cognição social

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Psicologia As relaes interpessoais Os processos de cognio social

Como compreendemos os outros? (Cognio social)

Como que nos relacionamos com os outros? (Processos relacionais e grupais)

Como se relacionam os grupos entre si? (Processos intergrupais)

Melville, um escritor norte-americano, escreveu: No podemos viver ss pois as nossas vidas esto ligadas por mil fios invisveis. Nesta unidade, vamos estudar as relaes que estabelecemos com os outros seres humanos, tentando perceber como pensamos sobre eles, como os influenciamos e somos influenciados e como nos relacionamos uns com os outros.

O qu e como pensam as pessoas umas das outras? At que ponto so razoveis as ideias que temos de ns prprios? Dos nossos amigos? E dos estranhos? At que ponto o que pensamos coerente com o que fazemos?

Como, e em que medida, as pessoas se influenciam uma s outras? Que fora tm os fios invisveis" que nos ligam aos outros? Somos as personagens que encarnamos quando assumimos determinados papis do gnero, dos nossos grupos, das nossas culturas? Como podemos resistir presso social das maiorias?

O que que d forma ao modo como nos relacionamos uns com os outros?

Porque que as pessoas umas vezes ajudam as outras e outras vezes ferem-nas? O que provoca o conflito social? Como podemos transformar os punhos fechados da agresso em mos abertas de compaixo?

H um fio comum em todas essas perguntas. Todas se relacionam com o modo que as pessoas se vem e se influenciam umas s outras. Como as pessoas, ou o qu, pensam umas das outras, se influenciam e relacionam. Ao contrrio das outras cincias, a psicologia social tem quase seis mil milhes de praticantes. Olhar para os outros um passatempo, nas ruas, na escola, nos transportes. Quando observamos as pessoas construmos ideias sobre o modo como pensam os seres humanos, como se influem uns aos outros e como se relacionam. Os psiclogos fazem o mesmo s que de uma forma mais sistemtica e com mais esforo. Tudo parece simples, uma vez explicado, disse o Dr. Watson a Sherlock Holmes.

No primeiro tema vamos perceber que a cognio social se centra na inter-relao do nosso sentido de SER com os mundos sociais, mostrando, por exemplo, como o nosso prprio interesse d cor aos nossos juzos sociais. Temos poderes notveis de intuio. No entanto, pelo menos uma dzia de vezes, ao dia, a nossa intuio falha. Conhecer estas formas no s apela humildade, como pode agudizar o nosso pensamento, mantendo-nos em contacto mais estreito com as realidades construdas, tambm, pelos outros.

As relaes entre pessoas e o mundo social atingem graus de complexidade tal que, para nos orientarmos, precisamos de estratgias que nos orientem, tal como uma mapa de um territrio desconhecido que desejamos percorrer. Que mapa este e quais so as suas caractersticas? Um mapa obedece a critrios uniformizados predefinidos, tal como quando nascemos nos apresentado um conjunto de regras de como estar, de como fazer e at de como pensar e sentir as nossas e as aces dos outros. Apesar de um mapa ser construdo por um especialista na matria ele vai ser interpretado pelo cidado comum. nesta interpretao que a coisa se complexifica. Cada um de ns o ir ler de acordo com as suas necessidades, se est com pressa de chegar antes do anoitecer a uma cidade, com as suas motivaes, visitar museus ou passear pelos espaos verdes. Enfim, a leitura deste mapa feita em funo das nossas experincias de vida na relao com as situaes que se nos deparam. Ainda por cima somos constantemente sujeitos a elas, necessrio dar-lhes sentido e tomar decises difceis, muitas vezes num curto espao de tempo. Como tal, urgente a simplificao e a organizao das vrias e diferentes situaes do quotidiano. No fundo, a ideia tornar simples o complexo e tornar familiar o desconhecido, recorrendo a estratgias, suportadas pelas experincias anteriores, que nos permitam compreender e lidar com as coisas e com as pessoas que esto nossa volta.

No segundo tema vamos perceber algumas formas e diferenas nos relacionamentos entre pessoas. O que que se passa entre um casal de namorados? Como poderemos perceber o que os liga? E entre dois amigos? E entre um pai e uma filha? O que que se passa numa turma? E num grupo de amigos? E num grupo de pessoas que pertencem ao mesmo partido poltico ou trabalham na mesma empresa? Uma multido um grupo? Afinal o que um grupo? Estas e outras perguntas e as respostas a elas so os contedos que constituem o segundo tema.

Perguntar as horas a um desconhecido na rua diferente de perguntar as horas a um colega de turma, para saber se falta muito para acabar a aula. As interaces com desconhecidos tm caractersticas diferentes das interaces com as pessoas com que temos vnculos, seja qual for a natureza desse vnculo. E so as interaces que concretizam e materializam as relaes interpessoais.

