cogestÃo na polÍtica nacional de humanizaÇÃo da …

124
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais Gislene de Oliveira Nogueira COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA ATENÇÃO À SAÚDE: a experiência do Hospital Sofia Feldman – Belo Horizonte - MG Belo Horizonte 2013

Upload: others

Post on 06-Jul-2022

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais

Gislene de Oliveira Nogueira

COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE

HUMANIZAÇÃO DA ATENÇÃO À SAÚDE: a experiência

do Hospital Sofia Feldman – Belo Horizonte - MG

Belo Horizonte

2013

Page 2: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

Gislene de Oliveira Nogueira

COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE

HUMANIZAÇÃO DA ATENÇÃO À SAÚDE: a experiência

do Hospital Sofia Feldman – Belo Horizonte - MG

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-graduação em Ciências Sociais, da

Pontifícia Universidade Católica de Minas

Gerais, para obtenção do título de mestre em

Ciências Sociais.

Orientador: Prof. Dr. Carlos Aurélio Pimenta

de Faria

Co-orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos de Oliveira

Cecílio – Universidade Federal de São Paulo

Belo Horizonte

2013

Page 3: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Nogueira, Gislene de Oliveira N778c Cogestão na política nacional de humanização da atenção à saúde: a

experiência do Hospital Sofia Feldman – Belo Horizonte - MG / Gislene de Oliveira Nogueira. Belo Horizonte, 2013.

123f.: il.

Orientador: Carlos Aurélio Pimenta de Faria Coorientador: Carlos de Oliveira Cecílio Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais.

1. Hospitais – Administração - Belo Horizonte (MG). 2. Serviços de saúde comunitária - Participação do cidadão. 3. Humanização dos serviços de saúde. I. Faria, Carlos Aurélio Pimenta de. II. Cecílio, Carlos de Oliveira. III. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. IV. Título.

CDU: 614.2(815.11)

“Revisão Ortográfica e Normalização Padrão PUC Minas de Responsabilidade do Autor”

Page 4: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

  

Gislene de Oliveira Nogueira

COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO

DA ATENÇÃO À SAÚDE: a experiência do Hospital Sofia

Feldman – Belo Horizonte - MG

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Ciências Sociais, da Pontifícia

Universidade Católica de Minas Gerais, para

obtenção do título de mestre em Ciências Sociais.

______________________________________________________

Prof. Dr. Carlos Aurélio Pimenta de Faria (Orientador) – PUC Minas

_______________________________________________________

Prof. Dr. Luiz Carlos de Oliveira Cecílio (Co-Orientador) – UNIFESP

_______________________________________________________

Profa. Dra. Cristina Almeida Cunha Filgueiras – PUC Minas

_______________________________________________________

Prof. Dr. Bruno Lazzarotti Dinis Costa – Fundação João Pinheiro

Belo Horizonte, 27 de fevereiro de 2013.

Page 5: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

 

A minhas filhas Lorena e Luiza, por me ensinarem a delicadeza da vida,

A Adriano, meu companheiro em todos os momentos,

A minha mãe, Maria Augusta, pelo apoio de sempre,

Aos amigos Ivo e José Carlos, por me ensinarem que a luta pelo SUS vale a pena.

Page 6: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

 

AGRADECIMENTOS

Aos usuários do HSF que, com suas histórias de vida, nos ensinam, no dia a dia, a

cidadania do direito.

Aos profissionais do colegiado diretor do Hospital Sofia Feldman, por demonstrarem

cotidianamente respeito incondicional pelos usuários do SUS.

A Dr. Carlos Aurélio Pimenta de Faria, meu orientador, que fez com que, desde o

início, eu me sentisse muito bem acolhida no mestrado.

Ao amigo, Dr. Luiz Carlos de Oliveira Cecílio, por sua trajetória na construção do

SUS e pelo cuidado com o HSF; para mim, foi muito importante poder contar com

sua co-orientação.

A Dra. Cristina Almeida Cunha Filgueiras que, tanto no seminário de dissertação

quanto na qualificação, apresentou críticas e sugestões valiosas para o trabalho.

Às Dras. Alessandra Sampaio Chacham e Lea Guimarães Souki, pelo imprescindível

apoio durante toda a pós-graduação.

À Fabiana Marques de Souza, bibliotecária do HSF, pelo profissionalismo e ajuda na

condução do mestrado.

A Lélia Maria Madeira, coordenadora da LEP/HSF, pelas cobranças e incentivo.

Às colegas e amigas do serviço social do HSF: Marília, Beth, Élen, Ana Paula,

Adriana, Ana Flávia, meu respeito e minha confiança.

A Marli de Oliveira, gerente do Centro de Saúde Floramar e colega de profissão,

pelo incentivo e apoio.

Page 7: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

 

Às amigas da saúde mental, pelo apoio de sempre: Ana Maria, Eliana, Jussara e

Patrícia.

A Flavia Beatriz Viana, por ter me ensinado o caminho da Pós-Graduação em

Ciências Sociais.

A Dra. Livia Leni do Nascimento Oliveira, pelo estímulo.

A Dehonara de Almeida Silveira e Serafim Barbosa Santos Filho, pela

disponibilidade em contribuírem com o meu trabalho.

À FAPEMIG, pela bolsa de financiamento do estudo.

Page 8: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

 

Somos todos irmãos da lua Moramos na mesma rua

Bebemos no mesmo copo A mesma bebida crua

O caminho já não é novo Por ele é que passa o povo

Farinha do mesmo saco Galinha do mesmo ovo

Mas nada é melhor que a água A terra é a mãe de todos

O ar é que toca o homem E o homem maneja o fogo

E o homem possui a fala E a fala edifica o canto

E o canto repousa a alma Da alma depende a calma

E a calma é irmã do simples E o simples resolve tudo

Mas tudo na vida às vezes Consiste em não se ter nada (TEIXEIRA, 2008)

Page 9: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

 

RESUMO

A Politica Nacional de Humanização (PNH) foi criada pelo Ministério da Saúde (MS),

em 2003, para qualificar práticas de gestão e de atenção na saúde. Essa política

tem quatro eixos estruturantes e comunicantes: atenção, gestão, formação e

comunicação. Nesta pesquisa, analisou-se o eixo da gestão, mais especificamente,

a cogestão. Este estudo, de caráter qualitativo, teve, como objetivo geral, analisar o

novo modo de gestão hospitalar sugerido pela Política Nacional de Humanização em

2003, no âmbito do Sistema Único de Saúde, tomando, como estudo de caso, o

desenho o processo de implantação e a operacionalização do modelo de cogestão

do Hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte. Apesar de o modelo de gestão

colegiada do Hospital Sofia Feldman não ter sido adotado a partir da Política

Nacional de Humanização, optou-se por avaliar a gestão colegiada do HSF tendo

como referência a PNH. O modelo instituído pelo hospital é baseado em linhas do

cuidado: cuidado materno-infantil (perinatal), políticas institucionais, ensino e

pesquisa, apoio ao trabalhador, apoio administrativo e apoio técnico. A partir da

mudança do modelo gerencial, foram compostos o colegiado diretor e o colegiado

gestor do HSF. Para a coleta de dados, combinaram-se os seguintes métodos:

análise documental, entrevista semiestruturada e observação participante. Os

sujeitos da pesquisa foram os membros do colegiado-diretor do HSF. Também

fizeram parte deste estudo a coordenadora da PNH no nível estadual e o consultor

no nível municipal. A categorização dos conteúdos das entrevistas resultou em

quatro grandes categorias empíricas, a saber: percepção idealizada da gestão

colegiada pelos participantes do colegiado de gestão; decisões centralizadas no

diretor administrativo; financiamento e gestão: entre o controle de custos e o avanço

no modelo assistencial e participação comunitária no HSF no espaço da gestão.

Resultados: No que se refere à categoria Percepção idealizada da gestão

colegiada pelos participantes no colegiado de gestão, o que ficou mais visível foi

á visão dos entrevistados de que os atores possuem o mesmo poder de decisão no

espaço da gestão colegiada. No entanto sabe-se que, na realidade, essa

redistribuição de poder não acontece e o poder de decisão não é definido de forma

igualitária. Na segunda categoria As decisões centradas no diretor

administrativo, a análise é que, na cogestão do HSF, existe a inclusão de

Page 10: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

 

trabalhadores, gestores e usuários dos serviços de saúde no espaço da gestão.

Entretanto, percebe-se que existe a centralização nas decisões. Na terceira

categoria Financiamento e gestão: entre o controle de custos e o avanço no

modelo do hospital é feita uma discussão de que a total dependência do SUS

provocou um endividamento da instituição e que os avanços na assistência não

foram acompanhados por recursos financeiros correspondentes. Pode-se dizer que

existe um dilema constante entre a racionalidade econômica e a saúde baseada em

direitos. Na última categoria A participação comunitária no HSF no espaço da

gestão percebeu-se que os representantes dos usuários, ao adentrarem os serviços

de saúde, entendem melhor seu cotidiano, o que possibilita um maior conhecimento

por parte desses atores do que acontece na instituição. No entanto, o controle social

não tem poder de decisão. As questões apontadas alertam-nos para a reflexão de

como de fato são implementadas as políticas na área da saúde e de que a

singularidade dos serviços deve ser considerada em função da complexidade da

realidade.

Palavras-chave: Administração hospitalar; Gestão colegiada; Politica Nacional de

Humanização.

Page 11: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

 

ABSTRACT

The National Policy of Humanization (PNH) was created by the Health Ministry (MS),

in 2003, to qualify management and health care practices. This policy has four

structural and connecting axes: attention, management, communication and

specialization. In this research, the management axis was analyzed, particularly, the

co-management. This study’s general goal, in its qualitative feature, was to analyze

the new hospital management manner suggested by the National Policy of

Humanization in 2003, in the Single Health System (SUS) scope, taking as case

study the design and implantation process, and the operationalization of Sofia

Feldman Hospital’s (SFH) co-management model, in Belo Horizonte. Despite Sofia

Feldman Hospital’s collegial management model has not been adopted from the

National Policy of Humanization, it was chosen to evaluate the SFH’s collegial

management referencing the PNH. The model established by the hospital is based in

care platforms: mother-child (perinatal) care; institutional policies; education and

research; labor, management and technical support. From the change of the

managerial model, it was created the director collegiate and the SFH’s manager

collegiate. To collect the data, it was combined the following methods: documental

analyses, semi-structured interview and participant observation. The research

subjects were the members of the SFH’s director collegiate. It was also a part of this

study the PNH’s state level coordinator and the municipal level consultant. The

interview content categorization resulted in four great empirical categories, namely:

idealized perception of the collegial management by the participants of the

management collegiate; centralized decisions in the managerial director; financing

and management between the cost control and the assistance model’s progress; and

community contribution in SFH in the management area. Results: In what refers to

the category Idealized perception of the collegial management by the participants of

the management collegiate, the most visible was the respondents’ view in which the

agents possess the same decision power in the collegial management space.

However, it is known that, in reality, this power redistribution does not happen and

that the decision power is not defined equally. In the second category, Centralized

decisions in the managerial director, the analyses is that, in SFH’s co-management,

the workers, managers, health services’ users are included in the management

space. But it is noticed a centralization in the decisions. In the third category,

Page 12: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

 

Financing and management: between the cost control and the assistance model’s

progress, a discussion is done in which the total dependency of SUS caused an

indebtedness of the institution and that the progress in the assistance was not

followed by corresponding financial resources. It can be said there is a constant

dilemma between the economical rationality and health based in rights. In the last

category, Community contribution in SFH in the management area, it was noticed

that the users representatives, as they entered the health services, have a better

understanding of its routine, what enables a greater knowledge, by these agents, of

the institution’s occurrences. However, the social control has no decision power. The

issues pointed alert us to the reflection of how in fact are implemented health policies

and that the services singularity should be considered in function of the reality

complexity.

Key Words: Hospital Management; Collegial Management; National Policy of

Humanization.

Page 13: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

 

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACAU Associação Comunitária de Amigos e Usuários do

Hospital Sofia Feldman

AIH Autorização de Internação Hospitalar

AIS Ações Integradas de Saúde

CEP/ HSF Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Sofia Feldman

CD Colegiado diretor

CG Colegiado gestor

CINT Central de Internações

CLT Consolidação das Leis Trabalhistas

CNAS Conselho Nacional de Assistência Social

CNES Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde

CNS Conselho Nacional de Saúde

CONEP Conselho de Ética e Pesquisa

CPN Centro de Parto Normal

CTA Comissão Técnica Administrativa

ESF Equipe Saúde da Família

FAIS Fundação de Assistência Integral á Saúde

FGV Fundação Getúlio Vargas

HSF Hospital Sofia Feldman

IHAC Iniciativa Hospital Amigo da Criança

IMBCO International Mother Baby Childbirth Organization

JICA Agência de Cooperação Internacional do Japão

LAA Linha de apoio administrativo

LAPA Laboratório de Administração e Planejamento em Saúde

LAT Linha de apoio ao trabalhador

LEP Linha de ensino e pesquisa

LP Linha perinatal

LPI Linha de políticas institucionais

MDS Ministério do Desenvolvimento Social

MS Ministério da Saúde

NHECI Núcleo Hospitalar de Epidemiologia e Controle de

Infecções Hospitalares

Page 14: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

 

OMS Organização Mundial de Saúde

PBH Prefeitura de Belo Horizonte

PLANIS Planejamento Organização Instituições Saúde

PNH Política Nacional de Humanização

PNHAH Programa Nacional de Humanização da Assistência

Hospitalar

PNIAM Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno

POA Plano Operativo Anual

PSF Programa de Saúde da Família

PQM Projeto de Qualificação de Maternidades

SES Secretaria Estadual de Saúde

SMSA Secretaria Municipal de Saúde

SSVP Sociedade de São Vicente de Paulo

SUS Sistema Único de Saúde

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UBS Unidade Básica de Saúde

UCI Unidade de cuidados intermediários

UCIN Unidade de Cuidados Intermediários Neonatais

UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância

UNIFESP Universidade Federal de São Paulo

UTI Unidade de Tratamento Intensivo

UTIN Unidade de Terapia Intensiva da Neonatologia

Page 15: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

 

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura1 Linhas de cuidado do Hospital Sofia Feldman........................ 39

Figura 2 Organograma do Hospital Sofia Feldman............................... 42

Figura 3 Organograma da Linha de Cuidado Perinatal do HSF........... 43

Figura 4 Organograma da Linha de Apoio Técnico do HSF................. 44

Figura 5 Organograma da Linha de Apoio Administrativo do HSF....... 45

Quadro 1 Déficit financeiro anual do HSF............................................... 35

Quadro 2 Síntese das entrevistas de campo.......................................... 75

Page 16: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

 

LISTA DE TABELAS

1 Indicadores assistenciais do HSF/FAIS no ano de 2012.......... 28

2 U T I Neonatal: Consolidação dos Indicadores Neonatais do

HSF......................................................................................

31

3 Unidade de Cuidados Intermediários Neonatais do HSF:

Consolidação dos Indicadores Neonatais de 2012 .................. 33

Page 17: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

 

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................

18

1 A HISTÓRIA DO HSF E A CONFORMAÇÃO DE SEU

MODELO DE GESTÃO............................................................

23

1.1 A história do Hospital Sofia Feldman...................................... 23

1.2 O modelo de gestão do Hospital Sofia Feldman.....................

38

2 PERCURSO METODOLÓGICO................................................ 47

2.1 Objetivos da pesquisa............................................................. 47

2.2 Metodologia............................................................................ 47

2.2.1 Tipo de pesquisa ..................................................................... 47

2.2.2 Coleta, tratamento e análise dos dados..................................... 48

2.2.3 Local da pesquisa.................................................................... 51

2.2.4 Sujeitos Pesquisa..................................................................... 51

2.2.5 Aspectos éticos da pesquisa..................................................... 52

3 A POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO E A DIRETRIZ

DA COGESTÃO NOS SERVIÇOS DE SAÚDE.......................... 53

3.1 Referencial teórico................................................................. 55

3.1.1 O conceito de humanização na PNH......................................... 55

3.1.2 Sobre os hospitais................................................................... 58

3.1.3 A gestão colegiada nos serviços de saúde................................ 61

3.1.4 O SUS e a interface com a cogestão na PNH............................

63

4 A GESTÃO COLEGIADA NO HSF EM QUESTÃO....................

69

4.1 A análise documental............................................................. 69

4.2 A análise dos dados e as categorias criadas a partir dos 73

Page 18: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

 

relatos dos sujeitos da pesquisa.............................................

4.2.1 Percepção idealizada da gestão colegiada pelos participantes

no colegiado de gestão.............................................................. 76

4.2.2 As decisões centradas no diretor administrativo.......................... 77

4.2.3 Financiamento e gestão: entre o controle de custos e o avanço

no modelo do hospital................................................................ 81

4.2. 4 A participação comunitária no HSF no espaço da gestão............. 85

4.3 A visão dos profissionais dos níveis estadual e municipal

sobre o funcionamento da gestão colegiada de modo

geral........................................................................................ 894.3.1 A Atuação dos profissionais nos serviços de saúde e a proposta

da cogestão na PNH................................................................. 90

4.3.2 A Idealização nos serviços de saúde......................................... 94

4.3.3 A não participação do usuário no espaço da gestão..................

96

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................

99

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................

104

APÊNDICES............................................................................

116

ANEXOS................................................................................. 121

Page 19: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

18  

INTRODUÇÃO

O direito à saúde, definido na Constituição de 1988, sintetiza a concepção da

primeira experiência brasileira de uma política universalizante como direito social e

uma ação do Estado para ofertar os serviços. A contribuição previdenciária é

eliminada como pré-requisito para acesso aos serviços de saúde e a proposta de

acesso universal e igualitário pretende romper com uma dívida social. Entretanto, a

crescente autonomia do setor privado na década de 1980, com mecanismos de

financiamento principalmente dos planos de saúde, viabiliza a migração da classe

média ao sistema privado de saúde e sua exclusão do sistema público. Sendo

assim, retira-se desse espaço um importante segmento da população, que tem

maior capacidade de vocalização de demandas, o que sem dúvida reduz “os

interesses em torno da defesa do sistema público de saúde” (FAVARET FILHO;

OLIVEIRA, 1990, p. 276).

A garantia da saúde como direito implicou modificações em todo o contexto

organizacional dos serviços de saúde. Apesar de o percurso da construção do

Sistema Único de Saúde (SUS), no Brasil, ser acompanhado de avanços, ainda

persistem problemas e desafios como: ampliação do acesso e da qualidade dos

serviços de saúde e ampliação do processo de corresponsabilização entre

trabalhadores, gestores e usuários nos processos de gerenciamento e do cuidado. A

esses problemas acrescentam-se a desvalorização dos trabalhadores de saúde e a

precarização das relações de trabalho (BRASIL, 2010a).

O gerenciamento das instituições de saúde não tem sido tarefa fácil, sendo essa

afirmativa consensual entre os especialistas da gestão e justificada pela

complexidade e diversidade de variáveis que compõem o processo saúde-doença.

No Hospital Sofia Feldman (HSF), instituição filantrópica de Belo Horizonte, faz-se

uma aposta na gestão colegiada como estratégia que visa avançar no processo de

gestão institucional por meio da melhoria nas relações humanas. Busca-se, com

essa proposta, implementar uma gestão democrática e responsabilizadora que

possa resultar em um maior envolvimento dos trabalhadores no funcionamento da

organização e, consequentemente, em uma assistência mais qualificada aos

usuários dos serviços de saúde.

Page 20: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

19  

Como dito anteriormente, devido à complexidade dos serviços de saúde e aos

diversos interesses, muitas vezes conflitantes, presentes nesses espaços, buscam-

se referências teóricas e experimentam-se novas formas de gestão para se pensar a

micropolítica hospitalar. Um dos caminhos tem sido a racionalização das práticas

médico-hospitalares, por exemplo, por meio de contratos bilaterais com médicos,

explicitando-se os direitos e deveres de cada uma das partes; de alianças da direção

com a enfermagem para a garantia de acesso e utilização de recursos assistenciais;

terceirização dos serviços; informatização; protocolização; criação de mecanismos

de acreditação hospitalar; dentre outros (BERNARDES et al., 2007).

O grupo do Laboratório de Administração e Planejamento em Saúde (LAPA), do

departamento de Medicina Preventiva e Social da Universidade Estadual de

Campinas (UNICAMP) foi que inicialmente sistematizou o funcionamento dos

colegiados na área da saúde (CECÍLIO, 2010).

Sabe-se que diversas lógicas permeiam os serviços de saúde: a “lógica das

profissões”, ou seja, como as categorias profissionais atuam no cotidiano, a lógica

de “unidades de produção” voltada para os produtos e insumos utilizados no cuidado

com o paciente e a lógica baseada no cuidado. A atenção integral oferecida a uma

pessoa hospitalizada deve envolver uma assistência que garanta todas as

tecnologias de saúde disponíveis e uma ambiência segura e confortável. A

integralidade da atenção hospitalar deve ser vista sob dois aspectos: a partir do

próprio hospital e tendo como referência a inserção do hospital no sistema. Sendo

assim, para que o cuidado seja prestado ao usuário nos serviços de saúde, existe a

necessidade de pequenos cuidados que são complementares e são prestados por

diversos profissionais e “uma das sobrecargas – talvez a maior – do processo

gerencial do hospital contemporâneo é conseguir coordenar adequadamente este

conjunto diversificado, especializado, fragmentado de atos cuidadores individuais”

(CECÍLIO; MERHY, 2003, p. 2).

Segundo Cecílio (2000), no que diz respeito ao gerenciamento de hospitais, a forma

tradicional tem demonstrado pouca efetividade para dar conta de enfrentar as

singularidades dos processos de trabalho e as relações de poder que são

vivenciadas pelas equipes. Ainda para o autor, os comandos verticais, a ausência de

Page 21: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

20  

espaços para encontros dos profissionais de saúde, a “baixa responsabilidade” do

sistema de direção, a dificuldade de comunicação entre as diversas categorias

profissionais e, sobretudo, a imparcialidade no tratamento com pacientes e

familiares. Ou dito de outra maneira, o descuidado com os usuários leva as

instituições a desenvolver propostas de mudança no modelo de gestão.

Para contribuir com mudanças nos modelos de gestão e de atenção no cotidiano

dos serviços de saúde, a Política Nacional de Humanização (PNH), foi

implementada pela Secretaria Executiva do Ministério da Saúde em 2003. É

constituída de diretrizes e orientações para qualificar práticas de gestão e de

atenção em saúde. Essa política sugere que, nos serviços de saúde, sejam

experimentadas novas formas de organização e modos de produção e circulação de

poder (BRASIL, 2010c).

O modelo de gestão que a Política Nacional de Humanização propõe é centrado no trabalho em equipe, na construção coletiva (planeja quem executa) e em espaços coletivos que garantem que o poder seja de fato compartilhado, por meio de análises, decisões e avaliações construídas coletivamente (BRASIL, 2010c, p. 12).

A PNH tem como princípios: a transversalidade, que aumenta a comunicação entre

os diversos grupos (usuários, trabalhadores, gestores, prestadores); a

indissociabilidade entre atenção e gestão, onde o modo de cuidar é inseparável do

modo de gerir. As diretrizes que orientam essa política são: clínica ampliada1;

cogestão; acolhimento; valorização do trabalho e do trabalhador; defesa dos direitos

do usuário; fomento das grupalidades, coletivos e redes e construção da memória do

SUS que dá certo, com o objetivo de partir do que acontece no dia a dia dos

serviços (BRASIL, 2010a).

Em 2003, no quinto planejamento da Instituição intitulado “O Hospital Sofia Feldman

no contexto da assistência perinatal em Belo Horizonte”, o Hospital redefine seu

modelo de gestão tendo como referência o modelo preconizado por Cecílio e Merhy

(2003). O modelo é baseado na ideia de “linhas do cuidado”. Para Ceccim e Ferla

(2006), o conceito de linha do cuidado é que os serviços sejam capazes de

                                                            1 Traduz uma ampliação do objeto de trabalho na busca de resultados eficientes, com inclusão de novos instrumentos (BRASIL, 2010b, p. 26).

Page 22: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

21  

encadear uma rede de serviços cuidadores, uma trama de linhas singulares,

entrelaçadas, para a construção da resolutividade assistencial e do acolhimento às

pessoas.

No HSF, uma das características do processo administrativo é que, desde 1988, o

hospital já contava com uma comissão técnica administrativa (CTA), com um

coordenador de cada área do hospital, onde eram discutidos os problemas de cada

setor. Em 2003, com a mudança do modelo, ou seja, com a adoção do modelo

baseado em linhas do cuidado, amplia-se essa comissão com representantes das

linhas que ficaram assim definidas na composição da estrutura de gestão: Cuidado

Materno-Infantil (Perinatal), Políticas Institucionais, Ensino e Pesquisa, Apoio ao

Trabalhador, Apoio Administrativo e Apoio Técnico. A partir da mudança do modelo

gerencial, foram compostos o colegiado diretor e o colegiado gestor do HSF. O

colegiado diretor tem como atribuições: definição das políticas institucionais; análise

do funcionamento dos diversos setores da instituição e articulação com a rede de

serviços de saúde, dentre outras. O colegiado gestor é composto pelas gerências

das várias linhas e representantes do controle social e tem um caráter mais

informativo sobre as decisões do cotidiano da instituição.

Pretende-se, neste estudo, avaliar se a mudança de modelo de gestão ocorrida em

2003 altera o gerenciamento exercido no HSF. Esclareço que o modelo de gestão

colegiada do HSF, apesar de guardar ressonância com as diretrizes da PNH, não foi

adotado a partir da PNH, pois já havia o conhecimento anterior da proposta por parte

da direção, influenciada por consultoria que atuava no hospital desde 1999. No

entanto, como a PNH foi criada em 2003, e uma das diretrizes desta política é a

gestão, tentou-se avaliar em que medida o modelo de gestão sugerido pelo

Ministério da Saúde (MS) com essa política, tem sido ou não o modelo de cogestão

adotado pelo HSF. Assim, a presente investigação teve como objetivo geral:

analisar o novo modo de gestão hospitalar sugerido pela Política Nacional de

Humanização em 2003, no âmbito do Sistema Único de Saúde, tomando como

estudo de caso o desenho, o processo de implantação e a operacionalização

do modelo de cogestão do Hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte. E teve

como objetivos específicos: analisar como e por que o Hospital Sofia Feldman fez

mudanças em seu modelo após 2003; analisar se e como a gestão colegiada produz

Page 23: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

22  

uma desconcentração do processo decisório no âmbito do Hospital Sofia Feldman e

analisar a atuação do controle social pela participação dos representantes dos

usuários (Conselho de Saúde do Hospital Sofia Feldman e Associação Comunitária

de Amigos e Usuários do Hospital Sofia Feldman) no espaço do colegiado diretor do

Hospital Sofia Feldman.

Apresento, a seguir, a estrutura da dissertação.

No capítulo 1, apresento a história do hospital e as singularidades desse lugar que

permitem a construção do modelo de gestão colegiada que também será

apresentado.

No capítulo 2, serão apresentados os objetivos da pesquisa, a metodologia, os

aspectos éticos da pesquisa, a implicação da autora com o objeto estudado.

No capítulo 3, apresento a diretriz da cogestão na PNH e o referencial teórico

escolhido para uma análise do gerenciamento nas instituições de saúde com os

seguintes temas: a humanização nos serviços de saúde, a gestão colegiada e o

hospital na atualidade. Apresento uma breve análise do SUS, a interface com a PNH

e, mais precisamente, a diretriz da cogestão, definida nessa política.

