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A grafologia é, como ciência, uma ciência moderna. Embora já Aristóte- les tenha dito: « da mesma forma que ò discurso traduz as concepções da alma, a escrita traduz o discurso e a concepção», a verdade é que isto pouco se prende com o assunto da grafologia. Inicialmente, a grafologia pretendia conhecer o carácter de alguém pelo exame da sua escrita. É o que Maupassaut exprime por estas palavras: «É pela escrita que melhor se conhecem as pessoas. As palavras negras sobre o papel branco, são a alma completamente nua». Este conceito é, simultaneamente restrito e demasiado amplo: restrito, porque não é só o carácter que se manifesta na escrita; demasiado amplo, porque nem todos os traços dum carácter se tradu- zem na caligrafia. A grafologia revela-nos um carácter num dado momento, portanto, mais ou menos deformado, mais ou menos mas- carado pelos sentimentos, emoções, es- tados humorais, etc, que nesse momento entram na constituição do complexo psí- quico do indivíduo que escreve. «Um indivíduo que experimenta um certo sentimento, é, na realidade, um indiví- duo que toma uma certa atitude, e que tem uma certa conduta: ter realmente um desgosto, é ter, em todo o seu corpo, as modificações motrizes, cir- culatórias e secretoras do desgosto». (Pierre Janet). Tudo isto condiciona a fisionomia da escrita. Manifesta-se aqui o princípio do paralelismo cineto-psí- quico do professor Dupré: «Há para- lelismo entre as manifestações motrizes, e as manifestações psíquicas. Há um estreito parentesco que liga, tanto no estado normal como na infinita varie- dade dos estados anormais, a activi- dade psíquica e a actividade motriz». A cada momento, o homem trai-se em cada gesto, por mínimo que seja. A grafologia ensina a interpretar o com- plexo de gestos estereotipados que cons- tituem a escrita, ensina a conhecer o homem. Daí as suas múltiplas aplicações à criminologia, como elemento de identi- ficação, à medicina, como elemento de diagnóstico, à pedagogia, como elemento de educação... coma elemento de identificarão- Desde a impressão digital até ao modo de distribuição da rede venosa sub-cutâ- nea, todos os caracteres objectivos mais ou menos característicos teem sido apro- veitados pela criminologia como elemen- tos de identificação. A escrita é, sem dúvida, um dos mais importantes. Através de todas as modi-

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Page 1: coma elemento de identificarão- · concepção», a verdade é que isto pouco se prende com o assunto da grafologia. Inicialmente, a grafologia pretendia conhecer o carácter de

A grafologia é, como ciência, uma ciência moderna. Embora já Aristóte­les tenha di to: « da mesma forma que ò discurso traduz as concepções da alma, a escrita traduz o discurso e a concepção», a verdade é que isto pouco se prende com o assunto da grafologia.

Inicialmente, a grafologia pretendia conhecer o carácter de alguém pelo exame da sua escrita.

É o que Maupassaut exprime por estas palavras: « É pela escrita que melhor se conhecem as pessoas. As palavras negras sobre o papel branco, são a alma completamente nua». Este conceito é, simultaneamente restrito e demasiado amplo: restrito, porque não é só o carácter que se manifesta na escrita; demasiado amplo, porque nem todos os traços dum carácter se tradu­zem na caligrafia.

A grafologia revela-nos um carácter num dado momento, portanto, mais ou menos deformado, mais ou menos mas­carado pelos sentimentos, emoções, es­tados humorais, e t c , que nesse momento entram na constituição do complexo psí­quico do indivíduo que escreve. «Um

indivíduo que experimenta um certo sentimento, é, na realidade, um indiví­duo que toma uma certa atitude, e que tem uma certa conduta: ter realmente um desgosto, é ter, em todo o seu corpo, as modificações motrizes, cir­culatórias e secretoras do desgosto». (Pierre Janet). Tudo isto condiciona a fisionomia da escrita. Manifesta-se aqui o princípio do paralelismo cineto-psí-quico do professor Dupré: «Há para­lelismo entre as manifestações motrizes, e as manifestações psíquicas. Há um estreito parentesco que liga, tanto no estado normal como na infinita varie­dade dos estados anormais, a activi­dade psíquica e a actividade motriz».

A cada momento, o homem trai-se em cada gesto, por mínimo que seja. A grafologia ensina a interpretar o com­plexo de gestos estereotipados que cons­tituem a escrita, ensina a conhecer o homem.

Daí as suas múltiplas aplicações à criminologia, como elemento de identi­ficação, à medicina, como elemento de diagnóstico, à pedagogia, como elemento de e d u c a ç ã o . . .

coma elemento de identificarão-

Desde a impressão digital até ao modo de distribuição da rede venosa sub-cutâ-nea, todos os caracteres objectivos mais ou menos característicos teem sido apro­

veitados pela criminologia como elemen­tos de identificação.

A escrita é, sem dúvida, um dos mais importantes. Através de todas as modi-