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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO CIÊNCIAS DA SAÚDE E BIOLÓGICAS MESTRADO ACADÊMICO PATRÍCIA SHIRLEY ALVES DE SOUSA CÂNCER EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES: o enfrentar da doença pelos familiares PETROLINA PE 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO CIÊNCIAS DA SAÚDE E BIOLÓGICAS

MESTRADO ACADÊMICO

PATRÍCIA SHIRLEY ALVES DE SOUSA

CÂNCER EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES: o enfrentar da doença

pelos familiares

PETROLINA – PE

2017

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PATRÍCIA SHIRLEY ALVES DE SOUSA

CÂNCER EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES: o enfrentar da doença

pelos familiares

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação Ciências da Saúde e Biológicas da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF, Campus Petrolina, como requisito para obtenção do título de Mestre em Ciências com ênfase na linha de pesquisa: Saúde, sociedade e ambiente.

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Domingues de Faria

Co-orientadora: Profª. Drª Lucia Marisy Souza Ribeiro de Oliveira

PETROLINA – PE

2017

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Sousa, Patrícia Shirley Alves de S725c

Câncer em crianças e adolescentes: o enfrentar da doença pelos familiares / Patrícia Shirley Alves de Sousa. -- Petrolina, 2017.

xiv, 87 f.; 29 cm. Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde e Biológicas) -

Universidade Federal do Vale do São Francisco, Campus Petrolina, Petrolina-PE, 2017.

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Domingues de Faria. 1. Câncer. 2. Câncer - Aspectos psicológicos. 3. Tumores em

crianças. 4. Câncer em adolescentes. I. Título. II. Universidade Federal do Vale do São Francisco.

CDD 616.994 Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Integrado de Bibliotecas da UNIVASF.

Bibliotecária: Luciana Souza Oliveira CRB5/1731

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DEDICATÓRIA

Aos familiares participantes desse estudo que compartilharam suas experiências, as

quais, muitas vezes, geraram sofrimento ao serem relembradas. Mas, assim mesmo,

foram relatadas e revivenciadas por esses acreditarem que tal traquejo possa servir

para futuros familiares que venham a passar pela situação que um câncer acarreta na

família, principalmente quando acomete crianças e adolescentes.

Aos “meus guerreirinhos” que transbordam força e fé apesar de tão pequenos. Que

me afirmavam com um olhar ou sorriso o quanto nós adultos reclamamos da vida por

coisas tão insignificantes, mostrando-me o verdeiro sentido de VIVER.

Aos “anjinhos” que foram para perto de Deus no decorrer da pesquisa, deixando

saudade e ensinamentos grandiosos.

À Deus, que além de aparecer como um ponto de apoio para os familiares deste

estudo, é o embasamento que perpassa minha vida e, assim, me instiga a vivenciar

momentos em minha profissão que venham contribuir com a qualidade do cuidado

prestados por profissionais de saúde à população.

Aos meus pais, Urbano e Gorete, que desde pequena me incentivaram a estudar,

acreditaram em meu potencial e me apoiaram em todas as etapas de minha vida,

dando-me amor e proporcionando-me sempre as melhores condições em tudo. Amo

vocês!

Ao meu irmão, Iago, pelo companheirismo e amizade principalmente nos momentos

de “enlouquecimento” por causa da dissertação, artigos, congressos, palestras, entre

outros. E por sempre me relembrar o quanto posso ir mais longe. Amo você fratello!

Ao meu noivo, Ramon, pelo incentivo e compreensão diante de minha ausência por

conta do mestrado, e por sempre se fazer presente. Amo você!

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AGRADECIMENTOS

“Ninguém cruza nosso caminho por

acaso e nós não entramos na vida de

alguém sem nenhuma razão.” (Chico

Xavier)

Meu maior agradecimento a Deus por mais essa oportunidade de crescimento pessoal

e profissional.

Ao meu orientador, admirável professor doutor Marcelo de Faria, pelo engajamento e

dedicação à docência. Por abraçar esse desafio e me proporcionar segurança e apoio.

Respeitando meus limites e, ao mesmo tempo, incentivando-me a ousar mais. O

senhor fez toda a diferença nessa trajetória. Muito obrigada!

A Rejane, coordenadora de Educação Permanente do Hospital Dom Malan – IMIP,

por acreditar nesse estudo e permitir a realização do mesmo.

A equipe de profissionais da ala oncológica do Hospital Dom Malan – IMIP, em

especial à enfermeira Keliane, por todo o apoio durante a coleta dos dados.

As minhas amigas de mestrado Alana, Larissa, Juliana e Luiza, por estarem sempre

presentes, trazerem alegria nos momentos difíceis e deixarem essa trajetória menos

solitária.

A Joice e Manu que, apesar de serem de outra turma, tornaram-se amigas e

companheiras nessa trajetória.

A Paulina, por toda a disposição e atenção com todos os mestrandos.

Ao professor Dennis Marinho pela contribuição na estatística do trabalho.

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“Há jeitos de estar doente, de acordo com os jeitos da doença...”

Algumas doenças são visitas: chegam sem avisar, perturbam a paz da casa e se

vão. É o caso de uma perna quebrada, de uma apendicite, de um sarampo. Passado

o tempo certo, a doença arruma a mala e diz adeus. E tudo volta a ser como sempre

foi.

Outras doenças vêm para ficar. E é inútil reclamar. Se vem para ficar, é preciso fazer

com elas o que a gente faria caso alguém se mudasse definitivamente para a nossa

casa: arrumar as coisas da melhor maneira possível para que a convivência não

seja dolorosa. Quem sabe até tirar algum proveito da situação?

A doença é a possibilidade da perda, uma emissária da morte. Sob seu toque, tudo

fica fluido, evanescente, efêmero. As pessoas amadas, os filhos – todos ganham a

beleza das bolhas de sabão. Os atingidos pela possibilidade de perda acordam da

sua letargia. Objetos banais, ignorados, ficam repentinamente luminosos.

Se soubéssemos que vamos ficar cegos, que cenários veríamos num simples grão

de areia! Quem sente gozo na simples maravilha cotidiana que é não sentir dor?

A saúde embrutece os sentidos.

A doença faz os sentidos ressuscitarem."

- Rubem Alves -

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RESUMO

Câncer é uma patologia caracterizada pelo crescimento desordenado de célula indiferenciada com potencial invasivo. Diante do seu surgimento em crianças e adolescentes, os familiares desenvolvem um conflito de sentimentos. Logo, uma forma de conduzir esse evento complexo é compreender como as famílias enfrentam e suportam os problemas surgidos diante de doenças graves. Assim, o objetivo desta pesquisa foi analisar como ocorre o processo de enfrentamento adotado por familiares de crianças e adolescentes com câncer e hospitalizados. Trata-se de um estudo descritivo-exploratório, fenomenológico, com abordagem qualitativa e quantitativa, desenvolvido na ala oncológica do Hospital Dom Malan, em Petrolina (PE). Os dados foram coletados em duas fases: 1) investigação qualitativa, no período de agosto a novembro de 2015, por meio de entrevista semiestruturada, analisada posteriormente conforme orientação de Martins e Bicudo (1989), com participação de 16 familiares; 2) análise quantitativa, de agosto de 2015 a julho de 2016, através da aplicação da Escala de Modos de Enfrentamento de Problemas (EMEP) e questionário sociodemográfico, com 77 participantes. Foi realizada a análise fatorial da EMEP e testes estatísticos para verificação de associações entre as variáveis, com nível de significância de p≤0,05. Dos 77 familiares, a maioria era do sexo feminino, em especial, mães, cor parda e com média de idade de 40,5 anos, para o sexo feminino; e 44,5 anos para sexo masculino, casados ou em união estável, classificados quanto à renda como Classe E (até 2 salários mínimos) e com baixa escolaridade. Dos 36 pacientes com câncer (crianças/adolescentes), a maioria era do sexo masculino, com média de idade de 5,5 anos para ambos os sexos, todos internados para realização do tratamento quimioterápico. O tipo de câncer predominante foi a Leucemia Linfóide Aguda (LLA) e a maior parte dos pacientes estava em tratamento oncológico há oito meses. Como desvelamento fenomenológico, constatou-se que o enfrentamento durante o diagnóstico do câncer é negativo, visando a fuga e a negação da doença. Posteriormente, os familiares buscam aceitação e apoiam-se, principalmente, na fé e familiares. O relacionamento desses com os profissionais de saúde é positivo, faltando, apenas, a troca de informações acerca da evolução da doença. Verificou-se a variabilidade das estratégias de enfrentamento utilizadas pelos familiares, com distribuição satisfatória. As médias do enfrentamento focalizada no problema e de busca por práticas religiosas foram as mais elevadas, revelando maior utilização dessas duas modalidades de estratégias pelos participantes. Confrontando-se os sexos, os homens utilizam como principais estratégias de enfrentamento aquelas focalizadas no problema e na busca por suporte social; enquanto as mulheres apoiam-se no problema e na busca por práticas religiosas. A forma como a pessoa enfrenta a doença, conforme os quatro fatores da EMEP, não possui relação com cor, parentesco e escolaridade. O câncer e o tratamento quimioterápico são vivenciados de forma singular por cada membro da família. Grupos de apoio formados por profissionais de saúde, familiares e até por comunidades religiosas poderiam ser implantados pelos gestores dos serviços de sáude em oncologia.

Palavras-chave: Neoplasia maligna; Criança; Adolescente; Estratégias de enfrentamento; Cuidadores familiares.

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ABSTRACT

Cancer is a pathology characterized by the abnormal growth of undifferentiated cells with invasive potential. In face of its occurrence in children and adolescents, their relatives start dealing with conflicting emotions. Therefore, one way of managing such complex event is to understand how families face and endure the problems caused by a serious disease. The aim of this study is to analyze the coping strategies adopted by relatives of children and adolescents hospitalized with cancer. It is an exploratory-descriptive and phenomenological study, with qualitative and quantitative approaches conducted in the oncology wing of the Dom Malan Hospital of Petrolina, PE, Brazil. The data were collected in two phases: 1) qualitative inquiry involving 16 family members, during the period from August to November of 2015 by semi-structured interview, further analyzed according to Martins and Bicudo (1989); 2) quantitative analysis, from August of 2015 to July of 2016, through the application of the Brazilian version of the Ways of Coping Scale and a sociodemographic questionnaire to 77 participants. To analyze the data, a factorial analysis of the scale was performed among statistical tests to verify the association between variables, with a significance level of p≤0.05. From the 77 relatives, the majority were female, mothers in particular, brown-skinned and with average age of 40.5 years old for females, and 44.5 years old for males, married or in a civil union, from lower classes (up to 2 minimum wages) and with a low education level. From the 36 patients with cancer (children/adolescents), the majority were male, with an average age of 5.5 years old for both sexes. All of the patients were internalized to start the chemotherapeutic treatment. The predominant type of cancer was Acute Lymphoblastic Leukemia (ALL), and most of the patients were under oncological treatment for 8 months. As a phenomenological unveiling, it was found that the coping during the cancer diagnosis is negative, as the relatives aim to escape or deny the illness. Afterward, they seek acceptance and rely mostly in faith and other family members. The relationship between relatives and health professionals is positive, only lacking the information exchange regarding the progression of the disease. It was verified the variability of coping strategies used by the relatives, with satisfactory variation. Problem-focused coping and the search for religious practices were the most numerous, revealing a greater use of the two strategies by the participants. Comparing both genders, men use as main strategies those focused on the problem and the search for social support, while women rely on the problem and in religious practices. The way a person faces a disease, according to the four factors of the Brazilian version of the Ways of Coping Scale, does not have any relation with skin color, parentage or education level. Each member of the family experiences the cancer and the chemotherapeutical treatment in a unique way. Support groups created by health professionals, relatives or even religious communities can be implanted by the oncology health care services managers.

Keywords: Malignant neoplasm; Child; Adolescent; Ways of coping; Family Caregivers.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Fluxograma mostrando a proliferação celular no organismo

humano ...................................................................................................

Figura 2. Fluxograma mostrando o processo de carcinogênese .............

Figura 3. Gráfico evidenciando a fração atribuível aos principais fatores

de risco do câncer ...................................................................................

Figura 4. Fluxograma da coleta de dados, agosto de 2015 – julho de

2016 ........................................................................................................

Figura 5. Gráfico evidenciando a idade das crianças e adolescentes em

tratamento oncológico no IMIP – Petrolina, 2015 .....................................

Figura 6. Unidades de Significado dos discursos dos familiares das

crianças e adolescentes em tratamento oncológico no IMIP – Petrolina,

2015 ........................................................................................................

Figura 7. Gráfico evidenciando o grau de parentesco dos familiares das

crianças e adolescentes em tratamento oncológico no IMIP – Petrolina,

2015 - 2016 .............................................................................................

Figura 8. Gráfico evidenciando a renda e escolaridade dos familiares

das crianças e adolescentes em tratamento oncológico no IMIP –

Petrolina, 2015 - 2016 .............................................................................

Figura 9. Gráfico evidenciando a cor dos familiares das crianças e

adolescentes em tratamento oncológico no IMIP – Petrolina, 2015 –

2016 ........................................................................................................

Figura 10. Gráfico evidenciando a situação conjugal dos familiares das

crianças e adolescentes em tratamento oncológico no IMIP – Petrolina,

2015 – 2016 .............................................................................................

Figura 11. Gráfico evidenciando o tipo de câncer das

crianças/adolescentes em tratamento oncológico no IMIP – Petrolina,

2015 – 2016 .............................................................................................

Figura 12. Gráfico evidenciando o tempo de tratamento das

crianças/adolescentes em tratamento oncológico no IMIP – Petrolina,

2015 – 2016 .............................................................................................

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Figura 13. Gráfico evidenciando a análise fatorial da EMEP conforme

média obtida em cada fator .....................................................................

Figura 14. Gráfico evidenciando a análise fatorial da EMEP

comparando-se os sexos ........................................................................

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANEP - Associação Nacional de Empresas de Pesquisa

BPC – Benefício de Prestação Continuada

CCEB - Critério de Classificação Econômica do Brasil

CICI - Classificação Internacional do Câncer na Infância

ECA- Estatuto da Criança e do Adolescente

EMEP- Escala de Modos de Enfrentamento de Problemas

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IMIP- Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira

INCA- Instituto Nacional do Câncer

INSS – Instituto Nacional do Seguro Social

LLA – Leucemia Linfóide Aguda

OMS – Organização Mundial de Saúde

SM – Salário mínimo

TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVASF - Universidade Federal do Vale do São Francisco

UTI - Unidade Tratamento Intensivo

US - Unidade de Significado

WCC - Ways of Coping Checklist

WOCQR - Ways of Coping Questionnaire Revised

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Caracterização dos familiares das crianças/adolescentes em

tratamento oncológico no IMIP – Petrolina quanto a idade, 2015 – 2016

Tabela 2. Caracterização dos pacientes (crianças/adolescentes) em

tratamento oncológico no IMIP – Petrolina quanto a idade, 2015 – 2016

Tabela 3. Análise descritiva das estratégias de enfrentamento medidas

pela EMEP (N=77) ...................................................................................

Tabela 4. Teste de Correlação de Pearson entre os fatores da EMEP

(N=77) .....................................................................................................

Tabela 5. Teste de médias entre as variáveis da EMEP: Problema e

Emoção (N=77) .......................................................................................

Tabela 6. Teste de médias entre as variáveis da EMEP: Problema e

Religião (N=77) ........................................................................................

Tabela 7. Teste de médias entre as variáveis da EMEP: Problema e

Social (N=77) ...........................................................................................

Tabela 8. Teste de médias entre as variáveis da EMEP: Emoção e

Religião (N=77) ........................................................................................

Tabela 9. Teste de médias entre as variáveis da EMEP: Emoção e

Social (N=77) ...........................................................................................

Tabela 10. Teste de médias entre as variáveis da EMEP: Religião e

Social (N=77) ...........................................................................................

Tabela 11. Adoção de estratégia positiva comparando-se os sexos

(N=77) .....................................................................................................

Tabela 12. Adoção de estratégia negativa comparando-se os sexos

(N=77) .....................................................................................................

Tabela 13. Teste qui-quadrado: cor e fatores de enfrentamento (N=77)

Tabela 14. Teste qui-quadrado: grau de parentesco e fatores de

enfrentamento (N=77) .............................................................................

Tabela 15. Teste qui-quadrado: escolaridade e fatores de

enfrentamento (N=77) .............................................................................

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Grupos da CICI, conforme INCA (2008) .................................

Quadro 2. Classificação Econômica do Brasil .........................................

Quadro 3. Caracterização do perfil ssociodemográfico dos familiares

das crianças e adolescentes em tratamento oncológico no IMIP –

Petrolina, 2015 ........................................................................................

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 16

2. REVISÃO DE LITERATURA .........................................................................

2.1. Neoplasias...................................................................................................

2.2. O câncer ......................................................................................................

2.3. O câncer infanto-juvenil................................................................................

2.4. A hospitalização ..........................................................................................

2.5. O enfrentamento .........................................................................................

2.6. Enfrentamento de familiares diante do câncer infanto-juvenil ......................

2.6.1. Estratégias de enfrentamento evidenciadas na literatura internacional e

nacional ..............................................................................................................

