coleção primeiro amor 12 - meu suposto namorado - elizabeth winfrey-

80
8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 1/80 www.LivrosGratis.net

Upload: suelidnf

Post on 06-Apr-2018

217 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 1/80

www.LivrosGratis.net

Page 2: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 2/80

A vida prega peças nas pessoas

Quem diria que a esnobe Tashi Pendleton, dona de uma enorme conta bancária, irianamorar um garoto humilde como Michael Hobart?

 Na verdade, Tashi anda meio confusa ultimamente. Todos os seus sonhos, impressões e

até medos sumiram depois de um tombo que afetou sua memória.A única coisa certa no momento é o seu amor por Michael - quando está ao lado dele,Tashi se sente segura e protegida.Mas por que o rosto embaçado que lhe vem à memória não se parece com o deMichael?

"Às vezes pequenos fatos mudam nossas vidas. E, sem avisar, um grande amor aparecedo nada e nos transforma por inteiro. Será que Tashi vai deixar todos os seus

 preconceitos de lado e ficar com Michael?" 

PrólogoAmor à primeira vista

-Quer me dar o prazer? – ouvi uma voz grave e meio rouca perguntando. (...)-Como disse? – perguntei com indignação.-Michael Hobart, às suas ordens. – Ele tinha um sorriso largo, zombeteiro, e os olhos

 pareciam emitir raios de luz. Mas reparei na mesma hora que seu smoking estava meioamassado e que ele já tinha afrouxado a gravata. (...)- Desculpe, mas acho que meu namorado não vai gostar de me ver dançando com você

 – falei, torcendo mentalmente para que ele fosse embora. (...)Por uma fração de segundo, Michael Hobart deu a impressão de ter sido pego desurpresa. Depois, piscou para mim outra vez.-É verdade. Os homens inseguros são sempre muito possessivos. – E saiu bem na horaem que William chegou com o ponche.-Quem era? (...)-Ninguém. Absolutamente ninguém.

1 - Tashi

 Nunca vou me esquecer da primeira noite em que vi Michael Hobart, e também nuncamais vou revivê-la, isso eu garanto. Com a chegada da primavera, as ruas de Nova York tinham finalmente perdido os tons cinzentos de neve suja e se transformado num

meandro colorido de árvores e flores em botão. Pelo menos havia árvores onde eumorava. A maior parte da ilha de Manhattan continuava cinza e bem pouco charmosa.Mas nada disso passava pela minha cabeça no instante em que me vi com meu vestido

 branco sem alças. Já tinha calçado os sapatos de salto, também brancos, e colocado oextravagante colar de pérolas que herdara com a morte de mamãe, cinco anos antes.Depois de uma espiada no relógio da mesinha que ficava ao lado da minha cama,

 percebi que ficara pronta para o baile com dez minutos de antecedência. Nada mal ,felicitei a mim mesma. William sempre reclamava de precisar esperar no escritório denossa cobertura jogando conversa fora com papai, enquanto me esperava. Aliás, meu

 pai também não curtia muito esses papos, mas nunca contei isso a William. Meunamorado se considerava uma grande dádiva às famílias endinheiradas.

Sorri com uma satisfação imensa ao me examinar no espelho de corpo inteiro em frenteà cama. A luminosidade do vestido de grife era o contraponto perfeito para minha pele

Page 3: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 3/80

morena e acetinada. Meus cabelos negros e compridos caíam em cachos soltos em voltado meu rosto, mal tocando meus ombros bem definidos. E eu resolvi destacar meu olhosgrandes e cor de chocolate com várias camadas de rímel, de uma marca cara e a à provad’água. Eu era bonita e sabia disso. Quantas garotas de dezesseis anos têm confiançasuficiente para dizer o mesmo de si mesmas, ainda que seja verdade?

Mas, quando atravessei o quarto para olhar o Central Park da janela, senti as velhas pontadas de solidão virem à tona com tamanha rapidez que fui pega de surpresa. Láfora, o lago do parque reluzia numa escuridão de seda na noite fechada. Estrelas – emnúmero bem maior do que era normal para Nova York – salpicavam o céu acima denosso prédio. Mas ali, refugiada no quarto – ao qual muitas vezes me referia comosendo meu “boudoir”, quando estava mais esnobe -, sentia uma falta enorme demamãe, como se ela tivesse morrido há dias e não anos atrás. O baile de estudantesdessa noite era uma ocasião para as mães, quase tanto quanto para as filhas.De pé sobre o tapete felpudo azul-turquesa, lembrei-me de repente dela, antes do câncer no seio: rindo, a pele escura ainda jovem e livre das marcas do tempo, amarrando umafita em meu cabelo rebelde. Eu tinha dez anos, na época, e mamãe estava me

aprontando para a primeira aula de dança de salão que eu teria na vida.Afastei a autocomiseração da cabeça como se estivesse varrendo migalhas de pão para

 baixo do tapete. Tinha pleno controle de mim mesma e não iria mergulhar emlembranças longínquas de coisas que jamais poderiam voltar a existir. Eu era TashiPendleton, filha extraordinária de Lincoln Pendleton, e jamais permitiria que os outrosconhecessem meus pontos fracos. Sobretudo papai, que eu sabia estar esperando paratirar uma foto de sua única filha saindo para um baile.Meu pai nunca perdia a chance de bater uma foto - cobrir as paredes de nossoapartamento com fotos minhas era ótimo para sua imagem de grande filantropomundial.Afinal de contas, como é que alguém pode acreditar na generosidade de um homemquando ele não liga nem para a própria filha? Só eu sabia que meu pai estava sempre tãoocupado, trabalhando como defensor dos direitos civis, que não tinha um segundo paradedicar a mim. E planejava manter o segredo comigo. Como já disse, essa história de sedesesperar pelo que não vai mesmo acontecer não é comigo.Quando entrei no santuário que era o escritório de papai, ele ergueu os olhos muitorapidamente da pilha de papéis que tinha sobre a escrivaninha. Os óculos de leituraempoleirados sobre o nariz e as linhas profundas da testa o faziam parecer bem maisvelho que seus quarenta e um anos de idade.-Você está linda - disse ele, parecendo quase alarmado com a idéia.-Obrigada, papai. - Dei uma voltinha, para que pudesse apreciar o efeito total.

Papai tinha se levantado da cadeira e vi então algo muito parecido a uma lágrimareluzindo em seu olho.-Está igualzinha a sua mãe. Igualzinha a Lindsey.O elogio caiu sobre mim como uma tênue nuvem. Era a primeira vez que me dizia issoe arquivei as palavras para pensar sobre elas mais tarde. Por alguns momentos, pareciaque tinha voltado a ser o mesmo de antes, quando mamãe ainda não estava doente. Mas

 pouco depois o homem carinhoso e alegre foi substituído pelo robô severo eeternamente atolado em trabalho no qual se transformara. Pigarreei nervosa, um poucoabalada pela emoção demonstrada, ainda que de modo tão fugaz.-Agora é torcer para que o William aprove - falei, tirando o batom de minha bolsinha

 prateada.

Papai girou os olhos.-William - disse ele, com um tom já bem conhecido de desdém.

Page 4: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 4/80

-Papai, por favor, não comece... William vai chegar a qualquer momento.Ele se sentou de novo atrás da escrivaninha.-Simplesmente não consigo entender por que você insiste em sair com esse sujeitinhotodo metido, mimado e esnobe. - Acho que essa era a décima vez nos últimos cincomeses que eu ouvia a ladainha.

-Isso é amor. - Sentia uma raiva imensa queimando o meu estômago. Papai estavasempre ocupado demais para me dar atenção, mas tinha o desplante de insultar a pessoaque eu amava, que iria passar todos os segundos possíveis da vida ao meu lado.-Isso é estupidez. - Meu pai sempre foi meio brusco, e aquela noite obviamente nãoseria uma exceção.Eu estava prestes a enumerar todos os milhões de qualidades maravilhosas de Williamquando a campainha soou.-Ele chegou - falei rápido. - Seja simpático.De smoking preto, William Gallagher parecia ainda mais incrível que de costume. Ocabelo preto e curto estava impecável e, pelo cheiro, devia ter tomado um banho dealguma colônia caríssima. Os olhos quase negros examinaram meu corpo todo e

acabaram se detendo em minha boca. Quando me beijou, uma sensação gostosa desegurança me invadiu - das unhas pintadas dos pés até a pontinha dos meus cabeloscuidadosamente penteados. William! Ele era tão divino quanto Michael Jordan e quasetão rico quanto. Ou pelo menos o pai dele era.-Então, o que me diz, princesa? - Já tinha me soltado. - Pronta para despedaçar coraçõesno arrasta-pé?Puxei de leve sua mão.-Cuidado com o que você diz no baile. Não se esqueça de que participei do comitê dedecoração. Gastamos uma fortuna para fazer uma coisa especial.William fez cara de troça, se é que é possível para um garoto de dezesseis anos fazer cara de troça direito.-Dá um tempo, Tashi. Como é que um baile com essas turmas do Brooklyn pode ser especial ? Só espero que não me levem a carteira.Fiquei calada uns instantes. Concordava com William nessa questão dos garotos doBrooklyn. O que eles podiam ter em comum conosco? Na verdade, tinha dito isso nahora em que o diretor Hager sugerira que combinássemos nosso baile de formatura comvárias outras escolas - menos escolas de elite -, já que nossa classe era tão pequena.Hager não gostou do meu comentário, e de lá para cá achei melhor ficar de bicofechado. Agora, sentia de novo um certo desapontamento ao pensar que teria de dividir a pista de dança com um bando de estranhos.De repente, reparei que meu pai estava parado na soleira da porta.

-Com essa atitude, terá muita sorte de não levar um soco no nariz - falou ele, em tomirônico, olhando fixamente para William. Nesse momento, senti muita pena de meu namorado. Conhecia por experiência própriaa capacidade de meu pai de fazer uma pessoa se sentir o cocô do cavalo do bandido.-Oh, boa noite, senhor Pendleton. Claro que tem toda razão. Eu só estava brincando... -A voz de William fraquejou um pouco, depois sumiu na garganta.Mais que depressa, me virei para papai.-É que o William não quer me dividir com ninguém.Papai ergueu as sobrancelhas.-Muito bem, se nossos dois estudantes classe A têm um segundo, eu gostaria de tirar umas fotos.

Ele nos levou até seu gabinete, onde tirou umas dez fotos só de mim e apenas uma denós dois juntos, William e eu. Antes de chegarmos ao fim da sessão de fotos, William já

Page 5: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 5/80

começava a suar. Eu teria dado risada, mas bastou uma olhada na fisionomia angustiada para saber que ele não estava achando o próprio desconforto muito divertido.-Esteja em casa à meia-noite e meia - falou meu pai, enquanto William me ajudava como casaco de seda azul-celeste que eu comprara para combinar com o vestido.-Mas papai! - gemi eu.

-À uma - ele emendou.-Todo muno só vai voltar às três! - protestei.Meu pai encolheu os ombros e voltou para sua mesa.-A gente se vê à uma - disse ele, por sobre o ombro.William se aproximou mais.-Vamos tentar trazê-la de volta no horário - cochichou em meu ouvido. - Mas podemacontecer coisas pavorosas na volta de um baile.Senti um arrepio passando pela espinha. William Gallagher não estava acostumado aacatar ordens. Será que essa noite seria de fato uma exceção?A música jorrava solta num volume ensurdecedor pelos quatro alto-falantes quandoWilliam e eu entramos no Clube Éden. Ao atravessar a entrada do imenso salão onde o

 baile estava sendo realizado, parei extasiada. Embora eu tivesse estado no local durantea tarde, supervisionando a decoração, fiquei impressionada com a magia do lugar, agoraque estava lotado de gente, música e luzes brancas piscando.Dezenas de lanternas de papel pendiam do teto. Numa das laterais do salão, haviamesinhas cobertas com toalhas cor-de-rosa. Fitas rosadas tinham sido atadas comgrandes laços em todas as cadeiras e havia também grandes vasos de flores colocadosem pontos estratégicos em volta do salão. Sem pensar, comecei a mexer os pés de umlado para outro.Automaticamente, fui para a pista de dança, mas William me puxou de lado.-Vamos tomar um ponche antes, princesa - disse ele, com voz autoritária. - Quero dar uma olhada no pessoal.Antes que eu pudesse responder, William sumiu no meio da multidão e de repente me

 peguei sozinha. Vasculhei a pista, tentando localizar alguma amiga. Mas não havianenhuma pessoa conhecida. Todo mundo parecia estar se divertindo muito e ninguémteve o bom gosto de reparar numa linda moça desacompanhada no salão. De novo, mesenti irritada por ter sido obrigada a dividir nossa noite com garotos que obviamente nãotinham nada em comum conosco.-Ele não é o gato mais maravilhoso que você já viu em toda sua vida?Minha melhor amiga, Kari Washington, estava ao meu lado.-Claro, mas nem pensa nisso - respondi, sorrindo para ela. Dentro de um minivestidoamarelo-canário e sapatos de solado plataforma, Kari estava tão super na moda quanto

eu estava classicamente elegante. Ela estava divina.Kari arregalou os olhos.-O que foi? Probleminhas no Jardim do Éden? Será que o William não é o Adão certo

 para a sua Eva?Franzi o cenho. Tinha presumido que ela estivasse falando de William, quando sereferiu ao gato maravilhoso, mas agora percebia que estava olhando para um carinha

 parado a uns cinco metros de nós. Era um rapaz alto - não tão alto quanto William -, decabelo negro, bem curtinho, e com uma pele morena que parecia muito macia de tocar.Apesar da pose arrogante, logo vi que não era páreo para meu namorado.-Pensei que você estivesse falando do William, Kari. Na verdade ele dá de dez a zero norei do pedaço ali.

-Uau, cara, calma - disse Kari, sem se abalar. -Ninguém aqui está dizendo que WilliamGallagher não seja o maior e melhor partido de Manhattan. Mas você já o fisgou. Agora

Page 6: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 6/80

dê uma chance para quem ficou sobrando.Examinei o garoto de novo, com o canto do olho. O paletó do smoking assentava bemnele. E a gravatinha borboleta e a faixa vermelha faziam um contraste legal com acamisa branca engomada. De todo modo, eu tinha certeza de que o smoking eraalugado, ao contrário do traje a rigor de William, feito sob medida. De repente, o cara

virou e me olhou direto nos olhos. Depois sorriu, um sorriso meio preguiçoso, e piscou.Senti o sangue me subindo às faces.-Fique com os nossos amigos - eu disse para Kari. -Esse sujeitinho só vai lhe trazer encrenca. Aposto como não tem dinheiro nem para tomar um táxi e voltar para casa.Sabia que meu pai teria um troço se me ouvisse falar desse jeito, mas no momento nãoestava nem aí. Achava que estava falando a verdade.Kari soltou uma risada alta.- Perdão, senhorita Pendleton, se eu não consigo julgar um cara pelo limite do seucartão de crédito. No fundo, acho que não passo de mais uma daquelas pessoas idiotasque acreditam em coisas como personalidade, inteligência e senso de humor. - Emseguida, de mais uma olhada para o rei do pedaço. - Sem falar em amor eterno à

 primeira vista.Estava prestes a lhe dizer que para mim William era mais, muito mais, que um limite decartão de crédito quando o cara começou a vir em nossa direção. Kari envergou umsorriso tipo "estonteante" e não o tirou mais do rosto. Girei os olhos e soltei um suspiroexasperado.- Quer me dar o prazer? - ouvi uma voz grave e meio rouca perguntando.Virei-me para ver kari fazendo papel de boba diante de um perfeito estranho. Masquando olhei para os dois, percebi que o rapaz não estava falando com ela.- Como disse? - perguntei com indignação.- Michael Hobart, às suas ordens. - Ele tinha um sorriso largo, zombeteiro, e os olhos

 pareciam emitir raios de luz. Mas reparei na mesma hora que seu smoking estava meioamassado e que ele já tinha afrouxado a gravata.Felizmente, vi William voltando, com duas taças de ponche nas mãos.- Desculpe, mas acho que meu namorado não vai gostar de me ver dançando com você -falei, torcendo mentalmente para que ele fosse embora. Kari nos observava, com umaexpressão que era um misto de riso e decepção.Por uma fração de segundo, Michael Hobart deu a impressão de ter sido pego desurpresa. Depois, piscou para mim outra vez.- É verdade. Os homens inseguros são sempre muitos possessivos. - E saiu bem na horaem que William chegou com o ponche.- Quem era? - William ignorou a presença de Kari. A verdade é que achava minha

amiga espalhafatosa demais e sempre fazia questão de ser meio grosseiro com ela.- Ninguém. Absolutamente ninguém.Uma hora depois, fechei os olhos e debrucei-me nos braços de William. A banda tocavauma música lenta de Bob Marley, e eu tinha finalmente conseguido levar meunamorado para a pista de dança. Até então, ele passa o tempo conversando com oscolegas. William queria por toda lei ser presidente do conselho estudantil em nossoúltimo ano de colegial e vivia tentando obter promessas de votos. Mas pelo menos nestemomento eu o tinha inteiro para mim.Ele me puxou mais para perto e passou as mãos em minhas costas. Quando inclinou-se

 para beijar meu pescoço, senti arrepios nos braços.- É para isso que serve um baile de estudantes - murmurei contente.

William concordou com um gesto.- E para isso - e me deu um beijo na boca, bem no meio da pista. Tentei curtir a

Page 7: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 7/80

sensação dos lábios carnudos e macios de encontro aos meus, mas estavatremendamente consciente dos olhares curiosos dos outros casais.Depois de alguns momentos, afastei-o.- Aqui não - disse num tom de censura delicada. - Está todo mundo olhando.- E daí? - disse ele, curvando-se para me beijar novamente.

Mas recuei um passo e pus a mão em seu ombro.- Daí que eu não gosto.Os olhos de William brilharam de raiva, mas, instantes depois, ele era uma máscara decalma.- Tem razão - concordou. - Além do mais, estou vendo um pessoal ali com quem

 preciso trocar umas palavrinhas. Você não se incomoda, não é mesmo, princesa?- Para falar a verdade, eu...Sem esperar pela resposta, William se afastou de mim. Eu não conseguia acreditar! Eleme deixou plantada no meio da pista! Fui tomada por uma fúria que, por algunsmomentos, me deixou cega.Foi nesse exato momento que vi Michael Hobart sozinho na beira da pista. Sem pensar,

segui para ele.- Vamos dançar - falei, agarrando sua mão.- Pensei que você nunca fosse me convidar - ele retrucou e, em seguida, me pegou nos

 braços e me levou para o centro da pista.Pela primeira vez, olhei direto nos olhos de Michael Hobart. E soube no mesmo instanteque William e eu tínhamos estado sob observação. Ele me vira sendo largada no meiode uma música lenta e estava adorando cada minuto dessa história.- Eu odeio você - falei, enquanto ele me inclinava com a maior perícia até quase o chão.Quando me ergueu, vi que estava rindo.- Bom, já é um começo. - E me levou de novo até o chão.

2 – Michael

Eu ainda não sabia o nome dela. E insistia comigo mesmo que também não estava a fimde saber. A linda garota que eu segurava nos braços era má noticia. E com maiúscula,ainda por cima: MÀ noticia.Deixei que seu corpo tombasse uma segunda vez,curtindo minha força e o jeito como oscabelos encaracolados meio que roçavam no chão antes de eu levantá-la de novo. Deu

 para perceber que estava espantada com minha agilidade na pista (e em dança de salão,ainda por cima), e mentalmente agradeci a tia Rose pelas aulas que ela me dera na marrana sala de casa nos últimos cinco anos.-E como é seu nome? -perguntei, cedendo a curiosidade que me assaltava.

-Você não precisa saber dessa informação. -Ela olhava reto por cima de meu ombro. Não estava acostumado a ser descartado assim com tanta facilidade pelas garotas, madei um jeito de manter a voz sob controle quando lhe dirigi a palavra de novo.-Seu namorado está parado do outro lado do salão - falei, certo de que ela o procuravacom os olhos. - Que tal a gente se aproximar para ele ver ?Ela jogou o cabelo para o lado e me olhou com os olhos apertados.-Para falar a verdade, sei exatamente onde o Willian está. E o que ele está fazendo.Estava apenas olhando em volta, em busca de um parceiro mais atraente.Mais uma vez, ela estava fazendo com que eu me sentisse um completo idiota. Qual é o

 problema dessa garota? Sabia que devia simplesmente virar as costas e deixá-la ali plantada no meio do salão, sozinha, do mesmo jeito que o namorado fizera. Mas era tão

 bom te-la nos braços que me senti incapaz de solta-la.-Aquele não é o cara certo para você - me peguei dizendo.

Page 8: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 8/80

Ela parou de dançar uns instantes e percebi que eu tinha atingindo algum ponto sensível.Bom trabalho, Hobart, disse com meus botões. Bota a rainha em seu devido lugar.- E supondo que se considere o homem dos meus sonhos- ela disse com sarcasmo.Eu ri.Ela me pareceu pensativa uns momentos, como se estivesse imaginando todas as coisas

tenebrosas que faria comigo num pesadelo.-Bom, acho que sei em quem você vai pensar na hora que for dormir hoje - Acaboudizendo.E não me deu chance de responder com uma gracinha qualquer. Tão depressa quantoagarrara minha mão e exigira que fossemos dançar, a rainha de gelo se foi. Fiqueiobservando o vestido branco se movendo entre os casais que lotavam a pista de dança eme perguntando qual teria sido a melhora resposta para seu ultimo comentário.E ali parado, de boca aberta, tive um serio pressentimento de que ela tinha razão. Euestaria pensando nela quando me atirasse na cama. Querendo ou não.

Encontrei meu melhor amigo Rocko Lawrence, largado numa poltrona num canto do

clube, com o cabelo rastafári no maior caos e suando feito um louco. A impressão erade que o cara tinha acabado de completar um triatlo. Sua versão personalizada desmoking - uma calça social de segunda mão e um colete legal, mas antiquado - estavaum tanto amassada. Quando me viu chegando, Rocko enxugou a ultima gota de seu

 ponche rosado e espumante e levantou a mão para me dar o cumprimento de praxe.-Pô, cara, pintar solteiro por aqui foi a melhor coisa que a gente já fez na vida. Danceicom pelo menos umas doze gatas e a noite só esta começando.Sentei-me na cadeira ao lado, desejando pela milionésima vez ter uma atitude tão leve

 perante a vida quanto Rocko. Meu amigo tinha uma incrível capacidade de encontrar omelhor jeito de se divertir em qualquer situação. Até na missa já o tinha visto beijar garotas.-Para você Rocko. Mas acabei de levar a maior esnobada de uma garota com quem eunão devia ter me metido. Ela me olhou como se eu tivesse a palavra “cretino” escrita natesta.-Aquela vestida de Branca de Neve?Assenti com um gesto, com um mau humor maior ainda diante da constatação de queRocko, pelo visto, testemunhara minha humilhação.Rocko riu e me deu um soco de leve no braço.-Deixa pra lá, Mikey. - Levantando, passou a mão pelas trancinhas do cabelo. -Estou devolta em sessenta segundos com uma nova gata que saberá apreciar homens como nós.Ergui a mão.

-Não, Rocko. Só quero continuar aqui sentado, pensando nas vantagens da vida de nummosteiro.- Arranquei a gravata borboleta e abri o botão de cima de minha camisaalugada. No que me dizia respeito, o baile estava terminado.Mas já devia saber que Rocko não desistiria assim tão fácil. Ele sentou numa cadeira emfrente à minha.- Do que você esta falando, cara? Você, o homem que pode conseguir qualquer garotado Brooklyn, está prestes a abrir mão da metade da população só por causa de umagarota que provavelmente nasceu com um cabo de guarda-chuva atravessado nagarganta?-Bom, então deve ser um guarda-chuva de prata, porque obviamente ela é cheia dagrana. O pai dela provavelmente...

-Calado, Hobart - Rocko interrompeu. - Você esta se embananando todo. - Empurrandoa cadeira para trás, meu amigo endireitou a gravata borboleta.

Page 9: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 9/80

-Você tem razão. Vamos dar o fora daqui. - comecei a me levantar, já me sentindo bemmelhor. Mal podia esperar para escapar.-Não tão rápido assim. - Rocko me empurrou de volta para a cadeira. -Sessentasegundos. Pode cronometrar. -e saiu às pressas, em busca de uma garota, enquanto euvoltava a me escarrapachar na cadeira, resignado com o destino. Quando Rocko queria

alegrar um cara, ele alegrava mesmo. E ponto final.Peguei um copo de ponche pela metade e dei um gole. Aquela coisa quase me fezvomitar, de tão açucarada que estava. Bati o copo na mesa saturado com tudo inclusivecom o baile. Mas enquanto observava a meleca rosada escorregar pela borda do copo,ensopando a toalha de mesa, a raiva superou meu constrangimento. Rocko tinha razão.Por que haveria de deixar que aquela rainha presunçosa estragasse minha noite? Ela,com toda certeza adoraria me ver saindo todo desolado dali, naquele maldito smokingalugado. Decidi ir a pista de dança e mostrar a ela o quanto estava me divertindo. Derepente, imaginei–a encostada num canto do salão, arrependida até o ultimo fio decabelo de não ter ficado comigo, enquanto eu rodopiava com uma outra garota nos

 braços. Pela primeira vez em meia hora, fui capaz de sorrir.

- Com licença, com licença, aqui vou eu - ouvi Rocko dizendo, enquanto abria caminhoentre as pessoas para chegar até nossa mesa.- Michael Hobart, presumo? - disse ela sorrindo.Curvei-me de leve, contente de que pelo menos ela tivesse senso de humor.- Vocês já se conhecem? - Rocko perguntou, com ar de quem estava confuso.- Não exatamente - falou a moça, estendendo a mão para mim. - Eu sou KariWashington. - Virando – se para Rocko, ela continuou. - Eu estava com Tashi quandoele levou o “fora”. - explicou ela, fazendo um gesto na minha direção.Tashi. Tashi. O nome ecoou em minha cabeça. Seria apelido? Tinha imaginado que onome dela fosse Victoria, Eleanor ou mesmo Margaret. Tudo, menos Tashi. O nome mefez pensar num filhote de coelho ou numa menina sorridente. Não na mulher majestosacom quem eu dançara.-Tashi, é? - A voz de Rocko interrompeu minhas reflexões - Tashi do que?-Pendlenton - respondeu Kari, olhando-nos meio desconfiada.Achei que ela estivesse imaginando ter sido levada até ali só para ser interrogada arespeito da amiga.- Pouco me importa Tashi do que - eu disse mais que depressa. - Venha, vamos dançar.Peguei a mão de Kari e fomos abrindo caminho entre as mesas até a pista de dança.Mesas tão impecáveis no começo da noite e que já estavam cobertas por copos de

 plástico, guardanapos e gelo derretido. Varias cadeiras estavam de pernas para o ar ehavia fitas rosadas por toda parte. Apesar da musica altíssima, escutei o barulho

inconfundível de vidro se quebrando. Quando me virei para ver o que tinha acontecido,vi um massa-bruta, tipo jogador de rúgbi, parado ao lado dos cacos de uns vasosgrandes.-Nunca é festa até alguém quebrar alguma coisa - o sujeito berrou, meio abobalhado.Depois se pôs a distribuir a flores brancas que estavam no vaso para mocinhas risonhas

 por perto. Girei os olhos e reparei que Kari estava sacudindo a cabeça.-Tashi não vai ficar satisfeita com isso - falou ela, mais alto que a música. - Elacomprou esses vasos com o próprio dinheiro.Arqueei as sobrancelhas, ligeiramente chocado de saber que a rainha se importava tantocom um baile de escola a ponto de decorara o salão com dinheiro do próprio bolso. Masrapidamente me lembrei de que devia ter credito ilimitado, fornecido por mamãe e

 papai. Encolhi os ombros.- Estou com o coração estraçalhado - gritei de volta.

Page 10: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 10/80

Conseguimos chegar ao meio da pista bem quando a banda começou a tocar um sucessoagitado de James Brown. Nenhum de nos se incomodou em tentar conversar; apenasnos movíamos nas batidas as musica. Dançando, a tensão da noite começou a diminuir.Minha camisa estava empapada de suor e percebi varias meninas me admirando. Olhesó para isso, senhorita Tashi Pendlenton, pensei.

Quando a musica acabou, parei ao lado de Kari, tentando recobrar o fôlego. Aí a bandacomeçou a tocar uma daquelas baladas que as meninas adoram e os rapazes detestam edecidi que para mim não dava. Kari parecia muito simpática e tudo o mais, mas eu nãoestava a fim de ficar de rosto colado com ele. Curvei a cabeça para lhe dizer que iavoltar para a mesa e dar uma descansada, mas, antes que tivesse a oportunidade de dizer qualquer coisa, vi Tashi Pendleton de olho em nós dois, com um olhar glacial. Não

 precisei de mais nenhum incentivo. Puxei Kari mais para perto, acalentando a satisfaçãode imaginar a rainha de gelo furiosa com a amiga que não sabia escolher suascompanhias.Kari era uma parceira entusiasmada e, quando ela me olhou e sorriu, senti a culpa dandoum nó em meu estomago. Eu estava sendo um completo canalha, usando-a para me

vingar de Tashi. Kari não merecia ser uma arma na batalha de vontades que estavasendo travada entre Tashi e eu. Mas o que mais eu poderia fazer? Já estávamosdançando e parar no meio de uma musica lenta teria sido ainda mais grosseiro, afinal.Olhei para a garota, decidido a ser atencioso.Ela me olhava sem desviar os olhos e senti meu rosto corar.- Ela não é tão má assim, sabia?

 Não precisei perguntar-lhe de quem estava falando.- Não mesmo? Pois olhe não parece.Tentei deixar claro, pelo tom de voz, que não tinha a menor vontade de falar sobre aamiga dela, mas Kari não me deu a mínima.- Tashi é ótima pessoa, depois que você a conhece melhor. Mas é muito fechada...Com a musica mais calma, eu ouvia cada palavra dita por Kari. Tinha de admitir paramim mesmo que estava curiosíssimo a respeito de Tashi Pendleton, mas igualmenteansioso para não dar o braço a torcer. Já podia até imaginar a conversa que as duasteriam depois, se eu começasse a fazer milhões de perguntas. Ele quis saber tudo nosmínimos detalhes, Kari diria. Bom espero que você não tenha dado meu endereço paraele. Vai saber o que um cara desses é capaz de fazer, Tashi responderia. Seja como for,mordi a isca.- E por que motivo essa fantástica Tashi é tão fechada? - Torci para que a Kari achasseque eu só estava jogando conversa fora.- A mãe dela morreu de câncer no seio, faz cinco anos - Kari contou sem qualquer 

rodeio. - Desde então, ela ergueu um muro em volta de si mesma. Ninguém conseguechegar perto... a não ser Willian Gallagher, o grande, claro.Senti uma pontada dupla me atravessando o peito. A primeira de simpatia por ela. Meus

 pais também tinham morrido num acidente de carro, seis anos antes, e senti um eloimediato com Tashi. Mas muito rapidamente atribui esse meu lance de ternura a umsentimentalismo idiota; afinal, a morte da mãe dela não tinha nada a ver comigo. Asegunda pontada foi de ciúmes. Pura e simplesmente de um ciúme tremendo. Abafei asduas pontadas o mais rápido possível.Vendo que eu não reagia às suas revelações, Kari parou de dançar e pegou na minhaMao. Levei uns segundos para perceber que ela estava me levando direto para a rainha.Parei de supetão.

- O que pensa que esta fazendo?-Dando a você uma segunda chance com Tashi - ela me respondeu devagar, como se

Page 11: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 11/80

estivesse falando com uma criança de cinco anos. - Se ela gostar, quem sabe você podefazer uma media com seu amigo Rocko, a meu respeito.Tive de respirar fundo para que minha voz não rachasse.- Eu não quero uma segunda chance.Ela me deu uma espécie de meio sorriso.

- Claro que não, Michael. - E continuou indo na direção de Tashi, e eu seguiahumildemente.Assim que chegamos, percebi que Kari tinha cometido um erro. O olhar que a rainha degelo nos deu foi inexpressivo e duro. Ela farejou o ar.- Esta sentindo um cheiro estranho, Kari? Acho que deve ser esse parasita arrogante

 preso a sua mão.Kari lançou-me um rápido olhar.- Puxa, Tashi pega leve - disse ela, com voz de suplica.Tashi me deu um sorriso falso.- Ah, mas, claro, onde estão minhas boas maneiras? Devo ter deixado em casa juntocom a minha existência civilizada.

- Bom, acho que vou buscar um ponche para nós - gaguejou Kari. E se mandou antesque eu pudesse lhe dizer o quanto estava gostando dessa minha “ segunda chance”.Tudo bem. Ela poderia dizer adeus ao meu amigo Rocko.Meus olhos estavam vidrados de raiva quando me virei para a linda garota a minhafrente. Em geral, sou muito equilibrado, mas Tashi Pendleton me fizera perder asestribeiras. Por completo.- Qual é seu problema, garotinha mimada filhinha de papai rico? - praticamente gritei.-Será que tem tanto medo assim que o cara da zona errada da cidade derreta esse cubode gelo em que você se fechou a ponto de não conseguir nem mesmo ser um poucoeducada?Vi a fúria em seu rosto, mas não havia nada que pudesse interromper minha tirada. Econtinuei:- E eu que imaginava que, para uma cabeça oca como a sua, fazer o colegial pudesse aomenos fornecer um verniz da arte de conversar. Mas que nada. Nem isso.Quando finalmente me calei, vi que Kari já tinha voltado com o ponche. Ela nos olhavaassustada. E a palavra perigo estava estampada no rosto da rainha. A voz dela naverdade chegou a tremer, quando falou.-Você me daria um pouco de ponche, por favor, Kari?Kari entregou-lhe em silencio um copo de plástico, ainda lançando olhares de um para ooutro.- Obrigada - Tashi deu um sorrisinho apertado para a amiga.

