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COLEÇÃO DE CALÇADOS INSPIRADO NAS OBRAS DA ARTISTA EMILY VALENTINE
FOOTWEAR COLLECTION INSPIRED IN THE WORKS OF THE ARTIST EMILY
VALENTINE
Bruna Laís Grein1 Taiza Kalinowski2
Resumo
Este artigo tem como objetivo apresentar o levantamento teórico e as pesquisas que serviram de base para o desenvolvimento de uma coleção de calçados para a marca Lagg, com na diferenciais vanguardista e do luxo, foi escolhido como tema de inspiração as séries Dog Flu e Dog the Bird da artista Emily Valentine. Tendo como público alvo, mulheres jovens atentas a moda, independentes, femininas e sofisticadas, as quais se destacam pelo seu estilo diferenciado e colocam o calçado como parte essencial do seu look. Interando-se do cenário calçadista, do seu público e das tendências de inverno 2010, utilizando uma metodologia baseada em Santos (2005) e Keller (2004) a fim de suprir as particularidade desse projeto, podendo cumprir os objetivos propostos. Palavras Chave: calçado; design; penas e arte.
Abstract
This article aims to present the theoretical approach and the research that formed the basis for the development of collection of shoes, based on the vanguard differentiation and luxury, was chosen as the theme of inspiration series Dog Dog Flu and the Bird of artist Emily Valentine. Having as target audience, young woman that like a fashion, independent, feminine and sophisticated, which stand out for their distinctive style and put the shoes as an essential part of your look. Take an interest in the footwear scene, the audience and trends winter 2010, using a methodology based in Santos (2005) and Keller (2004) in order to meet the particularity of this project can meet the objectives. Keywords: shoes; design; feather and art.
1 Graduanda em Design de Moda - Universidade do Vale do Itajaí.
Email: [email protected] 2 Professora Orientadora – parte do corpo docente do Curso de Design Moda – UNIVALI. Pós
Graduada em Comunicação e Marketing de Moda – Anhembi Morumbi. Email: [email protected]
1 INTRODUÇÃO
Estudos apontam que o homem criou roupas utilizando pele e couro dos animais
que abatia, logo encontrou outra utilidade para tais materiais, uma delas foi envolver
os pés, com uma espécie de bota, atadas ao pé e a perna, com intuito de proteção,
devido à vida nômade que os seres humanos primitivos levavam. (PULS, 2003,
p.36).
A evolução do calçado acompanhou a dos homens e a da moda, sua estrutura
cumpriu sua funcionalidade e até serviu como distinção social em alguns séculos.
No âmbito feminino, após permanecer totalmente coberto pelos volumes das saias
por muito tempo ele apareceu e se destacou junto com a independência das
mulheres. Conforme as bainhas foram subindo, inversamente proporcional, o
calçado foi se destacando, acompanhante fiel das mulheres, eles as levaram para o
passeio, para o trabalho proporcionado beleza, estilo e conforto durante as
conquistas femininas.
Hoje, eles deixam a prateleira dos acessórios para ser parte principal de um look. De
beleza estonteante, um belo par de sapatos causam desejo indescritível para o seu
público, esse consumidor valoriza um design diferenciado, seu material, seu
acabamento, sua produção, como também as suas expectativas. Caracterizado pelo
seu gosto diferenciado, esse público aprecia formas e materiais inusitados, e segue
na busca pelo novo e inusitado.
O mercado calçadista brasileiro está em ascensão, segundo Wamburg (2009),
exporta hoje 800 milhões pares/ano e consome 70% do que se é produzido, sendo
que o maior nicho de mercado é a do público feminino. Atualmente é o 3º maior
produtor de calçado do mundo e conforme previsão da Abicalçados (2009), em 2010
o país poderá ocupar o 4° lugar na exportação do produto, tomando o atual lugar
da Itália. Com dados da ascensão da produção calçadista brasileira, pode-se
comprovar a real contribuição para o país.
Há uma necessidade de se ter algo novo nesse ramo, acompanhando o nível de
diferenciação dos produtos internacionais, saindo da padronagem comercial que
ocorre nesse segmento. Utilizando o design para agregar valor ao produto e com
isso obter um retorno financeiro favorável, assim sobrevivendo à concorrência no
mercado.