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3. OBJETIVOS ................................................................................................... 33

3.1. Geral ........................................................................................................... 33

3.2. Específicos ................................................................................................ 33

4. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................. 34

4.1. Aspectos éticos ......................................................................................... 34

4.2. Tipo de estudo .......................................................................................... 34

4.3. Local e período de realização do estudo ................................................. 35

4.4. Participantes do estudo ............................................................................

4.4.1. Critérios de inclusão .................................................................................

4.4.2. Critérios de exclusão ................................................................................

4.5. Coleta de dados .........................................................................................

4.5.1. Intrumentos ............................................................................................

4.5.1.1. Entrevista semiestruturada ....................................................................

4.5.1.2. Escala de Modos de Enfrentamento de Problemas (EMEP) ..................

4.5.1.3. Questionário sociodemográfico .............................................................

4.5.2. Variáveis do estudo ................................................................................

4.5.2.1. Variáveis sociodemográficas dos familiares ..........................................

4.5.2.2. Variáveis do paciente ............................................................................

4.5.2.3. Variáveis de enfrentamento ...................................................................

4.5.3. Materiais ..................................................................................................

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4.6. Análise dos dados .....................................................................................

4.6.1. Análise da entrevista semiestruturada ......................................................

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4.6.2. Análise dos questionários – EMEP e sociodemográfico ........................... 42

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO .....................................................................

5.1. Entrevista semiestruturada ......................................................................

5.1.1. Caracterização dos familiares ..................................................................

5.1.2. Caracterização dos pacientes (criança/adolescente) ...............................

5.1.3. Desvelamento fenomenológico ................................................................

5.1.3.1. O câncer ................................................................................................

5.1.3.2. A tristeza ...............................................................................................

5.1.3.3. A fé ........................................................................................................

5.1.3.4. A família ................................................................................................

5.1.3.5. A equipe do hospital ..............................................................................

5.2.3.6. O hospital ..............................................................................................

5.2.3.7. Síntese compreensiva ...........................................................................

5.2. Estatística dos questionários – EMEP e sociodemográfico ..................

5.2.1. Caracterização dos familiares ..................................................................

5.2.2. Caracterização dos pacientes (criança/adolescente) ...............................

5.2.3. Testes estatísticos ....................................................................................

6. CONCLUSÕES ..............................................................................................

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................

REFERÊNCIAS .................................................................................................

APÊNDICES ......................................................................................................

APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE...............

APÊNDICE B – Roteiro para entrevista semiestruturada ...................................

APÊNDICE C – Questionário sociodemográfico ................................................

ANEXOS ............................................................................................................

ANEXO A – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa .......................................

ANEXO B – Carta de anuência ...........................................................................

ANEXO C – Escala de Modos de Enfrentamento de Problemas (EMEP) ...........

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1. INTRODUÇÃO

O conceito primordial de saúde, proveniente do pensamento grego antigo,

atribuía ao ser humano que tinha um corpo saudável a consequência de obter uma

mente sã. Com a industrialização, ter saúde passou a ser compreendido como um

estado de ausência de afecções e enfermidades (SCHWARTZ, 2001). Somente em

1946, a Organização Mundial de Saúde (OMS) amplia esta definição, passando, por

sua vez, a ser entendida como um completo bem-estar físico, mental e social

(SARLET, 2012).

Por conseguinte, essa evolução revela a imprescindibilidade da formação e

atuação de equipes multidisciplinares de saúde capazes de desenvolverem atitudes,

diálogos e competências firmados na transdisciplinaridade e interdisciplinaridade,

uma vez que, o ser humano não é apenas um corpo físico, nem tampouco só

consciência ou exclusivamente emoção. Ponderar esses aspectos isoladamente é

relegar a um segundo plano o todo e a integridade, que devem ser foco permanente

dos profissionais que lidam com a saúde (MENEZES; MORÉ; BARROS, 2008).

Como todas as enfermidades, o câncer é uma patologia que necessita dessa

atuação e visão interdisciplinar por parte dos profissionais de saúde. Em 2030, a carga

global estimada será de 21,4 milhões de casos novos de câncer, e 13,2 milhões de

mortes por câncer (INCA, 2014).

No Brasil, assim como em outros países, o câncer já representa a primeira

causa de morte (7% do total) por doença entre crianças e adolescentes de 1 a 19

anos, em todas as regiões (INCA, 2016). Os tumores mais frequentes na infância e

na adolescência além das leucemias (que afeta os glóbulos brancos), são os do

sistema nervoso central e linfomas (sistema linfático) (INCA, 2012).

Diante do surgimento do câncer infanto-juvenil, os familiares passam a conviver

com um misto de sentimentos, como culpa, negação, medo, confusão, raiva, desgosto

e angústia (ABRALE, 2006). Estudo realizado por Norberg et al. (2012), mostra que

os responsáveis pelo cuidado da criança são os mais afetados com o diagnóstico da

doença, podendo apresentar sintomas físicos e emocionais como a perda do controle,

da autoestima, depressão e ansiedade, além de apresentarem maior risco de

desenvolver doenças mentais.

Além do diagnóstico da doença, a hospitalização é uma experiência

estressante, dadas as situações em que ela ocorre, e envolve profunda adaptação do

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paciente às várias mudanças decorrentes do processo de internação,

independentemente de sua idade. A internação imediata, a separação de casa e do

convívio familiar, além dos procedimentos terapêuticos que, muitas vezes, agridem o

paciente física e emocionalmente, são fatores desestruturantes tanto para a criança e

adolescente quanto para os demais membros da família (SANTOS et al., 2014).

Uma forma de conduzir esse evento complexo é compreender como as famílias

enfrentam e suportam os problemas surgidos diante de uma doença grave, levando

em conta também a percepção de cada membro da mesma em relação ao câncer,

suas fantasias e dificuldades em acostumar-se com isto (PENNA, 2004).

Enfrentamento é a tradução do termo inglês coping, definido como o esforço de

comportamento e cognição do indivíduo voltado para manobrar um acontecimento

estressante, fazendo-o entender quais os fatores que irão influenciar o resultado final

do processo (FOLKMAN, 2011). Para isso, é preciso que o indivíduo seja resiliente,

ou seja, capaz de superar e ressignificar de forma positiva as situações adversas,

manejando a doença e o tratamento ao logo do tempo (PAULA JÚNIOR; ZANINI,

2011).

São cinco as principais funções do enfrentamento. A primeira versa sobre

diminuir as condições ambientais que acarretem dano; a segunda faz referência a

aceitar eventos ou realidades negativas, procurando a adaptação aos mesmos; a

terceira visa manter uma autoimagem positiva em relação ao evento adverso; a quarta

sugere a manutenção do equilíbrio emocional; a quinta reporta-se à conservação de

relacionamentos satisfatórios com os outros (GIMENES, 2003).

Espera-se contribuir para a solidificação de um corpo de conhecimentos

próprios a respeito do processo de enfrentamento dos familiares ou responsáveis de

crianças e adolescentes com câncer hospitalizados, além de proporcionar aos

profissionais de saúde uma visão holística do cliente e de sua família, possibilitando a

humanização da assistência.

Conforme Penna (2004), as famílias influenciam grandemente no curso da

doença no paciente e são decisivas para que ele possa usar meios para adaptar-se

de forma mais eficiente dentro de suas alternativas e limites. Portanto, ao ajudar a

família, atua-se para melhorar o prognóstico e a qualidade de vida do paciente. Além

disso, pesquisas relacionadas ao impacto acarretado pelo diagnóstico e tratamento

do câncer infanto-juvenil nos cuidadores, principalmente os pais, são escassas no

Brasil.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Neoplasias

O ser humano possui um organismo multicelular em que, todos os dias,

milhares de células morrem e outras são geradas para preencher o espaço que ficou

(WEINBERG, 2013). Essa proliferação celular pode ser controlada ou não controlada

(FIGURA 1).

No crescimento controlado, há um aumento local e autolimitado do número de

células, geralmente ocasionados por estímulos fisiológicos ou patológicos. As

mesmas apresentam normalidade ou possuem poucas alterações na forma e função,

podendo ser iguais ou diferentes do tecido onde se instalam. O efeito é reversível após

o término dos estímulos que o provocaram. Em contrapartida, o crescimento não

controlado é quase autônomo e perdura após o término desses estímulos. As

neoplasias equivalem a essa forma não controlada de propragação da célula e, de

praxe, são chamadas de tumores (INCA, 2011a).

As neoplasias podem ser benignas ou malignas. A neoplasia ou tumor benigno

possui um crescimento organizado, geralmente lento e apontam limites bem definidos.

Já a maligna manifesta um maior grau de autonomia e é capaz de invadir tecidos

vizinhos e provocar metástases (transferência para outro local), a essas denominamos

cânceres (INCA, 2011a).

Figura 1 - Fluxograma mostrando a proliferação celular do organismo humano.

Fonte: Elaborado pela autora.

PROLIFERAÇÃO CELULAR

Não controlada

Neoplasia benigna

Neoplasia maligna

(CÂNCER)

ControladaProcesso natural do

organismo

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2.2. O câncer

Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 tipos diferentes de

doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células anormais com

potencial invasivo. Sua origem se dá por condições multifatoriais. Os fatores causais

podem agir em conjunto ou em sequência para iniciar ou promover o câncer, de

acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA, 2014).

A carcinogênese, formação do câncer, em geral ocorre lentamente podendo

levar vários anos para que uma célula cancerosa prolifere e dê origem a um tumor

vísível, passando por vários estágios, como mostra a Figura 2. Na fase de iniciação,

as células sofrem o efeito dos carcinógenos que provocam modificações em alguns

de seus genes. No estágio de promoção, as células geneticamente modificadas,

sofrem ação do agente oncopromotor, transformando-se em célula maligna,

lentamente e gradualmente. Porém, para que ocorra essa alteração, é imprescindível

um longo e continuado contato com o agente cancerígeno promotor (como exemplos

pode-se citar componentes da alimentação, exposição excessiva e prolongada a

hormônios, fumo). Caso contrário, interrompe-se o processo nesse estágio. O terceiro

e último momento, a progressão, caracteriza-se pela multiplicação descontrolada e

irreversível das células alteradas, surgindo a instalação do câncer (WEINBERG,

2013).

Figura 2 - Fluxograma evidenciando o processo de carcinogênese.

Fonte: Elaborado pela autora.

•Genes sofrem ação de agentes

cancerígenos

INICIAÇÃO

•Agente oncopromotor atua

na célula já alterada

PROMOÇÃO

•Multiplicação descontrolada e irreversível da

célula

PROGRESSÃO

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A presença dos agentes cancerígenos, por si só, não pode ser atribuída pelo

desenvolvimento dos tumores. Devem ser ponderadas, no entanto, as características

individuais, que facilitam ou dificultam a instalação do dano celular (INCA, 2011a).

Nas últimas décadas, o câncer converteu-se em problema de saúde pública

mundial. Percebe-se que, no Brasil, o perfil das enfermidades que acometem a

população tem sofrido mudanças. A partir de 1960, as doenças infecciosas e

parasitárias deixaram de ser a principal causa de morte, sendo substituídas pelas

doenças do aparelho circulatório e pelas neoplasias (INCA, 2011b).

Dados do INCA (2016) estimam para os anos de 2016 e 2017 mais de 596 mil

casos novos de câncer no país. Do total, 107.180 mil são estimados para a região

Nordeste do Brasil, sendo o de próstata mais prevalente entre homens (61,82%) e o

de mama entre mulheres (56,20%). O impacto do câncer na população corresponderá

a 80% entre os países em desenvolvimento dos mais de 20 milhões de casos novos

estimados para 2025. Além disso, a nova estimativa trouxe alguns fatores de risco

atribuíveis ao câncer, dentre eles a alimentação ocupa o primeiro lugar (35%), como

mostra a Figura 3.

Figura 3 - Gráfico evidenciando a fração atribuível aos principais fatores de risco do

câncer.

Fonte: INCA (2016).

35%

30%

10%

7%

4%

3%

3%1%

7%

Alimentação

Tabaco

Infecção

Comportamento Sexual

Exposição ocupacional

Exposição ao sol

Álcool

Radiação

Outras causas

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2.3. O câncer infanto-juvenil

Conforme indicações do INCA (2011b), o câncer infanto-juvenil deve ser

estudado separadamente do câncer do adulto, por apresentar diferenças em relação

aos locais primários, às origens histológicas e ao comportamento clínico. Os tumores

infanto-juvenis crescem rapidamente e são mais invasivos, porém respondem melhor

ao tratamento e são considerados de bom prognóstico nessa faixa etária.

Para os tumores infanto-juvenis não existem evidências científicas que

permitam observar claramente a associação de fatores externos com o surgimento da

neoplasia maligna. A etiologia do câncer na infância é pouco conhecida,

principalmente por sua raridade, o que limita o poder estatístico de alguns estudos.

Devido a seu curto período de latência, a exposição durante a vida intrauterina

constitui-se no fator de risco mais conhecido para a sua origem (INCA, 2012).

Estima-se que ocorrerão cerca de 12.600 casos novos de câncer em crianças

e adolescentes no Brasil, por ano, em 2016 e em 2017. As regiões Sudeste e Nordeste

apresentarão os maiores números de casos novos, 6.050 e 2.750, respectivamente,

seguidas pelas regiões Sul (1.320), Centro-Oeste (1.270) e Norte (1.210) (INCA,

2016).

Nas últimas quatro décadas, o progresso no tratamento do câncer na infância

e na adolescência foi extremamente significativo. Atualmente, cerca de 70% das

crianças e adolescentes acometidos de câncer podem ser curados, se diagnosticados

precocemente e tratados em centros especializados. A maioria deles terá boa

qualidade de vida após o tratamento adequado (INCA, 2011b).

Por isso, a importância da detecção precoce está ligada à sua interferência nas

chances de sobrevida dos pacientes. A desinformação de pais e médicos, o medo do

diagnóstico de câncer que pode levar à negação dos sintomas, os problemas de

organização da rede de serviços e o acesso desigual às tecnologias diagnósticas

contribuem para atrasos nos diagnósticos, como também, o fato de muitas crianças

manterem seu estado de saúde inalterado no início da doença, bem como a

manifestação de alguns tumores serem muito semelhante a diferentes doenças

comuns na infância, representam obstáculos no diagnóstico precoce (INCA, 2012).

Esse tipo de neoplasia maligna varia de acordo com a histologia, localização

primária do tumor, etnia, sexo e idade. Pode, dessa forma, ser dividida em grupos de

acordo com a Classificação Internacional do Câncer na Infância (CICI) (INCA, 2008),

conforme o Quadro 1.

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Quadro 1 - Grupos da Classificação Internacional do Câncer na Infância – CICI.

Grupo I Leucemias Esse grupo de neoplasias corresponde às categorias: I.a. Leucemia linfóide; I.b. Leucemia não linfocítica aguda; I.c. Leucemia mielóide crônica; I.d. Outras leucemias especificadas; I.e. Leucemias não especificadas.

Grupo II Linfomas e neoplasias retículo-endoteliais

Esse grupo de neoplasias corresponde às categorias: II.a. Doença de Hodgkin (DH); II.b. Linfomas não-Hodgkin (LNH); II.c. Linfoma de Burkitt; II.d. Miscelânias de neoplasias linfo-reticulares e II.e Linfomas não especificados.

Grupo III Tumores de sistema nervoso central e

miscelânia de neoplasias intracranianas e intra-

espinais

Esse grupo de neoplasias corresponde às categorias: III.a. Ependimoma; III.b. Astrocitoma; III.c. Tumores neuroectodérmicos primitivos; III.d. Outros gliomas; III.e. Outras neoplasias intracranianas e intra-espinhais especificadas e III.f. Neoplasias intracranianas e intra-espinhais não especificadas.

Grupo IV Tumores do sistema nervoso simpático

Esse grupo de neoplasias corresponde às categorias: IV.a. Neuroblastoma e ganglioneuroblastoma e IV.b. Outros tumores do sistema nervoso simpático.

Grupo V Retinoblastoma O retinoblastoma (RB), tumor intra-ocular maligno, pode ocorrer de forma familial ou esporádica.

Grupo VI Tumores renais Esse grupo de neoplasias corresponde às categorias: VI.a. Tumor de Wilms, tumor rabdóide e sarcoma de células claras; VI.b. Carcinoma renal e VI.c. Tumores renais malignos não especificados.

Grupo VII Tumores hepáticos Esse grupo de neoplasias corresponde às categorias: VII.a. Hepatoblastoma, VII.b. Hepatocarcinoma e VII.c. Tumores hepáticos malignos não especificados.

Grupo VIII Tumores ósseos malignos Esse grupo de neoplasias corresponde às categorias: VIII.a. Osteossarcoma; VIII.b. Condrossarcoma; VIII.c. Sarcoma de Ewing; VIII.d. Outros tumores ósseos malignos específicos e VIII.e. Tumores ósseos malignos não especificados.

Grupo IX Sarcomas de partes moles Esse grupo de neoplasias corresponde às categorias: IX.a. Rabdomiossarcoma e sarcoma embrionário; IX.b. Fibrossarcoma, neurofibrossarcoma e outras neoplasias fibromatosas; IX.c. Sarcoma de Kaposi; IX.d. Outros sarcomas de partes moles especificados e IX.e. Sarcomas de partes moles não especificados

Grupo X Neoplasias de células germinativas, trofoblásticas

e outras gonadais

Esse grupo de neoplasias corresponde às categorias: X.a. Tumores de células germinativas intracranianas e intra-espinhais; X.b. Outros tumores de células germinativas não gonadais e tumores de células germinativas não gonadais não especificados; X.c. Tumores de células germinativas gonadais; X.d. Carcinomas gonadais e X.e. Outros tumores gonadais malignos e tumores gonadais não especificados.

