;

III – Corpo de Bombeiros Militar.

Art. 122 – As Polícias Civil e Militar e o Corpo de Bombeiros Militar subordinam-se ao Governador do Estado, sendo os direitos garantias, deveres e prerrogativas de seus

integrantes definidos em leis específicas, observados os seguintes princípios:

I – o exercício da função policial é privativo de membro da respectiva carreira, recrutado por concurso público de provas, ou de provas e títulos, e submetido a curso

de formação policial ou de bombeiro.

II – a função policial é considerada perigosa e a de bombeiro militar, perigosa e

insalubre;

III – será adotada política de especialização de policiais e bombeiros que se destacarem em suas atribuições, com a colaboração das universidades e cursos

especializados;

IV – na divulgação, pelos órgãos de segurança pública, aos veículos de comunicação

social, de fatos referentes à apuração de infrações penais, será assegurada a preservação da intimidade, da honra e da imagem das pessoas envolvidas, inclusive das testemunhas.

V – a criação de delegacia da polícia civil far-se-á por lei específica.

2.3 Força Nacional e as Forças Armadas

FORÇA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA

DECRETO Nº 5.289, de 29 de novembro de 2004.

Disciplina a organização e o funcionamento da administração pública federal, para

desenvolvimento do programa de cooperação federativa denominado Força Nacional de Segurança Pública, e dá outras providências.

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Considerando o disposto nos arts. 144 e 241 da Constituição e o princípio de solidariedade federativa que orienta o desenvolvimento das atividades do sistema único de segurança pública;

DECRETA:

Art. 1º Este Decreto disciplina as regras gerais de organização e funcionamento da

administração pública federal, para desenvolvimento do programa de cooperação federativa denominado Força Nacional de Segurança Pública, ao qual poderão

voluntariamente aderir os Estados interessados, por meio de atos formais específicos.

Art. 2º A Força Nacional de Segurança Pública atuará em atividades destinadas à preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, nas

hipóteses previstas neste Decreto e no ato formal de adesão dos Estados e do Distrito Federal.

A Força Nacional foi criada através do Decreto nº 5.289, de 29 de novembro de 2004,

sendo inicialmente instituída para atuação nos Estados-Membros para executar atividades de policiamento ostensivo, em casos de perturbação da ordem pública, incolumidade das pessoas e do patrimônio, através de acordos de cooperação.

Posteriormente, com o advento da Lei 11.437/2007, o Distrito Federal foi incluído no projeto mantendo-se as mesmas finalidades.

No ano de 2010, com a alteração no Decreto nº 5.289/2004, por meio do Decreto nº 7.318/2010, a Força Nacional passou a contar com integrantes das policiais civis e peritos forenses.

Trata-se de uma tropa de “pronta-resposta” sediada em Brasília, no Batalhão Escola de Pronto-Emprego (BEPE). Além disso, ampliou-se a cooperação, não só com os Estados-

Membros e Distrito Federal, como também em apoio aos órgãos federais como a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal. Ainda, suas atribuições não mais se resumem à atuação em policiamento ostensivo, mas também:

a) Desastres

b) Ações emergenciais de polícia ostensiva -

c) Ações de preservação do meio ambiente

d) Ações de perícia e de polícia civil - com emprego de servidores civis dos entes federados, por força do Decreto nº 7.318/2010.

e) Realização de bloqueios em rodovias;

f) Atuação em grandes eventos públicos de repercussão internacional;

g) Ações de defesa civil em caso de desastres e catástrofes.

A Força Nacional é composta por policiais militares, bombeiros militares, policiais civis e profissionais de perícia forense dos Estados-Membros, além de policiais

rodoviários federais e policiais federais.

De acordo com a Constituição Federal a Força Nacional de Segurança Pública não

está prevista como um órgão de segurança pública, porém atua como Força Policial e não como Força Militar de Intervenção que é natureza propriamente das Forças Armadas.

A Força Nacional não se trata de uma tropa federal, uma vez que a atuação nos Estados Federados é dirigida por seus gestores. Ela é uma integração entre os estados federados

e a União, passando esta a prestar apoio aos órgãos de segurança federais e estaduais, sob a coordenação do Ministério da Justiça, ou seja, são os estados que auxiliam o

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Estado solicitante. Por seu caráter federativo, e não “federal”, atua somente com pedido

direto do Governador do Estado ou, em caráter pontual, em apoio à Polícia Federal ou a outros órgãos federais e, diferentemente de outras tropas, subordina-se, quando em

operação, diretamente, ao comando da unidade federada quando em apoio a esta.

Forças Armadas:

O instrumento militar responsável pela defesa do Brasil é constituído pelas Forças Armadas, compostas pela Marinha do Brasil, pelo Exército Brasileiro e pela Força Aérea Brasileira.

Instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas sob a égide da hierarquia

e da disciplina, as Forças Armadas atuam sob a autoridade suprema do Presidente da República – seu comandante-em-chefe.

São funções das instituições militares: assegurar a integridade do território nacional;

defender os interesses e os recursos naturais, industriais e tecnológicos brasileiros; proteger os cidadãos e os bens do país; garantir a soberania da nação.

Também é missão das Forças Armadas a garantia dos poderes constitucionais constituídos e, por iniciativa destes, atuar na garantia da lei e da ordem para, em espaço

e tempo delimitados, preservar o exercício da soberania do Estado e a indissolubilidade da Federação.

As Forças Armadas atuam sob a direção superior do Ministério da Defesa (MD), que tem

a incumbência de orientar, supervisionar e coordenar as atividades desenvolvidas por essas instituições.

Em ações conjuntas, atuam sob a coordenação do Estado-Maior Conjunto das Forças

Armadas (EMCFA), órgão responsável pelo assessoramento do ministro da Defesa em operações e exercícios militares conjuntos e na atuação de forças nacionais em operações de paz.

Cabe ao EMCFA coordenar programas de interoperabilidade entre as Forças Singulares,

a fim de otimizar os meios militares na defesa do país, na segurança de fronteiras e em operações humanitárias e de resgate.

Cada um dos três Comandos Militares desempenha funções específicas na defesa da

integridade territorial e dos interesses da nação.

UNIDADE DIDÁTICA II – POLÍCIA MILITAR: POLÍCIA

OSTENSIVA E PRESERVAÇÃO DA ORDEM PÚBLICA

Polícia Militar – Lei nº 8.125, de 18/06/1976

Art. 124 - A Polícia Militar é instituição permanente, organizada com base na disciplina

e na hierarquia, competindo-lhe, entre outras, as seguintes atividades:

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I - o policiamento ostensivo de segurança;

II - a preservação da ordem pública;

III - a polícia judiciária militar, nos termos da lei federal;

IV - a orientação e instrução da Guarda Municipal, quando solicitadas pelo Poder Executivo municipal;

V - a garantia do exercício do poder de polícia, dos poderes e órgãos públicos estaduais, especialmente os das áreas fazendária, sanitária, de uso e ocupação do solo e do patrimônio cultural.

Parágrafo único - A estrutura da Polícia Militar conterá obrigatoriamente uma unidade de polícia florestal, incumbida de proteger as nascentes dos mananciais e os parques

ecológicos, uma unidade de polícia rodoviária e uma de trânsito.