Vendo o crescimento do ramo no país, pode-se justificar esse projeto junto ao
interesse da autora por esse segmento da moda, o qual foi desencadeado pela
experiência dentro da academia, bem como por seu conhecimento prático na
fabricação através do estágio realizado em uma fábrica de calçados.
Este artigo tem como intuito esclarecer as bases de pesquisa para o
desenvolvimento de uma coleção de calçados inverno 2010, e que atenda ao desejo
da consumidora que preza o design autêntico, inovador e exclusivo, imprimindo seu
estilo ao produto, essa pesquisa reunirá assuntos pertinentes a moda vanguardista e
ao consumo de luxo, como também informações sobre o mercado e o público alvo
referentes ao projeto. Para tal, foi utilizado uma metodologia adaptada de Santos
(2005) e Keller (2004), atendendo de forma flexiva e consistente as particularidades
desse projeto.
Como inspiração para o desenvolvimento da coleção buscou-se nas obras de arte
de Emily Valentine, elementos que enriquecerão os modelos oferecendo uma gama
de possibilidades quanto às formas, materiais e cores. Suas obras causam polêmica
quanto à origem da matéria prima utilizada, porém seus cachorros alados das séries
Dog Flu e Dog the Bird são, visivelmente, dóceis e lindos.
2 METODOLOGIA
A necessidade de optar por uma metodologia projetual testada a ser seguida, deve-
se ao fato de ter uma forma lógica de obter melhores resultados, em tempo hábil,
evitando erros ao longo do projeto. Segundo Munari (1998, p.11), o método de
projeto não é mais do que uma série de operações necessárias, disposta em ordem
lógica, ditado pela experiência, seu maior objetivo é o de atingir o melhor resultado
com menor esforço.
Sabendo dos benefícios do uso de uma metodologia, para este projeto tendo em
vista a experiência adquirida através do uso de metodologias projetuais ao longo do
curso de Design de Moda optou-se em desenvolver uma proposta baseada em
Santos (2005), o qual propõe o MD3E3 juntamente com a proposta desenvolvida por
Keller (2004), que consiste em 4 etapas direcionada para o planejamento de coleção
de moda.
Santos (2005) sugere o início do projeto partindo de um problema/necessidade, que
logo se desdobra em três etapas principais: a Pré-Concepção (que abrange a
planejamento do projeto, a análise do problema e os atributos do produto), a
Concepção (que inclui neste item a geração de alternativa, os caminhos criativos e a
seleção e adequação) e por fim, a Pós-Concepção (que traz os processos
produtivos, o mercado e os sub-sistema/componentes). Esse método tem como sua
principal característica a flexibilidade e a sua forma de disposição radial.
Já a proposta metodológica de Keller (2004), que tem como foco o planejamento de
coleção mais voltado para a moda, parte da escolha de um tema, e se divide em
quatro etapas a Pesquisa, o Portfólio da Coleção, o Desenvolvimento da Coleção e
por fim, o Composto Mercadológico.
Tendo em vista a colocação de Munari (1998, p.11), que o método de projeto, para o
designer, não é absoluto, nem definitivo, pode ser modificado caso ele encontre
outros valores objetivos que melhorem o processo. Definiu-se então utilizar os dois
métodos de forma a transformá-los em uma metodologia que integre os itens mais
importantes do projeto de moda a fim de suprir as particularidades desse projeto.
Conforme pode se observar o fluxograma apresentado na figura 01 o processo
começa na definição de uma problemática/necessidade, logo se divide em três
etapas principais, sendo ela a Pré-Concepção, Concepção e a Pós- Concepção, as
quais se interligam para maior flexibilidade, sendo realizadas paralelamente,
conforme necessidade do projeto.
3 Método de Desdobramento em 3 Etapas
Durante a Pré Concepção, define-se um tema seguindo para a pesquisa
bibliográfica, a qual consiste no estudo em materiais já elaborados, como livros e
artigos científicos, e a pesquisa de campo, esta pode ser qualitativa ou quantitativa,
analisando o estudo a partir de entrevista, a qual deve ser orientada para um
objetivo definido: recolher, através do interrogatório do informante, dados para a
pesquisa, revelando itens e estatísticas importantes para o conhecimento do público
alvo.
Na Concepção, obtém-se a conceituação do projeto, define-se o mix de coleção, no
qual concentra os materiais, as cores, os aviamentos e as construções que serão
utilizados, dando sustento para a geração de alternativa.