No capítulo 4, serão apresentados os dados e a análise dos dados da pesquisa,

tanto no que diz respeito à análise documental, como às entrevistas

semiestruturadas e as categorias que foram construídas a partir das respostas dos

sujeitos da pesquisa, assim como a observação participante.

No capítulo 5, serão apresentadas as considerações finais.

Page 24: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

23  

1 A HISTÓRIA DO HSF E A CONFORMAÇÃO DE SEU MODELO DE GESTÃO

Neste capítulo, apresento a história do HSF e como esta vem sendo construída ao

longo dos anos, em um esforço conjunto da direção, dos trabalhadores e da

comunidade. A importância para a pesquisa é que, ao descrever essa história,

apresento em que contexto o gerenciamento do HSF tem sido exercido.

1.1 A história do Hospital Sofia Feldman

O HSF pertence à Fundação de Assistência Integral à Saúde (FAIS), é uma

instituição filantrópica de direito privado localizada no distrito sanitário norte em Belo

Horizonte - MG. Presta assistência materno-infantil e oferece serviços de apoio

diagnóstico, como mamografia, ultrassom, radiologia e patologia.

O HSF foi construído a partir de um movimento comunitário, juntamente com o

Conselho Particular de São Bernardo da Sociedade de São Vicente de Paulo

(SSVP). A SSVP é dividida em diversos conselhos e o Conselho Particular tomou,

em 1974, a decisão de construir um hospital no distrito sanitário norte, onde não

havia hospital. O terreno foi doado pela família Golgher, a construção teve início em

1976 e contou com a participação de trabalhadores voluntários do próprio local. Os

materiais foram doados pela comunidade, por comerciantes, empresários, políticos.

A primeira área terminada foi inaugurada em 1977 e se constituía de uma clínica

para atendimento ambulatorial médico e odontológico. A área de internação foi

inaugurada em 1982 com seis leitos na internação conjunta na pediatria e seis leitos

no alojamento conjunto da maternidade, que funcionou até 1986 com doações da

comunidade e trabalho voluntário (FAIS, 1998).

Em 1986, com a mobilização de Associações Comunitárias da região, o Hospital foi

incluído nas Ações Integradas de Saúde (AIS). Essa inclusão do hospital no sistema

oficial de saúde possibilitou a ampliação da área física, contratação de pessoal e

ampliação de serviços prestados. Esse sistema foi precursor do Sistema Único, que

foi oficializado na Constituição Brasileira de 1988. No entanto, em 1988, o hospital

se desvincula da SSVP e passa a ser gerido pela FAIS, por assumir uma postura em

apoio ao planejamento familiar. Essa decisão institucional contrariava as diretrizes

Page 25: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

24  

da SSVP (FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS - FGV, 2010). Houve mudança de

convênio em 1987, passando de AIS para o sistema de Autorização de Internação

Hospitalar (AIH), o qual foi ampliado em 1990 (FAIS, 1998). A instituição,

inicialmente dedicada à maternidade e à pediatria, passa por uma mudança no perfil

assistencial em função da diminuição de internação em leitos de pediatria em Belo

Horizonte; e, em 2000, o HSF passa a ter leitos de maternidade e de neonatologia.

O Hospital tem como missão, definida em seu Planejamento estratégico de 1998:

Desenvolver ações de atenção integral a saúde da comunidade, em especial da mulher e da criança, em nível ambulatorial e hospitalar com qualidade, resolutividade, acolhedoras e vinculantes de forma universal, visando impactar nos indicadores de saúde deste grupo (FAIS, 1998, p. 2).

Em 2002, a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) de Belo Horizonte, visando a

estruturação do sistema de saúde, implanta o projeto BH-VIDA. Nesse programa, os

usuários são adscritos por Equipe de Saúde da Família (ESF) ou, dito de outra

maneira, os usuários passam a pertencer às ESF que funcionam nas unidades

básicas de saúde e têm a seguinte composição: médico, enfermeiro, auxiliares de

enfermagem e agentes comunitários de saúde. Em 2003, o projeto passa a chamar-

se “BH- VIDA: Saúde Integral” em que, além do acesso aos serviços de saúde,

considera-se o fluxo dos usuários em todos os níveis de atenção (rede básica,

secundária, atenção à urgência e todos os níveis assistenciais e atenção hospitalar);

a proposta desse desenho é que o usuário seja atendido de forma integral

(FRANCO; MAGALHAES JÚNIOR, 2004).

Em Belo Horizontes, existem sete maternidades que atendem as usuárias do SUS e

o HSF é uma dessas maternidades. O HSF trabalha com o conceito de linha de

cuidado desde 2003, na mesma época em que a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH)

definiu os eixos norteadores. No segundo eixo, o cuidado é estruturado em linhas de

cuidado, onde o atendimento ao usuário deve ter continuidade nos serviços. Para

que haja continuidade de atendimento, as maternidades funcionam como estações

do cuidado. Ou seja, a usuária (gestante) faz o pré-natal na Unidade Básica de

Saúde (UBS), ganha o filho na maternidade e retorna para a consulta de puerpério

na unidade básica. A cidade de Belo Horizonte é dividida em nove distritos sanitários

Page 26: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

25  

e a maternidade do HSF é vinculada aos centros de saúde dos distritos sanitários

Norte e Nordeste de Belo Horizonte. É referência de nível secundário para gestantes

e de nível terciário para recém-nascidos de todo o Estado de Minas Gerais, no que

diz respeito à complexidade. Em 2010, foram atendidos, no HSF, usuários de 200

municípios do Estado de Minas Gerais (FAIS, 2010).

Cecílio e Merhy (2003, p. 2) exemplificam que a assistência ao parto tem que

contemplar a articulação do hospital com a rede básica e que o cuidado, que se

inicia na unidade básica com o pré-natal, deve ter continuidade com a assistência ao

parto no hospital. O hospital deve ser considerado apenas uma das “estações” em

que o cuidado deve acontecer e continuar após o parto. Descrevem, ainda, que a

assistência na área da saúde deve compreender “uma complexa trama de atos,

procedimentos, fluxos, rotinas e saberes, num processo dialético de

complementação, mas também de disputa”. A responsabilização do cuidado deve

acontecer em uma linha de produção de cuidado contínua que transversaliza vários

locais dos serviços de saúde (CECILIO; MERHY, 2003).

O HSF possui 166 leitos na unidade de assistência materno-infantil, sendo 66 leitos

obstétricos, 41 leitos de Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), 45 de

cuidados intermediários e sete leitos de outras clínicas e pediatria clínica. Conta com

907 profissionais em uma equipe multiprofissional, sendo 100 médicos, 216

enfermeiros, 81 profissionais de outras categorias de nível universitário e 510

profissionais do nível médio. Os funcionários são contratados pelo regime de

Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) (BELO HORIZONTE, 2011).

Um dos princípios do hospital é resgatar o caráter natural e fisiológico do parto, o

que permite à mulher uma participação ativa no processo e possibilita a presença de

familiares (MADEIRA; DUARTE, 2006). A humanização da assistência ao parto e

nascimento é o que tem pautado essa instituição desde sua origem. As internações

são realizadas pela central de internações (CINT) da SMSA, que é responsável pela

regulação das internações de urgências e das cirurgias eletivas. Todos os leitos da

instituição são destinados aos usuários do SUS.

Page 27: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

26  

O Ministério da Saúde estabeleceu a criação do Centro de Parto Normal (CPN), no

âmbito do SUS, para atender a mulher no período gravídico-puerperal e, de acordo

com a Portaria 985, de 05 de agosto de 1999, essa unidade deve prestar um

atendimento humanizado e de qualidade exclusivamente ao parto normal sem

distócias ou sem anormalidades. O CPN do HSF foi inaugurado em 2001 e foi a

primeira casa de parto de Minas Gerais. Atualmente, são realizados, no CPN, uma

média de 80 partos/mês. Em 2011, foram inaugurados, na maternidade, cinco

quartos “PP” onde a mulher tem, no mesmo local, assistência no pré-parto e parto,

o que aumenta o conforto e evita o deslocamento de um lugar para outro.

Em 1995, o HSF foi reconhecido como Hospital Amigo da Criança. Essa iniciativa foi

idealizada em um encontro em Florença, Itália, em 1990 e foi denominada Iniciativa

Hospital Amigo da Criança (IHAC) pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e

pelo Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF). O Brasil estava presente e

essa iniciativa tem como objetivo apoiar, proteger e promover o aleitamento materno

(LAMOUNIER, 1998).

A Casa de Sofias começou a funcionar em junho de 2006. É um espaço destinado

ao acolhimento de mulheres cujos filhos estejam internados na UTI Neonatal. Em

2012, mudou de lugar e passou a ser denominado “Espação de Sofias”. A unidade

pré-alta é um espaço de acolhimento para recém-nascidos oriundos da unidade

neonatal que se encontram em situação clínica estável e que necessitam ganho de

peso adequado para receberem alta (FAIS, 2010). Atualmente, esse espaço é

chamado de Casa de Sofias: acolhimento do bebê.

As terapias integrativas tiveram início em 2006 e são atividades desenvolvidas com

os usuários e trabalhadores cujas práticas terapêuticas não são vinculadas ao

tratamento alopático convencional (FAIS, 2010).

Em 2007, iniciaram-se as atividades da Casa de Gestantes, que é um espaço para

atendimento de gestantes que apresentam problemas, que necessitam permanecer

em regime de internação apenas para controle mais rigoroso das condições de bem-

estar fetal ou tratamento de condições que não necessitam, a priori, do uso intensivo

Page 28: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

27  

dos recursos humanos e materiais de um hospital, mas que podem ser assistidas em

regime de cuidado domiciliar (FAIS, 2010).

Desde o início de suas atividades, o HSF contribui para a formação de profissionais

da saúde. Com a criação da linha do ensino e pesquisa em 2003, essas atividades

foram intensificadas com a oferta de cursos de especialização multiprofissional em

Neonatologia e Enfermagem Obstétrica; em 2012, teve início a residência médica.

O HSF é referência nacional e campo de treinamento do MS para o Projeto de

Qualificação de Maternidades (PQM) do Nordeste e Amazônia Legal. Esse projeto

tem o objetivo de contribuir com a redução da morbimortalidade materna e neonatal.

É também referência internacional e campo de treinamento em projetos trilaterais

(Japão/Brasil/Outros Países). Em parceria com a Agência de Cooperação

Internacional do Japão (JICA), promoveu, por três vezes, o Curso Internacional de

Atenção Humanizada à Mulher e ao Recém-nascido, com profissionais da atenção

materno-infantil de seis países da América Latina e Caribe (Bolívia, Brasil, Equador,

Paraguai, Republica Dominicana e Uruguai) e três países africanos de língua

portuguesa: Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe (FAIS, 2010). O 3° curso

foi realizado no período de 1º a 26 de outubro de 2012.

Foi reconhecido como sítio de demonstração da International Mother Baby Childbirth

Organization (IMBCO), que é uma organização não governamental Internacional de

nascimento mãe-bebê. Atualmente foram escolhidos três hospitais: um na Áustria,

um no Canadá e, no Brasil, foi escolhido o HSF, por ter um amplo e reconhecido

trabalho na área de assistência ao parto humanizado.

Seguem, abaixo, os indicadores assistenciais do HSF/ FAIS no ano de 2012.

Page 29: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

28  

TABELA 1

Indicadores assistenciais do HSF/FAIS no ano de 2012

Fundação de Assistência Integral à Saúde continua

Indicadores Assistênciais Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Total geral Indicadores Perinatais 2012 2012 201 201 201 2012 2012 2012 201 201 201 201 Tota Percentual Partos 833 880 895 854 758 739 705 793 837 867 885 863 9909 826 partos/mês Curetagem pós aborto 40 38 40 38 34 50 56 44 47 55 58 59 559 Parto Natural ( PN ) 73,8% 73,6% 74,5 68,5 69,3 71,7% 71,1% 70,6% 75,6 72,7 71,7 72,2 7151 72,2% Partos na água 9,1% 2,3% 4,5% 4,1% 7,6% 3,8% 5,2% 5,5% 3,3% 3,3% 4,4% 2,4% 327 4,6% Parto Fórceps / vácuo extrator 4,1% 2,0% 2,3% 2,9% 3,7% 4,5% 4,3% 3,7% 3,0% 2,2% 2,8% 4,1% 322 3,2% Parto Cesáreo ( PC ) (OMS = 15 %) 22,1% 24,3% 23,1 28,6 27,0 23,8% 24,7% 25,7% 21,4 25,1 25,5 23,8 2436 24,6% PN em Gestação de Alto Risco** 7,5% 8,9% 10,6 8,8% 11,6 7,2% 13,4% 24,4% 10,1 26,7 20,1 19,0 934 13,7% PC em Gestação de Alto Risco** 44,0% 47,7% 40,6 40,3 47,7 48,4% 46,7% 58,3% 47,9 52,6 66,8 51,6 1130 49,9% Episiotomia 8,6% 8,0% 7,9% 10,4 11,2 9,2% 7,2% 8,4% 7,4% 5,6% 5,4% 8,5% 579 8,1% Laceração 1 e 2º graus 54,8% 56,5% 52,3 54,9 52,6 56,2% 56,5% 53,2% 58,1 56,3 63,6 56,0 4004 56,0% Laceração 3 e 4º graus 1,8% 1,1% 1,2% 1,0% 1,3% 1,7% 0,8% 1,8% 2,2% 1,3% 2,8% 1,3% 110 1,5% Laceração sem especificar 2,4% 0,3% 0,6% 0,9% 0,8% 1,1% 0,0% 0,7% 0,6% 0,8% 0,2% 0,0% 49 0,7% Laceração 59,0% 57,9% 54,1 56,8 54,7 59,1% 57,3% 55,7% 60,9 58,4 66,6 57,3 4163 58,2% Partos em adolescentes 2 21,1% 23,0% 22,3 21,4 21,4 20,3% 22,3% 20,2% 21,1 19,8 18,9 21,1 2088 21,1% Taxa de cesariana em adolescente 13,6% 11,9% 11,5 15,8 16,0 13,3% 12,1% 11,9% 7,9% 12,8 13,8 12,6 266 12,7% Taxa de cesariana em primípara 21,2% 21,6% 21,2 22,7 19,4 21,4% 20,4% 21,6% 19,0 19,7 18,0 6,3% 837 19,3% PN assistidos por médico 14,0% 10,7% 15,3 16,9 22,8 21,0% 23,4% 20,0% 19,0 16,5 17,8 16,7 1313 17,6% PN assistidos por enfermeira 86,0% 89,3% 84,7 83,1 77,2 79,0% 76,6% 80,0% 81,0 83,5 82,2 83,3 6160 82,4% Anestesia para parto natural* 26,4% 25,0% 24,2 29,5 32,9 33,5% 32,9% 31,1% 33,2 35,2 31,2 32,0 2028 30,5% Acompanhantes na sala de parto 3 92,2% 91,6% 90,9 91,0 90,1 89,4% 92,1% 93,4% 93,1 97,9 91,6 88,8 9122 92,1% Pré-natal das Parturientes > = 7 consultas 52,2% 59,1% 54,4 53,6 53,2 53,9% 54,5% 60,2% 61,3 58,2 56,6 54,7 5553 56,0% < 7 consultas 38,9% 33,4% 36,7 36,3 37,8 37,9% 35,0% 32,5% 30,7 33,3 33,6 34,8 3471 35,0% Não fez ou ignorado 8,9% 7,5% 8,9% 10,1 9,0% 8,3% 10,5% 7,3% 8,0% 8,4% 9,8% 10,5 885 8,9% Mortalidade Materna ( nº absoluto) 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 0 2 - FONTE: Livros de Registro da Maternidade e do Centro de Parto Normal Nota: ** Indicador calculado apenas para nascimentos ocorridos na maternidade **Percentual calculado com base no número de contas faturadas Total de leitos na Maternidade: 79 instalados e 96 emergenciais. A partir de novembro: 77 instalados e 99 emergenciais Responsável: Glayce Soares Brandão - Conre 8821 Atualizado em 07/01/2013

Page 30: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

29  

TABELA 1

Indicadores assistenciais do HSF/FAIS no ano de 2012

Fundação de Assistência Integral à Saúde conclusão

Indicadores Assistênciais Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Total geral Indicadores Perinatais 2012 2012 2012 2012 2012 2012 2012 2012 2012 2012 2012 2012 Total PercentuaRN assistidos por médico** 62,5% 54,2% 51,8% 59,6% 82,8% 98,1% 98,6% 98,5% 89,7% 67,0% 62,8% 59,7% 6530 72,6% RN assistidos por enfermeira** 35,0% 44,9% 47,4% 40,4% 17,4% 1,9% 0,5% 0,3% 9,8% 32,2% 14,0% 40,3% 2221 24,7% RN de baixo peso < 2.500 g 9,5% 9,4% 9,4% 10,7% 13,3% 11,1% 11,9% 9,1% 10,0% 8,9% 8,8% 9,2% 984 10,0% RN prematuro < 37 semanas4 14,7% 15,2% 13,6% 15,4% 16,1% 15,6% 16,1% 16,3% 12,8% 14,9% 12,9% 15,4% 1458 14,9% RN Apgar < 7 no 5º minuto 1,7% 0,8% 0,9% 0,4% 1,1% 0,1% 0,4% 0,6% 1,9% 0,9% 1,3% 0,9% 92 0,9% Interação mãe/filho na sala de parto 90,2% 89,5% 89,2% 86,2% 87,5% 89,4% 87,7% 89,3% 90,0% 89,2% 88,4% 87,3% 8784 88,6% Mortalidade / 1.000 nv Natimortalidade 5 6,0‰ 6,8‰ 6,7‰ 10,6‰ 7,9‰ 8,1‰ 12,8

‰ 17,7‰

7,2‰ 10,4‰

11,3‰

12,8‰

9,8‰ 97 Mortalidade neonatal precoce 6 4,8‰ 4,6‰ 3,4‰ 4,8‰ 10,6‰ 8,2‰ 1,4‰ 2,6‰ 3,6‰ 3,5‰ 3,4‰ 4,7‰ 4,6‰ 90 óbitos

Mortalidade neonatal tardia7 0,0‰ 4,6‰ 3,4‰ 1,2‰ 4,0‰ 5,5‰ 2,9‰ 2,6‰ 3,6‰ 7,0‰ 3,4‰ 4,7‰ 3,6‰ 10,8‰ 15,9‰ 13,4‰ 16,5‰ 22,4‰ 17,0

‰ 22,7‰

14,4‰

20,8‰

18,1‰

22,0‰

17,9‰

Indicadores Hospitalares Taxas hospitalares Média de permanência - PN 2,5 3,2 3,1 1,8 1,9 2,0 1,9 2,0 1,8 2,0 2,1 1,9 2,2 Média de permanência - PC 3,8 4,8 2,2 2,3 2,6 3,1 3,3 2,7 2,5 2,8 2,6 3,0 3,0 Taxa de ocupação 82,9% 87,3% 89,6% 99,9% 94,9% 94,1% 84,2% 92,9% 93,4% 96,8% 97,3% 92,4% 92,1% Exames Teste do pezinho (Triagem Neonatal) Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Teste da Orelhinha (Triagem Auditiva Neonatal) Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Teste do Olhinho (Teste do Reflexo Vermelho) Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Teste do Coração (Teste de Oximetria de Pulso) - - - - - - - - - - - Sim Sim Registro Civil no Cartório do RN Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim FONTE: Livros de Registro da Maternidade e do Centro de Parto Normal (valores sujeitos a Nota: ** Indicador calculado apenas para nascimentos ocorridos na

id d Responsável: Glayce Soares Brandão - Conre 8821

Page 31: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

30  

Os indicadores apresentados mostram que o número de partos realizados no HSF,

tem se mantido com média de 800 partos/mês. O índice de cesarianas do Sofia é o

mais baixo de Belo Horizonte e ficou em torno de 24,6%. Tal indicador é

determinado pela decisão institucional de prestar assistência à mulher e à criança

com base nas evidências científicas e em consonância com as recomendações do

MS e da OMS. A média de partos em adolescentes é de 21%; 82,4% dos partos

normais são assistidos por enfermeiras-obstetras o que também foi uma decisão

institucional desde o início e a equipe de plantão é composta por ginecologistas-

obstetras, enfermeiros-obstetras, pediatras, anestesistas, psicólogos e doulas

comunitárias. A presença de acompanhantes em sala de parto está em torno de

92%, o que reflete o cuidado do Sofia com os usuários do SUS.

Como apresentado na tabela 1, as crianças que nascem no Sofia, realizam o teste

do olhinho ou teste do reflexo vermelho o qual detecta precocemente doenças de

patologias oculares; o teste da orelhinha ou também denominado triagem auditiva

neonatal que detecta as deficiências auditivas; o teste do pezinho que possibilita o

diagnóstico precoce de duas doenças: a fenilcetonúria e o hipotirodismo e o exame

de oximetria de pulso ou teste do coraçãozinho, cumprindo a lei municipal de

n°10.581 de 13 de dezembro de 2012 (BELO HORIZONTE, 2012) que dispõe sobre

a obrigatoriedade de realização desse exame o qual tem o objetivo de rastrear as

cardiopatias congênitas. No hospital, funciona um posto avançado de cartório para o

registro de nascimento.

A seguir, a consolidação dos indicadores neonatais do ano de 2012.

Page 32: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

31  

TABELA 2

U T I Neonatal: Consolidação dos Indicadores Neonatais

Peso jan/12 fev/12 mar/12 abr/12 mai/12 jun/12 jul/12 ago/12 set/12 out/12 nov/12 dez/12 Total Extremo Baixo Peso 9 8 16 10 20 10 8 9 14 9 6 11 130 13,7%

< 499 g 0 1 0 1 0 0 0 0 0 0 1 0 3 0,3% 500 - 749 g 0 2 3 1 6 3 4 2 4 4 1 7 37 3,9% 750 - 999 g 9 5 13 8 14 7 4 7 10 5 4 4 90 9,5%

Muito Baixo Peso 13 19 8 25 15 19 22 15 22 21 14 17 210 22,2% 1000 |- 1249 g 9 10 3 10 8 10 8 8 10 7 9 11 103 10,9%

1250 - 1499 g 4 9 5 15 7 9 14 7 12 14 5 6

107 11,3% Baixo Peso 26 24 36 32 41 21 34 36 23 26 33 22 354 37,4% 1500 - 1749 g 12 9 11 11 10 9 12 15 11 8 8 6 122 12,9% 1750 |- 1999 g 6 2 14 10 13 5 9 6 4 10 12 7 98 10,3% 2000 - 2499 g 8 13 11 11 18 7 13 15 8 8 13 9 134 14,1% >= 2500* g 18 27 21 18 21 29 25 19 17 18 20 20 253 26,7% Admitidos 66 78 81 85 97 79 89 79 76 74 73 70 947

Idade Gestacional 22 - 27 semanas 1 6 9 10 10 10 6 8 5 3 6 9 83 8,8% 28 - 31 semanas 30 18 25 15 22 16 29 17 24 23 15 21 255 26,9% 32 - 33 semanas 9 12 11 27 20 15 10 17 12 23 15 8 179 18,9% 34 - 36 semanas 8 15 19 16 25 9 18 20 11 12 15 16 184 19,4%

>= 37 semanas 18 27 17 17 20 29 26 17 24 13 22 16

246 26,0% Admissões por transferência 4 1 6 1 12 18 13 7 4 13 11 12 102 Média de Permanência (dias) 15 16 12 16 14 13 14 13 15 17 15 15 15

Taxa de Ocupação 98,7% 90,1% 88,5% 105,3% 112,7% 104,0% 107,6% 102,4% 108,3% 110,4% 98,4% 101,9% 103,3% Leitos/dia 1271 1189 1271 1230 1271 1230 1271 1271 1230 1271 1230 1271 15006

Fonte: Neonatologia / Hospital Sofia Feldman (valores sujeitos a alterações até o encerramento do ano). Total de leitos na UTI: 32 instalados e 37 emergenciais.A partir de novembro: 45 leitos. Responsáveis: Glayce Soares Brandão - Conre 8821

Page 33: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

32  

A neonatologia do HSF funciona com 41 leitos de Unidade de Tratamento Intensivo

(UTI) e 45 leitos de Unidade de Cuidados Intermediários (UCI) e tem a atuação de

uma equipe multiprofissional. Segundo os dados apresentados acima (TABELA 2),

em média 80 recém-nascidos/mês são admitidos nesse serviço. A média de

permanência é de 15 dias; a média da taxa de ocupação é de 103,3%; por ser um

serviço de porta aberta, o número de leitos não supre a demanda; por esse motivo,

tem leitos extras. Na caracterização da população da unidade neonatal, percebe-se

que os recém-nascidos de extremo baixo peso, muito baixo peso e baixo peso

representam mais de 70% das internações, o que significa que a maioria das

internações é por prematuridade, o que também se constata no dado da idade

gestacional, onde até 36 semanas os bebês são considerados prematuros. A seguir,

serão apresentados os dados da Unidade de Cuidados Intermediários Neonatais

(UCIN).

Page 34: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

33  

TABELA 3

Unidade de Cuidados Intermediários Neonatais Consolidação dos Indicadores Neonatais de 2012

Peso jan/12 fev/12 mar/12 abr/12 mai/12 jun/12 jul/12 ago/12 set/12 out/12 nov/12 dez/12 Total Extremo Baixo Peso 0 1 0 0 0 0 0 3 0 0 0 0 4 0,6%

< 499 g 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,0% 500 - 749 g 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,0% 750 - 999 g 0 1 0 0 0 0 0 3 0 0 0 0 4 0,6%

Muito Baixo Peso 2 4 4 1 1 1 2 16 3 1 0 1 36 5,0% 1000 |- 1249 g 1 3 0 0 0 0 0 1 2 0 0 0 7 1,0%

1250 - 1499 g 1 1 4 1 1

1 2 15 1 1 0 1 29 4,1% Baixo Peso 20 37 17 33 28 20 12 35 23 12 18 10 265 37,2% 1500 - 1749 g 6 8 4 22 3 3 1 10 6 4 2 5 74 10,4% 1750 |- 1999 g 9 14 8 0 12 8 4 13 6 1 8 4 87 12,2% 2000 - 2499 g 5 15 5 11 13 9 7 12 11 7 8 1 104 14,6%

>= 2500 g 34 39 30 31 30 33 34 44 27 35 42 29 408 57,2% Admitidos 56 81 51 65 59 54 48 98 53 48 60 40 713

Idade Gestacional 22 - 27 semanas 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,0% 28 - 31 semanas 3 6 1 0 0 0 0 6 2 0 0 1 19 2,7% 32 - 33 semanas 1 6 3 10 4 2 3 23 4 3 2 2 63 8,8% 34 - 36 semanas 16 22 14 22 22 17 9 23 16 8 14 9 192 26,9% >= 37 semanas 36 47 33 33 33 35 36 46 31 37 44 28 439 61,6% Admissões por transferência 59 20 58 57 84 85 72 15 60 72 73 71 726

Média de Permanência (dias) 8 8 9 9 8 8 10 9 10 13 9 10 9

Taxa de Ocupação 91,6% 80,8% 86,5% 95,0% 106,8% 99,4% 106,4% 91,1% 100,1% 114,5% 91,7% 81,6% 95,5% Leitos/dia 992 928 992 960 1147 1110 1147 1147 1110 1147 1350 1395 13425

Fonte: Neonatologia / Hospital Sofia Feldman (valores sujeitos a alterações até o encerramento do ano). Total de leitos na UTI: 32 instalados e 37 emergenciais.A partir de novembro: 45 leitos. Responsáveis: Glayce Soares Brandão - Conre 8821

Page 35: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

34  

Na UCIN, atualmente com 45 leitos, as internações são principalmente em função de

icterícia, sepse tardia e recém-nascidos após alta da UTI neonatal. De acordo com a

(TABELA 3), a média da taxa de ocupação está em torno de 95,5% e a média de

permanência é de nove dias. Quando os bebês permanecem estáveis e estão acima

de 34 semanas e em aleitamento materno exclusivo ou complemento e sem nenhum

foco infeccioso, são encaminhados para a Casa de Sofias: Acolhimento do bebê.

