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    As histrias e os personagens do mundo das instalaes eltricas

    Volume 3

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    grandes questesChoques eltricos ainda so realidade no Brasil e no mundo.

    Como o corpo reage eletricidade e mtodos para evitar a

    uga de corrente so objetos desta reportagem.

    histriaA origem e a diuso dos usveis e dos disjuntores,

    dispositivos de proteo undamentais s instalaes eltricas

    em todos os nveis de tenso.

    biografaAs aventuras e as contribuies do engenheiro portugus

    Armando Reis Miranda para as instalaes eltricas brasileiras.

    dentro da leiPresente em praticamente todos os pases e em todos os

    segmentos econmicos, a pirataria e a contraao de produtos

    tm uma longa histria, dierentemente das Leis que as

    cobem, que so relativamente recentes.

    evoluoDos rduos e cansativos projetos eltricos desenhados a mo

    em papis de seda aos rpidos e tambm efcazes sotwares

    de projetos. Como o avano tecnolgico coneriu enrgicas e

    proundas transormaes profsso do projetista.

    identidadeAs razes culturais do Brasil so uma das justifcativas para a

    despreocupao do brasileiro com normas, leis e regulamentos

    tcnicos. Veja como o comportamento baseado no jeitinho

    brasileiro acaba comprometendo, muitas vezes, a qualidade

    de projetos e das instalaes eltricas, aetando, de modo

    geral, o desenvolvimento do Pas.

    descontraoJogo desafa o leitor a identifcar os sete erros na instalao

    eltrica ilustrada

    Diretores

    Adolo Vaiser

    Jos Guilherme Leibel Aranha

    Gerncia de planejamento

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    [email protected]

    Circulao

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    Administrao

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    Direo de arte e produo

    Leonardo Piva

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    Bruno Moreira, Leonardo Faria,

    Mauro Jnior, Sergio Bogomoltz

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    Adolo vaiser

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    Fone/Fax - (11) 3872-4404

    www.atitudeeditorial.com.br

    [email protected]

    expediente 8

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    Hilton Moreno, engenheiro eletricista, consultore presidente da Associao Nacional deFabricantes de Produtos Eltricos - Nema Brasil

    Caro amigo(a) do setor de instalaes eltricas,

    Comeo esta carta agradecendo mais uma vez a todos que continuamapoiando o projeto da Coleo Eltrica, seja por meio de mensagenseletrnicas, cartas, teleonemas ou durante conversas pessoais. Ficotambm muito eliz por saber que novos colegas passaram a receber eapreciar o contedo desta publicao.

    Permanentemente estimulados pelos leitores e motivados a trazernovos e teis conhecimentos aos prossionais, preparamos para estaterceira edio da Coleo Eltrica algumas matrias que atendem aosobjetivos do projeto. Voc encontrar interessantes textos sobre a histriados usveis e dos disjuntores, componentes indispensveis proteodas instalaes eltricas; sobre a evoluo do projetista, prossional quesoreu diversas transormaes com os avanos tecnolgicos; sobre oseeitos da eletricidade no corpo humano; entre outras temticas.

    Como nas vezes anteriores, destaco a seo Biograa, em que ohomenageado uma gura mpar do setor: o engenheiro eletricista,nascido em Portugal e com brilhante carreira no Brasil, ArmandoReis Miranda, ou, como carinhosamente o tratamos no dia-a-dia,simplesmente, Engenheiro Miranda. Como poder ser apreciado aolongo do texto, sua histria de vida um aprimorado exemplo de luta,dedicao, persistncia, coragem e desaos. E tudo isso recheado de muitacompetncia, conhecimento terico e complementados por vivnciaprtica inigualvel. Pessoalmente, tem sido um grande aprendizadoconviver prossionalmente com o Engenheiro Miranda, particularmentenas reunies da ABN, nas quais ele se destaca com suas posies tcnicasrmes e conceitos slidos, que muito tm contribudo para o avano danormalizao tcnica nacional.

    Fao votos para que voc, amigo(a) leitor(a), aprecie este terceiroascculo da Coleo Eltrica e aguardamos com todo interesse seuscomentrios, crticas e sugestes.

    Boa leitura e abraos!

    Hilton Moreno

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    Visitas espordicas a jornais impressos e televisivos acilmente reoram a armao de queacidentes domsticos causados por choques eltricos so h anos atos corriqueiros no Brasil e nomundo. A atalidade ocorre, na maioria das vezes, quando a pessoa encontra-se com o corpo molhado,como oi o caso do menino argentino Farid Aad. A criana de sete anos nadava na piscina de umhotel luxuoso da Bahia quando, ao avistar um refetor que se encontrava prximo borda da piscina,esorou-se para alcan-lo. O equipamento estava com um o desencapado e a passagem de correnteeltrica para o garoto oi i nevitvel.

    Pra-choque eltrico

    Ilustrao:MauroJr.

    Outro caso, este com grande destaque na mdia, curiosamente,aconteceu tambm na Bahia. O msico da banda Olodum, JosNilton eixeira de Souza, 22 anos, conhecido como Zio, haviaacabado de sair do banho, quando, ainda molhado, encostou-se no rerigerador, recebendo a descarga eltrica. Em ambos oscasos, o desecho da histria oi atal. anto o msico quanto omenino argentino chegaram a ser levados ao hospital com vida,mas no resistiram.

    Como o corpo reage

    Grande parte das pessoas sabe, ou deveria saber, quechoques eltricos podem ser atais. Mas o que exatamenteacontece com nosso corpo e em quais condies ele nos leva morte? Para que a resposta possa ser dada com propriedade,primeiro, deve-se ressaltar, conorme nos inorma o engenheiroeletricista e proessor Hilton Moreno, que todas as sensaesdo corpo humano, de uma orma ou de outra, so produzidaspor sinais eltricos que so enviados pelas clulas nervosas ao

    crebro.Assim unciona nosso corao. A grosso modo, ele recebe

    estmulos eltricos causados por reaes qumicas internas e secontrai; o sangue circula e todos os outros rgos comeam atrabalhar. A peculiaridade da situao que a passagem de umacorrente eltrica extern a, causada por um choque, sentida pelocorao da mesma orma, intererindo no batimento cardacoregular. A contrao se desorganiza e, em alguns casos, podeser impossvel restabelecer o batimento coordenado necessriopara promover a circulao do sangue; conseqentemente ocorpo entra em colapso e a pessoa no resiste.

    A intensidade que uma corrente eltrica deve ter para que

    seja percebida conscientemente por uma pessoa chamada delimiar de percepo. De acordo com Hilton Moreno, esselimite depende de muitos atores, como a rea do corpo queest em contato com o condutor de eletricidade, a temperatura,as condies psicolgicas do indivduo, se ele est calmo ouestressado e se a pele est seca ou molhada. De qualquer modo,em reqncias de 50 Hz e 60 Hz, que so as mais usuais nasinstalaes eltricas em todo o mundo, o limiar de percepoicar em torno de 0,5 mA.

    H tambm, de acordo com Moreno, o limite de largar,ponto alm do qual a corrente eltrica que lui pelo corpoprovoca um estmulo nervoso, paralisando os msculos,azendo uma pessoa em contato com um condutor vivo no sermais capaz de solt-lo, enmeno chamado de tetanizao.

    A corrente supera os impulsos eltricos que so enviados pelamente e os anula, podendo bloquear um membro ou o corpointeiro, ignorando totalmente a conscincia do indivduo e asua vontade de interromper o contato. Este limiar tambmdepende de diversos atores, mas, em geral, ica entre 6 mA

    e 14 mA (mdia 10 mA) em mulheres e entre 9 mA e 23 mA(mdia de 16 mA) em homens.

    Em relao aos eeitos cardacos, h tambm um limitepara que o batimento comece a se descompassar. O chamadolimiar da ibrilao ventricular depende igualmente de vriosatores prprios de cada indivduo, mas, da mesma orma, deparmetros eltricos como durao, caminho e tipos de corrente(alternada ou contnua). No caso da corrente alternada, dizo engenheiro Hilton Moreno, h uma considervel reduoneste limiar quando ela circula por mais de um ciclo cardaco.Experincias prticas tm mostrado que correntes de 5 mA jprovocam choques desconortveis.

    Sem as devidas precaues tcnicas e sem a merecida ateno, especialmente,em ambientes molhados, o corpo humano, desprotegido, unciona como um

    verdadeiro im de corrente eltrica. So nestas situaes que a eletricidade passade benfca para malvola em um piscar de olhos.

    Com a passagem de corrente eltrica pelocorpo, a contrao do corao se desorganiza.

    Em alguns casos, impossvel restabelecero batimento coordenado necessrio para

    promover a circulao sangnea.

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    Para garantirEm determinados circuitos da instalao, a norma ABNT NBR

    5410 indica que a proteo contra choques eltricos d eve ser realizada

    obrigatoriamente por DRs de alta sensibilidade, ou seja, com corrente

    dierencial-residual nominal igual ou inerior a 30 mA. o caso dos

    seguintes circuitos:

    que servem a pontos de utilizao situados em locais contendo

    banheira ou chuveiro;

    que alimentam tomadas de corrente situadas em reas externas edifcao;

    de tomadas de corrente situadas em reas internas que possam

    alimentar equipamentos no exterior;

    que, em locais de habitao, servem a pontos de utilizao situados

    em cozinhas, copas-cozinhas, lavanderias, reas de servio, garagens e

    demais dependncias internas molhadas em uso normal ou sujeitas a

    lavagens;

    que, em edifcaes no-residenciais, servem a pontos de tomada

    situados em cozinhas, copas-cozinhas, lavanderias, reas de servio,

    garagens e, no geral, em reas internas molhadas em uso normal ou

    sujeitas a lavagens.

    Como se proteger

    Para evitar riscos vida do ser humano, az-se mais do quenecessria a adoo de medidas de proteo contra possveispassagens de corrente eltrica proveniente de equipamentos para

    corpo humano. A ABN NBR 5410 norma de instalaesltricas de baixa tenso indica que o princpio undamentalelativo proteo contra choques eltricos compreende que as

    partes vivas perigosas no devem ser acessveis (para evitar oontato direto) e que as massas ou partes condutoras acessveis

    no devem oerecer perigo, seja em condies normais, seja emaso de alguma alha que as tornem acidentalmente vivas (paravitar o contato indireto).

    Para evitar contatos diretos, a norma prescreve a proteobsica, que consiste na isolao das partes vivas; no uso de barreiras

    u invlucros de proteo; em obstculos; na colocao ora do

    lcance das pessoas; no uso de dispositivos de proteo correntedierencial-residual de alta sensibilidade; e na limitao de tenso.Para evitar contatos indiretos, deve haver a proteo supletiva,que inclui medidas, como eqipotencializao e seccionamentoutomtico da alimentao, o uso de isolao suplementar e o deeparao eltrica.

    De modo geral, inorma o engenheiro eletricista SrgioBogomoltz que a proteo bsica de uma instalao eltricancorpora todos os anteparos contra a eletricidade, como a parte

    plstica da tomada, a cobertura dos condutores e o soquete. Ontuito que a pessoa encontre barreiras, diz. J a proteouplementar leva em conta a possibilidade de a parte metlica

    do condutor encostar, por exemplo, em uma tubulao metlica.Invariavelmente, uma corrente passar por esse condutor que, aoestar em contato com outro material condutivo, ir energiz-lo.Em uma reao em cadeia, a corrente passar do equipamentopara uma pessoa que toc-lo.

