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  • 8/3/2019 CODATO, Adriano ; COSTA, Luiz Domingos . A profissionalizao da classe poltica brasileira no sculo XXI: um estud

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    35 ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS

    GT16 Grupos dirigentes e estruturas de poder

    Coordenadores:

    Mario Grynszpan (CPDOC-FGV/RJ) e

    Ernesto Seidl (UFS)

    A profissionalizao da classe poltica brasileira no sculo XXI:

    Um estudo do perfil scio-profissional dos deputados federais (1998-2010)

    Adriano Codato

    Ncleo de Pesquisa em Sociologia Poltica Brasileira,

    Universidade Federal do Paran (NUSP/UFPR)

    Luiz Domingos Costa

    Ncleo de Pesquisa em Sociologia Poltica Brasileira,

    Faculdade Internacional de Curitiba (Facinter)

    Caxambu MG

    24 a 28 de outubro 2011

    http://www.sigeventos.com.br/anpocs/inscricao/index.asp?eveId=4
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    A profissionalizao da classe poltica brasileira no sculo XXI:

    Um estudo do perfil scio-profissional dos deputados federais (1998-2010)

    Adriano Codato (UFPR)1

    Luiz Domingos Costa (Facinter)2

    Resumo:

    Essa pesquisa prope um reexame da morfologia da elite parlamentar federal apartir da tese da popularizao da classe poltica brasileira tal comoformulada por Lencio Martins Rodrigues. Para isso, o trabalho ser

    desenvolvido em duas frentes: discutimos a noo de popularizao, j que otermo pretende designar a natureza e a direo da transformao do espaopoltico do ponto vista do perfil de seus agentes. Em seguida, apresentamosdados preliminares sobre a composio scio-ocupacional dos deputadosfederais eleitos entre 1998 e 2010. A hiptese de trabalho de que a noo depopularizao no a mais adequada para tratar das mudanassociopolticas que ocorrem no presente. Na realidade, defendemos que essasmudanas se inserem num processo mais amplo, entendido aqui comoprofissionalizao poltica. O debate ser ilustrado por meio dos dados

    biogrficos dos deputados federais eleitos durante o perodo. A partir disso,elaboraremos um quadro emprico de maior alcance temporal em relaoquele traado por Rodrigues, culminando em uma nova discusso conceitualsobre as converses morfolgicas internas ao pessoal poltico das modernasdemocracias eleitorais.

    1 Doutor em Cincia Poltica (Unicamp), professor adjunto do departamento decincias sociais e do mestrado em cincia poltica da Universidade Federal do Paran(UFPR).

    2 Mestre em Cincia Poltica (Unicamp), professor dos cursos de Cincia Poltica eRelaes Internacionais da Faculdade Internacional de Curitiba (FACINTER).

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    Introduo

    O propsito desse paper discutir o significado sociolgico de algunsachados empricos sobre os processos recentes de recrutamento da classe

    poltica brasileira. Ao mesmo tempo, pretendemos apresentar uma visodiferente sobre o assunto. Ou mais exatamente: pretendemos ressaltar anecessidade de combinar, nesse debate, variveis histricas e sociais, almdas variveis institucionais usuais.

    Na primeira parte resumimos o que "democracia" e o que "participao democrtica" para as teorias empricas da democracia. Emseguida, so listadas as condies institucionais essenciais para a realizaodesse tipo de participao poltica (que basicamente eleitoral), com destaquepara o que nos parece ser um ponto cego nessas formulaes. Essa discusso

    serve como introduo para destacar a importncia e a relevncia de estudossobre elites polticas para determinar a qualidade da democracia.

    Na segunda e terceira sees discutimos as principais anlises sobre oprocesso de recrutamento parlamentar no Brasil, realando a dificuldade decomunicao entre elas e, sobretudo, a baixssima capacidade de seestabelecer uma tese que contemple processos intimamente relacionados,dentre os quais se destacam a experincia poltica dos legisladores, a altacirculao das elites e a popularizao do pessoal poltico do pas.

    Na quarta parte apresentamos dados preliminares sobre os deputadosfederais para apontar novas perspectivas de pesquisa sobre o objeto. Tambmdiscutimos empiricamente a dificuldade em sustentar a tese da popularizao apartir de dados sobre os senadores brasileiros.

    Por fim, avanamos um modelo para dar conta desse problema dorecrutamento. Esse modelo deve congregar variveis histricas, institucionais esociais. Isso permitir ento propor uma hiptese um pouco diferente sobre oproblema. Ao final, pretende-se ressaltar as consequncias analticas domodelo e como esse tipo de explicao histrica e sociolgica se diferencia

    das constataes disponveis at o momento.

    I. As pr-condies da poliarquia competitiva

    As teorias empricas da democracia (Schumpeter, Sartori, Dahl, Downs,Olson, Bobbio, etc.) so, conforme se acredita, puramente descritivas e nonormativas (como as formulaes, por exemplo, de Arendt, Habermas, Rawls,etc.). Elas iluminam o funcionamento concreto dos sistemas polticos nacionais

    e enfatizam seja o comportamento efetivo dos cidados seja a competioentre as lideranas polticas pelo voto popular.

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    Como as teorias empricas entendem por democracia exclusivamenteum mtodo poltico de seleo dos governantes (Schumpeter, 1984), elasdestacam, via anlise social e/ou institucional, os processos de escolha decandidatos por meio de eleies e, via anlise institucional, a conformao dosarranjos institucionais que permitem e autorizam essas escolhas (o sistemaeleitoral, o sistema partidrio).

    Eleies nesse paradigma so o momento por excelncia do processode controle e punio das lideranas (Weber, 1967) e a igualdade poltica seresume ao sufrgio universal (cada pessoa, um voto). Esse sistema dependede um grau elevado de pluralidade de grupos de interesse e da capacidadedesses grupos apresentarem suas demandas nos perodos entre as eleies (afim de pressionar e influenciar a tomada de decises pelos governos). Por suavez, os governos devem ser responsivos, i.e., as polticas pblicas devemestar em sintonia com as preferncias dos governados (Pateman, 1992, pp. 24-25).

    Dentre as condies fundamentais da democracia representativa estoduas: a) a participao no deve ser intensa para no comprometer aestabilidade poltica; e b) os processos de socializao poltica dever serdirigidos para criar consensos em torno daquelas regras e princpios.

    Conforme os parmetros clssicos estabelecidos por Dahl (1997), umapoliarquia institucionalizada prev um mximo de participao atravs do votoeleitoral (inclusividade) e um mximo de oposio (regimes democrticos so

    regimes amplamente abertos contestao pblica).Partindo de Schumpeter (1984), Dahl (1997, pp. 26-27) fornece uma lista

    de caractersticas da poliarquia que um conjunto de garantias institucionaisque regulam a processo eleitoral e a competio poltica nesse tipo de regime:

    1. liberdade de organizao e associao,

    2. liberdade de expresso,

    3. direito de voto,

    4. direito a participar de eleies e postular cargos pblicos,

    5. competio pelos cargos pblicos atravs do voto,

    6. fontes alternativas de informao,

    7. eleies livres e isentas e

    8. instituies governamentais que convertam demandas epreferncias dos cidados em decises atravs de governoslegitimamente eleitos (responsividade).