Em seguida, foi tão rápida que eu mais senti do que vi quando despejou um copo cheiode ponche em cima da minha cabeça. Um cubo de gelo entrou pela gola e deixou umrastro gelado nas minhas costas, ao mesmo tempo em que o liquido grudento empapavaos babados da minha camisa. Uma vez na vida, fiquei sem fala.- Sugiro que saia deste baile antes que eu chame meu namorado e todo o time dele paralhe dar uma surra daquelas. - Os olhos de Tashi Pendleton disparavam flechas raivosas.

 Nesse momento, fiz o que qualquer cara com metade do cérebro faria. Dei no pé.

3 - Tashi

Três semanas depois. No sábado de manhã, olhando-me no espelho no quarto, não pude evitar uma careta.

Estava com os olhos vermelhos, inchados, e o rosto todo molhado de lágrimas. Tive delembrar a mim mesma que o pesadelo era real: Papai estava me mandando para um

Page 12: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 12/80

acampamento de verão e eu ficaria fora de Nova York por um mês inteiro. Estremeci aome lembrar daquela noite horrenda em que ele me deu a notícia. Tashi, você vai para oacampamento Bon Vivant e vai adorar cada minuto.

 No mesmo instante, senti como se estivesse sendo mandada para o exílio na Sibéria, enão para um retiro luxuoso em Catskills. E estava de fato sendo mandada para o exílio;

 para mim aquilo era um castigo. Na noite do baile, cheguei tarde em casa, muito tarde mesmo. Depois do encontrotenebroso com Michael Hobart, senti uma certa inquietude, uma vontade de fazer alguma maluquice. Por isso, quando William sugeriu que ignorássemos o toque derecolher e fôssemos a uma rave, concordei na hora. Meu pai continuava acordadoquando entrei pé ante pé em casa, quase de manhã. Nunca o vi tão furioso em toda avida; naquele momento, papai chegara à conclusão de que William era o filho de Satã.E como estava saindo para dar uma série de palestras de verão em vários pontos do país,

 papai achou necessário botar centenas e centenas de quilômetros entre William e eu. Não adiantou argumentar, não adiantou discutir com lógica, não adiantou implorar. Meudestino estava nas mãos dele e fim de papo.

Ouvi uma batida suave na porta do quarto e mais que depressa enxuguei os olhos.- Entre – disse, odiando o tom fanhoso de minha voz chorosa.- Olá, princesa. – William estava na soleira da porta. Usando uma calça esporte de vincoimpecável e camisa nova, parecia como de hábito, o modelo mais que perfeito dehomem.- William – falei, invadida por mais uma onda de profunda infelicidade. A visãodaqueles olhos suaves era mais do que eu podia agüentar. Ele segurava um enorme ursode pelúcia marrom na mão.

Voei para os braços dele e apertei o rosto de encontro a seu peito. Ele me seguroufirmemente por uns instantes, depois me afastou.- Você não vai querer manchar minha camisa nova de lágrimas, certo? – brincou,

 beliscando de leve meu rosto.Fiz que sim, engolindo corajosamente o bolo dolorido que se formara em minhagarganta. Não queria que se lembrasse de mim com cara de choro, o nariz escorrendo eos olhos quase fechados de tão inchados.- É para mim? – perguntei, apontando para o urso.William sorriu e pôs o urso em meus braços.- Ele vai me substituir enquanto você estiver fora. Não quero que ponha os braços emvolta de ninguém, a não ser dele.Abracei o bichinho bem apertado.

- William, como é que eu poderia olhar para mais alguém, quando sei que tenho vocême esperando de volta?Assim que disse essas palavras, fui tomada pela agonia da insegurança. Um cara comoWilliam não ficaria muito tempo sozinho se não quisesse. Respirei fundo para meacalmar e tentei fazer uma voz despreocupada.- Você vai me esperar, não vai? – Meu coração quase parou, enquanto aguardava aresposta.- Claro que vou, Tashi – disse ele, roçando os cílios num beijinho de borboleta na minha

 pálpebra. – Você e eu formamos o casal mais quente da escola. Eu jamais romperianossa dupla dinâmica.Sua voz grave e aveludada era uma carícia suave e meu coração recomeçou a bater. – 

Vou escrever todo dia – prometi.William fez que sim.

Page 13: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 13/80

- E me ligue também.- Assim que eu chegar – jurei, debruçando a cabeça em seu ombro. – Bem que eugostaria que você fosse pelo menos até a estação de trem comigo.Ele soltou um suspiro.- Eu também. Mas tenho aquelas aulas preparatórias para o teste de aptidão...

 No vestíbulo, pela porta aberta do quarto, escutei o carrilhão do relógio.- Acho melhor acabar de arrumar minhas coisas – cochichei, com a voz de novo rouca.- Então, eu vou indo. – Mas William não saiu do lugar.Depois de me olhar por alguns momentos, ele me puxou de um jeito quase rude.Comprimiu com força seus lábios contra os meus e nos beijamos apaixonadamente.Senti uma excitação me percorrendo, uma sensação de perigo. Papai estava em algumlugar do apartamento e poderia nos pegar. Por fim, recuei.- Acho melhor você ir agora – falei com a voz fraca.William apertou minha mãe e com delicadeza ajeitou uma mecha de meu cabelo.- Não me esqueça. – Virou-se abruptamente e então o vi desaparecer pelo corredor.- Nunca – respondi em voz alta. Depois, fechei a porta, dando início àquele longo mês

de separação.

- O Juan já está na estação com suas malas – falou meu pai, uma hora mais tarde.Estávamos num táxi, avançando com lentidão rumo à estação Penn pelo trânsito pesadode Manhattan. Meu pai ia me deixar na porta e continuaria até o aeroporto de LaGuardia. Sua primeira palestra, “Relações raciais no fim do século XX”, seria no diaseguinte. Enquanto o trem me conduziria às montanhas, papai estaria voando paraLincoln, no estado de Nebraska.- Eu sei – falei, soltando um suspiro. Ele já tinha repassado todos os detalhes de minhaviagem um milhão de vezes, crivado de culpa porque não poderia me acompanhar até a

 plataforma. Em seu lugar, lá estaria Juan, que trabalhava no nosso prédio (e que muitasvezes fazia turno dobrado, servindo de substituto de pai para mim), para me colocar notrem em segurança.- Está com a passagem? – meu pai perguntou.- Claro que estou. Não sou mais criança, sabia?- Desculpe. Só estava conferindo. – Papai me pareceu um tanto ofendido, mas eu nemliguei.Ainda estava brava com ele por me mandar para longe e poço inclinada a aliviar suasansiedades de pai.- Sei cuidar de mim mesma. Estou acostumada.Calamo-nos os dois, depois disso. Ouvi nosso motorista reclamar com os táxis vizinhos

e por alguns momentos desejei poder, eu também, enfiar a cabeça para fora da janela exingar o mundo todo. Em vez disso, fechei os olhos e encostei a cabeça no banco,desencorajando ainda mais qualquer tentativa paterna de diálogo.Minutos depois, abri os olhos, assustada, quando o motorista pisou no breque.- Estação Penn – rosnou o homem.Peguei minha bolsa grande de couro e o urso de pelúcia que William me dera e depoisabri a porta do carro. Senti as lágrimas pressionando meus olhos e pisquei mais forte.Mais do que tudo, queria estar no controle da situação quando me despedisse de papai.Ele pigarreou.- Bom, então é isso.- Suponho que sim.

O que mais poderia ter dito?Vi quando ele mordeu os lábios e depois suspirou de leve.

Page 14: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 14/80

- Eu amo você, Tashi. Você sabe disso, não sabe?Sem desviar o olhar das rachaduras do assento do carro, fiz que sim de um jeito quaseimperceptível. O imenso nó que tinha no estômago desfez-se um pouquinho.- Sei, papai. Sei, sim.- Não é minha intenção magoá-la com essa história do acampamento. Mas acho que

ficar uns tempos fora desta cidade maluca vai ajudar você a entender uma séria decoisas importantes a respeito de si mesma. – Papai calou-se por alguns momentos, e euergui a vista para aquele rosto triste. – Coisas que sua mãe teria... – A voz dele foisumindo na garganta e ele espiou o relógio. – Bom, acho melhor você ir andando.- É, você tem de pegar o avião – falei, abrindo a porta.- E você, o trem. – Papai me deu um tapinha desajeitado na cabeça e um beijo rápido norosto. – Divirta-se muito no acampamento. Eu escrevo para você.- Tchau, papai. – Saí com uma certa dificuldade do carro e acenei para ele uma últimavez.Ao bater a porta do veículo, ouvi-o dizer ao motorista:- Aeroporto La Guardia. E rápido, por favor.

Partiram imediatamente e logo mais estavam parados no congestionamento, esperando para entrar à esquerda na rua 32. Espiei o táxi alguns segundos, depois virei-me nadireção das portas da estação.Examinei meu reflexo no vidro, reparando bem no jeans de grife justinho e na jaquetade couro macio. Com o imenso urso de pelúcia e a bolsa cara de couro, eu parecia estar com tudo. Uma última lágrima rolou pelo meu rosto e caiu na calçada suja. Eu estavasozinha.

Como sempre, a estação estava movimentada, malcheirosa e horrível. Homens de ternoe mulheres com bebês corriam para todos os lados, alguns com cara de estarem sendo

 perseguidos por criaturas aterradoras que iriam devorá-los inteiros se não chegassem atempo na plataforma do trem. Perto da lotada área de espera, vi um velhinho todoenrugado jogando cartas com um grupo de turistas desavisados.- Lá se vão seus primeiros vinte dólares na cidade – resmunguei entre dentes, vendo umhomem de bermuda e chapéu panamá cair no conto-do-vigário.Atravessei a estação, com a intenção de chegar até o imenso quadro de avisos com ohorário dos trens. Juan acenou para mim. Estava parado ao lado das minhas malas.- Oi, Juan, e aí, como vão as coisas? – Senti-me aliviada ao ver um rosto conhecido.- Seu trem está cinco minutos atrasado, niña. Ainda não saiu o número da plataforma.- Vou dar um pulo até o toalete.- Mas rápido – disse-me ele, olhando ansioso para o painel.

Fiz que sim e desapareci no meio da massa. Enquanto caminhava, reparei em outrosgarotos com pinta de estarem indo para algum acampamento. Claro que todos commalões centenários e sacolas de lona desbotadas, em vez de conjuntos de malas de grife.Mas também reparei ressentida, que todos tinham pelo menos um dos pais do lado. Eusó tinha Juan, que recebera cinqüenta dólares para se fazer de acompanhante.O banheiro, um tanto sujo, estava cheio e tive de esperar a minha vez numa fila imensa.Tentei não respirar pelo nariz; aquele ar quente e úmido não era lá dos mais aromáticos.

 Na saída, lavei rapidamente as mãos. A excursão demorara mais do que o previsto e já podia imaginar a preocupação de Juan. Fui abrindo caminho até o painel, com a bolsa batendo nos quadris enquanto me espremia na multidão.- Vamos embarcar, plataforma 14! – Juan berrou, assim que me viu.

Corremos até a plataforma e por um instante tive a fantasia de perder aquele trem. Podiaficar no apartamento vazio e me encontrar com William quantas vezes quisesse. Meu

Page 15: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 15/80

 pai nunca iria saber... Sacudi a cabeça. Não ir para o acampamento era um sonhoimpossível. E, enquanto eu tramava meu plano maluco, Juan tinha entrado no trem earrumado minhas malas no bagageiro em cima do banco.- Você vai ter de arranjar alguém para ajudá-la quando chegar – avisou-me ele.- Certo – falei sem nenhum entusiasmo e sem querer acreditar que estava prestes a

tomar meu lugar e ser levada para o meio do nada.- Divirta-se, querida. – Juan tocou de leve em meu ombro e se foi. Igualzinho a todomundo, pensei enfezada.Sentei-me e peguei a revista que estava no encosto do banco a minha frente. Havia umafoto enorme de página inteira do Meio-oeste, e tentei imaginar meu pai num milharal do

 Nebraska. Essa imagem me fez rir pela primeira vez no dia. Na página seguinte, havia um anúncio de ursinhos de pelúcia Vermont. Olhei paraaqueles bichinhos e uma sensação de pânico foi tomando conta de mim. Ursinho de

 pelúcia. Ursinho de pelúcia. Corri os olhos pelo meu banco. Levantei-me e verifiquei as bagagens. De repente, como um choque elétrico de alta voltagem, me lembrei que tinhacolocado o ursinho de William no tampo da pia, no toalete. E depois saí correndo... e o

deixei lá.- Quanto tempo falta para o trem sair? – gritei para o homem que estava sentado dooutro lado do corredor.Ele ergueu a vista do livro, obviamente espantado com a urgência de minha voz. Espiouo relógio digital.- Uns três minutos – respondeu também em tom urgente.Dei um puxão no cabelo, tentando calcular quanto tempo levaria para voltar até o

 banheiro. Apanhei minha bolsa e fui para a porta. Se corresse na ida e na volta, teriatempo.- Dê uma olhada nas minhas malas, por favor! – gritei ainda, por cima do ombro. Mas

 pouco me importava se o homem tinha me escutado ou não. Eu estava em missão deurgência.Corri pela estação abarrotada de gente. Ao dar um encontrão com um garoto levandouma prancha de skate, meu pé se prendeu na mala de rodinhas de uma senhora. A malatombou, tropecei e acabei me esborrachando no chão, batendo as mãos e os joelhos.- Veja por onde anda menina! – gritou a mulher, curvando-se pra endireitar a mala.Eu estava desesperada demais para pensar e nem pude pedir desculpas. Assim que me

 pus de novo em pé, continuei na mesma carreira desabalada.Por fim, na porta do toalete, parei derrapando. Uma menina pequena de cabelos ruivosestava parada ao lado da mãe, que tocava o batom. E nas mãos da menina estava meu

 precioso urso de pelúcia.

- Isso é meu! – gritei, avançando para o urso.A menina fez uma cara de terror e imediatamente caiu num berreiro tão estridente quetodas as paredes azulejadas do banheiro ecoaram.- Ele estava largado aí no tampo – explicou a mulher, entregando-me o urso e ao mesmotempo protegendo a filha do meu olhar assassino. – Achamos que alguém tinhaesquecido.Agarrei o bichinho e debrucei na bancada da pia, tentando recuperar o fôlego.- Desculpe – consegui dizer. – Meu namorado... Acampamento... Presente...A mulher me deu um sorriso de simpatia.- Tudo bem, querida. Você o recuperou, são e salvo.O encontro com uma mulher tão maternal me abalou. Imaginei minha própria mãe,

 protegendo-me dos perigos e enxugando minhas lágrimas. Abracei o urso ainda maisapertado e corri para a porta.

Page 16: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 16/80

Meu relógio mental tiquetaqueava furiosamente. Se perdesse o trem agora, depois deJuan ter me instalado no vagão, meu pai primeiro me mataria, ou então me poria decastigo pelo resto da vida.A estação continuava tão lotada quanto antes. Imagens borradas de logotipos decamiseta, cartazes de filmes e placas de restaurante passaram pelo meu campo de visão

enquanto eu corria para a plataforma 14. Depois fui reduzindo de velocidade,subitamente confusa. Onde estava a plataforma 14?Tinha corrido tanto que não prestei atenção no caminho. Parei e vistoriei rapidamente oespaço imenso. Assim que localizei o número da plataforma, retomei a corrida. Aísurgiram três degraus a minha frente. Saltei-os, decidida a não desperdiçar um segundosequer. Mas, pouco antes que meus pés chegassem ao chão mais abaixo, um dos saltosenganchou no último degrau.Por alguns instantes, tudo se passou em câmera lenta. Em seguida, o tempo adiantou-secomo se alguém tivesse apertado o botão de avançar de um videocassete e acabei

 perdendo o meu já bastante precário equilíbrio. O chão de linóleo branco aproximou-sede mim com a velocidade da luz e não tive como evitar a queda.

De algum lugar muito distante, meio o ruído de um baque. Era minha cabeça batendo nochão. Meu mundo se diluiu e a visão do linóleo encardido foi substituída por umnegrume ruidoso.

4-Michael

Encostado num pilar de cimento da estação de metro da Av. Atlantic, eu espiava Rockofazer dribles com uma bola de basquete na beiradinha da plataforma. Meu amigo estavaindo para o centro jogar bola e eu pretendia dar uma espiada numa liquidação deequipamentos fotográficos na rua 34. Até o final do verão, o plano era ter economizadodinheiro suficiente para comprar uma câmera digital e queria começar logo a ver os

 preços. Estava com um guia do consumidor enfiado no bolso traseiro da minha calça jeans desbotada.O ruído da bola batendo no chão reverberava por todas as paredes do metro e uma moçacom um bebe dormindo no carrinho deu uma olhada irritada para Rocko.-Será que dá pra parar com isso? - perguntou ela, fazendo um gesto de cabeça nadireção da criança.Rocko pegou a bola no ar.-Desculpe.- Depois se aproximou de onde eu estava e atirou a bola em meu peito. -Pense rápido.Peguei sem o menor problema e segurei a bola debaixo do braço.- Só vou dar a volta para você na hora em que a gente sir do trem.

Meu amigo deu de ombros, depois se curvou para fazer um alongamento antes do jogo.-E aí, você não esta a fim de ir a festa da Sharon esta noite?- perguntou-me, depois de seerguer.Girei a bola de basquete entre os indicadores.- Pode ser. Mas provavelmente vai ser muito chata.Rocko sacudiu a cabeça, incrédulo.-Cara, vai ser boa demais! A Sharon me contou que a mãe dela vai fazer um churrasco eque vai um monte de garotas legais.-E daí? Eu tenho coisas mais importantes a fazer do que me preocupar com garotas-resmunguei.

-É mesmo? Por exemplo?- Rocko saltou para o meu lado e arrancou a bola da minhamão. Deixei, invadindo por um desanimo meio súbito. Ele que botasse todo mundo

Page 17: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 17/80

maluco na estação com seus dribles, eu não estava nem ai.- Meu emprego na loja do Branin. O piquenique do dia 4 de julho para os órfãos doSaint Ann. As minhas fotos...Eu estava realmente animado com os planos para o verão. Meu emprego na loja de fotosdo senhor Branin seria uma grande experiência, sem falar que era um jeito muito

decente de ganhar uma graninha. E já que perdera pai e mãe, achava que cabia a mimme envolver em eventos beneficentes, como o piquenique em prol dos órfãos que nãotinham tido a mesma sorte que eu.-Puxa, Michel, você tem o que? Setenta anos? Esta precisando de uma bela garota paralembrá-lo do que é feita a vida.-Uma garota e a ultima coisa de que estou precisando no momento - falei com certaamargura. Desde aquele baile da escola, eu queria ficar a uma boa distancia da

 população feminina. Namorar era complicado demais, eu preferia me concentrar nosaspectos da vida que não causassem medo, dor nem humilhação.-E eu aqui pensando que era a primeira -- Rocko retrucou na hora, batendo a bola no

 pilar de cimento uma ultima vez, antes que o trem parasse guinchando na estação. -

Lembra da ultimo verão, do ultimo outono, do ultimo inverno? Você deve ter tido umascinco namoradas diferentes.Continuei calado enquanto esperávamos as portas do trem se abrirem. Dois padressaltaram do vagão e Rocko mais que depressa tomou o lugar que tinham deixado livre.-Bom, é que eu amadureci - falei finalmente. O trem se pôs em movimento de novo e

 partiu. - Não preciso ficar fazendo papel de bobo por causa de mulher só para me sentir um homem.Rocko riu.-Você anda inalando muito produto químico de revelação, Hobart. Seu miolo estaficando meio mole.Encostei a cabeça no vidro frio da janela do trem.-Pode me torturar quando quiser Rocko. Continuo decidindo a tirar férias das garotaseste verão.Rocko pôs a bola na palma da mão e mirou-a alguns instantes, pensativo.-Pô, cara, você perde e eu sai ganhando. Sobra mais garotas pra mim na festa da Sharon.Fechei os olhos, contente de que a conversa tivesse pilo visto terminado. Rocko era meumelhor amigo, mas as vezes também era um grande mala.Fingi estar tirando uma soneca enquanto o metro nos levava do Brooklyn a Manhattan.

 Na altura da Rua 28, já estava me sentindo melhor. Os movimentos relaxantes de umtrem em movimento sempre conseguiam me acalmar e nesse dia não foi diferente.Quando nos aproximamos da estação Penn, fui para porta, esperar.

-Eu ligo para você mais tarde - Rocko falou. - Quem sabe você muda de idéia a respeitoda Sharon.-Coisas mais estranhas que esta já aconteceram - gritei quando a porta se abriu. Saltei

 bem no meio da massa que aguardava na plataforma e senti o bafo familiar de ar morno.Atrás de mim, o trem partiu rumo a Times Square.

***

Eu odiava a Estação Penn aos sábados. O lugar é um lixo a qualquer hora, mas aossábados fica ainda mais entupida, mais quente e mais fedorenta. Caminhei na direção de

um dos enormes sinais de “saída”, depois retrocedi a alguns passos. Para enfrentar amultidão e o transito da rua 34, precisava me fortalecer com uma lata de refrigerante,

Page 18: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 18/80

ainda que o preço extorsivo cobrado ali dentro.Ergui a lata gelada de alumínio até a testa, enquanto saia de uma das dezenas de bancasda Estação Penn. Abrindo caminho entre um aglomerado de gente, ia pensando no gosto

 bom que teria a bebida, quando desse o primeiro gole.A uns quinze metros da saída mais próxima, havia um circulo de pessoas, todas elas

cochichando animadamente. Um imã invisível me atraiu. Será que era alguém sendo preso? Haveria alguém famoso por lá? Alguém esfaqueado? Com a mesma curiosidadeum tanto mórbida de quase todo nova-iorquino, eu também não poderia deixar escapar um possível espetáculo publico.Assim que me aproximei do circulo, meu queixo caiu. La estava ela, deitada no chãoimundo da estação Penn, de olhos fechados e rosto frouxo: Tashi Pendleton. Dei umaolhada rápida em volta, tentando localizar Kari ou então o sorrateiro namorado darainha. Mas ninguém naquele aglomerado se aproximava para ajudá-la. Estavam apenasolhando, se perguntando se a mocinha estaria viva ou morta.Sem pensar, abri caminho na multidão e me ajoelhei ao lado de Tashi. Desprovida donariz empinado e dos olhares dardejantes, ela parecia quase uma criança. Senti um

aperto doido no peito quando peguei em sua mão e sussurrei seu nome.- Tashi, esta me ouvindo? Tashi?Dava para ver que ela estava respirando, mas não reagiu a minha voz. Uma mulher como ar muito aflito levando uma menina pequena de cabelos ruivos pela mão avançou um

 passo.- Ela caiu nesta escada, faz alguns segundos só - explicou-me.- Deve ter batido acabeça.Balancei a cabeça pra indicar que tinha entendido e coloquei a lata de refrigerante norosto de Tashi.-Acorde, Tashi - pedi.-Você a conhece? -a mulher me perguntou, a voz cheia de preocupação.-È... Meio que sim.A garotinha começou a chorar, escondendo o rosto na saia da mãe.-A Joanie e eu a vimos pouco antes da queda. Ela parecia muito agitada. Tinhaesquecido o ursinho de pelúcia no banheiro.Foi só então que reparei num urso marrom e peludo ao lado de Tashi. Havia tambémuma bolsa de couro a seus pés, com tudo que havia dentro espalhado pelo chão.-Ela por acaso disse o q eu estava fazendo?-perguntei- Tinha alguém com ela?Mesmo que a rainha de gelo estivesse com um ar meio vulnerável, naquele momento,não me entusiasmava muito a idéia de mexer com seu protetor. E já podia até imaginar o tipo de agradecimento que iria receber se ela acordasse e desse de cara com seu

inimigo numero um.A mulher abanou a cabeça.- Não, estava sozinha. Disse alguma coisa, mas não deu para entender muito bem.Alguma coisa sobre um namorado... e um acampamento. E ela parecia desesperada pararecuperar o tal urso.Apanhei o urso de pelúcia e pus nos braços de Tashi. Será que estava prestes a tomar algum trem, na hora em que caiu? Será que estava indo para algum acampamento deverão? Mas onde estaria o pai dela? Por que estava ali? Percebi que não iria obter resposta alguma enquanto ela não recobrasse a consciência. E, nesse meio tempo,resolvi que o melhor seria pedir para alguém chamar uma ambulância.-Acho melhor chamar uma ambulância -falei para a mulher.- Temos de levá-la para um

hospital.A mulher fez que sim e foi até um telefone publico, com a filha a tiracolo. Nesse

Page 19: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 19/80

momento, os olhos de Tashi Pendlenton se abriram.-Quem é que vai para o hospital?- ela gritou de repente.Olhei espantado.-Você - respondi, delicadamente. - Você levou um tombo e perdeu a consciência...-Quem é você? - indagou ela, me interrompendo.

Típico, pensei com meus botões. a garota é tão cheia de si que nem sequer se lembra docara em quem derrubou um copo de ponche. Provavelmente, são tantos que ela nemconsegue se lembrar de todos.-Michael Hobart - falei, tentando tirar o tom caustico da voz. Afinal de contas, a garotaestava esborrachada no chão. Eu precisava ter um pouco de compaixão.-Ah. - O rosto continuou inexpressivo. - E quem sou eu?- O que? - pergunte, em choque.Ela se sentou e tirou o cabelo do rosto.-Quem sou eu? - repetiu.Engoli em seco. Com que força ela tinha batido a cabeça?-Você é Tashi Pendlenton.

-Ah - repetiu ela.As pessoas em volta começaram a se dispersar, parecendo quase decepcionadas com ofato de Tashi não seu um cadáver ao vivo. Ela começou a se levantar e eu estendi a mão,tentando sossegá-la.- Continue sentadinha ai até os paramédicos chegarem.Ela me fuzilou com o olhar, primeiro indicio de fato de que me encontrava diante damesma garota que conhecera no baile.-Eu não vou para o hospital, não - falou, abraçada ao urso. Parecia assustada.-Mas precisa ir. - Estava tentando parecer calmo e seguro.- De jeito nenhum. Eu odeio hospital. Me leve para casa. - E juntou suas coisas, jogandotudo dentro da bolsa.Mordi o lábio, sem saber qual a melhor atitude a tomar.-Tashi, seja razoável.As lagrimas escorriam por suas faces e de repente ela se atirou em meus braços.-Por favor, não me faço ir para o hospital. Eu não posso. Não posso.A pressão daquele corpo contra o meu foi tão inesperada que quase perdi o equilíbrio.Quase recobrei suficientemente os sentidos para me dar conta de que estava abraçando arainha, bem juntinho mesmo, meu coração disparou. No dia do baile, quando a pegueinos braços, ela estava rígida, uma pedra de gelo. Agora me parecia toda macia evulnerável. E havia algo mais naquele abraço. Confiança.-E por que não pode?

Ela franziu o cenho.- Eu não sei. - A voz saiu tão baixinha que mal escutei suas palavras.Por um instante apenas, permiti que meu rosto roçasse no seu cabelo sedoso. Ela estavatão perto que dava até para sentir o perfume do sabonete. Com delicadeza, ajeitei seuscabelos, tentando lhe transmitir um recado sem palavras. Não deixaria que lheacontecesse algo mau, não porque fosse Tashi, disse a mim mesmo, e sim porque eraum ser humano precisando de ajuda. Toquei na parte posterior de sua cabeça e senti umgalo imenso se formando, bem onde devia ter batido no chão duro da estação.- Xi, você esta com uma bola de golfe nascendo ai atrás - resmunguei, afastando- me

 para poder olhar em seus olhos.Tashi fez uma careta.

-Isso não é nada. Minha cabeça está pior que a construção de via expressa do West Side, parece que tem uma turma inteira trabalhando com furadeiras aqui dentro. - Depois,

Page 20: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 20/80

conseguiu até sorrir. - Mas eu estou bem, serio.Eu ri. Pelo menos ela se lembrava da cidade.-Fora não saber quem é você é. Quem eu sou e o que aconteceu.Ela se levantou, puxando- me junto com ela. Olhou em volta da estação, como setentasse vê-la pela primeira vez, franzindo o nariz, enojada.

- Michael, se nós significamos alguma coisa um para o outro, me tira deste inferno já, por favor.Quando comecei a protestar, ela tapou minha boca com a mão.-E, se você disser não, eu saio correndo pelas ruas sozinha. Tenho certeza absoluta deque meus pais, sejam eles quem forem, não vão gostar muito da idéia de você ter melargado sozinha.Suspirei, sentindo-me derrotado. Com ou sem memória, Tashi Pendleton era uma garotaacostumada a obter o que queria. Eu não tinha outra escolha senão esquecer a loja deequipamentos fotográficos e levá-la para a casa da tia Rose.- Certo, então vamos indo. Nós vamos para a minha casa, assim minha tia toma conta devocê. Ela é enfermeira.

Tashi encolheu os ombros.- Para mim tanto faz para onde vamos desde que não seja para um hospital. - Lançou-me então um sorriso e na mesma hora fez um a careta de dor . - Sorrir dói -confidenciou ela, segurando minha mão.Enlacei meus dedos nos delas e fomos para a estação do metro. Quando lhe entregueium dos bilhetes que tinha no bolso, ela diminuiu o passo.- Nós vamos de metro?- Não parecia muito animada a perspectiva.Ignorei o resquício de esnobismo em sua voz.-Quer dizer então que ainda se lembra do sistema de transporte de Nova York, é?- Lembro... Mas ou menos. Não muita coisa.Sacudi a cabeça. Tashi com certeza não pegara o metro um numero suficiente de vezes

 para sabe ao certo como funcionava, mas eu tinha certeza de que se a levasse para a rua,em cinco segundos acenaria para um taxi. Mas ela recomeçou a andar, aparentemente

 presumindo que descer as profundezas do metro de Nova York fazia parte de suasatividades diárias.Tashi me pareceu meio nervosa quando entramos no trem e eu a levei até uma fileira deassentos vazios, no fundo do vagão. Ela agarrou a minha mão olhando atentamente paraos anúncios cobertos de grafite e para o banco de passageiros.Quando se virou pra mim, tinha a expressão muito séria.- Ainda bem que você está comigo, Michael. Eu tenho muita sorte mesmo. - E apertoumais a minha mão, encostando a cabeça em meu ombro. - Quem me dera poder me

lembrar de alguma coisa.Percebi, com um suspiro de satisfação, que ela estava achado que era minha namorada. Não sei como isso não me ocorreu antes. Eu estava ali ao lado dela, quando voltou a si,segurando a sua mão, assumindo a situação, fazendo todas aquelas coisas que umnamorado faria. Só que continuava sendo o cara que Tashi tinha humilhado no baile daescola. Aquela idéia toda, de ele me tomar por um outro era tentadora. Mas nesse exatomomento, para todos os fins e propósitos, eu era o namorado de Tashi Pendlenton. Ocara por quem estava apaixonada... provavelmente o que lhe dera o urso de pelúcia quelevava no colo.Vingança. A palavra girava de um lado a outro do meu cérebro, mesmo enquanto

 passava o dedo de um lado a outro do meu cérebro, mesmo enquanto passava o dedo na

 pele macia de sua mão. Eu podia dar o troco na minha rainha de gelo. Não tinha amenor duvida de que recuperaria a memória com o tempo, juntamente com todo o

Page 21: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 21/80

 passado. E, quando o fizesse, a cara dela daria uma foto premiada. Sorri comigo mesmo.Tashi Pendleton podia ter perdido a memória, mas eu estava prestes a lhe dar umaexperiência da qual jamais se esqueceria.

5 - Tashi

 Nada no bairro do Brooklyn me parecia familiar. Mas era ali que Michael morava.Andamos ruas inteiras de casas com três andares e fachada de arenito, mas nenhumadelas me despertou a menor lembrança. Quando Michael parou finalmente, demorei-mena calçada, olhando intrigada. Ele me disse que estávamos namorando há cinco meses eeu tinha esperança de que, ao ver sua casa, fosse lembrar de alguma coisa de nosso

 passado.- Que engraçado – falei devagar. – Eu devo ter vindo aqui um monte de vezes, massinceramente é como se eu nunca tivesse visto sua casa antes.Michael enterrou as mãos nos bolsos traseiros da calça e oscilou o corpo, apoiando-senum pé, depois no outro.- Pois é a mente de vez em quando prega umas boas peças na gente. – E subiu aos saltos

a escada até o pórtico, tirando um chaveiro do bolso. – Tia Rose, cheguei – gritou ele,enquanto entrávamos no vestíbulo.Michael continuou em frente, mas eu parei, sentindo um constrangimento enorme.Estava prestes a me encontrar com uma outra pessoa de quem com certeza não tinha amenor recordação e não sabia direito como agir. Nem o que dizer. Comecei a tremer deleve. As tensões dos últimos sessenta minutos estavam começando a cobrar seu preço.Sabia que por fora eu dava a impressão de estar calmíssima, mas por dentro estavaapavorada.E se eu nunca mais recuperasse a memória? Então, todo mundo que eu já conhecera navida me pareceria um estranho. Verdade que sentira na hora haver uma ligação entreMichael e eu, mas isso era diferente. Ele era meu namorado. E quanto a meus pais? Seráque eram legais? Será que tínhamos um bom relacionamento? Mas não havia nem umaresposta sequer para as centenas de perguntas que me passavam pela cabeça.Michael gritou pela tia de novo e uma mulher muito atraente, com uma pele cor decaramelo e um sorriso acolhedor, saiu de um aposento nos fundos.- Michael, por que voltou assim tão rápido?