3.1 Conceitos fundamentais

Constituição: Trata-se de norma fundamental que se sujeitou a processo legislativo

de formação diferenciado das demais normas do ordenamento, que define e trata das regras estruturais da sociedade, de seus alicerces fundamentais (formas de Estado,

governo, seus órgãos, etc).

Polícia Militar: é a Instituição Pública, organizada com base na hierarquia e disciplina, incumbida da preservação da ordem pública e da polícia ostensiva, nos respectivos

Estados, Territórios e no Distrito Federal.

Poder de polícia: o poder de polícia – um dos poderes administrativos – é a faculdade

de que dispõe a administração pública para o controle dos direitos e liberdades das pessoas, naturais ou jurídicas, inspirado nos ideais do bem COMUM.

Segurança pública

a) Estado antidelitual, de valor comunitário, que resulta da observância dos preceitos

contidos na legislação penal, podendo resultar das ações policiais preventivas ou repressivas ou ainda da simples ausência, mesmo que temporária, dos delitos. A segurança pública é aspecto da ordem pública e tem nesta o seu objeto.

b) A comunidade tem direito e responsabilidade pela segurança pública, dela participando, quando adota meios de defesa, que visem a sua segurança física e,

também, de seu patrimônio.

Ordem Pública

Fundamenta-se em um conjunto de regras formais, que emanam do ordenamento

jurídico brasileiro, tendo por escopo regular as relações sociais de todos os níveis, do interesse público, estabelecendo um clima de convivência harmoniosa e pacífica,

fiscalizado pelo poder de polícia, e constituindo uma situação ou condição que conduza ao bem comum.

Situação de tranquilidade e normalidade que o Estado deve assegurar às instituições e

a todos os membros da sociedade, consoante as normas jurídicas legalmente estabelecidas. A ordem pública existe quando estão garantidos os direitos individuais,

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a estabilidade das instituições, o regular funcionamento dos serviços públicos e a

moralidade pública, afastando-se os prejuízos à vida em sociedade, isto é, atos de violência, de que espécie for, contra as pessoas, bens ou o próprio Estado.

ORDEM PÚBLICA

TRANQUILIDADE PÚBLICA

Clima de convivência pacífica e bem-estar social,

onde reina a normalidade das coisas, isenta de sobressaltos ou aborrecimentos. É a paz pública nas

ruas, uma situação de bem estar social.

SALUBRIDADE PÚBLICA Situação em que se mostram favoráveis às

condições de vida.

Policiamento ostensivo: é ação exclusiva das Polícias Militares, em cujo emprego o homem ou a fração de tropa sejam identificados de relance, quer pela farda, quer pelo equipamento, armamento ou viatura, objetivando a preservação da ordem pública.

Polícia Ostensiva: denominação brasileira que evoluiu da expressão "policiamento ostensivo", ganhando dignidade constitucional com a Carta de 1988 e destinada a

preservar a ordem pública.

PERFIL DA POLÍCIA OSTENSIVA

1) atua preventivamente para assegurar a ordem pública;

2) atua repressivamente para restabelecer a ordem pública. No tocante às infrações

penais comuns, limita-se à repressão imediata, caracterizada no atendi- mento da ocorrência, incluído o estado de flagrância;

3) compreende os quatro modos de atuar do poder de polícia;

4) possui investidura militar;

5) exerce as funções de força policial nos termos da lei;

6) exerce as funções de polícia judiciária militar estadual sobre seus componentes;

7) integra-se ao sistema de defesa territorial da Nação como força auxiliar e reserva do Exército.

Estratégia Policial Militar São alternativas e decisões que caracterizam um conjunto integrado de ações, destinadas a viabilizar o alcance dos objetivos institucionais.

Tática policial militar É a arte de empregar a tropa em operações policiais- militares que visam a assegurar ou restabelecer a

ordem pública.

Técnica policial militar

É o conjunto de métodos e procedimentos usados para

a execução eficiente das atividades policiais-militares nas ações e operações que visem à preservação da

Ordem Pública.

Ocorrência policial militar É todo fato que exige intervenção policial-militar, por

intermédio de ações ou operações.

Boletim de Ocorrência policial militar

É o documento que se destina ao registro de

ocorrências, pelo PM empenhado em policiamento ostensivo.

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Ação policial militar É o desempenho isolado de fração elementar ou constituída, com autonomia para cumprir missões rotineiras de Policiamento Ostensivo.

Operação policial militar

É a conjugação de ações, que exige planejamento específico, executadas por frações de tropa

constituída, podendo, inclusive, contar com a participação de outros órgãos, públicos ou privados.

Região É o espaço físico atribuído à responsabilidade de um Comando Regional de Polícia Militar (CRPM).

Área É o espaço físico atribuído à responsabilidade de uma OPM, de escalão Batalhão de Polícia Militar (BPM) ou

Regimento de Polícia Montada (RPMon).

Ponto de estacionamento

(PE)

É o local onde a patrulha deve permanecer

estacionada desde que não esteja atendendo ocorrência policial ou em patrulhamento. São de dois tipos: ponto de estacionamento principal (PEP) e

ponto de estacionamento secundário (PES).

Itinerário de

patrulhamento

É a sucessão de pontos, de passagem obrigatória,

sujeitos à vigilância por um homem, uma dupla ou mesmo, maior número de PM.

Cartão Programa É a representação gráfica dos itinerários a serem percorridos durante o patrulhamento.

Patrulhar É exercer atividade móvel de observação, de fiscalização, de proteção, de reconhecimento, ou,

mesmo, de emprego de força.

Local de risco

É todo local que por suas características apresenta

elevada probabilidade de risco para a ordem pública, especialmente, à incolumidade das pessoas e do patrimônio.

Unidade Policial Militar (UPM)

As Unidades Policiais Militares são as Organizações Policiais Militares que têm a missão precípua de

emprego na atividade fim da corporação e são denominadas: Batalhão, Regimento e Companhia

Independente (art. 28 da Portaria 2.337/2012-PMGO).

Frações subordinadas São denominadas: Companhia, Esquadrão, Pelotão e Destacamento (art. 29 da Portaria 2.337/2012-PMGO).

Frações incorporadas São denominadas frações incorporadas, aquelas vinculadas fisicamente a uma determinada Unidade

Policial Militar.

Frações destacadas

São denominadas frações destacadas, aquelas

desvinculadas fisicamente de uma determinada Unidade Policial Militar.

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3.2 Características do Policiamento Ostensivo

São aspectos gerais de que se reveste a atividade policial militar, definindo-lhe o campo

de atuação e as razões de seu desencadeamento. 3.2.1 Ação pública

O policiamento ostensivo é exercido, visando a preservar o interesse geral de segurança

pública nas comunidades, resguardando o bem comum em sua maior amplitude. Não se confunde com zeladoria - atividade de vigilância particular de bens ou áreas, nem com a segurança pessoal de indivíduos sob ameaça. A eventual atuação, nessas duas

situações, poderá ocorrer por conta das excepcionalidades e não como regra de observância imperativa.

3.2.2 Totalidade

O Policiamento Ostensivo é uma atividade essencialmente dinâmica, que tem origem na necessidade comum de segurança da comunidade, permitindo-lhe viver em

tranquilidade pública.

É desenvolvido sob os aspectos preventivo e repressivo, consoante seus elementos

motivadores, assim considerados os atos que possam se contrapor ou se contraponham à Ordem Pública. Consolida-se por uma sucessão de iniciativas de planejamento e execução ou em razão de clamor público. Deve fazer frente a toda e qualquer

ocorrência, quer por iniciativa própria, quer por solicitação, quer em razão de determinação.