Grupo XI Carcinomas e outras neoplasias malignas

epiteliais

Esse grupo de neoplasias corresponde às categorias: XI.a. Carcinoma de córtex adrenal; XI.b. Carcinoma de tiróide; XI.c. Carcinoma de nasofaringe; XI.d. Melanoma maligno; XI.e. Carcinoma de pele e XI.f. Outros carcinomas e carcinomas não especificados.

Grupo XII Outros tumores malignos não especificados

Esse grupo de neoplasias corresponde às categorias: XII.a. Outros tumores malignos especificados e XII.b. Outros tumores malignos não especificados.

Fonte: (INCA, 2008).

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A leucemia linfoblástica aguda é o tipo de câncer mais comum na infância. Nas

últimas décadas, houve uma considerável progressão no tratamento das leucemias.

Em virtude das divergências no acesso ao tratamento, observa-se uma considerável

diferença entre populações com relação à sobrevida. Entre a população masculina

dos Estados Unidos e da Europa Ocidental, a sobrevida em cinco anos é de 43%,

enquanto, para o Japão, observa-se uma sobrevida de 25%; na América do Sul, 24%;

na Índia, 19%; na Tailândia, 15%; e na África subsaariana, 14%. Em áreas com acesso

a tratamentos, a sobrevida relativa em cinco anos, em crianças, alcança 80% (INCA,

2014).

2.4. A hospitalização

Quando um integrante da família fica doente, todos os outros são afetados, o

que com frequência gera tensão, estresse e fadiga dentro do contexto familiar,

principalmente entre aqueles responsáveis pela realização dos cuidados (DI PRIMIO

et al., 2010). Para Silva et al. (2014), famílias que experienciam uma doença crônica

na infância vivenciam modificações na rotina de seus membros.

A família é o vínculo mais próximo da criança e do adolescente, com quem

podem contar para o sobrepujamento das dificuldades e ânimo nos momentos

complexos (MACHADO et al., 2015). Percebendo-se a eficácia para o tratamento da

criança ou adolescente em regime de internamento, a presença de um membro

familiar em tempo integral no contexto hospitalar foi promulgada, no Brasil, em 13 de

julho de 1990 pela Lei 8069, que regula o Estatuto da Criança e do Adolescente -ECA

(SANTOS et al., 2011). As crianças e adolescentes que possuem alguém em quem

confiar ao seu lado durante a internação absorvem diversos sentimentos emitidos por

esta pessoa, como amor, segurança e confiança, influenciando diretamente em

respostas satisfatórias para a doença e diminuição do tempo de estada no hospital

(LAPA; SOUZA, 2011).

Porém, essa permanência constante junto à criança e adolescente

hospitalizados não é uma experiência simples, dado que o familiar precisa submeter-

se a um novo ambiente, o hospitalar, além do desgaste emocional ocasionado pelo

adoecimento (SILVA et al., 2014). Logo, tanto a criança ou adolescente como a sua

família demandam cuidados da equipe de saúde (MACHADO et al., 2015).

Os efeitos da hospitalização transcendem a doença e acabam alterando o

cotidiano e a estrutura familiar. Além das inúmeras dificuldades enfrentadas com a

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situação da doença, os pais ainda lidam com as questões econômicas devido aos

grandes gastos, como passagens de ônibus, alimentação e hospedagem. A renda

familiar, muitas vezes, fica reduzida, pois um membro acaba assumindo os cuidados

da criança (DUARTE; ZANINI; NEDEL, 2012).

As famílias sentem-se ameaçadas, inseguras e desconfortáveis com a situação

de não poder trabalhar e arcar com os custos do tratamento. Muitas delas vem do

interior do estado e ainda defrontam-se com gastos como o de hospedagem e

transporte (JESUS et al., 2010).

Cada organização familiar apresenta suas próprias características, suas

maneiras de agir e enfrentar a descoberta do câncer e a hospitalização do filho, pois

são seres únicos, devendo ser respeitados e compreendidos na sua maneira de ser

(DUARTE; ZANINI; NEDEL, 2012). Dessa forma, a família torna-se um elemento

essencial para o qual os profissionais de saúde devem voltar sua atenção, pois o

advento de uma doença e a consequente hospitalização de um de seus membros

ativam as suas necessidades (SANTOS, 2013). Por conseguinte, o que pode fazer a

diferença no resultado de adaptação do indivíduo é o coping, ou seja, o enfrentamento

da situação. O que significa que o mesmo está tentando superar o que está lhe

causando estresse (FOLKMAN, 2011).

2.5. O enfrentamento

Historicamente, segundo Folkman (1984), os enfoques tradicionais de coping

surgiram em duas literaturas separadas e distintas: na experimentação animal, que

define a expressão como os atos que controlam condições aversivas e assim reduzem

o impulso ou a ativação, com uma ênfase no comportamento de fuga e esquiva; e na

tradição da psicologia ego-pisicanalista, pelo qual o coping é geralmente concebido

como uma hierarquia de estratégias que progridem a partir de mecanismos de defesa

imaturos ou primitivos que distorcem a realidade, até mecanismos maduros.

Dessa forma, pode-se compreender o enfrentamento como processo existente

entre pessoa e ambiente, significando que esse manejo depende de características

pessoais, ambientais e sociais, ou seja, não é apenas um processo individual e

isolado, mas, sim, contextual e de interação indivíduo-meio (SANTOS, 2013).

Folkman (2011) leva em consideração o componente cognitivo para a avaliação

da situação estressante. Esse é baseado em um processo mental de como o indivíduo

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avalia a situação, e esta análise vai determinar o nível de estresse e as estratégias de

enfrentamento únicas que o indivíduo partilha.

Segundo origens históricas, existem dois tipos de enfrentamento, o primário e

o secundário. O primeiro diz respeito a quando o indivíduo faz uma avaliação

consciente do problema, avaliando se ele é um perigo ou uma perda, uma ameaça ou

um desafio. O secundário ocorre quando o indivíduo se pergunta “o que eu posso

fazer?” ao avaliar os recursos de enfrentamento ao seu redor. Estes incluem métodos

físicos, tais como saúde ou energia disponível, artifícios sociais (família e amigos

disponíveis com os quais podem contar para darem apoio), mecanismos psicológicos,

que incluem autoestima e autoeficácia, e recursos materiais, podendendo ser

representados pelo dinheiro ou equipamentos disponíveis para uso (FOLKMAN,

1984).

Ao avaliar-se o coping pela perspectiva do adoecimento, percebe-se que esta

ocasião também é considerada pelos sujeitos como um evento estressor. Logo os

indivíduos passam a desenvolver suas habilidades (físicas e psicológicas), tentando

gerenciar a situação aversiva de acordo com as especificidades da fonte estressora

(SANTOS, 2013).

O processo de enfrentamento relacionado ao adoecimento pode ser dividido

em três aspectos: médicos, socioculturais e individuais. Os aspectos médicos

correspondem aos eventos clínicos, diagnósticos, prognósticos, tipo e curso do

tratamento e as ações propostas pela equipe de saúde; os aspectos socioculturais

englobam os recursos disponíveis, as atitudes, estigma, significado da doença e

suporte social, como família, amigos e grupos; por fim, os aspectos individuais

relacionam-se ao paciente, como capacidade para lidar com situações limítrofes, a

experiência de enfrentamento prévia com outras doenças, os valores morais,

religiosos e crenças (TAVARES; TRAD, 2010). Esses fatores estão, de maneira geral,

presentes também na família, pois a mesma constitui-se em um sistema

interdependente, em que as influências são mútuas e os modos de lidar com a

situação desse contexto caracterizam suas relações.

2.6. Enfrentamento dos familiares diante do câncer infanto-juvenil

Quando se fala de enfrentamento diante de um processo saúde-doença, temos

que relacioná-lo com a família que vivencia situações conflituosas e enfermidades

crônicas que podem culminar com a morte de um familiar (BECK; LOPES, 2007).

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Destarte, o tipo de estratégia a ser utilizado dependerá de como a família estrutura-se

diante do diagnóstico do agravo de saúde, o tipo da patologia e dos percursos que irá

confrontar perante a hospitalização de seu familiar (SANTOS, 2013).

O câncer funciona, muitas vezes, como um fator de desestruturação do meio

familiar, uma vez que a sua descoberta provoca sofrimento no cuidador e uma

repentina alteração na rotina doméstica, como, por exemplo acompanhar a criança

em procedimentos agressivos e internações, aliado ao sentimento de impotência,

medo da morte e possíveis recidivas (ANDRADE et al., 2014). Além disso, a

fragilização e o sofrimento causados pela doença tornam a criança mais dependente,

o que exige da pessoa que cuida, em especial do cuidador principal, maior gasto de

energia incidindo diretamente em perda de sua qualidade de vida (BECK; LOPES,

2007).

Estudo realizado por Silva et al. (2010) revela que as principais dificuldades

conferidas aos familiares diante do câncer infanto-juvenil são financeiras e de

transporte, considerando que o tratamento da doença crônica requer internações

periódicas e acompanhamento contínuo. O seu enfrentamento exige da família mais

do que disponibilidade de tempo, pois requer dedicação, reorientação das finanças,

reorganização de tarefas e todo o empenho dispensado a um de seus membros na

tentativa de reorganizar a vida, a partir dessa nova circunstância. Outro fator é o

distanciamento dos membros da família e conflitos intrafamiliares, devido à

necessidade de hospitalizações frequentes, as mesmas se distanciam dos outros

membros do núcleo familiar que ficaram em casa.

Diante das complexidades impostas sejam emocionais ou de outro cunho, é

pertinente que cada família siga estratégias de enfrentamento para nortear ou

minimizar seu sofrimento diante do problema em questão. Dentre essas estratégias

podendo-se citar: uso de distração, resignação, isolamento social, autocontrole,

assistir a filmes, praticar atividades físicas, utilizar medicação antidepressiva, adotar

comportamentos de esquiva e fuga, uso de relaxamento, expressão de emoções e

protesto, investimento em autoestima, culpabilidade de si ou de outros e uso de

substâncias psicotrópicas (BECK; LOPES, 2007).

2.6.1. Estratégias de enfrentamento evidenciadas na literatura internacional e nacional

Desde o diagnóstico de uma enfermidade com estigma, como o câncer, todos

os envolvidos enfrentam várias rupturas, limitações e privações (COLESANTE et al.,

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2015). O processo de enfrentamento do adoecimento da criança ou adolescente, na

maioria das vezes, é permeado por sentimentos de culpa, impotência, fracasso,

estranhamento, raiva e punição (LJUNGMAN et al., 2014). Para os cuidadores a

experiência é dolorosa, sombria e com sensação de perda constante (SANCHES;

NASCIMENTO; LIMA, 2013).

De acordo com Best et al. (2001), estudos que acompanham os familiares de

crianças que são pacientes em tratamento de câncer tem permitido a identificação de

padrões de ajustamento familiar ao tratamento, incluindo a possibilidade de se apontar

preditores do desenvolvimento de determinadas estratégias de enfrentamento ao

longo do tratamento. Desta forma, delineamentos longitudinais de pesquisa podem

proporcionar a implementação de programas mais eficientes de intervenção para pais

e demais familiares, e prevenir efeitos adversos sobre os processos de

desenvolvimento e dinâmica familiar.

Trask et al. (2003) investigaram a relação entre ajustamento e enfrentamento

em famílias de adolescentes que tratavam câncer. Os autores consideraram as

estratégias de enfrentamento como adaptativas (planejamento, colaboração com

procedimentos médicos, engajamento no tratamento) ou estratégias mal-adaptativas

(comportamento de esquiva e fuga, e esforços generalizados para retirar-se do

contexto hospitalar). Os resultados apontaram maiores indicadores de sofrimento

quando estratégias adaptativas de enfrentamento não eram adotadas. Observou-se,

também, uma correlação positiva entre ajustamento parental e dos adolescentes e um

maior uso de estratégias de enfrentamento adaptativas.

Brody e Simmons (2007) destacam que a maior parte dos estudos sobre o

tratamento onco hematológico pediátrico focaliza o impacto psicológico para as mães

dos pacientes, sendo que poucos trabalhos investigam a percepção dos pais a

respeito do diagnóstico e tratamento. As autoras investigaram, por meio de entrevista,

recursos utilizados por pais para adaptação ao tratamento; elas destacam que o

suporte social advindo da família, de colegas de trabalho, de comunidades religiosas

e dos profissionais de saúde é referido como essencial à adaptação ao contexto de

tratamento, bem como para o reforço de laços familiares. A comunicação dos pais

com outros membros da família e com profissionais da equipe de saúde também foi

um elemento essencial para a compreensão do diagnóstico e do tratamento, e

posterior explicação aos filhos. Os principais desafios relatados pelos participantes

incluíram o medo da possibilidade de recaída e os esforços para manter-se calmo

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durante a manifestação de efeitos colaterais da medicação e exposição a

procedimentos médicos invasivos.

O estudo de Gerhardt et al. (2007) teve como objetivo comparar medidas de

ajustamento psicológico entre pais de crianças após 18 meses de tratamento onco-

hematológico e pais de crianças saudáveis, por meio do uso de inventários. Os

resultados mostraram que as mães de crianças com câncer relataram

significativamente mais ansiedade, menos conflitos familiares e redes de suporte

social mais desenvolvidas, quando comparadas às mães de crianças saudáveis. Os

relatos dos pais não diferiram entre os dois grupos.

Estudo realizado por Costa et al. (2014), sobre o contexto de mães de crianças

com câncer internadas revelou uma tendência de os familiares buscarem a religião

como recurso para aliviar seus medos e tensões perante a dura realidade do

adoecimento, hospitalização e perspectiva de morte. Outro aspecto importante é que

a criança estando em fase de crescimento e desenvolvimento, necessita de estímulos,

atenção, carinho, compreensão e proteção, principalmente, nesse período, quando

apresenta-se doente. Com isto, as estratégias utilizadas pelos familiares no cuidado

com a mesma são: procurar tranquilidade para não interferir de forma negativa no

tratamento, dar muito amor, carinho e atenção aos filhos.

Em outro estudo realizado por Sanches, Nascimento e Lima (2013), sobre a

experiência de familiares no cuidar de crianças e adolescentes com câncer percebeu-

se que a doação da família mostrou-se crescente, com interrupção das demandas

individuais em prol do cuidar exclusivo da criança ou do adolescente enfermo. E que,

em virtude disso, sentem necessidade da presença de todos os membros da família,

da equipe de saúde e de pessoas próximas para poder dividir os momentos de

sofrimento, angústias e tristezas.

O mesmo destacou também a fé e a crença religiosa e espiritual entre os apoios

mais importantes e necessários no enfrentamento do processo de adoecimento.

Complementando esse achado, estudo de Faria e Cardoso (2010), constatou que a

crença em Deus se manifesta de duas diferentes formas: tendo fé em Deus, mas

também responsabilizando-o, ou seja, entregando a situação à vontade de Deus.

Dados obtidos por Dantas et al. (2015) em um estudo sobre aspectos sociais e

religiosos como estratégias de enfrentamento familiar no diagnóstico da leucemia,

evidenciaram que o processo de aceitação vem acompanhado com esse apego

religioso, fazendo com que isso torne os familiares mais fortes para superar o

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sentimento de dor. A religião é fonte de força, esperança, otimismo e esperança na

cura do filho.

Um fator que dificulta o processo de enfrentamento pela família apontado

também no estudo de Sanches, Nascimento e Lima (2013) é o fato de a comunicação

entre a equipe de saúde e os membros familiares mostrar-se confusa, ambígua ou

não realizada no que diz respeito ao percurso do processo de doença. Uma vez que,

as mesmas sentem a necessidade de receber informações reais e objetivas sobre as

condições de saúde da criança e adolescente.

Dittz, Mota e Sena (2008) em seu estudo, também destacam a importância do

cuidador receber o acompanhamento dos profissionais, tanto da enfermagem como

de outros membros da equipe multidisciplinar, já que a permanência no hospital gera

ansiedade, e esses profissionais podem auxiliá-lo na diminuição dessa emoção que,

muitas vezes, é decorrente das intensas relações de cuidado que envolve uma

hospitalização.

Ainda sobre as informações de saúde transmitidas pelos profissionais de saúde

aos familiares ou responsáveis, Ayoub (2000), em seu estudo sobre a gradação na

informação sobre a doença, a qualidade da informação passada pela equipe de

saúde, a disposição do próprio paciente e acompanhante para receber essa

informação, destaca uma dificuldade dos familiares, em especial os pais, em receber

a notícia e informações sobre a doença.

O apoio social também foi destacado no estudo de Sanches, Nascimento e

Lima (2013) como uma forma de compartilhar o sofrimento diante do câncer infanto-

juvenil, ocorrendo principalmente entre os membros mais próximos da família como

os pais, filhos e marido. Outro estudo realizado por Di Primo (2010) fala da importância

desse elo familiar, da integração entre os membros da família no intuito de manter um

bom equilíbrio na dinâmica familiar.