- É que eu tive um certo, hum, probleminha – respondeu ele, andando na direção dela.Depois recuou e voltou até mim. – Sente um pouquinho, Tashi. Eu vou dar uma

 palavrinha com a tia Rose na cozinha e já volto. – Lançou-me um sorriso tranqüilizador enquanto Rose me olhava com ar de interrogação.

Minha cabeça doía ainda, mas eu estava inquieta demais para sentar. Havia um espelhogrande, numa moldura com jeito de antiga, pendurado sobre o console da lareira. Pela primeira vez, desde que batera a cabeça, olhei-me no espelho. Minha imagem eraapenas vagamente familiar e fiquei agradavelmente surpresa com a pele lisinha, oslábios cheios e rubros, os olhos grandes.- Quem é você, Tashi Pendleton? – perguntei ao espelho.Concentrei-me tentando evocar alguma imagem do passado, mas foi em vão. Por enquanto, meu mundo se resumia ao presente: Michael, a sala e tia Rose.Quase soltei um risinho ao lembrar-me de Michael. Na hora em que acordei, no chão daestação, senti-me como uma versão contemporânea da Bela Adormecida. A visãodaqueles olhos castanhos tão intensos e daquele sorriso estranho fora tão marcante que

todas as outras pessoas em volta me pareceram meros borrões. Todo meu ser estavavoltado para o belo Michael. E agora lá estava eu, na casa dele, um refúgio seguro num

Page 22: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 22/80

mundo feito todinho de incógnitas.À esquerda do espelho havia uma foto emoldurada de um menino pequeno. No mesmoinstante percebi que estava olhando para uma versão mais jovem de Michael: Já naquelaépoca o sorriso era único, tanto quando agora. Na foto, ele estava entre um homem euma mulher jovens (os pais dele, eu supunha), num calçadão à beira-mar. Reparei que o

olhar do Michael jovem parecia direto e franco; agora era intenso, às vezescircunspecto. Por quê? Afastei-me da foto ao ouvir o ruído de passos se aproximando.- Olá de novo – falei, sorrindo timidamente para Rose. Fiquei decepcionada ao perceber que não guardava a mais vaga lembrança, mas gostei imediatamente dela.- Oi, Tashi – disse-me ela, estendendo a mão. – Eu sou Rose Hobart, tia do Michael. – Indo até um sofá comprido de aspecto muito confortável, ela me chamou para sentar aseu lado.- É uma pena, mas não me lembro de você – falei, sentando-me. E era mesmo. Os olhosde Rose eram bondosos e inteligentes e eu torcia para que quando me encontrasse commamãe de novo, ela fosse igualzinha.Vi que ela arqueou as sobrancelhas para Michael.

- Não se preocupe com isso – disse ela, me acalmando. – De todo modo eu não esperavaque meu rosto lhe dissesse alguma coisa. – Pegando minha mão, ela me deu um tapinhadelicado. – Olha, eu sou enfermeira e gostaria de examinar este galo que você tem nacabeça, que Michael me contou. Tudo bem?Fiz que sim sem dizer palavra e ela começou a mexer na minha cabeça. Enquanto isso,Michael escapuliu de novo para a cozinha. Fechei os olhos, tentando desesperadamentefazer com que meu cérebro cooperasse com o restante de mim.- Bom, eu acho que você vai sobreviver – declarou Rose. – E com toda certeza tambémvai recuperar a memória. Batidas na cabeça muitas vezes provocam um trauma que

 bloqueia ou as lembranças de curto prazo ou as de longo prazo. Seu problema é com asde longo prazo.- Quer dizer então que vou ficar sem memória por um longo prazo? – perguntei

 preocupada. Já estava me imaginando aos sessenta anos de idade, vivendo todasossegada, e de repente me lembrando que tinha assassinado umas três pessoas amachadadas ou que deixara um forno ligado em algum lugar.Rose me deu mais um tapinha na mão.- Não. Quer dizer que você não consegue se lembrar do que aconteceu antes desseincidente. Se tivesse sido uma perda de memória de curto prazo, não saberia o que tinhaacontecido cinco minutos atrás. Por exemplo, você poderia perguntar como está otempo lá fora. Eu responderia e cinco minutos depois você faria a mesma pergunta. Eassim por diante.

Balancei a cabeça, aliviada.- Quer dizer que estou bem?- Claro. Mas acho melhor levarmos você a um médico, só para termos certeza.Michael voltou à sala e me pareceu aliviado ao saber que não tinha havido nada demuito sério comigo.- Tentei falar com seu pai – disse ele, sentando-se num sofá do lado oposto da sala. – Mas o serviço telefônico disse que ele está viajando. Expliquei a situação e uma mulher falou que vai tentar encontrá-lo.Pareceu-me meio estranho que Michael não soubesse que meu pai não estava em NovaYork. Isso não era uma coisa que um namorado certamente saberia? E onde estava meu

 pai? Quem era meu pai? Uma vez mais, fui invadida por uma infinidade de perguntas.

- E a minha mãe? – falei, optando pela mais premente delas.Durante alguns momentos, Michael continuou em silêncio. Franziu o cenho e uma

Page 23: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 23/80

expressão de tristeza invadiu-lhe o rosto. Espiou a tia, que acenou firmemente com acabeça.- Eu não sei muito bem como lhe dizer isso, Tashi...A voz de Michael foi sumindo e o pânico me invadiu. Mesmo antes de ele continuar, eu

 já sabia, com um sentimento tremendo de pavor, o que iria dizer. Inconscientemente,

devo ter sabido o tempo todo.- Ela faleceu cinco anos atrás, Tashi... Como meus pais.- Ela está morta. – Forcei-me a dizer essas palavras em voz alta.O vazio começou no estômago e foi subindo dolorosamente até meu coração. O latejar surdo que sentia na cabeça transformou-se num rugido, e a sala assim como Michael eRose davam a impressão de estarem se desintegrando aos poucos diante de meus olhos.Minha mãe está morta... e eu não me lembro de nada a respeito dela.  - Como foi que ela morreu? – perguntei, engasgando com minhas próprias palavras. Asimples idéia de não saber como ela morrera era tão surrealista que me senti prestes adesmaiar.- Ela teve câncer no seio, Tashi. – A voz saiu meio estrangulada e Michael me estendeu

a mão.Lembrei-me então do medo que me assaltara quando Michael sugerira que eu fosse parao hospital. Seria essa a razão de eu ter sido tão enfática sobre não querer entrar naquelescompridos corredores estéreis? Será que já não tinha estado antes num hospital, vendominha mãe perder a vida dia a dia?- Você a conheceu? – sussurrei louca por algum detalhe, por alguma imagem em que

 pudesse me agarrar do mesmo jeito como me agarrara ao ursinho de pelúcia no metrô.Michael abanou a cabeça.- Sinto muito. Eu não conhecia você na época. Nem morava aqui em Nova York.Morava em Atlantic City... Com minha mãe e meu pai.Lágrimas quentes rolaram pelo meu rosto, não só por mim. Por Michael também.Lembrei-me do homem e da mulher da fotografia. Pareciam tão felizes, tãodescuidados. E agora Michael era um órfão; tinha sofrido tanto quanto eu devia ter sofrido. Talvez fosse o elo que nos ligara, a princípio: A perda de entes queridos.Mal me dei conta de que Rose tinha se levantado.- Vou dar alguns minutos para a Tashi – disse ela em voz baixa para o sobrinho. – Depois nós vamos até o consultório do doutor Joseph. Ele é um bom amigo meu.Enquanto seus passos ecoavam pelo assoalho, senti que Michael se aproximava de mim.Encaixei-me naturalmente em seus braços, comprimindo meu rosto molhado delágrimas de encontro a sua camiseta desbotada. Da outra vez, ao abraçá-lo na estação,eu estava passando pelo terror e pelo abalo que vêm com a perda do senso de

identidade. O peito largo e o abraço forte tinham afugentado meu medo e agora os braços me ofereciam consolo. Tive um acesso de soluços, tentando refrear a crise dechoro que me sacudia o corpo todo.- Tudo bem, Tashi. Pode chorar à vontade, querida. Eu estou aqui. – Ele me embalava

 para frente e para trás, beijando ternamente minha cabeça.Falava em voz baixa, rouca, e eu tinha certeza de que também ele estava sofrendo denovo a perda dos pais. Naquela sala tranqüila, numa casa do Brooklyn, estávamosferozmente apegados, absorvendo força e compaixão um do outro. Não sei por quantotempo continuamos abraçados, mas, durante aqueles breves momentos, ninguém maisexistia no mundo.

Ao sairmos os três, Michael, Rose e eu, da graciosa residência de arenito ondefuncionava o consultório do doutor Joseph, percebi que estava me sentindo bem melhor.

Page 24: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 24/80

Tomei um remédio para dor de cabeça e o médico confirmou que o galo em minhacabeça não representava nenhum problema permanente. Ele sugeriu que eu descansasse

 bastante, mas não tivesse receio de encontrar pessoas e ver lugares de minha vida“pregressa”.- Tem muita coisa em relação ao cérebro que continua sendo um mistério para nós – 

disse ele, me olhando por trás dos óculos de aro fino. – Às vezes, sofremos um trauma enossa mente decide bloquear certas coisas, um momento qualquer, um ano, ou uma vidatoda. – Ele parou de falar uns instantes. – Em geral, acabamos lembrando de cadadetalhe... Quando estamos prontos.Sentei-me no banco da frente do judiado Pontiac azul-claro de Rose, pensando nas

 palavras do médico. Quer dizer então que havia coisas em minha vida das quais eu nãoqueria me lembrar? Sacudi a cabeça, frustrada. Seria preciso ter muita paciência e torcer 

 para não haver demônios me espreitando nas sombras, na hora em que o passadofinalmente se apresentasse.Estávamos todos calados na volta para casa. Eu olhava curiosa para tudo, doida para ver se encontrava algum indício que se encaixasse no quebra-cabeças de minha vida. O

doutor Joseph tinha dito que talvez de início eu fosse lembrar apenas de alguns pedaços,de fragmentos dos meus dezesseis anos de vida. Falou que eu devia tentar relaxar amente e permitir que as peças do enigma fossem surgindo no momento certo.O sol já começava sua lenta descida no horizonte quando chegamos e Rose abriu a portade casa. A sala de estar aconchegante parecia fresa e convidativa. Desabei no sofá,sentindo-me de repente exausta.- A luzinha da secretária está piscando – Rose gritou para Michael, da cozinha. – Só

 pode ser para você.- Por que não dá uma descansada? – Michael me sugeriu. – Eu volto já.Estiquei-me no sofá e fiquei escutando os ruídos de Rose se movimentando na cozinha.Depois ouvi um bip alto, seguido de uma voz aguda.- Ei, Mikey. É o Rocko. Ei, Rose. Olha, o lance da Sharon continua de pé para hoje ànoite. Não dá furo, cara. Me liga. – E depois o estalido da secretária.Michael voltou para sala com um copo alto de chá gelado na mão.- A tia Rose faz um chá gelado incrível – disse ele, pondo o copo a meu lado. – Com

 bastante açúcar.Sentei-me e engoli meio copo. O chá gelado me deu novo alento e uma vez mais euestava cheia de perguntas.- Que recado foi esse? Nós íamos sair, hoje à noite? Quem é a Sharon? E o nome dessecara é Rocko mesmo?Michael riu, estendendo a mão para me fazer calar.

- Mais devagar, Tashi.Recostei-me no sofá e olhei para ele, esperando. Eu queria saber tudo que me fosse possível saber.- Então, comece pela Sharon e continue daí.- Sinto decepcioná-la, mas a ligação não era nem um pouco importante. RockoLawrence, ele é meu melhor amigo, queria que eu, hum, que nós fôssemos nessa festa

 besta na casa da Sharon. Mas nós não precisamos ir. Juro.Fechei os olhos outra vez. Ouvir falar de pessoas que não conhecia e de planos dosquais não me lembrava era muito cansativo. Nenhum dos nomes mencionados por Michael despertava qualquer lembrança e, naquele momento, eu estava esgotada demais

 para continuar o questionário. Minha cabeça tinha feito hora extra a tarde toda e tudo

que eu queria era deixar os pensamentos se dissolverem.

Page 25: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 25/80

Pressentindo minha necessidade de um pouco de paz, Michael ficou calado ao meulado. Sem abrir os olhos, estendi a mão para ele. Segundos depois, senti suas duas mãosfortes envolvendo a minha, e suspirei com um sentimento muito próximo docontentamento. Minutos depois, estava dormindo.

A sala estava completamente às escuras quando me senti sendo acordada por alguém.De início, não fazia idéia de onde estava. Nem de quem eu era. Tinha caído num sono profundo, sem sonhos, e minha vontade foi fechar os olhos de novo.- Tashi. É o Michael. Acorde. – A voz rouca me trouxe de volta à mente osacontecimentos do dia. Eu era Tashi Pendleton e Michael, meu namorado. Estava nacasa da tia dele, Rose, no Brooklyn.- Que horas são? – resmunguei. Parecia ser o meio da noite, mas vi que ele continuavacom a mesma calça e a mesma camiseta de antes.- Devem ser umas dez da noite. Eu vou levá-la para o quarto de hóspedes. Minha tiaseparou uma das camisolas dela para você.Sentei-me no sofá e apalpei ansiosa a cabeça. O galo formado com a queda ainda estava

dolorido e a dor de cabeça parecia estar voltando. Mas a idéia de uma cama com lençóislimpos e um travesseiro fresquinho me impeliram a agir. Levantei-me.Segui Michael pela escada estreita de madeira até o segundo andar e ele abriu uma portade verniz escuro.- Você dorme aqui. A camisola está sobre a cama e tia Rose deixou uma escova dedente nova no banheiro. Também deixou umas aspirinas e água gelada para você.Sorri em agradecimento. Mas agora que Michael e eu estávamos parados na porta doquarto, senti-me invadida pela timidez. Eu estava sozinha com meu namorado eestávamos dormindo sob o mesmo teto. No entanto, para mim éramos quase estranhos.Michael parecia consciente do meu desconforto e riu suavemente.- Vou deixá-la sozinha, agora, Tashi. – Tocou meu queixo e virou meu rosto para o seu.Meu coração disparou quando seus lábios roçaram meu rosto com um beijoultracarinhoso. – Bons sonhos.Fiquei espiando enquanto ele se afastava pelo corredor e entrava num outro quarto. Aofechar a porta do meu, senti uma leve decepção.Para todos os efeitos, tinha conhecido Michael Hobart naquele dia. Mesmo assim,queria que tivesse me beijado. Beijado de verdade. Talvez no dia seguinte as coisasfossem diferentes. Talvez no dia seguinte eu já tivesse recuperado a memória.

6- Michael

Ao acabar de escovar os dentes, no domingo pela manhã, já me sentia um canalha

completo. Lá fora, fazia um dia bonito, fresco, agradável. Cheguei até a ouvir alguns passarinhos cantando, uma raridade no Brooklyn. Mas enfiando meu jeans e uma velhacamiseta do Knicks, tive a impressão de estar oco por dentro.Quase vinte e quatro horas depois de ter encontrado Tashi desmaiada no chão da estaçãoPenn, começava a perceber o quanto fora cruel de minha parte deixá-la pensar queéramos namorados. E tia Rose não estava exatamente entusiasmada com meucomportamento. Lembrei-me da conversa que tínhamos tido na cozinha, quandocheguei em casa com Tashi.- Quem é a moça? – tia Rose perguntara, com um gesto de cabeça na direção da sala.- O nome dela é Tashi Pendleton. Ela bateu a cabeça e parece que está com amnésia. – Eu me sentara numa cadeira e começara a rabiscar num bloquinho de notas. Ao dizer 

 para Tashi que estávamos namorando fazia cinco meses, nem me passara pela cabeçaarranjar uma desculpa para dar a tia Rose. Naquele momento, tudo que fiz foi tentar 

Page 26: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 26/80

manter o ritmo normal da respiração enquanto procurava as palavras certas para usar.- Não me lembro de você ter falado dela comigo – minha tia disse, com o semblantemeio confuso. Ela conhecia a maioria dos meus amigos.- Bom, nós só nos vimos uma vez... E não foi muito agradável. – Depois de algunsmomentos, eu acrescentei, foi ela quem jogou ponche em mim naquele baile.

As sobrancelhas de tia Rose se arquearam quase até o meio da testa.- É mesmo? E ela sabe disso?Aí eu tossi para dar tempo ao tempo, enquanto desenhava uma faca bem grande,

 parecida com a que tia Rose provavelmente usaria para cortar meu pescoço.- Na verdade, eu meio que disse para ela que nós estávamos namorando...- Michael! Você não fez uma coisa dessas! – tia Rose, de mãos nos quadris, me olhavafeio.- Fiz. Não foi por querer... Mas é que ela presumiu que nós fôssemos namorados. E nahora me pareceu um bom jeito de dar o troco. – Mas, quando percebi a besteira queestava dizendo, minha voz foi sumindo.Tia Rose concordara, muito relutante, em participar da farsa. Na verdade, receava que,

se eu contasse a verdade para Tashi, piorasse ainda mais as coisas: O mundo dela jáestava de cabeça para baixo, não precisava da minha contribuição.- A pobrezinha não sabe se vira à esquerda ou à direita – ela resmungou. – E aí chegavocê e diz para ela seguir reto. – Tia Rose balançou a cabeça. – Esse é o tipo de peçaque seu pai adoraria ter pregado quando tinha sua idade.Eu detestava ter de admitir para mim mesmo, mas estava começando a gostar mesmo deTashi Pendleton. Tirando os arroubos de rainha de gelo, ela era uma garota sensível,engraçada e vulnerável. E sempre muito linda. Talvez sua amiga Kari tivesse razão,talvez Tashi não fosse de fato a debutante esnobe que eu achava que fosse. Talvez...De repente, estalei os dedos. Kari! Por que não me lembrei antes? Ela com certezasaberia o que Tashi estava fazendo no dia anterior. Talvez soubesse até como achar o

 pai dela. Precisava ligar para ela imediatamente.Entrei correndo no banheiro e enfiei a cara debaixo da torneira de água fria. Depois,atravessei descalço o hall, parando uns instantes para olhar para a porta fechada doquarto onde Tashi dormia. O quarto estava silencioso e segui para a escada, satisfeitoque ainda estivesse ferrada no sono.

 Na cozinha, pus o pó de café e a água na cafeteira e apertei o botão. Tia Rose já tinhasaído, trabalhava logo cedo no hospital, mas tinha deixado todos os ingredientes para

 panqueca na bancada. Eu faço umas panquecas que são demais, quase transparentes detão fininhas. E já imaginava o ar de satisfação no rosto de Tashi quando acordasse como cheiro de café fresco e panquecas doces.

Mas vamos por partes, lembrei a mim mesmo. Disquei o número de Rocko e esperei atéque ele atendesse ao telefone. O que só ocorreu no sétimo toque.- Alô – disse ele, com uma voz meio zangada.- Rocko. Preciso de umas informações e não tenho tempo para responder nenhuma

 pergunta. Qual é o sobrenome da Kari?- Kari? Você quer dizer aquela gata que arrasou de roupa amarela no baile? – Meuamigo parecia estar um pouco mais acordado, já; qualquer conversa a respeito demulher em geral tinha esse efeito nele.- Essa mesmo. Como é o sobrenome dela?- Hobart, não vai me dizer que você me ligou antes de o galo cantar só para saber osobrenome de uma garota que você conheceu três semanas atrás. Isso não pode estar 

acontecendo. Estou tendo um pesadelo.Eu ri.

Page 27: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 27/80

- São mais de nove horas. Qual é o sobrenome dela?Rocko soltou um suspiro.- Humm, Washington, acho. É isso mesmo. Kari Washington, a dos sapatos sensuais desalto plataforma. Mas por que é que...- Estou sem tempo agora, Rocko – falei, cortando o papo. – Mais tarde eu explico.

Agora, vê se sai dessa cama, cara. – Desliguei e peguei a lista telefônica.Dois minutos depois, estava conversando com Kari Washington, uma experiência quenão gostaria de repetir na vida.- Ah, oi, Kari. Talvez você não se lembre de mim, mas eu me chamo Michael Hobart.

 Nós...- Sei Michael, eu me lembro. A Tashi jogou ponche em cima de você. – Ela falavarápido, como se estivesse impaciente.- Bom, estou ligando porque...- Olha. Eu adoraria conversar sobre a Tashi, mas não vai dar, no momento. É que elaacabou não aparecendo no acampamento, ontem. O namorado dela me ligou e ele estáum caco. E nós não sabemos onde está o pai dela. De modo que se você não se

importa... – E parou para recuperar o fôlego.- Ela está aqui comigo – falei rapidamente, afundando numa das cadeiras de madeiraenvernizada da cozinha. Ainda não tinha pensado no namorado dela. Mas melembrando agora da cara do metido a bonitinho e do jeito irritante como circulava peloclube, feito um político cheio de pose, senti-me um pouco melhor pela mentira que

 pregara em Tashi. Até que valia a pena sofrer um pouquinho de culpa, só para poder dar nos nervos de William Gallagher. Pelo menos, foi o que disse a mim mesmo.- Ela está o quê? – Kari esganiçou. – Com você! Por quê?- Vê se fica calma – gritei de volta. – Ela está bem. Bom, quer dizer, tirando o fato deter batido a cabeça e não fazer a menor idéia de quem ela é...Kari escutou a história toda, acompanhando o relato com exclamações e suspirosdramáticos. Até eu terminar de contar tudo, exceto a parte sobre o falso romance entreTashi e eu, Kari parecia estar genuinamente convencida de que eu não era um assassinoem série, ensandecido, que tivesse seqüestrado a amiga aos berros, esperneando paratodos os lados.- Vou até aí – disse ela por fim.Eu torcia o fio do telefone em volta do indicador.- Certo... – concordei meio hesitante. Em algum momento, teria de contar toda averdade para Kari. Mas essa não era a melhor hora. – Olha, será que daria para deixar oWilliam fora dessa, por enquanto? Pelo menos até você falar com a Tashi? Não tenhocerteza se seria realmente uma boa idéia o encontro dos dois, agora.

- Por quê? – Kari exigiu saber, com voz desconfiada.- É meio complicado de explicar. Confie em mim. – Fechei os olhos, desejando ter algum poder de telepatia. E se por acaso Kari se recusasse a acatar meu plano?Do outro lado da linha, ouvi um suspiro.- Está bem. Na verdade não simpatizo muito com ele. Já estou até imaginando a caradaquele metido a besta durante a interminável corrida de táxi até o Brooklyn. Opa,desculpe, não quis ofender ninguém.Ignorei a calúnia contra meu bairro.- Também acho bom você trazer algumas roupas. Ela não tem nada para vestir, a não ser o que tem no corpo.Kari riu.

- Já estou até vendo a Tashi usar o mesmo traje dois dias seguidos. Acho que ela preferia entrar num pote de mel e ser devorada por formigas vermelhas.

Page 28: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 28/80

Eu tinha certeza quase absoluta de que a “nova” Tashi não iria ter um chilique só por não poder trocar de roupa, mas não fiquei a fim de tentar explicar isso para Kari. Elateria de ver por si própria.- Bom, certo, você a conhece melhor que eu. –  Bem melhor, fiz questão de frisar paramim mesmo.

- Acho que vou ter um dia muito interessante hoje – comentou Kari, depois que lhe deimeu endereço (e lhe garanti que, sim, o Brooklyn era um bairro perfeitamente seguro).- Bela piada – respondi categórico. A piada do século.

- Como é que ela se chama mesmo? – Tashi perguntou, partindo um pedaço de panqueca com o garfo.- Kari Washington. – Fiquei olhando Tashi encher a panqueca de mel e devorar um

 pedaço com gosto. Como dormiu antes do jantar, estava descontando. Já tinha comidoseis panquecas e três ovos mexidos. Eu estava impressionado.- E ela é minha melhor amiga? – perguntou, pegando o copo de suco de laranja.- Justamente. – Comecei a empilhar os pratos na pia. A água quente jorrava da torneira

e eu acrescentei algumas gotas de detergente.- Kari – ela repetiu, experimentando o som. – Nome legal.- Garota legal – eu falei, embora não soubesse se Kari era mesmo legal ou não. Pelomenos, foi essa a impressão que tive dela naquele baile. Ao contrário de certas pessoasque eu conhecia.Concentrei-me nos pratos, tentando não pensar em como Tashi estava bonita. Usava omesmo jeans do dia anterior, que delineava suas pernas bem torneadas com uma nitidezaflitiva, e uma camisa azul-clara que eu lhe emprestei. Não era uma roupa sensual nemnada, mas o simples fato de ela estar usando minha camisa me deixa inquieto.Raspei o ovo que deixei queimas acidentalmente na frigideira de ferro e afastei suaimagem da mente. Mas, no minuto seguinte, Tashi estava do meu lado.- Eu enxugo. – Quando ela se debruçou na minha frente para alcançar o pano de pratos,seu cabelo roçou em meu rosto. Ondas minúsculas de arrepio correram para cima e para

 baixo de meus braços e respirei bem fundo.- Obrigado – resmunguei, esfregando a frigideira com tanta força que nem sei como nãoabri um buraco nela.Trabalhamos num silêncio amistoso até que a campainha tocou.- Deve ser a Kari. – Fiquei decepcionado e aliviado de poder escapar de sua

 proximidade.- Vou terminar isto aqui enquanto você recebe a Kari – ela respondeu, assumindo meu

 posto na pia.

Quando abri a porta, Kari me pareceu tão simpática quando a lembrança que tinha dela.- Michael Hobart, presumo? – falou ela, igualzinho ao dia do baile.- Kari, cá estamos nós de novo. – Abri a porta por completo e fiz um gesto para queentrasse.Kari me seguiu até a sala, espiando a casa toda com interesse.- Quer dizer então que é aqui que você se refugiou depois da catástrofe com a Tashi.Fiz que sim com um gesto de cabeça.- Lar, doce lar. – Calei-me uns instantes. Aquela era a hora da confissão, mas sentiauma certa dificuldade em encontrar as palavras certas. Várias declarações imbecis me

 passaram pela cabeça. Ah, e por falar nisso, Tashi acha que está apaixonada por mim.Ou então: Kari, você está sabendo que eu disse para a Tashi que sou o namorado dela?

E havia também o: Desconfio que sou um tremendo de um canalha, mas a verdade éque...

Page 29: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 29/80

 Nada funcionou. Continuei ali enraizado no tapete, olhando com ar de bobo para Kari.Mexia a boca, mas as palavras não saíam.- Espero que não esteja mais zangado com o que houve naquela noite – disse Kari, meiodesajeitada, ao ver que eu não respondia. – A Tashi às vezes é, bom, meio impulsiva.- Falando na Tashi... – comecei, decidido a contar tudo o mais rápido possível.

Felizmente, ou infelizmente, Tashi escolheu esse exato segundo para me chamar dacozinha.- Michael, é ela?- Tashi! – Kari gritou, saindo feito um rojão para a cozinha.Corri atrás dela, rezando para conseguir evitar qualquer dano mais sério: Aqueles

 primeiros cinco minutos do encontro, considerando-se o cenário que eu havia criado,eram cruciais. No processo, dei um encontrão em Kari que, imobilizada, estava paradana porta da cozinha.- Você está lavando a louça? – perguntou incrédula, olhando fixamente para Tashi,mergulhada em água ensaboada até os cotovelos.Tashi lhe deu um sorriso muito tímido e se pôs a enxugar as mãos na calça.

- Você deve ser a Kari.- Uau, menina, você deve estar com uma amnésia e tanto. Eu sou sua melhor amiga. – Kari sacudia a cabeça lentamente, para frente e para trás. A qualquer momento euesperava que ela se pusesse a assobiar o tema musical de  Além da imaginação.Tashi riu.- É, acho que estou mesmo.Só então Kari largou a sacola de verniz cor-de-rosa que levava cheia de roupas.- Você não se lembra mesmo de nada? – E me lançou um olhar rápido. Deu para sacar que ela tinha adivinhado que eu não tinha contado nada a respeito do baile.- Nadinha. Mas sinto como se já conhecesse o Michael... Ainda que a gente só esteja

 junto há vinte e quatro horas, quer dizer, desde que eu bati a cabeça.- Que louco. Isso é muito louco. O William vai ter um treco quando vir você.- Quem? – Tashi perguntou, servindo-se de mais uma xícara de café e olhado curiosa

 para Kari.- O William? Ele é o seu...Tossi bem alto, interrompendo a conversa.- Ele é apenas um garoto que você conhece – falei, com voz entrecortada. – Nós vamosfalar de um monte de gente conhecida... Mais tarde.Kari arqueou as sobrancelhas e me olhou, intrigada. Meu coração batia com tanta forçaque tinha certeza de que as duas estavam ouvindo as pancadas furiosas.- É, certo, nós vamos lhe contar tudo sobre o William... Mais tarde – Kari repetiu

secamente.- Hum, Kari, posso dar uma palavrinha com você um instante? Lá na sala? – pergunteiansioso.Ela jogou a sacola de roupas para Tashi. Em seguida, saiu na minha frente da cozinha.- Posso saber o que está acontecendo aqui? – perguntou, instalando-se no sofá.Eu olhava para meus pés descalços, enquanto falava.- Bom, é que a Tashi parece estar achando que ela e eu somos mais próximos do querealmente somos. Mais do que apenas colegas e amigos.- Mais quanto? – Ela deu uma espreguiçada e pôs a mão na nuca.- Bem mais. – Agora eu olhava direto nos olhos de Kari, implorando-lhe, em silêncio,que não estragasse tudo.

- Ora, ora. Esta é, sem dúvida, uma situação muito peculiar. Deixe-me pensar a respeitouns momentos.

Page 30: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 30/80

Fechou os olhos e eu fiquei ali parado, ansioso, me perguntando se Kari estaria prestes ame atirar uma lista de dois quilômetros de insultos.- Sei que foi uma coisa horrível da minha parte, não ter dito a verdade para ela. E não aculpo se você passar a me odiar. No começo foi só de farra, mas depois...Kari estendeu a mão, como um sinal para que eu parasse de matraquear. Agradecido,

 parei.- Para ser totalmente sincera, nunca gostei do William. Não conheço você, mas tenho aimpressão de que deve ser um namorado muito melhor do que ele. Claro que a Tashi

 jamais iria concordar. – Kari ficou calada por alguns instantes. – Por outro lado, a Tashique eu conheço nunca iria lavar a louça.Soltei um suspiro de alívio. Kari não iria contar nada, não por enquanto, pelo menos.Embora uma parte de mim quisesse pôr tudo em pratos limpos o mais rápido possível,uma outra receava intensamente o olhar venenoso que os olhos de Tashi me lançariam.E era nessa parte que eu estava prestando mais atenção.- Tem mais uma coisinha – Kari continuou de olhos maliciosos.- O quê? – perguntei, com a sensação de que estava prestes a vender a alma. Mas meu

desespero era maior. Pouco me importava. Eu faria qualquer negócio.- Bom, é que em geral amigas muito íntimas gostam de sair com amigos também muitoíntimos. E seu melhor amigo, o Rocko, é exatamente o meu tipo.Dei um sorriso largo.- Negócio fechado. – Meu amigo, e eu tinha certeza absoluta disso, além de babar com asimples idéia de sair com uma garota como Kari, daria uma tremenda gargalhada aosaber da mentira que eu pregara em Tashi. A consciência dele nunca o incomodavatanto quanto a minha.- Mas em algum momento ela vai se lembrar de tudo – Kari falou. – E acho melhor agente se abrir com ela antes disso. Caso contrário vai ficar com raiva de nós dois.Concordava com isso. Nós lhe contaríamos a verdade... Quando ela estivesse pronta.Quando eu estivesse pronto, pensei cá comigo. Kari estendeu a mão e selamos a

 promessa. Para melhor ou pior, nosso destino, e o de Tashi, estava selado.

7- Tashi

-E ai, que roupa você quer experimentar primeiro? –Kari me perguntou, abrindo o zíper da sacola e tirando mil coisas de dentro dela.-Hum, não sei direito. Por que você não escolhe?Estávamos as duas em “meu” quarto na casa de Michael; Kari empoleirada na cama,cheia de minissaias e miniblusas no colo. Por mais que fosse minha admiração por seuinegável senso de estilo, não conseguia me imaginar dentro de nenhuma daquelas

roupas tão pequenas. Eu me sentia feliz de calça jeans.-E essa aqui? – Numa das mãos, ela segurava um shortinho vermelho minúsculo; naoutra, um top preto que mal cobria o essencial. Engoli em seco.-Será que você não tem alguma coisa com um pouco mais... De tecido?Kari riu.-Essa é, sem duvida alguma, a Tashi que eu conheço. Mas é que eu achava que talveznós pudéssemos aproveitar a oportunidade para explorar seu lado mais ousado. Peloviso, não vai ser desta vez.- Desculpe – murmurei um tanto desconcertada.Ela me estendeu um vestidinho branco justinho e um par de sandálias de solado

 plataforma.