    A proteo supletiva, de acordo com Bogomoltz, umconjunto de aes que tem incio com o aterramento das partesmetlicas de uma instalao. Com isso, a corrente que passariadiretamente para a pessoa em nmeros menores devido altaresistncia hmica do corpo humano transormada em umagrande corrente que escoada pela terra. O engenheiroinorma que esse valor mais elevado da corrente ser responsvelpor acionar o seccionamento automtico da alimentao que a medida suplementar na proteo das instalaes eltricas. Oobjetivo do seccionamento evitar que uma tenso de contato(UB) superior tenso de contato limite (UL) se mantenha por

    um tempo suiciente para resultar em risco de eeito isiolgicoadverso s pessoas.Os usveis e os disjuntores podem uncionar c omo dispositivos de

    proteo contra choques eltricos, contudo, como suas sensibilidadespara detectar alguma alta na corrente que perpassa os condutoresso baixas, normalmente, o dispositivo utilizado apontado pelaNBR 5410 o Dierencial Residual, mais conhecido como DR. Ouncionamento deste dispositivo, explica resumidamente, Bogomoltz,consiste na vericao da soma vetorial de todas as correntes quepercorrem os condutores de uma instalao eltrica. Em condiesnormais, o somatrio ser igual a zero. Caso haja alguma alta decorrente, o DR acusar e desligar os aparelhos.

    De acordo com Hilton Moreno, a NBR 5410 aponta queesses equipamentos podem ser de dois tipos: de alta sensibilidade(at 30 mA inclusive) e de baixa sensibilidade (acima de 30 mA).Segundo o engenheiro, em esquemas de aterramento N, que soos mais utilizados nas instalaes brasileiras, a proteo supletivasempre garantida, conorme determina a NBR 5410, pelo DR,seja de alta ou de baixa sensibilidade.

    Tipos de DRNos Estados Unidos e no Japo, muito diundido o uso dos DRs eletrnicos,

    os quais possuem nvel da proteo maior, com valores de correntes de sensibilidade

    de 5 mA, especialmente nas protees incorporadas diretamente nas tomadas. J

    na Europa, assim como nos pases que seguem a norma IEC, o uso do dispositivo

    eletrnico limitado a uma proteo adicional, conorme prescreve a ABNT NBR

    5410, que no probe o uso do DR eletrnico, todavia impe que ele poder ser

    utilizado desde que haja tambm uma proteo dierencial eletromecnica.

    Defnies:

    - DR eletromecnico

    um dispositivo dierencial que possui um sensor eletromagntico de correntes residuais e um sistema

    disparador mecnico que az atuar o desligamento dos contatos do dispositivo. A atividade deste produto no

    depende da tenso de alimentao.

    - DR eletrnico

    um dispositivo que possui, no seu sistema sensor, um circuito eletrnico que az a soma vetorial das

    correntes dierenciais e que pode aumentar a sensibilidade do sensor, impondo a necessidade de uma tenso de

    alimentao para que o dispositivo uncione.

    O DR eletromecnico, por no depender da tenso de alimentao, estar sempre supervisionando a

    situao da instalao, independentemente da condio de tenso de entrada ou sua alimentao. J o eletrnico,

    em caso de perda da a limentao, alm de no prover a proteo, tambm impe a necessidade de religamento

    (reset) ao retorno na tenso de alimentao.

    O DR tido pelos engenheiros eletricistas como um dispositivoque traz segurana ao projeto e tranqilidade ao projetista e aousurio. Como no h garantias de que, aps um longo uso dasinstalaes, a corrente passe adequadamente pelos condutores semque haja uma descarga de energia para qualquer aparelho, e comono possvel saber se somente o sistema de aterramento darconta de uma alta na passagem da corrente, emprega-se o DRcomo uma medida imprescindvel para a preveno de acidentes.

    Funcionando como um verdadeiro inspetor de qualidade dainstalao eltrica, o DR pode, justamente por isso, trazer a lgunsinconvenientes queles que o tiverem instalado em sua residncia.Isso porque, caso uma determinada instalao no esteja nasmelhores condies de uncionamento, apresentando elevadascorrentes de uga, o dispositivo ser sempre acionado, seccionandoa alimentao de energia eltrica, ou seja: o jantar luz de velasvirar rotina. Dessa orma, az-se necessrio, obviamente, uma

    anlise minuciosa das condies da instalao antes que sejacolocado o DR.

    Para evitar que acidentes relacionados a choques eltricosocorram, o engenheiro eletricista Hilton Moreno recomenda que omorador chame um prossional para vericar se seu edicio possuium DR instalado e, caso ex ista, se est uncionando corretamente,se h um sistema de aterramento adequado e ativo, se todas ascaixas, tanto nas reas comuns quanto nos apartamentos, tm umo terra em seu interior. Por ltimo, mas no menos importante,que a ateno redobre, principalmente, ao manejar equipamentoseltricos em ambientes molhados ou sujeitos a lavagens, reas demaior risco.

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    Relativamente simples, embora com mecanismo complexo, os disjuntores e os usveis so,

    provavelmente, os dispositivos mais conhecidos de uma instalao eltrica e indispensveis suaproteo. Nasceram de uma necessidade gerada a partir do desenvolvimento da energia eltrica.Primeiro, para proteger o lamento da lmpada recm descoberta, inventou-se o usvel. Mais tarde, oavano industrial motivou a criao dos disjuntores.

    Os dispositivos ganharam escala e tornaram-se indispensveis em praticamente todas as instalaeseltricas. Ambos tm a misso primria de proteger os componentes dos sistemas eltricos contrasobrecargas e curtos-circuitos.

    No se sabe quando exatamente surgiu o primeiro usvel. ato que, nos anos 1860, os deplatina desempenhavam seu papel, sendo empregados para proteger cabos submarinos. Ocialmente,o primeiro usvel teria aparecido com a patente de Tomas Edison, em 1880, mas h indcios de quea primeira aluso ao equipamento data de, pelo menos, cem anos antes.

    Frutos danecessidade

    O usvel

    As primeiras reerncias ao usvel que se tem notcia sode 1774, em textos de Edward Nairne, quando este mencionaproteo eltrica em experincias com energia eletrosttica.Conorme relata o livro Electric uses, editado pela IEE Power& Energy Series, a prxima citao do dispositivo ocorreriaapenas em 1887, durante a apresentao de um trabalho de A.C. Cockburn Sociedade de Engenheiros elegricos. Nessemomento, veio a pblico a inormao de que ios de platinaeram utilizados com o objetivo de p roteger cabos submarinosem 1864.

    Aproximadamente uma dcada depois, em 1879, umconsidervel nmero de usveis comeou a ser utilizado, masdescobriu-se que essa simples construo de os no era adequada

    para algumas aplicaes. Foi ento que, naquele ano, o proessorS. P. Tompson introduziu um novo e melhorado modelo deusvel. Consistia em dois os de ao conectados juntos a umaesera metlica. Acreditava-se que a esera poderia ser uma liga dechumbo ou estanho ou algum material condutor com baixo p ontode uso. Quando uma corrente elevada atravessasse o usvel porum longo perodo, derretendo o chumbo, as gotas caiam d os os,interrompendo o circuito.

    Em um modelo mais sosticado, Cockburn usou um pesopara tracionar um o de platina que se undia a partir de umdeterminado nvel de corrente. Com isso, explica o engenheiroeletricista Paulo de Almeida Junior, gerente de marketing da

    Para suprir a necessidade de proteger a lmpada, nasceu o usvel. Anos maisarde, para atender a uma demanda industrial, o disjuntor oi criado. Com auno de oerecer segurana s instalaes eltricas, ambos os dispositivosogo passaram a ser empregados em larga escala e em todo o mundo.

    Bussmann, atuaes com correntes eram possveis entre 1,5 e 2,0vezes a corrente nominal atribuda a cada conjunto.

    Uma variao desse sistema oi patenteada em 1883 por C.V. Boys e H. H. Curryngham. No seu arranjo, a corrente fuapor meio de dois lamentos que eram soldados juntos em suasextremidades.

    Alguns mecanismos que desempenhavam a uno deproteo oram desenvolvidos, mas nada muito parecido aoconhecido usvel. Foi ento que demonstraes de lmpadasde lamentos incandescentes ocorridas na Gr Bretanha, pelosico Joseph Swan, em 1878, e quase simultaneamente porTomas Edison, nos Estados Unidos, estimularam o surgimentodos primeiros usveis eetivamente.

    De acordo com o livro Electric uses, os usveis de Swanno eram muito empregados para proteger instalaes eltricas

    contra sobrecargas ou curtos-circuitos, mas para salvaguardar aslmpadas contra alhas no lamento. O dispositivo compreendiaum lamento de cobre-lato envolvido em um material arcoextinguvel.

    J, em 1880, Tomas Alva Edison teria criado o primeirousvel mais parecido com o que vemos no mercado, com oencapsulamento de um o delgado em um cartucho de vidro,protegendo as partes adjacentes, ou mesmo algum operadorprximo, de eventuais ascas resultantes da atuao do usvel.O invento de Edison, segundo o gerente de marketing do GrupoLegrand, Antonio Eduardo de Souza, teria sido incitado por umproblema. Tomas Edison construiu sua primeira central eltrica,

    Fusvel desenvolvido porThompson, em 1879.

    Modelo de usvel criado porCockburn, no fm do sculo XIX.

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    A primeira patente do usvel oi adquirida por Thomas Edison em abril de 1881.

    Fonte: Bulbcollector.com

    A histria deine o usvel como um invento de Thomas Edison, mas o sicoJoseph Swan participou signiicativamente dessa criao. A dvida sobre quemseria o inventor do usvel oi, inclusive, tema de algumas cartas trocadas entresicos no incio do sculo XX. Parte de uma dessas correspondncias, assinadapor J. H. Holmes, e escrita em 1932, reproduzida a seguir e evidencia a dvidasobre quem eetivamente teria introduzido o usvel.

    Relembrando a origem dos usveis, eu sempre encontro incertezas sobre quemrealmente deveria levar o crdito de ser o seu primeiro inventor. Trata-se de umcaso muito claro de que a necessidade oi a me da inveno.

    Estive procurando registros sobre o que se sabe acerca de usveis no incio dosanos de 1880 e o primeiro volume do livro Electric Illumination compilado por

    J. Dredge e publicado em agosto de 1882, em Ocios da Engenharia revela, napgina 630, que a patente de Edison, adquirida em 1881, parece ser a primeiranotiicao de ios de proteo. Diz tambm que o invento de Edison erachamado de saety guard.

    Creio, entretanto, que Swan tenha usado um articio para o mesmopropsito antes de abril de 1881. Isso porque Cragside (primeira casa a seriluminada com energia eltrica, localizada na Inglaterra) perto daqui, oiiluminada com as lmpadas de Swan em meados de dezembro de 1880. (...)

    Na descrio de iluminao eltrica do sistema de Swan, encontrada noprojeto do Teatro Savoy, de 3 de maro de 1882, os usveis de segurana(shunts) esto reeridos no demasiado intencionado a proteger contra os

    perigos, os quais esto prximos impossibilidade de ocorrer no trabalhoprtico, mas de proteger as lmpadas contra a destruio por sobrecarga. Issoconirma o que Campbell Swinton disse sobre o Drawing Oice at Elswick,em 1882, de que j havia um vasto nmero de chaves, usveis, interruptores eoutros aparatos .