Em havendo envolvidos (pessoas, objetos), quando couber, serão encaminhados aos órgãos competentes, ou estes cientificados para providências, se não implicar em prejuízo para o início do atendimento.

3.2.3 Dinâmica

O desempenho do sistema de policiamento ostensivo será feito, com prioridade, no cumprimento e no aperfeiçoamento dos planos de rotina, com o fim de manter

continuado o íntimo engajamento da tropa com sua circunscrição, para obter o conhecimento pormenorizado do terreno e dos hábitos da população, a fim de melhor

servi-la.

O esforço é feito para manutenção dos efetivos e dos meios na execução daqueles planos - que conterão o rol de prioridades - pela presença continuada, objetivando criar

e manter na população a sensação de segurança que resulta na tranquilidade pública, objetivo final da manutenção da ordem pública.

As operações policiais militares, destinadas a suprir exigências não atendidas pelo policiamento existente em determinados locais, poderão ser executadas esporadicamente, em caráter supletivo, por meio de saturação - concentração maciça

de pessoal e material para fazer frente à inquietante situação temporária, sem prejuízo para o plano de policiamento.

Toda análise e trabalho de planejamento administrativo ou operacional devem levar em conta objetivos globais, de forma que conheçamos o todo, para termos eficiência operacional e o máximo de aproveitamento.

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O policiamento ostensivo não deve ser organizado de maneira rígida e imutável. Terá

de ser flexível para adaptar-se às situações anormais atendendo o clamor da comunidade objetivando o pronto e pleno restabelecimento da ordem pública.

3.2.4 Legalidade

As atividades de policiamento ostensivo desenvolvem-se dentro dos limites que a lei estabelece. O exercício do poder de polícia é discricionário, não arbitrário. Seus

parâmetros são a própria Lei, em especial os direitos e garantias fundamentais previstos na Constituição Federal.

Há situações em que o policial militar atua discricionariamente em defesa da moralidade pública e do bem comum, nesses casos seus limites continuam sendo as garantias constitucionais.

3.2.5 Ação de presença

a) É a manifestação que dá à comunidade a sensação de segurança, pela certeza de cobertura policial-militar. Ação de presença real consiste na presença física do policial-

militar, agindo por dissuasão nos locais onde a probabilidade de ocorrência seja grande.

Ação de presença potencial é a capacidade de o policiamento ostensivo, num espaço de

tempo mínimo (tempo de resposta), acorrer a local onde uma ocorrência policial-militar é iminente ou já se tenha verificado.

b) Entre outras são ações de policiamento ostensivo:

1) verificações localizadas de pessoas e/ou instalações;

2) patrulhamento a pé e motorizado;

3) investigações de campo;

4) fiscalização das normas de trânsito;

5) colaboração no fluxo de trânsito local;

6) atendimento de acidente de trânsito;

7) segurança escolar;

8) prevenção de tumultos.

3.3 Princípios do Policiamento Ostensivo

São os fundamentos que devem ser considerados no planejamento e na execução das atividades policiais militares, visando à eficácia operacional.

3.3.1 Universalidade

As atividades policiais militares se desenvolvem para a preservação da ordem pública,

tomada no seu sentido amplo. A natural, e às vezes imposta, tendência à especialização, não constitui óbice à preparação do policial militar capaz de dar tratamento adequado

aos diversos tipos de ocorrências. Ao PM, especialmente preparado para determinado tipo de policiamento, caberá a adoção de medidas, ainda que preliminares, em qualquer

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ocorrência policial militar. O cometimento de tarefas policiais militares específicas não

desobriga o PM do atendimento de outras ocorrências, que presencie ou para o qual seja convocado.

Os atos de polícia ostensiva, exteriorização do poder de polícia, ocorrem sempre nas formas preventiva ou repressiva, de polícia administrativa ou de polícia judiciária,

independentemente da legislação específica que o policial militar estiver aplicando.

3.3.2 Responsabilidade territorial ou competência

Os elementos em comando, com tropa desdobrada no terreno são responsáveis, perante o escalão imediatamente superior, pela preservação da ordem pública na

circunscrição territorial que lhes estiver afeta, para execução do policiamento ostensivo.

Como dever, compete-lhes a iniciativa de todas as providências legais e regulamentares, visando a ajustar os meios que a Corporação aloca ao cumprimento

da missão naquele espaço territorial considera- do.

3.3.3 Continuidade

O policiamento ostensivo é atividade essencial, de caráter absolutamente operacional, e será exercido diuturnamente. A satisfação das necessidades de segurança da

comunidade compreende um nível tal de exigências, que deve encontrar resposta na estrutura organizacional, nas rotinas de serviço e na mentalidade do PM.

3.3.4 Efetividade

O aproveitamento dos recursos destinados à PMGO deverá se realizar de forma a

otimizá-los. A busca da eficácia operacional realizar-se-á tendo em vista a eficiência e o constante aprimoramento da produtividade da Corporação.

3.3.5 Aplicação

O policiamento ostensivo fardado, por ser uma atividade facilmente identificada pelo uniforme, exige atenção e atuação ativas de seus executantes, de forma a proporcionar o desestímulo ao cometimento de atos antissociais, pela atuação preventiva.

A omissão, o desinteresse e a apatia são fatores geradores de descrédito e desconfiança, por parte da comunidade, e revelam falta de preparo individual e de

espírito de corpo.

O policial militar deve estar o mais próximo possível da comunidade onde serve, sabendo das opiniões, dos problemas, procurando conhecer a população com a qual

está em contato.

3.3.6 Imparcialidade ou isenção

No exercício profissional, o policial militar, através de condicionamento psicológico

atuará sem demonstrar emoções ou concepções pessoais. Não deverá haver preconceitos quanto à profissão, nível social, religião, raça, condição econômica ou

posição política das partes envolvidas.

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Ao PM cabe observar a igualdade do cidadão quanto ao gozo de seus direitos e

cumprimento de seus deveres perante à lei, agindo sempre com imparcialidade e impessoalidade.

3.3.7 Emprego lógico

A disposição de meios, para execução do policiamento ostensivo, deve ser o resultado de julgamento criterioso das necessidades, escalonadas em prioridades de atendimento, de dosagem do efetivo e do material, compreendendo o uso racional do

que está disponível, bem como de um conceito de operação bem claro e definido, consolidado em esquemas exequíveis.

Deverá a Polícia Militar distribuir seus recursos, de acordo com as necessidades, fazendo com que a comunidade tenha um bom nível de serviços prestados, evitando-se o atendimento preferencial.

O policiamento ostensivo sendo empregado de forma integrada e coordena- da sob um único Comando proporcionará o emprego racional de recursos humanos e materiais.

3.3.8 Antecipação

A fim de ser estabelecido e alcançado o espírito predominantemente preventivo do

policiamento ostensivo, devem ser adotadas providências táticas e técnicas, destinadas a minimizar a surpresa, fazendo face ao fenômeno da evolução da criminalidade,

caracterizando, em consequência, um clima de segurança na coletividade.

Para que haja sucesso na antecipação faz-se necessária a utilização de informações de natureza administrativa e criminal, pois com base nessas informações ocorrerá o

planejamento adequado.

