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Publicação BIMESTRAL N.º 246 março-abril 2017 ISSN 0871-5688 O PREÇO - 0,10 (IVA incluído) Com Maria, conversão e oração P. e Dário Balula Chaves [email protected] N este ano mariano, em que celebra- mos o centenário das aparições de Nossa Senhora em Fátima, Maria, mãe de Jesus e mãe da Igreja, convida-nos a sermos cristãos a sério e a pormos Jesus no centro da nossa vida, como Ela fez. A mensagem de Fátima – conversão, oração e oferecimento da vida para que o mundo tenha paz – continua atual. Maria é nosso modelo e dá-nos o exemplo: em Nazaré, ao ser surpreen- dida pelo anjo, aceita mudar os seus planos e acolhe no seu coração o projeto que Deus lhe confia: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» Em Belém, ao ver tudo o que se passava à sua volta, recolhe-se em silêncio e contempla o mistério de Deus: «Maria conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração.» $タQDO R TXH TXHU GL]HU VHU FULVWmR" Alguns dizem que são cristãos porque foram batizados ou porque vão à missa ao domingo. Outros até dizem que são católicos, mas não praticam. Assim não pode ser. Temos de descobrir de novo a dig- nidade do nosso batismo e a alegria de ser cristãos. Para Jesus, o batismo foi um mo- mento de viragem na sua vida. Com o batismo, inicia a vida pública, e como diz o Evangelho, «Jesus começou a per- correr toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, proclamando o evangelho do reino, e curando todas as doenças e enfermidades entre o povo». Também para nós, cristãos, o batismo é um momento de viragem e o começo de uma vida nova. O espírito de Jesus, que recebemos no batismo, dá-nos a força para pormos de lado toda a espé- cie de egoísmo, de ódio e de maldade, e torna-nos capazes de vivermos ao modo de Jesus uma vida de amor, de serviço e de partilha. (QYLDGRV HP PLVVmR SDUD R PXQGR DWXDO No início da vida pública, Jesus cha- ma os apóstolos para O seguirem e confia-lhes a missão de ir por todo o mundo anunciar o Evangelho: «Vinde e segui-Me e farei de vós pescadores de homens.» E eles, que fazem? «Deixaram logo as redes e seguiram-no.» Como cristãos, somos chamados a fazer o mesmo: a deixar as nossas amarras e os nossos interesses e a seguir Jesus. Para quê? Para viver em amizade com Ele e para participar na missão de salvação que Ele nos confia. Cada qual à sua maneira. Cristo não tem mãos: tem apenas as nossas mãos para realizar o seu trabalho. Cristo não tem pés: tem apenas os nossos pés para guiar os homens pelo seu caminho. Cristo não tem lábios: tem apenas os nossos lábios para comunicar aos homens a sua mensagem. Neste ano do centenário das apari- ções, Maria, mais uma vez, pede-nos que nos convertamos e rezemos. Que este ano mariano seja para nós um tempo de renovação interior, para a renovação do mundo, segundo a vontade de Deus.

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Publicação BIMESTRAL

N.º 246 março-abril 2017

ISSN 0871-5688 PREÇO - 0,10 (IVA incluído)

Com Maria, conversão e oração

P.e Dário Balula [email protected]

Neste ano mariano, em que celebra-mos o centenário das aparições de

Nossa Senhora em Fátima, Maria, mãe de Jesus e mãe da Igreja, convida-nos a sermos cristãos a sério e a pormos Jesus no centro da nossa vida, como Ela fez. A mensagem de Fátima – conversão, oração e oferecimento da vida para que o mundo tenha paz – continua atual.

Maria é nosso modelo e dá-nos o exemplo: em Nazaré, ao ser surpreen-dida pelo anjo, aceita mudar os seus planos e acolhe no seu coração o projeto que Deus lhe con'a: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» Em Belém, ao ver tudo o que se passava à sua volta, recolhe-se em silêncio e contempla o mistério de Deus: «Maria conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração.»

Alguns dizem que são cristãos porque foram batizados ou porque vão à missa ao domingo. Outros até dizem que são católicos, mas não praticam.