    Origem: Estados UnidosData: 1890

    Acabamento: vidro transparenteBase: mdia, ideal para lmpadas de T. EdisonCuriosidade: At o ano de 1900, todos os usveis de Edisoneram eitos de vidros transparentes.

    Fabricante: General ElectricOrigem: Estados Unidos

    Data: 1897Acabamento: porcelanaCor: latoBase: mdia, ideal para lmpadas de T. EdisonCuriosidade: os usveis da GE, de at 25 A, possuam coberturasremovveis de lato. A patente deste usvel permaneceu de 1882a 1897.

    Fabricante: General ElectricOrigem: Estados UnidosData: 1919Tenso: 125 V

    Acabamento: porcelanaCor: latoBase: mdia, ideal para lmpadas de T. EdisonCuriosidade: Os usveis de 15 A / 125 V possuam umacobertura removvel de lato e janela de inspeo com ormatohexagonal. Sua patente teve durao de 1911 a 1919.

    Fabricante: General ElectricOrigem: Estados UnidosData: 1919Tenso: 125 V

    Acabamento: porcelanaCor: lartoBase: mdia, ideal para lmpadas de T. EdisonCuriosidade: Os usveis de 30 A / 125 V possuam coberturaremovvel de vidro e janela de inspeo redonda. Sua patenteteve durao de 1911 a 1919.

    Primeiros usveis

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    Convivncia harmnica: usveis e disjuntores so empregadosem instalaes eltricas de dierentes nveis de tenso.

    em escala industrial, o que corresponde ao nal do sculo 19 ecomeo do sculo 20. Melhorias oram observadas na primeirametade do sculo 20 relativas corrente nominal do dispositivo eao tempo de interrupo das sobrecorrentes. Antes de 1926, essestempos eram de cerca de 45 ciclos, sendo que, em 1960, j haviadisjuntores com tempos de interrupo de dois ciclos.

    Uma das primeiras patentes que se sabe do disjuntor reere-seao voltado para alta tenso, conhecido como SF6, que teria sidodesenvolvido na Alemanha em 1938 por Vitaly Grosse e, mais tarde,em 1951, nos Estados Unidos. No Brasil, os disjuntores comearama ser utilizadas com maior reqncia a partir da dcada de 1970.

    A retomada da urbanizao na Europa e nos Estados Unidos permitiua expanso do setor eltrico e a consolidao de grandes multinacionaisdo segmento, permitindo o desenvolvimento dos disjuntores.

    Fusvelversus disjuntorOs usveis apresentam, em geral, menor custo e so mais

    simples do que os disjuntores. O usvel, tendo atuado uma vez,deve ser substitudo, ao passo que o disjuntor, aps o seu desarme,pode ser utilizado novamente. No entanto, esta ao podeconduzir o usurio comum a simplesmente rearmar o disjuntore ignorar a alha eltrica, assim como substituir o usvel semsolucion-la pode ser perigoso, particularmente, se o problemaque ocasionou a queima oi um curto-circuito.

    Na opinio de Almeida Junior, onde h correntes de curto-circuito mais altas, o usvel ainda tem uma excelente relao

    O disjuntor

    Os disjuntores se distinguem dos usveis, pois so dispositivosque podem ser rearmados aps sua atuao. So muito mais prticose adequados para aplicaes residenciais e mesmo para algumasaplicaes industriais, onde se tem correntes de curto-circuitopresumveis relativamente baixas, arma Paulo de Almeida Junior.

    Com uno semelhante dos usveis, os disjuntores possuemuma corrente nominal denida. Ultrapassado este limite, apsalgum tempo, h o desligamento automtico do dispositivo,protegendo, dessa maneira, os componentes da instalao.

    No se sabe ao certo quando o disjuntor, como o conhecemos,teria eetivamente sido inventado. Almeida Junior conta que oengenheiro e proessor Ademaro Cotrim biograado da primeiraedio desta Coleo costumava dizer que os disjuntores teriam

    sido inventados aps a crise de 1929. Segundo ele, nesse perodo,houve um aumento signicativo do nmero de incndios, pois osusveis queimados eram substitudos por moedas e outros objetosmetlicos. Nesse instante, a Westinghouse teria comeado a abricaros disjuntores a sopro.

    Uma orma aproximada de disjuntor oi patenteada nosEstados Unidos por Tomas Edison, em 1879, muito embora seussistemas usassem usveis. O objetivo do dispositivo patenteado eraproteger a ao dos circuitos de iluminao contra sobrecargas ecurtos-circuitos acidentais.

    H indicaes de que os disjuntores comearam a aparecer nosEstados Unidos assim que a distribuio de energia se desenvolveu

    m Nova York, movida a carvo, conseguindo acender 7.200mpadas por vez, mas esses produtos possuam um lamentomuito sensvel s variaes eltricas. Com a misso de resolver aquesto, nasceu o usvel.

    O conceito utilizado oi o mesmo empregado nas lmpadas:usveis de vidro, com lamentos com base de algodo e ligas

    metlicas, que se rompem aps o aquecimento provocado por umaobrecarga ou curto-circuito.

    O consultor tcnico da Schneider Electric, Miguel RosaJunior, conta que, no nal do sculo XIX, houve um grandevano quanto ao design dos usveis, quando um engenheiro

    da Brush Electrical Engineering Company, W. M. Mordy,patenteou o primeiro usvel eltrico tipo cartucho. Estedispositivo era preenchido com um material que extinguia orco eltrico gerado na atuao do dispositivo, seccionando e

    protegendo o circuito em caso de alta.Com o tempo, os usveis ganharam alto desempenho, d esigns

    modernos e tamanhos reduzidos, mantendo o mesmo conceito, masgora composto por um envoltrio cermico e por um elemento

    que se unde, no caso de uma sobrecarga ou curto-circuito. Estelemento est imerso em um material arco extinguvel arenoso,

    que elimina o arco eltrico gerado durante sua undio.Os usveis ganharam emprego em todo o mundo, protegendo

    nstalaes domsticas, automotivas e industriais em larga escalaem todos os nveis de tenso. A evoluo das normas tcnicaso desenvolvimento tecnolgico industrial oram os principais

    ontribuintes para o apereioamento do dispositivo.

    Disjuntor alguns dados histricos

    1902 Fbricas comeam a investir na produo de linhas de usveis

    1904 Cutter Manuacturing Co., localizada na Philadelphia (EUA), comea a produzirinterruptores de circuitos. A companhia introduziu um produto que se tornou umsucesso industrial. Este novo dispositivo protetor, primeiro utilizado como elementointerruptor de tempo inverso, passou a ser conhecido como I--E interruptor(I--E breaker)

    1921 Merlin Gerin abrica o primeiro disjuntor a leo para alta tenso

    1925 O Cdigo Norte-Americano de Eletricidade (NEC) exige que os disjuntoressejam encapsulados e de cil operabilidade

    1932 Westinghouse inicia comercializao de seu disjuntor a sopro modular

    1935 Square D abrica o primeiro disjuntor para uso residencial

    1951 Square D introduz os disjuntores do tipo plug-in no mercado

    benecio-custo, pois so muito mais baratos e compactos queos disjuntores correspondentes. Hoje podemos ter um usvelatuando dentro de uma seccionadora para uso em redes de at200 kA de curto-circuito presumido e com tamanho idntico aum minidisjuntor modular de 18 mm.

    Ele acrescenta que, com o crescente uso de automao,com o uso de inversores de reqncia e outros dispositivosde partida e parada suave base de componentes eletrnicosde potncia (tiristores, transistores, diodos e IGBs), ousvel ainda se mantm como um dispositivo atual, pois onico que consegue atuar em menos de meio ciclo de onda,limitando adequadamente o I2t, que a energia que fuiria paraos componentes eletrnicos sensveis. So os usveis ultra-rpidos, indicados para uso em correntes de curto-circuito deat 300 kA. ais usveis so coneccionados com elementos

    de prata, enclausurados em um corpo de um tipo de cermicaespecial, chamada esteatita, preenchido com areia impregnadacom resina curada em autoclaves.

    A maior evoluo nos disjuntores nos ltimos anos oi, deacordo com Miguel Rosa Junior, os limitadores, que possuem acapacidade de atuar de orma muito rpida em curtos-circuitosde alta intensidade. Quanto maior o nvel de curto-circuito, maisrpida a atuao de disparos do disjuntor. Com isso, oi possvelutilizar os disjuntores em aplicaes heavy-duty (minerao,siderurgia) ou sensveis (hospitais, data centers), em razo doalto grau de ecincia na resposta s ocorrncias anormais quepossam surgir nas instalaes eltricas.

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    Quando chegou em terras brasileiras para comear uma nova etapa de sua vida, o engenheiroeletricista portugus Armando Reis Miranda j no era mais nenhuma criana. inha 52 anos,uma amlia ormada e uma carreira estruturada em Lisboa, cidade na qual nascera e vivera ataquele momento. Com tudo isso, por que mudar ento? rocar a solidez conquistada com duroesoro na Europa por um caminho movedio em um pas estrangeiro parecia insensatez mesmopara o mais aventureiro e destemido dos homens.

    Entretanto, o engenheiro no tinha muitas alternativas: ou procurava outro pas para viver oucava em Lisboa e enrentava os dias tumultuados da Revoluo dos Cravos, movimento lideradopor comunistas, que comeou em 1974, e exigia severas reormulaes na estrutura sociopolticade Portugal. Por j ter uma vida estabilizada e algumas posses, Miranda tornou-se um dos alvosdos revolucionrios que tinham o intuito de balanar as estruturas. Mais de uma vez recebi

    Repetindo seus antepassados, o engenheiro portugus Armando Reis Mirandacruzou o oceano atlntico para desbravar novas terras. Conseguiu o seu espao eatualmente um profssional respeitado no pas que escolheu para viver.

    teleonemas em casa com ameaas de morte, conta. No pudeaguentar quela loucura toda e por isso resolvi ir embora.

    Em maro de 1975, Miranda despediu-se de sua esposa edos seis lhos e viajou para a Blgica, cando pouco tempo porl. Naquela poca, a Europa inteira passava por um momentoconturbado, diz. Em julho do mesmo ano, ele j estava noBrasil, pas que havia sido destino de seu irmo mais novoalgum tempo antes. Ao contrrio de seu irmo, que cou poucotempo por aqui, Miranda cou e acreditava que podia contribuirmuito com sua vasta experincia para um pas relativamente

    jovem como o Brasil. Acertou.

    Em Portugal

    A experincia de Armando Reis Miranda, em sua grandeparte, oi conseguida em Portugal, mais especicamente, emLisboa, cidade na qual nasceu em 1923. Com 24 anos, Mirandaormou-se engenheiro eletricista pelo Instituto Superior cnicoe comeou a trabalhar na rea, como assistente, no laboratrioda universidade em que havia estudado. A primeira atitudeque tomou logo depois de se ormar, porm, no oi arrumar

    um emprego e sim casar-se com Maria Fernanda. Esto juntosdesde ento. J so 61 anos de unio, conta o engenheiro.