3.3.9 Profundidade

A cobertura de locais de risco não ocupados e/ou o reforço a pessoal empenhado devem

ser efetivados ordenadamente, seja pelo judicioso emprego da reserva, seja pelo remanejamento dos recursos imediatos, ou mesmo, se necessário, pelo progressivo e crescente apoio, que assegura o pleno exercício da atividade. A supervisão e a

coordenação, realizadas por oficiais e graduados, também integram este princípio, à medida que corrigem distorções e elevam o moral do executante.

3.3.10 Unidade de comando

Em eventos específicos, que exijam emprego de diferentes unidades, a missão é melhor

cumprida quando se designa um só comandante para a operação, o que possibilita a unidade de esforço pela aplicação coordenada de todos os meios.

3.3.11 Objetivo

O objetivo do policiamento ostensivo é assegurar ou restabelecer a ordem pública. É alcançado por intermédio do desencadeamento de ações e operações, integradas ou

isoladas, com aspectos particulares definidos.

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3.4 Variáveis do Policiamento Ostensivo

São os critérios (tipo, processo, modalidade, circunstância, lugar, tempo, número,

forma), que identificam os aspectos principais da execução do policiamento ostensivo fardado.

TIPOS DO POLICIAMENTO OSTENSIVO Qualificadores das ações e operações de policiamento ostensivo

POLICIAMENTO OSTENSIVO GERAL

Tipo de policiamento ostensivo que visa a satisfazer as necessidades básicas de segurança, inerentes a qualquer comunidade ou a qualquer

cidadão.

POLICIAMENTO DE

TRÂNSITO URBANO OU RODOVIÁRIO

Tipo específico de policiamento ostensivo,

executado em vias terrestres abertas à livre circulação, visando a disciplinar o público no

cumprimento e respeito às regras e normas de trânsito, estabelecidas por órgão competente, de acordo com o Código Nacional de Trânsito e

legislação pertinente.

POLICIAMENTO AMBIENTAL

Tipo específico de policiamento ostensivo que visa

a preservar a fauna, os recursos florestais, as extensões d'água e mananciais, contra a caça e a

pesca ilegais, a derrubada indevida ou a poluição. Deve ser realizado em cooperação com órgãos competentes, federais ou estaduais.

POLICIAMENTO DE GUARDA

Tipo específico de policiamento ostensivo que visa à guarda de aquartelamentos, à segurança externa

de estabelecimentos penais e à segurança física das sedes dos poderes estaduais e outras

repartições públicas de importância, assim como à escolta de presos fora dos estabelecimentos penais.

Processos do Policiamento Ostensivo

São caracterizados pelos meios de locomoção utilizados, que podem ser: a pé, motorizado, montado, aéreo, em embarcação e em bicicleta.

MODALIDADES DO POLICIAMENTO OSTENSIVO São modos peculiares de execução do policiamento ostensivo.

PATRULHAMENTO

É a atividade móvel de observação, fiscalização, reconhecimento, proteção ou, mesmo, de emprego de força.

Tendo em vista sua ampla utilidade a patrulha tem de ser o centro de atenção, no desenvolvimento tecnológico da Polícia

Militar, visando a que o usuário seja atendido no local onde se encontra.

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PERMANÊNCIA

É a atividade predominantemente estática, executada pelo policial militar, isolado ou não, em local de risco ou posto fixo, dentro do módulo, preferencialmente contando com

possibilidade de comunicação.

DILIGÊNCIA

É a atividade de busca e apreensão de objetos e/ou busca e

captura de pessoas em flagrante delito ou mediante mandado judicial.

ESCOLTA É a atividade de policiamento ostensivo destinada à custódia de pessoas ou bens, em deslocamento.

CIRCUNSTÂNCIAS DO POLICIAMENTO OSTENSIVO

São condições que dizem respeito à frequência com que se torna exigido o policiamento ostensivo.

ORDINÁRIO É o emprego rotineiro de meios operacionais em obediência a um plano sistemático, que contém a escala de prioridades.

EXTRAORDINÁRIO

É o emprego eventual e temporário de meios operacionais, face a acontecimento imprevisto, que exige manobra de

recursos.

ESPECIAL É o emprego temporário de meios operacionais, em eventos previsíveis que exijam esforço específico.

LUGAR DO POLICIAMENTO OSTENSIVO É o espaço físico em que se emprega o Policiamento Ostensivo.

URBANO É o policiamento executado nas áreas edificadas e de maior concentração populacional dos municípios.

RURAL É o policiamento executado em áreas que se caracterizam pela ocupação extensiva, fora dos limites da área urbana municipal.

3.5 Procedimentos da Polícia Militar

São Comportamentos padronizados, que proporcionam as condições básicas para o

pleno exercício das funções policiais-militares, e, por isso, refletem o nível de qualificação profissional do homem e da corporação. Compreendem os requisitos

básicos, as formas de empenho em ocorrências, os fundamentos legais e as técnicas mais usuais.

3.5.1 Requisitos básicos Conhecimento da missão:

O desempenho das funções de policiamento ostensivo impõe como condição essencial para eficiência operacional, o completo conhecimento da missão, que tem origem no

prévio preparo técnico-profissional, decorre da qualificação geral e específica e se completa com o interesse do PM.

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Conhecimento do local de atuação:

Compreende o conhecimento de todos os aspectos físicos do terreno, de interesse

policial militar, assegurando a familiarização indispensável ao melhor desempenho operacional.

Acessibilidade:

Deve ser facilitado à comunidade, o acesso aos serviços da Polícia Militar seja pelo

telefone ou pelo local de estacionamento da patrulha. Também devem ser amplamente divulgados os endereços das unidades policiais militares.

Relacionamento:

Compreende o estabelecimento de contatos com os integrantes da comunidade, proporcionando a familiarização com seus hábitos, costumes e rotinas, de forma a

assegurar o desejável nível de controle policial militar, para detectar e eliminar as situações de risco, que alterem ou possam alterar o ambiente de tranquilidade pública.

Postura e compostura:

A atitude, compondo a apresentação pessoal e a correção de maneiras no

encaminhamento de qualquer ocorrência, influi decisivamente na confiabilidade do público em relação à Corporação e mantém elevado o posicionamento do PM, facilitando-lhe, em consequência, o desempenho operacional.

Comportamento na ocorrência:

O caráter impessoal e imparcial da ação policial militar revela a natureza eminentemente profissional da atuação, em qualquer ocorrência, e requer seja revestida de urbanidade, energia serena, brevidade compatível e, sobretudo, isenção.

3.5.2 Formas de empenho em ocorrências

Averiguação:

É o empenho do PM, visando à constatação do grau de tranquilidade desejável e/ou à tomada de dados e exame de indícios, que poderão conduzir a providências

subsequentes.

A averiguação normalmente se processa para esclarecimento de comportamento

incomum ou inadequado e de alteração na disposição de objetos e instalações. Merecem a atenção especial do policial militar os seguintes eventos, dentre outros:

- pessoa encostada em carro, altas horas da noite;

- pessoa retirando-se furtivamente por ruas mal iluminadas;

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- estabelecimentos comerciais às escuras, quando normalmente permanecem

iluminados, ou vice-versa;

- aglomeração em torno de pessoa caída na via pública;

- veículos estacionados de maneira irregular ou abandonados;

- elementos em terrenos baldios;

- elementos rondando escolas, parques infantis etc.