    Se ns avalissemos o sistema poltico brasileiro hoje conforme esses

    parmetros, diramos (com alguma polmica) que ele atende suficientemente amaioria deles.

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    O que seria preciso testar melhor, todavia, seriam as condies sociaisda competio poltica pelos cargos pblicos atravs do voto ou o grau deinclusividade dos diferentes grupos/classes sociais na elite poltica. Essa seriauma dimenso essencial que no tem, obviamente, a ver com as condiesformais de eligibilidade (definio legal de quem pode ser eleito e para quallugar), mas sim ao problema de como ela chegou l (no poder).

    Nesse sentido que estudos sobre elites em especial estudos sobreorigens sociais das elites polticas adquirem importncia essencial paracaracterizar o grau de democratizao do sistema poltico.

    Nas sociedades democrticas,lembra Dogan (1999, p.172), no hnenhuma exigncia de qualquer critrio tcnico para exercer a poltica(habilidades sociais especiais, por exemplo), nem uma interdio de classenos processos de recrutamento eleitoral. Desse modo, cabe ao analista

    identificar, para uma dada sociedade, que mecanismos (culturais, sociais,econmicos, simblicos, institucionais) operam na seleo daqueles que sededicaro profissionalmente poltica e daqueles que sero excludos dela.

    Essa uma maneira de responder a famosa questo posta aos estudosque radiografam e desenham perfis sociais e profissionais de elites: so what?Uma vez dada tais e quais caractersticas, o que isso explica? Ou por outra:atributos socioeconmicos da elite revelam o que alm dos atributossocioeconmicos da elite?

    De uma perspectiva diacrnica estudos sobre elites podem revelar

    transformaes histricas de uma sociedade dada. De uma perspectivasincrnica, estudos sobre a homogeneidade ou a heterogeneidadesocioprofissional do grupo de elite so essenciais para discutir, por exemplo, oprprio sistema poltico, j que dizem respeito estrutura de oportunidadessocialmente sancionada para participar da poltica.

    Da mesma maneira, se o acesso ao universo de elite for aberto oufechado isso ter uma srie de implicaes:

    (i) Um universo aberto tem a ver com uma estrutura de classes

    mais dinmica que um universo fechado;(ii) Um acesso mais aberto pode dar origem a uma elite maisfragmentada, o que traz problemas para a governabilidade;

    (iii) Um acesso mais fechado d origem a uma elite mais coesa,mas que pode tambm transformar-se rapidamente numaoligarquia.

    Todas essas questes so questes que dizem respeito ao grau dedemocracia de um sistema poltico e esse problema pode ser medido semque necessariamente se faa referncia a mecanismos mais participativos em

    processos decisrios governamentais.

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    Porm, preciso notar, estudos de perfil socioeconmico e de padresde carreira de grupos de elite no so estudos sobre recrutamento poltico.

    Assim, preciso diferenciar padres de carreira de processos derecrutamento.

    Estudos de recrutamento poltico pretendem analisar os processossociais e polticos por meio dos quais tais posies foram atingidas(Czudnowski, 1975, p. 156). Esse um problema que diz respeito aosmecanismos de seleo de lideranas.

    Esses mecanismos so propriamente os filtros (institucionais, culturais,profissionais) que operam no processo de seleo de grupos sociais aposies de elite. Logo, no suficiente estudar aqueles que chegaram l,sem mostrar no s o caminho (i.e., as trajetrias), como tambm asbarreiras em operao (os filtros de seleo) e as disputas nas arenas onde

    esses processos ocorrem.

    Isso tem toda serventia para estudos sobre qualidade da democracia.

    Por exemplo, quando se compara:

    (i) Os atributos da populao em geral e os atributos dosfiliados a partidos polticos, podemos medir os obstculossociais poltica, i.e., a posse de diferentes tipos de capitais(econmico, cultural, educacional, profissional);

    (ii) Os filiados a partidos polticos e os aspirantes a candidato,

    podemos medir os obstculos sociais e organizacionais, i.e.,estrutura interna dos partidos polticos;

    (iii) Os aspirantes a candidatos e os candidatos escolhidos pelopartido, podemos medir os obstculos organizacionais; e

    (iv) Os candidatos e os eleitos, podemos medir os obstculospolticos i.e., as determinaes institucionais (o peso do sistemaeleitoral, por exemplo).

    II. O recrutamento parlamentar

    H muitos desacordos entre os especialistas sobre qual o perfil social(origem de classe, tipo e tamanho do patrimnio herdado ou construdo, acessoa educao superior e posse de ttulos escolares, habilidades profissionais,gnero, origem tnica, e outros indicadores de posio social) e a carreirapadro (idade de ingresso no mundo poltica, nmero de mandatos antes dechegar posies superiores na hierarquia poltica, quantidade de partidos porque passou, cargos estratgicos que dirigiu, etc.) de senadores e deputados

    federais no Brasil e como isso tem se transformado ao longo do tempo.

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    Possivelmente, a existncia dessas discrepncias um sintoma tanto daausncia de debate e de interesse pblico sobre o assunto, quanto do poucodesenvolvimento desse tipo de pesquisas entre ns. Fora estudos maisclssicos (Barman e Barman, 1976; Nunes, 1978; Miceli, 1991; Carvalho,1996), anlises muito amplas (Conniff, 1989), investigaes muito circunscritasno tempo (Love e Barickman, 1986; Braga, 1998; Codato, 2008) ou estudosregionais (Grill, 2008; Perissinotto, Costa e Tribess, 2009), pouco se sabe arespeito do tema. Comparativamente com os inmeros estudos sobre a classepoltica nos Estados Unidos (e.g. Miller e Strokes, 1963; Barton, 1985; Hibbing,1991; Williams e Lascher, 1993; Lerner et al., 1996; Dye, 2002) ou na Frana(e.g. Collovald, 1985; Gaxie e Offerl, 1985; Mendras e Suleiman, 1995;Sawicki, 1997), os profissionais da poltica so, entre ns, um enigma a serdecifrado. Afinal, quem so os parlamentares brasileiros?

    As respostas disponveis ainda no apresentam um retrato completo dosrepresentantes (Messenberg, 2002; Coradini, 2001; 2011). Nos estudos deCincia Poltica, podemos contar pelo menos quatro vises divergentes sobreo meio social de onde provm a elite legislativa e sobre como essa elitechegou Cmara e ao Senado (isto , qual foi sua trajetria poltica, porquantos e por quais tipos de cargos passou, se eles influenciaram positiva ounegativamente suas chances de sucesso na carreira poltica, etc.). Cada umadas posies moldadas por nfases diferentes, tanto do ponto de vistaconceitual como emprico deriva de interpretaes diferentes sobreprocessos um tanto mais complicados, tais como profissionalizao e

    institucionalizao polticas.