-Experimente este aqui. Acredite este vestido é a peça de roupa mais conservadora queeu tenho. Foi por isso que eu trouxe. E você adora usar branco.

Page 31: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 31/80

-Adoro?- Ainda não estava acostumada com o fato de todo mundo a minha volta saber infinitamente mais a meu respeito do que eu, e essa afirmação tão simples de Kari medeixou sem graça. O que mais ela iria me dizer a meu respeito?- Adora. –Ela sorriu e eu relaxei. Esta é sua melhor amiga, lembrei a mim mesma.Sentindo-me um tanto recatada, virei de costas e tirei a calça e a camisa que Michael me

emprestara. Pus o vestido, alisando o tecido elástico sobre os quadris. Eu era algunscentímetros mais alta que Kari, de modo que o vestido ficou curto. Ao me curvar paraabotoar a sandália, tive certeza de que a calcinha estava aparecendo.

-Impressionante! – Kari falou, assobiando bem alto. –Alerta geral ao Brooklyn, aí vemMiss Pernas Pendleton.Caminhei até o espelho de corpo inteiro e me examinei nele. Eu estava bonita. O brancodo vestido era o complemento perfeito para minhas pernas escuras e longas e assandálias de salto alto realçavam meus tornozelos fininhos. Ajustei as mangas

 japonesas, satisfeita com a maneira como o decote baixo revelava o pouco busto que eutinha. Mesmo assim, o vestido era tão curto que estava achando que podia até ser 

multada por atentado ao pudor se saísse com ele.- Acho melhor ficar com a calça jeans mesmo – falei, suspirando. – Estou me sentindomuito exibida.Kari sacudiu a cabeça.- De jeito nenhum, menina! Seu novo namorado vai ter um ataque quando vir essaroupa. Vai por mi.-Novo? – perguntei, virando-me para ela. –Como assim, “novo”? O Michael e euestamos saindo ha meses. –Durante uns instantes, senti uma sensação estranha, feito umcomichão na nuca.-Claro lógico – Kari falou mais que depressa. – O que eu quis dizer é que, você sabedesde que você perdeu a memória, ele meio que virou seu novo namorado.Concordei e me voltei de novo para o espelho.-Certo você me convenceu. Vou usar o vestido. - Peguei a camisa que tinha acabado detirar e segurei-a de encontro ao rosto. O tecido macio tinha o mesmo cheiro de Michael,masculino e gostoso. – Mas vou usar a camisa do Michael por cima.Kari me deu um sorriso sabido.-Mas é claro, já que é do Michael.Atirei a camisa em cima dela, rindo muito.-Bico calado, Kari. Espere só para ver o que você vai fazer quando estiver apaixonada. – Depois calei-me. – Quero dizer... Você está apaixonada?Estava curtindo tanto a camaradagem que tinha nascido tão facilmente entre nós duas

que acabei me esquecendo de que não sabia coisa alguma sobre ela.- Não, continuo gloriosamente solteira. Mas tenho a leve impressão de que isso está prestes a mudar.Arqueei as sobrancelhas.-Só uma leve impressão?-Digamos que seja uma premonição. – Minha amiga soltou uma risadinha e depoiscomeçou a vasculhar a sacola de novo. – Fiquei tão inspirada com esse seu vestido quetambém vou trocar de roupa. Nós vamos virar a dupla dinâmica.Dupla dinâmica. A frase ficou ecoando em meu cérebro. Eu já não tinha ouvido issoantes? Eu podia jurar que... Mas de repente me veio e dei um tapa na minha testa.-Batman e Robin, sua burra – falei para meu próprio reflexo.

-O que? – Kari perguntou a voz abafada pela blusa que estava vestindo.-Nada. Achei que tinha me lembrado de algo. Mas estava errada. Não passou de um

Page 32: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 32/80

desejo, acho eu. – Tomei o lugar que Kari ocupara na cama e fiquei vendo enquanto elamontava um novo traje.Ao chegar à casa de Michael, Kari estava usando um shortinho de ciclista e uma blusa

 preta sem mangas amarrada na cintura, de umbigo e piercing à mostra. Agora, tinhavestido uma calça de boca larga e cintura baixa, uma miniblusa preta e um tênis de

solado plataforma. Ela estava incrível.- Nós somos yin e o yang. A combinação perfeita.Paramos as duas diante do espelho, admirando nosso reflexo.-É bom contar com uma grande amiga. Tenho sorte de ter você.- Eu também tenho sorte de ter você, Tashi. – Kari me deu um abraço rápido,tranqüilizador. – Maquiagem, você precisa botar alguma coisa no rosto.Hesitei. Só de olhar para o batom vermelho vivo dela e para a linha grossa de delineador em seus olhos, já podia imaginar com que cara ficaria depois que ela tivesse terminadode me maquiar.- Vamos lá, Tashi. Só um pouquinho de blush, um rímel e um brilho nos lábios. Nãovou fazer nada parecido com minha maquiagem, prometo.

- Só se você me contar alguma coisa do meu passado enquanto executa sua mágica –  barganhei.-Ei, pode ir perguntando. É para isto que estou aqui – respondeu ela, tirando da sacolauma bolsinha de maquiagem imitando pele de tigre.Sentei-me na beirada da cama, e, de repente, me senti insegura. Michael tinha mecontado algumas coisas, mas havia tanto o que saber! Minha vontade era que Karicomeçasse seu relato dizendo “você nasceu em...” e continuasse daí.- Você conhecia minha mãe?- perguntei por fim.Por alguns momentos, os olhos de Kari me pareceram tristonhos. Ela os fechou bemapertados, depois ficou varias vezes.- Conhecia, sim. Você e eu somos amigas já faz muito tempo, muito antes... Bom, fazum tempão. Agora, olhe para cima.- Como é que ela era? –Girei os olhos para o teto, para que Kari pudesse aplicar o rímelnos cílios de baixo.- A Lindsey era bonita, graciosa e totalmente apaixonada pelo seu pai. Ele nunca maisfoi o mesmo.-E meu pai é uma pessoa muito triste, agora? – De repente, fui invadida por uma ondade amor e simpatia por um homem de cujo rosto eu não tinha a menor lembrança.-Triste? Hum... -Kari parou uns instantes, examinando o bastão do rímel. – Bom, elemeio que enterrou toda sua dor no trabalho. Trabalha feito louco em prol dos direitoscivis. Já fez um monte de coisas incríveis. É advogado.

Eu espiava Kari abrir e fechar vários estojos de blush.-E ele está trabalhando no momento? É por isso que está fora da cidade?Minha amiga balançou a cabeça.- Isso mesmo. Está fazendo uma serie de palestras. Esse é um dos motivos de ele ter mandado você para o acampamento. Ou tentado mandar, pelo menos.-Eu estava indo para um acampamento? Quando? O Michael falou que nós estávamos

 planejando ir a uma festa juntos, ontem à noite.-Ah, bom, é. Logo. Daqui a alguns dias, acho. Você ia ficar comigo até que... Mas agoratudo mudou de figura, é melhor não se preocupar.- Conta mais – implorei. –Conta tudo que você sabe sobre meus pais minha visa.Durante os dez minutos seguintes, permaneci imóvel, enquanto Kari me maquiava e

fazia um monologo sobre minha família. Absorvi cada palavra, sedenta de informaçõessobre o passado. Por fim, ela recuou e me olhou.

Page 33: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 33/80

- Perfeito. De uma olhada.Levantei- me e fui até o espelho outra vez. Kari tinha feito um trabalho quase

 profissional em meu rosto. A maquiagem acentuava meus traços, mas as cores eram tãosutis que a fisionomia parecia absolutamente natural.Lá embaixo a campainha tocou.

- Você se parece um bocado com a sua mãe sabia? – Kari me disse. – Ei, você não temuma foto dos dois na carteira? Na verdade, acho que você tem varias.Franzi o cenho, lembrando-me de como tinha me sentido frustrada no dia anterior ao

 perceber que não havia carteira nenhuma dentro da bolsa. Segundo Michael, algumcretino devia ter se aproveitado de meu desmaio para roubá-la, e agora as palavras deKari confirmavam que havia, sim, uma carteira.- Alguém roubou minha carteira – falei com um suspiro.Kari não me pareceu surpresa.- Típico de Nova York. Ame-o ou roube-a. a escolha é sua.Ri, sentindo-me leve com a presença de Kari. Mas e se Michael não estivesse ali do meulado, eu sem nenhuma identificação, sem nenhuma memória? Estremeci ao me imaginar 

sozinha em algum pronto-socorro apinhado, toda encolhida de pavor.- Vou agradecer ao Michael para sempre – falei, toda tremula. –Se ele não estivessecomigo, eu seria mais um simples nome numa pasta qualquer, juntando poeira emalgum departamento de pessoas desaparecidas.Kari se jogou de novo na cama e enfiou um travesseiro sob a cabeça.-Essa coisa toda mudou mesmo você – falou ela, pensativa. É como se, perdendo amemória, você também tivesse perdido algumas camadas da personalidade.Era uma idéia profundamente perturbadora. Eu achava que minha personalidade, aomenos ela, continuasse intacta. Michael não tinha nada sobre eu estar diferente, maisKari me conhecia havia muito mais tempo. Se achava que eu tinha mudado, é porque eutinha mesmo.- Em que sentido? – perguntei quase temerosa de ouvir a resposta.Kari mordeu o lábio.- Depois que sua mãe morreu você meio que se retraiu toda. Era quase como se fosseTashi Pendleton contra o mundo. Enquanto seu pai trabalhava para melhorar asociedade, você fazia o possível para ficar fora dela.-Isso me parece tão frio- falei. Michael era uma pessoa tão calorosa e simpática, o que

 poderia tê-lo atraído numa garota com uma fortaleza erguida a sua volta?-Ás vezes, você era fria, mais tinha lá seus motivos... Só espero que quando se lembrar do passado, não tenha um troço e volte a se fechar, deixando todo mundo do lado defora sobretudo o Michael.

Lembrei-me de seu abraço e de como eu ensopara sua camiseta com minhas lagrimas.Deixá-lo de fora de meus pensamentos me parecia impossível. – Isso jamais vaiacontecer-falei, com confiança.-Espero que não. – Kari sorriu para mim, com um olhar perdido e sonhador.

***

Enquanto isso, Michael me olhava boquiaberto, segurando o fone no ar, como se tivesseesquecido de desligar o aparelho. Pensei ter visto um rubor escurecendo sua peleacetinada. O sangue me subiu as faces, mas agüentei bem o exame.- O que foi Michael? Nunca viu uma garota na vida? – Kari brincou, dando uma piscada

 para Rocko.Michael pareceu não ouvi-la.

Page 34: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 34/80

-Você esta linda, Tashi. – Seus olhos percorreram minhas pernas compridas até o torso.Por fim, o olhar parou em meus lábios. Percebi que queria me beijar, ali mesmo nacozinha e, nesse momento, desejei ardentemente que estivéssemos só nós dois. Ficamosnos olhando, comunicando- nos em silencio.- Isso é que eu chamo de uma bela tarde de domingo – Rocko anunciou com seu

vozeirão, desfazendo a magia e ao mesmo tempo tirando uma torta de limão dageladeira e enfiando um garfo no prato.Olhei para ele, gostando imediatamente do sorriso simpático e dos modos efusivos. Elee Kari dariam um belo casal, pensei. Talvez Michael e eu já estivéssemos tentando

 bancar o cupido para os dois, antes do meu tombo. Não podia me esquecer de lhe perguntar isso quando estivéssemos sozinhos.Michael estalou os dedos, pedindo atenção.- Caso vocês ainda não tenham adivinhado, o cara que está atacando a geladeira éRocko Lawrence. E a gente acaba gostando dele. Prometo a vocês.Rocko estendeu a Mao grande e forte para me cumprimentar.-Sinto muito pelo acidente que você sofreu Tashi. Mas sabe come é, há males que vem

 para bem.-Como assim? – Pela centésima vez, desde minha queda, tinha a impressão de estar ouvindo uma charada.Ele encolheu os ombros.-É que às vezes o azar tem um jeito próprio de virar do avesso, só isso.-Vocês duas ficaram lá em cima tanto tempo que eu estava começando a achar quetinham fugido pela janela - brincou Michael, dando uma olhada para Kari.-Tínhamos muita coisa para conversar... Com por exemplo, sobre você-Kari! – exclamei totalmente constrangida.- Acho que precisamos mesmo é voltar ao assunto em questão – Rocko interveio,virando para Michael. – Onde é que nós vamos levar essas senhoritas adoráveis? É horado almoço.-Qual é o restaurante mais legal do pedaço? – Kari perguntou.-O Jehanne’s Place - disse Rocko. – Mas é caro e eu estou com cinco dólares noMaximo no bolso.- Sem problemas. O almoço fica por minha conta. Ou melhor, dizendo, o almoço fica

 por conta do meu pai.Michael não parecia estar gostando da idéia.- Não sei, não, Kari. Não sou chegado em aceitar esmolas.-Quem falou de esmolas? Vocês vão ter que trabalhar por essa comida. Com um papoabsolutamente cativante e muitos elogios para nós duas.

- Para mim está ótimo – Rocko falou, entusiasmando. – Senhoras, sua carruagem,também conhecida por calçada, vos espera.Saímos em fila da casa e a tarde começou.

8- Michael

O Jehanne's Place ficava a uns dez quarteirões de casa e, a caminho do restaurante, fuitentando me conscientizar de que Tashi e eu não éramos namorados "de verdade".Assim que se lembrasse do passado, ela iria me odiar. Mas, andando pela calçada demãos dadas com ela, estava meio difícil chegar à conclusão de que para mim tanto fazia.

 Na verdade, estava dificílimo me convencer de que não iria saltar do topo de umedifício tão logo Tashi me dissesse que eu era um perfeito cretino. Talvez ela até se

encarregasse de me ajudar com um último empurrão.

Page 35: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 35/80

Kari e Rocko iam na frente e dava para ver que estavam se dando às mil maravilhas.Pelo visto, Tashi lera meus pensamentos. Aliás, já tinha reparado que ela possuía umaextraordinária capacidade de verbalizar exatamente o que me ia pela cabeça.- Eles fazem um belo casal, não fazem? O Rocko é bem o tipo de garoto de que a Karigosta. - Depois Tashi calou-se por alguns instantes, franzindo o cenho. - Pelo menos

acho que é. Mas na verdade não sei direito.Apertei minha mão em volta da sua.- O Rocko em geral não fica muito tempo com ninguém. Mas acho que a Kari podemudar isso. Ela é uma garota incrível.- E você?-Eu o quê?- Você também não fica muito tempo com ninguém?Apertei a mão dela de novo.- Que nada. Quer dizer, não ficava. Ate' conhecer você. Tashi levou nossas mãos até a

 boca. Desenlaçou os dedos da minha mão e levou-a até os lábios. Quando senti seu beijo macio, uma centelha de puro fogo percorreu todo meu corpo. Estava sufocando

e sabia que, se não desse um beijo em Tashi Pendleton nos próximos cinco segundos,explodiria. O fato de que nosso namoro era falso ficou totalmente esquecido com aqueleseu pequeno gesto de afeto.Parei, pondo minha mão firmemente em volta do braço dela. Tashi me olhou um tantoespantada quando a puxei com toda a ternura para mais perto de um dos carvalhosalinhados na calçada. Quando suas costas tocaram no tronco da árvore, pus um braço decada lado, quase como se a estivesse fechando dentro do espaço pequeno que haviaentre mim e o carvalho.- Michael - ela sussurrou, virando a cabeça para me olhar com os olhos semicerrados.Eu não conseguia falar. Mal conseguia me mexer. Durante um longo momento, não fizoutra coisa a não ser admirar aqueles lábios carnudos. Com as mãos agarradas ao troncoáspero, finalmente aproximei minha boca da dela.- Michael. - De novo, o nome era um sussurro. E um convite.

 Nossos lábios se uniram com a facilidade dos que já se beijaram um sem-número devezes. As curvas delicadas da boca de Tashi encaixaram-se na minha como se tivessemsido feitas com esse único e exclusivo propósito. Uma mistura de eletricidade e lavaderretida explodiu dentro de mim, arrepiando toda minha nuca.Tashi ergueu os braços e pôs as mãos em volta do meu pescoço, puxando-me para mais

 perto. Nosso beijo ficou mais intenso e foi como se o resto do mundo tivesse sedissolvido. Sem peso, inalei o aroma de sua pele e saboreei seus lábios. Paraíso. A

 palavra se formou em meu cérebro e de repente entendi o significado dela. Sim, beijar 

Tashi era o paraíso na Terra.- O que vocês dois estão fazendo aí atrás? - O som da voz de Kari me trouxe de volta àrealidade.- Ops - Tashi balbuciou. Abrindo os olhos, tirou os braços de meu pescoço. - Acho quenós nos esquecemos dos dois.Balancei a cabeça, ainda incapaz de formar uma frase completa.- Mas eles vão nos perdoar - continuou ela, pegando minha mão para quecontinuássemos a andar.Por fim, recobrei a voz.- Foi bom termos parado.- Concordo com você. Acho que não iria conseguir esperar muito mais tempo.

Page 36: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 36/80

Rimos os dois e, depois, saímos correndo para alcançar Kari e Rocko. Eles estavam umquarteirão adiante, sentados na escada da frente de uma casa. Ambos de olhos fechados,de cara para o sol claro e quente.- Desculpa aí, pessoal - falei quando estávamos mais perto. - A Tashi teve de dar uma

 paradinha para amar rar o sapato.

Rocko apontou para a sandália dela.- Mas nem de sapato ela e st á. - E girou os olhos. - Hobart, você é um mentir oso deterceira.

 Não me l embr e di s so, pensei. A felicidade esvaiu-se; e em seu lugar veio uma sensaçãoopressora de catástrofe.Kari ergueu-se de um salto.- Em frente, marche - gritou ela, pondo-se a andar. - Estou faminta!Enquanto caminhávamos, Tashi me lançou um sorriso cheio de conspiração. Aintimidade desse sorriso foi como uma punhalada direta no coração e, ao pegar na mãoque ela me estendia, odiei a mim mesmo.

O Jehanne's Place tinha a melhor comida do Oriente Médio de todo o Brooklyn. Ládentro, reinava uma penumbra sensual que oferecia um ver dadeiro refúgio do bar ulho eda agitação da cidade. Nós quatro nos sentamos numa mesa redonda, com toalha brancae velas acesas. Para mim, foi como se tivéssemos entrado num mundo de sonhos e, aos

 poucos, aquela atmosfera, com a música libanesa suave e exótica que tocava bem baixinho, conseguiu me acalmar.Enquanto o garçom ia pondo sobre a mesa os pratos que havíamos pedido,  falafel  ,

 sharmah, tabule, hummus , dei-me ao luxo de esquecer tudo que não fosse a refeição e acompanhia. O momento era de fantasia; no dia seguinte eu enfrentaria a realidade.- Queremos também a melhor água mineral e quatro taças de champanhe – Kari falou aogarçom, que fez uma pequena mesura e foi para a cozinha.Rocko se entregou com vontade ao festim, soltando ruídos de apreço enquanto comia.- Isso é que é estil o - falou, todo satisfeito. - Melhor que um Big Mac com fritas emqualquer hora do dia.- Eu detesto a comida do McDonald's - Tashi falou de repente. - Enf im, al  guma coisa deque me lembro. - Franziu o nariz só de lembrar de um Big Mac, depois deu uma garfadagraciosa no tabule.Kari riu.- A Tashi está mais para Zabar e Balducci - disse ela, referindo-se à rede de lojas deiguarias das zonas chiques de Manhattan.Percebi que por mais insignificante que o comentário feito sobre o McDonald's pudesse

 parecer, era muito importante. Tashi o bviamente estava sendo alcançada por seu passado; não demoraria muito tempo para que se lembrasse de que detestava oBrooklyn, lavar louça e um certo Michael Hobart. Afastei esse pensamento quando ogarçom apareceu com a água mineral.Kari encheu as taças, rindo enquanto a água borbulhava e se derramava pelas bordas.- Precisamos fazer um brinde - ordenou ela, erguendo a taça. - Michael?Todos olharam para mim, aparentemente à espera de que dissesse algo significativo.Senti-me quase tentado a dizer a verdade nua e cr ua ali mesmo. Mas estava todo mundotão feliz que eu não suportei a idéia de arruinar aquela atmosfera festiva. Em outras

 palavras, eu era um covarde.Para disfarçar, tossi para limpar a garganta.

- À Tashi - falei, erguendo meu copo. - E aos novos começos.

Page 37: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 37/80

Fizemos o tintim e Tashi ficou de olhos postos na toalha. Quando os ergueu e sorriu para todos nós, percebi que estavam cheios de lágr imas.- Eu queria agradecer a todos vocês, principalmente a Michael, por estarem mea judando a atravessar esta fase. Se algum dia um de vocês se sentir tão sozinho e

 perdido quanto eu me senti ao acordar na estação, espero poder estar do lado para ajudá-

lo. Segurar na sua mão... e fazer com que se lembre de quem realmente é.Quando acabou de falar , Tashi foi aplaudida por um coro de " bravos" e todos nós brindamos de novo. Senti a mão dela procurando a minha, por baixo da mesa. Roçamosos dedos de leve, depois voltamos a comer . Tínhamos tido mais um momento decompreensão silenciosa; momentos que estavam se acumulando. Uma idéia que, em setratando da possibilidade de um relacionamento entre Tashi e eu, fez nascer em mimalgo novo: esperança.Depois de termos pedido baklava de sobremesa e café libanês, Tashi e Kari deixaram amesa para ir ao toalete.- Elas provavelmente vão ficar lá uma hora - disse Rocko. - As garotas em geral ficam.Concordei distraído, riscando desenhos invisíveis na toalha com a colher de sobremesa.

- O que você acha que elas fazem lá dentro, falando nisso? - indagou meu amigo, meio pensativo. - Quer dizer, será que estão trocando segredos femininos? Ou falando mal dagente pelas costas? Vai ver é como uma sala de estar ... com sofá e televisão a cabo. -Depois calou-se, à espera de que eu respondesse.Ergui a vista espantado.- Desculpe, o que foi que você disse?- Cara, você está para lá de lá mesmo. Essa garota pegou fundo em você, hein?Agora Rocko tinha toda minha atenção.- É, pegou mesmo. É como se tivéssemos sido feitos um para o outro... só que nãofomos. - Larguei a colher e me pus a dobrar e desdobrar o guardanapo de linho.- Quando me contou desse esquema maluco, achei que você tivesse pirado. Mas agora,

 já não sei direito. Quem sabe no fim dá tudo certo.- Como é que pode dar certo? - perguntei, meio desesperado. - Assim que ela recuperar a memória, vai me odiar e eu vou ficar um bagaço. Ponto final.- Dê tempo ao tempo, meu caro. O amor faz coisas muito loucas com as pessoas. Já viacontecer.- E você e a Kari? Acha que vai dar para largar a galinhagem por uma garota como ela?- É como eu falei, o amor faz coisas muito loucas com as pessoas. - Rocko recostou-sena cadeira e deu um tapinha no estômago. - Essa filosofia toda está me deixando comfome de novo. - Algumas coisas não mudam nunca - comentei, rindo.

 E certas pes soa s também não mudam nunca , uma vozinha insistente falou em minha

cabeça. Como menina s ricas e e snobe s que acham que quem nasceu no Brookl  yn sofr ed e al  g uma doença crônica. Garotas como Tashi.

Quando entramos em casa, estava receoso de que fôssemos encontrar o pai dela,William e quem sabe até um advogado à nossa espera, todos enraivecidos e indignados.Mas tia Rose estava sozinha sentada à mesa da cozinha, escrevendo uma carta. Quandoentramos, ela tirou os óculos de leitura e nos deu um sorriso.- Oi, tia Rose - falei, dando-lhe um beijo no rosto.- Olá, vocês dois. E como foi o almoço chique?Eu havia deixado um bilhete para ela, explicando-lhe que tínhamos ido almoçar noJehanne's Place.

- Uma maravilha - Tashi respondeu. - Mas não tão bom quanto as famosas panquecassuecas do Michael.

Page 38: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 38/80

- E você, o que anda fazendo, tia Rose?- Escrevendo umas cartas, pedindo doações para a festa beneficente do Saint Ann -respondeu ela, esfregando os olhos. - Mas estou com a vista doendo e um pouco decãibra de tanto escrever .- Quer dizer que está tudo calmo por aqui. - Claro que ela teria dito alguma coisa, caso

tivesse recebido um telefonema do senhor Pendleton.Tia Rose fez que sim.- Quase tudo. Mas o serviço de atendimento telefônico do pai da Tashi ligou. Disseramque não conseguiram localizá-lo em Nebraska por pouco, mas que vão atrás dele na

 próxima parada.Meu coração voltou a bater . Mais uma prorrogação.- Ótimo. Quer dizer, é ótimo que estejam tentando encontrá-lo.- De modo que ao que tudo indica você vai ter de nos agüentar mais um pouco - dissetia Rose para Tashi.Tashi se balançava para cima e para baixo, na ponta dos pés, com um jeito meiodesconf ortável.

- Na verdade, eu queria falar com vocês dois a respeito disso. A Kari disse que eu possof icar na casa dela, se estiver dando muito trabalho aqui.Senti qualquer coisa parecida com um caco de vidro entalado na gar ganta.- Você quer ir para a casa da Kari? - Não consegui evitar uma certa rispidez na voz.Ela sacudiu a ca beça.- Eu prefiro f icar aqui. Sua casa parece a minha casa. – Depois calou-se, examinando ochão da cozinha. - Mas não quero abusar da hospitalidade.- Não seja boba - f alou tia Rose. - Eu adoro ter uma outra mulher por  perto. Assim, agente pode pegar melhor no pé do Michael.Eu não tinha percebido que prendera a respiração até soltá-la outra vez.- Então estamos combinados. Nosso lar é o seu. - E fiz um gesto largo abarcando toda anossa confortável mas um tanto velha cozinha. - Em toda sua glór ia.Tashi me deu um sorriso e depois sentou-se ao lado de tia Rose, pegando uma caneta.- E então, o que é essa f esta beneficente do Saint Ann e para quem estamos escrevendo?- perguntou.Acho que foi nesse momento que me senti profunda e irremediavelmente apaixonado

 por Tashi Pendleton. Filha de milionário, esno be reformada e anjo: para mim, ela eraisso tudo.

- Vire um pouquinho para a esquerda - eu disse. Tashi mudou de posição e eu bati afoto.

Estávamos no par que per to de casa. Era um par que pequeno, com uma lagoa, uma cercade madeira e um velho balanço. E todas essas coisas davam o pano de fundo perfeito para as f otos em preto-e- branco que eu estava f azendo.Tashi e eu tínhamos passado a tarde a judando tia Rose com as cartas. Haveria um

 piquenique para angariar fundos no fim de semana do fer iado de 4 de julho e, como dehábito, o Or fanato Saint Ann estava com falta de voluntários. Tashi fizera tantas

 perguntas sobre a instituição que, no fim, tia R ose riu e disse que ela ter ia de ser indicada par a o conselho administrativo.Depois de jantarmos os restinhos do ta bule e do hummu s que havíamos trazido dorestaurante, Tashi vestiu de novo a calça jeans e a camisa velha que eu tinhaempr estado. E lá estava ela, encostada à cerca, com os cabelos balançando sob a brisa

suave.- Você é a modelo ideal- falei, ajustando o foco da lente.

Page 39: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 39/80

- Com estas roupas? Eu devo estar um horr or . E meu cabelo está par ecendo um ninho deesquilos. - Cur vando-se, apanhou um dente-de-leão.- Você está natural. E bonita.Ela franziu os lá bios e sopr ou as penugens da f lor, que se espalharam jogando assementes ao chão. Bati a foto, com os dedos em fogo. Ela riu de repente e tir ei mais

uma. E outra.- Michael! - gritou Tashi. - Você está gastando o filme todo comigo.Sacudi a cabeça.- Não br inque! Isto aqui vai dar um grande ensaio fotográfico. Vou chamá-lo de"Mulher sem passado".O sol ia afundando devagar no céu alaranjado, uma bola avermelhada sobre a silhuetadistante dos arranha-céus de Manhattan. Sob a luz que mudava rapidamente, a justei denovo o diafragma.- Você é doido - disse Tashi, me obser vando.Afastei a máquina do olho.- Você se importa?

- Não - ela me res pondeu com suavidade. - Mas acho que tenho um título melhor paraseu ensaio fotográfico.- Qual? - Ela me olhou fixamente, andando na minha direção, e eu enfoquei melhor minha velha Nikon.- Mulher que quer ser bei jada.Pelas lentes da máquina, par ecia que Tashi estava literalmente entrando em minha vida.Bati a foto, depois baixei a Nikon.- Gostei.Depois, coloquei meus braços em volta da minha modelo e, sob as sombr as doentardecer , trocamos um bei jo. Foi, como diriam alguns, um momento emocionante.

9- Tashi

- Acorde, dorminhoca.Abri os olhos. Ond e é que eu e stou? Durante alguns momentos, pensei que estava numoutro planeta. Onde tinham ido parar minha cama de dossel, meu relógio digital?Só então vi Michael. Ele tinha aberto a porta do quarto apenas o suficiente para enfiar acabeça, mas foi o bastante para eu me lem brar com uma nitidez es pantosa de meusúltimos dois dias de vida. Estava no Brooklyn. Com Michael. Sorri.- Bom dia. - De repente, me senti um pouco constrangida. As duas alcinhas da frágilcamisola que Rose me emprestara tinham escorregado dos ombros. Puxei os lençóis atéo queixo, assaltada por uma grande timidez.

-Dormiu bem?- É... dormi. Mas acho que estou tendo aqueles lampejos infames do passado. Quandoabri os olhos, agora há pouco, tive certeza absoluta de que devia estar numa cama dedossel.- Hum. Bom, acho que isso vai acontecer cada vez mais, daqui para a frente.- E eu tenho esse tipo de cama no meu apar tamento em Manhattan? - Achava que,obtendo algumas informações, aca baria me lembrando com mais facilidade de outrosdetalhes. Minha cabeça parecia pronta para isso.- Acho que sim. - Michael encostou-se no batente da por ta, franzindo os olhos, como seestivesse tentando visualizar o quarto.- Quer dizer que você não conhece o meu quarto? – Fiquei meio fr ustrada.

Michael parecia sem jeito.- Puxa, Tashi, até parece que eu tenho a chance de passar um tempão no seu quarto.

Page 40: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 40/80

Senti o sangue subir ao rosto. Claro!- Certo, certo - eu disse mais que depressa. - Vou ligar para a Kari daqui a pouco e

 perguntar a ela.- Bem pensado. Mas agora acho melhor se levantar. Se quer ir trabalhar comigo, ternosque estar na rua em trinta minutos.

Durante a semana, Michael trabalhava no laboratório de revelação fotográfica do senhor Branin. O salário não era urna maravilha, segundo ele, mas o patrão o deixava usar acâmara escura quando não havia serviço.Bati continência.- Certo, senhor capitão. Se fechar essa porta, eu me apronto em quinze segundos.Ele riu e fechou a porta com suavidade.- Michael! - eu gritei e ele botou a cabeça de novo dentro do quarto.- Sim?- Posso usar calça jeans?Ele soltou urna risadinha zombeteira.- Nós não estamos indo para a Saks da Quinta Avenida. Pode usar o que quiser .

Encolhi os ombros.- Só queria saber . - Na minha cabeça, as pessoas iam para o trabalho de terno e gravata,não de jeans e camiseta. Por outro lado, que sabia eu a respeito de trabalho?- Vai entender o que eu quis dizer com "o que quiser " quando vir o senhor Branin.O trinco da porta estalou e pulei da cama. Kari tinha me deixado algumas de suasroupas mais conservadoras (mais algumas peças íntimas) e eu queria fazer minhaseleção com todo o cuidado.- O que é que urna pessoa usa na primeira segunda-feira de sua nova vida? - pergunteiao ursinho de pelúcia ao lado do travesseiro. Ele me olhou sem a menor expressão.- Já sei, já sei - respondi a mim mesma. - O que quiser .A loja do senhor Branin era pequena mas limpa. Urna sineta soou na hora em queMichael empurrou a porta, que ainda ostentava o aviso de FECHADO.- Bom dia, chefe. Esta aqui é a Tashi.Um homem muito velho estava sentado atrás do balcão, com o rosto castigado pelotempo e a pele vincada de rugas. Por cima dos olhos castanhos ainda vivíssimos , assobrancelhas eram brancas e grossas, combinando com a cor dos cabelos aindasurpreendentemente abundantes. O senhor Branin levantou-se e veio até nós, apoiando

 boa parte do peso numa bengala esculpida com desenhos intrincados.- Muito prazer em conhecê-la, Tashi. - Dito isso, pegou minha mão e beijou-a, do jeitocorno os homens fazem nos filmes antigos.Agora que estava de pé, entendi o que Michael tinha dito sobre eu poder usar o "que

quisesse". O senhor Branin vestia urna camisa havaiana nas cores vermelho, roxo eazul, calça de golfe amarela e botas surradas de caubói. Falando nisso, eu havia optado por um traje mais adequado: calça jeans, urna blusa branca quase formal e ummocassim preto.- Prazer em conhecê-lo, senhor Branin - respondi, reprimindo a vontade de rir . -Obrigada por me deixar fazer companhia ao Michael, hoje.Michael explicou minha situação ao patrão, que concordou em me deixar ficar na loja odia todo, contanto que eu fizesse minha parte do trabalho.O velho abanou a mão.- Não é todo dia que posso ter a filhinha de Lincoln Pendleton na minha loja. Sinto-mehonrado.