Como já foi dito, no HSF, a gestão colegiada foi implantada em 2003 enquanto

modelo gerencial, por uma decisão da própria instituição. Dentre as principais

atribuições do colegiado, encontra-se a discussão sobre o cuidado oferecido aos

usuários no cotidiano da organização, além das questões de ordem política e

financeira. Esse espaço é de grande relevância na tomada de decisões acerca de

estratégias e práticas cuidadoras que possibilitam aperfeiçoar e avançar na

qualidade da assistência à população.

No que se refere ao financiamento, há um déficit grave e, em conjunto com a

qualidade da assistência, foi o tema mais discutido nos planejamentos do hospital e

com frequência faz parte da agenda das reuniões do colegiado diretor. O HSF é

contratualizado desde 15/05/2007 com a SMSA e a contratualização é uma

ferramenta de gestão onde são definidas as negociações e pactuações entre o

gestor municipal e os hospitais conveniados do SUS/BH. O contrato de gestão está

inserido no Programa de Contratualização dos Hospitais Filantrópicos do MS. O

contrato foi baseado em uma série histórica de produção e teve um incentivo de

adesão à contratualização o que representou um acréscimo de 7% na receita. No

entanto, deve-se ressaltar que a série histórica foi baseada em procedimentos de

baixa e média complexidade em que os valores estão muito aquém dos custos reais

dos serviços prestados (FAIS, 2008b).

O processo de contratualização, em Belo Horizonte, teve inicio por meio de licitação/

chamamento em 1995 e, em 1996, iniciou-se o processo de contratação de serviços

ambulatoriais e hospitalares. Esse instrumento tem contribuído para uma relação

mais próxima entre o gestor e um acompanhamento maior do hospital (JORGE et

al., 2010).

Page 36: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

35  

Em 2004, os Ministérios da Saúde e da Educação publicaram portarias

interministeriais, em função das dificuldades financeiras e das crises crônicas dos

hospitais em que se alterava a forma de certificação e financiamento desses

estabelecimentos e se introduzia a modalidade de orçamento global (CARVALHO,

2007). Além da produção, incluíam-se as metas de qualidade remunerando também

por mérito. Entretanto, desde 1993, o MS já havia publicado uma portaria que

estabelecia parâmetros definindo a contratação dos serviços de saúde junto à rede

prestadora. Em 2005, o MS criou o Programa de Contratualização dos Hospitais

Filantrópicos no qual estabeleceu o incentivo financeiro à adesão (FARIAS et al.,

2011). O déficit institucional, segundo o balanço e as demonstrações contábeis do

exercício de 2011, foi de 19,13%, como demonstrado do Quadro 1. A decisão

institucional, tomada no planejamento de 1998, de manter a prestação de serviços

exclusivamente ao SUS traz consigo o ônus do sub-financiamento da saúde pública,

tendo sido este um dos principais determinantes do déficit financeiro.

No quadro abaixo, apresentam-se a receita e a despesa e o déficit da instituição no

período de 2008 a 2011, destacando 2011, onde há um incremento da receita em

função dos benefícios advindos da Rede Cegonha durante os meses de outubro,

novembro e dezembro. No entanto, as despesas e as dívidas acumuladas durante

anos em função do sub-financiamento da saúde pública, não permitiram o equilíbrio

entre receita e despesa e o déficit se mantém.

QUADRO 1

Déficit financeiro anual

Ano Receita Despesa Déficit Déficit %

2008 19.267.357,53 24.181.648,67 (4.914.291,14) -25,51

2009 24.805.188,86 27.825.938,92 (3.020.750,06) -12,18

2010 26.504.084,00 32.524.910,63 (6.020.826,63) -22,72

2011 42.308.082,19 50.402.021,27 (8.093.939,08) -19,13

Fonte: Balanço Patrimonial da FAIS

Cecílio (2007), em sua tese de livre docência, apresentava que o perfil de

financiamento do SUS, com suas tabelas de valores defasados não permitia sequer

a sobrevivência nem mesmo o crescimento dos hospitais e que, na maioria dos

Page 37: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

36  

hospitais governamentais, a folha de pagamento de pessoal é mantida com recursos

do governo federal, estadual e municipal, dependendo da esfera a que a instituição

está submetida. No entanto, é como se o governo subsidiasse, ainda que segundo o

autor não seja correto usar a expressão, seus próprios hospitais. Tal realidade não é

vivenciada nos hospitais filantrópicos, como, por exemplo, no caso do Sofia Feldman

onde os recursos recebidos são para cobrir tanto o custeio da instituição como a

folha de pagamento e ainda fazer os investimentos. No Sofia, a única receita vem de

prestação de serviços ao SUS e, desde 2007, o recurso vem da contratualizacão

com a SMSA. No contrato em vigor, há uma divisão entre produção (40%) e

incentivos (60%).

A Rede Cegonha citada acima foi instituída pelo MS em março de 2011; essa

estratégia tem como objetivo que os serviços de saúde prestem uma assistência

adequada, segura e humanizada às mulheres e às crianças no período que

corresponde desde a gravidez, passando pelo parto e atenção à criança até dois

anos de idade. Para que essas ações sejam implementadas, é necessário que se

faça a ampliação do acesso ao pré-natal, que se faça a vinculação das unidades

básicas às maternidades de referência com a decisão de que a gestante não

peregrine à procura de atendimento nas maternidades e que o parto aconteça em

lugares adequados, com a garantia da presença de um acompanhante da escolha

da mulher. O acompanhamento da criança deve ser até 24 meses e o acesso ao

planejamento familiar deve ser garantido para todas as mulheres. A esse programa,

estão atrelados recursos financeiros, os quais foram importantíssimos para o Sofia,

devido aos déficits da instituição. A humanização da assistência ao parto faz parte

da história do HSF desde o início de sua existência.

O planejamento, como instrumento de gestão, foi iniciado em 1990 e reelaborado

em 1993. Mas foi a partir de 1996 que o planejamento foi realizado com

regularidade, a cada três anos, sendo que, em 2010, aconteceu o 7° planejamento

do HSF, quando foram reunidas cerca de 100 pessoas entre gestores, trabalhadores

e usuários. O planejamento conta com a consultoria do Dr. Luís Carlos de Oliveira

Cecílio, médico sanitarista, professor do Departamento de Medicina Preventiva da

Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).

Page 38: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

37  

No que se refere à gestão de custo, esta tem a função de oferecer informações

gerenciais para os responsáveis pela tomada de decisões na instituição. O HSF

possui atualmente 62 centros de custos, subdivididos em três custos: produtivos,

auxiliares e administrativos. Desde 1994, o hospital trabalha com gestão de custo e

conta com a consultoria da empresa Planejamento Organização Instituições Saúde

(PLANIS) Consultoria Hospitalar desde 2007.

Em geral, nas instituições de saúde, o número de trabalhadoras é bem significativo:

no HSF as mulheres trabalhadoras representam mais de 80% do total de

trabalhadores. Outra característica dos serviços de saúde é que os trabalhadores

com muita freqüência, possuem múltiplos vínculos empregatícios. No HSF, desde a

implantação da linha de apoio ao trabalhador, em 2003, foram criados os seguintes

projetos voltados para o trabalhador: Projeto Sofia em Forma, que consiste em o

trabalhador utilizar 10% de sua carga horária para realizar uma atividade física e o

hospital disponibilizar uma academia e professores de educação física; a instituição

possui também uma creche para os filhos dos trabalhadores e garante o

cumprimento da CLT (FAIS, 2010).

No hospital, desde sua fundação, sempre se valorizou a participação da comunidade

e, em 1994, foi criada a Associação Comunitária de Amigos e Usuários do Hospital

Sofia Feldman (ACAU), que coordena, junto com o hospital, os seguintes projetos

que contribuem com o efetivo exercício do controle social na instituição: Doula

comunitária, Ouvidoria, Amiga da Família, Plantonista Social. O projeto Doula

comunitária iniciou em 1997 e consiste em que uma senhora da comunidade,

capacitada pela equipe multiprofissional, ofereça às mulheres o apoio

psicoemocional e físico durante o trabalho de parto e pós-parto. O projeto Ouvidoria

teve inicio em 1994 e consiste na presença de voluntários da comunidade dentro do

hospital para registrar reclamações, denúncias, sugestões, elogios e informações

dos usuários. O projeto Amiga da Família teve inicio também em 1994 e tem como

atribuições o apoio aos usuários e acompanhantes durante a permanência no

hospital. O Plantonista Social tem como objetivo dar apoio às atividades do plantão

noturno (MADEIRA; DUARTE, 2006). O Conselho de Saúde do HSF foi criado em

2006 com representação de usuários, trabalhadores e gestores.

Page 39: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

38  

O hospital foi idealizado por um vicentino da SSVP para atender as pessoas que,

naquela época, eram consideradas indigentes, ou seja, estavam excluídas do direito

previdenciário e do sistema de saúde e seria um Hospital Geral. Entretanto, em

função da parceria de um obstetra e um pediatra que assumiram a responsabilidade

da assistência, tornou-se uma instituição materno-infantil.

Apresento, a seguir, o funcionamento do atual modelo de gestão do HSF.

1.2 O modelo de gestão do Hospital Sofia Feldman

Em 2003, com a mudança do modelo de gestão, o colegiado diretor passa a ser

composto por 16 membros, sendo cinco representantes da linha do cuidado

perinatal, cinco membros da linha de políticas institucionais onde estão presentes os

representantes dos usuários, nas pessoas do presidente do Conselho de Saúde do

HSF e do presidente da ACAU, dois membros da linha de apoio técnico, um membro

da linha de apoio administrativo, dois membros da linha de apoio ao trabalhador, um

membro da linha de ensino e pesquisa. No que diz respeito a essa composição, a

presença nesse colegiado de profissionais de diferentes áreas de conhecimento e

membros do controle social possibilita uma percepção maior, por parte desse grupo,

das necessidades dos usuários e trabalhadores, maior agilidade nas decisões

políticas e implementação das ações assistenciais (MADEIRA; DUARTE, 2006).

Seguem, abaixo, o desenho do modelo de gestão do HSF e a composição da

estrutura da gestão com as seis linhas: Cuidado maternoinfantil (Perinatal), Políticas

Institucionais, Ensino e Pesquisa, Apoio ao Trabalhador, Apoio Administrativo e

Apoio Técnico (Figura 1).

Page 40: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

39  

Figura1 - Linhas de cuidado do Hospital Sofia Feldman

Fonte: (FAIS, 2003a, p. 22)

Com as seis linhas apresentadas na figura acima e a linha perinatal como coluna

vertebral da estrutura assistencial, a instituição é vista em um contexto do qual sofre

influências do mercado de trabalho, dos sindicatos e dos conselhos profissionais.

Esse fluxograma apresenta também a responsabilização da saúde pública dividida

entre os três entes (federal, estadual e municipal).

O conceito de linha de cuidado da instituição ficou definido no planejamento

estratégico de 2003 como sendo:

O planejamento a organização e a prestação da assistência á saúde a determinados indivíduos e/ou grupos populacionais, de acordo com os riscos e/ou agravos à saúde enfrentados por estes, baseados na universalidade, integralidade e equidade dos cuidados, envolvendo múltiplos saberes e disciplinas (FAIS, 2003a, p. 17).

Na estrutura da gestão, os níveis de decisão são o colegiado diretor e o colegiado

gestor.

Page 41: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

40  

O colegiado diretor:

O colegiado diretor é constituído pelos coordenadores das linhas: cuidado materno-

infantil (Perinatal), políticas institucionais, ensino e pesquisa, apoio ao trabalhador,

apoio administrativo e apoio técnico e pelos representantes do controle social nas

pessoas do presidente do Conselho de Saúde do HSF e do presidente da ACAU. As

reuniões devem ser semanais e o regimento interno demonstra as características

desse colegiado.

Regimento Interno da gestão colegiada do Hospital Sofia Feldman Titulo I Da caracterização e dos Objetivos:

Art. 1°-O Hospital Sofia Feldman/Fundação de Assistência Integral a Saúde institui o colegiado diretor por tempo indeterminado, preservando o caráter ético, técnico e educativo. Art.2° - O Colegiado Diretor do Hospital Sofia Feldman tem como objetivo realizar análise institucional e traçar as diretrizes do hospital. Título II Das Finalidades Art. 3° I) Estabelecer os colegiados das linhas do Hospital; II) Realizar o gerenciamento do Hospital em regime de colegiado em

construção coletiva. Titulo III Da composição: Art. 4°- O Colegiado Diretor do HSF será composto por 16 membros, sendo 04 representantes da linha do Cuidado Perinatal do Hospital Sofia Feldman; 05 membros da linha Perinatal; 02 membros da linha de Apoio Técnico; 01 membro da linha de Apoio Administrativo; 01 membro da linha de Apoio ao trabalhador; 01 membro da linha de ensino e Pesquisa e 01 representante da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes). Art. 5°- A coordenação será ocupada pelo diretor administrativo que é membro das linhas de politicas institucionais. Título IV Do Funcionamento

Page 42: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

41  

Art. 6°- O colegiado se reunirá semanalmente às quartas-feiras no horário de 9:00 ás 11:00 no centro de capacitação do Hospital Sofia Feldman, localizado á Rua Antônio Bandeira 1060-Tupi. E extraordinariamente sempre que necessário por convocação do coordenador. Título V Da estrutura Art.7°- O colegiado diretor/HSF receberá apoio da diretoria da Fundação de Assistência Integral à Saúde para viabilizar seu funcionamento satisfatório. Art.8°- Poderão ser convidados para participar das reuniões do colegiado os trabalhadores do Hospital Sofia Feldman, representantes da Secretaria Municipal de Saúde e conselheiros (FAIS, 2003b, p. 01).

O colegiado gestor do hospital:

O colegiado gestor tem a participação de membros do colegiado diretor e dos

coordenadores de unidades assistenciais, de apoio técnico e administrativo e do

controle social. Suas reuniões devem acontecer a cada trimestre. Tem um caráter

mais informativo das decisões do cotidiano da instituição.

De modo geral, os organogramas dos hospitais são representados com diversos

níveis hierárquicos. Na mudança de modelo em 2003, o organograma do HSF,

representado abaixo (Figura 2), ficou definido com poucos níveis de autoridade e a

gestão colegiada da instituição foi definida com as seguintes características:

democrática, responsabilizadora e compromissada. No modelo de gestão colegiada

do HSF, representantes do controle social (presidente da ACAU e presidente do

Conselho de Saúde) fazem parte do colegiado diretor, como dito anteriormente.

Page 43: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

42  

Figura 2 - Organograma do Hospital Sofia Feldman

Fonte: (FAIS, 2003a, p. 21)

Segue a apresentação de cada um dos colegiados das linhas:

Linha de Políticas Institucionais (LPI): Tem como objetivo fazer as discussões do

hospital no aspecto macro, ou seja, do hospital inserido no sistema com sua rede de

serviços e do cotidiano da instituição.

Linha Perinatal (LP): A Linha de Cuidado Perinatal foi criada visando a manutenção

do cuidado integral à mulher e ao recém-nascido com a mesma racionalidade da

SMSA, que, dentre outras, já havia criado a linha maternoinfantil no município.

Abaixo, na Figura 3, apresenta-se o organograma da Linha de Cuidado Perinatal do

Page 44: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

43  

HSF. A proposta é que o cuidado tenha continuidade e, nesse organograma, são

apresentados os diversos espaços, que são as unidades funcionais que

compreendem a assistência à mulher.

Figura 3 - Organograma da Linha de Cuidado Perinatal do HSF

Fonte: Colegiado Diretor HSF

Linha de Ensino e pesquisa (LEP): A LEP tem uma composição multiprofissional,

perpassa todas as linhas da instituição e tem, como objetivo, apoio e promoção da

formação e capacitação de recursos humanos, na pós-graduação; na promoção de

pesquisas no âmbito do Hospital com foco na multiprofissionalidade, imprescindível

à implementação do modelo de gestão centrada na integralidade do cuidado. Tem

Page 45: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

44  

um papel importante na sistematização das ações desenvolvidas no Hospital Sofia

Feldman.

Linha de Apoio ao Trabalhador (LAT): Tem como objetivo: Fazer a escuta das

necessidades dos trabalhadores (ouvidoria); acolher e efetivar as propostas para a

promoção da saúde do trabalhador e promover as ações voltadas para o

trabalhador.

Linha de Apoio Técnico: As finalidades dessa linha são a descentralização e a

responsabilização das questões técnicas. Na Figura 4, está descrito o organograma

da Linha de Apoio Técnico do HSF, com as diversas áreas de sua responsabilidade.

.

Figura 4 - Organograma da Linha de Apoio Técnico do HSF

Fonte: Colegiado Diretor HSF

Page 46: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

45  

Linha de Apoio Administrativo: Tem como finalidade apoiar as áreas

administrativas e financeiras; envolve as seguintes áreas: suprimentos,

departamento de pessoal, tecnologia da informação e gestão da informação do

usuário. Na Figura 5, está apresentado o organograma da Linha de Apoio

Administrativo do HSF.

Figura 5 – Organograma da Linha de Apoio Administrativo do HSF

Fonte: Colegiado Diretor HSF

Em 2003, no 5° planejamento do HSF, foi implementada a estrutura de gestão como

já descrita acima e, no 6° planejamento da instituição, que aconteceu em 2008, foi

realizada uma avaliação da gestão colegiada e das linhas que compõem o modelo

de gestão do hospital. Ao se referir à organização do cuidado do HSF, uma das

dificuldades vivenciadas por coordenadores da linha perinatal era a necessidade de

mais solidariedade entre a maternidade e a neonatologia. Os dois espaços

apresentavam funcionamento com lógicas diferentes e, por esse motivo,

necessitavam de gerências que contribuíssem para que os profissionais

melhorassem os diálogos (FAIS, 2008b). O 7° planejamento institucional foi um dos

métodos utilizados na coleta dos dados da análise documental. As considerações

sobre a gestão colegiada encontradas nesse planejamento serão apresentadas no

Page 47: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

46  

tratamento e análise dos dados da pesquisa. Desde que a gestão colegiada foi

implantada no hospital em 2003, em todos os planejamentos posteriores, o

gerenciamento do hospital tem sido avaliado.

No plano diretor do HSF do período de 2009/2010, algumas necessidades foram

apontadas visando aprimorar a gestão colegiada do HSF, tais como: fortalecer o

espaço decisório do colegiado gestor; responsabilizar de maneira crescente os

membros do colegiado diretor; favorecer a participação do controle social; favorecer

o diálogo entre membros do colegiado e os profissionais; instrumentalizar os

membros do colegiado e utilizar os espaços das reuniões para explicitar os conflitos

(FAIS, 2009).

Finalizando este capítulo, esclarecendo que foram apresentadas todas as áreas do

HSF e como tem sido construído o modelo de gestão da instituição ao longo dos

anos; no entanto, no que se refere ao número de leitos em 2012 mais precisamente

em 22/08/2012, o HSF ampliou o número de leitos em função da abertura de uma

unidade no Bairro Carlos Prates, o antigo Hospital Frederico Ozanan que estava

desativado e foi comprado pelo Sofia Feldman, inicialmente seria um hospital

cirúrgico. Atualmente, o HSF possui um total de 315 leitos sendo que 150 leitos são

leitos de psiquiatria nessa unidade citada acima, os quais são destinados para o

programa de desospitalização. Nessa unidade, temos 144 trabalhadores sendo 10

médicos, 16 enfermeiros, 55 técnicos de enfermagem, nove profissionais de nível

universitário e 54 profissionais do nível médio. Posteriormente explicaremos com

mais detalhes a necessidade de abertura desses leitos.

Page 48: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

47  

2 PERCURSO METODOLÓGICO

Neste capítulo serão reapresentados os objetivos da pesquisa, a metodologia, os

aspectos éticos da pesquisa. E será discutida a implicação da autora com o objeto

estudado.

2.1 Objetivos da pesquisa

O estudo, de caráter qualitativo, teve como objetivo geral analisar o novo modo de

gestão hospitalar sugerido pela Política Nacional de Humanização em 2003, no

âmbito do Sistema Único de Saúde, tomando como estudo de caso o desenho,

o processo de implantação e a operacionalização do modelo de cogestão do

Hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte. E teve como objetivos específicos:

Analisar como e porque o Hospital Sofia Feldman fez mudanças em seu modelo

após 2003; Analisar se e como a gestão colegiada produz uma desconcentração do

processo decisório no âmbito do Hospital Sofia Feldman e analisar a atuação do

controle social pela participação dos representantes dos usuários (Conselho de

Saúde do Hospital Sofia Feldman e Associação Comunitária de Amigos e Usuários

do Hospital Sofia Feldman) no espaço do colegiado diretor do Hospital Sofia

Feldman;

2.2 A metodologia 2.2.1 Tipo de pesquisa

Trata-se de um estudo de caso, exploratório e descritivo, realizado sob a abordagem

qualitativa de pesquisa.

Para Minayo (1994, p.16), metodologia é “o caminho do pensamento e a prática

exercida na abordagem da realidade”. Inclui as concepções teóricas de abordagem

e o conjunto de técnicas que possibilitam a construção da realidade. Ainda para a

autora, a pesquisa é a atividade básica da ciência. “É a pesquisa que alimenta a

atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do mundo”. “Nada pode ser

Page 49: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

48  

intelectualmente um problema, se não tiver sido, em primeiro lugar, um problema da

vida prática” (MINAYO, 1994, p.16).

Na escolha do método de pesquisa, optou-se pela pesquisa qualitativa porque,

segundo Melucci (2005), na vida cotidiana, existem os espaços onde os sujeitos

constroem o sentido de seu agir e experimentam as oportunidades e os limites para

a ação. Esse olhar é direcionado para detalhes e acontecimentos que dificilmente

poderiam ser observados nos modelos de análise unicamente quantitativos. E,

segundo Cruz Neto (1994), a pesquisa qualitativa possibilita tanto criar um

conhecimento partindo da realidade existente no campo, quanto conseguir uma

aproximação do que desejamos conhecer e estudar.

2.2.2 Coleta, tratamento e análise dos dados

Para a coleta de dados foram combinados os seguintes métodos: análise

documental, a entrevista semi-estruturada, e observação participante.

A análise documental foi realizada por meio de consulta às atas do colegiado diretor

do Hospital Sofia Feldman, ao estatuto da fundação do HSF e ao 7° planejamento

do hospital por ser o mais recente e em vigor (2010-2013). Os planejamentos

anteriores foram pesquisados à medida que algum tema do estudo ali se encontrava

mais explícito. Também foi utilizada, na análise documental, o Plano Operativo

Anual (POA) que é o termo integrante do contrato entre o gestor municipal e o HSF.

No que se refere às atas do colegiado diretor, foram analisados os anos de

2005/2006 e 2010/2011. A escolha desse recorte será melhor explicada na análise

dos dados.

Na coleta de dados, foi utilizada também a técnica de entrevista semiestruturada

que, segundo Pope e Mays (2009), é mais flexível e apresenta questões abertas que

definem a área a ser explorada. As entrevistas foram realizadas com os membros do

colegiado diretor, com profissionais incluídos nesse colegiado, com o gestor

estadual e o consultor municipal que estão diretamente ligados à implementação das

diretrizes da PNH. Como todos são muito conhecidos e identificáveis na instituição,

Page 50: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

49  

foi garantido o sigilo das informações pela identificação dos entrevistados por meio

de siglas. Ao todo, foram realizadas 19 entrevistas, sendo que 15 entrevistas com os

membros do colegiado diretor duas com profissionais que foram incluídos no

colegiado diretor por participarem de área estratégica da instituição, e duas com os

profissionais da PNH nos níveis municipal e estadual (APÊNDICES A - Roteiro da

Entrevista com os participantes do colegiado diretor do HSF e APÊNDICE B -

Roteiro de entrevista com os profissionais da PNH nos níveis municipal e estadual).

A entrevista é uma situação de interação entre o pesquisador e o entrevistado e as

informações fornecidas podem ser afetadas pelas relações entre os dois. Existe uma

dissimetria entre o entrevistador e o entrevistado, pois é o pesquisador quem conduz

o processo de acordo com os objetivos da pesquisa (MINAYO, 1994).

Para Valladares (2007), na observação participante, as relações que o pesquisador

desenvolve com o grupo estudado interferem nas informações obtidas e as

anotações devem ser sistematizadas. Nesta pesquisa, a observação participante foi

realizada nas reuniões do colegiado diretor do HSF. Na condição de membro efetivo,

já que participo do colegiado diretor, no Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE), foi esclarecido aos participantes da pesquisa que a observação

participante seria realizada nessas reuniões. O objetivo foi o de avaliar como são

definidas as pautas das reuniões do colegiado, como são realizadas as intervenções

de cada membro do colegiado diretor, qual temática e quais debates são mais

frequentes. Esse “duplo estatuto gestor-pesquisador” será objeto de reflexão no

momento da análise de minha implicação.

De acordo com Serva e Jaime Júnior (1995), nesse tipo de metodologia, o processo

de coleta de dados é realizado no ambiente em que os sujeitos interagem. Com

essa técnica, pretende-se compreender como acontecem os processos da

construção social do grupo pesquisado e os referenciais teóricos do pesquisador

contribuem para a boa utilização da metodologia. O pesquisador deve respeitar o

ritmo de ação do grupo pesquisado e, para esses autores, é imprescindível que o

pesquisador explicite com transparência os objetivos da pesquisa. Oliveira (2009)

acrescenta que, com essa técnica, os comportamentos e as relações dos indivíduos

são abordados no contexto em que acontecem. Reiterando: no caso da presente

Page 51: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

50  

investigação, meu “duplo estatuto” acrescenta novos elementos complicadores a

essa discussão.

Chizzotti (2010) esclarece que existem diversas formas para se analisar um

documento, assim como uma multiplicidade de técnicas disponíveis para tratamento

e análise dos dados. Nesta pesquisa, escolheu-se a análise de conteúdo, na qual se

adotam normas sistemáticas de extrair os significados temáticos ou significantes

lexicais para agrupá-las em categorias. Pela frequência da citação de alguns temas,

palavras ou ideias em um texto, mede-se o peso que o ator atribuiu a um

determinado assunto. Ainda para o autor, decompor o conteúdo do documento em

fragmentos mais simples pode revelar sutilezas contidas no texto e esses

fragmentos podem ser palavras, termos ou frases.

Moraes (1999) também apresenta que a análise de conteúdo é usada para

descrever e interpretar o conteúdo de documentos e textos, o que contribui para

reinterpretar as mensagens e atingir uma compreensão dos significados em um

determinado nível, que vai além de uma leitura comum. Segundo o autor, todas as

etapas desse método são importantes. Na primeira fase, tem-se a preparação do

material coletado, o qual deve ser codificado, identificado e realizado em conjunto

com a análise dos objetivos da pesquisa. Na segunda fase, tem-se a seleção das

“unidades de análise”, também conhecidas como “unidades de registro” ou ainda

“unidades de significação”. Essa unidade é o elemento unitário de conteúdo que

será submetido à classificação. Depois de identificadas e codificadas as unidades de

análise, chega-se ao momento da categorização, que é o agrupamento dos dados

considerando a parte comum entre eles. Já Campos (2004) ressalta que existem as

categorias que abordam temas que não se repetem em outros relatos, mas que são

relevantes para o estudo. O autor também esclarece a importância da inferência

para a análise de conteúdo, que significa “não somente produzir suposições

subliminares acerca de determinada mensagem, mas embasá-las com pressupostos

teóricos de diversas concepções de mundo e com as situações concretas de seus

produtores ou receptores” (CAMPOS, 2004, p. 613).