No terceiro tema vamos perceber como que os grupos sociais se relacionam uns com os outros. Num primeiro momento importante compreendermos que a nossa identidade se constri, fundamentalmente, nos grupos a que pertencemos. Mas tambm as caractersticas daqueles que rejeitamos e daqueles a que aspiramos pertencer nos influenciam. Utilizamos vrias estratgias quer de identificao a diferentes grupos, quer de mudana e de mobilidade de um grupo para outro para sentirmos que valemos a pena, que somos pessoas de quem os outros gostam, que a nossa identidade social reconhecida. A identidade social funda-se em categorias objectivas como aquelas que apresentamos no nosso bilhete de identidade. O sexo, a naturalidade, a idade. Mas sero elas, actualmente, assim to objectivas? Os outros so o espelho onde nos vemos e revemos, perguntando, agora e sempre, todos os dias da nossa vida, espelho meu, espelho meu, h algum to belo, to inteligente, to competente, to afvel to... como eu?". pela comparao social que adquirimos e mantemos uma identidade social positiva.

Os grupos sociais so diferentes entre si. Tm caractersticas diferentes, histrias diferentes e, s vezes, at linguagens diferentes. Porque a dinmica social implica relaes de poder entre eles, surgem situaes de conflito. Podemos ser ns e os outros, ou ns com os outros", mas tambm podemos ser ns contra os outros. O conflito um processo essencial vida e ao desenvolvimento humano. pelo conflito e pela perplexidade que se geram novos conhecimentos, que ns aprendemos. pelo conflito que crescemos e alargamos os nossos horizontes. Mas quando os outros so diferentes podemos assustarmo-nos e sentirmo-nos ameaados. Surge ento o desejo de eliminar as diferenas. Os conflitos humanos tm tido, ao longo da Histria, consequncias dramticas para a Humanidade. A cooperao foi um dos comportamentos mais importantes no esforo de nos tornarmos humanos.

Existem trs ideias fundamentais da cognio social:

1. As pessoas so limitadas na sua capacidade de processar informao. Utilizamos estratgias para fazer julgamentos ou para tomar decises rpidas usando um esforo mental mnimo.

2. As estratgias cognitivas tm por objectivo agilizar os julgamentos e as tomadas de deciso e uma delas pode ser o uso de esquemas cognitivos. Em situaes semelhantes podemos comportar-nos espontaneamente, ou seja, a resposta est to bem aprendida que automtica. Distingue-se ento entre pensamento espontneo e pensamento deliberado. Quando usamos o primeiro, o esforo mental e o tempo despendidos so mnimos. Quando usamos o segundo, levamos tempo, fazemos um esforo mental consciente para pensar nas coisas de modo mais profundo antes de fazer um julgamento ou de tomar uma deciso.

3. Pode parecer estranho, mas a auto-estima fundamental na cognio social. A avaliao que fazemos de ns prprios influencia o que pensamos e o modo como o fazemos, j que ela depende da forma como os outros se comportam face a ns. Uma pessoa com uma auto-estima equilibrada percebe-se como capaz, esfora-se e normalmente confiante face aos outros.

Construmos teorias para dar sentido realidade, que nos permitem comunicar com os outros e organizar o comportamento. Estas teorias so construdas na interaco com os outros. A cognio social tem a ver com a maneira como as pessoas pensam e como as pessoas pensam que pensam.

A cognio social o conjunto dos processos mentais pelos quais as pessoas percebem e se comportam face aos outros, individualmente ou em grupo. Atravs da cognio social cada um de ns constri uma verso diferente do mundo, incluindo aquilo que para ns verdadeiro ou falso, o que certo ou errado.

Uma das reas de estudo da psicologia social tem por objectivo compreender a forma como a cognio social influencia o nosso comportamento, como que as pessoas influenciam e so influenciadas pelos outros e pelos grupos. A cognio social a forma como os nossos pensamentos e sentimentos influenciam a nossa relao com os outros. Isto permite-nos perceber o que que pensamos sobre ns prprios e sobre os outros, por que que gostamos de uns e no de outros, como formamos e mudamos as nossas atitudes, como e por que que usamos esteretipos para avaliar os outros, algumas vezes de modo pouco justo.

Cada um de ns vive, ao mesmo tempo, num mundo pblico e privado. Vivemos os nossos pensamentos e sentimentos de modo privado, mas eles so produto do meio social e cultural que influencia os nossos comportamentos pblicos.

Os processos de cognio social que vamos estudar reflectem as caractersticas do nosso funcionamento mental, enquanto seres humanos. Mas estas caractersticas no so to universais como se poderia pensar e so influenciadas pelas normas e pelos valores que aprendemos e que adoptamos na nossa cultura especfica.

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