    Logo depois, Miranda oi servir o exrcito portugus,obrigatoriedade como aqui, com a dierena de que, no Brasil,o jovem deve alistar-se ao completar 18 anos e, em Portugal, possvel esperar o trmino dos estudos universitrios. Oengenheiro conta que os militares lusitanos prezam pelaqualicao de seus novos integrantes, utilizando-a embenecio das oras armadas. No entanto, Miranda no quisseguir carreira e, ndado o tempo obrigatrio de servio militar,

    ele oi empregado como tcnico em acstica do Laboratrio deEngenharia Civil de Lisboa, uno que exerceu at o ano de1954.

    Antes de nalizar seu perodo como tcnico no laboratrio, oengenheiro abriu, em 1953, com alguns colegas, uma sociedadepara a realizao de projetos na rea eltrica. A empresa deMiranda no se limitava apenas a isso e abricava tambmquadros eltricos de mdia e baixa tenso . Projetvamos ecomercializvamos tambm instalaes eltricas para carros,acrescenta o engenheiro. Chegamos a ter mais de 300uncionrios.

    Navegar preciso

    Miranda introduziu no Pas a tcnica de utilizar as erragens das undaes dos edicios para realizar a proteo contra descargas atmosricas.

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    O crescimento e o sucesso da empresa de Miranda tambmefetiram na internacionalizao de seus negcios. A bricahegou a ter at uma sucursal em Angola e, por conta disso, ongenheiro portugus chegou a morar seis meses no pas aricano.

    Outros pases para os quais Miranda vendia seus equipamentosprestava servios eram Blgica, Inglaterra e Alemanha. Para

    ste ltimo, por conta dos negcios, o engenheiro eletricistahegou a ir muitas vezes. Cheguei at a aprender o idiomalemo, diz.

    A aventura empresarial de Miranda terminou com a vendade sua empresa de painis eltricos a uma gigante alem, a

    iemens. O engenheiro relata que, mesmo aps a passagem doomando da brica aos alemes, ele continuou trabalhando narea, como prestador de servios Siemens. Posteriormente,

    veio a Revoluo dos Cravos, o descontentamento com aituao de Portugal e o exlio. Como um navegador da poca

    do descobrimento, Miranda aportou em terras tupiniquins.

    No Brasil

    O comeo oi dicil. Praticamente sozinho na cidade de So

    Paulo, Miranda teve de se virar. Alm de seu irmo, o engenheiroeletricista conhecia poucas pessoas em solo brasileiro, somentealguns engenheiros, proessores da Universidade de So Paulo(USP), para os quais, em Portugal, j havia escrito cartascom o intuito de se inteirar a respeito do mercado brasileiro.Deu certo, conseguiu um emprego no Consrcio Nacionalde Engenheiros Consultores (Cenel), mas cou pouco tempopor l, sendo contratado, em 1976, pela Temag Engenhariae Gerenciamento, na qual participou da construo da usinahidreltrica de Itaipu.

    A experincia conquistada na Temag cou, mas o empregono. Menos de um ano depois de ter iniciado suas atividadesna empresa, Miranda conseguiu um novo: em uma companhianlandesa que realiza projetos eltricos na rea de papel ecelulose chamada Jakko Poyry. Dessa vez, o engenheiro veiopara car e s deixou a empresa onze anos depois, em 1988.Neste intervalo, houve mais histrias para contar que reiteramsua competncia.

    Miranda relembra que, certa vez, na Jkko Poyry, aodesenvolver programas de computao na rea eltrica paraestabilidade, fuxo de carga e aterramento, que seriam utilizados

    Schelkuno entendeu que a teoria daenergia irradiada para a luz solar poderiaser utilizada na eletrodinmica. Eu aprendidesse jeito na aculdade, mas no est certoArmando Reis Miranda

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    Querela com Schelkuno

    Propiciar que Armando Reis Miranda participassedo projeto de um dos maiores empreendimentosgeradores de energia eltrica do mundo no oi a nicacoisa que a Temag ez pelo engenheiro, pois, segundoele, oi trabalhando pela empresa que ele se deu contade que aquilo que haviam lhe ensinado na aculdade deengenharia estava errado. Miranda reere-se utilizao,por parte do matemtico russo, Sergei AlexanderSchelkuno, dos estudos sobre eletromagnetismo eitospelo sico e matemtico escocs James Clerk Maxwellsobre a Lei da Induo Magntica e do sico e qumicoingls Michael Faraday.

    De acordo com o engenheiro eletricista portugus,Schelkuno acreditou que se podia empregar as teoriasde Maxwell sobre energia irradiada e energia conduzida.

    Ele generalizou; tirou que a luz natural era eletricidade.Ele entendeu que a teoria de energia irradiada para luzsolar poderia ser utilizada na eletrodinmica. Eu aprendidesse jeito na aculdade, mas no est certo, desabaaMiranda, que, desde ento, tenta convencer as pessoasda rea sobre isso. Mas convencer os proessores dasuniversidades muito dicil. Eles acham que maiscmodo deixar como est.

    Segundo o engenheiro eletricista, o que lhe alta deapoio entre os acadmicos sobra entre os prossionaisdas indstrias. E este suporte oi um dos atores quelevou Miranda a publicar, em 1994, o livro InstalaesEltricas Industriais, publicao que, conorme oengenheiro, versa, entre outros assuntos, a respeito dasteorias do cientista russo e de suas impossibilidades.

    Em relao aos leitores, Miranda no tem dvidasde que muitos deles seguem o que est escrito em suapublicao. Isso est claro porque no podem acreditarnas antasias que os p roessores universitrios ensinam,arma. O livro do engenheiro teve, at o momento,somente uma edio, mas, caso haja mudanas reerenteaos ensinamentos de Schelkuno, Miranda prometeuma reviso e a segunda edio de seu livro.

    Com o intuito de diundir ainda mais sua crtica

    em relao ao cientista russo, Miranda no se limitouapenas ao livro e escreveu uma srie de artigos para umarevista especializada. Em um deles analisou a ecciade procedimentos de proteo contra os eeitos dacorrente do raio, apresentou um caso real e resultadosde ensaios, apontando o motivo de muitos erros etropeos nessa abordagem. Nada mais que o estudode Sergei Schelkuno, considerado uma reerncia namatria, e que ignora, segundo Miranda, de ormageneralizada, a Lei da Induo Magntica, de Faraday,que indispensvel.

    por ele na lial brasileira, o sucesso oi tanto que ele oichamado para implantar o mesmo sistema na sede situada naFinlndia. L, mais uma outra oportunidade: realizar programasde computao para serem utilizados em linhas de alta tenso.Concomitantemente ao trabalho na companhia nlandesa, oengenheiro eletricista atuava como consultor privado na J. AlvesVerssimo, proprietria do Grupo Eldorado. Miranda entrou naempresa por volta de 1978 e prestou servios at 1990, ano emque se aposentou denitivamente.

    Foi na J. Alves Verssimo que ele conheceu o engenheiro

    civil e eletricista Eurico Freitas Marques. Os dois zeramparte da equipe de engenheiros responsvel pela construo dotradicional shopping paulistano Eldorado e de seu supermercado,que agora pertence ao Carreour. Eu projetei a parte hidrulicae ele a eltrica, conta Marques, que chegou ao Grupo em 1983,cinco anos depois da entrada de Miranda.

    De acordo com Eurico Marques, o engenheiro portugus oide extrema importncia para o projeto do Shopping Eldorado.Expert na parte de aterramento, Miranda oi o responsvel portodo o sistema de proteo contra descargas atmosricas doshopping. Alis, oi ele quem introduziu no Pas a tcnica de

    utilizar as erragens das undaes dos edicios para realizar taluno. Isso j era eito na Inglaterra e em alguns outros pases,mas ui eu quem trouxe essa tcnica para o Brasil, arma oengenheiro eletricista portugus. Antes, conorme Miranda, asconstrues brasileiras costumavam ter descidas externas pararealizar a proteo.

    Marques destaca tambm a importante participao deMiranda na reduo do ator de potncia da energia consumidapelas instalaes do Shopping Eldorado. Segundo o engenheiroeletricista e civil, essa era uma grande preocupao do Grupo, j

    que acarretava em um aumento da conta de energia eltrica pagapela empresa. Por meio de um processo de racionalizao em queprogramava o incio de uncionamento dos equipamentos doshopping, principalmente dos condicionadores de ar, Mirandaconseguiu solucionar o problema.

    Paralelamente ao trabalho como engenheiro eletricista na Jkko Poyry e na J. Alves Verssimo, Armando Reis Mirandatambm arrumou tempo para ajudar seus companheirosde prosso com questes relacionadas normalizao deequipamentos e instalaes eltricas. Eu participei durantemuito tempo do Comit Brasileiro de Eletricidade, Eletrnica,

    Miranda era um participante ativodas reunies do Cobei. um profssional

    obstinado por essa rea normativaPaulo Barreto

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    luminao e elecomunicaes (Cobei) na rea de descargastmosricas, instalaes eltricas prediais e subestaes, conta

    o engenheiro, que pelo Cobei ajudou tambm na elaborao danorma de caldeiras eltricas.

    No Cobei, Miranda participou tambm da elaboraoda amosa NBR 5410. Durante as reunies, ele conheceu ongenheiro eletricista Paulo Barreto, que pde acompanhar

    de perto o trabalho do engenheiro portugus. Ele era umparticipante ativo, avalia Barreto. Ainda , pois, de acordo comBarreto, o engenheiro continua participando das reunies. Ele

    um prossional obstinado por essa rea normativa, diz.

    Uma grande amlia

    Aos 85 anos, Miranda continua trabalhando. Aposentandoh mais de 15 anos, ele, como haveria de ser, diminuiu oitmo, mas sempre que pode, coloca sua vasta experincia em

    prtica, prestando servios com consultor. Menos trabalho,mais tempo para amlia. E que amlia! So seis ilhos que semultiplicaram em 16 netos e dois bisnetos.

    Miranda inorma que, no entanto, nem todos moram

    aqui. Como j tinha mais de cinqenta anos quando migroupara o Brasil, alguns de seus ilhos, com razes mais incadasem Portugal, decidiram no seguir os passos do pai. Quatrodeles vieram para c, mas um logo voltou. E dos ilhos queresolveram icar no Brasil, um deles atualmente mora nosEstados Unidos.

    No apartamento de um prdio na Alameda Casa Brancamoram Armando Reis Miranda e sua esposa Maria Fernanda,que simpaticamente interrompe a entrevista para nos oerecerum caezinho. No obstante a idade avanada, o casal mostra

    vitalidade e bom humor. Eu no quero ca, diz Miranda.Para voc acultativo, redargi Maria Fernanda.Sobram histrias na trajetria de Miranda, histrias de

    uma vida que ele mesmo deine como agitada. A agitaopassou, parece, pelo menos diminuiu, como acontece comtodo mundo, mas a energia de continuar tocando projetosainda permanece, o mais arrojado deles a revoluo que oengenheiro pretende estabelecer na aplicao atualmente eitapelos engenheiros da Lei da Induo Magntica. Esperemosos prximos captulos da vida do engenheiro portugus, oumelhor dizendo, brasileiro.