Vi ondas de choque no rosto de Michael.- O senhor conhece o pai dela? Eu não sabia.

Page 41: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 41/80

- De onde o senhor o conhece? - perguntei, de repente toda emocionada. Ali, no maisinesperado dos lugares, eu encontrara mais um elo com meu passado.O senhor Branin estendeu a mão para a porta, virou a tabuleta para indicar que a lo jaestava aberta, depois manquitolou até seu banquinho, atrás do balcão.- Bom, vejamos - disse ele, afagando as suíças grisalhas que lhe cobr iam o rosto. - Seu

 pai cresceu aqui no Brook lyn. E eu acompanhei a carreira dele desde que se formou nocolegial. É um bom homem.A decepção me tomou inteir a. Até onde eu sabia, meu pai e eu estávamoscompletamente sozinhos no mundo e o paradeiro dele era desconhecido de todos. Até omomento, mal parecia ser uma pessoa real. Não era de estranhar que minha mentetivesse optado por bloquear a memória; obviamente havia muita dor soterrada em meu

 passado. Mas ao menos as informações do senhor Branin explicavam o motivo de mesentir tão confor tável ali no Brook lyn. Apesar da amnésia, decerto havia uma afinidadenatural entre mim e os antecedentes da família.- Obrigada por me contar isso tudo, senhor Branin. – Engoli em seco, sem vontade queele percebesse as lágrimas em minha voz. - Sinto como se tivesse uma história, agora.

Alguma coisa por onde começar .O velho senhor assentiu de cabeça, pensativo, esfregando a mão no cabo recurvo da

 bengala.- Todo mundo deveria conhecer sua própria história. – De repente, ele ficou muito sério.- Esquecer o passado é muito perigoso. Leva a gente a cometer asneiras.A sineta da porta soou outra vez, encerrando nossa conversa. Uma moça entrou comdois rolos de f ilme na mão.- Em quanto tempo o senhor revela isso para mim? –  perguntou ao senhor Branin.- Volte na hora do almoço. - Ele pegou os filmes e, em seguida, virou-se para Michael. -Já batemos muito papo por hoje. É hora de trabalhar .Michael assentiu e depois gesticulou para que eu o seguisse ate os f undos da loja.Enquanto entrávamos na escur idão fresquinha do laboratório de revelação, ouvi osenhor Branin dando risada com a moça que entr ara.- Ele é uma f igura, não é mesmo? - Michael perguntou, andando em volta, ligandomáquinas e despejando emulsões químicas em bacias grandes de plástico.Acomodei-me num banquinho num canto, receosa de quebrar qualquer coisa em quetocasse.- É, ele é meio excêntrico. Mas gostei dele.- Eu também gosto. Foi ele quem me ensinou praticamente tudo que sei sobre máquinasfotográficas e revelação.- Quer dizer que é sério mesmo essa história de querer ser fotógrafo? - Uma vez mais, lá

estava eu, fazendo perguntas sobre coisas que nós provavelmente já tínhamosconversado centenas de vezes. Deve ser uma chatice e tanto para el e , pensei.Michael passou a mão pela beirada de um revelador de fotos com jeitão de peça deantiquário, ao lado de um outr o equipamento mais novo e eficiente.- Você vai ter de dar uma olhada em algumas fotos antes de tirar conclusões.Havia um quê de sonhador em seu olhar que me deixou quase com ciúmes. Será queficava com os olhos assim tão suaves quando pensava em mim?- Confio em você. Não preciso ver as fotos para saber que você vai conseguir .Michael aproximou-se de onde eu estava sentada, me olhando com intensidade.Estendeu a mão e passou de leve o indicador por meu r osto, da têmpora até o queixo.Estremeci, esquecendo-me de que do lado de fora de nossa caver na oculta vigorava o

agito de uma segunda-feira de manhã.- O brigado, Tashi - sussurrou ele. - Isso significa muito para mim.

Page 42: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 42/80

Bem na hora em que se curvou para me bei jar, o senhor Branin enfiou a cabeça na por ta.- Bom, bom, bom! Será que vocês dois vão ficar de namorico aqui o dia todo ou seráque a senhorita Pendleton vai fazer algo de útil?Michael riu, afastando-se de mim.

- Acho melhor darmos ouvido ao patrão. É ele que assina os cheques.Escorreguei da banqueta.- Estou às suas ordens, senhor - falei, dando uma piscada para Michael.- Ótimo. Pode começar varrendo a calçada da frente. - E, dizendo isso, o senhor Braninme entregou a vassoura e fechou firmemente a porta do laboratório.Saí para a manhã clara de junho empunhando aquele objeto para mim totalmenteestranho, a vassoura. Pela primeira vez na vida, estava trabalhando. E era bom.

Até o meio-dia, a novidade de varrer, lavar vidraças e preencher recibos já se desfizera.Eu estava suada, com fome e cansada de ver o senhor Branin sentado atrás do balcão.Sua única ocupação parecia ser a de bater papo com os clientes e garantir a todos eles

que Michael poderia revelar seus filmes para quando precisassem. Mesmo assim, devoreconhecer que até mesmo o mais enfezado deles saía sorrindo da loja.- Hora de parar para o almoço - anunciou ele, depois que a moça que tinha deixado ofilme para revelação saiu da loja levando suas fotos.Eu estava ajoelhada no chão, reorganizando as prateleiras de álbuns de fotografia.Ergui-me, massageando as costas doloridas. Michael saiu do quartinho dos fundos.- Será que ouvi a palavra almoço?O senhor Branin assentiu de cabeça, virando a tabuleta da porta.- Exato. Estejam de volta à uma em ponto.Michael pegou um grande saco de papel pardo da geladeira atrás do balcão e saímostodos. Esperamos até o senhor Branin trancar a porta e depois ficamos observando seulento progresso pela calçada.- Ele simplesmente fecha a loja na hora do almoço? – perguntei incrédula.- É. Todos os clientes sabem que ele não abre do meio-dia à uma. Aqui é assim.Lembrei-me de Manhattan, onde milhares de pessoas almoçavam acorrentadas a suasmesas, sem sair do escritório até o sol baixar . Tive uma visão repentina de meu paientrando em casa, de pasta na mão. Meu coração disparou.- Michael! Acho que tive uma lembrança! - E me pus a pular, usando os ombros delecomo apoio.- Sério mesmo? - Michael parecia um tanto perturbado.- S ério. Vi meu pai. Papai! - Parei, lembrando-me da fisionomia cansada de meu pai na

visão. - Embora ele não estivesse com uma cara muito feliz.- Talvez não tenha sido uma verdadeira lembrança. Sabe como é, toda essa conversa dosenhor Branin sobre seu pai pode ter levado sua imaginação a fazer hora extra.Olhei-o direto no olhos.- O que está tentando me dizer? Acha que estou inventando coisas? Pois se estou lhedizendo que vi meu pai. Fim de papo.- Está bem, está bem. Não quis aborrecer você. - E estendeu-me a mão.Fiz beicinho, mas deixei que entrelaçasse seus dedos nos meus.Atravessamos um quarteirão em silêncio. Quando Michael falou de novo, a voz tinhaum tom de desculpas.- Eu não estava duvidando de você, Tashi. E só que, se seu pai não parecia muito feliz

na sua lembrança, então talvez fosse melhor se...Sacudi a cabeça com firmeza.

Page 43: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 43/80

- O passado não pode ser reinventado em causa própria, Michael. Em algum momento,vou ter de lidar com ele, encontre o que encontrar lá atrás.- Você tem razão, Tashi. Claro que tem razão.- Assim está bem melhor - falei, tentando parecer descuidada e leve. - E então, o quetemos neste misterioso saco pardo?

Ele me levou até um banco, sob a sombra de uma árvore imensa.- Um almoço tremendo, feito por mim.Sentei-me a seu lado e espiei no saco de papel.- E eu posso ficar com a metade? - perguntei brincando.- Acho que podemos chegar a um acordo. Digamos que seja um beijo para mim, duas

 batatinhas fritas para você. Ou dois beijos para mim, metade de um sanduíche paravocê.Agarrei o embrulho.- A comida primeiro. Depois a gente negocia.A tensão se dissolvera por completo. Michael e eu estávamos em sincronia de novo,como sempre estivéramos.

A tarde foi tranqüila. Apareceram alguns clientes querendo revelar suas fotos e eu vendium álbum, mas na maior parte do tempo a loja ficou vazia. O senhor Branin cochilava eacordava, oscilando para a frente e para trás na banqueta. Toda vez que acordavasobressaltado, arranjava alguma nova tarefa para mim. Percebi que não queria que eureparasse em seus cochilos, de modo que fiquei de bico calado e fiz o que me mandou.Por volta das quatro horas, ele bocejou bem alto.- Parece que estou meio cansado, hoje. Acho que ainda não me acostumei com o calor do verão.Borrifei um pouco de limpador no tampo de vidro do balcão.- Eu sei como é isso, senhor Branin. É sempre assim em junho, na cidade.Ele concordou com um gesto.- Vamos fechar mais cedo. Vou pôr um cartaz na porta dizendo FUI PESCAR. - E riu. -Meus clientes regulares vão adorar.Guardei o pano de pó, o limpador e a vassoura, sem me dar ao trabalho de esconder asatisfação.- Vou falar com o Michael.Fiz menção de ir até o laboratório nos fundos, mas o senhor Branin me impediu .- Espere um pouquinho, Tashi.- Pois não. - A voz dele saíra meio brusca e na mesma hora, comecei a me perguntar se

 por acaso eu teria violado alguma etiqueta de trabalho. Talvez tivesse reparado numas

manchinhas no vidro...Ele abriu o caixa e tirou de lá de dentro duas notas novinhas de vinte dólares. Quandofiz um ar meio confuso, ele riu.- Por acaso achou que eu ia fazê-la trabalhar de graça? - perguntou, remexendo assobrancelhas.Eu tinha achado que estava trabalhando de graça, mas óbvio que não iria dizer isso paraele.- Claro que não - falei com toda a fleuma do mundo. – É que estava esperando mais, sóisso.O senhor Branin ainda estava dando risada de mim quando Michael saiu do laboratório.- Qual é a graça?

O senhor Branin me deu um tapinha nas costas.

Page 44: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 44/80

- Esta mocinha é muito especial mesmo, Michael. Cuidado para não perdê-la e veja senão sai por aí agindo como um adolescente idiota.Eu me derreti toda com o elogio, mas Michael fez um ar estranhamente compenetrado.- Vou tentar, senhor Branin.- Agora caiam fora daqui, vocês dois. - Ele riu, satisfeito. - Saiam e divirtam-se, do jeito

como todo jovem deveria se divertir. Eu mesmo fecho a loja. Não precisamos ser mandados uma segunda vez. Michael e eu saímos da loja de mãosdadas, rindo muito. Enquanto caminhávamos de volta para a casa dele, cumprimentei-me mentalmente. Nas últimas sete horas, ganhara o respeito do senhor Branin, passaraum bom tempo com Michael, tivera um lampejo genuíno de lembrança e ganharaquarenta dólares. Nada mal para uma segunda-feira ensolarada de junho.

10- Michael

Tia Rose estava tomando um copo de chá gelado, sentada na frente de casa, quandoTashi e eu chegamos.- Alguma notícia do meu pai? - Tashi gritou quando a viu.

Ela sacudiu a cabeça.- Só mais uma ligação do serviço de atendimento automático. Aparentemente houvealgum mal-entendido quanto ao itinerário.Eles achavam que seu pai estava em Kansas, quando na verdade ele estava em Iowa.Mas agora parece que conseguiram entrar num acordo. Muito provavelmente teremosnotícias amanhã.Tashi parecia meio decepcionada. Depois de ter se lembrado do rosto do pai, na hora doalmoço, devia estar achando que seria muito mais fácil se lembrar de tudo se passasseuns tempos com ele. Eu queria que ela se recuperasse, mas confesso que senti um certoalívio.- Por acaso tem mais chá gelado lá dentro? - perguntei, ansioso por mudar o rumo daconversa.Tia Rose arqueou uma sobrancelha para mim. Desde sábado eu vinha recebendo essesolhares de reprovação e não havia a menor dúvida de que, a seu ver, eu já devia ter contado toda a verdade a Tashi.- Um jarro inteiro. Ah, e a Kari ligou para você, Tashi.O rosto de Tashi iluminou-se.- Tudo bem se eu usar o telefone?- Fique à vontade e na volta, por que não traz a jarra de chá e mais copos?- Claro. – Tashi subiu correndo os degraus e desapareceu dentro de casa.Louco para escapar ao olhar de censura da minha tia, curvei-me para amarrar os

cadarços do tênis.- Você deve estar me achando um tremendo imbecil - resmunguei.- Eu não usaria esse termo, mas...Sentei-me a seu lado, apoiando a cabeça nas mãos.- Eu já ferrei tudo mesmo.- Sua brincadeirinha acabou não saindo conforme o planejado, não é mesmo? - tia Roseapertou meu ombro, num gesto de simpatia, e me senti ainda pior .- Você também é mulher, tia Rose...Ela riu.- Obrigada por reparar .- O que acha que devo fazer? Sinceramente!

Tia Rose tomou um grande gole de chá, pensando em minha pergunta.

Page 45: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 45/80

- Se você pretende manter algo vagamente parecido com um relacionamento com aTashi... e me parece que sim, certo?Balancei a cabeça para cima e para baixo, numa infelicidade enorme, sabendoexatamente o que tia Rose diria em seguida.- Você tem de contar toda a verdade para ela. Antes que se lembre de que você é o rapaz

que a deixou tão furiosa que ela acabou jogando ponche na sua cabeça.- Mas ela vai me odiar! - Apanhei um pedregulho e atirei na rua, prestando atenção aoruído quase imperceptível que fez ao bater no asfalto.- Vai odiá-lo ainda mais se descobrir a verdade sozinha. Pelo menos assim você tem achance de contar as coisas com suas próprias palavras, de se explicar ... e de implorar 

 perdão.- Vou dizer a ela - falei, resignado com o pavoroso destino que eu mesmo havia criado

 para mim. - Mas tenho de escolher o momento certo...Calei-me, pensativo. Imaginando Tashi em seus momentos mais ternos, ainda podiaenxergar um vislumbre de chance, se bem que minúscula; se eu a pegasse num bommomento, numa hora em que estivesse se sentindo especialmente generosa a meu

r es peito, talvez fosse possível me safar da situação relativamente ileso.De repente, levantei-me da escada de um salto, todo ins pirado.- Nós não vamos jantar em casa hoje, tia Rose.Minha tia franziu a vista.- E onde é que vocês vão jantar ?- Em Manhattan - falei já da soleira da porta. - Vou proporcionar uma noite par a ela daqual jamais poder á se esquecer .

- A K ar i quer falar com você - Tashi me disse, assim que entrei na cozinha. - Eu estavaindo chamá-lo.- Tudo bem. - Peguei o f one e depois segur ei na mão dela. - Ei, você está a fim de fazer um progr ama especial hoje à noite?Tashi sorriu para mim.- Claro, acho ótimo. O que devo vestir ?- Tudo menos jeans - r espondi.- Segui-a com os olhos, quando saiu da cozinha. N ão que você não fique demai s numacal ça jean s, acr escentei com meus botões. Depois, me lembrei que a Kari estavaesperando do outro lado da linha.- Oi, K ari.- Michael. - A voz estava pragmática, o que aumentou meu ner vosismo.- Aconteceu alguma coisa? - perguntei, com o coração aos saltos e torcendo o fio do

telefone em volta do indicador.- O WilIiam está uma fera.- Está, é?- Está. Ele me ligou hoje. Inventei uma história, dizendo que a Tashi acabou indo viajar com o pai, mas ele não acr editou numa palavra do que eu disse.Torci o fio do telefone ainda mais apertado em volta do dedo.- Obrigado por me dar cobertura, K ari. Ou pelo menos tentar.- Michael, você vai ter de dizer a verdade para ela. E logo.- O que o William está fazendo? Quer dizer, ele está fazendo alguma coisa paraencontr á-la?- E eu sei? - K ar i ber r ou do outro lado, - O cara está acostumado a ter tudo que quer, na

hora que quer . Ele é um idiota, mas é es per to.

Page 46: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 46/80

- Você acha que existe uma possibilidade ainda que mínima de que a Tashi me dê umasegunda chance?Kari per maneceu alguns momentos em silêncio.- Se nós estivéssemos falando da antiga Tashi, eu diria que você teria muita sorte de nãoaca bar pr eso...

- Mas? - Contive a res piração, implorando em silêncio par a que me desse es perança.- Mas a nova Tashi é uma pessoa totalmente diferente. Olha só, ela quis ficar aí noBrooklyn, e não vai nisso nenhuma ofensa, em vez de vir f icar comigo em Manhattan.- Isso é um bom sinal- f alei cauteloso.- Ver dade. Mas, quando recu per ar a memór ia, quem é que sa be qual Tashi ela vai ser ?As chances são igualzinhas, tanto para uma quanto par a outr a.Kari tinha r azão. Não havia meios de sa ber se Tashi voltar ia ou não a ser a mesmaesnobe de sempr e assim que se lembrasse de que era uma garota rica e mimada. Mesmosem mudança nenhuma de per sonalidade, mesmo que continuasse igual, talvez nuncamais quisesse ver minha car a. Mas eu tinha de apostar . Sim plesmente porque não haviaoutra opção.

- Vou contar tudo hoje à noite. - O fio do telefone de r epente se soltou, deixando mar casfundas no meu dedo.- Ótimo - f alou Kari, suspir ando. - E ve ja se me põe de vítima nesse seu joguinho. Nãoquero que ela me odeie também.- Vou f azer o que for possível, Kari, prometo.- Mas conte mesmo. Não dê para tr ás. – E com isso, desligou.Subi a escada par a tomar banho. E me prepar ar par a encontrar os f antasmas do passadode Tashi.

- Nossa, está uma delícia. - Tashi já estava no segundo cachorr o-quente. Na última hor a, fiquei sabendo que Tashi ador ava o cachor ro-quente do Centr al Park (só com mostarda), acompanhado de r ef riger ante, que ela tomava em grandes goles.- Ainda não estou acreditando que você tenha escolhido comer cachorro-quente nanossa gr ande noite na cidade.Ela encolheu os ombros.- Por que escolher algum lugar onde a gente ia ter de lidar com gar çons pretensiosos quedetestam adolescentes? Sem f alar no preço.Eu concordava inteiramente, sobretudo no que se referia ao aspecto financeiro da coisa,e me senti de novo tomado por aquele calor agora já bem familiar que me invadia todavez que Tashi e eu compartilhávamos a mesma opinião.

- Bom, mas você e stá linda o suficiente par a ir ao lugar mais chique da cidade. Ninguém nem piscaria para servi-la.Tashi estava de minissaia pr eta, blusa branca de seda e sandálias de salto. Na hora emque a vi na escada, tive a impressão de que meu coração ir ia saltar pela boca.- Assim é a vida, mestre Ho bar t. - E jogou o invólucro do cachorro-quente na lata delixo mais próxima, par a de pois terminar seu r ef riger ante.

 Nesse final de tar de de verão, o par que ainda estava cheio o suficiente para continuar sendo seguro. Tashi e eu nos sentamos na grama, per to do carrinho de cachorro-quente.De segundo em segundo passava alguém andando de skate ou de bicicleta por nós. Euestava sentindo uma satisfação intensa ali deitado, espiando o céu de Manhattan. Fecheios olhos, desejando ar dentemente que pudéssemos f icar presos nesse momento para

sempre.

Page 47: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 47/80

- Estar aqui no parque está fazendo coisas estranhas com a minha memória - Tashicomentou. Deitada de lado, a poiou-se num dos cotovelos. Quando abri os olhos, ela meolhava f ixamente.De um modo abrupto, cruel, o momento se fora.- É mesmo? O quê, por exemplo?

- É difícil explicar ... Sinto que já estive aqui antes, mas com alguém diferente...- Quem? - Eu não queria pressioná-la, mas era preciso.- Não sei...- Bom, então pense um pouco mais. - De novo mal podia acreditar que er a eu mesmoque estava lhe pedindo isso.Ela a banou a ca beça, de testa franzida.- Vamos esquecer isso, Michael. Esqueça o que eu disse.Sentei-me outra vez, consciente de que fora por um triz. Meu tempo estava seesgotando. Era preciso agir.- Pr e parada para o acontecimento princi pal? –  perguntei de repente, sentindo-me zonzocom a mistura de ex pectativa e pavor .

- Eu estaria se você me dissesse o que foi que planejou nessa sua mister iosa cabeça.Beijei-a de leve na testa, agradecendo aos poderes supr emos pelo desaparecimento domomento sombr io.- Você vai sa ber já, já. - Levantei-me e estendi-lhe a mão.Tashi per mitiu que eu a puxasse e a levei por uma alameda que dava na extr emidade suldo Central Park . O céu estava adquirindo um tom de anil mais profundo e o aroma do

 perfume de lilás que exalava de seu cor  po permeava tudo em volta. A noite parecia ter sido feita de encomenda para um romance com R maiúsculo e eu pr etendia tir ar  partidototal daquela magia típica de Nova York .Antes de deixarmos o bairro do Br ook lyn, usei meu car tão bancár io par a sacar cemdólares da poupança. O dinheiro que levava no bolso re presentava quase a metade daminha economia par a a máquina digital que eu queria comprar , mas não estava nem um

 pouco preocupado com o dinheir o. Pr ecisava provar a mim mesmo, e a Tashi, que podiadar a ela o mesmo que William. Pelo menos de vez em quando.Quando chegamos quase na divisa do par que, vi o que estava pr ocur ando: uma fileira decavalos e carr uagens, com homens trajados à antiga, de li bré de cocheiro. Os passeiosde carr uagem pelo Central Park eram uma das atrações turísticas mais famosas deManhattan. E tinham a reputação de derreter o coração das mulheres.- Ta-rá! - Apontei para a carruagem, sor r indo.- Uma volta de carr uagem! - Tashi exclamou, os olhos brilhando muito. - Michael, vocêé um romântico enr ustido.

- Mas não conte a ninguém - br inquei. - Não vou agüentar as gozações depois.Ela passou o braço pela minha cintura e puxou-me mais para perto dela.- Pode confiar em mim.

 Pois é. Mas será que você pode confiar em mim? , respondi em silêncio.De braços dados, caminhamos na direção das carruagens. A cada passo, nossos quadrisroçavam um no outro e explodiam arrepios por minha espinha toda.Quando chegamos perto da fileira de cavalos, soltei o braço de Tashi e aproximei-me deum dos cocheiros. Era um moço alto e loiro, com um rabo de cavalo que ia até o meiodas costas. Seus olhos azuis faiscaram na hora em que olhou primeiro para Tashi,depois para mim.- Querendo impressionar a dama esta noite? - ele perguntou.

- Acertou em cheio - respondi, sentindo-me reconfortado por essa compreensão tácitaque existe entre todos os homens, quando o assunto é mulher .

Page 48: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 48/80

- Não diga mais nada. - Subiu direto para a boléia e agarrou as rédeas. Nem me passou pela cabeça perguntar quanto o passeio custaria. Chamei Tashi e ajudei-a a subir na carruagem. Ela se instalou no assento macio de veludo vermelho, soltandorisinhos com a formalidade da ocasião. Subi em seguida e me sentei o mais perto que

 pude dela.

O cocheiro ergueu o corpo e virou-se para Tashi.- Boa noite, minha senhora - falou, fazendo uma curvatura.- Ah, boa noite - fez Tashi, me dando uma piscada e obviamente curtindo a encenação .- Por favor, me digam se estivermos sacudindo demais, sim? - tornou a falar o cocheiro,com uma expressão que era a própria imagem do cavalheirismo.- Mas é claro - Tashi respondeu, me cutucando com o cotovelo e me fazendo soltar umarisada curta.- Então, lá vamos nós. - Os cavalos começaram a andar e o cocheiro voltou-se para ocaminho.A cada passo dado, minha respiração ficava mais difícil. O momento da verdade tinhachegado e eu continuava tão empacado quanto há dois dias, sem saber por onde

começar. Meu coração alternava entre batidas rápidas que me doíam no peito e batidastão lentas que eram uma verdadeira agonia. Enquanto isso, Tashi continuavaabençoadamente ignorante do processo de demolição que me passava pela mente.Soltou um suspiro satisfeito e aconchegou-se mais em mim. Pus o braço em volta dela,acariciando de leve as pontinhas soltas de seu cabelo.- Está uma noite tão calma - ela sussurrou. - Parece até que os cavalos vão criar asas evoar para o pôr-do-sol.A carruagem entrou na rua que cruza todo o Central Park . Os únicos ruídos eram o ploc-

 ploc dos cascos dos cavalos no chão e o assobio alegre de nosso cocheiro. À  nossa voltatoda, só árvores, flores e grama. Ao longe, os imensos prédios de Manhattan se erguiam

 para o céu, a nos chamar como na terra de Oz.Passei o outro braço em volta de Tashi e abracei-a com todas as forças. Ela retribuiu oabraço, enterrando o rosto na curva de meu ombro. De minha parte, tinha certeza de queela estava sentindo, ou até mesmo ouvindo, o pulsar desenfreado de meu coração. Por fim, afastou-se.- Michael, não estou conseguindo respirar . - Riu e passou a mão quente em minha nuca.Esse carinho rápido de seus dedos me fez lembrar que o tempo estava se esgotando.

 Nosso passeio de carruagem não iria durar para sempre, infelizmente.Mudei de posição no assento para poder olhar direto nos olhos dela. Tomei ambas asmãos nas minhas e fiquei segurando-as.- Tashi, tem uma coisa que eu preciso lhe dizer . Uma coisa muito importante.

- Eu também preciso lhe dizer uma coisa - ela falou, me olhando por baixo daquelescílios compridos e escuros.- Posso falar primeiro? - É  agora ou nunca!, meu cérebro berrava.Ela sacudiu a cabeça.- O que você tem para me dizer não pode de maneira alguma ser tão importante quantoo que eu tenho a dizer . A menos que seja a mesma coisa.Um lampejo de esperança reluziu como se fosse uma chama dentro de mim. Seria

 possível que já tivesse adivinhado a verdade? Talvez tivesse recuperado a memória maiscedo, quando estávamos jantando, e estava decidida a me amar mesmo assim... Umcontentamento delirante invadiu meu coração. Nós ficaríamos juntos para sempre.- Eu amo você, Michael.

 Nem uma palavra sequer sobre William, o baile, a minha mentira. Apenas essas três palavras. Eu amo você...

Page 49: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 49/80

Um furacão,de emoções tomou conta de mim, onda após onda, sem descanso. Eu nãocabia em mim de satisfação por Tashi me amar. E estava atrasado por tê-la traído.Acima de tudo, estava paralisado de medo só de pensar numa confissão total.- Michael? .você não vai dizer nada? - A voz estava calma, mas percebi nela um quê deincerteza.

Lutei comigo mesmo para lhe dizer a verdade, mas não houve jeito. Teria sido maisfácil fazer com que aqueles cavalos subissem aos céus do que lhe contar sobre o passado.- Eu também amo você, Tashi.Pus as mãos em seus ombros delicados, inclinando a testa para que tocasse de leve nadela. Nariz com nariz, a respiração em harmonia, vivemos um instante de entrega total.Depois, meus lábios encontraram os dela.Enquanto nos beijávamos, as mãos de Tashi pousaram no tecido áspero de minhacamisa, depois subiram até a pele macia de minha nuca. Com uma paixão que era aomesmo tempo intensa e serena, ela me beijou na boca, depois nas pálpebras e emseguida nos lóbulos da orelha. Por dentro, eu já derretia. Segurei sua cabeça e levei

meus lábios até os dela, uma, duas, muitas vezes, num arroubo de esquecimento.- Eu amo você, eu amo você. - Ela repetiu essas palavras sem parar .- Tashi. - Seu nome me enchia a alma e o poder de seu significado me deixavaatordoado.Quando nos separamos, minha respiração estava acelerada e entre cortada. Tashicolocou as mãos nas faces, depois recostou de volta no assento.- Nós nunca tínhamos dito isso um para o outro, tínhamos? - perguntou-me depois deuns momentos.-Não.Ela balançou a cabeça, como se estivesse confirmando alguma coisa que lhe passara

 pela cabeça.- Também achei que não.Durante o resto do passeio, permanecemos em silêncio.

11- Tashi

Exceto pela luz tênue de um abajur aceso na sala, a casa estava toda às escur as quando otáxi nos deixou no Brooklyn. Rose já tinha ido dormir e parecia até que éramos um

 jovem casal chegando de um jantar com amigos. Mas claro que, diferentemente dosr ecém-casados, Michael e eu iríamos cada qual par a um quar to.

 Na escada, r esolvemos tirar os sa patos par a não fazer bar ulho e, sufocando a risada,

su bimos pé ante pé. Michael me levou até o quarto de hós pedes, a braçado a mim. Na porta, parou e me olhou de frente.- Prometa que não vai se esquecer nunca desta noite – ele disse, com a voz muito séria.Ergui a mão e acar iciei a curva de sua so brancelha esquerda, adorando cada detalhedaquele rosto lindo.- Nunca.- Existem cer tas coisas que você precisa sa ber a meu respeito, Tashi. Coisas das quaisnão vai gostar .Eu não conseguia me imaginar nã o gostando de alguma coisa a respeito dele e tam bémnão estava a fim de que alguma coisa pudesse destr uir a beleza da noite que tínhamosaca bado de viver.

- Agora não - sussurrei. - Não quero que você diga mais nada hoje.

Page 50: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 50/80

Michael fez que sim. Beijou minha mão e foi para seu quarto. Quando chegou na porta,virou-se e acenou.Tirei a rou pa no escuro; não queria estr agar meu estado de es pírito com o brilho de umalâmpada. Nua, aninhei-me entr e o frescor dos lençóis de algodão. Poucos segundosde pois, estava dormindo.

- V á para o seu quarto , Ta shi. - A vo z d e meu pai era suave mas firme, ao me conduzir  pelo hall d e nos sa cobertura.- Não! - eu g r itei. - Quero ver a mamãe.- Ela est á muito doent e , meu bem. Você pod er á vê-I a quando ela e st iver d e scansandono hospital .- Eu quero vê-l a a g ora! - O g rito ecoou na minha cabeça e eu avancei , sem fa zer contad e papai.

 No meio d o hal l, vir ei-me para olhar par a el e. Lág rimas e scorriam pel o seu ro st o e seus ombro s estavam caídos. Fui invadid a por um med o t enebroso. Durante os muit osmeses em que mamãe estivera d oent e, el e jamai s demonstrara o pavor  , o d eses per o que

 sentia. Ag or a parecia d errotado.Minha mãe e stava d eit ada no sof á, semiconscient e. A joelhei-me ao seu lad o ,

 sol uçando. De pois d e al  g uns momentos , senti que ela acariciava muito de l eve minhacabeça.- Lembra- se do d ia em que nós sol tamos bar quinhos no l ago do Central P ark?

 Fi z que sim , ainda aos sol uços. .- E do d ia em que você, papai e eu d emos uma volt a na roda- gi gant e, em C oney I  sl and?

 De novo fiz que sim. Eu não conseg uia falar.- N ã o se esqueça nunca d e sses momentos , Tashi. Nunca se esqueça do quant o eu amovocê. - A voz era pouco mai s que um sus surrei quand o el a tornou a falar . - E fique

 sempr e ao lad o do seu paz. Vocês doi s vão pr ecisar um d o outro d e poi s que...- N ã o! - eu g rit ei , r ecuperando finalment e a voz.V indo d e muito l on ge , escut ei o gemido sot urno das sir enes e os pa ssos d e papaiecoando no a ssoal ho d e mad eira.- Agora vá para o quarto , T ashi.

 Deixei que el e me l eva s se, enquanto o ruído das sirenes ficava cada ve z mai s alto...

Sentei-me na cama, com o coração aos saltos e o rosto banhado em lágr imas. Odespertador que R ose me emprestara tocava alto. Peguei o relógio, tateando à pr ocurado botão para desligar o alarme. Quando o barulho finalmente cessou, meu coração foivoltando ao normal aos poucos. Reparei que estava encharcada de suor .

M amã e. Agora eu me lembrava dela, de partes dela. O sonho fora real, eu tinha certeza.Minha mãe morrera no dia seguinte, com pa pai e eu a seu lado, no hos pital. Nãoconseguia me lembrar do enterr o, nem da dor tr emenda dos primeiros dias. Mas

 pr essentia a solidão dos últimos cinco anos e também o abismo que se a br ir a entr e meu pai e eu. E essa cisão ex plicava o porquê de meu pai estar há tr ês dias fora da cidadesem saber onde se achava a filha, algo que vinha me roendo por dentro desde o sábado.

 No entanto, não tive mais nenhum fragmento claro do passado. Nenhuma lembrança deMichael, da escola ou de minha amizade com Kari. Tudo que eu conseguia visualizar era o carpete cinza-azulado de nossa cobertur a e o corr edor com azule jos brancos dohospital. Eu tinha cer teza a bsoluta de que desde então nunca mais pusera os pés numhospital.

Saí da cama me sentindo curiosamente em paz comigo mesma. A lembr ança de minhamãe f or a dolorosa, mas ver seu rosto de novo estabelecer a um elo com o passado.