Dittz, Mota e Sena (2008), discute sobre a importância do relacionamento da

família com os cuidadores, apontando para o fato que são eles que lidam a maior

parte do tempo com a criança e que, mesmo assim, apresentam uma enorme

dificuldade relacionada ao cuidado delas, sobretudo no ambiente hospitalar onde

apresentam nível de ansiedade elevado, configurando um momento em que os

cuidadores se sentem impotentes e o nervosismo, na maioria das vezes, atrapalha o

bom andamento do tratamento e do manejo do paciente. Os cuidadores, geralmente,

sentem-se impossibilitados a realizar cuidados básicos, por medo de fazer algo

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errado, configurando assim a importância do diálogo e bom andamento do

relacionamento com a equipe, tendo em vista que essa informação viabiliza até

mesmo o processo de aceitação da família frente à doença, a segurança da criança

que está sendo cuidada.

Apoio social pode ser visto como “um processo de interação entre pessoas ou

grupos de pessoas, que através do contato sistemático estabelecem vínculos de

amizade e de informação, recebendo apoio material, emocional, afetivo, contribuindo

para o bem estar recíproco e construindo fatores positivos na prevenção e

manutenção da saúde. O apoio social realça o papel que os indivíduos podem

desempenhar na resolução de situações cotidianas em momentos de crise”

(PIETRUKOWICZ, 2001).

Com relação às características do apoio social, tem-se: atributos, antecedentes

e consequências. Dentre os atributos pode-se citar: apoio emocional, instrumental, de

informação e de reforço. Como antecedentes encontram-se: rede social, engajamento

social e clima social. E, dentre as consequências, constata-se: o aumento da

autoestima, melhores formas de lidar com a doença, ampliação do conhecimento e

entendimento da doença, bem como ajuda de outros familiares a examinar e

interpretar a situação mais apropriadamente (MURRAY, 2002).

Estudo realizado por Rosaleen (2003) averiguou que, após o recebimento do

diagnóstico, a família começa a procurar e a receber os diversos tipos de apoio social,

os quais favorecem seu ajuste nessa trajetória, porém a oferta de apoio tende a

diminuir ao longo do tempo devido a duração do tratamento. Em outros concretizados

por Neil-Urban e Jones (2002) e Norberg, Lindblad e Boman (2006), pode-se constatar

que geralmente os homens sofrem mais isolamento e recebem menos apoio social

que as mulheres, isso pode dever-se ao fato de essas demonstrarem um nível maior

de ansiedade, motivo pelo qual procuram mais apoio do que os homens.

Em um estudo sobre o suporte social de pais de crianças com leucemia

realizado por Mcgrath (2001), pode-se afirmar que entre as fontes de apoio oferecidas

aos mesmos, destacam-se os parceiros, demais membros familiares, amigos,

empregados, equipe do hospital e outros pais que vivenciam a mesma situação. Como

sugestões de apoio à família, o mesmo elucidou: prover assistência por meio de

voluntários treinados, envolver pessoas que guiem as famílias nos estágios iniciais do

tratamento e dar oportunidade para que elas conheçam crianças que obtiveram

sucesso no tratamento, bem como desenvolver grupos de apoio aos pais.

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Sobre o ambiente hospitalar, Dittz, Mota e Sena (2008) e Milanesi et al. (2006)

concordam que o ambiente hospitalar propicia o aumento da tensão e ansiedade tanto

nos pacientes como nos cuidadores, que se deparam com uma série de mudanças,

normas e regras que lhe são impostas.

Estudo sobre percepções de familiares de pessoas portadoras de câncer sobre

encontros musicais durante o tratamento neoplásico realizado por Silva, Marcon e

Sales (2014), comprovou que o encontro mediado pela música promove a abertura do

ser para o diálogo e o vínculo entre enfermeiro, cliente e família, ampliando as

possibilidades de interação entre os sujeitos envolvidos no processo de cuidar das

pessoas que convivem com o câncer e subsidiando aos familiares/ acompanhantes a

elaboração de estratégias de enfrentamento e a transcendência de suas vicissitudes.

Almico e Faro (2014) realizaram um estudo sobre o enfrentamento de

cuidadores de crianças com câncer em processo de quimioterapia e identificaram que

três tipos de enfrentamento: Esforço e dedicação no ato do cuidado, que abarca a

resignação e abnegação resultantes do esforço, dedicação e sofrimento das

cuidadoras junto ao seu filho doente, a fim de promover o bem-estar físico, emocional

e psicológico destes; Religiosidade como fonte de conforto e segurança para lidar com

a enfermidade do filho, como estratégia de adaptação e manejo frente a situações de

estresse diário; Impacto do cuidado no dia a dia e a medicalização do sofrimento, que

mostrou os conteúdos relativos à necessidade de regulação do estado

emocional/psicológico dos cuidadores e ao sofrimento inerente à situação de

adoecimento de seus filhos.

A percepção dos familiares cuidadores sobre o tratamento quimioterápico em

crianças e adolescentes identificada em estudo realizado com 10 familiares por Kanda

et al. (2014), mostrou ambiguidade de sentimentos frente ao tratamento

quimioterápico, em alguns momentos se prevalece o pesar e o sofrimento decorrentes

da debilidade imposta pelo tratamento, em outros o sentimento de esperança e

progresso na busca da cura. Como em outros estudos, destacou-se também a

necessidade de esperar e aguardar a intercessão de ordem divina como estratégia de

adaptação à doença. Além disso, verificou-se a crença nos procedimentos de saúde

existentes, em especial a quimioterapia, entendida no estudo como um método

disponível para se alcançar a cura.

O estudo de Rodrigues et al. (2000) revelou que as estratégias de

enfrentamento mais eficientes dos pais estiveram associadas a uma melhor

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adaptação comportamental ao contexto de tratamento médico das crianças. Exemplos

de estratégias adequadas de enfrentamento incluíram a demonstração pública de

confiança em membros da equipe de saúde, a busca por suporte social, o

envolvimento ativo e positivo com o tratamento (com o uso de procedimentos para

distrair a criança durante a exposição a procedimentos médicos invasivos, por

exemplo) e, ainda, a busca contínua por informações qualificadas sobre a doença e o

tratamento (estratégias de enfrentamento que focalizam aspectos do problema).

Santacroce (2002) descreveu a ocorrência de sentimentos de incertezas,

ansiedade e sintomas de stress pós-traumático em pais de crianças recentemente

diagnosticadas com câncer. Os resultados mostraram diferenças relacionadas à etnia,

com escores médios de incerteza significativamente mais elevados em pais negros.

Os níveis de ansiedade estavam muito acima da média considerada normal para

populações não clínicas, e um pouco mais elevados do que os níveis verificados em

pais de crianças sobreviventes de câncer.

No Brasil a maioria dos estudos sobre a temática possuem adordagem

qualitativa, prevalecendo os descritivos e exploratórios (BELTRÃO et al., 2007;

MALTA; SCHALL; MODENA, 2009; SANCHES; NASCIMENTO; LIMA, 2013; SILVA,

et al., 2010), havendo poucas pesquisas na área no país (KOHLSDORF; COSTA

JÚNIOR, 2011). Em contrapartida, na litaratura internacional os estudos são mais

quantitativos (LJUNGMAN et al., 2014).

Como se pode perceber diante da literatura existente, as estratégias de

enfrentamento utilizadas consistem na fé, apoio social e redirecionamento estratégico

das emoções (enfrentamento focalizado no problema ou na emoção), e as relações

dos familiares com os profissionais de saúde e o próprio ambiente hospitalar

influenciam diretamente no processo de enfrentamento. Apesar de na atualidade se

discutir muito sobre uma atenção inter e multiprofissional às crianças e adolescentes

com câncer, percebe-se que a mesma direciona-se ainda na doença em si e não nos

diversos fatores que englobam a mesma, como os familiares ou responsáveis,

explorando de forma mínima as questões subjetivas que permeiam o cotidiano da

hospitalização.

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3. OBJETIVOS

3.1. Objetivo geral

O objetivo geral do presente trabalho foi analisar como ocorre o processo de

enfrentamento adotado por familiares de crianças e adolescentes com câncer

hospitalizados.

3.2. Objetivos específicos

Dentre os objetivos específicos, destacaram-se:

caracterizar o perfil sociodemográfico dos familiares das crianças e

adolescentes com câncer;

desvelar as formas de enfrentamento adotadas pelos familiares frente ao

câncer infanto-juvenil;

quantificar os modos de enfrentamento de problemas a partir da utilização da

EMEP;

relacionar os dados sociodemográficos dos familiares com os tipos de

enfrentamento de problemas.

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4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1. Aspectos éticos

Em vista da importância ética do estudo, o mesmo foi aprovado pelo Comitê de

Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF

(ANEXO A), através do parecer CAAE 45724915.7.0000.5196 de 28/07/2015, a fim

de contemplar as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo

seres humanos propostas pela Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde

(BRASIL, 2012a).

Os participantes da pesquisa foram esclarecidos quanto aos objetivos do

estudo, o qual garantiu, através de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

– TCLE – (APÊNDICE A), elaborado com termos e linguagem adequados, o sigilo, o

anonimato e o direito dos entrevistados deixarem de participar da pesquisa em

qualquer momento, sem acarretar danos, obedecendo aos seguintes princípios

bioéticos: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça. Esses assinaram ou

identificaram por meio de impressão digital o termo citado, ficando em posse da

segunda via.

Além disso, o projeto foi apresentado ao responsável pelo Hospital Dom Malan

- Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP), conforme Carta

de Anuência (ANEXO B).

4.2. Tipo de estudo

O presente estudo é do tipo descritivo–exploratório, fenomenológico, com

abordagem qualitativa e quantitativa. A pesquisa descritiva tem como objetivo principal

descrever as características de determinada população ou fatos e fenômenos da sua

realidade. Já, o método exploratório proporciona maior familiaridade com o fato e/ou

tema, tornando-o mais explícito, permitindo visão geral acerca do que está sendo

pesquisado (GIL, 2010).

A Fenomenologia não se limita à Filosofia; ela está em vários campos

disciplinares. Dessa forma, nesse estudo, a mesma estará ligada às ciências sociais

e a psicologia, aplicada à enfermagem. Nesta abordagem, as experiências subjetivas

do sujeito tematizam-se, isto é, são postas em foco para análise (MARTINS;

DICHTCHEKENIAN, 1984).

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Este tipo de estudo reveste de grande importância por contemplar os objetivos

propostos, no sentido de esclarecer o problema e definir resultados através da

investigação realizada. Uma vez que, na abordagem quantitativa serão utilizadas

técnicas estatísticas objetivando resultados que evitem possíveis distorções de

análise e interpretação, possibilitando uma maior margem de segurança. Ao mesmo

tempo, por meio da abordagem qualitativa-fenomenológica, será possível descrever a

complexidade do problema, possibilitando o entendimento das mais variadas

particularidades dos indivíduos.

4.3. Local e período de realização do estudo

A pesquisa foi realizada no período de agosto de 2015 a julho de 2016 no

Hospital Dom Malan, localizado no Município de Petrolina (PE), que trabalha sob a

gestão do IMIP, uma entidade filantrópica que atua nas áreas de assistência médico-

social, ensino, pesquisa e extensão comunitária.

O hospital possui 260 leitos, sendo: 23 de Ginecologia; 10 de Oncoginecologia;

15 para Alto Risco Obstétrico; 10 destinados à Unidade de Tratamento Intensivo (UTI)

Obstétrica; 48 para Alojamento Conjunto; 06 de Alojamento Canguru; 12 para

Alojamento Patológico; 40 destinados à Pediatria; 05 para Cirurgia Pediátrica; 05 para

Oncopediatria; 10 de UTI Pediátrica; 02 para Sala de Parto; 15 para Pré-Parto; 04 no

Bloco Cirúgico; 27 em Unidade Neonatal; 14 para Observação; 14 para Triagem

Obstétrica Observação. A unidade ainda conta com casa de apoio, centro acadêmico,

laboratório e serviço social (IMIP, 2015).

4.4. Participantes do estudo

Os participantes do estudo foram familiares das crianças ou adolescentes em

tratamento para o câncer infanto-juvenil internados no Hospital Dom Malan durante o

período de realização do estudo (0 a 12 meses) que se enquadraram nos seguintes

critérios de inclusão e exclusão.

4.4.1. Critérios de inclusão

- Segundo o ECA (BRASIL, 2012b), foi considerada criança aquela que tinha

até 12 anos incompletos. Pessoas com idade entre 12 e 18 anos foram consideradas

adolescentes.

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- Foram considerados para inclusão no estudo, os familiares de criança ou

adolescente que possuíam qualquer tipo de câncer diagnosticado e que estava

internado no referido hospital há mais de 10 dias, a fim de que pudesssem descrever

o ambiente e acontecimentos vivenciados que permitiram caracterizar o

enfrentamento dos mesmos.

- O familiar foi incluso no estudo, mesmo a criança ou adolescente possuindo

um tempo de internação em determinado mês da coleta de dados inferior a 10 dias,

caso essa tenha tido uma internação reincidente que somada ao tempo de

permanência no mês anterior ou até mesmo no próprio mês tenha ultrapassado 10

dias;

- Foram considerados como familiares: pai, mãe, irmão, irmã, avô, avó, tio, tia,

de ambos o sexos com idade igual ou superior a 18 anos;

- No tocante a criança ou adolescente que possuía mais de um acompanhante

(pai, mãe, irmão, irmã, avô, avó, tio, tia), todos participaram da pesquisa, mediante

aceite.

4.4.2. Critério de exclusão

- Familiares (pai, mãe, irmão, irmã, avô, avó, tio, tia) que não possuíam laços

afetivos com a criança e relação direta no processo de tratamento da doença foram

excluídos do estudo.

4.5. Coleta dos dados

A coleta de dados foi realizada em dois eixos (FIGURA 4):

- entrevistas, no período de agosto a novembro de 2015;

- aplicação de questionários, no período de agosto de 2015 a julho de 2016.

Para a abordagem qualitativa foram considerados critérios de inclusão e

exclusão. Todavia, em estudo fenomenológico, o número de entrevistas realizadas

deve estar diretamente relacionado ao desvelamento do fenômeno aos olhos do

pesquisador, ou seja, coleta de dados e análise dos mesmos devem prosseguir até

que seja percebido que os pontos trazidos pelos entrevistados coadunam-se ou se

distanciam, possibilitando que convergências e divergências já se façam presentes ao

longo da trajetória das entrevistas, sendo observada a manifestação do que é

essencial. Logo, o número de entrevistas dependeu do que se obteve em cada uma

delas e se, no transcorrer do estudo, chegou-se a perceber aspectos que se

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repetissem nas falas, até alcançar uma descrição suficiente (saturação) do fenômeno

(BRUNS, 2003).

Figura 4- Fluxograma da coleta de dados, agosto de 2015 a julho de 2016.

Fonte: Elaborado pela autora.

4.5.1. Instrumentos

4.5.1.1. Entrevista semiestruturada

Previamente à etapa de coleta de dados e após a aprovação do Comitê de

Ética em Pesquisa, foram realizadas duas entrevistas iniciais, denominadas de

entrevistas-piloto. Tal procedimento teve a finalidade de avaliar o roteiro estabelecido

Coleta de dados

Agosto de 2015/ julho de 2016

Agosto a novembro de 2015 (04 meses)

16 entrevistas (atingiu-se o fenômeno em estudo). 16 questionários aplicados.

Dezembro de 2015

18 questionários aplicados.

Janeiro a julho de 2016

43 questionários aplicados.

Participantes da pesquisa: - 16 qualitativa (entrevista) - 77 quantitativa (questionários)

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para as entrevistas, bem como a clareza e coerência das questões norteadoras para

alcance dos objetivos propostos no estudo. Tais entrevistas aconteceram exatamente

da maneira como deveriam ser realizadas as entrevistas posteriores, englobando,

dentre outros aspectos, a assinatura do termo de consentimento, a gravação do áudio

e transcrição do depoimento.

Os dados foram coletados por meio de uma entrevista semiestruturada, com

base em roteiro contendo questões norteadoras e de apoio. Segundo Manzini (2004),

esse tipo de entrevista é realizada a partir de questões principais, com enfoque em

temas que auxiliem no alcance dos objetivos da pesquisa.

Previamente, foi exposta a forma como o estudo estava sendo realizado, seus

propósitos, os sujeitos até o convite à participação. Após o aceite, os familiares foram

levados para uma sala destinada à coleta, procurando criar espaço reservado para

evitar interferências, onde ocorreram as entrevistas, conforme roteiro contendo

questões norteadoras procurando seguir uma sequência lógica (APÊNDICE B).

Em alguns momentos, houve a intervenção da pesquisadora, visando fazer

emergir maior riqueza de detalhes dentro das informações prestadas pelo

entrevistado.

Apesar do roteiro possuir tópicos previamente elaborados para as entrevistas,

estes serviram apenas como guia para orientação do encaminhamento da entrevista,

permitindo flexibilidade nas conversas, de modo a possibilitar a inclusão de novos

temas e questões trazidos pelos entrevistados (MINAYO, 2008).

Cada familiar foi entrevistado individualmente. Após cada entrevista gravada,

as falas foram transcritas para não se perder os modos pelos quais os familiares se

expressaram, tanto física quanto verbalmente. Foi atribuído a letra F seguido do

número em ordem crescente dos mesmos, visando garantir o sigilo e anonimato.