Por fim, na Pós Concepção, ela se divide em desenvolvimento do produto, o qual
materializa os modelos da coleção e atributos mercadológicos, parte da identidade
visual da marca e todos os elementos necessários para o lançamento da coleção no
mercado.
Figura 01: Metodologia de Projeto Adaptada de Santo(2005) e Keller(2004)
Fonte: Santo (2005) e Keller (2004)
Para auxiliar o desenvolvimento das etapas descritas anteriormente, serão utilizadas
algumas técnicas e ferramentas projetuais, tais como Painéis Semânticos que
consiste em ilustrar itens como público alvo, conceito e temática, o PFFOA que
busca identificar os Pontos fortes, Franquezas, Oportunidades e Ameaças sendo
aplicado na pesquisa referente aos concorrentes. Além destes serão utilizados o
Brainstorming que auxiliará na concepção da marca, e o M.E.S.C.R.A.I4 na etapa de
conceituação, podendo assim dar mais alternativas de idéias durante a geração de
alternativas da coleção. (BAXTER, 2003).
3 DESENVOLVIMENTO
Nesta seção se encontra os itens pesquisados, tanto na pesquisa
bibliográfica, quanto na de campo. Esta ocorre a fim de explanar sobre os assuntos
pertinentes ao tema desse projeto, abrangendo o público alvo e o mercado.
3.1 Vanguarda na Moda
A Vanguarda é carregada de significados usada em diversas áreas. A definição
dessa palavra é tratada como movimento científico, artístico, cultural com caráter
inovador. Esse termo traz adjetivos como autenticidade, inimaginável, a frente da
atualidade, tecnológico e inovador.
A originalidade é a sua busca constante, se propondo a sempre fazer algo novo,
inusitado, jamais visto o novo por si, isto faz parte do universo vanguardista. Essas
características permeiam vários nichos como, por exemplo, o campo da arte, da
arquitetura e também o da moda. Na moda Jones (2005), define vanguarda como
moda ou conceito que está à frente de seu tempo. Após definido o que é vanguarda,
podemos ver a intrínseca relação com a moda, sendo que ambas correm na busca
incessante pelo novo.
Observando a cronologia da moda, pode-se constatar um movimento surgido
durante na década de 70, os quais se denominaram hippies. A base desse
movimento era o desprendimento do sistema capitalista. Um grupo de jovens que
4 Termo que significa: Modifique, Elimine, Substitua, Combine, Rearranje, Adapte e Inverta
não aderiram aos padrões estéticos da época, com isso gerou um movimento anti-
moda.
Antes dos anos 70, no decorrer dos anos 30, a sociedade se escandalizou com as
criações de Elsa Schiaparelli, com inspirações surrealistas, a estilista transformou
borboletas em botões e sapatos em chapéus. Outro designer de moda, que estava
além de seu tempo, foi André Courrèges, o qual em plena década de 60 constituía
coleções para mulheres do futuro. Suas criações se caracterizam pelo uso de
materiais sintéticos, metalizados. Segundo Garcia (2009), Courréges imortalizou o
espírito jovem através de suas garotas lunares, com botas e óculos grandes.
A anti-moda trazida pelos anos 70, Schiaparelli e o Courrèges, todos trazem de
alguma forma a vanguarda à tona. Os dois estilistas trazem em seu estilo as essas
características e a década de 70 por dar margem ao surgimento da diferenciação
que os hippies propunham. A moda vanguardista não almeja ser uma „anti-moda‟,
mas sim, a inovação e a autenticidade dentro do seu meio.
Figura 02: Vanguarda na Moda
Fonte: Acervo pessoal
Dentro do panorama da moda, a vanguarda traz suas definições genéricas, algumas
mais aprofundadas. Quando se pensa em criação de produto, tem que levar em
consideração, que implicitamente já ocorre a busca pelo novo.
Tomando as bases de um produto vanguardista, sendo ele inovador, exclusivo e
autêntico, aliado ao tipo de produção, agrega-se valor utilizando essas
características. Alguns desses produtos permeiam também a nova ótica do luxo,
trazendo materiais alternativos juntamente com design diferenciado.
3.2 Consumo de Luxo
Em uma sociedade capitalista, o consumo é inevitável. Supridas as necessidades
básicas de uma pessoa, adquirir bens de curta e longa duração se tornou
indispensável. Os seres humanos não sobrevivem apenas do necessário, precisam
mais do que o básico.