Para Guerra (2006), com a análise de conteúdo, descrevem-se as situações e

também se interpreta o que foi dito. Essa técnica será utilizada para a análise das

Page 52: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

51  

entrevistas semiestruturadas e as categorias serão criadas a partir das respostas

dos sujeitos da pesquisa.

A análise dos dados obtidos por meio das outras fontes, tais como análise

documental e observação participante, será articulada de forma a complementar a

análise das entrevistas semiestruturadas.

2.2.3 Local da pesquisa

A pesquisa foi realizada no HSF, que é uma instituição fundacional de Belo

Horizonte, filantrópica, de direito privado, que teve suas atividades iniciadas em

1982. Os hospitais filantrópicos no Brasil são responsáveis por aproximadamente

um terço dos leitos hospitalares existentes no país e, por esse motivo, são

importantes prestadores para o SUS e também para a saúde suplementar. São

consideradas hospitais filantrópicos as instituições que possuem o “Certificado de

Entidade Beneficente de Assistência Social”. Esse certificado é concedido pelo

Ministério da Saúde. Para que uma entidade ser considerada entidade sem fins

lucrativos, deve preencher alguns critérios definidos no art. 4º da Lei n° 12.101, de

27 de novembro de 2009 (BRASIL, 2009).

O Brasil conta com 3.594 hospitais filantrópicos, o que representa um total de 44%

de unidades hospitalares do SUS. Isso significa mais de 123 mil leitos para o SUS,

ou seja, 34% do total de leitos SUS existentes no país, segundo o Cadastro Nacional

de Estabelecimentos de Saúde (CNES) (BRASIL, 2011b).

2.2.4 Sujeitos da pesquisa

Os sujeitos da pesquisa são os membros do colegiado diretor do HSF, que são os

profissionais das diversas linhas que compõem o hospital; os representantes do

controle social: o presidente da ACAU e o presidente do Conselho de Saúde do

HSF, que participam da linha de políticas institucionais.

Também foram convidados, para participar da pesquisa, os profissionais que, por

atuarem em áreas estratégicas na organização, são membros convidados do

Page 53: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

52  

colegiado: o gerente da Comissão do Núcleo Hospitalar de Epidemiologia e Controle

de Infecções Hospitalares do Hospital Sofia Feldman (NHECI/HSF) e a gerente de

Comunicação do Hospital. Ressalta-se que os membros convidados não têm direito

a voto no colegiado.

Devido à diversidade de categorias profissionais e membros da comunidade

presentes no colegiado diretor do HSF, optou-se por entrevistar todos os

participantes. Em nove anos de gestão colegiada, houve mudança de apenas quatro

participantes, sendo que dois representantes de usuários devido à renovação em

suas instâncias de controle social e dois profissionais por terem saído do hospital.

Quando mudam os representantes em suas instâncias de origem, as mudanças

também ocorrem no colegiado. No início, a LP era composta por médico e

enfermeiro. Na maternidade, permanece essa composição; no entanto, na

neonatologia, houve a inclusão de um fisioterapeuta, por ser um profissional muito

importante no cuidado ao recém-nascido nesse setor.

Foram ainda entrevistados o coordenador da PNH no nível estadual e o consultor no

nível municipal para entendermos a visão desses profissionais sobre a diretriz da

política no que se refere à cogestão e como têm acompanhado as mudanças no

gerenciamento dos serviços de saúde.

2.2.5 Aspectos éticos da pesquisa

O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética de Pesquisa do Hospital

Sofia Feldman (CEP/HSF) sob o Parecer 65763, em conformidade com o Conselho

de Ética e Pesquisa (CEP/CONEP) por meio da base de dados Plataforma Brasil

(ANEXO A - Parecer do projeto de pesquisa aprovado pelo CEP).

Baseado na Resolução de n°196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que

regulamenta pesquisas realizadas com seres humanos, foi elaborado um TCLE para

os participantes da pesquisa (APÊNDICE C), no qual se encontram as explicações

sobre os objetivos e as condições de realização da pesquisa, bem como a

solicitação de participação.

Page 54: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

53  

2.2.6 A implicação da autora com o objeto da pesquisa

Minha implicação com o objeto estudado deve-se ao fato de que trabalho no HSF há

27 anos e, em 2003, com a mudança do modelo de gestão, passei a fazer parte da

Linha de Políticas Institucionais do Hospital. Uma de minhas atividades é coordenar

o colegiado diretor do HSF, que é meu objeto de estudo. Esse é meu “duplo

estatuto” de gestora e pesquisadora.

Em minha trajetória profissional como assistente social, atuo no HSF e em um centro

de saúde do distrito sanitário norte. Sinto que é um privilégio vivenciar o Sistema

Único de Saúde nesses dois espaços, um hospitalar e outro na rede básica, que

apresentam uma riqueza e uma inquietação constante, pois é na “ponta do sistema”

que as necessidades dos usuários precisam ser atendidas com precisão e rapidez.

Mas, além do exercício profissional nesses lugares, a experiência de ser conselheira

de saúde (distrital e local) permitiu-me conhecer as demandas dos usuários de

forma mais coletiva. Nos serviços, nós, profissionais da saúde, geralmente fazemos

as escutas individualmente de cada usuário; no máximo, coletivamente nos diversos

grupos de cuidado. No entanto, nos conselhos, como os atores são representantes

de alguma instância ou de algum lugar, as demandas que apresentam geralmente

não são de interesse próprio e sim de quem representam.

Para Velho (1987), o envolvimento do pesquisador com o objeto de estudo não

constituiria necessariamente uma dificuldade para estudos na área de ciências

sociais. Por outro lado, existe a possibilidade de diversos questionamentos e críticas

ao se estudar o que é “familiar”, o que é próximo e o pesquisador se expõe mais à

discordância de suas interpretações.

Identifico-me com as colocações de Merhy (2004, p. 5), quando afirma que o

pesquisador se coloca em autoanálise enquanto sujeito social em um campo da

investigação, quando se dispõe a “estudar seus próprios processos de intervenção,

na busca da mudança de direcionalidade dos serviços e práticas” e complementa

que um sujeito, além de ser um sujeito epistêmico “portador de teorias e métodos

que lhe permitem debruçar e estudar certos objetos da ciência é um sujeito

ideológico, um sujeito “cultura”, ou seja, um sujeito interessado que dá valor a certas

Page 55: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

54  

concepções ideológicas e não outras”, mas que, além de ser um sujeito interessado,

é um sujeito implicado, é o pesquisador e o pesquisado, o analisador e o

analisado. Creio ser essa a situação vivida por mim neste estudo.

Pelo envolvimento com o objeto, não foi fácil fazer o exercício de sair de dentro da

gestão da instituição e conseguir um deslocamento para avaliar o objeto de estudo

por meio de uma política, no caso, da PNH, para tentar avaliar em que medida o

modelo de gestão sugerido pelo MS tem sido (ou não) o modelo de cogestão

adotado pelo HSF. E, por outro lado, ainda analisar quais as singularidades desse

local que tem permitido até mesmo uma reorganização da diretriz da cogestão dessa

política.

Por ter acesso e familiaridade com o material, por conviver com a maior parte dos

entrevistados há anos e por ter muito afeto por esse lugar, no momento de análise

do objeto em cuja construção me envolvi intensamente, coloquei-me, lembrando

Merhy, em autoanálise, o que nem sempre é fácil.

Este estudo está sendo realizado nas ciências sociais e, para Minayo (1993), o

objeto das ciências sociais é histórico e sempre existe o embate do que está dado e

o que está sendo construído na identidade entre sujeito e objeto, ressoando com a

indicação de Lévi-Strauss (1975), quando afirma que, em alguns momentos, o

observador é parte de sua observação.

Page 56: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

55  

3 A POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO E A DIRETRIZ DA COGESTÃO

NOS SERVIÇOS DE SAÚDE

Iniciando este capítulo, apresento o referencial teórico escolhido para o

embasamento deste estudo, que foram os seguintes temas: a humanização, o

hospital na atualidade e a gestão colegiada. Apresento também uma breve análise

do SUS e sua interface com a PNH e, mais precisamente, a diretriz da cogestão,

definida nessa política.

3.1 Referencial teórico

3.1.1 O conceito de humanização na PNH

O conceito de humanização aparece em uma variedade de contextos, no SUS e se

torna polêmico por comportar vários sentidos. Essas polêmicas aumentam quando

esse conceito é utilizado para nomear uma politica pública; no caso, a PNH.

Discutem-se, a seguir, os sentidos que esse tema assumiu no escopo dessa política.

Reforçando a questão apresentada acima, Pucinni e Cecilio (2004, p.1344)

descrevem que a humanização é um movimento que assume diferentes sentidos e

que, à primeira vista, enfatizava a busca de um ideal, representado por

generalizações de uma perfeição moral das ações e das relações entre os sujeitos

envolvidos. Na humanização, enfatizam-se as relações interpessoais; no entanto, a

fragmentação no desenvolvimento das ações de humanização e “o fato de cada um

de seus singulares realizadores tentar explicar as dificuldades do mundo com um

horizonte de análise reduzido tem colocado as razões e motivações de tal

movimento humanizador em caminhos diferentes e até mesmo conflituosos.”

Diversos trabalhos publicados nas revistas científicas da área da saúde abordam o

tema da humanização, ora como uma crítica às tecnologias duras em detrimento das

tecnologias relacionais, ora como uma busca da essência humana perdida. Segundo

Merhy (1998), a qualificação do modelo assistencial passa pelo reordenamento entre

as tecnologias leves, leve-duras e duras. A tecnologia leve está baseada nas

Page 57: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

56  

relações e nos encontros; a leve-dura estaria pautada no saber dos profissionais,

nos protocolos; a tecnologia dura estaria baseada nos equipamentos, nas máquinas.

Esse tema também é visto como um processo de organização institucional que

valoriza a escuta e os direitos sociais. Nos serviços de saúde, esta intenção

humanizadora traduz-se em diferentes ações, tais como: melhorar a relação médico

– paciente, garantir a presença de acompanhante tanto na internação da criança

como da gestante e, nesse caso, proporcionar a realização de um parto

humanizado, amenizar as condições aos pacientes internados nos Centros de

Tratamento Intensivos e diversas outras proposições (PUCINNI; CECÍLIO, 2004).

No entanto, as noções do humanismo cristão que permeiam esse conceito, muitas

vezes, são apropriadas pelos atores dessa política, com sentidos inadequados que

se fundem aos conceitos de piedade e caridade, como “fazer para o outro”. Esses

conceitos não interessam à PNH porque as ações assim fundamentadas estariam

pautadas em concessões e isso obscurece a conquista do direito à saúde (SOUZA;

MENDES, 2009).

A humanização deve ser vista como a construção da cidadania, principalmente em

um país como o nosso onde existia a figura do indigente. Com a Constituição

Brasileira de 1988, com a criação do SUS, a saúde passa a ser um direito de

qualquer cidadão e dever do Estado. Dito de outra maneira, o SUS muda a

realidade, quando o direito à saúde passa a ser um direito de toda a população

brasileira, lembrando que, antes do SUS. Só tinham acesso aos serviços de saúde

os que tinham condições de pagar por meio de suas fontes, os trabalhadores e suas

famílias que, devido à inserção formal no mercado de trabalho, tinham a garantia de

assistência médica pela seguridade social e os que possuíam planos ou seguro de

saúde. Muitas pessoas dependiam da caridade de hospitais filantrópicos e das

Santas Casas; eram chamadas de indigentes (MEDICI, 2009).

Entretanto, a definição na Constituição não garante que as mudanças no sistema de

saúde sejam realizadas na velocidade necessária para atender as necessidades dos

usuários e dos trabalhadores de saúde. Até porque as organizações de saúde são

atravessadas continuamente por interesses múltiplos de diversos atores. A

Page 58: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

57  

compreensão que se tem da construção social, política e institucional do SUS é de

ambiguidade; ao mesmo tempo em que é um movimento que apresenta avanços na

universalização e na qualificação do acesso, o SUS convive com práticas

conservadoras que associam saúde a ação médica, com o sub-financiamento da

saúde, com iniquidades no acesso, inexistência de redes de atenção, com

interesses políticos partidários na definição de políticas, dentre outros. É um sistema

ainda muito focado nas intervenções nas doenças e com dificuldades para colocar o

humano em primeiro lugar (PASCHE, 2009).

Nós sempre escutamos que existe um SUS que está na Constituição de 1988 e

outro, que está no cotidiano, ou seja, um SUS que foi “idealizado” e um SUS “real”,

com todas as dificuldades e limitações. Para exemplificar uma dessas dificuldades,

(ROOTELLI, 1988) descreve como a pessoa doente não é vista em sua

integralidade mas, como um corpo doente; é como se o olhar do médico já não

encontrasse mais o doente, mas sua doença, e em seu corpo não se lesse uma

biografia ou uma história de vida, mas uma patologia na qual a subjetividade do

paciente desaparece atrás da objetividade dos sinais sintomáticos. Quando, não só

o olhar médico, mas o de qualquer trabalhador da saúde reduz o ser humano a uma

doença, certamente se empobrece a essência da vida.

As concepções de humanização na área da saúde, além do sentido do humanismo

cristão, também se referem aos aspectos das relações interpessoais estabelecidas

entre trabalhadores e usuários e, nessa esfera subjetiva, as relações se dariam

entre sujeitos idealizados. No entanto, a humanização busca deslocar-se do campo

da moral entre o bem e o mal para um aspecto em que humanizar não seria para

encontrar “o humano ideal, mas, para fazer conexão com as forças do coletivo”

(HECKERT; PASSOS; BARROS, 2009, p. 498).

Os princípios do SUS só se sustentam se são efetivados em alteração no modo de

fazer, de trabalhar, no campo da saúde (BENEVIDES; PASSOS, 2005b). E a

humanização nos serviços de saúde precisa considerar a maneira como o SUS foi

constituído em nosso país. A luta pela redemocratização da sociedade brasileira que

antecede a criação do SUS tinha, no movimento da reforma sanitária, as

Page 59: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

58  

formulações dos princípios de universalidade, equidade e a integralidade na saúde

(BENEVIDES; PASSOS, 2005a).

Para Ribeiro (2004), quando o MS propôs a PNH para o SUS, não partiu do princípio

de que as práticas desenvolvidas na saúde não eram humanas. No entanto, a

proposta de humanização no SUS é a construção de modelos de gestão e de

atenção que respeitem a pluralidade de saberes não só dos profissionais mas

também dos usuários. E essa proposta visa o rompimento do modelo tradicional, de

fragmentação de procedimentos médicos e do caráter hospitalocêntrico. E, no caso

dos hospitais, apresenta-nos o desafio de reinventar, em alguma medida, as duras

relações que atravessam e constituem o hospital hoje. Por isso, voltamos nossa

atenção, no próximo ponto, para o hospital.

3.1.2 Sobre os hospitais

Para Wanderley (2012), as instituições hospitalares são as organizações mais

complexas do setor da saúde. Nesse espaço, são ofertados os serviços de média e

alta complexidade onde se consome um volume considerável de recursos.

Atualmente, no Brasil, são mais de 7,5 mil instituições que realizam mais de 11

milhões de internações por ano, segundo dados do DATASUS em 2008. Alguma

discussão tem sido levantada sobre a situação atual dos hospitais, envolvendo

fatores assistenciais, financeiros, organizacionais, políticos e sociais e ainda

aspectos que direta ou indiretamente interferem nesse setor, tais como o ensino e a

pesquisa. No que se refere ao aspecto financeiro, discute-se muito o custeio das

unidades; na esfera política, a discussão passa pelo modelo hospitalocêntrico,

privilegiado no decorrer dos anos e pela necessidade de se fazer a inversão do

modelo com investimento que visa o fortalecimento da atenção básica com ações de

promoção a saúde, prevenção de riscos de agravos e maior cobertura assistencial.

Na dimensão organizacional, destaca-se a discussão do lugar do hospital dentro do

sistema e, no que diz respeito à assistência, o desafio é o de articular o cuidado

entre as diversas categorias profissionais pois, sem dúvida alguma, o cuidado

continua fragmentado. A discussão de todos esses aspectos é muito importante

porque a população brasileira ainda se vê com dificuldade de acesso aos serviços

Page 60: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

59  

de saúde (WANDERLEY, 2012). Não só lhe falta o acesso mas também lhe falta

qualidade na assistência.

Acrescente-se ainda a essas questões, o gerenciamento dos serviços. Porque as

organizações hospitalares ainda se mantêm com gestão pouco democrática e

práticas muito enrijecidas, o que dificulta ter sujeitos capazes de transformar o modo

de gerenciar e de fazer saúde (ABRAHÃO, 2008).

No setor hospitalar brasileiro, há cerca de meio milhão de leitos e, como dito acima,

é um setor que compreende uma multiplicidade de arranjos, tais como: o

financiamento, os arranjos organizacionais e os tipos de propriedade. A rede privada

comporta 65% do total dos hospitais e 70% dos leitos e um dado interessante é que

o primeiro hospital brasileiro foi a Santa Casa de Misericórdia de Santos no estado

de São Paulo, inaugurada em 1565, com a visão de que o atendimento aos

doentes era de responsabilidade religiosa (FORGIA; COUTTOLENT, 2009). No

entanto, apesar de a rede privada comportar 70% dos leitos, a política de governo é

no sentido de ampliar a rede hospitalar pública.

No campo da saúde, o financiamento compreende dois sistemas: o SUS e o setor

privado (seguradoras privadas e operadoras de planos de pré-pagamento). Existe

um consenso de insuficiência de recursos públicos para a área da saúde e, em

2004, o gasto nacional com saúde no Brasil foi R$ 147 bilhões, ou seja, cerca de 50

bilhões de dólares, o que equivale a 8,3% do Produto Interno Bruto. Esse setor

consome aproximadamente dois terços do gasto total com saúde e cerca de 70% do

gasto hospitalar são financiados com recursos públicos do SUS (FORGIA;

COUTTOLENT, 2009).

O setor hospitalar é composto por: hospitais públicos administrados por autoridades

federais, estaduais ou municipais, financiados pelo setor público; hospitais

financiados ou contratados pelo SUS (aqui se incluem a maioria dos hospitais

filantrópicos e os hospitais particulares com fins lucrativos e alguns filantrópicos não

financiados pelo SUS. Em sua maioria, os hospitais brasileiros são de pequeno porte

sendo que mais de 60% têm menos de 50 leitos; os hospitais de médio porte têm,

em média, 64 leitos e os hospitais de grande porte são geralmente os hospitais

Page 61: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

60  

federais que possuem, em média, 118 leitos. Interfere na qualidade da assistência o

fato de a maioria dos hospitais brasileiros ser de pequeno porte (FORGIA;

COUTTOLENT, 2009). Sabe-se que o leito hospitalar não pode ser avaliado

isoladamente; em torno do leito, estão disponibilizados os diversos serviços de apoio

tais como: exames laboratoriais, serviço de imaginologia, serviço de nutrição e

dietética, de higienização, contabilidade, departamento pessoal, dentre outros e, por

esse motivo, o leito hospitalar é tão caro e tão precioso; daí, a necessidade de sua

utilização só para quem realmente precisa.

A complexidade das instituições hospitalares e o gerenciamento tradicional com

estruturas centralizadoras reforçam a oferta de uma assistência fragmentada e,

nesse espaço, se convive com relações complexas de poder onde alguns são bem

remunerados e outros, talvez a maioria, nem tanto; para alguns, a autonomia e a

liberdade podem ser exercidas enquanto para a maioria o que prevalece são os

instrumentos de controle e submissão. Ainda é frequente, na maioria dos hospitais, a

pouca participação dos usuários e de sua rede familiar e social na definição do

cuidado (PASCHE, 2011).

O reposicionamento da função dos hospitais dentro do sistema e seu lugar nas

redes assistenciais tem como objetivo garantir que os recursos estratégicos,

escassos e de maior custo, sejam realmente utilizados em situações avaliadas como

necessárias. A regulação dos leitos e o modo como o usuário é inserido nas

instituições hospitalares pelas centrais de internações garantem que o acesso dos

usuários ocorra com mais equidade (PASCHE, 2011).

Um aspecto que ocupa a atenção dos diversos atores envolvidos com o SUS é que

muitas vezes as políticas hospitalares são marcadas pelo estrutural funcionalismo e

por elementos racionalizadores. É como se as propostas de “modernidade gerencial”

dos hospitais passassem por

uma funcionalização dos sujeitos que se traduz na quase obsessão por capacitações sem fim, por protocolização e normatização de todos os processos hospitalares, pelo aprimoramento dos processos de seleção e de socialização, buscando enquadrar do modo mais perfeito possível cada trabalhador às funções que se espera que ele desenvolva a contento (CHIORO DOS REIS, 2011, p. 377).

Page 62: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

61  

A visão do estrutural – funcionalismo é que a sociedade é constituída por partes,

cada um com suas próprias funções e trabalhando em conjunto para promover a

estabilidade social (HOULT, 1969). E trazendo essas questões para a área da

saúde, Carapinheiro (1998) aponta que existe uma racionalização crescente das

práticas médico-hospitalares que se caracterizam principalmente quando a medicina

moderna se constitui em uma atividade econômica global e, por esse motivo, é alvo

de avaliação da relação custo/benefício e o hospital definido como empresa.

É interessante questionarmos sobre a ambiguidade dessa questão. Para além dos

hospitais, nos serviços de saúde de modo geral os trabalhadores lutam contra esse

enquadramento e o excesso de práticas racionalizadoras, como por exemplo,

resistindo bravamente à biometria, ou seja, ao ponto eletrônico (e isso se percebe

principalmente na categoria médica). No entanto, existe uma cobrança por um

funcionamento idealizado dos serviços, como se pudesse, nesses locais marcados

pelo poder das categorias profissionais, desconsiderar as resistências, os conflitos e

os diversos interesses.

3.1.3 A gestão colegiada nos serviços de saúde

Por que adotar a gestão colegiada nos serviços de saúde? Para Campos (2000),

seria uma crítica a Taylor, considerado o fundador da racionalidade gerencial

hegemônica, que prevaleceu durante todo o século XX. A cogestão é um método

com possibilidades de superar essa lógica do taylorismo e de governar as

organizações. Ainda para esse autor, a referência ao taylorismo deve-se ao fato de

Taylor ser um clássico do pensamento administrativo e que, nas instituições, de

modo geral, ainda predominam a disciplina e o controle como métodos de gestão.

Dois dos objetivos do método de cogestão são o fortalecimento dos sujeitos e a

construção da democracia institucional. Mas, como contribuir para o fortalecimento

dos sujeitos e como produzir a democracia institucional? Como ampliar a

capacidade de análise e de intervenção dos sujeitos? Na democracia, estão

presentes a correlação de forças, o confronto entre poderes instituídos e a

capacidade social de construir espaços de poder compartilhado. “A democracia é,

Page 63: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

62  

portanto, a possibilidade de exercício do poder: ter acesso a informações, tomar

parte em discussões e na tomada de decisão”. O sujeito é um ser com subjetividade

complexa e envolvido em relações sociais em que estão inseridos os desejos,

interesses e necessidades (CAMPOS, 2000, p. 41).

A PNH tem contribuído com essas questões propondo que, nos serviços de saúde,

ocorram inovações na gestão e nas práticas de produção de saúde com valorização

da autonomia dos trabalhadores e usuários para que possam ser experimentadas

novas formas de organização (BRASIL, 2010a).

Para Abrahão (2008), no sistema de saúde, são identificadas duas questões

referentes à gestão: a macrogestão e a microgestão, sendo que, na macrogestão,

situam-se a criação dos planos regionais de gestão e, na microgestão, a ênfase é

para o gerenciamento no interior dos estabelecimentos de saúde em que o acesso

aos serviços, o acolhimento e a co-responsabilização estão presentes. Um dos

arranjos organizacionais da gestão colegiada é o colegiado gestor que envolve a

direção e as chefias dos serviços e é um espaço de tomada de decisão política.

Campos (2010), ao avaliar as tensões entre a racionalidade gerencial dominante e o

trabalho em saúde, discute a necessidade de um modelo de gestão que possibilite e

favoreça a combinação de autonomia profissional com responsabilidade sanitária.

Até porque, a maioria dos métodos desenvolvidos no século XX tinha, como

estratégia explícita ou implícita, a utopia de controlar o trabalho humano. E

questiona por que existe essa obsessão histórica em moldar a força do trabalho

humano. E, ainda, por que os modelos de gestão desejam reduzir a autonomia do

ser humano. Nesse contexto, apresenta as justificativas políticas, econômicas e

científicas que sustentam essa racionalidade: a primeira característica da

racionalidade gerencial é a tendência em subordinar o trabalho a modos de

funcionamento padronizados e diminuir ao máximo a imprevisibilidade do trabalho.

A tentativa é de reduzir o sujeito a um objeto ou a um recurso maleável conforme o

planejamento definido pela direção ou por especialistas que pensam e planejam

afastados do espaço onde é realizado o trabalho. Na segunda característica, o

objetivo é o controle que oscila entre a exclusão dos rebeldes e a busca de socorro

na psicologia para a seleção de trabalhadores com personalidade adequada,

Page 64: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

63  

treinamentos de novas sensibilidades e prêmios financeiros. E a terceira

característica é que as escolas ou teorias de administração tendem a adotar a visão

em que o ser humano tenderia a comportar-se segundo seu interesse imediato.

Para Campos (2000), a concretização da gestão democrática e participativa dar-se-

ia pela construção de um sistema de cogestão que depende da construção ampliada

e da capacidade de direção entre as pessoas que participam do coletivo. Nesses

espaços, as decisões seriam tomadas e os conflitos negociados adotando-se um

“paradigma que reconheça e conviva com a autonomia relativa dos trabalhadores

mas que desenvolva formas de controle sobre o trabalho segundo a perspectiva dos

usuários” (CAMPOS, 2010, p. 2342).

3.1.4 O SUS e a interface com a cogestão na PNH

No Brasil, desde o processo de implantação do SUS, várias experiências foram

propostas para a democratização dos serviços de saúde: a municipalização, a

descentralização do poder para os municípios e a instalação de conselhos e

conferências de saúde. Mas essas propostas ainda são insuficientes para se

alcançarem os objetivos do SUS. Os serviços de saúde ainda funcionam com uma

lógica centrada em departamentos, com ênfase nas profissões: corpo clínico de

médicos, de enfermagem, de nutrição e das outras categorias. E o desafio, nos

serviços de saúde, tem sido o de ter modelos de gestão que assegurem o

cumprimento do objetivo nessa área, que é o de produzir saúde e, ao mesmo tempo,

propiciar, aos trabalhadores, ampliação de sua capacidade de reflexão e, como

consequência, realização profissional e pessoal, ainda que seja em uma sociedade

injusta e desigual (CAMPOS, 1998). Essa mudança de modelo deveria refletir um

serviço de saúde comprometido com a defesa da vida, ou seja, uma gestão que

contribuísse para a garantia de acesso e da qualidade da assistência para os

usuários do SUS (CECÍLIO, 2000).

Como dito acima, os serviços de saúde ainda são fragmentados, hierarquizados,

centrados na doença; e a contribuição da PNH tem sido a de tentar alterar a maneira

de trabalhar e de interferir nos processos de trabalho, materializando-se em “formas

de trabalho que não se submetem à lógica dos modos de funcionamento instituídos,

Page 65: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

64  

formas de trabalhar que superem as dissociações entre os que pensam e os que

fazem, entre os que planejam e os que executam, entre os que gerem e os que

cuidam”, e ter, na gestão dos serviços, a inclusão de usuários, trabalhadores e

gestores possibilitaria estratégias melhores para o acesso e a qualidade no campo

da saúde (SANTOS FILHO; BARROS; GOMES, 2009, p. 604).