Assim não pode ser. Temos de descobrir de novo a dig-

nidade do nosso batismo e a alegria de ser cristãos.

Para Jesus, o batismo foi um mo-mento de viragem na sua vida. Com o batismo, inicia a vida pública, e como diz o Evangelho, «Jesus começou a per-correr toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, proclamando o evangelho do reino, e curando todas as doenças e enfermidades entre o povo».

Também para nós, cristãos, o batismo é um momento de viragem e o começo de uma vida nova. O espírito de Jesus, que recebemos no batismo, dá-nos a força para pormos de lado toda a espé-

cie de egoísmo, de ódio e de maldade, e torna-nos capazes de vivermos ao modo de Jesus uma vida de amor, de serviço e de partilha.

No início da vida pública, Jesus cha-ma os apóstolos para O seguirem e con'a-lhes a missão de ir por todo o mundo anunciar o Evangelho: «Vinde e segui-Me e farei de vós pescadores de homens.» E eles, que fazem? «Deixaram logo as redes e seguiram-no.»

Como cristãos, somos chamados a fazer o mesmo: a deixar as nossas amarras e os nossos interesses e a seguir Jesus. Para quê? Para viver em amizade com Ele e para participar na missão de

salvação que Ele nos con'a. Cada qual à sua maneira.

Cristo não tem mãos: tem apenas as nossas mãos para realizar o seu trabalho.

Cristo não tem pés: tem apenas os nossos pés para guiar os homens pelo seu caminho.

Cristo não tem lábios: tem apenas os nossos lábios para comunicar aos homens a sua mensagem.

Neste ano do centenário das apari-ções, Maria, mais uma vez, pede-nos que nos convertamos e rezemos. Que este ano mariano seja para nós um tempo de renovação interior, para a renovação do mundo, segundo a vontade de Deus.

2 FAMÍLIA COMBONIANA

JUSTIÇA E PAZ

«Bancarrota da Humanidade»

Ir. Bernardino Frutuoso

Milhões de pessoas querem chegar à Europa para ter uma vida melhor e fugir de guerras, pobreza, persegui-ções. Sem meios adequados, muitos deles morrem na tentativa de alcançar o seu sonho. Em 2016, segundo a Organização Internacional das Migra-ções, 5079 pessoas morreram quando tentavam atravessar o Mediterrâneo. Faltam políticas oportunas que evi-tem essas tragédias, como advertiu o Papa Francisco no discurso que fez no Parlamento Europeu no ano de 2014: «Não se pode tolerar que o mar Mediterrâneo se converta num grande cemitério. Nas barcaças que chegam diariamente às costas europeias há homens e mulheres que necessitam de acolhimento e ajuda.»

A Europa e a sua hipocrisia

Atualmente, desenvolvem-se esforços para “negociar” o problema da mi-gração, nomeadamente com os países africanos, situação que põe em jogo os princípios e valores comuns da Europa. No passado 3 de fevereiro, em Malta, os chefes de Estado e de Governo da UE adotaram uma declaração sobre «os aspetos externos da migração», semelhante ao acordo que já tinha sido assinado em março de 2016 com a Turquia. As partes comprometeram-se a agir para «reduzir signi*cativamen-te» o +uxo migratório clandestino no Mediterrâneo Central, propondo-se reforçar a cooperação com a Líbia, nomeadamente ao potenciar a Guarda Costeira e a vigilância dos mares.

Recentemente, denunciou essa posição da UE o P.e Alex Zanotelli, missionário comboniano que traba-

lha com os migrantes em Nápoles, na Itália, apontando que estes acordos se podem estender a outros países, nomeadamente aos africanos Níger, Mali, Senegal, Etiópia e Nigéria: «Que hipócrita é esta Europa, porque oferece dinheiro à África para se “desenvol-ver” e impedir os +uxos migratórios, enquanto, por outro lado, a estrangula economicamente. A UE está agora a forçar os países africanos a assinar os Acordos de Parceria Económica (APE) que os obriga a eliminar os direitos aduaneiros, permitindo assim à UE superlotar os mercados subsarianos com os seus produtos agrícolas, o que contribuiu apenas para aumentar a fome em África. E isto sem mencionar a apropriação de terras, outro crime perpetrado por muitos países euro-peus, e ainda a máquina infernal da dívida com a qual estrangulamos esses povos africanos.»