    A primeira dessas vises sustenta que se a taxa de renovao de nomesna Cmara dos Deputados alta, hoje em torno de 50% (enquanto que noCongresso dos EUA ela fica na casa dos 10 a 15%), porque a Casa aceitacom muita frequncia indivduos estranhos ao campo poltico (outsiders)(Miguel, 2003).

    Se em 1946, 30% daqueles que chegavam Cmara Federal tinhamatrs de si uma longa trajetria na vida pblica, em 1994 menos de 10% dos

    deputados federais possuam esse perfil. Uma dcada aps o fim da ditaduramilitar, nada menos de 50% dos membros da Cmara eram indivduos quehaviam conquistado sua respectiva cadeira num perodo no superior a quatroanos de dedicao exclusiva poltica. Predominaria ento no Brasil umsistema poltico mais aberto que garantiria espao a polticos sem grandesvnculos com partidos tradicionais e com pouca experincia na vida pblica.Nosso Legislativo seria assim povoado de self-made men, que se fizerambasicamente margem do mundo poltico oficial. Isso abriria espao para odeclnio das oligarquias tradicionais. A renovao parlamentar no consiste,assim, apenas na substituio ou no revezamento entre quadros polticos j

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    experimentados, mas na franquia pura e simples das cadeiras legislativas aindivduos estranhos ao campo poltico. (Marenco dos Santos, 1997)3.

    Outra interpretao argumentou que o elevado ndice de revezamentodos polticos brasileiros nas cadeiras legislativas deve-se a uma razo

    completamente diferente. Ela no diria respeito estrutura de oportunidades domercado poltico (cada vez maiores), mas ao clculo que os candidatos semprefazem entre o custo de permanecer ou no numa instituio altamentecompetitiva do ponto de vista eleitoral (Leoni; Pereira; Renn, 2003), mas compouco poder decisrio. Da que os legisladores mais experientes e/ou commelhor currculo seriam tambm aqueles que deixariam mais rapidamente oLegislativo em busca de uma posio com maior poder, em especial noExecutivo (Santos, 2000; Di Martino, 2009)4.

    Paralelamente a essa divergncia sobre o tipo de carreira, surgiu uma

    terceira interpretao. Centrada no perfil social dos legisladores, ela constatouum fato absolutamente novo: a popularizao da classe poltica brasileira(Rodrigues, 2006, pp. 11-12). Sua centralidade para essa pesquisa requer queseja apresentada de forma mais detalhada. Essa interpretao desloca suaanlise para as bases socio-ocupacionais da Cmara dos Deputados.

    a. A nova classe poltica brasileira

    O trabalho de Rodrigues (2002) no s contribuiu para trazer de volta a

    temtica das elites parlamentares, esquecida ou renegada pelos enfoquesinstitucionalistas, mas colocou novas questes para a anlise da classe polticado pas.

    Seu estudo focaliza o perfil social dos integrantes dos seis principaispartidos representados na Cmara Federal (PMDB, PSDB, PT, PDT, DEM ePPB), analisando se existe um perfil social tpico de cada agremiao e, emcaso positivo, se esse perfil est de acordo com a posio do partido noespectro ideolgico esquerda-centro-direita.

    Estudando a 51 Legislatura da Cmara dos Deputados (1999-2002) e

    baseando-se em informaes sobre as profisses e as declaraes de bensdos parlamentares federais, Rodrigues chega a concluses instigantes sobre asuposta anarquia do sistema partidrio nacional com base, alegadamente, naausncia de um perfil claro dos partidos polticos brasileiros. A acreditar nosdiagnsticos mais superficiais, a concluso seria que os polticos, no

    3 Ver tambm Marenco dos Santos, 2000.4 Comum s duas interpretaes h a percepo de que as baixas taxas de reeleiopara a Cmara dos Deputados (em torno de 50%) constituem sinais de fracainstitucionalizao do Poder Legislativo federal, ou da dificuldade que o Legislativo tem

    de reter os quadros mais experientes e alcanar, via qualidade de seu pessoal poltico,maior capacidade decisria e preponderncia poltica no jogo poltico nacional.

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    importando suas origens socioeconmicas, escolheriam aleatoriamente aslegendas pelas quais entram na vida pblica e por elas trafegam durante suacarreira poltica (Rodrigues, 2006, p. 16).

    Segundo os seus dados, h uma composio social dominante nas

    agremiaes partidrias que pode ser descrita assim: partidos de esquerdarecrutam seus quadros entre os intelectuais (professores de diversos nveis, jornalistas), profissionais liberais e trabalhadores assalariados qualificados.Partidos de direita, por sua vez, so marcados pela composio socialdominante de empresrios (de diversos ramos e tamanhos), alm deexecutivos e dirigentes de empresas. E os partidos de centro so definidosmais em funo de seu ecletismo, j que recrutam seus quadros em diversascamadas sociais mdias e altas, sejam elas de empresrios, funcionriospblicos, profissionais liberais e assim por diante5.

    Implcito nessa descrio do perfil das bancadas partidrias est anoo de que tal composio se estabelece de acordo com as posiestradicionalmente assumidas pelas diferentes posies no eixo ideolgico. Semdetalhar programas partidrios e nem uma plataforma de cada um dospartidos brasileiros, Rodrigues demonstra certas tendncias da esquerda, docentro e da direita em relao a temas-chave. Portanto, seu foco estrealmente no problema da composio social dos partidos, mais preocupadocom a morfologia do legislativo advinda das urnas, do que com o problema daao poltica propriamente dita6.

    Logo aps a publicao desse livro, o foco do autor recaiu nasmudanas em andamento na classe poltica brasileira em funo da vitria doPT nas eleies para o Executivo federal em 2002 (cf. Rodrigues, 2006).

    A vitria de Lula na eleio presidencial em 2002 e seu reflexo noaumento da bancada de deputados federais do PT foi responsvel por umarelativa mudana no perfil da classe poltica da Cmara dos Deputados.