4.5.1.2. Escala de Modos de Enfrentamento de Problemas (EMEP)

Foi utilizada a versão autoaplicável (ANEXO C) da EMEP, adaptada para o

português por Gimenes e Queiroz (1997), desenvolvida por Seidl, Tróccoli, Zannon

(2001) em seu estudo de análise fatorial.

Folkman (1984), dois dos principais pesquisadores interessados no

desenvolvimento teórico e empírico do conceito de enfrentamento, criaram o

instrumento Ways of Coping Checklist (WCC), que concebe o enfrentamento como

respostas a estressores específicos. O instrumento tinha 68 itens, contendo itens que

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representavam estratégias voltadas para o problema e estratégias focalizadas na

emoção. A resposta aos itens era do tipo sim ou não. Uma revisão realizada por

Folkman et al. (1986) levou à elaboração do Ways of Coping Questionnaire Revised

(WOCQR), composto por oito fatores: confrontação, distanciamento, autocontrole,

busca de suporte social, aceitação de responsabilidade, evitação-fuga, planificação

de soluções e reavaliação positiva. Assim, as duas grandes categorias – focalização

no problema e na emoção – desdobraram-se em diferentes fatores representando

funções: alguns indicando uma ação direta em relação ao estressor (confrontação e

planificação de soluções) ou de afastamento e de inibição da ação em relação ao

estressor (distanciamento e evitação-fuga) (SEIDL; TRÓCCOLI; ZANNON, 2001).

A EMEP avalia estratégias de enfrentamento cognitivas e/ou comportamentais

adotadas frente a um estressor específico, é composta por 45 itens, distribuídos em

quatro fatores:

Fator 1: enfrentamento focalizado no problema. Estratégias comportamentais voltadas

para o manejo ou solução do problema e estratégias cognitivas direcionadas para a

reavaliação e significação positiva do estressor. Compreende 18 itens: 1; 3; 10; 14;

15; 16; 17; 19; 24; 28; 30; 32; 33; 36; 39; 40; 42 e 45.

Fator 2: enfrentamento focalizado na emoção. Estratégias cognitivas e

comportamentais que envolvem esquiva, negação, pensamento irrealista e

desiderativo, expressão de emoções alusivas à raiva e tensão, atribuição de culpa,

afastamento do problema e funções paliativas frente ao estressor. Compreende 15

itens: 2; 5; 11; 12; 13; 18; 20; 22; 23; 25; 29; 34; 35; 37 e 38.

Fator 3: enfrentamento baseado na busca de práticas religiosas e pensamento

fantasioso. Estratégias caracterizadas como comportamentos religiosos ou ligadas à

espiritualidade, bem como pensamentos fantasiosos. Compreende 7 itens: 6; 8; 21;

26; 27; 41 e 44.

Fator 4: enfrentamento baseado na busca por suporte social. Estratégias

centralizadas na procura de apoio social emocional ou instrumental e na busca por

informação. Compreende 5 itens: 4; 7; 9; 31 e 43.

A EMEP é respondida por meio de uma escala de Likert de cinco pontos (1 =

eu nunca faço isso; 2 = eu faço isso um pouco; 3 = eu faço isso às vezes; 4 = eu faço

isso muito; 5 = eu faço isso sempre) e a caracterização do enfrentamento ocorre a

partir da comparação entre as médias obtidas em cada fator. Tal instrumento tem sido

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bastante utilizado em pesquisas com cuidadores em diversos contextos, tanto

nacionalmente como internacionalmente.

4.5.1.3. Questionário Sociodemográfico

Um questionário sociodemográfico (APÊNDICE C), elaborado especialmente

para o presente estudo, foi utilizado para caracterização dos familiares e pacientes,

como também para verificação de possíveis associações com o tipo de enfrentamento

adotado.

4.5.2. Variáveis do estudo

4.5.2.1. Variáveis sociodemográficas do familiar

As variáveis sociodemográficas do familiar foram:

- Sexo: masculino ou feminino;

- Idade: computada em anos;

- Cor da pele: considerada a cor da pele auto referida, a saber: negra, branca, amarela

ou parda;

- Grau de parentesco: considerado o grau auto referido pelo entrevistado;

- Renda familiar: considerado o valor bruto dos vencimentos mensais da família do

pesquisado em reais;

- Situação conjugal: consideradas as seguintes opções, a saber: casado/união

consensual, solteiro, viúvo e separado;

- Escolaridade: A classificação foi baseada no critério definido pela Associação

Nacional de Empresas de Pesquisa (ANEP, 2012), a saber: analfabeto/até 3ª série

fundamental; fundamental completo; médio completo; superior completo;

- Classe econômica: A classificação econômica foi determinada a partir do Critério de

Classificação Econômica do Brasil (CCEB) elaborado pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística – (IBGE, 2014), bastante difundido entre as publicações.,

conforme Quadro 2.

Quadro 2 - Classificação Econômica do Brasil.

CLASSE SALÁRIOS MÍNIMOS (SM) RENDA FAMILIAR FAMILIAR

A Acima 20 SM R$ 14.500 ou mais

B 10 a 20 SM De R$ 7.250,00 a R$14.499,99

C 4 a 10 SM De R$ 2.900,00 a R$ 7.249,99

D 2 a 4 SM De R$ 1.450,00 a R$ 2.899,99

E Até 2 SM Até R$ 1.449,99

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2014).

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4.5.2.2. Variáveis do paciente

Foram estudadas as seguintes variáveis dos pacientes:

- Sexo: masculino ou feminino;

- Tipo de câncer: considerado aquele referido pelo familiar;

- Tipo de tratamento: considerado quimioterapia ou radioterapia;

- Tempo de tratamento: considerado aquele referido pelo familiar em meses;

- Motivo da internação: considerado aquele referido pelo familiar.

4.5.2.3. Váriáveis de enfrentamento

Foram estudadas as variáveis de enfrentamento conforme os quatro fatores

presentes na EMEP.

- Enfretamento focalizado no problema: considerados os resultados obtidos pela

EMEP.

- Enfrentamento focalizado na emoção: considerados os resultados obtidos pela

EMEP.

- Enfrentamento focalizado na busca de práticas religiosas: considerados os

resultados obtidos pela EMEP.

- Enfrentamento focalizado na busca de suporte social: considerados os resultados

obtidos pela EMEP.

4.5.3. Materiais

Dentre os materiais utilizados, destacam-se: cópias da EMEP; cópias do TCLE;

cópias do questionário sociodemográfico; gravador de voz digital; papel sultife e

caneta esferográfica.

4.6. Análise dos dados

4.6.1. Análise da entrevista semiestruturada

Os discursos dos familiares foram transcritos e analisados partindo-se de

quatro momentos, conforme orientação de Martins e Bicudo (1989):

1. Leitura geral e atentiva da descrição de cada discurso, de modo que o pesquisador

possa captar o sentido do todo: neste momento, ele procura se aproximar do lugar

onde o sujeito experienciou aquela dada situação, de forma a não ser um mero

expectador;

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2. Leituras das entrevistas, quantas vezes forem necessárias, pelo pesquisador para

buscar identificar unidades de significado (U.S.), ou seja, coloca-se em evidência os

significados da descrição, que não se encontram prontos no texto, mas que tem a ver

com a disposição do pesquisador frente às suas perspectivas e interrogação;

3. Obtendo as U.S., o pesquisador tentar expressar o “insight” contido em cada uma

delas, de maneiras a aproximá-las fazendo as convergências possíveis de todas as

U.S. obtidas dos discursos/entrevistas, através de expressões concretas dos sujeitos,

de modo a construir categorias reveladoras do fenômeno em estudo;

4. O pesquisador, para chegar à estrutura do fenômeno, sintetiza e integra os

“insights”contidos nas U.S., buscando uma descrição consistente desse fenômeno tal

como ele se mostra de sua estrutura.

O processo de desvelamento em uma pesquisa fenomenológica ocorre durante

a entrevista e também na sua análise. Na entrevista, o pesquisador se detém à busca

da vivência, manejando a entrevista de maneira a conseguir o relato das vivências de

determinadas situações e, ao memso tempo, tendo o cuidado de direcionar o sujeito

a dar determinadas respostas. Já durante a análise dos dados, o pesquisador analisa

as vivências dos sujeitos no que tange ao que eles experienciaram e foi relatado, mas

também ao que não foi dito, mas ficou implícito nas suas expressões (MARTINS E

BICUDO, 1989).

4.6.2. Análise dos questionários – EMEP e sociodemográfico

Os dados foram organizados e armazenados na planilha eletrônica Microsoft

Excel 2010 e em seguida exportados para o software R Statistics (versão 2013), onde

foi realizada a categorização e processamento dos dados.

Inicialmente foi realizada a análise descritiva dos dados. Posteriomente,

realizou-se a análise fatorial da EMEP, para a investigação da estrutura fatorial da

mesma. Em seguida, executou-se os testes bivariados (correlação de Pearson, teste

T de Student e qui-quadrado) para verificação de associações entre as variáveis. O

nível de significância adotado foi de p≤0,05.

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43

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. Entrevista semiestruturada

5.1.1. Caracterização dos familiares

16 familiares participaram dessa parte da pesquisa, sendo 14 mães (87,5%),

uma avó (6,25%) e um pai (6,25%). A mãe, normalmente, é a cuidadora principal e,

em muitos casos, a única, visto ser a integrante da família a cuidar em período integral

de seu filho (BECK; LOPES, 2007; FARIA; CARDOSO, 2010; TÁVORA, 2011).

O Quadro 3 mostra a caracterização dos familiares quanto a idade, cor,

situação conjugal, renda e escolaridade.

Quadro 3 - Caracterização do perfil sociodemográfico dos familiares das crianças e adolescentes em tratamento oncológico no IMIP – Petrolina, 2015.

Familiares Cor Idade Situação

Conjugal

Renda

familiar Escolaridade

F1 Branca 45 Casado/União

estável 788,00 Até 4ª série

Fundamental

F2 Branca 37 Casado/União

estável 788,00 Fundamental

completo

F3 Parda 48 Separado 1500,00 Médio completo

F4 Negra 49 Casado/União

estável 2300,00 Superior

completo

F5 Branca 35 Viúvo 788,00 Fundamental

completo

F6 Negra 39 Casado/União

estável 500,00

Analfabeto/Até 3ª

série

Fundamental

F7 Parda 41 Casado/União

estável 788,00 Fundamental

completo

F8 Parda 40 Casado/União

estável 788,00 Fundamental

completo

F9 Negra 36 Casado/União

estável 788,00 Médio completo

F10 Branca 46 Casado/União

estável 788,00 Fundamental

completo

F11 Parda 44 Casado/União

estável 788,00 Fundamental

completo

F12 Parda 42 Casado/União

estável 400,00

Analfabeto/Até 3ª

série

Fundamental

F13 Negra 40 Casado/União

estável 788,00 Médio completo

F14 Parda 41 Casado/União

estável 788,00 Fundamental

completo

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44

F15

Parda 44 Casado/União

estável 788,00

Fundamental

completo

F16 Parda 43 Casado/União

estável 788,00 Médio completo

Fonte: Elaborado pela autora.

De acordo com o Quadro 3, a cor de pele predominante entre os familiares foi

parda (50%), com média de idade de 41 anos, sendo 87,5% casados/união estável.

Corroborando com estes achados, estudo realizado por Fagundes et al. (2015) acerca

das percepções de cuidadores de crianças em tratamento oncológico, mostrou que a

maioria também tinha a cor parda, eram casados e a idade variava entre 23 e 42 anos.

De acordo com a classificação econômica do IBGE (2014), 93,75% dos

entrevistados pertencem a classe E [até 2 salários mínimos (SM) – R$1449,99]. É

importante salientar que, na maioria das famílias, essa renda é proveniente do

Benefício de Prestação Continuada (BPC) pago pelo Instituto Nacional do Seguro

Social (INSS). Esse benefício consiste na garantia de um salário mínimo mensal à

pessoa com deficiência e ao idoso (com idade de 65 anos ou mais), que comprovem

não possuir meios para prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua

família (quando a renda mensal bruta familiar dividida pelo número de seus

integrantes é inferior a ¼ do salário mínimo). O paciente com neoplasia poder ter

direito ao BPC caso possua a idade acima mencionada ou na hipótese de ter

impedimentos de longo prazo (mínimo de dois anos) de natureza física, mental,

intelectual ou sensorial (BRASIL, 2015). Os assistentes sociais do Hospital Dom

Malan – IMIP, orientam os familiares que não possuem meios de prover a manutenção

da criança e adolescente em tratamento oncológico (mínimo de dois anos de

tratamento) a dar entrada no benefício no INSS, segundo relatos dos familiares.

[...] a nossa salvação, sabe, é que a assistente social falou que a gente tinha direito de receber esse dinheiro. Porque a gente não é daqui, é muito dificultoso ... (choro) ... a gente sempre foi pobre, vivemos da roça e agora só meu marido que tá na ‘labuta’. Eu fico aqui em Petrolina cuidando dela e ele fica lá cuidando dos outros filhos e trabalhando na roça (F12).

Em relação a escolaridade, 50% possui Ensino Fundamental completo.

Colesante et al. (2015), relataram que a maioria dos familiares possui escolaridade

baixa, assemelhando-se aos achados desse estudo.

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5.1.2. Caracterização dos pacientes (criança/adolescente)

Todos os pacientes estavam em tratamento quimioterápico (100%) e possuíam

terapêutica superior a 15 dias. 10 (62,5%) eram do sexo masculino e seis (37,5%) do

feminino. A Leucemia Linfóide Aguda (LLA) é o tipo de neoplasia mais frequente na

oncologia pediátrica do hospital, sendo a patologia de 14 dos 16 pacientes (87,5%),

seguida pelo neuroblastoma (6,25%) e linfoma de Hodgkin (6,25%). Segundo dados

do INCA (2014), a LLA é o tipo de neoplasia maligna mais comum na infância e

acomete mais meninos do que meninas, confirmando os achados da pesquisa.

A Figura 5 especifica as idades das crianças e adolescentes em tratamento

oncológico no hospital e evidencia a prevalência aos três anos de idade, confirmando

dados do INCA (2016), que afirmam uma maior ocorrência da doença entre 2 e 5 anos.

Figura 5 - Gráfico evidenciando a idade das crianças e adolescentes em tratamento oncológico no IMIP - Petrolina, 2015.

Fonte: Elaborado pela autora.

5.1.3. Desvelamento fenomenológico

Conforme apresentado na metodologia, após a análise individual, as

transcrições das entrevistas permitiram um mergulho nas vivências dos familiares, o

que, por sua vez, resultou na identificação das Unidades de Significado (U.S.),

conforme mostra a Figura 6.

25%

12,50%

31,25%

6,25%

12,50%

6,25%

6,25%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

0 1 2 3 4 5 6 7 8

Idade

Idade

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No total foram identificadas seis U.S., que serão expostas a seguir através dos

fragmentos das falas dos familiares entrevistados, a fim de chegar à compreensão do

fenômeno em estudo – Como ocorre o enfrentamento dos familiares de crianças e

adolescentes com câncer hospitalizados?

Figura 6 – Unidades de Significado dos discursos dos familiares das crianças e adolescentes em tratamento oncológico no IMIP – Petrolina, 2015.

Fonte: Elaborado pela autora.

5.1.3.1. O câncer

Ao longo da análise dos discursos, constatou-se que os familiares lembram de

cada detalhe que antecedeu o diagnóstico da neoplasia maligna e que, na maioria das

vezes, os sinais e sintomas da patologia foram confundidos com outros agravos de

saúde.

[...] ela começou a ficar quietinha, mas eu não me preocupei porque ela era muito calma, sempre foi. Depois ela começou a sentir uma dor de barriga e eu levei ela no médico na minha cidade e ele disse que era virose, passou um remédio e ela melhorou [...] (F3).

CÂNCER

Primeiros sinais e sintomas

Diagnóstico

Mudanças na rotina

TRISTEZAImpacto do tratamento

FÉFonte de força e

otimismo

FAMÍLIA Fonte de apoio

EQUIPE

Assistência qualificada

Comunicação ausente/ irregular

HOSPITALAmbiente físico

sem cor

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Apareceu umas manchas roxas e começou a dar febre. Foi assim que tudo começou, que começou a nossa luta [...] (F4).

[...] ele teve uma gripe. Aí ‘tava’ dando febre, pensamos ser da gripe, inclusive o médico disse que era. Só depois apareceram umas manchas roxas, ele começou a ficar “da cor de leite”, aí trouxemos pra cá e foi descoberto (F6).

Foi uma luta até descobrir que era leucemia. No fundo do meu coração eu preferia acreditar que era algum reumatismo, porque ele sentia dor nos ossos. Mas nunca imaginei que fosse câncer [...] (F16).

Segundo Naoum e Naoum (2012), na leucemia, as manifestações mais

frequentes são: palidez, febre, manifestações hemorrágicas, adenomegalia,

hepatomegalia, esplenomegalia, fadiga e dor óssea. Porém, esses sinais e sintomas

podem ser confundidos com outras enfermidades comuns da infância, dificultando o

diagnóstico precoce que, por sua vez, permite melhor controle da doença.