Page 51: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 51/80

Descontando o que o senhor Br anin e K ari tinham me contado do passado, essa er a a primeira vez que tinha a sensação de sa ber alguma coisa sobr e meus pais desde a batidana cabeça. À sua maneira, minha mãe voltar a par a me ajudar.

- Tem certeza de que sabe como chegar lá? - Michael me per guntou, uma hor a depois.

- Pela décima vez, sei - disse eu, sor r indo com a preocupação dele.Kari e eu tínhamos combinado de nos encontrar em Manhattan; a bem da ver dade, nãofiquei muito entusiasmada com a per s pectiva de passar mais um dia espanando e

 polindo vidros da loja de fotografias. Michael me ensinou como pegar o metr ô e me deuum bilhete múltiplo, válido par a dez viagens.- O trabalho nunca mais vai ser o mesmo. Já tinha me acostumado a ter você por perto. -Estávamos parados perto da estação de metr ô da Avenida Atlantic, demor ando-nos nasdes pedidas.Eu r i.- Tenho certeza de que vai conseguir se virar. E o senhor Branin vai ficar f eliz de tê-losó par a si.

- É verdade. Mas talvez você não devesse ir . Ou talvez eu devesse ligar para a loja,dizer que estou doente e ir com você... - Michael olhava par a o chão e segur ava minhamão bem a pertado.Embora entemecida com o dese jo de Michael de passar todo seu tempo comigo, estavatambém um tanto surpresa com sua relutância em me lar gar  por algumas poucas hor as.Ele tinha a vida dele, afinal de contas. Ou não?- Michael, eu preciso aprender a ser independente de novo. Um dia vou ter de voltar 

 par a casa. E nós vamos ter de nos acostumar a nos ver bem menos do que agora. Ar ealidade é essa.Ele franziu as sobrancelhas.- Eu sei que você tem r azão... É que é dif ícil.Dei-lhe um abraço.- Eu volto esta tarde, seu bobo.- Só diga para a Kari...- O quê? - Pelo jeito, Michael ia começar a dar instruções específicas para que Karicuidasse muito bem de mim etc. e tal.Mas não.- Nada. Esqueça. E divirta-se. - Ele não estava muito entusiasmado. Mas pelo menostentou.Virei-me para entr ar na estação, mas Michael de r epente me puxou e me beijou comardor . Choques de eletricidade me percorreram o corpo.

- Lembre-se de que eu amo você.- Não vou me esquecer disso - f alei, sem levá-lo muito a sério.Por fim nos separamos e desci para a estação com um sorriso no rosto. Gost o d e ser beijad a às nove hora s d a manhã, constatei de repente. Sim, esse er a um ritual com oqual decididamente poderia me acostumar , desde que fosse Michael quem estivesse me

 beijando.

***

- Eu não tinha certeza se você viria - falou Kari, abrindo a porta de seu apartamento noUpper East Side o lado chique de Manhattan.

- Por quê? Você achou que eu iria me perder nas entranhas a cidade?Ela me pareceu confusa por alguns momentos.

Page 52: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 52/80

- Não, é que o Michael...Encolhi os ombros.- Michael se preocupa demais. Eu estou ótima.Kari abriu um sorriso largo.- Verdade, Tashi? Nossa, eu fico tão contente de ouvir você dizendo isso. Fiquei

acordada até tarde, ontem à noite... - Ela me deu um abraço e pensei ter visto umalágrima em seus olhos.- Segui-a então para o interior do apar tamento luxuoso e af undei-me numa poltronamacia de couro negro. Não havia absolutamente nada ali que me parecesse familiar .- Puxa. É só um metro. Vocês dois são piores que galinha choca. Hoje de manhã, oMichael parecia pronto para me algemar.Kari franziu o cenho.- Espere, do que você está falando?- De me perder . Michael estava convencido de que Manhattan ia me comer viva, casoele não estivesse aqui para me proteger .- Ah, certo - fez Kari, sentando-se na poltrona em frente. E ele estava muito preocupado

mesmo ontem à noite com isso.- Juro que até uma foca bem treinada seria capaz de entender o sistema do metrô. Foi sóolhar no mapa, entrar no trem e pronto. Cá estou.Kari arqueou a sobrancelha.-Bom é que você não usava o metrô. Ou ia de táxi ou não ia.Eu não conseguia me imaginar sendo constantemente conduzida de carro pela cidade,dependendo de um motorista para chegar aonde quisesse ir . Mas, se Kari estava dizendoque sim devia ser verdade.- As pessoas mudam.Kari concordou com um gesto.- Sem dúvida.- Quem sabe até posso ensinar você a andar de metrô - ofereci, sorrindo.- Quem sabe, mas não hoje. Hoje, nós podemos ir a pé para todos os lugares onde nósvamos.- É mesmo? E aonde é que nós vamos?- Fazer compras! - Kari parecia tão entusiasmada que tentei fazer uma cara animada.Mas, com apenas os quarenta dólares que ganhara do senhor Branin no bolso, não haviamuita coisa que pudesse comprar .- Eu faço companhia para você, mas acho que não vou poder comprar nada, estou com

 pouco dinheiro.Kari girou os olhos.

- A gente compra no meu cartão tudo que você quiser comprar . Quando seu pai der ascaras de novo, ele reembolsa o meu pai.Essa possibilidade me deixou desconfortável.- Não sei, não... Ele pode não gostar muito da idéia.- Tashi, você é rica. E seu pai deixa você comprar o que você quer . Sério. Você podegastar a maior grana.Lembrei-me de Michael trabalhando o dia todo na loja do senhor Branin só para poder economizar o suficiente para uma câmera digital. Depois, me lembrei de Roseescrevendo dezenas de cartas, pedindo dinheiro para os órfãos do Saint Ann. Mas emseguida visualizei a expressão fascinada de Michael quando desci a escada, linda emaravilhosa numa roupa nova em folha. O rosto de Michael venceu a parada. Nós

iríamos fazer compras.

Page 53: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 53/80

- Estou lhe dizendo, compre. - Kari estava empoleirada numa cadeira, no nosso provador , rodeada por uma montanha de sacolas de compra.Tínhamos passado as últimas horas vasculhando todos os recantos da Bloomingdale's,uma das lojas de departamento mais famosas de Manhattan. Assim que entramos ali,tudo me pareceu familiar , inclusive os cheiros. Tínhamos passado por um batalhão de

loiras plastificadas que borrifaram perfume em nós, prometendo maravilhas cosméticasinacreditáveis em nome de uma variedade de produtos de grife.- Quer dizer que eu gosto deste lugar, cer to? - perguntei para Kari, enquanto nos

 juntávamos à massa de gente que entupia as escadas rolantes.- A Bloomingdale's é a sua favorita - ela me garantiu.Até esse momento, Kar i já tinha comprado um par de botas de couro até os joelhos, umvestido de Lycra, um colete de camur ça, uma blusa de raiom e uma calçaultraescandalosa de str etch , bor dada com lantejoulas laranja.Dei um giro, examinando o efeito no espelho tr íplice do provador.- Mas custa quatrocentos dólares! - exclamei.- Custa, mas em compensação você fica valendo um milhão - Kari contra pôs.

Era verdade. O vestido leve de seda vermelha ia até pouco acima dos joelhos. O cor teera simplíssimo, mas o vestido acompanhava todas as cur vas do meu corpo. O decoteera baixo, realçando a pele escura e acetinada de meu colo. E o tecido era tão macio que

 parecia até que eu não estava usando nada. De novo imaginei a expressão de Michael aome ver com ele.- Vou comprar - falei, sentindo-me de repente poderosa. Gastar grandes quantias dedinheiro era inebriante e, como perce bi r apidamente, muito perigoso também.- Finalmente! A velha Tashi Pendleton levanta a ca beça fez Kar i, aplaudindo.

 Nesse momento, a vendedora bateu no provador .- Como é que estão indo, garotas?A br i a por ta, com uma nova onda de adrenalina correndo pelas veias.- Vou levar o vestido - falei, percebendo ao mesmo tempo o tom meio altivo de minhavoz. - E vou precisar de sapatos que com binem com ele.

Uma hora mais tar de e um vestido e um par de sapatos mais pobre, despenquei exaustanuma das cadeir as do pequeno caf é que f uncionava dentro da loja Bloomingdale's.Minha amiga estava me pagando um almoço e eu me sentindo decididamentecosmopolita; o local continuava apinhado de gente, apesar de já  passar bem do meio-dia.- Eu gosto mesmo do Rocko - Kari falou de repente.- Opa. Então me conte mais. - Dei uma mordida em meu croissant com recheio de atum,

refletindo comigo mesma que era fantástico ter uma gr ande amiga.- Ele me ligou ontem à noite. E nós ficamos conversando durante tr ês hor as!- Puxa! Que maratona. - E esperei, enquanto ela acabava de mastigar sua salada decamarão.- Nem me fale. A gente conversou sobre um monte de coisas. Na verdade, falamosmuito sobre o Michael.Uma vez que Michael era meu assunto favorito, Kari obteve atenção exclusiva.-E?- Ele é um cara incrível, Tashi. Você sabe, a vida dele não foi br incadeira... perdeu os

 pais, teve de se mudar para Nova York , ar r umar novos amigos...- Eu sei - disse eu, sem conseguir evitar de interrompê-la.

- Ontem à noite, eu me declarei para ele, pela primeira vez na vida.Kari parecia espantada.

Page 54: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 54/80

- É mesmo? E o que foi que ele disse?Larguei o sanduíche.- Ele me disse a mesma coisa... "eu amo você".,. várias vezes.Kar i pegou mais uma garfada de salada, mastigando lentamente.- Tashi, tem umas coisas a respeito do passado que você devia saber coisas sobre você e

o Michael.Uma sensação de impaciência tomou conta de mim.- Por que todo mundo vive me dizendo a mesma coisa? - De repente, tinha per dido afome.- Porque é verdade.- Bom, neste exato momento, tudo que me inter essa sa ber é que Michael e eu nosamamos muito.- Certo, Tashi. Eu não falo mais nada.

12- Michael

Eu estava pegando a chave para abrir a porta de casa quando ouvi o toque do telefone lá

dentro. Uma, duas, três vezes. Entrei feito uma bala e corri até a cozinha.- Alô? - Tinha largado a mochila sobre a mesa e estava ofegante.- É Michael Hobart quem está falando? - perguntou uma voz autoritária e grave.- Ele mesmo. - Eu já sabia quem era na outra ponta da linha; a bem da verdade já tinhaadivinhado no primeiro toque.- Aqui é Lincoln Pendleton. Pai da Tashi.- Oi, senhor Pendleton. - Estava me esfor çando ao máximo para fazer uma voz educadae séria.- Eu gostaria de saber o que está acontecendo exatamente por aí. Recebi um recadomuito estranho dizendo que minha filha bateu a cabeça e não foi para o acampamento .Isso é verdade?- É sim, senhor. - Respir ei fundo. - Mas ela não sofreu absolutamente nada.- Tem certeza? - A voz de Lincoln Pendleton perdera parte da calma. Estava mais

 parecida com a de um pai preocupado.- Tenho. Só que... - Como é que eu poderia ex plicar a ele que Tashi tinha perdido amemória, que praticamente não se lembrava do pai e que estivera morando comestranhos durante os últimos dias?- Só que o quê? - perguntou ele, impaciente.- Bom, ela está com amnésia temporária. Mas o médico nos garantiu que ela vairecuperar inteiramente a memória. Quando estiver pronta.- Gostaria de falar com minha filha imediatamente. – Não era um pedido e sim uma

ordem. Agora já sabia de quem Tashi herdara toda aquela sua teimosia.- Ela não está no momento. - As palmas de minhas mãos estavam suadas e eu,ligeiramente zonzo. Onde estava tia Rose quando eu mais precisava dela?- E onde foi que ela se meteu?- Ela está com Kari Washington. Foram passar o dia em Manhattan.Lincoln Pendleton soltou um suspiro e deu a impressão de estar mais aliviado.- Será que eu posso falar com a sua mãe ou o seu pai, então?Senti uma pontada já familiar de tristeza.- Bom, é que eu moro com a minha tia, senhor Pendleton. Mas ela está no trabalho; éenfermeira. - As enfermeiras eram pessoas dignas de toda confiança, comentei comigomesmo. O senhor Pendleton podia ficar descansado, porque Tashi estava sendo bem

cuidada.Ele soltou um novo suspiro.

Page 55: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 55/80

- Não foi minha intenção ser rude com você, Michael. Mas estou muito preocupado comminha filha. Tenho certeza de que você entende.- Claro que sim, senhor Pendleton. Mas pode acreditar, ela está muito bem.- Vou cancelar todas as minhas palestras e estarei de volta a Nova York amanhã.Engoli em seco. Tashi iria me deixar no dia seguinte.

- Sim, senhor - guinchei desafinado. O tiquetaque do relógio da cozinha parecia fazer um estardalhaço em meus ouvidos. O tempo estava se esgotando.Dei nosso número de telefone e endereço ao pai de Tashi, depois tornei a assegurar queela não sofrera nenhum dano no cérebro. Ele obviamente estava muito embaraçado por não ter entrado em contato antes e por ter demorado tanto em saber que a filha nuncachegara ao acampamento.- Michael? - Eu estava prestes a desligar quando o ouvi chamar meu nome de novo.- Pois não? - Meu coração acelerou. Tinha certeza de que iria ser acusado de ser umtratante, um seqüestrador e no todo um péssimo caráter .- Será que a Tashi... será que ela sabe sobre a mãe?- Sabe... eu contei a ela.

- Obrigado. Acho que não suportaria ter de lhe dar essa notícia de novo. - De repente,ele me pareceu velho e cansado, como se aquela nossa conversa o tivesse envelhecido.- Não há de quê, senhor Pendleton. - Calei-me uns instantes, depois acrescentei. - Eufaria qualquer coisa pela Tashi.- É, eu sei. Dá para perceber isso em sua voz. Até mais, Michael.Ele desligou e fiquei ali na cozinha, fitando o aparelho que tinha na mão. O pai de Tashiestaria de volta no dia seguinte, mais ou menos a essa hora, e a vida dela começaria avoltar ao normal. E eu, faria o quê, depois disso?

- Novidades? - Tashi perguntou assim que abri a porta de casa.- Seu pai ligou.Ela largou a sacola da Bloomingdale's comigo e me deixou levá-la até o sofá da sala.- Oh. Ótimo. Quer dizer, acho que é. - Sentada no sofá, Tashi fitava o vazio. Não haviaa menor emoção em sua voz.Pus a sacola no chão, perto da lareira, e me sentei ao seu lado no sofá.- Ele me pareceu muito preocupado com você. Fez um milhão de perguntas...Ela balançou a cabeça, devagar .- Quer dizer então que vou voltar para casa. De volta ao arranha-céu em Manhattan.Passei o braço em volta dela e Tashi se aninhou ao meu lado.- Pois é. Mas isso só vai acontecer amanhã. Ainda ternos uma noite juntos. Quer dizer,mais urna noite debaixo do mesmo teto.

Tashi fechou os olhos e enterrou o rosto em meu peito.- Estou com medo, Michael. - As palavras saíram abafadas, mas deu para perceber queestavam envoltas em lágrimas.- Ele é seu pai, Tashi. E é um grande sujeito. Você vai se sentir mais equilibrada quandoestiver na sua casa, no seu quarto... Aposto como vai recuperar a memória na pr imeiranoite.- Mas por que ele levou tanto tempo par a ligar ? Ser á que ele não se importa com o queacontece comigo? - Tashi parecia muito brava agora e estremeci ao imaginar quetambém eu poderia ser alvo daquele tom irado de voz.Como não conhecia o pai dela, não me era possível res ponder à sua pergunta. Aliás,aquela mesma pergunta já me passara pela cabeça, e tinha certeza de que pela de tia

Rose também. Mas era preciso tirar a mágoa daqueles olhos lindos.

Page 56: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 56/80

- Bom, ele não estava à beira de uma piscina no Car ibe - ressaltei. - Seu pai estavadando palestras sobr e relações raciais, provavelmente para antigos catedráticosgrisalhos que nunca se lembram de ligar o aparelho de surdez. - Vi um esboço de sorrisoem seu rosto e continuei. - Imagine só, Tashi, o coitado do seu pai lá no meio da roça,cercado de agricultores. Aposto como não é bolinho. Vai ver eles o obrigaram até a dar 

comida para as galinhas em alguma fazenda de Iowa.Tashi soltou uma risadinha e endireitou-se no sofá.- Duvid o que tenha dado comida para as galinhas. Mas você tem razão a respeito dotrabalho. É importante ... e eu fiquei em boas mãos desde que ele se foi.- Sabe do que você está precisando? - per guntei, enxugando uma lágrima em seu rosto.-Do quê?- De um supersundae feito por Michael Hobart.- Com calda de chocolate quente?- E de caramelo também. - Peguei-a pela mão e fomos par a a cozinha.Enquanto Tashi me contava a res peito do dia passado com Kari (nunca conseguientender muito bem essa coisa de garotas e compras), fiz dois sundaes gigantescos

completos, com chantilly por Cima e tudo. Kari obviamente não tinha falado nada sobrenossa mentira e fiz uma anotação mental para agr adecer a ela; e implorar seu perdão.Tashi atacou o sundae com gosto, como se pudesse enterrar todas suas ansiedadesdebaixo de uma montanha de sor vete crocante. Ela parecia tão inocente, quase umacriança, diante da taça que não resisti e automaticamente fui pegar minha máquina. Acâmera estava soterrada sob uma pilha de negativos, dentro da mochila, mas carr egadacom o filme preto-e-br anco que gosto de usar para retratos.Andei um pouco pela cozinha, buscando o ângulo perfeito. Tashi girou os olhos, mas jáaprendera que era inútil protestar quando eu decidia fotografar . Voltou-se para osundae, concentrada na taça de sor vete quase tanto quanto eu nela.- Acho que estou à beir a de recuperar a memória.- É mesmo? - Segurei a câmera junto ao olho, ajustando o foco.- Sinto como se fosse apenas uma questão de me virar no momento exato, e então tudovai estar lá, em seu devido lugar... É como se o passado estivesse apenas à espera de queeu vá recuper á-lo.Pôs a colher à boca e bati uma foto.- Então por que não vai buscá-lo? - perguntei, embora essa f osse a última coisa quegostaria que ela fizesse.Tashi suspirou, balançando a ca beça.- Eu não sei, Michael. Mas bem que gostaria de saber .Em seguida, enterrou a colher no sorvete num ângulo pr ecário; a impr essão era a de que

ficara suspensa no ar . Tashi fitava a colher com seus olhos escuros, as pálpebras baixas.Bati mais uma foto.Lembro-me de que quando meus pais morr er am evitei entrar no quarto deles durantedias e dias. Achava que enquanto não sentisse a falta da presença dos dois, eles nãoestariam de fato mor tos. Passava horas jogando basquete, comendo pizza, lendo gibis,fazendo qualquer coisa par a fugir à realidade de minha vida dali em diante.Só quando entr ei finalmente no quarto, quando vi os livros lidos pela metade, as meiasno cesto de roupas sujas, as escovas de cabelo inúteis é que admiti a verdade do que meacontecera. Naquele momento, resgatei a Polaroid de minha mãe do armário e tirei umafotografia daquele quarto deserto: uma prova da vida e da morte que eu guardaria para oresto da vida. Depois desse dia, fiquei obcecado por fotografia e passei a captar em

filme os eventos do cotidiano, sublimando assim minha dor.

Page 57: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 57/80

Tashi fora capaz.de lidar com a morte da mãe na medida em que aceitara seudesaparecimento. Mas com a perda da memór ia perdera também todas as defesas queerguera em volta (até Kari reparara nisso) e agora se via obrigada a enfrentar ossentimentos conflitantes que nutria pelo pai ainda enlutado.- Tem uma parede - Tashi continuou, tirando a colher do sorvete. - Não é de tijolos... é

uma divisória. Se eu conseguisse dar um murro nela, poderia lembrar de tudo.- Você chega lá, Tashi - falei, aceitando plenamente e pela primeira vez aquela verdade,a verdade da qual estivera fugindo até então.Uma sombra escureceu o rosto de Tashi e ela fez que sim balançando a cabeça. Tireiminha última foto nesse momento sombrio. Parecia um mau presságio.Depois, ela sorriu.- Seu sorvete está derretendo, mestre Hobart.Larguei a máquina e fui lhe fazer companhia. Pelo menos durante mais algumas horas,eu estava em segurança, por trás da divisória.

Tashi foi para o quarto logo depois que os últimos raios de sol se puseram no horizonte.

Mas antes sentamos um pouco na frente de casa, num silêncio amistoso. Tia Rose aindaestava no orfanato, onde trabalhava como voluntária todas as terças-feiras à noite. Asnuvens tinham se adensado no céu, num reflexo de nosso estado de espírito.- Estou tão cansada, hoje - disse-me ela, num sussurro. - E não tem uma estrela no céu.Essas palavras me soaram como poesia quando voltei o rosto para cima.- Vai chover amanhã - comentei, sem saber o que dizer direito.- Você se importa se eu subir agora? - perguntou ela, já se preparando para ir deitar .Sacudi a cabeça. De qualquer forma, seria melhor ficar sozinho. Precisava preparar odiscurso que inevitavelmente teria de fazer na manhã seguinte. A confissão parecia uma

 bomba-relógio tiquetaqueando dentr o de mim.- A gente se vê de manhã - disse ela, roçando de leve os lábios nos meus.

 No momento em que ela subia os degraus, agarrei sua mão.- Tashi?- Sim? - Ela estava acima de mim, como uma estátua imponente quando virei a cabeça

 para olhar.- Eu amo você.- Eu também amo você. - Galgou os dois últimos degraus, depois encostou-se uminstante no batente da porta. - Talvez até sonhe com você esta noite. Conosco. Pelovisto toda noite tenho um sonho diferente envolvendo o passado.Ela entrou, fechando a porta atrás de si. Espero que não , Tashi. Esta é uma história queeu mesmo terei de contar.

Ergui-me também. Precisava caminhar . O silêncio da noite era quase fantasmagórico,sobretudo ali no Brooklyn. Enquanto eu percorria quarteirões inteiros do bairro, vifamílias em casa jantando, vendo televisão, jogando forca. Na frente de uma casa, umcasal se bei java apaixonadamente. Separaram-se com ar cul pado quando eu passei.As ruas do Brooklyn pareciam me envolver, protegendo-me do amanhã. Mas, depois deatravessar a rua para voltar, senti um nó se formando no estômago. A cada passo que eudava, o nó crescia um pouco; até chegar ao quarteirão de casa, já estava com aimpressão de que nunca mais seria capaz de ingerir coisa alguma. Sobretudo um sundaecom calda de chocolate.

Quando entrei em casa, o primeiro ruído que ouvi foi o da risada tranqüila de tia Rose.

- Falando sério, Lincoln, ela se comportou muito bem. E ajudou tr emendamente num pro jeto para uma f esta beneficente que estou preparando.

Page 58: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 58/80

Fui até a cozinha e vi que tia Rose estava ao telefone. Ela acenou par a que eu mesentasse. Meu coração a pertou-se ainda mais. Era Lincoln Pendleton.- Exato, é de Tashi Pendleton que estou falando. E é verdade. Ela lavou l ouça.Eu estava de olho es bugalhado. Impossível que tia Rose estivesse se dando tão bem comaquele homem amedr ontante com quem eu f alara mais cedo.

- Bom, é, ela me parece um tanto triste. Mas é normal, com tudo que aconteceu com ela.Mas no geral está ótima, sinceramente. Acabei de ir vê-la e deu a impressão de já estar dormindo.Sorri ao ver que tia Rose fazia eco às palavras que eu disser a antes. Talvez eu tivesselidado com o senhor Pendleton da maneira correta.- Sim, sim, tenho certeza de que vamos nos conhecer . E f aça uma boa viagem.Tia Rose desligou. Em silêncio, encheu uma chaleira com água e pôs no fogo parafer ver . Eu estava a pavor ado com este momento desde a noite anterior , um medo quasetão grande, agora, quanto o que sentia em r elação ao dia seguinte.- Eu não contei nada ainda - falei sem rodeios.Tia Rose tir ou duas xícaras do ar mário. Não me pareceu surpr esa.

- Amanhã, então. Assim que você acordar . - Certo. - Com os olhos, implorei-lhe paranão enterrar ainda mais a faca em meu coração magoado.A chaleira assobiou.- O pai dela parece ótima pessoa.Obrigado , tia Ro se. Obr i gado.- Ele me meteu medo.Ela riu, des pejando água f er vente numa xícara listrada de azul e branco com o emblemado Yank ees.- O pai da sua namorada tem essa função mesmo. - E pôs um saquinho de chá na xícara.- Mas a Tashi não é minha namor ada... não de verdade.- Não desista assim tão r á pido, Michael. - Tia Rose pôs o chá na minha f r ente. - Omundo é um lugar mar avilhoso e cheio de mistérios. Sempr e, sem pr e es per e oines per ado.

13- Tashi

A br i os olhos às seis da manhã e não consegui dormir mais. Por alguns momentos,fiapos de sonhos tidos durante a noite me vieram de novo à mente. Estava quase certade que a imagem de Kari e eu entrando numa limusine para ir a um concerto de rock noMadison Square Gar den era algo que tinha acontecido de fato no passado. Mas afisionomia assustada de pa pai no dia em que fui andar de bicicleta pela primeir a vez noCentral Par k , bom, essa eu tinha certeza de que acontecera mesmo.

Outr as imagens, por ém, eram menos claras. O ur sinho de pelúcia, ao qual eu continuavaagarrada, estivera nos braços de uma menina r uiva. E havia um rapaz... não era oMichael, era outra pessoa. A banei a cabeça, de pois esfreguei os olhos par a espantar osono. Seja paciente, disse comigo mesma. Você e stá fazendo progressos.Saltei da cama e f ui até a janela do quarto de hós pedes. Lá fora, o ar estava fresco eúmido. Chuva. E aí lem brei-me de que essa seria a última vez em que veria aquele

 panor ama pela manhã. No dia seguinte estaria de volta a Manhattan, olhando para omundo da posição pr ivilegiada de um arr anha-céu. E o mundo me parecer a tão pequenovisto da janela do apar tamento de Kari. Será que o trânsito, as lojas, as pessoas

 pareceriam igualmente insignificantes da janela de meu quarto? Es perava que não.Vesti a calça jeans que Kari tanto me censurar a por estar usando demais, junto com a

camisa azul-claro de Michael. Rose lavar a a camisa par a mim e o tecido exalava um

Page 59: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 59/80

cheiro fresco de limão. Enfiei os mocassins que tinha usado no sábado e desci para acozinha.

 Na minha última manhã naquela casa, quer ia surpreender R ose e Michael e pr e par ar um belo café da manhã... ou pelo menos o café. Afinal, café eu sabia fazer . As nuvensestavam pesadas e escuras do lado de fora, mas a atmosfer a dentro da cozinha silenciosa

era de paz e aconchego. Mal podia esperar para dar um beijo de bom-dia em Michael,com uma xícara de caf é quente na mão.Espiei a geladeira, onde tia Rose guar dava os gr ãos (ela insistia que assim o café semantinha fresco mais tempo), e peguei a lata grande. Abrindo a tampa, per cebidesapontada que não havia o suf iciente nem para meio bule.Suspirando, apalpei o bolso par a ver se continuava de posse dos quarenta dólaresrecebidos do senhor Branin. Peguei as chaves da casa, que ficavam penduradas numgancho ao lado do telefone, e saí. Havia uma loja de conveniência a dois quarteirões dedistância, aberta vinte e quatro horas por dia. Vou comprar alguns dougnuts também ,decidi. Os de canela, dos quais Michael tanto gosta. Além de mim, as únicas pessoas naloja eram o senhor de idade atrás do balcão e uma senhora comprando leite.

- Vai cair um tor ó ho je - o homem atr ás do balcão comentou, enquanto registrava o cafée as rosquinhas.- É, está com jeito. - Senti então a tensão do dia aumentar, enquanto contemplava otempo. Por algum motivo, o reencontro com papai em meio a uma tempestade de verãonão me parecia uma perspectiva muito boa.Apanhei o exemplar gratuito do N ew York Press ao sair da loja.- Nenhuma notícia é notícia boa, não se esqueça disso - brincou o velho, já quando eu iafechando a porta.Tudo continuava no maior silêncio dentro da casa de Michael. Eu sa bia que aquele era odia de folga de Rose e Michael em geral não acor dava antes das oito, o que me dava

 pelo menos uma hora para ficar sozinha com meus botões, juntando forças para oiminente encontro com meu passado.Já tinha visto Michael fazer café várias vezes e a cafeteira era tão fácil de usar quanto euimaginara. Quando servi aquele líquido for te e escuro na xícara, o primeiro café que eufazia na vida, senti-me or gulhosa. Nada mal para uma garota rica e mimada, pensei,

 prometendo a mim mesma que, qualquer que fosse minha "nova" vida, jamais meesqueceria de tudo que aprendera nos últimos dias.Sentei-me e abri o New York Press, folheando meio à toa as páginas do diário. Ao ver aseção de "Anúncios pessoais", larguei a xícara sobre a mesa mas mantive a mão emvolta, para aproveitar o calor.Depois de instantes, estava inteiramente absorvida, lendo dezenas de anúncios feitos por 

 pessoas em busca (desesperada, a meu ver) de um companheiro ou companheira. Osanúncios vinham num misto de código e palavras. Mas não levei muito tempo paradecifrar o que cer tas letras significavam e rapidamente estava lendo os apelos comouma profissional de verdade: "Homem branco divorciado procura mulher brancadivorciada para longos passeios e filmes antigos. Gosta de cachorro, criança e morangosna cama. Possibilidade de relacionamento duradouro".Um outro me fez dar risada sozinha: "Velhota maluca procura jovem capaz deconvencê-la de seu amor a ponto de fazê-la mudar o testamento. Fumantes não, por favor".Continuei página abaixo: "Homem solteiro procura mulher que o mantenha na linha.Preciso que você me castigue! Só propostas sérias".

Page 60: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 60/80

Passei os olhos pelo restante das colunas e meus olhos detiveram-se na que tinha o títulode "Sinais cruzados", cheia de anúncios à procura de pessoas encontradas ao acaso (emgeral no metrô ou na fila de alguma lanchonete) que alguém queria ver de novo.Senti uma grande pena daquela gente toda vítima de "sinais cruzados". Numa cidadecom milhões de habitantes, encontrar um indivíduo perdido devia ser pior do que achar 

uma agulha num palheiro. Estremeci, imaginando de novo o que teria acontecidocomigo se estivesse sozinha na hora em que bati a cabeça.E foi aí que vi o último anúncio da seção. Enquanto lia o que estava escrito, o sangueem minhas veias deu a impressão de estar congelando.

PROCURA-SETashi PendletonBelíssima afro-americanaEstá fazendo falta a seu namorado.

 Não espere mais! Ligue agora para William!(212) 555-3293

Minha mão largou a xícara e todo o sangue que tinha no corpo baixou para os pés. Eracomo se minha cabeça fosse explodir .William. Kari tinha mencionado alguma coisa sobre ele, no primeiro dia em que nosreencontramos. William. O rapaz do meu sonho. William. E eu tinha tido uma vagalembrança dele, no dia em que Michael e eu estávamos no Central Park.William Gallagher. Meu namorado! Os fatos de minha vida vieram à tona, todos aomesmo tempo e me esbofetearam... Meu pai ia me mandar para o acampamento. Para oAcampamento Bom Vivant. Porque não gostava de William. Mas eu sim. Eu o amava.Eu ainda o amava.Vi seu rosto com toda a clareza, a pele lisa e escura, os lábios perfeitamente esculpidos,os olhos debaixo dos cílios compridos. E seu corpo esbelto e bem vestido. Sua risadazombeteira. O jeito firme como exigia sempre a melhor mesa num restaurante. E oursinho de pelúcia que ele me dera uma hora antes de eu embarcar no trem. Tudo mevoltou de um jato, como se estivesse vendo um f ilme inteiro num único quadro.O que significava isso tudo? Quem era Michael? Ele não era meu namorado, quanto aisso não restava a menor dúvida. Eu não podia ter dois. Michael Hobart. Garotinhamimada filhinha de papaizinho rico... Essas palavras cortantes que ele tinha me dito no

 baile me voltaram num só jorro. Michael era um desconhecido. Um sujeitinho metidodo Brooklyn que me humilhara no baile. Kari estava do meu lado, ela ouvira o insulto.Kari, minha melhor amiga.

Percebi então, arrasada, que ela me traíra. Deixara que eu pensasse que Michael era meunamorado. Deixara que eu ficasse hospedada em sua casa! Inacreditável, mas eraverdade. Por quê? Lembrei-me então de Rocko e de como ela tinha simpatizado com eleno baile. Passara dias e dias, depois, f alando sobr e as trancinhas dele.Lembrei-me do momento em que acordei, no chão da estação Penn, com Michael seagitando a minha volta como um anjo. Como um d emônio , eu percebia perfeitamenteagora. E ainda por cima me trouxera para a casa dele, dizendo que era meu namorado.Devia estar rindo há dias de mim, pelas costas. Enquanto eu o beijava, chor ava em seuombro, segurava sua mão, ele estava rind o de mim. E eu confiara nele. Confiara emtodos eles.Ergui-me de um salto da mesa, derr amando café morno em cima do jornal. Deixei tudo

como estava, incapaz de passar um minuto a mais naquela casa que eu considerara meu

Page 61: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 61/80

refúgio seguro. Era preciso voltar a Manhattan... escapar da piada cruel em que metransformara desde o último sá bado.Corri para a porta com lágrimas de raiva, de dor e de humilhação escorrendo pelo rosto.Agarrei minha jaqueta de couro do gancho que havia na parede do vestíbulo de entradae bati a porta com força atr ás de mim.