    Uma vez constatadas as variaes ocorridas no perfil da elitegovernante, i.e., no perfil dos ministros e do primeiro escalo da administrao

    5 Cabe enfatizar que a existncia de mais empresrios nos partidos de direita no quenos de esquerda no significa que inexistam empresrios nos partidos esquerda doespectro ideolgico. Igualmente, so encontrados intelectuais nos partidos de direita,embora em menor proporo que nos partidos da esquerda. Os dados baseados nasdeclaraes de bens (declaraes fornecidas pelos candidatos aos TREs dos estados)corroboram estes achados. Temos ento o seguinte: um perfil mais elitizado, do pontode vista econmico, entre a direita; e um perfil tpico de rendas mdias entre osmembros das bancadas de esquerda.6 No cabe aqui entrar em todos os detalhes do livro mencionado (Rodrigues, 2002),mas sua anlise discute ainda os diplomas superiores dos parlamentares, desagregaos dados por regio do pas e tambm traa um quadro detalhado da composio

    interna de cada um dos seis partidos selecionados, mostrando tambm certasincongruncias relativas ao seu argumento geral, sobretudo no que tange ao PMDB.

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    Lula da Silva (sindicalistas oriundos da CUT e do PT)7, a concluso do estudode Rodrigues mais ambiciosa: h no s uma mudana importante nacomposio social da elite governante, mas, alm disso, est em curso umaalterao social na classe poltica brasileira como um todo, alterao ampliadapelos resultados eleitorais de 2002 (Rodrigues, 2006, pp. 13-14).

    Conforme o autor, a vitria do PT na eleio presidencial em outubro de2002 e seu reflexo no aumento de sua bancada de deputados federais foiresponsvel por uma relativa popularizao da classe poltica da Cmarados Deputados (Rodrigues, 2006, p. 11-12).

    Para operacionalizar tal hiptese, alm de coletar os dados sobreocupao e escolaridade dos deputados eleitos em 2002 (legislatura 2003-2006) e traar o seu perfil bsico, Rodrigues (2006) promove uma comparaosistemtica entre a composio das bancadas das duas legislaturas (a eleita

    em 1998 e estudada em seu livro anterior (2002) e aquela eleita em 2002) e acomposio global da Cmara Baixa nas duas legislaturas (51. e 52.)8.

    Os seus resultados demonstram ter havido uma popularizao da classepoltica nacional nesses termos:

    Nossa hiptese que houve na CD a reduo do espao poltico dosparlamentares recrutados das classes altas e, por consequncia, um aumentoda parcela dos deputados federais vindos das classes mdias assalariadas etambm, mas em menor medida, das classes populares (Rodrigues, 2006, p.14).

    Discutindo alguns conceitos sociolgicos (classes populares,popularizao), o autor toma o cuidado de contornar bem o problema: no se

    7No primeiro ministrio do novo presidente, 13 ex-sindicalistas foram indicados paraministros do novo governo. Trs vieram de sindicatos dos metalrgicos, trs debancrios, dois de mdicos, dois de petroqumicos e um dos seguintes sindicatos:professores, mineiros e um da direo da CUT, cujo ramo de atividade no fica muitoclaro. (Trata-se da ministra Marina Silva, filha de seringueiros e ex-empregadadomstica, que era da direo da CUT do Acre). [...] A julgar pelos nveiseducacionais, a maioria dos integrantes do novo governo veio de famlias das classes

    mdias ou baixas. Segundo dados de Jos Pastore, entre os ministros petistas dogoverno, num total de 17 (presidente includo), sete vieram de famlias cujos pais nocompletaram o ensino fundamental (num dos casos, o pai era analfabeto) (Rodrigues,2006, p. 13). Ver para os dados: Jos Pastore, Mobilidade partidria dos dirigentes doPT, O Estado de S. Paulo, 12/8/2003.8As concluses foram as seguintes: O resultado do exame comparativo das duaslegislaturas mostrou que, em primeiro lugar, se reduziu o nmero de parlamentaresoriginrios das classes ricas e aumentou a proporo dos que vieram das classesmdias e das classes trabalhadoras; em segundo lugar, do ngulo sociolgico,mnimas alteraes ocorreram nas bancadas dos principais partidos, quer tivessemaumentado ou reduzido a dimenso de suas representaes na CD. Em outrostermos, os principais partidos mantiveram seu perfil social entre as duas eleies, seja

    quando cresceram (caso do PT, principalmente), seja quando encolheram (casos doPFL e do PSDB, em especial) (Rodrigues, 2006, p. 17).

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    verificou a entrada das classes populares, dos pobres ou indivduosdespossudos na Cmara dos Deputados (CD), ou a ascenso dos grupos detrabalhadores manuais de renda e escolaridade muito baixas (Rodrigues, 2006,p. 15). O que se verificou foi sim uma queda no percentual de indivduos comperfil mais tradicional e elitista (isto , os mais ricos, e dentre esses,empresrios, sobretudo9) e um aumento no nmero de indivduos de profissestpicas da classe mdia.

    Mais exatamente, a popularizao da classe dos que fazem da poltica a suaprofisso indica, por um lado, a reduo do espao ocupado pelos polticos dasclasses mais altas em termos de renda, educao e status e, por outro, aascenso dos polticos das classes mdias, mais corretamente, de algunsdeseus estratos, majoritariamente os de escolaridade relativamente elevada. Nose trata, portanto, dos pequenos proprietrios do meio urbano ou rural(Rodrigues, 2006, p. 15).

    Portanto, a vitria de Lula em 2002 e o seu impacto sobre o crescimentoda bancada petista no interior da CD produziu um deslocamento de seu quadrointerno, em termos socioeconmicos, do alto da pirmide social para o meio.

    As causas dessas modificaes so institucionais (eleitorais) e noestruturais (sociais):

    [...] a varivel mais estreitamente correlacionada s alteraes na naturezasocial dos grupos que controlam o sistema poltico a volatilidade narepresentao partidria, ou seja, as oscilaes dos resultados eleitorais quemudam a fora relativa dos partidos no sistema poltico. Em outras palavras: asalteraes no peso dos setores scio-ocupacionais presentes na CD, pelo

    menos no curto prazo, parecem depender mais dos resultados das disputaspolticas que de mudanas na estrutura da sociedade, quer dizer, de elementosexternos ao sistema poltico-institucional (Rodrigues, 2006, p. 17)10.

    Como o trabalho de Rodrigues (2006) e sua concluso se baseiam emapenas uma eleio, est ainda para ser examinado se, de fato, isso configurauma tendncia (a deselitizao da composio social do legislativo federal) ouse esse foi apenas um caso isolado.

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    O termo empresrio deve ser entendido num sentido amplo. Ele abrange

    oshomens de negcio, proprietrios, diretores e scios de empresas (a includoshospitais, estaes de rdio e TV e estabelecimentos escolares), comerciantes,administradores de empresas, corretores, acionistas, fazendeiros, administradores defazenda, enfim todos os que tm atividades ligadas ao mercado, no importando adimenso do empreendimento (Rodrigues, 2006, p. 22).10 A hiptese aqui que as variaes na importncia dos grupos econmicos eprofissionais no interior dos organismos legislativos dependem principalmente do perfilsocial dos partidos vencedores e perdedores. De modo muito esquemtico: seaumentar a proporo de cadeiras ocupadas por partidos de direita, aumenta apresena de empresrios e de outros setores de classe alta. Se aumentar a proporode cadeiras dos partidos de esquerda, aumenta a proporo de professores, de

    sindicalistas, de servidores pblicos, de empregados e tambm de algunstrabalhadores manuais (Rodrigues, 2006, p. 17).