Conforme Freitas (2003, p.113), “vive-se um tempo em que a identidades se
configuram através do consumo e se depende do que se possui, ou do que se pode
chegar a possuir.”
Lipovetsky (1989), afirma que o consumo de luxo se dá apenas como forma de
distinção social entre os indivíduos. Desta forma, adquirir esses produtos evidencia o
ser humano dentro de sua sociedade.
Os valores ligados a esse segmento de mercado têm suas variáveis, como a sua
cultura, o grupo social a que pertence e sua família. Sendo assim os artigos de luxo
possuem vários significados, em diversos níveis de valores, os quais variam com o
tempo e a sociedade.
Sob os aspectos da imaterialidade, contudo, o luxo deixa de estar ligado à um objeto para associar-se à um signo, à um código, à uma valores étnicos e estéticos, aos saberes, ao conhecimento, ao reconhecimento, ao prazer e à satisfação, e até mesmo, à descrição, ao requinte e, portanto, à uma outro tipo de elegância. (BRAGA, 2006, p.100)
Esse assunto está ligado com a subjetividade, tornando-se muito relativo, por estar
também associado à qualidade, à diferenciação, à exclusividade, à satisfação
pessoal, ao desejo, ao sonho, ao quase inatingível, e sem dúvidas a admiração do
outro. Analisando de maneira geral, isso acarreta na elevação de custos desses
artigos.
O consumo do luxo e suas variáveis são de qualquer forma subjetivos, mas mesmo
assim movimenta um mercado em ascensão. Esse segmento segundo Faggiani
(2006) coloca o Brasil entre os dez países que mais consomem artigos de luxo, e na
América, perde somente para o berço do capitalismo, os EUA. Por isso, tem grande
importância na econômica nacional e mundial.
Há outra variante na atualidade, no que diz respeito a esse mercado, é o “Novo
Luxo”. Braga (2006) comenta que este termo, agrega preceitos, até então, fora
deste âmbito, valorizando a consciência e atitude ecológica, a liberdade, priorizando
segurança, conforto, praticidade, simplicidade, diversidade cultural, compromisso
social entre outros adjetivos, tudo isso cobrindo a anterior conotação do luxo.
O luxo contemporâneo é, portanto, um conceito mais flexível, que ultrapassa o poder econômico e que não se restringe apenas a uma classe elevada que já resolveu glamourosamente as suas necessidades básicas de prevenção e manutenção da saúde, de alimentação e de moradia. O luxo desloca-se ao que é inédito, ao que é pessoal, que se traduz como história pessoal e que se constrói pela criação de imagens. (VALESE, 2006.p.47)
Essa segmentação do luxo traz novas possibilidades para o design, podendo optar
por materiais alternativos, atendendo a forma de produção e diferenciando o
produto, não pensando somente na opinião alheia do status, mas formando o estilo
de forma inovadora e exclusiva do consumidor. Sob a ótica do novo luxo, a temática
escolhida fornecerá suas formas diferenciadas, seus materiais inusitados e sua
peculiaridade para a criação dos produtos.
3.3 Temática
A escolha de um tema para uma coleção serve como fio condutor de integração e
harmonia entre os produtos, deixando a essência de sua inspiração em todos os
itens (SANCHES, 2008).
Acompanhando o mundo da arte contemporânea, eis que surge uma artista que ao
mesmo tempo em que suas obras são dóceis e inofensivas, faz questionar a relação
entre homens e animais.
De origem australiana, Emily Bullock Valentine, declara em seu site5 que as penas
são sua pintura. Formada em Joalheria, pela Escola de Arte de Sydney, atualmente
se dedica paralelamente a outros ramos da arte. Por já ter trabalho com moda por
sete anos tem ligação estreita com esse universo, inicialmente criava bijuterias e
pequenas esculturas todas feitas com o uso de penas de pássaros e materiais
alternativos.
Figura 03: Obras de Emily Valentine
Fonte: www.emilyvalentine.com.au
Em 2007 ela foi convidada a expor seus filhotes recobertos com penas em uma feira
anual de cães em seu próprio país. Foi para esta feira que os primeiros animais
domésticos foram criados, a sua participação deu maior visibilidade para seus
trabalhos (BBC, 2009). Neste mesmo ano conquistou o Norseweart, Prêmio de Arte
na Nova Zelândia, com o Minah Collie da série Flu Dog .