O que é mais valioso para a Europa?

O Papa Francisco, no encontro que teve com os representantes dos movimentos populares em novembro, denunciou a «bancarrota da Humanidade» e a falta de iniciativas ante a «situação infame» e «vergonhosa» dos refugiados, mi-grantes e deslocados: «O que acontece no mundo de hoje que, quando ocorre a bancarrota de um banco, imediata-mente aparecem somas escandalosas para o salvarem, mas quando acontece esta bancarrota da humanidade não existe sequer uma milésima parte para salvar estes irmãos que sofrem tanto? E assim o Mediterrâneo transformou-se num cemitério e não somente o Medi-terrâneo... muitos cemitérios próximos aos muros, muros manchados de san-gue inocente.»

É tempo de mudar de rumo, seguin-do o apelo do papa: «Chegou a hora de construir a Europa que gire não em torno da economia, mas em torno da sacralidade da pessoa humana.»

Na Europa, o fluxo de refugiados e migrantes tornou-se uma questão estrutural.

Políticos, Igreja e todos os cidadãos estamos chamados a resolvê-la de uma

forma humana e com uma perspetiva de futuro.

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«Não se pode tolerar que o mar Mediterrâneo se converta num grande cemitério» (Papa Francisco»

FAMÍLIA COMBONIANA 3

para a missão em portugal e na europa

P.e Claudino Gomes [email protected]

Duas perguntas estão na origem dos COM: Que fazer para que as famílias conheçam a Palavra de Deus e saiam a comunicá-la? E como conseguir que os cristãos de hoje sejam envolvidos, como S. Daniel Comboni, pelo ímpeto do Espírito que jorra do Coração do Cruci*cado e os lança para as periferias existenciais?

Alicerçados na Bíblia

Em 1981, na missão de Ngilima (Congo), o P.e Alfredo Neres condu-ziu a comunidade apostólica numa campanha de evangelização do povo zande centrada na Bíblia. Eu pude tes-temunhar o poder da Palavra de Deus, que ilumina e faz novas as culturas, tornando as pessoas mais humanas… Pouco depois, a leitura de um livro chamado Quando vier a perseguição fez-me ver a necessidade de também os católicos se reunirem nas casas, em pequeninas comunidades constituídas por poucas famílias vizinhas. Nelas, as pessoas reunidas podem ler, meditar, partilhar, orar a Palavra de Deus. Vão *car a conhecer tão bem o Evangelho e a viver tanto a alegria do encontro com Jesus, que, espontaneamente, se tornam Suas testemunhas em privado e em público. No tempo da perseguição e da prisão, quando até o simples facto de ler a Bíblia ou ir a uma igreja lhes seja proibido, o Espírito Santo traz-lhes à memória o que leram e partilharam na comunidade doméstica: não lhes faltarão luz, consolação e perseverança na fé e no serviço fraterno.

No início da Quaresma de 1987, no retiro missionário em Aradas-Aveiro, tinha isto em mente quando propus

aos participantes que constituíssem, nas suas terras, pequenos grupos mis-sionários de vizinhos.

Impelidos pelo Coração de Jesus

A segunda fonte inspiradora dos COM é o carisma de S. Daniel Comboni. A 2 de julho de 1986, o superior-geral na altura, P.e Francisco Pierli, em Roma, pediu-me: «Vê o que podes conceber para que o povo assuma a maneira tão missionária de Daniel Comboni viver a relação com Coração de Cristo Cru-ci*cado.» Meses depois, orientei o re-ferido retiro sobre o Coração de Jesus. Tomei como referência a experiência de S. Comboni, relatada no livro Es-critos, n.º 2742. Contemplámos como o Senhor lhe inundou o coração com o fogo da Sua compaixão para com os africanos escravizados e abandonados. O Espírito Santo, dado pelo Pai através do Coração de Cristo, encheu Com-boni da ternura de Deus e enviou-o

Trinta anos dos CenáculosOs Cenáculos de Oração Missionária (COM) nasceram há trinta anos.