O SUS vem sendo construído ao longo dos anos com um processo histórico e

alguns marcos importantes de serem lembrados. Um deles foi o encontro de

pessoas de vários países na cidade de Alma-Ata, na ex-União das Repúblicas

Socialistas Soviéticas, em 1978, que propunha a universalização e a reforma nos

sistemas nacionais de saúde, em que o eixo organizador do sistema seria a atenção

básica de qualidade (PERILLO; AMORIM, 2011). Uma das propostas defendidas

nesse encontro foi a de saúde para todos até o ano 2000. Entretanto, até o momento

atual, esse ideal ainda não foi atingido. Os princípios do SUS como a

universalização, a equidade, a integralidade, a regionalização, a hierarquização, a

descentralização e a participação popular apresentam um amadurecimento

significativo; no entanto, segundo Cecílio (2012), alguns problemas vivenciados no

sistema de saúde brasileiro precisam ser enfrentados para que os avanços

continuem acontecendo e esses dilemas são vivenciados pelos usuários, gestores,

trabalhadores e os diversos atores envolvidos no SUS. Um dos desafios que ainda

permanece no SUS é o funcionamento da rede básica. Esperava-se que a rede

básica, com sua proximidade dos usuários teria mais resolutividade, diminuiria a

demanda nos prontos-socorros e reduziria a demanda para consultas especializadas

e procedimentos laboratoriais. Entretanto, esses problemas persistem e

acrescentam-se, a essas questões, a grande rotatividade dos médicos e seu não

“encantamento” com o SUS (CECÍLIO, 2012).

Sabe-se que a formulação de uma política não garante que, no cotidiano dos

serviços, suas diretrizes sejam implementadas. No SUS, é muito comum perceber os

extremos: dos que gostariam de vê-lo fracassar e dos que o idealizam e, nessa

idealização, não conseguem perceber seus limites e não conseguem pensá-lo de

forma crítica para transformá-lo positivamente. Principalmente, por parte dos

gestores, existe uma supervalorização do SUS no que diz respeito ao número de

atendimentos realizados (AMORETTI, 2005).

Page 66: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

65  

O acesso aos serviços de saúde é uma das maiores tensões no cotidiano, os

plantonistas negam as vagas alegando falta de infraestrutura: falta de profissionais,

de leitos e de insumos; no entanto, são esses serviços que foram criados para

atendê-los; muitas vezes, parece que não existe lugar para os usuários, parece que

os usuários não cabem em lugar algum do sistema. As CINTs foram criadas para

propiciar a regulação dos leitos para os usuários do SUS. No entanto as centrais de

internações competem com a regulação interna dos hospitais e a pergunta é a

seguinte: quem de fato gerencia os leitos ou permite o acesso dos usuários? Os

plantonistas ou os diretores administrativos?

A dificuldade da condução dos múltiplos regimes de regulação do acesso aos

serviços de saúde escapa o tempo todo das configurações formais propostas como

regulação governamental do sistema. A regulação governamental é apenas uma das

maneiras de regulação do acesso. Outra maneira de regulação, no cotidiano,

poderia ser denominada de regime de regulação profissional feita pelos profissionais

de saúde principalmente os médicos. Apesar de ser alvo de estratégias

racionalizadoras, essa regulação poderia ser cuidadora (CECÍLIO 2012). Entretanto,

esses profissionais que podem facilitar o acesso dos usuários podem também

dificultar sua entrada, até mesmo por falta de estrutura dos serviços.

Podem ser citadas mais duas maneiras de regulação: a “regulação clientelístico -

eleitoreira”, exercida por atores políticos com cargos efetivos ou entidades de

classes, sindicais e até mesmo por conselheiros de saúde, que poderia ser

considerada uma contrarregulação porque caminha em uma lógica oposta à

regulação governamental mas que está presente no Brasil como um todo. A

regulação governamental é a que acontece por meio das centrais de internações;

as vagas para internações são definidas nessas centrais. Existe a regulação feita

pelo próprio usuário que acessa a rede de serviços de saúde, no lugar em que

considera que pode conseguir a solução para seu problema (CECÍLIO, 2012).

Para Campos (2008), um dos principais desafios é que o SUS ainda não se

transformou em uma prioridade do governo e não se conseguiu regular a construção

de um sistema público para todos. O SUS convive com um impasse, apesar de seu

Page 67: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

66  

crescimento; as mudanças políticas, organizacionais e do modelo assistencial ainda

impedem uma consolidação do sistema. As reformas organizacionais tais como:

fundos financeiros, colegiados, critérios de custeio ainda são insuficientes para

construir a governança do sistema e, no que diz respeito ao modelo de atenção, este

deveria funcionar em rede, e a grande maioria dos hospitais ainda não foi integrada

à rede. O PSF apresenta dificuldades de financiamento e na política de pessoal

(CAMPOS, 2008). As primeiras equipes do PSF foram formadas em 1994 e, para o

MS, esse programa é a principal estratégia para a reorganização da atenção básica.

Outro conflito do SUS é que sempre haverá antagonismos entre a Missão Básica

dos Sistemas de Saúde e os interesses corporativos de suas várias categorias

profissionais. Haverá sempre conflitos entre diretores, coordenadores das unidades

e seus colegiados; e desentendimentos entre médicos, enfermeiros, técnicos e

usuários continuam existindo (CAMPOS, 1998).

A PNH é uma estratégia brasileira em construção que se propõe, por meio de seus

dispositivos e da identificação com os princípios e diretrizes do SUS, a melhorar a

qualidade da assistência e o gerenciamento do sistema de saúde, para que os

atendimentos sejam mais acolhedores e resolutivos, com a participação dos

trabalhadores e dos usuários no espaço da gestão. No entanto, ao analisar os

atendimentos realizados diariamente nos serviços de saúde, verifica-se que esses

encontros entre os usuários e os profissionais são marcados por forças externas, ou

seja, a análise é que o profissional da saúde está “submetido a ordenamentos que

definem, de forma imperativa, suas formas de agir/pensar na prestação da atenção”

(CECCIM; MERHY, 2009, p. 532).

Em 2000, o MS institui o Programa Nacional de Humanização da Assistência

Hospitalar (PNHAH). A justificativa para tal programa foi a identificação de um

número significativo de queixas dos usuários do SUS quanto aos maus tratos nos

hospitais. E essa iniciativa buscava estratégias que possibilitassem a melhoria do

contato humano entre os profissionais de saúde e os usuários do sistema, entre os

profissionais entre si e do hospital com a comunidade (BRASIL, 2001). Em 2003, o

MS faz uma revisão na PNHAH e lança a PNH com alcance da humanização para

Page 68: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

67  

toda a rede (RIOS, 2009). A proposta é a de que a PNH não poderia ser restrita aos

hospitais mas precisava ser construída em todos os serviços de saúde.

Sendo assim, a PNH criada em 2003 é uma política do SUS, também chamada de

HUMANIZASUS e tem como meta enfrentar as dificuldades que ainda permanecem

no sistema de saúde. Entretanto, deve-se lembrar que não foi com essa política que

a temática da humanização foi inaugurada no SUS, que antes da implementação

dessa política, já existiam várias iniciativas de humanização tais como: programas

de humanização do parto, da saúde da criança, da assistência hospitalar, etc. No

entanto, essas iniciativas eram programas e a PNH se desenvolve não como mais

um programa, mas como uma política que transversaliza todo o sistema de saúde,

com o objetivo principal de enfrentar os desafios da qualidade e da dignidade do

cuidado em saúde (PASCHE; PASSOS; HENNINGTON, 2011).

Acredita-se que a proposta de um método de cogestão para o sistema de saúde

deveria ser pautado em uma gestão mais compartilhada a qual seria mais potente

para articular os diversos aspectos relacionados ao processo gerencial tais como

processos administrativos, financeiros, a organização do trabalho e ainda possibilitar

a capacidade de direção dos trabalhadores sobre os serviços e sobre a política

(CAMPOS, 2000).

E ainda cabe perguntar, diante de tantas dificuldades, será que os trabalhadores da

saúde com diversos vínculos desejam também se envolver com a gestão? Será que

de fato a cogestão potencializa os serviços? No entanto, o método de cogestão

nunca se propôs a resolver os conflitos e muito menos a eliminar as contradições.

Ao contrário, tratar-se-ia de se criar espaços onde pudessem ser explicitados e

trabalhados os conflitos e as contradições considerando as várias racionalidades

envolvidas (CAMPOS, 1998).

Nesse contexto de contradições do SUS é que a proposta da PNH, e mais

precisamente a diretriz da cogestão se materializa, como o sub-financiamento do

sistema, a falta de uma política de recursos humanos para o SUS, o gerenciamento

tradicional exercido nos serviços, a contratualização dos serviços que vão

tensionando a vida real de qualquer hospital. E a discussão é a seguinte quais são

Page 69: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

68  

as mudanças que essa política consegue realmente implementar no dia a dia dos

serviços? Ainda que o discurso seja o da humanização e da organização dos

serviços, ao mesmo tempo, a relação é draconiana principalmente no que diz

respeito ao financiamento dos serviços. O interno organizacional é influenciado e

determinado pelo externo, e os fatores citados, no que se refere às dificuldades no

SUS, vão implimindo certas situações que limitam as potencialidades dessa política.

Para tanto, gerir um serviço na direção definida pela PNH, implica considerar que se

faz gestão de processos mais do que de coisas, que se faz o acompanhamento dos

movimentos de institucionalização de uma dada organização e que gerenciar é

negociar, é debater normas, regras e valores (HECKERT; PASSOS; BARROS,

2009).

Finalizando, Cecilio (2010), ao se referir à cogestão, relata que esse modelo é

discutido desde 1998, ou seja, antes mesmo da PNH, e que esse lugar não deve ser

um lugar de normatizações e racionalidades, mas um lugar de produção de

possibilidades e de singularidades.

A seguir, serão apresentados os dados e a análise desses dados da pesquisa,

seguindo a metodologia mencionada.

Page 70: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

69  

4 A GESTÃO COLEGIADA NO HSF EM QUESTÃO

Neste capítulo, serão apresentados os dados da pesquisa e a análise desses dados,

tanto no que diz respeito à análise documental, como das entrevistas

semiestruturadas. As categorias foram construídas a partir das respostas dos

sujeitos da pesquisa, na visão do colegiado diretor do HSF. Este capítulo foi

organizado da seguinte maneira: inicialmente, apresento a análise documental, a

observação participante e, no decorrer do capítulo, apresento as entrevistas

semiestruturas e a análise dessas entrevistas. No entanto, sabe-se que os dados

estão intimamente relacionados.

4.1 A análise documental

Na análise documental, um dos métodos utilizados foi á avaliação do 7°

planejamento do HSF, que corresponde ao período de 2010-2013; é o planejamento

atual do hospital. Esse planejamento tem por tema: o fortalecimento do Sofia na

rede SUS - “Ninguém dá conta do cuidado sozinho”, contou com a participação de

representantes: da Fundação do Hospital, da Secretaria Estadual de Saúde (SES),

da SMSA, do controle social, do colegiado diretor e do colegiado gestor do HSF.

Teve como objetivo avaliar o cuidado no Sofia e definir as estratégias de

fortalecimento do hospital na rede SUS. Os seguintes sub-temas direcionaram os

trabalhos: - qualificação dos trabalhadores e o cuidado; - gestão participativa e

controle social; financiamento; construção conjunta do cuidado e integração com a

rede. Nos três primeiros sub-temas, as discussões abordaram questões internas do

hospital e, no quarto sub-tema, predominou uma discussão ampliada do cuidado

prestado pelo HSF, tanto para os usuários do município de Belo Horizonte, quanto

para os de outros municípios do estado de Minas Gerais. No que diz respeito à

gestão colegiada, desde que foi implantada, tem sido avaliada em todos os

planejamentos. Mais especificamente no 7º planejamento, foi feita uma análise

cuidadosa das linhas: LAT, LP e da LEP, com diretrizes definidas no período que

corresponde ao planejamento. Para exemplificar, uma das metas para a linha de

ensino e pesquisa era que o HSF fosse reconhecido como hospital de ensino o que

foi concretizado.

Page 71: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

70  

Outro instrumento utilizado foi a análise das atas do colegiado diretor que, desde

2003, estão mais sistematizadas, ou registradas de uma forma mais organizada.

Foram analisados os anos de 2005 e 2006 e, 2010 e 2011. A escolha desse período

de dois anos após a implementação da gestão colegiada no HSF (2005 e 2006), e

dos anos mais recentes (2010 e 2011) teve como objetivo fazer uma análise

temática e comparativa de quais assuntos foram mais discutidos, quais decisões

foram tomadas nesse espaço e, ainda, analisar a interferência do administrador nas

decisões (APÊNDICE D - Instrumento para análise temática e comparativa dos

registros das atas do colegiado diretor do HSF).

Foram analisadas 100 atas do colegiado diretor. Observou-se que algumas decisões

são descumpridas como, por exemplo, no ano de 2005, as reuniões não aconteciam

com a frequência definida pelo colegiado. Em uma das reuniões, foi sugerida a

mudança de nome de colegiado diretor para grupo gestor o que também não

aconteceu. Ainda em 2005, período em que as atas foram analisadas neste estudo,

havia uma descontinuidade, com falta de registro das reuniões do colegiado em

atas. Percebe-se que esse espaço representa um local de publicização para os

gerentes da instituição, do que acontece no cotidiano do hospital, por parte da

direção superior do hospital.

Nos anos analisados, o modelo assistencial e o financiamento da instituição,

principalmente o déficit, foram os temas mais debatidos. O tema do financiamento foi

discutido em 41 reuniões e a qualidade da assistência foi abordada em 48 reuniões

das 100 atas avaliadas. No tema relacionado à redução de gastos, percebe-se que o

colegiado tem pouco poder para resolver essa questão; as discussões acontecem

com muita intensidade e depois se perdem, sem continuidade nas reuniões

seguintes. Provavelmente porque o sub-financiamento da saúde pública é um

problema crônico em todas as instituições que sobrevivem exclusivamente do SUS.

O endividamento da instituição e o empréstimo via bancos também são temas

frequentemente abordados. Na observação participante, nota-se um desconforto dos

trabalhadores com relação ao tema do financiamento, provavelmente por serem, em

sua maioria, profissionais da assistência. Em uma das reuniões (22/11/2006), foi

colocado em votação o corte nos custos de 40% para equilibrar a receita e a

Page 72: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

71  

despesa ao longo de dois a três anos. A instituição não conseguiu atingir o equilíbrio

entre receita e despesa.

Outra questão discutida é a construção da gestão colegiada no HSF, inclusive o

funcionamento de cada uma das linhas, com questionamentos acerca da falta de

reuniões da LP e do apoio técnico.

Em diversas reuniões, os profissionais apresentam suas participações em eventos

externos. É uma política do hospital enviar seus profissionais para conhecer outros

serviços de saúde tanto nacionais quanto de outros países.

Na observação participante, percebe-se uma intensidade dos debates nas reuniões

do colegiado que não aparece no registro das atas. Os temas são definidos de

acordo com a necessidade de cada setor e percebe-se também que é um espaço

onde os gerentes das unidades apresentam as dificuldades de suas unidades como,

por exemplo, em algumas reuniões foi discutida amplamente a necessidade de

contratação de médicos para o setor da neonatologia.

Como um dos objetivos específicos desta pesquisa era o de avaliar a atuação da

participação da comunidade no espaço da gestão, por meio de seus representantes,

percebe-se que o aprendizado do controle social é muito interessante e como

passam a solicitar dos trabalhadores que utilizem uma linguagem que eles possam

entender o que acontece dentro dos serviços de saúde. Foi apresentada, nas atas, a

participação dos membros do controle social em atividades externas, o que contribui

para sua formação. Foi também apresentada, em ata do dia 16/02/2011, a proposta

de previsão orçamentária tanto para o conselho de saúde do hospital, quanto para a

ACAU/HSF. Existe também o registro em atas de questionamentos por parte desses

representantes sobre a insatisfação de usuários.

O estatuto da FAIS foi citado em algumas reuniões, com o objetivo de reforçar a

missão institucional; foram apresentados os seguintes artigos:

Art 1°. A Fundação de Assistência Integral à Saúde é pessoa jurídica, de direito privado, filantrópica, sem fins lucrativos, políticos

Page 73: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

72  

ou religiosos, com autonomia administrativa e financeira, regendo-se pelo presente Estatuto e pela legislação que lhe for aplicável. Art 2°. A FAIS tem por objetivo prestar assistência integral à saúde da comunidade, principalmente na área materno- infantil, incluindo o planejamento familiar (FAIS, 2008a, p. 01).

Os artigos abaixo foram citados para se referir à ampliação de leitos do HSF na

unidade Carlos Prates, outro espaço que pertence ao Hospital Sofia Feldman e era o

antigo hospital Frederico Ozanan que estava desativado e tinha sido reformado para

ser um hospital cirúrgico. Em reunião no dia (12/06/2012) com o ministro Alexandre

Padilha, com o atual secretário municipal de saúde de Belo Horizonte e os dirigentes

do HSF ficou definido que essa unidade seria aberta para ser um hospital de

retaguarda para os pacientes crônicos do Hospital João XXIII, mas devido à

necessidade do sistema, em 22/08/2012 foi inaugurado com leitos para psiquiatria,

em função do fechamento do hospital Serra Verde, instituição psiquiátrica situada no

município de Vespasiano na região metropolitana de Belo Horizonte. A relação com

a missão institucional é o pertencimento do Sofia à rede SUS e esse espaço estava

disponível para ser ocupado dentro das necessidades do sistema. O HSF - Unidade

Carlos Prates conta com 150 leitos e, segundo a SMSA, na proposta de

desistitucionalização, esses pacientes serão transferidos para os Serviços de

Residência Terapêutica (SRT) em dezoito meses, podendo esse prazo ser

prorrogado.

Art 6°. A Fundação organizar-se-á em tantas unidades de trabalho ou órgãos que se fizerem necessários à consecução de suas finalidades, as quais serão disciplinadas por regimentos internos específicos. Art 7°. A Fundação, com vistas a atingir seus objetivos, poderá firmar convênios e/ou contratos e articular-se, pela forma conveniente, com órgãos ou entidades públicas ou privadas (FAIS, 2008, p. 02).

Ao longo desses anos, o Colegiado do HSF tem se constituído em um espaço

político de decisões. Entretanto, observa-se que nem todos participam ativamente

das discussões, mostrando-se restritos à busca de solução dos problemas de suas

unidades, dentre outros. Ao mesmo tempo, observa-se que há uma preocupação por

parte da Diretoria no sentido de socializar não só as decisões tomadas, mas também

Page 74: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

73  

especialmente de difundir os valores que permeiam a assistência e a gestão na

comunidade de trabalhadores e usuários.

4.2 A análise dos dados e as categorias criadas a partir dos relatos dos

sujeitos da pesquisa

Como vimos na metodologia, o estudo é de caráter qualitativo, é um estudo de caso.

Stake (2000 apud ALVES-MAZZOTTI, 2006, p. 643), esclarece que, nessa

“modalidade de investigação predominam questões ou temáticas sobre relações

complexas, situadas e problemáticas” e complementa que o estudo de caso deve

ser abordado dentro de um contexto. A entrevista semiestruturada foi um dos

instrumentos utilizados para a coleta dos dados e, para a análise dos dados, utilizou-

se a análise de conteúdo.

As entrevistas foram conduzidas pela pesquisadora e foram gravadas mediante

autorização dos entrevistados. Procuramos compreender a percepção dos

entrevistados sobre as mudanças ocorridas no HSF após a implantação da gestão

colegiada em 2003; a relação entre a diretriz da cogestão definida na PNH e o

gerenciamento do Hospital Sofia Feldman e as contribuições da participação da

comunidade no espaço da gestão. Na percepção dos profissionais do estado e do

município, foram avaliadas quais mudanças ocorreram nos serviços de saúde após

a implementação da PNH pelo MS nos níveis estadual e municipal. A PNH tem

quatro eixos estruturantes e comunicantes: atenção, gestão, formação e

comunicação. Neste estudo, avalia-se a diretriz da gestão.

As unidades de análise foram definidas levando-se em consideração os objetivos da

pesquisa e a categorização dos conteúdos das entrevistas. Seguindo as indicações

de Moraes (1999), a análise resultou em quatro grandes categorias empíricas, a

saber:

1) Percepção idealizada da gestão colegiada pelos participantes no colegiado de

gestão

2) As decisões centralizadas no diretor administrativo

Page 75: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

74  

3) O Financiamento e a gestão: entre o controle de custos e o avanço no modelo

assistencial

4) A participação comunitária no HSF no espaço da gestão

A seguir, apresenta-se, no Quadro 2, síntese dos entrevistados, no que diz respeito

ao tempo de serviço no HSF, tempo de participação no colegiado diretor do HSF e

se tem ou não vínculos profissionais com outras instituições de saúde. Esse quadro

demonstra que, dos 19 entrevistados, dois não são funcionários do hospital; sendo

assim, dos 17 entrevistados, nove permanecem no colegiado desde o início, ou seja

52% dos entrevistados participam dessa gestão há 11 anos. Essa continuidade dos

profissionais no espaço da gestão possibilita um conhecimento melhor do modelo

assistencial e do financiamento da instituição. Como foi verificado, no método de

análise documental por meio das atas do colegiado diretor, esses temas foram os

mais abordados. Outro dado significativo desse Quadro está relacionado ao tempo

de serviço dos profissionais no HSF; dos 19 entrevistados, quatro não são

funcionários do hospital; sendo assim, dos 15 entrevistados, seis permanecem no

hospital há mais de 20 anos, isso corresponde a 40% dos participantes da pesquisa

e sete entrevistados estão há mais de 10 anos no hospital; isso equivale a 46%.

Desses dados, conclui-se que 86% dos entrevistados são profissionais que têm um

vínculo forte com a instituição.

Page 76: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

75  

QUADRO 2

Síntese das entrevistas de campo

Entrevistado Tempo de

serviço no

HSF

Outros

vínculos

profissionais

Tempo no

colegiado

E1 09 anos Não 01 ano

E2 30 anos Sim 11 anos

E32 - - -

E4 30 anos Sim 11 anos

E5 10 anos Não 01 ano

E6 21 anos Não 11 anos

E7 14 anos Não 11 anos

E8 23 anos Não 11 anos

E9 13 anos Não 11 anos

E10 13 anos Sim 11 anos

E11 14 anos Sim 02 anos

E12 18 anos Não 02 anos

E133

E14 32 anos Não 11 anos

E15 20 anos Não 11anos

E164

E175 - - -

E18 08 anos Não 01 ano

E19 12 anos Sim 01 ano

Fonte: Elaborado pela autora

                                                            2 Não é funcionário do hospital, mas faz parte do colegiado diretor  3 Não é membro do colegiado diretor 4 Não é membro do colegiado diretor 5 Não é funcionário do hospital, mas faz parte do colegiado diretor 

Page 77: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

76  

Apresento, a seguir, a primeira categoria:

4.2.1 Percepção idealizada da gestão colegiada pelos participantes do colegiado de

gestão

Uma das apostas da PNH é a democratização da gestão e a diretriz da cogestão

pressupõe que, para ampliar a democracia nas organizações de saúde, o trabalho

deve ser visto como espaço de produção de sujeitos mais livres, autônomos e

capazes de assumir responsabilidades (BRASIL, 2010c).

Dito de outra maneira, na gestão coletiva, existe a possibilidade de uma

revalorização do trabalho e dos trabalhadores. Entretanto, para que isso aconteça,

existe a necessidade de que, nos serviços de saúde, sejam construídos arranjos

institucionais voltados para ampliar a capacidade de participação dos trabalhadores,

para que esses atores possam expressar seus desejos e interesses, os quais seriam

confrontados entre si e, nesses processos de negociação e de lutas, emergiriam

contratos os quais poderiam orientar a produção de bens e serviços (CAMPOS,

2000).

Na percepção dos entrevistados, na cogestão, a responsabilidade é compartilhada

entre todos os atores e com o mesmo poder de decisão, como se nota nos relatos

A gestão colegiada existe quando a administração de um serviço, de uma unidade, as decisões são feitas por vários atores que incluem gestores, inclui controle social, inclui os trabalhadores, onde todos tem o mesmo poder de decisão (E10).

Na gestão colegiada, o gestor não resolve sozinho, a gestão é compartilhada com todos os membros do colegiado (E8).

A gestão colegiada é uma gestão que mais pessoas participam, as pessoas têm responsabilidade sobre o cotidiano da instituição, então a gente tem que fazer esta descentralização do poder, para que nós possamos ficar mais fortes enquanto instituição (E14). O meu entendimento é que a gestão colegiada é realmente para dividir a responsabilidade da gestão (E15).

Page 78: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

77  

É onde se discute as políticas institucionais de forma democrática e as decisões são discutidas democraticamente em prol da própria instituição e do usuário (E19).

Ao analisarmos a fala desses entrevistados, verificamos uma percepção idealizada

acerca da gestão colegiada por parte dos entrevistados; entretanto, a combinação

de interesses institucionais e profissionais não é uma tarefa pacífica

(CARAPINHEIRO, 1998). E, para Campos (2000), as cotas de poder deveriam ser

redistribuídas de forma mais igualitária para que os sujeitos tenham maior

capacidade de negociação. Mas, na realidade, essa redistribuição de poder não

acontece e o poder de decisão não é definido de forma igualitária.

Descrevo, a seguir, a segunda categoria:

4.2.2 As decisões centradas no diretor administrativo

No que diz respeito à centralidade das decisões, o tema foi abordado por todos os

entrevistados do colegiado diretor do Hospital. Vale ressaltar que o modo de

gerenciar, proposto na diretriz da PNH para a cogestão, valoriza a inclusão de

trabalhadores, gestores e usuários dos serviços de saúde no espaço da gestão, para

que as responsabilidades sejam compartilhadas (BRASIL, 2009). No HSF, essa

gestão colegiada está sendo construída desde 2003. Nos relatos a seguir, observa-

se como os membros do colegiado percebem esta construção. Entendem o conceito

de gestão colegiada e percebem que, no HSF, existe a centralização nas decisões.

Eu acho que está mudando e que esta mudança é progressiva [...] mas a gente tem limitações do poder [...], eu acho que a gente está na democracia da informação, a gente fica sabendo das informações, a gente discute, a gente tem abertura para se colocar, mas para vetar, para discutir a gente ainda está caminhando, não sei se a gente vai conseguir compartilhar mais o poder (E1). Eu acho que acontece um compartilhamento das opiniões, que são muito bem aceitas, até mesmo as críticas se escuta muito mas a gente sabe que a decisão é da diretoria (E18).

Outros entrevistados apresentam o tema do compartilhamento do poder da seguinte

maneira:

Page 79: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

78  

Antes do nosso colegiado formalizado em 2003, já existia a CTA (Comissão Técnica Administrativa), que era um formato de colegiado um pouco menor de seis ou sete pessoas, se não me falha a memória, e eu ouvia sempre de uma componente que na CTA, que um mandava e os outros obedeciam. E eu vejo o colegiado atual, da mesma forma, sem nenhum respeito à opinião dos outros membros. Existe uma posição muito forte dentro do colegiado, sem nenhum demérito neste comando, o Sofia chegou ao que é hoje em função deste comando (E2). Eu acho que a minha participação e dos outros é limitada, embora haja participação, embora haja discussão, as decisões não são bem colegiadas, até tem decisões colegiadas, mas elas não vão muito à frente, estas coisas são muito centralizadas (E4). Eu acho que é do mesmo jeito, que existe uma participação, uma discussão, um conhecimento das coisas que vão ser feitas, mas a decisão ela não é do colegiado, a autonomia não é como deveria ser (E15).