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    Assim como no caso da Cmara dos Deputados, o Senado Federalexperimentou uma queda dos indivduos advindos da camada empresarial. Defato, a eleio de 2002 representou um momento de arejamento na classepoltica brasileira do ponto de vista de sua composio social e no apenasnominal j que o nmero de empresrios cai significativamente. (o quetambm foi constatado na mesma eleio para o caso da CD).

    Fonte: Costa, 2010, p. 49.

    Na eleio de 2002 para o Senado o contingente de empresrios atingea menor mdia do perodo democrtico (27,8%)11. Contudo, a eleio de 2006altera essa tendncia, demonstrando o contrrio: a proporo de empresriosatinge a maior taxa dos vinte anos precedentes, chegando a quase metade(48%) dos senadores eleitos. No obstante a falta de dados concernentes s

    eleies de 2010 para as duas casas legislativas, o caso dos senadores refutaa hiptese da popularizao de forma muito clara (Costa, 2010)12.

    11 Tambm digno de nota que esta oscilao para baixo est acima dasprecedentes, sempre entre 5% e 7% para mais ou para menos.12 Esses dados dizem respeito aos senadores titulares eleitos entre 1986 e 2006,totalizando 218 parlamentares. Devemos destacar a diferena das fontes para com osdados sobre os deputados federais. Aqui a categoria empresrio aparece mais bemrepresentada por conta da baixa recorrncia de polticos nas fontes do DicionrioHistrico-Biogrfico Brasileiro (Abreu et al., 2002) e do Senado Federal. No caso das

    categorias dos deputados federais, extradas do TSE, a ocupao poltico umamuito frequente.

    Grfico 1 . Evoluo do perfil scio-ocupacional do Senado (1987-2007)

    31,3

    27,8

    48,1

    6,3

    14,8

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    1986 1990 1994 1998 2002 2006

    %

    empresrios profissionais liberais funcionrios pblicos magistrio

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    Percebe-se por quaisquer indicadores que se olhe que a morfologiasocial dos parlamentares tem se alterado. Essa mudana no significa,contudo, que estamos diante de um processo de popularizao da classepoltica brasileira, nem de democratizao do campo poltico nacional. De todaforma, esses achados descartam a viso convencional de que os polticos sotodos iguais, de que a poltica nacional o reino dos mesmos homens desempre e todas aquelas acusaes correlatas presente no imaginrio crtico.

    Na realidade, o que sucede no espao poltico que, por mais que seconstate sua autonomia e a vigncia de regras prprias de seleo e controle,especializao e monoplio, ele obedece a uma lgica que em grande partesocial. Conforme certas evidncias para certas posies conquistadas nomercado poltico, existe uma forte correlao entre oposies polticas ehierarquias sociais, a ponto de se poder pensar as primeiras como expressosimblica das segundas (Gaxie, 1980, p. 32).

    Tabela 1.

    Ocupao por classificao ideolgica - Senadores (1987-2007)

    blocos ideolgicos

    Ocupaes Direita Centro Esquerda Total

    Empresrios 14,2 (32) 17,9 (39) 0,9 (2) 33,5 (73)

    Profissionais Liberais 10,5 (23) 15,2 (33) 4,6 (10) 30,3 (66)

    Funcionrios Pblicos 4,6 (10) 3,2 (7) 1,8 (4) 9,6 (21)

    Magistrio 3,2 (7) 3,2 (7) 5,0 (11) 11,5 (25)

    Comunicador 1,4 (3) 6,0 (13) - 7,3 (16)

    Poltico 1,8 (4) 2,3 (5) 0,9 (2) 5,0 (11)

    Outras profisses 1,8 (4) - 0,9 (2) 2,7 (6)

    Total 38,1 (83) 47,7 (104) 14,2 (32) 100 (218)

    Fonte: Costa, 2010, p. 47

    A Tabela 1 mostra que a presena de empresrios se d de formapredominante nos partidos de centro e de direita, ao passo que nos partidos deesquerda a sua representao muito menor (2 sobre 218). Outro traodistintivo que sobressai entre as bancadas se refere aos professores(magistrio): embora compaream em todos os blocos ideolgicos, tm

    presena mais acentuada no bloco dos partidos de esquerda. Oscomunicadores esto mais representados nos partidos de centro (e sequer

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    aparecem na esquerda) e, por fim, os profissionais liberais se acomodam emmaior quantidade entre os partidos de centro.

    Mesmo com um nmero reduzido de senadores (218) e com a presenamuito limitada de parlamentares esquerda do espectro ideolgico, possvel

    identificar certa composio social dominante isto , no exclusiva, maspredominante sobre as demais (Rodrigues, 2002) da direita em primeirolugar, e da esquerda de forma menos saliente. O centro, mais matizado, secaracteriza justamente por fronteiras menos rgidas do ponto de vistaideolgico, o que lhe garante maior flexibilidade para abrigar maiorheterogeneidade de perfis sociais. Tais dados apontam, assim, para razovelconformidade entre as posies dos partidos no eixo ideolgico e a sua fontescio-ocupacional de recrutamento parlamentar (Costa, 2010, pp. 47-48).

    b. A profissionalizao da classe poltica

    Estudos mais recentes, conduzidos no Ncleo de Pesquisa emSociologia Poltica Brasileira da UFPR, tm descoberto que, ao contrrio doque se imaginava, ser poltico profissional , de longe, a varivel maisimportante para determinar o sucesso eleitoral de um candidato a deputadofederal no Brasil os dados j indicam, portanto, um processo deinstitucionalizao do processo de recrutamento para a Cmara dosDeputados. Nas eleies de 2006, 47% dos vitoriosos j eram membros dopoder legislativo (Perissinotto e Mirade, 2009; Perissinotto e Bolognesi, 2010).

    Tabela 2

    Profisso de candidatos no eleitos e eleitos para a Cmara dos Deputadosnas eleies de 1998, 2002 e 2006.

    Ocupao* No eleitos (%)** Eleitos (%)***

    1998Economista 1,7 3,5Engenheiro 3,4 7,2Mdico 4,9 9,9Advogado 11,4 15,4

    Poltico do Poder Legislativo**** 4,2 21,4Comerciante 5,7 1,8Servidor estadual 4,5 1,4Servidor federal 2,2 0,2Industrial 1,1 1,4

    2002Economista 0,9 1,9Engenheiro 2,2 5,7Mdico 4,0 8,4Advogado 11,0 14,6Poltico do Poder Legislativo 3,9 29,0Comerciante 6,2 1,2Servidor estadual 3,2 1,0

    Servidor federal 3,0 0,6Empresrio 7,0 4,5

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    Industrial 0,3 0,6

    2006Economista 1,0 1,6Engenheiro 1,9 4,7Mdico 3,9 8,0Advogado 10,2 8,8

    Poltico do Poder Legislativo 6,6 46,8Comerciante 6,4 1,6Servidor estadual 3,3 0,8Servidor federal 3,2 1,2Empresrio 7,8 6,2Industrial 0,2 0,2

    Fonte: Perissinotto e Bolognesi (2010) a partir de TSE e Ncleo de Pesquisaem Sociologia Poltica (NUSP) Universidade Federal do Paran.