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    Golpe baixo

    Produtos alsifcados de todos os segmentos econmicos so encontrados, semgrandes esoros, em toda parte. Alm de oerecem riscos aos consumidores,sua existncia criminosa, incita a concorrncia desleal e desmotiva empresas ainvestirem em pesquisa e desenvolvimento

    O primeiro a usar o termo pirata oi Homero, na Grcia antiga, para descrever aqueles que depredavam eroubavam navios e cidades costeiras. Piratas navegavam pelos mares, especialmente, seguindo rotas comerciaiscom o objetivo de saquear outros navios e apoderar-se de riquezas. O termo tornou-se popular, soreu algumastransormaes ou atualizaes ao longo do tempo, mas no perdeu seu carter ilcito. Assim, piratarias e outrasormas de contraveno ganharam espao, atingindo diversas eseras da economia. O segmento de materiaiseltricos no cou de ora.

    Grandes empresas do mercado de instalaes el tricas enrentam, h anos, problemas com cpias de produtoe de marca e, ainda, com propriedade industrial. O mais visvel o caso dos artigos eletrnicos, como sotwares,CDs e DVDs, cujas cpias so encontradas cil e abundantemente no Brasil e em praticamente todos os

    lugares do mundo. Vindos principalmente de pases da sia, os produtos copiados so tambm rutos dodesenvolvimento tecnolgico. Nunca oi to cil copiar alguns produtos, especialmente os eletrnicos. Criam-se mecanismos com o objetivo de coibir e tornar mais dicil a cpia, mas, sem grande demora e diculdade,o mtodo criado burlado ou tambm copiado. o caso, por exemplo, de selos hologrcos e de marcas decerticao de produtos.

    Leis que do direitos de uso de uma criao exclusivamente ao seu criador so relativamente recentes,principalmente no Brasil. Primeiro, teria nascido uma preocupao com a propriedade intelectual. NaAntiguidade e na maior parte da Idade Mdia, as diculdades inerentes aos processo de reproduo dos originais,por si s, j exerciam um poderoso controle da divulgao de idias, pois o nmero de cpias de cada obra eranaturalmente limitado pelo trabalho manual dos copiadores.

    Com a inveno da imprensa, os soberanos sentiram-se ameaados ao ser democratizada a inormao.

    Ento, em 1557, depois que Wiliam Caxton introduziu a mquinade escrever na Inglaterra, Filipe e Maria udor concederam associao de donos de papelaria e livreiros o monoplio realpara garantir-lhes a comercializao de escritos, a m de evitar acpia desenreada dos livros. Esse privilgio recebeu o nome decopyright, que garantia o direito aos comerciantes e no aos autoresdos textos.

    Foi a primeira lei inglesa, de 1710, que dava ao criador o direitoexclusivo sobre um livro por 14 anos, renovvel por mais 14. Alegislao americana baseou-se na inglesa e, nos atos de patentese de direitos autorais de 1790, retomou os perodos de 14 anos,tambm renovveis por outros 14.

    A propriedade intelectual pode ser d ividida em duas categorias:direito autoral e propriedade industrial. O inventor, entretanto,s passa a ter direito propriedade industrial depois de adquirir apatente do invento.

    No Brasil

    As primeiras cpias em massa teriam surgido nos anos 1960,no segmento da coneco. O advogado e scio-proprietrio doescritrio especializado Nobel Marcas e Patentes, Geraldo EvandroPapa, conta que camisetas e peas de roupas em geral so muitosimples de serem copiadas. A partir de ento, outros produtospassaram a ser pirateados.

    Ele diz que o causador dessa ao criminosa oi o echamentodo mercado brasileiro em 1976. At essa data era possvel aimportao, mas com o echamento do mercado comeou aaparecer os produtos alsicados. Segundo ele, at os anos 1980,por exemplo, no havia cpia de msicas. O vinil no era algocil de se copiar, mas quando chegamos tecnologia do CD apirataria ganhou dimenses elevadas, diz.

    Outro ponto para a prolierao do mercado pirata no Brasildeve-se ao baixo poder aquisitivo da populao. As pessoas acabam

    escolhendo produtos mais baratos, mesmo que no sejam osoriginais, diz Papa. Alm disso, o custo da pirataria hoje muitobaixo e os copiadores aproveitam-se da lentido do sistema judicirio.A impunidade gera certa segurana para quem comete o ato ilcito,arma. Ele conta que, de maneira dierente do que ocorre aqui, emoutros pases, o poder judicirio rpido e rigoroso, o que acabacoibindo, em parte, a inrao.

    No Brasil, o tema regido pelas Leis 9.279/96 (marcas e patentes),9.609/98 (sotware) e 9.610/98 (direitos autorais), alm de tratadosinternacionais, como as Convenes de Berna, sobre direitos autorais,e de Paris, sobre propriedade industrial. O Instituto Nacional daPropriedade Industrial (Inpi) o rgao brasileiro responsvel pelasmarcas, patentes e desenhos industriais.

    Implicaes jurdicas

    Basicamente, existem duas ormas de pirataria: a pirataria pura, ouseja, a cpia exata de um produto; e a contraao da marca, isto , aviolao da marca por imitao ou reproduo.

    No caso da cpia idntica, a inteno ludibriar inteiramenteo consumidor. A idia que se compre um produto also comose ele osse original, o conhecido tomar gato por lebre. At asmarcas de certicao viraram alvo dos copiadores. Selos, comodo Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e QualidadeIndustrial (Inmetro), da ISO 9001 e de laboratrios que atestamdeterminado grau de qualidade ou a conormidade com umanorma ou regulamento so copiados e anexados a produtos noqualicados por esses organismos com o claro objetivo de enganaro consumidor.

    Alguns materiais eltricos, por exemplo, s podem sercomercializados se orem certicados, atestando sua conormidadea uma norma tcnica. Para livremente circular no mercado,produtos de origem duvidosa levam o selo also do rgo avaliadorou certicador. Ou seja, nem sempre um produto certicado

    A concorrncia desleal e aconseqente perda de mercado para

    as empresas - rutos da pirataria -desmotivam o desenvolvimento de

    produtos nacionais.

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    st de acordo com o que os regulamentos exigem. Evandro Papacrescenta: a empresa diz que est em conormidade, mas nost. Isso pode gerar um processo criminal contra esse abricante.

    O chee substituto da Diviso de Programas de Avaliao daConormidade da Diretoria de Qualidade do Inmetro, LeonardoMachado Rocha, conta que uma maneira encontrada para evitar

    contraveno da marca Inmetro oi extinguir a certicaovoluntria no mbito do Instituto. Com a Portaria 73/2006,os produtos com conormidade avaliada voluntariamente pororganismos acreditados pelo Inmetro, e no decorrente deProgramas de Avaliao da Conormidade do Instituto, devemonter unicamente a marca do organismo avaliador.

    H ainda a violao de uma marca pela imitao. Empresasque usam nomes parecidos, que retiram, por exemplo, umaetra da marca, usam cores e ontes parecidas com o intuito deonundir o consumidor. Papa explica que a contraao da marca

    ocorre somente dentro do mesmo segmento econmico, ou seja,Lei probe que marcas parecidas ou iguais coexistam dentro de

    um mesmo setor, mas permite a existncia da segunda marca selas atuarem em reas distintas. H, entretanto, uma exceo. Austia no consente o registro de uma marca semelhante ou igual a

    outra marca considerada especial, chamada d e auto-renome pelaegislao, mesmo se orem em segmentos dierentes. rata-se dasmarcas conhecidas nacionalmente. Por exemplo, no se pode dar aum carro o nome de Coca-cola, marca de auto-renome.

    No crime, entretanto, copiar produtos que j caram nodomnio pblico. O crime acontece apenas quando h cpiaparcial ou integral de produtos e marcas que esto protegidos pelapropriedade intelectual. Mas como unciona na prtica?

    No existe scalizao para a pirataria. O que existe a denncia.O advogado Evandro Papa conta que h aes das preeituras eda polcia que coletam produtos nas prateleiras para anlise e queeprimem a atividade do comrcio ambulante, mas para vistoriar

    uma brica especializada em uma linha de produo de peasalsicadas s mesmo possvel a partir de uma denncia.

    Existe uma delegacia especializada em propriedade intelectual. Oabricante, dono do direito e que teve seu produto copiado, deve azeruma denncia e, com uma autorizao judicial, o ocial de justia azuma busca e apreenso do material alsicado. preciso provar queo seu produto original, por meio da patente ou de outros recursos.Para isso, h ainda uma percia tcnica que deve comprovar ou noa violao da patente. Com o laudo pericial, o titular pode, ento,apresentar uma queixa e entrar com uma ao cvel ou criminal. Oproblema que a pena para esse tipo de crime muito pequena, porisso, os titulares das causas, normalmente, apresentam queixas cveis,arma Papa. Para o crime de violao de marcas, a pena de trs a 12meses de recluso ou uma multa.

    No caso de uma ao cvel, os resultados podem ser maissatisatrios, considerando que, caso no se consiga quanticar omontante de produtos alsos vendidos, a legislao determina que aindenizao seja o valor original de duas mil cpias da pea. Esseaspecto, de indenizao, acaba se ndo uma orma mais atrativa, at comomeio de orar o concorrente a deixar de praticar este ato, enatiza.Comprovando-se o crime, a linha de produo do determinado

    material suspensa ou a brica echada. A Justia dene, ainda, umamulta diria para o inrator enquanto ele no suspender a produo.

    O advogado ressalta a importncia de se obter a patente. De acordocom o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), patente um ttulo de propriedade temporria sobre uma inveno ou modelode utilidade, outorgados pelo Estado aos inventores ou autores ououtras pessoas sicas ou jurdicas detentoras de direitos sobre a criao.Em contrapartida, o inventor se obriga a revelar detalhadamente todoo contedo tcnico da matria protegida pela patente.

    Existem duas ormas de patentes: de inveno e de modelo deutilidade (apereioamento de produtos existentes). A primeira temdurao de 20 anos, j a patente de modelo de utilidade vigora pelo

    prazo de 15 anos. H, ainda, um terceiro tipo de proteo que oregistro do desenho industrial, que se reere apenas ao ormato externo,esttico do produto. A esse direito d-se dez anos de exclusividade,prorrogvel por mais trs perodos de cinco anos cada.

    Outras conseqncias

    As conseqncias da pirataria e da contraao de produtos tmsido catastrcas para o Pas, gerando perda de empregos ormais,sonegao de impostos e reduo dos lucros legtimos. Alm disso,outro eeito considervel dessa ao criminosa o desestmulo criao industrial, o que, por sua vez, traz danos economia, culturae ao desenvolvimento nacional de modo geral.

    A indstria nacional ca desmotivada perante a concorrnciadesleal e a conseqente perda de mercado. Diante disso, as empresasdeixam de investir tempo e dinheiro no desenvolvimento de produtosque, logo, sero copiados.

    A no aquisio de patentes pode ser, inclusive, prejudicial empresa. Papa conta que era comum, nos anos 1970, a empresa lanarum produto que sore uma cpia e a abricante original sorer umaao por cpia. A patente sempre uma garantia, ratica. preciso

    ter um cuidado com os prazos. Lanado o produto, a empresa deveimediatamente adquirir a sua patente, pois, passado o prazo de umano, o produto no pode mais ser objeto de patente por deixar de seruma novidade.