Que sementes de transformação missionária estão presentes na sua história

para dar fruto hoje e sempre?

para a África Central, a «apertar no seu abraço e acarinhar com o seu beijo aqueles seus infelizes irmãos, *lhos do mesmo Pai».

Foi este também o objetivo da sugestão que *z nesse dia e que Evan-gelina Rocha e Maria do Céu puseram logo em prática, em Lombomeão. E, para os COM conhecerem as situações dos povos e das pessoas e adquirirem os sentimentos que impelem Jesus Cristo a dar-Se por elas, desde o início, é imperioso ler as revistas missionárias.

Há trinta anos, o Coração de Jesus fez surgir os COM em Portugal, e, depois, em outras nações. Hoje, como ontem, os grupos são chamados a ser expres-são da «Igreja em saída, com Jesus Cristo, para anunciar a Boa Notícia aos pobres» (Alegria do Evangelho, 97).

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Membros dos Cenáculos de Oração Missionária em dia de retiro

6 FAMÍLIA COMBONIANA

linha direta

É um homem que se vê dia-riamente na cidade de Nyala, o dia inteiro a caminhar sem parar por ruas e vielas. É doente mental. Conheço-o de vista. Naquela tarde, junto ao merca-do municipal, vi-o dirigir-se a mim. Fitou-me, com semblante tranquilo. Ao perguntar-lhe como se chamava, respondeu sem hesitar: «Não te importes com o meu nome, há coisas mais importantes na vida.» A seguir, pousou no chão os dois grandes sacos de plástico cheios de farrapos sujos e outro lixo que, habitualmente traz consigo. Colocou as suas mãos pesadas sobre os meus ombros e disse: «Sei quem tu és e onde moras. A tua casa é a igreja.»

Senti as suas mãos pressionar com mais força sobre mim. Mui-tas pessoas paravam curiosas ou talvez preocupadas pelo que, porventura, pudesse acontecer ao estrangeiro que um demente tinha debaixo das suas mãos.

Todavia, aquele que todos sa-biam ser majnún (louco) ainda tinha algo para dizer. Olhando em volta, mostrando que era se-

nhor da situação, proferiu: «Tu não és cá&r (descrente, in*el).»

Já ele apanhava os sacos de plástico do chão quando eu, ainda não completamente re-composto da tão bela surpresa, lhe disse: «Chucran (obrigado)!» E, con*rmando as suas palavras, acrescentei: «Tens razão, amigo! Não sou cá&r; eu creio em Deus; *co feliz com as palavras que acabas de me dedicar.»

E vi o seu rosto abrir-se num largo sorriso, enquanto desapa-recia na multidão azafamada.

Em Nyala, a comunidade cristã é extraordinariamente minoritária, sobretudo após a partida da maioria dos cristãos por ocasião da independência do Sul do Sudão, em 2003. A missão, num país de maioria muçulmana, não se faz de forma direta e tradicional. As ativi-dades sociais, como a saúde, o ensino e educação, são os meios pelos quais a Igreja faz missão de presença e de testemunho silencioso. E ali, junto ao merca-do de Nyala, da boca do majnún saíram palavras do Espírito: «Sei quem tu és, tu não és descrente.»

Da cidade de Nyala, Sudão, escreve o

P.e Feliz da Costa Martins

P.e Feliz Martins com crianças do Sudão

150 anos da fundação do Instituto

dos Missionários Combonianos

Visita a Milão, Limone Sul Garda, Verona, Florença, Assis e Roma.