    * A associao entre a ocupao do candidato e a condio de eleito revelou-sesignificativa pra todos os anos (p = 0,000). O coeficiente de contingncia foi de0,32; 0,36 e 0,45 para 1998, 2002 e 2006, respectivamente.

    ** N = 11.116

    *** N = 1539**** As informaes do TSE registram a atividade poltica de maneira diferentepara cada eleio.

    Em 1998 Senadores, Deputados e Vereadores foram registrados como membrosdo Poder Legislativo (N=233); em 2002, numa nica rubrica Senadores,Deputados, Vereadores (N=298) e em 2006 Senadores (N=1), Deputados(N=348) e Vereadores (N=181) foram registrados separadamente. Para quepudssemos comparar a relao entre ocupao e sucesso eleitoral para as trseleies reunimos todas essas categorias em uma nica: Polticos do PoderLegislativo.

    A tabela acima indica que entre os eleitos quatro categorias sosobrerrepresentadas: economistas, engenheiros, mdicos e polticos do poderlegislativo. Isso significa uma crescente importncia adquirida pelas ocupaestcnicas e no tradicionais. Com exceo dos engenheiros que, segundoSantos (2003, p. 118-122), foram atrados para a atividade poltica durante oregime ditatorial-militar, as demais categorias sobrerrepresentadas apontampara um novo tipo de pessoal poltico em relao aos perodos anteriores aoregime ps-1988. De forma complementar, ocupaes econmicas maistradicionais como empresrios, industriais e pecuaristas, embora aindapositivamente relacionadas ao sucesso eleitoral dos candidatos, apresentam

    peso menor que as novas profisses apontadas acima (cf. ANEXO).Ainda com base nos achados de Perissinotto e Bolognesi (2010), sabe-

    se h diferenas importantes as trs posies ideolgicas dos partidospolticos: direita, centro e esquerda13:

    (i) ser industrial e empresrio s vezes significativo para osucesso eleitoral na direita, mas nunca para a esquerda;

    (ii) ser metalrgico ou bancrio pode eventualmente aumentar aschances de sucesso na esquerda, mas nunca na direita;

    13 Ver tambm Marenco e Serna, 2007; e Power e Mochel, 2006.

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    (iii) a ocupao de engenheiro produz impactos significativos demaneira mais recorrente na direita, ocorrendo o mesmo com aprofisso de mdico na esquerda;

    (iv) uma candidata (mulher) encontra mais dificuldades de acessaro universo dos eleitos na direita e no centro do que naesquerda14.

    Mas tambm h importantes similaridades entre as trs posiesideolgicas:

    (i) ter ensino superior completo produz impactos significativosnas chances de sucesso eleitoral rigorosamente em todas aseleies e em todas as posies ideolgicas;

    (ii) a profissionalizao poltica a varivel que mais aumenta aschances de sucesso eleitoral tambm em todas as posies

    ideolgicas e em todas as eleies analisadas (1998, 2002,2006).

    Isso significa basicamente que se encontra em andamento umadimenso importante do processo de institucionalizao da Cmara dosDeputados: a profissionalizao dos seus membros. E que os partidos tendema levar muito em conta, na seleo dos candidatos, aqueles que j tm grandeexperincia prvia na poltica (Braga; Veiga; e Mirade, 2009)15.

    A maioria de trabalhos que abordam o problema da trajetria poltica(Marenco dos Santos, 1997; Santos, 2000) o faz com preocupaes de analisar

    questes referentes ao sistema poltico, com o nvel de profissionalizao daatividade poltica e, enfim, em que medida a carreira poltica afeta ou afetadapelas regras do jogo poltico. Nesta tica, quanto maior o tempo e adiversificao das carreiras polticas, mais prximos estamos de um campopoltico consolidado, constitudo com regras prprias de seleo de seusquadros. Por outro lado, carreiras polticas incipientes, curtas ou descontnuasso indcios de uma maior abertura das instituies polticas aos indivduosdesprovidos das caractersticas tpicas exigidas para o exerccio da atividadepoltica profissional.

    Uma das formas de entender a estrutura de oportunidades polticas noBrasil a que est a seguir: distino por tipos de cargos - eletivos legislativos,eletivos executivos e no eletivos e diferenciao entre nveis de governo -municipal, estadual e federal.

    14 O que sugere que a varivel riqueza no determinante; possivelmente a varivelfinanciamento de campanha seja a fundamental. preciso assim verificar a taxa desobreposio ente rulers e owners.15 Bowler, Farrell e Katz, 1999 discutem a relao entre estruturas partidrias,

    recrutamento de quadros polticos e seu impacto na coeso/institucionalizao dasagremiaes polticas.

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    Tabela 3.

    Trajetria parlamentar dos Senadores e Deputados Federais, respostasmltiplas

    Senadores (1987-2007) Dep. Federais (1987-1999)

    N % N %Vereador 41 18,8 90 6

    Dep. Estadual 77 35,3 293 19,4

    Dep. Federal 116 53,2 684 45,4

    Senador 60 27,5 23 1,5

    Sem passagem 42 19,3 417 27,7

    Fontes: para senadores, Costa, 2010; para dep. Federais, Santos (2000)Obs. 1: dados sobre os deputados federais recobre o perodo 1987-99Obs. 2: respostas mltiplas, as somas ultrapassam 100%

    A experincia de passagem por cargos eletivos legislativos a que vemem primeiro lugar. De uma forma geral, entre os senadores, possvelencontrar propores sempre maiores de indivduos com passagem por essetipo de cargo, em relao aos deputados federais. Isto especialmente claroquando se observa a passagem por Cmaras Municipais e pelo Senado e severifica de forma menos contundente, para deputados federais e estaduais.Mas o dado que merece ateno diz respeito categoria sem passagem, poisindica indivduos desprovidos de experincia de disputar e vencer uma eleiolegislativa e sugere as possibilidades de que a estrutura de oportunidadespolticas se abra para indivduos marginais trajetria poltico-institucional .Pela tabela, v-se uma diferena de apenas 8 p.p., o que no chega ademonstrar uma alta diferena entre os dois universos: em torno de 30% dedeputados federais no ocuparam cargos eletivos legislativos e pouco menosde 20% de senadores tambm no o ocuparam. Entre 70% e 80% doscongressistas brasileiros experimentaram cargos legislativos antes dechegarem ao posto em anlise, dado que indica razovel associao entre osrecursos polticos da trajetria parlamentar (Costa, 2010, p. 68-71).