5 www.emilyvalentine.com.au
Figura 04: Painel Obras Emily B. Valentine
Fonte: www.emilyvalentine.com.au
Os cachorros criados por Emily usam como base uma forma pronta de plástico para
depois aplicar a técnica desenvolvida de colagem das penas, os valores pagos por
essas obras caninas, segundo Askin (2009), giram em torno de mil dólares.
Olhando para estes pets, tão amigáveis e bonitos, nascidos de penas de animais
mortos, a polêmica entra em cena. A artista trabalha com penas há mais de uma
década, para coletar a matéria-prima primeiramente utilizava-se de animais mortos
pela estrada ou doados pelos seus amigos. Porém, ela não podia depender apenas
de atropelamentos e doações esporádicas. Por isso, uma nova fonte alternativa teve
que ser desenvolvida, uma polêmica máquina que captura e mata as aves por
asfixia.
As aves em questão são comprovadamente pragas na Austrália, esse pássaro de
origem indiana é conhecido como Myna. Na Índia, esses animais são tratados como
cães, enquanto os cães são selvagens, diferentes culturas, valores diferentes, essa
questão junta-se com tantas outras que Emily faz. Quando a sua arte necessita de
outras partes dos animais, como cabeça e garras, um taxidermista6 auxilia no
processo.
6 Profissional que trabalha com a técnica de empalhamento de animais.
Conforme ela escreve em seu próprio site, a intenção das obras é questionar a
relação dos seres humanos com os animais.
No meu trabalho, pretendo discutir como as atitudes de usar animais e partes de aves mudaram. E isto apenas por causa da moda, ou que a sociedade se torna mais solidária aos animais? Eu gostaria de estimular o espectador com a incômoda natureza da pluma, para questionar a nossa insensibilidade quanto ao tratamento de animais e pássaros, e perguntar como nós no sub-consciente classificamos os animais - animal de estimação ou de pragas, valor ou sem valor, ou bonito ou simples e o porquê. (VALENTINE, 2009)
Detentora de vários prêmios de arte tem suas obras expostas em várias galerias e
sempre participa de exposições em diversos lugares. Nesse ano, Emily se dedicou a
produção inspirada nos deuses egípcios, trazendo a cabeça do pássaro Myna e não
deixando de usar as apaixonantes penas. Na coleção, Mynah Messiah, a artista cria
a partir de corpos de Barbies juntamente com cabeças, penas e outros materiais,
transformando-as em símbolos faraônicos, trazendo a riqueza e o poder dos deuses,
questionando como seres humanos tratam do corpo e de como se valorizam acima
de outros animais. Essa coleção lhe rendeu uma exposição solo, no Tin Sheds
Gallery7, a figura xx, apresenta o folder desta exposição ocorrida no início de 2009.
Figura 05: Folder da Exposição Mynah Messiah e Dog dthe Bird
Fonte: www.emilyvalentine.com.au
Sua próxima exibição acontecerá entre 17 de setembro e 14 de outubro de 2009, na
Galeria Master Works na cidade de Auckland, na Nova Zelândia.Essa mostra será
solo e as obras apresentadas serão os cães, por isso foi intitulada, Dog the Bird.
7 Galeria de Arte da Universidade de Sydney
Focando nas séries de cachorros que Emily criou, este projeto poderá utilizar as
formas dos cães alados, variando em suas raças, doando suas diferentes formas
para as criações, atentando ao uso dos materiais alternativos que compõem sua
arte, assim como a gama de cores encontrada e a ousadia por ela proposta.
Figura 06: Painel Semântico da Temática
Fonte: Acervo do autor
Apesar de sua arte ser polêmica, a beleza e autenticidade de suas esculturas causa
a princípio estranheza, mas segundos depois cativam os apreciadores fazendo dos
cães voadores, um tanto quanto reais.
E é dentro deste contexto que a presente coleção de calçados proposta, usará os
elementos das obras, tais como as formas inusitadas dos cães, as misturas de
materiais, como couro, plástico e pena, e a sua paleta de cores, trazendo „asas‟ para
os sapatos.
3.4 Público Alvo
Conhecer e entender quem consumirá o produto é de fundamental importância,
assim como seu estilo de vida, seu comportamento e a sociedade que está inserido.