• Quarto duplo (mínimo de 40 participantes) ................ 1 520,00 €

• Quarto duplo (mínimo de 30 participantes) ................ 1 590,00 €

• Suplemento para quarto individual ................................ 240,00 €

Preço por pessoa

Informações e inscrições:

Inscrições até 25 de abril de 2017Na [email protected]

LUGARES

LIMITADOSReserve o seu lugar até

ao dia 25 de abril

211 572 260

além-mar Audácia

ORGANIZAM

26 JULHO A 2 DE AGOSTO DE 2017

FAMÍLIA COMBONIANA 7

No seu Plano para a Regeneração da África, Daniel Comboni deixa bem claro que vive a sua missão como um partilhar da única missão de Deus. Re+etindo e rezando a sua primeira e profundamente difícil experiência de missão na África Central, circundado pela perda e desastre aparente, acaba por conhecer o Deus vivo, um Deus em comunidade e um Deus em missão, um Deus que sai até aos con*ns da Terra, levando-nos com Ele, se O deixarmos. É por isto mesmo que, quando Com-boni funda o seu instituto, imagina-o como um «pequeno cenáculo», um Pentecostes atual, um lugar onde os humanos somos introduzidos no mis-tério missionário da Trindade.

Esta experiência de Deus e de fé explica porque a verdadeira vida deste instituto é uma vida no Espírito, e pela qual um modo adequado de celebrar os 150 anos signi*ca que o melhor ainda está para vir.

A obra é católica

Eu nasci na Índia, de mãe irlandesa e pai escocês, e assim penso que não é estranho eu ser especialmente grato por S. Daniel Comboni, logo de iní-cio, querer que o seu instituto fosse internacional, ou «católico», como ele gostava de dizer. O Deus que ele des-cobriu e experimentou era um Deus para o mundo inteiro, envolvendo toda a Igreja numa missão dirigida a todos os continentes, nações, línguas e cultu-ras. Somente sendo aberto a membros de todas as nações é que este instituto podia ser testemunha efetiva e credível da missão de Deus no mundo.

Uma missão para cada discípulo

Desde o início, em São Daniel Com-boni foi claro, tanto no pensar com no agir, como Deus tinha partilhado a sua missão com a Igreja inteira, com cada um dos batizados.

Cada bispo, sublinhou ele, foi cha-mado e ordenado para aceitar a respon-sabilidade pela evangelização do mun-do inteiro e não somente da sua dio-cese. Foi, pois, ao Concílio Vaticano I, para convencer disto os bispos.

Depois, o seu instituto não devia ser constituído somente por padres, mas também por leigos totalmente dedica-dos à missão: os irmãos, que tiveram uma contribuição tão rica durante estes 150 anos, sem os quais este instituto não seria comboniano.

Dentro da mesma dinâmica, S. Comboni envolveu também mulhe-res na missão desde o início e fundou o

instituto das suas irmãs. Missionários e Missionárias são dois pulmões do mesmo corpo e o conjunto somente pode respirar e viver bem quando esta verdade é vivida na prática diária da missão comboniana.

O Fundador lançou mão de leigos, mulheres e homens, de outros insti-tutos missionários e grupos, comuni-dades de irmãs contemplativas. Antes de ser teoria, esta foi para Comboni a realidade da missão, uma realidade que continua a desa*ar e provocar. E, nesta linha de pensamento, um aspeto particularmente belo da fundação do nosso instituto por S. Daniel Comboni são os relacionamentos e as amizades. Ele conviveu com tantas figuras de grandes missionários do seu tempo. Também nisto a celebração dos 150 anos nos desa*a e nos orienta para o futuro.

Celebrar o 150.º aniversário da fundação do instituto por S. Daniel Comboni (em

junho de 1867) é motivo de gratidão. O P.e David Glanday, que foi superior geral

de 1991 a 1997, partilha algumas razões para esta gratidão.C

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P.e David Glanday, nascido na Índia, de mãe irlandesa e pai escocês, está agradecido a S. Comboni por ter criado um instituto internacional

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Jovens em missão (JIM)

FAMÍLIA COMBONIANAPropriedade: Missionários Combonianos do Coração de Jesus Pessoa Colectiva n.º 500139989Diretor: Bernardino Frutuoso (CP 10020)Redação: Fernando Félix (CP 2838)/Carlos Reis (CP 4073)Gra'smo: Luís FerreiraArquivo: Amélia Neves