Existe uma pessoa que tem que tomar as decisões que é o diretor [...] eu acho que os outros atores têm participado [...] eu acredito que houve melhora, nós não podemos negar mas as decisões importantes ainda continuam centralizadas (E8).

Cecílio (2010) descreve que um dos aspectos mais desafiadores da implementação

do colegiado gestor nos diversos serviços de saúde seria o equacionamento da

relação entre o coordenador e o colegiado gestor; em particular, o quanto ele está

disposto (ou preparado) a se submeter às decisões do colegiado que contrariam sua

posição pessoal e, de alguma forma, questionam sua autoridade. Observa-se, pelos

relatos acima, que os entrevistados percebem que as informações são publicizadas,

mas as decisões são centralizadas e que, apesar da formalização da gestão

colegiada do HSF em 2003, os entrevistados percebem uma continuidade da

Comissão Técnica Administrativa que já existia antes de 2003 e que não houve nada

de inovador na maneira de gerenciar a instituição. É como se a gestão colegiada

não conseguisse cumprir sua promessa de democratizar o hospital (CECILIO,

2010).

E, nas falas seguir, nota-se que o colegiado ainda é muito setorizado e que existe

um desânimo por parte dos representantes quando as decisões já chegam prontas

para o colegiado.

Page 80: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

79  

Uma abertura para o compartilhamento do poder eu percebo, mas as pessoas não assumem esse lugar [...] os coordenadores preocupam com os seus setores (E12). O que dificulta no colegiado é a falta de motivação, o que vai decidir ali, a gente não vai ter poder de decisão (E6). Eu penso que é isto que dá um pouco de desânimo nas discussões, [...] quando as pessoas percebem que, apesar do tema ter sido levado, a decisão já está tomada (E7).

Não percebo compartilhamento de poder [...] as decisões, digamos assim, radicais, elas não são definidas ou se são definidas por uma certa pressão, o que a gente percebe muito é que já vem com a resposta pronta (E19).

Entretanto, apesar de os entrevistados reconhecerem que um dos problemas da

gestão colegiada é a centralização das decisões como visto nos relatos acima, por

outro lado, como apresentado no relato abaixo, existe uma dificuldade dos membros

de se posicionarem, tomarem certas decisões e se responsabilizarem por elas. É

cômodo ter o outro para tomar as decisões.

Eu acho que as pessoas não gostam de ter poder, de comprometer com o que estão fazendo, eu acho que as pessoas são muito de deixar as coisas, reclamam mas não assumem uma coisa para resolver (E15).

Percebe-se claramente na fala desse entrevistado que falta ousadia dos membros

do colegiado para tomarem as decisões, que o colegiado tem funcionado como um

órgão consultivo e que as decisões, mesmo sendo de responsabilidade dos

coordenadores de linhas, são tomadas fora do espaço da gestão colegiada.

O mais difícil são algumas decisões que são tomadas pelo diretor administrativo, pela linha de políticas institucionais que são decisões, que talvez a maioria dos membros do colegiado não teria a ousadia de tomar, não ousariam tomar decisões deste tipo, mas acabam aceitando de alguma forma [...] Agora, acho que o papel de cada um não é bem claro, isto é o mais difícil o que cada membro individualmente do colegiado tem, qual o poder que tem, qual é o poder deste colegiado para tomar decisões ou barrar decisões eu acho pequeno dentro da instituição Sofia Feldman, eu não digo lá dentro do colegiado, digo na instituição. Tem muitas situações que ocorre, por exemplo, os membros do colegiado, eles são coordenadores de linhas e tem muitas coisas que são decididas em relação às linhas, que não passam pelo coordenador, nem pelo colegiado, se isso é ruim ou não, eu não sei, até agora o hospital tem

Page 81: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

80  

conseguido funcionar razoavelmente bem [...] As decisões são tomadas fora do colegiado, eu considero o colegiado mais um fórum de discussão das decisões e de aconselhamento, seria mais um conselho do que um colegiado decisório, mais aconselhamento, mais escuta do que decisório, que acaba influenciando de alguma forma nas decisões, como se fosse um conselho consultivo, alguma coisa assim, tá? Que decisão mesmo quem toma é o diretor administrativo, ele vai tomar as decisões talvez seguindo o que ele escuta dos membros do colegiado, talvez não. O papel deste colegiado é mais consultivo (E4).

De acordo com a fala a seguir, apesar da percepção de que o grupo do colegiado

diretor é um grupo que tem continuidade na instituição, existe, por parte da direção,

uma desconfiança com relação à maturidade desse colegiado para tomar as

decisões. E, provavelmente por esse motivo, as decisões continuam sendo

centralizadas.

As decisões ainda são muito centradas no diretor administrativo [...] e ele toma conta do colegiado; na verdade ele é o grande condutor e tem uma tendência de fazer a condução de acordo com interesse dele, ele consegue fazer uma manipulação no bom sentido para direcionar o colegiado a votar no que é mais interessante para ele ou não. E acho que ele nunca vai soltar um pouco mais a decisão do colegiado, e aquela outra estória se eu colocar na mão do colegiado eu não sei se o colegiado está pronto e maduro, apesar de ser um grupo que já está junto há muito tempo. Mas é cômodo ter uma pessoa para decidir, então não sei se tem maturidade para pegar uma questão e tomar a decisão mais correta ou mais sensata [...] Acho que, no fundo, todo mundo fala é o diretor administrativo que decide, mas acho que isto é extremamente cômodo para todo mundo, as indisposições ficam nas costas dele e tem decisão que é muito pesada, envolve salário (E5).

No relato abaixo, percebe-se que é confortável que uma pessoa assuma as

decisões mas existe a necessidade de os membros assumirem seu papel.

Eu acredito muito nessa gestão colegiada, tem muitas pessoas que não acreditam, eu acho que esta é a forma de gestão, que é mais democrático, que traz resultados melhores, de compartilhamento da decisão, que a gente deixar para uma pessoa só é muito confortável para a gente, eu acho que temos que assumir a nossa responsabilidade, podemos errar muito, mas acho que temos que assumir o nosso papel e amadurecer. Não é fácil, mas eu acho que tem que seguir esse caminho, tentar fazer que o nosso colegiado, fique cada vez mais forte, ele já está começando a fortalecer e tem que ficar mais forte ainda (E10).

Page 82: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

81  

A terceira categoria ficou assim constituída:

4.2.3 Financiamento e gestão: entre o controle de custos e o avanço no modelo do

hospital

O problema do financiamento da saúde pública, ou melhor, o sub-financiamento

desperta a atenção de todos os atores envolvidos na construção do SUS. Isso se dá

porque o Brasil ainda não gasta o mínimo suficiente para garantir a oferta de

serviços. Existe um consenso desses diversos atores de que a inadequação do

financiamento é um dos fatores impeditivos para o cumprimento dos princípios legais

do SUS (BRASIL, 2011a).

Como dito acima, um dos problemas graves do SUS continua sendo a insuficiência

de recursos financeiros. Atualmente “o gasto per capita médio com saúde no Brasil é

de 252 dólares norte-americanos” e esse valor, na década de 1990, era inferior a

100 dólares (NATALINI, 2011, p. 29). As tensões políticas e econômicas sempre

fizeram parte da implementação do SUS e o conflito entre o princípio da

universalidade com a garantia de acesso aos serviços de saúde para todas as

pessoas sempre esbarrou na politica econômica adotada pelo governo federal.

Devido a sua total dependência do SUS, as dificuldades financeiras do HSF são

sempre crescentes e existe um conflito constante entre a racionalidade econômica e

a saúde baseada em direito. O hospital foi acumulando dívidas por acreditar em um

modelo assistencial com acesso e qualidade para a população que assiste. Os

avanços ocorridos na assistência não foram acompanhados por aporte financeiro

correspondente. Esse dilema é apontado da seguinte maneira por um dos

entrevistados:

Há muitos anos que a gente discute o tema do financiamento, do ponto de vista racional, o Sofia já não estava nem existindo mais, no financiamento hoje nós somos completamente dependentes do SUS. [...] Os problemas financeiros que a instituição tem são por causa das circunstâncias, do sub-financiamento [...] O recurso sempre foi inferior às necessidades e, na realidade, o hospital sempre foi muito ousado e extrapola sua capacidade financeira de fazer as coisas. Agora, o colegiado, de alguma forma, sempre foi conivente com isso, discute, mas, se não for assim vai ser como então? Com poucos

Page 83: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

82  

recursos como adequar? Como fazer? Será que, se fosse restringir a despesa do hospital, a capacidade de receita que ele tem, qual seria o modelo de assistência neste hospital? A gente não sabe, é um desafio do ponto de vista de gestão, vamos restringir, vamos continuar fazendo dívida ou não vamos continuar fazendo dívida. Para fazer o que a gente faz tem que continuar fazendo dívida; agora, se for restringir, o que vai mudar na filosofia assistencial? No que vai impactar [...]. O colegiado não consegue decidir nada no sentido da racionalização; ao contrário, não tem desejo ideológico [...]. Vamos supor que todos os membros deste colegiado fossem profissionais recém-saídos de escola de administração, ou de contabilidade qual seria a posição? Nós somos técnicos da área da saúde, a maioria de nós não tem desejo de cortar [...]. Por exemplo, o pessoal está gostando da comida, vai cortar? Se você colocar um burocrata aqui, ele vai continuar comendo em um restaurante de comida mais cara e de melhor qualidade, ele corta e não está nem ai (E4).

Trazer para os serviços de saúde a racionalidade do privado lucrativo é um

problema sério, exercer o gerencialismo sem medida e a qualquer custo nos

serviços de saúde compromete aspectos éticos e a relação entre os profissionais e

os usuários, principalmente quando a qualidade da assistência fica atrelada ao

financeiro.

Por outro lado, os entrevistados percebem uma limitação do colegiado para resolver

o problema do financiamento e pouco envolvimento dos participantes com relação à

gestão do custo, como é percebido no relato abaixo:

Existem prejuízos em função desta dificuldade histórica do financiamento do Sofia [...] fazer, olhando para o outro, às vezes a gente consegue se apertar e atender o outro da maneira que a gente gostaria de ser atendido [...] a gente vem trazendo ao longo dos anos um déficit e continuamos com este déficit que, apesar da gente ter tido uma melhora com a rede cegonha, mas isto se mantém e a gente não consegue deixar de ter um déficit mensal, mas apesar da gente discutir isso é a minha percepção do colegiado, a gente discute muito, questiona muito a sustentabilidade financeira do Sofia, acabou a reunião tudo esvazia e a gente vai para o seu fazer e ai eu fico pensando o seguinte sobre a gestão de custo, os coordenadores são muito pouco preocupados com isto [...] Eu percebo que não há uma preocupação de cada gestor com o seu setor, quanto custa (E1).

O espaço do colegiado é visto como um espaço de aprendizado para os

participantes, o qual amplia a visão do grupo para que não se limite a conhecer

apenas o setor que gerencia, mas que tenha um conhecimento do financiamento do

Page 84: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

83  

hospital. No entanto existem dificuldades dos profissionais da assistência de terem

que lidar com as estatísticas e com o financiamento da instituição. Os serviços

refletem uma separação entre a assistência e o financiamento e, no Sofia, como o

financiamento é um tema discutido com frequência, os trabalhadores são quase

obrigados a entender desse assunto, até em função das dificuldades financeiras e

déficits institucionais. Observa-se isso nos depoimentos a seguir:

O tema do financiamento, eu acho que é uma profissionalização do colegiado [...] a gente tem que profissionalizar quem participa do colegiado em vários assuntos, inclusive o inverso, o profissional do financeiro para entender da assistência. Quando o financeiro questiona se eu estou gastando muito, por exemplo, com exames é muito ou é o necessário. E quando a gente questiona o financeiro, porque investe nisto e não investe em outras coisas, quando a gente tem que ter ciência mesmo. Está ficando maçante, só falar de número, de número. O mais interessante vai ser depois de posse destas informações que é pesado mesmo, cada um olhar para a sua unidade e ver o desenvolvimento financeiro, a gestão do custo, o que posso fazer para otimizar, melhorar com menos custo (E5).

É extremamente louvável a linha de políticas institucionais, tomar decisões de fazer esta discussão, porque o aspecto do financiamento tem a ver com a sustentabilidade do hospital [...] o que é complicado é que nós não temos uma linha de condução das questões financeiras, e nisso dificulta (E7). Eu acho que é importante saber, porque tudo envolve o financeiro, se eu quero algum equipamento, se eu contrato mais profissional, a gente tem que saber a situação financeira, como gerenciar se a gente não conhece os números, as estatísticas? É chato, é polêmico (E6).

Um dos aspectos do objetivo geral desta pesquisa trata da maneira como tem sido

operacionalizado o modelo de cogestão do HSF e, nos relatos acima, percebe-se

que as discussões sobre o financiamento, que acontecem no colegiado diretor com

frequência, contribuem para que os gerentes possam tomar as decisões sustentadas

com argumentos mais plausíveis.

Acho que esta questão do número é muito importante para a gente entender que isto reflete no nosso dia a dia; no momento em que vou planejar o meu cuidado eu tenho que ter a consciência da condição financeira da instituição (E11).

Page 85: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

84  

Ao contrário do que foi apresentado acima, a fala a seguir considera a dificuldade

dos profissionais que lidam com a assistência terem de lidar com o custeio dos

serviços e com o financiamento. E fica nítida a separação entre a assistência e o

financiamento dos serviços por parte dos trabalhadores.

[...] eu acho que a cultura da humanização do próprio colegiado tenta embutir nas pessoas que tem que trabalhar a gestão econômica e financeira da instituição [...] se você coloca em pauta, as pessoas acham ruim [...] mas o básico todos têm que entender. [...] Às vezes o que eu percebo é que a assistência, o apoio técnico de certa forma acha que o administrativo tem que dar conta da parte burocrática. [...] As pessoas que estão lá não têm muita preocupação, a assistência é assim mesmo como, por exemplo, o horário de trabalho, o ponto, os horários são esquisitos [...] o hospital funciona deste jeito (E8).

Conforme já discutido anteriormente, o financiamento do HSF é resultado de um

contrato com a PBH. O problema financeiro e da sobrevivência da instituição é

evidente. O déficit está em torno de 19,13% em relação à receita como já relatado e,

em conjunto com a qualidade da assistência, é pauta constante das reuniões do

colegiado e dos planejamentos do hospital. Até porque os serviços públicos já

contam com o orçamento e os hospitais que prestam serviços para o SUS, como é o

caso do Sofia, o financiamento era por meio de tabelas, muitas vezes defasadas.

Até 2007, o repasse de verbas para o HSF era feito por produção ou procedimento

via SMSA. Em 2007, o HSF foi contratualizado e o contrato tem dois dispositivos: da

produção e dos indicadores de qualidade.

No entanto, um entrevistado traz o seguinte:

As pessoas dizem que o que mais dói no homem é o bolso, isso é o reflexo desta cultura, isto é uma pequena parte do que existe. O crescimento da cidadania é mais importante que o financiamento, a ampliação dos direitos é mais importante que o financiamento. É uma visão muito estreita da humanidade, a humanidade cresceu apesar do financiamento. Essa crise que nós estamos vivendo hoje nos países ricos, as ações deles se pautam no financiamento. Eu gostei da presidenta Dilma Rousseff quando ela falou sobre o PIB. Parece que eu vivo para o financeiro, não o financeiro é que vive para mim. A humanidade tem que estabelecer um conceito ético não só para os humanos, para toda a vida que existe no planeta terra é uma questão ética. Não é o econômico que manda, é a vida que manda (E14).

Page 86: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

85  

Esse entrevistado refere-se à visita da presidenta Dilma Rousseff, ao HSF em 12 de

junho de 2012. Essa visita tinha como objetivo que a presidenta conhecesse o

funcionamento da Rede Cegonha. Em seu discurso, ela diz:

Nós fizemos o Programa Rede Cegonha porque um país tem que ser medido por alguns métodos. O Produto Interno Bruto é uma das referências. Mas eu acredito que entre estas referências, uma delas deve se destacar para todos nós, o que é que este país está fazendo para as mães e para as crianças (BRASIL, 2012a, p. 01).

E retomo este dilema da racionalidade econômica e a garantia da vida, com a fala a

seguir:

Antes de qualquer coisa, eu tenho que saber que tem o usuário na ponta, [...] providenciar o insumo; depois, discutir o problema financeiro, eu tenho que atender aquele usuário que não pode ser prejudicado [...] mas é uma dificuldade muito grande. (E8)

Apresento a quarta categoria:

4.2.4 A participação comunitária no HSF no espaço da gestão

Sobre o controle social exercido pelos usuários no SUS, Cecílio (1999) discute que

seria importante que os serviços de saúde desejassem saber sobre suas falhas e

inadequações, e que o usuário pudesse cobrar, acompanhar e exigir qualidade no

atendimento. Entretanto, no cotidiano, existe uma grande dificuldade para que os

usuários exerçam o controle sobre as instituições de saúde. Os serviços de saúde

funcionam como verdadeiras caixas pretas onde as regras e os códigos são quase

indecifráveis para o cidadão comum.

O controle social é aqui entendido como todos os mecanismos e instâncias

garantidos tanto no artigo 198 da Constituição Brasileira, como na a Lei 8.142, de 28

de dezembro de 1990, que orientou sobre a formação dos conselhos de saúde.

(BRASIL, 2010c). Na Resolução n°453, de 10 de maio de 2012, os conselhos de

saúde são considerados espaços instituídos de participação da comunidade nas

políticas públicas e na administração da saúde (BRASIL, 2012b).

Page 87: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

86  

A terceira diretriz dessa Resolução apresenta que a participação da sociedade

organizada, garantida na legislação, torna o conselho de saúde uma instância

privilegiada na proposição, discussão, acompanhamento, deliberação, avaliação e

fiscalização da implementação da politica de saúde, inclusive em seus aspectos

econômicos e financeiros (BRASIL, 2003, p. 4). A pergunta é: será que os conselhos

de saúde estão dando conta disso tudo? Carvalho (1995), ao se referir aos

conselhos de saúde, questiona se são realmente os guardiões do SUS ou se são

construções de escassa potência política.

Com a mudança de modelo gerencial em 2003, os representantes do controle social

são inseridos na linha de políticas institucionais do HSF, tanto o presidente da

associação comunitária de amigos e usuários do Hospital Sofia Feldman quanto o

presidente do conselho de saúde do Hospital Sofia Feldman. E passam também a

fazer parte do colegiado diretor do hospital. Essa é uma das diferenças da gestão

colegiada do HSF para os outros serviços. Por exemplo, na Prefeitura de Belo

Horizonte, a gestão colegiada nas unidades básicas de saúde só tem representantes

do gestor e do trabalhador. Como o modelo de gestão do HSF é baseado em linhas

de cuidado, todas as linhas foram compostas com a representação dos usuários. A

participação da comunidade tem sido materializada no dia a dia da instituição

também por meio do conselho de saúde do HSF e da associação comunitária de

amigos e usuários do HSF (ACAU/HSF).

A percepção dos entrevistados sobre a participação dos representantes da

comunidade no colegiado diretor é a seguinte:

Acho que não cabe mais excluir o conselho dos problemas do hospital [...] eu acho que só acrescenta para o colegiado, principalmente porque eles começam a ver qual é a realidade de um hospital, do seu funcionamento porque, enquanto as pessoas do controle social não adentrarem de fato para dentro do hospital, no imaginário delas pode parecer um monte de coisa, que tem muito dinheiro e que não quer investir ou que o profissional só tem interesse em ganhar dinheiro. E ele começa a ver o outro lado, vê o lado do trabalhador que é importante, vê o lado do gestor e a parceria mesmo na solução dos problemas que surgem, só acho que eles encontram este espaço inclusive na gestão e para nós profissionais isso é muito interessante, eu sinto de fato que eles

Page 88: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

87  

controlam mesmo, quando, por exemplo, o presidente do conselho me questiona se o horário de visita é restrito, eu acho que o colegiado possibilita esta aproximação (E5).

Eu acho que a diretoria escuta muito e é bem accessível para a opinião do controle social, acho que mais importante do que contribuir é eles estarem cientes de todas as coisas e das discussões (E18).

Na visão desses entrevistados, a participação dos representantes do controle social

no espaço da gestão tem possibilitado um maior conhecimento por parte desses

membros, do funcionamento dos serviços de saúde e passam a interrogar os

serviços com mais propriedade.

Costa e Noronha (2003) esclarecem que os usuários, nesses espaços, ganham

conhecimento político e técnico e estabelecem uma relação de atores ativos e

presentes. No entanto, esse processo de interação entre diferentes atores nem

sempre é convergente e acrescentam que existe uma assimetria entre os diversos

sujeitos atores, principalmente no que diz respeito ao acesso e ao uso das

informações. Os entrevistados abaixo ressaltam que:

A participação do conselho e da associação no colegiado facilita muito para fiscalizar o que acontece dentro do hospital e esclarece muita coisa (E3). A contribuição e a importância é que a voz da comunidade está presente dentro do colegiado, através da gente. E nem todo hospital, encontra um diretor administrativo que respeita a opinião da gente dentro do colegiado e faz questão que a nossa opinião seja acatada por todos do colegiado. [...] A minha capacitação e meu desenvolvimento dentro da saúde foi dentro deste colegiado e dentro do Sofia (E17).

Entretanto outro entrevistado percebe o seguinte:

Este hospital nasceu na comunidade e o fundador era um líder comunitário; essa organização da Associação Comunitária de Amigos e Usuários do Hospital Sofia Feldman/ACAU-HSF ia ser o Conselho de Saúde do Hospital, houve um racha e acabou criando a Associação Comunitária, acho que eles são cooptados através de incentivos financeiros e outros benefícios que eles têm, por exemplo, eles não pagam alimentação, todo pessoal do controle social almoça imagino sem ônus nenhum e o trabalhador paga e isso incomoda o trabalhador (E2).

Page 89: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

88  

É interessante como esse entrevistado descreve o interesse dos representantes dos

usuários e o questionamento é o seguinte: só esse ator tem interesse? É lógico que

existem os interesses por parte desses sujeitos, até mesmo de visibilidade para

cargos políticos, como por exemplo, de se elegerem vereadores, mas e os

interesses dos trabalhadores e gestores / prestadores não são levados em

consideração? O gestor também tem seus interesses político-partidários. E mais,

para Costa e Noronha (2003), os gestores com sua visão de que os conselheiros

incomodam e são questionadores, não querem contribuir para elevar o grau de

autonomia dos usuários dentro dos serviços.

A percepção destes entrevistados é a de que a participação dos representantes dos

usuários é pouco significativa e que existem diferenças nessa participação no

espaço da gestão. A participação do membro da associação é muito focada na

associação e a representatividade do conselho de saúde deveria ser ampliada e

representar tanto os usuários, como os trabalhadores e os gestores. Entretanto, a

representatividade dos membros do conselho de saúde e da associação comunitária

nesse colegiado é do segmento de usuários.

Eu acho muito pouca a contribuição tanto do conselho, quanto da ACAU/HSF, a gente participa da câmera técnica de comunicação e eles não tem uma definição do papel, eu acho que eles são um pouco esvaziados. É diferente a participação do presidente da ACAU/HSF e do conselho. O presidente da associação pensa na associação, apesar de que todos da associação são usuários do SUS, mas ele pensa nas ações da associação [...]. Já o conselho, ele é um órgão fiscalizador e ele é o menos questionador, e ali ele não está só como representante dos usuários, mas de gestores e trabalhadores, o conselho representa os três, as três partes. Eu sinto que a participação é muito pequena ainda (E1).

O que eu percebo é que eles não participam muito [...]. Uma hora ou outra eles vão participar, mas eu não vejo no momento da reunião uma participação deles muito efetiva [...] eu não sei se eles têm entendimento do que está sendo discutido ali (E19). [...] tem vários problemas, então eu acho que eles não fazem alguma coisa para melhorar (E9).

Page 90: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

89  

Com relação a esses questionamentos acerca da participação dos conselheiros

Valla (s.d.), traz uma questão muito importante de que os avanços legais na

formulação dos conselhos de saúde não tem levado a transformações efetivas no

cotidiano das instituições de saúde. E, segundo um dos entrevistados, a percepção

é a seguinte:

O controle social é consultivo também, [...] mas tem conhecimento do que acontece na instituição e é importante a participação do controle social, agora não tem muito poder não (E4).

Valla (s.d.) também questiona qual é o papel dos conselhos. Deliberativo ou

consultivo? E existe um grande impasse se os conselhos realmente deliberam

sobre os rumos da saúde ou se são espaços burocratizados e de pouca

resolutividade.

A seguir, apresento uma pequena análise sobre a visão dos profissionais dos níveis

estadual e municipal sobre a implementação da diretriz da cogestão da Política

Nacional Humanização. Essa foi uma sugestão feita no primeiro seminário de

dissertação do programa de pós-graduação, de inclusão de atores institucionais

externos ao HSF.

4.3 A visão dos profissionais da PNH dos níveis estadual e municipal sobre o

funcionamento da gestão colegiada

Ainda neste capítulo, apresento a visão dos profissionais dos níveis estadual e

municipal sobre o funcionamento da gestão colegiada, com a proposta de ampliar o

olhar para analisar, dentro do objetivo geral da pesquisa, qual tem sido o desenho

dessa política e, mais especificamente, como têm sido a implementação e a

operacionalização da diretriz cogestão. Dito de outra maneira, um olhar para além

do Sofia Feldman, em uma discussão mais genérica, até porque não são

profissionais do HSF. No que diz respeito: a atuação dos profissionais nos serviços

de saúde e a proposta da PNH; a idealização nos serviços de saúde e a não

participação dos usuários no espaço da gestão a visão dos profissionais é a

seguinte:

Page 91: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

90  

4.3.1 A Atuação dos profissionais nos serviços de saúde e a proposta da cogestão

na PNH

Na PNH, o entendimento é de que as mudanças nas práticas de saúde só serão

possíveis com mudanças no modelo de gestão e a valorização de uma política

transversal é para que haja um envolvimento de todas as áreas, ou seja, uma

irradiação dessa política para os diversos níveis da assistência (RIBEIRO, 2004).

Essa política vem tentando superar a dicotomia do distanciamento entre a gestão e

a atenção, sugerindo alterações nas práticas do cuidado, tanto a partir de

interrogações do processo de trabalho como de modificações nos modelos de

gestão, para que haja uma complementariedade entre o gerir e o cuidar (HECKERT,

PASSOS, BARROS, 2009).

Sendo assim, a PNH pretende que, no campo da gestão, a gestão participativa faça

parte desse processo, com a participação dos usuários por meio do controle social e

que, no campo da atenção, os processos de trabalho priorizem a atuação em

equipes multiprofissionais e que os profissionais estabeleçam vínculos com os

usuários e assumam, junto com eles, a responsabilidade pelo acompanhamento de

seu tratamento. O SUS, desde sua concepção, traz a noção de sistema e, a esse

conceito, associa-se a construção de redes descentralizadas e hierarquizadas de

atenção e da atenção integral. A ideia de rede é que os serviços estejam conectados

para atender as demandas dos usuários. Já a noção de integralidade, apesar de

esse conceito ter um caráter polissêmico, aqui deve ser entendido como o conjunto

de cuidados necessários para promover a saúde dos usuários (RIBEIRO, 2004).