Advertência:

É o ato de interpelar o cidadão encontrado em conduta inconveniente, buscando a mudança de sua atitude, a fim de evitar o cometimento de contravenção penal ou crime.

1) Em sendo a prevenção das infrações a principal meta do policiamento ostensivo, o policial militar intervirá, advertindo quem se encontre em atitude antissocial, que possa ser sanada.

Advertir não significa ameaçar ou proferir lição de educação moral. A advertência é, antes, uma interpelação feita pelo PM, para que alguém mude de atitude, e compreende

apenas:

- dizer que aquilo que o indivíduo está fazendo poderá constituir-se em contravenção penal ou crime;

- solicitar que o advertido adote conduta conveniente.

2) Jamais o PM deverá dizer o que pode fazer, como por exemplo: posso prendê-lo por

isso", ou "se eu quisesse, poderia prendê-lo". Se acatado, mudando o advertido seu comportamento, o caso será encerrado; mantendo-se intolerante o admoestado, o PM deverá conduzi-lo ao Distrito Policial respectivo.

As advertências serão feitas em tom de voz compatível e atitudes profissionais e impessoais. Devemos considerar que ninguém recebe uma advertência sem

argumentar, alegando sempre ter razão; a inabilidade do policial militar poderá transformar uma simples advertência em ocorrência mais grave.

Em tais tipos de contato, é importante a forma de interpelação, que poderá ser realizada

da seguinte maneira:

- encaminhar-se ao cidadão com naturalidade, sem qualquer gesto ou atitude que

denuncie exaltação de ânimo;

- manter a cabeça erguida e os membros eretos, refletindo atitude de firmeza;

- não empunhar talão de notificação, caneta ou bastão, antes da interpelação, pois isso

demonstra uma conduta preconcebida da parte do policial militar.

3) Lembrar sempre que firmeza, com serenidade, desencoraja reação. Nada poderá ser

alegado contra sua conduta se a mesma for de cortesia e firmeza ao fazer cumprir a Lei.

Orientação:

É o ato de prevenir a ocorrência de delitos através do esclarecimento ao cidadão, sobre

as medidas de segurança que o mesmo deve tomar.

1) Sendo o policial militar o responsável pela segurança pública, deve ser o principal

orientador da comunidade nesse mister. A orientação segura e precisa faz com que o cidadão sinta-se protegido, ou seja, um alvo de atenção por parte do PM, o que

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proporciona o desenvolvimento da confiança e do respeito ao serviço executado. A

confiança e o respeito, por sua vez, trarão ao PM grandes benefícios na área das informações sobre delitos e pessoas, facilitando em muito o seu serviço.

2) Os estabelecimentos comerciais de qualquer espécie, merecem atenção especial do PM, no sentido da orientação quanto às medidas de segurança que devem ser tomadas.

Também o cidadão comum deve ser observado e orientado, sempre com correção de atitudes e cortesia sobre as maneiras pelas quais poderá prevenir ou dificultar o arrombamento de sua casa, o furto de sua bolsa, um "assalto", o roubo de seu

automóvel etc.

Prisão:

É o ato de privar da liberdade alguém encontrado em flagrante delito ou em virtude de mandado judicial.

1) Flagrante delito

- Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender

quem:

- está cometendo a infração penal;

- acaba de cometê-la;

- é perseguido pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, logo após cometer a infração penal,

- é encontrado, logo depois, com instrumentos, objetos ou papéis que façam presumir ser ele o autor da infração.

2) Mandado Judicial

- É a ordem escrita da autoridade competente (juiz de direito) determinando a:

- Prisão preventiva;

- Prisão por efeito de condenação.

- O mandado judicial deve: ser lavrado pelo escrivão e assinado pela autoridade que o expede;

- Designar a pessoa, que deve ser presa, pelo seu nome, alcunha e sinais característicos;

- Mencionar a infração penal que motivar a prisão;

- Ser dirigido a quem tiver qualidade para dar-lhe execução.

3) Precauções

- A prisão pode ser efetuada em qualquer dia e a qualquer hora, desde que respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do domicílio;

- Para efetuar a prisão, é admissível que o policial militar empregue força física moderada, sempre sem violência arbitrária ou abuso de poder, nos casos de:

- Resistência;

- Agressão;

- Tentativa de fuga.

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É necessário, portanto, que o policial militar, ao efetuar a prisão, adote cautelas

apropriadas, não se excedendo no emprego de força, mesmo sendo provocado. Prendendo alguém, o policial militar é responsável pela preservação da sua integridade

física. A inexistência de testemunho não impedirá que uma prisão seja feita. Em havendo testemunhas serão relacionadas, preferencialmente, as que presenciaram os

fatos.

Diante de anormalidade ou irregularidade que não puder solucionar, a intervenção do policial militar, quer solicitando a presença de seu superior, quer conduzindo o

cidadão à delegacia, far-se-á, sempre, no sentido de resguardar o interesse social e evitar mal maior.

Em havendo fundadas suspeitas de responsabilidade em crime ou contravenção, isto é, quando os elementos de convicção do PM forem suficientes e necessários para estabelecer nexo entre o suspeito e um fato ocorrido, não constitui constrangimento

ilegal conduzir alguém ao Distrito Policial para esclarecimento mais amplo dos fatos.

Através do COPOM ou outro local para consulta, o policial militar poderá de imediato,

via rádio ou fone, consultar os antecedentes criminais do detido, especialmente sobre a existência ou não de mandado de prisão contra ele. Da mesma forma poderão ser consultados veículos e armas. Com tais providências reduz-se a condução de pessoas a

Distritos Policiais, ao mínimo necessário.

Assistência:

É todo auxílio essencial ao público, prestado pelo policial militar de forma preliminar, eventual e não compulsória.

Existem órgãos públicos e particulares incumbidos e especializados em prestar assistências diversas. Contudo, há circunstancias que exigem imediato auxílio, a fim de

evitar ou minimizar riscos e danos à comunidade. Nestes casos, o PM pode acorrer por iniciativa própria ou atendendo a solicitações.

A assistência é prestada no interesse da segurança e do bem-estar público e deve

contribuir para realçar o conceito da Corporação junto ao público externo. Gestos de civilidade e elegância repercutem favoravelmente e devem ser praticados, embora não

constituam um dever legal.

Autuação:

É o registro escrito da participação do PM em ocorrência, retratando aspectos

essenciais, para fins legais e estatísticos, normalmente feito em ficha, talão ou Boletim de Ocorrência da Polícia Militar (BO/PM), em se tratando de infração penal, terá sempre

em vista o êxito da persecução criminal,

O PM, ao registrar particularidades de ocorrência atendida, deve primar pela imparcialidade, somente mencionando circunstâncias relevantes constatadas. Não

deve, sob qualquer pretexto, transcrever as versões apresentadas pelas partes envolvidas ou conclusões pessoais apressadas.

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3.5.3 Prevalência do aspecto preventivo sobre o repressivo na

atuação da Polícia Militar

Embora a Corporação possa atuar, em determinadas circunstâncias, de maneira repressiva, a ação da Polícia Militar deve ser essencialmente preventiva, porque a

presença constante e irrepreensível do PM tem, em termos concretos, maior influência no comportamento dos cidadãos do que o caráter intimidativo da própria lei.