Freitas (2003) coloca que os consumidores de moda são seres humanos motivados
por necessidades intrapsicológicas e sócio-culturais. O consumo de artigos de moda
se dá conforme o seu autoconceito e também devido ao ambiente que o mesmo
vive. Aprofundar-se no mundo do consumidor em potencial, traz melhorias
essenciais na criação do produto, satisfazendo as expectativas do projeto.
Mulheres jovens, atentas ao mundo, decididas, independentes, estudadas,
consumista e que principalmente são marcadas pelo seu estilo diferenciado. São
ligadas à moda, mas sempre estão à frente dela, buscando no calçado a
diferenciação no look, como nas suas atitudes. Dando valor ao design, na sua
estética, funcionalidade, como também na sua forma de produção. Sua feminilidade
com ares de sofisticação e requinte traduzem essa mulher de personalidade
marcante.
Figura 07: Painel Semântico do Público Alvo
Fonte: Acervo do autor
Adentrando no mundo da consumidora em potencial, podemos assim seguir para a
pesquisa mercado, constatando os aspectos relevantes do panorama atual do
calçado.
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA
Nesta seção abordaremos conteúdos de fundamental importância para que
conheçamos o mercado calçadista, analisando o estado do design, os concorrentes
e interar-se do mundo do público alvo.
4.1 PESQUISA DE MERCADO
Itens relevantes do mercado, aprofundando-se e analisando o que há de mais
interessante quanto ao design, aos materiais e as tecnologias utilizadas hoje, a fim
de agregar valor ao que vai ser desenvolvido, podendo assim contribuir na criação
desse projeto
4.1.1 Estado do Design
O estado do design tem como finalidade fazer um levantamento de produtos
existentes no mercado, que apresentem características interessantes, ousadas e
inovadoras que serviram de referencia para o projeto, podendo assim agregar valor
ao mesmo.
Há algumas temporadas, os calçados vêm chamando muita atenção, devido à
ousadia em seu design e também na utilização de novos materiais. Isso só tende a
crescer, essa valorização instiga mais e mais produtos diferenciados. Para melhor
entender o mercado internacional e adentrar-se no nacional, foi optado analisar
separadamente esses dois mercados, desta forma várias marcas foram analisadas e
selecionadas para desta forma compreender o mercado que se pretende atingir com
este artigo, observando o estado do design internacional, o nacional e
especificamente elaborando um painel com modelos que levam penas em seu
cabedal.
Analisando o estado do design internacional, pode-se ver a atenção voltada a
desconstrução dos saltos de Marc Jacobs, o qual apresentou no inverno de 2008 o
mesmo invertido, o salto facetado de Roger Vivier conta com aviamentos grandes,
na desconstrução da meia pata no modelo desse verão da Versace, nos volumes de
adornos da Chloé e da Alberta Ferreti. O minimalismo de Yves San Laurent,
deixando a sandália em somente arestas e o desenho surrealista na sandália de
Pierre Hardy. Esta é apenas uma mostra desse mercado que possui tem muitos
produtos diferenciados.
Figuras 08: Estado Design Internacional
Fonte: Compilação de dados
Analisando o panorama do design calçadista nacional constata-se que muitas
marcas atuam com sucesso no mercado e se apresentam de forma inovadora e
inusitada seus produtos, pode-se ver a estamparia aplicado no modelo da Francesca
Giobbi, o salto diferenciado do Alexandre Herchovitch, o desenho orgânico usado
por Sarah Crofakiah, o solado diferenciado da Miezko, a mistura de cores da
Schultz e a meia pata da Dilly.
Figura 09: Estado Design Nacional
Fonte: Compilação de dados
Analisado estes dois segmentos do design, foi optado em realizar uma pesquisa
mais profunda de mercado em relação aos materiais, se restringindo ao uso de
penas e plumas no setor calçadista. Podemos ver o modelo do último verão da Louis
Vuitton com apelo étnico, com mais requinte a criação de Christian Louboutin
formando uma espécie de flor, no modelo de Givenchy a atenção está no tornozelo e
abaixo às plumas estão no peito do pé, na criação da Mai Lamore, as penas estão
cobrindo o calçado de forma delicada.
Figura 10: Estado do Design- Materiais
Fonte: Compilação de dados
Observando a crescente utilização das penas no calçado aliado a um design
diferenciado de forma sofisticada e elegante, pode-se acompanhar a tendência do
uso desse material alternativo. Porém observado apenas em produtos no mercado
internacional.