Para Campos (1998), o modelo de gestão no SUS deveria garantir, ao mesmo

tempo, uma produção qualificada do cuidado em saúde e a realização dos

trabalhadores e isso constitui um desafio aberto e constante. O autor já explicitava

essa necessidade dez anos após a definição do SUS na Constituição Brasileira e

atualmente, com vinte e quatro anos de construção do SUS, essas dificuldades

persistem, e um dos maiores problemas nos serviços de saúde continua sendo a

necessidade de diminuir o grau de alienação que se constata na maioria dos

trabalhadores da saúde, ou seja, da realização das atividades sem uma avaliação de

sua resolutividade e de sua qualidade.

Page 92: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

91  

Em sua fala, um dos entrevistados mostra que acredita que um dos desafios da PNH

tem sido motivar os trabalhadores para saírem do lugar da ação profissional sem

questionamento e se deslocarem para um lugar onde realmente o trabalho tenha

mais sentido e significado, ou seja, de uma atuação dos profissionais sem uma

reflexão, sem parar para planejar as ações e avaliá-las e no deslocamento para o

eixo da cogestão, em que esse deslocamento possibilitaria uma reflexão do

processo de trabalho e um pensar porque se presta um serviço de uma maneira e

não de outra, ou se a forma que a assistência está sendo prestada é a melhor para o

usuário.

A diretriz da cogestão na PNH sugere que os profissionais das instituições de saúde

exerçam o compartilhamento de corresponsabilidade da gestão e do cuidado.

(PASCHE, 2006). Mas a ambiguidade ou as contradições nos serviços de saúde

acontecem quando os programas a serem implementados na ponta do sistema,

muitas vezes descem “goela” abaixo de gerentes e trabalhadores, sem uma

discussão prévia.

Na lógica que o trabalho é a fazeção, é uma fazeção para o outro, você vai ver o que tem de resultado para o outro. A agenda está melhorando, atenção, assistência, cobertura, mas não dá conta de ver [...] em relação ao movimento de mudança. Há aí um desafio imenso que é por onde eu trabalho nas pesquisas, de como sensibilizar metodologicamente para este olhar analítico-avaliativo de outra ordem. A instituição induz a isto, que a gente pense em usuário centrado e não desloca em eixos de valorização do que é a gestão, a gente quer tanto a indissociabilidade da gestão e da assistência. Aí mora esta oportunidade da gente colocar esse eixo quase teórico e como ele se traduz na prática. Cogestão para ter qualidade na vida relacional, o que tem a ver com os três atores, os trabalhadores, gestores, e os usuários. [...] Para melhorar para o outro e para ele [...] e não ficando no risco de um olhar isolado, só para si mesmo e desta mistura com aspectos visíveis sai a oportunidade de qualificação do que se anda fazendo da sua prática, e dele próprio fazer isto. Ir se qualificando, indo nessa vida relacional com ênfase do objeto concreto do olhar, para não ficar aquela abstração do produto. Tem a ver com o produto que o coletivo experimenta [...] a minha prática tem a ver com a necessidade de interagir com o meu colega, mas para ser direcionado para o outro, que é o usuário (E16).

Page 93: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

92  

Considero importante trazer uma discussão dessa fala acerca da melhoria da

cobertura assistencial e do aumento do número de atendimentos prestados aos

usuários do SUS. No entanto, poderíamos perguntar: o acesso aos serviços de

saúde significa o mesmo que ter qualidade na assistência? Ou, dizendo de outra

maneira, será que a quantidade de atendimentos e procedimentos na área da saúde

reflete o que a população espera no que se refere a sua saúde, será que o usuário

tem se sentido cuidado?

E esse entrevistado ainda apresenta a necessidade de os profissionais da saúde

interagirem entre si, mas com a direcionalidade da atuação para o outro que é o

usuário. Para que o cuidado seja realizado para o usuário, é necessário que seja

realizado em equipe e sabe-se que o mercado de trabalho na área da saúde tem,

sem dúvida nenhuma, muitas especificidades e é cada vez mais especializado. Uma

das singularidades do trabalho em saúde é que o profissional, além do

conhecimento específico, lida com pessoas em situação de fragilidade e tem que ter

capacidade de lidar com situações de estresse e com a dor do outro (SCHRAIBER;

MACHADO, 1997). O entrevistado acrescenta que:

Neste desafio de ajudar as equipes no nível local no serviço a tornarem melhor como equipe, ou mais integradas como equipe ou mais atuante à luz de uma perspectiva integrada, participativa que é o tema da cogestão. Dá para ver em alguns espaços o que era antes e o depois. De um antes que eu chamaria menos grupo, e um depois com mais grupalidade, mais participativo, mais envolvimento, mais corresponsabilizador. Eu gosto muito de observar de uma relação de pessoas juntas, muito poucas despertas para o que é estar juntas para momentos outros, após intervenções, que isto fica mais claro para elas o que é estar junto, portanto que é o rumo da cogestão. Mas é também o caminho a ser observado se você está com o olhar analítico-avaliativo aguçado, isso não é fácil de ser observado, é muito fácil chegar ao serviço e não ver isto. [...] Existe um despreparo para ver isso, é um despreparo metodológico do trabalhador e do pesquisador, um despreparo para narrar o que se vê [...] (E16).

Na citação acima, retorna a importância do trabalho em equipe multidisciplinar que é

uma construção árdua nos serviços, e o entrevistado apresenta a necessidade de

uma mudança de pessoas juntas para o envolvimento dos profissionais. Peduzzi

(2001) coloca que o trabalho em equipe multiprofissional é um trabalho coletivo onde

existe uma relação recíproca entre as diversas intervenções técnicas, que as

Page 94: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

93  

especialidades do trabalho contribuem para a melhoria da assistência e que, mesmo

em relações assimétricas entre os profissionais, é possível a construção do trabalho

em equipe.

O entrevistado aponta também a falta de um olhar analítico-avaliativo, por parte dos

profissionais e pesquisadores, e que existe um despreparo desses profissionais,

tanto para ver quanto para narrar o que se vê nos serviços de saúde. Cardoso de

Oliveira (2000), um antropólogo que chama a atenção para o “olhar, o ouvir e

escrever” que são etapas importantes para a compreensão dos fenômenos sociais e

que, embora pareçam tão triviais e familiares a ponto de prescindir da necessidade

de problematizá-las, são atos cognitivos que contribuem com o nosso saber. E que

qualquer objeto a ser observado não escapa de ser avaliado pelo esquema

conceitual da maneira de ver a realidade. E exemplifica que um pesquisador de um

grupo indígena, ao entrar em uma moradia, ou seja, em uma maloca, seu olhar não

é um olhar ingênuo, mas um olhar que vem junto com a teoria disponível. E o que dá

vida aos lugares nada mais é que a compreensão das relações sociais mantidas

entre as pessoas.

Apresentei esse autor para fazer o paralelo com o que o entrevistado colocou e para

fazer a seguinte pergunta: Como os trabalhadores, os usuários e os gestores

enxergam os serviços de saúde? Cada um olhando de um lugar, com suas próprias

vivências, com suas teorias, o que por um lado provoca os conflitos, mas, por outro

lado, é o que provavelmente promove a riqueza da construção do SUS, é o que

permite essa diversidade.

Outro entrevistado complementa, apresentando o taylorismo e que as mudanças

com a introdução da PNH, de seus princípios e diretrizes devem ser traduzidos em

ações nos serviços de saúde, principalmente nas relações entre os profissionais e

usuários e entre os diferentes profissionais para uma corresponsabilização entre os

diversos atores. Na teoria geral da Administração, particularmente na corrente do

taylorismo, percebem-se as pessoas como se fossem instrumentos, coisas, ou

recursos que não tem projetos nem vontade própria. No entanto, o investimento

deve ser em sujeitos capazes de, além de preservar sua autonomia, estabelecer

compromissos com os serviços e com os usuários (CAMPOS, 1998).

Page 95: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

94  

Alguns lugares têm essa inquietação, mas eu posso falar de mudanças pontuais, nos próprios indicadores de qualidade, de resolutividade estão sendo maiores do que em lugares que mantêm o método do taylorismo [...] e onde adotam a PNH, da clínica ampliada, acolhimento, de ambiência bacana. Eles envolvem os usuários no processo de auto-cuidado, nesta troca de saberes e é interessante. Eles têm tido resultados muito melhores do que outros centros que têm o mesmo apoio financeiro do Estado (E13).

4.3.2 A Idealização nos serviços de saúde

Outra categoria, criada a partir das falas dos entrevistados, foi a idealização nos

serviços de saúde.

[...] A ideia da humanização é que paremos de idealizar o homem, o humano; esse humano não pode ser colocado em um determinado lugar e em direção a qual, todos nós caminharíamos para alcançá-lo. [...] Enquanto esta instituição brasileira, Ministério da Saúde, no campo da saúde, foi trabalhando com a ideia de programas, que foram sendo trabalhados com a ideia de idealização, isso foi dando no que a gente viu e vem vendo. No caso da PNH, ela não é programa e nem é idealizada [...]. No entanto, isso não pode ser um discurso, mas é para a gente entender que é um desafio nosso que seja a política que se faz a partir do coletivo. Quais os caminhos podem crescer para fazer a política? Não idealizando. [...]. A gente tem uma “briga” que não institucionalizemos essa política em portaria, porque ai ela correria o risco de virar um programa idealizado lá de cima, então é tudo que a gente consegue ainda, que não seja. Porque a pressão é para que seja, como se isto fosse garantir a humanização no trabalho (E16).

Apresentei a fala acima para fazer uma relação da idealização do homem apontada

pelo entrevistado. Apresento, a seguir, Magnani (2002), para descrever a idealização

atual com o HSF, por parte dos profissionais de diversas áreas e de diversos lugares

do Brasil e do exterior que visitam o hospital frequentemente. Alguns, por poucos

dias e outros, por muitos dias. Consideram geralmente “o Sofia” harmônico, com

uma equipe interdisciplinar que funciona bem e proporciona um cuidado bem

orquestrado ao usuário. E os profissionais da instituição “com um olhar de dentro e

de perto” olhando para o mesmo lugar e considerando o Sofia desarticulado, com

diversos conflitos entre as equipes, e que o cuidado acontece com excelentes

indicadores assistenciais mas à custa de muito sofrimento. Será que é um

Page 96: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

95  

contraponto entre os olhares ou eles se complementam? Será que, nesse olhar de

dentro, os trabalhadores do Sofia identificam e refletem sobre aspectos como, por

exemplo, as dificuldades nas relações da equipe multidisciplinar que são excluídos

do que o autor denominou como “de fora e de longe”.

Para explicar os conceitos citados acima, esclareço, que Magnani (2002) explora as

possibilidades da etnografia como método de trabalho da antropologia para ampliar

a compreensão do fenômeno urbano e, mais precisamente, para a pesquisa da

dinâmica cultural e das formas de sociabilidade nos grandes centros; com uma

abordagem a qual denominou de “um olhar de fora e de longe” e uma abordagem

etnográfica “de olhar perto e de dentro” (MAGNANI, 2002, p. 11).

O entrevistado descreve a importância da não-idealização do homem, e considero

que as instituições também não devem ser idealizadas; caso contrário, corre-se o

risco do distanciamento das ações que são praticadas no serviço, as quais não

poderiam ser reproduzidas ou realizadas em outros espaços institucionais. As

dificuldades para se exercer o cuidado acontecem em qualquer instituição e os

conflitos fazem parte da vida social. O que se pretende é que, nos serviços, sejam

construídas relações que favoreçam a maneira de lidar com o sofrimento, que é

inerente aos serviços de saúde (RIBEIRO, 2004).

A PNH constitui-se a partir de documento base que dispõe sobre seus métodos,

seus princípios, suas diretrizes e seus dispositivos. A PNH não possui portaria que a

regulamenta e a normatize; entretanto, seu caráter transversal permite que seus

princípios, diretrizes e dispositivos estejam presentes nas legislações das demais

portarias e áreas técnicas. (Legislação federal publicada em 2011). No final de sua

fala, o entrevistado apresenta a importância da não-institucionalização da PNH. É

importante entender que apenas a regulamentação ministerial, por meio de uma

portaria, não garante sua concretização no dia a dia dos serviços. A PNH nasce na

máquina de governo, é definida como uma política de governo; no entanto, para que

seja apropriada pelos trabalhadores, gestores e usuários é preciso uma atitude de

corresponsabilidade entre esses atores. Assim, essa política poderá de fato ser

construída coletivamente e poderá ser de fato uma política pública sem a

Page 97: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

96  

descontinuidade tão recorrente em nosso país em função do rodízio de governantes

(HECKERT; PASSOS; BARROS, 2009).

Apresento a seguir outra categoria :

4.3.3 A não-participação do usuário no espaço da gestão

Nas categorias criadas a partir dos relatos dos sujeitos da pesquisa do colegiado

diretor do HSF, discutiu-se a participação do usuário no espaço da gestão e qual o

impacto dessa participação nesse espaço. No entanto, na visão dos profissionais

dos níveis estadual e municipal, a categoria criada foi a não-participação do usuário

no espaço da gestão; isso porque, nos colegiados dos serviços de saúde, em sua

maioria, existe a participação de gestores e trabalhadores e a pergunta é a seguinte:

Será que é um lugar só de técnicos da saúde onde não cabem os questionamentos

dos usuários? Sabe-se que a gestão colegiada não substitui nem se confunde com

os conselhos de saúde, que são instâncias com a participação majoritária de

usuários (CAMPOS, 1998).

Uma das diretrizes da PNH é a defesa dos direitos dos usuários, em que o SUS

reconhece os usuários como portadores de direitos na saúde e a cogestão expressa

a democratização das instituições (PASCHE, 2009). No entanto, para exemplificar,

nas unidades básicas de Belo Horizonte, os atores envolvidos na cogestão são os

gestores e trabalhadores; os usuários não participam desse espaço. Em cada UBS

há um conselho local com a representação dos três atores (usuários, trabalhadores

e gestores) e o questionamento é o seguinte: Qual a importância de se ter a

representação do usuário também nos colegiados gestores? Ou, dizendo de outra

maneira, nós (gestores e trabalhadores) é que sabemos resolver os problemas dos

usuários? Um entrevistado apresenta a seguinte questão:

Eu não tenho dúvida da absoluta importância do usuário estar presente neste espaço; isso dá o tom da cogestão, que dá direção de corresponsabilidade, [...] eu indicaria aprofundar a avaliação de forma a aprofundar pistas sobre como anda o colegiado e o conselho. Se o colegiado anda avançando bem nesta lógica ele naturalmente incluiria ai o usuário. [...]. Vamos pensar a maturidade para ver quais os dispositivos podem ser cada vez mais potentes

Page 98: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

97  

para incluir os três atores (trabalhadores, gestores e usuários) [...] Às vezes, nestes espaços, tem de tudo, menos cogestão. O trabalhador que vai porque é obrigado, ou um que é chamado em detrimento do outro (E16).

Na citação acima, fica clara a importância de se ter usuários no espaço da gestão,

mas o entrevistado faz um questionamento, de como andam os colegiados e os

conselhos. A área da saúde tem uma história de fóruns participativos e o arcabouço

legal e administrativo, criado a partir de 1990, com a regulamentação dos conselhos,

possibilitou a disseminação dos mesmos (CÔRTES, 2006). Entretanto, desde os

anos 1970, existe um movimento para a democratização dos serviços públicos de

saúde (CAMPOS, 1998). Mas, para além das disseminações dos diversos conselhos

em todas as instâncias e do número considerável de conselheiros, há de se

repensar, como colocam Guizardi e Pinheiro (2006), que o pertencimento desses

sujeitos só será possível á medida em que houver maior visibilidade dos

silenciamentos dos cotidianos institucionais. Os conselheiros não devem e não

precisam pensar como profissionais da saúde; mas, enquanto usuários, suas

preocupações devem ser a garantia de acesso e a qualidade da assistência. Mas

qualidade na visão de quem? De quem presta o serviço ou de quem o recebe?

As autoras Guizardi e Pinheiro (2006) discutem o conceito participação, o qual não

deve se restringir à participação em espaços instituídos, mas deve ser uma vivência

no cotidiano institucional. Como este estudo foi feito em uma maternidade, um bom

exemplo seria o de pensar na participação dos visitantes e dos acompanhantes. A

Lei nº 11.108 de 07 de abril de 2005 garante a presença de acompanhante durante o

trabalho de parto, parto e pós - parto imediato, no âmbito do SUS. No entanto, até

hoje existem diversos impedimentos para o cumprimento dessa lei, o que, para

Lansk (2011), significa um emblemático abuso de poder contra a mulher. Mas tem

sido difícil convencer os gestores e trabalhadores da importância desse

acompanhante para a mulher e seu filho, e o quanto que essa ação contribui para o

empoderamento da mulher ou seja, ter alguém de sua escolha e de sua confiança a

seu lado. Será que os acompanhantes não podem ter acesso ao que se passa nos

serviços de saúde?

Apresento, a seguir, as considerações finais.

Page 99: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

98  

Page 100: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

99  

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Dando inicio às considerações finais, resgato os objetivos específicos da pesquisa

que são os seguintes: analisar como e por que o HSF fez mudanças em seu modelo

após 2003; analisar se e como a gestão colegiada produz uma desconcentração do

processo decisório no âmbito do HSF, e analisar a atuação do controle social por

meio da participação dos representantes dos usuários (Conselho de Saúde do HSF

e ACAU) no espaço do colegiado diretor do HSF.

O primeiro objetivo: porque o Hospital faz a mudança de modelo de gestão em 2003,

traz a seguinte reflexão: o que mudou de fato mudou na maneira de gerenciar o

Sofia Feldman?

Apresento nestas considerações finais algumas indicações da pesquisa. No que se

refere às modificações no modo de gerenciar o HSF, o que ficou evidente é que a

gestão colegiada atual, formalizada em 2003, manteve o modo de funcionamento da

Comissão Técnica Administrativa, que fazia o gerenciamento superior da instituição

antes desta data. No entanto, uma das modificações no gerenciamento do hospital

se refere ao conhecimento por parte de um grupo com uma composição maior do

cotidiano institucional.

Outra pergunta norteou o estudo: o centralismo nas decisões e a gestão colegiada

podem andar juntos, que guarda relação com o segundo objetivo que é tentar

compreender se e como a gestão colegiada produz uma desconcentração do

processo decisório no âmbito do HSF.

Este estudo demonstrou que as decisões políticas relativas à instituição são

tomadas pelo diretor administrativo, indicando ainda centralização de decisões

políticas na mão do diretor. No entanto, o estudo aponta como a maioria dos

membros do colegiado aparentemente não desejaria assumir certas

responsabilidades.

Para discutir essa questão, apresento o relatório realizado pela FGV em agosto de

2010 que, ao se referir ao modelo de gestão do HSF, descreve que:

Page 101: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

100  

No modelo de gestão compartilhada (colegiada) fica evidente a eficácia do atravessamento interdisciplinar, tendo em vista a participação de profissionais de diferentes áreas e de pessoas da comunidade, principalmente no que se refere à dimensão do controle social. Estes atravessamentos, por sua vez, não ocorrem sem tensões. No caso do HSF, a participação da comunidade desde a fundação do hospital, e o atual esforço para manter uma gestão colegiada, convivem com certo centralismo democrático. Conforme definido pelo próprio diretor administrativo do hospital e um de seus fundadores. Neste sentido, pelo que observamos nos contatos feitos com a equipe do hospital, com líderes da ACAU, com representantes do Conselho de Saúde e com voluntários, esse centralismo democrático decorre do papel-chave que desempenha seu diretor administrativo, que trabalha muitas horas (diurnas e noturnas) para garantir a continuidade da proposta inicial da instituição, e cuja história pessoal se confunde com a história do HSF. Por outro lado, essa história é também protagonizada por uma equipe forte e articulada que vem gerindo a instituição com muito desejo de que essa proposta de cuidado com a saúde dê certo (FGV, 2010, p. 24-25).

A história do diretor realmente se confunde com a história institucional tanto que na

festa de aniversário do HSF no dia 24/10/2012, um dos diretores falou o seguinte: a

união de um comunista (diretor administrativo), um judeu (quem doou o terreno) e

um católico (idealizou o hospital) provocou no Sofia uma diversidade que contribuiu

para que o Sofia fosse o que ele é hoje. O sonho era do católico, o terreno foi doado

pelo judeu e a concretização veio do comunista; essa pluralidade fez com que o

Sofia não tivesse a rigidez das organizações hospitalares do Brasil. Mas, afinal, o

que é o Sofia hoje? Uma instituição que apostou, desde o inicio, que a mulher é a

protagonista do parto e não as diversas categorias profissionais. Que apostou e

ousou que, para além do Estado, dos governos, dos prefeitos e dos secretários de

saúde, a saúde deve ser definida por quem utiliza os serviços e foi na escuta dos

usuários que o Hospital foi fazendo as mudanças necessárias para que o cuidado

fosse o mais respeitoso. Um hospital que entendeu seu papel dentro do SUS.

Em suma, chega à marca de 100.000 partos, chega aos 30 anos, com uma história

muito bonita para contar. Com uma dimensão que nós nem imaginávamos, tanto no

que diz respeito ao significado do parir e de uma dimensão que foi muito além do

Tupi, bairro de Belo Horizonte onde está localizado o Hospital. Com certeza, as

histórias positivas superaram algumas com desfechos desfavoráveis, até pela

imprevisibilidade do parto, quando tudo corre bem e o resultado não é o esperado.

Page 102: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

101  

Será que a gestão colegiada do Sofia pode ser considerada uma “esquizogestão”

(expressão de um dos membros do colegiado diretor ao se referir ao modelo

gerencial do HSF). Será uma gestão que apresenta “alucinações” pegando

emprestado o termo da esquizofrenia. No HSF, o direcionamento da gestão é

baseado nas necessidades dos usuários.

Outro objetivo da pesquisa foi o de avaliar a participação da comunidade no espaço

da gestão. Faz diferença ter a presença do controle social no colegiado diretor;

entretanto, essa participação não é efetivada nas diversas linhas da instituição. O

controle social foi outra questão que me trouxe diversos questionamentos. E uma

indicação desta pesquisa é a contradição na participação da comunidade que é vista

por alguns entrevistados com muita fragilidade, e por outros com uma potência na

atuação dos representantes dos usuários, que só é possível para quem está dentro

dos serviços. Mas, na realidade, no Brasil como um todo, diversas são as

dificuldades do controle social para entrar nos serviços de saúde para exercer de

fato o controle social.

A indefinição do papel de cada membro do colegiado foi também um problema

apresentado e, ainda, qual é o poder dos membros nessa gestão colegiada para

tomar decisões ou barrar decisões. Percebeu-se que esse colegiado tem funcionado

como um fórum de discussões das decisões e de aconselhamento. O papel desse

colegiado é mais consultivo e as decisões são tomadas fora do colegiado pelo

diretor administrativo seguindo ou não o que ele escuta dos membros do colegiado.

E o fato de as decisões já chegarem resolvidas no colegiado causa um desânimo

das discussões por parte dos representantes.

E como tem sido o papel dos gerentes nesse colegiado? Esses gerentes que têm

dupla função de ter que dar conta de cumprir a missão institucional e exercer o

controle e disciplinamento com trabalhadores que possuem autogoverno. E sabe-se

que, apesar da autonomia desses trabalhadores, as transformações no processo de

trabalho dos profissionais da área da saúde têm sido intensificadas e executadas por

outros profissionais como, por exemplo, gerentes que controlam o tempo de

consulta, quantidade de exames solicitados e assim por diante. Por esses motivos,

Page 103: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

102  

os conflitos existem, tanto entre as diversas categorias profissionais, como entre os

trabalhadores e os gestores (SCHRAIBER; MACHADO, 1997). E “quem faz gestão

em saúde, pela natureza da sua função ou pelo lugar institucional que ocupa, tende

a se colocar de modo “externo” a esse campo micropolítico, enxergando-o como

território a ser normatizado e controlado” (CECÍLIO, 2012, p. 286).

Como o modelo do Sofia serve para pensar a PNH?

Um dos aspectos deste estudo tratou de avaliar como tem sido a implementação da

diretriz da cogestão definida na PNH no HSF. Faria (2012) apresenta que diversas

maneiras podem ser justificadas para analisar o estudo de implementação das

políticas públicas no Brasil e que, nesses estudos, são observadas as frustações

dos decisores que, apesar de serem delegados para solucionar questões

problemáticas para o cidadão/eleitor, deparam-se com a questão de que

autorização, mobilização de recursos e expertise não são suficientes para que os

resultados das implementações sejam os que foram idealizados. Outros aspectos da

importância do estudo da implementação são a possibilidade de avaliação do

impacto do gasto público e a monitoração dos resultados para que as informações

obtidas sobre as políticas em curso contribuam para subsidiar políticas futuras e o

entendimento da complexa máquina estatal (FARIA, 2012).

No entanto, com tantas dificuldades de estrutura do SUS, exercer a gestão

colegiada nos serviços de saúde é só um “recreio” (expressão que escutei na

qualificação), em função da falta de governabilidade dos atores da ponta do sistema

para enfrentar as grandes questões do SUS, e uma delas foi discutida na categoria:

Financiamento e gestão: entre o controle de custos e o avanço no modelo do

hospital.

Acho importante ressaltar que, enquanto desenvolvia este estudo, em agosto de

2012, assumi, junto com outros colegas do HSF, a gestão colegiada de um hospital

psiquiátrico, unidade já mencionada com o nome de Sofia Feldman Unidade Carlos

Prates, e a pergunta era: por que o Sofia estava assumindo uma unidade da saúde

mental já que é referência na saúde da mulher? Mas a resposta era que o cuidado

aos usuários do SUS é único.

Page 104: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

103  

Em suma, qual a interface da gestão com a qualidade da assistência? Em quê a

gestão contribui para melhorar o acesso? Cecílio (2012) apresenta que o tempo é

vivenciado de formas diferentes pelos diversos atores, no que diz respeito ao acesso

aos serviços de saúde. Como se existisse uma competição entre as lógicas desses

atores. Para os usuários, com o tempo em que a doença define a necessidade de

agilidade no atendimento, é o tempo das necessidades; já para os trabalhadores,

sob o comando de seus saberes e éticas, disponibilizando tecnologias e recursos

para que o cuidado aconteça, é o tempo do cuidado; e para os gestores, que

buscam adequar a demanda de serviços à oferta, é o tempo das possibilidades. É

importante conciliar estes tempos para que o cuidado aconteça.

Finalizando, apresento que este estudo não teve a pretensão de produzir respostas

para as dificuldades encontradas no método de cogestão para os hospitais. No

entanto, uma das questões que eu observei é que realmente existe um

distanciamento entre o modo como são elaboradas as políticas públicas e como de

fato elas acontecem no cotidiano dos serviços. Não resta dúvida que a história da

construção dos serviços e sua complexidade devem ser consideradas.

E retomo o dilema da gestão colegiada e do centralismo das decisões como se

estas questões invadissem as instituições de saúde, ora parece que os serviços

precisam do compartilhamento nas decisões, ora a direcionalidade das decisões é

que deve predominar para que o cuidado ao usuário seja exercido de forma

respeitosa.