    Herana cultural

    Alm dos preos elevados dos produtos originais, contrapondo-seao baixo poder aquisitivo brasileiro, da alta carga tributria e de outrosatores, uma das explicaes para a diuso do mercado da alsicaono Brasil vai ao encontro da teoria de que o brasileiro recorre suacultura de sempre buscar o caminho mais cil. Estar no sangue do

    brasileiro a preerncia pela maneira alternativa, ilegal, mais cil econveniente do que seguir a lei e azer a coisa certa? Os traos culturaiscertamente oerecem um campo saudvel para a germinao dapirataria, mas o Brasil uma soma de caractersticas, de raas, culturas,povos, em que tudo e todos encontram um jeitinho de dar certo.

    No mundo, em 2006, a pirataria movimentou US$ 516 bilhes,60% a mais que a indstria de drogas. Inmeras organizaes soormadas a m de impedir a expanso desse movimento. o casodo Comit Interministerial de Combate Pirataria, criado em2001, a CPI da Pirataria em 2003, mais tarde o Conselho Nacionalde Combate Pirataria e Delitos Contra a Propriedade Intelectual(CNCP), entre outras entidades. Na contramo, esto as ramicaesdo Partido Pirata, que j existe em vrios pases da Europa, comoEspanha, Frana, Alemanha e Sucia, alm de Austrlia, EstadosUnidos e tambm da Amrica Latina, como a Argentina, Chile, Perue Brasil. O seu objetivo politizar a discusso e, de alguma orma,estimular e legalizar algumas aes da pirataria.

    Como vimos, a pirataria e a contraao de produtos e marcasno so exclusividades brasileiras. Pelo contrrio, ato que a maioriados produtos contraeitos comercializados aqui produzida em outrospases, como China, aiwan, Bolvia, entre outros. No caso dos

    materiais eltricos, os chineses batem de rente com grandes indstriasdo setor. Mas como ser que eles enxergam essa atividade?

    Na opinio de Evandro Papa, assim como os japoneses noeram vistos com bons olhos, h alguns anos, quando comearam adesenvolver seu parque tecnolgico, os chineses tambm enrentamhostilidades. Mas a tecnologia deles progrediu e, hoje, quem no temum televisor japons em casa?, conclui. O consultor tcnico senior daSchneider Electric, Luiz Rosendo ost Gomez, concorda: H anos osprodutos chineses eram realmente ruins, mas j temos produtos bonstambm. Segundo ele, assim como os japoneses, os chineses vo seapereioar e desenvolver a sua tecnologia prpria, sem precisar copiar. o que veremos.

    Rua Santa Ifgnia, em So Paulo (SP), tornou-se reerncia em produtosletrnicos importados e alsifcados.

    "A impunidade brasileira conerecerta segurana para quem comete a

    pirataria e a contraao de produtos"Advogado Geraldo Papa

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    ato histrico que, nos primrdios de sua existncia, o homem levava uma vida nmade, no possuaainda a tcnica da agricultura e vagava a esmo pelo territrio em busca de alimento, que poderia vir por meio

    da caa ou pela coleta. Sem laos que o prendessem a um determinado lugar, o homem errava. Dessa orma, aconstruo de moradias se azia desnecessrio e quando elas existiam eram instalaes precrias, improvisadas,com o objetivo no de xar residncia, mas como uma espcie de soluo emergencial.

    Aos poucos, no entanto, a situao mudou e o homem aderiu s prticas sedentrias. Sua vida deixou deser uma eterna peregrinao e ncou razes. Pequenos agrupamentos humanos acabaram por se encorpar esociedades cada vez mais complexas se estabeleceram. Com elas surgiram habitaes rudimentares, que deramlugar a construes mais rebuscadas, alm de cabanas, que cederam espao para habitaes de pedra e tijolos,o que refetia o d esejo por uma rotina estvel e duradoura.

    Certamente, as primeiras construes no primavam pelo renamento estilstico e deveriam ser realizadasmuito mais na base da intuio do que no emprego sistemtico de uma tcnica. Entretanto, como homem tema peculiaridade de aprender com seus erros, muitas edicaes tiveram de cair para que o homem descobrisse armula correta. A prtica levou teoria, que consolidou a tcnica, o que permitiu, com o decorrer d o tempo,

    Profssional emtransormaoDa rudimentaridade dos instrumentos analgicos efcincia obtida pelas novastecnologias computacionais:a transormao das atividades realizadas pelo engenheiroprojetista de instalaes eltricas atravs dos tempos.

    a utilizao de desenhos, esboos, projetos com o intuito de acilitar a

    construo de edicaes.O engenheiro e arquiteto romano, Marcus Vitruvius Pollio,conhecido popularmente apenas como Vitrvio, aparece como oprimeiro a transmitir, por meio de um documento, certas regras para aconstruo. No sculo I a.C., ele elaborou o tratado De Architectura,em que abordava os requisitos mecnicos e estruturais de habitabilidadedas edicaes. O texto de Vitrvio apontava tambm quais deveriam seras caractersticas construtivas, a geometria e as propriedades dos materiaisutilizados nas edicaes. A partir dele, a atividade de construo, queat o momento era realizada de orma prtica, com conhecimentospassados oralmente, passa a ter um tratamento terico e ormal.

    Um novo profssional

    Como tudo se transorma, tambm as novas invenes aparecemmodicando o modo de vida de cada indivduo. Conseqentemente,as moradias so adaptadas para comportarem o surgimento de novasengenhocas e os projetos a serem desenvolvidos aps estas transormaesdevem apresentar espaos antes no pensados. Obviamente, no quese reere s instalaes eltricas, os projetos de construo passam acontempl-las quando a eletricidade torna-se aplicvel, ou seja, quandoo homem inventa um uso para ela.

    Com a sedimentao desta prtica, a sociedade passa, em poucotempo, a desenvolver-se ortemente baseada na eletricidade e, quandose percebe, praticamente, nada e m casa, ou no trabalho, pode uncionar

    sem ela. Como no poderia deixar de ser, a atividade de quem responsvel pelo desenvolvimento da parte eltrica de um projetode construo ganha em importncia. Sua trajetria desenvolve-se,basicamente, como a de todos os outros projetistas e ir passar por umaradical transormao com o advento da inormtica.

    No que tange atividade do projetista de instalaes eltricas,ela pode ser dividida, a grosso modo, em duas reas: a terica,na qual o engenheiro realiza os clculos, e a prtica, em que eleelabora os desenhos. Na parte de clculos, no h muitos mistrios,o prossional aprende na aculdade as teorias e as aplica quandoexigido. Contudo, na vida prossional, aprende-se que precisootimizar o tempo e instrumentos oram criados com a nalidade

    de acilitar o trabalho do engenheiro, que pde se dedicar a um

    nmero maior de projetos.

    Da rgua supercalculadora

    Um dos equipamentos mais antigos para ajudar os projetistas deinstalaes eltricas nas contas a rgua de clculo. Criada em 1638pelo padre ingls William Oughtred e tendo como base a tbua delogaritmos, a rgua oi utilizada com regularidade at a dcada de 1970,quando cedeu lugar s calculadoras eletrnicas. As rguas de clculosempre oram de muita ajuda, principalmente quando era necessrioo clculo com nmeros muito grandes, mas apresentam uma certalimitao, j que no ornecem valores aproximados.

    Formado em 1955, o engenheiro eletricista e proprietrio daconsultoria Engenharia SC Ltda., Carlos Vieira, trabalhou bastantecom rguas de clculo. Ele conta que havia uma matria na aculdadeapenas para aprender a lidar com a erramenta. No primeiro ano deengenharia, havia o curso de desenho tcnico onde aprendamos a azertodos os clculos na rgua, conta. Segundo Vieira, em sua poca deaculdade, ainda havia alguns poucos privilegiados de sua classe que jtinham uma calculadora da marca Curta. Era um modelo analgico,que uncionava por meio de uma manivela, diz.

    Contudo, conorme o engenheiro, a maioria dos alunos se viravamesmo com a rgua de clculo. E assim oi at a calculadora a manivelatornar-se mais acessvel. Logo, porm, esta oi substituda pela calculadoraeletrnica e, posteriormente, pelas chamadas supercalculadoras, que

    aziam tambm o papel de computadores no desenvolvimento deprogramas para otimizar as atividades na rea eltrica.

    O prprio biograado desta edio, o engenheiro eletricista portugus,Mrio Reis Miranda, utilizava calculadoras para implantar programasde computao na rea eltrica. Quando trabalhava para uma empresanlandesa de projetos, o engenheiro desenvolveu programas para ornecerdados sobre fuxo de carga e aterramento em uma mquina de calcularHP 11. Deu to certo que eu ui convidado a implantar o mesmo sistemana matriz nlandesa, conta. Quando estava l, uma outra oportunidadesurgiu: realizar programas de computao para serem utilizados em linhasde alta tenso e, mais uma vez, a calculadora oi seu suporte. Dessa vezutilizei uma HP 3000, que era mais potente, lembra.

    A quantidade de horas para eetuarum clculo, devido ao advento dos

    sotwares, caiu a 1% do que eraCludio Teixeira

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    Da prancheta ao CAD

    Aps o trmino de todos os clculos necessrios, precisodesenhar o projeto. Antes da era da inormtica e dos avanadosprogramas de desenho, os projetistas, munidos de lpis ou canetas,debruavam-se em suas pranchetas inclinadas e, artesanalmente,olocavam no papel os pontos reerentes eltrica de uma instalao.

    Apesar de, na aculdade, o engenheiro eletricista talo Batista j terido acesso aos computadores e a sotwares, como o Computer-Aided Design (CAD), ou desenho auxiliado por computador, essesmecanismos ainda no existiam em sua rotina, que continuava aontar com a prancheta, o esquadro e a rgua .

    O engenheiro lembra que era um sistema trabalhoso. SegundoBatista, recebida a cpia heliogrca do projeto arquitetnico, ongenheiro azia outra cpia em papel vetal e desenhava a parte dasnstalaes eltricas. Como curiosidade, vale dizer que a cpia era eitaom detalhes no papel vegetal, que cava sobre a cpia heliogrca.

    Para isso, era necessrio o uso de gabaritos, rguas com smbolos darea eltrica, que acilitavam o trabalho do projetista no momento de

    desenhar os pontos de luz, conta. Finalizada essa etapa, entrava em cena

    o desenhista que, com papel vegetal e caneta nanquim, dava o ltimoratamento ao desenho.De acordo com Batista, o advento do CAD mudou para melhor a

    tividade prossional do engenheiro projetista. Se antes, por exemplo, oprossional percebesse um erro de clculo em um desenho j pronto, eranecessrio raspar com uma gilete o d etalhe e reaz-lo. Atualmente, no nem preciso explicar, acostumado que estamos com a inormtica. Casohaja uma modicao a ser eita, basta apenas procurar no computadoro arquivo do projeto e eetuar a correo.

    O gerente geral da S&C Electric do Brasil, o engenheiro eletricistaCludio eixeira, tambm compartilha do mesmo entusiasmo queBatista pelos sotwares de projetos. Os clculos que no passado

    demoravam horas, hoje so eitos em segundos, diz. No s o tempo,mas o custo tambm encolheu. eixeira lembra que, na dcada de 1970,um engenheiro civil contratado para realizar o clculo estrutural de umedicio cobrava o mesmo que o preo de um carro de luxo. Isto porcausa da quantidade de horas que ele dispendia para azer tal tarea,conta. Atualmente, segundo o engenheiro, o prossional cobra muitomenos pela mesma tarea. A quantidade de horas para eetuar umclculo, devido ao advento dos sotwares, caiu a 1% do que era.