Após a confirmação do diagnóstico de neoplasia maligna, surge a dificuldade

de aceitação pelos familiares. O choque imposto por essa etapa inicial soma-se ao

impacto de cuidar da criança e do adolescente, gerando perturbações psicológicas,

emocionais e físicas (WIKMAN et al., 2016), como também foi evidenciado nas falas.

[...] a leucemia pra mim é a morte. Eu morri por dentro, sabe? Queria que fosse comigo e não no meu filho. Queria que fosse qualquer outra doença, menos essa ‘doença ruim’ (choro) (F2).

[...] quando o médico confirmou o diagnóstico de leucemia, fiquei sem chão. Minha filha não merecia aquilo. Eu procurei outros médicos, mas o diagnóstico era mesmo câncer (F3).

Eu passei uma semana sem acreditar, só chorava. Tive depressão e queria me matar, eu não entendia o porquê de aquilo ser no meu filho. Essa foi a fase mais difícil, sabe? Depois eu vi que eu precisava aceitar e cuidar dele. Mas, até hoje não me conformo! (F14).

Em contrapartida, alguns familiares demonstraram esperança desde o início,

corroborando com os achados de Martins, Silva Filho e Pires (2011), permeados por

relatos de esperança na cura e boa recuperação.

[...] eu já tive câncer e me curei. É claro que eu não queria que meu filho passasse por isso, afinal, ele é apenas uma criança. Mas, a gente não deve entender os planos de Deus, apenas aceita-los. Eu creio que ele vai sair dessa [...] ele vai se curar [...] (F6).

Em relação às mudanças ocorridas na rotina dos familiares/responsáveis em

virtude do início do tratamento quimioterápico, verificou-se dedicação total às crianças

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e adolescentes, independente da fase terapêutica, em que muitos desses cuidadores

abdicaram do seu trabalho, lazer e relações sociais.

[...] pra cuidar dela eu largo tudo! (F1).

[...] não vou dizer que tá sendo fácil, tem mais de 15 dias que estamos aqui. Mas, eu passaria anos, se fosse preciso, para ver a minha filha bem. Eu tenho marido e outros filhos que também precisam de mim, mas a minha prioridade é ela. Eu faço por amor, sabe? (F7).

[...] meu filho é minha única prioridade! Desde que ele começou a fazer a quimioterapia, estamos aqui em Petrolina. Eu não conheço ninguém aqui, sabe? Minha família ficou toda lá, eu larguei meu trabalho para cuidar dele ... e daria a minha vida por ele. Já tem quase um mês que não vamos em casa, porque a taxas ‘lá do sangue’ estão baixas [...] (F14).

Esses dados foram confirmados por Dias e Nuemberg (2010), os quais

demostraram que os cuidadores se sentem bem em estar ao lado de quem amam no

processo da doença, independente dos obstáculos enfrentados. O cuidar vai além do

valor moral, representa o amor existente perante situações de sofrimento (CARDOSO;

ROSALINI; PEREIRA, 2010).

O abandono do emprego pelo cuidador principal ocorre por não ser possível

conciliar as atividades com o ritmo exgido pelo tratamento do câncer (SANTOS et al.,

2011; ORTIZ; LIMA, 2007). Logo, a renda familiar é afetada e o cuidador necessita de

apoio financeiro de outras pessoas da família (ALVES; GUIRARDELLO;

KURASHIMA, 2013).

5.1.3.2. A tristeza

Apesar de cuidarem por amor, identificou-se em muitos discursos os

sentimentos de tristeza, angústia, apreensão e cansaço, que transpõem esse cuidado.

[...] eu sempre me pergunto, por que o meu filho? É como se tivesse uma bomba daquelas que pode explodir a qualquer momento. Eu não sou mais a mesma pessoa, tento não mostrar a ele que estou triste. Na maioria das vezes é ele que me dá forças, acredita? [...] (F10). [...] eu fico nervosa, insegura. Tento ser forte na frente dele pra não chorar, entendeu? (choro) ... mas é muito difícil, principalmente quando ele tá sentindo dor e eu não posso fazer nada, dá uma sensação de impotência (F13).

Esse medo e fragilidade perante a dor dos filhos (DIAS; NUEMBERG, 2010),

bem como o desânimo, preocupação e angústia foram evidenciados na literatura

(TAVARES; TRAD, 2009).

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Ah ... cansa! Olha pra mim, eu sei que tô acabada. E não é só por fora não, por dentro tô pior ainda. Mas, eu faço tudo por ela, até esquecer de mim mesma! (F4).

5.1.3.3. A fé

Uma das principais formas de enfrentamento dos familiares é a fé. O uso de

crenças e comportamentos religiosos para facilitar a resolução dos problemas ou

diminuir as consequências emocionais negativas foi um aspecto presente em todas

as entrevistas. O processo de aceitação da doença vem acompanhado desse apego

religioso. A fé é vista como fonte de força, otimismo e esperança na cura da criança e

do adolescente.

Eu me apeguei com Deus, a gente vai sair dessa. Eu rezo todo dia. Comprei um terço pra minha filha, você viu? Tô ensinando ela a rezar, acho que ajuda também né? [...] (F01).

[...] Deus é a minha maior força! É com Ele que me apego nas horas mais difíceis e sei que Ele vai me ajudar. Não posso reclamar da cruz muito pesada que estou levando nas costas, Ele também já levou uma cruz e morreu por mim né? [...] (F12).

[...] sabe o meu principal apoio é Deus. Eu nem era muito religiosa, mas estou me apegando com Ele (choro). Tem horas que é muito difícil entender o por quê [...] tanta gente ruim nesse mundo e logo o meu filho aqui sofrendo? [...] mas parei de reclamar e peço todos os dias para que Deus proteja o meu filho, porque ele é muito importante para mim (F13).

Deus está acima de tudo e vai fazer o meu filho ficar aqui na terra (F16).

A fé e a crença religiosa e espiritual estão entre os apoios mais importantes e

necessários no enfrentamento do processo de adoecimento e podem se manifestar

de duas diferentes formas: tendo fé em Deus, mas também o responsabilizando, ou

seja, entregando a situação à Sua vontade. O processo de aceitação vem

acompanhado com esse apego religioso, fazendo com que isso torne os familiares

mais fortes para superar o sentimento de dor (FAGUNDES et al., 2015).

Buscar apoio na religião, por meio da invocação a Deus, é uma estratégia

acessível em situação de doença, porque o poder que se dá ao divino possibilita a

satisfação das necessidades que não conseguem controlar (AQUINO; ZAGO, 2012).

5.1.3.4. A família

A doação da família mostrou-se crescente, com interrupção das demandas

individuais em prol do cuidar exclusivo da criança ou do adolescente enfermo.

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Minha família me ajuda muito, sabe? Ficam conversando comigo e me dando forças também. Meu esposo está sendo um anjo, trabalhando noite e dia para as viagens do tratamento, porque quando se é de outra cidade é tudo mais difícil, sabe? [...] e eu larguei tudo pra cuidar dele (F10).

Os familiares são importantes fontes de apoio no processo de enfrentamento

diante do adoecimento e hospitalização de um filho (TORQUATO et al., 2012). Estudo

realizado por Dantas et al. (2015), mostra que a família faz parte de um núcleo que se

pode chamar de apoio social. Esse, é definido como qualquer auxílio material ou

informação, oferecido por pessoas ou grupo de pessoas com as quais se mantém

contato e que resulta em efeitos positivos.

Em contrapartida, durante o processo de hospitalização, alguns familiares

trouxeram a tona a falta de diálogo com membros da família de outras crianças

hospitalizadas para tratamento do câncer.

[...] eu só acho ruim quando ele tá internado. [...] não somos daqui, não conhecemos ninguém aqui. Já faz mais de um mês de internação [...] ninguém conversa. Fica esse silêncio. Só quando meu marido me liga que eu posso desabafar (F13).

Quando mães conversam com outras mães que estão passando pela mesma

experiência, sentem-se mais confortadas e fortes para enfrentar o processo

terapêutico (MORAIS; QUIRINO; ALMEIDA, 2009). Uma forma de auxiliar nessa

comunicação entre os próprios familiares pode ser a criação de grupos de apoio no

hospital. Os grupos de apoio são uma estratégia inovadora que vem sendo construída

e aperfeiçoada a cada dia, formados por uma equipe multiprofissional que planeja

atividades, visando à promoção e reabilitação da saúde (NASCIMENTO; SILVA;

MACHADO, 2009). Tais grupos podem ser desenvolvidos no próprio hospital (NEIL-

URBAN; JONES, 2002) ou por meio eletrônico como explanou o estudo realizado por

Suzuki e Kato (2003), que incentiva o uso de novas tecnologias: acesso à Internet e

uso de viodeogames para iniciar diálogos entre a criança e seus pais sobre o câncer.

Segundo Menezes et al. (2007), as famílias consistem na principal forma de

apoio ao doente. Em virtude disso, fazem inúmeras adaptações em sua vida e rotina.

Algumas adotam até a mesma dieta restritiva deste, reduzem a carga profissional e

de atividade de lazer visando ter mais disponibilidade para suprir as necessidades do

mesmo.

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5.1.3.5. A equipe do hospital

O atendimento da equipe de saúde é considerado ótimo pelos familiares,

principalmente no tocante à assistência em saúde prestada. Todavia, um fator que

dificulta o processo de enfrentamento pela família é o fato de a comunicação entre a

equipe de saúde e os membros familiares mostrar-se confusa, ambígua ou não

realizada. Como pode-se evidenciar nas falas.

Desde que nós chegamos aqui eles nos tratam muito bem. Nunca faltou nada. Graças a Deus! Eu só sinto falta de informação, entende? Teve melhora, não teve. Só isso. No restante, eles são ótimos! [...] (F8).

[...] às vezes eu não entendo se meu filho melhorou ou não. Eles não explicam direito [...] (F16).

Dittz, Mota e Sena (2008) destacam a importância do cuidador receber o

acompanhamento dos profissionais, tanto da enfermagem como de outros membros

da equipe multidisciplinar, já que a permanência no hospital gera ansiedade, e esses

profissionais podem auxiliá-lo na diminuição dessa emoção que, muitas vezes, é

decorrente das intensas relações de cuidado que envolve uma hospitalização.

Estudo sobre percepções de familiares de pessoas portadoras de câncer sobre

encontros musicais durante o tratamento neoplásico realizado por Silva, Marcon e

Sales (2014), comprovou que o encontro mediado pela música promove a abertura do

ser para o diálogo e o vínculo entre enfermeiro, cliente e família, ampliando as

possibilidades de interação entre os sujeitos envolvidos no processo de cuidar das

pessoas que convivem com o câncer e subsidiando aos familiares/ acompanhantes a

elaboração de estratégias de enfrentamento e a transcendência de suas vicissitudes.

Os familiares ou responsáveis, ao vivenciarem o cotidiano da hospitalização de

uma criança ou adolescente com câncer, inserem-se em uma nova realidade, que lhes

desperta inúmeros e diferentes sentimentos. A dificuldade de interpretação desses

sentimentos pelos profissionais de saúde gera, muitas vezes, dificuldades na

comunicação entre a família e a equipe (SANCHES; NASCIMENTO; LIMA, 2013).

Ressalta-se que o processo de hospitalização provoca estresse na família e no

paciente. Além disso, surgem emoções e comportamentos correlacionados ao

diagnóstico, tratamento e prognóstico da doença. Dessa forma, é de extrema

importância o papel da equipe multiprofissional para lidar com esses cuidadores,

relacionando a sensibilidade ao conhecimento teórico, com a finalidade de oferecer

uma assistência qualificada e humanizada (DUARTE; ZANINI; NEDEL, 2012).

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5.1.3.6. O hospital

Constatou-se um certo desconforto em relação ao ambiente hospitalar.

[...] sem contar que a gente dorme nessa cadeira. Mas o importante é a saúde dele [...] (F2).

Podia ser mais colorido né? Quando é para gente ‘vim’ pra cá já começa o choro [...] (F6).

Dittz, Mota e Sena (2008) e Milanesi et al. (2006) concordam que o ambiente

hospitalar propicia o aumento da tensão e ansiedade tanto nos pacientes como nos

cuidadores, que se deparam com uma série de mudanças, normas e regras que lhe

são impostas.

5.1.3.7. Síntese compreensiva

A categorização das falas dos familiares entrevistados possibilitou um

movimento em direção à compreensão de suas vivências. Dessa forma foi possível

construir uma síntese compreensiva de modo a apreender os significados atribuídos

ao fenômeno.

Meu encontro com os familiares foi permeado de intersubjetividade, assim a

compreensão das vivências elucidada nessa seção dos resultados partem do meu

olhar intencional sobre o fenômeno investigado.

Apesar das entrevistas terem suscitado nos familiares sentimentos e evocado

recordações do difícil momento enfrentado por eles ao se deparar com uma uma

doença repleta de estigmas como o câncer, esses acreditavam que tal traquejo

serviria para futuros familiares que venham a passar pela situação que um câncer

acarreta na família, principalmente quando acomete crianças e adolescentes.

Os primeiros sintomas da doença surgem através de sinais, tais como: dor,

febre, palidez e manchas. A espera pela certeza do diagnóstico marca o início de uma

trajetória difícil para os familiares, tanto pela existência de diagnósticos errados

(devido a similiaridade dos sintomas com os de outras doenças comuns na infância)

como pela confirmação do diagnóstico de câncer infanto-juvenil.

Não obstante, a doença e o tratamento são vivenciados de forma singular por

cada membro da família. Os procedimentos terapêuticos e seus efeitos colaterais, a

distância dos outros membros da família e do lar (visto que a maioria é natural de

cidades circunvizinhas) bem como o próprio ambiente hospitalar são as principais

dificuldades que permeiam esse processo de doença.

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As consequências negativas do câncer afloram, principalmente, os sentimentos

de tristeza e medo. A tristeza surge diante de perdas no próprio cotidiano (abandono

de emprego para o cuidar integral da criança ou adolescente, em destaque) e por não

poderem fazer nada além de cuidar da criança e do adolecente doente. Já o medo,

muitas vezes, é oriundo do desconhecimento da doença. Além disso notou-se, através

dos discursos, que a falta de comunicação ou a não plenitude da mesma entre os

profissionais da equipe de saúde e familiares contribui diretamente na solidificação de

tal sentimento.

Para lidar com a árdua batalha de enfrentar o câncer infanto-juvenil, os

familiares formam uma rede de apoio consituída principalmente pelos outros membros

da família e fé em Deus. A equipe de saúde também é citada como participantes dessa

rede, principalmente pelos excelentes cuidados em saúde prestados às crianças e

adolescentes, apesar da barreira de comunicação existente entre ambos.

Torna-se possível compreender que os familiares acreditam na cura e que o

pior já passou, mesmo sabendo que terão que esperar a finalização do tratamento e

do período de controle. E que, apesar das dificuldades enfrentadas diariamente,

conseguem ver um futuro com possiblidades distintas e sonham junto com essas

crianças e adolescnetes em dias melhores.

5.2. Estatística dos questionários – EMEP e sociodemográfico

Apesar da EMEP e o questionário sociodemográfico serem autoaplicáveis, em

alguns momentos da pesquisa houve intervenção da pesquisadora, seja por meio da

explicação ou através da leitura dos enunciados aos parentes com baixa escolaridade.

5.2.1. Caracterização dos familiares

Dos 77 familiares, 54 (70,1%) eram do sexo feminino e 23 (29,9%) masculino.

Assim como na fase qualitativa da pesquisa, constatou-se que a mãe é a principal

cuidadora, visto que, durante o tempo de coleta (um ano) estiveram internados no

hospital 36 pacientes (crianças/adolescentes) e 36 (46,80%) dos familiares

participantes da pesquisa foram mães acompanhantes dos filhos durante o período

de hospitalização. Os demais parentes foram entrevistados somente nos horários de

visita, o que converge com um fato histórico, pois, desde a antiguidade, o cuidado era

atribuído às mulheres, por desempenharem a função de cuidar da família e do lar. Os

homens, em grande parte, são responsáveis pelo suporte financeiro da casa. Logo, é

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mais difícil para eles se afastarem dos seus trabalhos para acompanhar seu familiar

no processo de hospitalização (SOUZA, 2011).

Como a atribuição da maternidade concede às mulheres a função de cuidadora

aos que necessitam de sua atenção, seja no plano físico ou psíquico, acredita-se que

esse seja um dos motivos que determinaram o maior percentual de familiares do sexo

feminino, corroborando com os achados de Fetsch et al. (2016).

A Figura 7 mostra detalhadamente essa distribuição quanto ao grau de

parentesco de todos os familiares entrevistados durante o período de coleta dos

dados.

Figura 7 - Gráfico evidenciando o grau de parentesco dos familiares das crianças/adolescentes em tratamento oncológico no IMIP - Petrolina, 2015 - 2016.

Fonte. Elaborado pela autora.

A média de idade entre aqueles do sexo feminino foi de 40,5±11,2 anos e

masculino 44,2±10,4 anos (TABELA 1). A maioria apresentava menos de 60

anos de idade, encontrando-se ainda em sua fase produtiva. Tal fato pode ser

percebido como evento estressor diante do cuidado emanado ao filho(a). Vale

ressaltar que, as atividades de cuidado causam estresse e sobrecarga

emocional e quanto mais jovem é o cuidador, mais a sua qualidade de vida é

afetada. Em contrapartida, quanto mais idoso o acompanhante, mais experiência

e resiliência possui para o enfrentamento de problemas (ABREU et al, 2013).