Deve ser dada ênfase às ações preventivas, de modo que a patrulha fique liberada, para policiar o seu modulo, em pelo menos 90% de seu turno. Para que isso efetivamente ocorra há necessidade de adequar o modulo ao objetivo.

A atuação, em termos preventivos, da Polícia Militar, é importantíssima, porque a simples ação de presença ostensiva, hábil, atenta, apoiada sempre no exemplo e no

espírito de justiça, constitui fator de desestímulo à prática de ilícitos penais e a melhor garantia da respeitabilidade da lei;

Em razão de a Polícia Militar atuar de maneira ostensiva, exercendo suas

atribuições à vista de todos, utilizando uniforme que a identifica, o PM deve adotar, permanentemente, elevada conduta moral, quer no exercício funcional, quer na vida

privada;

Na execução do policiamento ostensivo, o PM deve colocar-se, sempre, em condições de observar bem e, simultaneamente, ser facilmente visto, com o objetivo

de melhor atender, em caso de informações e auxílio ao público, desestimulando, em decorrência, a prática de ações antissociais ou delituosas.

UNIDADE DIDÁTICA III – POLÍCIA & SOCIEDADE

4.1 Os problemas da sociedade atual

Os últimos anos têm indicado uma profunda desigualdade na distribuição de riquezas, que se agravam com advento das tecnologias avançadas, marginalizando as

economias emergentes. O fraco desempenho econômico dos países em desenvolvimento pode ser atribuído, em parte, ao rápido crescimento da população,

não acompanhado de um adequado crescimento da renda.

A sociedade, na atualidade, é extremamente organizada e competitiva, e funciona como determinante de comportamentos, impossibilitando o indivíduo social de alterar,

sozinho, processos já existentes, o que gera tensões emocionais e conflitos.

Isto tem resultado na fragmentação de ideias e conceitos no mundo atual. O

ressurgimento de ódios ideológicos, segregação de migrantes e imigrantes, a separação física e política de uma mesma sociedade, o isolamento desses mesmos indivíduos nas megalópoles, somam-se à impossibilidade do cidadão em atender as suas necessidades

básicas, em virtude da complexidade social.

25

Esta situação de desequilíbrio acentua a crise das relações interpessoais e faz

explodir, de todas as formas, o individualismo desesperado que, em suma, contribui para o aumento da violência.

Por outro lado, as elites políticas, que deveriam ser o segmento responsável do encaminhamento das soluções dos problemas sociais, alienam-se cada vez mais das

relações humanas de modernidade e princípios democráticos, e tendem a transformar, como um jogo virtual, as necessidades sociais em “interesses nacionais”, provocando o “cansaço democrático”, que leva à desesperança, ao desencanto e à descrença no poder

público como um todo.

Assim, a impermeabilidade do Estado atual não oferece condições de se antepor

aos interesses individuais de alguns privilegiados. A ditadura do poder econômico e a ausência de decisões concretas e visíveis transformam o cotidiano em algo sombrio e inseguro, totalmente propenso a ações violentas de indivíduos ou grupos sociais que

desejam romper os valores estabelecidos por uma sociedade formalmente estabelecida para crescer e desenvolver.

Estes problemas provocam conflitos, tensões, disputas e desvios sociais que acarretam desníveis consideráveis nas diversas camadas sociais (pobreza, má distribuição da renda, desestruturação familiar, etc.). Fatores que desagregam pessoas;

aumentam distâncias; destroem a sociedade.

O nível de desigualdade social é enorme. Segundo pesquisas da Universidade de

São Paulo (USP), para cada cinco cidadãos paulistanos existe um favelado. Alguns países que possuem estatísticas sobre homicídios, indicam que quanto maior a desigualdade social, maior a violência.

Isto resulta na fragmentação de costumes e valores; ressurgimento de ódios ideológicos; segregação física e moral de migrantes ou pessoas pobres, causando o

isolamento desses mesmos indivíduos nos centros urbanos, somados à impossibilidade do cidadão atender as suas necessidades básicas, em virtude da complexidade da cidade grande.

A pobreza por si só não gera violência; mas a desigualdade social, associada aos valores apresentados e à injustiça social, sim. Onde há riqueza convivendo com a

miséria, aumenta o sentimento de privação do indivíduo, levando-o a violência.

Dessa forma, acentuam-se as diferenças sociais e familiares, prejudicando todas as estruturas sociais que contribuem para o estabelecimento da sociedade como um

todo, dando a sensação que o caos está muito próximo.

Daí surge o fenômeno da anomia social, no contexto brasileiro, que pode ser

entendido não apenas como a ausência de processos normativos, mas também na descrença daquilo que regulamenta a vida em comum dos seres sociais. Com isso,

torna-se claro ao indivíduo que o que “é certo” passa a ser “questionado ou duvidoso”; e o que era “incorreto”, pode ser considerado “vantajoso e seguro”.

ADORNO (1998, p.14) considera que:

anomia é uma condição social em que as normas reguladoras do comportamento das pessoas perdem a validade. Onde prevalece a

impunidade, a eficácia das normas está em perigo. As normas parecem não mais existir ou, quando invocadas, resultam sem efeito. Tal processo aponta no sentido da transformação da

autoridade legítima (o Estado) em poder arbitrário e cruel.

Para DAHRENDORF apud ADORNO (1998):

26

Nas sociedades contemporâneas assiste-se ao declínio das

sanções. A impunidade torna-se cotidiana. Esse processo é particularmente visível em algumas áreas da existência social.

Trata-se de áreas onde é mais provável ocorrer a isenção de penalidade por crimes cometidos. São chamados de “áreas de

exclusão”, a saber:

a) nas mais diferentes sociedades, uma enorme quantidade de furtos não é sequer registrada. Quando registrada, é baixa a

probabilidade de que o caso venha a ser investigado. O mesmo é válido para os casos de evasão fiscal, crime que parece ter

instituído uma verdadeira economia paralela e para o qual há sinais indicativos de desistência sistemática de punição. A consequência desse processo é que as pessoas acabam tomando as leis em suas

próprias mãos;

b) uma segunda área afeta a juventude. Constata-se que em todas

as cidades modernas os jovens são responsáveis pela grande maioria dos crimes, inclusive os crimes mais violentos. No entanto, o que se observa é a tendência geral para o enfraquecimento,

redução ou isenção de sanções aplicáveis aos jovens. Suspeita-se que essa tendência seja em grande parte responsável pela

delinquência juvenil;

c) uma terceira é o reconhecimento, por parte do cidadão comum, de espaços na cidade que devem ser deliberadamente evitados,

isto é, o reconhecimento de áreas que se tornaram isentas do processo normal de manutenção da lei e da ordem. A contrapartida

desse fato tem resultado no rápido desenvolvimento de sistemas privados de segurança, o que se traduz na quebra do monopólio da violência em mãos dos órgãos e indivíduos autorizados. Se levado

ao extremo esse processo conduz necessariamente à anomia parcial;

d) uma quarta área de exclusão diz respeito à própria falta de direção ou orientação das sanções. Para o sociólogo alemão, quando a extensão das violações às normas se tornarem bastante

vastas, sua consequente aplicação se torna difícil, por vezes impossível. Motins de ruas, tumultos, rebeliões, revoltas,

insurreições, demonstrações violentas, invasões de edifícios, piquetes agressivos de greve e outras formas de distúrbios civis

desafiam o processo de imposição de sanções. Não há como distinguir atos individuais de processo maciço de autênticas revoluções, manifestações coletivas de uma exigência de mudança.