Visto o que o mercado oferece de mais diferenciado foi possível destacar os
possíveis concorrentes, analisando o que cada um possui de melhor e assim se
posicionar o produto de forma adequada neste segmento.
4.1.2 Concorrentes
Durante a pesquisa do estado do design, segmentado em internacional e nacional,
focando no mercado brasileiro foi constatado algumas marcas que concorrem com o
que esse projeto propõe. A importância de se conhecer o mercado, especialmente
seus concorrentes, a fim de agregar valores ao produto e se diferenciar dos demais.
Contudo, desde 1999, a marca gaúcha Louloux busca inspiração na arte e na cultura
para criar seus produtos, não segue tendências, mesclando o artesanal, materiais,
cores e tecnologias no desenvolvimento de seus sapatos. Possui uma loja própria
em Nova York e outra em Porto Alegre. O produto em si, traz a mistura gritante das
cores, solados arrojados, materiais texturizados, recortes e sobreposições dos
tecidos.
Figura 11: Louloux
Fonte: www.louloux.com.br
A designer Francesca Giobbi, trabalhou para grandes marcas como Prada, Gucci,
Armani e Sergio Rossi. No seu retorno ao Brasil, em 2003, abriu a marca que leva
seu nome é sinônimo de requinte e ousadia, possui loja próprias, no Rio de Janeiro,
em São Paulo e em Nova York, além de exportar para Itália, França, Espanha entre
outros. Não seguindo tendência, ela faz seu próprio estilo, colocando conforto acima
de tudo, por isso seus saltos não são muito altos, mas são trabalhados nas formas
ou no revestimento, enriquecido com bordados, estampas ou tachas.
Figura 12: Francesca Giobbi
Fonte: www.francescagiobbi.com.br
Do grupo Dass8, em meio a marcas esportivas, a Dilly nasceu em 1965, está atenta
a sofisticação, classe, qualidade e bom gosto, apresentando produtos seguindo as
tendências internacionais. Tendo como foco o mercado internacional, agora encara
o mercado brasileiro apostando em design e informação de moda aliada ao desejo
da consumidora. Seus saltos alto esculturais, com a mistura de materiais mostram a
sofisticação da marca.
Figura 13: Dilly
Fonte: www.dilly.com.br
8 O Grupo Dass Sport &Style atua no mercado calçadista terceirizando a produção de marcas renomadas como
Nike, Adidas e Oakley e possui a gestão das marcas Umbro, Fila, Tryon e Dilly.
Para se aprofundar nas marcas citadas acima e a forma em que elas concorrem
com o que este projeto propõe, foi aplicado o a ferramenta de projeto PFFOA
(Pontos Fortes, Pontos Fracos, Oportunidade e Ameaças) de Baxter (2003), como
mostra a seguinte imagem
Figura 14: PFFOA Fonte: Acervo do autor
Os melhores itens que a este projeto pode se ajustar para acompanhar o mercado é
focar no público que se quer atingir, manter o site atualizado deixando o cliente
ciente do que acontece com a marca, divulgar datas do lançamento das coleções e
investir em propaganda no mercado regional e nacional.
Esclarecido a posição que o projeto tomaria diante de seus concorrentes, as
vantagens e desvantagens diante do mercado, podendo se adequar ao que público
aprecia e consome e para tal foi feita a pesquisa de campo para adentrar o mundo
dessas mulheres.
4.2 PESQUISA DE CAMPO
Para conhecer profundamente o público alvo deste projeto, foi optado por uma
pesquisa qualitativa, realizada através de entrevista via email. Para a aplicação
desta entrevista foram pesquisadas e escolhidas mulheres que se identificam com o
público deste projeto. As mulheres escolhidas em sua maioria são autoras de blogs
nacionais sobre moda e/ou beleza, e possuem um estilo diferenciado
A entrevista foi realizada através da internet sendo enviadas ao todo para 27
mulheres, destas somente 10 responderam. As mulheres abordadas têm de 21 a 43
anos, porém todas têm um espírito jovem, abrangendo um público maior. Por terem
ligação direta com moda e beleza pode se constatar que a moda influencia o guarda
roupa da grande maioria, sendo assim todas utilizam maquiagem diariamente e
perfumes de marcas renomadas, comprovando a preocupação com a aparência. A
independência delas pode ser observada pelo fato de 70% possui carro e 80% tem
renda própria.