Page 105: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

104  

REFERÊNCIAS ABRAHÃO, A. L. Colegiado gestor: uma análise das possibilidades de autogestão em um hospital público. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 13, n. 1, p. 95-102, 2008. ABRUCIO, F. L.; SOARES, M. M. Redes federativas no Brasil: cooperação intermunicipal no Grande ABC. São Paulo: Fundação Konrad Adenauer, 2001. Cap.1. (Série Pesquisas, n. 24). ALVES-MAZZOTTI, A. J. Usos e abusos dos estudos de caso. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 36, n. 129, p. 637-651, 2006. AMARAL, M. A.; CAMPOS, G. W. S. Organização do trabalho e gestão do cuidado em saúde: uma metodologia de cogestão. In: VECINA NETO, G.; MALIK, A. M. Gestão em saúde. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. AMORETTI, R. A educação médica diante das necessidades sociais em saúde. Revista Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, v. 29, n. 2, p. 136-146, maio/ago. 2005. BARROS, M. E.; GUEDES, C.R.; ROZA, M. M. R. O apoio institucional como método de análise- intervenção no âmbito das políticas públicas de saúde: a experiência de um hospital geral . Ciência Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 16, n.12, dez. 2011. BELO HORIZONTE. Prefeitura Municipal. Plano operativo anual/POA. Belo Horizonte: PBH, 2011. BELO HORIZONTE. Secretaria Municipal de Governo. Lei nº 10.581, de 18 de dezembro de 2012. Dispõe sobre a obrigatoriedade de realização do Exame de Oximetria de Pulso - Teste do Coraçãozinho - em recém-nascidos nos hospitais públicos e privados do Município. Diário Oficial do Município, Belo Horizonte, 19 dez. 2012. BENEVIDES, R.; PASSOS, E. A humanização como dimensão pública das políticas de saúde, tema do humanismo no contemporâneo. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.10, n. 3, p. 561-571, jul./set. 2005a.

Page 106: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

105  

BENEVIDES, R.; PASSOS, E. Humanização na saúde: um novo modismo?. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 9, n. 17, p. 389-409, mar./ago. 2005b. BERNARDES, A. et al. Os ruídos encontrados na construção de um modelo democrático e participativo de gestão hospitalar. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 12, n. 4, p. 861-870, jul./ago. 2007. BRASIL. Congresso Nacional. Lei nº 12.101 de 27 de novembro de 2009. Dispõe sobre a certificação das entidades beneficentes de assistência social; regula os procedimentos de isenção de contribuições para a seguridade social; altera a Lei no 8.742, de 7 de dezembro de 1993; revoga dispositivos das Leis nos 8.212, de 24 de julho de 1991, 9.429, de 26 de dezembro de 1996, 9.732, de 11 de dezembro de 1998, 10.684, de 30 de maio de 2003, e da Medida Provisória no 2.187-13, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 30 nov. 2009. BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolução 196 de 10 de outubro de 1996. Aprova diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1996. Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/comissao/conep/resolucao.html>. Acesso em: 18 jun. 2012. BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de saúde. O financiamento da Saúde. Brasilia: CONASS, 2011a. (Coleção para Entender a Gestão do SUS, 2). BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Lei n. 8.142, de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 31 dez. 1990. BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução n. 333, de 4 de novembro de 2003. Aprova as diretrizes para criação, reformulação, estruturação e funcionamento dos Conselhos de Saúde. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 4 dez. 2003, n. 236, seção 1, p. 57. BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução n. 453, de 10 de maio de 2012. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 6 jun. 2012b.

Page 107: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

106  

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde – CNES. Brasília: Ministério da Saúde, 2011b. Disponível em: <http://cnes.datasus.gov.br/>. Acesso em: 15 ago. 2012. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política de Humanizacão. HumanizaSUS: documento base para gestores e trabalhadores do SUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2010a. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS. Clínica ampliada e compartilhada. Brasília: Ministério da Saúde, 2010b. p. 26. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS. Gestão participativa e cogestão. Brasília: Ministério da Saúde, 2010c. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Programa nacional de humanização da assistência hospitalar. Brasília: Ministério da Saúde, 2001. (Série C. Projetos, Programas e Relatórios, n. 20). BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: Política Nacional de Humanização: a humanização como eixo norteador das práticas de atenção e gestão em todas as instâncias do Brasília: Ministério da Saúde, 2004. BRASIL. Presidência da República Federativa do Brasil. Discurso da Presidenta da República, Dilma Rousseff, durante visita ao Hospital Sofia Feldman - 12 de junho de 2012. Brasília: Portal do Planalto, 2012a. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Decreto n. 7508, de 28 de junho de 2011. Regulamenta a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, para dispor sobre a organização do Sistema Único de Saúde - SUS, o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 29 jun. 2011c. CAMPOS, C. J. G. Método de análise de conteúdo: ferramenta para a análise de dados qualitativos no campo da saúde. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v.57, n. 5, p. 611-614, 2004.

Page 108: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

107  

CAMPOS, G. W. E. Cogestão e neoartesanato: elementos conceituais para repensar o trabalho em saúde combinando responsabilidade e autonomia. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, n. 5, p. 2337-2344, ago. 2010. CAMPOS, G. W. E. Desafios políticos e organizacionais do SUS: vinte anos de política pública. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, n. 10, p. 2200-2201, out. 2008. CAMPOS, G. W. S. Democracia institucional e co-gestão de coletivos organizados para a produção. _________. Um método para análise co-gestão de coletivos. São Paulo: Editora Hucitec, 2000. cap. 3, p. 98-154. CAMPOS, G. W. S. Há pedras no meio do caminho do SUS!. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 12, n. 2, p. 298-299, mar./abr. 2007. CAMPOS, G. W. S. O Anti-Taylor: sobre a invenção de um método para co-governar instituições de Saúde produzindo liberdade e compromisso. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 14, n. 4, p. 863-870, out./dez. 1998. CAMPOS, G. W. S. Um método para análise e co-gestão de coletivos: o método da roda. São Paulo: Hucitec, 2007. CAMPOS, G. W. Sousa. Desafios políticos e organizacionais do SUS: vinte anos de política pública. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, n. 10, p. 2200, 2008.  CARAPINHEIRO, G. Racionalização das práticas médicas hospitalares. In: ______. Saberes e poder no hospital: uma sociologia dos serviços hospitalares. Porto: Edições Afrontamento, 1998. CARDOSO DE OLIVEIRA, R. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. In: ______. O trabalho do antropólogo. 2. ed. São Paulo: UNESP, 2000. CARVALHO, A. I. Conselhos de saúde, responsabilidade pública e cidadania: a reforma sanitária como reforma do estado. In: In: FLEURY, S. (Org.). Saúde e democracia: a luta do CEBES. São Paulo: Lemos Editorial, 1997. p. 93-112. CARVALHO, D. M. T. Financiamento da assistência médico hospitalar no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 12, n. 4, p. 879-892, jul./ago. 2007.

Page 109: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

108  

CECCIM, R. B.; FERLA, A. A. Linha de cuidado: a imagem da mandala na gestão em rede de práticas cuidadoras para uma outra educação dos profissionais de saúde. In: PINHEIRO, R.; MATTOS, R. A. Gestão em redes: práticas de avaliação, formação e participação na saúde. Rio de Janeiro: IMS/UERJ/CEPESC/ABRASCO, 2006. p. 165-184. CECCIM, R. B.; MERHY, E. E. Um agir micropolítico e pedagógico intenso: a humanização entre laços e perspectivas. Interface: Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 13, supl. 1, p. 531-542, 2009. CECILIO, L. C. O. A micropolítica do hospital: um itinerário ético-político de intervenções e estudo. 2007. Tese (Livre docência) - Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, 2007. CECILIO, L. C. O. A morte de Ivan Ilitch de Leon Tolstói: elementos para se pensar as múltiplas dimensões da gestão do cuidado. Interface: Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 13, supl. 1, p. 545-555, 2009. CECÍLIO, L. C. O. Apontamentos teórico-conceituais sobre processos avaliativos considerando as múltiplas dimensões da gestão do cuidado em saúde. Interface: Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 15, n. 37, p. 589-599, babr./jun. 2011. CECÍLIO, L. C. O. Colegiados de gestão em serviços de saúde: um estudo empírico. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 26, n. 3, p. 557-566, mar. 2010. CECILIO, L. C. O. Escolhas para inovarmos na produção do cuidado, das práticas e do conhecimento: como não fazemos “mais do mesmo”?. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 21, n. 2, p. 280-289, 2012. CECÍLIO, L. C. O. Mudar modelos de gestão para mudar o hospital: cadeia de apostas e engenharia de consensos. Revista Espaço para a Saúde, Londrina, v. 1, n. 2, p. 04-26, jun. 2000. CECILIO, L. C. O. Pensando mecanismos que facilitem o controle social como estratégia para melhoria dos serviços públicos de saúde. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 23, n. 53, p.30-36, 1999. CECILIO, L. C. O.; MERHY, E. E. A Integralidade do cuidado como eixo da gestão hospitalar. Campinas (SP): [s.n.], 2003. Disponível em:

Page 110: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

109  

<http://www.hc.ufmg.br/gids/anexos/integralidade_assistencia_saude.PDF>. Acesso em: 05 jun. 2012. CHIORO DOS REIS, A. A. Entre a intenção e o ato: uma análise da política de contratualização dos hospitais de ensino (2004-2010). Tese (Doutorado) - Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, 2011. CHIZZOTTI, A. Pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2010. COSTA, A. M.; NORONHA, J. C. Controle Social na saúde: construindo a gestão participativa. Saúde em Debate, v. 27, n. 65, p. 358-363, set./dez. 2003. CRUZ NETO, O. O trabalho de campo como descoberta e criação. In: MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 3. ed. São Paulo: Hucitec, Abrasco, 1994. p. 51-65. CUNHA, J. P. P.; CUNHA, R. E. Sistema Único de Saúde - SUS: princípios. In: CAMPOS, F. E.; OLIVEIRA JÚNIOR, M.; TONON, L. M. Cadernos de Saúde: planejamento e gestão em saúde. Belo Horiozonte: COOPMED, 1998. Cap.2, p. 11-26. DITTZ, E. S. et al. Práticas cuidadoras como orientação da atenção à saúde: uma prática à teoria em integralidade na saúde da mulher. In: BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Cadernos HumanizaSUS: atenção hospitalar. Brasília: MS, 2012.  

FARIA, C. A. P. (Org.). Implementação de políticas públicas: teoria e prática. Belo Horizonte: PUC Minas, 2012  

FARIAS, S. F. et al. A regulação no setor público de saúde no Brasil: os (des) caminhos da assistência médico-hospitalar. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 16, suppl. 1, p. 1043-1053, 2011. FAVARET FILHO, P.; OLIVEIRA, P. J. A universalização excludente: reflexões sobre as tendências do sistema de saúde. Dados Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, v. 33, n. 2, p. 257-284. FORGIA, G. M.; COUTTOLENT, B. F. Desempenho Hospitalar no Brasil: em busca da excelência. São Paulo: Singular, 2009.

Page 111: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

110  

FRANCO, T. B.; MAGALHÃES JR., H. M. M. Integralidade na assistência à saúde: a organização das linhas do cuidado. In: MERHY, E. E. (Org.). O trabalho em saúde: olhando e experienciando o SUS no cotidiano. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 2004. p.125-34. FUNDAÇÃO DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL À SAÚDE. Hospital Sofia Feldman. Estatuto da Fundação de Assistência Integral à Saúde. Belo Horizonte, 2008a. FUNDAÇÃO DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL À SAÚDE. Hospital Sofia Feldman. 5º Planejamento do Hospital Sofia Feldman (2003): o Hospital Sofia Feldman no contexto da assistência perinatal em Belo Horizonte, pensando o futuro. Belo Horizonte: HSF, 2003a. 54p. FUNDAÇÃO DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL À SAÚDE. Hospital Sofia Feldman. 6° Planejamento do Hospital Sofia Feldman (2008-2011): sustentabilidade do Hospital Sofia Feldman no SUS. Belo Horizonte: HSF, 2008b. 87p. FUNDAÇÃO DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL À SAÚDE. Hospital Sofia Feldman. 7° Planejamento do Hospital Sofia Feldman (2010-2013): o fortalecimento do Sofia na Rede SUS – “ninguém dá conta do cuidado sozinho”. Belo Horizonte: HSF, 2010. 144p. FUNDAÇÃO DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL À SAÚDE. Hospital Sofia Feldman. Planejamento estratégico situacional 98/99 do Hospital Sofia Feldaman. Belo Horizonte: HSF, 1998. 45p. FUNDAÇÃO DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL À SAÚDE. Hospital Sofia Feldman. Plano diretor do Hospital Sofia Feldman: 2009-2010. Belo Horizonte, 2009. FUNDAÇÃO DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL À SAÚDE. Hospital Sofia Feldman. Regimento interno da gestão colegiada do Hospital Sofia Feldman. Belo Horizonte, 2003b. FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Centro de Administração Pública e Governo. Hospital Sofia Feldman: uma experiência de inovação contínua. São Paulo: FGV, 2010. Relatório. GUERRA, I. C. Pesquisa qualitativa e análise de conteúdo: sentidos e formas de uso. Portugal: Princípia, 2006.

Page 112: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

111  

HECKERT, A. L. C.; PASSOS, E.; BARROS, M. E. B. Um seminário dispositivo: a humanização do Sistema Único de Saúde (SUS) em debate. Interface – Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v.13, supl. 1, p. 493-502, 2009. HOULT, T. F. Dicionário de sociologia moderna. [s.l.]: [s.n.], 1969. p. 139. JORGE, A. O. et al. O desafio da regulação como facilitadora de acesso e garantidora da equidade. MAGALHÃES JÚNIOR, H. M. (Org.). Desafios e inovações na gestão do SUS em Belo Horizonte: a experiência de 2003 a 2008. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2010. Cap. 8, p. 219-269. LAMOUNIER, J. A Experiência Iniciativa Hospital Amigo da Criança. Revista da Associação Médica Brasileira, São Paulo, v. 44, n. 4, p. 319-324, 1998. LANSKY, S. Por um novo modo de nascer no Brasil. Brasília: MS, [2011]. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=35995>. Acesso em: 10 out. 2012. LUNARDI FILHO, W. D. O mito da subalternidade do trabalho da enfermagem à medicina. Pelotas: Ed. Universitária/UFPel, 2000. MADEIRA, L. M.; DUARTE, E. D. A gestão hospitalar e a integralidade da assistência. In: PINHEIRO, R.; MATTOS, R. A. Gestão em redes: práticas de avaliação, formação e participação na saúde. Rio de Janeiro: IMS/UERJ/CEPESC/ABRASCO, 2006. p. 65-79. MAGALHÃES JÚNIOR, H. M. (Org.). Desafios e inovações na gestão do SUS em Belo Horizonte: a experiência de 2003 a 2008. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2010. MAGNANI, J. G. C. De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana. Revista Brasileira de Ciências Sociais/ ANPOCS, São Paulo, v. 17, n. 49, jun. 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v17n49/a02v1749.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2012. MEDICI, A. Breves considerações sobre a relação entre financiamento da saúde e direito sanitário no Brasil. São Paulo: IDISA, 2009. Disponível em: <http://www.idisa.org.br/img/File/FinanciamentoeDiretoSanitarionoBrasil2.pdf>. Acesso em: 22 set. 2012.

Page 113: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

112  

MELUCCI, A. Por uma sociologia reflexiva: pesquisa qualitativa e cultura. Petrópolis: Vozes, 2005. MENDES, A.; MARQUES, R. M. O financiamento do SUS sob os “ventos” da financeirização. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 14, n. 3, p. 841-850, maio/jun. 2009. MERHY, E. E. A perda da dimensão cuidadora na produção da saúde: uma discussão do modelo assistencial e da intervenção no seu modo de trabalhar a assistência. In: _______. O SUS em Belo Horizonte. São Paulo: Ed. Xamã, 1998. MERHY, E. E. O conhecer militante do sujeito implicado: o desafio em reconhecê-lo como saber válido. In: FRANCO, T. B. et al. Acolher Chapecó. São Paulo: Hucitec, 2004. Disponível em: <http://www.uff.br/saudecoletiva/professores/merhy/capitulos-02.pdf>. Acesso em: 15 ago. 2012. MERHY, E. E.; CECÍLIO, L. C. O. Algumas reflexões sobre o singular processo de coodernação dos hospitais. [s.n.t]. Disponível em: <http://www.pbh.gov.br/smsa/biblioteca/concurso/coordenacaohospitalar.pdf>. Acesso em: 02 jun. 2012. MINAYO, M. C. S. (Org.). O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 3. ed. São Paulo: Hucitec/Abrasco, 1994. MORAES, Roque. Análise de conteúdo. Revista Educação, Porto Alegre, v. 22. n 37, p. 7-32, 1999. MORI, M. E.; OLIVEIRA, O. V. M. Os coletivos da política nacional de humanizacão (PNH): a cogestão em ato. Interface – Comunicação, Saúde e Educação, Botucatu, SP, v. 13, supl. 1, p. 627-640, 2009. NATALINI, G. O grande plano de saúde do povo brasileiro. In: PERILLO, E. B. F.; AMORIM, M. C. S. (Orgs.). Para entender a saúde no Brasil 4. São Paulo: LCTE, 2011, p. 29. OLIVEIRA, I. B. N. Acesso Universal? Obstáculos ao acesso, continuidade do uso e gênero em um serviço especializado em HIV/AIDS em Salvador, Bahia, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 25, supl. 2, p. S259-S268, 2009.

Page 114: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

113  

PASCHE, D. F. Política nacional de humanização como aposta na produção coletiva de mudanças nos modos de gerir e cuidar. Interface – Comunicacao, Saúde, Educacao, Botucatu, v. 13, supl.1, 2009. PASCHE, D. F. Pistas metodológicas para se avançar na humanização dos hospitais no Brasil. In: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. (Org.). Cadernos HumanizaSUS: atenção hospitalar. Brasília: Ministério da Saúde, 2011. cap. 3, p. 29-50. PASCHE, D. F.; PASSOS E.; HENNINGTON E. A. Cinco anos da política nacional de humanização: trajetória de uma política pública. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 16, n. 11, p. 4541-4548, nov. 2011. PEDUZZI, M. Equipe multiprofissional de saúde: conceito e tipologia. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 35, n. 1, p. 103-109, 2001. PERILLO, E. B. F.; AMORIM, M. C. S. (Orgs). Para entender a saúde no Brasil, 4. São Paulo : LCTE Editora, 2011. POPE, C.; MAYS, N. Pesquisa qualitativa na atenção à saúde. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. PUCCINI, P. T.; CECÍLIO, L. C. O. A Humanização dos serviços e o direito à saúde. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 20, n. 5, p. 1342-1353, set./out. 2004. RIBEIRO, E. M. Humanizasus: um projeto coletivo. Boletim da Saúde, Porto Alegre, v. 18, n. 2, p. 79-85, 2004. RIOS, I. C. Caminhos da humanização na saúde: prática e reflexão. São Paulo: Áurea Editora, 2009. RIOS, I. C. Humanização: a essência da ação técnica e ética nas práticas de saúde. Revista Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, v. 33, n. 2, p. 253-261, 2009.

Page 115: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

114  

ROOTELLI, F. A Instituição inventada. Per la Salute Mentale, v. 1, 1988. Disponível em: <  http://www.exclusion.net/images/pdf/47_bicoi_istituz.invent_po.pdf>. Acesso em: 28 nov. 2012. SANTOS FILHO, S. B.; BARROS, M. E. B.; GOMES, R. S. The National A Política Nacional de Humanização como política que se faz no processo de trabalho em saúde. Interface – Comunicação, Saúde e Educação, São Paulo, v.13, supl.1, p. 603-613, 2009. SCHRAIBER, L. B.; MACHADO, M. Trabalhadores da saúde: uma nova agenda de estudos sobre Recursos Humanos em saúde no Brasil. In: FLEURY, S. (Org.) Saúde e democracia: a luta do CEBES. São Paulo: Lemos Editorial, 1997. SCHWARTZ, Y. Disciplina epistêmica, disciplina ergológica: paidéia e politéia. Pro-posições, v.13, n.1, p.126-49, 2002 apud HECKERT, A. L. C.; PASSOS, E.; BARROS, M. E. B. Um seminário dispositivo: a humanização do Sistema Único de Saúde (SUS) em debate. Interface – Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v.13, supl. 1, 2009. SERVA, M.; JAIME JÚNIOR, P. Observação participante e pesquisa em administração: uma postura antropológica. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 35, n. 3, p. 64-79, maio/jun. 1995. SOUZA, L. A. P.; MENDES, V. L. F. O conceito de humanização na Política Nacional de Humanização (PNH). Interface - Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 13, supl. 1, p. 681-688, 2009. STAKE. R. E. Case studies. In: DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. (eds.) Handbook of qualitative research. London: Sage, 2000. p. 435-454 apud ALVES-MAZZOTTI, A. J. Usos e abusos dos estudos de caso. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 36, n. 129, p. 637-651, 2006. TEIXEIRA, R. Irmãos da lua. Disponível em: <http://www.letras.com.br/#!renato-teixeira/irmaos-da-lua>. Acesso em: 05 fev. 2013. VALLA, V. V. Controle social ou controle público?. [s.n.t.]. Disponível em: <ftp://164.41.147.200/emffluor/politicas/Artigo_Valla_conselhos_e_movimentos_populares_ativos.pdf>. Acesso em: 23 out. 2012

Page 116: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

115  

VALLADARES, L. Os dez mandamentos da observação participante. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 22, n. 63, p. 153-155, fev. 2007. VELHO, G. Observando o familiar. In: ________. Individualismo e cultura: notas para uma antropologia da sociedade contemporânea. 2.ed. Rio de janeiro: Zahar, 1987. Cap.9, p. 121-132. WANDERLEY, K. L. Atenção hospitalar em rede. In: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Cadernos HumanizaSUS: atenção hospitalar. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. v. 3, cap. 1, p. 10-15.

Page 117: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

116  

APÊNDICE (A) - ROTEIRO DA ENTREVISTA COM OS PARTICIPANTES DO COLEGIADO DIRETOR DO HSF

Identificação: ___________________________ N° entrevista: ________ Data:___/___/___ Profissão: Há quanto tempo trabalha no HSF? Tempo de experiência profissional anterior ao ingresso no HSF: Há quanto tempo participa do colegiado? Você tem outros vínculos profissionais?____ Onde_________________ Desde quando? Tem experiência de atuação comunitária fora do HSF?__________ Onde?_________ Desde quando?________________ Perguntas: 1. Qual o seu entendimento sobre gestão colegiada? 2. Você percebe mudanças no gerenciamento do Hospital Sofia Feldman após a

implantação da gestão colegiada em 2003? 3. Para você, qual é o seu papel neste colegiado? 4. A Politica Nacional de Humanização (PNH) tem quatro eixos estruturantes e

intercessores: atenção, gestão, formação e comunicação no que se refere á cogestão, esta política considera que a construção coletiva deve ser definida através do compartilhamento de poder. Você acha que isto acontece no Sofia?

5. A missão do Sofia definida em Planejamento de 1998 é a seguinte: “Desenvolver ações

de atenção integral á saúde da comunidade, em especial da mulher e da criança, em nível ambulatorial e hospitalar com qualidade, resolutividade, acolhedores e vinculantes de forma universal, visando impactar nos indicadores de saúde deste grupo”. Você considera que a gestão colegiada contribui para manter esta missão?

6. No seu entendimento, o que facilita ou dificulta as decisões do colegiado?

7. Você considera que a diversidade de categorias profissionais no colegiado diretor,

contribui para a efetivação da gestão colegiada? Você acha que deveriam participar do colegiado, profissionais do nível médio?

8. Na sua percepção quais as contribuições dos representantes do controle social

(presidente do conselho de saúde do HSF e presidente da associação comunitária de amigos e usuários do HSF) na gestão colegiada?

Page 118: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

117  

APÊNDICE (B) - ROTEIRO DE ENTREVISTA COM OS PROFISSIONAIS DA PNH NOS

NÍVEIS MUNICIPAL E ESTADUAL

Identificação: ___________________________ N° entrevista: ________ Data:___/___/___ Perguntas: 1. Esfera de governo a que pertence:

1.1 municipal: Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte 1.2 estadual: Secretaria Estadual de Saúde do Estado de Minas Gerais

1 Cargo Atual:_________________________________________ 2 Há quanto tempo trabalha com a PNH? 3 Em sua opinião que mudanças aconteceram nos serviços de saúde após a

implementação da Politica Nacional de Humanização pelo Ministério de Saúde?

4 A PNH tem quatro eixos estruturantes e intercessores: atenção, gestão, formação e comunicação. No que se refere á gestão, o Hospital Sofia Feldman trabalha como uma gestão colegiada desde 2003, você poderia informar outros serviços que também trabalham com a gestão colegiada?

5 Você considera que uma gestão compartilhada interfere na qualidade dos

serviços prestados aos usuários do SUS?

6 Que outras observações (problemas, oportunidades, etc.), você poderia falar sobre a PNH?

7 Você considera que nos colegiados das instituições deve ter a participação de representantes da comunidade?

Page 119: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

118  

APÊNDICE (C) - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

Parecer do relator: 65763 Data da relataria: 02/08/2012 Belo Horizonte, .......... de ............................ de 2012 Prezado (a) ......................................................, eu, Gislene de Oliveira Nogueira, assistente

social, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia

Universidade Católica de Minas Gerais, estou desenvolvendo uma pesquisa com finalidade

acadêmica, cujo titulo é: "Co- Gestão na Política Nacional de Humanização da atenção

à Saúde: A experiência do Hospital Sofia Feldman - Belo Horizonte- MG" . Esta

pesquisa é orientada pelo Prof. Dr. Carlos Aurélio Pimenta de Faria e tem como co-

orientador o Prof. Dr. Luiz Carlos de Oliveira Cecílio. O objetivo geral da pesquisa é

analisar o modo de gestão dos serviços de saúde, tomando como estudo de caso o

processo de implantação, o desenho, a operacionalização do modelo de co-gestão do

Hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte, que foi fomentado pelo Ministério da saúde

através da Política Nacional de Humanização.

Sua colaboração será da maior importância para a realização deste trabalho, motivo pelo

qual solicito sua participação. É necessário que você tenha conhecimento de algumas

informações antes de se decidir quanto à participação: /

1. Sua participação é voluntaria e consiste em participar de uma entrevista semi-estruturada e de observação participante. 2. Durante a realização da pesquisa, o (a) Sr (a) terá liberdade para desistir de participar, sem risco de qualquer penalização. 3. Durante a realização da pesquisa, você poderá fazer todas as perguntas que julgar necessárias para o esclarecimento de dúvidas. 4. Será garantido o anonimato, por ocasião da divulgação dos resultados, e guardado o sigilo dos dados confidenciais. 5. O (A) Sr (a) não terá nenhum tipo de despesa e não receberá nenhuma gratificação em

função da participação nesta pesquisa.

6. Ao final da pesquisa, se for do seu interesse, você terá livre acesso ao conteúdo do trabalho, podendo discutir junto à pesquisadora.

Desde já, agradeço o apoio e a boa vontade em participar desta pesquisa.

Page 120: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

119  

Eu, ..................................................................................portador da Carteira de Identidade

n°..........................., afirmo que fui devidamente esclarecido (a) quanto aos objetivos

da pesquisa cujo o tema é "Co-Gestão na Política Nacional de Humanização da atenção à

Saúde: A experiência do Hospital Sofia Feldman - Belo Horizonte- MG"; li e

entendi as informações fornecidas e declaro para devido fins, que estou de acordo em

participar voluntária e gratuitamente do referido estudo.

Belo Horizonte,................... de.............................de 2012.

Assinatura:.......................................................................

Gislene de Oliveira Nogueira Assistente Social: Gislene de Oliveira Nogueira Contatos: Tel: (031) 8865-7930 e e-mail: [email protected]

..

Page 121: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

120  

APÊNDICE (D) - INSTRUMENTO PARA ANÁLISE TEMÁTICA E COMPARATIVA DOS REGISTROS DAS ATAS DO COLEGIADO DIRETOR DO HOSPITAL SOFIA FELDMAN

Data/ Assunto Consenso Discenso Fusão Posição do

Administrador

Page 122: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

121  

ANEXO (A) – PARECER DO PROJETO DE PESQUISA APROVADO PELO CEP

Page 123: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

122  

Page 124: COGESTÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA …

123