Nesse aspecto, devido à incompetência (ou ausência) das instituições públicas em não saber agir, ou em agir tardiamente, ocorrem duas consequências imediatas em

relação ao indivíduo:

- Perda da noção de tempo, ou seja, vive-se só o presente e não se projeta para o futuro;

- Desconfiança generalizada, não acredita nas instituições, procurando defender-se com os recursos que possui ou que adquire

de qualquer maneira, a qualquer preço.

Alguns estudos valiosos da violência urbana, no Brasil e em outros países, demonstram que há uma dimensão histórica. O que parece estar faltando para aqueles

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que analisam a violência de forma sensacionalista, é situá-la numa perspectiva global,

examiná-la ao longo dos tempos, fazendo-se comparações do cotidiano com os primórdios das civilizações.

MCNEIL (1994, p.01) escreveu que “a violência sempre foi uma parte importante da vida humana.” Ele estabelece a ideia de que a violência tem uma história, tanto

quanto tem uma geografia e uma sociologia, que assume formas diferentes em períodos diferentes, peculiar a uma época ou a um determinado povo.

A violência social não é novidade, nem mesmo nas grandes cidades. Pode-se

entender que os fatores que geram a violência social estão diretamente relacionados ao ambiente cotidiano e surgem sempre, em maior ou menor grau, quando as diferenças

sociais se acentuam ou amenizam.

Somente o Estado perfeitamente constituído e organizado, poderá fazer frente aos aspectos que são os causadores da violência e, assim, agir preventivamente, e não após

os fatos consumados, ou seja, nas consequências. As crescentes crises sociais urbanas e rurais demonstram em que patamar as coisas se encontram; tenta-se responsabilizar

as instituições que têm por obrigação a manutenção da ordem pública e não aquelas que têm por dever de ofício agir na solução dos problemas estruturais do país.

4.2 A emergência de novos modelos (Por Theodomiro Dias Neto, do

livro “Policiamento Comunitário e o Controle sobre a Polícia”)

As atuais reformas na área policial estão fundadas na premissa de que a eficácia de uma política de prevenção do crime e produção de segurança está relacionada à existência de uma relação sólida e positiva entre a polícia e a sociedade. Fórmulas

tradicionais como sofisticação tecnológica, agressividade nas ruas e rapidez no atendimento de chamadas do 190 se revelam limitadas na inibição do crime, quando

não contribuíram para acirrar os níveis de tensão e descrença entre policiais e cidadãos. Mais além, a enorme desproporção entre os recursos humanos e materiais disponíveis e o volume de problemas, forçou a polícia a buscar fórmulas alternativas capazes de

maximizar o seu potencial de intervenção. Isto significa o reconhecimento de que a gestão da segurança não é responsabilidade exclusiva da polícia, mas da sociedade

como um todo.

Os debates recentes envolvendo novos modelos policiais referem-se exatamente às formas de viabilização desta parceria de trabalho. Experimentos frustrados

demonstraram a insuficiência de iniciativas cosméticas de relações públicas ou de reformas na estrutura administrativa policial. Constata-se a necessidade de uma

compreensão mais abrangente e realista da função da polícia, através do reconhecimento da discricionariedade e das dimensões não-criminais do trabalho policial. Trabalha-se hoje no sentido de se identificar à natureza dessas tarefas e de se

realizar as mudanças operacionais e organizacionais para que a polícia as desempenhe de maneira eficaz.

Essas ideias se inserem nos conceitos de “policiamento comunitário” e “policiamento orientado ao problema”. O policiamento comunitário (principal abordagem neste documento) expressa uma filosofia operacional orientada à divisão de

responsabilidades entre a polícia e cidadãos no planejamento e na implementação das políticas públicas de segurança. O conceito revela a consciência de que a construção de

uma relação sólida e construtiva com a sociedade pressupõe um empenho da polícia em adequar as suas estratégias e prioridades às expectativas e necessidades locais.

28

Se não houver uma disposição da polícia de pelo menos tolerar a influência do público sobre suas operações, o policiamento comunitário será percebido como “relações públicas” e a distância entre a polícia e o público será cada vez maior.

4.3 A importância da polícia

A importância da polícia pode ser resumida na célebre afirmativa de HONORÉ DE BALZAC: “os governos passam, as sociedades morrem, a polícia é eterna”. Na verdade, não há sociedade nem Estado dissociados de polícia, pois, pelas suas próprias origens,

ela emana da organização social, sendo essencial à sua manutenção.

Desde que o homem concebeu a idéia de Governo, ou de um poder que suplantasse o

dos indivíduos, para promover o bem-estar e a segurança dos grupos sociais, a atividade de polícia surgiu como decorrência natural. A prática policial é tão velha como a prática da justiça; pois, polícia é, em essência e por extensão, justiça. LEAL (1995,

p.8), ao analisar o gênese do poder e do dever de polícia, afirma “que a necessidade de regular a coexistência dos homens na sociedade deu origem ao poder de polícia.”

O professor Macarel apud MORAES (1992, p. 24) define polícia “como a prática de todos os meios de ordem de segurança e de tranquilidade pública. A polícia é um meio de conservação para a sociedade.”

O Desembargador Antonio de Paula apud MORAES (1992, p. 25) “entende que a Polícia pode ser definida como a organização destinada a prevenir e reprimir delitos,

garantindo assim a ordem pública, a liberdade e a segurança individual.”

Afirma ser a Polícia a manifestação mais perfeita do poder público inerente ao Estado, cujo fim é assegurar a própria estabilidade e proteger a ordem social.

Com propriedade, o Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Lioy apud GALLI (1991, p.?), descreve:

A polícia não deve velar senão pelo progresso da sociedade e dos bons costumes, pelo bem-estar do povo e pela tranquilidade geral. Ela foi, com a Justiça, instituída para assegurar a execução das leis,

e não para as infringir, para garantir a liberdade dos cidadãos e não para cerceá-la, para salvaguardar a segurança dos homens de

bem, e não para envenenar a fonte do bem-estar social. Não deve ela transpor os limites da exigência da segurança pública ou particular, nem sacrificar o livre exercício das faculdades do

homem e dos direitos civis, por um violento sistema de precaução.

4.4 O ideal da instituição policial

A Polícia, em seu ideal de bem servir, deve ser tranquila na sua atuação, comedida nas suas ações, presente em todo lugar e sempre protetora, velando pelo progresso da

sociedade, dos bons costumes, do bem-estar do povo e pela tranquilidade geral.

Ela foi instituída para assegurar a execução das leis e das normas de conduta social, não as infringindo, e assim objetivando garantir a liberdade dos cidadãos (não

os cerceando), salvaguardando a segurança dos homens de bem.

A Polícia não deve transpor os limites das convenções sociais, sacrificando o livre

exercício dos direitos civis, através de um violento sistema de repressão ou

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arbitrariedade (diferente de discricionariedade), embora a situação social aparente

exigir tal providência.

Espera-se um grau de profissionalismo do policial acima da média dos demais

funcionários do Estado, já que possui conhecimentos, aptidões e senso de equilíbrio necessários e indispensáveis para o seu campo de atuação, bastante amplo e próximo,

diuturnamente, da população.