Sobre o estilo das entrevistadas, a grande parte se define como cool, seguido do
sofisticado e do básico, e 90% apreciam a utilização de materiais alternativos,
aplicado de forma sofisticada.
Os saltos preferidos são os que levam meia pata e o agulha. As marcas mais
lembradas são a Arezzo e a Schultz. Com relação aos designers de calçado mais
reverenciados são Yves Saint Laurent e Christian Louboutin.
Essas mulheres costumam freqüentar eventos culturais, como teatro, cinema,
exposições e eventos ligados à moda e todas costumam se atualizar lendo revistas
de moda e beleza. Dentre elas, 70% têm animal de estimação e o maior sonho de
consumo é a casa própria.
Com isso identificamos mulheres sofisticadas, altamente femininas, cuidadosas com
a sua aparência, independentes, atentas aos acontecimentos da moda e culturais,
abertas ao consumo de produtos com materiais alternativos, formadoras de opinião
sobre moda e /ou beleza e encontram no calçado a diferenciação do look.
5 CONCEITUAÇÃO
Nesta seção, pode-se compilar os resultados das pesquisas feitas para este projeto
em alguns termos, a fim de se obter uma identidade, uma ligação desde o começo
até o a finalização do mesmo.
Analisado a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo, bem como o público que
se quer atingir, podemos resumir em três palavras, são elas: diferenciado, feminino e
sofisticado. São as características principais que este projeto deve obter até o fim da
realização deste trabalho. Para ilustrar essas palavras, foi utilizado um painel
semântico, para esclarecer o conceito descrito.
Figura 15: Painel Semântico do Conceito
Fonte: Acervo do autor
Partindo deste conceito obtido ao longo das pesquisas, pode-se seguir para as
etapas seguintes da metodologia propostas sendo elas a concepção e pós
concepção. Juntamente com este artigo está disponível um memorial descritivo
apresentando todo o desenvolvimento do projeto.
5.1 RESULTADOS PARCIAIS DA COLEÇÃO
Baseado nas pesquisas apresentadas anteriormente, pode-se elaborar a concepção
da coleção. A primeira coleção da marca Lagg foi intitulada Feathers Lovers, é
composta de 18 modelos, divididos em seis linhas.
Retirando as linhas orgânicas das esculturas da artista Emily Valentine, como
também as cores, as formas e os materiais, tendo como foco inserindo as penas, ora
naturais ora estilizadas, ao calçado de forma sofisticada e diferenciada, sempre
atentos as tendências que o mercado propõe tanto em cores como também em
formas.
Figura 16: Produtos Desenvolvidos
Fonte: Acervo do Autor
Por apresentarem da melhor formas as características da coleção, estes foram os
quatros modelos escolhidos para confeccionar. A próxima etapa descrita na
metodologia utilizada é a pós-concepção, deixando a marca e os produtos aptos a
entrar no mercado.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Finalizando as etapas de pesquisas, obtendo subsídios para adentrar o cenário
calçadista, o público alvo, bem como seus hábitos de consumo, o tema de
inspiração e as bases vanguardista e do luxo, utilizando a metodologia adaptada de
Santos (2005) e Keller (2004) foi possível atingir os objetivos anteriormente
propostos.
Apresentou neste artigo as bases de uma proposta de uma coleção de calçados
femininos inspirados nas séries Dog Flu e Dog the Bird da artista Emily Valentine,
utilizando as penas. Este material alternativo, de forma sofisticada, ousada e
feminina foi aplicado em sandal boots, ankle boots e scarpins explorando o design
diferenciado saindo da padronagem encontrada no setor calçadista os quais atingem
público de classe A e B.
Para ter uma identificação visual foi desenvolvida a marca Lagg,podendo assim
obter um material de marketing como chaveiro, taloneira, sacos e caixas com o
logotipo da marca. A primeira coleção para a Lagg agrega algumas tendências do
inverno 2010, utilizando formas, materiais e cores das, abrindo caminhos para a
criação e a produção dos calçados.
Pode-se constatar um bom resultado durante a criação e a produção dos modelos
ao longo deste projeto e obteve-se os subsídios suficientes para a marca Lagg
adentrar-se no cenário calçadista de forma inovadora, disputando igualmente esse
mercado de forma positiva.
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
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