Lá pela metade do quarteirão, virei-me para olhar uma vez mais a casa. Estava tudoquieto. Rose e Michael continuavam dormindo, sem fazer a menor idéia de que eu jásabia de toda a verdade. Lembrei-me do ursinho de pelúcia e do vestido novo vermelhoque continuava dentro da sacola da Bloomingdale's. Encolhi os ombros. William medaria um novo ursinho. E Manhattan estava cheia de lojas. Eu não ia voltar, não havianada naquela casa que valesse a pena ir buscar .Virei-me de novo e fui na dir eção da estação de metrô. Uma garoa f ina caía sem parar , oque me f ez pr aguejar e apressar o passo. Poucos segundos depois, a chuva apertou ef iquei instantaneamente molhada.Foi então que vi um táxi amarelo passar espirrando a água empoçada no meio da rua,com os limpadores de pára-brisa movimentando-se velozmente de um lado para outro.

Cheguei mais per to do meio-fio e fiz sinal para que par asse.Eu er a Tashi Pendleton. Eu não andava de metr ô.

***

- Pelo visto o dia já começou meio mal- comentou o motorista de ca belos grisalhos,dando uma es piada pelo es pelho r etrovisor para mim.

 Nem me dei ao trabalho de responder . Tínhamos atr avessado a ponte e entr ado na ilhade Manhattan. Meus olhos devoravam avidamente os imensos e belos prédios pelosquais passávamos. Apesar da chuva, o East Side nunca me parecer a tão bonito.Ao passar pelo Clube Éden, onde Michael e eu... soltei uma risada zombeteira, f azendocom que o motorista me desse maia uma olhada.- O senhor precisava estar lá - expliquei, arrasada. Ele fez que sim com um gesto. Pelovisto já estava acostumado a ter passageiros insanos e encharcados r esmungando no

 banco tr aseiro do car ro.Enquanto o táxi avançava pela avenida Madison, concentr ei o olhar nas placas das ruas,vendo que estava cada vez mais perto de casa. A chuva continuava a cair forte quando omotorista finalmente parou na calçada em frente ao prédio onde eu morava. Enfiei ostrinta e sete dólar es que restavam na mão dele (o que pelo visto o deixou extremamentesatisfeito), louca para entrar o mais r á pido possível.Dei uma cor r ida de alguns poucos metros da calçada ate o toldo azul que protegia a

entrada do pr édio. Sacudi os cabelos, esparramando gotículas de água por toda parte.Gregory, um dos porteiros, me olhou chocado. - Senhorita Pendleton! O que está fazendo aqui.Passei por ele com toda a dignidade que uma garota de dezesseis anos dentro de uma

 jaqueta malcheir osa de couro molhado é capaz de exibir e fui direto para o elevador.- Você não iria acreditar se eu lhe contasse, Gregory. Agora, por f avor me leve par acima.Ele me seguiu até o elevador , forr ado de lambris,d.e mogno e espelhos escur os.Enquanto subíamos até o décimo sétimo andar , vi que ele me olhava pelo espelho.- Eu sei que estou toda molhada. Mas não pr ecisa me olhar como se eu tivesse dormidona sarjeta. - Eu estava de mau humor.

- Desculpe, senhorita Pendleton. - E manteve o olhar grudado nos botões do elevador dur ante o r esto do tr a jeto.

Page 62: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 62/80

- Por f avor, me chame pelo interfone quando meu pai chegar - falei, quando chegamosao nosso andar . Ele acenou todo compenetr ado, e eu corri par a a por ta de nossaco bertur a.Lá dentr o, tudo tinha a aur a de um museu. O ar exalava um leve cheiro de mofo e nãohavia um o bjeto sequer f or a do lugar . Dava para per ceber que Lucy, nossa governanta,

tinha estado por lá, porque toda e qualquer super fície passaria com nota 10 no teste daluva branca. Compar ada à bagunça aconchegante da casa de Rose e Michael, a ordemimpecável daquela co ber tur a er a quase f antasmagórica.A bri as pesadas cortinas azuladas da sala e saudei a vista de toda Manhattan. Debaixodo véu de água, a imensa metr ópole parecia uma pequena cidade pacata. A agitação dodia tinha a penas começado e lá do alto eu via homens de terno, mulher es com carrinhosde bebê e oper ários de ca pacete passando pelas ruas. E eu acima de tudo aquilo,sentindo-me tão alienada quanto se tivesse acabado de voltar de Marte.

 No horizonte distante, o Brook lyn lembrava mais uma aldeia de brinquedo do que umdos bairros mais densamente populosos da cidade de Nova York . De r e pente, me peguei

 pensando se Michael já teria acordado, se já teria se dado conta de que eu for a embora.

Só de me lembr ar dele, senti como se meu coração estivesse sendo es premido. "Eu amovocê!” Essas tinham sido suas últimas palavr as para mim e agora nunca mais f alariacom ele. Eu o od eio, lem brei a mim mesma.Mas as pontadas de solidão não quiser am sa ber de ir em bor a. Por alguns instantes,deixei que minha mente vagasse pelos acontecimentos dos últimos dias. Meu cor  potodo estr emeceu à lembr ança da primeir a vez que Michael me beijar a ( primeira vez d e

 fat o, eu per ce bia agora), eu encostada na imensa ár vor e da rua. E nosso passeio decarruagem... que me parecer a ser a primeira noite do resto de minha vida. Soltei umarisada amar gur ada. Toda aquela encenação fora uma enorme far sa e eu a vítimadesavisada de todas as piadas.Tornei a fechar as cortinas e fui para o quarto. Estava tudo do jeito como eu deixar a. Acama de dossel com os lençóis impecavelmente esticados. O cartaz emoldur ado dof ilme Mal colm X. Meus bichinhos de pelúcia, as fotos, os cosméticos, o telefone. Todomeu passado, contido nos trinta metr os quadrados de meu quar to...Peguei uma grande f oto em que apar ecíamos nos três, tirada um ano antes de mamãemor rer . Na foto, ela ainda parecia jovem e feliz, o câncer ainda bem escondido ládentro. Mas os olhos de papai já eram tristes, antecipando o vazio que ela deixaria emnossa vida. E a ex pressão de meus olhos mostr ava medo e ao mesmo tem po desafio.Como se estivesse dizendo " não mexa comi g o"  para a câmer a.Devolvi o porta-retr ato de pr ata à penteadeira, tentando não comparar aquela foto com aque eu tinha visto na casa de Michael, dele junto com os pais. Um sorr iso melancólico

estampou-se em meu rosto. Não perder ia nem mais um segundo pensando em Michael Ho bar t. Tinha a vida toda par a recuperar e ir ia começar a vivê-la a partir desse momento.Tir ei as roupas molhadas, jogando-as todas sem a menor cerimônia na lata de lixo.Abrindo a porta do closet, vi um quimono de seda verde que não achar a muito práticolevar par a o acampamento. Embrulhei-me naquele roupão, satisf eita com o toquecaro da seda em minha pele.Depois peguei o telefone antiquado que havia no quar to e aninhei-me na cama. Eleatendeu de imediato e meu cor ação quase saiu pela boca. Eu estava com saudade dosom de sua voz.- Sou eu - falei, quase sem fôlego.

- Tashi! Que alívio! Eu já estava ficando maluco.Sorri comigo mesma, sentindo-me de volta ao nor mal.

Page 63: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 63/80

- Não se preocu pe. Nós nunca mais vamos nos separar .- Estou com saudade, Tashi.- Eu tam bém, William. - Fechei os olhos, dese jando ardentemente que minhas palavr asfossem verdade.

Já estava de banho tomado e pr onta para ir me encontrar com William num de nossoscafés favoritos quando ouvia chave vir ar na porta da f rente. Papai tinha chegado.Encontrei-me com ele no meio do vestíbulo.- Oi, pai. Já recuperei a memória. - Eu não sabia muito bem o que dizer.Ele correu para mim e me envolveu num abraço apertado.- Tashi, meu bem. Desculpe eu não estar aqui quando você precisou. Graças a Deusvocê está bem.

 Não é assim que me sinto, pensei. Mas não tinha o hábito de falar de meus sentimentoscom papai. Abracei-o, me sentindo meio sem jeito. Papai não costumava ser muitoafetuoso.- É, estou bem. Estou indo me encontrar com o William.

- Com o William? - A voz era decididamente de censura. Menos de um minuto depois eestava tudo de volta ao normal entre nós.- Exato. William, meu namorado, que passou dias e dias me procurando feito um louco.Papai fez um ar culpado.- Certo, Tashi, vá em frente ... Eu vou desfazer as malas.Quando cheguei quase à porta da frente, olhei de novo para ele.- Você não vai me mandar de volta para o acampamento, vai? - Isso teria sido umatragédia maior do que a morte, a meu ver.Papai soltou um suspiro.- Não, não vou fazer você ir para o acampamento. Acho que nunca deveria ter mandadovocê para lá. Está uma moça, pode tomar suas próprias decisões. Se quer sair com essesujeito, saia.Para ele, foi um discurso longo. Senti uma onda de amor por meu pai e desejei pelamilionésima vez que as coisas fossem diferentes entre nós.- Obrigada, papai. E... estou feliz que tenha voltado para casa.Papai balançou a cabeça.- Você e eu precisamos conversar, Tashi. Nós nunca chegamos a conversar ... depois quesua mãe morreu. - Ele respirou fundo. - Mas vá se divertir . Nós temos todo o tempo domundo.Havia lágrimas em meus olhos quando olhei de novo para ele. Mas pela primeira veznesse dia eram lágrimas de alegria.

14- Michael

Chovia forte e a água escorria pelas vidraças da janela do quarto quando me levantei ecomecei a ensaiar em silêncio o que iria dizer a Tashi. Enquanto vestia o jeans e ummoletom desbotado da Faculdade do Brooklyn, ia rezando a quem porventura estivesseme ouvindo, fosse quem fosse, para me ajudar a atravessar a meia hora seguinte semferimentos graves.Bati com suavidade na porta, a espera de que ela me respondesse com aquela sua vozmacia. Não obtive resposta e sorri. Ela tinha dormido mais de dez horas e continuava naTerra do Nunca. Mas não dava para esperar mais. Apesar do nervoso e das pontadas noestômago, o que eu mais desejava no momento era tirar dos ombros o fardo que vinha

carregando desde o último sábado.Abri um centímetro da porta e chamei de novo, baixinho:

Page 64: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 64/80

- Tashi? Está na hora de acordar. - Nenhuma resposta.Enfiei a cabeça no vão da porta e vi imediatamente que ela já havia acordado. A camaestava desfeita, a camisola no chão, o ursinho de pelúcia jogado numa cadeira. Sorrinovamente. Pela primeira vez, Tashi tinha acordado antes de mim.

 No caminho para a cozinha, meu coração começou a bater com fúria. Por favor  , nã o me

od eie. P or favor, compr eenda. Por favor  , não me diga que nunca mais vai fal ar comigo. Palavra nenhuma faria justiça àquela situação, mas eu torcia pelo melhor .O cheiro de café fresco estava no ar e eu botei meu melhor sorriso na cara ao entrar .

 Finja que e stá confiant e , disse com meus botões. S e você não d er importância demaisao assunto, ela também não dar á.- Tashi? - chamei, olhando cheio de expectativa em volta.Ela não estava lá. Vi um bule de café quente, um pacote de rosquinhas frescas, mas nemsinal de Tashi. Um arrepio gelado de medo me percorreu o corpo. Onde estava ela?Percorri a casa toda, sem querer acreditar que ela tinha ido embora. Mas não havia

 barulho de água no banheiro, ninguém assistindo televisão, ninguém lendo jornal nasala. Eu já estava praticamente me arrastando ao chegar ao vestíbulo de entrada. Meus

temores foram confirmados quando vi vazio o gancho em que estava pendurada sua jaqueta de couro.- Ela com certeza deu um pulo até a mercearia - disse em voz alta. Voltei pé ante pé àcozinha, para não perturbar a tranqüilidade da casa. Servi uma xícara de café e quase ri.Claro , ela foi at é a mercearia. Onde mais poderia ter ido?Foi somente quando coloquei a xícara em cima do New York Press aberto que repareino café derramado. A mancha ainda estava úmida e as letras impressas meio borradas.Depois, vi a xícara que Tashi sempre usava tombada ao lado da mancha .Ela se fora. Ela se fora para sempre. Esse era um fato tão certo quanto a chuva lá fora.

 Ela sabe. Tristeza, pura e simplesmente, teria sido muito melhor do que as emoções quesenti nos dois minutos seguintes. O café que eu tomava me sufocou. Meus pulmões secontraíram de tal forma que não conseguia mais respirar . Meu coração estavadespedaçado. Mergulhei então num mar de desespero e remorso, praguejando contra a

 própria existência.Em seguida, vi o anúncio no New York Press e toda a seqüência infeliz de eventosocorridos logo cedo desenrolou-se a minha frente. Ele vencera. Kari havia me faladoque William era esperto, mas eu não esperava uma emboscada como essa. Assim queTashi viu seu nome impresso, com o apelo desesperado do namorado para que ligasse, o

 passado deve ter voltado feito uma onda gigante.E, ao perceber a verdade, tudo que lhe passou pela cabeça foi se afastar o máximo

 possível de mim, tanto assim que nem se importou em levar suas coisas. Imaginei-a

correndo sob a chuva, soluçando. Ou talvez não estivesse chorando. Talvez estivesseapenas com raiva, já confabulando uma vingança contra o rapaz do Brooklyn que tentoufazê-la de boba. Será que ainda me amava, mesmo que fosse só um pouquinho, nomomento em que fechou a porta?Paralisado pela dor , enterrei a cabeça nas mãos. Pela primeira vez em muitos anos,chorei.

***

- Michael, você não pode ficar vendo televisão no escuro pelo resto da vida - tia Rosedisse da porta da saleta.

- Por que não? É muito instrutivo. - Continuei de olhos pregados na tela, sem vontadede enfrentar o olhar dela.

Page 65: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 65/80

Tia Rose foi até a televisão e desligou-a. Quando se sentou ao meu lado, tive a nítidasensação de que iria ouvir um daqueles discursos do tipo "eu tenho mais experiênciaque você" que os adultos têm na ponta da língua para ocasiões assim. E eudecididamente não estava a fim de uma dessas conversinhas animadas.Depois que a primeira de uma série de ondas de total desolação pelo ocorrido se desfez,

liguei para a loja do senhor Branin dizendo que estava doente. A preocupação do patrãocom minha saúde me deixou com tamanho sentimento de culpa que comecei de fato ame sentir doente. E não era só da alma.Arrastei-me até o sofá com um saco de salgadinhos de queijo, uma garrafa de dois litrosde refrigerante e o controle remoto. Daquele momento em diante, passei a me interessar 

 por um programa que acompanhava um julgamento. E tinha acabado de ver otestemunho da mulher do Arizona que tinha matado o marido. Aparentemente, o babacaera tão traiçoeiro que o advogado da mulher estava alegando legítima defesa. Ela comtoda certeza seria absolvida. Fechei os olhos, imaginando Tashi com uma armaapontada para mim. Você merece , Michael Hobart . E merecia mesmo.- Eu volto ao trabalho amanhã, tia Rose. Mas no momento tudo que estou conseguindo

fazer é ficar aqui sentado no sofá, pensando nos méritos da automutilação.Ela soltou um suspiro.- Michael, a Tashi sofreu um grande choque. Ela está furiosa com você. E com razão.Mas talvez mude de idéia.Sacudi a cabeça.- Ela está apaixonada por outro cara.- Correção, meu querido. Ela estava a paixonada por outro cara. Pouco importa que elatenha batido a cabeça ou não. O que está muito claro par a qualquer um que queir aenxergar é que a Tashi é louca por você.- Quem me dera poder acreditar nisso. O  problema é que você não a conheceu antes da

 perda da memória. Ela não ia com a minha cara, me desprezava. Mal podia respirar omesmo ar  que eu...- Michael, você está sendo melodr amático.Usei o controle remoto para ligar a televisão de novo.- Não estou não, tia Rose. Juro.Ela me deu um tapinha no joelho, depois levantou-se do sof á.- Essas coisas levam um certo tempo, Michael. E por enquanto vou descartar a

 possibilidade de vir a ter um sobrinho viciado em televisão. No fim, tudo se ajeita.Assim que ela saiu da saleta, não consegui mais me concentrar no programa. Apertei o

 botão que tirava o som do aparelho, endireitei-me no sofá e peguei o telefone. Era preciso tentar .

Eu tinha decorado o número de Tashi já no primeiro dia que ela passara conosco. Repetios dígitos várias e várias vezes na cabeça, juntando coragem para discar . Por fim,respirei bem f undo e apertei o código de sua área em Manhattan, mais os primeiros seisdígitos do número do telefone. Mas, no sétimo, perdi a coragem.Desliguei e me atirei no sofá. a que eu poderia dizer a ela? "Descul pe" só não iaadiantar grande coisa. E talvez William estivesse lá. Era possível até que estivessemrindo, se perguntando se eu seria patético o bastante para ligar para ela. Coloquei otelefone de volta à mesinha. Não vou li g ar, falei com meus botões. Não , por enquanto.Aumentei o som da televisão e cacei as migalhas que restavam no saco de salgadinhos.Mas, enquanto o juiz na tela discorria interminavelmente a respeito da legislação delegítima defesa, meu olhar se firmou no telefone. Quando ele tocou, dei um pulo.

- Alô? - res pondi antes que o primeiro toque tivesse terminado, com o coraçãodisparado.

Page 66: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 66/80

- Oi, Michael. Rocko.Desabei de novo, totalmente decepcionado.- A Kar i me contou - ele disse sem rodeios.Desliguei a televisão, desejando mentalmente que fosse possível desligar a mim mesmo

com tamanha facilidade.- Como é que ela soube?- Aquele panaca do Gallagher ligou par a ela. Cara, ele está nas nuvens.- E a Tashi ficou brava com a Kari?Rocko soltou uma risadinha.- Brava é apelido, cara.- Que desastre. Teria sido muito melhor se nós nunca tivéssemos conhecido essasmeninas. - Virei de barriga para baixo, de f rente para a parede br anca da saleta. Nuncatinha notado o quanto aquela sala se parecia com uma cela de prisão.- Do que é que você está falando, Hobar t? Antes de mais nada, as coisas entre a Kar i eeu estão uma maravilha. Em segundo lugar, você vai ganhar a Tashi Pendleton de volta.

O eterno otimismo do meu amigo era verdadeir amente es pantoso e também um tantoirritante.- Rocko, não tem mais nada entre nós. A Tashi foi embora sem nem se despedir . Elanão me deixou nem mesmo um bilhet e.Deu para ouvir quando Rocko soltou um suspiro de frustração. Ele vivia me dizendoque eu sempre desistia depressa demais quando as coisas apertavam para o meu lado.- Cara, você vai ligar para essa garota. E é agora. Vamos, ligue.Ouvi-o desligar e depois o ruído de discar . Deixei o aparelho pendurado na mão, semenergia nem sequer para colocá-lo no gancho.- Por que essas coisas só acontecem comigo? - gemi, enf iando a cara nas almofadas já

 bem usadas do sofá. - Por que é que eu não mono?Por fim, consegui me levantar e repus o telefone no lugar . Assim que me vi de pé, omundo, ou pelo menos aquela saleta, me pareceu diferente. Talvez Rocko tivesse umacerta razão, no fim das contas. Se a Kari gostava de um cara que mor ava no Brooklyn,

 por que a Tashi não poderia sentir a mesma coisa? Claro que meu amigo não tinhainventado uma mentira das grossas sobre o passado de Kari. E ela não era uma esnobede nariz empinado. Só que Tashi t ambém não era uma esnobe de nariz empinado. Pelomenos não mais. Além disso, também já fora do Brooklyn. Quer dizer , o pai dela já forado bairro. Sem contar que todas as pessoas deste mundo, à exceção de Tashi, pareciamachar esse tal de William um completo idiota, para não falar um babaca .As racionalizações me passavam pela mente, uma após a outra. Toda vez que chegava à

conclusão de que Tashi e eu estávamos destinados um ao outro, me vinha à cabeça umoutr o argumento contrário qualquer . À medida que a lista dos prós e dos contras iacrescendo, aumentava também minha vontade de falar com Tashi. Eu não podia

 permanecer em silêncio.Dessa vez disquei o número completo, resolvido a lutar por ela. Não estava chegando a

 parte alguma ali sentado feito um bobo na frente da televisão, comendo porcarias. E aessa altura também já não tinha mais nada a perder . Eu tinha chegado ao fundo do poço.Ela atendeu no terceiro toque.-Tashi...E desligou antes que eu pudesse me identificar . Mas eu não ia desistir . Ela tinha de falar comigo. Pouco me importava inclusive se o namorado estava com ela ou não. Disquei

de novo.- Por favor, não desligue - implorei quando ela atendeu no primeiro toque.

Page 67: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 67/80

Quando abriu a boca, sua voz estava mais fria que água gelada.- Não quer o falar com você nunca mais. E tenho cer teza de que entende o porquê.Foi como se minha espinha dor sal tivesse derretido. Desmoronei no sofá, com o fone

 pressionado no ouvido.- Tashi, por favor ...

- Será que não f ui bem clara? - O tom de voz era cortante. - Acabei de dizer que nuncamais quero falar com você. O que inclui você falar comigo. Vou desligar o aparelhoagora.O tom de discar me soou como uma marcha fúnebre. Agarrei o estômago, à beira devomitar salgadinhos de queijo pela saleta toda. Louco por mais punição, disqueinovamente e obtive sinal de ocupado.Quando liguei, cinco minutos depois, a linha continuava ocupada. E dez minutos de poisdisso. E quinze minutos mais tarde.Tashi tinha tirado o telefone do gancho, cortando-me de sua existência. Deitado de ladono sofá da saleta, com os joelhos enfiados no queixo, Manhattan parecia estar num outrocontinente e não a uma ponte de distância.

Tashi Pendleton e eu tínhamos terminado tudo, antes mesmo que tivéssemos começadode fato.

15- Tashi

 Na quinta-f eir a, pela manhã, papai estava à minha es pera na sala onde sempretomávamos o caf é. Na frente dele, havia uma xícar a de caf é, o Wall S t r eet Journal e umcestinho de croissants. Mas, quando o olhei melhor , vi que fitava o vazio, esquecido deseu ritual matinal.- Que bom que já acordou - disse ele, enquanto eu me sentava a sua f rente.- É, já. Foi meio estranho acordar em minha própria cama. - Ser vi uma xícar a de café

 para mim, sentindo-me um tanto constrangida.- A Amtr ak disse que vai devolver suas malas hoje à tarde.- Ainda bem - r espondi distraída. Estava mais preocupada em imaginar Michaeltomando o seu café da manhã. Embora com cert eza já tivesse id o tr abalhar  , a essaaltura , pensei.- E então, como foi o r eencontro com o William? – Perce bi que estava tentando ser agradável.- Ótimo. Maravilhoso. - E  stranho. S em g raça.Papai virou rapidamente os olhos para a primeir a página do jornal e revivi mentalmentemeu encontro com William...Vi-o assim que entr ei no Caf é Americano. Estava numa mesinha de mármore pegada à

 janela da frente, no melhor lugar , claro, tomando um café ex presso. Ele se levantara, de braços abertos, impecavelmente vestido com uma malha de algodão amarela e jeans daCalvin Klein. Não restava a menor dúvida de que era um r a paz bonito, fino e

 plenamente consciente de sua condição de morador rico da par te mais exclusiva deManhattan.Correspondi ao abr aço, dizendo a mim mesma que esse era o instante pelo qual estiver aes perando desde que William saír a de minha casa, no sá bado.- Tashi, ainda bem que você está aqui.Seus lá bios tinham se juntado aos meus, num beijo ex ploratório. Correspondi, tentandoem vão afastar da lembrança os beijos de Michael. Mas o contr aste era ó bvio demais.Ao passo que os lábios de Michael eram fir mes e seguros, os de William eram moles e

um tanto desajeitados. Como é que eu não tinha reparado nisso antes? E William parecia sempre tão consciente de si mesmo, mesmo ao sussurr ar meu nome e enroscar 

Page 68: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 68/80

os dedos em meus cabelos, que me parecia mais uma personagem de filme do que umcara apaixonado. Afastei-me dele por fim, convencida de que estava apenas passando

 por um período natural de readaptação.- Você nem vai acr editar no que eu passei - f alei, sentando numa das cadeiras de ferroem volta da mesa pequena.

William fizera um gesto para que o garçom trouxesse mais um expresso, depois voltou-se para mim.- Eu bem que desconfiei de que a Kari estava aprontando alguma coisa, no dia em queliguei par a ela. Juro, não sei por que você continua amiga dela. Aquela garota não temum pingo de classe.Lembrei-me de Kari voando até o Br ook lyn tão logo ficou sa bendo de meu acidente. Edas compras que tínhamos feito. E de quando me contou um monte de coisas a r es peitode minha mãe, justamente quando eu me sentia tão distanciada de todo o passado.Depois lembrei-me de sua tenebrosa traição.- Bom, agora não somos mais amigas, portanto não se preocupe com esse assunto -respondi.

- Então tudo que você foi obrigada a passar teve seu lado bom. Isso e não ter mais que ir  para aquele acampamento idiota. - William me parecia incrivelmente satisfeito, como setivesse orquestrado tudo em pessoa para que eu ficasse com amnésia e ele pudesse obter o que queria.O gar çom colocou o caf é na minha f rente e tomei um golinho. Tinha um sabor forte eamargo.- Mas eu ainda nem contei a você tudo que aconteceu.- Então, me conte. Embora eu tenha certeza de que nem se compara a tudo que eu

 passei. Você nem imagina como é duro ter de lidar com uma namorada desaparecida.Suspirei. William dava a impressão de estar muito mais preocupado com o própriosofrimento e com seus atos heróicos do que com o fato de minha vida ter literalmentevirado de cabeça para baixo.- Você nem sequer me perguntou onde estive hospedada - ressaltei.Ele pôs a xícara sobre a mesa.- E onde foi que você ficou?- No Brooklyn. - Estava esperando que me perguntasse também na casa de quem euficara hospedada. Mal podia esperar para que uma outra pessoa se sentisse tão furiosacom Michael Hobart quanto eu.William fez uma careta.- Você andou morando no Brookl  yn? - Ele sacudiu a cabeça. - Coitadinha. Deve ter ficado aterrorizada.

Lembrei-me da casa aconchegante de Rose, das ár vores verdinhas e da vizinhançasimpática. Seria difícil classificar aquilo tudo de terror.- O Brooklyn até que não é mau. Você sabia que meu pai se criou lá?William estendera a mão para mim. Os dedos estavam meio grudentos, frios.- Tashi, isso foi há muito tempo. Ele nem se lembra mais. - Depois estremeceu. - Nãovamos pensar mais nisso.Puxei minha mão. William era um esnobe tão elitista que eu não sabia o que pensar.Será que sempre fora assim tão bitolado?- Como quiser , William.De repente, tinha perdido a vontade de lhe contar sobre a peça que Michael me pregara.Queria bloquear a experiência toda, tirá-la da cabeça. Se contasse a William, ele iria

querer tirar satisfações. Mas, se guardasse comigo os detalhes do que me acontecera nosúltimos dias, nós dois poderíamos recomeçar de onde tínhamos parado. Ainda havia um

Page 69: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 69/80

verão inteiro para passarmos juntos; para que nos envolvermos no drama dos últimosdias?- E então, onde é que você ficou?- Ah, na casa de uma amiga da Kari. Você não conhece.- E pus os olhos na xícara decafé.

Pelo visto, William pressentiu que eu estava escondendo algo dele.- Que amiga?- Ninguém importante - falei, relembrando os olhos quentes e grandes de Michael, o

 peito largo. - Agora me conte, o que você andou fazendo? Como vão as aulas preparatórias para o teste de aptidão?William ficou satisfeito com minha resposta. Agora que seu mundo tinha voltado àantiga ordem, não queria mais pensar sobre nada que pudesse desarranjá-lo. Deu umsorriso.- Tenho certeza de que não será surpresa nenhuma se eu disser que obtive as melhoresnotas do grupo no primeiro exame prático. Minha única preocupação é que a professoranão parece saber exatamente do que está falando...

Durante os sessenta minutos seguintes, tomei vários cafés expressos e ouvi WilliamGallagher discorrer sobre si mesmo. Bem como nos velhos tempos...Meu pai sacudiu o jornal, trazendo-me de volta ao presente.- Tashi? Você ouviu o que eu disse?

 Neguei com um gesto de cabeça e peguei um croissant. - Desculpe, papai. Estavadistraída.- Quem é esse tal de Michael Hobart? Nunca tinha ouvido você falar nele antes.Meu pai me olhava com curiosidade, sem a menor idéia de que tinha acabado de mefazer uma pergunta perigosamente carregada de mil e uma implicações.- Ele é só, bem, um conhecido meu. Foi ele que me encontrou na estação Penn e melevou para a casa dele.Eu não suportaria dizer toda a verdade a papai. Só de pensar em Michael, meu sanguesubia todo para o rosto. Como com William, deixei os detalhes de lado.- Bom, o certo é que ele me pareceu um rapaz muito decente, ao telefone. Gostaria delhe agradecer pessoalmente por ter tomado conta de você.- Não vejo a menor necessidade disso, papai. Por favor, será que podemos esquecer esseassunto? - Tirei um pedaço do croissant e enfiei na boca, mastigando com ferocidade.Meu pai arqueou a sobrancelha.- Mas, é claro, se você acha melhor assim.-Acho.Ele concordou de cabeça, com ar pensativo.

- Mas existem certas coisas sobre as quais precisamos conversar . - afastou o jornal. -Você e eu temos que nos pôr em dia. Estamos cerca de cinco anos atrasados, pelos meuscálculos.Engoli o grande nó que havia se formado na minha garganta.- Como assim? - Minha voz era um mero fiapo. Nós nunca tínhamos tido uma conversa" pessoal" e a perspectiva parecia assustadora.- Antes de morrer, sua mãe me fez prometer que eu não ficaria afundado na dor . Elaqueria que você tivesse uma adolescência normal, feliz, cheia de amor e risadas...mesmo que não pudesse mais estar conosco. - Papai calou-se uns instantes, fechando osolhos bem apertado. - Percebi, neste último mês, que não cumpri minha promessa. Eulhe dei cartões de crédito, estabeleci hor ários para que chegasse em casa, indaguei sobre

seus deveres de casa, mas acabei não conhecendo você como pessoa. E, no último fimde semana, quase a perdi...

Page 70: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 70/80

Eu não fazia idéia do que dizer . Claro que me ressentia de todos os anos que papai passara afastado de mim. Mas nunca imaginara que ele fosse admitir o erro. Pela primeira vez, percebi que ele era um ser humano de carne e osso, não apenas um robô ame decepcionar constantemente.- Puxa, pai, você tem sido ótimo. Quer dizer , não é culpa sua que eu tenha batido a

cabeça.- Não é culpa minha que tenha batido a cabeça, mas é culpa minha não ter percebidoque havia algo de muito errado. Enquanto eu estava pelo país, fazendo palestras, você

 poderia ter ficado perdida em algum beco escuro, sem a menor defesa.Ele me parecia tão desolado que tive vontade de consolá-lo. Ver papai assim tãoderrotado era assustador, como se o rochedo de Gibraltar estivesse ruindo.- Bom, o acampamento devia ter avisado que eu não apareci.- Eles tentaram. A dona do acampamento conseguiu me localizar no mesmo dia em quefalei com o Michael. Ela estava quase louca de tanta preocupação.- Mas tudo acabou bem. Já estou muito melhor e não preciso ir para o acampamento. -Tentei fazer uma voz alegre, embora soubesse que as coisas não tinham acabado nada

 bem.Papai continuou falando, como se não tivesse me ouvido.- Quando falei com Rose Hobart, ao telefone, percebi que ela conhecia você, minha

 própria filha, muito melhor do que eu.- Não tenho sido a pessoa mais fácil do mundo para alguém ficar conhecendo - falei, mevendo com clareza pela primeira vez desde a morte de mamãe. - Depois que ela se foi,eu quis me proteger de tudo que pudesse me magoar de novo... Agora sei que isso não é

 possível. - Pensei em Michael e na dor que ele me causara. - A vida simplesmente nãofunciona desse jeito.Papai se debruçou sobre a mesa e me deu um beijo na testa, segurando-me bem juntinho

 por alguns instantes.- Você realmente cresceu, Tashi. Estou muito orgulhoso.Deixei escapar uma lágrima.- Obrigada, papai. Isso significa muito para mim. - Eu tinha crescido, é verdade. Mas aque preço?Ele sorriu.- E então? Acha que pode dar a seu velho pai mais uma chance? Será que podemos

 passar o restante do verão reconstruindo o que tínhamos quando você era pequena?- Gostaria muito - falei, sorrindo para ele.Por alguns momentos, senti apenas alegria. Michael, William e Kari ocupavam umlugar muito distante em minha mente. Agora iria finalmente reencontrar meu pai. A

esperança secreta acalentada durante tantos anos iria enfim se tomar realidade. E, por ironia do destino, graças a Michael.