    Segundo eixeira, mais uma tarea do projetista que teve seucusto reduzido com o surgimento dos sotwares oram os estudos decoordenao de proteo de sistemas eltricos. Anteriormente, segundoele, os clculos eram eitos artesanalmente, em papis de seda. Hoje emdia, os sotwares, carregando dentro de si uma srie de normalizaes, jornecem ao projetista curvas normalizadas dos mais dierentes produtos,o que te permite simular as mais variadas situaes e realizar o estudoem questo de minutos. Pelo sotware, voc escolhe uma liga metlicaj normalizada e consegue realizar diversos testes com ela, vendo se elaentortar ou quebrar, diz.

    Os sotwares que permitem simulao de situaes tiverem o maiorimpacto, segundo eixeira, nos projetos reerentes a peas mecnicas.

    Os desenhos de estruturas que antes eram eitos no papel seda e emormas bidimensionais, com o suporte computacional, tornaram-setridimensionais e possibilitaram a simulao de movimentos e esoros,azendo com que a construo do equipamento seja mais precisa. Apossibildade de simular situaes e posicionamento de equipamentosj ajudou eixeira, que, certa vez, ao projetar o arranjo de seccionadoresem uma rede de alta tenso pde realizar todas as vistas de projetos queele achou que deveriam ser eitas.

    Outro ponto de importante evoluo reere-se aoarmazenamento: a situao ainda mais positiva para os engenheiros. Osurgimento de mdias cada vez menores e com mais capacidade zeramos diversos canudos, contendo plantas de projetos de engenharia,

    serem aposentados. Isso ez no s sobrar mais espao nos escritriosdos engenheiros, mas, principalmente, tornou mais rpida a busca porprojetos antigos.

    Outra transormao ocorrida com o advento de novos tecnologiasencontra-se na troca de inormaes entre cliente e prestador deservio. O engenheiro eletrnico e gerente de planejamento e controlede estoques da Rockwell Automation, Cludio Baldoni, conta quehoje possvel enviar um arquivo por e-mail contendo o projeto, oque permite ao cliente fexibilizar as transormaes que ele desejeazer em sua empresa. Se antes, por causa da rudimentariadade dosmeios de comunicao, o cliente precisava pensar uma mudana naestrutura com trs anos de antecedncia, hoje ele pode planejar em umhorizonre mais curto, porque sabe que a realizao do projeto ser eitade orma mais rpida.

    Tudo se transorma

    A passagem dos desenhos em prancheta para os projetos eitosem programas de computador signicou tambm, como salienta oengenheiro eletricista Carlos Vieira, uma mudana drstica na maneira

    de atuao de um outro prossional da rea: o desenhista. Ele contaque as inovaes tecnolgicas trazidas pela era da computao zeramo desenhista se tornar um cadista, especialista no sotware destinado aelaborar projetos de construo.

    Vieira conta que a uno do prossional do desenho continua amesma; ele atua a partir do projeto idealizado pelo engenheiro, usandoseus conhencimentos tcnicos para deixar o esboo mais apresentvel.A questo, de acordo com o Viera, que, de um artista acostumado atrabalhar com determinados tipos de materiais, o desenhista tornou-seum especialista na utilizao de sistemas computacionais.

    Isso ez a uno do desenhista mudar totalmente de paradigma.Existem muitos cadistas, atualmente, que no sabem nem desenhar

    da orma tradicional, pois no preciso, comenta. Para ele, muitosprossionais se perderam durante a transio. Eu mesmo, no meuescritrio, paguei para que desenhistas zessem cursos de habilitaoem CAD, mas muitos no quiseram, conta Vieira.

    Uma certa resistncia normal quando se percebe que sua prossoest sumindo do mapa, mas preciso, caso haja o interesse de permanecerna rea, uma adaptao rpida. Segundo Vieira, quem no ez issotornou-se obsoleto e no conseguiu mais emprego como desenhista deprojetos de construo.

    O raciocnio permanece

    Se o advento de novas tecnologias, como a supercalculadora eos sotwares de engenharia, vieram acilitar a vida do projetista deinstalaes eltricas, tambm praticaram um desservio a este mesmoprossional. Para Carlos Vieira, oi tirada desse prossional parte dacapacidade de raciocinar, mas ele insiste que a capacidade de promoversolues inteligentes ainda deve prevalecer.

    De nada ir adiantar o auxlio das mais avanadas er-ramentas se o prossional no tiver a capacidade de empregar

    os ensinamentos recebidos durante a aculdade da maneira maisadequada possvel. Segundo o engenheiro, no se pode esquecerque calculadoras e sotwares ajudam na elaborao prtica doprojeto, mas quem resolve os problemas, encontrando as melhoressolues ainda o ser humano e sua atividade intelectual. Amquina burra, dene.

    Somente a prtica que levar o prossional da rea ao usointeligente das teorias adquiridas nos cursos preparatrios. Deacordo com o engenheiro, somente trabalhando com questesreais que o projetista vai descobrir qual a melhor deciso a sertomada. E esses conhecimentos somente so adquiridos com aexperincia e com o dia-a-dia da prosso.

    Aula de desenho, no incio do sculo XX, em uma escola tcnica paulista

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    Quando o assunto a situao das instalaes eltricas brasileiras, a opinio dos especialistas

    da rea triste e unnime: a maioria delas apresenta qualidade duvidosa e, quase sempre, oereceriscos aos seus usurios. At aqui, nenhuma novidade. A questo que ca : se temos uma norma deinstalaes eltricas considerada moderna e coerente e bons produtos disponveis no mercado, porque o brasileiro tem diculdade em seguir as diretrizes normativas? E, por que, comparado a outrospases, ainda engatinhamos no quesito qualidade e segurana nas instalaes? A resposta no nadasimples e pode ter suas razes entranhadas em uma cultura de atraso, principiada h mais de 500anos, na poca do descobrimento do Brasil.

    No podemos, entretanto, colocar a culpa sobre os portugueses. Muitos outros atores, comoveremos adiante, vm contribuindo, ao longo dos anos, para a ormao cultural, social e econmicado brasileiro, que, certamente, infuencia as tomadas de decises e o comportamento do povo comoum todo.

    Paradoxo

    H no Brasil um grande paradoxo: instalaes bem evoludase instalaes primrias executadas por prossionais despreparados edespreocupados com os mandamentos normativos. O gerente de produtoda Siemens, Luiz Eustquio Perucci, supe que 70% das instalaes sejamde qualidade duvidosa. Embora admita ter havido uma evoluo nosltimos anos, Eustquio reconhece que ainda estamos longe do ideal.

    Para o engenheiro eletricista Hilton Moreno, h, entretanto,um considervel nmero de instalaes eltricas adequadas e bemeitas. O atraso est echado na autoconstruo e nas construesmais simples, diz. O atraso, nas instalaes industriais, porexemplo, , para ele, pequeno ou inexistente.

    O engenheiro eletricista e diretor da Fischmann Engenharia,Victor Fischmann, concorda: as instalaes de responsabilidadedas boas construtoras, em geral, esto em conormidade com asnormas tcnicas. Ele conta que, h algum tempo, era comum oprojeto, depois de ter sido aprovado na preeitura, sorer diversasalteraes. No havia tanta preocupao com o projeto as built,dierentemente de hoje, quando o projeto eltrico, por exemplo, iniciado antes mesmo de seguir para a preeitura, justamentepara que a construo esteja de acordo com o que oi aprovado.

    O que ainda acontece, na opinio de Fischmann, que,mesmo com projetos bem elaborados, algumas construtoras einstaladoras acabam seguindo o mnimo que a norma de instalaorecomenda, at em empreendimentos que exigem um poucomais do que isso. Por exemplo, a norma prescreve um mnimode pontos de tomada por ambiente (em uno do permetro) emuma residncia, mas o padro de conorto do empreendimentoeventualmente pode exigir mais, analisa. Este, segundo ele, umexemplo de projeto no adequado, pois apesar de ter se cumpridoa norma que o mnimo de segurana e qualidade o projetopoderia ter sido melhor, considerando o nvel da construo.

    Nos ltimos anos, tem sido comum as construtoras realizaremintervenes nos apartamentos novos de acordo com o cliente,isto , o comprador pode personalizar seu imvel, ato que podeacarretar mudanas no projeto eltrico. Se o morador optar porter ogo eltrico ou ar condicionado, que so equipamentos comelevado consumo de energia, o projeto deve sorer alteraes, poisa demanda de eletricidade ser maior. como um carro com esem ar condicionado, so projetos e preos dierentes, comparaFischmann. Ele diz que, ultimamente, as grandes construtoras,especialmente, esto mais preocupadas com a eltrica dosempreendimentos e costumam sempre consultar os projetistasquando as personalizaes envolvem energia eltrica.

    Essa preocupao recente. O mais comum era e ainda, principalmente com relao a imveis antigos o prpriomorador azer os seus ajustes. E o que mais acontece a sobrecargade energia devido aos inmeros equipamentos conectados eminstalaes com mais de dez anos.

    Mesmo alinhada norma internacional IEC 60364 esem car devendo, na opinio de muitos, para outras normasestrangeiras, a ABN NBR 5410 norma de instalaes eltricasde baixa tenso , embora muito conhecida no meio tcnico, no empregada com solidez no segmento e mal alcana a maioria

    das instalaes residenciais, incluindo as prediais. O mesmoacontece com outras normas tcnicas do setor eltrico, seja parainstalaes, seja para produtos.

    O Brasil um pas grande e muito carente de ormao e deinormao. O consultor tcnico snior da Schneider Electric,Luiz Rosendo ost Gomez, acrescenta que a situao se agravacom os governantes, que no possuem ormao nem inormaotcnica e desconhecem a realidade das instalaes brasileiras,apesar de alhas em instalaes eltricas provocarem muitosacidentes, por vezes atais, e ainda serem uma das principaiscausas de incndios no Pas.

    Legado culturalProfssionais empricos e despreocupados com regulamentos tcnicos normativos so maioriaem um Pas, que ainda carrega a herana do jeitinho brasileiro, mxima em que a lei do

    menor esoro dominante. No caso da eletricidade, embora existam instalaes modernas eadequadas, grande parte das edifcaes oerece riscos e est em desacordo com as normas

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    desse comportamento social, em que o sistema de relaes se edifcaessencialmente sobre laos diretos, de pessoa a pessoa, procedam

    os principais obstculos que, na Espanha, e em todos os paseshispnicos Portugal e Brasil inclusive , se erigem contra a rgida

    aplicao das normas de justia e de quaisquer prescries legaisSrgio Buarque de Holanda

    O problema, no entanto, no a alta de normas, mas a

    ncapacidade de azer com que elas sejam cumpridas. Apenasna rea de eletricidade, contamos com aproximadamente 1.400normas da Associao Brasileira de Normas cnicas, incluindospecicaes para produtos e para instalaes. A obrigatoriedade

    por meio de leis, portarias e decretos so mecanismos queontribuem para a melhoria das instalaes, mas, no segmento

    de materiais eltricos, poucos so os produtos que possuemerticao compulsria. E, no caso das instalaes eltricas, o

    quadro ainda pior. O Brasil um dos poucos pases, entre osdesenvolvidos e os considerados em desenvolvimento, que nopossui qualquer orma de inspeo das instalaes eltricas comoparte de um plano nacional. E, nesse cenrio, o amadorismompera.