Assim, o serviço policial se constitui em uma profissão em que os deveres são maiores do que as regalias. Mesmo nas horas de folga, quando em quase todas as

profissões cessa-se a obrigatoriedade da função, não existe esse interregno para o serviço policial. As suas funções são de caráter permanente e obrigatório. Isso implica

o dever de ação, sempre que necessário.

Dallari (1996) argumenta em virtude dos problemas sociais, a Polícia ganhou uma relevância muito especial. A sua responsabilidade é grande. Ela é acionada para resolver

tudo.

Espera-se, portanto, uma Polícia eficiente. Essa eficiência decorre exatamente do

grau de preparo do profissional. Para atuar corretamente, diante do que a sociedade espera, o policial deve ser e estar preparado.

Deve conhecer bem o seu mister, porque não é uma atividade empírica ou

amadora, como alguns podem pensar, mas extremamente técnica e científica, em qualquer de seus ramos de atividade.

O ato policial deve ser nobre, elevado, moral e revestido de indiscutível conteúdo ético e moral, com o objetivo de sempre buscar o bem social. O policial é o espelho da sociedade onde convive e trabalha. Para isso, deve estar acima dos demais servidores

públicos, de forma que, trabalhando mais, erre menos. Deve ser sóbrio e compreensivo para os humildes e necessitados; forte e inflexível frente aos arrogantes e perversos

para, de algum modo, em razão das necessidades e choques sociais, ter que assumir a posição de médico, algoz, confessor e amigo quando necessário.

4.5 Segurança como necessidade básica

Na condição de necessidade básica, a impulsão interna na pessoa para a conquista e manutenção da segurança torna-se muito forte, individualmente ou coletivamente,

levando o homem e a civilização a caminhar na esteira da autodefesa. A autodefesa do indivíduo tem como consequência a preservação da vida e da espécie. Já vimos épocas

em que a autodefesa individual dependia do físico do homem na luta contra seus inimigos naturais. A defesa coletiva, além do físico dependia também de barreiras naturais ou artificiais como as montanhas, as águas, as muralhas da china ou os

Castelos Medievais.

Na preocupação com a defesa inventou-se as armas que são instrumentos

agressivos de auto segurança. A ansiedade pela segurança poderá conduzir a destruição da humanidade, na medida em que os países mais ricos concentram grandes recursos na elevação do seu potencial defensivo. É obvio que a defesa nesta situação, conota a

anulação, redução ou eliminação do outro, só que na era nuclear, o outro somos todos nós.

A valorização e o aperfeiçoamento da defesa, nos dias atuais, tem como efeito perverso, colocar em risco todas as espécies fazendo com que o impulso pela auto segurança seja tão forte que está levando todos os homens, a viverem próximos a um

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precipício atômico, o que nos dá saudade das muralhas, ou nos motiva a encontrar

fórmulas de viver em paz.

4.6 A polícia na satisfação das necessidades de segurança

A segurança é uma necessidade fundamental do homem. É tão fundamental que quando não satisfeita eleva a tensão individual e coletiva, causando não raro, a ruptura

do equilíbrio do organismo ou da estabilidade social.

Consciente dessa exigência “biopsicossocial” de garantir segurança, o Estado criou organismos e mecanismos destinados a inibir as pulhões agressivas do homem a limites

toleráveis, com base na lei e na justiça. Nas lições do Dr. José Antônio de Paulo Santos Neto, Juiz de direito do Estado de São Paulo, encontramos os seguintes ensinamentos:

- O titular do Poder de Polícia é o Estado;

- Consiste, em princípio na faculdade que tem o Estado de impedir ou restringir atividades que ameacem o interesse da

COMUNIDADE;

- A Polícia de Segurança tem suas atividades voltadas mais

diretamente ao combate da criminalidade;

- À Polícia de Segurança cabe a adoção de medidas preventivas (ostensiva) visando impedir a prática de delitos e a garantir a não

alteração da ordem Jurídica;

- As funções de Polícia de Segurança são em regra, exercidas pela

Polícia Militar. A ela cabe a preservação da Ordem Pública;

- A Polícia Judiciária (ações de justiça e investigação) cabe a apuração dos fatos delituosos e antissociais e são em regras

exercidas pela Polícia Civil.

Apesar dos diferentes posicionamentos práticos e teóricos, avalia-se que dos

atendimentos policiais 90% são assistenciais à população e 10% no atendimento de ocorrência criminal. A presente situação bem como outros fatores ligados ao problema,

indicam o caminho que muitos chamam de “Assistência Policial”, como característica do trabalho da Polícia.

À “Assistência Policial”, relacionamos não só as atividades inerentes à segurança,

mas também a integração na comunidade prestando toda colaboração e auxílio possível, num sentido de forte solidariedade. É possível observar então, que a POLÍCIA,

geralmente, deve ser percebida pela população como:

- Uma Instituição que está a seu lado preservando sua segurança;

- Uma organização presente na vida da comunidade, em função dos valores, positivos

pelos quais ela existe, trabalhando com elevado espírito público e cultuando solidariedade em lugar da violência.

4.7 Proação, Prevenção e Repressão

Polícia proativa visa erradicar as causas da violência, atuando de forma planejada nas mais diversas áreas, contornando problemas socioeconômicos, tudo com finalidade

de não permitir que a violência surja. A polícia proativa atua nos antecedentes da violência, e não apenas reage uma vez praticado o ato delituoso. Em termos financeiros,

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é muito mais lógico não permitir que o fato ocorra, já que de outra forma, toda uma

série de atores eventualmente terão de participar: uma equipe de policiais civis, um promotor, um juiz, uma vaga no sistema penitenciário, uma vaga num hospital público

etc. Portanto, atuar nas causas que propiciem que a violência surja tem se mostrado mais eficiente que atuar nas consequências.

Atuar na consequência torna-se um ônus para a própria Polícia, para o Estado como um todo e para toda a sociedade por conseguinte. Por fim, a eliminação de fatores de potencial criminógeno melhora a própria qualidade de vida da comunidade, sendo

um fator retro alimentador da confiança da população em relação à polícia.

No Brasil, precisa-se de um nível mais básico de policiamento proativo, que é a

análise técnica da criminalidade. Este tipo de análise permite uma otimização dos recursos humanos e materiais na contenção da criminalidade.

REFERÊNCIAS

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dos Tribunais, 1999 p. 52

10. KNABBEN, Flávio. Poder de polícia: uma análise sobre fiscalização de alvarás

em estabelecimentos de jogos e diversões públicas. Florianópolis: Universidade do Sul de Santa Catarina, 2006.

11. Polícia de Manutenção da Ordem Pública e a Justiça, por Álvaro Lazzarini; Polícia de Manutenção da Ordem Pública e suas atribuições, por Hely Lopes Meirelles. In Direito Administrativo da Ordem Pública, Forense, Rio de Janeiro, p. 13 e

p. 156/157.

12. A complexidade da Ordem Pública entre outras culturas, por Brunela Vieira

De Vincenzi e César Rossi Machado

13. Conceito de ordem pública e sua aplicação quando da homologação de

sentença arbitral estrangeira, por Mario Luiz Elia Junior.

14. SEC 802/US, Rel. Ministro José Delgado, apud De Vincenzi e Machado.

15. TARANTA, Ângela. Conceito de ordem pública bons costumes nos contatos. Verbo Jurídico. Junho de 2008

16. A Polícia Rodovária Federal e o poder de polícia, por Leandro Andrade do

Nascimento.