    Esse um fato observvel em todas as democracias institucionalizadas(Best e Cotta, 2000). A profissionalizao das carreiras polticas a contrafacedo declnio do poder e da influncia dos notveis (Guttsman, 1974; Dogan,1999). Cada vez mais os recursos externos ao mundo poltico (poder familiar,influncia regional, prestgio profissional) passam a contar cada vez menos, oque abre a porta para a entrada das camadas mdias nos postos polticos antes privilgio dos muito ricos (ver Hub, 2009, p. 242). Assim, a queda deempresrios (seja na Cmara, seja no Senado), antes de representarpopularizao, pode representar maior controle das oportunidades por partesde indivduos desde muito cedo dedicados s atividades polticas.

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    A discusso bibliogrfica sobre as carreiras polticas no Brasil anuncioualguns achados sobre a configurao da elite parlamentar brasileira.

    Descontadas algumas divergncias menores, h consenso quanto aduas teses principais: a) carreiras no so iguais entre os parlamentares de

    espectros ideolgicos distintos; e b) a variao que vai da direita, passa pelocentro e chega esquerda explicada, primordialmente, pelo tipo de relaoque a organizao partidria mantm com os seus quadros (militantes, lderes)exigindo diferentes formas de dedicao ao partido e, principalmente,mobilizando pessoal com perfil social distinto, do que decorre formas diferentesde alar uma carreira poltica profissional (ver tambm Gaxie, 1980; 1983; eCollovald, 1985). Essas diferenas dizem respeito, numa palavra, ao montantede recursos pessoais eleitorais disposio dos aspirantes.

    Nesse sentido, uma associao til entre a composio scio-

    ocupacional e o perfil de carreira dos senadores. Para tanto, foi elaborado oindicador que agrega e soma os tipos distintos de cargos ocupados pelossenadores antes do ingresso no Senado. O cruzamento desse ndice deCarreira16 com as categorias ocupacionais gerou a tabela a seguir.

    16O ndice de carreira sinnimo do nmero de cargos eletivos diferentes ocupados.Ele faz uma pontuao: cada cargo eletivo ocupado gera o valor 1, de modo queaqueles que no passaram por cargos eletivos antes do Senado tero pontuao zero.Aqueles que tiverem pontuao 6 passaram por 6 cargos diferentes na carreira: foramvereadores, deputados estaduais, deputados federais, prefeitos, senadores, vice-prefeitos, e assim por diante. Trata-se de mensurar a diversificao das carreirasindividuais. Deve-se observar que um indicador precrio da longevidade, porque

    possvel uma carreira mais longa e exclusivamente devotada a um s cargo (o que doponto de vista emprico bastante incomum).

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    Tabela 4. Categorias scio-ocupacionais por ndice de Carreira senadores brasileiros (1986-2006)

    Ocupaes Quantidade de cargos ocupados Total0 1 2 3 4 5 6

    Empresrio 9 11 13 15 14 8 3 73

    12,3% 15,1% 17,8% 20,5% 19,2% 11,0% 4,1% 100,0%

    Profissionais liberais 5 14 13 10 10 7 2 61

    8,2% 23,0% 21,3% 16,4% 16,4% 11,5% 3,3% 100,0%

    Funcionrios pblicos 2 3 3 8 3 2 0 21

    9,5% 14,3% 14,3% 38,1% 14,3% 9,5% ,0% 100,0%

    Magistrio 2 9 8 5 1 0 0 25

    8,0% 36,0% 32,0% 20,0% 4,0% ,0% ,0% 100,0%Comunicador 1 6 2 1 3 3 0 16

    6,3% 37,5% 12,5% 6,3% 18,8% 18,8% ,0% 100,0%

    Profisses intelectuais 1 1 1 0 2 0 0 5

    20,0% 20,0% 20,0% ,0% 40,0% ,0% ,0% 100,0%

    Ativi. baixa ou mdia qualificao 0 1 0 1 2 0 0 4

    ,0% 25,0% ,0% 25,0% 50,0% ,0% ,0% 100,0%

    Pastores evanglicos 0 1 0 1 0 0 0 2

    ,0% 50,0% ,0% 50,0% ,0% ,0% ,0% 100,0%

    Poltico 1 2 1 3 2 1 1 11

    9,1% 18,2% 9,1% 27,3% 18,2% 9,1% 9,1% 100,0%

    Total 21 48 41 44 37 21 6 218

    9,6% 22,0% 18,8% 20,2% 17,0% 9,6% 2,8% 100,0%

    Fonte: Costa, 2010, p. 74

    O suposto bsico por trs deste cruzamento o de que osparlamentares ligados aos estratos sociais mdios e baixos devem apresentarcarreira mais diversificada em funo de sua maior dependncia de recursos

    partidrios e organizacionais, do que decorre uma lenta e hierarquizadaprogresso na carreira.

    Por outro lado, parlamentares da direita, pela simples posse de maisrecursos pessoais e menos atrelados aos insumos partidrios devemapresentar uma carreira mais direta aos postos eletivos de prestgio, pulandoparte da hierarquia de cargos eletivos.

    Embora o universo seja pequeno para uma desagregao como essa,algumas evidncias sobressaem desse cruzamento. No que tange linha dossenadores que exerceram atividades empresariais, parece claro que a sua

    vantagem numrica os distribui de forma equitativa entre os diversos escores: plausvel que muitos senadores que foram empresrios tenham constitudo

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    carreiras polticas diversificadas e ricas do ponto de vista do acmulo de cargoseletivos. Entretanto, no de se desconsiderar que o grupo profissional queapresenta o maior contingente de indivduos desprovidos de carreiraeletiva prvia.

    Esta distribuio bastante espalhada tambm se d para os outrosgrupos scio-ocupacionais mais numerosos (profissionais liberais efuncionrios pblicos). Padro distinto surge quando analisamos a pontuaodos profissionais ligados ao magistrio e s atividades de baixa ou mdiaqualificao. A ampla maioria do primeiro apresentou uma proporo maiorentre os ndices 2 e 4 (os empresrios tambm apresentam uma proporoparecida, mas o grupo mais expressivo, como dito).

    Com relao s atividades de baixa ou mdia qualificao, dos 4senadores que compuseram o grupo, 3 deles apresentaram-se entre os ndices

    3 e 4, com apenas um com a pontuao 1. Realmente, a tese de que osparlamentares desprovidos de backgroundsocial elevado constitui uma carreirapoltica mais demorada que os parlamentares de outros setoressocioeconmicos ilustrada aqui de forma mais consistente.