Souza et al. (2014) enfatizam a importância que se deve dar ao perfil

etário dos cuidadores, uma vez que os mais velhos parecem mais susceptíveis

46,80%

23,40%

12,90%

10,40%

1,30%

2,60%

2,60%

Mãe

Pai

Avó

Tia

Irmão

Avô

Tio

Grau de parentesco dos familiares

Parentesco

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à sobrecarga; e os jovens podem experimentar e sofrer isolamento, devido às

restrições sociais proporcionais às maiores possibilidades de atividades de lazer

e sociais de sua faixa etária.

Tabela 1 - Caracterização dos familiares das crianças/adolescentes em tratamento oncológico no IMIP – Petrolina quanto a idade, 2015 - 2016.

Fonte: Elaborado pela autora.

Com relação a renda e escolaridade, observou-se que quanto menor a

escolaridade, mais baixa é a renda dos familiares (FIGURA 8). 73 (94,8%)

possuem renda mensal menor que R$ 1000,00, tendo como escolaridade

predominante o fundamental completo (48%). Esse aspecto deve ser levado em

consideração ao planejar intervenções com familiares, pois tal condição pode

interferir no processamento da informação recebida e desencadear ansiedade e

angústia pelo fato de não compreender o processo de adoecimento e as

necessidades de cuidado (FETSCH et al., 2016).

Indivíduos de baixa escolaridade e baixos níveis socioeconômicos podem

experimentar um fardo maior porque são propensos a viver num ambiente em

que há falta de meios adequados para dar assistência às pessoas das quais

cuidam, como problemas na obtenção de medicamentos, piores condições de

transporte, menos apoio social disponível, entre outros (BELASCO; SESSO,

2006).

Variável Média Mediana Desvio Padrão

Sexo

Masculino

Feminino

44,2

40,5

42

39

10,4

11,2

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Figura 8 - Gráfico evidenciando a renda e escolaridade dos familiares das crianças/adolescentes em tratamento oncológico no IMIP - Petrolina, 2015 - 2016.

Fonte: Elaborado pela autora.

Dentre os participantes, a cor predominante foi a parda (58,4%), seguida

pela branca (22,10%) e negra (79,2%). Eram casados ou apresentavam união

estável (FIGURAS 9 e 10). Estudo realizado por Abreu (2013) aponta que ter

um(a) companheiro(a) traz benefícios a quem cuida como, por exemplo, apoio

emocional e redução do sentimento de solidão.

Figura 9 - Gráfico evidenciando a cor dos familiares das crianças/adolescentes em tratamento oncológico no IMIP - Petrolina, 2015 - 2016.

Fonte: Elaborado pela autora.

74

37

25

00 0 0 0 10 0 0 03

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Analfabeto/Até3ª série do

fundamental

Até 4ª série dofundamental

FundamentalCompleto

Médio Completo Superiorcompleto

Renda e escolaridade dos familiares

Menos de R$ 1000,00 De R$ 1000,00 a R$ 2000,00 Mais de R$ 2000,00

58,40%22,10%

19,50%

Cor dos familiares

Parda Branca Negra

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57

Figura 10 - Gráfico evidenciando a situação conjugal dos familiares das crianças/adolescentes em tratamento oncológico no IMIP - Petrolina, 2015 - 2016.

Fonte: Elaborado pela autora.

5.2.2. Caracterização dos pacientes (criança/adolescente)

Durante o período de coleta de dados (agosto de 2015 a julho de 2016), 36

crianças/adolescentes estiveram internados no Hospital Dom Malan – IMIP. Destes,

23 (63,9%) eram do sexo masculino e 13 (36,1%) feminino. A média de idade para o

sexo masculino foi de 5,5±4 anos; e feminino 5,5±2,2 anos (TABELA 2). Todos

estavam em tratamento quimioterápico, tendo como motivo da internação a realização

da quimioterapia. O tipo de câncer predominante foi a Leucemia Linfóide Aguda (LLA),

acometendo 31 (86,1%) dos pacientes (FIGURA 11). Nove pacientes estavam em

tratamento oncológico há oito meses (FIGURA 12).

Tabela 2 - Caracterização dos pacientes (crianças/adolescentes) em tratamento oncológico no IMIP – Petrolina quanto a idade, 2015 - 2016.

Variável Média Mediana Desvio Padrão

Idade (anos)

Masculino

Feminino

5,5

5,5

4

4

4

2,2

Fonte: Elaborado pela autora.

79,20%

13%5,20% 2,60%

Situação Conjugal

Casado/União Estável Solteiro Viúvo Separado

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Figura 11 - Gráfico evidenciando o tipo de câncer das crianças/adolescentes em tratamento oncológico no IMIP - Petrolina, 2015 - 2016.

Fonte: Elaborado pela autora.

Figura 12 - Gráfico evidenciando o tempo de tratamento das crianças/adolescentes em tratamento oncológico no IMIP - Petrolina, 2015 - 2016.

Fonte: Elaborado pela autora.

5.2.3. Testes estatísticos

Inicialmente, foi realizada a análise fatorial exploratória da Escala Modos de

Enfrentamento de Problemas (EMEP), para investigar a estrutura fatorial da

população específica. Os resultados mostraram variabilidade das estratégias de

enfrentamento utilizadas pelos familiares, com distribuição satisfatória. As médias do

enfrentamento focalizado no problema (4,551) e de busca por práticas religiosas

86,10%

8,30%

2,80%

2,80%

Leucemia Linfóide Aguda

Leucemia Mielóide Aguda

Neuroblastoma

Linfoma de Hodgkin

0,00% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00% 100,00%

Tipo de câncer

Tipo de câncer

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

2 4 5 6 7 8 10 12 24 30

Tempo de tratamento (meses)

Tempo de tratamento (meses)

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(4,221) foram as mais elevadas, revelando maior utilização destas duas modalidades

de estratégia pelos participantes (TABELA 3).

Destaca-se que, embora essa estratégia não esteja voltada diretamente para a

resolução do problema, permite que o indivíduo alcance equilíbrio emocional que,

muitas vezes, é necessário como um passo anterior a ação (FETSCH, 2016). Já, a

religiosidade ocupa espaço central no cotidiano de muitos familiares. A presença de

Deus parece estar associada ao sentimento de força, segurança e conforto para a

superação da situação de sofrimento (OLIVEIRA et al., 2013).

Estudo realizado com 157 pessoas portadoras de enfermidades crônicas para

verificação da análise fatorial da EMEP, também obteve como maior média o

enfrentamento focalizado no problema (3,68). O enfrentamento focalizado na emoção

apresentou-se mais baixo que os demais fatores, com índice 2,22 (SEIDL;

TROCCÓLI; ZANNON, 2001).

Com base no gráfico box plot, percebe-se que as pessoas estão mais focadas

no problema, visto que o mesmo encontra-se mais elevado e concentrado,

comparando-se com os demais fatores (emoção, busca por práticas religiosas e por

suporte social). A estratégia focalizada na emoção encontra-se mais baixa e dispersa

(FIGURA 13). Uma pesquisa que utilizou a versão original da EMEP, e investigou o

enfrentamento de 141 familiares de pacientes oncológicos hospitalizados, evidenciou

como maior média a reavaliação positiva (1,8), equivalente a focalização no problema

na EMEP, seguida pelo suporte social (1,5); e apresentou como menor média a fuga

e esquiva (1,06), correspondente a focalização na emoção na EMEP (1,06) (FETSCH,

2016).

Tabela 3 - Análise descritiva das estratégias de enfrentamento medidas pela EMEP (N=77).

Variável Média Mediana Min. Máx.

Fatores

Problema

Emoção

Religião

Social

4,551

2,061

4,221

3,649

4,660

1,860

4,210

3,730

3,460

1,180

3,080

2,300

4,920

3,470

5,000

4,820

Fonte: Elaborado pela autora.

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Figura 13 - Gráfico evidenciando a análise fatorial da EMEP conforme média obtida em cada fator.

Fonte: Elaborado pela autora.

Confrontando-se os sexos, verificou-se que os homens utilizam como principais

estratégias de enfrentamento aquelas focalizadas no problema e na busca por suporte

social, enquanto as mulheres apoiam-se no problema e na busca por práticas

religiosas. Embora ambos os sexos apoiem-se no problema, percebeu-se maior

variabilidade das mulheres em relação aos homens (FIGURA 14). Divergindo desses

achados, na análise por gênero de Seidl, Troccóli e Zann (2001) houve diferença

significativa no uso das estratégias de enfrentamento apenas em relação às práticas

religiosas. Nas outras estratégias de enfrentamento, não se verificou diferença

significativa.

Após a verificação da normalidade dos dados, realizou-se o Teste de

Correlação de Pearson visando identifcar a existência de relações entre os fatores da

EMEP. Com relação ao fator 1 – problema, constatou-se que o mesmo não se

relaciona com a emoção e religião, mas que possui relação com a busca por suporte

social (18,5) e vice-versa. Divergindo, estudo realizado por Kohlsdorf e Costa Júnior

(2011) evidenciou que a adoção de enfrentamento focalizado no problema esteve

correlacionada de forma positiva, moderada e estatisticamente significativa a práticas

religiosas, além da busca por suporte social. No estudo de Seidl, Troccóli e Zann

Problema Emoção Religião Social

23

45

Focalização do Problema

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(2001), as estratégias orientadas para o problema também apresentaram correlação

positiva estatisticamente significativa com práticas religiosas.

Figura 14 - Gráfico evidenciando a análise fatorial da EMEP comparando-se os sexos.

Fonte: Elaborado pela autora.

Já o fator 2 (emoção) não associa-se ao problema e busca por suporte social e

tem fraca relação com religião (0,8), conforme expõe a Tabela 4. Estudo realizado por

Seidl, Troccóli e Zann (2001) apontou relativa incompatibilidade do fator 1 com o fator

2, pois o enfrentamento ativo é voltado ao manejo da situação e nova maneira de

perceber o problema, ou seja, o enfrentamento focalizado no problema contrapõe-se

ao focalizado na emoção.

Segundo Teixeira (2013), não existe critério para utilização do coping focado no

problema ou do coping focado na emoção, isso vai de acordo com cada situação

estressora vivida pelo indivíduo de modo que, em certo momento, o coping focado no

problema pode ser mais efetivo por atuar diretamente na situação que deu origem ao

estresse procurando modificá-la. O coping focado na emoção é caracterizado pelo

empenho na regulação das emoções associadas ao estresse e é mais usado em

situações que são tidas como inalteráveis.

Problema Emoção Religião Social

23

45

Focalização do Problema - Homens

Problema Emoção Religião Social

23

45

Focalização do Problema - Mulheres

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Tabela 4 - Teste de Correlação de Pearson entre os fatores da EMEP (N=77).

Variável Problema Emoção Religião Social

Fatores

Problema

Emoção

Religião

Social

100,0

-22,4

-28,0

18,5

-22,4

100,0

0,8

-51,7

-28,0

0,8

100,0

-29,9

18,5

-51,7

-29,9

100,0

Fonte: Elaborado pela autora.

Posteriormente, realizou-se o Teste T de Student para amostras independentes

com variâncias diferentes testadas por Bartlett a 5%; teste bicaudal com 95% de

confiança, para verificar se existe diferença entre as médias obtidas em cada um dos

fatores da EMEP. O mesmo confirmou a diferença entre todas as médias, como

mostra as Tabelas 5, 6, 7, 8, 9 e 10.

Tabela 5 - Teste de médias entre as variáveis da EMEP: Problema e Emoção (N=77).

Variável Média t df P

Fatores 25,263 101,29 2,2-16

Problema

Emoção

4,551039

2,061039

-

-

-

-

-

-

Fonte: Elaborado pela autora.

Tabela 6 - Teste de médias entre as variáveis da EMEP: Problema e Religião (N=77).

Variável Média t df P

Fatores 4,1036 115,71 7,60-05

Problema

Religião

4,551039

4,221299

-

-

-

-

-

-

Fonte: Elaborado pela autora.

Tabela 7 - Teste de médias entre as variáveis da EMEP: Problema e Social

(N=77). Variável Média t df P

Fatores 9,956 106,45 2,2-16

Problema

Social

4,551039

3,648701

-

-

-

-

-

-

Fonte: Elaborado pela autora.

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Tabela 8 - Teste de médias entre as variáveis da EMEP: Emoção e Religião (N=77).

Variável Média t df P

Fatores -18,71 143,43 2,2-16

Emoção

Religião

2,061039

4,221299

-

-

-

-

-

-

Fonte: Elaborado pela autora.

Tabela 9 - Teste de médias entre as variáveis da EMEP: Emoção e Social (N=77).

Variável Média t df P

Fatores 22,631 76 2,2-16

Emoção

Social

2,061039

3,648701

-

-

-

-

-

-

Fonte: Elaborado pela autora.

Tabela 10 - Teste de médias entre as variáveis da EMEP: Religião e Social (N=77).

Variável Média t df P

Fatores 5,2645 148,72 4,83-07

Religião

Social

4,221299

3,648701

-

-

-

-

-

-

Fonte: Elaborado pela autora.

Alguns autores consideram o enfrentamento focalizado no problema como

estratégia positiva, uma vez que está voltado ao manejo ou solução do problema e

estratégias cognitivas direcionadas para a reavaliação e significação positiva do

estressor; e o enfrentamento focalizado na emoção com estratégia negativa, pois

envolve envolve esquiva, negação, pensamento irrealista e desiderativo, expressão

de emoções alusivas à raiva e tensão, atribuição de culpa, afastamento do problema

e funções paliativas frente ao estressor (BILLINGS; MOOS, 1981; PEARLIN;

SCHOOLER, 1978; BEN-ZUR, 2005; SIGMON; STANTON; SNYDER, 1995).

Logo, aplicou-se também o Teste T de Student para verificar se existia

diferença entre homens e mulheres quanto a adoção de estratégias positivas e

negativas. Identificou-se que há diferença entre os sexos em relação a adoção de

estratégia positiva, ainda que estatisticamente pequena (p=0,03972). Os homens

adotam mais a estratégia positiva (focalizada no problema) do que as mulheres

(TABELA 11). Já, no que se refere ao emprego da estratégia negativa, também existe

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diferença (p=4,76-0,5), porém as mulheres utilizam mais a estratégia negativa

(focalizada na emoção) comprando-se aos homens (TABELA 12).

Tabela 11 – Adoção de estratégia positiva comparando-se os sexos (N=77).

Variável Média t df P

Sexo -2,0934 74,426 0,03972

Masculino

Feminino

4,642500

4,509623

-

-

-

-

-

-

Fonte: Elaborado pela autora.

Tabela 12 – Adoção de estratégia negativa comprando-se os sexos (N=77).

Variável Média t df P

Sexo 4,3177 74,966 4,76-0,5

Masculino

Feminino

1,635417

2,253774

-

-

-

-

-

-

Fonte: Elaborado pela autora

Por fim, executou-se o Teste Qui-quadrado de Pearson com 95% de confiança

a fim de verificar se as variáveis socioeconomicodemográficas relacionam-se com o

tipo de enfrentamento adotado pelos familiares. Para tanto, associou-se as variáveis

cor, escolaridade e parentesco com os quatro tipos de enfrentamento (focalizado no

problema, emoção, busca por práticas religiosas e procura por suporte social). A forma

como a pessoa enfrenta a doença, conforme os quatro fatores da EMEP, não possui

relação com cor (p=1), parentesco (p=1) e escolaridade (p=1), conforme as Tabelas

13, 14 e 15. Diferentemente dos achados dessa pesquisa, no estudo de Seidl, Troccóli

e Zannon (2001), pessoas com maior nível de escolaridade obtiveram escores mais

elevados no uso de estratégias focalizadas no problema, sendo que, quanto menor o

nível de escolaridade, maior o enfrentamento com base na busca por práticas

religiosas.

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Tabela 13 - Teste qui-quadrado: cor e fatores de enfrentamento (N=77).

Variável Problema Emoção Religião Social p df X2

Cor 1 6 0,072407

Branca Negra Parda

4,5 4,4 4,5

2,0 2,1 2,0

4,4 4,0 4,2

3,3 3,9 3,6

- - -

- - -

- - -

Fonte: Elaborado pela autora.

Tabela 14 - Teste qui-quadrado: grau de parentesco e fatores de enfrentamento (N=77).

Variável Problema Emoção Religião Social p df X2

Parentesco 1 9 0,42568

Avô (ó) Irmão (a) Pai/ mãe Tio (a)

4,59 4,38 4,53 4,60

1,73 2,31 2,07 2,33

4,09 3,15 4,28 4,15

4,00 4,29 3,58 3,50

- - - -

- - - -

- - - -

Fonte: Elaborado pela autora.

Tabela 15 - Teste qui-quadrado: escolaridade e fatores de enfrentamento (N=77).

Variável Problema Emoção Religião Social p df X2

Escolaridade 1 12 0,15753

Analfabeto/Até 3ª série fundamental Até 4ª série fundamental Fundamental completo

Médio completo Superior completo

4,32 4,41 4,61 4,57 4,36

1,96 1,74 2,10 2,03 2,31

4,27 4,21 4,32 4,02 4,40

3,44 3,73 3,59 3,82 3,26

- - - - -

- - - - -

- - - - -

Fonte: Elaborado pela autora.