Redação e Administração: Calç. Eng. Miguel Pais, 91249-120 LISBOARedação: Tel. 213 955 286 E-mail: [email protected]: Manuel Ferreira HortaAdministração: Fax: 213 900 246E-mail: [email protected]

Nº de registo: 104210Depósito legal: 7937/85Impressão:Jorge Fernandes, Lda.Rua Quinta do Conde Mascarenhas, 92825-259 CHARNECA DA CAPARICATiragem: 29.500 exemplares

Quando me pediram que escrevesse sobre a minha motiva-ção para ir em missão a Moçam-bique, *quei um bocado chatea-da. Pensei: «Tenho de dar mais uma prova..?» Queriam pôr-me a pensar, desconcertar-me. Con-seguiram. Porque, quando penso em motivações para ir a Moçam-bique, só penso que não sei dar uma resposta boa, uma resposta clara. Fico sem jeito.

Qual a minha motivação?

Não entrei para o Fé e Missão (FM) – o projeto vocacional dos Missionários Combonianos – com o intuito de ir fazer esta ex-periência de missão. Na verdade, comecei este caminho com uma entrada a pés juntos: «Não vou a Moçambique!»

Tinha-o decidido. Mas lá estava eu e os meus planos, eu e a minha mania de programar tudo e de ser superdecidida. Aliás, penso, até, que não é necessário ir para longe para se fazer missão, para se ir às periferias (e tento transmiti-lo aos que me rodeiam, na catequese, no grupo de jovens...). Porque eu sei e sinto que para ser este Jesus Amor basta olhar a quem está ao meu lado, e posso ser testemunha do Amor de Deus já aqui na minha casa.

Assim, nunca tive ambição ou sonho de ir em missão para longe, para África. Ou achava que não tinha. Cheguei a pensar nisso, mas re+etia: «Ah, se tivesse tirado Medicina, seria útil em alguma missão. Agora, como engenheira, não irei lá fazer nada.» Mas que pequena visão de mim... que falta de con*ança, em mim e em Deus!

Quando entrei no Fé e Missão, comecei a sentir-me mais próxima de Deus. Comecei a estar mais atenta e a lembrar-

-me mais de Deus nas mais pe-quenas coisas que faço ao longo do dia. Foi uma mudança um pouco repentina (parece que em pouco tempo mudou muita coisa na minha maneira de viver a fé), mas a verdade é que o primeiro encontro com os Combonianos e no FM foi revelador e trans-formador para mim. E, ao estar mais atenta, fui-me aperceben-do de que Deus me apresentou diretamente o desa*o de ir em missão a Moçambique e que eu lhe fechei logo à partida as por-tas. Fechei a porta sem sequer olhar para quem estava a bater. E à medida que fui amolecendo o meu coração e o fui pondo mais à escuta, o sentido e a vontade de ir a Moçambique foram crescendo.

Os testemunhos, tanto de padres, irmãos e irmãs, como de leigos, que escutei nestes últimos meses puseram-me a pensar e ajudaram-me a ver que esta vontade de me pôr ao serviço da missão e dos outros esteve sempre em mim.

Há em mim uma vontade grande de ir às periferias levar este Deus Amor, este Deus Pai. E penso muitas vezes: Deus não me pôs aqui por acaso. Não pode nada disto ter sido por acaso. Ele quer que eu veja este caminho, Ele deu-me todos os sinais e vai dando. E eu só tenho duas hipóteses: fechar novamente as portas ou escancará-las e ir em frente sem pensar nem planear muito. E eu sinto que Ele me cha-ma e me escolhe a fazer esta missão, e que ela vai ser muito importante neste processo de discernimento vocacional, de encontrar o sentido da minha vida. O verdadeiro. E sinto que a vivência em comunidade vai ser também uma grande experiência de viver ao jeito de Jesus, com muita partilha e muito olhar atento ao meu irmão. Sinto que a missão faz e tem de fazer parte da minha vida, seja de que maneira for.

Decidi ir em missão a Moçambique

Ana Isabel de Sousa é natural de Lisboa. Partirá para Moçambique no próximo verão

Alé

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