    O tempo todo curiosos aventuram-se na prosso deletricista e executam o trabalho de medio, especicaocnica, instalao e implantao do projeto eltrico. Esta nouma cena estranha aos olhos do brasileiro. Mas o que a maioria

    das pessoas ainda no conhece so os perigos envolvidos em umanstalao mal projetada e executada por pessoas desqualicadasque no conhecem as normas de segurana e de qualidade.

    O gerente de engenharia e qualidade da SIL Fios e Cabos,Nelson Volyk, ratica a importncia da norma, a qual, segundole, traz inormaes undamentais para um bom projeto,

    dentre as quais cita: capacidade de transmisso de energia dosondutores; seo mnima dos condutores para o circuito deluminao e de tomadas; padronizao de cores; utilizao dodisjuntor, do dispositivo DR que reduz o risco dos choques; equantidade mxima de condutores nos eletrodutos. Ao seguir asorientaes da norma, possvel evitar problemas, como choqueltrico, curto-circuito, aquecimentos indesejveis e desperdcio

    ou alta de energia eltrica causados por alhas de projeto.A questo da obrigatoriedade da norma, entretanto, j oi

    bordada nesta Coleo e no este o objeto deste trabalho.

    ampouco precisamos enatizar a importncia de uma norma

    tcnica para a qualidade de um projeto, ato que ou deveriaser de conhecimento comum. O que agora analisamos ocomportamento de uma sociedade que ainda insiste em ignoraros regulamentos tcnicos.

    Razes culturais

    Os trabalhos coletivos, que renem pessoas com boa vontade,mas sem habilidades e qualicaes especcas, tm suas razesna nossa colonizao. Segundo o autor de Razes do Brasil,Srgio Buarque de Holanda, o impedimento para o xito dolabor produtivo no Pas oi a alta de elementos empreendedoresdesde a nossa origem a partir dos portugueses. Ele explica queos portugueses trouxeram para o Pas trabalhos de ndole coletivaaceitos de orma a satisazer sentimentos e emoes coletivas,acompanhando, de certo modo, o carter religioso do catolicismo.Costumes como o mutiro, em que os roceiros se socorrem unsaos outros nas derrubadas de mato, nos plantios, nas colheitas, naconstruo de casas, na ao do algodo (...) oram, conormecita Holanda, sintomas da colonizao brasileira. A organizaode grupos para construir e reormar casas especialmente as maispopulares , em que cada um ajuda um p ouco, contribuindo como que sabe azer, teria derivado dessa caracterstica colonial.

    H, incontestavelmente, tcnicos qualicados e habilitados,mas muitos pedreiros, eletricistas, mecnicos exercem seusrespectivos trabalhos sem qualquer ormao tcnica, porqueaprenderam o ocio com o pai ou participando dessas obrascoletivas desde pequeno.

    Fora do Pas, as pessoas no costumam deixar aventureirosentrarem em suas casas, h que se ter uma ormao ocial. NoBrasil, comum eletricistas aprenderem a trabalhar trabalhando.Eustquio arrisca dizer que, por questes econmicas,principalmente, as pessoas experimentam a prosso de eletricista,

    de mecnico, de pintor, entre outras, diante da necessidade e da

    oportunidade.Sobre isso, Srgio Buarque de Holanda traz mais explicaes:

    o peculiar da vida brasileira parece ter sido, por essa poca, umaacentuao singularmente enrgica do aetivo, do irracional, dopassional, e uma estagnao, ou antes, uma atroa correspondentedas qualidades ordenadoras, disciplinadoras, racionalizadoras.Quer dizer, exatamente o contrrio do que parece convir a umapopulao em vias de organizar-se politicamente. Em outraspalavras, o azer repetitivamente sem questionar tcnicas demelhoria e sem considerar a evoluo das normas.

    Segundo ele, no h dvida que desse comportamento social,em que o sistema de relaes se edica essencialmente sobre laosdiretos, de pessoa a pessoa, procedam os principais obstculosque, na Espanha, e em todos os pases hispnicos Portugal eBrasil inclusive , se erigem contra a rgida aplicao das normasde justia e de quaisquer prescries legais.

    Com essas armaes, conseguimos entender como comeouessa diculdade que o brasileiro tem para se inormar e seguiras diretrizes normativas. Em tempo, Holanda vai mais alm ediz que tudo quanto dispense qualquer trabalho mental aturadoe atigante, as idias claras, lcidas, denitivas, que avorecemuma espcie de atonia da inteligncia, parecem-nos constituir averdadeira essncia da sabedoria. a velha histria do jeitinhobrasileiro e a eternizada ala de Macunama, de Mrio deAndrade, Ai, que preguia. O modo mais cil sempre o modopreerido.

    No Brasil, h a ideologia de que no se consegue resolvernada pela Lei. O jeitinho o lado inovador do brasileiro, qued um jeito porque o sistema, muitas vezes, o conduz para isso,explica o antroplogo e mestre em antropologia social, MarkoMonteiro.

    A diculdade em seguir as normas tcnicas e a legislao,de modo geral, amparada na cordialidade do brasileiro.

    Vale lembrar que a palavra cordial, vem da palavra latina cor,

    cordis, que signica corao. Portanto, como Sergio Buarque deHolanda discute em seu livro, o homem cordial aquele queage pela emoo, inspirado nos laos aetivos, na amizade, nacamaradagem. uma caracterstica cultural e sistmica, que jest consolidada. A soluo criar um ambiente de orma queseguir a lei ou a norma compense, diz. A questo como azerisso.

    Cultura de atraso

    O ato que, no Brasil, a organizao dos ocios deu-se emuno dos moldes trazidos do Reino portugus em condio dedominante: trabalho escravo; escassez de artces livres na maiorparte das vilas e cidades; indstria caseira para garantir relativaindependncia aos ricos, entravando o comrcio. Holandaconclui que, de certa orma, a repulsa a todas as modalidadesde racionalizao se congura, at hoje, em um dos traosmais constantes dos povos de estirpe ibrica, isto , de origemportuguesa ou espanhola.

    A colonizao inglesa, por exemplo, deu-se de maneiradierente. As colnias inglesas, at pel o motivo de no terem terraspropcias para as culturas tropicais, prosperaram especialmentedevido ao comrcio. O trabalho livre e a religio protestante da mesma maneira que, na Europa, o calvinismo, com sua ticabaseada no trabalho e na legitimao do lucro contriburampara o desenvolvimento dessas regies.

    O antroplogo conta que, at o sculo XIX, no Brasil, eraproibida a existncia de tecelagens e de indstrias, para noconcorrer com os portugueses. O quadro s muda quando aCorte se muda denitivamente para o Brasil, em 1808, trazendoartistas, escolas e a liberao para o desenvolvimento da cultura eeconomia brasileiras.

    Dierentemente dos portugueses, os holandeses promoveram

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    lgumas transormaes no perodo em que ocuparam a regiode Recie (PE), de 1637 a 1644. Alm da tolerncia religiosa, osholandeses trouxeram pintores, comerciantes e pesquisadores, questudaram a auna e a fora locais, trazendo prosperidade vila.

    De qualquer modo, a orma subordinada com a qual noshabituamos uma das razes de sermos, ainda, supridores de matrias-primas e commoditties para o exterior para que sejam industrializados, por ns, importados a custos muito mais dispendiosos.

    Embora em um nvel muito mais ameno, a propenso ubordinao e a averso novidade so caractersticas quecompanham os setores da economia, da poltica, da educao, eodos os outros segmentos de atuao do Brasil. No tocante energialtrica e, mais especicamente, s instalaes eltricas, a situao noeria dierente.

    O brasileiro est acostumado sim a viver atrasado, acha que o que mportado melhor por denio, arma Marko Monteiro. E, de certaorma, adotamos essa premissa no nosso dia-a-dia, quando nos comparamosom outras culturas e nos posicionamos em condio inerior.

    Ele cita o caso do ciclo da borracha. Por que no deu certo? Porques mudas da rvore oram levadas para a sia, em um momento em

    que o Pas tinha capital e matria-prima, levando-nos a, mais umavez, perder a oportunidade de desenvolver a nossa indstria parapenas suprir matria-prima para que outros o zessem. E a prova

    de que as coisas mudam a nova chance que temos com o etanol.emos a oportunidade de termos outra atitude, de sermos grandesxportadores e de desenvolvermos novas tecnologias que empreguem

    o etanol como combustvel, opina.A cultura do desperdcio outro ponto com o qual nos

    costumamos. dicil para o brasileiro economizar gua, energia eoutras ontes, pois estamos habituados a t-las em abundncia. Aquesto como as pessoas se relacionam com essa abundncia, explicaMonteiro. Hoje, o tema ecincia energtica algo que comea a azerparte da vida das indstrias e da populao, de modo geral, mas ainda

    uma questo de mentalidade. Aos poucos, vamos adquirindo uma

    conscincia de desperdcio, assim como muitos pases jtm.

    Para o antroplogo, a sosticao do mercado deconsumo brasileiro baixa por causa da concentrao derendas e do nvel educacional. Ele enatiza, entretanto,que o conservadorismo brasileiro e esse atraso cultural notm uma nica justicativa, mas deve-se considerar umasrie de atores que, juntos, contriburam para a ormaodessa natureza. Com o Cdigo de Deesa do Consumidor,por exemplo, percebemos um progresso medida que oconsumidor encontrou na legislao uma proteo, masele mal conhece esse recurso, porque no est habituado abuscar seus direitos, a recorrer Justia e tambm porqueno cona nela.

    Na opinio de Monteiro, o processo de desenvolvimento lento, mas vem acontecendo. emos uma base tecnolgicacriada, mas h ainda muita resistncia. Nossa cultura eeconomia ainda so muito subordinadas.

    Averso a novidades

    comum ouvir de empresrios que novidades soapresentadas o tempo todo ao mercado, mas elas, muitas

    vezes, no encontram interesse do outro lado. Mesmotratando-se de equipamentos considerados indispensveis segurana de uma instalao eltrica, por exemplo, odesinteresse evidente.

    A NBR 5410 passou a exigir o uso do DR e do DPS, nasrevises de 1997 e de 2004, respectivamente . Os prossionaismais atentos passaram, gradativamente, a empregar essesequipamentos, mas a inormao encontra diculdade parachegar ao pblico comum. As pessoas reclamam do custodo DPS, mas se esquecem que ele responsvel por protegerequipamentos eltricos e eletrnicos contra sobrecargas

    e que, sem o DPS, o barato pode sair caro, compara LuizEustquio, da Siemens.

    Segundo ele, h apartamentos novos de alto padro queainda no empregam o DPS. Certamente, seus moradores tmsosticados equipamentos de som, vdeo e outros, que estocompletamente desprotegidos, diz. rata-se de uma mentalidadetacanha que no reconhece a importncia da proteo, mesmo,nesse caso, tendo projetos provavelmente elaborados porprossionais renomados.

    O tambm gerente de produto da Siemens, Julio Carpanez,acrescenta que muitos empreendedores no utilizam os beneciosde dispositivos como o DR e o DPS como argumentos de vendas.Fala-se do mrmore, do piso, mas no se menciona a proteocontra ch