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6. CONCLUSÕES

Este estudo abordou o processo de enfrentamento de familiares de crianças e

adolescentes com câncer e hospitalizados. Após a análise dos resultados e discussão

com a literatura, foi possível observar que os objetivos desta pesquisa foram atingidos.

Como desvelamento fenomenológico constatou-se que o enfrentamento

durante o diagnóstico do câncer é negativo, visando fuga e negação da doença.

Posteriormente, os familiares buscam aceitação e apoiam-se, principalmente, na fé e

demais familiares. O relacionamento destes com os profissionais de saúde é positivo,

faltando, apenas, a troca de informações acerca da evolução da doença. O câncer e

o tratamento quimioterápico são vivenciados de forma singular por cada membro da

família e o ambiente hospitalar consiste em uma das principais dificuldades que

permeiam o processo de doença, principalmente pela frieza que este apresenta.

Verificou-se a variabilidade das estratégias de enfrentamento utilizadas pelos

familiares, com distribuição satisfatória. As médias do enfrentamento focalizado no

problema e de busca por práticas religiosas foram as mais elevadas, revelando maior

utilização destas duas modalidades de estratégias pelos participantes.

Confrontando-se os sexos, verificou-se que os homens utilizam como principais

estratégias de enfrentamento aquelas focalizadas no problema e na busca por suporte

social, enquanto mulheres apoiam-se no problema e na busca por práticas religiosas.

Embora ambos os sexos apoiem-se no problema, percebeu-se maior variabilidade das

mulheres em relação aos homens.

Há diferença entre os sexos em relação a adoção de estratégia positiva, ainda

que estatisticamente pequena. Os homens adotam mais a estratégia positiva

(focalizada no problema) do que as mulheres. Já, no que se refere ao emprego da

estratégia negativa, também existe diferença, porém as mulheres utilizam mais a

estratégia negativa (focalizada na emoção) comparando-se aos homens.

A forma como a pessoa enfrenta a doença, conforme os quatro fatores da

EMEP, não possui relação com cor, parentesco e escolaridade.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebeu-se a carência de atendimento e auxílio a esses familiares que, por

sua vez, necessitam de acompanhamento contínuo e sistemático que possa oferecer

o suporte básico para lidar com as mudanças ocorridas durante e após o diagnósico

do câncer infanto-juvenil.

Tais familiares, em especial as mães, necessitam de escuta acolhedora para

expressar seus sentimentos, receios, preocupações e significados desse processo de

saúde/doença. Para que sejam elaboradas intervenções adequadas a essa

população, e interessante reconhecer, inicialmente, as peculiaridades de cada família

e, consequentemente, ter informações sobre como lidam com essa realidade.

Grupos de apoio formados por profissionais de saúde, familiares e até mesmo

por comunidades religiosas devem ser implantados pelos gestores dos serviços de

saúde em oncologia. Os encontros proporcionados pelo grupo serviriam como

momentos para elaboração de propostas de intervenção e divulgação de informações

sobre saúde, doença e cuidado. Além disso, são espaços para que os familiares

possam expressar seus sentimentos.

Sugere-se o desenvolvimento de pesquisas com foco intervencionista para

ações de promoção da saúde e qualidade de vida para esta população. Como

limitação do estudo infere-se a pouca rotatividade de familiares no local de realização

da pesquisa. Recomenda-se novos estudos abrangendo outras instituições de

tratamento oncológico infanto-juvenil, com o intuito de conhecer suas realidades,

assim como incentivar uma visão holística do cliente (paciente) e de sua família,

possibilitando a humanização da assistência.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE

UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO – UNIVASF Av. José de Sá de Maniçoba, s/n, centro, Petrolina – PE. CEP 56304-917. www.univasf.edu.br

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título da Pesquisa: CÂNCER EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES: o enfrentar da doença pelos

familiares

Nome do (a) Pesquisador (a): Patrícia Shirley Alves de Sousa

Nome do (a) Orientador (a): Dr. Marcelo Domingues de Faria

1. Natureza da pesquisa: o sr. (sra.) está sendo convidada (o) a participar desta pesquisa que tem

como finalidade analisar como ocorre o processo de enfrentamento adotado por

familiares/responsáveis de crianças e adolescentes com câncer.

2. Participantes da pesquisa: A pesquisa será realizada com todos os familiares/responsáveis de

crianças e adolescentes com câncer em tratamento no Hospital Dom Malan que desejarem participar

da mesma.

3. Envolvimento na pesquisa: Ao participar deste estudo a sra (sr) permitirá que o (a) pesquisador (a)

conheça os tipos de enfrentamentos adotados pelos familiares/responsáveis de crianças e

adolescentes com câncer, contribuindo para a solidificação de um corpo de conhecimentos próprios a

respeito desse processo de enfrentamento. Além de proporcionar aos profissionais de saúde uma visão

holística do cliente e de sua família, possibilitando uma assistência mais humanizada. Bem como

direcionar as instituições de saúde e comunidade acadêmica a respeito de alternativas que possam ser

implantadas nessas instituições de saúde auxiliando esse processo de enfrentamento. A sra (sr.) tem

liberdade de se recusar a participar e ainda se recusar a continuar participando em qualquer fase da

pesquisa, sem qualquer prejuízo para a sra (sr.). Sempre que quiser poderá pedir mais informações

sobre a pesquisa através do telefone do (a) pesquisador (a) do projeto e, se necessário através do

telefone do Comitê de Ética em Pesquisa.

4.Sobre as entrevistas e os questionários: Os dados serão coletados pela pesquisadora participante

por meio de uma entrevista semi estruturada que será gravada, tendo como base um roteiro contendo

as seguintes questões norteadoras:

I – Iniciação com o tema.

II – O câncer infanto-juvenil

III – A família.

IV – A fé.

V – Os profissionais da saúde e o ambiente hospitalar.

VI – Finalizando o tema.

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Bem como será aplicado dois questionários com perguntas referentes a informações pessoais e a

temática.

5.Riscos e desconforto: Os riscos à saúde moral e física relacionados a participação na pesquisa serão

mínimos. Os possíveis riscos são constrangimentos perante pessoas caso a sua identidade venha a

público, o que será minimizado pela garantia da confidencialidade das informações e pelo anonimato

de todos que participarem da pesquisa. Como também receio/constrangimento na hora de responder

as perguntas durante a entrevista, que será reduzido pela pesquisadora mediante o resguardo da sua

privacidade através do uso de uma sala fechada para realização dessa, entrevistas individuais (ficando

na referida sala somente o pesquisador e o entrevistado) e respeito caso o senhor (a) não queira

responder a alguma das perguntas.

6.Do Conselho Nacional de Saúde. Nenhum dos procedimentos usados oferece riscos à sua dignidade.

7.Confidencialidade: todas as informações coletadas neste estudo são estritamente

confidenciais. Somente o (a) pesquisador (a) e seu (sua)orientador (a) (e/ou equipe de pesquisa) terão

conhecimento de sua identidade e nos comprometemos a mantê-la em sigilo ao publicar os resultados

dessa pesquisa.

8.Benefícios: ao participar desta pesquisa a sra (sr.) não terá nenhum benefício direto. Entretanto,

esperamos que este estudo traga informações importantes sobre sobre o processo de enfrentamento

do câncer, de forma que o conhecimento que será construído a partir desta pesquisa possa direcionar

a implantação de alternativas que auxiliem nesse processo de enfrentamento, onde pesquisador se

compromete a divulgar os resultados obtidos, respeitando-se o sigilo das informações coletadas,

conforme previsto no item anterior.

9.Pagamento: a sra (sr.) não terá nenhum tipo de despesa para participar desta pesquisa, bem como

nada será pago por sua participação.

10. Assistência: caso a sra (sr.) venha a sofrer qualquer tipo de dano resultante de sua participação na

pesquisa, previsto ou não no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, terá direito à indenização

por parte da pesquisadora.

Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para participar desta

pesquisa. Portanto preencha, por favor, os itens que se seguem:

Confiro que recebi cópia deste termo de consentimento, e autorizo a execução do trabalho de pesquisa

e a divulgação dos dados obtidos neste estudo.

Obs: Não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito.

Consentimento Livre e Esclarecido

Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida, manifesto meu

consentimento em participar da pesquisa.

Petrolina, ____ de ______ de 20___.

___________________________________________________________________ Assinatura do Participante da Pesquisa

___________________________________________________________________

Assinatura do Pesquisador

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Contato do responsável: Patrícia Shirley Alves de Sousa. Fone: (87)9968-4382. E-mail: paty-

[email protected]. Instituição: Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF. Av. José

de Sá de Maniçoba, s/n, centro, Petrolina – PE.

Contato do outro componente da equipe de pesquisa: Marcelo Domingues de Faria. Docente do Programa de Pós-graduação Ciências da Saúde e Biológicas da UNIVASF. Av. José de Sá de Maniçoba, s/n, centro, Petrolina – PE. E-mail: [email protected]. Telefone: (87) 8812-9487 Se houver dúvidas sobre a ética da pesquisa entre em contato com o Comitê de Ética e Deontologia

em estudos e pesquisas – CEDEP. Avenida José de Sá Maniçoba - Centro, Petrolina - PE, 56304-917

(87) 2101-6705

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APÊNDICE B – Roteiro para entrevista semi estruturada

Cuidador: F_______

Questões norteadoras:

- Iniciação com o tema

1 – Como foi a descoberta do câncer na criança/adolescente?

2 – Quando foi o diagnóstico? Como você reagiu ao mesmo?

3 – A qual ou quais tratamentos ela se submeteu? Como foi?

4 – Qual tratamento ela faz atualmente?

5 – Qual o motivo da hospitalização no momento? É a primeira vez? Como está sendo ou como é?

6- O que você entende que esses tratamentos podem trazer para a criança/adolescente?

7 – Como está sendo essa fase de tratamento? Existe alguma dificuldade? Qual?

8 – O que mudou na sua vida após diagnóstico e início do tratamento?

- O câncer infanto-juvenil

9 – Qual o significado do câncer pra você e sua família?

10 – Como a criança/ adolescente encara a doença?

11 – O que você faz para ajudar essa criança/adolescente?

- A família

12- Como está a relação entre você e os outros familiares? Mudou em algo? Positivamente ou

negativamente?

13- Você recebe apoio dos outros familiares para enfrentar a doença? De que forma?

14 – Vizinhos e amigos, após a descoberta da doença da criança/adolescente lhe ajudaram ou ajudam

de alguma forma? Qual?

- A fé

15 – Você segue alguma religião?

16 - Você acredita na existência de um ser superior?

17 – Qual o impacto desta crença nesse momento? Sempre foi assim?

- Os profissionais da saúde e o ambiente hospitalar

18 – Como é a sua relação com a equipe de saúde?

19 – Você se sente à vontade para fazer perguntas sobre o tratamento da criança/adolescente e a

evolução do mesmo? Com quais profissionais?

20 – Você já recebeu ou recebe apoio desses profissionais? De que forma?

21 – Você acha que necessária alguma mudança nas relações com os profissionais da saúde? Qual?

22 – O que você acha do ambiente hospitalar?

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APÊNDICE C – Questionário sociodemográfico

I – Dados do familiar

- Sexo: ( )Masculino ( )Feminino

- Idade: ______

- Cor: ( ) 1- branca;

( ) 2 – negra;

( ) 3- amarela;

( ) 4- parda.

- Grau de Parentesco: 1 ( ) Pai ou mãe;

2 ( ) Irmão (a);

3 ( ) Avô ou avó;

4 ( ) Tio ou tia;

5 ( ) Primo ou prima;

6 ( ) outros

- Situação conjugal: ( ) 1- casado (a)/união consensual;

( ) 2- solteiro (a);

( ) 3- Viúvo (a);

( ) 4- Separado (a).

- Renda Familiar: ___________________

- Escolaridade: 1 ( )Analfabeto/Até 3ª série Fundamental

2 ( ) Até 4ª série Fundamental

3 ( )Fundamental Completo

4 ( )Médio Completo

5 ( ) Superior Completo

*Fonte: Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ANEP, 2012).

II – Dados do paciente

- Sexo: ( )Masculino ( )Feminino

- Idade: ______

- Tipo de câncer infanto-juvenil: _________________________________________

- Tipo de tratamento: ( )Quimioterapia ( )Radioterapia

- Tempo de tratamento (em meses): ______________________________________

- Motivo da internação: _________________________________________________

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ANEXOS

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ANEXO A – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa

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ANEXO B – Carta de Anuência

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1

ANEXO C – Escala de Modos de Enfrentamento de Problemas (EMEP)

(SEIDL; TRÓCOLLI; ZANNON, 2001)

Identificação:________________________________________________________

Data:_______/________/_________

As pessoas reagem de diferentes maneiras a situações difíceis ou estressantes. Pense na

real circunstância que está vivenciando agora. Para responder ao questionário, tenha em mente as

coisas que você faz, pensa ou sente para enfrentar esta situação no momento atual.

Você deve responder a alternativa que corresponde melhor ao que você está fazendo e

buscando para enfrentar o seu problema. Não há respostas certas ou erradas, o que importa é como

você está lidando com a situação, pedimos que você responda a todas as questões.

Instrução: Leia cada item abaixo e circule ou marque um X na categoria correspondente ao que você

faz em cada situação.

1

Eu nunca faço isso

2

Eu faço isso um

pouco

3

Eu faço

isso às vezes

4

Eu faço isso

muito

5

Eu faço isso

sempre

1 – Eu levo em conta o lado positivo das coisas 1 2 3 4 5

2 – Eu me culpo 1 2 3 4 5

3 – Eu me concentro nas coisas boas da minha vida

1 2 3 4 5

4 – Eu tento guardar meus sentimentos para mim mesmo

1 2 3 4 5

5 – Procuro um culpado para a situação 1 2 3 4 5

6 – Espero que um milagre aconteça 1 2 3 4 5

7 – Peço conselho a um parente ou a um amigo que eu respeite

1 2 3 4 5

8 – Eu rezo / oro 1 2 3 4 5

9 – Converso com alguém sobre como estou me sentindo

1 2 3 4 5

10- Eu insisto e luto pelo que eu quero 1 2 3 4 5

11 – Eu me recuso a acreditar que isto esteja acontecendo

1 2 3 4 5

12 – Eu brigo comigo mesmo; eu fico falando comigo mesmo o que devo fazer

1 2 3 4 5

13 – Desconto em outras pessoas 1 2 3 4 5

14 – Encontro diferentes soluções para o meu problema

1 2 3 4 5

15 – Tento ser uma pessoa mais forte e otimista 1 2 3 4 5

16 – Eu tento evitar que os meus sentimentos atrapalhem em outras coisas na minha vida

1 2 3 4 5

17 – Eu me concentro em uma coisa boa que pode vir desta situação

1 2 3 4 5

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18 – E desejaria mudar o modo como eu me sinto

1 2 3 4 5

19 - Aceito a simpatia e a compreensão de alguém

1 2 3 4 5

20 – Demonstro raiva para as pessoas que causaram o problema

1 2 3 4 5

21 – Pratico mais a religião desde que tenho este problema

1 2 3 4 5

22 – Eu percebo que eu mesmo trouxe o problema para mim

1 2 3 4 5

23 – Eu me sinto mal por não ter podido evitar o problema

1 2 3 4 5

24 – Eu sei o que deve ser feito e estou aumentando meus esforços para ser bem sucedido

1 2 3 4 5

25 – Eu acho que as pessoas foram injustas comigo

1 2 3 4 5

26 – Eu sonho e imagino um tempo melhor do que aquele em que eu estou

1 2 3 4 5

27 – Tento esquecer o problema todo 1 2 3 4 5

28 – Estou mudando, me tornando uma pessoa mais experiente

1 2 3 4 5

29 – Eu culpo os outros 1 2 3 4 5

30 – Eu fico me lembrando que as coisas poderiam ser piores

1 2 3 4 5

31 – Converso com alguém que possa fazer alguma coisa para resolver o meu problema

1 2 3 4 5

32 – Eu tento não agir tão precipitadamente ou seguir minha primeira idéia

1 2 3 4 5

33 – Mudo alguma coisa para que as coisas acabem dando certo

1 2 3 4 5

34 – Procuro me afastar das pessoas em geral 1 2 3 4 5

35 – Eu imagino e tenho desejos sobre como as coisas poderiam acontecer

1 2 3 4 5

36 – Encaro a situação por etapas, fazendo uma coisa de cada vez

1 2 3 4 5

37 – Descubro quem mais é ou foi responsável pelo problema

1 2 3 4 5

38 – Penso em coisas fantásticas ou irreais (como uma vingança perfeita ou achar muito dinheiro) que me fazem sentir melhor

1 2 3 4 5

39 – Eu sairei dessa experiência melhor do que entrei nela

1 2 3 4 5

40 – Eu digo a mim mesmo o quanto já consegui 1 2 3 4 5

41 – Eu desejaria poder mudar o que aconteceu comigo

1 2 3 4 5

42 – Eu fiz um plano de ação para resolver o meu problema e o estou cumprindo

1 2 3 4 5

43 – Converso com alguém para obter informações sobre a situação

1 2 3 4 5

44 – Eu me apego a minha fé para superar esta situação

1 2 3 4 5

45 – Eu tento não fechar portas atrás de mim, tento deixarem aberto várias saídas para o problema

1 2 3 4 5

Obrigada pela participação!

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