 No sábado à noite, vesti um longo de linho preto e calcei sandálias também pretas desalto. William tinha me convidado para fazer um programa especial e eu tinha certezaabsoluta de que essa seria a noite em que nosso relacionamento retomaria o mesmocurso tranqüilo dos últimos cinco meses. Assim que isso acontecesse, a constantedepressão que estava sentindo por causa de Michael sumiria por completo, sem sombrade dúvida.Durante os últimos dois dias, consegui driblar com sucesso todas as chamadas de Kari.Minha ex-melhor amiga era uma das pessoas que encabeçavam a lista de todos aqueles

que eu queria esquecer . Já tinha tirado do quarto todas as fotografias em que ela

Page 71: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 71/80

aparecia, me lembrando, enquanto fazia isso, de Michael e sua velha máquinafotográfica.Papai estava cumprindo sua promessa de tentar me conhecer melhor . Reduzira as horasde trabalho e fazia um esforço enorme para ser simpático com William. Chegarainclusive a convidá-lo para jantar no domingo à noite. Minha vida era tudo que as outras

meninas desejavam ter, descontando o fato de eu sentir uma falta tremenda de Michael ede Rose. E de Kari. Até mesmo de Rocko e do maluco do senhor Branin.Exatamente às oito da noite, Gregory ligou para dizer que William me es perava na

 portaria.- Já estou indo - falei pelo interfone.Ainda que papai estivesse sendo para lá de educado com William, eu não queria forçar as coisas.- Tchau, pai - gritei. E saí antes que ele tivesse tempo de estabelecer um horário paraminha volta. Certas coisas não mudariam jamais.William me esperava encostado na porta da frente do prédio, ignorando de propósito a

 presença de Gregory.

- Ei, princesa. Você está uma gata.- Obrigada, você também. - Usando uma calça bege de linho e paletó esporte azul-marinho, William parecia um modelo.O beijo me pareceu uma mera formalidade.- Fiz reser vas no Tavern on the Green para o jantar – disse ele, animado. - Mas isso vemdepois. Primeiro a surpresa.Tentei exibir um pouco de entusiasmo diante da perspectiva de jantar num dos melhoresrestaurantes de Nova York . O Tavern on the Green ficava no Central Park e suas luzes

 brancas piscando o tempo todo eram uma visão conhecidíssima de todos aqueles quetinham dinheiro para jogar fora. Em outras palavras, um mundo à parte dos cachorros-quentes do Nathan.O táxi nos deixou na entrada do Central Park , bem junto à fila de carruagens que tinhamme parecido tão românticas poucos dias antes. Uma coincid ência , falei comigo mesma.

 Apenas uma coincid ência.Mas, quando William se dirigiu par a a mais enfeitada de todas, eu sabia que estavanuma enrascada.- Uma volta de carruagem! - exclamou ele. – Até que não é uma má surpresa, não acha?Parada na esquina, tive o desejo insano de ser atropelada por um ônibus. Como é que

 poderia subir numa carruagem acompanhada por William? Pensei até em dizer que eraalérgica a cavalos ou que tinha acabado de lembrar que tinha deixado o ferro de passar ligado. Tudo para escapar àquela sensação de lembrança envolvendo cavalos e

cocheiros. Mas William já acenava para mim. Não havia escolha, senão aceitar asurpresa".- Vamos, princesa. Tempo é dinheiro. - Ele me a judou a subir , depois sentou-se a meulado.- Boa noite - falou o cocheiro, virando-se para mim.Quando vi seu rosto, deixei escapar uma exclamação abafada. Era o mesmo homem queconduzira a carruagem para Michael e eu! Percebi, pela piscada conspiradora, que tinhame reconhecido, mas felizmente não abriu a boca a respeito.- Ah, sim, olá - gaguejei, com o coração aos pulos.Sem dizer mais nada, o homem pegou as rédeas e partiu. Enquanto a carruagem sedeslocava devagar , eu ia dizendo a mim mesma que devia estar me sentindo feliz. Meu

 passeio com William poderia apagar as últimas lembranças de Michael. Sobretudo

Page 72: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 72/80

aquela em que tínhamos dito que nos amávamos pela primeira vez. Fechei os olhos e bloqueei todo e qualquer pensamento que não dissesse respeito a William.Quando entramos no parque, ele me puxou mais para perto.- Esperei tanto por isto, Tashi - ele me sussurrou.- Ah... Mi- Parei atônita. Era inacreditável, mas eu quase dissera o nome daquele

imbecil do Michael. William me olhava com uma expressão estranha no rosto.Recuperando-me, tentei disfarçar e mudei de assunto. - Ah, mas que coisa. Minha pernadormiu. Mas já passou.William segurou os meus ombros com firmeza e aproximou a boca da minha. Seuslábios me pressionavam, quase como se estivesse com raiva de mim. Retribuí o beijo eele se acalmou. Depois de alguns instantes, sua respiração acelerou-se e ele me apertoumais forte.Mas tudo que eu sentia era uma grande frieza. Não dava mais para fingir que gostavados beijos de William. Por mais que o tivesse amado, isso agora era passado. Eu odiavaMichael, mas não sentia absolutamente nada por William. Não podia continuar fingindo. Afastei-me, louca para pôr um pouco de espaço entre nós.

- Tashi, eu amo...- William, pare. Por favor - o interrompi. Não queria ouvi-lo dizer aquelas palavras.Seria doloroso demais.- Por quê? - Ele parecia ofendido.- Nós não nos amamos. Não de verdade. - Agora que tinha dito o que pensava, ocinturão de aço que me apertava a cabeça afrouxou. Estava livre.- Do que você está falando? Nós somos o casal mais popular da escola. Somos um time.

 Nosso último ano no colégio vai ser incrível... - William parecia incrédulo, como se eutivesse dito a ele que seu crédito na praça estava esgotado.Sacudi a cabeça.- Tudo isso não é amor . O amor é uma coisa... bom, avassaladora, para nos deixar dequatro. E nós não estamos de quatro um pelo outro.William franziu a vista, desconfiado.- Você está gostando de alguém? - ele quis saber .- Na verdade, não... de jeito nenhum. Mas não podemos continuar nos vendo.Simplesmente não é certo. - Eu me sentia ao mesmo tempo triste e aliviada. Acabara decortar mais uma pessoa da minha vida, o último elo com minha antiga vida social . Masnão me arrependi da decisão. Nem por um segundo.William se afastou para a ponta do banco.- Você tem idéia de quantas garotas fariam qualquer coisa para sair comigo?- Tenho, William. E elas todas terão uma sorte tremenda se conseguirem você como

namor ado. Mas não estamos indo a parte alguma assim. - Senti que estava ficando maisforte a cada palavra dita. Eu era Tashi Pendleton, uma mulher independente.- Essa é sua decisão final?- É. - Eu olhava direto para a frente. - Sinto muito.- Cocheiro, leve-nos de volta - William falou com rispidez. Depois, virou-se para mim. -

 Nem pensar em jantar no Tavern on the Green.E assim foi. Depois de cinco meses de namoro, as palavras finais de William sobrenosso relacionamento concentraram-se no cancelamento de uma reserva. T chau ,William , falei comigo mesma. E já vai tard e.

16- Michael

Uma semana e um dia d e pois.

Page 73: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 73/80

A sacola da Bloomingdale's pesava uma tonelada em meu colo; eu estava subindo aavenida Lexington no tr em número 4. Tinha desistido de ligar para Tashi. Nos primeirosdias, insisti bastante, mas as por tas não se abriram. Ela estava seguindo adiante com suavida e tinha me deixado perdido em meio à poeira.Durante a semana toda, a simples visão de suas coisas me jogava de novo numa espiral

depressiva. Cheguei até a dormir com o ursinho de pelúcia dela, um atoverdadeiramente patético. Mas, nesta manhã, acordei com necessidade de limpar a casade todo e qualquer vestígio de sua presença. Estava dentro de um vagão abafado dometrô, a caminho da cidade, a fim de devolver a Tashi as últimas peças que faltavam emsua vida.Quando saí da estação, senti o ar quente e pesado. A r egião do Upper East Side em ger alé muito calma nos fins de semana, e naquele domingo as ruas me pareciamespecialmente desertas. Todos os ricos do pedaço tinham trocado o forno em que setransformar a a ilha de Manhattan pelas praias e ventos frescos de Hamptons.

 Não tive dificuldade para localizar o pr édio de Tashi. O nome e número estavamgr avados no toldo azul-claro em letras grandes o suficiente para serem vistas por meia

 Nova York . Estiquei o pescoço, tentando enxergar o último andar . Será que ela estavaem casa? Ser á que estava olhando pela janela naquele momento?Um senhor de meia-idade abriu a porta do pr édio.- Em que posso ajudá-lo, cavalheiro? - perguntou, com uma ex pressão de ligeiracuriosidade.Eu estava crivado de indecisões. Seria melhor pedir para falar com Tashi? Ousimplesmente deixar a sacola com o porteiro?- Bom, eu vim devolver algumas coisas de Tashi Pendleton - falei por fim.O sujeito par ecia estar se divertindo à beça com meu constr angimento. El e sabe quenunca pu s os pés num pr éd io como est e, pensei, sentindo-me um peixe fora d'água.- A senhorita Pendleton foi assistir a uma palestr a do pai - respondeu ele. - E só voltarádaqui a alguns dias.Fiquei, ao mesmo tempo, aliviado e pr of undamente decepcionado.- Bom, mas posso deixar isso aqui par a ela?- Mas é clar o. Pode deixar que eu entrego. - Ao estender a mão para pegar a sacola, foi

 preciso que o homem a puxasse. Uma parte de mim queria reter a sacola e levá-la devolta para o Brooklyn.Continuei ali parado, os braços caídos ao lado do cor  po, sem saber direito o que fazer .- Obrigado. Diga a ela, hum, diga a ela que foi o Michael quem trouxe.- Sim, senhor . - Ele abriu a porta de novo, à es per a de que eu saísse.Do outro lado do saguão com ar-condicionado, o verão nova-iorquino foi um tapa na

cara. Caminhei até a estação de metrô meio às cegas e colidi acidentalmente com duas pessoas e um poste.Quando entrei finalmente na estação, a cena no pr édio de Tashi já me parecia um sonho.Em poucos minutos, estava de novo dentro de um vagão de trem, voltando para oBrooklyn e para uma casa deserta.

- Michael, se eu soubesse como ela está, eu lhe diria – falou Kari, com frustração navoz.- Você não sabe de nada? De algum detalhe que tenha esquecido de me contar ? -

 per guntei outra vez.K ari e eu estávamos na sala de estar da casa de Rocko, assistindo a r e prises de um

 programa na MTY. Quer dizer , pelo menos Kari e Rocko estavam tentando assistir ao programa. Eu só queria falar de Tashi.

Page 74: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 74/80

- Caso você tenha esquecido, a Tashi não fala mais comigo. Juro que se ela bater maisuma vez o telefone na minha cara, meu ouvido vai ex plodir.Mas eu não estava disposto a desistir .- Mas você sabe que ela e o William terminaram. – Passei do sof á para o chão, pondouma almofada sob a cabeça.

- É. Mas só sei disso porque encontrei por acaso com o William no Za bar. Ele é que mecontou. - Kari passou par a o meu lugar no sofá e pôs os pés no colo de Rocko.- O que foi que ele disse e xatament e?Kari gir ou os olhos.- Ele disse, abre aspas, "Tashi e eu decidimos ter minar nosso relacionamento. Nósestávamos nos distanciando", fecha as pas. Só.Endireitei o corpo, socando a almofada.- E você não fez mais nenhuma pergunta? Do tipo como ela está se dando com o pai?Ou se a cabeça ainda dói?- Eu não suporto esse William Gallagher . Você acha que eu ia passar o dia no Zabar trocando abobrinhas com ele? De jeito nenhum.

Passei a mão pelos tufos curtinhos de ca belo da cabeça. Era incrível que Kari nãoestivesse tão cur iosa a respeito de Tashi quanto eu. Ser á que não se impor tava com oestado da amiga, que podia inclusive estar definhando naquele arranha-céu?- Bom, também não sou muito fã do William, mas pelo menos teria per  g untado - faleimal-humorado.O único ponto positivo dos últimos tempos, desde que Tashi se f ora, era saber que ela eGallagher tinham ter minado. Por pior que fosse minha vida sem ela, as coisas ficavamainda pior es quando eu tinha pesadelos com ela nos br aços daquele nojento.- Michael, não há nada que eu possa fazer. Não se esqueça de que foi você quem memeteu nessa situação.- Bom, mas as coisas não aca baram assim tão mal para o seu lado - salientei. Ela eRocko estavam namorando f irme e os beijos e abraços constantes me deixavam maluco.Rocko pigarreou para obter minha atenção.- Você precisa sair dessa, Hobart. E não pode ficar maltratando a Kari só porque estánuma pior . As coisas não têm sido fáceis para ela.Ótimo. Agora meu melhor amigo era mais leal à namorada de poucos dias do que amim. Lembr ei do que Rock o tinha falado pouco depois de conhecer Kari. O amor f azcoisa s muito loucas com as pessoa s. E claro que ele tinha razão. Claro que eu não devia

 pôr a culpa em Kari. Eu e apenas eu era o culpado por aquela situação infernal.- Desculpem. Acho que está meio impossível me agüentar ultimamente.Kari estendeu o braço e me deu um ta pinha no ombr o.

- Mesmo assim a gente gosta de você - falou com bondade. - Não é verdade, Rocko?Rocko encolheu os ombros.- Claro que sim. Mas essa confusão toda podia ser esclarecida assim, ó. - E estalou osdedos.- É mesmo? Então me diga como, Gr ande Mestre?- Tire o traseiro do sofá, vá até o pr édio dela, passe a força por aqueles porteirosmetidos e diga a ela que você a ama.Meus ombros caíram.- Infelizmente, não possuo seus dotes pré-históricos, Rocko.Kari soltou uma risadinha.- Não sei, não. Mas me parece uma idéia muito romântica.

Rocko lhe deu um beijo no rosto.- Se algum dia você me der o fora, é exatamente isso o que vou fazer .

Page 75: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 75/80

K ari se pôs a beijá-lo, como se eu nem existisse. Dei uma tossidinha para trazê-los devolta à r ealidade.- Vocês não se mancam? Estou com o coração despedaçado, e vocês aí esfr egando salnas minhas feridas.- Detesto ter de dizer isso, mas talvez você não estivesse aí sentado com o coração

 partido se tivesse contado toda a verdade a ela no momento em que disse que contaria . – A voz de Kari era suave, mas o tom era de censura.Esfreguei as mãos nos olhos, lembrando-me da noite em que pretendia confessar tudo.Da noite em que tínhamos dado um passeio de carruagem.- Bem na hora em que eu ia contar tudo a ela, ela vira e diz que me ama! - exclamei. -Como é que eu podia pôr as coisas em pratos limpos depois disso?- Talvez ainda haja esper ança. - Mas no fundo Kari não parecia convencida disso.Sacudi a cabeça.- O amor simplesmente não foi feito para mim. Vou viver o resto dos dias sozinho,vendo um batalhão de casais desfilarem na minha frente, fazendo exibições públicas deafeto.

Rocko soltou um rosnado.- Você tem de ganhar essa garota de volta, cara. Já não estou agüentando mais suasqueixas.Eu concordava em gêner o, númer o e grau com meu amigo. Precisava ganhar aquelagarota de volta.

Como não tinha recebido nenhuma resposta à devolução da sacola e como também nãotinha peito de invadir a cobertura de Tashi ao estilo Rocko, tive de pensar em outrasalternativas. Por isso, recorri à única coisa que me acompanhara durante os momentosmais duros da vida. Minha máquina fotográf ica.

 Na quarta-feira, voltei à loja do senhor Branin às nove horas da noite, bem depois dofechamento. Abri a porta com as chaves que o patrão me dera e em seguida desligueicuidadosamente o antiquado sistema de alarme.Dentro do laboratório fotográfico às escuras, a temperatura estava agradável. Nosfundos, havia uma câmara escur a já bem ultrapassada. Não estava mais sendo utilizada

 para revelar os filmes dos clientes, mas o senhor Branin me dera permissão para usar osequipamentos e as emulsões químicas. Tinha tudo de que precisava.Manuseando os dois rolos de filme preto-e- branco com as fotos tiradas de Tashi com omesmo cuidado com que teria lidado com um vaso da dinastia Ming, comecei arevelação. O processo familiar me absorveu por inteiro e pela primeira vez em dias mesenti como um ser humano outra vez.

- Já devia ter feito isso há muito tempo – disse comigo mesmo em voz alta, à espera deque as imagens aparecessem na brancura vazia do papel.E na mesma hora senti que eram as melhores fotos que já tinha tirado. Mesmo nosquadrados minúsculos das provas, eu via que Tashi era, de fato, o tema perfeito. Ainclinação da cabeça, o ângulo dos braços, o formato da boca, ela inteira voltou à vidanas fotos em preto-e- branco.Liguei o rádio de pilha que meu patrão tinha no laboratório e sintonizei numa estaçãoque só tocava jazz. A voz frágil porém belíssima de Billie Holiday era o pano de f undoideal para minha viagem pela alma de Tashi.Usei um lápis especial par a marcar as cinco melhores, depois passei para a ampliação.O tempo voou enquanto eu trabalhava as fotos, querendo que cada uma delas saísse

 perfeita. Billie Holiday foi substituída pelo Kind af Blue de Miles Davis e depois dissoveio um ál bum de Charlie Par ker . Meus movimentos er am tão precisos quanto os dos

Page 76: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 76/80

músicos que escutava. Até o final da noite, pretendia ter uma peça perfeitamentesincopada de arte que mostrasse a Tashi Pendleton o quanto eu a amava.Passava bem da meia-noite quando finalmente tirei as cinco fotos do pregador que asmantinha pendur adas para secar . Num balcão branco comprido na lateral do laboratório,

 pus as cinco lado a lado. Acendi a luz do teto, querendo estudar cada uma como se

estivesse debaixo de um microscópio.Fiquei satisfeito. As cinco fotos mostravam cinco diferentes estados de espírito. Tashiaparecia feliz, triste, brincalhona, pensativa e relutante. Peguei uma caneta de ponta defeltro e, devagar, comecei a pôr títulos em cada uma delas. O primeiro título que usei foio que a própria Tashi tinha sugerido: "Mulher que quer ser beijada".Er gui a foto dela caminhando em direção a minha máquina, inebr iado com a visão.- Tashi - sussurr ei. - Ser á que algum dia você vai quer er que eu a beije de novo?Era impossível evitar. De leve, quase sem me dar conta, encostei os lábios na boca

 bidimensional de Tashi. Acho que nem seria preciso acrescentar que beijar umafotogr afia não substitui de forma alguma o original.

17- TashiA pasta chegou dentro de um grande envelope pardo, sem ender eço do remetente.Minhas mãos tremiam de tal forma na hora de abrir que quase derrubei tudo no chão.Por algum motivo, sabia exatamente o que aquele envelope continha. Eram cinco fotos,cada qual mais bem cuidada que a outra. Bastou uma olhada para que as lágrimascomeçassem a escorrer sem par ar .Ver as fotos que Michael f izera de mim era o mesmo que me ver através de seus olhos.Como era possível alguém tirar fotos assim, se não estivesse apaixonado? Seus olhoshaviam capturado minhas ex pressões mais sutis e levado minha mais pura essência par ao primeiro plano.

 Na primeira, estava sopr ando as penugens de um dente-de-leão, com uma f isionomiaalegr e, sem maiores complicações. "Mulher sem passado", era o que estava escritoembaixo. Só de ver as linhas fluidas da letr a de Michael, fiquei morta de saudade.

 Na segunda, eu caminhava na direção dele, com o ca belo ao vento. Difícil acr editar queessa moça sorridente fosse eu; não dava um sorriso fazia dias. Embaixo, ele escreverameu próprio título: "Mulher que quer ser beijada".Ri alto ao ver a terceir a. Michael me f otogr afar a fazendo car as e bocas no es pelho dasala, de lábios fr anzidos num beicinho hollywoodiano e as sobrancelhas arqueadasquase até o alto da testa. O título era "Mulher sozinha com o es pelho".A quarta fotografia for a tir ada no dia em que fiquei sabendo que meu pai estavavoltando, com a testa fr anzida, enf iando uma colher no sorvete, o olhar ansioso.

"Mulher com medo" era o título.A última foto me fez soluçar alto. Fora tirada uma noite antes de eu ter recuperado amemória, horas depois de termos tomado o sorvete. Eu estava sentada nos degraus dafrente da casa, com a cabeça apoiada nas mãos. Meu rosto estava semi-oculto, como seestivesse tentando fugir às lentes da máquina. Pensando bem, nem me lembrava deMichael ter tirado essa foto. E meu coração disparou furiosamente ao ler o título:"Mulher prestes a despedaçar o coração do homem que a ama". Deitei-me na cama,abraçada às fotos. Quando fechava os olhos, o rosto de Michael aparecia tão nítido queera como se estivesse sentado ao meu lado. Meus pensamentos demoravam-se nos diasque tínhamos passado juntos e meu sangue corria mais acelerado nas veias quandolembrava de nossos beijos.

Estávamos no feriado de 4 de julho. O dia do piquenique no orfanato Saint Ann. Seráque Michael estaria ajudando Rose a servir as mesas? Será que estava pensando em

Page 77: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 77/80

mim? Morria de vontade de pegar o telefone. Mas me contive. Ele não tinha mandadonem um bilhetinho com as fotos. Talvez tivesse parado de pensar em mim. Já tinhatirado todas as minhas coisas de casa. Mandar -me aquelas fotos poderia ser o jeito quetivesse encontrado de pôr "fim" a nossa história.

 No dia em que voltei para casa, Lucy acabara resgatando minhas roupas molhadas da

lata de lixo. Dois dias depois, colocara todas elas sobre minha cama, lavadas, passadas echeirosas. Fui até o closet, onde guardara a camisa azul de Michael na última prateleirados fundos.Agarrei a camisa e desabei de novo na cama. Esparramei as cinco fotografias ao meulado, como se fossem um santuário, e mantive o tecido macio da camisa junto ao rosto,uma versão adolescente do cobertorzinho de bebê que certas crianças não largam por nada deste mundo. Depois chorei, sem nem mesmo tentar abafar o ruído do choro. Aslágrimas serviram de catarse e, depois de ter despejado o coração pela boca, adormeci.

***

- Tashi? Posso entrar?A voz hesitante de Kari e a batida suave na porta do quarto me acordaram. Espiei orelógio digital e percebi que tinha dormido por quase uma hora. Sentia-me renovada,como se tivesse saído sã e salva na outra ponta de um longo túnel escuro.- Entre - eu disse, sentando na cama. Esfreguei os olhos e passei os dedos pelos cabelosemaranhados.- Oi - Kari falou. Estava vestida com um daqueles famosos shortinhos e uma frente-única xadrez. - Pensei em dar uma passadinha por aqui, antes do piquenique.A raiva que me consumira durante dias e dias se fora. Olhei para o rosto inseguro deKari e sorri.-Que bom.Ela correu ao meu encontro e me levantei para retribuir o abraço apertado.- Tashi, será que você me perdoa? - perguntou ela, com a voz embargada pelas lágrimas.- Acho que sou a melhor amiga mais fajuta do mundo.- Não, só deu uma mancada - disse eu, abrindo espaço para ela na cama atulhada.Ela se sentou.- Não pretendia magoá-la, Tashi, juro. Mas achei que vocês dois faziam um casal tãoincrível! O William é um idiota e o Michael estava cuidando tão bem de você. ..- Tudo bem, Kari. Eu sei que não quis me magoar de propósito. - De novo, me lembreide todas as coisas boas que ela fizera quando eu não tinha a menor idéia de quem era. -Mas, se algum dia perder a memória, cuidado!

Ela riu.- Encontrei o William. Ele me disse que vocês dois já eram. Não vou dizer que tenhaachado uma pena.Encolhi os ombros.- Você e meu pai tinham razão a respeito dele. Ele é um egocêntrico sem um pingo de

 profundidade.- E o Michael? - ela perguntou, com a voz séria.- O que tem ele? - E aproveitei para enfiar as fotos debaixo do travesseiro, sem vontadede explicar a Kari o que elas significavam para mim.- Ele está apaixonado por você, e você sa be disso. Parece um cachorrinho sem dono,desde que você veio embora.

De repente, me senti muito melhor.-É mesmo?

Page 78: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 78/80

Kari fez que sim.- Toda vez que ele me encontr a, fica me infernizando par a saber como você está.Dobrei a camisa azul, pesando cada palavra de minha amiga.- Você acha mesmo que ele sente saudade de mim? Quero dizer, isso tudo pode fazer 

 parte de um grande complô que ele e o Rocko prepararam para me humilhar .

Kari girou os olhos.- Tashi, pense um pouco. Em primeiro lugar , o Rocko está caidaço por mim. Ele nãofaria nada que pudesse pôr nosso namoro em perigo. E uma brincadeira dessas mataria oromance mais rápido que uma bala. - Ao falar do namorado, os olhos de K ar iadquiriram uma ex pressão sonhadora que eu não conhecia.- Bom, então pode ser que seja tudo fruto da cabeça só do Michael . El e e seu complôhorrendo. - Não queria acr editar que havia esper ança. Não suportaria perdê-lo outr a vez.- Tashi, o cara está com o cor ação cem por cento despedaçado. Ele não come mais. Nãodorme mais. Tudo que f az o tempo todo é ficar olhando para a parede, resmungando oquanto gostaria de poder voltar os ponteiros do relógio.- É tudo muito confuso - gemi, jogando a camisa azul sobr e a cabeça. - Simplesmente

não sei o que f azer .- Você está apaixonada por ele? - Kar i perguntou. Tirou a camisa do meu rosto e sedebruçou para me olhar mais de perto.- Estou. Completa e loucamente apaixonada.Kari deu-me um sorriso largo.- Então é tudo muito simples. Venha ao piquenique do Saint Ann comigo. Depois digaao Michael que ainda o ama e aí nós todos poderemos seguir em fr ente com o r esto denossas vidas.- Não sei não, Kari... Vou pensar no assunto.- Bom, não pense demais. A gente não vai ficar lá no or fanato para sempre. -Levantando-se, ela me deu um último abr aço.- Obrigada por ter vindo me ver - falei. - Você era bem o que eu estava pr ecisando.Kari piscou forte algumas vezes.- Ainda somos boas amigas?Eu ri.-Ainda.Depois que ela se foi, peguei as fotos novamente. Fiquei sentada na beira da cama umtempão, pensando sobr e o que Kari tinha me dito. Se Michael ainda me amava, sealgum dia tivesse me amado, então eu precisava dar uma chance a nós dois. Talvez aantiga Tashi Pendleton tivesse permanecido escondida em sua cobertura elegante,enterrando sua dor debaixo de uma montanha de roupas novas e atitudes esnobes. Mas a

nova Tashi Pendleton queria enfrentar os problemas e dar a si própria uma o portunidadede ser feliz. Mesmo que isso signif icasse sofrer algumas dor es no caminho.Pulei da cama e fui até o escritório de papai.- Pai, você tem quinze minutos para se aprontar . Nós vamos a um piquenique.Papai er gueu os olhos do pa pel que estava examinando.- Vamos? Aonde?Sorri.- No Brooklyn. Pelo jeito você vai acabar conhecendo a família Hobar t.Voltei correndo para o quarto, com a adrenalina a mil por hora. Em quinze minutos,tinha me trocado, posto o vestido vermelho da Bloomingdale's e me embonecado toda.

 Dê no que der  , Michael  , aqui vou eu.

***

Page 79: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 79/80

- Nossa, isto aqui está par ecendo uma festa e tanto – papai comentou.Tínhamos optado por ir de metr ô e enquanto caminhávamos até o orfanato, meu pai foime contando histórias de sua juventude no Brooklyn. Estávamos já na entrada dogramado que rodeava a instituição, com uma multidão de crianças e adultos lotando o

lugar .- Eu ajudei a planejar isto aqui - disse eu, toda orgulhosa.- Rose me contou. - Papai balançou a cabeça, meio pensativo. - Fico feliz de ver queestá começando a se aventurar para fora de sua torre de marfim.Foi então que vi Michael. Ele parecia estar tentando organizar um jogo de bola, mashavia pelo menos uns cinco garotos puxando sua camiseta e exigindo sua atenção. Derepente, minha boca secou por completo e ficou difícil respirar . O tempo parou na horaem que ele ergueu a vista e cruzou o olhar comigo. Ficamos ali nos fitando de longe, osolhos grudados num transe magnético.- Tashi, que bom que você veio - ouvi Rose dizendo ao meu lado.Desviei com dificuldade os olhos de Michael e sorri para ela. De vestido florido e

alpargatas, parecia jovem e bonita. Abracei-a, contendo mais uma enxurrada delágrimas.- Oi, Rose. Quero lhe apresentar meu pai, Lincoln Pendleton.- Rose, muito prazer . - Papai apertou a mão dela, sorrindo de orelha a orelha. - Estavalouco para ter a oportunidade de lhe agradecer pessoalmente.Deixei-os no papo e voltei os olhos de novo para Michael . Ele tinha largado o jogo de

 bola e estava parado perto de uma árvore grande, quase encostada ao prédio principal doorfanato. Nem sequer senti os pés e praticamente flutuei até ele.- Olá de novo - ele disse. A voz saíra entre cortada, como se tivesse acabado de

 percorrer uma maratona.Qualquer dúvida que eu ainda tivesse sobre ele, desapareceu na hora em que vi seusorriso de boas-vindas e seu olhar intenso. Sorri de volta, estendendo a mão para ele.- Vamos começar tudo de novo - falei. - Eu sou Tashi Pendleton. E é um grande prazer conhecê-lo.- O prazer é todo meu - respondeu ele, mantendo minha mão entre as suas. - Mas devodizer que acho que já nos vimos antes. Tem certeza de que já não fomos apresentados?- Pensando bem, acho que sim. - Enquanto falava, fui me aproximando dele; tudo queeu queria era acabar com qualquer distância que houvesse entre nós. - Mas acho que foinuma vida passada.Ele riu.- Gozado. De repente, estou tendo a impressão de que hoje é o primeiro dia do resto de

nossas vidas. E dessa vez é para valer.Fiz que sim com a cabeça e as risadas sumiram na hora em que Michael encostou seuslábios nos meus. Fechei os olhos, consciente de todas as sensações que me invadiam.Enlacei-o pela cintura, puxando-o cada vez mais para perto de mim. Estávamosembevecidos um com o outro, famintos um do outro. Depois de muitos minutos,Michael encostou os lábios em meu ouvido.- Eu amo você, Tashi. No passado, no presente e no futuro.- Michael... - Sussurrei seu nome e nossas bocas se encontraram de novo. E de novo. Euma vez mais.

Horas depois, estávamos sentados sobre uma manta estendida na grama, ao lado de Kari

e de Rocko. Crianças corriam em volta com fósforos de cor, rindo e brincando de pega- pega. E eu nunca havia me sentido tão feliz em toda minha vida.

Page 80: Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-

8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 12 - Meu Suposto Namorado - Elizabeth Winfrey-www.LivrosGratis

http://slidepdf.com/reader/full/colecao-primeiro-amor-12-meu-suposto-namorado-elizabeth-winfrey-wwwlivrosgratis 80/80

Michael esticou-se no chão, com a cabeça em meu colo.- Nunca mais vou mentir para você - disse ele, me olhando fixamente.- E eu nunca mais vou jogar um copo de ponche em sua cabeça - retruquei,acompanhando com a ponta dos dedos o contorno de sua boca.- E eu nunca mais vou passar uma semana sem tomar banho - disse Rocko, da outra

manta.- Rocko! Seu porcalhão! - Kari exclamou, e todos nós caímos numa imensa gargalhadaque só os grandes amigos sabem dar juntos.Michael endireitou-se, vistoriando o gramado.- Onde é que a tia Rose está? - Ele franzia a vista para ver se via alguma coisa no lusco-fusco.Olhei em volta, dando-me conta de repente de que não prestara mais a mínima atençãoem papai, depois de tê-lo apresentado a Rose, duas horas antes. E foi aí que localizei osdois, sentados lado a lado no chão. Havia dois pratos de comida na frente deles e algoque me pareceu uma garrafa de vinho.- Olhe ela lá. Com papai - apontei.

Os olhos de Michael se arregalaram.- Puxa, nunca vi tia Rose sentada tão perto assim de um cara. Minha mãe vivia dizendoque ela tinha perdido a ilusão depois que o noivo a deixou, quinze anos atrás.- Eles até que fazem um casal bem simpático... - disse Kari, pensativa.Soltei uma risadinha.- Lá vamos nós de novo. O trabalho das casam ente iras não termina nunca - brinquei.Mas por dentro senti uma satisfação gostosa, imaginando papai e Rose apaixonados um

 pelo outro, depois de tantos anos de solidão. E, se por acaso algum dia se casassem, nósquatro poderíamos morar na mesma casa... quem sabe naquela mesma casa do Brooklynonde eu me apaixonara por Michael.De repente Michael riu alto.- O que foi? - perguntei, entrelaçando meus dedos nos dele.- Acabei de lembrar de uma coisa que tia Rose me disse. "O mundo é um lugar maravilhoso e cheio de mistérios. Sempre espere o inesperado."Olhei de novo na direção de papai e de Rose, que pareciam estar a poucos milímetros dedistância, sobre a manta. Depois olhei para Michael, que desenhava um coração emminha perna, com a ponta do dedo.- É verdade - sussurrei. - Um lugar maravilhoso e cheio de mistérios.

*** FIM ***