    Entretanto, a distribuio do ndice de carreira entre as diversascategorias ocupacionais errtica o bastante para deixar a anlise aincompleta e dependente de outros indicadores complementares.

    No obstante essas observaes, as relaes entre perfil social etrnsito no interior das instituies polticas devem ser analisadas por meio dos

    partidos polticos, j que so esses os mediadores fundamentais entre ouniverso social mais amplo e as instituies polticas.

    De acordo com as proposies de Marenco dos Santos e Serna (2007)partidos de esquerda apresentam perfil social prximo s classes mdias e aosestratos mdios baixos, com pretendentes desprovidos de recursos eleitoraisprprios (dinheiro, redes sociais e capital familiar), que os fazem depender emlarga medida do capital eleitoral organizacional. direita, pelo contrrio,encontra-se perfil social tradicional, com indivduos munidos de melhorescondies socioeconmicas e mais recursos pessoais, desconectando-os da

    dependncia dos recursos partidrios para o rpido acesso aos postos polticosde prestgio.

    Por esta perspectiva, a estrutura partidria pode no apenas controlar aoferta de lideranas polticas, mas o faz com uma clara conexo com estratossociais que so, no contraste entre as correntes ideolgicas, distintos (Costa,2010, p. 73-76).

    III. Concluses

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    Esse trabalho apresentou um apanhado das teses fundamentais arespeito do recrutamento para os postos legislativos nacionais depois daredemocratizao. A afirmao de que essa literatura apresenta hiptesesaparentemente desconexas serviu para mostrar que os avanos obtidos naltima dcada a respeito do tema (alm de algumas evidncias importantes)abriu espaos novos para as pesquisas da rea.

    H, alm disso, muitas perguntas em aberto pelos estudosmencionados. Por exemplo: que tipo de recursos e estratgias tm sidomobilizados pelos novos estratos sociais que chegam ao universo poltico-institucional? possvel encontrar alguma conexo entre essas camadas e operfil de carreira observado pelos estudos que discutem a expertisepoltica dosdeputados?

    Com base nesse tipo de questes, pensamos que preciso tornar o

    modelo de anlise mais complexo. Assim, trata-se de combinar trs variveis: ainstitucionalizao da competio poltica democrtica (e,consequentemente, dos partidos e dos aparelhos polticos); a autonomizaodo universo poltico em relao aos demais universos sociais e aprofissionalizao dos agentes e suas trajetrias polticas.

    Esse processo que no comeou agora concorre para definir e dirigiresse programa peculiar de circulao de elites e sacramentar definitivamente aseparao da classe dirigente da classe dominante.

    Nossa hiptese que os atributos (sociais, polticos e profissionais) dos

    representantes no regime democrtico brasileiro e sancionados pelosmecanismos e aparelhos encarregados de recrut-los so, de fato, menos"elitistas" do que aqueles tpicos dos perodos anteriores, sem serem, contudo,mais populares.

    Para que isso se confirme, os poucos trabalhos disponveis sobre orecrutamento legislativo no Brasil devem servir para elaborao de um novoprograma de pesquisa no qual seja possvel testar a relao entre as novascamadas sociais e os perfis de carreira poltica.

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    ANEXO

    Reproduzimos abaixo um teste de regresso logstica binria17 extrado de Perissinottoe Bolgonesi (2010) que permite enfatizar o peso de algumas variveis sobre as chances desucesso eleitoral para Cmara dos Deputados entre as eleies de 1998 e 2006.

    Tabela 3

    Impacto das variveis preditoras sobre as chances de ser eleito Deputado Federal em1998, 2002 e 2006

    Variveis preditoras*** Odds Ratio

    1998

    Variveis polticasPoltico profissional 6,628**PC do B 3,235**PDT 1,227*PFL 7,855**PMDB 3,833**PPS 0,351*PSB 1,632*PSDB 6,090**PT 3,150**PTB 2,777**PL 2,458**Variveis demogrficasSer homem 1,986**Ter curso superior 1,953**Acima de 40 anos 1,143*Variveis societaisAdvogado 1,502**

    Economista 1,992**Engenheiro 1,949**Mdico 2,019**Industrial 1,596*Sacerdote 3,112**

    2002

    Variveis polticasPoltico profissional 12,074**PC do B 6,048**PDT 1,335*PFL 9,151*

    PMDB 4,599*PPS 1,325*PSB 1,227*

    17A regresso logstica uma ferramenta de anlise estatstica til nos casos em quese pretende predizer ou explicar a presena ou ausncia de determinada caractersticaa partir dos valores de um conjunto de medidas preditoras. Nesse sentido, similaraos modelos de regresso linear, porm pode ser aplicado nas situaes em que avarivel dependente dicotmica. As variveis independentes ou preditoras podemser intervalares ou categricas, sendo que nesse ltimo caso devem ser codificadascomo medidas indicadoras ou dummy. Nesse artigo, os coeficientes obtidos com osmodelos propostos so usados como estimativas das razes de chance (estimateodds ratios) para cada uma das variveis independentes introduzidas no modelo.(Perissinotto e Bolognesi, 2010).

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    PSDB 4,626**PT 5,418**PTB 2,171**PL 1,698**Variveis demogrficasSer homem 1,535**

    Ter curso superior 1,993**Acima de 40 anos 1,752**Variveis societaisAdvogado 1,909**Economista 2,432**Engenheiro 2,885**Mdico 2,581**Industrial 5,331**Sacerdote 6,688**Empresrio 1,279*Pecuarista 2,785*

    2006

    Variveis polticasPoltico profissional 13,318**PC do B 4,423**PDT 1,384*PFL 5,655**PMDB 5,010**PPS 1,504*PSB 1,627*PSDB 3,988**PT 4,738**PTB 1,465*PL 1,883**

    PSOL18 0,453*Variveis demogrficasSer homem 1,301*Ter curso superior 2,842**Acima de 40 anos 1,323*Variveis societaisAdvogado 1,410*Economista 2,674**Engenheiro 3,936**Mdico 3,568**Industrial 4,948*Sacerdote 1,827*

    Empresrio 2,460**Pecuarista 9,737**

    * p > 0,05

    ** p < 0,05

    *** 1998: p=0,000 para poltico profissional, PFL, PMDB, PSDB, PT, PL e Mdico; 2002: p=0,000 parapoltico profissional, PC do B, PFL, PMDB, PSDB, PT, ensino superior, acima de 40 anos, advogado,engenheiro, mdico e sacerdote; 2006: p=0,000 para poltico profissional, PC do B, PFL, PMDB, PSDB,PT, ensino superior, engenheiro, mdico, empresrio e pecuarista.

    18 O PSOL foi o nico partido que apresentou carga negativa em nossa regresso. O para este partido especfico (tomado como uma varivel dummy, com 0 para NoPSOL e 1 para PSOL) foi de -4,707, indicando que as chances para os candidatos daextrema-esquerda so inversas em relao aos outros partidos.